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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA EM DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E INOVAÇÃO RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA FABIANA GATTO DE ALMEIDA INICIAÇÃO TECNOLÓGICA PESQUISA VOLUNTÁRIA 2013 PLANO DE TRABALHO: Parâmetros Técnicos e Funcionais para o Projeto de Salas de Cinema Relatório final apresentado à Coordenadoria de Iniciação Científica e Integração Acadêmica da Universidade Federal do Paraná UFPR por ocasião da conclusão das atividades de Pesquisa Voluntária 2013. NOME DO ORIENTADOR: Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto Departamento de Arquitetura e Urbanismo TÍTULO DO PROJETO: Arquitetura de Cinemas: Concepção de Recurso Midiático para o Projeto de Espaços Arquitetônicos Cinematográficos. BANPESQ/THALES: 2012025991 CURITIBA 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA EM DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E INOVAÇÃO

RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA

FABIANA GATTO DE ALMEIDA

INICIAÇÃO TECNOLÓGICA – PESQUISA VOLUNTÁRIA 2013

PLANO DE TRABALHO:

Parâmetros Técnicos e Funcionais para o Projeto de Salas de Cinema

Relatório final apresentado à Coordenadoria de Iniciação Científica e Integração Acadêmica da Universidade Federal do Paraná – UFPR por ocasião da conclusão das atividades de Pesquisa Voluntária 2013.

NOME DO ORIENTADOR:

Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto

Departamento de Arquitetura e Urbanismo

TÍTULO DO PROJETO:

Arquitetura de Cinemas: Concepção de Recurso Midiático para o Projeto de

Espaços Arquitetônicos Cinematográficos.

BANPESQ/THALES: 2012025991

CURITIBA

2013

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1. TÍTULO

Parâmetros Técnicos e Funcionais para o Projeto de Salas de Cinema.

2. RESUMO

A arte cinematográfica envolve tanto aspectos de expressão artística como de indústria de

entretenimento, consistindo em uma das áreas de atuação profissional dos arquitetos, os quais

seriam os principais responsáveis pela concepção cenográfica e, em especial, dos ambientes de

exibição desta considerada a “sétima arte”. As salas de cinema exigem, em seu projeto,

construção e funcionamento, uma série de fatores dimensionais; de acesso e circulação; de

projeção e exposição; e de execução técnica e manutenção, os quais garantem sua qualidade

tecnológica, estética e funcional, além de aspectos relacionados à segurança, ergonomia e

conforto ambiental.

Esta pesquisa de iniciação tecnológica faz parte do projeto intitulado “Arquitetura de

Cinemas: Concepção de Recurso Midiático para o Projeto de Espaços Arquitetônicos

Cinematográficos” e tem como principal intuito realizar o levantamento dos parâmetros técnicos e

funcionais para salas de cinema contemporâneas, de modo a fornecer subsídios à proposta de um

cd-rom/site eletrônico sobre o assunto a serem disponibilizados para consulta pública à conclusão

da pesquisa.

Como metodologia, adota-se a pesquisa teórica em bases web e bibliográficas, a consulta

e coleta de informações, a seleção de dados e, por fim, a análise de caso, através da montagem

de tabela, gráfico e/ou esquemas de salas de cinema, os quais descrevem seus mais importantes

princípios, normas e indicações sobre projeto e construção, isto é, parâmetros dimensionais,

ergonômicos, de fluxo e circulação, além de projeção, iluminação e acústica. Como resultado,

definiram-se diretrizes projetuais e de dimensionamento que possibilitem a melhor adequação e

distribuição do programa de necessidades e do conforto ambiental.

Percebe-se que concorrem para o projeto contemporâneo de salas de exibição

cinematográficas os aspectos relacionados a: acessibilidade, visibilidade, previsão de fluxos e

circulação, disposição de saídas de emergência, espaçamento e dimensionamento de poltronas,

tamanho e disposição tanto da tela como da cabine de projeção, conforto térmico, isolamento

acústico, adequação luminotécnica e, em especial, previsão de parâmetros voltados à

sustentabilidade socioambiental.

3. OBJETIVOS

Essa proposta de iniciação à pesquisa pretende enfocar os parâmetros de projeto

arquitetônico para salas de cinema, sendo de caráter teórico e cunho exploratório, baseando-se

em fontes web e bibliográficas sobre os condicionantes técnicos e funcionais necessários para a

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criação de salas contemporâneas de projeção cinematográfica. Busca-se descrever seus

principais parâmetros dimensionais, ergonômicos, de fluxo e circulação, além de requisitos para

projeção, iluminação e acústica, de modo a subsidiar o recurso midiático em desenvolvimento na

iniciação tecnológica. De modo específico, a pesquisa visa dar subsídios para montar uma

prancha e apresentação oral em evento científico-tecnológico da UFPR, em que constem:

parâmetros projetuais, descrição técnica, esquemas funcionais e 03 (três) exemplos de salas

contemporâneas de projeção cinematográfica.

4. INTRODUÇÃO

Desde a primeira exibição de cinema no país, a qual ocorreu em 8 de Julho de 1896, na

cidade do Rio de Janeiro), a indústria cinematográfica brasileira cresceu muito e, apesar de altos e

baixos no decorrer do século passado, atingiu um patamar de respeito e reconhecimento tanto

nacional como internacional, especialmente a partir da década de 1990, quando a Globo Filmes

foi criada e ocupou a supremacia das produções, inserindo de vez o hábito do cinema no cotidiano

brasileiro. Segundo os últimos dados divulgados pela AGENCIA NACIONAL DO CINEMA – ANCINE,

em seu Informe Anual de Acompanhamento de Mercado – Filmes e Bilheterias (2012), o público

que frequentou as mais de 2.000 salas de exibição do Brasil bateu o recorde histórico, chegando a

146,4 milhões de espectadores e consequente arrecadação de R$ 1,6 bilhões, o que equivale a

uma alta de 12,13% em relação ao ano anterior.

Diante desse panorama, a proposta aqui é a de reunir informações técnicas e funcionais a

respeito do projeto de salas de cinema com vistas à acessibilidade e conforto ambiental destas, de

modo que possam atender tanto às questões de segurança e eficiência como as exigências que

as tecnologias contemporâneas possuem, sem menosprezo de valores estéticos. A

regulamentação de sistemas e diretrizes projetuais proporciona mudanças significativas no modo

de projetar e construir, sendo que, no caso específico das salas de cinema, órgãos como a

ANCINE, a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CINEMATOGRAFIA – ABCINE e o Ministério da Cultura, em

conjunto à ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT, são corresponsáveis pelo

desenvolvimento de critérios e padrões de qualidade. Soma-se a isto o fato de que o

conhecimento técnico-científico, em paralelo a valores éticos e fatores socioeconômicos,

concorrem em proporcionar um bom projeto arquitetônico e satisfazer a todos os tipos de público.

Assim, a presente pesquisa visa apresentar parâmetros de ergonomia e conforto

ambiental, em relação à acessibilidade, iluminação e acústica, entre outros, de modo a promover

a criação desses espaços de lazer e cultura, incorporando inovações tecnológicas e utilizando-as

de forma funcional e eficiente. Deve ainda refletir uma situação mundial de intercâmbio de

informações, o qual leva a premissas internacionais de reestruturação do espaço cinematográfico,

que devem ser consideradas quando do projeto arquitetônico de sala de cinemas e podem ser

ilustradas por meio de exemplos contemporâneos tanto no Brasil como exterior.

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5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A qualidade técnica de uma sala de cinema está intimamente relacionada com a mídia

cinematográfica, isto é, como são veiculados os produtos dessa indústria, assim como os

aspectos humanos ligados à percepção auditiva e visual. A “experiência do cinema” necessita de

condicionantes específicos, o que pode ser promovido por um ambiente preparado tecnicamente

para esse fim, levando o espectador a mudar sua percepção de tempo e espaço (VAN UFFELEN ,

2009; ABCINE, 2013).

De acordo com Neufert (1998), a sala de cinema deve ser fechada de tal modo que não

permita a passagem de luz e do som exterior, sendo que a sua arquitetura deve verificar a

proporção e dimensões entre a largura e o comprimento do ambiente; o tamanho da tela; a

distância da mesma até a primeira fila de poltronas; a distância entre essas filas e entre última

fileira e a tela; o posicionamento delas, entre outras coisas. A norma técnica brasileira NBR

12.237 – Projetos e instalações de salas de projeção cinematográfica, da ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA

DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT, dispõe sobre esse assunto e promove as diretrizes projetuais

gerais. Por meio da consulta a essa regulamentação nacional e mais alguns documentos

complementares utilizados como referência, pode-se obter parâmetros técnico-funcionais, os

quais são dispostos na sequência, em especial no que se refere àqueles relacionados à sala:

5.1 Qualidade da Imagem

a) Visibilidade:

A projeção deve ocorrer sem que nenhum obstáculo físico coloque-se entre a tela e o

projetor, como, por exemplo: vigas, colunas e luminárias, entre outros. É necessário que a

existência desses elementos seja verificada, tanto na hora de projetar um prédio novo, quanto ao

adaptar uma construção para o cinema. Um obstáculo que não deveria incomodar a projeção,

apesar de ser muito comum, é o espectador à frente independente se esteja sentado ou em pé.

Para que isso não aconteça, é necessário que o escalonamento das fileiras seja adequado; e que

a altura delas esteja em acordo

com a sala de projeção. A

respeito disso, a NBR 12.237

(ABNT) recomenda que a altura

do feixe inferior de projeção em

relação ao plano das cadeiras,

onde o público circula, seja

maior ou igual a 1,90 m (Fig. 1).

Figura 1 – Altura mínima do feixe inferior da projeção

(Fonte: ABCINE, 2013).

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Quanto às poltronas, essas devem ser posicionadas de modo a permitirem um

escalonamento vertical (EV) igual ou, preferencialmente, maior a 0,15 m, sendo essa a distância

entre o topo da cabeça e os olhos (Fig.

2). As poltronas também devem ser

intercaladas entre as fileiras, de modo

que 04 (quatro) delas formem um

retângulo e uma se posicione no meio

desse polígono, e mantenham um

espaçamento de 1 m da próxima fileira

(Fig. 3).

Figura 2 – Escalonamento vertical, considerando-se uma altura de

1,20 m entre o nível dos olhos e o piso (Fonte: ABCINE, 2013). Figura 3 – Implantação das poltronas

(Fonte: NBR 1186, adaptada).

b) Ângulos de Observação:

O ângulo (θ) formado pelo eixo (r) perpendicular

ao plano do encosto da poltrona e uma reta (s) que vá do

centro da cadeira ao centro da tela ao centro da largura

da tela, para cada poltrona, deve ser igual ou,

preferencialmente, inferior a 15º (Fig. 4), pois o cinema

utiliza-se de imagens bidimensionais, que podem sofrer

distorção. Além disso, é importante que o ângulo que as

imagens são oferecidas ao espectador não seja

excessivo e, nesse caso, possa tornar a imagem

imperceptível. Para tanto, a implantação das cadeiras deve ser compreendida dentro de uma área

delimitada por dois planos que façam 110º com as extremidades da tela (Fig. 5).

Figura 4 – Ângulo de visão das poltronas (Fonte: ABCINE, 2013; adaptada). Figura 5 – Área de implantação das poltronas

(Fonte: ABCINE, 2013; adaptada).

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Olhando para o plano

vertical, a ABNT recomenda

que os ângulos de visão do

espectador devem ser de 30º

em relação a um plano

horizontal (α), que passa pelo

centro da altura da tela, e 40

graus em relação a um plano

horizontal (β), que passa pela

borda superior da tela. Além

disso, estabelece que a área

de implantação das poltronas

seja delimitada por um plano

que faça 110º com a borda

superior da tela (Fig. 6).

Figura 6 – Área de implantação das

cadeiras, em corte (Fonte: ABCINE, 2013; adaptada)

c) Tela

A NBR 1186 – Projetos e instalações de salas de projeção cinematográfica (ABNT) utiliza

as dimensões da tela para estabelecer proporções com o tamanho da sala, definindo quais as

distâncias mínimas e máximas da tela de projeção até as poltronas, de modo que as imagens não

fiquem muitos pequenas – e os detalhes percam-se – e nem tão próximas, que a visão se canse.

Sendo assim, as dimensões da tela devem ser definidas em função das dimensões do local – ou

vice-versa (Fig. 7). Segundo a norma citada, a distância mínima entre a tela e a primeira fila de

poltronas deve maior ou igual a 60% da largura da tela, isto é:

Dmin = 0,6 x L onde: Dmin = distância mínima

L = largura da tela

E a distância máxima, ou seja, entre a tela e a última fileira de poltronas, depende do

tamanho da tela. De acordo com a NBR 1186 (ABNT), o ideal é que essa distância seja o dobro

da largura da tela (L), mas é aceitável que o comprimento da sala atinja 2,9 vezes a largura da

tela (Fig. 8), sendo assim:

Dmax. rec. = 2 x L ou

Dmax. ac. = 2,9 x L onde: Dmax. rec. = distância máxima recomendada

Dmax. ac. = distância máxima aceitável L = largura da tela

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Figura 7 – Formatos da imagem projetada para altura constante (Acima) e formatos da imagem projetada para largura

constante (Embaixo) (Fonte: NEUFERT, 1998).

Figura 8 – Dimensões em relação à tela (Fonte: ABCINE, 2013).

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O excesso de curvatura da tela é outro fator que pode prejudicar a percepção visual, uma

vez que pode deformar a imagem projetada (ABCINE, 2013). Preferencialmente, segundo a

norma NBR 12.237 (ABNT), a tela de projeção deve ser plana, porém se acontecer de ser um

pouco curvada – o que acontece em salas muito grandes como as dos cinemas IMAX –, seu raio

de curvatura (R) deve ser superior a duas vezes a distância máxima (Dmax), isto é, entre a tela e o

espectador mais afastado dela. Ou seja:

R ≥ 2 x Dmax

d) Sala de Projeção:

É na cabine de projeção que ficam armazenados e onde são operados os equipamentos

de projeção. Sua adequação técnica também é fundamental para garantir o bom resultado da

projeção e a conservação dos equipamentos utilizados para a exibição. Ela pode variar de

dimensões, pois depende do formato de mídia com os quais os cinemas trabalham, uma vez que

o número de equipamentos necessários também muda. Por exemplo: cinemas que utilizam a

tecnologia digital possuem arquivos e equipamentos mais compactos, enquanto cinemas que

usam películas necessitam de muito mais espaço para a projeção (ABCINE, 2013).

O maior problema gerado pela

inadequação da sala de projeção é a

Distorção Trapezoidal (DT), gerada pelo

mau posicionamento do projetor em

relação à tela, ocasionando uma

deformação em forma de trapézio da

imagem projetada na tela (Fig. 9).

Figura 9 – Exemplos de distorção trapezoidal

(Fonte: ABCINE, 2013)

A distorção trapezoidal horizontal (DThorz) é provocada pela inclinação (α) horizontal do

eixo de projeção em relação ao plano vertical passando pelo centro da tela e deve ser,

preferencialmente, inferior a 3%, sendo tolerável um valor máximo de 5%, desde que a relação

entre a distância de projeção (Dproj) e a altura da imagem projetada na tela (Himg) seja maior do

que 4 (Fig. 10). Ou seja:

DThoriz ≤ 3% (recomendada)

DThoriz ≤ 5% (tolerável, se Dproj ÷ Himg > 4)

E pode ser calculada através da seguinte fórmula: DThorz = (H.sen α) ÷ (D’.cos α)

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A distorção trapezoidal vertical (DTvert) é provocada pela inclinação (β) vertical do projeção

em relação ao plano horizontal passando pelo centro da tela e deve ser, preferencialmente,

inferior a 3%, sendo tolerável um valor máximo de 5% (Fig. 10). Ou seja:

DTvert ≤ 3% (recomendada)

DTvert ≤ 5% (tolerável)

E pode ser calculada através da seguinte fórmula: DTvert = (L.sen β) ÷ (D’.cos β)

*Onde: L = largura da tela H = altura da tela D’ = distância de projeção α = ângulo de projeção horizontal β = ângulo de projeção vertical *válido para vertical e horizontal

Figura 10 – Distorção trapezoidal (Fonte: ABCINE, 2013).

5.2 Acústica

A qualidade acústica da reprodução sonora de um filme depende de diversos fatores,

como os materiais de acabamento e revestimento que a sala recebeu, os quais influenciam no

tempo de reverberação, além do nível de ruído externo que passa para o ambiente de projeção e

a distribuição das diferentes caixas acústicas. Estas reproduzirão os diversos canais sonoros e

devem ser posicionadas em função do tipo de som a ser reproduzido – segundo o site da ABCINE

(2013), hoje em dia a configuração de som que mais se usa é aquela que se convencionou a

chamar “5.1” – e de acordo com as dimensões e a geometria da sala. Além disso, a tela deve ser

de um material poroso, que permita a passagem das ondas sonoras, o que possibilita o

posicionamento de caixas atrás dela, garantindo assim a relação entre a imagem projetada e o

som a ela associada (Fig. 11).

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A função principal da acústica ambiental é

assegurar que os espectadores consigam ouvir aquilo

que os editores decidiram que seria o melhor ouvirem.

Ademais, as atividades audiovisuais dependem da

compreensão da palavra para que a mensagem seja

clara. Ao se utilizarem vários canais de som, o tempo de

reverberação deve ser baixo. Tempo de reverberação é

o tempo que o som permanece no ambiente, sendo

conveniente no caso da música, pois preenche os

vazios, mas para falar, quanto maior for, menos claro

será o som (SESC, 2008).

Figura 11 – Distribuição das diferentes caixas acústicas

no sistema de som 5.1 (Fonte: SESC, 2008).

O tempo de reverberação no auditório na faixa de oitava em 500Hz será determinado em

dependendo do volume de sala, de acordo com o Gráfico 1. O tempo de reverberação nas

demais faixas de oitavas entre 31,5Hz e 16kHz deve variar de acordo com os limites definidos

pelo Gráfico 2, que apresenta fatores de multiplicação para serem aplicados ao valor

recomendado para o volume da sala na faixa de 500Hz (ABCINE, 2013).

Gráfico 1 –

Tempo de reverberação

(500Hz) X volume da sala

(Fonte: ABCINE, 2013).

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Os materiais de revestimento podem ajudar a diminuir o tempo de reverberação, como

tecidos, carpete, espumas e materiais porosos em geral, como madeira, painéis de lã e

jateamento de celulose, entre outros descritos pela NBR 12.179 – Tratamento Acústico de

Recintos Fechados (ABNT).

Gráfico 2 - Fatores de correção para frequências entre 31,5Hz e 16kHz que deverão ser aplicados ao valor

recomendado para o volume da sala na faixa de 500Hz (Fonte: ABCINE, 2013).

Para que a percepção do som seja a mais fiel possível, é necessário que se elimine

quaisquer ruídos de fundo, ou seja, o nível sonoro de todas as fontes de ruídos externas (tráfego,

etc.) ou internas (ar condicionado, ventilação etc.) presentes na sala de projeção, uma vez que no

cinema a dramaticidade pode ser explorada de muitas maneiras, até mesmo pelo som ou pela

falta dele. Logo, deve-se privar pela verdade acústica, sem muitas interferências externas.

Segundo a norma NBR 10.152, o nível de

pressão sonora deve estar entre 35 e 45

dB. Além disso, a curva de ruídos de

fundo máxima para essas novas salas, ou

seja, com reprodução sonora digital, deve

ser compatível com a curva NC 25,

disposta no Gráfico 3. No caso de sala

com reprodução acústica analógica, a

curva máxima deve ser a NC 30, isto é,

os sons não devem ultrapassar esses

valores para que não se tornem intrusivos

demais.

Gráfico 3 – Níveis de Ruído de Fundo: Curvas NC

(Fonte: ABCINE, 2013).

O nível de ruído de fundo mínimo para os dois casos deve estar na ordem da faixa NC 20.

Com ruídos de menos, ruídos intrusivos intermitentes podem se tornar audíveis e irritantes; por

conta disso, é recomendável utilizar um nível de ruídos de fundo razoável para mascarar as fontes

de ruídos intrusivos (ABCINE, 2013).

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5.3 Iluminação

Dentro da sala de projeção, deve-se evitar luzes que tirem a atenção da cena projetada,

tomando cuidado, por exemplo, com as cores das superfícies internas do auditório (revestimentos,

poltronas, cortinas, etc.), as quais devem ser escuras e foscas, de preferência, para evitar que

ofusquem a plateia. Segundo a norma NBR 5413 – Iluminância de interiores (ABNT), o nível de

Iluminâncias em lux, por tipo de atividade para salas de cinemas, deve ser:

- Sala de espetáculos (projeção): . durante o espetáculo (luz de guia) .............................................. 1 . durante o intervalo ..................................................................... 30 – 50 – 75

- Sala de espera (foyer) ............................................................................. 100 – 100 – 200

- Bilheterias ............................................................................................... 300 – 500 – 750

A informação visual que deve ser implantada, além da luz de projeção, consiste no sistema

de iluminação de emergência, o qual deverá iluminar todo o percurso até a saída da sala, caso

haja a necessidade de evacuar o ambiente, como, por exemplo: degraus e saídas de emergência,

além de contar com luzes que entram em funcionamento em caso de falta de energia (ABCINE,

2013).

5.4 Renovação e Condicionamento do Ar

O isolamento de ruídos e de luminosidade no interior da sala de exibição faz dela um

ambiente sem quaisquer aberturas voltadas para o exterior. Com isso, a forma de renovação de ar

tem que ser forçada, por meio de sistemas mecânicos, como sistemas de condicionamento de ar

para controle da temperatura. A norma NBR 6401 – Instalações centrais de ar-condicionado para

conforto: Parâmetros básicos de projeto (ABNT) dispõe sobre isso. Segundo ela, a renovação de

ar recomendável dentro de cinemas é de 13 m³/h sem fumantes; e, nos cinemas que aceitem

fumantes, igual a 25 m³/h.

Os níveis de ruído aceitáveis, conforme o site da ABCINE (2013), que são gerados por

esse sistema já devem ser considerados nos cálculos de ruídos anteriormente citados. Ainda

nessa norma, o número de metro quadrados (m2) indicados por pessoa, para que a circulação de

ar não seja prejudicada em cinemas, deve ser igual a 0,75 m²/pessoa. Nota-se que o calor gerado

pelas luminárias tem de ser considerado na hora de projetar o sistema de condicionamento do ar.

5.5 Acessibilidade

Os espaços de cinemas, teatros, auditórios e similares devem possuir uma área destinada

a pessoas com necessidades especiais (P.N.E.), tais como cadeirantes, deficientes e obesos,

entre outros. Segundo a norma NBR 9050 – Acessibilidade a edificações, mobiliário,espaços e

equipamentos urbanos (ABNT), essas áreas devem obedecar a certos parâmetros, a saber:

a. estar localizadas em uma rota acessível vinculada a uma rota de fuga;

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b. estar distribuídas pelo recinto, recomendando-se que sejam nos diferentes setores e com as mesmas condições de serviços;

c. estar localizadas junto de assento para acompanhante, sendo no mínimo um assento e recomendável dois assentos de acompanhante;

d. garantir conforto, segurança, boa visibilidade e acústica;

e. estar instaladas em local de piso plano horizontal;

f. ser identificadas por sinalização no local e na bilheteria;

g. estar preferencialmente instaladas ao lado de cadeiras removíveis e articuladas para permitir ampliação da área de uso por acompanhantes ou outros usuários.

Em edifícios existentes, esses lugares podem ser agrupados, quando for impossível a

sua distribuição por todo o ambiente; e a quantidade de assentos especiais deve ser proporcional

ao numero total de assentos, segundo a Tabela 1, em que se usam as seguintes abreviaturas:

onde P.C.R. (Pessoa com Cadeira de Rodas), P.M.R. (Pessoa com Mobilidade Reduzida) e P.O.

(Pessoa Obesa). Além disso, esses assentos devem obedecer a uma ergonomia própria (Figs. 12

e 13), sendo que o ângulo de visão formado pelos planos que passem pelas extremidades

superior e inferior da tela não sejam maiores do que 30º.

Tabela 1 – Espaços para Pessoas com Necessidades Especias (P.N.E.)

(Fonte: NBR 9050, ABNT).

Figura 12 – Ângulo visual dos espaços para P.C.R.

em cinemas (Fonte: NBR 9050, ABNT)

Figura 13 – Espaços para P.C.R.

(Fonte: NBR 9050, ABNT)

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6. MATERIAIS E METODOS

De caráter exploratório, esta pesquisa de iniciação tecnológica foi baseada em revisão web

e bibliográfica, além de estudo de casos, realizando-se por meio da investigação, seleção e coleta

de fontes impressas, tais como artigos e livros, nacionais e internacionais; ou ainda publicadas on-

line, que tratavam direta ou indiretamente sobre parâmetros técnicos e normatização da

arquitetura de salas de cinema. Além de material para registro computacional, gráfico e

fotográfico, utilizaram-se as instalações físicas destinadas ao docente-adjunto, autor do projeto e

lotado na subárea de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo, em Regime de Dedicação

Exclusiva, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, com a participação de 01 (uma) discente

bolsista do curso de graduação, além de 02 (duas) estudantes voluntárias também do curso de

graduação, entre as quais se classifica a autora do presente relatório. Em suma, a metodologia de

pesquisa seguiu as seguintes etapas:

a) Revisão Bibliográfica e Coleta de Dados:

Esta etapa baseou-se na pesquisa bibliográfica sobre o projeto de salas de exibição de

cinema, procurando levantar normas e regulamentações acessíveis no país. Fez-se a coleta e

síntese de informações, organizando um banco de dados a serem utilizados nas próximas fases.

b) Mapeamento, Descrição e Análise de Obras:

Esta etapa envolveu a identificação e descrição de 03 (três) exemplares de cinemas

contemporâneos, situados em países diferentes, inclusive o Brasil, a partir de quando fez-se os

estudos de caso, que estão apresentados no capítulo sobre resultados e discussão. Procurou-se

trabalhar de forma sintética e objetiva, abordando características funcionais, técnicas e estéticas

mais relevantes, ilustrando-se com imagens.

c) Conclusão e Redação Final:

O fechamento desta pesquisa deu-se através da elaboração deste RELATÓRIO FINAL DE

PESQUISA, além de material expositivo por ocasião do 6º Evento de Iniciação Tecnológica da

UFPR – EINTI, previsto para outubro de 2013.

7. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir do estudo anterior, fez-se a seleção de 03 (três) obras de cinemas

contemporâneos – situadas na China, Portugal e Brasil –, as quais exemplificassem que os

parâmetros funcionais e técnicos podem ser aplicados em diversos contextos, incluindo

linguagens estéticas diferentes, assim como metodologias de projeto distintas, incluindo a

reciclagem. De forma sintética, apresenta-se na sequência, em forma de fichas de estudos, os

casos selecionados, acompanhados de ilustrações e descrição de características fundamentais.

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O complexo Linked Hybrid, proposto pelo arquiteto norte-americano Steven Holl (1947-), está

localizado junto do local da antiga muralha da China, tendo como principal objetivo combater as tendências

conurbadoras do desenvolvimento urbano chinês, criando assim um novo espaço urbano. Assim, constitui-

se de uma “cidade aberta dentro da cidade”, possuindo 750 apartamentos, imersos em uma ampla área

verde, além de zonas comerciais, hotéis, escolas e cinema (ARCHDAILY, 2009). Todo o complexo cria

muitos níveis, por meio de tetos-jardim, edifícios semi-enterrados, estacionamento subterrâneo e grandes

torres (Fig. 14 a 16). Com seus 220.000 m2 de área construída,

[…] the project promotes interactive relations and encourages encounters in the public spaces that vary from commercial, residential, and educational to recreational. The entire complex is a three-dimensional urban space in which buildings on the ground, under the ground and over the ground are fused together

1 (ARCHDAILY, 2009, p. 01).

1 Em tradução livre: “O projeto promove relações interativas e incentiva encontros nos espaços públicos que variam de comercial,

residencial e educacional recreativo. Todo o complexo é um espaço urbano tridimensional em que os edifícios no chão, debaixo da terra e sobre a terra se fundem” (N. autora).

ESTUDO DE CASO I Linked Hybrid Zuojiazhuang W St., Chaoyang – Beijing

(2003/09, China)

Figura 14 – Implantação do Complexo Lincked Hybrid (Fonte: ROBERTA CUCCHIARO, 2011). Figuras 15 e 16 – Vistas

dos edifícios residenciais do Lincked Hybrid (Fonte:

ROBERTA CUCCHIARO, 2011).

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O cinema do complexo (Figs. 17 a 20) encontra-se no nível do solo, assim como todas as funções

públicas, possuindo ligações com espaços verdes públicos que penetram o projeto, cuja linguagem estética

é maximalista (arquitetura da desconstrução). A análise de seu corte (Fig. 21) permite as seguintes

conclusões:

Houve a preocupação com a posição das poltronas, para que a linha de projeção não passe por nenhum obstáculo físico até chegar à tela;

O tratamento lumínico e o predomínio de paredes lisas sem ornamentação permitem que a atenção se volte totalmente à imagem projetada, além do ambiente sem aberturas exigir iluminação e ventilação controladas;

O teto-jardim existente acima da sala auxilia na acústica, diminuindo o nível dos ruídos de fundo, embora possibilite a circulação de pessoas;

A sinalização de segurança torna-se extremamente necessária, principalmente por ser um ambiente sem iluminação natural.

Figuras 17 e 18 –

Vistas do cinema do Lincked Hybrid

(Fonte: ESTUDIO4, 2013).

Figuras 19 e 20 –

Vistas do cinema do Lincked Hybrid

(Fonte: ARCHDAILY, 2009).

Figura 21 – Corte da

sala de exibição do cinema do Lincked

Hybrid (Fonte: ARCHDAILY, 2009)

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Este centro português de artes integra em um só edifício quatro equipamentos, a saber: uma área

de exposições, a nova midiateca da cidade de Sines, o Arquivo Histórico Municipal e um cine-teatro e

auditório para 191 pessoas, tendo sido projetado pelo escritório de Manuel e Francisco Aires Mateus (1963-

). O conjunto situa-se no centro histórico (Fig. 22), em uma rua que é a principal ligação deste com o mar,

onde anteriormente se localizavam o cine-teatro Vasco da Gama e o Teatro do Mar. Trata-se de um centro

cultural de linguagem minimalista, onde foram criados espaços muito flexíveis para abrigarem um programa

de tamanha complexidade (Figs. 23 e 24).

Pav. Térreo Pav. Superior

Assumindo uma dimensão monumental, o complexo trabalha com um jogo de transparências e

opacidades, sugerindo a combinação de aberturas e seteiras das muralhas do castelo nas proximidades,

alternando fachadas em pedra e panos de vidro, os quais permitem grande permeabilidade entre as

atividades culturais do interior e a vida exterior. No interior, a luz natural reflete-se no mármore branco liso

tanto dos tetos como das paredes (Figs. 25 a 27).

ESTUDO DE CASO II Centro de Artes de Sines Rua Cândido dos Reis – Setubal

(2005, Portugal)

Figura 22 – Vista aérea da

implantação do Centro de Artes de Sines (Fonte: GLOOGLE MAPS, 2013). Figuras 23 e 24 – Plantas dos

pavimentos térreo e superior do Centro de Artes de Sines (Fonte: ARCHDAILY, 2009).

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Figuras 25, 26 e 27 – Vistas externas e interna do centro de Artes de Sines (Fonte: ARCHDAILY, 2011).

Com uma área de cerca de 8.065 m2, o conjunto é formado por quatro módulos, os quais

[…] are set out on the upper floors in parallel bands intercalated with patios. The decks were hung from a bridge-like structure supported on the perimetral walls alone. This system allows a spatial configuration on the basement level that is adapted to the dimensions of the common areas; at street level it guarantees an unbroken view right across the inside of the building

2 (ARCHDAILY, 2011, p. 01).

Quanto ao auditório do cinema, a análise da planta e imagens (Figs. 28 a 30) permite afirmar que:

A cor das poltronas é escura, tentando diminuir o ofuscamento luminoso, assim como o piso é revestido com carpete, de modo a contribuir para a diminuição do tempo de reverberação;

O escalonamento das poltronas tem uma inclinação baixa, o que pode proporcionar desconforto aos espectadores, especialmente se houver circulação de pessoas durante a exibição, prejudicando a percepção da imagem;

Outro ponto negativo dessa sala refere-se à iluminação, já que duas grandes janelas em fitas atravessam toda a extensão do auditório e, pelo fato de se situarem no nível do solo, voltadas para uma rua interna, podem distrair os espectadores, assim como promoverem iluminação excessiva e passagem de sons exteriores.

2 Em tradução livre: “São fixados nos pisos superiores em faixas paralelas intercaladas com pátios. Os decks foram pendurados de

uma estrutura-ponte apoiada somente por paredes perimetrais. Este sistema permite uma configuração espacial no nível do subsolo que é adaptada às dimensões das áreas comuns; ao nível da rua, garante uma visão ininterrupta do interior do edifício” (N. autora).

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Figura 28 – Vista interna do auditório do cinema

do Centro de Artes de Sines (Fonte: ARCHDAILY, 2011).

Figuras 29 e 30 – Planta e corte do auditório do

do cinema do Centro de Artes de Sines (Fonte: ARCHDAILY, 2011).

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Tratando-se da mais recente etapa de conversão das instalações do antigo Matadouro Municipal de

São Paulo – obra do engenheiro alemão Alberto Kuhlman (1845-1905), datada de 1884 e que funcionou até

1927 – em um complexo cultural, a cinemateca, fundada de 1940, teve sua sede transferida para os

galpões do local, no início dos anos 1990 e, desde então, está voltada à preservação e divulgação da

produção audiovisual brasileira (Figs. 31 a 33).

A fase inicial de reconfiguração dos galpões, que data de 1989, foi idealizada por Lúcio Gomes Machado e Eduardo de Jesus Rodrigues [...] No entanto, desde o ano 2000 as intervenções passaram a ser coordenadas por Nelson Dupré. Com o ingresso de uma nova diretoria executiva na instituição, no final de 2003, dinamizaram-se as ações em várias áreas, entre as quais se incluiu a aceleração da recuperação física das instalações (ARCOWEB, 2008, p. 01).

O conjunto, cedido à instituição pelo Município, é tombado pelo CONDEPHAAT e pelo CONPRESP, que

são respectivamente órgãos de preservação do patrimônio em âmbito estadual e municipal. Além da

implantação do espaço de eventos e da Sala BNDES no bloco lateral esquerdo, a intervenção estipulou a

cobertura da circulação externa, de forma a estabelecer relação entre os galpões. Em seu projeto, de

acordo com o site da ARCOWEB (2008), Dupré seguiu uma linha que “não buscasse restaurar o que

poderiam ser elementos originais da edificação” (p. 01), mas sim assimilar e evidenciar as alterações

realizadas ao longo dos anos. Deste modo, houve sutileza na inserção do novo programa, que se mostra

claro, sem entrar em conflito com o histórico, recorrendo-se ao vidro em extensas superfícies para assinalar

as intervenções recentes.

ESTUDO DE CASO III Cinemateca Brasileira Largo Sen. Raul Cardoso, 207 – Vila Clementino

(2009, São Paulo SP)

Figura 31 – Vista aérea da

implantação da Cinemateca Brasileira, em São Paulo SP

(Fonte: GLOOGLE MAPS, 2013).

Figuras 32 e 33 – Vistas

internas da Cinemateca Brasileira, em São Paulo SP

(Fonte: ARCOWEB, 2008).

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Nos acessos da Cinemateca Brasileira, Dupré substituiu os antigos portões por vedação com vidro transparente. A troca sinaliza, simbolicamente, que a instituição quer se expor – a cogitada ampliação da calçada frontal no largo em que se situa, em vias de ser aprovada pelo município, vai facilitar essa intenção. A solução de transparência foi também adotada na cobertura do percurso externo que conecta os três galpões do conjunto. Protegida no centro e com laterais vazadas para facilitar a circulação do ar, ela é fixada nas paredes com a ajuda de tirantes. No geral, é plana – a ligeira variação no formato na área de acesso deriva do que se supõe que fosse a cobertura original daquele trecho do matadouro (ARCOWEB, 2008, p. 01).

No galpão onde se situam o salão de eventos e a Sala BNDES, além da área de apoio e cozinha, as

janelas laterais e frontais foram recompostas com esquadrias metálicas e vidros. Com isso, conseguiu-se

grande luminosidade para o interior dos ambientes, o que não ocorre no bloco paralelo, que abriga a Sala

Petrobrás, outro espaço de exibição. O piso é em cimento queimado; e, no teto, com forro claro, nota-se a

estrutura do telhado do tipo shed. As paredes de tijolo aparente ostentam sua irregularidade, mostrando que

os fechamentos não foram efetuados no mesmo momento (ARCOWEB, 2008).

Quanto ao cinema propriamente dito (Figs. 34 a 39), o arquiteto Nelson Dupré optou pela instalação

de uma sala de projeção com 230 lugares. Sua intenção foi de adicionar um novo programa sem entrar em

conflito com o peso histórico da construção, utlizando para isso novas tecnologias. Da análise de sua planta

e vistas, percebe-se que:

Para adequar a iluminação da sala, um sistema comanda a abertura e o fechamento das cortinas, produzindo as condições adequadas para a exibição de filmes, e ainda assim não perder as antigas aberturas;

No teto, placas de madeira pintadas em cinza diminuem o ofuscamento luminoso, além de auxiliarem na diminuição do tempo de reverberação do som;

O posicionamento das caixas de som percorre todo o perímetro da sala.

4

Figuras 34 a 37 – Vistas internas da sala de cinema da

Cinemateca Brasileira, em São Paulo SP (Fonte: ARCOWEB, 2008).

Figuras 38 e 39 – Corte e planta da sala de cinema

da Cinemateca Brasileira, em São Paulo SP (Fonte: ARCOWEB, 2008).

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8. CONCLUSÕES

De caráter introdutório, esta pesquisa procurou realizar uma aproximação com a temática

da arquitetura de cinemas, priorizando os aspectos técnicos do projeto arquitetônico. Para tanto,

foi necessário o estudo de normas e especificações adotadas pela indústria cinematográfica. Os

exemplares levantados confirmaram que a tecnologia pode se adequar a diferentes concepções

estéticas. O uso das edificações dedicadas à exibição cinematográfica deve responder de forma

satisfatória às condições de funcionamento e de conforto ambiental, assim como edifícios

comerciais ou residenciais precisam de detalhes específicos para seus públicos-alvo. As salas de

cinema devem proporcionar bem-estar e segurança aos seus usuários e, principalmente, permitir

a fruição dos produtos cinematográficos, que passam emoção e pontos de vista sobre uma época,

país, cultura ou personalidade, entre outras coisas, garantindo a difusão cultural.

O desenvolvimento tanto do cinema como da sua indústria proporcionou as condições

materiais para o alargamento da linguagem estética, assim como possibilitou novas tecnologias,

as quais exigem um projeto diferente, seja quais forem os estilos utilizados. Com isto, esta

pesquisa veio contribuir para a iniciação técnico-científica, por meio do exercício da metodologia

baseada na revisão de literatura, delimitação de foco, seleção e análise de casos. Foi possível,

enfim, estudar obras de diferentes contextos, linguagens e métodos, porém todas voltadas à

sétima arte.

9. REFERÊNCIAS E FONTES DE ILUSTAÇÕES

ABCINE – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CINEMATOGRAFIA. Recomendação técnica para salas de exibição cinematográfica. Disponível em: <http://www.abcine.org.br/artigos/?id=90&/recomendacao-tecnica-para-salas-de-exibicao-cinematografica-parte-1>. Acesso em: 20.set.2013.

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5413 – Iluminância de interiores.

______. NBR 9050 – Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.

______. NBR 10.152 – Níveis de ruído para conforto acústico.

______. NBR 12.179 – Tratamento acústico em recintos fechados.

______. NBR 12.237 – Projetos e Instalações de Salas de Projeção Cinematográfica.

ARCHDAILY. Linked Hybrid / Steven Holl Architects (2009). Disponível em: <http://www.archdaily.com/34302/linked-hybrid-steven-holl-architects/>. Acesso em: 20.set.2013.

_____. Sines Center for the Arts / Aires Mateus (2011). Disponível em: <http://www.archdaily.com/ 131837/sines-center-for-the-arts-aires-mateus/>. Acesso em: 20.set.2013.

ARCOWEB. Centro Cultural, São Paulo SP / Nelson Dupré (2008). Disponível em: <http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/nelson-dupre-centro-cultural-17-03-2009.html>. Acesso em: 20.set.2013.

ESTUDIO4. Técnica e tecnologia II. Disponível em: <http://estudio4tecnologiaii.blogspot.com.br/2013/ 02/pedro-e-marina.html>. Acesso em: 20.set.2013.

GOOGLE MAPS. Disponível em: <https://maps.google.com/>. Acesso em: 20.set.2013.

NEUFERT, E. Arte de projetar em arquitetura. 13 ed. São Paulo: Gustavo Gili, 1998.

ROBERTA CUCCHIARO. Beijing’s Linked Hybrid: One of the largest geothermal cooling and heating systems in the world (2011). Disponível em: <http://robertacucchiaro.wordpress.com/2011/12/22/beijing-linked-hybrid/>. Acesso em: 20.set.2013.

VAN UFFELEN, C. Cinema architecture. New York: Braun Publishing, 2009.