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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA JOÃO GOMES DA ROCHA A PRÁTICA MUSICAL NAS OFICINAS DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO: um estudo em duas escolas da rede municipal do Natal/RN NATAL/RN 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

JOÃO GOMES DA ROCHA

A PRÁTICA MUSICAL NAS OFICINAS DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO:

um estudo em duas escolas da rede municipal do Natal/RN

NATAL/RN

2016

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JOÃO GOMES DA ROCHA

A PRÁTICA MUSICAL NAS OFICINAS DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO:

UM ESTUDO EM DUAS ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DO NATAL/RN

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Música da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte – UFRN –

linha de pesquisa, Processos e dimensões da

formação em música, como requisito

parcial para obtenção do título de Mestre

em Música.

Orientadora: Prof.ª Dr. Valeria Lazaro de

Carvalho

NATAL/RN

2016

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A PRÁTICA MUSICAL NAS OFICINAS DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO:

UM ESTUDO EM DUAS ESCOLAS DA REDE MUNICIPAL DO NATAL/RN

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

(UFRN), na área de concentração – Processos e Dimensões da

Formação em Música, como requisito parcial para a obtenção do

título de Mestre em Música.

APROVADA EM: ____/____/____.

BANCA EXAMINADORA

Presidente, Professora Dra. Valéria Lázaro de Carvalho- UFRN

Orientadora

Membro Interno, professor Dr. Luis Ricardo Silva Queiroz- UFPB

1ª Examinador

Membro Externo, professora Dra. Cristiane Maria Galdino de Almeida - UFPE

2ª Examinador

NATAL/RN

2016

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Dedico este trabalho a minha Mãe que com muito esforço me

criou e me deu condições para que eu estivesse onde estou hoje,

ao meu Pai (in memoriam) que me deixou uma herança

incalculável – a música. A minha linda esposa que sempre esteve

ao meu lado nessa jornada.

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AGRADECIMENTOS

Ao senhor Deus, autor e consumador da nossa fé que me possibilitou concluir

mais uma jornada da minha vida. Toda honra e gloria a ELE.

Aos meus pais Neide e José Renato pela vida que me deram e irmãos pela alegria

que me proporcionam.

A minha lindíssima esposa Raphaela, que amo tanto, pela paciência e

companheirismo.

A minha orientadora professora Valéria Carvalho que com muito amor e paciência

me orientou neste trabalho. Muito obrigado!

Aos meus professores: Mestre Wilson, Paulo Brunis, Arcésio Andrade e João

Raone que contribuíram para minha formação enquanto musico e professor.

Aos professores do Programa de Pós-graduação em música (PPGMUS/UFRN), Jean

Joubert, Amélia Dias, Agostinho Jorge, por terem contribuído com a minha formação durante

esse período do curso de mestrado. E a Deja, secretária do PPGMUS, pela disponibilidade em

sempre ajudar.

A professora Cristiane Galdino e ao professor Luis Ricardo pela leitura atenta e por

todas as contribuições dadas ao trabalho na banca de qualificação e defesa.

Aos meus colegas da turma de mestrado: Valdier Ribeiro, Ana Lucia, Fernando

Martins, Rodrigo Melo, Magno Augusto, Kleber Moreira e Midiam de Souza por termos

compartilhado tantos momentos importantes.

A todos que contribuíram de alguma forma com a realização deste sonho,

muitíssimo obrigado!

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“Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras,

notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria sobre os

instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma

me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco

linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a

produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes. ”

(Rubem Alves)

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RESUMO

A proposta para o presente trabalho surgiu a partir de pesquisa realizada pelo Grupo de

Estudos e Pesquisa em Música (GRUMUS) da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte (UFRN) que ao verificar como ocorria o ensino de música nas escolas municipais

do Natal-RN constatou que a prática musical extracurricular era bastante acentuada. Tais

práticas ocorriam a partir das oficinas de música do Programa Mais Educação, que na fala

dos gestores cumpria o que determinava a lei 11.769/2008. Alguns aspectos como gestão

do programa, a prática pedagógica dos monitores e aprendizagem dos alunos por meio

das aulas de música das oficinas se destacaram como itens relevantes para a pesquisa e

foram os pontos centrais deste estudo. Neste sentido, procuramos compreender como

ocorria a inserção da música através da proposta da oficina do programa Mais Educação

no contexto escolar. Por meio de uma abordagem qualitativa, fizemos uso do estudo

multicaso como técnica de pesquisa realizado em duas escolas da rede municipal do

Natal, visando responder a seguinte questão: de que forma as aulas de música que são

ministradas no Programa Mais Educação estão inseridas no contexto escolar? Para isso,

foram utilizados como instrumentos de coleta de dados, observações estruturadas,

entrevistas semiestruturadas e informais. Trabalhos de autores como Cavaliere (2002;

2007; 2010), Moll (2010; 2012), Penna (2011; 2012; 2013; 2014), entre outros serviram

de embasamento teórico para a construção do presente estudo. Concluímos que a prática

musical desenvolvida nas escolas acontecia como uma atividade secundária, sendo

diretamente influenciada pela forma como era gerido o programa, pela prática pedagógica

dos monitores e a própria concepção que os alunos tinham sobre as aulas de música.

Acreditamos que se desenvolvida de forma consciente a prática musical nas oficinas pode

contribuir significativamente para a formação humana dos alunos.

Palavras-chaves: Mais Educação. Oficinas de música. Educação Integral. Formação

humana.

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ABSTRACT

The proposal for this present work was imagined as a result of a research made by the

group of studies and research of music (GRUMUS) of Universidade Federal do Rio

Grande do Norte (UFRN), which, upon verifying how the teaching of music happened in

public city schools in Natal - RN concluded the extracurricular musical practice was very

strong. Such musical practice happened through music workshops ran by the More

Education Programme (Programa Mais Educação), which as stated by its managers,

obeyed what was determined by statute nº 11.769/2008. Some aspects as programme

management, monitors' pedagogical practice and students' learning through the music

workshops' classes were highlighted as relevant itens for research and were the main

topics of this study. Hence, we mean to comprehend how this music insertion occurred

through the workshops ran by the More Education Programme set in a school context.

Using a qualitative approach, we made use of a multicase study as research technique

which took place on two public schools ran by the city in Natal, meaning to answer the

following question: in which ways the music classes ran on the More Eduction

Programme are inserted in a school environment? To reach that answer, data collecting

tools, structured observation, informal and semistructured interviews were used. Works

of authors such as Cavaliere (2002;2007;2010), Moll (2010;2012), Penna

(2011;2012;2013;2014), among others, served as theoretical background for the building

up of this paper. We conclude that the musical practice developed on schools happened

as a secondary activity, being directly influenced by the way the programme was

managed, as well by its monitors' pedagogical practice and by the students' own

conception of the music classes. We believe that, once consciously developed, the musical

practice at the workshops can contribute significantly for the students' human formation.

Key Words: More Education. Music workshops. Integral Education. Human formation.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

QUADRO 1 – Quadro conceitual para abordagem qualitativa........................................20

QUADRO 2 – Macrocampos e suas atividades...............................................................35

QUADRO 3 – Relação das escolas com as oficinas de música em 2016.......................54

QUADRO 4 – Oficinas mais solicitadas pelas escolas em 2016.....................................56

QUADRO 5 - Relação das escolas em atividade em 2016..............................................59

FIGURA 1 – Combinação de colcheias...........................................................................71

FIGURA 2 – Seminima...................................................................................................71

FIGURA 3 – Combinação de semicolcheias...................................................................71

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Pergunta nº1 do questionário pesquisa do Grumus..................................17

GRÁFICO 2 – Pergunta nº3 do questionário pesquisa do Grumus..................................40

GRÁFICO 3 – Pergunta nº4 do questionário pesquisa do Grumus........... .....................55

GRÁFICO 4 – Pergunta nº2 do questionário pesquisa do Grumus.................................57

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LISTA DE FOTOS

FOTO 1 – Acesso ao 1ª andar da escola....................................................................60

FOTO 2 – Acesso a quadra poliesportiva..................................................................60

FOTO 3 – Acesso ao refeitório..................................................................................61

FOTO 4 – Sala de aula de canto coral e percussão....................................................61

FOTO 5 – Sala para aulas de música.........................................................................62

FOTO 6 – Corredores das salas de aulas...................................................................67

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CIEPS – Centros Integrados de Educação Pública

CIACS - Centros Integrados de Atendimento à Criança

CAICS – Centros de Atenção Integral à Criança

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC – Ministério da Educação

MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia

ME – Ministério dos Esportes

MMA – Ministério do Meio Ambiente

MINC – Ministério da Cultura

OEL – Orientação de Estudos e Leitura

ONGS – Organizações não Governamentais

PPGMUS – Programa de Pós-Graduação em Música

PPP – Projeto Político Pedagógico

PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação

PNE – Plano Nacional de Educação

PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola

SECAD – Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade

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SEB – Secretaria de Educação Básica

SIMEC - Sistema Integrado de Monitoramento Execução e Controle

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura

UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................15

2. PROCEDIMENTOS METODÓLOGICOS DA PESQUISA................................20

2.1 O Estudo Multicaso como técnica de pesquisa.......................................................21

2.2 Instrumentos de coleta de dados.............................................................................21

2.2.1 Observação.............................................................................................................21

2.2.2 Entrevistas...............................................................................................................22

2.2.3 Pesquisa Bibliográfica.............................................................................................23

2.2.4 Análise dos dados....................................................................................................23

3 DA FORMAÇÃO HUMANA À EDUCAÇÃO INTEGRAL..................................25

3.1 A formação humana por meio do ato educativo........................................................26

3.2 A inserção da música no contexto escolar: um breve histórico.................................28

4 O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO E SUA IMPLEMENTAÇÃO.....................31

4.1 Educação Integral e Escolas de Tempo Integral: definindo conceitos.......................31

4.2 Descrição do programa Mais Educação.....................................................................33

4.3 A formação dos monitores.........................................................................................39

4.4 O caráter social do programa.....................................................................................43

4.5 As aulas de música no programa Mais Educação......................................................45

5 A PRÁTICA MUSICA NAS ESCOLAS PESQUISADAS.....................................48

5.1 O Mais Educação na cidade do Natal........................................................................48

5.1.1 Entrevista com a chefe do Setor de Educação Integral da SME de Natal..............49

5.2 ESCOLA “A”: alguns aspectos e considerações......................................................59

5.2.1 Relatos do coordenador do Mais Educação da Escola A........................................63

5.3 ESCOLA “B”: Seus aspectos e considerações..........................................................67

5.3.1 Relatos do coordenador do Mais Educação da Escola B.........................................68

5.4 A prática pedagógica dos monitores.........................................................................70

5.5 As oficinas de música nas duas escolas: situando alunos, professores e escola neste

contexto...........................................................................................................................78

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................82

REFERÊNCIAS.............................................................................................................85

APÊNDICES..................................................................................................................90

APÊNDICE A............................................................................................................91

APÊNDICE B............................................................................................................92

APÊNDICE C............................................................................................................93

APÊNDICE D............................................................................................................94

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1 INTRODUÇÃO

A educação musical tem sido amplamente discutida nos últimos anos em diversos

contextos e nos mais variados espaços educacionais. Entretanto, mesmo com a aprovação

da Lei 11.769/2008 que trata da obrigatoriedade do ensino da música como conteúdo no

componente curricular Artes (BRASIL, 2008), nota-se que os ambientes escolares ainda

estão longe dessa realidade, sendo incipiente a presença da música na educação básica.

Diversos fatores têm contribuído para esta situação: a falta de profissionais com

qualificação específica, (PENNA, 2011; 2012; 2013; 2014), falta de estrutura física das

escolas, bem como dificuldades para implementação (SILVA. M, 2014, p.60), além do

desconhecimento por parte dos gestores da referida Lei. Contudo, ações do Governo

Federal como o programa “Mais Educação”, voltado à ampliação da jornada escolar e à

organização curricular, acabam por contribuir para a mudança desse cenário desfavorável

da educação musical no país.

Aspectos como descentralização na execução do programa, a prática pedagógica

dos monitores e critérios para sua seleção se mostraram relevantes para a submissão de

um projeto de mestrado ao Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (PPGMUS-UFRN). A necessidade para essa discussão

ficou ainda mais evidente com os resultados da pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos

e Pesquisa em Música (GRUMUS) da UFRN.

A PESQUISA DO GRUMUS

O GRUMUS desenvolveu entre os anos de 2009 e 2014 uma pesquisa de caráter

qualitativo que buscou investigar e refletir sobre a real situação do ensino de música na

rede municipal do Natal/RN a partir do processo de implementação da lei 11.769/2008.

A pesquisa foi dividida em dois momentos:

1) O primeiro momento, realizado de 2009 a 2011, foi nominado de “A prática da

educação musical nas escolas de Natal/RN” (CARVALHO, 2009), teve o objetivo de

averiguar a real situação do ensino de música na capital do estado como ponto de

referência para o estudo;

2) O segundo momento, realizado de 2011 a 2014, foi nominado de “A Lei

11.769/2008 e o desenvolvimento do ensino e aprendizagem de música no Rio Grande

do Norte” (CARVALHO, 2011). Esta pesquisa representa uma ampliação da pesquisa

anterior que visava a mesma investigação em nível estadual. Neste sentido, seu objetivo

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maior era produzir dados sobre a formação em música na região, e consequentemente,

criar estratégias práticas, políticas informacionais para qualificar os professores que

atuavam com música na educação básica. Em princípio, o foco seria nas duas redes de

ensino (municipal e estadual), porém, devido às diferenças entre as duas redes, o foco da

pesquisa se configurou mais especificamente, na rede municipal do Natal, tendo em vista

o primeiro concurso para professor especifico de música do município ocorrido em 2010.

A prefeitura do município do Natal, abriu em 2010 um edital de caráter polivalente

para professores de Artes, evidenciando o seu desconhecimento acerca da Lei 11.769/08

e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 9394/96. A atuação do

GRUMUS frente a esse edital foi de suma importância para as linguagens artísticas,

sobretudo para o ensino de música nas escolas (cf. MENDES e CARVALHO, 2012).

Vale salientar que:

Para convencer a SME1 de Natal sobre a inclusão da música na escola

como componente curricular e a necessidade de um concurso que

contemplasse as linguagens específicas da área de Artes, apresentamos

argumentos que demonstram que a busca por um profissional

qualificado e com formação específica tem razões muito claras [...]

(MENDES; CARVALHO, 2012, p.122).

No entanto, o que temos visto nos últimos anos é a abertura de editais em

caráter polivalente. Quanto a isso Mendes e Carvalho argumentam que,

Se a universidade prepara profissionais para o mercado de trabalho com

formação específica, como exigem os documentos oficiais para a

educação brasileira, como aceitar que um programa de concurso exija

do candidato conhecimento em todas as linguagens artísticas?

(MENDES; CARVALHO, 2012, p.123).

Após diálogo com a SME o edital foi suspenso e reformulado para atender as

novas exigências da Lei, abrindo concurso específicos para professores de Música, Artes

Visuais, Teatro e Dança.

Em 2014, na etapa final da pesquisa tivemos que voltar às escolas para realizar

questionário com os gestores (diretores ou vice-diretores) das 72 escolas da rede

municipal, tendo em vista que no primeiro momento da pesquisa as entrevistas foram

realizadas com coordenadores pedagógicos e professores, houve a necessidade

posteriormente de refazer as entrevistas, agora com os gestores das escolas.

_____

1 Secretária Municipal de Educação de Natal (SME)

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Na análise dos resultados da pesquisa do GRUMUS foi constatado que a prática

musical ocorria em 49,3% das escolas pesquisadas. Ver gráfico abaixo:

Gráfico 1: pergunta nº 1 do questionário pesquisa do GRUMUS

Fonte: GRUMUS (2016)

Todavia, percebeu-se que essa prática musical ocorria em sua maior parte no

horário contraturno, através de oficinas de música como: canto coral, fanfarra, banda de

música, aulas de instrumentos musicais. Diante dos dados observamos algumas

contradições no que diz respeito às atividades e ações musicais desenvolvidas e aplicadas

nas escolas da rede municipal da cidade. Nas análises da pesquisa evidenciou que existia

um considerável número de oficinas ligadas à prática instrumental nas escolas que

realizavam o Mais Educação. Porém, dentre as escolas da rede, menos da metade

contavam com aulas específicas de música na sua grade curricular. Dessa forma alunos

que não estivessem inseridos na oficina de música do programa e que não fossem

contemplados nas suas aulas de Artes com o conteúdo de música ficavam sem ter contato

com a linguagem musical.

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Este cenário do ensino de música na rede municipal nos fez refletir sobre as

práticas musicais dentro do programa: como acontecem as aulas de música? Quem é o

profissional que ministra as aulas? Qual o papel da escola neste contexto? Há significado

para os alunos quanto as aulas de música do programa? Tendo em vista que os gestores

das escolas justificavam a presença da música na escola por intermédio do programa,

compreendidas como cumprimento da Lei 11.769/2008.

Essas indagações serviram como perguntas norteadoras para elaboração da

problemática do presente trabalho que se baseou na seguinte questão: De que forma as

aulas de música que são ministradas no programa Mais Educação estão inseridas no

contexto escolar?

A pesquisa foi realizada em duas escolas da rede municipal do Natal/RN, onde

buscou-se compreender como ocorria a inserção da música através das propostas do

programa Mais Educação no contexto escolar.

Apresenta-se como objetivos específicos:

Verificar as práticas pedagógicas-musicais desenvolvidas nas oficinas do programa;

Identificar as concepções dos alunos, professores e diretores quanto às aulas de

música;

Discutir sobre a educação integral dentro da proposta do programa;

Verificar e discutir sobre a formação musical dos monitores.

A pesquisa se deu entre os meses de maio a setembro de 2016. Inicialmente com

uma visita ao setor de educação integral da Secretaria Municipal de Educação (SME) da

cidade do Natal. O objetivo era fazer o levantamento das escolas que estavam atuando

com o Mais Educação, bem como realizar a seleção das duas escolas para a pesquisa.

Neste sentido foi realizado um mapeamento das escolas que atuavam com as oficinas de

música dentro do programa. A partir daí seria utilizado dois critérios para a escolha das

escolas: uma deveria oferecer aulas de música na matriz curricular, mas que também

atuasse com as oficinas de música no programa Mais Educação; enquanto a outra deveria

oferecer aulas de música somente através do programa Mais Educação.

No entanto, devido a problemas quanto a execução do programa e a poucas escolas

que estavam realizando as oficinas no momento da pesquisa, tivemos que fazer os estudos

em escolas que ainda não contavam com professores de música no seu corpo docente.

Foram escolhidas neste caso, duas escolas que teriam as suas atividades desenvolvidas

até a primeira quinzena do mês de outubro. Para manter o anonimato das escolas

denominaremos de Escola A e Escola B.

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Os capítulos estão dispostos da seguinte forma: No capítulo dois descreveremos

os procedimentos metodológicos adotados durante este trabalho, os principais

instrumentos que serviram de base para a coleta de dados, bem como os procedimentos

utilizados in loco da pesquisa.

No capitulo três trouxemos para a discussão pressupostos teóricos que discutiam

a formação humana por meio do ato educativo fundamentado em autores como Tonet

(2016), Rodrigues (2001), Guedes (2007) entre outros que serviram de base para o nosso

trabalho. Ainda no mesmo capítulo procuramos introduzir alguns aspectos históricos das

propostas para educação integral realizadas no país até a proposta atual. Vale deixar claro

que as perspectivas de formação humana não são as mesmas nos diversos momentos

históricos, o objetivo é apenas situar o leitor quanto as diversas iniciativas para

implementação da proposta de educação integral no país.

No capítulo quatro procuramos discutir acerca da implementação do programa

Mais Educação apresentado alguns aportes teóricos em autores como Cavaliere (2002;

2007; 2010), Moll (2010; 2012), assim como documentos que orientam o programa

(BRASIL, 2007; 2009; 2010; 2013; 2014).

No capítulo cinco apresentaremos os dados obtidos em campo da pesquisa,

descrevendo as concepções dos atores envolvidos nas duas escolas quanto a realização

das oficinas de música, bem como os principais resultados obtidos durante a pesquisa,

esclarecendo a prática musical desenvolvida nas oficinas do programa Mais Educação.

Por meio deste estudo, acreditamos contribuir significativamente para as

discussões já apresentados na área acerca da temática das oficinas do programa Mais

Educação. Apresentando novos debates que emergiram in loco da pesquisa, bem como

referencial teórico para outras pesquisas.

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2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

A metodologia materializa-se em uma pesquisa qualitativa onde buscamos

compreender de que forma as aulas de música ofertadas pelas oficinas do programa Mais

Educação estavam inseridas dentro do contexto escolar. Para isso, foi feito um

levantamento junto a Secretária de Educação do município (SME) da cidade do Natal,

com vistas a escolher duas escolas da rede que atendessem ao nosso objetivo. Quanto as

características da pesquisa, Neves e Domingues (2007, p.56) explicam que “a

interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicos no processo de

pesquisa qualitativa”. Ainda de acordo com os autores:

O ambiente natural é a fonte direta para a coleta de dados e o

pesquisador é o instrumento chave. Os pesquisadores tendem a analisar

seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos

principais de abordagem. (NEVES; DOMINGUES, 2007, p.56)

Para Oliveira (2012), para se fazer uma pesquisa qualitativa é imprescindível que

se tenha clareza do objeto de estudo. Neste sentido procuramos focar nosso trabalho no

desenvolvimento da prática musical dentro das oficinas de música do Mais Educação e

as suas contribuições para a educação integral dos alunos. Oliveira (2012) ainda nos

apresenta um quadro conceitual com vistas a verificar: o contexto histórico, análise de

documentos, observações sistemáticas, entrevistas e questionários.

Quadro 1:

Quadro conceitual para abordagem Qualitativa

Fonte: Oliveira (2012)

Análise de

documentos Observações Entrevistas

Questionários

Objeto de Pesquisa

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Ainda de acordo com a autora nas pesquisas de abordagem qualitativa “todos os

fatos e fenômenos são relevantes” (p. 38). Nesse tipo de abordagem observamos ser mais

importante destacar o processo em que se deu o fenômeno do que o produto final, ou seja,

perceber como as aulas de música dentro da proposta das oficinas estavam se

desenvolvendo nas escolas pesquisadas. Neste caso, destacando o contexto em que os

envolvidos na pesquisa estavam inseridos. Bogdan e Biklen (1994 apud PENNA, 2015,

p.100-101) colocam que “Considerar a subjetividade tanto do pesquisador quanto dos

participantes como parte do processo de pesquisa implica, focalizar os significados, o

“modo como diferentes pessoas dão sentido às suas vidas” e às suas práticas.

2.1 O ESTUDO MULTICASO COMO TÉCNICA DE PESQUISA

Para investigar como o ensino de música vem acontecendo nas oficinas do “Mais

Educação” optamos pelo estudo multicaso por se tratar de duas escolas com vivências e

organizações educacionais distintas. Entende-se com isso que mesmo sendo as escolas de

uma única rede de ensino, no que se refere a gestão do programa, este acontece de forma

decentralizada e muda conforme o contexto, a localidade, os monitores e todos que estão

envolvidos com a escola. Levando-nos a crer que, dependendo da forma como é gerido

as oficinas do programa, este por sua vez interfere diretamente nas aulas de música. Neste

sentido vemos o estudo multicaso como o mais apropriado para a pesquisa. Segundo Yin

(2005) o estudo de caso múltiplo deve ser capaz de prever resultados semelhantes ou

produzir resultados contrastantes devido a razões previsíveis. Não pretendemos fazer uma

generalização dos casos, muito menos compara-los, mas levar em conta as práticas

docentes dos monitores, a aplicação do programa na escola e a aprendizagem dos alunos

nas oficinas de música.

2.2 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

2.2.1 Observação

Quanto à escolha dos instrumentos de coleta de dados, optamos por observações

estruturadas, sem, no entanto, desconsiderar os acontecimentos em volta do objeto de

estudo. Os participantes da pesquisa foram os monitores, alunos e coordenadores do

programa Mais Educação. Chizzotti (2003, p. 53) escreve que “A observação estruturada

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ou sistemática consiste na coleta de dados e registro de eventos observados que foram

previamente definidos”.

Nesse contexto, Penna (2015, p. 127) nos afirma que:

A observação como técnica de coleta de dados diferencia-se da visão

de censo comum, do “olhar ingênuo”, pois situa-se, aqui, como um

procedimento de pesquisa, sendo guiada pelos princípios do

conhecimento científico e tendo por diferencial a postura do

pesquisador

Com essa perspectiva, o período de observações foi realizado entre os meses de

agosto e setembro de 2016 com total de oito observações em cada escola. Durante este

período alguns dos dias direcionados para as observações foram prejudicados por conta

da não realização das aulas por motivos de reuniões de planejamento com a SME, falta

d’água na escola e falta do monitor. No que se refere aos monitores observamos a prática

docente, ou seja, como desenvolvem suas aulas, de que forma reagem às problemáticas

do dia a dia escolar. Também procuramos discutir sobre a sua formação musical, suas

experiências e aprendizagens que influenciaram em suas posturas como professores de

música.

Quanto aos alunos, buscamos observar como se dava o processo de aprendizagem,

o envolvimento e perspectivas quanto as aulas de música. Durante as observações foi

utilizado um caderno de campo e registros fotográficos mantendo o anonimato das

escolas, dos professores, alunos e coordenação.

2.2.2 Entrevistas

Com o intuito de se obter relatos a respeito das práticas musicais desenvolvidas

nas duas escolas tanto pelos monitores quanto pelos coordenadores, realizamos

entrevistas semiestruturadas com ambos. As entrevistas nos possibilitaram compreender

as concepções dos monitores e coordenadores referentes ao fazer musical de cada escola.

A entrevista se justifica, porque permite a interação do pesquisador com o

entrevistado. Minayo (2004) considera a entrevista semiestruturada um instrumento que

possibilita a coleta de informações objetivas, e mais do que isto, permite captar a

subjetividade embutida em valores, atitudes e opiniões. As entrevistas nos possibilitaram

captar nas falas dos sujeitos as suas concepções, frustações e alegrias acerca do programa

Mais Educação.

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Quanto a entrevista aplicada aos alunos, optamos por realizar uma entrevista

informal. Sendo realizada com 23 alunos da Escola A e 15 da Escola B. Apesar de

utilizarmos de um roteiro de entrevista buscamos realizá-la por meio de uma grande

conversa com o intuito de oferecer aos alunos um ambiente menos rígido e mais favorável

para a entrevista com crianças de idades entre seis e dez anos. O objetivo era verificar de

que forma a música estava presente em suas vidas e de que maneira as aulas contribuíam

para a sua formação. Segundo Gil,

Este tipo de entrevista é o menos estruturado possível e só se distingue

da simples conversação porque tem como objetivo básico a coleta de

dados. O que se pretende com entrevistas deste tipo é a obtenção de

uma visão geral do problema pesquisado, bem como a identificação de

alguns aspectos da personalidade do entrevistado. (GIL, 2008, p. 111).

2.2.3 Pesquisa bibliográfica

Na pesquisa bibliográfica buscamos conhecer a respeito das discussões sobre

educação integral, os documentos que regem e orientam o programa Mais Educação, além

de consultar aos textos que já abordam as práticas musicais desenvolvidas em suas

oficinas. Para isso foi realizado um levantamento em trabalhos anteriores que discutiam

a temática, consulta a bancos de teses e dissertações de universidades e da Coordenação

de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), artigos e textos que

discutissem a respeito de pedagogias musicais entre outros temas relevantes para a

pesquisa. Segundo Gil (2008) a pesquisa bibliográfica “utiliza material já publicado,

constituído basicamente de livros, artigos de periódicos” e, atualmente, de informações

disponibilizadas na internet. Como pesquisa documental pretendíamos consultar os

Projetos Políticos Pedagógicos (PPP), mas quando solicitamos às escolas, tivemos a

informação que o mesmo estava em processo de atualização. Nesse sentido não foi

possível verificar se as práticas do Programa Mais Educação estavam alinhadas com o

PPP das escolas objetos da pesquisa.

2.2.4 Análise dos dados

A análise e interpretação dos dados foi feita de forma descritiva, através de

discurso subjetivo das análises dos textos, depoimentos coletados nas entrevistas e

observações. Foi um processo onde pudemos compreender como ocorria o ensino de

música nas oficinas e as concepções dos envolvidos na pesquisa frente a proposta do

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programa. Segundo Orlandi (2001) a descrição e a interpretação se inter-relacionam,

sendo este último identificado em dois momentos da análise:

A) Em um primeiro momento, é preciso considerar que a intepretação

faz parte do objeto de análise, isto é, o sujeito que fala interpreta e

o analista deve procurar descrever esse gesto de interpretação do

sujeito que constitui o sentido submetido a análise;

B) Em segundo momento, é preciso compreender que não há descrição

sem intepretação, então o próprio analista está envolvido na

interpretação[...] (ORLANDI, 2001, p. 60).

A partir das análises procuramos relacionar os dados com objetivos propostos

pelos documentos oficiais, verificando como cada escola estava atuando frente a essas

orientações. As observações foram registradas em caderno de campo onde focamos no

trabalho desenvolvido pelo monitor nas aulas de música, suas ações e atitudes em meio

as turmas e a receptividade dos alunos quanto a forma como a música era abordada na

escola. Os dados descritos nas entrevistas serviram de base para compreendemos os

debates dos últimos anos sobre a proposta de educação integral do programa Mais

Educação na visão dos participantes da pesquisa, onde pudemos constatar certo

descompasso entre a teoria e prática. Procuramos a partir dos dados da pesquisa

levantados nas duas escolas relacionar os resultados sem generalizar os casos tendo em

vista o contexto diferenciado de cada escola, analisando as suas realidades e

aplicabilidade do programa.

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3 DA FORMAÇÃO HUMANA À EDUCAÇÃO INTEGRAL

Ao iniciar este capítulo sobre educação integral e sua conceituação é preciso

inicialmente refletir sobre os aspectos da formação humana e sua relação com a educação.

Entendemos que “a formação humana é sempre histórica e socialmente datada” (TONET,

2016, p.75). Em outras palavras, as concepções ligadas ao termo mudam conforme

mudam as sociedades nos diversos momentos históricos.

Vivendo em uma sociedade capitalista e excludente em que “os resultados da

produção material realizada pelas classes dominadas beneficiam as classes dominantes”

(SAVIANI; DUARTE, 2010, p. 426). Promovendo, dessa maneira, desigualdades sociais

sem precedentes, a educação torna-se fundamental no processo de humanização das

classes menos favorecidas, sendo ela a atividade mais desenvolvida no capitalismo – a

educação escolar.

Se a educação escolar é a forma mais desenvolvida que essa atividade

humana atingiu ao longo da história, sustentamos que a defesa do

direito à educação para todos os indivíduos em nossa sociedade deve

ter como horizonte a escola como o lugar privilegiado de apropriação,

pelo indivíduo, do conhecimento universal em sua forma superior, isto

é, do conhecimento histórico, científico, filosófico e artístico, que a

humanidade já produziu (GUEDES, 2007, p. 1-2 – grifo nosso).

Ainda no capitalismo em que a sociedade trabalhadora vive em uma alienação a

respeito dos resultados de sua produção, a educação torna-se ferramenta para sua

emancipação e formação integral. Neste sentido e de acordo com Tonet (2016, p.53)

“Formar o homem integral é permitir que ele tenha acesso, o mais pleno possível, ao

conjunto de bens – materiais e espirituais – necessários à sua plena realização”. Dessa

maneira, a Educação é tida como essencial para a formação do sujeito humano e a escola

exerce papel fundamental nessa formação recaindo agora sobre ela – a escola - a

responsabilidade de formar o homem além das habilidades próprias para a vida em

sociedade, mas a de preparar o homem de maneira integral, de forma-lo como sujeito

humano. O que anteriormente era de responsabilidade das famílias, igrejas e instituições

sociais, agora bate à porta da escola e esta deve se preparar para atender as necessidades

cada vez mais conflitantes do mundo globalizado. Dessa forma reconstruindo a escola

que conhecemos hoje, seus professores e conteúdos e da relação que a mesma mantém

com a sociedade.

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3.1 A FORMAÇÃO HUMANA POR MEIO DO ATO EDUCATIVO

Vivendo em um mundo complexo e multifacetado em que as sociedades são

divididas em classes antagônicas, o ato de educar não é uma tarefa fácil, mas um processo

pelo qual perpassa uma gama de desafios históricos, sociais, políticos e pedagógicos.

Estando o homem imerso neste mundo como um ser construído socialmente por meio das

relações e representações constituídas na vida pública, necessitando ser instruído e

orientado através do ato educativo que segundo Rodrigues (2001, p. 241) “é um ato

intencional imposto de fora sobre uma criatura que deve ser formada como ser humano”,

a educação escolar ganha um papel importante na sociedade contemporânea.

Immanuel Kant2 (1993 apud RODRIGUES, 2001, p.240), nos reforça a ideia de

que “o homem é a única criatura que precisa ser educada”, o homem não nasce pronto

como ser constituído – isso só poderá vir, através da Educação. Todavia, a educação não

se reduz a formação externa. Segundo o autor o ato de educar: compreende acionar os

meios intelectuais, as potencialidades físicas e morais para que o mesmo se constitua

sujeito livre e responsável por sua própria formação.

A ação educativa acontece em todas as sociedades humanas que tem por objetivo

preparar os indivíduos para a vida social, colocando a escola como uma das instituições

educadoras. Tal concepção é colocada sob aspectos positivos e negativos por Rodrigues

(2001) através da seguinte hipótese:

A aquisição de conhecimentos e a sua utilização prática na forma de

habilidades tornaram-se, ao longo dos últimos dois séculos, nos fins e

meios para todas as atividades educacionais nas sociedades modernas e

constituem em instrumentos fundamentais a serem possuídos por cada

indivíduo na sociedade. O modo de aquisição e de distribuição desses

conhecimentos e habilidades se constituiu em paradigma que organiza

todos os processos educativos, e estabelece o grau de responsabilidade

para sua implementação por parte do poder público ou da iniciativa

privada, nos planos individuais e coletivos, particulares e universais. No interior desse paradigma, as ideias de Educação e de Educação

Escolar se fundem e estabelecem limites conceituais sobre os quais se

constroem os discursos reflexivos sobre os conteúdos da Educação,

bem como sobre os objetivos e os meios das políticas educacionais.

(RODRIGUES, 2001, p. 235).

_____

2 Imamnuel Kant (1724 – 1804) um dos mais importantes filósofos da era moderna

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O que temos visto na sociedade atual é que agora, recai sobre a escola a

responsabilidade de formar indivíduos para além da aquisição de conhecimentos. É a

escola de hoje que assume esse papel fundamental na construção da sociedade

contemporânea. A ela não é mais somente exigido preparar o cidadão para o mercado de

trabalho e sim proporcionar uma educação que dialogue com tudo que está a sua volta e

com todos inseridos nela. É bem verdade que as escolas brasileiras nos últimos anos

passaram por transformações na tentativa de oferecer um ensino de qualidade para a

população. Entretanto, o que percebemos é que as experiências de educação integral que

surgiram no Brasil durante todo o século XX foram marcadas pela descontinuidade e

restritas a alguns estados do território nacional. Nomes como Carneiro Leão, Fernando

Azevedo e Anísio Teixeira foram pioneiros na implementação dessa proposta no país com

o objetivo de oferecer uma educação de melhor qualidade e que atingisse um número

maior de pessoas.

As Escolas Parque idealizada por Anísio Teixeira na década de 1950 no Rio de

Janeiro e posteriormente em Brasília marcaram o início das tentativas de oferecer a

população acesso à educação nos moldes da educação elitizada visando seu

desenvolvimento físico, recreativo, artístico e iniciação ao trabalho. Já a década de 1980

foi marcada pela criação dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) no Rio de

Janeiro pelo antropólogo Darcy Ribeiro. Somente na década de 1990 é que se cria no

Brasil uma proposta de alcance nacional com a criação dos Centros Integrados de

Atendimento a Criança (CIACs) no governo do então presidente Fernando Collor. Dois

anos mais tarde ao assumir a presidência da república Itamar Franco muda o nome do

projeto para Centros de Atenção Integral à Criança (CAICs). No entanto, tais propostas

tinham fortemente um caráter assistencialista. Durante os anos 2000 diversos projetos de

educação integral foram iniciados em estados brasileiros como: o programa Segundo

Tempo promovido pelo Ministério dos Esportes (ME) e Ministério da Educação (MEC);

programa Escola Pública Integrada para o Ensino Fundamental da Rede Pública Estadual

de Santa Catarina; programa Aluno de Tempo Integral de Minas Gerais; programa Escola

de Tempo Integral de São Paulo entre outros. Com vistas a atender a LDB 9.394/96 que

previa que as escolas gradativamente ofertassem educação em tempo integral.

De acordo com Mendes (2013) os debates sobre educação integral e escolas de

tempo integral já estão mais claros nos dias atuais.

Procura-se principalmente uma educação que trabalhe o ser humano

como um todo, inclusive como protagonista de uma aprendizagem que

vá também para além dos muros da escola e integre os diversos locais

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de aprendizagem da comunidade, como igrejas, clubes, quadras de

esporte, academias de ginástica, universidades, enfim, o que as

comunidades locais e adjacentes possam proporcionar à comunidade

escolar. (MENDES, 2013, p. 26).

É nessa perspectiva que pensamos a formação integral por meio do ensino musical

dentro da proposta das oficinas do Mais Educação. Uma educação musical humanizadora

que transforma a relação entre o ensino de música, a produção do conhecimento e as

relações sociais,

De modo que se tenha como perspectiva a procura da expansão das

possibilidades dos educandos e dos próprios educadores, incentivando

um raciocínio, uma ação e um sentimento crítico, conectando seu

próprio contexto social, político e cultural, com o mundo

(ABRAHAMS, 2005, s/p).

Para pensar a educação musical sob uma perspectiva humanizadora, é preciso

entender que nem todas as práticas educativo-musicais promovem o diálogo, a

autonomia, e conscientizam os sujeitos. Acreditamos que a depender da postura

pedagógica do educador musical e as condições proporcionadas pelo ambiente escolar

poderão influenciar e muito no desenvolvimento do seu trabalho e consequentemente no

desenvolvimento do educando.

3.2 A INSERÇÃO DA MÚSICA NO CONTEXTO ESCOLAR: UM BREVE

HISTÓRICO

Não pretendemos neste tópico nos debruçar historicamente nos caminhos

percorridos pela educação musical no Brasil, por hora, interessamos saber, que assim

como os caminhos percorridos pela educação integral e as tentativas para sua

implementação no país, percorria quase lado a lado a educação musical com as diversas

investidas para inserção do ensino de música na educação básica. Entretanto, não há

dúvidas que o momento mais marcante tenha sido com o advento do canto orfeônico na

figura de Heitor Villa Lobos (1887 – 1959) entre as décadas de 1930 e 1950 sendo a

marca dessa iniciativa um sentimento nacionalista e a busca por uma identidade étnica.

Vale salientar que nesta mesma época surge no país o movimento Escola Nova em que

se buscava dar ao educando protagonismo no processo de ensino, além de idealizar uma

reconstrução nacional ampla e democrática pela educação (FUCCI-AMATO, 2012,

p.42).

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A respeito das artes, Fonterrada (2005 apud FUCCI-AMATO, 2012, p.42) coloca

que “a arte deveria ser retirada do pedestal em que se encontrava e colocada no centro da

comunidade. Na escola, o ensino de música não deveria restringir – se a alguns talentosos,

mas acessível a todos, contribuindo para a formação integral do ser humano”. Da mesma

maneira que os ideais da educação integral permeavam as iniciativas da época por uma

formação integral, a música ia se inserindo neste contexto.

Fucci-Amato descreve como eixo principal das ações de Villa Lobos o fator

social:

Villa lobos via a arte pela perspectiva do desenvolvimento do cidadão

brasileiro e de suas potencialidades, considerando a música um fator

intimamente ligado a coletividade uma vez que ela é um fenômeno vivo

da criação de um povo (FUCCI-AMATO, 2012, p. 56).

Mesmo tendo alcançado certo nível de sucesso o canto orfeônico acabou não

resistindo as mudanças feitas nos documentos educacionais da época. Com a primeira

LBD nº 4024/1961 o ensino musical não fora comtemplado. Segundo Queiroz (2012) a

interpretação de algumas literaturas da área da educação musical tem sido equivocadas

quando apresentam a LDB de 61 como a responsável pela inserção da educação musical

no currículo escolar. Segundo o autor o documento não faz nenhuma menção a educação

musical.

O que mais se aproxima do campo da música nesse documento é a

definição do artigo 38, parágrafo VI, ao estabelecer, entre as “normas”

que devem ser observadas “na organização do ensino de grau médio

[…]”, o oferecimento de “atividades complementares de iniciação

artística” (QUEIROZ, 2012, p. 30).

Neste caso o termo “iniciação artística” se apresenta como “genérico e pouco

claro, não permitindo uma relação direta com a educação musical” (QUEIROZ, 2012,

p.30).

A educação artística instituída pela LDB nº 5.692/1971 passa a conter a música

como uma de suas linguagens - das quais faziam parte as: artes plásticas e cênicas. Assim

sendo, as atividades ligadas ao ensino artístico passaram a ter caráter de recreação, sem

nenhuma correlação com a vida dos educandos, desprestigiando cada vez mais o ensino

artístico na escola e o professor que atuava de forma polivalente.

Com a promulgação da LDB nº 9.394/1996 que no artigo 26º parágrafo 2º diz que

“O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da

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educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”,

idealizaram-se novos horizontes para a área. Todavia a prática do componente na escola

continua nos moldes dos anos anteriores. O ensino da música ficou ainda mais restrito e

incipiente, somente alguns poucos professores habilitados em música ministravam o

conteúdo, aumentando cada vez mais a ausência da música na escola.

Em 18 de Agosto de 2008 é sancionada a lei nº 11.769 que trata da obrigatoriedade

do ensino de música como conteúdo do componente curricular Artes nas escolas de

educação básica, abrindo-se novas perspectivas para a área, e para atuação do professor

de música. Sabemos que toda essa trajetória que a educação musical tem percorrido ao

longo do tempo, nos reforça a ideia da importância que se dá a música para a formação

humana. Mesmo assim, a sua presença no ambiente escolar tem sido marcada por

iniciativas pouco eficazes e de curta duração.

Criado em 2007, o programa Mais Educação ao ser implementado nas escolas

brasileiras ao mesmo tempo que trazia a possibilidade de mudanças no cenário

educacional, com a ampliação da jornada escolar, com a oferta de conteúdos

diferenciados, também trouxe muitas dificuldades de operacionalização do programa. As

escolas não estavam preparadas para uma mudança desse porte, que alterava não só a

dinâmica das escolas, como também sua estrutura física, seu projeto político pedagógico

sua postura diante dos pais e da comunidade, bem como sua concepção sobre educação.

Em Natal as dificuldades decorrentes da implementação do programa

aconteceram ainda nas reuniões da SME com o MEC. O próprio ministério não deixava

claro como as escolas deveria atuar mediante a essas mudanças. Quanto a isso, no

próximo capítulo procuramos descrever como ocorreu esse processo de implementação

na rede municipal, assim como apresentar os resultados obtidos na pesquisa realizada em

duas escolas da rede que tratam sobre o ensino de música em suas oficinas.

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4 O PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO E SUA IMPLEMENTAÇÃO

“Para educar uma criança, é preciso uma aldeia inteira”

(Proverbio africano)

4.1 EDUCAÇÃO INTEGRAL E ESCOLAS EM TEMPO INTEGRAL: DEFININDO

CONCEITOS

É preciso inicialmente deixar claro e diferenciar a relação que se entende por

educação dita integral e sua inegável associação a educação de tempo integral. Para isso

partimos das definições colocadas por Cavaliere (2007; 2010) e Moll (2010; 2012)

quando discutem a respeito da temática.

Segundo Cavaliere a educação integral é uma:

Ação educacional que envolve diversas e abrangentes dimensões da

formação dos indivíduos. Quando associada à educação não-

intencional, diz respeito aos processos socializadores e formadores

amplos que são praticados por todas as sociedades, por meio do

conjunto de seus atores e ações, sendo uma decorrência necessária da

convivência entre adultos e crianças. Quando referida à educação

escolar, apresenta o sentido de religação entre a ação intencional da

instituição escolar e a vida no sentido amplo (CAVALIERE, 2010 apud

MOLL, 2012, p.95).

Moll relata que a educação integral diz respeito a:

[...] uma educação que promove o desenvolvimento da criança e do

adolescente em suas múltiplas dimensões, considerando o corpo, a

mente e a vida social, no sentido da construção de um cidadão pleno,

autônomo, crítico e participativo. (MOLL, 2010, p.11)

Quando tratamos de escola em tempo integral nos referimos a respeito da jornada

ampliada dos alunos no ambiente escolar. Para Cavaliere o conceito de tempo integral

pode ser entendido de diferentes formas:

a) Ampliação do tempo como forma de se alcançar melhores

resultados da ação escolar sobre os indivíduos, devido à (sic) maior

exposição desses às práticas e rotinas escolares;

b) Ampliação do tempo como adequação da escola às novas

condições da vida urbana, das famílias e particularmente da mulher;

c) Ampliação do tempo como parte integrante da mudança na

própria concepção de educação escolar, isto é, no papel da escola na

vida e na formação dos indivíduos. (CAVALIERE, 2007, p. 1016).

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Para Moll a,

Escola de tempo integral. Em sentido restrito refere-se à organização

escolar na qual o tempo de permanência dos estudantes se amplia para

além do turno escolar, também denominada, em alguns países, como

jornada escolar completa. Em sentido amplo, abrange o debate da

educação integral – consideradas as necessidades formativas nos

campos cognitivo, estético, ético, lúdico, físico-motor, espiritual, entre

outros – no qual a categoria “tempo escolar” reveste-se de relevante

significado tanto em relação a sua ampliação, quanto em relação à

necessidade de sua reinvenção no cotidiano escolar (MOLL, 2012

p.96).

Nesse sentido, quando se fala em educação integral é inevitável que se discuta

tempo integral, tendo em vista que para as escolas promoverem tal educação é preciso

que se pense na ampliação da jornada escolar. Possivelmente seja essa aproximação entre

educação integral e tempo integral que os dois conceitos acabem por se confundirem.

A educação integral visa o desenvolvimento pleno dos educandos em todas as suas

capacidades psicológicas, afetivas, sociais entre muitas outras, além de ser

transformadora. A concepção de educação integral deve proporcionar aos educandos a se

reconhecerem enquanto sujeitos ativos e coparticipantes da sua própria educação. Devem

estar articuladas com o contexto social, cultural, político e com outros espaços de

aprendizagens.

As discussões a respeito do conceito de educação integral no Brasil se dá nas

primeiras décadas do século XX na figura de Anísio Teixeira por meio dos discursos do

movimento Escola Nova3 que “refletia a necessidade de se reencontrar a vocação da

escola na sociedade urbana de massas, industrializada e democrática” (CAVALIERE,

2002, p. 251).

As várias transformações do mundo moderno do início do século XX propuseram

na sociedade da época um sentimento de busca por melhoria na qualidade de vida e mais

acesso à educação nos mesmos níveis da sociedade elitizada. Com isso Anísio Teixeira

influenciado pelos ideais de John Dewey propunha uma educação que fosse direito e não

privilégio (CHAGAS et all, 2012, p. 73).

_____

3Consultar manifesto dos pioneiros da Escola Nova 1932. Revista Histedbr online, Campinas, N.

Especial, p.188-204, ago. 2006. Disponível em:

www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/22edoc1_22e.pdf. Acesso em 25 de abril de 2016.

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Várias foram as tentativas de se implementar no país escolas que propusessem

educação em tempo integral, no entanto as “escolas foram organizadas, pobre e

deficientemente, para alfabetizar e, em seguida, entregar o jovem integralmente ao mundo

do trabalho” (GIOLO, 2012, p. 95). Dessa forma, a proposta da ampliação da jornada

escolar já vem sendo discutida há algum tempo.

Sobre o assunto, Veber (2010, p.44) relata que:

Ao pensar na ampliação do tempo de escolarização, talvez, uma das

contribuições seja o fato de ela possibilitar mais tempo para que os

alunos estejam juntos, em um mesmo espaço, submetidos às mesmas

experiências e tempos, além daqueles destinados às aulas. Isso permite

conhecer melhor a forma como os alunos se relacionam com os

conhecimentos aprendidos, além do tempo das aulas.

Nas palavras de Penna (2011, p.144),

[...] ela pode simplesmente ocupar o aluno com diferentes atividades,

mantendo-o sob os cuidados da escola (o que configura uma escola de

tempo integral), ou ela pode permitir repensar o próprio modelo escolar

de ensino, buscando seja concepções e práticas de integração curricular,

seja uma formação mais global do ser humano, do cidadão.

Percebemos então, que o debate a respeito de educação para todos tem aumentado

nas duas últimas décadas no país e principalmente com ações de políticas públicas do

Governo Federal voltadas à ampliação da jornada escolar. É o caso do programa Mais

Educação, voltado para a ampliação da jornada escolar e a organização curricular.

4.2 DESCRIÇÃO DO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO

Tendo em vista a função social da educação cabe ao Estado proporcionar os meios

para implementação de atividades educativas aliadas às exigências do mundo

contemporâneo e articuladas com as diversas esferas da educação na sociedade. Neste

sentido, desde 2007 foi instituído o programa Mais Educação através de Portaria

Interministerial nº 17/2007 que busca:

Contribuir para a formação integral de crianças, adolescentes e jovens,

por meio da articulação de ações, de projetos e de programas do

Governo Federal e suas contribuições às propostas, visões e práticas

curriculares das redes públicas de ensino e das escolas, alterando o

ambiente escolar e ampliando a oferta de saberes, métodos, processos e

conteúdos educativos. (BRASIL, 2007, Art. 1º).

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Em 2010, o programa foi regulamentado pelo Decreto 7.083, de 27 de janeiro tendo

por finalidade “contribuir para a melhoria da aprendizagem por meio da ampliação do tempo

de permanência de crianças, adolescentes e jovens matriculados em escola pública, mediante

oferta de educação básica em tempo integral” (BRASIL, 2010, p. 1).

A proposta do referido programa busca enfrentar as desigualdades sociais e

educacionais, integrando as ações do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE),

bem como, trata-se de uma ação intersetorial entre políticas educacionais e sociais através

da ação conjunta dos Ministérios da Educação (MEC), Ministério do Desenvolvimento

Social e Combate à Fome (MDS), o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), o

Ministério do Esporte (ME), o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Ministério da

Cultura (MINC), o Ministério da Defesa e a Controladoria Geral da União.

O Manual Operacional de Educação Integral – documento que orienta o programa

- ainda traz outros documentos com base legal para ações do Governo Federal que

abordam a educação integral: Constituição Federal (Art. 205, 206 e 227); no Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA) na Lei nº 8069/1990; no Plano Nacional de Educação

(PNE) Lei nº 10.179/01 e no Fundo Nacional de Manutenção e Desenvolvimento do

Ensino Básico e de Valorização do Magistério Lei nº 11.494/2007. Ainda na Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) Lei nº 9394/1996, destaca no seu artigo

2º, que os objetivos da educação brasileira deve ser o pleno desenvolvimento do

educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho

(BRASIL, 1996), como também a ampliação da jornada escolar (Art. 34, § 2º e Art. 87,

§ 5º) apontando também para uma concepção de educação integral.

O programa Mais Educação ainda visa:

I. Contemplar a ampliação do tempo e do espaço educativo de suas

redes e escolas, pautada pela noção de formação integral e

emancipadora;

II. Promover a articulação, em âmbito local, entre as diversas políticas

públicas que compõem o Programa e outras que atendam às mesmas

finalidades;

III. Integrar as atividades ao projeto político-pedagógico das redes de

ensino e escolas participantes;

IV. Promover, em parceria com os Ministérios e Secretarias Federais

participantes, a capacitação de gestores locais;

V. Contribuir para a formação e o protagonismo de crianças,

adolescentes e jovens;

VI. Fomentar a participação das famílias e comunidades nas atividades

desenvolvidas, bem como da sociedade civil, de organizações não

governamentais e esfera privada;

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VII. Fomentar a geração de conhecimentos e tecnologias sociais,

inclusive por meio de parceria com universidades, centros de estudos e

pesquisas, dentre outros;

VIII. Desenvolver metodologias de planejamento das ações, que

permitam a focalização da ação do Poder Público em territórios mais

vulneráveis; e

IX. Estimular a cooperação entre União, Estados, Distrito Federal e

Municípios.

O programa está dividido em macrocampos:

1. Acompanhamento pedagógico;

2. Comunicação, uso de mídias e cultura digital e tecnológica; 3. Cultura, Artes e Educação patrimonial;

4. Educação Ambiental, Desenvolvimento Sustentável e Economia

Solidária e Criativa / Educação Econômica;

5. Esporte e Lazer;

6. Educação em Direitos Humanos e

7. Promoção a Saúde.

É fundamental que a escola estabeleça relações com as atividades desenvolvidas

no programa e as atividades curriculares de acordo com o Projeto Político Pedagógico

(PPP) de cada instituição. Os macrocampos tem como objetivos a melhoria do rendimento

do aluno e um melhor aproveitamento escolar com o aumento da jornada diária. Busca-

se com isso uma redução no número de alunos evadidos e reprovações. Logo abaixo segue

um quadro explicativo de cada macrocampo.

Quadro 2: Macrocampos e suas atividades

MACROCAMPOS ATIVIDADES

Acompanhamento pedagógico

(Obrigatório)

Orientação de estudos e leituras contemplando

diferentes áreas: alfabetização, matemática,

história, ciências, geografia, línguas estrangeiras

entre outras.

Comunicação, uso de mídias e cultura digital e

tecnológica

Ambiente de Redes Sociais; Fotografia;

Histórias em Quadrinhos; Jornal Escolar; Rádio

Escolar; Vídeo; Robótica Educacional;

Tecnologias Educacionais

Cultura, Artes e Educação patrimonial

Artesanato Popular; Banda; Canto Coral;

Capoeira; Cineclube; Danças; Desenho;

Educação Patrimonial; Escultura/Cerâmica;

Grafite; Hip-Hop; Iniciação Musical de

Instrumentos de Cordas; Iniciação Musical por

meio da Flauta Doce; Leitura e Produção

Textual; Leitura: Organização de Clubes de

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Leitura; Mosaico; Percussão; Pintura; Práticas

Circenses; Sala Temática para o Estudo de

Línguas Estrangeiras; Teatro.

Educação Ambiental, Desenvolvimento

Sustentável e Economia Solidária e Criativa /

Educação Econômica

Horta Escolar e/ou Comunitária; Jardinagem

Escolar; Economia Solidária e Criativa

/Educação Econômica (Educação Financeira e

Fiscal).

Esporte e lazer Atletismo; Badminton; Basquete de Rua;

Basquete

Corrida de Orientação; Esporte da

Escola/Atletismo e Múltiplas Vivências

Esportivas (basquete, futebol, futsal, handebol,

voleibol e xadrez); Futebol; Futsal; Ginástica

Rítmica; Handebol; Judô; Karatê; Luta

Olímpica; Natação; Recreação e

Lazer/Brinquedoteca; Taekwondo; Tênis de

Campo; Tênis de Mesa; Voleibol; Vôlei de

Praia; Xadrez Tradicional; Xadrez Virtual;

Yoga/Meditação

Educação em Direitos Humanos Educação em Direitos Humanos

Promoção a Saúde Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças e

Agravos à Saúde Fonte: BRASIL (2014, p. 5-7)

No macrocampo “Cultura, Artes e Educação patrimonial” busca-se incentivar à

produção artística e cultural, individual e coletiva dos alunos para que haja apropriação e

valorização das diversas linguagens e bens culturais produzidos historicamente pela

humanidade. Fernandes (2014) em seu estudo sobre a implementação deste macrocampo

em uma escola da rede municipal de Juiz de Fora- MG aborda que é preciso compreender

as atividades do deste macrocampo dentro do contexto escolar. Segundo a autora é nesse

âmbito que, “[...] ela traduz um conjunto de valores e comportamentos de uma sociedade,

de um grupo de indivíduos, e tem raízes nas tradições familiares e sociais. ” (p.30). Além

de que, todas as atividades devem ser trabalhadas de maneira preferencialmente

interdisciplinar considerando o contexto social dos educandos e dentro da perspectiva

presente no relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e

Cultura (UNESCO) de Jacques Delors4 – contemplando os quatro pilares da educação:

aprender a ser, aprender a conviver, aprender a conhecer e aprender a fazer.

_____

4 DELORS, Jacques (Coord.). Os quatro pilares da educação. In: Educação: um tesouro a descobrir. São

Paulo: Cortezo. p. 89-102.

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O programa atende preferencialmente escolas com baixo Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB)5 iguais ou inferior a 3,5 nos anos iniciais

e/ou finais, localizadas em capitais e regiões metropolitanas que apresentam entre outras

coisas altos índices de vulnerabilidade social. A seleção das escolas é feita pela Secretaria

de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD) em parceria com a

Secretaria de Educação Básica (SEB), necessitando apenas por parte das escolas e

secretarias de educação aderirem ao programa.

Os recursos destinados ao programa são oriundos do Programa Dinheiro Direto

na Escola (PDDE) e destinam-se ao : Ressarcimento com as despesas de transporte e

alimentação dos monitores responsáveis pelo desenvolvimento das atividades; Aquisição

dos materiais pedagógicos necessários às atividades; Aquisição de outros materiais de

consumo e/ou contratação de serviços necessários ao desenvolvimento das atividades de

educação Integral, além de Aquisição de bens ou materiais, de acordo com os kits

sugeridos, além de outros bens permanentes necessários ao desenvolvimento das

atividades (BRASIL, 2014, p.19-20).

Até 2015 as escolas deveriam aderir ao programa através de preenchimento do

plano de atendimento pelo site “pddeinterativo.mec.gov.br” selecionando as atividades

que a escola irá executar, número de estudantes e demais informações. A partir de abril

de 2016 o MEC solicitou que as inscrições fossem realizadas primeiro por meio do

Sistema Integrado de Monitoramento Execução e Controle (SIMEC) e só depois pelo

“PDDE interativo”. As escolas devem dispor de um professor responsável - denominado

de professor comunitário – a este cabe a função de acompanhar pedagogicamente e

administrar o programa na sua escola.

O programa também oferece a oportunidade a voluntários (monitores)

preferencialmente estudantes universitários com formações especificas nas áreas de

atuação do programa, ou pessoas da própria comunidade com conhecimento comprovado

como por exemplo: instrutor de capoeira; judô; música e etc. além de alunos do Ensino

Médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA). As atividades também devem estar

contextualizadas com as comunidades em que a escola está inserida promovendo ações

educativas que dialoguem com as realidades dos alunos.

_____

5 Foi criado em 2007, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP),

formulado para medir a qualidade do aprendizado nacional e estabelecer metas para a melhoria do ensino.

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Os alunos selecionados a participarem do programa devem atender aos seguintes

critérios: estudantes das series finais do ensino fundamental I e II – onde existe maior

incidência de abandono; estudantes que apresentam altos índices de evasão e repetência

e estudantes atendidos pelo programa Bolsa Família6. Cada escola deve contar com a

participação de pelo menos 100 crianças com turmas divididas com 30 alunos – exceto

para as atividades de Orientação de Estudos e Leitura e Campos do Conhecimento em

que as turmas deverão ter no máximo 15 alunos.

O programa Mais Educação tem sido uma ação indutora da proposta de educação

integral no país, que vem a atender as exigências do PNE (2014-2025) que busca em sua

Meta nº 6 oferecer educação em tempo integral em, no mínimo, 50% das escolas

públicas, de forma a atender, pelo menos, 25% dos (as) alunos (as) da educação básica.

Neste sentido o Mais educação tem sido uma das principais ações do Governo Federal

em busca de atingir essa meta:

Garantir educação integral requer mais que simplesmente a ampliação

da jornada escolar diária, exigindo dos sistemas de ensino e seus

profissionais, da sociedade em geral e das diferentes esferas de governo

não só o compromisso para que a educação seja de tempo integral, mas

também um projeto pedagógico diferenciado, a formação de seus

agentes, a infraestrutura e os meios para sua implantação. Assim, as

orientações do Ministério da Educação para a educação integral

apontam que ela será o resultado daquilo que for criado e construído em

cada escola, em cada rede de ensino, com a participação dos

educadores, educandos e das comunidades, que podem e devem

contribuir para ampliar os tempos, as oportunidades e os espaços de

formação das crianças, adolescentes e jovens, na perspectiva de que o

acesso à educação pública seja complementado pelos processos de

permanência e aprendizagem. (BRASIL, 2014, 28).

Dessa forma compreendemos a proposta da educação integral em escolas de

tempo integral como de suma importância para a educação brasileira, principalmente no

que tange a inserção da música como componente curricular na educação básica,

mostrando-se como um espaço considerável para essa prática. No entanto, como afirma

Penna (2011), a proposta do programa “Mais Educação” pode sim oportunizar a presença

e vivência da música na escola, mas nos desperta para alguns cuidados que a nosso ver

podem se tornar prejudicial à nossa luta quanto a implementação e cumprimento da Lei

de forma consolidada, consciente e integral.

_____

6 É um programa de transferência direta de renda que beneficia famílias em situação de pobreza e de

extrema pobreza do País.

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Mesmo com a lei 11.769/2008 o cenário musical dentro das escolas brasileiras

pouco sofreu alterações. Em algumas escolas a prática musical esta aliada a iniciativas de

alguns professores que buscam incessantemente pelo espaço da música na escola. Por

esse motivo a inquietação acontece entre os profissionais da área de educação musical,

pois não podemos ignorar a maneira como essas aulas acontecem e quem ministra as aulas

no programa do Governo Federal.

4.3 A FORMAÇÃO DOS MONITORES

As aulas de música oferecidas pelo programa Mais Educação têm ocupado um

lugar considerável no ambiente escolar e acabam por tentar suprir a incipiência da

presença das aulas de música nas escolas de educação básica. No entanto, como coloca

Penna (2013, p.68) “têm caráter extracurricular, com fortes características de educação

não formal”, bem como monitores com apenas noções de música, fato este já observado

por Silva. O. (2014) em pesquisa realizada no programa Mais Educação na cidade do

Natal/RN.

De acordo com o autor:

O trabalho de investigação nos revelou que a equipe de monitores que

atuam em Natal/RN como educadores musicais no programa Mais

Educação é, em parte, formada por pessoas que possuem apenas noções

elementares da área. Ocorre, na verdade, uma mescla de universitários

que estão em processo de formação, interessados que residem no bairro

e uma pequena quantidade de professores com nível superior em música

(SILVA. O., 2014, p. 7).

Sobre o assunto, Alves (2014) afirma que há uma parcela considerável de

monitores que atuavam nas oficinas de música do programa em Natal com formação ou

em processo de graduação em música no período da sua pesquisa. A autora entrevistou

dez monitores de música, sendo: 30% (bacharéis), 30% (Especialistas em Educação

Musical) e 40% (Licenciandos em música).

Confrontando essas duas pesquisas com os resultados apresentados pelo Grupo de

Estudos e Pesquisa em Música (GRUMUS) da UFRN, vemos que são categóricos em

apresentar um número expressivo de profissionais atuantes no ensino musical nas escolas

sem uma formação acadêmica. Quando questionados a respeito da formação específica

dos profissionais que atuavam com música nas escolas, observamos que 41,7% dos

profissionais não tinham formação especifica. Ver gráfico abaixo:

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Gráfico 2: pergunta nº3 do questionário GRUMUS

Fonte: GRUMUS (2015)

Os relatos a respeito da qualificação dos monitores que atuam nas oficinas do

programa também tem sido tema de outros trabalhos como é o caso da dissertação de

Godoy (2012, p. 89) que constatou que “em vários momentos foi possível perceber que

os alunos afirmam aprender melhor com os monitores do que com os professores

concursados”.

Durante a nossa pesquisa nas visitas as escolas também constatamos a preferência

dos coordenadores locais por monitores do próprio bairro por esses não faltarem as aulas,

terem uma relação de intimidade com os alunos e demonstrarem maior comprometimento

com a escola.

Já Mosna (2014) destaca a rotatividade dos monitores com formação,

prejudicando o desenvolvimento das aulas. Segundo a autora essa rotatividade tem

relação com os valores pagos como ajuda de custo pelas escolas aos monitores.

Nessa perspectiva, Mendes (2013, p. 87-88) discorre a respeito da prática de canto

coral em escolas paraibanas nos apresentando a prática pedagógica de dois monitores com

formações distintas. O monitor A - sem uma formação formal “aparentemente estava

conseguindo desenvolver um bom trabalho, apoiado em muito diálogo com suas turmas”.

Diferentemente do monitor B – com em bacharelado em música “não conseguia despertar

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o interesse dos alunos pela aula, o que geralmente resultava em muito barulho e

indisciplina. ”

No que se refere a atuação dos monitores no programa, pesquisas realizadas sobre

a temática relatam a diversidade das práticas envolvendo o ensino de música nas oficinas.

É o caso das pesquisas realizadas na cidade de João Pessoa sob a coordenação da

professora Dr. Maura Penna: Barros e Penna (2012), Félix (2013), Brito (2011a).

Penna ainda destaca como fator preponderante a descentralização na execução do

programa: “é a escola que seleciona tanto os alunos a serem atendidos quanto as

atividades a serem oferecidas no contraturno. Além disso, é também na esfera da escola

que se realizam tanto o planejamento das atividades quanto a seleção dos monitores”

(PENNA, 2011, p. 148).

Penna (2013, p. 68) ainda afirma que:

[...] as atividades do Mais Educação, apesar de realizadas no contexto

escolar, têm caráter extracurricular, com fortes características de

educação não formal – dentre outros fatores, por suas funções sociais e

por trabalhar com monitores voluntários[...]

A LDB, no artigo 62 diz que:

A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível

superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em

universidades e institutos superiores de educação, admitida, como

formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e

nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível

médio, na modalidade Normal. (BRASIL, 1996).

Segundo o manual operacional de educação integral (BRASIL, 2014) as

atividades de monitoria devem preferencialmente serem exercidas por estudantes

universitários com formação específica em suas áreas de atuação ou até mesmo pessoas

da própria comunidade com habilidades próprias para a função. Essa abertura do

documento para pessoas da comunidade tem seus aspectos positivos, pois aproxima a

escola do contexto em que a mesma se encontra. Todavia, o despreparo pedagógico dos

monitores poderá colocar em risco a execução do programa e por sua vez a efetiva

inserção da música na escola de educação básica. Para isso requer profissionais

preparados para lidarem com situações adversas no ambiente escolar. Penna enfatiza a

necessidade de o programa ter profissionais qualificados:

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As propostas do Mais Educação podem, por um lado, gerar

oportunidade de expandir a presença da música nas escolas. Mas isso

não pode ser feito a qualquer preço, inclusive desprestigiando o

profissional da área e desvalorizando a formação pedagógica. (PENNA,

2011, p. 151).

O ensino de música em horário contraturno se apresenta como uma proposta

relevante para a inserção da música na escola já que muitas tem sido as tentativas para

dar à música um lugar no ambiente educacional. No entanto, não é nosso objetivo

questionar a formação do monitor, mas sim, saber como se dá a prática musical no

ambiente escolar. Neste caso, não é possível afirmar que somente o saber advindo da

experiência são suficientes para a prática pedagógica, nem tão pouco, os saberes

acadêmicos podem dá tal suporte. Não queremos, porém, afirmar que não seja necessária

uma formação superior em música, mas também não queremos desvalorizar o trabalho

que está sendo realizado nas escolas através das oficinas do Mais Educação por formados,

formandos e autodidatas em música. Tendo em vista que este pode ser o único contato de

muitos alunos com a música no ambiente escolar

Também Silva. O. (2014, p. 10) escreve que “O esforço pedagógico está, além de

ampliar o universo do aluno, em proporcionar novas vivências e abrir diálogo permanente

com a realidade sociocultural na qual estão inseridos”. Contudo, a seleção de monitores

sem qualquer qualificação pedagógica tende a desvalorizar o profissional. É necessário

proporcionar a reflexão-ação das práticas desses monitores, como coloca Souza (2006, p.

105) “o pensar reflexivo é uma tarefa educacional de extrema relevância, pois favorece

uma aprendizagem consistente”, assim como um profissional mais qualificado.

Em visita as escolas municipais do Natal, na etapa do levantamento das práticas

musicais nas oficinas percebemos que os coordenadores tinham dificuldades em

selecionar monitores com formação especifica na área de atuação, muitas optando por

pessoas sem uma formação acadêmica por não haver oferta de mão–de-obra e pela

dificuldade em encontrar pessoas dispostas a trabalhar no Mais Educação.

Em conversas informais com alguns coordenadores, muitos relataram a sua

preferência em trabalhar com monitores da própria comunidade por estes apresentarem

um comprometimento maior com o programa e a facilidade no relacionamento com os

alunos, promovendo um bom ambiente de integração: professor – aluno.

Em entrevista com o setor de educação integral do município, também tivemos o

relato de que as oficinas podem ser um ambiente de formação inicial e continuada para

os monitores. Tendo em vista que estão em um ambiente educacional reconhecido, com

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professores já formados e que dispõe de experiências que podem orientar os monitores -

muitos no seu primeiro contato com a prática docente.

4.4 O CARÁTER SOCIAL DO PROGRAMA

As desigualdades sociais em que vivemos atualmente excluem aqueles que não

tiveram oportunidade a educação no tempo regular. Muitos são os alunos que tem que

abandonar os estudos para ajudar suas famílias, tendo que trabalhar ainda muito cedo,

prejudicando sua vida escolar. As escolas inseridas no programa atendem, em sua

maioria, alunos expostos a situações de vulnerabilidade, risco social e muitas vezes como

uma forma do aluno permanecer mais tempo no ambiente escolar ao invés de estarem nas

ruas.

O caráter sócio-educativo do Programa Mais Educação encontra na

música uma parceria para desempenhar um importante papel social que

pode ser cumprido a partir da introdução de práticas pedagógico-

musicais que contemplem não só objetivos musicais, mas também

propicie o desenvolvimento educativo do educando. (SILVA.O., 2014,

p. 7).

Essa nova realidade brasileira vem refletindo nas últimas décadas o crescente

número de movimentos sociais organizados que buscam trabalhar com crianças e jovens

em situação de exclusão social. E a música tem sido usada como um instrumento dessa

inclusão por diversas organizações não governamentais (ONGs), projetos sociais, igrejas

entre outros. De forma que o programa Mais Educação acaba por, também, trazer na sua

gênese um caráter assistencialista.

No entanto, o sentimento que é dado ao caráter assistencialista do programa pode

influenciar no desenvolvimento musical que também deve ser visto com atenção pelas

escolas e monitores. O que percebemos é que o desenvolvimento musical fica em segundo

plano com vistas apenas a oportunizar o contato dos alunos com determinadas linguagens,

muitas vezes não previstas e nem comtempladas pelo currículo. Penna (2014) relata que

problemas relativos à falta de desenvolvimento musical dos alunos são minimizados pela

concepção assistencialista do programa. Ao nosso ver essa justificativa prejudica os

verdadeiros benefícios da música para formação humana. Queiroz (2004) traz algumas

concepções para uma educação musical significativa, dentro de uma proposta de

educação que comtemple os múltiplos contextos e espaços em que esse aprendizado

acontece. Queiroz coloca que a educação musical deve proporcionar:

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[...] a interação com música de diferentes contextos culturais,

ampliando a nossa dimensão e percepção musical, fazendo com que a

partir do contato com outras linguagens possamos inclusive ampliar o

nosso próprio discurso musical (2004, p. 101).

O autor ainda traz outras contribuições para o processo educacional:

Experiências educativas que interajam com a realidade de cada cultura;

O ensino contextualizado com os diferentes universos musicais da vida

cotidiana;

Práticas e vivências musicais que retratem experiências significativas para

cada sujeito do processo educativo;

Visão ampla dos valores culturais/musicais da sociedade;

Vivências musicais distintas que permitam ao indivíduo de um

determinado contexto conhecer e reconhecer diferentes “sotaques”

culturais, inclusive o seu próprio;

Ampliação estética e artístico-musical a partir do conhecimento e da

experiência com diferentes aspectos de distintas culturas;

Valorização e aproveitamento do aprendizado musical proporcionado

pelos diferentes meios e agentes presentes no processo musical de cada

cultura.

Manter os alunos mais tempo na escola não é sinônimo de educação integral, e ao

nosso ver, não atendem a proposta de caráter social. O próprio documento que orienta a

execução do programa a respeito da qualidade do tempo do aluno em horário contraturno

diz que,

O tempo qualificado é aquele que mescla atividades educativas

diferenciadas e que, ao fazê-lo, contribui para a formação integral do

aluno, para a superação da fragmentação e do estreitamento curricular

e da lógica educativa demarcada por espaços físicos e tempos

delimitados rigidamente. Neste sentido, entende-se que a extensão do

tempo – quantidade – deve ser acompanhada por uma intensidade do

tempo – qualidade – nas atividades que constituem a jornada ampliada

na instituição escolar. (BRASIL, 2009, p. 28)

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Nas pesquisas coordenadas pela professora Maura Penna na cidade de João

Pessoa-PB sobre as oficinas do programa Mais Educação, nos chama a atenção para as

práticas pedagógicas onde não foram,

Observadas atividades pedagógicas que partissem ou englobassem,

intencionalmente, a vivência musical do aluno, seja porque a escolha

do repertório era determinada pelo monitor sem qualquer consulta à

turma, seja pela clara desconsideração das manifestações musicais

espontâneas dos alunos. (PENNA, 2014, p. 9).

Se as oficinas de música oferecidas pelo programa não se proporem a possibilitar

para os educandos um ensino que amplie seu universo musical criando as pontes

necessárias entre os conhecimentos prévios dos alunos e os propostos pela educação

integral. O programa acaba por não atingir aos seus objetivos, seja pela falta de estrutura

física das escolas, o desconhecimento por parte dos gestores a respeito das propostas do

programa, a desqualificação dos monitores e a falta de envolvimento de todos os agentes

que fazem a escola e a sociedade.

4.5 AS AULAS DE MÚSICA NO PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO

Nos últimos anos, a música tem sido permeada por diversas áreas das ciências

humanas: a psicologia, antropologia, sociologia entre outras e isso tem “contribuído para

repensar a noção de música, agora vista sob uma perspectiva multicultural e rica em

significados” (ROCHA et all, 2015, p.1) libertando a ideia de uma arte baseada no dom e

no talento, podendo finalmente,

Ser pensada em diferentes espaços e conteúdo, junto ao homem agora,

pensando numa totalidade que respeite desde sua maturação até sua

fisiologia, psicologia, motricidade, cognição e seu meio social e

cultural. (ROCHA et all, 2015, p.2).

No que diz respeito às aulas de música desenvolvidas no programa Mais

Educação, elas se inserem no macrocampo Cultura, Artes e Educação Patrimonial que

busca incentivar a produção artística e cultural, individual e coletiva dos estudantes como

possibilidade de reconhecimento e recriação estética de si e do mundo, bem como da

valorização às questões do patrimônio material e imaterial, produzido historicamente pela

humanidade (BRASIL, 2014).

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Nas atividades relacionadas ao ensino da música estão: formação de bandas

fanfaras, canto coral, iniciação musical em instrumentos de cordas, iniciação musical por

meio da flauta doce e percussão. Todas as atividades têm um ponto em comum em suas

ementas: o desenvolvimento sociocultural e a pratica socializadora por intermédio da

música.

Com vistas a entender a relação que a música faz com o desenvolvimento humano

partimos da concepção de Hans-Joachim Koellreutter (1915-2005) que diz que a música

deveria ser aceita como:

Meio que tem a função de desenvolver a personalidade do jovem como

um todo; de despertar e desenvolver faculdades indispensáveis ao

profissional de qualquer área de atividade, como, por exemplo, as

faculdades de percepção, as faculdades de comunicação, as faculdades

de concentração (autodisciplina), de trabalho em equipe, ou seja, a

subordinação dos interesses pessoais aos do grupo, as faculdades de

discernimento, análise e síntese, desembaraço e autoconfiança, a

redução do medo e da inibição causados por preconceitos, o

desenvolvimento de criatividade, do senso crítico, do senso de

responsabilidade, da sensibilidade de valores qualitativos e da memória,

principalmente, o desenvolvimento do processo de conscientização do

todo, base essencial do raciocínio e da reflexão. [...] Trata-se de um tipo

de educação musical que aceita como função a tarefa de transformar

critérios e idéias artísticas em uma nova realidade, resultante de

mudanças sociais. (KOELLREUTTER, 1998, apud BRITO,2011b,

p.43).

Sendo a música fruto de uma construção humana “uma educação musical que

tenha como objetivo a formação integral do ser humano só pode acontecer em contextos

onde os alunos sejam respeitados e estimulados em todas as direções” (BRITO, 2003 p.

3).

Se pensarmos na função social que a música exerce na vida das pessoas é

imprescindível que se aborde a temática nas escolas de educação básica. Formar o ser

humano é interagir com as diversas possibilidades de manifestações sócio – históricas

que a música exerce na cultura dos povos e nas sociedades em que está inserida,

encarando os desafios da condição humana na atualidade. E em se tratando de educação

musical isso se deve ao fato de ela hoje “ser feita por nós, homens e mulheres de hoje,

embebidos em desafios e limitações de nossa própria condição sócio histórica” (ROCHA

et all, 2015, p. 4).

As aulas de música do programa Mais Educação podem contribuir para sua

valoração em um ambiente sistematizado e reconhecido como formadora de cidadãos.

Para tal missão é preciso que,

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As ações do Programa sejam trabalhadas na perspectiva da formação

integral dos sujeitos e que, portanto, estas precisam reconhecer os

educandos como produtores de conhecimento, priorizando os processos

capazes de gerar sujeitos inventivos, autônomos, participativos,

cooperativos e preparados para diversificadas inserções sociais,

políticas, culturais, laborais e, ao mesmo tempo, capazes de intervir e

problematizar as formas de produção na sociedade atual. (BRASIL,

2014, p.8).

O estado cumpre seu papel com ações como esta, todavia a tarefa não é tão fácil

quanto parece. Necessita de que todos nós enquanto sujeitos participantes possamos nos

empenhar em promover essa educação a muito tempo almejada. Embora seja a escola,

instituição em que recai toda essa incumbência, é quando assumimos o NÓS como nos é

apresentado na epigrafe desse capitulo: “Para educar uma criança, é preciso uma aldeia

inteira” é que podemos sonhar em uma formação verdadeiramente humana para

TODOS.

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5 A PRÁTICA MUSICAL NAS ESCOLAS PESQUISADAS

Propomos neste capítulo apresentar as principais observações feitas em campo

com o objetivo de responder as inquietações que nos fizeram propor este trabalho. Diante

do exposto procuramos nos tópicos seguintes caracterizar as escolas pesquisadas, bem

como os atores envolvidos: coordenação do programa, monitores e alunos. Por meio da

análise dos dados coletados nas entrevistas buscamos compreender como se dava a

aplicabilidade das oficinas de música do programa Mais Educação, bem como os

resultados das observações.

As observações foram realizadas entre os meses de agosto e setembro de 2016,

com o total de 08 observações em cada escola. Para manter o anonimato das escolas

denominaremos as Escolas de A e B.

5. 1 O MAIS EDUCAÇÃO NA CIDADE DO NATAL/RN

O Mais Educação nas escolas do município do Natal foi implantado em 2008, mas

desde 2006 a SME vinha discutindo uma proposta de educação integral por meio de uma

comissão formada por professores da rede com vistas a atender o plano municipal de

educação lei nº 5.650 de 20 de maio de 2005,

Que estabelecia, nos seus objetivos e metas, a implantação gradativa do

ensino em tempo integral, bem como propunha o fortalecimento de

parcerias entre instituições públicas e privadas, abrindo espaço a

participação da comunidade em atividades pedagógicas, socioculturais,

artísticas e desportivas. (SILVA, M., 2014, P. 58).

Em 2007 a proposta ficou pronta, no entanto com o advento do programa

instituído pelo governo federal ficou inviável ter mais um programa nos mesmos moldes.

Desta forma foi dada toda a atenção ao Mais Educação. Contudo, tal trajetória foi marcada

por dificuldades, como nos apresenta Silva. M (2014, p.59):

A fase de conhecimento, estudo e implementação do Programa na rede

municipal, foi difícil, marcada pela recusa, em sua grande maioria, dos

gestores das escolas contempladas. As informações sobre o Programa,

necessárias a segurança da equipe da SME, eram mínimas e a própria

equipe do MEC mostrava-se insegura quanto à forma de condução e

execução.

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Em entrevista feita ao setor responsável pela educação integral nas escolas do

município, a chefe do setor nos relatou que:

Foi muito difícil no começo... os diretores não aceitavam a

proposta, questionavam “onde vamos colocar tanta gente? Não

temos estrutura! ” (CHEFE DO SETOR DE EDUCAÇÃO

INTEGRAL DA SME – entrevista realizada em 08/07/2016).

A reação dos diretores reflete as frustações dos projetos anteriores do governo

federal para esse fim como os de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro. Compreendemos esta

reação dos gestores na medida que não é observada nas escolas o mínimo de condições

para tal implementação, sua realidade, seus anseios e profissionais para realiza-lo.

A maior preocupação, que explicava a resistência dos gestores, era

pensar na ampliação da jornada escolar quando não se dispõe de uma

boa estrutura, não apenas física, mas também de recursos humanos,

configurando-se como mais um desafio para as escolas que já

apresentavam inúmeras demandas. (SILVA. M, 2014, p. 59).

Com o advento do Mais Educação, foi criado em 2008 o setor de educação integral

na SME de Natal com a responsabilidade de coordenar todas as atividades de jornada

ampliada na rede municipal. Os relatos de quem participou ativamente do processo de

implementação da proposta nos mostram os diversos desafios encontrados pela equipe.

5.1.1 Entrevista com a chefe do Setor de Educação Integral da SME de Natal

Quando se pensou em entrevistar os responsáveis pela implementação do

programa Mais Educação nas escolas do município, objetivávamos esclarecer algumas

concepções ligadas ao programa com aspectos relacionados a gestão e direcionamentos

dados às escolas. Tendo em vista que no período da pesquisa realizada pelo GRUMUS

constatamos que os diretores demonstravam desconhecimento por parte de como deveria

ser a implementação das aulas de música na escola regular como cumprimento a lei

11.769, justificando o cumprimento da lei por intermédio das aulas de música oferecidas

pelo programa. Para isso dividimos o roteiro das entrevistas em dois momentos:

inicialmente as perguntas tratavam das concepções a respeito da educação integral e os

desafios enfrentados para implementação do programa nas escolas do município. Em

seguida as perguntas diziam respeito às práticas musicais nas oficinas.

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Concepção de educação integral:

Quando questionada a respeito das concepções que o setor teria sobre educação

integral e escolas de tempo integral, a responsável do setor nos relatou que,

A gente trabalha com um conceito de uma educação integral

voltada para um aluno integral, ou seja, um aluno que tem suas

dimensões afetivas, cognitivas, social, psicomotor. Uma

educação que veja esse todo do aluno que o oportunize

desenvolver suas diversas capacidades. E afunilando mais para

uma parte prática em relação aos conteúdos, a gente ver que... se

nós não dermos essa oportunidade de o aluno ter contato, com as

outras áreas do conhecimento, ou seja, a própria música, os

esportes nas suas diversas modalidades... a questão do meio

ambiente... são aprendizagens diversas que muitas vezes não são

contempladas no currículo comum da escola. (CHEFE DO

SETOR DE EDUCAÇÃO INTEGRAL DA SME – entrevista

realizada em 08/07/2016).

As concepções ligadas ao termo educação integral estão bem definidas na fala da

gestora. Quando aborda o sentido funcional do termo, fica claro a intenção de oportunizar

aos alunos um contato maior com outras áreas de conhecimento através das oficinas,

aumentando assim a sua capacidade de se desenvolverem enquanto sujeitos humanos. O

aspecto de inclusão social fica marcado na fala da gestora por apresentar a necessidade

das escolas atuais de se desenvolverem enquanto instituições livres, que desafiem seus

alunos a pensarem, refletir e a buscarem por novos conhecimentos.

Ao ser questionada se o programa Mais Educação poderia contribuir para a

educação integral, a resposta é clara:

Sim! Quando a gente começou a pensar nessa concepção de

educação integral ficou muito clara a necessidade desse aluno

receber oportunidades formativas que pudessem toca-lo em

dimensões que a escola comum, infelizmente a muito tempo, já

não consegue tocar.

Podemos entender essas dimensões como uma aprendizagem significativa em que

o aluno interaja com seus conhecimentos prévios e novos que perpassa os muros da

escola. Para Freire (2016) a educação só poderá vir a ser significativa se “nas condições

de verdadeira aprendizagem, os educandos vão se transformando em reais sujeitos da

construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador igualmente sujeito

do processo” (p. 28).

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As aulas do Mais Educação devem ser o elo entre os conhecimentos adquiridos

no turno regular e no contraturno com a vida dos alunos.

Nesse sentido, é preciso oferecer às crianças, adolescentes e jovens

diferentes linguagens e valorizar suas vivências, modificando o próprio

ambiente escolar e a produção do conhecimento. As diferentes formas

que as crianças, adolescentes e jovens utilizam para se expressar são as

suas linguagens, por meio das quais demonstram o que sentem e

pensam sobre o mundo que os cerca. (BRASIL, 2013, p. 22).

Ao nos relatar que a educação brasileira historicamente foi pautada em técnicas e

num sistema que direciona os alunos a cumprimento de metas, em que a aprendizagem é

medida por notas e que o objetivo do aluno é passar de ano. O setor de educação integral

nos apresenta uma preocupação em investir na formação do indivíduo não somente com

um olhar técnico, mas para uma formação que possibilite para o educando se desenvolver

integralmente em todas as dimensões que a escola pode proporcionar, que vão além dos

conhecimentos adquiridos em sala de aula, mas que sensibilizam os educandos para a

vida em sociedade.

Desafios enfrentados:

Ao ser questionada sobre as principais dificuldades enfrentadas pela comissão da

SME, a falta de estrutura física das escolas foi sem dúvida a mais preocupante por parte

dos diretores, mesmo que os documentos que orientam o programa relatarem que outros

espaços como: igrejas, conselhos comunitários, quadras comunitárias, Ong’s, poderiam

atuar como parceiros, visando a participação da comunidade nas atividades relacionadas

ao programa. Contudo, em muitos bairros a escola é a única parceira da comunidade,

cedendo seus espaços para as atividades da população.

Na fase de levantamento das escolas que estavam atuando com as oficinas de

música pelo Mais Educação no município do Natal, duas escolas tinham suas atividades

desenvolvidas em outros espaços por não atenderem com suas estruturas físicas para

realização do programa: A Escola Municipal São José (zona sul) e a Escola Municipal

Laura Maia (zona leste).

Quando se trata das aulas de música, os desafios relacionados a estrutura física

ficam ainda mais evidentes, sendo inclusive motivos de reclamações de professores por

conta do “barulho”. Nas escolas visitadas muitas das aulas de música acontecem nas salas

mais distante da escola ou na quadra esportiva – na maioria das vezes sendo divididas

com a oficina de esportes.

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Para o convencimento dos diretores foram realizadas reuniões nas próprias escolas

inclusive com a comunidade escolar,

Objetivando sensibilizar a todos para a participação e adesão da escola,

tendo em vista que cada unidade teria autonomia para gerir os recursos

destinados a realização do Programa, que seriam encaminhados

diretamente para a Unidade Executora escolar (UEx), somando-se ao

fato que um dos objetivos do Programa relacionava-se à melhoria da

aprendizagem dos alunos. (SILVA. M, 2014, p.60).

O contexto social de cada escola, as especificidades de cada realidade local foram

outras problemáticas enfrentadas pela equipe do setor, além da dificuldade na liberação

de carga horaria dos professores para coordenar o programa, ausência de pessoal de apoio,

a seleção de monitores qualificados, dificuldade no diálogo com o currículo das escolas

e com os professores do turno regular (IBID, 2014, p. 60).

Seleção dos monitores:

Os monitores são selecionados pelas próprias escolas, mas os interessados em

atuar como monitores podem enviar currículos para SME. Assim como orienta os

documentos que regem o programa os monitores devem preferencialmente serem

formados ou estarem em processo de formação. No entanto, os professores comunitários

optam por pessoas da própria comunidade, que tenham algum vínculo com a realidade

local e experiência comprovada no instrumento que se propõe a lecionar – uma prática

também prevista pelo manual operacional do programa. Outro fator que contribui para

essa preferência é a questão dos valores oferecidos aos monitores. Na maioria das escolas

os monitores chegam a receber uma ajuda de custo de R$ 80,00 (oitenta reais) por turma.

Se pensarmos que cada monitor atua em média com quatro turmas por semana alguns

monitores chegam a receber em torno R$ 320,00 (trezentos e vinte reis).

Dos monitores que estavam atuando até o momento em que se deu a pesquisa

somente dois tinham alguma formação formal em música, sendo um técnico em música

com formação na área de clarineta e outro cursando o primeiro período da licenciatura

em música pela UFRN. Os demais monitores tinham conhecimento na área por meio de

aprendizagens informais em música, seja na igreja, com familiares, aulas particulares ou

internet.

Os monitores tinham encontros mensais com o setor de educação integral da SME

com vistas a dá suporte pedagógico para a prática docente.

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A intenção é proporcionar aos monitores uma formação

continuada que os ajudem na prática docente. O Mais Educação

também deve ser visto como um espaço de formação de

professores. (CHEFE DO SETOR DE EDUCAÇÃO

INTEGRAL DA SME – entrevista realizada em 08/07/2016).

A respeito das aulas de música os monitores deveriam proporcionar aos alunos

um contato inicial com essa linguagem artística. Segundo relatos o objetivo,

Não era de formar músicos, mas sim de possibilitar ao aluno

vivenciar a música que pode ajuda- ló, inclusive em outras

áreas... eu me lembro quando vi um aluno tocando um

instrumento de caixa e eu perguntei como ele havia aprendido...

e ele me disse “ah... é fácil... é só tocar assim. ” Fiquei

encantada.

Percebemos na fala da chefe do setor uma concepção de educação musical

bastante ampla quando trata de a importância dos alunos vivenciarem a música, no

entanto quando colocada como recurso para outras atividades, nos traz a impressão já

popularizada da importância da música para outras áreas e não para ela mesma – a música

pela música.

Quantidade de escolas em 2016 e oficinas oferecidas:

Para o ano de 2016, somente 15 escolas trabalharam com programa Mais

Educação no município, sendo que somente 8 escolas ofereciam oficinas de música. O

programa vem enfrentando várias dificuldades financeiras em todo país e este cenário

vem dificultando a manutenção e realização das oficinas. Muitas das escolas visitadas já

estavam encerrando suas atividades no período da pesquisa e outras ainda trabalhavam

com recursos de 2015. No quadro abaixo veremos a relação das escolas que atuam com

música no município.

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Quadro 3: relação das escolas com oficinas de música em 2016

ESCOLAS

MUNICIPAIS

ZONAS OFICINAS DURAÇÃO Nº ALUNOS

Nossa Senhora dos

Navegantes

Norte Canto coral 2 meses 126

Antônio Severiano Sul Flauta doce/ canto

coral

3 meses 133

Emília Ramos Oeste Canto coral 3 meses 100

Ferreira Itajubá Oeste Canto coral 3 meses 109

Noilde Pessoa Ramalho Norte Canto coral/ Flauta

doce

5 meses 125

Laura Maia Leste Flauta doce/ Canto

coral

5 meses 125

Nossa Senhora da

Apresentação

Norte Percussão/ Canto

coral

5 meses 151

São José Sul Instrumentos de

corda

5 meses 100

Fonte: SME (2016)

Das oito escolas visitadas somente quatro teriam suas atividades até o final do ano,

as demais encerraram suas atividades ainda no primeiro semestre. As oficinas de música

atenderam em 2016 ao total de 969 alunos inscritos pelo programa. Mas ao longo do

período, o número de alunos evadidos era significativo. Os motivos para tal desistência

poderia ter relação com a forma como as aulas eram ministradas ou a forma como o

programa estava sendo conduzido nesse período, tendo em vista as dificuldades

financeiras, mudanças de monitores, greves dos professores, falta d’água e etc.

Como o setor tem avaliado o programa:

Um programa como esse não poderia acabar nunca... muitos

alunos não teriam contato com tanta coisa, se não fosse o

programa. (CHEFE DO SETOR DE EDUCAÇÃO INTEGRAL

DA SME – entrevista realizada em 08/07/2016).

O programa oportunizou acesso a diversas manifestações culturais das quais

muitos alunos nunca tiveram contato, seja nos esportes, aulas de orientação de estudos e

leitura – onde poderiam tirar as dúvidas relacionadas as disciplinas como matemática por

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exemplo. Capoeira, dança, conhecimentos sobre o meio ambiente e até mesmo a música

que ainda busca pelo seu espaço dentro da escola regular foram algumas das atividades

realizadas.

Conhecimento da lei 11.769:

No segundo momento da entrevista focamos nas oficinas de música. Inicialmente

perguntamos se o setor tinha conhecimento a respeito da lei 11.769. Conforme já esperado

a resposta foi positiva, disseram estar cientes da lei e da importância da música para a

formação humana.

Observamos que a lei que rege o ensino de música nas escolas de educação básica

já é de conhecimento da SME, dos diretores das escolas e do próprio setor de educação

integral, conforme pesquisa realizada com os gestores das escolas do município. Ver

gráfico abaixo:

Gráfico 3: pergunta nº4 do questionário GRUMUS

Fonte: GRUMUS (2016)

No entanto, a grande dificuldade que se apresenta é como inserir a música na

escola de forma sistemática, ou seja, no currículo. Ficou claro para nós a importância que

se dá à música como área de conhecimento que merece está nas escolas. Quando

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questionados a respeito das oficinas mais solicitadas pelas escolas tivemos a seguinte

resposta: Sem dúvida, música e esportes!

As características especificas do ensino da música fazem com que a mesma seja

uma das mais solicitadas pelas escolas. O encantamento dos alunos com a prática musical

e a possibilidade de tocar um instrumento fazem com que a oficina de música tenha uma

característica própria. Sem falar que quebra com a rotina das disciplinas teóricas

ministradas no turno regular e aproxima os alunos de suas realidades. Já que eles têm a

possibilidade de aprender a música que escutam na rádio, de cantar, de se expressarem

artisticamente através da prática musical.

Em levantamento junto a SME vimos que as oficinas musicais mais solicitadas

em 2016 foram:

Quadro 4: Oficinas mais solicitadas pelas escolas em 2016

OFICINAS Nº DE ESCOLAS

Canto coral 7

Flauta doce 3

Percussão 1

Instrumentos de corda 1

Fonte: SME (2016)

Das oito escolas que ministravam aulas de música quatro escolas trabalhavam com

duas oficinas musicais, sendo canto coral e flauta doce as mais solicitadas.

As práticas musicais no contraturno escolar:

Durante a pesquisa do GRUMUS vimos que as atividades no contraturno tinham

uma presença considerável nas escolas da rede, representando 56, 5% de suas práticas,

sendo inclusive colocadas nas falas de alguns gestores como uma alternativa de

cumprimento a Lei 11.769/08. Esse descompasso e desconhecimento sobre a Lei por parte

dos gestores das escolas conduzem o pensamento e a prática musical através de aulas de

música do programa “Mais Educação” como forma de ação e justificativa da implantação

da música na educação básica.

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Gráfico 4: pergunta nº2 do questionário GRUMUS

Fonte: GRUMUS (2016)

Nesse sentido questionamos o setor a respeito de como as práticas musicais das

oficinas poderiam contribuir para a inserção da música na educação basica:

Olhar a música é muito importante para as pessoas... As Artes de

uma forma geral é... Mas a música é diferente... A música

sensibiliza o aluno, traz mais concentração... ver aqueles

meninos tocando é muito gratificante para nós. (CHEFE DO

SETOR DE EDUCAÇÃO INTEGRAL DA SME – entrevista

realizada em 08/07/2016).

Em se tratando dos benefícios das aulas de música para a educação integral nos

foi relatado que proporcionar aos alunos contato com a música contribui muito para a

formação dos alunos não só no ambiente escolar, mas fora dele. Quando o mesmo poderá

até se desenvolver musicalmente em estudos posteriores, conforme vemos na fala da

entrevistada:

Quem sabe poderemos ver muitos músicos no futuro? A escola

deve possibilitar tudo isso.

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Corroborando com a fala da gestora vemos a escola como um lugar de

transformação social, que seja capaz de oferecer um currículo significativo promovendo

no educando a capacidade de pensa e repensar sua própria formação, dando-lhe

autonomia para gerir suas escolhas profissionais. A respeito das dificuldades encontradas

pelas escolas quanto às aulas de música nos foi relatado apenas a respeito de problemas

relacionados a estrutura física das escolas e o “barulho” causado pelas aulas de música.

O problema de espaço físico e falta de estrutura das salas para as aulas de música

se mostraram durante a pesquisa como grandes desafios que influenciavam diretamente

no andamento das aulas já que os monitores em alguns momentos tinham que trabalhar

com conteúdo não musical nas suas oficinas.

Tendo em vista as discussões sobre a inserção da música na escola dos últimos

anos, questionamos se as oficinas de música do programa poderiam atender a esse anseio

da área:

Acreditamos que sim! Não só a música, mas as outras linguagens

também, já que todas também passaram a ser obrigatórias.

(CHEFE DO SETOR DE EDUCAÇÃO INTEGRAL DA SME –

entrevista realizada em 08/07/2016).

Desde de 2 de maio de 2016 foi sancionada a lei 13.278 que altera a LDB

9.394/1996 incluindo as artes visuais, música, teatro e dança nos currículos dos diversos

níveis da educação básica estabelecendo cinco anos para que os sistemas de ensino

promovam a formação de professores para implementação desses componentes

curriculares na educação infantil, fundamental e médio. Essa nova ordem pode valoriza

ainda mais o programa, tendo em vista que somente um turno é incapaz de contemplar

todas as linguagens artísticas.

Por fim ao encerramos a entrevista um desabafo da chefe do setor:

O Mais Educação vem como uma proposta tão maravilhosa... e

vê-lo nesta situação... nos deixa muito tristes... muitas escolas já

encerraram suas atividades, pois muitas ainda trabalhavam com

recursos de 2015.

Para o ano de 2016, como já citado anteriormente somente quinze escolas estavam

atuando com o Mais Educação nas escolas do município, dessas, oito escolas ofereciam

oficinas de música, sendo que no período que se iniciou a pesquisa três escolas já tinham

encerrado suas atividades no primeiro semestre. Uma das escolas ainda não havia iniciado

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suas atividades, enquanto somente quatro escolas estavam atuando no segundo semestre,

com atividades previstas até outubro e dezembro do presente ano. No quadro abaixo

temos a relação das escolas em atividade com oficinas de música na rede municipal do

Natal e as formações dos seus monitores:

Quadro 5: relação das escolas em atividade em 2016

ESCOLAS FORMAÇÃO DOS

MONITORES

EM ATIVIDADE

Nossa Senhora dos

Navegantes

Sem formação acadêmica Concluída

Antônio Severiano Sem formação acadêmica Concluída

Emília Ramos Sem formação acadêmica Concluída

Ferreira Itajubá -------------------------- Não iniciada

Noilde Pessoa Ramalho Técnico em música/

Graduando em música

Sim

Laura Maia Sem formação acadêmica Concluída

Nossa Senhora da

Apresentação

Técnico em música Sim

São José Sem formação acadêmica Sim

Fonte: do autor (2016)

Ao finalizarmos este tópico temos a consciência da importância dada ao programa

pelo SME, através do setor responsável pelas propostas de educação integral do

município. Também podemos notar nas falas a tristeza por ver o programa na situação

em que se encontra. Podemos também observar um sentimento de luta por uma educação

de melhor qualidade e integral para as escolas da rede.

5.2 ESCOLA “A”: alguns aspectos e considerações

A escola “A” foi criada em 2002 e até o ano de 2014 funcionou em prédio alugado

pela prefeitura. Na nova sede da escola com capacidade para atender a 1.260 alunos foi

possível aumentar a estrutura física da escola e atender melhor a toda comunidade escolar.

A estrutura física da escola conta com secretaria com almoxarifado, banheiro

adaptado e arquivo; sala da coordenação pedagógica; sala da direção e vice, com depósito

e banheiro acessível; sala dos professores com dois banheiros, sala de informática;

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biblioteca; laboratório de ciências; uma sala de apoio pedagógico para alunos especiais e

doze salas de aulas. A nova sede possui também cozinha com despensa e área de serviço;

área de recreio coberto e com palco, banheiro amplo masculino e feminino com box

sanitário adaptado, e um outro banheiro com sanitário adaptado para funcionários;

depósito; quadra poliesportiva; 16 vagas de estacionamento externos; duas áreas para

conveniências descobertas; uma guarita com apoio, banheiro e parque infantil. A escola

conta com rampas de acesso com corrimões para pessoas com necessidades educacionais

especiais, como veremos nas fotos abaixo.

Foto 1: Acesso ao 1º andar da escola

Fonte: do Autor 2016

Foto 2: Acesso a quadra poliesportiva

Fonte: do Autor 2016

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Foto 3: Acesso ao Refeitório

Fonte: do Autor 2016

Percebemos que a escola tinha uma preocupação com a acessibilidade dos alunos,

no entanto com as salas para as aulas de música não foi dada a mesma atenção como

veremos mais adiante. A escola conta com mais de 30 professores. As salas de aulas são

bastante amplas. Sendo atendidos atualmente mais de 600 alunos, com turmas do 1ª ao 5ª

ano.

Para o programa do Mais Educação são disponibilizadas duas salas, além da

quadra de esportes. O programa na escola oferece cinco oficinas: Orientação de Estudos

e Leitura (OEL), Esporte da escola, Karatê, Percussão e Canto Coral. As aulas de música

são oferecidas desde a implementação do programa. A sala é repleta de instrumentos

musicais entre eles: violões, flautas doce e instrumentos de percussão. Proporcionando

um ambiente favorável para aprendizagem musical. Conforme veremos nas fotos abaixo.

Foto 4: Sala de aula de canto coral e percussão

Fonte: do Autor 2016

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Foto 5: Sala para as aulas de música

Fonte: do Autor 2016

Nas observações das aulas, percebemos que muitos alunos ficavam olhando para

os instrumentos, esperando a oportunidade para toca-los. No entanto, em nenhuma das

aulas que se seguiram foram utilizados tais instrumentos musicais ou qualquer outro

recurso que pudesse despertar nos alunos um contato inicial com o fazer musical, que

pudessem deixar as aulas mais atrativas já que em muitos momentos foi observado a falta

de interesse dos alunos pela aula de música.

Segundo Gainza (1988, apud PENNA, 2012, p. 30), o ato de musicalizar é fazer

com que o indivíduo se torne sensível a música de maneira que “internamente, a pessoa

reaja, mova-se com ela”. É imprescindível que na aula de música os alunos possam se

envolver num ambiente mais alegre e favorável a aprendizagem, proporcionando uma

ampliação do universo cultural e musical dos alunos. Corroborando com as orientações

do próprio manual operacional do programa no que se refere as oficinas de música,

quando coloca que a música deve desenvolver:

[...] elementos técnico-musicais, bem como, do trabalho em grupo, da

cooperação, do respeito mútuo, da solidariedade, do senso crítico e da

autonomia. Repertório com peças de variados estilos e gêneros

musicais. Percussão Corporal, Jogos Musicais e Dinâmicas de Grupo

como ferramentas do processo de ensino-aprendizagem musical.

Construção de instrumentos musicais alternativos. Execução,

apreciação e criação musical. Valorização da cultura brasileira e das

culturas regionais. (BRASIL, 2014).

Penna (2012, p. 27) diz que,

Na oficina, a música não é tomada como pronta, a ser aprendida e

repetida, mas a ser construída pela ação do aluno, sendo o material

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básico desse processo o próprio som, de modo amplo, não mais as notas

ou elementos musicais convencionais, como no ensino tradicional.

Apesar de o ambiente escolar favorecer a aula de música com uma sala ampla e

com diversos instrumentos musicais, alguns fatores contribuíam para o não sucesso das

aulas: problemas relacionados ao barulho; o desinteresse dos alunos e a falta de preparo

pedagógico do monitor. O coordenador do programa ainda nos relatou que em dias que

há na escola mais monitores do que salas disponíveis para o Mais Educação, opta por

fazer rodízios com os monitores. Aqueles que acabam ficando sem sala são orientados a

fazerem o planejamento juntamente com o coordenador.

5.2.1 Relatos do coordenador do Mais Educação da Escola “A”

A entrevista com o coordenador da Escola “A” se deu no dia 09 de setembro de

2016. Com objetivo de obter informações acerca do funcionamento das oficinas de

música na escola. Um dos principais motivos que nos fizeram escolher tal escola foi a

formação superior do coordenador do programa.

Sendo formado em licenciatura em música pela UFRN, com especialização em

ensino de música na educação básica também pela mesma universidade. Iniciou seus

estudos musicais em guitarra em uma escola especializada de Natal e desde 2010 é

concursado da rede municipal.

Até o ano de 2015 trabalhava como coordenador do Mais Educação de outra

escola, no entanto em 2016 o programa foi suspenso e ao voltar para a SME para ser

relocado, foi surpreendido que para cumprir a carga horaria teria que atuar em mais de

três escolas. Ao relatar sua experiência com o Mais Educação para a secretária foi

convidado a assumir a coordenação da atual escola, já que a mesma ficou sem oferecer o

programa em 2015 por falta de coordenador, mesmo havendo recursos para a realização

do programa.

Ao chegar na escola para assumir a coordenação do Mais Educação, a direção já

havia escolhido os monitores, alunos e as oficinas que seriam oferecidas. Alguns

monitores já atuavam na escola antes do programa ter o seu funcionamento paralisado em

2015.

O coordenador nos explicou que o programa é para atender até 150 crianças, mas

no período da seleção esse número não foi atingido. Tendo que marcar reuniões com os

pais para explicar sobre o programa e até mesmo chamar alguns pais individualmente

para conversar. Segundo o coordenador alguns pais,

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Não demonstravam interesse, justificavam não ter como deixar

seus filhos ou ir buscá-los. (COORDENADOR DO MAIS

EDUCAÇÃO NA ESCOLA “A” - entrevista realizada no dia

09/09/2016).

O programa iniciou com 120 crianças, mas sempre havia evasão de alunos.

Atualmente 80 crianças frequentam o programa, sendo grande a rotatividade de alunos.

Tentamos repor os alunos, pedimos para os professores

indicarem alunos. Mas de qualquer forma dependemos da

autorização do pai, que não vem a escola quando solicitamos.

(COORDENADOR DO MAIS EDUCAÇÃO NA ESCOLA “A”

- entrevista realizada no dia 09/09/2016).

No sentido mais amplo da educação integral, entendemos que ela deve ser

conduzida por todos. É necessário que não só a escola, mas a família assuma sua função

de educar. O envolvimento dos familiares com o processo educativo cria pontes entre a

aprendizagem escolar e o cotidiano dos alunos. Podem atuar como fortes colaboradores

da escola relacionando a os conteúdos escolares com a cultura local. Garantindo que os

alunos possam esta imersos constantemente com o processo de educação integral.

Desafios

Procuramos questionar o coordenador a respeito dos desafios enfrentados para a

realização das oficinas.

O desafio maior é os monitores. A questão da capacitação deles.

Um dos monitores tem uma vivência com música. Inclusive, eu

solicitei o currículo, mas nem todos o trouxeram. Alguns não vão

para a formação. Peço planejamento, mas não trazem, então eu

marco e faço com eles pessoalmente.

No que se refere a formação dos monitores, uma vez por mês, todos são reunidos

com a SME para reuniões de formação. É um momento para troca de experiências e

orientações. O coordenador também nos informou fazer planejamento com os monitores

regularmente. Mas relatou que existe uma certa resistência dos monitores quanto a essa

prática. Conforme veremos na sua fala.

Em alguns casos eu nem digo que vou planejar, porque se falo

alguns se esquivam. Isso não acontece só comigo, outros

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coordenadores também relatam as mesmas dificuldades. É muito

difícil reunir todos os monitores para conversar.

O coordenador ainda nos relatou que cada monitor recebe uma ajuda de custo de

80 reais por turma, chegando a cada monitor a receber em torno de 400 reais mensais:

Querem que selecionemos monitores formados, mas a ajuda de

custo não é atrativa. Ninguém quer. Sofremos muito com a

questão dos monitores.

Um outro ponto relatado foi quanto a parte administrativa do programa. O

coordenador nos informou que gostaria de dar mais atenção a parte pedagógica dos

monitores, mas as questões administrativas requerem muito tempo.

Na primeira escola em que coordenou o programa a parte administrativa era gerida

pela direção da escola, enquanto sua função ficava mais restrita a parte pedagógica,

podendo dar uma ênfase maior no acompanhamento dos monitores.

As reclamações da escola e de professores quanto ao barulho das aulas de música

foi outro ponto a abordado pelo coordenador.

As vezes os monitores até querem usar os instrumentos, mas

ficam receosos por conta do barulho, já que as salas não têm

tratamento acústico. Até mesmo na quadra quando muitas vezes

dividimos com o professor de educação física, quando os alunos

começam a tocar chama a atenção dos seus alunos.

O coordenador nos falou que na escola que trabalhava antes tinha mais liberdade

para atuar, pois já conhecia todos da direção. Na atual escola qualquer problema é

relacionado “aos alunos do Mais Educação” – como se os mesmos não fossem alunos da

escola no horário regular.

Percebemos diante da fala do coordenador que apesar de seu esforço em realizar

um bom trabalho, mesmo com as limitações do programa e estrutura física da escola, a

falta de colaboração dos demais envolvidos na comunidade escolar deixam seu trabalho

desmotivado.

Educação integral

Segundo a fala do coordenador, a educação integral vai muito além do aluno

passar o dia inteiro na escola. Na sua concepção a educação integral poderia ser feita até

no horário regular. Contudo, todas as suas atividades deveriam ser integradas e que toda

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a escola deveria se envolver. Os professores não demonstram interesse em contribuir com

os monitores, segundo o coordenador “Não há abertura”.

Quanto ao objetivo do Mais Educação, ele nos respondeu:

Para mim, eu acho que o Mais Educação não tem conseguido

atingir seu objetivo. Eu li o manual, tentei colocar tudo aquilo em

prática, mas não tem como fazer isso. (COORDENADOR DO

MAIS EDUCAÇÃO NA ESCOLA “A” - entrevista realizada no

dia 09/09/2016).

Entendemos que a frustação do coordenador com a atual situação do programa na

Escola A poderá acaba refletindo na atuação dos monitores em suas aulas. Não havendo

nenhum tipo de preocupação com a aprendizagem musical dos alunos, seja pela falta de

incentivo da escola, limitação técnica, pedagógica ou a ajuda financeira recebida.

Um dos pontos evidenciados neste trabalho é a contribuição da música para a

formação humana dos alunos. Ao encontrarmos um professor de música como

coordenador do programa, ficamos entusiasmados com a esperança de que a música

pudesse estar de uma forma mais consistente no ambiente escolar. No entanto, ao

observarmos as aulas de música na presente escola, percebemos que as dificuldades para

o bom desenvolvimentos das aulas iam além da boa vontade do coordenador do programa.

Ao questionarmos sobre em que contexto as aulas de música do programa estariam

inseridas na escola, obtivemos a seguinte resposta:

Aqui na escola, como uma atividade extra, talvez por não ter um

professor de música no corpo docente.

Entendemos essa colocação quando se refere a falta de um professor de música,

como alguém que pudesse preparar um ambiente favorável para as oficinas. Apesar da

escola contar com 3 professores de Artes, sendo 2 de teatro e 1 de dança, nos foi relatado

pelos alunos que os seus professores não abordam a música como tema em suas aulas,

sendo abordada apenas nas oficinas do Mais Educação.

O programa Mais Educação na Escola A funcionou até o dia 20 de outubro de

2016. Não há previsão para retorno, tendo em vista que os recursos ainda eram

provenientes de 2014.

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5.3 ESCOLA “B”: alguns aspectos e considerações

A escola “B” foi criada em 2011 e está localizada próximo as praias da capital.

Muitas pessoas da própria comunidade tiram seu sustento do trabalho na praia. A escola

é relativamente nova. São seis salas de aulas, sala de informática, biblioteca, sala para

ações educativas, refeitório, dois banheiros coletivos e dois banheiros adaptados. Ainda

conta com sala dos professores, quadra de esportes, pátio e sala de almoxarifado.

A escola atende a mais de 300 alunos dos anos iniciais do ensino fundamental.

Foto 6: corredores das salas de aula

Fonte: Escola “B” 2016

A escola conta com 15 professores. Para as oficinas do Mais Educação são

disponibilizados os seguintes espaços: sala de informática para as aulas de música, a sala

para ações educativas e o pátio. A escola oferece as seguintes oficinas: Orientação de

Estudos e Leitura, Recreação e Lazer, Grafite, Canto coral, flauta doce e horta.

A música na escola está presente antes mesmo das oficinas do Mais Educação,

através do Projeto Música na Escola que foi desenvolvido até 2012 com aulas de música

de diversos instrumentos por meio de uma parceria com uma Ong local. O projeto oferecia

aulas de música no contraturno escolar.

A partir da implementação do Mais Educação na escola o projeto foi substituído

pelas oficinas de música do programa.

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5.3.1 Relatos da coordenadora do Mais Educação da Escola “B”

A coordenação do Mais Educação na escola é feita por duas coordenadoras. A

entrevista com a coordenadora aconteceu no dia 14 de setembro de 2016, sendo escolhida

para a entrevista a coordenadora do turno matutino. Apesar de não ser formada em

música, a coordenadora busca integrar todas as oficinas por meio das reuniões e

planejamentos. O programa funciona na escola desde 2013 e atualmente atende a 100

crianças, mas o número de evasão segundo a coordenadora, ainda é grande.

Inicialmente buscamos compreender como se deu o seu contato com o programa.

A coordenadora nos informou que chegou recentemente a escola e trabalhou

primeiramente na sala de informática. Posteriormente sendo convidada para a

coordenação do programa.

Eu trabalhava no laboratório de informática e a direção da

escola estava sobrecarregada, administrando a escola e o Mais

Educação. Então a própria SME sugeriu que a escola procurasse

alguém que não estava em sala de aula com alunos. Então, só

tinha praticamente eu. Eu aceitei o desafio. (COORDENADORA

DO MAIS EDUCAÇÃO NA ESCOLA “B”)

A coordenadora ainda nos relatou que em 2015 o programa mau funcionou por

conta da verba que somente chegou no final daquele ano. A escola optou por começar o

programa somente em 2016, mesmo assim, somente em maio foi que o programa teve

início.

Ao abordamos como é realizada a escolha das oficinas e dos monitores, a

coordenadora nos falou que:

São feitas principalmente pela necessidade que a comunidade

tem.

Neste sentido, a comunidade em questão trata-se de pessoas muito carentes e num

bairro com o índice de violência dos mais altos da zona norte da cidade.

Quanto aos monitores:

Procuramos dá preferência as pessoas da comunidade. Que

tenham alguma habilidade e queiram ser voluntários. E isso faz

com que os monitores criem vínculo com a escola.

Notamos nitidamente esse vínculo, não só dos monitores, mas também de pessoas

da própria comunidade que sempre estavam na escola ajudando em alguma tarefa.

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Quanto a seleção dos monitores, a coordenadora nos relatou que,

Buscamos monitores que pudessem ministrar as oficinas. Alguns

estão se formando, mas se tivéssemos que ter todos os monitores

formados. Teríamos que aumentar o valor da ajuda de custo.

Cada monitor recebe uma ajuda de custo de 80 reais por turma na Escola B, assim

como na Escola A.

Desafios

Para a coordenadora o maior desafio é o espaço físico da escola.

Não temos uma sala fixa do Mais Educação. Tem dia que ficamos

no sufoco, por que só temos a sala de informática, a quadra e

sala multifuncional. Como no momento a sala multifuncional está

desativada nós estamos utilizando ela.

A coordenadora também relatou que as faltas dos monitores sem justificativa e em

cima da hora acabam atrapalhando o andamento das oficinas, tendo que sobrecarregar

outro monitor com mais alunos do que de costume.

Apesar desses imprevistos, no que diz respeito a execução do programa a

coordenadora nos relatou que tem obtido êxito.

Temos visto melhorias no comportamento dos alunos,

principalmente os que tem mais problemas com indisciplina.

Temos visto o interesse deles tanto nas oficinas como na sala de

aula. Os próprios professores estão relatando que os alunos

estão melhorando na concentração, na leitura, no interesse em

aprender, na escrita e na matemática.

No entanto, não existe uma troca de experiências entre professores do corpo

docente e os monitores. Segundo a coordenadora:

Não há necessidade do contato dos monitores com os professores

da escola!

Neste sentido discordamos da coordenadora, pois os professores ajudariam e

muito os jovens monitores, alguns sem experiência com a docência. Sabendo que dentro

da proposta de educação integral é importante que todos contribuam.

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Educação integral

Ao abordamos sobre a educação integral percebemos um certo desconforto na

entrevistada, tendo em vista que parece não está claro para a mesma a concepção do

termo. Mais uma vez o sentido de educação integral foi justificado como sendo um

momento para que os alunos fiquem mais tempo na escola ao invés de estarem na rua.

Muita dessa concepção tem influências do projeto social que atua na comunidade a mais

de 10 anos fazendo uso da música para ocupar os jovens do bairro.

É inegável para a coordenadora as contribuições da música para os alunos.

A música deveria estar no currículo, infelizmente quando acabar

o Mais Educação os alunos vão deixar de ter contato com essas

aulas.

A escola ainda não dispõe de professor de música no seu corpo docente. Quanto

a professor de Artes da escola a coordenadora não soube nos informar em que área ele

atua. As aulas do Mais Educação na Escola “B” ocorreram até o dia 21 de outubro de

2016.

5.4 A PRÁTICA PEDAGÓGICA DOS MONITORES

Neste tópico procuramos descrever os pontos mais relevantes que surgiram

durante as observações das práticas pedagógicas dos monitores nas duas escolas

pesquisadas. Apresentaremos a descrição das observações das aulas de forma objetiva,

apenas apontando os principais pontos relevantes para o debate neste trabalho.

Na escola A inicialmente o monitor escolhido para a pesquisa foi o de percussão

por suas aulas serem em dia mais cômodo para as visitas. No entanto, foram observadas

somente três aulas deste monitor, pois, o mesmo passou a não ir mais à escola.

Nas 3 aulas observadas do monitor de percussão somente foi abordado elementos

de teoria musical – conhecimento das figuras musicais e pauta. Vale salientar que a turma

tinha em torno de 23 alunos mesclados de turmas do 1º ao 3º ano do ensino fundamental.

Nesta turma somente 6 alunos sabiam ler. Os demais se baseavam pelo desenho das

figuras feitas no quadro.

A maneira utilizada para ensinar o pentagrama foi a própria mão dos alunos, em

que os dedos seriam as linhas e os espaços entre os dedos seriam os espaços da pauta. As

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figuras musicais trabalhadas foram: semínima; colcheia e semicolcheia. A leitura das

figuras era feita da seguinte forma:

Figura 1: Combinação de 2 colcheias

Fonte: Autor 2016

Figura 2: Seminima

Vou

Fonte: Autor 2016

Figura 3: combinações de semicolcheias

Fonte: Autor 2016

Ao trabalhar a leitura rítmica com os alunos o monitor não utilizou nenhum dos

instrumentos musicais dispostos em sala para demonstrar os ritmos de maneira prática.

Na aula seguinte o monitor deu continuidade a teoria. Apesar de os alunos

aparentemente estarem envolvidos com a aula, tais elementos teóricos só seriam

relevantes se houvesse um contato prático com os instrumentos. A forma como o monitor

atuava reproduzia o cenário das aulas no horário regular em que o professor escreve no

quadro e os alunos reproduzem em seus cadernos.

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Na aula seguinte passou a ensinar formula de compasso. Os alunos mais uma vez

reproduziam o que estava escrito no quadro sem ter uma noção prática do que estavam

aprendendo. A única prática dos alunos era copiar o que estava escrito no quadro. Alguns

alunos até ensaiavam algumas batucadas com o lápis na mesa, mas logo era reprimido

pelo monitor. A partir da 4ª observação passamos a frequentar as aulas de canto coral,

tendo em vista a desistência do monitor de percussão.

Monitor A

O seu contato inicial com a música se deu ainda na infância, frequentando a igreja

com os pais. Logo passou a integrar o coral da igreja e com o passar do tempo assumiu a

regência do coral. Nunca estudou música formalmente. O seu conhecimento musical

estava ligado à sua vivência na igreja. Se tornou monitor do Mais Educação em 2012 na

vaga de uma amiga que desistiu de ministrar as aulas de canto coral e que acabou o

indicando.

Ao nos relatar sua experiência com o programa e nas observações das suas aulas

percebemos sua dedicação e empenho com os alunos e com o programa. Todavia, nas

aulas, algumas dificuldades ligadas ao fazer pedagógico e musical se mostravam barreiras

para o desenvolvimento musical dos alunos.

Os alunos apresentavam muitas dificuldades de afinação, assim como o próprio

monitor. As dificuldades para marcar o tempo e dar as entradas para os alunos acabavam

por confundi-los. Essas dificuldades eram repassadas para os alunos em forma de frases

como:

Estava até indo bem, mas agora bagunçou tudo!

Quando questionado sobre a sua concepção sobre o programa, nos foi relatado

que:

O programa é muito importante, qualquer programa que possa

segurar a criança na escola... porque o mundo em que estamos

vivendo hoje está muito difícil. (ENTREVISTA REALIZADA

EM 15/09/16 – MONITOR DA ESCOLA “A”).

Essa concepção do monitor reflete o que já discutimos anteriormente, em que as

atividades desenvolvidas no Mais Educação estariam apenas ligadas a manter o aluno

mais tempo na escola o que caracteriza uma concepção assistencialista do programa, mas

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embora essa concepção seja comum às pessoas quando se pensa em educação integral, o

monitor também percebe que as atividades devem ser diferenciadas.

Se for possível manter a criança na escola, não só ali no quadro

escrevendo, mas como temos música, esportes, karatê eu acho

que isso ajuda muito. (ENTREVISTA REALIZADA EM

15/09/16 – MONITOR DA ESCOLA “A”).

No que se refere ao ensino musical o monitor tem consciência da importância do

programa para o desenvolvimento das crianças e para o seu próprio enquanto professor.

Na vida a gente é aluno e professor quando a gente está

ensinando, a gente aprender muitas vezes com eles. Na minha

concepção, mesmo sem muita experiência, o pouco que eu sei, eu

passo para eles. Eu vejo que eles perguntam “professor é sua

aula hoje? ” Não porque sou eu, mas por causa da aula. E não

pode ser sempre a mesma coisa, tem que mudar. Porque música

a gente pode trabalhar de muitas formas. (IBID).

Este relato demonstra maturidade no discurso do monitor e nos faz refletir sobre

o saber docente adquirido por meio da sua experiência em sala de aula. Saberes esses que

segundo Tardif (2011, p.49) são advindos do cotidiano do professor, da sua realidade, do

seu meio, ou seja, a cultura docente em ação. Freire também aborda essa temática dizendo

que,

Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos,

apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de

objeto um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende

ensina ao aprender. (FREIRE, 2016, p.25).

Neste sentido o monitor se fez professor através da experiência adquirida ao longo

dos anos ministrando a oficina de música na Escola A. Esta experiência contribuiu para

o seu amadurecimento profissional. Percebemos isso em sua fala.

Eles perdem o interesse quando percebem que o professor não

preparou a aula. Às vezes fico na sala sem saber o que fazer. Para

não passar sempre a mesma coisa, procuro trabalhar a música

de várias formas diferentes para que eles não fiquem entediados.

Foi observado durante as aulas que o monitor procurou utilizar de outros recursos

didáticos como: desenhos, jogos e brincadeiras como forma de ocupar os alunos com

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outras atividades, já que não podiam ficar o tempo todo cantando, por causa das

reclamações de outros professores. Essa também foi a justificativa da coordenação para

a não utilização dos instrumentos musicais nas aulas da oficina.

Esse ano eu não trabalhei a parte de instrumentos com eles

justamente por isso. Eu gostaria de apresentar no final do ano

uma bandinha. Só que foi um problema muito grande aqui por

conta do barulho e eu tinha que parar porque os professores iam

falar com a coordenação porque estava atrapalhando a aula

deles. Às vezes eu quero tocar, mostro para eles os instrumentos

– vejo o desejo deles de tocarem, mas eu fico me recuando para

não atrapalhar os professores da escola. (ENTREVISTA

REALIZADA EM 15/09/16 – MONITOR DA ESCOLA “A”).

Estando no projeto desde seu início o monitor de canto coral da Escola “A” nos

relatou, em entrevista, sentir muita saudade do início do programa na escola. Pois, se

tratava de uma época – segundo o entrevistado - em que o programa atuava de maneira

consistente, valorizado, e com uma gestão escolar que contribuía significativamente para

a execução do programa. Foram muitos os momentos na entrevista, em que o monitor

relembrou com muita satisfação o seu contato inicial com o programa.

As dificuldades na relação entre os envolvidos nas atividades do Mais Educação

e a gestão da escola tem dificultado o desenvolvimento das oficinas, pois tem gerado uma

desvalorização dos monitores e até mesmo preconceito com os alunos, tendo em vista que

há uma clara diferenciação entre os alunos da escola e os alunos do “Mais”.

Porque se a gente trabalha na mesma escola temos é que nos

unir, ajudar um ao outro! (IBID).

Nos foi relatado que não há nenhum tipo de contato dos monitores do programa

com os professores da escola.

Eu tinha até vontade de assistir uma aula de artes, mas eu não os

conheço. Eu acho que esse contato seria interessante. Porque se

eu soubesse o que eles estão ensinando poderia até ajudar.

As aulas da oficina de canto coral são planejadas junto à coordenação do programa

já que o coordenador tem formação em música e pode dar o suporte necessário para o

monitor. Ele também nos informou sempre ir aos encontros mensais realizados pela SME,

bem como se considera preparado para atuar como monitor do programa, mas reconheceu

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ser importante ter uma formação acadêmica na área. Para o monitor a música não tem

sido valorizada na escola pela gestão atual, existindo bastante resistência ao programa.

Esta resistência também pode estar sendo refletida pelas atuais condições do programa.

Muitas escolas trabalhavam com recursos que sobraram de anos anteriores e não há

perspectivas para a continuação do programa em 2017.

Durante o período de observações percebemos este distanciamento da escola com

as atividades do programa. Não conseguimos em nenhum momento contato com a direção

para uma possível conversa e esclarecimentos acerca do programa. Nas visitas que se

seguiram o coordenador nos relatou que a vários dias tentava se reunir com a direção,

mas nunca era possível. O empenho tanto da coordenação como do monitor em

desenvolver as atividades musicais que pudessem contribuir para a formação dos alunos

não era visto pela escola, gerando uma frustação para ambos: monitor e coordenação.

No período das observações, o monitor estava trabalhando a música aquarela de

Toquinho, a qual ensinava cada estrofe aos alunos até que eles decorassem. Não foi

observado durante este período nenhuma preparação vocal no início das aulas, nenhum

trabalho que pudesse ajudar os alunos quanto a afinação das vozes. A única referência

melódica da música era a própria professora que cantava a capela e os alunos repetiam.

O monitor não toca nenhum instrumento harmônico, este poderia ajudá-lo no

trabalho com canto coral. O próprio coordenador nos relatou que muitas vezes ele mesmo

procura intervir na aula para ajudar.

Um dos recursos utilizados durante as aulas foi uma bola. Conforme a música

tocava no aparelho de som cada aluno ia passando a bola de um lado a outro. Em alguns

momentos o monitor pedia que os alunos somente escutassem a música que era tocada.

Esta atividade mostrou o interesse dos alunos com a aula de música, e o monitor

por sua vez demonstrou capacidade de mudar de estratégia em sua prática pedagógica em

prol de uma aula mais dinâmica e de interesse para os alunos. O monitor nos relatou

procurar sempre estar pesquisando novas formas de ensinar música. Em uma das

observações fez uso de um pequeno jogo de palavras onde pedia para cada aluno formar

palavras da música aquarela. Essa atividade estimulou os alunos fortemente, pois muitos

demonstravam dificuldades na escrita e leitura. Ao final do período das observações os

alunos se preparavam para o encerramento do programa com uma apresentação.

Durante o período de observações não foi notado nenhum tipo de indisciplina por

parte dos alunos ou algo que pudesse atrapalhar o andamento das aulas, exceto pelo fato

da professora não poder utilizar os instrumentos musicais.

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Monitor B

O monitor da Escola “B” iniciou seus estudos musicais em um projeto social no

mesmo bairro onde está situado a escola pesquisada. Tem curso técnico em clarineta pela

UFRN e atualmente ministra a oficina de flauta doce. Está no Mais Educação desde seu

início na escola.

O monitor nos relatou que há o envolvimento de todos que fazem a escola, muito

embora não tenha contato com os professores, ele descreve o ambiente como organizado

e bom para trabalhar. Há momentos para planejamentos das atividades, além de encontro

mensal com a SME. Seus alunos se apresentam sempre que há eventos na escola.

Ao falar sobre o Mais Educação ele nos relatou que muitos pais veem o programa

como um local para deixar seus filhos sem se preocupar com as atividades que eles

desenvolvem no período contraturno.

Vamos apoiar o Mais Educação porque aqui eles têm aulas de

dança, música, teatro, português e matemática - que não deixa

de ser um reforço. E sem falar que o aluno pode se interessa por

alguma dessas áreas. A gente tem que mudar a consciência dos

pais que acham que o Mais Educação é uma creche.

(ENTREVISTA REALIZADA EM 15/09/16 – MONITOR DE

FLAUTA DOCE ESCOLA B).

Os alunos da Escola B não tem aula de música na sua grade curricular, seu único

contato com a música é através das aulas do Mais Educação. O monitor reconhece que o

contato da criança com a música pode contribuir e muito para as demais disciplinas.

A música estimula a concentração, você aprende a respeitar o

colega na hora que estive treinando o instrumento. E isso pode

ajudar nas outras disciplinas.

Mas, de acordo com o monitor o desenvolvimento musical fica prejudicado, pois

os alunos não têm o instrumento para praticar em suas casas. Nem pode pedir para os

alunos adquirirem, pois, os pais não teriam condições financeiras para comprar. Esse tem

sido um dos grandes desafios enfrentados pelo monitor.

Apesar de planejar suas aulas com antecedência juntamente com a coordenação,

o monitor disse sempre haver momentos de improviso, dependendo da turma, cada uma

reage de um modo diferente. O monitor diz se sentir preparado para atuar como professor

nas oficinas do programa.

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Eu estou sempre procurando me renovar, conhecendo coisas

novas. Procuro fazer com que meus alunos tenham gosto em

participar das aulas

O monitor pretende em 2017 ingressar no curso de música, ele acredita que estará

melhor preparado para lhe dá com as situações da sala de aula. Mas as experiências que

tem adquirido nas oficinas ao longo desse tempo tem influenciado suas concepções acerca

do ensino de música e mudado sua postura enquanto professor.

Quando eu chego para dá aula tenho que perceber que nem todos

os alunos estão ali para aprender musica porque querem, mas eu

vou ter que cativa-los de alguma forma, pega alguma música que

eles já conheçam. Tenho que chamar a atenção deles de alguma

forma. É diferente você ir para uma escola de música que você

sabe que lá os alunos querem aprender. No Mais Educação não,

eles estão lá para cumprir a carga horaria. Tenho que chegar lá

e cativa-los. Isso para mim é maravilhoso! Sem falar que eu

cresço também e adquiro experiência.

Na escola B o monitor trabalhava a flauta doce com os alunos. As turmas tinham

no máximo 15 alunos. O monitor sempre iniciava as aulas fazendo o trabalho de sopro e

respiração. Os alunos eram divididos em duplas ou trios. Não tocavam todos de uma vez,

dessa forma o monitor poderia orientar cada aluno e verificar suas dificuldades.

O que nos impressionou era que os alunos mantinham o silêncio enquanto

aguardava sua vez de tocar. Quando algum aluno errava as notas, os próprios alunos

corrigiam. O monitor estava trabalhando a música Asa Branca e alguns alunos já

demonstravam habilidade ao tocar a flauta executando as notas com sons limpos e com

muita musicalidade.

As aulas de música na Escola B reproduziam uma aula comum de escola

especializada em música. O monitor não abria mão de ensinar apenas o instrumento para

o qual foi chamado. As aulas de música tinham duração de apenas 50 minutos e o monitor

atendia a 4 turmas. Sendo o monitor da mesma comunidade dos alunos as aulas

transcorriam sem nenhum problema de indisciplina. Apesar de o monitor trabalhar muito

a parte técnica do instrumento, nos parece que os alunos estavam acostumados e

respondiam bem a essa prática. Ao final das aulas todos tocavam juntos.

A cada aula o monitor procurava relembrar os assuntos da aula anterior, tendo em

vista que os alunos só dispõem dos instrumentos durante as aulas. As aulas se mostraram

repetitivas onde os alunos fazem inicialmente exercício de sopro e respiração e em

seguida praticavam a música que estavam estudando.

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Em entrevista com o monitor e a coordenação ficamos sabendo que além do

monitor de flauta doce e canto coral, havia na escola um outro monitor de musicalização

infantil que dividia a carga horária com o monitor de flauta doce. Não havendo a

possibilidade de observamos as aulas de musicalização por conta da incompatibilidade de

horários. O nosso contato com o monitor foi através de telefonemas. O mesmo nos

informou está cursando o 2º período do curso de licenciatura em música pela UFRN, mora

na comunidade e participa também como monitor do projeto social do bairro. Nas aulas

de musicalização ele procura desenvolver atividades que sensibilize os alunos, e fazer

com que eles tenham contato com uma prática musical diversificada e descontraída.

Acreditamos que a combinação das aulas de flauta doce, canto coral e

musicalização tem acrescentado significativamente na aprendizagem dos alunos, os

mesmos demonstram satisfação e empenho nas aulas de música.

5.5 AS OFICINAS DE MÚSICA NAS DUAS ESCOLAS: situando alunos, professores

e escola neste contexto

A música sempre buscou seu espaço no ambiente escolar - não que ela não

estivesse presente na escola, mas reconhecida e no mesmo grau de importância das

demais disciplinas. Já discutimos anteriormente - muito embora de forma breve – sobre

diversas tentativas de inserção da música no currículo escolar. As oficinas de música do

Mais Educação se mostravam como mais uma oportunidade da música se inserir no

contexto da escola não somente como uma prática extracurricular, mas abrindo espaço

para a atuação do professor de música.

Mesmo sabendo que boa parte da prática pedagógica está ligada ao

desenvolvimento do professor em sala de aula, percebemos diante dos resultados desse

trabalho que para uma prática pedagógica consistente e consciente, é necessário o

envolvimento de todos que fazem a escola: gestores, professores, alunos e a sociedade

como um todo.

Quando buscamos culpar a escola, professores ou alunos não imaginamos que a

escola é uma instituição coletiva e que é feita por todos. Segundo Alarcão,

Não se deve atribuir só a escola a culpa por esta caracterização. Há que

ter em conta as capacidades individuais, mas também a

desresponsabilização da sociedade que, impotente perante a resolução

de tantos dos problemas que ela própria criou, coloca na escola

expectativas demasiado elevadas sem muitas vezes a valorizar como

devia. (ALARCÃO, 2011, p.19-20).

Alarcão ainda nos apresenta uma escola reflexiva que,

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Tem o seu projeto próprio, construído com a colaboração dos seus

membros. Sabe para onde quer ir e avalia-se permanentemente na sua

caminhada. Contextualiza-se na comunidade que serve e com esta

interage. Acredita nos seus professores, cuja a capacidade de

pensamento e de ação sempre fomenta. Envolve os alunos na

construção de uma escola cada vez melhor. Não esquece o contributo

dos pais e toda a comunidade. Considera-se uma instituição em

desenvolvimento e em aprendizagem. Pensa-se e avalia-se. Constrói

conhecimento sobre si própria. (ALARCÃO, 2011, p. 40).

Uma escola reflexiva só poderá ser realidade se aqueles que fazem a escola

também forem reflexivos. Neste sentido quando falamos em educação integral,

discutimos a respeito da participação consciente de todos no ato de educar.

As escolas escolhidas para este trabalho apresentam realidades diferenciadas e

gerem o programa Mais Educação cada uma a sua maneira. Na Escola A as atividades do

programa aparentam não ter importância para a dinâmica da escola, não há uma

participação ativa daqueles que a fazem. A atuação da coordenação do programa é

solitária e com diversas problemáticas na execução. A Escola B apresenta um

desenvolvimento melhor quanto ao funcionamento do programa, o que acreditamos ter

uma forte influência do projeto anterior desenvolvido na escola. Onde percebemos que já

há na Escola B uma concepção formada da importância da música para a formação dos

alunos.

Quanto aos monitores cada um, busca atuar da melhor forma possível, diante de

muitas situações de dificuldades que se apresentam nas escolas pesquisadas. A concepção

do ser professor está ligada ao desenvolvimento de suas práticas em sala de aula. Os

monitores são formados como professores no dia a dia. Enfrentam as situações de sala de

forma muitas vezes inconscientes da sua importância para os alunos.

Podemos também observar que os problemas relacionados a como a escola ver o

Mais Educação também influenciaram no desenvolvimento das oficinas de música, já que

havia muitas reclamações quanto ao barulho causado pelas aulas – como no caso da

Escola A.

Os alunos por sua vez não fazem distinção do professor e ou/monitor, para eles

não há diferença. Todos são professores. Até mesmo o pesquisador depois de algumas

observações passa a ser tratado pelos alunos como professor. Nos alunos pudemos

perceber a vontade e o entusiasmo em participar de uma aula de música, no entanto, ao

decorre das aulas e da forma como o monitor a conduzia os alunos podiam ficar ainda

mais entusiasmados ou desinteressados pela aula.

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Ao final do período de observações propomos uma entrevista não estruturada com

os alunos com o objetivo de obter informações acerca de suas concepções sobre as aulas

de música. Procuramos fazer as perguntas de forma que eles não ficassem constrangidos,

como se estivessem sendo avaliados. Portanto, buscamos ter um momento de uma grande

conversa aberta com todos os alunos onde pudéssemos perceber as suas principais

impressões sobre as aulas de música.

Alunos

Na turma escolhida para observação na Escola A tinham 23 alunos frequentando

as oficinas de canto coral, enquanto que na Escola B esse número era de apenas 15 por

turma nas aulas de flauta doce. Nas duas escolas os alunos têm entre 7 e 10 anos de idade

todos residem próximos a escola. Alguns alunos já tinham contato com música, muitos

em suas igrejas, outros tinham pessoas na família que tocavam algum instrumento.

Quanto ao interesse pelas aulas de música todos responderam gostar das aulas.

Muito embora, acreditamos que é possível que aqueles que porventura quisessem dizer

ao contrário, tenham respondido conforme a maioria. Perguntamos também sobre quais

instrumentos gostariam de aprender a tocar, o violão foi o mais desejado.

Os alunos da Escola A disseram cantar em casa as músicas aprendidas nas oficinas

do Mais Educação e gostar dos momentos das apresentações. Enquanto que os da Escola

B relataram ter dificuldade para aprender a tocar a flauta doce por não ter o instrumento

em casa.

Ao questionarmos se eles achavam importante estudar música na escola a maioria

dos alunos não souberam responder. Isso demonstra para nós que os alunos não têm

consciência do porquê frequentam as oficinas, acreditando estarem ali somente para

passar o tempo enquanto seus pais estão no trabalho.

Nas duas escolas os alunos disseram que seus professores de Artes nunca abordam

a música como tema e que o seu contato com a música na escola é apenas pelo Mais

Educação. Ao observamos as duas escolas, descrevendo suas práticas e seus atores com

vistas a entender de que forma as aulas de música que são ministradas no programa Mais

Educação estavam inseridas no contexto escolar.

Compreendemos que as oficinas de música poderiam contribuir muito para a

inserção da música no ambiente escolar, já que muitas escolas do município ainda não

contam com professores específicos de música em toda as escolas da rede. Concluímos

que as práticas musicais desenvolvidas nas escolas acontecem como uma atividade

secundaria e é diretamente influenciada pela forma como é gerido o programa, pela

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prática pedagógica dos monitores e a própria concepção que os alunos têm sobre as aulas

de música. Acreditamos que se desenvolvida de forma consciente a prática musical nas

oficinas poderá contribuir significativamente para a formação integral dos alunos.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pesquisas na área da educação musical tem apontado para os diversos espaços de

aprendizagem, assim como, procedimentos metodológicos e experiências de ensino

variados em todas as regiões do país no que se refere a aprendizagem musical. Neste

cenário se insere a proposta das oficinas de música do Mais Educação que se mostrou no

início da implementação do programa uma iniciativa que poderia abrir novos caminhos

para inserção da música na escola. Questões ligadas a gestão do programa, atuação dos

monitores e problemas de repasse dos recursos para manutenção das oficinas apareceram

como algumas das problemáticas que acabaram enfraquecendo o programa na rede

municipal do Natal.

Com o objetivo de compreender como ocorria a inserção da música em duas

escolas da rede municipal da cidade, através das propostas das oficinas do programa Mais

Educação, propomos ao programa de mestrado da UFRN um estudo qualitativo em que

partimos das inquietações causadas pelos resultados da pesquisa do grupo de estudos da

escola de música da UFRN- o GRUMUS.

A jornada percorrida para a realização deste trabalho perpassou por momentos

difíceis e de incertezas quanto ao campo de estudo. Ainda em 2015 quando definíamos

os caminhos que seriam traçados durante a pesquisa nos deparamos com as problemáticas

da descontinuidade do programa Mais Educação na rede municipal. Sabíamos que, caso

o programa continuasse o número de oficinas atuando não seria mais o mesmo do período

da pesquisa do GRUMUS que nos levaram a propor o tema para o PPGMUS. Vale

lembrar que as pesquisas realizadas pelo GRUMUS demonstraram um número expressivo

de práticas musicais na rede municipal no período de 2011-2014 como atividades

extracurriculares. Muitas dessas práticas eram justificadas pelos diretores como

cumprimento a lei 11.769/2008.

Ao entrarmos no ano de 2016 muitas oficinas não tinham previsão para início de

suas atividades e a resposta que tínhamos era que o programa estava chegando ao fim e

que esse possivelmente seria seu último ano. Ao visitar a SME para um contato inicial,

apresentar a nossa pesquisa tivemos a informação que somente quinze escolas da rede

iriam atuar com o programa. Das quinze escolas apenas oito iriam oferecer alguma oficina

relacionada a música. No período de visitas as escolas, muitas já estavam encerrando as

suas atividades já que não foram direcionados recursos para a continuidade do programa

em 2016.

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Ao iniciamos as observações nas escolas nos deparamos com realidades distintas

na execução do programa. Na escola A apesar de ter como coordenador alguém formado

em música, a prática musical na escola apresentava dificuldades de execução. O uso dos

instrumentos musicais não era possível, mesmo estes estando disponíveis em sala de aula

por conta do barulho que incomodava os demais professores. Notamos também, que a

gestão escolar não participava ativamente no desenvolvimento do programa. O

coordenador atuava de forma solitária, o que acabava o sobrecarregando e o impedindo

de estar mais presente no auxílio as atividades pedagógicas desenvolvidas na oficina de

música. O monitor por sua vez demonstrava muito comprometimento com o programa,

dedicação aos alunos, mas não era o suficiente para realizar um trabalho mais

significativo devido a sua limitação técnica. Constatamos ainda, durante as observações

das aulas dificuldades por parte do monitor no que se refere ao ensino musical. Questões

relacionadas a afinação e entrada das músicas acabavam dificultando o desenvolvimento

dos alunos

Na escola B, por sua vez, havia um envolvimento maior da gestão com o programa

e em especial com as aulas de música, já que mesmo antes da implementação do programa

na escola, havia prática musical através do “Projeto Música na Escola”. A gestão da

escola atuava diretamente com as coordenadoras dando o suporte necessário a boa

realização do programa. O monitor apresentava um bom domínio da turma, ministrando

a oficina de flauta doce. O número reduzido de alunos por turma contribuía para esse

controle de sala e os alunos terem a mesma faixa etária e/ou idades aproximadas. O

desenvolvimento dos alunos no instrumento se dava a contento na escola B. muito embora

os alunos não levem os instrumentos para suas casas, há um desenvolvimento

considerável no que se refere a aprendizagem musical. Muitos alunos conseguiam

executar as notas, com sons agradáveis. Acreditamos que o ambiente proposto pela escola

B contribuía para o bom desenvolvimento das oficinas de música do Mais Educação.

Como resultado das análises das entrevistas entendemos que as concepções acerca

das aulas nas oficinas de música para os professores perpassavam pelo campo do trabalho

em parceria com a escola e a valorização de suas funções. Já os alunos não apresentavam

terem consciência da importância de se estudar música no ambiente escolar. As aulas das

oficinas estavam muito mais ligadas a concepção assistencialista do que a de educação

integral.

Como técnica de pesquisa utilizamos o estudo multicaso por se trata de duas

escolas com ações distintas no que se refere a execução do programa. Enquanto que na

Escola A tínhamos uma atividade musical marcada pelo esforço da coordenação e do

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monitor em realizar um bom trabalho com os alunos, a falta de apoio da gestão escolar

para com as atividades do programa dificultava o andamento da oficina de música. Por

outro lado, na Escola B já havia um espirito colaborativo de todos que faziam a escola,

acreditamos que esse cenário do apresentado por essa escola contribuía no bom

desenvolvimento da oficina de música.

Todavia, para responder ao problema de pesquisa concluímos que tanto na Escola

A quanto a B a prática musical desenvolvida nas escolas acontece como uma atividade

secundária e é diretamente influenciada pela forma como é gerido o programa, pela

prática pedagógica dos monitores e a própria concepção que os alunos têm sobre as aulas

de música. Acreditamos que se desenvolvida de forma consciente a prática musical nas

oficinas pode contribuir significativamente para a formação humana dos alunos. No

entanto, a realidade atual das condições para a continuação do programa parece não se

confirmar. Devido a inúmeras mudanças dentro do novo projeto educacional que se

apresenta no país, não temos esperança que o Mais Educação possa continuar em 2017.

Buscamos dentro da proposta deste trabalho elucidar algumas questões que

emergiram durante a pesquisa do GRUMUS. Verificamos que as aulas de música dentro

da proposta do programa Mais Educação acontecem de forma descentralizada, mudando

significativamente de escola para escola. Dados este já apontado nas pesquisas

coordenadas pela professora Maura Penna na cidade de João Pessoa-PB. Quanto aos

monitores atuando nas oficinas de música nas escolas municipais do Natal-RN, estes são

em sua maioria pessoas apenas com algumas noções de música. É importante relembrar

que a formação do monitor não se apresentou como fator preponderante para o bom

desenvolvimento das oficinas. Entendemos também que se a escola não apoiar as práticas

que acontecem dentro do seu espaço, mediando relações, dando suporte e adequando

qualquer atividade que se pretenda realizar a sua realidade física, teremos sérios

problemas na implementação de qualquer projeto que se queira colocar na escola.

Constatamos que, se melhores condições fossem dadas para o desenvolvimento do

programa junto às escolas por parte dos programas de políticas públicas, poderíamos ter

uma ação realmente eficaz como proposta de educação integral.

Por fim, consideramos a importância deste trabalho para área da educação musical

por se tratar de uma temática atual e de grande relevância para a continuidade dos debates

acerca da educação integral no país, sobretudo para a formação humana dos nossos alunos

por intermédio da música.

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APÊNDICES

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Apêndice A

ROTEIRO DA ENTREVISTA COM OS MONITORES DO PROGRAMA MAIS

EDUCAÇÃO NAS DUAS ESCOLAS PESQUISADAS

1- Como ocorreu sua trajetória musical? Suas influências? Formação?

2- Como você se tornou monitor do programa Mais Educação?

3- Tendo em vista a proposta do programa de educação integral e a ampliação da

jornada escolar, qual a sua concepção sobre o Programa Mais Educação?

4- Na sua opinião como as aulas de música do Programa Mais Educação podem

contribuir para a formação integral dos alunos? E como tem sido sua experiência

com as aulas de música nas oficinas?

5- Quais foram os principais desafios enfrentados durante as suas aulas?

6- Existe alguma articulação entre o que você ministra através das oficinas com o

currículo da escola?

7- Como você prepara suas aulas (planejamento/conteúdos/avaliação)?

8- Existe algum tipo de formação encaminhada seja pelo setor de educação integral

da SME ou pela coordenação local do Programa Mais Educação da escola com

vistas a dar suporte pedagógico para suas aulas (preparação/planejamento)?

9- Você se sente preparado para atuar como professor do Programa Mais Educação?

10- Você acredita ser necessário uma formação acadêmica para atuar com o ensino de

música na escola? Porque?

11- Na sua opinião o que poderia ser melhorado na execução do programa Mais

Educação?

12- Os alunos têm demonstrado interesse nas aulas de música? E como você avalia

esse aprendizado?

13- Você acredita que o Programa Mais Educação pode contribuir para a inserção da

música na escola? Por que?

14- De que forma a sua experiência enquanto monitor do programa Mais Educação

tem contribuído para sua formação enquanto indivíduo? Enquanto musico?

15- Na sua opinião, de que forma as aulas de música que são ministradas no programa

Mais Educação estão inseridas no contexto escolar?

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Apêndice B

ROTEIRO DA ENTREVISTA COM OS COORDENADORES DO PROGRAMA

MAIS EDUCAÇÃO NAS DUAS ESCOLAS PESQUISADAS

1- Como ocorreu a adesão da escola ao Programa Mais Educação?

2- Como você se tornou coordenador do Programa Mais Educação?

3- De que forma é feita a seleção das oficinas?

4- Quantos alunos estão frequentando as oficinas do Programa Mais Educação

atualmente?

5- Quais os desafios enfrentados por você para a realização das oficinas na escola?

6- Como ocorre a seleção dos monitores?

7- Como você tem avaliado o desenvolvimento do programa Mais Educação?

8- O que você entende por educação integral? Você acredita que o programa Mais

Educação tem conseguido atingir esse objetivo? Porque?

9- Como ocorre a articulação das ações do programa Mais Educação com o currículo

escolar?

10- Quanto as oficinas de música, como foi selecionado os cursos? O monitor?

Alunos?

11- Você acredita que a música pode contribuir para formação dos alunos? Porque?

12- Você tem conhecimento sobre a lei 11.769/2008? A escola conta com professor

de música no seu corpo docente?

13- Como ocorre o planejamento das atividades do monitor de música?

14- Quanto as aulas de música, você tem enfrentando algum problema? De que

ordem?

15- Na sua opinião, de que forma as aulas de música que são ministradas no programa

Mais Educação estão inseridas no contexto escolar?

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Apêndice C

QUESTIONARIOS COM OS ALUNOS DAS OFICINAS DE MÚSICA DO

PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO NAS DUAS ESCOLAS PESQUISADAS

1- Você já estudou música?

Sim ( ) Não ( )

2- Tem alguém na família que toca algum instrumento?

Sim ( ) Não ( )

3- Você gosta das aulas de música do programa Mais Educação?

Sim ( ) Não ( )

4- Se você pudesse escolher a oficina de música para frequentar, qual seria?

5- Você tem dificuldades nas aulas de música? Se sim, quais?

Sim ( ) Não ( )

________________________________________________________________

________________________________________________________________

6- Você estuda em casa o que aprende nas aulas de música da oficina? Se não,

Porquê?

Sim ( ) Não ( )

________________________________________________________________

________________________________________________________________

7- Você acredita ser importante estudar música na escola?

Sim ( ) Não ( )

8- A música tem ajudado no seu desenvolvimento escolar?

Sim ( ) Não ( )

9- A música tem sido abordada nas aulas de Artes do turno regular da escola?

Sim ( ) Não ( )

10- Cite em que, a música pode contribuir para a sua vida.

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Apêndice D

ENTREVISTA COM O CHEFE DO SETOR DE EDUCAÇÃO INTEGRAL DA

SECRETÁRIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE NATAL-RN 10/07

1. Quais as concepções que a SME tem sobre educação integral e escolas de tempo

integral?

2. Em sua opinião, o Programa Mais Educação contribui para essa educação

integral?

3. Como se iniciou a implementação da proposta do Programa Mais Educação nas

escolas do município de Natal?

4. Quais foram os desafios encontrados para implementação desse Programa na rede

municipal de Natal?

5. Quantos alunos estão sendo atendidos atualmente pelo Programa Mais Educação

no município de Natal?

6. Como são selecionados os monitores do programa? Quais as ações da Secretaria

de Educação na preparação desses monitores?

7. Quais as oficinas mais escolhidas pelas escolas onde o Programa Mais Educação

atua?

8. Existe algum mecanismo de fiscalização da Secretaria para avaliar as ações do

Programa Mais Educação nas escolas?

9. Como o setor tem avaliado o desenvolvimento dos alunos que participam das

oficinas do Programa Mais Educação no que se refere ao desenvolvimento

escolar?

10. É do conhecimento do setor a Lei 11.769/2008 que trata do ensino de música como

conteúdo obrigatório do componente curricular Artes na Educação Básica?

11. Em sua opinião, como o ensino da música pode contribuir para a formação integral

do indivíduo? Como tem sido a experiência da música nas oficinas do Programa

Mais Educação?

12. Quantas escolas atualmente oferecem oficinas de música no Programa Mais

Educação? Em média, quantos alunos participam dessas oficinas?

13. Em sua opinião, quais os desafios encontrados pelas escolas no que se refere as

aulas de música das oficinas do Mais Educação?