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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL Avaliação da Aplicação dos Princípios da Construção Enxuta em Empresas Construtoras Felipe Sampaio Figueiredo de Carvalho Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de São Carlos como parte dos requisitos para a conclusão da graduação em Engenharia Civil Orientador: Itamar Aparecido Lorenzon São Carlos 2012

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · Agradeço aos colegas e amigos Felipe Paro Lepera, Vitor Hugo Canal, Rodrigo Baptista, Rafael Cachola, Ricardo Machado,

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

Avaliação da Aplicação dos Princípios da Construção Enxuta em Empresas Construtoras

Felipe Sampaio Figueiredo de Carvalho

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de São Carlos como parte dos requisitos para a conclusão da graduação em Engenharia Civil Orientador: Itamar Aparecido Lorenzon

São Carlos 2012

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia aos meus pais, e ao meu irmão, que conduziram minha caminhada até a minha formação.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço acima de tudo à minha família, principalmente ao meu pai (in memorian) pelo amor e apoio incondicional que ajudaram no meu crescimento e amadurecimento pessoal.

Agradeço ao Prof. Dr. Itamar Aparecido Lorenzon, orientador deste trabalho, por toda a dedicação, atenção, esforço, empenho e pelas sábias correções que ajudaram a concluir essa etapa do curso. Agradeço ao Prof. Dr. Alex Sander Clemente de Souza pelas correções e atenção durante o desenvolvimento deste trabalho. Agradeço à Marcela de Araujo Souza e Pedro Augusto Bueno que viabilizaram o estudo de caso na Empresa A e ao Engenheiro Tiago Zocolaro. À minha namorada Andiara ofereço um agradecimento mais do que especial, por ter me ajudado e apoiado nos momentos mais difíceis da graduação. Agradeço aos colegas e amigos Felipe Paro Lepera, Vitor Hugo Canal, Rodrigo Baptista, Rafael Cachola, Ricardo Machado, Juliana Candian e Andreza Dornelas pela amizade e companheirismo durante o curso e por estarem ao meu lado em todos os momentos. Agradeço à Universidade Federal de São Carlos pela qualidade no ensino oferecido.

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“O tempo perdido é algo que não pode ser reciclado”. Taiichi Ohno.

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RESUMO

A construção civil no Brasil é vinculada predominantemente ao modelo de produção

tradicional. Esse paradigma baseia-se no conceito de conversão e transformação e se

preocupa apenas com a transformação de matéria prima no produto final, não se

preocupando com atividades que não agregam valor. Até a década de 1980, grande parte

das empresas do setor da construção era civil não se preocupava com a qualidade final do

produto, o que fez com que as construtoras não buscassem inovações tecnológicas e

métodos que reduzissem o desperdício. A partir da década de 1990 o setor passa a

enfrentar uma maior concorrência, o que fez com que as construtoras buscassem novos

paradigmas de produção mais eficientes. Nesse cenário surge a Construção Enxuta, um

novo modelo de produção, onde as empresas passaram a se preocupar com a redução do

desperdício e melhoria na produtividade e qualidade do produto final. A Construção Enxuta

foi apresentada por Koskela (1992) por meio de onze princípios que foram utilizados como

forma de diagnosticar as grandes empresas construtoras que atuam na região metropolitana

de São Paulo. Para atingir o objetivo foram selecionadas duas empresas de grande

importância no cenário econômico brasileiro; o diagnóstico foi realizado com base na

elaboração de um questionário objetivo, análise de documentos e observação direta. Após a

realização dos estudos de caso, foi concluído que a aplicação da construção enxuta

acontece, mesmo que parcialmente.

Palavras-chave: Construção Enxuta, Produção Enxuta, Sistema Toyota de Produção, Just-in-time.

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ABSTRACT

ABSTRACT

The construction industry in Brazil is predominantly linked to the traditional production model. This paradigm is based on the concept of conversion and transformation and is only concerned with the transformation of raw materials to final products, not worrying about activities that do not add value. Until the 1980s, companies of the civil construction sector was not concerned with the quality of the final product, this led companies not to seek technological innovations and methods that reduce waste. From the 1990s the sector started to face greater competition that led the companies to seek more efficient paradigms. In this scenario arises Lean Construction, a new model of production, where companies have become concerned with reducing waste and improve productivity and end product quality. The Lean Construction was presented by Koskela (1992) through eleven principles that were used as a way of diagnosing the large construction companies that operate in the metropolitan region of São Paulo. To achieve the goal two companies of great importance in the Brazilian economic scenario were selected, the diagnosis was made based on the development of an objective questionnaire, document analysis and direct observation. it was concluded that the application of lean construction happens, even partially Key-words: Lean Construction, Lean Production, Toyota Production System, Just-in-time.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 2.1 – Abordagem tradicional x Abordagem JIT............................................................ 17 Figura 2.2 - O Conceito de fluxo .............................................................................................. 26 Figura 2.3 - Aplicação do Andon na Construção Civil ............................................................ 29 Figura 2.4 – Cartões sinalizadores ............................................................................................ 30 Figura 2.5 - Kanban de produção ............................................................................................. 31 Figura 2.6 - Kanban do fornecedor ........................................................................................... 32 Figura 3.1 – Hierarquia da obra do Estádio do Corinthians ..................................................... 34 Figura 3.2 – Área de lazer ........................................................................................................ 35 Figura 3.3 - Sinalização de segurança ...................................................................................... 36 Figura 3.4 - Sinalização de segurança. ..................................................................................... 36 Figura 3.5 - Armazenamento de blocos cerâmicos de vedação ................................................ 37 Figura 3.6 - Paletes de blocos cerâmicos aguardando sua utilização ....................................... 38 Figura 3.7 - Viga ....................................................................................................................... 39 Figura 3.8 - Quebra de concreto para reforço na armação ....................................................... 39 Figura 3.9 - Emenda Trejor® (Pilar) ....................................................................................... 40 Figura 3.10 – Pilares aguardando concretagem da emenda Trejor® ....................................... 41 Figura 3.11 – Registro de situação ........................................................................................... 42 Figura 3.12 - Mão de obra ociosa ............................................................................................. 43 Figura 3.13 - Mão de obra ociosa ............................................................................................. 43 Figura 3.14 - Hierarquia da Obra.............................................................................................. 46 Figura 3.15 – Sinalização sobre primeiros socorros ................................................................. 46 Figura 3.16 – Guarda-corpo...................................................................................................... 47 Figura 3.17 – Estoque de material cerâmico ............................................................................ 47 Figura 3.18 - Blocos de concreto aguardando sua utilização ................................................... 48 Figura 3.19 – Desperdício de material...................................................................................... 48 Figura 3.20 – Desperdício de material...................................................................................... 49 Figura 3.21 – Paredes internas em Drywall (acabado) ............................................................. 50 Figura 3.22 – Shaft em drywall ................................................................................................ 50 Figura 3.23 - Quadro de avaliação de empresas ....................................................................... 52 Figura 3.24 – Nível da sacada superior ao nível da sala........................................................... 53 Figura 3.25 – Armadura exposta e viga fora de prumo ............................................................ 53

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10

1.1 JUSTIFICATIVA ....................................................................................................................... 10 1.2 OBJETIVO ............................................................................................................................ 11 1.3 METODOLOGIA ..................................................................................................................... 12 1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ...................................................................................................... 12

2. CONSTRUÇÃO ENXUTA ........................................................................................................ 14

2.1 “A INDÚSTRIA DAS INDÚSTRIAS” ............................................................................................... 14 2.2 HISTÓRICO ........................................................................................................................... 14 2.2.1 “A ASCENSÃO DA PRODUÇÃO EM MASSA” ......................................................................................... 14 2.2.2 “COMEÇANDO DA NECESSIDADE” .................................................................................................... 15 2.3 O SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO (STP) ................................................................................... 16 2.3.1 “JUST-IN-TIME (JIT)” ..................................................................................................................... 16 2.3.2 “AUTONOMAÇÃO” ........................................................................................................................ 18 2.3.3 “KANBAN” ................................................................................................................................... 18 2.4 PRODUÇÃO ENXUTA ............................................................................................................... 19 2.5 FERRAMENTAS APLICADAS NA PRODUÇÃO ENXUTA ....................................................................... 21 2.5.1 ANDON ....................................................................................................................................... 21 2.5.2 KAIZEN ........................................................................................................................................ 21 2.5.3 MÉTODO 5S ................................................................................................................................. 22 2.5.4 POKA-YOKE .................................................................................................................................. 23 2.5.5 MÉTODO PEPS (FIFO).................................................................................................................... 23 2.5.6 MAPEAMENTO DO FLUXO DE VALOR (MFV) ...................................................................................... 23 2.6 PENSAMENTO ENXUTO ........................................................................................................... 24 2.7 CONSTRUÇÃO ENXUTA ............................................................................................................ 25 2.7.1 O SURGIMENTO DA CONSTRUÇÃO ENXUTA ........................................................................................ 25 2.7.2 CONCEITUAÇÃO DA CONSTRUÇÃO ENXUTA ........................................................................................ 26 2.7.3 OS ONZE PRINCÍPIOS DA CONSTRUÇÃO ENXUTA .................................................................................. 27 2.7.4 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DA CONSTRUÇÃO ENXUTA ........................................................................... 28 2.7.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE ESTE CAPÍTULO ................................................................................... 32

3. ESTUDO DE CASO................................................................................................................. 33

3.1 ESTUDO DE CASO : EMPRESA A. ................................................................................................ 33 3.1.1 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA........................................................................................................ 33 3.1.2 CARACTERIZAÇÃO DA OBRA ............................................................................................................. 33 3.1.3 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS ..................................................................................................... 34 3.2 ESTUDO DE CASO : EMPRESA B. ................................................................................................ 45 3.2.1 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA........................................................................................................ 45 3.2.2 CARACTERIZAÇÃO DA OBRA ............................................................................................................. 45 3.2.3 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS ..................................................................................................... 46 3.2.4 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS ..................................................................................................... 54

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................................... 56

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 57

6. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ................................................................................................ 59

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7. APÊNDICE A– ROTEIRO DA PESQUISA ................................................................................... 61

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1. INTRODUÇÃO

A origem da maioria dos problemas na construção civil deve-se, principalmente ao

modelo de produção tradicionalmente utilizado. Esse paradigma baseia-se no conceito de

conversão e transformação e considera que a produção é um conjunto de atividades de

conversão, que transforma os insumos (materiais) em produtos intermediários (alvenaria,

estrutura, revestimento) ou finais (edificação). Além dos processos não serem vistos como

fluxos, ou seja, de não haver uma visão sistêmica e integrada das atividades que fazem

parte da produção, sendo que cada trabalhador ou equipe de trabalho focaliza-se somente

em suas atividades, nesse paradigma, todas as atividades são consideradas agregadoras

de valor e os desperdícios resumem-se aos insumos e entulhos que sobram ao final da

obra.

As características tradicionais predominantes na construção de edificações,

combinadas às peculiaridades da sua atividade produtiva, resultam em uma série de

desperdícios (retrabalhos, esperas, perdas) e ineficiências. Esses fatores adicionados a um

cenário de abertura dos mercados, diversificação dos produtos e incentivos governamentais,

fizeram com que o setor da construção civil passasse-se por transformações aceleradas, o

que obrigou as empresas a buscarem melhores níveis de desempenho da produção. Dentre

as alternativas, apresenta-se a Construção Enxuta.

O termo Construção Enxuta foi introduzido em 1993, pelo International Group for

Lean Construction, referindo-se à aplicação dos conceitos da Produção Enxuta no setor da

construção civil. Segundo Womack (2004), a produção enxuta é considerada a

ocidentalização do Sistema Toyota de Produção, o qual se baseia na melhoria da eficiência

através da eliminação do desperdício, e nas ferramentas just-in-time e autonomação.

A Construção Enxuta é apresentada por Koskela (1992) por meio de onze princípios

(apresentados no item 2.6.3) que foram utilizados como forma de diagnosticar as grandes

empresas construtoras que atuam na região metropolitana de São Paulo - SP.

1.1 JUSTIFICATIVA

O setor da construção civil apresenta grande importância no cenário econômico

brasileiro, isto porque emprega grande parte da população economicamente ativa através

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dos fornecedores de suprimentos, matérias primas, equipamentos, maquinários utilizados na

construção civil, setores de serviço e distribuição. Além dos empregos diretos e indiretos, a

construção civil agrega uma grande fatia do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que deve

aumentar, tendo em vista os investimentos que serão necessários para atender aos

programas do governo federal como o Minha Casa, Minha Vida e o Programa de Aceleração

do Crescimento (PAC), megaeventos esportivos como a Copa do Mundo de 2014 e as

Olimpíadas de 2016, além dos investimentos para diminuir o grande déficit habitacional

ainda presente no país. O setor da construção civil representa o estado econômico do país,

sendo um dos maiores responsáveis por impulsionar um grande número de setores

produtivos através de seus insumos e da geração de empregos. Em suma, a construção civil

deve ser entendida como termômetro para análise do desenvolvimento do país.

Até a década de 1980, grande parte dos clientes do setor da construção era

despreocupada em relação à qualidade de seu produto final, o que fez com que as

construtoras não buscassem inovações tecnológicas e pouco se importassem com o

planejamento de seus empreendimentos, gerando assim altos índices de desperdício de

material, tempo e baixa qualidade do produto final. Porém esse quadro sofreu alterações a

partir da década de 1990, o que fez com que as construtoras buscassem modelos mais

eficientes de gestão da produção, a fim de enfrentar a grande concorrência pela qual o setor

é marcado.

A partir deste cenário, tendo em vista a importância da construção no setor da

economia brasileira, e levando em conta as limitações que o paradigma de produção

tradicional apresenta, um modelo de produção que busca aprimorar o setor da construção

civil, se apresenta como um importante objeto de estudo.

1.2 OBJETIVO

Este trabalho tem como objetivo diagnosticar duas grandes empresas construtoras

através de estudo de caso, avaliando a aplicação dos princípios da Construção Enxuta no

canteiro de obras.

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1.3 METODOLOGIA

A fim de atingir o objetivo estabelecido, as atividades serão divididas em duas

etapas:

Etapa 1: Revisão Bibliográfica: realizada com o objetivo de coletar e analisar os

estudos realizados anteriormente.

Etapa 2: Estudo de Caso: o método de pesquisa escolhido foi o estudo de caso

múltiplo do tipo explanatório, que será realizado com base em três instrumentos:

questionário, observação direta e análise de documentos:

Documentação: será utilizado material publicado em eventos acadêmicos e

congressos, e ainda dissertações e teses, além do material fornecido pelas

empresas estudadas;

Questionário: as questões para entrevista foram elaboradas pelo autor após a

etapa 1, com intuito de captar os principais tópicos a serem abordados;

Observação direta: será possível observarmos os processos produtivos,

incluindo quadro de visualização (programação da produção), equipamentos

utilizados, estoques dos materiais, e a área de planejamento das empresas.

Yin (2005) recomenda a utilização de várias fontes de evidência, permitindo com isto

que os dados possam ser comparados, verificando-se se existe convergência entre os fatos.

Ainda segundo Yin (2005), nenhuma fonte única possui vantagem sobre as demais, mas

que a utilização de variadas fontes reside no fato destas tornarem-se complementares.

Para realização dos estudos de caso foram selecionadas duas empresas. A primeira

atua em obras de grande porte nos seguimentos de transporte, mineração, saneamento,

arenas esportivas e irrigação. A segunda atua no mercado de construção e incorporação,

com foco no mercado residencial.

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

Incluindo este capítulo de introdução (Capítulo 1), este trabalho está organizado da

seguinte forma:

No Capítulo 2 foi descrito toda a referência bibliográfica sobre Construção Enxuta.

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No Capítulo 3 foram realizados os Estudos de Casos em duas empresas

construtoras, com as respectivas descrições destas, das obras analisadas e relatórios

fotográficos.

No Capítulo 4 são apresentadas as considerações finais.

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2. CONSTRUÇÃO ENXUTA

2.1 “A INDÚSTRIA DAS INDÚSTRIAS”

Para entender a Construção Enxuta e seu surgimento, deve-se primeiro entender a

indústria automobilística e sua evolução histórica.

No início do século XX, Henry Ford e Alfred Sloan, da General Motors, introduziram

na indústria automotiva, onde o modo de produzir ainda se dava por meios artesanais, o

modelo de produção em massa. Esse foi um dos principais motivos do domínio econômico

dos Estados Unidos.

No Japão, a partir da década de 1950, Eiji Toyoda da Toyota e seu engenheiro de

produção Taiichi Ohno, após observarem que o sistema de produção em massa não obteria

o sucesso alcançado nos Estados Unidos por diferenças culturais, começaram a

desenvolver o Sistema Toyota de Produção (STP). O STP foi desenvolvido ao longo de

décadas por meio de tentativas e erros até a sua forma atual (WOMACK, 2004).

Na década de 1950, Peter Drucker (1909-2005), consultor administrativo de origem

austríaca considerado o pai da administração moderna, definiu a indústria automotiva como

“a indústria das indústrias”. Isso se deve principalmente, porque duas vezes no século XX

ela foi responsável por alterar a maneira como os bens são produzidos.

2.2 HISTÓRICO

2.2.1 “A ASCENSÃO DA PRODUÇÃO EM MASSA”

No final do século XIX, a indústria automotiva era dominada pelo modelo de

produção artesanal onde cada produto era exclusivo, isso elevava os custos de produção do

automóvel, que não diminuíam com o volume produzido. Nessa época os automóveis eram

exclusivos das classes mais altas da sociedade.

No começo do século XX, Henry Ford entra em cena com a produção em massa, de

acordo com Womack (2004), a chave para a esse sistema de produção não era a linha de

montagem em movimento contínuo, mas sim intercambiabilidade das peças e na facilidade

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de ajustá-las entre si, essas inovações foram responsáveis por tornar a linha de montagem

possível.

Em 1903, Ford introduziu em sua fábrica as plataformas de montagem, que eram

locais onde os carros eram montados por inteiro e por um só trabalhador, que era

responsável pela execução de grande parte do carro.

Em 1908, Ford alcançou a perfeita intercambiabilidade das peças, decidiu então que

cada montador executaria uma única tarefa, movimentando-se de veículo para veículo. Em

1913 o ciclo de tarefa médio de cada trabalhador havia caído de 514 para aproximadamente

2 minutos (WOMACK, 2004). Os trabalhadores ficaram mais familiarizados com as tarefas a

serem executadas, e as peças não necessitavam mais de ajustes para serem montadas,

isso fez com que Ford conseguisse um salto notável em sua produtividade.

O passo seguinte foi a introdução da linha de montagem de fluxo contínuo na fábrica

de Highland Park, Detroit, reduzindo o tempo que cada trabalhador perdia se movimentando

de plataforma em plataforma.

Henry Ford centralizava todas as decisões em uma só pessoa, ele mesmo, porém a

sinergia entre suas indústrias nunca existiu; Ford não tinha ideia de como organizar um

empreendimento global. Alfred Sloan entra em cena e torna o sistema de Ford completo,

criando divisões descentralizadas, gerenciando-as pelos números, através de relatórios

sobre vendas, participação no mercado, estoques, lucros e perdas (WOMACK, 2004).

Juntando as práticas de fabricação de Ford, com as técnicas de gerenciamento de

Sloan, obtem-se o sistema de produção em massa em sua forma amadurecida. Durante

décadas o sistema colheu vitórias, e as companhias, em praticamente todos os ramos

industriais adotaram métodos semelhantes (WOMACK, 2004).

2.2.2 “COMEÇANDO DA NECESSIDADE”

Em 1945, Toyoda Kiichiro (1894-1952), presidente da Toyota Motor Company,

declarou que a indústria japonesa deveria alcançar o ocidente, caso isso não acontecesse,

esta estaria fadada a desaparecer (OHNO, 1997). No final dessa mesma década, após visita

no complexo de Rouge, Detroit, Eiji Toyoda, sobrinho de Kiichiro, afirmou que era possível

melhorar o sistema de produção em massa criado por Ford e Sloan, porém com o tempo,

Toyoda e seu engenheiro de produção Taiichi Ohno perceberam que o sistema nunca

funcionaria no Japão pelos seguintes aspectos (WOMACK, 2004):

O mercado japonês demandava uma vasta gama de veículos, de carros de

luxo para autoridades governamentais a carros pequenos para as cidades

populosas do país;

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A mão de obra nativa disponível não estava propensa a ser tratada como

custo variável ou peça intercambiável; inexistiam trabalhadores hóspedes, ou

seja, imigrantes que estariam propensos a enfrentar condições precárias de

trabalho; além disso, as leis trabalhistas favoreciam os trabalhadores na

negociação de condições melhores de trabalho;

A cópia do sistema de produção em massa, no máximo ajudaria a Toyota a

igualar a indústria automotiva americana; o Japão, recém-devastado pela

Segunda Guerra Mundial, necessitava de trocas comerciais favoráveis, e a

indústria japonesa tinha que ser competitiva.

Através dos problemas citados e da necessidade de superar o ocidente, surge o

Sistema Toyota de Produção, conhecido nos dias atuais de Produção Enxuta.

2.3 O SISTEMA TOYOTA DE PRODUÇÃO (STP)

Durante décadas o sistema de produção em massa foi bem sucedido na tarefa de

produzir um grande número de veículos com uma menor variabilidade. Com o objetivo de

eliminar os desperdícios do processo produtivo para aumentar a sua eficiência (pois só

assim seria possível produzir produtos variados, em pequenas quantidades e quando o

cliente solicitasse), começam a ser desenvolvidas, por meio de “tentativas e erros”, uma

série de técnicas e ferramentas que, ao longo de 30 anos, resultaram no STP

(PASQUALINI, 2005).

No início da década de 1970 o mundo inteiro entrou em recessão com a crise do

petróleo e no ano de 1974 a economia japonesa havia caído para um nível zero de

crescimento. Embora grande parte das empresas em todo mundo havia estagnado junto

com a recessão, a Toyota Motors Company apresentava resultados melhores e tornou-se

óbvio que uma empresa não poderia ser lucrativa usando o sistema de produção em massa

(OHNO, 1997).

Segundo Ohno (1997), a base do Sistema Toyota de Produção é a melhoria da

eficiência através da eliminação do desperdício; o just-in-time e a autonomação são os dois

pilares necessários à sustentação do sistema; o kanban é o meio pelo qual o STP flui

suavemente.

2.3.1 “JUST-IN-TIME (JIT)”

Em um processo de fluxo, just-in-time significa que as partes corretas necessárias à

montagem alcançam a linha de montagem no momento em que são necessários e somente

na quantidade necessária, ou seja, o JIT trabalha com um sistema de produção “puxada”. A

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empresa que estabelecer esse fluxo conseguirá reduzir seus estoques a zero (OHNO,

1997).

Na concepção de Slack et al. (2002) JIT significa produzir bens e serviços

exatamente no momento em que são necessários, ou seja, não produzir antes para não

formar estoques e onerar os custos e nem depois, deixando o cliente insatisfeito, perdendo

faturamento e oportunidade de melhorar o fluxo de caixa.

Para aqueles que preferem uma definição mais complexa, Slack et al. (2002)

declarou:

“O just-in-time (JIT) é uma abordagem disciplinada, que visa aprimorar a

produtividade global e eliminar os desperdícios. Ele possibilita a produção eficaz em

termos de custo, assim como o fornecimento apenas da quantidade correta, no

momento e locais corretos, utilizando o mínimo de instalações, equipamentos,

materiais e recursos humanos. O JIT é dependente do balanço entre a flexibilidade do

fornecedor e a flexibilidade do usuário. Ele é alcançado por meio da aplicação de

elementos que requerem um envolvimento total dos funcionários e trabalho em

equipe. Uma filosofia-chave do JIT é a simplificação.”

A Figura 2.1 ilustra a comparação entre os métodos convencionais de gestão e o

sistema JIT.

Figura 2.1 – Abordagem tradicional x Abordagem JIT

Fonte: Do Autor – Elaborado a partir de Slack (2000).

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Ohno (1997) acredita que uma falha na previsão, um erro no preenchimento de

formulários, produtos defeituosos, retrabalho e problemas com o equipamento, são

exemplos de problemas que poderiam surgir no chão da fábrica e que resultam na parada

da linha de produção, ou alteração de um plano. Desconsiderando tais situações e

considerando apenas o plano de produção para cada processo (abordagem tradicional),

teríamos desperdício, produtos defeituosos e imensos estoques de componentes

desnecessários.

2.3.2 “AUTONOMAÇÃO”

A autonomação é a outra base do STP. De acordo com Ohno (1997), o sistema

Toyota não pode ser confundido com a simples automação.

Autonomação é definida como a transferência da inteligência humana para os

equipamentos automatizados de modo a permitir que as máquinas detectem a produção de

uma única peça defeituosa e suspendam imediatamente seu funcionamento enquanto se

solicita ajuda. Este conceito (jidoka) teve como pioneiro Toyoda Sakichi (1867-1930),

fundador da Toyota Motors Company, no início do século XX, quando ele inventou as

máquinas de fiação automáticas que paravam instantaneamente quando um dos fios da

urdidura ou da trama se rompia. Isso permitia que um operador supervisionasse várias

máquinas sem risco de produzir grandes quantidades de tecido defeituoso (WOMACK,

2004).

Na Toyota uma máquina automatizada com um toque humano é aquela que está

acoplada a um dispositivo de parada automática. A máquina é capaz de detectar um

problema e dependendo da necessidade interromper a linha de produção, sendo necessária

a intervenção humana. Taiichi Ohno via esse momento como uma oportunidade de

compreender o problema, tornando a melhoria possível; além disso, o número de peças

defeituosas foi reduzido ao mínimo.

A autonomação também é responsável por um grande aumento na produtividade no

“chão da fábrica”, visto que agora, diferentemente do sistema de produção em massa,

somente um trabalhador era necessário para supervisionar um número grande de máquinas.

2.3.3 “KANBAN”

Kanban é uma palavra de origem japonesa que significa “cartão” ou “sinalização”.

Para o STP, kanban é uma ferramenta utilizada para operar os dois pilares do sistema (just-

in-time e autonomação), e nada mais é do que um sinal para avisar um posto de trabalho de

que a produção foi autorizada.

Segundo Slack et al. (2002), “o controle kanban é um método de operacionalizar o

sistema de planejamento e controle puxado”.

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O kanban foi uma ideia retirada dos supermercados americanos, onde o cliente pode

obter o que é necessário no momento em que é necessário e na quantidade necessária. O

processo final (cliente) vai até o processo inicial (supermercado) para adquirir o que fosse

necessário. O processo inicial imediatamente produz a quantidade que foi retirada

(reabastecimento das prateleiras) OHNO (1997). Com isso, o kanban atrelado ao just-in-time

auxilia na redução de estoques evitando a superprodução em cada etapa de produção; em

suma, a produção passou a ser determinada de acordo com a necessidade e não pela

previsão da demanda.

Os kanbans podem ser divididos em três tipos (SLACK et al. 2002):

Kanban de movimentação ou transporte: usado para avisar o estágio anterior que o

material pode ser retirado do estoque e transferido para uma destinação específica;

esse tipo de kanban traz detalhes como número e descrição do componente, o lugar

onde deve ser retirado e o destino para o qual deve ser enviado;

Kanban de produção: é um sinal para um processo produtivo de que ele pode

começar a produzir um item para que seja colocado em estoque, o número e

descrição do processo, materiais necessários para a produção do componente e o

destino para o qual deve ser enviado depois de produzido são informações

normalmente contidas nesse tipo de kanban;

Kanban do fornecedor: é utilizado para enviar um aviso ao fornecedor que é

necessário enviar material, ou componentes para um estágio da produção. Esse tipo

de kanban é similar ao kanban de transporte, porém utilizado com fornecedores

externos.

Ainda de acordo com Slack et al. (2002), “os kanbans são apenas meios pelos quais

o transporte, a produção ou o fornecimento podem ser autorizados.

2.4 PRODUÇÃO ENXUTA

Ao longo do século XX, destacaram-se três paradigmas dominantes, nos quais

empresas se basearam nos modelos de produção e gestão. O primeiro, conhecido como

Produção Artesanal, foi desenvolvido no final do século XIX e caracterizava-se pela

produção de uma ampla variedade de produtos feitos por profissionais autônomos e

qualificados. Esse modelo de produção tinha como objetivo satisfazer a demanda que vinha

das classes sociais mais altas. O segundo, conhecido como Produção em Massa,

caracterizava-se pela produção em larga escala de produtos padronizados que visavam a

atender a um amplo mercado consumidor. Como visto anteriormente, este paradigma se

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tornou o padrão dominante de produção e gestão em quase todos os países industrializados

(PASQUALINI, 2005). O terceiro, conhecido como Sistema Toyota de Produção, foi

introduzido por Womack, Jones e Ross em 1992 no livro “A Máquina que Mudou o Mundo”.

A Produção Enxuta é considerada como a ocidentalização do Sistema Toyota de Produção.

Segundo Womack (2004), a Produção Enxuta é caracterizada pela redução dos

desperdícios que ocorrem no processo produtivo, mantendo o fluxo contínuo, ou seja, utiliza

menores quantidades de tudo em comparação a produção em massa; exemplos: menos

esforço dos operários, menos investimento em ferramentas, redução do tempo de

planejamento para desenvolver novos produtos, redução dos estoques, redução dos

defeitos e do espaço para fabricação.

“Muda” é uma palavra japonesa que significa desperdício, ou seja, qualquer

atividade humana que absorve recursos, mas não cria valor: erros que exigem retificação,

produção de itens desnecessários, superprodução, movimentação de funcionários e

transporte de mercadorias sem propósito, grupos de pessoas aguardando uma etapa

anterior finalizar, e bens de consumo que não atendem a necessidade do cliente

(WOMACK, 2004).

Para facilitar a identificação das perdas, Taiichi Ohno propôs a classificação em sete

categorias (OHNO, 1997):

Perda por superprodução: dividida em perdas quantitativas e perdas

antecipadas; a superprodução quantitativa é a perda por produzir além da

demanda; e perda por superprodução antecipada é a perda pela produção

realizada antes do momento necessário;

Perda por espera: pode ser dividida em perdas por espera do processo,

quando um lote inteiro permanece esperando liberação enquanto o lote

precedente é processado, inspecionado ou transportado; e perdas por espera

do lote, que acontece quando os componentes de um lote esperam até que o

processamento de todo o lote seja concluído;

Perda por transporte: todo transporte é considerado como desperdício;

Perda do processamento em si: é todo processamento que não é necessário

e não agrega valor ao produto final;

Perda por fabricação de produto defeituoso: fabricação de peças ou produtos

que não atendem o padrão mínimo de qualidade pré-estabelecida;

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Perda por movimentação: movimentos desnecessários realizados pelos

operadores na execução de uma operação;

Perda por estoque: é caracterizado pela manutenção dos estoques de

matéria prima, material em processamento e produtos acabados.

O conjunto de princípios que orienta a Produção Enxuta (e que traduz as ideias

fundamentais do STP) é: valor, cadeia de valor, fluxo, produção puxada e perfeição

(WOMACK, 2004).

As principais ferramentas aplicadas na Produção Enxuta foram definidas no item

seguinte.

2.5 FERRAMENTAS APLICADAS NA PRODUÇÃO ENXUTA

2.5.1 ANDON

O Andon possibilita o acompanhamento do andamento dos processos de trabalho,

informando sobre possíveis problemas e pedidos de intervenção. O Andon é um termo

japonês que significa lâmpada e consiste em um sistema de controle visual que indique as

paradas e possibilita que as devidas providências sejam tomadas, evitando-se novos erros e

otimizando o processo produtivo (melhoria contínua). Ohno utilizava, para isso, um painel

luminoso em cada linha, fixado em posição de visibilidade total, com lâmpadas de indicação

da condição da linha e de chamada de assistência, acionado por qualquer operador da

linha.

2.5.2 KAIZEN

Kaizen é uma palavra de origem japonesa que significa “melhoria contínua”. Nada

mais é do que buscar sempre o melhor modo de fazer, mesmo as tarefas mais simples.

O melhoramento contínuo é um conjunto de ideias ligadas para manter e melhorar o

padrão. Melhoramento pode ser definido como Kaizen e inovação, onde a estratégia Kaizen

mantém e melhora o padrão de trabalho através de melhoramentos pequenos e graduais,

resultados de esforços contínuos, enquanto a inovação realiza melhoras radicais, como

resultado de grandes investimentos em tecnologia (MOURA, 1994).

As principais características que levam ao sucesso da ferramenta Kaizen são:

qualidade, esforço, participação e sinergia de todos os empregados, disposição a mudanças

e comunicação.

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Segundo Campos (1992), um dos conceitos mais importantes do Kaizen é o ciclo

PDCA (Plan, Do, Check, Action) de controle de processo, que consiste em um método

gerencial composto por quatro fases básicas:

Planejar: estabelecer metas sobre os itens de controle e estabelecer métodos

para atingí-las;

Executar: executar as tarefas da maneira prevista, coletando os dados para

verificação, além do treinamento decorrente da fase de planejamento;

Verificar: comparação dos resultados obtidos com a meta planejada;

Ação: etapa em que foram detectados desvios, atuação no sentido de fazer

correções definitivas de forma a solucionar o problema por definitivo.

2.5.3 MÉTODO 5S

Segundo Liker (2005), o método 5S é utilizado como elemento facilitador do trabalho

em equipe, pois consiste em uma série de atividades utilizadas para eliminação das perdas

que contribuem para a ocorrência de erros e defeitos.

O termo 5S é derivado de cinco palavras, em japonês, que têm por início a letra S,

descritas a seguir (SANTOS et al., 2006):

Seiri (senso de utilização): separar o material útil do que não é útil, eliminando o

desnecessário. Esse é o primeiro passo para a implantação desta ferramenta. Consiste em

selecionar os materiais classificando-os por: uso frequente, pouco uso e sem uso. Após a

seleção eliminar o que é desnecessário do local de trabalho. Com este senso, os benefícios

são vários, como: facilidade de trânsito, aumento do espaço no local de trabalho, facilidade

de limpeza, entre outros benefícios;

Seiton (senso de organização): identificar e arrumar tudo, para que qualquer pessoa

possa localizar facilmente. Este senso define os locais apropriados e critérios para estocar,

guardar ou dispor os materiais, ferramentas, equipamentos e utensílios;

Seiso (senso de limpeza): manter um ambiente sempre limpo, eliminando as causas

da sujeira e aprendendo a não sujar. Buscar eliminação da sujeira, ou objetos estranhos,

para manter limpo o ambiente. Este senso não é, apenas, o ato de limpar, mas o ato de não

sujar.

Seiketsu (senso de padronização): a base do sistema é o padrão, se não forem

criados, tudo tende a se desmanchar. Este senso busca manter os três primeiros “S”, de

forma contínua e padronizada.

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Shitsuke (autodisciplina): fazer dessas atitudes um hábito, transformando os 5S num

modo de vida. Desenvolve o hábito de observar e seguir normas e procedimentos.

Disciplinar é praticar, para que as pessoas façam as coisas certas, naturalmente. É um

processo de repetição e prática.

O 5ºS corresponde à autodisciplina, é o mais difícil de ser praticado, visto que

mantém os outros quatro em funcionamento, enfatizando a educação, o treinamento e as

compensações necessárias para incentivar os operários e o ambiente de trabalho (LICKER,

2005).

2.5.4 POKA-YOKE

Poka-yoke é um método que ajuda os operários a evitarem erros em seu trabalho,

tais como escolha de peça errada, montagem incorreta de uma peça, esquecimento de um

componente (LÉXICO LEAN, 2003).

Segundo Shingo (1996), utilizando-se o método Poka-yoke é possível alcançar a

inspeção sucessiva, a auto inspeção e inspeção da fonte. O autor afirma que o dispositivo

Poka-yoke não é um sistema de inspeção, mas um método de detectar defeitos ou erros e

que pode ser usado para satisfazer uma determinada função de inspeção. Há duas

maneiras nas quais o Poka-yoke pode ser usado para evitar e corrigir erros:

Poka-yoke de controle: dispositivo corretivo muito eficaz, porque paralisa o

processo produtivo até que a condição causadora de defeito tenha sido

corrigida.

Poka-yoke de advertência: permite que o processo produtivo que está

gerando o defeito continue mesmo no caso dos trabalhadores não atenderem

ao aviso de alerta.

2.5.5 MÉTODO PEPS (FIFO)

O Método PEPS significa “primeiro que entra, primeiro que sai”, é um formato de

administração de materiais, especificamente ao controle de estoque. O método se baseia na

utilização dos materiais de acordo com a ordem cronológica das entradas, garantindo assim

a rotatividade do estoque que por fim diminui a ocorrência de produtos vencidos e/ou

danificados.

2.5.6 MAPEAMENTO DO FLUXO DE VALOR (MFV)

Em 1960, Ohno queria uma ferramenta que representasse visualmente o fluxo de

materiais e de informações, o que deu origem ao “Operation Management Consulting

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Division” (OMCD). Esse foi um passo importante para a criação da ferramenta denominada

Mapeamento do Fluxo de Valor (MFV), baseada nos princípios da produção enxuta. O

principal objetivo do MFV é a criação de um fluxo de valor enxuto da matéria prima ao

produto acabado, o que significa levar em conta o quadro mais amplo da produção e não

somente os processos individuais (LORENZON, 2008).

Conforme Rother e Shook (2003), o MFV é uma ferramenta essencial para visualizar

o fluxo do processo como um todo e não apenas processos individuais, ajudando a

identificar os desperdícios e suas fontes; combina conceitos e técnicas enxutas, ajudando a

evitar a implementação de algumas técnicas isoladamente e relaciona o fluxo de informação

com o fluxo de material.

2.6 PENSAMENTO ENXUTO

Womack e Jones (2004) definem o Pensamento Enxuto como os conceitos da

Produção Enxuta aplicados às empresas como um todo e não somente aos processos de

produção (WOMACK, 2004).

O Pensamento Enxuto por ser dividido em cinco princípios, descritos a seguir

(WOMACK, 2004):

Especificar o Valor: o valor deve ser estabelecido pelas necessidades dos clientes;

Fluxo de Valor: identificar o fluxo de valor significa separar os processos em três

tipos: processos geradores de valor, processos que não geram valor mas são

importantes para a manutenção dos processos e qualidade, e finalmente os

processos que não geram valor e não são necessários (desperdícios);

Fluxo: fluidez para os processos e atividades através da constituição de um fluxo

contínuo entre as etapas;

Produção Puxada: inversão do fluxo produtivo, a produção passa a ser determinada

pela demanda, reduzindo os estoques e valorizando os produtos;

Perfeição: Melhoria contínua através da criação de valor e eliminação de

desperdício.

Segundo Fontanini e Picchi (2003), o Pensamento Enxuto abrange a empresa toda, e

não apenas um sistema de produção.

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2.7 CONSTRUÇÃO ENXUTA

2.7.1 O SURGIMENTO DA CONSTRUÇÃO ENXUTA

A implementação da Produção Enxuta é um processo lento e que exige disciplina.

Considerando que a própria Toyota (que foi quem desenvolveu o sistema STP) demorou

décadas para se adequar totalmente aos novos conceitos e práticas, a sua implementação

em outras empresas e principalmente em outros setores, deve estar baseada na real

necessidade de mudança (WOMACK, 2004). Como se ressaltou no capítulo anterior, a

necessidade de mudança é uma realidade para as empresas da construção de edificações

habitacionais.

A Construção Enxuta surgiu no início dos anos 1990 através da adaptação das

técnicas e ferramentas desenvolvidas com sucesso no Sistema Toyota de Produção

(Produção Enxuta) através de um pesquisador finlandês chamado Lauri Koskela (1992), que

publicou o trabalho Application of the new production philosophy in the construction industry.

Com o intuito de divulgar os novos conceitos, foi criado o International Group for Lean

Construction (LORENZON, 2008).

A construção enxuta veio para confrontar com o modelo de conversão, que é

caracterizado por negligenciar as atividades de inspeção, transporte e estoques envolvidos

no processo de produção (KOSKELA, 1992).

Já o modelo de gerenciamento da Construção Enxuta parte do princípio de que a

produção é constituída por um conjunto de fluxos de materiais e informações da matéria

prima ao produto acabado e esses fluxos são constituídos por atividades que agregam valor,

como é o caso do processamento, e por atividades que não agregam valor, como por

exemplo, atividades de movimento (ou transporte), espera, estoques, inspeção, e que são

os denominados desperdícios (KOSKELA, 1992).

De acordo com Pasqualini (2005), uma das principais ideias da Produção Enxuta

introduzida na construção foi a de mudar a interpretação de que desperdícios se resumem a

perdas de materiais. Desperdício pode ser definido como todas as atividades que fazem

parte do processo produtivo e que não são percebidas pelos clientes (final ou processo

seguinte), não agregam valor ao produto final.

Segundo Conte (2002), a implantação da Construção Enxuta é possível

independentemente da tecnologia empregada pela empresa. O planejamento da produção

deve ser equilibrado e evitar os picos de produtividade que ocasionam melhoria em

determinada atividade, mas não em todo o projeto.

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Picchi e Granja (2004) constatam que na maioria das experiências de implementação

da Construção Enxuta são utilizadas ferramentas isoladas em cada obra e geralmente

fragmentadas, sem conexão entre elas.

A Construção Enxuta encontra-se em expansão com a criação de institutos de

pesquisa e também através de sua implementação em vários países. Porém, para que

ocorra uma maior difusão é necessário vencer os principais entraves ocasionados pelas

especificidades da construção civil, como resistência cultural, alta rotatividade (LORENZON,

2008).

2.7.2 CONCEITUAÇÃO DA CONSTRUÇÃO ENXUTA

O modelo de gerenciamento dominante na construção civil, modelo de conversão,

define a produção como um conjunto de atividades de conversão que transformam os

insumos (materiais, informação) em produtos intermediários (alvenaria, estrutura, cobertura

etc.) ou finais (edificação) (FORMOSO, 2000).

Koskela (1992) define a produção como um fluxo de materiais e ou informações

desde a matéria prima até o produto acabado. Nesse fluxo, o material pode estar sendo

processado, inspecionado ou movimentado. Em grande parte dos casos, somente as

atividades de processamento proporcionam a agregação de valor ao produto (Figura 2.2).

Figura 2.2 - O Conceito de fluxo

Fonte: Do autor – Elaborado a partir de Koskela (2000).

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2.7.3 OS ONZE PRINCÍPIOS DA CONSTRUÇÃO ENXUTA

A construção enxuta se baseia em onze princípios básicos que são apresentados por

Koskela (1992):

Reduzir a parcela de atividades que não agregam valor: Atividades que não

agregam valor são presentes na maioria dos processos. Toda atividade que

consiga transformar material ou informação em valor para o cliente é

chamada de atividade que agrega valor. As atividades que não agregam valor

são denominadas de desperdícios; a construção enxuta busca identificar e

eliminar essas atividades;

Aumentar o valor do produto através da consideração das necessidades do

cliente: No processo de produção existem dois tipos de clientes, o cliente

externo e o cliente da atividade posterior. Esse princípio consiste em criar um

processo gerador de valor que identifica e analisa as reais necessidades dos

clientes;

Reduzir a variabilidade: Existem diversos tipos de variabilidade (matéria

prima, processo de produção, demanda dos clientes). A variabilidade

aumenta o número de atividades que não agregam valor;

Reduzir o tempo do ciclo de produção: tempo de ciclo é definido como o

somatório do tempo de todas as atividades que englobam o processo de

produção (transporte, processamento, espera, inspeção). A redução no

tempo de determinadas atividades que não agregam valor como transporte e

espera (de material ou informação) possibilita a entrega mais rápida do

produto ao cliente;

Simplificar através da redução do número de passos ou partes: Um processo

produtivo com grande número de etapas terá maior tendência a possuir

atividades que não agregam valor. Os resultados podem ser obtidos a partir

da utilização de mão de obra polivalente.

Aumentar a flexibilidade na execução do produto: Incluir no processo a

possibilidade de alteração das características finais dos produtos ou serviços

atendendo os requisitos de diferentes clientes. A adoção de tecnologias

construtivas mais flexíveis e utilização de mão de obra polivalente são

alternativas válidas.

Aumentar a transparência do processo: A falta de transparência aumenta a

propensão a erros, reduz sua visibilidade e diminui a motivação por

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melhorias. Técnicas para a melhoria da transparência consistem em tornar o

processo visível por meio de sinalizações e a disponibilidade das informações

para todos e não somente a gerência.

Focar o controle em todo o processo: A utilização de um profissional

responsável por todo o processo e a utilização de equipes de funcionários

auto gerenciáveis possibilita o controle do processo de produção. Até os

processos mais complexos devem apresentar condições de serem medidos e

controlados;

Introduzir melhoria contínua no processo: A eliminação do desperdício e o

aumento de valor são atividades interativas e devem ser feitas

continuamente. A meta é atuar na causa dos problemas e não apenas nos

seus efeitos;

Manter um equilíbrio entre melhorias nos fluxos e nas conversões: As

melhorias nos fluxos são interligadas às melhorias nas conversões. Fluxos

mais eficientes requerem menos capacidade de conversão enquanto que

fluxos mais controlados tornam a implantação de novas tecnologias de

conversão mais fáceis e novas tecnologias de conversão podem gerar baixa

variabilidade, beneficiando os fluxos. É indicado o tratamento das melhorias

de fluxo antes da busca de melhorias nas atividades ligadas a conversão,

pois estas necessitam de menos investimentos;

Referenciais de ponta: Pesquisa de mercado com o objetivo de atingir

melhorias através do conhecimento das técnicas da concorrência. Conhecer

os líderes do mercado promovendo a análise de seus pontos fortes e fracos.

Atingir a superioridade combinando as boas práticas existentes com as

melhores práticas externas.

2.7.4 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO DA CONSTRUÇÃO ENXUTA

Andon: Segundo Valente (2011) o painel Andon pode ser fixado em uma sala técnica

em local bem visível, os interruptores de acionamento são instalados em todos os

pavimentos do empreendimento (Figura 2.3).

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Figura 2.3 - Aplicação do Andon na Construção Civil

Fonte: VALENTE (2011).

O LED verde indica que o operário iniciou a sua atividade no pavimento e a

está executando normalmente. O LED amarelo indica que o operário prevê uma parada na

atividade (falta de material ou ferramenta e imprevistos). O LED vermelho indica que a

produção foi completamente interrompida. Todos os alertas e paradas são registrados e

analisados com a finalidade de buscar a causa dos problemas e a melhoria contínua nos

processos de produção.

Planejamento do canteiro de obras: O planejamento do canteiro de obras tem como

objetivo obter uma melhor utilização do espaço físico disponível, possibilitando que homens

e máquinas trabalhem com maior segurança e eficiência através do planejamento do fluxo

de materiais e mão de obra.

A logística de canteiro deve ser preparada antes do início da obra, locais para

descargas, zonas de estocagem, zonas para pré-fabricação e facilidade de fluxo de

materiais, máquinas e pessoas devem ser previstas em projeto. Além do planejamento,

organização, direção e controle, tendo como principal suporte o fluxo de informações, antes

e durante o processo produtivo, são importantes para o processo de logística (SILVA;

CARDOSO, 1997).

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Portanto, o planejamento do canteiro desempenha importante papel na eficiência das

operações, cumprimentos de prazos, custos e qualidade da construção final.

Aplicação do 5S: Gonzalez (2009) apresenta um manual para aplicação da

ferramenta 5S em empresas da construção civil no canteiro de obras. O autor propõe a

utilização dessa ferramenta como um suporte para a implantação de sistemas da Qualidade

como ISO 9001 ou, mais especificamente, o Programa Brasileiro da Qualidade e

Produtividade do Habitat – PBPQP-H. Através da utilização do 5S, o autor apresenta os

possíveis resultados obtidos nos canteiro de obras:

Canteiro mais limpo e organizado;

Melhoria no ambiente de trabalho;

Redução do entulho e desperdício;

Melhoria da qualidade de vida dos operários;

Redução do custo da obra.

Kanban: A implantação do kanban na construção civil possibilita o fluxo de

informação através de cartões sinalizadores (Figura 2.4) que avisam a necessidade do

fornecimento de material em um determinado momento. O kanban não só possibilita a

redução dos estoques no canteiro, como também o processo de produção puxado.

Figura 2.4 – Cartões sinalizadores

Fonte: C.Rolim Engenharia LTDA.

Leite et al. (2004) apresentam um exemplo de kanban para a produção de

argamassa, que consta com as seguintes informações (Figura 2.5):

Quantidade de traço: cada traço equivale à mistura de argamassa que utiliza um

saco de cimento. Foram criadas fichas para 1 traço e ½ traço;

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Nome do tipo de argamassa: a etiqueta com o nome da argamassa fica localizada na

parte superior, por exemplo: reboco interno, assentamento de alvenaria, contrapiso etc.

Cada tipo de traço tem sua cor correspondente;

Etiqueta para o pavimento: cada cartão possui uma etiqueta para a colocação do

pavimento. Essa etiqueta pode ser substituída para a reutilização do cartão; e

Etiqueta para o horário: cada cartão possui uma etiqueta para a colocação do horário

do pedido e do seu atendimento. Essa etiqueta pode ser substituída para a reutilização do

cartão.

Figura 2.5 - Kanban de produção

Fonte: VALENTE (2011).

Segundo Lorenzon (2008), o kanban é utilizado na construção civil como uma forma

de reposição de material (Figura 2.5), uma maneira de sinalizar que material está pronto e,

portanto, pode ser retirado ou para informar da necessidade de início de sua produção,

sendo estas situações características de um sistema puxado.

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Figura 2.6 - Kanban do fornecedor

Fonte: VALENTE (2011).

Casarotto (2002) e Alves e Tommelein (2007) apresentam estudos que discutem a

importância do gerenciamento da cadeia de suprimentos da construção civil, e indicam,

dentre outros, o kanban como importante elemento de ligação entre as empresas.

2.7.5 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE ESTE CAPÍTULO

Nesse capítulo foi feita uma contextualização histórica do Sistema Toyota de

Produção no Japão e seu surgimento.

Também foi realizada a conceituação da Produção Enxuta e a vertente Construção

Enxuta, enfatizando os princípios apresentados por Koskela (1992) e exemplos de aplicação

na construção civil.

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3. ESTUDO DE CASO

Este capítulo apresenta o Estudo de Caso realizado em obras na região

metropolitana de São Paulo de duas grandes construtoras que atuam por todo o país. A

partir da documentação disponível (teses, dissertações e documentos fornecidos pelas

empresas), da análise das entrevistas realizadas e visitas realizadas nas obras será

apresentada uma descrição das empresas estudadas assim como uma análise da aplicação

dos princípios da construção enxuta.

3.1 ESTUDO DE CASO : EMPRESA A.

3.1.1 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA

A Empresa A começou suas operações na Bahia em 1944 após seu fundador

assumir o negócio deixado pelo pai, que acumulava dívidas. Sete décadas depois o

contexto mudou, a construtora cresceu e conta com 126 mil integrantes distribuídos em 35

países.

Além de contribuir para o desenvolvimento de diversas regiões, a construtora

diversificou sua atuação ao longo de sua trajetória, responsabilizando-se por mais de 1,8 mil

obras, entre: barragens, usinas térmicas, hidrelétricas, siderúrgicas, centrais nucleares,

petroquímicas, edificação de complexos turísticos e imobiliários, metrôs, rodovias, ferrovias,

pontes, portos, aeroportos.

Em um primeiro momento foi necessário fazer a seleção de uma obra para que o

estudo de caso fosse realizado. A obra do Estádio do Corinthians foi selecionada por ser

uma obra de grande visibilidade e com prazo para construção curto (por ser o palco da

abertura da Copa do Mundo de 2014 a ser realizada no Brasil), demandando que grandes

esforços de planejamento sejam realizados por parte da construtora.

As entrevistas foram realizadas conforme o protocolo de pesquisa determinado no

Apêndice A; os entrevistados foram engenheiros de produção e mestres de obras.

3.1.2 CARACTERIZAÇÃO DA OBRA

O Estádio do Corinthians, situado na zona leste da cidade de São Paulo, terá

capacidade para 48mil torcedores. Para sediar a abertura da Copa do Mundo de 2014, a

FIFA prevê 65 mil lugares, para que essa capacidade seja atingida serão adicionados 20 mil

assentos removíveis, ficando um total de 68 mil. Os assentos provisórios serão retirados

após o encerramento da Copa.

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Ficha Técnica:

Localização: Itaquera, bairro da zona leste de São Paulo (SP);

Modelo de Contrato: Contrato privado entre Corinthians e Empresa A;

Orçamento da obra: R$ 820 milhões de reais;

Início das Obras: 30 de maio de 2011;

Previsão para término: Dezembro de 2013;

Mão de obra: Predominantemente própria com a utilização de

subempreiteiros em atividades específicas.

O organograma da obra pode ser visualizado na figura a seguir:

Figura 3.1 – Hierarquia da obra do Estádio do Corinthians

Fonte: Documento fornecido pela Empresa A.

3.1.3 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS

Após as entrevistas, foi estabelecida a necessidade de visita à obra para que fosse

feita a observação direta estabelecida na metodologia. A observação direta possui algumas

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vantagens em relação à entrevista, pois trata dos acontecimentos em tempo real e não está

sujeita a reflexibilidade (o entrevistado dá ao entrevistador o que ele quer).

A Construtora oferece aos integrantes da obra uma área de vivência com amplo

espaço para lazer durante o horário de descanso (Figura 3.2).

Figura 3.2 – Área de lazer

Fonte: Do autor.

Essa área conta com cadeiras para descanso, televisão, mesas de bilhar e um

campo de futebol de grama sintética.

Por toda a obra, foi observada uma grande preocupação por parte da construtora

com a segurança dos operários, principalmente em relação aos caminhões e outros

equipamentos de transporte (Figura 3.3 e Figura 3.4).

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Figura 3.3 - Sinalização de segurança

Fonte: Do autor.

Figura 3.4 - Sinalização de segurança.

Fonte: Do autor.

Além da sinalização presente em toda a obra, a empresa reforça a questão da

segurança nas integrações realizadas todas as semanas, onde todos os funcionários

subcontratados, antes de começarem suas atividades, participam de uma integração com os

engenheiros da construtora com o objetivo de entenderem melhor características da obra e

diretrizes de segurança exigidas pela construtora.

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Outro evento presente no calendário de toda obra da construtora é a Semana Interna

de Prevenção de Acidentes do Trabalho (SIPAT), com uma programação que inclui

atividades e palestras sobre saúde, meio ambiente, prevenção de acidentes e trabalhos em

equipe. Durante o evento são programadas palestras e atividades como jogos educacionais

e peça teatral. Entre as palestras realizadas, são abordadas questões sobre movimentações

de carga, riscos da obra, riscos elétricos, cuidados com as mãos e trabalho em equipe.

Com a finalidade de evitar o desperdício de materiais, o armazenamento era feito de

forma correta e na maioria dos casos (quando necessário) sob a proteção de intempéries

(Figura 3.5).

Figura 3.5 - Armazenamento de blocos cerâmicos de vedação

Fonte: Do autor.

Pequenos estoques do material eram mantidos próximos aos locais de utilização (Figura

3.6).

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Figura 3.6 - Paletes de blocos cerâmicos aguardando sua utilização

Fonte: Do autor.

O canteiro de obras possuía uma equipe de engenharia própria com o objetivo de

compatibilizar os projetos (estrutura x instalações x arquitetura). Um dos resultados

esperados desse trabalho é a diminuição do retrabalho e de situações inesperadas. Porém,

apesar dos esforços dos engenheiros, algumas modificações por parte do projeto

arquitetônico resultaram em perdas. No caso ilustrado a seguir, o escritório responsável pelo

projeto arquitetônico resolveu retirar dois pilares de sustentação de uma viga de 1,5 metros

de altura; com a alteração, a viga será apoiado somente em duas paredes que compõem

dois núcleos rígidos. Devido a essas alterações o escritório estrutural solicitou o reforço na

armadura dessas paredes. (Figura 3.7 e Figura 3.8).

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Figura 3.7 - Viga

Fonte: Do autor.

Figura 3.8 - Quebra de concreto para reforço na armação

Fonte: Do autor.

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O setor de engenharia é também responsável pela adoção de práticas que indiquem

as reais necessidades do cliente final, essas práticas são elaboradas através de reuniões

constantes com este.

Na obra, foram observadas algumas características que possuem a finalidade de reduzir

o tempo de processo de produção, são elas:

Utilização de concreto pré-moldado: A utilização do concreto pré-moldado possibilita

a execução da obra em curto prazo, além de caracterizar uma baixa perda de

materiais;

Busca de novos métodos construtivos: Constante busca por novas tecnologias,

novos métodos e sistemas construtivos que viabilizem maior produtividade e menor

utilização de mão de obra. Exemplos: Utilização de emendas Trejor®1 na montagem

dos pilares (Figura 3.9 e Figura 3.10), traspasse com rosca2;

Planejamento do canteiro de obras: Com o objetivo de otimizar as perdas com

transporte, além das premissas iniciais, foi decidido a necessidade de implantação

de uma usina de concreto pré-moldado dentro do canteiro.

Figura 3.9 - Emenda Trejor® (Pilar)

Fonte: Do autor.

1 Metodologia construtiva aplicada na montagem de pilares pré-moldado que possibilida rápida execução em relação ao

método tradicional (utilização de chapa metálica).

2 Metodologia para emendar barras de aço, utilizada tanto em concreto moldado in-loco quanto em estrutoras pré-moldadas,

permite execução rápida e sem desperdício. Consiste em duas luvas com rosca interna ligadas por um pino de ligação com

rosca externa.

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Figura 3.10 – Pilares aguardando concretagem da emenda Trejor®

Fonte: Do autor.

Com o objetivo de reduzir a variabilidade, a empresa adota a utilização de

procedimentos padronizados criados pelas equipes de engenharia e de produção em

alinhamento com o setor de qualidade, sendo os mesmos aprovados pelas respectivas

gerências. As matérias primas são padronizadas através de controles de fornecimento e

recebimento pelo setor da qualidade. Todo fornecedor é devidamente inspecionado e

liberado pela qualidade antes de iniciar fornecimento para a obra, além de sofrer constantes

controles de acompanhamento devidamente estabelecidos por padrões da construtora e

normas técnicas.

A transparência dos processos produtivos é alcançada através de reuniões de

produção e TDT (treinamento diário de trabalho). Nessas ocasiões os engenheiros também

aproveitam para informar como está o andamento da obra.

O setor de engenharia é também responsável pelo planejamento, os engenheiros

responsáveis conversam constantemente com a produção para formalizar o planejamento

da obra semanal, mensal e bimestral. Junto com o planejamento, executa-se o

acompanhamento do previsto x realizado mês a mês. O setor de engenharia também dispõe

de um profissional com a responsabilidade de fazer o acompanhamento fotográfico da obra

(Figura 3.11).

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Figura 3.11 – Registro de situação

Fonte: Do autor.

Atividades que envolvam mão de obra especializada apresentam sinalizações ao

lado dos equipamentos ilustrando a correta utilização dos mesmos, tais como: máquina de

corte e dobra de aço, máquina de serra circular na central de carpintaria, máquina de

confecção de rosca em barras de aço.

Todos os serviços executados na obra possuem sequência construtiva devidamente

liberada pelo setor de qualidade, porém não foram constatadas na obra quais práticas são

utilizadas para análise das reais necessidades do processo seguinte. Podemos visualizar

nas figuras seguintes, trabalhadores ociosos (Figura 3.12 e Figura 3.13).

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Figura 3.12 - Mão de obra ociosa

Fonte: Do autor.

Figura 3.13 - Mão de obra ociosa

Fonte: Do autor.

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A resolução dos problemas é focada nas causas, a fim de mitigar futuros erros

através dos entendimentos de porque determinada atividade foi executada de maneira

equivocada e como o processo deverá ser executado de forma que futuramente não

apresente mais problemas.

O benchmark (referenciais de ponta) é feito através de outras obras da Organização

(existem comunidades internas onde é possível conversar com outros profissionais) e do

mercado em geral, os engenheiros estão sempre abertos para novas tecnologias trazidas

por fornecedores.

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3.2 ESTUDO DE CASO : EMPRESA B.

3.2.1 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA

Grande empresa brasileira de capital aberto que atua nos mercados de construção e

incorporação. Com mais de 55 anos de mercado e mil empreendimentos entregues

totalizando aproximadamente 12 milhões de m2 construídos, a empresa atua com foco no

mercado residencial. Atualmente a construtora está presente em mais de 40 cidades em 18

estados.

Em um primeiro momento foi necessário fazer a seleção de uma obra para que o

estudo de caso fosse realizado. O empreendimento foi escolhido pelo fato de representar o

padrão de obra realizado pela construtora (edifício residencial de alto padrão).

As entrevistas foram realizadas conforme o protocolo de pesquisa determinado no

Apêndice A, os entrevistados foram engenheiros de produção, mestres de obras e

estagiários.

3.2.2 CARACTERIZAÇÃO DA OBRA

Empreendimento localizado em área de padrão médio-alto na cidade de Santo

André, conta com uma estrutura completa, apartamentos de três e quatro dormitórios, área

de lazer com academia, brinquedoteca, salão de jogos, churrasqueira, piscina e quadra

poliesportiva.

Ficha Técnica:

Localização: Zona oeste de Santo André (SP);

Empreendimento: Apartamento residencial com apartamentos de três e

quatro dormitórios e varanda gourmet. Duas torres com 128 unidades

incluindo duplex nos andares superiores;

Mão de obra: Predominantemente terceirizada com a utilização de mão de

obra própria apenas nas atividades de instalações elétricas e hidráulicas. 80

operários em turno integral.

O organograma da obra pode ser visualizado na figura a seguir:

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Figura 3.14 - Hierarquia da Obra

Fonte: Do autor.

3.2.3 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS

Após as entrevistas, foi estabelecida a necessidade de visita à obra para que fosse

feita a observação direta estabelecida na metodologia. A observação direta possui algumas

vantagens em relação à entrevista, pois trata dos acontecimentos em tempo real e não está

sujeita à reflexibilidade (o entrevistado da ao entrevistador o que ele quer).

Na obra em geral foi identificada a ausência de placas de sinalização, tanto

referentes à segurança (apenas uma focando no efeito ao invés da causa, Figura 3.15),

quanto ao modo de operar determinados equipamentos ou processos de produção.

Figura 3.15 – Sinalização sobre primeiros socorros

Fonte: Do autor.

De acordo com alguns operários, o guarda-corpo (Figura 3.16) foi instalado apenas

na semana da visita, apesar da obra estar em estágio avançado. Na obra, apenas um

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técnico era responsável pelas medidas de segurança, esse técnico era responsável também

por outras obras da construtora.

Figura 3.16 – Guarda-corpo

Fonte: Do autor.

Com a finalidade de evitar o desperdício de materiais, o armazenamento era feito de

forma correta e na maioria dos casos (quando necessário) sob a proteção de intempéries

(Figura 3.17).

Figura 3.17 – Estoque de material cerâmico

Fonte: Do autor.

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Pequenos estoques do material eram mantidos próximos aos locais de utilização

(Figura 3.18).

Figura 3.18 - Blocos de concreto aguardando sua utilização

Fonte: Do autor.

Apesar de o estoque ser feito de forma adequada, foi observado um grande

desperdício de material por toda a obra (Figura 3.19). Na data da visita, nenhum engenheiro

se encontrava na obra, apenas estagiários e mestre de obras.

Figura 3.19 – Desperdício de material

Fonte: Do autor.

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Figura 3.20 – Desperdício de material

Fonte: Do autor.

A construtora conta com um departamento específico com o objetivo de buscar

tecnologias que reduzem o ciclo de execução de seus empreendimentos. Como resultado,

uma das práticas adotada na obra é a utilização de paredes internas em drywall (Figura

3.21) que possui as seguintes vantagens:

A produção, por ser feita em escala industrial, e a instalação (feita a seco),

permite a redução de desperdícios com menor acúmulo de entulho;

Alta velocidade de execução;

Bom acabamento;

Sistema adaptável a qualquer sistema construtivo;

Redução da espessura (ganho de área nos ambientes e redução da carga

aplicada sobre a estrutura);

Possibilidade de reparo sem destruir grande parcela da parede (Figura 3.22);

Possibilita a personalização dos ambientes pelos proprietários.

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Figura 3.21 – Paredes internas em Drywall (acabado)

Fonte: Do autor.

Figura 3.22 – Shaft em drywall

Fonte: Do autor.

Apesar do uso do drywall indicar pouco desperdício, foi notado um grande número de

reclamações referente a essa questão na utilização desse sistema de vedação.

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A empresa conta com um sistema de indicadores de desempenho que monitora as

principais atividades de produção. O monitoramento de algumas das principais atividades de

obra possibilita à construtora a comparação de indicadores para controle de desempenho,

produtividade, distribuição de mão de obra e consumo de materiais. Desse modo, a

empresa consegue controlar os processos e verificar a diferença entre o que foi previsto e o

que efetivamente aconteceu, assim como os efeitos das ações de melhoria que implanta.

Alguns aspectos construtivos monitorados pela empresa são listados a seguir:

Espessura média de gesso;

Efetivo de instalações gerais e em laje;

Consumo de água e energia;

Estanqueidade;

Volume de entulho;

Ciclo de concretagem;

Perda de concreto;

Contrapiso.

O acompanhamento dessas atividades e da quantidade de entulho permite à

construtora criar metas de redução do desperdício.

Através das entrevistas foi notado um grande número de reclamação pelos operários

das empresas subcontratadas em relação às atividades anteriores, não existe nenhum

processo com a finalidade de identificar as reais necessidades do processo seguinte,

caracterizando um processo de produção predominantemente empurrado. Também foi

identificada uma baixa satisfação da construtora relativa a essas empresas (Figura 3.23); foi

observado um grande número de reclamações referentes à empresa responsável pela

cremalheira, que por apresentar defeitos constantes prejudica o fluxo de transporte vertical

dos materiais, atrapalhando o cronograma da obra. Tal situação se deve ao fato de não

existir uma integração entre a construtora e as subcontratadas e entre estas. O único

procedimento efetuado pela construtora com a finalidade de homologar as subempreiteiras e

fornecedores de materiais é a visita das obras realizadas anteriormente.

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Figura 3.23 - Quadro de avaliação de empresas

Fonte: Do autor.

As empresas são avaliadas pelos engenheiros, que enviam relatórios para a

gerência da construtora, gerando o quadro mostrado na Figura 3.23 - Quadro de avaliação

de empresas

As figuras a seguir, ilustram problemas relativos à falta de detalhamento do projeto

arquitetônico e estrutural, (Figura 3.24), e de execução (Figura 3.25).

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Figura 3.24 – Nível da sacada superior ao nível da sala

Fonte: Do autor.

Os projetos indicavam a laje da sacada no mesmo nível da laje da sala, o erro foi

repetido em todos os pavimentos e o caimento corrigido no contrapiso, resultando em uma

cota mais alta na sacada em relação ao cômodo interno.

Figura 3.25 – Armadura exposta e viga fora de prumo

Fonte: Do autor.

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Com o objetivo de reduzir a variabilidade, a empresa adota a utilização de

procedimentos padronizados criados pelas equipes de engenharia e de produção

(instruções técnicas). As matérias primas são padronizadas através de controles de

fornecimento e recebimento pelo setor da qualidade.

3.2.4 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS

Na Empresa A, foi constatada a aplicação de 7 princípios. Dentre as boas práticas

podemos citar:

Estoque adequado de material: redução do desperdício;

Reuniões constantes com o cliente final;

Setor de qualidade presente, procedimentos de produção e matéria-prima

padronizados;

Utilização de técnicas e tecnologias com o objetivo de reduzir o ciclo de

produção: células de produção, utilização de concreto pré-moldado com usina

no canteiro, utilização da emenda Trejor® nos pilares pré-moldados,

planejamento do canteiro de obras (Ver Anexo A).

A transparência no processo de produção é alcançada com a utilização de

sinalização de processos de produção, integração com as equipes

subempreiteiras, Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho e

Treinamento Diário de Trabalho;

Foco no controle do processo pelo acompanhamento do andamento da obra

através da equipe de planejamento;

Busca de novas tecnologias no mercado de trabalho;

Apesar das boas práticas apontadas, foi concluído que as ferramentas da

Construção Enxuta são negligenciadas pela Empresa A. Ferramentas importantes como

Andon, Kanban, Método 5S e Mapeamento do Fluxo de Valor não foram identificadas.

Na Empresa B, 11 princípios da Construção Enxuta, 5 são levados em consideração

através de boas práticas adotadas pela construtora. Dentre elas:

Estoque adequado de material: redução do desperdício;

Foco no controle do processo pelo acompanhamento do andamento da obra

através do monitoramento de indicadores de desempenho;

Procedimentos de produção e matéria prima padronizados;

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Departamento específico com o objetivo de reduzir o tempo de produção e

monitorar a produtividade;

Assim como a Empresa A, a Empresa B também negligencia a utilização de

ferramentas importantes da Construção Enxuta.

Em ambas as construtoras foi observado retrabalho devido a alterações no projeto

e/ou projeto mal detalhado, assim como não foi identificada nenhuma prática utilizada para

identificar as reais necessidades dos processos seguintes; além disso foi encontrado grande

quantidade de trabalhadores ociosos, apesar de relatarem o contrário nas entrevistas. A

falta de preocupação com os processos seguintes caracterizam um modelo de produção

empurrado por parte das empresas, as construtoras desconhecem o kanban, ferramenta

imprescindível para a aplicação do just-in-time, característica crucial em um processo de

produção puxado com foco na redução de desperdícios.

Na empresa B, foi encontrado grande quantidade de entulho. Além desses dois

fatores, a empresa B apresentou constantes reclamações do processo anterior pelos

trabalhadores, deficiência na sinalização tanto na questão da segurança como transparência

das atividades, mão de obra pouco qualificada, e nenhuma prática com a finalidade de

esclarecer os processos.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a crescente competitividade na construção civil, as empresas do setor

começaram a buscar um novo paradigma de gerenciamento da produção para reduzir os

desperdícios e aumentar a produtividade e qualidade do produto final. Nesse cenário, a

Construção Enxuta é um modelo de produção que se destaca por considerar a redução ou

eliminação das atividades que não agregam valor, como resultado, embora a Construção

Enxuta não exista oficialmente nas empresas selecionadas, o que explica a não utilização

das ferramentas da Construção Enxuta e o modelo de produção empurrado, nos Estudos de

Caso realizados percebemos que na prática sua aplicação ocorre, mesmo que parcialmente.

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, D.E.S. Pensamento Enxuto: Mapeamento do Valor Agregado como ferramenta de apoio na tomada de decisões em uma indústria de pneus. São Paulo: Universidade Anhembi Morumbi/Departamento de Engenharia de Produção, 2009. 50p. Trabalho de Conclusão de Curso. CAMPOS, V.F. TQC: Controle da Qualidade Total (no Estilo Japonês). 2ª. ed. Belo Horizonte: Fundação Christiano Ottoni, 1992. (Rio de Janeiro; Bloch Ed.). CASAROTTO, R. M. Redes de empresas na indústria da construção civil: definição de funções e atividades de cooperação. 2002. 220f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina, 2002. CONTE, A.S.I. Lean construction: from theory to practice. Proceedings... IGLC-10, Gramado, Brasil. 2002. FONTANINI, P.S.P.; PICCHI, F. A. Mentalidade enxuta na cadeia de fornecedores da construção civil: aplicação de macro-mapeamento. Simpósio Brasileiro de Gestão da Qualidade e Organização do trabalho no Ambiente Construído – SIBRAGEC, São Carlos. São Carlos, 2003. FORMOSO, C. T. Lean Construction: Princípios Básicos e Exemplos. Apostila, UFRGS, 2002. GONZALES, E. F. Aplicando 5S na Construção Civil – Senso de utilidade, organização, limpeza, segurança e autodisciplina. Florianópolis: Editora da UFSC, 2009. KOSKELA, L. An Exploration Towards a Production Theory and its Application to Construction. Espoo: VTT Building Technology, VTT Publications, 2000. KOSKELA, L. Lean production in construction. In: Lean Construction. Alarcon L. (Ed.) Rotterdam: A. A. Balkema, 1997. LEXICO LEAN Glossário Ilustrado para praticantes do pensamento lean. São Paulo: Lean Institute Brasil, 2003.

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Disponível em: <http://ww.leanconstruction.org/pdf/Howell.pdf>. Acesso em: 28 março 2012. KEMMER, S. L. et al. O uso do andon no ambiente da construção civil: estudo de caso baseado na experiência de uma construtora cearense. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE GESTÃO ECONOMIA DA CONSTRUÇÃO - SIBRAGEC, 2007, São Paulo. Anais... Disponível em: < http://www.ceset.unicamp.br/node/10375>. Acesso em: 28 março 2012. SANTOS, A. Por onde iniciar na implementação das modernas práticas de engenharia de produção na construção? In: ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA NO AMBIENTE CONSTRUÍDO BRASIL, 9, 2002, Foz do Iguaçu, Paraná, p. 1525-1534. Texto Técnico.

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7. APÊNDICE A– Roteiro da pesquisa

Devem ser entrevistadas as seguintes pessoas:

Engenheiro de Produção;

Mestre de Obras;

Estagiários.

Sempre que possível, é recomendável entrevistar as pessoas de forma separada

para que não ocorra nenhum tipo de influência e inibição entre elas. Será solicitada a

permissão para gravar as entrevistas e anotações serão efetuadas. Após a entrevista

deverá ser solicitado a elaboração de material fotográfico em campo. Durante a visita a

obra, ficar atento para os fatos relacionados ao objetivo deste trabalho. As entrevistas terão

duração entre 30 e 45 minutos. Os materiais utilizados na entrevista serão:

Roteiro de entrevista;

Papéis para anotações;

Gravador digital e máquina fotográfica.

Tópicos a serem abordados com os engenheiros de produção:

Caracterização da empresa:

1. Estrutura Hierárquica (Fluxograma);

2. Números de operários (turnos);

3. Mão de obra própria ou terceirizada.

Aplicação dos princípios da Construção Enxuta:

Reduzir a parcela de atividades que não agregam valor:

1. Quais as práticas adotadas com a finalidade de reduzir as atividades que não

agregam valor? (Exemplos de atividades que não agregam valor: transporte,

retrabalho, produção de itens desnecessários, superprodução, grupo de

pessoas aguardando uma etapa anterior terminar, etc.).

2. Existe projeto de canteiro de obra?

Aumentar o valor do produto através da consideração das necessidades do cliente:

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3. Existe algum procedimento que identifique as reais necessidades do

processo seguinte (etapa posterior de alguma atividade)?

4. Quais as práticas adotadas para análise das reais necessidades dos clientes

(clientes podem ser o cliente final ou uma etapa posterior de alguma

atividade)?

5. No caso de mão de obra terceirizada, os empreiteiros costumam reclamar

sobre etapas anteriores?

Reduzir a variabilidade:

6. Os processos de produção são padronizados?

7. As matérias-primas são padronizadas?

Reduzir o tempo do ciclo de produção:

8. Quais práticas são adotadas com a finalidade de reduzir o processo de

produção? (transporte, processamento, espera, inspeção).

Simplificar através da redução do número de passos ou partes;

9. É costume a utilização de mão de obra polivalente (um trabalhador realizar

vários tipos de tarefas)?

Aumentar a transparência do processo:

10. As informações são passadas aos trabalhadores ou estão presas somente ao

nível da gerência? Como isso é feito?

11. Existe na obra sinalizações (placas) de como alguma atividade específica

deve ser realizada?

Focar o controle em todo o processo:

12. Como é feito o planejamento da obra? Quem confere o seu andamento?

Introduzir melhoria contínua no processo:

13. A resolução dos problemas é focada nos seus efeitos ou nas suas causas?

Como?

Referenciais de ponta:

14. Existe alguma pesquisa de mercado com o objetivo de atingir melhorias

através do conhecimento das técnicas da concorrência?

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15. Aonde são buscadas inovações técnicas?