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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DEPARTAMENTO DE PESQUISA PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC RELATÓRIO TÉCNICO – CIENTÍFICO PERÍODO: AGOSTO/ 2007 A JULHO/ 2008 ( ) PARCIAL (x) FINAL IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do Projeto de Pesquisa: “As práticas formativas em educação profissional no estado do Pará: em busca de uma didática da educação profissional” Nome do Orientador: Ronaldo Marcos de Lima Araujo. Titulação do Orientador: Doutor Departamento Unidade: Departamento de Fundamentos da Educação – DFE / Instituto de Ciências da Educação. Laboratório: Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho e Educação - GEPTE Título do Plano de Trabalho: “A Didática da Educação Profissional: práticas formativas propostas e experimentadas no Centro de Serviços Educacionais do Pará - CESEP”. Nome do Bolsista: Adriane Suely Rodrigues do Nascimento.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

DEPARTAMENTO DE PESQUISA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC

RELATÓRIO TÉCNICO – CIENTÍFICO PERÍODO: AGOSTO/ 2007 A JULHO/ 2008 ( ) PARCIAL (x) FINAL

IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO Título do Projeto de Pesquisa: “As práticas formativas em educação profissional no estado do Pará: em busca de uma didática da educação profissional” Nome do Orientador: Ronaldo Marcos de Lima Araujo.

Titulação do Orientador: Doutor Departamento Unidade: Departamento de Fundamentos da Educação – DFE / Instituto de Ciências da Educação. Laboratório: Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho e Educação - GEPTE

Título do Plano de Trabalho: “A Didática da Educação Profissional: práticas

formativas propostas e experimentadas no Centro de Serviços Educacionais do Pará -

CESEP”.

Nome do Bolsista: Adriane Suely Rodrigues do Nascimento.

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2SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 3 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................... 4 OBJETIVOS .................................................................................................................. 6 MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................................... 7 RESULTADOS .............................................................................................................. 9 PUBLICAÇÕES .......................................................................................................... 25 ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS NOS PRÓXIMOS MESES ................ 26 CONCLUSÃO ............................................................................................................. 27 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 29 APÊNDICE I – QUESTÕES PARA A ENTREVISTA ............................................... 31 APÊNDICE II – RESPOSTAS DA ENTREVISTAS ................................................... 32 APÊNDICE III – RELATÓRIO DAS OBSERVAÇÕES DAS AULAS NOS CURSOS TÉCNICOS NO CESEP .............................................................................................. 44 APÊNDICE IV – CARACTERÍSTICAS DOS FICHAMENTOS UTILIZADOS NA PESQUISA .................................................................................................................. 50

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3INTRODUÇÃO

Este relatório apresenta resultados finais do trabalho desenvolvido a partir do plano de

atividades: “A Didática da Educação Profissional: práticas formativas propostas e

experimentadas no Centro de Serviços Educacionais do Pará - CESEP”, que é parte

constituinte do Projeto de Pesquisa intitulado: “As práticas formativas em educação

profissional no estado do Pará: em busca de uma didática da educação profissional”,

vinculado ao Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho e Educação (GEPTE), do Instituto

de Ciências da Educação da UFPA.

O objeto de estudo deste trabalho de pesquisa é a didática propostas e experimentadas

na educação profissional, que vem sendo desvelada na produção da Revista do Núcleo de

Estudos sobre Trabalho e Educação da Faculdade de Educação da UFMG, nos últimos dez

anos, pois a educação profissional e tecnológica tem sido reiteradamente discutida neste

periódico deste a sua criação em 1996, tendo em vista sua proximidade com o tema trabalho-

educação.

No primeiro momento da pesquisa, buscou-se analisar as referências teórico-

metodológicas indicadas nestas produções para o reconhecimento da didática da educação

profissional pautada na visão politécnica de ensino. A politecnia pressupõe o domínio dos

fundamentos científicos das diferentes técnicas utilizadas na produção moderna, e não o

simples adestramento em técnicas produtivas (SAVIANI, 2006). Portanto, focalizou-se o

estudo a partir da identificação dos elementos formativos voltados, principalmente, a uma

concepção que tem por objetivo permitir um processo amplo de formação humana.

Na segunda etapa deste trabalho, objetivamos analisar as práticas de ensino

desenvolvido na educação profissional do Centro de Estudos Superiores do Estado do Pará a

fim de conhecer o modelo de formação desenvolvido pela Instituição por meio a observação

simples das aulas e as entrevistas semi-estruturadas com os professores dos cursos técnicos.

Esta pesquisa parte do suposto de que, mesmo com a reestruturação da educação

profissional nos anos de 1990, analisadas na pesquisa anterior, verificou-se que tem

permanecido nas práticas educativas o desenvolvimento de uma lógica pragmática que

continua propondo aos trabalhadores uma formação de ajustamento ao mercado de trabalho,

em detrimento de uma formação que o considere como sujeito.

Essa lógica se manifesta na educação profissional, por meio de uma visão dicotômica

entre teoria e prática, na distinção ou soma das categorias profissionalização e escolarização,

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4revela-se ainda na dissociação das disciplinas teóricas e práticas (ARAÚJO, 2007).

Os principais resultados revelam que as práticas formativas da educação profissional

estão centradas numa perspectiva de formação voltada para uma adequação do ensino às

exigências do mercado, tendo a empregabilidade, a produtividade, e, conseqüentemente, a

dinamização deste mercado de trabalho como eixo principal de sua formalização. E, a

aprendizagem é entendida a partir de um caráter pragmático, provocando uma acentuada

subordinação dos trabalhadores às demandas do setor produtivo.

JUSTIFICATIVA

Este projeto de pesquisa justifica-se por três questões. A primeira é em função da

continuidade de estudos da pesquisa anterior e pelo aprofundamento da mesma. Em seguida

diz respeito à didática de educação profissional ser um objeto de estudo raro nas pesquisas de

educação profissional. E, posteriormente, sobre as transformações do sistema produtivo e suas

implicações no perfil profissional.

O referido Projeto dá continuidade e aprofundamento a uma pesquisa anteriormente

realizada neste Grupo de Pesquisa acerca da Institucionalidade da Educação Profissional no

Pará, que buscou perceber os impactos das políticas de formação profissional implementadas

no Brasil, na década de 1990.

De acordo com Araujo (2007) a didática de educação profissional ainda é um objeto

de estudo raro nas pesquisas de educação no Brasil, mesmo naquelas pesquisas que tratam

especificamente de educação profissional, o que foi confirmado a partir de levantamento

bibliográfico realizado, ao término da pesquisa anterior, pelo referido grupo de pesquisa.

Ainda segundo o autor, faz-se necessário um estudo para organizar e sistematizar um

quadro de referências que permita a avaliação de práticas formativas de educação profissional,

com base na filosofia da práxis. Para o autor, o desconhecimento sobre essa didática dificulta

o planejamento racional das críticas e das proposições de ações de formação que visem à

qualificação do trabalhador.

Percebemos que as transformações ocorridas nos sistemas produtivos, introduzidas

pelo avanço tecnológico e pela globalização da economia trouxeram mudanças na forma de

organizar e gerenciar o trabalho e a produção, e que tem influenciado diretamente nas

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5políticas e práticas de formação profissional.

Nesse sentido o mercado de trabalho impõe a exigência de um perfil profissional

diferenciado do padrão taylorista-fordista, pois enquanto este valorizava as formações

fragmentadas, separando o pensar e o executar, o novo modelo de produção flexível, requer

um trabalhador pensante-executante, com capacidade de enfrentar situações novas em

contextos variáveis. (ARAUJO, 2007, p.38).

A partir da nova configuração produtiva e de uma nova demanda para a educação,

Araujo (Idem) afirma que:

A pedagogia das competências representa a principal referência das emergentes estratégias de educação profissional. Apresentando-se como algo novo, coloca em xeque o atual sistema de ensino e passa a exigir uma organização curricular que leve em conta a diversidade dos processos produtivos.

Com isso, as instituições de ensino profissional tendem a incorporar na organização

curricular de seus cursos essa nova proposta de educação profissional instituída pela reforma

do ensino que adotou o currículo por competência com o objetivo de garantir a evidência das

competências requisitadas pelos empregos, possibilitando a definição e a sistematização de

um perfil profissional.

Neste sentido, acreditamos que a nossa ação de pesquisa serviu para consolidar as

formulações de estudos nesse campo do conhecimento que vem sendo desenvolvido pelo

Grupo de Estudo sobre Trabalho e Educação da UFPA, possibilitando definir as

características da didática da educação profissional e como a mesma orienta a estrutura das

práticas que têm servido de referência para a formação dos trabalhadores, permitindo, por sua

vez, uma identificação dos conteúdos das diferentes ações formativas junto a seus

significados.

Dessa forma, a pesquisa pretendeu responder questões relativas aos processos de

definição dos objetivos de ensino, da organização curricular e das estratégias formativas e de

avaliação implementadas na educação profissional, e ainda, pelo desenvolvimento de novas

pesquisas da didática voltada para a ótica do trabalhador, e não para a ótica empresarial.

Optou-se por realizar a pesquisa no Centro de Serviços Educacionais do Pará –

CESEP, situado na cidade de Belém, tendo em vista que, dentre as instituições que ofertam

educação profissional em nosso Estado, o CESEP tem 30 anos de existência na sociedade

paraense, vem desde 1997 se propondo a formar profissionais técnicos em diversas áreas,

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6tendo como referência a seguinte perspectiva: ”saber fazer para ser mais”, para que possa

viver a vida sendo útil a sociedade e nela facilmente se engajando.

O CESEP é um estabelecimento particular de ensino, com finalidade lucrativa,

mantido pelo centro de Educação Técnica do Estado do Pará, entidade civil. A instituição

mantém os cursos de Educação Básica sob forma regular nos níveis de Educação Infantil, o

Ensino Fundamental e o Ensino Médio, nas modalidades de Educação de Jovens e Adultos e

Educação Profissional.

A formação profissional de nível técnico, objeto de estudo da nossa pesquisa,

oferecida pelo CESEP vem desenvolvendo sua atuação educativa em consonância com os fins

da educação nacional, com os objetivos de ensino estabelecidos pela legislação educacional

vigente e se vincula ao sistema de ensino do Estado do Pará.

De acordo com o regimento da Instituição, esta oferecerá a educação profissional de

nível técnico, conforme projetos pedagógicos elaborados segundo a natureza e especificidade

de cada curso, obedecidas às exigências legais e pertinentes..

A reforma educacional em vigor no Brasil a partir da LDB 9194/96 e o dispositivo de

regulamentação no que se refere a educação profissional através do Decreto 2.208/97, fez com

que o CESEP implementasse esta modalidade de ensino com uma concepção, baseada em um

currículo por competências, ou seja, abrangendo saberes, valores, capacidade de expressão,

resolução de problemas, realização de projetos, sobretudo por metodologia que integrem a

vivência e a prática profissional.

OBJETIVOS

Geral:

O estudo proposto buscou analisar as práticas de formação da educação profissional

propostas e experimentadas no Centro de Serviços Educacionais do Pará - CESEP, com

embasamento nas referências teórico-metodológicas construídas sobre a didática da educação

profissional, reveladas na produção da Revista do NETE/UFMG.

Específicos:

• Levantar, organizar e sistematizar a produção da Revista do NETE/UFMG dos últimos

dez anos, que revelasse propostas e estratégias formativas em educação profissional;

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7• Identificar os enfoques teóricos que embasam as ações formativas da educação

profissional verificadas nessas obras (no periódico da Revista do NETE);

• Conhecer que didática está sendo desenvolvida, reconhecida e problematizada pelos

autores, a partir da identificação de elementos como os objetivos de ensino, os

conteúdos de ensino, as metodologias de ensino e avaliação da Educação Profissional;

• Identificar nos documentos referentes ao planejamento de ensino da Instituição, os

objetivos, conteúdos e métodos de ensino e de avaliação;

• Verificar que tipo de formação a educação profissional está subsidiando aos alunos, a

partir da análise das práticas formativas efetivadas nesta Instituição.

• Analisar os resultados da pesquisa de campo em confronto com o referencial teórico

eleito.

MATERIAIS E MÉTODOS O plano de atividades esteve dividido em duas etapas. O primeiro momento

constituiu-se da pesquisa bibliográfica, para a caracterização de uma possível didática

realizada na educação profissional. Posteriormente, foi realizada a pesquisa de campo para a

coleta de dados junto ao Centro de Serviços Educacionais do Pará - CESEP, escolhida dentre

as que ofertam ensino profissional de nível técnico no Estado, com o objetivo de verificar, de

que forma as práticas educativas problematizadas e propostas pelos autores estão se

desenvolvendo no Estado.

Para estudar a Didática da Educação Profissional no Estado, foi realizada uma

revisão bibliográfica, por meio de levantamento e seleção de artigos, leitura, fichamento e

análise comparativa, no intuito de identificar as abordagens teóricas encontrada nos atuais

escritos sobre Educação Profissional, como nos periódicos da revista do Núcleo de Estudo

sobre trabalho e Educação (NETE), do Boletim Técnico do Serviço Nacional de

Aprendizagem Comercial (SENAC) e a revista "Trabalho, Educação e Saúde" da FIOCRUZ,

no período de 1996 a 2007.

A leitura e a seleção dos artigos foram organizadas a partir da premissa de que os

textos abordassem a questão das práticas formativas desenvolvidas na educação profissional.

A partir desta observação partiu-se para realização dos fichamentos, método, no qual

destacamos o tema tratado, o objeto de estudo, o problema encontrado para a realização da

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8pesquisa, a tese defendida pelo autor, os argumentos expostos e conclusão. Acrescido a estes

itens identificamos as categorias para análise (objetivos, conteúdos e métodos de ensino e e

avaliação).

Realizamos o levantamento bibliográfico em todas as revistas, com exceção do

volume 13 (nº 2) de 2004 da Revista do NETE e dos volumes 28 (nº 1) e 33 de 2007 do

Boletim Técnico do SENAC. No entanto, a leitura mais aprofundada e o fichamento dos

artigos para posterior análise ocorreu somente com a Revista do NETE.

Nos periódicos do Boletim Técnico do SENAC foram vistos 140 artigos, porém destes

110 não apresentavam nenhuma relação com o tema em questão. Na Revista sobre "Trabalho,

Educação e Saúde" da FIOCRUZ contabilizou-se 119 produções, sendo considerados artigos,

resenhas, debates, ensaios e relatos, entre os quais apenas 18 apontavam para as discussões

sobre formação humana no ensino profissional.

No levantamento da Revista do NETE encontramos 110 artigos, dos quais 30 tratavam

do tema sobre as práticas formativas em educação profissional. Dentre os artigos mais

relevantes para a pesquisa, tendo em vista a questão das práticas realizadas no contexto da

educação profissional, destacamos os seguintes

• Relação entre conhecimento escolar e o conhecimento produzido no trabalho: dilemas

da educação do trabalhador – Aluysio ARANHA • O trabalho humano na sociedade da informação: desfazendo alguns equívocos -

Rosângela Leal • Educação e Trabalho nas Políticas de Educação profissional: um estudo das ONGs, no

rio de janeiro - Beatriz Pinheiro e Neide Deluiz. • A complexidade da avaliação formativa da avaliação formativa na educação de jovens

e adultos trabalhadores - CASTILHO, A. P. L.; ARANHA, A. V. S. • Trabalho-Educação numa perspectiva de classe: apontamentos à educação dos

trabalhadores - RIBEIRO, Marlene. • O modelo curricular por competência e os desafios e os desafios à prática docente -

ABREU, G.R.; GONZALES, W. R. C. • Reestruturação capitalista: educação e escola - Oder José dos Santos • Considerações sobre a disseminação do conhecimento científico e tecnológico e sobre

a formação para o trabalho na sociedade emergente - Gilberto Lacerda. Santos • As práticas Pedagógicas em ampliação da escolaridade e a produção das novas

qualificações da forma de trabalho no ambiente da produção - Moacir Fernando Viegas.

• Certificação de competências: um olhar sobre a experiência de alguns países – FIDALGO F.; SANTOS, N.E.P.

• A concepção politécnica de ensino: teoria e prática na formação técnica da EPSJV/FIOCRUZ - Júlio César França Lima.

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Nesta segunda etapa, utilizamos uma abordagem qualitativa, a qual se preocupa com

questões particulares que não podem ser meramente quantificadas. Objetivamos conhecer o

modelo de formação desenvolvido pela Instituição por meio da análise dos documentos

referentes aos planos de curso e de ensino, bem como observação de aulas e a realização de

entrevistas.

Com o intuito de colher as informações necessárias para a pesquisa, utilizamos como

técnica de coleta dados a observação simples das aulas e as entrevistas semi-estruturadas com

os professores dos cursos de educação profissional:

Podemos entender como entrevista semi-estruturada aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipótese, que interessam a pesquisa e que, em seguida oferece amplo campo de interrogativa, frutos de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento, de suas experiências dentro do foco principalmente colocado pelo investigados, começa a participar da elaboração do conteúdo da pesquisa. (TRIVINOS, 1986, p.146).

No CESEP, realizamos as entrevistas com os professores de diferentes cursos

ofertados pela Instituição, bem como fizemos as observações na sala de aula, também de

cursos variados. Posteriormente, fizemos a transcrição das entrevistas e o relatório das

observações (Anexos I, II, e III).

Após a coleta de dados e a organização dos mesmos, fizemos a análise das

informações coletadas relacionando-as com os conhecimentos obtidos na pesquisa

bibliográfica, feita anteriormente.

RESULTADOS Os periódicos da Revista do NETE, vem há mais de dez anos discutindo, refletindo,

problematizando e propondo questões relacionadas à área de trabalho e educação. Trabalho-

Educação:

É um objeto complexo, pois congrega um conjunto de elementos que tem relações entre si e que formam uma unidade. Tem características universais porque diz

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10respeito à reprodução do homem, do meio material e cultural, ao caráter das condições de vida cotidiana, que determinam o modo de produção. Tem também, particularidades específicas, que influem retroativamente sobre o desenvolvimento da economia, da política, da cultura e da sociedade. (MACHADO, 2005, P. 135).

Portanto, constituindo-se como referência nacional para as publicações de artigos

sobre este campo da educação e como fonte de referência para o desenvolvimento de novas

pesquisas. E, na especificidade da educação profissional, atua abordando sob diferentes

perspectivas, aspectos como história, impactos da globalização e novas tecnologias,

articulação trabalho-educação, concepção politécnica de ensino e reforma da educação

profissional dos anos 1990.

No desenvolvimento de nossas investigações, objetivamos desvelar que tipo de

formação está sendo priorizado na educação profissional, a partir da constatação da existência

de uma didática específica dessa modalidade de ensino. Para isso, construímos dois quadros:

um de referências teórico-metodológicas sobre as práticas educativas delineadas nos artigos

eleitos da Revista do NETE, que se constituíram como fonte de estudo para a nossa pesquisa e

discorreram mais precisamente sobre a temática em questão, e, outro com os aspectos

marcantes destas mesmas categorias, advindas de entrevistas decorrentes da pesquisa de

campo.

Sabemos que a prática escolar está sujeita a condicionantes de ordem sócio-políticos

que implicam tanto em diferentes concepções de homem e de sociedade, como em diferentes

pressupostos sobre o papel da escola e da aprendizagem. A Instituição aqui pesquisada

apresenta uma proposta pedagógica de preparar os profissionais para atuarem no mundo do

trabalho, exercendo suas atividades com autonomia intelectual, pensamento crítico e iniciativa

própria, respondendo a novos desafios da sociedade, de forma criativa, inovadora e

principalmente empreendedora.

Os cursos técnicos atuais oferecidos pelo CESEP apresentam as seguintes propostas:

� Técnico em Saúde e Segurança no Trabalho

O Curso Técnico em Saúde e Segurança no Trabalho, oferecido pelo CESEP, dá ao

profissional da área de segurança, condições para atuar de forma competente e responsável,

tendo em vista que a segurança do trabalho se ocupa dos riscos ocupacionais capazes de afetar

a integridade física ou biológica do trabalhador. Dentro da empresa, o Técnico em Saúde e

Segurança no Trabalho, constitui uma peça chave, antecipando-se aos riscos a que os

trabalhadores se expõem, prevenindo possíveis ocorrências de acidentes e doenças

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11relacionadas ao trabalho. O CESEP não poderia deixar de ressaltar a importância da ação

desses profissionais para o mercado de trabalho em nossa região, pela necessidade de

formação de técnicos atuantes e capacitados, que contribuam para prevenir cada vez mais os

acidentes de trabalho nas empresas. O curso está organizado em 03 módulos com carga

horária de 1.200 horas.

� Técnico em Biodiagnóstico

Após anos de experiência na formação de Técnico em Biodiagnóstico (antiga

Patologia Clínica), contando com 742 formados pela Instituição, o CESEP considera que este

profissional ainda assume papel de relevância na área de saúde em nossa região, o que vem

sendo comprovado pela inserção desse profissional no mercado de trabalho. Este profissional

é de fundamental importância por lidar com o destino de vidas humanas, pois hoje se sabe que

as impressões diagnosticadas são descartadas ou confirmadas à luz de dados clínicos e

laboratórios. O curso está organizado em dois módulos com carga horária de 1.2000 horas.

� Técnico em Informática

O curso Técnico em Informática do CESEP oferece uma formação ampla e completa

que visa capacitar os profissionais para o mercado exigente e competitivo, que precisa propor

soluções eficazes, com a maior rapidez de raciocínio. O profissional desta área precisa estar

ligado para a constante inovação tecnológica do mercado, gerada pela rápida evolução na área

de informática, precisando se manter atualizado para implementar essas informações em

tempo hábil. O curso está organizado em 03 módulos que perfazem uma carga horária de

1.000 horas.

� Técnico em Estética

O Curso Técnico em Estética tem como proposta preparar o profissional para receber

uma fundamentação científica teórico-prática, que o habilitará a utilizar técnicas, produtos e

equipamentos estéticos, capilares, faciais e corporais que contribuam com a aparência e

promovam o bem-estar físico e psíquico do cliente.

Decorrente dos processos de produção, de uma economia da globalização verificamos

tanto mudanças significativas nas concepções e práticas sobre a formação dos trabalhadores

quanto no quadro institucional da educação profissional1, modificações estas percebidas com

a implementação de políticas públicas e da Reforma da Educação Profissional promovida pelo

1 Ver Araujo (2007).

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12decreto presidencial n°2208/97 referenciado pela noção de Pedagogia das Competências2.

Segundo Frigotto (apud Araújo, 2007, p.198-199), essa Pedagogia essencialmente

capitalista tem sido muito defendida, pois a relação entre educação e trabalho mostra-se numa

posição mercadológica, cuja condução prática se evidencia pela ênfase à educação para

atender às necessidades do capital, não considerando as relações de trabalho, as relações de

produção como práticas fundamentais que definem o modo humano de existência e a fonte

primeira do conhecimento e da formação do conhecimento.

É nesse contexto que percebemos as referencias, mais recorrentes, encontradas nos

textos, a partir das categorias eleitas para a identificação da didática da educação profissional,

destacando os seguintes temas: prática pedagógica e formação profissional, educação e escola

no processo de reestruturação produtiva, a formação profissional na empresa, educação de

jovens e adultos trabalhadores e formação humana.

Ribeiro (2005), analisando o processo de democratização das relações sociais de

produção, afirma ser a história da educação brasileira marcada por um caráter dual - o ensino

propedêutico para os mais “aptos” e o ensino profissional aos trabalhadores - e essa dualidade

é evidenciada na luta de classes, onde os trabalhadores ainda não lograram definir e impor a

sua proposta pedagógica.

Percebemos, com a leitura dos textos, a presença de questionamentos nos entorno

dessa problemática, uma vez que os autores, em suas pesquisas, constatam sob a ótica

empresarial3 , a exigência de uma formação designada aos trabalhadores como capacidades

produtivas e se opõem a essa perspectiva de qualificação na defesa de propostas de formação

profissional que têm seus objetivos comprometidos com a formação amplamente humana dos

trabalhadores (DELUIZ, 2006).

No processo de reestruturação do capitalismo, o sistema produtivo foi obrigado a

adotar novas formas de gestão empresarial que, segundo Santos (2004a) se fundamenta no

2 A Pedagogia das competências tem sido apresentada pelos seus defensores como capaz de estabelecer novas práticas formativas comprometidas com a elevação do nível de formação dos trabalhadores, com o desenvolvimento das potencialidades humanas e com a necessidade de superar a dualidade entre trabalho e educação. Tais objetivos fariam congregar os interesses dos trabalhadores e dos empresários e com isso contribuiriam para a construção de uma sociedade mais justa de homens plenamente desenvolvidos (ARAÚJO 2001, p. 03). 3 Propõe uma formação aos trabalhadores para atender o mercado de trabalho, que visa uma adequação do ensino compreendido como conteúdos, estruturas e formas às exigências do mercados (MAUÉS, LIMA, 2005, P. 14)

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13aproveitamento da competência organizativa dos trabalhadores, mas, sobretudo, na

inteligência, iniciativa e capacidade de raciocinar deles no processo de trabalho.

E esta perspectiva é evidente na elaboração dos cursos técnicos promovidos pelo

CESEP, uma vez que segundo a Instituição:

O CESEP, sendo uma escola que está sempre acompanhando as mudanças estruturais de educação, não poderia ficar alheio a estas transformações concebendo uma Proposta Pedagógica através de um currículo por competências, onde o aluno sabe quando e como colocar em prática todo o conhecimento adquirido. E mais ainda: prepara o profissional para exercer suas atividades com autonomia intelectual, pensamento crítico, iniciativa própria e espírito empreendedor. (CESEP, 2008)

A partir dos referenciais teóricos utilizados durante a pesquisa, construímos um quadro

síntese, com finalidade de proporcionar uma visualização das práticas formativas em

educação profissional. Estas foram evidenciadas nos artigos após a identificação e

categorização dos objetivos, conteúdos e métodos de ensino e avaliação.

Em seguida, apresentamos algumas das falas mais significativas dos entrevistados

acerca da temática, suas concepções, entendimentos, e esclarecimento das questões

relacionadas à didática desenvolvida no Centro de Serviços Educacionais do Pará – CESEP.

E, posteriormente, nossas considerações sobre os dados coletados e sobre o que representam

para didática da educação profissional.

OBJETIVOS DE ENSINO

OBJETIVOS DE ENSINO

A DIDÁTICA CRITICADA

A DIDÁTICA QUE SE DEFENDE/PROPÕE

� Ajustar a formação dos trabalhadores para atender as demandas do sistema produtivo;

� Desenvolver um saber relacional (capacidade de participar, de trabalhar em grupo pela flexibilidade e pela capacidade de se colocar no lugar do outro);

� Assimilar os valores e objetivos da empresa (LEAL, 2006);

� Criar competências comunicativas e de relações interpessoais e mobilizar o raciocínio dos alunos para enfrentar os problemas do cotidiano do trabalho (ABREU E GONZALES, 2005);

� “Formar indivíduos passivos, que aceitem a realidade do mercado de trabalho...”; “Formar para a empregabilidade com o intuito de apenas dinamizar o mercado de trabalho...”; “qualificá-los apenas para uma atuação competitiva na esfera econômica”

� Formar cidadãos-trabalhadores, tendo estes com referencial para as proposições de ações focadas numa formação amplamente humana, cultural, científica e política (DELUIZ e PINHEIRO, 2006);

� Formar um profissional de senso crítico (ABREU e GONZALES, 2005);

� “Ter uma leitura crítica do mundo e de si mesmo...”; “Ser inserido em diversos espaços de uma maneira mais atuante”; “Contribuir para a formação dos trabalhadores enquanto sujeitos sócio-culturais-políticos” (ARANHA e CASTILHO, 2005);

� Ter uma formação omnilateral: formação geral e tecnológica condizente com as descobertas científicas e tecnológicas atuais

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14(DELUZ e PINHEIRO, 2006);

� Preparar os indivíduos formando-os para as competências necessárias a condição de desempregados, deficientes, mãe solteira, etc. (RIBEIRO, 2005);

� Criar uma qualificação especial: a capacidade de estar comprometido permanentemente com a produção, criando uma maior identificação às questões da empresa (VEIGAS, 2004);

� Formação que sirva de base para as atividades específicas; e capacidade de o trabalhador exercer várias funções diferentes – polivalência (SANTOS, 2004a);

Exercer concretamente uma atividade profissional, mobilizando seus conhecimentos, o seu saber-fazer e suas qualidades pessoais (FIDALGO E SANTOS, 2003);

(RIBEIRO, 2005); � Conduzir cada cidadão a inteirar-se da cultura

científica e tecnológica, produzida pela humanidade, a compreender sua dimensão histórica, epistemológica, estética, ética e cultural, bem como os impactos sobre o exercício de atividades profissionais (SANTOS, 2004b);

� Compreender seu papel no contexto das decisões a serem tomadas acerca dos rumos da ciência e da tecnologia (SANTOS, 2004b);

A formação profissional deve ter uma ação sincronizada e conjugada com os demais elementos que compõem as várias áreas do conhecimento (SILVA, 2003);

Professor

OBJETIVOS DE ENSINO (fala dos professores)

P1 “Pelo menos na minha disciplina, os alunos tem que sair daqui sabendo coletar,

fazer coleta em laboratórios, em hospitais; realizar exames manuais em várias áreas, tanto de bacteriologia, infectologia, hematologia, urinária, etc. A formação que eu dou pra eles é focar nessa parte pra quando eles saírem (muitos deles já estão estagiando), pra eles aplicarem o que aprenderam em sala de aula no

laboratório ou no hospital. É a formação deles mesmos”. “Além de tudo a gente direciona o aluno para saber lidar com o ser humano, tem

que ser educado, ter um cuidado com as pessoas (com as pessoas doentes). Em qualquer profissão tem que saber lidar com os outros”.

P2 “Nós professores precisamos estar articulados pra fazer com que ao final de cada eixo temático, o aluno ganhe a competência para desenvolver as habilidades

dentro daquele conteúdo”. “Nós temos que acompanhar até que ponto ele adquiriu aquela competência para que quando ele chegue no mercado de trabalho ele possa desenvolver aquilo

que ele aprendeu no curso”.

P3 “Um profissional de segurança vai precisar gerir certos processos na sua linha de ação. E pra você fazer gestão é preciso você saber lidar principalmente com as

pessoas. Porque ao contrário do que muita gente pensa, o gestor gere pessoas e esta gestão é preciso ser feita com qualidade. Então, o objetivo é preparar o

profissional de segurança para desempenhar o papel do gestor”. “Não basta ele ter conhecimento de Normas, Leis e técnicas, isso é importante, mas ele precisa sensibilizar as pessoas para que elas adotem isso na sua prática, ele precisa criar parcerias, por exemplo, para formar grupos de uma comissão interna, prevenção de acidentes. Eles precisam conscientizar as pessoas sobre a necessidade de a empresa ter na sua rotina um diálogo diário de segurança, ou um diálogo semanal de segurança. Então ele começa a perceber que embora ele saiba tudo que precisa ser feito, ele não tem a habilidade de sensibilizar as pessoas, de

conscientizar as pessoas, de criar parcerias, de envolver as pessoas para

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desenvolver esse trabalho”.

P4 O que a gente pretende é formar profissionais realmente habilitados para

exercer bem essa profissão de estética.

Os objetivos de ensino apresentados nas discussões da revista do NETE, apontam para

uma formação que visa preparar os indivíduos para adequação de novos atributos

qualificacionais exigidos pelo modo de produção vigente, o que significa conduzir o

comportamento dos trabalhadores, em formação, na direção que interessa à empresa.

São exigidos desses trabalhadores novas competências, cujo os objetivos de ensino da

formação profissional visam, além da construção de conhecimentos técnicos, o

desenvolvimento de um saber relacional, passando-se a valorizar o saber tácito do

trabalhador, que segundo Leal (2006) é a capacidade de apreensão e identificação, que o

trabalhador adquiriu pela vivência, dos estados de normalidade ou anormalidade do processo

de produção podendo intervir neste, de forma autônoma com vistas à resolução de problemas.

De acordo com Aranha (2003), este saber tácito do trabalhador é o conhecimento

adquirido no trabalho, passando por um processo cultural, interpessoal, social, onde os

trabalhadores, pela sua própria experiência no trabalho, vivências em diversos ambientes,

relacionamento com diferentes pessoas, constroem e adquirem um conhecimento contínuo

sobre o seu fazer. E isso é reconhecido pelas empresas como parte integrante e importante da

qualificação do trabalhador.

Essas referências apontadas pelos autores são perceptíveis na exposição dos objetivos

de ensino de um professor entrevistado que ministra aula para o curso Técnico de Segurança

no Trabalho, onde ele afirma:

Não basta o aluno ter conhecimento de normas, leis e técnicas, isso é importante, mas ele precisa sensibilizar as pessoas para que elas adotem isso na sua prática, ele precisa criar parcerias, por exemplo, para formar grupos de uma comissão interna, prevenção de acidentes. Eles precisam conscientizar as pessoas sobre a necessidade de a empresa ter na sua rotina um diálogo diário de segurança, ou um diálogo semanal de segurança. Então ele começa a perceber que embora ele saiba tudo que precisa ser feito, ele não tem a habilidade de sensibilizar as pessoas, de conscientizar as pessoas, de criar parcerias, de envolver as pessoas para desenvolver esse trabalho” (P3).

Os saberes tácitos, descritos por Aranha (2003), que são julgados importantes para a

seleção de candidatos a uma vaga de emprego, agora são incorporados aos cursos

profissionais como forma de preparação e aperfeiçoamento de novas competências pessoais e

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16atitudes de comunicação. Isso representa, na vertente que o curso oferece, maior

competitividade e empregabilidade, pois o CESEP entende que na sociedade da informação

cada vez mais exigente, o aluno necessita ampliar seus conhecimentos para adaptar-se à

diversidade de oportunidades face ao alto índice de competitividade de um mercado de

trabalho globalizado (CESEP, 2008).

Podemos afirmar que os objetivos da educação profissional estão postos à lógica da

dinamização do mercado de trabalho, tendo este como o centro definidor de sua formalização,

sendo o fim utilizado como critério para estabelecer os modelos pedagógicos e curriculares do

ensino profissional, seja o local da formação na empresa, nas escolas técnicas, nas ONGs, etc.

Os objetivos da formação, portanto, se mostram em sintonia com as propostas de

melhorias de qualidade produtiva que, para Abreu e Gonzales (2005) traduz-se numa

concepção de utilização de força de trabalho e da produtividade, discurso este influenciado

pela filosofia empresarial.

Nessas formulações, ainda está presente a noção de empregabilidade que atribui ao

indivíduo a responsabilidade de sua inserção no mercado de trabalho. A empregabilidade que

aparece como objetivos de preparação profissional é criticada por Deluiz e Pinheiro (2005)

por postular a crença de que maior escolaridade e maior capacitação correspondem, no plano

individual, a melhores oportunidades para competir no mercado. Dessa forma, a educação tem

a finalidade apenas de aumentar as chances do indivíduo em ter um trabalho remunerado ou

de se manter nesse processo de constante mutação.

Na observação realizada no dia nove de junho do corrente ano, na aula da turma do

curso técnico de segurança no trabalho, cujo tema da aula era “Tipos de Inspeção de

Segurança”, o professor incentiva os alunos que o profissional para se manter no mercado

deve se qualificar fazendo treinamentos de inspeção; deve ser habilitado (certificado) tendo

feito cursos no CESEP, SENAI, SESI, etc.; deve fazer cursos de reciclagem para se atualizar;

deve ter um currículo mínimo de treinamento, ou seja, currículo de conhecimentos básicos

para a formação.

Novamente demonstra-se que a formação está vinculada aos parâmetros indicados

pelo mundo empresarial, como afirmam Maués e Lima (2005), esses parâmetros estão

afinados com as preocupações de formar pessoas capazes de seguir a flexibilização do

mercado, que seja polivalente e que tenha a sua subjetividade trabalhada para incorporar essa

nova fase do capitalismo como algo normal e inevitável.

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CONTEÚDOS DE ENSINO

CONTEÚDOS DE ENSINO

A DIDÁTICA CRITICADA

A DIDÁTICA QUE SE DEFENDE/PROPÕE

� Capacidade técnica para exercer uma atividade produtiva (DELUIZ e PINHEIRO, 2006);

� Eficiência na produção; � Conhecimentos sobre resolução de

situações-problemas (ABREU e GONZALES, 2005);

� Habilidades, regras e conhecimentos necessários a um posto de trabalho (CUSTÓDIO e FONSECA, 2005);

� Maior participação dos trabalhadores na vida empresas (VEIGAS, 2004);

� Competências e habilidades, disposição e virtudes direcionadas a inserção no mercado de trabalho;

� Execução de raciocínios e gestos necessários à produção;

� Maior capacitação no processo de trabalho (SANTOS, 2004a);

� Atitude do indivíduo necessária ao desempenho de uma função produtiva em diferentes contextos e com base nos requerimentos de qualidade esperados pelo setor produtivo;

� Conjunto de comportamentos sócio-afetivos e habilidades cognitivas, sensoriais e motoras que permitem o desempenho de papéis, funções, atividades e tarefas (FIDALGO E SANTOS, 2003)

� O processo de trabalho ; � O trabalho como unidades temáticas tais

como saúde e cidadania, globalização e tecnologia, racismo e discriminação, etc. (ARANHA, 2003).

� Os conhecimentos de que precisamos para o exercício da cidadania por meio do trabalho.

� A ética, a moral, a cidadania, etc., devem estabelecer um entrelaçamento com a ecologia, a mecânica, as ciências da terra e outras, numa ação educacional que articule concretamente teoria e prática (SILVA, 2003);

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Professor

CONTEÚDOS DE ENSINO (Fala dos professores)

P1 “Em Bacteriologia o aluno tem que sair daqui sabendo colocar em prática o

que aprendeu: coleta de sangue, de várias secreções, realizar exames, principalmente manual no laboratório ou dentro do hospital. E, eu tento também passar pra eles não só a parte prática, só a parte mecânica. Eu tento

passar mais para eles saberem o por quê eles estão fazendo aquilo, por exemplo, o por quê daquele exame, qual o propósito, a finalidade daquilo que ele está fazendo. Eu acho bom o aluno saber essas coisas pra ele ter uma noção do

que serve, não só fazer por fazer”.

P2 “Nós iniciamos todo o nosso curso com a parte de 'metodologia de projetos'... Ela não está na grade oficial, mas nós a introduzimos porque o aluno não pode

formular um projeto para que ele possa apresentar na empresa que ele for trabalhar se ele não sabe metodologia de projetos. E aí a gente entra com o aspecto da psicologia, do desenho técnico, da higiene, da segurança no

trabalho, da ergonomia, os aspectos dos primeiros socorros, a prevenção contra as doenças, e assim a gente vai desenvolvendo. Mas existe um comando, uma direção que é uniformizada, e, cada instituição desenvolve seu conteúdo”.

P3 “Eu costumo trazer muito para os meus alunos a minha história profissional. E eu trabalho especificamente com esses processos de gestão da qualidade total”.

P4 “O curso todo engloba, na prática: tratamentos faciais, corporais, depilação,

terapia capilar e maquiagem”. “No dia-a-dia, tanto na ficha de matrícula como num outro papel que tem, além desse plano, eu tenho que especificar tudo o que eu dei, eu tenho que especificar a parte teórica (são quatro horas de teoria sobre depilação das pernas , prática

das axilas, etc)”. “Esse planejamento ( da prática) eu elaboro 3 meses antes deles irem para a prática”.

Os conhecimentos da formação profissional traduzem-se em aprendizagens que

valorizam o processo de aquisição das chamadas competências e habilidades. Essas

capacidades são, no contexto da reestruturação capitalista, disposições e virtudes direcionadas

à inserção do trabalhador no mercado de trabalho (SANTOS, 2004a). Assim, a atribuição

dada à formação dos trabalhadores é entendida sob o aspecto da capacidade técnica para o

desempenho de uma atividade produtiva, sendo questionada se estes são os conhecimentos de

que precisamos para o exercício da cidadania por meio do trabalho.

Como respostas ao questionamento sobre os conteúdos de ensino, os professores

ressaltam a importância da capacidade técnica que os profissionais deverão desenvolver no

ambiente de trabalho. Assim, um professor do curso técnico de Biodiagnóstico define: “em

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19Bacteriologia o aluno tem que sair daqui sabendo colocar em prática o que aprendeu:

coleta de sangue, de várias secreções, realizar exames, principalmente manual no

laboratório ou dentro do hospital” (P1).

No capitalismo, mudaram-se as formas de acumulação da riqueza e, por conseguinte,

as formas de organização do trabalho. Santos (2004a) ao expor seu entendimento acerca

dessas modificações no sistema produtivo, afirma que:

Diante desse quadro, exige-se hoje um novo tipo de trabalhador: um trabalhador que suporte os aumentos da intensidade do trabalho (realizar em maior quantidade as mesmas operações na mesma jornada de trabalho) e aumente a sua qualificação (realizar operações de novo tipo que exijam maior destreza ou mais raciocínio) uma vez que a produtividade repousa, cada vez mais na utilização do trabalho complexo (Idem, 2004a, p.85).

Decorrente dessa formulação resultam o aparecimento de novos sentidos ou

significados aos valores, categorias, conceitos, princípios e parâmetros que passam a nortear

as práticas sociais, obrigando-as a tomarem, como referência, o critério de produtividade

capitalista.

Os autores aqui estudados apresentam fortes críticas ao modelo que rege as práticas

formativas da educação profissional. Tais práticas evidenciam um aprendizado, cujos

conhecimentos estão dispostos a fornecer ao indivíduo a possibilidade de desenvolver um

conjunto de comportamentos sócio-afetivos e habilidades cognitivas, sensoriais e motoras que

permitem o desempenho de papéis, funções, atividades ou tarefas com base nos requerimentos

de qualidade esperados pelo setor produtivo (FIDALGO e SANTOS, 2003).

A educação profissional, da forma com vem sendo conceituada e problematizada pelos

autores, revela-se na concretização de conteúdos que valorizam a apreensão de competências

específicas ao mercado de trabalho, restringindo a capacidade intelectual dos trabalhadores a

conhecimentos meramente técnico-operacionais.

Em contraposição, temos as afirmativas que se colocam para a educação profissional

na defesa pelas formulações que consideram o desenvolvimento do sujeito trabalhador sob a

ótica de uma formação omnilateral: formação geral e tecnológica condizente com as

descobertas científicas e tecnológicas atuais (RIBEIRO, 2005).

Considerando essa perspectiva, ainda que lentamente anunciada pela Instituição eleita,

encontramos alguns pontos que nos levam a compreender uma significativa preocupação com

essa formação na medida que os professores entrevistados e observados apresentam as

seguintes falas:

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20“Nós iniciamos todo o nosso curso com a parte de ‘metodologia de projetos’. Esse assunto não está na grade oficial, mas nós o introduzimos porque o aluno não pode formular um projeto para apresentar na empresa que ele for trabalhar, se ele não sabe metodologia de projetos. E aí, a gente entra com o aspecto da psicologia, do desenho técnico, da higiene, da segurança no trabalho, da ergonomia, os aspectos dos primeiros socorros, a prevenção contra as doenças, e assim a gente vai desenvolvendo” (P2).

“Vocês devem buscar sempre pelo conhecimento, buscar o entendimento das coisas, não se contentar ou se conformar com algo dito e não aceitar imposições sem ter certeza que é necessário, sem procurar mais explicações, em serem críticos e reflexivos nos seus próprios atos, em respeitar o próximo e valorizar mais as pessoas, em não se calar diante do que está errado, e tomar atitude para mudar algo em que acredita”.

Podemos verificar com Silva (2003) o posicionamento de uma formação integral para

o trabalhador, que não apenas o atenda enquanto indivíduo formador do processo ao qual está

inserido, mas que também o entenda enquanto sujeito sócio-cultural-político.

Para o autor, a formação profissional deve estar sincronizada e conjugada com os

demais elementos que compõem as várias áreas do conhecimento. Assim a ética, a moral, a

cidadania, etc., devem estabelecer um entrelaçamento com a ecologia, a mecânica, as outras

ciências e, numa ação educacional que articule concretamente teoria e prática (Id.2003, p. 47).

MÉTODOS DE ENSINO E DE AVALIAÇÃO

MÉTODOS DE ENSINO E AVALIAÇÃO

A DIDÁTICA CRITICADA

A DIDÁTICA QUE SE DEFENDE/PROPÕE

� Organização curricular em módulos (ARANHA, 2003); � Ensino e treinamento (DELUIZ e

PINHEIRO, 2006); � Transmissão e assimilação do

conhecimento; � O professor é o mediador entre as

necessidades que o mercado solicita e o desenvolvimento da autonomia dos educadores (CUSTÓDIO e FONSECA, 2005);

� As práticas educativas tendo como referência o critério de produtividade capitalista;

� Maior participação dos alunos nos processos avaliativos;

� As práticas formais de avaliação ainda carecem de instrumentos mais dinâmicos, que contemplem os saberes não formais (ARANHA E CASTILHO, 2006);

� A certificação poderia ser uma conquista se pudesse garantir, além do reconhecimento da experiência profissional, a oportunidade de continuidade dos estudos de modo a incorporar o conhecimento científico e tecnológico necessário a qualificação daquela experiência;

� Articulação entre as dimensões formativas,

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21� Eficiência, competência ou

produtividade; � Avaliação externa, o importante é o

controle dos resultados, e não dos procedimentos (avaliação consistente e adequada à lógica do capitalismo);

� Fixação de conteúdos mínimos em teste padronizados, aplicados de forma sistemática (SANTOS, 2004a);

� O distanciamento cada vez maior entre a execução de tarefas de naturezas técnica e a compreensão de sua fundamentação científica (SANTOS, 2004b);

� Estrutura modular e normas de competência por ramo de atividade;

� Avaliação como verificação de conhecimentos e habilidades independente da forma como foram adquiridos;

� Uma estrutura curricular que favoreça a interação escola-empresa (FIDALGO E SANTOS, 2003).

científicas, tecnológica e críticas (RIBEIRO, 2005);

� Os sistemas escolares de todo o mundo, e especialmente nos países em desenvolvimento, tanto de formação geral quanto de formação profissional, precisam concretizar estratégicas de ensino que contribuam efetivamente para o acesso a alfabetização científica e tecnológica (SANTOS, 2004b);

� Processo de interação com o conhecimento e a própria formação;

� Avaliação qualitativa processual (ARANHA, 2003)

Professor

MÉTODOS DE ENSINO/ AVALIAÇÃO (Fala dos professores)

P1 “Acho que o professor tem que saber passar o conteúdo direitinho tem que

tentar ajudar o aluno, mas também não dar tudo de 'mão beijada'... Eu sou

adepta de passar a prova pra ver realmente se o aluno está absorvendo aquilo. E, de prática, quando é possível ter uma prática”. “Gosto de dar as minhas aulas com o data-show, não tem como você não prestar atenção, é uma boa tática pra prender a atenção do aluno. Além disso, eu sempre trago uma apostila pra eles acompanharem a minha aula”.

P2 “Nós desenvolvemos nosso conteúdo através de estudo dirigido porque a gente trabalha muito com legislação”. “A gente faz aula expositiva também, a gente utiliza muito recursos audiovisuais porque nós temos uma gama enorme de filmes, principalmente, filmes que

mostram a realidade do dia-a-dia do trabalhador e em cima desses filmes a gente vai mostrando onde é que estão os riscos, qual é a possibilidade de adoecimento. E usamos também, assim, um pouco bem elementar na área a questão das doenças

funcionais, nós trazemos lâminas mostrando quais são as doenças causadas em

função do trabalho”. “Nós fazemos a avaliação no dia-a-dia, inclusive uma coisa que a gente conta muito é a presença do aluno”.

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22“Nós fazemos a avaliação tradicional com perguntas e respostas, mas basicamente nós fazemos a avaliação do que eles podem fazer dentro da empresa,

através de um projeto. Todos os professores, obrigatoriamente, deverão fazer a avaliação pelo projeto”. “E um aspecto que a gente leva muito em consideração é fato de o aluno se

posicionar diante da empresa”. “E no final do curso, eles fazem um seminário”.

P3 Eu costumo usar, predominantemente, a exposição-dialogada, onde com a

apresentação de slides e expondo e dialogando aquilo que vai sendo passado. Paralelamente, eu costumo usar vídeos, eu gosto muito de usar vídeos, tantos vídeos institucionais, como filmes do dia-a-dia, extraindo trechos de alguns

filmes para dar alguns exemplos, principalmente de aspectos comportamentais. E eu costumo fazer muitos trabalhos, independente de uma prova, porque a prova

é normalmente uma exigência da instituição. Eu costumo fazer muitos trabalhos, que vai desde a interpretação de um vídeo até a construção gradativa de um conceito. Então, eu costumo utilizar dinâmicas de grupo.

E todos esses trabalhos, todos esses momentos eu avalio, eu pontuo, todos eles eu

valorizo. Então não existe nenhum trabalho que você participe por participar, no mínimo você é pontuado só por ter participado daquele trabalho.

P4 “Eu dou aula através da apostila, elaboro uma apostila que eu dou pra eles, e falo item por item sobre aquela apostila, se for preciso eu explico alguma coisa no

quadro”. “E na prática, eu faço primeiro a depilação, no caso da depilação, e depois mando elas fazerem, depois fazem umas nas outras e eu supervisionando, contando que todas façam”. “Na avaliação tem uma prova escrita e tem a avaliação prática”. “Então eu não avalio só a sua prática, é o seu interesse, sua freqüência, sua

participação. Eu também posso passar um trabalho para pesquisar na Interne ou na biblioteca”.

A organização curricular em módulos é a metodologia utilizada nos cursos de

educação profissional, mais precisamente nos cursos de formação técnica. Tal sistematização

inviabiliza a contextualidade e interdisciplinaridade contidas nas propostas da própria

Reforma do Ensino Médio Profissional, acarretando, além da fragmentação dos saberes, o

distanciamento cada vez maior entre a execução de tarefas de natureza técnicas e a

compreensão de sua fundamentação científica.

Acerca desta problemática, Santos (2004b) destaca:

sobre a dimensão desta crise , a UNESCO revelou um quadro preocupante a nível mundial durante o Fórum do ano 2000, realizado em 1993, que enfatizou principalmente a falta de pertinência dos modelos de educação científica atualmente em voga nos cursos de formação profissional (SANTOS, 2004b, p. 22).

O treinamento, que no modelo de produção em série se constituiu como a forma mais

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23eficaz de aprendizagem para a execução de tarefas, aos poucos vem sendo substituído por

métodos mais dinâmicos. Como podemos identificar no quadro das referências da didática

atual, o trabalhador tem de usar sua inteligência organizativa, executar o raciocínio lógico,

como descreve Fidalgo e Santos (2003): o trabalhador deve exercer concretamente uma

atividade profissional, mobilizando seus conhecimentos, seu “saber-fazer” e suas qualidades

pessoais.

Entende-se por qualidades especiais a capacidade de se relacionar, de trabalhar em

grupo pela flexibilidade e pela capacidade de se colocar no lugar do outro. Dessa forma, o

ensino que antes se preocupava com a transmissão e assimilação do conhecimento passa a ser

desenvolvida numa perspectiva de mediação entre o aprendiz (trabalhador) e o conhecimento

(trabalho).

Desse modo, os cursos oferecidos no CESEP, possuem currículo estruturados voltados

à formação técnico-científica e para o desenvolvimento de habilidades e posturas de

convivência social, concebendo o ensino e a pesquisa como componentes imprescindíveis

para a formação de profissionais e pessoas pró-ativas.

A Instituição afirma trabalhar uma metodologia problematizadora, onde o aluno, por

meio de pesquisas, constrói projetos que buscam associar os conhecimentos teóricos com a

prática vivenciada pelas empresas visando alcançar a performance satisfatória para

aplicabilidade no mercado de trabalho como profissionais e cidadãos, pois necessita ampliar

seus conhecimentos para adaptar-se à diversidade de oportunidades face ao alto índice de

competitividade de um mercado de trabalho globalizado.

No entanto, permanecem as críticas a respeito das metodologias adotadas no sistema

do ensino profissional, uma vez que, segundo Custódio e Fonseca (2005), o professor é o

mediador entre as necessidades que o mercado solicita e o desenvolvimento da autonomia dos

educandos, sendo a eficiência, a competência e a produtividade o critério de referência para a

construção dessas práticas.

Dentre os procedimentos de avaliação citados pelos professores entrevistados,

estão as provas, o estudo dirigido, trabalhos individuais e em grupo. Um dos professores

ainda acrescentou, com bastante ênfase: “fazemos a avaliação do que eles podem fazer dentro

da empresa, através de um projeto. Todos os professores, obrigatoriamente, deverão fazer a

avaliação pelo projeto E um aspecto que a gente leva muito em consideração é fato de o

aluno se posicionar diante da empresa”.

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24O processo avaliativo se manifesta, principalmente, na verificação de

conhecimentos e habilidades, independente da forma como foram adquiridos. Percebemos que

as práticas avaliativas da educação profissional se reduzem a uma avaliação externa, em que o

importante é o controle dos resultados, e não dos procedimentos, o que representa uma

avaliação consistente e adequada à lógica capitalista; porém distante de uma sólida formação

humana para o trabalhador.

Para a concretização desta, seria indispensável à articulação entre as dimensões

formativas, científicas, tecnológicas e críticas (RIBEIRO, 2005), maior participação dos

alunos nos processos avaliativos, e, conseqüentemente, formar-se-ia um profissional de senso-

crítico, um cidadão inteirado da cultura científica e tecnológica produzida pela humanidade.

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25PUBLICAÇÕES

• Artigo “A atuação do GEPTE na Trajetória de Formação Qualificada dos Professores do Projovem – Belém” publicado no VI Seminário Nacional de Políticas Educacionais e Currículo, realizado no período de 04 a 07 de dezembro de 2007.

Autores: Ronaldo Marcos de Lima Araujo, Maria Auxiliadora Maués de Lima Araujo, Frederico dos Remédios Corrêa, Jaqueline do Nascimento Rodrigues (bolsista PIBIC / CNPq) e Adriane Suely Rodrigues do Nascimento (bolsista PIBIC / CNPq).

• Oficina “A pesquisa em Educação Profissional no Estado do Pará” ministrada na Semana Acadêmica dos Calouros 2008 dos Cursos de Pedagogia e Educação Física no dia 27 de fevereiro de 2008.

Autores: Jaqueline do Nascimento Rodrigues (bolsista PIBIC / CNPq) e Adriane Suely Rodrigues do Nascimento (bolsista PIBIC / CNPq), sob coordenação do Prof. Dr. Ronaldo Marcos de Lima Araújo.

• Resumo de Pesquisa “As práticas formativas do ensino profissional apresentadas na Revista do Núcleo de Estudos sobre Trabalho e Educação da UFMG” apresentado no V Diálogos Científicos: Democratização da Gestão Educacional, realizado nos dias 07 e 08 de Abril de 2008.

Autores: Adriane Suely Rodrigues do Nascimento (bolsista PIBIC/CNPq); Prof. Dr. Ronaldo Marcos de Lima Araujo (Orientador)

• Pôster “Práticas Formativas na Educação Profissional: Perspectivas de um Estudo na Revista Trabalho & Educação do NETE/UFMG” publicado no I Seminário Nacional de Educação Profissional e Tecnológica, realizado no CEFET-MG, em Belo Horizonte, no período de 16 a 18 de junho de 2008.

Autores: Adriane Suely Rodrigues do Nascimento (bolsista PIBIC/CNPq); Prof. Dr. Ronaldo Marcos de Lima Araujo (Orientador)

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26ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS NOS PRÓXIMOS MESES

As atividades a serem desenvolvidas nos próximos meses será a continuidade deste

projeto com a execução de um novo plano de trabalho. E, com base no resultado da mesma

será a finalização do Trabalho de Conclusão de Curso, a socialização em eventos científicos,

e, ainda a consecução desta na pós-graduação.

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27

CONCLUSÃO

As ações formativas sobre a educação profissional que se constituíram enquanto fontes

de investigação da nossa pesquisa revelaram-se centradas numa perspectiva de formação

voltada para a ótica empresarial. Esta é a visão dos autores sobre como a didática vem sendo

desenvolvida nesta modalidade de ensino. Porém, criticada por parte deles, que se mostram

em defesa de uma nova proposta para a educação profissional.

Os objetivos educacionais da formação profissional foram apresentados afinados aos

objetivos da lógica empresarial, tendo a empregabilidade, a produtividade, e,

conseqüentemente, a dinamização do mercado de trabalho como eixo principal de sua

formalização.

A Instituição escolhida para a execução desta pesquisa, o Centro de Serviços

Educacionais do Pará - CESEP demonstra, ao menos em seus planos e propostas que tem por

finalidade a formação integral do homem, concebido como um ser eficiente, racional, afetivo,

ético, crítico e criativo. E, dotar os alunos de conhecimento teóricos e práticos para prepará-

los e torná-los profissionais qualificados para atuar em diversas áreas do mercado de trabalho.

No entanto, se enquadra no perfil profissional desejado pelas empresas exigentes de uma nova

geração de tecnologias inteligentes e “humanizadas”.

Em contrapartida, evidenciamos numa perspectiva de formação integral as proposições

de uma educação que visa formar os cidadãos-trabalhadores, tendo estes como referencial

para as ações focadas numa formação amplamente humana, cultural, científica e política

(DELUIZ e PINHEIRO, 2006).

Os conhecimentos produzidos no ensino profissional delineiam-se a aprendizagens de

competências e habilidades. Estas entendidas a partir de um caráter pragmático, provocam

uma acentuada subordinação dos trabalhadores às demandas do setor produtivo. Contrário à

esta lógica, encontramos o posicionamento dos autores em favor de uma formação que

considere o trabalhador enquanto sujeito de seu processo educacional e não o simples

aplicador de técnicas específicas de trabalho.

De acordo com os documentos do CESEP, a escola assume o aluno como sujeito do

processo de ensino-aprendizagem, levando-o a construir competências e habilidades

necessárias ao seu fazer profissional. Essas competências e habilidades desenvolvidas

conduzem também à posturas do um sujeito que pretenda ser socialmente responsável e

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28profissional competente.

A metodologia observada nas práticas de formação contemplam os métodos de ensino

e de avaliação relacionados à estruturação curricular que favorece a interação escola-empresa.

Nesta os métodos de ensino são compreendidos como um treinamento para o trabalho, mas de

forma mais dinâmica, utilizando os novos requisitos exigidos para a inserção do trabalhador

no mercado de trabalho.

Desse modo, os cursos oferecidos no CESEP, possuem currículo estruturados voltados

à formação técnico-científica e para o desenvolvimento de habilidades e posturas de

convivência social, concebendo o ensino e a pesquisa como componentes imprescindíveis

para a formação de profissionais e pessoas pró-ativas.

O fazer pedagógico do docente atuante na educação profissional de nível técnico,

pautada no modelo de competências, exige um esforço de criar atividades que possam dar

condições do aluno experimentar situações profissionais; devem incluir projetos

provocadores, desafios e/ou problemas que coloquem os alunos próximos às situações reais.

Entretanto, percebemos as colocações, ainda que poucas, acerca de uma educação que

privilegie os saberes e conhecimentos necessários ao entendimento, por parte do trabalhador,

de seu papel no contexto das decisões a serem tomadas, dos conhecimentos de que

precisamos para o exercício da cidadania por meio do trabalho, de uma formação integral.

Contudo, acreditamos que a educação do trabalhador não pode se restringir àquilo que

corresponde às necessidades imediatas do capital, ao adestramento, à simples adaptação dos

indivíduos, a uma prática utilitarista. Precisa-se se articular aos processos de escolarização e

assegurar o reconhecimento do contexto histórico-social em que o trabalho se realiza. Uma

educação que se volte para a ampliação dos horizontes de conhecimentos, atentando para os

determinantes sociais, econômicos e políticos das situações de vida (ARAUJO, 2007).

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31APÊNDICE I – QUESTÕES PARA A ENTREVISTA !) Qual o seu nome? Quantos anos você tem? Há quanto tempo você trabalha nesta instituição ou há quanto tempo você tem experiência com educação profissional? Qual a sua formação? Quais disciplinas você ministra e para que cursos? 2) Fale sobre os ambientes de aprendizagem, os recursos que a instituição disponibiliza para o seu trabalho e em que eles influenciam ou não na aprendizagem dos alunos.

3) Com relação aos objetivos de ensino, qual a sua concepção de objetivos educacionais? Quais são os objetivos da sua disciplina, como você os formula e como esses objetivos são avaliados? Qual a importância destes para a formação dos futuros trabalhadores? 4) Quantos aos conteúdos de ensino, quem e como definem os conteúdos da sua disciplina, como eles são formulados, quais são os conteúdos trabalhados e como são avaliados?

5) Quais são os métodos de ensino aplicados no decorrer do curso? Como você os formulam e como os avalia?

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32APÊNDICE II – RESPOSTAS DA ENTREVISTAS Entrevista 01 Professora: P 1 Curso: Técnico de Biodiagnóstico Duração: 15 minutos Local: Sala de aula (CESEP)

1) EXPERIÊNCIA COM EP: Meu nome é Paloma Rodrigues, eu sou professora do curso de Biodiagnóstico. Na verdade eu sou formada em Biomedicina pela UFPA e fiz mestrado também lá. Terminei o mestrado em 2005 e no ano seguinte já comecei a trabalhar na UEPA (em Tucuruí - 1º/2006) como professora do curso de Enfermagem, ministrando a disciplina de Patologia e Imunologia. E, depois eu vim pra Belém, ministrando aula para o curso de Fisioterapia, fiquei lá até o início de 2008. Em março deste ano comecei a trabalhar no CESEP, dando aula da disciplina de Bacterologia para o curso de Técnico em Biodiagnóstico. A metodologia que eu utilizo no CESEP é a mesma que apliquei na UEPA. Acho que o professor tem que saber passar o conteúdo direitinho, tem que tentar ajudar o aluno, mas também não dar tudo de “mão beijada”, eu vivo falando pra eles (os alunos) que eu faço a minha parte na frente, dentro de sala, só que eles também têm que fazer a deles, têm que estudar pra poder, quando eu aplicar a prova...tem professor que não gosta de passar prova, tem outra metodologia, eu sou adepta de passar a prova pra ver realmente se o aluno está absorvendo aquilo. E, de prática, quando é possível ter uma prática”.

2) AMBIENTE DE APRENDIZAGEM / RECURSOS: Aqui no CESEP eu tenho toda a disponibilidade, gosto de dar as minhas aulas com o data-show, eu não gosto muito do reto-projetor. O data-show não tem como você não prestar atenção, é uma boa tática pra prender a atenção do aluno. Além disso, eu sempre trago uma apostila pra eles acompanharem a minha aula. A gente tem sempre a disponibilidade sim, mas tem que agendar antes, porque tem outros professores que querem usar , outros cursos que necessitam do equipamento. Tem também o “tvlit” que é um aparelho que conecta o CPU do computador à televisão. Particularmente eu não gosto muito, fica uma letra pequena, não se compara ao data-show”. 3) OBJETIVOS DE ENSINO/DE FORMAÇÃO: Pelo menos na minha disciplina, os alunos tem que sair daqui sabendo coletar, fazer coleta em laboratórios, em hospitais; realizar exames manuais em várias áreas, tanto de bacterologia, infectologia, hematologia, urinária, etc. A formação que eu dou pra eles é focar nessa parte pra quando eles saírem (muitos deles já estão estagiando), pra eles aplicarem o que aprenderam em sala de aula no laboratório ou no hospital. É a formação deles mesmos”.

(SOBRE O PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO: Na verdade a gente tem esse planejamento, o curso tem esse planejamento, já dá uma direção pra gente do que que a gente precisa direcioná-los em cada disciplina. Antes disso, a gente tem uma reunião, e eles já direcionam pra isso).

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334) CONTEÚDOS DE ENSINO/FORMAÇÃO: Em Bacterologia o aluno tem que sair daqui sabendo colocar em prática o que aprendeu: coleta de sangue, de várias secreções, realizar exames, principalmente manual no laboratório ou dentro do hospital. E, eu tento também passar pra eles não só a parte prática, só a parte mecânica. Eu tento passar mais para eles saberem o por quê eles estão fazendo aquilo, por exemplo, o por quê daquele exame, qual o propósito, a finalidade daquilo que ele está fazendo. Eu acho bom o aluno saber essas coisas pra ele ter uma noção do que serve, não só fazer por fazer”. Os conteúdos já vêm definidos da direção, eu já recebo um 'planozinho' com alguns assuntos que eu dou em sala de aula , e eu também incluo outros, que eu acho que seria de interesse deles, bom para a formação. Mas tem todo um planejamento no início do semestre. O planejamento é com todos os professores, e tem o planejamento de cada curso e o que a gente vai aplicar em sala de aula (conteúdos). Os alunos podem tirar na coordenação o planejamento, vamos dizer a programação (o conteúdo programático do curso, tem professor que dá isso às vezes já com as datas, e cada data com um conteúdo). É difícil eu passar, às vezes muda o cronograma, então eu vou dando de acordo com o que eu planejo o que eu acho interessante pra eles e junto com o que já me passaram”.

5) METODOS DE ENSINO E DE AVALIAÇÃO: Eu me considero uma boa professora, mas ainda preciso melhorar muito. Eu sempre falo para os meus alunos que não é só eles que aprendem comigo, eu também aprendo muito com eles. Acredito que nenhum professor saiba tudo. Ainda mais que eu só tenho dois anos de experiência, é muito pouco. Então eu tento ao máximo passar para os meus alunos tudo que eu aprendi na faculdade e na pós-graduação. Acho que sempre a gente está aprendendo, principalmente nos dias de hoje que eu acho que a gente sempre têm que está se atualizando”. Sou muito acessível para os meus alunos. Estabeleço um bom diálogo com eles sempre dentro de um respeito e um limite... os alunos participam bastante, perguntam demais e eu gosto disso”.

O CESEP dá uma boa ferramenta para formar um excelente profissional. No caso de Biognósticos, eles têm laboratório, tem aulas teóricas, práticas, tem os estágios. Além de tudo a gente direciona o aluno para saber lidar com o ser humano, tem que ser educado, ter um cuidado com as pessoas (com as pessoas doentes). Em qualquer profissão tem que saber lidar com os outros, eles tem que sair daqui como pessoas boas para exercer a profissão que eles escolheram”. Entrevista 02 Professor: P 2 Curso: Técnico de Segurança do Trabalho Duração: 20 minutos Local: Setor Médico (Térreo – UNAMA)

1) EXPERIÊNCIA COM EP: Meu nome é Ivo Xavier, eu sou médico do trabalho. A medicina do trabalho é uma especialização da saúde pública que visa o bem-estar físico e social do trabalhador, ou seja, é

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34o ramo da medicina que se encarrega de identificar, controlar e avaliar os riscos no ambiente de trabalho. No ensino profissionalizante, foi uma das primeiras especialidades no campo da saúde. A saúde ocupacional surgiu por volta de 1972 no Brasil, era bem recente, e a formação em Técnico de Segurança do Trabalho foi uma necessidade da legislação, uma vez que as empresas são obrigadas a manter esse profissional com formação específica. Então, os cursos Técnicos em Segurança do Trabalho eram uma exigência legal do Ministério do Trabalho e as empresas são obrigadas a ter esse profissional. A partir daí não existia ainda a formação desses profissionais técnicos. A partir da legislação de 1982 é que o Ministério do Trabalho começou a formar os primeiros profissionais na área de segurança dos trabalhadores, dos quais os técnicos em segurança do trabalho e o auxiliar de enfermagem do trabalho fazem parte, estes com cursos técnicos. E, coube a FUNDACENTRO, um órgão do MT suprir essa necessidade, uma vez que o MEC não tinha profissionais habilitados para entrar nesse campo de formação. Então, durante muito tempo, coube ao MT preparar mão-de-obra especializada na área de segurança do trabalhador para atender o mercado de trabalho.

Foi só a partir, mais ou menos de 1980 que o MT deixou de formar esses profissionais e transferiu, como seria necessária, a incumbência, para o MEC, porque o MEC a partir de uma Lei de Diretrizes e Bases da Educação exatamente criou o grupo que estruturou o ensino profissionalizante no Brasil. Então, na realidade esse ensino técnico na área de segurança do trabalhador atende sempre a estrutura do MEC. E onde é que entra o CESEP? O CESEP foi a primeira entidade no Brasil, juntamente com outros de outros Estados que absorveu essa incumbência de formar esse profissional técnico.

A FUNDACENTRO fez convênio com algumas instituições de ensino, e no Pará a instituição de ensino foi o CESEP que era o “Centro de Ensino Superiores do Estado do Pará” que pegou devido a carência, a necessidade, que existia, o CESEP abriu uma espécie assim de “apêndice” para formar Técnicos de Segurança do Trabalho, porque o CESEP também formou médico de segurança do trabalho e engenheiro de segurança do trabalho.

A partir dessa nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação é que só poderia continuar formando médico do trabalho as universidades regulares que tivessem curso de formação técnica, ou seja, o curso de formação regular. Então, hoje a UNAMA não pode mais fazer o curso de medicina do trabalho porque não tem habilitação ou licença para formar médico.

Então, todos esses cursos na área de segurança e saúde do trabalhador exigem primeiro que o indivíduo tenha uma formação básica, no caso do técnico que ele tenha o 2º grau completo, e, no caso do profissional superior; o médico, o engenheiro e o enfermeiro, devem ter uma formação básica em medicina, engenharia e enfermagem, respectivamente. A partir daí, a gente faz um curso de especialização. Por que eu estou falando isso, embora o nosso seja o curso técnico? Para que a gente entenda onde é que entra o curso técnico do CESEP. Então quando o MEC absorveu os cursos técnicos para a sua responsabilidade; o CESEP que era uma entidade de ensino regular (fundamental e 2º grau), o CESEP que era o antigo curso superior aqui e que depois se transformou em UNAMA, transferiu esses cursos técnicos para a esfera do CESEP (colégio regular de ensino fundamental e médio). E, a partir daí nós vimos há 27 anos formando o Técnico em Segurança do Trabalho, e junto com o Técnico em Segurança do Trabalho vieram, o Técnico em Informática, em Estética, o Técnico em Patologia Clínica (agora Técnico em Biodiagnóstico), assim como o Técnico em Segurança do Trabalho era “Supervisor de Segurança do Trabalho”, houve toda uma mudança e dentro dessa mudança o CESEP se firmou como uma instituição iminentemente formadora de técnicos, além de ter o ensino regular (de 1º e 2º grau), o CESEP também absorveu essa formação dos técnicos, sendo o curso Técnico em Segurança do Trabalho o carro chefe. Hoje,

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35só aqui no CESEP-Belém temos quatro turmas (TST), e a cada ano nós colocamos no mercado esses profissionais. Posso dizer que nas empresas do Estado do Pará e Região, os técnicos do CESEP estão nas empresas e são assim: onde você for, numa empresa procurar o técnico de segurança, vai ver que por tradição ele foi formado pelo CESEP, embora hoje várias instituições se propõem a isso, mas não conhecem a origem, como é que evoluiu o curso técnico.

É, eu sou coordenador do curso Técnico em Segurança do Trabalhado, desde o início, porque como médico de segurança do trabalho e pela proximidade, eu já era prestador de serviços para a UNESPA (antes de ser UNAMA). Então, eu fui com o curso para o CESEP, a partir daí nós começamos a coordenar. Então, eu estou desde o início, 27 anos no curso Técnico em Segurança do Trabalho.

2) OBJETIVOS DE ENSINO/DE FORMAÇÃO: Basicamente nós ministramos o conteúdo, porque nós trabalhamos em cima de competências e habilidades, e nós formulamos todo o nosso conteúdo exatamente para que o aluno adquira a competência daquele conteúdo e devolva as habilidades dentro do campo de trabalho. Então, todo o nosso curso é centrado em competências e habilidades. Então ao final de cada conteúdo (não chamamos mais de disciplina), os nossos conteúdos formam eixos temáticos que é, no caso, o meu conteúdo, junto com outros colegas, nós temos a parte de higiene e segurança e saúde do trabalhador e a parte de bem-estar do trabalhador, que é a parte de bem-estar do trabalhador, que é parte de psicologia, da administração. Então, isso aí formam eixos temáticos, e nós professores precisamos estar articulados pra fazer com que ao final de cada eixo temático, o aluno ganhe a competência para desenvolver as habilidades dentro daquele conteúdo. Então todo o nosso curso é baseado em competências e habilidades. Quer dizer, não é aquela forma tradicional de ensino em que você enche o aluno de conteúdo e diz assim mesmo; “olha se virá”. Não, nós temos que acompanhar até que ponto ele adquiriu aquela competência para que quando ele chegue no mercado de trabalho ele possa desenvolver aquilo que ele aprendeu no curso.

E é interessante notar que as nossas avaliações são feitas obedecendo justamente essa visão, ou seja, o aluno recebe aquele conteúdo, ele realiza atividades em sala de aula, ele faz avaliação tradicional com prova escrita, e, às vezes com algum trabalho realiza pesquisas, basicamente ele terá que apresentar ao final de cada módulo do curso, uma etapa do projeto que ele vai ter que desenvolver dentro de uma empresa. Então, quando termina cada módulo, se encerra justamente com um seminário. Não é um seminário, é uma apresentação de um projeto que eles elaboram dentro da empresa, ou seja, aplicando todo aquele conteúdo dentro da empresa que eles escolhem, que eles vão, pedem permissão e começam a desenvolver esse projeto lá. É uma avaliação que vai dizer se ele estar ou não competente para passar para o módulo seguinte.

(Competências e Habilidades) Um exemplo só para entender a questão das competências: Se eu passo para o aluno o conteúdo sobre higiene e segurança do trabalho, eu vou passar para ele um conteúdo de que ele terá que chegar num ambiente de trabalho e identificar os riscos que são físicos, químicos e ergonômicos, e ele vai ter que reconhecer esses riscos representados pelo calor, pela umidade, pelos agentes químicos, pelos riscos de acidentes. Então, o professor passa pra eles esse conteúdo pra ele identificar esses riscos; a competência dele vai ser identificar riscos, a habilidade vai ser chegar nesse ambiente de trabalho e “saber ver”, porque quando ele entra

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36nesse ambiente, depois que ele tem essa competência de reconhecer os riscos, ele chega lá e fica mais fácil. Nós fazemos uma experiência com o aluno, é o seguinte, a gente pega o aluno e diz assim: quais são os riscos que uma atividade, vamos supor, de auxiliar de escritório. Mas muita gente diz assim: não, auxiliar de escritório não sofre risco nenhum porque ele trabalha com ar refrigerado, ele trabalha sentado, trabalha tranqüilo, às vezes até ouvindo música. Mas não existe risco? E aí a gente vai mostrar que toda e qualquer atividade encerra um ou vários riscos, o importante é que você como técnico tem que reconhecer os riscos e mostrar para o trabalhador que ele não identificou. Então, isso é a competência que a gente dá pra ele. E a habilidade é, justamente, ele chegar e dizer: olha aqui está um risco, a própria forma de sentar, de digitar, a própria forma de se manter muito tempo numa só posição. Isso representa um risco para a saúde e para a integridade do trabalhador. Então nós trabalhamos exatamente isso, o conteúdo teórico vai dar essa visão para o trabalhador e ele vai ter que fazer isso aplicando no ambiente de trabalho. Então, quando ele chega a ser admitido, ele já deve levar com ele, a gente orienta que ele leve sempre um projeto para desenvolver dentro da empresa, mas pra ele levar esse projeto precisa antes conhecer a empresa; quais são, o que se faz naquela empresa, que tipo de atividade é realizada, para que ele já consiga evidenciar, mesmo antes de chegar à empresa, quais são os riscos que aquela atividade enfrenta. Ele deve se antecipar, senão ela não vai fazer nada.

3) CONTEÚDOS DE ENSINO/FORMAÇÃO: Esses conteúdos já estão... já existe por Lei, por norma, já existe uma programação padronizada, em termos de conteúdos programáticos, mas cada instituição vai desmembrar isso de acordo com as suas competências, da própria instituição. Então, nós iniciamos todo o nosso curso com a parte de “metodologia de projetos”. Então, porque metodologia de projetos? Ela não está na grade oficial, mas nós a introduzimos porque o aluno não pode formular um projeto para que ele possa apresentar na empresa que ele for trabalhar se ele não sabe metodologia de projetos. E aí a gente entra com o aspecto da psicologia, do desenho técnico, da higiene, da segurança no trabalho, da ergonomia, os aspectos dos primeiros socorros, a prevenção contra as doenças, e assim a gente vai desenvolvendo. Mas existe um comando, uma direção que é uniformizada, e, cada instituição desenvolve seu conteúdo. Por exemplo, existe um eixo que contempla “princípios de tecnologia industrial”, então, esse eixo que o CESEP usa pode ser diferente do que o SENAC usa. Então, o que nós fazemos? Nós com o conhecimento que temos do assunto...por exemplo, eu implantei agora o conceito de Metrologia, porque é inconcebível que o técnico que vai atuar, principalmente, na área da indústria, não saiba o que é um paquímetro, não saber o que é um manômetro, os instrumentos de medição. E, se você for vê, nenhum conteúdo está contemplado. Então, nós introduzimos esse princípio de tecnologia nesse conteúdo. Outro exemplo: Máquinas e Equipamentos são fundamentais, então, um aluno do 2º grau nunca viu máquinas e equipamentos, portanto, não sabem quais são os componentes de uma máquina, nós vamos mostrar que componentes de uma máquina têm uma parte mecânica e uma parte eletrônica, que ela tem um arranjo físico, e mostrar qual é o risco que essa máquina representa para o trabalhador. Então, nós (o corpo técnico da instituição) introduzimos máquinas e equipamentos.

E aí, a gente convida professores ou técnicos especializados para ministrar esse conteúdo. Por exemplo: ninguém melhor pra ministrar conteúdo sobre máquinas e equipamentos do que um instrutor técnico, os instrutores do SENAC são excelentes porque eles conhecem a máquina a fundo, eles dissecam a máquina (um exemplo). Então os nossos,

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37inclusive são técnicos convidados, claro que aqui no CESEP nós temos a preocupação do professor ter obrigatoriamente a formação superior e ter conhecimento técnico naquela área. Nós não temos nenhum professor que não tenha formação superior.

4) METODOS DE ENSINO E DE AVALIAÇÃO: Nós desenvolvemos nosso conteúdo através de, primeiro, estudo dirigido porque a gente trabalha muito com legislação, e legislação é uma coisa cansativa e o próprio aluno de 2º grau não tem conhecimento de legislação. Então ele aprende a manusear uma CLT, e aprende a localizar dentro da norma regulamentada os itens que interessam à segurança do trabalho. A gente faz aula expositiva também, a gente utiliza muito recursos audiovisuais porque nós temos uma gama enorme de filmes, principalmente, filmes que mostram a realidade do dia-a-adia do trabalhador e em cima desses filmes a gente vai mostrando onde é que estão os riscos, qual é a possibilidade de adoecimento. E usamos também, assim, um pouco bem elementar na área a questão das doenças funcionais, nós trazemos lâminas mostrando quais são as doenças causadas em função do trabalho. Às vezes a gente não associa a forma de adoecimento do trabalho com a atividade que ele faz, então a gente mostra que uma determinada doença tem relação direta com a atividade dele.

Então a nossa metodologia é bem variada, para que o aluno não se sinta fatigado só com aquela aula expositiva, teórica. Segundo, a gente força que o aluno busque na legislação ou no referencial bibliográfico, e hoje a Interne é um instrumento fantástico tanto que, qualquer assunto que a gente pede, ele corre na Interne e busca. E nessa parte de segurança do trabalho a vantagem é que nós temos muito referencial teórico.

(Avaliação) Nós fazemos a avaliação no dia-a-dia, inclusive uma coisa que a gente conta muito é a

presença do aluno, porque se ele não está presente, principalmente, num conteúdo desse, ele perde. Então a gente força que ele esteja presente até porque isso conta ponto pra avaliação. Nós fazemos a avaliação tradicional com perguntas e respostas, mas basicamente nós fazemos a avaliação do que eles podem fazer dentro da empresa, através de um projeto. Todos os professores, obrigatoriamente, deverão fazer a avaliação pelo projeto, e, é claro a gente vai orientando o aluno, por qual caminho ele deve seguir, etc. E um aspecto que a gente leva muito em consideração é fato de o aluno se posicionar diante da empresa, porque ele vai pra uma empresa e vai em busca do que está errado, então a gente enfatiza sempre o aspecto ético: lembre-se que você vai para uma empresa, como se você estivesse entrando na casa dos outros, então você não pode sair criticando, o que você souber tem que manter em sigilo e a gente discute só em sala de aula, mas não pode sair daqui porque senão da outra vez você não vai mais ter acesso.

E no final do curso, eles fazem um seminário. Eu costumo dizer que o seminário é a vitrine do curso, eles estão prestes a concluir o curso; eles organizam o seminário, definindo a temática, o tema de cada palestrante, fazem o convite aos palestrantes, a organização estrutural do seminário, eles são mestres de cerimônia, são presidentes de mesa, são secretários. É uma forma da gente mostrar para a sociedade, que estão saindo mais profissionais para exercer essa atividade.

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38Entrevista 03 Professor: P 3 Curso: Técnico de Segurança do Trabalho Duração: 23 minutos Local: Sala dos professores

1) EXPERIÊNCIA COM EP: Meu nome é Carlos Quebra, eu sou formado em Psicologia, eu sou psicólogo. Fiz graduação na UNAMA e fiz dois cursos de pós-graduação. Fiz um MBA em gestão de pessoas fora de Belém, em Brasília e fiz uma especialização na UNAMA mesmo, na área de Psicopedagogia institucional. Trabalhando em educação profissional, eu posso dizer pra você que eu trabalho desde 1984, agora em instituições de ensino, vinculada ao MEC, como é o caso do CESEP, eu venho trabalhando desde 2003 há cinco anos. Quando eu falo pra você que trabalho desde 84 é porque além de eu dar aula, eu trabalho numa empresa de transmissão de energia, eu sou empregado da Eletronorte há 29 anos (em março de 2009 estarei completando 30 anos na empresa). Eu entrei lá na área técnica de operação de subestação de usina, e, em 1984 eu saí de Belém (pela Eletronorte) e fui trabalhar na usina de Tucuruí (com operação). E a nossa primeira atividade foi estudar o funcionamento da usina para repassar esses conhecimentos para as pessoas que iam trabalhar na operação da usina. Então, eu fui uma das pessoas que estudei previamente algumas partes da usina, com o objetivo de repassar esse conhecimento. Então, depois de um período de estudos eu fui trabalhar na usina para que as pessoas que iam trabalhar na usina também tivessem acesso a esse conhecimento. Então, desde 83 eu trabalho com instrutoria, também ligado à Educação Profissional. E aqui no CESEP eu trabalho desde 2003, convidado pelo professor Dr. Ivo Xavier. Bem, na época que eu trabalhava na usina, eu trabalhava com instrutoria da área técnica, instrutoria de operação, de serviços auxiliares na usina de circuitos elétricos da usina, depois trabalhei com disciplinas voltadas pra hidrotécnica, operação hidrelétrica, com instruções técnicas de operação, operação de construções, manual de operações, etc, até que em 1991 eu retornei de Tucuruí para Belém porque eu queria estudar. Tucuruí não oferecia na época um curso superior e eu quis procurar um centro mais avançado porque eu tinha o objetivo de estudar. Eu estava há aproximadamente 8 anos sem estudar, decidi que estava na hora de voltar para continuar meus estudos. E a minha vontade, na época, de estudar, era voltada para ciências humanas, e naquela ocasião a carreira (a área) de Psicologia estava ligada às Ciências Humanas. Só depois é que passou a fazer parte da área da saúde. E a decisão por fazer psicologia se deu pelo fato de eu me senti envolvido num trabalho muito forte com as pessoas. Então, eu sentia necessidade de estudar alguma coisa que pudesse me dar um respaldo mais consistente para fazer aquilo que eu já fazia com muita freqüência, mas que não tinha nenhum subsídio científico pra desempenhar.

Eu fiz a graduação e especialização, mas nunca me afastei da atividade de ministrar aula, porque apesar de já trabalhar há quase 30 anos numa empresa de transmissão de energia, dar aula pra mim é uma atividade extremamente prazerosa. Eu digo que quando eu venho dar aula, eu não venho trabalhar, eu venho realmente fazer algo que não representa pra mim um esforço, não representa nenhum desgaste. É algo que eu faço com uma satisfação muito grande. Em 1992, eu me inseri num grande programa na Eletronorte, um programa de desenvolvimento educacional, que foi o programa “Eletronorte de qualidade e produtividade”, ocasião em que a Eletronorte havia decidido aderir a esse convite, que o governo, na época, fazia que as empresas, estatais implantassem um programa de qualidade, existia uma vertente

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39de ensino voltada para a área comportamental. Como eu era acadêmico de psicologia e gostava da atividade docente e havia e havia uma demanda educacional para a área comportamental. Então se apresentou pra mim naquele momento uma mistura perfeita, a oportunidade de poder desenvolver a atividade docente, uma demanda educacional muito forte; e, principalmente na minha área acadêmica, de psicologia. E a partir daí eu venho trabalhando dentro da empresa com as atividades de desenvolvimento de pessoas e com algumas atividades também voltadas para o processo de gestão. Por esta razão, hoje eu sou professor do CESEP de “Gestão da Qualidade Total”, especificamente para o curso de Segurança do Trabalho. Já tive oportunidade de ministrar aula para o curso de especialização da UEPA, especialização em ”Qualidade de vida”, onde eu dei no modulo de Motivação Humana, eu ministrei a disciplina de criatividade, o desenvolvimento de criatividade.

2) AMBIENTE DE APRENDIZAGEM / RECURSOS: Os recursos que o CESEP oferece são os recursos que a maioria das instituições de ensino estão oferecendo. As salas de aula no modelo clássico (com carteiras e aquela mesinha básica do professor), o data-show que hoje é o equipamento mais utilizado em sala de aula que veio substituir o reto-projetor, que poucos professores ainda utilizam. E a estrutura, na minha opinião, se resume a isso. Eu, particularmente, sinto falta ainda de alguns outros recursos que não são habituais nas instituições de ensino. Eu já tive a oportunidade de ministrar cursos, e também como aluno de fazer treinamentos, onde as dinâmicas de grupo são(...) espaços mais descontraídos, você tem a opção de sentar no chão, de deitar no colchonete, sem, sem perder o foco do processo de aprendizagem. Eu acho extremamente importante, você ter essas alternativas. A gente sabe que a história da relação professor-aluno é uma história que estabelece uma divisória muito forte, professor de um lado, aluno do outro e eu vejo que essa fronteira entre professor e aluno, em determinado momento é muito útil, mas em outros eu considero como extremamente prejudicial. Então eu entendo que as instituições de ensino já deveriam ter essa preocupação; é um custo a mais, um espaço a mais, ou adaptar as salas de aula para ter esse tipo de (...). Mas aqui no CESEP nós temos algumas limitações. O curso profissional ele funciona só no período noturno. No período diurno, as instalações parecem ser utilizados só para atender o ensino fundamental e médio, e aí, eu vejo que o espaço foi criado para atender esse público do dia. Está sendo hoje aproveitado para a demanda da noite, mas não foi criado ara atender um público mais adulto. Porque é muito difícil você ter, por exemplo, um espaço. Eu sinto falta desse espaço mais descontraído, mas isso faz parte de uma evolução. Eu também nunca fiz uma reivindicação específica e nem sei se fizesse seria atendido de imediato. Mas eu acho que a instituição pode começar a pensar nisso.

3) OBJETIVOS DE ENSINO/DE FORMAÇÃO: Bem, os objetivos eles são(...) existe uma grade curricular estabelecida pelo próprio ministério, que define o que precisa ser ensinado pra formação do técnico, pra formação do profissional e é claro que nós precisamos no enquadrar nessa necessidade. Eu não posso chegar aqui e resolver ensinar o que eu quiser para o profissional da área de segurança. Então já existe um conteúdo pré-estabelecido para formação do profissional de segurança, assim como tem para formação do médico, do engenheiro, do advogado e é algo que está instituído no próprio ministério da educação.

Dentro desse conteúdo básico, indispensável, a própria instituição e o próprio corpo

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40docente faz a sua proposta de atendimento desse conteúdo. Então, por exemplo, no meu caso, eu vou falar da minha disciplina, nós entendemos que um profissional de segurança, ele vai ser um gestor de um determinado processo de prevenção, ele vai ser responsável por preservar a saúde do trabalhador sobre todos os aspectos. Então, ele vai precisar gerir certos processos na sua linha de ação. Pra ele trazer essa gestão, ele precisa da parceria, da contribuição, ele vai precisar envolver pessoas, então ele vai ter todo um envolvimento com as demais áreas da organização, pra poder desenvolver a sua prática profissional. E pra você fazer gestão é preciso você saber lidar principalmente com as pessoas. Porque ao contrário do que muita gente pensa, o gestor gere pessoas e esta gestão é preciso ser feita com qualidade. Por isso que hoje eu ministro a disciplina gestão da qualidade total aplicada a segurança do trabalho. Então, o objetivo é preparar o profissional de segurança para desempenhar o papel do gestor. Muitas vezes, ele chega numa organização conhecendo as normas da vida, conhecendo as leis, conhecendo algumas técnicas. E aí ele começa a descobrir que basta-o conhecer só isso, ele precisa sensibilizar as pessoas para que elas adotem isso na sua prática, ele precisa criar parcerias, por exemplo, para formar grupos de uma comissão interna, prevenção de acidentes. Eles precisam conscientizar as pessoas sobre a necessidade de a empresa ter na sua rotina um diálogo diário de segurança, ou um diálogo semanal de segurança. Então ele começa a perceber que embora ele saiba tudo que precisa ser feito, ele não tem a habilidade de sensibilizar as pessoas, de conscientizar as pessoas, de criar parcerias, de envolver as pessoas para desenvolver esse trabalho. E, na disciplina de “Gestão da Qualidade Total”, eu procuro explorar com os alunos essa necessidade, as dificuldades que a gente encontra, alguns caminhos que podem facilitar essa nossa caminhada. Então, eu trabalho isso com eles nessa disciplina, trabalho a origem da qualidade total, como é que ela se deu, quais os países que adotaram, inicialmente, esse programa de qualidade total, destacando, por exemplo, o Japão, em primeiro plano, que foi um país que depois da 2ª Guerra Mundial, teve que recorrer a essa metodologia para se reerguer como nação porque havia sido destruída durante a 2ª G.M. Eu costumo discutir com eles a questão dos paradigmas, as dificuldades de enfrentar, de implantar determinadas metodologias, principalmente, as metodologias corporativas, como enfrentar aqueles profissionais que estão há 20, 25, 30 anos dentro da empresa, dizendo que sempre fizeram daquele jeito, que não vai mudar nunca, porque que agora vai aparecer um maneira, uma história completamente diferente de trabalhar. Eu procuro explorar muito isso, e desenvolver algumas ferramentas para que eles possam implementar algumas práticas no dia-a-dia profissional.

4) CONTEÚDOS DE ENSINO/FORMAÇÃO: O conteúdo vem com uma estrutura do próprio Ministério. Eu entendo que o Ministério deve dizer para a instituição: se você quer ter um curso de formação do Técnico de Segurança, você vai ter que trabalhar esses conteúdos aqui. A instituição pela própria experiência que tem, dá sua contribuição ou apresenta a sua proposta. E, normalmente essa contribuição da instituição, essa proposta tem a participação dos professores. Então essa definição do conteúdo, eu entendo como uma parceria; vem a proposta do próprio Ministério, a instituição já tem o seu ponto de vista em função da sua experiência e os próprios professores dão a sua contribuição. Eu costumo trazer muito para os meus alunos a minha história profissional, como eu tenho 30 anos trabalhando e destes, pelo menos 16 anos, especificamente com Gestão da Qualidade. E eu trabalho especificamente com esses processos de gestão. E eu tenho muitas facilidades, mas também tive muito dificuldades, até hoje tenho muita dificuldade. Por exemplo, hoje eu gerencio uma área, onde alguns processos

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41certificados pela Norma ISO 9.000 eu enfrento muita dificuldade de profissionais que enxergam a metodologia, a Norma como algo dispensável, algo que não teria necessidade de existir, então até hoje com 30 anos de experiência, com alguns resultados importantes já pra mostrar e ainda assim eu enfrento muita dificuldade. E eu procuro trazer isso para eles, eu acho interessante porque eu consigo contar “causos” (risos) a disciplina fica mais agradável.

5) MÉTODOS DE ENSINO E DE AVALIAÇÃO: Eu costumo usar, predominantemente, a exposição-dialogada, onde com a apresentação de slides e expondo e dialogando aquilo que vai sendo passado. Paralelamente, eu costumo usar vídeos, eu gosto muito de usar vídeos, tantos vídeos institucionais, como filmes do dia-a-dia, extraindo trechos de alguns filmes para dar alguns exemplos, principalmente de aspectos comportamentais. Eu diria que um lado forte da minha disciplina é a abordagem comportamental, nenhuma coincidência coma minha profissão (risos). E eu costumo fazer muitos trabalhos, independente de uma prova, porque a prova é normalmente uma exigência da instituição. Eu costumo fazer muitos trabalhos, que vai desde a interpretação de um vídeo até a construção gradativa de um conceito. Então, eu costumo utilizar dinâmicas do tipo: “o que você pensa, particularmente, sobre determinado assunto; depois eu peço para você compartilhar o que você pensa com uma outra pessoa, e aí vocês constroem uma terceira que é a composição do que vocês pensam daquilo. Depois eu pego vocês duas (a idéia de vocês duas) e junto com mais três ou quatro pessoas, e aí cada grupo, cada pessoas vem com a sua idéia e forma, até eu chagar a idéia da turma como um todo, e aí eu faço uma comparação: o que é a idéia da turma agora e o que era a minha idéia no primeiro momento que eu pensei sobre esse assunto, o quanto que eu fui capaz de influenciar na opinião do conjunto ou quanto que eu tive que abrir mão do meu ponto de vista para aderir ou para admitir uma nova concepção. E todos esses trabalhos, todos esses momentos eu avalio, eu pontuo, todos eles eu valorizo. Então não existe nenhum trabalho que você participe por participar, no mínimo você é pontuado só por ter participado daquele trabalho. Eu acho que a avaliação não se resume a uma prova, a prova é um dos métodos, um dos parâmetros para você fazer uma avaliação, mas não é o único. E eu não acho justo que você avalie uma pessoa por um único parâmetro, você pode estar deixando de considerar outras características, outras qualidades que ela tem não prestando atenção em outros referenciais. Entrevista 04 Professor: Heloísa Parente Monteiro. Curso: Técnico de Estética Duração: 12 minutos Local: casa da professora 1) EXPERIÊNCIA COM EP: Meu nome é Heloísa Parente Monteiro. Eu estou na área de estética há 13 anos e na parte profissional de dar cursos, já estou desde 1998. Eu dava esporadicamente, por exemplo se uma aluna precisava eu dava um curso X, outra aluna vinha e pedia: “professora eu quero fazer um curso de depilação”, daí eu já dava o curso de depilação. Dei também curso na Associação Profissional de Estética em 2000, dei três meses cursos no SENAC, englobando toda a parte facial, só a parte teórica. E, estou no CESEP desde 2005, há três anos, fez agora

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42em abril. Eu sou formada em Técnica em Estética e faço curso de Letras na UBRA. E os eixos temáticos que eu ministro são: depilação, terapia capilar, vou dá eletroterapia nessa próxima turma, e, também dou aula de tratamentos faciais que engloba pilis, ácidos, manchas, etc. (Experiência com EP: 10 anos e, só no CESEP há 3 anos; Formação: Técnica em Estética, cursando Letras.) 2) AMBIENTE DE APRENDIZAGEM / RECURSOS: Nós temos um laboratório, que agora virou um centro estético, porque estava ocioso durante o dia e nós aproveitamos para que as próprias alunas pudessem fazer a parte de estágio lá mesmo. Então nós temos segunda, quarta e sexta-feira, elas fazem estágio, as meninas que estão se formando, que já estão na prática, elas já fazem estágio lá mesmo no CESEP, mas tem algumas que fazem por conta própria. Eu vou e faço a supervisão, porque eu também faço a supervisão de estágios e temos aquelas que estão em algumas clínicas e em alguns centros estéticos, mas a maioria fica lá no CESEP mesmo. Os recursos, além do centro estético bem grande, nós temos dez macas, temos os aparelhos que estamos até tentando trocar ou vender para adquirir uns mais modernos. E, nós temos também uma biblioteca que nos serve de apoio, tanto para os alunos como para nós professores, temos uma coordenação toda voltada para estética, temos a coordenação pedagógica. Temos o nosso coordenador geral de estética que é dermatologista, é o Dr. Amalri Esteves que dá aula de anatomia e fisiologia. Então nós temos todo um apoio técnico, todo material usado na prática é dado pelo CESEP, a aluna leva somente o EPI (Equipamento de Proteção Individual) dela que usa para trabalhar; luva, algodão, máscara, etc. Então nós temos todo o apoio, quando a gente precisa de qualquer material é só solicitar para a coordenação que eles providenciam. 3) OBJETIVOS DE ENSINO/ DE FORMAÇÃO: No caso de depilação, além daquela parte toda teórica, de pêlo e pele que ele tem que saber para entrar em depilação e na prática eles aprendem “aprendendo” mesmo na pessoa. E o que a gente pretende é formar profissionais realmente habilitados para exercer bem essa profissão de estética. O curso todo engloba, na prática: tratamentos faciais, corporais, depilação, terapia capilar e maquiagem. Então o que a gente pretende é formar profissionais aptos para exercer bem essa profissão que ele escolheu, e, porque, além do laboratório, eles têm como suporte o estágio e são 250 horas. Sem estágio ele não forma, ele pode até colar grau, mas ele não recebe o diploma. 4) CONTEÚDOS DE ENSINO/FORMAÇÃO:

É discutido com o coordenador, por exemplo, como eu já vim de um curso técnico, tanto que agora no CESEP além de ter um curso técnico, tem que ter o curso superior para poder ministrar aula, aí tem todo um respaldo. Porque se eu fiz um curso técnico, eu sei todos os eixos temáticos, tudo aquilo que é necessário pra eu sair bem numa profissão. Daí eu elaboro e mostro para o meu coordenador da parte de estética e ele diz se pode ou não pode. (sobre a formulação dos objetivos) É o próprio professor, ele entrega o eixo temático e a coordenação avalia. No dia-a-dia, tanto na ficha de matrícula como num outro papel que tem, além desse plano (um plano que ela me mostrou pessoalmente contendo: eixo temático; objetivos; conteúdo; estratégias de ensino; recursos materiais; e bibliografia) eu tenho que

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43especificar tudo o que eu dei, eu tenho que especificar a parte teórica (são quatro horas de teoria sobre depilação das pernas , prática das axilas, etc). (quem define os conteúdos) A parte teórica vem do Ministério da Educação, já a parte prática somos nós que elaboramos com a supervisão da coordenação. (qual o período do planejamento) Esse planejamento (da prática) eu elaboro 3 meses antes deles irem para a prática, eu elaboro a minha lista de material porque não pode faltar nenhum material e tudo que eu vou dar, e a coordenação também já elabora o calendário daquela prática. 5) METODOS DE ENSINO E DE AVALIAÇÃO: Eu dou aula através da apostila, elaboro uma apostila que eu dou pra eles, e falo item por item sobre aquela apostila, se for preciso eu explico alguma coisa no quadro (algum desenho de uma glândula, ou quando não vem no papel: alguma conta sobre ácidos, sobre a escala do PH, aí tem que explicar utilizando o quadro). E na prática, eu faço primeiro a depilação, no caso da depilação, e depois mando elas fazerem, depois fazem umas nas outras e eu supervisionando, contando que todas façam, principalmente porque tem avaliação prática, eu vou avaliar quem pode e quem não pode, porque se ela não aprender ela vai tornar fazer, ela vai repetir. (Avaliação) É como eu lhe falei: tem uma prova escrita, por exemplo, terapia capilar, aí eu posso perguntar o que é terapia capilar, como você avalia um tratamento de queda? Daí ela tem que “botar” ali porque eu já expliquei pra ela, e, às vezes tem algumas alternativas só para dizer se é verdadeiro ou falso (prova tradicional) e a prática é, por exemplo, você pode fazer muito bem, você está apto a tirar até 10, mas se você falta muito, você chega atrasada, sai adiantada, tudo isso eu estou avaliando, o interesse que você tem. Tem aluna que quando você está explicando ela está em cima perguntando e outras não, não tem interesse nenhum (uma vez, uma aluna veio e disse: “eras professora, a senhora nem me deu 10, eu faço muito bem depilação”. Daí eu coloquei pra ela: sim, mas eu não estou avaliando só a sua prática, está sendo avaliado o seu interesse, se você faltava, você saiu adiantada, etc). Então a avaliação não é só isso, você pode fazer a prática muito bem, mas eu estou explicando e você está conversando com a outra, não tem interesse nenhum, quer dizer que estou gastando a minha voz, me esforçando, porque eu faço questão que aprendam nos detalhes. Então eu não avalio só a sua prática, é o seu interesse, sua freqüência, sua participação. Eu também posso passar um trabalho, daí elas vão a Interne ou na biblioteca pegar revista pra vê o assunto. Por exemplo, eu quero um trabalho sobre pissoríase, o que eu dei na apostila é muito pouco, daí elas vão pesquisar na Interne ou na biblioteca porque na biblioteca nós temos todo material disponível. É assim o nosso método.

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APÊNDICE III – RELATÓRIO DAS OBSERVAÇÕES DAS AULAS NOS CURSOS TÉCNICOS NO CESEP CURSO: TÉCNICO EM SEGURANÇA DO TRABALHO

Na aula do curso de Técnico em Segurança do Trabalho, o tema exposto pelo

professor é sobre os Tipos de Inspeção de Segurança, relacionado ao conteúdo de Vasos de

Pressão. A aula se dá de forma expositiva, com a utilização de data-show e pouca intervenção

dos alunos. Na aula o professor, além de mostrar a estrutura dos equipamentos de uma fábrica

(vasos de pressão) e como funcionam, explica aos alunos a importância da função do Técnico

em Segurança: este deve zelar pela segurança no trabalho como medida de garantia do bom

funcionamento do processo fabril, do processo de produção.

O professor menciona, ao longo de sua explicação sobre os tipos de inspeção, sobre a

formação profissional destes trabalhadores, ele diz que pessoas “qualificadas” que têm um

curso profissional / técnico, terão maiores chances de se inserirem no mercado de trabalho.

Enfatiza que o profissional deve ser qualificado para fazer treinamento de inspeção; deve ser

habilitado (certificado) tendo feito cursos no CESEP, SENAI, SESI, etc.; deve fazer cursos de

reciclagem para se atualizar; deve ter um currículo mínimo de treinamento, ou seja, currículo

de conhecimentos básicos para a formação.

O professor afirma que os técnicos em segurança devem fazer o treinamento de

inspeção com os trabalhadores da empresa em que trabalham como medidas de prevenção de

acidentes (vazamento, explosões, etc.).

Estavam presentes na sala em torno de 25 alunos, homens e mulheres, numa faixa

etária entre 20 e 30 anos, que pouco participaram da aula. O professor foi bastante apressado

com relação ao conteúdo, falava de normas da ABNT que os alunos já teriam visto, por isso

somente as citava. Passou muitos slides, com bastantes fotos e muito conteúdo, sempre dando

exemplos das estruturas das máquinas e do funcionamento da “coca-cola”, onde trabalhou ou

trabalha. Em geral as ilustrações mostravam acidentes com vasos de pressão, as causas e as

conseqüências destes e o que o Técnico em Segurança influencia nesta situação. O técnico em

segurança deve fazer sempre as inspeções de segurança para que esse tipo de acidentes graves

ou não, venha a ocorrer na fábrica.

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CURSO: TÉCNICO EM ESTÉTICA

A aula de Estética observada foi uma aula prática, cuja temática era Estética Facial. A

aula se deu num Laboratório de Estética, com ambiente climatizado, equipamentos

(máquinas), macas e diversos materiais da área (creme, luvas, papel, etc.). A aula demorou a

começar, a professora conversava bastante com as alunas (100% mulheres), enquanto as

outras não chegavam. Demonstraram ter um bom relacionamento professora e alunas (de

amigas intimas).

Depois de um bom período de espera a professora pediu que as alunas arrumassem as

macas (forrassem com papel), se juntarem em dupla para começar a aula. Ela não diz qual o

objetivo da aula, apenas o que será realizado. Enquanto uma aluna fica deitada na maca, a

outra fará a massagem, e depois podem revezar. Devem fazer uma massagem na região facial

da aluna que está deitada, sendo assim o tema da aula e o que elas devem desenvolver é:

“Percurso de desbloqueio, pressão e compressão nas regiões: cervical; periontídeo,

periodental, madibular e cravicular” (a professora repete isso várias vezes, porque as alunas

parecem não entender o que é pra fazer, e não fazem como a professora pediu)

A professora atende cada dupla individualmente, explicando o que ela deve fazer (o

percurso de desbloqueio) e a aluna que está realizando a massagem deve repetir. As alunas

têm de saber os nomes científicos da região facial e reconhecê-los no rosto e corpo para então

realizar a massagem.

Percebo que as alunas não sabem identificar os termos científicos da região facial que

devem realizar a massagem e nem seguem a ordem que esta deve ser feita. Numa conversa

entre as alunas, no momento em que a professora sai de sala, surge o seguinte comentário de

uma para outras: “Vocês sabem esses nomes? Eu não decorei, lembro que anotei no meu

caderno, mas não sei e não vou conseguir decorar isso nunca!”. Uma das colegas responde:

“a gente já deu sim, mas também não lembro!”.

Quando a professora retorna, elas não tiram a dúvida, ficam caladas, e a professora

também não explica cada uma dessas funções. Talvez, as alunas já tinham passado por uma

aula teórica a esse respeito, a finalidade da massagem, para que serve qual a influência para a

circulação, para o relaxamento muscular, o que pode ocasionar no rosto da pessoa, etc. O

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46ensino é para saber fazer, no entanto, as alunas apenas repetem o que a professora fala, não

sabem, não perguntam e fazem errado. A professora está ali para repassar uma forma, uma

prática de massagem sem maiores explicações.

CURSO: TÉCNICO EM SEGURANÇA NO TRABALHO

A aula observada neste dia faz parte do seguinte conteúdo programático do curso de

técnico em segurança: “Segurança do Trabalho na Construção Civil”. O objetivo da aula,

exposto pela professora era de entender/compreender a importância do PCMAT – Programa

de Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção, que se configura

num plano de ação, planejamento da obra.

Dentre os assuntos abordados durante a aula, a professora apresentou as Normas de

segurança para a construção civil; a classificação de resíduos; instalações elétricas;

Equipamentos de Proteção Individual – EPI; o programa 5S (cinco sensos: utilização/descarte,

ordenamento/organização, limpeza, saúde e autodisciplina, para desenvolver a criatividade e

cooperação visando a melhoria contínua) e o PCMAT (quem é habilitado para elaborá-lo, o

que ele deve conter, o que ele abrange, como deve ser executado e quem deve monitorar essa

execução).

A aula se dá de forma expositiva dialogada, com bastante participação dos alunos,

estes são motivados pela professora a refletirem o tempo todo. A professora utiliza slides

bastante ilustrados para exemplificar cada situação (das instalações elétricas). Ela também

aponta algumas discussões sobre a saúde do trabalhador relacionada à produção.

É importante ressaltar que durante a exposição de todo esse conteúdo, a professora diz

que a construção do PCMAT, no seu ponto de vista, é o elemento mais importante da sua

disciplina, tendo em vista que se configura no planejamento de uma obra a ser realizada e que

nele deve conter a identificação dos riscos no trabalho como prevenção de futuros acidentes.

Em sua fala, pude observar uma preocupação maior com outras questões da profissão

do técnico em segurança. Para ela, além do técnico ter que adquirir todo esse conhecimento,

ele deve, em primeiro lugar, ter consciência da responsabilidade da sua profissão, e prestar

atenção nas questões humanitárias, nos seus direitos e deveres enquanto cidadãos críticos que

devem refletir sobre a responsabilidade social, sobre as questões ambientais. Além disso, ela

deixa claro que qualquer profissional deve estar aberto à coletividade, a solidariedade, a não

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47passar por cima dos outros em virtudes de seus próprios interesses. E, principalmente, algo

que achei mais importante para as pessoas em formação, que devem buscar sempre pelo

conhecimento, buscar o entendimento das coisas, não se contentar ou se conformar com algo

dito e não aceitar imposições sem ter certeza que é necessário, sem procurar mais explicações,

em serem críticos e reflexivos nos seus próprios atos, em respeitar o próximo e valorizar mais

as pessoas, em não se calar diante do que está errado, e tomar atitude para mudar algo em que

acredita.

CURSO: TÉCNICO EM SEGURANÇA NO TRABALHO

O professor inicia esta aula já dizendo aos alunos que estudarão as “Ferramentas

Básicas de Qualidade”. Segundo o professor, os alunos já viram os aspectos teóricos da

qualidade total, agora se faz necessário ver aspectos mais práticos dessa teoria. Sendo assim,

apresenta o objetivo da aula: “sistematizar os procedimentos necessários à prática de Gestão

da Qualidade Total, a partir da utilização de ferramentas específicas para levantamento,

análise e solução de problemas”.

Os conteúdos que eles verão no desenvolvimento das aulas serão ferramentas simples

para levantamento, análise e soluções de problemas (ex: Braintorming; Diagrama de

Ishikawa; Diagrama de Pareto; Plano de Ação= 5w1h; 5w2h; Histograma, etc.; Recursos de

medição, investigação, monitoramento e quantificação).

O professor comenta esses conteúdos, que me parecem um tanto complexo, mas ele

vai explicando esse pensamento de uma forma que os alunos vão compreendendo a medida

que são instigados pelo professor à pensarem em determinadas situações. Por exemplo, o

professor fala sobre o Braintorming que significa uma tempestade de idéias que surgem em

uma determinada situação, sendo que os futuros técnicos deverão se ver nesta situação e tentar

“administrar” ou “gerenciar” os problemas e as idéias da melhor forma possível para

solucioná-los.

Então, o Braintorming apresenta duas idéias: a Divergência e a Convergência. A

Divergência tem como aspecto a questão da quantidade; a idéia de julgamento; a roda livre

(qualquer pensamento); e o “pegar carona” (vai pela idéia dos outros). Enquanto que a

Convergência se caracteriza pela qualidade; por aceitar o novo; de julgar afirmativamente, por

manter o rumo (assunto); e ser deliberado (tomada de decisão).

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48Nesse sentido, o professor comenta que a capacidade de potencial criativo do

homem é reprimida ao longo de seu desenvolvimento pela família, pela religião, pela escola,

etc., e que agora, esta disciplina de Gestão deverá ajudá-los a desenvolver esse potencial.

Dessa forma, após a explicitação dessas idéias, ele sugere uma atividade, a de os alunos

pensarem uma condição insegura no prédio em que estudam (já que o a função do técnico de

segurança é o de identificar possíveis riscos de acidentes no ambiente de trabalho). A partir

dessa identificação devem pensar numa ação imediata de resolução de problemas (saber-

fazer) e após isso refletirem essa situação dentro da perspectiva trabalhada, da ferramenta de

qualidade estudada.

Em todo o desenvolvimento da aula, o professor deixa os alunos bastante a vontade

para interferirem a aula, no sentido de contribuir ou tirar dúvidas, e a todo o momento solicita

a fala deles, a participação deles na aula. Mostra a preocupação que os alunos desenvolvam

uma atitude de se pronunciar, de propor algo, de pensar e refletir e tomar decisão

CURSO: TÉCNICO EM SEGURANÇA NO TRABALHO

Nesta aula, o conteúdo ministrado foi de Sinalização de Segurança: contra incêndio e

pânico; de proibição; de alerta; de salvamento e orientação; e de equipamentos. Os alunos

devem conhecer as placas de sinalização e saber qual deve ser a sua simbologia (cores e

formatos) para poder colocar em um futuro projeto que possam vir a desenvolver, de acordo

com o que existe no local (escadas, medidores de energia, etc.). Com a utilização do reto-

projetor, o professor apresenta a caracterização das placas de sinalização de segurança e para

o que servem; o dimensionamento da placa (que é o tamanho da placa proporcional a

distância da visualização da placa por uma pessoa); a questão que todas as placas de

sinalização devem ser obrigatoriamente pintadas com tinta Fotoluminescente (aparecem no

escuro).

Outro assunto abordado na aula foi sobre o Sistema de Alerta que toda empresa deve

ter, assim apresenta uma simulação de como um sistema de alerta deve ocorrer (ex: a) Alerta;

b) Análise da situação (é feita pelo brigadista ou coordenador da Brigada - equipe para

primeiros socorros); c) Identificar se há ou não emergência; d) Fazer um relatório para

averiguar se há vítimas, se é necessário atendimento médico, se há enfermaria, se há incêndio,

se há necessidade de isolamento da área, se há necessidade de confinamento da área, etc.).

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49Posteriormente, o professor mostra uma espécie de resumo do conteúdo, que é a

parte da sua disciplina que deve conter num projeto que os alunos produzirão durante o curso.

A construção desse plano deverá conter:

• Prevenção/Preparação:

Pré-impacto: interpretação da missão; avaliação dos riscos; objetivos; diretrizes gerais;

monitoração/ sistemas preventivos/ redução dos riscos; definições das ações a realizar;

atribuição das ações/equipes; aperfeiçoamento simulado; avaliação.

• Resposta/Reconstrução:

Impacto: detenção/alerta/alarme; análise da situação; abandono de área; tempo; laudo;

avaliação; etc.

A aula se dá com boa participação dos alunos, fazem perguntas, simulações, críticas às

normas que eles devem saber (estudar), mas que não explicam as coisas, simplesmente as

citam.

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50

APÊNDICE IV – CARACTERÍSTICAS DOS FICHAMENTOS UTILIZADOS NA PESQUISA Ano 1999-2000

Identificação SANTOS, Gilberto Lacerda. Formação profissional na sociedade tecnológica

Características gerais

Utilizando uma abordagem qualitativa, por meio de uma enquete, realizada com o emprego da Técnica do Grupo Nominal buscou-se eleger as principais representações de alunos e professores do ensino técnico com relação a competências para assegurar a empregabilidade na sociedade tecnológica. A pesquisa foi dirigida a um grupo de 12 alunos e 9 professores de escolas técnicas no Ceará e no Distrito Federal em meados de 1996.

Objetivos - “Apple reivindica uma necessária “alfabetização social” que permitirá às pessoas compreenderem com seriedade o impacto da ciência e da tecnologia sobre o trabalho, assim com os seus efeitos sociais mais amplos” (p. 113) - “Tal formação ampla e longa deveriam ser privilegiada em detrimento de uma formação mais específica, restrita, verticalizada e curta, como sugerem Baethge et al” (p. 115)

Conteúdos Nesta perspectiva, que privilegia uma formação mais ampla para a classe trabalhadora , diferentes funções são atribuídas à formação profissional: (p. 115-116) - Desenvolver habilidades e conhecimentos de resolução de problemas; - Desenvolver habilidades e conhecimentos relacionados à concepção e a criação; - Fornecer uma alfabetização social, cultural, científica e tecnológica de qualidade; - Favorecer a compreensão da própria formação através do desenvolvimento de uma reflexão aprofundada sobre os conteúdos, sua extensão, seus limites e objetivos; - Favorecer o domínio através de um conhecimento adequado, dos objetivos técnicos e tecnológicos; - Instrumentar o indivíduo para enfrentar a evolução de sua área de formação quanto ao avanço científico.

M. de Ensino - “A função docente deve se voltar para a valorização do indivíduo, enquanto ser autônomo, crítico e responsável, apto a operar no seio da coletividade, avançando no sentido de abolir, tanto da prática de sala de aula como de sua reprodução na sociedade, a padronização, a parcelização, a especialização, a sincronização, a concentração e a maximização, palavras-chave da era industrial que são categoricamente repudiadas no contexto da sociedade tecnológica”. (p. 121)

M. de Avaliação

Ano 1999-2000

Identificação POCHMANN, Márcio. Mudanças na ocupação e a formação profissional. T & E. Revista do NETE. N. 6. Jul/Dez, 1999. Jan/Jul, 2000. (p. 48-71)

Características gerais

O artigo trata da formação profissional para as novas ocupações no contexto das novas formas de organização do trabalho decorrentes de uma mudança econômica estrutural. No cenário de fim de século, o mundo do trabalho tenderia a refletir as mutações técnico-produtivas, marcadas pela maior insegurança no emprego e elevada concorrência na população ativa. De certa forma novos conhecimentos científicos e tecnológicos estariam associados às exigências empresariais de contratação de empregados com polivalência multifuncional, maior capacidade motivadora e habilidades laborais adicionais no exercício do trabalho. (p. 48) Os novos requisitos profissionais, indispensáveis ao ingresso e à permanência no

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51mercado de trabalho em transformação, seriam passíveis do atendimento somente através de um maior nível educacional dos trabalhadores. Ao mesmo tempo, a formação e o constante treinamento profissional se transformariam em uma das poucas alternativas passíveis de ação do Estado para conter o avanço do desemprego e da precarização no uso da força de trabalho. (p. 48)

Objetivos - Para uma sociedade pós-industrial, o processo de formação profissional ganharia evidência como condição adicional de competitividade e de produtividade. (p. 61). - O compromisso da formação profissional estaria se adequando às exigências de preparar o trabalhador ao longo de sua vida ativa para competir por um posto de

trabalho (empregabilidade), mais que especificamente qualificar para uma função

específica e estável de longa duração, pelo menos na fase de instabilidade tecnológica. (p. 61)

Conteúdos - Polivalência multifuncional, maior capacidade motivadora e habilidades laborais adicionais no exercício do trabalho. (p. 48). - Competência laborais, capacidade do trabalhador em dominar o conjunto de tarefas que configuram uma determinada função. (p. 62) - Conteúdo do trabalho: maior envolvimento do trabalhador com as metas e resultados da empresa, maior interesse na ocupação de postos de trabalho menos monótonos e com funções e movimentos menos repetitivos, bem como com menores riscos de acidentes de trabalho. (p. 52)

M. de Ensino e Avaliação

- Educação continuada, voltada para a transferência tecnológica e para a multidisciplinariedade dos programas de qualificação. (p. 61)

Ano 2003

Identificação FIDALGO, Fernando, SANTOS, N.E.P. Dos. Certificação de competências: um olhar sobre a experiência de alguns países. T e E. Rev. NETE. v.12,n° 12,pág.27-43. Jul/Dez.2003.

Características gerais

O artigo trata do sistema de certificação de competências, mais especificamente do processo de (re)institucionalização da formação dos trabalhadores a partir da construção do sistema de certificação de competências na França, Canadá, Reino Unido, México e Chile. Os países selecionados têm (re)institucionalizado a formação dos trabalhadores, a partir da construção do SCC, com o objetivo de adequarem a formação dos trabalhadores às necessidades do setor produtivo. A institucionalidade de uma “nova” educação profissional, tendo como elemento norteador, a noção de competência, reflete nos países selecionados às mudanças na base da educação profissional

Objetivos -Transferir habilidades e conhecimentos às novas situações de trabalho. -Articular o mundo do trabalho e a formação escolar. -Exercer concretamente uma atividade profissional, mobilizando seus

conhecimentos, seu saber-fazer e suas qualidades pessoais.

Conteúdos -Capacidade de leitura, de escrita, de como lidar com tecnologia. -Atitude do indivíduo necessária ao desempenho de uma função produtiva em

diferentes contextos e com base nos requerimentos de qualidade esperados pelo setor produtivo.

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52-Conjunto de comportamentos sócio- afetivos e habilidades cognitivas,

sensoriais e motoras que permitem o desempenho de papéis, funções, atividades ou tarefas.

M. de Ensino -Estrutura modular e normas de competência por ramo de atividade. -A avaliação é a verificação de conhecimentos e habilidades independente da

forma como foram adquiridos. -Uma estrutura curricular que favoreça a integração escola-empresa.

Ano 2003

Identificação ARANHA,A.V.S. Relação entre conhecimento escolar e o conhecimento produzido no trabalho: dilemas da educação do trabalhador. T e E Revista da Net. V.12, n° 1, p.103- Jan/Jun. 2003.

Características gerais

O artigo problematiza a relação entre conhecimento produzido no trabalho e o conhecimento escolar em experiência de escolarização no programa de formação profissional do PROFAE. Dessa forma, o autor se propõe a desvelar como o conhecimento tácito é produzido pelo trabalhador, como é constituído, construído e adquirido pelos mesmos e de que forma se relaciona com os conhecimentos escolares. O conhecimento adquirido/produzido no ambiente de trabalho, chamado de conhecimento tácito é parte integrante e importante da qualificação do trabalhador.

Objetivos -Contribuir para o trabalhador e motivação para o trabalho. -Utilizar experiências e conhecimentos prévios,adquiridos no mundo do trabalho, para que as novas aprendizagens adquiridas no curso superior ganhem sentido e significado para os trabalhadores/educandos. -Desenvolver a auto-estima dos alunos, a sua sensibilidade ética e estética; o saber lidar com o corpo (oficinas, projetos e atividades cotidianas).

-Desenvolver a capacidade de comunicação (oralidade).

Conteúdos - O processo de trabalho (funcionalismo, condutivismo). - O trabalho com unidades temáticas tais como saúde e cidadania, globalização e novas tecnologias, racismo e discriminação, etc.

M. de Ensino -Execução de oficinas, projetos e atividades cotidianas. -Processo de interação com o conhecimento e a própria formação. -Avaliação do e no processo de trabalho.

-Avaliação qualitativa processual.

Ano 2004

Identificação VIEGAS, Moacir Fernando. As práticas Pedagógicas em ampliação da escolaridade e a produção das novas qualificações da forma de trabalho no ambiente da produção. IN: Trabalho e Educação. Revista do NETE- Jan/jul, 2004 – V. 13 n°1. p. 09-18.

Características O texto decorre de uma pesquisa sobre os processos de qualificação dos trabalhadores

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53gerais desenvolvidos nas práticas de ampliação da escolaridade, em dez empresas do estado

do Rio Grande do Sul. Assim, o autor problematiza as mudanças significativas ocorridas nas concepções e práticas sobre a qualificação dos trabalhadores, decorrente dos processos de produção para uma economia baseada na informação. E afirma que o conjunto de práticas pedagógicas implementadas pelas empresas objetiva criar um compromisso maior da força de trabalho com o processo de produção

Objetivos - Formar para o saber-fazer no local de trabalho; - Criar uma qualificação especial: a capacidade de estar comprometido permanentemente com a produção; - Maior entendimento, por parte dos trabalhadores, do processo de produção que realizam; - Formar a força de trabalho para um maior e permanente comprometimento de suas capacidades intelectuais com a produção; - Criar uma maior identificação às questões da empresa.

Conteúdos - Assimilação das idéias, valores e emoções da empresa; - Maior participação dos trabalhadores na vida da empresa - Incentiva a integração; as relações entre si próprios; - Visa criar no trabalhador um compromisso permanente com a produção.

M. de Ensino - Práticas de ampliação da escolaridade; - Trabalho em equipe; - Aproveitar o conhecimento técnico que os trabalhadores possuem; - Avalia a iniciativa dos trabalhadores.

Ano 2004

Identificação SANTOS, Oder José dos. Reestruturação capitalista: educação e escola. Trabalho e Educação. Revista do NETE – Jan/jul, 2004 – V.13, nº1, p.79-89.

Características gerais

O texto aborda os processos educativos e escolares no processo de reestruturação produtiva.A educação e a escola constituem uma das principais condições gerais de produção e reprodução da força de trabalho. Assim, a formação do trabalhador não só é inserida, desde o início, no sistema capitalista de produção como também encarada no mesmo nível de produção de qualquer bem ou serviço. .Ao se reestruturar, o capitalismo foi obrigado a adotar novas formas de gestão empresarial, fundamentando-as no aproveitamento da competência organizativa dos trabalhadores, mas, sobretudo, na inteligência, iniciativa e capacidade de raciocinar deles no processo de trabalho. Dessa forma, muda-se a problemática da produção, da distribuição do conhecimento e alteram-se os papéis atribuídos à educação e à escola para se adequarem às exigências do mercado de trabalho.

Objetivos - Formação geral que sirva de base para as atividades específicas; - Flexibilidade mental – trabalho complexo – maior intensidade e qualificação; - Capacidade de exercer várias funções diferentes (polivalência); - Possuir condições psíquicas para suportar as novas formas de controle; - Novos tipos de virtudes e disposições; - Criar novos tipos de relacionamento interpessoal com o intuito de aumentar as iniciativas individuais e as motivações para o trabalho.

Conteúdos - Competências e habilidades, disposições e virtudes direcionadas à inserção no

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54mercado de trabalho; - Execução de raciocínios e gestos necessários à produção; - Trabalho em equipe; - Relacionamento interpessoal - Maior capacitação no processo de trabalho; - Conhecimento de novas tecnologias

M. de Ensino - As práticas educativas têm como referência o critério de produtividade capitalista; - São adotados os mesmos instrumentos de trabalho e os mesmos métodos organizacionais; - Eficiência, competência ou produtividade; - Avaliação externa, o importante é o controle dos resultados, e não dos procedimentos (avaliação consistente e adequada à lógica do capitalismo); - Fixação de conteúdos mínimos e testes padronizados, aplicados de forma sistemática.

Ano 2004

Identificação SANTOS, Gilberto Lacerda. Considerações sobre a disseminação do conhecimento científico e tecnológico e sobre a formação para o trabalho na sociedade emergente. Trabalho e educação. Revista do NETE. v.13, n.1. p.1927. Jan./jun. 2004.

Características gerais

O artigo aborda a questão da relação entre acesso a conhecimento científico e tecnológico e formação para o trabalho, tendo em vista o contexto social que emerge no início do século XXI. O autor afirma que os conceitos de alfabetização cientifica e tecnológica (ACT) e ciência-tecnologia-trabalho (CTT) vistos numa perspectiva de formação escolar podem potencializar o indivíduo e assegurar-lhe poder de participação na sociedade, por meio do exercício do trabalho.

Objetivos - Participar efetivamente da sociedade tecnológica para garantir a manutenção da hegemonia política e econômica das nações desenvolvidas e abrir as portas do desenvolvimento para as nações do Terceiro Mundo; - Assegurar que decisões de natureza tecnológica e científica, apresentando repercussões sociais importantes, possam ser suficientemente comprometidas por todos e controladas democraticamente; - Conduzir cada cidadão a inteirar-se da cultura científica e tecnológica produzida pela humanidade, a compreender sua dimensão histórica, epistemológica, estética, ética e cultural, bem como os impactos sobre o exercício de atividades profissionais; - Compreender o seu papel no contexto das decisões a serem tomadas acerca dos rumos da ciência e da tecnologia.

Conteúdos - Os conhecimentos de que precisamos para o exercício da cidadania por meio do trabalho.

M. de Ensino Criticados pelo autor: - Os métodos do ensino de ciências que perpetuam a idéia de a prática científica, é de natureza elitizada e fechada, desinteressada as novas gerações, esvaziando os cursos científicos de nível técnico e universitário. - O distanciamento cada vez maior entre a execução de tarefas de natureza técnicas e a compreensão de sua fundamentação científica; - Quando os professores abordam o ensino de ciências de modo inadequado, reproduzindo traumas, equívocos e representações herméticas que eles próprios detém,

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55o que pode contribuir para o desenvolvimento de uma certa repugnância pelas áreas cientificas, afastamento esse que se perpetua ao longo de toda a escolarização até o ensino de nível superior. . Propostos pelo autor: - Nos sistemas escolares de todo o mundo, e especialmente nos países em desenvolvimento, tanto de formação geral quanto de formação profissional, precisam concretizar estratégias de ensino que contribuam efetivamente para o acesso à alfabetização científica e tecnológica..

Ano 2005

Identificação ABREU, G.R. de; GONZALES, W. R. C. O modelo curricular por competência e os desafios e os desafios à prática docente. IN: Trabalho e Educação. Revista do NETE. Jan/ jun, 2005 - V.14, nº1. p. 61-73.

Características gerais

O artigo aborda a prática pedagógica dos professores do ensino técnico, no modelo por competências e problematiza a dificuldade encontrada para a implementação do modelo curricular por competência na prática pedagógica dos professores do SENAI... As autoras defendem a idéia de que os professores ainda não se encontram em condições de desenvolver uma prática docente voltada para uma gestão por competências.

Objetivos Da noção de competência: - Ser um trabalhador polivalente; - Ter sintonia com as propostas de melhorias de qualidade de produção; - Ser um trabalhador eficiente e eficaz; - Além de saber-fazer, seja também capaz de decidir, de atuar em equipe, de exercer sua autonomia. Evidenciado nas respostas dos docentes: - Mobilizar o raciocínio para enfrentar os problemas do cotidiano no trabalho; - Formar um profissional de senso-crítico, que segundo as autoras vai de encontro com a concepção do Parecer nº 16/99; - Criar competências comunicativas e de relações interpessoais.

Conteúdos Observado na fala dos entrevistados: - Qualidade total; eficiência da produção; - Conhecimentos técnicos; - Conhecimentos sobre resolução de situações-problema; - Composição dos perfis profissionais elaborados por segmentos do mundo produtivo e da área educacional; - Competências profissionais específicas.

M. de Ensino Observado na fala dos entrevistados: - Articulação teoria/ prática ( para tornar concreto o assunto); - Interação de saberes originários da prática cotidiana com os saberes técnicos; - Atividades que faça o aluno experimentar situações profissionais (práticas sociais); - O professor é um mediador entre o aluno e o conteúdo; - Aulas expositivas mediadas, trabalhos individuais e em grupos, prática em

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56laboratório; - Avaliação tradicional (provas escritas e práticas) Da noção de competências: - Planejamento sistemático das atividades pedagógicas pelos docentes, em termos de atividades, desafios ou projetos para o exercício das competências pretendidas; - Avaliação formativa através de simulação de situações reais de trabalho, observação, entrevista, grupo focal, provas escritas e práticas de portifólio; - Interdisciplinaridade.

Ano 2005

Identificação CUSTÓDIO, R. A. R.; FONSECA, B. V. C. Ergonomia e práticas educacionais: o modelo Paulo Freire para uma educação conscientizadora no trabalho. Trabalho e Educação. Revista do NETE. v.14, n.1. p.74-86. Jan./ jun. 2005.

Características gerais

O texto trata dos processos de capacitação/ formação profissional na empresa. O problema se apresenta na capacitação de trabalhadores para atender as novas exigências do mercado e capazes de acompanhar o crescente avanço científico-tecnológico. De acordo com este artigo, o pensamento educacional de Paulo Freire e os conceitos da Ergonomia numa relação interdisciplinar podem contribuir para melhorar os processos de capacitação/ formação dos trabalhadores, no sentido de oferecer uma educação com mais qualidade, mais humanizada nas empresas e por conseqüência gerar uma aumento na produtividade.

Objetivos - Formar um trabalhador para atender as exigências do mercado; - Acompanhar o crescente avanço científico-tecnológico; - O domínio da atividade de trabalho; - Aquisição de competências ( saber-fazer; saber-prático e saber-ser); - Tornar o trabalho op mais próximo do ideal.

Conteúdos - Atividade de trabalho; - Saber-fazer; saber-prático, saber do corpo, saber ser para poder agir; - Mecanismos utilizados para efetuar a tarefa; - Descrever habilidades, regras e conhecimentos necessários de um posto de trabalho.

M. de Ensino - Transmissão e assimilação de conhecimento; - Considera o homem como ser pensante e executor; - Construção de respostas para as novas situações-problema; - Adequar aprendizagem ao contexto; - O professor é o mediador entre as necessidades que o mercado solicita e o desenvolvimento da autonomia dos educandos.

Ano 2005

Identificação CASTILHO, A. P. L.; ARANHA, A. V. S. A complexidade da avaliação formativa da avaliação formativa na educação de jovens e adultos trabalhadores. Trabalho e

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57Educação. Revista do NETE. v.14, n 2. p.185. jul./dez. 2006.

Características gerais

Este artigo aborda a avaliação formativa na educação de jovens e adultos trabalhadores. E, problematiza o mundo de trabalho como espaço de formação privilegiado dos alunos da EJA. A articulação entre EJA, trabalho e avaliação deve considerar os saberes dos alunos que são adquiridos/ produzidos no trabalho, pois torna possível a valorização da subjetividade do trabalhador.

Objetivos - Ter uma leitura crítica do mundo e de si mesmo; - Ser inserido em diversos espaços de uma maneira mais atuante; - Contribuir para a formação dos trabalhadores enquanto sujeitos sócio-culturais-políticas.

Conteúdos - Os saberes dos alunos que não são adquiridos/produzidos no trabalho; - Conhecimentos trazidos do espaço formativo – trabalho.

M. de Ensino - Avaliação formativa; - Maior participação dos alunos nos processos avaliativos; - As práticas formais de avaliação ainda carecem de instrumentos mais dinâmicos, que contemplem os saberes não-formais.

Ano 2005

Identificação CASTILHO, A. P. L.; ARANHA, A. V. S. A complexidade da avaliação formativa da avaliação formativa na educação de jovens e adultos trabalhadores. Trabalho e Educação. Revista do NETE. v.14, n 2. p.185. jul./dez. 2006.

Características gerais

Este artigo aborda a avaliação formativa na educação de jovens e adultos trabalhadores. E, problematiza o mundo de trabalho como espaço de formação privilegiado dos alunos da EJA. A articulação entre EJA, trabalho e avaliação deve considerar os saberes dos alunos que são adquiridos/ produzidos no trabalho, pois torna possível a valorização da subjetividade do trabalhador.

Objetivos - Ter uma leitura crítica do mundo e de si mesmo; - Ser inserido em diversos espaços de uma maneira mais atuante; - Contribuir para a formação dos trabalhadores enquanto sujeitos sócio-culturais-políticas.

Conteúdos - Os saberes dos alunos que não são adquiridos/produzidos no trabalho; - Conhecimentos trazidos do espaço formativo – trabalho.

M. de Ensino - Avaliação formativa; - Maior participação dos alunos nos processos avaliativos; - As práticas formais de avaliação ainda carecem de instrumentos mais dinâmicos, que contemplem os saberes não-formais.

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Ano 2005

Identificação RIBEIRO, Marlene. Trabalho-Educação numa perspectiva de classe: apontamentos à educação dos trabalhadores. Trabalho e Educação. Revista do NETE. v. 14, n.2. p.102-126. Jul./dez. 2005.

Características gerais

O texto apresenta a produção de conhecimento em Trabalho-Educação no período de 1994-2004, do Grupo de Trabalho e Educação da ANPED.

Objetivos -Criticados pela autora - Educar para a subordinação e manutenção do status quo; - Formar um trabalhador para uma profissão determinada pelo mercado; - Preparar os indivíduos formando-os para as competências necessárias à condição de desempregados, deficiente, mãe solteira, etc. Propostos pela autora - Ter uma formação omnilateral: formação geral e tecnológica condizente com as descobertas científicas e tecnológicas atuais.

Conteúdos Criticados pela autora - Atividade produtiva como exercício das competências - O desempenho de competências individuais

M. de Ensino Criticados pela autora - Os processos de ensino e aprendizagem baseados no construtivismo, que segundo a autora é inadequado a realidade sócio-econômica do Brasil. Considerando a bagagem cultural que a criança traz de casa, a técnica preconizada pelo construtivismo consiste em apresentar o texto antes que o alfabetizando tenha elementos para decodificar as palavras. Em se tratando das crianças pobres, é necessário levar em conta que não dispõem de uma bagagem cultural, tanto pela pobreza quanto porque “herdam dos pais uma história de defasagem cultural”. a bagagem cultural que a criança - Ao reduzir a capacidade de aprendizagem a um desenvolvimento intelectual descontextualizado dos elementos econômicos, políticos, sociais e culturais que constituem o mundo concreto em que se efetua a escolarização tem-se uma compreensão abstrata e despolitizada da educação. - O Sistema Nacional de Certificação de Profissional, na medida em que este reafirma a fragmentação da formação do trabalhador, afastando-se de uma perspectiva de educação omnilateral, que considere os saberes tácitos, mas que apenas parta deles para oferecer uma formação geral e tecnológica condizente com as descobertas científicas e tecnológicas atuais. Propostos pela autora - A certificação poderia ser uma conquista se pudesse garantir, além do reconhecimento da experiência profissional, a oportunidade de continuidade dos estudos de modo a incorporar o conhecimento científico e tecnológico necessário à qualificação daquela experiência. - Articulação entre as dimensões formativas, científicas, tecnológicas e críticas.

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59Ano 2006

Identificação LEAL, Rosângela Maria de Almeida Camarano. O trabalho humano na sociedade da informação: desfazendo alguns equívocos. Trabalho e educação. Revista do NETE. v.15, n.1. p.32-43. Jan./jun. 2006.

Características gerais

O artigo trata da questão do trabalho humano nos sistemas produtivos automatizados e informatizados. A autora questiona o fim do trabalho humano frente à nova base tecnológica da produção. E, afirma que nos sistemas produtivos e automatizados, apesar da implantação das novas tecnologias, ainda é o saber do trabalhador que dinamiza a produção.

Objetivos Evidenciados pela autora na sociedade da informação: - Conduzir o comportamento das pessoas na direção que interessa à empresa (adequação de novo atributos qualificacionais exigidos pelas empresas); - Exigência de novas competências dos trabalhadores não somente de um saber técnico, mas agora de um saber relacional (capacidade de participar, de trabalhar em grupo, flexibilidade, etc.); - Ajustamento do homem aos sistemas. Objetivos propostos pela autora: - Otimizar as características do dispositivo técnico, tendo como referencia os processos cognitivos dos trabalhadores.

Conteúdos São apontados pela autora e referenciados por Lima (1998) que: - Os conteúdos são definidos a partir dos modelos cognitivos e comunicacionais impostos pela informática; - Se apresenta na direção d gestão dos sistemas complexos; - Valores mercantis; idéia de globalização; - Saber dividir o tempo global de trabalho entre tempo de ação e tempo de reflexão sobre a ação. Como contribuição é proposto que: - A aprendizagem deve ser resultado do contexto e da cultura especifica do trabalhador.

M. de Ensino - Tem como referência os processos cognitivos dos trabalhadores; - A motivação, relações intersubjetivas traços de personalidade para assimilação de novos valores e objetivos da empresa; - Saber relacional (capacidade de participar, de trabalhar em grupo, pela flexibilidade e pela capacidade de se colocar no lugar do outro).

Ano 2006

Identificação PINHEIRO, Beatriz, DELUIZ, Neide. Educação e Trabalho nas Políticas de Educação profissional: um estudo das ONGs, no rio de janeiro. Trabalho e Educação. Revista do NETE. V. 15, n°1. p.46-56. Jan/jun. 2006.

Características gerais

Este artigo aborda as reformas realizadas, no campo da educação e da educação profissional, que fazem do mercado o centro definidor de suas políticas, do investimento em educação, bem como o critério para estabelecer os modelos pedagógicos e curriculares. Dessa forma as autoras afirmam que os programas sociais de cunho neoliberal são implementadas como estratégias para formar mão-de-obra com características necessárias ao atendimento das novas exigências do sistema

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60produtivo.

Objetivos - Dinamizar o mercado de trabalho; - Formar indivíduos passivos, que aceitem a realidade do mercado de trabalho; - Formar mão-de-obra com características necessárias ao entendimento das novas tecnologias;; - Qualificação para uma atuação competitiva na esfera econômica (empreendedorismo).

Conteúdos - Tem como referencial o mercado de trabalho (formal ou informal); - Profissionalização; capacidade técnica; funcionalismo; - Atividade produtiva; - Capacidades e vantagens competitivas adquiridas individualmente; - Os conteúdos de dimensão política são submetidos á esfera do mercado, o que acarreta uma redução do conceito de cidadania.

M. de Ensino - Ensino e treinamento; - Propostas de auto-gestão; - As autoras discutem acerca da necessidade de articulação entre sistema de ensino formal e o sistema produtivo.

Ano 2007

Identificação ABREU, G. R.; GONZALEZ, W. R. C. Os desafios à prática pedagógica na

visão de professores do ensino técnico. IV Simpósio Trabalho e Educação.

FAE/ UFMG, 2007. CD-rom.

Características gerais

O objeto de estudo desta pesquisa é a reflexão crítica sobre a formação dos professores e a prática pedagógica adotada na educação de nível técnico. Os professores do ensino técnico são desafiados a desenvolver uma prática pedagógica voltada para o desenvolvimento de competências. Porém há vital importância de uma atitude reflexiva e crítica sobre a formação dos professores e suas ações pedagógicas.

Objetivos Elaboração de currículo pautado no desenvolvimento de competências.

Conteúdos Conteúdos relevantes ao desempenho profissional, em que inclua exercícios de atividades relacionadas às situações concretas de trabalho

M. de Ensino O fazer pedagógico do docente atuante na educação profissional de nível técnico, pautada no modelo de competências, exige um esforço de criar atividades que possam dar condições do aluno experimentar situações profissionais; devem incluir projetos provocadores, desafios e/ou problemas que coloquem os alunos próximos às situações reais.

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