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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA Laís Helena Silva de Souza CONTROLE MICROBIOLÓGICO DO DERIVADO VEGETAL E DAS CÁPSULAS DE Passiflora edulis f. flavicarpa O. Deg. Natal-RN 2020

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

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1

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CURSO DE GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA

Laís Helena Silva de Souza

CONTROLE MICROBIOLÓGICO DO DERIVADO VEGETAL E DAS

CÁPSULAS DE Passiflora edulis f. flavicarpa O. Deg.

Natal-RN

2020

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

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Laís Helena Silva de Souza

CONTROLE MICROBIOLÓGICO DO DERIVADO VEGETAL E DAS

CÁPSULAS DE Passiflora edulis f. flavicarpa O. Deg.

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Curso de Graduação

em Farmácia da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte,

como requisito parcial para obtenção

do título de Bacharel em Farmácia

Orientador: Profa. Dra. Silvana Maria

Zucolotto Langassner

Natal – RN

2020

Laís Helena Silva de Souza

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

3

Souza, Laís Helena Silva de.

Controle microbiológico do derivado vegetal e das cápsulas de

Passiflora edulis f. flavicarpa O. Deg / Laís Helena Silva de Souza. - 2020.

46f.: il.

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação em Farmácia) -

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências

da Saúde, Departamento de Farmácia. Natal, RN, 2020. Orientadora: Silvana Maria Zucolotto Langassner.

1. Passiflora edulis - TCC. 2. Controle microbiológico - TCC. 3. Controle de qualidade - TCC. 4. Fitoterapia - TCC. I.

Langassner, Silvana Maria Zucolotto. II. Título.

RN/UF/BS-CCS CDU 634.776.3

Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da

Saúde - CCS

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

4

CONTROLE MICROBIOLÓGICO DO DERIVADO VEGETAL E DAS

CÁPSULAS DE Passiflora edulis f. flavicarpa O. Deg.

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao Curso de Graduação

em Farmácia da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte,

como requisito parcial para obtenção

do título de Bacharel em Farmácia

Orientador: Profa. Dra. Silvana

Maria Zucolotto Langassner

Presidente: Profa. Drª. Silvana Maria Zucolotto Langassner - Orientador UFRN

Membro: Prof. Dr. Leandro de Santis Ferreira – UFRN

Membro: Prof. Mscª. Bárbara Cabral - UNINASSAU

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

5

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por me permitir começar essa jornada e descobrir a razão

da minha vida e minha grande paixão.

À minha família que fez o possível e o impossível para me ajudar a conquistar esse sonho,

à toda confiança que têm no meu potencial. Ao meu pai, João Clímaco de Souza que não

conseguiu ver até onde cheguei, mas que sempre foi o meu porto seguro e inspiração para

seguir o meu objetivo. À minha mãe, Maria das Graças Silva de Souza, meu maior

exemplo de força e superação por sempre me estimular a sonhar e acreditar na minha

capacidade. Ao meu irmão, Luís Tertuliano Silva de Souza que sempre me orientou e

sempre me auxilia a tomar todas as decisões da forma mais sábia. Aos meus padrinhos,

João Maria e Zeneide Souza que são como pais para mim, me enchem de amor

incondicional, afeto e zelo sem pedir nada em troca.

À minha orientadora, Silvana Maria Zucolotto, pela orientação, dedicação, cuidado,

confiança e zelo que teve comigo ao longo de 3 anos enquanto fui sua aluna, por me dar

oportunidade de me inserir na pesquisa e me apaixonar pela ciência.

Aos professores que me inspiraram a lutar para ser a farmacêutica que eu almejo, em

especial ao professor Leandro de Santis Ferreira por sua atenção e cuidado no

desenvolvimento desse trabalho, professor Lucas Azevedo do Nascimento que

constantemente me aconselha e muda minhas perspectivas sobre a profissão, professor

Márcio Ferrari pelo exemplo de profissional e pessoa, que me apoiou e acreditou em mim

num momento muito difícil da minha vida e professor Fernando Henrique Andrade

Nogueira que me deu a oportunidade de admirá-lo genuinamente.

Aos meus colegas do GPNBio, por toda a jornada de aprendizado e descontração nesses

anos que passamos juntos, em especial à doutoranda que eu acompanhei Bárbara Cabral,

por sua paciência e dedicação para nos ensinar, a Anna Júlia Almeida e Manuella Cruz

por transformar o nosso trabalho em equipe em companheirismo e empatia.

Aos meus amigos de curso, que transformaram essa jornada árdua em momentos de

felicidade e superação. Em especial a José Jardson de Nascimento Oliveira, meu melhor

amigo e que segura minha mão desde o primeiro dia até o último, obrigada por ser quem

eu posso confiar! À Anna Clara Brilhante, estrela dos meus dias, que me permitiu

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

6

aprender e ensinar a crescer como mulher, por ser uma pessoa que admiro e confio de

forma entregue. À Cecília Rodrigues Lucas, que segurou minha mão e fomos um ponto

de apoio mútuo num momento decisivo e difícil. À Gessiane Amanda, Amanda Cassiano,

João Guimarães, Júlia Scarlet, Raphael Victor, Rafael Amir que me acompanharam até

esse momento e se fazem de extrema importância na minha vida. Muito obrigada!

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

7

LISTA DE FIGURAS

Figura 1

Esquema de análises e testes solicitados para apresentação do

relatório de registro de um

fitoterápico....................................................................................14

Figura 2 Flor, folhas e fruto de P. edulis fo. Flavicarpa O. Deg

.......................................................................................................16

Figura 3 Compostos químicos das folhas P. edulis –

Flavonoides...................................................................................17

Figura 4 Representação esquemática das etapas de obtenção do pericarpo,

farinha (droga vegetal) e extrato hidroetanólico de P.

edulis..............................................................................................20

Figura 5 Meio de cultura ATSC semeado com amostra 2 da diluição 1:10 do

derivado vegetal de P. edulis e semeado com amostra 2 da diluição

1:10 das cápsulas..........................................................................29

Figura 6 Meio de cultura ATSC semeado com amostra 3 da diluição 1:100 do

derivado vegetal de P. edulis e semeado com amostra 3 da diluição

1:100 das cápsulas..........................................................................30

Figura 7 Meio de cultura ATSC semeado com amostra 3 da diluição 1:1000

do derivado vegetal de P. edulis e semeado amostra 1 da diluição

1:100 das cápsulas..........................................................................31

Figura 8 Meio de cultura AS semeado com amostra 3 da diluição 1:10 do

derivado vegetal de P. Edulis e semeado com amostra 3 da diluição

1:10 das

cápsulas..........................................................................................32

Figura 9 Meio de cultura AS semeado com amostra 3 da diluição 1:100 do

derivado vegetal de P. edulis e semeado com amostra 3 da diluição

1:100 das cápsulas........................................................................33

Figura 10 Meio de cultura AS semeado com amostra 1 da diluição 1:1000 do

derivado vegetal de P. edulis e semeado com amostra 1 da diluição

1:1000 das

cápsulas.........................................................................................34

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

8

Figura 11 Ágar Mac Conkey onde foi semeado Extrato seco (derivado

vegetal) e cápsulas que não apresentaram crescimento de colônias

com características compatíveis com E. coli. Na imagem está

representado 1 placa de cada amostra, no entanto foram utilizadas

quatro placas para cada

produto...........................................................................................37

Figura 12 Extrato seco (derivado vegetal) semeados no meio XLD, amostra

em duplicata, onde não apresenta crescimento de

colônias.......................................................................................38

Figura 13 Cápsulas semeadas no meio XLD, amostra em duplicata, onde não

apresenta crescimento de colônias...............................................38

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

9

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Limites Microbianos para preparações farmacêuticas.....................14

Tabela 2 Método das cápsulas para determinação de densidade de extrato

..........................................................................................................23

Tabela 3 Meios de cultura

utilizados..........................................................................................23

Tabela 4 Contagem de fungos/leveduras no meio AS referente as cápsulas

com extrato seco..............................................................................27

Tabela 5 Contagem de fungos/leveduras no meio AS referente as cápsulas

com extrato

seco...................................................................................................27

Tabela 6 Contagem de bactérias no meio ATSC referente as cápsulas com

derivado vegetal

seco................................................................................................27

Tabela 7 Contagem de bactérias no meio AS referente as cápsulas com

derivado vegetal

seco................................................................................ ................27

Tabela 8 Contagem de bactérias no meio ATCS referente ao extrato

seco................................................................................................28

Tabela 9

Contagem de fungos e leveduras no meio AS referente ao extrato

seco................................................................................................28

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

10

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................9

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

......................................................................................................................11

2.1 FITOTERAPIA...........................................................................................11

2.2 CONTROLE DE QUALIDADE

...........................................................................................................13

2.3 HISTÓRICO DA FAMÍLIA Passifloraceae E O GÊNERO

Passiflora.....................................................................................................16

3 OBJETIVOS.........................................................................................20

3.1 OBJETIVO GERAL ...........................................................................20

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

.....................................................................................................................20

4.0 METODOLOGIA ................................................................................21

4.1 COLETA DO MATERIAL VEGETAL.............................................21

4.1.1 OBTENÇÃO DOS EXTRATOS...........................................................21

4.1.2 PREPARAÇÃO DAS CÁPSULAS....................................................23

4.1.3 CONTAGEM DE MICROORGANISMOS MESOFÍLICOS..........24

4.1.4 PESQUISA E IDENTIFICAÇÃO DE PATÓGENOS......................25

5.0 RESULTADOS E

DISCUSSÃO............................................................................................27

5.1 CONTAGEM TOTAL DE MICROORGANISMOS MESOFÍLICOS

....................................................................................................................27

5.2 PESQUISA DE MICRO-ORGANISMOS PATOGÊNICOS.................36

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

11

6.0 CONCLUSÃO.................................................................................. ........39

7.0 REFERÊNCIAS........................................................................................ 40

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

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1. INTRODUÇÃO

A utilização de plantas medicinais pelo homem como forma de tratamento de

diferentes doenças é registrada desde os primórdios da humanidade, e nesse contexto o

Brasil é privilegiado por conter uma das maiores biodiversidade do planeta (CALIXTO,

2003). A fitoterapia é citada como a terapêutica caracterizada por diferentes preparos

farmacêuticos a partir de plantas medicinais e com ausência de substâncias ativas isoladas

de qualquer origem (BRASIL, 2006).

O emprego fitoterapia possui uma tendência mundial de contribuição para a saúde,

por ser uma prática tradicional com utilidade terapêutica confirmada pela população,

assim os estudos na área se tornam crescentes e há interesse no desenvolvimento de novos

fitoterápicos e outros produtos de origem natural pela indústria devido principalmente ao

uso cultural (KLEIN et al., 2009).

A utilização do recurso das plantas medicinais para emprego na saúde pode ser por

três principais formas: o uso popular; a obtenção de um fitoterápico e a obtenção de

substâncias isoladas (BRAGA et al., 2017). Especificamente os fitoterápicos que são

obtidos com emprego exclusivo de matérias-primas ativas vegetais e constituem

importante fonte de inovação em saúde (BRASIL, 2006)

A partir do reconhecimento desses recursos, o Ministério da Saúde publicou o

Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos para que, em conformidade com

as diretrizes e linhas prioritárias da Política Nacional visa estabelecer com o programa:

acesso seguro e uso racional de plantas medicinais e fitoterápicos no Brasil,

desenvolvimento de tecnologias e inovações, fortalecimento das cadeias e dos arranjos

produtivos, uso sustentável da biodiversidade brasileira e desenvolvimento do Complexo

Produtivo da Saúde e principalmente estimular a produção de fitoterápicos nacionais com

plantas nativas e aumentar o número de registro de fitoterápicos na ANVISA (BRASIL,

2006a; BRASIL, 2009)

Para desenvolvimento de um fitoterápico é necessário adequação à legislação em

vigor, a RDC N°26, de 13 de maio de 2014, que determina os padrões de qualidade para

registro de fitoterápicos por meio de apresentação do laudo de análise contendo detalhes

da coleta e condições de cultivo, informações de secagem e conservação, teste de

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

10

identificação, pureza e integridade, análise quantitativa, caracterização físico química,

contaminantes microbiológicos e controle de qualidade do produto acabado da droga

vegetal, do derivado vegetal e do produto acabado, além dos parâmetros de comprovação

se segurança e eficácia demonstrados através de estudos clínicos e não clínicos (BRASIL

a. 2014).

Com essa resolução foram criadas duas grandes categorias de fitoterápicos:

medicamento fitoterápico e produto tradicional fitoterápico. A diferença entre as duas

categorias é a forma de comprovação da segurança e eficácia. Medicamento fitoterápico

tem que comprovar sua segurança e eficácia por meio de estudos clínicos ou pelo registro

simplificado, enquanto o Produto Nacional Fitoterápico pode comprovar a segurança e

efetividade pela demonstração do tempo de uso na literatura técnico-científica, por

registro simplificado ou notificação (BRASIL, 2014).

No que se refere a comprovação da qualidade, para ambas categorias de fitoterápicos

devem ser feitos os mesmos ensaios. Sendo assim, é importante destacar que fitoterápico

se caracteriza como um produto oriundo de matéria-prima ativa vegetal, não incluindo-se

substância isolada e com a finalidade profilática, curativa ou paliativa (BRASIL, 2014)

A análise microbiológica, solicitada para comprovação da qualidade e objetivo

deste trabalho, é um dos parâmetros de qualidade exigidos pela RDC N°26 de 2014, em

toda a etapa produtiva: droga vegetal, derivado vegetal e produto acabado para

comprovação que a carga microbiana existente não promova prejuízo ao complexo

produtivo e muito menos à saúde do paciente que é o consumidor final (BRASIL, 2014a).

Como parte da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, foi

publicada a Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse do SUS, que lista plantas

medicinais que apresentam potencial para gerar produtos de interesse ao Sistema Único

de Saúde. Dentre elas, estão as espécies do gênero Passiflora: P. alata, P. edulis e P.

incarnata (BRASIL, 2009b).

As espécies de Passiflora são conhecidas popularmente como maracujá,

destacando-se no Brasil a espécie Passiflora edulis f. flavicarpa O. Deg. por ser uma

planta nativa e amplamente cultivada, principalmente na região Nordeste do país para a

produção de suco industrial e produtos alimentícios (SATO, CHABARIBERY,1992;

COUTO et al., 2010).

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No entanto, não tem nenhum fitoterápico registrado na ANVISA que contenha

como ativo o extrato de P. edulis, em vista disso, estudos em andamento do Grupo de

Pesquisa em Produtos Naturais Bioativos da UFRN, vem buscando comprovar a

segurança, eficácia e qualidade dessa espécie em modelos não-clínicos de diabetes,

hipertensão e depressão. De acordo com resultados prévios promissores foi aprovada a

realização de estudos clínicos com P. edulis. Um dos projetos refere-se a dois estudos

clínicos cuja proposta é avaliar o efeito do derivado vegetal (extrato) do pericarpo de P.

edulis (em cápsulas) em pacientes hipertensos e diabéticos.

Dentro do exposto, neste trabalho objetivou-se realizar o controle microbiológico

do derivado vegetal (extrato seco) e das cápsulas contendo o derivado vegetal de

Passiflora edulis f. flavicarpa O. Deg.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. FITOTERAPIA

A fitoterapia é definida como a utilização de plantas medicinais em diferentes

preparações, ausente de substâncias isoladas e utilizada para tratamentos de diferentes

doenças (BRASIL, 2014a) e é uma terapia aplicada desde as civilizações mais remotas

constituindo um importante sistema milenar medicinal que permanece até a atualidade

(MARIA et al., 2013).

Para nortear a dinâmica de utilização de fitoterápicos no Brasil é necessário

entender o histórico cultural e a socio-diversidade de nossas práticas geracionais que estão

intimamente relacionadas à riqueza biológica e recursos naturais disponíveis no país,

estes servem de razão para incentivo do reconhecimento do uso tradicional e popular das

plantas medicinais e remédios caseiros como componentes de promoção à saúde.

(BRASIL, 2006)

É observado na sociedade um crescimento na busca pelo naturalismo que

consequentemente aumenta o emprego de plantas medicinais na terapêutica, mas nesse

caso atrelado a ideia errônea da ausência de substâncias nocivas à saúde.

Simultaneamente, o aumento do uso de fitoterápicos também é justificado pelo

desdobramento científico na química de produtos naturais que proporcionou o

desenvolvimento eficaz e seguro desses medicamentos associados ao cumprimento da

legislação e fiscalização regulamentadas pela ANVISA (GADELHA et al., 2013)

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

12

O emprego de produtos naturais na terapêutica pode ser através de diversas

formas: in natura, em preparações galênicas simples, em formulações farmacêuticas ou

como substâncias puras. No caso das plantas, elas podem ser estudadas para: validar o

uso tradicional, obter um fitoterápico ou obter uma substância ativa pura (BRAGA et al.,

2017).

Tendo em vista a regulação, resgate e valorização da medicina tradicional e

fomento para a pesquisa surgiu a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos

com o objetivo de promover uso racional, acesso seguro, desenvolvimento da indústria

nacional de plantas medicinais e fitoterápicos com inclusão de novas tecnologias de

produção, e certificando-se de que a biodiversidade seja manejada de forma sustentável.

É importante ressaltar também que a política faz o delineamento de diretrizes,

linhas de ações e responsabilidades para integrar a terapêutica com planta medicinais e

fitoterápicos no sistema público de saúde (BRASIL, 2006).Nesse sentido, o Programa

nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos está em concordância com a Política

Nacional pois implementa estratégias, metas, prazos, monitoramento e orientações de

forma detalhada em forma de planos de ação com a finalidade de pôr em prática as

diretrizes determinadas. (BRASIL, 2009a).

Uma das ações foi a publicação da Relação Nacional de Plantas de Interesse do

SUS, que lista plantas medicinais que apresentam potencial para gerar produtos de

interesse ao Sistema Único de Saúde (BRASIL, 2009b). A fim de regulamentar o registro

de medicamentos fitoterápicos e o registro e a notificação de produtos tradicionais

fitoterápicos a RDC nº 26 de 13 de maio de 2014 vem a diferenciar essas categorias

apresentando normas e requisitos mínimos para tal.

Além disso, exige a apresentação de relatórios de segurança e efetividade

(BRASIL, 2014a). Com base nela, é interessante apresentar as duas categorias para

melhor entendimento desse trabalho e seguimento de apresentação de seu controle de

qualidade.

Na RDC n° 26 de 2014 são feitas algumas considerações, entre elas:

Não se considera medicamento fitoterápico ou produto tradicional fitoterápico

aquele que inclua na sua composição substâncias ativas isoladas ou altamente

purificadas, sejam elas sintéticas, semissintéticas ou naturais e nem as

associações dessas com outros extratos, sejam eles vegetais ou de outras fontes,

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

13

como a animal. Os medicamentos fitoterápicos são passíveis de registro e os

produtos tradicionais fitoterápicos são passíveis de registro ou notificação. Não

são objeto de registro ou notificação as preparações elaboradas pelos povos e

comunidades tradicionais do país sem fins lucrativos e não industrializadas.

(BRASIL, 2014a)

As duas categorias são diferentes entre si, sendo o fitoterápico caracterizado por ser

um produto de obtenção exclusiva por meio de matérias primas ativas vegetais, possuindo

dados de uso seguro e efeito na literatura e com fim de utilização para diagnóstico, de

prescrição e monitorização. E o Produto Nacional Fitoterápico também possuem essas

características, no entanto sua efetividade e segurança é baseada em dados publicados na

literatura técnico-científica demonstrando o uso seguro por um período de 30 anos

(BRASIL, 2014a).

2.2. CONTROLE DE QUALIDADE

Entende-se por controle de qualidade o conjunto de medidas que visam garantir a

produção de medicamentos e produtos que atendam aos requisitos de identidade,

atividade, teor, pureza, eficácia e inocuidade (BRASIL, 2019). A fim de dar tratamento

similar em suas análises de qualidade aos medicamentos alopáticos, os fitoterápicos

passam por padronizações devido às suas variações características da espécie vegetal

decorrentes de situações multifatoriais, como: o local de plantio, método de coleta,

estações do ano, manuseio e processamento da matéria prima (FISCHER, 2005).

Para dar origem ao processo de transformação da planta em medicamento deve

ser considerado principalmente a integridade química do princípio ativo com o objetivo

de atingir a ação farmacológica desejada, com isso é de extrema importância a garantia

na qualidade de produção do medicamento baseada nas Boas Práticas de Fabricação e de

Garantia de Qualidade, visando o alinhamento da estrutura produtiva da coleta a

dispensação. (FISCHER, 2005; MUKHERJEE et al., 2015).

Para construção do relatório de qualidade e garantia da correta produção de um

fitoterápico por uma indústria farmacêutica são necessárias diversas análises como

representado no esquema abaixo:

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

14

Figura 1- Esquema de análises e testes que devem ser apresentados no relatório para

solicitação de registro de um fitoterápico (BRASIL, 2014b).

Fonte: Do autor

Os materiais vegetais naturalmente contém fungos e bactérias, alguns são próprios

de sua microbiota, outros são contaminantes que podem surgir durante o processo de

manipulação e por isso o estudo de qualidade microbiológico deve ser realizado para

levantamento dos níveis de contaminação da matéria prima ao produto acabado e

comparar com os níveis aceitáveis de micro-organismos para cada preparação e

identificação daqueles considerados patógenos (BRASIL, 2019).

No caso do derivado vegetal e da forma farmacêutica, objetos de estudo deste

trabalho, são apresentados os limites aceitos na tabela 1.

Tabela 1: Limites Microbianos para preparações farmacêuticas

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

15

Tipo de

Preparação

Contagem total de

bactérias aeróbias

UFC/g ou mL

Contagem total de

Fungos/ leveduras

UFC/g ou Ml

Pesquisa de

Patógenos

Preparação para

uso oral contendo

matéria-prima de

origem natural

10⁴ 10² Ausência de

Salmonella em

10 g, ou 10 mL.

Limite máximo

de 10² bactérias

Gram negativa

bile tolerante b

em 1 g, ou mL.

Extrato seco 10⁴ 10³ Ausência de

Salmonella spp e

Escherichia

coli em 10 g

Drogas vegetais

que serão

submetidas a

processos

extrativos a frio

10⁵ 10³ Limite máximo

de 10¹

Escherichia coli

em 1 g.

Limite máximo

de 10³ bactérias

Gram negativa

bile tolerante b

em 1 g, ou mL.

Ausência de

Salmonella em

10 g Fonte: adaptado de BRASIL, 2019

Este estudo também é de apresentação obrigatória segundo a RDC N°26, de 13 de

maio de 2014 que determina padrões de qualidade para registro de fitoterápicos por meio

de apresentação do laudo de análise da droga vegetal, derivado vegetal e do produto

acabado para garantia do uso seguro do medicamento. (BRASIL, 2014a)

A Farmacopeia Brasileira 6ª edição dedica em seu segundo volume uma seção

apenas para plantas medicinais, que contêm as monografias de drogas vegetais,

preparações vegetais (tinturas e extrato fluído) e óleos gorduras e ceras. Na Farmacopeia

Brasileira 6ª edição consta a monografia da droga vegetal de Passiflora edulis Sims

(folhas secas) com as especificações e orientações quanto a identificação, testes de pureza

e doseamento (BRASIL, 2019).

Importante mencionar que embora descrita na Farmacopeia Brasileira como

Passiflora edulis Sims em site confiável utilizado mundialmente, a nomenclatura

científica aceita é Passiflora edulis f. flavicarpa O. Deg. para o maracujá amarelo (THE

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

16

PLANT LIST, 2013). No entanto, ainda não há dados farmacopeicos referente ao controle

de qualidade físico-químico e microbiológico do pericarpo de Passiflora edulis, apenas

para as folhas secas (droga vegetal).

2.3. HISTÓRICO DA FAMÍLIA Passifloraceae E O GÊNERO Passiflora

Ao analisar a família Passifloraceae, observou-se que literatura essa está dividida

em duas tribos – Paropsieae e Passiflorieae. No continente latino-americano a tribo

Passiflorieae está descrita em quatro gêneros: Ancistrothyrsus Harms, Dilkea Mast.,

Mitostemma Mast. e Passiflora L. Dessas, o gênero Passiflora L. são prevalentes na

América do Sul, mas encontram-se também em estado nativo nos Estados Unidos da

América, ressaltando que no mundo foram contabilizadas em torno de 520 espécies

(CERVI, 2005).

A planta recebeu o nome de Passiflora, conhecida também por flor da paixão e

esta denominação deve-se à primeira espécie descoberta, que é hoje descrita como

Passiflora incarnata L (CERVI, 2005). Passiflora edulis é considerada uma espécie

nativa e não endêmica que ocorre em diversos biomas por todo o território brasileiro como

cerrado, caatinga, pantanal e mata atlântica com menor incidência no norte do país

(CERVI, 1997).

Dentro deste gênero existem duas variedades: Passiflora edulis f. edulis Sims,

chamada de maracujá roxo e o maracujá amarelo ou azedo, que é caracterizado como P.

edulis f. flavicarpa O. Deg. (ULUBELEN et al., 2001). O maracujá amarelo é descrito

como uma mutação da variedade roxa e também se teoriza sobre uma hibridização natural

entre P. edulis fo. edulis e outras espécies (VANDERPLANK, 2000)

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

17

Figura 2: Flor, folhas e fruto de P. edulis f. flavicarpa O. Deg.

Fonte: (EMBRAPA, 2020)

O uso medicinal das folhas de Passiflora spp. é descrito na literatura

principalmente para tratar insônias e como calmantes, mas também tem relatos de ação

desobstruente, diuréticas em cozimentos e fermentações e úteis contra irritações do

aparelho bronco-pulmonar. As raízes, folhas e sementes possuem atividade anti-

helmínticas (CERVI, 1997, 2005). Para o pericarpo não foram encontrados dados na

literatura sobre o uso popular.

Em relação aos fitoterápicos já registrados na ANVISA que contêm como ativo

extrato de Passifora, foi encontrado apenas medicamentos com P. incarnata. Alguns anos

atrás havia registro de um fitoterápico com P. alata amplamente utilizado (Maracujina®),

no entanto, atualmente esse fitoterápico contém como ativo o extrato de P. incarnata.

Portanto, até presente momento da pesquisa, não foi identificado registro de fitoterápico

que contenha o extrato de Passiflora edulis f. flavicarpa O. Deg.

A Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse do SUS constitui uma lista

de plantas medicinais que demonstram potencial para serem utilizadas no SUS, nela estão

inclusas 71 espécies, entre elas P. alata, P.incarnata e P. edulis (BRASIL, 2009b). Na 5ª

edição da Farmacopeia Brasileira, em 2010, foi incluída a monografia de Passiflora edulis

para as folhas secas (BRASIL, 2010), sendo mantida também na 6ª edição com alterações

referentes ao controle de qualidade para a droga vegetal (BRASIL, 2019)

Quanto a composição química da P. edulis é citado na literatura em maior volume

os estudos realizados com as folhas, que descrevem os flavonoides como metabólitos

secundários majoritários, em destaque para a isovitexina e a isoorientina que são os

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

18

marcadores para controle de qualidade das folhas justificado pelo fato de terem maior

teor quantificado (BRASIL, 2019)

Figura 3: Estrutura química dos marcadores das folhas de P. edulis descritos na Farmacopeia Brasileira 6ª

edição.

Fonte: Do autor

No que se refere ao pericarpo de P. edulis, além de isoorientina e isovitexina,

outros flavonoides já foram descritos: orientina, vicenina-2, hiuganosídeo IIIa e IIIb , α-

tocoferilquinona, alangiosídeo A, longiflorosídeo B, cirusina A e B (CHASSAGNE e

CROUZET, 1996; KULKARNI e VIJAYANAND, 2010; ZERAIK et al., 2011;

CAZARIN et al., 2016; VIGANÓ et al., 2016; HU et al., 2017; GOSS et al., 2018) O

grupo mais citado e descrito em literatura são os flavonoides.

Os outros metabólitos secundários descritos são: glicosídeos cianogênicos, ácidos

fenólicos, triterpenos, esteroides, compostos voláteis, saponinas e pectina (DE-PARIS et

al., 2002; ZUCOLOTTO et al., 2012; JANZANTTI et al., 2012; OLIVEIRA et al., 2012;

XU et al., 2013; JANZANTTI e MONTEIRO, 2014; COELHO et al., 2018).

Poucos estudos farmacológicos foram documentados com o pericarpo de P. edulis

em relação aos que já existem com as folhas. Na busca referente ao pericarpo, foi

verificado que a maioria dos estudos utilizaram a farinha da casca (previamente seca e

moída) a fim de avaliar a atividade antidiabética, outros estudos avaliaram extratos

metanólicos e aquosos, esses com a finalidade de observar a atividade anti-hipertensiva.

Em suma, outros estudos relatam as seguintes atividades farmacológicas:

antioxidante (ZERAIK et al., 2011, CAZARIN et al., 2014, SILVA et al, 2014, FAVERI

et al., 2020), antimicrobiano (NUGRAHA et al., 2018), antidiabético (ICHIMURA et al.,

ISOORIENTINA ISOVITEXINA

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

19

2006, SALGADO et al, 2010, JANEBRO et al., 2008), anti-hipertensivo (ICHIMURA et

al., 2006, LEWIS et al., 2013, ZIBADI et al., 2007), ansiolítico, hepatoprotetor,

nefroprotetor (NERDY e RITARWAN, 2019) e benefícios no tratamento da orteoartrite

(FARID et al., 2010).

Em relação a dados sobre a toxicidade do pericarpo de P. edulis, não foram

encontrados estudos in vivo com essa avaliação, apenas estudos com as folhas (AMARAL

et al., 1001; DEVAKI et al., 2012), no entanto esse estudo foi realizado no Grupo de

Pesquisa em Produtos naturais e bioativos como parte de um projeto de doutorado mas

que ainda não foram apresentados os resultados.

Foi observado que até o momento os estudos aqui relatados não usaram extratos

padronizados, que são caracterizados a partir da adição de conteúdo definido de

constituinte ativo com atividade terapêutica conhecida, ou quantificados, que devem ser

identificados a partir do teor de marcador ativo dentro da faixa definida (BRASIL, 2019)

nem há registros sobre análises de controle de qualidade.

O fato de terem sido usados extratos aquosos das folhas não descartam a

importância de realização de estudos que comprovem a segurança de outras partes da

planta, principalmente o pericarpo, visto que ele é tratado como resíduo.

Na busca pelo desenvolvimento de novos medicamentos para tratamento de

hipertensão e diabetes e seguindo a proposta de desenvolver fitoterápicos com espécies

nativas do país, no Grupo de Pesquisa em Produtos Naturais Bioativos (PNBio) está em

andamento uma tese de doutorado com o objetivo de avaliar a composição fitoquímica, o

perfil de toxicidade e o potencial efeito farmacológico de extrato do pericarpo de P. edulis

f. flavicarpa em modelo não clínico de hipertensão e de diabetes e estudos clínicos com

pacientes hipertensos e diabéticos.

Em vista disso, neste trabalho objetivou-se avaliar o controle microbiológico dos

extratos e de cápsulas contendo o extrato do pericarpo de P. edulis. As cápsulas analisadas

foram preparadas para utilização no estudo clínico para avaliação de atividade

antidiabética.

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

20

3. OBJETIVOS

3.1. OBJETIVO GERAL

O objetivo deste trabalho foi realizar o controle de qualidade microbiológico do

derivado vegetal seco e das cápsulas contendo o derivado vegetal seco de Passiflora

edulis f. flavicarpa O. Deg.

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Avaliar a viabilidade do derivado vegetal e produto acabado quanto a qualidade

baseada na legislação vigente.

Realizar ensaio de contagem de microorganismos mesofílicos para derivado

vegetal e cápsulas contendo derivado vegetal de P. edulis preconizados na Farmacopeia

Brasileira.

Realizar a pesquisa dos microrganismos patógenos nas amostras de derivado

vegetal e nas cápsulas contendo o derivado vegetal de P. edulis através dos ensaios

preconizados na Farmacopeia Brasileira.

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

21

4.0. METODOLOGIA:

4.1. COLETA DO MATERIAL VEGETAL

Os frutos foram coletados no período de frutificação em uma região de cultivo na

propriedade Gurjaú, localizada no município de Coronel Ezequiel, no estado do Rio

Grande do Norte a latitude: -S06° 23’ 44,2” O036° e de comprimento: 75 m 10’ 23,7”.

Os frutos estavam em estágio final de amadurecimento. No Herbário da UFERSA, as

amostras foram identificadas e depositadas sob número de referência ICN13751.6. O

acesso ao patrimônio genético e ao conhecimento tradicional associado para fins de

pesquisa científica foi registrado no SISGEN (A618873).

4.1.1. OBTENÇÃO DOS EXTRATOS

Para obtenção do extrato, foi retirada a polpa do fruto e o pericarpo foi submetido

a secagem em estufa com temperatura de 55° C por 48 horas. O pericarpo seco foi

triturado em moinho de facas para obtenção do pericarpo pulverizado (denominado de

farinha de P. edulis).

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

22

A partir da farinha (casca seca pulverizada) do pericarpo de P. edulis foi obtido o

extrato hidroetanólico (AFM). O extrato foi preparado a partir da farinha, pelo método de

maceração, que consiste em deixar a droga vegetal em contato com o solvente (etanol:

água 50:50, v/v) pelo período de 7 dias, a proporção de droga vegetal e solvente é 1:20.

Ao final do período pré-estabelecido, foi realizada a filtração.

O extrato foi concentrado com auxílio de um rota-evaporador, à temperatura de

40°C e sob pressão reduzida, até eliminação total de solvente orgânico, em seguida foi

liofilizado para gerar o extrato seco.

Figura 4: Representação esquemática das etapas de obtenção do

pericarpo, farinha (droga vegetal) e extrato hidroetanólico de P. edulis

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

23

4.1.2. PREPARAÇÃO DAS CÁPSULAS

As cápsulas com o extrato liofilizado de Passiflora edulis foram manipuladas em

uma farmácia de manipulação de Natal-RN em duas etapas, a primeira foi a preparação

do placebo e a segunda a preparação das cápsulas.

Primeiramente, foi realizada a determinação da densidade do extrato pelo método

da cápsula a fim de escolher a cápsula a ser utilizada. Esse método consistiu em pesar 3

cápsulas vegetais n° 0 vazias de volume 0,67 ml, retirar seus invólucros e colocá-las na

encapsuladeira onde foi depositado uma quantidade empírica de extrato que completasse

o volume total. Após o encapsulamento, as cápsulas cheias foram fechadas, polidas e

pesadas. Os valores estão representados na tabela 2 e com eles foi calculada a densidade

do extrato. O excipiente escolhido foi o talco devido a característica higroscópica do

extrato.

Tabela 2: Método das cápsulas para determinação de densidade de extrato

Cápsula 1 vazia 0,078 g Cápsula 1

cheia

0,293 g

Cápsula 2 vazia 0,078 g Cápsula 2

cheia

0,300 g

Cápsula 3 vazia 0,078 g Cápsula 3

cheia

0,317 g

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

24

4.1.3. CONTAGEM DE MICROORGANISMOS MESOFÍLICOS

Os testes de contagem total de microrganismos viáveis foram realizados conforme

a Farmacopeia Brasileira 5ª edição volume I (2010), compendio vigente no período do

ensaio.

Para os testes com o extrato seco, a amostra 1 foi preparada a partir da pesagem

da quantidade de 10 g do extrato em Erlenmeyer de 250 mL e diluída em 90 mL de Salina

Estéril (1:10) .A partir dessa solução, foi preparada a amostra 2 onde transferiu-se 10 mL

da solução 1:10 para um Erlenmeyer de 250 mL e completou-se o volume com 90 mL do

mesmo diluente (1:100). Por fim, para a amostra 3 foram retirados 10 mL da solução

1:100 e transferidos para Erlenmeyer de 250 mL e completou-se o volume com 90 mL de

Salina Estéril (1:1.000).

Para o preparo das amostras das cápsulas, foram utilizadas 10 unidades destas e o

conteúdo inserido a um Erlenmeyer de 250 mL com 90 mL de salina estéril (Amostra 1-

1:10), a solução foi submetida a aquecimento em banho maria para auxiliar na dissolução.

A partir dessa solução, foram preparadas as amostras 2 (1:100) e 3 (1:1000) da mesma

forma descrita para o extrato.

O passo seguinte foi a execução do método de contagem em placas para bactérias,

que foi realizado para cada amostra de extrato e cápsulas, onde adicionou-se 100 μl de

cada amostra por meio do método (Spread Plate) em 20 mL do Meio Ágar caseína-soja

solidificado em placas de Petri. Foram preparadas três placas de Petri para cada diluição,

totalizando 9 placas para o extrato e 9 para as cápsulas e estas foram incubadas a 35 °C,

por 5 dias.

A execução do método de contagem em placas para fungos foi feita a partir da

adição de 100 μl da amostra por meio do método (Spread Plate) em 20 mL do Meio Ágar

Sabouraud Dextrose solidificado em placas de Petri. Foram preparadas três placas de Petri

para cada diluição, totalizando 9 placas para o extrato e 9 para as cápsulas e estas foram

incubadas a 25 °C, por 7 dias.

Após a incubação, para todas as amostras, foram efetuadas as médias aritméticas

dos números de colônias por placa e a partir dos valores, obteve-se o número de

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

25

microrganismos por grama, multiplicando-se pela diluição usada. Os resultados foram

expressos em unidades formadoras de colônias (UFC).

4.1.4. PESQUISA E IDENTIFICAÇÃO DE PATÓGENOS

O método de pesquisa e identificação de patógenos foi realizado conforme

descrito na Farmacopeia Brasileira Volume I (2010). Para cada micro-organismo

patogênico foram feitas etapas de pré-enriquecimento para garantir a recuperação destes,

caso estivessem presentes. Após este primeiro procedimento foram realizadas as etapas

da fase seletiva, onde as amostras foram semeadas em meios seletivos e observado sua

macroscopia.

As propriedades dos meios de cultura e os motivos pelos quais foram utilizados

no desenvolvimento desse trabalho estão representados na tabela 3:

Tabela 3: Meios de cultura utilizados

Meio de Cultura Propriedades Uso Referência

Ágar Mac Conkey

Contém cristais

violeta que auxilia

no crescimento de

bactérias gram

negativas e inibem

o crescimento de

gram positivas, em

especial

enterococos e

estafilococos.

Promover

crecimento de E.

coli

(BRASIL, 2004)

Ágar XLD

É um meio seletivo

utilizado para o

isolamento e

diferenciação de

bactérias

patogênicas

entéricas gram-

negativas.

(Salmonella e

Shigella)

Identificar o

crescimento de S.

enterica ssp

sorotipo

typhimurium

ou S. entérica ssp

sorotipo abony

(TAYLOR, W.I.

1965)

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

26

Salmonella sp.

Em salina estéril foi solubilizado 10 g do extrato seco (amostra 1) e 10 unidades

de cápsulas (amostra 2) com extrato seco de P. edulis na proporção 1:10, p/v,

homogeneizadas e incubadas a 35 °C durante 24 horas.

Após a pré-incubação, cada amostra foi homogeneizada e transferida 0,1 mL do

seu conteúdo para 10 mL de Caldo enriquecimento Salmonella Rappaport Vassiliadis,

incubadas a 35 °C por 24 horas. Transferiu-se, com auxílio de swab estéril, o material

enriquecido no meio seletivo, para placa de Petri contendo Ágar xilose lisina

desoxicolato, em duplicata, usando o método de estrias em superfície. As placas foram

incubadas a 35 ºC, durante 48 horas.

Escherichia coli

Foi preparada uma diluição inicial de concentração 1:10 para as amostras de

extrato seco e cápsulas. Para o extrato seco (amostra 1) foi realizado a pesagem de 10g

de extrato e 90ml de salina estéril como na contagem de microorganismos mesofílicos e

para as cápsulas (amostra 2) foram utilizadas 10 cápsulas para 90mL de salina estéril e

aquecidas em banho maria até solubilizar.

Em seguida, foi transferido 10 mL dessa diluição para 90 mL de caldo de

enriquecimento (Caldo caseína-soja), homogeneizado e incubado a 35° C por 24 horas.

Destas foi transferido 1 mL das amostras enriquecidas para 100 mL de Caldo

MacConkey. As amostras foram incubadas a 44 °C durante 24 horas. Transferiu-se, com

auxílio de swab estéril, os materiais enriquecidos no meio não seletivo, para placas de

Petri contendo ágar Mac Conkey, usando o método de estrias em superfície. As placas

foram incubadas a 35ºC, durante 24 horas.

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

27

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. OBTENÇÃO DOS EXTRATOS

O rendimento obtido referente a farinha do pericarpo de P. edulis foi de 16,0 ± 0,4

%, e o rendimento do extrato é de 22,5 ± 1,7 %.

5.2 PREPARO DAS CÁPSULAS

A partir dos valores aferidos das pesagens foi determinado a média de 0,45 g/ml.

o talco, de densidade 0,591 g/ml. A partir da fórmula da densidade, foi constatado que

em cada cápsula continha 0,3995 g de extrato e 0,3015 g de excipiente.

5.3 CONTAGEM TOTAL DE MICROORGANISMOS MESOFÍLICOS

A contagem total de microrganismos mesofílicos é um método que consiste na

contagem da população de microrganismos que apresentam crescimento visível e é

aplicado para produtos e matérias primas não-estéreis com a finalidade de determinar o

número de bactérias e fungos presentes. (BRASIL, 2019)

A contagem realizada em cada placa para as amostras analisadas está representada

nas tabelas 4, 5, 6, 7, 8 e 9. As cápsulas com o derivado vegetal apresentaram crescimento

de bactérias e fungos em ambos os meios de cultura. Na contagem das cápsulas, a média

de fungos foi expressa em unidade formadora de colônia no valor de 2,01x10⁴ UFC/ml

considerando a contagem total em ATSC e AS (Valores individuais demonstrados nas

tabelas 4 e 5).

Tabela 4: Contagem de fungos/leveduras no meio ATSC referente as cápsulas com

derivado vegetal seco.

Ágar Caseína de Soja – Contagem de Fungos

Diluição Colônias

1:10 36 54 37

1:100 34 63 80

1:1000 54 59 60 Fonte: Do autor

Tabela 5: Contagem de fungos/leveduras no meio AS referente as cápsulas com derivado

vegetal seco.

Ágar Sabouraud – Contagem de Fungos

Diluição Colônias

1:10 46 29 52

1:100 28 34 41

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

28

1:1000 48 67 49 Fonte: Do autor

Na contagem total das cápsulas, a média de bactérias foi expressa em unidade

formadora de colônia no valor de 8,78x10² UFC/ml considerando a contagem total em

ATSC e AS (Valores individuais demonstrados nas tabelas 6 e 7, respectivamente).

Tabela 6: Contagem de bactérias no meio ATSC referente as cápsulas com derivado

vegetal seco.

Ágar Caseína de Soja – Contagem de Bactérias

Diluição Colônias

1:10 130 115 100

1:100 30 50 65

1:1000 0 0 0 Fonte: Do autor

Tabela 7: Contagem de bactérias no meio AS referente as cápsulas com derivado vegetal

seco.

Ágar Sabouraud – Contagem de Bactérias

Diluição Colônias

1:10 52 42 20

1:100 20 15 10

1:1000 0 0 0 Fonte: Do autor

Já para os extratos, o perfil do crescimento microbiano foi diferente. As bactérias

foram identificadas no meio ATCS com contagem total de 1,98x 10² UFC/ml de extrato

e os fungos apresentaram-se no meio AS com valor total de 7x10¹ UFC/ml de extrato.

Tabela 8: Contagem de bactérias no meio ATCS referente ao extrato seco

Ágar Caseína Soja – Contagem de Bactérias

Diluição Colônias

1:10 80 150 160

1:100 300 200 300

1:1000 0 0 0 Fonte: Do autor

Tabela 9: Contagem de fungos e leveduras no meio AS referente ao extrato seco

Ágar Sabouraud – Contagem de Fungos

Diluição Colônias

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

29

1:10 60 80 0

1:100 0 0 0

1:1000 0 0 0 Fonte: Do autor

As Figuras 5, 6, 7, 8, 9 e 10 representam os crescimentos fúngicos e bacterianos

após a incubação do extrato seco e das cápsulas com o derivado vegetal nos meios de

cultura ATSC e AS, onde foi realizada a contagem dos micro-organismos.

Fonte: Do autor

Figura 5: Meio de cultura ATSC semeado com amostra 2 da diluição 1:10 do derivado

vegetal de P. edulis e semeado com amostra 2 da diluição 1:10 das cápsulas.

Extrato Seco P. edulis

Cápsulas

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

30

Figura 6: Meio de cultura ATSC semeado com amostra 3 da diluição 1:100 do derivado

vegetal de P. edulis e semeado com amostra 3 da diluição 1:100 das cápsulas.

Fonte: Do autor

Cápsulas

Extrato Seco P. edulis

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

31

Figura 7: Meio de cultura ATSC semeado com amostra 1 da diluição 1:1000 do derivado

vegetal de P. edulis e semeado amostra 1 da diluição 1:100 das cápsulas.

Fonte: Do autor

Extrato Seco P. edulis

Cápsulas

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

32

Figura 8: Meio de cultura AS semeado com amostra 3 da diluição 1:10 do extrato de P.

edulis e semeado com amostra 3 da diluição 1:10 das cápsulas.

Fonte: Do autor

Cápsulas

Extrato Seco P. edulis

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

33

Figura 9: Meio de cultura AS semeado com amostra 3 da diluição 1:100 do derivado

vegetal de P. edulis e semeado com amostra 3 da diluição 1:100 das cápsulas.

Fonte: Do autor

Extrato Seco P. edulis

Cápsulas

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

34

Figura 10: Meio de cultura AS semeado com amostra 1 da diluição 1:1000 do derivado

vegetal de P. edulis e semeado com amostra 1 da diluição 1:1000 das cápsulas.

Fonte: Do autor

Na Farmacopeia Brasileira 6ª edição é preconizado quanto aos limites

microbianos para produtos não estéreis, que extrato seco deve apresentar no máximo 10⁴

UFC/ml de bactérias aeróbias e 10² UFC/ml de fungos e o produto acabado para uso oral

contendo insumo ativo que não foi submetido a pré-tratamento que reduz a carga

Extrato Seco P. edulis

Cápsulas

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

35

microbiana deverá conter no máximo 10⁵ UFC/ml de bactérias aeróbias e 10³ de UFC/ml

de fungos. (BRASIL, 2019) Seguindo esse parâmetro vigente, o derivado vegetal (extrato

seco) está de acordo, no entanto as cápsulas contendo o derivado vegetal apresentaram

valores que não estão adequados como exige o compêndio oficial.

Os produtos farmacêuticos estão sujeitos à contaminação por bactérias

heterotróficas, fungos e leveduras, estes podem ser oriundos da falha no processo de

produção, estocagem ou uso da matéria-prima de baixa qualidade (ANDRADE et al.,

2005; DENYER, BAIRD, 1990), fatores que interferem na qualidade final do produto.

Os produtos manipulados são produzidos de acordo com cada prescrição, o que dificulta

regularizá-los como um todo.

Estes, possuem diversas fontes de contaminação, dentre elas o fracionamento da

matéria-prima, que pode levar ao carreamento de partículas, que contribui com o aumento

da contaminação microbiana (YAMAMOTO et al., 2004), pureza do ar comprimido e

qualidade do ar ambiente, materiais de acondicionamento e embalagens, equipamentos e

utensílios da produção, e principalmente os cuidados e boas práticas de fabricação do

pessoal operacional (AMARAL, 2017).

O processo de envase e rotulagem de medicamentos é uma preocupação constante

para as farmácias e indústrias devido as contaminações cruzadas que um

acondicionamento inapropriado pode gerar. No entanto, a maior fonte de contaminação

microbiana relatada é da equipe de manipulação, visto que as bactérias da microbiota

podem ser transportadas pelo ar (PARKER, HODGES, 2005). É justificável que produtos

oriundos de processos controlados por indústrias apresentem menor indicie de

contaminação devido a forma de produção ser com lotes de grande magnitude e

necessitando de um rigoroso controle de qualidade baseado em auditorias e investigações

internas, padronizado e documentado. (KERN, BLEVINS, 1999)

Uma alternativa para minimizar a carga microbiana nos produtos é a irradiação

(GINDRI et al., 2012) e pode ser um processo viável para produção das cápsulas,

enfatizando a necessidade de um controle de qualidade rigoroso que identifique possíveis

ajustes no desenvolvimento.

A atenção com o controle de qualidade dos medicamentos é assunto relevante,

emergente e importante para o ramo farmacêutico. Os produtos não estéreis possuem grau

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

36

de tolerância à presença de microrganismos, entretanto estes devem respeitar os valores

limites determinados pela legislação, devido as altas cargas microbianas ocasionarem

patologias, principalmente em pacientes com sistema imune deprimido, onde nesses casos

a consequência pode ser grave e irreversível. A importância do controle microbiológico

de produtos farmacêuticos se deve ao compromisso em constatar a segurança, eficácia e

aceitabilidade em concordância com a legislação vigente. (BRASIL, 2014a, 2019)

Como o extrato apresentou resultado dentro dos limites microbianos aceitáveis,

pode-se hipotetizar que na produção, material de embalagem, armazenamento ou no

transporte das cápsulas houve contaminação por; manuseio com as luvas contaminadas,

descumprimento de boas práticas de fabricação ou contaminação por fungos filamentosos

presentes no ar, visto que nas análises, os controles da capela e estufa sempre

apresentaram-se negativos.

5.2. PESQUISA DE MICRO-ORGANISMOS PATOGÊNICOS

O teste de pesquisa e identificação de patógenos é um método que permite a

detecção da presença de células viáveis de micro-organismos patogênicos como

Salmonella sp., Escherichia coli, Pseudomonas aeruginosa, Staphylococus aureus, entre

outros onde o resultado deve satisfazer às exigências microbiológicas farmacopeicas,

ficando dentro do limite microbiano para produtos não estéreis (BRASIL, 2010; BRASIL,

2019).

Os produtos testados para a pesquisa de patógenos foram o derivado vegetal

(extrato seco) e as cápsulas com o extrato seco. Os micro-organismos indicados para

pesquisa na Farmacopeia Brasileira são Escherichia coli e Salmonella.

De acordo com a Farmacopeia Brasileira, para drogas vegetais que foram

submetidas a processos extrativos a frio deve se considerar conter no máximo 10¹ UFC

de Escherichia coli em 1 g e ausência de Salmonella em 10 g de produto. Já para

preparações de uso oral contendo matéria-prima de origem natural considera-se como

dentro dos limites aceitáveis a ausência de Salmonella spp e Escherichia coli em 10 g de

produto (BRASIL, 2010)

Escherichia coli

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

37

O resultado demonstrado após semeadura foi que a amostra cumpriu ao teste pois

não apresentou crescimento de colônias vermelhas não mucosas, como representado na

figura 10 que são descritas como macroscopia condizente a E. coli, considerado então

como critério aceitável para ausência do micro-organismo.

Figura 11: Ágar Mac Conkey onde foi semeado Extrato seco (derivado vegetal) e

cápsulas que não apresentaram crescimento de colônias com características compatíveis

com E. coli. Na imagem está representado 1 placa de cada amostra, no entanto foram

utilizadas quatro placas para cada produto.

Fonte: Do autor

Salmonella

O resultado demonstrado após semeadura foi que o produto (derivado vegetal)

cumpriu ao teste pois não apresentou colônias vermelhas com ou sem centro negro que

são características da macroscopia condizente a Salmonella, determinando ausência do

micro-organismo como representado nas figuras 12 e 13.

Extrato Seco P. edulis

Cápsulas

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

38

Figura 12 – Extrato seco (derivado vegetal) semeados no meio XLD, amostra em

duplicata, onde não apresenta crescimento de colônias.

Fonte: Do autor

Figura 13 – Cápsulas semeadas no meio XLD, amostra em duplicata, onde não apresenta

crescimento de colônias.

Fonte: Do autor

O fato de não ter sido identificado microorganismos patogênicos permite teorizar

que apesar de haver uma carga microbiana no extrato e nas cápsulas esta não se trata de

bactérias que poderiam trazer prejuízos aos pacientes que vierem a fazer uso desse

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CURSO DE

39

produto (BRASIL, 2019). Quanto às cápsulas, sua contagem total de microorganismos

mesofílicos está fora da adequação farmacopeica e portanto é necessário viabilizar um

processo de produção em acordo com as BPFs estabelecidas e também verificar um

método de eliminação eficaz para redução microbiana eficaz, a adoção desses métodos

permite uma segurança e as medidas preventivas e de controle do processo de fabricação

existem para garantir qualidade em todo o processo produtivo e principalmente do

produto final.

Falhas nessas etapas podem levar ao comprometimento do desempenho do

produto que geram: quebra da estabilidade da formulação, alteração das características

físicas e químicas como a inativação do princípio ativo do produto (NASCIMENTO et

al., 2005; YAMAMOTO et al., 2004). Pela condição do produto não apresentar bactérias

patogênicas nos leva a teorizar em corroboração com o exposto que a adequação às BPFs

e adição de um processo eficaz de eliminação microbiana podem ajustar esse

medicamento aos padrões das legislações vigentes e em concordância com os outros

padrões de controle de qualidade atendidos autorizar sua comercialização, no entanto é

necessário afirmar que esse resultado não indica a ausência de outros microorganismos

que podem prejudicar a saúde dos pacientes, portanto a segurança para seu uso no ensaio

clínico.

6. CONCLUSÃO

Os resultados obtidos mostram que há presença de microrganismos nas amostras

do derivado vegetal (extrato seco) e cápsulas com extrato seco de P. edulis. De acordo

com os limites preconizado na Farmacopeia Brasileira 6ª edição apenas o derivado

vegetal está dentro das condições descritas como aceitáveis, já as cápsulas contendo o

derivado vegetal o valor de UFC g-1 ultrapassou o limite estabelecido para fitoterápicos

que seria de 10⁵ UFC/ml de bactérias aeróbias e 10³ de UFC/ml de fungos e apresentou-

se com uma média de fungos de 2,01x10⁴ UFC/ml. Assim, para se determinar a origem

de contaminação e garantir a qualidade do produto durante o processo de produção, um

controle de qualidade de acompanhamento durante o processo de produção deveria ser

implementado e executado.

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7. REFERÊNCIAS

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