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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS SCH DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA DECISO FABIO KIZAHY ZRAIK BARACAT A IMIGRAÇÃO SÍRIO-LIBANESA E SEUS REPRESENTANTES NA POLÍTICA PARANAENSE CURITIBA 2017

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO DE … · University, sob orientação de Lynn Smith, do departamento de Sociologia (TRUZZI, 1997). O trabalho de Knowlton se insere nos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS – SCH

DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA – DECISO

FABIO KIZAHY ZRAIK BARACAT

A IMIGRAÇÃO SÍRIO-LIBANESA E SEUS REPRESENTANTES NA POLÍTICA

PARANAENSE

CURITIBA

2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS – SCH

DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA – DECISO

FABIO KIZAHY ZRAIK BARACAT

A IMIGRAÇÃO SÍRIO-LIBANESA E SEUS REPRESENTANTES NA POLÍTICA

PARANAENSE

Monografia apresentada como requisito parcial à

obtenção do grau de Licenciado em Ciências Sociais

no curso de graduação em Ciências Sociais, Setor de

Ciências Humanas da Universidade Federal do

Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Márcio S. B. S. de Oliveira

CURITIBA

2017

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, por todo o incentivo e auxílio na minha vida.

Ao Prof. Dr. Márcio de Oliveira, pelo aprendizado e orientação.

À Caroline, pela paciência, companheirismo e apoio em todos momentos de nossa

trajetória.

À todos os demais que de uma forma ou outra auxiliaram em meu trabalho e em

minha formação.

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RESUMO

O objetivo do presente trabalho é analisar a presença de descendentes de sírio-

libaneses na câmara municipal de Curitiba e na Assembleia Legislativa do estado do

Paraná, entre 1947 e 2017. A análise identifica os descendentes por seu nome e sua

filiação, identificando a geração a que pertencem, idade, gênero, estado civil e

formação profissional. Os representantes políticos sao apresentados, diferenciando-

se os períodos e o plenário de atuação, o partido a que pretencem e a quantidade

de mandatos cumpridos. Trabalha-se com a hipótese de uma atuação na política

não com a finalidade ideológica ou legislativa stricto sensu, mas como formação de

ascensão social, combinada com a formação escolar. Chega-se a conclusão que a

presença na política legislativa não apresenta clara correspondência programática

com as ideologias político-partidárias representadas nos parlamentos analisados,

mas sim com as estratégias de ascensão social e econômica.

Palavras-Chave: Imigração sírio-libanesa; Imigração no Paraná; Política

Paranaense.

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ABSTRACT

The aim of this study is to analyze the presence and insertion of Syrian-Lebanese

descendants in the municipal council of Curitiba and in the Legislative Assembly of

the state of Paraná between 1947 and 2017. The analysis identifies the descendants

by their name and their affiliation, age, gender, marital status and professional

occupation. The political representatives are presented, differing the periods and the

plenary of action, the party they represent and the quantity of mandates fulfilled. We

work with the hypothesis of an action in the politics not for the ideological or

legislative end stricto sensu, but as a form of social ascent, combined with the

academic formation. It is concluded that the presence in the legislative policy does

not present a clear programmatic correspondence with the political ideologies

represented in the analyzed parliaments, but with the strategies of social and

economic ascension.

Keywords: Syrian-Lebanese immigration; Immigration in Paraná; Paraná politics.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – A Grande Síria 15

FIGURA 2 – Praça Tiradentes, Praça Generoso Marques e Rua Riachuelo: região de

instalação dos sírio-libaneses e Curitiba 35

FIGURA 3 – O Palacete Riachuelo, construído pelo imigrante sírio Jorge Fatuch

(1929) 37

FIGURA 4 – A Região da Praça Genoroso Marques em 1906. 38

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LISTA DE TABELAS

TABELA I – Imigração turco-árabe no Brasil comparada com a de alguns grupos

nacionais (1884 até junho, 1943) 19

TABELA 2 – Proprietários ou sócios estrangeiros de empresas brasileiras em

relação ao total de emigrantes – 1950 22

TABELA 3 – Distribuição da População Sírio-libanesa por Estados (1920-1940) 32 TABELA 4 – Domicílio dos Imigrantes Sírio-libaneses que Obtiveram Naturalização (1954-1983) 35

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Imigração anual síria e libanesa no Brasil (1871 – 1942) 20

QUADRO 2 – Parlamentares que exerceram cargo político anterior ao mandato na

Assembleia Legislativa do Paraná (1947-1982) 49

QUADRO 3 – Políticos Sírio-libaneses com Diplomas em Direito, Engenharia e

Medicina 56

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SUMÁRIO

1

INTRODUÇÃO...........................................................................................................11

2 A IMIGRAÇÃO SÍRIO-LIBANESA PARA O BRASIL............................................13

2.1 O IMPÉRIO TURCO-OTOMANO E AS CAUSAS DA IMIGRAÇÃO....................14

2.2 OS SÍRIO-LIBANESES NO BRASIL....................................................................18

2.3 O “TURCO” E A IDENTIDADE DOS SÍRIO-LIBANESES....................................23

3 A IMIGRAÇÃO SÍRIO-LIBANESA PARA O PARANÁ..........................................28

3.1 A POLÍTICA IMIGRATÓRIA NO PARANÁ...........................................................28

3.2 OS SÍRIO-LIBANESES NO PARANÁ..................................................................31

4 OS SÍRIO-LIBANESES NA POLÍTICA PARANAENSE.........................................39

4.1 OS DESCENDENTES DE SÍRIO-LIBANESES NA POLÍTICA PARANAENSE

(1947-1982)................................................................................................................39

4.2 OS DESCENDENTES DE SÍRIO-LIBANESES NA POLÍTICA PARANAENSE

(1982-)........................................................................................................................50

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................57

REFERÊNCIAS..........................................................................................................60

APÊNDICE.................................................................................................................64

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1 INTRODUÇÃO

Mesma amplamente estudada a nível nacional, a imigração de sírios e

libaneses para o Paraná é um tema pouco debatido, muito em parte pelo modo

como se deu a política imigratória no estado. Diversos núcleos coloniais

instalaram-se no Paraná com o objetivo de povoar e produzir. Povoar porque a

efetiva ocupação do solo se fazia necessária para a valorização econômica do

país e do Paraná e produzir porque via-se a necessidade de substituição da

mão-de-obra escrava, que teria sido vendida a cafeicultores paulistas com o

avanço da produção do café no estado. O estudo sobre imigração no Paraná,

dessa maneira, historicamente deu ênfase maior aos grupos que integraram

essas políticas imigratórias: alemães, italianos, poloneses e ucranianos. Grupos

de fixação urbana e não subsidiada – como, principalmente, os sírios e

libaneses e judeus – foram em certa medida deixados à margem, sendo o foco

maior justamente a imigração das áreas rurais.

É nesse sentido que a pesquisa atual se justifica com o objetivo principal

dar luz à presença e inserção dos sírio-libaneses no Paraná, principalmente sob

um dos indícios mais reveladores de sua exitosa trajetória de ascensão social: a

grande presença de seus membros na política. Desse modo, o objetivo do

presente trabalho é analisar a presença de descendentes de sírio-libaneses na

câmara municipal de Curitiba e na Assembleia Legislativa do estado do Paraná,

entre 1947 e 2017. A análise identifica os descendentes por seu nome e sua

filiação, identificando a geração a que pertencem, idade, gênero, estado civil e

formação profissional. Os representantes políticos sao apresentados,

diferenciando-se os períodos e o plenário de atuação, o partido a que pretencem

e a quantidade de mandatos cumpridos. Trabalha-se com a hipótese de uma

atuação na política não com a finalidade ideológica ou legislativa stricto sensu,

mas como formação de ascensão social, combinada com a formação escolar.

Chega-se a conclusão que a presença na política legislativa não apresenta clara

correspondência programática com as ideologias político-partidárias

representadas nos parlamentos analisados, mas sim com as estratégias de

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ascensão social e econômica. Não se trata de um estudo de elites, uma vez que

não há base base teórica ou empírica para afirmar que os eleitos representam

uma comunidade sírio-libanesa. Além disso, não se utiliza-se o método

prosopográfico, o que demandaria mais fôlego ao trabalho.

O seguinte trabalho estrutura-se nos seguintes capítulos: no primeiro,

dedicamo-nos a adentrar na discussão sobre a imigração sírio-libanesa ao

Brasil, pensando nos diferentes fatores históricos de expulsão e atração às

Américas, especificamente o Brasil. Além disso, aprofundar a discussão sobre

as maneiras pelas quais os sírio-libaneses se erradicaram no Brasil, ou seja,

pensar como se deu o processo de mudança na estrutura social dessas

comunidades. Além disso, o primeiro capítulo propõe uma discussão sobre uma

“marca” que os sírio-libaneses vieram a ter como forma de diferenciação na

nova sociedade: o termo generalizante turco.

No segundo capítulo propomos uma discussão sobre a os processos

imigratórias ao Paraná, desde a política imigratória adotada no estado, levando

em conta os processos de instalação dos colonos-imigrantes, bem como a

discussão sobre a criação da imagem de um “Brasil diferente” por parte dos

intelectuais que se propuseram a pensar o Paraná. A segunda parte do capítulo

visa de certa maneira dar um panorama da imigração sírio-libanesa ao Paraná,

apresentando dados demográficos bem como as representações que vieram a

ter no discurso intelectual do Paraná. Além disso, apresentamos de que maneira

se deu a inserção dos imigrantes a partir da instalação de casas de comércio em

Curitiba, principalmente na região central da cidade.

O terceiro capítulo tem como objetivo explorar a inserção dos sírios e

libaneses e seus descendentes na política paranaense. Truzzi (1997) explorou

essa inserção dos sírio-libaneses na política do estado de São Paulo, apontando

para os fatos que levaram essas frações das elites coloniais ao mundo da

política, bem como aos padrões de recrutamento verificados na eleição desses

integrantes da colônia. Para tal, cabe pensarmos se os padrões de recrutamento

apresentados por Truzzi (1997) no contexto paulista verificam-se também no

Paraná.

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Através da pesquisa, foram levantados todos os parlamentares de

sobrenome sírio-libanês a partir da redemocratização de 1945, quando a

recomposição da elite política abriu espaço também para os descendentes de

imigrantes. A partir do levantamento de nomes, foi realizado um quadro (Anexo

I) contendo as legislaturas que vieram a exercer bem como o perfil dos políticos.

Além do levantamento, foi realizada uma entrevista com um vereador de

ascendência sírio-libanesa ainda em atividade, de modo a pensar como um

parlamentar ainda se relaciona com a coletividade sírio-libanesa.

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2 A IMIGRAÇÃO SÍRIO-LIBANESA PARA O BRASIL

Durante a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século

XX, milhares de imigrantes sírios e libaneses aportaram nos territórios

americanos, desenvolvendo significativas colônias nas grandes cidades, além de

também terem se estabelecido nas pequenas cidades, como explicaremos

melhor mais tarde. O primeiro estudo sobre o processo migratório árabe no

Brasil foi escrito pelo brasilianista Clark Knowlton nos anos 1950, denominado

Sírios e Libaneses: mobilidade social e espacial. Knowlton (1961) afirma na

introdução de sua obra que chegou a São Paulo no começo de 1950 e

matriculou-se em um curso da Escola Livre de Sociologia e Política com o

objetivo de aperfeiçoar seu conhecimento da língua portuguesa.

Lá [Na Escola Livre de Sociologia e Política] soube que um jovem sociólogo brasileiro estava trabalhando num estudo de aculturação dos sírios e libaneses em São Paulo. Promoveu-se um encontro para ver se seria possível uma divisão do campo de pesquisa. Ficou combinado que o autor se concentraria nos aspectos demográfico, ecológico e de mobilidade social da vida da colônia, deixando os problemas de aculturação e assimilação ao colega brasileiro. (KNOWLTON, 1961, p. II).

Esse colega brasileiro era Florestan Fernandes. Além dele, Knowlton

travou contatos com Donald Pierson no Brasil, como afirma Truzzi (1997). O

incidente, como chamou a coincidência de pesquisa com Florestan, ilustrava,

segundo ele, a necessidade de uma ligação entre as instituições dos Estados

Unidos e da América Latina (KNOWLTON, 1961, p. II). Florestan desenvolveria

o tema de assimilação dos imigrantes sírio-libaneses a partir dos pressupostos

do professor Emilio Willems em seu trabalho sobre a aculturação dos alemães

no Brasil1. De acordo com Florestan:

1 Willems, E. A Aculturação dos Alemães no Brasil. Companhia Editora Nacional: São Paulo. 1946.

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As modificações ocorridas no grupo cultural imigrante se refletem no

meio social ambiente. Em consequência, não foi apenas a herança

cultural transplantada da Alemanha que se transformou. A própria

sociedade brasileira se alterou, ao receber e assimilar essa herança

cultural. (FERNANDES, 2010, p. 227)

Para todos os propósitos, Florestan mudaria de tema mais tarde.

Knowlton defendeu sua tese desenvolvida no Brasil em 1955, na Vanderbilt

University, sob orientação de Lynn Smith, do departamento de Sociologia

(TRUZZI, 1997). O trabalho de Knowlton se insere nos estudos urbanos da

Escola de Chicago, no qual buscava-se avaliar em que proporção a teoria

ecológica desenvolvida nos Estados Unidos se aplicava ou não aos imigrantes

em outros países (TRUZZI, 1997).

O sociólogo Oswaldo Truzzi, em 1997, na obra Patrícios: sírios e

libaneses em São Paulo, inaugurou uma perspectiva diferente no tratamento do

tema. (NUNES, 1996). A abordagem de Truzzi, que integrava o grupo de

pesquisadores do Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São

Paulo (IDESP), buscava investigar etnias menos estudadas - no caso de Truzzi,

os sírios e libaneses - sob uma perspectiva de explorar a imigração no contexto

urbano-industrial, observando as suas atuações na sociedade atual, buscando

assim resgatar sua trajetória (NUNES, 1996).

2.1 O IMPÉRIO TURCO-OTOMANO E AS CAUSAS DA IMIGRAÇÃO

As políticas migratórias no Brasil tomaram forma em meio à abolição da

escravatura e da proclamação da República, nos anos de 1888 e 1889,

respectivamente. Paralelo às ideias de miscigenação e assimilação incorporadas

no discurso político através dos intelectuais brasileiros da época, a retórica do

Estado no que diz respeito à imigração consistia na colonização de terras

incultas no Sul do Brasil por imigrantes europeus, revelando o ideal de

branqueamento do projeto de formação da nação brasileira (CARNEIRO, 2003;

SEYFERTH, 2000). Ao contrário da imigração de origem europeia, a imigração

dos sírio-libaneses pode ser entendida como espontânea, uma vez que nem o

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governo brasileiro nem o Império turco-otomano a fomentaram (BRANDÃO,

2007). Para se pensar os processos migratórios para as Américas dois fatores

devem ser considerados: fatores de expulsão e fatores de atração (KLEIN,

2000). Os fatores que levaram uma enorme massa de sírios e libaneses a

emigrar podem ser compreendidos por, de acordo com Truzzi (1997), em

primeiro lugar, por fatores de cunho econômico-demográfico e político, e em

segundo, por fatores de cunho cultural, que dizem respeito à certos pilares

fundamentais da identidade do povo sírio-libanês: religião, aldeia e família.

(TRUZZI, 1997).

A Grande Síria, que compreendia em suas fronteiras a região do Monte

Líbano, pertencia ao Império Otomano até a derrota dos turcos na Primeira

Guerra Mundial (TRUZZI, 1997). Uma economia de subsistência prevalecia até a

primeira metade do século XIX na região. As comunidades que lá habitavam,

devido a uma rede de transportes precária, não interagiam muito entre si, sendo

auto-suficientes, cada uma produzindo aquilo que as outras também produziam

(TRUZZI, 1997). Com a melhoria dos transportes marítimo e terrestre, bens

manufaturados mais baratos começaram a chegar às comunidades rurais antes

auto-suficientes. Aliado a isso, o crescimento das cidades, que forçou a

produção agrícola de subsistência a dar lugar a uma produção mais comercial

fez com que surgissem as causas econômico-demográficas da emigração sírio-

libanesa, que em seu modelo não diferem muito das causas de emigração de

outros países europeus.

FIGURA 1 – A Grande Síria

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FONTE: Blog “O que são profecias”2.

Truzzi (1997) afirma que por sobre tais razões econômico-demográficas

sucederam-se razões de natureza política nas causas da emigração. O

Historiador Albert Hourani (1994) fala em um "ajuste" que ocorrera no equilíbrio

de poder a partir do século XVIII: "No fim do século XVIII, a dinastia otomana já

completava quinhentos anos, e governava a maioria dos países árabes havia

quase trezentos; era simplesmente de esperar que suas formas de governo e a

extensão de seu controle mudassem de um lugar e época para outro." (1994, p.

256). A expressão mais violenta desse ajuste ocorrera na segunda metade do

século XIX, na região do Monte Líbano, em que a antiga convivência entre as

principais comunidades religiosas da região - drusos e majoritariamente cristãos

maronitas - foi rompida. A interferência britânica e francesa na região, as

tentativas de controle introduzidas pelos otomanos e as mudanças de poder

local, ocasionaram, em 1860, um massacre de cristãos, tendo como

consequência uma intervenção de potências estrangeiras, criando um regime

especial para a região do Monte Líbano (HOURANI, 1994). Em 1861, em

Istambul, representantes da França, Inglaterra, Áustria, Prússia, Rússia e do

Império turco-otomano assinaram um regulamento reconhecendo a autonomia

2 http://oquesaoprofecias.blogspot.com.br/2012/05/a-grande-siria.html. Acesso em:

27/01/2016.

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do Líbano (GATTAZ, 2012). Esse massacre é a grande manifestação da

sensação de que o mundo político do Islã estava sendo ameaçado, por isso a

violência contra a comunidade cristã local, que lucrava graças à influência

européia na região por ocuparem uma posição especial em tal contexto, como

será explicado adiante (HOURANI, 1994).

Para Truzzi (1997), porém, é preciso dar importância secundária às

perseguições religiosas como fator impulsionador da emigração. O movimento

emigratório tomou força somente a partir dos anos 1880, ao passo que o grande

massacre de cristãos pelos drusos ocorreu ainda nos anos 1860. Os judeus e

cristãos, afirma Gattaz (2012), ocupavam uma posição especial no contexto da

Grande Síria, pois eram considerados "povos do livro", e suas religiões eram

tidas como predecessoras do Islã. Esses grupos pagavam um imposto especial,

chamado de jizya, e em contra partida os chefes religiosos de cada comunidade

possuíam autonomia para implantar seus próprios sistemas de leis pessoais,

além de serem responsáveis pela coleta do jizya e pela manutenção da ordem.

(HOURANI, 1994). Segundo Truzzi (1997), as ameaças cada vez maiores de

potências do Ocidente no final do século XIX na região da Grande Síria fizeram

com que os governantes turco-otomanos tomassem medidas ainda mais

impopulares perante os cristãos, criando uma insatisfação geral na região.

Em 1909, por exemplo, o serviço militar obrigatório foi estendido aos cristãos, que antes eram dele dispensados. Essa medida, de caráter extremamente impopular, detonou uma avalanche de saídas para o exterior. Saliba conta-nos que, de um contingente de 240 mil recrutados, 40 mil foram mortos e aproximadamente 150 mil desertaram. (TRUZZI, 1997, p. 24).

Em conclusão, essas razões de cunho econômico-demográfico e político

reuniram as primeiras condições básicas para ocorrer o surto migratório na

Grande Síria (TRUZZI, 1997). Truzzi (1997) afirma que para se entender com

mais propriedade o surto migratório dos sírios e libaneses é preciso olhar mais

atentamente para alguns pilares fundamentais da identidade do povo da Síria:

religião, aldeia e família (TRUZZI, 1997). Para além dos fatores econômicos

demográficos e políticos já descritos, outro aspecto impulsionador da massa

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migratória é um elemento cultural. Knowlton (1961) reproduz um trecho de um

relatório de missionários que demonstra o sucesso dos imigrantes:

Um analfabeto vai para a América e no curso de seis meses manda um cheque de $300 ou $400 dólares, mais do que o salário de um professor ou de um pastor em mais de dois anos. Durante os meses passados veio para Zaleh da América uma média de $400 a $500 diariamente. Quase tudo é usado para pagar velhas dívidas, hipotecas, e para levar outros emigrantes além-mar. (Fifth-Fifth Annual Report of the Board of Foreign Missions of the Presbyterian Church in the United States. New York: Mission House, 1892. pp. 250-252, 264-269. In: KNOWLTON, 1961, p. 30).

De fato, o sucesso dos primeiros imigrantes na América, aliado aos

relatos daqueles que retornavam à terra natal, foi um importante elemento para

se compreender com mais propriedade a grande massa de imigrantes que por

aqui aportaram. Um padrão de segregação geográfica em que os grupos viviam

de certo modo isolados tinha no seu cerne o fator religioso, de modo que

cristãos e muçulmanos viviam em regiões, cidades e até mesmo bairros

diferentes (TRUZZI, 1997). Na Grande Síria, a religião frequentemente ocupou o

lugar que o Estado moderno ocupava nos países ocidentais. Durante o Império

turco-otomano, tal segregação assumiu uma forma institucional, uma vez que foi

usada para se manter a ordem social entre as muitas minorias religiosas. Ao

emigrarem para outras terras, havia pouco reconhecimento de uma identidade

nacional comum, porém havia um forte reconhecimento e identificação religiosa

e da cidade à qual pertenciam. Nesse sentido, noções como orgulho, vergonha

ou desgraça relacionadas às famílias associam-se à identificação do local de

origem dos grupos, e, consequentemente, à filiação religiosa (TRUZZI, 1997).

Isso significa dizer que um forte sentimento de competição se colocava entre as

famílias sírio-libanesas. O que estava em jogo na imigração era, para além dos

aspectos de caráter político e estrutural, a honra e o prestígio de cada família

(TRUZZI, 1997). Nesse sentido, afirma Truzzi (1997), a emigração de origem

sírio-libanesa não pode ser compreendida como uma “empreitada de

aventureiros desgarradas do tecido social na terra de origem” (TRUZZI, 1997, p.

28). A decisão de emigrar era calculada, uma decisão tomada em família com

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viés de melhorar a situação familiar na terra de origem. Embora a imigração

tenha ocorrido individualmente, os indivíduos continuavam sob a tutela da

família e o sistema de parentesco (KNOWLTON, 1961, p. 171). Tinha-se na

decisão de emigrar, portanto, a idéia de voltar à terra natal após um período de

tempo. Essa idéia prevaleceu ao longo dos primeiros 20 anos da imigração mais

intensa, entre 1890 e 1910. Após esse período, com as notícias sobre as

dificuldades causadas pela eclosão da Primeira Guerra Mundial, a idéia de voltar

precisou ser repensada (TRUZZI, 1997).

2.2 OS SÍRIO-LIBANESES NO BRASIL

As estatísticas referentes ao contingente migratório de sírios e libaneses

para o Brasil são imprecisas, de todo modo é consenso que o movimento se

iniciou por volta dos anos 1870 (TRUZZI, 1997). De acordo com Knowlton

(1961), os sírios e libaneses afirmam terem entrado no Brasil numa data mais

antiga, porém não há documentação para sustentar tal afirmação. O processo

migratório aumentou de 1871 lentamente até os anos 1895 e rapidamente de

1895 até 1903. A partir daí até as vésperas da Primeira Guerra Mundial, em

1913, o movimento cresceu ainda mais significativamente. Nos anos 1920, após

a Primeira Guerra, o movimento voltou a crescer e se estabilizou, para então nos

anos posteriores o contingente baixar significativamente devido à depressão e

ao sistema de quotas adotado pelo governo brasileiro (TRUZZI, 1997). Com o

pressuposto de garantir a “integração étnica”, esse sistema de quotas foi

adotado pela Constituição de julho de 1934 com o objetivo de restringir a

entrada de imigrantes. De acordo com o parágrafo 6º do artigo 121 da

Constituição, a corrente imigratória não deveria exceder o limite anual de dois

por cento do número total de estrangeiros já estabelecidos no Brasil nos últimos

50 anos, o que claramente favorecia a entrada de brancos europeus, visto que

estes representavam um número muito maior de imigrantes no país

(CARNEIRO, 2003; GERALDO, 2009).

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A comunidade sírio-libanesa compreende 2,5% de total de 4.195.832

imigrantes que aportaram no Brasil no período de 1884 à 1943, sendo o sétimo

maior grupo de imigrantes, como é apresentado Na Tabela 1.

TABELA I – Imigração turco-árabe no Brasil comparada com a de alguns grupos nacionais (1884

até junho, 1943)

Nacionalidade Número de imigrantes Porcentagem do total Todos os Imigrantes 4.195.832 100% Turco-árabes 106.088 2,5% Italianos 1.412.880 33,7% Portugueses 1.224.274 29,2% Espanhóis 582.836 13,9% Japoneses 188.769 4,5% Alemães 172.347 4,1% Russos 108.168 2,6% Austríacos 85.834 2,1% Poloneses 48.609 1,1% Romenos 39.204 0,9% Franceses 32.923 0,8% Lituanos 28.707 0,7% Ingleses 24.567 0,5% Iugoslavos 22.891 0,5% Argentinos 20.763 0,5% Outros 97.272 2,3% Fonte: KNOWLTON, Clark, 1961, p. 45.

Muitos dos que chegaram ao Brasil pretendiam na verdade ir para os

Estados Unidos, porém ou foram impedidos de lá desembarcaram ou foram

enganados pelas companhias de transporte marítimo (TRUZZI, 1997). A vinda

dos imigrantes sírio-libaneses se deu tradicionalmente por agricultores e

moradores do campo, o que contrasta com a atividade que vieram a exercer na

nova terra. Dados relativos à profissão dos imigrantes mostram que apenas 18%

dos sírios e libaneses se declararam agricultores, pois provavelmente já tinham

em mente o trabalho no comércio devido à relação com conterrâneos já

estabelecidos no Brasil (TRUZZI, 1997).

Em particular, diante de uma estrutura agrária concentrada, teriam de empregar-se como colonos ao longo de, pelo menos, uma ou duas gerações, para terem a chance de conquistar o acesso a algum tipo de

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propriedade rural que os mantivesse em suas atividades originais. Além disso, nos primeiros tempos da imigração, alguns deles empregaram-se como colonos, mas alguns meses depois fugiram para as cidades mais próximas, desmotivados pelo tratamento nas fazendas e pela falta de perspectiva de vida. (TRUZZI, 1997, p. 43).

QUADRO 1 – Imigração anual síria e libanesa no Brasil (1871 – 1942)

Ano Turco Sírio Libanês Armênio Egípcio Marroquino Argelino Total 1871 - 1883 96 - - - - - - 96

1884 - 1893 62 93 - - - - - 155

1894 - 1903 6.522 602 - - 51 192 - 7.367

1904 - 1913 41.997 3.826 - - 42 31 - 45.896

1914 - 1923 19.255 1.145 - 1 191 35 - 20.627

1924 - 1933 10.227 14.264 3.853 821 335 47 1 29.548

1934 - 1942 298 608 1.353 3 29 24 - 2.315

Total 78.637 20.538 5.206 825 648 329 1 106.184 Fonte: Adaptado de: KNOWLTON, 1961, pp. 39-41.

Como se pode notar no Quadro 1, os libaneses só passaram a ser

considerados à parte a partir do período que começa no ano 1924, mais

especificamente no ano 1926. Além disso, os imigrantes do Egito, Marrocos, e

Argélia eram em sua maioria descentes de sírios e libaneses erradicados nesses

países. (KNOWLTON, 1961). Quanto à religião dos imigrantes que aqui

chegaram, a maioria era de cristãos (65%) ou ortodoxos gregos (20%), com os

15% restante de muçulmanos. (LESSER, p. 97)

Como dito anteriormente, os imigrantes de origem sírio-libanesa tinham a

determinação de retornar para sua terra de origem após certo período de tempo

e certo acúmulo financeiro. Tal característica condiz com a atividade que a

maioria dos imigrantes passaram a realizar no Brasil, a mascateação. A

ocupação de mascate os mantinha na condição de trabalharem por si próprios,

de maneira que o retorno financeiro era fruto unicamente do esforço próprio,

além de ter as vantagens de não exigir um grande conhecimento da língua

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portuguesa – a própria atividade auxiliava no conhecimento da língua – e de

dispensar qualquer habilidade ou soma de recursos. Outro fator fundamental diz

respeito à rede de conterrâneos que se criava à medida que os imigrantes

chegavam. Os mascates trabalhavam para patrícios já estabelecidos e que

haviam passado pelo ofício de mascate, que lhes adiantavam as mercadorias

para serem vendidas. (TRUZZI, 1997)

De manhã cedo saíam os mascates percorrendo as ruas e procurando as casas, suportando o calor, o frio e a chuva, levando o pão e qualquer coisa que pudessem adquirir, de preferência queijo e banana, para a única refeição diurna. Ao escurecer, voltavam com a féria do dia completamente exaustos, para fazer a conta com o patrão. O lucro diário apurado ia sendo gradualmente creditado ao vendedor, e muitos formavam assim o capital inicial, para tornarem-se por sua vez comerciantes e atacadistas. Secando as vendas no centro, buscavam os mascates os subúrbios, afastando-se gradualmente até chegar às cidades do interior, e de lá às fazendas e até os sertões, sempre em ondas mais crescentes. Houve mascates que empreendiam viagens com caixas nos ombros pesando de oitenta a cem quilos, esgotando o estoque entre ambas as capitais ida e volta e vice-versa. Na medida do crescimento do negócio e do poder de gastar, alugavam carregadores e mais tarde adquiriam burros de carga. (DUOUN, 1944. p. 93).

Os primeiros mascates no Brasil, ao longo do século XIX, foram os

portugueses, passando pelos italianos e chegando aos sírios e libaneses

(KNWOLTON, 1961, P. 186). Os mascates usavam mulas para transportar as

mercadorias, sendo que sal, tecidos e chapéus constituíam boa parte do que

levavam. Além disso, muitas vezes o pagamento era feito com outros produtos,

o que potencializava as suas vendas e dobrava seus lucros (LESSER, P. 100).

Por mais que os sírio-libaneses não tenham em grande parte se inserido no

trabalho do campo, foi por lá que adentraram e constituíram um importante

mercado, alargando as possibilidades de compra dos colonos no interior, E

alargando também sua inserção Brasil adentro. Os sírios e libaneses se

lançaram, desse modo, em praticamente todas as regiões do país (TRUZZI,

1997, p. 45-46).

Uma característica da atividade de mascate era o seu caráter provisório,

tendo como objetivo, até a Primeira Guerra Mundial, o retorno à terra natal.

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(TRUZZI, 1997) Tal característica é importante para se compreender melhor a

experiência árabe no Brasil. Lesser (2001) afirma que em Beirute, o bairro de Al-

Sufi era conhecido como o bairro dos brasileiros, tendo inclusive uma Avenida

chamada de Brasil. Estatísticas do Porto de Santos mostram um índice de 46%

de retorno para as pessoas provenientes do Oriente Médio, ou seja, 43.596

entradas para 19.951 saídas de “turcos” e de “sírios”, entre os anos de 1908 e

1939 (LESSER, 2001, p. 104). De todo modo, como dito anteriormente, o

retorno foi dificultado devido às notícias sobre a difícil situação gerada pela

eclosão da Primeira Guerra Mundial.

O mascate pode ser entendido como símbolo da inserção dos sírios e

libaneses no Brasil. (LESSER, 2001, p. 98). É o estabelecimento de seu próprio

negócio, passada a atividade de mascate, que levaram efetivamente os

imigrantes à expansão econômica e à construção de seu espaço étnico. Depois

de alguns anos de mascateação com o auxílio dos conterrâneos já

estabelecidos chegava a hora de o capital dos sírios e libaneses ser deslocado

para o varejo, e posteriormente, evidenciando o sucesso econômico da colônia,

deslocar-se para aplicações no comércio atacadista e na indústria (TRUZZI,

1997, p. 52). Truzzi (1997) aponta três fatores fundamentais para melhor

compreender o sucesso dos imigrantes sírios e libaneses erradicados no Brasil,

especificamente em São Paulo. Em primeiro lugar, o perfil singular de

distribuição demográfico-ocupacional da colônia, ou seja, os sírios e libaneses

estavam dispersos pelas diversas regiões do estado de São Paulo, ao mesmo

tempo em que apresentam um alto índice de ocupação urbana. Em segundo

lugar, a rede de conterrâneos e de auxílio que se estabelecia no interior da

colônia fez com que se estabelecessem inúmeros mecanismos de acolhida aos

recém-chegados, de modo que tais mecanismos se tornaram importantes meios

de potencializar as suas atividades econômicas. Por fim, a manutenção do

núcleo familiar, ou seja, o processo de importação dos parentes e conterrâneos

pelos já estabelecidos. Isso quer dizer que grande parte dos imigrantes não

chegou ao Brasil desamparado e sem perspectiva. Como já apontamos, a

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decisão de emigrar era tomada em família, e sabia-se para onde iam e no tipo

de trabalho que viriam a exercer.

Apesar de os sírios e libaneses formarem apenas o sétimo grupo de

imigrantes no Brasil, como mostra a Tabela 1, a inserção urbana e o sucesso

das atividades comerciais dos imigrantes fica evidente quando olhamos para o

Tabela 2. A proporção de imigrantes proprietários de empresas com relação ao

total de imigrantes de cada etnia, de acordo com o censo de 1950, coloca os

sírios e libaneses na primeira colocação com relação a outros grupos

imigrantes3.

TABELA 2 – Proprietários ou sócios estrangeiros de empresas brasileiras em relação ao total de

emigrantes – 1950

Nacionalidade

Número de Proprietários (a)

Total de Imigrantes (b) Proporção (a) / (b)

Portugueses 3.453 336.856 1,03%

Italianos 1.812 242.336 0,75%

Espanhóis 921 131.608 0,70%

Sírios e Libaneses 855 44.718 1,91%

Japoneses 609 129.192 0,47%

Alemães/Austríacos 618 83.237 0,74% FONTE: GATTAZ. 2012, p. 99.

As habilidades comerciais dos imigrantes operaram uma mudança

significativa nas práticas comerciais no Brasil. Taufik Duoun, um dos mais

importantes intelectuais da colônia na década de quarenta afirma: “Os sírios e

libaneses adotaram desde o início o sistema de vender barato para vender muito

e, por outro lado, exerciam o máximo de economia, conseguindo assim

acumular capitais apreciáveis”. (DUOUN, 1944, p. 115). Truzzi (1997) afirma que

não seria exagerado falar que os sírios e libaneses foram quem “inventaram” o

comércio popular no Brasil, lançando as bases para a maneira como o ele é

empregado hoje.

3 O quadro III não comtempla as segunda e terceira geração de sírio-libaneses, já considerados

como brasileiros.

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Com relação à inserção dos sírios e libaneses na indústria, essa se deu

principalmente na produção de tecidos e de algodão de qualidade inferior.

(KNOWLTON, p. 146). Essas indústrias requeriam um capital mínimo e

operavam produtos que seriam vendidos por mascates e viajantes. Pequenas

fábricas eram administradas muitas vezes por irmãos que cooperavam para o

progresso do negócio, de modo que um dirigia a fábrica enquanto outros

viajavam para vender produtos.

Gattaz (2012) aponta algumas exceções na segura ascensão social dos

sírios e libaneses, como alguns imigrantes que não chegaram a fase atacadista

ou industrial. De todo modo, parece claro que a grande maioria dos imigrantes

sírios e libaneses seguiram um caminho parecido de ascensão econômica e

social, amparados pelos fatores descritos acima.

2.3 O “TURCO” E A IDENTIDADE DOS SÍRIOS-LIBANESES

O comércio ambulante e a maneira com a qual faziam negócios, aliados à

língua e a fisionomia característica lançaram a imagem mais comum dos sírios e

libaneses no Brasil já no início do século XX. Como foi apontado anteriormente,

os sírios e libaneses se dedicaram em massa às atividades comerciais, o que

explica em certo sentido o fato de terem recebido uma “marca” de diferenciação

ao resto da sociedade. Tal “marca” era expressa no termo até hoje usado para

designá-los: turcos. (TRUZZI, 1997, p. 68). A imagem do turco tem profundas

raízes na cultura popular brasileira justamente por causa dos mascates, que

bem representam a integração social dos sírio-libaneses no Brasil. (LESSER,

2001, p. 98). Qual é o motivo, porém, da designação do termo turco? A grande

maioria dos imigrantes sírios e libaneses que aportaram no Brasil antes da

Primeira Guerra Mundial portava passaporte turco-otomano, de todo modo, pelo

fato de boa parte deles estar fugindo do Império Otomano, tal expressão

carregava inúmeras conotações pejorativas, pois o uso do termo era em muito

usado para humilhar e ferir. Ser “confundido” com aqueles que o oprimiram e o

obrigaram a sair de seu país certamente não era bem visto dentro da

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comunidade. O resto da sociedade, sejam outros imigrantes ou brasileiros, não

dispunham de nenhum elemento para distinguir os sírios e libaneses, por isso a

designação do termo turco. As identidades de aldeia e religião, tão importantes

para os imigrantes árabes, desapareciam perante o “turco” genaralizante

(TRUZZI, 1997, p. 70). A imigração turca propriamente dita, por outro lado, foi

quase nula no Brasil (TRUZZI, 1997, p. 69).

A imigração sírio-libanesa para o Brasil pôs em cheque as elites brasileiras da época. Lesser (2001) afirma:

Todos os 4,55 milhões de imigrantes que entraram no Brasil entre 1872 e 1949 trouxeram consigo uma cultura pré-migratória e criaram novas identidades étnicas. Entretanto, foram os 400 mil asiáticos, árabes e judeus, considerados não-brancos e não-pretos, que mais puseram em

xeque as idéias da elite sobre a identidade nacional. (2001, p. 25).

O antropólogo e diretor do museu nacional Edgard Roquette-Pinto buscou

distinguir aqueles que “criavam” riqueza e os que “consumiam” riqueza

(LESSER, 2001, p. 25). O trecho a seguir é significativo de seu pensamento:

No coração de Mato-Grosso, na Amazônia, em Minas Gerais, na capital da República, vivem grandes massas de mercadores turcos. Embora, pelas condições de seu mister habitual, sejam obrigados a entrar em relação com os brasileiros, vivem, de fato, perfeitamente segregados na sua raça, nas suas normas, no seu feitio. Ninguém sabe ao certo como se chamam, de onde são, que religião professam. Vivem lá entre si, ignorados quasi pelos brasileiros. Onde há um mais rico, mais inteligente, ou mais instruído, grupam-se em torno dele; e, quando esse “leader” adquire certa influência no país, começa a dirigir, inteiramente, o núcleo de compatriotas. Seria injusto negar os serviços elementares que prestam esses mascates às populações do interior. É uma imigração que cumpre, na hora atual, missão de utilidade; não tem trazido, porém, nenhum gérmen de progresso. (LESSER, 2001 p. 102).

A etnicidade no Brasil nunca esteve relacionada somente à questão

social, mas também à questão econômica (LESSER, 2001, p. 25). Esse fato

levou os intelectuais das elites a um olhar atento aos sírios e libaneses. Ao

mesmo tempo em que obtiveram êxito econômico, agradando as elites da

época, os árabes aparentavam negar um interesse na aceitação plena da cultura

euro-brasileira. (LESSER, 2001, p. 88). Tal situação gerou diferentes reações,

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dentro e fora da colônia. Os sírios e libaneses acompanharam a tendência geral

de a maioria dos grupos de imigrantes – a pior coisa que poderia acontecer na

nova terra era serem associados aos negros, distanciando-se assim desse

grupo. (TRUZZI, 1997, p. 77). Os árabes, inclusive, encontravam-se num meio

termo no que diz respeito à política migratória da época. Ao mesmo tempo em

que sua imigração não foi subsidiada pelas políticas de Estado que visavam o

branqueamento da população do Brasil, eles também encontravam um Brasil de

portas abertas, justamente por que não se enquadravam nos grupos

“ameaçadores” para as políticas de “branqueamento” (GATTAZ, 2012).

Por parte das elites brasileiras, as mais diversas reações foram

provocadas pelos sírios e libaneses. Em São José do Rio Preto, um vereador

“nacionalista”, Porfírio de Alcântara Pimentel, propôs o seguinte projeto:

A bem popular e bem do governo municipal desta cidade: 1 – Todos os negociantes árabes e turcos desta cidade não poderão continuar no comércio deste município sem ter um goarda livro que seja Brasileiro dentro de 30 dias (...) 2 – Todos os turcos que fallar na língua turca perto de um brasileiro por cada vez que fallar multa de 10$000 paga na boca do cofre municipal. Todo brasileiro que ouvir elles fallando e não der parte ao fiscal multa de 10$000. (TRUZZI, 1997 p. 75).

A polícia também buscava criar problemas com os imigrantes, afirmando

que o contingente de presos estrangeiros era maior que o contingente de presos

brasileiros. Em 1897, afirma Lesser (2001), mais de 10% dos imigrantes presos

na prisão municipal de São Paulo eram “turcos” (p. 101).

A colônia sírio-libanesa (bem como a japonesa) reagiu de diversas

maneiras à essas pressões, três estratégias distintas são significativas:

(LESSER, 2001, p. 21).

1 – A afirmação por parte das elites imigrantes de que seus grupos eram

etnicamente “brancos”, propondo que os sírios e libaneses fossem incluídos nos

grupos de imigrantes desejáveis;

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2 – A proposição de que a “brancura” não era necessária à brasilidade, ou

seja, propunham que o Brasil se tornaria melhor quanto mais “árabe” ou

“japonês”.

3 – A rejeição de qualquer tipo de inclusão, gerando a criação de grupos

ultranacionalistas que tinham a intenção de se manter leais às regras políticas e

culturais de seus países de origem.

Um exemplo da tentativa de inserção por parte dos sírios e libaneses foi a

tradução dos nomes árabes para nomes brasileiros. “Um dentista que morava

em Goiás, chamado de Abdulmajid Dáu, trocou seu nome para Hermenegildo

Dáu da Luz. Hermenegildo por ser parecido com Abdulmajid, e Dáu – que

significa luz – recebeu nova versão.” (Truzzi, 1997 p. 75). Tal situação

demonstrava, de acordo com os “assimilacionistas” da época, um exemplo de

uma “boa assimilação” dos árabes por parte da sociedade receptora. Até os

anos sessenta do século XX, os “assimilacionistas”, influenciados pela Escola de

Chicago, argumentavam que os imigrantes gradualmente perdiam a sua

identidade étnica, integrando-se ao mainstream nacional. Um dos primeiros

intelectuais a fazer uso do termo no Brasil foi Alfredo Ellis Jr4, em Populações

Paulistas, publicado em 1934. Em tal obra, o autor apresenta uma concepção de

assimilação baseada em aspectos raciais e culturais, na qual ocorreria uma

aniquilação das culturas de fora em prol da primazia paulista. Esse conceito

buscava a formação de um tipo nacional, influenciado pelas teorias eugenistas.

(TRUZZI, 2012). Ellis Jr. deu atenção particular ao caso dos sírios e libaneses.

De acordo com o autor, uma contradição ocorria nesse grupo de imigrantes –

apesar de o físico do árabe ser parecido com o do brasileiro, eles pareciam

4 Alfredo Ellis Jr (1896 – 1974), historiador, sociólogo e professor, formou-se pela Faculdade de

Direito de São Paulo em 1917 e tornou-se catedrático, em 1939, de História da Civilização Brasileira da

Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da mesma instituição. Tem importância especial nos estudos

sobre a história de São Paulo, tendo publicado diversas obras, dentre elas: entre elas: Raça de

gigantes (1926), Populações paulistas (1934), Capítulos da história social de São Paulo (1944), Meio

século de bandeirismo (1946), O café e a paulistânia (1950).

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dispostos a manter sua cultura pré-migratória (LESSER, 2001, p. 116). “Na

opinião de Ellis, os imigrantes sírios aperfeiçoariam a identidade nacional

brasileira, o que, por sua vez, contribuiria para assegurar que os sírios ver-se-

iam transformados em ‘brasileiros’.” (LESSER, 2001, p. 117). O padrão de

casamentos dentro da colônia demonstra justamente essa disposição de se

manter a cultura pré-migratória. Os sírios e libaneses em sua grande maioria

vinham sozinhos e trabalhavam para juntar dinheiro e voltar à terra natal. Já

descrevemos anteriormente esse processo, porém o que cabe aqui ressaltar é o

fato de os sírios e libaneses terem sido educados a casarem-se entre “patrícios”,

numa longa tradição em que os mais velhos determinavam o casamento de seus

filhos, ressaltando uma sociabilidade muito introvertida da comunidade.

(TRUZZI, 1997, p. 75).

Os imigrantes árabes que chegaram ao Brasil ao longo dos anos das

grandes migrações, de acordo com Lesser (1998), ajudaram a criar uma

sociedade multi-étnica que as elites tanto tentaram previnir. A contradição entre

os benefícios econômicos e a preocupação com relação à cor, religião e origem

se colocam como as principais questões para se pensar a relação entre a

identidade nacional que se almejava e a etnicidade que foi colocada em foco

com o grande contingente migratório que mudou tais relações no Brasil.

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3 A IMIGRAÇÃO SÍRIO-LIBANESA PARA O PARANÁ

3.1 A POLÍTICA IMIGRATÓRIA NO O PARANÁ

No início do século XIX, de acordo Ruy Christovam Wachowicz:

Era o território paranaense uma região mal povoada, com sertões brutos e desabitados, inclusive em áreas não muito distantes da capital. Os índios, ainda hostis, amedrontavam com suas correrias os raros e pequenos núcleos de população, localizados no interior, como Guarapuava, Lapa, Tibagi, Castro etc. (1977, p. 109).

Além dos ataques dos índios botocudos ao Sul, temia-se também a perda

de espaço para os argentinos (NADALIN, 2001, p. 66). Foram dessas

preocupações que surgiram as primeiras colônias após a Independência do

Brasil. A política imigratória desse período tomaria o rumo de ocupar o território

brasileiro com a instalação de núcleos coloniais em terras públicas,

principalmente no sul do país. O problema da efetiva ocupação do solo se fazia

como nunca presente, visto como necessário à valorização econômica e à

soberania nacional (BALHANA, MACHADO, WESTPHALEN, 1969, p. 157).

Buscou-se por parte das elites políticas e intelectuais do Brasil uma imigração de

pequenos agricultores brancos europeus que trariam uma nova forma de

produção agrícola. “O modelo imaginado ao longo do século XIX era o do farmer

americano, isto é, do pequeno agricultor capitalista ocupando áreas pensadas

como ‘vazios demográficos’.” (SEYFERTH, 2000, p. 84). A renúncia de Dom

Pedro I e o início do período regencial desencadeou uma tensão política no país,

desacelerando o processo colonizador no Brasil (NADALIN, 2001, p. 66).

Apenas em 1846 tal processo foi efetivamente retomado, e, em 1950,

aumentado graças à promulgação da “Lei de Terras”, de modo que o acesso à

terra passou a ser feito por meio de compra (SEYFERTH, 2000, p. 85). O grupo

governista favorável à manutenção da imigração, porém, desde 1834, sugeria

que a instalação de imigrantes deveria ocorrer não mais somente sob o

comando do Governo Central, e sim uma ação conjunta deste com as

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províncias. De todo modo, somente em 1850 o Governo Central passou a

delegar que as províncias seriam parte ativa no processo colonizador,

concedendo terras devolutas para a instalação de colônias.

O que se discutia, paralelo à preocupação de instalar colônias de

abastecimento no Sul do país fundadas no trabalho livre e familiar e com vistas à

preencher e ocupar vazios demográficos, era a renovação do trabalho escravo,

principalmente devido ao avanço da produção de café paulista que exigia um

número cada vez maior de trabalhadores. Devido à expansão do café no estado

de São Paulo, boa parte dos escravos paranaenses foi vendida às fazendas

paulistas, ocasionando uma crise no abastecimento agrícola do Paraná.

Paradoxalmente a essa migração de escravos, afirma Nadalin:

Avigoravam-se a consciência abolicionista e a denúncia ao regime servil. Assim, no momento em que todo o sistema produtivo exigia o fortalecimento do escravismo, foram iniciadas a campanha abolicionista e a promulgação de leis que encaminhavam a extinção do regime. Em seu conjunto, a que primeiramente atingiu os cafeicultores foi a Lei Euzébio de Queiróz, em 1850, ao proibir o tráfico de escravos para o Brasil. O problema de quem trabalharia nos cafezais passou a configurar-se, em consequência, como uma questão econômica que afetava a própria sobrevivência nacional. Tinha que ser resolvido. (2001, p. 68).

A política imigratória toma forma, então, como substituta do trabalho

escravo. A já mencionada “Lei de Terras” de 1850 que, graças ao artigo primeiro

que fixava “Ficam proibidas as aquisições de terras devolutas por outro título

que não seja o de compra” (BALHANA, MACHADO, WESTPHALEN, 1969, p.

160), representava uma vitória dos cafeicultores paulistas interessados na

importação de mão de obra. A partir dessa lei, as pretensões dos imigrantes

eram dificultadas uma vez que vinham ao Brasil sem recursos, ficando fadados

ao trabalho nos latifúndios cafeeiros paulistas. É por esses motivos que, dos

quatro milhões e meio de imigrantes que aportaram no Brasil de 1850 até 1918,

55% do total, ou seja, dois milhões e meio, se dirigiram a São Paulo.

Foi nesse contexto que surgiram as condições especiais da política

migratória paranaense. Anteriormente à fundação da Província do Paraná, em

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18535 foram instalados no território paranaense apenas três núcleos coloniais:

em 1829, a colônia Rio Negro, no município de mesmo nome, com colonos

alemães; em 1847, a colônia Thereza, em Ivaí, com franceses; e em 1852, a

colônia Superagüi, em Guaraqueçaba com suíços, alemães e franceses,

totalizando, de acordo com Wilson Martins (1955, p. 69), 460 imigrantes.

Romário Martins (1955, p. 282) aponta o número de 407 imigrantes. De todo

modo o contingente oscila nessa medida. Contrastando com a política paulista, a

política migratória paranaense se fundava no tripé: trabalho livre, produção

agrícola e pequena propriedade (OLIVEIRA, 2007). Os relatórios apresentados

na Assembleia Legislativa Provincial demonstram com clareza a política

migratória da Província:

Não há por ora na província estabelecimentos rurais importantes, que demandem para o seu custeio grande número de braços, nem a indústria agrícola se acha nela em tal pé que torne praticável o sistema de parceria, que tão bons resultados têm produzido na província vizinha. Assim, se o governo provincial quiser promover a colonização, na escala em que o autoriza o orçamento vigente, ou há de se por meio de venda de terra devolutas aos colonos, ou empresas que quiserem importa-los, ou há de tornar-se empreendedor de indústria, montando por sua conta estabelecimentos agrícolas e coloniais onde os colonos apenas importados, achem logo trabalho apropriado e lucros correspondentes. Fica entendido que, quando assim me exprimo, refiro-me unicamente à colonização propriamente dita, isto é, a que se promove no intuito de cultivar as nossas terras [...]. (BALHANA, MACHADO, WESTPHALEN, 1969p. 161).

Dessa maneira, ao contrário do pequeno contingente imigrante no Paraná

anterior à criação da Província, durante esta até o fim do Governo Imperial, em

1889, 19,215 imigrantes por aqui instalaram-se. Após a proclamação da

República até 1934 mais 81,656 imigrantes entraram no Paraná. (Martins, 1955,

p. 69) Pode-se dizer que, de acordo com Wilson Martins (1955, p.66), o período

áureo da imigração corresponde aos anos 1868 até 1878, quando mais de

5 Em 20 de agosto de 1853 era aprovada e convertida a Lei nº 704 que criava a Província do Paraná,

antiga Comarca de Curitiba, que era ligada ao Governo de São Paulo. Em 19 de dezembro chegaria

Zacarias de Góes e Vasconcellos, enviado como primeiro Presidente a fim de instalar e organizar a nova

Província.

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sessenta núcleos coloniais, tanto oficiais quanto particulares foram instalados no

Paraná.

É impossível precisar o contingente de imigrantes que se estabaleceram

no Paraná, de todo modo, Romário Martins (1941), chegou ao número de

131,331 imigrantes entrados no Paraná no período correspondente ao ano de

1829, data da primeira colônia em Rio Negro, até o ano de 1934, sendo que

desses 30 mil entraram espontaneamente. O historiador divide os imigrantes em

três grupos: Os grandes grupos de imigrantes, composto de poloneses,

ucranianos, alemães e italianos; os pequenos grupos, composto de franceses,

austríacos, russos, suíços, ingleses, holandeses, islandeses, búlgaros,

romaicos, suecos, noruegueses, tchecoslovacos, gregos, húngaros,

dinamarqueses, lituanos, egípcios, portugueses, espanhóis, japoneses,

argentinos e paraguaios; os grupos avulsos vindos de estados vizinhos; e, por

fim, os grupos urbanistas – de interesse especial à esse trabalho – composto de

sírios, libaneses e judeus.

3.2 OS SÍRIO-LIBANESES NO PARANÁ

A imigração sírio-libanesa não foi de completo vista como benéfica para a

composição étnica do Brasil. Os imigrantes sírios e libaneses obtiveram um êxito

econômico significativo, num processo que vai desde a atividade de mascate até

o estabelecimento de comércio fixo e a inserção na indústria. Paralelamente, os

sírios e libaneses – bem como outros grupos asiáticos – não foram buscados

pelas políticas de Estado que visavam o branqueamento do Brasil, além de

aparentarem negar um pleno interesse na aceitação da cultura euro-brasileira

pensada para o país. (LESSER, 2001, p. 88) No caso do Paraná, um aspecto

excepcional ainda se faz presente:

De fato, desde o final do século XIX, escritores “simbolistas” e membros da elite intelectual e política paranaense começam a produzir, através de discursos, textos literários e estudos históricos, imagens e metáforas sobre a identidade social e cultural do estado cujo fundamento étnico se assentava na figura “branca” do imigrante não-

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português de origem europeia, e cujo fundamento social residia na presumível particularidade paranaense em relação às demais regiões do Brasil. (OLIVEIRA, 2007)

Intelectuais paranaense, a exemplo de Romário Martins, Wilson Martins e

Sebastião Paraná, buscavam reescrever a história do estado, (re)criando-a com

a imagem de um “Brasil diferente”, onde tanto a influência da colonização

portuguesa quanto a escravatura não se fizeram presentes, e onde a imigração

de origem europeia possui a maior força na formação cultural e social do Paraná

(OLIVEIRA, 2007; MARANHÃO, 2014).

A observação de Nestor Vítor (1996), em A Terra do Futuro, é digna de

nota, e nela podemos perceber a desconfiança para com os imigrantes sírio-

libaneses:

Nosso comércio está absorvido cada vez mais pelos sírios, como se dá em todo o estado, principalmente tratando-se das localidades de menor importância. É isso, aliás, o que se nota mais ou menos no Brasil inteiro. [...] Dos estabelecidos recentemente, os sírios representam uma bárbara imigração. Gente de padrão de vida muito inferior ao nosso, de raça e costumes tão outros, são esses homens, além disso, na sua grande maioria, simples parasitas transitórios das terras onde estacionam. Só fazem comércio e o mesquinho comércio próprio do mascate, com todas as suas características deprimentes e retrógradas. Quando enchem o mealheiro, levantam acampamento, tendo expelido da localidade aqueles a quem venceram na concorrência, mas que de fato socialmente não substituíram, porque não se assimilaram à terra, onde, quase todos, se conservam segregados, convivendo exclusivamente entre si. [...] Mas o que acontece é que as localidades em que eles chegam a predominar nada ganham com o êxito de tais adventícios. Eles acabam na maior parte das vezes por deixar o seu posto, mas a um outro patrício, que vem continuar a drenar nossos recursos e atrasar ainda mais a nossa civilização. (VITOR, 1996, p. 19-20).

De acordo com Balhana, Machado e Westphalen (1969) os sírios e

libaneses chegaram ao Paraná a partir de 1890. No entanto, afirma Siqueira

(2002), a maior parte dos imigrantes chegou ao estado no início do século XX,

com o desenvolvimento da economia cafeeira. A vinda dos sírio-libaneses para o

Paraná ocorreu pelo exterior, via Porto de Paranaguá, bem como por

contingentes internos, vindos de outros estados. A inserção dos sírios e

libaneses no estado não difere da do resto do país, sendo que foi através do

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ofício de mascate que os imigrantes adentraram o Paraná. Na Tabela 3,

apresentamos a distribuição dos imigrantes sírio-libaneses por estado no Brasil.

De acordo com os dados, o Paraná detinha a sexta maior colônia tanto em 1920

quanto em 1940, com 1625 imigrantes e 1576 imigrantes respectivamente, atrás

somente de São Paulo, Minas Gerais, Distrito Federal, Rio de Janeiro e Rio

Grande do Sul.

TABELA 3 – Distribuição da População Sírio-libanesa por Estados (1920-1940)

1920 1940 Estado Número % Número

Brasil 50246 100 46614 Acre 627 1,2 230 Alagoas 6 - 20 Amazonas 811 1,6 461 Bahia 1206 2,4 947 Ceará 268 0,5 190 Distrito Federal 6121 12,2 6510 Espírito Santo 810 1,6 636 Goiás 528 1,1 659 Maranhão 625 1,2 305 Mato Grosso 1232 2,5 1066 Minas Gerais 8684 17,3 5902 Pará 1460 2,9 848 Paraíba 60 0,1 41 Paraná 1625 3,2 1576 Pernambuco 355 0,7 270 Piauí 188 0,4 85 Rio de Janeiro 3200 6,4 2541 Rio Grande do Norte 55 0,1 69 Rio Grande do Sul 2565 5,1 1903 Santa Catarina 488 1,0 377 São Paulo 19285 38,4 23948 Sergipe 47 0,1 26 FONTE: KNOWLTON, 1961, p. 68.

“Os árabes instalaram-se primeiramente em Paranaguá, ocupando,

depois, as cidades de Londrina, Maringá, Curitiba, Araucária, Lapa, Ponta

Grossa, Guarapuava, Serro Azul e Foz do Iguaçu.” (Priori et al, 2012, p. 41).

Esta última de maior presença de imigrantes nos dias de hoje. Um enorme

crescimento populacional foi ocasionado pela construção da usina de Itaipu.

Tendo sido transformada em importante centro comercial, a cidade cresceu

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301% entre os anos de 1970 e 1980 e mais 54% nos quinze anos seguintes,

atingindo a população de 210 mil habitantes em 1995. Graças a esse

crescimento, as oportunidades geradas no comércio local atraíram imigrantes,

dentre eles os sírios e libaneses. (NASSER FILHO, 2006, p. 61). Fica clara a

importância dos imigrantes de origem sírio-libanesa em Foz do Iguaçu quando

observamos que, tratando-se da população muçulmana do Brasil a partir do

censo de 1991, o Paraná detém a segunda posição no ranking, com 4360

muçulmanos, ficando atrás apenas de São Paulo, que detinha 9884

muçulmanos. Desse total de 4360 pessoas, Foz apresentava o contingente de

1873 pessoas – o maior do estado – ao passo que Curitiba detinha 1006

muçulmanos (WANIEZ, BRUSTLEIN, 2001, p. 164). Oliveira (2015) afirma ainda

que os grupos chegados mais recentemente, nos anos 1980 e 1990, foram

atraídos pela expansão do comércio na região da tríplice fronteira, paralelo à

rede de conterrâneos e parentes que citados no primeiro capítulo. “Chegados

por meio das redes de contato entre patrícios já estabelecidas, a Tríplice

Fronteira parece ter sido uma excelente oportunidade para quem buscava uma

nova casa, com trabalho disponível e retorno financeiro rápido.” (OLIVEIRA,

2015, p. 35).

A vinda dos imigrantes sírios e libaneses para o Brasil não pode ser

entendida como uma “empreitada de aventureiros desgarradas do tecido social

na terra de origem.” (TRUZZI, 1997, p. 28). Ou seja, o processo imigratório não

ocorria desprendido de uma rede de familiares e conterrâneos, de modo que

imigrantes já estabelecidos auxiliariam os recém-chegados. Essa rede de

familiares e conterrâneos permitiu aos imigrantes o reestabelecimento de

ligações que ocorriam no território de origem, de modo que os imigrantes

buscavam criar uma vida comunitária com outros indivíduos que compartilhariam

a mesma cultura.

A Curitiba dos anos 1940 e 1950 viu sua população crescer

significativamente, atingindo a marca de 361.309 habitantes. A região central de

Curitiba favorecia o estabelecimento de atividades tipicamente urbanas, de

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modo que a concentração populacional no centro tornava a região um

importante mercado consumidor, o que favorecia a atividade que os imigrantes

sírio-libaneses vieram a exercer: o comércio. À exemplo da rua 25 de Março ou

da região do Saara, em São Paulo e no Rio de Janeiro, por exemplo, foram as

regiões da Praça Tiradentes, da Praça Genoroso Marques e, posteriormente da

Rua Riachuelo, as escolhidas preferencialmente pelos imigrantes sírio-

libaneses, que se faziam presentes desde o final do século XIX6 e

progressivamente aumentaram sua inserção nas primeiras décadas do século

XX:

Trabalhando inicialmente como vendedores ambulantes, os sírio-libaneses, à medida que conseguiam fazer seu ‘pé-de-meia’, estabeleceram-se com lojas de tecidos e armarinhos em prédios alugados na Praça do Mercado e na Tiradentes. Mais tarde passaram a comprar e a construir novos imóveis na Praça Generoso Marques e Rua Riachuelo. Identificados genericamente como turcos, a presença crescente deste grupo étnico no comércio da região fez com que ela passasse a ser conhecida como Turquia Curitibana. (BOSCHILIA, 1996, p. 20).

6 De acordo com Boschilia (1996), já em 1892 dois mascates sírio-libaneses solicitaram licença para

vender mercadorias dentro do Mercado Municipal, porém tiveram permissão para praticar o comércio

apenas na área externa do Mercado.

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FIGURA 2 – Praça Tiradentes, Praça Generoso Marques e Rua Riachuelo: região de instalação

dos sírio-libaneses e Curitiba

FONTE: Google Maps. Acesso em 27/01/2016.

A presença urbana dos sírios e libaneses na região central da cidade

pode ser percebida na Tabela 4, que aponta o domicílio declarado dos

imigrantes que obtiveram naturalização entre os anos de 1954 e 1983.

TABELA 4 – Domicílio dos Imigrantes Sírio-libaneses que Obtiveram Naturalização (1954-1983)

Bairro Total Porcentagem Ahú 1 3,1 Batel 1 3,1 Cajuru 1 3,1 Centro 20 62,5 Centro Cívico 3 9,4 Mercês 2 6,2 Rebouças 1 3,1 Santa Quitéria 1 3,1 Tingui 1 3,1 Vila Guaíra 1 3,1 Total 32 100 FONTE: Arquivo Público do Paraná – Livros de Registro de Naturalização do Departamento do

Interior e Justiça do Paraná. apud Nasser filho, 2006, p. 76.

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Na Praça Tiradentes, um grande número de comerciantes sírios e

libaneses se estabeleceu a partir da virada do século XIX para o século XX

(BERBERI, SUTIL, 1997, p. 52). Atuaram em grande parte no ramo de tecidos,

mas também comerciavam os mais diversos artigos.

Foi inclusive na Praça Tiradentes que um fato de grande relevância no

que concerne à xenofobia para com os sírio-libaneses ocorreu: a chamada

“Guerra do Pente”, na qual um indivíduo, ao comprar um pente de uma loja de

um sírio, exigiu uma nota fiscal. Ao recusar o pedido do cliente, os ânimos se

exaltaram e ambos entraram em confronto físico, formando uma aglomeração de

transeuntes, causando uma revolta geral que ocasionou num grande quebra-

quebra e numa grande manifestação de caráter xenófobo.

Ainda na Praça Tiradentes, mais de 200 pessoas, continuaram as depredações, atingindo outras lojas e bares localizados naquele logradouro para percorrer, em seguida, em grupos separados, várias ruas a procura de casas comerciais de “sírios e libaneses, atacando-as com pedras, paus, garrafas e outros projéteis sob gritos incitadores, destruindo, também, bancas de jornal e de frutas.” (BORGES, 2010, p. 23).

Além da Praça Tiradentes, o comércio das regiões da Praça Genoroso

Marques e da Rua Riachuelo foi ocupado por comerciantes sírio-libaneses,

como aponta Bischilia (1996). Os imigrantes começaram a ocupar a região do

Largo do Mercado (na Praça Genoroso Marques), ao final do século XIX,

quando passaram a dividir espaço com outros comerciantes luso-brasileiros,

alemães e italianos.

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FIGURA 3 – O Palacete Riachuelo, construído pelo imigrante sírio Jorge Fatuch (1929)

FONTE: Acervo Casa da Memória

Já na Rua Riachuelo, a partir dos anos 1950 – posterior à ocupação do

Largo do Mercado por sírios e libaneses – as lojas passaram a ser ocupadas por

sírio-libaneses, que já faziam comércio nas imediações. Esses imigrantes

atuavam preferencialmente no ramo de fazendas: roupas, armarinhos e tecidos.

FIGURA 4 – A Região da Praça Genoroso Marques em 1906.

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Fonte: Acervo Casa da Memória. Coleção Júlia Wanderley

A presença dos sírios e libaneses no Paraná se faz presente ainda em

instituições criadas com o objetivo de integrar a colônia no Brasil. De acordo

com Siqueira (2002), por sofrerem preconceitos, os sírio-libaneses sentiam a

necessidade de organização em associações culturais ou esportivas, integrando,

confraternizando e revivendo antigas tradições da comunidade.

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4 OS SÍRIOS E LIBANESES NA POLÍTICA PARANAENSE

O interesse pela política por parte da colônia sírio-libanesa surgiu na

vontade de acompanhar os desdobramentos políticos no Líbano e na Síria,

principalmente no que diz respeito à perspectiva de soberania dos países com a

derrota dos turcos na Primeira Guerra Mundial. Além disso, muitos dos parentes

e amigos dos que vieram permaneceram na terra de origem, o que fortalecia a

atenção para com os acontecimentos políticos (TRUZZI, 1997, p. 149).

Na época em que a Síria e o Líbano se achavam sob o jugo turco, os

acontecimentos políticos na terra natal em geral atuavam como

elemento de coesão da colônia, ficando acima de suas diferenças

internas. De certa forma, os turcos representavam um inimigo comum,

amainando temporariamente as divisões entre os grupos. Porém, já

sob o regime de protetorado francês instaurado no pós-guerra, as

circunstâncias da vida política do Oriente tenderam a suscitar na

colônia interpretações divergentes entre as facções de credo religioso e

de origem regional distintos (TRUZZI, 1995, p. 29).

De todo modo, ao mesmo tempo em que as posições a respeito dos

acontecimentos na terra de origem se tornavam menos unânimes, o peso

desses também passava a diminuir. Até os anos 1940 a atividade política era

muito distante uma vez que a preocupação com as estratégias de sobrevivência

no novo país se faziam mais importantes. Porém, para parcelas da elite colonial

já devidamente enraizadas no Brasil as oportunidades políticas passavam ser

importantes (TRUZZI, 1995, p. 150). De acordo com Fausto (1995, p. 26), com o

golpe de Getúlio Vargas instaurando o regime do Estado Novo em 1937, a

antiga elite política foi golpeada com o fechamento de seus partidos tradicionais.

Com a redemocratização em 1945, a recomposição da elite política abriu espaço

também para os descendentes de imigrantes. De fato, os políticos sírio-

libaneses que a partir daí iniciariam sua trajetória política não faziam parte de

famílias de capital político tradicional no Paraná, mas sim representavam novos

personagens que dariam início a seu capital político recentemente, como afirma

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Oliveira (2001) sobre Elias Karam, que foi prefeito interino de Curitiba e José

Richa que foi senador do Paraná.

4.1 OS DESCENDENTES DE SÍRIOS E LIBANESES NA POLÍTICA

PARANAENSE (1947-1982)

Em 1947 os paranaenses foram às urnas pela primeira vez após a

redemocratização para eleger governador, senadores e suplentes e deputados

estaduais. Moysés Lupion foi eleito governador pela coligação UDN-PSD-PTB-

PRB. Nessas mesmas eleições, à Primeira Legislatura da Assembleia Legislativa

do Paraná, um político de ascendência sírio-libanesa foi eleito7, o comerciante e

empresário natural de Palmeira, no interior do Paraná, João Chede. Chede

nasceu em 12 de março de 1904. Não concluiu o curso de Direito pela

Faculdade de Direito de São Paulo, dedicando-se ao comércio e à indústria

(NICOLAS, 1954, p. 452). O deputado havia sido vereador e prefeito do

município de Palmeira e, no pleito de 1947, foi o candidato mais votado pelo

Partido Social Democrático (PSD), com 3265 votos. No primeiro biênio da

Primeira Legislatura da Assembleia (1947 – 1948) Chede foi ainda o presidente

da assembleia constituinte e seria reeleito em mais duas oportunidades, nos

pleitos de 1951 e de 1955.

Nas eleições de 1950 alguns padrões de recrutamento políticos já podem

ser observados, bem como o aumento significativo no número de parlamentares

sírio-libaneses. Pode-se dizer que há dois períodos no que diz respeito aos

meios de recrutamento dos parlamentares da colônia no Paraná, um deles que

vai até 1982, já com a abertura política e a retomada do pluripartidarismo, e

outro a partir daí, em que novos nomes e novos capitais políticos se fazem

importantes. Em 1950, além da reeleição de João Chede, Chafic Curi ganharia a

disputa pela primeira vez, sendo eleito à Segunda Legislatura da Assembleia

Legislativa pelo Partido Republicano (PR). Curi nasceu em 29 de junho de 1915

7 Pedro Kaled e Hedel Jorge Azar também seriam eleitos como suplentes, o primeiro à Assembleia

Legislativa e o segundo à Câmara Municipal.

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no município de Rio Azul, interior do Paraná. Bacharel em Direito pela

Universidade Federal do Paraná, Chafic Curi foi advogado e professor em Ponta

Grossa (NICOLAS, 1954, p. 543). Na Assembleia foi Primeiro Secretário da

mesa da Comissão Executiva em 1951. Seria ainda reeleito no pleito de 1954, à

Terceira Legislatura da Assembleia Legislativa do Paraná.

Além da reeleição de João Chede e da eleição de Chafic Curi para a

Assembleia Legislativa, dois políticos de ascendência sírio-libanesa foram

eleitos na Câmara Municipal de Curitiba: Washington Mansur, pelo Partido

Trabalhista Brasileiro (PTB), com 657 votos, e Elias Karam, pela União

Democrática Nacional (UDN), com 393 votos (REHBEIN, 2008, p. 54), que viria

a se tornar um dos mais representativos políticos da colônia no Paraná.

Formado em Direito pela Universidade Federal do Paraná, Karam foi advogado,

professor, jornalista e escritor. Ainda durante a faculdade, foi passar as férias em

São Paulo em 1932 com alguns colegas, dentre eles Ney Leprevost, que viria a

ser Prefeito de Curitiba em 1948. Por coincidência, ao voltarem para Curitiba

estourava a Revolução Constitucionalista de 1932 contra o Governo de Getúlio

Vargas e Karam alistou-se nas forças que buscavam derrubar o governo,

passando 70 dias em batalha. Graças a experiência, lançou um de seus

diversos livros, “Um Paranaense nas Trincheiras da Lei” (1933) (SANTOS

FILHO, 1979, p. 202).

Elias Karam foi também professor em diversas instituições do estado,

dentre elas a Pontifícia Universidade Católica do Paraná, onde ministrou aulas

para o curso de Jornalismo. Integrou durante anos o corpo de redação do jornal

Gazeta do Povo, e foi ainda, em 1951, diretor da Imprensa Oficial do Estado do

Paraná. É também membro da Academia Paranaense de Letras, e dirigiu por 4

ocasiões a União Sírio-libanesa do Paraná, sendo orador da instituição por 39

anos (SANTOS FILHO, 1979, p. 205). Como vice-presidente da Câmara

Municipal de Curitiba, foi Prefeito interino em 1958 durante o período de eleições

majoritárias em Curitiba (REHBEIN, 2008, p. 92). Karam ainda seria reeleito em

mais três oportunidades, no pleito de 1954, quando obteve 943 votos, e em

1959, quando foi o único candidato eleito pela UDN, e obteve 1344 votos

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REHBEIN, 2008, p. 88). Foi candidato à deputado estadual nas eleições de

1962, porém não foi eleito, e, em 1963, foi novamente reeleito à Câmara

Municipal, dessa vez com 1740 votos, sendo que nesse mesmo ano foi

presidente da mesa da Comissão Executiva (REHBEIN, 2008, p. 106).

Nas disputas de 1954 para a Câmara Municipal e para a Assembleia

Legislativa seriam reeleitos, à primeira, os deputados Chafic Curi e João Chede,

e à segunda o vereador Elias Karam8. Além das reeleições, venceriam a disputa

pela primeira vez à Assembleia Legislativa outros dois membros da colônia. O

primeiro, Júlio Farah, industrial e jornalista, formado pela Academia Brasileira de

Comércio de São Paulo, nascido em Paranaguá em 24 de agosto de 1915.

Trabalhou nos jornais “O Dia” e “O Diário do Paraná”, ambos de Curitiba.

Exerceu a função de Prefeito Municipal de Ibaiti e de Ribeirão do Pinhal de 1947

à 1951. Durante seu mandato como deputado foi presidente da Comissão de

Finanças e Orçamento em 1956, e presidente da Comissão de Instrução Pública

em 1957. (NICOLAS, 1954, p. 556).

O segundo deputado eleito seria Aníbal Khury, que iniciara no âmbito

estadual uma longa e intensa carreira parlamentar. Aníbal é filho do imigrante

libanês Salomão Khury que emigrou ao Brasil em 1912 estabelecendo-se em

São Paulo. Como parte significativa dos imigrantes sírio-libaneses, conseguiu

uma razoável fortuna com a venda de armarinhos fabricados pela sua própria

fábrica. Salomão perdeu praticamente tudo que detinha fruto de um aval que

concedera ingenuamente, e veio à falência na década de trinta. Migrou ao

Paraná na tentativa de reiniciar a vida no Brasil. Estabeleceu-se no final da linha

férrea à época, na cidade de União da Vitória.

Habituada aos confortos da cidade grande e ao convívio com os

patrícios de São Paulo, Wadia [sua esposa, Wadia Kassab Khury]

nunca se adaptou à região que lhe parecia hostil, nem aos costumes

do povo, com os homens armados, as mulheres mal tratadas e mal

vestidas e os filhos sem modos e sem horizontes. Salomão ao

contrário, sentiu-se em casa. Fez muitos amigos e logo começou a se

destacar como comerciante e industrial madeireiro, dono de serraria e

8 Elias Jorge Nassar também fora eleito, porém como suplente.

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fabrica de alcatrão de nó de pinho [...] (HELLER, NOVAES E LALA,

2000, p. 26).

Aníbal Khury nasceu no município vizinho ao que seus pais vieram a se

instalar, Porto União, em Santa Catarina, em 18 de junho de 1924. Aníbal

chamou a atenção de um amigo frequentador da casa e do armazém de

Salomão, Algacyr Guimarães, que na metade final da década de 1940 era

presidente do diretório da UDN e também engenheiro pela Rede Viação Paraná.

Algacyr acreditava que Aníbal poderia seguir os mesmos passos do pai,

Salomão, que à época fazia parte da elite política regional da região de União da

Vitória: era presidente da Colônia Sírio-Libanesa, vereador e presidente da

Câmara de Porto União e líder do PSP (Partido Social Progressista) Algacyr

convidou-o a participar da ala jovem da UDN, colocando-o também como

candidato à vereador no município (HELLER, NOVAES E LALA, 2000, p. 41;

COSTA, 1995, p. 611).

Nesse contexto, aos 25 anos, Aníbal Khury se elegeria vereador de União

da Vitória. No pleito de 1950 à Assembleia Legislativa, Aníbal ficou na primeira

suplência, porém não lhe foi dada a chance de assumir. Muitos o colocavam

como candidato já eleito, mas um acidente de carro atrapalhou sua campanha.

Já em 1954, seria eleito pela primeira vez deputado estadual, sendo o mais

votado da bancada da UDN. Costa (1995) afirma que:

Na história da Assembleia Legislativa do Paraná, desde sua criação, no

distante ano de 1854, não são muitos os exemplos de parlamentares

que consagraram sua vida, acima de tudo, à atividade legislativa, como

detentores de numerosos mandatos e de funções diretivas internas

com o devotamento que o deputado Aníbal Khury tem relevado em

quase quarenta anos de atuação (1995, p. 617).

De fato, Aníbal Khury viria a se tornar um dos parlamentares mais

importantes na história da Assembleia. Foi reeleito em 1958 e 1962 pela UDN e

em 1966 pela ARENA. Seu mandato foi cassado em 1969, e voltaria à cena

política estadual somente em 1983, já pelo PMDB, sendo que seria reeleito

ainda em mais 4 oportunidades, em 1986, 1990, 1994 e 1998. Ocupou o

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exercício de governador do Paraná por diversas ocasiões bem como o de

presidente da Assembleia Legislativa. De acordo com Oliveira (2001), Aníbal

Khury representa um dos melhores exemplos de carreira política desenvolvida a

partir de uma trajetória imigrante. “Casamentos nas famílias tradicionais da

classe dominante e da política paranaense colaboram na reprodução de

estruturas de poder e de parentesco” (OLIVEIRA, 2001, p. 353). Aníbal casou-se

com Niva Sabóia, cuja tradicional família estruturava a política na região de Rio

Negro. Seu irmão Jorge Curi também viria a ser deputado, em 1962 pela mesmo

UDN, sendo reeleito em 1966 pela ARENA. Teve, assim como o irmão, o

mandato cassado em 1969. Além disso, o neto de Aníbal Khury, Alexandre Curi,

que é filho de Aníbal Khury Júnior e de Jandira Albuquerque Maranhão – filha do

desembargador Guilherme de Albuquerque Maranhão, seria eleito vereador nas

eleições de 2000 (OLIVEIRA, 2001, p. 353).

Nos pleitos de 1958 (Assembleia Legislativa) e 1959 (Câmara Municipal),

foram reeleitos, à primeira, Aníbal Khury, e, à segunda, Elias Karam. Na Câmara

Municipal, ainda, Washington Mansur, que havia sido vereador na 2ª Legislatura,

foi novamente eleito, dessa vez com 921 votos, também pelo PDC (Partido

Democrata Cristão). Já na Assembleia Legislativa, três parlamentares da colônia

sírio-libanesa seriam pela primeira vez eleitos: Elias Nacle, João Mansur e Jorge

Miguel Nassar.

Elias Nacle nasceu em Borebi, interior de São Paulo, em 27 de janeiro de

1928, e foi eleito deputado estadual pelo PTB. É diplomado bacharel em direito

pela Universidade Federal do Paraná. Nacle foi comerciante e bancário, além de

delegado. Ainda seria eleito deputado federal no pleito seguinte, em 1962

(NICOLAS, 1954, p. 584) João Mansur, também eleito pela primeira vez ao

parlamento em 1958 pelo mesmo PTB, nasceu em Irati, interior do Paraná em

22 de julho de 1923. Antes das eleições estaduais, foi vereador por duas

oportunidades do mesmo município, e depois, foi eleito prefeito da cidade.

Mansur teve uma longa carreira parlamentar, sendo reeleito em praticamente

todos os pleitos seguintes – 1962, 1966, 1970 e 1978, quarta, quinta, sexta e

oitava legislaturas, respectivamente (NICOLAS, 1954, p. 587). O terceiro

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deputado da colônia vencedor da disputa foi Jorge Miguel Nassar. Nassar

nasceu em 11 de maio de 1925 em Curitiba e foi eleito pelo PTB ao pleito. O

deputado, de acordo com Costa (1995), “seria um dos primeiros, juntamente

com Arthur de Souza, a usar os meios radiofônicos como instrumento de

promoção política” (1995, p. 583). Nassar foi repórter de rádio e posteriormente

fundou o programa popular “A Voz do Povo”. Adquiriu tamanha popularidade

que fora reeleito com a maior votação entre os deputados do Paraná em mais

duas oportunidades, nas disputas de 1962 e 1966, além da disputa de 1958.

As eleições de 1962 para a Assembleia Legislativa e para a Câmara

Federal e 1963 para a Câmara Municipal seriam as últimas antes do golpe

militar de abril de 1964 no Brasil. Resultante do golpe, no dia 28 de outubro de

1965, foi baixado o Ato Institucional número 2 (AI-2), extinguindo os partidos

políticos já existentes e instaurando no país um regime bipartidário, nos moldes

do sistema norte-americano, criando as “organizações provisórias” ARENA

(Aliança Renovadora Nacional) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro),

sendo a primeira de apoio ao governo militar e a segunda de caráter

oposicionista, porém inofensiva ao regime (REHBEIN, 2008, p. 119) Essas

eleições – como afirmado, as últimas antes do golpe militar e da instauração do

bipartidarismo no Brasil – bem como os pleitos seguintes, de 1966 à Assembleia

Legislativa e à Câmara Federal e 1968 à Câmara Municipal, marcariam as

legislaturas em que um número muito expressivo de parlamentares de origem

sírio-libanesa são eleitos. Em 1962, sete membros da colônia seriam eleitos,

sendo 3 para a Assembleia Legislativa e quatro para a Câmara Federal. Já em

1963 três políticos pertencentes à colônia foram eleitos à Câmara Municipal. Em

1966, a primeira disputa dentro do sistema bipartidário imposto pela ditadura

militar, seis dos eleitos deputados estaduais eram descendentes de sírio-

libaneses, bem como dois dos deputados federais eleitos pelo Paraná. Em 1968,

para a Câmara Municipal de Curitiba, novamente três foram eleitos.

Nas eleições de 1962 à Quinta Legislatura da Assembleia Legislativa do

Paraná seriam reeleitos Aníbal Khury, João Mansur e Jorge Miguel Nassar. Elias

Nacle, que fora deputado estadual na legislatura anterior seria dessa vez eleito

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para à Câmara Federal. Além de Nacle, venceriam pela primeira vez a disputa

Wilson Chedid, Jorge Curi e José Richa. Chedid nasceu em primeiro de abril de

1922 na cidade de Curitiba e foi eleito pelo PTB. É graduado em direito pela

Universidade Federal do Paraná. Jorge Curi seria eleito pela UDN – irmão de

Aníbal Khury, e José Richa pelo PDC. No pleito de 1966, José Richa e Jorge

Curi foram reeleitos à Câmara Federal.

Richa, nascido em São Fidélis, no Rio de Janeiro, em 11 de novembro de

1934, é filho dos libaneses-cristãos Hane Miguel Richa e Assad Khalil Richa.

Assad passava dificuldades com seu negócio de aluguel de bicicletas para

turistas que visitavam São Fidélis e rumou com a família ao Paraná atrás de

parentes de Hane. Se estabeleceram em Corujá, entre os municípios de

Carlópolis e Joaquim Távora e abriram um boteco o qual deram o nome de Casa

Richa. (ARRUDA E TEIXEIRA, 2010, p. 20). Como era comum entre os

imigrantes sírio-libaneses, investia-se muito na educação dos filhos, o que levou

José à Curitiba para cursar o terceiro científico no Colégio Estadual do Paraná, e

posteriormente entrou no curso de Odontologia da Universidade Federal do

Paraná, onde deu início à sua militância no movimento estudantil. O jornalista

Danilo Cortes, que exerceu todas as funções do “Diário do Paraná”, de 1955 a

1983, foi o responsável a introduzir Richa na política estudantil (ARRUDA E

TEIXEIRA, 2010, p. 31).

Na década de 50, a esquerda, cujos integrantes eram chamados

genericamente de comunistas, dominava a UPE – União Paranaense

dos Estudantes, posição que Danilo combatia em sua coluna como

acadêmico de Direito da Universidade federal do Paraná – a tradicional

UFPR. Richa, estudante de Odontologia, que na época compunha, com

Farmácia e Bioquímica, a Faculdade de Medicina, liderava o

movimento para transformar Odonto em faculdade (ARRUDA E

TEIXEIRA, 2010, p. 31).

Richa viria a ser eleito secretário da UPE em 1957 como parte do grupo

de Danilo Cortes, mesmo que o presidente eleito da entidade fosse Nobutero

Matsuda, da chapa esquerdista. Em 1958, nas eleições seguintes da UPE,

Richa foi convidado para concorrer à presidência. Relutou de início graças à

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saúde debilitada de sua mãe, mas veio a aceitar com a condição de lhe

oferecerem um emprego no “Diário do Paraná”. Todos os cargos na UPE foram

eleitos pela chapa da Richa, que tinha como promessa em sua Carta de

Princípios “lutar por todos os meios para impedir a infiltração esquerdista no

meio universitário e, com garra adulta, o imperialismo soviético” (Arruda e

Teixeira, p. 33). Na presidência da UPE, Richa se aproximou de Ney Braga, que

em 1954 havia vencido a disputa como o primeiro prefeito de Curitiba eleito pelo

voto direto, derrotando Wallace Tadeu de Melo e Silva, pai do ex-prefeito,

governador e hoje senador Roberto Requião. Foi primeiramente nomeado para

trabalhar no Departamento Odontológico de Curitiba, ajudando Ney Braga na

campanha para governador em 1960. Ao assumir o governo, colocou José Richa

para trabalhar no seu gabinete. Em 1962 seria eleito pela primeira vez deputado

federal pelo Paraná.

Juntamente com Aníbal Khury, viria a se tornar um dos políticos de

ascendência sírio-libanesa de maior expressão no estado do Paraná, além de

exemplificarem bem a trajetória das famílias imigrantes árabes. Richa cumpriu

dois mandatos como deputado federal, primeiro em 1962 e em 1966, já pelo

MDB. Em 1970 Richa tentou a candidatura ao senado “no sacrifício”, como

afirmam Arruda e Teixeira (2010, p. 39), porém, como único candidato do MDB

perdeu para os dois candidatos da ARENA, Accioly Filho e Matos Leão. Dois

anos depois, foi eleito prefeito de Londrina, interior do Paraná. Em 1978 seria

eleito senador pelo Paraná e, em 1982, governador. Foi novamente eleito

senador no pleito de 1986, deixando o agora PMDB em 1988 para ajudar a

fundar o PSDB, cumprindo mandato até 1995. Seu filho, Carlos Alberto Richa, o

Beto Richa, seria eleito e reeleito deputado estadual em 1994 e 1998. Em 2004

foi eleito prefeito de Curitiba, sendo reeleito em 2008. Em 2010 e 2014 foi eleito

e reeleito governador do estado do Paraná, num processo de reprodução das

estruturas de poder, também sob uma trajetória imigrante, como a trajetória da

família Khury.

Nas disputas de 1963, à Quinta Legislatura da Câmara Municipal foi

reeleito Elias Karam e eleitos Elias Jorge Nassar, pelo PTB, com 1502 votos, e

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Acyr Hafez José, pelo PTN, com 1707 votos, ambos naturais de Curitiba

(REHBEIN, 2008, p. 106). No pleito seguinte, em 1968, Elias Karam sairia de

cena e somente Hafez José seria reeleito. Venceria também a disputa outro

“patrício”: Miguel Nasser Filho. Os dois eleitos pela ARENA, sendo o primeiro

com 7777 votos, e o segundo com 2630 votos (REHBEIN, 2008, p. 147).

A partir das eleições de 1966, afirma Costa (1995):

A Assembleia Legislativa do Paraná passa a ter uma composição de

forças extremamente desequilibrada e visivelmente heterogênea, uma

vez que membros de vários partidos antes distintos se agrupam, quer

na ARENA, quer no MDB (1995, p. 591).

De fato, no pleito de 1966 à Sexta Legislatura da Assembleia Legislativa,

dos seis políticos de origem sírio-libanesa – número recorde, diga-se de

passagem – Aníbal Khury, João Mansur e Jorge Miguel Miguel Nassar, que

integravam a UDN, o PDC e o PTB, respectivamente, se filiaram à ARENA.

Ainda seriam pela primeira vez eleitos os deputados Abrahão Miguel, Mamédio

Seme Scaff e Fuad Nacli, os três também pelo partido da ditadura.

Abrahão Miguel nasceu em Curitiba em 5 de julho de 1928 e é graduado

em direito pela Universidade Federal do Paraná. Foi advogado no município de

Astorga, interior do Paraná, onde exerceu também o cargo de vereador.

(NICOLAS, 1954, p. 644) Seme Scaff, também bacharel em direito pela

Universidade Federal do Paraná, nasceu em 13 de maio de 1943 em Botucatu,

interior de São Paulo, foi vereador por dois mandatos, vice-prefeito e prefeito de

Araruva, atual Marilândia do Sul, interior do estado. Por último, Fuad Nacli, que

dentre todos os parlamentares pesquisados foi o único a ter nascido

efetivamente fora do Brasil, na cidade de Majdal al-Shams, na Síria. Como

grande maioria dos imigrantes sírios e libaneses, antes de vir ao Brasil era

agricultor em seu país. Sua carreira política teve início como como vereador no

interior do Paraná, no município de Centenário do Sul. Nacli teve uma extensa

carreira parlamentar: foi eleito novamente em 1970, 1974, 1978 e 1982 às

sétima, oitava e nona legislaturas, respectivamente.

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Nas eleições seguintes, de 1971, quatro parlamentares seriam eleitos à

Assembleia Legislativa, sendo dois veteranos: João Mansur e Fuad Nacli. Acyr

Hafez José, que exercera dois mandatos como vereador de Curitiba foi pela

primeira vez eleito deputado estadual. Além deles, João Calil Fadel, médico

natural de Jaguariaíva, interior do Paraná, foi pela primeira vez eleito. Em 1975

foram reeleitos Fuad Nacli e João Calil Fadel – dessa vez como suplente – à

Assembleia Legislativa, e Ary Kffuri venceria a disputa à Câmara Federal pela

primeira vez, também como suplente, pela ARENA. Kffuri nasceu em Irati em 10

de outubro de 1929 e foi reeleito por mais duas legislaturas, em 1979 e em

1982, a primeira também pela ARENA e a segunda já pelo PDS. Em 1979, além

da reeleição de Kffuri à Câmara Federal, Fuad Nacli e João Mansur, que na

última legislatura não havia sido eleito, venceram a disputa para a Assembleia

Legislativa. Além disso, José Richa, depois de ter cumprido mandato de prefeito

de Londrina foi eleito senador pelo Paraná.

Alguns aspectos são importantes no que diz respeito aos parlamentares

de origem sírio-libanesa nesse primeiro período, que vai até 1982. Truzzi (1995),

ao analisar a composição parlamentar dos políticos de ascendência sírio-

libanesa em São Paulo destaca a importância da Faculdade de Direito do Largo

São Francisco da Universidade de São Paulo. É interessante notar como tal

padrão, mesmo que em menor grau, pode ser percebido ao analisarmos os

políticos “patrícios” no Paraná. Dos 22 membros da colônia que exerceram

mandato no período de 1947 à 1982, 6 eram bacharéis em direito pela

Universidade Federal do Paraná, ou seja, 27%. São eles: Chafic Curi, Elias

Karam, Elias Nacle, Wilson Chedid, Abrahão Miguel e Mamédio Seme Scaff,

além de João Chede, que não concluiu o curso de Direito pela Universidade de

São Paulo e de Acyr Hafez José, que cursou direito pela Faculdade de Direito de

Curitiba. Se o grau de bacharel em direito não pode necessariamente ser

considerado um padrão de recrutamento entre os políticos “patrícios” pode ao

menos indicar como se deu o processo de ascensão social dos imigrantes sírio-

libaneses. Dos parlamentares desse primeiro período grande parte – vide os

irmãos Aníbal Khury e Chafic Curi e José Richa – eram filhos de imigrantes que

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há pouco haviam chegado ao Brasil como mascates. O trajeto desde a

mascateação, passando pelo pequeno comércio até a eventual instalação de

indústrias representa a rápida ascensão de boa parte dos imigrantes, pelo

menos para uma parcela mais bem posicionada deles (TRUZZI, 1997, p. 123).

Essa rápida e eficiente ascensão socioeconômica proporcionou aos sírios e

libaneses um grande investimento na educação dos filhos, habilitando-os a

buscar novas alternativas profissionais para além do seguimento no comércio

familiar. Por um lado, isso significava que muitos dos imigrantes já estabelecidos

não queriam para os filhos o mesmo sofrimento que tiveram no começo de suas

vidas no Brasil, por outro, afirma Truzzi (1997):

Sociologicamente falando, a extrema relevância dessa passagem

reside precisamente no fato de que os filhos da colônia que abraçarão

as profissões liberais “limparão o sangue” da etnia, justamente porque

passarão a exercer profissões de valor intrínseco mais universal, de

saber mais legitimo do que o comércio. O comércio pode trazer muito

dinheiro, mas o título de doutor traz um reconhecimento da sociedade

como um todo dificilmente atribuível ao primeiro (1997, p. 143).

Desse modo, acreditamos, o diploma pode ser pensado como mais

rentável aos postos de mando do que somente a presença no comércio.

Outro aspecto importante diz respeito à inserção interiorana dos políticos

de ascendência sírio-libanesa. Dos 13 membros da colônia que exerceram cargo

na Assembleia Legislativa do Paraná no período, 8 antes exerciam atividades no

legislativo municipal, sendo 7 no interior e um na própria capital, como é

observado no Quadro 2.

QUADRO 2 – Parlamentares que exerceram cargo político anterior ao mandato na Assembleia

Legislativa do Paraná (1947-1982)

Nome Cargo Político Anterior João Chede Prefeito de Palmeira - PR Aníbal Khury Vereador de União da Vitória - PR Júlio Farah Prefeito de Ibaiti - PR

João Mansur Prefeito de Irati - PR Abrahão Miguel Vereador de Astorga - PR

Mamédio Seme Scaff Prefeito de Araruva - PR (Atual município de Marilândia do Sul – PR)

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Fuad Nacli Vereador de Centenário do Sul - PR FONTE: O Autor

Isso pode ser pensado em primeiro lugar como fruto da dispersão dos

sírios e libaneses, principalmente pela atividade de mascateação. Em segundo,

o surgimento de lideranças locais, fruto do investimento na educação dos filhos

e da grande inserção dos sírios e libaneses no Brasil. De acordo com Truzzi

(1995), esse forte enraizamento social alcançado por boa parte da colônia se

deve em grande medida às características do “meio receptor”, no caso:

Uma sociedade heterogênea e relativamente aberta, em processo de

expansão econômica e mudança, formada por diferentes estratos

sociais pouco consolidados, e que colocava lado a lado brasileiros de

várias gerações, imigrantes de variadas origens, filhos de imigrantes,

descendentes da população negra e mestiça, etc. (TRUZZI, 1995, p.

60)

4.2 OS DESCENDENTES DE SÍRIOS E LIBANESES NA POLÍTICA

PARANAENSE (1982-)

As eleições proporcionais de 1982 foram as primeiras realizadas sob o

novo regime, com a abertura política e a reabertura do pluripartidarismo

(REHBEIN, 2008, p. 210). José Richa seria o governador no período de

transição do governo militar, pelo PMDB, derrotando o ex-prefeito Saul Raiz.

Nas eleições à 9ª Legislatura da Câmara Municipal de Curitiba quatro novos

nomes da colônia seriam pela primeira vez eleitos. O comerciante Aziz Abdalla

Domingos, natural de Rio Azul, interior do Paraná foi eleito pelo PMDB com

6374 votos. Sady Ricardo, graduado em Engenharia Civil pela Universidade

Federal do Paraná, foi professor e jornalista, foi eleito também pelo PMDB, com

4296 votos (REHBEIN, 2008, p. 213). Além de Aziz Abdalla e Sady Ricardo,

Marcos Isfer e Gilberto Daher assumiram como suplentes em 1987. Daher era

engenheiro civil e ocupou o cargo de Secretário de Obras de Maurício Fruet

entre 1983 e 1986. No âmbito estadual, nas eleições para a Assembleia

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Legislativa, dois nomes já conhecidos foram eleitos. Aníbal Khury voltaria à

Assembleia após 15 anos, dessa vez pelo PMDB, e Fuad Nacli seria reeleito

mais uma vez, agora pelo PDS. No âmbito federal, Ary Kffuri, também pelo PDS

seria reeleito.

Na eleição de 1986 à Assembleia Legislativa e à Câmara Federal, bem

como no pleito de 1988 ao legislativo municipal um novo quadro de políticos

“patrícios” seria eleito. José Richa, que fora governador do Paraná de 1982 à

1986 foi dessa vez eleito senador pelo PMDB com praticamente dois milhões de

votos. Na Assembleia Legislativa, além da já importante e marcante figura de

Aníbal Khury, para a 11ª Legislatura seria eleito como suplente o advogado

graduado pela Pontifícia Universidade Católica Renato Adur. Adur nasceu em 10

de setembro de 1948 em São Mateus do Sul, interior do Paraná. Deu início à

sua carreira política coordenando a campanha do então candidato à prefeito

Roberto Requião, em 1985. Assumiu a cadeira em 1989, sendo reeleito no pleito

seguinte, em 1990, quando foi líder de seu partido, o PMDB e líder do

governador Roberto Requião na Assembleia. Seria ainda reeleito em mais uma

oportunidade, em 1994, dessa vez com mais de 33 mil votos. (PORTELA, 2007).

No pleito para à Câmara Federal, foram eleitos Maurício Nasser, o segundo

mais votado das eleições, pelo PMDB, com 95501 votos, além de Alarico Abib,

pelo mesmo PMDB, com 60819 votos. Nasser, natural de Andradina, interior do

estado de São Paulo, graduou-se em Contabilidade pela Universidade Federal

do Paraná e em Economia pela Faculdade de Estudos Sociais do Paraná

(FESP). Foi deputado estadual em apenas uma legislatura, de 1987 à 1991.

Alarico Abib, natural de Andirá, interior do Paraná, exerceu o cargo de Prefeito

do município por duas ocasiões, de 1969 à 1973 e de 1983 à 1986. É graduado

em medicina pela Universidade Federal do Paraná. Os pais de Abib instalaram-

se e participaram da fundação de Andirá, num processo de ascensão de

lideranças locais, como descrito anteriormente.

Na Câmara Municipal de Curitiba, Marcos Isfer, do PFL, fora reeleito, com

3586 votos. Como suplente, Paulo Salamuni, do PMDB, foi convocado em 1991.

Os dois vereadores seriam ainda os únicos da colônia sírio-libanesa a se

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elegerem em 1992. Salamuni começaria aí uma longa trajetória política, que

perduraria até a candidatura à vice-prefeito pela chapa “Curitiba Segue em

Frente”, dos partidos PDT, PRB, PTB, PPS e PV, EM 2014, junto com Gustavo

Fruet, candidato à reeleição na prefeitura. Salamuni é, a partir dos anos 1990,

sem dúvidas o maior representante da colônia sírio-libanesa na Câmara de

Curitiba, à exemplo do que foi Elias Karam nos anos 1950 e 1960.

Me sinto assim, nessa 16ª legislatura, praticamente o único

descendente de árabe aqui e me sinto muito representante, atuo

ativamente em contato com as lideranças religiosas daqui, seja na

mesquita mulçumana seja na igreja ortodoxa, seja na igreja católica.

(PAULO SALAMUNI, 13/12/2016)

Paulo Salamuni é neto de imigrantes libaneses. Seu pai, Riad Salamuni,

nascido em Ponta Grossa, foi professor e o primeiro reitor eleito pela

comunidade da Universidade Federal do Paraná:

O Professor Doutor Riad Salamuni, primeiro reitor eleito na UFPR, era

um homem de uma inteligência raríssima. Falava o árabe fluentemente,

um homem inteligente em todos os aspectos e sentidos, e foi um

político hábil sem mesmo ter disputado qualquer eleição na esfera de

mandatos populares. Se bem que acabou tendo um mandato: foi o

primeiro reitor eleito pela comunidade da UFPR, no ano de 1985, e

governou a universidade de 1986 à 1987. Nessa época, salvo engano,

em que o pai foi reitor, foi contemporâneo, por exemplo: José Richa,

governador do estado do Paraná, Aníbal Khury, presidente da

Assembleia Legislativa, Abrahão Miguel, presidente do Tribunal de

Justiça do estado do Paraná, Elias Abrahão, secretário do meio

ambiente da prefeitura. Então, diversos árabes em posição de

destaque. (PAULO SALAMUNI, 13/12/2016).

Salamuni foi eleito pela primeira vez no pleito de 1988, sendo convocado

em 1991. Foi reeleito em 1992 e em 1996 ficou na suplência, assumindo em

1999 (MARTINS, 1999, p. 33). Em 2000 e 2004 foi reeleito, no primeiro pleito

com 5211 votos, e no segundo com 6684, ambos pelo PMDB (REHBEIN, 2008,

p. 313 e 341). Em 2006, já pelo PV foi candidato ao senado, ficando em 5º lugar,

com 39481 votos conquistados. Nas eleições de 2008 ficaria novamente como

suplente, assumindo em 2011 no lugar da Cantora Mara Lima, que fora eleita

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deputada estadual (MARTINS, 1999, p. 42). Nas eleições gerais do Paraná em

2010, Salamuni foi o candidato do PV ao governo do Estado. Ficou em terceiro

lugar, com 81576 votos, o equivalente a 1,41%. O vencedor desse pleito seria

justamente Carlos Alberto Richa, com mais de três milhões de votos. Em 2012

foi reeleito com 6823 votos e em 2016 foi candidato à vice-prefeito, na chapa do

então atual prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet. Ficaram em terceiro lugar, com

186087 votos, 20,03% dos votos válidos. Salamuni foi ainda presidente do Clube

Sírio-libanês do Paraná entre 2006 e 2008.

Nas eleições gerais de 1990 seriam reeleitos Aníbal Khury e Renato Adur

à 11ª Legislatura da Assembleia Legislativa. Ainda, à Câmara Federal, venceria

pela primeira vez a disputa Said Ferreira, médico pela Universidade Federal do

Paraná. Said. Natural de Dois Córregos, interior de São Paulo, Said fora prefeito

de Maringá, interior do Paraná, de 1983 a 1988. Foi eleito em 1990 pelo PMDB,

porém renunciou ao cargo para novamente assumir a prefeitura da cidade

interiorana, em 1992. Já em 1994, novamente além de Aníbal Khury e Renato

Adur, seriam pela primeira vez eleitos Ricardo Chab e Carlos Alberto Richa.

Chab nasceu em Paranavaí, interior do Paraná, e é mais um dos políticos que

fez uso do rádio como instrumento de promoção política.

Sua paixão pelo rádio começou na infância, em Paranavaí, onde

costumava freqüentar um programa de auditório aos domingos. Chab

se mudou para Curitiba em 1979 para cursar Jornalismo na

Universidade Federal do Paraná [...]. Durante a década de 80, entrou e

saiu de várias emissoras como a Atalaia e a Cidade, deixando o rádio

em 2002, após perder a eleição para deputado estadual pelo PTB, com

22.856 votos. Seu ingresso na política se deu em 1988, quando tentou

uma vaga na Câmara Municipal de Curitiba, mas não conseguiu se

eleger. Em 1990, ficou como suplente do PTB na Assembléia

Legislativa do Paraná. Em 1994, foi eleito deputado estadual pelo

PMDB com 32.707 votos e reeleito em 1998 com 38.427 votos, de volta

ao PTB. (KASEKER, 2004, p. 89).

Ainda nas eleições de 1994, na disputa para a Câmara Federal, mais dois

parlamentares descendentes de sírio-libaneses foram eleitos: Elias Abrahão e

José Mohamed Janene. Abrahão nasceu em 28 de maio de 1941 em Franca,

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interior de São Paulo. Foi pastor da Igreja Presbiteriana Central de Curitiba e

professor. Exerceu ainda os cargos de secretário municipal do meio ambiente de

Curitiba de 1986 à 1988 e de secretário estadual de educação, de 1991 à 1994.

José Mohamed Janene nasceu em 12 de setembro de 1955 em Santo Inácio,

interior do Paraná. Foi deputado federal em três oportunidades, nas 50ª, 51ª e

52ª Legislatura da Câmara Federal, nos anos de 1995 à 2007.

Nas eleições municipais de 1996 Paulo Salamuni ficou na suplência para

a Câmara Municipal, assumindo em 1999. Além de Salamuni, foi eleito pela

primeira vez à Câmara Ehden Abib. Abib nasceu em Curitiba em 10 de setembro

de 1949. Seria ainda reeleito no pleito seguinte, em 2000. A partir daí, inclusive,

o número de parlamentares de ascendência sírio-libanesa no Paraná diminuiria

significativamente. Em 1998 ainda seriam eleitos Aníbal Khury, Ricardo Chab,

Carlos Alberto Richa e José Mohamed Janene, os três primeiros à Assembleia

Legislativa e o último à Câmara Federal. Khury faleceu em 1999 “em pleno

prestígio, supremacia e hegemonia política em várias esferas da vida

administrativa, burocrática e parlamentar do Paraná (OLIVEIRA, 2001, p. 353).

Em 2000, além das eleições de Ehden Abib e Paulo Salamuni à Câmara

Municipal, foi eleito justamente o neto de Aníbal Khury, Alexandre Curi, com

apenas 21 anos. Em 2002 Curi viria a ser eleito deputado estadual e deixaria a

Câmara Municipal.

A partir dos anos 2000 são três os nomes de descendentes de sírios e

libaneses que vão se manter em evidência na política paranaense. Além de

Janene que havia sido eleito no pleito de 2002 e cumpriu mandato na Câmara

Federal, Alexandre Curi, Paulo Salamuni e Carlos Alberto Richa seriam os

únicos membros da colônia eleitos, pelo menos até a entrada política em âmbito

estadual de Hussein Bakri, somente no ano de 2014. Mesmo que sejam apenas

três os representantes, ao contrário, por exemplo dos tempos da ditadura em

que diversos políticos de ascendência sírio-libanesa exerceram mandato, são

políticos de grande representatividade. Alexandre Curi foi o deputado estadual

mais votado nos pleitos de 2006, com 131988 votos, e em 2010, com 134233

votos. Em 2014 ficou em segundo lugar, atrás apenas de Ratinho Junior, filho do

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empresário e apresentador de televisão Carlos Massa, o Ratinho, que fora

vereador em Curitiba e deputado federal pelo Paraná, de 1989 à 1991 e de 1991

à 1995, respectivamente.

Carlos Alberto Richa foi eleito prefeito de Curitiba em 2004 e reeleito em

2008, com expressivos 778514 votos, ou 77,27%. Em 2010 foi eleito governador

do estado do Paraná com 3039774 milhões de votos, ou 52,44% dos votos

válidos. Ainda foi reeleito governador em 2014 com 3301322 milhões de votos, o

equivalente a 55,67% dos votos válidos.

Alexandre Curi, Carlos Alberto Richa e Paulo Salamuni são de

importantes famílias imigrantes que se estabeleceram no estado na primeira

metade do século XX. Curi e Richa carregam o capital político de dois dos mais

importantes parlamentares da história do Paraná, Aníbal Khury e José Richa,

que, como filhos de imigrantes, construíram seu capital político mais

recentemente, ou seja, não fazem parte da tradicional classe dominante do

Paraná. Paulo Salamuni, cujo pai foi geólogo, professor e reitor da Universidade

Federal do Paraná, foi ainda membro do PSB e atuou em diversas instituições

de cunho intelectual na área da geologia.

[...] então é obvio que esse envolvimento com a coletividade, esse

envolvimento com a academia, esse envolvimento e liderança do

professor Salamuni me possibilitou realmente grande penetração na

sociedade curitibana. Entre outros segmentos sou reconhecido por ser

um representante da coletividade árabe no paraná. (PAULO

SALAMUNI, 16/12/2016).

Em resumo, se por um lado seus pais e avós tenham construído seu

capital político a partir de uma trajetória imigrante, sem fazer parte da elite

política tradicional no Paraná, Carlos Alberto Richa, Alexandre Curi e Paulo

Salamuni, que já fazem parte do período mais recente dos políticos de

ascendência sírio-libanesa, carregam o capital política construído por aqueles,

num processo de reprodução de estruturas de poder, mesmo que cada um

construindo sua própria trajetória política. De acordo com Oliveira (2001):

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A diminuição do poder das grandes famílias é uma realidade no final do

século XX. Ainda que importantes destaques prolonguem as velhas

tradições, socialmente já se observa a produção de novas elites

estruturadas na modernização burocrática e burguesa. Como estes

novos setores transmitirão seus patrimônios sociais e políticos? Uma

rápida análise indica que os novos atores que ingressaram na política

paranaense também podem tender a reproduzir alguns aspectos do

velho familismo. (2001, p. 352).

Outro aspecto importante diz respeito ao interesse pelos acontecimentos

políticos no Líbano, Síria e Oriente Médio. A entrada dos sírios e libaneses na

política brasileira se deu paralelamente à independência da Síria e do Líbano, na

década de 1940, de modo que o interesse pelo que ocorria no país de origem

veio a diminuir (TRUZZI, 1997). Hoje, por outro lado, com os acontecimentos no

Oriente Médio há uma retomada do interesse por certos parlamentares:

E tenho muito apoio, trabalho na questão da causa palestina, na

questão dos massacres nos campos de refugiados, as reiteradas

guerras civis, os renascimentos cíclicos dos árabes, tudo isso fez com

que aqui em Curitiba e mesmo no nível de Brasil eu tivesse tido uma

convivência muito grande com as principais lideranças, em todos os

momentos, aspectos, com as autoridades civis desses países, com as

autoridades diplomáticas desses países, com as autoridades religiosas

desses países (PAULO SALAMUNI, 16/12/2016)

O segundo período analisado, de 1982 até os dias de hoje representa a

entrada de novos atores da comunidade sírio-libanesa no cenário político do

Paraná. À exemplo do período anterior, porém, percebe-se que há uma

disseminação de políticos de ascendência sírio-libanesa ao longo de todo o

espectro político e ideológico. Isso pode dar respostas à tese de que a entrada

na política fazia parte de uma continuação do processo de ascensão social dos

imigrantes, o que quer dizer que essa inserção pode, acreditamos, ser pensada

como uma estratégia para a acumulação de capitais no campo econômico. Além

disso, podemos observar que a educação continuou a ser o caminho mais

almejado na trajetória de ascensão social dos sírio-libaneses. O quadro 3

apresenta os políticos da colônia que possuem diploma em uma das três áreas

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que possui status e ainda que lhe proporcionavam o trabalho autônomo, nas

profissões liberais.

QUADRO 3 – POLÍTICOS SÍRIO-LIBANESES COM DIPLOMAS EM DIREITO. ENGENHARIA E

MEDICINA

Nome Curso Superior Chafic Curi Direito - UFPR Elias Karam Direito - UFPR Elias Nacle Direito - UFPR Wilson Chedid Direito - UFPR Acyr Hafez José Direito - Fac, de Direito de Curitiba Mamédio Seme Scaff Direito - UFPR João Calil Fadel Medicina - UFPR Sady Ricardo Engenharia Civil - UFPR Renato Adur Direito - PUC-PR Alarico Abib Medicina - UFPR Paulo Salamuni Direito - PUC-PR Said Ferreira Medicina - UFPR Carlos Alberto Richa Engenharia Civil - PUC-PR FONTE: O Autor.

De acordo com Truzzi (1997), o voto da colônia era de início importante,

porém deve ser relativizado. Analisando as condições que foram apresentadas

ao longo do capitulo percebe-se que os políticos “patrícios” apresentavam outras

posições e postos eleitoralmente rentáveis, principalmente a inserção interiorana

e o diploma em cursos de status elevado.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A imigração dos sírio-libaneses compreende um interessantíssimo

capítulo da história da imigração no Brasil. O sociólogo norte-americano Clark

Knowlton (1961) foi quem primeiro estudou o processo imigratório dos árabes ao

Brasil, influenciado por Florestan Fernandes. Truzzi (1997) inaugurou uma

perspectiva diferente sobre o tema ao tentar observar a imigração num contexto

urbano-industrial, diferente dos estudos que se concentravam a olhar a

instalação de grupos nas áreas rurais.

Por não integrarem o grosso dos imigrantes que tiveram sua vinda ao

Brasil subsidiada, os sírios e libaneses tem sobretudo uma importância

qualitativa (FAUSTO, 1997, p. 11). Enquanto sétimo maior grupo – a imigração

sírio-libanesa compreende apenas 2,5% do total de imigrantes que aportaram no

Brasil no período de 1884 à 1943 (KNOWLTON, 1961, p. 45) – os árabes

tiveram uma excepcional inserção no Brasil, num caminho que vai da

mascateação à instalação de casas de comércio e industrias, tudo isso

amparado sob principalmente três eixos: o perfil de distribuição demográfico-

ocupacional dos imigrantes, dispersos por diversas regiões, mesmo

apresentando um padrão de ocupação urbana; a rede de auxílio de

conterrâneos já estabelecidos criando mecanismos de acolhida, potencializando

as atividades econômicas dos recém-chegados; e a manutenção do núcleo

familiar, com um processo de importação de parentes e conterrâneos pelos já

estabelecidos (TRUZZI, 1997). Ainda, a imigração e a presença de sírios e

libaneses no Paraná não se diferencia da do resto do Brasil, como mostramos

no capítulo 2.

A rápida e eficiente ascensão dos sírios e libaneses proporcionou que

houvesse um grande investimento na educação dos filhos, já nascidos no Brasil.

O processo que vai desde a mascateação, passando pela instalação do

comércio e ainda a instalação de indústrias. Esse investimento na educação

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proporcionou que os filhos dos imigrantes pudessem buscar diferentes opções

profissionais para além da continuidade no comércio familiar. Esse é,

acreditamos, uma das grandes questões no que concerne a exitosa inserção

dos sírios e libaneses no Brasil.

Alba e Nee (1997) afirmam que aqueles indivíduos que foram socializados

no seu país de origem e chegaram a outro país com maior idade apresentam

uma maior dificuldade de inserção, desse modo, torna-se importante olhar para

os filhos dos imigrantes, ou os próprios imigrantes que emigraram ainda com

pouca idade para se analisar os limites de assimilação. Ao olharmos para os

filhos e netos dos imigrantes sírios e libaneses instalados no Brasil é perceptível

esse processo de inserção e assimilação, principalmente pelas elites da colônia,

que ascenderam socialmente e se destacaram dentro da coletividade. Truzzi

(1997) afirma que uma hierarquia foi-se formando dentro da colônia sírio-

libanesa paulista, de modo que certas frações de mais poder e status (devido

em especial à diferenciada prosperidade econômica) formaram uma elite. A

expansão das atividades comerciais e industriais, paralelamente a penetração

de imigrantes e descendentes nas profissões liberais e a inserção na política

representam bem esse processo de diferenciação e ascensão social das elites

coloniais.

Desse modo, buscamos observar de que maneira os caminhos à política

pelos descendentes de sírios e libaneses se constituíram ao longo do tempo, ou

seja, quais recursos continuaram ou deixaram de ser importantes na história da

representação política de sírio-libaneses no Paraná.

Levantando em conta a trajetória profissional e educacional, pudemos

observar que certos padrões de recrutamento político foram observados no caso

do Paraná, mesmo que em menor medida do que em São Paulo. Em primeiro

lugar, a dispersão dos sírios e libaneses por todo o estado, fruto principalmente

da atividade de mascateação, lançou os imigrantes pelo interior do Paraná,

principalmente nos núcleos urbanos. O êxito na inserção dos árabes

proporcionou o surgimento de lideranças locais, causa da inserção dos

imigrantes e do grande investimento na educação dos filhos.

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O investimento na educação dos filhos de imigrantes é justamente a

segunda questão. O significativo número de políticos da colônia com diploma

pode indicar muito bem a maneira pela qual os sírio-libaneses ascenderam

socialmente. O contexto brasileiro, em que imigrantes de diferentes origens e

diversas gerações de brasileiros eram colocados lado a lado favoreceu o

enraizamento social dos sírio-libaneses, o que facilitaria a entrada dos mesmos

na política. Dessa maneira, o investimento na educação dos filhos significava

sobretudo uma calculada tentativa de trazer um reconhecimento maior perante a

sociedade brasileira, algo que não se concretizaria somente na atividade

comercial (TRUZZI, 1997, p. 143).

O presente trabalho pode auxiliar na discussão sobre o fenômeno

imigratório de sírio e libaneses no Paraná, bem como sua inserção na política, o

que acreditamos ser o ponto máximo da exitosa trajetória social dos imigrantes

árabes no Paraná.

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APÊNDICE A – POLÍTICOS DE ASCENDÊNCIA SÍRIO-LIBANESA (1947-)

ANO LEGIS. NOME CARGO NASC. LEGENDA NATURALIDADE CURSO

SUPERIOR PROFISSÃO

CARGO POLÍTICO ANTERIOR

1947 1ª Hedel Jorge Azar

(suplente) Vereador 20/05/1923 * São Luis - MA * * *

1947 1ª João Chede Dep. Estadual 12/03/1904 PSD Palmeira - PR

Direito - Faculdade de Direito de São

Paulo (Não concluido)

Comerciante Prefeito de

Palmeira - PR

1947 1ª (Biênio

1947-1948)

Pedro Kaled (suplente)

Dep. Estadual * * * * Jornalista *

1950 2ª João Chede Dep. Estadual 12/03/1904 PSD Palmeira - PR

Direito - Faculdade de Direito de São

Paulo (Não concluido)

Comerciante Deputado Estadual

(1947-1950)

1950 2ª Chafic Curi Dep. Estadual 29/06/1915 PR Rio Azul – PR

Direito – Universidade Federal do

Paraná

Professor; Advogado

Não Consta

1951 2ª Elias Karam Vereador * UDN Curitiba - PR

Direito – Universidade Federal do

Paraná

Advogado; Jornalista; Professor

Não Consta

1951 2ª Washington Mansur Vereador * PTB * * * *

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1954 3ª Anibal Khury Dep. Estadual 18/07/1924 UDN Porto União - SC Não Consta Comerciante Vereador de

União da Vitória - PR

1954 3ª Júlio Farah Dep. Estadual 24/08/1915 UDN Paranaguá – PR

Academia Brasileira de Comércio - São Paulo

Industrial; Jornalista

Prefeito de Ibaiti – PR

(1947-1951)

1954 3ª João Chede Dep. Estadual 12/03/1904 PSD Palmeira - PR

Direito - Faculdade de Direito de São

Paulo (Não concluido)

Industrial Deputado Estadual

(1947-1954)

1954 3ª Chafic Curi Dep. Estadual 29/06/1915 PR Rio Azul – PR

Direito – Universidade Federal do

Paraná

Professor; Advogado

Deputado Estadual

(1951-1954)

1955 3ª Elias Karam Vereador * UDN Curitiba - PR

Direito – Universidade Federal do

Paraná

Advogado; Jornalista; Professor

Vereador de Curitiba (1951-

1955)

1955 3ª Elias Jorge Nassar

(suplente) Vereador * BUSCAR Curitiba - PR * * *

1958 4ª Anibal Khury Dep. Estadual 18/07/1924 UDN Porto União - SC Não Consta Comerciante Deputado Estadual

(1954-1958)

1958 4ª Elias Nacle Dep. Estadual 27/01/1928 PTB Borebi - SP

Direito - Universidade Federal do

Paraná

Comerciante; Bancário; Delegado

Não Consta

1958 4ª João Mansur Dep. Estadual 22/07/1923 PDC Irati - PR Não Consta Comerciante Prefeito de Irati – PR

(1955-1958)

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1958 4ª Jorge Miguel Nassar Dep. Estadual 11/05/1925 PTB Curitiba – PR Não Consta Comerciante;

Radialista Não Consta

1959 4ª Elias Karam Vereador * UDN Curitiba - PR

Direito – Universidade Federal do

Paraná

Advogado; Jornalista; Professor

Vereador de Curitiba (1951-

1959)

1959 4ª Washington Mansur Vereador * PDC * * *

1962 5ª Anibal Khury Dep. Estadual 18/07/1924 UDN Porto União - SC Não Consta Comerciante Deputado Estadual

(1954-1962)

1962 5ª João Mansur Dep. Estadual 22/07/1923 PDC Irati - PR Não Consta Comerciante Deputado Estadual

(1959-1962)

1962 5ª Jorge Miguel Nassar Dep. Estadual 11/05/1925 PTB Curitiba – PR Não Consta Comerciante;

Radialista

Deputado Estadual

(1959-1962)

1962 42ª Elias Nacle Dep. Federal 27/01/1928 PTB Borebi - SP

Direito - Universidade Federal do

Paraná

Comerciante; Bancário; Delegado

Deputado Estadual

(1959-1962)

1962 42ª Jorge Curi Dep. Federal 07/01/1920 UDN São Paulo - SP * Industrial *

1962 42ª José Richa Dep. Federal 11/11/1934 PDC São Fidelis – RJ

Odontologia – Universidade Federal do

Paraná

Dentista; Jornalista;

Comerciante Não Consta

1962 42ª Wilson Chedid Dep. Federal 01/04/1922 PTB Curitiba - PR

Direito - Universidade Federal do

Paraná

Advogado; Bancário

Não Consta

1963 5ª Elias Karam Vereador * UDN Curitiba - PR Direito –

Universidade

Advogado; Jornalista; Professor

Vereador de Curitiba (1951-

1963)

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Federal do Paraná

1963 5ª Acyr Hafez José Vereador 20/03/1933 PTN Curitiba - PR

Direito – Faculdade de

Direito de Curitiba

* *

1963 5ª Elias Jorge Nassar

(suplente) Vereador * BUSCAR Curitiba - PR * * *

1966 6ª Abrahão Miguel Dep. Estadual 05/07/1928 ARENA Pinhalão - PR

Direito - Universidade Federal do

Paraná

Advogado Vereador de Astorga – PR

1966 6ª Anibal Khury Dep. Estadual 18/07/1924 ARENA Porto União - SC Não Consta Comerciante Deputado Estadual

(1954-1966)

1966 6ª João Mansur Dep. Estadual 22/07/1923 ARENA Irati - PR Não Consta Comerciante Deputado Estadual

(1959-1966)

1966 6ª Jorge Miguel Nassar Dep. Estadual 11/05/1925 ARENA Curitiba – PR Não Consta Comerciante;

Radialista

Deputado Estadual

(1959-1966)

1966 6ª Mamédio Seme Scaff Dep. Estadual 13/05/1943 ARENA Botucatu – SP

Direito - Universidade Federal do

Paraná

Advogado

Prefeito de Araruva – PR

(Atual Marilândia do

Sul – PR)

1966 6ª Fuad Nacli Dep. Estadual 24/08/1925 ARENA Majdal al-Shams

– Síria Não Consta Agricultor

Vereador de Centenário do

Sul – PR

1966 43ª José Richa Dep. Federal 11/11/1934 MDB São Fidelis – RJ

Odontologia – Universidade Federal do

Paraná

Dentista; Jornalista;

Comerciante

Deputado Estadual

(1962-1966)

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1966 43ª Jorge Curi Dep. Federal 07/01/1920 ARENA São Paulo - SP * Industrial Deputado

Federal (1962-1966)

1968 6ª Acyr Hafez José Vereador 20/03/1933 ARENA Curitiba - PR

Direito – Faculdade de

Direito de Curitiba

* Vereador de

Curitiba (1963-1968)

1968 6ª Miguel Nasser Filho Vereador * ARENA Passos - MG * * *

1971 7ª João Mansur Dep. Estadual 22/07/1923 ARENA Irati - PR Não Consta Comerciante Deputado Estadual

(1959-1971)

1971 7ª Fuad Nacli Dep. Estadual 24/08/1925 ARENA Majdal al-Shams

– Síria Não Consta Agricultor

Deputado Estadual

(1966-1971)

1971 7ª Acyr Hafez José Dep. Estadual 20/03/1933 ARENA Curitiba - PR

Direito – Faculdade de

Direito de Curitiba

* Vereador de

Curitiba (1963-1971)

1971 7ª João Calil Fadel Dep. Estadual 02/09/1924 ARENA Jaguariaiva – PR

Medicina - Universidade Federal do

Paraná

Médico Não Consta

1975 8ª Fuad Nacli Dep. Estadual 24/08/1925 ARENA Majdal al-Shams

– Síria Não Consta Agricultor

Deputado Estadual

(1966-1974)

1975 8ª João Calil Fadel

(suplente) Dep. Estadual 02/09/1924 ARENA Jaguariaiva – PR

Medicina - Universidade Federal do

Paraná

Médico Deputado Estadual

(1971-1974)

1975 45ª Ary Kffouri (suplente) Dep. Federal 10/10/1929 ARENA Irati - PR * Industrial; Bancário

*

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1979 9ª João Mansur Dep. Estadual 22/07/1923 ARENA Irati - PR Não Consta Comerciante Não Consta

1979 9ª Fuad Nacli Dep. Estadual 24/08/1925 ARENA Majdal al-Shams

– Síria Não Consta Agricultor

Deputado Estadual

(1966-1978)

1979 46ª Ary Kffuri Dep. Federal 10/10/1929 ARENA Irati - PR * Industrial; Bancário

Deputado Federal (1975-

1978)

1979 46ª José Richa Senador 11/11/1934 MDB São Fidelis – RJ

Odontologia – Universidade Federal do

Paraná

Dentista; Jornalista;

Comerciante

Prefeito de Londrina - PR (1973-1977)

1982 9ª Aziz Abdalla Domingos

Vereador 23/09/1944 PMDB Rio Azul - PR * Industrial;

Comerciante *

1982 9ª Sady Ricardo Vereador 18/08/1957 PMDB Curitiba - PR

Engenharia Civil -

Universidade Federal do

Paraná

Professor; Jornalista

Não Consta

1982 9ª Gilberto Daher

(suplente) Vereador * * * * Engenheiro Civil Não Consta

1982 9ª Marcos Isfer (suplente)

Vereador 03/10/1955 * Curitiba - PR * * Não Consta

1982 47ª José Richa Governador 11/11/1934 PMDB São Fidelis – RJ

Odontologia – Universidade Federal do

Paraná

Dentista; Jornalista;

Comerciante

Senador (1979-1983)

1983 10ª Anibal Khury Dep. Estadual 18/07/1924 PMDB Porto União - SC Não Consta Comerciante Não Consta

1983 10ª Fuad Nacli Dep. Estadual 24/08/1925 PDS Majdal al-Shams

– Síria Não Consta Agricultor

Deputado Estadual

(1966-1983)

1983 47ª Ary Kffuri Dep. Federal 10/10/1929 PDS Irati - PR * Industrial; Bancário

Deputado Federal (1975-

1983)

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1986 11ª Anibal Khury Dep. Estadual 18/07/1924 PMDB Porto União - SC Não Consta Comerciante Deputado Estadual

(1983-1986)

1986 11ª Renato Adur

(suplente) Dep. Estadual 10/09/1948 PMDB

São Mateus do Sul - PR

Direito - Pontifícia

Universidade Católica do

Paraná

Advogado Não Consta

1986 48ª Alarico Abib Dep. Federal 12/03/1937 PMDB Andirá - PR

Medicina - Universidade Federal do

Paraná

Médico Prefeito de Andirá - PR

1986 48ª Mauricio Nasser Dep. Federal 15/11/1952 PMDB;

PTB (1990-)

Andradina - SP

Contabilidade - Universidade Federal do

Paraná; Economia -

Faculdade de Estudos

Sociais do Paraná

* *

1986 48ª José Richa Senador 11/11/1934 PMDB; PSDB (1988-)

São Fidelis – RJ

Odontologia – Universidade Federal do

Paraná

Dentista; Jornalista;

Comerciante

Governador do Paraná (1982-

1986)

1988 10ª Marcos Isfer Vereador 03/10/1955 * Curitiba - PR * * Vereador de

Curitiba (1987-1988)

1988 10ª Paulo Salamuni

(suplente) Vereador 24/10/1960 PMDB Curitiba - PR

Direito - Pontifícia

Universidade Católica do

Paraná

Advogado Não Consta

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1990 12ª Anibal Khury Dep. Estadual 18/07/1924 PMDB Porto União - SC Não Consta Comerciante Deputado Estadual

(1983-1990)

1990 12ª Renato Adur Dep. Estadual 10/09/1948 * São Mateus do

Sul - PR

Direito - Pontifícia

Universidade Católica do

Paraná

Advogado Não Consta

1990 49ª Said Ferreira Dep. Federal 10/11/1933 PMDB Dois Córregos –

SP

Medicina - Universidade Federal do

Paraná

Médico Prefeito de

Maringá (1983-1988)

1992 11ª Marcos Isfer Vereador 03/10/1955 * Curitiba - PR * * Vereador de

Curitiba (1987-1992)

1992 11ª Paulo Salamuni Vereador 24/10/1960 PMDB Curitiba - PR

Direito - Pontifícia

Universidade Católica do

Paraná

Advogado Vereador de

Curitiba (1991-1992)

1994 13ª Anibal Khury Dep. Estadual 18/07/1924 PMDB Porto União - SC Não Consta Comerciante Deputado Estadual

(1983-1994)

1994 13ª Carlos Alberto Richa Dep. Estadual 29/07/1965 PSDB Londrina - PR

Engenharia Civil -

Pontifícia Universidade

Católica

Engenheiro Civil Não Consta

1994 13ª Renato Adur Dep. Estadual 10/09/1948 * São Mateus do

Sul - PR

Direito - Pontifícia

Universidade Católica do

Paraná

Advogado Deputado Estadual

(1990-1994)

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1994 13ª Ricardo Chab Dep. Estadual * PMDB Paranavaí - PR

Jornalismo - Universidade Federal do

Paraná

Radialista Não Consta

1994 50ª Elias Abrahão Dep. Federal 28/05/1941 PMDB Franca – SP

Teologia – Faculdade de Teologia de Campinas; Doutor em Teologia e Filosofia – Pittsburg

Theological Seminary –

EUA

Pastor; Professor Não Consta

1994 50ª José Mohamed

Janene Dep. Federal 12/09/1955 PPB

Santo Inácio - PR

Não Consta * Não Consta

1996 12ª Edhen Abib Vereador 10/09/1949 PTB Curitiba - PR * * *

1996 12ª Paulo Salamuni

(suplente) Vereador 24/10/1960 PMDB Curitiba - PR

Direito - Pontifícia

Universidade Católica do

Paraná

Advogado Vereador de

Curitiba (1991-1996)

1998 14ª Anibal Khury Dep. Estadual 18/07/1924 PMDB Porto União - SC Não Consta Comerciante Deputado Estadual

(1983-1998)

1998 14ª Ricardo Chab Dep. Estadual * PTB Paranavaí - PR

Jornalismo - Universidade Federal do

Paraná

Radialista Deputado Estadual

(1994-1998)

1998 14ª Carlos Alberto Richa Dep. Estadual 29/07/1965 PSDB Londrina - PR Engenharia

Civil - Pontifícia

Engenheiro Civil Deputado Estadual

(1994-1998)

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Universidade Católica

1998 51ª José Mohamed

Janene Dep. Federal 12/09/1955 PPB

Santo Inácio - PR

Não Consta * Deputado

Federal (1994-1998)

2000 13ª Alexandre Curi Vereador 09/04/1979 PFL Curitiba - PR Não Consta Não Consta Não Consta

2000 13ª Edhen Abib Vereador 10/09/1949 PTB Curitiba - PR * * Vereador de

Curitiba (1996-2000)

2000 13ª Paulo Salamuni Vereador 24/10/1960 PMDB Curitiba - PR

Direito - Pontifícia

Universidade Católica do

Paraná

Advogado Vereador de

Curitiba (1991-2000)

2002 15ª Alexandre Curi Dep. Estadual 09/04/1979 PMDB Curitiba - PR Não Consta Não Consta Vereador de

Curitiba (2000-2002)

2002 52ª José Mohamed

Janene Dep. Federal 12/09/1955 PP

Santo Inácio - PR

Não Consta * Deputado

Federal (1994-2002)

2004 14ª Carlos Alberto Richa Prefeito 29/07/1965 PSDB Londrina - PR

Engenharia Civil -

Pontifícia Universidade

Católica

Engenheiro Civil

Deputado Estadual

(1994-2000); Vice-prefeito de Curitiba

(2000-2004)

2004 14ª Paulo Salamuni Vereador 24/10/1960 PMDB; PV

(2006-) Curitiba - PR

Direito - Pontifícia

Universidade Advogado

Vereador de Curitiba (1991-

2004)

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Católica do Paraná

2006 16ª Alexandre Curi Dep. Estadual 09/04/1979 PMDB Curitiba - PR Não Consta Não Consta Deputado Estadual

(2002-2006)

2008 15ª Carlos Alberto Richa Prefeito 29/07/1965 PSDB Londrina - PR

Engenharia Civil -

Pontifícia Universidade

Católica

Engenheiro Civil Prefeito de

Curitiba (2004-2008)

2008 15ª Paulo Salamuni

(suplente) Vereador 24/10/1960 PV Curitiba - PR

Direito - Pontifícia

Universidade Católica do

Paraná

Advogado Vereador de

Curitiba (1991-2008)

2010 54ª Carlos Alberto Richa Governador 29/07/1965 PSDB Londrina - PR

Engenharia Civil -

Pontifícia Universidade

Católica

Engenheiro Civil Prefeito de

Curitiba (2004-2010)

2010 17ª Alexandre Curi Dep. Estadual 09/04/1979 PMDB Curitiba - PR Não Consta Não Consta Deputado Estadual

(2002-2010)

2012 16ª Paulo Salamuni Vereador 24/10/1960 PV Curitiba - PR

Direito - Pontifícia

Universidade Católica do

Paraná

Advogado Vereador de

Curitiba (1991-2010)

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2014 55ª Carlos Alberto Richa Governador 29/07/1965 PSDB Londrina - PR

Engenharia Civil -

Pontifícia Universidade

Católica

Engenheiro Civil Governador do Paraná (2008-

2012)

2014 18ª Alexandre Curi Dep. Estadual 09/04/1979 PMDB;

PSB (2016-)

Curitiba - PR Não Consta Não Consta Deputado Estadual

(2002-2014)

2014 18ª Hussein Bakri Dep. Estadual 24/09/1965 PSC União da Vitória

- PR

Relações Públicas -

Centro Universitário de União da

Vitória

Radialista; Comerciante

Prefeito de União da

Vitória

*: Dados não apurados.