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Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto COPPEAD de Administração Mestrado em Administração Lucyana Rebello Felicia EMPREENDEDORISMO INTERNACIONAL NO SETOR DE COSMÉTICOS BRASILEIRO: O CASO DA BRAZILIAN SECRETS HAIR Rio de Janeiro 2016

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Instituto COPPEAD de Administração

Mestrado em Administração

Lucyana Rebello Felicia

EMPREENDEDORISMO INTERNACIONAL NO SETOR DE COSMÉTICOS BRASILEIRO:

O CASO DA BRAZILIAN SECRETS HAIR

Rio de Janeiro

2016

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Lucyana Rebello Felicia

EMPREENDEDORISMO INTERNACIONAL NO SETOR DE COSMÉTICOS BRASILEIRO:

O CASO DA BRAZILIAN SECRETS HAIR

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-graduação em

Administração, Instituto COPPEAD de

Administração, Universidade Federal do Rio

de Janeiro, como requisito parcial à obtenção

do título de Mestre em Administração.

Orientador: Prof. Renato Cotta de Mello

Rio de Janeiro - RJ

2016

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Felicia, Lucyana Rebello.

Empreendedorismo internacional no setor de cosméticos brasileiro: o caso Brazilian Secrets Hair / Lucyana Rebello Felicia. – Rio de Janeiro: UFRJ/ COPPEAD, 2016.

XXX p.: il.

Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração, Rio de Janeiro, 2016.

Orientador: Renato Cotta de Mello

1. Negócios Internacionais. 2. Marketing Internacional. 3. Administração – Teses. I. Mello, Renato Cotta de. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Pós-Graduação em Administração. III. Título.

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Lucyana Rebello Felicia

EMPREENDEDORISMO INTERNACIONAL NO SETOR DE COSMÉTICOS BRASILEIRO:

O CASO DA BRAZILIAN SECRETS HAIR

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Administração, Instituto COPPEAD de

Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Administração.

Aprovada em 20 de abril de 2016, por:

Renato Cotta de Mello, D.Sc. – COPPEAD/UFRJ

Ariane Cristine Roder Figueira, D.Sc. – COPPEAD/UFRJ

Jorge Ferreira da Silva, D.Sc. – PUC-RJ

Rio de Janeiro

2016

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AGRADECIMENTOS

A conclusão do Mestrado simboliza para mim muito mais que a obtenção do

título de Mestre, o qual hoje logicamente também é motivo de muito orgulho. Ser capaz

de fazer essa defesa significa o fim de um ciclo que requereu maturidade, paciência,

fé e, principalmente, gratidão.

Primeiramente, sou grata a Deus que, por permitir que minha família purificasse

e vivesse um milagre, mudou as nossas vidas e a nossa relação. O amor, a união e o

sentimento de gratidão que surgiram no ano em que tive que me afastar do curso

valeram por toda a dificuldade que enfrentamos.

Agradeço também à minha família, que me apoiou no sonho de entrar no curso

de mestrado do Coppead, lamentou pelo meu período de trancamento e, mais do que

tudo, estimulou o meu retorno me dando todo o suporte necessário. O mesmo digo

aos meus melhores amigos, os que não faltam um “churras da Lulu”, e à pessoa que

me mostrou o infinito como forma de amar: obrigada pelo carinho, amor e vibração

positiva. Vocês são tudo na minha vida!

Não posso deixar de mencionar a turma de Mestrado de 2013, minha turma

original, por todas as mensagens de carinho que recebi quando precisei me afastar.

Em especial, agradeço ao grupo de Marketing e Negócios Internacionais, que se

dispôs a me ajudar no que fosse preciso para que eu não precisasse trancar o curso.

Apesar de isso não ter sido possível, esse carinho é a imagem que sempre levarei de

vocês. Sou grata também à turma de Mestrado de 2014, que me recebeu com muita

simpatia e me ajudou a entrar no ritmo em meu retorno. Se tem um motivo para eu ter

entrado nessa nova turma, certamente foi para construir uma louca e eterna amizade.

Por fim, sou grata ao COPPEAD por todo aprendizado e transformação pessoal

que promoveu em mim. A paciência, dedicação e empenho do corpo docente são um

diferencial da instituição. Tenho especial gratidão ao meu Orientador, o Prof. Renato,

pelos inúmeros e-mails trocados, pelos “pitacos em amarelo” em cada etapa de minha

dissertação e pelo suporte que me deu no processo, eliminando resquícios de dúvidas

e insegurança que manifestei.

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RESUMO

FELICIA, Lucyana Rebello. Empreendedorismo internacional no setor de cosméticos

brasileiro: o caso da Brazilian Secrets Hair. Rio de Janeiro, 2016. Dissertação

(Mestrado em Administração) – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.

O presente estudo dedica-se a investigar o processo de internacionalização da

Brazilian Secrets Hair, empresa que nasceu considerando o mundo como mercado-

alvo e que faz parte de um setor que apresenta crescimento constante, contrariando

o que é esperado em momentos de crise econômica: a indústria de cosméticos. Para

analisar a expansão internacional da empresa, foram exploradas as teorias de

internacionalização da corrente comportamental. São elas: a Teoria de Uppsala, a

Teoria de Networks, a perspectiva do Empreendedorismo Internacional e a lógica de

Effectuation. Buscou-se, com base nesse arcabouço teórico, entender as motivações

da organização para sua entrada no mercado estrangeiro, os modos de entrada

utilizados, os critérios de escolha de território-alvo e, por fim, o papel das redes nesse

processo – incluindo agentes governamentais e não governamentais. Em

concordância com esses objetivos de pesquisa, o método adotado foi o qualitativo,

com estudo de caso único. Como resultado, foi possível perceber que o poder

explanatório das diferentes teorias que tratam do fenômeno da internacionalização de

empresas é parcial. Não há uma teoria única que explique o processo de

internacionalização da Brazilian Secrets Hair em todas as suas peculiaridades, muito

embora se constate que a perspectiva Effectuation tenha se mostrado a teoria

dominante.

Palavras-chave: Internacionalização de empresas, setor de cosméticos, teorias

comportamentais.

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ABSTRACT

FELICIA, Lucyana Rebello. Empreendedorismo internacional no setor de cosméticos

brasileiro: o caso da Brazilian Secrets Hair. Rio de Janeiro, 2016. Dissertação

(Mestrado em Administração) – Instituto COPPEAD de Administração, Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2016.

The present study aims to explore the internationalization process of Brazilian Secrets

Hair, a company that was created considering the world as its target market and is part

of a segment that has shown a constant growth rate, despite the moment of an

economic crisis: the cosmetic industry. In order to analyze the company’s international

expansion, behavioral theories were applied, which are: Uppsala model, Networks

Theory, International Entrepreneurship Perspective and Effectuation. Based on this

theoretical framework, the study has the purpose to understand the company’s

motivations for its foreign market entry, the entry modes chosen by the organization,

the criteria adopted to choose the target market and, lastly, the role of the networks in

this process – including governmental and non-governmental agents. In accordance

with these goals, the research method selected was the qualitative, specifically the

single case study. As a result, it was possible to understand that the explanatory power

of the current theories that study the phenomenon of companies’ internationalization

processes is partial. There is no single theory that could explain the Brazilian Secrets

Hair internationalization process considering all its peculiarities, even though we can

claim that there is a predominance of the Effectuation perspective.

Keywords: Internationalization, cosmetic industry, behavioral theories.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Crescimento da Indústria HPPC mundial ano a ano ................................ 13

Figura 2 - Variação anual PIB X Indústria Geral X Setor .......................................... 14

Figura 3 - Performance do setor por categoria em 2013 .......................................... 19

Figura 4 - Mercado mundial de HPPC ...................................................................... 21

Figura 5 - Evolução na Balança Comercial brasileira de HPPC ............................... 21

Figura 6 - Evolução do faturamento “Ex-factory” do setor de HPPC brasileiro ......... 23

Figura 7 - Cadeia de valor para o setor de HPPC .................................................... 24

Figura 8 - Comparativo de Índice de Preços ano a ano ........................................... 25

Figura 9 - Representação do mecanismo básico de internacionalização ................. 31

Figura 10 – Representação da relação entre aprendizado experiencial e

comportamento incremental ...................................................................................... 33

Figura 11 – Modelo de International New Ventures .................................................. 41

Figura 12 - Representação do mecanismo de internacionalização conforme Uppsala

revisitado em 2009. ................................................................................................... 48

Figura 13 - Representação do mecanismo de internacionalização conforme Uppsala

revisitado em 2013. ................................................................................................... 49

Figura 14 - Teoria de Effectuation ............................................................................ 52

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Principais players do setor de HPPC (mundo) ....................................... 20

Quadro 2 - Top 6 Importações X Exportações ......................................................... 22

Quadro 3 - Principais players do setor de HPPC (Brasil) ......................................... 23

Quadro 4 - Tipos de International New Ventures e suas respectivas fontes de

vantagens competitivas. ............................................................................................ 44

Quadro 5 - Cronologia da expansão internacional da Embelleze e da Aroma do

Campo ....................................................................................................................... 28

Quadro 6 - Dimensões e variáveis analisadas na pesquisa ..................................... 59

Quadro 7 - Linha do tempo do processo de internacionalização da BSH ................ 72

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SUMÁRIO

1. Introdução ..................................... ....................................................................... 11

1.1. Objetivo do Estudo ......................................................................................... 11

1.2. Relevância do Estudo ..................................................................................... 12

1.3. Delimitação do Estudo .................................................................................... 15

1.4. Organização do Estudo .................................................................................. 16

2. O Setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméti cos ................................... 18

2.1 Delimitação do setor ........................................................................................ 18

2.2 O mercado brasileiro no contexto internacional ............................................... 20

2.3 O mercado brasileiro de HPPC ........................................................................ 22

2.4 Políticas e Ações governamentais ................................................................... 25

2.5 Outros estudos sobre a internacionalização de empresas brasileiras de cosméticos ............................................................................................................. 27

3. Referencial Teórico ........................... ................................................................. 30

3.1. Teoria de Uppsala (1977) ............................................................................... 30

3.2 Teoria de Networks (1988) .............................................................................. 36

3.3 Empreendedorismo Internacional (2004) ......................................................... 38

3.4 Teoria de Uppsala Revisitada (2009 e 2013) ................................................... 45

3.5 Effectuation (2001) .......................................................................................... 50

4. Metodologia .................................... ..................................................................... 54

4.1. O problema de pesquisa ................................................................................. 54

4.2. Método da pesquisa ....................................................................................... 55

4.3. Procedimentos metodológicos ........................................................................ 57

4.4. Limitações do método ..................................................................................... 59

5. Estudo do caso Brazilian Secrets Hair .......... .................................................... 61

5.1 Histórico da empresa ....................................................................................... 61

5.2 Processo de internacionalização ..................................................................... 63

5.3 Desafios da Internacionalização ...................................................................... 66

5.4 A empresa hoje ................................................................................................ 68

5.5 O futuro da empresa ........................................................................................ 71

5.6 Linha do Tempo da Internacionalização da BSH ............................................. 71

6. Análise do caso Brazilian Secrets Hair ......... .................................................... 73

6.1 A Brazilian Secrets Hair na Perspectiva da Escola de Uppsala (1977 e 2009) 73

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6.2 A Brazilian Secrets Hair na Perspectiva da Teoria de Redes .......................... 76

6.3 A Brazilian Secrets Hair na Perspectiva do Empreendedorismo Internacional 78

6.4 A Brazilian Secrets Hair na Perspectiva da Lógica Effectuation ...................... 80

7. Conclusões e Recomendações ..................... ..................................................... 83

7.1 Recomendações para Pesquisas Futuras ....................................................... 86

Referências Bibliográficas ........................ ............................................................. 88

Referências de Sites .............................. ................................................................. 91

Anexos ............................................ ......................................................................... 93

ANEXO A – ROTEIRO DE ENTREVISTA ............................................................. 93

ANEXO B – IMAGENS DA ESTRUTURA FABRIL TERCEIRIZADA .................. 103

LOCALIZADA EM SÃO PAULO .......................................................................... 103

ANEXO C – IMAGENS DO CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO TERCEIRIZADO LOCALIZADO NO RIO DE JANEIRO .................................................................. 104

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1. Introdução

1.1. Objetivo do Estudo

O presente estudo tem como objetivo analisar todo o processo de

internacionalização e seus desdobramentos de uma empresa brasileira do setor de

Higiene pessoal, Perfumaria e Cosméticos (HPPC), a Brazilian Secrets Hair. Fundada

em 2007, a empresa iniciou sua expansão internacional em 2012 e, atualmente, já

está presente em mais de 15 países. Para essa análise, são utilizadas e discutidas

diversas teorias acerca da internacionalização de empresas, dando ênfase às teorias

da corrente comportamental – Teoria de Uppsala, Teoria de Networks,

Empreendedorismo internacional, Teoria de Uppsala revisitada e a Lógica Effectuation

– que buscam compreender mais as questões comportamentais da empresa que a

fazem se internacionalizar e menos os critérios econômicos para a tomada dessa

decisão.

Desse modo, determina-se como problema de pesquisa a análise do processo

de internacionalização da Brazilian Secrets Hair sob a luz da corrente teórica

mencionada, buscando entender o poder explanatório das teorias existentes nesse

caso específico. Estão incluídas nessa investigação os modos de entrada utilizados

para a expansão para o mercado estrangeiro, os critérios para a escolha dos

mercados-alvo e os agentes que influenciaram a expansão internacional da empresa.

Busca-se, portanto, responder as perguntas abaixo, desenvolvidas com o objetivo de

cobrir todas essas questões.

- Quais foram as principais motivações, excluídas as que incluem fatores econômicos,

para que a Brazilian Secrets Hair optasse por expandir-se internacionalmente?

- Como se deu a escolha dos territórios de expansão internacional da empresa do

setor de beleza?

- Qual modo de entrada utilizado pela Brazilian Secrets Hair para iniciar sua expansão

internacional? Esse modo foi alterado nas expansões subsequentes?

- Foi verificada alguma influência das redes de relacionamento no processo de

internacionalização da empresa?

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1.2. Relevância do Estudo

A relevância do presente estudo reside em alguns aspectos. O primeiro deles

diz respeito ao próprio conceito de beleza, que sofreu modificações ao longo do tempo

e introduziu a cosmetologia, com a mudança de hábitos e construção de novos no

mercado consumidor. Isso fez com que o segmento de Higiene Pessoal, Perfumaria

e Cosméticos (HPPC) tivesse um crescimento constante ao longo dos anos

mundialmente e no Brasil, atraindo a atenção do governo e de investidores para o

setor.

Segundo estudo prospectivo do setor de HPPC, publicado pela ABDI (Agência

Brasileira de Desenvolvimento Industrial) em 2009, a utilização dos primeiros produtos

cosméticos remonta dos rituais tribais, época em que os homens pintavam as

cavernas e o próprio corpo. Existem evidências de que foi no Egito antigo que os

produtos começaram a ser utilizados de forma semelhante ao uso atual: resíduos de

pedra aplicados no rosto como maquiagem, extrato vegetal de folhas como produto

capilar. A própria rainha Cleópatra costumava banhar-se com leite de cabra como

tratamento para manter a sua pele suave e macia, ritual também praticado pela

Imperatriz Pompéia, na época do Império Romano.

Dessa forma os produtos foram evoluindo, até que no século XX, a

cosmetologia passou da produção artesanal para a industrial, utilizando o

desenvolvimento tecnológico e o conhecimento científico acumulado para a produção

dos bens. Nesse momento, houve uma mudança em relação à função dos produtos

cosméticos: antes, sua utilidade consistia apenas numa questão decorativa de modo

a exaltar a beleza; no final do século XX, com o estudo aprimorado acerca das

diferentes peles, a cosmetologia adquiriu um conceito de tratamento e conservação

da juventude pelo máximo tempo possível, fidelizando os consumidores.

Essa mudança de conceito de beleza e aplicabilidade de produtos cosméticos

contribuiu para a evolução do mercado consumidor dessa indústria. Além disso, outros

fatores fizeram com que esse setor tivesse um amplo crescimento constante, segundo

a ABDI (2009): a participação da mulher no mercado de trabalho, a utilização de

tecnologia de ponta (mais produtividade e menos custos), lançamentos de novos

produtos direcionados às necessidades específicas do consumidor e o aumento da

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expectativa de vida da população (fazendo com que a conservação da juventude seja

algo mais almejado).

Conforme figura 1 abaixo, é possível perceber que o setor experimentou uma

desaceleração em seu crescimento no período de crise mundial e recentemente.

Ainda assim, é um setor que se encontra em expansão, favorecido por fatores como:

aumento da população mundial, aumento do poder de compra e do padrão de vida

em países emergentes, envelhecimento da população mundial aliada à crescente

tendência de busca por uma aparência mais jovem e ampliação de mercados, como

o masculino (BNDES, 2014).

Em relação ao desempenho do setor de HPPC no mercado doméstico

brasileiro, conforme será abordado com maior profundidade no próximo capítulo

desse estudo, essa indústria possui, desde pelo menos 1997, um desempenho

superior ao PIB brasileiro, com crescimento de 7% em 2014. A figura 2 a seguir

apresenta os dados consolidados desde 1997, incluindo também o desempenho da

indústria geral, que desde 2010 se mantém inferior ao do setor.

Figura 1 - Crescimento da Indústria HPPC mundial ano a ano

Fonte: Elaborada pela autora com dados do Euromonitor (2014)

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O governo brasileiro, inclusive, tem direcionado esforços para o setor,

fomentando ainda mais o seu crescimento. Dentre as 200 medidas do governo

divulgadas em 2013 e válidas até o fim do mandato da presidente Dilma Rouseff, parte

do plano “Brasil Maior” para impulsionar a economia de 19 setores da economia, duas

compreendem o setor de HPPC e muitas outras impactam diretamente essa indústria

(como a desoneração da folha de pagamento). O objetivo dessas medidas é fortalecer

o adensamento da cadeia produtiva e o investimento em pesquisa, desenvolvimento

e inovação (ABDI, 2013).

Uma dessas medidas é a recente renovação do projeto setorial BeautyCare

Brazil, uma parceria da ABIHPEC com a Apex-Brasil (Agência de Promoção à

Exportação), ocorrida no início de 2015, que beneficia empresas da indústria de HPPC

no que diz respeito à internacionalização (APEX-BRASIL, 2015).

Nesse sentido, estudar o caso da Brazilian Secrets Hair, empresa membro do

projeto desde a sua criação, é extremamente relevante por dois motivos.

Primeiramente porque ampliará o conhecimento acerca da influência de agentes

Figura 2 - Variação anual PIB X Indústria Geral X Setor

Fonte: ABIHPEC (2015)

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governamentais e não-governamentais na expansão para o mercado estrangeiro.

Além disso, a empresa internacionalizou-se com apenas cinco anos de existência e já

está presente em muitos países, fenômeno que tem ocorrido com muitas empresas

desse e de outros setores. Analisar o processo decisório dessa expansão tanto no

que diz respeito ao modo de entrada quanto à estratégia utilizada, baseando-se no

arcabouço teórico existente será de grande valia para compreender os novos padrões

de internacionalização, dar subsídios a empresas que desejem internacionalizar-se e

auxiliar na formulação e atualização de políticas públicas.

Em termos acadêmicos, apesar da internacionalização de empresas ser um

assunto amplamente estudado, o caso da Brazilian Secrets Hair apresenta uma

peculiaridade: trata-se de uma empresa que já nasceu internacional e nunca teve

como objetivo explorar o mercado doméstico. Diferentemente de outros estudos

realizados, como o da empresa Embelleze e a Aroma do Campo – que serão

apresentados no capítulo 2 –, a Brazilian Secrets Hair tem como alvo apenas o

mercado estrangeiro e utiliza o valor da marca Brasil para explorá-lo. Dessa forma, é

interessante analisar a forma como a empreendedora conduziu a criação de seu

negócio no território brasileiro e os motivos que a levaram a fazer essa escolha pelo

mundo como mercado-alvo.

1.3. Delimitação do Estudo

Para a análise do processo de internacionalização da Brazilian Secrets Hair,

empresa brasileira do setor de HPPC, foram utilizadas as teorias da chamada corrente

comportamental. Os pesquisadores dessa área abordam a temática da

internacionalização observando o caráter subjetivo do processo decisório das

empresas – em contraposição às teorias econômicas, que versam mais sobre as

questões relativas à otimização da parte financeira da empresa com a expansão

internacional.

O método utilizado para condução da pesquisa é o estudo de caso único,

técnica de pesquisa que possui aspectos positivos e negativos. É um método

interessante porque permite entender com profundidade todo o processo de

internacionalização, questões decisórias, as motivações e a lógica de pensamento de

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um empreendedor específico. Isso dá subsídios para tentar entender esse processo

em outras empresas do mesmo setor, porém a possibilidade de encontrar

peculiaridades faz com que os seus resultados não permitam generalizações.

1.4. Organização do Estudo

Essa dissertação está organizada da seguinte forma. Nesse primeiro capítulo,

são apresentados os principais objetivos do estudo, bem como a relevância dessa

pesquisa como contribuição acadêmica. Em seguida, é feita uma delimitação do

estudo acerca de sua aplicabilidade e generalização, terminando com a apresentação

da estrutura da pesquisa como um todo.

O segundo capítulo tem como objetivo apresentar o setor de Higiene Pessoal,

Perfumaria e Cosméticos (HPPC) sob diferentes óticas. Inicialmente, faz-se uma

delimitação dos produtos pertencentes a cada categoria da indústria. Em seguida,

verifica-se a posição do setor brasileiro no mundo, fornecendo dados como os

principais mercados de exportação e importação do país. É realizada também uma

análise do mercado doméstico brasileiro, dada a sua relevância e crescimento nos

últimos anos. São apresentadas as políticas públicas existentes que, direta ou

indiretamente, direcionam as atividades de internacionalização e recepção de

empresas internacionais no país. Por último, faz-se também uma revisão sobre outras

dissertações de mestrado publicadas sobre duas empresas brasileiras do mesmo

setor: a Embelleze e a Aromas do Campo.

O terceiro capítulo faz uma revisão teórica das teorias da corrente

comportamental. São apresentadas: a Teoria de Uppsala, a Teoria de Networks, a

Teoria do Empreendedorismo Internacional (e Born Globals), a Teoria de Uppsala

revisitada e a Lógica do Effectuation.

O quarto capítulo dedica-se a apresentar a metodologia utilizada para a

condução do estudo. É identificada, portanto, a questão de pesquisa, juntamente com

os seus desdobramentos – as perguntas secundárias. O método qualitativo e a técnica

de estudo de caso único são descritos, incluindo seus aspectos positivos e negativos,

sua aplicabilidade e críticas. Em seguida, os procedimentos metodológicos utilizados

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para a realização desse estudo são apontados, bem como as limitações do método

que devem ser consideradas.

O quinto capítulo traz o caso da Brazilian Secrets Hair em específico,

apresentando de forma cronológica toda a história da empresa, desde a sua fundação,

passando pelo seu processo de internacionalização e seus desafios, até os dias

atuais, incluindo o planejamento da organização para o futuro. Esse capítulo é seguido

pela sexta sessão, na qual é realizada a análise do caso com base no arcabouço

teórico estudado no terceiro capítulo. O caso é, portanto, esmiuçado segundo

princípios da Teoria de Uppsala original e revisitado, a Teoria de Redes, a Perspectiva

do Empreendedorismo Internacional e a Lógica de Effectuation.

No último capítulo são apresentadas as principais conclusões do estudo,

respondendo às perguntas de pesquisa formuladas e apresentadas nos Objetivos do

estudo e apontando o papel dos agentes governamentais e não-governamentais no

processo de internacionalização da empresa. Adicionalmente, são feitas

recomendações para estudos futuros.

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2. O Setor de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméti cos

2.1 Delimitação do setor

Segundo Resolução RDC de número 211 da Anvisa (Agência Nacional de

Vigilância Sanitária), publicada em julho de 2005, a indústria de Higiene Pessoal,

Perfumaria e Cosméticos (HPPC) compreende produtos que sejam:

“preparações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, de uso externo nas diversas partes do corpo humano, pele, sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes e membranas mucosas da cavidade oral, com o objetivo exclusivo ou principal de limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência e ou corrigir odores corporais e ou protegê-los ou mantê-los em bom estado.” (ANVISA; 2005; p.5)

Existe ainda uma segunda classificação, elaborada pelo BNDES em 2007 com

base na resolução da Anvisa, que segmenta o setor por atividades e por produtos.

Segmentando a indústria pelas suas atividades, teríamos: higiene pessoal (sabonetes,

produtos para higiene oral, desodorantes, absorventes higiênicos, produtos para

barbear, fraldas descartáveis, talcos, produtos para higiene capilar etc.), cosméticos

(produtos de coloração e tratamento de cabelos, fixadores e modeladores,

maquiagem, protetores solares, cremes e loções para pele, depilatórios etc.) e

perfumaria (perfumes e extratos, águas de colônias, produtos pós-barba etc.). Já

segmentando por produtos, existiriam quatro categorias: produtos para higiene,

cosméticos, perfumes e produtos para bebês (BNDES, 2007).

Apesar de existir essa classificação bem distintiva entre as categorias de

produto, segundo dados do portal Euromonitor de 2014, uma das tendências mundiais

em termos de produto é o lançamento de produtos multifuncionais. Isso significa que

itens que possuem uma clássica função higiênica poderiam absorver componentes de

cosméticos e tornarem-se híbridos, por exemplo. O lançamento dos nutricosméticos,

dentre outros produtos multifuncionais, vai além: ele mistura a questão cosmética com

propriedades de produtos de outros setores, como o de suplementação nutricional.

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A categoria de maior expressão mundial em termos de crescimento de vendas,

conforme pode ser observado na Figura 3 acima, extraída da publicação do portal

Euromonitor de 2014, é a de cuidados de pele, seguido pela de tratamentos para o

cabelo (categoria na qual se inserem os principais produtos da Brazilian Secrets Hair,

objeto de estudo), cosméticos de coloração, fragrâncias, cuidado oral, banho etc.

Segundo dados da Euromonitor, em 2014, o setor de HPPC alcançou um

faturamento mundial de 465 bilhões de dólares, atingindo um crescimento de 5% em

relação ao ano anterior, ainda que o mercado mundial estivesse em retração.

Observa-se que grande parte desse crescimento se deve ao aumento nas vendas de

produtos básicos nos países emergentes e uma maior penetração de produtos mais

sofisticados associada a uma mudança de rotina do próprio consumidor.

Isso está em consonância com o estudo publicado pela Bain & Company em

parceria com o BNDES (2014), que aponta que o crescimento do setor de HPPC no

mundo se deveria a quatro fatores: aumento da população mundial, aumento do poder

de compra e do padrão de vida em países emergentes, envelhecimento da população

Fonte: Euromonitor (2014, p.6)

Figura 3 - Performance do setor por categoria em 2013

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mundial aliada à crescente tendência de busca por uma aparência mais jovem e

ampliação de mercados, como o masculino.

Dentre as empresas com maior participação no mercado mundial de HPPC em

2012, segundo dados consolidados pelo BNDES, estão tanto empresas focadas no

mercado de massa (como a P&G e a Unilever) como as que se dedicam a produzir

produtos mais sofisticados, com algum tipo de diferenciação e inovação. O quadro 1

a seguir apresenta os principais players mundiais do setor.

2.2 O mercado brasileiro no contexto internacional

O mercado brasileiro, com um faturamento de 43,5 bilhões em 2014, chegou a

representar 9,4% do mercado mundial no ano, sendo classificado como terceiro maior

mercado consumidor da indústria de HPPC (figura 4). Essa posição é resultado de

uma balança comercial que, desde 2011, experimenta um déficit comercial por conta

da valorização do real perante o dólar. Isto é, as importações de produtos ultrapassam

as exportações, chegando a um déficit de US$272 milhões em 2014 (figura 5).

# Empresa % Participação 2012

1 P&G 11,4%

2 L'Oreal 9,6%

3 Unilever 8,1%

4 Colgate-Palmolive 3,8%

5 Beiersdorf AG 3,1%

MUNDO

Quadro 1 - Principais players do setor de HPPC (mundo)

Fonte: Elaborado pela autora com dados do BNDES (2012)

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Observando os dados de importações e exportações, percebe-se que a maior

parte das importações brasileiras provém da América do Norte, China e parte da

Europa, além da Argentina, que é o principal parceiro comercial do Brasil nesse setor.

Figura 4 - Mercado mundial de HPPC

Fonte: ABIHPEC (2015)

Figura 5 - Evolução na Balança Comercial brasileira de HPPC

Fonte: ABIHPEC (2015)

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Os produtos mais importados pelo país são os desodorantes vindo da Argentina

(devido a questões tributárias), os produtos de pele e maquiagem dos Estados Unidos

e os perfumes oriundos da França.

Em relação às exportações, nota-se que as empresas brasileiras têm como

mercado-alvo basicamente o território latino-americano. Os produtos com maior

destaque são os voltados para o tratamento capilar e higiene oral. A Argentina também

é o país de maior destaque nas exportações, respondendo por 14,5% das exportações

brasileiras em 2014 (ABIHPEC; 2015). Entretanto, a crise no território argentino fez

com que essa participação, que já chegou a 28,1% em 2011, fosse reduzida ao longo

dos anos. É possível comparar os parceiros de importação x exportação conforme o

quadro 2 a seguir.

2.3 O mercado brasileiro de HPPC

A indústria de HPPC no Brasil é altamente concentrada, com 20 das mais de

2500 empresas atuantes no setor representando 73% do faturamento da indústria,

que chegou a atingir 43,2 bilhões de faturamento “ex-factory” (líquido de imposto sobre

vendas) em 2014, conforme figura 6 a seguir. Em 2012, segundo dados publicados

pelo BNDES, os cinco maiores players, que correspondiam a cerca de 50% das

vendas no mercado doméstico, reuniam empresas quanto domésticas quanto

internacionais, conforme quadro 3.

# País % Participação 2014 # País % Participação 2014

1 Argentina 27,0% 1 Argentina 19,5%

2 Estados Unidos 12,8% 2 Chile 10,1%

3 França 11,1% 3 Venezuela 9,5%

4 México 9,9% 4 México 8,3%

5 China 8,7% 5 Colômbia 8,1%

6 Alemanha 4,3% 6 Peru 5,8%

IMPORTAÇÕES EXPORTAÇÕES

Quadro 2 - Top 6 Importações X Exportações

Fonte: Elaborado pela autora com dados da ABIHPEC (2015)

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Além da divisão entre empresas locais e globais, o estudo realizado pela Bain

& Company em parceria com o BNDES (2012) sugere ainda que os players desse

setor no Brasil estariam divididos em quatro grupos de atuação. O primeiro deles seria

o de empresas nacionais focadas em produtos de massa (buscando competição por

preço). O segundo incluiria as empresas nacionais focadas em produtos de massa

com alguma diferenciação (não concorre apenas por preço, mas também por outros

atributos). Além desses, haveria as empresas globais diversificadas e voltadas para

produtos de massa (atuam em todas as linhas de produtos, com amplo portfólio) e as

empresas globais focadas em cosméticos e produtos mais sofisticados (que podem

possuir também linhas voltadas para a massa e massa diferenciada).

Figura 6 - Evolução do faturamento “Ex-factory” do setor de HPPC brasileiro

Fonte: ABIHPEC (2015)

Quadro 3 - Principais players do setor de HPPC (Brasil)

Fonte: BNDES (2012)

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Em relação ao funcionamento desse setor no Brasil, sua cadeia de valor está

dividida em três etapas, conforme figura 7 a seguir. O principal fator que afeta essa

dinâmica é a incidência de impostos como o IPI (cuja alíquota chega a 42% no caso

do extrato de perfumes). Como esse imposto é calculado com base no menor preço

de venda do produto, pode ser vantajoso para as empresas a terceirização da primeira

parte da cadeia de valor.

Dentre os canais de distribuição, os mais utilizados pelas empresas brasileiras

do setor de HPPC, segundo informação divulgada pela ABIHPEC (2014), são: a

distribuição tradicional (atacado e lojas de varejo), venda direta (que inclui as vendas

domiciliares) e a franquia (lojas especializadas). Em 2012, as redes de varejo e as

vendas diretas respondiam por 36,9% e 26,5% das vendas, respectivamente,

representando mais de 60% da distribuição dos produtos do setor.

Por fim, é importante observar a relevância desse setor na economia brasileira:

a indústria de HPPC possui, desde pelo menos 1997, possui um desempenho superior

ao PIB brasileiro, com crescimento de 7% no último ano, o que mostra um poder de

sobrevivência desse setor mesmo com a economia do país em retração e justifica as

políticas do Estado que serão apresentadas na próxima sessão.

Segundo a ABIHPEC (2015), alguns fatores são responsáveis por essa boa

performance: o aumento da renda das classes D e E, que possibilita o acesso aos

produtos; o aumento da renda da classe C, que passou a consumir produtos mais

sofisticados; o contínuo aumento da participação da mulher no mercado de trabalho;

o lançamento constante de produtos; o aumento da expectativa de vida, em

consonância com o ideal de conservação da juventude; e a utilização da tecnologia

para redução de custos e melhoria dos preços finais para o consumidor (que torna o

produto competitivo em comparação com os produtos globais). Na figura 8 a seguir é

Figura 7 - Cadeia de valor para o setor de HPPC

Fonte: Elaborado pela autora com dados do BNDES (2012)

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possível observar que, de 2010 a 2014, o aumento dos preços dos produtos de HPPC

foi inferior ao aumento dos preços de outros produtos de modo geral, o que mostra

que o crescimento experimentado pelo setor estava baseado essencialmente no

aumento do volume de vendas.

2.4 Políticas e Ações governamentais

O Estado, com suas políticas de apoio e suporte tanto às empresas brasileiras

que têm como objetivo expandir-se internacionalmente quanto às estrangeiras que

desejam entrar no país, tem como um de seus objetivos declarados proteger as

organizações brasileiras. Isso porque, direcionando seus esforços para setores

estratégicos, o Estado garante que as empresas estarão em constante ganho de

competitividade (dado o aprendizado no mercado externo quando na

internacionalização e a necessidade de movimentação quando na entrada de

empresas estrangeiras no mercado doméstico).

Esse direcionamento estratégico, sob forma de projetos, é conduzido por

órgãos governamentais, que realizam diversos estudos de inteligência de mercado de

modo a direcionar as empresas brasileiras para setores específicos em mercados

considerados interessantes. É o caso da Apex-Brasil, agência governamental

dedicada a fomentar a exportação de produtos brasileiros, aproximar compradores e

Figura 8 - Comparativo de Índice de Preços ano a ano

Fonte: ABIHPEC (2015)

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atrair investimentos externos – além do papel de melhorar a imagem da marca “Brasil”

no exterior, valorizando seus produtos e serviços.

Percebe-se que o setor de HPPC é considerado estratégico pelo Estado, dada

a importância dada ao projeto setorial BeautyCare Brazil, realizado em parceria com

a ABIHPEC. Essa iniciativa, desenvolvida no ano 2000 e do qual o objeto de estudo

dessa pesquisa, a Brazilian Secrets Hair, faz parte, tem como foco principal fornecer

capacitação e preparação para empresas que buscam a entrada no mercado externo

e auxiliar as empresas que já exportam. De forma prática, o projeto coordena a

participação das empresas brasileiras em feiras internacionais, rodadas de negócios,

missões prospectivas, estudos de mercados consumidores, etc. Além disso, fornece

todo o apoio necessário no que diz respeito às questões regulatórias e técnicas

(especialmente regras sanitárias, que variam de país para país), disponibilizando

manuais às empresas participantes.

O projeto, que antes incluía apenas empresas de produtos acabados, foi

renovado no início de 2015 por mais dois anos e passou a incluir também as

organizações fabricantes de insumos interessadas no mercado internacional,

integrando diversos agentes da cadeia de produção a nível mundial.

Apesar de não haver publicação de dados oficiais pelo projeto BeautyCare

Brazil, em recente entrevista para o portal Brazil Beauty News (o maior veículo online

com notícias do setor), o atual presidente da ABIHPEC, João Carlos Basílio, deu

algumas informações sobre o sucesso do projeto. Segundo o executivo, as 58

empresas participantes somaram US$ 183,2 milhões em suas exportações em 2014,

representando um crescimento de 13% em relação a 2013. Esse valor representa 23%

de todos os produtos do setor de HPPC que foram vendidos para o exterior.

É interessante observar que, além do direcionamento dos setores mais

estratégicos, o país atua também no direcionamento da internacionalização das

empresas no que diz respeito ao mercado-alvo. No projeto setorial BeautyCare Brazil,

por exemplo, o objetivo é estabelecer relações comerciais com Angola, Estados

Unidos, Colômbia, Peru, Emirados Árabes Unidos, Portugal, México, Chile, Coréia do

Sul, Alemanha e França. Essa escolha de mercado-alvo é feita com base no potencial

de importação dos países, uma variável econômica; critério aplicado à parceria com o

mercado de Emirados Árabes Unidos, por exemplo, no qual o Brasil ainda tem uma

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pequena fatia de mercado no setor, mas o projeto está estimulando o seu incremento

(COMEX, 2014). Esse fomento é feito com base no desenvolvimento de manuais e

promoção de feiras específicas para atingir o objetivo da aproximação comercial.

Além desse projeto setorial, a ABIHPEC participa também de fóruns nacionais

e internacionais como a “voz” da indústria de HPPC, representando seus interesses.

O objetivo é lutar para a redução de barreiras comerciais, técnicas e regulatórias, bem

como a desoneração da cadeia produtiva por conta dos impostos cobrados para

importação de insumos e ingredientes não fabricados no Brasil. Dessa forma, é

possível que o setor brasileiro se mantenha competitivo nacionalmente e globalmente.

2.5 Outros estudos sobre a internacionalização de empresas brasileiras de

cosméticos

Buscando observar o poder explanatório de algumas das teorias apresentadas

acima em uma empresa da indústria de cosméticos, Nascimento (2014) estudou o

caso da Embelleze, fundada em 1969 em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. As

principais motivações da autora para trabalhar dentro desse setor foram o próprio

crescimento que esse vem atingindo dentro do país e no mundo, as diferenças de

participação de cada subsetor e a pequena quantidade de trabalhos acadêmicos

realizados sobre esse tema (NASCIMENTO, 2014).

Motivada pelos mesmos fatores e ainda pelo primeiro déficit comercial do setor

após 8 anos (importações superando as exportações), especialmente por conta dos

produtos chineses – o que exige das empresas brasileiras um esforço maior para

manterem-se competitivas – Gallindo (2012) estudou o caso da Aroma do Campo,

fundada em 1986 também em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro.

Observando a trajetória das duas empresas, é perceptível que elas seguiram

um caminho semelhante em relação ao seu processo de internacionalização, o que

pode ser observado no Quadro 5 a seguir, construído com informações provenientes

dos dois estudos. Ambas iniciaram sua operação no exterior por reconhecimento de

oportunidade em parceria com distribuidor em uma feira do setor e começaram por

Portugal. Nascimento (2014) afirma que apesar de Portugal ser um país com uma

distância psíquica reduzida do Brasil, esse não foi o fator principal para o ingresso da

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Embelleze nesse mercado, mas sim a oportunidade que surgiu. Conforme defendido

pela autora, isso está de acordo com a teoria de Upssala revisada, que inclui a questão

das networks. Foi a presença / ausência de relações de confiança que definiram a

velocidade da expansão internacional da empresa posteriormente na Europa e no

mercado de países andinos.

Quadro 4 - Cronologia da expansão internacional da Embelleze e da Aroma do Campo

Fonte: Elaborado pela autora com base nas entrevistas realizadas por Nascimento (2014) e Gallindo (2012)

É interessante observar também que, conforme exposto no Quadro 5, as duas

empresas tentaram entrar no mercado norte-americano, mais especificamente em

Miami, por conta do número elevado de latino-americanos que lá residem, o que

favoreceria a uma reduzida distância psíquica. Entretanto, nenhuma das duas obteve

êxito nessa expansão, enfrentando as mesmas dificuldades: adaptação do tamanho

do produto, complexidade das preferências do consumidor e ajustes na linguagem do

rótulo do produto.

1999Entrada em Portugal por oportunidade (contato com um distribuidor português em uma feira do setor)

1996Entrada em Portugal por oportunidade (contato com um distribuidor português em uma feira do setor)

De 1999 a 2005Entrada em outros países lusófonos: Angola, Moçambique, Cabo Verde

2000

Entrada nos EUA com investimento direto (Miami) - não foi bem sucedido por conta de dificuldades de adaptação ao mercado americano.

2005

Entrada no mercado Andino também por oportunidade (contato com um distribuidor venezuelano em uma feira)

2001/2002 / 2004

Entrada em Honduras por meio de uma empresa com venda direta - não foi bem sucedido por conta do desempenho do parceiro / volume de vendas.Entrada no mercado francês

2009Entrada nos Estados Unidos, em Miami, em que enfrentou dificuldades de adaptação.

2011

Entrada no mercado venezuelano por oportunidade (contato com um distribuidor em feira do setor) - Muito sucesso nesse mercado atribuído ao preço competitivo que o produto chega ao mercado final e a imagem do produto brasileiro

FUTURO

1. Mercado internacional é o "pulmão" da empresa2. Buscar auxílio externo mas manter a questão do reconhecimento da oportunidade internamente3. Abertura da segunda fábrica na Venezuela (custos mais baixos)

FUTURO

1. Mercado internacional corresponde a apenas 2% do faturamento - funciona como um radar de tendências2. Foco maior no mercado venezuelano, tornando-se um piloto para a expansão internacional3. Continuar com distribuidores locais dado o trauma de entrada nos EUA

CRONOLOGIA - EMBELLEZE CRONOLOGIA - AROMA DO CAMPO

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Outro fator relevante e que as duas empresas compartilham é o interesse e

desempenho no mercado venezuelano. A Embelleze, que entrou nesse país em 2005

por meio de um distribuidor local, rapidamente reconheceu a Venezuela como o seu

maior mercado no exterior. De modo análogo, a Aroma do Campo, que ingressou no

país em 2011, considera sua expansão bem-sucedida. Gallindo (2012) atribui o êxito

a dois fatores: o primeiro seria o preço competitivo que os produtos brasileiros chegam

ao mercado venezuelano e o segundo o atraso que esse país tem em termos de

novidades desse segmento (o produto desenvolvido no Brasil entra na Venezuela

como algo inovador). A pesquisadora considera também que a presença de uma

relação positiva com o parceiro local pode ser considerada um fator decisivo vinculado

ao sucesso.

Em relação aos desafios que as duas empresas enfrentam na expansão

internacional, Nascimento (2014) e Gallindo (2012) destacam a necessidade de

adaptação do produto brasileiro ao mercado local em termos de rótulo, linguagem,

tamanho, etc. Além disso, as pesquisadoras apontam também as diferentes

legislações para nomenclatura das mercadorias e as normas de higiene sanitária

específicas de cada país, o que dificulta a operacionalização das vendas no mercado

internacional.

A principal diferença entre a expansão internacional das duas empresas é a

importância e sentido dados às operações no exterior, que podem ser observados no

Quadro 2. Enquanto a Embelleze considera o mercado externo como o “pulmão” da

empresa, de onde ela tira forças para resistir às pressões do mercado interno

(NASCIMENTO, 2014); a Aroma do Campo utiliza suas operações internacionais mais

como um parâmetro para definição de novas tendências, o que é aproveitado no

desenvolvimento de produtos para o mercado interno. É importante ressaltar que, para

a segunda, a importação ainda é necessária para a obtenção de matéria-prima a um

custo inferior (GALLINDO, 2012).

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3. Referencial Teórico

Neste capítulo são apresentadas as principais proposições teóricas da

abordagem comportamental, que têm como propósito explicar o fenômeno da

internacionalização de empresas como dependentes das atitudes, percepções e do

comportamento dos executivos que irão tomar as decisões, ou seja, um processo no

qual intervêm fatores não econômicos.

Assim, descreve-se e comenta-se a Teoria de Uppsala (JOHANSON e

VAHLNE, 1977; JOHANSON e VAHLNE, 1990), seguida pela Teoria de Networks,

desenvolvida por Johanson e Mattson (1988). Sob a influência dessa última, são

apresentados os desdobramentos da Teoria de Uppsala, que deu origem a um novo

modelo revisitado (JOHANSON e VAHLNE, 2009; VAHLNE e JOHANSON, 2013).

Utilizando como base algumas das críticas emitidas por diferentes estudiosos à

proposição seminal de Uppsala, apresenta-se também a Teoria de

Empreendedorismo Internacional, proposta por Oviatt e McDougall (1994) e a

Perspectiva de Born Global (RENNIE, 1993). Por fim, a lógica de Effectuation

(SARASVATHY, 2001) é abordada juntamente com seu poder explanatório para os

novos negócios internacionais.

3.1. Teoria de Uppsala (1977)

O modelo de Johanson e Vahlne (1977) teve como base a observação empírica

do caso de empresas suecas que apresentavam um padrão no desenvolvimento de

suas operações internacionais, que acontecia em pequenos passos. Embora o estudo

não tenha representatividade estatística, dada a sua metodologia qualitativa,

pesquisas subsequentes confirmaram a sua consistência em outros mercados

(JOHANSON e VAHLNE, 1990). Os autores defendem que existiria uma ordem

natural para a entrada de uma empresa no país hospedeiro começando pela

exportação não regular, passando pela exportação por meio de um representante

independente e pelas subsidiárias de vendas, terminando com a alocação das

atividades de produção no mercado-alvo.

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Essa sequência não necessariamente é proveniente de uma análise estratégica

para a alocação de recursos em países diferentes. Para Johanson e Vahlne (1977),

ela acontece devido às mudanças na empresa e no próprio ambiente no qual ela está

inserida, o que a expõe a novas oportunidades e problemas. Além disso, o fato da

organização não ter um conhecimento profundo do mercado-alvo favoreceria a

entrada no país de modo mais incremental como forma de reduzir os riscos causados

pelas incertezas (JOHANSON e VAHLNE, 1977).

Johanson e Vahlne (1977) desenvolveram, portanto, um framework teórico

dinâmico para explicar as etapas para a internacionalização de empresas. Os autores

apresentam esse modelo separando os aspectos da situação, que seriam o

comprometimento e o conhecimento o mercado, dos aspectos da mudança, que

incluem as atividades de negócios em curso e as decisões de comprometimento.

Esses aspectos serão analisados e, em seguida, será apresentada também a

dinâmica de interação entre eles, conforme representação na figura 9 abaixo.

Considerando primeiramente os aspectos da situação, temos o

comprometimento do mercado, que pode ser definido pela quantidade de recursos e

a profundidade de seu comprometimento no país hospedeiro. Isto é, quanto maior a

quantidade de recursos específicos para o mercado-alvo, mais profundo será o

engajamento da empresa com o mercado-alvo. O mesmo acontece com a integração

desses recursos: quanto mais conectados estes estão às outras partes da empresa e

até mesmo à sua proposta de valor, maior o comprometimento da organização com o

mercado (JOHANSON e VAHLNE, 1977). Isso significa dizer que o nível de

Estado

Conhecimento do Mercado

Comprometimento com

o Mercado

Mudança

Decisões de Comprometimento

Atividades de negócio

em curso

Figura 9 - Representação do mecanismo básico de internacionalização

Fonte: Traduzido e adaptado de Johanson e Vahlne (1977, p. 37)

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comprometimento de uma empresa com o mercado é proporcional à magnitude do

investimento realizado nesse mercado.

O segundo aspecto da situação seria o conhecimento do mercado, que pode

ser objetivo ou experiencial. O primeiro é aquele que pode ser passado de indivíduo

para indivíduo e o segundo, o que depende de uma experiência pessoal para ser

acumulado. Apesar de ambos serem importantes, Johanson e Vahlne (1977)

defendem que o conhecimento experiencial é crítico para o reconhecimento de

oportunidades e problemas, dando subsídios ao empresário para a sua tomada de

decisão quanto à alocação de recursos no exterior, conforme mencionado

anteriormente. Segundo os autores, o fato da experiência de uma empresa estar

diretamente ligada ao seu país de atuação, a aplicação dessa experiência em outros

mercados pode ser mais complexa, exigindo tempo, recurso e comprometimento

(JOHANSON e VAHLNE, 1990).

Forsgreen (2002) – autor que se dedicou a analisar essa questão do

aprendizado e conhecimento organizacional definido no framework de Uppsala – por

outro lado, considera o conhecimento experiencial muito restrito às atividades em

curso da empresa e pouco proativa. Isso significa dizer que a organização daria

preferência a continuar atuando de forma semelhante de modo a aprofundar seu

conhecimento sobre um mercado específico, em vez de explorar novas oportunidades

de negócios. Ainda assim, Forsgreen (2002) corrobora a ideia de que o aprendizado

experiencial conduziria ao acúmulo de conhecimento tácito, que diminuiria o risco e

incerteza percebidos. A diferença em relação à teoria de Johanson e Vahlne (1990) é

a de que, ao contrário do que esses autores defendem, essa redução da incerteza

não conduziria a um comportamento mais incremental, já que conforme a empresa

tem mais conhecimento sobre o mercado, menor o receio de cometer erros ao acelerar

o processo de internacionalização (FORSGREEN, 2002). A figura 10, a seguir, ilustra

essa relação.

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Figura 10 – Representação da relação entre aprendizado experiencial e

comportamento incremental

Fonte: Adaptado de Forsgreen (2002; p.262)

Outra questão apontada por Forsgreen (2002), ainda no campo do

aprendizado, e que possui relevância na teoria de Johanson e Vahlne (1977) é a

importância do indivíduo no acúmulo do conhecimento de mercado. Os colaboradores

designados para as atividades no exterior serão aqueles que terão a experiência no

país e a capacidade de vislumbrar as oportunidades; a empresa, por outro lado, fica

dependente desses profissionais. A solução dada, embora não contorne o problema

em sua totalidade, seria a criação da memória coletiva, transmitida entre funcionários

por meio da cultura, rotina e procedimentos dentro da empresa (FORSGREEN, 2002).

É importante observar que apesar de serem duas dimensões distintas dos

aspectos da situação, o conhecimento do mercado e o comprometimento com o

mercado estão diretamente relacionados (JOHANSON e VAHLNE, 1977). É preciso

primeiro conhecer o mercado-alvo, para depois ser capaz de identificar os problemas

e oportunidades e, por último, avaliar as alternativas. O conhecimento é considerado

um recurso valioso para a empresa – especialmente se for o experiencial – o que leva

a um comprometimento maior com o mercado-alvo. Dependendo do impacto que essa

experiência tenha para o aprofundamento do conhecimento de mercado, “o caráter

cauteloso do processo de internacionalização se enfraquecerá depois de algum

tempo” (FORSGREEN, 2002, p. 263).

Passando para os aspectos da mudança, temos primeiramente as atividades

do negócio que estão em curso, definidos por Johanson e Vahlne (1977) como um

precursor da experiência da empresa. Quanto maior o espaçamento de tempo entre

as atividades em curso e as suas consequências, maior será o comprometimento,

dado que a empresa terá mais experiência tanto em relação às suas próprias

operações quanto de mercado. Entretanto, existem alternativas que não exigiriam

Aprendizado

experiencial + Conhecimento

tácito - Incerteza

percebida - Comportamento

incremental

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esse tempo, como a contratação de funcionários com experiência de mercado ou que

já tenha sido um prestador de serviços no outro mercado para a empresa, ou mesmo

a aquisição de outras organizações do mercado-alvo.

O segundo aspecto da mudança diz respeito às decisões de comprometimento,

isto é, a definição da alocação de recursos em operações internacionais (JOHANSON

e VAHLNE, 1977). Essas decisões começam com a avaliação das oportunidades e

problemas da empresa, o que está diretamente relacionado ao conhecimento do

mercado (dimensão do aspecto da situação) e às atividades do negócio em curso

(dimensão do aspecto da mudança), já que as soluções usualmente partirão da

empresa.

Conforme visto, apesar de possuírem dimensões diferentes, tanto os aspectos

da situação quanto os da mudança funcionam de modo dinâmico, influenciando uns

aos outros. Segundo Johanson e Vahlne (1977) a empresa trabalhará sempre para

diminuir a incerteza, ou seja, comprometendo-se apenas até o limiar do risco

considerado aceitável. Entretanto, conforme a organização penetra no mercado-alvo,

esse risco máximo tolerável começa a se expandir, levando a empresa a se

comprometer cada vez mais. O processo pode ser considerado um “ciclo causal”

(JOHANSON e VAHLNE, 1990), o que reforça a teoria dos autores de que o

comprometimento acontecerá em pequenos passos, de modo a equilibrar os riscos e

as condições do mercado.

Johanson e Valhne (1990), entretanto, apresentam duas situações nas quais o

comprometimento poderia acontecer em uma velocidade superior. A primeira tem

relação com o porte da empresa: se ela tem muitos recursos disponíveis, é possível

comprometer-se mais rapidamente e de forma mais profunda porque as implicações

desse comprometimento serão menores em sua operação. A segunda se refere à

experiência da organização em mercados com características similares, tendo

acumulado um conhecimento que poderia ser aplicado ao novo mercado com pouca

adaptação. Em ambos os casos, a teoria de que o comprometimento aconteceria em

pequenos passos poderia não se aplicar.

Forsgreen (2002) apresenta ainda duas outras possibilidades que levariam à

mudança no processo de internacionalização proposto pelo framework de Uppsala,

sendo ambas relacionadas à associação do conhecimento ao comprometimento com

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o mercado. A primeira delas se daria com uma possível aquisição de unidades de

negócios que já tenham experiência no mercado-alvo. Isso aceleraria o processo de

acúmulo de conhecimento e daria à empresa a possibilidade de acelerar sua

internacionalização com um “flying start” (FORSGREEN, 2002, p. 264), ou um começo

voador – dando a conotação de um início mais acelerado.

Outra forma de abreviar o acúmulo de conhecimento no processo de

internacionalização e contribuir para a sua aceleração seria entrar no país-alvo

imitando o comportamento de uma empresa concorrente que já tenha se

internacionalizado para o mesmo local e tenha obtido sucesso. Nesse caso, a

percepção de incerteza e risco seria reduzida sem que a própria empresa

necessitasse acumular experiência e ela se sentiria mais segura para se

internacionalizar de forma mais rápida (FORSGREEN, 2002).

Um fator importante abordado na teoria de Johanson e Vahlne (1990) e que

tem relação com a percepção do risco e incerteza é a questão da distância psíquica,

definida pelos autores como “diferenças em linguagem, cultura, sistemas políticos,

entre outros, que afetam o fluxo de informações entre a empresa e o mercado”

(JOHANSON e VAHLNE, 1990, p. 13). Eles defendem que quanto menor a distância

psíquica entre os países de origem e destino, menor será o risco e incerteza

percebidos e maior será a capacidade de vislumbrar oportunidades (o que contribuiria

para um comprometimento maior com o mercado). Na prática, Johanson e Vahlne

(1990) assumem que as empresas tenderiam a começar seu processo de

internacionalização em mercados mais próximos culturalmente e, com o acúmulo de

experiência, se arriscariam em mercados mais distantes.

Conforme observado, a teoria de Uppsala (1977) considera o conhecimento da

empresa como a principal variável para determinar o mecanismo e a velocidade de

sua internacionalização. Entretanto, pode-se destacar também os relacionamentos

com outras instituições no país hospedeiro como fator determinante (JOHANSON e

VAHLNE, 1990), o que será analisado na próxima sessão por meio da Teoria de

Networks (1988).

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36

3.2 Teoria de Networks (1988)

A Teoria de Networks, desenvolvida por Johanson e Mattson (1988), tem

origem na ideia de que os mercados industriais se comportam como redes de

empresas interdependentes. Existiria uma divisão de trabalho, com cada empresa

responsável por uma atividade do negócio, como produção, distribuição e uso,

gerando uma relação de dependência e a necessidade de coordenação entre elas.

Como é um processo linear e as empresas estão livres para escolherem seus

parceiros, relações de troca devem ser estimuladas, de modo a transformar a

dependência em interdependência (JOHANSON e MATTSON, 1988).

Entretanto, Johanson e Mattson (1988) acreditam que empresas que estão

iniciando em um novo mercado podem enfrentar dificuldades na construção dessa

relação por conta de seu timing de entrada, visto que as redes locais já estariam

estabelecidas e seguindo a lógica das relações de troca. A solução para isso seria,

então, criar um relacionamento com um novo parceiro extinguindo o relacionamento

antigo desse parceiro ou adicionando valor aos seus relacionamentos já existentes

por meio de atividades de marketing (JOHANSON e MATTSON, 1988). O que

caracterizará a relação de uma empresa com as outras no mercado, segundo os

autores, é o conceito de posição de mercado, que pode ser desmembrado em micro-

posição e macro-posição.

A micro-posição se refere ao relacionamento bilateral na rede, ou seja, entre a

empresa e a firma parceira, enquanto a macro-posição é uma perspectiva multilateral,

que considera o relacionamento da empresa com toda a rede ou pelo menos uma

parte dela. Por esse motivo, ambas são caracterizadas pelo papel e a importância que

uma organização representa para a outra (ou para o todo) e a força do relacionamento

entre partes. Johanson e Mattson (1988) acrescentam ainda, como fator importante

para a caracterização da macro-posição da empresa, a identidade das outras firmas

com as quais ela tem algum relacionamento direto ou indireto dentro da rede, já que

a posição da empresa pode ser afetada pela posição das outras com as quais ela se

relaciona.

A importância dessa posição se dá na determinação do grau de estruturação

de uma rede, que evidenciará o nível de interdependência entre as partes

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(JOHANSON e MATTSON, 1988). Em redes muito estruturadas, as empresas são

altamente interdependentes e as suas posições são bem definidas; em redes pouco

estruturadas, por outro lado, há baixa interdependência e as posições se misturam.

Segundo Johanson e Mattson (1988), identificar as posições individuais das empresas

em uma rede é relevante para planejar as atividades da organização de modo a

garantir a posição necessária para ter acesso aos recursos desejados.

Uma premissa básica do modelo de network é a de que a firma individualmente é dependente de recursos controlados por outra empresa. A organização terá acesso a esses recursos externos por meio de suas posições na rede. (JOHANSON e MATTSON, 1988, p. 308)

Utilizando essa ideia de posição dentro de mercados, a teoria de Networks

também pode ser utilizada também para explicar a expansão de uma empresa no

mercado internacional. Johanson e Mattson (1988) afirmam que a internacionalização

seria o aumento do número e da força dos relacionamentos de uma empresa com

outras unidades de negócios, porém em uma rede internacional. Por esse motivo, a

firma seria considerada mais internacionalizada (na questão da intensidade) quando

houvesse a internacionalização de sua produção, já que essa requer uma integração

mais intensa entre as atividades nacionais da empresa e das redes globais nas quais

ela se insere.

Dentre os autores que buscaram aplicar a teoria de Networks para a análise do

processo de internacionalização de empresas estão Chetty e Stangl (2010). As

pesquisadoras estudaram pequenas e médias empresas da indústria de software com

origem na Nova Zelândia que utilizavam seus relacionamentos de rede para inovar e

expandir-se para mercados internacionais. Como esse setor é intensivo em

conhecimento, possui um ritmo mais acelerado e dinâmico de inovação e tem poucos

recursos, a forma com a qual as empresas utilizam as redes no país hospedeiro pode

definir se a inovação e a internacionalização acontecerão de forma incremental ou

radical (CHETTY e STANGL, 2010).

Torkkeli et al (2012) também analisaram o processo de internacionalização de

pequenas e médias empresas, porém finlandesas, sob a perspectiva das teorias de

Networks. O objetivo dos autores era analisar as competências de rede das

organizações e a hostilidade do mercado-alvo de forma isolada e, além disso,

examinar se existe uma relação entre esses dois aspectos que influenciem a

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propensão de uma empresa a se internacionalizar e a sua performance no mercado

estrangeiro. Os resultados da pesquisa demonstraram que quanto mais competências

de rede as empresas tinham, maiores eram as suas chances de tornarem-se

internacionais e terem uma performance satisfatória. Quanto à hostilidade, percebeu-

se que não era um fator de tanta relevância, devido à presença de empresas “born

globals” no estudo (TORKKELI, PUUMALAINEN, et al., 2012) – assunto que será

analisado em sessão subsequente.

Analisando a teoria de Networks em comparação à de Uppsala, percebemos

que ambas possuem uma perspectiva semelhante acerca da “natureza cumulativa das

atividades da empresa” (JOHANSON e MATTSON, 1988, p. 318). Apesar disso, existe

uma diferença significativa entre elas: em Uppsala, conforme visto anteriormente, o

foco é dado às competências internas da empresa e a forma com a qual ela acumula

conhecimento e experiência; em Networks, por outro lado, existe também um olhar

para a relação da empresa com o mercado-alvo e da própria estrutura desse mercado.

3.3 Empreendedorismo Internacional (2004)

Expandindo a Teoria de Uppsala e agregando a Teoria das Networks, Oviatt e

McDougall (2004) introduzem uma nova perspectiva para o processo de

internacionalização de organizações, analisando as especificidades de empresas que

se internacionalizam praticamente de modo simultâneo à sua própria fundação, as

“international new ventures”. De acordo com Coviello, McDougall e Oviatt (2011), o

estudo sobre a internacionalização de empresas nessa perspectiva global tem origem

no estudo de Rennie (1993), que introduziu um novo conceito: as empresas “born

globals”. De acordo com as autoras, os termos international new ventures e born

globals chegam a ser, inclusive, usados de forma intercambiável.

Rennie (1993), com base em um estudo sobre empresas australianas, definiu

born globals como uma nova categoria de empresas que se diferenciaria das

organizações tradicionais no que se refere à entrada no mercado internacional. O

autor afirma que as empresas tradicionais seriam aquelas organizações consolidadas

que possuem atividade internacional, mas, ainda assim, têm o mercado doméstico

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como foco de sua atuação. As born globals – denominação trazida pelo autor –, por

outro lado, seriam pequenas e médias empresas que começaram a atuar no mercado

internacional pouco tempo depois de sua concepção (cerca de 2 anos), e que

priorizam essa atuação multinacional.

Segundo Rennie (1993) e Oviatt e McDougall (2004), alguns fatores fizeram

com que empresas recém-criadas pudessem expandir-se internacionalmente, sem a

necessidade do tempo de amadurecimento no mercado doméstico, como era o caso

das empresas multinacionais estudadas pela Escola de Uppsala. Esses fatores

incluiriam a inovação tecnológica, a possibilidade de aquisição de conhecimento do

mercado externo (em vez da construção ao longo do tempo) e a utilização de

estruturas alternativas de governança corporativa, e serão detalhados oportunamente.

Isso deixou um vácuo teórico que Rennie (1993) e Oviatt e McDougall (2004)

procuraram preencher, dado que suas observações indicavam que essas novas

empresas assumiriam outra dinâmica no que diz respeito aos seus processos de

internacionalização. Oviatt e McDougall (2004) referem-se à essa categoria de

empresas como international new ventures, definida como:

(...) uma organização de negócios que, desde a sua concepção, busca extrair vantagem competitiva significativa do uso de recursos e a venda de seus produtos em múltiplos países. (OVIATT e MCDOUGALL, 2004, p. 31)

Para Autio (2005), a proposição de Oviatt e McDougall (2004) é, na verdade,

uma complementação à teoria de Uppsala proposta por Johanson e Vahlne (1977).

Enquanto a primeira foca na dinâmica diferenciada que as international new ventures

assumem em termos de velocidade de internacionalização, em Uppsala enfatiza-se

como o processo de internacionalização acontece depois que o mesmo é iniciado

(AUTIO, 2005). Assim como Oviatt e McDougall (2004), Autio (2005) também enumera

as causas que favoreceram a rápida expansão internacional de empresas recém-

criadas, contrapondo-se à ideia de uma internacionalização mais gradual.

O primeiro fator que modificou o modelo de internacionalização dessas novas

empresas foi a própria inovação tecnológica, verificada com o passar do tempo.

Rennie (1993) já defendia que o aprimoramento da comunicação estava “afetando as

barreiras entre as firmas”. Oviatt e McDougall (2004) argumentam que, além disso,

houve uma redução no custo de transação internacional com a diminuição nos custos

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de comunicação e transporte possibilitados pelo desenvolvimento tecnológico. Como

as empresas recém-criadas também têm acesso a essas tecnologias, a coordenação

de operações internacionais – que antes era uma vantagem competitiva das

multinacionais – tornou-se também possível para essas novas empresas,

independentemente de seu tamanho inicial. Ligado a isso, há também o fenômeno da

globalização, que favoreceu a homogeneização dos mercados internacionais,

encurtando as distâncias psíquicas e “promovendo a integração entre mercados”

(AUTIO, 2005, p. 11).

O segundo fator tem relação com a possibilidade de adquirir conhecimento do

mercado externo por meio da contratação de profissionais com experiência nessa

área, dado que muitas empresas se internacionalizaram e tiveram equipes dedicadas

(AUTIO, 2005). Isso está em consonância com a Teoria de Uppsala, na qual Johanson

e Vahlne (1977) afirmam que a aquisição de unidades de negócios que já tenham

alguma experiência no mercado-alvo ou a contratação de profissionais com esse

conhecimento poderiam acelerar o processo de internacionalização da empresa. Por

último, as próprias empresas também se aprimoraram no sentido de conhecer e

utilizar estruturas de governança alternativas (AUTIO, 2005), o que será apresentado

adiante como uma das formas de internacionalizar ainda que com recursos e poder

reduzidos.

Com base nisso, Oviatt e McDougall (2004) defendem que essas mudanças no

ambiente internacional podem ser consideradas, portanto, responsáveis pelo fato de

as international new ventures seguirem uma dinâmica de internacionalização distinta

do preconizado pela teoria até então, pois essas organizações não seguem um

comportamento de expansão internacional de maneira incremental, especialmente as

empresas de tecnologia, intensivas em conhecimento ou de indústrias específicas.

Dispondo de recursos únicos e valiosos, que lhes garantam uma vantagem

competitiva sustentável, essas empresas são capazes de competir no cenário

internacional desde a sua concepção, sem a necessidade de já ter um negócio em

grande escala (OVIATT e MCDOUGALL, 2004).

Dentro de sua lógica, por sua vez, Rennie (1993) considera que as empresas

born globals são capazes de competir internacionalmente com as multinacionais não

apenas pela questão da escala, mas também por conta de uma mudança no próprio

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comportamento do consumidor. Segundo esse autor, existe uma nova classe de

consumidores emergente que demanda produtos mais customizados, o que favorece

o foco em mercados de nicho (que exigiria menos escala ainda).

A partir disso, Oviatt e McDougall (2004) formularam um framework teórico,

exposto na figura 11 abaixo, cujo objetivo era entender como essas novas empresas

se comportam no que diz respeito à internacionalização. Além disso, discutiram

também as diferenças desse comportamento em relação ao já observado nas

empresas multinacionais, dando ênfase à questão da vantagem competitiva

sustentável no mercado internacional. Oviatt e McDougall (2004) afirmam, na verdade,

que “alguns elementos descrevem as international new ventures como um tipo

específico de multinacionais” (OVIATT e MCDOUGALL, 2004, p. 33). Esses

elementos são introduzidos ordenadamente até que caracterizem as firmas que os

autores denominam de international new ventures sustentáveis.

Figura 11 – Modelo de International New Ventures

Fonte: Adaptado de Oviatt e McDougall (2004; p. 34)

O primeiro elemento diz respeito à internalização de transações, que ocorre

quando a própria empresa cria uma hierarquia interna da organização para com as

suas subsidiárias internacionais visando um custo de transação mais baixo (OVIATT

e MCDOUGALL, 2004). Segundo os autores, a internalização normalmente está

relacionada à obtenção de recursos no exterior por meio do investimento direto e é o

que muda a dinâmica do mercado regulado pelas transações econômicas para um

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sistema governado pelas próprias organizações (com base na hierarquia já

mencionada).

O segundo elemento introduzido por Oviatt e McDougall (2004) traz essa nova

dinâmica do mercado, apresentando estruturas alternativas de governança – o que

muda o mecanismo tradicional das organizações e incorpora as new ventures. Elas

são consideradas alternativas porque possuem uma forma diferente de lidar com os

recursos vitais para a organização, utilizando por exemplo o sistema de franchising ou

o licenciamento. Conforme defendido pelos autores, essas new ventures, por uma

questão de baixo acesso a recursos e poder reduzido, utilizam menos a internalização

e mais estruturas alternativas, incluindo a formação de networks, que possuem

diversas vantagens em consonância à teoria de Johanson e Mattson (1988),

apresentada anteriormente.

O terceiro elemento citado por Oviatt e McDougall (2004) é o que leva uma new

venture a ser caracterizada como international new venture, expandindo a empresa

do ambiente doméstico para o internacional. Trata-se das vantagens obtidas por meio

da operação no exterior, que no caso das international new ventures, em especial as

intensivas em conhecimento, representa uma questão de sobrevivência: como já são

donas do conhecimento (seu principal recurso), sua expansão tem baixo custo,

portanto tornar-se internacional desde a sua concepção pode desencorajar a entrada

de um potencial concorrente que já esteja presente no mercado internacional (OVIATT

e MCDOUGALL, 2004). Autio (2005) considera a internacionalização como uma fonte

de garantia para o conhecimento, dado que “janelas de oportunidades são curtas em

setores dinâmicos” (AUTIO, 2005, p. 16).

Apesar de os autores apresentarem os requisitos necessários para que uma

empresa seja considerada uma international new venture, eles afirmam que existe

ainda um quarto elemento essencial para que a organização seja sustentável no

mercado externo: a unicidade de seus recursos, que no caso das empresas intensivas

em conhecimento, é o próprio conhecimento. A utilização desse recurso, ainda que

permita uma expansão de baixo custo, também pode ser considerada uma ameaça,

dado que é facilmente copiado. Nesse sentido, Oviatt e McDougall (2004) enumeram

quatro soluções para fazer com que esse recurso seja único e garanta a

sustentabilidade da organização: a) investir em patentes, mas estar atento ao fato de

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que em muitos países elas não são respeitadas e que apenas o segredo da

informação pode prevenir contra as imitações; b) oferecer uma combinação do

conhecimento com outros atributos intangíveis, como a história da marca, sua cultura

organizacional, entre outros – o que não previne a imitação, mas torna as mesmas

incompletas de alguma forma; c) licenciar o conhecimento; d) aproveitar a utilização

das estruturas de network, comuns a essa categoria de empresas, para controlar o

risco de imitação.

Oviatt e McDougall (2004), com base nos quatro elementos apresentados,

distinguem, então, as diferentes manifestações das international new ventures, que

variam em dois eixos: a complexidade da operação internacional e o número de países

para os quais a empresa se internacionalizou. O primeiro distingue, por exemplo,

empresas que apenas coordenam a questão logística atuando como agente

exportador daquelas que efetivamente adicionam valor ao produto internacionalizado.

O segundo, por outro lado, considera apenas o “número de países em que quaisquer

atividades da cadeia de valor aconteçam” (OVIATT e MCDOUGALL, 2004, p. 37).

Utilizando esses eixos, os autores chegam a quatro perfis de empresas.

O quadro 4 a seguir diferencia esses quatro tipos de international new ventures

descritos pelos autores e as suas respectivas fontes de vantagem competitiva. O

primeiro tipo de international new ventures é a start-up de exportação ou importação,

organização focada em poucos países e na coordenação de poucas atividades da

cadeia de valor. Em seguida, há o comerciante multinacional, aquele que também

coordena poucas atividades, mas tem uma área geográfica de atuação maior. Esses

dois tipos de empresa são chamados pelos autores de criadores de novos mercados

internacionais, já que suas vantagens competitivas derivam de sua capacidade de

reconhecer vantagens de localização em outros países de acordo com os seus

recursos (OVIATT e MCDOUGALL, 2004). O terceiro tipo de empresa apontado pelos

autores é a start-up focada geograficamente, que apesar de ter uma área de atuação

restrita, coordena mais atividades da cadeia de valor. Por último, há a start-up global,

considerada por Oviatt e McDougall (2004) como a mais difícil de ser desenvolvida,

que combina uma ampla atuação geográfica com a coordenação de muitas atividades

da cadeia de valor, tornando sua operação bastante complexa e diferenciada.

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Esse último tipo de International New Venture é comumente comparado às

empresas “born global”, apresentadas por Rennie (1993), dado que ambos buscam

extrair vantagem competitiva da atuação em diferentes localizações. Entretanto,

Jones, Coviello e Tang (2011) diferenciam esses termos demonstrando que existe

uma diferença na questão do timing: enquanto as globals start-ups já são fundadas

com a intenção de atuarem rapidamente no mercado internacional, o termo born

global é uma classificação para as empresas que seguiram um caminho de

internacionalização acelerado (utilizado a posteriori).

Quadro 5 - Tipos de International New Ventures e suas respectivas fontes de

vantagens competitivas.

Número de países envolvidos

BAIXO ALTO

Coo

rden

ação

de

ativ

idad

es d

a ca

deia

de

valo

r P

OU

CA

S A

TIV

IDA

DE

S Start -up de exportação ou

importação (internalização de sistemas e logística servindo a poucos países) - habilidade de reconhecer e atuar em países com potencial competitivo. - conhecimento de mercados e fornecedores. - manutenção de networks.

Comerciante multinacional (internalização de sistemas e logística servindo a muitos países e em constante prospecção de novos mercados) - habilidade de reconhecer e atuar em países com potencial competitivo. - conhecimento de mercados e fornecedores. - manutenção de networks.

MU

ITA

S A

TIV

IDA

DE

S

Start -up focada geograficamente (conhece necessidades específicas de uma região por meio do uso de recursos estrangeiros) - coordenação de múltiplas atividades (desenvolvimento tecnológico, recursos humanos e produção, por exemplo)

Start -up global (não se limita geograficamente, buscando coordenar necessidades de múltiplas localidades) - coordenação de múltiplas atividades (desenvolvimento tecnológico, recursos humanos e produção, por exemplo) - alianças numerosas e complexas em múltiplos países.

Fonte: Adaptado de Oviatt e McDougall (2004; p.37)

Apesar de o framework teórico de Oviatt e McDougall (2004) ter desafiado as

teorias vigentes e introduzido novas ideias no contexto da internacionalização de

empresas (AUTIO, 2005), alguns autores fazem críticas e sugerem um aprimoramento

de suas pesquisas. Autio (2005) argumenta que, de forma similar à teoria de Uppsala,

Oviatt e McDougall (2004) estiveram muito focados em defender que as international

new ventures possuem uma dinâmica diferente de internacionalização em termos de

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velocidade de entrada em outros países; e pouco deram atenção às diferenças no

processo de internacionalização dentro das próprias empresas.

Dib (2008) é outro autor que aponta algumas fraquezas da perspectiva de Born

Globals com base em seu estudo qualitativo sobre três empresas brasileiras do setor

de software. O autor utilizou os dados para analisar a validade de possíveis variáveis

que diferenciariam as empresas born globals das demais – dado que essa

diferenciação aparentava imprecisão. Com base na premissa de que só se

enquadrariam na categoria de born global as empresas que se internacionalizaram

até 5 anos desde a sua concepção, Dib (2008) concluiu que a relevância das

operações internacionais no faturamento total da organização pode ser considerada

uma variável significativa na diferenciação.

Utilizando dados sobre o mercado espanhol de vinhos, Fernández e Díez-Val

(2015) abordam essa questão da velocidade de entrada associada à performance das

organizações em sua expansão internacional analisando uma população de 138

empresas do setor. As autoras utilizam como parâmetro o tempo e o escopo de

mercado para diferenciar a trajetória de entrada das empresas no mercado

estrangeiro, categorizando as estratégias dentro da teoria de Uppsala e a de Born

Globals. Na primeira, há a aquisição de conhecimento de modo gradual, de acordo

com o acúmulo de experiência no mercado. Isso faz com que, de acordo com o

resultado da pesquisa, a performance da empresa atinja um patamar máximo em um

determinado momento, a partir do qual a internacionalização reduzirá a performance.

No caso das Born Globals, ao contrário, apesar de ter uma queda na performance

inicial (dado que não possui conhecimento e experiência sobre o mercado), a

performance aumenta, e isso é justificado pelas autoras do trabalho, uma vez que são

empresas orientadas para o empreendedorismo e para o reconhecimento de

oportunidades (FERNÁNDEZ e DÍEZ-VIAL, 2015).

3.4 Teoria de Uppsala Revisitada (2009 e 2013)

Motivados pelas mudanças ambientais e no próprio comportamento das

organizações e pelas críticas e contribuições recebidas com base em estudos

empíricos sobre a relação entre as empresas, Johanson e Vahlne (2009) revisitaram

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a Teoria de Uppsala (1977) após 30 anos e sugeriram um novo modelo, em

complementação ao anterior, enfatizando a questão das networks. Em 2013, os

autores novamente revisitaram o modelo original, dessa vez contrapondo-o ao

paradigma eclético de Dunning (1979), que faz parte das teorias econômicas que

explicam a internacionalização de empresas.

Conforme abordado anteriormente, a teoria de Uppsala original evidenciava a

importância da experiência no mercado externo para a ampliação do aprendizado.

Johanson e Vahlne (2009) acrescentam que essa experiência não está restrita apenas

à questão da distância psíquica e ao conhecimento do mercado, mas também está

vinculada às relações construídas. Os autores defendem, portanto, que as networks

também podem levar ao acúmulo de conhecimento do mercado por meio das trocas

entre os parceiros comerciais, especialmente as relações específicas de cada

mercado (comprador e vendedor, por exemplo) – o que também levaria ao acúmulo

dos outros tipos de conhecimento.

Uma empresa que ingressa em um mercado externo sem esse tipo de relação

construída e sem estar posicionada em uma network é considerada por Johanson e

Vahlne (2009) uma “intrusa” e sofreria do que eles chamam de “liability of

outsidership”, expressão que denota a impossibilidade de entrar no mercado pela

dificuldade de estabelecer relações, de se tornar uma integrante da rede;

diferentemente da “liability of foreignness”, que seria uma dificuldade referente a

características específicas do país hospedeiro (JOHANSON e VAHLNE, 2009).

Esse conceito é explorado por Schweizer (2013) em seu estudo de caso da

empresa sueca Q-Sense, que desenvolve e comercializa instrumentos de pesquisa

com uso de tecnologia. O autor toma essa organização como referência para analisar

como pequenas e médias empresas tornam-se pertencentes a redes nos países

hospedeiros e superam a “liability of outsidership”, explorando a fundo esse conceito.

O primeiro passo seria o próprio reconhecimento da empresa de que é uma intrusa

na network, passando para a identificação das redes interessantes para a

internacionalização da organização (com base nos recursos disponíveis, verificar em

quais redes eles podem ser utilizados e são compatíveis). Por último, a empresa deve

focar em criar novas competências e fazer um rearranjo de seus recursos com o

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objetivo de se conectar às networks consideradas relevantes para a sua

internacionalização (SCHWEIZER, 2013).

Outro elemento considerado essencial por Johanson e Vahlne (2009) para a

internacionalização de empresas é a construção de confiança e comprometimento nas

relações no mercado alvo. No modelo original, esses dois atributos ligados à questão

mais emocional não eram considerados, mas percebeu-se que era uma dimensão

importante porque também favorece o acúmulo de conhecimento. Para os autores,

uma relação de confiança é definida pela previsibilidade do comportamento do

parceiro e é ela quem favorece os relacionamentos de longo prazo e promove a troca

de informações, isto é, o acúmulo de conhecimento.

Considerando os elementos expostos acima, Johanson e Vahlne (2009)

propõem uma nova conceituação para internacionalização, que passa a ser definida

como o resultado dos esforços de uma empresa para melhorar seu posicionamento

numa rede visando se proteger no mercado como um todo. Nesse sentido, o local

onde essas relações existem ganha maior importância no processo de

internacionalização – não apenas a distância psíquica, conforme o modelo original –

já que integrando uma rede é possível identificar e explorar novas oportunidades.

Esse aspecto relativo ao reconhecimento de oportunidades se reflete diretamente no

novo modelo formulado por Johanson e Vahlne (2009), conforme figura 12 a seguir.

Nos aspectos da situação foi somada a questão da oportunidade ao

conhecimento, dado que os autores consideram-na como o “elemento mais importante

do corpo do conhecimento que conduz o processo de internacionalização”

(JOHANSON e VAHLNE, 2009, p. 1424). Ainda dentro dos aspectos da situação,

Johanson e Vahlne (2009) substituíram a lacuna “comprometimento com o mercado”

por “posicionamento na network”. Essa mudança reflete diretamente a importância

dada pelos autores à questão da posição das empresas dentro das redes no processo

de internacionalização. Em 2013, Vahlne e Johanson defendem ainda que esses

aspectos da situação auxiliam a empresa no gerenciamento da incerteza (por conta

do conhecimento das estratégias, planos e competências).

O mesmo ocorreu nos aspectos da mudança, no qual o termo “relações” foi

adicionado a “decisões de comprometimento” para evidenciar que o comprometimento

sempre se dará dentro de uma network.

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Outra mudança observada nos aspectos da mudança foi o detalhamento do

que antes era chamado pelos autores de “atividades de negócio em curso”. No modelo

atualizado, Johanson e Vahlne (2009) defendem que essas atividades seriam o

aprendizado, a criação de oportunidades (por meio da produção de conhecimento) e

a construção de relações de confiança – essa última trazendo um lado mais subjetivo

ao modelo, dado que ocorre entre indivíduos dentro de uma relação.

Apesar de terem revisitado a teoria original de Uppsala e atualizado o

mecanismo de internacionalização conforme exposto, em 2013 os autores sugerem

novas alterações em contraponto à teoria econômica do paradigma eclético de

Dunning, conforme já mencionado anteriormente. Com base no que foi relatado

acerca das networks e com o suporte da teoria das competências dinâmicas, teoria

do empreendedorismo e teoria da gestão da incerteza, Vahlne e Johanson (2013)

trazem uma nova proposta teórica.

A principal questão abordada pelos autores é a da vantagem da internalização,

apresentada na teoria de Dunning. Vahlne e Johanson (2013) defendem que essa

vantagem (a empresa coordenar e controlar o uso de seus recursos por meio das

multinacionais) não é relevante para a performance de uma empresa em sua atuação

internacional porque também pode ocorrer por meio das networks. Ou seja, a

internalização não é um caminho obrigatório; apenas seria uma das opções

disponíveis na forma de operar os negócios internacionais (VAHLNE e JOHANSON,

2013).

Estado

Conhecimento e

oportunidades

Posicionamento na

network

Mudança

Decisões de

comprometimento nas

relações

Aprendizado, criação de

oportunidades e

construção de confiança

Figura 12 - Representação do mecanismo de internacionalização conforme Uppsala

revisitado em 2009.

Fonte: Traduzido e adaptado de Johanson e Vahlne (2009, p. 1424)

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Outro aspecto trazido por Vahlne e Johanson (2013) tem origem na teoria no

empreendedorismo e na gestão da incerteza. Os autores defendem que, no caso de

um cenário de baixa incerteza, o modelo de decisão racional, baseado em relações

de causa-efeito faz sentido. Entretanto, em momentos de alto nível de incerteza,

Vahlne e Johanson (2013) assumem que a teoria de Effectuation apresentada por

Sarasvathy (2001) – e que será apresentada na seção a seguir – pode ser

referenciada.

Os autores fazem, então, uma nova adaptação na teoria de Uppsala, que pode

ser verificada na figura 13. Nos aspectos da situação, os pontos modificados foram: a

inclusão das competências dinâmicas (em substituição ao conhecimento e às

oportunidades, dado que o conhecimento é um requisito para a gestão dos recursos),

a inclusão das competências operacionais da empresa e o desmembramento da

posição na network em posição intra-organizacional (dentro da empresa, com suas

subsidiárias) e inter-organizacional (entre as empresas das redes).

Nos aspectos da mudança, Vahlne e Johanson (2013) detalham as decisões

de comprometimento como as mudanças necessárias na coordenação das redes para

o sucesso da empresa. Isso inclui a realocação de recursos, o que reafirma o

dinamismo do modelo teórico dos autores.

Estado

Competências

Dinâmicas /

Competências

organizacionais

Posição na Network

(intra e inter

organizacional)

Mudança

Decisões de Comprometimento

(mudança na

coordenação)

Processos inter-

organizacionais

(aprendizado, criação e

confiança)

Figura 13 - Representação do mecanismo de internacionalização conforme

Uppsala revisitado em 2013.

Fonte: Traduzido e adaptado de Vahlne e Johanson (2013, p. 200)

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50

3.5 Effectuation (2001)

Buscando entender todo o processo de internacionalização das international

new ventures, o que inclui tanto a perspectiva do ambiente externo, quanto da firma e

dos indivíduos envolvidos, Andersson (2011) associa as born globals à teoria de

Effectuation, introduzida por Sarasvathy (2001) e que se oporia à teoria de Causation.

Trata-se de duas diferentes dinâmicas de tomada de decisão, mas são pertinentes à

medida que Andersson (2011) considera determinante reconhecer também o

comportamento e as habilidades empreendedoras dos empresários para

compreender o processo de internacionalização por completo – questão que as

discussões teóricas anteriores ignoravam.

Essas teorias são definidas e distinguidas por Sarasvathy (2001) como:

O processo de causation toma um efeito particular como dado e foca na seleção dos meios para criar esse efeito. O processo de effectuation toma um conjunto de meios como dado e foca na seleção dos possíveis efeitos que podem ser criados a partir desse conjunto. (SARASVATHY, 2001, p. 245)

A autora ressalta que apesar de serem formas distintas de tomada de decisões,

com uma sequência lógica diferente, o objetivo final é normalmente o mesmo: criar

uma empresa de sucesso que traga lucro ao empreendedor, por exemplo. Segundo

Sarasvathy (2001), em causation, a tomada de decisão segue a seguinte ordem: há

um objetivo final definido, em seguida são enumerados os meios, depois limita-se

esses meios com base em fatores ambientais e, por último, utiliza-se um critério para

a seleção do melhor meio para atingir aquele determinado objetivo. Em effectuation,

por outro lado, Sarasvathy (2001) defende que os empreendedores começam o

processo decisório com três categorias de meios: suas características pessoais, seu

conhecimento e o seu ciclo social, sua network. Em seguida, determinam os efeitos

possíveis da utilização desses meios e, por fim, selecionam o melhor efeito possível

para chegar perto do objetivo aspiracional inicial. Portanto, enquanto a lógica de

causation é dependente do efeito, ou seja, o objetivo final; a lógica de effectuation

depende principalmente do agente.

O ponto de contato entre a teoria de Sarasvathy (2001) e a associação ao

empreendedorismo internacional realizada por Andersson (2011) consiste

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exatamente nessa dependência do agente para atingir o efeito desejado. Conforme

mencionado anteriormente, Oviatt e McDougall (2004) não consideram as

características individuais do empreendedor na internacionalização, especialmente a

proatividade desses indivíduos e a sua capacidade de vislumbrar oportunidades que

não faziam parte de um futuro previsível. Entretanto, por meio de estudos sobre

empresas born globals, é possível perceber que o processo de internacionalização é

altamente influenciado pelas experiências dos indivíduos envolvidos.

É o caso da empresa Módulo, analisado por Matta e Mello (2014). Trata-se de

uma organização brasileira de software que iniciou a exploração do mercado

internacional por meio da capacidade e mentalidade empreendedora de um dos

sócios de vislumbrar oportunidades no exterior. Em um determinado momento da

trajetória da empresa, o empresário percebeu, com base em sua experiência e

vivência internacional, que existia um potencial maior para o segmento de software

em outras partes do mundo, como nos Estados Unidos. Segundo os autores, desde o

início “a Módulo já incorporava um perfil de empresa globalizada, enxergando o

mundo como seu mercado consumidor” (MATTA e MELLO, 2014, p. 90). Além disso,

a empresa conseguiu se adaptar e manter-se competitiva de acordo com as

necessidades de cada mercado que explorou, num comportamento chamado pelos

autores de “camaleônico”, o que está em consonância com a teoria de Effectuation.

Essa teoria é, segundo Sarasvathy (2001) aplicada conforme quatro princípios.

O primeiro deles é a determinação do quanto de perda seria aceitável para atingir

determinado objetivo, sempre com uma visão de longo prazo (em vez de aplicar um

modelo de maximização de resultados). Em seguida, tem-se a ênfase nas alianças

estratégicas que podem ser construídas junto aos stakeholders para reduzir as

incertezas (em vez do foco na análise da concorrência). O terceiro princípio é ter como

recurso a capacidade de explorar os imprevistos que podem ocorrer (em vez de

apenas utilizar o conhecimento pré-existente como recurso). Por último, tem-se o foco

nos aspectos controláveis de um futuro que não é previsível e nem precisa ser, dado

que alguns aspectos estão controlados (em vez de focar apenas naquilo que é

previsível no futuro).

Com base nos princípios definidos acima, a figura 14 representa a teoria de

effectuation defendida por Sarasvathy (2001). O processo se inicia com o conjunto de

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meios do efetuador (o empreendedor), que por meio de sua imaginação e

considerando tanto a perda quanto o risco aceitáveis chega a um conjunto de efeitos

possíveis. Esses resultados são afetados não apenas pelas características do

tomador de decisão, mas também pelo próprio ambiente e os imprevistos que ele

proporciona. Assim, aliando-se a parceiros estratégicos e utilizando a lógica do

controle daquilo que é previsível, o efetuador atinge os seus objetivos aspiracionais.

Tem-se, portanto, no framework de Sarasvathy (2001), as quatro perspectivas

integradas: a economia, a indústria, a empresa e o indivíduo empreendedor.

Figura 14 - Teoria de Effectuation

Fonte: Adaptado de Sarasvathy (2001; p.253)

Percebendo, por meio de trabalhos como o de Andersson (2011), que existe

uma interseção entre a teoria de empreendedorismo internacional e a de effectuation,

Sarasvathy et al (2014) retoma sua teoria reorganizando os princípios e

acrescentando um quinto elemento, intitulado pelos autores de “pilot-in-the-plane”.

Esse princípio representa a missão do indivíduo, como um piloto de avião, de construir

e comandar o futuro, em vez de apenas seguir tendências.

Além disso, integrando a dinâmica das networks da teoria de Uppsala e a teoria

de empreendedorismo internacional à Effectuation, Sarasvathy et al (2014) apresenta

o modelo de “Effectual Uppsala”. Trata-se de uma visão integrada entre Uppsala

revisitado e Effectuation, na qual as incertezas provocadas pela globalização e

avanços tecnológicos são superadas pelos empreendedores por meio de uma melhor

gestão de seus recursos e relações (networks) – o que está de acordo com uma lógica

effectual de tomada de decisão.

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Tomando como referência tanto a teoria de Effectuation quanto Uppsala

revisitado, Galkina e Chetty (2012) realizaram uma pesquisa com seis empresas

finlandesas de perfis distintos que se internacionalizaram de modo a entender como

pequenas e médias empresas expandem-se internacionalmente e contornam as

situações de incerteza comuns no ambiente de empreendedorismo. O que as autoras

verificaram é que a lógica de Effectuation pode complementar a teoria de Uppsala,

especialmente quando se trata de pequenas e médias empresas. Isso porque a

análise dos casos demonstrou que a formação das networks não ocorreu

“racionalmente”, com objetivos iniciais pré-definidos; mas sim seguindo uma lógica

orientada pelos recursos (GALKINA e CHETTY, 2012). As empresas finlandesas

entraram em mercados nos quais o comprometimento com as networks aumentariam

seus recursos (inclusive aprendizado) para a internacionalização.

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4. Metodologia

Neste capítulo, é apresentado o método utilizado para a coleta, seleção e

análise dos dados, incluindo suas principais características e limitações. Inicialmente,

é exposto o problema de pesquisa, bem como os seus possíveis desdobramentos e

questões secundárias. Em seguida, são enumeradas as características, vantagens e

desvantagens do método escolhido para a realização desse trabalho de dissertação.

Também são apresentados os procedimentos metodológicos de coleta, seleção e

análise das informações, assim como as limitações inerentes do método escolhido.

4.1. O problema de pesquisa

O presente estudo tem como principal problema de pesquisa analisar e

compreender o processo de internacionalização da empresa brasileira Brazilian

Secrets Hair. Nesse sentido, é importante estudar como a entrada no mercado

estrangeiro se deu, os critérios para seleção dos países e os fatores e atores que

tiveram alguma influência em sua expansão internacional.

Com base nisso e na revisão bibliográfica realizada previamente, é possível

desdobrar a análise em algumas questões de pesquisa:

- Quais foram as principais motivações, excluindo as econômicas, para que a Brazilian

Secrets Hair optasse por expandir-se internacionalmente?

- Como se deu a escolha dos territórios de expansão internacional da empresa do

setor de beleza?

- Qual modo de entrada utilizado pela Brazilian Secrets Hair para iniciar sua expansão

internacional? Esse modo foi alterado nas expansões subsequentes?

- Foi verificada alguma influência das redes de relacionamento no processo de

internacionalização da empresa?

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4.2. Método da pesquisa

Para a condução da pesquisa sobre a Brazilian Secrets Hair, buscando

identificar os fatores que influenciaram em seu processo de internacionalização, o

método de pesquisa disponível mais adequado foi o qualitativo, com base no estudo

de caso único.

A abordagem qualitativa, segundo Flick (2004), ganhou importância no âmbito

da pesquisa com o surgimento de situações novas e das próprias mudanças sociais

que não permitiram a utilização de métodos dedutivos, mais presentes na abordagem

quantitativa. Partir de um modelo estruturado e padronizado, cujo objetivo era analisar

a frequência e distribuição dos fenômenos na população, limitava o surgimento de

“conceitos sensibilizantes” (FLICK, 2004, p. 18).

Essa questão da padronização é, inclusive, muito explorada por Günther

(2006), contrapondo os dois tipos de método de pesquisa (qualitativo e quantitativo).

De acordo com esse autor, a abordagem qualitativa se adapta ao objeto de estudo,

sendo mais flexível e considerando todas as variáveis possíveis; enquanto a

abordagem quantitativa utiliza um método padronizado único, controlando e

escolhendo as variáveis que influenciariam o fenômeno. Com base na afirmação de

Flick (2004) de que o objeto em estudo deve ser o fator determinante para a escolha

do método, a análise de fatores (inclusive de ordem social) que influenciaram no

processo de internacionalização de uma empresa específica à luz de teorias

existentes se adequa à abordagem qualitativa.

Uma característica desse método que pode ser considerada tanto vantajosa

quanto desvantajosa é a possível subjetividade do pesquisador e dos indivíduos que

fazem parte do objeto de estudo. Segundo Flick (2004), a percepção do pesquisador

em uma entrevista – o que inclui as informações verbais fornecidas pelo entrevistado

bem como suas expressões não-verbais – pode representar uma vantagem dado que

é também levada em consideração na pesquisa e torna-se parte de sua interpretação.

Gil (1989), por outro lado, afirma que o aspecto pessoal e a influência das opiniões

particulares do entrevistador podem, de certa forma, induzir o indivíduo entrevistado

a fornecer respostas falsas ou enviesadas, limitando o resultado da pesquisa.

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Flick (2004) afirma que uma forma de contornar essa influência consiste no

pesquisador adotar o “princípio da abertura”, isto é, estar receptivo às novas

informações que podem ser fornecidas pelo indivíduo entrevistado. Ainda que tenha

sido realizado um levantamento bibliográfico prévio acerca do tema e haja uma crença

do pesquisador em relação ao problema de pesquisa, essa deve ser suspensa no

momento de coleta de dados para que seja conduzida com uma maior imparcialidade.

Outra característica da abordagem qualitativa exposta por Günther (2006) é a

sua contextualidade como fio condutor de análise. O fenômeno é estudado em seu

próprio ambiente, o que aumenta a sua complexidade por conta da falta de controle

das variáveis interferentes. Entretanto, segundo o autor, analisar o problema em seu

contexto natural auxilia na promoção de uma interação constante e dinâmica entre o

pesquisador e o objeto de estudo.

Essa interação, que não se restringe apenas ao momento da entrevista, é

também tratada por Flick (2004), rompendo com o modelo linear de pesquisa (mais

quantitativo) e introduzindo a circularidade no processo. O autor considera essa uma

vantagem do método qualitativo, dado que o pesquisador é forçado a “refletir

permanentemente sobre todo o processo de pesquisa e sobre etapas específicas à

luz das outras etapas” (FLICK, 2004, p. 60). De forma prática, é possível que o

entrevistador, por exemplo, retome perguntas que não ficaram esclarecidas pelos

indivíduos entrevistados.

Sobre a técnica a ser utilizada dentro da abordagem qualitativa, Yin (1989)

defende que a escolha depende de três fatores: o tipo de problema da pesquisa, o

controle que o pesquisador tem sobre os eventos ligados ao fenômeno e o foco em

um fenômeno histórico ou contemporâneo (atual). No caso dessa dissertação, a

técnica escolhida foi o estudo de caso único, que segundo o autor, é mais utilizada

quando as perguntas de pesquisa são do tipo “como” e “por que”, e são focadas em

situações contemporâneas – o que está de acordo com a pesquisa sobre a Brazilian

Secrets Hair.

Yin (1989) considera o estudo de caso uma técnica apropriada para entender

decisões, processos, fatores influenciadores e resultados relacionados a um

determinado fenômeno, dada a visão holística e ao mesmo tempo específica dessa

técnica. O mesmo é mencionado por Gil (1989): o autor considera esse como o

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delineamento de pesquisa mais indicado quando se deseja explorar profundamente

um ou poucos objetos. Apesar disso, existem vantagens e desvantagens associadas

ao uso do estudo de caso.

Gil (1989) apresenta a impossibilidade de generalização dos resultados como

uma das principais desvantagens do uso dessa técnica. Segundo esse autor, a

escolha de um ou poucos objetos de estudo para serem analisados pode não ser

representativa de um universo para o qual o resultado da pesquisa poderia ser

expandido e aplicado. Alves-Masotti (2006) vai além nessa crítica, afirmando que os

pesquisadores tendem a analisar o caso como algo isolado, um fenômeno à parte,

deixando de contribuir para a construção do conhecimento em geral, já que não situam

o caso no discurso acadêmico.

Outra crítica elaborada pela mesma autora é em relação à escolha do objeto

de pesquisa para a realização do estudo. Muitas vezes, por conta de uma facilidade

no acesso à coleta de dados, o fenômeno estudado não necessariamente é

interessante para o contexto da produção de conhecimento (ALVES-MASOTTI, 2006).

Gil (1989) contrapõe essa argumentação afirmando que estudar casos extremos ou

marginais pode também ser relevante, dado que os primeiros apresentam as balizas

da situação (os limites de oscilação das variáveis) e os segundos podem ser

trabalhados por meio do contraste em relação às situações típicas.

Uma vantagem associada ao uso do estudo de caso é a possibilidade de, com

base em um ou poucos objetos de pesquisa (caso único e casos múltiplos,

respectivamente), ser capaz de verificar muitas das dimensões da situação de forma

profunda (VENTURA, 2007). No caso dessa dissertação, a escolha pela utilização de

um caso único se deu para “confirmar, desafiar ou expandir a teoria existente” (YIN,

1988, p. 47) que, nessa conjuntura, é a do empreendedorismo internacional e as

chamadas empresas born globals.

4.3. Procedimentos metodológicos

Para a realização desse trabalho de dissertação, inicialmente foi realizado um

levantamento bibliográfico acerca de teorias existentes cujo foco fosse o estudo do

processo de internacionalização de empresas. Conforme defendido por Gil (1989),

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esta pesquisa busca auxiliar na compreensão do fenômeno por completo, mas pode

ficar comprometida se for embasada em informações pouco fundamentadas. Dessa

forma, fez-se necessário analisar cada corrente teórica, contrapondo opiniões e

propostas de diversos autores e apresentando as principais críticas a elas

direcionadas. Ventura (2007) também enfatiza a importância da revisão bibliográfica

dado que ela permite ao pesquisador conhecer outros casos semelhantes e dar corpo

à sua argumentação. Por esse motivo, também foram incluídos no capítulo em que o

setor é descrito outros estudos sobre empresas brasileiras de cosméticos que

iniciaram sua internacionalização.

Seguindo esse levantamento bibliográfico, foi realizada uma pesquisa

documental, também com base em dados secundários. Essa pesquisa difere da

primeira pelo fato de trabalhar com “materiais que não receberam ainda um tratamento

analítico” (GIL, 1989, p. 73). É o caso das informações referentes ao setor de HPPC

(Higiene pessoal, Perfumaria e Cosméticos), encontradas nos portais e anuários das

principais associações, como a Abihpec; em publicações do setor; e notícias

publicadas em outros veículos, no Brasil e no exterior, sobre o setor e sobre a própria

empresa. As informações relativas ao setor foram encontradas nos portais e anuários

da Abihpec, Apex-Brasil, Anvisa, entre outros.

Para a coleta de dados primários, foram realizadas entrevistas em

profundidade com a fundadora e atual CEO da empresa, Andréa Vieira e com a

principal executiva e assistente da diretora, Karen Felismino. Essas entrevistas foram

baseadas em um roteiro semi-estruturado, que se difere do padronizado pela forma

como o pesquisador conduz a entrevista. O entrevistador direciona perguntas abertas

ao indivíduo entrevistado e deixa que ele discorra livremente sobre o assunto,

inclusive sendo possível que este responda a outros questionamentos que ainda

estariam por vir – nesse caso, a sequência lógica da entrevista fica a cargo do

entrevistador (FLICK, 2004).

Esse roteiro, disponível no Anexo A, foi baseado no levantamento bibliográfico

e nas evidências coletadas inicialmente. As questões foram concebidas de acordo

com as variáveis identificadas nos dados secundários, de modo a cobrir o problema

de pesquisa, considerando as dimensões e variáveis do objeto do estudo, conforme

exposto no Quadro 6 a seguir:

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Quadro 6 - Dimensões e variáveis analisadas na pesquisa

Dimensão Principais Variáveis Aporte Teórico Internacionalização Gradual

- Modo de entrada no mercado internacional - Primeiro mercado no exterior - Sequência da expansão internacional - Importância dos indivíduos - Ritmo da expansão internacional

JOHANSON E VAHLNE (1977) JOHANSON E VAHLNE (1977) FORSGREEN (2002)

Networks

- Relacionamentos anteriores (sociais e/ou profissionais) - Existência de parcerias no exterior (formais e/ou informais) - Papel das redes na expansão internacional da empresa - Posição da empresa dentro das redes

JOHANSON E MATTSON (1988) JOHANSON E VAHLNE (2009)

Empreendedorismo Internacional

- Processo de criação da empresa; - Processo de busca pelo mercado internacional; - Escolha do mercado no exterior; - Tempo decorrido entre a criação da empresa e a efetivação do 1º negócio no exterior; - Estrutura de governança adotada - Ênfase dada ao mercado doméstico / internacional

OVIATT E MCDOUGALL (2004) COVIELLO, OVIATT E MCDOUGALL (2011) RENNIE (1993) AUTIO (2005) DIB (2008)

Effectuation

- Perfil do empreendedor - Lógica de tomada de decisão - Visão de futuro do empreendedor - Posicionamento frente ao risco x oportunidade - Adaptabilidade da empresa a cada mercado

ANDERSSON, S. (2011) GALKINA E CHETTY (2012) SARASVATHY (2001)

Fonte: Elaborado pela autora com base em proposições teóricas abordadas no Capítulo 2 desta dissertação.

4.4. Limitações do método

De acordo com Alves-Masotti (2006), “algumas características podem estar

dentro do sistema, nos limites do caso, e outras fora, e nem sempre é fácil para o

pesquisador dizer onde termina o indivíduo e começa o contexto” (ALVES-MASOTTI,

2006, p. 641). Compreender as limitações do método e do caso é, portanto, de

profunda importância para o delineamento da análise da pesquisa.

Conforme mencionado anteriormente, a principal limitação do método de

pesquisa qualitativa utilizando a técnica do estudo de caso único é a dificuldade de

generalização dos resultados obtidos, limitando a produção do conhecimento

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acadêmico (ALVES-MASOTTI, 2006). Entretanto, esse tipo de estudo pode dar

origem a hipóteses ou mesmo a novos problemas de pesquisa que podem ser

testados e analisados em um estudo subsequente, favorecendo o acúmulo de

conhecimento (YIN, 1988).

Para Bonoma (1985), a escolha do método mais adequado sempre exigirá um

trade-off do pesquisador por conta do problema de pesquisa escolhido para ser

trabalhado. Segundo esse autor, o ideal é escolher uma técnica que concilie a

integridade dos dados obtidos (o que costuma ser maior no caso de experimentos

controlados em laboratórios, por exemplo) e a possibilidade de generalização e

replicação dos resultados. O estudo de caso, em questão nesse estudo, pode

propiciar algum tipo de generalização futura, mas possui baixa integridade dos dados

(BONOMA, 1985).

Essa integridade é desfavorecida por conta da dependência da interpretação

do pesquisador para a análise da pesquisa. Bonoma (1985) defende que o estudo de

caso, como técnica parte da pesquisa qualitativa, não se baseia em uma “realidade

objetiva” (BONOMA, 1985, p. 204). Dessa forma, faz-se necessário buscar a

triangulação das informações, conciliando e organizando todos os dados obtidos.

Esse tipo de sistematização, que envolve diversas fontes secundárias e primárias, é

defendido por Eisendhart (1989) como uma forma de tornar as informações mais

substanciais e fundamentadas.

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5. Estudo do caso Brazilian Secrets Hair

5.1 Histórico da empresa

O negócio que deu origem à Brazilian Secrets Hair como existe atualmente foi

fundado em 2004 por Andréa Vieira. Inicialmente sob a marca Inovagine, a empresa

foi uma das pioneiras a comercializar sabonetes para higienização da região íntima e

para lavagem de lingeries, mas se viu encurralada em um ambiente interno com

muitas barreiras no Brasil. Tratava-se de um nicho ainda pouco explorado no

mercado, com poucos produtos agregados e a empresa não tinha força comercial para

entrar em grandes pontos de venda à época, especialmente porque possuía poucos

sku’s (stock keeping unit). Quando os laboratórios farmacêuticos consolidados

entraram no mercado, acabaram por conquistar sua maior fatia, forçando Andréa a

vender a fórmula de seus produtos para uma empresa concorrente e buscar um novo

empreendimento.

Com base nessa primeira tentativa no mercado doméstico, a empreendedora

decidiu que o mercado internacional seria o seu novo alvo no próximo negócio e que

continuaria trabalhando o segmento de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos,

com um novo produto a ser lançado. Andréa, que é graduada em Economia pela

Universidade Cândido Mendes e possui MBA em Marketing pela ESMA (Ecole

Supérieure des Métiers Artistiques) na França, já tinha uma experiência profissional

de oito anos trabalhando em empresas do mesmo segmento e utilizou seu

conhecimento acumulado / experiência fora do país para criar a nova marca. De

acordo com o depoimento da empreendedora:

Eu tive experiência tanto em indústrias quanto em empresas de terceirização para poder ter uma base de fábrica; saber o que é possível, o que é viável, porque você pode imaginar muita coisa dentro de um conceito de design e marketing e na hora que você vai colocar na prática de fabricação em si, não é viável.

Andréa se refere especialmente à experiência que teve trabalhando na L’Oréal

na área de fabricação; e prestando serviços como funcionária terceirizada para uma

empresa italiana que buscava ingressar no mercado brasileiro. Nessa oportunidade,

a empresária era responsável pela implantação de um produto inovador na área de

colocação capilar no país.

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Apoiada por essa experiência e em sua vivência internacional, Andréa

percebeu o quanto a “marca Brasil” no segmento de produtos voltados para higiene e

tratamento capilar era reconhecida no exterior. A partir dessa constatação, ela então

fundou a Brazilian Secrets Hair em 2010, explorando inicialmente o mercado francês.

Karen Felismino, supervisora administrativa da empresa e braço direito de Andréa,

que estava presente desde o início do desenvolvimento dos novos produtos, identifica:

A queratina brasileira estava em alta, então a empresa aproveitou que os consumidores estrangeiros valorizam essa questão de produtos naturais, brasileiros, e a saúde, e criamos um produto de alisamento capilar que não utilizava formol em sua fórmula.

Desde o início, esse benefício do chamado efeito made in é uma questão

importante para Andréa, o qual, de acordo com a empreendedora, eleva a percepção

de qualidade do produto: estabelecer uma relação de país de origem com o Brasil,

ainda que trabalhando o mercado internacional. Para ela, estar associado ao Brasil

no segmento de cosméticos é uma vantagem já que o país se tornou uma referência

nesse sentido. Além disso, como muitas marcas nacionais mais consolidadas no

mercado doméstico ainda não ingressaram no internacional ou são pouco conhecidas,

a Brazilian Secrets Hair passa a negociar “de igual para igual” nesses novos

mercados, usufruindo da reputação do produto brasileiro.

Outro ponto considerado de extrema importância para Andréa é a questão da

inovação na criação dos produtos associados à marca. A empresária percebeu que a

área de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos nas outras empresas ainda

era muito fraca – dando margem para que ela obtivesse sucesso criando um produto

realmente inovador no segmento. A Brazilian Secrets Hair, então, apesar de não ser

a produtora direta dos itens comercializados nem ter uma estrutura fabril própria, teve

como uma de suas primeiras contratações a de um químico especializado em

produtos capilares. Sua função seria desenvolver produtos exclusivos e que

associassem as características já mencionadas: uso de ingredientes que remetam ao

Brasil como país de origem e a inovação.

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5.2 Processo de internacionalização

Conforme exposto anteriormente, Andréa Vieira, desde a venda da fórmula dos

seus produtos voltados para higiene íntima feminina para outra companhia, já

desejava extrapolar o mercado doméstico. A ideia de trabalhar com exportação veio

tanto da busca por novos desafios profissionais quanto do receio de depender de

apenas um mercado. A empreendedora defende:

Eu já tinha trabalhado para muitas outras empresas, então eu queria buscar um desafio que fosse maior, entende? Uma coisa diferente. E ao invés de depender de um único mercado, eu tenho o mundo.

Por esse motivo, Andréa começou fazendo um trabalho “de trás para frente”,

como ela mesma afirmou. Primeiramente, a empresária analisou quais países tinham

o maior rigor regulatório, conheceu todas as obrigatoriedades envolvidas nesses

locais, e desenvolveu seu produto desde o princípio buscando respeitar as limitações

de componentes das fórmulas. Segundo ela, existem matérias-primas utilizadas em

produtos brasileiros que não são aceitos em determinados países e, se ela realmente

quisesse ter o mundo como mercado-alvo, seria necessário criar um produto apto a

ser comercializado no maior número de locais possível.

Outra atitude da empreendedora na época da fundação da Brazilian Secrets

Hair foi a de se afiliar à ABIHPEC e integrar o projeto setorial BeautyCare Brazil, em

parceria com a APEX. Segundo Karen, a partir do momento em que a empresa iniciou

seu trabalho com foco no mercado externo, a filiação se tornou essencial; e devido

aos seus investimentos em inovação, desde o princípio a companhia foi categorizada

como “empresa de primeira linha” na classificação da ABIHPEC. Para integrar o

projeto setorial, as empresas são auditadas e recebem uma nota de acordo com

critérios não publicados.

Por conta dessa associação e do interesse em prospectar o mercado

internacional, a Brazilian Secrets Hair começou a participar de feiras como as

organizadas pela Cosmoprof no mundo, específicas dos setores de perfumaria e

cosmética, penteados, beleza e embalagens. A Cosmoprof organiza e divulga seus

eventos com o intuito de promover relações comerciais entre marcas do setor,

fornecedores e outros interessados.

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Como filiada ao projeto setorial BeautyCare Brazil, a empresa pôde participar

não apenas dessas feiras, como também de roadshows e rodadas de negócios

internacionais. Essa participação era viabilizada financeiramente pela Abihpec, que

financiava grande parte dos custos envolvidos e era responsável por organizar a

missão empresarial junto a entidades como consulados, embaixadas, entre outros.

Andréa considera que esse apoio foi fundamental para a internacionalização da

organização, visto que disponibilizou tanto os recursos financeiros quanto o

conhecimento de mercado e o mapeamento de oportunidades.

A empreendedora sabia que os contatos só surgiriam a partir do momento em

que a marca se tornasse conhecida no mercado internacional; então participar desses

eventos funcionaria inicialmente como uma vitrine para a empresa em termos de

construção de marca. Além disso, são nessas feiras que as principais tendências

mundiais do setor são apresentadas, de forma que mesmo que a Brazilian Secrets

Hair estivesse apenas estudando mercados potenciais, sua participação seria

essencial para manter-se no ideal de inovação mencionado anteriormente.

Ao passo que os primeiros mercados observados foram os asiáticos, como o

Japão e a Coréia – onde há um rigor regulatório maior; o primeiro local para onde

Andréa exportou seu produto foi a França, em 2010. Nesse país, inicialmente a

empresa utilizou um intermediário para facilitar a entrada, uma trading. De acordo com

Karen, esse modo de entrada se alterou com a introdução da marca nos países

seguintes. Á época, a empresa preferiu explorar diretamente esse mercado e

contratou uma representante exclusiva para atuar no país, peça que foi decisiva para

a expansão da marca para demais territórios francofones posteriormente. Karen

defende a estratégia:

Com o tempo, a empresa percebeu que era capaz de negociar diretamente, eliminando o custo da trading. Não houve atrito, mas para iniciar a exportação de alguma forma, acharam melhor utilizar a trading por falta de experiência. Assim que a empresa se especializou, começou a exportar diretamente.

O ritmo após a entrada na França seguiu intenso, a ponto de Andréa não

conseguir dizer com precisão qual foi o país seguinte. Isso porque após a prospecção

dos mercados, a entrada em cada país tem uma velocidade distinta, dadas as

limitações regulatórias e as próprias dificuldades que podem ser encontradas em cada

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mercado. Segundo a empreendedora, prospectar vários mercados ao mesmo tempo

é o que fez a sua estratégia de exportação dar certo, ganhando em volume e

conhecimento de marca, sem perder o “timing”. Karen detalha que, após a

participação da Brazilian Secrets Hair nos eventos, a equipe faz um follow-up com

todos os contatos interessantes que foram realizados durante as feiras – daí a

simultaneidade das negociações.

Em relação ao risco dessa estratégia de entrada acelerada, Andréa defende

que por mais que a velocidade seja realmente superior, existe um estudo de

viabilidade em cada mercado, após ter um distribuidor interessado para a venda dos

seus produtos em um novo mercado, no qual são consideradas variáveis como:

características da população, estrutura exigida internamente e a própria cultura do

país. Ela cita o exemplo do Peru, onde após estudos feitos internamente identificou-

se que muitas mulheres já possuem cabelos lisos e que mesmo que houvesse alguma

demanda, essa não seria suficiente para compensar os custos de investimento

naquele mercado.

Outro exemplo trazido por Andréa é o dos Estados Unidos, país em que a

Brazilian Secrets Hair fundou um escritório local com foco em vendas em Los Angeles

em 2011, mas optou por não efetuar vendas e explorar esse mercado por conta de

diferenças estruturais. Segundo a empresária, existe demanda e aceitação do produto

na região, mas há uma exigência em termos de organização interna dos distribuidores

que a empresa não conseguiria suportar por conta dos custos embutidos – de forma

que a comercialização do produto para o cliente final tornar-se-ia inviável.

Nos anos seguintes, a empresa entrou também em outros países francofones,

além da França – utilizando o mesmo agente exclusivo que trabalhava no

desenvolvimento do mercado francês –, em outras regiões da Europa e no norte da

África. Em 2012, com a participação nas feiras realizadas em Dubai, penetrou na

Arábia Saudita, dando sequência à entrada em diversos países árabes nos anos

seguintes, suportadas por um grande grupo distribuidor, Nazih.

Foi durante a expansão para o Oriente Médio, inclusive, que a empresa

percebeu a importância da variável cultural na entrada em um novo mercado, podendo

limitar a entrada do produto no país ou exigir alterações em fórmulas e embalagens,

conforme será detalhado no próximo tópico. A expansão para essa região se deu por

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meio da participação da empresa na feira Beautyworld Middle East, que acontece

anualmente em Dubai. A empresária identificou que mercados como Estados Unidos

e Europa estavam menos aquecidos e que essa feira havia crescido 1000% em

número de participantes em quatro anos, portanto valia a participação da Brazilian

Secrets Hair. Além disso, havia uma questão de “centralidade” da cidade, conforme

defendido por Andréa:

Dubai virou moda, que virou essa coisa toda de tendência, mas ali virou também uma plataforma de re-exportação, porque os Emirados Árabes são um país pequeno, não tem um mercadão. Então todos os países que estão a volta, tipo a Arábia Saudita, o Kuait, tudo isso, que tem um poder de compra muito alto, é que vai dali né. Então ali é outra feira que nos trouxe um posicionamento interessante no contexto internacional.

A partir de 2014, a empresa deu sequência ao fechamento de contratos para

venda na América Latina e Europa nórdica e oriental, incluindo a Polônia – país onde

a Brazilian Secrets Hair concretizou sua entrada em 2015.

5.3 Desafios da Internacionalização

O primeiro desafio enfrentado pela Brazilian Secrets Hair para

internacionalização do seu produto é anterior à exportação: diz respeito à questão das

embalagens. Andréa afirma que o setor de embalagens no Brasil ainda é muito fraco,

com pouco investimento e controle de qualidade. Por conta disso, o cenário ideal seria

a importação de embalagens do exterior, como da China, que além de possuírem

qualidade superior e serem esteticamente mais trabalhadas, são também mais

baratas (chega a ter uma redução de 20% no custo, já contando com as taxas de

importação). Entretanto, essa transação pode cair no que a empreendedora chama

de “canal vermelho” por algum problema de regulação, greves na receita federal

brasileira, ou outro problema de logística e a empresa correr o risco de ficar sem

produto para ser comercializado.

Isso faz com que a empresa se sinta “presa” à compra de embalagens no

mercado doméstico, o que é um limitante para a inovação dessa parte do produto. Ao

mesmo tempo, ter uma fábrica de embalagens como as grandes empresas fazem não

é uma estratégia sustentável de acordo com a empreendedora, visto que a Brazilian

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Secrets Hair não trabalha com um grande volume de venda de produtos. Dessa forma,

esse é um fator limitante com o qual a empresa convive, apesar de se sentir

prejudicada no mercado externo.

Ainda sobre a questão das embalagens, existem restrições também por parte

do país comprador por conta da variável cultural. É possível que, considerando as

características da população e os costumes locais, haja a exigência de alterações em

embalagens, por exemplo, ou até mesmo o ingresso da empresa seja proibido.

Referindo-se aos desafios enfrentados pela empresa na época da sua entrada no

mercado do Oriente Médio em 2012, Andréa reflete:

Conhecer e saber respeitar a cultura é fundamental para atingir o sucesso, havendo um reflexo desde a confecção da embalagem, na qual o corpo da modelo não pode estar exposto, até o sexo do profissional que será designado para realizar o trabalho fotográfico ou de design.

Outra dificuldade encontrada pela empresa é o ambiente regulatório – tanto o

brasileiro quanto o do mercado-alvo. Dependendo do país, Andréa afirma que

somente a fase de registro pode levar até oito meses para ser finalizada. Além disso,

quando há alguma exigência na questão de embalagens, esse prazo pode ser

estendido por conta dos problemas relativos à compra das embalagens internamente,

dificultando a sua adaptação para cada mercado, conforme mencionado

anteriormente.

Em relação ao entrave doméstico, a empresária enfatiza a questão das linhas

de crédito disponíveis. Como se trata de um negócio com foco no retorno a longo

prazo, a empresa precisa manter seu fluxo de caixa forte, mas não consegue isso por

meio do governo porque as linhas oferecidas não possuem valores significativos. A

solução foi, então, negociar com os distribuidores prazos de entrega e maior desconto

na venda – assim, eles fazem a parte do investimento em Marketing nos mercados-

alvo (dado que a empresa não possui capital suficiente para isso em seu momento

atual). Outro entrave doméstico é em relação ao uso de insumos amazônicos, um dos

mais valorizados no mercado estrangeiro e utilizados pela Brazilian Secrets Hair. De

acordo com Andréa, o acesso a esses materiais está cada vez mais limitado no país.

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5.4 A empresa hoje

Conforme mencionado anteriormente, por conta do ritmo acelerado de entrada

em diferentes países e as negociações que aconteceram concomitantemente, Andréa

não sabe identificar com precisão a ordem de ingresso nos mercados. Segundo a

empresária, atualmente a empresa está presente em 21 mercados, divididos por

continentes. Na América, a empresa está no Panamá e no Brasil (apenas com venda

sob demanda, sem explorar o mercado ativamente). Na África, seus produtos são

comercializados no Marrocos, Argélia, Tunísia e Egito. Na Europa, primeiro continente

para o qual a Brazilian Secrets Hair exportou, encontra-se na França, Itália, Portugal,

Bélgica, Polônia, Romênia, Malta e Suiça. Na Ásia, por conta da atuação do grupo

Nazih, está presente em Dubai, Arábia Saudita, Kuwait, Bahrain, Qatar e Jordânia.

Por fim, marca também sua participação na Oceania, com a exportação para o

mercado australiano.

Para manter a presença em todos esses países, a empresa possui uma

estrutura própria localizada no Centro do Rio de Janeiro, com aproximadamente 8

funcionários. Como a Brazilian Secrets Hair só trabalha o mercado externo por

enquanto, todos os colaboradores estão diretamente envolvidos no processo de

internacionalização da marca. Andréa é a pessoa a frente de todas as negociações

da empresa relativas à essa expansão internacional, mas a empresária conta também

com o suporte de um funcionário com foco comercial. Além disso, a companhia possui

uma representante comercial exclusiva residindo na França e responsável pela parte

comercial no país e em todos os outros locais francofones atendidos pela empresa,

conforme detalhado anteriormente.

O grupo Nazih também tem grande importância na expansão internacional da

empresa. Atuando com exclusividade na exploração do mercado do Oriente Médio, o

distribuidor já possui um centro de treinamento em parceria com a Brazilian Secrets

Hair em Dubai e recentemente veio ao Brasil com interesse em explorar também o

mercado doméstico. Segundo notícia da Agência de Notícias Brasil-Árabe (ANBA)

publicada em 2014, o grupo pretende investir mais de US$ 5 milhões no país, abrindo

um centro de distribuição em São Paulo para a Brazilian Secrets Hair e outras marcas

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internacionais de beleza e aproveitar os insumos provenientes da Amazônia para

desenvolver novos produtos com foco em exportação.

Esse investimento seria realizado em parceria com a Brazilian Secrets Hair,

que apesar de focar em inovação e criação de novos produtos, não possui uma

estrutura fabril própria nem para a produção dos alisadores capilares nem para a

confecção das embalagens de seus produtos. Segundo Andréa, a Brazilian Secrets

Hair atua totalmente como uma empresa prestadora de serviços na parte de Marketing

e Comercial. A empresária defende:

O meu negócio é Marketing e Comercial, não é fabricar. (..) Eu não preciso ter fábrica, muitas pessoas têm fábrica e não têm um centro de pesquisa dentro da fábrica. A fórmula e todo o projeto é interno nosso, então o que é terceirizado é terceirizado de forma exclusiva.

Andréa se refere às duas fábricas que atendem a Brazilian Secrets Hair sob a

orientação da própria empresária, que ficam em São Paulo. A criação dos projetos

internos é realizada diretamente por Andréa, que monitora constantemente as

tendências do mercado mundial e define os conceitos a serem trabalhados, e pelo

químico, responsável pelo desenvolvimento das fórmulas em si. O objetivo é a criação

de produtos capilares da forma mais natural possível, utilizando a biodiversidade

brasileira, especialmente aquela que tem origem na Amazônia. O foco da

empreendedora ainda é a elaboração de produtos associados ao alisamento capilar,

mas Andréa se mantém aberta em relação a isso observando as dinâmicas do

mercado, podendo vir a desenvolver novos produtos para tratamento dos cabelos,

além do alisamento.

Além dessa estrutura fabril terceirizada (imagens no Anexo B), a Brazilian

Secrets Hair contratou como terceiro um centro de distribuição no Rio de Janeiro

(imagens no Anexo C). Focando na parte comercial, a empresa possui o escritório de

vendas no Brasil, onde Andréa atua; na França, local em que existe uma agente

exclusiva; e em Dubai, onde o direito de comercialização da marca é do grupo Nazih.

Sobre os produtos atualmente comercializados pela empresa, Andréa afirma

que se trata de uma forma diferente de trabalho, baseada no conceito de branding. As

quatro marcas – BSH Pro Keratin, X-Liso, Hair.Toxx e Argila Amazônia – são

trabalhadas individualmente pela equipe. Ainda que alguns desses produtos possuam

praticamente a mesma fórmula, a criação de marcas diferentes é uma estratégia

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adotada pela empresária para ampliar a participação da empresa nos mercados

estrangeiros:

A maioria das empresas tem um produto e cria outra marca com produtos similares também, só que o que acontece? Você perde sua força de vendas porque você coloca tudo no mesmo distribuidor. E quando eu faço um branding por marca isso não acontece. Meu importador vai trabalhar uma marca e aí eu posso colocar a outra no mesmo país, na mesma região, através de outro importador.

Tanto a decisão de não ter uma estrutura fabril própria quanto a de dispor de

mais de um importador por país (dependendo da marca a ser comercializada) estão

alinhadas ao tipo de produto que a Brazilian Secrets Hair desenvolveu. Três das

quatro marcas citadas anteriormente são para uso por parte de profissionais de beleza

– e não o cliente final diretamente. Andréa defende que, no mercado profissional, que

engloba salões de beleza e perfumarias especializadas, o ganho não se dá pelo

volume de produtos vendidos, mas também pela margem associada a eles.

Nesse sentido, é extremamente importante para a marca que exista um serviço

diferenciado associado à sua venda. Sendo esse serviço prestado pelos distribuidores

nos mercados externos com base nos treinamentos oferecidos pela Brazilian Secrets

Hair. Andréa considera mais prudente que eles estejam focados na comercialização

de apenas uma marca por vez, oferecendo todo o suporte e apoio técnico necessário

aos seus compradores. Com essa estratégia a empresa ganha em serviço prestado e

penetração de mercado, dado que consegue inserir mais de uma marca em cada local

trabalhado.

Dentre as marcas citadas, a X-Liso é a única que não foi criada com o intuito

de ser vendida ao profissional de beleza inicialmente. Sua aplicação foi facilitada de

forma que o cliente final possa adquirir o produto em farmácias e lojas de produtos de

beleza e utilizar em sua residência, sem o auxílio de um profissional. Entretanto,

segundo Andréa, a X-Liso também acabou servindo para penetrar em mercados com

uma situação econômica mais delicada:

A gente tem uma marca que se chama X-Liso para atender o varejo. E essa marca ajuda também a atender, por exemplo, um mercado com uma economia muito fraca. As pessoas conseguem comprar os produtos de qualidade profissional e adaptar até mesmo para dentro de um salão, já que os nossos produtos profissionais se tornam um pouco caros para esse público.

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Apesar de não ter sido inicialmente planejada com essa finalidade, a X-Liso

acabou conquistando uma grande fatia de mercado, estando em segundo lugar no

ranking de venda de produtos da Brazilian Secrets Hair. A marca está atrás apenas

da BSH Pro Keratin e possui mais relevância no exterior que a Hair.Toxx e a Argila

Amazônia.

5.5 O futuro da empresa

Quando indagada a respeito dos próximos passos da Brazilian Secrets Hair,

Andréa dá apenas uma certeza: continuará explorando o mercado internacional. Ainda

não é do interesse da empresária conquistar o mercado doméstico, pelo menos no

curto prazo. Ela acredita que até o final de 2017 o país ainda estará em recessão e

não compensaria o investimento necessário para construir um sistema de

comercialização razoável.

Em relação à conquista de novos mercados, a empreendedora tem planos para

ampliar essa participação no exterior qualitativamente. Isto é, a empresa pretende

crescer com os distribuidores que já trabalha, penetrando e construindo valor para a

marca nos países em que já está presente. Sobre esses mercados, Andréa afirma:

Já é difícil de você conquistar, quando você conquista tem que cuidar, tem que trabalhar. E depois, na sequência, vêm os mercados que estão no entorno daqueles que já trabalhamos, porque já facilita.

Apesar de, até então, a estratégia de conquista de mercados pela sua posição

geográfica relativa a outros mercados onde a empresa já está presente não ter sido

utilizada, é aparente uma atual mudança de planos. O único mercado que fica fora do

interesse da Brazilian Secrets Hair a princípio é o africano, visto que os produtos

alisadores comercializados pela empresa atualmente não são apropriados para

cabelos étnicos.

5.6 Linha do Tempo da Internacionalização da BSH

Nesse tópico, é descrita a cronologia de entrada da Brazilian Secrets Hair nos

países / continentes desde o início de seu processo de internacionalização. É

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importante ressaltar que, conforme defendido por Andréa, como as negociações com

os distribuidores dos mercados-alvos aconteciam de modo simultâneo, não existe

uma precisão em relação à data de entrada em cada país. Tem-se apenas a

informação referente aos movimentos estratégicos realizados pela empresa, como a

entrada nos Estados Unidos e nos países do Oriente Médio (proveniente da relação

com o grupo Nazih) e a penetração na Europa oriental.

Quadro 7 - Linha do tempo do processo de internacionalização da BSH

Ano Evento

2004 Fundação da empresa como Inovagine

2010 Mudança de nome para Brazilian Secrets Hair, com a criação do produto

voltado para o alisamento capilar

2010 Início das exportações para a França

2011 Entrada da empresa nos Estados Unidos (não se manteve)

2011 Entrada em outros países francofones

2012 Entrada em países do Oriente Médio

2014 Entrada em países da América Latina e da Europa Nórdica e Oriental

Fonte: Elaborado pela autora com base em dados coletados na entrevista com a empresa.

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6. Análise do caso Brazilian Secrets Hair

O objetivo deste capítulo é examinar o caso da empresa Brazilian Secrets Hair

à luz das teorias que buscam explicar o fenômeno da internacionalização de

empresas, com o intuito de entender como um novo empreendimento do setor de

cosméticos brasileiro obteve êxito ao explorar vários mercados no exterior, em

diferentes continentes.

Para isso, serão confrontadas as proposições teóricas apresentadas na revisão

de literatura deste trabalho, com foco nas teorias comportamentais; e os movimentos

de internacionalização da Brazilian Secrets Hair, buscando responder às perguntas

que orientaram esse estudo, descritas no capítulo referente à metodologia (capítulo

4):

- Quais foram as principais motivações, excluindo as econômicas, para que a Brazilian

Secrets Hair optasse por expandir-se internacionalmente?

- Como se deu a escolha dos territórios de expansão internacional da empresa do

setor de beleza?

- Qual modo de entrada utilizado pela Brazilian Secrets Hair para iniciar sua expansão

internacional? Esse modo foi alterado nas expansões subsequentes?

- Foi verificada alguma influência das redes de relacionamento no processo de

internacionalização da empresa?

6.1 A Brazilian Secrets Hair na Perspectiva da Escola de Uppsala (1977 e 2009)

O modelo proposto por Johanson e Vahlne (1977) descreve que, com base em

mudanças na empresa e no ambiente em que ela está inserida, existe uma ordem

natural para a entrada de uma organização no país hospedeiro levando em

consideração o nível de comprometimento e o conhecimento da organização sobre

esse mercado. Isso significa que, inicialmente, a empresa começaria a sua

participação de modo mais superficial e com menor comprometimento – isto é, pela

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exportação – até chegar ao nível mais profundo de compromisso, que seria a alocação

de atividades de produção no mercado-alvo.

Pode-se dizer que, por mais que a Brazilian Secrets Hair tenha mantido o seu

modo de entrada no exterior como exportação, existiu um pequeno aumento de

comprometimento da empresa com alguns mercados em que está inserida, variando

o tipo de exportação praticada. Conforme narrado no capítulo 5, em que é descrito o

processo de internacionalização da empresa, a entrada da BSH no mercado francês

ocorreu inicialmente por meio de uma trading na França.

À época, Andréa não possuía experiência no comércio internacional e decidiu

negociar com essa trading para que ela fosse a responsável por encontrar

distribuidores no território francês para, então, concretizar a venda de seus produtos

no mercado. Entretanto, com o passar do tempo e o aumento do conhecimento do

mercado francês, a empresária percebeu que era capaz de negociar diretamente com

os distribuidores, eliminando o custo do uso do intermediário e assumindo maior

controle sobre a operação.

Como o mercado francês é o de maior relevância nas operações internacionais

da Brazilian Secrets Hair até hoje, Andréa decidiu aumentar ainda mais o seu

comprometimento nesse mercado contratando uma agente exclusiva de vendas para

negociar diretamente com os distribuidores. Essa colaboradora, que é francesa,

responde diretamente à empresária e tem como objetivo não somente explorar o

mercado francês, mas também atingir outros países francofones.

Essa atitude da empresária está alinhada à ideia da distância psíquica, trazida

por Johanson e Vahlne em 1990. Segundo os autores, os riscos e incertezas

percebidos com a internacionalização serão menores quando houver uma menor

distância psíquica entre os países de origem e destino. No caso, podemos aplicar essa

questão à expansão da empresa da França – primeiro país de entrada – para outros

mercados francofones, aproveitando a facilidade de comunicação da empresária e o

aprendizado no mercado francês.

Levando essa ideia proposta pelos autores ao pé da letra, poderíamos ainda

dizer que a escolha do mercado francês como o primeiro a ser explorado pela Brazilian

Secrets Hair também poderia estar relacionada à distância psíquica. Isso porque

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Andréa residiu por dois anos na França, quando cursou o MBA em Marketing pela

ESMA (Ecole Supérieure des Métiers Artistiques), e defende que essa vivência foi

fundamental para a internacionalização da Brazilian Secrets Hair:

A vivência internacional dá um upgrade de forma cultural. Você consegue realmente compreender como os negócios acontecem. Você tem que realmente entender uma cultura para você ter sucesso.

Em relação aos outros mercados explorados pela Brazilian Secrets Hair, não

foi observado o aumento do nível de comprometimento da empresa por enquanto, o

que pode ser explicado pelo fato da internacionalização da firma ter ocorrido

recentemente (iniciou-se há apenas 5 anos). Tampouco foi observada a questão da

distância psíquica como norteadora para decisões de entrada da empresa em novos

mercados: a escolha desses territórios-alvo foi feita de modo aleatório, conforme os

contatos surgiam. No entanto, deve-se ressaltar que a empresária sinaliza tanto o

movimento de aumento de comprometimento nos mercados em que obtém sucesso

como a exploração dos mercados localizados no entorno desses como planos futuros.

A teoria de Uppsala revisitada trazida em 2009 por Johanson e Vahlne também

se aplica aos recentes movimentos da empresa. A parceria com o grupo Nazih, que

foi iniciada após a participação da Brazilian Secrets Hair na Cosmoprof de Dubai,

evidencia uma tentativa de superar os dois tipos de dificuldades encontrados na

internacionalização para mercados em que a empresa não tenha conhecimento prévio

e são de maior complexidade: a “liability of outsidership” e a “liability of foreignness” –

a última com maior ênfase.

Essas expressões se referem tanto à impossibilidade de entrar no mercado por

dificuldade de estabelecer relações, quanto às dificuldades referentes às

características específicas do país hospedeiro. Entrar no Oriente Médio, conforme

defendido por Andréa, poderia exigir adequações de produto e embalagem para se

encaixar à cultura local, conforme descrito no capítulo 5, em que são enumerados os

desafios da internacionalização da Brazilian Secret Hair. O Grupo Nazih não apenas

ajudou a empresa nesse processo de entrada como também, recentemente,

aprofundou sua relação com a organização brasileira visando manter essa parceria

para comercialização dos seus produtos em outros territórios que não apenas o

Oriente Médio. Percebe-se, portanto, uma tentativa de superar a “liability of

foreignness”.

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Com base na explanação acerca das Teoria de Uppsala (1977) e a Teoria de

Uppsala revisitada (2009), pode-se dizer que por enquanto o caso da Brazilian Secrets

Hair é melhor explicado pela primeira, em que a questão do aumento do

comprometimento e a distância psíquica são fundamentais. O fato de Andréa

manifestar o desejo de aprofundar suas relações com os mercados em que já está

presente em vez de expandir agressivamente para novos mercados – como foi feito

incialmente pela empreendedora – indica um movimento de aumento de

comprometimento e redução da velocidade de entrada nos próximos países. É

perceptível pelo grau de importância atribuído pela empresária que a aproximação

com o grupo Nazih ainda encontra-se em estado embrionário.

6.2 A Brazilian Secrets Hair na Perspectiva da Teoria de Redes

Nessa perspectiva, que surgiu em 1988, Johanson e Mattson descrevem os

mercados como redes de relacionamento entre empresas, havendo uma

interdependência entre elas e a necessidade de coordenação dessa relação. Os

autores consideram que o sistema industrial é composto por atividades diferentes

(produção, distribuição e uso) e que, portanto, as firmas envolvidas em cada uma

dessas posições estariam conectadas entre si, desenvolvendo uma relação de troca.

Dentro dessa corrente teórica, a internacionalização de uma empresa

aconteceria conforme o aumento do número e intensificação da força dos

relacionamentos dela com outras unidades de negócios no âmbito internacional.

Complementando a teoria de Uppsala, que observa mais as questões internas da

empresa, essa nova perspectiva analisa o papel das relações externas no processo

de internacionalização.

Apesar de não desempenharem nenhuma atividade diretamente ligada à

Brazilian Secrets Hair, duas instituições devem ser mencionadas quando se discute o

processo de internacionalização dessa organização: a Abihpec e a Apex-Brasil.

Juntas, as duas associações construíram o projeto setorial BeautyCare Brazil, cujo

objetivo é fornecer capacitação e preparar as empresas nacionais que buscam entrar

ou se aprofundar nos mercados internacionais, e do qual a BSH é membro. Karen

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defende que assim que a empresa decidiu internacionalizar-se, afiliar-se à Abihpec

tornou-se essencial:

Tudo parte das feiras que acontecem internacionalmente. Essa participação se dá por conta da associação à Abihpec, intermediada pelo projeto BeautyCare. A empresa paga uma mensalidade e recebe um incentivo, com a disponibilização de recursos para participação em feiras.

A funcionária se refere às feiras já mencionadas anteriormente por Andréa,

como as da Cosmoprof. Foi por conta da participação nesses eventos promovidos

pelo projeto setorial que a empreendedora criou sua rede de relacionamento e fez os

contatos necessários para entrar em novos mercados. Recentemente, ainda, o projeto

passou a incluir organizações de outras etapas da cadeia produtiva, como

fornecedores de embalagens, o que pode auxiliar na expansão das empresas

membros por meio da formação de redes de relacionamento.

É válido reforçar que a iniciativa BeautyCare Brazil promove também a troca de

conhecimento entre as empresas e a organização, especialmente em relação às

questões regulatórias e técnicas de cada mercado – o que se configura em uma

relação de interdependência entre as partes.

Em relação às atividades de produção da empresa, para a Brazilian Secrets

Hair a questão da rede ainda não possui tanta relevância no âmbito internacional dado

que as atividades produtivas e parte do processo de distribuição estão concentrados

no Brasil; apenas a distribuição local fica a cargo dos representantes dos mercados-

alvo. Johanson e Mattson (1988) afirmam que a máxima intensidade de

internacionalização de uma empresa acontece quando há a internacionalização das

atividades produtivas, já que esse processo requer uma maior integração dentro das

redes globais. Isso significa que a organização brasileira ainda está pouco

internacionalizada em termos de sua macro-posição.

O mais próximo que a Brazilian Secrets Hair chegou da teoria proposta por

Johanson e Mattson (1988) no contexto internacional foi na questão da

interdependência, que normalmente acontece em redes mais estruturadas. Sua

relação com o Grupo Nazih para exploração do mercado do Oriente Médio está de

acordo com a premissa básica do modelo de network “de que a firma individualmente

é dependente de recursos controlados por outra empresa” (JOHANSON e MATTSON,

1988, p. 308). A existência de um centro de treinamento em Dubai controlado pelas

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duas empresas além do direito exclusivo de comercialização dos produtos da BSH no

território do Oriente Médio são evidências do início dessa relação de dependência.

6.3 A Brazilian Secrets Hair na Perspectiva do Empreendedorismo

Internacional

Oviatt e McDougall (2004) propuseram uma nova perspectiva para analisar o

processo de internacionalização das empresas, com base no estudo realizado por

Rennie em 1993 na qual ele introduziu o termo “born globals”. Essas organizações,

chamadas de “international new ventures” pelos primeiros autores, seriam aquelas

que se internacionalizam quase ou de modo simultâneo à data de sua fundação.

Analisando as especificidades dessas empresas – que não estão apenas

relacionadas ao tempo em que a organização levou até internacionalizar-se – pode-

se afirmar que a Brazilian Secrets Hair se enquadra em muitos aspectos dessa

perspectiva teórica.

O primeiro deles se refere à redução do custo de transação internacional com

a diminuição dos custos de comunicação e logística, fator decisivo para que a

companhia, uma pequena empresa, pudesse explorar o mercado estrangeiro. O

fenômeno da globalização favorece à rápida internacionalização das empresas

também por conta de uma homogeneização dos mercados, reduzindo a distância

psíquica percebida. Como defendido por Karen, quando um distribuidor manifesta

interesse em importar os produtos da marca, a empresa não faz uma distinção por

mercados, priorizando um ou outro:

A empresa parte do princípio de que qualquer mercado é potencial e tem qualidade de venda, vai depender apenas dos impeditivos.

Outra característica da perspectiva do empreendedorismo internacional

observada na dinâmica de internacionalização da Brazilian Secrets Hair é a

velocidade de entrada no mercado estrangeiro com base na aquisição rápida de

conhecimento. Isto é, tanto a contratação de um profissional com experiência em

determinada praça – como é o caso da agente exclusiva que reside na França –

quanto o fechamento da parceria com uma corporação como o Grupo Nazih

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favorecem a rápida internacionalização da empresa, dado que a experiência de

mercado está agregada a essas aquisições. A expansão para o Oriente Médio, por

exemplo, foi iniciada em 2012 e, em 2015, além de contar com seis países

importadores, já representa um grande percentual de vendas da Brazilian Secrets

Hair.

Outra característica da empresa que contribuiu para a sua dinâmica mais

acelerada de internacionalização diz respeito ao produto comercializado: trata-se de

uma mercadoria customizada e específica para um grupo consumidor (há um mercado

de nicho). Andréa considera que o valor agregado de seu produto, que permite que a

empresa aplique uma margem maior, foi o que viabilizou sua expansão internacional,

dado que a BSH não teria fôlego financeiro para iniciar esse movimento já produzindo

em larga escala. Dessa forma, a empresa tem uma receita menos dependente de um

volume massivo de vendas. Isso está em consonância com a perspectiva do

empreendedorismo internacional, no qual organizações de indústrias específicas se

distanciam da dinâmica de internacionalização mais incremental.

Desde a entrada no mercado, a empresa consegue competir com marcas locais

por possuir uma vantagem competitiva sustentável tanto em relação aos insumos

utilizados quanto ao país de origem da marca. Andréa defende que a Brazilian Secrets

Hair se diferencia por esses motivos:

A gente utiliza a biodiversidade do Brasil, com matéria-prima da Amazônia. Acaba sendo uma vantagem ser uma empresa brasileira que trabalha esse tipo de produto. É a mesma coisa que eu perguntar: que país você lembra quando falo de perfume? Será a França. Quando pergunto sobre produtos para alisamento, é o Brasil.

Com base na complexidade da operação internacional e o número de países

para os quais a Brazilian Secrets Hair já se expandiu, é possível classificar a empresa

dentre os quatro tipos de “international new ventures” descritos por Oviatt e McDougall

(2004). No momento atual, a BSH encontra-se em um movimento de transição de

start-up de exportação para comerciante multinacional. Sua coordenação de

atividades da cadeia de valor ainda é reduzida, dado que a produção e a distribuição

estão restritas ao Brasil. Entretanto, em termos de países envolvidos, por mais que a

empresa já esteja em um grande número de mercados (atualmente são 21), foi

somente com a entrada do grupo Nazih é que se observa a possibilidade de transição

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para a categoria de comerciante multinacional. Nesse caso, a BSH se tornaria uma

criadora de novos mercados internacionais (OVIATT e MCDOUGALL, 2004), sabendo

reconhecer as oportunidades e o seu potencial competitivo em outros mercados.

Por último, é importante ressaltar que também no estudo de Dib (2008), em que

foram validadas outras possíveis variáveis para a classificação das empresas como

born globals, a Brazilian Secrets Hair se enquadra na perspectiva do

empreendedorismo internacional. Segundo o autor, não apenas o tempo de

internacionalização desde a concepção da empresa é importante, mas também a

relevância das operações internacionais no negócio da organização. Quando

indagada sobre o percentual de faturamento da BSH internacionalmente versus sua

receita no mercado doméstico, Andréa foi clara: “100% do faturamento provém do

estrangeiro”. Por enquanto, a empresária não tem intenção de modificar essa

proporção.

6.4 A Brazilian Secrets Hair na Perspectiva da Lógica Effectuation

Colocando-se de modo complementar à Teoria de Uppsala e à perspectiva do

Empreendedorismo Internacional, a lógica do Effectuation é introduzida por

Sarasvathy (2001) como uma dinâmica diferente na tomada de decisão por parte dos

empreendedores. O raciocínio do indivíduo seguiria a seguinte lógica: primeiro,

observaria suas características pessoais, seu conhecimento e o seu ciclo social; em

seguida, analisaria os possíveis efeitos da utilização desses meios; por fim,

selecionaria o melhor efeito possível para atingir um objetivo aspiracional mais amplo

e subjetivo, tal como ter sucesso ou conquistar algo.

A necessidade de fazer essa atualização nas teorias existentes se deu por

conta da inexistência do reconhecimento do indivíduo como essencial para entender

o processo de internacionalização de empresas. Andersson (2011) considera que o

comportamento e as habilidades empreendedoras dessas pessoas devem ser

considerados no estudo da dinâmica de expansão internacional, visto que são elas

que vislumbram as oportunidades e pro ativamente vão ao encontro delas.

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No caso da Brazilian Secrets Hair, percebe-se que essa teoria é a dominante,

especialmente por conta da empreendedora Andréa, que possui total

responsabilidade pelo movimento de internacionalização da empresa. Com base no

perfil das organizações em que trabalhou anteriormente – grande parte no setor de

cosméticos – a empresária acumulou um grande conhecimento sobre o setor que a

auxiliou na criação e viabilização de seu produto. Somado a isso, Andréa se

considerava uma pessoa criativa e empreendedora, almejando ter um negócio próprio:

A ideia de exportar veio exatamente para eu buscar novos desafios para mim. Eu já tinha trabalhado em n outras empresas, então queria buscar um desafio que fosse maior, entende? Uma coisa diferente e para mim. E em vez de depender de um único mercado, eu tenho o mundo.

Essa fala da empresária demonstra que o objetivo maior, o “sonho” da

empresária ao abrir o seu negócio, era ter uma empresa própria que tivesse o mundo

inteiro como possibilidade de expansão. Sua vivência nos Estados Unidos e na

França, onde cursou MBA em Marketing, podem ter sido os fatores que despertaram

nela essa vontade. De qualquer forma, foi observando a reputação de produtos

brasileiros voltados para a parte capilar no mercado francês que Andréa percebeu que

havia potencial nesse setor e decidiu fundar a sua empresa. Dessa forma, ficam

respondidas duas das questões propostas por Sarasvathy (2001): quem eu sou e o

que eu sei.

Também deve-se ressaltar que a Brazilian Secrets Hair demonstrou ter um

comportamento “camaleônico” nos mercados em que entrou, em consonância com a

teoria de Effectuation, respondendo a terceira questão trazida por Sarasvathy (2001):

quem eu conheço. Apesar da diversidade encontrada, a empresa conseguiu se

manter competitiva por meio da adaptação das fórmulas, embalagens ou mesmo

readequação do produto para determinado canal conforme foi desenvolvendo suas

redes de relacionamento e vendo a necessidade de mudar seu produto para se manter

no mercado.

Dois exemplos ilustram essa capacidade de adaptação com base nas

demandas locais e nas redes de relacionamento construídas. O primeiro é o caso do

X-Liso, conforme mencionado no estudo de caso. Mesmo sendo criado com o intuito

de ser vendido ao profissional de beleza, como sua aplicação era mais simples,

Andréa direcionou esse produto para um novo tipo de canal – farmácias e lojas – e

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aproveitou seu custo mais baixo para penetrar em países com situação econômica

mais delicada conforme demanda dos distribuidores locais. Também podemos

mencionar o caso da entrada da empresa no Oriente Médio, quando por orientação

do Grupo Nazih houve a necessidade de adaptar o rótulo dos produtos para o ingresso

no mercado.

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7. Conclusões e Recomendações

O presente estudo buscou analisar o processo de internacionalização de uma

empresa brasileira do setor de cosméticos sob a perspectiva das correntes teóricas

comportamentais de Negócios Internacionais, com especial atenção para a Escola de

Uppsala, a Teoria de Redes, o Empreendedorismo Internacional e a lógica

Effectuation. De maneira a permitir o embasamento do estudo da empresa dentro de

um quadro do ambiente da indústria onde a mesma atua, desenhou-se e analisou-se

o perfil do setor de cosméticos, com destaque para as empresas globais que atuam

em um segmento mais especializado e sofisticado, como é o caso da Brazilian Secrets

Hair com a venda de seus produtos voltados para o alisamento capilar.

Para a condução da pesquisa, a escolha do método foi baseada no objetivo do

estudo, que era analisar os fatores que influenciaram o processo de

internacionalização da BSH alicerçada nas teorias existentes. Por esse motivo, foi

escolhido o método de pesquisa qualitativo, com base no estudo de caso único.

Conforme mencionado no capítulo referente à Metodologia, esse método é apropriado

quando as perguntas de pesquisa são do tipo “como” e “por que”, desmembrando as

informações do caso a ponto de confirmar, desafiar ou expandir as correntes teóricas

existentes.

Para a coleta de dados, foram realizadas entrevistas em profundidade com

Andréa Vieira, fundadora e líder da empresa; e Karen Felismino, braço direito de

Andréa e colaboradora na organização desde a sua criação. Além disso, houve

também a apuração de dados secundários publicados em jornais, revistas, portais das

associações específicas do setor, entre outros. Em seguida, essas informações foram

organizadas e analisadas a partir da revisão teórica realizada anteriormente.

Quatro perguntas de pesquisa orientaram o presente estudo e serão

respondidas a seguir, fundamentadas na análise realizada no último capítulo. Elas se

referem às motivações para a expansão internacional, aos critérios de escolha dos

territórios internacionais, ao modo de entrada utilizado e à influência das redes de

relacionamento na expansão internacional. Respondendo a essas quatro questões,

torna-se possível uma compreensão mais profunda de todo o processo de

internacionalização da Brazilian Secrets Hair.

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A primeira pergunta de pesquisa é: “Quais foram as principais motivações para

que a Brazilian Secrets Hair optasse por expandir-se internacionalmente?”. Antes de

responder a essa pergunta, é importante observar que a BSH já nasceu como uma

empresa internacional, ou seja, desde a sua fundação ela não se restringiu à atuação

no mercado doméstico. Esse comportamento de explorar o mercado estrangeiro

rapidamente, que é característico das empresas consideradas “born globals” (1993),

está bastante relacionado ao perfil empreendedor de Andréa Vieira, que segue a

lógica de Effectuation (2001).

Ter “o mundo como mercado consumidor”, conforme a própria empresária

defende, foi uma escolha baseada em dois fatores: sua experiência pessoal e

profissional anterior e o seu perfil pessoal. Andréa residiu fora do país duas vezes –

uma na França e outra nos Estados Unidos – e trabalhou em outras empresas do

mesmo segmento; além disso, a própria empreendedora se considera criativa,

expansiva e sempre em busca de novos desafios para a sua carreira. Pode-se dizer

que foi respondendo, ainda que de forma inconsciente, as três questões trazidas por

Sarasvathy (2001) – “quem eu sou”, “o que eu sei” e “quem eu conheço” – que Andréa

criou um negócio internacional desde o princípio, a Brazilian Secrets Hair.

A segunda pergunta de pesquisa é: “Como se deu a escolha dos territórios de

expansão internacional da empresa do setor de beleza?”. Para Andréa, a resposta

para essa questão é: de modo aleatório. Na verdade, não houve definição da

sequência de mercados que deveriam ser prospectados inicialmente e aqueles que

viriam em seguida, contrariando o argumento da distância psíquica abordado na

Teoria de Uppsala (1977). Isso está relacionado à resposta da quarta pergunta, que

analisa a influência das redes de relacionamento no processo de expansão

internacional.

Apesar de ter, de forma proativa, se associado à Abihpec e integrado o projeto

BeautyCare Brazil visando sua expansão internacional, a Brazilian Secrets Hair,

enquanto participante dos eventos promovidos pela associação, não tinha um

comportamento proativo. A lógica da escolha do novo território era baseada nos

contatos que seriam realizados em cada feira ou rodada de negócios, e não em um

objetivo de expansão pré-estabelecido pela companhia. Exemplificando, a empresa

não decide expandir para o Marrocos e vai em busca de distribuidores locais; ela

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recebe distribuidores locais do Marrocos e, após uma proposta comercial, avalia se o

mercado tem potencial e se é interessante concretizar o negócio.

A terceira pergunta de pesquisa, que possui um desdobramento, é: “Qual modo

de entrada utilizado pela Brazilian Secrets Hair para iniciar sua expansão

internacional? Esse modo foi alterado nas expansões subsequentes?”. Desde o início,

o modo de entrada escolhido por Andréa foi o do menor comprometimento e risco

possível, ou seja, exportação. Entretanto, dentro da categoria exportação, pode-se

dizer que a empresa aumentou seu nível de comprometimento em alguns mercados

em que está presente. Na França, por exemplo, primeiro território internacional

explorado pela empresa, a BSH passou de exportação indireta (havia o contrato com

uma trading) para a exportação direta, negociando diretamente com os distribuidores

locais. Recentemente, contratou uma agente exclusiva de vendas de modo a

aprofundar o conhecimento e as relações nesse mercado.

Andréa ainda não possui planos para alterar o modo de entrada nos próximos

mercados, visto que considera a exportação como o modo menos arriscado. Além

disso, expandindo dessa forma a empresária consegue ter noção do potencial de cada

país sem a necessidade de “prender” o seu caixa. É importante ressaltar que se trata

de uma pequena empresa, com capacidade de investimento reduzida e pouco acesso

a linhas de crédito, conforme mencionado na parte “Desafios da Internacionalização”,

presente no capítulo 5, “Estudo do caso”.

A última pergunta é: “Foi verificada alguma influência das redes de

relacionamento no processo de internacionalização da empresa?”. Conforme

mencionado anteriormente, as redes de relacionamento no mercado doméstico foram

de máxima importância para a expansão internacional da BSH. A associação com a

Abihpec, que garantiu o acesso aos contatos internacionais além de informações

sobre os mercados estrangeiros, foi o que deu a base necessária para que Andréa

investisse nessa empreitada.

Percebe-se, portanto, a relevância da influência dos agentes governamentais e

não-governamentais na expansão internacional da Brazilian Secrets Hair que

extrapola a questão das redes de relacionamento. Considerando que as organizações

governamentais como a Apex-Brasil são as responsáveis por escolher os setores,

mercados-alvo e eventos que deseja explorar, é evidente que existe um

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direcionamento dos esforços e subsídios de acordo com os objetivos econômicos e

políticos do país. A expansão para o Oriente Médio, com incentivos para a participação

das empresas brasileiras na feira de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos

realizada em Dubai – que acabou resultando na parceria entre a Brazilian Secrets Hair

e o Grupo Nazih – é um exemplo desse tipo de direcionamento estratégico.

Conclui-se esse estudo, portanto, com a noção de que no caso da BSH, uma

empresa contemporânea e totalmente afetada pela globalização, não existe uma

teoria única que explique completamente a sua internacionalização. Entretanto,

percebe-se que a teoria de Effectuation é a que melhor explica o processo de criação

e internacionalização da companhia, sendo complementada pelas demais teorias.

Isso ocorre porque o destaque do empreendedorismo nos últimos anos, os avanços

tecnológicos que contribuem para uma comunicação globalizada, entre outros fatores,

acabam por dinamizar e desafiar as teorias existentes. Portanto, trata-se de uma

empresa literalmente “born global”, mas muito regida pela lógica do Effectuation e sob

a influência da teoria de Networks, especialmente no âmbito doméstico.

7.1 Recomendações para Pesquisas Futuras

Para pesquisas futuras, existe a possibilidade desse estudo ser replicado em

outras empresas brasileiras do setor de cosméticos, em caráter comparativo, com o

propósito identificar aqueles fatores internos e externos que as impelem para o

mercado internacional, bem como as estratégias utilizadas por essas empresas para

ingressar e evoluir no exterior. Estudos quantitativos podem ser realizados de forma

a permitir generalizações que possibilitem a observação de pontos convergentes e

divergentes nos processos de internacionalização de empresas do setor. Ainda,

investigações que versem sobre a internacionalização de empresas brasileiras de

cosméticos poderiam ter como pano de fundo o espectro teórico do efeito made in e

as diferentes estratégias adotadas por essas firmas para explorar essa vantagem

específica.

Em outra linha, trabalhos semelhantes poderiam ser conduzidos em outros

setores industriais brasileiros – tais como vestuário, calçados e agronegócios – nos

quais pequenas empresas empreendedoras tenham se internacionalizado de forma

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rápida, praticamente instantânea como observado no caso da Brazilian Secrets Hair.

Dessa forma, torna-se possível identificar peculiaridades e similaridades em relação

aos achados do presente estudo em comparação às empresas brasileiras de outros

segmentos.

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ABDI (2013). “Terceiro mercado de cosméticos do mundo, Brasil precisa ampliar a competitividade”. Disponível em: <http://www.abdi.com.br/Paginas/noticia_detalhe .aspx?i=3656>. Acesso em 17/07/2015.

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Anexos

ANEXO A – ROTEIRO DE ENTREVISTA

Data: ___/___/___ Entrevistador: __________________________

Empresa: __________________________________________________________

Endereço: _________________________________________________________

Telefone: _________________Fax: _____________e-mail: __________________

Informações sobre o Respondente

Nome: ______________________________ Cargo: _______________________

Nacionalidade: ________________________

Há quanto tempo desempenha esta função na empresa: ____________anos.

Formação acadêmica:

Graduação: (curso e instituição) _______________________________________

Pós-Graduação: (curso e instituição) ___________________________________

Experiência profissional anterior: ______________________________________

_________________________________________________________________

Alguma etapa de sua formação acadêmica foi adquirida no exterior?

( ) Não

( ) Sim. Qual? (tipo, duração, país) ____________________________________

Número médio de viagens ao exterior por ano (a trabalho e a lazer): ___________

Alguma fase de sua experiência prévia contribuiu especialmente para a execução das

suas atividades atuais?

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Informações sobre a Empresa

Ano de fundação: ___________________________________

Ramo de atividade: __________________________________________________

Principais produtos comercializados por sua empresa:

Produtos (por ordem de importância no faturamento)

No Brasil No Exterior

1 1

2 2

3 3

4 4

Número de funcionários no Brasil: _______________________

Número de funcionários no exterior, incluindo aqueles que, mesmo estando no Brasil

dedicam-se às atividades de comércio no exterior: _______________________

Existe alguma instalação no exterior? Se sim, de que tipo (escritório comercial, centro

de distribuição, fábrica, etc)? ______________________________________

Faturamento total anual: R$ _______________________

Faturamento referente à comercialização dos produtos no exterior, como % do

faturamento total: ___%

Possui esse dado segmentado por país de atuação? Se sim, como se dá essa

distribuição (em porcentagem e por produtos mais vendidos)?

Qual o público-alvo dos produtos comercializados pela empresa? Como se dá essa

segmentação?

Informações sobre as Operações no Exterior

Qual foi o primeiro país para o qual a empresa exportou ou iniciou operação

internacional: __________________

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Em que ano em essa primeira venda ou operação aconteceu? _________

Qual foi o principal motivo que, no seu entender, levou a empresa a iniciar operações

no exterior, especificamente neste primeiro país?

( ) solicitação de um cliente no Brasil que estava operando nesse país;

( ) pedido de um cliente localizado nesse país;

( ) oportunidade no mercado externo identificada através de pesquisa de mercado;

( ) oportunidade no mercado externo por meio de contato em feira específica do setor.

( ) incentivos governamentais para estender as operações para esse país;

( ) por ser geograficamente próximo;

( ) para sobreviver às pressões do mercado interno;

( ) porque executivos da empresa já conheciam esse país:

por ter relações familiares e visitá-lo com frequência ( )

por ter estudado (graduação ou pós-graduação) nesse país ( )

por ter trabalhado anteriormente nesse país ( )

por dispor de relações profissionais estabelecidas anteriormente ( )

( ) Por outro motivo:

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

Esse modo inicial foi alterado com o passar do tempo na expansão para os outros

países? ( ) sim ( ) não

Caso positivo, que tipo de alteração (ões) foi (ram) feita (s)?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

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Sequência e modos de entrada

Quais os mercados em que atua, o ano de entrada, o modo de entrada (exportação,

escritórios, licenciamento/franquia, investimento direto) e o tipo de propriedade (se for

investimento direto, controle integral, majoritário ou minoritário). Em caso de

investimento direto, se é investimento novo (greenfield) ou aquisição.

Mercado

Ano

Modo de Entrada

Investimento Direto – Tipo de

Controle

Investimento Direto – Tipo de

Investimento

Houve alguma complicação ou obstáculo na entrada em algum(ns) desses países

mencionados? Se sim, poderia mencioná-las?

Avanço sequencial

Em que momento percebeu que a empresa estava pronta para entrar em um novo

mercado? Que fatores levaram a essa decisão? E nos mercados seguintes? A

empresa adotou uma estratégia passo a passo, ou uma estratégia mais agressiva?

Houve algum cálculo ou estudo acerca do risco de entrada?

O ritmo de entrada em novos países se manteve ou se alterou conforme a experiência

nos novos mercados?

Distância Psíquica

Quais as percepções que tinha quanto a esses mercados e em que medida essas

percepções se modificaram? Qual a sua percepção de semelhanças e diferenças

entre o Brasil e os países em que atua? Por ocasião da entrada no mercado e à

medida que adquiriu conhecimento do mercado? (Houve mudanças de percepção?)

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Aquisição de Conhecimento sobre os Mercados

Tinha conhecimento prévio do mercado? Fez algum estudo ou pesquisa antes de

entrar em cada mercado? E depois? Já tinha trabalhado ou estado no local

previamente? Isso ajudou? Ou foi adquirindo conhecimento com as operações? Qual

foi, em sua opinião, a melhor forma de adquirir conhecimento sobre o mercado? Pedir

exemplos.

Acredita que o conhecimento do mercado ou a experiência prévia de processo de

entrada em diferentes países influenciou na performance da empresa na expansão

para os novos mercados?

Comprometimento

A atitude da empresa com relação ao primeiro mercado, por ocasião da decisão de

atuar naquele mercado, era vista como definitiva ou exploratória? E hoje, para o

conjunto de mercados mencionado anteriormente, mudou alguma coisa?

Pessoas

Quem são as pessoas responsáveis por dirigir as atividades internacionais (nome,

cargo, há quanto tempo estão na empresa, se já tinham experiência internacional

prévia e como a adquiriram)?

Qual a função dessas pessoas no exterior? Elas residem nos mercados-alvo?

Alianças e Parcerias

A empresa estabeleceu alguma parceria com outras empresas em sua trajetória

internacional? ( ) sim ( ) não

Caso positivo:

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Essa(s) empresa(s) eram brasileira(s) ou estrangeira(s)?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

A iniciativa para a formação dessa parceria foi da sua empresa ou da empresa no

exterior?

___________________________________________________________________

Que tipo(s) de benefício(s) essa parceria trouxe para a sua empresa?

( ) adicionou tecnologia ao meu produto

( ) trouxe conhecimento sobre as práticas comerciais naquele mercado

( ) trouxe clientes potenciais para o meu produto

( ) permitiu à empresa ultrapassar barreiras legais para atuar naquele mercado

( ) outra contribuição: _______________________________________________

__________________________________________________________________

Com que tipo(s) de benefício(s) a sua empresa contribuiu para essa parceria?

( ) adicionou tecnologia ao produto/serviço do parceiro

( ) permitiu à parceira oferecer outro produto/serviço aos seus clientes já existentes

( ) permitiu à parceira aumentar a sua competitividade, oferecendo um produto/serviço

equivalente por um preço menor

( ) outra contribuição: _______________________________________________

Existia algum relacionamento prévio de sua empresa com esse parceiro antes de

estabelecer alguma relação comercial com o mesmo?

( ) Não

( ) Sim, existia um relacionamento social (amizade, parentesco etc.)

( ) Sim, existia um relacionamento profissional (fornecedor, cliente etc.)

( ) Sim, executivos desse parceiro haviam sido colegas de trabalho de executivos de

nossa empresa anteriormente

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Essa parceria se restringiu ao desenvolvimento de mercado(s) no exterior ou também

para o mercado doméstico?

___________________________________________________________________

A parceria foi estabelecida através de um documento formal (contrato) ou os negócios

aconteceram de maneira informal? Como essa relação é coordenada?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Com o passar do tempo, essa parceria foi ampliada? De que maneira?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Essa primeira parceria continua existindo, ou ela se esgotou? Por quê?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Após essa primeira parceria, a sua empresa buscou estabelecer relações com outros

parceiros no exterior?

( ) sim, no mesmo país

( ) sim, em outro país

( ) não

Caso positivo, de que maneira se deu essa busca? (através de participações em feiras

ou congressos internacionais, através de indicações recebidas de clientes da empresa

no Brasil ou no exterior, através de recomendações de parceiros já estabelecidos,

através de instituições do governo brasileiro etc.)

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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Existia uma relação de confiança entre os parceiros? Se sim, cite um exemplo de

situação em que isso foi demonstrado.

Planejamento estratégico

Existe um planejamento em relação à comercialização de produtos diferenciados para

o mercado externo?

Quais os canais de distribuição utilizados no exterior? E o processo de precificação

dos produtos, como é realizado?

Há algum investimento em Marketing específico para os diferentes países? Se sim,

como se dá a distribuição desse investimento?

Informações de ordem geral

Como vê a importância dos mercados externos para a empresa? Sua percepção

quanto a esta importância mudou no decorrer do tempo, desde o início da atuação

internacional até agora? Atualmente, a empresa prioriza o mercado externo ou

interno?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Qual a importância você considera que o governo (programas ou incentivos) dê para

o desenvolvimento de novos mercados para seus negócios no exterior?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Caso a resposta seja pouca ou nenhuma importância, perguntar se conhece algum

programa governamental que auxilie no processo de internacionalização.

Qual a importância desses programas do governo para a manutenção de seus

negócios no exterior?

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___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Em sua percepção, a rentabilidade que a empresa obtém no exterior:

( ) é superior àquela obtida no Brasil

( ) é inferior àquela obtida no Brasil

Porque:_____________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Em sua percepção, quais as vantagens que seu produto oferece aos clientes no

exterior, em relação aos seus concorrentes diretos? (preço, desempenho etc.)

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

E quais seriam as desvantagens?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Fazendo um balanço geral, as vantagens de atuação no exterior se sobrepõem às

dificuldades encontradas? ( ) sim ( ) não

A empresa possui planos para continuar a crescer no exterior? ( ) sim ( ) não

Caso positivo, quais seriam as principais diretrizes que orientariam esse crescimento?

(aprofundamento da presença no(s) país(es) em que já tem presença atualmente,

expansão para outros países que oferecerem oportunidade, ou que tenham afinidade

política e/ou cultural, ou que sejam próximos geograficamente, ou que apresentem

bom potencial de mercado para os produtos da empresa etc.)

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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Existe alguma outra informação ou assunto que não tenha sido abordado, mas deva

ser discutido para facilitar a compreensão do processo de internacionalização da

empresa?

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ANEXO B – IMAGENS DA ESTRUTURA FABRIL TERCEIRIZADA

LOCALIZADA EM SÃO PAULO

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ANEXO C – IMAGENS DO CENTRO DE DISTRIBUIÇÃO TERCEIRIZADO

LOCALIZADO NO RIO DE JANEIRO