67
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL Uso de águas residuais e pluviais em edificações de âmbito industrial: Estudo de caso de uma empresa de pré-fabricados Trabalho apresentado ao departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de São Carlos como requisito para obtenção do grau de Engenheiro Civil. Filipe de Lima Rocha Orientador: Prof. Dr. Douglas Barreto São Carlos Março de 2011

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

  • Upload
    lykiet

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

Uso de águas residuais e pluviais em edificações de âmbito industrial:

Estudo de caso de uma empresa de pré-fabricados

Trabalho apresentado ao departamento de

Engenharia Civil da Universidade Federal de

São Carlos como requisito para obtenção do

grau de Engenheiro Civil.

Filipe de Lima Rocha

Orientador: Prof. Dr. Douglas Barreto

São Carlos

Março de 2011

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

1

Agradecimentos

Agradeço primeiramente a minha família pelo seu apoio incondicional durante a minha

formação acadêmica.

Aos meus amigos Alexandre Hideki, Carolina Arruda, Carolina Nanya, Victor Mascarenhas,

Tiago Pomponet e Kleydson Stênio agradeço pela sua companhia e conselho em horas de

descontração bem como a todos os meus outros amigos que se interessaram por meu

trabalho e tiveram a curiosidade de discutir comigo os temas aqui apresentados.

Meus mais sinceros agradecimentos as pessoas que colaboraram com os dados que utilizei

nessa pesquisa, especialmente ao engenheiro Alfonso Petrozziello Junior por sua paciência

em me ceder os dados relativos à fábrica da empresa Lajes Anhanguera, ao meu orientador

Douglas Barreto por me instruir na maneira como esse trabalho deveria ser realizado e

também a todos os professores da banca que se dispuseram a ler meu trabalho e a me

avaliar de maneira sincera.

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

2

Resumo

A obtenção de insumos através de formas alternativas se tornou uma das diretivas atuais de

crescimento da humanidade, que busca reduzir os impactos de sua atividade reduzindo o

desperdício e tentando melhorar a eficiência de seus processos industriais. Dentro dessa

dinâmica o presente trabalho realiza uma investigação da viabilidade técnica e econômica do

aproveitamento da água pluvial aplicada ao setor da indústria da construção civil,

especificamente na produção de estruturas pré-moldadas de concreto.

A situação atual de insuficiência hídrica regional vivida pelo Brasil criou um entorpecimento

na busca de políticas de controle do desperdício de água, um dos recursos mais essenciais

para o desenvolvimento de uma sociedade. Esse atraso tecnológico cobra seu preço: o uso de

água pluvial é um investimento viável conforme será discutido nesse trabalho e se mais

empresas adotassem essas medidas seria possível economizar mais recursos e

conseqüentemente reinvesti-los na melhoria de outros setores, gerando uma sinergia de

melhoria continua de processos.

Esse trabalho foi realizado seguindo a metodologia criada pela Federação de Indústrias do

Estado de São Paulo em seu manual de Conservação e Reuso de Água, com algumas

modificações relativas ao objeto de estudo. A idéia ao estudar o empreendimento Lajes

Anhanguera foi o de adotar um Programa de Conservação e Reuso de Água (PCRA) e a partir

dele obter respostas quanto a praticidade de adoção desse tipo de políticas de reuso.

Através da análise de planilhas de produção foi possível obter as quantidades de água que

poderiam ser economizadas e qual é o valor dessa economia dentro do cenário atual vivido

pela empresa. A série de economias originadas em 10 anos pagaria o investimento gerando

uma Taxa Interna de Retorno de 2,83 %.

Com o auxílio de dados coletados durante o ano de 2004 pode-se comprovar a viabilidade

técnica do uso de água pluvial em Jundiaí em relação aos parâmetros estabelecidos pela

norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas.

Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

3

Abstract

Obtaining supplies through alternative ways have become one of the current growth policies

of the humanity, which tries to reduce the impacts of its activity reducing its wastefulness as

well as trying to improve the efficiency of its industrial process. Inside of this dynamics the

present work carries through an inquiry about the technical and economical viability of the

adoption of reuse of rainwater applied to the civil construction sector, especially on the

production of precast concrete structures.

The current situation of regional water insufficiency experienced by Brazil has created a

numb stance in a search for politics of control of water waste, one of the most vital resources

for society development. This technological gap takes its toll: the use of rainwater is a viable

investment as will be argued in this work and if more companies would adopt this kind of

measure it would be possible to save more resources and consequently reinvest them in the

improvement of other sectors, generating a synergy of constant process improvement.

This work was developed following the methodology created by the Industrial Federacy of

São Paulo in its manual of Reuse and Conservation of water, with a few modifications relative

to the object of study. The idea when studying the Lajes Anhanguera Company was to adopt

the program of Conservation and Reuse of Water (PCRA) and from it to get answers about

the impact of the adoption of this reuse measures.

By analysis of some spreadsheets it‟s possible to obtain the amount of water that can be saved

and how much is the value of the economy inside the enterprise actual scenario. The series of

economies originated in 10 years of reinvestment could pay the initial costs generating an

Internal Return Rate of 2,83 %.

With the help of some data collected during the year of 2004 it‟s possible to prove the

technical viability of the rainwater use in Jundiaí in comparison with the parameters

established by the ABNT NBR 15527/2007 standard with a few reservations.

Keywords: Water reuse, Rainwater, Dimensioning of reservoirs

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

4

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Volume Total de água no mundo – Fonte: Shiklomanov (1998) citado por May

(2004) ....................................................................................................................................... 14

Figura 2 - Exemplo de utilização de água de reuso no derretimento de neve – Fonte: Asano

(1996) ....................................................................................................................................... 16

Figura 3 - Comparação entre os diferentes destinos dados a água de reuso tratada na

Califórnia e no Japão – Adaptado de Asano (2004) ................................................................. 16

Figura 4 - Desenho esquemático do sistema de coleta de água pluvial - Fonte: Valle (2005).

.................................................................................................................................................. 18

Figura 5 - Detalhamento das diferentes etapas a serem consideradas antes da implantação de

técnicas de reuso de água em ambiente industrial. ................................................................... 20

Figura 6 - Quadro ilustrando a mudança de mentalidade empresarial nas últimas décadas -

Fonte: Silva Filho (2003) .......................................................................................................... 21

Figura 7 - Exemplo de aplicação da laje painel treliçado - Fonte: www.anhanguera.com.br .. 23

Figura 8 - Exemplo de aplicação do painel duplo como muro de contenção - Fonte:

www.anhanguera.com.br .......................................................................................................... 23

Figura 9 – Exemplo de aplicação das vigotas treliçadas - Fonte: www.anhanguera.com.br ... 24

Figura 10 – Localização da fábrica da empresa Lajes Anhanguera– Fonte:

www.anhanguera.com.br .......................................................................................................... 24

Figura 11 – Sede da empresa Lajes Anhanguera - Fonte: www.anhanguera.com.br ............... 25

Figura 12 - Layout da unidade de fabricação de peças de concreto pré-moldado – Desenho

obtido junto ao proprietário da fábrica (2011). ........................................................................ 30

Figura 13 - Etapas de produção e o aporte de água nas diferentes atividades. ......................... 33

Figura 14 - Detalhe da mini usina de concreto responsável pela produção da matéria prima

usada nos painéis - Fonte: acervo do autor. .............................................................................. 34

Figura 15 - Detalhe da jerica usada para espalhar o concreto sobre as fôrmas - Fonte: acervo

do autor. .................................................................................................................................... 34

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

5

Figura 16 - Colocação e posicionamento das treliças nos painéis recém concretados - Fonte:

acervo do autor ......................................................................................................................... 35

Figura 17 - Detalhe ao fundo da foto das peças sendo secadas na sombra - Fonte: acervo do

autor. ......................................................................................................................................... 36

Figura 18 - Doca de carregamento de material - Fonte: acervo do autor. ................................ 37

Figura 19 - Macro-fluxo de água na Fábrica. ........................................................................... 38

Figura 20 - Principais consumos de água na fábrica. ............................................................... 40

Figura 21 - Origem da água segundo os principais consumos. ................................................ 40

Figura 22 - Consumo diário de água em m³/dia. ...................................................................... 42

Figura 23 - Gráfico comparativo do uso de água versus o período. ......................................... 47

Figura 24- Consumo Total X Consumo Registrado. ................................................................ 49

Figura 25 – Tipo de reservatório a ser utilizado no empreendimento estudado - Fonte: Agretal.

.................................................................................................................................................. 55

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

6

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Número médio de funcionários. .............................................................................. 42

Tabela 2 - Dados da qualidade de água de abastecimento público - Fonte: adaptado de DAE

Jundiaí. ...................................................................................................................................... 43

Tabela 3 – Dados adaptados obtidos por May (2004) após diversas análises de água pluvial

para a cidade de São Paulo - Fonte: adaptado de FIESP (2004) .............................................. 44

Tabela 4 – Tabela comparativa de valores obtidos por May (2004) com os mínimos

necessários para a produção de concreto armado da NM 137/97. ............................................ 45

Tabela 5 - Consumo de água para o período de estudo. ........................................................... 47

Tabela 6 - Quantidade de água x Quantidade produzida de concreto durante o período de

estudo. ....................................................................................................................................... 48

Tabela 7 - Parcela de participação no consumo mensal de cada atividade desenvolvida. ....... 50

Tabela 8 - Dados relativos ao uso de água de origem subterrânea. .......................................... 51

Tabela 9 - Precipitação mês a mês no município de Jundiaí (1997 a 2011) - Fonte: DAE

Jundiaí. ...................................................................................................................................... 52

Tabela 10 - Dimensionamento do Reservatório de água pelo método de Rippl. ..................... 54

Tabela 11 - Dados do consumo de água e os preços praticados pelo DAE, com ênfase na

economia possível. ................................................................................................................... 56

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

7

Sumario

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 9

2. OBJETIVOS .................................................................................................................... 11

3. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 12

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................ 14

4.1 A Água no mundo ...............................................................................................................14

4.2 Histórico das técnicas de reuso de água ............................................................................15

4.3 Benefícios do aproveitamento de águas pluviais e servidas ............................................17

4.4 A Água pluvial .....................................................................................................................18

4.5 Relação Custo-Benefício .....................................................................................................21

4.6 O objeto de estudo: A empresa Lajes Anhanguera .........................................................22

4.7 Qualidade da Água x Qualidade do Concreto ..................................................................25

4.8 Dimensionamento de Reservatórios ..................................................................................26

5. MÉTODO ......................................................................................................................... 28

6. PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO E REUSO DE ÁGUA - PCRA ............................ 31

6.1 Avaliação Técnica Preliminar ............................................................................................32

6.1.1 Etapas da produção ........................................................................................................................ 32

6.1.2 Macro-fluxo de água ...................................................................................................................... 37

6.1.3 Micro-fluxo de água ...................................................................................................................... 39

6.2 Avaliação da demanda de Água ........................................................................................41

6.2.1 Perdas Físicas ................................................................................................................................ 41

6.2.2 Adequação de processos: ............................................................................................................... 41

6.2.3 Adequação de Equipamentos e Componentes ............................................................................... 42

6.2.4 Avaliação da qualidade da Água ................................................................................................... 43

6.3 Avaliação da Oferta de Água .............................................................................................46

6.3.1 Água da rede pública ..................................................................................................................... 46

6.3.2 Água Subterrânea .......................................................................................................................... 50

6.3.3 Águas Pluviais ............................................................................................................................... 51

6.4 Estudo de Viabilidade técnica e econômica ......................................................................55

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

8

6.5 Implantação do sistema de aproveitamento de água pluvial ..........................................57

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 59

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 61

9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .................................................................................. 64

10. ANEXO A – Orçamento Agretal ................................................................................. 66

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

9

1. INTRODUÇÃO

Um dos maiores desafios que a humanidade vem enfrentando nos últimos anos está na

solução de uma delicada equação, onde a cada ano que passa os recursos disponíveis são mais

escassos para o seu desenvolvimento, porém, maiores são as suas necessidades, portanto é

possível observar que com o passar do tempo a escassez desses materiais se tornará uma

questão cada vez mais preocupante, isso levando em conta apenas o aumento populacional

que vem ocorrendo nas últimas décadas. Outro fator preocupante que se deve levar em conta

consiste na perda de parte desses recursos por mau uso (desperdício) ou pela pura e simples

degradação dos mesmos.

Da grande matriz de insumos utilizados pela população de um país nenhum é mais crítico do

que a água. É sabido que o corpo humano consegue ficar sem se alimentar durante alguns

dias, porém segundo Bryant (S/ Data) mais do que dois dias sem a ingestão de qualquer

quantidade de água podem ser simplesmente mortais. Se a análise for aprofundada é fácil

concluir que seria impossível desenvolver atividades industriais sem o uso de recursos

hídricos, alimentos não poderiam ser produzidos ou cultivados, enfim a viabilidade de

qualquer atividade humana consiste essencialmente na presença e na abundância ou não de

água.

Levando em conta tais fatores a humanidade se viu colocada em xeque pela necessidade de

enfrentar o problema de maneira mais realista. Nos últimos anos, especialmente no Brasil,

ouve um crescimento em abordagens ligadas ao “Desenvolvimento Sustentável” e a adoção

de políticas de “utilização de recursos renováveis”, a criação do manual de Conservação e

Reúso de Água pela FIESP refletem essa mudança. Dentro dessa nova dinâmica em que se

torna interessante para a sociedade diminuir os desperdícios e maximizar a obtenção dos

recursos necessários para o seu desenvolvimento, esse trabalho se propõe a mostrar uma das

muitas alternativas de adoção de sistemas de Sustentabilidade dentro de um dos setores

industriais que trabalha com o maior desperdício de matéria prima devido a incongruências de

projeto e baixa especialização da mão de obra, o setor da Construção Civil.

Uma das fontes de recursos hídricos mais importantes dentro do ciclo hidrológico, mas

também caracterizado pela sua sazonalidade, é a água pluvial. Sua coleta, tratamento e

armazenamento podem ser um fator decisivo dentro da busca por fontes de baixo

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

10

custo/impacto e que podem ser adotadas em usos que requerem menor qualidade final do

produto.

Este trabalho é baseado no estudo de caso de uma empresa de peças de concreto pré-

fabricadas e pretende demonstrar que a adoção de medidas simples podem gerar o uso mais

racional de água potável criando um sistema sustentável e com qualidade boa o suficiente

para a confecção de peças de concreto, lavagem de equipamentos e realização de outros

serviços que dispensam o uso de água com padrões de potabilidade.

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

11

2. OBJETIVOS

O objetivo principal deste trabalho é o de determinar a viabilidade técnica da implementação

da captação e utilização, dentro do ciclo produtivo, da água pluvial. Como objetivo

secundário este trabalho se propõe a definir a quantidade efetiva de água pluvial que pode ser

incorporada ao processo e a qualidade mínima necessária para a sua utilização nas diferentes

etapas do processo produtivo de peças de concreto, bem como sua viabilidade

técnica/econômica.

A viabilidade técnica na adoção de água pluvial em âmbito industrial depende dos seguintes

fatores:

1 – Avaliação da quantidade de chuva que pode ser captada;

2 – Análise da qualidade da água captada e os métodos que serão usados para seu tratamento

se necessário;

3 – Determinação do tipo de material produzido na unidade fabril e os materiais utilizados;

4 – Caracterização do processo produtivo utilizado.

Tais fatores precisam ser analisados tomando como base um objeto de estudo, que neste caso

será a fábrica de peças de concreto pré-moldado sob a administração da empresa Lajes

Anhanguera.

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

12

3. JUSTIFICATIVA

Já é de senso comum que a água é um recurso de abundância limitada, especialmente se a

análise ocorrer sob o prisma de crescimento populacional e aumento da qualidade de vida

implicados pelos avanços da medicina (que se tornaram mais acessíveis a população em geral)

e também graças às medidas tomadas pelo poder público para disponibilizar saneamento

básico para o maior número possível de pessoas. No Brasil tem-se a falsa impressão de que a

disponibilidade de água é ilimitada, o que acarreta um grave problema de desperdício

agravado ainda pela má distribuição destes recursos dentro do território nacional, onde na

região Norte tem-se abundância, porém abrigando apenas uma pequena parcela da população,

em contraste com o Sudeste onde a maioria da população se concentra, mas que possui

problemas de captação e disponibilização de água para a população (em sua grande parte

vivendo em ambiente urbano). Dentro deste cenário, a exploração de métodos alternativos

para obtenção de recursos hídricos passou a ser um tema de importância muito relevante.

Segundo Silva Filho e Sicsu (2003) o aumento das exigências sobre os setores industriais,

acarretou numa mudança do perfil do consumidor que hoje além de necessitar de produtos de

qualidade exigem que as empresas produtoras pratiquem responsabilidades sócio-ambientais.

A Federação das Indústrias do estado de São Paulo (FIESP) preocupado com a crescente

necessidade de gerenciamento desses recursos lançou em 2004 o Manual de Conservação e

Reúso de água para a indústria, visando orientar empresários sobre as técnicas que podem ser

usadas para a reciclagem de água dentro da produção de forma a diminuir o gasto de água

tratada para fins que muitas vezes não necessitem de padrão de potabilidade (padrão esse que

é praticado pelas empresas responsáveis pelo Abastecimento Público). Em âmbito

internacional o assunto é tratado com mais seriedade ainda, sendo que em Israel a preservação

e gerenciamento de recursos hídricos é política nacional desde 1955 (Federação e Centro de

Indústrias do Estado de São Paulo, 2004). Segundo Asano et al (2011) a utilização de

estruturas de grande área para a coleta e tratamento de água de reuso no Japão tem ocorrido

desde 1964, sendo que o primeiro passo para a implantação desta política foi a identificação

das atividades industriais que não necessitam usar água altamente tratada para desenvolver

suas atividades.

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

13

Em alguns setores industriais o reuso de água e a implantação do uso de água pluvial na

produção já foi estudado (FIESP 2004) e se mostra bem efetivo, porém pouco se estudou

sobre o uso dessas fontes dentro de empresas de construção, especialmente as que produzem

peças de concreto pré-fabricado. A água faz parte do ciclo básico de produção de peças de

concreto (água de amassamento, cura, limpeza de equipamentos, etc...), portanto,

caracterizando corretamente as atividades a serem produzidas é possível determinar em quais

etapas será possível usar água pluvial coletada e tratada. Por todos esses motivos se faz

necessário um estudo maior dos potenciais de reuso e utilização dessa água em ambiente

industrial. Este trabalho propõe então acrescentar conteúdo nessa área de estudo.

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

14

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1 A Água no mundo

Nos últimos anos é possível verificar uma crescente preocupação com o destino dos diferentes

recursos que são de importância vital para o desenvolvimento da humanidade e a água tem

recebido especial atenção devido a sua má distribuição sobre o globo terrestre. O

desenvolvimento de métodos alternativos de utilização de águas deixou de ser meramente um

plano figurativo para se tornar uma realidade preocupante, especialmente para o poder público

que acaba arcando com os custos da gestão de recursos hídricos de uma determinada região.

Segundo Goldenfum (2006), da totalidade de recursos hídricos existentes no planeta, 97,4%

são compostos de água salgada, 2% de água doce presa nas calotas polares e apenas 0,67% é

explorável de forma economicamente viável. Segundo Shiklomanov (1998) citado por May

(2004) existem cerca de 1386 de km³ de água no planeta Terra, sob a forma líquida e

congelada (ver Figura 1). Segundo Braga (2009) o Brasil se encontra em uma situação

extremamente favorável, uma vez que entre 12% e 16% da água doce do mundo encontra-se

em território nacional.

Segundo Hespanhol (2008), situações onde existe disponibilidade de pelo menos 1700

m³/hab.ano indicam uma situação de suficiência hídrica, no Brasil observa-se a condição de

33944,73 m³/hab.dia quase 20 vezes acima da situação considerada adequada, porém tal dado

necessita ser analisado dentro de um espectro regional. De fato, para o estado de São Paulo

onde a maior parte da população brasileira vive tem a previsão para o ano de 2010 de uma

Figura 1 - Volume Total de água no mundo – Fonte: Shiklomanov (1998) citado por May (2004)

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

15

cota de 2339,6 m³/hab.ano, ou seja, muito perto do limite estabelecido. Assim, o problema

existente no Brasil consiste, assim como em muitos locais do planeta, na má-distribuição dos

recursos hídricos, afinal na região norte do país onde está concentrada a maior parcela de água

doce é onde ocorre o menor índice populacional, gerando sempre um sentimento de

abundância infinita de um recurso que na verdade tende a se tornar mais e mais escasso

devido ao aumento populacional observado nas últimas décadas.

4.2 Histórico das técnicas de reuso de água

Esse tipo de mentalidade (abundância ilimitada de recursos hídricos) existente no Brasil

acabou gerando um atraso na implantação de medidas que favorecessem a busca por fontes

alternativas de água nos diversos setores de nossa sociedade, seja em âmbito industrial,

agrícola ou residencial. Para May (2004) um dos maiores desafios decorre da necessidade de

ampliação dos conhecimentos relativos à preservação dos recursos hídricos para diminuir as

chances de escassez crônica num futuro próximo. A captação de água pluvial nesse sentido é

um investimento extremamente justificado uma vez que o uso de águas de padrão não potável

para serviços que realmente não requerem esse tipo de qualidade acabam diminuindo os

custos de tratamento e desperdício de recursos hídricos que tem um valor agregado mais

elevado (água tratada).

No Japão o estudo de reuso de água como fonte alternativa de obtenção de recursos hídricos

para a indústria ocorre desde 1964 (Asano et al, 1996). Um uso importante, desenvolvido

especialmente no norte do Japão, onde as temperaturas são mais baixas, é o de derreter a neve

que caí nessas localizações disponibilizando mais água para a utilização em outras tarefas (ver

Figura 2). Nas grandes cidades japonesas existem espaços amplos destinados à obtenção de

água pluvial e tratamento de águas de reuso, revertendo ambas para uma qualidade menor do

que a necessária para ser considerada potável, mas de maneira boa o suficiente para ser usada

em indústrias ou em outros setores como pode ser visto na Figura 3. Ainda na Figura 3

podemos observar como o reuso de água se dá no estado da Califórnia, sendo usado

principalmente como fonte de irrigação.

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

16

Figura 3 - Comparação entre os diferentes destinos dados a água de reuso tratada na Califórnia e no

Japão – Adaptado de Asano (2004)

Segundo Crook (1993) o estado da Califórnia já adota critérios de reaproveitamento de águas

residuais desde 1979 e esses critérios são usados como base em diferentes estados e países.

Crook ainda cita que os critérios utilizados na recuperação da qualidade da água a ser

reutilizada foram baseados nos seguintes limites:

Figura 2 - Exemplo de utilização de água de reuso no derretimento de neve – Fonte: Asano (1996)

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

17

Na capacitação de estações de tratamento de águas residuais bem projetadas e

operadas capazes de garantir, de uma forma consistente, o atendimento aos limites

específicos para a qualidade do efluente;

Na experiência operacional da disposição e do reuso de efluentes;

Na avaliação de pesquisas pertinentes e dados relacionados aos efeitos na saúde; e

No desejo de não permitir riscos não razoáveis provocados pelo reuso de água.

4.3 Benefícios do aproveitamento de águas pluviais e servidas

Mckenzie (2005) cita alguns exemplos de implantação positiva das técnicas de reuso de água

em âmbito mundial. Em Woodburn, Oregon, devido aos elevados níveis de amônia presentes

nos resíduos líquidos foi necessário a criação de uma instalação destinada ao tratamento e

reutilização de água, com essa atitude em 1999 a cidade estava pronta para usar essa água na

irrigação de plantações populares. No Hawaii a adoção de medidas de reuso de água diminuiu

o despejo de efluentes no oceano pacífico e permitiu o uso dessas águas na irrigação de pistas

de golfe, em projetos paisagísticos e em água de reserva para o processo industrial de Osmose

Reversa. Braga (2009) cita mais um exemplo que ocorre em Israel onde boa parte da água que

é tratada para ser usada novamente é utilizada na irrigação de 20 mil hectares de lavouras

responsáveis por aumentar a matriz alimentícia do país.

Para Angelakis et al (2003) os principais benefícios da reutilização de água residem na

disponibilidade de uma fonte de água confiável e constante e na redução do impacto

ambiental causado pela eliminação dessas águas em rios e córregos. Tal situação pode ser

justificada uma vez que após sua utilização, as águas vão para uma estação de tratamento de

efluentes e são reincorporadas dentro dos ciclos produtivos que necessitam de recursos

hídricos. Se levarmos em conta ainda que a flutuação da demanda diária por água é pouco

significativa (e de fato tal demanda só vem aumentando devido ao aumento populacional,

uma vez que campanhas de conscientização já são incentivadas em nosso país) podemos

afirmar com certeza que boa parte da água usada, seja pela população, seja na irrigação ou em

indústrias pode ser reutilizada gerando economia e uma fonte estável de obtenção de águas de

qualidade considerada ideal para certas tarefas.

Uma fonte alternativa a utilização de águas servidas seria através da captação e disposição de

águas pluviais. Um fator benéfico relativo ao uso de água pluvial como fonte alternativa de

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

18

captação de recursos consiste que seu uso gera uma redução na quantidade de água que escoa

superficialmente, uma vez que muitos reservatórios acabam funcionando como mini

“piscinões” e atrasam a chegada da água em córregos e rios diminuindo as chances de

enchentes catastróficas.

4.4 A Água pluvial

Segundo Fendrich (2002) citado por Valle et al (2005) uma fonte alternativa de recursos

hídricos consiste na captação de águas pluvial através de telhados, calhas e reservatórios

dimensionados para esse propósito (Figura 4). Essas águas podem ser usadas principalmente

para fins não potáveis como a lavagem de áreas públicas ou então como descarga em bacias

sanitárias. Porém é justamente na indústria que essa captação se mostra mais valiosa, uma vez

que em termos de potencial de captação as indústrias possuem áreas maiores de telhado e

acabam consumindo uma quantidade maior de água para realizar sua produção fabril.

Figura 4 - Desenho esquemático do sistema de coleta de água pluvial - Fonte: Valle (2005).

Essa água necessita inicialmente de uma avaliação para se determinar suas características

físico-químicas e se for necessário trata-se essa água até ela obter a qualidade desejada e por

fim é realizado um armazenamento para que possa ser usada em conjunto com a água

fornecida pela concessionária local (não é adequado substituir completamente a fonte de água

comercial pela de reuso, pois isso acarreta em uma dependência que muitas vezes pode não

ser sanada).

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

19

O Governo Australiano (2004) em seu manual de utilização e dimensionamento de tanques

para coleta de águas pluviais recomenda que sejam avaliados requisitos químicos e biológicos

para o tipo de uso desejado. O manual ainda cita que as duas principais fontes de poluição em

águas coletadas são oriundas de:

Emissões de poluentes na atmosfera por indústrias ou veículos motorizados e

pulverização de agrotóxicos;

Sujeira decorrente de telhados, calhas e rufos e de seus respectivos materiais

componentes.

Com as características relativas ao tipo de água a ser coletada e que tipo de tratamento será

necessário, é preciso então entender qual será a demanda e a partir disso, dimensionar o

tamanho do reservatório a ser utilizado. Sobre o assunto o Texas Water Development Board

(2005) conclui que a área de captação define o suprimento de água e a demanda rege o

tamanho do reservatório a ser dimensionado. Quando a área de captura fornecer uma reserva

suficientemente grande então o reservatório pode ser dimensionado para suprir a demanda,

quando a reserva de água for insuficiente são necessários meio alternativos de obtenção de

água para realizar a produção, como é o caso de uso de poços artesianos.

Ciente da importância que medidas de racionalização do uso de água têm dentro do cenário

competitivo empresarial, a FIESP (2004) elaborou um manual com orientações sobre como

conservar e reutilizar água em ambiente industrial. As etapas para o desenvolvimento de um

projeto de reutilização de água segundo a FIESP (2004) podem ser esquematizadas da

seguinte maneira (Figura 5):

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

20

Figura 5 - Detalhamento das diferentes etapas a serem consideradas antes da implantação de técnicas de

reuso de água em ambiente industrial.

O manual ainda infere que um sistema de reuso de águas baseado exclusivamente em

captação de chuvas é composto por:

Reservatórios (uma vez que não é possível misturar afluentes advindos de outras

fontes que não do tipo potável no reservatório da edificação, segundo recomendação

da NBR 5626 – Instalação predial de água fria);

Sistema de Pressurização (para abastecimento direto dos pontos de consumo) ou

sistema de recalque;

Filtros separadores de sólidos e líquidos;

Tubos e Conexões (rede exclusiva);

“Bypass” para entrada de água de outra fonte para eventual suprimento do sistema.

Para Silva Filho e Sicsu (2003) a preocupação com o meio ambiente passou a ser um fator

primordial dentro das relações empresariais, uma vez que com o advento da globalização, as

empresas nacionais tiveram que se equiparar às indústrias internacionais e afastar o velho

método produtivo baseado na economia de escala, na hierarquia da rigidez e em preceitos do

Avaliação Técnica Preliminar

Avaliação da Demanda de água

Avaliação da Oferta de água

Estudo de viabilidade Técnico e Econômica

Detalhamento e Implantação de um plano de conservação

e reúso de água

Implantação de um sistema de gestão de água

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

21

fordismo. Dentro dessa nova dinâmica induzida pelo capitalismo surge a variável ambiental e

com isso pode-se entender a mudança da mentalidade industrial (Figura 6):

Figura 6 - Quadro ilustrando a mudança de mentalidade empresarial nas últimas décadas - Fonte: Silva

Filho (2003)

4.5 Relação Custo-Benefício

Em relação aos custos associados à prática de um sistema de reuso Hespanhol (2003) cita que

o método mais interessante de se obter números reais é o de “ajustar os custos marginais e os

benefícios ao valor presente, a uma taxa de desconto real e projetar o sistema de maneira que

a relação benefício/custo seja superior a unidade”. Outra opção segundo o mesmo autor é o de

determinar a taxa de retorno do projeto baseado em economia dos custos associados ao

abastecimento de água potável pela substituição por água não potável obtida pela captação das

chuvas.

Asano (1996) cita que no início, a implantação em uma fábrica de uma estação de tratamento

de águas para reuso tem custo elevado, mas que à medida que o sistema cresce com vendas

desse tipo de efluente para os setores privados, ocorre um equilíbrio entre o custo de operação

e as vendas justificando assim a implantação desse tipo de empreendimento em longo prazo.

No caso estudado não se pretende vender o insumo, porém com a economia gerada espera-se

recuperar o investimento inicial e obter a Taxa Interna de Retorno para o investimento dessa

série de economias.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

22

Eq. (4.5.1)

A Taxa Interna de Retorno (TIR) é o modelo proposto por Hespanhol (2003) para a análise do

investimento inicial realizado para a implantação de um plano de conservação e reuso de

água. Segundo Pereira e Almeida (2011). O modelo consiste na procura de um ponto de

equilíbrio entre um investimento inicial seguido por diversos retornos futuros ou saldos. A

formula usada para calcular o valor presente líquido de uma determinada série de valores é a

seguinte:

Sendo que Ft é o valor presente das entradas de caixa e t é o tempo de desconto de cada

entrada de caixa. Por exemplo, para calcular a TIR de um investimento inicial de 100 reais

aonde se recebe após um mês um pagamento de 130 reais, tem-se a seguinte formula:

Portanto, para esse exemplo a TIR obtida é igual a 0,3 ou 30% para o período estudado.

A implantação de aproveitamento de água de pluvial pode ser considerada como sendo

atrativo caso a TIR seja positiva e de preferência acima de um determinado valor estabelecido

como a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) para o investimento em questão.

4.6 O objeto de estudo: A empresa Lajes Anhanguera

A empresa Lajes Anhanguera foi fundada em 1992 em São Paulo, com o intuito de fornecer

ao mercado consumidor um produto diferenciado, que tivesse qualidade, economia e

eficiência.

Com o aperfeiçoamento dos programas de cálculo e análise estrutural e desenvolvimento de

novas tecnologias na construção civil, o sistema estrutural feito com lajes pré-moldadas

ganhou espaço no setor. Em função deste crescimento, a empresa desenvolve desde então uma

política de aperfeiçoamento contínuo de seus produtos e serviços baseado nas últimas

ferramentas disponíveis no mercado.

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

23

Os principais produtos desenvolvidos pela empresa são:

Laje Painel Treliçado (Figura 7);

Painel Duplo usado em cortinas de contenção (Figura 8);

Vigotas treliçadas (Figura 9).

Figura 7 - Exemplo de aplicação da laje painel treliçado - Fonte: www.anhanguera.com.br

Figura 8 - Exemplo de aplicação do painel duplo como muro de contenção - Fonte: www.anhanguera.com.br

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

24

A fábrica localiza-se na Rua Antenor Camargo, 280, Jundiaí – SP (Erro! Fonte de referência

não encontrada.), enquanto que o escritório de projetos (que também trata de assuntos

comerciais) fica localizado na Rua dos Três Irmãos, 62, no Bairro Morumbi, São Paulo - SP

(Figura 11).

Figura 10 – Localização da fábrica da empresa Lajes Anhanguera– Fonte: www.anhanguera.com.br

Figura 9 – Exemplo de aplicação das vigotas treliçadas - Fonte: www.anhanguera.com.br

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

25

4.7 Qualidade da Água x Qualidade do Concreto

A água, conforme já foi mencionado anteriormente, possui um papel fundamental na

produção de concreto, seja para a cura da peça seja como água de amassamento ela exerce

influência direta sobre a resistência do concreto e a existência de patologias indesejadas nas

peças pré-fabricadas, portanto a avaliação de sua qualidade se faz essencial, embora seja

muitas vezes negligenciada. Segundo a organização CIMENTO.ORG em seu artigo “Efeito

da qualidade da água no concreto” existem alguns parâmetros que precisam ser avaliados na

água usada para a produção de concreto, caso esse insumo não atenda tais recomendações

corre-se o risco da ocorrência de patologias pós-ocupação ou do funcionamento incorreto da

mistura. Tais parâmetros estão de acordo com a Norma brasileira ABNT 137/97 e são os

seguintes:

Sólidos Totais: no máximo 5000 x 10-6

g/cm³;

Valor do pH na faixa de 5,5 a 9,0;

Teor máximo de ferro não superior a 1 x 10-6

g/cm³.

Os requisitos químicos da água usada no concreto devem atender também os seguintes

parâmetros:

Teor de sulfatos solúveis inferior a 2000 x 10-6

g/cm³;

Quantidade de Cloretos solúveis não deve ultrapassar a marca 700 x 10-6

g/cm³ para a

produção de concreto armado.

Figura 11 – Sede da empresa Lajes Anhanguera - Fonte: www.anhanguera.com.br

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

26

O artigo ainda infere que a única maneira de descobrir a verdadeira influência que água tem

na resistência do concreto é realizando ensaios com corpos de prova moldados a pelo menos

28 dias utilizando o insumo a ser avaliado. O rompimento desses corpos de prova e ensaios de

pega determinam se o insumo é bom o suficiente para ser usado sem que cause problemas

para a mistura.

4.8 Dimensionamento de Reservatórios

Para que seja possível realizar uma análise econômica satisfatória deve-se em primeiro lugar

dimensionar um reservatório para o aporte de toda a água pluvial que se deseja utilizar. A

construção de um reservatório é um dos investimentos primários e, portanto é importante

projetá-lo para que ele seja adequado aos usos pretendidos. Os métodos de cálculo para o

dimensionamento de reservatórios segundo a NBR 15527 (ABNT, 2007) são os seguintes:

1. Método de Rippl;

2. Método da simulação;

3. Método Azevedo Neto;

4. Método prático alemão;

5. Método prático inglês;

6. Método prático australiano.

Devido à natureza deste estudo apenas o método de Rippl será abordado. O modo de cálculo

baseia-se em séries históricas mensais ou diárias:

, somente para valores em que S(t) é maior do que zero. Deve-se atentar também

que a . Onde:

S(t) é o volume de água no reservatório no tempo t;

Q(t) é o volume de chuva aproveitável no tempo t;

D(t) é a demanda ou consumo no tempo t;

V é o volume do reservatório;

C é o coeficiente de escoamento superficial;

(Eq. 4.8.1)

(Eq. 4.8.2)

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

27

η é a eficiência do sistema levando em conta o primeiro descarte (first flush) (Tomaz,

2007)

Segundo Tomaz (2007) deve-se adotar C x η igual a 0,8 para casos em que os dados são

incertos ou inexistentes, tal valor foi adotado e será demonstrado nas próximas sessões do

presente trabalho.

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

28

5. MÉTODO

O método a ser utilizado para o desenvolvimento desse trabalho é semelhante ao desenvolvido

pela FIESP (2004) em seu manual de Conservação e Reuso de água para a indústria, com

algumas alterações pertinentes ao objeto de estudo. A análise começa com a caracterização do

local onde o empreendimento de estudo está localizado (Figura 12). É importante determinar

quais são os processos desenvolvidos “in loco”, bem como a quantidade de área coberta que o

empreendimento dispõe (que no caso deste trabalho é a principal área de captação de águas

pluviais).

O passo seguinte consiste na caracterização dos produtos fabricados e em quais etapas de sua

produção é necessária a utilização de água e em que quantidade (isso através de informações

relativas ao traço utilizado na produção de concreto para as peças). Ainda sobre o

empreendimento a ser estudado é importante distinguir quais as principais fontes de água

utilizadas na fabricação das peças de concreto, uma vez que a tomada destes recursos é feita

de maneira mista (pode ser fornecida pela concessionária ou oriunda de um poço artesiano).

Com essa informação será possível determinar quanto de água pode ser substituída no

processo e a verdadeira proporção de uso de água comercial e não comercial. Em seguida é

necessário investigar quais as características da água pluvial no local e quais são as exigências

e recomendações necessárias para utilizá-la na produção das peças (pH, sólidos suspensos,

sólidos diluídos, etc) e como isso pode impactar na resistência/durabilidade do produto final.

Para este estudo são adotados os dados da pesquisa de May (2004) para a qualidade da água

pluvial bruta. Com a comparação das características necessárias com as da água pluvial bruta

é possível comprovar a viabilidade técnica e balizar o estudo da viabilidade econômica uma

vez que, se os parâmetros observados forem muito discrepantes é necessário que a água passe

por algum tipo de tratamento, o que encareceria o custo de implantação. Na etapa seguinte

obtêm-se os volumes possíveis de coleta através do uso de métodos determinísticos que

utilizam a área de coleta associada a um coeficiente de escoamento superficial (“run-off”), um

coeficiente relacionado ao aproveitamento do sistema de coleta (descarte inicial de água de

primeira lavagem do telhado) e os valores médios da precipitação observados para um

determinado período de tempo. Concluídas as etapas anteriores, a coleta de dados é finalizada

e parte-se para a avaliação econômica através da Taxa Interna de Retorno (TIR) e a obtenção

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

29

de quais são os gastos atrelados à adoção do aproveitamento da água pluvial, com esses dados

será possível concluir o trabalho comprovando ou não a viabilidade do uso da água pluvial

para a produção das peças de concreto pré-moldado.

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

30

Figura 12 - Layout da unidade de fabricação de peças de concreto pré-moldado – Desenho obtido junto ao proprietário da fábrica (2011).

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

31

6. PROGRAMA DE

CONSERVAÇÃO E REUSO DE

ÁGUA - PCRA

O manual de Conservação e Reuso de água, desenvolvido pela FIESP (2004), sugere algumas

etapas para implantar um PCRA. Elas fazem parte de um conjunto de medidas de avaliação da

viabilidade técnica/econômica de se adotar outras fontes de água oriundas do próprio processo

fabril ou de fontes externas, como é o caso da água pluvial. O método que é apresentado nesse

trabalho possui algumas modificações relativas ao objeto de estudo uma vez que o manual

não possui uma referência específica para a indústria da construção civil, particularmente a de

concreto pré-moldado. Uma vez definidas as diversas etapas para elaboração de um plano de

conservação e reuso de água (PCRA) é possível obter os seguintes dados:

O potencial de redução no consumo de água procedente da rede pública, já que a

mesma possui qualidade superior a necessária para os usos pretendidos. Essa

demonstração será possível através de comparação entre os diversos índices físicos

durante o desenvolvimento deste trabalho;

A solução mais eficiente para o gerenciamento dos resíduos líquidos advindos da

produção das peças de concreto;

A área da fábrica em que é possível captar as águas pluviais e com o auxílio da

precipitação média na região, determinar a quantidade captável de água;

O volume do reservatório para a coleta de águas pluvias que seja compatível com as

diretrizes estabelecidas na norma NBR 15527 (ABNT, 2007) e que atenda as

necessidades da produção;

O prazo de retorno do investimento que deve ser realizado na implantação deste

PCRA em questão.

Os dados utilizados para a criação do PCRA são relativos à produção e consumo de água do

período de 02/2010 a 02/2011, essas informações representam com fidelidade a produção

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

32

média anual e podem ser usados como um modelo para o dimensionamento do sistema de

coleta de água chuva para esta fábrica.

6.1 Avaliação Técnica Preliminar

A primeira fase da implantação de um PCRA consiste numa avaliação preliminar de quais

objetivos se deseja alcançar, quais mudanças devem ser realizadas e que tipo de impacto tais

alterações irão causar para a unidade produtiva em questão. Nessa fase é importante detalhar

os processos produtivos explicando onde e como a água é utilizada dentro de cada ciclo de

fabricação e também de quais fontes essa água é originada. A análise de campo visa obter

quais as etapas inerentes à produção do produto final e tentar obter quais as atividades que

geram maior gasto de água, pois é justamente nessas atividades em que a mudança deverá

causar maior impacto.

Conforme foi explicado anteriormente a empresa estudada especificamente 3 tipos de

produtos, a Laje painel treliçado, a vigota treliçada e o chamado painel duplo usado em obras

de contenção. Todos possuem a mesma linha de produção e o que diferencia um produto de

outro são as dimensões de fôrma ou no caso do painel duplo uma concretagem extra da peça.

É importante também entender as principais fontes de água que alimentam a fábrica

localizada em Jundiaí. A partir desses dados é possível obter um consumo de água mensal e

com ele quantificar até que valor é possível se economizar sem tornar a água pluvial uma

fonte que acarrete uma dependência negativa.

6.1.1 Etapas da produção

O produto mais comercializado pela empresa é a laje painel treliçado e por isso sua produção

é explicada neste trabalho. A produção dos demais produtos não difere muito do método

apresentado na Figura 13. As etapas são as seguintes:

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

33

a) Preparação do concreto:

Nessa fase o concreto é produzido segundo o traço pré-estabelecido para a fabricação com

o auxílio de uma mini usina (Figura 14) que é responsável por realizar a mistura de areia,

pedrisco, cimento e água gerando um concreto fluído, com alta resistência inicial (uma

vez que é utilizado cimento ARI para uma desfôrma mais ágil). É importante ressaltar que

é nessa fase que a qualidade de água faz toda a diferença e possivelmente a etapa em que

o gasto é maior.

Preparação do Concreto

Preenchimento das fôrmas com o concreto

produzido

Posicionamento da Treliça e colocação dos

ferros adicionais

Vibração da fôrma eliminando o excesso

de ar dentro das peças

Secagem a sombra dos painéis

Cura úmida realizada durante os primeiros

dois dias

Desfôrma, paletização e carregamento do

produto para o transporte final

Água

Figura 13 - Etapas de produção e o aporte de água nas diferentes atividades.

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

34

b) Preenchimento das fôrmas com o concreto produzido:

Nessa etapa o concreto produzido anteriormente é usado para preencher as fôrmas com o

auxílio de uma espécie de jerica (Figura 15) que pode se deslocar por toda a pista de

concretagem. A fôrma utilizada pode variar dependendo do produto que está sendo

produzido.

Figura 14 - Detalhe da mini usina de concreto responsável pela produção da matéria prima

usada nos painéis - Fonte: acervo do autor.

Figura 15 - Detalhe da jerica usada para espalhar o concreto sobre as fôrmas - Fonte: acervo do autor.

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

35

c) Posicionamento das treliças e colocação dos ferros adicionais:

Essa etapa diz respeito à fixação da treliça no concreto ainda fresco da fôrma (Figura 16)

com o auxílio de espaçadores para manter as mesmas na posição correta durante a etapa

da vibração. Eventualmente são colocados ferros adicionais que variam conforme o vão, a

sobrecarga e o tipo de laje (nervurada ou maciça). Na prática a colocação de ferros

adicionais varia conforme o momento positivo que será imposto à laje.

d) Vibração da fôrma:

A vibração do concreto funciona como uma forma de se evitar um excesso de vazios

ocasionado por bolhas de ar que preenchem o vazio causado pela evaporação da água no

interior das peças diminua a resistência da mesma. Normalmente utiliza-se um

equipamento especial (como por exemplo, um vibrador) para realizar essa tarefa, porém

devido à pequena profundidade da fôrma se faz necessário movimentar todo o conjunto, o

que muitas vezes ocasiona em problemas de mau posicionamento das armaduras.

Figura 16 - Colocação e posicionamento das treliças nos painéis recém concretados - Fonte: acervo do autor

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

36

e) Secagem à sombra das peças (Figura 17):

Depois de vibradas as peças são colocadas para secagem à sombra diminuindo o mínimo

possível a ocorrência de fissuras devido à combinação da rápida perda de água com a

expansão térmica ocasionada pelo calor.

f) Cura úmida:

Durante os primeiros dois dias em que a peça está secando um funcionário é encarregado

de molhá-la para evitar que a perda de água gere possíveis fissuras na peça e também para

continuar alimentando a reação química responsável pela pega do cimento. Nessa etapa

pode-se considerar que a água utilizada pode ter uma qualidade inferior uma vez que,

diferente da água de amassamento de concreto, a mesma só terá contato superficial ou de

pouca profundidade com a peça, ou seja, sua qualidade influencia em menor grau a

resistência do painel. O grande problema dessa etapa reside no fato de que a adição de

água na fábrica é irregular e não controlada, tal fato pode ser considerado uma falha

crítica no sistema produtivo desenvolvido pela empresa.

g) Desfôrma, paletização e carregamento do produto para o transporte final:

A última etapa da produção é realizada na fábrica e diz respeito à desfôrma dos painéis,

geralmente no terceiro ou quarto dia de produção. Em seguida os painéis prontos são

Figura 17 - Detalhe ao fundo da foto das peças sendo secadas na sombra - Fonte: acervo do autor.

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

37

colocados em palletes separados de acordo com a obra para o qual serão transportados.

Com o auxílio de um pórtico deslizante (Figura 18) é feito o carregamento do material para

o caminhão que ficará responsável pelo transporte para o local de aplicação do painel.

6.1.2 Macro-fluxo de água

A visão global do gasto de água interno de uma unidade operacional ajuda a entender a

distribuição dos recursos hídricos dentro das instalações industriais do empreendimento. Com

uma pré-análise da planta da fábrica e das localizações onde será usada água é possível criar

um layout otimizado que diminui a ocorrência de perdas de pressão ou a ocorrência de

vazamentos.

Na Figura 19 é possível entender como a água tratada chega até o empreendimento. A água da

cidade é captada na represa de Jundiaí-Mirim e é tratada na Estação de Tratamento de Água

(ETA) através do ciclo completo (gradeamento, leitura de vazão, adição de coagulantes,

mistura rápida, mistura lenta, decantação, filtração, tratamentos biológicos e distribuição para

o consumidor final).

Figura 18 - Doca de carregamento de material - Fonte: acervo do autor.

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

38

A água chega à fábrica através de duas instalações registradas que alimentam os três

reservatórios (um reservatório abastece o escritório, um abastece uma residência dentro da

propriedade e o outro abastece a mini usina de concreto, todos são de 500 l de capacidade). A

mini usina de concreto ainda recebe água adicional que é bombeada de um poço artesiano

para alimentar a produção numa eventual falta d‟água. Esse estudo pretende demonstrar

também que a água utilizada vinda desse poço é muito maior do que apenas nas eventuais

falhas de abastecimento sendo que o método para chegar a essa conclusão será apresentado no

desenvolvimento deste trabalho. Os efluentes gerados pela fábrica sejam eles de origem

industrial ou domésticos, são encaminhados para a rede de coleta de efluentes administrada

pelo DAE e enfim encaminhados para uma estação de tratamento de efluentes (ETE). Após

tratada a água é despejada no rio Jundiaí e segue seu curso em direção a outros municípios.

Figura 19 - Macro-fluxo de água na Fábrica.

DAE

Entrada A

Entrada B

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

39

6.1.3 Micro-fluxo de água

O micro-fluxo de água é relativo aos consumos reais contabilizados durante o funcionamento

em um dia normal da fábrica. No entanto para o caso de uma empresa de lajes pré-moldadas

se torna complicado quantificar exatamente os gastos com água em produção devido à

variabilidade de peças de concreto que estão sendo produzidas, ao ritmo da produção que nem

sempre é o mesmo e à vazão que não é constante. Existe ainda o consumo humano para

tarefas domésticas (banho, toalete, outros usos, etc) e para estimar seu gasto per capita

adotou-se uma média de 100 l/dia por funcionário. Tal fato se deve a que apesar de haver

alguns vestiários com chuveiro nem todos os funcionários acabam utilizando esse recurso.

Outro gasto que não pode ser quantificado precisamente é o gasto de água com a cura úmida,

pois segundo os responsáveis pela empresa: “a umidificação das peças é extremamente

irregular e é realizada sem nenhum tipo de critério definido. Isso se deve ao fato de que boa

parte dos funcionários acreditam que molhando a peça ela acaba tendo sua resistência

diminuída. Além disso, quando a cura é realizada observa-se que a peça aumenta de volume

devido à absorção de água, o que gera um aumento na dimensão da mesma ocasionando em

dificuldades durante o processo de desfôrma das mesmas”, tais crenças acarretam em uma

cura deficiente devido a pouca água usada no processo de molhagem das peças. Já se tentou

combater tal prática através de treinamento, porém o mesmo ainda não foi suficiente para

desmistificar a cura úmida. A soma dessas três parcelas mais as eventuais perdas acaba

totalizando toda a água gasta no estabelecimento estão apresentadas na Figura 20.

Apesar de todos os contra-indicadores pretende-se obter com esse trabalho, com a maior

precisão possível os gastos mensais de água, por exemplo, para a mini-usina de concreto, pois

através do traço de concreto praticado é possível estimar com bastante precisão a quantidade

de água que está sendo usada durante a produção mensal de peças. O consumo humano pode

ser estimado baseado em tabelas, porém dentro do ponto de vista desse trabalho pouco

importa já que a adoção do uso da água pluvial não tem por objetivo (para este estudo)

alimentar esse tipo de demanda já que o mesmo necessita de tratamento mais sofisticado.

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

40

As principais atividades que utilizam água são mostradas na Figura 21. Essa informação é

importante, pois durante a fase de levantamento de demanda, a quantificação da totalidade de

insumos despendido acaba sendo a soma das parcelas gastas nessas etapas, com o auxílio dos

gastos em m³ por mês que a fábrica registrou durante o período da pesquisa pode-se obter o

déficit de água e com ele descobrir qual a quantidade que está sendo obtida diretamente do

poço artesiano. Com esse dado é possível comprovar que, o que a princípio deveria servir

apenas como reserva de insumo é usado com uma freqüência alarmante, tal fato pode vir a se

tornar um problema uma vez que não são realizados testes regulares que atestem a qualidade

do recurso captado.

Água gasta na produção de concreto

Água de uso Doméstico

Água usada na cura das

peças

Perdas físicas

Consumo de água mensal

Figura 20 - Principais consumos de água na fábrica.

Água usada na produção do

concreto

Poço Artesiano

Ligação com a concessionária

Água usada na cura do

concreto

Ligação com a concessionária

Consumo Humano

Ligação com a concessionária

Figura 21 - Origem da água segundo os principais consumos.

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

41

6.2 Avaliação da demanda de Água

A criação de um PCRA depende de uma avaliação da quantidade de água que está sendo

utilizada, tal dado se torna vital na medida em que existe a necessidade de criação de “planos

de ataque” para redução do consumo. São quatro os quesitos que devem ser avaliados como

potenciais para economizar água dentro de uma empresa.

6.2.1 Perdas Físicas

Diz respeito à possibilidade da diminuição de gastos de água apenas pela redução de

vazamentos e perdas ocasionadas pelo mau funcionamento da tubulação, goteiras ou defeito

nos componentes que carregam o fluído. Na fábrica é possível notar que algumas torneiras

vazam e que não existe uma preocupação nesse sentido. Pode-se considerar que existe uma

perda pequena, porém que não poderia ser deduzida da quantidade de água que pode ser

economizada a menos que houvesse uma manutenção adequada desses componentes,

comportamento esse não observado nos dias atuais. Como esse estudo se limita a observar a

possibilidade de utilização da água pluvial nos processos fabris, a análise das perdas físicas

não está contemplada.

6.2.2 Adequação de processos:

Na figura 22, pode-se observar a quantidade média de água gasta em um dia de produção.

Essas quantidades foram obtidas utilizando-se os dados de produção que estão demonstradas

nas próximas etapas desse trabalho. O consumo doméstico está estimado em 100 l/dia por

trabalhador (a fábrica possuí um número flutuante de funcionários, portanto foi necessário

estimar esse número através da planilha de horas trabalhadas durante os meses de estudo

(Tabela 1) e com tais dados obter a quantidade de água gasta para o consumo humano). As

perdas físicas foram fixadas a 150 l (0,15 m³/dia de produção) de água e considera-se mais 0,3

m³/dia gasto na cura não controlada do concreto.

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

42

Tabela 1 - Número médio de funcionários.

Mês/Ano Horas

trab.

Funcionários

(Horas trab./240)

fev/10 4.070 17

mar/10 4.597 20

abr/10 3.282 14

mai/10 3.043 13

jun/10 3.092 13

jul/10 3.214 14

ago/10 3.453 15

set/10 3.707 16

out/10 3.558 15

nov/10 3.284 14

dez/10 3.410 15

jan/11 3.132 14

fev/11 3.039 13

Média 15

Figura 22 - Consumo diário de água em m³/dia.

6.2.3 Adequação de Equipamentos e Componentes

A adoção de equipamentos mais modernos pode acarretar em processos que utilizem menor

quantidade de insumos com eficiência na transformação da matéria prima relativamente

0,7 m³; 26%

1,5 m³; 57%

0,15 m³; 6%

0,3 m³; 11%

Consumo médio de água em m³/dia

Produção de Insumos Consumo Humano Perdas Físicas Cura Úmida

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

43

maior. No caso dos processos descritos anteriormente ou seria necessário utilizar uma mini

usina de concreto mais eficiente que diminuísse a perda de produtos primários (incluindo a

água) ou durante a cura úmida que ela fosse controlada com maior rigor diminuindo o gasto

desnecessário de água.

6.2.4 Avaliação da qualidade da Água

A situação ideal para o tipo de trabalho que está sendo desenvolvido seria fazer ensaios em

corpos de prova de concreto e obter sua resistência ao se utilizar água pluvial como insumo

em diferentes quantidades. Porém devido à natureza desse estudo não será possível realizar

esse tipo de ensaio. Para parâmetros de comparação é possível confrontar a qualidade de água

obtida em ensaios por outros autores com o relatório anual de características físico-químicas

que é disponibilizado pela fornecedora de água do município. O DAE de Jundiaí liberou os

seguintes dados relativos ao ano de 2010 (Tabela 2):

Tabela 2 - Dados da qualidade de água de abastecimento público - Fonte: adaptado de DAE Jundiaí.

Resumo Anual da Qualidade da Água 2010

Mês

Parâmetros

Cor (UC) Cloro Residual Livre (mg/l) pH Íon fluoreto (mg/l) Turbidez (UT) Coliformes Fecais*

ETA A ETA EC ETA A ETA EC ETA A ETA EC ETA A ETA EC ETA A ETA EC ETA A ETA EC

Janeiro 0 3 1,6 1,6 7,2 7,2 0,7 0,7 0,2 0,5 A A

Fevereiro 1 3 1,6 1,5 7,2 7,2 0,7 0,7 0,2 0,4 A A

Março 1 3 1,6 1,5 7,2 7,2 0,7 0,7 0,3 0,4 A A

Abril 0 2 1,6 1,6 7,2 7,2 0,7 0,7 0,3 0,3 A A

Maio 0 2 1,6 1,6 7,2 7,2 0,7 0,7 0,2 0,3 A A

Junho 1 2 1,6 1,5 7,2 7,2 0,7 0,7 0,3 0,3 A A

Julho 0 1 1,5 1,5 7,2 7,1 0,7 0,7 0,3 0,3 A A

Agosto 0 1 1,6 1,5 7,1 7,2 0,7 0,7 0,3 0,3 A A

Setembro 0 0 1,5 1,6 7,2 7,2 0,7 0,7 0,3 0,3 A A

Outubro 0 1 1,5 1,6 7,2 7,2 0,7 0,7 0,3 0,3 A A

Novembro 0 1 1,6 1,6 7,2 7,2 0,7 0,7 0,2 0,2 A A

Dezembro 0 2 1,6 1,7 7,2 7,2 0,7 0,7 0,2 0,2 A A

* Ausentes em 100 ml de amostra

UC - Unidade de Cor

UT - Unidade de Turbidez

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

44

Para a qualidade da água pluvial serão adotados os dados obtidos por May (2004) e citados no

manual de Reuso Industrial da FIESP (2004). Os dados obtidos pela autora em 2004 dizem

respeito a sucessivas coletas realizadas entre os meses de Novembro de 2003 até março de

2004. Esses dados podem ser considerados como válidos para essa pesquisa devido à

proximidade entre São Paulo e Jundiaí. Deve-se também considerar que os poluentes na

capital podem influenciar mais a qualidade da água e se o estudo for balizado por um caso de

“pior qualidade” tem-se comprovado seguramente que é possível usar esse tipo de insumo em

um local menos poluído. A tabela 3, a seguir, é uma adaptação da tabela usada pela FIESP

(2004) que por sua vez se baseou no trabalho de May (2004) para obter os dados:

Tabela 3 – Dados adaptados obtidos por May (2004) após diversas análises de água pluvial para a cidade

de São Paulo - Fonte: adaptado de FIESP (2004)

Parâmetro Água coletada na tubulação

Mínimo Médio Máximo

Cor (uH) 20 52,5 218

Turbidez (UNT) 0,6 1,6 7,1

Alcalinidade (mg/L) 4 30,6 60

pH 5,8 7 7,6

Condutividade (mS/cm) 7 63,4 126,2

Dureza (mg/L) 4 39,4 68

Cálcio (mg/L) ND 15 24,3

Magnésio (mg/L) ND 1,1 2,2

Ferro (mg/L) 0,01 0,14 1,65

Cloretos (mg/L) 2 8,8 14

Sulfatos (mg/L) 2 8,3 21

ST (mg/L) 10 88 320

SST (mg/L) 2 30 183

SSV (mg/L) 0 15 72

SDT (mg/L) 2 58 177

SDV (mg/L) 0 39 128

OD (mg/L) 1,6 20 42

DBO (mg/L) 0,4 2,5 5,2

Nitrato (mg/L) 0,5 4,7 20

Nitrito (mg/L) 0,1 0,8 3,8

Coliformesa totais em 100 ml <1 >70 >80

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

45

As siglas contidas na Tabela 3 têm o seguinte significado:

NE = Não Especificado;

ST = Sólidos Totais;

SST = Solidos Suspensos Totais;

SSV = Sólidos Suspensos Voláteis;

SDT = Sólidos Dissolvidos Totais;

SDV = Sólidos Dissolvidos Voláteis;

a = Presente em 89% das amostras;

*Coliformes fecais em 100 ml, aparecem em média em 50% das amostras coletadas.

Na seção 4.7 da revisão bibliográfica foram citados alguns requisitos considerados mínimos

para a água usada na produção de concreto segundo a NM 137/97. É necessário então fazer

um estudo comparativo dos valores obtidos por May (2004) (adaptando as unidades de

medida para que fiquem compatíveis) com os mínimos necessários para a produção adequada

de concreto.

Na Tabela 4 é possível comparar os valores da água pluvial captada e analisada versus a

qualidade mínima do insumo recomendado por norma. Os valores normatizados são

cumpridos em quase todos os quesitos com exceção do valor máximo encontrado para o Teor

de Ferro.

Tabela 4 – Tabela comparativa de valores obtidos por May (2004) com os mínimos necessários para a

produção de concreto armado da NM 137/97.

Parâmetros Valores Necessários

pela NM 137/97

Valores Mínimos obtidos

por May (2004)

Valores Máximos

obtidos por May (2004)

Sólidos Totais < 5000 x 10-6

g/cm³ 10 x 10-6

g/cm³ 320 x 10-6

g/cm³

pH 5,5 ~ 9,0 5,8 7,6

Teor Máximo de Ferro < 1 x 10-6

g/cm³ 0,01 x 10-6

g/cm³ 1,65 x 10-6

g/cm³

Teor de sulfatos solúveis < 2000 x 10-6

g/cm³ 2 x 10-6

g/cm³ 21 x 10-6

g/cm³

Teor de Cloretos Solúveis < 700 x 10-6

g/cm³ 2 x 10-6

g/cm³ 14 x 10-6

g/cm³

Se for feita uma comparação da água pluvial obtida com a água fornecida pelo DAE de

Jundiaí tem-se apenas um critério comparativo, o pH. Os valores obtidos por May não estão

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

46

tão longe dos valores praticados pelo DAE, o valor do pH nas estações de tratamento de água

ficam em 7,2 enquanto que a média obtida nos experimentos fica em 7 (desvio de

aproximadamente 4%). Seria necessário analisar outros parâmetros da água que o DAE

fornece ao município de Jundiaí para chegar a uma conclusão completamente satisfatória,

porém para este trabalho fica evidente que a qualidade da água pluvial é mais do que

suficiente para os propósitos que se pretende desenvolver.

6.3 Avaliação da Oferta de Água

Nesse item fica evidente a importância da analise de todas as opções de obtenção do insumo

água, já que atualmente a fábrica é abastecida por dois registros de água da fornecedora

municipal e também pelo uso indiscriminado e não regulado de um poço artesiano na

propriedade. Uma análise que esse trabalho se propõe vai ser a dependência da água

subterrânea e quanto é seu impacto real dentro da matriz de recursos hídricos do

empreendimento.

6.3.1 Água da rede pública

A água da unidade fabril é proveniente de duas fontes (esse estudo pretende implantar a

terceira fonte de origem pluvial), a primeira diz respeito à água fornecida pela concessionária

distribuidora da região que alimenta a fábrica através de dois registros. Na teoria a

contribuição das instalações é 50% para cada instalação, porém com uma análise mais

minuciosa dos dados fornecidos pela fornecedora é possível perceber que durante certos

períodos um dos dois registros fica fechado. O consumo computado durante o período de

estudo está apresentado na Tabela 5.

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

47

Tabela 5 - Consumo de água para o período de estudo.

Mês/Ano Consumo de água faturado

na instalação A ¹ (m³)

Consumo de água faturado na

instalação B ² (m³) Total

fev/10 34 32 66

mar/10 34 38 72

abr/10 35 34 69

mai/10 31 29 60

jun/10 23 22 45

jul/10 31 31 62

ago/10 39 35 74

set/10 32 31 63

out/10 32 31 63

nov/10 33 28 61

dez/10 45 0 45

jan/11 38 0 38

fev/11 33 9 42

1 - A instalação A está registrada sob o nome de Maria Suely e é referenciada nesse trabalho como sendo

a instalação da casa.

2 - A instalação B está registrada sob o nome de Lajes Anhanguera Ltda. e é referenciada nesse trabalho como sendo

a instalação da Fábrica.

Figura 23 - Gráfico comparativo do uso de água versus o período.

Na Figura 23 pode-se ter uma idéia dos gastos de água registrados para cada uma das duas

instalações da fábrica e também a sua combinação. Houve dois meses em que a instalação da

66 72 69

60

45

62

74

63 63 61

45 38

42

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Consumo de água faturado na instalação A ¹ (m³)

Consumo de água faturado na instalação B ² (m³)

Total

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

48

fábrica não recebeu água diretamente e o reflexo disso é um aumento no consumo da

instalação A para suprimir a demanda. É interessante analisar agora a quantidade de água

gasta na produção das diferentes peças de concreto tendo como base o traço utilizado na

fábrica (fator água/cimento de 0,6). A Tabela 6 fornece os dados necessários para que essa

análise seja realizada.

Tabela 6 - Quantidade de água x Quantidade produzida de concreto durante o período de estudo.

Mês/Ano Quantidade gasta

de Cimento (kg)

Concreto Produzido

(fck = 30 MPa) (m³)

Quantidade de Água gasta

na produção (m³)

fev/10 101.240 337,47 61

mar/10 103.840 346,13 62

abr/10 81.880 272,93 49

mai/10 49.720 165,73 30

jun/10 72.720 242,40 44

jul/10 90.060 300,20 54

ago/10 83.660 278,87 50

set/10 86.800 289,33 52

out/10 92.560 308,53 56

nov/10 82.700 275,67 50

dez/10 90.640 302,13 54

jan/11 94.100 313,67 56

fev/11 82.260 274,20 49

Se for feita agora uma comparação da água utilizada na produção em relação ao consumo

registrado pela fornecedora de água (Tabela 5 x Tabela 6) obtém o gráfico apresentado na

Figura 24:

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

49

Figura 24- Consumo Total X Consumo Registrado.

Uma análise visual do gráfico acima se pode notar que em certos pontos o consumo de água

registrado ultrapassa a quantidade de água necessária para realizar a produção e a situação é

mais interessante se for levado em conta que não está sendo considerando o consumo humano

e os outros gastos citados no consumo diário. Existem, é claro, certas incertezas e certas

variáveis que esse trabalho só conseguiria prever através de um estudo extremamente

aprofundado. Assim considerou-se que o consumo mensal é dividido segundo as porcentagens

estimadas para o consumo diário anteriormente (Figura 22), ou seja, se 26% da água gasta em

um dia é na produção, no consumo mensal 26% será destinado à produção de concreto e a

diferença para fechar os valores obtidos na produção será considerada como sendo supridas

pelo uso de água subterrânea. Fixadas tais hipóteses é possível obter a quantidade de água

subterrânea utilizada durante o período de estudo. Para facilitar a síntese de informações

adotam-se os seguintes valores da Tabela 7.

0

20

40

60

80

Água usada na produção x Água vinda da ligação com a concessionária

Total Quantidade de Água gasta na produção (m³)

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

50

Tabela 7 - Parcela de participação no consumo mensal de cada atividade desenvolvida.

Mês/Ano

Consumo de água

da concessionária

(m³)

Produção de

Insumos (26%)

(m³)

Consumo

Humano

(57%) (m³)

Perdas

Físicas

(6%) (m³)

Cura

Úmida

(11%) (m³)

fev/10 66 17,16 37,62 3,96 7,26

mar/10 72 18,72 41,04 4,32 7,92

abr/10 69 17,94 39,33 4,14 7,59

mai/10 60 15,60 34,20 3,60 6,60

jun/10 45 11,70 25,65 2,70 4,95

jul/10 62 16,12 35,34 3,72 6,82

ago/10 74 19,24 42,18 4,44 8,14

set/10 63 16,38 35,91 3,78 6,93

out/10 63 16,38 35,91 3,78 6,93

nov/10 61 15,86 34,77 3,66 6,71

dez/10 45 11,70 25,65 2,70 4,95

jan/11 38 9,88 21,66 2,28 4,18

fev/11 42 10,92 23,94 2,52 4,62

A maior parcela de consumo de água sempre fica atrelada ao consumo humano seguido pelo

valor gasto na produção de concreto. A parcela restante de água para completar a quantidade a

ser usada na produção mensal é considerada como vinda de uma fonte subterrânea como será

mostrado mais adiante.

6.3.2 Água Subterrânea

Por água subterrânea, especificamente neste trabalho, pode-se entender pela água captada de

um poço artesiano perfurado no terreno onde se localiza o empreendimento. Tal água, apesar

de ser considerada limpa não é necessariamente potável. Infelizmente para chegar a tal

conclusão seria necessária uma análise físico-química da mesma, porém tais dados não são

discutidos nesse trabalho. O importante nesse caso é levar em consideração que a água

subterrânea é usada nessa fábrica para suprir a demanda de água necessária para realizar a

produção do concreto. Segundo informações dos responsáveis, o único ponto que recebe essa

água é o reservatório usado na mini-usina de concreto, tal realidade é demonstrada na Figura

19. Para obter a quantidade de água captada do poço é necessário re-analisar a Tabela 7 e com

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

51

o auxílio dos dados da Tabela 6 obter a diferença para que a “conta feche” conforme indicado

na Tabela 8.

Tabela 8 - Dados relativos ao uso de água de origem subterrânea.

Mês/Ano Quantidade de Água

gasta na produção (m³)

Água usada na Produção

de Concreto (26% do valor

fornecido pela

concessionária) (m³)

Quantidade de

água subterrânea

captada (m³)

fev/10 61 17,16 43,58

mar/10 62 18,72 43,58

abr/10 49 17,94 31,19

mai/10 30 15,60 14,23

jun/10 44 11,70 31,93

jul/10 54 16,12 37,92

ago/10 50 19,24 30,96

set/10 52 16,38 35,70

out/10 56 16,38 39,16

nov/10 50 15,86 33,76

dez/10 54 11,70 42,68

jan/11 56 9,88 46,58

fev/11 49 10,92 38,44

Média 51 15,20 36,13

6.3.3 Águas Pluviais

O uso de águas pluviais como uma fonte de água alternativa e economicamente viável é o

principal objetivo deste trabalho. A primeira etapa dessa avaliação de viabilidade é relativa à

obtenção da verdadeira capacidade de captação dessa água. O DAE de Jundiaí fornece dados

relativos às precipitações que ocorrem no município, tais dados sempre vêem no formato de

mm de água precipitada em um recipiente de área igual a 1 m², portanto para 1 mm dentro de

um m² têm-se:

Precipitação x rea precipitada

As médias de precipitação (dados de 1997 a 2011) para os meses de estudo podem ser

observadas na Tabela 9:

(Eq. 6.3.3.1)

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

52

Tabela 9 - Precipitação mês a mês no município de Jundiaí (1997 a 2011) - Fonte: DAE Jundiaí.

Precipitação registrada de 1997 a 2011 (em mm)

Mês 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Média

Janeiro 376 187 337 193 236 309 323 207 295 317 399 342 274 375 542 314

Fevereiro 189 283 225 221 150 222 105 288 84 327 162 189 252 177 281 210

Março 57 218 163 58 121 139 237 140 282 224 115 171 80 126 248 159

Abril 48 65 30 8 51 29 30 113 23 8 46 171 81 96 387 79

Maio 46 123 55 10 84 82 45 137 169 10 54 101 65 63 22 71

Junho 127 19 85 11 38 0 1 51 41 20 45 77 48 30 39 42

Julho 13 16 3 66 13 10 39 92 26 78 202 0 119 95 6 52

Agosto 29 30 1 79 22 76 30 3 14 12 0 90 59 0 60 34

Setembro 159 86 101 130 87 54 26 7 73 95 6 35 185 93 2 76

Outubro 77 161 53 92 168 62 118 187 214 98 77 127 82 78 160 117

Novembro 179 45 61 198 202 173 197 270 78 182 188 159 308 123 150 168

Dezembro N/D¹ 354 134 165 304 64 124 144 243 389 202 130 347 211 N/D² 216

Notas

1 - Valor não registrado,

2 - Valor não disponível no momento da pesquisa,

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

53

É necessário obter qual a área do empreendimento em que é possível coletar água sendo que

tal dado é referente à área coberta onde se realizam as etapas da produção. Essa área pode ser

obtida com o auxílio da planta exibida na Figura 12. Utilizando o software Autocad com o

comando „area‟ é possível formar um polígono que informe a área desejada. A área de captura

é o telhado que recobre todo o galpão industrial excluindo a cobertura do escritório, com tais

parâmetros a área obtida é de 1506,33 m² que podem receber e encaminhar para os condutores

a água pluvial

Conhecendo-se a precipitação média da região é possível obter a quantia de água que caiu na

área de coleta durante um ano é necessário avaliar o tamanho do reservatório que está de

acordo com as demandas da fábrica. Usando o método de Rippl citado na seção 4.8 deste

trabalho e o consumo médio de água vindo da rede pública obtêm-se os volumes da Tabela 10

que diz respeito ao dimensionamento de um reservatório baseado na chuva durante o período,

a área de coleta e o coeficiente de escoamento superficial (adota-se o valor de 0,8 segundo as

recomendações apresentadas na sessão 4.8 deste trabalho). A demanda substituível adotada

para a fábrica é de 23 m³ por mês, o que corresponde a uma aproximação do valor médio de

água, oriunda da rede pública, gasto na produção de concreto durante o período analisado

(Tabela 8) somado a média de gastos com a cura úmida (7 m³) (Tabela 7). O método consiste

nas diferenças entre a demanda e a quantidade de água que pode ser captada mensalmente.

Devido à sazonalidade da chuva em alguns meses a demanda não pode ser atendida devido à

baixa precipitação, a soma dos valores quando a demanda supera a produção será o volume

necessário para o reservatório em questão. Como em todos os meses os valores da diferença

entre a demanda e a capacidade de captação foram negativos (o que na prática significa que

está sobrando água) deve-se adotar o valor de 23 m³ para o reservatório uma vez que durante

o ano todo sua capacidade sempre ira suprir a demanda. Portanto, adotam-se 3 reservatórios

pré-fabricados de capacidade igual a 8 m³ cada um totalizando 24 m³ de volume total.

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

54

Tabela 10 - Dimensionamento do Reservatório de água pelo método de Rippl.

Mês Demanda de

água (m³) (D)

Precipitação de

Chuva (mm) (A)

Área de

Captação (m²)

(B)

Coeficiente

de Run-off

(C)

Volume de Chuva Aproveitável (m³)

(AxBxC) (E)

Volume de Água no

Reservatório (m³) (D-E)

Janeiro 23 314 1506,33 0,8 378,55 -355,55

Fevereiro 23 210 1506,33 0,8 253,42 -230,42

Março 23 159 1506,33 0,8 191,12 -168,12

Abril 23 79 1506,33 0,8 95,28 -72,28

Maio 23 71 1506,33 0,8 85,64 -62,64

Junho 23 42 1506,33 0,8 50,77 -27,77

Julho 23 52 1506,33 0,8 62,50 -39,50

Agosto 23 34 1506,33 0,8 40,57 -17,57

Setembro 23 76 1506,33 0,8 91,50 -68,50

Outubro 23 117 1506,33 0,8 140,91 -117,91

Novembro 23 168 1506,33 0,8 201,89 -178,89

Dezembro 23 216 1506,33 0,8 260,57 -237,57

Volume a ser adotado do Reservatório 23,00

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

55

6.4 Estudo de Viabilidade técnica e econômica

Tão importante quanto a determinação das diversas etapas produtivas e da quantidade de água

que pode ser usada na produção do concreto é a avaliação da viabilidade técnica e econômica

da adoção da água pluvial como insumo produtivo na unidade fabril. Por viabilidade técnica

deve-se sempre ter em mente a necessidade de adoção de uma solução que seja na medida do

possível econômica e racional, mas que sempre atenda as nossas necessidades. A viabilidade

econômica pode ser comprovada através da avaliação dos custos de implantação e operação

de um reservatório. Os custos diretos e indiretos são os seguintes:

Custo de escavação;

Custo de adaptação dos condutores para levar a água até o reservatório;

Custos oriundos da construção do reservatório;

Custos de operação (Manutenção, operação, bombeamento, etc).

Na seção anterior foi definido que o volume ideal do reservatório deve ser de 23 m³, porém

devido a indisponibilidade de um reservatório que possua exatamente o volume requerido

adotam-se 3 reservatórios pré-fabricados com capacidade de 8 m³ cada. O valor obtido desse

material e sua instalação foram fornecidos pela empresa Agretal após uma consulta. O tipo de

reservatório está ilustrado na figura 25.

Figura 25 – Tipo de reservatório a ser utilizado no empreendimento

estudado - Fonte: Agretal.

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

56

Como este trabalho não pretende se aprofundar em demasiado nas diversas variáveis que

poderiam ser levadas em conta (e de fato o objetivo do estudo é demonstrar uma análise

simplificada do uso da água pluvial) devido à complexidade da análise será utilizado apenas o

valor cobrado pelos reservatórios e seu transporte. Tais dados foram obtidos através de um

orçamento enviado para a empresa Agretal cuja especialidade é o fornecimento de peças de

concreto para serem usadas como reservatórios. Tal orçamento está incluso nesse trabalho

como anexo A. O valor total do fornecimento dessas peças é de R$ 11.554,00.

A Tabela 11 é uma adaptação da Tabela 7 com a inclusão dos preços pagos ao DAE pelo

consumo registrado na fábrica. Se excluirmos o valor da água usada na produção e cura do

concreto o consumo é rebaixado para uma faixa inferior de cobrança, segundo o DAE para

essa faixa são cobrados R$ 7,446 por m³ de água usada. Ainda sobre a Tabela 11 é possível

avaliar a economia se fosse possível substituir toda a água usada na produção de concreto e na

cura das peças moldadas por água pluvial.

Tabela 11 - Dados do consumo de água e os preços praticados pelo DAE, com ênfase na economia possível.

Mês/Ano

Consumo

de água

da

concession

ária (m³)

Produção de

Insumos (26%)

(m³)

Cura

Úmida

(11%)

(m³)

Demais

Usos

(67%)

(m³)

Valor da

Conta de

Água

para o

período

(R$)

Valor

excluindo o

consumo de

água usada na

produção e

cura do

concreto (R$)

Economia

Real (R$)

fev/10 66 17,16 7,26 41,58 403,70 309,60 94,10

mar/10 72 18,72 7,92 45,36 486,26 337,75 148,51

abr/10 69 17,94 7,59 43,47 460,06 323,68 136,38

mai/10 60 15,60 6,60 37,80 372,24 281,46 90,78

jun/10 45 11,70 4,95 28,35 247,87 211,09 36,78

jul/10 62 16,12 6,82 39,06 364,49 290,84 73,65

ago/10 74 19,24 8,14 46,62 488,37 347,13 141,24

set/10 63 16,38 6,93 39,69 371,62 295,53 76,09

out/10 63 16,38 6,93 39,69 379,29 295,53 83,76

nov/10 61 15,86 6,71 38,43 356,51 286,15 70,36

dez/10 45 11,70 4,95 28,35 390,70 211,09 179,61

jan/11 38 9,88 4,18 23,94 323,91 178,26 145,65

fev/11 42 10,92 4,62 26,46 263,16 197,02 66,14

Total 4.908,18 3.565,14 1.343,04

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

57

Eq. (4.5.1)

Uma economia de R$ 1.343,03 a cada 13 meses que pagaria o investimento da execução do

reservatório em aproximadamente 10 anos da data do inicio do funcionamento da coleta e

utilização apenas com a acúmulo mensal de recursos que deixariam de ser gastos. Usando a

formula 4.5.1 relativa à análise de investimento, considerando que fosse possível repetir o

valor economizado anualmente pelos próximo três anos obtem-se:

Essa equação resulta em uma TIR de aproximadamente 2,83%, ou seja, um valor

economicamente viável no evento da Taxa Mínima de Atratividade (TMA) residir abaixo do

valor da TIR encontrada.

Deve-se ressaltar que caso a implantação saísse da teoria e ocorresse na prática deveria haver

análises da água pluvial por um período de amostragem e caso fosse detectado que alguns

índices estivessem fora dos estabelecidos por norma seria necessário a adoção de medidas que

melhorassem a qualidade da água e que, com certeza impactariam na Taxa Interna de Retorno

do investimento, atrasando também o retorno financeiro.

6.5 Implantação do sistema de aproveitamento de água pluvial

A primeira etapa para a implantação de um sistema de aproveitamento de água pluvial

consiste no treinamento de funcionários para que se adaptem a essa nova tecnologia e que a

mesma seja utilizada corretamente, o mau uso dessas águas pode acarretar em prejuízos se o

sistema não for adotado plenamente e também pode trazer danos a saúde caso um operário

tome dessa água (que não pode ser considerada como potável) e por alguma razão esteja

contaminada.

A realização de manutenções periódicas ajuda a diminuir o risco de falta do insumo durante

um momento de necessidade, por parada não programada do maquinário. A limpeza dos

condutores de água pluvial é outra tarefa vital para garantir o correto funcionamento do

sistema, uma vez que caso haja materiais grandes interrompendo o fluxo da água (galhos,

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

58

folhas, lixo, etc) podem ocorrer extravasamentos que acarretem em perdas de recurso e

também dificultem a recarga do reservatório.

A implantação das medidas citadas acima associadas com políticas de uso racional de água

podem melhorar ainda mais a redução dos gastos e, por conseguinte beneficiar a unidade

fabril na aquisição de uma mentalidade diferenciada, voltada para a exploração coerente dos

recursos hídricos colocados a sua disposição.

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

59

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Se fosse necessário analisar quais são os recursos mais críticos para o desenvolvimento da

humanidade nos próximos anos, a água com certeza apareceria como sendo um dos insumos

em que será necessário se investir mais para que não ocorra falta para a população e para que

continuemos nosso desenvolvimento sem que ajam restrições proibitivas. Construir, nos dias

atuais, sem levar em conta os impactos envolvidos é um grande erro. Pensar com

sustentabilidade e agir racionalmente se tornaram competência trivial do engenheiro que entra

no mercado de trabalho, ainda mais por que a sustentabilidade está atrelada a uma visão

econômica do mercado, hoje em dia ser sustentável é fazer mais com menos (gastando o

mínimo possível). A primeira conclusão que foi possível averiguar neste trabalho é que a água

pluvial cai em uma abundância que se coletada e utilizada de maneira correta, poderia suprir

toda a demanda de água da unidade fabril ou poderia simplesmente ser armazenada para ser

usada em períodos adequados.

É possível deduzir ainda que o uso da água pluvial para a indústria da construção civil é

justificável. Algumas hipóteses tiveram que ser formuladas para que fosse possível chegar à

análise última que este trabalho se propôs, porém pode-se chegar à conclusão que ela não esta

tão longe assim da realidade.

Conforme exposto na seção 6.2.4 a viabilidade técnica fica comprovada devido à comparação

das características exigidas pela norma NM 137/97 com as obtidas nos diversos ensaios

realizados por May (2004). Se se comparar que para os experimentos May captou água em

São Paulo, onde a poluição é mais intensa, pode-se esperar características melhores para a

água de Jundiaí, especialmente para a localização da fábrica (uma vez que a mesma está

locada em uma área com mata nativa e muito permeável, permitindo filtração do insumo). No

quesito teor de Ferro da água pluvial, o valor máximo obtido nos ensaios de São Paulo acabou

superando o valor recomendado, portanto caso fosse implantado um PCRA como descrito por

esse trabalho haveria necessidade de algumas análises relativas à qualidade da água pluvial

local para determinar se existe a necessidade de associar o reservatório com um filtro para a

remoção excessiva dessas partículas.

A viabilidade econômica pode ser comprovada através da análise da Taxa Interna de Retorno

obtida pelo investimento dos recursos economizados mês a mês com o aporte das águas

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

60

pluviais para a produção do concreto. Apesar de a TIR obtida ser de aproximadamente 2,83%

para um investimento no prazo de dez anos essa situação poderia ser muito melhor se for

considerado que nem toda empresa de concreto pré-fabricado dispõe de um poço artesiano

com elevada capacidade. Se imaginássemos que a empresa trabalha apenas com a água

oriunda de uma empresa distribuidora a economia poderia dobrar ou quase triplicar. É claro

que um aumento na adoção da água pluvial também acarretaria na elevação dos gastos de

implantação do reservatório.

A potencialidade de aproveitamento da água pluvial para essa empresa é relativamente

pequeno se for observado que na matriz de uso diário de água, o recurso quando usado para

consumo humano chega a 57% do volume gasto, em outras empresas em que o consumo de

água é mais significativo na produção de insumos (por exemplo, empresas de fornecimento de

concreto) a adoção desse tipo de uso poderia trazer maior economia.

Deve-se levar em conta também que além de ser um bom investimento, de ser técnica e

economicamente viável, a adoção do aproveitamento garante a empresa um status social

perante a sociedade, esse é um benefício muito bem vindo quando se visa obtenção de

certificados de práticas ambientalmente corretas, o consumidor atual tende a visar empresas

que se preocupam com o meio ambiente conforme explicado anteriormente nesse trabalho.

Iniciativas como a adoção de medidas econômicas e sustentáveis acabam criando uma

consciência coletiva nos trabalhadores (desde que seja oferecida orientação por parte da

empresa) e é justamente esse tipo de mentalidade que deve ser incentivada pela sociedade,

pois as práticas baseadas nela visam atingir metas ambientalmente desejáveis para a

humanidade como um todo.

O assunto tratado neste trabalho está longe de ser fechado, existe ainda a possibilidade de

ampliação desses estudos buscando minuciosamente gastos exigidos para a adoção um

sistema de aproveitamento, qualidade de água necessária e também os eventuais tratamentos

que podem ser usados para a correção da água pluvial viabilizando seu uso não só para a

indústria de pré-moldados, mas também para outros nichos ligados a diferentes atividades

industriais, portanto, salvo as conclusões tiradas neste trabalho, trata-se de um campo aberto e

que no Brasil particularmente foi pouco explorado.

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

61

8. REFERÊNCIAS

BIBLIOGRÁFICAS

AGRETAL. Disponível em <http://www.agretal.com.br/principal/index.htm>. Acessado em

18/12/2011.

ALMEIDA, L. S.; PEREIRA, W. A. Método manual para o cálculo da taxa interna de retorno.

Disponível em <http://www.faculdadeobjetivo.com.br/arquivos/MetodoManual.pdf>.

Acessado em 11/12/2011

ANGELAKIS, A. N., BONTOUX, L., LAZAROVA, V. Challenges and prospectives for

water recycling and reuse in EU countries. Water Science and Technology: Water Supply.

v. 3, n. 4, p. 59-68, 2003

ASANO, T.; MAEDA, M.; TAKAKI, M. Wastewater reclamation and reuse in Japan:

overview and implementation examples.Water Science Technology, v. 34, n. 11, p. 219–226,

1996.

BRAGA, E. D. Estudo de Reuso de Água em Condomínios Residenciais. 2009. 144 f.

Dissertação (Mestrado em Ciências em Engenharia de Energia) – Centro de Ciências Exatas,

Universidade Federal de Itajubá, Itajubá, 2009.

BRYANT, C. W. “Por quanto tempo você consegue ficar sem comida e sem água?”

Disponível em <http://saude.hsw.uol.com.br/sem-comida-nem-agua2.htm>. Acessado em

23/11/2011.

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

62

CIMENTO.ORG. Efeito da qualidade da água no concreto. Disponível em

<http://www.cimento.org/index.php?option=com_content&view=category&layout=blog&id=

35&Itemid=27>. Acessado em: 13 nov 2011.

CROOK, J. Critérios de qualidade de água para reuso. Tradução por FELÍCIO DOS

SANTOS, H. São Paulo, v. NOV/DEZ, n. 174, p. 10-15, 1993.

FEDERAÇÃO E CENTRO DE INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO.

Conservação e Reúso de água: Manual sobre Orientações para o Setor Industrial. 2.ª Ed,

2004. Disponível em: <http://www.fiesp.com.br/publicacoes/pdf/ambiente/reuso.pdf>.

Acessado em: 02 abr 2011.

GOLDENFUM, J. A. Reaproveitamento de águas pluviais. 2006. Disponível em

<www.upf.br/coaju/download/reaproveitamentochuva_palII.pdf>. Acesso em: 03 abr 2011.

HESPANHOL, I. Potencial de reuso de água no Brasil: Agricultura, Indústria, Municípios,

recarga de aqüíferos. Bahia e Análise de Dados, v. 13, n. especial, p. 411–437, 2003.

HESPANHOL, I. Um novo paradigma para a gestão de recursos hídricos. Rev. Estudos

Avançados. v. 22, n. 63, p 131-158, São Paulo, 2008.

MAY, S. Estudo da viabilidade do aproveitamento da água de chuva para consumo não

potável em edificações. 2004. 159 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia) – Centro de

Ciências Exatas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004.

MCKENZIE, C. Wastewater reuse conserves water and protects waterways. Rev. On Tap. v.

4, n. 4, p 46-51, 2005. Disponível em: <http://www.nesc.wvu.edu/>. Acesso em: 03 abr.

2011.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

63

SILVA FILHO, J. C. G.; SICSÚ, A. B. Produção mais limpa: uma ferramenta da gestão

ambiental aplicada às empresas nacionais. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção,

23., 2003, Ouro Preto. Anais... Ouro Preto, 2003, p. 1–8.

TEXAS WATER DEVELOPMENT BOARD. The Texas manual on Rainwater

harvesting. 3rd Ed, 2005. Disponível em:

<http://www.twdb.state.tx.us/publications/reports/Rainwaterharvestingmanual_3rdedition.pdf

>. Acessado em: 03 abr 2011.

TOMAZ, P. Aproveitamento de Água de chuva de coberturas em áreas urbanas para fins não

potáveis segundo a ABNT NBR 15527/07 – Diretrizes básicas de projeto, 2007. Disponível

em <http://pt.scribd.com/doc/50977296/metodo-de-rippl>. Acessado em: 18/12/2011.

VALLE, J. A. B. et al. Considerações sobre o uso industrial de água de chuva. In.

CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, 23., 2005,

Campo Grande. Anais... Disponível em: < http://www.bvsde.paho.org/bvsacd/abes23/I-

027.pdf>. Acessado em: 03 abr 2011.

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

64

9. BIBLIOGRAFIA

CONSULTADA

ASANO, T. et al. Large-Area and on-site water reuse in Japan. Disponível em

<www.pwri.go.jp/eng/activity/pdf/reports/suzuki-yutaka020327.pdf>. Acesso em: 03 abr

2011.

AUSTRALIAN GOVERNMENT. Guidance on use of Rainwater tanks. 2nd. Ed. [S.I.]: en

Health, 2004. Disponível em:

<www.nphp.gov.au/enhealth/council/pubs/documents/rainwater_tanks.pdf>. Acessado em: 03

abr 2011.

CUSTOS UNITÁRIOS BÁSICOS DE EDIFICAÇÕES. Mês de referência Outubro/2011.

Disponível em < http://www.construcaomercado.com.br/IC/Cube.asp>. Acessado 22/11/2011.

DAE – EMPRESA – „O QUE É?‟. Disponível em

<http://www.daejundiai.com.br/daesite/portal.nsf/V03.02/dae_empresa_oque?OpenDocument>.

Acessado em 11/09/2011.

DAE – ETA – ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA. Disponível em

<http://www.daejundiai.com.br/daesite/portal.nsf/V03.02/infraEstrutura_eta_etapas?OpenDocument>.

Acessado em 12/09/2011.

DAE – Relatório anual de qualidade da água: ano base 2010. 2010. Disponível em

<http://www.daejundiai.com.br/daesite/biblio.nsf/V03.01/indice_pluviometrico/$file/qualidad

e_fechado_new.pdf?OpenElement>. Acessado 16/10/2011.

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

65

LAJES ANHANGUERA. Disponível em <www.anhanguera.com.br>. Acessado em

02/05/2011.

MAY, S. Caracterização, tratamento e reuso de águas cinzas e aproveitamento de águas

pluviais em edificações. 2009. 222 f. Dissertação (Doutorado em Engenharia) – Centro de

Ciências Exatas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

MELO DA SILVA, J. L. Utilização de esgoto tratado em sistemas de lagoas de

estabilização como água de amassamento e cura do concreto. 2008. 141 f. Dissertação

(Mestrado em Engenharia) – Centro de Tecnologia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza,

2008.

NBR 15527 – Água de chuva – Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para

fins não potáveis – Requisitos. 2007. 8 f. ABNT – Associação Brasileira de Normas

Técnicas, Rio de Janeiro, 2007.

RODRIGUES, L. B. et al. Estudo para avaliação do potencial de reuso e aproveitamento da

água de chuva em indústria. Disponível em

<www.bvsde.paho.org/bvsaidis/uruguay30/BR04342_Mierzwa.pdf>. Acesso em: 03 abr

2011.

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS - deciv.ufscar.br · norma ABNT NBR 15527/2007 com algumas ressalvas. Palavras-Chave: Reuso de água, Água pluvial, Dimensionamento de reservatórios

66

10. ANEXO A – Orçamento

Agretal