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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO HÁ CORPO NA EDUCAÇÃO? DA FRAGMENTAÇÃO À BUSCA DA INTEGRALIDADE DO SER: análise de uma experiência de formação humana integral/transpessoal RECIFE - PERNAMBUCO 2013

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE … · integral/transpersonal author Ken Wilber. This study had a qualitative-fenomelogical approach, This study had a qualitative-fenomelogical

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

HÁ CORPO NA EDUCAÇÃO?

DA FRAGMENTAÇÃO À BUSCA DA INTEGRALIDADE DO SER:

análise de uma experiência de formação humana integral/transpessoal

RECIFE - PERNAMBUCO

2013

EMMANUELA ANDRADE DOS SANTOS

HÁ CORPO NA EDUCAÇÃO?

DA FRAGMENTAÇÃO À BUSCA DA INTEGRALIDADE DO SER:

análise de uma experiência de formação humana integral/transpessoal

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação, Núcleo de Educação e

Espiritualidade, do Centro de Educação da

Universidade Federal de Pernambuco como

exigência parcial para obtenção do título de Mestre

em Educação.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Aurino Lima Ferreira

LINHA DE PESQUISA: Educação e Espiritualidade

RECIFE - PERNAMBUCO

2013

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

HÁ CORPO NA EDUCAÇÃO?

DA FRAGMENTAÇÃO À BUSCA DA INTEGRALIDADE DO SER:

análise de uma experiência de formação humana integral/transpessoal

COMISSÃO EXAMINADORA

_____________________________________________________

Prof. Dr. Aurino Lima Ferreira

1º Examinador/Presidente

_____________________________________________________

Profª. Drª. Maria Thereza Didier de Moraes

2ª Examinadora

_____________________________________________________

Prof. Dr. Ferdinand Röhr

3º Examinador

RECIFE, 27 de Maio de 2013

Dedico este trabalho a meus pais, Jailza de Andrade Silva e Nalvio Ferreira dos Santos

que juntos sonharam e trabalharam por um futuro mais oportuno para mim pelas vias do estudo e

por toda dedicação e amor do dia a dia.

Dedico a toda minha família, em especial, aos filhos Yolanda Emana, Demetrius Hélder e

Danton Vinícius, sementes plantadas para um mundo melhor.

Dedico a todos que buscam educar de corpo inteiro por compromisso ao amor, a beleza e

a verdade, e trabalham para uma transformação humana e social necessárias.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Mestre maior, o grande bailarino da vida pela dádiva da existência e de

podermos juntos cocriarmos também a nossa, reconhecendo que sem este sopro divino diário não

somos nada. Em especial, agradeço ao Mestre José Gabriel da Costa por seu acolhimento,

abertura e sustento na caminhada espiritual e a todos os amigos do CEBUDV.

Sou grata ao prof. Dr. Aurino Lima Ferreira que de títulos acadêmicos é doutor, mas é

principalmente doutor na arte de educar e de saber construir seu ser continuadamente. Pessoa

admirável por não apenas sustentar a crença numa vida mais humana, mas sim por tecê-la no

hoje. Sou grata por toda disponibilidade de orientação e principalmente por me auxiliar a ver o

potencial existente em mim quando eu mesma pouco acreditei.

Aos professores do Núcleo de Educação e Espiritualidade, Alexandre Simão, Ferdinand

Röhr e Policarpo Junior, meus sinceros agradecimentos por desbravarem este núcleo no PPGE-

UFPE trilhando os primeiros passos para a nossa chegada.

Sou grata aos companheiros da Linha de Pesquisa em Educação e Espiritualidade e

aqueles que juntos cursamos disciplinas, são eles, Richardson Silva, Rosa Tenório, Cláudia

Castro, Gildete Rodrigues, Aldenize Lima, Regina Boccini, Júlio Horta, Vinícius Barreto, Sidney

Rocha, Silas Rocha, Lucas Dantas, Williams Araújo, Joacy Nascimento, Wellington Pinheiro,

Lavínia, Ana Paula, pela convivência enriquecedora de aprendizado científico e humano

compartilhados. Aprendi um pouco com cada um de vocês que também foram importantes para

este trabalho.

A todos os estudantes da turma de Processos Interativos que participaram desta pesquisa

pela colaboração e preciosos momentos de formação humana conjunta.

Agradeço a Hugo Pinheiro pelo suporte designer e gráfico e a prontidão de sempre.

Sou grata a Demetrius Rezende por seu companheirismo e amor.

E grata aos amigos do cotidiano, Tília Carolina, Sévia Sumaia, Conceição Lima, Cris

Índia e Éverton Pires, que fazem meu viver regado à amizade sincera e à alegria, e pelos ouvidos

prontos nas horas da aflição e as palavras de apoio e conforto quando preciso.

Corpo Inerte

Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas

Que já têm a forma do nosso corpo

E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos

mesmos lugares

É o tempo da travessia

E se não ousarmos fazê-la

Teremos ficado... para sempre...

À margem de nós mesmos

Fernando Pessoa

RESUMO

O trajeto investigativo desta dissertação buscou compreender possíveis caminhos para a relação

corpo e educação a partir de uma visão integrativa e multidimensional do humano. Neste sentido,

investigamos uma experiência educativa desenvolvida numa disciplina do curso de pedagogia da

UFPE e que se fundamenta na articulação teórico-prática da educação integral e da psicologia da

educação transpessoal. Objetivamos acompanhar e descrever a organização didática e

compreender qual o lugar da dimensão corporal nesta experiência. Bem como, indicar quais os

deslocamentos operados por esta formação na concepção de educação do corpo dos participantes.

Em paralelo, realizamos um mapeamento sobre o conceito de corpo em oito obras do autor

integral/transpessoal Ken Wilber. Este trabalho situa-se no campo das abordagens qualitativas de

cunho fenomenológico e faz uso da observação participante e da pesquisa bibliográfica para

acessar o fenômeno. Durante um semestre investigamos um grupo de vinte e seis participantes da

disciplina Processos Interativos através de entrevistas semiestruturadas, questionários,

observação participante e do “diário de si”. O acompanhamento das experiências vividas na

referida disciplina forneceu-nos bases para um caminho possível de superação do paradigma

reducionista e de uma educação do corpo mais integral com a organização didática que buscou

explorar o corpo multidimensional vinculando o saber e o corpo, com uma aprendizagem teórico-

prática por meio de estratégias ativas que traziam a corporalidade nos processos pedagógicos. A

inclusão da dimensão corporal de maneira integral e multidimensional nesta experiência pareceu-

nos o elemento fundamental da educação para ampliação do conhecimento da integralidade dos

participantes. Houve um deslocamento significativo das concepções de educação do corpo dos

participantes, no início as concepções eram de educação do corpo bancário, acessório, negado e

pouco explorado e no final as concepções foram mais formativas e integrais, com as categorias de

educação do corpo mais integral, corpo como conhecimento de si e do outro, corpo como

elemento da educação, corpo como atividade, corpo como expressão e liberdade, corpo como

bem estar e prazer e os limites desta formação com o corpo ainda fragmentado. Na teoria

wilberiana, a exploração conceitual de corpo o revelou como o lócus do ser e do conhecer das

realidades intrafísicas da multidimensionalidade, da matéria até o espírito, sendo, portanto, o

lugar do desenvolvimento e crescimento humano. Na visão dos “Quatro Quadrantes do Kosmos”,

o corpo desponta com os níveis do ser e do conhecer abrangendo mais quatro ângulos de estudo,

o Eu, o Nós, o Isto e os Istos, indicando a teia complexa a qual ele está inserido. Ademais,

apresenta a existência das linhas de desenvolvimento no corpo, os diferentes estados de

consciência e os diferentes corpos destes, e os estágios de consciência que podem transitar do

corpo egocêntrico para o etnocêntrico e daí para o mundicêntrico. Indicamos que a visão da

abordagem integral/transpessoal sobre o corpo pode favorecer os processos de educação integral,

pois o concebe como um lócus de potencial e exploração para além das fronteiras da

fragmentação, reducionismo e controle.

Palavras-chave: Corpo. Educação Integral. Psychologies Transpessoal. Ken Wilber.

ABSTRACT

The aim of this dissertation was searching for possible paths toward a body-education

relationship from an integrated and multidimentional view of human. Thus, we investigated the

experience of students of pedagogy course at UFPE, based on the articulation of theory-practice

on integral education and the transnpersonal-education-psychology. Our study focused on

following and describing the didatics organization, understanding the place of the body's

dimension which emerged from this experience. Also we searched for to show the shifts in this

kind of learning and what that can promote in the conception of education of the

participants. Parallel to this, we mapped the eight-work-body-concept of the

integral/transpersonal author Ken Wilber. This study had a qualitative-fenomelogical approach,

by using the partipant-observation and bibliographic research method. During six months we

investigated twenty-six-students attending the discipline entitled Interactive Processes, through

the semi-structured interviews, questionnaires, participant observations and 'self-diary'.

Monitoring these experiences in the discipline provided us bases for a possible way to overcome

the reductionist paradigm, and a more integral education of the body with the didactic that sought

to explore the multidimensional body linking knowledge with body, with a learning-theoretical practice through strategic actions that brought corporeality in the pedagogical processes. The

inclusion of the body in a holistic manner and this multidimensional experience seemed to us the

fundamental element of education to increase the knowledge of the entire participants. There was

a significant shift education conceptions of the body of the participants. At the beginning were

the conceptions of bank education, accessory, denied and underexplored and in the end the

conceptions were more formative and holistic with the categories of education of the most

integral , body and knowledge of self and other, body as part of education, as body activity, body

as expression and freedom body as welfare and pleasure, and the limits of this formation with the

body still fragmented. A conceptual exploration of the body in Wilber's theory showed this as the

locus of being and knowing the realities intraphysical, the multidimensionality of matter to spirit,

therefore, the place of human growth and development. In view of the "Four Quadrants of

Kosmos", the body emerges with levels of being and knowing spanning four angles of study, the

Self, We, This and These, indicating the complex web which it is inserted, existence along the

lines of development in the body, the different states of consciousness and the different bodies of

these stages of consciousness and the body that can move from the body and egocentric to the

ethnocentric to this worldcentric. Our findings points out the body-integral-transpersonal

approach can foster integral-educational processes, because see them as a potential locus and

exploration beyond the boundaries of fragmentation, reduccionist control.

Key-words: body, Education integral, Psicology transnpersonal, Ken Wilber.

LISTA DE FIGURAS

F1. O Grande Ninho do Ser........................................................................................................... 65

F2. O corpo nos Quatro Quadrantes do Kosmos........................................................................... 75

F3. A relação entre os quadrantes superior esquerdo e o direito................................................... 78

F4. Matéria como a parte exterior de todos os níveis.................................................................... 79

F5. Quadrante Superior Esquerdo: o corpo no espaço Eu............................................................. 81

F6. Psicógrafo Integral como uma Holarquia............................................................................... 87

F7. Estados de consciência correlacionados a corpos e a energias................................................ 90

F8. Correlação de estados mentais e cerebrais no quadrante superior esquerdo e direito............. 92

F9. Quadrante superior direito: o corpo espaço Isto...................................................................... 93

F10. Quadrante inferior esquerdo: o corpo espaço Nós................................................................ 96

F11. Quadrante inferior direito: o corpo no espaço Istos.............................................................. 99

F12. Atividade de relaxamento ativo corporal com dança...........................................................102

F13. Atividade de relaxamento passivo e visualização criativa...................................................102

F14. Atividade de Escrita de si – Diário.......................................................................................103

F15. Atividade de expressão não verbal...................................................................................... 104

F16. Atividade de expressão verbal............................................................................................. 104

F17. Atividade com dança e brincadeira..................................................................................... 105

F18. Atividade expressiva através de desenho............................................................................ 105

F19. Desenho.............................................................................................................................. 106

F20. Dinâmica do pêndulo revelando emoções intrapessoais e interpessoais............................. 107

F21. Atividade sobre as concepções de corpo numa perspectiva intercultural........................... 108

F22. Visita de campo a espaço não formal de ensino com perspectiva intercultural.................. 108

F23. Conceito teórico transformado em uma atividade prática com dinâmica de grupo............ 109

F24. Atividade introspectiva........................................................................................................ 110

F25. Atividade de dança circular para trabalhar o corpo físico e a mente....................................111

F26. Atividade para reintegrar a conexão mente/corpo físico..................................................... 111

F27. Atividade em grupo na organização das tarefas...................................................................113

F28. Atividade de dramatização: vivenciando novas perspectivas............................................. 113

F29. Desenho sobre a vivência de dança circular em homenagem a Mãe Terra......................... 114

F30. Atividade de dramatização sobre os problemas na instituição escolar................................ 115

F31. Atividade sobre a inclusão educacional de deficientes físicos (aluna da esquerda

dramatizando uma deficiente visual)........................................................................................... 115

F32. Atividade de dinâmica sobre o sistema político capitalista................................................. 116

F33. Matriz das Unidades de significado – Concepção de educação do corpo na UFPE-CE..... 126

F34. Matriz das Unidades de significado – Concepção de Educação do corpo na disciplina

Processos Interativos................................................................................................................... 133

F35. Matriz das Unidades de significado – Concepção de Educação do corpo no processo de

aprendizagem na UFPE-CE......................................................................................................... 143

F36. Desenho na concepção Educação do corpo acessório na aprendizagem............................. 144

F37. Desenho na concepção Educação do corpo bancário na aprendizagem.............................. 146

F38. Desenho na concepção Negação do corpo na aprendizagem.............................................. 147

F39. Desenho na concepção Educação do corpo pouco explorado na aprendizagem................. 149

F40. Matriz das Unidades de significado – Concepção de Educação do corpo no processo de

aprendizagem em Processos Interativos...................................................................................... 150

F41. Desenho na concepção educação do corpo como elemento da educação na

aprendizagem................................................................................................................................153

F42. Desenho na concepção Educação do corpo como atividade na aprendizagem................... 154

F43. Desenho na concepção Educação do corpo como expressão e liberdade na aprendizagem

......................................................................................................................................................156

F44. Desenho na concepção Educação do corpo como conhecimento de si e do outro na

aprendizagem............................................................................................................................... 157

F45. Desenho na concepção Educação do corpo mais integral na aprendizagem....................... 160

F46. Desenho na concepção Educação do corpo como bem-estar e prazer na

aprendizagem............................................................................................................................... 161

F47. Matriz das Unidades de significado – Concepção de Educação do corpo no processo de

ensino na UFPE- CE.................................................................................................................... 163

F48. Desenho na concepção Educação do corpo acessório no ensino........................................ 164

F49. Desenho na concepção Negação da educação do corpo no ensino..................................... 166

F50. Desenho na concepção Educação do corpo bancário no ensino.......................................... 167

F51. Desenho na concepção Educação do corpo pouco explorado no ensino............................. 169

F52. Matriz das Unidades de significado – Concepção de Educação do corpo no ensino em

Processos Interativos................................................................................................................... 170

F53. Desenho na concepção Educação do corpo como expressão e liberdade no ensino........... 172

F54. Desenho na concepção Educação do corpo como atividade no ensino............................... 174

F55. Desenho na concepção Educação do corpo mais integral no ensino................................... 175

F56. Desenho na concepção Educação do corpo como elemento da educação no ensino.......... 177

F57. Desenho na concepção Educação do corpo como conhecimento de si e do outro no

ensino........................................................................................................................................... 179

F58. Desenho na concepção Educação do corpo como bem-estar e prazer no ensino................ 180

F59. Desenho na concepção Educação do corpo fragmentado no ensino................................... 181

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Exemplo de Redução de Unidades de Significado da participante P1.......................120

Quadro 2 - Exemplo de Redução de Unidades de Significado da participante P16.....................121

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................................ 17

CAPÍTULO 1 A PROBLEMÁTICA DA PESQUISA: O LEGADO IN-CORPORADO........... 22

1.1. O CORPO NA FRAGMENTAÇÃO, REDUÇÃO E ALIENAÇÃO DA VISÃO INTEGRAL

.......................................................................................................................................................22

CAPÍTULO 2 MAPAS NORTEADORES – EM BUSCA DO ABRAÇO INTEGRAL............. 30

2.1. O RESGATE DOS FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO: PARA QUÊ EDUCAMOS OS

SERES HUMANOS? .................................................................................................................. 30

2.1.1. O vínculo entre educação e espiritualidade: retorno às origens.......................................... 32

2.1.2. Educação como processo integral de formação humana.................................................... 34

2.2. PSICOLOGIA TRANSPESSOAL/INTEGRAL................................................................... 40

2.2.1. Por uma psicologia com Psique: a transpessoal no cenário do desenvolvimento.............. 40

2.2.2. Ken Wilber: a busca de aprofundamento teórico na abordagem integral........................... 44

CAPÍTULO 3 A METODOLOGIA.............................................................................................47

3.1. RELEVÂNCIA DO ESTUDO.............................................................................................. 47

3.2. METODOLOGIA ................................................................................................................ 48

3.2.1. A pesquisa bibliográfica: em busca de mapear e descrever o conceito da categoria corpo na

abordagem integral/transpessoal.................................................................................................. 49

3.2.2. A pesquisa de campo participante: em busca de acompanhar e descrever o lugar da

dimensão corporal numa práxis educativa integral/transpessoal.................................................. 50

3.2.3. Participantes da pesquisa.................................................................................................... 53

3.2.4. Escolha da disciplina para o estudo do fenômeno............................................................. 54

3.2.5. As atividades e o procedimento da pesquisa...................................................................... 54

3.2.6. Questionário sobre educação do corpo............................................................................... 55

3.2.7. Observação e análise da prática pedagógica....................................................................... 55

3.2.8. Diário de si.......................................................................................................................... 56

3.2.9. Entrevista semiestruturada.................................................................................................. 58

3.2.10. Sistema de análise dos dados............................................................................................ 59

CAPÍTULO 4 RESULTADOS: APRESENTAÇÃO, ANÁLISES E DISCUSSÕES................. 63

4.1 O LUGAR DO CORPO NA ABORDAGEM INTEGRAL/TRANSPESSOAL DE KEN

WILBER....................................................................................................................................... 63

4.1.1 A Grande Cadeia do Ser: a perspectiva multidimensional da Pré-modernidade................. 64

4.1.2. Contribuições da Integralidade para o resgate do Grande Ninho do Ser na

contemporaneidade....................................................................................................................... 70

4.1.2.1. O Grande Ninho do Ser por Quadrantes: o Sistema Operacional Integral...................... 73

4.1.2.2. O Grande Ninho do Ser da Metafísica a Pós-metafísica Integral.................................... 76

4.1.2.3. O Quadrante Superior Esquerdo: o corpo no Eu............................................................. 80

4.1.2.3.1. O corpo no Eu: em todos os estágios do Eu................................................................. 84

4.1.2.3.2. O corpo no Eu: em todas as linhas do desenvolvimento.............................................. 86

4.1.2.3.3. O Corpo no Eu em todos os Estados - um tango a três................................................. 88

4.1.2.4. O Quadrante Superior Direito: o corpo no Isto................................................................ 92

4.1.2.5. O Quadrante Inferior Esquerdo: o corpo no Nós..............................................................95

4.1.2.6. O Quadrante Inferior Direito: o corpo no Istos............................................................... 99

4.2. A EDUCAÇÃO DO CORPO NOS QUATRO QUADRANTES DO KOSMOS................ 101

4.2.1. A educação do corpo no Quadrante Superior Esquerdo................................................... 101

4.2.2. A educação do corpo no Quadrante Superior Direito....................................................... 110

4.2.3. A educação do corpo no Quadrante Inferior Esquerdo......................................................112

4.2.4. A educação do corpo no Quadrante Inferior Direito........................................................ 114

4.3. A COMPREENSÃO SOBRE A CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CORPO NOS

PROCESSOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM DOS PARTICIANTES DA PESQUISA

ATRAVÉS DOS QUESTIONÁRIOS E DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA ........... 116

4.3.1. Explicitação das Unidades de Significado........................................................................ 118

4.3.2. Análise e discussão do Gráfico das Unidades de Significado.......................................... 124

4.3.3. Análise e discussão do Gráfico das Unidades de Significado sobre a concepção de

educação do corpo na UFPE-CE................................................................................................ 125

4.3.3.1. Concepção Negação da educação do corpo................................................................... 127

4.3.3.2. Concepção Educação do corpo acessório.................................................................. 128

4.3.3.3. Concepção Educação do corpo pouco explorado...................................................... 130

4.3.3.4. Concepção Educação do corpo bancário................................................................... 130

4.3.4. Análise e discussão do Gráfico das Unidades de Significado sobre a concepção de

educação do corpo na disciplina Processos Interativos.............................................................. 131

4.3.4.1. Concepção Educação do corpo mais integral................................................................ 134

4.3.4.2. Concepção Educação do corpo como conhecimento de si e do outro........................... 136

4.3.4.3. Concepção Educação do corpo como elemento da educação........................................ 137

4.3.4.4. Concepção Educação do corpo como expressão e liberdade......................................... 138

4.3.4.5. Concepção Educação do corpo como atividade............................................................ 139

4.3.4.6. Concepção Educação do corpo como bem-estar e prazer.............................................. 141

4.3.4.7. Concepção Educação do corpo fragmentado................................................................. 142

4.3.5. Análise e discussão do Gráfico das Unidades de Significado sobre o corpo no processo de

aprendizagem na UFPE-CE.........................................................................................................142

4.3.5.1. Concepção Educação do corpo acessório na aprendizagem...........................................143

4.3.5.2. Concepção Educação do corpo bancário na aprendizagem............................................145

4.3.5.3. Concepção Negação da educação do corpo na aprendizagem........................................147

4.3.5.4. Concepção Educação do corpo pouco explorado na aprendizagem.............................. 148

4.3.6. Análise e discussão do Gráfico das Unidades de Significado sobre o conceito de educação

do corpo no processo de aprendizagem na disciplina Processos Interativos.............................. 149

4.3.6.1. Concepção Educação do corpo como elemento da educação na aprendizagem............151

4.3.6.2. Concepção Educação do corpo como atividade na aprendizagem.................................153

4.3.6.3. Concepção Educação do corpo como expressão e liberdade na aprendizagem.............155

4.3.6.4. Concepção Educação do corpo como conhecimento de si e do outro na aprendizagem

.....................................................................................................................................................157

4.3.6.5. Concepção Educação do corpo mais integral na aprendizagem....................................159

4.3.6.6. Concepção Educação do corpo como bem-estar e prazer na aprendizagem.................160

4.3.6.7. Concepção Educação do corpo fragmentado na aprendizagem....................................161

4.3.7. Análise e discussão do Gráfico das Unidades de Significado sobre o corpo no processo de

ensino na UFPE-CE.................................................................................................................... 162

4.3.7.1. Concepção Educação do corpo acessório no ensino......................................................163

4.3.7.2. Concepção Negação da educação do corpo no ensino...................................................165

4.3.7.3. Concepção Educação do corpo bancário no ensino.......................................................166

4.3.7.4. Concepção Educação do corpo pouco explorado no ensino...........................................168

4.3.8. Análise e discussão do Gráfico das Unidades de Significado sobre o conceito de educação

do corpo no processo de ensino na disciplina Processos Interativos.......................................... 169

4.3.8.1. Concepção Educação do corpo como expressão e liberdade no ensino....................... 171

4.3.8.2. Concepção Educação do corpo como atividade no ensino........................................... 172

4.3.8.3. Concepção Educação do corpo mais integral no ensino................................................ 174

4.3.8.4. Concepção Educação do corpo como elemento da educação no ensino.......................176

4.3.8.5. Concepção Educação do corpo como conhecimento de si e do outro no

ensino.......................................................................................................................................... 178

4.3.8.6. Concepção Educação do corpo como bem-estar e prazer no ensino..............................179

4.3.8.7. Concepção Educação do corpo fragmentado no ensino.................................................181

4.4. ANÁLISE GERAL DA VISÃO DE EDUCAÇÃO DO CORPO DOS PARTICIPANTES

ATRAVÉS DOS QUESTIONÁRIOS E DAS ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADAS: O

ANTES E O DEPOIS DA EXPERIÊNCIA INTEGRAL/TRANSPESSOAL............................181

4.4.1. Observação e análise da prática pedagógica e dos conteúdos trabalhados na disciplina

Processos Interativos no espaço escolar......................................................................................185

4.4.1.1. Aulas da disciplina Processos Interativos: em busca da integralidade no corpo............185

4.4.1.2. Matriz de atividades comuns da disciplina Processos interativos..................................186

4.4.1.3. Sistema de avaliação da disciplina Processos interativos.............................................. 194

4.4.1.4. Ressonância dos dados com a proposta da disciplina Processos interativos................. 195

CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................................197

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................204

ANEXOS.....................................................................................................................................208

APÊNDICES...............................................................................................................................261

17

1 INTRODUÇÃO

“A impressão que passa é que quando entramos

na sala deixamos o corpo do lado de fora.”

(Discurso da aluna E.M).

Todo o trajeto investigativo desta dissertação teve como direção a busca por compreender

novos caminhos possíveis para a relação corpo e educação. Este objetivo decorreu do fato de em

primeiro lugar, a categoria corpo ter sido sempre dotada de sentido existencial para mim, pois me

considero um corpo aprendiz. Foi daí que adveio a motivação inicial dessa pesquisa, meu lócus

próprio, o qual em um dado momento da vida me foi um corpo estranho, desconhecido, e ao

mesmo tempo surpreendente por tanta complexidade, instaurando em mim um querer em

aprofundá-lo e isto foi latente deste então. Percebi empiricamente seu potencial formativo e isso

me levou também a prosseguir estudando-o de forma acadêmica gerando assim esta pesquisa.

Portanto, ao começar os estudos com esta categoria dentro dos processos educacionais,

deparamo-nos com a convicção de que a forma de concebê-lo e tratá-lo precisava ser reavaliada,

pois toda a integralidade na dimensão corporal estava sendo reduzida a ser apenas a dimensão

mental, um grande reducionismo de percepção. Dessa forma, buscamos com esta pesquisa

alargar os horizontes sobre a concepção de corpo instaurada amplamente na educação e caminhar

em direção a ressignificá-lo, conforme defendem as abordagens integrais, como um campo de

potencialidade integral, um modo de experiência, uma realidade fenomenológica e um campo de

desenvolvimento humano de crescimento e transformação (WILBER, 2006; YUS, 2002) e dessa

forma, ir reconstruindo os sentidos sobre a formação humana na interação com o corpo.

Neste sentido e de modo geral, este trabalho foi pensado no intuito de compreender

formas de saída e ultrapassagem do paradigma da fragmentação, redução e alienação, o qual

modelou fronteiras do corpo consigo mesmo, com os demais corpos, com a cultura e com a

natureza, ou seja, estabeleceu cisões entre a rede multidimensional humana de unidade que

envolve o corpo integral e enraizou dualismos nos campos de nossa sociedade, como a separação

entre corpo e mente, corpo e espírito, corpo e sujeito, corpo e natureza, entre outros, eclipsando a

visão de uma percepção e concepção mais inteira dos fenômenos.

18

Contudo, ao mesmo tempo, buscamos resgatar relações originárias esquecidas pela

história da educação, como a relação fundante entre ser humano, educação e espiritualidade, a

nosso ver basilares, de modo que tentamos a reconexão desses eixos na discussão de nossa

temática com o intuito de entrelaçar esses elementos para o debate da formação humana.

Em consonância com este propósito, a educação integral e a transpessoal nos surgiram

como vias de promoção do humano e abordagens capazes de favorecer novos sentidos ao

conceber educativo e às experiências formativas através de renovados fundamentos e fazeres

para os processos de ensino-aprendizagem, pois ambas as propostas buscam promover

gradativamente uma in-corpor-ação da integralidade, numa direção conjunta para aliar o saber ao

ser, estabelecendo um vínculo estreito entre as relações educacionais, o conhecimento e o

desenvolvimento humano global.

Assim, inspirados na educação compreendida como sendo o processo integral de

formação humana (RODRIGUES, 2001, RÖHR, 2010) e no paradigma da psicologia da

educação transpessoal (WILBER, 2011), filiamo-nos a compreender uma mudança de postura,

pois conforme indica Freire (1996) estamos no domínio da decisão, da avaliação, da liberdade,

da ruptura e da opção. Direcionamo-nos ao resgate de nossa autonomia junto à crença na

possibilidade de transformação da realidade e cocriação rumo ao mundo que queremos, numa

heterotopia1 possível que nos permita reencantar o ato de educar como sendo, sobretudo, um ato

de questões do humano, com vivências e saberes voltados primeiramente ao crescimento

individual e coletivo, o qual todos somos responsáveis.

Há tempo diversas linhas da educação vêm concentrando esforços para realizar esta

mudança de paradigma caminhando de uma perspectiva egopedagógica centrada no ensinar,

educação ainda marcadamente bancária, a uma ecopedagogia do aprender (BRANDÃO, 2012)

centrada nos processos e na interação multidimensional, perspectiva a qual pretende promover a

percepção de lógica em rede sobre a qual o fenômeno humano está inserido, perpassando a

necessidade de reavaliação e ressignificação do lugar do corpo na pedagogia atual.

Conforme Espírito Santo (2011), a transgressão da visão racionalista do corpo é uma

etapa a ser vencida na busca de uma mudança de paradigma educacional e para a superação desta

restrição, acreditamos ser necessária a emergência de um trabalho formativo fundamentado na

1 No sentido de lugares reais, mas que estão fora dos lugares aceitos.

19

possibilidade de incluir novas experiências corporais e que possa assim, sensibilizá-lo rumo à

ampliação perceptiva mais integral.

Neste intuito, este trabalho se lançou a responder as seguintes questões norteadoras: qual o

lugar do corpo no paradigma da educação integral? Como uma experiência formativa neste tipo

de abordagem poderia sensibilizar deslocamentos na concepção de corpo de uma perspectiva

mais fragmentada a uma visão mais integral? Em continuidade, com a necessidade de um maior

aprofundamento teórico, qual seria o conceito de corpo apresentado na abordagem da psicologia

transpessoal/integral do autor Ken Wilber?

Para encontrar subsídios para tais questões, fomos à busca de conhecer uma proposta

formativa de educação integral e transpessoal ancorada em concepções de não separatividade

entre o corpo em si mesmo e com os processos pedagógicos, a fim de compreender como se

dariam essas relações, e saber se a partir desta análise poderíamos obter novos significados e

tecer novos caminhos possíveis para o lugar do corpo nos processos educacionais para além da

perspectiva reducionista concebida amplamente.

Dessa forma, o objetivo geral desta dissertação foi acompanhar e descrever uma

proposta educativa que visava à integralidade do ser, a fim de compreender o lugar da dimensão

corporal nessa experiência, o que foi realizado na disciplina Processos Interativos no Espaço

Escolar, ofertada no oitavo período do curso de pedagogia da Universidade Federal de

Pernambuco, Centro de Educação, com uma pesquisa de cunho fenomenológico de observação

participante.

Tivemos como primeiro objetivo específico realizar uma análise comparativa das visões

de corpo dos participantes, compreendendo inicialmente qual a concepção de educação do corpo

que estes estudantes traziam como legado após sete períodos como discentes do curso de

pedagogia e compreender posteriormente, os possíveis deslocamentos operados pelos impactos

proporcionados pela experiência de formação humana integral/transpessoal, realizando o antes e

o depois da experiência, para em seguida, dialogarmos esses resultados com os teóricos da área e

ampliarmos a discussão.

Por uma necessidade exploratória conceitual, esta pesquisa teve como outro objetivo

específico, de cunho fenomenológico bibliográfico, mapear oito obras de Ken Wilber, autor da

psicologia da educação integral/transpessoal, a fim de compreender o lugar do corpo nesta

20

abordagem teórica, já que este autor vem ao longo dos últimos trinta anos se dedicando a

aprofundar e sistematizar uma visão da integralidade do ser humano, examinando as

contribuições deixadas ao longo do tempo pelo período da pré-modernidade, modernidade e pós-

modernidade realizando um estudo inovador.

Desta maneira, como indicado nos objetivos acima, valemo-nos de duas metodologias

para acessar o fenômeno de nossa investigação, tanto a pesquisa qualitativa fenomenológica de

observação participante quanto à pesquisa bibliográfica, ambas com o objetivo de transversalizar

o fenômeno corpo por diversos ângulos possíveis.

Em relação ao percurso deste trabalho, temos com o capítulo primeiro a contextualização,

ainda que de forma breve, do panorama de como a problemática da educação do corpo foi

instalada pelo legado in-corporado da fragmentação, redução e alienação da visão integral,

legado este trazido desde o período moderno, para a partir disto, compreender como chegamos a

ser praticamente analfabetos sobre o nossa corporeidade na atualidade.

Em seguida no capítulo dois, apresentamos os nossos mapas norteadores, os quais estão

na busca de realizar um abraço integral, tecendo a partir do vínculo com a visão

multidimensional do ser. E para tanto, primeiro questionamos para quê educamos os seres

humanos, resgatando este ponto precípuo no debate sobre os fins da educação. Após, fomos ao

retorno original do binômio conceitual educação e espiritualidade para conceber o processo de

humanização como nossa direção educativa, buscando usar as lentes dos fundamentos da

educação como formação humana integral e, apresentamos em seguida, os primeiros

fundamentos da psicologia transpessoal, estes os quais nos motivaram a realizar posteriormente o

objetivo específico de aprofundamento teórico em Ken Wilber.

Já o capítulo três apresenta a metodologia, a relevância do estudo, a apresentação dos

participantes da pesquisa e a escolha da disciplina Processos Interativos para esta investigação.

Explicitamos os fundamentos das metodologias utilizadas na pesquisa bibliográfica e na pesquisa

de observação participante e sistematizamos quais as atividades foram utilizadas e seu

procedimento, e após, indicamos o como foi realizado o sistema de análise dos dados dos

participantes.

No capítulo quatro, apresentamos os resultados através da apresentação dos dados da

experiência de pesquisa fenomenológica de observação participante e da pesquisa bibliográfica,

21

sua análise e os diálogos possibilitados com os teóricos da área. Neste momento, temos as

Matrizes das unidades de significados elencados através da interação com os discursos dos

participantes da disciplina, bem como a investigação teórica sobre o lugar do corpo na

abordagem transpessoal/integral de Ken Wilber com a exploração dos quadros o “Grande Ninho

do Ser” e “Os Quatro Quadrantes do Kosmos” e as possíveis contribuições de sua teoria para a

educação do corpo.

Por último, nas considerações finais, teceremos alguns comentários à guisa de reflexões,

procurando apontar as colaborações dos nossos objetivos propostos, os limites enfrentados por

uma pesquisa como esta e as possibilidades exploratórias para a continuidade de uma pedagogia

direcionada à busca da integralidade na formação.

22

CAPÍTULO 1

_____________________________________________________________________________

A PROBLEMÁTICA DA PESQUISA: O LEGADO IN-CORPORADO

Este capítulo destina-se a explicitar a problemática de nossa pesquisa, o legado in-

corporado da fragmentação, redução e alienação da percepção integral, o qual foi ancorado como

herança da visão racionalista prezada pelo período da modernidade que ainda se sustenta até os

dias atuais e modela uma concepção de humano e realidade unidirecional bastante restrita.

Objetivamos isto por acreditar ser necessário compreender um pouco mais mesmo que de

forma breve as origens desse problema e examinar os desdobramentos ocorridos por ele em sua

interface com as implicações educacionais que desembocaram na valorização massiva da

dimensão mental, instaurando uma ampla lacuna entre as áreas do conhecimento humano e as

dimensões do ser. Desta forma, almejamos neste primeiro tópico problematizar para ampliar não

apenas nossa ótica, mas todo nosso ser, a fim de nos direcionarmos a uma mudança de

paradigma necessária que nos permita reaproximar o corpo de sua integralidade.

1.1 O CORPO NA FRAGMENTAÇÃO, REDUÇÃO E ALIENAÇÃO DA VISÃO INTEGRAL

A relação atual entre a categoria corpo e a educação é apresentada por Yus (2002, p. 195)

quando afirma:

[...] o cenário educacional produz um analfabetismo funcional em termos de

domínio de nosso próprio corpo nas sociedades modernas, de modo que

passamos grande tempo de nossas vidas em instituições normatizadas para nos

educar e somos praticamente desconhecedores de nossa própria corporeidade.

A denúncia acima nos soou como um alerta inicial na busca exploratória sobre o

tratamento dado ao corpo na atualidade e nos fez pensar de que modo chegamos a este patamar

problematizado. Ao rever um pouco nossa condição de estudantes, com exceção da tenra

infância que ainda dá indícios de uma aprendizagem com corpo na escola, examinamos de forma

23

ampla que na formação dos anos posteriores há pouco investimento nas habilidades corporais

pelas diversas disciplinas que não o incluem na agenda da formação.

Assim, as disciplinas que trabalham explorando-o de forma mais pontual, entretanto

ainda de forma deficitária, pois o corpo é um campo fecundo, são: a educação física, que em

geral realiza um trabalho voltado para os esportes e muito excepcionalmente para o

autoconhecimento corporal; a educação artística, quando realiza uma interface com a dança ou

alguma expressão artística que precisa fazer com o corpo; e a disciplina biologia, apresentando-o

pelo viés do funcionamento biológico enquanto sistema. Entretanto, as demais matérias

educacionais demonstram não necessitar da exploração corporal como participante ativo nos

processos, nem como objeto de conhecimento, porque prezam mesmo é pelo trabalho com a

dimensão cognitiva do sujeito, e não o corpo como um todo.

Contudo, as culturas pré-modernas mantinham outro tipo de interação com o corpo, de

modo que o concebia como lócus de conhecimento e integralidade, como encontramos nas

contribuições trazidas pelo teórico Ken Wilber (2000). O autor revisitou as fontes chamadas

“culturas tradicionais” e reatualizou o quadro denominado pelos antigos como o “Grande Ninho

do Ser” ou “a Grande Cadeia/Corrente do Ser”. Este quadro apresenta o ser humano envolto em

dimensões que são os níveis de ser e os níveis de conhecer a si, desdobrados em dimensões como

a matéria, o corpo físico, a mente, a alma e o espírito, presentes no campo corpóreo como uma

grande teia, um todo que era explorado.

Neste período e para estas culturas, o ser humano vivia de forma mais incorporada com

funções como “sensação, sentimento, razão e intuição”, segundo relatam Weil, D‟ambrosio e

Crema (1993, p.15). A consciência de correlação entre estas instâncias era uma noção partilhada

a qual se tem registros entre os pré-socráticos, nas culturas xamânicas, em diversas tradições

culturais existentes que cultivavam a conexão com a dimensão sagrada/espiritual (como também

são similarmente chamadas), e assim, os antigos compreendiam o ser humano nessa

interconexão.

De forma semelhante à Wilber, mas contemporâneo, o autor Ferdinand Röhr (2010),

concebe o ser humano também de maneira multidimensional, indicando existir cinco dimensões

básicas. A saber, a dimensão física, a sensorial, a emocional, a mental e a espiritual.

24

Desta maneira, estas culturas e autores nos ilustram a concepção de corpo como um

campo multidimensional humano. Contudo, esta visão da integralidade humana da pré-

modernidade e revisitada na contemporaneidade foi praticamente eclipsada desde a

modernidade, principalmente a dimensão espiritual, quase extinta dos debates sobre

conhecimento e ser humano desde então.

Este eclipse deve-se ao legado preconizado pela modernidade que fragmentou, reduziu e

alienou a noção de humano integral com a consolidação do pensamento racionalista cartesiano

que fragmentou as diversas dimensões a apenas duas: um “corpo físico-máquina” e uma “mente-

alma”. Este período do materialismo científico delimitou o corpo a uma visão mecânica e

biológica, sendo um objeto oposto ao inteligível, como dimensões que não tem nenhuma relação

entre si (GALLO, 1993). Entre as duas, a dimensão mental foi privilegiada como a dimensão

maior, e a célebre frase descartiana “penso, logo existo” revela um pouco da crença da época, a

de que existir é somente pensar.

Essa fragmentação e redução do ser consolidou a dualidade perceptiva sobre si próprio e

alienou uma percepção mais integrada. Segundo Wilber (2010, p.256) “não houve apenas uma

diferenciação entre mente e corpo – a qual foi um necessário passo na evolução, mas também

uma dissociação entre mente e corpo”. Consolidou-se à visão dual, tenho um corpo, mas sou

minha mente. O corpo foi reduzido à concepção de invólucro e a mente centrada como o lócus

do ser.

Dando segmento às proposições do período das Luzes, paralelamente, ocorreu à

fragmentação do conhecimento através do surgimento das diversas especializações e seus

principais ramos de estudo, com o desenvolvimento da ciência, arte, filosofia e religião,

entretanto, estas foram seguindo por caminhos diferentes. Conforme Weil, D´ambrosio e Crema

(1993, p.18),

Pode-se estabelecer uma correlação entre a fragmentação do ser e a

fragmentação do conhecimento, do seguinte modo: entre a razão e a sensação

nasceu a ciência, fundamentada principalmente nessas duas funções; entre a

razão e a intuição nasceu à filosofia, que lança mão de uma ou das duas

funções, conforme a orientação de cada escola; entre a intuição e o sentimento

desenvolveu-se a religião, e entre o sentimento e a sensação nasceu à arte.

25

Wilber (2000) também aponta esta separação dos ramos do conhecimento chamando a

fragmentação moderna dos três grandes: a arte, a moral e a ciência, importantes áreas que

caminharam por trilhas sem comunicação entre si. Posteriormente, como campo científico, a

educação sofreu ainda mais os abalos da fragmentação compactando o conhecimento em

disciplinas separadas e desconectadas.

Assim, a educação manteve tanto a concepção de humano fragmentado quanto a

concepção de conhecimento desarticulado ainda mais por disciplinas. Com isso, pôs fronteiras

entre o processo de educar o conhecedor que tem diversas dimensões e o conhecimento

articulado as suas diversas áreas, desabilitando o ser multidimensional ao saber de suas

potencialidades artísticas, morais, científicas e espirituais como relações interdependentes e

complementares no fenômeno humano.

Com a chegada da pós-modernidade, a fragmentação, redução e alienação do corpo em

integralidade continuou, pois alguns neurologistas e neuropsiquiatras começaram a indagar e

propagar a inexistência do ser humano enquanto sujeito de si mesmo, reduzindo a experiência

humana a um produto “epifenômeno do cérebro” (COSTA, 2007, p. 20).

Para esta visão, o ser humano é concebido como sendo comandado mecanicamente pelo

aparato cerebral e seria destituído de liberdade para ser e escolher, projetando na realidade

exterior seu mundo interior, numa visão positivista, reduzindo a subjetividade e nossa condição

existencial a uma visão pré-determinada da realidade. O autor realiza críticas a esta extrema

redução humana, a qual o sujeito como autoconsciência e autoconhecimento de si não é um fato,

mas sim, uma descrição de processos neuroquímicos e neurofísicos.

Logicamente que o cérebro é um elo que liga o corpo ao ambiente/mundo. Sua

higidez, obviamente, é uma condição necessária à gênese e ao equilíbrio das

atividades mentais. Mas o mesmo poderia ser dito do restante da matéria

corporal e do ambiente. O corpo do sujeito não é um apêndice diluído do seu

cérebro, assim como o ambiente não é a contração gramatical de estímulos

atomizados por aparatos teóricos e instrumentais. Não conhecemos sujeitos

nascidos de cérebros em cuba, assim como não conhecemos sujeitos com corpo

e mundo, mas desprovidos de cérebros. (COSTA, 2007, p. 21).

Além da redução do fenômeno humano ao cérebro, na contemporaneidade, este autor

ainda debateu sobre a explicação materialista-reducionista que propagou a inexistência da

dimensão da alma como uma dimensão possível ao humano - a qual popularmente é

26

compreendida como equivalente a dimensão espiritual. Esta redução busca justificar-se pela

impossibilidade da alma não poder ser mensurada objetivamente de forma quantificável como os

demais objetos, fato este que, para esta perspectiva materialista, faz com que esta dimensão não

exista. Este debate da inexistência da alma/espírito ficou conhecido como “a querela do

materialismo” (COSTA, 2007).

Contudo, Röhr (2010, p.14) posiciona a dimensão espiritual como possuidora de uma

materialidade sim de “densidade sutil”, e por este desconhecimento, muitos simplesmente a

rechaçam do cenário humano sem antes realizar suas próprias experiências espirituais, como as

realizadas pela fenomenologia introspectiva dos antigos pré-modernos que através da

experimentação, meditação e contemplação revelaram-se grandes especialistas neste campo,

deixando este legado para conhecer e saber.

Em análise, com aquela perspectiva de redução do sujeito ao aparato cerebral e a

inexistência da dimensão espiritual, o projeto educacional não haveria o que desenvolver além de

instrumentalizar a mente e preenchê-la com conteúdos, pois, os elementos vinculados ao ser

integral e a espiritualidade, tais como autoconhecimento, autonomia, liberdade, cuidado,

autorealização, humanização, não seriam categorias possíveis, tampouco de fato necessárias à

educação.

O fato é que este legado separatista, reducionista e alienante resultou em divisões

drásticas como herança, pois separou “a mente do corpo, o corpo da alma, os sujeitos dos

objetos, o eu do mundo/vida e a natureza da cultura” (FREITAS, 2010, p. 56), o que trouxe

implicações diretas ao nosso campo educativo atual.

Na busca de reconectar esses elos perdidos, Rafael Yus enfatiza a necessidade da

reconexão dinâmica entre as instâncias que envolvem o corpo e problematiza a questão.

A escola convencional, centrada no desenvolvimento da inteligência lógico-

racional, inspirada em uma visão fragmentada da realidade (própria da visão

analítica ou mecanicista do mundo), que leva a separações dramáticas entre

entidades como razão e sentimentos e mente e corpo, deixou de lado

potencialidades humanas sem educar e, portanto, sem desenvolver, como é o

caso da educação do corpo [...] não havendo momentos para uma conexão

holística entre mente e corpo. (YUS, 2002, p. 195).

27

Nesta trilha propositiva, Nóbrega (2005, p. 610) também questiona o tratamento atual

conferido ao corpo chamando-o de “acessório” da mente. Nesta concepção, ele assume o caráter

de instrumento da razão e não o lugar pelo qual eu aprendo com todo meu ser.

Pensar o lugar do corpo na educação em geral e na escola em particular é

inicialmente compreender que o corpo não é um instrumento das práticas

educativas, portanto as produções humanas são possíveis pelo fato de sermos

corpo. Ler, escrever, contar, narrar, dançar, jogar são produções do sujeito

humano que é corpo. Desse modo, precisamos avançar para além do aspecto da

instrumentalidade. (NÓBREGA, 2005, p. 610).

Assim, ele é encarado como um objeto suporte e instrumento da mente para as práticas

humanas, e não o lugar fundamental dessas possibilidades. A noção de que apenas a mente

precisa ser educada carece de reformulação. Salienta Andrade (2007, p. 108), “não apenas a

mente do/a educando/a toma conhecimento dos fatos que os/as circundam, mas também os seus

corpos, o corpo é aprendiz, ele está constantemente aprendendo na interação com os outros”.

Deste modo, o corpo aprende com o outro e isto implica a cada educador sua responsabilidade de

saber que quem educa marca esse corpo do outro (DOWBOR, 2007), afetando-o com seus

fundamentos e fazeres, necessitando ter clareza de qual é sua concepção de humano e de

educação.

Ademais, pontuamos também que a forma de se relacionar com o corpo na escola

apresenta-se ainda bastante repetitiva, pois na maior parte do tempo ele está parado, sentado e

em silêncio porque a ideia vigente é a de que aprendemos melhor assim e não necessitamos de

um corpo mais ativo nos processos de formação.

Sobre esta postura, a autora Strazzacappa (1994, p. 2) problematiza a escola ainda como

uma “fábrica de corpos”, fazendo alusão às origens do processo escolar, finalidade a qual a

escola recebeu, a de preparar os alunos para o trabalho fabril. Com isso, o comportamento

imposto ao corpo naquela época foi de excluí-lo movimentos mais voluntários, estar bastante

parado e isto se vinculou de tal modo às concepções de aprender e ensinar que permanece ainda

hoje.

Destacamos que não propomos a eliminação dos momentos de quietude e silêncio dos

alunos, todos nós sabemos a importância desses elementos, bem como a disciplina para o estudo,

apenas buscamos um maior equilíbrio para esses processos, no sentido de podermos propiciar

28

outras formas de fazer, experimentar novas maneiras de ensinar e aprender, as quais podem

incluir o corpo com momentos de movimento, descontração, com novas formas de expressão,

liberdade, flexibilidade e espontaneidade.

Outro ponto é o fato de passarmos anos e anos na escola e desconhecermos a nós

mesmos, não sabemos lidar adequadamente com os sentimentos existenciais, as angústias

humanas, os medos, frustrações e as forças destrutivas que por vezes dominam o ser humano

como seus aspectos de sombra (WILBER, 2011). A educação tem deixado de potencializar a

humanização desses aspectos negativos.

Como vamos nutrir seres humanos sadios para termos uma sociedade sadia? Yus (2002,

p. 257) ressalta que o mal da atualidade é “a epidêmica dependência das drogas e os terríveis

problemas do crime, alcoolismo, abuso infantil, corrupção política e corporativa, alienação e

suicídio, e a violência nas escolas”, sinais de alerta de que há seres humanos doentes e que

desconhecem a si. Neste sentido, acreditamos que cultivar saúde e bem-estar humanos pauta-se

na direção da autocompreensão e o autoconhecimento das partes integrantes constituintes do

próprio ser em primeiro lugar e a educação precisa dar atenção a isto.

De forma ampla, a educação não tem promovido o desenvolvimento de melhores

potenciais humanos porque ela ainda não valoriza o desenvolvimento propriamente humano.

Acreditamos na necessidade de reconectar as dimensões no ser e seus aspectos esquecidos, como

o corpo com emoções, afetos, sensações, prazer, sensibilidade, autoconhecimento,

espiritualidade, entre outros na formação, para só assim ser possível renovar o sentir, pensar e

agir dos estudantes e sua percepção para com o todo.

Em síntese, a problemática a qual nos referimos é a fragmentação das dimensões

humanas, o reducionismo do privilégio mental e a alienação da visão integral como problemas

centrais nos modelos educacionais vigentes. Por isso, direcionamo-nos a compreender o corpo

revendo-se como um organismo total, precisando de todas as suas partes, pois somos parte e todo

ao mesmo tempo, pois Wilber (1997, p. 17) indica que o entendimento é dependente, “para

entender o todo, é preciso entender as partes. Para entender as partes, é preciso entender o todo.

Assim é o círculo do entendimento”. Buscamos, portanto, compreender a educação imersa nesta

interrelação.

29

Desta maneira, conduzimo-nos a pensar na existência de outras concepções educativas e

destacamos a necessidade de uma mudança de paradigma e direcionamo-nos a aprofundar as

abordagens chamadas integrais porque estas se propõem a integrar, abranger e incluir as

dimensões humanas (WILBER, 2011), com o objetivo de reconstruir nossos próprios sentidos

sobre a formação humana com o corpo, e renovar percepções pedagógicas, num movimento de

rearticular o saber com o desenvolvimento do ser, o que pensamos pode resultar em seres

humanos, cidadãos e profissionais mais integrados consigo, com a família, com a comunidade, a

sociedade e o todo.

30

CAPÍTULO 2

_____________________________________________________________________________________

MAPAS NORTEADORES – EM BUSCA DO ABRAÇO INTEGRAL

Na seção anterior esboçamos nossa problemática de pesquisa que trouxe reflexões sobre

o analfabetismo de nossa corporeidade promovido pela herança de pensamento moderno e as

reducionistas instâncias educativas que pouco utilizam o potencial presente no corpo.

Questionamos este posicionamento e direcionamo-nos a conhecer outras formas de conceber e

de explorar o corpo nos atos de ensino-aprendizagem.

Com isso, desafiamos o pensamento de que aprendemos apenas com a nossa cognição e

buscamos uma mudança de paradigma que abrace o corpo inteiro e inclua novas formas de

relação com o corpo, já que a racionalidade não esgota por si mesma todas as facetas do humano

(FERREIRA, 2007). Acreditamos ser necessária uma reavaliação do conceito vigente para

avançarmos rumo a um desenvolvimento humano em todas as direções do nosso ser, e daí,

termos a possibilidade de resgate da dimensão espiritual como dimensão norteadora no processo

de nossa humanização (RÖHR, 2010).

Dessa forma, este capítulo objetiva apresentar nossos mapas norteadores de abordagem

integral e transpessoal que nos fornecem bases para ampliar a visão colocando lentes mais

abrangentes para assim analisar os fundamentos e fazeres de uma proposta educativa que visa à

integralidade, como faremos mais adiante para responder a nossos objetivos.

2.1 O RESGATE DOS FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO: PARA QUÊ EDUCAMOS OS

SERES HUMANOS?

O questionamento de para quê educamos os seres humanos deveria ser o cerne de

qualquer debate acerca da educação. No entanto, esta questão nos remete aos valores que

orientam a visão e de onde partimos para fundamentar tais respostas. Os pressupostos os quais

norteiam a concepção de homem, de realidade e educação deveriam ser considerados numa co-

31

criação, pois se atualizam de forma interativa. É preciso desvelar o Mito do dado2, o qual enseja

um mundo pré-existente per se, alheio a experiência e a intervenção humana.

O paradigma o qual elegemos depende das lentes que nos permitimos visualizar e

experienciar. Redirecionar o olhar rumo a nossas concepções faz-se mister e urgente, de modo

que possamos aprofundar e questionar sobre nossa participação contextual e global. O homem é

coprodutor da realidade com suas crenças e valores, e isto nos convida a uma reavaliação para

aprofundar que tipo de educação e mundo buscamos construir .

Freitas (2010, p.56) indica que “os processos de modernização, pluralização e

secularização têm produzido uma crise de sentido, que vem afetando diretamente as instituições

carregadas de fornecer padrões de experiência dos indivíduos”. Para este autor, no que concerne

a formação humana, a crise provém do fato de a educação não saber de forma consensual quais

são suas finalidades e como deve orientar suas ações.

Conforme Policarpo Junior (2010, p.1), este desnorteamento deve-se à falta de

esclarecimento sobre quais conceitos a fundamentam e aponta a “imprecisão conceitual”

submetida a este campo de estudos.

Quem esquadrinhar o campo educacional, tal como o mesmo se expressa em

instituições científicas e acadêmicas, não terá grande dificuldade em perceber a

diversidade de temáticas e subtemáticas tratadas; variadas formas de

investigação, sem um corpo-teórico metodológico comum e claramente aceito;

diferentes privilégios concedidos a outros campos científicos, muitas vezes sem

admitir o caráter científico do próprio campo educacional.

Portanto, a educação é perpassada por uma fragilidade teórico-conceitual como um

campo próprio do saber, sem haver uma “dimensão normativa” ou auto-regulativa que lhe apoie

princípios fundamentais para sua teoria e prática, baseando-se em outras áreas do saber, como a

sociologia – quando destina seu fim a formar cidadãos ou receber a herança cultural produzida

para viver em sociedade; se submete à economia – quando se destina a instruir e profissionalizar

voltando-se ao mundo do trabalho3.

2 O Mito do dado é uma expressão usada pelo teórico Ken Wilber (2006, p.293) para indicar que as construções

sobre a realidade estão integradas entre o sujeito e sua construção no mundo, com o tempo, com a evolução e a

história. 3 Segundo Röhr (2010) essas são dimensões transversais do ser humano e não suas dimensões básicas.

32

Restringir a educação a cada um destes fins limita a finalidade educativa, pois ser

humano é ser bem mais que um cidadão, ou um profissional ou ter um lugar social. A visão

pragmática e utilitária da lógica atual tem mantido esse panorama educativo.

Rodrigues (2010, p. 4) contrapõe a estes fins e sinaliza, “quando a educação se subsome

completamente aos ditames de uma sociedade ou cultura, aquela dimensão educativa

praticamente se extingue”, e assim, as repercussões deste tipo de finalidade tem comprometido o

sentido intrínseco de educar.

Como via de saída e ultrapassagem desses fins reducionistas, o paradigma integral propõe

o resgate da educação para o desenvolvimento humano como prioridade. Como sujeitos

inacabados em pleno processo de devir estamos em uma contínua autoformação ao longo de

nossa vida. Este pressuposto é nossa condição originária e nos convida a repensarmos os porquês

do educar. Sobre isso Rodrigues (2001, p. 240) discorre:

[...] a educação é necessária para que Ser Homem seja constituído. O Homem

não se define como tal no próprio ato de seu nascimento, pois nasce apenas

como criatura biológica que carece se transformar, se recriar como Ser Humano.

Esse deverá incorporar uma natureza em tudo distinta das outras criaturas. Ao

nascer não se encontra equiparado nem preparado para orientar-se no processo

de sua própria existência [...].

Assim, educação é um processo que nos atravessa desde o nascimento e será por meio

dela que nos tornaremos humanos, precisaremos nos transformar e nos recriar constantemente

diferente dos outros animais. Com um devido exame, o educar apresenta-se muito mais amplo e

profundo do que a restrição formativa para o mundo social. Temos um potencial humano a ser

desenvolvido, esta é nossa condição originária. Por isto, nos endereçamos a resgatar

fundamentos importantes esquecidos na história da educação e tecer novas diretrizes educativas,

como faremos a seguir.

2.1.1 O vínculo entre educação e espiritualidade: retorno às origens

Como indicado no item anterior, nos direcionaremos a aprofundar um paradigma que nos

recorde tanto a interrogativa inicial para quê educamos os seres humanos quanto consiga se opor

aos fins reducionistas dos papeis impostos pelas metas atuais da educação.

33

Nesta direção, as abordagens integrais nos surgem capazes de reconsiderar o lugar da

educação no processo de desenvolvimento e crescimento humano individual e coletivo, quando

consideram por premissa educativa nossa condição de aprendizes, sujeitos de devir (FREIRE,

1996). Relembra-nos que podermos construir e desenvolver nosso ser e nosso modus vivendi,

como nos relembra Espírito Santo (2012), pois temos uma condição existencial que

evidentemente nos difere da condição existencial dos coelhos. Por esta razão, nos direcionamos

ao vínculo original entre educação e espiritualidade esquecido ao longo do tempo.

A Grécia antiga foi o local berço da história da educação onde se iniciou o ideário de

formar o ser humano com uma intencionalidade própria. Para o homem grego, a educação

pautava-se na noção de Paidéia, que significa “cultura”, palavra que assumia o sentido de cultivo

e estava voltada à formação de um elevado tipo de Homem (Jaeger, 2003). Esse cultivo se

baseava em conservar e transmitir à comunidade tanto a sua peculiaridade física quanto a

espiritual, responsabilizando os humanos por serem os únicos seres que conseguem essa

conservação e propagação através de sua coconstrução ativa no mundo.

Para os gregos, a educação é o produto do grau de consciência espiritual da comunidade e

a fonte da ação e do comportamento humano, e concebiam a espiritualidade como um

fundamento de necessidade vital a ser cultivado, pois, “o espírito humano conduz

progressivamente à descoberta de si próprio e cria, pelo conhecimento do mundo exterior e

interior, formas melhores de existência humana” (JAEGER, 2003, p.4). Assim, posicionavam a

espiritualidade como um caminho para a descoberta e conhecimento de si próprio, do seu mundo

interno, capaz de atuar para o progresso do mundo externo. Essa descoberta e conhecimento de si

se davam através do cultivo das aretes ou virtudes, que se referem ao respeito e cuidado com

essas habilidades internas, as quais se apoiavam pela coerência e consciência entre o que é

cultivado no interior do homem, do seu sentir e pensar, e sua exteriorização através do agir no

mundo (JAEGER, 2003).

Assim, na Paidéia, a relação originária entre educação e espiritualidade se orientava ao

desenvolvimento conjunto dessas potencialidades internas e externas do indivíduo como o

sentido da formação, de tal forma que o cuidado de si por meio da educação se apresentava

corresponsável pelo crescimento de toda a pólis, implicando mutuamente os aspectos

interno/externo e individual/coletivo.

34

Desde esse período grego, o sentido de espiritualidade foi explorado por algumas mentes4

e em outros campos, mas não de forma ampla, tanto que o vínculo com o campo da educação foi

pouco prezado. Contudo, hoje, já encontramos o gradual retorno dessa relação à educação por

diversos autores do paradigma da educação integral e da educação transpessoal.

Desse modo, quisemos resgatar esse vínculo inicial como ponto de partida para

compreender a inclusão dessa relação nas bases da educação, e a seguir, vamos tecer as

interfaces possíveis entre os fundamentos contemporâneos dos autores que se posicionam na

linha da chamada educação integral.

2.1.2 Educação como processo integral de formação humana

Segundo Röhr (2010), conceber o vínculo entre educação e espiritualidade implica levar

em consideração à integralidade do ser humano, assim como fizeram os gregos ao abarcar as

dimensões internas e externas que compõe a totalidade do ser.

Com inspiração nessas origens, a educação compreendida como processo de formação

humana propõe em seu fundamento o desenvolvimento de duas vias necessárias ao humano, a de

fora para dentro e a de dentro para fora, e nestas bases, conceitua a educação como um processo

que deve ser global.

Desta forma, para Rodrigues (2001, p.242),

Educação é o processo integral de formação humana, pois cada ser humano ao

nascer, necessita receber uma nova condição para poder existir no mundo da

cultura. Esse processo inclui a aquisição de produtos que fazem parte da

herança civilizatória que concorreram para que os limites da natureza sejam

transpostos. [...] o ser humano, por não receber qualquer determinação por

natureza, pode construir o seu modo de vida tendo por base a liberdade da

vontade, a autonomia para organizar os modos de existência e a

responsabilidade pela direção de suas ações, essa característica do ser humano

constitui o fundamento da formação do sujeito ético. Este deve ser o objetivo

fundamental da Educação, ao qual devem ser submetidas toda e qualquer prática

educativa, aí incluídas as escolares.

4 Há referências desse mesmo tipo de articulação entre educação e espiritualidade para formação humana em

algumas formulações do renascimento e esclarecimento europeus (POLICARPO JUNIOR, 2010) e Bildung

(FREITAS, 2010).

35

Neste conceito, a educação como um ato intencional deve oferecer o legado dos produtos

que fazem parte da herança civilizatória que a geração humana exteriorizou no mundo, aquela

que podemos herdar de fora para dentro como participantes de grupos humanos num

determinado tempo, espaço e cultura. Bem como, aponta que, por não receber nenhuma

determinação a priori, o ser humano pode construir seu modo de vida, pois tem a liberdade da

vontade e a autonomia para organizar sua existência, o que consequentemente lhe implica a

necessidade de ter responsabilidade, moral e ética nas ações para viver em comunidade.

Neste sentido, a educação como um processo integral preza como fundamental a

formação de dentro para fora porque esta se direciona a desenvolver categorias como a liberdade,

a autonomia e a responsabilidade em cada sujeito. Para esta finalidade e para tal

desenvolvimento, compreende a importância do autoconhecimento e do trabalho com o cultivo

das dimensões internas, denominadas por Röhr (2010) de dimensões básicas5, presentes no

campo corpóreo de forma integrada, são elas, a dimensão física, sensorial, emocional, mental e a

espiritual.

Dentre estas dimensões, centra-se a orientação pedagógica pautada na dimensão

espiritual, pois a formação humana encontra nesta dimensão o sentido que lhe rege para a plena

humanização do ser (RÖHR, 2010), tendo na espiritualidade o significado ou sentido maior de

nossa existência (ESPÍRITO SANTO, 2012), como apontavam os gregos, o trabalho de contínua

elevação ao progresso de si na busca do desenvolvimento desses bens seculares e de sua

humanização.

Nesta trilha, a educação integral objetiva uma formação que gradativamente possibilite ao

educando ir assumindo a responsabilidade por sua própria formação humana e, a partir desta

abertura e conhecimento de si, possa assumir o pleno uso das potencialidades duas dimensões

física, moral e intelectual (RODRIGUES, 2001), a ponto de conhecer a si, suas emoções e

sentimentos e possa criar uma capacidade interna de dirigir a si mesmo e não se torne dominado

pelas forças emocionais e por tendências destrutivas (POLICARPO JUNIOR, 2010), estas que

por ventura, obstruem a caminhada de humanização do ser.

5 Essas dimensões são percebidas como potenciais e não essências fixas e imutáveis, assim, abre-se a possibilidade

para emergência de novas dimensões no futuro (WILBER, 2006).

36

Almeja desta forma, uma aprendizagem voltada para o “saber viver” e o “domínio de si”

tendo como dispositivo educativo a prática do “cuidado de si” (FREITAS, 2010). Esta prática se

dá através do autoconhecimento de suas dimensões e autodesenvolvimento possibilitado pelo

cuidado consigo mesmo, de modo que consiga aprender a sustentar uma vida de autoria,

transcendendo os fins atuais da educação e as formas de assujeitamento veiculadas pela

sociedade atual (YUS, 2002).

Portanto, apresenta-se um paradigma promotor das dimensões propriamente humanas e

para abarcar a integralidade do ser, no que diz respeito ao escopo de nossa pesquisa, conhecer a

dimensão corporal revela-se um aspecto fundamental da vida espiritual (POLICARPO JUNIOR,

2010), como vamos tecer a partir de agora.

Para Yus (2002), a educação do corpo pode restabelecer conexões m três eixos, conforme

seus estudos: a) o desenvolvimento do eu, b) o desenvolvimento do senso de comunidade e c) a

percepção do Todo/Terra, pois se conceitua como um paradigma que resgata a concepção de

interconectividade e interdependência, numa lógica em rede, a qual o ser humano está em relação

consigo mesmo, com os demais seres humanos e com o todo.

No que concerne ao trabalho centrado no corpo para o desenvolvimento do eu, este

ocorre na medida em que se propõe a estabelecer relações com o desenvolvimento das

dimensões humanas internas ou básicas e o cultivo delas, como já mencionamos, objetivando

promover a cada um, desde a infância, a conhecer a si mesmo, a perceber a si mesmo, a sentir a

si mesmo, a refletir sobre si mesmo, a escutar a si mesmo, trilhando de forma atenta e integrada,

estabelecendo o vínculo de cuidado intrapessoal.

Esse cuidado consigo é “um modo de viver a própria vida” (POLICARPO JUNIOR,

2010, p.83) que é a relação entre educação e espiritualidade para este autor. Deste modo, a

formação humana apresenta-se como um caminho “para estar em íntima conexão com aquilo que

somos, com nosso corpo, nossos sentimentos, pensamentos, com o nosso coração e a nossa

natureza ampla, [...] precisamos, pois, cuidar desses aspectos”, de forma inteira, saudável e

responsável.

Este objetivo corrobora com o pilar aprender a ser proposto à educação para o século

XXI do Relatório Jacques Delors (2003) quando atribui à finalidade da educação ser o

37

desenvolvimento total da pessoa, isto é, espírito, corpo físico, inteligência, sensibilidade, sentido

estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade, entre outros. Esta base multidimensional

implica à função educativa ser capaz de possibilitar a cada um construir a sua própria história

com bastante dignidade, o que a nosso ver, só é possível quando os sujeitos cuidam e conhecem

a si mesmos em vários aspectos, aprendendo a ser um todo.

Neste processo, Ferreira (2010) sinaliza que a linha integral de formação humana pode

auxiliar no autoconhecimento e desenvolvimento interno do educando.

Nessa visão, o processo formativo auxilia no desdobramento das diversas

dimensões, buscando favorecer ao educando uma maior compreensão do seu

nível de desenvolvimento, de forma a poder encontrar caminhos que o auxiliem

no fortalecimento das dimensões já presentes, ampliação daquelas que se

encontram pouco desenvolvidas e cuidados para solucionar algum transtorno

ocorrido ao longo do desenvolvimento. (FERREIRA, 2010, p.119).

O segundo ponto da educação integral voltada para o corpo (YUS, 2002), se refere ao

desenvolvimento do senso de comunidade. Compreende que o corpo é o lócus por onde iremos

nos relacionar uns com os outros e a interação não pode ser reduzida exclusivamente pela relação

entre as mentes humanas, e sim, por sermos seres integrais, corpos com afetos, sentimentos,

emoções, mente, diálogo, entre outros. Portanto, o trabalho exploratório com ele pode promover

uma formação que leve em conta a moral e a ética, e que nos permita uma adequada convivência

com os outros homens (RODRIGUES, 2001) para o desenvolvimento de uma prática de bem

viver.

Esse ponto colabora com o outro pilar da educação para o século XXI, o aprender a viver

juntos, na medida em que se busca desenvolver e cuidar dos vínculos entre nós, a compreensão

mútua, a percepção das interdependências, a necessidade humana do trabalho em grupo e a

preparação para lidar com conflitos, desenvolver o respeito às diferenças e às singularidades

humanas, culturais e étnicas.

A nosso ver, o desenvolvimento destes aspectos para a convivência perpassa pela

autoaceitação, autocompreensão e auto expressão de si mesmo e do outro de forma conjunta.

Assim, há um estreito vínculo entre o desenvolvimento intrapessoal e o relacionamento

interpessoal, pois ambos se darão através do contato consigo e com o outro. E nesta direção, o

38

desenvolvimento humano vai ampliando-se até estabelecer-se um senso de comunidade global,

como um grande organismo vivo.

O terceiro ponto da educação do corpo é a possibilidade de estabelecer o vínculo com o

Todo ou a Terra. Isto ocorre na medida em que se busca operar uma mudança de paradigma

rumo a uma concepção ecológica e integral da vida (ESPÍRITO SANTO, 2012) e incluir o

conceito de unidade que está em tudo, pois se fundamenta com a percepção de que o ser humano

nasce num universo rico de conexões: corpos vegetais, corpos animais, corpos minerais; o que

nos revela a rede imbricada de corpos, numa visão de complexidade e interrelação. Um trabalho

com este intuito busca promover uma ressignificação do nosso lugar existencial no planeta e na

teia da vida.

Nesta visão de corpo integral/orgânico, Policarpo Junior (2010, p.84) indica que quando

caminhamos na espiritualidade “passamos também a aceitar com maior clareza e naturalidade o

fato de que todas as coisas e seres, a despeito de sua singularidade e inteireza, habitam por um

mundo caracterizado por uma imensa rede de mútua dependência e interconexão”, o que nos faz

sentir, pensar e agir de modo implicado pelo cuidado com todo nosso entorno.

Por estes fundamentos básicos, a educação do corpo tem bastante importância, na medida

em que preza pelo resgate da reconexão e unidade da concepção multidimensional do ser,

compreendendo-o como um todo com corpo emocional, corpo físico, corpo social, corpo

intelectual, corpo espiritual, corpo eu-outro-comunidade e corpo terra/todo (ESPÍRITO SANTO,

2012; YUS, 2002).

A partir destas considerações, voltando aos pilares da educação, este paradigma

apresenta-se fecundo as demais propostas pelo Relatório Jaques Delors (2003) que são “aprender

a conhecer”, “aprender a aprender” e “aprender a fazer”.

No concernente ao pilar “aprender a conhecer”, na medida em que a formação humana

pretende que aprendamos a entrar em contato com o saber vinculado ao conhecimento de si, já

nos põe em outras bases de aprender a conhecer/entrar em contato com o objeto do estudo.

Em consequência, este se atrela ao outro pilar como uma nova forma de “aprender a

aprender”. Aprender não apenas com nossas habilidades cognitivas, mas também com as

39

habilidades do corpo como um todo, o que pode nos abrir a uma nova compreensão do mundo

que nos cerca.

E desta forma, o pilar “aprender a fazer” pode ser mais desenvolvido na medida em que

conhecer, aprender e fazer tornar-se-ão indissociáveis, pois a ressignificação do olhar para

consigo, os demais e o todo rumo a uma percepção mais integrada e mais una, poderá

redimensionar toda a compreensão sobre a práxis pedagógica.

Por todos estes aspectos, a educação como formação humana posiciona-se contrária ao

paradigma cartesiano das dualidades, na medida em que se direciona a um sentimento de

integração e unidade do ser, pois acredita que o sujeito poderá sentir-se menos dividido, e muitas

das oposições corpo/mente, eu/outros, eu/mundo, sujeito/objeto se tornam frágeis, permitindo

um equilíbrio cada vez maior entre estes aspectos (POLICARPO JUNIOR, 2008).

O interesse de exploração do paradigma da educação integral tem sido uma perspectiva

cada vez mais crescente para o século XXI, porque os modelos educativos atuais não têm dado

conta das demandas necessitadas para nossa atualidade (YUS, 2002; ESPÍRITO SANTO, 2012),

como a questão da violência nas escolas e na sociedade, o baixo rendimento escolar, seres

humanos doentes (doenças em diversas ordens), desigualdade social, entre outros.

Dessa forma, a educação com este paradigma quer dar os primeiros passos para

reconectar o vínculo fundante com o ser humano como fim educativo e o resgate do trabalho

formativo com as dimensões humanas que foram desprivilegiadas pela supremacia da razão,

dentre elas destaca Espírito Santo (2011), o retorno da sensibilidade humana, o desenvolvimento

de sua inteligência emocional, a reconexão do corpo no cenário formativo e para cada um, e o

resgate do vínculo com a espiritualidade.

Diversos autores expressam ser um desafio educativo trabalhar com esta perspectiva de

atender as necessidades de uma proposta integral, dando ênfase na pessoa como um todo, diante

desses modelos cognitivos reducionistas e dos fins atuais da educação. Entretanto, diversos

autores têm aberto o campo da educação integral, entre alguns temos Ferdinand Röhr (2006,

2010), Alexandre Freitas (2005, 2010); Aurino Ferreira (2007, 2010); Policarpo Junior (2008,

2010); Neidson Rodrigues (2001), Rafael Yus (2002), Espírito Santo (2010, 2012), entre outros

que têm continuamente desenvolvido pesquisas voltadas a exploração da teoria e da prática da

educação integral compreendida como processo de formação humana, buscando trabalhar as

40

potencialidades humanas esquecidas com a redução do fenômeno humano a um cérebro a ser

preenchido por conteúdos.

2.2 PSICOLOGIA TRANSPESSOAL/INTEGRAL

No bojo das abordagens presentes na Psicologia da Educação, a Psicologia Transpessoal

mostra-se uma abordagem bastante relevante na medida em que se propõe a estudar outros

aspectos do humano que podem ser incorporados ao campo de estudos da psicologia

aprendizagem e do desenvolvimento humano que até então não eram privilegiados pelas escolas

psicológicas behaviorista, psicanalítica e humanista.

Com este objetivo, Abraham Maslow, na década de 60, nos Estados Unidos, preconiza a

Psicologia chamada de Transpessoal integrando-a aos conceitos propostos por estas linhas

psicológicas anteriores, e ao mesmo tempo, ampliando-as a visão com o propósito de superar a

ótica unilateral prezada por cada uma delas, as quais privilegiavam de forma restritiva ou um

aspecto do ser humano como o único existente ou evidenciam tal aspecto como mais importante

em detrimento aos demais. Assim sendo, com vistas a ampliar a ótica, a transpessoal surge como

“a quarta força” da psicologia e explica:

Cada escola psicológica ofereceu um estudo aprofundado em algum aspecto

importante da psicologia humana, quer em termos de conteúdos ou de funções

mentais, de condicionamento, de inconsciente, de percepção etc. Embora tenha

compartimentalizado o ser humano, a psicologia transpessoal reconhece que tais

aspectos fazem parte do homem total, e por essa razão busca uma síntese e

oferece o estudo de outros aspectos ainda não abordados e que podem ampliar a

visão do psiquismo humano. (MONTANARI; FRANÇA; SALDANHA; DIAS,

2010, p. 15).

Deste modo, a transpessoal surgiu para destacar que tais visões anteriores eram

verdadeiras, porém parciais, e seu intuito foi acrescentar novos aspectos do fenômeno humano

ainda não fundamentados e explorados pelas linhas psicológicas anteriores sendo uma

abordagem que busca integrar, por isso também cunha-se de abordagem integral.

2.2.1 Por uma Psicologia com Psique: a transpessoal no cenário do desenvolvimento humano

41

A psicologia transpessoal inicia-se fundamentada pela concepção de que o ser humano é

um organismo total e não somente regido como ditava as escola anteriores, apenas por funções e

conteúdos mentais, ou exclusivamente um ser de condicionamento, ou apenas produto do

inconsciente, ou só um ser de percepção; mas sim, traz ao cenário do desenvolvimento que o ser

humano é um ser complexo que “deve abranger aspectos físicos, mentais e espirituais”

(MONTANARI; FRANÇA; SALDANHA; DIAS, 2006, p. 17).

Por este fundamento basilar de humano imerso numa rede multidimensional, a

abordagem transpessoal denomina-se como uma abordagem que busca ser integral, por isso

indicamos como transpessoal/integral, pois é uma abordagem que se dedica a ser “abrangente,

equilibrada e inclusiva” (WILBER, 2011, p. 49).

Abrangente porque se direciona a ampliar e despertar “todas as direções e dimensões do

seu ser” (WILBER, 2011, p. 26), é equilibrada pois preza por todas as dimensões com o mesmo

nível de importância para compreender o fenômeno humano, e, chama-se inclusiva, por objetivar

gradativamente ir agregando as dimensões que foram relegadas pela visão da fragmentação,

alienação e redução de herança cartesiana, tais como o corpo, as emoções, a espiritualidade, entre

outros.

O paradigma transpessoal/integral se posiciona contrária às dualidades das separações

realizadas na modernidade entre corpo/mente, corpo/espírito, sujeito/objeto, eu/realidade, entre

outros. Busca, portanto, religar estes aspectos como interdependentes de forma orgânica através

do fundamento da integralidade e unidade desses âmbitos ao humano.

Montanaro, França, Saldanha e Dias (2010, p. 18) relatam a postura integral e global da

transpessoal, de tal maneira que:

[...] a atomização, a fragmentação do homem e do mundo, começa a ser revista

por um enfoque totalizante. Diante da postura mecanicista e reducionista,

propõe-se uma mundividência de natureza mais integral e orgânica. Uma visão

dos fenômenos do mundo de uma perspectiva mais integrada, globalizante. Nos

fenômenos da física, uma abordagem quântica; nos fenômenos das ciências

médicas, uma abordagem sistêmica; nos fenômenos da psicologia, uma

abordagem transpessoal; e assim por diante.

Assim, após o surgimento desta linha nos anos sessenta, a dimensão corporal foi

resgatada como dimensão necessária para a compreensão integral do desenvolvimento

42

psicológico humano, iniciando-se pesquisas sobre corporeidade, a necessidade de reintegração

entre corpo-mente, o autoimagem, entre outros, que consideram o corpo uma categoria de

trabalho importante pois abarca o nível existencial humano como um corpo concreto se movendo

na vida (WILBER, 1997). Entretanto, ainda são poucas as pesquisas na educação transpessoal

com este foco como será apontado por nosso estado da arte da pesquisa.

Em relação ao resgate da dimensão espiritual como dimensão humana, a abordagem

transpessoal/integral parte da perspectiva que o sagrado/espiritual é encarado como elemento

pertencente à estrutura da consciência e por isso, define-se como “um movimento interessado

naquelas capacidades e potencialidades últimas que não possuíam um lugar sistemático nas

correntes anteriores” (SUTICH, 1969 apud WEIL, 1990a, p. 29). Dentre estas potencialidades, a

dimensão espiritual apresenta-se sendo o potencial da consciência do indivíduo para a

transcendência, condição humana do ser (SALDANHA, 1997). Portanto, esta escola se propõe a

estudar essa capacidade espiritual de transcender dentro dos processos de crescimento

psicológicos no desenvolvimento humano.

Sobre isto é importante salientar que este resgate da dimensão espiritual como dimensão

presente ao escopo da psicologia transpessoal parte do reavivamento do primeiro conceito de

Psicologia porque em suas origens significa ser o ramo da ciência que estuda a Psique6

(WILBER, 2000, p. 7), que significa “mente ou alma”.

Na referência do Microsoft Thesaurus outros significados próximos podem ser tidos para

psicologia, a ver, o estudo do “eu: atman, alma, espírito; subjetividade: eu superior, eu espiritual,

espírito” como sinônimos. Assim, o paradigma da psicologia transpessoal visa reincluir o

significado precípuo da Psicologia, o qual nos recorda que o direcionamento de seu estudo é

rumo à compreensão do ser até as profundezas da alma e do espírito humanos.

Ainda nesta direção, outro significado contemporâneo de Psicologia vinculado aos

objetivos da psicologia transpessoal e importante para nossa pesquisa é o sentido de Psicologia

como “o estudo da consciência e suas manifestações no comportamento humano” (WILBER,

6 Segundo Wilber (2002, p.07), a palavra psique tem fontes antigas, remontando há vários milênios antes de Cristo.

Nessa época em geral, significava a força ou o espírito que animava o corpo. Em dado momento, na Alemanha,

século, XVI, psique foi agregada a logos e formou Psicologia – o estudo da alma ou do espírito. Em 1730, na

Alemanha, Inglaterra e França, a palavra psicologia foi empregada num sentido mais moderno, mas ainda

significava “a ciência da psique ou da alma”.

43

2002, p.15) uma vez que, com esse objetivo de estudo, ela destina-se a compreender o “espectro

total da consciência” que se orienta a explorar a integralidade “na tentativa de refletir todo o

alcance da experiência humana com maior precisão e completude” (WILBER, 2007, p.40).

Essa tentativa de refletir o alcance máximo da experiência humana pode ser melhor

esclarecido pelo próprio cunho da palavra transpessoal, vejamos.

A própria palavra „transpessoal´ significa apenas ´mais pessoal´. Isto é, a

orientação transpessoal inclui explícita e cuidadosamente todas as facetas da

psicologia e da psiquiatria pessoais, mas então adiciona os aspectos mais

profundos e elevados da experiência humana, que transcendem o comum e o

médio – experiências que são em outras palavras, ´transpessoais´, ou ´mais do

que pessoais´, ou mais pessoais. (WILBER, 2007, p. 40).

Ou seja, na direção de ampliar as dimensões do ser para abarcar o espectro total da

consciência, esta abordagem tem na experiência dita transpessoal como sendo a capacidade de

transcendência humana. Melhor dizendo, a experiência transpessoal pode definir-se como

“aquela em que o senso de identidade ou do eu ultrapassa o individual e o pessoal a fim de

abarcar aspectos da humanidade, da vida, da psique e do cosmo” (WALSH, VAUGHAN, 1997,

p. 17-18), desta forma, é uma experiência educativa, pois há uma transformação na perspectiva

anterior dos aspectos do sentir, pensar e agir humanos, o que se revela bastante importante à

educação.

Assim sendo, o ser é capaz de transcender o limite anterior da identidade do ego, aquela

em que o sujeito tem a visão de si mesmo como o único ponto que o identifica, de forma

limitante e egocêntrica, para transcender e deslocar a percepção e abarcar o seu eu total, o que

“permite ao sujeito experimentar a extensão de sua identidade de sujeito para além dos limites

usuais do ego e da personalidade” (VAUGHAN, WALSH, 1995, p.18).

Desta forma, esta experiência amplia novas formas de identificação na relação consigo

mesmo de forma mais ampla, buscando a conexão num sentido de maior integração tanto

consigo mesmo, com as demais pessoas, a natureza, a vida, o todo, e com isto, possibilita uma

transformação para uma nova concepção de humano e de realidade mais ampla e conectada.

Assim, busca transcendência do nível psicodinâmico usual para nos inserir nos “domínios

transpessoais” para chegar a esses níveis mais ampliados de unidade e de consciência num

âmbito de espectro total. Portanto, a abordagem apresenta-se rumo a um abraço integral.

44

2.2.2 Ken Wilber: a busca de aprofundamento teórico-prático na abordagem integral

Diversos autores se propuseram a enfocar os estudos sobre estes aspectos de ampliação

de perspectiva humana em direção à compreensão do espectro total da consciência. Dentre os

autores, destacamos Ken Wilber como um dos teóricos mais dedicados ao campo dos fenômenos

da integralidade vinculado ao desenvolvimento humano, apresentando uma fértil produção

literária no assunto.

Em seu enfoque, o autor nos apresenta o conceito de Kosmos (WILBER, 2003, p. 10),

que nos aponta o sentido dos estudos transpessoais e concentra a totalidade da complexidade

humana a partir de uma visão global expressada neste termo, o qual,

[...] significa o Todo padronizado de toda a existência, incluindo os reinos

físico, emocional, mental e espiritual. A realidade suprema não era meramente o

cosmos, ou a dimensão física, mas o Kosmos, as dimensões física, emocional, mental e espiritual, todas juntas.

Neste segmento, ele se propõe a estudar as relações existentes no Kosmos, enfocando o

ser integral como o lócus de exploração do humano. Para tanto, recorre as introvisões que

resistiram ao tempo, da pré-modernidade, modernidade e pós-modernidade visando colher às

contribuições destes períodos e realiza uma junção do pensamento do Oriente e do Ocidente, a

fecundação mútua das ciências ocidentais e das vias tradicionais do Oriente (NICOLESCU,

DESCAMPS; ALFILLÉ; BASARAB, 1997), desta maneira, apresenta-se como um paradigma

sábio porque considera os insights necessários ao crescimento humano deixados ao longo do

tempo.

Este autor mergulhou neste campo exploratório e resgatou da pré-modernidade o quadro

conhecido como “O Grande Ninho do Ser” e a partir das contribuições da modernidade e da pós-

modernidade organizou outro quadro do fenômeno humano denominado “Os Quatro Quadrantes

do Kosmos”, os quais podem nos fornecer pistas para a compreensão do desenvolvimento

humano e sobre o lugar do corpo numa abordagem mais ampla.

Para Wilber, o quadro “Grande Ninho do Ser” é um esquema desenvolvido a partir das

experiências vivenciadas pelos antigos em sua fenomenologia introspectiva e jaz a compreensão

45

de que “a realidade compõe-se de vários níveis de existência – níveis do ser e do conhecer -, que

se estendem da matéria para o corpo físico, do corpo físico para a mente, da mente para a alma e

da alma para o espírito” (WILBER, 2000, p.19). O autor indica que esses níveis do ser e do

conhecer são as dimensões básicas, interligadas como espirais orgânicas e contínuas no ser

(WILBER, 2006), pois segundo ele cada dimensão desta está intimamente entremeada, sendo o

que o autor chama de uma concepção de totalidades dentro de totalidades (WILBER, 2000,

p.19).

De forma inicial, estas formulações teóricas já nos suscitam reflexões e convidam a um

aprofundamento teórico sobre como o corpo pode ser conceituado e aprofundado dentre destes

quadros da teoria wilberiana de abordagem transpessoal/integral.

Desse mesmo modo, convida a um aprofundamento do quadro intitulado “Os Quatro

Quadrantes do Kosmos” que, conforme o autor, eles são o resultado das pesquisas de nossa era

de conhecimento global e nos indica as principais bases para nossa percepção imediata sobre

qualquer fenômeno, pois conforme o autor, o fundamento básico do quadro é a existência de

categorias do território humano que são os quadrantes do ser. Conforme indica, eles nos

permitem visualizar o fenômeno humano por quatro ângulos, através do Eu, Nós, Isto, Istos, que

se referem aos aspectos subjetivo, intersubjetivo, objetivo e interobjetivo do fenômeno humano.

Com esses pressupostos iniciais, Wilber nos abre bases para olhar nosso objetivo de

estudo, o fenômeno corpo, nesta abordagem a partir de esquemas integrais, neste sentido, este

teórico da psicologia transpessoal nos convida a olhar a dimensão corporal por novos ângulos

que seus mapas podem disponibilizar.

Portanto, o estudo da psicologia transpessoal nos apresenta um campo fecundo de

investigação, primeiramente para o campo da psicologia na medida em que se apresenta como

uma escola mais ampla e que busca romper com o paradigma fragmentário na concepção de

humano e sem dicotomias, incluindo a dimensão corporal numa rede de relações a qual

queremos investigar, posicionando as raízes da espiritualidade, explorando o ser humano num

espectro total.

A partir dessas considerações iniciais de Wilber, tivemos como um de nossos objetivos

específicos o aprofundamento teórico da dimensão corporal nas bases deste autor, como fizemos

46

no capítulo quatro, bem como estes fundamentos nos serviram de lentes para o acompanhamento

e a descrição de uma experiência de formação humana inspirada nestes conceitos para assim

tecer as possíveis contribuições para o campo da educação compreendida como formação

humana integral.

47

CAPÍTULO 3

_____________________________________________________________________________

A METODOLOGIA

Este capítulo inicia-se com a apresentação da relevância desta pesquisa, sendo em

seguida apresentados a metodologia, as atividades, o procedimento, o material utilizado e os

participantes.

3.1 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

Para compreender o panorama de estudos do fenômeno corpo realizamos o estado da arte

da pesquisa dentro do escopo da abordagem da psicologia da educação transpessoal/integral com

o mapeamento das dissertações de mestrado e teses de doutorado presentes desde o período de

1987 a 2010. Tivemos como fontes de busca a CAPES; o banco nacional de teses e dissertações

brasileiras - BDTD; o site Google Acadêmico e o site das Universidades federais, estaduais e

particulares de todos os estados brasileiros que estavam cadastrados no site do MEC e que

disponibilizavam seu banco de dados próprio no site da instituição.

Dentre os resultados, encontramos 101 dissertações de mestrado e 24 teses de doutorado,

entretanto, dentre as temáticas trabalhadas, a temática corporeidade foi indicada em apenas três

trabalhos, e estes durante o período 1997 a 2001. Após este período não foi verificada a presença

de mais trabalhos com esta categoria na transpessoal/integral. Portanto, esta dissertação

apresenta-se bastante importante nos estudos exploratórios com a temática corpo e a reinserção

desse estudo nas investigações acadêmicas para a abordagem.

No que concerne aos modelos integrais de educação de modo geral são uma área pouco

investigada sendo relevante desenvolver estudos que apontem sistemas de análise e modelos

interpretativos que explicitem a natureza dos fenômenos envolvidos nesse campo de

conhecimento (FERREIRA, 2007), tanto na ordem de seus fundamentos norteadores, bem como

estes podem ser transpostos numa relação didática ao utilizar estratégias integrais nos processos

de ensino-aprendizagem que dê base aos eixos conceituais num fazer prático.

48

As investigações teórico-práticas sobre a educação do corpo também se apresentam

bastante relevantes, pois conforme indica os estudos de Yus (2002), há um grande déficit na

educação tradicional da utilização do corpo com uma exploração multidimensional, o que causou

uma desconexão humana com o próprio corpo como um todo e com isso, indica a falta de

autoconhecimento e auto percepção de si precisando haver uma reintegração destas dimensões, o

que tem na educação do corpo uma grande facilitadora deste processo.

Ademais disto, acreditamos que o estudo destas abordagens nos possibilite formular

implicações epistêmicas importantes, tais como:

a) comparar os “modelos cartesianos” que fragmentaram, reduziram e alienaram a concepção de

corpo em integralidade, pondo-os em análise com os “modelos integrais” de educação do corpo,

como foi feito com a proposta desta experiência acompanhada, examinando os deslocamentos

obtidos pela concepção de corpo gerada;

b) em relação à imprecisão conceitual instalada sobre os fins da educação, na busca do resgate de

uma dimensão normativa que preze pelo fundamento primeiro o humano, acreditamos que a

partir dos dados desta experiência, possamos tecer um novo significado ao ato educativo, a partir

da vivência de processos pedagógicos que mantenham um vínculo mais estreito com a

exploração do fenômeno humano, como foi o da disciplina Processos interativos;

c) demonstrar as implicações teóricas e práticas sobre a execução e a organização de uma

didática integral que sirva de parâmetro para práxis e estudos futuros sobre o como realizar

experiências integrais, através da descrição propiciada na disciplina como um caminho possível

no fazer de uma abordagem que visa à integralidade no corpo.

3.2 METODOLOGIA

Conforme os objetivos desta dissertação, tivemos a necessidade de organizar dois

métodos investigativos fenomenológicos, um para a pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico

acerca do conceito teórico da categoria corpo nas obras do autor Ken Wilber, e outro método

para a pesquisa qualitativa de observação participante, com o objetivo de acompanhar e

descrever uma experiência que visava à integralidade do corpo na formação. Desta maneira,

49

primeiro teceremos os fundamentos que regeram a pesquisa literária e em seguida, a pesquisa

contextual.

3.2.1 A pesquisa bibliográfica: em busca de mapear e descrever o conceito da categoria corpo na

abordagem transpessoal/integral

Com o objetivo de exploração da categoria corpo e suas implicações ao campo da

educação tivemos a necessidade de um aprofundamento teórico-conceitual no âmbito do

paradigma das abordagens integrais devido à necessidade de aprofundamento desta temática

neste tipo de abordagem.

Conforme Malheiros (2011), a pesquisa bibliográfica é a qual busca identificar

contribuições de um determinado tema na literatura disponível, localizando textos em diversas

fontes, comparando e confrontando os resultados para alcançar uma nova visão. Neste sentido,

elegemos como corpus desta pesquisa as seguintes obras do teórico Ken Wilber: “A Consciência

sem fronteiras” (1991), “Espiritualidade Integral” (2000), “Psicologia Integral” (2002), “Trilogia

Kosmos” (2003), “O Olho do Espírito” (2007a), “A união da alma e dos sentidos” (2007b), “A

visão Integral” (2010), e “A Prática de Vida Integral” (2011).

Este material bibliográfico foi escolhido porque nos oferecia os meios para nos aproximar

da categoria corpo e sua inserção no debate educacional, ao considerar as possibilidades do

desenvolvimento humano e dos processos educacionais a partir da exploração do corpo

multidimensional e das contribuições estudadas pelo autor vindas de estudos da pré-

modernidade, da modernidade e da pós-modernidade.

Como procedimento da pesquisa bibliográfica, houve fases distintas como nos

apresentam Lakatos e Marconi (2007). Realizamos a elaboração do tema, elaboração do plano de

trabalho, identificação, localização, compilação, fichamento, análise e interpretação dos dados e

redação.

Assim, direcionamos nosso foco ao discurso dos textos, analisando-os apoiados em

procedimentos hermenêuticos, “lendo-o por entre as articulações efetuadas no próprio

movimento de investigar” (BICUDO, 2011, p.27). Portanto, a partir da interrogação que nos

norteou, buscamos os significados transportados nos textos escritos e historicamente situados do

autor em análise. Associando os procedimentos da pesquisa bibliográfica à modalidade de

50

análise fenomenológico-hermenêutica e percorremos a trajetória da seguinte forma: entrando em

contato com o fenômeno da categoria corpo nos textos elaborados, evidenciando os sentidos,

destacando os significados e sintetizando as convergências e articulações possíveis entre eles nas

diversas produções do autor.

Assim, direcionamos nosso foco ao discurso dos textos, analisando-os apoiados em

procedimentos hermenêuticos, “lendo-o por entre as articulações efetuadas no próprio

movimento de investigar” (BICUDO, 2011, p.27). Portanto, a partir da interrogação norteadora,

qual a concepção de corpo presente nesta obra, buscamos os significados transportados nos

textos escritos e historicamente situados do autor em análise. Associando os procedimentos da

pesquisa bibliográfica à modalidade de análise fenomenológico-hermenêutica e percorremos a

trajetória da seguinte forma: entrando em contato com o fenômeno da categoria corpo nos textos

elaborados, evidenciando os sentidos, destacando os significados e sintetizando as convergências

e articulações possíveis entre eles nas diversas produções do autor.

Dentre este processo, destacamos que as fases de compilação e fichamento foram

fundamentais através da leitura dos textos interrogados, no registro dos sentidos, dos significados

e de nossas percepções. A compilação com a organização do material a ser examinado,

agrupando os textos que tinham relações com o fenômeno investigado e seus constituintes. E os

fichamentos foram fundamentais para reunião das ideias principais do autor e a seleção dos

pontos de interseção e diálogo entre as obras, configurando-os como os elementos mais

importantes para o desenvolvimento deste trabalho na investigação da bibliografia.

Dessa maneira, utilizamos a pesquisa bibliográfica como um método propriamente, e não

apenas como um processo complementar a outros procedimentos (FLICK, 2009), e assim, esta

pesquisa foi realizada durante todo o período do primeiro ano e meio do curso de mestrado,

ficando os outros seis meses finais para a redação desta dissertação.

3.2.2 A pesquisa de observação participante: em busca de acompanhar e descrever o lugar da

dimensão corporal numa práxis educativa integral/transpessoal

Em relação à pesquisa de observação participante, esta se insere no campo da pesquisa

qualitativa com a finalidade de “explorar e entender o significado que os indivíduos ou os grupos

atribuem a um problema social ou humano” (CRESWELL, 2010, p. 26). Nesta base, a

51

abordagem qualitativa desenvolve uma metodologia interacionista e experiencial, na qual

pesquisador e seu campo de estudos se estabelecem definitivamente (MINAYO, 1993, p. 13).

Posicionamos a fenomenologia imersa dentro dessa perspectiva qualitativa, pois ela “é

uma estratégia de investigação em que o pesquisador identifica a essência das experiências

humanas, com respeito a um fenômeno, descritas pelos participantes” (CRESWELL, 2010, p.

38). Dessa forma, esta escolha teórico-metodológica deve-se à busca pela compreensão e

descrição do acesso à experiência vivida pelos sujeitos, no contexto de uma disciplina pautada

numa abordagem integral a fim de compreender o lugar da dimensão corporal nesta experiência e

o significado da concepção de educação do corpo dos participantes.

Assim, o ponto de partida de um conceber fenomenológico implica ir-a-coisa-mesma tal

como ela se apresenta, e para tanto, o pensar não pode se fixar em pressupostos teóricos que, per

se, levem à verdade. Por isso, quando iniciamos a construção de uma metodologia que nos

permitisse apreender as nuances de um fenômeno como o corpo implicado no processo

formativo, nosso posicionamento foi contrário aos métodos das ciências naturais, pois o legado

histórico da visão analítica nos mostra que tais significados não podem ser compreendidos num a

priori, mas sim, imersos em sua produção contextual, relativizando sua compreensão dentro do

processo e entre os aspectos internos e externos que ocorrem na pesquisa social: o sentido dado

pela subjetividade (MINAYO, 1993).

Nesta linha de pensamento, o nível de realidade dos significados não é visível, nem

desituado, neutro, fruto da objetividade clássica, pois, os sentidos são expostos e interpretados

com base na interação, assim, a compreensão do significado na investigação social é também

construída e interpretada pelo pesquisador.

Conforme relata Mariano (1990), a abordagem qualitativa em geral e, particularmente a

fenomenológica, busca desvelar o fenômeno, descobrir significados, desenvolver compreensão e

explorar o fenômeno nos diversos ângulos de possibilidades. Portanto, a opção por este método

deve-se principalmente a natureza do fenômeno a ser investigado, uma experiência vivida no

transcorrer do cotidiano de uma disciplina, pelo “mundo” instaurado pela disciplina “Processos

Interativos”.

O trabalho fenomenológico com ênfase no qualitativo e com o que faz sentido para o

sujeito conforme percebido e manifesto pela linguagem; trabalha com o que se apresenta como

52

significativo ou relevante no contexto no qual a percepção e a manifestação ocorrem. Com base

nesta ótica, partindo dos trabalhos de Martins e Bicudo (1989) e de Colaizzi (1978 apud

MOREIRA, 2004) esta pesquisa constará de cinco grandes momentos.

O 1º Momento, Contato com o fenômeno investigado numa postura de abertura e

interrogação. Entrada na disciplina em 28 de fevereiro de 2012, apresentação da pesquisadora ao

grupo, solicitação de participação aos sujeitos da pesquisa, pedido de resolução de questionário

inicial, solicitação do uso de diário de aula do aluno e participação da pesquisadora em todas as

atividades da disciplina.

O 2º Momento, Descrição Fenomenológica, realizou-se uma minuciosa descrição do

fenômeno de estudo que foram as transcrições dos dados das experiências de corpo e formação

humana vividas pela disciplina presentes nos instrumentos utilizados para a investigação, ou

seja, os questionários inicial e final, os dados da observação participante e da prática

pedagógica, os dados dos diários e os dados das entrevistas. Neste momento transcrevemos todo

material pesquisado.

No 3º Momento, Avaliação dos dados. Esta instância destacou-se pela intenção da

análise dos dados, os quais neste momento já foram levantados e agora foram relidos, tendo em

vista que eles não existem per se, mas somente em relação à perspectiva e interrogação que o

pesquisador se dirige ao fenômeno. Este é um dos pontos centrais da pesquisa fenomenológica,

a realidade não está pronta, ela é coconstruída durante o processo de análise.

Nesta etapa, foi realizada a leitura ampla de todo material pesquisado, buscou-se a

familiarização com a descrição da experiência e com o objetivo de apreender o sentido geral do

fenômeno estudado. Neste momento, a pesquisadora manteve uma atitude de abertura empática

com as situações apresentadas tanto pelos questionários como pelas entrevistas e diários, de

forma que pode avaliar melhor a experiência vivenciada.

As avaliações não foram consideradas de forma isolada, haja vista que tratam da

investigação de um mesmo fenômeno: o corpo e suas implicações educacionais, de forma que as

experiências trazidas por cada uma das atividades serviram de apoio para a outra. Dentro desta

construção, requereu-se uma transformação da linguagem coloquial dos participantes para o

53

discurso da educação. Essas modificações foram necessárias e cabíveis para que os depoimentos

espontâneos revelassem as realidades múltiplas que a pesquisadora desejava compreender4.

Como também, neste momento, realizamos a montagem de uma rede de convergência de

significados, procedimento de análise apresentado por Bicudo (2000), onde os significados

levantados foram entrecruzados de forma que chegamos a grupos de categorias de significados

apresentaram relação direta com o foco de investigação da nossa pesquisa e formaram as

unidades de significado que auxiliam na sistematização da análise e compreensão do fenômeno.

No 4º Momento, iríamos apresentar os resultados dos dados das análises obtidas pelos

questionários e entrevistas. Entretanto, houve um período de quatro meses de greve na

universidade, o que nos conduziu a realizar este momento em um único encontro, pois o retorno

às aulas reduziu o tempo e tivemos que adiantar a construção de dados.

No 5º Momento, Discussão, os resultados de todos os instrumentos foram confrontados

com as teorias que tratam do fenômeno investigado, visando ampliar o diálogo iniciado com os

autores contemporâneos e seus posicionamentos.

A partir deste panorama, realizamos abaixo uma descrição detalhada dos participantes da

pesquisa, o porquê da escolha da disciplina a ser investigada, os instrumentos utilizados e seus

objetivos, e nos anexos contém os instrumentos de pesquisa e exposição completa do Plano de

ensino da disciplina.

2.2.3 Participantes da Pesquisa

Os participantes da pesquisa foram 26s estudantes da disciplina “Processos interativos do

espaço escolar” 2012.1, ofertada no 8º Período do Curso de Pedagogia da Universidade Federal

de Pernambuco, com carga horária de 60 horas/aula. Foram acompanhadas duas turmas dessa

disciplina, turma PB com 18 alunos e turma PT com 8 alunos.

4 Martins (1984, p. 138) indica que esta passagem da linguagem cotidiana, coloquial dos entrevistados para uma

linguagem de pesquisa requer do entrevistador a capacidade para “transpor-se para o mundo do outro, quer dizer,

sair de si mesmo e adotar imaginativamente o esquema de mente de outra pessoa. Esta adoção deriva-se de uma

percepção direta que se possa ter do outro, assim como do conhecimento que disponho de sua vida. Isto não é

tarefa fácil e simples. Entretanto, esta capacidade de variar-se na própria imaginação é uma das capacidades

notáveis do self humano”.

54

3.2.4 Escolha da disciplina para o estudo do fenômeno

O interesse em pesquisar esta disciplina baseou-se na perspectiva de seu trabalho

formativo proposto no Plano de Ensino (Anexo I) que tinha como objetivos: “discutir e vivenciar

práticas de cuidado de si no processo de formação do (a) educador (a) com ênfase na exploração

da integralidade no corpo”; bem como, “destacar o lugar do corpo nos processos interativos de

formação humana”, dessa forma, a disciplina estava proposta a realizar estudos e atividades

teórico-práticas que explorassem o corpo realizando interfaces com as implicações educacionais,

os quais nos interessava acompanhar, descrever e compreender.

Outro motivo de escolha desta disciplina deve-se ao fato de a mesma ter como

expectativa de aprendizagem: “propiciar aos alunos o desenvolvimento de uma visão mais

integral do ser humano”, aspecto bastante relevante para nosso objetivo específico de pesquisa

que buscou compreender se ocorreriam ou não possíveis deslocamentos operados para uma

maior integralidade para o sujeito.

3.3 As atividades e o procedimento da pesquisa

As atividades da pesquisa compreendem quais ações foram realizadas, ações estas que

foram viabilizadas pelos instrumentos e pelos procedimentos organizados de forma conjunta, a

fim de que haja uma coerência entre as etapas. Para isso, buscamos descrever abaixo cada

instrumento e seu objetivo, a fim de deixar claros os procedimentos utilizados para as

realizações.

As ações foram formuladas com a finalidade de nos acercar, compreender e descrever

nosso objeto de estudo, o conceito de educação do corpo dos participantes da experiência, bem

como o acompanhamento de todo o processo formativo desenvolvido ao longo da disciplina que

tem uma perspectiva de abordagem integral/transpessoal.

Dada à complexidade do fenômeno investigado, montamos como estratégia buscar

compreendê-lo por diversos ângulos segundo uma série de atividades. Desta forma, utilizamos

várias técnicas de pesquisa para compreender as relações que compõe o objeto de análise. Os

instrumentos utilizados são o questionário inicial e final sobre as concepções de educação do

55

corpo nos processos de ensino-aprendizagem, a utilização dos diários de pesquisa, a entrevista

semiestruturada e a pesquisa de observação participante.

3.2.6 Questionário sobre educação do corpo

A primeira atividade da pesquisa será a aplicação do questionário inicial e haverá outro

no questionário no final da investigação. O primeiro foi organizado com a pretensão de

compreender o marco referencial dos estudantes em relação ao objeto de pesquisa antes da

experiência formativa ocorrer e por isso foi solicitado logo na segunda aula.

Por isso, o uso do questionário ainda que pressuponha questões fechadas foi elaborado

para esta pesquisa pela necessidade “de captar aspectos relevantes para iluminar a compreensão

do objeto, estabelecer relações e generalizações” (MINAYO, 2000, p.100). Com isso,

objetivamos compreender “o ponto de partida” e a rede lógica conceitual trazida pelo aluno

sobre o nosso objeto de pesquisa, e assim, tecer o comparativo com o questionário final.

Os questionários foram realizados em comum acordo com o docente durante o horário da

aula, e os alunos responderam as cinco questões propostas (Apêndices A, B, C, D, E e F).

3.2.7 Observação e análise da prática pedagógica

Como um mecanismo do método qualitativo, a pesquisa de observação participante

apresenta dimensões particulares e são três os tipos de implicação a respeito da observação,

explica Barbier (2007, p. 126): “a Observação periférica (OPP); a observação participante ativa

(OPA) e a observação participante completa (OPC)”. Entre estes três tipos, nos centramos no

caminho do meio por este conferir maior combinação com a proposta de nossa pesquisa.

Implicamo-nos, portanto, numa pesquisa participante ativa (OPA), na qual “[...] o pesquisador

tenta, por meio de um papel desempenhado no grupo, adquirir um status no interior do grupo ou

da instituição que ele estuda. Ele está simultaneamente dentro e fora do grupo” (BARBIER,

2007, p. 126).

Nesta perspectiva, a pesquisadora declarou-se desde o início como observadora

participante do grupo de pesquisa e expressou em comum acordo com o docente da disciplina,

56

que a participação no processo seria ativa e estaria experimentando todas as atividades propostas

a fim de compreender o como se realizavam para compreender sua dinâmica no que tange à

aprendizagem e o desenvolvimento dos objetivos da disciplina, ao mesmo tempo em que podia

observar e anotar como elas eram realizadas, bem como as reflexões oportunizadas pelo grupo.

Esta observação participante almejou sintetizar as ideias centrais da disciplina,

descrevendo uma visão geral da prática pedagógica e dos conteúdos trabalhados, saber o como as

atividades foram desenvolvidas, compreender a relação professor/aluno e aluno/aluno, analisar a

natureza das atividades, os principais conteúdos trabalhados.

Pontuamos que a descrição dos dados da pesquisa será exemplificada com o auxílio dos

dados do diário etnográfico e da entrevista semiestruturada. Esse processo possibilitará um maior

mapeamento da experiência vivenciada pelos participantes da pesquisa, bem como poderá

apontar a coerência entre a prática pedagógica que sustenta o curso e possibilitar ao leitor a ideia

de como foi a experiência vivida.

3.2.8 Diário de si

A utilização da técnica de diário é usual nas pesquisas etnográficas como instrumento que

visa a coletar o cotidiano de tais pesquisas, comumente conhecidos como diários de bordo, mas

estes podem ser transpostos para outros tipos de pesquisa pela natureza de seu caráter. Para

Barbier (2007, p.133), um diário “[...] trata-se de um instrumento de investigação sobre si

mesmo em relação ao grupo e em que se emprega a tríplice escuta/palavra – clínica, filosófica e

poética – da abordagem transversal”.

Assume tal caráter transversal na medida em que atravessa as questões pertencentes ao

humano, tornando-se, portanto, gerador de potencial clínico no sentido terapêutico de

reestruturar internamente; tem um caráter filosófico, pois consegue adentrar as questões

existenciais promovendo reflexões profundas; e é considerado poético, pois tem a possibilidade

de resgatar ao olhar subjetivo a estética sobre apreciações de algo, sem, contudo, segundo o

autor, perder o espírito crítico e o caráter científico (BARBIER, 2007).

Assim, um diário configura-se num “bloco de apontamentos no qual cada um anota o que

sente, o que pensa, o que medita, o que poetiza, o que retém de uma teoria, de uma conversa, o

57

que constrói para dar sentido a sua vida” (BARBIER, 2007, p.133) perpassando haja vista os três

eixos da escuta/palavra.

Com estas finalidades foi adotado o diário do aluno e da pesquisadora a fim de utilizá-lo

como base de auxílio na compreensão e descrição das atividades vividas ao longo da disciplina

em seus aspectos acima mencionados. Foi solicitado a cada um dos participantes um caderno que

passou a ser chamado de “diário do aluno”. Com o uso do diário, buscou-se realizar uma análise

mais abrangente, para além das percepções do pesquisador, de modo que os participantes

puderam contribuir com suas próprias visões sobre a experiência que vivenciaram a fim de que a

pesquisadora aprofundasse o exame do fenômeno investigado.

Assim, no início da disciplina tanto a pesquisadora iniciou as suas anotações, como os

alunos foram convidados a escrever as experiências vivenciadas a cada aula, tanto as descrições

das atividades propiciadas (objetivando revisar tudo que foi vivenciado como um exercício

cognitivo) como também, e principalmente, as suas impressões sobre o corpo, as emoções e os

sentimentos que emergiram, os juízos de valor do que vivenciaram, seus aspectos subjetivos,

entre outros.

Foi pedida a autorização do docente da disciplina para disponibilizar 15 minutos antes do

término de cada encontro para a escrita do diário, com o objetivo de que este hábito fosse

incorporado à dinâmica da disciplina. Foram elaboradas algumas perguntas norteadoras que

visaram servir de guia para pontuar os aspectos relevantes para a investigação do fenômeno.

As oito questões do roteiro do diário (Apêndice H) foram respondidas a cada encontro de

aula e pretendeu-se examinar os possíveis deslocamentos operados na subjetividade dos

participantes ao longo da disciplina. Com este propósito, dentre as perguntas norteadoras

incluímos um item de escrita livre, a qual o estudante pode expressar-se além dos aspectos

pontuais marcados. Acreditamos que assim, poderíamos nos aproximar de possíveis narrativas de

histórias pessoais que nos auxiliasse a perceber como/se os alunos estavam se reconstruindo

subjetivamente com os possíveis impactos do contato com a proposta de formação integral e

como esta afetou suas vidas, e o surgimento de novas perspectivas de visada acerca do corpo e

da educação.

58

Com este diário, em especial as questões 5 e 6 (Como percebi o meu corpo nesse

encontro?, Como percebi o corpo dos colegas e do professor(a) nesse encontro?) buscamos

avaliar também como ocorreu a percepção da educação do corpo dentro do grupo.

Assim o diário do aluno, além de ajudar a construir a tessitura da compreensão do

fenômeno, pode ajudar a compreender a experiência, observando os significados apontados pela

subjetividade dos participantes ao longo do curso.

3.2.9 Entrevista semiestruturada

A entrevista como indica Minayo (2000, p.99) “visa a apreender o ponto de vista dos

atores sociais previstos nos objetivos da pesquisa [...] Instrumento para orientar uma conversa

com finalidade”. Em consonância com Moreira (2004, p. 51 apud Ferreira, 2005) que destaca a

entrevista como a principal forma de coleta de dados em uma pesquisa fenomenológica. Ele

define a entrevista como “uma conversa entre duas ou mais pessoas com um propósito específico

em mente”.

Buscou-se favorecer a entrevista conduzida nestes moldes, mais como um diálogo, a fim

de ir captando e estruturando os aspectos revelados pelos participantes e pontuando aspectos

emergidos que podiam esclarecer melhor o fenômeno em questão, pois muitas vezes as respostas

foram sendo mais esclarecidas na medida em que eles foram discorrendo sobre elas -

característica peculiar proporcionada por uma entrevista semiestruturada.

Esta atividade foi realizada no final da experiência como um complemento do

questionário. Foram entrevistados todos os participantes e o objetivo desta atividade foi

apreender a compreensão dos alunos a respeito do lugar da educação do corpo nas experiências

educativas vividas na disciplina investigada para cada subjetividade, a fim de aprofundar os

impactos, limites e possibilidades.

Como houve o período de greve e o tempo ficou mais restrito para o término da

disciplina, a entrevista foi realizada em duplas e no horário de aula.

59

3.2.10 Sistema de análise dos dados

Todas as análises foram realizadas dentro de uma abertura de interrogação

fenomenológica para auxiliar na compreensão da complexidade do investigado de forma

coerente com o pressuposto teórico-metodológico que nos pautamos. A análise dos dados está

baseada numa concepção de existência que opera dentro da perspectiva de uma “circularidade

fundamental”, onde partes e todo estão numa interação de unidade, correlacionados, perspectiva

apresentada pelos autores Wilber (2006), Bicudo (2000) e Martins e Bicudo (1989), que revela a

dinâmica do processo no qual cada parte integra o todo, e onde cada parte não pode ser reduzida

por si só.

Deste modo, elegemos compreender o fenômeno por diversos ângulos e os dados

emergiram da observação participante, dos questionários inicial e final e dos “diários do aluno” e

das entrevistas semiestruturadas.

Em relação à análise da pesquisa de observação participante, esta deu-se de forma

contínua, todas as aulas da disciplina foram observadas e analisadas numa correspondência

visando analisar e descrever o planejamento e a execução do encontro, de forma que buscamos

relacionar os objetivos propostos pela disciplina e as atividades levadas a cabo a fim de

compreendermos como ocorria a dinâmica de uma disciplina de abordagem integral. Esta análise

e compreensão foi acompanhada a cada aula ministrada e anotada no diário da pesquisadora.

Após este acompanhamento e anotação, realizamos a descrição organizacional, buscando

identificar e compreender os fundamentos norteadores e a execução didática desta prática para

entendermos de forma conjunta a realização da educação integral/transpessoal.

No que tange à análise dos diários dos alunos estes nos ajudaram a compreender questões

chaves desta pesquisa, principalmente a questão cinco: como percebi meu corpo nesse encontro?

De modo que nos favoreceu a compreensão do como o eu subjetivo de cada participante estava

se relacionando com o corpo, para assim, compormos mais dados sobre a compreensão da

dimensão corporal dos participantes na vivência da experiência.

No que concerne aos questionários inicial e final, para fins de compreensão, buscamos

nos deter mais detalhadamente nos pontos três, quatro e cinco: 3.Como você percebe a educação

do corpo?; 4. Desenhe o corpo de uma pessoa aprendendo. A partir do desenho, escreva sobre

60

suas impressões de como o corpo está sendo concebido; 5.Desenhe o corpo de uma pessoa

ensinando. A partir do desenho, escreva sobre suas impressões de como o corpo está sendo

concebido (Anexos A, B, C, D, E e F).

Em cada questão destas a pergunta foi no início apenas se referindo a UFPE-CE, e no

final a pergunta foi referida a experiência vivida na disciplina Processos Interativos, por

exemplo, na questão 3. Como você percebe a educação do corpo na UFPE-CE no início e no

final, Como você percebe a educação do corpo na disciplina Processos Interativos; o mesmo foi

realizado com as demais perguntas quatro e cinco.

As análises das respostas do questionário final que estão referidas a experiência

formativa integral foi realizada antes da aplicação da entrevista semiaberta, pois esta análise

prévia nos serviu de suporte para uma entrevista mais direcionada para desvelar aspectos que

surgiram e que necessitavam de uma maior compreensão acerca do fenômeno apresentado pelos

participantes para o momento da entrevista.

Na entrevista semiestruturada, as análises foram centradas na terceira, quarta e quinta

questões: 3.Como pensa o corpo na educação e nos processos de ensino-aprendizagem? 4. Fale

mais sobre o seu desenho do corpo de uma pessoa aprendendo, 5.Fale mais sobre o seu desenho

do corpo de uma pessoa ensinando (Anexo G); pois são estes os itens que focaram mais

diretamente a nossa atenção sobre o fenômeno de análise: o conceito de educação do corpo dos

participantes. Estas perguntas das entrevistas semiestruturadas se referiram apenas à experiência

vivenciada na disciplina Processos Interativos, as quais foram gravadas, transcritas e analisadas..

Os dados das outras questões serviram para contribuir à análise na tentativa de oferecer

uma compreensão a mais ampla e dinâmica possível da experiência a ser acompanhada.

Todas as respostas dos questionários inicial e final e das entrevistas semiestruturadas

colaboraram para compor as unidades de significado sobre a concepção de educação do corpo no

início e no final da disciplina, e compuseram a trama em rede apresentada nas Matrizes de

unidades de significados presentes no capítulo quatro.

As análises de todas as respostas, tanto as escritas e as gravadas foram realizadas

mediante o procedimento de redução de unidades de significado do discurso dos participantes,

61

seguida de uma tentativa de encontrar invariantes ou “categorias abertas” 5 a fim de realizarmos

uma montagem de uma rede de convergência de significados, conforme procedimento de análise

apresentada por Bicudo (2000, p. 70-102).

Depois procuramos estabelecer um diálogo entre as categorias emergentes e a teoria da

abordagem integral, de forma que a trama

[...] que se forma como uma rede de significações expressas, constitui a

realidade mundana na qual somos, ou seja, existimos de modo participativo.

Não se trata, porém, de uma rede abstrata. Mas ela própria é corpórea,

porquanto o expresso se presentifica com materiais e recursos específicos,

conforme sua modalidade, carregando consigo a história, a marca do ethos de

um povo, as possíveis interpretações elaboradas sobre a fala-falada (BICUDO,

2000, p. 97).

Assim, encontramos os significados entrecruzados de forma que chegamos a grupos de

categorias de significados, no intuito de ajudar-nos a visualizar os sentidos que se formaram

sobre a experiência investigada.

Segundo Bicudo (2000, p. 81), as unidades de significado “são unidades da descrição ou

do texto que fazem sentido para o pesquisador a partir da interrogação formulada”. Interrogação

esta iniciando a cada questão da entrevista a ser analisada, na questão três: “Como pensa o corpo

na educação? Na questão quatro: como pensa o corpo aprendendo? Na questão cinco: como

pensa o corpo ensinando?”, e assim, nesta trilha, procuramos destacar das respostas dos alunos às

principais unidades de significado do seu discurso.

Não pretendemos esgotar as unidades de significado presentes nos discursos dos alunos,

pois como em toda pesquisa fenomenológica, o olhar do pesquisador, conforme seu

questionamento poderá oferecer outros ângulos para compreensão do fenômeno.

Priorizamos organizar unidades de significado (US) que apresentaram relação direta com

o foco de investigação da nossa pesquisa. Para tanto, destacamos que os dados foram analisados

tomando por base o diálogo com os diversos interlocutores7 presentes na pesquisa.

5 Segundo Bicudo (2000, p. 82), as categorias abertas são “constructos que apresentam grandes convergências de

Unidades de Significado já analisados e interpretados. Indicam os aspectos estruturantes do fenômeno investigado

e abrem-se à metacompreensão considerando a interrogação, o percebido, o analisado, o diálogo estabelecido na

intersubjetividade auto/sujeitos/autores/região de inquérito”.

62

As respostas dos participantes foram lidas e relidas, com o foco na pergunta guia para

cada uma das questões, e desta maneira, chegamos às unidades de significado que se revelaram

mais significativas para a investigação. Em seguida, as respostas de cada um dos participantes

foram desdobradas em unidades de significado que se apresentaram carregadas de possíveis

sentidos para a questão formulada. Esta avaliação dos discursos considerou os participantes

como sujeitos de percepção e sujeitos de expressão ou significação.

Além das análises referidas, fizemos fotografias dos encontros de forma complementar

com o objetivo de registrar as atividades para o enriquecimento da discussão e da compreensão

do fenômeno e todos os participantes permitiram a exposição de sua imagem neste trabalho.

7 Estes interlocutores são compostos pelos autores da área, a pesquisadora, os participantes, o orientador, ou seja,

todos os envolvidos no texto maior do contexto da pesquisa.

63

CAPÍTULO 4

_____________________________________________________________________________

RESULTADOS: APRESENTAÇÃO, ANÁLISES E DISCUSSÕES

Nesta presente seção buscamos apresentar o conjunto dos fenômenos investigados, tanto

os dados oriundos da investigação do objetivo teórico, quanto os dados obtidos a partir do

objetivo prático da pesquisa de campo.

Destacamos inicialmente o conceito teórico sobre a dimensão corporal na abordagem

integral/transpessoal do teórico Ken Wilber, e a partir disso, buscamos tecer as relações das

possíveis contribuições para a finalidade da educação compreendida como formação humana.

Em seguida, junto ao item “Educação do corpo integral”, expomos os dados da pesquisa

participante, com a investigação da análise comparativa das visões de educação do corpo dos

participantes, do início e do final da disciplina Processos Interativos da UFPE, apresentando os

dados numa dinâmica ativa a fim de indicar os impactos e limites operados nas visões dos

participantes após a experiência formativa de cunho integral.

4.1 O LUGAR DO CORPO NA ABORDAGEM INTEGRAL/TRANSPESSOAL DE

KEN WILBER

O percurso investigativo deste item se dirigiu à compreensão do lugar da dimensão

corporal no arcabouço teórico da abordagem da Psicologia Transpessoal/Integral proposta pelo

autor Ken Wilber. Para tanto, foram mapeadas as obras, “A Consciência sem fronteiras” (1991)

“Espiritualidade Integral” (2000), “Psicologia Integral” (2002), “Trilogia Kosmos” (2003), “O

Olho do Espírito” (2007a), “A união da alma e dos sentidos” (2007b), “A visão Integral” (2010),

e “A Prática de Vida Integral” (2011).

As contribuições de Ken Wilber apresentam-se como uma nova e revolucionária

sistemática na Psicologia Transpessoal/Integral. Sua vasta produção tem como objetivo central

resgatar uma psicologia com psique, e na busca de compreender e encontrar os caminhos

possíveis para isto aprofunda diversos aspectos do fenômeno humano que promovem

crescimento e evolução pautados na espiritualidade como linha norteadora desse processo.

64

Dentro desta trilha, buscamos compreender o lugar da dimensão corporal nesta

abordagem e como os elementos que compõe o a visão integral e o ser multidimensional podem

contribuir para a educação como formação humana integral.

4.1.1 A Grande Cadeia do Ser: a perspectiva multidimensional da Pré-modernidade

O ponto central do modelo integral do teórico Ken Wilber é a concepção

multidimensional/integral do ser humano. Visão concebida como a espinha dorsal de sua

produção, mesmo com os diferentes enfoques em suas diversas obras encontramos o interesse de

encontrar um lugar na atualidade para o resgate dos pressupostos do quadro pré-moderno

denominado “O Grande Ninho do Ser” ou a “A Grande Cadeia/Corrente do Ser”. Para entendê-

lo, parte-se da compreensão de que o ser humano é disposto por estruturas, como temos a seguir:

[...] muitas características do sistema corpo/mente humano mostram elementos

comuns universais em todas as culturas. O corpo humano, em todo lugar, tem

208 ossos, um coração, dois rins. E a mente humana, em todo lugar, tem a

capacidade de produzir imagens, símbolos, conceitos e regras. A firme

conclusão é que o corpo e a mente humanos compartilham em todas as

culturas, certas estruturas profundas que, quando aparecem, são

semelhantes por toda parte, mas as estruturas de superfície – as manifestações

em si desses traços comuns – são, na verdade, relativas, ligadas à cultura,

marcadas pela historicidade e determinadas contingentemente. O corpo humano

pode, na verdade, ter 208 ossos onde quer que seja, mas nem todas as culturas

usam esses ossos para jogar futebol. (WILBER, 2007, p. 38).

Nesta concepção o corpo/mente humano é uma composição tanto de estruturas

superficiais quanto de estruturas profundas. O quadro foi resgatado por Wilber e conforme

proposto pelas tradições pré-modernas se propõe a destacar e aprofundar os estudos dessas

estruturas chamadas profundas que são seu fundamento básico e as considera eixos comuns a

toda família humana. O quadro “Grande Ninho do Ser” abarca e sistematiza estas regularidades,

concebidas como basilares na compreensão do desenvolvimento e crescimento humano,

contribuições estas que se atestam como resistentes ao tempo, por isso são chamadas de filosofia

65

perene8 das tradições, pois apontam a visão geral do espectro do desenvolvimento da consciência

que se faz presente desde a pré-modernidade até a atualidade.

O esquema parte das experiências vivenciadas pelos antigos em sua fenomenologia

introspectiva, as quais lhes permitiram compreender o desdobramento humano ocorrendo através

de níveis para serem conhecidos e explorados, e jaz na compreensão de que “a realidade

compõe-se de vários níveis de existência – níveis do ser e do conhecer -, que se estendem da

matéria para o corpo, do corpo para a mente, da mente para a alma, e da alma para o espírito”

(WILBER, 2000, p.19). Vejamos o quadro abaixo.

Figura 1. O Grande Ninho do Ser

Fonte: Adaptado de Wilber (2002, p. 20)

Os círculos concêntricos na figura são as citadas estruturas profundas, indicadas

similarmente como dimensões básicas, estruturas básicas ou ondas básicas9. Cada qual é um

nível pelo fato de se tratar de organizações qualitativamente distintas uma das outras, ou seja,

matéria, corpo, mente, alma e espírito possuem uma organização e complexidade que não pode

8 Perene porque “estas estruturas profundas são validadas e aparecem em diferentes culturas e épocas com

características muito semelhantes” (WILBER, 2007, p.46). 9 Autores como Huston Smith, Arthur Lovejoy, Ananda Coomaraswamy e outros estudiosos dessas tradições pré-

modernas apontam a existência dessas cinco ondas básicas nestas tradições. Filósofos como Plotino, Aurobindo,

Shankara, senhora Tsogyal – como também os xamãs, os iogues, os sábios e os santos, tiveram acesso a esses níveis

superiores da alma e do espírito (WILBER, 2006).

66

ser reduzido ao outro nível, pois cada um possui especificidades próprias. Chamam-se

estruturas profundas porque são padrões da integralidade do ser e da consciência que se revelam

permanentes nas diversas culturas existentes como potenciais de Ser humano10

. Apresentam-se

como ondas, pois os níveis são analogicamente como as cores de um arco-íris que estão juntas e

se transpassam em intersecção, indicando que não existe nada de linear ou desconectado nesses

vários níveis; eles estão interligados mais como espirais orgânicas e contínuas (WILBER, 2002,

2006), do que como círculos fechados como na figura, pois estão intimamente entremeados.

Estas estruturas aparecem como um Kosmos padronizado, palavra grega com “K”, que

indica “não apenas o universo composto pela realidade física das estrelas, dos planetas (o que o

“Cosmos” usualmente significa), mas também, incluem os domínios da mente, da alma, da

sociedade, da arte, do Espírito” (WILBER, 2010, p.32) – em outras palavras, incluem a

multidimensionalidade do humano que nos dirige a exploração do nosso ser.

Um fundamento presente no quadro da Grande Cadeia é o conceito de não-dualidade. A

integração entre estas dimensões sobrepassa tanto a natureza transcendental (como indicado em

maiúscula fora da figura), mas também é imanente dentro da sequência (espírito), portanto

afirmam, “o Espírito está igual presente na natureza, na cultura, no céu, na terra, sem

parcialidade” (WILBER, 2007a, p.50). A filosofia perene sempre evitou dualidades entre céu ou

terra, masculino ou feminino, infinito ou finito, imanência e transcendência, e se concentrou na

união desses elementos num sentido de complementariedade, continuidade e integração11

.

Outro fundamento presente é a concepção de aninhamento dessas dimensões. Os níveis

são indicados por círculos anteriores/juniores que iniciam em A ou 1 e por círculos

posteriores/sêniores que são somados uns aos outros (vide no quadro a sequência

A+B+C+D+E/1+2+3+4+5). Esta sequência indica o desenvolvimento humano ocorrendo numa

crescente inclusão e transcendência, de modo que “cada dimensão maior transcende, porém

inclui suas dimensões menores; portanto, essa é uma concepção de totalidades dentro de

totalidades indefinidamente, estendendo-se do lodo até a divindade” (WILBER, 2000 p.19).

10

Estas estruturas não são concebidas como tipos ontológicos rígidos (WILBER, 2002). 11 Outro teórico, Chogyam Trungpa Rinpoché salientou, em sua obra “Shambala: A trilha sagrada do guerreiro”, que

a ideia mais essencial e abrangente, que permeia todas as filosofias do Oriente, da Índia, até o Tibete e a China, e

que está por trás de tudo, do Xintoísmo ao Taoísmo é a hierarquia terra, ser humano, céu, que aponta como

equivalente a corpo, mente e espírito, num sentido de crescimento e integração humanos.

67

Esse desdobramento dos níveis em transcendência tem o sentido de que cada patamar

galgado foi mais além em complexidade e abrangência de perspectiva do que o nível anterior.

[...] os corpos vivos transcendem, mas incluem os minerais, as mentes

transcendem, mas incluem os corpos vitais, as almas luminosas transcendem,

mas incluem as mentes conceituais e o espírito radiante transcende e inclui

absolutamente tudo. O espírito é desse modo, tanto a onda mais elevada

(puramente transcendental) como a base sempre presente de todas as ondas

(puramente imanente), que vai além do Todo, abrangendo o Todo. (WILBER,

2002, p.22).

Nesta teoria do desenvolvimento humano, o novo nível é incluído e transcendido, por isso

a sequência é nomeada holárquica. Cada nível recebe o nome de hólon porque é ao mesmo

tempo parte e todo na sequência. Por exemplo, o nível A é uma parte, que é transcendido e

incluído a B que é um todo, resultando em A+B formado pelo conjunto B. Este todo B, por sua

vez, se somará/transcenderá com outra parte C, os quais formarão um novo todo, o nível C que é

composto por A+B também, mas é diferente em complexidade, e assim vai. Deste modo,

segundo a filosofia perene, tanto o universo quanto os humanos são compostos por hólons e tudo

que se manifesta na vida apresenta-se desta maneira12

, de modo que hólon, segundo (WILBER,

2001), assume a definição de sendo um todo num contexto, é parte de um todo mais amplo em

outro.

Portanto, matéria, corpo, mente, alma e espírito são hólons dentro deste sistema

organizado de forma hierárquica13

. Assim, a palavra holarquia se refere a ordem de hólons que

caminham do nível de menor qualidade para o de maior qualidade em termos de

complexidade/consciência, pois não podemos partir do corpo para o nível da alma sem primeiro

chegarmos a elaborar um domínio sobre os processos da mente, para assim integrarmos o nível

12

Em análise, uma letra é uma parte numa sílaba; uma sílaba comporta-se como um todo, mas é parte numa palavra;

esta por sua vez é uma parte numa sentença que forma um todo; esta é parte e forma-se como um todo de um

parágrafo, que é parte e forma um todo num texto, que é parte e forma um todo com um capítulo e assim sucede.

Um indivíduo é uma parte num todo que é uma família, uma família é uma parte num todo que é uma comunidade,

esta evidencia-se uma parte num estado, que é uma parte para formar um todo de uma nação, entre outros. 13

Palavra que não goza de boa reputação. Originalmente usada por São Dionísio, significava em sua essência

“hiero” igual a sagrado ou santo e “arch” significa governo, ou regência, ou seja, “governo pelo espírito”. Depois,

foi traduzida por jogos de poder político, militar e passou do significado original ao significado de “regido pela

igreja católica” e depois despotismo.

68

seguinte. Esta noção de desenvolvimento em holarquia nos indica a direção rumo aos níveis

mais elevados14

.

Deste modo, o Grande Ninho do Ser apresenta-se como um grande campo morfogenético

ou espaço de desenvolvimento15

– que se estende da matéria até o espírito (WILBER, 2002,

p.26), conforme proposto pelas tradições perenes de sabedoria.. Assim, o campo humano é

composto por hólons, estágios dentro de estágios, numa contínua inclusão e transcendência.

Matéria integra-se ao corpo, deste pode-se abarcar a mente. Em seguida corpo e mente podem

ampliar suas percepções para incluir os aspectos da alma, que por sua vez, serão envolvidos pelo

espírito que traz suas profundas contribuições.

A proposta da versão do Grande Ninho pelas linhas do Vedanta e dos Vjnanas

posicionam o corpo com um campo de entendimento e exploração ainda muito mais amplo do

que apenas uma dimensão a ser incluída na sequência de desenvolvimento, concebendo o corpo

como o suporte energético dos vários estados da mente e dos diferentes tipos de corpos. Por esta

razão, estas linhas da tradição de sabedoria salientavam que possuímos três ângulos de visão de

acordo com a vivência dos estados de percepção da consciência, assim,

[...] homens e mulheres tem pelo menos três olhos do saber: o olho da carne,

que percebe os acontecimentos físicos; o olho da mente, que percebe imagens,

desejos, conceitos e ideias; e o olho da contemplação, que percebe experiências

e estados espirituais. (WILBER, 2007a, p.41).

Nesta perspectiva, o corpo se apresenta como um campo de estudo e exploração ainda

maior, havendo o olho da carne, da mente e do espírito. Entretanto, estas tradições não

encontraram subsídios mais consistentes para explicar como ocorriam tais fenômenos, como os

diferentes estados da consciência e os diferentes corpos que podemos experimentar, de modo que

estas possibilidades só puderam ser esclarecidas com as contribuições dos períodos posteriores,

organizadas por Wilber para o resgate da integralidade do Ser em nossa contemporaneidade.

14

Essa definição de “estágio mais elevado” foi introduzida pela primeira vez no Ocidente por Aristóteles, e no

oriente por Shankara e Lieh-Tzu; desde então ela é uma parte central da filosofia perene (p.48). Os estágios mais

elevados são os transpessoais, os quais os antigos acessavam por meio empírico da consciência humana através da

meditação, contemplação e introspecção. 15

Há diversos exemplos de sistemas como a Grande Cadeia do Ser, tais como o sistema dos chakras, os invólucros e

estados do Vedanta, os Vijnanas budistas, os níveis vibratórios shivaítas de Caxemira e a hierarquia do

superconsciente de Aurobindo, apontam para esse rio da consciência, corpo, mente e espírito.

69

Disso tudo, o que pudemos nos valer é que os fundamentos da Grande Corrente do Ser

vem nos relembrar a exploração do nosso Kosmos multidimensional, que é o nosso universo

próprio de conhecimento: nós mesmos enquanto um campo de desenvolvimento que se estende

da matéria até o espírito; com a dimensão corporal trilhando esta jornada de crescimento. Neste

sentido, a dimensão corpo apresenta-se como um nível para ser e para conhecer, e um hólon a ser

incluído e transcendido dentro da holarquia aninhada. Assim, a filosofia perene nos aponta que

para abarcar o nível da mente é preciso incluir os aspectos da dimensão corporal como uma

estrutura profunda, entretanto, esta dimensão precisa ser conhecida e diferenciada em suas

possibilidades para haver um crescimento saudável integrado à mente, pois, corpo-mente é uma

unidade não dual e formam um marco básico de crescimento dentro da cadeia.

Portanto, a problemática da pré-modernidade foi a falta de diferenciação de cada nível na

cadeia, pois, para os antigos, havia o que Wilber (2006a) chama de fusão entre estas dimensões.

A devida diferenciação entre esses aspectos só pôde ser realizada com as contribuições

propiciadas pelos estudos da modernidade e da pós-modernidade. No entanto, estes períodos por

si mesmos descartaram a Grande Cadeia do Ser pela falta de reinterpretação, reatualização e

ressignificação dos seus conceitos.

O período da Modernidade foi o mais responsável por esse rechaço. Neste momento

moderno, houve o surgimento dos três grandes campos de conhecimento, a arte, a moral e a

ciência, e dentre estes, houve a supremacia da ciência como a única via detentora da verdade. O

imperialismo científico não concebia como válidas as outras dimensões do ser e do conhecer,

que dizem respeito aos aspectos subjetivos do sujeito, e com isso ocorreu à chamada planura

(WILBER, 2000), que é a redução dos diversos níveis do humano como apenas elaborações

possibilitadas pelos mecanismos cerebrais, havendo a crítica dos desdobramentos da Grande

Cadeia do Ser como uma mera “hierarquia da cognição16

”.

16

A consciência enquanto cognição foi reduzida à mera percepção das superfícies planas e desbotadas dos objetos

empíricos, redução chamada de planura ou planície. Qualquer percepção que visse alguma coisa diferente daquilo

que se via no mundo do materialismo cientifico não era cognição “verdadeira”. Piaget restringiu anda mais o

significado de cognição, indicando ser a função para os tipos de operação lógico-matemática.

70

O problema é que a concepção de cognição assumida na psicologia ocidental restringiu o

significado de forma muito limitada, passando a somente significar a maneira como os humanos

apreendiam objetos exteriores materiais.

Todos os tipos de “consciência” ou de “percepção” (no sentido amplo) foram,

portanto, excluídos (por exemplo, emoções, sonhos, visões criativas, estados

sutis e experiências de pico). Se o conteúdo da consciência não fosse algum tipo

de objeto objetivo empírico (uma rocha, uma árvore, um automóvel, um

organismo) então se dizia que essa consciência não possuía validade cognitiva.

O mesmo se afirmava em relação a todos os estados e modos de consciência

realmente interessantes. (WILBER, 2000, p.34).

Já as epistemologias pós-modernistas atacavam a Grande Cadeia do Ser de outro modo,

considerando-a como opressiva, marginalizante, patriarcal e monológica (WILBER, 2006).

Apesar de estes períodos terem fragmentado, reduzido e alienado a multidimensionalidade do ser

conforme indicava as tradições de sabedoria, Ken Wilber buscou reconciliar o espectro total da

consciência, recuperando o caminho do corpo ao espírito do Grande Ninho, através da

diferenciação entre as dimensões e a organização do Sistema Operacional Integral, um quadro

que se propõe a equilibrar as possibilidades humanas.

Neste sentido, buscamos a seguir tecer a compreensão sobre a dimensão corpo, seguindo

na busca de compreender esta dimensão o que segundo Wilber é possível através da

diferenciação dela por conhecimento, o que faremos a seguir com um aprofundamento da

dimensão corpo na Grande Cadeia do Ser por uma análise contemporânea deste autor.

4.1.2. Contribuições da Integralidade para o resgate do Grande Ninho do Ser na

contemporaneidade

Após o período pré-moderno não houve muito espaço para a espiritualidade, nem o

interesse no desenvolvimento da consciência humana ocorrendo através de níveis como a

proposta multidimensional do “Grande Ninho do Ser”. No intuito de resgatar a visão da

integralidade perdida, Wilber salienta que é preciso reconciliar visões, e dentro desta

reconciliação, seguiremos nossa exploração conceitual para compreender o lugar da dimensão

corporal na abordagem integral/transpessoal deste autor.

71

Assim sendo, iniciaremos este resgate nos valendo das contribuições contemporâneas do

paradigma integral de Ken Wilber, através da diferenciação dos níveis presentes na “Grande

Corrente do Ser”, diferenciação a qual, segundo o autor, é um importante passo para a evolução

humana que prossegue seu desenvolvimento através do processo de diferenciação e integração

de suas dimensões (WILBER, 2010), pois, compreender as especificidades de cada nível ajuda a

ter conhecimento sobre elas proporcionando um crescimento consciente rumo aos níveis

superiores da holarquia do ser.

Desta maneira, em especial, buscamos compreender o conceito da dimensão corporal

nesta teoria, mapeando a diferenciação entre as dimensões. Portanto,

[...] os cinco níveis básicos são: matéria, corpo (no sentido de corpos vivos e

vitais, o nível emocional-sexual), mente (incluindo imaginação, concepções e

lógica), alma (a fonte da identidade supra-individual) e espírito (tanto o

fundamento sem forma como a união não dual de todos os outros níveis)”

(WILBER, 2002, p.26).

[...] quando a vida (A + B) emerge da matéria (A), ela contém certas qualidades

(tais como reprodução sexual, sensações interiores, autopoiese, élan vital, etc. –

todas representadas por “B”) que não podem ser atribuídas estritamente às

condições materiais de “A”. Do mesmo modo, quando a mente (“A + B + C)

emerge da vida, ela contém características emergentes (“C”) que não podem ser

reduzidas, ou explicadas, somente pela vida e pela matéria. Quando a alma, (“A

+ B + C + D”) emerge, transcende a mente, a vida e o corpo. Assim, a evolução,

é esse “desdobramento” do Espírito, da matéria para o corpo, para a mente, para

a alma, para o Espírito em si, ou a realização do Espírito absoluto que é a Meta

e a Essência da sequência inteira. (WILBER, 2003, p. 2).

Nesta sequência de diferenciações uma obra e a outra se assemelham quando indicam o

corpo apresentado como um hólon na cadeia integrado à matéria e é o lócus onde a vida já se

apresenta, por isso é o corpo vital e este inclui as emoções humanas e os instintos de sexualidade.

Neste sentido, por exemplo, um ser humano que manifesta problemas mentais, não

necessariamente perde funções vitais biológicas, nem a capacidade de sentir emoções com o

corpo; tais eventos podem continuar ocorrendo mesmo que ocorra alguma patologia no nível

seguinte, no caso o nível mental.

Na obra de 2003, temos outro detalhamento desses níveis ocorrendo por letras que

demonstraram bem essas inclusões e as transcendências da rede de envolvimentos do abraço

72

integral, onde o sinal de adição expressa que algo emergiu ou foi acrescido à manifestação, o que

na holarquia é qualitativamente diferente do outro.

Em obra mais recente, Wilber (2007a) explicita ainda mais as características presentes em

cada nível deste no Grande Ninho do Ser:

Matéria significa o universo físico, como aparece em nossos próprios corpos

físicos (isto é, aqueles aspectos de nossa existência cobertos pelas leis da física);

e tudo mais que queremos dizer com a palavra “matéria” significa, neste caso, a

dimensão com a menor quantidade de consciência. Corpo, neste caso, significa

o corpo emocional, o corpo “animal”, sexo, fome, energia vital e assim por

diante (isto é, os aspectos da existência estudados pela biologia). Mente é a

mente racional, racionalizante, linguística e imaginativa (estudada pela

psicologia). Alma é a mente mais elevada ou sutil, a mente arquetípica, a mente

intuitiva, e a essência ou indestrutibilidade de nosso ser. E espírito é o topo

transcendental do nosso ser, a nossa Divindade. (WILBER, 2007a, p.50).

Nesta diferenciação, o autor indica a existência de dois corpos, o corpo material físico e o

corpo emocional. No primeiro nível, o corpo é um hólon integrado à matéria e é indicado como

corpo físico ou nível material, aquele que dispõe de menor consciência, pois é regido por leis

orgânicas físicas as quais não dispomos de consciência, esses processos simplesmente ocorrem.

O corpo indicado como o segundo nível é o corpo emocional-sexual, que é o lócus das emoções,

da porção “animal” onde habita os instintos vitais de sexo, fome e energia básica de vida.

Destes, percebemos que no nível de corpo emocional já possuímos mais consciência

desses fenômenos pela mente de forma que já podemos perceber impulsos, emoções e olhar para

eles com cuidado e atenção, diferente do primeiro corpo que é simplesmente físico, regido por

leis próprias e independentes.

Em (2007b) Wilber explicita a dimensão corporal ainda com mais detalhes:

[...] o corpo vital animal contém a matéria em sua composição, mas também

acrescenta sensações, sentimentos, e emoções, que não são encontrados nas

pedras. Enquanto a mente humana contém emoções corporais em sua

composição, também acrescenta faculdades cognitivas mais elevadas, como

razão e lógica, que não são encontradas nas plantas ou em outros animais. E,

enquanto a alma contém a mente em sua composição, ela também acrescenta

cognições e afetos, como iluminação e visão arquetípicas, não encontradas na

mente racional e assim por diante.

73

Nesta explicação, o corpo apenas difere das citações anteriores quando acrescenta o corpo

como sendo também o lugar dos sentimentos e explicita neste caso que com a integração com o

nível da mente haverá a conquista de com ela poder realizar operações mais complexas que o

corpo físico, o que mais conscientemente podemos experienciar quando conseguimos realizar

uma mudança no nosso nível emocional através dos benefícios propiciados pela mente, como o

poder de realizar mentalizações e imaginações para sentir sensações corporais mais benéficas, a

força do pensamento positivo que interfere nas sensações físicas e o autocontrole mental frente a

impulsos e desejos do corpo físico, entre outros, que nos valemos da mente para realizar tais

operações que apenas com o nível do corpo não é tão possível.

Em síntese, estes quatro casos nos explicita que a dimensão corporal na Grande Cadeia

do Ser é um hólon composto de matéria física, tanto o lugar que ocorre os nossos processos

como um organismo físico, quanto o lugar que já apresenta mais consciência de si através das

sensações interiores, dos desejos, instintos, da energia vital, das emoções e sentimentos. Vale

destacar que, com a transcendência para a mente estes aspectos do nível anterior podem ser

operacionalizados com mais consciência a partir também das contribuições propiciadas pela

dimensão cognitiva.

Assim, nesta abordagem integral, começamos a ressignificar nosso olhar para o corpo não

apenas como o lugar que nos apresenta a vida (como amplamente sabemos pela biologia), mas

também, que é pelo corpo que nos movemos pelo desejo das coisas, pelos instintos humanos, e

integrando corpo-mente podemos perceber e conhecer melhor essas sensações, emoções e

sentimentos. Estes elementos nos mostram o quanto precisamos aprofundar e compreender essas

características presentes no corpo para a autopercepção, autoconsciência e formação humana.

No próximo item, daremos sequência rumo ao aprofundamento das contribuições que a

abordagem integral pode promover na diferenciação e compreensão da dimensão corporal.

4.1.2.1 O “Grande Ninho do Ser” por Quadrantes: o Sistema Operacional Integral

74

O mapa geral da abordagem integral é chamado de “Os Quatro Quadrantes do Kosmos”.

É um grande quadro proposto pelo teórico Ken Wilber (ano mais recente) que consiste numa

visão de lente ampla e revela-se como um paradigma sofisticado que abrange tanto os modelos e

sistemas de crescimento humano dos antigos xamãs e sábios, com as contribuições do “Grande

Ninho do Ser”, quanto às modernas descobertas revolucionárias da ciência cognitiva e as

contribuições da pós-modernidade em relação às organizações culturais e sociais da humanidade

até o momento.

Ao relacionar os quadrantes como itens fundamentais para a visada, se descobrem as

dimensões de nossa própria experiência imediata pelo que chama de orientações

generalizadoras, que são as bases vindas de diversos paradigmas - por isso nomeia-se paradigma

integral - os quais contribuem para direcionar e ampliar a percepção para vermos a nós mesmos,

o mundo ou qualquer evento/hólon por quatro ângulos, lançando luz para compreendermos o

território que quisermos.

Neste sentido, Wilber ressalta que ele é apenas um mapa, o qual indica o lugar, mas não é

o lugar em si mesmo que sempre é um fenômeno vivo e dinâmico, o qual nunca pode ser

reduzido a um quadro. As categorias-base do território são “todos os quadrantes, todos os

níveis”, como relata a seguir.

Em outras palavras, não é, como assumem as grandes tradições, que os seres

humanos simplesmente têm diversos níveis – corpo, mente, alma e espírito, por

exemplo - mas também que cada um desses níveis tem quatro aspectos –

intencional, comportamental, cultural e social. E essa grade multidimensional –

não apenas “todos os níveis”, mas “todos os níveis, todos os quadrantes” – abre o

estudo dos seres humanos de um modo bastante dramático e sem precedentes.

(WILBER, 2007, p.43).

Partindo deste pressuposto, os quadrantes serão o terreno para olhar os níveis do ser e do

conhecer e com eles o fenômeno corpo, agora aprofundando os níveis também “em todos os

quadrantes”, aumentando a percepção numa compreensão cruzada e mais ampla. Por isso,

propõe uma visão interdependente dessas quatro áreas do nosso Kosmos.

75

Figura 2. O corpo nos Quatro Quadrantes do Kosmos

Fonte: Adaptado de WILBER (2000, p. 83)

Para compreender este quadro parte-se do princípio de que cada quadrante possui uma

forma de expressão, uma linguagem própria que é a maneira de entendê-los como dimensões se

movendo na realidade. A metade superior do quadro corresponde à dimensão individual do ser

humano e a metade inferior à dimensão coletiva. Já os quadrantes do lado esquerdo

correspondem ao aspecto interior e os quadrantes do lado direito correspondem ao aspecto

exterior. Deste modo, a abordagem integral tem como uma de suas tarefas respeitar e incluir

ambos os caminhos do ser humano, interior/exterior e individual/coletivo, pois estes se

apresentam como caminhos que melhor explicam a consciência e o comportamento humanos tal

como eles se apresentam prezando pela visão integral.

Visualizando a figura, a sequência exposta nos Quatro Quadrantes contém, no primeiro

quadrante superior esquerdo (QSE) a correspondência de indicar o corpo humano em seu aspecto

interior individual ou subjetivo intencional que possui a linguagem do Eu. O segundo quadrante

é o superior direito (QSD), o qual enfatiza o corpo pela via objetiva e comportamental, sua

linguagem é a do Isto. O terceiro quadrante é o inferior esquerdo (QIE) o qual se refere ao

interior coletivo intersubjetivo e cultural mantido pelos corpos em uma comunidade, e tem como

linguagem Nós. E o quarto quadrante, o inferior direito (QID), é o exterior do coletivo chamado

76

de interobjetivo social e sua linguagem é a dos Istos e contém a visão exterior de como esses

corpos humanos em grupos organizam seus sistemas econômicos e de produções tecnológicas.

De modo que, nosso objeto de investigação, a dimensão corporal, possui, portanto, quatro

ângulos de desdobramentos dos níveis do Grande Ninho através dos quadrantes subjetivo,

comportamental, cultural e social e suas relações.

Optamos primeiro pela sistematização das ideias com os quadrantes ser iniciada pelo

reposicionamento da Grande Cadeia do Ser como contribuições válidas à contemporaneidade.

Em seguida, realizaremos um melhor detalhamento desses quadrantes em suas especificidades,

organizando o estudo investigativo através da dimensão corporal aprofundando via cada

quadrante, numa atitude sistemática e de busca norteadora rigorosa para compor as contribuições

possibilitadas por essa abordagem ao corpo.

4.1.2.2 O Grande Ninho do Ser da Metafísica a Pós-metafísica Integral

Para assegurar a validade da “Grande Cadeia do Ser” na atualidade, é necessário

reposicioná-lo de uma postura metafísica a uma postura pós-metafísica, e isso é possível a partir

do conhecimento do desenvolvimento ocorrendo por quadrantes, indica Wilber. O quadro antigo

tal como proposto pelos pré-modernos em sua fenomenologia introspectiva indicava que os

níveis do ser e do conhecer estavam concentrados apenas no primeiro quadrante que situa-se

como o ângulo subjetivo intencional. Pelo desconhecimento de uma visão mais global do

desenvolvimento por quadrantes, a fenomenologia das tradições desconheciam tais interrelações.

Para os antigos, os níveis mais sutis da Grande Cadeia presentes no Eu, a mente, alma e

espírito foram percebidos como níveis transcendentes ao ser humano e desta forma, eram

concebidos como além do campo físico, portanto, metafísicos. Por isto, quando sistematizaram o

Grande Ninho, posicionaram estes níveis após a matéria, desenhados como círculos externos ao

corpo (vide a figura do Grande Ninho na página 62). Assim, na holarquia do ser e do conhecer,

estes níveis mais sutis foram percebidos como fora do ser humano.

Para os antigos, todas as revelações interiores não pareciam físicas, nem materiais, nem

conectadas à natureza, pareciam metafísicas em todos os seus aspectos, como dados externos

ontológicos verdadeiros por toda a eternidade, pairando, à espera de serem capturados através

77

das práticas da meditação ou contemplação (WILBER, 2003) – uma errônea interpretação

propiciada por uma visão eminentemente sociocultural.

As tradições sempre entenderam que os níveis “mais elevados” que a matéria

são invisíveis aos sentidos comuns e o mesmo é verdadeiro em nossa

reformulação: isto é, todas as dimensões “interiores” (sensações, compreensão

mútua, compaixão, conscientização, consciência, etc.) são invisíveis aos

sentidos exteriores; mas podemos afirmar isso sem fazermos interpretações

metafísicas desnecessárias. (WILBER, 2003, p.06).

Este fato decorre do desconhecimento da influência da visão cultural e social que afeta a

percepção subjetiva, que os faziam afirmar que estes níveis estavam extracorpóreos, contudo,

muitas das verdades compreendidas como metafísicas, eram na realidade apreendidas

culturalmente. Apenas com os avanços da modernidade e o estudo do segundo quadrante Isto, o

Quadrante superior direito (QSD), o “Grande Ninho do Ser” pode ser transposto de uma postura

metafísica – conforme pensado pelas tradições - a uma concepção pós-metafísica possibilitada

pelos avanços da modernidade e da pós-modernidade.

Assim, o quadrante subjetivo está intimamente correlacionado ao quadrante superior

direto que é o quadrante correspondente ao corpo biológico, às energias e o comportamento.

Observe no quadro o lado direito QSD, correspondente do aparato cerebral em correlação ao

esquerdo QSE, que indica as possibilidades de percepção dos níveis do Grande Ninho.

78

Figura 3. A relação entre os Quadrantes Superior Esquerdo e o Direito

Fonte: Adaptado de Wilber (2006, p.56-57)

Na figura o destaque é para os quadrantes QSD e o QSE e a relação entre eles. O eixo

central desta atualização do Grande Ninho consiste em correlacioná-los.

Assim, correspondem ao número 01: “[...] átomos, cujas formas exteriores são entidades

físicas como nêutrons, prótons e elétrons, estes possuem um interior de preensão ou

protossensações (protoconscientização)”; correspondem ao número 5: “organismos neurais

possuem sensações interiores”; correspondem ao número 6: “organismos com cordão neural tem

percepção”; correspondem ao número 7: “o aparecimento de animais com tronco cerebral

reptiliano gera a emergência de impulsos e instintos interiores”; correspondem ao número 8: “um

sistema límbico exterior emerge com emoções interiores”; correspondem ao número 9: “um

cérebro trino é a forma exterior ou material de uma consciência interior que pode conter entre

outras coisas cognição operacional formal, moralidade pós-convencional, visão-lógica,

capacidades linguísticas e assim por diante” (WILBER, 2003, p.06).

Assim, com a contribuição da Modernidade, encontramos a relação entre a consciência

humana presente no QSE e a neurofisiologia presente no QSD. Os pré-modernos não sabiam

79

dessa interação entre os níveis sutis da consciência se relacionando aos itens objetivos do

cérebro, e este consequentemente se relacionando com os hormônios como a dopamina,

serotonina, circuitos sinápticos, os neurotransmissores, regulação hipotalâmica entre outros, do

quadrante objetivo (QSD) que promovem experienciações diversas com o corpo.

Conforme visto, as formas exteriores ou materiais do cérebro abrigam as possibilidades

da complexidade dos níveis mais sutis do correlato interior subjetivo da consciência. Para

posicionarmos o Grande Ninho a uma postura pós-metafísica, cada forma material de

complexidade crescente, mente, alma e espírito têm um correlato interior através da corpo que

lhe fornece um nível de consciência crescente e lhe dá suporte de acesso a esses níveis sutis.

Assim, a “matéria” apresenta-se não como o degrau inferior no espectro de existência,

mas a forma exterior de todo o espectro que contem os correlatos dos níveis da grande cadeia,

corpo, mente, alma e espírito. Desta forma, “a matéria não é inferior e a consciência, superior, e

sim matéria e consciência são o exterior e o interior de cada situação” (WILBER, 2003, p.06).

Há estreita relação entre as realidades ocorridas nos níveis materiais orgânicos e os níveis mais

sutis. Este fato reposiciona inclusive que a matéria não é o degrau inferior na holarquia do ser, e

sim, o degrau exterior de todos os outros demais níveis.

Figura 4. A matéria como a parte exterior de todos os níveis

Fonte: Wilber (2003, p.55)

80

Dessa maneira, as experiências são possíveis de serem acessadas porque em nossa

constituição intrafísica corporal já temos o background possível para isso. O conceito de corpo é

reatualizado nos permitindo reposicioná-lo como sendo o todo que acolhe as demais dimensões,

como as sensações, emoções, sentimentos, a mente, a alma e a dimensão espiritual. Portanto,

apresenta-se lócus da multidimensionalidade do ser humano. É nele que tudo está ocorrendo,

onde as dimensões estão em operação.

O problema da modernidade foi à redução dessas experiências subjetivas a serem apenas

reflexo restrito ao background orgânico. Rejeitaram as contribuições dos níveis mais sutis da

alma e do espírito, como sendo fator dos condicionantes intersubjetivos e interobjetivos, e

rejeitaram explorá-los. Inclusive o corpo não foi muito prezado pelo fato de reduzir todo

fenômeno humano ao epifenômeno do cérebro.

Com o reposicionamento pós-metafísico, cada nível do “Grande Ninho do Ser” está

presente também nos outros quatro quadrantes, por isso temos o nível corpo físico, mente, alma e

espírito sendo ampliados conforme visualizamos na figura anterior abrangendo e presente nos

demais – visualização através dos pontilhados abrangendo todos os quadrantes.

Por este motivo, exploraremos a partir de agora o corpo nos quatro ângulos, ou seja, o

corpo no Eu, no Isto, no Nós e nos Istos, dimensões estas interligadas ao campo do corpo

integral que avança por todos os “Quatro Quadrantes do Kosmos”.

4.1.2.3 O Quadrante Superior Esquerdo: o corpo no Eu

O primeiro quadrante é o superior esquerdo (QSE), denominado de quadrante subjetivo

intencional porque indica a parte interior do indivíduo que manifesta as intenções do ser, e por

isso, refere-se à subjetividade de cada sujeito, tal como ela é estudada pela psicologia do

desenvolvimento, tanto em suas formas de manifestação convencionais abordadas pelas escolas

pessoais, como também pela psicologia integral que abrange tanto estes aspectos, quanto as

manifestações contemplativas de abrangência pós-convencionais pela abordagem transpessoal.

81

Figura 5. Quadrante Superior Esquerdo: o corpo no espaço Eu

Fonte: Adaptado de Wilber (2011, p.95)

Essas realidades interiores do primeiro quadrantes são analisadas mais fortemente pela

Fenomenologia, pois o terreno do Eu só pode ser percebido, compreendido e estudado pela via

da interpretação17

. Assim, a base de toda fenomenologia introspectiva é basear suas teorias

através da experiência direta que qualquer um de nós tem em sua própria experiência imediata e

interior. Assim, a base de toda fenomenologia introspectiva é basear suas teorias através da

experiência direta que qualquer um de nós tem em sua própria experiência imediata e interior.

Deste modo, este quadrante volta-se para o nível da compreensão do Eu do sujeito, pois

aqui o interesse reside em compreender o significado e a interpretação (2007a) que cada um

atribui a si em algum aspecto. Nestas linhas, um pesquisador e um educador já estão lidando com

o interior dos indivíduos porque não eles não são capazes de ver esses aspectos no mundo

externo, e isso nos posiciona distante do campo do positivismo.

Neste sentido, as tradições basearam seus conceitos através da interpretação

fenomenológica de seus estados interiores e formularam sua teoria nesses dados. Essa

17

Na sociologia, a escola da interpretação é a Hermenêutica, na Psicologia, temos a psicanálise, junguiana, Gestalt,

existencial, fenomenológica-existencial, humanística, transpessoal – sem mencionar o grande numero de psicologias

contemplativas e meditativas do Oriente e Ocidente que exploram esse quadrante.

82

abordagem da fenomenologia introspectiva prova a existência do Espírito pela luz da consciência

diretamente incidida à sua esfera interior - a única esfera de dados diretos agora e busca o

Espírito na exposição desses dados. “O Deus dentro e não fora, passa a ser o guia de orientação

(WILBER, 2007a, p.22)”, e para esta análise, a meditação, a contemplação, o retorno à via

interior são paradigmas necessários como proposta de compreensão/experimentação desse nível.

Assim, as abordagens que estudam esse mundo interior trabalham com esses aspectos

referentes às dimensões do ser em sua via interna, e é por isso que a abordagem integral resgata

este ângulo do ser, no sentido de reintroduzir novamente esses elementos18

de volta ao debate

sobre o fenômeno humano.

Este ângulo Eu diz respeito às atividades ocorridas no desdobramento dentro da Grande

Cadeia, de que maneira eu percebo o desenvolvimento do eu-corpo, eu-mente, eu-alma e eu-

espírito, como sendo o Eu integrante dessa multidimensionalidade, percebendo-se como o lócus

dos instintos, sensações, sensibilidade, emoções, pensamentos, sentimentos, consciência,

espiritualidade, introspecção.

Assim, este quadrante diz respeito à percepção de todo o desenvolvimento da consciência

em sua forma subjetiva e dessa forma, o QSE é o lugar onde o sujeito expressa o seu

desdobramento nos estágios do ser e do conhecer. Neste sentido, para relatar e interpretar essas

vivências internas, a linguagem da primeira pessoa do singular Eu expressa “como o eu integra e

transcende seu espectro da consciência desde as sensações corporais até o espírito” (WILBER,

2002, p.78). A cada nível explorado nesse quadrante o Eu pode ter a percepção de sua

multidimensionalidade.

Como exemplo sobre a percepção do eu transcendendo os níveis, podemos destacar:

Uma criança muito nova se identifica quase que exclusivamente com o seu

corpo – o corpo é o eu ou sujeito dessa criança e desse modo a criança não

consegue realmente se distanciar e observar objetivamente seu corpo. Ela

simplesmente é um eu corporal e como um corpo ela olha o mundo, porém,

quando a mente verbal e conceitual dessa criança pequena começa a surgir, ela

passará a se identificar com a mente – a mente se torna o eu ou sujeito, e então a

criança poderá, pela primeira vez, começar a ver objetivamente o seu corpo – o

18 Com o avanço da modernidade, e seu materialismo científico e imperialismo científico estes elementos foram

rejeitados como válidos para interpretar os níveis do Grande Ninho.

83

corpo agora é objeto do novo sujeito, o eu mental. Depois o eu torna-se um

objeto do eu supremo, que não é outro senão o Espírito radiante e o seu próprio

Eu verdadeiro. (WILBER, 2002, p.49).

Nesta perspectiva, o Eu é então a fonte central de identidade e essa identidade pode

expandir-se navegando pelas ondas básicas, corpo, mente, alma e espírito. E passa por esses

estágios de identificação, o eu se identifica e transcende galgando a estágios maiores de

possibilidade. E o eu tem a importante função de integração destes aspectos.

O eu navega pelas ondas básicas utilizando a capacidade que tem de se

identificar com cada onda e de surfá-la até atingir algum tipo de totalidade. O

eu tem a capacidade de se identificar intimamente com um nível de consciência,

de se tornar competente nesse nível e em seguida se desidentificar dele (e de

integrá-lo), a fim de atingir a esfera seguinte, mais elevada e mais ampla, e de se

identificar com ela (e assim por diante, até que a sua capacidade de crescimento

esteja esgotada). (WILBER, 2002, p.52).

Assim, o eu é o lócus de funções muito importantes como a identificação e a integração.

Demonstra a capacidade de percepção, visualização, reflexão acerca de si desdobrando-se

através desses níveis que podem compor o senso de identidade. Assim, a cada nível conquistado

se apresenta uma perspectiva nova e diferente da vida. O Eu em cada nível vê um mundo

diferente, tem um novo conjunto de necessidades, um novo tipo de moral, um novo senso do eu

com a agregação do corpo, da mente, da alma e do espírito.

Portanto, o Eu é composto pelos níveis/estágios básicos ou ondas básicas de

desenvolvimento e estes abarcam linhas ou correntes de desenvolvimento (cognição, princípios

morais, identidade, visões de mundo, valores, etc); a partir de estados da consciência que o Eu

pode vivenciar. Desta maneira, o eu é quem navega pelas ondas que vão sendo exploradas e

desenvolvidas e é o responsável por equilibrar e integrar esses níveis com as linhas e estados de

si. Neste sentido, o eu navegando pelos níveis por estágios, linhas e estados para aprofundar o

lugar do corpo nesta caminhada do desenvolvimento.

Ainda cabe ao Eu, segundo Wilber (2002, p. 78) ser a “sede da estética, ou da beleza que

está no „eu‟ do observador”, enfim, diz respeito a como o eu vê, percebe e interpreta a realidade

dita individualmente e se vê esta realidade com beleza em sua atividade co-criadora na vida em

relação às coisas, à arte, aos eventos em geral numa relação interativa estética com eles.

84

4.1.2.3.1 O corpo no Eu: em todos os estágios

Conforme a teoria, o caminho do desenvolvimento humano é o espaço de crescimento da

Grande Cadeia do Ser com seus diferentes níveis de consciência a serem integrados/identificados

e transcendidos, e cada nível é um hólon dentro da holarquia do ser e do conhecer como um novo

estágio de alcance que o eu pode se identificar.

Estágios são reais no sentido de que há alguma coisa que realmente ocorre no

mundo real a que denominamos desenvolvimento ou crescimento. Acontece que

“estágios” desse crescimento são, de fato, apenas vislumbres que temos de

determinados pontos no tempo e de uma determinada perspectiva (que cresce e

se desenvolve). (WILBER, 2006, p.95).

Neste conceber, um estágio é um nível conquistado, uma nova onda surfada na espiral do

desenvolvimento, um marco progressivo de maneira que “estamos nos referindo a degraus

relevantes e fundamentais no desdobramento de nossos potenciais mais elevados, amplos e

profundos” (WILBER, 2006, p.20-21). A cada novo nível novas qualidades complexas são

alcançadas como marcos permanentes que quando incluídos se tornarão aquisições constantes,

diferentemente dos estados de consciência que são temporários, vão e vem. Como uma criança,

que após passar pelo estágio linguístico não deixa de falar mais, a não ser por um problema de

outra ordem.

Nesta teoria do desenvolvimento, o crescimento humano ocorre em estágios onde o

primeiro estágio é o do corpo, o segundo é o da mente e o terceiro é o do espírito. Estes estágios

correspondem aos níveis “pré-convencional, convencional e pós-convencional”, ou

respectivamente, “nível egocêntrico, etnocêntrico ou mundicêntrico” (WILBER, 2006, p.20), que

se desdobram do eu corpo físico, para o nós mente, para o todos nós espírito, numa verdadeira

ampliação da identidade do ser.

Para o melhor entendimento do processo de crescimento por estágios que vamos pontuar

a seguir, faz-se necessário relembrar que cada nível de desenvolvimento, corpo físico, mente,

espírito estão presentes no corpo-matéria intrafisicamente, pois a matéria é que abriga todos

níveis a serem conquistados no Grande Ninho do Ser. Deste modo, com as crescentes inclusões

na holarquia teremos, portanto, um indivíduo que irá sentir, pensar e agir, em qualquer nível que

85

seja, utilizando todo o seu corpo multidimensional conforme o estágio que estiver operando

dentro do nível conquistado, o qual o sujeito se expressa a partir desse nível com uma

determinada visão de mundo, na qual a pessoa revela-se por ela.

Portanto, temos a seguir os estágios que o Eu pode percorrer dentro do Grande Ninho

com seu corpo integral (WILBER, 2002):

1. O primeiro estágio é nomeado Corpo Pré-convencional ou Egocêntrico. O eixo central

é o nível do corpo físico. Quando nascemos, enquanto bebês e nos primeiros anos de vida, não

conhecemos as regras éticas nem morais, nem as convenções culturais de nossa sociedade por

isso chama-se pré-convencional. Neste patamar, o ser humano identifica-se apenas pela

consciência do corpo físico e por isso, este estágio é também chamado de corporal. Apresenta-se

como uma forma de identidade bastante individual, separada e regida por impulsos de

sobrevivência, centrada fortemente na pessoa e considera-se como o estágio do eu, ou do ego,

egoísmo, egocêntrico ou pré-pessoal, pois se centra apenas no ser individualmente.

2. O segundo estágio é o do Corpo Convencional ou Etnocêntrico. Neste, o indivíduo

aprende as normas e as regras de sua cultura por isso o corpo opera no nível das convenções, por

isso é convencional ou etnocêntrico, porque está centrado não mais estritamente ao físico

individual, mas estende a identidade de si composto pela identificação com os corpos do grupo,

cultura, clã, nação, porém costuma excluir àqueles que não pertencem a esse campo grupal.

Nesse segundo estágio, o corpo como organismo total é predominantemente mental, pois é mais

centrado nesta dimensão porque o indivíduo usa a mente para assumir e compartilhar as

perspectivas desse grupo. Assim, sua identidade passa do estrito eu corpo para o eu-nós

proporcionado pela mente e assim segue os valores comuns e interesses mútuos, ideias

semelhantes, sonhos comuns do grupo.

3. O terceiro estágio é Corpo Pós-convencional ou Mundicêntrico. Neste estágio, a

identidade do indivíduo se expande dessa vez para incluir o cuidado e a preocupação com todas

as pessoas seja qual for a raça, cor, sexo, credo e etc. Aqui a expansão da identidade do eu se

configura como a etapa do espírito, a qual não se rege apenas por nós, e sim, para todos nós –

neste caso há uma mudança de etnocêntrico para globocêntrico ou mundicêntrico, porque o

indivíduo passa a descobrir a maravilhosa diversidade de seres humanos, de similaridades e

86

interesses comuns a toda a humanidade e é espiritual porque se refere às coisas comuns a todos

os seres sencientes. Neste nível o corpo como um todo opera com toda a complexidade que já

dispõe.

Nesta caminhada por estágios, vemos o Eu se movendo por um corpo egocêntrico,

etnocêntrico ou mundicêntrico, conforme segue na trilha. Assim, temos o corpo

multidimensional como o próprio espaço de desenvolvimento dos estágios a serem percorridos

rumo ao crescimento de perspectivas. A cada novo hólon alcançado, foi incluído o nível anterior

e transcende-se para o novo patamar. Portanto, o corpo estritamente físico é incluído e

transcendido para o corpo que se move tanto pelo seu corpo físico como também centrado pela

mente (se for de maneira saudável há a integração corpo-mente), que por sua vez, é transcendida

por um corpo que se move com os interesses do espírito (corpo-mente-espírito integrados).

Nestes estágios há uma incorporação dos valores/aprendizagens do nível anterior a cada

nível subsequente conquistado. Porém, esta caminhada pode ser patológica em algum momento.

Neste sentido, pode-se passar para o nível posterior e, no entanto, não incluir o nível anterior de

forma integral, e sim, fragmentar, reduzir ou alienar alguma de suas facetas, como ocorreu no

curso do desenvolvimento humano desde a modernidade e chegamos a pós-modernidade sem

incluir o corpo com suas contribuições emocionais e sentimentais, à mente para chegarmos aos

níveis superiores do espírito, e com isso desconectamos sentir, pensar e agir em grau mais

elevado, no caso, com dificuldade para chegarmos no segundo estágio, por exemplo.

4.1.2.3.2 O corpo no Eu: em todas as linhas do desenvolvimento

Dentro das ondas básicas do Grande Ninho, os níveis-estágios presentes na percepção do

Eu fluem também pelas diversas ondas do ser as chamadas linhas de desenvolvimento, que são

definidas como inteligências diversas que os seres humanos possuem e que podem ser cada vez

mais desenvolvidas e ampliadas (WILBER, 2010b).

Há no mínimo 12 linhas de desenvolvimento e as principais são: linha cognitiva,

emocional, moral, interpessoal, espiritual (WILBER, 2000, p.31). Assim, no corpo integral, os

níveis do ser fluem junto às linhas que nos transversalizam no desenvolvimento:

87

Figura 6. Psicógrafo Integral como uma Holarquia

Fonte: Wilber (2002, p.46)

Destaca-se que o desenvolvimento dessas linhas não é global, nem linear e sequencial,

por isso podemos ser muito bom em uma linha e em outra não, porque cada linha dessa tem um

nível próprio de realização, e cada linha pode ser desdobrada, ou seja, trabalhada

educacionalmente para chegarmos a estágios mais progressivos de crescimento e expansão.

As linhas também passam pelos estágios citados, podendo atravessar do egocêntrico para

o etnocêntrico, e daí para o globocêntrico. Assim, a linha moral, a emocional e todas as outras

passam por esses estágios. Por exemplo, na linha afetiva eu posso desenvolver um afeto centrado

em mim eu-mesmo, afeto egocêntrico, passando a um afeto por nós, etnocêntrico, e daí, cultivar

um afeto por todos nós, mundicêntrico. Estes estágios formam-se nas linhas de desenvolvimento

humanas porque elas são estruturas com padrões holísticos muito semelhantes (WILBER, 2000,

p.27).

Assim, os níveis no corpo integral e as linhas de consciência se relacionam entre si e o

fator padrão que as interliga é a linha cognitiva, entretanto, “a linha cognitiva é necessária, mas

não suficiente para o crescimento das outras linhas, porque todas dependem dela” (WILBER,

88

2006, p.90). A linha cognitiva é necessária porque temos a necessidade de estarmos ciente de

alguma coisa para podermos agir em relação a ela.

[...] o padrão básico é a linha cognitiva, porque parece existir um mecanismo ao

longo de todas as linhas que as relacionam às outras. Ou seja, as pesquisas

continuam a demonstrar que o crescimento na linha cognitiva é necessário, mas

não suficiente, para o crescimento em outras linhas. Assim, você pode ser

altamente desenvolvido na linha cognitiva e, precariamente, na linha moral

(muito inteligente, mas sem muitos princípios: médicos nazistas), mas não

encontramos o inverso (QI baixo, princípios morais elevados). (WILBER, 2006,

p. 89).

Portanto, a linha cognitiva sozinha não é suficiente para desenvolver as demais, mas pode

contribuir para promover uma reflexão incorporada interconectada as demais linhas (WILBER,

2006). Por exemplo, eu posso realizar uma reflexão incorporada e me perguntar: qual o meu

nível de moralidade, estou no eu, nós ou todos nós? Como ampliar este nível? A qual nível estou

interligado e por quê? Como sinto neste nível? Como penso neste nível? Como ajo neste nível?

E realizar uma reflexão conjunta que mobilize as demais linhas e transite pelos diferentes

estágios do pré-pessoal, ao pessoal ao transpessoal conectando os diversos níveis do ser.

Desta maneira, o corpo integral dentro do Eu possui estas linhas de desenvolvimento para

serem desenvolvidas pelos estágios e com elas podemos realizar um trabalho rumo a

desenvolvermos em nós níveis mais complexos de sentir, pensar e agir, sabendo que a linha

cognitiva pode nos auxiliar na conexão integrada entre estes aspectos. Essas linhas de

desenvolvimento estão especial e intimamente associadas ao Eu e portanto ao corpo

multidimensional, onde se apresenta a este as diversas necessidades em cada linha e esta vai

modelando ou operando na identidade do Eu/corpo nesses diversos estágios do desenvolvimento.

4.1.2.3.3 O corpo no Eu em todos os Estados - um tango a três

Os diferentes estados de consciência que o Eu pode experimentar foram identificados

ainda na pré-modernidade com as formulações do Grande Ninho do Vedanta19

e dos Vjnanas.

Estes relacionaram os diferentes estados de consciência com a possibilidade de vivencia de

19

O Vedanta é o primeiro sistema de desenvolvimento do Grande Ninho do Ser que se originou na Índia e

vizinhanças no primeiro ou segundo milênio antes de Cristo.

89

diferentes tipos de corpos. Entretanto, para validar este conhecimento na contemporaneidade nos

beneficiamos das contribuições modernas da ciência cognitiva e dos Quadrantes do Kosmos

propostos por Ken Wilber.

Na formulação, temos três estados de consciência, são eles, os estados normais que são os

estados grosseiros de vigília, estado sutil de sonho ou estado causal de sono profundo, que se

apresentam de forma temporária pela razão de que todos os seres humanos acordam, dormem e

sonham (WILBER, 2006). Com cada um destes estados podemos experimentar os diferentes

corpos, são eles, corpo grosseiro, sutil e causal.

Nesta perspectiva, os cinco níveis mais importantes do ser e do conhecer são abrigados

por corpos que os acolhem, já que todos os níveis estão interconectados intrafisicamente. Desta

forma, o corpo grosseiro do estado desperto de vigília sustenta a percepção do corpo-mente

material denso; já o corpo sutil do estado de sonho comporta os níveis emocional, mental e da

alma, e o corpo causal do estado de sono profundo, comporta a mente espiritual vazia e não dual

(WILBER, 2000).

Estados de consciência não páiram no ar dependurados e desencarnados. Ao

contrário toda mente tem um corpo, para cada estado de consciência há um

componente energético percebido, um sentimento incorporado, um veículo

concreto que proporciona o apoio real a qualquer estado de consciência.

(WILBER, 2006, p.31).

Desta forma, cada estado energético possibilita perceber, explorar e vivenciar cada um

desses corpos. Assim, há espaço para três corpos e três estados de consciência, vivemos com a

possibilidade de dançar um tango a três (WILBER, 2011).

No que concerne a nosso objeto de exploração, o corpo revela-se enquanto abrigo da

multidimensionalidade, um verdadeiro suporte energético desses vários estados e níveis do ser.

Isto é possível porque matéria e energia estão diretamente conectadas, observe os quadrantes

abaixo:

90

Figura 7. Estados de consciência correlacionados a corpos e a energias

Fonte: Wilber (2011, p.148)

1. O estado desperto de vigília é a morada do ego, o nível mais elementar correspondente

à percepção do corpo físico grosseiro, vide a figura. O corpo denso do QSD abriga uma energia

elementar densa do corpo grosseiro quando estamos no estado de consciência de vigília no QSE

– aqui se percebe o nível do corpo físico material;

2. O estado sutil ou onírico é o corpo sutil do mundo criado pela psique e nos dá acesso

aos estados da alma, do sonho, das imagens, das emoções. O corpo quando vivenciado em sua

energia sutil do QSD está no estado de consciência de sonho - onde suas percepções já não se

limitam ao corpo físico restrito, estão mais conectadas com a mente e a alma;

3. O estado de sono profundo nos apresenta uma ausência total de forma e nos dá acesso

ao espírito sem forma, causal e não dual. O corpo com energia causal do QSD está vivenciando

um estado de consciência de sono profundo – neste momento vive-se o nível do espírito;

Assim, todos os estados de consciência do QSE são possibilitados pelo corpo-energia do

QSD.

Os pré-modernos já sabiam desse conhecimento através de bastante exploração corporal.

Concebiam o corpo a partir de suas vivências como um modo de experiência ou sensação

energética, uma realidade fenomenológica (WILBER, 2002) que se apresenta a nossa percepção

91

imediata na medida em que ousamos experimentar suas possibilidades no que se refere aos

estados de consciência e os níveis de consciência, de modo que podemos perceber nosso corpo

de diferentes maneiras.

Em experiência, neste exato momento em que você lê este trabalho você está no estado

de vigília e por isso percebe seu corpo e seu entorno de forma material densa, grosseira. Caso

você feche os olhos e comece a imaginar o sonho que você teve na noite passada e consiga sentir

as emoções e sentimentos que este sonho lhe proporcionou, você consegue até se deslocar deste

espaço restrito e transitar por onde o sonho lhe levou, assim, você já pode perceber seu corpo de

forma mais sutil, de maneira até que você poderia voar se o seu sonho assim quisesse – neste

caso o corpo físico não te limita a realizações, o corpo mental te proporciona ir a longo alcance.

Quando estamos no estado causal de sono profundo o corpo funde-se em profundo vazio e luz, é

o chamado vazio luminoso, o nada que tudo e nada contêm que nos revela a gama de

possibilidades de ser e existir como válidos, pois é não dual oriunda da mesma fonte una criativa,

tanto que vivenciamos a experiência de apenas Ser sem classificações, delimitações prévias,

julgamentos, vive-se integração/unidade com tudo.

Portanto, há diferentes estados de consciência e diferentes corpos abrigados para serem

experimentados porque possuímos uma estrutura física com grau de complexidade

correspondente no QSD de corpo e energia que dão suporte aos estados de consciência

vivenciados no QSE. Na figura abaixo podemos visualizar esta estrutura de outra forma. Com o

aparato cerebral das ondas beta correspondendo à percepção do estado grosseiro de vigília. No

estado mais sutil ativamos nossas ondas cerebrais teta, e nas ondas cerebrais delta vivenciamos o

estado causal.

92

Figura 8. Correlação de estados mentais e cerebrais no quadrante superior esquerdo e direito

Fonte: Wilber (2011, p.122)

Desta maneira, os três corpos tem correlação entre os níveis de consciência no QSE –

nível do corpo físico, da mente e do espírito - e a complexidade material de corpo-energia do

QSD – nível corpo grosseiro, nível corpo sutil e nível corpo causal - que explicam estes três

corpos como realidades fenomenológicas que não estão fora da matéria, e sim, no interior dela.

Este saber dos estados de consciência do Eu no corpo é de extrema importância, pois, eles

têm a sua disposição o espectro total da consciência, isto é, através dos diferentes estados

podemos percorrer os diferentes níveis básicos do Grande Ninho do Ser, e dessa forma vivenciar

as principais formas de percepção: percepção grosseira pré-convencional, a percepção sutil

convencional, e a percepção causal e não dual pós-convencional.

Estes diferentes estados de consciência vão e vem, são temporários, porém com a prática

de exploração intencional deles pode-se agregar ao ser características permanentes, tornando-se

estágios alcançados, já que a vivência desses estados deixam seus ricos aprendizados e

lubrificam a chegada aos estágios superiores devido as grandes contribuições/ensinamentos

propiciados, as quais se apresentam pedagógicas a quem as experimenta.

4.1.2.4 O Quadrante Superior Direito: o corpo no Isto

93

Este quadrante é o superior direito que representa os correlatos objetivos ou exteriores

dos estados de consciência interiores do quadrante superior esquerdo (WILBER, 2002), pois

todos os fenômenos da consciência estão ancorados em formas objetivas, materiais que dizem

respeito a este quadrante (QSD).

Na figura temos o campo de concentração desse ângulo nos Quatro Quadrantes do

Kosmos:

Figura 9. Quadrante superior direito: o corpo no espaço Isto

Fonte: Adaptado de Wilber (2011, p.95)

Esta dimensão possui a linguagem do Isto e é objetiva/exterior porque é o que qualquer

evento individual parece ser de fora, em nosso caso, refere-se ao corpo individual e o que ele

parece ser externamente. Isso inclui o comportamento físico, os componentes materiais; a

matéria e a energia e o corpo físico – porque todos esses itens são os quais podemos nos referir

de modo objetivo, na 3ª pessoa, ou “ele”. (WILBER, 2006, p. 36-37, negrito nosso).

Portanto, este quadrante concentra o corpo físico material e sua crescente complexidade,

tais como átomos, moléculas, os mecanismos cerebrais - inclusive as regiões cerebrais que nos

possibilitam vivenciar as experiências dos estados de consciência de vigília, sutil e causal;

referem-se também aos neurotransmissores e aos hormônios que regulam funções orgânicas

importantes em nosso corpo. Portanto, enfocam as estruturas dos sistemas fisiológicos, tais como

94

o sistema circulatório, respiratório e nervoso. É o lócus do corpo como um organismo o qual dá

suporte à experiência subjetiva/intencional da consciência.

Refere-se ademais, às manifestações comportamentais do indivíduo, dimensão que o ser

humano pode ver-se/analisar-se enquanto experiência exteriorizada e assim, este quadrante

expressa o corpo como um organismo que sente, pensa, recebe estímulos, interage e age: estes

revelando-se na forma externa comportamental.

Os itens deste quadrante, corpo físico e comportamento são os mais

estudados/examinados objetivamente como um Isto por exame, análise, mensuração, medição,

quantificação. Assim, tem como campos de trabalho a fisiologia, a anatomia, a neurofisiologia, a

física, a biologia, a neurofisiologia, a ciência cognitiva, a psiquiatria biológica e as ciências que

prezam pela análise do comportamento, como empirismo, behaviorismo.

Desde a modernidade, este foi o quadrante mais privilegiado pela ciência que atrelou

unicamente a verdade a fatos que fossem observáveis empíricos e objetivos (WILBER, 2007a).

Neste sentido é o quadrante prezado pela ciência empírica e positivista que com suas exclusivas

verdades alienou os aspectos interiores da consciência, rejeitando-os como acontecimentos do

funcionamento cerebral próprios deste quadrante, nos legando uma visão fragmentada dos

acontecimentos humanos, pois a ciência neste quadrante analisa partes fracionadas.

Por conta desse enfoque, a ciência nos trouxe algumas heranças de visão que se traduzem

na relação contemporânea do ser humano com o corpo vinculadas a este quadrante QSD.

A primeira é que a ciência pautada nesta racionalidade buscou compreender e reduzir o

corpo apenas dentro deste ângulo, como um ser biológico a fim de entender a realidade humana

somente por este meio. O corpo tornou-se um objeto/Isto orgânico, concebido fora da dinâmica

da afetividade, do contexto, das situações sociais e culturais, etc., ou seja, o considerou apenas

como um organismo animal. Em seguida, pela restrição de ente material instaurou-se a

concepção de corpo rótulo, invólucro, um outro tipo de corpo objeto/Isto, o qual atualmente

traduz-se na excessiva preocupação do culto ao corpo físico em correlação ao comportamento da

aparência ou imagem/peformance veiculada pelo corpo físico, ditado pelo padrão de nossa

época, para o qual, os comportamentos devem construir certas aparências.

95

Desta maneira, na atualidade, o corpo físico passou a ser a identidade da cultura

contemporânea. A indústria da beleza, da mídia, da saúde lhe dita saberes, práticas e produtos

que investem diariamente no vínculo entre o corpo objetivo individual como um Isto objeto e o

corpo produto cultural, atribuindo ao corpo o status de vitrine da contemporaneidade.

Em síntese, este quadrante nos relembra que o corpo na existência tem uma concretude,

uma materialidade e que estes também se apresentam e se exteriorizam na forma de

comportamentos. Concretude a qual vivifica a nós mesmos no sendo corpo na vida e que precisa

ser considerada. Faz-nos pensar sobre o cuidado que necessitamos manter com o corpo físico e

se mantemos a relação de objeto com o corpo e o autoexame em relação à produção de

comportamentos e imagens que veiculamos na sociedade.

Dessa forma, considerar o corpo apenas como um Isto apesar de importante é

reducionista. É preciso interrelacioná-lo no círculo de entendimento com os demais quadrantes,

pois como poderemos separar o corpo das instâncias biológicas, psicológicas, sociológicas,

políticas, espirituais, do processo complexo humano? O corpo não pode ser coisificado, como

um objeto, ele é também a expressão do que nós corpos sujeitos realizamos enquanto produção

humana, vemos esta implicação mais diretamente no próximo quadrante.

4.1.2.5 O Quadrante Inferior Esquerdo: o corpo no Nós

Este quadrante está localizado conforme indicado abaixo, no quadrante inferior esquerdo

(QIE) e diz respeito aos indivíduos presentes no mundo fazendo parte de uma coletividade.

96

Figura 10. Quadrante inferior esquerdo: o corpo no espaço Nós

Fonte: Adaptado de Wilber (2011, p.95)

Este ângulo indica a dimensão intersubjetiva que corresponde ao interior de uma

coletividade ou comunidade, por isso “representa o interior coletivo, os valores, significados,

visões de mundo e ética que são compartilhados por qualquer grupo de indivíduos” (WILBER,

2002, p.79). Neste parâmetro, o ser humano com suas experiências em grupos estabelece crenças

e valores comuns que também se relacionam à moral e à ética necessárias à convivência com os

outros seres humanos.

A linguagem desse quadrante é a linguagem do nós: linguagem de segunda

pessoa ou linguagem do eu-tu, que envolve entendimento mútuo, eqüidade e

bondade. Em resumo, como você e eu nos arranjamos para nos relacionarmos

harmoniosamente. Esse é o quadrante cultural. (WILBER, 2002, p. 79)

Este quadrante nos implica dentro do coletivo o reconhecimento mútuo como corpos

singulares que merecem respeito e consideração em convivência porque diz respeito “a maneira

que encontramos não apenas para encaixar nossos corpos no mesmo espaço objetivo, mas nossos

sujeitos no mesmo espaço cultural, moral e ético” (WILBER, 2007a, p.29).

Para tanto, é necessário considerar que os pensamentos e sentimentos interiores do QSE

sobre nossas concepções são expressados nos comportamentos do QSD e estão em correlação a

como nos relacionamos neste quadrante QIE, o que só faz sentido se considerarmos a bagagem

cultural/coletiva que dá contextos e significados a estes pensamentos individuais, nos revelando

97

a imbricação destes quadrantes, pois a cultura apresenta-se como o pano de fundo sobre nós

mesmos. Pesquisas revelaram que o cérebro sem cultura não produziria pensamento sozinho.

Portanto, o espaço intersubjetivo interior está envolto num fundo de práticas, linguagem e

saberes compartilhados pela coprodução humana da cultura.

Assim, este quadrante tematiza a pluralidade dos sujeitos, o “Eu” coletivo que vivencia

também uma evolução intersubjetiva do desenvolvimento da consciência individual do corpo

para a mente, da mente para a alma, da alma para o espírito indicadas pelas tantas formas de

cultura e visões de mundo possíveis.

Este quadrante nos relembra que aprendemos a pensar, a sentir e agir fortemente

influenciados pelos sentidos e significados que adquirimos no conviver e fomos afetados pelas

crenças sociais que indicam as formas de nos relacionar tanto conosco quanto com os demais.

Assim, esse é o campo onde podemos examinar sobre quais as sensações intersubjetivas comuns

do grupo, as expressões verbais e não verbais do coletivo, onde aprendemos os valores e

sentimentos compartilhados sobre a família, sociedade, comunidade, educação, crescimento

humano, entre outros.

Portanto, o corpo neste quadrante é posto na perspectiva interrelacional, pois se torna

intersubjetivo através desses relacionamentos. Assim, o “nós” no tratamento da experiência no

mundo e na corporeidade tem como campo de estudos a fenomenologia, pois este é o campo que

busca apreender os significados que os indivíduos atribuem a um objeto, evento ou algum

processo social, o que só pode ser compreendido pela existência/convivência compartilhada

através da experiência mútua em grupo.

Por isso, este quadrante posiciona o corpo como elo de relação com o mundo humano.

Neste processo, o corpo é uma produção bastante influenciada pela cultura e pela história e

conforme Andrade (2007), é preciso romper o olhar naturalista sobre o qual muitas vezes

olhamos, explicamos e tratamos o corpo humano.

[...] o corpo é uma construção sobre a qual são conferidas marcas em diferentes

tempos, espaços, conjunturas econômicas, grupos sociais, étnicos, etc. Não é

algo dado a priori nem mesmo é universal: o corpo é provisório, mutável e

mutante, suscetível a inúmeras intervenções consoante o desenvolvimento

científico e tecnológico de cada cultura bem como suas leis, seus códigos

morais, as representações que cria sobre os corpos, os discursos que ele produz

e reproduz. (GOELLNER, 2007, p.28).

98

Neste segmento, o corpo é contextualizado e diversificado também. Este processo

relacional tem na linguagem a intermediação que cria os significados culturais e sociais ditados

ao corpo, que não apenas o reflete, mas também o cria, e lhe dita concepções sempre

reatualizadas no espaço e no tempo. Goellner (2007, p.29) diz que estas representações são

“temporárias, efêmeras, inconstantes e variam conforme o lugar/tempo onde este corpo circula,

vive, se expressa, se produz e é produzido”. Este fato revela que o corpo aprende sempre, ele é

aprendiz, relembra-nos Andrade (2007).

Assim, ele é também co-construído e nunca é apenas um corpo, ele é também

qualitativamente um produto humano. Além de um organismo biológico do QSD ele é os

sentidos que nele se incorporam (GOELLNER, 2007). Dessa forma, o corpo é sujeito e objeto da

cultura e apresenta-se um território complexo. Segundo os Estudos Culturais, o corpo é “um sem

número de possibilidades de ser homem, ser mulher, ser humano por culturas e momentos

históricos” (SILVA, 2000, p. 53). Neste sentido, existem campos disciplinares na cultura que

vão além da escola, os quais são chamados de Pedagogias Culturais e estas pedagogias estão

ancoradas por espaços sociais através das instituições materiais que internamente conservam e

propagam os significados, crenças e valores sobre determinados conteúdos no mundo da cultura

e que lhe dão suporte, como veremos na exploração do próximo quadrante.

Em resumo, o quadrante inferior esquerdo revela que o corpo é coconstruído por nossa

intersubjetividade coletiva, “um corpo que é ao mesmo tempo único e revelador de um eu

próprio; singular, e também é um corpo partilhado porque é semelhante e similar a uma

infinidade de outros produzidos neste tempo e nesta cultura (GOELLNER, 2007, p.40)”.

Neste âmbito cultural, o corpo em coletivo apresenta-se os lócus dos valores e dos

significados do Nós, o que nos implica a ética e a moral para compreendermos como podemos

nos encaixarmos bem dentro de nossos relacionamentos. Como mediadora desta construção,

temos a linguagem a grande intermediadora, a qual consegue conservar, ditar, modificar ou

ampliar a percepção para quais valores e significados estamos atribuindo a essa relação e quais

podemos avaliar como possibilitadoras de uma educação que busca a integralidade da formação

humana.

99

4.1.2.6 O Quadrante Inferior Direito: o corpo no Istos

O quadrante inferior direito (QID) é chamado de dimensão interobjetiva e corresponde à

parte coletiva externa a qual revela as relações sistematizadas pelo âmbito das organizações

sociais, seja no sentido econômico e político, como também corresponde aos diversos ambientes

existentes e o âmbito da tecnologia nas organizações humanas. Abaixo visualizamos o ângulo

desta dimensão do ser.

Figura 11. Quadrante inferior direito: o corpo no espaço Istos

Fonte: Adaptado de Wilber (2011, p.95)

Este quadrante corresponde à linguagem dos Istos. Para melhor compreende-lo é preciso

relacionar ao QIE, pois os determinados tipos de visão de mundo culturais surgem da ancoragem

desses componentes sociais do QID porque a própria cultura não está desencarnada ela tem

componentes materiais que lhe dão suporte situados neste quadrante.

Os componentes culturais estão ancorados em formas exteriores, materiais,

institucionais. Esses sistemas sociais incluem instituições materiais, formações

geopolíticas e as forças de produção (que se estendem da coleta à horticultura,

ao agrário, ao industrial e ao informacional). São fenômenos objetivos.

(WILBER, 2007a, p.79).

100

Assim, este quadrante se refere às diversas formas construídas como meios objetivos da

convivência onde se formaram os sistemas e elementos que nos fazem operar nos nossos meios

de sistemas de produção econômica, política, institucional, através dos tipos de tecnologia, das

diversas instituições concretas, dos códigos, dos padrões escritos e as situações geopolíticas.

Como também, este quadrante enfatiza a importância dos ambientes e sua influência no humano.

Os estudos desse terreno são os da sociologia, da história, política, economia, e todas

abordagens interessadas em entender os sistemas sociais, econômicos, políticos, ambientais e

tecnológicos.

Em relação ao corpo, aqui se expressa o corpo coletivo revelando-se na forma externa

como participante das organizações de ordem social através desses sistemas, ou seja, a maneira

que os corpos coletivos se estruturam operando no meio social.

Dentre estes corpos coletivos apresentando-se na forma de instituições, temos a escola

aportando-se como um importante meio objetivo como componente material. Neste sentido, os

estudos histórico-culturais e políticos, dentre estes os estudos de Foucault - os quais não vão

aprofundar aqui, pois foge a nosso escopo - explicitam que as escolas do século XVIII e XIX

mantiveram uma relação de disciplina e controle dos corpos ligada aos mecanismos das

estruturas de poder da sociedade. Dessa forma, nos estudos deste autor, as escolas portaram-se

como reguladoras dos corpos e procuravam eliminá-los de quaisquer movimentos involuntários,

ditar os regulamentos sobre seu comportamento, distribuir rigidamente o espaço e o tempo,

dissociar as dimensões humanas como as emoções para o controle e a manipulação humana

voltada para atender a demanda social de preparação escolar para a produção do capital fabril

(GONÇALVES, 1997).

Assim, os estudos constatam que as práticas escolares tendem a reproduzir as relações

sociais. A escola como uma instituição tem introduzido às práticas e saberes escolares as

impressões da marca da cultura e do sistema dominante através dos valores da moderna

sociedade de sistema capitalista. Para atender esta perspectiva, a escola atual encontra-se

fundamentada na preparação para a função social, por isso privilegia os conteúdos e a

valorização excessiva do rendimento avaliativo, tornando-se um veículo de transmissão

ideológica do sistema dominante que é pautada no consumo e na competitividade, e ignora uma

formação para o desenvolvimento humano integral como premissa.

101

Portanto, neste caso, as visões culturais são ancoradas na instituição escola que lhe dá

suporte a esses valores transmitidos que são incorporados aos corpos como conhecimento

partilhado na cultura. Neste sentido, em resumo, este quadrante engloba os componentes

materiais da sociedade, os Istos que se apresentam como importantes para compreendermos que

nossa visão de mundo relacionada ao corpo está em interdependência às formas que nossa

sociedade se organiza coletivamente em seus sistemas sociais situados neste quadrante.

4.2 A EDUCAÇÃO DO CORPO NOS QUATRO QUADRANTES DO KOSMOS

Partindo da leitura sistemática de Ken Wilber, apresentaremos a seguir uma breve

reflexão acerca de algumas possibilidades de educação do corpo a partir dos “Quatro Quadrantes

do Kosmos”, realizando uma articulação entre este conhecimento com os dados obtidos na

observação da disciplina Processos Interativos, incluindo alguns registros como fotos e desenhos

para tecer aproximações entre a teoria integral e a prática de cunho integral realizada na

experiência formativa.

4.2.1 A educação do corpo no Quadrante Superior Esquerdo

A compreensão integral do corpo a partir do quadrante do Eu engloba o cuidado com os

níveis do ser e do conhecer que englobam o corpo emocional e sentimental, mental e espiritual.

Assim, temos um corpo que é subjetivo e necessita de educação nestes três níveis.

O nível emocional pode englobar “uma série de práticas educativas que visam aprender a

manejar as emoções através de um trabalho formativo que promova inteligência emocional

através do uso da arte e da expressão criativa” (WILBER, 2006, p. 260).

Para tanto, na prática da disciplina, as atividades que exercitaram de forma intrapessoal as

emoções foram de modo geral, a saber:

1. Relaxamento – destensiona emoções reprimidas e descontrai o corpo para uma maior

percepção e contato com o corpo multidimensional;

102

Figura 12. Atividade de relaxamento ativo corporal com dança

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

2. A visualização criativa – destensiona o corpo físico e promove renovação das emoções

possibilitando bem estar através da exploração da mente para este favorecimento;

Figura 13. Atividade de relaxamento passivo e visualização criativa

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

103

3. Expressão de si – através da escrita de diários, pela utilização das linguagens não verbal e

verbal que possibilitam entrar em contato com as emoções e expressá-las;

Figura 14. Atividade de Escrita de si - Diário

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

Esta atividade permite ampliar a reflexão de si conforme destacado no extrato do diário a

seguir:

“Nesse encontro me senti um pouco tímida ainda, pois não conhecia a turma e era uma das

minhas primeiras aulas. Um dos aspectos positivos foi que quando a turma foi dividida em

grupo para realização da atividade consegui me encaixar bem e participar, por tanto o

grupo me recebeu bem. Mas ainda havia certo estranhamento entre algumas pessoas do

grupo e o meu corpo nesse encontro estava um pouco tenso e fechado, pois não conhecia

as pessoas do grupo.” (Escrita do diário de bordo da aluna C.A.T. – negrito nosso).

A expressão também ocorria através das atividades de expressão não verbal, nas quais os

alunos eram convidados a expressarem através da linguagem corporal, conforme foto a seguir:

104

Figura 15. Atividade de expressão não verbal

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

Assim como as rodas de conversa que utilizavam a expressão verbal para facilitar o

contato com as emoções e pensamentos, vejamos na próxima foto.

Figura 16. Atividade de expressão verbal

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

105

4. A aprendizagem com arte, tais como a dança, a música, o desenho, a criação manual –

favorecem a expressão, a renovação emocional e o resgate do vínculo emocional com a

autocriação nos atos de aprender e ensinar;

Figura 17. Atividade com dança e brincadeira

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

F18. Atividade expressiva através de desenho

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

106

Figura 19. Desenho

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

Estes são exemplos de atividades que possibilitam entrar em contato com o nível

emocional do ser, possibilitando ao discente aprender a contactar este nível de forma mais

intrapessoal.

Como também, Wilber sugere como estratégias de trabalho, a educação com vivências da

interpessoalidade que englobam as emoções provocadas pelo afeto entre os relacionamentos.

Como as atividades que englobam em sua teoria e prática a vivência interpessoal promovida

através de:

5. Dinâmicas de grupo – estas possibilitam que as emoções intrapessoais entrem em contato

com as emoções proporcionadas pela relação interpessoal;

107

Figura 20. Dinâmica do pêndulo revelando emoções intrapessoais e interpessoais

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

No Nível mental, considerando a cognição, sobretudo, a capacidade de adotar diferentes

perspectivas como fundamental para uma reflexão que incorpore outros modos de conceber e

pensar o mundo e si mesmo, de forma a “criar um espaço de perspectivas múltiplas na psique” 20

.

Wilber destaca que as práticas que ajudam a ampliar a visão de homem e realidade podem ser

extremamente úteis, assim como as psicoterapias, as terapias cognitivas e o trabalho com a

sombra (aspectos negligenciados e reprimidos da psique), pois ajudam a flexibilizar os padrões

mentais através do descentramento do Eu enquanto egóico.

Como exemplo, destacamos na disciplina:

1. Atividades de ampliação das concepções de homem e realidade podem ser extremamente

úteis para ampliar a visão de identidade de si;

O contato com imagens de outras culturas eram utilizados para incluir a diversidade e

complexidade humana, conforme apontado no exemplo a seguir.

20

Ibid, p. 259.

108

Figura 21. Concepções de corpo numa perspectiva intercultural

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

A ida a espaços de educação não formal que cultivam a visão intercultural e espiritual

possibilitava aos alunos alargar as perspectivas como futuros docentes no contato com outras

realidades, conforme vemos abaixo.

F22. Visita de campo a espaço não formal de ensino com perspectiva intercultural

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

109

2. Trabalho com a cognição transformando conceitos teóricos em possibilidades de atividades

vivenciais de dinâmicas de grupo.

Figura 23. Conceito teórico transformado em uma atividade de dinâmica de grupo

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

No nível do Espírito, Wilber destaca os trabalhos que promovam introspecção ao sujeito,

tais como formas de meditação e contemplação.

As atividades deste cunho não foram muito exploradas na experiência da disciplina

Processos Interativos, mas podemos destacar que após as atividades de visualização criativa

sempre era possibilitado aos estudantes continuarem um tempo consigo mesmos em

introspecção. A escrita do diário também pode ser configurada como um momento propiciador

desta atividade e abaixo, temos o exemplo de uma atividade também formulada para o contato

interior.

110

Figura 24. Atividade introspectiva

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

A tarefa do educador neste quadrante é favorecer o contato, o conhecimento e o apoio na

interpretação dos fenômenos do mundo interior dos educandos nos níveis emocionais, mentais, e

espirituais. De modo que para fins educacionais, o desenvolvimento e compreensão do Eu nas

relações formativas deve ser baseado numa didática que o possibilite expressar e dar a conhecer

o sentir, pensar e agir consigo mesmo e com os demais.

4.2.2 A educação do corpo no Quadrante Superior Direito

O trabalho neste quadrante envolve o cuidado com o corpo, englobando os aspectos

físicos e neurológicos. As práticas que tratam do físico incluem a atenção alimentar e a

manutenção da saúde da estrutura física e orgânica. A disciplina Processos interativos utilizou

danças, alongamentos e relaxamento para trabalhar a saúde da estrutura integral orgânica dos

discentes. Bem como explorou as atitudes comportamentais do educador no espaço escolar o que

também se refere a atividade de cuidado neste quadrante.

111

Figura 25. Atividade de dança circular para trabalhar o corpo físico e a mente

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

Figura 26. Atividade para reintegrar a conexão mente/corpo físico

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

112

No caso neurológico caso haja distúrbios bioquímicos intervir com tratamento

farmacológico para reintegrar organicamente a relação cérebro/mente. Wilber ainda destaca a

prática do Tai chi chuan, Qi Gong para trabalhar com o corpo sutil e o “exercício para os três

corpos” 21

que trabalha simultaneamente o físico, o sutil e o causal.

Pelo caráter dinâmico das aulas na disciplina Processos Interativos, o corpo físico sempre

estava sendo solicitado. A tarefa do educador neste quadrante é possibilitar o contato com o

corpo material através da contínua solicitação dele nos processos de aprendizagem, como

também investir na importância de que o ato educativo seja um ato de cuidado com os aspectos

físicos, neurológicos e comportamentais.

4.2.3 A educação do corpo no Quadrante Inferior Esquerdo

Ken Wilber destaca que os relacionamentos com a família, com os amigos e com os seres

sencientes em geral são fundamentais para potencializar o crescimento pessoal e favorecer a

descentralização do Eu egóico, e, portanto, a hegemonia de nos pensarmos sem o corpo físico

restrito e atravessar perspectivas mais abrangentes para incluir o cuidado com todos nós, Eu

espiritual.

Ademais, Wilber destaca na direção de abarcar o Nós, os “Serviços Comunitários”, tais

como “trabalho voluntário, abrigos para moradores de rua, asilos, etc” (WILBER, 2002, p.131),

possibilitam o deslocamento do olhar do eu para uma visão mais abrangente e inclusiva.

A ética é posta como um exercício fundamental de cuidado neste quadrante, retomando

assim suas raízes terapêuticas gregas. Wilber destaca a ética como empenho do exercício

intersubjetivo do bem, a prática da compaixão com relação a todos os seres são fundamentais

para a promoção da educação integral.

No caso de um grupo classe temos o relacionamento com os participantes da turma como

um ponto fundamental a ser desenvolvido para o crescimento individual e coletivo. Neste ponto,

as atividades da disciplina Processos Interativos foram bastante propícias a este

21

Wilber, 2006, p. 260.

113

desenvolvimento, pois as tarefas educativas eram sempre pautadas na noção do fazer em grupo.

No caso da descentralização do eu na busca de abarcar o cuidado com todos nós, as

dramatizações ajudaram bastante rumo nesse deslocamento de perspectiva.

Figura 27. Atividade em grupo na organização das tarefas

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

Figura 28. Atividade de dramatização: vivenciando novas perspectivas relacionais

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

114

Assim, na disciplina Processos Interativos buscou-se instaurar uma mini cultura, onde os

fundamentos, significados e visões de mundo que regem a educação integral eram perpassados

nas dinâmicas e no fazer mútuo com o corpo coletivo em grupo.

4.2.4 A educação do corpo no Quadrante Inferior Direito

A inclusão da base social, institucional e tecnológica foi prezada e está associada à visão

cultural cultivada. Assim, o quadrante inferior direito, com sua linguagem dos “Istos”, tem por

meta refletir sobre a evolução das várias formas de organização social, institucional e

tecnológica construídas pela humanidade ao longo de sua história. Sendo, portanto o ângulo

externo-coletiva do quadrante inferior esquerdo.

As práticas para educação integral neste quadrante englobam o trabalho com as visões de

sistemas, assim como o trabalho institucional. Wilber (2002, p. 130) destaca assim estas práticas:

Sistemas – exercício de responsabilidade com relação à Gaia, à natureza, à

biosfera e às infra-estruturas geopolíticas em todos os níveis. Institucional –

exercícios de deveres educacionais, políticos e cívicos para a família, a cidade,

o Estado, a nação e o mundo.

Esta visão implica percebermos o corpo como inseparável do mundo, sendo a terra

regatada como extensão do próprio corpo, reincorporando a conexão do ser humano com a

natureza.

Figura 29. Desenho sobre a vivência de dança circular em homenagem a Mãe Terra

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

115

Na disciplina Processos Interativos trabalhou-se mais especificamente no que tange a este

quadrante, os desafios e problemas do educador na instituição escolar, o direito de inclusão

social para todos, a problematização sobre os papeis convencionais ditados pela sociedade e

sobre o sistema político dominante e sua relação de poder sobre o corpo.

Figura 30. Atividade de dramatização sobre os problemas na instituição escolar

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

Figura 31. Atividade sobre a inclusão educacional de deficientes físicos (aluna da esquerda dramatizando

uma deficiente visual)

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

116

Figura 32. Atividade de dinâmica sobre o sistema político capitalista

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

4.3. A compreensão sobre a concepção de educação do corpo e sobre o conceito de corpo nos

processos de ensino-aprendizagem dos participantes através dos questionários e da entrevista

semiestruturada

Nesta seção procuramos explicitar a descrição do trajeto experiencial da proposta de

educação integral vivido pelos participantes da disciplina Processos Interativos no espaço

escolar, de forma que nos direcionamos em interagir com os dados significados os quais possam

nos auxiliar a perceber e compreender a teia complexa formada pelo fenômeno investigado.

As análises e os resultados das atividades propostas na metodologia foram tratados para

oferecer-nos o contexto amplo da pesquisa e serão postos em relação contínua com as teorias

apresentadas, visando expandir e aprofundar o diálogo iniciado com os participantes da pesquisa

e incluir os demais interlocutores nesta reflexão como fundamentais nas interações tanto ao

longo da pesquisa como no próprio momento de expô-los neste bloco.

Os dados pontuados em cada um dos itens desta seção não estão sendo considerados

como dados fragmentados e isolados, pois eles buscam descrever o fenômeno correlacionado,

entretanto, por questões didático-metodológicas estamos elencando-os, porém, esses itens são

117

pequenas partes/hólons coemergidas do todo conjunto investigado e devem ser vistos desta

forma, como dimensões sistematizadas que fazem parte da teia imbricada formada nas interações

da pesquisa. Assim, os resultados da análise dos “questionários inicial e final”, da “entrevista

semiestruturada”, a “observação e análise da prática pedagógica”, serão apresentados a seguir.

Deste modo, a apresentação, a análise e a discussão dos dados encontram-se imersos na

concepção de existência que adotamos a qual opera dentro da perspectiva em rede, complexa e

dinâmica fundamentada pelas reflexões de Wilber (2006), Bicudo (2000) e Martins e Bicudo

(1989). Com esta perspectiva, agrupamos os significados em grandes categorias abertas no

intuito de sistematizarmos e visualizarmos quais foram os sentidos tecidos sobre a experiência

formativa analisada.

Para resgatar o caráter vivo e dinâmico do fenômeno investigado, optamos por incluir

constantemente relatos da experiência, são eles, excertos dos “diários do aluno” e das

“entrevistas”.

Neste bloco analisamos os dados oriundos dos instrumentos utilizados para a

investigação, e destes, concentramo-nos na terceira, quarta e quinta questões dos questionários

inicial e final e da entrevista semiestruturada (Apêndices A, B e G), já que são estas as questões

que nos dirigem a nosso foco de atenção: compreender qual a concepção de educação do corpo

de modo geral e nos processos de aprendizagem e de ensino, buscando compreender a concepção

trazida antes da experiência e qual a concepção possibilitada após a experiência do paradigma da

integralidade/transpessoalidade.

O procedimento de análise destas questões, tanto as dos questionários quanto as das

entrevistas seguiram a perspectiva qualitativa fenomenológica de Martins e Bicudo (1989, p. 30)

para quem:

A preocupação se dirige para aquilo que os sujeitos da pesquisa

vivenciam como um caso concreto do fenômeno investigado. As

descrições e os agrupamentos dos fenômenos estão diretamente baseados

nas descrições dos sujeitos, e os dados são tratados como manifestações

dos fenômenos estudados.

Desta forma, os dados co-emergidos foram encarados como fenômenos que se

manifestam e revelam sua correlação implicada, podendo apresentar-se de várias formas,

dependendo, em cada caso, do acesso que se tem a ela pelo pesquisador (MARTINS; BICUDO,

1989).

118

Neste segmento, a análise dessas questões se constituiu de quatro momentos conforme

indicado por Martins e Bicudo (1989, p. 39):

1. Leitura panorâmica do sentido geral dos dados; "a leitura das descrições é feita em

relação ao grupo tomado como um todo, almejando obter uma visão geral do material analisado";

2. Leitura com busca de encontrar padrões possíveis de sentido; "O material coletado é

lido com a finalidade de encontrar-se aquilo que parece ser o mais significativo nos dados

obtidos e de saber-se quais as partes principais, onde podem ser percebidas diferenças entre os

dados";

3. Definição de temas mais importantes: invariantes ou “categorias abertas” montadas a

partir de uma rede de convergência de significados que são constructos analisados e

interpretados que são "as partes significativas delimitadas por temas ou perspectivas de

investigação";

4. Síntese integradora tecida pelas percepções das unidades de significado com a

experiência; "a perspectiva adotada na análise é da descoberta de como os sujeitos experienciam

o fenômeno ou de como o autor da mensagem vê o fenômeno como um todo".

Para uma análise dessa natureza os dados não são tidos como fatos, estes que são eventos,

ocorrências, realidades objetivas ou dados empíricos já disponíveis e apreensíveis pela

experiência como suscitava o paradigma positivista, mas sim, como fenômenos que foram

construídos nessa correlação entre pesquisador e sujeitos da pesquisa de forma coparticipativa e

interativa.

4.3.1 Explicitação das Unidades de Significado

Esta é a quarta etapa da análise dos dados inspirada por Bicudo (2000, p. 81), a qual

corresponde à formulação das unidades de significado, que são as “unidades da descrição ou do

texto que fazem sentido para o pesquisador a partir da interrogação formulada”. Todos os

resultados das Unidades de significado (US) elencadas a seguir foram analisados e organizados

de modo a nos permitir um comparativo do antes com o depois da experiência fomentada, ou

seja, buscamos identificar qual a concepção de corpo dos participantes quando iniciaram o

estudo na disciplina e qual a concepção tecida ao término dela para compreender os possíveis

deslocamentos operados.

119

Assim, a questão 3 do questionário inicial (Como você percebe a educação do corpo na

UFPE-CE?) foi posta em análise comparativa com as questões 3 do questionário final (Como

você percebe a educação do corpo na disciplina Processos Interativos) e da entrevista semi-

aberta (Como pensa o corpo na educação e nos processos de ensino-aprendizagem?); estas as

quais tiveram suas respostas agregadas na análise.

Em seguida, realizamos o mesmo comparativo entre as questões 4 do questionário inicial

(Escreva sobre o corpo de uma pessoa aprendendo na UFPE-CE) com as questões 4 do

questionário final (Escreva sobre o corpo de uma pessoa aprendendo na disciplina Processos

Interativos) e com as respostas da questão 4 da entrevista semiestruturada (Fale mais sobre o

desenho do corpo de uma pessoa aprendendo na disciplina Processo Interativos).

E realizamos o mesmo procedimento com as questões 05 do questionário inicial (Escreva

sobre o corpo ensinando na UFPE-CE) e final (Escreva sobre o corpo ensinando na disciplina

Processos Interativos) em conjunto com os dados oriundos da questão 5 da entrevista semiaberta

(Fale mais sobre o desenho do corpo de uma pessoa ensinando na disciplina Processos

Interativos).

É importante destacar que neste momento de organização e análise dos dados, somamos

as respostas surgidas para cada questão do questionário final com as repostas respectivas de cada

questão da entrevista semiaberta, ou seja, analisamos em conjunto a questão 3 do questionário

final com a questão 3 da entrevista semiaberta e assim por diante com as questões 04 e 05, deste

modo, agregamos esses dados devido ao caráter complementar que ambos instrumentos finais

tinham como objetivo, que foi o de possibilitar as possíveis ampliações sobre o conceito de

educação do corpo nos processos educativos fomentados após a vivência.

Em seguida, objetivamos destacar das respostas dos alunos as principais Unidades de

Significados que apresentaram relação direta com o foco de investigação da nossa pesquisa. Os

blocos completos com as reduções de unidades de significados de todos os participantes não se

encontram em anexo devido ao volume de material construído.

Apresentamos no quadro a seguir um exemplo de redução das Unidades de Significados,

para melhor acompanhamento e compreensão da feitura da pesquisadora, e a seguir, indicaremos

como foi realizada esta redução de acordo com o discurso dos participantes.

120

Quadro 1 - Exemplo de Redução de Unidades de Significado da participante P1

Questionário Inicial

P1 – Participante A.S

Questão 3: Como você percebe a educação do corpo na UFPE-CE?

Discurso na linguagem do participante Redução unidades de significado

Na verdade não acredito que se perceba a

educação do corpo na UFPE-CE. Ou é de uma

forma que não se percebe. Recordo-me apenas

de uma experiência neste sentido no início do

curso.

P1US1. Não acredito que se perceba a educação do

corpo na UFPE-CE.

P1 US2. Apenas houve uma experiência neste

sentido no início do curso.

Questionário Inicial

P1 – Participante A.S

Questão 04: Escreva sobre o desenho de um corpo aprendendo na UFPE-CE?

Discurso na linguagem do participante Redução unidades de significado

Não acredito ou não pude perceber até então uma

preocupação com o corpo na maioria dos

educadores. Apenas em uma disciplina no inicio do

curso utilizamos o corpo em uma perspectiva a dar-

lhe importância, pois brincamos de corre-corre, pula

corda etc... Este fato foi apenas uma aula onde

resgatávamos as brincadeiras de infância. Onde a

educadora participou de todas as atividades. Obs.: o

desenho apesar de ser do gênero feminino

representa ambos o sexo (kkk), apenas fiz a opção

pela facilidade. Na maioria acho os educadores

muito tensos, cansados, e muito irritados com as

conversas geradas na sala de aula. Não é fácil

aguentar 4h só escutando discurso dos educadores.

Principalmente os que não querem ser

interrompidos.

P1 US 1. Não acredito ou não pude perceber até

então uma preocupação com o corpo na maioria

dos educadores.

P1 US 2. Apenas em uma disciplina no inicio

do curso utilizamos o corpo, apenas uma aula

onde resgatávamos as brincadeiras de infância.

P1 US 3. Não é fácil aguentar 4h só escutando

discurso dos educadores. Principalmente os que

não querem ser interrompidos.

Questionário Inicial

P1 – Participante A.S

Questão 05: Escreva sobre o seu desenho de um corpo ensinando na UFPE-CE?

Discurso na linguagem do participante Redução unidades de significado

As salas novas estão dificultando muito a

aprendizagem o professor falando de um lado o

calor insuportável o barulho das salas ao lado

(acústica horrível). É difícil se concentrar no que

P1 US1. Só textos e mais textos. Olha a nota

aí... e trabalho, seminário, prova, mas como se

fosse punição e não relação entre ensino e

121

está sendo dito, pois a irritabilidade toma conta da

turma. As salas antigas o ar não funciona os

ventiladores nos torturam com o barulho. Os

educadores em sua grande parte só textos e mais

textos. Olha a nota aí... e trabalho, seminário, prova,

mas como se fosse punição e não relação ente

ensino e aprendizagem. Porém existem as exceções

pena serem a minoria.

aprendizagem.

P1 US2. Existem as exceções além dessas

atividades, pena que são a minoria.

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

Quadro 2 - Exemplo de Redução de Unidades de Significado da participante P16

Questionário Final - P16 Participante L.S

Questão 03: Como você percebe a educação do corpo na disciplina Processos Interativos

no espaço escolar?

Discurso na linguagem do participante Redução unidades de significado

Se trata para mim de uma educação visando

a formação do indivíduo integralmente, ou

seja, tanto para o mercado, quanto para a

vida.

P16 US52. Visa à formação do indivíduo

integralmente, tanto para o mercado, quanto

para a vida.

Questionário Final

P16 – Participante Luciana

Questão 4: Escreva sobre o desenho de um corpo aprendendo na disciplina Processos

Interativos.

Discurso na linguagem do participante Redução unidades de significado

Acredito que quando a aula é dada de uma

forma mais dinâmica, e quando o professor

tem mais conforto com os alunos, o

aprendizado se torna muito mais

significativo.

P16US50. Tem dinâmica.

P16US51. Quando o professor tem mais

conforto com os alunos torna o aprendizado

muito mais significativo.

Entrevista

P16 – Participante L.S

Questão 05: Fale mais sobre seu desenho de um corpo ensinando na disciplina Processos

Interativos.

Discurso na linguagem do participante Redução unidades de significado

Por que a pessoa que tá ensinando ela é P16US43. Participa, levanta e mostra que o

122

diferente da visão tradicional que ela senta e

fica parada dando instrução ela tem que

participar do processo também pelo processo

interativo pelo psicodrama o diretor que tá lá

sentado não vai ficar só lá, ei, vai fazendo

isso faz aquilo não; ele participa ele levanta

ele mostra que o corpo também tá à vontade

pra se comunicar, então eu percebi na

disciplina justamente isso.

corpo também tá à vontade pra se comunicar.

Entrevista – P16 Participante L.S

Questão 3: Como pensa o corpo na educação e nos processos de ensino-aprendizagem?

Discurso na linguagem do participante Redução unidades de significado

Eu penso que o corpo é fundamental por

todo o projeto de expressão da gente, eu

acho que faz parte do aprendizado. A forma

que a gente usa o corpo, da forma que a

gente se comunica tanto verbalmente quanto

corporalmente, tá entendendo... Eu acho que

faz parte do aprendizado do dia a dia. Então

o corpo faz parte. Eu achava antes que não

tinha essa importância, porque a gente pensa

que o intelecto é mais importante, depois da

disciplina eu percebi que o corpo é

fundamental né, não é só o intelecto, até

porque sem um, sem o corpo eu acho que o

intelecto não tem muita serventia.

P16 US53. É fundamental para a expressão da

gente, tanto verbalmente quanto

corporalmente.

P16 US54. Faz parte do aprendizado do dia a

dia.

P16 US55. O corpo é fundamental, não é só o

intelecto, até porque sem um, sem o corpo, eu

acho que o intelecto não tem muita serventia.

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

As respostas dos participantes às perguntas 3, 4 e 5 do questionário inicial e final foram

apenas transcritas, enquanto as respostas da entrevista semiestruturada foram gravadas e

transcritas. Depois de organizar as respostas nos quadros para análise, elas foram lidas e relidas

repetidas vezes concentrando na pergunta guia para cada questão, de forma que as respostas

foram sistematizadas em unidades de significado que se apresentavam carregadas de possíveis

sentidos para a questão formulada e assim, chegamos às unidades de significado que se

revelaram mais significativas para a investigação.

123

Numeramos cada unidade de significado (US) para facilitar a composição dos gráficos de

apresentação dos resultados, assim, nos exemplos acima, a participante L.S é a participante P16.

No total foram levantadas 115 (cento e quinze) unidades de significados sobre a questão 03, 106

(cento e seis) sobre a questão 04 e 92 (noventa e duas) sobre a questão 05. Estas unidades de

significados estarão sendo indicadas pelas letras „US‟ seguidas de um número, de forma que ao

final temos, por exemplo, “P16. US53” indicando que a unidade em análise é a de número

cinquenta e três e pertence à participante L.S, para quem a educação do corpo na disciplina

Processos Interativos significa: “Visa à formação do indivíduo integralmente, tanto para o

mercado, quanto para a vida”.

Após o levantamento das unidades de significados para cada questão, procuramos,

seguindo as orientações de Bicudo, realizar um cruzamento entre elas, fazendo-as dialogar entre

si e buscando agregá-las em possíveis categorias abertas ou invariantes. Desse diálogo entre as

unidades de significado e de acordo com o questionamento central da pesquisadora, emergiram

diversas categorias abertas, de acordo com cada questão analisada.

Cada uma das categorias que serão apresentadas abaixo congrega um número de

unidades de significados que explicitam as ideias gerais que os alunos apresentam sobre o

conceito de educação do corpo e sobre o conceito de educação no processo de ensino e

aprendizagem antes da participação na disciplina e após os seis meses de experiência vivencial.

Portanto, para cada questão analisada realizamos um comparativo das categorias abertas,

indicamos quais categorias eram descritas pelos participantes no início da disciplina e

registramos as categorias surgidas com os deslocamentos ocorridos ao término da interação com

a proposta de educação integral.

Optamos por apresentar os dados na forma gráfica, estilo “Rede de significações”, pois

ela parece “expor o movimento da existência total, enfatizando aquele da compreensão da

operação primordial da significação e do sentido encarnado que preenche a palavra de vida,

constituindo a fala autêntica” (BICUDO, 2000, p. 96-97).

A seguir, apresentaremos o gráfico da matriz das unidades de significados já agrupadas

em torno das categorias abertas expondo cada uma delas de acordo com a ordem da apresentação

textual.

124

4.3.2 Análise e discussão do Gráfico das Unidades de Significado

A apresentação destas categorias na forma de gráfico em rede é uma tentativa de resgatar

o aspecto dinâmico da fala dos alunos, de forma que deve ser lido como uma teia interligada a

formar um texto mais amplo que busca captar a experiência vivida pelos alunos em relação ao

conceito de educação do corpo e sobre a concepção de corpo nos processos de aprendizagem e

ensino. Assim, as categorias abertas se conectam, assim como as unidades de significado, como

um todo que busca sintetizar as ideias circuladas no mundo vivido da experiência dos alunos.

De posse dessas categorias emergentes, buscamos dialogar com as perspectivas que

orientam a educação em relação ao apreço do corpo em seus fundamentos e processos.

Acreditamos que essa direção seja bastante significativa dada à necessidade de nos inteirarmos

como os alunos compreendiam a concepção de educação do corpo antes e após a experiência de

paradigma integral e como os escritores da área abordam tais visões para a realização deste

diálogo fecundo.

Na análise da visão inicial trazida pelos estudantes sobre qual a concepção de educação

do corpo nos processos educativos foram elencadas quatro grandes categorias abertas. Estas

categorias apresentaram o legado vivencial dos estudantes de Pedagogia ao longo de sete

períodos cursados na UFPE, no Centro de Educação. Salientamos que estas quatro categorias

surgidas circularam de modo compartilhado entre as questões 3, 4 e 5 nos instrumentos iniciais,

revelando, portanto o caráter complexo do fenômeno investigado.

Nesse sentido, as quatro categorias abertas congregadas na concepção inicial foram

“Negação da educação do corpo”; “Educação do corpo acessório”; “Educação do corpo

bancário” e “Educação do corpo pouco explorado”. Destas quatro categorias surgidas todas

apresentavam sintonia com as problemáticas apresentadas pelos autores na atualidade e

sinalizaram a pouca exploração do corpo nas experiências formativas e concepções sobre a

educação do corpo com abordagens bastante reducionistas na forma de tratá-lo.

No que concerne às questões aplicadas no final da disciplina através do questionário final

e da entrevista semiestruturada, as categorias surgidas tanto para a modalidade aprendizagem

quanto para o ensino também foram compartilhadas dentro da dinâmica de todas as questões 3, 4

125

e 5 finais revelando a circularidade do fenômeno, como veremos a seguir. Entretanto, a

disposição dos posicionamentos destas categorias para cada pergunta foi diferente, revelando o

caráter dinâmico, imbricado e complexo da investigação.

Foram sete as principais categorias abertas surgidas após a experiência analisada, foram

elas, “Corpo como elemento da educação”; “Educação do corpo como atividade”; “Educação do

corpo como expressão e liberdade”; “Educação do corpo como conhecimento de si e do outro”;

“Educação do corpo mais integral”; “Educação do corpo como prazer e bem-estar”; “Educação

do corpo fragmentado”.

Destacamos que realizamos uma sistematização didática, realizando três blocos de

análise, o primeiro com a concepção de educação do corpo dos participantes de modo geral,

outro destacando a concepção de educação do corpo apenas na modalidade aprendizagem e outro

dando ênfase à modalidade ensino. Buscamos com isso compreender a concepção dos alunos

para cada momento deste, mesmo sabendo que são processos complementares e

interdependentes, entretanto, como a aprendizagem tem em si um caráter mais referenciado à

atividade discente e o ensino um caráter mais direcionado pela ação de intencionalidade do

educador fizemos esta compactação para melhor compreensão destas etapas. Contudo, os

resultados não apresentaram nenhuma diferenciação em relação às categorias destes momentos o

que nos reforçou ainda mais a complementaridade e inseparabilidade destes processos.

A seguir faremos uma análise comparativa destas categorias, apresentando as surgidas

antes da vivência da disciplina, comparando-as com as categorias surgidas depois da experiência,

sistematizando o deslocamento conceitual sobre a educação do corpo nesta formação.

Faremos a seguir um detalhamento destas categorias emergidas de forma sistemática e

iniciaremos expondo as categorias que apresentam as concepções de corpo dos estudantes no

início da disciplina, ou seja, antes da experiência. E em seguida, expomos as categorias

suscitadas após a vivência formativa.

4.3.3 Análise e discussão do Gráfico das Unidades de Significado sobre a concepção de

educação do corpo na UFPE-CE

126

As categorias expostas a seguir são aquelas que congregam as unidades de significado

surgidas referentes à questão 03 (Como você percebe a educação do corpo na UFPE-CE?)

aplicada no questionário inicial antes da experiência de cunho integral direcionada pela

disciplina. Essas categorias nos revelam a noção trazida pelos estudantes sobre a concepção de

educação do corpo oriunda da percepção e vivência de sete períodos como estudantes do curso

de pedagogia da Universidade Federal de Pernambuco no Centro de Educação, noção a qual

buscávamos saber e compreender sobre a visão de educação do corpo dos estudantes.

Após a apresentação da figura da Matriz das Unidades de Significado da questão 3 a

seguir, iremos tecer nosso texto com o próprio discurso dos participantes em suas unidades de

significado, pondo-os em diálogo com novas vozes abordadas pela literatura da área.

FIGURA 33. MATRIZ DAS UNIDADES DE SIGNIFICADO

CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CORPO NA UFPE-CE

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

127

Abaixo estão listadas as categorias abertas com os discursos dos participantes e o diálogo

com a literatura da área.

4.3.3.1 Concepção Negação da educação do corpo

A primeira categoria aberta foi nomeada de Negação da educação do corpo. Com ela os

estudantes indicaram que a educação do corpo veiculada no curso de pedagogia do Centro de

Educação da Universidade Federal de Pernambuco é praticamente22

inexistente. Este resultado

congrega com a problemática ressaltada por diversos autores contemporâneos, os quais se

dedicam a estudar as relações entre corpo e educação e que esboçam a exclusão do corpo nos

processos educacionais de forma geral. Com a presença deste dado, abarcamos esta problemática

também inserida na formação superior.

Esta exclusão advém de nossos antecedentes históricos, sociais e culturais que

inscreveram diferentes marcas no corpo ao longo do tempo, o que influenciou diretamente nas

formas de comportar-se com o corpo. Com o predomínio do paradigma racionalista que concebe

o universo como mecânico e matemático, a concepção de ser humano foi afetada, sendo

fragmentado como um ser estritamente biológico e racional, para o qual a razão seria o único

instrumento válido de conhecimento e o corpo devendo ser disciplinado e controlado

(GONÇALVES, 1997). Com a vigência deste paradigma desde esta época, a educação atual

inseriu o corpo mais amplamente no campo tradicional da educação física (YUS, 2002) ou no

campo da biologia como as áreas mais indicadas para dar conta de seus processos.

Assim, fazendo jus a esta herança e a partir da linguagem das unidades de significado

explicitada pelos alunos, esta categoria foi formulada por meio de expressões tais como, “para os

docentes, o corpo não tem importância nenhuma neste processo”, e por isso, o estudante diz:

“ainda não percebi um trabalho que tratasse de forma mais significativa o corpo”, ficando o

mesmo, portanto, “não inclusivo, não educa o corpo na UFPE-CE” e ressaltam, “ainda não

22

Expressamos com o termo “praticamente”, pois sabemos que não há aprendizagem sem corpo, toda aprendizagem

é uma aprendizagem que marca o corpo, seja ela como for o imprime marcas. Entretanto, nos referimos que o corpo

na percepção dos alunos ainda se encontra bastante imperceptível, como se não existisse, pois de acordo com eles

está sendo negada sua participação ativa.

128

despertamos para estas questões”, ou seja, “não acredito que se perceba a educação do corpo na

UFPE-CE”.

Com a falta da participação do corpo no processo educacional resulta que “os alunos do

CE acabam não conhecendo o seu próprio corpo nem o corpo dos colegas, extrapolando muitas

vezes os seus limites e o limite dos outros”. Esse desconhecimento do próprio corpo como

apontado pelo estudante, também é mencionado pelos autores da educação integral Espírito

Santo (2011) e Rafael Yus (2002). Para estes, a falta de trabalho com o corpo nos tem causado

um analfabetismo funcional de tal modo que não temos autoconhecimento do nosso próprio

corpo, nem sabemos manejá-lo de forma mais consciente, e salientam que a educação tem

continuamente perpetuado esse desconhecimento de si. Dessa forma e em síntese, os alunos do

Centro de Educação destacaram que o corpo parece não existir ao longo da formação, estando o

mesmo sem participação no conceber educativo.

4.3.3.2 Concepção Educação do corpo acessório

Esta categoria foi nomeada de Educação do corpo acessório porque os significados

elencados nas unidades referidas se aproximaram das ideias de Nóbrega (2005), autora que

apresenta o caráter acessório do lugar do corpo na educação contemporânea de modo geral. De

acordo com Nóbrega (2005), esta concepção é assim formulada a partir da herança racionalista

do projeto Iluminista o qual instaurou uma forma particular de tratar o corpo. Intencionalmente

nesta época, buscou-se dotar o corpo de civilidade, de forma que proporcionasse ao homem

conseguir dominar a natureza corporal vinculada aos sentimentos, impulsos, paixões,

sensibilidade, estes que assumiram um papel menor, pois o homem precisava aprender a conter-

se, e assim, deixar seu corpo instinto e pulsão parado, quieto, civilizado, pois estas eram as

posturas do bom comportamento da classe de poder, a burguesia.

E assim, o princípio civilizador foi aplicado aos processos corporais e a razão foi à

entidade mais prezada, pois esta, na concepção deste período, expressava a força maior de nossa

humanidade. Desta maneira, quando a escola assumiu a função de educação nos séculos XIX e

XX, o porte reto e rígido e o reforço da razão traduziam os modelos das sociedades burguesas da

época, aliado a racionalidade da ciência que reforçavam o disciplinamento do corpo para a saúde

(NÓBREGA, 2005). Portanto, a aprendizagem dessa civilidade foi favorecida a partir do aspecto

129

instrumental do corpo que desde então é compreendido como elemento menor no processo

educativo, o que ainda é fortemente predominante pelo que os estudantes indicam abaixo, a

saber.

Em consonância com as ideias da autora e na linguagem dos participantes, esta categoria

é assim chamada porque a educação “é baseada apenas no intelecto/mente enquanto outras partes

do corpo são esquecidas totalmente”, e assim “ocorre de forma tradicional, privilegiando a

cognição”, desta forma “a impressão que passa é que quando entramos na sala deixamos o corpo

do lado de fora e levamos só o cérebro sendo o corpo desprezado neste processo”, pois “apenas a

mente é privilegiada e a ênfase é dada aos conteúdos”.

Percebe-se, portanto, nesta categoria que o corpo não é um organismo total, por isso o

estudante expressa “parece ser deixado do lado de fora”, e sim, enfocado como uma parte, e mais

estritamente um acessório, já que a mente é o principal e o corpo um item conjugado. Neste

sentido, na linguagem dos participantes, uma aluna indicou como se o corpo estivesse sendo

levado e transportado: “o corpo e a mente estão caminhando cansados, pois trabalhamos a mente

e esquecemos o corpo, deixando-nos apenas levar ou o levamos”.

Queremos evidenciar outro aspecto na análise desta categoria “Corpo acessório”. O fato

de esse tratamento estabelecer a dualidade entre mente e corpo, o que resulta numa percepção de

separação entre a teoria e a prática. Com a falta de união do corpo aos conteúdos estudados, a

educação não tem habilitado uma in-corporação do saber, algo que só pode ser realizado quando

se trabalha com o corpo participando na prática do processo. Por isso, incluímos nesta categoria

os discursos dos alunos que enfatizam a falta de união entre a teoria/mente e a

prática/corpo/fazer, como analisamos nos discursos seguintes, “distancia a realidade sem a

prática, como se aqui fosse um mundo e lá fora outro, o que parece deseducar as pessoas”, dessa

forma é como se o corpo da vida fosse um e o da educação fosse outro, por isso salienta uma

sensação de estar sendo deseducado.

Segundo outros alunos, esta dualidade parece conflituosa e expressam: “entram em

contradição, pois alguns educadores não praticam o que diz a teoria, ou seja, o que eles mesmos

acreditam”, e assim dizem “vários discursos, muita teoria e a falta de prática docente.

Aprendemos muito, mas universidade poderia unificar melhor esse caminho de

130

universidade/escola, teoria e prática docente”, dessa forma, essa abordagem educativa que

predomina o mental “é tratada como uma ciência, e suas teorias muitas vezes se distanciam da

prática”.

4.3.3.3 Concepção Educação do corpo pouco explorado

Categorizamos de Educação do corpo pouco explorado porque conforme a indicação dos

alunos uma ou outra disciplina realizou algum trabalho com o corpo, apesar de pouca recordação

de experiência nesse sentido. Assim, eles afirmam: “só tive um professor que fazia/fez trabalho

com outras partes do corpo”, “apenas houve uma experiência neste sentido no início do curso”,

como também, “falta melhorar porque são poucas disciplinas que trabalham o corpo”, e apontam

que “no CE trabalhamos tão pouco, tentamos viver no universo educacional aliando corpo,

mente e o mundo”.

Sendo ainda muito pouco explorado, eles indicam apenas “20% permite a

interação/integração do corpo a partir do diálogo Eu-outro nas instâncias subjetivas e objetivas

das pessoas que a frequenta”, e relatam: “alguns professores e aulas trabalham”, entretanto, “falta

melhorar porque são poucas disciplinas que trabalham o corpo”. Desta forma, levando em

consideração a diversidade de docentes e o curso ter sido transcorrido ao longo de sete períodos,

indicamos ser fato ter havido pouca experiência neste sentido, de acordo com o explicitado pelos

estudantes.

4.3.3.4 Concepção Educação do corpo bancário

A expressão educação bancária foi proposta por Paulo Freire (1996) a qual fizemos

alusão nomeando esta categoria de Educação do corpo bancário. Essa expressão realiza a crítica

a um ensino fundado na figura do professor competente, autoritário e disciplinador diante de uma

turma de estudantes que deve se comportar de forma passiva, ouvinte, repetitiva e disciplinada, e

continuamente avaliada de forma quantificada e hierarquizada (FREIRE, 1996; BRANDÃO,

2011). Desta forma, a realização do ato de educar é feita pela instrução de quem sabe - aquele

que ensina e transfere os conhecimentos, para quem não sabe nada e deve aprender algo.

131

Por estas razões, nomeamos esta categoria, pois o corpo aqui se encontra incluído no

processo educativo de tal modo passivo, como um mero receptor, disposto com uma postura

parada e estática, controlado e disciplinado para aprender com o único detentor do

conhecimento, o professor. Nesta concepção, o corpo não precisa de movimento para aprender,

nele será depositado todo o conhecimento basta que fique parado. Neste sentido, pela linguagem

dos alunos eles apontam que a educação do corpo proposta nestes moldes:

“A educação é bem conservadora/tradicional, a qual se acredita que o corpo necessita estar

parado para aprender. Professor a frente da lousa e os alunos dispersos em fila ou em

rodas, mas em geral sentados quietos ou sem muitos movimentos. Apesar de todo o discurso

contrário, o que se vê na prática é um corpo bastante tolhido e controlado, onde se aprende

sentado e quieto.” (Discurso da aluna R.S.).

Por isto, no discurso dos alunos “a educação do corpo deixa-o parado, estático, sonolento,

cabisbaixo, autoritário, fechado, amarrado”. Outras unidades de significado desta categoria

enfatizam que o corpo “é educado a receber e reproduzir”, ficando por esta razão “rígido, preso à

formalidade”. Enfatizam que “responde aos comandos do docente de forma estática, deveria ser

disciplinado”, e também, “por outro lado, bastante efetivo no sentido de disciplinar as pessoas

em seus papeis, amarrados nas carteiras escolares”, e por fim, “em 80% o corpo é doutrinado

e/ou controlado a seguir regras impostas”.

Para Espírito Santo (2011), essa visão de uma sala de aula estática e organizada de forma

mecânica e com papeis bem definidos de quem ensina e de quem aprende é muito compatível

com o paradigma cartesiano racionalista. Esse paradigma concebe o universo como algo estático

e certinho, visão transposta à educação como um obstáculo a ser superado no desenvolvimento

do aluno. Desta maneira, a concepção de corpo veiculada ainda reproduz essa visão. Portanto, o

autor propõe romper essa visão de um mundo fechado, estático, parado para alargar a visão rumo

à globalidade, ao dinamismo, à integralidade e à complexidade, tanto do ser humano quanto do

mundo, o que ainda parece ser um paradigma inovador.

Esta categoria também se articula com a categoria anterior, pois, o corpo acessório deve

estar presente apenas com seu cérebro e não necessita aprender com o corpo inteiro, e por conta

disso, solicita-se que ele se discipline e fique estático para aprender como um corpo bancário.

132

4.3.4 Análise e discussão do Gráfico das Unidades de Significado sobre a concepção de educação

do corpo na disciplina Processos Interativos

As categorias apresentadas a seguir são as concepções de corpo fomentadas após a

experiência de sentido integral formulada pela disciplina Processos Interativos, ofertada no

oitavo período do curso de Pedagogia. A questão em análise foi à questão 3 (Como você percebe

a educação do Corpo na disciplina Processos Interativos no espaço escolar?) do questionário

final e a questão 3 da entrevista realizada ao término da experiência (Como pensa o corpo na

educação e nos processos de ensino-aprendizagem?).

Após o acompanhamento das experiências propiciadas, tínhamos o interesse de

compreender como esta experiência seria compreendida pelos estudantes e quais seriam os

impactos de tais vivências em relação à concepção de corpo na educação dos participantes.

Dessa forma, sobre as questões analisadas tivemos sete categorias abertas, vejamos.

133

FIGURA 34. MATRIZ DAS UNIDADES DE SIGNIFICADO

CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CORPO NA DISCIPLINA PROCESSOS INTERATIVOS

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

134

4.3.4.1 Concepção Educação do corpo mais integral

Esta primeira categoria aberta congrega as unidades de significado que se situam dentro

da proposta da educação integral de formação humana que parte da concepção que a educação

tem como fim primeiro a humanização do ser e para este desenvolvimento busca trabalhar os

aspectos propriamente humanos, a integralidade do ser como um organismo total enquanto corpo

multidimensional, por isto conceitua-se como uma educação do equilíbrio (YUS, 2002).

Neste segmento, a educação integral alinha-se com a proposta da educação transpessoal

na medida em que objetiva trabalhar a multidimensionalidade com as dimensões física, sensorial,

emocional, mental e espiritual (SALDANHA, 2007), como também, ampliar a abrangência da

integralidade do ser através do trabalho por quadrantes Eu, Isto, Nós e Istos (WILBER, 2011),

buscando desenvolver a percepção de unidade entre esses aspectos e a transcendência de

identidade para abarcar toda essa complexidade integral do ser.

Na linguagem das unidades de significado dos estudantes, a proposta de educação

integral na disciplina Processos interativos estabeleceu uma maior conexão, incialmente, entre as

dimensões corpo e mente, pois “corpo e cérebro, eu acho que tá tudo junto, somos um ser

integral, um todo, tem que parar com essa dicotomia corpo e mente porque pra mim é tudo uma

coisa só”, e começaram a apontar uma nova perspectiva, a qual “corpo e mente são um todo”.

Ainda acrescentam, o corpo, “ele é como um todo, não é mais uma parte separada”, e concebem

“corpo e mente estão interligados, só trabalhava o intelecto, percebi que era o conjunto”,

ampliando a percepção a qual “deve-se trabalhar a mente e o corpo que é o seu todo”.

A partir destes depoimentos percebemos que um dos maiores nós górdios indicados por

Ken Wilber (1996) que é a separatividade entre corpo-mente foi mais diluída. A percepção de

unidade entre esses aspectos foi perdida desde a época da modernidade. Busca-se, desenvolver a

percepção de que “a mente é o corpo e o corpo é a mente, estão em unidade” (WILBER, 1996),

como também, ir diluindo a visão bloqueada de que a mente é o lugar das ideias nobres enquanto

o corpo só produz brutalidade, paixões e instintos, produto da visão enraizada do racionalismo

que instaurou que ser humano é apenas mente. O paradigma integral reivindica dissolver estes

reducionismos.

135

Em continuidade, as unidades de significado apresentaram uma percepção ainda mais

integral, pois, “o trabalho na disciplina ampliou e redimensionou a visão como um todo:

emocional, comportamento e corpo”, assim, destacam, “é importante ter essa interação, não

existe só cognição tem o afetivo também, é uma junção”, ou “quando você começa a trabalhar o

corpo mais, você trabalha o espírito”, e assim, “corpo integra-se com a mente e com as

sensações”. Aqui os estudantes já incluem a dimensão emocional, a dimensão comportamental, a

dimensão afetiva, a dimensão espiritual, a dimensão sensorial; percebendo-se assim uma

ampliação de outros aspectos constituintes do ser como se estivesse descobrindo aquilo que lhes

compõem.

Neste sentido, estas unidades corroboram com a perspectiva integral de Wilber (2006) a

qual indica o corpo como um verdadeiro Ninho do ser, uma complexidade composta por

dimensões internas e externas. Internas indicadas pelas atividades do interior do ser, tais como as

citadas pelos alunos, as sensações, emoções, afetos, espiritualidade, aspectos da subjetividade.

Mas também, para ser integral devem-se abraçar os aspectos externos, os quais podem ser vistos

de fora, tal como a dimensão objetiva dos comportamentos, a qual foi indicada pela unidade

acima e enquadra-se nesta perspectiva.

Outro ponto a destacar foi a vinculação entre a educação do corpo na disciplina e a

educação do corpo para a vida, vejamos: “faz parte da vida - tanto do indivíduo dentro da escola,

quanto do indivíduo fora da escola. O corpo é uma parte minha, é todo um conjunto que vai

formar meu ser, e é educado pra eu ser todo”, e percebem, “não é só o intelecto, até porque sem

um, sem o corpo, eu acho que o intelecto não tem muita serventia. Visa à formação do indivíduo

integralmente, ou seja, tanto para o mercado, quanto para a vida”.

Nestas respostas há uma maior integração da formação tanto para o social quanto para a

vida. Esta perspectiva corrobora com as orientações dos pressupostos do relatório da UNESCO

da Comissão Internacional sobre a Educação para o século XXI, elaborado por Jacques Delors

(2003), o qual preza o conceito de educação ao longo de toda a vida como a chave da educação

para o século XXI. Esta perspectiva de educação para a vida e aqui a educação do corpo para a

vida, visa ultrapassar a distinção tradicional entre educação somente para a época escolar, na

direção de uma educação como um conceito permanente, a qual você leva para o cotidiano.

Neste sentido, busca-se desenvolver uma percepção de que a sociedade permanece em contínua

atividade educativa, onde tudo pode ser ocasião para aprender e educar-se.

136

4.3.4.2 Concepção Educação do corpo como conhecimento de si e do outro

Esta categoria emergida conflui para a proposta da educação integral indicada por Yus

(2002) que propõe um programa educativo voltado para o eu interior que consiga estabelecer

conexões consigo e com os outros.

O currículo holístico considera a pessoa como a fonte de aprendizagem e

acredita que ela participa de uma viagem cíclica de autocrescimento. O pré-

requisito para a aquisição desse autoconhecimento é a habilidade para ouvir os

demais, negando suas próprias vozes internas. (YUS, 2002, p.198).

Nesta categoria como conhecimento de si, na linguagem dos estudantes, a educação do

corpo na disciplina “ajuda a perceber suas limitações”, neste sentido, “o trabalho com ele

despertou em si para conhecer as dimensões no corpo pelas relações travadas”, para eles um

trabalho de autoconsciência de si, já que “faz ver suas atitudes, pode lidar melhor com sua

paciência, saber ouvir, saber deixar o outro falar, e também junto com esse corpo tem esse

trabalho”, como também, “ajuda a pensar no seu corpo, não só no físico, mas também o espírito

do corpo. Ajuda a se conhecer”.

Como também promoveu a diminuição de atitudes espelhadas, atitudes de sombra

(WILBER, 2010), as quais quando ainda não conscientes são projetadas nos outros como se não

fossem aspectos negativos da pessoa, e sim, dos outros. Assim, o aluno percebeu que este

processo de conhecimento de si “trabalha o aqui e o agora, o passado e também o seu futuro. É

dinâmico, um processo interativo porque é lócus de fenômenos como transferência,

espelhamento, importante nesses processos interativos na aprendizagem”.

Em seguida, esta categoria apontou a educação do corpo como significativa para o

reconhecimento do outro, promoveu uma maior aceitação das diferenças e singularidades de

jeitos e maneiras e fomentou a relação eu-tu mais horizontal e saudável. Mas também, a partir do

conhecimento do outro, esta categoria trouxe ao debate o que se preza a educação atual sobre o

aprender a viver juntos, a qual a educação estimula não apenas a expressão verbal, o falar, a

comunicação, mas também uma didática que incentive aos educandos como futuros educadores

aprenderem “a ver e a ouvir o aluno” (ESPÍRITO SANTO, 2011, p.40), ou seja, aprender a ouvir

os outros, atitudes prezadas a uma educação para a contemporaneidade.

137

Desta forma, na linguagem dos estudantes temos que a educação do corpo na disciplina

“serve para favorecer o reconhecimento do outro”, “serve para o trabalho em grupo, para

aprender a respeitar o outro, e deixar mais os preconceitos de lado e ajuda a perceber o outro”,

neste sentido, aprendeu a “conhecer o outro e interagir com o outro/ um vendo outro, eu acho

que é importante porque você acaba percebendo ou aprendendo com outro”, e assim, “ajuda a

conhecer melhor o outro”. Percebe-se também que “cada um atua de uma forma diferente”, e

destaca que a vivência foi “importante para conhecer o outro”.

4.3.4.3 Concepção Educação do corpo como elemento da educação

Esta terceira categoria alude o corpo como um elemento integrante dos processos ensino-

aprendizagem a partir das referências indicadas pelos alunos. Na linguagem deles verificamos

essa relação, pois o corpo após a experiência passou a ser “importante pra educar, pra ensinar,

pra aprender. Vinculado à aprendizagem, ao ensino e as transformações. São elementos da

educação: corpo, trabalho em grupo, desenvolvimento intelectual, conteúdo e currículo”. Em

outra unidade de significado, o corpo “inclui-se no processo de ensino-aprendizagem, ele faz

parte do processo de aprendizagem”, desta forma “ele é „lugar‟ de aprendizagem, não só do

cognitivo, mas também das outras dimensões: emocional e afetiva”.

Destacam que “com o corpo aprende-se muito mais, de forma muito mais interativa”, da

mesma forma, “o corpo aprende também. O trabalho com a inclusão do corpo com a mente

influencia na formação, na educação”, e assim, ele é “parte primordial da aprendizagem. Utilizar

o corpo facilita a aprendizagem na união entre teoria e prática, ele é interação” e, “quando o

corpo está aberto à aprendizagem, a novas experiências que vão ser internalizadas e marcadas ele

faz parte do processo de aprendizagem. Pensa-se sobre o corpo como parte da educação”.

Estas referências feitas pelos estudantes da disciplina colaboram com a perspectiva de

educação integral do autor Arroyo (2012), a qual inclui o corpo como parte do processo

educativo e como elemento essencial para a formação da pessoa humana implicando-o neste

processo.

O ser do corpo, o ser corpóreo está irremediavelmente atrelado ao ser espacial,

ao ser temporal, ao sermos humanos. Vida-corpo-espaço-tempo são

inseparáveis enquanto direitos básicos humanos. Os processos mais elementares

138

de humanização, de aprender a ser humano, de apreender a produção intelectual,

ética, cultural, função central da escola e da docência estão condicionados a

esses direitos mais básicos a vida-corpo-espaço-tempos humanos. [...] chamar o

pensar e o fazer educativo e seus profissionais ao reconhecimento dessa

centralidade do direito à vida, ao corpo, ao espaço, ao tempo e à sua

inseparabilidade dos processos de educar, ensinar, aprender, humanizar-nos.

(ARROYO, 2012, p.40).

Dessa forma, o autor centraliza para a pedagogia elementos tais como a vida, o corpo, o

espaço, o tempo, como integrantes da humanização e do processo educacional, inclusive como

um direito que não deve ser negado, atrelando os processos pedagógicos ao corpo, assim como

os estudantes indicaram após a experiência sensibilizadora. Arroyo (2012) ainda adverte que

estes aspectos devem ser incluídos na agenda da formação como aspectos urgentes por se

tratarem de elementos necessários ao tratamento digno rumo à humanização na educação.

4.3.4.4 Concepção Educação do corpo como expressão e liberdade

A partir das unidades de significado referidas pelos alunos, esta categoria apresenta o

corpo como o lócus da expressão e da liberdade de si. Enquanto lócus de expressividade

compreenderam-no como forma de linguagem de si mesmo, como um campo autônomo que quer

transmitir, falar e expressar sobre o todo que lhe compõe. Esta apreciação é compartilhada por

Yus (2002, p.204), quando explica, “nosso corpo não é só um suporte que reflete as emoções e

os sentimentos em nossa comunicação exterior, mas é uma autêntica comunicação em si

mesmo”. Dessa forma, o corpo não apenas interage com o universo das dimensões Nós ou Istos,

mas sim, ele nos desvela e nos abre para a conexão com nosso próprio ser, nosso Eu, já que as

emoções e os sentimentos interiores do mundo vivo interno de nossa subjetividade nos faz entrar

em contato e conhecermos a nós mesmos, como indica o autor, é uma comunicação que diz

sobre quem somos internamente.

Para exemplificar esta relação, alguns relatos descrevem esta percepção e explicitam que

o corpo, “ele quer falar, o corpo fala, eu descobri agora que o corpo fala e a gente precisa

entender e respeitar esse momento”, de maneira semelhante, outros alunos indicam, “o corpo

fala”, “ele é linguagem”, “é fundamental para a expressão da gente”, reiterando que “ele dá

notícia e expressa o que eu estou pensando”, pois “ele fala e expressa alguma coisa”.

139

Associada a categoria corpo como expressão, encontramos uma correspondência que nos

fez integrar ambas as perspectivas em uma só, por entendermos que elas se apresentam como

uma extensão uma da outra, pois a capacidade expressiva caminha junto a possibilidade de estar

livre para expressar, por isso, agregamos o corpo como lócus de liberdade e potencialidades, pois

entendemos que poder se expressar é conseguir estar à vontade e livre para tanto, e com isso,

tem-se a possibilidade de revelar as singularidades e potencialidades de cada um.

Com a possibilidade de expressão tanto pela linguagem verbal quanto a não verbal, os

estudantes dizem que o corpo “revela potencialidades que ficam escondidas, quando a turma está

sentada um atrás do outro” e assim, ele “tem liberdade para atuar nesta conquista da

aprendizagem”, por isso, “tem que conhecer, ou dar alguma oportunidade, ou trabalhar alguma

atividade que ele expresse alguma coisa. Utilizar o movimento e a expressão ajuda na educação”.

Neste segmento, o corpo “trabalha a timidez” e, portanto, “tem liberdade para escolhas na vida

tanto profissional como na sociedade para escolher, refletir, questionar e ser percebida com um

ser inteligente e conhecedor dos direitos e deveres”.

Essa perspectiva de corpo como lócus de liberdade de expressão é fundamento presente

na perspectiva de educação integral de Brandão (2012), para a qual, “a educação deve formar

pessoas livres e criativas o bastante para se reconhecerem corresponsáveis pelas suas próprias

escolhas”. Dessa forma, a liberdade nestas bases conecta a expressão ao conseguir fazer, ao criar,

ao aprender e ao entrar em relação com o mundo.

Neste aspecto, Henz (2012) problematiza que uma verdadeira mudança de paradigma na

educação deve orientar-se primeiro, a estabelecer um tipo de relação de comunicação onde

educandos e educadores possam começar a expressar-se, o que os incide a “poderem dizer

palavras próprias e não serem obrigados a repetir as dos outros” (p.82), e posiciona para este fim,

que os processos sejam baseados sempre no diálogo problematizador e amoroso, no qual a

obediência, a quietude e o silêncio deixam de ser vistos como virtudes do bom aluno e do bom-

cidadão de forma que todos participem comunicando-se cada vez mais conscientemente e com

liberdade de formular e expressar suas ideias.

4.3.4.5 Concepção Educação do corpo como atividade

140

A categoria foi assim denominada porque os estudantes expressaram que a disciplina lhes

solicitava ações constantes, por isso, nomeamos concepção de educação do corpo como

atividade. Neste conceber, o corpo sempre participava ativamente do processo, por isso, na

linguagem dos alunos, “ocupa-se dele por ações: alongamentos e momentos descontração,

participação, dinamismo. Deve movimentar-se e ser usado para interação e integração”, dessa

forma, “trabalha com atividades e danças. É ativo, tem dinâmica de grupo com o movimento do

nosso próprio corpo”.

Esta concepção de Educação do corpo como atividade alinha-se a proposta da educação

integral/transpessoal, pois nesta abordagem, o professor deixa de ser o eixo central no processo

educativo para incluir os alunos como elementos essenciais, buscando realizar uma didática que

propicie métodos de ação como, participação, interação e criatividade, de forma que “os alunos

se tornam elementos ativos a partir dos próprios referenciais” (SALDANHA, 2006, p.07).

Neste sentido, a didática integral/transpessoal compreende a ação educativa como

elemento essencial no desenvolvimento do ser humano e tem no ato experiencial de ensino-

aprendizagem um dos responsáveis pelo desenvolvimento e crescimento evolutivo humano, pois

as experiências nos formam. Por esta razão, busca que cada ser humano possa experimentar

ativamente seu ser/corpo nas práticas pedagógicas.

Dessa maneira, na disciplina investigada, o corpo em experimento, “ajuda a aprender

melhor a questão do movimento do corpo e do trabalhar em grupo”, portanto, “tem movimento

para transformação, ressignificação, de papeis, é terapêutico nesse sentido de ressignificar”.

Assim, compreendem que o corpo “tem necessidade enorme de movimento. Aprende muito

através da brincadeira, através de um jogo, de pular corda. Aprendendo através da brincadeira da

teatralização, de jogo lúdico”, e por isso, o corpo “está em constante movimento, precisa correr,

andar, pular”.

Portanto, o processo pedagógico na experiência apresentou-se como uma atividade capaz

de não apenas estimular a dimensão cognitiva, como também todas as dimensões presentes no

campo corpóreo, considerados nesta abordagem necessários à aprendizagem significativa que

preza pela ação e criação constante no educar.

Como também, na busca de desenvolver o ser integral faz-se fundamental para esse

processo, conforme indica Yus (2002), uma educação ativa que utilize o movimento com jogos,

danças, exercícios corporais que conseguem contactar tanto a dimensão física numa maior

141

consciência do campo corpóreo, como possibilitam o contato das demais dimensões, como as

emoções, sentimentos, a cognição.

4.3.4.6 Concepção Educação do corpo como bem-estar e prazer

Esta categoria indica que a experiência formativa vivida na disciplina promoveu aos

estudantes sensações de bem-estar e prazer com a inclusão do corpo no processo formativo. Fato

verificado na linguagem dos alunos quando expressaram: “movimentá-lo proporciona prazer em

relação à aprendizagem”. Os estudantes também indicaram a correlação entre o bem estar físico

e o bem estar mental, rememorando a máxima latina mens sana in corpore sano. Neste sentido,

mente-corpo como hólons interligados (WILBER, 2002) se auto influenciam e assim, os

estudantes indicaram, “o corpo precisa estar bem para não travar a mente e vice-versa na

aprendizagem”, desta forma “se ele não estiver bem eu não vou conseguir aprender”, pois

“quando o corpo tá bem, a mente tá bem” ou semelhante, “se o corpo tá bem você vai ter uma

aprendizagem boa e se não, você também não vai aprender nada”.

Sobre essa interação, diversas pesquisas já apontam a relação entre saúde e felicidade e

constatam que pessoas sadias são mais felizes do que as pessoas doentes, apontando a influência

da mente através dos pensamentos positivo/felizes causando alterações bioquímicas no cérebro,

o que por sua vez, afeta toda a fisiologia do corpo. Com isso, pesquisas médicas já

ressignificaram a conexão entre corpo-mente e suas implicações nos processos terapêuticos e na

qualidade de vida das pessoas.

Entretanto, a medicina ocidental como campo da ciência ao longo dos três últimos

séculos regida pelo cartesianismo de visão ocupou-se massivamente a estudar a fisiologia, com a

fragmentação de suas partes, e os aspectos patológicos do corpo (DAMÁSIO, 1996). Com isso, a

medicina pouco se ocupou em estudar os aspectos que promovem saúde e bem estar ao corpo e à

mente, e a conexão do corpo em funcionamento como um todo.

Neste sentido, também falta à educação como campo da ciência um aprofundamento no

intuito de compreender quais tipos de relações fomentam a promoção de saúde, bem estar e

prazer físico e psicológico nos processos educacionais. Dessa forma, a experiência de cunho

integral já nos suscitou indícios nessa direção, a partir do uso de estratégias metodológicas mais

142

dinâmicas e inclusivas com a indicação desta categoria, nos apontando que “é mais atrativo

quando se tá trabalhando em grupo e com o corpo”, relata o estudante.

4.3.4.7 Concepção Educação do corpo fragmentado

Esta categoria apresenta os limites de uma proposta que se endereça ao desenvolvimento

do ser integral como pretendido na disciplina Processos Interativos. Apesar de toda a proposta

educativa ser voltada a este objetivo, ainda encontramos entraves a sua adesão e/ou

desapreciações dos estudantes sobre o paradigma. Desta forma, segundo a linguagem dos

estudantes uma interação entre conhecimento e desenvolvimento humano é uma proposta tão

inovadora que alegam ser uma “concepção de unidade difícil de modificar. Tem marcas que

impedem a implementação da junção corpo e mente. Por isso ele causa estranhamento pelo

desconhecimento sobre o próprio corpo”. A partir da unidade de significado indicada

percebemos uma restrição ao paradigma oriundo das marcas/concepções corporais que os

estudantes trazem.

Outros salientam obstáculos de outra ordem e afirmam que “na prática a educação do

corpo fica muito difícil”, revelando que não acredita neste tipo de proposta pedagógica. Outro

estudante ressaltou que seu corpo “continua rígido, continua a estrutura formal da sala, mas cabe

ao educador manter ou dinamizar”, revelando o caráter consciente de escolha entre os

paradigmas que cabe a cada formador, neste caso graduandos como futuros formadores.

4.3.5 Análise e discussão do Gráfico das Unidades de Significado sobre o corpo no processo de

aprendizagem na UFPE-CE

O foco de análise a seguir foi o conceito de educação do corpo no processo de

aprendizagem e a questão investigada foi a 4 (Escreva sobre o desenho de um corpo aprendendo

na UFPE-CE) a qual tem suas unidades de significados dispostas na matriz abaixo. Estas

categorias apresentam a concepção destes estudantes quanto ao legado da educação do corpo na

modalidade aprendizagem como discentes do curso de Pedagogia.

143

FIGURA 35. MATRIZ DAS UNIDADES DE SIGNIFICADO

CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CORPO NA UFPE-CE: PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

4.3.5.1 Concepção Educação do corpo acessório na aprendizagem

A categoria Educação do corpo acessório no processo de aprendizagem comunga com a

problematização proposta pela autora Nóbrega (2005), como já evidenciamos antes. Na

concepção desta autora, o legado civilizador e racionalista aplicou ao corpo o caráter de objeto

acessório, pois o principal aspecto a ser trabalhado é a dimensão cognitiva, estando o corpo

apenas como um veículo para transportá-la. Este fato é confirmado pelos estudantes com a

presença desta categoria após a vivência de sete períodos como discentes do curso de Pedagogia.

144

Portanto, na aprendizagem tal como na linguagem dos estudantes o corpo tem “a cabeça

maior do que as demais partes, expressando a valorização do intelecto e sem as orelhas (ouvidos)

significando a ausência da escuta de si mesmo/a de seus limites e capacidades”. De forma

semelhante, fazem analogia do corpo como um cabide que se romperá, e assim, “o corpo e a

mente estão cheios de informações (muitas vezes desnecessárias). Como um cabide repleto de

roupas, que de tão cheio se parte”. Desta forma, há o massivo exercício da mente.

O desenho abaixo expressa o corpo aprendendo nesta categoria, associado à unidade de

significado que o expressa: “não é fácil aguentar 4h só escutando discurso dos educadores.

Principalmente os que não querem ser interrompidos”.

Figura 36. Desenho na concepção Educação do corpo acessório na aprendizagem

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

Em continuidade, no discurso dos alunos, “o corpo está condicionado a várias teorias, as

quais não conseguem pôr em prática na realidade”, pois, em seus discursos afirmam que “o

desenvolvimento intelectual ainda é o mais ativo na universidade”, portanto o “corpo é visto

como um anexo, sem importância” e assim ele “é esquecido, fechado, separado da mente”.

Assim, na concepção desta categoria, o lócus da aprendizagem é a cabeça/mente/cérebro e na

aprendizagem o destaque é o acúmulo demasiado de teorias e horas e horas apenas ouvindo o

conhecimento. Portanto, o corpo acessório reduz o corpo integral à dimensão mental.

Constatamos com a presença desta categoria que os sistemas educacionais convencionais

amplamente, como debatido na problemática deste trabalho, e até a universidade, têm baseado

145

fortemente seu trabalho no diálogo estritamente racional, o que é traduzido pelos alunos como

uma formação que promove o desconhecimento e desconexão de si mesmo, o que apresenta ser

uma aprendizagem cansativa, pois os estudantes ouvem e ouvem demasiadamente e participam

pouco. Sentem a sensação de estarem sendo condicionados a isso e acabam extrapolando seus

próprios limites, como enfatizado.

Assim, para Espírito Santo (2012), a transgressão da visão racionalista do corpo é uma

etapa a ser vencida pelas instituições de ensino. Esse condicionamento promovido pela estrutura

e pelas regras da instituição escolar através da aprendizagem cumulativa mental “é precisamente

o tipo de comportamento que os educadores pensam possibilitar ao estudante sair com sucesso

nas provas” (YUS, 2002, p.197). Entretanto, hoje, já se sabe sobre as emoções e outros aspectos

afetando fortemente este processo, muito mais até do que a dimensão cognitiva.

4.3.5.2 Concepção Educação do corpo bancário na aprendizagem

Nesta categoria temos o destaque da educação do corpo como um objeto receptor, com

uma postura disciplinada e mecanicamente reprodutora frente aos conteúdos ensinados pelo

docente, por isto recebe o nome de corpo bancário. Este tipo de relação de controle, disciplina e

dependência é confrontado por Gonçalves (1997) como sendo atitudes oriundas da transmissão

ideológica do sistema dominante dos mecanismos das estruturas sociais, resultantes do processo

histórico civilizatório ocidental que instaurou uma determinada relação de poder à educação

instaurando relações de quem manda e de quem obedece. Desde o surgimento das escolas no

século XVIII e XIX, estas instituições foram pensadas para servir como uma preparação para o

mundo do trabalho fabril, elas buscavam produzir reações voluntárias racionais e ao mesmo

tempo procuravam eliminar do corpo movimentos involuntários para que tais corpos pudessem

ser mais produtivos.

De forma semelhante, atualmente a escola repete a relação ditatória de poder com o

social/econômico capitalista. Segundo Gonçalves (1997, p.33), isto acontece porque “as práticas

escolares tendem a internalizar as relações com o mundo e estas atualmente consistem na

supervalorização das operações cognitivas e no progresso distanciamento da experiência

sensorial direta”, por isto educar tornou-se um ato passivo e sem coparticipação mútua.

146

Neste sentido, com ênfase na aprendizagem e segundo a linguagem dos alunos, o aluno

“tem que estar quieto e posicionado de modo „correto‟ para que haja a aprendizagem”, assim, ele

posiciona-se como “um corpo dentro de um objeto fechado” e desse modo,

“o corpo está em uma posição sempre estática e rígida. Ele permanece por 2h quase em

uma mesma disposição, os movimentos são mínimos e curtos (não há movimentos amplos).

Há um certo esgotamento do corpo pela falta de muitos movimentos com as pernas, pés e a

coluna.” (Discurso da aluna M.C.S.).

Abaixo visualizamos o desenho referente a esta categoria, com a unidade de significado

expressada na figura.

Figura 37. Desenho na concepção Educação do corpo bancário na aprendizagem

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

Outro ponto a ser destacado nesta categoria é o tipo de relação estabelecida entre

professor-aluno, a qual segundo o discurso dos alunos nos aponta que na aprendizagem, “alguns

professores conseguem deixar os estudantes com medo de continuar a caminhar”, neste sentido

outra estudante indica: “sente-se perdida e cheia de perguntas”.

Percebemos que os relatos apontam haver uma sensação de receio, medo, insegurança,

por isso a sensação é de que não sabem de nada e ficam numa dependência do educador, o qual

nesta concepção é o exclusivo detentor do conhecimento, como vemos a seguir quando na

linguagem deles “o corpo fica sentado na cadeira, anotando tudo que o professor escreveu no

147

quadro. Fica cansado, pois não foi trabalhado totalmente”, e assim, com esta postura dependente

“está no sistema tradicional sentada, só ouvindo o professor falar sem poder opinar, pois só o

mestre é o alvo da atenção e fica estático”. Assim sendo, a postura é “o aluno sentado, sempre a

espera do professor. Interroga-se, em todo período é sempre a mesma expressão: não sabe o que

vai aprender”.

4.3.5.3 Concepção Negação da educação do corpo na aprendizagem

Esta categoria expressa que no processo de aprendizagem, para os educandos do curso de

pedagogia da UFPE no Centro de Educação, o corpo não está sendo incluído, a tal ponto de os

estudantes indicarem como educação do corpo “inexistente”. O desenho abaixo busca expressar

esta categoria e tem como unidade de significado representativa o discurso: “o corpo aqui no CE

é esquecido, fechado” (discurso da aluna S.S.A.).

Figura 38. Desenho na concepção Negação da educação do corpo na aprendizagem

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

Desta forma, expressam não perceberem a inclusão ativa do corpo e relatam que no CE

“não aprende com o corpo, não há preocupação com ele, não é concebido no processo de

aprender, fica alienado e inexistente”. Assim, outro estudante destaca, “não acredito ou não

pude perceber até então uma preocupação com o corpo na maioria dos educadores”, pois, “não

está sendo levado em consideração”, assim, “não consigo perceber nas aulas o desenvolvimento

de características corporais”, neste sentido, ele “não está sendo concebido no processo de

148

aprendizagem” e, portanto, “não notamos a preocupação do aluno com o corpo no processo de

aprendizagem”.

Estes relatos corroboram com as ideias de Bonerman (1981 apud Gonçalves, 1997, p.34),

teórico que ao longo de 20 anos realiza pesquisas sobre o corpo nos processos de aprendizagem e

enfatiza em suas pesquisas que a educação tem sido uma inimiga do corpo no ato de aprender,

pois na maior parte das vezes, a aprendizagem distancia a participação corporal através do

desprezo das experiências sensoriais e experimentais, reprimindo e frustrando o corpo neste

processo. A ênfase ainda é dada ao acúmulo de conhecimentos abstratos, os quais são veiculados

por textos, imagens, números, fórmulas, com pouca participação da pessoa com o corpo e sem

envolver a participação afetiva do aluno. Assim, como apontado nesta categoria, o corpo parece

não estar presente, como relatam os estudantes desta experiência.

4.3.5.4 Concepção Educação do corpo pouco explorado na aprendizagem

Esta categoria explicita as unidades de significado que nos apontam a educação do corpo

na UFPE-CE de forma presente, entretanto, ainda pouco presente, em apenas uma aula ou em

algum momento numa disciplina ocorreu essa interação, de forma que na linguagem dos

estudantes, no processo de aprendizagem “apenas em uma disciplina no início do curso

utilizamos o corpo, apenas uma aula onde resgatávamos as brincadeiras de infância”. Neste

contato, a estudante quantifica que “20% podem ser percebidos a partir de uma troca de múltipla

e contínua de aprendizagens possibilitadas pelas relações interacionais vividas no espaço

temporal na UFPE-CE. Assim, não está configurada apenas pelos corpos professor/aluno e sala

de aula, mas no diálogo consigo mesmo e as relações com outros e experiências, etc”, como

vemos esta unidade de significado expressada no desenho abaixo:

149

Figura 39. Desenho na concepção Educação do corpo pouco explorado na aprendizagem

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

Com o corpo pouco trabalhado na aprendizagem a estudante expressa, “ora cruzamos os

braços, ora estamos abertos, ora não sabemos, mas começamos a caminhar”, revelando que neste

processo, fazemos a leitura de que há um movimento de inclusão do corpo na aprendizagem, mas

ainda bastante pouco expressivo.

4.3.6 Análise e discussão do Gráfico das Unidades de Significado sobre o conceito de educação

do corpo no processo de aprendizagem na disciplina Processos Interativos

Nesta seção a análise foi referente à experiência proposta na disciplina Processos

Interativos sobre a concepção de educação do corpo na modalidade aprendizagem. Aqui as

categorias apresentadas são oriundas da questão 4 (Escreva sobre seu desenho de um corpo

aprendendo na disciplina Processos Interativos) que estão expostas na Matriz de significados a

seguir.

150

FIGURA 40. MATRIZ DAS UNIDADES DE SIGNIFICADO

CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CORPO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NA

DISCIPLINA PROCESSOS INTERATIVOS

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

151

4.3.6.1 Concepção Educação do corpo como elemento da educação na aprendizagem

A presente categoria Educação do corpo como elemento da educação é aquela que inclui

o corpo como um elo conectivo fundamental na interação com o conhecimento dentro dos

processos pedagógicos. Assim, os estudantes expressaram haver uma unidade entre corpo-

conhecimento-aprender-ensinar dentro da perspectiva da experiência que visou à educação

integral. Destacamos que o corpo como elo pedagógico foi uma proposta recorrente na disciplina

Processos Interativos, pois sua proposta foi sempre incluí-lo dentro dos processos ativamente.

Desta forma, na linguagem dos alunos, no processo de aprendizagem, os estudantes

indicaram que o corpo “faz parte da aprendizagem da gente, mesmo a gente não percebendo”, e

ressaltam, “o corpo serve pra aprender”, “é usado nas aprendizagens” e “o corpo vai estar ali

fazendo parte na aprendizagem”. Nestas unidades, percebe-se o corpo como integrante deste

processo.

Neste sentido, o corpo é apresentado como uma ponte unindo o saber, portanto, ele “está

envolvido no processo de conhecimento”, pois “o corpo ajuda a construir conhecimento e o

ensino-aprendizagem, deixando de atrapalhar”, portanto, “o corpo é tratado como algo essencial

para a formação dos alunos”. Assim, ele “constrói com o professor. Aprende e não decora pelo

compartilhamento de experiências”, e destaca que “aprende com o corpo não necessariamente

passando conteúdo”.

Os discursos desta categoria que incluem o corpo como elemento/parte da educação nos

rememoram que o corpo também é aprendiz (ANDRADE, 2007). Na contemporaneidade

esquecemos ou não percebemos este fato. Partindo do pressuposto de que o ser humano é um ser

de relação, esta relação é dada por nosso corpo que é aprendiz das interações de forma global.

Portanto, ele está continuamente aprendendo como elemento da aprendizagem.

O corpo não somente o infantil está constantemente aprendendo na relação, na

interação com o outro – a família, o grupo de amizades, o par amoroso – este

outro pode materializar-se ainda, através da televisão, dos livros, da internet, das

revistas, enfim, da mídia de um modo geral e dos modelos idealizados que apresenta. (ANDRADE, 2007, p.108).

Nesta interação estabelece-se um vínculo na relação de compartilhamento entre aprender

e ensinar, pois há sempre a troca de saberes entre os corpos na relação, dessa forma, se meu

152

corpo é aprendiz ele também aprende com o corpo do outro, e este por sua vez, também me

ensina, estabelecendo uma relação de interdependência.

Assim, nas unidades de significado explicitaram que o corpo como elemento da

educação “é uma pista de mão dupla, você vai ensinando e ao mesmo tempo você vai

aprendendo”, por isso, “vivenciam as duas coisas, aprender e ensinar”, porque “compartilhamos

experiências, eu posso compartilhar a minha com você e você comigo”, e assim, aprendemos um

com o outro, portanto, com o corpo, a gente “ensina e aprende ao mesmo tempo”. Na percepção

dos alunos há o resgate do princípio de unidade entre essas relações com a inclusão do corpo.

Assim, os estudantes apontam a relação formativa de construção e reconstrução de si

pelos processos de ensino-aprendizagem e percebem a finalidade educativa acontecendo neles

mesmos numa transformação contínua e assim, relatam que “as dinâmicas ajudam as evoluções”

e por analogia, somos:

“Como um feijão, há um crescimento e depois eu quis voltar a crescer, é sempre lento esse

processo. Construindo e se reconstruindo nesses passos. É um corpo que também capta as

coisas, e aprende, pega o sentido da aprendizagem. E assim, modifica nossos olhares não só

no sentar, mas começa-se nos detalhes.” (Discurso da estudante A.N.).

No aprofundamento destas relações, na linguagem dos estudantes, o corpo como

elemento da educação apresenta-se o lócus do inacabamento de si, por isso aprende sempre e

também pode ensinar sempre. Desta forma, a estudante indica que “é como um quebra-cabeça

vai se formando aos poucos e nunca vai ter uma forma, está em mutação porque é no corpo que o

conhecimento se materializa. Assim, representa a construção do que está sendo aprendido”,

vejamos o desenho referido a esta unidade de significado.

153

Figura 41. Desenho na concepção Educação do corpo como elemento da educação na

aprendizagem

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

Assim, o corpo nesta categoria é o lugar onde ao mesmo tempo é a mediação do

conhecedor para o conhecimento e onde o conhecimento será incorporado no processo contínuo

de aprendizagem.

4.3.6.2 Concepção Educação do corpo como atividade na aprendizagem

Esta categoria Educação do corpo como atividade está intimamente relacionada ao

fundamento conceitual da educação como processo integral de formação humana na medida em

que se objetiva o cultivo das dimensões humanas através de uma didática que organize na

aprendizagem a inclusão e a mobilização da interação do corpo na busca da

sensibilização/conhecimento de sua multidimensionalidade. Com este objetivo, centraliza o ser

humano como protagonista da educação de forma ativa.

Nesta perspectiva, o corpo é sempre acionado. Assim, no processo de aprender, para os

estudantes, o corpo “está pronto, interage durante a aprendizagem, tornando assim esse processo

mais significativo”, dessa forma, “tem que ter um movimento, tem que usar o corpo, pois precisa

154

de interação e integração”, revela-se assim, “cheio de movimento, não fica estático, interage” e

com isso, “o corpo é dinâmico nunca é estático”.

Nesta relação entre corpo e movimento, os estudantes também se perceberam numa

interatividade com seus “Quatro Quadrantes do Kosmos” de Ken Wilber (2011), de modo que

indicam a relação com o Nós, quando nas atividades o corpo está em “interação uns com os

outros. O corpo em movimento”, como também, em ação com o(s) Isto(s), pois ele “está sendo

concebido no processo de aprendizagem sempre em interação no contexto social, cultural,

político e econômico”. O desenho abaixo busca retratar essa categoria, vejamos:

Figura 42. Desenho na concepção Educação do corpo como atividade na aprendizagem

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

Na busca desta conexão mais integral do ser humano, Espírito Santo (2012) indica a

implementação de uma práxis mobilizadora/ativa através do renascimento da arte na educação,

pois acredita que com a arte pode-se instaurar uma inovação e criação no fazer educativo

155

promovendo ao educando e ao educador o conhecimento de seus potenciais criativos e as

dimensões humanas.

[...] a aprendizagem vinculada às artes vem paulatinamente ocupando um

espaço na educação, pois à medida que ela apresenta-se capaz de recuperar a

sensibilidade para conectar a integralidade do próprio ser humano ao trabalhar

as diferentes formas de expressão humanas, ou pelo desenho, poesia,

dramatização, música, dança, entre outros, que conseguem conectar o ser

humano multidimensional. (ESPÍRITO SANTO, 2012, p.31).

Neste sentido, o objetivo é introduzir na sala de aula um universo ativo, lúdico, para o

resgate da sensibilidade, da percepção, do brincar, da ação de criar e aprender com mais alegria e

prazer. Neste sentido, esta categoria conseguiu relacionar-se com o quadrante Eu, lócus da

dimensão da arte e da estética de cada um, pois os estudantes se perceberam como Eus mais

“interativos, criativos e dinâmicos”. E neste trabalho de aprendizagem ativa com a arte, é um

“corpo dinâmico, aprendendo com dinâmica de grupo. Produz arte”, assim, “tem movimento, é

um corpo que interage com a música”, portanto, “tem dinâmica”, “constrói o conhecimento com

a música” e “os corpos estão sempre se movimentando com dança, desenhos, dramatizações,

debates são bastante usados nas aprendizagens”, e assim está numa teia ativa, pois “tem grupo,

união, equipe, amizade, interação e integração”.

4.3.6.3 Concepção Educação do corpo como expressão e liberdade na aprendizagem

Esta categoria denominada Educação do corpo como expressão e liberdade na

aprendizagem comunga com a ideia formulada por Yus (2002), o qual indica que para conseguir

a reconexão multidimensional do ser humano, finalidade da educação integral, tem-se a

necessidade da criação de um dispositivo formativo que tenha como estratégia instaurar um

ambiente confortável que possibilite aos participantes terem abertura e liberdade para expressar

crenças, metas e intenções, formando um ambiente acolhedor, atento e de apoio onde todos são

incentivados a se envolver em uma relação colaborativa e dialógica.

Conforme a linguagem dos estudantes, o corpo na aprendizagem “quando se abre fica

tudo mais fácil”, e com esta abertura, pode expressar-se e “levanta questionamentos, interage”,

sente que pode ser reconhecido como sujeito único, pois, “está aberto a se colocar como um ser,

156

um indivíduo, ser humano, com individualidade, identidade, com uma história que tá no meu

corpo e tem que ser considerado”, assim, “o corpo está aberto, liberto”. Demonstram a relação

entre o conforto, a expressão e a espontaneidade. Neste sentido, o corpo está “espontâneo em

movimento. Reflete e relaxa”, e assim, “não sentar em cadeiras nos deixa mais a vontade. Tem

liberdade para se portar como lhe fica mais confortável e aprende porque expressa”.

Com esta liberdade e abertura, os estudantes dizem participar ativamente do processo de

autoaprendizagem e autodescoberta de seu processo de vir a ser contínuo o qual necessita de

cultivo de um espaço de abertura interna cotidianamente. Dessa forma, relata, “o que a gente é

hoje, amanhã já é de outro modo, e a gente tá sempre ressignificando, sempre abrindo a mente

para novos horizontes, a gente tá aberto, é um corpo aprendiz contínuo”, de forma semelhante

outro aluno diz: “está de braços abertos pra expressar liberdade e encontro porque está sempre

disponível para aprender, para se recriar”, da mesma forma, “aprendendo é um „corpo aberto‟

com aquela vontade de aprender”.

Figura 43. Desenho na concepção Educação do corpo como expressão e liberdade na aprendizagem

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

157

Neste sentido, Espírito Santo (2012) posiciona a comunicação presencial como algo que

não pode ser dispensado na relação professor-aluno. Nessa abertura, há possibilidade de

aprendizagem mútua com respeito, condições de ser ouvido e a possibilidade de perceber

sentimentos e emoções permitindo um encontro primeiramente entre pessoas a cada aula. Dessa

forma, na experiência da disciplina, os estudantes indicam que o trabalho com a educação do

corpo foi “concebido no processo de aprendizagem como comunicação verbal e principalmente

não verbal, pois ao se expressar o corpo fala, comunica sentimentos, atitudes, valores e cultura” e

dessa forma, “está em grupo com interação não só verbal, mas também não verbal”.

4.3.6.4 Concepção Educação do corpo como conhecimento de si e do outro na aprendizagem

O corpo nesta categoria pode perceber a si mesmo num processo de autoconhecimento de

seu primeiro quadrante Eu, como também conhece a interface com o quadrante Nós, ampliando a

percepção e a imbricação da subjetividade com a intersubjetividade. Portanto, na linguagem dos

alunos, concentrando na aprendizagem, na interação com o Eu e no processo de

autoconhecimento e autodescoberta, começa a perceber a si mesmo, assim, “só quando a gente

estuda sobre é que a gente se dá conta intelectualmente que o corpo da gente não tá bem”,

revelando-se. Outro aluno nesta mesma direção, “fica calmo, sente o corpo, conhece a mente, vai

pra o passado, dá um novo significado, o corpo sai muito relaxado”.

Neste segmento, conforme descrito pelo discurso dos estudantes, na disciplina o corpo

“trabalhava as relações pessoais, tanto as interpessoais e as intrapessoais” e assim, vive a arte do

encontro, pois se abre para o mundo do outro, seu comportamento, dentro da coletividade

“encontra com essa outra pessoa” e “tem vontade de conhecer e perceber o outro através de si, de

seus movimentos”.

Figura 44. Desenho na concepção Educação do corpo como conhecimento de si e do outro na

aprendizagem

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

158

Sobre o desenho acima, a estudante relata como unidade de significado que “na disciplina

aprendemos a trabalhar de maneira mais eficaz a importância de compreender mais o outro e de

se unir com aqueles indivíduos que não temos muita aproximação”.

Como facilitador desse processo intrapessoal e interpessoal no aprender, os alunos

destacam que a organização da sala em círculo facilitou as interações. Neste sentido:

“Leva-se em consideração o ritmo do outro, do aluno, suas deficiências. A organização em

círculo faz com que todos observem todos, conhecendo as características, os detalhes do

corpo, reconhecendo e respeitando as diversidades, quando nos damos as mãos sentimos o

outro, seu ritmo e sua força.” (Discurso da aluna E.C.S.)

Portanto, para o reconhecimento do outro, a mudança do espaço físico aparece como

fundamental, pois o formato circular preza pela comunicação entre os olhos. Sobre esta

disposição em sala de aula temos,

Apesar das óbvias vantagens da formação em círculo para melhor interagir,

ainda temos escolas que mantém o velho sistema de carteiras enfileiradas no

cotidiano escolar. A possibilidade de que todos possam se olhar e ensejar uma

participação ampla na relação professor-aluno aponta-se hoje o trabalho em

círculo como forma didático-pedagógica mais significativa (ESPÍRITO

SANTO, 2012, p.49).

Desta forma, na linguagem dos estudantes na aprendizagem “percebe seu corpo como

percebe o corpo dos outros. Aprende que um só não vai fazer a diferença, mas o coletivo sim”, e

desse jeito “a gente aprende com o outro” como uma troca, “na disciplina aprende-se juntos”. O

direcionamento com este objetivo conseguiu proporcionar a cada um “está mais envolvido,

estimulado a aprender e a construir juntos”.

Com a experiência formativa, “une-se mais com aquelas pessoas que a gente não tem

muita aproximação. A gente percebe o limite do outro e que cada um tem seu ritmo e isso deve

ser respeitado na relação com o outro”. Dessa maneira, o corpo “serve para relacionar-se também

com os outros. Aprende e ensina em uma participação conjunta, nem só o professor tem que ser

transmissor e o aluno receptor, um está no processo de aprendizagem com o outro” e num

trabalho de estar em coletivo a gente, “aprende a confiar nos outros que conhece e nos outros

ainda desconhecidos”, “pode estar desligado do próprio condicionamento que é a própria sala de

159

aula e o próprio eu, e pode estar mais perto para conhecer o mundo um do outro, pode vivenciar

mais a relação eu-outro”.

4.3.6.5 Concepção Educação do corpo mais integral na aprendizagem

A presente categoria Educação do corpo mais integral concentrou a análise sobre os

discursos da experiência em relação ao processo de aprendizagem que apresentaram dados de

percepção mais multidimensional no corpo.

Nesta direção, avaliando o processo de aprendizagem vivenciado, os alunos apontaram

uma maior conexão da integralidade do ser e em seus discursos expressam, “corpo e mente está

presente sem dicotomia”, pois, “não só a mente é exercitada, mas também o corpo. Aprende

porque sente”. Ampliando ainda mais a percepção, segundo a estudante, na disciplina cada um

“encontra em primeiro lugar com você mesmo enquanto pessoa, pensando em você integral, em

todas as dimensões”, desta forma, “envolve todas as dimensões, mobiliza aprender a ser total

para ser humano em todas as suas dimensões psico-social-cósmico-bio” e assim, “ensina e

aprende com o corpo dele, com seu todo”. Em continuidade, para a estudante,

“O corpo é concebido em sua integralidade, ou seja, a partir de sua identificação

multidimensional diante das características afetivas, criativas, emocionais, etc. Está no

centro e tem emoção, vínculo, história, criatividade, planejamento, aprendizagem, cultura,

afetividade, ciclo, papeis (música, pensando, falando).” (Discurso da aluna R.S.).

Dando continuidade, os alunos indicam que na experiência “o corpo foi o centro, o tema

maior, a dimensão maior que a gente trabalhou outras dimensões como a construção de papeis,

do grupo, da emoção, a construção do vínculo”. Portanto, esta categoria alinha-se com a

finalidade da educação integral e transpessoal, na busca de promover a gradativa sensibilização

das diversas dimensões que compõe o corpo multidimensional. Em consonância com Yus (2002,

p.199),

O desenvolvimento intelectual da criança tem uma relação apropriada com seu

desenvolvimento social, emocional, físico e espiritual. A educação holística vê a

mente e o corpo como algo conectado e interrelacionado, defendendo um

equilíbrio entre a cognição e a emoção e, mais especificamente entre o uso da

razão/lógica científica e a intuição/pensamento narrativo.

160

Neste sentido, a experiência da disciplina buscou abarcar o corpo integral na

aprendizagem e na percepção dos alunos, a inclusão do corpo neste processo contribuiu para uma

in-corporação do saber, de modo que “no corpo o conhecimento se materializa porque o meu

corpo é o meu ser”, dessa forma, “o corpo nos ajuda a aceitar mentalmente o conteúdo na sala de

aula”.

Abaixo temos o desenho representativo desta categoria que tem como unidade de

significado: “aprende mais fazendo e não só pensando, mas pensando e fazendo. Aprende junto

com a mente, na realidade, aprende-se na totalidade”, ou seja, para este estudante mente e corpo,

pensar e fazer, teoria e prática se articularam.

Figura 45. Desenho na concepção Educação do corpo mais integral na aprendizagem

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

4.3.6.6. Concepção Educação do corpo como bem-estar e prazer na aprendizagem

Chegamos a esta categoria através da linguagem dos estudantes que indicaram sensações

de prazer, alegria e felicidade vinculados ao ato de aprender. Desta forma, os estudantes

expressam que “tem prazer de se movimentar e de interagir em grupo e sentem-se felizes ao

aprender e brincar”. Com este discurso, temos concordância com o que indica os autores abaixo

sobre o desenvolvimento humano e a relação saudável que pode ser estabelecida com as

emoções.

[...] o desenvolvimento salutar de nossa consciência individual e social, bem

como a elaboração adequada de nossas capacidades emocionais e intelectuais –

161

e, em especial, de nossa capacidade de amar, com tudo o que isso implica –

depende de nosso crescimento no brincar. (VERDEN-ZÖLLER, MATURANA,

2004, p.245).

Relatam também a relação interdependente de bem estar entre corpo e mente, pois

expressam, “se eu não estiver bem com meu corpo eu não vou conseguir aprender”. Temos

abaixo o desenho representativo desta categoria que tem como unidade de significado:

“divertem-se e dançam enquanto estão aprendendo”.

Figura 46. Desenho na concepção Educação do corpo como bem-estar e prazer na aprendizagem

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

4.3.6.7 Concepção Educação do corpo fragmentado na aprendizagem

Esta categoria expressa que apesar da tentativa de uma formação mais integral, qualquer

experiência educativa apresenta seus limites e desafios. Portanto, a disciplina Processos

Interativos objetivou o desenvolvimento de uma percepção de corpo mais integral através das

experiências suscitadas, entretanto, identificamos o aparecimento desta categoria, revelando que

no processo de aprendizagem alguns estudantes não tiveram uma maior sensibilização de sua

integralidade.

Dessa forma, temos uma estudante que enfatiza que seu corpo na aprendizagem não foi

participativo, não se integrou mais, não se percebeu como elemento na aprendizagem ou outra

categoria e, portanto, classificamos como corpo ainda fragmentado, pois ela não se permitiu

interagir de forma nova com seu corpo. Assim, ela relata:

162

“Não me senti a vontade para estar interagindo com as outras pessoas, na verdade eu nem

queria desde que eu entrei aqui eu não queria, infelizmente eu não pude deixar de pagar a

disciplina. Tinha momentos que eu não gostava do toque, eu não gostava disso, essa cadeira

era muito toque, muito contato, eu não quis participar. Não era nada contra o professor,

nem os outros, era algo meu. Eu não me permiti porque eu não queria participar, eu não

queria interagir com as outras pessoas.” (Discurso da estudante S.S)

Desta forma, vemos que este tipo de abordagem não necessariamente será agradável para

todas as pessoas, pois necessita que cada corpo possa se permitir entrar num processo de abertura

para a interação contínua na aprendizagem nos indicando claramente os limites de uma prática

que se dirige à integralidade e mais propriamente um trabalho focado no corpo. Salientamos que

nesta categoria não tivemos nenhum desenho representativo.

4.3.7 Análise e discussão do Gráfico das Unidades de Significado sobre o corpo no processo de

ensino na UFPE-CE

A seguir temos a Matriz das unidades de significado da questão 5 (Escreva sobre o

desenho de um corpo ensinando na UFPE-CE).

163

FIGURA 47. MATRIZ DAS UNIDADES DE SIGNIFICADO

CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CORPO NO PROCESSO DE ENSINO NA UFPE-CE

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

4.3.7.1 Concepção Educação do corpo acessório no ensino

Com ênfase agora no processo de ensino, esta categoria Educação do corpo acessório do

educador foi indicada pelos estudantes através de verbos que concentraram nosso foco de

análise, tais como o educador que transmite, informa e expõe; ações vinculadas à dimensão

mental. O desenho a seguir ilustra esta categoria no processo de ensino que tem como unidade de

significado: o corpo do educador é “fechado em si mesmo e com uma cabeça maior que as

demais partes, expressando esse intelecto que é tão valorizado”.

164

Figura 48. Desenho na concepção Educação do corpo acessório no ensino

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

Este desenho expressa a linguagem da estudante que diz “o meu desenho é uma cabeça

sem corpo, pois, a maioria dos professores, em seus discursos, prega o aprender a pensar,

criticar, reivindicar, mas, sem vínculo nenhum com o corpo”. Neste segmento, quando se

referem ao corpo dos educadores, informam que “a maioria não se preocupa com o corpo, apenas

transmitem conhecimento”, dessa forma, o educador, “está informando e condicionando os

alunos a uma teoria”. Assim, “o corpo está sendo concebido como transmissor de conhecimento

e ideias”, e os educadores “usam muito pouco o próprio corpo no processo de ensino.

Praticamente só escrevem e falam, as aulas são bastante expositivas e sem muito movimento. O

corpo também é excluído do processo neste caso”.

Essa ênfase dada aos conteúdos é algo bastante problematizado pelos autores atuais.

Gonçalves (1997) sinaliza que os sistemas educacionais convencionais baseiam seu trabalho no

diálogo estritamente racional o que lhes exige uma grande dose de formação intelectual do

educador e do discente. Desta forma, poucas escolas buscam outras dimensões além do cérebro a

receber informações ou um intelecto a ser desenvolvido. Já Brandão (2012) expressa que a

educação tornou-se uma oferta unidirigida de informações e conhecimentos que tornam o

aprender uma aquisição cumulativa de conteúdos, os quais devem ser retidos na memória do

aprendiz, por isso o privilégio é a mente.

165

Neste sentido, a mente segue recebendo destaque, como vemos nas referências dos

estudantes quando relatam que “o desenvolvimento intelectual ainda é o mais ativo na

universidade”, desta forma, “dá muita importância ao conteúdo a ser passado e não se

preocupam com a prática”, de forma semelhante, “só se preocupam com o intelecto, mas esse

precisa do corpo para ficar em harmonia” e o trabalho do educador restringe-se a “só textos e

mais textos. Olha a nota aí... E trabalho, seminário, prova, mas como se fosse punição e não

relação entre ensino e aprendizagem”.

Assim, a educação do corpo ainda apresenta-se como uma das metas que deve ser

alcançada separadamente das demais como aponta YUS (2002). Assim, os educadores mal

exploram o corpo e não aprendemos a conhecer a nós mesmos, nossos limites e como ultrapassá-

los na formação. A constatação disso é o crescente resultado na contemporaneidade do grande

número de doenças surgidas às quais são atestadas pela falta de cuidados conscientes sobre o que

nossos corpos necessitam em conexão entre corpo-mente.

4.3.7.2 Concepção Negação da educação do corpo no ensino

A categoria Negação da educação do corpo no que concerne ao processo de ensino com

ênfase no corpo do educador foi assim indicada porque na linguagem dos participantes, ele

“aparenta que não queria estar ali”, desse modo, o corpo “parece sem importância, como algo

que não comunicasse” e para os alunos na UFPE-CE passa uma postura “sem nenhuma

estimulação, sem movimentação”.

Esta categoria corrobora com os estudos de Gonçalves (1997), a qual indica em suas

pesquisas que, de modo geral, a postura corporal dos professores tem buscado manter

movimentos contidos, rígidos, já que o educador busca estabelecer um limite entre a

racionalidade, de um lado, e a experiência pessoal de outro porque esta é carregada de corpo com

sentimentos, ideias, lembranças e gestos. Assim, reprimem a espontaneidade e pretendem não

revelar nada de pessoal tampouco subjetivo, por isso excluem o corpo do processo de ensino

mantendo uma didática alienante desligada da experiência humana com o corpo, a começar de si

mesmo como educador.

Os estudantes destacam a impressão de separação entre os corpos do professor com os

dos alunos ao ensinar, e assim, dizem que “o corpo do docente passa uma postura de

166

distanciamento e seriedade”. Neste segmento, na fala dos alunos, ainda complementam que para

o educador “não há preocupação com o corpo e a mente dos alunos e do professor” e excluem o

corpo, pois “não se concebe o ser humano de forma integral”.

Abaixo indicamos o desenho que nos apresentou significativo a esta categoria, o qual na

percepção da estudante de pedagogia o educador expressa: “que turma mais chata, queria estar

em uma turma de mestrado”.

Figura 49. Desenho na concepção Negação da educação do corpo no ensino

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

4.3.7.3 Concepção Educação do corpo bancário no ensino

Em relação ao processo de ensino, o corpo do educador na concepção bancária é

apresentado numa postura firme e rígida. Na linguagem dos participantes ele “é visto como

molde da postura adotada pelo docente firme. Tradicional, postura adotada por quem ensina”,

assim, “o corpo de quem ensina é tradicional”.

Problematizam que esse educador é “totalmente dependente do recurso didático. Professor

em pé perto do quadro usando datashow”. Desta forma, os alunos destacam que o educador

167

sempre está apoiado em algum recurso, sem utilizar outros meios de educar com seu corpo.

Assim, os corpos são sempre muito contidos, com posturas básicas e controlados. Para os alunos,

“Os educadores precisam adotar longos períodos de tempo duas posturas básicas: ou ficam

de pé ou sentam no birô. A grande maioria fica de pé. O corpo está em posição estática, e a

postura é sempre rígida, os movimentos não são amplos, pelo contrário, são sempre muito

contidos. Controla os alunos e parece adotar na maioria das vezes esta postura contida,

controladora, quase uma posição de sentido.” (Discurso da aluna M.C.S)

Em sequência, o corpo do educador demonstra uma relação horizontal de superioridade, e

o desenho abaixo busca expressar esta relação dando destaque ao corpo do educador como o

detentor do conhecimento e aquele que irá depositar no corpo bancário do discente.

Figura 50. Desenho na concepção Educação do corpo bancário no ensino

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

No discurso abaixo temos a unidade de significado que se refere ao desenho

representativo desta categoria.

“[...] o corpo do professor como aquele „diferente‟ e inatingível que o aluno não consegue

„atingir‟, pelas representações histórico/sociais configuradas no discurso sobre o professor

como aquele que „sabe‟, aquele que somente tem a verdade, e que a partir disso, não tem

espaço/possibilidade do conhecimento partilhado entre um e outro em suas histórias

anterior, durante e pós-universidade/sala de aula, etc. Portanto, o corpo torna-se maiúsculo

diante dos alunos aqui representados. O conhecimento que poderia aproximar esses corpos

acaba os afastando.” (Discurso da aluna R.S.).

Em segmento, outro estudante destaca que temos “o docente em posição de destaque”.

Assim, “é fechado. É um corpo reto, sem ver outros horizontes, sem compartilhamento”. Nessa

168

relação bancária através das referencias dos alunos percebemos que as formas de ensino

apresentam-se bastantes passivas, estáticas e disciplinantes como sendo um processo de

repetições e não como um processo criativo, autônomo e de descobertas, tanto para o discente

quanto para o docente.

Problematizando os enunciados acima, Espírito Santo (2012, p.45) avisa que, com este

fazer “o ato de educar perdeu-se com a mesmice da escola bancária, o que destrói a magia da

ação educativa”, dessa maneira, educar passa a ser uma mesmice ou uma mera transferência de

conhecimento como confrontado por Freire (1996). Conforme denuncia Gonçalves (1997),

educar tornou-se uma mera relação reprodutora de adaptação aos fins sociais capitalistas. Isto se

revela através das posturas corporais adotadas pelos alunos e professores, começando com o

corpo do professor posicionando-se como o detentor do saber e do poder, na disposição espacial

dos alunos na sala enfileirados e contidos, como também na organização do tempo escolar e na

forma de trabalhar os conteúdos que ainda não considera educar com o corpo numa perspectiva

libertadora, crítica e integral.

4.3.7.4 Concepção Educação do corpo pouco explorado no ensino

Esta categoria no processo de ensino foi indicada através das referências sobre o trabalho

com o corpo do educador de forma pouco ainda pouco evidenciada, pois os estudantes afirmam

que no processo de ensinar “uma ou outra disciplina trabalhou com a categoria”, desta forma,

“existem as exceções além das exclusivas atividades formais, pena que são a minoria”. Como

também, o corpo do educador está sendo utilizado, ora “está em processo, reflexivo e relaxado”.

No desenho abaixo, expressamos esta categoria de corpo pouco explorado através da

unidade de significado referida ao desenho que tem como referência, o seguinte, alguns

educadores: “buscam algo novo em seus alunos, suas inquietações, anseios e questionamentos”.

169

Figura 51. Desenho na concepção Educação do corpo pouco explorado no ensino

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

4.3.8 Análise e discussão do Gráfico das Unidades de Significado sobre o conceito de educação

do corpo no processo de ensino na disciplina Processos Interativos

A seguir temos a Matriz referente à questão 5 (Escreva sobre seu desenho de um corpo

ensinando na disciplina Processos Interativos.).

170

FIGURA 52. MATRIZ DAS UNIDADES DE SIGNIFICADO

CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO DO CORPO NO ENSINO NA DISCIPLINA PROCESSOS

INTERATIVOS

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

171

4.3.8.1 Concepção Educação do corpo como expressão e liberdade no ensino

No processo de ensino, segundo a linguagem dos estudantes, a experiência prezou pela

expressão do docente, portanto, em seus discursos temos que “comunicação foi algo muito

valorizado”, e o educador “se expressa de muitas formas melhorando cada vez mais as interações

do grupo”, e, portanto, “o corpo comunica, o que a fala verbaliza o corpo também acompanha. É

um corpo dinâmico, em que tudo quer dizer algo, sua expressão, seu movimento”, por esta

crença, o corpo deste educador “chama para se soltar, tem hora de dançar e utiliza vários meios

de aprendizagem”, como também, “tenta movimentar e integrar os estudantes e os alunos da sala,

do grupo porque valoriza o que o corpo expressa nos momentos de aula”.

Com esta abertura de expressão, conforme afirma Espírito Santo (2012), o educador pode

ter mais facilmente o resgate do sentido do ato de educar, pois a aula concebida como um

encontro primeiro entre pessoas e suas dimensões do ser, a partir da possibilidade de

comunicação de si mesmo e suas apreciações pessoais, consegue favorecer a transcendência

entre uma vivência apenas entre conteúdos na sala de aula. Na mesma sintonia, Brandão (2012)

enfatiza que uma formação integral deve ser encarada sempre como um momento primeiro de

encontro entre-nós marcado pela abertura/liberdade para trocas e aprendizagem em coletivo e o

educador é o grande facilitador destas interações.

Nesta proposição, no discurso dos alunos, o corpo do educador “está de braços abertos

pra expressar liberdade para aprender, para se recriar”, e por isso, “sente-se mais livre. Tem

abertura e confiança. É um corpo interativo, ele se expressa”. Como também, “dá liberdade e

com isso faz com que o aluno seja mais crítico e mais questionador” e assim, o educando sente

seu corpo e que neste ensino, “posso utilizá-lo de forma liberta, livre de proibições e erros. Aqui

eu posso ter liberdade de pensar e refletir, questionar”.

No desenho abaixo, o educador pergunta aos demais alunos o seguinte: “o que vocês

sentiram com essa experiência?”, desta forma, os educandos mantinham sempre abertura para

expressar-se e eram sempre solicitados a participar com suas impressões e conhecimentos nas

atividades propostas.

172

Figura 53. Desenho na concepção Educação do corpo como expressão e liberdade no ensino

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

Ainda no discurso dos alunos, o educador tem liberdade para se posicionar como se sente

bem, assim, “fica em posição diferente”, “senta-se no chão junto com seus alunos independente

da série. Tem uma postura que sai do padrão”, como também, “está em pé, diferente de sentado,

liberando alguma coisa que tivesse preso dentro da gente, pois sabe que pode trabalhar com o

corpo e pode fazer algo diferente”, portanto, o docente “participa, levanta e mostra que o corpo

também tá à vontade pra se comunicar”. Dessa forma, os educandos percebem que o educador

“está de ´corpo aberto´ para novos conhecimentos, independente do que venha”, por este

motivo, ele “respeita o posicionamento contrário de não querer realizar a atividade”,

demonstrando pela percepção da aluna que este educador compreende que há determinados

momentos dos alunos os quais necessitam de liberdade e respeito como forma de compreensão.

4.3.8.2 Concepção Educação do corpo como atividade no ensino

No processo de ensino a categoria Educação do corpo como atividade dá ênfase ao

dinamismo do educador ao ensinar. Dessa forma, no que concerne ao docente, ele está com o

173

“corpo em movimento numa aula interativa com o grupo”, de forma semelhante, “está em

movimento, interage com os alunos e há diálogo com o conhecimento”.

Também, “ele está sempre contextualizando com o ambiente e com os alunos. Tem

dinamismo, contextualizando com o aluno maneiras para facilitar suas ações”, desta maneira,

“tem participado ativamente junto com os alunos no processo de aprendizagem” e “o professor

se torna mais acessível e mais próximo do aluno através das dinâmicas as quais podemos

aprender melhor”, pois “interage com o grupo e cria o conhecimento e avança”. Portanto, na

percepção dos alunos este educador está em interação contínua com os alunos e o conhecimento

relacionando estes aspectos de forma ativa com seu fazer.

Neste segmento, o corpo “ensina e os alunos participam. Todo mundo em conjunto se

olha. À medida que ele fala pode interagir. É um corpo em interação”, em continuação, ele “tem

uma interação, um olho no olho, e é ativo, não fica parado, ele senta, levanta, circula pela sala”,

portanto tem um corpo que “dança, se movimenta, nos estimula também a nos movimentar.

Estimula a criatividade” e “motiva, instiga, provoca para possibilitar as aprendizagens e a

criatividade”.

Junto à práxis que contempla arte e dinamismo, o corpo do educador “aprende e ensina

em interação, professor, aluno, música”, busca dinamizar e “faz rodas, há interação, diálogo,

troca de conhecimento com música numa interação mútua. Qualquer instrumento utilizado em

sala pode servir de construção de conhecimento”, assim, “é bastante dinâmico, sempre traz uma

dinâmica diferente para interagir com movimento”, e enfim, apresenta-se “mais participativo,

buscando novas formas de melhorar a sua prática”.

174

Figura 54. Desenho na concepção Educação do corpo como atividade no ensino

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

Conforme vemos no desenho acima nesta categoria no processo de ensino, o corpo do

educador está sempre em atividade, possibilitando outras maneiras de se relacionar com seu

próprio corpo e com os demais.

O dinamismo proposto na prática da educação integral corresponde à concepção de

realidade que fundamenta a formação humana. Nesta abordagem, o mundo é compreendido

como um universo dinâmico, complexo e interdependente, por isso preza-se que os educandos

sintonizem este mundo instaurando um pequeno mundo com estes aspectos na sala de aula

interativa. Busca-se ademais, resgatar a beleza que cada Eu pode desenvolver ante a consciência

mais profunda dentro da existência neste mundo e para tanto, orienta-se que o educador

proponha novas experiências interativas. Para Espírito Santo (2011), o educador precisa desvelar

aos educandos a magia e a beleza presente na vida através de uma prática que possa ser

inspiradora, o que suscita inovação no fazer.

4.3.8.3 Concepção Educação do corpo mais integral no ensino

Esta categoria Educação do corpo mais integral em relação ao processo de ensino revelou

a percepção dos estudantes em relação ao trabalho do educador de abordagem integral e

175

transpessoal. Assim, na linguagem dos estudantes, este educador preza pelo trabalho da

integralidade do ser, tanto a sua quanto a dos alunos. Dessa forma, na linguagem dos estudantes,

“o corpo do professor está integrado (corpo e mente)”, e assim “o educador trabalha com a mente

e o corpo dos alunos”, e para outro estudante, o docente “trabalha o aluno como um todo”.

O desenho abaixo ilustra esta categoria e tem como unidade de significado, o seguinte:

“os indivíduos não são apenas mecânicos intelectuais, ou seja, identificados apenas por uma

dimensão, permitem ampliar esse processo e trabalhar outras características do humano,

respeitando seu tempo e seus limites”.

Figura 55. Desenho na concepção Educação do corpo mais integral no ensino

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

Em continuação, nesta categoria, no discurso da aluna,

“A aula é um momento de encontro em primeiro lugar com você mesmo, você enquanto

pessoa, e enquanto pessoa pensando em você integral em todas as dimensões. Ele entende a

importância de aprender com todo seu corpo, entendendo que esse traz várias dimensões a

serem consideradas.” (Discurso da aluna I.L.S.).

Neste sentido, o educador integral/transpessoal da experiência analisada trabalhou com a

multidimensionalidade do ser em seu fazer como fundamento e prática, opondo-se ao paradigma

cartesiano que valoriza o conteudismo como foco que é uma forma específica de apresentar os

conteúdos, o qual fragmenta a vida em partes cada vez mais isoladas e preza pela quantidade

informacional e não pela qualidade daquilo que está sendo ensinado.

176

Assim, o educador nesta abordagem buscou aliar o desenvolvimento das dimensões

humanas estabelecendo o vínculo entre o saber e o corpo em integralidade, pois o conhecimento

deve estar integrado com o ser humano, como indicava Freire (1996), ter um vínculo com o

mundo-vida dos alunos que primeiramente passa por eles mesmos enquanto pessoas em um

corpo dinâmico, vivo e complexo. Dessa forma, os estudantes indicam que o corpo do educador

no ensino alia estes aspectos, pois “há uma integração entre corpo e mente. O corpo e a mente

para a integração entre o conhecimento, o ensino e a aprendizagem de forma integral, porque

educação deve ser integral”, e nesta direção de integrar diversos aspectos no ensino, o professor

“faz-nos refletir sobre os diferentes temas a partir do trabalho com o corpo”.

Como um novo paradigma e com uma práxis experiencial, o educador trabalha os

diversos níveis do ser, Eu, Isto, Nós e Istos (WILBER, 2011) com o saber, no objetivo de

“transformar o saber aprendido em pensamentos e práticas em que o próprio saber se realize”

(BRANDÃO, 2010, p.52), ou seja, busca uma in-corporação do conhecimento através das

relações que podem se travadas no corpo de cada um.

Diante disto, na percepção dos alunos, o educador integral trabalhou também além dos

níveis Eu (mente), o Isto e Istos (corpo, conhecimento) abarcou também o Nós (dimensão dos

relacionamentos), indicação presente no Relatório Jaques Delors (2003) como o pilar aprender a

viver juntos, e assim, de forma análoga, a estudante pontuou que o corpo do educador “é como

uma corda para unir grupos, pensa no coletivo, nos sentimentos, nas dinâmicas com o corpo e os

textos. É como uma corda para unir os grupos que poucos se falam, por isso desenhei várias

cordas se cruzando”.

4.3.8.4 Concepção Educação do corpo como elemento da educação no ensino

No que concerne à concepção de Educação do corpo como elemento da educação no

processo de ensino, os alunos perceberam a relação de unidade entre ensino e aprendizagem,

pois afirmam que o corpo do educador “aprende e ensina nas relações formadas, com conflitos

que servem como aprendizagem e tem coisas que são em comum, a partir de pensamentos”.

Neste segmento, “o corpo ensinando é como se tivesse aprendendo, pois, percebe-se que ele está

177

envolvido com as atividades e o processo ensino-aprendizagem”, desta maneira, “todo mundo

ensina e aprende ao mesmo tempo”.

Sobre esta interação Freire (1996) já nos apontava que não há aprendizagem sem ensino,

nem ensino sem aprendizagem, pois não há docência sem discência, desta forma, estes são

saberes indispensáveis e codependentes, assim, também ocorre com o corpo no do educador

sendo ensinante e aprendiz.

Quem forma se forma e se re-forma ao formar e quem é formado forma-se e

forma ao ser formado. É neste sentido que ensinar não é transferir

conhecimentos, conteúdos nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá

forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem

discência, as duas se explicam e seus sujeitos apesar das diferenças que os

conotam, não se reduzem à condição de objeto um do outro. Quem ensina

aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. (FREIRE, 1996, p.22)

O desenho abaixo foi escolhido como representativo desta categoria e tem como unidade

de significado no processo de ensino o seguinte: “aqui percebemos que o corpo também é um

dos elementos mais importantes no processo de ensino. Vemos que o educador trabalha com a

mente e o corpo dos alunos”.

Figura 56. Desenho na concepção Educação do corpo como elemento da educação no ensino

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

Outro ponto que destacam os alunos nesta modalidade é o corpo do educador

participando ativamente do processo de ensino, assim, “o próprio corpo ensina através das

dinâmicas, das danças”, e na linguagem deles temos, “o ensino está diretamente ligado com a

178

educação do corpo”, portanto, “o corpo também é um dos elementos mais importantes no

processo de ensino”. Assim, a inclusão do corpo ativo no processo pedagógico deixou a

interdependência entre ensinar e aprender mais evidente e perceptível à ótica dos participantes.

4.3.8.5 Concepção Educação do corpo como conhecimento de si e do outro no ensino

Nesta categoria Educação do corpo como conhecimento de si e do outro no processo de

ensino, o corpo do educador, para os alunos participantes da pesquisa, “trabalha a relação de

ouvir um ao outro. Esse corpo ensinando está numa relação com o outro”, portanto, “ele aprende

com os outros também e se conhece”. Neste sentido, “aprende com o outro, percebe e se abre

para o outro”, pois,

“[...] tem encontro com essa outra pessoa. Um processo de construção de identidade, no

qual você precisa saber que o outro é importante. Porque percebe que cada pessoa tem suas

características próprias, mas que ninguém consegue se construir enquanto pessoa sozinha.”

(Discurso da aluna I.L.S.).

O desenho representativo nesta categoria está abaixo e tem como unidade de significado

que o corpo no ensino “há espaço para pensar o Eu, o Outro. Pode estar mais perto para conhecer

o mundo um do outro, pode vivenciar mais a relação Eu-Outro”.

Figura 57. Desenho na concepção Educação do corpo como conhecimento de si e do outro no

ensino

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

179

Neste segmento, os processos se interdependem, segundo a linguagem dos alunos, o

corpo do educador “reconhece e percebe o outro”, e assim, a estudante destaca que a educação

do corpo possibilita,

“[...] aprender a conhecer as pessoas que estão com você, você aprende no coletivo a

interagir com as outras pessoas. E acha que é importante cuidar das outras pessoas então

coloca isso em primeiro lugar. Sabe que não sabe tudo e aprende com o colega. Na

dinâmica de grupo é um corpo coletivo.” (Discurso da aluna M.C.C.S.).

Dessa forma, na percepção do aluno o educador com seu corpo percebe a relação entre

os Eus e os Nós, e no processo de ensino, o docente “refletia muito, era muito analítico, olha,

analisando os alunos. Analisando cada um de nós individualmente e como um todo, como um

grupo, vendo a parte e o todo. Essa integração da parte e do todo que para mim é a análise

interativa”, dessa forma, revela que o educador compreende que na sala de aula se vive um

círculo interdependente de conhecimento entre o eu e o nós.

4.3.8.6 Concepção Educação do corpo como bem-estar e prazer no ensino

No processo de ensino esta categoria relata a percepção dos estudantes quanto ao

educador estar bem, com prazer e confortável ao realizar seu trabalho de docência, por isso,

chegamos a categoria “Educação do corpo como bem estar e prazer” sobre o corpo do educador.

Segundo a linguagem dos alunos, “quando o professor tem mais conforto com os alunos torna o

aprendizado muito mais significativo” e assim, indicam que “o ato de ensinar é mais prazeroso

para o professor. Diverte-se, promove bem estar e com isso as aprendizagens são mais

significativas, você lembra: foi tão bom aquilo”.

Como também, “passa alegria do mestre ao criar um ambiente diferenciado daquele

ambiente tradicional”. Para os estudantes, nesta abordagem, o educador torna “a aula mais

dinâmica, com mais „prazer‟ de estar em aula” e demonstram que “tem entusiasmo um com o

outro”. Neste segmento, indicam que o corpo educador “está relaxado”, ficando o “corpo

sentado, refletindo e relaxando”, e com isso, “estimula a relaxar, o que nos deixa mais atentos”.

180

Figura 58. Desenho na concepção Educação do corpo como bem-estar e prazer no ensino

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

Esta categoria resgata o prazer, o relaxar, o brincar como elo na relação interpessoal no

ensino. No histórico educativo, temos ainda uma limitação do desenvolvimento destes aspectos

pelo paradigma que privilegia apenas a racionalidade.

Entretanto, percebemos que o educador com esta categoria compreende o que os autores

Verden-Zöler e Maturana (2004) pesquisam, o quanto nossas ações dependem de estímulos

emocionais novos, para que possamos nos mover enquanto seres humanos mais produtivos, pois,

[...] nós, humanos, na qualidade de entes biológicos, estamos constitutivamente

dotados de uma corporeidade dinâmica que, ao adotar configurações distintas,

dá origem a emoções diferentes como disposições corporais dinâmicas diversas.

Estas especificam diferentes domínios de ações, os quais constituem por esse

meio o fundamento operacional de tudo o que fazemos, inclusive o que

chamamos de comportamento, pensamentos e discursos racionais. Em outras

palavras, todos os domínios racionais que produzimos como seres humanos –

têm um fundamento emocional. (VERDEN-ZÖLLER, MATURANA, 2004, p.

221).

Portanto, esta categoria nos revela o quanto é importante o educador propiciar novas

sensações, emoções, acionando novas percepções, sentimentos, e criando novas formas de nos

relacionarmos com o ato educativo de aprender com o seu fazer, os quais podem vincular o bem

estar e o prazer como pontos necessários à formação através de uma educação mais significativa.

181

4.3.8.7 Concepção Educação do corpo fragmentado no ensino

Nesta categoria tivemos a presença de apenas uma unidade de significado referida.

Categorizamos como Educação do corpo fragmentado no ensino, pois no discurso do estudante o

corpo do educador estava “ora rígido e ora livre”, demonstrando que na percepção desse

estudante havia uma diferenciação quanto à integração das dimensões no corpo do educador que

oscilava na maneira de comportar-se. Abaixo temos o desenho indicativo desta categoria:

Figura 59. Desenho na concepção Educação do corpo fragmentado no ensino

Fonte: Emmanuela Santos (2013)

4.4 Análise Geral da visão de educação do corpo dos participantes através dos questionários e

das entrevistas semiestruturadas: o antes e o depois da experiência integral/transpessoal

Segundo Röhr (2006), dentre as teorias pedagógicas há comumente dois caminhos

explorados no processo formativo. O caminho mais prezado e também o mais fácil de ser

realizado é o enfoque unidirecional do ser humano, aquele que explora uma exclusiva dimensão

do humano como a única existente ou como sendo a mais importante em detrimento das demais,

então o trabalho foca-se nela. O outro enfoque, sendo mais árduo e complexo é a busca de uma

formação que se direcione ao desenvolvimento integral do ser humano, o que constitui um

desafio, pois ainda há poucos empreendimentos deste porte.

182

Ao realizar esta pesquisa pudemos constatar a presença desses dois caminhos ao

examinar a visão de educação do corpo que os alunos concebiam no antes da experiência

suscitada em comparação à nova concepção sensibilizada no depois da experiência empreendida.

Neste sentido, com as categorias surgidas no momento antes da experiência formativa,

constatamos a presença desse legado unidirecional como nos aponta o autor. Os dados validaram

esse foco pelas concepções de educação do corpo surgidas, foram elas, Negação do corpo,

Educação do corpo bancário, Educação do corpo acessório, nos revelam a manutenção da

herança moderna que tem como o fim desenvolver exclusivamente a dimensão cognitiva como

meta educativa.

Nesta visão, a educação do corpo é inexistente, pois ele é fragmentado, reduzido e

alienado a ser apenas um acessório ou um depósito bancário que serve exclusivamente ao

trabalho educacional do intelecto dos sujeitos, e não é considerado como um elemento

importante. Ressalvamos que apenas a categoria Educação do corpo pouco explorado esboçou

um tímido movimento de mudança dessa perspectiva, entretanto, como um trabalho bastante

esporádico e sem continuidade, como relataram os estudantes.

No que concerne à análise do momento posterior a proposta educativa fomentada, de

abordagem integral/transpessoal da disciplina Processos interativos, os dados revelaram uma

ressignificação de percepção, de concepção e de ação para com a educação do corpo. Houve um

deslocamento da visão do paradigma fragmentário para uma abertura mais abrangente de

posicionamento. Pela tessitura dos significados das categorias Educação do corpo mais integral,

Educação do corpo como conhecimento de si e do outro, Educação do corpo como elemento da

educação, Educação do corpo como atividade, Educação do corpo como liberdade e expressão,

Educação do corpo como bem estar e prazer, com as quais percebemos uma modificação no

tratamento do corpo de forma bastante significativa.

Para começar, com destaque as categorias Educação do corpo mais integral, Educação do

corpo como conhecimento de si e do outro, Educação do corpo como liberdade e expressão,

constatamos uma visível modificação da concepção de corpo anterior que era reduzido à

concepção de corpo objeto da mente, para agora ser percebido como um corpo que é tem

dimensões, é mais integral e já envolve corpo físico-mente às emoções, é o lugar da linguagem,

da expressão do ser, lugar espaço de liberdade, de comportamento, de cultura, é corpo coletivo

em grupo, é eu, é nós; entre outros destacados nos discursos de cada uma destas categorias,

183

considerando assim, o corpo numa perspectiva de abraço bem mais amplo, sensibilizado a uma

percepção mais integral de si mesmo e que a partir dos dados percebemos o contemplar de

fundamentos presentes nas teorias sobre o corpo integral do Grande Ninho do Ser e dos “Quatro

Quadrantes do Kosmos” (WILBER, 2011).

Ademais, outras duas categorias nos chamaram atenção pela ressignificação propiciada,

foram as que conceberam o corpo como um elemento da educação e como atividade. Estes

aspectos nos revelaram mais uma vez a presença da meta de formação humana que objetiva o

desenvolvimento do ser humano como ponto chave. Dessa forma, o corpo humano insere-se

nesse processo, pois ele deve ser desenvolvido porque é parte/todo do humano, fazendo dele

elemento fundamental do sujeito para consigo mesmo e assim, logicamente de sua educação par

o conhecimento da integralidade humana.

Em relação a corpo como atividade, nota-se que este corpo passa a ser ação de si mesmo

e para si mesmo, o que lhe confere um desenvolvimento mais consciente e ativo porque o sujeito

é o agente de sua educação e essa educação lhe refaz, não sendo mais passivo e alheio ao que lhe

compõe enquanto corpo nos processos pedagógicos que lhe perpassam.

Bem como, com esses dados, confrontamos o conceito usual dentro do âmbito da

educação que é o da necessidade de um corpo bastante imóvel para que ocorram os processos de

ensino-aprendizagem. A dinâmica organizacional da disciplina trouxe um repensar dessa

questão, pois os estímulos de ação corporal pela exploração do movimento, do eu físico, da

interação verbal e não verbal que não permitia ao corpo dos participantes permanecerem muito

tempo parado, nos permitiu um redimensionamento da posição estritamente racionalista

conferida ao corpo nos processos pedagógicos, e ademais, ainda conferiu um ponto importante a

ser evidenciado com a categoria “Educação do corpo como bem estar e prazer” indicando assim

como uma nova forma de fazer possibilita uma melhor relação do sujeito com essa educação.

De modo geral, as categorias surgidas após o trabalho formativo inspirado na abordagem

da integralidade e da transpessoalidade (WILBER, 2011; YUS, 2002), demonstraram que o

objetivo de aliar o saber ao ser numa formação que buscou desenvolver o corpo

multidimensional numa relação interativa com o conhecimento científico de forma dinâmica,

revelou-se um caminho possível para a promoção da educação compreendida como formação

humana integral, pois segundo a linguagem dos estudantes o conhecimento sobre o corpo e o

saber foi mais incorporado.

184

Também, as categorias surgidas após a experiência fomentada apresentam consonância

com o desenvolvimento dos processos de “aprender a aprender”, “aprender a ser”, “aprender a

conhecer”, “aprender a fazer”, “aprender a conviver”, pois o corpo foi concebido como lócus de

aprendizagem desses elementos: corpo como elemento da educação – corpo aprendendo a

aprender; corpo mais integral – corpo aprendendo a ser; corpo como conhecimento de si – corpo

aprendendo a conhecer; corpo como atividade - corpo aprendendo a fazer; e corpo como

conhecimento do outro – corpo aprendendo a conviver, que regem a proposta da Educação para

o século XXI, do Relatório Jaques Delors (2003).

Dessa maneira, apresentou-se um caminho possível na contribuição aos modelos

integrais/transpessoais por manter fundamentos mais totalitários no conceber de unidade entre os

aspectos corpo/dimensões, teoria/prática, sujeito/objeto, conhecedor/conhecimento,

corpo/educação, ensino/aprendizagem, eu/outro, de modo que houve acréscimo tanto do ponto

de vista teórico pela base norteadora como um paradigma renovador, mas também se revelou

como um fazer possível de ser empreendido e que pode obter bons resultados na proposta de

desenvolvimento humano mais integral.

Assim, o lugar do corpo nesta experiência apresentou-se também conforme o lugar

pensado pela teoria transpessoal, que confere ao corpo ser o lugar fenomenológico do ser, corpo

como uma complexa teia de relações que nos envolve, pois a partir dele apresentaram-se diversas

possibilidades nos dados, tais como, o lócus das dimensões, o lócus do conhecimento do eu e do

outro, lugar de ação, de liberdade, de expressão, de educação, do prazer, do bem estar, e assim, o

corpo foi tido como indica a abordagem, um lugar de potencialidades a serem conhecidas e

trabalhadas para o crescimento humano. Destacamos outro fundamento presente nestes dados

que é a busca da ampliação da identidade, neste caso, a identidade do corpo foi alargada em

perspectiva, ampliando de um corpo que era apenas mente para ser um corpo com uma rede de

interconexões.

Assim, a visão de educação do corpo dos alunos pareceu-nos coerente com as

observações realizadas durante o período de acompanhamento dos trabalhos na disciplina, sendo

a experiência uma motivação para podermos pensar quais caminhos e princípios desejamos para

a educação contemporânea.

Já com a presença da categoria Educação do corpo ainda fragmentado presenciamos os

limites de uma proposta de educação nestas bases, limite este que não podemos desprezar, pois

185

nos relembra que nenhuma abordagem é a salvadora da educação, nos revelando que há diversos

outros motivos para que uma proposta educativa não obtenha o sucesso pretendido, nos abrindo a

novas investigações neste sentido.

4.4.1 Observação e análise da prática pedagógica e dos conteúdos trabalhados na disciplina

Processos Interativos no espaço escolar

Nesta seção apresentaremos as observações e as análises realizadas nas aulas da

disciplina Processos interativas, ofertada no oitavo período do curso de Pedagogia da

Universidade Federal de Pernambuco, de proposta educacional integral/transpessoal, a qual

acompanhamos para a realização da pesquisa de campo desta dissertação. Faremos uma breve

descrição da proposta da disciplina e apresentaremos a matriz padrão que revela a sua estrutura

geral.

4.4.1.1 Aulas da disciplina Processos Interativos: em busca da integralidade no corpo

O ingresso da pesquisadora na disciplina foi no processo inicial de organização do grupo-

classe, e não houve nenhuma resistência em observar e participar das aulas, demonstrando

estarem em comum acordo tanto professor e alunos.

As aulas acompanhadas tinham uma duração média de 1 hora e 50 minutos, sendo dois

encontros semanais e ocorriam em uma sala ampla da Universidade Federal de Pernambuco, no

Centro de Educação, no curso de Pedagogia, oitavo período, na qual as cadeiras foram

substituídas por almofadas, o que favorecia os alunos estarem dispostos em círculo, semicírculo,

ou em outras posições, ora ficavam em pé, ora caminhavam na sala ou dançavam, de acordo com

as atividades propostas.

Após uma série de observações e diálogos com o professor da disciplina, procuramos

sintetizar os principais elementos que compunham a prática pedagógica destas aulas, de forma

que chegamos a uma matriz de atividades que se mantinha de forma mais constante na prática

cotidiana da disciplina investigada.

4.4.1.2 Matriz de atividades comuns da disciplina Processos Interativos

186

A matriz de atividades proposta a seguir foi pontuada a partir da lógica organizacional

das aulas e dos fundamentos que regiam a proposta formativa. Essa matriz norteadora é

composta de diversos elementos que a compõe: a) Plano de aula, b) Aula didática, c) Texto base

norteador, d) União entre teoria e prática, e) Junção do saber ao ser e f) Atividades vivenciais da

disciplina; desta forma, vamos descrevê-los e visualizá-los em síntese ao final com dois Planos

de Aulas que revelam bem esta organização estrutural matriz.

a) Plano de Aula: atividade de planejamento das aulas

Todas as aulas eram sistematizadas previamente através de um Plano de Aula,

demonstrando o caráter organizacional do educador da disciplina. Este plano continha todas as

atividades a serem feitas nas aulas. Importante destacar que por esse instrumento de

planejamento, o educador podia visualizar se havia o alinhamento entre a proposta pensada para

a aula e a proposta dos fundamentos da disciplina com o meio de operacioná-los em

congruência. Tal plano não se mostrava um planejamento estanque, pois os acontecimentos

correntes em aula podiam modificar as sequências a serem trabalhadas, podendo até ser incluído

ou excluído algo de acordo com o ocorrido em grupo durante o processo de ensino-

aprendizagem. Veremos no próximo item que este planejamento das aulas foi em um dado

momento feito com a participação dos alunos que também ministraram aulas nesta disciplina.

b) Aulas didáticas: Professor e alunos em integração

As oito aulas iniciais foram ministradas pelo docente responsável, para que todos

pudessem compreender como era a dinâmica prezada pela disciplina. Após estas aulas iniciais,

aconteceram as chamadas “Aulas didáticas” que tinham como objetivo permitir aos alunos a

vivência do papel de professor e unificar discência e docência no processo de formação dos

estudantes.

As aulas didáticas ocorriam com uma dupla ou um trio de alunos ministrando uma aula

na disciplina juntamente com a supervisão do educador. Para organizar estas aulas, o professor

agendava com o grupo da vez e juntos planejavam como seriam as atividades. Como

pesquisadora, participei destes momentos que eram momentos de montagem da aula em

187

conjunto, momento o qual o professor aproveitava todas as ideias do grupo para debater e

esclarecer dúvidas sobre o tema, organizar e direcionar as ideias oriundas dos alunos aliando-as à

proposta prezada pela disciplina. Neste momento também, era organizado o Plano de Aula do dia

específico. Os alunos destacaram como bastante fecunda essa interação com o professor no

planejamento de aula para sua formação.

c) Texto base norteador

Em todas as aulas havia um texto-base a ser trabalhado. Os temas abordados na disciplina

giravam em torno das teorias psicológicas sobre os fenômenos de grupo, os processos interativos

da educação, os paradigmas da educação, incluindo a educação integral com destaque às teorias

sobre o corpo na educação integral. Para exemplificação das temáticas, temos: O que é, afinal,

um grupo?; Competência interpessoal – Eu e os outros; Dinâmica de Grupo: Breve histórico; o

corpo na ética e na cidadania - caminhos da filosofia; Quem educa marca o corpo do outro;

Comparando paradigmas na educação; entre outros. (Para acompanhar todas as aulas, veja

anexo X). Estes textos eram indicados para leitura prévia a todos do grupo já no cronograma.

A cada aula uma temática foi trabalhada por meio desses temas pré-selecionados pelo

educador que se apresentavam de modo a ir construindo um conhecimento gradativo em nível de

complexidade dos temas, o que nos fez perceber um cuidado do educador em relação ao

processo de desenvolvimento lógico dos estudantes, de forma que para um bom

acompanhamento das aulas era preciso sempre estar em contato com os temas abordados

anteriormente.

No que tange ao responsável em ministrar a aula, professor ou alunos, ademais da leitura

do texto base era necessário também, realizar a seleção dos principais conceitos/ideias presentes

no texto, de modo a organizar uma síntese a ser tecida e vivenciada com todos na aula didática

através da transposição dos conceitos teóricos em atividades vivenciais, como veremos a seguir.

d) União entre a teoria e a prática: aulas teórico-vivenciais

A base metodológica foi bastante diferenciada na disciplina porque as aulas buscavam

construir uma unidade entre a teoria e a prática, já que a disciplina tinha uma didática teórico-

experiencial. Assim, os conceitos textuais pré-selecionados e destacados pelo responsável pela

aula (professor ou alunos da aula didática) eram transformados ou compatibilizados em

188

vivências diretas. Isto ocorria ou por meio de atividades em grupo, ou por estratégias de jogos

dramáticos ou dinâmicas de grupo, ou por técnicas da psicologia transpessoal; o importante era

que estas estratégias pudessem manter uma relação direta com o assunto abordado, e com isso,

pudessem proporcionar o alinhamento entre os eixos teoria e prática no viver das aulas.

e) Aliar o saber ao ser: teoria e prática com a exploração do corpo multidimensional

Conforme indicação do educador da disciplina, ademais desta junção teórico-prática, as

atividades deveriam objetivar manter vínculos com o Ser/corpo integral e dessa forma, conectar

o saber ao ser, e assim, prezava-se pela não dissociação entre o conhecimento teórico e sobre o

conhecimento do conhecedor com sua integralidade.

Com este objetivo, as atividades buscavam conectar os níveis do ser e do conhecer do

Grande Ninho (WILBER, 2002) ou as chamadas dimensões básicas (RÖHR, 2010): dimensão

física, sensorial, emoções, a mente, a alma e o espírito; ou os ângulos dos Quadrantes do Kosmos

(WILBER, 2011): o ângulo Eu (consciência de si, pensamentos de si), o Isto (corpo físico e suas

energias: corpo denso, sutil e causal), o Nós (atividades sobre cultura e os relacionamentos) e os

Istos (conectando criticamente os sistemas políticos, econômicos; conectando os sistemas

ambientais como a grande Teia da vida). Com este direcionamento basilar, as aulas se

orientavam em integrar também as dimensões humanas.

f) Atividades comuns da disciplina investigada

Abaixo sistematizamos as atividades comuns e elencamos duas aulas completas ao final

apresentando dois Planos de aula para melhor compreensão e acompanhamento da feitura

formativa.

Atividade 1 – Momento de abertura da aula e integração

Esta atividade objetivava a exploração do nível corpo físico ou corpo denso/grosseiro

(WILBER, 2000) com exercícios de destensionamento, autocuidado ou integração de grupo.

Conforme o educador, este primeiro momento da aula buscava: acolher os participantes da

disciplina de modo que ao mesmo tempo destensionasse e promovesse autoconhecimento do

campo físico, presentificasse os participantes para estarem vivenciando o aqui e agora da aula,

189

diminuísse a ansiedade de estar em grupo, como também, proporcionar um clima prazeroso para

iniciar a aprendizagem em conjunto desde o início da aula.

Vale salientar que tais atividades iniciais diversificavam: em algumas aulas elas

mantinham o vínculo direto com a temática do dia já na abertura; outras vezes objetivavam

apenas a integração de si mesmo individualmente; ou apenas integrar mais o grupo desvinculado

da temática.

Para exemplificar isto, quando se realizava uma atividade inicial vinculada à temática,

esta já era uma atividade de dinâmica de grupo. Por exemplo, na aula sobre Reações de grupo, a

primeira atividade de abertura foi a seguinte: um grupo recebeu o comando do professor de

reagir ao toque do colega de determinada maneira e o outro grupo deveria tocar alguém quando a

música parasse. Dessa maneira, ao toque no ombro, a pessoa tocada faria a reação ditada, que

seria ou gritar, chorar, ignorar, sorrir bastante, entre outros. Após a realização disto várias vezes,

mudando as pessoas, deu-se abertura a aula deste dia fazendo uma relação direta com o tema da

aula Reações de grupo e também com todos os integrantes do grupo.

Ainda com este objetivo de abertura temática, em outra aula de tema O corpo na via do

tempo, teve como início uma atividade interativa em grupo, pois antes dos alunos chegarem à

sala, o grupo responsável em focalizar a aula didática já havia climatizado o ambiente com

figuras coladas na parede de corpos em várias épocas e lugares. Quando todos entraram na sala

já havia um ambiente temático, com o qual foi solicitado que todos andassem e visualizassem as

diversas figuras, e após um tempo podiam escolher duas ou mais figuras que lhes chamasse mais

atenção. Deu-se abertura da aula com os alunos já socializando suas impressões pessoais sobre a

temática corpo naqueles diferentes tempos e com todos do grupo.

A atividade inicial feita de forma individual se dava em roda ou livre, por meio de

atividades como alongamentos seguidos de relaxamento ou automassagens, exercícios de

respiração, dança livre pela sala ou atividade de exploração do corpo por comandos específicos;

todas exploravam mais particularmente a pessoa consigo mesma em seu campo físico. Conforme

o educador da disciplina estas técnicas desenvolvem uma maior consciência corporal, pois

estimulam a aprender a conhecer o corpo, senti-lo, estimulá-lo, destensioná-lo e favorecem a

liberação de sentimentos reprimidos como a angústia, o estresse entre outros, como raiva, medo,

ansiedade. Os exercícios respiratórios servem também para relaxar a musculatura e liberar

tensões. Todos estes auxiliam a desinibição corporal e servem como aquecimento antes das

190

atividades, e revelam-se excelente ferramenta para desenvolver a concentração e a atenção antes

do trabalho temático mais focado.

A atividade inicial para integração de grupo desvinculada propriamente da temática era

realizada em círculo por meio de danças populares como cirandas ou danças circulares de outras

culturas, danças infantis populares, ou saudações a todos por meio de danças e/ou mímicas.

Atividades 2/3/4 – Trabalho temático vivencial

Após a abertura da aula eram realizadas mais três atividades em média, as quais tinham

por objetivo realizar o trabalho temático mais diretamente, utilizando-se da metodologia

integrativa: conhecimento de forma teórico-prático em conjunto ao desenvolvimento do corpo

integral. Mesmo nestas atividades o corpo físico foi bastante enfatizado, pois todas as aulas

solicitavam uma movimentação constante dos participantes porque a disciplina apresentava uma

educação ativa. As estratégias mais utilizadas na disciplina foram de modo geral, atividades auto

expressivas, atividades de dinâmicas de grupo, atividades de jogos dramáticos, técnicas de

visualização criativa e síntese do encontro no diário.

- Autoexpressão

Podemos sintetizar que todas as atividades 2/3/4 listadas nos itens a seguir combinam

aqui. Observamos de forma geral que todas as atividades buscaram intrinsecamente desenvolver

um corpo expressivo, pois havia o constante estímulo à aprendizagem pautada na comunicação

do interior/subjetivo dos participantes como elemento que destacamos em nossa observação de

pesquisa e a comunicação interpessoal foi constante porque os estudantes precisavam realizar as

atividades elaborando-as com e em grupo, então precisavam socializar sempre suas ideias.

Assim, com ênfase na exploração da linguagem dos alunos, a disciplina teve como

momentos de expressão verbal mais propriamente, a abertura contínua do educador para a

participação interativa dos alunos incentivados a expressarem suas opiniões e emoções próprias;

a escrita de impressões pessoais para socialização em grupo, a confecção de cartazes temáticos; o

diário de bordo. As atividades não verbais a para expressão da corporeidade foram vivenciadas

por danças, mímicas, expressão corporal sem falas, desenhos de autorretratos, desenhos de temas

diversos.

191

Dentro deste trabalho, o inverso também foi enfocado com o saber ouvir como proposta

de exercício de silencio interior para abertura de escuta do outro.

- Dinâmicas de grupo

As atividades de dinâmica de grupo foram propostas como uma estratégia elo, primeiro,

com os conteúdos trabalhados porque os responsáveis pela aula buscavam ensinar/construir a

teoria através de práticas de dinâmicas de grupo que tivessem relação com os conceitos da

temática. Além disso, as dinâmicas conseguiam manter vínculo com as dimensões do ser, pois

solicitavam a expressão do eu, das emoções, dos pensamentos, lidava continuamente com o nós,

os afetos, a ética, os valores morais, percepções e visões de mundo intercultural existenciais, e

dependendo da dinâmica trabalhava também com os assuntos da economia, política, entre outros

que perpassam as questões do humano.

Basicamente esta técnica foi utilizada em todas as aulas e se revelou bem produtiva aos

objetivos propostos pela disciplina. Vale salientar que muitas dinâmicas foram consultadas de

livros e utilizadas tal como estavam propostas, outras delas foram adaptadas para se ajustarem

aos objetivos requeridos pelo professor ou grupo, e outras foram elaboradas pelo próprio grupo

da aula didática demonstrando o potencial criativo desenvolvido por eles.

Para exemplificar, na aula de tema O que é um grupo, o professor realiza uma dinâmica

de grupo para que os alunos vivenciem o tema de forma prática. Assim, propõe a dinâmica do

Nó com o objetivo de indicar como os relacionamentos entre as pessoas têm o nós - todos nós, e

os nós - as dificuldades a serem vencidas. A dinâmica foi proposta como abertura para desdobrar

a temática grupo. Como procedimento, os estudantes iniciam caminhando pela sala

aleatoriamente ocupando todo o espaço. Em seguida, pede-se para que cada um pare no lugar

onde se encontre e cada qual se aproxima de duas pessoas mais próximas da sua direita e da sua

esquerda e dá as mãos a elas. Todos fazem o mesmo e com isso todo o grupo estará emaranhado

e tentará desfazer os nós. Terão que utilizar as mais importantes estratégias de convivência em

grupo: a interação, a comunicação, saber ouvir, entre outros. Assim, o educador inicia a temática

sobre o que é um grupo problematizando após a dinâmica com os alunos.

- Jogos dramáticos

192

O psicodrama ou jogo de dramatização foi outra técnica bastante explorada na disciplina

que permitia aos alunos a vivência de diversos papeis sociais, a vivência de diversas situações

reais ou imaginadas, conflituosas ou não vinculadas tanto à temática dos processos educacionais

como vinculadas às temáticas existenciais que perpassam a vida dos discentes e educadores.

Salientamos que algumas dessas dramatizações incluíram momentos de introversão ou solilóquio

- diálogo consigo mesmo, mas aberto a todos ouvirem, revelando pensamentos e sentimentos

interiores, compartilhando sem preconceitos o que pensam, promovendo um autoconhecimento e

autoaceitação de si mesmo como proposta.

Em geral, o roteiro da dramatização era criado pelos próprios alunos em sala reunidos em

grupo, cabendo ao professor/ministrante da aula indicar apenas a proposta ou assunto da

dramatização como norte inicial. Poucas dramatizações foram propostas com texto pronto aos

alunos. Esta atividade se revelou bastante apropriada para a exploração da criatividade e para a

vivência como se fosse “real” de assuntos diversos e o contato com o corpo integral dos

participantes. A narração de histórias também ocorreu, mas geralmente os alunos que

compartilhavam histórias próprias a todos do grupo.

Para exemplificação de uma atividade de dramatização, já na 1ª aula da disciplina, o

professor pediu para que os alunos escrevessem individualmente os medos e as esperanças que

trouxeram para um recomeço das aulas. Após a indicação de cada um, juntaram-se em pequenos

grupos para socialização disso, e em seguida, foi solicitado que os alunos não expusessem logo a

todos as considerações pessoais, e que ao invés de relatar verbalmente foi pedido que em

conjunto elaborassem uma dramatização que contivesse os medos e as esperanças de todos do

seu pequeno grupo. Os alunos assim dramatizaram os medos e as esperanças e coube ao grande

grupo identificar os medos e as esperanças indicadas na dramatização.

Deste modo, o professor solicitava sempre que os alunos expressassem por meio de uma

encenação suas ideias, conceitos teóricos ou outras situações específicas.

- Técnicas de visualização criativa

Esta técnica buscava a exploração do imaginário dos participantes através de

visualizações que lhe pediam criatividade e conseguiam fomentar a ampliação da consciência,

autorreflexão e a produção de novos sentidos e percepções das coisas, pois as visualizações lhe

193

davam o caráter de liberdade de tempo e espaço onde permitiam aos participantes criarem novas

realidades e visualizarem a si mesmos. Esta foi uma vivência baseada nas técnicas da abordagem

transpessoal que objetiva ativar o complexo tanto o complexo mente/corpo, quanto o corpo

integral do campo físico, emoções e a espiritualidade.

Como exemplo, no trabalho temático de O corpo na educação integral, trabalhando o

conceito de educação por duas vias, a via interna e a externa. O conceito do tema foi transposto

para um exercício vivencial de movimentação corporal para dentro e para fora. Os alunos

caminhavam para frente contraindo o corpo e voltando para trás expandindo o corpo. Em seguida

exercitaram o conceito também pelo movimento de contração e expansão da respiração. Após

isto, sentados, lhes foi pedido para que visualizassem a si mesmos num lugar tranquilo e

relaxante, e depois conseguissem visualizar um círculo ao redor do seu corpo que se expandia e

se contraía. Isto foi pedido algumas vezes até que eles mesmos visualizassem sozinhos. E assim

os participantes foram convidados a visualizar seu campo integral de dimensões como propõe a

educação multidimensional do corpo por meio dos movimentos corporais, da respiração e da

visualização criativa do círculo ao redor do corpo. Tantas outras atividades de visualização

foram feitas no processo formativo.

Atividade 5 - Síntese no diário

Os participantes eram estimulados a escrever suas experiências do encontro no diário,

bem como a falar sobre suas considerações pessoais sobre o que lhes suscitou a aula. A escrita de

si por meio do uso de diários se revela um bom veículo para estimular a autopercepção enquanto

ser em integralidade.

4.4.1.3 Sistema de avaliação da disciplina Processos interativos

A avaliação na disciplina ocorreu através de duas formas, pela Aula didática e a

Avaliação em T-Grupo.

A avaliação através da Aula didática ocorreu da seguinte maneira. Cabia a uma dupla ou

trio de alunos a responsabilidade de reunir-se e organizar previamente o planejamento de uma

aula teórico-vivencial na disciplina e pô-la em prática, realizando-a com o grande grupo

conduzindo as atividades. Neste item, o professor examinava a execução dessa tarefa através dos

194

itens: organização em grupo, responsabilidade dos componentes e realização da aula no papel de

docente. Todos os alunos conseguiram realizar bem esta tarefa. Ao final da aula, o professor

abria para o grande grupo avaliar como perceberam a atuação dos responsáveis pela aula,

havendo assim um momento de contribuição coletiva com pontos a serem melhorados, tais

como, postura em sala de aula como docente, segurança ao articular as ideias, melhora na

comunicação, necessidade de maior entrosamento do grupo, entre outros, bem como o reforço

dos aspectos positivos que os estudantes apresentavam no papel de educadores. Em geral, estes

momentos propiciavam abertura para o olhar do outro e abertura para perceber nuances que o

professor percebia e que nós como estudantes ainda não.

O professor dava suporte tanto à confecção da aula, após os alunos já terem realizado a

tarefa inicial de leitura e levantamento de atividades, como auxiliava na realização da aula,

intervindo e complementando quando necessário durante a aula.

Já a avaliação em T-grupo deu-se primeiramente de forma individual, através do

preenchimento de cada aluno de uma ficha de avaliação (Anexo C). Isto ocorreu em dois

momentos, no primeiro bimestre da disciplina e depois ao final dela. A ficha deveria ser

preenchida em casa e trazida no dia da avaliação. Os alunos atribuíam a si mesmos conceitos de

0 a 10 nos itens de assiduidade, pontualidade, participação nas atividades, grupo de estudo,

cooperação, escuta, fala, escrita, leitura, capacidade de negociar e discordar, autonomia e

iniciativa.

O significado de cada um desses itens na primeira avaliação em T-Grupo não foi muito

aprofundado em sala, pois o professor deixou que os alunos como futuros docentes explorassem

seus conhecimentos prévios em relação a cada item analisado. Inclusive, na primeira avaliação, o

professor detectou que os alunos não compreendiam bem os conceitos de autonomia e iniciativa,

o que seria a capacidade de negociar e discordar, o que é a cooperação, o que lhes despertou a

partir daquela avaliação um maior desenvolvimento destas ações, ampliando suas percepções e

posturas de aula. Após esta primeira avaliação percebeu-se um melhora nestes itens e um maior

envolvimento dos estudantes com o grupo e com a disciplina.

A avaliação ocorreu da seguinte forma: o aluno trazia sua folha de avaliação preenchida

de lápis grafite e um por vez relatava a nota atribuída a si e justificava suas respostas para cada

um dos pontos. Após isso, o grupo e o professor argumentavam se concordavam ou não com o

conceito atribuído, seguiam-se várias vezes um debate sobre a nota, sendo ao final o conceito

195

confirmado ou alterado para mais ou menos por parte do aluno, por parte do grupo ou do

professor. Este momento apresentou-se como uma excelente oportunidade para o crescimento

das relações grupais e da ampliação da percepção de si e da escuta ao outro. Esta forma

apresentou-se uma avaliação de caráter formativo e não excludente de avaliação, pois tanto o

aluno, como o grupo e o professor tinham possibilidade de rever seus pontos de vista em relação

à pessoa avaliada, abrindo com isso novas possibilidades de redescrições identitárias.

Dada à complexidade das justificativas e a necessidade de que cada um dos alunos se

expressasse, esta avaliação durou dois encontros. O foco central desta avaliação foi o

desenvolvimento da capacidade de autorreflexão via autobservação dos valores e das atitudes de

si mesmo e a abertura de escuta a percepção do outro.

4.4.1.4 Ressonância dos dados com a proposta da disciplina Processos interativos

Através da matriz de fundamentos e atividades da disciplina verificamos que o conceito

de unidade foi presente na proposta da disciplina Processos interativos porque o trabalho

formativo investigado se propôs a unir teoria e prática, discência e docência, o corpo

multidimensional com o saber, o corpo com os processos ensino-aprendizagem, todos em

integração, o que se traduziu presentes nos resultados, como constatamos a seguir.

Assim, encontramos ressonância com a maioria das categorias abertas emergidas, estas

que foram destacadas das falas dos alunos através das unidades de significado encontradas no

questionário final e na entrevista semiestruturada. Foram elas:

a) Concepção Educação do corpo mais integral – A disciplina fundamentou-se pela

educação integral compreendida como formação humana buscando propiciar o conhecimento e o

desenvolvimento da multidimensionalidade do ser, por isso as atividades voltaram-se para a

exploração dos aspectos físico-psiquíco-emocionais, sociais, culturais entre outros em um

contínuo processo de “aprender a ser” um todo mais integral;

b) Concepção Educação do corpo como conhecimento de si e do outro – a educação

integral da disciplina propôs um programa educativo voltado para estabelecer conexões consigo

mesmo e com os outros em suas atividades de grupo;

c) Concepção Educação do corpo como elemento da educação – a disciplina incluiu o

corpo como um integrante necessário para seus processos, sendo solicitado aos estudantes

196

aprenderem com o corpo e o ensino perpassou por um educador que também utilizava o corpo,

portanto, ele foi sempre o mediador pedagógico dos processos nessa disciplina;

d) Concepção Educação do corpo como expressão e liberdade – a disciplina foi toda

participativa e interativa e com isso, o corpo foi concebido como o lócus de expressão constante

porque havia a possibilidade de abertura para isto, o que foi lido pelos alunos como um ato de

liberdade para interagir consigo, com os demais e com o conhecimento;

e) Concepção Educação do corpo como atividade – o corpo em movimento não foi tido

como um fator para atrapalhar a educação, mas sim movimentá-lo por ações estimulava a

aprendizagem, revelando-se uma nova forma de ver e conceber a educação;

f) Concepção Educação do corpo como bem-estar e prazer – os estímulos com o corpo na

disciplina propiciou aos estudantes novas sensações em si e significados novos em relação à

educação, o que se revelou ser um fato de prazer e bem estar quando incluído o corpo no

processo.

Já a última categoria Educação do corpo fragmentado apresentou os limites de uma

proposta que se endereça a um novo paradigma educativo. Dessa forma, apesar da busca do

conhecimento e desenvolvimento do corpo integral na disciplina, constatamos que entre os

participantes da pesquisa houve entraves à participação de uma proposta como essa, tais como, o

querer em não participar com o corpo nem interagir muito com as demais pessoas numa prática

educativa; as desapreciações pessoais sobre o paradigma, pois alguns estudantes não acreditavam

na proposta de que a inserção do corpo ativo fazia alguma diferença para a finalidade educativa;

ou problemas de outra ordem, como a influência da história pessoal de tais estudantes como um

fator de travamento para uma participação corporal mais efetiva em sala de aula. Todos estes

solicitaram ao educador ter o respeito necessário e também, suscitam novas pesquisas em relação

aos limites da educação do corpo integral/transpessoal.

197

_____________________________________________________________________________

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quero expressar neste momento de considerações finais, o quanto ser estudante neste

Núcleo de Pesquisa em Educação e Espiritualidade apresentou-se um desafio para mim.

Necessitei fazer um mergulho mais profundo em meu corpo para percebê-lo e conhecê-lo mais,

rever antigas visões de mundo e inserir novas lentes, examinar mais conscientemente qual tipo

de educadora quero ser e começar a tecer primeiro em mim, os tão necessários elementos

educativos prezados na formação humana, como autoconhecimento, liberdade de ser, autonomia,

responsabilidade, entre outros que abriram um fecundo espaço na minha própria reconstrução

sobre os sentidos da educação como corpo/pessoa aprendiz e educadora integral.

Em relação ao trabalho desta pesquisa, de eixo central de investigação o corpo em sua

interação educativa, tínhamos na problemática inicial o alerta sobre a redução do corpo pelo

privilégio da dimensão mental. Assim, direcionamo-nos a eleição de um estudo de abraço mais

inteiro e os fundamentos das lentes da educação como formação humana e os da psicologia da

educação transpessoal nos solicitavam um maior aprofundamento tanto teórico quanto prático, a

fim de compreendermos mais as concepções e os fazeres deste paradigma, e a partir disso,

termos uma possível ressignificação do lugar do corpo na educação atual.

Neste intuito, buscamos responder as questões norteadoras as quais nos propomos e com

esta pesquisa conseguimos sim um rever desse lugar do corpo na formação, renovando nossas

percepções através da exploração bibliográfica e do acompanhamento da proposta educativa que

visou à integralidade do ser pela experiência da disciplina Processos Interativos.

Quanto à questão feita inicialmente, qual é o lugar do corpo no paradigma da educação

integral, como resposta, posicionamos que este lugar se apresentou tanto como o lócus da

integralidade do ser de forma teórica, mas sim e principalmente, como o lugar por onde se pode

experimentar e conhecer essa integralidade de forma pós-metafísica, ou seja, através de sua

experimentação nos processos práticos da disciplina investigada e das indicações de atividades

com o corpo na abordagem prática de Ken Wilber.

Desta forma, indicamos que o trabalho educativo na disciplina baseado numa concepção

de corpo multidimensional e tendo como práxis o objetivo de tocar alguma dimensão em

198

especial ou várias ao mesmo tempo nas aulas, nos deixou claro que, o como se faz pode

promover o aprender e o conhecer dessa integralidade no ser, de modo que esse conhecimento

não seja apenas por um falar sobre, mas sim um entrar em contato com. Vemos isso

principalmente com o surgimento das categorias Educação do corpo mais integral e Educação do

corpo para o conhecimento do eu e do outro de forma mais pontual.

Outro ponto de destaque sobre o lugar da dimensão corporal no paradigma integral foi o

de possível promotor do conceito de unidade entre os elementos educacionais antes

desconectados. O corpo tanto na teoria proposta por Wilber quanto na prática da disciplina

apresentou-se como um mediador e facilitador da articulação das vias humanas, a via interna –

através do maior contato com os níveis do ser e do conhecer – somada também à via externa – a

do saber científico da cultura exteriorizado – com isso, tivemos a maior aproximação de unidade

entre o desenvolvimento humano e o acadêmico, o ser e o saber articulado.

Bem como, a dimensão corporal na pedagogia integral demonstrou ser um possível

veículo agregador entre as modalidades complementares teoria e prática pedagógica através da

inclusão dinâmica do corpo via estratégias ativas, tais como, as dinâmicas de grupo, as danças, as

dramatizações, as brincadeiras, os jogos dramáticos, sempre vinculados à teoria, facilitando a

síntese desses processos indicados nas categorias Educação do corpo como elemento da

educação e Educação do corpo como atividade.

A outra questão que nos propomos a responder, se as visões de educação do corpo dos

participantes antes e após a experiência seriam deslocadas, obtivemos resultados bastante

importantes neste aspecto. Vimos que os estudantes partiram de um legado educacional de

concepção de Educação do corpo bancário, Educação do corpo acessório, Negação da Educação

do corpo e Educação do corpo pouco explorado, ou seja, partiram de experiências anteriores que

não privilegiaram o corpo na formação deles como futuros pedagogos, para uma ampliação de

significados para com o corpo de modo mais qualitativo com o surgimento das categorias

Educação do corpo mais integral, Educação do corpo como conhecimento de si e do outro,

Educação do corpo como elemento da educação, Educação do corpo como atividade, Educação

do corpo como expressão e liberdade, Educação do corpo como bem estar e prazer e os limites

de qualquer proposta educativa com a concepção Educação do corpo ainda fragmentado. Assim,

199

tivemos como resultado que esta experiência visando à integralidade no corpo conseguiu alterar

a relação entre corpo e educação desses estudantes.

Sobre esse deslocamento, um dos fins da educação integral e transpessoal foi alcançado

que é a gradual superação drástica das divisões das dimensões do ser do cartesianismo para uma

perspectiva de promoção mais complexa e interligada, ampliando a percepção conceitual dos

alunos sobre o corpo.

Mas destacamos também dentre estas categorias, um deslocamento significativo para a

educação de modo geral pelo surgimento da categoria Educação do corpo como elemento da

educação, pois com ela, o corpo passou a ser significado como peça fundamental, necessária e

integrante dessa educação de si mesmo; e com a categoria Educação do corpo como atividade, a

mudança significativa foi o fato de rever o corpo que era bastante passivo para agora incluí-lo

como ativo e envolvido na própria ação formativa.

Ainda pontuamos que os dados apresentaram-se dentro da perspectiva de complexidade

que concebemos, a do círculo de entendimento cíclico o qual nos direcionava para entender o

todo é preciso entender as partes e para entender as partes é preciso entender o todo. Ou seja,

para entender a integralidade da experiência era preciso compreender suas partes, como realizado

na sistematização das categorias, e percebemos que elas estão numa rede sem linhas divisórias

rígidas.

Para compreender isto, vimos que a concepção Educação do corpo mais integral integra-

se a outra categoria, a de Educação do corpo como conhecimento de si e do outro, pois, para

perceber-se mais integral é preciso conhecer novas dimensões e ângulos de si próprio. Este

processo de conhecer a si em suas relações multidimensionais estabelece junção à outra

categoria, a Educação do corpo como elemento da educação, já que, o saber de si liga-se ao

sujeito ser seu próprio elemento de investigação educacional, sendo o corpo integrante desse

processo de autoformação. Nisto, o corpo como elemento de autodesenvolvimento pode

perceber-se agente ativo de sua formação contínua, conectando-o a outra categoria de Educação

do corpo como atividade.

Neste círculo, saber-se multidimensional, conhecer a si e o outro, estabelecer o vínculo

consigo mesmo e reconhecer-se como elemento de autoconhecimento tornando-se agente de si

inter-relacionados. Ainda neste processo, este movimento favorece a renovação de sensações de

bem estar e prazer no ensino-aprendizagem se este processo for meio da criatividade, do fazer,

200

do encontro, abrindo o espaço educativo para o positivo do aprender, conectando-se as categorias

de Educação do corpo como expressão e a liberdade e Educação do corpo como bem estar e

prazer. Com esta liberdade e expressão pode-se iniciar novamente a jornada de conhecer a si,

descobrir novas dimensões, ser elo de renovadas aprendizagens, e assim, seguir com o círculo

interativo de entendimento neste mundo instaurado pelo fenômeno da educação do corpo na

disciplina Processos interativos, a meu ver como pesquisadora, apresentando-se desta forma.

No concernente a responder nossa questão de pesquisa sobre o conceito de corpo na

abordagem integral teórico-prática de Ken Wilber, tivemos como resultado um verdadeiro leque

de conhecimento exploratório que se abriu. Primeiro, podemos pontuar que a reinserção de uma

psicologia que se direciona as origens do termo psique e o objetivo de abarcar o espectro total da

consciência humana como tarefa da psicologia do desenvolvimento é sem dúvida um diferencial

para a psicologia da educação.

Nestas bases, o aprofundamento do quadro pré-moderno “Grande Ninho do Ser” com os

níveis do ser e do conhecer como um campo morfogenético no corpo e que posiciona o

crescimento humano ocorrendo através da contínua inclusão das dimensões, posiciona como

imprescindível à existência do trabalho de formação com a inclusão da dimensão corporal para

avançarmos e integrarmos corpo e mente na holarquia acima.

Assim, nesta perspectiva, é necessário que estes níveis/dimensões sejam

diferenciados/compreendidos e transcendidos/incluídos com todas as suas contribuições para

desenvolvermos mais coerentemente o próximo nível de abrangência na escala de nossas

possibilidades de humanização. Recordando que o sentido é avançarmos sempre rumo à

ampliação dos demais níveis de forma integrada ao crescimento junto à dimensão espiritual, esta

nosso maior alcance de chegada e para onde a finalidade educativa se dirige em consonância

com o paradigma da educação integral.

Neste sentido, esta pesquisa pode iniciar os estudos de diferenciação do nível corporal na

“Grande Cadeia”. Encontramos nesta busca, o corpo sendo o nível lócus da matéria e do corpo

físico, aí ele apresenta-se campo potencial dos instintos e dos desejos humanos por onde

percebemos emoções e sentimentos, elementos estes que articulados à mente podem ser

trabalhados para o desenvolvimento educativo saudável na formação humana de cada um.

201

Já no outro quadro “Os Quatro Quadrantes do Kosmos” apresentado por Wilber, o lugar

do corpo revela-se como sendo ainda mais abrangente em relação a sua complexidade, pois

visualizamos o território humano multidimensional do corpo ao espírito, como uma teia

interligada abrangendo quadrantes e assim para ser integral é preciso explorá-lo em sua interface

subjetiva, objetiva, intersubjetiva e interobjetiva como fizemos nesta pesquisa.

Neste sentido, foi por meio do conhecimento desses quadrantes e suas contribuições que

a “Grande Cadeia do Ser” pode ser reatualizada, reposicionando com isso o campo corporal

como o lugar por onde as dimensões humanas podem ser exploradas dentro do ser e não fora

dele, no seu background intrafísico, rompendo com o posicionamento metafísico e convidando a

mais estudos exploratórios para conhecermos esses potenciais estruturais humanos.

Assim, na ampliação conceitual de Wilber, o corpo é lócus de conhecimento e

desenvolvimento na formação humana, pois o autor através de suas pesquisas apresenta a

possibilidade de estudá-lo em seus diferentes estados de consciência e com eles

experimentarmos três diferentes corpos; apresenta a capacidade de podermos explorar o campo

corporal avançando por estágios de consciência indo de um corpo egocêntrico ao mundicêntrico;

o trabalho por diversas linhas de desenvolvimento no campo corporal integral; e ademais, poder

estudá-lo através da proposta de educação para cada quadrante, compondo-se como uma

abordagem fecunda de exploração.

Em síntese, a abordagem integral e transpessoal de Wilber explora os elementos

constituintes do fenômeno corpo humano na busca de que o senso de identidade do sujeito possa

alargar-se, ampliando do estrito corpo físico para abranger corpo-mente-espírito, mas para isso,

indica que precisamos conhecer bem nossas dimensões, seus processos e possibilidades, com

equilíbrio, para sermos bem mais conectados, conscientes e mais humanizados.

Com este trabalho, desafiamos a compreensão de que aprendemos apenas com a

dimensão mental, os resultados apontaram que podemos aprender com o corpo físico ativo

conectado à mente e ampliar percepções sobre as dimensões do corpo inteiro. Desta maneira,

esta pesquisa apresentou-se renovadora em percepções, concepções e fazeres sobre o corpo,

direcionando que nele coexiste bastante potencial pedagógico, e sua inclusão pode ser um

caminho possível de trabalho oposto aos fins reducionistas das metas atuais da educação.

202

Pontuamos como limites desta pesquisa, em primeiro lugar, o fator tempo, pois dois anos

de curso foram pouco para realizar um aprofundamento teórico ainda mais consistente nas obras

de Ken Wilber, devido a sua teoria e prática ser bastante complexa e integrada a diversas outras

pesquisas, estas as quais poderiam ser mais estudadas e ligadas a nosso debate. Bem como,

indicamos que um tempo maior de reflexão sobre os resultados das categorias surgidas,

poderiam amadurecer ainda mais as contribuições para o campo da formação humana.

Outro limite que apontamos, foi o fato de que esta temática suscitou a mim enquanto

estudante, uma necessidade de reintegração multidimensional, quero dizer, no processo deste

curso de mestrado houve uma abertura ao autoconhecimento também no sentido dos limites

demonstrados pelo meu corpo, pois tive doenças e sintomas que me afetaram, como crises de

stress e estafas devido a quantidade de trabalho e prazos curtos, obtive uma séria gastrite,

necessitando até parar um tempo para cuidar da saúde.

Necessitei, portanto, de uma reavaliação para saber como lidar com os campos físicos,

emocionais e mentais de modo mais cuidadoso, tanto quando se estuda uma temática como esta

num curso corrido e aprofundado como é este. Também, pude refletir sobre como as políticas de

produção acadêmica desconsideram a saúde do aluno para que ele atenda rápido as suas

demandas.

Indicamos como possíveis pesquisas futuras dentro desta temática, a necessidade de mais

estudos focados com o corpo concebido em integralidade para termos ainda mais parâmetros de

trabalhos e contextos. Nisto, apontamos a carência de estudos teóricos e práticos baseados nas

obras de Ken Wilber, principalmente, um estudo sobre a educação do corpo sistematizada nos

“Quatro Quadrantes do Kosmos” a fim de saber como esta didática pode ser viabilizada em

novas experiências educativas e suas possíveis repercussões e contribuições para o campo da

educação integral.

Bem, para finalizar sem finalizações, pois nosso processo indagativo prosseguirá,

destacamos que a pergunta inicial que abre esta dissertação, se há corpo na educação, foi situada

para ser uma questão examinada por todos os leitores no percurso deste trabalho. Após o

empreendimento desta pesquisa, respondemos sim, há corpo na educação. Contudo, a pergunta

que nos aparece em continuidade é: ele está a serviço de quê?

Dessa forma, seguem nossos questionamentos, mas a pergunta de entrada buscou instigar

em cada leitor o repensar sobre qual o lugar do corpo na formação de si mesmo e em sua prática

203

pedagógica, para que como disse Fernando Pessoa, não fiquemos à margem de nós mesmos e,

portanto, à margem de nossos melhores potenciais.

204

_____________________________________________________________________________

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YUS, Rafael. Educação integral: Uma educação holística para o Século XXI. Porto Alegre:

Artmed, 2002.

208

ANEXOS

ANEXO A- PLANO DE ENSINO DA DISCIPLINA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAIS

PLANO DE ENSINO

1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

Disciplina Ano

Processos Interativos no Espaço Escolar 2012

Semestre Carga Horária

1º 60 horas/aula

PROFESSOR

Aurino Lima Ferreira

2. EMENTA

Estudos dos processos interativos a partir de teorias, práticas e pesquisas em psicologia

que investiguem aspectos dos processos de grupo e os processos da integralidade do ser

humano em suas relações com as práticas escolares.

3. OBJETIVO GERAL DA DISCIPLINA

Apresentar uma visão geral das teorias e pesquisas e experimentar práticas de educação e

209

psicologia que investiguem os aspectos dos processos de grupo e os processos da

integralidade do ser humano em suas relações implicativas com as práticas educacionais.

4. OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA DISCIPLINA

- Apresentar um breve histórico crítico dos estudos dos processos interativos no campo

educacional;

- Apontar as principais contribuições dos grandes teóricos do estudo de grupos,

identificando os pontos de concordância e as diferenças entre as abordagens.

- Refletir e vivenciar as questões que tratam das interações em sala de aula e sobre o papel

d@ educador(a) na vida d@ educand@.

- Construir uma análise crítica sobre o processo grupal a partir de uma experiência de T-

grupo;

- Conhecer os fenômenos que compõem e influenciam os processos interativos;

- Analisar e vivenciar o papel da linguagem e da comunicação nos processos interativos, em

especial o papel da criação nas interações simbólicas;

- Discutir e vivenciar “práticas de cuidado de si” no processo de formação d@ educador(a)

com ênfase na exploração da integralidade no corpo;

- Destacar o lugar do corpo nos processos interativos de formação humana;

- Problematizar os conflitos intra e interpessoais e grupais e suas relações com a violência

escolar;

- Situar os processos interativos na escola contemporânea;

- Estimular o interesse pela pesquisa, a análise e a constante atualização no estudo dos

processos interativos.

5. EXPECTATIVAS DE APRENDIZAGEM

Espera-se que @s alun@s ao final da disciplina:

- Elaborem uma visão crítica sobre as diferentes perspectivas teóricas e epistemológicas dos

processos interativos presentes no campo educacional;

- Construam uma definição de processos interativos a partir de uma experiência do T-grupo,

destacando suas implicações para uma prática ética e política de “escuta” de si e dos sujeitos

educacionais;

- Discutam coletivamente o lugar d@ educador (a) (como sujeito de desejo) e seu compromisso

face à reinvenção da educação como prática ética e política, ao invés de meros reprodutores

passivos de um roteiro de abordagens sobre os processos interativos intra e interpessoais e

grupais;

210

- Percebam a importância do estudo dos processos de interação e do cultivo de “práticas de

cuidado de si”, tanto do seu corpo quanto os dos educandos no processo formativo enquanto

educador;

- Desenvolvam uma visão integral do ser em desenvolvimento.

6. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

1. UNIDADE - PROCESSOS INTERATIVOS EM ESPAÇOS INTRA-GRUPAIS

SOB DIFERENTES PERSPECTIVAS TEÓRICAS E EPISTEMOLÓGICAS

1.1 A Teoria de Kurt Lewin;

1.2 Perspectiva Psicanalítica freudiana;

1.3 Perspectiva Humanista, fenomenológica e existencial;

1.4 A teoria dos Papéis;

1.5 As interfaces do corpo integral.

2. UNIDADE - LINGUAGEM, CORPO, COMUNICAÇÃO E PROCESSOS

INTERATIVOS

2.1 Interações Discursivas Verbais e Não Verbais

2.2 O Papel da linguagem Corporal nos Processos Interativos;

2.3 Psicologia, Tecnologia e as Formas de Interação: o corpo consigo, com os

demais e com os processos educacionais

2.4 A Dimensão Criativa nas Interações Simbólicas: o corpo no processo de criação

3. UNIDADE – A ESCOLA, VIOLÊNCIA E MULTICULTURALISMO

3.1 A Escola e seu Papel Socializador;

3.2 A Comunidade Escolar e sua Tendência Integradora;

3.3 Conflitos Intra e Interpessoais e grupais e suas Relações com a Violência

Escolar;

3.4 Multiculturalismo, diferença e reconhecimento do outro.

7. ESTRATÉGIAS DE ENSINO

Os objetivos propostos deverão ser alcançados por meio das seguintes estratégias

de ensino:

Atividades para sensibilização do ser integral em desenvolvimento

211

Projeto de Formação através do T-grupo;

Aulas Didáticas: a exposição do conteúdo ocorrerá por meio de atividades teórico-práticas que facilitem e estimulem a aprendizagem. Buscar-se-á interação constante

com @s alun@s.

Produção, análise, interpretação de textos;

Diário de Bordo

Dinâmicas de grupo;

Visita de campo.

8. SISTEMA DE AVALIAÇÃO

- Observar a participação e envolvimento dos alunos, verificando suas contribuições para

discussão;

- A avaliação da participação nas atividades será realizada priorizando:

- A assiduidade às aulas;

- O envolvimento e posicionamento crítico diante das situações propostas;

- A realização e socialização das atividades propostas:

Aula didática

Oficina de Processos Interativos

Auto-avaliação no T-Grupo;

Diário de Bordo

Relatório de visita

Colóquio

9. BIBLIOGRAFIA

ANGERAMI-CAMON, V. A. Psicoterapia existencial. 3 ed. São Paulo: Pioneira.

1998.

CANDAU, V. M. Direitos Humanos, educação e interculturalidade: as tensões

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(p. 45-56).

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experiência de Jean Itard com Victor de Aveyron. In: Banks-Leite, L.; Galvão, I.

(Orgs.). A educação de um selvagem: as experiências pedagógicas de Jean Itard. São

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Alegre: Artmed. 2007 (p. 71-90).

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Introdução ao pensamento de J. L. Moreno. São Paulo: Ágora, 1988. (p. 41-82).

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de rua a proposta e políticas. Revista Educação e Pesquisa, São Paulo. V. 29. n.1.

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GONÇALVES, M. A. S. Sentir, pensar, agir. Corporeidade e educação. 2 ed.

Campinas, São Paulo: Papirus, 1997.

RECTOR, M. TRINTA, A. R. Comunicação não verbal: a gestualidade brasileira: 2ª

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KAUFMAN, F. G. O Teste Sociométrico. In MONTEIRO, R. Técnicas Fundamentais

do Psicodrama. São Paulo: Brasiliense. 1993, (p. 45-68).

KRUEGER, H. Introdução à psicologia social. São Paulo: EPU, 1986.

YOZO, R. Y. K. 100 jogos para grupos: uma abordagem para empresas, escolas e

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LEWIN, K. Problemas de dinâmica de grupo. São Paulo: Cultrix, 1989.

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MARTÍN, E. G. Psicologia do encontro: J. L. Moreno. Tradução: Maria de Jesus A.

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MINICUCCI, A. Dinâmica de Grupo em Educação. In MINICUCCI, A. Dinâmica de

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MOSCOVICI, F. Desenvolvimento interpessoal. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e

Científicos, 1985.

MORENO, J. L. Psicodrama. Tradução: Álvaro Cabral. São Paulo: Cultrix. 1993, (p.

24-30), (p. 160-164), (p. 197-202);

NASIO, J.D. Meu corpo e suas imagens. Tradução: André Telles. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.

NÓBREGA, T. P. Qual o lugar do corpo na educação? Notas sobre conhecimento.

Processos cognitivos e currículo. Revista Educação Sociologia. Campinas, v.26,

213

p.599-615, maio/ago.2005. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br

PUTTINI, E. F.; LIMA, L. M. S. Ações educativas: vivências com o psicodrama na

prática pedagógica. São Paulo: Ágora, 1997, (p. 13-24).

RUBINI C. O Conceito de Papel no Psicodrama. Revista Brasileira de Psicodrama. V.

3 Fascículo 1. Ano 1995.

SILVA, S. F. As intervenções do professor e o processo grupal nas aulas de Física:

uma análise à luz da teoria dos grupos operativos. Dissertação apresentada no

Instituto de Física e a Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. 2008. SIROTA, R. Emergência de uma sociologia da infância: evolução do objeto e do olhar. Cad.

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SOARES, C. L(org.). Corpo e História. Campinas, SP: Autores associados, 2005. 3ª

edição. VASCONCELOS, M. (Org.). Criatividade: Psicologia, educação e conhecimento do novo.

São Paulo: Moderna, 2001.

CRONOGRAMA DE ATIVIDADES

DATA ATIVIDADES

FEV

1 28 Aula introdutória: Dinâmicas de apresentação e primeiro contato com o

corpo integral.

MARÇO

2 02 Contrato Didático, Aplicação dos testes de pesquisa e apresentação dos

participantes com dinâmica corporal.

3 06 O corpo na educação integral (Rodrigues, 2001)

4 09 Não houve aula – faltou energia.

5 13 O que é, afinal, um grupo? (OSÓRIO, 2007, p. 57-58).

6 16 O que é um grupo (SILVA, p. 23/26) Dinâmica de Grupo: Breve

histórico (BARRETO, 2010, p. 13-29)

7 20 Kurt Lewin e a dinâmica de Grupo (MINICUCCI, 2002, p. 26-34)

8 23 Formação de T-grupo na educação.

9 27 1ª Aula didática - Contribuição de Moreno (MINICUCCI, 2002, p.35-

214

40).

10 30 2ª Aula didática - Histórico dos grupos operativos (SILVA, p. 42-49).

ABRIL

11 03 3ª Aula didática - Os papéis (SILVA, p. 50-59)

12 10 4ª Aula didática - Dinâmica de Grupo em educação (MINICUCCI, 2002,

p. 223-245).

13 13 5ª Aula didática - Reações características de grupo (CASTILHO, p. 51-

69)

14 17 6ª Aula didática - Reações características de grupo (CASTILHO, Bode

Expiatório, p. 69-92)

15 20 7ª Aula didática - Existencialismo um breve esboço (ANGERAMI,

1998, p. 19-25)

16 24 8ª Aula didática - Da teoria não-diretiva à abordagem centrada na pessoa

(MOREIRA, 2007, p. 43-56)

17 27 9ª Aula didática - Psicodrama pedagógico: considerações sobre a

produção do conhecimento na escola (PUTTINI, 1997, p. 12-24)

MAIO

18 04 10ª Aula didática -Aplicação de Psicodrama e jogo Dramático (YOZO,

1996, p. 15-47)

19 08 AUTO-AVALIAÇÃO

20 11 11ª Aula didática - A arte da comunicação (MINICCUCI, 2006, p. 48-

68)

21 15 12ª Aula didática - Quem educa marca o corpo do outro (DOWBOR,

2007)

PERÍODO DA GREVE: 17.05.12 a 17.09.12

SETEMBRO

22 18 O corpo - Ética e cidadania: caminhos da filosofia (GALLO, 2010)

23 22 Comunicação não verbal: a gestualidade brasileira (RECTOR; TRINTA,

1986)

24 25 Visita ao NEIMFA – espaço de educação Não formal.

215

25 29 O corpo na vida cotidiana (GONÇALVES, 2001, p.13-37).

OUTUBRO

02 CONGRESSO

05 CONGRESSO

26 09 Criatividade, criação e apreciação artísticas: a atividade criadora

segundo Vygotsky (JAPIASSU, 2001, p. 43-58).

27 05 Aplicação de Questionário Final

28 12 Entrevistas

29 15 Entrevistas

30 19 Avaliação T-grupo

22 Avaliação T-grupo

216

ANEXO B – PLANOS DE AULA DA DISCIPLINA PROCESSOS INTERATIVOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROFESSOR AURINO LIMA FERREIRA

1ª AULA DATA: 28.02.12 - PLANO DE AULA

TEMA: AULA INTRODUTÓRIA: Dinâmicas de apresentação e primeiro contato com o

corpo integral.

1º Momento – Alongamento Inicial e destensionamento do campo físico

Objetivo: Realizar um alongamento para relaxar e destensionar o corpo físico para o

encontro.

Procedimento: Seguir os comandos de alongamento. Propõe-se relaxar e entrar em contato com

a respiração através de uma música suave, soltando a respiração e realizando uma

automassagem.

2º Momento – Encontrar parceiros e Apresentação do nome

Objetivo: Formar parceiros para apresentar-se. Reconhecer a singularidade de cada um.

Procedimento: Ao circular pela sala, irá através do olhar percebendo todo o grupo e assim que

for dado o comando cada um formará duplas, encontrando alguém que sinta ser mais parecido

com seu jeito de ser meramente pela aparência ou sintonia intuitiva. Formar duplas a partir desse

critério subjetivo e expõe ao outro a história do nome, quem nomeou, o porquê, como gosta de

ser chamado (a), expor se gosta do nome, qual o significado dele. Posteriormente, cada

participante apresentará o/a colega que conheceu para o grande grupo.

3º Momento – Atividade: O que você trouxe?

Objetivo: Conhecer os medos e as esperanças que os estudantes trouxeram para a disciplina.

Dramatizar em grupo esses medos e essas esperanças.

Procedimento: As mesmas duplas compartilhar os medos e as esperanças. Em seguida, irão

formar grupos de quatro pessoas para socializar entre os quatro. Após isto, realizarão uma

apresentação não-verbal dos medos e esperanças a fim de que o grupo identifique qual é a

mensagem passada.

217

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

DISCIPLINA: PROCESSOS INTERATIVOS

PROFESSOR AURINO LIMA FERREIRA

2ª AULA DATA: 02.03.12- PLANO DE AULA

TEMA: Contrato Didático, Aplicação dos testes de pesquisa e apresentação dos

participantes com dinâmica corporal.

1º Momento: Dança espontânea com reapresentação do nome

Objetivo: Despertar o corpo físico e destensioná-lo para interação em grupo. Relembrar os

nomes dos colegas.

Procedimento: Todos dançando pela sala receberão comandos de movimento, como andar de

ponta de pé, andar com o calcanhar, pular na música, dançar lentinho e etc. Quando a música

parar encontrará alguém e cada um se reapresentará a pessoa que estiver mais perto. Depois

faremos uma roda e socializaremos com as apresentações de todos (as).

2º Momento - Contrato Didático

Objetivo: Realizar acordos com os alunos e explicar como ocorrerá a dinâmica da disciplina.

Procedimento: O professor exporá seu plano de aula, os objetivos da disciplina, ementa,

cronograma. Explicará sobre a avaliação, fará acordos como o horário de chegada e saída, e em

relação ao comportamento em sala.

3º Momento - Aplicação dos Testes para a Pesquisa

Objetivo: Aplicar os testes referentes à pesquisa aqui empreendida.

Procedimento: Serão dados 40 minutos de aula para os estudantes responderem ao questionário

inicial.

4º momento – Dança de integração

Objetivo: Finalizar a aula com uma dança que promova o reconhecimento do grupo.

Procedimento: Todos os participantes dançarão a dança circular L´alouette. O professor dará o

passo a passo da dança.

218

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO-UFPE

CENTRO DE EDUCAÇÃO-CE

DISCIPLINA: PROCESSOS INTERATIVOS.

PROFESSOR AURINO LIMA FERREIRA

3ª AULA DATA: 06.03.12 - PLANO DE AULA

TEMA: O corpo na educação integral (Texto base: Rodrigues, 2001)

1º Momento – Atividade de contração e expansão do corpo

Objetivo: Trabalhar o conceito de educação integral através de movimentos para dentro e para

fora, expressando o processo intencional da educação para as duas vias, a interna e a externa.

Também, objetiva-se destensionar e promover o gradativo contato com o campo físico, as

sensações e as emoções presentes no corpo.

Procedimento: Os participantes vão se movimentando pela sala e farão exercício de contração e

expansão do corpo. Ao contrair o corpo vivenciam o trabalho da educação para o eixo interno e

ao expandir vivenciar a educação para o eixo externo. Ou seja, contraem o corpo e expandem o

corpo lentamente, repetem e caminham pela sala observando sensações e sentimentos no corpo.

Repetir algumas vezes.

2º momento: Visualização Criativa

Objetivo: Explorar a imaginação e a criatividade

Procedimento: Após o movimento de contração e expansão, solicitaremos que os participantes

visualizem um eixo vertical central partindo dos pés de cada um crescendo e ultrapassando a

cabeça, representando o céu e a integração entre o terreno e o celestial. Em seguida, pediremos

que os mesmos visualizem um círculo horizontal que se expande e contrai ao redor do corpo,

representando a ampliação das dimensões no corpo. Socializar como se sentiram realizando as

atividades.

3º Momento – Discussão sobre Paradigmas da Educação

Objetivo: Discutir com o grupo sobre o papel da Educação Tradicional e o papel da Educação

Integral.

219

Procedimento: Discutir sobre a função da escola com a perspectiva tradicional e discutir sobre o

papel da “Educação do Ser Integral”, a partir do texto abaixo:

Introdução através das questões:

1. O que significa Ser Integral?

2. Qual o papel da escola?

3. Como é a relação professor/ aluno (sala de aula)?

Objetivo: Papel da Escola

Na perspectiva tradicional, o papel da escola consiste em transmitir informações acumuladas ao

longo da história da cultura, objetivando.

- desenvolver o espírito crítico (pensar); preparar o aluno intelectualmente para as situações em

que tiver de competir, tendo em vista sua formação profissional;

- dominar a leitura, escrita, cálculo, conhecimentos gerais, com ênfase na transmissão de

conteúdos, eixo principal da ação pedagógica na perspectiva tradicional.

Visão da Educação Integral Resgata o conceito de Ser Integral (físico, mental, emocional, espiritual). A educação do Ser

integral pede uma revisão estrutural do conceito de Escola, a qual é vista como espaço de

desenvolvimento, evolução, auto - realização para todos os que nela atuam e trabalham.

Educação e vida se unem no eixo da realização do Ser Integral.

Desafios

- Fazer do processo educacional um exercício da inteireza – harmonia entre sentir, pensar, agir.

“Que o seu pensamento esteja onde seu sentimento estiver e que sua ação seja um reflexo destes

dois positivamente.”

- Mergulhar no processo de autodescoberta, autoconhecimento e cultivo da espiritualidade, além

de elaborar com competência os conteúdos.

“A espiritualidade é uma característica fundamental do ser humano é algo que o abarca, aquilo

que o configura está unido com tudo que o cerca; os seus semelhantes, a natureza e o Cosmos.”

É um sentimento de unidade.

Local de pessoas inteiras, com múltiplas dimensões (físicas, emocionais, mentais, espirituais).

Como fazer para desenvolver o ser integral?

- Desenvolver uma metodologia interativa e experiencial, na qual professor e aluno se

constituem na relação interpessoal e intergrupal.

- Incluir no trabalho pedagógico: arte, dança, pintura, expressão, jogos, visualização, meditação

4º Momento – Dança integrativa

Objetivo: Encerrar o encontro com integração e alegria.

Procedimento: Os alunos aprenderão o passo a passo da dança circular de parceiros – Jiffy

(EUA).

4ª AULA 09.03.12

Faltou energia

220

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO-UFPE

CENTRO DE EDUCAÇÃO-CE

DISCIPLINA: PROCESSOS INTERATIVOS.

AULA 05 PROFESSOR AURINO LIMA FERREIRA

DATA 13.03.12 - PLANO DE ENSINO

TEMA: O QUE É UM GRUPO? (OSÓRIO, 2007, p. 57-58).

1º momento - Dinâmica do Nó

Objetivo: Aprender que as relações entre as pessoas têm o nós, todos nós, e os nós, como

conjunto e as dificuldades a serem vencidas. Ter como mote para desdobrar a temática grupo.

Procedimento: Começa caminhando pela sala aleatoriamente ocupando todo o espaço da sala.

Em seguida, pede-se para que cada um pare. Cada qual aproxima-se de duas pessoas e dá as

mãos a elas. Todos farão o mesmo e com isso todo o grupo estará emaranhado e tentará desfazer

os nós. Terão que utilizar as mais importantes estratégias de convivência em grupo: a interação, a

comunicação, entre outros.

2º momento – Problematização: O que é um grupo?

Objetivo: Iniciar a temática sobre O que é um grupo problematizando-a.

Procedimento: O professor começa sua problematização lançando questões para o grupo, tais

como: quando podemos indicar a existência de um grupo? Discute a temática através do

fenômeno da primeira impressão num grupo, papel do estudante na escola contemporânea, a

influência do ambiente nos processos de aprendizagem.

3º momento – Pontos essenciais de convivência

Objetivo: Destacar pontos relevantes para a convivência grupal. Tais como, interação,

comunicação verbal e não verbal, fenômeno da primeira impressão, cooperação, respeito,

amizade, flexibilidade perceptiva, dar e receber feedback, trabalho emocional e afetivo, verdade

e amor.

Procedimento: O professor retira do texto os pontos principais e discute como todos na sala de

aula sobre esses pontos, promovendo a particpação dos estudantes.

221

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO-UFPE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

DISCIPLINA PROCESSOS INTERATIVOS NO ESPAÇO ESCOLAR

PROFESSOR AURINO LIMA FERREIRA

6ª AULA DATA: 16.03.12

PLANO DE AULA

TEMA: O que é um grupo? (SILVA), Dinâmica de Grupo (BARRETO).

1º momento: Dança Jiffy Mixer

Objetivo: Realizar uma atividade que os alunos vivenciem o conceito de nó e círculo para ir

apresentando a temática do dia.

Procedimento: O professor dará o passo a passo da dança aos alunos.

2º momento: Grupo como Nó e Círculo

Objetivo: Discutir sobre as ideias do texto base, em especial, os conceitos de Nó e círculo.

Procedimento: O professor fará o levantamento de leitura dos alunos e irá tecendo sua

argumentação de forma participativa.

3º momento: Introdução de Planejamento de Aula didática

Objetivo: Dividir os grupos para dar início às aulas didáticas organizadas pelos alunos.

Procedimento: O professor esclarecerá o trabalho a ser realizado por cada dupla ou trio, bem

como organizar cronograma e temáticas, e esclarecer como deve ser feito o trabalho.

4º momento: Elaboração de Plano de Ensino de uma aula

Objetivo: Elaborar um Plano de aula com as propostas da disciplina. Busca-se verificar se os

estudantes compreenderam a proposta formulada.

Procedimento: A partir dos esclarecimentos da atividade anterior, os alunos irão organizar em

conjunto um plano de ensino e exporão para apreciação e orientação de todos os presentes.

222

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

DISCIPLINA: PROCESSOS INTERATIVOS.

PROFESSOR AURINO LIMA FERREIRA

7ª AULA DATA: 20/03/12

PLANO DE ENSINO

Temática: KURT LEWIN E A DINÂMICA DE GRUPO

(MINICUCCI, 2002, p. 26-34)

1º momento – Dança Circular – É circular

Objetivo: Introdução da temática sobre Dinâmica de grupo. A canção relata sobre as mudanças

no tempo, a dinâmica de circularidade e intercâmbio entre as coisas, a mudança das brincadeiras

do passado e as de hoje, as relações pessoais que modificam, e sobre estarem em grupo

circulando em tudo isso.

Procedimento: o professor dará o passo a passo da dança a ser executada. Em seguida, pede

para que os estudantes socializem sobre o que a música expressa sobre a temática dinâmica de

grupo que já foi trabalhada anteriormente.

2º momento- Brincadeira do campo minado

Objetivo: vivenciar a teoria sobre o conceito de campo e espaço de vida do teórico Kurt Lewin

através de forma prática com a dinâmica de grupo do campo minado. Haverá a discussão inicial

sobre o que é o campo de vida de cada indivíduo, a influência do outro nesse espaço de vida,

tanto no campo de cada um, quanto no campo de vida de todo o gruuo.

Procedimento: A dinâmica será feita com o jornal. Espalharemos jornais na sala e haverá uma

exemplificação no início, cada pessoa em cima de um jornal simbolizando seu campo e pulando

para outro jornal simbolizando a troca de campo. E depois exemplificar cada pessoa no campo

como áreas da nossa vida que incluímos no jornal, como amigos, escola, trabalho, família, cada

área que forma nossas redes de relações. Será pedido para que cada um dance no ritmo da

música encima do seu jornal que simboliza seu campo, quando parar a música, cada pessoa

mudará de jornal e seguirá dançando no ritmo da música, e vão sendo retirados outros jornais,

ficando cada vez menos jornais e as pessoas tem que ficar encima dos jornais todos juntos,

223

dançando no ritmo da música, aumentando a quantidade de pessoas no jornal, até que fique uns

quatro jornais cheios de gente juntos dançando juntos no ritmo da tal música.

3º momento – Desenho e reflexão sobre as áreas de atuação do campo de vida

Objetivo: Promover autoconhecimento aos estudantes sobre o campo de vida que estão

vivenciando.

Procedimento: Solicitar que cada participante desenhe e escreva as áreas de sua vida, como um

bolo ou uma pizza que pudesse ser repartido, e promover a reflexão do como se comportam em

cada área de atuação dessas. Pedir para que fechem os olhos e possam visualizar a si mesmos

nestas áreas mais ocupadas, como interage, que coisas você mais gosta nessa área, o que a faz

mais feliz, o que não gosta, mas faz, como se relaciona com as pessoas nessa área, e passa para a

outra área, lembrando um pouquinho como cada um interage em cada área do campo...fazendo o

mesmo processo ...é pedido que percebam o campo que dão menos ênfase e suscita reflexão

sobre ela. Em seguida, há um momento de socialização dos campos.

4º momento – Espelho que não sou eu

Objetivo: Vivenciar o conceito de interdependência e não de igualdade num grupo.

Procedimento: Um dos parceiros dirá como o outro deve fazer o movimento, mas o parceiro

não seguirá o comando fazendo por si mesmo o que quiser. Pensar sobre o processo de campo de

cada um, o processo de interação dos campos como uma mão-dupla, o processo de negociação,

de diálogo, de respeito às diferenças e o fortalecimento da interdependência e não da

semelhança. O grupo sempre vai se motivar mais quando são diferentes e essas diferenças são

respeitadas e valorizadas. Isto cria a atmosfera social, a atmosfera do campo do grupo.

5º momento – Escrita do diário

8ª AULA PROFESSOR AURINO

DATA: 23.03.12

TEMA: T GRUPO NA EDUCAÇÃO.

Falta da pesquisadora por motivo de doença

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

Alunas: G.B. e L.P.

DATA: 27.03.12

1ª AULA DIDÁTICA

PLANO DE AULA

TEMA: CONTRIBUIÇÃO DE JACOB MORENO

(MINICUCCI, 2002, p.35-40)

Objetivo Geral: Discutir sobre as condições criadas para a criatividade e a espontaneidade

quando a comunicação flui, e como isso interfere no desenvolvimento da personalidade do

indivíduo através dos rótulos e das múltiplas máscaras assumidas por ele.

Descrição das Atividades:

1º momento – Apresentação da teoria de Moreno em relação a afetividade e a formação de um

grupo.

Objetivo: Mostrar um pouco da historia e do que pensa Moreno em relação a afetividade e a

formação de um grupo. Para Moreno, um grupo ou um indivíduo pode ser auxílio terapêutico

um do outro, ou seja, através da interação, os indivíduos vão se moldando de acordo com sua

participação nos grupos que por sua vez irá proporcionar aos eles a vivência de variados papéis,

dependendo da situação em que o mesmo está inserido no momento, seguindo esta linha de

pensamento, Moreno buscava recuperar a espontaneidade do homem que no decorrer de suas

relações sociais vem sendo perdido, um exemplo são o diversos papéis que o ser humano “tem”

que protagonizar diante como antes citado das situações mais variadas a que o mesmo é

submetido durante sua vida social, trabalho, estudo, vida familiar e etc.

2º momento: Dinâmica de Rotulação

Objetivo: Vivenciar o fenômeno de rotulação uns com os outros.

225

Procedimento: Colaremos nas costas das pessoas presentes na sala, as seguintes frases: Grite

comigo! Trate-me como criança, Trate-me com carinho, Sorria de mim, Me chame de lindo, Me

abrace, Me ignore. As pessoas irão ter que descobrir o que de fato está colado em suas costas, e

através dessa atividade, iremos, propor que os alunos, sintam como é difícil você ser tratado de

forma que você não sabe o motivo, isso provocará uma reflexão acerca do assunto, que para

Moreno, chama-se de ROTULAÇÃO, ou seja, temos costume de rotular as pessoas sem nem

mesmo conhecê-las, sem sequer saber se aquela pessoa é realmente o que pensamos ou não, e

essa atitude tão frequente na sociedade..

3º momento – Troca de papeis

Objetivo: Serão organizadas duplas que já se conhecem e essas duplas trocarão de papel, ou

seja, um será por algum tempo o outro, fazendo tudo que o outro faria.

Procedimento: De acordo com Moreno nessa dinâmica acontecera assim uma troca de papeis.

Fazendo com que o individuo possa entender melhor o que se passa com o outro, assim como se

colocando no lugar do outro, que para o autor será bem mais fácil entender o próximo se nos

colocarmos no seu lugar, fato que muitas vezes não acontece no nosso cotidiano, pois quase

sempre não queremos saber os motivos que levaram uma pessoa a agir de determinada maneira e

terminamos por julgá-la sem nenhum tipo de compreensão.

4º momento – “Os papeis segundo Moreno”

Objetivo: Será exposto o pensamento de Moreno sobre as diferentes caras, personagens,

personalidades que temos em varias situações da nossa vida, no trabalho, com os amigos, com

os pais, com os namorados, na faculdade, na balada e etc.

Procedimento: Vamos explicar o pensamento de moreno sobre os vários papeis. De acordo com

o papel que representamos, e em conseqüência “não somos nós mesmos”, o que foi para Moreno,

seu maior objeto de estudo, que é a recuperação da espontaneidade do indivíduo.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

2ª AULA DIDÁTICA

PLANO DE AULA - DATA: 30.03.12

Grupo: F. A.T.; M.G.P.O.

TEMA: Histórico dos grupos Operativos

(SILVA, p. 42 a 49)

Objetivo Geral da Aula didática:

1. Compreender e vivenciar os conceitos principais pertencentes ao Grupo Operativo: a noção de

tarefa (explícita e implícita), vínculo, comunicação e aprendizagem, mobilização das estruturas

internas (resistência à mudança);

2. Desenvolver com o grupo a consciência de que a dinâmica grupal consiste na realização da

tarefa de aprendizagem e com esta, a importância da mobilização para aprender algo novo de

modo que as pessoas posam experimentar, conhecer e aprender algo novo.

Metodologia: A aula didática se baseia na interação teoria e prática através de atividades de

Dinâmica de grupo a qual explorará conceitos à luz do texto trabalhado.

1ª Atividade – Dança da resistência e da não-resistência seguida de cabo de guerra

Procedimento: Começaremos a atividade colocando uma música relaxante e pediremos que as

pessoas dancem livremente, experimentando dançar sem resistência. Em seguida colocaremos

uma música mais agitada e pediremos novamente para que a turma dance realizando resistência,

com movimentos bruscos, fazendo o corpo resistir a dança livre. Quando concluirmos esta

primeira parte da atividade conversaremos com a turma destacando a diferença entre as formas

de dançar, com resistência e sem resistência - músicas, isto é, que uma trabalhava com

movimentos mais flexíveis enquanto a segunda com movimentos mais rígidos. Desta forma,

dividiremos a turma em dois grandes grupos um assumirá os movimentos da música flexível e

outro o da música rígida, então colocaremos novamente as canções para tocar (primeiro a

flexível e depois a mais rígida) e pediremos que cada pessoa de um grupo forme par com uma do

outro grupo para que ambas possam sentir a diferença entre as duas. Por fim, quando as duas

músicas forem dançadas pelas duas partes do grupo, voltaremos a dividi-los e vamos propor a

brincadeira do cabo de guerra a qual a parte flexível competirá contra a rígida.

227

Objetivo específico: Vivenciar e discutir sobre a questão da resistência a mudança, a entrar num

novo ritmo, resistir ao novo que é frequente dentro dos grupos operativos.

Atividade 2: Brincadeira do Pêndulo

Procedimento: Ao explicarmos sobre a resistência a mudança solicitaremos que a turma divida-

se em grupos de cinco pessoas em que uma delas ficará no meio de cada grupo. Explicaremos a

atividade a qual a pessoa que fará o papel do pendulo terá que se jogar para frente, para trás e

para os lados afim de que os que estão fazendo parte do circulo segurem o pendulo sem deixar

que caia.

Objetivo específico: Nesta atividade estaremos trabalhando com a confiança que um tem no

outro, e a confiança que o outro pode executar a tarefa, tanto a explícita, segurar quanto a

implícita, que todos compreendam a importância de segurar e assim o faça. Ao termino da

brincadeira discutiremos o conceito de grupo operacional, centrado na tarefa, o que é tarefa, a

diferença entre suas modalidades, e a mobilização das estruturas internas para executá-las.

Atividade 3: Dramatizações

Procedimento: Dividiremos o grande grupo em quatro grupos e daremos para cada grupo um

papel com o comando da dramatização que os participantes deverão encenar:

Dramatizem um professor que está dando aula para uma turma e que não leva em consideração e não valoriza as perguntas e o conhecimento prévio que os alunos

apresentam.

Dramatizem um professor que não deixa os alunos se expressarem.

Dramatizem um professor que para trabalhar com diferentes conteúdos faz vinculo com o cotidiano dos alunos.

Dramatizem um professor que cria vínculo entre os conteúdos a serem estudados e a expressão corporal.

Objetivo específico: Vivenciar e refletir sobre a noção de vínculo estabelecido nos trabalhos

com Grupo no espaço escolar.

Para concluir a discussão, explicaremos a partir das dramatizações os diferentes vínculos que se

constroem dentro de um grupo operativo. Neste momento, Lucy irá um pouco sobre sua

experiência com os professores do Brasil e os da França destacando a diferença de vínculos

existentes entre professor e alunos.

Dramatizem um professor que está dando aula para uma turma e que não leva em

consideração e não valoriza as perguntas e o conhecimento prévio que os alunos

apresentam.(o grupo deve dramatizar e, em seguida mostrar ao grande grupo que tipo de

vínculo o professor está realizando entre ele, os/as alunos/as e a tarefa de aprender)

228

Dramatizem um professor que não deixa os alunos se expressarem. (o grupo deve

dramatizar e, em seguida mostrar ao grande grupo que tipo de vínculo o professor está

realizando entre ele, os/as alunos/as e a tarefa de aprender)

Dramatizem um professor que para trabalhar com diferentes conteúdos faz vinculo com o cotidiano dos alunos.(o grupo deve dramatizar e, em seguida mostrar ao grande grupo

que tipo de vínculo o professor está realizando entre ele, os/as alunos/as e a tarefa de

aprender)

Dramatizem um professor que cria vínculo entre os conteúdos a serem estudados e a expressão corporal. (o grupo deve dramatizar e, em seguida mostrar ao grande grupo que

tipo de vínculo o professor está realizando entre ele, os/as alunos/as e a tarefa de

aprender).

229

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

DISCIPLINA PROCESSOS INTERATIVOS NO ESPAÇO ESCOLAR

PROFESSOR: AURINO LIMA FERREIRA

3ª AULA DIDÁTICA – DATA:

ALUNAS: E.S. e J.M.

PLANO DE AULA

TEMA: OS PAPEIS

Objetivos:

Refletir sobre os conceitos do texto: Os papeis de Pichón Riviere

Apresentar conceitos do texto: Os papeis

Dramatizar, através de dinâmicas, os papeis mais recorrentes nos grupos, trabalhados por Pichon Riviere.

Refletir sobre as experiências vividas, nos diversos papeis promovido pelas dinâmicas.

1º Momento: Introdução ao tema Os papeis

Objetivo: Preparar e descontrair para aprofundar a temática os Papeis

Procedimento: Nesse momento serão colocadas várias músicas infantis e os o grupo terá que

interpretar através de danças e gestos o que as músicas pedem.

2º Momento: Dinâmica das máscaras “negativas” e “positivas”

Objetivo: Compreender como os participantes se sentem nos diferentes papeis propostos por

Pichón indicados a seguir:

a) Reclamão – irá reclamar (soltar as mandíbulas)

b) O coitadinho: colar-se-á de vítima: sentir-se culpado

c) O Violento: brigão/brigona

d) O invejoso (desejar as coisas dos outros)

e) O sedutor

f) O egoísta

g) O felizardo

Procedimento: Os participantes caminham entre si e vivenciam/representam corporalmente os

papeis solicitados. Neste momento solicitamos que façam uso de expressões verbais e corporais

enquanto passeiam entre os participantes e mudam de papel. Após a vivência, teremos o

compartilhamento do grupo como se sentiram nos diferentes papeis. E realizaremos a reflexão:

Qual dessas atitudes cada um utiliza com maior frequência na vida?

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Costumo ser: Reclamista? Vítima? Bajulador? Brigão? Indiferente?

Como se sentiu nesses papeis?

3º Momento: Conceituar “Os papeis” Objetivo: Trazer os conceitos mais frequentes para grupo, explicando a função de cada papel

trazido pelo autor.

Procedimento: Nesse momento utilizaremos pessoas do grupo para representarem os papeis

propostos por Pichon Riviere (bode expiatório, líder, porta voz e etc.) fazendo conexão com a

teoria trazida pelo autor.

4º Momento: Dramatização

Objetivo: Elaborar e dramatizar uma situação de conflito no espaço escolar incluindo os papeis

já conhecidos na atividade anterior.

Procedimento: Dividiremos a turma em quatro grupos. Nesse momento cada aluno (total de

quatro) que foi identificado com um dos papeis trazidos por Pichon irá se juntar com cada grupo

e irá elaborar e dramatizar uma situação de conflito no espaço escolar. Em seguida,

vivenciaremos situações/experiências (de sala de aula) em que os tipos de líderes serão

interpretados pelos alunos já escolhidos (autocrático, burocrático, demagogo e laissez-faire).

5º Momento: Discussão e socialização das vivências e das principais ideias trazida pelo autor

Pichon Riviere.

231

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO-UFPE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

DISCIPLINA: PROCESSOS INTERATIVOS.

PROFESSOR: AURINO LIMA FERREIRA

ALUNAS: G.P., N.J. e T.S.

4ª AULA DIDÁTICA - DATA: 10.04.12

TEMA: DINÂMICA DE GRUPO EM EDUCAÇÃO (Autores: Bany e Johnson)

OBJETIVO GERAL DA AULA

HISTÓRICO DA DINÂMICA DE GRUPO EM EDUCAÇÃO ( RESISTÊNCIA DA UTILIZAÇÃO DA DINÂMICA NA SALA DE AULA)

COMPREENDER A DINAMICA DE GRUPO BEM COMO AS CARACTERISTICAS DE GRUPOS DE CLASSE, INTERAÇÕES E SUAS ESTRUTURAS, IDENTIFICAR

AS CARACTERÍSTICAS DO GRUPO DE CLASSE: COESÃO E COMUNICAÇÃO.

ATIVIDADES DA AULA

1º MOMENTO - CONTATO CORPORAL

Objetivo: Vivenciar e discutir sobre a dificuldade de se trabalhar em grupo na Educação,

havendo ainda o privilégio do trabalho individual. Vivenciar e refletir sobre a “cegueira” da

ilusão de que não precisamos do outro.

Desenvolvimento: O facilitador pede que todos tirem os sapatos e fiquem descalços.

Em seguida, pede que os participantes estiquem as pernas e mexam os pés, brincando com eles

durante algum tempo em silêncio. Levantar e andar na ponta dos pés, com os lados (dentro e

fora), com o calcanhar, com a sola inteira.

Voltar ao normal e perceber quais pontos dos pés mais tocaram o chão. Parar e escolher dupla.

Ficar de costas, tocar-se com as costas aliviando tensões até alívio satisfatório. Prender pelo

braço e fazer cadeira de balanço, sentar e encostar as suas costas nas costas da dupla. Unir os

braços e fazer cadeira de balanço sem pressa. Após, os participantes da dupla se dividirão em A e

B. A conduzirá B de olhos fechados para caminhar de diferentes formas e direções. Depois

haverá troca. Em seguida, deixaremos A e B caminharem sozinhos de olhos fechados. Neste

momento serão colocadas cadeiras no meio da sala.

232

2º momento: Explanação sobre o HISTÓRICO DA DINÂMICA DE GRUPO EM

EDUCAÇÃO

3º MOMENTO: Dinâmica do bombom

Objetivo: Trabalhar o conceito “Coesão” para o trabalho de grupo na educação. Outro momento

para falar em cooperação e solidariedade do fazer e estar juntos.

Procedimento: Deixe em cima de cada mesa uma bala embrulhada em papel. E fale para a

turma que cada um pode comer a sua bala desde que não abra com as mãos. Deixe os tentar .

Depois, fale ,novamente, assim: Vocês não podem abrir a bala com as SUAS mãos. Leve os

seus alunos a pedir a ajuda do outro que está ao seu lado para abrir a bala.

4º Momento: Dinâmica sobre “Comunicação sobre o outro”

Objetivo: Abordar a importância da comunicação ao outro como maneira de chegar até o

mesmo. Cada participante recebe uma folha de ofício em branco, escrevendo o seu nome no alto

dela. A um sinal do facilitador, todos passam a folha para o vizinho da direita, para que este

possa escrever uma mensagem para todos até que a folha retorne ao ponto de origem. Ler com os

olhos. O que foi surpresa pra você? O que já esperava? O que mais o (a) tocou?

REFERÊNCIAS DA AULA DIDÁTICA:

http://dicasdeciencias.com/2007/04/23/dinamicas-de-grupo/

http://lovato.com.br/2011/02/trabalhando-a-comunicacao-com-dinamica-de-grupo/

TEXTO: Dinâmica de grupo: teorias e sistemas / agostinhominicucci. – 5. Ed. – 8. Reimpr. – são

Paulo: atlas,2011.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA – 8º PERÍODO

DISCIPLINA PROCESSOS INTERATIVOS NO ESPAÇO ESCOLAR

GRUPO: A.S., R.L. e I.l.

5ª AULA DIDÁTICA – DATA: 13.04.12

PLANO DE ENSINO

AULA DIDÁTICA

TEMA: REAÇÕES CARACTERÍSTICAS DE GRUPO

Objetivo Geral da Aula Didática:

Explorar as reações gerais do grupo a partir de vivências teóricas e de dinâmicas para entender

que o educador, em qualquer circunstância, tem como papel fundamental, tentar obstruir a

exploração dos problemas dos educandos para que ele cresça e enriqueça como pessoa.

Atividades

1º Momento: Dinâmica da Reação Bomba

Objetivo: Explorar o conceito inicial do texto sobre Reações G. Explorar o conceito sobre

transferências de sentimentos arcaicos no grupo. Refletir sobre o papel do professor na liderança

do grupo e sua função de detectar reações que não favoráveis ao desenvolvimento do grupo.

Provocar reações diversas na interação com o grupo classe.

Procedimento: Os alunos caminharão entre si e reagirão de acordo com o comando recebido.

Organizaremos papeis com um tipo de reação para cada participante que ao caminhar na sala

encontre com alguém e faça a reação solicitada. Vivenciar e refletir sobre quando estamos juntos

sempre somos afetados pela interação, principalmente em relação aos nossos sentimentos quando

haverá transferências entre os participantes de um grupo. Por exemplo, fazer caretas, gritar,

puxar o cabelo, dar um abraço, pegar nas mãos.

2º Momento: Dinâmica do Equilíbrio

Objetivo: Vivenciar e refletir sobre uma reação característica de Grupo que é a Homeostase.

Busca de equilíbrio interno para o grupo. Com também discutir sobre transferência múltipla –

234

simbolizado pela passagem do limão. E a outra reação de grupo chamada Ressonância – que é

ser afetado pelo outro.

Procedimento: Os participantes receberão uma colher com um pequeno limão e terão que

começar dançando com a colher na boca que contém o limão. Outros participantes serão os

recebedores do limão e estarão apenas com a colher. A música parará e teremos que passar o

limão para alguém que está com a colher sem o limão. Repetiremos esse procedimento algumas

vezes.

Material: colher e limão.

Duração: 20 minutos.

3º Momento: Dinâmica de Ataque ao facilitador

Objetivo: Refletir e vivenciar a reação de grupo Ataque ao facilitador.

Procedimento: Dividiremos a sala em grupo, dando um total de 4 grupos. Entregaremos para

cada um deles um papel com as instruções de suas dramatizações. Cada grupo terá no total de 10

minutos para ensaiar a sua dramatização. Passado esse tempo, daremos início a nossa dinâmica

que se constituirá dessa forma:

O grupo 1, terá que dramatizar uma situação em que um grupo de alunos expressem raiva ou ciúmes por outro aluno, só por que o professor dá mais atenção a ele do que aos

demais alunos. Nesse caso seria Aluno X Aluno;

O Grupo 2, irá dramatizar uma cena, em que o ataque esteja centrado diretamente ao

Professor, enfatizando que ele tem a preferência por algum ou alguns alunos. Nesse caso

os alvos são Professor X Aluno;

O Grupo 3, irá dramatizar uma situação em que um aluno está sendo alvo de agressão pelo resto do grupo, por que ele está tendo a total atenção do Professor;

O Grupo 4, encenará uma situação em que o alvo seja o Professor, e essas agressões estão sendo realizadas indiretamente, resumindo, “não falar na frente do alvo, mas “por trás”

dele”.

Material: papel e caneta.

Duração: dependerá do tempo de encenação de cada grupo.

4º Momento: Dinâmica do Detetive, Assassino e Ladrão

Objetivo: Vivenciar e refletir sobre a reação de grupo Apoio, Permissividade, Socialização,

Desconfiança e Mecanismo de Defesa.

A Dinâmica do Detetive, Assassino e Ladrão será elaborada dessa forma.

Formaremos um grande círculo com todos da turma;

Entregaremos para cada pessoa um pedaço de papel, que nele pode conter escrito: detetive, assassino ou vítima;

Ao receber o papel, o participante irá ler o que contém nele (essa leitura é individual, não pode falar em voz alta o que tem escrito, muito menos contar para alguém);

235

Se algum dos participantes tiver sorteado o papel que contém o nome VÍTIMA ele ficará

sentado, sem esboçar nenhuma reação durante a brincadeira;

O participante que pegou o papel contido com o nome ASSASSINO terá que fazer o seguinte gesto: piscar um dos olhos para os demais participantes, que ele supostamente

acha que pegou o papel da VÍTIMA, ao piscar o olho para uma VÍTIMA, ele irá “matar”

e percebendo que o assassino piscou o olho, a VÍTIMA irá exclamar: morri!

Quem pegou o papel do DETETIVE terá que ficar de olho no suposto ASSASSINO, ele terá que observar o grupo e descobrir quem está “piscando um dos olhos” e “matando” as

VÍTIMAS;

Ao fazer a observação e identificar o ASSASSINO, o DETETIVE terá que chegar perto dele e falar: Preso em nome da Lei.

Material: papel e caneta.

Duração: 10 a 15 minutos.

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CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA – 8º PERÍODO

DISCIPLINA PROCESSOS INTERATIVOS NO ESPAÇO ESCOLAR

GRUPO: C.T. e M.F.

6ª AULA DIDÁTICA

DATA:17.04.12

PLANO DE AULA

AULA DIDÁTICA

TEMA: REAÇÕES CARACTERÍSTICAS DE GRUPO (Áurea Castilho, p. 69 a 92)

Objetivo Geral da Aula Didática:

Estabelecer relação entre teoria e prática, com isso obter uma melhor compreensão das reações

características de grupo.

Atividades

1º Momento: Simulação de entrada de um “estrangeiro” na turma

Objetivo: Provocar algumas reações características provenientes da entrada de um novo membro

(estrangeiro) no grupo.

Procedimento: Será anunciada a turma a entrada de um novo componente no grupo por

questões especiais e informaremos que a partir daquele momento este seria um novo integrante

em nosso grupo. Esse novo integrante também irá se opor a algumas atividades, irá provocar

situações pouco desagradáveis desta forma iremos utilizar essa simulação também para abordar a

reação de grupo denominada de traidor e provocador.

2º Momento: Dinâmica dos balões

Objetivo: Provocar um espírito de “competitividade” entre os membros do grupo e a partir desta

vivência abordaremos a reação de grupo denominada de Bode Expiatório.

Procedimento: entrega-se um balão para cada participante e em seguida um palito de dentes,

pede-se para todos se espalharem e diz o seguinte: _ ganha esta caixa de bombons quem

conseguir ficar com o balão sem estourar.

237

Sem que o instrutor mande todos os participantes correm para estourar os balões dos adversários

para ganhar a caixa de bombons, mas geralmente não sobra nenhum balão. Depois o instrutor

pergunta: em que momento eu mandei vocês estourarem os balões dos colegas? E fica com a

caixa ou distribui.

Material: balões palitos de dentes uma caixa de bombons ou algum outro prêmio

Duração: 20 min.

3º Momento: Dinâmica do Espelho

Objetivo: Levar o grupo a reflexão e observação de seus pontos positivos e negativos e por meio

desta vivencia absorvermos o conceito de Espelho como uma reação de grupo.

Procedimento: organizasse os integrantes em círculo e entrega uma caixa fechada a um deles.

Será informado que naquela caixa há uma imagem de alguém que ao abri-la cada pessoa deverá

dizer uma característica positiva e uma negativa daquela pessoa que tem sua imagem na caixa.

No termino da dinâmica faremos uma reflexão sobre os pontos positivos e negativos que os

membros tem em comum e aprender com isso um pouco mais sobre a reação de grupo

denominada espelho.

Material: caixa e espelho

Duração: 25 min.

4º Momento: Saída de um participante

Objetivo: Provocar algumas reações características provenientes da saída de um membro do

grupo e vivencia de um outro fenômeno no grupo que é o historiador.

Procedimento: Um aluno previamente contatado irá pedir a palavra e comunicar a turma que

não poderá mais permanecer participando daquele grupo e que aquele será seu último momento

com o grupo. Ao mesmo tempo ele irá relembra momentos vividos pelo grupo que o marcaram.

5º Momento: Debate e reflexão com o grupo

Objetivo: Externalizar os sentimentos e sensações sentidas e vividas pelo grupo a partir da

chegada de um novo membro e saída de um participante querido por todos.

Procedimento: Será pedido a turma que se pronunciem quanto ao sentimento que

experimentaram com a chegada do novo membro e com a saída de um participante. A partir das

observações abordaremos as temáticas relacionadas as reações quanto a entrada de um novo

participante e saída de um participante. Trabalharemos também com as questões de

horizontalidade e verticalidade; associação reativa, porta-voz, entre outros.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

DISCIPLINA PROCESSOS INTERATIVOS NO ESPAÇO ESCOLAR

GRUPO: A.N. e E.A.

7ª AULA DIDÁTICA DATA: 20.04.12

PLANO DE AULA

TEMA: EXISTENCIALISMO “MORTE”

(Valdemar Augusto Angerami - Camon, p. 19 a p 25; Virginia Moreira, p 43 a p 56)

Objetivo Geral da Aula Didática: Buscar através do texto Pisicoterapia Existencial e de

dinâmicas trabalhar a temática da morte dentro do grupo da aula de Processos Interativos no

Espaço Escolar.

1º Momento: Dinâmica da Dança - Carrossel do Destino de Antônio Nóbrega

Objetivo: Introduzir o tema para a turma com uma canção de despedida.

Procedimento: Conduzir o grupo em uma dança de Despedida, primeiramente ensinando os

passos, marcando-os e posteriormente colocando a música e todos juntos faremos parte da

dinâmica por meio desta ciranda. Em seguida, a letra será entregue para duplas dentro do grupo e

uma pessoa será escolhida para ler a letra da canção e os outros acompanharão. Duração: 10

minutos.

2º Momento: Dinâmica da Representação

Objetivo: Expressar por meio de desenhos e palavras os sentimentos dos alunos a respeito de

suas concepções acerca da morte.

Procedimento: Separar os alunos em 4 grupos de 5 pessoas e entregar a cada grupo uma

cartolina e canetas para que possam por meio de desenhos ou palavras expressarem o que sentem

e o que acreditam a respeito da morte. Em seguida, os grupos irão apresentar os cartazes.

Material: Cartolinas, canetas.

239

Duração: 20 minutos.

3º Momento: Psicodrama.

Objetivo: Encenar diversos contextos de mortes com seus respectivos funerais.

Procedimento: Separar os estudantes em 3 grupos e entregar a cada um uma história sobre

morte, eles vão ler e decidir de que forma irão encenar e mostrar que personagens essas histórias

nos relatam, bem como quem estaria envolvido. Após as reuniões eles vão apresentar e

representar o funeral de cada indivíduo da história recebida. Posteriormente, será aberta uma

roda de diálogo para contarem como se sentiram, que sentimento os perpassaram.

Material: Histórias.

Duração: 30 minutos.

4º Momento: Declamação da música: Divino, Maravilhoso. Cantada por Ney Matogrosso.

Objetivo: Finalizar aula.

Procedimento: Cada uma das facilitadoras irá declamar uma parte da música e na parte do

refrão todos os alunos seriam, antes, ensaiados para cantarem juntos.

Duração: 05 minutos.

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CENTRO DE EDUCAÇÃO

DISCIPLINA PROCESSOS INTERATIVOS NO ESPAÇO ESCOLAR

GRUPO: M.S. e M.V

8º PLANO DE AULA

AULA DIDÁTICA – DATA: 24.04.12

TEMA: DA TEORIA NÃO-DIRETIVA À ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA

(Virgínia Moreira)

Objetivo Geral da Aula Didática: Discutir e vivenciar sobre a abordagem centrada na pessoa.

Atividades

1º Momento: Ver e perceber-se por novos ângulos

Objetivo: Desenvolver a percepção de cada pessoa para ver sob novas perspectivas sobre a concepção do

que é ser humano – com dimensões a explorar, aprendiz, com capacidade de dar sentido a vida –

espiritualidade. Sentimentos, emoções, conhecer a si mesmo, corpo, aprender a relacionar-se

consigo e com o outro.

Procedimento:

Primeira parte - A facilitadora trará objetos pelos quais poderemos visualizar através deles.

/Imagens/fotos/desenhos. Depois olhar os mesmos objetos com um olho só. Com os dois

fechados tentar visualizar mentalmente a imagem do que foi visto.

Segunda parte – os alunos serão amarrados pelos pés – e terão que se locomover pela sala.

Terceira parte – amarrarão os braços e as pernas – tentar se locomover – a facilitadora joga

objetos no chão, para que os estudantes tentem pegá-los. Em seguida entrega hidrocores e papeis

que serão colocados no chão e pedirá para os alunos tentarem desenhar. Pode encontrar algum

amigo que possa auxiliar de alguma forma. Depois venda os olhos.

Após a vivência, levantar a reflexão do grupo.

Depois a facilitadora traz seus objetivos com a atividade.

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Tempo: 15 min

2º Momento: Auto-avaliação

Objetivo: Exercício de autoconhecimento “Visão Integrativa do Cérebro”

- VISÃO INTEGRATIVA DO CÉREBRO

(Atribua a cada item valor mínimo 1 a valor máximo 5.)

A – 01. Você confere os dados de uma passagem, de uma nota, de uma conta? Ao fim do

dia, da semana, de

uma atividade, você faz revisão, avaliação?

B – 02. Em seu quarto, em sua casa tem ordem? Costuma prever o onde, o quando, o

quem, o como, o custo,

o resultado do que pretende fazer?

C – 03. Você crê nalguma força maior, como o amor, a vida, alguma entidade superior?

Você crê que faz parte

de um todo maior, invisível, espiritual?

C – 04. Você anda alegre, gosta de brincadeira, piada, festa? Você é otimista apesar de

tudo?

A – 05. Numa discussão, você tem boas explicações, tem bons argumentos, sabe rebater?

Sabe levar adiante

uma argumentação com paciência?

C – 06. Você tem pressentimentos, previsões ou sonhos que se cumprem? Você tem

estalos, insights, idéias

luminosas, para resolver seus problemas?

C – 07. No relacionamento afetivo você entra prá valer, com romantismo, com paixão?

A - 08 Você fala bem em grupo, tem bom vocabulário, tem fluência e correção gramatical?

Você sabe convencer

os outros?

C – 09. Ao falar, você gesticula, você olha todas as pessoas, você movimenta bem e com

elegância todas as

partes do corpo?

C – 10. Você é capaz de pôr-se no lugar de outrem, de imaginar-se na situação de uma

outra pessoa e sentir

como ela se sente?

A – 11. Diante de uma situação, você combina os prós e contras, você faz diagnósticos

realistas, faz

julgamentos bons, acertados?

A – 12. Ao narrar algum fato você dá muitos detalhes, você gosta de descer às minúcias,

aos pormenores?

B – 13. Quando compra ou vende, você se sai bem? Se tivesse um negócio, você teria

êxito financeiro, saberia

ganhar e multiplicar dinheiro?

C – 14. Você gosta de modificar a rotina do dia a dia, do ambiente? Você acha soluções

criativas, originais?

242

Gosta de andar inventando?

A – 15. Você controla seus ímpetos? Para e pensa antes de agir? Pensa nas conseqüências

antes de agir?

A – 16. Antes de tomar uma informação como certa, você se dedica a coletar mais dados, a

ouvir o outro lado,

a averiguar as fontes, a buscar comprovação?

B – 17. Como vão suas mãos em artesanato, consertos, uso de agulhas, facas, serrote,

martelo, ferramentas,

jardinagem, habilidades manuais?

B – 18. Frente a uma dificuldade, você tem capacidade de concentração, dedicação

continuada, você tem boa

resistência, agüenta muito?

B – 19. Na posição de chefe, você sabe dividir tarefas, calcular o tempo para cada coisa?

Sabe dar comandos

curtos, exatos, e cobrar a execução?

C – 20. Você gosta de decoração, arrumação de ambientes? Você se arruma bem? Você

presta atenção a um

pôr do sol, a um pássaro, a uma paisagem?

B – 21. Você tem atração por aventuras, por desbravar caminhos, por tarefas

desconhecidas, pioneiras, que

ninguém fez antes?

A – 22. Você se autoriza a questionar pessoas e informações de TV, jornal, de política,

religião, ciência, e

denunciar seus interesses disfarçados?

B– 23. Você consegue transformar seus sonhos e idéias em fatos, em coisas concretas?

Seus empreendimentos,

suas iniciativas, progridem e duram?

C – 24. Você fica imaginando o que poderá acontecer no ano que vem, daqui a 10 anos, e

nos possíveis rumos

dos acontecimentos?

B - 25 Você se dá bem com a tecnologia, gravador, máquina de lavar, calculadora,

máquina fotográfica,

cronômetros e os botões da eletrônica?

B – 26. Você é rápido(a) no que faz? Resolve logo? Termina bem o que faz e no prazo

certo? Seu tempo rende

mais que o de seus colegas?

A – 27. Quando se comunica, você usa números, medidas, estatística, matemática, além do

palavrório popular?

1. Preenchido o teste, some separadamente os pontos das letras A, B, C,

A: .....................................pontos (cortéx, processo lógico)

B: ......................................pontos (Reptílico, processo operacional)

C: ......................................pontos (Límbico, processo intuitivo)

Tempo: 30 min

243

3º Momento: Momento teatral

Objetivo: Incorporar o que foi desenvolvido em aula. Crença no potencial de crescimento do ser

humano. Vivência da mudança permanente.

Procedimento: De olhos fechados, deitados na sala, dar comandos para a vivência:

Cada grupo dramatizará uma semente, tá chovendo tá fazendo muito sol, a semente caiu encima

do cimento, o vento bateu e levou a semente para a areia, ainda não encontrou um lugar, ou

alguém que cuidasse – sinta como é ser uma semente jogada ao léu, sem apoio, sem um cantinho

quente, sem ninguém pra regar, para cuidar. Alguém encontrou você e resolveu cuidar de você e

te plantou, acompanhou seu crescimento, cuidou de você. Olhou para as suas necessidades.

Tempo: 10 min

4º Momento: Dança – Semente brotando e crescendo se transformando em árvore.

Objetivo: Promover um maior contato consigo mesmo através das perguntas abaixo:

Escrever no papel.

Procedimento: a facilitadora pedirá para que cada participante feche os olhos e reflita sobre:

Sinta quais são suas forças pessoais!

Sinta quais são suas virtudes pessoais!

“O que você pode colocar a serviço de sua evolução, de seus alunos e semelhantes?”

“O que é vital, essencial para você, neste momento?”

“Qual é o seu maior objetivo de vida?”

“Sintetize e expresse o aprendizado mais significativo da vivência de hoje.”

Tempo: 5min

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CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA – 8º PERÍODO

DISCIPLINA PROCESSOS INTERATIVOS NO ESPAÇO ESCOLAR

ALUNA: M.A. e M.M.

9ª AULA DIDÁTICA DATA: 27.04.12

PLANO DE AULA

TEMA: Ações Educativas vivências com Psicodrama na Prática Pedagógica

(Escolástica Fornari Puttini, p. 13 a 23)

Objetivo Geral da Aula Didática:

Problematizar a temática abordada através de vivências com o psicodrama. Sendo ele uma nova

proposta para relação ensino e aprendizagem.

Atividades

1º Momento: Apresentação da temática em seguida explicar o que vai ser vivenciado, utilização

da Dinâmica do aquecimento inespecífico.

Objetivo: Situar o indivíduo em si mesmo (percepção do corpo) através de movimentos

favorecendo o surgimento do estado de espontaneidade.

Procedimento: Alongamento inicial, pedir para deitar para um relaxamento, colocar um incenso

para ativar sensorialmente, passaremos cangas com perfume por cima do corpo de cada um e

trabalhar o olfato, táctilmente colocaremos garrafas geladas nas mãos de quem está deitado,

passaremos uma lixa, passaremos fluflu. Deixaremos que cada um peça para imaginar um local

da natureza, um local de cada um, algo da natureza, sol, lua, rio, mar, ondas, campo, flores,

cachoeira, etc, e imagine que você interage com esse elemento da natureza, num diálogo só seu.

Em seguida pedir para cada um interpretar para o grande grupo apenas com o não-verbal e

depois pede para verbalizar o ocorrido. (início para o trabalho com a espontaneidade).

2º Momento: Discussão a respeito dos tópicos elencados no texto de referência:

- Jacob Lévy Moreno (1889-1974)

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- Abordagem situada entre Arte e Ciências.

"Conservas culturais";

- Homem Moreniano;

- Ser relacional;

- Objetivo: Fornecer Espontaneidade ;

- Fase de desenvolvimento

Primeiro Universo “fase duplo”

Telessensibilidade

Segundo Universo

Fantasia diferente de realidade

Percepção do “Tu”

3º Momento: Realização de dinâmica: Psicodrama.

Objetivo: Realizar discussão a respeito da importância dos jogos simbólicos.

Procedimento: Dramatização sobre a temática: “Problemas existentes entre nós ou nossas

maiores tensões” – Relações Interpessoais.

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CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA – 8º PERÍODO

DISCIPLINA PROCESSOS INTERATIVOS NO ESPAÇO ESCOLAR

ALUNAS: A.F. e F.L.

PLANO DE AULA

10ª AULA DIDÁTICA – DATA: 04.05.12

TEMA: Aplicação de Psicodrama e jogo Dramático (YOZO, 1996, p. 15-47)

Objetivo Geral: Compreender as características e princípios dos jogos dramáticos bem como

sua função e importância para o individuo e para a escola

1° Momento: Esquematização das ideias sobre Dramatização (10min)

Objetivo: Recapitular a aula passada que teve como conteúdo os jogos dramáticos para que

assim seja possível a complementação com as ideias apresentada no texto de YOZO.

Procedimento: A principio se dará com uma esquematização das ideias no quadro (encontra-se

em anexo no plano). Inicialmente perguntar o que é jogo? E o que é dramático?

2º Momento: Aplicação do jogo dramático de aquecimento inespecífico (10 a 20 min)

Objetivo: Aquecimento inespecífico para aplicação do jogo dramático. Procedimento: Pedir

para se espreguiçarem relaxar caminhar na sala, cumprimentar as pessoas sem falar; fazer algo

na pessoa que você gostaria que fizesse em você; massagear o ombro do colega e daí formar um

trenzinho de massagem, massageando uns aos outros, pedir para que ocupem o menor espaço da

sala (recorrer a imaginação, pode ser no final da sala por trás do birô, enfim, imaginar um

espaço) em seguida pedirem para ocuparem todo o espaço da sala com uma musica de fundo

diante do entretenimento.

3º Momento: Aquecimento específico em dramatização (10 a 20 min)

Objetivo: Realização do jogo dramático

Tema: Inclusão de aluno de necessidade especiais na escola

Conflito: A deficiência causa a exclusão?

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Procedimento: O diretor pedirá para os protagonistas se dividirem em subgrupo. Composto de

advogados, contra e a favor. Esses advogados defenderam a sua causa sobre a inclusão dos

alunos deficientes na escola. Será dado um tempo aos advogados se organizarem (5m). Terá um

minuto para cada defesa. Um representante deverá representar o grupo maior. Depois terá a

inversão dos papéis.

Enquanto ocorre a defesa duas pessoas de cada grupo de defesa (contra e a favor) deverá

representar o aluno portador de deficiência (Um visual, surdo, cadeirante, Dow ou autista)

Após o jogo o comentário, perguntar o que se sentiu qual foi o papel mais fácil e difícil de

assumir. Refletir um pouco dos papéis que assumimos em sala de aula como professores

(acusador e de defesa, quais as posturas que o educador deve assumir diante desses conflitos que

ocorre na educação); As pessoas que representaram esses alunos como se sentiram? O que

sensibilizou ao se colocar no lugar desses alunos.

Também vamos identificar juntos, a características do jogo dramático exemplo, de onde estava o

papel do diretor, do ego auxiliador, do protagonista, do comentário, do tema, do conflito

trabalhado nesse jogo, e do cenário. (15 a 20 min)

2° jogo dramático: Papéis que assumimos na sociedade (incorporação de papéis) (10 a 20

min)

Objetivo: Vivenciar reações dos nossos comportamentos ao assumir um papel.

Procedimento: Primeiro será um aquecimento específico. Colocar nas costas de cada

participante um papel onde está escrito uma profissão ou um papel social. Todos irão poder ler

menos a própria pessoa. Será dada a ordem em que todos devem se relacionar com a pessoa

como se ela fosse a profissional sugerida no papel. Deverá dizer o que esperam dela, daquela

profissão que ela desempenhava. Os egos- auxiliadores estarão ajudando no aquecimento. Os

papéis representados serão: médico, professor de escola pública e particular, mãe de 10 filhos,

cobrador de ônibus, desempregado, presidente, prefeito, policial, feirante, catadora de lixo,

psicólogo, jornalista, empresário, advogado, Diretora de escola, politico, empregada doméstica,

artista, cantora, morador de rua. Após a dramatização onde todos serão protagonistas deverá

haver comentário o que sentiu ao representar esse papel, possibilitando a compreensão das

obrigações e comportamentos que os outros esperam de nós, bem como nos papeis que vamos

desempenhar em sala de aula, hoje desempenhamos o papel de estudantes e amanhã de professor

então que saibamos escolher e se dedicar a esta profissão/papel, do qual teremos obrigações e

comportamentos de víeis docente tais como: flexível, dinâmico, pesquisador, sensível, etc.

4º Momento: Feedback (05 min)

Objetivo: Socialização do que foi para cada um o encontro daquele dia.

Procedimento: Para o encerramento pedir que cada um expresse com uma palavra ou gesto o

que acharam do encontro, suas impressões sobre a aula.

Referência Bibliográfica:

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YOZO, Ronaldo yudi Kliar. 100 jogos para grupos: uma abordagem psicodramática para

empresas, escolas e clínicas. São Paulo Àgora, 1996.

Psicodrama da ética. Acesso em: 30/04/12

www.febrap.org.br/pdf/Psic_Etica_naescolaEMEFBrasilJapao.pdf

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CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA – 8º PERÍODO

DISCIPLINA PROCESSOS INTERATIVOS NO ESPAÇO ESCOLAR

GRUPO: M.A.T. A. e S.S.A.

11ª AULA DIDÁTICA

DATA: 11.05.12

PLANO DE AULA

TEMA: A ARTE DA COMUNICAÇÃO (Relações Humanas: psicologia das relações

interpessoais/Agostinho Minicucci, 6a ed. São Paulo: Atlas, 2006)

Objetivo Geral da Aula Didática:

Compreender os aspectos inerentes à comunicação: entender o que é comunicação em seus

princípios básicos; identificar os fatores que atrapalham o processo da comunicação; perceber as

formas de comunicação, ou seja, as diversas maneiras de se comunicar; reconhecer a semântica

dentro do processo de comunicação e conhecer os subsídios para uma comunicação efetiva.

Atividades

1º Momento: “Ciranda” – (10 min.)

Procedimento: Essa Dança circular, da cultura popular, foi explorada nesse plano de aula para

proporcionar um contato mais caloroso entre o grupo e, ao mesmo tempo, incentivar o interesse

das pessoas em relação ao que seria trabalhado, a temática “A arte da Comunicação.”

2º Momento: Dinâmica “Telefone sem fio” (15 minutos)

Procedimento: Realização da dinâmica do telefone sem fio a qual consiste em organizar a turma

em círculo e em seguida falar uma mensagem baixinho no ouvido de um dos integrantes do

círculo, posteriormente, essa mensagem irá passar por todas as pessoas da mesma maneira,

baixinho e no ouvido, ao término da atividade espera-se que a mensagem seja dita da forma

como ela foi emitida ou não. Essa dinâmica foi pensada para demonstrar os principais conceitos

sobre comunicação:

- O que é comunicação?

250

- Os problemas que causam a falta de comunicação; filtragem e ruídos.

3º Momento: “Dramatização” (15 minutos)

Procedimento: Dividir a sala em grupos e em seguida mostrar para cada um uma temática a

qual aborde algumas situações comunicativas com intuito de realizar uma encenação. Tal

atividade servirá como suporte para expor os conceitos de bloqueios na comunicação, assim

como, demonstrar outras formas de interação.

4º Momento: “Mímica” (10 minutos)

Objetivo: Comunicar através da comunicação não-verbal.

Procedimento: Solicitar do grupo 5 voluntários para fazer mímicas que representem alguns

ditos populares, como por exemplo: “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, etc.

Durante as mímicas o resto do grupo deverá analisar e dizer que frases estão sendo representadas

pelos colegas. Essa atividade servirá de apoio para o aprofundamento das várias formas de

comunicação.

5º Momento: “Dinâmica das frases ambíguas” (15 minutos)

Objetivo: Vivenciar problemas na comunicação.

Procedimento: Dividir a sala em grupos e, em seguida, entregar algumas frases para que cada

grupo pense em perguntas que obtenham como resposta o que está escrito na tarjeta entregue a

eles. As frases repassadas provocarão um entendimento dúbio, ou seja, duplo sentido, essa

atividade servirá como exemplo para conceituar a questão semântica na comunicação.

6º Momento: Expor os conceitos da temática (15 minutos)

Objetivo: Pontuar os conceitos da comunicação

Procedimento: Este momento foi reservado para pontuar os aspectos do treinamento para uma

boa comunicação que o autor Minicucci traz em seu texto.

7º Momento: Avaliação

Objetivo: Reservar o momento para as observações finais do professor orientador, bem como as

colocações do grupo-classe. Além disso, a escrita dos diários também serão realizados nesse

ínterim.

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CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA – 8º PERÍODO

DISCIPLINA PROCESSOS INTERATIVOS NO ESPAÇO ESCOLAR

GRUPO: E.A.S e G.R.

12ª AULA DIDÁTICA DATA: 15.05.12 - PLANO DE AULA

Texto: Quem educa marca o corpo do outro (DOWBOR, 2007)

Objetivo Geral:

Explorar as marcas corporais oriundas das interações com os outros. Abordaremos o apego à

individualidade e o medo da entrega ao outro nas relações. Necessidade de criação de um espaço

de contingencia para falar sobre si mesmo, inclusive os medos e angústias.

1º Momento: Dinâmica de apresentação da temática – “Dinâmica do Pêndulo”

Objetivo: Vivenciar a noção de relação em grupo e de estar em relação. Vivenciar e discutir

sobre as marcas corporais que ficam a partir destas relações. Apresentar a temática do encontro.

Refletir sobre a necessidade de confiança para estabelecimento de uma maior união.

Procedimento: Em pequenos grupos e em círculo cada participante irá ao meio da roda e de

olhos fechados deixará o corpo leve para ir sendo conduzido para frente e para trás, e assim

deixar-se levar pelo grupo.

2º Momento: Minha trajetória até chegar ao grupo (15 min)

Objetivo: Destacar três momentos ou situações que levaram a chegar ao grupo. Proporcionar a

dupla que se conheçam um pouco mais, contribuindo para quebrar um pouco o medo da entrega

ao outro, da perda da individualidade como traz o texto.Procedimento: Em duplas que não tem

muito contato ou afinidades. Cada uma vai traçar sua trajetória de vida, dos fatos mais

significantes que a trouxe até o grupo atual. Em seguida será socializada com a dupla e depois

com o grande grupo.

3º Momento: Barômetro (20 min)

Procedimento: Terão escritos em papel e colados ao chão da sala as seguintes palavras: SIM,

NÃO e ÀS VEZES. Cada pessoa receberá um papel contendo perguntas, pediremos para que

leiam a partir do comando (quando solicitarmos a leitura da primeira todas lêem, e assim por

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diante). Daremos um tempo para que cada pessoa reflita na pergunta. As perguntas distribuídas

estarão em ordens aleatórias.

Eis as perguntas:

1. Sempre que chego procuro logo o meu grupo ou dupla.

2. Acho nossa turma um pouco desunida.

3. Queria contribuir mais com a união da turma.

4. Não consigo falar com todos/as da sala.

5. Já fui magoada por alguém da turma.

6. Já magoei alguém da turma.

7. Já magoei alguém da turma e não consegui pedir desculpas.

8. Tento circular em vários grupos.

9. Não consigo me abrir para o diferente.

10. Já julguei a pessoa pela aparência.

11. Quando chega alguém novo na sala, procuro dar-lhe atenção.

12. Já fui acolhida pela turma ou parte dela, num dia que estava triste.

13. Desejo que sejamos um grupo unido.

Ao final perguntaremos se alguém quer comentar algo. Ressaltando que é facultativo.

Objetivo: Proporcionar a turma um momento de reflexão com intuito de melhorar a relação

existente.

4º Momento: Linha vermelha

Objetivo: Aprender a estar em sintonia com o outro. Como todos estão unidos pelo mesmo fio,

basta que um movimento, ao “puxá-lo”, para que repercuta no corpo de todos. Assim, cada

membro vai aos poucos percebendo a importância do estar “ocupado” como o outro e “atento” a

ele.”.

Procedimento: Sentadas em círculos, iniciaremos amarrando um pedaço de linha do novelo,

depois de amarrado, falaremos uma lembrança boa do grupo e jogaremos para outra pessoa para

que repita o processo. Ao final teremos uma rede e falaremos da sintonia

5º Momento: Colcha de retalho

Objetivo: Deixar para o grupo algo simbólico que represente o grupo e que ficou marcado sobre

ele.

Procedimento: Deixaremos no centro da sala pedaços de retalhos na quantidade exata de

pessoas e solicitaremos para que cada um escolha um e coloque neste retalho algo que a

represente. À medida que forem terminando irão colando-o no lugar que estará estabelecido num

pano que servirá como o fundo da colcha. Ao final teremos uma colcha de retalho do grupo,

representando o tecido de vida de cada um e que somados, representam a coletividade, a história

de vida de cada um/a unidas.

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CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROCESSOS INTERATIVOS NO ESPAÇO ESCOLAR

1ª AULA DIDÁTICA APÓS A GREVE - DATA: 18.09.12

PROFESSOR AURINO LIMA FERREIRA - PLANO DE AULA

TEMA: Retorno às aulas após a greve

Objetivo Geral da Aula didática:

- Reorganizar replanejamento do semestre; Discutir sobre as implicações da greve para os

estudantes e para a disciplina; Reiniciar o ritmo do trabalho com o grupo.

1º Momento: Reorganizar com o grupo o planejamento das aulas do semestre que irá até o dia

23/10/12.

2º Momento – Sobre a Greve

Objetivo: Buscaremos compreender quais foram às implicações e repercussões da Greve na vida

dos alunos.

Procedimento: Serão dadas folhas, lápis de cor e hidrocores para que em grupos de cinco alunos

escrevam o impacto pessoal da greve para cada um e para o grupo e posterior socialização para

todo o grupo.

3º momento – Discussão em grupo

Objetivo: Problematizar o ângulo dado pela mídia e seus interesses, refletir sobre o impacto do

projeto processual lento de busca democrática e fornecer o ângulo da greve pela categoria

docente.

Procedimento: Com o grande grupo o professor mediará a discussão, abrindo espaço contínuo

para interação e pontuações.

4º momento - Dança Circular – Zigneurpolka - Dança de parceiros

Objetivo: Problematizar e vivenciar como após um longo período de greve os elementos

importantes para a execução do grupo se esmorece pela modificação do ritmo individual e

corporal de cada um, que reflete no ritmo grupal, afeta todos os corpos da grande roda.

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CENTRO DE EDUCAÇÃO

DISCIPLINA: PROCESSOS INTERATIVOS NO ESPAÇO ESCOLAR

PROFESSOR AURINO LIMA FERREIRA

2ª AULA DIDÁTICA – DATA: 21.09.12

PLANO DE AULA

TEMA: O Corpo (GALLO, 2010)

Objetivo Geral da Aula didática:

- Explorar o campo corporal integral;

- Identificar qual a concepção de corpo de cada aluno;

- Discutir sobre as concepções de corpo atuais e as dualidades corpo-mente, corpo-espírito que

estão arraigadas em nossa concepção fragmentária de si mesmo.

1º Momento – Acessando o campo corporal integral

Objetivo: Identificar o ser integral através do reconhecimento do corpo individual e grupal.

Procedimento – Em roda, será pedido que pisem firme no chão, respirem e se conectem ao aqui

e agora. O primeiro ponto de conexão com o ser é o nome que identifica cada um. Por isso,

realizaremos um exercício de aterramento através da ativação do nome. Isto será feito da

seguinte maneira: cada participante pronunciará seu nome e todo o grupo repetirá três vezes o

nome dito. Segundo as tradições o nome do indivíduo tem uma vibração que o puxa para a

existência concreta material. Após isto, pediremos que cada um olhe para seu próprio corpo e

realize uma auto-massagem, explorando o contato com seu próprio corpo. Após, formar duplas,

um A o outro B, e olhar para o corpo do outro buscando ver nuances que não havia percebido

antes. Em seguida, socializar como se sentem, ao observarem a si mesmo e o outro.

Atividade 02 – Explorando o corpo com danças livres e danças circulares

Objetivo: Explorar o corpo e o espaço físico da sala. Dançar livremente duas músicas inteiras.

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Procedimento: A primeira dança será mais lenta com o suporte de fitas para favorecer uma

maior desinibição dos alunos. Depois, dançarão sem fitas num ritmo um pouco mais agitado. Em

seguida, retornaremos a grande roda e dançaremos duas músicas indígenas cantadas extraindo

som do corpo.

Atividade 03 – Desenho do campo corporal

Objetivo: Identificar a concepção que os alunos têm de seu próprio corpo

Procedimento: Cada um receberá uma folha de ofício e desenhará o próprio corpo, sua

autoimagem. Após o desenho, solicitaremos que escrevam o que o corpo é para eles e expressem

em palavras ao lado do desenho.

Atividade 04 – Socialização da concepção de corpo em grupo

Objetivo: Socializar as concepções individuais sobre corpo e exposição expressiva dele.

Procedimento: Dividir em grupos de cinco para compartilharem a concepção de corpo

individual e organizar a socialização dessas concepções de forma criativa, seja por mímicas,

teatro, poesia, ou outros.

Atividade 05 – Discussão sobre a concepção contemporânea de corpo

Objetivo: Discutir as concepções de corpo da contemporaneidade

Procedimento: Em roda, todos conversarão sobre a veiculação de corpo na mídia.

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CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA – 8º PERÍODO

DISCIPLINA PROCESSOS INTERATIVOS NO ESPAÇO ESCOLAR

3ª AULA APÓS RETORNO DA GREVE

DATA: 25/09/12

VISITA AO NEIMFA: ESPAÇO DE EDUCAÇÃO NÃO FORMAL

(Comunidade do Coque, Recife, PE)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE PEDAGOGIA – 8º PERÍODO

DISCIPLINA PROCESSOS INTERATIVOS NO ESPAÇO ESCOLAR

4ª AULA DATA: 29.09.12 RETORNO APÓS GREVE

TEMA: O corpo na vida cotidiana (GONÇALVES, 1997)

Objetivo Geral: Apresentar o corpo na via do tempo.

O corpo na Pré-modernidade; O corpo na modernidade; O corpo na pós-modernidade.

1º Momento: O corpo na pré-modernidade

Objetivo: Os alunos dançarão a dança: Terra, meu corpo, Água, meu sangue, Ar, meu respirar,

Fogo, meu espírito, para viverem uma percepção eco-orgânica do corpo como era mais cultivado

na pré-moderndade.

2º Momento: Apresentar o corpo na modernidade e Pós-modernidade

Objetivo: Sistematizar as concepções de corpo destes períodos.

Procedimento: Sistematizar no quadro algumas considerações de concepções de corpo nestes

períodos através da leitura de Gonçalves.

3º Momento: O corpo na linha do tempo

Objetivo: Despertar a percepção para o corpo na linha do tempo

Procedimento: Serão distribuídos papeis como fotos da escola e do corpo ao longo do tempo e

as diferentes relações com o corpo. Os discentes deverão organizar uma linha do tempo.

Receberão palavras soltas às quais auxiliarão na percepção sobre as figuras.

4º Momento: Apresentação dos grupos sobre a linha do tempo.

Objetivo: Vivenciar o corpo nos diferentes tempos.

Procedimento: Cada grupo irá apresentar através de expressão não verbal o corpo na linha do

tempo.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

DISCIPLINA PROCESSOS INTERATIVOS NO ESPAÇO ESCOLAR

PROFESSOR AURINO LIMA

5ª AULA DIDÁTICA – RETORNO APÓS GREVE - DATA: 09.10.12

PLANO DE AULA

TEMA: Criatividade, criação e apreciação artísticas: a atividade criativa segundo Vygotsky

(JAPIASSU, 2001, p. 43-58).

Objetivo Geral da Aula didática:

- Vivenciar e discutir sobre a temática Criatividade.

Atividade 01: Exercitando a criatividade: “O que o mestre mandar”

Objetivo: Realizar um aquecimento e suscitar de forma prática a criatividade dos alunos.

Desenvolvimento: O grupo se movimentará livremente pela sala. Quando a música parar todos

deverão fazer o comando dado pelo mestre, que inicialmente será o professor. Os comandos

serão, por exemplo: pular cercas imaginárias, nadar num rio com muitas ondas, ser corredor da

São Silvestre, andar num campo de areia movediça, entre outras possibilidades imaginadas. Após

uma música inteira ser comandada pelo professor, o comando será passado para cada um dos

alunos, que deverão um a um indicar qual a fantasia a ser vivenciada de acordo com a

criatividade surgida no momento.

Tempo estimado: 25 min

Atividade 02: Questionário sobre Criatividade

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Objetivo: Conhecer as crenças trazidas pelos alunos, desfazer alguns mitos sobre a Criatividade

e discutir sobre as ideias do texto base com todo o grupo.

Desenvolvimento: Os alunos responderão um questionário em dupla e discutirão entre si os

enunciados propostos no questionário abaixo e responderão se acreditam ser pontos verdadeiros

ou falsos.

Tempo: 30 min.

( ) A criatividade é um “dom” presente em alguns poucos indivíduos.

( ) A criatividade consiste em um lampejo de inspiração, que ocorre sem uma razão

explicável.

( ) A criatividade depende apenas de características o próprio indivíduo.

( ) A criatividade manifesta-se apenas nos trabalhos e produções dos grandes talentos

artísticos e nas novas propostas de inventores e cientistas.

( ) O trabalho do professor exige muita criatividade.

( ) A criatividade é uma questão de tudo ou nada. Alguns indivíduos são criativos e

outros não.

( ) As escolas e universidades em geral promovem a criatividade dos discentes.

Atividade 03: Aplicação dos questionários final da pesquisa

Tempo de duração: 45 min.

Referências da aula:

ANTUNES, Celso. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. 9. ed. Petrópolis, RJ:

Vozes, 1998.

ALENCAR, Eunice M. L. Soriano de. Como desenvolver o potencial criador: um guia para a

liberação da criatividade em sala de aula. 11. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.

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ANEXO C – AUTOAVALIAÇÃO DA DISCIPLINA PROCESSOS INTERATIVOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA E ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL

AUTOAVALIAÇÃO PROCESSOS INTERATIVOS

1ª AUTOAVALIAÇÃO - DATA: 08.05.12

OBS: Atribuir nota de 0 a 10 no item nota do aluno. Não preencher os itens nota do grupo

e nota do professor. Justificar por escrito a nota atribuída a cada item. .

HABILIDADE NOTA DO

ALUNO

NOTA DO

GRUPO

NOTA DO

PROFESSOR

ASSIDUIDADE

PONTUALIDADE

PARTICIPAÇÃO NAS AULAS

DIDÁTICAS

APRESENTAÇÃO DA AULA

DIDÁTICA

COMUNICAÇÃO

COOPERAÇÃO

ESCUTA

PERCEPÇÃO DOS

FENÔMENOS GRUPAIS

LEITURA DOS TEXTOS

CAPACIDADE DE NEGOCIAR

E DISCORDAR

SOLIDARIEDADE

AUTONOMIA E INICIATIVA

LIDERANÇA

APRENDIZAGEM

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APÊNDICES

APÊNDICE A- ROTEIRO DO QUESTIONÁRIO INICIAL

FICHA PROTOCOLO Nº:

QUESTIONÁRIO INICIAL

NOME: SEXO: DATA NASC.:

IDADE: UFPE TURMA: DATA COLETA:

1) Qual sua visão de educação?

2) Por que educamos os seres humanos?

3) Como você percebe a educação do corpo na UFPE- CE?

4) Desenhe o corpo aprendendo na UFPE-CE. A partir do desenho, escreva sobre suas

impressões pessoais de como o corpo está sendo concebido no processo de

aprendizagem.

5) Desenhe o corpo ensinando na UFPE-CE. A partir do desenho, escreva sobre suas

impressões de como o corpo está sendo concebido no processo de ensino.

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APÊNDICE B – ROTEIRO DO QUESTIONÁRIO FINAL

FICHA PROTOCOLO Nº:

QUESTIONÁRIO FINAL

NOME: SEXO: DATA NASC.:

IDADE: UFPE TURMA: DATA COLETA:

A partir de sua participação na disciplina Processos Interativos responda:

1) Qual sua visão de educação?

2) Por que educamos os seres humanos?

3) Como você percebe a educação do corpo na disciplina Processos Interativos?

4) Desenhe o corpo aprendendo na disciplina Processos Interativos. A partir do

desenho, escreva sobre suas impressões pessoais de como o corpo está sendo

concebido no processo de aprendizagem.

5) Desenhe o corpo ensinando na disciplina Processos Interativos. A partir do

desenho, escreva sobre suas impressões de como o corpo está sendo concebido

no processo de ensino.

263

APÊNDICE C – DESENHO INICIAL CORPO APRENDENDO

FICHA PROTOCOLO Nº:

DESENHO INICIAL

NOME:

Desenhe o corpo aprendendo na UFPE-CE. A partir do desenho, escreva sobre suas impressões

pessoais de como o corpo está sendo concebido no processo de aprendizagem.

264

APÊNDICE D- DESENHO INICIAL CORPO ENSINANDO

FICHA PROTOCOLO Nº:

DESENHO INICIAL

NOME:

Desenhe o corpo ensinando na UFPE-CE. A partir do desenho, escreva sobre suas impressões de como

o corpo está sendo concebido no processo de ensino.

265

APÊNDICE E – DESENHO FINAL CORPO APRENDENDO

FICHA PROTOCOLO Nº:

DESENHO FINAL

NOME:

Desenhe o corpo aprendendo na disciplina Processos Interativos. A partir do desenho, escreva sobre

suas impressões pessoais de como o corpo está sendo concebido no processo de aprendizagem.

266

APÊNDICE F- DESENHO FINAL CORPO ENSINANDO

FICHA PROTOCOLO Nº:

DESENHO FINAL

NOME:

Desenhe o corpo ensinando na disciplina Processos Interativos. A partir do desenho, escreva sobre suas

impressões de como o corpo está sendo concebido no processo de ensino.

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APÊNDICE G- ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

FICHA PROTOCOLO No

ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

NOME SEXO: IDADE:

DATA:

A partir de sua participação na disciplina Processos Interativos responda:

01. Qual sua visão de educação?

02. Quais os fins da educação?

03. Como pensa o corpo na educação e nos processos de ensino-aprendizagem?

04. Fale mais sobre o seu desenho do corpo de uma pessoa aprendendo na disciplina

Processos Interativos.

05. Fale mais sobre o seu desenho do corpo de uma pessoa ensinando na disciplina

Processos Interativos.

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APÊNDICE H - DIÁRIO DO ALUNO

ROTEIRO PARA DIÁRIO DO ALUNO

1) Quais as aprendizagens mais significativas que realizei?

2) Como me senti participando desse encontro?

3) Quais os aspectos positivos da experiência vivida por este grupo?

4) Quais os aspectos negativos da experiência vivida por este grupo?

5) Como percebi o meu corpo nesse encontro?

6) Como percebi o corpo dos colegas e do professor(a) nesse encontro?

7) Escreva sobre um tema livre a partir da experiência vivida nesse encontro: