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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE INICIAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E INOVAÇÃO 1014/2015 RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA VANESSA FRANCISCA TAVARES PEREIRA INICIAÇÃO TECNOLÓGICA VOLUNTÁRIA/ EDITAL PIBIT 2014/2015 PLANO DE TRABALHO: Uso de contêineres na arquitetura brasileira Relatório final apresentado à Coordenadoria de Iniciação Científica e Integração Acadêmica da UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ UFPR por ocasião do desenvolvimento das atividades voluntárias de Iniciação Tecnológica Edital 2014-2015. NOME DO ORIENTADOR: Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto Departamento de Arquitetura e Urbanismo TÍTULO DO PROJETO: Manual para reciclagem arquitetônica de containers BANPESQ/THALES: 2014015430 CURITIBA PR 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PRÓ-REITORIA DE …grupothac.weebly.com/uploads/6/8/3/8/6838251/ufpr2015_relfinal... · 3 INTRODUÇÃO A partir da Revolução Industrial (1750-1830)

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE INICIAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E INOVAÇÃO – 1014/2015 RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA

VANESSA FRANCISCA TAVARES PEREIRA

INICIAÇÃO TECNOLÓGICA – VOLUNTÁRIA/ EDITAL PIBIT 2014/2015

PLANO DE TRABALHO:

Uso de contêineres na arquitetura brasileira

Relatório final apresentado à Coordenadoria de Iniciação Científica e Integração Acadêmica da UNIVERSIDADE FEDERAL DO

PARANÁ – UFPR por ocasião do desenvolvimento das atividades voluntárias de Iniciação Tecnológica – Edital 2014-2015.

NOME DO ORIENTADOR:

Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto

Departamento de Arquitetura e Urbanismo

TÍTULO DO PROJETO:

Manual para reciclagem arquitetônica de containers

BANPESQ/THALES: 2014015430

CURITIBA PR

2015

1

1 TÍTULO

Uso de contêineres na arquitetura brasileira

2 RESUMO

Diversos pesquisadores coincidem na opinião de que a arquitetura em containers é

relativamente recente e vem ganhando notoriedade, seja por questões estéticas, pelo baixo

custo da obra ou pela rapidez de construção, conveniente tanto para obras temporárias, de

assistência humanitária ou para arquitetura de eventos, bem como pelo apelo sustentável ou

por insistência midiática. Por outro lado, também existe uma ideia geral de que aspectos quanto

ao isolamento térmico e aos revestimentos utilizados sejam um fator crítico para o uso digno e

confortável desses espaços, cabendo ao arquiteto torná-los habitáveis ao resolver

eficientemente tais questões.

No Brasil, já há projetos extensamente divulgados que se enquadram nessa vertente de

arquitetura contemporânea. Entretanto, ainda são poucos em comparação a outros países,

assim como os arquitetos e construtoras que dominam o uso dessa tecnologia. Aplicados em

programas habitacionais ou de pequeno comércio, como lojas e restaurantes que buscam apelo

sustentável ou de inovação e identidade da marca, ainda existem diversas oportunidades para

se utilizar esses recipientes originalmente destinados ao armazenamento e transporte em obras

de infraestrutura e serviços públicos, tais como escolas, postos e quiosques, como vem

acontecendo em países com maior tradição construtiva pré-fabricada ou que aceitam melhor

inovações construtivas, entre os quais: França, Alemanha, Japão e EUA.

Esta pesquisa em iniciação tecnológica vinculada ao projeto intitulado “Manual para

reciclagem arquitetônica de contêineres” visa contribuir com o mesmo, enfocando

essencialmente os casos brasileiros. Primeiramente, faz um breve estudo teórico da utilização

de containers na arquitetura, sua conceituação e caracterização, para, em um segundo

momento, abordar exemplares nacionais, os quais permitam um aprofundamento sobre o

emprego desses componentes com vistas à maior sustentabilidade arquitetônica.

3 INTRODUÇÃO

A partir da Revolução Industrial (1750-1830) e, principalmente, com o decorrer de seu

desenvolvimento e difusão por todo o planeta durante os séculos XIX e XX – em especial, após

a Segunda Guerra Mundial (1939/45) –, os impactos ambientais provenientes da urbanização

acelerada e das atividades humanas sobre a natureza passaram a ser questionados e

2

avaliados, gerando o que comumente se passou a chamar de Despertar Ecológico

(CASTELNOU, 2009), ocorrido entre os anos 1960 e 1970. Ao mesmo tempo, Castelnou (2005)

afirma que proliferaram estudos e debates que passaram a questionar a relação entre o atual

modelo econômico de desenvolvimento e a preservação dos recursos naturais, os quais

encontraram seu ápice por ocasião de um evento de iniciativa internacional, ocorrido em 1972:

A CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE O MEIO AMBIENTE E O HOMEM – CNUMAH1, sediada

em Estocolmo, Suécia.

Considerada como a primeira tentativa de conciliação entre desenvolvimento e proteção

ao meio ambiente, essa conferência abriu campo para que novas discussões fossem

intensificadas nas décadas seguintes, em especial devido à criação da Comissão Mundial sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento – CMMAD2 e consequente divulgação do Relatório

Brundtland, em 1987, no qual se conceituou o termo “sustentabilidade” e passou-se a

disseminar mundialmente a ideia de “desenvolvimento sustentável”, que se transformou em

objetivo comum em quase todo o mundo. Por sua vez, a CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS

SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO – CNUMAD, também conhecida como Eco’92 ou

Cúpula da Terra, que ocorreu em 1992 no Rio de Janeiro, incorporou ao debate ambiental as

questões socioeconômicas e desenvolveu a chamada Agenda 213, cujos desdobramentos

aconteceram em várias áreas, atingindo também a construção civil. (LEONE, 2014)

Entre os desdobramentos dessas ações, pode-se citar o congresso realizado na cidade

de Chicago IL em 1993 e organizado pela União Internacional dos Arquitetos (UIA) em conjunto

com o American Institute of Architecture (AIA), o qual resultou na “Declaração de Independência

para o um Futuro Sustentável”; documento que acabou colocando a sustentabilidade

socioambiental como centro da responsabilidade profissional, convocando todos os arquitetos e

urbanistas do planeta à prática da Green Architecture. (WINES, 2000)

1 Além de contemplar os diferentes interesses dos países da comunidade internacional, a CNUMAH permitiu o amadurecimento conceitual e prática da chamada Arquitetura Ecológica ou Ecoarquitetura – corrente pós-moderna que defendia o uso de materiais que não agredissem o meio ambiente de modo a reduzir seus efeitos sobre os reconhecidamente limitados recursos naturais. (CASTELNOU, 2009)

2 Em seu relatório final, o Relatório Brundtland, que posteriormente foi publicado com o título Our common future (Nosso futuro comum, 1991), a CMMAD divulgava a definição de “desenvolvimento sustentável” como aquele que permitiria “suprir as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das próximas gerações suprirem as necessidades de seu tempo”. Isto significa que seria preciso incorporar no planejamento urbano não apenas fatores econômicos, mas também variáveis socioambientais, considerando as consequências das ações em longo prazo e resultados em curto prazo. (BRUNDTLAND, 1991)

3 A Agenda 21 consistia em programa estratégico e universal para alcançar a sustentabilidade, através da

descentralização do poder público, sendo um de seus requisitos a difusão de uma arquitetura sustentável, através da eficiência energética, correta especificação de materiais e respeito às condições climáticas. (BARBIERI, 1997)

3

De acordo com Castelnou (2005), uma possível forma para alcançar o desenvolvimento

sustentável seria a mudança dos paradigmas de consumo e produção, de modo que se

passasse a satisfazer as necessidades de todos a um baixo nível de uso de energia e recursos

naturais. Estas seriam as premissas da Arquitetura Verde4, as quais podem ser constatadas a

partir da reciclagem arquitetônica de containers. Criados para o transporte de mercadorias ao

redor do mundo, esses recipientes são elementos metálicos em formato de caixas, geralmente

descartados ainda enquanto úteis, acabando por ficar acumulados em portos no mundo todo e

vendidos por baixos preços. Em função de sua forma, material e potencial arquitetônico, além

do preço, despertaram o interesse de arquitetos para sua reutilização, como alternativa

sustentável para arquitetura. (KOTNIK, 2008)

O reaproveitamento de contêineres, segundo Kotnik (2008), vem contribuir com diversos

pontos relacionados à sustentabilidade socioambiental. Devido à sua praticidade,

disponibilidade e custo, isto parece ser uma solução potencial para obras de infraestrutura,

como escolas, portos, abrigos emergenciais, espaços de exibição, laboratórios, garagens,

hotéis, moradias estudantis e apartamentos, entre outras. Em geral, tais espaços representam

uma carência comum em países em desenvolvimento como é o caso brasileiro.

4 REVISÃO DA LITERATURA

Basicamente, containers ou contêineres são dispositivos metálicos de armazenamento e

transporte de cargas intermodais, ou seja, que podem ser carregados e acoplados em quase

todos os meios de transporte disponíveis. Também conhecidos como contentores ou cofres de

carga, sua denominação deriva, segundo Slawik et al. (2010), do latim continere, que significa

guardar junto, envolver, estocar. Deste também deriva o verbo inglês to contain (“conter,

acomodar”), que, por sua vez, dá origem à palavra container, também utilizada no Brasil.

De acordo com Slawik et al. (2010), trata-se de um elemento que revolucionou o

transporte de mercadorias e bens, bem como a dinâmica econômica mundial, em virtude da

economia de tempo pelo transporte do volume todo entre meios de transporte, através de um

guindaste, sem a necessidade de descarregar e recarregar cargas. Este fato teve vários

precursores, em diversas tentativas de padronização de contêineres que ocorreram na

4 Entre os princípios da Green Architecture ou Arquitetura Verde estão o emprego de técnicas “limpas” e ecoprodutos

fabricados industrialmente, adquiridos prontos, com tecnologia e em escala, atendendo assim a normas e à demanda de mercado; a incorporação de sistemas alternativos de energia, além da aplicação de sistemas de certificação ambiental, seguindo pressupostos a favor da sustentabilidade arquitetônica e urbana, considerando preocupações sociais, culturais e estéticas (tradição, memória, beleza e conforto), bem como a adequação das questões ambientais em áreas de grande concentração urbana, buscando se inserir no modelo socioeconômico vigente. (CASTELNOU, 2009)

4

Inglaterra, com o advento das ferrovias desde o século XVIII. Contudo, foi o pioneiro Malcom

McLean (1913-2001) o único que obteve sucesso com a proposta de sua padronização em

1956, a qual foi incorporada ao sistema da INTERNATIONAL STANDARDS ORGANIZATION – ISO em

1970, difundindo-se mundialmente a partir de então5.

Do ponto de vista geométrico, um container padrão ISO é um prisma retangular com seis

faces e pelo menos uma abertura (Figura 01). Estruturalmente, trata-se de uma caixa metálica,

com base de aço e revestimento geralmente feito em aço COR-TEN6 com perfis especiais

padronizados e paredes estruturais – ou portantes –, cujos pontos principais de apoios de

cargas são seus cantos (SLAWIK et al., 2010). Além disso, possui piso em madeira

aglomerada, cuja resistência é semelhante à de um pavimento de concreto (300 kg/m2), sendo

selado internamente com silicone e, como é feito para ser empilhado, suporta até quatro vezes

o seu peso (FOSSOUX et CHEVRIOT, 2013). O tipo de aço utilizado torna o container

resistente a todos os tipos intempéries, como frio e calor excessivos, chuvas intensas, maresia,

fogo e até roedores, bem como as vedações em silicone o impedem de afundar no mar

(KOTNIK, 2008). Cabe observar que a capacidade estrutural dos containers é bastante elevada

e, devido a limitações dessa, o limite para empilhamento vertical varia de três a oito pisos.

(SLAWIK et al., 2010)

FIGURA 01 Vista exterior e interior de um

container padrão ISO. (KOTNIK, 2008)

5 Segundo Kotnik (2008), o sucesso do container como elemento de transporte de cargas foi resultado das

experiências anteriores de McLean com o ramo de transportes rodoviários e seu comportamento empreendedor, que o fez investir em sua ideia inicial, levando-o a comprar a maior companhia de transporte naval da época para implantá-la, o que resultou na atualmente conhecida empresa Maersk-Sealand. Entretanto, o novo paradigma também teve como efeito colateral o acúmulo de unidades obsoletas em todo o mundo, vendidas por baixos preços; problema que se tornou oportunidade para alguns arquitetos. De acordo com Fossoux et Chevriot (2013),

algumas das normas ISO para o chamado Dry Container, que são os mais frequentemente usados para construção civil, seriam as seguintes: ISO 668, que regula as dimensões externas; ISO 1161, que trata sobre cantos que se enquadram nas dimensões; ISO 1496-1, que estabelece e faz alguns testes obrigatórios específicos; ISO 1894, que regulamenta as dimensões internas; e ISO 6346, que exige que a unidade seja incluída em um código, regulação e marcas de sua origem e seus proprietários anteriores.

6 O aço patinável ou dito COR-TEN (Corrosion Resistance Tensile Strength) é composto por uma liga de cobre, cromo, fósforo, níquel e molibdênio, que sofre tratamento anti-corrosivo e pode resistir a condições climáticas extremas, como temperaturas entre - 30 e 80°C. A pátina do metal, é uma camada de óxido que fornece proteção contra corrosão e leva até dois anos para se formar, através de sucessivos períodos de umidade. (FOSSOUX et CHEVRIOT, 2013)

5

Ainda de acordo com Slawik et al. (2010), há diversos tipos de contêineres para

propósitos específicos dependendo do tipo de carga, o que faz com que possuam ou não

ventilação, sistema de resfriamento (Reefer), lateral aberta ou topo aberto (Open Top), além de

poderem constituir um tanque (Tank) ou serem planos (Flat Rack). O tipo de container mais

usado para construção civil é o denominado container seco (Dry Box), projetado para o

transporte de mercadorias não-poluentes e não-líquidas, tais como alimentos e roupas, sendo

suas dimensões especificadas pelo padrão ISO7. (FOSSOUX et CHEVRIOT, 2013)

Kotnik (2008) afirma que containers são elementos baratos e passíveis de reutilização,

visto que são descartados ainda dentro da vida útil em função do menor preço de compra que

de retorno ao local de origem. Em função disto, há excedentes que lotam diversos portos

ocidentais, em virtude do desequilíbrio entre importações e exportações, o que possibilita serem

vendidos a preços baixos. Assim, despertaram o interesse de arquitetos e construtores,

percebendo-se um recente crescimento de projetos que levam em conta seu uso como unidade

espacial, para diversas tipologias, seja pelo seu formato como pelo reaproveitamento de

materiais; ou ainda, como alternativa construtiva rápida em situações temporárias.

Contêineres de carga foram os primeiros a serem usados como abrigos temporários,

como barracões ou espaços de armazenamento, sem alteração na estrutura original, e

posteriormente, passaram a ser adaptados para

emprego como habitações, já no último quartel

do século passado (SLAWIK et al., 2010).

Entretanto, Fossoux et Chevriot (2013) afirmam

que os primeiros edifícios containers da Europa

surgiram no início da década de 2000, mais

especificamente com as moradias estudantis

criadas por Eric Reynolds em Docklands,

Londres (Container City, 2001); tipologia que

sua vez, Kotnik (2008) diz que a arquitetura em

7 Os três tipos mais comuns de containers para uso em arquitetura, segundo suas dimensões, são classificados em: 20’ISO (de 20 pés ou 6 m de comprimento); 40’ISO (com 40 pés ou 12 m); e 45’ISO (com comprimento de 45 pés ou 13,7 m, que tem altura de 9,5 pés ou 2,9 m, tornando-o conhecido como High Cube). Geralmente, a altura padrão (Standard Cube) é de 8,5 pés ou 2,6 m, embora haja aqueles, mesmo raros, de 8 pés ou 2,4 m (Low Cube), além dos já citados – e que têm aumentado de frequência –, os High Cubes. Quanto à largura dos contêineres, esta é universalmente padronizada e igual a 8 pés ou cerca de 2,4 m). (KOTNIK, 2008; SLAWIK et al., 2010).

FIGURA 02 Containers como instalações: Middelheim Museum, Antuérpia, Bélgica. (KOTNIK, 2008)

6

contêineres surgiu como manifesto artístico e arquitetônico, exaltando-se sua natureza

cosmopolita, mobilidade, asceticismo espacial e interiores minimalistas, gerando assim

espaços de uso múltiplo (Figuras 02 e 03).

Nota-se o consenso entre os vários autores pesquisados sobre as vantagens da

reciclagem arquitetônica de containers em relação às tecnologias construtivas convencionais,

as quais podem ser listadas como: a modularidade e consequente variedade compositiva; a

leveza da estrutura; a resistência a intempéries; a ampla quantidade disponível; a rapidez na

obra quando comparada à alvenaria; o menor custo de fundação e o apelo sustentável. Além

destes pontos positivos, aponta-se a semelhança com sistemas pré-fabricados, devido ao

menor custo por m2 e por sua fabricação em escala, o que acrescenta como vantagens o preço

de consumo e a economia no custo final da obra8. Há ainda a conveniência de uso em áreas de

risco – por exemplo, de terremotos –, já que o container apresenta um comportamento

estruturalmente elástico. (FOSSOUX et CHEVRIOT, 2013)

Outro aspecto em que há coincidência entre os pesquisadores trata-se da flexibilidade

do sistema, ou seja, a possibilidade de ampliação gradual das construções que utilizam

containers, conforme as

necessidades dos usuários. Soma-

se a tudo isto a estética industrial e

sua forma, os quais favorecem a

criação de terraços e tetos-jardim,

assim como a implantação em

terrenos estreitos, além de con-

seguirem simbolizar modernidade.

Tal argumento de Fossoux et

Chevriot (2013) é convergente com

a visão de Slawik et al. (2010),

para quem tal estética favorece a

arquitetura de eventos.

8 Segundo Slawik et al. (2010), que consideram o preço do container barato, um novo de 20’ custa em torno de 2.500 euros (cerca de R$ 8.200) e um usado, 1.300 euros (cerca de R$ 4.200), sendo que a maioria dos containers são usados uma única vez. Kotnik (2008) critica o encarecimento dos contêineres devido à maior divulgação de projetos que os reutilizam. Já se pode sentir tal efeito no Brasil: em matéria recente do jornal Gazeta do Povo, afirma-se que os mesmos chegam a custar no país entre 8.000 e 12.000 reais a unidade, ou seja, mais caros que na Europa. (N.A.)

FIGURA 03 Vistas explodidas de container de carga e container adaptado

para construção. (SLAWIK et al., 2010; adaptado)

7

De acordo com Kotnik (2008), todas essas vantagens tornaram os containers atrativos

tanto para profissionais quanto clientes e, embora tenham se tornado uma espécie de moda –

pela divulgação crescente de projetos pela mídia –, a qualidade da arquitetura feita com esses

elementos pode ser exemplificada pelos diversos prêmios por elas recebidos. Já Slawik et al.

(2010) acreditam que a maior popularidade dos projetos envolvendo-os seja devida ao

significado cult adquirido também devido à associação da estética industrial ao consumo e a

determinadas marcas.

Também há muitos itens comuns entre os autores pesquisados no que se refere às

desvantagens da reciclagem arquitetônica de containers, mas todos ressaltam que estas

podem ser facilmente contornadas desde que se utilizem materiais e técnicas adequadas, além

de um criterioso projeto arquitetônico e da capacidade do arquiteto em contornar as limitações

do sistema construtivo. Entre tais pontos negativos estão: os problemas de conforto térmico (já

que o container, em seu material e forma, possui capacidade térmica alta), que podem ser

contornados com isolamento adequado e espessura mínima de revestimentos; e a necessidade

de tratamento químico dos containers usados (jateamento), que é necessário para evitar

eventual contaminação por cargas transportadas. Cita-se ainda a fragilidade causada pelas

modificações na estrutura e a necessidade de mão-de-obra específica – portanto, mais cara –

para fazê-las corretamente e garantir a estabilidade da construção. (KOTNIK, 2008; SLAWIK et

al., 2010 ; FOSSOUX et CHEVRIOT, 2013)

Há igualmente os problemas representados pela largura pequena e pé-direito baixo das

unidades, os quais podem ser contornados pelo uso de mais containers, unidos ou articulados,

assim como a espessura adequada de revestimentos ou emprego de pés-direitos duplos. Kotnik

(2008) acrescenta ainda como soluções para a questão térmica a utilização de isolantes

cerâmicos usados na indústria aeroespacial; ou uma fachada adicional para o calor composta

por painéis ou pérgolas.

De qualquer forma, os contêineres, segundo Fossoux et Chevriot (2013), constituem

uma alternativa ecológica para construções convencionais, que pode ser aliada a soluções

bioclimáticas e sustentáveis; linguagem que vem se popularizando as poucos e tornando-se

parte da paisagem arquitetônica. A construção em containers dispensa escavações, o que gera

menor impacto no terreno. Além disso, projetos pequenos ou conceituais costumam também

usar soluções autossuficientes de energia, como painéis solares e reuso de água da chuva.

Prevê-se, no entanto, que futuramente o aço seja substituído, em função do custo produtivo,

por outro material, porém igualmente resistente, reciclável e reutilizável. (KOTNIK, 2008)

8

Quanto às tipologias mais frequentes, há consenso dos autores quanto potencial como

solução para a demanda de prédios públicos e de urgência para assistência humanitária, bem

como de habitação social (ROCHA, 2014). Destacam-se as habitações unifamiliares e os

projetos conceituais de arquitetura comercial, hotéis, restaurantes, moradia estudantis e

instalações artísticas, sendo geralmente construções de uso múltiplo (CAMARGO, 2014), além

de arquitetura para eventos (SLAWIK et al., 2010). Pode-se também classificar as edificações

assim executadas de acordo com a forma de construção: com uso exclusivo de containers,

misto (combinado com outra estrutura ou outros tipos de materiais), como extensão de

construção existente, como unidades articuladas ou empilhadas (KOTNIK, 2008).

Slawik et al. (2010) alertam, entretanto, para o uso de tecnologias que imitam a

aparência do contêiner e ironiza tal postura, lembrando que embora se reverta em maior

divulgação desse tipo de arquitetura, nesses casos, nada se contribui para a técnica construtiva

em questão, a não ser pelo uso de superfícies metálicas ou, no máximo, articulação de espaços

semelhantes em área ao container.

O sistema espacial segue o sistema de arranjo modular dos módulos de containers, que incluem relativamente pouca liberdade. Variações são possíveis dentro desse princípio de organização (layout), e cômodos vazios e intermediários podem ser criados omitindo containers. Porém, deve se levar em conta que cargas verticais são distribuídas exclusivamente através dos cantos do container. Quando módulos são combinados, cargas horizontais também são suportadas e transmitidas pelos dispositivos de junção. (SLAWIK et al., 2010, p. 15)

Segundo Kotnik (2008), os containers são elementos que possuem alta potencialidade

arquitetônica, pois já possuem dois dos três elementos da tríade vitruviana, a saber: firmitas

(durabilidade) e utilitas (utilidade), cabendo ao arquiteto realizar a terceira, venustas (beleza).

São pré-fabricados e produzidos em massa, compatíveis com quase todos os tipos de

FIGURA 04 Flexibilidade dos containers (KOTNIK, 2008)

FIGURAS 04 E 05 Flexibilidade e modularidade dos containers.

(KOTNIK, 2008; SLAWIK et al., 2010)

9

transportes atuais e disponíveis no mundo todo, além de modulares, recicláveis e reutilizáveis

(Figuras 04 e 05).

Quando se observa a construção em containers no mundo, percebe-se que há padrões

variáveis de acordo com a região em que se constrói. O custo benefício dos edifícios, por

exemplo, pode ser um fator importante em regiões menos desenvolvidas. Edifícios comerciais e

educacionais, além de obras de infraestrutura como aeroportos podem ser construídas com

baixos custos para estimular o desenvolvimento em determinadas regiões – ou se pode desejar

que as construções sejam feitas em curto prazo mudar circunstâncias econômicas.

Além disso, há a variável da legislação local, já que, em alguns lugares, edifícios em

containers são considerados tipos especiais de construção, com regras específicas, enquanto

que em outros, na maioria das vezes, deve-se submeter o projeto à mesma avaliação que uma

edificação convencional. Outros fatores variáveis de acordo com a região relacionam-se à

estabilidade estrutural e a influência global sobre preço – economia local e quantidade de

containers recebidos / exportados, bem como o preço do aço –, bem como fatores culturais, em

que a mobilidade da casa é desejável ou não; ou ainda, a aceitação de construções pré-

fabricadas e, analogamente, dos contêineres como solução alternativa. (SLAWIK et al., 2010)

5 MATERIAIS E MÉTODOS

De cunho exploratório, essa pesquisa de iniciação ao desenvolvimento tecnológico e

inovação teve como base principal a leitura e a tradução de manual internacional de construção

em container (SLAWIK et al.,2010), que servirá como modelo para a criação de um manual para

reciclagem arquitetônica, que é o objetivo do projeto do qual esta pesquisa faz parte. Realizou-

se igualmente uma revisão bibliográfica inicial, a partir de fontes digitais, livros nacionais e

internacionais, assim como sites, artigos e relatórios de pesquisa previamente desenvolvidos e

vinculados ao mesmo projeto.

Na primeira etapa, buscou-se pontos comuns ou não entre autores sobre o uso de

contêineres na construção civil, em termos de dimensões, aplicabilidade, potencial

arquitetônico, caráter modular e soluções espaciais recorrentes, para estender tal entendimento

na arquitetura brasileira. Depois, realizou-se o estudo de 03 (três) casos, estes selecionados

com base na representatividade das obras e em programas de necessidades distintos, o que

permitiria comparações e entendimento da tecnologia construtiva estudada. Assim, foram

escolhidos: uma residência de alto padrão, projetada pelo arquiteto Danilo Corbas e executada

pela Delta Containers, em Curitiba PR; uma loja de móveis realizada em São Paulo SP pelo

10

Studio MK27, escritório do arquiteto Marcio Kogan; e um hostel, situado em Foz do Iguaçu PR,

da autoria dos arquitetos Karin Niiside e Carlos Salamanca.

Cabe ressaltar que embora existam padrões ISO a respeito do dimensionamento de

contêineres – e também uma patente de autoria de Phillip C. Clark sobre a conversão de

contêineres de carga em edificações habitáveis, datada de 1987 (CAMARGO, 2014), ainda não

há uma norma ou regulamentação brasileira equivalente e convergente com os padrões ou a

legislação nacional. Nesse contexto o projeto de pesquisa que contempla esse trabalho

pretende, em suas próximas etapas, criar o manual brasileiro, como citado anteriormente.

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

No Brasil, a exemplo de outros países, cresce a quantidade de edificações que

reutilizam contêineres, tanto para fins residenciais como no segmento comercial. Alguns dos

primeiros projetos brasileiros em contêineres ganharam notoriedade e, por este motivo, foram

escolhidos para análise neste trabalho, a saber:

I. A primeira residência de alto padrão paranaense, realizada em contêineres e projetada por

Danilo Corbas em um condomínio fechado na cidade de Curitiba PR. O arquiteto é considerado

um dos pioneiros no uso de contêineres na construção civil nacional, pois projetou, além de uma

casa em Bonito MS, a sua própria residência, com cerca de 200 m2 e situada na Granja Viana;

um bairro de alto padrão nos arredores de São Paulo, a qual foi considerada sustentável por

aplicar vários princípios de arquitetura verde (BIORETRO, 2012; AS BOAS NOVAS, 2013). A

moradia curitibana teve grande divulgação em jornais, internet e televisão, além de periódicos

técnicos, como as revistas AU e Téchne, da Editora Pini (JAZRA, 2013);

II. A Loja Decameron, proposta pelo escritório de Marcio Kogan e que foi vencedora dos prêmios:

World Architecture Festival Awards 2011, na categoria melhor construção para compras; e

Interior Best Design of Year Award 2011 (DECAMERON DESIGN, 2015). Essa foi a primeira obra

do arquiteto em uma conhecida rua da capital paulista, frequentada por arquitetos e designers

por concentrar lojas de decoração (BRITO, 2012);

III. O Tetris Container Hostel, inaugurado em dezembro de 2014, em Foz do Iguaçu PR, e projetado

pelos arquitetos Karin Niiside e Carlos Salamanca (GAZETA DO POVO, 2015). Este adota

tecnologias e conceitos de arquitetura verde, sendo citado pelo portal de turismo do Governo

brasileiro como o maior hostel container do mundo (BRASIL TURISMO, 2015). É fruto da

reutilização da estrutura montada para a Casa Foz Design 2013; evento que visava apresentar a

arquitetos e visitantes alternativas construtivas sustentáveis. (CASA FOZ DESIGN, 2013)

Outro critério de escolha dos casos foi selecionar edificações com programas de

necessidades distintos. Desta forma, pôde-se analisar a aplicabilidade do sistema construtivo a

diferentes funções, além da adequação dos acabamentos, modulação e articulação dos

contêineres como geradoras de espaços múltiplos, como observam Slawik et al. (2010). Segue-

se então com a análise das três obras escolhidas como casos ilustrativos.

11

ESTUDO DE CASO I Residência de Alto Padrão

2013 – Curitiba PR

Danilo Corbas (projeto); Priscila Ferstenberg (interiores)

Uso: Habitacional (Residência)

Área total: 240 m2

Número de contêineres: 06 (seis) contêineres High Cube 40’ISO (2,4m x 12m x 2,9m)

A residência, localizada na região leste de Curitiba, foi construída em um condomínio

fechado, em terreno com testada relativamente pequena (Figura 06). A proprietária Katia

Gabardo afirma que optou pelo sistema construtivo devido à rapidez construtiva e maior limpeza

no canteiro de obras, em relação a outras técnicas (DELTA CONTAINERS, 2015a; 2015b). A

edificação é composta com seis contêineres, sendo três no primeiro piso e três no segundo,

que, articulados e deslocados entre si, produzem espaços vazios e intermediários, nos quais

foram colocadas a garagem e diversas varandas. O deslocamento dos módulos dá-se

aparentemente a 1/3 do comprimento de cada módulo (Figura 07).

FIGURA 06 FIGURA 07

Os contêineres usados na obra tinham cerca de dez anos de uso (JAZRHA, 2013) e

tiveram sua reciclagem – adaptações, cortes e molduras – executadas pela própria empresa

Delta Containers (ESTADO DE MINAS, 2013), que também os posicionou sobre as fundações,

compostas por sapatas isoladas de concreto (Figuras 08 e 09).

No piso térreo, o programa concentra as áreas social e de serviços, estas compostas

por: garagem para dois automóveis, escritório e uma pequena biblioteca, além de sala

integrada à cozinha e sala de refeições, terraço, copa, churrasqueira, depósito e área de

serviços. No segundo piso, situa-se a área íntima, com três dormitórios sendo um deles uma

suíte, além de closet, banheiro social e dois terraços (Figuras 10 e 11).

12

FIGURA 08 FIGURA 09 FIGURAS 10 E 11

Os materiais empregados para isolamento térmico (lã-de-rocha), os revestimentos de

paredes (drywall), pisos e elementos nas fachadas (madeira) demonstram tanto a consideração

com as questões térmicas, já apontadas nos capítulos anteriores deste trabalho, quando o uso

de técnicas secas e mais dispendiosas, uma vez que exigiram o emprego de mão-de-obra

especializada. (FIGUEROLA, 2013)

Além dos amplos espaços obtidos pela junção de contêineres, o que expande as

dimensões originais dos elementos pré-fabricados, outro aspecto bastante comum em casas de

alto padrão consiste na adoção de um pé-direito mais alto, o que levou ao reuso de contêineres

do tipo high cube, os quais possuem uma altura de 2,90 m.

A soma desses fatores resultou em ambientes internos com acabamentos sofisticados,

como forros rebaixados com iluminação direcionada e elementos que conferem identidade à

fachada. Neste caso, a própria composição com os contêineres aliada a elementos em madeira,

revela que, além da proteção térmica, havia a intenção dos proprietários de afastamento da

estética industrial e maior proximidade com o aspecto residencial (Figuras 12, 13 e 14).

FIGURA 12 FIGURA 13 FIGURA 14

13

ESTUDO DE CASO II Loja Decameron

2011 – São Paulo SP

Studio MK27 (projeto e execução)

Uso: Comércio (Loja de móveis e decoração)

Área total: 252 m2

Número de contêineres: 06 (seis) contêineres, sendo 02 (dois) Box (2,9m x 2,9m x 2,9m) e

04 (quatro) High Cube 40’ISO (2,4m x 12m x 2,9m)

A loja Decameron (Figuras 15 e 16) está localizada em uma região nobre de São Paulo

SP, na Alameda Gabriel Monteiro da Silva, no bairro Pinheiros, a qual é conhecida pela

variedade de lojas de móveis e

galerias de arte, sendo por isto

bastante atrativa a arquitetos e

designers (SOBRAL, 2011). De

acordo com o site da empresa,

trata-se da primeira loja do Brasil

executada com contêineres, tendo

recebido prê-mios importantes.

(DECAMERON DESIGN, 2015).

FIGURA 15

De acordo com o arquiteto Marcio Kogan, responsável pelo Studio MK27, uma das

premissas do projeto era a ocupação leve do solo, visto que o terreno utilizado era alugado,

além do uso de elementos industriais com fácil montagem. Assim, o partido adotado (Figura 17)

consiste em dois túneis de contêineres, obtidos com a soldagem destes; acoplados a um

galpão de concreto armado com

pé-direito duplo, que conectado

àqueles, resulta em um volume

cúbico contrastante. O vão livre

abaixo do volume de concreto

guarda os móveis, assim como

abriga eventos realizados na loja

(Figura 18). (STUDIO MK27, 2015)

FIGURA 16

14

Além disso, notam-se os espaços vazios deixados e a apropriação que se permite de

todos os ambientes integrados, gerando fluidez espacial entre os espaços edificados, os vazios

no terreno e a própria cidade, como solicitou o proprietário do estabelecimento (Figura 19).

FIGURA 17 FIGURA 18

Por ser a primeira edificação do gênero no país volta a um programa comercial, Kogan

ressalta que foram feitas muitas

visitas à obra e diversos detalhes

foram acertados no próprio

canteiro, sendo os ajustes nos

contêineres e suas adaptações

realizados no Porto de Santos SP.

Os volumes possuem cobertura

em painéis impermeabilizados por

manta asfáltica, a qual atua como

isolante térmico. (DECAMERON

DESIGN, 2015)

FIGURA 19 FIGURA 20

Internamente, os módulos foram revestidos com MDF branco para destacar os móveis

(Figura 20). A disposição linear resultante comprova que o uso de contêineres é uma ótima

alternativa quando se tem terrenos estreitos. Além disso, percebe-se aqui o favorecimento da

estética industrial a este tipo de programa funcional, a qual está reforçada pelo uso das cores

fortes e também de outros elementos que remetem à artificialidade, tais como: as portas de

correr de policarbonato, que conectam loja, jardim interno e cidade, o piso de cimento queimado

com juntas de dilatação modulados e o piso de borracha industrial. (SOBRAL, 2011)

15

ESTUDO DE CASO III Tetris Container Hostel

2013/14 – Foz do Iguaçu PR

Karin Niiside e Carlos Salamanca (projeto)

Uso: Hospedagem (Hostel)

Área total: 498 m2 (+1.020 m2 de exposição)

Número de contêineres: 15 (quinze) contêineres High Cube 40’ISO (2,4m x 12m x 2,9m)

Inspirado no jogo russo Tetris, criado em 1984 e cujo objetivo é empilhar tetraminós9,

esta obra é considerada o maior hostel realizado em contêineres do mundo (Figuras 21 e 22),

cujo partido fundamenta-se na premissa de haver “a conexão de ideias e pessoas de todas as

partes do mundo”, da mesma forma que os módulos são conectados (BRASIL TURISMO,

2015). A edificação foi originalmente concebida para abrigar a Casa Foz Design 2013, que

depois foi transformada em hostel pela dupla de arquitetos a partir de princípios de arquitetura

verde. Os ambientes são resultado do empilhamento e rotação de contêineres, que geraram

espaços intermediários e vazios usados como áreas de convivência.

FIGURA 21 FIGURA 22

De acordo com a revista Fecomércio SESC/SENAC (2015), a arquiteta Karin Niiside

teve contato com o sistema construtivo durante seu mestrado na Espanha e, em entrevista,

relata as dificuldades encontradas durante o projeto, as quais incluíram a falta de mão-de-obra

especializada, fornecedores e acabamentos adequados para o uso em contêineres. Com

capacidade para 70 hóspedes, o hostel possui, além dos quartos, uma cozinha para preparo

coletivo de alimentos, sala coletiva, jardim, varanda, piscina e um bar também feito de

contêineres (Figuras 23 e 24), assim como um mirante com vista para a cidade de Foz do

Iguaçu PR. (TETRIS CONTAINER HOSTEL, 2015)

9 De acordo com Silva et Kodama (2015), tetraminós são peças diversas formadas com quatro quadrados, as quais

são derivadas dos poliminós, ou seja, de um tipo de resolução matemática para recobrimento de tabuleiros de xadrez com peças quadradas, originalmente publicadas por S. W. Golomb no artigo intitulado Cheker boards and polyminoes, no periódico American Mathematical Monthy (1954, EUA).

16

FIGURA 23 FIGURA 24

A edificação

conta com cobertu-

ras verdes, capta-

ção e reuso de á-

gua da chuva nos

banheiros, uma cis-

terna de 20.000

litros para armaze-

namento e sistema

de tratamento de

águas cinzas nas

pias da cozinha, destinada posteriormente para rega de jardins. Além do uso de materiais como

madeira plástica e pisos drenantes, o hostel possui elementos que remetem à ideia de

reciclagem/reutilização, como pallets, tonéis de óleo e caixas plásticas de supermercado, assim

como a piscina, construída com um container impermeabilizado. (FECOMÉRCIO

SESC/SENAC, 2015; TETRIS CONTAINER HOSTEL, 2015; BRASIL TURISMO, 2015)

A mistura de técnicas construtivas verdes materializa o conceito de sustentabilidade

presente na proposta. O próprio reaproveitamento do espaço construído para a Casa Foz

Design aliado às tecnologias de reciclagem empregadas no edifício (Figuras 25 e 26), dos

acabamentos externos aos interiores, passando pelo projeto paisagístico, resultaram em uma

obra nacional que ilustra os princípios de reaproveitamento arquitetônico de contêineres para

programas não residenciais ou comerciais. Tal caráter funciona como elemento de divulgação

do próprio hostel, demonstrando assim a contribuição mercadológica (marketing empresarial) e

o apelo sustentável associados a esse tipo de reuso.

FIGURA 25 FIGURA 26

17

7 CONCLUSÕES

A partir do que foi pesquisado e analisado, percebeu-se que a arquitetura em

contêineres, já empregada em diversos países do mundo como alternativa sustentável, vem

produzindo obras que possuem qualidades arquitetônicas, tanto em termos estéticos como

construtivos, em respeito à tríade vitruviana – Utilitas, Firmitas e Venustas –, a qual aponta para

o necessário equilíbrio entre os aspectos funcionais, técnicos e estéticos. Soma-se a isto o fato

de que, sendo um contêiner um módulo, de tamanho preestabelecido e pré-fabricado, sua

combinação possibilita operações formais diferenciadas, como aquelas enunciadas por Francis

D. K. Ching: adição, translação, rotação, etc. (CHING, 2008)

A leitura e tradução do manual internacional sobre construção em containers permitiram

o conhecimento sobre sua origem; sua caracterização formal e técnica; sua aplicabilidade e

versatilidade em projeto e execução, assim como orientaram a escolha dos casos para estudo

no Brasil, possibilitando a comprovação de algumas das hipóteses levantadas pelos autores. A

residência projetada por Danilo Corbas passou por intensa divulgação midiática, o que

evidencia a crítica de que a arquitetura em contêineres acabou se transformando em uma

“moda”. Em contato pessoal com o arquiteto, notou-se que este preferiu, provavelmente devido

à grande exposição de seu trabalho, a retenção do conhecimento técnico, segundo ele, não

revelado por questões estratégicas de negócio. Tal postura é compreensível se interpretada

pela perspectiva de mercado, mas questionável quando se pensa no papel do arquiteto

enquanto profissional transformador da realidade social; elo que pode ser facilitado pela

academia. Daí a importância da presente pesquisa, que tem como objetivo secundário a criação

de um manual de âmbito prático, para atender a demandas latentes da sociedade.

Por meio da descrição e ilustração dos casos selecionados, pode-se ressaltar as

seguintes potencialidades da arquitetura em contêineres:

O nível de complexidade compositiva que pode ser alcançada, desde a composição

simples, por adição e translação de módulos, como é o caso da residência, até a criação

de composições mais complexas, obtidas a partir de subtração e interpenetração de

elementos, como a Loja Decameron e o Tetris Container Hostel;

A versatilidade do contêiner no que se refere à sua implantação, o que permite facilidade

de locação, como observada no hostel e na residência paulistana, assim como

adequação a um terreno estreito, ocorrida tanto na loja como na habitação;

A modulação, a articulação e a combinação dos contêineres, que, aliados a outras

técnicas construtivas e acabamentos, possibilitam a geração de espaços intermediários

e vazios nas três obras analisadas, ressaltando o potencial plástico desses elementos

construtivos; A necessidade de cuidado referente às questões termoacústicas e visuais,

18

o que conduz a adoção de revestimentos e acabamentos adequadamente especificados

conforme as intenções estéticas do cliente/empresa, o acesso a fornecedores e a

disponibilidade de mão-de-obra especializada;

A aplicabilidade conjunta de outras estratégias visando a economia energética, o baixo

impacto ambiental e a sustentabilidade construtiva, as quais vão desde a especificação

de materiais certificados, a implementação de sistemas de reaproveitamento de águas e

o emprego de energias limpas, além da própria ação de reciclagem de containers.

Dessa forma, pode-se confirmar a aplicabilidade do sistema construtivo com contêineres

aos diferentes programas analisados, bem como às demais possibilidades estéticas

proporcionadas pela junção dos módulos e sua articulação. Nota-se que, em todos os casos, a

associação de uma boa articulação modular aos acabamentos e projetos complementares ao

programa gerou espaços com operações formais simples, como deslocamentos, rotações e

adições. Além disso, observou-se a correlação entre o alcance dos requisitos funcionais,

técnicos e estéticos de projeto, estes aliados à composição com cores, revestimentos e projetos

paisagístico e de interiores, visando reforçar ou não a estética industrial dos contêineres.

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k6X_4qkbCo/s400/constru%C3%A7%C3%A3o.jpg 15/03/2015

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23 e 24 http://www.casafozdesign.com.br/a-casa/ 05/05/2015 25 e 26 http://www.dicasdehoje.com.br/conheca-o-hostel-brasileiro-feito-de-containers/ 05/05/2015

10 APRECIAÇÃO DO ORIENTADOR

Este trabalho de iniciação tecnológica e inovação cumpriu o cronograma inicial, permitindo

atingir os objetivos iniciais, não ocorrendo atrasos e imprevistos. Seu desenvolvimento junto ao

professor-orientador permitiu a complementação e publicação de material didático do curso de

arquitetura e urbanismo da UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR. A aluna voluntária

apresentou grande interesse e dedicação na elaboração das tarefas indicadas pelo professor-

orientador, permitindo o desenvolvimento satisfatório da pesquisa. Tratando-se de um trabalho

introdutório sobre o tema e da vastidão de questões possíveis de serem abordadas em investigações

nesse campo de trabalho, considera-se que os resultados atingidos são adequados aos meios

utilizados e também aos fins pretendidos.

DATA E ASSINATURAS

Curitiba, julho de 2015.

Vanessa Francisca Tavares Pereira

Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto