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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA 2012 RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA CARLA TAISSA LAUREANO SANTANA INICIAÇÃO CIENTÍFICA VOLUNTÁRIA 2012 PLANO DE TRABALHO: Plano de Barcelona: Contribuições para o Planejamento Urbano Contemporâneo Relatório apresentado à Banca de Avaliação do Departamento de Arquitetura e Urbanismo para o 20º Evento de Iniciação Científica da da Universidade Federal do Paraná UFPR por ocasião da conclusão das atividades voluntárias de pesquisa. NOME DO ORIENTADOR: Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto Departamento de Arquitetura e Urbanismo TÍTULO DO PROJETO: Arquitetura e Sustentabilidade: Bases Conceituais para o Projeto Ecológico BANPESQ/THALES: 2007021212 CURITIBA 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – 2012

RELATÓRIO FINAL DE PESQUISA

CARLA TAISSA LAUREANO SANTANA

INICIAÇÃO CIENTÍFICA – VOLUNTÁRIA 2012

PLANO DE TRABALHO:

Plano de Barcelona: Contribuições para o Planejamento Urbano Contemporâneo

Relatório apresentado à Banca de Avaliação do Departamento de Arquitetura e Urbanismo para o 20º Evento de Iniciação Científica da da Universidade Federal do Paraná – UFPR por ocasião da conclusão das atividades voluntárias de pesquisa.

NOME DO ORIENTADOR:

Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto

Departamento de Arquitetura e Urbanismo

TÍTULO DO PROJETO:

Arquitetura e Sustentabilidade: Bases Conceituais para o Projeto Ecológico

BANPESQ/THALES: 2007021212

CURITIBA

2012

1 TÍTULO

Plano de Barcelona: Contribuições para o Planejamento Urbano Contemporâneo

2 RESUMO

Capital da Comunidade Autônoma da Catalunha, Barcelona é a segunda maior cidade da

Espanha, com cerca de 1,6 milhões de habitantes, sendo que sua região metropolitana abriga

quase 5 milhões de pessoas, o que corresponderia à sexta maior área de concentração urbana da

União Europeia. Localizada na Costa do Mediterrâneo, foi fundada como Barcino pelos romanos

no século I a.C., embora sua região tenha sido ocupada muito antes, por gregos e cartagineses.

De importância relativa, a cidade passou a se desenvolver de forma progressiva em finais do

século XVIII, quando sua economia deu bases à industrialização no século seguinte, o que

promoveu a derrubada das antigas muralhas que a envolviam e a incorporação de outras cidades

próximas à Grande Barcelona: Gràcia, Horta, Les Corts, Sarrià, Sants, Sant Andreu de Palomarià,

Sant Gervasi de Cassoles e Sant Marti de Provençals. Através de um amplo plano de

urbanização, criado por Ildefons Cerdà, Barcelona ingressou no século XX como um dos maiores

centros urbanos da Europa, tendo sido sede de duas Exposições Universais (1888 e 1929) e dos

Jogos Olímpicos de 1992.

Esta pesquisa de iniciação científica faz parte do projeto intitulado “Arquitetura e

Sustentabilidade: Bases Conceituais para o Projeto Ecológico” e estuda a planificação de

Barcelona, iniciada em 1859, com a criação do bairro de L’Exaimple, até sua situação atual, de

modo a refletir sobre a importância do planejamento urbano. Por meio do levantamento web e

bibliográfico de informações sobre sua situação geográfica, evolução histórica e desenvolvimento

socioeconômico, buscou-se caracterizar o contexto de sua industrialização e consequentes

motivações que levaram à sua reforma urbana, apontando as diretrizes utilizadas na planificação

e descrevendo suas características e principais elementos, de modo a definir quais foram suas

contribuições para o planejamento contemporâneo. Partindo dos estudos de Cerdà sobre a cidade

espanhola no século XIX, descreveu-se e analisou-se os impactos deste processo, assim como

seus desdobramentos, concluindo-se que o mesmo apresentou tanto aspectos positivos, relativos

à organização territorial, redistribuição populacional e zoneamento funcional, quanto negativos,

devido à especulação imobiliária, fluxo viário e desrespeito a diretivas de planificação urbana.

3 OBJETIVOS

Basicamente, pretende-se fazer uma pesquisa web e bibliográfica sobre a planificação da

cidade de Barcelona (Espanha) iniciada no século XIX, descrevendo suas características e

principais elementos, de modo a definir quais foram suas maiores contribuições para o

planejamento urbano contemporâneo.

4 INTRODUÇÃO

A Revolução Industrial, ocorrida na passagem do século XVIII para o XIX, inicialmente na

Inglaterra, ocasionou modificações fundamentais nas cidades no âmbito industrial, tanto nos

aspectos físicos como socioculturais, além de provocar transformações decisivas nos transportes,

nos sistemas de comunicação e nas atividades produtivas, o que obviamente se refletiu no

urbanismo moderno. De acordo com Goitia (2003), políticas econômicas – tais como o laissez-

faire1 e a subdivisão dos trabalhos nas indústrias, com bases em Adam Smith (1723-90), assim

como a visão da indústria como centro regulador de todo o sistema econômico, proposta por

Jeremy Bentham (1748-1832) – contribuíram, de forma geral, para uma economia mais utilitarista,

a qual desenvolveu as máquinas, os modos de produção e os meios de transporte, de modo a

conseguir maior produção em menor tempo e com preço mais competitivo para o mercado. Para

isso, também se diminuía o salário dos operários e obrigava-os a viverem próximos das fábricas

para que se garantisse maior produtividade.

Assim, segundo o mesmo autor, desenvolveram-se rapidamente os chamados “bairros

operários” (slums) com condições precárias de sobrevivência: além da proliferação de muitas

doenças graças à pouquíssima higiene, também se aglomeravam milhares de pessoas em

espaços muito pequenos, quase sem ventilação e iluminação naturais. Em paralelo, as fábricas

progressivamente causarem a poluição e a degradação do meio ambiente dos centros urbanos

onde se instalavam, os quais passaram a ser conhecidos como “cidades industriais”. E essa

“aceleração” na produção e na transformação no modo de vida e consumo acabou se refletindo

no desenvolvimento dessas cidades, que acabavam crescendo de modo desordenado e precário.

Tudo era priorizado e pensado de acordo com as necessidades das indústrias – enfatizando sua

produção, escoamento e lucro –, o que deixou tais centros na condição de verdadeiros “caos”.

As cidades industriais – primeiro na Inglaterra, depois na França e nos Países Baixos,

atingindo a posteriori outras capitais europeias no decorrer do século XIX – enfrentavam

problemas como: a superpopulação, a implantação desordenada de indústrias e o

desenvolvimento acelerado de ferrovias, o que promoveu como consequência de uma etapa inicial

de industrialismo o surgimento das primeiras leis sanitárias2, para a seguir aparecerem as

primeiras providências em ações urbanísticas, o que conduziu a diversas reformas urbanas em

varias metrópoles europeias (BENEVOLO, 1998).

1 A expressão laissez-faire (“deixar-fazer” ou “deixar-passar”, em francês) tem o significado de liberdade econômica e de produção

política, ou seja, consiste no processo de produção em que o Estado não deveria interferir na economia, mas apenas assegurar a ordem, a propriedade e a liberdade individual. Deste modo, a economia devia realizar-se a partir da livre iniciativa e da livre concorrência entre os empresários; característica predominante do liberalismo econômico entre os séculos XVII e XIX vigente na Revolução Industrial (NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA, 1997).

2 Diante da situação de calamidade das cidades industriais em pleno século XIX, quando a população estava sujeita a edifícios

insalubres, sem ventilação e com muita umidade, formando aglomerados, carentes de saneamento básico (tratamento inadequado de detritos e esgoto a céu aberto), os higienistas, baseados em estudos de Edwin Chadwick (1800-90) sobre o tema, reivindicaram medidas para remediar tais carências sanitárias e, diante da percepção de que eram problemas constantes em todas as cidades, causando a proliferação de muitas doenças, propuseram a criação de uma legislação sobre construção e instalações urbanas. Tais leis sanitárias, por exemplo, requeriam a criação de redes de esgoto projetadas em um relevo adequado, além de pavimentação e

Conforme Goitia (2003), começou-se, em meados do século XIX, a desenvolver teorias de

cidades planejadas, mais organizadas e com melhores condições de moradia para os

trabalhadores. Apareceram modelos utópicos para novas cidades industriais – muitos dos quais

sem conseguir rebatimento na prática –, assim como teorizações que defendiam novas formas de

organização espacial como, por exemplo, as “cidades jardim” (garden cities), propostas por

Ebenezer Howard (1850-1928). Ao mesmo tempo, empreenderam-se as chamadas “reformas

urbanas”, que na prática transformaram radicalmente várias cidades com centros antigos –

abrindo ruas, implantando espaços públicos e modificando o traçado urbano –; ou ainda,

ampliando outras cidades preexistentes, nas quais o núcleo mais antigo expandia-se para uma

cidade nova – planejada –, preparando terrenos para novos bairros residenciais, edificações

comerciais, praças e vias públicas que atendessem as novas necessidades.

Neste contexto da expansão da industrialização, outras

importantes cidades também tiveram planos de reforma, tais

como a capital espanhola, Madrid, cujo plano de expansão foi

realizado em 1850; a capital austríaca, Viena, onde o terreno

livre entre a cidade medieval e a periferia barroca (Ringstrasse)

foi urbanizado a partir de 1857; e Florença, que se tornou

capital da Itália de 1864 a 1871. Não se pode deixar de citar a

experiência predecessora de Nova York, que executou um

plano de expansão na região da ilha da Manhattan, a partir de

1811 (Fig. 01), este elaborado por uma comissão composta por

Gouverneur Morris (1752-1816), Simeon De Witt (1756-1834) e

John Rutherfurd (1760-1840). Os norte-americanos utilizaram

uma malha, até então inédita, de vias ortogonais entre si

(Avenues, no sentido Norte-Sul; e Streets, no sentido Leste-

Oeste), mostrando uma nova tendência de traçado urbano,

diferente dos tradicionais planos barrocos; e trazendo à tona

costumes e tradições características dos EUA – aplicação de

retículas e ortogonalidade na divisão territorial –, priorizando as

moradias em detrimento de áreas livres – com exceção, o

Central Park, implantado a partir de 1856, segundo plano

próprio (BENEVOLO, 1998).

FIGURA 01 – Plano de Nova York (1911).

alargamento de ruas, o que fez com que muitos governos passassem a exigir vários requisitos de higiene às residências (NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA, 1997).

Entretanto, nenhum outro plano de reforma urbana foi tão completo como o da cidade de

Paris, executado pelo Barão de Haussmann (1809-91), em pleno Segundo Império, entre 1853 e

1870 (Fig. 02). Com o intuito de ordenar a cidade, a proposta utilizava um sistema com largas

avenidas retilíneas (Boulevards) com comprimento total de aproximadamente 137 km. Entre seus

objetivos, estava o intuito de dar maior velocidade ao tráfego e conferir um rosto representativo à

cidade, além de evitar barricadas como na época da Revolução Francesa (1789/91) (GYMPEL,

2000).

As reformas de Paris consistiram também na criação de praças e amplos parques, assim

como a criação de novos subúrbios, a reconstrução de prédios estratégicos nos novos bulevares e

a renovação nos sistemas de água, saneamento, iluminação e transporte público. Segundo

Benevolo (1998), Haussmann, por meio da regularidade e utilização de edifícios monumentais e

fachadas uniformes como plano-de-fundo das ruas procurou enobrecer a cidade. Também houve

a reforma de todo administrativo da capital francesa, com a descentralização proposta a partir da

subdivisão em 20 arrondissements (setores administrativos), além da instalação de novos edifícios

públicos. Assim, o plano de Paris teve preocupações estéticas, técnicas e higienistas, tendo sido

muitas delas cumpridas e

transformando a cidade em

modelo a ser copiado em várias

partes do mundo, inclusive fora a

França e Europa.

FIGURA 02 – Plano de Paris (1853/70).

5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Na Espanha, como o processo de industrialização ocorreu de forma mais atrasada que o

restante da Europa, especialmente quanto à Inglaterra e à França, a questão principal, de acordo

com Goitia (2003), era como resolver o problema da concentração populacional em algumas

cidades, o que causava escassez de habitações, além da queda da qualidade de vida. Sem

dúvida, o maior destaque ocorreu em Barcelona, capital da Comunidade Autônoma da Catalunha3

e próspero centro industrial às margens do mar Mediterrâneo. O plano para a sua ampliação foi

uma iniciativa com muitos aspectos e resultados positivos, os quais mudaram a forma de se

pensar o urbanismo, tanto dentro como fora daquele país.

3 Região com autonomia política da Espanha, o Estado Catalão é formado por Lleida, Girona, Tarragona e Província de Barcelona,

sendo o mais rico e industrializado do país, além de ser muito requisitado pelo turismo. A Catalunha localiza-se no Nordeste espanhol e faz divisa com a França pelos montes Pirineus, a Norte com Andorra, a Leste com o Mar Mediterrâneo, ao Sul com Valência e a Oeste com Aragão. Tem como capital principal Barcelona, onde vive a maioria de seus habitantes, além de língua própria, o Catalão, apesar de ser considerado oficial o Espanhol (NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA, 1997).

Localizada na costa nordeste da Espanha, Barcelona surgiu como um destacado porto

marítimo há mais de um milênio, por onde produtos eram exportados e se recebia a importação de

maquinários e alimentos como carne bovina. Trata-se da cidade industrial e comercial mais

importante do país, destacando-se atualmente

pela produção de algodão, lã, seda, papel, vidro

e couro, além das importantes indústrias

metalúrgica, automobilística e química; e também

de produtos agrícolas como laranja, limão, uva e

azeitona, entre outros. A capital catalã também é

um grande centro cultural e educacional, sendo

dotada de uma grande rede viária e linhas

férreas que ligam-na a outras cidades da

Espanha e da França (Fig. 03).

FIGURA 03 – Mapa da Catalunha, Espanha.

A cidade foi fundada aproximadamente no ano de 230 d.C. por Amílcar Barca (c.275-228

a.C.), um general cartaginês que nomeou-a como Barcino (Fig. 04). Desde o século XII,

destacava-se na indústria e no comércio. Foi governada por uma sucessão de condes até o

século XII, quando, em 1137, uniu-se ao Reindo de Aragão. Já como capital da Catalunha, sofreu

dominação francesa entre 1640 e 1652; e novamente de 1808 a 1813, durante as Guerras

Napoleônicas. Porém, em ambas situações, a Espanha conseguiu recuperar seu domínio (Figs.

05 e 06). No século XIX, Barcelona foi palco de diversas revoltas contra a monarquia espanhola e,

no século passado, revoltas trabalhistas violentas, além de ter sido sede do Governo Republicano

durante a Guerra Civil Espanhola (1936/39). Não se pode deixar de citar sua maior contribuição

arquitetônica representada por El Modernismo; versão própria do Art Nouveau europeu que

encontrou no arquiteto catalão Antoni Gaudí (1852-1926) seu máximo expoente.

FIGURA 04 – Reconstituição em planta e perspectiva de Barcino (Séc. III d.C.).

(1)

(2)

(3)

FIGURA 05 – Evolução urbana de Barcelona: (1) de 989 a 1249; (2) de 1250 a 1349; e (3) de 1350 a 1705.

Idealizado por Idelfons Cerdà4 (1815-76) e aprovado em junho de 1859, o plano de

Barcelona constitui-se, segundo Benevolo (1998), em um exemplar do que se chama “urbanística

neoconservadora”, pelo fato de, embora promover um planejamento urbano de moldes

praticamente modernos, ainda conserva vários aspectos que o aproximam da prática urbanística

comum até aquela época, em que se priorizam aspectos funcionais, técnicos e estéticos, sem

levar em consideração aspectos

socioculturais. Além disso,

diferenciando-se de Paris, no

caso da cidade espanhola,

realizou-se uma ampliação,

preocupando-se sobretudo em

aumentar a área urbanizada a fim

de acolher novos habitantes.

Construíram-se assim anéis de

novos bairros ao longo do

perímetro da “cidade antiga”

(Ciutat Vella); parte mais antiga

de Barcelona, de traçado

essencialmente medieval. Isto

resultou em duas partes

antagônicas – o núcleo antigo,

formado por um emaranhado de

ruas e vielas; e o bairro novo,

traçado segundo uma retícula de

proporções audaciosas –, mas

que, ao final, resultaram na

paisagem característica da

cidade.

FIGURA 06 – Plantas de Barcelona no século XVIII.

Ao contrário de Haussmann em Paris, Cerdà não fez a expropriação e derrubada do tecido

antigo, mas sim adicionou ao redor do “bairro gótico” (Barri Gòtic) as novas construções que

constituíam as residências em geral; as edificações comerciais e institucionais; e os espaços

públicos, tais como: praças, parques e jardins. Implantou ruas mais adequadas ao tráfego e

4 Ildefons Cerdà i Sunyer nasceu no Município de Sant Martí de Centelles, em 23 de dezembro de 1815; e formou-se em engenharia,

realizando varios estudos sobre o urbanismo e, portanto, considerado precursor do planejamento urbano moderno. Veio a falecer em Caldas de Besaya, no dia 21 de agosto de 1876 (NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA, 1997).

circulação, ou seja, vias mais largas com espaços diferenciados para os pedestres e o meio

principal de transporte da época, as charretes (BENEVOLO, 2001).

FIGURA 07 – Plano Cerdà (1859, Barcelona).

Baseando-se em estudos sobre a cidade de Barcelona, conforme Soria y Puig (1996),

Cerdà desenvolveu o projeto de quadras de 113m x 113m, sendo que cada conjunto de nove

quarteirões inscrevia-se em um quadrado de 400m de lado (Fig. 07). O formato quadrangular teria

sido escolhido para que se tivesse igualdade nos direitos dos proprietários e na repartição da luz

solar, garantindo boa circulação, de modo uniforme; e também por oferecer um padrão para o

crescimento, pois para o engenheiro a quadrícula tinha uma tendência essencialmente expansiva,

evitando que as pessoas se concentrassem apenas em alguns pontos.

FIGURA 08 – Esquema do cruzamento das quadras do Plano Cerdà (1859, Barcelona).

As quadras teriam vértices cortados – diagonalmente –, cada um apontando para um ponto

cardeal, formando praças octogonais de 20m de lado em cada cruzamento, o que facilitaria o fluxo

de andamento das charretes, as quais circulariam melhor no momento em que precisassem

realizar curvas (o vértice do quadrado dificulta mais esse movimento), permitindo uma maior

amplitude visual dos edifícios de esquina e transformando o simples cruzamento de ruas em um

novo espaço (Fig. 08). Tais quadras deveriam ser ajardinadas para “ruralizar” a cidade, garantindo

um ambiente mais saudável e permitindo que a passagem dos pedestres pela mesma não fosse

monótona, além de contribuírem com a ventilação e a iluminação dos edifícios. Deveriam ser

abertas para garantir boa ventilação, preservando o isolamento além da independência da casa

na urbe e ainda evitando a monotonia da quadrícula (SORIA Y PUIG, 1996; FIGUEROA, 2006).

Além disso, o traçado proposto era orientado na direção NE-SO e NO-SE para repartir de

forma igualitária a insolação. Segundo o mesmo autor, os edifícios ocupariam a periferia do

quarteirão (dois lados paralelos ou três lados), deixando o arquiteto múltiplas possibilidades para

locação das edificações, o que ficaria por escolha do proprietário. Os prédios não deveriam ter

muita altura – máximo de três ou quatro pavimentos – e deveriam possuir entre si “corredores

arborizados” com equipamentos comunitários. As ruas, por sua vez, teriam 20 m de largura, sendo

planejadas conforme critérios específicos, tais como: os princípios da orientação solar, largura,

perfis transversais, tipo de pavimentação e diferença de cotas, entre outros.

Para Soria y Puig (1996), a nova rede viária ainda atendia outra necessidade: evitar lutas

de barricadas. Embora não se associe muito a cidade espanhola com esse tipo de revoltas, elas

ocorreram diversas vezes, inclusive o próprio engenheiro catalão participou de algumas. Tal

preocupação estava presente em praticamente todos os planos de reforma urbana dessa época,

ou seja, construir ruas largas sem muitas sinuosidades que formassem “esquinas perigosas” com

pontos fáceis de proporcionar esse tipo de batalha. Com muitos espaços abertos e praças que se

formavam nos cruzamentos das ruas, o traçado proporcionava um espaço livre que dificultava

mais essa categoria tradicional de lutas.

Cerdà procurou interagir paisagens, praças e quarteirões entre si, proporcionando

harmonia para a cidade através da relação altura x largura dos edifícios e também na relação da

casa com o quarteirão. Previa-se também grandes diagonais, que cortavam toda a cidade e

criavam quadras com formas irregulares, valorizando assim a fachada dos edifícios e a arquitetura

da época. Essas ruas diagonais também integravam a “nova Barcelona” com os núcleos urbanos

vizinhos, além do núcleo medieval. Dessa forma, o engenheiro não impôs simplesmente uma

nova ordem na cidade, indiferente ao contexto da época, mas sim ajustou as bordas desses

diferentes espaços, ligando-os através dessas diagonais que partiam de conexões preexistentes

(SORIA Y PUIG, 1996; CASTELNOU, 2007).

De acordo com Bohigas et al. (1992), em seu plano, Cerdà apenas ampliou a cidade,

aumentando sua área urbanizada de forma ordenada e, portanto, não interveio em sua parte

antiga, descaracterizando-a, o que fez com que Barcelona ganhasse um caráter de pluralidade,

mantendo aspectos heterogêneos, os quais a qualificam até os dias atuais. Para Goitia (2003), ele

merece agradecimentos, já que proporcionou um melhor desenvolvimento para a metrópole.

Entretanto, já em seu início, essas reformas foram tomadas e controladas pelo mercado da

especulação imobiliária, o qual desrespeitou o planejamento previsto para a cidade e trouxe

novamente problemas ao seu desenvolvimento, especialmente devido ao aumento do tamanho e

da quantidade de edificações.

Além disso, conforme Benevolo (2001), ao contrário do plano de Haussman para Paris, o

de Barcelona não foi totalmente consolidado. Seus resultados não foram os esperados, pois

mostrou uma paisagem urbana monótona e sem atrativos graças ao domínio da especulação

imobiliária. Também se percebeu que se tratava de um plano que favoreceu somente a uma parte

da população – principalmente a burguesia industrial e comercial –, que acabou se instalando no

setor organizado da cidade, enquanto o resto das classes menos favorecidas e proletárias formou

um novo subúrbio, o qual apresentaria os mesmos problemas anteriores de urbanização.

Posteriormente ao plano, ocorreram eventos importantes na cidade, como feiras

internacionais que ocasionaram novas reformas urbanas. Em 1888, aconteceu no Parc de la

Ciutadella a Exposição Universal de Barcelona (Fig. 09), cujo portão principal foi o Arc del Triomf,

construído em tijolos no estilo

mudéjar, com esculturas

representando o artesanato, a

indústria e os negócios da época.

O Palau de la Música Catalana, o

Teatro de Ópera Liceu e o Mercat

La Boqueria também foram

construções para esta feira

mundial, além do Monument a

Colón; uma estátua de bronze

representando Colombo apontando

para o mar sobre uma coluna de

60m de altura, que é hoje um

marco de Barcelona. Aconteceu

ainda a melhoria da cidade através

de novas edificações e do término

de construções já iniciadas,

proporcionando melhor

infraestrutura para os moradores.

FIGURA 09 – Exposição Universal de Barcelona (1888).

Outro evento fundamental para o planejamento da cidade foi a Feira Internacional de 1929

(Fig. 10), em que se destacou a criação do Pavelló Mies Van der Rohe – pavilhão alemão

demolido após o evento, mas

reconstruído posteriormente –; o

neo-renascentista Palácio de Artes

Gráficas, que hoje é sede do

Museu Arqueològic; o Palácio

Nacional, atualmente Museu

Nacional d’Art de Catalunya; e o

Pouble Espanyol; uma espécie de

vila espanhola que foi construída

para mostrar a tradição e

artesanato do país, onde diversos

estilos arquitetônicos e construtivos

de toda a Espanha estão expostos

em 16 casas ao longo de ruas que

se irradiam de uma praça principal.

FIGURA 10 – Feira Internacional de

Barcelona (1929).

A exposição de 1929 também produziu algumas construções da Plaça d’ Espanya, como

por exemplo, dois campanários venezianos que ladeiam a praça, com 47m de altura, além da

avenida principal – Avinguda de la Reina María Cristina –, onde se alinham os diversos edifícios já

citados, que foram construídos para a feira internacional. Todas as construções citadas ficam na

colina de Montjuïc que se situa no Sul da cidade, sobre o porto comercial, com cerca de 213 m de

altura. Alguns acreditam que o lugar já foi uma pequena colônia celta e abrigou um templo romano

dedicado a Júpiter, além de um cemitério judeu que teria inspirado o nome da colina (“Monte dos

Judeus”). O que se sabe é que o local era escasso em água até 1640 quando se construiu um

castelo na região. Porém, foi somente com a feira de 1929 que Montjuïc transformou-se no que é

hoje, um dos pontos turísticos mais visitados e procurados da capital catalã, recebendo depois,

em 1992, algumas esportivas das Olimpíadas.

Com sua evolução no decorrer do século XX, novas intervenções e reformas urbanas

foram feitas em Barcelona e região metropolitana, porém, segundo com Bohigas et al. (1992),

ainda se manteve a “herança” urbanística do plano de 1859. Um bom exemplo foi a realização dos

Jogos Olímpicos de 1992, os quais promoveram mudanças na metrópole espanhola, mas sempre

se respeitando o traçado original de Cerdà em quadrícula, preenchendo-as inclusive com

elementos do plano funcionalista desenvolvido por arquitetos do GATCPAC5 em colaboração com

Le Corbusier (1887-1965), o Pla Macià (1931/38).

Visando adaptar a cidade para que pudesse abrigar os jogos, atletas e turistas durante o

evento, as intervenções para as Olimpíadas de 1992 trouxeram melhorias em infraestrutura e na

qualidade de vida dos catalães, assim como levaram prosperidade e desenvolvimento à

Barcelona, projetando-a a nível internacional, o que atraiu investimentos e impulsionou a

economia, tornando-a mais importante do que já era para a Espanha. As reformas ampliaram e

criaram além dos equipamentos desportivos, equipamentos culturais, espaços públicos, hotéis,

escolas, comunicações e novos sistemas de transporte. Algumas dessas intervenções que

merecem destaque foram: a Vila Olímpica, a Plaça del Països Catalans, o Estádi Olímpic e o

Palácio dos Desportes Sant Jordi – ambos construídos no Anillo Olímpic situado em Montjuïc –, a

remodelação do aeroporto e a torre de comunicações da cidade, projetada pelo arquiteto britânico

Norman Foster (1935-). Além disso, também houve a reforma de edifícios já existentes em

Montjuïc desde a feira internacional de 1929, demonstrando mais uma vez a preocupação catalã

em manter suas tradições aliadas à atualidade.

FIGURA 11 – Planta contemporânea de Barcelona, onde é possível identificar: (1) Núcleo antigo (Ciutat Vella ou Barri

Gòtic); (2) Expansão do Plano Cerdà (L’Eixample); (3) Antigo porto (Barceloneta); (4) Parc de la Ciutadella (Exposição Universal de 1888); (5) Montjuïc (Feira Internacional de 1929 e Anillo Olímpic de 1992); (6) Vila Olímpica de 1992 e;

finalmente, (7) a Plaça del Països Catalans .

5 O Grupo de Artistas y Técnicos Españoles para el Progreso de la Arquitectura Contemporánea – GATCPAC, liderado pelo arquiteto

espanhol José Lluís Sert (1902-83), tornou-se a maior referência do urbanismo catalão republicano. Seu primeiro projeto foi a

urbanização da Avinguda Diagonal, em 1931, onde se aplicaram os princípios ortodoxos do racionalismo arquitetônico, em que a

quadra fechada de Cerdà foi substituída por extensos blocos longitudinais. Em 1932, publicou-se a Ciutat de Repós; uma proposta de

colônia de férias dentro da preocupação do Movimento Moderno pela higiene, lazer e recreação. E, em 1934, completou-se com a

proposição ambiciosa do Pla Macià, o qual visava a criação de uma nova Barcelona, contando com o apoio de Le Corbusier (1887-

1965). Segundo esse plano, o crescimento da cidade deveria se fazer descartando as propostas radiais e conservando a organização

reticular de Cerdà, porém com um módulo maior (um quarteirão novo equivaleria a nove das quadras antigas). Preocupação especial

foi dedicada à faixa litorânea, ao zoneamento funcional e à modificação da legislação urbana. Tal plano não acabou se efetivando por

completo devido à eclosão aos desdobramentos da Guerra Civil Espanhola (1936/39) (TARRAGÓ, 2012).

Até hoje, Barcelona é uma cidade onde coexistem concepções e modos de vida diferentes,

o que esboça seu perfil como uma cidade do presente que procura seu futuro (Fig. 11). Em outras

palavras, a principal contribuição do plano de Cerdá consistiu na imposição de um plano diretor

para organizar o crescimento da cidade desde então, melhorando a vida de sua população e a

própria situação urbana de Barcelona, contribuindo para condições de melhor higiene, circulação,

acessibilidade, legibilidade, funcionalidade e setorização da cidade, o que favorece mais

qualidade de vida, entre outros aspectos (BOHIGAS et al., 1992).

Segundo Bidou-Zachariasen (2006), Barcelona, diferentemente das cidades anglo-

saxônicas, possui um centro de valor simbólico que o urbanismo contemporâneo tenta preservar.

Não acontecendo reformas drásticas, atualmente se abrem espaços públicos onde se inserem

alguns equipamentos culturais, sempre preservando o núcleo histórico (Fig. 11). A autora ainda

cita uma recente reforma da Ciutat Vella planejada para tentar sanar problemas atuais de

infraestrutura causados pela grande imigração para esse setor. O governo está tentando organizar

esse bairro central para que fique atrativo a atividades do terceiro setor, inclusive integrando a

população local e trazendo assim melhor qualidade de vida.

6 METODOLOGIA

De caráter teórico e exploratório, esta pesquisa de iniciação científica foi baseada na

revisão web e bibliográfica, tendo sido realizada por meio da investigação, seleção e coleta de

fontes impressas nacionais e internacionais; ou ainda publicadas on line, que tratavam direta ou

indiretamente sobre o Plano de Barcelona. Além de material para registro computacional, gráfico e

fotográfico, utilizou-se as instalações físicas destinadas ao docente-adjunto, autor do projeto e

lotado na subárea de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo, em Regime de Dedicação

Exclusiva, do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, com a participação de 01 (uma) discente

do curso de graduação, autora do presente relatório.

7 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O plano de urbanização proposto por Idelfons Cerdà (Fig.

12) para a cidade de Barcelona, na segunda metade do século

XIX, contribuiu, a exemplo de outras reformas urbanísticas do

mesmo período, com a higienização e organização da cidade,

que, como já citado anteriormente, sofria com os pontos

negativos da industrialização: falta de saneamento, ventilação,

proliferação de doenças, acúmulo de lixo e sujeira pela cidade

que tinha construções sem nenhum planejamento e uma

população acima do que seu traçado medieval suportava,

causando um alto índice de mortalidade em Barcelona.

FIGURA 12 – Idelfons Cerdà (1815-76).

Cerdà foi inovador para sua época, não seguindo a tradição da arquitetura clássico-barroca

e do desenho urbano vigente nas principais cidades da Europa – como em Paris ou Viena, entre

outras –, tendo como elemento de destaque a “busca da variedade”. Além de utilizar elementos

como praças, ruas e avenidas, de forma mais livre – e não impor uma linguagem arquitetônica,

como ocorrera na Paris haussmanniana –, utilizou a “quadra aberta”, o que possibilitava maior

diversidade e transformava espaços que até então eram privados em semi-públicos ou mesmo

públicos (inclusive mudando a relação entre o público e o privado), melhor integrando os

quarteirões com a cidade. Ao combinar os elementos de seus estudos anteriores sobre Barcelona

e utilizá-los com extrema variedade, cuidando inclusive de detalhes das quadras, Cerdà

possibilitou maior autonomia das construções, realçando o valor das ruas e das esquinas; e

potencializando a interdependência das vias de circulação e espaços urbanos.

Com a quadrícula característica, composta por octógonos e atravessada por diagonais, o

engenheiro catalão fez com que Barcelona ganhasse uma identidade própria, garantindo em

“estilo” exclusivo da cidade. Contudo, existem pontos negativos em seu plano de urbanização,

alguns dos quais salientados por autores como Soria y Puig (1996), já que o traçado em retícula

foi muito discutido e criticado na época, principalmente em relação a uma suposta “monotonia”, o

que foi contornado pela proposta de diferentes formas de ocupação das quadras, fazendo com

aparecessem espaços diferenciados. Outro ponto considerado refere-se à necessidade de

circulação por diversos meios. Inicialmente, a proposta era composta por ruas mais largas e

comprimento de 30m, porém como passariam por lá pedestres e charretes que poderiam circular

com diferentes velocidades e sentidos, alterou-se a configuração das ruas para que tivessem

largura de 20m, com espaços de 5m de cada lado reservados para a circulação de transeuntes. O

próprio desenho das quadras que na época atendeu as necessidades, depois se mostrou inviável

para circulação de automóveis, os quais dependem de semáforos e sinais de trânsito para

conseguirem circular bem, sem riscos de acidentes.

A partir da pesquisa web e bibliográfica, foi possível reunir uma série de ilustrações que

permitem uma compreensão mais abrangente das ideias do plano de Cerdá para Barcelona, o

que vem disposto na sequência (Figs. 13 a 20).

FIGURA 13 – Esquemas preliminares do plano de Cerdà para Barcelona: ligação de núcleos urbanos e retícula.

FIGURA 14 – Plano Cerdà (1859, Barcelona).

FIGURA 15 – Dimensionamento e evolução da ocupação das quadras propostas pelo Plano Cerdà (1859, Barcelona).

FIGURA 16 – Estudo de Idelfons Cerdà sobre o cruzamento de vias em cidades.

FIGURAS 17 e 18 – Esquema do Plano Cerdà (1859, Barcelona), com perspectiva e ocupação ocorrida das quadras.

Maquete mostrando a ocupação prevista, com a reserva de áreas verdes, o que não foi respeitado.

FIGURA 19 – Situação do bairro L’Eixample, sua divisão administrativa e ocupação das quadras.

FIGURA 20 – Vistas aéreas de Barcelona contemporânea, destacando-se a ocupação de suas quadras.

8 CONCLUSÕES

O plano urbanístico de Idelfons Cerdà (1815-76) para Barcelona trouxe muitas vantagens à

cidade, contribuindo para seu desenvolvimento no contexto da industrialização. Ao utilizar um

plano “moderno” e inovador em relação aos outros centros europeus, com certa liberdade

construtiva, permitiu que a cidade ganhasse um estilo ímpar em seu desenho urbano; e se

tornasse única, autêntica, principalmente pelo aspecto de suas quadras, além de estimular seu

crescimento e desenvolvimento tornando-a uma das principais capitais da Espanha; atualmente

referência internacional. Com essa intervenção coordenada, muitos benefícios também vieram no

futuro, quando a cidade recebeu eventos de importância mundial, que a consolidaram como

modelo urbanístico a ser estudado por todos.

Porém, não se pode negar que o desenho de quadras adotado por Cerdà também trouxe

muitos problemas a posteriori, pois o transporte – na época por tração animal – hoje em dia é feito

principalmente por veículos automotores, os quais são prejudicados pelo formato dos quarteirões,

que impede a visão dos motoristas em cruzamentos, fazendo com que sejam necessários

semáforos nas esquinas das ruas para organizar o fluxo. Além disso, na época apenas uma

parcela dos barceloneses foi contemplada pelos benefícios das reformas urbanas, tomadas pela

especulação imobiliária, o que fez com que muitos aspectos do plano não fossem concretizados.

Ainda deve-se levar em conta que a população da cidade aumentou progressivamente e, com seu

desenvolvimento, novos imigrantes vieram, o que exigiu novas ações planificadoras para corrigir

situações precárias e demais problemas ligados ao uso e ocupação do solo urbano.

Entretanto, o mais importante foi que o engenheiro catalão deu um primeiro passo para a

organização espacial e funcional de Barcelona, trazendo mais higiene, saúde, circulação,

abastecimento e principalmente qualidade de vida ao distribuir melhor a cidade e desfazer o

antigo aglomerado urbano, melhorando a vida da população. Ao levar em consideração vários

fatores para planejar a cidade – estéticos, técnicos e sociais – não se fez apenas um

embelezamento da mesma, pois existiram medidas para que a cidade e seus edifícios se

tornassem mais confortáveis e proporcionassem maior conforto e bem-estar.

Medidas como ajardinar a cidade e fazer da rua não somente um espaço de passagem,

mas de convivência, além de pensar em possibilidades de expansão – um desenho de quadras e

ruas que facilite seu crescimento em extensão no território –, assim como a preocupação com a

altura, a distribuição dos prédios pela quadra e o traçado das ruas e quarteirões pensando em

facilitar o transporte, abriram caminhos para que se formasse o urbanismo do século XX. Em

muitos planos modernos, observa-se tais considerações ou aprimora-se esses conceitos que

começaram a ter importância nos primeiros planos urbanísticos. Uma primeira preocupação e

discussão sobre problemas pertinentes à cidade, os quais apontaram novos caminhos para a

arquitetura e principalmente o urbanismo dos séculos posteriores está justamente na ideia de que

não se pode projetar uma cidade sem pensar no futuro.

9 REFERÊNCIAS

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_____. História da cidade. São Paulo: Perspectiva, 2001.

BOHIGAS, O.; BUCHANAN, P.; ÁBALOS, M. D.; LAMPUGNANI, V. M. et alii. Barcelona: arquitectura y ciudad (1980-1992). 3. ed. Barcelona: Gustavo Gili, 1992.

CASTELNOU, A. M. Teoria do urbanismo. Curitiba: Apostila, UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR, 2007.

FIGUEROA, M. Habitação coletiva e a evolução da quadra (2006). Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/06.069/385>. Acesso em: 15.ago.2012.

GOITIA, F. C. Breve história do urbanismo. 5. ed. Lisboa: Editorial Presença, 2003.

GYMPEL, J. História da arquitectura da antiguidade aos nossos dias. Lisboa: Könemann, 2000.

BIDOU-ZACHARIASEN, C. (Org.). De volta à cidade: dos processos de gentrificação às políticas de “revitalização” dos centros urbanos. São Paulo: Annablume, 2006.

NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA. São Paulo: Encyclopaedia Britannia do Brasil Publicações Ltda, 1997.

SORIA Y PUIG, A. Cerdá: Las cinco bases de la teoría general de la urbanización. Barcelona: Electa, 1996.

TARRAGÓ, S. El “Pla Macià” o “La Nova Barcelona” (1931-38). Disponível em: <http://www.raco.cat/index.php/CuadernosArquitecturaUrbanismo/article/viewFile/111450/160894>. Acesso em: 29.set.2012.

10 FONTES DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01 – Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/e6/Grid_1811.jpg>. Figura 02 – Disponível em: <http://www.bu.edu/av/ah/fall2008/ah382/lecture15/Picture5.jpg>. Figura 03 – Disponível em: < http://unpo13minionu.files.wordpress.com/2012/07/ 210_813-ana11.gif>. Figura 04/05/06 – Disponível em: <http://degustandobarcelona.blogspot.com.br/ 2011_01_01_archive.html>. Figura 07 – Disponível em: <http://www.barcelonayellow.com/images/stories/ barcelona_pictures_eixample/barcelona_eixample_cerda_plan.jpg>. Figura 08 – Disponível em: < http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c8/ CruillesCerda2.jpg>. Figura 09 – Disponível em: < http://barcelona1888.blogspot.com.br/2011/11/ week-8-ground-plan.html>. Figura 10 – Disponível em: < http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/b1/ Expo1929-PlanolUbicacions.jpg>. Figura 11 – Disponível em: < http://www.plataformaarquitectura.cl/2011/05/24/ paseo-de-els-cims-de-montjuic-barcelona-forgas-arquitectes/02_cims_mon_bcn/>. Figura 12 – Disponível em: <http://plancerda.files.wordpress.com/2010/06/ildefons_cerda.jpg>. Figura 13 – Disponível em: <http://www.anycerda.org/web/es/any-cerda/ fa-150-anys/el-pla-cerda>. Figura 14 – Disponível em: <http://degustandobarcelona.blogspot.com.br/ 2011_01_01_archive.html>. Figura 15 – Disponível em: <http://www.upf.edu/materials/fhuma/portal_geos/tag/img/img_temes/ 027densificacionmanzana.jpg> e <http://umgauchonacatalunha.blogspot.com.br/ 2012/05/leixample.html>. Figura 16 – Disponível em: <http://paulagaleano.files.wordpress.com/2010/03/14.jpg>. Figura 17/18 – Disponível em: <http://laciudadsecreta.blogspot.com.br/p/ensanches.html> e GUIMARÃES, P. P. Configuração urbana: evolução, avaliação, planejamento e urbanização. São Paulo: ProLivros, 2004. Figura 19 – Disponível em: <http://umgauchonacatalunha.blogspot.com.br/ 2012/05/leixample.html>. Figura 20 – Disponível em: <http://laciudadsecreta.blogspot.com.br/p/ensanches.html>. Observação: Todas as imagens foram acessadas em 29.set.2012.