90
Universidade Federal do Rio de Janeiro DIMENSIONAMENTO E ANÁLISE DE DESEMPENHO HIDRÁULICO DE ESTACIONAMENTOS COM DRENAGEM CONVENCIONAL E PAVIMENTO PERMEÁVEL, APOIADO POR MODELAGEM COMPUTACIONAL Laurent Feu Grancer Silva Oliveira 2018

Universidade Federal do Rio de Janeiro DIMENSIONAMENTO E ...monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10024938.pdf · Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade

  • Upload
    ngotu

  • View
    220

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Universidade Federal do Rio de Janeiro

DIMENSIONAMENTO E ANÁLISE DE DESEMPENHO HIDRÁULICO DE

ESTACIONAMENTOS COM DRENAGEM CONVENCIONAL E PAVIMENTO

PERMEÁVEL, APOIADO POR MODELAGEM COMPUTACIONAL

Laurent Feu Grancer Silva Oliveira

2018

DIMENSIONAMENTO E ANÁLISE DE DESEMPENHO HIDRÁULICO DE

ESTACIONAMENTOS COM DRENAGEM CONVENCIONAL E PAVIMENTO

PERMEÁVEL, APOIADO POR MODELAGEM COMPUTACIONAL

Laurent Feu Grancer Silva Oliveira

Projeto de Graduação apresentado ao

Curso de Engenharia Civil da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio

de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de

Engenheiro.

Orientadores:

Marcelo Gomes Miguez

Osvaldo Moura Rezende

Rio de Janeiro

March 2018

iv

DIMENSIONAMENTO E ANÁLISE DE DESEMPENHO HIDRÁULICO DE

ESTACIONAMENTOS COM DRENAGEM CONVENCIONAL E PAVIMENTO

PERMEÁVEL, APOIADO POR MODELAGEM COMPUTACIONAL

Laurent Feu Grancer Silva Oliveira

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinada por:

____________________________________________________

Prof. Marcelo Gomes Miguez, D.Sc.

____________________________________________________

Prof. Assed Haddad, D. Sc.

____________________________________________________

Eng. Osvaldo Moura Rezende, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

MARÇO de 2018

v

Oliveira, Laurent Feu Grancer Silva

Dimensionamento e análise de desempenho hidráulico

de estacionamentos com drenagem convencional e pavimento

permeável, apoiado por modelagem computacional / Laurent

Feu Grancer Silva Oliveira. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola

Politécnica, 2018.

xii, 79 p.: il.; 29,7 cm.

Orientadores: Marcelo Gomes Miguez e Osvaldo Moura

Rezende

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/

Curso de Engenharia Civil, 2018.

Referências Bibliográficas: p. 77-79.

1. Drenagem Urbana. 2. Pavimento Permeável. 3.

Modelagem Matemática.

I. Miguez, Marcelo Gomes. II. Universidade Federal

do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia

Civil. III. Título.

vi

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que fez com que eu chegasse até aqui, a quem

eu recorria a cada dificuldade ou momento de desesperança, a quem eu agradecia a cada

momento bom, que me fez olhar o lado positivo de todos os acontecimentos na minha

vida, que me colocou a prova para moldar meu caráter e me fazer amadurecer, meu porto

seguro em qualquer situação, a quem me faz ter a certeza que toda essa jornada valeu a

pena e que o futuro reserva coisas maravilhosas.

Agradeço à minha família, por me apoiar em toda a minha vida e principalmente

nessa jornada universitária. Minha mãe Eivanildes, por sempre me dar amor e o carinho

necessários para que eu pudesse prosseguir, ao meu saudoso pai Nedson, pelos

ensinamentos da infância que me tornaram o homem que eu sou, ao meu irmão

Dominique, por sempre estar disposto a ser meu amigo e protetor, ao meu sobrinho

Guilherme, por trazer felicidade e leveza ao meu coração e a todos os meus familiares,

pela torcida. Saber que eu podia contar com vocês me deu forças para seguir em frente.

Agradeço a Andressa, por todo o carinho que me dedicou nos últimos anos, por

ser minha confidente, minha companheira, minha melhor amiga, por sempre saber que eu

poderia contar contigo, por ser um exemplo de bondade e perseverança, enfim, por todo

o seu amor.

Agradeço ao meu professor e orientador Marcelo Gomes Miguez, por ser meu

tutor desde o início da minha caminhada, sempre foi uma referência de competência e

profissionalismo. Obrigado por todos os ensinamentos, paciência e dedicação.

vii

Agradeço ao meu orientador Osvaldo Moura Rezende por todo conhecimento

oferecido de maneira clara e paciente e por ser uma referência na minha trajetória

profissional.

Agradeço à equipe do Laboratório de Hidráulica Computacional (LHC),

laboratório que foi como uma segunda casa nos últimos anos, muito obrigado a todos que

passaram por lá e que deixaram os meus dias no Fundão mais iluminados, em especial

Paulo Canedo, Aline Veról, Antônio, Bruna, Lilian, Cícero, Francis, Dearley, Isaac,

Gabrielly, Ianic, Giuliana, Lívia, Anna, Flávia, Marina, Guilherme, Victor, Isadora e

Clara. Cada um de vocês deixaram um pouco de si e espero que levem um pouco de mim.

Agradeço à equipe da Consultoria Ambiental AquaFluxus, em especial ao

Matheus, Luiza, Caroline e Bianca, por fazerem que eu tivesse contato com projetos de

alta complexidade e poder absorver conhecimento de profissionais de alto nível.

Agradeço aos meus mestres, por todo o conhecimento oferecido, por me forçarem

a sair da minha zona de conforto, rever meus conceitos e elevar meu patamar de

conhecimento, me tornando um profissional com brio para confrontar o mercado.

Agradeço aos amigos que compartilharam suas alegrias e tristezas durante essa

jornada, em especial Victor, Raoni, Luís Guilherme, Yuri, Rafael, Felipe, Ana Paula,

Jonas, Fábio, Vinícius, João Paulo, Wallas, Guido, Clarice e o saudoso Gustavo Barud.

Amigos que acompanharam o começo, toda a jornada ou somente o fim. Amigos que

estão aqui para comemorar comigo e aos amigos que se foram e deixaram saudades.

A todos, muito obrigado,

Laurent Feu Grancer Silva Oliveira.

viii

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

DIMENSIONAMENTO E ANÁLISE DE DESEMPENHO HIDRÁULICO DE

ESTACIONAMENTOS COM DRENAGEM CONVENCIONAL E PAVIMENTO

PERMEÁVEL, APOIADO POR MODELAGEM COMPUTACIONAL

Laurent Feu Grancer Silva Oliveira

Março/2018

Orientadores: Marcelo Gomes Miguez e Osvaldo Moura Rezende.

Curso: Engenharia Civil

As inundações em áreas urbanas entram em conflito direto com o funcionamento

das cidades, causando inúmeros problemas de ordem econômica e social, como danos à

infraestrutura, perdas materiais, interrupção de atividades comerciais, desalojamento de

pessoas e a perda de vidas. Este trabalho visa conjugar a tecnologia dos pavimentos

permeáveis ao uso do solo urbano, reduzindo taxas de impermeabilização. O objetivo é

desenvolver um projeto de drenagem alternativo, considerando o uso conjugado de

pavimentos permeáveis sobre reservatórios de brita, para diminuir volumes e picos de

vazão. O projeto do estacionamento desenvolvido tem como objeto o prédio do CT2, que

fica na Ilha do Fundão, Rio de Janeiro. A metodologia adotada consiste em analisar e

quantificar o impacto no sistema de microdrenagem com a implantação de

estacionamentos construídos com sistema de drenagem convencional em relação a

estacionamentos construídos com pavimentos permeáveis. A análise do comportamento

hidráulico será feita utilizando o software MODCEL. As simulações computacionais

realizadas devem mostrar que a adoção de pavimentos permeáveis como meio para o

armazenamento de águas pluviais no subleito reduz significativamente o impacto das

vazões durante o pico de cheia, fazendo com que o sistema tenha capacidade de retornar

a condições semelhantes às do ciclo hidrológico natural, assim, diminuindo a sobrecarga

do sistema de drenagem local e reduzindo a probabilidade de ocorrência de falhas e

alagamentos.

Palavras-chave: Drenagem Urbana, Pavimento Permeável, Simulação Computacional

ix

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Engineer.

DIMENSIONING AND ANALYSIS OF HYDRAULIC PERFORMANCE OF

PARKING WITH CONVENTIONAL DRAINAGE AND PERMEABLE

PAVEMENT, SUPPORTED BY COMPUTATIONAL MODELING

Laurent Feu Grancer Silva Oliveira

March/2018

Advisors: Marcelo Gomes Miguez e Osvaldo Moura Rezende.

Course: Civil Engineering

The urban floods directly stress and limitthe citie functions, causing numerous

socioeconomic problems, as damage to infrastructure, material losses, interruption of

business activities, people displacement from their homes and the loss of lives. This work

aims to combine the use of permeable pavements within the urban land use, reducing

imperviousness. The main goal is to develop an alternative drainage project, considering

the use in conjunction of permeable pavements over gravel reservoirs, to reduce peak

flow. The design of the parking lot developed will match the CT2 needs, which is a

building located in the Fundão Island, Rio de Janeiro. The methodology adopted consists

in analyzing and quantifying the impact on minor drainage when comparing a

conventional drainage system with the parking lot built with permeable pavements. The

hydraulic behavior analysis will be performed using the software MODCEL. The

computer simulations shall show that the adoption of permeable surfaces integrated with

reservoirs filled with gravel significantly the impact of low flows during the flood peak.

This fact allows the system to return to conditions similar to those of the natural

hydrological cycle, thus reducing local drainage overflowsand reducing the likelihood of

flood occurrences.

Keywords: Urban Drainage, Pavement permeable, Computer Simulation

x

ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 1

1.1. Contexto e Motivação ............................................................................. 1

1.2. Objetivo .................................................................................................. 2

1.3. Metodologia ............................................................................................ 2

2. CONCEITOS HIDROLÓGICOS ............................................................... 4

2.1. Bacia Hidrográfica .................................................................................. 4

2.2. Ciclo Hidrológico ................................................................................... 5

2.3. Precipitação ............................................................................................. 7

2.3.1. Pluviometria ..................................................................................... 8

2.3.2. Precipitação Média e Distribuição Espacial ................................... 10

2.3.3. Frequência de Totais Precipitados e Tempo de Retorno ................ 11

2.3.4. Chuvas Intensas .............................................................................. 12

2.4. Características Físicas da Bacia ............................................................ 13

2.4.1. Infiltração e Percolação .................................................................. 13

2.4.2. Escoamento Superficial e Coeficiente de Runoff ........................... 14

2.4.3. Hidrograma .................................................................................... 15

2.4.4. Tempo de concentração ................................................................. 16

3. DRENAGEM URBANA .......................................................................... 17

3.1. Inundações Urbanas .............................................................................. 17

3.1.1. Formação das Cheias ..................................................................... 17

xi

3.1.2. Efeitos da Urbanização .................................................................. 18

3.1.3. Consequências das Inundações ...................................................... 19

3.2. Sistemas de Drenagem Urbana ............................................................. 19

3.2.1. Drenagem Urbana Convencional ................................................... 20

3.2.2. Drenagem Urbana Sustentável ....................................................... 24

4. PAVIMENTOS PERMEÁVEIS .............................................................. 25

4.1. Princípio de Funcionamento ................................................................. 26

4.2. Componentes dos Pavimentos Permeáveis ........................................... 26

4.2.1. Revestimento .................................................................................. 27

4.2.2. Base e Sub-base ............................................................................. 28

4.2.3. Subleito .......................................................................................... 28

4.2.4. Dispositivos Auxiliares .................................................................. 29

4.3. Tipologia de Revestimentos .................................................................. 30

4.3.1. Revestimento Pavimento de Peças de Pré-moldadas de Concreto 31

4.3.2. Revestimento de Pavimento de Concreto Poroso .......................... 31

4.4. Sistemas de Infiltração .......................................................................... 32

5. PROJETO DO SISTEMA DE DRENAGEM DO ESTACIONAMENTO

DO CT2 33

5.1. Concepção Funcional do Empreendimento .......................................... 34

5.2. Concepção do Projeto de Pavimento Permeável .................................. 37

5.2.1. Estacionamento Noroeste – Drenagem Convencional ................... 37

5.2.2. Estacionamento Sudeste – Drenagem com Concreto Permeável ... 44

xii

5.3. Estudos Hidrológicos e Hidráulicos ..................................................... 50

5.3.1. Determinação da Chuva de Projeto ................................................ 50

5.3.2. Determinação dos Parâmetros Hidráulicos dos Pavimentos .......... 52

5.4. Serviços Geológicos – Geotécnicos ...................................................... 54

5.4.1. Características Hidráulicas do Solo ............................................... 54

5.5. Projeto de Drenagem ............................................................................ 61

5.5.1. Escolha do Modelo ......................................................................... 61

5.5.2. Modelagem Computacional ........................................................... 62

5.5.3. Dimensionamento do Estacionamento Noroeste ........................... 62

5.5.4. Dimensionamento do Estacionamento Sudeste ............................. 68

5.5.5. Comparação entre os dois sistemas de drenagem modelados ........ 72

6. CONCLUSÕES ........................................................................................ 75

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................... 77

1

1. INTRODUÇÃO

Neste capítulo abordaremos os problemas das inundações em meio urbano e a

motivação para a realização desse estudo. Discutiremos os objetivos esperados ao término

do trabalho e qual será a metodologia adotada para alcançarmos tais resultados.

1.1. Contexto e Motivação

Por ser um dos elementos fundamentais à vida, o ser humano sempre procurou se

estabelecer em regiões próximas à água doce, para ter acesso ao seu consumo e aproveitar

as áreas marginais, onde a terra é mais fértil e de fácil irrigação, entre outros benefícios.

Com o avanço da urbanização, as regiões próximas a rios passaram a abrigar enormes

aglomerados de pessoas.

Todo esse processo impacta diretamente o fenômeno natural de inundação dos

rios, agravando-o. Com as alterações do solo da bacia hidrográfica, como ocupação de

áreas naturais de alagamento, impermeabilização e desmatamento, as inundações foram

intensificadas drasticamente e passaram a afetar as próprias comunidades instaladas nas

planícies fluviais, provocando perdas e danos significativos.

O extravasamento da água dos rios entra em conflito direto com o funcionamento

das cidades, causando inúmeros problemas de ordem econômica e social, como danos à

infraestrutura, perdas materiais, interrupção de atividades comerciais, desalojamento de

pessoas e a perda de vidas. O resultado final para a cidade, em muitos casos, é a completa

degradação do espaço urbano, e também do natural, com desvalorização imobiliária,

redução da qualidade de vida dos moradores e perda de valor ambiental.

2

Neste sentido, este trabalho visa conjugar o conceito de utilização do solo, no que

tange a impermeabilização, com a aplicação de pavimentos permeáveis. Estacionamentos

são locais sempre muito impermeáveis e grandes geradores de escoamento, capazes de

agravar problemas de alagamentos. A presente pesquisa visa desenvolver um projeto de

drenagem alternativo, considerando o uso conjugado de pavimentos permeáveis sobre

reservatórios de brita, para diminuir picos de vazão.

O projeto do estacionamento desenvolvido tem como objeto o prédio do CT2, que

fica na Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, próxima à Ponte do Saber, que dá acesso à Linha

Vermelha.

1.2. Objetivo

O objetivo deste Projeto de Graduação é desenvolver um projeto de drenagem do

estacionamento do prédio do CT2, utilizando conceitos de drenagem sustentável,

conjugando o uso de pavimentos permeáveis e reservatórios de brita, e comparar os

ganhos desta concepção com o uso de um projeto de concepção tradicional, em termos de

redução de vazões para o sistema de microdrenagem local.

1.3. Metodologia

Para a realização deste trabalho a metodologia adotada seguiu os seguintes passos:

Revisão bibliográfica, buscando a sustentação teórica para o trabalho.

3

Escolha do estudo de caso: estacionamentos do CT2 devido à proximidade

e o acesso a todos os projetos preliminares que tornariam possível a

simulação computacional, além de constituir uma contribuição para a

própria Universidade.

Discretização das áreas: feita a partir do layout arquitetônico do

estacionamento e das especificidades de cada trecho de acordo com suas

características hidráulicas.

Definição de um modelo computacional para suporte à avaliação dos

projetos: nesse caso, foi escolhido o MODCEL, um modelo desenvolvido

na própria UFRJ com vocação para representação da drenagem urbana.

Calibração e validação do modelo computacional: através da comparação

de resultados de eficiência hidráulica coletados em modelo físico

experimental com os resultantes das simulações.

Dimensionamento dos projetos: de maneira em que os dois sistemas de

drenagem funcionassem de maneira plena para uma dada chuva de projeto

caraterística da região, com tempo de retorno adequado ao tipo de projeto

proposto.

Simulação dos modelos representativos dos projetos propostos e

apresentação dos resultados.

Discussão dos resultados obtidos.

4

2. CONCEITOS HIDROLÓGICOS

Neste capítulo abordaremos os principais conceitos hidrológicos, utilizados para

o dimensionamento adequado de um projeto de drenagem, entre eles estão as definições

de uma bacia hidrográfica, dinâmica do ciclo hidrológico, estudo sobre as precipitações

e como as características físicas alteram a hidrodinâmica local.

2.1. Bacia Hidrográfica

A bacia hidrográfica é uma área definida topograficamente e drenada por um curso

de água ou um sistema conectado de cursos de água, de modo que toda a vazão efluente

seja descarregada através de uma simples saída (VILLELA e MATTOS, 1975).

Em uma bacia natural, essa área é delimitada pela linha de cumeada (linha dos

pontos mais altos) até o exutório da bacia, definindo assim a área de drenagem ou de

contribuição, como vemos na Figura 1. Seus escoamentos são provenientes das

combinações naturais subterrâneas, em épocas de estiagem, somadas às águas de

escoamento superficial, nas épocas chuvosas, consideradas as perdas por evaporação,

transpiração, etc.

A rede de drenagem é constituída de um conjunto de canais de escoamento

interligados que depende principalmente do relevo, da cobertura vegetal, do tipo de solo

e da litologia e estrutura das rochas da bacia hidrográfica, sendo que a disposição dos rios,

controlada em grande parte pela estrutura geológica, é definida pelo padrão de drenagem

(ANDRADE et al., 2008; OLIVEIRA et al., 2010)

5

A bacia hidrográfica é o âmbito de estudo geográfico, delimitado pelo Divortium

Acuarium onde acontece o ciclo hidrológico de importância prática para os hidrólogos,

desenvolvendo diversos modelos hidrológicos a partir das características topográficas e

morfométricas da bacia hidrográfica (CHEREQUE, 1997).

Nesse contexto, podemos pensar na bacia hidrográfica como um sistema fechado

e limitado fisicamente onde ocorre o ciclo hidrológico, desde grandes bacias naturais até

pequenas áreas de drenagem de águas pluviais.

Figura 1: Definição de uma bacia hidrográfica (Fonte: COSTA, 2001)

2.2. Ciclo Hidrológico

O ciclo hidrológico é o processo de circulação fechada da água, em que o elemento

fundamental da análise é a bacia hidrográfica, que corresponde à área de captação natural

dos fluxos da água originados da precipitação, que faz convergir os escoamentos para um

único ponto de saída, seu exutório (TUCCI, 2009; SILVEIRA, 2001).

6

A dinâmica das transformações e a circulação das águas na atmosfera, hidrosfera

e litosfera formam um grande, complexo e intrínseco ciclo representativo do caminho das

águas nos seus diversos estados físicos.

A água que evapora dos oceanos e da superfície da terra passa a integrar o

conteúdo da atmosfera na forma de vapor d’água que, ao se concentrar nas camadas mais

altas, formam nuvens que se modelam e se movimentam em função do deslocamento das

massas de ar. Posteriormente esse vapor d’água se agrupa em gotículas de água e se

precipitam das nuvens sob a ação da força da gravidade, formando precipitações

pluviométricas, ou seja, chuvas.

As águas de chuva podem ser interceptadas, em parte, pela vegetação que cobre o

terreno e/ou pelas superfícies superiores das construções porventura existentes. O que

excede a essa retenção, soma-se àquela parcela de chuva que atingiu diretamente o solo,

se infiltrando através dos vazios entre os grãos do solo.

A água infiltrada percola na direção das camadas mais profundas, contribuindo

para o abastecimento dos reservatórios subterrâneos rasos (lençol freático) e profundos

(aquíferos). Quando a capacidade de infiltração do solo é superada, o excesso das águas

de chuva vai avolumar os escoamentos superficiais já iniciados sobre as áreas

impermeáveis e as de menor permeabilidade, na direção das regiões mais baixas.

A água escoada superficialmente se concentra em córregos, riachos e rios,

chegando, por fim, ao oceano onde a continuidade do ciclo se manifesta novamente

através da evaporação da água, seja nos oceanos, vegetação ou reservatórios naturais e

antrópicos. Podemos ver a representação do ciclo na Figura 2.

7

Figura 2: Representação da movimentação da água no ciclo hidrológico de uma bacia natural

(Fonte: https://goo.gl/6hEhZR )

2.3. Precipitação

A água evaporada (vapor d’água) vai sendo acumulada no ar, que ao ganhar

altitude vai expandindo-se pela diminuição da pressão atmosférica. A expansão causa o

resfriamento do ar que vai perdendo a capacidade de conter umidade (vapor d’água),

iniciando-se o processo de retorno ao estado líquido (condensação) sob a forma de

pequenas gotículas de água (KOBIYAMA, 2006).

Existem diferentes processos que desencadeiam as chuvas, variando de acordo

com o local, formas de relevo e temperatura do ambiente. De acordo com a maneira que

8

o ar se eleva, a chuva pode ser classificada em três tipos principais: orográficas;

convectivas; e frontais (AYOADE, 1998).

Segundo FELLOWS (1975) pode-se dizer que chuvas orográficas são típicas de

regiões onde barreiras topográficas obstruem o livre movimento das massas de ar; chuvas

convectivas são os tipos normais de regiões tropicais, devido ao excessivo aquecimento

da superfície; e chuvas frontais são o tipo predominante em regiões de média latitude,

dominadas por frentes polares.

No estudo de um modelo hidrológico, a chuva é vista como entrada do modelo e

o estudo de seu comportamento a partir do momento em que atinge o solo é de interesse

da hidrologia.

2.3.1. Pluviometria

As chuvas são medidas nas estações pluviométricas que podem ser equipadas com

aparelhos totalizadores (pluviômetros) e/ou registradores (pluviógrafos). As principais

grandezas para medição de chuva são sua altura, duração, intensidade (altura/duração) e

frequência.

Os pluviômetros (Figura 3) acumulam as águas de chuva captadas através de uma

pequena bacia de recepção. O volume precipitado é medido com o auxílio de uma proveta

calibrada, que acompanha o equipamento. Em geral, no Brasil, os pluviômetros são

empregados como totalizadores das precipitações de 1 dia de duração. Cada estação é

operada por um observador, morador da região, treinado para efetuar a leitura todo o dia,

às 7 horas da manhã, conforme convenção nacional (COSTA, 2001).

9

Figura 3: Pluviômetros Ville de Paris (esquerda), Paulista (centro) e de Helmann (direita). (Fonte: VAREJÃO-

SILVA, 2001).

Os pluviógrafos (Figura 4) funcionam sob princípios similares aos do

pluviômetro, inclusive com o mesmo tamanho da bacia de recepção. A diferença está na

vantagem de registrar, continuamente, através de mecanismos específicos, a variação da

altura de chuva durante o período de precipitação. A grande vantagem do pluviógrafo é

permitir a determinação da intensidade da chuva a intervalos de tempo tão pequenos

quanto se queira (COSTA, 2001).

Figura 4: Pluviógrafo de boia e respectivo esquema de registro e acumulação de água. (Fonte: VAREJÃO-

SILVA, 2001)

10

Apesar do cálculo da medição ser importante, a maneira de instalar o pluviômetro

também é fundamental. Durante a instalação do pluviômetro é necessário verificar se

existem alguns obstáculos próximos do mesmo. Se houver algo perto da boca do

pluviômetro, a chuva não poderá ser medida corretamente. Além disso, na condição ideal,

a altura da boca do pluviômetro deve estar 1,5 m acima da superfície do solo

(KOBIYAMA, 2006).

Embora existam outros elementos meteorológicos significativos para o estudo de

desastres naturais, a chuva, pela sua importância e também facilidade de medição, deve

ser um dos principais elementos estudados (KOBIYAMA, 2006).

2.3.2. Precipitação Média e Distribuição Espacial

A distribuição espacial da chuva não é uniforme, isto é, não cai a mesma

quantidade de água igualmente sobre uma região durante o mesmo intervalo de tempo.

Pode ocorrer, inclusive, chuva numa área e nenhuma chuva sobre uma outra área vizinha.

Portanto, a ocorrência de chuvas está vinculada a uma série de fatores locais e regionais,

como a circulação das massas de ar, temperatura, topografia, umidade do ar, ventos, etc.

A superfície ou polígono de influência de cada observação poderá ser obtida do

seguinte modo (LENCASTRE et al, 1984): unem-se as observações adjacentes três a três

por segmentos de reta e traçam-se normais ao meio dos segmentos, formando polígonos

com estas normais (polígonos de Thiessen, Figura 5).

Admite-se que cada posto seja representativo daquela área onde a altura

precipitada é tida como constante. Esse método apresenta limitações, pois não considera

as influências orográficas, ele simplesmente admite uma variação linear da precipitação

11

entre as estações e designa cada porção da área para a estação mais próxima.

Interpretações físicas podem ser adicionadas ao método, para incorporar efeitos

orográficos e ajustar áreas de influência.

Figura 5: Divisão dos polígonos de Thiessen (Fonte: notas de aula do professor Paulo Renato Barbosa)

Para o cálculo da precipitação média, cada estação recebe um peso pela área que

representa em relação à área total da bacia. Se os polígonos abrangem áreas externas à

bacia, essas porções devem ser eliminadas no cálculo. Se a área total é A e as áreas

parciais A1, A2, A3, etc., com alturas precipitadas P1, P2, P3, etc., respectivamente, a

precipitação média de uma área que contém n postos é:

𝑃𝑚 =𝐴1𝑃1+𝐴2𝑃2+𝐴3𝑃3+⋯+𝐴𝑛𝑃𝑛

𝐴 (2.1)

2.3.3. Frequência de Totais Precipitados e Tempo de Retorno

Nos projetos de obras hidráulicas, as dimensões são determinadas em função de

considerações de ordem econômica; portanto, escolhido o nível de segurança condizente

12

com os prejuízos aceitáveis, corre-se o risco de que a estrutura venha a falhar durante a

sua vida útil. É necessário, então, se conhecer e arbitrar este risco. Para isso analisam-se

estatisticamente as observações realizadas nos postos pluviométricos (na hipótese de se

utilizar as chuvas como referência para o projeto), verificando-se com que frequência elas

assumiram cada magnitude. Em seguida, pode-se avaliar as probabilidades teóricas.

Portanto, podemos associar a magnitude de um evento com a sua frequência de

ocorrência. Isto é básico para o dimensionamento de estruturas hidráulicas em função da

segurança que as mesmas devam ter.

2.3.4. Chuvas Intensas

A intensidade máxima pontual pode ser determinada através das relações

intensidade-duração-frequência – IDF das chuvas. Essas relações são obtidas através de

uma série de dados de chuvas intensas, suficientemente longas e representativas do local

do projeto. O trabalho do engenheiro Otto Pfafstetter (1957), para 98 postos

pluviográficos do território brasileiro, ainda é uma referência. Estas relações seguem

geralmente a seguinte forma:

𝑃 = 𝑇𝛼 +𝛽

𝑇𝑟𝛾[𝑎𝑡 + 𝑏𝑙𝑜𝑔(1 + 𝑐𝑡)] (2.2)

Em que T é o período de retorno do evento (anos), t é a duração do evento (horas),

os parâmetros a, b e c são constantes do posto pluviométrico e os parâmetros α, β e γ, são

definidos de acordo com a intensidade e duração do evento.

13

Uma outra forma bastante usual, derivada da equação 2.3, de se expressar as

relações de intensidade-duração-frequência – IDF, são expressões obtidas de ajustes de

distribuição de frequência como Equação Geral:

imax = 𝐾∙𝑇𝑅𝑚

(𝑡+𝑡0)𝑛 (2.3)

2.4. Características Físicas da Bacia

O desenho de um hidrograma vai depender do conjunto de fatores climatológicos

e das peculiaridades físicas da bacia hidrográfica. Sob o ponto de vista físico da bacia,

os fatores mais relevantes são: área de drenagem, tipo de solo, cobertura vegetal,

geometria, declividades, disposição predominante dos cursos de água e densidade de

drenagem (COSTA, 2001).

2.4.1. Infiltração e Percolação

Para FRIZZONE (1993) a infiltração é um processo complexo, dependente das

propriedades físicas do solo, do seu conteúdo inicial de água, da forma de umedecimento

e das variações de permeabilidade devido ao movimento da água na superfície e ao ar

retido nos poros.

Os processos de infiltração de água no solo são geralmente relacionados ao fluxo

de água, entre as variáveis que influenciam este fluxo, a condutividade hidráulica do solo

(K) se destaca. Ela é um parâmetro que representa a facilidade com que o solo transmite

água. O valor máximo de condutividade hidráulica é atingido quando o solo se encontra

saturado, e é denominado de condutividade hidráulica saturada (REICHARDT, 1990).

14

Para determinar a capacidade de infiltração do solo pode-se usar infiltrômetros de

pressão, conhecidos também como infiltrômetros de duplo anel. Os infiltrômetros de

pressão são os aparatos menos dispendiosos, com simples leitura e de fácil manuseio e

transporte para a avaliação da infiltração (LAWALL, 2010).

Depois de infiltrar no solo, as águas pluviais sofrem um movimento descendente

entre os vazios do solo, esse movimento é conhecido como percolação. A água vai se

armazenando gradativamente no perfil do solo e, dependendo da umidade inicial, da

intensidade e duração da chuva, a capacidade de armazenamento de água do solo poderá

ser esgotada. Depois dos vazios estiverem totalmente preenchidos, o excedente de água

que infiltrar será diretamente drenado para as camadas mais profundas do solo, indo

abastecer reservatórios subterrâneos.

Durante os períodos sem chuva, as águas armazenadas nos reservatórios

subterrâneos fluem lentamente, pela ação da gravidade, para áreas mais baixas,

abastecendo os corpos de água. Essa contribuição é chamada de descarga de base ou

escoamento base.

2.4.2. Escoamento Superficial e Coeficiente de Runoff

A parcela de água pluvial que não infiltra no solo e não é retida nas depressões e

na vegetação, flui sobre os terrenos, sob a ação da gravidade, buscando as linhas de

talvegue, até finalmente alcançar os cursos d’água, lagos e oceanos. Essa parcela é

definida como escoamento superficial.

A razão entre o volume de água escoado superficialmente e o volume de água

precipitado é chamado de coeficiente de runoff ou coeficiente de escoamento superficial.

15

2.4.3. Hidrograma

O hidrograma é uma representação gráfica que relaciona vazão com o tempo,

registrando a variação das vazões médias escoadas através de uma determinada seção

transversal de um curso de água durante um intervalo de tempo de observação. A vazão

média é o resultado da divisão de um determinado volume de água pelo intervalo de

tempo que esse volume precisa para passar através de uma seção de um curso de água

(COSTA, 2001).

Antes de um evento pluviométrico, pode-se interpretar que a vazão existente em

um curso de água é representativa das contribuições da própria nascente, somadas com a

parcela afluente do lençol freático (escoamento-base).

Iniciada a chuva, como citado anteriormente, as águas dos escoamentos superficial

e sub-superficial juntam-se àquelas do escoamento base. A Figura 6 apresenta um

exemplo teórico das diferentes parcelas dos escoamentos existentes e que compõem um

hidrograma observado, após um período chuvoso isolado sobre a bacia (COSTA, 2001).

Figura 6: Exemplo das parcelas que compõem um hidrograma (Fonte: COSTA, 2001)

16

Devido à variação da distribuição da chuva no tempo e no espaço, das

características da bacia hidrográfica e da ocorrência de chuvas antecedentes, os

hidrogramas medidos na natureza têm formas muitas vezes complexas.

Para o conhecimento do hidrograma, é necessária a instalação de uma estação

fluviométrica próxima ao trecho do curso de água que se deseja estudar.

Esses hidrogramas refletem o comportamento dos níveis d’água associados às

vazões naquela seção, ao longo do tempo, e se constituem no registro contínuo do

escoamento, englobando os períodos de estiagem e de cheia. As vazões críticas mínimas

e/ou máximas observadas a cada ano fornecem uma amostra histórica cujo tratamento

estatístico permite a definição de parâmetros importantes para planejamento e projetos de

engenharia.

2.4.4. Tempo de concentração

O tempo de concentração relativo a uma seção transversal do curso d’água é o

intervalo de tempo necessário para que as águas precipitadas sobre uma bacia contribuam

para essa seção, atendidas as necessidades de infiltração, de retenção da vegetação e

depressões do terreno.

Em outras palavras, é o tempo necessário para que uma partícula com as

características de um pingo de chuva se desloque do ponto mais longínquo da bacia,

percorrendo os caminhos de drenagem e alcance a seção de interesse.

Atingindo o tempo de concentração, supõe-se que a contribuição das águas de

chuva seja máxima junto à seção considerada, para uma chuva homogênea e de longa

17

duração. A contribuição máxima será tanto maior quanto maior for a área da bacia

hidrográfica (área de drenagem), para a mesma intensidade e duração da chuva.

3. DRENAGEM URBANA

Neste capítulo abordaremos conceitos relacionados à formação de cheias e quais

são os principais efeitos da urbanização na intensificação desse fenômeno além de

abordar suas consequências. Mostraremos também os principais sistemas de drenagem

urbana utilizados para conter os danos das inundações urbanas.

3.1. Inundações Urbanas

A inundação urbana é uma ocorrência tão antiga quanto as próprias cidades ou

qualquer aglomeração urbana. A inundação ocorre quando as águas dos rios, riachos,

galerias pluviais saem do leito de escoamento devido à falta de capacidade de transporte

de um destes sistemas e ocupa áreas onde a população utiliza para moradia, transporte

(ruas, rodovias e passeios), recreação, comércio, indústria, entre outros (TUCCI et al.,

2003).

3.1.1. Formação das Cheias

As cheias naturais são fenômenos provocados pelo excesso de escoamento

superficial, gerado a partir de uma precipitação intensa. Esse processo natural é cíclico,

18

natural e benéfico ao meio ambiente. A presença de rios e, mais diretamente, a presença

de água, sempre foi um fator fundamental no desenvolvimento das cidades, ou seja, um

fator condicionante e determinante da fixação das comunidades que deram origem aos

primeiros aglomerados urbanos (MIGUEZ et al., 2015).

3.1.2. Efeitos da Urbanização

A intensificação das atividades humanas fez com que o processo de urbanização

se acelerasse rapidamente nos últimos séculos. Esse processo de alteração no uso e

ocupação do solo, somado ao fato de que as cidades se estabelecem usualmente próximo

às fontes de água potável, fez com que os processos hidrológicos fossem igualmente

modificados e, consequentemente, alterasse a qualidade do ambiente natural e construído,

resultando na degradação do espaço urbano pela ocorrência de inundações.

Além das mudanças no uso do solo, a urbanização ocasiona mudanças

significativas na geomorfologia dos cursos d’água, tanto longitudinalmente, quanto

transversalmente, com a retificação de rios naturais em canais urbanos. Podemos observar

a diferença de comportamento hidrológico entre o meio urbano e o natural observando a

Figura 7.

O próprio processo de formação de chuvas intensas convectivas pode se agravar

pelos fenômenos de ilhas de calor, que se formam sobre as áreas centrais de superfícies

mais urbanizadas, também agravadas pelo excesso de urbanização (MIGUEZ et al., 2015).

19

Figura 7: Influência da urbanização no volume escoado superficialmente (Fonte: COSTA, 2001)

3.1.3. Consequências das Inundações

A cidade sofre com o agravamento das cheias, acumulando perdas econômicas e

sociais diversas: danos em infraestrutura e nas habitações, degradação do ambiente

natural e desvalorização do ambiente construído, propagação de doenças de veiculação

hídrica, empobrecimento da população com perdas sucessivas, entre outros (MIGUEZ et

al., 2015).

3.2. Sistemas de Drenagem Urbana

A drenagem é definida como o conjunto de elementos, interligados em um

sistema, composto por dois subsistemas principais, a microdrenagem e a macrodrenagem,

20

que trabalham em conjunto, destinados a recolher as águas pluviais precipitadas sobre

uma determinada região, conduzindo-as, de forma segura, a um destino final.

A microdrenagem capta as águas pluviais dos lotes urbanos, praças e ruas e

conduz o volume precipitado através de sarjetas, bocas de lobo e galerias. O risco

associado assumido em projeto está entre 2 a 10 anos, pois quando a microdrenagem

falha, seja por mau dimensionamento ou pela ocorrência de uma precipitação mais intensa

do que a chuva para qual foi projetada, os problemas que essas falhas causam são,

geralmente, de pequenas dimensões como problemas de tráfego, com congestionamentos

e pequenos danos a veículos, problemas de saúde pública, com possibilidades de surtos

de doenças de veiculação hídrica e acidentes com pedestres.

A macrodrenagem, por sua vez, capta as águas pluviais de toda a bacia

hidrográfica, incluindo as águas provenientes da microdrenagem. Ela conduz o volume

precipitado através da hidrografia natural e também de canais de drenagem. O risco

associado está entre 10 e 100 anos, pois falhas relacionadas à rede de macrodrenagem

tendem a apresentar maiores danos e prejuízos ao patrimônio, muitas vezes

desencadeando inclusive perdas de vidas.

3.2.1. Drenagem Urbana Convencional

O projeto de drenagem tradicional, basicamente, trabalha com o conceito de uma

rede ramificada, projetada para escoamentos com superfície livre, ou seja, sob a ação da

pressão atmosférica. Dessa forma, noções básicas de escoamento com superfície livre, e

especialmente de escoamento de canais, são apresentadas como suporte básico ao

dimensionamento (MIGUEZ et al., 2015).

21

Os principais elementos do sistema convencional de microdrenagem e suas funções são

descritas abaixo:

Sarjetas: servem para a captação das águas superficiais de áreas públicas

e de lotes que não se comunicam à rede por ramais prediais. O cálculo de

sua geometria (largura, altura e extensão) é feita pela fórmula de Manning,

de modo que sua capacidade mantenha a via funcionando.

Bocas de lobo e caixas-ralo: recebem as águas descarregadas pela sarjeta

e encaminham para as galerias, com intermédio das caixas de ligação e

poços de visita.

Poços de visita: permitem a inspeção e manutenção da rede. Servem

também para permitir transições do escoamento, sejam em mudanças de

seção transversal, em mudanças de declividade e mudanças de direção.

Caixas de ligação: servem para permitir transições do escoamento, sejam

em mudanças de seção transversal, em mudanças de declividade e

mudanças de direção.

Galerias: é o sistema de dutos subterrâneos destinados à captação e

escoamento das águas pluviais coletadas pelas bocas de lobo até o corpo

hídrico apropriado.

Podemos observar o funcionamento esquemático dos dispositivos hidráulicos na Figura

8 (planta) e na Figura 9 (corte).

22

Figura 8: Funcionamento do sistema em planta (Fonte: notas de aula do professor Marcelo Gomes Miguez)

Figura 9: Funcionamento do sistema em corte (Fonte: notas de aula do professor Marcelo Gomes Miguez)

23

De maneira geral, as etapas do dimensionamento hidráulico de uma rede

convencional de drenagem são:

1. Análise da área de implantação do projeto, incluindo o reconhecimento

local e levantamento topográfico, para que possamos identificar o sentido

de escoamento e assim definir o traçado da rede.

2. Definição do tempo de recorrência (TR) da chuva de projeto, para qual

será dimensionada a rede.

3. Escolha da equação de chuvas aplicável à região em estudo.

4. Definição das áreas de contribuição em cada seção de cálculo geralmente

onde estão localizados os poços de visitas.

5. Definição do coeficiente de escoamento médio, ponderado para a área de

contribuição.

6. Determinação do tempo de concentração (tc) para cada seção de cálculo

7. Determinação da intensidade média de precipitação para duração igual ao

tempo de concentração do trecho.

8. Cálculo da vazão de projeto do trecho, por aplicação da equação do

método racional (Equação 3.1).

𝑄 = 𝐶 ∙ 𝑖 ∙ 𝐴 (3.1)

9. Definição do diâmetro e da declividade do trecho de galeria, considerando

a minimização de custos, aspectos técnicos e regulamentares de

implantação, como recobrimento mínimo, e satisfação dos critérios

24

hidráulicos (capacidade de escoamento, ocupação da seção transversal e

velocidades mínima e máxima).

10. Determinação do tempo de percurso (tp) ao longo do trecho, considerando

a extensão da galeria e a velocidade média de escoamento, para a vazão de

projeto.

11. Adição do tempo de percurso ao tempo de concentração para o trecho

seguinte.

3.2.2. Drenagem Urbana Sustentável

A partir do fim da década de 60, passou-se, em alguns países, a questionar a

drenagem urbana realizada de forma tradicional que, por intermédio de obras destinadas

a retirar rapidamente as águas acumuladas em áreas importantes, transfere o problema

para outras áreas ou para o futuro (POMPÊO, 2000).

Foram introduzidas as denominadas medidas compensatórias, que buscam

compensar os efeitos negativos da urbanização, atuando sobre os processos hidrológicos

e visando à redução de volumes ou vazões, em diferentes concepções, quanto ao porte e

localização das obras (NASCIMENTO et al., 1997).

Entre as técnicas compensatórias, dois grandes grupos se destacam: um que

privilegia a armazenagem e a recuperação da capacidade de retenção, outro que foca na

infiltração, tendo sempre em vista a compensação dos impactos da urbanização sobre o

ciclo hidrológico. Reservatórios de detenção, reservatórios de retenção e reservatórios de

lote se enquadram no primeiro grupo; pavimentos permeáveis, valas de infiltração,

25

trincheiras de infiltração e telhados verdes se enquadram no segundo grupo (MIGUEZ et

al., 2015).

O desenvolvimento dessas intervenções no meio urbano ganha destaque ao ser

associado a outros usos, como paisagismo e área de lazer, inserindo-se na cidade como

paisagens multifuncionais e, assim, valorizando ainda mais o espaço urbano e o seu

entorno, por meio de um projeto harmonioso entre o ambiente construído e o natural

(MIGUEZ et al., 2015).

No próximo item, serão apresentadas as principais características do uso de pavimentos

permeáveis em sistemas de drenagem pluvial.

4. PAVIMENTOS PERMEÁVEIS

Os pavimentos permeáveis são uma técnica compensatória que originalmente era

responsável por permitir a infiltração em áreas urbanizadas, substituindo os revestimentos

impermeáveis tradicionais. Dependendo do projeto, porém, também podem funcionar

associados a reservatórios de brita sob sua superfície, juntando amortecimento e

infiltração. Os pavimentos permeáveis também são conhecidos como estruturas

reservatório. RAIMBAULT et al. (2002) afirmam que essa denominação se refere às

funções realizadas pela matriz porosa de que são constituídos:

Função mecânica, associada ao termo estrutura, que permite suporte os

carregamentos impostos pelo tráfego de veículos;

26

Função hidráulica (associada ao termo reservatório) que assegura, pela

porosidade dos materiais, reter temporariamente as águas, seguido pela

drenagem, e, se possível, por infiltração no solo de subleito.

4.1. Princípio de Funcionamento

Segundo AZZOUT et al. (1994), o funcionamento hidráulico dos pavimentos

permeáveis baseia-se em:

Entrada imediata da água da chuva no corpo do pavimento. Essa entrada

pode ser feita de forma distribuída (no caso de revestimentos porosos, que

permitem a penetração da água) ou localizadamente (através de drenos

laterais ou bocas-de-lobo);

Estocagem temporária da água no interior do pavimento, nos vazios da

camada reservatório;

Evacuação lenta da água, que é feita por infiltração no solo, pela liberação

lenta para a rede de drenagem, ou uma combinação das duas formas.

4.2. Componentes dos Pavimentos Permeáveis

A seção típica de um pavimento é composta por: subleito, camada de solo na qual

será apoiada a estrutura do pavimento; sub-base, implantada para aumentar a espessura

da estrutura do pavimento ou para armazenar água, com material de maior granulometria

em relação à camada de base; base, que distribui o carregamento para o subleito; e

27

revestimento, camada que recebe diretamente o tráfego e deve ser dimensionada para

resistir ao desgaste. O revestimento recebe o carregamento do tráfego e transfere as cargas

para a base, que se apoia na sub-base que por sua vez se apoia no subleito. (SUZUKI et

al, 2011). Podemos ver as camadas na Figura 10.

Figura 10: Principais camadas do sistema de pavimentos permeáveis

(Adaptado:http://www.rhinopisos.com.br/site/instrucoes_de_colocacao/)

4.2.1. Revestimento

O revestimento recebe diretamente o carregamento de tráfego transferindo

esforços para as camadas inferiores. De maneira geral o revestimento é economicamente

mais caro por ser constituído de material resistente ao desgaste. Subjetivamente ao

revestimento são atribuídas características tais como aparência e acessibilidade

(VIRGILLIS, 2009).

28

4.2.2. Base e Sub-base

São camadas que, além de ter a função de transmitir os esforços do revestimento

para o subleito, podem também ter a função de reservatório temporário, armazenando a

água infiltrada em seus vazios, para possível infiltração no solo ou escoamento pela rede

de drenagem lateral (CARRENHO, 2013).

Estas camadas geralmente são compostas por material granular, com pequena

porcentagem de finos. Este material deve possuir resistência suficiente para suportar as

solicitações exigidas pelo pavimento e alta resistência ao atrito, para evitar fragmentação

que descaracteriza a porosidade do material (CARRENHO, 2013).

4.2.3. Subleito

Esta camada influencia diretamente no dimensionamento da base e sub-base do

pavimento. Pelo fato de ser a camada já existente no local da implantação, devem ser

conhecidas algumas características como: tipo de solo; capacidade de suporte,

determinada pela NBR 9895 – Solo – Índice de Suporte Califórnia; e coeficiente de

permeabilidade, que pode ser determinado através da NBR 13292 – Solo – Determinação

do coeficiente de permeabilidade de solos granulares à carga constante ou NBR 14545 –

Solo – Determinação do coeficiente de permeabilidade de solos argilosos à carga variável.

(SUZUKI et al, 2011).

29

4.2.4. Dispositivos Auxiliares

Esses dispositivos auxiliares têm diversas funções e serão utilizados para

viabilizar o bom funcionamento do sistema de pavimentos permeáveis.

Geotêxtil

Entre as camadas da estrutura do pavimento deve ser utilizada uma geomembrana

ou filtro geotêxtil, que impedirá a migração do material de uma camada para outra,

auxiliando para que a estrutura não tenha redução na permeabilidade pela transferência

de finos entre camadas, além de manter a integridade estrutural das camadas. (SUZUKI

et al, 2011).

Tubos de Drenagem

Eventualmente há a necessidade de instalação de tubos do tipo dreno no fundo da

camada de brita. Esses drenos permitem a liberação do excesso de água que venha a ficar

armazenado no reservatório por um tempo superior ao máximo recomendado (ACIOLLI,

2005).

Devido à baixa permeabilidade do solo subjacente, podem ser instalados drenos

extravasores no topo da camada de brita do pavimento, sendo direcionados para o sistema

de drenagem urbano, isso é feito para evitar o completo enchimento da camada

reservatório, e impedir o alagamento da superfície do pavimento.

30

Camada de Assentamento

A camada de assentamento é aquela sobre a qual as peças de concreto serão

colocadas. Constituída de areia média, semelhante à utilizada para concreto, a mesma

deve estar limpa e com umidade ideal (AMARAL, 2017).

Colocada sobre a base compactada, a areia é sarrafeada com uma régua niveladora

atingindo uma altura de aproximadamente 5 cm, para que, depois de compactada, forme

uma camada de 3 a 4 cm conforme especificado em projeto. Para liberar o assentamento

das peças, é necessário verificar a planicidade da areia de forma a evitar um piso com

calombos, buracos ou ondulado (MARCHIONI; SILVA, 2011).

4.3. Tipologia de Revestimentos

Os pavimentos permeáveis são aqueles que possuem espaços livres na sua

estrutura onde a água e o ar podem atravessar. A camada de revestimento dos pavimentos

permeáveis nos sistemas à base de cimento pode ser executada utilizando concreto poroso

moldado in loco ou peças pré-moldadas de concreto (MARCHIONE E SILVA, 2010).

Peças pré-moldadas de concreto: dependendo da sua dimensão são

classificadas como peças de concreto para pavimentação intertravada ou

como placas de concreto, permitem a passagem da água entre suas juntas.

Concreto poroso moldado in loco: possui poros que permitem a infiltração

de água, para isso utilizam-se agregados com poucos ou sem finos,

resultando nos vazios por onde a água passa.

31

4.3.1. Revestimento Pavimento de Peças de Pré-moldadas de Concreto

Com relação aos blocos de concreto, existem inúmeros tipos disponíveis no

mercado brasileiro, blocos maciços, blocos vazados e blocos permeáveis (PINTO, 2011).

Estas peças possuem juntas preenchidas com material granular e podem até ser

utilizadas sem preenchimento. Possuem como vantagem a fabricação de diversas cores e

formatos, permitindo a valorização da estética da área pavimentada. (SUZUKI, PACE E

VAQUER, 2011).

4.3.2. Revestimento de Pavimento de Concreto Poroso

O concreto poroso possui poros que permitem a infiltração da água, tais poros são

obtidos utilizando agregados com poucos ou sem finos e de graduação uniforme. Permite

que as águas pluviais que caem sobre o pavimento percole no solo abaixo. Este tipo de

revestimento é de custo inicial de fabricação elevado, possui grande permeabilidade e não

deve ser aplicado sobre subleito com baixa capacidade de suporte. (SUZUKI et al, 2011).

O pavimento poroso consiste de um pavimento de asfalto ou concreto onde não

existem os agregados finos, isto é, partículas menores que 600 μm (peneira número 30).

O asfalto tem agregados com vazios de 40% e concreto com 17%. A condutividade

hidráulica mínima em que pode ser considerada a infiltração no solo é de 0,36 mm/h

conforme (CIRIA, 2007 apud TOMAZ, 2009). Uma das vantagens do pavimento poroso

em asfalto é que gera menos barulho dos veículos, reduz o splash das chuvas e diminui o

problema de aquaplanagem (TOMAZ, 2009).

32

4.4. Sistemas de Infiltração

Segundo SCHUELER (1987), o projeto de pavimentos permeáveis encaixa-se em

três categorias básicas, a depender do armazenamento da água provido pelo reservatório

e da capacidade de infiltração do solo. São elas:

Sistema de infiltração total: o único meio de saída do escoamento é

através da infiltração no solo. Portanto, o reservatório de pedras deve ser

grande o suficiente para acomodar o volume do escoamento de uma chuva

de projeto, menos o volume que é infiltrado durante a chuva. Desse modo,

o sistema promove o controle total da descarga de pico, do volume e da

qualidade da água, para todos os eventos de chuva de magnitude inferior

ou igual à chuva de projeto.

Sistema de infiltração parcial: Nos casos em que o solo não possui uma

boa taxa de infiltração, deve ser utilizado o sistema de infiltração parcial.

Nesse caso, deve ser instalado um sistema de drenagem enterrado, que

consta de tubos perfurados espaçados regularmente, localizados na parte

superior do reservatório de pedras. O sistema funciona no sentido de

coletar o escoamento que não seria contido pelo reservatório de pedras,

levando-o para uma saída central. SCHUELER (1987) sugere que o

tamanho e espaçamento da rede de drenagem devem ser dimensionados de

modo a receber no mínimo uma chuva de dois anos de tempo de retorno.

Sistema de infiltração para controle de qualidade de água: Este

sistema é utilizado para coletar apenas o “first flush” do escoamento, que

é o fluxo inicial da chuva, que contém a maior concentração de poluentes.

33

Os volumes em excesso não são tratados pelo sistema, sendo transportados

através de drenos para um coletor de água pluvial.

Na Figura 11 pode-se compreender melhor o funcionamento dos diferentes tipos

de sistemas de infiltrações.

Figura 11: Esquema dos tipos de pavimentos permeáveis (adaptado de Schueler, 1987).

5. PROJETO DO SISTEMA DE DRENAGEM DO

ESTACIONAMENTO DO CT2

Para melhor desenvolvimento do projeto de drenagem do estacionamento do CT2,

adotamos uma sequência de etapas necessárias para o dimensionamento do projeto, elas

estão ordenadas num fluxograma (Figura 12).

34

Figura 12: Fluxograma de execução de projeto.

5.1. Concepção Funcional do Empreendimento

O projeto do estacionamento do CT-2 será implantado em frente ao prédio da

Fundação COPPETEC, que fica localizado na Ilha do Fundão, Rio de Janeiro, próximo à

Ponte do Saber, que dá acesso à via expressa Linha Vermelha (Figura 13).

Figura 13: Imagem de satélite indicando a localização do prédio da COPPETEC onde será implantado o

projeto do estacionamento

Locação do Empreendimento

Concepção de Projeto dos Estacionamentos

Determinação da Chuva de Projeto

Determinação dos Parâmetros Hidráulicos

Pré-dimensionamento

das calhas e reservatórios

Escolha do Modelo Computacional

Discretização e modelagem

Dimensionamento das calhas e reservatórios

Simulação e Comparação dos

resultados obtidos

35

A área de projeto foi dividida em dois tipos distintos de estacionamento,

denominados noroeste e sudeste (Figura 14), que são diferenciados a partir de seu tipo de

pavimentação e seu sistema de drenagem. O estacionamento noroeste foi projetado com

pavimento em blocos intertravados, drenando as águas pluviais por canaletas, enquanto

que o estacionamento sudeste foi projetado com pavimento permeável comercial,

armazenando as águas pluviais em um reservatório de brita, antes de contribuir para a

rede de microdrenagem, como pode ser observado na Figura 14. Para o remanescente da

área de estacionamento, fora da área de intervenção, será utilizado um revestimento com

pó de pedra. Uma possível parceria com a empresa Lafarge do Brasil, permitiria utilizar

o pavimento permeável desenvolvido por esta empresa, denominado Hydromedia®. Esse

pavimento será tomado como referência e é composto por um concreto poroso com alta

capacidade de drenagem1.

1 Fonte: informação retirada do site www.lafargedobrasil.com.br. Acessado em: 03 de setembro de 2015 às

14h47min.

36

Figura 14 - Estacionamento Noroeste com Pavimento em Blocos Intertravados e Estacionamento Sudeste com Pavimento Permeável (planta DES-AQF2015-XX-01)

37

5.2. Concepção do Projeto de Pavimento Permeável

A área total do estacionamento é de aproximadamente 10.740 m². As áreas dos

estacionamentos Noroeste e Sudeste são 2.177 m² e 2.113 m², respectivamente. As vias

de rodagem serão diferentes em cada tipo de estacionamento e serão apresentadas

posteriormente em seção própria.

5.2.1. Estacionamento Noroeste – Drenagem Convencional

Como já mencionado, o estacionamento Noroeste será revestido com pavimento

intertravado convencional. Este pavimento pode permitir uma pequena infiltração nas

juntas, mas no presente estudo foi considerado como um pavimento impermeável. Neste

projeto, a drenagem nesse pavimento dar-se-á por meio de um sistema convencional

composto por canaletas localizadas ao longo de toda via de rodagem e posicionadas na

interseção entre as vagas de estacionamento e a via de rodagem, com finalidade de

recolher todo o escoamento superficial gerado e direcioná-lo para 04 (quatro) caixas de

passagem. Estas caixas serão drenadas por galeria circular até uma trincheira de drenagem

principal, localizada no limite do terreno do estacionamento, paralela à Rua Muniz de

Aragão, conforme mostrado na Figura 15.

Parte da água precipitada será absorvida através das juntas de areia entre os blocos

intertravados, essa absorção será considerada utilizando o coeficiente de runoff

recomendado para esse tipo de superfície, conforme veremos detalhadamente no item

5.3.2.

38

Inicialmente, todo o sistema de drenagem convencional foi dimensionado com

uso de planilha eletrônica elaborada para execução de cálculos hidráulicos de sistemas de

redes de drenagem de águas pluviais. utilizando os conceitos vistos no item 3.2.1.

Primeiramente, foi definida a chuva de projeto de acordo com a região e tempo de

recorrência indicado, que será detalhadamente explicado no item 5.3.1; depois, para cada

trecho de calha, foram identificadas as áreas de contribuição, coeficientes hidráulicos e

tempo de concentração. Foi utilizado o Método Racional (Equação 3.1) para o cálculo da

vazão de projeto da área e com o auxílio da Equação de Manning (Equação 5.1) foi

definida a altura da calha, de acordo com sua largura e sua declividade, para que a seção

suporte a vazão de projeto do trecho.

𝑣 =1

𝑛∙ 𝑅

2

3 ∙ 𝑆1

2 (5.1)

Para exemplificar, é apresentado o dimensionamento da canaleta C4. A chuva de

projeto definida possui intensidade de 147,9 mm/h (detalhado no item 5.3.1). O trecho

possui uma área de contribuição de 409,5 m², declividade de 0,5%, coeficientes

hidráulicos de 0,78 para Runoff e 0,016 para Manning, (detalhado no item 5.3.2) e tempo

de concentração de 12 minutos. Utilizando o Método Racional, podemos calcular uma

vazão de projeto de 0,0131 m³/s e com a Equação de Manning podemos calcular uma

velocidade de escoamento na canaleta de 0,72 m/s e posteriormente, multiplicando a

velocidade pela área da seção (altura de 15 cm e largura de 20 cm), obtemos uma vazão

de escoamento de 0,0218 m³/s. Como a vazão suportada pela canaleta é maior que a vazão

de projeto, temos uma altura que suporta todo o volume precipitado pela chuva de projeto.

A Tabela 1 reúne informações utilizadas para dimensionamento da canaleta C4.

39

Tabela 1: Informações para dimensionamento da canaleta C4.

CANALETA TRECHO

(m)

ÁREA

(m)

S

CANALETA (m/m)

tc

(min)

i (mm/h) Q

PROJETO (m³/s)

V CANALETA

(m/s)

Q

CANALETA (m³/s)

C4 65,00 409,50 0,005 12 147,90 0,0131 0,7266 0,0218

Posteriormente, o sistema foi reavaliado com uso de ferramenta computacional

para simulação hidrológico-hidrodinâmica, a fim de avaliar o funcionamento da rede

durante um evento de chuva com maior duração.

40

Figura 15: Estacionamento Noroeste com Pavimento Convencional (planta DES-AQF2015-XX-02)

Canaleta C.1

Canaleta C.3

Canaleta C.4

Canaleta C.2

DESCARGA D’ÁGUA

41

Vias e vagas

Preconizou-se, no projeto, que as vias e vagas fossem construídas com o

pavimento de concreto intertravado, também conhecidos como blockets (Figura 16).

As vagas de estacionamento possuem uma declividade de 2% no sentido

longitudinal, que auxiliam no direcionamento do fluxo às canaletas. A via de rodagem do

estacionamento possui declividade longitudinal de 0,5% e declividade transversal de 2%

nos dois sentidos, a partir de seu eixo central, ou seja, deverá haver um abaulamento da

via de rodagem que direciona o fluxo de água até as respectivas canaletas (uma em cada

lado da via de rodagem).

Figura 16: Exemplo blocos de concreto intertravados (Fonte: http://concretoepiso.com.br)

Canaletas

As canaletas foram projetadas em concreto, com largura de 0,20m e profundidades

que variam entre 0,10m à montante e 0,15m à jusante. Os perfis longitudinais das

canaletas e o nível d’água máximo atingido na simulação com a chuva de projeto adotada

serão apresentados nos capítulos posteriores.

42

Caixas de passagem

Foram propostas 04 (quatro) caixas de passagem, sendo uma para cada canaleta

de drenagem da via de rodagem.

A caixa de passagem é uma estrutura de concreto com dimensões de 0,50 x 0,50

x 0,50 m, que ficará enterrada, sendo responsável por captar as águas drenadas pelas

canaletas do estacionamento, direcionando-as à rede de galeria, através de uma tubulação

de PVC com 300 mm de diâmetro.

Descarga na rede de drenagem

A descarga do estacionamento na valeta de drenagem principal, fica localizada

paralela à via principal (Rua Muniz de Aragão), conforme vemos na Figura 17.

Figura 17: Detalhe da descarga d'água do estacionamento Noroeste

A posição dos dispositivos do estacionamento Noroeste é apresentada na Figura

18Erro! Fonte de referência não encontrada..

43

Figura 18: Corte esquemático do estacionamento Noroeste (planta DES-AQF2015-XX-03)

Canaleta C.4 Canaleta C.3

Canaleta C.2 Canaleta C.1

44

5.2.2. Estacionamento Sudeste – Drenagem com Concreto Permeável

Nessa parte do estacionamento, a drenagem projetada considera uso de um

concreto poroso, desenvolvido pela empresa Lafarge do Brasil e denominado

Hydromedia, com a adoção de um reservatório de brita sob o pavimento.

O sistema Hydromedia consiste de um pavimento de concreto poroso com pelo

menos 20% de espaços vazios, o que faz com que a água de superfície percole diretamente

através do concreto. Esta solução permite a absorção de até 400 litros de água por m² por

minuto (Figura 19).

Figura 19 - Água transpassando o Hydromedia (Fonte: http://www.lafargeholcim.com/hydromedia)

Adotaram-se, no projeto de drenagem deste setor do estacionamento, caixas de

passagem e tubos de PVC com 100 mm de diâmetro, que interligam as vagas de

45

estacionamento construídas com o Hydromedia, para que as mesmas possam atuar como

um sistema único de reservatórios, através do conceito de vasos comunicantes. Essa

configuração visa a otimização do funcionamento do sistema, que atuará como um grande

reservatório de amortecimento e infiltração da água armazenada. A água precipitada sobre

todo a área desse setor do estacionamento, escoada superficialmente, infiltra através do

Hydromedia e é reservada em um subleito escavado e preenchido com brita tamanho 3

ou outro material granular que garanta um volume de vazios de cerca de 40%, valor este

adotado no projeto.

A disposição das vagas e dos dispositivos pode ser visualizada na planta de projeto

mostrada na Figura 20.

46

Figura 20: Estacionamento Sudeste com Pavimento com concreto permeável (planta DES-AQF2015-XX-06)

DESCARGA D’ÁGUA DESCARGA D’ÁGUA DESCARGA D’ÁGUA

47

Vias

Semelhante ao sistema convencional, as vias de rodagem serão construídas com

blocos de concreto intertravado e declividade transversal de 2% nos dois sentidos, sendo

esta suficiente para conduzir a água precipitada até a vaga de estacionamento, enquanto

que a declividade longitudinal da via é nula.

Vagas

As vagas de estacionamento serão pavimentadas com o Hydromedia, assentado

sobre um subleito de drenagem, composto por brita 3. O pavimento permeável terá uma

espessura de 0,10 m, com resistência satisfatória para esse tipo de uso. Imediatamente

abaixo, há o subleito de drenagem, composto por um reservatório com 0,30 m de

profundidade, preenchido com brita 3, que funcionará como reservatório de detenção da

água precipitada sobre o setor do estacionamento. Considerando um volume de vazios de

40%, 0,12 m³/m² estará disponível para receber o volume de águas drenadas para este

reservatório. As vagas de estacionamento construídas com o Hydromedia possuem

declividade nula (Figura 21).

Figura 21: Corte esquemático do estacionamento Sudeste (planta DES-AQF2015-XX-07)

48

Caixa de passagem

O projeto contempla um sistema interligado das vagas por meio de tubos de PVC

de 100 mm de diâmetro, que atuam como vasos comunicantes. Para permitir ligação entre

a parte alta do estacionamento com a parte baixa é prevista a instalação de caixas de

passagem com volume de 0,125m³ (0.50m x 0.50m x 0.50m), que reduz a energia cinética

da água antes de transferi-la para o segundo patamar do sistema (Figura 22).

Figura 22 - Corte da caixa de passagem com canalização (planta DES-AQF2015-XX-07)

Descarga na rede de drenagem

A descarga do estacionamento Sudeste ocorre em três pontos diferentes, através

de um tubo extravasor de PVC com 150 mm de diâmetro (Figura 23).

Figura 23: Detalhe da descarga do estacionamento Sudeste

Podemos ver a posição dos dispositivos do estacionamento Sudeste na Figura 24.

Concreto poroso

Reservatório de brita

Tubo extravasor

Trincheira

49

Figura 24: Corte esquemático do estacionamento Sudeste (planta DES-AQF2015-XX-07)

50

5.3. Estudos Hidrológicos e Hidráulicos

Nessa etapa, coletamos dados hidrológicos que permitam a caracterização

pluviométrica, geomorfológica e as características físicas da bacia de contribuição. Deste

modo podemos determinar tanto a altura do reservatório para armazenar o volume de água

que infiltrará pelo pavimento, quanto a altura da calha para não extravasar para as vagas.

5.3.1. Determinação da Chuva de Projeto

Uma chuva de projeto é um evento hidrológico idealizado, ao qual está associado

um tempo de retorno, que é o tempo médio em que um evento leva para ser igualado ou

superado pelo menos uma vez. Chuvas de projeto são normalmente obtidas a partir das

curvas IDF (Intensidade-Duração-Frequência) construídas a partir de medições ou a partir

de dados de pluviômetros desagregados para durações menores do que um dia.

A Equação de Chuvas Intensas escolhida para realizar o estudo da chuva de

projeto foi definida por Pfafstetter (1982), essa equação foi a mais adequada para chuvas

de grande duração na região estudada.

𝑃𝑃𝑇 = [𝑇𝛼 +𝛽

𝑡𝛾] × [𝑎𝑡 + 𝑏 log(1 + 𝑐𝑡)] (5.1)

Em que, T é o período de retorno do evento (anos), t é a duração do evento (horas),

os parâmetros a, b e c são constantes do posto pluviométrico e os parâmetros α, β e γ, são

definidos de acordo com a intensidade e duração do evento.

51

Para entrada na Equação (5.1), foi considerada a estação da Praça XV, com série

de 14 anos de dados pluviográficos, localizada nas coordenadas geográficas 22°54’ S e

43°10’ W. A escolha dessa estação justifica-se devido ao fato de que o local onde serão

realizados os testes (Ilha do Fundão) assemelha-se ao local da estação, em proximidade

com o mar, altitude e clima.

Para o dimensionamento eficiente do reservatório, precisamos que todo o volume

de chuva contribua e seja confinado no espaço destinado para esse fim; para isso,

utilizamos uma chuva de longa duração, assim teremos uma situação crítica para esse

dispositivo. Na verdade, todo projeto que utiliza reservatórios deve ser dimensionado ou

verificado para uma situação crítica que envolva volumes maiores e não intensidades

maiores de chuva.

Resolvendo a equação, obtêm-se como chuva de projeto para um período de

retorno de 10 anos e duração de 24h um valor de precipitação total de 147,9 mm. Chuvas

com grandes durações tendem a apresentar uma distribuição temporal não constante,

havendo diversas metodologias que buscam reproduzir, na chuva de projeto, uma

distribuição temporal representativa da chuva real.

Neste estudo, foi escolhido Método dos Blocos Alternados (SCS, 1972), para

distribuir a chuva de projeto ao longo do tempo. O método consiste na subdivisão da

chuva de projeto em intervalos de tempo de igual duração. Para cada tempo associado às

durações acumuladas, efetua-se o cálculo dos totais precipitados. Em seguida, calcula-se

por subtração o incremento de precipitação, referente a cada um dos intervalos, e,

finalmente, para que se obtenha o hietograma de projeto, basta reordenar estes

incrementos, de forma que o valor de maior intensidade ocupe o intervalo central do

evento de chuva. Os próximos incrementos, em ordem decrescente, devem ser

52

distribuídos à direita e à esquerda do núcleo central da chuva. A utilização desse método

permite uma avaliação conjunta da ocorrência de um evento de longa duração, capaz de

produzir grandes volumes de escoamento, e de um evento de curta duração, capaz de

gerar maiores intensidades de chuva e, por consequência, maiores picos de vazão em

sistemas com tempos de concentração inferiores à duração total da chuva.

Com objetivo de considerar um evento crítico para um sistema de microdrenagem,

a chuva foi subdivida em 48 intervalos de 30 minutos, resultando em uma precipitação

com um pico de intensidade de 50,2 mm/h. A Figura 25 apresenta o hietograma de projeto

utilizado no processo de modelagem.

Figura 25: Hietograma de projeto, para 10 anos de tempo de retorno

5.3.2. Determinação dos Parâmetros Hidráulicos dos Pavimentos

Para determinar os coeficientes hidráulicos que serão adotados para representar o

comportamento da água no projeto, usaremos os valores recomendados pela RIO-

ÁGUAS.

0

10

20

30

40

50

60

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24

Alt

ura

de

ch

uva

(m

m)

Tempo (horas)

53

No projeto foram utilizados basicamente três tipos de materiais: asfalto, blocos

intertravados e concreto poroso. Os coeficientes de runoff utilizado para o revestimento

com blocos intertravados, conhecidos também como blockets, e para asfalto seguem as

recomendações da RIO-ÁGUAS, mostrado na Tabela 2, assim utilizamos o valor de 0,78

para blockets e 0,95 para asfalto.

Tabela 2: Coeficiente de escoamento superficial (Adaptado: Instruções técnicas para elaboração de estudos

hidrológicos e dimensionamento hidráulico de dispositivos de drenagem)

Superfícies Faixa de valor para runoff

Asfalto 0,70 - 0,95

Concreto 0,80 - 0,95

Blocket 0,70 - 0,89

Paralelepípedo 0,58 - 0,81

Telhado 0,75 - 0,95

Solo compacto 0,59 - 0,79

Para as vagas com concreto poroso, o runoff é praticamente nulo, pois a água que

precipita sobre ele é inteiramente transmitida para a camada de brita, esta, por sua vez,

possui capacidade de armazenamento de água limitada pelo seu índice de vazios e pela

capacidade de infiltração do subleito.

Para os coeficientes de rugosidade (Manning) utilizados para o escoamento

superficial direto, também utilizamos as recomendações da RIO-ÁGUAS, conforme

mostrado na Tabela 3Erro! Fonte de referência não encontrada..

Tabela 3: Coeficientes de rugosidades adotados para escoamento superficial direto

Superfícies Valores para Manning

Sarjeta de concreto 0,016

Asfalto liso 0,013

Asfalto áspero 0,016

Pavimento de concreto liso 0,013

Pavimento de concreto áspero 0,015

54

5.4. Serviços Geológicos – Geotécnicos

Nesta etapa, prevê-se um estudo de caracterização do material do subleito com a

utilização de ensaios geotécnicos, principalmente para determinação das características

hidráulicas do solo, essencial para considerarmos a infiltração no reservatório.

5.4.1. Características Hidráulicas do Solo

Com o propósito de determinar a capacidade de infiltração do solo e assim definir

as características hidráulicas do sistema permeável, fez-se uso de um infiltrômetro de

duplo anel, também chamado de infiltrômetro de pressão ou infiltrômetro de anéis

concêntricos, aparato bastante utilizado nas medições de capacidade de infiltração.

O aparato é denominado infiltrômetro de duplo anel pelo motivo de ser composto

por dois cilindros de ferro (ou aço) com diâmetros variados, comumente sendo 25 cm o

cilindro menor e 50 cm o cilindro maior. Devem ser instalados concentricamente e com

auxílio de uma marreta para penetração no solo, por isso as bordas inferiores dos cilindros

devem ser finas, em forma de bisel (BERNARDO et al., 2005). É interessante também

fazer uso de um nível de bolha para facilitar o nivelamento de ambos os cilindros, como

ilustra a Figura 26. No presente estudo, os anéis utilizados são de 20 cm de diâmetros

interno (anel menor) e 39 cm de diâmetro externo (maior) e altura de 22 cm.

55

Figura 26: Instalação do infiltrômetro de duplo anel no local de estudo

A leitura é realizada no anel central, que indica a lâmina de água (cm ou mm)

sobre o solo por uma determinada unidade de tempo (min), e a taxa de infiltração é

calculada por meio da Equação (5.2) (FIORI et al. 2010). O anel externo serve para

minimizar as perdas laterais do anel central, de modo a reproduzir uma infiltração o mais

vertical possível (OTTONI, 2005), conforme esquematizado na Figura 27. Segundo

RUBIN et al. (1964), a constante no final da curva de taxa de infiltração é numericamente

igual à condutividade hidráulica saturada do solo, em outras palavras, o limite da curva

de taxa de infiltração para o tempo tendendo ao infinito é igual à condutividade hidráulica

saturada do solo.

𝐾𝜃 = 60 ×𝐼

Δ𝑡× ln

ℎ0

ℎ𝑡 (5.2)

Onde:

56

Kθ é a condutividade hidráulica do solo saturado (ou taxa de infiltração, ou ainda

considerada permeabilidade), em mm/h;

I é a profundidade do anel no solo, em mm;

Δt é o intervalo de tempo do ensaio, em min;

h0 é o nível inicial da água, em mm; e

ht é o nível de água, em mm, no tempo t.

Para o presente estudo, realizaram-se dois ensaios, um à superfície do solo com

os anéis cravados até uma profundidade de 10 cm e outro até uma profundidade de 44

cm. Assim, foi possível trabalhar com a condutividade hidráulica do solo saturado a uma

profundidade máxima de 44 cm. Aronovic (1955) e Shull (1964) demonstram que, por

obstrução hidráulica, as taxas de infiltração decrescem à medida que a profundidade de

cravação do anel é aumentada, corroborando os resultados encontrados. Erro! Fonte de

referência não encontrada.A Tabela 4Erro! Fonte de referência não encontrada.

apresenta os resultados obtidos nos ensaios de infiltração realizados à superfície e a

Tabela 5 apresenta os resultados obtidos nos ensaios de infiltração uma profundidade de

44 cm, enquanto que a Figura 30 e a Figura 31 mostram os gráficos das curvas de

infiltração do solo da superfície e em profundidade de 44 cm, respectivamente. A

localização do ponto onde o teste foi realizado fica em frente ao prédio do CT-2

(Fundação COPPETEC), local onde será implantado o pavimento permeável, cujas

coordenadas UTM são 681.557m E e 7.470.505m S.

Figura 27: Esquema de um infiltrômetro de anel, aparato utilizado para medir a taxa de infiltração dos solos

(Fonte: ZUQUETTE E PALMA, 2006)

57

Tabela 4: Dados obtidos em ensaio de condutividade hidráulica realizado à superfície do solo, ponto

localizado na frente do CT-2

Tabela 5: Dados obtidos em ensaio de condutividade hidráulica realizado à profundidade de 44 cm, ponto

localizado na frente do CT-2

A Figura 28 e a Figura 29 ilustram a realização do ensaio de infiltração à superfície

e a profundidade de 44 cm respectivamente.

58

Figura 28: Teste de infiltração realizado no local do projeto, com infiltrômetro de duplo anel na superfície do

solo

Figura 29: Teste de infiltração realizado no local do projeto, com infiltrômetro de duplo anel à profundidade

de 44 cm

59

Figura 30: Gráfico do ensaio de infiltração na superfície do solo

Figura 31: Gráfico do ensaio de infiltração na profundidade de 44 cm

R² = 0,3849

0

5

10

15

20

25

30

35

0 50 100 150 200

Taxa

de

Infi

ltra

ção

(m

m/h

)

Tempo de duração do teste (min)

Curva de Infiltração - Superfície

Curva de Infiltração Logaritmo (Curva de Infiltração)

R² = 0,80660,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180

Taxa

de

Infi

ltrç

ão (

mm

/h)

Tempo de duração do teste (min)

Curva de Infiltração - 44 cm

Curva de Infiltração Logaritmo (Curva de Infiltração)

60

A grande diferença no R² de ambas as curvas se deve a variação de h0 ocorrida no

ensaio à superfície, diferentemente do ensaio na profundidade de 44 cm em que se

manteve mais constante. De fato, a metodologia adotada para o ensaio à superfície foi

diferente do ensaio na profundidade de 44 cm. No ensaio à superfície, preencheu com

água ambos os anéis a cada variação de Δh máxima de 1,0 cm, independente do tempo

percorrido; todavia, devemos frisar que esse preenchimento ocorreu sempre nos

momentos iniciais da leitura seguinte. No segundo ensaio, a carga hidráulica manteve-se

constante em toda leitura, ou seja, cada Δt pré-determinado, os anéis foram preenchidos

com água a partir da leitura anterior. Independente da metodologia, atingida a saturação

do solo, a taxa de infiltração fica constante.

A partir dos resultados com os ensaios de infiltração, os valores de taxa de

infiltração na superfície e a 44 cm de profundidade foram, respectivamente, cerca de 17,5

mm/h e 12,2 mm/h, sendo este último adotado como condutividade hidráulica do solo

saturado (ou permeabilidade) para fins de projeto, por estar na profundidade tida como

desejada. Segundo TERZAGHI et al. (1996), a permeabilidade desse solo não é boa, pois

encontra-se abaixo da faixa de 10-5 a 10-6 m/s. Essa informação aumenta a importância

do tamanho do reservatório de brita e pode trazer algum problema operacional no seu

esvaziamento, podendo ser crítico em eventos sucessivos. Esse teste também confirma a

importância de se utilizar um evento mais longo como referência para o

dimensionamento.

61

5.5. Projeto de Drenagem

Para avaliar o funcionamento de cada estrutura hidráulica principal dos

estacionamentos Noroeste e Sudeste, foram simuladas as condições de projeto no modelo

computacional MODCEL (MASCARENHAS E MIGUEZ, 2002). Para tal, o

estacionamento foi dividido em um conjunto de células com características hidráulicas

homogêneas, em que cada célula é composta por coeficientes hidráulicos, características

geométricas e topográficas.

5.5.1. Escolha do Modelo

O MODCEL é um modelo Hidrodinâmico Quasi-2D que representa canais e

superfícies inundáveis, que trocam de água entre si, por uma rede no plano horizontal

onde os caminhos são pré-definidos, interligada a uma rede subterrânea, de drenos ou

galerias. Ou seja, esse modelo permite a visualização de um escoamento em uma área

bidimensional, com relações de troca também na vertical, embora modelado apenas por

equações em 1D. Desta forma, a simulação funciona bem, não somente quando o

escoamento está dentro da calha do rio ou galeria, mas também quando a estrutura de

drenagem transborda para as planícies marginais. Para o uso de um modelo Quasi-2D, é

necessário discretizar a planície de inundação em células de escoamento. Tais células são

compartimentos homogêneos que funcionam de forma integrada, comunicando-se apenas

por leis hidráulicas unidimensionais clássicas (ZANOBETTI, 1968).

62

5.5.2. Modelagem Computacional

Para a representação das diferentes concepções de funcionamento dos

estacionamentos, foram feitas 273 células, sendo 51 células para representar o

estacionamento com pavimento de blocos intertravados, 198 células para representar o

pavimento com concreto poroso e 24 células complementares representando desde o

sistema de microdrenagem até a água escoada para o subsolo.

5.5.3. Dimensionamento do Estacionamento Noroeste

Nesse estacionamento, foram utilizadas células do tipo “reservatório” tanto para

os grupos de vagas quanto para os grupos de vias. Esse tipo de célula consegue representar

a variação de profundidades e consequentemente a variação do volume armazenado. No

caso das vagas, essa capacidade é importante para a representação da variação de

declividade das vagas, e, nas vias, consegue representar a transição da calha para a via de

rodagem.

A interação entre as células foi feita a partir de diferentes tipos de ligações, entre

elas estão:

Ligação de Vertedouro: Esta ligação, que representa o vertimento por

transbordamento do rio ou canal para a planície e entre células da planície

em locais onde barreiras físicas formam fronteiras, que passam a funcionar

como vertedouros, utiliza a fórmula clássica deste tipo de estrutura, livre

ou afogada. Essa ligação foi utilizada para representar o vertimento da

vaga para a calha.

63

Ligação de Planície: Corresponde ao escoamento à superfície livre sem

termos de inércia, sendo usual na ligação entre quadras alagadas, podendo

representar o escoamento através das ruas. Essa ligação foi utilizada para

representar o escoamento entre as vias e entre as vagas.

Ligação de Orifício - Para este tipo de ligação, utiliza-se a relação clássica

do escoamento em orifícios. Essa ligação foi utilizada para representar o

fluxo da calha para a caixa de passagem.

Ligação de Galeria: Esta ligação responde pelo escoamento em galerias

inicialmente ocorrendo à superfície livre e evoluindo para possível

escoamento sob pressão, a partir da verificação, passo a passo, do

afogamento da galeria. Vai-se desenvolver aqui uma relação para a vazão

entre células de galeria, considerando escoamento sob pressão. Essa

ligação foi utilizada para representar o escoamento em tubulação fechada,

entre as caixas de passagem.

A Figura 32, Figura 33 e a Figura 34 ilustram detalhes sobre a interação entre as

células e a configuração final da divisão de células do estacionamento Noroeste.

64

Figura 32: Divisão de células do estacionamento Noroeste

DESCARGA D’ÁGUA

65

Figura 33: Detalhes das ligações da célula 502

Figura 34: Corte esquemático com a concepção das células.

Para avaliação do comportamento hidráulico das canaletas, localizadas no

estacionamento, são apresentados gráficos do perfil longitudinal das mesmas. Os gráficos

estão ilustrados desde a Figura 35 até a Figura 38. A observação da linha d’água mostra

que as canaletas possuem capacidade hidráulica para drenar a chuva de projeto, tomada

com 24h de duração.

66

Figura 35: Perfil da Canaleta C1. Esta canaleta fica localizada na parte baixa do estacionamento Noroeste. A

linha “vertedor” significa a cota de extravasamento da canaleta para a via de rodagem

Figura 36: Perfil da Canaleta C2. Esta canaleta fica localizada na parte baixa do estacionamento Noroeste. A

linha “vertedor” significa a cota de extravasamento da canaleta para a via de rodagem

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

1,1

0 10 20 30 40 50 60

Distância (m)

Canaleta C1

Cota Fundo

NA máx

Vertedor

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

1,1

0 10 20 30 40 50 60

Distância (m)

Canaleta C2

Cota Fundo

NA máx

Vertedor

67

Figura 37: Perfil da Canaleta C3. Esta canaleta fica localizada na parte alta do estacionamento Noroeste. A

linha “vertedor” significa a cota de extravasamento da canaleta para a via de rodagem

Figura 38: Perfil da Canaleta C4. Esta canaleta fica localizada na parte alta do estacionamento Noroeste. A

linha “vertedor” significa a cota de extravasamento da canaleta para a via de rodagem

1,5

1,6

1,7

1,8

1,9

2

2,1

0 10 20 30 40 50 60

Distância (m)

Canaleta C3

Cota Fundo

NA máx

Vertedor

1,5

1,6

1,7

1,8

1,9

2

2,1

0 10 20 30 40 50 60

Distância (m)

Canaleta C4

Cota Fundo

NA máx

Vertedor

68

5.5.4. Dimensionamento do Estacionamento Sudeste

Nesse estacionamento, foram utilizadas células do tipo “reservatório” para as vias,

para representar a variação de profundidade. Paras as vagas foram utilizadas células do

tipo “planície natural”, considerando a cota do subleito como cota de fundo e reduzindo

a capacidade de armazenamento de água para 40% do total, a capacidade de

armazenamento do reservatório de brita é limitada pelo seu índice de vazios. Note que

apesar do nome “planície natural”, derivado do uso original do modelo para representação

espacial de bacias maiores, esta célula tem um formato prismático e se adequa aos

objetivos aqui propostos. Quem determina o uso do solo sobre a célula prismática de

“planície natural” é, de fato, o coeficiente de runoff utilizado.

Nas vagas, a infiltração da água foi representada incluindo uma ligação do tipo

“Bombeamento”, onde, após determinada a vazão de água que irá percolar para o subsolo,

obtida a partir das informações coletadas com o infitrômetro de duplo anel conforme visto

no item 5.4.1, esta vazão é retirada para fora da célula por esta ligação.

A interação entre as células foi feita a partir de diferentes tipos de ligações, entre

elas estão:

Ligação de Vertedouro: Essa ligação foi utilizada para representar o

vertimento da via para o reservatório da vaga.

Ligação de Planície: Essa ligação foi utilizada para representar o

escoamento entre as vias e entre as vagas.

Ligação de Orifício - Essa ligação foi utilizada para representar o fluxo da

água do reservatório da vaga, quando este estiver cheio, para o sistema de

69

microdrenagem, na parte superior do reservatório, impedindo o

afloramento na própria vaga.

Ligação de Bombeamento – Esta ligação representa a saída de uma vazão

constante pré-determinada de uma célula para sua vizinha, sempre em um

único sentido pré-definido, a partir do momento em que uma dada cota de

controle é atingida. Essa ligação foi utilizada para representar a infiltração

da água da vaga para o lençol freático. Essa é uma adaptação possível da

lógica original da ligação de bombeamento. De fato, aqui, não há nenhuma

bomba envolvida – é apenas uma interpretação.

A Figura 39 e a Figura 40 ilustram detalhes sobre a interação entre as células e a

configuração final da divisão de células do estacionamento Sudeste.

Figura 39: Detalhes das ligações da célula 203

70

Figura 40: Divisão de células do estacionamento Sudeste

DESCARGA D’ÁGUA DESCARGA D’ÁGUA DESCARGA D’ÁGUA

71

Para avaliação da profundidade necessária para o subleito de brita, presente nas

áreas revestidas com o concreto poroso Hydromedia, é apresentado um gráfico com os

níveis máximos ocorridos durante a simulação com o MODCEL.

Para melhor visualização, o gráfico (Figura 42) é apresentado em 04 grupos de

células, semelhantes de acordo com sua localização e comportamento hidráulico. Assim,

cada faixa do estacionamento foi agrupada para apresentação da profundidade de água

alcançada em seu subleito, uma vez que esse conjunto de vagas funcionará como um

grande reservatório preenchido de brita, instalada logo abaixo do pavimento permeável.

Na Figura 41 é possível observar essa divisão, onde os grupos P1.1 e P1.2 referem-se à

primeira e segunda linha de vagas com Hydromedia, localizadas no platô inferior (mais

baixo), e os grupos P2.1 e P2.2 referem-se à terceira e quarta linha de vagas com

Hydromedia, localizadas no platô superior (mais alto).

Figura 41: Esquema de planta baixa com os grupos de estacionamento indicados.

72

Figura 42: Gráfico de barras indicando o alcance máximo da lâmina d'água durante a simulação do sistema,

já considerando a presença da brita de preenchimento no reservatório.

5.5.5. Comparação entre os dois sistemas de drenagem modelados

Como principal forma de se analisar os dois sistemas de drenagem – Pavimento

de Blocos Intertravados com calhas coletoras e Pavimento Permeável com reservatórios

de brita – foram comparados os hidrogramas efluentes de cada sistema, lançados na valeta

externa de drenagem em frente ao estacionamento. A Figura 43 apresenta os hidrogramas

lançados na linha de drenagem exterior ao estacionamento, resultantes da simulação dos

sistemas com a chuva de projeto (TR10 anos).

Houve uma redução significativa do pico de vazão e do volume de água

extravasado para a calha principal da rua. O sistema com pavimento permeável reduziu

cerca de 44,07% o pico de vazão e o volume extravasado foi de 79,60 m³ no sistema com

pavimento permeável e 214,83 m³ no sistema com pavimento convencional, chegando a

uma redução de 62,95%.

0,00

0,05

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

0,40

P 1.1 P 1.2 P 2.1 P 2.2

Lâm

ina m

áx

ima d

e ág

ua (

m)

Grupo de células

Níveis máximos no subleito Hydromedia

73

Figura 43: Vazões de contribuição dos estacionamentos ara a calha principal da rua

Para efeitos de comparação, três novos cenários foram simulados. Neles, as alturas

do reservatório de brita utilizadas foram de 40 cm, 50 cm e 60 cm, aumentando a

escavação em todo estacionamento Sudeste. Os resultados desses novos cenários estão

apresentados na Tabela 6 e na Figura 44.

Tabela 6: Comparação de vazões em cada cenário.

Cenários Volume

máximo (m³) Vazão máxima

(m³/s) Redução do

Volume Redução do

Pico

Pavimento Convencional 214,83 0,0399 - -

Reservatório (30 cm) 79,60 0,0223 62,95% 44,07%

Reservatório (40 cm) 44,54 0,0130 79,27% 67,39%

Reservatório (50 cm) 15,90 0,0055 92,60% 86,21%

Reservatório (60 cm) 0,02 0,0000 99,99% 100,00%

0,000

0,005

0,010

0,015

0,020

0,025

0,030

0,035

0,040

0,045

0 6 12 18 24

Vaz

ão (

m³/

s)

Tempo (horas)

Comparação de Vazões

PavimentoIntertravado

Concreto Poroso -Hydromedia

74

Figura 44: Vazões nos cenários para diversas alturas de reservatório

Vemos que o incremento de 30 centímetros na escavação do subleito do

estacionamento Sudeste consegue anular a vazão lançada na rede de microdrenagem, mas

estudos de viabilidade econômica devem ser realizados para embasar essa decisão.

O reservatório demora para esvaziar, considerando a taxa de infiltração do solo

definida nos ensaios, cerca de 10h27 para o reservatório de 30 cm, 14h02 para o

reservatório de 40 cm, 17h37 para o reservatório de 50 cm e 19h23 para o reservatório de

60 cm. Esses são valores aceitáveis depois de uma chuva de 24h em solos com essa taxa

de infiltração.

O sistema com pavimentos permeáveis se mostrou altamente eficiente como

alternativa de retenção de águas de chuva podendo ser empregado em regiões com o

sistema de drenagem deficitário. Os resultados da modelagem mostraram excelente

capacidade de retenção de volume e amortecimento de vazões que seriam lançados no

sistema de drenagem.

0,000

0,005

0,010

0,015

0,020

0,025

0,030

0,035

0,040

0,045

6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18

Vaz

ão (

m³/

s)

Tempo (horas)

Comparação de Vazões

Pavimento Intertravado

Reservatório (30 cm)

Reservatório (40 cm)

Reservatório (50 cm)

Reservatório (60 cm)

75

6. CONCLUSÕES

Esse estudo mostra a eficiência de pavimentos feitos de concreto poroso,

acoplados a reservatórios de brita, em relação a pavimentos de concepção convencional.

Um projeto prático, previsto para o estacionamento do prédio do CT2, na cidade

universitária, foi desenvolvido, considerando estas duas opções de pavimento, e seus

resultados foram comparados.

O projeto foi primeiro desenvolvido de forma conceitual, um pré-projeto foi feito

manualmente e o projeto foi testado e refinado através de modelagem matemática.

Os resultados obtidos conseguem quantificar a relação do volume de água

precipitada retida no reservatório de brita, escoado superficialmente e o retardo da

chegada do pico de vazão no sistema de microdrenagem.

Com esses resultados, torna-se possível estimar a diminuição do volume escoado

em uma bacia hidrográfica, caso o sistema de pavimentos permeáveis fosse amplamente

difundido. Apesar de ter uma resistência mecânica aquém dos pavimentos rígidos e

asfálticos, os pavimentos porosos podem ser usados em vias para pedestres,

estacionamentos e vias de tráfego leve de veículos.

Estacionamentos com áreas descobertas são grandes geradores de escoamento

superficial, se juntarmos estacionamentos de supermercados, shoppings, condomínios e

praças, soma-se uma área significativa dentro de uma bacia urbana. Com uma redução

entre 63% a 100% do volume de contribuição, conforme visto nos resultados, o

dimensionamento e, consequentemente, o custo da rede de microdrenagem, reduziria

significativamente.

76

Talvez a adoção de incentivos fiscais, por parte do poder público, para empresas

que produzam o sistema de pavimentos permeáveis, tornasse o custo da construção mais

atrativo, além do retorno de consumo promovido pelo marketing ambiental.

Nesse sentido, pode-se dizer que ter-se-ia uma relação ganha-ganha, onde as

empresas ganham publicidade positiva e os gastos extras em construir esse sistema se

equilibrariam com o incentivo fiscal dado pelo poder público, os gestores públicos

ganhariam, pois poderiam economizar no dimensionamento e no custo do sistema de

drenagem, a população ganharia com a redução do volume escoado e consequentemente

com a redução de inundações, e o meio ambiente ganharia pois a solução de drenagem se

aproximaria dos padrões de escoamento natural, permitindo a infiltração de parte da água,

parte fundamental no ciclo hidrológico.

Outra contribuição importante desse trabalho é mostrar uma forma pouco usual

para dimensionamento do subleito de brita, que funciona como reservatório, utilizando a

modelagem computacional. A modelagem e simulação computacional permitem uma

antevisão do futuro de um sistema e uma avaliação da evolução do mesmo ao longo do

tempo, além de permitir analisar o potencial de resposta frente a cenários diversos.

Como complementação do trabalho realizado, sugere-se a aplicação dos

resultados obtidos nesse estudo na avaliação de resultados que seriam obtidos pela

implantação de pavimentos permeáveis nas áreas de estacionamento de toda uma bacia

urbana, para mensurar o impacto dessa medida no sistema de macrodrenagem.

Há também a necessidade de se aprimorar as técnicas de caracterização dos

pavimentos permeáveis e aumentar as informações sobre os materiais utilizados, como

custos de implantação, durabilidade, resistência, eficiência e análise do ciclo de vida dos

materiais com a complementação de estudos de impacto ambiental.

77

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACIOLI, L. A., Estudo experimental de pavimentos permeáveis para o controle do

escoamento superficial na fonte. Porto Alegre. 2005.

AMARAL, A. C. R., Pavimento Intertravado de Concreto Convencional e Permeável/Ana Cristina Rodrigues do Amaral – Rio de Janeiro: UFRJ/Escola Politécnica, 2017. ANDRADE, N. L. R.; Xavier, F. V.; Alves, E. C. R. F.; Silveira A.; Oliveira, C. U. R.

Caracterização morfométrica e pluviomética da Bacia do Rio Manso, MT. Revista

Geociências, v.27, p.237-248, 2008.

ARANOVICI, V.S. “Model study of ring infiltrometer performance under low initial

soil moisture”. Soil Science Society of America Procedures. Madison, v.19, pp. 1-6,

1955.

AYOADE, J. O. Introdução à climatologia para os trópicos. Rio de Janeiro: Bertrand

Brasil, 1998. 332 p. AZZOUT, Y., BARRAUD, D., CRES, F. N., ALFAKIH, E. 1994.; Techniques

alternatives en assainissement pluvial. Paris: Technique et Documentation – Lavoisier.

372 p.

BARBOSA, F. A. R. Medidas de proteção e controle de inundações urbanas na bacia do rio Mamanguape/PB/Francisco de Assis dos Reis Barbosa. João Pessoa, 2006.

BERNARDO, S.; SOARES, A. A.; MANTOVANI, E. C. Manual de irrigação. 7ª ed.,

Viçosa, Editora UFV, 2005.

CARRENHO, S. D. Pavimento Permeável Intertravado – Estudo De Caso: Condomínio

Residencial Porto das Pedras em Várzea Grande-MT. Cuiabá, 2013.

CHEREQUE W, Hidrologia, Obra auspiciada por CONCYTEC. Lima - Perú. 224p

1997.

CIRIA. The SUDS manual. London, 2007, CIRIA C697, ISBN 978-0-86017-697-8, 606

páginas. CIRIA= Construction Industry Research and Information Association.

COSTA, H. Enchentes no Estado do Rio de Janeiro – Uma Abordagem Geral / Helder

Costa, Wilfried Teuber. Rio de Janeiro: SEMADS. 2001. 160p.

FELLOWS, D. K. The Environment of Mankind: an introduction to physical

geography. 1978. 484 p.

FIORI, J.P.O., CAMPOS, J.E.G., ALMEIDA, L. “Variabilidade da condutividade

hidráulica das principais classes de solos do estado de Goiás”. Geociências. v.29.

pp.229-235. São Paulo. 2010.

78

FRIZZONE, J.A. Irrigação por superfície. São Paulo: ESALQ/USP. 183p. 1993.

KOBIYAMA, MA., Prevenção de desastres naturais: conceitos. Curitiba: Ed. Organic

Trading , 2006. 109p.

LAWALL, S. Modificações na dinâmica hidrológica dos solos em resposta as alterações

de uso e cobertura na Bacia do Bonfim, Região Serrana do Rio de Janeiro. Dissertação

(Mestrado em Ciência, com ênfase em Geografia) – Instituto de Geociências,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 2010.

LENCASTRE, A., FRANCO, F.M. (1984). Lições de Hidrologia. Lisboa, Universidade

Nova de Lisboa, 396 p.

MARCHIONI, M., SILVA, C. O. Pavimento Intertravado Permeável – Melhores Práticas. São

Paulo, Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), 2010. 24p.

MASCARENHAS, F. C. B., MIGUEZ, M. G., 2002, “Urban flood control through a

mathematical flow cell model”. Water Inernational, v.27, n.2, pp.208–218.

MIGUEZ, M.G., VERÓL, A.P., REZENDE, O.M. Drenagem Urbana: Do Projeto Tradicional à

Sustentabilidade. Rio de Janeiro: Elsevier. 2015.

NASCIMENTO, N. O.; BATISTA, M. B. & DE SOUZA, V. C. B. (1997). Sistema

Hidrourb para o pré-dimensionamento de soluções compensatórias em drenagem

urbana. Anais do XII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, CD-Rom, art. 330,

Vitória, ES.

OLIVEIRA, P. T. S.; Alves Sobrinho, T.; Steffen, J. L.; Rodrigues, D. B. B.

Caracterização morfométrica de bacias hidrográficas através de dados SRTM. Revista

Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v.14, p.819–825, 2010.

OTTONI, M. V. Classificação físico-hídrica de solos e determinação da capacidade de

campo in situ a partir de testes de infiltração. Dissertação (Mestrado em Engenharia

Civil) – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa De Engenharia

(COPPE), Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. 2005.

PFAFSTETTER, O. “Chuvas Intensas do Brasil: Relação entre Precipitação, Duração e

Frequência de Chuvas em 98 Postos com Pluviógrafos”. Departamento Nacional de

Obras de Saneamento. Rio de Janeiro. 1982.

PFAFSTETTER, Otto. Chuvas intensas no Brasil. 1957.

POMPÊO C. A. Drenagem Urbana Sustentável. RBRH - Revista Brasileira de Recursos

Hídricos Volume 5 n.1 Jan/Mar 2000, 15-23.

RAIMBAULT, G.; ANDRIEU, H.; BERTHIER, E; JOANNIS, C.; LEGRET, M. 2002.

Infiltration des eaux pluviales à travers les surfaces urbaines – Des revêtements

imperméables aux structures-réservoir In: Bulletin des Laboratoires des Ponts et

Chaussées. 238-Maio-junho 2002 pp 39-50.

79

REICHARDT, K. A água em sistemas agrícolas. São Paulo : Manole, 1990. 188p.

RUBIN, J., STEINHARDT, R., REINIGER, P. “Soil water relations during rain

infiltration: II Moisture content profiles during rains of low intensities”. Soil Science

Society of America Journal. v.28. pp.1-5. 1964.

SCHUELER, T. Controlling Urban Runoff: A Practical Manual for Planning and Designing Urban BMPs.1987. SHULL, H. “Influence of installation depth on infiltration from unbuffered cylindre

infiltrometers”. Soil Science. Baltimore, v.97, pp. 279-282, 1964.

SOIL CONSERVATION SERVICE, 1972, National Engineering Handbook, Sec. 4,

Hydrology, U. S. Department of Agriculture.

TERZAGHI, K., PECK, R.B., MESRI, G. Soil Mechanichs in Engineering Practice.

Third Edition, John Wiley & Sons, New York, 1996.

TOMAZ, P. Curso de Manejo de Águas Pluviais. – Capítulo 60: Pavimento Poroso. São

Paulo,2009.

TUCCI, C. E. M. Hidrologia – Ciência e Aplicação. Porto Alegre. Editora da

Universidade/UFRGS. 943p., 1993.

TUCCI, C. E. M., BERTONI, J. C. Inundações urbanas na América do Sul. Associação Brasileira de Recursos Hídricos, Porto Alegre. 2003.

TUCCI, C. E. M.. Hidrologia, Ciência e Aplicação. Editora da UFRGS/ABRH. 4ª.

Edição. Porto Alegre – RS, 943p. 2009.

URBONAS, B.; STAHRE, P., Stormwater Best Management Practices and Detention. Prentice Hall, Englewood Cliffs, New Jersey. 1993. 450p. VILLELA, S. M. E MATTOS, A. Hidrologia Aplicada. São Paulo: McGraw-Hill do

Brasil, 1975, 245p.

VIRGILLIS, A. L. C., Procedimentos de projeto e execução de pavimentos permeáveis

visando retenção e amortecimento de picos de cheias/ A. L. C. Virgillis. - ed.rev. – São

Paulo, 2009. 191 p.

ZANOBETTI, D.; LORGERÉ, H. Le modèle mathématique du Delta du Mékong. La

Houille Blanche, 1968.

ZUQUETTE, L. V.; PALMA, J. B. Avaliação da condutividade hidráulica em área de

recarga do aqüífero Botucatu. Rem: Revista Escola de Minas, v. 59, n. 1, p. 81-87,

2006.