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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE AGRONOMIA AGR 99003 - ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO Rafael Schönhofen Nunes N° do cartão: 00134377 Cooperafloresta Barra do Turvo-SP e Adrianópolis-PR PORTO ALEGRE, setembro de 2010

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL … · 2018-07-16 · Vale do Ribeira é a denominação dada à região que abrange a Bacia Hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape. Está

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

FACULDADE DE AGRONOMIA

AGR 99003 - ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO

SUPERVISIONADO

Rafael Schönhofen Nunes

N° do cartão: 00134377

Cooperafloresta

Barra do Turvo-SP e Adrianópolis-PR

PORTO ALEGRE, setembro de 2010

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE AGRONOMIA

AGR 99003 – ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO

Rafael Schönhofen Nunes

RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR OBRIGATÓRIO SUPERVISIONADO

Orientador do Estágio: Nelson Eduardo Correia Netto, engenheiro agrônomo Tutor do Estágio: Gilmar Schafer, engenheiro agrônomo COMISSÃO DE ESTÁGIO: Prof.(a) Lucia Brandão Franke – Depto. de Plantas Forrageiras e Agrometeorologia - Coordenadora Prof. Paulo Henrique de Oliveira – Depto. Plantas de Lavoura Prof.(a) Mari Bernardi – Depto. de Zootecnia Prof. Lair Ferreira – Depto. de Horticultura e Silvicultura Prof. Elemar Antonino Cassol – Depto. de Solos Prof. Josué Sant’Ana – Depto. de Fitossanidade Prof. Fábio de Lima Beck – Núcleo de Apoio Pedagógico

PORTO ALEGRE, setembro de 2010

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AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus e à Universidade pública, gratuita e de

qualidade.

Aos meus pais, Carlos e Nilsa, que sempre me incentivaram e

possibilitaram que eu pudesse cursar uma faculdade.

A Faculdade de Agronomia que me oportunizou conhecer várias

propriedades de diferentes regiões do Rio Grande do Sul.

A iniciação científica da UFRGS pela oportunidade de trabalhar

com pesquisa na Faculdade de Agronomia nos departamentos de

fitossanidade e solos.

Agradeço a funcionários da UFRGS Giovana e Antônio (Tonho)

pela amizade e ajuda no laboratório, aos orientadores de iniciação

científica Cimélio Bayer e Valmir Duarte pelos ensinamentos na

pesquisa, ajuda nos trabalhos e apresentações.

A todos os amigos que fiz dentro da faculdade durante esses

anos tanto da graduação como da pós - graduação.

A Cooperafloresta pela oportunidade de vivenciar um sistema

agroflorestal ecológico e as famílias que me acolheram durante 50

dias com simplicidade e honestidade.

iv

APRESENTAÇÃO O estágio curricular foi realizado em uma associação de

pequenos agricultores voltados suas atividades a agrofloresta de base

agroecológica.

Tive a oportunidade de acompanhar o manejo do sistema

agroflorestal em áreas de Mata Atlântica. Com o objetivo de aprender

mais sobre o sistema agroflorestal e de trabalhar com extensão rural,

participei de podas de condução, limpeza, plantio de novas áreas e

colheita. Dentre vários produtos da associação está a produção de

mel, própolis e pólen onde eu pude ajudar na coleta do mel e seu

beneficiamento. Já no final do período de estágio participei da coleta

de dados com GPS para o georeferenciamento das áreas de palmito

juçara pertencentes aos agricultores ligados a Cooperafloresta para

futura legalização do corte e comercialização.

Vejo o sistema agroflorestal como um importante meio para a

recuperação de solos degradados e a conservação dos recursos

florestais e hídricos ao mesmo tempo aumentando a segurança

alimentar possibilitando renda ao pequeno produtor de maneira

sustentável em áreas onde a agricultura convencional se mostra

inviável.

1

SUMÁRIO

1. Introdução ....................................................................................................... 2

2. Descrição do meio físico e socio-econômico da região ................. 3

2.1. Caracterização do Clima ........................................................................ 4

2.2. Caracterização dos principais Solos da região .............................. 4

2.3. Características e importância do agronegócio regional ............. 5

3. Descrição da instituição de realização do estágio ........................... 6

4. Revisão Bibliográfica ................................................................................... 9

5. Atividades Realizadas ............................................................................... 10

5.1. Manejo de um sistema agroflorestal (SAF) .................................. 11

5.2. Apicultura .................................................................................................. 13

5.3. Georeferenciamento das áreas de palmito juçara ..................... 13

5.4. Colheita dos produtos dos SAFs ....................................................... 14

6. Conclusões .................................................................................................... 15

7. Análise crítica ............................................................................................... 15

8. Bibliografia citada ....................................................................................... 16

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1. Introdução Hoje muito se fala em aquecimento global, aumento da

população mundial, redução dos recursos hídricos por contaminação

ou degradação do ambiente. A crescente idéia de que deve-se no

futuro próximo aumentar as quantidades e qualidade dos produtos e

junto com isso diminuir o uso de recursos naturais ou aumentar a

racionalização do uso dos mesmos, se mostra no primeiro momento

conflituoso e inviável.

O Brasil por características históricas e pela grande importância

que a zona litorânea sempre teve para o país, o bioma da Mata

Atlântica foi o mais afetado pela urbanização e agricultura,

atualmente restando menos de 7% da mata original. Hoje há 6,98%

de sua cobertura vegetal, segundo levantamento parcial feito pela

ONG SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas

Espaciais (Inpe, 2010).

O estágio foi realizado na Cooperafloresta em dois municípios,

Barra do Turvo – SP e Adrianópolis – PR, com sede em Barra do

Turvo, está localizada no Vale do Ribeira, onde se situa a maior e

mais bem conservada porção contínua do Bioma Mata Atlântica. Foi

realizado no período de 4 de janeiro a 24 de fevereiro de 2010

resultando em 300 horas de vivência com extensão rural junto aos

agricultores com atividades de produção e manejo do sistema

agroflorestal, associado à produção de mel em apiários com a abelha

Apis Mellifera e em meliponários com abelhas nativas. E uma

pequena participação no projeto de georeferenciamento do palmito

juçara ajudando na coleta de dados com o GPS.

O sistema agroflorestal hoje se mostra como uma alternativa

para cessar a degradação e possibilitar certa recuperação das áreas.

Com o aumento da conscientização mundial para a importância das

matas e o consumo de produtos sem agrotóxicos, se torna viável

economicamente preservar a natureza. Para pequenos agricultores

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sem recursos a agrofloresta mostra ter uma grande importância na

segurança alimentar e bem estar social.

2. Descrição do meio físico e socio-econômico da região Vale do Ribeira é a denominação dada à região que abrange a

Bacia Hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape. Está localizado no

nordeste do estado do Paraná e sudeste do estado de São Paulo.

Barra do Turvo/ SP e Adrianópolis/PR são municípios vizinhos e estão

inseridos integralmente na Bacia Hidrográfica. O município de

Adrianópolis localiza-se a nordeste do Estado do Paraná e pertence à

Região Metropolitana de Curitiba, com distância de 133 quilômetros

ao norte da Capital. Sua maior fonte de renda está calcada no setor

secundário, extração de minerais, principalmente o chumbo e a prata.

Na agricultura as principais atividades econômicas são a criação de

suínos e lavouras de milho e feijão. Sua riqueza natural está no

Parque Estadual de Lauráceas. (Fonte: Prefeitura de Adrianópolia).

Barra do Turvo está localizada no estado de São Paulo, distante

326 km da capital, estando dentro da região administrativa de

Registro. Situado no litoral sul foi fundado por volta de 1852, se

estabeleceu com plantação de milho e criação de porcos, na

confluência do rio Turvo com o rio Pardo. A topografia apesar de

extremamente acidentada era fértil e o feijão surgia como a principal

cultura da região. O extrativismo do palmito Juçara surgiu como uma

oportunidade e uma ilusão econômica para muitas famílias rurais. A

paisagem é dominada pelos pastos nos vales e baixo de encostas,

agrofloresta nas encostas e pela Mata Atlântica nos cumes e

encostas. Barra do Turvo teve sua maior fartura no período entre

1910 e 1930, quando foi grande a produção agrícola e pecuária.

Grande quantidade desses produtos era transformada no próprio

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município, fabricando assim rapadura, aguardente e farinha de

mandioca. (Fonte: Prefeitura de Barra do Turvo)

2.1. Caracterização do Clima O Vale do Ribeira encontra-se no limite entre o clima tropical e

subtropical ainda sob influências do vento sudeste e, por fatores

locais como proximidade do mar, muitas serras e vegetação, não

possui um clima homogêneo (MARQUES et al, 2007).

O clima do município de Adrianópolis, Paraná é classificado

como Subtropical Úmido Mesotérmico. Segundo Köppen, baseado na

vegetação, temperatura e pluviosidade o tipo climático é definido

como Cfa - Clima subtropical; temperatura média no mês mais frio é

inferior a 18°C (mesotérmico) e temperatura média no mês mais

quente acima de 22°C, com verões quentes, geadas pouco freqüentes

e tendência de concentração das chuvas nos meses de verão,

contudo sem estação seca definida. A precipitação média é de 1400 –

1600 mm anuais com variação dos anos de 20 – 25%. (Fonte:

IAPAR)

Em Barra do Turvo a classificação climática segundo Köppen é

definida como Af – caracterizada pelo clima tropical chuvoso, sem

estação seca com a precipitação média do mês mais seco superior a

60 mm. A temperatura média no mês mais frio inferior a 17°C

(mesotérmico) e temperatura média no mês mais quente acima de

30°C. A precipitação média é de 1720 mm anuais. (CEPAGRI, 2010)

2.2. Caracterização dos principais Solos da região Grande parte da região situa-se em áreas de relevo ondulado e

montanhoso com altas declividades. Grande parte dos solos está

sobre rochas calcárias, sendo comum a presença de cavernas. O

relevo montanhoso sustentado pelo granito apresenta risco de

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movimentos de massas, inclusive de rolamentos de blocos e

matacões que existem nas encostas declivosas. A região é rica em

nascentes d’água. O solo na região apresenta-se em maiores

quantidades como um solo do tipo Argissolo Vermelho Amarelo, com

o horizonte B muito próximo da superfície e com evidências de que

contém argilominerais expansivos. Também são encontrados solos do

tipo Neossolo Regolítico, Nitossolo Bruno e afloramentos rochosos.

(Embrapa solos)

Em muitas áreas o solo é excessivamente argiloso, pouco

permeável, pedregoso, de baixa fertilidade natural e de alto potencial

erosivo.

2.3. Características e importância do agronegócio regional O município de Barra do Turvo-SP tem população estimada em

7.699 habitantes (IBGE, 2008). O PIB per capita é de R$ 4.348,

sendo que 6% são provenientes do agronegócio, 11% da indústria e

83% de serviços (Figura 1).

Figura 1. Divisão do produto interno bruto (PIB) em setores da

economia da cidade de Barra do Turvo-SP. Fonte: Produção Agrícola

Municipal IBGE, 2008.

Dentre os produtos do agronegócio mais importantes para o

município em se tratando de lavouras permanentes está a produção

AgropecuáriaIndústriaServiços

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de banana, com 140 t representando R$ 35 mil e o palmito com

produção de 37 t representando R$ 91 mil. Das culturas anuais de

maior importância está a mandioca com produção de 1.240 t com

receita de R$ 180 mil, seguido do milho com produção de 580 t, arroz

com 156 t e o feijão com produção de 94 t. (IBGE, 2008)

Em Adrianópolis-PR com população de 6.856 habitantes o

agronegócio representa 57% do PIB, 5% indústria e 38% formado

por serviços.(Figura 2). O PIB per capita é de R$ 9.624.

Os principais produtos são a banana com produção de 1.858 t,

laranja 208 t, cana de açúcar 17.640 t, feijão 15.620 t, milho 10.376

t e tomate com 1.150 t.

Figura 2. Divisão do produto interno bruto (PIB) em setores da

economia da cidade de Adrianápolis-PR. Fonte: Produção Agrícola

Municipal IBGE, 2008.

3. Descrição da instituição de realização do estágio

A Cooperafloresta atua no Vale do Ribeira, envolvendo os

municípios de Barra do Turvo (SP) e Adrianópolis (PR).

Apesar de sua localização em dois dos estados mais

desenvolvidos do País, de fazer limite com duas regiões

metropolitanas altamente dinâmicas (São Paulo, ao norte e Curitiba,

ao sul) e de ter sido uma das primeiras e mais intensamente

AgronegócioIndústriaServiços

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exploradas regiões brasileiras nos período colonial e imperial, o Vale

do Ribeira atualmenteé uma região economicamente pobre. Ainda

tem um patrimônio ambiental de 21 milhões de hectares de florestas,

equivalentes a aproximadamente 21% dos remanescentes de Mata

Atlântica. (fonte: SOS Mata Atlântica)

A Associação foi criada no ano de 1996 com duas famílias de

agricultores. Já em 1998 eram 30 famílias, com a comercialização de

seus produtos de forma coletiva. Atualmente é formada por 105

famílias todas desenvolvendo o sistema agroflorestal com base

agroecológica. As famílias associadas apresentam uma grande

diversidade de culturas onde caiçaras, quilombolas, indígenas e

outros povos tradicionais convivem harmoniosamente.

Todos se caracterizam por serem pequenos agricultores com

poucos recursos da agricultura moderna. Assim como a

comercialização dos produtos se fazem de forma coletiva, as

atividades de maior uso de mão de obra como podas de limpeza e

renovação de novas áreas é desenvolvida em chamados mutirões

onde todos os agricultores próximos se reúnem para a realização de

uma tarefa em forma de parceria. As famílias dos agricultores

dividem os mesmos ideais e princípios de produtos ecológicos e da

valorização das pessoas do campo. A cooperativa participa da Rede

Eco vida de Agroecologia, onde estão unidos com mais de três mil

famílias do Sul do país.

Através de projeto da Petrobrás Ambiental foi proporcionado à

capacitação de doze agricultores da Associação, que foram

denominados de agentes multiplicadores. Estes agentes tiveram seis

meses de vivências e aprendizado, momentos intensos de troca de

experiência e uma viajem para a visita de Sistemas Agroflorestais no

Instituto de Permacultura da Bahia e na propriedade de Ernest

Göestch, no sul da Bahia. Hoje os agentes multiplicadores

desenvolvem um papel de líderes de suas comunidades, participando

e passando o conhecimento nas reuniões e mutirões onde os

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agricultores podem aprender na prática a implantação e manejo das

áreas de agrofloresta.

Atualmente a associação abrange 200 hectares de áreas

reflorestadas com agroflorestas de grande biodiversidade mais 400

hectares de áreas encapoeirando em fase de recuperação, 200 mil

pés de bananeiras, 500 mil pés de juçaras ou palmiteiro, 150 mil de

pupunheira, 100 mil de cafés, 50 mil abacaxis, 250 mil frutas

diversas com aproximadamente 100 espécies como abacate, goiaba,

fruta do conde, graviola, jaca, jabuticaba, citros diversos, lichia, cajá,

cajá-manga, bacupari, abio, tamarindo, carambola, pêra, pêssego,

nêspera, cupuaçu, cacau, caju, cabeludinha, pitanga, jambo,

jambolão, araçá e jenipapo.

Na área da apicultura são 360 caixas de abelhas Apis Melífera e

100 caixas de abelhas sem ferrão.

A produção é vendida em feiras livres de Curitiba e outra parte,

em torno de 40% é comprada pelo governo que destina a escolas e

asilos da região.

A cooperafloresta também possui uma pequena agroindústria

onde produz bananada, goiabada e pólen apícola destinado as feiras

livres de Curitiba. O objetivo é a busca da valorização da agricultura

familiar e da conscientização ambiental, diminuindo a exclusão social

proporcionando renda além da recuperação do ambiente.

Os resultados econômicos, sociais e ambientais notoriamente

são muito positivos no andar da associação. Historicamente a região

era grande produtora de feijão de vagem cultivado em terras

empobrecidas pelas queimadas e pela erosão. A comercialização não

era organizada, resultando em baixa remuneração para os

agricultores. Atualmente a associação pertence à Rede Ecovida

vendendo seus produtos em feiras de Curitiba e busca participação

em programas de compras institucionais, como o Programa de

Aquisição de Alimentos e Programa Nacional de Alimentação Escolar

do Ministério da Educação.

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4. Revisão Bibliográfica

Sistemas Agroflorestais (SAF) são entendidos como arranjos

seqüenciais de espécies ou de consórcios de espécies herbáceas,

arbustivas e arbóreas, através dos quais se busca, ao longo do

tempo, reproduzir a dinâmica sucessional da vegetação original, sua

estrutura e funcionalidade, visando atender demandas humanas de

modo sustentável ao longo do tempo (Michon, 1998).

Muito dos conhecimentos e fundamentos dos sistemas

agroflorestais são frutos do empirismo dos povos e não estão

sistematizados ou explicitados (PENEIREIRO, 2006). Nos sistemas

tradicionais as árvores eram mantidas no sistema como suporte e

tinham como objetivo também a produção de alimentos, com as

inovações tecnológicas ocorreu a simplificação dos sistemas de

produção agrícolas e em decorrência disto os SAFs se tornaram

menos intensos. Segundo Altieri (2002) “o potencial dos SAFs é

reconhecido particularmente por pequenos agricultores em áreas

pobres e marginais dos trópicos e subtrópicos”, incluindo aí Ásia,

África e América Latina.

Sistemas agroflorestais fundamentados na ecologia da floresta -

definidos como sucessionais ou regenerativos análogos - buscam

estabelecer uma dinâmica de formas, ciclagem de nutrientes e

equilíbrio dinâmico análogos à vegetação original do ecossistema

(VIVAN, 1998) e podem ser definidos como sistemas complexos.

Os sistemas agroflorestais sucessionais são uma estratégia para

a recuperação de áreas degradadas, auxiliando no retorno da

fertilidade dos solos nas unidades produtivas. Segundo Peneireiro

(1999) a partir das agroflorestas as áreas degradadas podem ser

recuperadas, apresentando melhora significativa da fertilidade do solo

e da atividade da fauna nativa e o restabelecimento dos ciclos

hidrológicos, auxiliando, inclusive, na volta dos cursos d’água nas

propriedades.

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Segundo Altieri (2002), os sistemas agroflorestais incorporam

quatro características essenciais: estrutura, sustentabilidade,

produtividade e adaptabilidade sócio-econômica/cultural. São

importantes para a agricultura familiar de pequenas áreas dos países

em desenvolvimento, uma vez que propicia áreas mais aptas a

fornecer uma dieta diversificada e nutritiva; o uso mais eficiente dos

recursos disponíveis e o sinergismo interespecífico; o aumento da

eficiência de uso da terra e aumento da diversidade de produtos e da

produção ao longo do ano, gerando renda e trabalho em todas as

épocas do ano. Desta forma, os sistemas agroflorestais podem

contribuir para que os agricultores de produção de base familiar

tornem seus sistemas de produção mais sustentáveis através da

compreensão da direção a ser seguida e da busca pela melhor

agrofloresta a ser implantada em cada local e do caminho para

aperfeiçoá-la para o futuro.

5. Atividades Realizadas O estagiário acompanhou as atividades junto aos agricultores

aprendendo na prática o manejo e os princípios da agrofloresta.

Convivendo de uma a duas semanas em cada localidade junto aos

agentes multiplicadores, ou seja, aqueles agricultores considerados

líderes de suas localidades e que receberam um aprendizado em

sistemas agroflorestais no Instituto de Permacultura da Bahia e na

propriedade de Ernest Göestch, no sul da Bahia.

As principais atividades desenvolvidas foram a limpeza de

novas áreas para implantação do sistema agroflorestal (SAF), podas

de ramos para o manejo da luminosidade dentro do SAF, plantio de

espécies nativas e exóticas, colheita e beneficiamento para

comercialização.

Participação em duas reuniões da Cooperafloresta junto aos

agricultores, onde foram discutidos assuntos para melhorias do

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sistema de produção na busca da melhoria de vida dos agricultores

com uso de técnicas principalmente para melhorar a colheita com

menos mão de obra e melhor qualidade de produto final. Questões

financeiras e busca de novos mercados também estavam na pauta

das reuniões.

Devido à grande diversidade de produtos e origem das diversas

famílias teve uma grande troca de experiência com extensão rural,

procurando conversar com o agricultor, tomando conhecimento dos

seus anseios e objetivos na melhora do seu sistema.

Além de conhecer e participar do manejo do SAF o estagiário

realizou outras atividades como a apicultura, ajudando na realização

da coleta e beneficiamento do mel.

A participação no projeto de georeferenciar as áreas de palmito

juçara foi pequeno, porém interessante por proporcionar maior

contato com o GPS marcando os pontos para elaboração posterior de

um mapa com o objetivo de abranger toda a área da Cooperafloresta.

Isso auxiliou para um maior aprendizado sobre a cultura do palmito

juçara, identificação, métodos de plantio e colheita.

O estagiário teve oportunidade de conhecer culturas agrícolas

pouco vistas na escola de agronomia e de trocar experiências em

áreas da fruticultura, apicultura e sensoriamento remoto.

5.1. Manejo de um sistema agroflorestal (SAF) A implantação de um sistema agroflorestal (SAF) geralmente se

dá em áreas já degradadas pelas culturas anuais, historicamente na

região de monocultura de feijão de vagem. Em uma propriedade foi

realizada a derrubada das áreas que já eram agrofloresta. Isso se

justifica por dois motivos: áreas de SAFs antigas que estão pouco

produtivas ou necessidade de aumento da área produtiva para o

plantio de cultivos anuais, utilizados no consumo doméstico e no

incremento da renda familiar.

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Na derrubada total do SAF ou, como se chama, zerar o SAF se

usou moto serra e facão retirando-se as madeiras de valor para lenha

e construção. O restante é picado e depositado em curva de nível no

solo, toda a parte aérea é depositada em cima sem o uso do fogo. No

primeiro ano do SAF semeia-se toda a diversidade possível além de

deixar vir a vegetação espontânea. Como os cultivos anuais exigem

maior luminosidade para completarem seu ciclo, no início será colhido

o feijão, abóbora, milho, quiabo, tomate, arroz de sequeiro, pepino,

batata-doce, etc. Já tendo plantado mudas de banana de vários tipos,

palmeira pupunha, café, ingás e castanheiras.

É feito um consórcio agroflorestal dinâmico. A distribuição

espacial é aleatória e as áreas são manejadas com podas periódicas

planejadas afetando os estratos dominante e co-dominante de

consórcios multi-estratificados, manutenção e modificações da

composição das plantas de cobertura e das espécies perenes

comerciais ou adubadoras.

Participando de podas com o objetivo de manejar a

luminosidade dentro de um SAF nota-se o quanto é complexo as

várias interações de diversas plantas e o conhecimento particular de

suas exigências de luminosidades e seu esperado porte. Algumas

intervenções se fazem mais importantes, como a abertura de mais

luz para citros na época de floração. O cuidado em deixar uma

permeabilidade da luz em torno de 50% para mudas de palmeira

juçara, dentro de tantas variáveis a poda, é quase uma arte.

Cada SAF é diferente do outro conforme a sua implantação,

mas também muito relacionado com o manejo dado pelo agricultor.

Junto do orientador de campo o estagiário instruiu os agricultores

sobre o manejo de pragas e doenças. Pode-se notar que em áreas

com maior diversidade de espécies era menor a incidência de

doenças como a sigatoka amarela na bananeira.

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5.2. Apicultura A região do Vale do Ribeira apresenta um grande potencial para

a apicultura devido à grande quantidade de florestas preservadas e

águas limpas. Através do Programa Desenvolvimento & Cidadania,

projeto financiado e patrocinado pela Petrobras, 33 famílias

implantaram apiárias com 12 colméias de Apis mellifera e 42 famílias,

meliponários com 12 colméias de diversas abelhas nativas. No

momento as famílias estão se capacitando na apicultura e muitas

delas com maior vocação já estão com produções satisfatórias

chegando a produzir 40 kg de mel por colméia. Além do mel se

produz pólen e própolis. Ao longo do estágio foram efetuadas visitas

com participação na coleta do mel em três apiários e do

beneficiamento e envase na casa do mel criada pela associação.

5.3. Georeferenciamento das áreas de palmito juçara Já no fim do período do estágio ocorreu uma pequena

participação no projeto juçara criada pela Cooperafloresta. Com o

auxílio do Google Earth foram obtidos mapas preliminares da

propriedade onde foi feito o levantamento. Com ajuda do

proprietário foram demarcado os limites da propriedade e as áreas de

palmito juçara com o GPS. Os dados levantados foram de número de

indivíduos adultos com a medição de sua circunferência altura do

peito (CAP) com áreas representativas de amostragem de 20 x 30

metros ou 600 m² determinando assim a amostragem para obter o

número de indivíduos por hectare. No caso de plantas juvenis

consideradas abaixo de 130 cm a contagem das mudas de juçaras

foram separadas nas alturas de zero a 10 cm, de 10 – 50 cm e de 50

– 130 cm com duas áreas amostrais de 6 x 7 metros contidas dentro

da área de 20 x 30 metros. Além do registro da população de juçaras

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nativas foi feito o registro das palmeiras plantadas em linha para

futuro corte.

5.4. Colheita dos produtos dos SAFs Dentre tantos produtos que a Cooperafloresta comercializa, no

período de estágio as colheitas se deteve principalmente na banana,

palmito juçara, pupunha e inhame. A banana é a maior fonte de

renda em geral para os agricultores. Na região produz o ano todo,

mas tem o seu pico de produção nos meses mais quentes de janeiro

e fevereiro. Existe uma grande diversidade de bananeiras como a

banana caturra, banana prata, banana ouro, banana da terra e a

banana São Tomé e Príncipe chamadas de banana pão. O método e o

transporte da banana até o local de acesso do caminhão da

associação têm suas particularidades em cada produtor. Muitos já

tinham instalado cabos de aço onde a banana é despencada e

embalada em caixas de 20 a 30 kg e desce por gravidade. Em outras

propriedades o transporte ainda é feito em lombo de cavalos e mulas.

Pelo terreno apresentar declive está se adotando cada vez mais o

transporte da banana por cabos de aço, inclusive com cabos duplos e

roldanas que ao mesmo tempo em que desce a banana sobe a caixa

vazia.

O estagiário teve total liberdade para opinar junto do seu

orientador na escolha de novos locais para a instalação de cabos de

aço para transporte da banana.

A colheita do palmito e do inhame era feito em pequenas áreas

próximas das casas. A idade de corte das palmeiras é, em média, de

6 a 7 anos para a palmeira juçara Euterpe edulis e de 5 anos para o

corte da palmeira pupunha Bactris gasipaes.

No período do estágio a comercialização se dava inteiramente

em feiras livres da cidade de Curitiba-PR pois no período de janeiro e

fevereiro a produção não é comprada pelo governo para abastecer as

escolas do município por ser o período de férias.

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6. Conclusões O estágio cumpriu o objetivo de enriquecer os conhecimentos

e permitir a troca de experiências com técnicos e agricultores sobre o

assunto. Além do maior aprofundamento na técnica do sistema

agroflorestal, foi adquirido maior consciência ecológica e respeito

pelos produtos chamados ecológicos. O contato próximo com

agricultores trabalhando como extensionista foi útil para o

crescimento profissional e pessoal.

A possibilidade de poder ter contribuído com a melhora do

sistema de produção de pequenos agricultores é muito gratificante,

principalmente nas áreas de apicultura, onde se levou a técnica e o

manejo correto das colméias tanto na orientação destas em relação

ao Sol como esclarecendo sobre a alimentação e cuidados das

colméias no inverno. Na olericultura e fruticultura a contribuição foi

esclarecendo agricultores sobre a técnica da enxertia e produção de

mudas. Assim tendo contribuído mais efetivamente para sua melhora.

Certamente o estágio tem sua maior importância para ajudar a

encarar os primeiros passos como um agrônomo extensionista, ou

seja, aprendendo como lidar com as dúvidas e anseios dos

agricultores do que somente aprender novas técnicas.

7. Análise crítica O estágio obrigatório sendo de apenas 300 horas para analisar

um sistema de cultivo é considerado um período curto. No entanto,

em cerca de dois meses de estágio foram trocadas muitas

experiências.

Os aspectos positivos foram de não ficar somente em um local,

nesse período foram visitadas nove propriedades, em muitas delas

16

ficando hospedado de uma a duas semanas. De maneira geral a

opinião e questionamentos do estagiário foram levados em

consideração. Com liberdade para aplicar os conhecimentos

principalmente no manejo de pragas e conservação de solo o

estagiário pode notar o respeito com que é tratado um estudante da

UFRGS.

Um aspecto negativo notado da Cooperafloresta é uma grande

dependência de programas do governo como o Mais Alimentos e

principalmente de administração financeira.

8. Bibliografia citada MARQUES. M. N.; COTRIM. M. B.; PIRES. M.A. F.; BELTRAME FILHO. O. Avaliação do impacto da agricultura em áreas de proteção ambiental, pertencentes à bacia hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape. Revista Química Nova, São Paulo v. 30. n° 5. set/out. 2007. MICHON, G. Saber Ecológico e Sistemas Agroflorestais: um estudo de caso na Floresta Atlântica do Litoral Norte do RS. Revista dos Sistemas Agroflorestais, Rio Grande do Sul Dez/2003. ALTIERI, Miguel A. Agroecologia: bases científicas para uma agricultura sustentável. Guaíba: Agropecuaria, 2002. 592p. PENEIREIRO. F.M. Fundamentos da Agrofloresta Sucessional. In: Seminário de Capacitação em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável. Centro de Ciências Agrárias – UFSC – Florianópolis, 2006. p. 96 – 103. PENEIREIRO. F.M. Sistemas agroflorestais dirigidos pela sucessão natural: um estudo de caso. Curso de pós-graduação em Ciências (Dissertação de Mestrado). Piracicaba, Escola Superior de Agronomia Luís de Queirós, 1999, 138p. VIVAN, J.L. Agricultura e florestas: princípios de uma interação vital. Guaíba: Agropecuária, 1998. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – Disponível em: http://www.ibge.gov.br – acessado em 31/08/2010

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CEPAGRI – Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura – Disponível em: http:// www.cpa.unicamp.br Acessado em 31/08/2010