Upload
hakhue
View
215
Download
1
Embed Size (px)
Citation preview
Universidade Federal de Mato Grosso
Instituto de Saúde Coletiva
Tabagismo: Planejar ou não parar de fumar?
Elizabeth Hertel Lenhardt Botelho
Programa de Pós-Graduação em Saúde
Coletiva, dissertação apresentada para
requisito ao título de Mestre em Saúde
Coletiva.
Área de concentração: Saúde Coletiva
Orientador: Prof. Dr. Clóvis Botelho
Co-orientadora: Profª. Drª. Rosangela
Kátia Sanches Mazzorana Ribeiro.
Cuiabá
2011
1
TABAGISMO: PLANEJAR OU NÃO PARAR DE FUMAR?
Elizabeth Hertel Lenhardt Botelho
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Saúde Coletiva da
Universidade Federal de Mato-Grosso
para obtenção do título de Mestre em
Saúde Coletiva.
Área de concentração: Saúde Coletiva
Orientador: Prof. Dr. Clóvis Botelho
Co-orientadora: Profª. Drª. Rosangela
Kátia Sanches Mazzorana Ribeiro.
Cuiabá
2011
2
DEDICATÓRIA
A meu avô João Hertel (in menorian), que em vida jamais conseguiu se livrar da dependência do tabaco.
E aos familiares: mãe, pai e irmãos que mesmo distante são tão presentes em minha vida.
3
AGRADECIMENTOS
A Deus via amigos espirituais que me instruem nos momentos que antecedem os
obstáculos; se não lhes dou ouvidos, me dão forças nos momentos difíceis e me
norteiam nos novos caminhos.
Ao Prof Dr Clóvis Botelho por acreditar, apoiar e incentivar a realização deste trabalho
e por tudo o que me ensinou com tanto respeito e carinho.
À Profa Dra Rosangela Kátia Sanches Mazzorana Ribeiro pelo incentivo desde a
graduação ao meu crescimento pessoal e acadêmico e pela aceitação de co-orientação
deste trabalho.
Ao CNPq, por ter possibilitado e financiado esta pesquisa, através de bolsa apoiando os
dois anos deste mestrado.
Ao Prof Dr Mariano M. Espinosa pela colaboração no entendimento aos cálculos
estatísticos.
Aos Profs Drs João Henrique G. Scatena, Luíz Cesar Nazário Scala e Gisela Soares
Brunken pelas contribuições oportunas e toda atenção com que me acompanharam ao
longo do curso.
À Profa Ruth Feuerharmel e à Profa Christina Mendonça Guimarães pelo acolhimento e
ajuda com os ensinamentos psicanalíticos sem os quais não seria possível este novo
olhar para a questão do tabagismo.
Às alunas de iniciação científica Regina Ramalho, Flávia Duarte, Pâmella Porto e
Michêli Jacobi pela valiosa ajuda com a coleta de dados.
4
Aos meus inestimáveis amigos, companheiros de batalha deste mestrado, por tudo o que
partilhamos, pela amizade e tantos momentos bons que ficarão para sempre em minha
memória.
Aos participantes do estudo (ex-fumantes), que nos receberam com muito carinho e
atenção em suas casas, obrigada por esta oportunidade de ouvi-los e poder aprender um
pouco mais com suas experiências.
Ao meu querido esposo “Mor do Mor” pela paciência, carinho e compreensão nos
momentos mais críticos desta caminhada. Amo você.
Enfim, a todos que de uma forma ou de outra contribuíram para a realização deste
sonho, deixo o meu carinho.
5
Lenhardt-Botelho EH. Tabagismo: Planejar ou não parar de fumar? [dissertação de
mestrado]. Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato
Grosso; 2011.
RESUMO
Introdução - Dentre os fatores dificultadores da cessação do tabagismo, grau de
dependência, gravidade da síndrome de abstinência, tempo e carga tabágica, ganho de
peso e características psicológicas, a baixa motivação destaca-se. Sabe-se que a
motivação é a pedra angular do tratamento do tabagismo e que os pacientes diferem
entre si em relação ao grau de disposição para parar de fumar. Este fato possivelmente
está associado ao perfil psicológico destes indivíduos. Tendo em vista as dificuldades de
se encontrar pesquisas e estudos que tratam deste tema, delineou-se este estudo.
Objetivo - Analisar as características sócio-demográficas, status do tabagismo e a
presença de fatores facilitadores e dificultadores da cessação nos ex-fumantes que
pararam de fumar sem planejar. Métodos - Estudo Transversal de base populacional,
com uma amostra de 215 ex-fumantes com idade entre 20 e 84 anos, residentes no
município de Cuiabá MT. Como instrumento foi utilizado um questionário estruturado.
Resultados – Os participantes que pararam de fumar sem planejamento, ou seja, por
insight somaram 50,2% da amostra e destes cerca de 80 % conseguiram sucesso já na
primeira tentativa que fizeram. A pessoa que para de fumar na primeira tentativa tem 18
vezes mais chance de fazer por insight e 17 vezes mais probabilidade que esta atitude
parta de algum fator intrínseco a ela. Conclusão – As pessoas que conseguem parar de
fumar por insight, sofrem menos com a síndrome de abstinência, são mais propensas as
obter sucesso já na primeira tentativa e têm menor probabilidade de recaídas.
Descritores: Tabagismo; Motivação; Planejamento; Cessação.
6
Lenhardt-Botelho EH. Smoking: Planning or not for stop smoking? [Master degree
dissertation]. Cuiabá: Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato
Grosso; 2011.
ABSTRACT
Introduction - Among the difficulty factors on stop smoking, dependence degree,
abstinence syndrome gravity, consuming times of tobacco, weight gain and
psychological characteristics, the low motivation stands out. It’s known that the
motivation is the main factor of the treatment of smoking and that the patients differ in
their degree of willingness to stop smoking. This fact possibly is associated to these
individuals' psychological profile. Given the difficulty in finding researches and studies
related about this theme, this study was outlined. Objective – To analyze the social-
demographic characteristics, smoking status and the presence of factors that helps or
harm in the cessation of the former smokers that quitted smoking without planning.
Methods – A Cross-sectional Study of population-based, with a sample of 215 ex-
smokers aged between 20 and 84 years, living at Cuiabá MT. A structured questionnaire
was used as an instrument. Results - The Participants who quitted smoking without
planning, or by insight, totaled 50.2% of the sample and of about of 80% they got
success already in the first attempt that you/they did. The person that for of smoking in
the first attempt he/she has 18 times more chance of doing for insight and 17 times more
probability than this attitude leaves from some intrinsic factor to her. Conclusion - The
people who successfully quit smoking for insight, suffer less with the abstinence
syndrome, are more likely to succeed on the first attempt and less likely of relapses.
Key Words: Smoking; Motivation; Planning; Cessation.
7
ÍNDICE
1 INTRODUÇÃO..............................................................................................
1.1 TABAGISMO............................................................................................
1.2 INSIGHT: ESTRATÉGIA PARA PARAR DE FUMAR.........................
12
12
15
2 OBJETIVOS...................................................................................................
2.1 OBJETIVO GERAL..................................................................................
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS....................................................................
19
19
19
3 MÉTODOS.....................................................................................................
3.1 TIPO DE ESTUDO...................................................................................
3.2 POPULAÇÃO DE ESTUDO....................................................................
3.2.1 Critérios de exclusão na amostra ...........................................................
3.3 COLETA DE DADOS...............................................................................
3.4 TREINAMENTO DA EQUIPE DE PESQUISA......................................
3.5 VARIÁVEIS DE ESTUDO.......................................................................
3.5.1 Variáveis independentes.........................................................................
3.5.2 Variáveis dependentes............................................................................
3.6 PRÉ-TESTE...............................................................................................
3.7 ANÁLISE DE DADOS.............................................................................
3.8 QUESTÕES ÉTICAS................................................................................
20
20
20
20
22
22
23
23
23
24
24
25
4 RESULTADOS..............................................................................................
4.1 ANÁLISE UNIVARIADA........................................................................
4.1.1 Variáveis da população de estudo...........................................................
4.1.2 Comparação entre as variáveis do grupo 1 e do grupo 2........................
4.2 ANÁLISE BIVARIADA..........................................................................
4.3 ANÁLISE MULTIPLA.............................................................................
26
26
26
33
35
39
5 DISCUSSÃO...................................................................................................
5.1 DA POPULAÇÃO DE ESTUDO.............................................................
5.2 DA COMPARAÇÃO ENTRE OS GRUPOS 1 E 2 ................................
5.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................
40
40
47
50
6 CONCLUSÃO................................................................................................ 52
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................... 53
8
APÊNDICE....................................................................................................
Apêndice - Questionário Estruturado para Ex-Fumantes................................
ANEXOS.........................................................................................................
Anexo 1 – Termo de Esclarecimento Livre e Esclarecido...............................
Anexo 2 – Protocolo de aprovação do Comitê de Ética HUJM......................
58
59
61
62
63
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Participantes buscados a partir dos endereços do banco de dados já existente para a pesquisa: Estudo da Prevalência e do Conhecimento da Hipertensão Arterial e alguns Fatores de Risco em uma Região do Brasil (CASSANELLI, 2005).........................................................
21
Tabela 2 - Comparação de freqüências por sexo dos ex-fumantes no período de 2003/ 2004 com o período de 2010 em Cuiabá – MT.........................
21
Tabela 3 - Caracterização sócio-demográfica da população de estudo, Cuiabá/MT, 2010.................................................................................
27
Tabela 4 - Caracterização sócio-demográfica da população de estudo segundo o sexo, Cuiabá/MT, 2010.....................................................................
28
Tabela 5 - Caracterização sócio-demográfica da população de estudo segundo a escolaridade, Cuiabá/MT, 2010........................................................
29
Tabela 6 - Distribuição de freqüências para as variáveis relacionadas ao Status do tabagismo e carga tabágica da população de estudo, Cuiabá/MT, 2010.....................................................................................................
30
Tabela 7 - Distribuição de freqüências para as variáveis Status do tabagismo e carga tabágica da população de estudo, segundo o sexo, Cuiabá/MT, 2010. ...................................................................................................
30
Tabela 8 - Distribuição de freqüências para as variáveis Status do tabagismo e carga tabágica da população de estudo, segundo a escolaridade, Cuiabá/MT, 2010. ...............................................................................
31
Tabela 9 - Distribuição de freqüências para os principais fatores facilitadores e dificultadores da cessação do tabagismo na população de estudo, Cuiabá/ MT, 2010. ..............................................................................
32
Tabela 10 - Distribuição de freqüências para os principais fatores facilitadores e dificultadores da cessação do tabagismo na população de estudo, segundo o sexo, Cuiabá/ MT, 2010. ...................................................
32
Tabela 11 - Distribuição de freqüências para os principais fatores facilitadores e dificultadores da cessação do tabagismo na população de estudo, segundo a escolaridade, Cuiabá/ MT, 2010. .......................................
33
Tabela 12 - Distribuição de freqüências para as variáveis Não planejou parar de fumar (Insight) e Planejou parar de fumar (marcou data e/ou tomou remédio). .............................................................................................
33
Tabela 13 - Distribuição dos fatores facilitadores da cessação do tabagismo segundo o Grupo 1 e 2, Cuiabá/MT, 2010...........................................
34
Tabela 14 - Distribuição dos fatores dificultadores da cessação do tabagismo segundo os Grupo 1 e 2, Cuiabá/MT, 2010. ......................................................
34
10
Tabela 15 - Prevalência e a Razão de Prevalência (RP) das características sócio-demográficas segundo os Grupos 1 e 2, Cuiabá/MT, 2010. ...............
35
Tabela 16 - Prevalência e a Razão de Prevalência (RP) do status de tabagismo segundo os Grupos 1 e 2, Cuiabá/MT, 2010. .....................................
36
Tabela 17 - Prevalência dos fatores facilitadores e dificultadores da cessação segundo os Grupos 1 e 2, Cuiabá/MT, 2010. .....................................
37
Tabela 18 - Prevalência e Razão de Prevalência (RP) dos fatores facilitadores e dificultadores dicotomizadas da cessação segundo os Grupos 1 e 2, Cuiabá/MT, 2010. ...............................................................................
37
Tabela 19 - Prevalência do número de tentativas de parar de fumar segundo os Grupos 1 e 2, Cuiabá/MT, 2010. ........................................................
38
Tabela 20 - Prevalência do número de tentativas de parar de fumar dicotomizada segundo os Grupos 1 e 2, Cuiabá/MT, 2010. ...............
38
Tabela 21 - Modelo final de regressão de Poisson da estratégia usada para parar de fumar por insight, em ex-fumantes de Cuiabá, 2010, MT. ............
39
11
SIGLAS UTILIZADAS
ABEP – Associação Brasileira de Empresa e Pesquisa
CEP/ HUJM – Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Julio Muller
CID – 10 – Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças
INCA – Instituto Nacional de Câncer
OMS – Organização Mundial da Saúde
PAAP – Perguntar e Avaliar, Aconselhar e Preparar
PAAPA – Perguntar, Avaliar, Aconselhar, Preparar e Acompanhar
TRN – Terapia de Reposição Nicotínica
UFG – Universidade Federal de Goiás
UFMT – Universidade Federal de Mato–Grosso
UNIC – Universidade de Cuiabá
12
1. - INTRODUÇÃO
1.1 TABAGISMO
O tabagismo é mundialmente reconhecido como uma doença epidêmica,
resultante da dependência de nicotina e classificado pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) no grupo dos transtornos mentais e de comportamento decorrentes do uso de
substâncias psicoativas (Décima Revisão da Classificação Internacional de Doenças
CID-10 - OMS, 1997). Os prejuízos causados à saúde pelo consumo de tabaco são
amplamente conhecidos, sendo o seu controle considerado pela OMS como um dos
maiores desafios da saúde pública no mundo atual.
O Brasil é uma liderança global no controle do tabagismo e sempre esteve na
fronteira de novas políticas. Os impactos dessa ação abrangente já podem ser vistos na
queda do número de fumantes, com a prevalência diminuindo de 34% em 1989 para
16% em 2006 (BRASIL, 2008).
Atualmente, o consenso brasileiro (BRASIL, 2001; REICHERT, et. al., 2008)
para o tratamento do tabagismo concentra-se sob um tripé na abordagem do paciente:
Motivação Individual, Medicamentosa e Terapia Cognitivo-comportamental, o que
significa que de acordo com esse consenso, o paciente tem que se preparar para parar de
fumar, fazer um planejamento com a equipe de saúde do programa capacitado pelo
Instituto Nacional de Câncer (INCA), órgão do Ministério da Saúde, e seguir as rotinas
preconizadas.
Há cinco estágios de mudança para a cessação do tabagismo (PROCHASKA et
al., 1992):
1. Fase pré-contemplativa: as pessoas nesta fase, ao serem questionadas,
negam a intenção em parar de fumar nos próximos seis meses. Sabem os malefícios do
fumo, mas preservam sua liberdade e independência, não acham que apresentam risco
elevado de adquirirem alguma doença, fumam porque querem, ou seja, não se vêem
como dependentes, e acham que podem parar de fumar no momento que realmente
decidirem.
13
2. Fase contemplativa: os fumantes nesta fase, ao serem questionados,
respondem que gostariam de estar sem fumar nos próximos seis meses. Contudo, têm
enorme dificuldade em tomar alguma atitude nesse sentido. Sentem-se ambivalentes em
relação ao cigarro, com sentimentos de perda intensa, medo dos sintomas de abstinência
e do fracasso, freqüentemente referindo-se como sem força de vontade.
3. Preparação para a ação: o fumante passa a tomar atitudes para tentar
parar de fumar. São indivíduos que já fizeram alguma tentativa em reduzir o número de
cigarros (horas ou dias) e procuram algum tipo de ajuda.
4. Ação: é a fase em que o fumante enfrenta a abstinência. Decide e pára
totalmente com o consumo de cigarros. Sua duração costuma ser de duas a quatro
semanas.
5. Manutenção: passado o período de abstinência, o indivíduo ainda está
em um processo de adaptação comportamental aprendendo a viver sem fumar, porém
ainda há riscos de recaídas.
O INCA propõe três diferentes abordagens às pessoas que tem intenção de parar
de fumar (BRASIL, 2001; REICHERT, et. al., 2008):
1. Abordagem breve/mínima (PAAP): consiste em Perguntar e Avaliar,
Aconselhar e Preparar o fumante para que deixe de fumar, sem, no entanto, acompanhá-
lo nesse processo, podendo ser feita por qualquer profissional da saúde durante a
consulta de rotina e leva em torno de 3 minutos;
2. Abordagem básica (PAAPA): consiste em Perguntar, Avaliar, Aconselhar,
Preparar e Acompanhar o fumante para que deixe de fumar. Também pode ser feita por
qualquer profissional da saúde durante a consulta de rotina, com duração, no mínimo,
de 3 minutos e, no máximo, de 5 minutos, em média, em cada contato;
3. Abordagem específica/intensiva: baseada na terapia cognitivo-
comportamental e que se dá em ambulatório específico para atender os fumantes que
querem deixar de fumar. Esta pode ser feita individualmente ou em grupo, sendo
recomendada sua distribuição em quatro sessões estruturadas com periodicidade
semanal, que no final somem pelo menos 90 minutos de tempo total de contato nas
quatro primeiras sessões. Após estas sessões sugere-se retorno aos: 15 dias; 30 dias; 60
dias; 90 dias; 180 dias; e 12 meses.
Sabe-se que o apoio medicamentoso tem papel bem definido no processo de
14
cessação de fumar, que é o de minimizar os sintomas da síndrome de abstinência,
quando estes representam uma importante dificuldade para o fumante deixar de fumar.
Sua função é, portanto, facilitar a abordagem comportamental na fase em que os
fumantes manifestam sintomas da síndrome de abstinência. Os medicamentos mais
recomendados pelo consenso são: Terapia de Reposição Nicotínica (TRN), na dose
diária de adesivo de nicotina (8 a 12 semanas) e Bupropiona 300 mg/dia (12 semanas).
Além disso, a abordagem cognitivo-comportamental combina intervenções cognitivas
com treinamento de habilidades comportamentais, e que é muito utilizado para o
tratamento de dependências, pois envolve o estímulo ao auto-controle ou auto-manejo
para que o indivíduo possa aprender como escapar do ciclo vicioso da dependência, e
assim espera se que a pessoa torne-se um agente de mudança de seu próprio
comportamento.
Apesar da grande importância destas diretrizes no tratamento do tabagismo, elas
não estão conseguindo atingir as taxas de sucesso terapêutico desejado, pois as recaídas
são muitas. As taxas de sucesso após 12 meses são: 25% para a Vareniclina; 19,7% para
a Bupropiona; e 18,9% para a Reposição de Nicotina (TRN). Estas taxas, comparadas
ao efeito placebo são maiores, porém seu efeito após 12 meses ainda é muito baixo
(MARK et al., 2008).
Por que será que o tratamento preconizado neste consenso não funciona a
contento, já que é o recomendado mundialmente? Em que medida a indicação deste
consenso é eficaz uma vez que visa interferir sobre o comportamento manifesto?
Possivelmente as variáveis subjetivas envolvidas nas dificuldades da cessação do
tabagismo não são totalmente conhecidas. Alguns fatores dificultadores já foram
citados. Dentre esses, a intensidade da síndrome de abstinência, que é uma das
principais causas que contribui para a manutenção da dependência. Os sintomas variam
em intensidade entre as pessoas e iniciam-se, geralmente, dentro de algumas horas após
a interrupção, aumentando nas primeiras 12 horas e atingindo o auge no terceiro dia. O
desconforto piora ao anoitecer, e as maiores queixas referem-se à compulsão
aumentada, irritabilidade, ansiedade, dificuldade de concentração, agitação, sensação de
sonolência ou embotamento, bem como reações de hostilidade (DUPONT e GOLD,
1995).
15
Outro grande obstáculo é o grau de dependência nicotínica. Quando o fumante
atinge seis ou mais pontos no teste de Fagerströn (FAGERSTRÖN, 1978), grau de
dependência elevado ou muito elevado, é considerado como fumante pesado. Esses
fumantes pesados geralmente fumam o primeiro cigarro antes de 30 minutos após
acordar, têm a percepção de dificuldade de abandonar o vício e pouca autoconfiança.
O ganho de peso também se apresenta como fator que dificulta o abandono do
tabagismo. Estudos clínicos e epidemiológicos relatam que os fumantes pesam menos
que os não fumantes e ganham peso quando param de fumar. A maioria dos estudos
mostra que o uso da nicotina produz período de perda de peso (ou redução do ganho de
peso), assim como a cessação do uso da droga leva a um período agudo de ganho de
peso, seguido pelo retorno a níveis semelhantes aos observados nos controles. Ganhar
peso em excesso acompanha, geralmente, alterações dos padrões de comportamento e
personalidade, freqüentemente manifestados sob a forma de depressão, abstenção,
autopunição, irritabilidade e agressão. O ganho de peso aumenta o estresse e intensifica
o impulso de ingerir alimento, mantendo o círculo vicioso. No momento, são três as
teorias explicativas mais aceitas para a relação entre tabagismo e peso corporal: a)
aumento da taxa metabólica, com maior gasto de energia pelos fumantes; b) diferenças
na qualidade e quantidade dos alimentos ingeridos pelos fumantes; e c) ação redutora do
apetite, via nicotina (PERKINS et al., 1990; GONÇALVES-SILVA et al., 1997)
Dentre as diversas formas de abordagens para esses pacientes, destaca-se a
necessidade do fortalecimento da motivação, sem a qual esses pacientes não conseguem
deixar de fumar. Segundo BOTELHO (2006), muitos deles afirmam que estão querendo
parar de fumar; porém, na verdade, essa vontade expressa verbalmente não traduz com
fidelidade seu verdadeiro desejo em relação ao tabagismo, pois não estão devidamente
motivados para tal ato.
1.2 INSIGHT: UMA ESTRATÉGIA PARA PARAR DE FUMAR
Existem relatos que muitas pessoas não apresentam grande dificuldade para
parar de fumar, não precisam de planejamento para a ação, o fazem de uma hora para
16
outra e geralmente não sabem explicar qual o dispositivo que acionou esta decisão
(WEST e SOHAL 2006). Esta estratégia é considerada como uma tempestade
motivacional que parte do sujeito, como um insight e torna mais fácil o enfrentamento
da síndrome de abstinência.
O insight é considerado pelo OMS como uma função mental específica
especialmente dependente dos lobos frontais do cérebro, ela é responsável pelo
autoconhecimento, ou seja, consciência e compreensão de si próprio e de seu
comportamento (OMS, 2008).
Nos programas de cessação do tabaco a motivação, vontade, razão e decisão são
atitudes exigidas neste processo, mas será que estas categorias expressas em atitudes
dão conta do fenômeno do tabagismo? Não será preciso incluir outras categorias nesta
discussão para uma nova abordagem? Um dos fatores a serem incluídos é o Desejo,
conceito psicanalítico implicado em toda ação humana diferenciando-se radicalmente de
vontade ou intenção. Para a psicanálise o desejo expressa-se num movimento de busca
para encontrar uma representação psíquica idêntica à primeira experiência de satisfação,
portanto trata-se de uma busca de encontrar no campo da realidade, por meio de
investimentos libidinais, objetos que estejam em relação à primeira experiência de
satisfação. Assim o desejo é desconhecido pelo sujeito, está no campo do inconsciente,
movendo sem que ele saiba para onde e por que. Já a vontade pode ser verificada,
percebida conscientemente, podendo mudar constantemente conforme as situações da
vida (FREUD, 1987).
O insight, para o psicanalista francês Jacques Lacan (1995), é referido como
experiência psicológica de uma operação intelectual, estaria para o instante de ver,
seguido, na sua concepção, pelo tempo de compreender e pelo momento de concluir,
constituindo os três tempos que constituem o tempo lógico do inconsciente (LACAN,
1995). O instante de ver ocorre quando há uma sutura, uma junção do imaginário e do
simbólico. O insight é o momento em que o sentido de uma determinada representação
psíquica está em questão e a partir desta pode advir à perda de sentido e também do
gozo articulado com tal significação. O objeto (conceito psicanalítico) em questão e o
gozo articulado em torno dele podem deixar de ter sentido e assim ocorrer o abandono
do tabaco. Algumas pessoas que decidem parar de fumar, de uma hora para outra,
simplesmente não vêem mais sentido no ato de fumar.
17
Observa-se que muitos fumantes param sem grandes dificuldades, o fazem até
mesmo sem planejamento prévio (como preconizado pelos consensos), subitamente,
como se fosse um insight. Estudo realizado por WEST e SOHAL (2006), com 918
fumantes que disseram ter tentado parar de fumar pelo menos uma vez e com 966 ex-
fumantes com idade acima de 16 anos, mostrou que entre aqueles que tomaram a
decisão para cessação do tabagismo sem planejamento, 48,6% obtiveram sucesso.
Enquanto que no grupo de fumantes que planejaram parar de fumar e receberam auxilio
do programa de cessação ao tabagismo apenas 27% alcançaram o objetivo almejado. A
explicação dos autores é que estes pacientes que não fizeram nenhum planejamento
estavam mais motivados e tiveram um insight - uma tempestade motivacional -, o que
facilitou a libertarem-se da dependência. Ao passo que os outros pacientes que
procuraram as clínicas de cessação, possivelmente estavam menos motivados e queriam
apoio psicológico e medicamentoso para ajudá-los. Os autores só não explicam quais as
variáveis destes indivíduos que tiveram o insight e nem porque isso acontece com
alguns e não com outros.
Outro estudo realizado nos EUA, (FERGUSON et al., 2009) com 900 fumantes
e 800 ex-fumantes sobre a mais recente tentativa de parar de fumar revelou que 39,7%
dos sujeitos disseram que a mais recente tentativa não envolveu um planejamento
(Fumantes: 29,5%; ex-fumantes 52,4%). Sujeitos que realizaram uma tentativa sem
planejamento eram mais propensos a serem não-brancos, sem nível superior, relataram
fumar o primeiro cigarro após 30 minutos depois de acordar, e não tomaram nenhum
medicamento durante a sua tentativa de parar de fumar. Controlando estas variáveis, a
chance de uma tentativa de parar espontânea (71,7%) durar 6 meses ou mais era maior
que as tentativas planejadas (45,6%).
A cessação do tabaco sem planejamento, feita por insight, é pouco pesquisada,
existe escassez de estudos sobre este tema. Esta carência/ desinteresse de estudos chama
a nossa atenção, pois se trata de um fenômeno crescente e por este motivo deveria ser
melhor investigado. Por outro lado, também pela pouca valorização do conhecimento
das variáveis intrínsecas do fumante, que envolveria maior profundidade na teoria
psicanalítica (CHAPMAN e MACKENZIE, 2010).
A Justificativa para estudar ex-fumantes é uma tentativa de buscar
informações sobre os fatores que levam estas pessoas deixar o tabaco por si só com
18
facilidade. Os estudos de WEST e SOHAL, (2006) e FERGUSON et al., (2009)
revelam que tentativas de parar de fumar sem planejamento alcançam o sucesso duas
vezes mais que aquelas tentativas com auxílio, ou seja, planejadas.
Considerando a escassez de pesquisas sobre este assunto os resultados obtidos
neste trabalho poderão servir como suporte ou embasamento teórico para profissionais
que atuam em programas de prevenção e tratamento do tabagismo, podendo assim
contribuir com o planejamento de políticas de saúde. Além disso, o presente estudo
poderá desvendar indícios ou pistas para outros pesquisadores, que desejem empreender
novos trabalhos. Supõe-se ainda, que os dados levantados através deste estudo poderão
servir como suporte ou retro-alimentação para cursos de graduação e pós-graduação na
área de saúde e em áreas afins.
19
2. - OBJETIVOS
2.1 GERAL:
Analisar as características sócio-demográficas, status do tabagismo e a presença
de fatores facilitadores e dificultadores da cessação nos ex-fumantes que pararam de
fumar sem planejar.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
• Caracterizar a população de ex-fumantes conforme as variáveis sócio-
demográficas, status do tabagismo, presença dos fatores facilitadores e dificultadores e
o tipo da cessação empregada;
• Comparar as variáveis sócio-demográficas, status do tabagismo, presença
dos fatores facilitadores e dificultadores dos ex-fumantes categorizados como “sem
planejamento” – Grupo 1 e “com planejamento” – Grupo 2.
20
3. - MÉTODOS
3.1 TIPO DE ESTUDO
Trata-se de um estudo de corte transversal, cuja amostra foi obtida da população
estudada na pesquisa: “Estudo da Prevalência e do Conhecimento da Hipertensão
Arterial e alguns Fatores de Risco em uma Região do Brasil”, pesquisa realizada pelo
Instituto de Saúde Coletiva e pela Faculdade de Ciências Médicas/UFMT, em
cooperação com a Universidade Federal de Goiás – UFG, no período de fevereiro de
2003 a agosto de 2004, na área urbana de Cuiabá, MT (CASSANELLI, 2005). Neste
projeto foram estudados 1.699 indivíduos adultos, de 18 a 77 anos, dentre estes
indivíduos estudados 24,2% (412/1.699) eram ex-fumantes, 21,0% (356/1.699) eram
fumantes e 54,8% (931/1.699) não fumantes.
3.2 POPULAÇÃO DE ESTUDO
A população de estudo foi constituída por 412 ex-fumantes, porém foram
encontrados apenas 215 participantes para responder o questionário, totalizando assim
215 participantes para este estudo.
3.2.1 Critérios de exclusão na amostra:
21
Foram considerados como critério de exclusão na amostra conforme a tabela 1
(abaixo): aqueles que atualmente mudaram seu status de tabagismo 2,2% (9/412), ou
seja, ex-fumantes que voltaram a fumar. Os demais foram considerados perdas:
participantes que após três visitas consecutivas não foram encontrados no domicilio
5,6% (23/412), os que se recusaram a participar 3,6% (15/412), faleceram 5,6%
(23/412), e os que não foram encontrados 30,8% (127/412).
Após concluir todas as visitas, chegamos a uma amostra de 52,2% de entrevistas
feitas (215/412), e uma perda de 47,8% (197/412).
Tabela 1 - Participantes buscados a partir dos endereços do banco de dados já existente para a pesquisa: Estudo da Prevalência e do Conhecimento da Hipertensão Arterial e alguns Fatores de Risco em uma Região do Brasil (CASSANELLI, 2005).
Situação atual da amostra (2010) N % Entrevistas feitas 215 52.2 Não encontrado 127 30.8 Ausência após 3 visitas 23 5.6 Falecido 23 5.6 Recusada 15 3.6 Voltou a Fumar 9 2,2 Total 412 100.0
Na Tabela 2 encontram-se as freqüências das amostras em períodos de tempo
diferentes. No ano de 2003 a 2004 o total de ex-fumantes encontrados foi de 412 e no
ano de 2010 quando estes mesmo participantes foram buscados o total ficou em 215 ex-
fumantes. Nota-se que as percentagens entre homens e mulheres foram muito
semelhantes nas duas pesquisas, o que mostra normalidade em relação às perdas, pois
houve uma semelhança de valores encontrada após 6 anos do primeiro contato feito com
os participantes.
Tabela 2 – Comparação de freqüências por sexo dos ex-fumantes no período de 2003/ 2004 com o período de 2010 em Cuiabá - MT
Sexo Período (2003/2004) Período (2010) Homens 253 (61%) 130 (60 %) Mulheres 162 (39%) 85 (40%)
Total 412 (100%) 215 (100%)
22
3.3 COLETA DE DADOS
Em cada participante da amostra foi aplicado questionário no domicílio,
especificamente elaborado para esta pesquisa, contendo quesitos sobre: 1. Dados sócio-
demográficos; 2. Tabagismo; 3. Fatores facilitadores e dificultadores para a cessação do
tabagismo e 4. Estágios de mudança para a cessação do tabagismo (PROCHASKA et
al., 1992).
3.4 TREINAMENTO DA EQUIPE DE PESQUISA
A equipe de pesquisa foi constituída pelo coordenador e a co-orientadora geral
do projeto, uma supervisora (pesquisadora principal) e quatro entrevistadoras. De início
foram selecionadas quatro estudantes da Universidade de Cuiabá (UNIC), do curso de
Psicologia que já tinham cursado o sétimo semestre e concluído as disciplinas de
pesquisa I e II. Estas quatro entrevistadoras receberam treinamento prévio para abordar
os participantes e a realizar as entrevistas domiciliares.
O controle de qualidade da coleta de dados consistiu no acompanhamento e
verificação de todas as informações coletadas nos domicílios. A pesquisadora principal
participou diretamente da coleta de dados em campo e foi realizada pelo menos uma
reunião semanal entre as entrevistadoras e a co-orientadora desta pesquisa.
23
3.5 VARIÁVEIS DE ESTUDO
3.5.1 Variáveis independentes:
Ex-fumante, dicotomizada, categorizada em dois grupos: G1 – Sem
Planejamento (fase pré-contemplativa, não marcou data para a ação, foi por tempestade
motivacional – insight), ou seja, as pessoas deste grupo pararam e mantiveram-se sem
fumar por decisão própria, sem razão especificada no questionário, fizeram por motivos
internos e G2 – Com Planejamento (fase contemplativa ou de preparação para a ação,
marcou data, planejou a ação, sem tempestade motivacional – insight, com ou sem
medicação), ou seja, tiveram estímulo externos.
3.5.2 Variáveis dependentes:
a) Dados sócio-demográficos:
• Idade foi categorizada nas duas faixas descritas (20-55 e 56-84 anos):
utilizou-se a mediana (56 anos) do atributo como ponto de corte;
• Sexo;
• Situação conjugal categorizada em: casado(a)/ união consensual,
separado(a)/ divorciado(a)/ desquitado(a), solteiro(a) e viúvo(a);
• Ocupação: Aposentado(a)/ pensionista, com emprego, do lar,
desempregado;
• Escolaridade (ABEP, 2010);
• Situação econômica (ABEP, 2010).
b) Tabagismo: status do tabagismo, carga tabágica.
• Quanto tempo está sem fumar?;
• Durante quanto tempo da vida foi fumante?;
• Quantos cigarros em média fumava por dia?:
• Antes de parar definitivamente, quantas vezes tentou parar de fumar?;
c) Fatores facilitadores e dificultadores
24
• Qual principal fator facilitador que o levou a deixar de fumar: doença
própria ou na família, gravidez e/ou nascimento de filho/ neto/outros,
parou por que quis (sem planejamento prévio), porque alguém disse para
parar, outros fatores;
• Qual foi o fator que mais dificultou a cessação do tabagismo: convívio
com fumantes, nervosismo ou ansiedade, depressão, ganho de peso,
fissura, não teve dificuldade, outros.
3.6 PRÉ-TESTE
O pré-teste foi realizado no dia 12 de março de 2010 em 20 voluntários ex-
fumantes, funcionários da Universidade de Cuiabá (UNIC), com objetivo de testar o
instrumento de coleta de dados e assim verificar suas possíveis falhas e também para
treinamento dos pesquisadores, de como abordar os participantes.
3.7 ANÁLISE DE DADOS
Após coleta de dados, os mesmos foram duplamente digitados e analisados no
programa estatístico SPSS versão 17.0. Foram feitas análises descritivas por meio de
medidas de posição e variação. Para as medidas de associação entre as variáveis
dependentes e independentes foi calculada a razão de prevalência e teste de Qui-
quadrado, com o respectivo intervalo de confiança de 95 % e nível de significância 5%
(p ≤ 0,05). Também foi feito regressão múltipla através do método de Poisson com
variância robusta para corrigir a superestimação das variáveis no programa estatístico
25
STATA versão 8.1. Foram utilizadas todas as variáveis que na análise bivariada
apresentaram p valor < 0,20, para fazer a regressão de Poisson.
3.8 QUESTOES ÉTICAS
O projeto foi submetido à aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa do
Hospital Universitário Julio Müller da UFMT em 2009, e foi aprovado sob o nº.
736/CEP-HUJM/2009, autorizando o início da realização da pesquisa que começou em
março de 2010. Nesta fase inicial foi utilizado o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, conforme Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde de 10 de
outubro de 1996. Inicialmente, foram explicados, de forma verbal, os objetivos da
pesquisa e sua forma de realização. Em seguida procedeu-se à leitura e explicação do
Termo de Consentimento para obtenção da assinatura do entrevistado. Após a assinatura
do Termo, foi realizada a coleta de dados no próprio domicílio do participante. Este foi
informado acerca do caráter sigiloso dos dados obtidos e da possibilidade de desistir
livremente em qualquer momento do estudo (Anexo 1).
Quanto aos benefícios para os participantes da pesquisa, os que voltaram a fumar
foram orientados a procurar o serviço de Pneumologia do HUJM, ambulatório de
tratamento do tabagismo.
26
4. - RESULTADOS
4.1 ANÁLISE UNIVARIADA
4.1.1 Variáveis da população de estudo.
Foram estudados 215 ex-fumantes, sendo 60,5% (130/215) do sexo masculino,
com idade variando entre 56 e 84 anos, idade média de 56,5 anos (dp = 13,9), mediana
56 anos, e 70,7% (152/215) são casados. A maioria da amostra (72,1%) tinha menos de
oito anos de escolaridade e, quanto à classe econômica, segundo a classificação da
ABEP – Associação Brasileira de Empresa e Pesquisa (2010), a maior freqüência
encontrada foi na classe D (26,5%), seguida pela classe C2 com 25,1%. Quanto à
ocupação atual foi dividida em 54,4% (118/215) para os indivíduos que estavam
trabalhando, 30,2% (65/215) para aposentados ou pensionistas, 15,0% (32/215) para
donas de casa e apenas uma pessoa respondeu estar desempregada (Tabelas 3, 4 e 5).
27
Tabela 3 – Caracterização sócio-demográfica da população de estudo, Cuiabá/MT, 2010. Variáveis n % Sexo
Masculino 130 60,5 Feminino 85 39,5
Idade (anos) 20 - 55 anos 102 47,4 56 - 84 anos 113 52,6
Estado civil Casado(a)/ união consensual 152 70,7 Separado(a) / divorciado(a) / desquitado(a) 22 10,2 Solteiro(a) 13 6,0 Viúvo(a) 28 13,0
Escolaridade (ABEP, 2010) Analfabeto / Primário Incompleto 63 29,3 Primário Completo / Ginasial Incompleto 58 27,0 Ginasial Completo / Colegial Incompleto 34 15,8 Colegial Completo / Superior Incompleto 47 21,9 Superior Completo 13 6,0
Situação econômica (ABEP, 2010) Classe A1 e A2 8 3,7 Classe B1 10 4,7 Classe B2 37 17,2 Classe C1 47 21,9 Classe C2 54 25,1 Classe D 57 26,5 Classe E 2 0,9
Ocupação Aposentado/ pensionista 65 30,2 Com emprego 117 54,4 Do lar (dona de casa) Desempregado
32 1
15,0 0,4
28
Tabela 4 – Caracterização sócio-demográfica da população de estudo segundo o sexo, Cuiabá/MT, 2010
Sexo Variável / Categoria Masculino Feminino Total
Idade 20 – 55 anos 58 (56,8%) 44 (43,2%) 102 (47,4%) 56 – 84 anos 72 (63,7%) 41 (36,3%) 113 (52,6%)
Situação conjugal Com companheiro
103 (67,8%) 49 (32,2%) 152 (70,7%)
Sem companheiro 27 (42,9%) 36 (57,1%) 63 (29,3%) Ocupação
Com ocupação 85 (72,6%) 32 (27,4%) 117 (54,4%) Sem ocupação 45 (45,9%) 53 (54,1%) 98 (45,6%)
Escolaridade ≤ 8 anos de estudo
94 (60,6%) 61 (39,4%) 155 (72,1%)
> 8anos de estudo
36 (60%) 24 (40%) 60 (27,9%)
Classe econômica (ABEP 2010)
Classe A2 5 (62,5%) 3 (37,5%) 8 (3,7%) Classe B1 7 (70%) 3 (30%) 10 (4,7%) Classe B2 27 (73%) 10 (27%) 37 (17,2%) Classe C1 24 (51,1%) 23 (48,9%) 47 (21,95) Classe C2 31 (57,4%) 23 (42,6%) 54 (25,1%) Classe D 35 (61,4%) 22 (38,6%) 57 (26,5%) Classe E 1 (50%) 1 (50%) 2 (0,9%)
29
Tabela 5 – Caracterização sócio-demográfica da população de estudo segundo a escolaridade, Cuiabá/MT, 2010
Escolaridade Variável / Categoria Até 8 anos de
estudo Mais de 8 anos de
estudo Total
Idade 20 – 55 anos 64 (41,3%) 38 (63,3%) 102 (47,4%) 56 – 84 anos 91 (58,7%) 22 (36,7%) 113 (52,6%)
Total 155 (100,0%) 60 (100,0%) 215 (100,0%) Situação conjugal
Com companheiro
105 (67,7%) 47 (78,3%) 152 (70,7%)
Sem companheiro 50 (32,3%) 13 (21,7%) 63 (29,3%) Total 155 (100,0%) 60 (100,0%) 215 (100,0%)
Ocupação Com ocupação 79 (51,0%) 38 (63,3%) 117 (54,4%) Sem ocupação 76(49,0%) 22 (36,7%) 98 (45,6%)
Total 155 (100,0%) 60 (100,0%) 215 (100,0%) Classe econômica (ABEP 2010)
Classe A2 1 (0,6%) 7 (11,7%) 8 (3,7%) Classe B1 1 (0,6%) 9 (15,0%) 10 (4,7%) Classe B2 15 (9,7%) 22 (36,7%) 37 (17,2%) Classe C1 32 (20,6%) 15 (25,0%) 47 (21,95) Classe C2 47 (30,3%) 7 (11,7%) 54 (25,1%) Classe D 57 (36,8%) 0 (0%) 57 (26,5%) Classe E 2 (1,3%) 0 (0%) 2 (0,9%)
Total 155 (100,0%) 60 (100,0%) 215 (100,0%)
Para as variáveis relacionadas ao tabagismo (Tabelas 6, 7 e 8), observa-se que
51,2% (110/215) dos participantes fumaram mais de 20 anos na vida, 30,7% (66 /215)
fumou de 10 a 20 anos e 18,1% (39/215) fumaram menos de 10 anos. Quanto o número
de cigarros fumado por dia em média, 36,7% (79/215) disseram que fumavam menos de
10 cigarros por dia, 29,3% (63/215) fumavam de 10 a 20 cigarros por dia e 34,0%
(73/215) fumavam mais de 20 cigarros ao dia. Em relação à quantidade de vezes que
tentaram parar de fumar nota-se que 54,9% (118/215) das pessoas pararam de fumar na
primeira tentativa, 31,2% (67/215) tentaram de 2 a 5 vezes e 14,0% (30/215) deixaram
de fumar após a quinta tentativa. Também foi indagado sobre o tempo que a pessoa está
sem fumar, 65,1% (140/215) responderam estar sem fumar a mais de 10 anos, 19,1%
(41/215) estão sem fumar de 5 a 10 anos e 15,8% (34/215) conseguiram se libertar da
dependência nicotínica a menos de 5 anos.
30
Tabela 6 – Distribuição de freqüências para as variáveis relacionadas ao Status do tabagismo e carga tabágica da população de estudo, Cuiabá/MT, 2010.
Variáveis n % Quanto tempo fumou na vida
Menos de 10 anos 39 18,1 10 – 20 anos 66 30,7 Mais de 20 anos 110 51,2
Quantos cigarros fumava por dia Menos de 10 cigarros 79 36,7 10 – 20 cigarros 63 29,3 Mais de 20 cigarros 73 34,0
Quantas vezes tentou parar de fumar Parou na primeira tentativa 118 54,9 2 – 5 vezes 67 31,2 Mais de 5 vezes 30 14,0
Tempo sem fumar Menos de 5 anos 34 15,8 5 - 10 anos 41 19,1 Mais de 10 anos 140 65,1
Tabela 7 – Distribuição de freqüências para as variáveis Status do tabagismo e carga tabágica da população de estudo, segundo o sexo, Cuiabá/MT, 2010.
Sexo Variável / Categoria Masculino Feminino Total
Tempo sem fumar Menos de 10 anos 44 (33,8%) 31 (36,5%) 75 (34,9%) Mais de 10 anos 86 (66,2%) 54 (63,5%) 140 (65,1%)
Total 130 (100,0%) 85 (100,0%) 215 (100,0%) Quanto tempo fumou
Menos de 10 anos 18 (13,8%) 21 (24,7%) 39 (18,1%) Mais de 10 anos 112 (86,6%) 64 (75,3%) 176 (81,9%)
Total 130 (100,0%) 85 (100,0%) 215 (100,0%) Cigarro por dia
Menos de 10 31 (23,8%) 48 (56,5%) 79 (36,7%) Mais de 10 99 (76,2%) 37 (43,5%) 136 (63,3%)
Total 130 (100,0%) 85 (100,0%) 215 (100,0%) Tentativas para parar
Parou na primeira tentativa
68 (52,3%) 50 (58,8%) 118 (54,9%)
Tentou mais de 2 vezes
62 (47,7%) 35 (41,2%) 97 (45,1%)
Total 130 (100,0%) 85 (100,0%) 215 (100,0%)
31
Tabela 8 – Distribuição de freqüências para as variáveis Status do tabagismo e carga tabágica
da população de estudo, segundo a escolaridade, Cuiabá/MT, 2010
Escolaridade Variável / Categoria Até 8 anos de
estudo Mais de 8 anos de
estudo Total
Tempo sem fumar Menos de 10 anos 56 (36,1%) 19 (31,7%) 75 (34,9%) Mais de 10 anos 99 (63,9%) 41 (68,3%) 140 (65,1%)
Total 155 (100,0%) 60 (100,0%) 215 (100,0%) Quanto tempo fumou
Menos de 10 anos 28 (18,1%) 11 (18,3%) 39 (18,1%) Mais de 10 anos 127 (81,9%) 49 (81,7%) 176 (81,9%)
Total 155 (100,0%) 60 (100,0%) 215 (100,0%) Cigarro por dia
Menos de 10 57 (36,8%) 22 (36,7%) 79 (36,7%) Mais de 10 98 (63,2%) 38 (63,3%) 136 (63,3%)
Total 155 (100,0%) 60 (100,0%) 215 (100,0%) Tentativas para parar
Parou na primeira tentativa
85 (53,5%) 35 (58,3%) 118 (54,9%)
Tentou mais de 2 vezes
72 (46,5%) 25 (41,7%) 97 (45,1%)
Total 155 (100,0%) 60 (100,0%) 215 (100,0%)
Sobre os principais fatores facilitadores e dificultadores da cessação do
tabagismo (Tabela 9, 10 e 11), obteve-se a seguinte distribuição:
a) Principal fator facilitador 34,4% (74/215) parou de fumar sem motivo
aparente, ou seja, por vontade própria, 23,2% (50/215) relataram doença própria e/ ou
na família como o motivo inspirador para parar de fumar. Incentivado por alguém,
parou porque alguém disse para parar 13,5% (29/215), incentivado pela religião e por
outros fatores respectivamente 11,2% (24/215) e gravidez e/ ou nascimento de filho/
neto/ outros 6,5% (14/215).
b) Principal fator dificultador, 39,1% (84/215) não teve grande dificuldade.
O fator que mais dificultou a cessação do tabagismo foi a fissura/ vontade de fumar
34,0% (73/215), 11,2% (24/215) nervosismo/ ansiedade, 7,0% (15/215) convívio com
fumante, 4,2% (9/215) ganho de peso, 2,8% (6/215) outros fatores não listados no
questionário.
32
Tabela 9 – Distribuição de freqüências para os principais fatores facilitadores e dificultadores da cessação do tabagismo na população de estudo, Cuiabá/ MT, 2010.
Variáveis n % a) Principal Fator Facilitador
Doença Própria e/ou na Família 50 23.2 Gravidez e/ou nascimento de filho/ neto/ outros 14 6.5 Parou porque quis 74 34.4 Porque alguém disse para parar 29 13.5 Religião 24 11.2 Outros fatores 24 11.2
Total 215 100.0 b) Principal Fator Dificultador n %
Convívio com fumante 15 7.0 Não teve grande dificuldade 84 39.1 Nervosismo ou ansiedade 24 11.2 Depressão/ choro fácil 4 1.9 Ganho de peso 9 4.2 Fissura/ Vontade de fumar 73 34.0 Outros fatores 6 2.8
Total 215 100.0
Tabela 10 – Distribuição de freqüências para os principais fatores facilitadores e dificultadores da cessação do tabagismo na população de estudo, segundo o sexo, Cuiabá/ MT, 2010.
Sexo Variável / Categoria Masculino Feminino Total
Fator Facilitador Motivo Próprio 46 (35,4%) 28 (32,9%) 74 (34,4%) Motivo Externo 84 (64,6%) 57 (67,1%) 141 (65,6%)
Total 130 (100,0%) 85 (100,0%) 215 (100,0%) Motivo Dificultador
Não teve dificuldade
51 (39,2%) 33 (38,8%) 84 (39,1%)
Teve dificuldade 79 (60,8%) 52 (61,2%) 131 (60,9%) Total 130 (100,0%) 85 (100,0%) 215 (100,0%)
33
Tabela 11 – Distribuição de freqüências para os principais fatores facilitadores e dificultadores da cessação do tabagismo na população de estudo, segundo a escolaridade, Cuiabá/ MT, 2010.
Escolaridade Variável / Categoria Até 8 anos de
estudo Mais de 8 anos de
estudo Total
Fator Facilitador Motivo Próprio 50 (32,3%) 24 (40,0%) 74 (34,4%) Motivo Externo 105 (67,7%) 36 (60,0%) 141 (65,6%)
Total 155 (100,0%) 60 (100,0%) 215 (100,0%) Fator Dificultador
Não teve dificuldade
67 (43,2%) 17 (28,3%) 84 (39,1%)
Teve dificuldade 88 (56,8%) 43 (71,7%) 131 (60,9%) Total 155 (100,0%) 60 (100,0%) 215 (100,0%)
A distribuição por tipo de cessação do tabagismo encontra-se na Tabela 12. Dos
215 participantes 108 (50,2%) disseram ter parado de fumar de uma hora para outra, ou
seja, por insight e 49,8% (107/215) responderam ter planejado parar de fumar. Dos 107
que planejaram parar de fumar, 46,0% (99/215) marcaram data, mas não usaram
medicamentos para tal objetivo e apenas 8 (3,8%) fizeram tomando medicamentos
como a bupropiona e o adesivo de nicotina.
Tabela 12 – Distribuição de freqüências para as variáveis Não planejou parar de fumar (Insight) e Planejou parar de fumar (marcou data e/ou tomou remédio).
Variável n % Não planejou parar de fumar, parou por insight 108 50.2 Planejou parar de fumar, sem tomar remédio 99 46.0 Planejou parar de fumar, usou medicamentos 8 3.8 Total 215 100.0
4.1.2 – Comparação entre as variáveis dos participantes do Grupo 1 e Grupo 2.
Todos os participantes que relataram não ter feito nenhuma forma de
planejamento para parar de fumar foram incluídos no Grupo 1 (insight) e aqueles que
relataram alguma forma de planejamento passam a formar o Grupo 2. Em relação aos
34
fatores facilitadores da cessação do tabagismo, os participantes do Grupo 1, 46,3%
(50/108) deles relataram que não tiveram nenhum motivo aparente, enquanto que no
Grupo 2 somente 22,4% (24/107) deles não tiveram motivo facilitador. Os fatores
facilitadores mais relatados nos dois grupos, respectivamente, foram: doença própria ou
na família (19,4% X 27,1%), influência de alguém (12,1% X 14,9%), e religião (5,5% X
16,8%). (Tabela 13).
E dentre os fatores dificultadores e facilitadores da cessação, comparando os
dois grupos, os participantes do Grupo 1, 46,3% (50/108) deles responderam não ter
tido grande dificuldade para parar de fumar e do Grupo 2, 31,8% (34/107) deles também
não relataram qualquer fator dificultador. Os fatores dificultadores mais citados,
comparando os dois grupos, respectivamente, foram: fissura/ vontade de fumar (32,4%
X 35,5%), nervosismo e ansiedade (6,5% X 15,9%) (Tabela 14).
Tabela 13 – Distribuição dos fatores facilitadores da cessação do tabagismo segundo o Grupo
1 e 2, Cuiabá/MT, 2010.
Fatores Facilitadores Grupo 1 Grupo 2 Total Doença própria ou na família 21 (19.4%) 29 (27,1%) 50 (23.2%) Gravidez ou parto 4 (3,8%) 10 (9,4%) 14 (6.5%) Sem motivo aparente 50 (46,3%) 24 (22,4%) 74 (34.4%) Influenciado por alguém 13 (12,1%) 16 (14,9%) 29 (13.5%) Religião 6 (5,5%) 18 (16,8%) 24 (11.2%) Outros Fatores 14 (12,9%) 10 (9,4%) 24 (11.2%) Total 108 (100%) 107 (100%) 215 (100%)
Tabela 14 – Distribuição dos fatores dificultadores da cessação do tabagismo segundo os
Grupo 1 e 2, Cuiabá/MT, 2010.
Fatores Dificultadores Grupo 1 Grupo 2 Total Não teve grande dificuldade 50 (46,3%) 34 (31,8%) 84 (39.1%) Nervosismo/ ansiedade 7 (6,5%) 17 (15,9%) 24 (11.2%) Fissura/vontade de fumar 35 (32,4%) 38 (35,5%) 73 (33.9%) Outros fatores 16 (14,8%) 18 (16,8%) 34 (15.8%) Total 108 (100%) 107 (100%) 215 (100%)
35
4.2 ANÁLISE BIVARIADA
No Grupo 1 houve maior prevalência de indivíduos do sexo masculino com
63,0% (68/108) que no Grupo 2, com 57,9% (62/107). A faixa etária com maior
proporção no Grupo 1 foi de 56 a 84 anos com 56,5% (61/215) e no Grupo 2 é a de 20 a
55 anos com 51,4% (55/107). Comparando os dois grupos, todas as características
sócio-demográficas são semelhantes, apesar de terem sido encontradas pequenas
diferenças nas proporções, não houve associação estatisticamente significante entre as
variáveis, tanto pelo valor da razão de prevalência (RP) quanto pelo valor do teste qui-
quadrado (Tabela 15).
Tabela 15 – Prevalência e a Razão de Prevalência (RP) das características sócio-demográficas segundo os Grupos 1 e 2, Cuiabá/MT, 2010.
Variável / Categoria Grupo 1 n / %
Grupo 2 n / %
RP IC (95%) Valor do p (x2)
Sexo Masculino 68 (63,0%) 62 (57,9%) 1,11 (0,84;1,47) 0,452 Feminino 40 (37,0%) 45 (42,1%)
Idade 20 – 55 anos 47 (43,5%) 55 (51,4%) 0,85 (0,65; 1,12) 0,247 56 – 84 anos 61 (56,5%) 52 (48,6%)
Escolaridade ≤ 8 anos de estudo 78 (72,2%) 77 (72,0%) 1,006 (0,75; 1,35) 0,966 > 8anos de estudo 30 (27,8%) 30 (28,0%)
Situação conjugal Com companheiro 78 (72,2%) 74 (69,2%) 1,08 (0,80; 1,46) 0,622 Sem companheiro 30 (27,8%) 33 (30,8%)
Classe econômica Classe A2 4 (3,7%) 4 (3,7%) Classe B1 5 (4,7%) 5 (4,7%) Classe B2 19 (17,6%) 18 (16,8%) - - 0,704 Classe C1 27 (25,0%) 20 (18,7%) Classe C2 25 (23,1%) 29 (27,1%) Classe D 26 (24,1%) 31 (29,0%) Classe E 2 (1,9%) 0 (0%)
Ocupação Com ocupação 60 (55,6%) 57 (53,3%) 1,047 (0,80; 1,37) 0,737 Sem ocupação 48 (44,4%) 50 (46,7%)
36
As prevalências e a Razões de Prevalência (RP) do status de tabagismo segundo
os Grupos 1 e 2 encontram-se na Tabela 16. Os participantes do Grupo 1 fumavam
menos cigarros por dia (cerca de 32%) que os do Grupo 2 (IC 1,02-1,72; p = 0,038) e
estão mais tempo sem fumar que os do Grupo 2 (IC 0,98 – 1,81; p = 0,05). Não houve
diferença significante com o tempo de tabagismo dos dois grupos.
Tabela 16 – Prevalência e a Razão de Prevalência (RP) do status de tabagismo segundo os Grupos 1 e 2, Cuiabá/MT, 2010.
Variável/ Categoria Grupo 1
n / % Grupo 2
n / % RP IC (95%) Valor
do p (x2)
Quanto tempo fumou Menos de 10 anos 18 (16,7%) 21 (19,6%) 0,903 (0,62; 1,31) 0,573 Mais de 10 anos 90 (83,3%) 86 (80,4%)
Cigarros por dia Menos de 10 cigarros
47 (43,5%) 32 (29,9%) 1,326 (1,02; 1,72) 0,038*
Mais de 10 cigarros
61 (56,5%) 75 (70,1%)
Tempo sem fumar Mais de 10 anos 77 (71,3%) 63 (58,9%) 1,33 (0,98;1,81) 0,005* Menos de 10 anos 31 (28,7%) 44 (41,1%)
*Valor significativo do teste de qui-quadrado (p < 0,05).
A prevalência dos fatores facilitadores e dificultadores da cessação do tabagismo
segundo os Grupos 1 e 2 encontram-se nas Tabelas 17 e 18. Os participantes do Grupo 1
referiram não ter tido nenhum motivo aparente em 46% (50/108), enquanto os do Grupo
2 pararam sem motivo aparente em 22,4% (24/107). O maior motivo facilitador dos
participantes do Grupo 2 foi doença própria ou na família com 27,1% (29/107). Em
relação aos fatores dificultadores da cessação percebe-se que os participantes do Grupo
1 tiveram menos dificuldade que os do Grupo 2, sendo que 46,3 (50/108) deles não
relataram maior dificuldade em ter parado de fumar em comparação com os
participantes do Grupo 2, com 31,8 % (34/107) (p = 0,001).
37
Tabela 17 – Prevalência dos fatores facilitadores e dificultadores da cessação segundo os Grupos 1 e 2, Cuiabá/MT, 2010.
Variável/ Categoria Grupo 1 n / %
Grupo 2 n / %
Valor do p (x2)
Fatores facilitadores Doença própria ou na família
21 (19,4%) 29 (27,1%)
Gravidez ou nascimento de criança
4 (3,7%) 10 (9,3%)
Sem motivo aparente 50 (46,3%) 24 (22,4%) 0,001* Por que alguém disse para parar
13 (12,0%) 16 (15,0%)
Religião 6 (5,6%) 18 (16,8%) Outros motivos 14 (13,0%) 10 (9,3%)
Fatores dificultadores Convívio com fumante
5 (4,6%) 10 (9,3%)
Não teve grande dificuldade
50 (46,3%) 34 (31,8%) 0,050*
Nervosismo/ ansiedade
7 (6,5%) 17 (15,9%)
Fissura 35 (32,4%) 38 (35,5%) Outros 11 (10,2%) 8 (7,5%)
*Valor significativo do teste de qui-quadrado (p < 0,05).
Tabela 18 – Prevalência e Razão de Prevalência (RP) dos fatores facilitadores e dificultadores dicotomizadas da cessação segundo os Grupos 1 e 2, Cuiabá/MT, 2010.
Variável/ Categoria Grupo 1 n / %
Grupo 2 n / %
Total RP/ IC 95%
Valor do p (x2)
Fator facilitador Fator intrínseco 50 (67,6%) 24 (32,4%) 74 (100%) 1,64 0,001* Fator extrínseco 58 (41,1%) 83 (58,9%) 141 (100%) (1,28; 2,12)
Total 108 (100%) 107(100%) Fator dificultador
Não teve dificuldade 50 (59,5%) 34 (40,5%) 84 (100%) 1,34 0,041* Teve dificuldade 58 (44,35) 73 (55,75) 131 (100%) (1,04; 1,75)
Total 108 (100%) 107(100%) *Valor significativo do teste de qui-quadrado (p < 0,05).
A prevalência do número de tentativas de parar de fumar segundo os Grupos 1 e
2 estão na Tabela 19. Verificou-se que dentre os participantes do Grupo 1 68,5%
38
(74/108) deles param na primeira tentativa e que os participantes do Grupo 2 pararam de
fumar após 2 ou mais tentativas (IC 1,32-2,43; p = 0,001).
Tabela 19 – Prevalência do número de tentativas de parar de fumar segundo os Grupos 1 e 2, Cuiabá/MT, 2010.
Tentativas de parar fumar Grupo 1 Grupo 2 Total Parou na primeira tentativa 74 (68,5%) 44 (41,1%) 118 (54,9%) De 2 a 5 tentativas 22 (20,4%) 45 (42,1%) 67 (31,2%) Mais de 5 tentativas 12 (11,1%) 18 (16,8%) 30 (14,0%) Total 108 (100%) 107 (100%) 215 (100%)
Tabela 20 – Prevalência do número de tentativas de parar de fumar dicotomizada segundo os Grupos 1 e 2, Cuiabá/MT, 2010.
Ex-fumantes Variáveis/ categoria Grupo 1 Grupo 2 RP IC 95% X2
Tentativas para parar de fumar dicotomizada
Primeira tentativa 74 (68,5%) 44 (41,1%) 1,789 (1,32; 2,43) 0,005 2 tentativas ou mais 34 (31,5%) 63 (58,9%)
39
4.3 ANÁLISE MULTIPLA
Ajustando por sexo, escolaridade e nível sócio-econômico, observa-se que a
primeira tentativa para parar de fumar e o motivo intrínseco a pessoa são significantes
quanto ao desencadeamento do insight. A pessoa que para de fumar na primeira
tentativa tem 18 vezes mais chance de fazer por insight e 17 vezes mais probabilidade
que esta atitude parta de algum fator intrínseco a ela (Tabela 21).
Tabela 21 - Modelo final de regressão de Poisson da estratégia usada para parar de fumar por insight, em ex-fumantes de Cuiabá, 2010, MT
Variáveis RP IC 95% p valor Tentativas para parar de fumar
Primeira tentativa / 2 ou mais tentativas 1,18 (1,08; 1,29) < 0,001 Fator facilitador
Intrinseco/ extrinseco 1,17 (1,08; 1,27) < 0,001 Ajustado por sexo, escolaridade e nível sócio-econômico.
40
5. - DISCUSSÃO
5.1 DA POLUÇÃO EM ESTUDO
Este estudo de base populacional, avaliando os ex-fumantes, mostra que
pacientes que pararam de fumar sem planejamento, por insight (tempestade
motivacional), tem perfil diferente daqueles que pararam com planejamento, com ou
sem medicação de apoio. Destacam-se neste estudo algumas características desta
população de ex-fumantes: a maioria são homens, tiveram menor carga tabágica,
pararam sem motivo aparente, com menos sofrimento ao parar e estão há mais tempo
sem fumar, quando comparado aos fumantes que planejaram parar de fumar.
Inicialmente a discussão está focada nas características sócio-demográficas da
população de estudo, sem comparação entre os grupos de estudo, pois eles são
semelhantes em relação a estas variáveis, não apresentaram diferenças significantes
quando comparados os dois grupos entre si. Isto mostra que a população estudada era
homogênea, semelhantes quanto ao sexo, faixa etária, escolaridade, estado civil e renda.
Os dois grupos foram diferentes nas outras variáveis de estudo (status do tabagismo,
fatores facilitadores e dificultadores da cessação, número de tentativas de parar de
fumar) que serão discutidas mais adiante.
Quanto ao gênero, à maioria dos ex-fumantes de Cuiabá/ MT é do sexo
masculino (60,5%), este resultado é corroborado pela pesquisa do VIGITEL 2009
(Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito
telefônico), também de base populacional, onde foi encontrada maior proporção do sexo
masculino entre os ex-fumantes (BRASIL, 2010). Geralmente os estudos sobre
tabagismo, principalmente aqueles que envolvem tratamento, mostra que o sexo
feminino é mais freqüente (SZKLO e OTERO, 2008). Possivelmente porque as
mulheres são as que mais buscam os serviços de saúde para parar de fumar, isto pode
ser explicado pelo fato de que são mais preocupadas com a própria saúde, diferentes dos
41
homens, que por uma série de questões culturais e educacionais, só procuram o serviço
de saúde quando perderam sua capacidade de trabalho (BRASIL, 2009).
A maioria dos estudos com fumantes e ex-fumantes são feitos em serviços de
saúde onde o paciente busca o serviço para parar de fumar e estes geralmente
apresentam maior prevalência do sexo feminino, casada, fumantes com elevada carga
tabágica e que não conseguem parar de fumar por conta própria, geralmente relatam já
terem feito mais de duas tentativas para parar de fumar sem sucesso (RUSSO e
AZEVEDO, 2010; CARAM et al, 2009).
Em relação à faixa etária, a média de idade encontrada foi elevada (56,5 anos),
todavia este resultado se assemelha ao encontrado na estimativa de ex-fumantes em
Cuiabá/MT, para o ano de 2009, onde os ex-fumantes representam 17,5% dos homens
na faixa etária entre 18-24 anos e 52,3% entre aqueles com 65 anos e mais anos de idade
(BRASIL, 2010). Este resultado reforça a idéia de que o fumante deixa de fumar já com
a idade avançada, com muito tempo de tabagismo, provavelmente quando o risco de
doenças tabaco-relacionadas é grande. Sabe-se que estas doenças estão associadas com
o tempo de tabagismo, quantidade de cigarros fumados por dia e com a profundidade
das tragadas e, em muitas dessas doenças esta relação é dose-resposta (CARAM, 2009;
TORRES e GODOY, 2004).
Para a situação econômica dos ex-fumantes em Cuiabá/ MT, segundo a
classificação da ABEP (2010), encontrou-se as maiores freqüências para as classes D,
C2 e C1, ou seja, as classes menos favorecidas economicamente. A relação entre
tabagismo e pobreza está bem documentada na literatura, existindo correlação entre
tabagismo, baixa renda e baixo nível de escolaridade (BRASIL, 2004). No Brasil,
indivíduos com nenhuma escolaridade têm uma probabilidade cerca de cinco vezes
maior de serem fumantes do que indivíduos que têm o terceiro grau (BRASIL, 2004).
Assim como a probabilidade de ser fumante é maior nas classes de baixa renda, é
normal encontrar também a maior freqüência de ex-fumantes, nestas mesmas classes.
Porém quando analisados o perfil sócio-econômico segundo a classificação da ABEP
para os fumantes que buscam ajuda nos serviços de saúde para parar de fumar a maior
parte se concentra nas classes B2 e C, com escolaridade prevalente aos que tem pelo
menos o segundo grau concluído (SANTOS et. al., 2008), isto significa que os
indivíduos com melhor situação econômica e escolaridade, procuram mais os serviços
42
de saúde para parar, enquanto que na população geral, este perfil de ex-fumantes pode
ser um pouco diferente, com escolaridade e situação econômica inferior aos demais,
corroborados neste estudo.
A ocupação atual foi dividida em 55,1% (118/214) para os indivíduos que
estavam trabalhando, 30,4% (65/214) para aposentados ou pensionistas e 14,5%
(31/214) para donas de casa. Apenas uma pessoa respondeu estar desempregada. A
elevada freqüência de aposentados e pensionistas se dá pelo fato de serem pessoas já
com mais idade e que pararam de fumar a mais de 10 ou 20 anos.
Em relação ao status do tabagismo, a maioria dos ex-fumantes foi considerada
como de alta carga tabágica (fumantes pesados), onde 51,2% destes declararam ter
fumado mais de 20 anos na vida e quanto ao número de cigarros fumados ao dia, 34,0%
(73/215) responderam fumar mais de 20 cigarros por dia. Estudos mostram que o perfil
de fumantes que mais buscam tratamento para deixar o tabaco, são os considerados
pesados, com carga tabágica elevada, então pode-se considerar que o status do
tabagismo dos ex-fumantes tanto na população geral, quanto nos que buscam tratamento
é semelhante ao encontrado neste estudo (SZKLO e OTERO, 2008).
Foi marcante o resultado do número de tentativas até conseguir parar de fumar
definitivamente, pois foi diferente dos dados da literatura, onde são necessárias em
média de cinco a sete tentativas prévias para que se consiga atingir o objetivo. Quanto a
esta variável, os resultados analisados mostram que mais da metade parou na primeira
tentativa e estão sem fumar há mais de 10 anos. Possivelmente esta diferença de
resultados é decorrente do desenho deste estudo, de base populacional, enquanto os
estudos da literatura são resultados de ensaios clínicos de fumantes que procuram os
serviços especializados para a cessação. Geralmente as características de pessoas
fumantes que buscam os serviços de saúde para tratamento se diferenciam das pessoas
da população em geral, e isto pode ser generalizado para os ex-fumantes também.
Talvez esta seja a explicação mais plausível para estes resultados (ACHUTTI, 2001;
GIGLIOTTI et al., 1999).
Alguns estudos deixam claro esta diferença de perfil, onde a maior participação
de mulheres, indivíduos mais velhos e fumantes em estágios mais avançados de
dependência são os que mais buscam pelo tratamento, ou seja, são justamente as
pessoas que mais tem dificuldades para parar de fumar. Nesses estudos realizados em
43
centros de tratamento do tabagismo a média de tentativas de parar de fumar é alta,
chegando até 5 vezes de média (RUSSO e AZEVEDO, 2010; MELO et al., 2006). No
entanto no presente estudo de base populacional, os resultados diferem, principalmente
por se tratar de pessoas ex-fumantes, aquelas que já obtiveram sucesso contra o
tabagismo há um tempo considerado prolongado (mais de 10 anos), o que diminui a
possibilidade de recaídas.
Ao tratar dos fatores facilitadores para deixar de fumar, a amostra em estudo
nomeou alguns motivos como sendo os principais para o auxilio desta função. Cerca de
um terço (34,4%) dos participantes revelaram que resolveram parar de fumar de uma
hora para outra, dizendo que está decisão foi tomada intrinsecamente, ou seja, por conta
própria sem interferência do meio externo. Outra parcela (23,2%) associou a decisão de
parar de fumar a uma exigência por conta de alguma doença própria ou de algum
familiar doente. Na literatura é comum encontrar respostas semelhantes, pois a
preocupação com a saúde muitas vezes pode ser um fator muito forte para auxiliar esta
decisão (RUSSO e AZEVEDO, 2010). Outros (13,5%) pararam de fumar porque
alguém pediu e/ou influenciou, ou o médico, família ou amigos. Possivelmente estas
pessoas estavam preocupadas em expor crianças, família e amigos à fumaça do cigarro,
confirmando o estudo feito em quatro capitais do Brasil, onde este foi o maior fator de
motivação para fumantes quererem parar de fumar (GIGLIOTTI e LARANJEIRA,
2005). Alguns (11,2%) disseram que a religião influenciou para tomar esta decisão,
muitos eram fumantes e ao se converterem a alguma igreja, buscaram na religião a força
para parar de fumar, dados concordantes com estudo de perfil dos alunos de graduação
de uma universidade pública do município de São Paulo que verificou que os alunos
que freqüentam alguma religião protestante são menos propensos a serem tabagistas
(SILVA et al., 2006).
Para os fatores que mais dificultaram a cessação do tabagismo, foram listados:
34,0% a fissura, que é descrita como uma vontade muito grande de fumar, 11,2% ficou
nervoso e/ou ansioso, estes dois primeiros fatores são os principais componentes da
síndrome de abstinência relatada por pessoas que estão na fase de ação para parar de
fumar. A literatura diz que a síndrome da abstinência é o fator que mais dificulta a
cessação do tabagismo, diferindo entre os pacientes em relação à duração e intensidade
(DUPONT e GOLD, 1995).
44
O convívio com fumante também foi analisado, onde 7,0% dos participantes
responderam que foi o convívio com outros fumantes tanto no serviço, na família e/ou
entre amigos que dificultou a cessação. Em um estudo feito por pesquisadores da
Universidade de Auckland em Londres (MCROBBIE et. al., 2008), testou a hipótese de
que a fumaça do cigarro poderia fazer com que ex-fumantes desejassem voltar a fumar,
após uma semana de abstinência os ex-fumantes foram solicitados a avaliar o efeito da
fumaça do cigarro alheio. Dentre os 1.100 participantes, 23% acharam o cheiro
ligeiramente prazeroso e 54% pelo menos tentador. A taxa de retorno ao tabagismo foi
dentro do esperado, embora não se estabelecesse relação direta entre avaliação como
agradável do cheiro de cigarros e o retorno ao tabagismo. Os abstêmios recentes, que
classificaram a fumaça de cigarro como tentadora, estatisticamente foram os que
recaíram. O interessante foi o fato de que a tentação diminuía com o tempo e, quatro
semanas após esse período, a tentação não influenciava na taxa de retorno ao tabagismo.
A conclusão do estudo foi que achar a fumaça de cigarro tentadora não influencia no
retorno, mas deve servir de sinal de que a cessação corre perigo (MCROBBIE et. al.,
2008).
Grande número (39,1%) de ex-fumantes relataram que não tiveram grande
dificuldade para parar de fumar, estas pessoas geralmente se descreviam como tendo
força de vontade, ou ser uma pessoa de opinião, e que não iriam voltar atrás da decisão,
muitas disseram que quando decidiram parar de fumar simplesmente não tiveram
dificuldades com a síndrome de abstinência, tornando este estágio da cessação mais
ameno. Os estudos que tratam da facilidade e da dificuldade de parar de fumar relatam
que os fumantes têm características psicológicas diferentes, e que esta facilidade pode
estar associada à não relação a antecedentes psiquiátricos, ou seja, estudos prévios
mostraram que fumantes que possuem antecedentes psiquiátricos com histórico de
depressão possuem maior dificuldade em parar de fumar (GLASSMAN, 1993;
BRESLAU et. al., 1992). Outro estudo observou que fumantes com depressão maior
possuem chance três vezes maior de continuarem fumando, quando comparados a
fumantes sem o referido histórico, após tratamento do tabagismo (BRESLAU et. al.,
1992).
As características psicológicas dos participantes deste estudo não foram
avaliadas, porém pode-se discutir a facilidade destes em parar de fumar, juntamente
45
com a baixa sensação de desconforto causada pela síndrome de abstinência, como sendo
uma mudança de gozo atrelada ao objeto, que neste contexto é o tabaco.
Na teoria das pulsões, a psicanálise descreve quatro conceitos auxiliares para
caracterizar o conceito freudiano de pulsão: fonte, pressão, alvo e objeto (GOMES,
2001). A fonte da pulsão é o processo somático que dá origem à pulsão. O alvo é a
suspensão da estimulação na fonte (corpo), e a finalidade a meta, que é a satisfação da
pulsão, ainda que parcial, a qual Freud define como sendo exatamente esta suspensão do
estado de estimulação na fonte somática. O objeto da pulsão é aquilo junto a que, ou
através de que, a pulsão pode atingir seu alvo. É variável, e não está originalmente
ligado a pulsão. O objeto é coordenado à pulsão em conseqüência de sua aptidão à
tornar possível a satisfação (FREUD, 1982a). E finalmente a pressão, é a soma de força
ou a medida da exigência de trabalho (GOMES, 2001).
Colocando por este viés as pessoas que conseguem deixar o tabaco com
facilidade, provavelmente tiveram uma mudança do objeto ao qual esperam que este lhe
proporcione satisfação, o tabaco antes colocado como um importante objeto de
satisfação/prazer, passa a não ter mais valor, este movimento psíquico pode se dar em
qualquer pessoa, de qualquer idade, sexo e perfil psicológico, basta que este insight
aconteça, para que ela busque satisfação em outros objetos, que podem ser externos, ou
estar ligado a uma parte do próprio corpo (MÉNARD, 1998).
Para analisar com maior profundidade estes dados referentes aos fatores
facilitadores, os ex-fumantes foram divididos em: com fator próprio ou fator externo.
Os fatores que facilitaram a cessação, descritos como próprios, somaram 34,4% e
fatores externos ao indivíduo, ou seja, estimulados a parar de fumar por algum evento
ou por alguma pessoa, somaram 65,6%. Apesar da porcentagem de fatores intrínsecos
serem menor que o extrínseco, este fato é importante, pois mostra que muitos fumantes
possivelmente não se adequariam ao preconizado pelos consensos, que tem como base a
terapia cognitivo-comportamental, que busca a mudança de atitudes frente ao problema
e a ajuda medicamentosa. Algumas pessoas não são estimuladas por fatores externos,
que é justamente o trabalho preconizado pelo INCA, para a cessação do tabagismo,
motivar e condicionar as pessoas a querer parar de fumar. Estas pessoas precisam de um
dispositivo que o acione internamente, o motive internamente para a cessação
(QUINET, 2002).
46
Deveria haver outra forma de abordagem para os fumantes com este perfil, que
valorizasse os fatores internos/ psicológicos envolvidos na dependência do tabagismo,
os fatores que realmente partam do desejo do próprio fumante. A terapia cognitivo-
comportamental, com o treinamento de habilidades, tenta mudar o que está visível, o
que pode ser controlado, mas não chega ao inconsciente, já que não é seu objeto de
estudo, e onde estão inscritos significantes que articulam o desejo. Outro ponto central
do protocolo brasileiro (BRASIL, 2001), é o estimulo ao auto-controle ou auto-manejo,
onde o paciente é dado como responsável por sua melhora, depende só dele, é uma
questão de caráter, de vontade e não de desejo; porém quando este tem uma recaída,
vem o sentimento de culpa e fracasso gerando um aumento da ansiedade, o que pode
levá-lo a desistir do tratamento.
A proposta da psicanálise por sua vez, é abordar o fumante desde sua lógica
inconsciente, implicada no ato de fumar ou parar de fumar. Deste modo, outras
categorias teóricas precisam ser avaliadas, de modo a pensar o que efetivamente está em
questão no tabagismo, para que outras possibilidades/estratégias possam ser propostas
às pessoas que não conseguem parar de fumar, principalmente para aqueles que já
tentaram e não conseguiram sucesso com a abordagem oficial.
A proposta da psicanálise não é individualizar o tratamento, nem tanto modificar
o manejo da terapia cognitivo-comportamental, mas sim propor uma integração de
outras teorias psicológicas para o estudo da cessação do tabagismo.
Continuando a discussão, em relação aos fatores dificultadores, os ex-fumantes
foram divididos em: aqueles que verbalizaram não ter tido grande dificuldade para parar
de fumar (39,1%) e aqueles que tiveram alguma dificuldade (60,9%). O percentual de
ex-fumantes que relataram não ter tido grande dificuldade para parar de fumar foi
menor dos que tiveram dificuldade, todavia estes dados são relevantes e reforçam ainda
mais que fumantes tem perfis diferentes, e não devem ser tratados de maneira
homogênea. Estes resultados reforçam a hipótese de que os fumantes diferem entre si
quanto à dificuldade para a cessação, pois cada fumante é um ser único, com um
determinado perfil, com a sua própria personalidade, com a sua situação profissional e
familiar e com uma história tabágica singular (WEST e SOHAL, 2006), para tanto se
faz necessário uma estratégia de acolhimento diferente para pacientes diferentes.
47
5.2 DA COMPARAÇÃO ENTRE OS GRUPOS – GRUPO 1 versus GRUPO 2.
A estratégia utilizada para parar de fumar foi analisada nesta pesquisa, os
participantes descreveram como foi a parada de fumar, se por via de algum
planejamento (marcando data para a ação, tomando remédio, fazendo promessa,
diminuindo o número de cigarros ao dia, etc) ou se pararam sem nenhum planejamento
à priori, ou seja, decidiram de uma hora para outra, como se fosse um insight
(tempestade motivacional). Para aprofundar esta análise e permitir melhor visualização
dos resultados os ex-fumantes foram divididos em dois grupos: Grupo 1, aqueles que
não planejaram e Grupo 2 os que planejaram a cessação.
Percentualmente ambos os grupos tiveram uma distribuição semelhante (50,2%
versus 49,8%, respectivamente), porém no grupo 2, a maioria dos participantes não
fizeram uso de nenhum medicamento ou tiveram qualquer orientação da equipe de
saúde, apenas uma pequena parcela (7,5%) relatou uso de medicamentos para auxiliar a
cessação e aliviar a síndrome de abstinência. Este resultado reflete em parte a pouca
confiança da população nos medicamentos para a cessação, e também pode estar
relacionado com a pequena cobertura do programa de tabagismo em Cuiabá. Existe
somente um centro especializado para tratamento de tabagistas, o qual utiliza as
estratégias preconizadas pelo Ministério da Saúde. Possivelmente estes dois fatos
justificam o baixo uso de fármacos para o auxilio desta população de ex-fumantes.
Poucos estudos analisam este tema, parar de fumar sem planejar. Estudo
britânico nos anos 80, antes do advento da farmacoterapia para tabagistas, mostra que
53% dos ex-fumantes analisados disseram que não era difícil parar de fumar, 27% deles
relataram ser bastante difícil parar e o restante achou extremamente difícil parar de
fumar por conta própria (MARSH e MATHESON, 1983). Mais recentemente este tema
voltou a ser discutido em algumas publicações especializadas e alguns autores relatam
que a maioria dos ex-fumantes pararam sem ajuda dos serviços de saúde e muitos deles
o fizeram sem nenhum planejamento prévio, por insight, tempestade motivacional
(CHAPMAN e MACKENZIE, 2010, WEST e SOHAL, 2006)
48
Na literatura ainda existem dúvidas sobre o perfil do fumante que tem esta
característica de parar de fumar sem maior dificuldade, sem planejamento através do
preconizado nos consensos e diretrizes de cessação do tabagismo. Aqui, neste estudo,
está sendo discutidas algumas variáveis que poderiam explicar, pelo menos em parte,
este fato. As diferenças entre estes dois grupos de ex-fumantes vão além das
características sócio-demográficas, pois estas se mostraram semelhantes, mostrando que
a população estudada é homogênea quanto a estas variáveis. Ou seja, gênero, idade,
escolaridade, situação conjugal, classe econômica e ocupação não influenciam no tipo
de estratégia utilizada para parar de fumar. Isto vem a confirmar a hipótese de estudo,
que os ex-fumantes diferem entre si nas características subjetivas, pois quando
analisadas as questões referentes ao status do tabagismo relacionadas aos dois grupos,
observa-se que estes têm interferência quanto o tipo de estratégia utilizada.
A quantidade de cigarros fumados por dia é fator importante para que a pessoa
consiga parar de fumar por insight, ou seja, sem planejamento prévio da ação. Os
participantes que não planejaram a ação de cessação (grupo 1) fumavam menos cigarros
por dia que os indivíduos do grupo 2. Uma explicação para este resultado é o grau de
dependência nicotínica dos fumantes que tem maior carga tabágica (fumantes pesados),
pois eles têm maior dificuldade de cessação, são mais sintomáticos com a abstinência,
tendo mais episódios de “fissura” para fumar (HURT, et. al., 1995).
Outra explicação para este resultado, é que apesar de fumar menos cigarros por
dia, estes indivíduos que pararam de fumar sem planejamento possuem diferentes
características psicológicas que ainda não estão totalmente desvendadas, vários estudos
apontam para esta necessidade de se conhecer a fundo o perfil psicológico (CHAPMAN
e MACKENZIE, 2010; WEST e SOHAL, 2006), para então chegar a estratégias mais
eficazes que possam abarcar um maior número de fumantes, com diferenças subjetivas
entre si.
Seguindo a discussão, também foi marcante a diferença entre os grupos
estudados em relação aos fatores facilitadores, destacando que o fator próprio,
intrínseco ao sujeito, foi mais relatado (67,6%) entre os participantes do grupo sem
planejamento. Não é por acaso que as pessoas que não planejam parar de fumar
destaquem como fator interno o desejo que o move para a ação, psiquicamente a energia
gasta para a ação está focada na busca de satisfação, do prazer, e quando o tabaco
49
(cigarro), não está mais no lugar do objeto que real ou fantasiosamente promete esta
satisfação, o fumante simplesmente muda psiquicamente de objeto, esta mudança pode
ocorrer como em um passe de mágica, fazendo com que o fumante deixe de fumar e não
sinta dificuldades com a síndrome de abstinência.
Pode-se então situar o tabaco como tentativa de resposta àquilo que os homens
esperam ser o propósito e a intenção de suas vidas: a felicidade. A busca de felicidade
se constitui numa eterna demanda e a resposta de Freud é a de que não há felicidade,
porém satisfação, e esta satisfação revela um paradoxo estrutural, pois contém no seu
bojo a pulsão de morte que vai contra o bem estar do sujeito (FREUD, 1930).
Em relação ao número de tentativas prévias de parar de fumar, cerca de 80% dos
participantes do grupo sem planejamento parou de fumar na primeira tentativa, e destes
não havia diferença de gênero. A literatura coloca que a dependência nicotínica é
severamente controlada pela dependência química que toma conta do sistema nervoso
(DUPONT e GOLD, 1995), porém os participantes do grupo sem planejamento
fumavam menos cigarros por dia, apresentaram menos dificuldade em parar de fumar, e
verbalizaram que o principal motivo que facilitou a decisão de parar de fumar, partiu de
dentro do próprio indivíduo. Possivelmente esta capacidade individual, este fator
intrínseco é um dispositivo psicológico motivacional para a cessação do tabaco.
Este pode ser o “segredo” de tanto sucesso entre aqueles que não precisaram de
ajuda para parar de fumar, porém não se pode esquecer-se de salientar a influencia
indireta dos métodos como as campanhas educacionais anti-fumo; elaboração de normas
sociais como a proibição do fumo em restaurantes, teatros e cinemas. Essas intervenções
têm como foco a comunidade, são menos custosas e produzem taxas de abstinência
mais baixas. Porém quando se fala em dados populacionais estes métodos conseguem
atingir um número maior de fumantes, produzem taxas de abstinência mais altas e
reduzem mais a morbidade e a mortalidade.
Estes métodos podem ser considerados como aliados a influenciar e colocar o
indivíduo a pensar sobre o ato de fumar e são dispositivos que intensificam a motivação
para deixar o tabagismo de uma maneira que parta do próprio indivíduo esta decisão.
50
5.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo investigou a estratégia utilizada pelos ex-fumantes de Cuiabá/MT
para parar de fumar, bem como o perfil dos que pararam através de insights (tempestade
motivacional) ou por meio de planejamento.
O delineamento utilizado nesta investigação viabilizou a descrição de
características de uma população, no entanto apresenta como limitação a
impossibilidade de se estabelecer relações temporais de causa e efeito, dado que fatores
de risco e desfecho são observados simultaneamente, de modo que o viés na causalidade
reversa não pode ser excluído (MEDRONHO et al., 2005). Como este estudo foi de
base populacional, com treinamento criterioso dos pesquisadores de campo e
padronização dos procedimentos para a coleta de dados, bem como o rigor
metodológico observado durante a obtenção, processamento e análise de dados, existe a
possibilidade de inferência dos resultados da amostra, permitindo que os resultados
obtidos nesta pesquisa possam ser generalizados para outros indivíduos ex-fumantes de
Cuiabá/MT.
Outra limitação quanto a este estudo, foi à perda de participantes, tão comuns
nos estudos populacionais, que no primeiro contato (2003/2004) foram encontrados 412
ex-fumantes e no ano de 2010 foram encontrados apenas 215 ex-fumantes.
Possivelmente as perdas não foram prejudiciais para o objetivo maior deste estudo, a
comparação entre os grupos, pois as características sócio-demográficas foram
semelhantes entre eles. Apesar destas limitações, pode-se destacar algumas ressalvas,
como o tipo de estudo (base populacional) e o caráter inédito das informações sobre este
perfil de participantes.
Sabe-se que muitos são os esforços para combater o tabagismo, muitos
programas tem apresentado bons resultados, porém há muito ainda para ser feito. Na
literatura é cada vez mais comum encontrar pesquisas que buscam saber do perfil de
fumantes e ex-fumantes, tudo isto para poder encontrar uma maneira mais eficaz de
tratar todos os perfis de fumantes.
O ponto em comum sempre citado nos estudos é sobre a diferença psicológica
dentre os pacientes, alguns têm tanta facilidade para se libertar da dependência
51
nicotínica e outros já penam, tentam varias estratégias, mas não conseguem, a
dependência é mais forte que a própria vontade de parar de fumar, chamada de
ambivalência da dependência que significa, neste contexto, a experiência de um conflito
psicológico para decidir entre continuar e parar de fumar (ROLLNICK, 2001).
O fato é que, independente do perfil sócio-demográfico e carga tabágica, a
motivação para parar de fumar é a pedra angular de todo processo de cessação. Sabe-se
que o paciente realmente motivado tem muito mais facilidade em deixar de fumar e
suportar a síndrome de abstinência, esta que muitas vezes pode ser superada sem
maiores transtornos. O grande problema do tabagismo é a dificuldade de motivar o
fumante ao ponto dele conseguir se superar, de vencer todas as barreiras da síndrome de
abstinência, pois existem diferentes perfis de fumantes, com características ainda não
totalmente elucidadas.
Esta motivação pode ser descrita em alguns fumantes como uma tempestade
motivacional, um insight, e este decide parar de fumar e encarar com muita
determinação este desafio, dispositivo central e facilitador da cessação. Em outros
fumantes este fato não ocorre e a ciência ainda está em busca destas explicações. Outros
estudos com diferentes métodos serão necessários para clarear a complexidade deste
fenômeno. Talvez a psicanálise possa dar a sua contribuição para os programas de
cessação do tabagismo ao buscar estas explicações que possibilitem orientar melhor os
fumantes que tem dificuldades de parar de fumar – os fumantes pesados.
RECOMENDAÇÕES A SAÚDE PÚBLICA
A partir deste estudo recomenda se que os serviços de atendimento aos fumantes que
desejam parar de fumar seja constituído de forma interdisciplinar. Aquelas pessoas que
não se adéquam ao serviço oferecido atualmente, ou seja, não adere à terapia cognitivo-
comportamental, que ela possa ser acolhida por uma outra abordagem podendo ser pela
Psicanálise. Sabe-se que nem todas as pessoas conseguem entrar em análise, pois os
perfis psicológicos envolvidos são diferentes entre si, então a abordagem que pode
ajudar uma pessoa, pode não ter o mesmo efeito com outra, esta premissa possibilita
que nos serviços sejam oferecidos diferentes abordagens e profissionais qualificados
para o atendimento.
52
6. - CONCLUSÕES
• A estratégia utilizada para parar de fumar foi de 50,2% para aqueles que não
planejaram parar, fizeram por insight. Os que planejaram parar de fumar
somaram 49,8% e destes que planejaram 7,5% deles planejaram parar de fumar
com ajuda de medicamentos.
• O perfil sócio-demográfico dos ex-fumantes tanto do grupo 1, quanto do grupo 2
se apresentaram de forma homogênea, não havendo diferença significativa entre
eles.
• Sobre o status do tabagismo, os participantes do Grupo 1 fumavam menos
cigarros por dia (cerca de 32%) que os do Grupo 2 (IC 1,02-1,72; p = 0,038) e
estão mais tempo (em anos) sem fumar que os do Grupo 2 (IC 0,98 – 1,81; p =
0,05). Não houve diferença significante com o tempo de tabagismo dos dois
grupos.
• Para os participantes do grupo 1 o motivo facilitador foi considerado intrínseco
em 46% (50/108), partindo do próprio participante, enquanto os do Grupo 2
pararam sem motivo aparente em 22,4% (24/107).
• Em relação aos fatores dificultadores da cessação percebe-se que os
participantes do Grupo 1 tiveram menos dificuldade que os do Grupo 2, sendo
que 46,3 (50/108) deles não relataram maior dificuldade em ter parado de fumar
em comparação com os participantes do Grupo 2, com 31,8 % (34/107) (p =
0,001). Cerca de 80 % das pessoas que pararam de fumar no grupo 1, sem
planejamento conseguiram sucesso já na primeira tentativa da cessação.
53
7. - REFERÊNCIAS
Achutti, A. Guia nacional de prevenção e tratamento do tabagismo. Rio de Janeiro:
Vitrô Comunicação e Editora; 2001. p.9-24.
Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP). Critério de Classificação
Econômica Brasil. São Paulo; 2010.
Botelho C. Você também pode parar de fumar. Cuiabá: Adeptus Editora; 2006.
Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer - INCA. Coordenação de
Prevenção e Vigilância (CONPREV). Abordagem e Tratamento do Fumante - Consenso
2001. Rio de Janeiro: INCA; 2001.
Brasil. Ministério da Saúde; Instituto Nacional de Câncer - INCA. Inquérito domiciliar
sobre comportamentos de risco e morbidade referida de doenças e agravos não
transmissíveis: Brasil, 15 capitais e Distrito Federal, 2002-2003. Rio de Janeiro: INCA;
2004.
Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer – INCA. Retrato do Controle
do tabagismo no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2008.
Brasil. Ministério da Saúde. Política nacional de saúde do homem. Brasília: INCA;
2009.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de gestão
estratégica e participativa. Vigitel Brasil 2009: Vigilância de fatores de risco e proteção
para doenças crônicas por inquérito telefônico: Brasília: INCA; 2010.
Breslau N, Kilbey MM, Andreski P. Nicotine withdrawal symptoms and psychiatric
disorders: findings from an epidemiologic study of young adults. Am J Psychiat.
1992;149(4):464-9.
54
Caram LMO, Ferrari RTSE, Coelho LS, Godoy I, Martin RS e Silva et al . Perfil de
fumantes atendidos em serviço público para tratamento do tabagismo. J. Pneumol.
2009;35(10):980-85.
Cassanelli T. Prevalência de hipertensão arterial sistêmica e fatores associados na região
urbana de Cuiabá: estudo de base populacional. [dissertação de mestrado]. Cuiabá:
Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso; 2005.
Chapman S, Mackenzie R. The global research neglect of unassisted smoking cessation:
causes and consequences. PloS med. 2010;7(2): e1000216.
Dupont RL, Gold MS. Withdrawal and reward: implications for detoxification and
relapse prevention. Psychiatr. ann. 1995;25(11):663-8.
Fagerströn KO. Measuring degree of physical dependence to tobacco smoking with
reference to individualization of treatment. Addict Behav. 1978;3:235-41.
Ferguson SG, Shiffman S, Gitchell JG, Sembower MA, West R. Unplanned quit
attempts-results from a U. S. sample of smokers and ex-smokers. Nicotine tob. res.
2009;11:827-32.
Freud S. A interpretação dos sonhos. Edição Standard Brasileira das Obras psicológicas
completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago; [1987] (Trabalho originalmente
publicado em 1900). 2v.
Freud, S. Triebe und Triebschicksale. Em Studienausgabe, vol. III. Frankfurt am Main:
Fischer. [1982ª]; (Trabalho originalmente publicado em 1915).
Freud S. O mal-estar na civilização. Edição Standard Brasileira das Obras psicológicas
completas de Sigmund Freud. Rio de janeiro: Imago; [1974]; (Trabalho originalmente
publicado em 1930).
Gigliotti A, Bonetto DVS, Alves JG, Jardim JRB, Maranhão MFC, Zamboni M.
Tabagismo. J. Bras. med. 1999; 77(2), 01–16.
55
Gigliotti A, Laranjeira R. Habits, attitudes and beliefs of smokers in four Brazilian
capitals. Rev. Bras. Psiquiatr: 2005;27(1):37- 44.
Glassman AH. Cigarette smoking: implications for psychiatric illness. Am J Psychiat.
1993;150(4):546-53.
Gomes, G. Os Dois Conceitos Freudianos de Trieb. Psic.: Teor. e Pesq. 2001;17(3):239-
45.
Gonçalves-Silva RMV, Lemos-Santos MG, Botelho C. Influência do tabagismo no
ganho ponderal, crescimento corporal, consumo alimentar e hídrico de ratos. J.
Pneumol. 1997; 23(3):124-30.
Hurt RD, Dale LC, Croghan IT, Gomez-Dahl LC, Offord KP. High-dose nicotine patch
therapy: percentage of replacement and smoking cessation. J. M. Med. Assoc.
1995;274(17):1353-8.
Lacan J. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; 1995.
Mark JE, Filion KB, Yavin D, Bélisle P, Mottillo S, et al. Pharmacotherapies for
smoking cessation: a meta-analysis of randomized controlled trials. CMAJ. 2008;
179(2):135-44.
Marsh A, Matheson J. Smoking behaviour and attitudes. London: Office of Population
Censuses and Surveys. HMSO: 1983.
McRobbie H, Hajek P. Locker J. Does the reaction of abstaining smokers to the smell of
other people's cigarettes predict relapse?. Addiction. 2008;103(11): 1883–87.
Medronho RA, Carvalho DM, Bloch KV, Luiz RR, Werneck GL. Epidemiologia. São
Paulo: Atheneu. 2005:125-50.
56
Melo WV, Oliveira MS, Ferreira EA. Estágios motivacionais, sintomas de ansiedade e
de depressão no tratamento do tabagismo. Interação em Psicol. 2006;10(1):91 – 9.
Ménard, MD. As Construções do Universal. Tradução de Celso Pereira de Almeida. Rio
de Janeiro: Companhia de Freud; 1998.
Organização Mundial de Saúde (OMS). Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – Décima Revisão- (CID 10). Tra.
Faculdade de Saúde Pública de São Paulo - Centro Colaborador da OMS para
Classificação de Doenças em Português. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo; 1997.
Organização Mundial de Saúde (OMS). CIF: Classificação Internacional de
Funcionalidade, Incapacidade e Saúde [Centro Colaborador da OMS para a Família de
Classificações Internacionais, org.; coordenação da tradução Cássia Maria Buchalla]. 1.
ed., 1. reimpre. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.
Perkins KA, Epstein LH, Pastor S. Changes in energy balance following smoking
cessation and resumption of smoking in women. J. consult. clin. psychol. 1990;
58(1):121-5.
Prochaska JO, DiClemente CC, Hover-Ross JC. In search of how people change:
applications to addictive behavior. Am. psych. Association. 1992;47:1102-14.
Quinet A. As 4 + 1 condições da análise. 9. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar; 2002.
Reichert J, Araújo AJ, Gonçalves CMC, Godoy I, Chatkin JM, et al. Diretrizes para
cessação do tabagismo – 2008. J. Pneumol 2008;34(10):845-80.
Rollnick IW. Entrevista Motivacional. Preparando as pessoas para a mudança de
comportamentos adictivos. Porto Alegre: Artmed; 2001.
57
Russo AC, Azevedo RCS. Fatores motivacionais que contribuem para a busca de
tratamento ambulatorial para a cessação do tabagismo em um hospital geral
universitário. J. Pneumol. 2010;36(5):603-611.
Santos SR, Gonçalves MS, Leitão FFSS, Jardim JR. Perfil dos fumantes que procuram
um centro de cessação de tabagismo. J. Pneumol. 2008;34(9):695-701.
Silva LVER, Malbergier A, Stempliuk VA, Andrade AG. Fatores associados ao
consumo de álcool e drogas entre estudantes universitários. Rev. Saúde Pública. 2006;
40(2): 280-88.
Szklo AS, Otero UB. Perfil dos fumantes que não buscam tratamento para deixar de
fumar, município do Rio de Janeiro. Rev. Saúde Pública. 2008;42(1):139-142.
Torres BS, Godoy I. Doenças tabaco-relacionadas. J. Pneumol. 2004;30(2):19-29
West R, Sohal T. “Catastrophic” pathways to smoking cessation: findings from national
survey; Br. med. j., Clin. res. ed . 2006; 332:458-460
59
I – IDENTIFICAÇÃO
1-Nome: 2-Idade (em anos completos): 3-Sexo:
Masculino 0 Feminino 1
4-Qual sua situação conjugal atual Casado(a)/ união consensual 0
Separado(a) / divorciado(a) / desquitado(a) 1 Solteiro(a) 2
Viúvo(a) 3 5-Profissão: 6-Escolaridade: (Quantos anos de estudo)
Analfabeto / Primário Incompleto (0 a 3 anos de estudo) 0 Primário Completo / Ginasial Incompleto (4 a 7 anos de estudo) 1
Ginasial Completo / Colegial Incompleto (8 a 10 anos de estudo) 2 Colegial Completo / Superior Incompleto (11 ou faculdade incompleta) 3
Superior Completo 4 7 – Classificação econômica segundo (ABEP, 2010).
Posse de itens Quantidade 0 1 2 3 4 ou +
Televisão em cores Rádio Banheiro Automóvel Empregada mensalista Máquina de lavar Videocassete e/ou DVD Geladeira Freezer (aparelho independente / duplex) Grau de Instrução do chefe de família – quem é o chefe da família? Analfabeto / Primário incompleto 0 Primário completo / Ginasial incompleto 1 Ginasial completo / Colegial incompleto 2 Colegial completo / Superior incompleto 4 Superior completo 8
Cortes do Critério Brasil Classe Pontos
A1 42 – 46 0 A2 35 – 41 1 B1 29 – 34 2 B2 23 – 28 3 C1 18 – 22 4 C2 14 – 17 5 D 8 – 13 6 E 0 – 7 7
60
II – TABAGISMO 8-Quanto tempo você está sem fumar: Menos de 5 anos 0 Menos de 5 a 10 anos 1 Mais de 10 anos 2 9-Durante quanto tempo de sua vida você fumou? Menos de 10 anos 0 De 10 a 20 anos 1 Mais de 20 anos 2 10- Quantos cigarros você fumava por dia? Menos de 10 cigarros 0 De 10 a 20 cigarros 1 Mais de 20 cigarros 2 11-Antes de parar definitivamente, quantas vezes tentou parar de fumar? Parou na primeira tentativa 0 De duas a cinco vezes 1 Mais de cinco vezes 2 III – FATORES FACILITADORES e DIFICULTADORES 12-Você saberia dizer qual Motivo que levou você a deixar DE FUMAR? Doença própria 0 Doença na família 1 Gravidez e/ou nascimento de filho/ neto/ outros 2 Parou por que quis, sem planejamento 3 Por que alguém disse para parar 4 Outros motivos – Cite-os: 5 13-Você saberia dizer qual o fator que mais dificultou você deixar de fumar? Convívio com fumante 0 Não teve grande dificuldade 1 Nervosismo ou ansiedade 2 Depressão / choro fácil 3 Ganho de peso 4 Fissura / vontade de fumar 5 Outro - Cite-o: 6 IV – FASES DE MUDANÇA: PROSCHASKA 14-Você decidiu de uma hora para outra ou teve alguma ajuda (medicamentosa, familiar, terapêutica)? Planejou parar de fumar, marcou data, sem tomar nada. 0 Teve ajuda médica, usou medicamentos, como a bupropiona ou adesivo de nicotina.
1
Não planejou, decidiu parar de uma hora para outra 2 Planejou, sem ajuda médica, com uso de produtos de farmácia 3 15-Qual sentimento que você tem hoje em relação ao cigarro (tabaco)? Indiferente 0 Ainda tenho medo de voltar a fumar 1 Nojo/ repúdio 2
62
ANEXO 1
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário(a), da pesquisa “Planejar parar de fumar ou não?”.
Este estudo tem como um dos principais objetivos: Analisar as características sócio-demográficas, status do tabagismo e a presença de fatores facilitadores e dificultadores da cessação nos ex-fumantes que pararam de fumar sem planejamento.
Sua participação na pesquisa consistirá em responder a um questionário. Não há riscos relacionados à sua participação. O beneficio relacionado com a sua participação é a contribuição para a construção de estratégias de assistência médica, saúde pública e educação sobre estratégias de ajuda para fumantes. Você não receberá dinheiro pela sua participação.
As informações obtidas através dessa pesquisa serão secretas e garantimos o sigilo sobre a sua participação. Você será identificado(a) apenas por um código. As respostas do questionário serão reproduzidas apenas em publicações científicas, respeitando-se o sigilo do seu nome. Todo o material ficará sob a guarda do pesquisador principal e ao final de 05 anos, os questionários serão destruídos. Em caso de recusa você não terá nenhum prejuízo. Em caso de dúvida você pode procurar o Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller- UFMT- pelo telefone (65) 3615-8254. Você receberá uma cópia desse termo onde tem o nome, telefone e endereço do pesquisador responsável, para que você possa localizá-lo a qualquer momento.
Considerando os dados acima, CONFIRMO que fui informado(a) por escrito e verbalmente dos objetivos desta pesquisa e AUTORIZO a minha participação na pesquisa, de livre e espontânea vontade. Eu....................................................................................................................................................., Portador(a) do documento RG Nº:............................................................declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na pesquisa e concordo em participar. ____________________________________________ Assinatura do sujeito da pesquisa e/ou responsável ________________________________________________ Assinatura do pesquisador principal Endereços para contatos: Elizabeth Hertel Lenhardt Pesquisadora – Instituto de Saúde Coletiva/UFMT Av. Fernando Corrêa da Costa, s/n Coxipó – Cuiabá / MT Tel: (065)3615-8254 Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller- UFMT CCBS I – Campus UFMT Av. Fernando Correa da Costa Coxipó – Cuiabá - MT Tel: 65 3615-8254