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1 UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO PROFISSIONAL ENFERMAGEM ASSISTENCIAL DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM PARA PORTADORES DE DOENÇA RENAL CRÔNICA ESTUDO DESCRITIVO Autora: Silvia Maria de Sá Basilio Lins Orientadora: Prof a . Dr a . Fátima Helena do Espírito Santo Co-orientadora: Prof a . Dr a . Patricia dos Santos Claro Fuly Linha de Pesquisa: O cuidado de enfermagem para os grupos humanos. Niterói, Junho de 2012

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE MESTRADO … Maria de Sá... · Autora: Silvia Maria de Sá Basilio Lins Orientadora: Profa. Dra. Fátima Helena do Espírito Santo Co-orientadora:

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    UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    MESTRADO PROFISSIONAL ENFERMAGEM ASSISTENCIAL

    DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM PARA PORTADORES DE

    DOENA RENAL CRNICA ESTUDO DESCRITIVO

    Autora: Silvia Maria de S Basilio Lins

    Orientadora: Profa. Dr

    a. Ftima Helena do Esprito Santo

    Co-orientadora: Profa. Dr

    a. Patricia dos Santos Claro Fuly

    Linha de Pesquisa: O cuidado de enfermagem para os grupos humanos.

    Niteri, Junho de 2012

  • 2

    DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM PARA PORTADORES DE DOENA RENAL CRNICA

    ESTUDO DESCRITIVO

    Autor(a): Silvia Maria de S Baslio Lins

    Orientador(a): Prof. Dra. Ftima Helena do Esprito Santo

    Co-Orientador(a): Prof. Dra. Patrcia dos Santos Claro Fuly

    Dissertao apresentada ao Programa de Mestrado

    Profissional Enfermagem Assistencial da Escola de

    Enfermagem Aurora de Afonso Costa da

    Universidade Federal Fluminense como parte dos

    requisitos para a obteno do ttulo de Mestre.

  • 3

    UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

    MESTRADO PROFISSIONAL ENFERMAGEM ASSISTENCIAL

    DISSERTAO DE MESTRADO

    DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM PARA PORTADORES DE

    DOENA RENAL CRNICA ESTUDO DESCRITIVO

    Linha de Pesquisa: O cuidado de enfermagem para os grupos humanos

    Autor: Silvia Maria de S Basilio Lins

    Orientador: Profa. Dr

    a. Ftima Helena do Esprito Santo

    Co-orientadora: Profa. Dr

    a. Patricia dos Santos Claro Fuly

    Banca Examinadora:

    _________________________________________________________________________

    Presidente: Profa. Dr

    a. Ftima Helena do Espirito Santo (UFF)

    _________________________________________________________________________

    1 Examinadora: Profa. Dr

    a. Telma Ribeiro Garcia (UFPB)

    _________________________________________________________________________

    2 Examinadora: Profa. Dr

    a. Patricia dos Santos Claro Fuly (UFF)

    Suplentes:

    _________________________________________________________________________

    Profa. Dr

    a. Dalvani Marques (UFF)

    _________________________________________________________________________

    Profa. Dra. Marluci Andrade Conceio Stipp (UFRJ)

  • 4

    L 759 Lins, Silvia Maria de S Basilio

    Diagnsticos de enfermagem para portadores de

    doena renal crnica / Silvia Maria de S Basilio Lins.

    Niteri: [s.n.], 2012.

    119 f.

    Dissertao (Mestrado Profissional em Enfermagem

    Assistencial) - Universidade Federal Fluminense, 2012.

    Orientador: Prof. Ftima Helena do Esprito Santo.

    1. Diagnstico de enfermagem. 2. Processos de

    enfermagem. 3. Enfermagem. 4. Insuficincia renal crnica.

    I. Ttulo.

    CDD 610.73

  • 5

    SUMRIO

    Pag.

    CONSIDERAES INICIAIS---------------------------------------------------------------------17

    OBJETIVO GERAL---------------------------------------------------------------------------------22

    OBJETIVOS ESPECFICOS-----------------------------------------------------------------------22

    FUNDAMENTAO TERICA-----------------------------------------------------------------24

    Sistematizao da Assistncia de Enfermagem-----------------------------------------------------24

    Concepes Tericas de Wanda de Aguiar Horta Teoria das Necessidades

    Humanas Bsicas------------------------------------------------------------------------------27

    Classificao Internacional para a Prtica de Enfermagem - CIPE-------------------33

    Doena Renal Crnica------------------------------------------------------------------------38

    Definio e Estadiamento-------------------------------------------------------------38

    Epidemiologia e Etiologia-------------------------------------------------------------40

    Fisiopatologia---------------------------------------------------------------------------42

    Sinais e Sintomas-----------------------------------------------------------------------44

    Manejo da DRC-------------------------------------------------------------------------48

    Terapia Renal Substitutiva------------------------------------------------------------49

    Qualidade de Vida----------------------------------------------------------------------51

    METODOLOGIA

    Tipo de Estudo---------------------------------------------------------------------------------54

    Elaborao das declaraes de diagnsticos com base nos termos constantes no

    Modelo dos Sete Eixos, da CIPE verso 2.-----------------------------------------------54

    Levantamento de literatura de referncia para embasamento da construo

    dos diagnsticos de enfermagem.----------------------------------------------------54

    Construo dos diagnsticos de enfermagem, a partir da literatura, utilizando

    os termos constantes na CIPE

    verso 2.-------------------------------------------55

    Distribuio dos diagnsticos de enfermagem elaborados de acordo com as

    Necessidades Humanas Bsicas.-----------------------------------------------------55

    Validao das declaraes de Diagnsticos de Enfermagem baseada na opinio de

    especialistas.------------------------------------------------------------------------------------56

    Populao do Estudo------------------------------------------------------------------56

  • 6

    Local do Estudo-------------------------------------------------------------------------56

    Coleta de Dados------------------------------------------------------------------------56

    Anlise de Dados-----------------------------------------------------------------------57

    Aspectos ticos--------------------------------------------------------------------------------57

    RESULTADOS E DISCUSSO-------------------------------------------------------------------58

    Declaraes de diagnsticos de enfermagem com base nos termos constantes no

    Modelo dos Sete Eixos, da CIPE verso 2.-----------------------------------------------58

    Literatura Referenciada---------------------------------------------------------------58

    Declaraes de Diagnsticos de Enfermagem-------------------------------------58

    Diagnsticos de Enfermagem conforme as Necessidades Humanas Bsicas.-77

    Validao das declaraes de Diagnsticos de Enfermagem baseada na opinio de

    especialistas.------------------------------------------------------------------------------------90

    CONSIDERAES FINAIS-----------------------------------------------------------------------94

    REFERNCIAS--------------------------------------------------------------------------------------96

    APNDICE A---------------------------------------------------------------------------------------103

    APNDICE B---------------------------------------------------------------------------------------104

    APNDICE C---------------------------------------------------------------------------------------111

    ANEXO A--------------------------------------------------------------------------------------------118

  • 7

    DEDICATRIA

    A realizao desse mestrado foi uma passagem em minha vida que veio

    acompanhada de profundas mudanas. To fortes e intensas que, por vezes, por muitas

    vezes, me amedrontaram a alma.

    Mas ao meu lado estavam a minha me e o meu marido, que tiveram toda pacincia

    do mundo. Deram-me muito carinho, fora, tranqilidade e amor. A fora dos dois me

    transmitiu serenidade e a certeza de que tudo daria certo.

    Enquanto cursava o mestrado, vivi a maior, melhor e mais intensa experincia da

    vida: a maternidade. Um amor to intenso que nenhuma palavra capaz de express-lo em

    sua magnitude.

    Por isso, este trabalho dedicado s pessoas mais importantes da minha vida:

    minha filha, minha me e meu marido. SOFIA, ME e JULIO tudo que fao por vocs e

    para vocs.

  • 8

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo...

    Deus.

    Senhor Tu s o bom pastor, eu sou a Tua ovelha.

    Em alguns dias estou sujo, em outros estou doente.

    Em alguns dias me escondo, em outros me revelo.

    Sou uma ovelha ora mansa, ora agitada.

    Sou uma ovelha ora perdida, ora reconhecida.

    Eu sou Tua ovelha, Senhor.

    Eu conheo a Tua voz, que s vezes a surdez toma conta de mim.

    Eu sou Tua ovelha Senhor.

    No permita que eu me perca, que eu me desvie do Teu rebanho.

    Mas se eu me perder, eu Te peo Senhor: Vem me encontrar! Amm!

    (Pe. Marcelo Rossi)

    Ao meu Protetor de todas as horas: So Judas Tadeu. Desde o nascimento me

    guardando e me guiando, intercedendo por mim junto a Jesus. Proporcionando-me uma

    vida repleta de aprendizados e felicidades. Pondo-me diante de desafios e pegando na

    minha mo para enfrent-los. Meu Protetor, que me guia por um caminho de conquistas,

    obrigada por mais esta etapa vencida!

    minha me. Sempre tive muito orgulho da minha me, uma mulher batalhadora

    que me criou sozinha e dedicou a sua vida para me fazer feliz. Hoje, aps a maternidade, a

    minha admirao e o meu agradecimento s aumentaram. Ser me no uma tarefa fcil,

    ser me solteira menos ainda. Minha me me ensinou tudo, me ensinou a batalhar por

    aquilo que desejo; a no desistir nas primeiras dificuldades; me ensinou a pedir desculpas e

    a desculpar; me ensinou o valor da honestidade; me ensinou que no adianta mentir, se

    voc no mente pra Deus; me ensinou a ter humildade; me ensinou o valor das coisas e

    das pessoas e que uma coisa - seja o que for- jamais valer mais que uma pessoa; me

    ensinou que o direito de um termina quando o do outro comea, me ensinou a ter F, me

  • 9

    ensinou que vai dar certo; e sobretudo me ensinou a amar a Deus. Obrigada minha me,

    por me ensinar a viver. Com voc ao me lado tudo fica bem mais fcil!

    Ao meu marido, meu Buda. Quanta pacincia, quanta serenidade e quanto amor.

    Voc meu cmplice, meu parceiro, meu amigo, meu amor. Voc assim, um sonho pra

    mim... Obrigada pelo incentivo e pela disponibilidade; obrigada por ficar feliz por ver a

    realizao dos meus sonhos; obrigada por dar valor ao meu trabalho, ao meu esforo e s

    minhas conquistas. Obrigada por rir de mim quando me desespero, seu sorriso me faz ver

    que tudo tem soluo. Obrigada pela famlia que formamos. Obrigada por me fazer to

    feliz! Amo muito voc.

    minha filha linda! Minha filha voc entrou na minha vida quando eu menos

    esperava e trouxe para mim o maior amor de todos. Obrigada por seu sorriso lindo,

    obrigada pelas noites de sono, obrigada por voc existir. Ainda bem que agora encontrei

    voc, eu realmente no sei o que eu fiz pra merecer voc.... Minha filha voc o maior

    presente e a maior conquista da minha vida, agradeo diariamente Deus por permitir que

    eu viva essa felicidade. Amo voc com tanta intensidade...

    minha famlia - meus tios, tias e primos - por torcerem e rezarem por mim. Por

    saber que posso contar com vocs sempre, mesmo que distantes. Por se fazerem presentes

    em minha vida acalmando meu corao e a saudade que sinto.

    s minhas amigas pernambucanas Ana Paula, Paula, Aline, Danielle, Katarina,

    Marta, Pollyanna e Waleska, por cultivarmos a mesma amizade de sempre. Vocs so as

    irms que eu no tive e eu amo muito vocs.

    famlia do meu marido que me acolheu com tanto amor fazendo com que a vida

    no Rio fosse mais feliz. Obrigada pela disponibilidade, pela torcida, pela presena e pelo

    carinho. Amo vocs.

    minha orientadora, Prof Dra. Ftima Helena do Esprito Santo, por conduzir este

    processo com tanta serenidade. Por me acolher e aceitar me orientar com tanto carinho. Ao

  • 10

    saber da minha gravidez voc foi pura delicadeza, preocupando-se comigo e com minha

    filha, jamais duvidando ou cobrando. Sempre com uma palavra de incentivo e de fora.

    Neste processo, voc me ensinou e praticou o cuidado de enfermagem. E foi sentido esse

    seu cuidado comigo que ficou mais fcil chegar ao fim desta dissertao.

    minha co-orientadora e amiga Prof Dra. Patricia dos Santos Claro Fuly. Amiga

    voc foi um encontro de almas. Nossa afinidade extrapolou a temtica estudada e se

    expandiu para o nosso dia a dia. Agradeo a voc pelas orientaes no mestrado, mas

    agradeo muito mais pelas orientaes de vida. Agradeo por me levar ao shopping pra me

    mostrar um mundo de lojas de criana e me dizer o que comprar, agradeo por fazer uma

    lista de tudo que iria precisar pra Sofia, agradeo por ligar pras lojas atrs de bico de

    silicone quando estava difcil amamentar, agradeo por me ouvir quando estava

    desesperada, agradeo por me fazer rir de ns mesmas. Mesmo com um dia a dia

    atribulado voc sempre encontrou um tempinho pra mim, sem falar nas caronas. Voc foi

    uma co-orientadora extraordinria, mas acima de tudo foi e sempre ser uma amiga

    especial e eu agradeo muito a Deus por esta parceria.

    Professora Dra. Telma Ribeiro Garcia, por aceitar participar da minha banca e

    contribuir de maneira to rica para a construo desse trabalho. A senhora um exemplo e

    uma inspirao pra mim.

    s Professoras Dra. Dalvani Marques e Marluci Stipp por aceitarem participar

    deste estudo.

    Coordenao do Mestrado Profissional em Enfermagem Assistencial.

    Rosane Paiva, secretria do MPEA, por atender a todos ns com tanto carinho,

    presteza e cordialidade.

    minha amiga Joyce Arimatia Branco pelo seu empenho em me ajudar durante a

    fase de coleta de dados deste trabalho. Voc foi incansvel.

  • 11

    s enfermeiras que participaram deste estudo, pela importante contribuio dada

    pesquisa e pela disponibilidade em responder ao questionrio com tanto afinco e

    dedicao.

    Direo de Enfermagem do Hospital Universitrio Antonio Pedro.

    Comisso de Educao Permanente do Hospital Universitrio Antonio Pedro.

    Equipe de Enfermagem do Centro de Terapia Intensiva do Hospital Universitrio

    Antonio Pedro

    Equipe de Enfermagem do Centro de Dilise do Hospital Universitrio Antonio

    Pedro

    Aos Professores do MPEA, pelas importantes contribuies dadas ao estudo e por

    seus ensinamentos em sala de aula.

  • 12

    RESUMO

    DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM PARA DOENA RENAL

    CRNICA

    Trata-se de um estudo descritivo que aborda os diagnsticos de enfermagem pertinentes a

    doena renal crnica. No estgio cinco da patologia torna-se necessrio o uso de uma

    terapia renal substitutiva e a convivncia com uma doena crnica traz diversas

    repercusses biolgicas, sociais e espirituais para o indivduo. O objetivo geral deste

    trabalho foi propor um conjunto de declaraes de diagnsticos de enfermagem para

    pacientes renais crnicos, no estgio cinco da doena, organizados de acordo com os

    conceitos da Teoria das Necessidades Humanas Bsicas de Wanda de Aguiar Horta. Os

    objetivos especficos foram identificar evidncias empricas da doena que subsidiassem a

    construo do conjunto de diagnsticos, elaborar as declaraes utilizando os termos

    constantes no Modelo de Sete Eixos da Classificao Internacional para a Prtica de

    Enfermagem CIPE

    Verso 2.0 e validar o conjunto de declaraes proposto, junto a

    especialistas. A busca de evidncias se deu atravs da base de dados LILCAS e as

    declaraes de diagnsticos foram construdas utilizando-se um termo do eixo Foco e um

    termo do eixo Julgamento, conforme recomendao da CIPE

    Verso 2.0. Em seguida, as

    declaraes foram apresentadas a um grupo de especialistas, composto por oito

    participantes, que responderam a um questionrio avaliando a pertinncia de cada

    declarao apresentada. Das 75 declaraes apresentadas, 68 (90%) obtiveram um ndice

    de concordncia 0,8, sendo, portanto consideradas vlidas para o doente renal crnico na

    fase cinco da doena renal crnica.

    DESCRITORES: Diagnstico de enfermagem, Processos de enfermagem, Insuficincia

    renal crnica

  • 13

    ABSTRACT

    NURSING DIAGNOSIS FOR CHRONIC KIDNEY DISEASE

    This is a descriptive study that addresses nursing diagnoses relevant to chronic kidney

    disease. In stage five of the pathology becomes necessary to use a renal replacement

    therapy and leaving with a chronic disease may cause various biological effects, social and

    spiritual needs for the individual. The aim of this study was to propose a list of statements

    of nursing diagnoses for chronic renal disease in stage five, in accordance with the Theory

    of Basic Human Needs of Wanda de Aguiar Horta. The specific objectives were to identify

    empirical evidence of the disease that subsidize the construction of the list of diagnoses,

    preparing statements using the terms listed in the Model Seven Axis International

    Classification for Nursing Practice ICNP Version 2.0 and validate the proposed list of

    statements, with experts. The search for evidence was made through the database LILCAS

    and explanations of diagnoses were constructed using a term of Focus axis and an another

    of Judgment axis, as recommended by the ICNP Version 2.0. Then the statements were

    presented to a group of experts, composed of eight participants, who completed a

    questionnaire assessing the relevance of each statement made. Of the 75 statements

    submitted, 68 (90%) had a concordance index 0.8 and is therefore considered valid for

    chronic kidney disease stage five chronic kidney disease.

    KEYWORDS: Nursing Diagnosis, Nursing Process, Renal Insufficiency Chronic

  • 14

    LISTA DE QUADROS

    QUADRO 1: SUBGRUPO DAS NECESSIDADES PSICOBIOLGICAS-----------------30

    QUADRO 2: SUBGRUPO DAS NECESSIDADES PSICOSSOCIAIS---------------------31

    QUADRO 3: SUBGRUPO DAS NECESSIDADES PSICOESPIRITUAIS-----------------32

    QUADRO 4: CATEGORIA TEMTICA DOS ARTIGOS SELECIONADOS------------58

    QUADRO 5: TERMOS DO EIXO FOCO PARA A SEO UREMIA E NEUROPATI-59

    QUADRO 6: DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM DA SEO UREMIA E

    NEUROPATIA---------------------------------------------------------------------------------------60

    QUADRO 7: TERMOS DO EIXO FOCO PARA A SEO DESEQUILBRIO

    HIDROELETROLTICO----------------------------------------------------------------------------61

    QUADRO 8: DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM DA SEO DESEQUILBRIO

    HIDROELETROLTICO----------------------------------------------------------------------------62

    QUADRO 9: TERMOS DO EIXO FOCO PARA A SEO OSTEODISTROFIA

    RENAL------------------------------------------------------------------------------------------------63

    QUADRO 10: DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM DA SEO OSTEODISTROFIA

    RENAL------------------------------------------------------------------------------------------------64

    QUADRO 11: TERMO DO EIXO FOCO PARA A SEO DIABETES MELITUS-----64

    QUADRO 12: DIAGNSTICO DE ENFERMAGEM DA SEO DIABETES

    MELITUS---------------------------------------------------------------------------------------------65

    QUADRO 13: TERMOS DO EIXO FOCO PARA A SEO HIPERTENSO

    ARTERIAL SISTMICA---------------------------------------------------------------------------66

    QUADRO 14: DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM DA SEO HIPERTENSO

    ARTERIAL SISTMICA---------------------------------------------------------------------------66

    QUADRO 15: TERMOS DO EIXO FOCO PARA A SEO DOENA

    CARDIOVASCULAR-------------------------------------------------------------------------------68

    QUADRO 16: DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM DA SEO DOENA

    CARDIOVASCULAR-------------------------------------------------------------------------------68

    QUADRO 17: TERMOS DO EIXO FOCO PARA A SEO DOENA ANEMIA------69

    QUADRO 18: DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM DA SEO ANEMIA-----------69

  • 15

    QUADRO 19: TERMO DO EIXO FOCO PARA A SEO INFECES NA DRC-----70

    QUADRO 20: DIAGNSTICO DE ENFERMAGEM DA SEO INFECES NA

    DRC----------------------------------------------------------------------------------------------------70

    QUADRO 21: TERMOS DO EIXO FOCO PARA A SEO NUTRIO NA DRC----71

    QUADRO 22: DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM DA SEO NUTRIO NA

    DRC----------------------------------------------------------------------------------------------------72

    QUADRO 23: TERMOS DO EIXO FOCO PARA A SEO FAMLIA E

    COTIDIANO------------------------------------------------------------------------------------------73

    QUADRO 24: DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM DA SEO FAMLIA E

    COTIDIANO------------------------------------------------------------------------------------------73

    QUADRO 25: TERMOS DO EIXO FOCO PARA A SEO SENTIMENTOS

    CONFLITANTES E ADESO AO TRTAMENTO--------------------------------------------75

    QUADRO 26: DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM DA SEO SENTIMENTOS

    CONFLITANTES E ADESO AO TRTAMENTO--------------------------------------------76

    QUADRO 27: TERMOS DO EIXO FOCO PARA A SEO ASPECTOS

    ESPIRITUAIS----------------------------------------------------------------------------------------76

    QUADRO 28: DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM DA SEO ASPECTOS

    ESPIRITUAIS----------------------------------------------------------------------------------------77

    QUADRO 29: DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM DISTRIBUDOS CONFORME

    AS NECESSIDADES PSICOBIOLGICAS----------------------------------------------------77

    QUADRO 30: DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM DISTRIBUDOS CONFORME

    AS NECESSIDADES PSICOSSOCIAIS---------------------------------------------------------86

    QUADRO 31: DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM DISTRIBUDOS CONFORME

    AS NECESSIDADES PSICOESPIRITUAIS----------------------------------------------------90

    QUADRO 32: NOVOS DIAGNSTICOS DE ENFERMAGEM----------------------------92

  • 16

    LISTA DE TABELA, FIGURA E GRFICO

    TABELA 1 ESTAGIAMENTO DA DOENA RENAL CRNICA----------------------40

    FIGURA 1 PROGRESSO DA DOENA RENAL CRNICA---------------------------44

    GRFICO 1 NDICE DE CONCORDNCIA DOS PARTICIPANTES DA

    PESQUISA--------------------------------------------------------------------------------------------91

  • 17

    LISTA DE SIGLAS

    SAE Sistematizao da Assistncia de Enfermagem

    CIPE Classificao Internacional para a Prtica de Enfermagem

    PE Processo de Enfermagem

    DRC Doena Renal Crnica

    COFEN Conselho Federal de Enfermagem

    NHB Necessidades Humanas Bsicas

    CIE Conselho Internacional de Enfermeiras

    SBN Sociedade Brasileira de Nefrologia

    SUS Sistema nico de Sade

    DATASUS Departamento de Informtica do Sistema nico de Sade

    LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade

    MEDLINE - Sistema Online de Busca e Anlise de Literatura Mdica

    EUA Estados Unidos da Amrica

    OMS Organizao Mundial de Sade

    HIV Vrus da Imunodeficincia Humana

    AIDS Sndrome da Imunodeficincia Adquirida

    AIH Autorizao de Internao Hospitalar

    ABEn Associao Brasileira de Enfermagem

    CIPESC - Classificao Internacional das Prticas de Enfermagem em Sade Coletiva

    TFG Taxa de Filtrao Glomerular

    TRS Terapia Renal Substitutiva

    HAS Hipertenso Arterial Sistlica

    DM Diabetes Melitus

    HDL Lipoprotena de Alta Densidade

    LDL Lipoprotena de Baixa Densidade

    HVE Hipertrofia Ventricular Esquerda

    HD Hemodilise

    FAV Fstula Arteriovenosa

    ANVISA Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

    DP Dilise Peritonial

    VEC Volume Extra Celular

  • 18

    PTH Hormnio Paratormnio

    PA Presso Arterial

    DCV Doena Cardiovascular

    EPO Eritropoetina

    QV Qualidade de Vida

  • 19

    CONSIDERAES INICIAIS

    Desde o Curso de Graduao, vivenciando os primeiros passos na Enfermagem, me

    questionava sobre a finalidade do meu trabalho e sobre qual seria o objeto central da minha

    profisso. Aos poucos fui aprendendo e percebendo que o cuidado era o meu objetivo

    principal e o bem estar do paciente, a minha meta. No entanto, algumas situaes sempre

    me causaram inquietao, tais como: a falta de uma organizao do cuidado e a

    insuficiente pr-atividade em um cuidado que no se antecipava ao problema, mas que

    emergia na urgncia do problema instalado.

    Outra questo que muito me angustiava era a impossibilidade de uma mensurao

    palpvel dos resultados da assistncia prestada, pois as aes desenvolvidas pela equipe de

    enfermagem ao longo de um dia de trabalho no eram registradas e dessa forma vrios

    cuidados implementados transformavam-se em lacunas, pela ausncia dos registros de

    enfermagem.

    Ao iniciar a Residncia de Enfermagem em Nefrologia na cidade de Recife, em um

    hospital universitrio, o qual passava por um processo de preparao para a implantao da

    Sistematizao da Assistncia de Enfermagem (SAE), senti que finalmente encontrara a

    resposta que faltava s incertezas da graduao. Apaixonei-me imediatamente pelo

    trabalho sistemtico, embora ainda sem ter a exata noo de sua complexidade. Associando

    essa nova experincia com a SAE, que vivenciava na residncia, ao trabalho com pacientes

    renais crnicos, elaborei um protocolo para a consulta de enfermagem para estes pacientes,

    j utilizando a Classificao Internacional para a Prtica de Enfermagem CIPE

    , como

    linguagem de escolha para a documentao destas consultas.

    Ao transferir-me para o Rio de Janeiro em 2007, continuei trabalhando com

    pacientes renais agudos e crnicos em centros privados de terapia renal. Entretanto, nessas

    instituies no havia qualquer registro do processo de enfermagem e esta temtica no se

    encontrava sedimentada entre os profissionais que faziam parte da equipe. Se o

    desconhecimento perpassava a equipe de enfermagem, mais ainda entre os administradores

    e proprietrios dos referidos centros. Portanto, era difcil argumentar quanto necessidade

    e vantagens de uma assistncia de enfermagem sistematizada.

    Assim, uma preocupao constante se fazia presente no meu dia a dia profissional:

    a certeza de um cuidado pouco abrangente s necessidades reais dos pacientes,

  • 20

    principalmente queles com Doena Renal Crnica. O convvio dirio com pacientes que

    iniciavam o procedimento dialtico sem qualquer noo da patologia que os acometia era

    uma realidade difcil, mesmo porque esse desconhecimento acompanhava uma doena

    crnica em que o paciente necessitava sobremaneira de adeso ao regime teraputico e de

    mudanas no estilo de vida. A meu ver, o PE poderia estimular a adeso ao tratamento e

    representava a possibilidade de um cuidado integral.

    A Doena Renal Crnica (DRC) caracteriza-se pela perda progressiva e irreversvel

    da funo renal. Este carter progressivo confere vrios estgios doena, que vo desde o

    estgio 1, caracterizado pela leso renal inicial sem qualquer sintomatologia, ao estgio 5,

    em que se faz necessrio a utilizao de uma terapia renal substitutiva. Neste estgio final

    da doena, vrios rgos e sistemas so afetados e as complicaes que surgem, vo para

    alm dos sintomas clnicos. Uma nova dinmica de vida se faz, ento, necessria

    envolvendo a famlia e uma enorme capacidade de adaptao desta s novas exigncias de

    sade do paciente. Portanto, tanto a adeso do indivduo quanto da famlia essencial para

    o sucesso da terapia instituda1,2

    .

    Sempre senti um enorme desejo de trabalhar com pacientes renais crnicos, de

    desenvolver com eles um trabalho que permitisse abranger a totalidade das suas

    necessidades e, aps um perodo reflexivo, iniciei a busca para a concretizao deste

    desejo. Vislumbrei, novamente, a possibilidade de associar o trabalho com pacientes renais

    crnicos a uma temtica que muito contribui para o aprimoramento e reconhecimento da

    minha prtica profissional: o Processo de Enfermagem. Pois, penso que a aplicao deste

    agrega valor prtica assistencial e interfere de forma direta na qualidade do cuidado

    prestado ao paciente.

    A Sistematizao da Assistncia de Enfermagem (SAE), atravs do uso de uma

    metodologia cientfica, possibilita a aplicao do Processo de Enfermagem (PE), que

    permite identificar, de forma individualizada, as necessidades de sade-doena de cada

    paciente e os cuidados de enfermagem apropriados3, alm de prover as informaes

    necessrias ao processo decisrio do enfermeiro no gerenciamento da assistncia e da

    equipe de enfermagem4.

    A necessidade de uma metodologia assistencial reconhecida pelo Conselho

    Federal de Enfermagem (COFEN) mediante a Resoluo 358/2009 que dispe sobre a

    regulamentao da SAE e implantao do PE. Por esta Resoluo, todos os ambientes de

  • 21

    sade que oferecerem cuidados de enfermagem, sejam eles pblicos ou privados, devero

    adotar o PE5.

    A Resoluo orienta ainda a organizao do PE em cinco etapas dinmicas e inter-

    relacionadas: a coleta de dados, o diagnstico de enfermagem, o planejamento, a

    implementao e a avaliao de enfermagem. Estas devem ser construdas com base em

    uma teoria de enfermagem que norteie todas as etapas do processo5.

    As teorias de enfermagem proporcionam uma fundamentao prtica profissional

    e fornecem um direcionamento para o fazer, para a educao e para a pesquisa em

    enfermagem. Uma teoria descreve ou explica as aes que o enfermeiro realiza6.

    Para o desenvolvimento de um trabalho que permitisse a aplicao do Processo de

    Enfermagem aos pacientes renais crnicos no atendimento de todas as suas necessidades,

    entendemos que a Teoria das Necessidades Humanas Bsicas (NHB) de Wanda Aguiar

    Horta adequada, uma vez que agrupa as necessidades em psicobiolgicas, psicossociais e

    psicoespirituais compreendendo toda a ordem de problemas possveis aos pacientes, que

    necessitam conviver com uma doena crnica, portanto modificadora de hbitos e estilos

    de vida dos mesmos.

    A Teoria de Wanda Horta, desenvolvida a partir da Teoria da Motivao de

    Maslow, entende a Enfermagem como sendo a cincia que assiste ao ser humano em suas

    necessidades bsicas, contribuindo para torn-lo independente desta assistncia, quando

    possvel. A atuao do profissional de enfermagem busca a promoo, manuteno e

    recuperao da sade, devendo estimular o cliente a assumir o cuidado de si7.

    A documentao do Processo de Enfermagem facilitada pelo uso dos sistemas de

    classificao dos elementos da prtica profissional diagnsticos, intervenes e

    resultados de enfermagem utilizados pelos enfermeiros. Em 1989, o Conselho

    Internacional de Enfermagem (CIE) estabeleceu a criao da Classificao Internacional

    para a Prtica de Enfermagem CIPE

    , que tem por objetivo servir como instrumento para

    a descrio e documentao da prtica da enfermagem, auxiliar a tomada de deciso clnica

    e dar suporte a profisso com um sistema de classificao que facilite os registros

    profissionais em sistemas informatizados, atravs de uma linguagem unificada e com

    abrangncia internacional. O uso da CIPE

    contempla todos os elementos do processo de

    deciso clnica do enfermeiro: o que fazer (intervenes) em funo das necessidades

    humanas apresentadas (diagnsticos) para alcanar um resultado satisfatrio (resultados)8.

  • 22

    A CIPE

    verso 2.0 o formato impresso mais atual da CIPE, tendo sido proposta

    pelo CIE em 2009 e chegado ao Brasil em 2011. Sua composio formada por sete (7)

    eixos: Foco, Julgamento, Meios, Ao, Tempo, Localizao e Cliente. Estes eixos

    permitem a criao de catlogos CIPE que se constituem em subconjuntos de declaraes

    sobre diagnsticos, intervenes e resultados de enfermagem com propsitos especficos

    para uma rea de especialidade. Estes catlogos podero suprir necessidades prticas,

    atravs de sua utilizao para registro manual ou sua aplicao a pronturios eletrnicos9.

    O Conselho Internacional de Enfermagem (CIE) estimula a criao destes catlogos

    por entender que enfermeiros necessitam de um conjunto relevante de declaraes pr-

    coordenadas de diagnsticos, intervenes e resultados de enfermagem em mos para

    facilitar a documentao do cuidado. Sendo assim, o CIE tem sugerido algumas reas

    como prioritrias para a criao destes catlogos: Aderncia ao tratamento; Sade mental

    (iniciando com meninas adolescentes); Doena cardiovascular (iniciando com insuficincia

    cardaca congestiva); HIV/AIDS (iniciando com atendimento domiciliar); Oncologia;

    Enfermagem familiar; Sade da Mulher e Incontinncia Urinria10

    .

    O estmulo construo dos catlogos CIPE, por parte do CIE, aponta a

    possibilidade de relacionar os Diagnsticos de Enfermagem aplicveis aos pacientes renais

    crnicos no estgio final da doena, quando j carecem de terapia renal substitutiva. E

    assim, atend-los em toda sua complexidade, desde os diagnsticos de enfermagem

    relacionados aos aspectos biolgicos at queles relacionados s suas necessidades sociais

    e espirituais.

    De acordo com o censo 2010 realizado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia

    (SBN), existem, no Brasil, 49.077 pacientes em terapia renal substitutiva nos centros de

    dilise que responderam ao questionrio da Sociedade, 53,3% de todos os centros

    cadastrados pela SBN. A estimativa, no entanto, de que haja em torno de 92.091

    pacientes em tratamento dialtico no pas. Deste total, 85,8% so atendidos pelo Sistema

    nico de Sade (SUS) e de acordo com dados do DATASUS, foram gastos em 2010

    R$176.193.812,92 com internaes por Insuficincia Renal, no diferenciando, no entanto,

    se aguda ou crnica11,12

    .

    O atendimento multidisciplinar ao paciente renal crnico em fase terminal

    primordial para garantir a adeso do mesmo e o consequente sucesso do tratamento. Nesta

    perspectiva, a aplicao sistemtica do conhecimento do enfermeiro atravs do Processo de

  • 23

    Enfermagem permite um cuidado individualizado e mais qualificado, contribuindo para a

    visibilidade da profisso enquanto participante ativa da produo de bem estar do doente

    renal crnico.

    O trabalho desenvolvido, ao longo dos meus anos de formao, com pacientes

    renais crnicos e a minha compreenso acerca da necessidade de sistematizao do

    trabalho da enfermagem permitindo a documentao de sua prtica me motivaram no

    desenvolvimento deste estudo.

    Cabe, neste momento, ressaltar os motivos profissionais pelos quais fiz uma

    escolha pela CIPE. Entendo a mesma como uma linguagem verstil, que permite adequar-

    se s diversas realidades e culturas respeitando suas singularidades e particularidades. Ao

    mesmo tempo tambm vejo a possibilidade de padronizao dessa versatilidade, o que

    pode parecer um paradoxo, a meu ver consiste numa das principais qualidades da CIPE.

    Some-se a isto a praticidade de sua utilizao, principalmente com a construo de

    catlogos especficos e a maior facilidade de adequao a sistemas informatizados.

    Com o objetivo de identificar os estudos que abordam os diagnsticos e

    intervenes de enfermagem para pacientes renais crnicos produzidos na literatura, foi

    realizado um levantamento nas bases de dados LILACS e MEDLINE, sem recorte

    temporal e com artigos disponveis na ntegra. Da pesquisa, resultaram, apenas, quatro

    artigos. Dois deles trazem os diagnsticos de enfermagem para pacientes em hemodilise,

    um refere-se aos diagnsticos para pacientes transplantados e um aborda as intervenes de

    enfermagem para pacientes em hemodilise. Ressalta-se, portanto, a necessidade de

    pesquisas que descrevam os diagnsticos e as intervenes de enfermagem aplicveis aos

    pacientes renais crnicos, abrangendo todas as suas necessidades de cuidados.

    A realizao desta pesquisa se justifica pela necessidade de uma abordagem

    integral aos pacientes renais crnicos, bem como pela emergncia de padronizao da

    linguagem prtica da Enfermagem. A construo de um conjunto de diagnsticos de

    enfermagem para pacientes renais crnicos em estgio terminal, ao mesmo tempo, permite

    a individualizao do cuidado e a documentao da prtica profissional. A adoo do

    processo de enfermagem permite a mensurao de indicadores que, quando satisfatrios,

    do uma visibilidade positiva ao trabalho da enfermagem e promovem uma melhoria

    assistencial.

  • 24

    Para direcionamento deste trabalho, definiu-se como questo norteadora: Quais

    diagnsticos de enfermagem podem ser identificados segundo as necessidades humanas de

    pacientes renais crnicos, no estgio cinco da doena?

    Para desenvolvimento do estudo foram estabelecidos como objetivos:

    OBJETIVO GERAL

    Propor um conjunto de declaraes de Diagnsticos de Enfermagem para pacientes

    renais crnicos, no estgio cinco da doena, organizados de acordo com a Teoria

    das Necessidades Humanas Bsicas de Wanda de Aguiar Horta.

    OBJETIVOS ESPECFICOS

    Identificar evidncias da doena renal crnica estgio cinco, na literatura, que

    subsidiem a construo de um conjunto de diagnsticos de enfermagem.

    Elaborar, utilizando os termos constantes no Modelo de Sete Eixos da CIPE

    Verso 2.0, declaraes de Diagnstico de Enfermagem para pacientes renais

    crnicos, no estgio cinco da doena.

    Validar o conjunto de declaraes de diagnsticos de enfermagem proposto, junto a

    especialistas.

    Este estudo apresenta relevncia para o ensino, a pesquisa e principalmente para a

    prtica profissional, uma vez que busca a construo de um rol de diagnsticos de

    enfermagem utilizando a CIPE, uma linguagem adotada mundialmente. um campo a ser

    explorado que poder contribuir para o progresso da enfermagem enquanto profisso e

    cincia em construo. Considerando que este rol poder orientar assertivamente a

    construo de intervenes de enfermagem, bem como promover um cuidado integral e

    individual.

    Para o ensino, o conjunto pode facilitar a aprendizagem a cerca da doena renal

    crnica e suas repercusses para a sade do indivduo, medida que ele oferece ao aluno a

    possibilidade de visualizao do impacto da doena na sade do paciente como um todo.

  • 25

    No plano da pesquisa, identifica-se uma lacuna no conhecimento no que se refere

    ao uso de uma linguagem padronizada para a descrio e registro da doena renal. Nesse

    sentido, este estudo pretende contribuir, propondo um conjunto de diagnsticos com uma

    linguagem padronizada.

  • 26

    FUNDAMENTAO TERICA

    Sistematizao da Assistncia de Enfermagem

    A primeira publicao sobre a sistematizao da assistncia de enfermagem no

    Brasil aconteceu em 1967 na Revista Brasileira de Enfermagem, num artigo de autoria de

    Wanda de Aguiar Horta, que considerada a precursora desta temtica na enfermagem

    brasileira. Para Horta, era necessrio sistematizar o pensamento e raciocinar para levantar

    problemas13

    .

    J na dcada de 1970, Horta defendia o diagnstico de enfermagem, pois uma vez

    que o enfermeiro delegava funes, estas deveriam ocorrer de maneira sistematizada. Alm

    disso, o empirismo era considerado antieconmico indo de encontro a uma prtica de

    enfermagem que exigia cada vez mais conhecimento e reflexo. A idia do plano de

    cuidados tambm j comeava a ser disseminada, pois desde 1964 o seu ensino era pr-

    requisito bsico para o estgio prtico do Curso de Graduao da Escola de Enfermagem

    da Universidade de So Paulo (USP) 13

    .

    As dcadas de 1960 a 1980 foram caracterizadas pela prtica curativa da sade que

    estimularam a expanso hospitalar, o que influenciou diretamente na formao de um

    enfermeiro que privilegiava o acompanhamento dos avanos tecnolgicos em detrimento

    do cuidado direto ao paciente e do planejamento da assistncia, uma vez que era este tipo

    de profissional que interessava s instituies hospitalares. No entanto, progressos tambm

    aconteceram e, em 25 de junho de 1986, foi assinada a Lei 7.498 que regulamentava a

    prescrio de enfermagem e a consulta de enfermagem como responsabilidades do

    enfermeiro13

    .

    Em 1999 o Conselho Regional de Enfermagem So Paulo publicou a

    DIR/008/1999 que normatizou a implementao da sistematizao da assistncia de

    enfermagem nas unidades de sade e previu como atividade privativa do enfermeiro a

    implantao, o planejamento, a organizao, execuo e avaliao do Processo de

    Enfermagem14

    .

    Em 2002 o Conselho Federal de Enfermagem COFEN- publicou a Resoluo

    272/2002 que regulamentava a implantao da SAE em todos os estados da Federao,

    considerando-a como prtica de um processo de trabalho adequado s necessidades da

    comunidade e modelo assistencial a ser aplicado15

    . Em 2009, uma nova Resoluo foi

  • 27

    publicada, a Resoluo 358/2009, aparando as lacunas deixadas pela resoluo anterior. A

    partir desta, ficou estabelecido que o Processo de Enfermagem deveria basear-se em uma

    teoria de enfermagem e ser liderado pelo enfermeiro sendo privativo deste profissional o

    diagnstico e a prescrio de enfermagem5.

    A Resoluo 358/2009 tambm reconhece as fases que compem o processo de

    enfermagem, a saber: Coleta de dados de Enfermagem, Diagnstico de Enfermagem,

    Planejamento de Enfermagem, Implementao e Avaliao de Enfermagem5.

    A Coleta de dados de Enfermagem tem como objetivo a obteno de informaes

    do processo sade-doena que subsidiem a formulao dos diagnsticos de enfermagem. O

    Diagnstico de Enfermagem, por sua vez, a interpretao dos dados coletados

    formulando proposies que subsidiaro a tomada de deciso do enfermeiro e nortearo as

    intervenes propostas. J o Planejamento de Enfermagem consiste na fase de

    determinao dos resultados que se pretende alcanar e das aes necessrias para este

    fim5.

    Posteriormente, tem-se a fase de Implementao na qual as aes propostas so

    colocadas em prtica. Finalizando o processo ocorre a etapa de Avaliao de Enfermagem,

    quando certifica-se do alcance dos resultados propostos na fase de planejamento e, se

    necessrio, reformula-se as aes propostas. As fases do processo de enfermagem so

    inter-relacionadas, dinmicas e contnuas5.

    Em 1979, no prefcio do seu livro, Wanda de Aguiar Horta j ressaltava os

    benefcios do cuidado sistematizado nos EUA. L, os servios de auditoria hospitalar

    valorizavam a aplicao do PE e creditavam as Instituies que o utilizavam. Era a

    maioridade da profisso. J o Brasil, encontrava-se nas fases iniciais de implantao, e para

    Horta este fato devia-se a literatura insuficiente disponvel sobre o assunto7.

    Apesar de toda mobilizao do COFEN para garantir a documentao do PE nas

    unidades de sade, e 32 anos aps a publicao do livro de Wanda Horta, este ainda no

    uma realidade na maioria das instituies brasileiras. Estudo desenvolvido no Rio de

    Janeiro em 27 centros de terapia intensiva constatou que em nenhum deles as etapas do

    Processo de Enfermagem estavam formalmente registradas, nem mesmo a fase do

    diagnstico de enfermagem. O que pode estar associado a razes culturais, ausncia de

    preparo dos profissionais e at mesmo falta de credibilidade dada por eles metodologia

    aplicada ao processo16

    .

  • 28

    O desconhecimento profissional percebido na utilizao confusa dos conceitos de

    sistematizao da assistncia de enfermagem, processo de enfermagem e metodologia da

    assistncia que por vezes so utilizados como sinnimos e outras vezes como conceitos

    contrrios. Esta falta de apropriao dos conceitos pode contribuir para a no

    documentao do processo de enfermagem17

    .

    Neste trabalho entendemos os trs conceitos como distintos. A SAE vista no

    mbito da instituio, de forma mais ampla e diz respeito organizao necessria

    implantao do processo de enfermagem. J o processo de enfermagem refere-se a uma

    ferramenta que subsidia o enfermeiro na aplicao do seu conhecimento. E a metodologia

    da assistncia consiste no modo de fazer, que pode variar de acordo com o referencial

    terico adotado17

    .

    Mesmo aps quatro dcadas de introduo do conceito de sistematizao da

    assistncia de enfermagem no Brasil, sua implantao, vai alm do exclusivo desejo de que

    ela acontea. necessrio um reconhecimento da realidade institucional que perpassa pela

    estrutura poltica e fsica, pelas metas e objetivos apresentados e pela coerncia com a

    misso da instituio18

    .

    Estudo realizado para subsidiar a implantao da SAE em um hospital escola

    identificou que 63% dos enfermeiros entrevistados conheciam o processo de enfermagem

    apenas na teoria e 18% nunca haviam estudado a temtica. Quando perguntados sobre os

    problemas decorrentes da ausncia de uma metodologia assistencial, as principais respostas

    foram: o comprometimento da qualidade da assistncia, a desorganizao do servio, o

    conflito de papis, a desvalorizao dos profissionais enfermeiros, o desgaste dos recursos

    humanos e a perda de tempo. O que demonstra que, apesar da no aplicar o PE de maneira

    sistemtica, os enfermeiros reconheciam que o mesmo poderia contribuir para melhorar

    sua dinmica de trabalho19

    .

    Outra pesquisa realizada com enfermeiros de um hospital em So Paulo questionou

    quais as dificuldades e facilidades destes profissionais com a execuo das fases do

    processo de enfermagem em seu local de trabalho. Dos entrevistados 28,7% relataram

    dificuldades com a coleta de dados, 58,5% com a fase de diagnsticos, 32% com o

    planejamento da assistncia, 23,2% com a prescrio e 34,2% com a evoluo de

    enfermagem. Dificuldade com a realizao do exame fsico foi pontuado por 46,8% dos

    entrevistados. A principal facilidade apontada foi o conhecimento terico e prtico para

  • 29

    execuo do processo. Este estudo observou que a implantao e continuidade do processo

    de enfermagem esto associadas capacitao dos profissionais e a conscientizao que

    estes possuem acerca da relevncia deste processo20

    .

    A implantao do PE em um Centro de Terapia Intensiva de Curitiba contribuiu

    para a melhoria da qualidade da assistncia de enfermagem, para a visibilidade e

    consolidao profissional, tendo sido constatados benefcios diretos ao paciente e tambm

    instituio. Os gastos resultantes da desorganizao do trabalho diminuram e a

    comunicao entre a equipe melhorou impulsionados por uma documentao mais

    eficiente.3

    Os profissionais de enfermagem tendem a valorizar a realizao de tcnicas e

    procedimentos, entendendo a aplicao do PE como algo secundrio, deixado para

    segundo plano em funo das diversas atividades a serem realizadas. Estes profissionais

    possuem dificuldades em lidar com inovaes tecnolgicas e em entender o PE como

    instrumento tecnolgico para o cuidado21

    . A compreenso do PE como instrumento

    tecnolgico permite sua identificao como ferramenta que favorece o ambiente do

    cuidado e cria as condies necessrias aos registros das aes realizadas. O PE precisa ser

    entendido como uma ferramenta que permite identificar e at se antecipar s necessidades

    de sade do indivduo, famlia e comunidade. Ou seja, o PE necessita ser incorporado pela

    equipe enquanto ferramenta facilitadora do dia-a-dia e no competidora deste trabalho22

    .

    Concepes Tericas de Wanda de Aguiar Horta Teoria das Necessidades Humanas

    Bsicas

    O uso da teoria de enfermagem norteia o desvelar da natureza e da vida e embasa a

    construo do conhecimento da profisso23

    . As teorias exercem um suporte epistemolgico

    essencial construo do saber e prtica profissional na medida em que orientam os

    modelos clnicos da enfermagem, permitem a descrio e explicao da realidade

    assistencial e auxiliam a composio da trade teoria pesquisa prtica24

    .

    A aplicao da teoria de enfermagem uma necessidade crescente dos

    enfermeiros, que esto tentando superar a dicotomia entre teoria e prtica buscando

    associ-las cada dia mais. Entende-se que o seu uso auxilia no conhecimento da realidade,

    ajuda a definir papis e promove uma adequao e qualificao do desempenho

    profissional. As teorias provocam um questionamento das prticas vigentes apontando para

  • 30

    uma nova abordagem que culmina com uma assistncia ampla ao cliente e seus familiares

    em suas necessidades bio-psico-scio-espirituais25

    .

    A Teoria de Enfermagem fornece a fundamentao necessria aplicao do

    Processo de Enfermagem, dando a este um carter cientfico que facilita a tomada de

    deciso do enfermeiro conferindo-lhe uma prtica segura e resolutiva. Uma das

    inquietaes de Wanda Horta, que a levou a trabalhar no desenvolvimento de suas

    concepes tericas, foi a percepo de que o corpo de conhecimentos da enfermagem

    derivava da experincia profissional e esta, no entanto, era desorganizada e no seguia uma

    metodologia cientfica26,27

    .

    Portanto, ao desenvolver suas concepes tericas sobre as Necessidades Humanas

    Bsicas, Wanda Horta acreditava que a Enfermagem saa da fase emprica em direo

    cincia e atravs do desenvolvimento de teorias e da sistematizao dos seus

    conhecimentos tornar-se-a uma cincia cada dia mais independente. Procurou explicar a

    natureza da enfermagem, definir seu campo de ao e sua metodologia cientfica5.

    Para Horta, a autonomia profissional s ser adquirida no momento em que toda a

    classe passar a utilizar a metodologia cientfica em suas aes, o que s ser alcanado pela

    aplicao sistemtica do processo de enfermagem 7:VII

    .

    Para construo de sua Teoria, Horta utilizou leis gerais e globais que regem

    fenmenos universais, foram elas: As Leis do Equilbrio (homeostase e homodinmica)

    que falam na manuteno do universo pela existncia de um equilbrio dinmico entre os

    indivduos; A Lei da Adaptao, pela qual os indivduos buscam interagir com o universo

    buscando adaptar-se a este e A Lei do Holismo que considera que o todo no meramente

    a soma de suas partes, mas o conjunto destas7,27

    .

    No mbito da enfermagem, Horta definiu trs seres: o Ser-Enfermeiro, enquanto ser

    humano, com todas as suas potencialidades e restries, que decidiu participar da vida

    abraando o ofcio da enfermagem e com isso obteve da sociedade a licena para cuidar do

    outro. O Ser-Paciente - indivduo, famlia ou comunidade que necessita de cuidados em

    alguma etapa do seu ciclo sade-enfermidade. E, por ltimo, o Ser-Enfermagem que surge

    da interao entre o Ser-Enfermeiro e o Ser-Paciente, no existindo sem um destes

    ltimos7.

    Ao se analisar os metaparadigmas que compem uma teoria de enfermagem ser

    humano, ambiente, sade e enfermagem - observa-se a descrio e apresentao destes

  • 31

    quatro conceitos na Teoria de Horta. No entanto, no ficaram estabelecidas proposies

    claras sobre a relao entre eles. Estas relaes se do de maneira implcita, quando, por

    exemplo, ela apresenta o ser humano como parte integrante do universo27

    .

    Wanda Horta estabeleceu o conceito de enfermagem: Enfermagem a cincia e a

    arte de assistir o ser humano no atendimento de suas necessidades bsicas, de torn-lo

    independente desta assistncia, quando possvel, pelo ensino do autocuidado; de recuperar,

    manter e promover a sade em colaborao com outros profissionais7:29

    . A partir da

    definio de enfermagem, Horta definiu o que seria Assistir em Enfermagem: fazer pelo

    ser humano aquilo que ele no pode fazer por si mesmo, ajudar ou auxiliar, quando

    parcialmente impossibilitado de se autocuidar, orientar ou supervisionar e encaminhar a

    outros profissionais7:30

    .

    Elaborou, tambm, proposies dentre as quais inferiu as funes do enfermeiro em

    trs reas distintas: a rea Especfica, com atuao direta sobre o paciente ou tornando-o

    independente desta assistncia pelo ensino do autocuidado; a rea de Interdependncia, em

    que atua em colaborao com a equipe de sade buscando a promoo, manuteno e

    recuperao da sade; e a rea Social, na qual atua como sujeito de uma sociedade,

    exercendo atividades de ensino e pesquisa7,27

    .

    Numa outra proposio, Horta discute o que so as necessidades humanas bsicas,

    como estas so afetadas pelos desequilbrios e a partir destes como se deve prestar a

    assistncia de enfermagem. Desta proposio, surgem alguns princpios: a enfermagem

    deve respeitar a individualidade do ser humano, entendendo-o como um ser nico; ao

    assistir um paciente, a enfermagem deve preocupar-se com o indivduo e no com sua

    patologia; ou cuidados realizados pela enfermagem devem visar preveno, cura e

    reabilitao; o ser humano deve ser entendido como parte de uma famlia e de uma

    comunidade; e por fim, a enfermagem deve ter em mente que o indivduo um elemento

    participante do seu autocuidado7,27

    .

    Para construo de sua Teoria, Horta baseou-se na Teoria da Motivao Humana,

    de Maslow, bem como no referencial de Joo Mohana. A primeira consiste na

    hierarquizao das necessidades humanas bsicas em fisiolgicas, de segurana, de amor,

    de estima e de auto-realizao. Para satisfazer o nvel seguinte, o ser humano precisa de

    uma satisfao mnima do nvel anterior, e a satisfao completa ou permanente de uma

  • 32

    necessidade no pode ser alcanada, pois assim o ser humano perderia sua capacidade

    peculiar de motivar-se7.

    O segundo referencial utilizado por Horta, para a criao de sua teoria, foi a

    denominao de Joo Mohana para as necessidades humanas. Este as agrupou em

    necessidades psicobiolgicas, psicossociais e psicoespirituais, sendo estas ltimas

    exclusivas dos seres humanos. Acredita-se que Horta tenha optado por esta denominao,

    em funo do aspecto psicolgico que perpassa todas as necessidades e estas esto

    intimamente relacionadas, uma vez que fazem parte de um todo indivisvel: o ser

    humano7,27

    .

    O ser humano, que faz parte do universo, est sujeito s mudanas e desequilbrios

    deste. Quando estes ocorrem, o indivduo apresentar uma necessidade que pode evoluir

    para uma doena, caso no seja atendida prontamente ou corretamente. A manifestao

    desta necessidade requer a assistncia de enfermagem com o objetivo de restabelecer o

    equilbrio danificado7.

    As Necessidades Psicobiolgicas, apresentadas no quadro 1, so aquelas que

    emergem inconscientemente do nvel psicobiolgico do homem, sem planejamento prvio.

    So manifestadas pela necessidade de se alimentar, de se banhar, de repousar e assim por

    diante. Este grupo divide-se em 16 subgrupos27,28

    :

    QUADRO 1 SUBGRUPO DAS NECESSIDADES PSICOBIOLGICAS

    SUBGRUPO CONCEITO

    1-Regulao

    Neurolgica

    Necessidade de preservao ou restabelecimento do sistema

    nervoso, tendo por objetivo manter a coordenao e o controle

    das atividades do corpo, alm de alguns aspectos do

    comportamento.

    2-Percepo dos

    rgos dos Sentidos

    Necessidade de percepo do meio, utilizando os estmulos

    nervosos, assim possvel interagir com os outros e com o meio

    ambiente.

    3-Oxigenao Necessidade de obteno de oxignio por meio da ventilao, da

    difuso de oxignio e dixido de carbono pelos alvolos e pelo

    sangue, necessidade de transporte de oxignio para os tecidos

    perifricos bem como da remoo de dixido de carbono destes e

    necessidade de regulao da respirao com o objetivo de

    produo de energia e manuteno da vida.

    4-Regulao Vascular Necessidade de transporte de nutrientes vitais, atravs do sangue,

    para os tecidos, removendo destes as substncias desnecessrias.

    Tem, por objetivo, a manuteno da homeostase dos lquidos

  • 33

    corporais e a sobrevivncia do organismo.

    5-Regulao Trmica Necessidade de manuteno da temperatura central entre 36 e

    37,3C, mantendo um equilbrio entre produo e perda de

    energia trmica.

    6-Hidratao Necessidade de manuteno de um bom nvel de lquidos

    corporais, composto principalmente pela gua, objetivando

    favorecer o metabolismo corporal.

    7-Alimentao Necessidade de obteno dos alimentos, a fim de nutrir o corpo e

    manter a vida.

    8-Eliminao Necessidade de eliminao das substncias indesejveis ou

    excessivas ao organismo, mantendo a homeostase corporal.

    9-Integridade Fsica Necessidade de manuteno da elasticidade, sensibilidade,

    vascularizao, umidade e colorao do tecido epitelial,

    subcutneo e mucoso, objetivando a proteo do corpo.

    10-Atividade Fsica Necessidade de movimentao intencional, atravs do uso da

    capacidade de controle e relaxamento dos grupos musculares,

    com objetivo de evitar leses tissulares, exercitar-se, trabalhar,

    entre outros.

    11-Cuidado Corporal Necessidade de preservao do asseio corporal, atravs de aes

    deliberadas, responsveis e eficazes.

    12-Segurana

    Fsica/Meio ambiente

    Necessidade de manuteno do meio ambiente livre de agentes

    agressores, com objetivo de preservar a integridade

    psicobiolgica.

    13-Sexualidade Necessidade de integrar aspectos somticos, emocionais,

    intelectuais e sociais do ser, com o objetivo de obter prazer

    atravs do ato sexual com um parceiro ou parceira e com isso

    procriar.

    14-Regulao:

    crescimento celular

    Necessidade de multiplicao celular e crescimento tecidual

    dentro dos padres da normalidade, com o objetivo de

    crescimento e desenvolvimento.

    15-Teraputica Necessidade de buscar auxlio profissional para promover,

    manter e recuperar a sade.

    As Necessidades Psicossociais, apresentadas no quadro 2, so as que emergem dos

    instintos psicossociais, como a necessidade de estabelecer comunicao com outros

    indivduos, conviver em sociedade e afirmar-se perante si e perante os outros. Esta

    categoria se subdivide em 11 subcategorias27,28

    :

    QUADRO 2 SUBGRUPO DAS NECESSIDADES PSICOSSOCIAIS

    SUBGRUPO CONCEITO

    1-Comunicao Necessidade de enviar e receber mensagens, utilizando a

    linguagem verbal e no verbal. Buscando, desta forma, interagir

    com ou outros.

    2-Gregria e lazer Necessidade de realizar trocas sociais, atravs da interao com

  • 34

    os outros.

    3-Recreao e lazer Necessidade de entretenimento, diverso e distrao.

    4-Segurana

    emocional

    Necessidade de confiar nos outros, nos sentimentos que os outros

    possuem em relao a si, sentindo-se seguro emocionalmente.

    5-Amor e aceitao Necessidade de ter sentimentos e emoes em relao ao outro,

    com o objetivo se ser aceito em grupos e em famlia.

    6-Auto-estima,

    autoconfiana e auto-

    respeito

    Necessidade de sentir-se capaz para enfrentar os desafios que a

    vida prope. Ter confiana, respeito e valorizar-se a si prprio.

    Reconhecer-se enquanto merecedor de amor e felicidade.

    Capacidade de perceber-se como o centro vital da prpria

    existncia.

    7-Liberdade e

    participao

    Necessidade de agir de acordo com os seus prprios valores,

    respeitando, porm, as regras impostas pela vida em sociedade.

    Necessidade de preservao da autonomia.

    8-Educao para

    sade/ aprendizagem

    Necessidade de adquirir conhecimentos e habilidades para

    manuteno de uma vida saudvel.

    9-Auto-realizao Necessidade de conseguir aquilo que foi planejado e pensado

    para si prprio, atravs do uso de suas capacidades fsicas,

    mentais, emocionais e sociais.

    10-Espao Necessidade de manuteno da sua privacidade e individualidade,

    expandido ou retraindo o espao fsico em que se encontra.

    11-Criatividade Necessidade de criar, ter idias, produzir coisas novas.

    As Necessidades Psicoespirituais, apresentadas no quadro 3, representam a

    necessidade que o homem possui de ultrapassar os limites de sua experincia neste mundo.

    Esta necessidade representada por apenas 01 categoria27,28

    :

    QUADRO 3 SUBGRUPO DAS NECESSIDADES PSICOESPIRITUAIS

    SUBGRUPO CONCEITO

    Religiosidade/Espiritualidade Necessidade inerente aos seres humanos que se vincula

    aos fatores necessrios para o estabelecimento de uma

    relao entre a pessoa e um ser ou entidade superior com o

    objetivo de sentir bem estar espiritual. Lembrando que

    espiritualidade no o mesmo que religio.

    Para Horta, a aplicao prtica deste modelo conceitual, atravs de um mtodo

    cientfico, se d pela utilizao do Processo de Enfermagem. Este acontece de forma

    dinmica, atravs da inter-relao de suas fases. So elas: Histrico de enfermagem,

    Diagnstico de enfermagem, Plano assistencial, Plano de cuidados ou Prescrio de

    Enfermagem, Evoluo e Prognstico7.

  • 35

    O modelo conceitual proposto por Horta fornece subsdios para uma prtica

    assistencial qualificada, uma vez que a aplicao do Processo de Enfermagem permite a

    organizao e estruturao dos cuidados de enfermagem. O Processo de Enfermagem

    auxilia na tomada de deciso do enfermeiro, no estabelecimento de metas e na mensurao

    dos resultados alcanados27

    .

    Classificao Internacional para a Prtica da Enfermagem - CIPE

    A implementao do PE em todas as suas etapas requer o suporte conceitual de uma

    teoria e pode ser facilitado pela utilizao de uma classificao dos termos empregados na

    prtica profissional. A visibilidade da profisso e o reconhecimento dos resultados

    alcanados por sua prtica esto diretamente associadas aplicao de uma linguagem que

    possibilite a comparao de dados entre diversos setores clnicos e populaes em reas

    geogrficas e/ou tempos distintos, que permita tambm a correlao entre as aes

    implementadas e os resultados alcanados e com isso facilite a alocao correta se recursos

    financeiros para a sade8.

    A linguagem utilizada pela enfermagem para descrever suas aes sofreu

    modificaes ao longo do tempo e varia de acordo com o contexto cultural no qual est

    inserida. Isto dificulta a unicidade desta linguagem e permite que o mesmo fenmeno ou

    ao seja descrito de maneiras diferentes29

    . Diversos sistemas de classificao foram

    criados focando em uma fase especfica do processo de enfermagem, como o sistema

    NNN: North American Nursing Diagnoses Association NANDA - Nursing Intervention

    Classification NIC - Nursing Outcomes Classification NOC.

    Em 1989, aps a recomendao da Organizao Mundial de Sade (OMS) ao

    Conselho Internacional de Enfermeiras (CIE) para a criao de uma linguagem de

    enfermagem que pudesse ser complementar Classificao Internacional das Doenas, os

    representantes nacionais do CIE se reuniram em Seul e aprovaram uma resoluo que

    previa a criao da Classificao Internacional para a Prtica de Enfermagem- CIPE. Os

    objetivos deste sistema de linguagem eram fornecer uma ferramenta que possibilitasse

    descrever e documentar a prtica, permitindo a incluso destes dados em sistemas de

    informao computadorizados e servindo de subsdios para a tomada de deciso do

    enfermeiro. A CIPE foi pensada para servir diversidade cultural mundial, apresentando-

    se como marco unificador dos diversos sistemas de classificao da enfermagem30

    .

  • 36

    Em 1991, iniciou-se uma busca para identificar os sistemas de classificao que

    estavam sendo desenvolvidos ao redor do mundo. Em 1993, foi publicado um texto

    listando os termos descritos na literatura em enfermagem e nas suas diversas

    classificaes. Em 1996, foi publicada a CIPE

    verso Alfa contendo a Classificao dos

    Fenmenos de Enfermagem e a Classificao das Intervenes de Enfermagem. Em 1999,

    foi publicada a CIPE verso Beta e em 2001, a CIPE

    verso Beta 2. Em 2005,

    publicada a CIPE verso 1.0 traduzida para o portugus em 2007

    7. A CIPE

    verso 2 foi

    publicada em 2009 e traduzida em 2011. Atualmente esto disponveis no portal do CIE a

    verso 2 e a mais nova verso, a CIPE

    2011, ainda sem publicao impressa31

    . A proposta

    do CIE para um ciclo de lanamentos a cada dois anos, permitindo aos usurios um

    planejamento para as atualizaes da terminologia. Em 2008, a CIPE

    foi aceita pela OMS

    e relacionada na Famlia OMS de Classificaes Internacionais9.

    A CIPE

    possui como objetivos estratgicos servir como base para a articulao

    entre a contribuio da enfermagem e a sade global, bem como promover a harmonizao

    com outras classificaes utilizadas. Destacam-se como benefcios de sua utilizao o

    estabelecimento de uma norma internacional que facilite a descrio e a comparao das

    prticas de enfermagem; a representao dos conceitos de enfermagem utilizados nas

    diversas especialidades e culturas; a gerao de informaes sobre a prtica que

    influenciem na tomada de deciso e na construo de polticas de sade; a melhoria da

    comunicao entre os profissionais de sade e, ainda, a possibilidade de propiciar um

    conjunto de dados que subsidiem pesquisas na rea32

    .

    Um estudo realizado em 2002 para viabilizar a utilizao da CIPE por softwares

    identificou a necessidade de alguns ajustes, entre eles, evitar a redundncia e a

    ambiguidade de termos. A CIPE Verso 1.0 vem para solucionar estas questes, tornando-

    se uma classificao tecnologicamente mais adequada e ao mesmo tempo mais acessvel ao

    usurio, atravs da adaptao trazida pela CIPE verso 1.0 que foi o Modelo 7-Eixos7.

    Alm disto, a CIPE progrediu de uma classificao para uma terminologia formal, na

    medida em que a verso 1.0 foi construda usando a representao de linguagem como

    regras de modelagem formal (Web Ontology Language OWL). Com isso foi assegurado

    que o raciocnio automatizado fosse aplicado terminologia, garantindo a consistncia e a

    acurcia dos conceitos9.

  • 37

    As verses anteriores CIPE

    1.0 possuam oito eixos da estrutura de classificao

    dos fenmenos e oito eixos da estrutura de classificao das intervenes. O modelo atual

    derivou destes e resultou em uma nica estrutura composta por 7 eixos, que mais

    facilmente utilizada e reduz os problemas de ambiguidade e redundncia existentes nas

    primeiras verses. Os eixos atuais so: Foco, Julgamento, Cliente, Ao, Meios,

    Localizao e Tempo10

    .

    A CIPE

    define assim os seus eixos9:18,19

    .

    Foco: A rea de ateno que relevante para a

    enfermagem (exemplos: dor, sem teto, eliminao

    expectativa de vida, conhecimento).

    Julgamento: Opinio clnica ou determinao relacionada

    ao foco da prtica de enfermagem (exemplos: nvel

    diminudo, risco, aumentado, interrompido, anormal).

    Cliente: Sujeito ao qual o diagnstico se refere e que o

    recipiente de uma interveno (exemplos: recm-nascido,

    cuidador,, famlia, comunidade).

    Ao: Um processo intencional aplicado a um cliente.

    (exemplos: educar, trocar, administrar e monitorar).

    Meios: Uma maneira ou um mtodo de desempenhar uma

    interveno (exemplos: bandagem, tcnica de treinamento

    da bexiga, servio de nutrio).

    Localizao: Orientao anatmica e espacial de um

    diagnstico ou intervenes (exemplos: posterior, abdome,

    escola, centro de sade comunitrio).

    Tempo: O momento, perodo, instante, intervalo ou durao

    de uma ocorrncia (exemplos: admisso, nascimento,

    crnico).

    De acordo com a CIPE, um Diagnstico de Enfermagem consiste em uma

    declarao dada por uma enfermeira que toma uma deciso sobre um fenmeno

    apresentado por um paciente, aps avaliao do mesmo. O Resultado de Enfermagem

    consiste na medida ou status do diagnstico de enfermagem, ao longo do tempo, aps a

  • 38

    aplicao das intervenes de enfermagem. O resultado a mudana ou manuteno

    gerada no diagnstico de enfermagem, aps uma interveno33

    .

    Para compor o diagnstico/resultado de enfermagem usando o Modelo 7-Eixos

    deve-se incluir um termo do eixo Foco e um termo do eixo Julgamento, adicionalmente

    podem-se incluir termos de qualquer outro eixo, se necessrio. Em alguns casos possvel

    que o julgamento esteja implcito. Quando, por exemplo, tem-se o diagnstico Ansiedade,

    podemos considerar o julgamento Atual implcito na declarao33

    .

    Uma Interveno de Enfermagem consiste em uma ao aplicada ao paciente em

    resposta a um Diagnstico de Enfermagem, a fim de produzir um Resultado de

    Enfermagem. Para composio das intervenes de enfermagem deve-se incluir um termo

    do eixo Ao e pelo menos um termo Alvo. Este termo Alvo pode ser um termo de

    qualquer um dos eixos, exceto do eixo Julgamento. Tambm podem ser includos termos

    adicionais dos outros eixos. Este guia desenvolvido para criao das declaraes de

    diagnsticos/resultados e intervenes de enfermagem foi elaborado sob o padro da

    Organizao Internacional para Padronizao: Integrao de um Modelo de Terminologia

    de Referncia para Enfermagem - ISO 18104, 2003 33

    .

    Uma recomendao do CIE para facilitar o uso da CIPE a criao dos catlogos

    CIPE, que consistem em um conjunto de declaraes contendo diagnsticos/resultados e

    intervenes de enfermagem comumente usadas em uma rea especfica da enfermagem.

    Com declaraes pr-coordenadas nas mos, fica mais fcil aos enfermeiros a aplicao do

    processo de enfermagem. Esses catlogos devem servir como referncia para os

    enfermeiros, reforando a segurana e a qualidade dos servios prestados bem como

    fornecendo dados recuperveis sobre os cuidados de sade em todo o mundo. As reas

    prioritrias para construo destes catlogos so: Aderncia ao Tratamento, Sade Mental

    (iniciando com meninas adolescentes), Doena Cardiovascular (iniciando com

    insuficincia cardaca congestiva), HIV/AIDS (iniciando com atendimento domiciliar),

    Oncologia, Enfermagem Familiar, Sade da Mulher e Incontinncia Urinria10

    .

    Uma ressalva importante utilizao dos catlogos que os mesmos no devem

    substituir o julgamento clnico dos enfermeiros e sua tomada de deciso, pois a prestao

    de cuidados deve ser uma prtica individualizada e o atendimento direto ao cliente,

    indivduo ou famlia no deve ser substitudo por qualquer instrumento. Os catlogos,

  • 39

    portanto, devem servir como ferramenta que auxiliar o profissional na documentao de

    sua prtica33

    .

    Muitos so os benefcios que podem advir da utilizao destes catlogos, pois a

    utilizao de uma linguagem unificada permite o mapeamento das aes de enfermagem,

    bem como a descrio consistente destas aes e dos resultados por elas gerados. Esta

    documentao sistemtica aumenta a segurana do trabalho da enfermagem e a qualidade

    dos cuidados prestados33

    .

    Para construo dos Catlogos CIPE so recomendados 10 passos, de acordo com

    a recomendao do CIE: 1- Identificar a prioridade de sade e a clientela a que se destina.

    2- Documentar a significncia para a enfermagem. 3- Estabelecer contato com o CIE para

    identificar se esta prioridade j est sendo trabalhada de maneira que seja possvel trocar

    informaes. 4- Usar o Modelo 7-eixos para compor as afirmativas. 5- Identificar

    evidncias e literatura que possam ajudar a encontrar diagnsticos de enfermagem,

    intervenes e resultados relevantes. 6- Desenvolver contedos de apoio como estudos de

    caso e ferramentas de avaliao. 7- Validar as afirmativas do catlogo. 8- Adicionar,

    excluir ou revisar as afirmativas do catlogo de acordo com a necessidade. 9- Trabalhar

    com o CIE para a elaborao da cpia final do catlogo. 10- Contribuir com CIE para a

    disseminao do catlogo33

    .

    Em 2008, foi publicado o Guia para Desenvolvimento de Catlogo CIPE e o

    primeiro catlogo CIPE

    : Parceria com indivduos e famlia para promover aderncia ao

    tratamento. Em 2009, houve a publicao do catlogo CIPE: Cuidado paliativo para

    morte digna. A CIPE

    no estabelece um modelo terico ou conceitual especfico para a

    construo dos catlogos, ficando a escolha deste livre aos seus desenvolvedores9,33

    .

    Com o objetivo de desenvolver e consolidar a CIPE

    mundialmente foram criados

    os Centros Acreditados pelo CIE para Pesquisa e Desenvolvimento CIPE. Estes centros

    devero identificar e desenvolver as prioridades de pesquisa no seu prprio ambiente e

    compartilhar os avanos com os demais centros, dessa forma fortalece-se a sade local,

    regional e mundial. O primeiro Centro Acreditado foi o Deutschsprachige ICNP

    Nutzegruppe, de lngua alem, em 2003. Atualmente, existem centros em 9 pases: Ir,

    Coria, Chile, EUA, Austrlia, Alemanha, Polnia, Portugal e Brasil 10,34

    .

    Em julho de 2007 foi aprovada pelo CIE a criao do Centro de Pesquisa e

    Desenvolvimento da CIPE do Programa de Ps-Graduao em Enfermagem da

  • 40

    Universidade Federal da Paraba (Centro CIPE

    PPGEnf-UFPB), que tem como meta a

    construo de bancos de termos de enfermagem sensveis realidade cultural brasileira e,

    posteriormente, a construo de Catlogos CIPE aplicveis prtica profissional por tipo

    de clientela e ambiente8.

    Outra iniciativa brasileira que ajudou a difundir a CIPE no Brasil foi o projeto

    Classificao Internacional das Prticas de Enfermagem em Sade Coletiva - CIPESC.

    Este consistiu no levantamento dos termos utilizados pelos enfermeiros no contexto do

    Sistema nico de Sade (SUS), resultando em um inventrio vocabular que foi includo

    entre os termos constantes da CIPE. Dessa forma, foi possvel retratar a diversidade e

    multiplicidade da prtica de enfermagem no mbito do SUS. O projeto teve apoio

    financeiro da Fundao W. K. Kellog, a partir de 1995. A constatao de que as

    classificaes que se desenvolviam restringiam-se rea hospitalar, mobilizou o CIE a

    orientar um projeto internacional para a rea extra-internao. A Associao Brasileira de

    Enfermagem (ABEn) adotou esta iniciativa e se comprometeu a desenvolver o projeto

    CIPESC35,36

    .

    O trabalho de pesquisa foi desenvolvido no perodo de 1996 a 2000, em todas as

    regies brasileiras, respeitando a diversidade cultural, social e econmica de um pas com

    dimenses continentais. Em 2004 foi oficializada a utilizao da CIPE

    na consultas de

    puericultura e de sade da mulher da Secretaria Municipal de Sade da cidade de Curitiba

    (PR)35,36

    .

    Em levantamento realizado na base de dados LILACS e MEDLINE (2005-2010),

    via Biblioteca Virtual em Sade, para investigar a aplicabilidade da CIPE no Brasil no foi

    identificado nenhum artigo brasileiro trazendo a criao destes catlogos neste perodo. No

    entanto, sabe - se que na Paraba, onde fica o Centro CIPE brasileiro, esto sendo

    desenvolvidas pesquisas com esta temtica.

    Doena Renal Crnica

    Definio e Estadiamento

    A doena renal crnica uma patologia de carter progressivo e irreversvel, que

    transcorre silenciosamente at alcanar os seus estgios mais avanados, quando s ento

    aparecem os primeiros sintomas. A leso renal provoca perda das funes glomerulares,

    tubulares e endcrinas do rim, fazendo com que o estgio final da doena seja

  • 41

    caracterizado por diversas alteraes na homeostase corprea. Os rins tornam-se incapazes

    de manter a normalidade do meio interno, sendo alcanada a fase terminal da doena,

    chamada de Doena Renal Crnica (DRC)37,38

    .

    Para definio de doena renal crnica, a Sociedade Brasileira de Nefrologia adotou

    os critrios propostos pelo National Kidney Foundation American, que so: leso renal

    presente por um perodo maior ou igual a 3 meses, definidos por anormalidades estruturais

    e/ou funcionais do rim, cursando com ou sem diminuio da taxa de filtrao glomerular

    (FG), evidenciada por alteraes histopatolgicas ou de marcadores de leso renal. O outro

    critrio uma taxa de FG < 60ml/min/1,73m2 por um perodo igual ou superior a 3 meses,

    com ou sem leso renal. Portanto, a doena renal crnica caracterizada por uma leso do

    parnquima renal (com manuteno da funo renal) e/ou por uma diminuio da funo

    renal presentes por um perodo superior ou igual a trs meses38

    .

    Para efeito clnico, epidemiolgico, didtico e conceitual a DRC foi subdividida em

    6 estgios de acordo com seu grau de progresso:

    1. Fase de funo renal normal, sem leso renal neste grupo encontram-se

    os pacientes que ainda no apresentam qualquer alterao da funo renal,

    nem apresentam leso do parnquima do rim. No entanto, possuem

    comorbidades que fazem parte do grupo de risco para desenvolvimento da

    doena. Este grupo apresenta importncia epidemiolgica, com vistas

    preveno da patologia37

    .

    2. Fase de leso com funo renal normal esta fase caracterizada por

    leso do parnquima renal, porm esta ainda no foi suficiente para

    provocar uma alterao na taxa de filtrao glomerular. A FG se mantm

    acima dos 90ml/min/1,73m2 37

    .

    3. Fase de insuficincia renal funcional leve a partir desta etapa j

    possvel identificar uma alterao na filtrao glomerular, mas apenas por

    meios acurados de avaliao da funo renal, pois a uria e a creatinina se

    mantm normais e ainda no h manifestao sintomtica causada pela

    reduo da FG. Ou seja, os rins ainda so capazes de manter a homeostase

    do corpo e os valores de FG ficam entre 60 e 89ml/min/1,73m2 37

    .

    4. Fase de insuficincia renal laboratorial ou moderada nesta fase

    ocorrem manifestaes leves dos sintomas, mas o paciente sente-se bem

  • 42

    clinicamente. Uma simples avaliao laboratorial j demonstra nveis

    elevados de uria e creatinina e o ritmo de FG se mantm entre 30 e

    59ml/min/1,73m2 37

    .

    5. Fase de insuficincia renal clnica ou severa nesta fase os sintomas

    clnicos esto fortemente presentes. O paciente apresenta anemia,

    hipertenso arterial, edema, fraqueza, mal estar e sintomas digestivos. A

    taxa de filtrao glomerular est entre 15 a 29ml/min/1,73m2 37

    .

    6. Fase terminal de insuficincia renal crnica nesta etapa o rim perdeu

    completamente sua capacidade de manter a homeostase do corpo sendo

    incompatvel com a vida, faz-se necessrio a instituio de uma terapia renal

    substitutiva ou a realizao de um transplante renal. O ritmo de FG est

    inferior a 15ml/min/1,73m2 37

    .

    A tabela 137

    , a seguir, apresenta o estagiamento da doena renal crnica:

    TABELA 1 ESTADIAMENTO DA DOENA RENAL CRNICA

    Estgio Filtrao

    Glomerular (ml/min)

    Grau de Insuficincia Renal

    0 > 90 Grupo de Risco para DRC / Ausncia de leso renal

    1 > 90 Leso renal com funo renal normal

    2 60 89 IR leve ou funcional

    3 30 59 IR moderada ou laboratorial

    4 15 29 IR severa ou clnica

    5 < 15 IR terminal

    Epidemiologia e Etiologia

    A DRC considerada mundialmente e no Brasil como um problema de sade

    pblica. Seu diagnstico tardio impede que medidas nefro e cardioprotetoras sejam

    implementadas ainda nas fases iniciais da doena, fazendo com que esta progrida,

    invariavelmente, para a fase terminal. A dificuldade em fazer o diagnstico precoce ocorre,

    em parte, pelo desconhecimento dos estgios da doena bem como pela no utilizao de

    testes simples de avaliao da funo renal38

    .

    Pelos dados do DATASUS, no ano de 2010, foram pagas no Brasil 84.015 AIHs

    (autorizao de internao hospitalar) de pacientes internados por Insuficincia renal, no

    diferenciando entre aguda e crnica. Estas internaes custaram ao SUS R$

    176.195.466,90, com uma mdia de internao de 9,3 dias e uma taxa de mortalidade de

    11,60%11

    .

  • 43

    Sabe-se, no entanto, que o maior custo do SUS com pacientes mantidos em

    programas ambulatoriais de terapia renal substitutiva (TRS) e em programas de transplante

    renal. Este custo estimado em 1,4 bilhes ao ano, estimativa esta que data de 2004. De

    acordo com o censo 2010, realizado pela SBN, h no Brasil 638 centros de terapia renal

    substitutiva com programas para doentes crnicos. Destes, 340 responderam ao

    questionrio da SBN e possuam 49.047 pacientes em programa de dilise. A previso, no

    entanto, de que o nmero real destes pacientes gire em torno de 92.000, com 85,8% deles

    financiados pelo SUS 12,37

    .

    Costuma-se fazer um paralelo entre a doena renal crnica e um iceberg, onde a

    ponta deste seria as pessoas que se encontram em TRS e a parte submersa seria as pessoas

    acometidas pela DRC, porm, que ainda no foram diagnosticadas. O nmero de pacientes

    com DRC na Amrica Latina de 300 pacientes por milho (ppm), nos EUA este nmero

    de 1100 ppm e na Europa 650 ppm. No h razes que justifiquem uma prevalncia to

    menor na Amrica Latina, o que aponta para uma subnotificao da doena. Ou seja, esta

    base do iceberg ainda sombria e desconhecida39,40

    .

    As causas da doena renal crnica j se encontram bem definidas na literatura,

    inclusive incluindo os pacientes portadores destas causas no grupo de risco para

    desenvolvimento da doena. A Hipertenso Arterial Sistlica (HAS), o Diabetes Melitus

    (DM), o envelhecimento e a histria familiar de DRC so os principais fatores de risco

    para a doena. Alm destes, as glomerulopatias, os rins policsticos, as infeces urinrias

    de repetio, uropatias obstrutivas e neoplasias tambm so consideradas etiologias para

    DRC41

    .

    De acordo com o Censo 2010 da SBN, a principal etiologia da DRC dos pacientes

    submetidos dilise no Brasil a Hipertenso Arterial, 35,2%. Em seguida tem-se o

    Diabetes Melitus com 27,5%, e em terceiro lugar, apresentam-se as glomerulopatias com

    12,6%. Um amplo estudo realizado no Hospital das Clnicas da Universidade de So Paulo,

    que compreendeu a avaliao de todos os pacientes encaminhados do ambulatrio de DRC

    ao servio de TRS chegou a concluso pouco diferente do Censo 2010 da SBN. Neste

    estudo, 32,93% apresentavam o Diabetes Melitus como etiologia, 25,20% apresentavam a

    Hipertenso Arterial e 15,04% as glomerulopatias. Apesar do contraste apresentado, nos

    dois levantamentos a HAS e o DM figuram como as principais causas de DRC12,39

    .

  • 44

    Estima-se que, no Brasil, 25% da populao tenha Hipertenso Arterial, ou seja,

    aproximadamente 47 milhes de habitantes. Levando-se em considerao que apenas 15%

    destes pacientes mantenham a HAS sob controle, os outros 85% so candidatos potenciais

    a desenvolver uma leso renal. J entre os diabticos, aproximadamente 7 milhes de

    habitantes, 30% estariam susceptveis ao desenvolvimento da doena41

    .

    Outro fator importante a se considerar o envelhecimento da populao brasileira,

    acompanhando por um crescimento no percentual de pacientes em tratamento dialtico com

    mais de 65 anos. Em 2007, 26% dos pacientes em TRS tinham mais de 65 anos, em 2010

    este percentual j passou de 30%. Apesar de uma diminuio natural da taxa de filtrao

    glomerular no idoso, a definio de DRC no muda para este grupo etrio, pois se faz

    necessria a adoo de uma teraputica que vise preveno da doena terminal12,38,42

    .

    Fisiopatologia

    A descoberta da DRC data do sculo XIX, quando, ao realizar autpsias nos

    pacientes que apresentaram edema importante, o mdico Richard Bright detectou que os

    rins destes pacientes mostravam uma diminuio de tamanho e um aspecto granular. Ficou

    claro, poca, que a doena de Bright, como foi conhecida a DRC por mais de um sculo,

    era um processo extremamente silencioso e que evolua sem apresentar sinais, por muito

    tempo, at que alcanava seu estgio terminal1.

    Um grande questionamento que sempre se fez foi como o rim conseguia manter a

    homeostase do corpo perdendo gradativamente suas funes. De tal forma que, s em

    estgios mais avanados da doena, o indivduo apresentava uma sintomatologia

    especfica. Hoje, sabe-se que os rins, apesar de indispensveis vida, possuem uma

    capacidade de funcionamento muito maior que o necessrio para manuteno das funes

    que exerce. O que permite que ao sofrer um procedimento cirrgico, por exemplo, o

    indivduo consiga se manter com uma massa renal em torno de 10% . Nestes casos, ocorre

    uma adaptao da massa renal remanescente aumentando muitas vezes o seu ritmo de

    trabalho1.

    Esta capacidade de adaptao dos nfrons remanescentes permite que o rim

    mantenha suas funes por muito tempo, no entanto paga-se um preo gerando

    disfunes e desequilbrios em longo prazo que culminam com a perda total das funes.

    o chamado mecanismo de Trade-off, em que a normalizao da concentrao de uma

  • 45

    substncia conseguida s custas do desequilbrio de outro sistema. Este mecanismo

    aplica-se ao processamento de sdio, gua, potssio e vrios outros ons1.

    Uma das adaptaes que acontece no nfron ocorre, especificamente, na sua funo

    glomerular. H um aumento no fluxo sanguneo dos glomrulos que decorrente de uma

    diminuio da resistncia arteriolar aferente e eferente, fazendo com que a presso

    hidrulica do glomrulo se eleve e aumente a taxa de filtrao glomerular. Assim, tem-se

    um aumento na capacidade excretora do nfron remanescente. No entanto, a resposta

    glomerular adaptativa causa leso endotelial com elevao da permeabilidade capilar e

    aumento da filtrao de macromolculas, como a protena. Por isso, a perpetuao da leso

    do glomrulo evolui com a esclerose do mesmo e, por conseguinte com sua inutilizao1.

    Quanto funo tubular, esta aumenta de acordo com a necessidade do organismo

    em manter o balano adequado de cada on at o limite funcional de suas clulas. No caso

    do sdio, os rins conseguem manter o balano normal at as fases terminais da DRC, pois

    medida que diminui o ritmo de filtrao glomerular global, aumenta a frao de sdio

    excretada por cada nfron remanescente. Para manter o balano ideal de sdio, o rim

    sacrifica sua capacidade de regular a excreo de gua e manter o balano hdrico, com