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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE EDUCAÇÃO PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU EM DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA - LASEB Isabel Regina Neves Souza CULTURA AFRO-BRASILEIRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Belo Horizonte 2012

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE … · Alaíde Lisboa de Oliveira e Bruna e a Galinha D’angola, de Gercilga Almeida). Foram utilizados como recursos para nortear

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU EM DOCÊNCIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA -

LASEB

Isabel Regina Neves Souza

CULTURA AFRO-BRASILEIRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Belo Horizonte

2012

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Isabel Regina Neves Souza

CULTURA AFRO-BRASILEIRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Educação e Relações Étnico Raciais, pelo Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Docência na Educação Básica, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Orientador (a): José Eustáquio de Brito

Belo Horizonte

2012

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Isabel Regina Neves Souza

CULTURA AFRO-BRASILEIRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização apresentado como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Educação e Relações Étnico Raciais, pelo Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Docência na Educação Básica, da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Orientador (a): José Eustáquio de Brito

Aprovado em 14 de julho de 2012.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________________

José Eustáquio de Brito – Universidade do Estado de Minas Gerais

_________________________________________________________________

Nome do Convidado – Faculdade de Educação da UFMG

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AGRADECIMENTOS

A Deus Pai, responsável por toda essa conquista e pelo dom da minha vida.

Ao meu filho Lucas, razão da minha existência e motivo de tudo em minha vida valer à pena.

A minha tia Secília Dias, única pessoa que acreditou que um dia esse momento iria chegar e

hoje, na eternidade, deve estar bendizendo a Deus por mais essa graça.

Aos meus familiares e amigos que sempre torceram por mim.

Ao meu orientador, José Eustáquio de Brito, e professores que acreditaram na minha

capacidade, me orientando... Formando-me.

Aos cursista, em especial Cláudia, Ilza, Edilene e Rita minhas parceiras.

Aos organizadores do LASEB, do curso de Educação e Relações Étnico-Raciais que

perseveraram e venceram junto comigo mais essa etapa, muito obrigada!

Agradeço principalmente as amigas Cida Castro, Ana Paula e Grazielle dentre outras, que

abrilhantaram este plano de ação fazendo-o ímpar em minha vida.

E, finalmente, agradeço aos alunos da sala dos “Amigos do Cebolinha”, sala sete da UMEI

Aarão Reis, que me ajudaram a concretizar o trabalho mais importante e lindo, realizado

durante o percurso da minha atividade docente.

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“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião.

Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a odiar,

podem ser ensinadas a amar.”

(Nelson Mandela)

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RESUMO

Esta pesquisa tem como objetivo promover ações no campo da cultura afro-brasileira, tendo

como suporte livros literários infantis visando a oferecer às crianças subsídios para construção

de sua identidade a partir dessa referência, numa perspectiva do respeito, da valorização das

diferenças e da diversidade. O plano de ação que originou esse trabalho realizou-se numa

Unidade Municipal de Educação Infantil (UMEI), em Belo Horizonte, Minas Gerais. A

pesquisa busca esclarecer visões pedagógicas relativas às questões étnico-raciais à luz da Lei

10639/03 e almeja, através da abordagem do universo da cultura afro-brasileira em sala de

aula, desenvolver referências capazes de contribuir para a abordagem da Lei 10639/03 a partir

de suas orientações curriculares. que serão vinculadas às funções pedagógicas, para provocar

nos atores que regem a educação a consciência de propor em seus currículos, as temáticas

sobre a cultura africana e afro-brasileira e produções de práticas educativas humanizantes

relativas às questões étnicos raciais e sociais. O desenvolvimento do plano de ação mostrou

que o trabalho em torno dessa temática é árduo e o retorno positivo a essas ações não vem de

um dia para o outro, pois leva tempo para o grupo elaborar atitudes capazes de suprimir o

modelo alienante que classifica em função de cor, classe social, religião e etc. Por outro lado

se é na escola que podemos formar cidadãos críticos e atuantes, é importante e possível

produzir em nossas práticas pedagógicas, um leque de opções que podem ser aproveitadas no

trabalho com crianças pequenas. O plano de ação utilizou a brincadeira como uma linguagem,

que vincula o símbolo e a realidade imediata da criança, esse eixo da educação infantil deu

significações adequando o plano ao grau de desenvolvimento das crianças, oportunizando ao

grupo uma apropriação crítica das relações étnico-raciais. Conclui-se que, se por um lado, a

lei está para todos, ela deve ser implantada, contudo o que se percebe que mesmo sendo

implementada em 2003 ela enfrenta muitos desafios para se tornar uma referência no contexto

escolar, com destaque na educação infantil.

Palavras- chave: Práticas Pedagógicas; Cultura Afro-brasileira; Educação Infantil.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 8

2. PERCURSO DE UMA EDUCADORA ............................................................................... 10

3. O ENCONTRO COM A EDUCAÇÃO INFANTIL ............................................................. 13

3.1 IDENTIFICAÇÃO DA INSTITUIÇÃO ...................................................................................... 13

3.2 FINS E OBJETIVOS DA INSTITUIÇÃO ................................................................................... 13

3.3 FINS E OBJETIVOS DA PROPOSTA PEDAGÓGICA .................................................................. 14

3.4 CARACTERIZAÇÃO DA COMUNIDADE ............................................................................... 15

3.5 ORGANIZAÇÃO E DINÂMICA DO COTIDIANO DE TRABALHO NA UMEI .............................. 15

3.6 O ATENDIMENTO E PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NA ESCOLA .............................................. 17

4. OBJETIVOS: ........................................................................................................................ 18

5. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................. 19

6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ......................................................................... 24

7. DESENVOLVIMENTO ....................................................................................................... 28

8. AVALIAÇÂO ...................................................................................................................... 36

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 39

10. ANEXOS ............................................................................................................................ 40

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1. INTRODUÇÃO

Este trabalho apresentada um relato do plano de ação realizado na Unidade Municipal de

Educação Infantil da rede Municipal de Belo Horizonte- UMEI-AARÃO REIS- junto a um

grupo de crianças do segundo ciclo da educação infantil da sala amigos do Cebolinha, no

turno da manhã onde sou professora de apoio.

O plano de ação em questão teve como objetivo central promover ações, tendo como suporte

livros literários infantis da literatura afro-brasileiro para favorecer às crianças subsídios para

construção de suas identidade numa perspectiva do respeito, da valorização das diferenças e

da diversidade. Contudo é importante afirmar que o trabalho é árduo e o retorno positivo a

essas ações não vem de um dia para o outro, leva tempo para que o grupo elabore atitudes que

possam desconstruir o modelo alienante que suprime e desconsidera por classificações em

função de cor, classe social, religião etc. Este resgate social, só será conquistado com

produções de práticas educativas humanizantes, que formam o ser em sua totalidade, levando

em conta a sua fala, diálogos, cultura; ou seja, com que o ser em se identifica.

Este plano de ação foi estruturado em etapas, sendo que na primeira confeccionou-se uma

faixa que apresentou o plano à comunidade escolar. Junto a ela foi entregue uma carta de

apresentação e autorização de direitos de imagem aos pais, para que tudo pudesse transcorrer

dentro da legalidade.

A partir dos trâmites legais iniciou-se o plano promovendo uma contextualização do tempo

histórico através de livros de história, conversa formal e dramatização para que as crianças

pudessem ser inseridas no tema em questão.

Na segunda etapa o trabalho selecionou figuras de pessoas, principalmente negras em diversas

atividades para confecção de cartazes produzidos pelas crianças. O tema apoiou-se em contos

e reconto de três livros da literatura infantil que trabalham as questões das relações afro-

brasileiras (Menina Bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado, A bonequinha Preta, de

Alaíde Lisboa de Oliveira e Bruna e a Galinha D’angola, de Gercilga Almeida). Foram

utilizados como recursos para nortear as atividades do plano de ação e a dramatização para

que os alunos pudessem interagir melhor com as histórias e o tema das relações étnicos

raciais.

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Neste, contexto, os personagens e as histórias em questão oferecem a possibilidade de

mergulhar no universo africano e afro-brasileiro, interagindo com as crianças no intuito de

criar um elo contextual entre as histórias e os contos literários, para que ludicamente o plano

pudesse concretizar melhor seus objetivos.

Como conclusão, o plano de ação finalizou-se com uma avaliação através de rodinhas de

conversa para perceber o que o grupo internalizou com o estudo, exposição das produções e

apresentações artísticas realizadas pelas crianças da sala onde se realizou intervenção

pedagógica em questão para a comunidade escolar.

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2. PERCURSO DE UMA EDUCADORA

Eu, Isabel Regina Neves, nascida em Belo Horizonte no dia 07/07/1966, filha de Alaíde

Maria Silva (falecida) descendente de portugueses e Jaci Silva descendente de índio e

africano, pertenço a uma família de quatro irmãos, sendo dois irmãos e duas irmãs, pessoas

que amo muito. Batizei-me na igreja São José Operário. Minha família é toda católica,

cultura que nos foi passada, visto que nossos avós eram católicos fervorosos.

Filhos de pais semi-analfabetos (fizeram somente as duas primeiras séries do ensino

fundamental), pois tiveram que abandonar a escola por fatores econômicos e sociais que os

excluíram do universo escolar. Na época, havia poucas escolas que ficavam em lugares

distantes, eles tinham que ingressar no campo trabalhista mais cedo para ajudar na

manutenção da família que era extremamente carente, fruto de uma sociedade capitalista,

marcada pelas desigualdades sociais e econômicas.

Sempre estudei em escolas públicas que funcionavam com modelo de ensino tradicional,

onde os conteúdos eram passados tal qual vinham da Secretaria de Educação. Ministrados

por professores autoritários que usavam como prática atividades de repetição, memorização

e acumulação de informações que, às vezes, nem eram compreendidas pelos alunos. Trata-

se do que é denominado por Paulo Freire de educação bancária, em que o saber e a cultura

eram de inteira responsabilidade do professor cabendo ao aluno aprender.

Na verdade “Convém que o trabalho das crianças não seja uma simples cópia; é necessário

que seja realmente a expressão do seu pensamento” (ELIAS, 2006, p.35 apud DECROLY).

Mas o fato é que, dentro desse contexto conservador, estudei na Escola Estadual Aarão Reis

até a antiga terceira série do curso fundamental, que foi marcada por uma reprovação. Nesta

série, tive uma professora que se chamava Conceição Ferreira, considerada a mais brava da

escola. Eu tinha muito medo dela, não fazia tarefas, não participava de nada, penso que ela

me ignorava, me isolava juntamente com outras “crianças problemas”. Sem dúvida, “Um

dos maiores danos que se pode causar a uma criança é levá-la a perder a confiança na sua

própria capacidade de pensar” (WEISZ, 2006, P.78 apud FERREIRO).

Terminei o ensino fundamental na Escola Estadual Isabel da Silva Polck. Era uma escola

muito boa e distante de minha casa, tinha que andar no mínimo uns quarenta minutos a pé.

Foram tempos árduos, em que tive que conciliar o trabalho de doméstica aos treze anos de

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idade com a escola, comprar materiais escolares. Mas o que me incentivava era o discurso

de minha mãe. Segundo ela, o saber não ocupava espaço e sem escola não seríamos gente.

Ela via a escola como uma forma de ascensão social, um fator de equalização social.

Como todo o ser tenho uma trajetória histórica familiar, e em relação à religiosidade cresci

em meio a duas doutrinas religiosas, o catolicismo tradicional (família materna) e o

espiritismo (família paterna). Meu pai colecionava em casa imagens de entidades, adornos e

discos que utilizava para receber os orixás da qual pertencia, isso foi um fato marcante em

minha infância, por relacionar o espiritismo, influência meus familiares maternos como

“coisa do diabo”. Eu morria de medo quando meu pai nos chamava nos obrigando a

participar das manifestações, lembro-me de tremer, transpirar achava iria ser engolida pelo

medo que sentia de todo aquele contexto foi terrível viver esses momentos, e digo que estas

marcas interferiram na relação de pai para filha, pois não conseguia ficar a sós com meu pai

e quando ele chegava em casa era como se um monstro chegasse junto a ele.

E neste contexto de vida entre diversidades de religião e raça, o preconceito era muito forte

dentro das relações familiares no qual pertencia. Desde criança tinha mais convivência com

os familiares maternos que eram sete negros, e três brancos de olhos claros, e o que mais

incomodava era a rixas de minhas duas famílias se atracavam constantemente, e nestes

embates sempre ouvia palavras discriminadoras e preconceituosas que direcionava a família

de minha mãe como “negrinhos, maconheiros, vagabundos entre outros adjetivos

maldosos”. Magoava-me muito sentir no olhar de meus familiares tanta mágoa e rancor,

mas que também retribuía os maus dizeres chamando meus familiares paternos como

macumbeiros e filhos do capeta relacionando certamente ao espiritismo.

Já o ensino médio, cursei na Escola Estadual Donato Werneck de Freitas. Fiz o magistério e

me apaixonei. Tive excelentes professores, engajados e cheios de ideais, que nos ensinaram

ótimas práticas. E foi nesse contexto que me formei em 1995, mas não exerci minha

profissão.

Trabalhei durante quatro anos no comércio, pois o campo de trabalho de magistério estava

saturado e, assim, muito concorrido. A constituição da LDB, das diretrizes para valorização

do magistério, relata que o ingresso dos profissionais da educação seria exclusivamente por

concursos públicos de provas e títulos. Isso me fez esfriar as expectativas quanto a esse

campo profissional, eu não conseguia ficar dentro das vagas que as instituições

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disponibilizavam e então tive que procurar outras opções como secretária, caixa de

supermercado etc.

E foi em 1990 que consegui um emprego numa ONG (organização não governamental),

chamada Projeto Educar do Centro Social Frei José Renato, onde trabalhei durante quinze

anos, mas “estacionei” minha vida escolar. Mas, neste mesmo ano, fui chamada para

ocupar uma vaga como Educadora Infantil, resultante de uma aprovação de um concurso

que fiz na rede municipal de Belo Horizonte. E foi este novo emprego que me abriu as

portas para me capacitar, oferecendo-me oportunidades, que estão me ajudando nesta tão

necessária qualificação profissional.

No ano de 2007, consegui realizar um dos meus maiores sonhos, o de ingressar em uma

faculdade, fazendo o Curso Veredas - Formação Superior de Professores, na Universidade

Federal de Minas Gerais, que tem como objetivo a formação continuada dos professores do

ensino fundamental da rede pública de Minas Gerais. Esse programa traz conteúdos para a

atualização dos professores e orientações para um trabalho contextualizado e

interdisciplinar. E é neste curso que estou depositando todas as minhas expectativas de

melhorar como profissional e levar para dentro da escola em que trabalho, práticas

inovadoras e funcionais que possam melhorar o ensino. Participar do Veredas, foi

fundamental em minha vida, a cada passo na estrada do conhecimento, adquiri experiências

enriquecedoras para a minha prática, tornando-me mais eficiente e feliz com a profissão de

educadora.

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3. O ENCONTRO COM A EDUCAÇÃO INFANTIL

Na UMEI, atendemos muitas crianças com carências sociais, financeiras e emocionais, e

tem como objetivo promover uma educação que busque em seus alunos um

desenvolvimento integral, nos aspectos físico, psicológico, intelectual e social,

completando a ação da família e da comunidade. Nessa instituição, o tema central é

“CUIDAR E EDUCAR”, mas oportuniza práticas de respeito à cultura, a realidade das

crianças, visa buscar o lúdico para trabalhar valores éticos, (apesar de não conter em seu

currículo nenhum tema relacionados as relações étnicos raciais).Trabalha o corpo, o faz-

de- conta, o brincar, os jogos poéticos, as músicas, dramatizações, conscientização

ambiental e trabalhar com temas que são sugeridos nas reuniões pedagógicas

3.1 Identificação da instituição

• Unidade Municipal de Educação Infantil Aarão Reis – Escola Pólo: E. M. Hélio

Pellegrino.

• Endereço: Rua Três, nº 25 – Bairro Aarão Reis, CEP: 31.814.680, Belo Horizonte –

MG.

• Início das atividades: Março de 2005.

• Inauguração: 17 de novembro de 2005.

• Entidade mantenedora fundadora : Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.

3.2 Fins e objetivos da instituição

Os sujeitos da UMEI Aarão Reis concebem a Educação como movimento e o conhecimento

enquanto informação, reflexão, crítica e transformação. Dessa forma, educar é desenvolver no

ser humano todas as suas possibilidades de vir a ser. É desenvolver qualidades escondidas na

busca da compreensão de si, do mundo e da vida. Estando a educação inserida em um

contexto sócio-histórico político, busca se, a partir da construção da proposta pedagógica

dessa instituição, a formação de crianças enquanto sujeitos de direitos. O fazer pedagógico,

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acontecido no dia-a-dia, em parceria com a comunidade escolar irá contribuir para a formação

de novos cidadãos.

3.3 Fins e objetivos da proposta pedagógica

A organização desta instituição provém da possibilidade de constituir uma visão própria de

uma concepção de educação e cuidado com o sujeito. Sua organização visa sintetizar o projeto

pedagógico da instituição e apresentar a proposta de ação educativa dos profissionais.

Fazer do brincar a forma privilegiada de construção do conhecimento, de expressão das

emoções, sentimentos, desejos e necessidades, para que a criança possa viver plenamente sua

infância, se torna eixo norteador em busca do desenvolvimento integral da criança. Dessa

forma, constituem-se fins e objetivos da instituição reconhecer as crianças como seres

íntegros, que aprendem a ser e conviver consigo próprios, com os demais e com o próprio

ambiente de maneira articulada e gradual. O desenvolvimento de projetos é uma prática

constante que poderá efetivar tais objetivos.

A UMEI Aarão Reis tem como fins e objetivos desenvolver a capacidade de observação,

reflexão, criação, discriminação de valores, julgamento, comunicação, convívio, cooperação,

decisão e ação, atendendo as disposições legais apresentadas na LDBEN 9394/96 nos artigos

2º, 22, 29, 30 e 31. Busca atender os objetivos específicos de cada área de conhecimento na

aquisição de competências, habilidades intelectuais próprias e atitudes, de acordo com o

proposto pelos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil.

Os profissionais da UMEI Aarão Reis reconhecem as crianças como cidadãos de direitos e

deveres, indivíduos únicos, seres sociais e históricos, seres competentes e produtores de

cultura. Sujeitos que necessitam da educação escolar para transformar os saberes de sua

experiência em conhecimentos essenciais para o usufruto de seus direitos. A criança

vivenciará na escola desafios planejados que lhe possibilitará o exercício de habilidades

mentais como observar, comparar, verbalizar hipóteses, elaborar pequenas conclusões,

expressar descobertas e conhecimentos adquiridos anteriormente ao seu ingresso na escola.

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3.4 Caracterização da Comunidade

A UMEI Aarão Reis está situada no bairro Aarão Reis e atende crianças de zero a cinco anos

e oito meses em período integral e parcial. O bairro é antigo, tipicamente residencial,

localizado na região norte de Belo Horizonte. Suas ruas são, em sua maioria, pavimentadas,

têm saneamento básico e o bairro possui um posto de saúde com atendimento odontológico.

O bairro possui uma escola estadual que atende às séries iniciais do Ensino Fundamental. Já

os anos finais do Ensino Fundamental e o Ensino Médio são oferecidos por escolas dos

bairros vizinhos, que são próximas e de fácil acesso, evitando assim a falta de atendimento. A

Educação Infantil é atendida pela UMEI Aarão Reis, que atua desde março de 2005, tendo

como escola núcleo a E. M. Hélio Pellegrino

De acordo com o levantamento de dados realizado através da Ficha Individual da Criança –

Educação Infantil e Ficha de Inscrição para Educação Infantil constatou-se que as famílias

seguem em sua maioria, as religiões evangélica e católica. No entanto, as práticas

pedagógicas devem atender a propósitos de uma escola laica, que vise à diversidade cultural e

religiosa. De acordo com os dados sobre raça/cor dos alunos, é predominante a presença de

pessoas negras, existindo também crianças brancas e pardas, de acordo com a auto declaração.

3.5 Organização e dinâmica do cotidiano de trabalho na UMEI

A UMEI Aarão Reis possui um quadro de funcionários formado por 31 (trinta e uma)

educadoras, 3 (três) coordenadoras, 1 (uma) vice-diretora, 1 (uma) auxiliar de secretaria, 10

(dez) auxiliares de serviços, 1 (um) guarda municipal, 2 (dois) porteiros, 2 (dois) vigias

noturnos.

A UMEI atende a 14 (quatorze) turmas de Educação Infantil, que se dividem em quatro

turmas no período integral, cinco turmas no parcial pela manhã e mais cinco turmas no parcial

à tarde. Salientamos que o berçário funciona no mesmo espaço para atender às duas turmas.

Devido à demanda do atendimento à comunidade, em alguns anos torna-se necessário a

enturmação com agrupamento flexível. São agrupadas crianças com um ano de idade de

diferença em uma mesma sala, devendo prevalecer às crianças com mais idade em maior

número de alunos.

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A escola funciona em sede própria, e foi projetada de acordo com a idade das crianças que

atende. Assim, a estrutura física da UMEI Aarão Reis, possui um espaço bem estruturado,

dividido e equipado. Sabe-se que para se obter uma educação de qualidade é necessário contar

com uma estrutura física que possibilite um bom trabalho, um ambiente acolhedor para

alunos, profissionais e pais, uma equipe administrativa pedagógica e um corpo docente

competente que estejam sempre abertos a mudanças, a fim de que todos juntos possam

alcançar a verdadeira função da educação.

A instituição compõe em seu patrimônio a disposição de cinco salas do parcial, duas salas do

integral, berçário, sala de atividades anexa ao berçário, fraldário, lactário, sala dos

professores, sala multiuso, banheiros dos alunos do integral e parcial feminino e masculino,

secretaria, diretoria, saguão, banheiros dos funcionários feminino e masculino, área de

serviço, despensa, cozinha, refeitório, almoxarifado, área externa, parquinho 1 e 2, pátios e

corredores de acesso tudo na tentativa de adequar a necessidade da criança e do público que

atende.

A UMEI Aarão Reis percebe a rotina como uma estrutura sobre a qual está organizado o

tempo de trabalho em prol do desenvolvimento das crianças e com as crianças. Um regime de

funcionamento bem organizado permite que os profissionais envolvidos sintam em condições

de gerenciar suas práticas, organizando tempos e espaços, bem como uma rotina estruturada

orienta a criança, fazendo com que se sinta mais segura, ajudando-a a desenvolver valores

como responsabilidade, cooperação e disciplina, além de contribuir para estruturação do

pensamento e a construção da noção espaço-temporal.

Em cada turma faz-se necessária a construção de uma rotina mais específica, que leva em

consideração a identidade de cada grupo e o planejamento da educadora / professor.

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3.6 O atendimento e participação da família na escola

A participação da família acontece durante todo o processo, tendo em vista que o acesso às

salas de aula, as apresentações culturais, os atendimentos individuais e reuniões de pais são

práticas reais que acontecem nessa instituição.

Parte-se do princípio que família e escola dividem uma mesma tarefa em relação à criança: o

educar. Portanto, esses dois ambientes devem assumir uma parceria estabelecendo um

objetivo comum, que é o de formar uma pessoa melhor para a sociedade, um verdadeiro

cidadão.

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4. OBJETIVOS:

Objetivo Geral

• Promover ações tendo como suporte livros literários infantis de cunho afro brasileiro

para favorecer a construção de identidades, numa perspectiva do respeito, valorização

das diferenças e da diversidade.

Objetivos Específicos

• Conhecer e reconhecer através de contos literários infantis a cultura africana e assim

indicar alguns aspectos dessa herança no cotidiano do povo brasileiro;

• Oportunizar materiais pedagógicos como livros e objetos que remetem a cultura

africana para que as crianças contemplem, manipulem e possam internalizar como de

pertença.

• Criar ambiente favorável para que a criança se aproxime e identifique com a alegria e

a atuação africana dentro da cultura brasileira.

• Conhecer as diferentes formas de expressão cultural africana através dos personagens

de livros infantis de conteúdo afro-brasileiro.

• Estudar, discutir e desenvolver atividades onde as crianças possam ter contato com a

história, para melhor compreender os problemas herdados e enfrentados pelos afro-

brasileiros.

• Oportunizar momentos prazerosos de conto e reconto de literatura infantil de cunho

afro brasileiro.

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5. REFERENCIAL TEÓRICO

As relações raciais são temas de muita complexidade na atualidade e trabalhar temas como

este na educação infantil se torna imprescindível, é fundamental apresentar vivências de

valores para que as crianças possam crescer em ambiente de respeito e igualdade, entendendo

que no mundo social existem diferenças e diversidades que precisam ser respeitadas.

No contexto escolar percebemos as mazelas do racismo e observamos a sua reprodução ainda

que inconscientes pelas crianças. Pois é na escola que a criança tem acesso a um espaço onde

a convivência humana é fortalecida pela própria organização da instituição e sendo assim é

muito comum que conflitos de toda natureza principalmente racial se aflora na comunidade

como um todo.

Contudo é importante que a escola promova ações e incorpore em seu currículo e materiais

didáticos, conteúdos pertinentes que trabalhem essas questões e valorizem outras etnias para

promover um currículo multicultural onde às crianças possam se reconhecer e se identificar

culturalmente. Desde pequenas é percebido o quanto as crianças valorizam os padrões

europeus, que é formada por uma sociedade de seres brancos de olhos claros e cabelos loiros.

Para desconstruir as afirmações citadas anteriormente se torna importante que o professor não

seja conivente com o regime elitista reprodutor vigente, que injustamente classifica pessoas

por cor, raça e classe social, utilizando-se de o preconceito como instrumento opressor.

Cabe à escola questionar, refletir, construir junto com os pesquisadores acadêmicos, materiais

de apoio para que o grupo discriminado possa se identificar enquanto sujeito nos livros

didáticos, nos currículos, nas atividades pedagógicas. Nas afirmações de Rocha (2000), é

importante um projeto político pedagógico lúdico e prazeroso de conhecimento da cultura

negra que possibilite pesquisa, debate, reflexões e discussões é um caminho viável em aula de

aula.

É percebido que escritores não retratam personagens negros em suas obras, e quando o fazem

os relaciona à escravidão, a profissões subalternas, à atitude de violência, e ao tráfico, levando

aos afro-brasileiros e demais componentes da sociedade uma leitura que sua cor somente se

vincula a um teor negativo. Esse tipo de negação leva os jovens e crianças muitas às vezes, a

negarem suas origens mudando sua fisionomia (fenótipo) para aproximar-se dos padrões

aceitos pela sociedade.

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No entanto, a escola não deve manifestar-se somente em atividades e eventos produzidos

somente para datas específicas como dia treze de março, Dia da Abolição da Escravatura e

vinte de novembro, Dia da Consciência Negra. É necessário que ela proponha em seu

currículo, atividades com temas sociais principalmente como o das relações étnico-raciais

para que os alunos não entendam que as heranças africanas e os destaques negros só giram em

torno de Zumbi dos Palmares, sendo essa a única referência da história e contribuições dos

africanos. E neste contexto Rocha (2000), argumenta, ressaltando o importante papel que tem

a escola na apresentação do conhecimento e valorização da cultura negra e colocando como

instrumento para a construção de uma prática pedagógica comprometida com o resgate da

cidadania plena para todos.

No entanto cabe à escola incluir imagens e teorias com tema africano e afro-brasileiro no

material didático e no currículo. É inegável a força da influência da cultura dos africanos para

o Brasil. Dessa forma, é importante levar para dentro das escolas propostas em que o negro

possa estar inserido, mas não como objeto de pesquisa e sim como ser de pertença e de

direitos igualitários. Fica evidente que para tal informação ser bem absorvida é necessário

fundamentar em teóricos e estudiosos do tema para ter melhor aprofundamento no tema e a

partir daí introduzir elementos da cultura africana através de ações que favoreçam esse

aprendizado. È compreendido que, dentro da escola, encontramos diferentes etnias e culturas

e cabe ao professor, como um mediador e transmissor de conhecimentos, elaborar atividades

que oportunizam o ensino ao respeito por essas diferenças. E segundo afirma Freire (2000),

argumentando sobre a função da educação: “Da educação que, não podendo jamais ser neutra,

tanto pode estar a serviço da decisão,... da permanência possível das estruturas injustas, da

acomodação dos seres à realidade tida como intocável”.

Sendo assim, compreende-se que é no contexto escolar que valores sociais e morais são

reforçados e muitos preconceitos são perpetuados de forma silenciosa. Portanto,

principalmente na escola se deve promover a reflexão crítica sobre esses valores. Neste

sentido a proposta deste projeto de ação teve por objetivo contribuir e colocar a importância

da participação dos povos africanos na construção da sociedade brasileira através dos livros

de literatura infantil de cunho afro-brasileiro. Na argumentação de Giordani (1985), o autor

relata sobre a imensa e profunda influência africana nas terras americanas tanto sob o ponto

de vista racial como cultural (legado), sendo que apresentar e ensinar a valorização e respeito

a essa cultura é reconhecer a sua importância na construção da sociedade brasileira.

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Portanto, para legitimar tais discussões é imprescindível a ampliação da bagagem cultural e

evidenciar a lei 10639/03, que torna obrigatório o ensino da história da África nas escolas.

Nesse sentido, é fundamental mostrar a valorização da história africana e sua identidade

cultural, buscando com as reflexões o respeito pelas diferenças e diversidades.

Com essas afirmações cabe à escola, instituição que tem como uma de suas funções formar

opinião, promover espaços e momentos de interação com a cultura africana e afro-

descendente, para que se reconheçam neste contexto, buscando assim sua identidade e valor.

É o que afirma Freire (2001). ”As crianças precisam crescer no exercício desta capacidade de

pensar, indagar... de duvidar, de experimentar hipótese de ação, de programar e não apenas

seguir programas...”. Trabalhar com os discentes para que possam ter contato com narrativas

próximas de sua realidade e fazer reflexão para re-elaborar o seu papel e lugar na sociedade e

com essa atitude ocupar seu lugar na sociedade, sem perder sua identidade, sem abater-se pelo

poder da elite que o classifica o tempo todo.

Pesquisas afirmam que negros e descendentes possuem menores salários, cargos que não tem

prestigio social, não concluem em sua maioria os níveis de ensino após o fundamental, moram

em lugares de periferias e etc. No entanto, é pertinente afirmar que para qualquer trabalho que

envolve as questões de cunho africano e afro-brasileiro se torna necessária a compreensão de

conceitos e de termos que norteiam e que estão incorporados positivamente ou negativamente

a esse tema como: raça, racismo, preconceito, discriminação racial, democracia racial,

identidade entre outros. O estudo sobre esses conceitos acabam por de alguma forma orientar

o leitor a situar e interagir no contexto do plano de ação.

Kabenguele Munanga (1996), ao fazer depoimentos relativos ao mito da “democracia racial”,

categoricamente afirma... ”que somos povo misturado, portanto, miscigenado: e, acima de

tudo, é a diversidade biológica e cultural que dificulta a nossa união e o nosso projeto

enquanto povo e nação...” Essa impressão ocorre quando a escola insiste em homogeneizar

valores ou cultura, silenciando ou segregando outras culturas matrizes que estão agregados em

nosso país que tem em sua formação uma diversidade de pessoas com variadas culturas e

saberes. Erra a instituição quando a mesma passa a tratar todos, referenciando somente aquela

cultura que interessa ou agrada somente uma determinada classe ou etnia. E neste contexto

não é ideal que instituição de ensino “escola” que se proponha um currículo que venha vestido

de neutralidade, silenciamento de informações, que sufoca culturas, ou classifica classes

sociais, demarcando posições de privilégios.

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Nilma Limo Gomes em relatos pondera a importância das práticas educativas em relação à

homogeneização e defende o debate em favor de uma educação no contexto da coletividade.

Ela fortalece esse debate relativo à educação, colocando-a a serviço da diversidade,

destacando o grande enfrentamento que é o desafio de disseminar a figura do negro no foco

da positividade (GOMES 2000). Implementar práticas pedagógicas, observando as leis que

proíbem a discriminação baseada em raça, cor, descendência, nacionalidade ou étnica em

todos os aspectos e níveis da educação se torna assunto emergente nos debates e atitudes tanto

governamental e social, pois apercebemos várias pesquisas que vêm apontando o racismo

muito atuante em nosso cotidiano de um modo geral. E oportunizar práticas de enfrentamento

e reparação ao povo negro abre caminhos para uma adoção de medidas para corrigir toda e

qualquer manifestação que supostamente possa aparecer ou instaurar em qualquer ambiente,

principalmente nas instituições de ensino.

Do ponto de vista das normas legais, fazemos referência às Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Educação das relações Étnicos Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-

Brasileira e Africana, parecer CNE/CP003/2004, aprovado em 10/03/2004, e que visa em seu

texto atender os propósitos expressos na indicação CNE/CP 06/2002, bem como regulamentar

a alteração trazida à lei 10.639/2003 que estabelece a obrigatoriedade do Ensino de História e

Cultura Afro- Brasileira e Africana na Educação Básica.

O MEC argumenta sobre o peso e responsabilidade de toda a comunidade escolar e civil em

fazer que essa lei seja realmente implementada nos contextos das instituições de ensino

“Cumprir a lei é, pois, responsabilidade de todos e não apenas do professor em sala de aula.

Exige-se assim um comprometimento solidário dos vários elos do ensino brasileiro, tendo-se

como ponto de partida o presente parecer que junto com outras diretrizes e pareceres e

resoluções, têm o papel articulador e coordenador da organização da educação nacional.”

No entanto ressalta na LDBEM, nos artigos 5,1, Art.210, Art.206,1, parágrafo 1º do art.242,

Art.215 e Art.216, bem como nos Art. 26, 26 A e 79B na Lei 9.394/96 de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional, que asseguram o direito à igualdade de condições de vida e de

cidadania. Assim como garantem igual direito às histórias e culturas que compõem a nação

brasileira, além do direito de acesso às diferentes fontes da cultura nacional a todos brasileiros

(Orientações e Ações para a Educação das Relações Étnicos – Raciais). Contudo necessidade

de um maior enfrentamento e intervenção por parte do Estado que precisa viabilizar meios de

promoção e incentivo de políticas afirmativas, para o cumprimento dessa lei, principalmente

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nos espaços educativos da Educação Infantil. É importante que ele garanta o direito legal das

crianças, principalmente a negra de ter acesso a cultura baseada principalmente nas raízes,

sem constrangimentos e receios, mas, com orgulho de pertença.

E neste sentido é preciso rever os espaços escolares, os materiais didáticos, as práticas de

ensino, para que na equidade, oportunizar da mesma maneira o trato para os discentes

envolvidos nesse processo, e sendo assim eles possam se reconhecer como atores na

construção desses saberes e se reconheçam como um ser que pertença no espaço da escola e

do ensino. Para que a instituição seja contemplativa é preciso promover o respeito, o

reconhecimento das diferenças, sem medo, receio e preconceitos, para tornar viável uma

implementação de medidas que visem combater o etnocentrismo, “tendências dos grupos ou

sociedade de privilegiar a si mesma e as suas concepções como superiores, num contexto de

interações com coletividade de mesmo tipo” (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO 2006, p. 219).

Trindade (2002), ao falar sobre a escola pública e diversidades de cultura, ressalta “que a

escola pública, por ser nosso espaço preferencial de atuação profissional, na medida em que

além de ser um espaço onde as diferenças se encontram, as culturas se cruzam, onde os

excluídos podem ter vivências da igualdade de acesso e de vivência de aprendizagem

escolar.”

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6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Após reflexões acerca da importância de estabelecer uma metodologia que possibilite uma

compreensão da temática e ao mesmo tempo oportunize uma proposta de disseminar a

importância de tratar da valorização da cultura negra, procuramos elaborar uma proposta

capaz de atingir esses objetivos. Nesse sentido, criar espaços para manifestações artísticas e

literárias que proporcionem uma reflexão da realidade e dos valores culturais africanos e afro-

brasileiros, trazendo para dentro da escola questões étnicos raciais que se referem à identidade

dos negros e africanos, foi o nosso grande desafio.

Em busca de uma metodologia que favorecesse ações orientadas por esses objetivos, e para

dar suporte às atividades que seriam realizadas junto aos alunos da Turma do Cebolinha, que

tem crianças na faixa etária de cinco anos de uma UMEI na região norte de Belo Horizonte,

decidimos propor o plano de ação do curso do LASEB- Pós-Graduação Lato Senso em

Docência na Educação Básica no curso: de Relações Étnico-Raciais

Diante da necessidade e importância de introduzir e legitimar discussões sobre os valores da

cultura afro-brasileira torna-se imprescindível procurar uma metodologia que facilite a

ampliação do plano procurando meios e saberes para evidenciar a lei 10639/03, (lei que torna

obrigatório o ensino da história da África nas escolas). E nesse sentido, foi fundamental

mostrar a valorização da história africana e sua identidade cultural, buscando. a partir de

reflexões críticas, o respeito às diferenças e diversidades, considerando o público formado por

crianças pequenas para que, desde o início da vida escolar, elas possam reconhecer e

identificar suas raízes, tanto dentro como fora do espaço escolar.

Optar por um processo reflexivo é importante para que o professor também possa desenvolver

uma reflexão sobre sua prática de modo a entender, compreender, ordenar sua prática

educativa, tendo como base a interação social. Diante dessa busca, foi de nosso interesse

promover interações junto às crianças para que os conhecimentos acerca da diversidade racial

possam ser vistos como importantes para a formação de cidadãos críticos e pessoas melhores

com condições de fazer a diferença na sociedade em que está inserido. Neste sentido fica a

cargo do professor prestar a atenção nos detalhes da metodologia que está sendo proposta para

dar sustentação ao Plano de Ação, propondo prática reflexiva, observadora e de registros de

modo a possibilitar ao aluno atividades experimentais próximas da realidade do grupo onde a

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metodologia está sendo aplicada, pois só assim formaremos discentes produtivos, criativos e

imaginativos.

No entanto, Perrenould (1999, p. 5 – 21) afirma que “o professor reflexivo está com seu olhar

voltado para o contexto imediato para compreender, regular, aperfeiçoar, ordenar e fazer

evoluir uma prática particular vista de dentro para fora”. E neste pensamento é percebida a

real importância da ação pedagógica do professor: encorajar, valorizar... E diante destes

estímulos é importante introduzir e legitimar discussões procurando meios e saberes para

evidenciar o conteúdo sempre sobre a luz da lei 10639/03.

Tendo em vista o público que participaria do Plano de Ação, e por ser da educação infantil,

foi preciso uma adequação para contemplar os objetivos propostos. Sendo assim, foi preciso

introduzir como parte do método de trabalho uma proposta lúdica e clara, adequada ao grau

de desenvolvimento que a turma se encontrava naquele momento... È sabido que a ludicidade

é um assunto que conquista um lugar especial no contexto educacional significativo. Mas para

que possamos compreender o lúdico, é necessário que se tenha um embasamento do seu

significado.

Quanto ao sentido da palavra lúdico, Santos (1997. p 22), comenta que “a palavra lúdico vem

do latim ludus e significa brincar”. Divertimento das mais diferentes formas, entretenimento e

alegria. Esses são elementos imprescindíveis, combinam com as crianças e representam o que

mais gostam. A partir desse entendimento, construímos uma essa proposta metodológica

fundamentada no lúdico para servir de instrumento para a realização do Plano de Ação. Foram

confeccionadas duas bonecas, que transitaram com um caderno de registro para as casas dos

alunos. Essa iniciativa teve como objetivo também inserir a família nas reflexões sobre a

cultura afro-brasileira que estava sendo realizada nos espaços da escola. A proposta para esse

caderno seria uma oportunidade para que as crianças externalizassem junto às famílias o

aprendizado na sala de aula. Nele poderia conter qualquer registro produzido pela família ou

mesmo pelas crianças.

Ao optar-se pelo método qualitativo, essa pesquisa não poderia possuir em seu teor

generalização, princípio e leis. Teria que ter como foco central o específico, o peculiar, o

individual, buscando o seu sentido nas experiências vivenciadas pelas crianças. Ao realizar a

pesquisa, a proposta era ter como finalidade sistematizar a percepção do grupo sobre a

diversidade racial, respeitando a realidade e contribuição de cada um.

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Contudo, após a escolha do método a ser desenvolvido, o próximo passo foi iniciar a escuta

das crianças para vivenciar as experiências dos alunos e familiares acerca da temática. Para

melhor contextualizar foram apresentados vídeos do Projeto A Cor da Cultura e da internet,

que mostravam danças, jogos de capoeiras, figurinos usando vestuário e modelos de cabelos

diversificados, comidas, entre outras experiências para associação com a cultura brasileira,

manuseio de revistas temáticas, livros literários de temas afro-brasileiro. Foi oportunizado

também ao grupo de educadores no dia de reunião pedagógica uma apresentação da

palestrante, contadora de história e professora da rede municipal Maria Edite Rodrigues, que

atuou maravilhosamente fazendo fortes e precisos relatos sobre a questão do negro no Brasil e

o mito da democracia racial. Maria Edite finalizou sua ação fazendo a contação da história “O

Menino Nito”. Portanto, com esse olhar, é fundamental mostrar a valorização da história

africana e sua identidade e diversidade mesmo a crianças pequenas. Essa apresentação muito

contribuiu para o andamento do plano de ação, pois a partir deste momento muitos educadores

compreenderam a necessidade de se falar das questões raciais na escola.

Essa palestra desencadeou um conjunto de atividades no pátio para que mais pessoas

pudessem contemplar as ações que estavam sendo propostas. Entretanto, para tornar mais

interessantes as participações das crianças, foi inaugurado o seminário da roda onde crianças

faziam perguntas diversas sobre o tema e relatos familiares de experiências como, por

exemplo:

Quadro 1: Comentários dos alunos sobre o tema da cultura afro-brasileira

Aluna 1: “Eu sou Luanda, meu nome vem de um país africano, minha mãe se chama Kênia, é

também um nome de um país africano”.

Aluna 2: “Por que os africanos lutavam capoeira?”

Aluna 3: “A feijoada é uma comida Africana.”

Aluna 4: Minha mãe me faz trancinhas quase todos os dias, e eu falei para ela que foram os

africanos que ensinaram a gente a usar traçinhas.

Aluna 5: Os africanos usavam essas máscaras para passear?

No seminário da roda, dentre vários questionamentos, foi falado sobre as diferenças,

preconceitos, respeito, amizade, diversidade de cultura e raça dentre outros assuntos. Essa

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prática era muito rica, pois nesse momento as crianças identificavam, ganhavam voz,

partilhavam vivências e faziam reflexões, davam significados a variadas atitudes que passam

pela escola e pela sala de aula. Em todo final de uma atividade, a roda era aberta para falar o

que havia sido aprendido, ou sanar dúvidas, apresentar artefatos diferenciados, dentre outros.

Daí a riqueza do método que nos possibilitou reunir as experiências e deu oportunidade para

contemplar essa riqueza de vivências e possibilidades.

Para melhor fundamentação teórica, recorri aos textos acadêmicos das disciplinas do LASEB,

textos de escritores como Paulo Freire, Nilma Limo Gomes, Tomás Tadeu Silva, Amauri

Carlos Ferreira, Lucíola Licínio Paixão, dentre outros. Esses autores abrilhantaram a pesquisa

com suas idéias e pensamentos, dando suporte teórico para que a ação fosse embasada nas

pesquisas científicas,

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7. DESENVOLVIMENTO

Reconhecendo a importância de trabalhar temas relacionados às questões étnico-raciais,

colaborar no enfrentamento das desigualdades sociais, valorizar a cultura africana e,

principalmente, no que se refere à cultura como identidade dos africano e afro descendente,

propus desenvolver neste plano um conjunto de ações com o objetivo de favorecer a

disseminação da herança cultural africana, que foi de fundamental para a constituição da

sociedade brasileira.

Neste sentido, Souza (2006, p. 85), faz um relato sobre os africanos em que ela ressalta que os

negros “vieram para o Brasil e com eles foram trazidos diversidades de línguas, religiões,

diferentes maneiras de organização de vida social e econômica, apresentando variados tipos

de saberes e habilidade”. E querendo reconhecer ou não, todos esses saberes foram

incorporados à vida social brasileira de modo que não se pode negar a existência desse

patrimônio cultural. Sendo assim, compreende-se que a escola pode ser vista como um espaço

em que os valores de uma cultura devem ser reforçados. Portanto, é também na escola que se

deve propiciar a reflexão crítica sobre esses valores, da identidade e relação de pertencimento,

de modo a contribuir para a construção da cidadania.

Com a intenção de introduzir elementos e valores da cultura afro-brasileira através de ações

afirmativas, desenvolvi um plano visando à identificação dos africanos e afros descendentes

na sociedade, a leitura e releitura de contos afro-brasileiros através do teatro (ver Figura 7 do

anexo).

Para servir como eixo norteador da disseminação dessa cultura, propus a realização de

pinturas de máscaras e artefatos - pulseiras, instrumentos musicais e máscaras de motivo

africano, confecção de cartazes contendo frases e imagens positivas de negros para provocar

reflexões, brincadeiras com danças e jogos de capoeira a fim de concretizar experiências

dessas atividades (ver Figuras 2, 3 e 5 do anexo).

Essas foram inicialmente algumas das atividades que elaborei para trabalhar essa temática.

Inicialmente, fiz um cronograma onde dividi o tempo que iria concretizar o plano, iniciando o

plano com a apresentação do projeto à vice-diretora, educadora e crianças. Apresentei a carta

de estágio à gestora para formalizar a proposta do curso do LASEB e começar a desenvolver

ações referentes ao plano de ação. Enviei as autorizações de imagens comunicando aos pais

sobre o trabalho a ser desenvolvido. Essa iniciativa teve a intenção de fazer com que o projeto

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atingisse as famílias das crianças para que pudessem tomar conhecimento das ações, bem

como para que o plano fosse fundamentado na legalidade.

A elaboração e desenvolvimento desse projeto de valorização da cultura negra visam a

atender o exercício da cidadania e vivência dos valores através da identidade e da cultura, pois

torna-se necessário preparar criticamente nossas crianças para viverem nesta sociedade que,

por sua vez, manifesta o preconceito como instrumento para produzir diferenças sociais e

raciais. Por isso, é preciso cultivar o respeito no resgate das culturas perdidas no tempo,

principalmente o resgate da herança africana.

Num segundo momento, foram apresentados às crianças, para manuseio, revistas e encartes,

que traziam referências à herança africana em nosso país, para a localização e seleção de

frases e gravuras (ver Figura 2 do anexo). Essa atividade teve a intenção de levar as crianças a

identificar imagens de negros em diversas possibilidades positivas. Para confecção de cartazes

com foco positivo, mostrando pessoas negras sorridentes, no esporte, com família, com outras

pessoas de cor de pele e etnias diferentes, dentre outras possibilidades, essa prática teve

intuito de introduzir a valorização e respeito pelas diferenças. Os cartazes foram expostos nos

diversos espaços da escola.

Esta experiência foi fundamental; os cartazes foram colocados nos corredores onde as

crianças tinham acesso. Elas sempre passavam as mãos pelos cartazes reconhecendo algumas

personagens como Nelson Mandela, Barack Obama, Pelé, Beyoncé, Milton Nascimento, Jair

Rodrigues, dentre outros conhecidos e desconhecidos, figuras essas que eles resolveram

colocar seus próprios nomes como se batizassem a gravura. Eu também estava representada

no grupo selecionado. Adorei essa iniciativa tomada por eles, que, para meu entendimento, já

traduzia o processo de reconhecimento, pertencimento e identidade.

Para dar continuidade a essa atividade, sempre propondo a roda para os seminários, resolvi

introduzir relatos sobre a vinda dos negros africanos para o Brasil. Tive a idéia de trazer,

aleatoriamente, livros de histórias que traziam em seu conteúdo relatos da história do Brasil

desde a colonização para contextualizar o conteúdo em questão. Mas o interesse não era focar

na escravidão e sim fazer um passeio pela história para dar significado à presença do negro

em nossa sociedade. Essa atividade perpassou levemente pela história dos indígenas,

portugueses até chegar aos africanos. Foi neste momento que percebi o quanto a maioria do

grupo já possuía uma referência sobre o assunto.

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Nesse grupo destacava-se uma menina (Luanda), que trazia de sua família grandes

argumentações relativas à temática africana, inclusive qual era origem de seu nome e porque

foi registrada com ele. Ao observá-la fazendo tanta interferência e demonstrando tanto desejo

de participar, Luanda passou a fazer parte do processo de implementação do plano. Para

aproveitar esse desejo de participação demonstrado por ela, resolvi convidá-la para ser minha

ajudante disseminadora da história africana, e por colocar sempre suas idéias nos seminários

de roda e me ajudar como fotógrafa, organizadora de materiais, dentre outras atividades que

junto comigo fazia, o plano ganhou um brilho diferente dado por Luanda. Falar desse tema

para essa criança era tão necessário que ela se manifestava o tempo todo, querendo sempre

dar depoimentos. Falava das suas experiências do ano anterior, com o projeto que teve seu

nome (que é de origem africana) como parte integrante. Tenho certeza que para vida de

Luanda, como para todas aquelas crianças que participaram desse plano, o olhar para o negro

passou a ter um novo significado.

Já tomando proporções bastante significativas no espaço da escola, entendi que seria

interessante trabalhar um pouco de arte com as crianças. Passamos, então, a fazer um cenário

que inicialmente teria caráter de itinerante, com imagens que lembravam uma África mítica, e

que houvesse elementos da cultura como máscaras, instrumentos musicais, para ambientar os

seminários de roda sobre a África (ver Figura 4 e 7 do anexo). Esta foi uma experiência

fantástica, pois chamou a atenção de outros grupos que começaram participar das atividades,

valorizando e fazendo com que a África “gritasse” para aquele que não a queria ouvir.

E o plano foi evoluindo adquirindo uma dimensão mais prática. Em conversas na sala de

professores, foi apresentada uma sugestão de que nas sextas feiras fizéssemos um dia

diferente, em que o grupo pudesse fazer apresentações de teatro para ter momentos de

descontração e, ao mesmo tempo, trabalhar o imaginário, o conto e reconto com as crianças.

Essas apresentações seriam feitas pelas educadoras da escola. Aproveitando o ensejo, sugeri

que fossem incluídos nesse contexto, os contos da “Menina Bonita do laço de fita”, de Ana

Maria Machado, “A bonequinha Preta”, de Alaíde Lisboa de Oliveira e “Bruna e a Galinha

D’angola”, de Gercilga Almeida. Esses livros foram sugeridos intencionalmente por terem

sido selecionados para abordar o universo da literatura afro-brasileira junto às crianças,

dando-lhes oportunidades de momentos prazerosos e, assim, indicar alguns aspectos da

herança africana no cotidiano do povo brasileiro.

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A partir dessas apresentações, sugeri ao grupo de crianças que confeccionassem uma

bonequinha de artesanato feito de tiras e nós, muito fácil de fazer (ver Figura 5 do anexo). Foi

um sucesso! Nesta atividade, a professora Mariza, que trabalhava comigo no grupo, participou

dando uma valorosa colaboração.

Confeccionei duas bonecas negras de tamanho médio representando as personagens dos livros

que seguiriam em visitação às famílias. Elas iriam servir de objetos para socializar o plano

para os familiares. Para tornar essa atividade mais próxima às experiência de vida das

crianças, pedi um registro livre referente à parte do plano que a criança mais gostou, na

história da cultura africana ou da herança deixada para a sociedade brasileira. Esses relatos

viraram um livro de registro contendo uma contribuição do grupo de crianças de outras salas,

de educadoras e simpatizantes.

O livro de registro foi tão positivo que uma colega professora pediu o material para divulgar

junto à escola em que trabalha e assim outras professoras da UMEI (Unidade Municipal de

Educação Infantil), que também atuam como P1, tiveram a mesma iniciativa (ver Figura 6 do

anexo). Esse material foi uma grande contribuição para a divulgação do plano de ação. Esta

produção passeou em escolas da Rede Municipal para ser contemplado. Isso muito me

agradou, pois essa atividade alcançou outras dimensões educativas e sociais fora do perímetro

da instituição UMEI- Aarão Reis, onde trabalho.

Diante de toda e qualquer apresentação de um novo conteúdo, a prática era avaliada no

seminário da roda. Essa estratégia foi utilizada para fazer observações, interferências e deixar

que o grupo pudesse se manifestar a sua maneira, o que o público estava percebendo das

atividades. Nesses momentos, eu também percebia o quanto foi rica a proposta desse plano,

pois crianças participavam com afinco e muito interesse. Num desses momentos, um aluno

nos falou da capoeira, pois seu pai era capoeirista e trabalhava na escola integrada da rede

promovendo essa atividade. Aproveitando esse relato, a partir desse momento começamos a

brincar de capoeira e maculelê na roda, mas o som era produzido com a boca e palmas, sem

os instrumentos de percussão da capoeira. Então, sugeri construir um tambor reciclado de

barrica de sabão em pó, e chocalhos de latinhas recicladas e sementes. Ganhamos de um aluno

um mini-berimbal sendo que, nos dias de danças, capoeiras e o maculelê, utilizávamos os

instrumentos ludicamente para sonorizar o ambiente e tornar mais concreto o momento das

práticas do plano de ação (ver Figura 3 do anexo).

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Falando em diferenças, levei para o grupo uma proposta trazendo pequenos cartazes de

elementos da cultura negra como máscaras, silhuetas de homens e mulheres negras com

vestes diferentes e pedi para colar papeis coloridos como mosaico. Esta proposta teve o

objetivo de trabalhar as questões de gênero e cultura do corpo como vestuário e penteado afro,

para poder dar iniciação à questão da igualdade de direitos e diferenças culturais. Estes

trabalhos se transformaram em belos quadros que compuseram uma galeria, juntamente com

um presente ofertado pela avó da menina Luanda, uma linda pintura de uma mãe negra com

um filho no colo. Este material foi utilizado em lugar de destaque na feira literária da escola

pólo Hélio Pellegrino.

A partir dessa atividade, utilizei o computador para que as crianças pudessem ver coloridas as

diversas estampas do vestuário e penteados africanos, pedindo que fizessem associação entre

o modo de vestir e se arrumar dos brasileiros e das pessoas que freqüentavam a UMEI. Na

avaliação, eles perceberam as trancinhas e as roupas com estampas. Então, levei algumas

cangas coloridas e com chocalhos e tambor, ao som de Clara Nunes, dançamos a música

“Morena de Angola” (ver Figura 9 do anexo). Esse foi um lindo momento; as meninas

dançaram para o público da escola, que parou para contemplar a atividade. Após

apresentação, improvisou-se uma passarela por onde desfilaram todas as crianças que

participaram do plano de ação. Aproveitamos esse momento para convidar pessoas da escola

que quisessem fazer parte do desfile. Foi muito rico ver a alegria estampada nos olhos do

grupo ao ver outras crianças participando e outras pessoas do cotidiano escolar desfilando

com alegria e prazer.

Já finalizando o plano de ação, convidamos um grupo de capoeira da Escola Integrada Cônsul

Antônio Cadar para fazer uma apresentação e falar um pouco sobre as questões do negro na

sociedade. O capoeirista foi breve, mas abordou o tema com palavras claras e de fácil

entendimento para aquele público. As crianças ficaram vislumbradas com a apresentação de

capoeira e maculelê; elas foram convidadas e deram um grande espetáculo a parte.

Na semana seguinte a UMEI foi convidada para participar da feira Literária da Escola

Municipal Hélio Pellegrino, onde foi exposta toda produção da Turma do Cebolinha (ver

Figura 1 e 9 do anexo) e dos grupos de crianças e educadores de outras salas que aderiram ao

plano de ação, enriquecendo o seu conteúdo e conferindo a ele uma abrangência para além

dos objetivos propostos inicialmente.

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CRONOGRAMA

Momento Data e Horário

O que acontece / Quem Faz?

Objetivos Materiais de Apoio / Ambientação

Apresentação

do projeto e o

tema a ser

desenvolvido.

09 a 23 de

setembro de

08h30min ás

9h30min

Apresentação do projeto para a gestão e a comunidade escolar, faixa onde será apresentado o plano à comunidade escolar, junto a ela entregarei a carta de apresentação e autorização de direitos de imagem aos pais para que tudo transcorra dentro da legalidade.

Inteirar a chefia

imediata da

proposta para que

eu possa começara

a desenvolver

ações referentes ao

plano de ação em

questão.

Apresentação da

carta de estágio

ao gestor e

Autorização de

imagens e

comunicado aos

pais sobre o

tema a ser

trabalhado.

Confecção de

cartazes

06 a 30 de

setembro de

08h30min ás

9h30min

Manuseio de

revistas de cunho

africano para a

localização e

seleção de gravuras.

Confecção de

cartazes pelas

crianças com

gravuras de negros,

com foco positivo.

Exposição pelas

crianças dos

cartazes

confeccionados nos

espaços escolares e

introdução ao

conteúdo História

da África.

Proporcionar as crianças um olhar sobre a figura do negro para que as crianças possam reconhecer nas figuras semelhanças físicas valorativas. Oportunizar materiais pedagógicos como livros e objetos que remetem a cultura africana para que as crianças contemplem, manipulem para que possam internalizar como de pertença.

Folhas de

colorset, colas,

revistas de

cunho afro

descendente.

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Manuseio de livros

de história do Brasil

para contextualizar

o conteúdo em

questão.

Brincadeiras com

rodas de capoeiras e

maculelê para

interação com o

tema.

Criar ambiente favorável para que ele se aproxime e identifique com a alegria e atuação africana.

Teatros e

trabalhos

manuais

17 de outubro

a 16 de

novembro de

08h30min ás

9h30min

Apresentação do

teatro pelas

educadoras da

escola dos contos

Menina bonita do

laço de fita de Ana

Maria Machado, A

bonequinha Preta de

Alaíde Lisboa de

Oliveira e Bruna e a

Galinha D’angola

de Gercilga

Almeida.

Confecção de

bonequinhas preta

com sucatas,

Reconto pelas

crianças através de

fantoches.

Oportunizar momentos prazerosos de contos e recantos de literatura infantil de cunho afro brasileiro. Conhecer e

reconhecer através

de contos literários

infantis a cultura

africana e assim

indicar alguns

aspectos da

herança africana

no cotidiano do

povo brasileiro

Manuseio de

fantoches para

reconto da história

em questão

Livros de

literatura infantil

de cunho

africano.

Fantoches e o

bando. Cortinas

de pano chita.

Sucatas,

Retalhos

coloridos, lãs,

cola e etc.

Confecção de

oficinas

16 a 18 de

novembro

Contação das três

histórias com tema

afro - brasileira

pelas educadoras.

Utilização dos

espaços

apropriados da

escola para

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* Teatro

* Fantoche

Apresentação de

capoeira e macule lê

pelos integrantes da

Escola aberta da

Escola Municipal

Cônsul Antônio

Cadar e crianças da

Turma do

Cebolinha.

Desfile Afro

(roupas e cabelos e

pinturas referente

ao tema), pela

comunidade

escolar.

eventos, (saguão

Anfiteatro e rol

de entrada),

fantoches,

trabalhos

produzidos pelas

crianças e

grupos da

escola,

ornamentação

com chitas e

produções das

crianças, painel

de passo a passo

do plano de ação

e recursos

Humanos.

Oficina

literária

Exposição de toda a

produção da turma

do Cebolinha e

grupos de crianças e

educadores de

outras salas que

estão aderindo a

esse plano de ação.

Expor para

comunidade

escolar esse plano

de ação e todos os

seus objetivos.

Toda

materialidade

acima referida.

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8. AVALIAÇÃO

A avaliação foi feita de modo processual e contínuo, em que foi utilizada a observação e

feitos registros em cada atividade desenvolvida com os discentes para a percepção do

processo do ensino/aprendizado do grupo em relação ao tema.

Embora inicialmente solitária e deparando com fortes ações camufladas intencionais

preconceituosas na forma de brincadeiras por parte de muitos integrantes do coletivo de

docentes da escola, acredito com o decorrer das atividades, uma conscientização e uma

apreciação em relação ao plano foram evidenciadas pelo grupo. Foi gratificante perceber que

aqueles que utilizavam de deboches pejorativos passaram a contribuir nas atuações teatrais,

nas contações de histórias, nos relatos positivos sobre a evolução do plano, no envolvimento

das crianças e da escola nas atividades que estavam sendo propostas. Acredito que se

romperam muito das ações relativas ao respeito e conscientização de alguns dos docentes da

UMEI, deixando-me feliz com o retorno do qual sinceramente de certas pessoas não esperava.

Foi interessante perceber algumas crianças se reconhecendo nos cartazes e se posicionando

como descendentes de africanos, reconhecendo a cultura afro através dos penteados,

instrumentos musicais, das músicas como o samba, o hip-hop, axé, reconhecendo

personalidades negras importantes como Mandela, Pelé, Dayane Santos, Djavam, Obama

dentre outros. A criança que convive com situações discriminatórias encontra dificuldades

para construir uma imagem semelhante sobre si, sendo que, para serem aceitas, passam a

negar sua identidade tentando agregar valores ditos “padrões” e sendo assim passam a negar

sua identidade por achar diferentes desse modelo, se sentem inferiores ou feias entre variados

pejorativos

Contudo, torna-se preciso salientar que a população brasileira em sua maioria é de negros e

mestiços, porém mesmo em maioria esse grupo ainda não se fortaleceu ideologicamente para

eliminar ideologias, desigualdades e estereótipos racistas que valoriza e avalia o ser pela cor

de sua pele favorecendo ou oprimindo de acordo com os interesses sociais. E essas

manifestações tanto do grupo de convivência que impõem esse modelo ou mesmo da mídia

que em suas programações reforçam esse padrão europeu, contribuem para que as crianças

negras se sintam invisíveis nos ambientes sociais e escolares, pois em quase nenhum

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momento percebem a imagem do negro contemplado nas atividades televisivas, sociais e nem

no contexto escolar.

A valorização da cultura afro-brasileira e apresentação às crianças toda a dinâmica do plano

de ação em um foco positivo foi muito valioso. Digo isso pelo retorno de prazer percebido no

olhar das crianças que faziam parte do grupo da Turma do Cebolinha. Acredito que essa

turma nunca será a mesma depois desse plano de ação; elas levarão com elas saberes que

utilizarão para o resto de suas vidas. E fico muito feliz por ter contribuído com essa

conscientização e ter oportunizado a esse grupo momentos impares de saberes e experiências

do povo africano e toda a sua contribuição ofertada à sociedade brasileira.

Em nossa escola acreditamos na educação inclusiva, sem discriminação, em que autonomia,

cidadania, respeito humano fazem parte do nosso currículo. Fazendo assim da nossa prática

metaforicamente, asas de função libertadora, acreditando sempre que vivemos em um mundo

de diversidades culturais, cada um dentro da sua realidade tem muito a contribuir para um

mundo melhor.

Este projeto favoreceu o desenvolvimento da expressão corporal, oral e cultural dos alunos,

através de momentos de interpretação, coreografias, músicas, capoeira, poesias e a

valorização de hábitos e atitudes fundamentais nos valores éticos e estéticos da cultura negra;

ampliou os conhecimentos. As atividades culturais e teatrais ressaltaram valores que

impulsionaram e orientaram a vida dos discentes e de todos que participaram na busca da

formação da identidade da turma e dos envolvidos no processo. Com este conhecimento,

vivenciou-se e valorizou-se a cultura negra através da música e da pintura como forma de

identificação e resgate da auto-estima do aluno afro-descendente. Através de atividades

artísticas, buscou-se desenvolver ações transformadoras, em que se projetou o respeito como

prática fundamental e essencial para mudar as pessoas e, conseqüentemente, a sociedade.

Ao final do projeto, propusemos uma auto-avaliação para a reflexão dos alunos sobre o

desempenho e aprendizado, através de rodinhas de seminário, para perceber o que o grupo

internalizou com o estudo. Houve também uma exposição das produções e apresentações

artísticas realizadas pelas crianças da Turma do Cebolinha, onde se realizou intervenção

pedagógica em questão, para a comunidade escolar. Por meio de reflexões na roda do

seminário e através dos registros no portfólio criado pelas crianças, pais e participantes

simpatizantes, avaliou-se como positivo a contribuição os saberes e ou atividades relativas ao

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plano de ação cultura afro-brasileiro na sala de aula. Foi contemplado nas avaliações em texto

requisitado para grupo de educadores que quiseram participar esses registros deram

contribuições para ajustar detalhes não observados e que nos próximos trabalhos poderei

contemplar.

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9. REFERÊNCIAS

CAMEN, A. Universos Culturais e Representações docentes: subsídios para a formação de professores para a diversidade cultural, Revista Educação e Sociedade, n.77, Campinas, 2001, p. .207-227.

FREIRE, Paulo: Ensinar exige escutar In: Pedagogia da Autonomia, São Paulo. Ed. Paz e Terra. 2000.

FREIRE, Paulo. Carta do direito de mudar o mundo. In: Souza, Ana Inês (org.) Paulo Freire – Vida e obra. São Paulo, Expressão Popular, 2001.

GIORDANI, Mário Curtis. História da África Anterior aos descobrimentos. Petrópolis, RJ: ed. Vozes, 1985.4ª edição. 2006.

PARAÍSO, M.A. Apresentação. in: PARAÍSO.M.(Org.). Pesquisa sobre Currículos e Culturas. Curitiba: CRV, 2010, p.11-14.

PARAÍSO, M. A.. O currículo entre a busca por “bom desempenho” e a garantia das diferenças. In: santos, L. L. [ et. al.]. (Orgs.). Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.p.132-52.

PERRENOULD, Philippe. ”Os professores e a gestão do currículo: perspectivas e práticas reflexivas e participação crítica”. in Revista Brasileira em Educação: AMPED,Rio de Janeiro, n.12,1999.pp.5-21

ROCHA, Margarida de Carvalho. Alfabeto Negro. A valorização do povo negro no cotidiano da vida escolar. Manual do professor. Mazza edições, 2000.

SANTOS, S.M.P dos. O lúdico na formação do educador. Rio de Janeiro: Vozes, 1997.

SOUZA, Marina de melo. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, p.85.2006.

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10. ANEXOS

Figura 1: Turma do Cebolinha

Figura 2: Confecção de cartazes pela turma.

Figura 3: Apresentação de capoeira da equipe da Escola Integrada e brincadeiras do jogo realizadas pelas crianças.

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Figura 4: Seminário da roda

Figura 5: Confecção de instrumentos musicais, máscaras e bonequinhas com sucata

Figuras 6: Confecção do portfólio.

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Figuras 7: Cenário itinerante e dramatização

Figuras 8: Palestras da professora Maria Edite Rodrigues

Figuras 9: Apresentações (danças, desfiles) e exposição na Feira Literária