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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE TCE - Escola de Engenharia TEM - Departamento de Engenharia Mecânica PROJETO DE GRADUAÇÃO Título do Projeto: SIMULAÇÃO DE DESLOCAMENTO DA CAMADA LIMITE COM TÉCNICAS DE PREVENÇÃO BASEADAS EM INJEÇÃO E SUCÇÃO DE MASSA Autor: FABIO JOSE SCHOR Orientador: RONEY LEON THOMPSON LUIZ EDUARDO SAMPAIO Data: 07 de julho de 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

TCE - Escola de Engenharia

TEM - Departamento de Engenharia Mecânica

PROJETO DE GRADUAÇÃO

Título do Projeto:

SIMULAÇÃO DE DESLOCAMENTO DA CAMADA LIMITE COM TÉCNICAS DE PREVENÇÃO BASEADAS EM INJEÇÃO E SUCÇÃO DE MASSA

Autor:

FABIO JOSE SCHOR

Orientador:

RONEY LEON THOMPSON

LUIZ EDUARDO SAMPAIO

Data: 07 de julho de 2015

FABIO JOSE SCHOR

SIMULAÇÃO DE DESLOCAMENTO DA CAMADA LIMITE COM TÉCNICAS DE PREVENÇÃO BASEADAS EM INJEÇÃO E SUCÇÃO DE MASSA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Engenharia Mecânica da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Mecânico.

Orientador:

Prof. RONEY LEON THOMPSON

Prof. LUIZ EDUARDO SAMPAIO

Niterói

07 de julho de 2015

Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca da Escola de Engenharia e Instituto de Computação da UFF

S374 Schor, Fabio Jose

Simulação de deslocamento da camada limite com técnicas de

prevenção baseadas em injeção e sucção de massa / Fábio José

Schor. – Niterói, RJ : [s.n.], 2015.

88 f.

Trabalho (Conclusão de Curso) – Departamento de Engenharia

Mecânica, Universidade Federal Fluminense, 2015.

Orientadores Roney Leon Thompson, : Luiz Eduardo Sampaio.

1. Fluidodinâmica computacional. 2. Escoamento instável

(dinâmica dos fluidos). 3. Camada limite. 5. Turbulência. I. Título.

CDD 620.106

DEDICATÓRIA

Dedico à minha mãe, Doris, que me incentivou e proporcionou as condições

necessária para eu concluir o curso de engenharia.

AGRADECIMENTOS

Aos professores Luiz Eduardo Sampaio e Roney Leon Thompson que me orientaram.

À professora Maria Cindra pela sua dedicação e valores passados em sala de aula.

Ao professor Otton Teixeira da Silveira Filho pelas aulas de métodos numéricos.

Ao programa Ciências sem Fronteiras, que me proporcionou a oportunidade de

estudar métodos computacionais na The University of Manchester.

Ao professor Timothy Craft que muito me ensinou e orientou sobre fluidodinâmica

computacional.

A minha amiga Isalira que me ajudou a referenciar e formatar o trabalho.

RESUMO

Nas últimas décadas foram propostas várias técnicas de controle de

escoamento para aumentar a eficiência e estabilidade aerodinâmica. Muitas dessas

técnicas envolvem controle por sucção e injeção de massa, os quais são eficientes,

porém difíceis de serem aplicadas em escoamentos reais. Recentemente,

mecanismos de controle envolvendo jatos oscilatórios com balanço neutro de massa

se mostraram factíveis em aplicações industriais e eficientes no controle da separação

da camada limite. Métodos computacionais têm sido extensamente utilizados para

computar escoamentos oscilatórios. O objetivo do presente trabalho é simular o

escoamento incompressível ao redor de uma geometria propensa ao desprendimento

da camada limite, onde técnicas de controle de fluxo baseadas em sucção e injeção

de massa são aplicadas imediatamente antes da separação e os efeitos na bolha de

recirculação são analisados. As equações médias de Reynolds (RANS) e o modelo

de turbulência κ-ε com tratamento próximo a parede foram escolhidos para descrever

o escoamento. São descritas as etapas necessárias para se montar um modelo

numérico, a teoria envolvida na separação da camada limite e o método dos volumes

finitos. Os resultados mostram qualitativamente e quantitativamente os efeitos do

controle de fluxo. O controle oscilatório resulta em um recolamento da camada limite

em um ponto anterior ao caso sem controle de fluxo e posterior ao caso com controle

por sucção. O modelo de turbulência κ-ε falhou em prever corretamente os pontos de

recolamento.

Palavras-chave: Camada limite; Turbulência; Dinâmica dos fluidos computacional;

Modelo κ-ε

ABSTRACT

In recent decades, it has been proposed various flow control techniques to

increase efficiency and aerodynamic stability. Many of these techniques involve control

by suction and injection mass, which are efficient, but difficult to apply in real flows.

Recently, control mechanisms involving oscillating jets with neutral balance mass

proved doable and efficient in industrial applications to control the separation of the

boundary layer. Computational methods have been widely used for computing

oscillatory flow. The objective of this study is to simulate the incompressible flow

around a geometry prone to detachment of the boundary layer, where flow control

techniques based on suction and injection of mass are applied immediately before

separation and the effects in the recirculation bubble is analyzed. The Reynolds

Average Navier-Stokes equations (RANS) and the κ-ε turbulence model with enhanced

wall treatment were chosen to describe the flow. This work describes the steps

required to construct a numerical model, the theory involved in the separation of the

boundary layer and the finite volume method. The results qualitatively and

quantitatively show the effects of flow control. The oscillatory control results in a

reattachment of the boundary layer at a point prior to the case without flow control and

further to the case with suction control. The κ-ε turbulence model has failed to correctly

predict the reattachment point.

Key-Words: Boundary layer; Turbulence; Computational fluid dynamics; κ-ε model

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 Modelo Experimental .......................................................................................... 18

Figura 2.2 Geometria 2D do modelo experimental ............................................................... 19

Figura 2.3 Detalhes da posição da abertura ........................................................................ 20

Figura 2.4 Detalhes da geometria arqueada ........................................................................ 21

Figura 2.5 Detalhes do Enclosure ........................................................................................ 21

Figura 2.6 Divisão em três linhas da geometria arqueada e sua projeção. .......................... 22

Figura 2.7 Exemplo da divisão de elementos na região da abertura. ................................... 23

Figura 2.8 Linhas do enclosure. ........................................................................................... 23

Figura 2.9 Malha grosseira (coarse). ................................................................................... 24

Figura 2.10 Malha normal (normal). ..................................................................................... 24

Figura 2.11 Malha fina (fine). ............................................................................................... 24

Figura 2.12 Malha Triangular. .............................................................................................. 24

Figura 2.13 Condições de contorno.. ................................................................................... 26

Figura 2.14 Condições de contorno no modelo com controle oscilatório .............................. 27

Figura 2.15 Ciclo do jato discretizado por 200 pontos. ......................................................... 28

Figura 2.16 Velocidade instantânea. .................................................................................... 30

Figura 2.17 Condição de não deslizamento ......................................................................... 34

Figura 2.18 Perfil de velocidade laminar e turbulento .......................................................... 34

Figura 2.19 (A) camada limite laminar e turbulenta. (B) subcamada viscosa. ...................... 35

Figura 2.20 Perfil de velocidade nas situações de (A) gradiente favorável de pressão e (B)

gradiente adverso de pressão. ............................................................................................. 37

Figura 3.1 Volume de Controle ............................................................................................ 39

Figura 3.2 Posição dos nós.................................................................................................. 40

Figura 3.3 Nós adjacentes. .................................................................................................. 41

Figura 4.1 Y+ Malhas ........................................................................................................... 48

Figura 4.2 Gráficos da flutuação de velocidade.. ................................................................. 50

Figura 4.3 Gráficos energia cinética de turbulência. ............................................................ 51

Figura 4.4 Gráficos da flutuação de velocidade. ................................................................. 53

Figura 4.5 Gráficos energia cinética de turbulência. ............................................................ 54

Figura 4.6 Gráficos do perfil de velocidade. ......................................................................... 56

Figura 4.7 Coeficiente de pressão na geometria arqueada .................................................. 57

Figura 4.8 Tensão cisalhante na geometria arqueada ......................................................... 58

Figura 4.9 Contorno de pressão. ......................................................................................... 59

Figura 4.10 Contorno de velocidade. ................................................................................... 60

Figura 4.11 Contorno de energia cinética turbulenta. ........................................................... 61

Figura 4.12 Contorno de razão de viscosidade (turbulenta e dinâmica). .............................. 62

Figura 4.13 Linha de corrente e velocidade. ........................................................................ 63

Figura 4.14 Coeficiente de pressão na geometria arqueada. ............................................... 64

Figura 4.15 Tensão cisalhante na geometria arqueada. ...................................................... 64

Figura 4.16 Contorno de pressão......................................................................................... 65

Figura 4.17 Contorno de velocidade. ................................................................................... 66

Figura 4.18 Vetor de velocidade. ......................................................................................... 67

Figura 4.19 Contorno de energia cinética turbulenta. ........................................................... 68

Figura 4.20 Contorno de razão de viscosidade (turbulenta e dinâmica). ............................. 69

Figura 4.21 Linha de corrente e velocidade. ....................................................................... 70

Figura 4.22 Coeficiente de pressão médio. .......................................................................... 71

Figura 4.23 Tensão Cisalhante media. ................................................................................ 72

Figura 4.24 Contorno de pressão médio. ............................................................................. 73

Figura 4.25 Contorno de velocidade média. ......................................................................... 74

Figura 4.26 Contorno de velocidade oscilatório. .................................................................. 75

Figura 4.27 Linha de corrente/velocidade oscilatório.. ......................................................... 76

Figura 4.28 Contorno de energia cinética de turbulência. .................................................... 77

Figura 4.29 Contorno da razão de viscosidade (turbulenta/dinâmica). ................................. 78

Figura 4.30 Contorno de velocidade média. (A) Caso 1, (B) Caso 2 e (C) Caso 3. .............. 79

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 Quantidade de Elementos e Bias Factor por linha e malha ..................... 22

Tabela 2.2 Quantidade de elementos e Bias Factor por linha e malha no Enclosure

.................................................................................................................................. 23

Tabela 2.3 Quantidade de nós e elementos separados por malha ........................... 25

Tabela 2.4 Valores de Y+ por região ......................................................................... 36

Tabela 4.1 Ponto de Separação ................................................................................ 80

Tabela 4.2 Ponto de recolamento ............................................................................. 80

Tabela 8.1 Ponto escalado de recolamento para diversos modelos ........................ 89

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 15

2 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA E TEORIA ..................................................................... 18

2.1 O PROBLEMA (TERCEIRO CASO DO WORKSHOP) .......................................... 18

2.2 MODELO NUMÉRICO ........................................................................................... 20

2.2.1 Geometria ....................................................................................................... 20

2.2.2 Malhas ............................................................................................................ 21

2.3 SOLVER ................................................................................................................ 25

2.3.1 Definições gerais ............................................................................................ 25

2.3.2 Condições de contorno ................................................................................... 26

2.3.3 Iterações e Inicialização ................................................................................. 28

2.4 FORMULAÇÃO TEÓRICA ..................................................................................... 29

2.4.1 Equações Governantes (Momentum e Continuidade) ..................................... 29

2.4.2 Turbulência ..................................................................................................... 30

2.5 CAMADA LIMITE ................................................................................................... 33

2.5.1 Conceitos básicos .......................................................................................... 33

2.5.2 Escoamentos laminar e turbulento .................................................................. 34

2.5.3 Separação da camada limite .......................................................................... 36

2.5.4 Controle da separação da camada limite ........................................................ 38

3 METODOLOGIA NUMÉRICA....................................................................................... 39

3.1 MÉTODO DOS VOLUMES FINITOS ..................................................................... 39

3.2 DISCRETIZAÇÃO DOS TERMOS ......................................................................... 40

3.2.1 Termos difusivos ............................................................................................ 40

3.2.2 Termos convectivos ........................................................................................ 41

3.2.3 Termos Fonte ................................................................................................. 42

3.2.4 Discretização temporal ................................................................................... 42

3.3 MALHA NÃO UNIFORME ...................................................................................... 43

3.4 SOLUÇÃO DAS EQUAÇÕES DISCRETIZADAS .................................................. 43

3.5 TRATAMENTO DO ACOMPLAMENTO PRESSÃO-VELOCIDADE ....................... 44

3.6 FATORES DE RELAXAÇÃO ................................................................................. 44

3.7 RESIDUAIS ........................................................................................................... 45

3.8 PARÂMETROS DE TURBULÊNCIA ...................................................................... 45

3.9 INFLUÊNCIA DA GEOMETRIA UPSTREAM ......................................................... 47

4 RESULTADOS ............................................................................................................. 48

4.1 PRÉ-SIMULAÇÃO ................................................................................................. 48

4.1.1 Y+ ................................................................................................................... 48

4.1.2 PARÂMETROS DE TURBULÊNCIA ............................................................... 49

4.1.3 Influência da geometria upstream ................................................................... 55

4.2 ESCOAMENTO SEM CONTROLE DE FLUXO ..................................................... 57

4.3 ESCOAMENTO COM CONTROLE DE FLUXO DE SUCÇÃO ............................... 63

4.4 ESCOAMENTO COM CONTROLE DE FLUXO OSCILATÓRIO ............................ 70

4.5 COMPARAÇÃO DE RESULTADOS ...................................................................... 79

5 DISCUSSÃO ................................................................................................................ 81

6 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 82

7 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 83

8 ANEXOS ...................................................................................................................... 86

8.1 TRATAMENTO PRÓXIMO À PAREDE ................................................................. 86

8.2 VELOCIDADE INLET PARA O ESCOAMENTO COM CONTROLE DE FLUXO

OSCILATÓRIO PROGRAMADA EM C ............................................................................ 88

8.3 PONTO ESCALADO DE RECOLAMENTO PARA DIVERSOS MODELOS ........... 89

15

1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas foram propostas várias técnicas de controle de fluxo para

aumentar a eficiência e estabilidade aerodinâmica. Muitas dessas técnicas envolvem

controle por sucção e injeção de massa, os quais são eficientes, porém difíceis de

serem aplicadas em escoamentos reais. Recentemente, mecanismos de controle

envolvendo jatos oscilatórios com balanço neutro de massa se mostraram factíveis

em aplicações industriais e eficientes no controle da separação da camada limite (You,

Wang & Moin, 2005). A necessidade de se controlar a separação da camada limite se

dá por ela estar associada com perda de energia, formação de vórtices e aumento do

arrasto (Schlighting,1979).

Métodos computacionais têm sido extensamente utilizados para computar

escoamentos oscilatórios. Com o objetivo de uma maior compreensão das atuais

capacidades das diferentes metodologias para resolver escoamentos turbulentos e

prever a influência de escoamentos oscilatórios no controle da separação da camada

limite, o workshop Validation of Synthetic Jets and Turbulent Separation Control

(CFDVAL2004) foi realizado em Williamsburg, Virginia em março de 2004. Nesse

workshop, três diferentes casos (experimentos) foram estudados, modelados e

analisados em conjunto com os resultados obtidos experimentalmente pelo NASA

Langley Research Center (Rumsey, et al. 2004a). Os resultados obtidos estão

disponíveis em Rumsey, et al.(2004a). Além dele, inúmeras publicações a respeito de

diferentes modelagens numéricas e influência de diferentes

16

condições oscilatórias foram escritos posteriormente e estão listados online em

Rumsey e Gatski (2004b).

O terceiro caso do workshop consiste no escoamento sobre uma geometria

arqueada propensa a separação da camada limite, onde controles de fluxo, sucção e

oscilatório, são aplicados imediatamente antes do início da separação. Detalhes do

experimento podem ser encontrados em Greenblatt et al. (2004a) e resultados

numéricos para o método dos volumes finitos podem ser encontrados para LES em

You (2005), para DNS em Postl (2006) e para RANS em Rumsey, (2007).

Dentre os diferentes métodos numéricos existentes para se computar

escoamentos, pode-se citar o método dos volumes finitos, o método de lattice-

boltzmann, o método de smoothed particle hydrodynamics (SPH) e o método dos

elementos finitos como sendo os mais utilizados e recorrentes.

Foi utilizado neste trabalho o método dos volumes finitos, que consiste na

integração e discretização das equações de Navier-Stokes em um volume finito,

necessitando, portanto, do uso de uma malha por toda a região do escoamento. A

necessidade de gerar uma malha é uma das principais desvantagens deste método

(e dos métodos com malha), onde o custo computacional e o tempo de construção da

malha aumentam consideravelmente com o grau de refinamento da mesma. O grau

de refinamento necessário está relacionado com a complexidade do escoamento

(gradientes elevados, turbulento) e com a complexidade da geometria.

Dentre as diferentes abordagens computacionais existentes para se analisar

escoamentos turbulentos, pode-se citar:

Direct Numerical Simulation (DNS): as equações transientes de Navier-Stokes

são resolvidas diretamente, necessitando de uma malha muito refinada e possuindo

um custo computacional muito alto.

Large Eddy Simulation (LES): as equações médias de Navier-Stokes são

resolvidas espacialmente, onde os maiores vórtices são resolvidos diretamente e os

menores são modelados. O custo computacional é menor que o DNS, porém continua

muito alto.

17

Reynolds Averaged Navier-Stokes (RANS): as equações média de Reynolds

são resolvidas, e as escalas de turbulência são modeladas. Possui o menor custo

computacional e inúmeros modelos de turbulência

Com o objetivo de contornar as limitações computacionais e os esforços

relacionados com a construção da malha, e por muitas vezes, apenas o valor médio

de uma determinada propriedade ser de interesse, a RANS é a abordagem mais

utilizada.

Dois modelos são mais utilizados para resolver as equações médias de

Reynolds: o Reynolds-Stress model (RSM) e o Eddy Viscosity Models (EVM). O

primeiro é mais utilizado para escoamentos turbulentos tridimensionais e exige o

maior custo computacional, além de ser mais complexo, ele resolve diretamente o

tensor do Reynolds Stress. O último modela esse tensor utilizando uma viscosidade

turbulenta (numérica), onde os modelos mais utilizados são: Spalart‐Allmaras, k–ε, k–

ω e variantes.

Esse trabalho busca mostrar a teoria e todas as etapas necessárias para a

construção e simulação de um modelo numérico referentes ao terceiro caso do

workshop, assim como, os princípios envolvidos na separação da camada limite e seu

controle. Em particular, serão descritas a geometria, malhas, discretização das

equações governantes, definições do solver e o modelo de turbulência k–ε utilizados

na simulação. No final os resultados obtidos serão comparados com os resultados

experimentais e numéricos disponíveis.

O software utilizado para a geração da geometria, malha e resolver as

equações (solver) foram, respectivamente, ANSYS DesignModeler, ANSYS Meshing

e ANSYS Fluent. Esses softwares foram escolhidos por possuírem uma melhor

interface e facilidade de uso em relação a outros disponíveis no mercado. O Fluent é

um software de código fechado utilizado para a simulação de escoamentos, ele possui

diversas opções de escoamentos (multifases, energia, laminar/turbulento, entre

outros) e diversas opções de modelos de turbulência e de discretizações das

equações predefinidos. Utilizou-se os manuais fornecidos na documentação dos

softwares e o material das aulas introdutórias para familiarização, referências e

exemplos de simulação, e como guia para modelagem da turbulência (ANSYS 2011,

2012a-b, 2013a-d e 2014).

18

2 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA E TEORIA

2.1 O PROBLEMA (TERCEIRO CASO DO WORKSHOP)

O experimento completo está descrito em Greenblatt et al. (2004a,2005). Ele

consiste em um escoamento sobre uma geometria arqueada propensa a

desprendimento da camada limite. A camada limite é sujeita a um gradiente de

pressão favorável na parte convexa (início da geometria) e se separa na parte

côncava. Técnicas de controle de escoamento, baseadas em injeção e sucção de

massa, são aplicadas imediatamente antes da parte côncava (aproximadamente 65%

da corda total). O objetivo desse experimento é analisar como essas técnicas de

controle influenciam no desprendimento da camada limite.

A geometria arqueada (Figura 2.1) é montada dentro do túnel de vento entre

duas placas de vidro (glass endplate) e sobre uma placa divisória (splitter plate). As

extremidades do modelo foram suavizadas para menor interferência com a placa

divisória.

Figura 2.1 Modelo Experimental (Fonte: GREENBLATT et al. 2004a).

19

A seção de área do túnel de vento possui 71,12cm de largura por 50,80cm de

altura, a distância entre a placa divisória e a parede superior do túnel de vento é de

38,18cm. O modelo possui 42cm (c) de comprimento, 5,37cm de altura e 58,32cm de

largura (entre as duas placas de vidro). O comprimento da placa divisória upstream

ao modelo é de 193,52cm (4,61c) e o downstream é de 112,86cm (2,68c). A altura

das placas de vidro é de 23,50cm. Os comprimentos da placa divisória, do modelo e

distancia à parede superior do túnel do vento são mostradas na figura 2.2.

Figura 2.2 Geometria 2D do modelo experimental (Fonte: adaptado de NOELTING, 2008).

O controle de fluxo é aplicado por meio de uma abertura (0,432cm) plana que

se estende perpendicularmente à geometria arqueada (Figura 2.3). No experimento,

a sucção é realizada por uma bomba de sucção, onde o fluxo de massa de

0,01518kg/s é monitorado, e o controle oscilatório é realizado pelo movimento de um

pistão localizado sob a abertura, movido externamente por seis atuadores, onde a

velocidade do jato na abertura da geometria tem picos de 26,6m/s e frequência de

138,5Hz.

20

Figura 2.3 Detalhes da posição da abertura (Fonte: RUMSEYet al. 2004a).

Dessa forma, o experimento possui três conjuntos de dados: escoamento

permanente sem controle de fluxo; escoamento permanente com controle de sucção;

e escoamento transiente com controle oscilatório (injeção e sucção).

O escoamento livre possui velocidade de 34,6m/s, viscosidade dinâmica de

18,4x10-6kg/ms, densidade de 1,185kg/m3 e número de Reynolds de 9.36x105.O

coeficiente de pressão foi monitorado sobre a geometria e as condições de contorno

upstream à geometria foram medidas na posição x=-2.14c (velocidade média e

flutuação de velocidade u’).

2.2 MODELO NUMÉRICO

2.2.1 Geometria

O modelo numérico foi construído visando representar adequadamente todos

os efeitos presentes no experimento. A geometria do modelo numérico 2-D (Figura

2.4) foi construída a partir dos pontos coordenados disponíveis no caso 83 do banco

de dados online da ERCOFTAC (GREENBLATT et al. 2004b) e a região do

escoamento (enclosure) foi construída conforme figura 2.5:

21

Figura 2.4 Detalhes da geometria arqueada (Figura do autor).

Figura 2.5 Detalhes do Enclosure (Figura do autor).

Durante a construção do enclosure foram utilizados os valores escalados dos

pontos coordenados, c=1 e h=0.128. Além disso, o valor 6.39c foi sugerido em

Greenblatt et al. (2004b) para que o perfil de velocidade numérico se desenvolvesse

da mesma forma que o perfil experimental, nota-se que esse valor é maior que o

comprimento upstream da placa divisória (4.61c).

O valor 10h foi escolhido assumindo que este fosse suficientemente grande

para que a condição de contorno no topo do enclosure não influenciasse o

escoamento ao redor da geometria arqueada. E o valor 10c foi escolhido supondo que

os efeitos da separação da camada limite fossem ocorrer antes do final do enclosure.

2.2.2 Malhas

Foram desenvolvidas três malhas com diferentes graus de refinamento

(grosseira, normal e fina) a fim de assegurar que os resultados obtidos nas simulações

fossem independentes das mesmas.

As malhas foram geradas pelo programa ANSYS Meshing. A região do

escoamento (sobre a geometria) foi mapeada com elementos quadrangulares, e a

22

região onde o fluxo de controle de sucção é aplicado foi gerada automaticamente com

elementos triangulares.

Escolheu-se construir a malha de tal forma que o entorno da geometria

arqueada (próximo à abertura) e a região próxima à superfície inferior (parede) fossem

mais refinados quando comparados a pontos distantes, e também apresentassem boa

ortogonalidade. Na região onde o fluxo de controle é aplicado, optou-se por elementos

triangulares com pouco refinamento, visto que os efeitos físicos nessa região não

interferem diretamente no escoamento sobre a geometria arqueada. A seguir são

apresentados detalhes da construção das mesmas.

Primeiramente dividiu-se a geometria arqueada e a região projetada acima em

três linhas (Figura 2.6 e Tabela 2.1), e definiu-se a quantidade de elementos e a razão

entre o maior e menor (Bias Factor) elemento para as três malhas. A partir do Bias

Factor e do comprimento da aresta (superfície) é possível calcular a proporção do

crescimento dos elementos na malha.

Figura 2.6 Divisão em três linhas da geometria arqueada e sua projeção (Figura do autor).

Tabela 2.1 Quantidade de Elementos e Bias Factor por linha e malha.

Malha Grosseira Malha Normal Malha Fina

Número de

divisões

Bias

Factor

Número de

divisões

Bias

Factor

Número de

divisões

Bias

Factor

A 80 20 160 20 320 20

B 4 No Bias 8 No Bias 16 No Bias

C 50 20 100 20 200 20

23

Figura 2.7 Exemplo da divisão de elementos na região da abertura (linha B). (1) Malha grosseira, quatro elementos. (2) Malha normal, oito elementos. (3)

Malha fina, dezesseis elementos. (Figuras do autor).

Depois definiu-se a quantidade de elementos e Bias Factor para as outras

superfícies (Figura 2.8 e Tabela 2.2):

Figura 2.8 Linhas do enclosure (Figura do autor).

Tabela 2.2 Quantidade de elementos e Bias Factor por linha e malha no Enclosure.

Malha Grosseira Malha Normal Malha Fina

Número de

divisões

Bias

Factor

Número de

divisões

Bias

Factor

Número de

divisões

Bias

Factor

A 75 1200 150 1400 150 1800

B 64 8 128 8 256 8

C 100 10 200 10 400 10

Detalhes da região próxima à abertura são mostrados na Figura 2.7 e as

diferenças entre os refinamentos das malhas são mostradas nas Figuras 2.9-2.11.

1

2

3

B

B

B

24

Figura 2.9 Malha grosseira (coarse) (Figura do autor).

Figura 2.10 Malha normal (normal) (Figura do autor).

Figura 2.11 Malha fina (fine) (Figura do autor).

A malha da cavidade onde o controle de fluxo de sucção é aplicado foi gerada

automaticamente com elementos triangulares, variando-se o refinamento automático

da malha (Figura 2.12):

Figura 2.12 Malha Triangular. (A) Malha grosseira. (B) Malha normal. (C) Malha fina. (Figura do autor).

A

B

A

C

25

A quantidade total dos nós e elementos é mostrada no Tabela 2.3:

Tabela 2.3 Quantidade de nós e elementos separados por malha.

Malha Grosseira Malha Normal Malha Fina

Nós 23 mil 90 mil 180 mil

Elementos 23 mil 90 mil 180 mil

2.3 SOLVER

2.3.1 Definições gerais

Para todas a simulações realizadas, a malha foi escalada por um fator de 0,42,

fazendo com que a geometria arqueada tivesse as mesmas dimensões do

experimento.

No software ANSYS Fluent foram definidos escoamento viscoso, modelo de

turbulência κ-ε com tratamento próximo a parede (Anexo 8.1), as propriedades do

fluido (densidade 1,185kg/m3 e viscosidade 1,84x10-5kg/ms), o esquema de

acoplamento pressão-velocidade (SIMPLE), a discretização das equações do

momento linear e turbulência (esquema Upwind de segunda ordem) e a velocidade

do escoamento livre (34,6m/s).

26

2.3.2 Condições de contorno

As condições de contorno foram definidas no entorno do enclosure (arestas),

estão ilustradas na Figura 2.13:

Figura 2.13 Condições de contorno. (A) visão geral. (B) detalhe. (Figura do autor).

A condição de contorno Velocidade Inlet foi utilizada para definir por onde o

escoamento “entra” no enclosure. Nessa condição é possível especificar a velocidade

e os parâmetros da turbulência do escoamento. Ela ainda permite situações especiais

em que o escoamento esteja “saindo” (nessa situação, são usados valores da

velocidade normais a superfície). A condição de contorno Outflow foi utilizada para

definir por onde o escoamento “sai” do enclosure.

A condição de contorno Simetria foi utilizada para definir condições simétricas

no escoamento. Nesse modelo, optou-se por essa condição para que os efeitos de

uma camada-limite na superfície superior não interferissem no escoamento sobre a

geometria. A condição de contorno Parede foi utilizada para definir a condição de não

deslizamento nas paredes.

A condição de contorno Controle foi adaptada para cada caso da simulação.

No escoamento sem controle de fluxo (Caso 1) ela foi definida como parede, no

escoamento com controle de sucção (Caso 2) ela foi definida como Outflow (onde as

proporções do fluxo de massa pelos dois Outflow são especificadas) e no escoamento

com controle oscilatório (Caso 3) utilizou-se uma malha sem a região triangular e a

condição Velocidade Inlet foi especificada na linha B da geometria arqueada (Figura

2.7 e 2.14).

A B

27

As proporções do fluxo de massa especificados nas condições de contorno

Outflow para o Caso 2 (controle de sucção de 0,01518kg) foram calculados a partir do

fluxo de massa na entrada do escoamento calculado previamente no Caso 1 (sem

controle de fluxo). Conforme:

𝑓𝑙𝑢𝑥𝑜 𝑑𝑒 𝑚𝑎𝑠𝑠𝑎𝐼𝑛𝑙𝑒𝑡 = 22,042137 kg/s (2.01)

Considerando o fluxo de entrada como 100%, para obter a proporção do fluxo

de massa equivalente a 0,01518kg/s, faz-se:

𝑊𝐶𝑜𝑛𝑡𝑟𝑜𝑙 =0,01518

22,042137= 0,0006886852373 (2.02)

E para o outro Outflow:

𝑊𝑂𝑢𝑡𝑓𝑙𝑜𝑤 = 1 − 0,0006886852373 = 0,9993113148 (2.03)

Para o Caso 3 (controle de fluxo oscilatório, transiente), a condição de contorno

(velocidade Inlet) na linha B foi definida por uma função senoidal programada em C

(Anexo 8.2), onde f=138.5Hz é a frequência e A=26.6(m/s) é a velocidade máxima do

jato:

𝑣(𝑡) = 𝐴 ∙ sin(2𝜋𝑓 ∙ 𝑡) = 26.6 ∙ sin (277 ∙ 𝜋 ∙ 𝑡) (2.04)

Figura 2.14 Condições de contorno no modelo com controle oscilatório (Figura do autor).

28

2.3.3 Iterações e Inicialização

No Caso 1 (modelo sem controle de fluxo, permanente) foram definidas 12 mil

iterações para a malha grosseira e 30mil iterações para as malhas normal e fina. Para

o Caso 2 (modelo com controle de fluxo de sucção, permanente), a simulação foi

inicializada a partir dos resultados do modelo anterior, tendo 12 mil iterações para a

malha grosseira e 30 mil iterações para as malhas normal e fina.

O Caso 3 (modelo com controle oscilatório) é a única simulação transiente, nela

supôs-se que um ciclo do jato oscilatório estaria bem representado se discretizado

com 200 pontos (Figura 2.15). Dessa forma, definiu-se o tamanho do avanço temporal

(∆t) necessário para a simulação:

Figura 2.15 Ciclo do jato discretizado por 200 pontos (Figura do autor).

𝑓 = 138.5𝐻𝑧 ∴ 𝑇 = 𝑓−1 = 7.220216606 ∙ 10−3𝑠 (2.05)

∆𝑡 = 𝑇

200= 3.610108303 ∙ 10−5 𝑠 (2.06)

29

Além disso, foi definido o número de 30 iterações por intervalo de tempo e um

total de 30 ciclos (6mil ∆t / 180 mil iterações). Esse caso também foi inicializado a

partir do primeiro modelo.

2.4 FORMULAÇÃO TEÓRICA

2.4.1 Equações Governantes (Momentum e Continuidade)

As equações de Navier-Stokes podem modelar o escoamento de fluidos.

Admitindo-se a continuidade de massa em macroescala, essas equações são escritas

em função das grandezas macroscópicas, como velocidade, pressão, densidade e

temperatura. Elas representam os princípios físicos da conservação de massa e

conservação do momentum. Podendo ser escritas no caso de escoamento

Newtoniano e incompressível como:

Continuidade (princípio da conservação de massa):

𝜕𝑈𝑗

𝜕𝑥𝑗= 0 (2.07)

Conservação do momentum:

𝜕𝑈𝑖

𝜕𝑡+ 𝑈𝑗

𝜕𝑈𝑖

𝜕𝑥𝑗= −

1

𝜌

𝜕𝑝

𝜕𝑥𝑖 +

𝜕

𝜕𝑥𝑗(𝜈

𝜕𝑈𝑖

𝜕𝑥𝑗) (2.08)

Para o transporte de uma propriedade qualquer ϕ:

𝜕𝜙𝑖

𝜕𝑡+ 𝑈𝑗

𝜕𝜙𝑖

𝜕𝑥𝑗=

𝜕

𝜕𝑥𝑗(𝐷𝜙

𝜕𝜙𝑖

𝜕𝑥𝑗) + 𝑆𝜙𝑖

(2.09)

Onde,

ϕ: velocidade em x, velocidade em y, temperatura ou concentração Dϕ: difusividade de ϕ em [m^2/s] Sϕ: termo fonte

30

2.4.2 Turbulência

A maioria dos escoamentos na natureza e na engenharia são turbulentos. As

equações de Navier-Stokes e o método dos volumes finitos (ou qualquer outro método

numérico) podem ser usados diretamente (Direct Numerical Simulation) para resolver

escoamentos turbulentos. Entretanto, uma malha extremamente refinada se faz

necessário para que os menores vórtices e as escalas temporais e espaciais da

turbulência sejam adequadamente representados. Essas restrições estão aquém da

capacidade da maioria dos computadores atuais.

No entanto, na maioria das aplicações de engenharia, os campos de velocidade

e pressões médias são normalmente de interesse e os detalhes dos vórtices

instantâneos de turbulência não são requeridos. Desse modo, a seguinte metodologia

é usada para se calcular esses valores médios.

É possível separar a velocidade instantânea �̃�𝑖 (ou pressão instantânea) em

duas partes: velocidade média 𝑈𝑖 (constante) e velocidade turbulenta 𝑢𝑖 (ou flutuação

da velocidade), conforme Figura 2.16:

Figura 2.16 Velocidade instantânea (Fonte: COTTON, 2014).

A velocidade média é formalmente definida como:

𝑈𝑖 = lim𝑇→∞

1

𝑇∫ 𝑈�̃�

𝑇

0(t) dt (2.10)

E a velocidade instantânea é escrita como:

𝑈�̃� = 𝑈𝑖 + 𝑢𝑖 (2.11)

31

Substituindo essa definição de velocidade e pressão instantânea nas equações

de Navier-Stokes e após algumas simplificações, obtém-se as equações conhecidas

na literatura por equações de Reynolds (RANS):

𝑈𝑗𝜕𝑈𝑖

𝜕𝑥𝑗= −

1

𝜌

𝜕𝑝

𝜕𝑥𝑖+

𝜕

𝜕𝑥𝑗(𝜈

𝜕𝑈𝑖

𝜕𝑥𝑗− 𝑢𝑖𝑢𝑗̅̅ ̅̅ ̅) (2.12)

As equações de Reynolds apresentam a vantagem de fornecer os valores

médios para as propriedades diretamente. E também, devido ao fato que as variações

dos valores médios serem menores que a variação dos valores instantâneos, é

possível utilizar uma malha menos refinada do que a malha necessária para resolver

as “verdadeiras” equações de turbulência, diminuindo significativamente o custo

computacional.

O termo 𝑢𝑖𝑢𝑗̅̅ ̅̅ ̅, chamado de Tensor de Reynolds, representa o efeito das

flutuações na velocidade média devido a turbulência. Por esse termo não poder ser

resolvido diretamente, é necessário o uso de equações constitutivas, que são os

modelos de turbulência.

O modelo de turbulência utilizado nesse trabalho é chamado de κ-ε, e ele

pertence à classe de modelos de turbulência conhecida como Eddy Viscosity Models

(EVMs). Nessa classe de modelos, o Reynolds Stress é relacionado com o campo de

velocidade média por uma viscosidade turbulenta (que não é uma propriedade do

fluido e precisa ser determinada).

Foi escolhido o modelo κ-ε por ele ser o modelo mais utilizado em aplicações

industriais e apresentar maior robustez, além de suas limitações e aplicações já terem

sido amplamente estudadas e serem conhecidas. Para contornar as limitações em se

resolver escoamentos próximos a parede inerente nesse modelo, optou-se por realizar

um tratamento próximo a parede descrito no Anexo 8.1.

Nessa classe de modelos (EVM), o tensor de Reynolds é escrito por:

−𝑢𝑖𝑢𝑗̅̅ ̅̅ ̅ = 𝜈𝑡 (𝜕𝑈𝑖

𝜕𝑥𝑗+

𝜕𝑈𝑗

𝜕𝑥𝑖) −

2

3𝛿𝑖𝑗𝑘 (2.13)

32

Onde, a energia cinética turbulenta e o delta de Kronecker são dados

respectivamente por:

𝑘 = 1

2(𝑢2 + 𝑣2 + 𝑤2) =

1

2 𝑢𝑖𝑢𝑖 (2.14)

𝛿𝑖𝑗 = 1, 𝑠𝑒 𝑖 = 𝑗

𝛿𝑖𝑗 = 0, 𝑠𝑒 𝑖 ≠ 𝑗 (2.15)

Fazendo as devidas substituições e simplificações, podemos reescrever RANS:

𝑈𝑗𝜕𝑈𝑖

𝜕𝑥𝑗= −

1

𝜌

𝜕𝑝

𝜕𝑥𝑖+

𝜕

𝜕𝑥𝑗(𝜈

𝜕𝑈𝑖

𝜕𝑥𝑗+ 𝜈𝑡

𝜕𝑈𝑖

𝜕𝑥𝑗) (2.16)

O termo 𝜈𝑡 é chamado de viscosidade turbulenta e ele varia espacialmente por

todo o escoamento. No modelo de turbulência κ-ε, essa viscosidade é escrita em

função da energia cinética turbulenta (κ) e da taxa de dissipação dessa energia (ε).

𝜈𝑡 ∝𝜅2

𝜀= 𝐶𝜇

𝜅2

𝜀 (2.17)

Assim, duas equações modeladas adicionais de transporte são necessárias

para resolve-lo, uma para κ e outra para ε:

𝑈𝑗𝜕𝜅

𝜕𝑥𝑗= −𝑢𝑖𝑢𝑗̅̅ ̅̅ ̅

𝜕𝑈𝑖

𝜕𝑥𝑗+

𝜕

𝜕𝑥𝑗((𝜈 +

𝜈𝑡

𝜎𝑘)

𝜕𝜅

𝜕𝑥𝑗) − 휀 (2.18)

𝑈𝑗𝜕𝜀

𝜕𝑥𝑗= 𝐶𝜀1

𝜀

𝜅(−𝑢𝑖𝑢𝑗̅̅ ̅̅ ̅

𝜕𝑈𝑖

𝜕𝑥𝑗) +

𝜕

𝜕𝑥𝑗((𝜈 +

𝜈𝑡

𝜎𝜀)

𝜕𝜀

𝜕𝑥𝑗) − 𝐶𝜀2

𝜀2

𝜅 (2.19)

Onde:

𝐶𝜀1 = 1,44 𝜎𝑘 = 1,0

𝐶𝜀2 = 1,92 𝜎𝜀 = 1,3

𝐶𝜇 = 0,09

As equações exatas para κ e ε podem ser obtidas das equações instantâneas

de Navier-Stokes, entretanto elas precisam ser modeladas para que o sistema de

equações possa ser resolvido. As constantes nessas equações foram determinadas

33

a partir de experimentos para escoamentos turbulentos fundamentais. E mostraram-

se funcionar relativamente bem para uma variedade de aplicações.

2.5 CAMADA LIMITE

De acordo com Fox et al. (2010), o conceito de camada limite está relacionado

com a condição de não deslizamento. Essa condição é causada pelo atrito entre a

superfície (parede) e o escoamento, e requer que velocidade do escoamento em

contato com a superfície seja nula. Dessa forma, existirá uma camada (limite) delgada

no escoamento, adjacente a superfície, onde a velocidade varia do valor 0 (na

superfície) até a velocidade do escoamento livre.

2.5.1 Conceitos básicos

Para fluidos newtonianos, a tensão de cisalhamento exercida pela superfície no

fluido pode ser relacionada com a taxa de cisalhamento pela lei de Newton da

viscosidade:

𝜏 = 𝜇𝑑𝑢

𝑑𝑦 (2.20)

Onde μ é a viscosidade dinâmica do fluido.

A condição de não deslizamento é responsável por uma diminuição da

velocidade das partículas do fluido adjacentes a superfície, fazendo com que à medida

que avançamos na direção (downstream) do escoamento, cada vez mais partículas

são afetadas, resultando em um aumento da espessura da camada-limite (δ) (Figura

2.17). Em alguns casos, a desaceleração de partículas adjacentes pode acarretar em

um escoamento reverso e ao desprendimento da camada limite.

34

Figura 2.17 Condição de não deslizamento (Fonte: SCHLICHTING, 1979).

2.5.2 Escoamentos laminar e turbulento

Escoamentos com camada-limite podem existir em dois diferentes regimes:

laminar e turbulento (Figura 2.19-A). No escoamento laminar, as camadas de fluido

“escorregam” umas sobre as outras, sem nenhuma transferência de massa e

momentum por elas, sendo o gradiente de velocidade produzido pelo cisalhamento

apenas função da viscosidade do fluido. No caso do escoamento turbulento,

flutuações de velocidade ocorrem em todas as direções, resultando na transferência

de massa e momentum pelas camadas. A transferência dessa energia do escoamento

para dentro das camadas resulta em tensões cisalhantes entre elas e na aceleração

das partículas do fluido em regiões próximas a superfície. As novas componentes de

tensão são chamadas, na literatura, de tensores de Reynolds.

Figura 2.18 Perfil de velocidade laminar e turbulento (Fonte: Fox, 2010).

35

Na Figura 2.18 observa-se que as velocidades das partículas são maiores no

perfil de velocidade turbulento na região próxima à superfície, e consequentemente, o

gradiente de velocidade (adjacente à superfície) 𝑑𝑢

𝑑𝑦 também é maior.

Figura 2.19 (A) camada limite laminar e turbulenta. (B) subcamada viscosa(Fonte: LAYTON, 2001).

A distribuição de velocidade na camada limite turbulenta pode ser separada em

três regiões distintas, cada uma descrita por diferentes equações. A subcamada

viscosa (Figura 2.19-B), onde a tensão cisalhante é basicamente constante e o

escoamento é essencialmente laminar, a camada logarítmica, descrita pela lei

logarítmica e a camada de transição (buffer zone), descrita por expressões empíricas.

É possível também definir um comprimento adimensional, caracterizando cada região

da camada limite em função das propriedades do fluido e da tensão cisalhante:

𝑦+ =𝑦

𝜈√

𝜏

𝜌 (2.21)

B

A

36

Tabela 2.4 Valores de y+ por região.

Subcamada viscosa Buffer Zone Camada logarítmica

𝑦+ 0 - 5 5 - 70 70 – 500 ~1000

2.5.3 Separação da camada limite

A partir das equações 2D e incompressível da camada-limite de Prandtl

(equação de Navier-Stokes simplificadas) é possível determinar as condições

necessárias para separação da camada limite.

𝜕𝑢

𝜕𝑥+

𝜕𝑣

𝜕𝑦= 0 (2.22)

𝑢𝜕𝑢

𝜕𝑥+ 𝑣

𝜕𝑢

𝜕𝑦= −

1

𝜌

𝑑𝑃

𝑑𝑥+ 𝜈

𝜕2𝑢

𝜕𝑦2 (2.23)

Onde as condições de contorno da camada limite são: em y=0 ∶ u=v=0 e em

y→∞ ∶ u→U∞. Assim, em y=0, temos:

𝜇 (𝜕2𝑢

𝜕𝑦2)𝑦=0

=𝑑𝑃

𝑑𝑥 (2.24)

Observa-se que o perfil de velocidade na região imediatamente sobre a parede

é função apenas da pressão. Assim, o gradiente de pressão favorável (aquele em que

a pressão diminui ao longo do escoamento, 𝑑𝑃

𝑑𝑥< 0), implica que

𝜕2𝑢

𝜕𝑦2 < 0 em todo a

região da camada limite. Por outro lado, o gradiente de pressão adverso (aquele em

que a pressão aumenta ao longo do escoamento, 𝑑𝑃

𝑑𝑥> 0) implica em um ponto de

inflexão, 𝜕𝑢

𝜕𝑦= 0, indicando a separação da camada limite em algum ponto futuro

(downstream) ao escoamento. A Figura 2.20 ilustra as duas situações.

37

Figura 2.20 Perfil de velocidade nas situações de (A) gradiente favorável de pressão e (B) gradiente adverso de pressão. (Fonte: Schlichting, 1979).

De acordo com Schlichting (1979) escoamentos laminares podem suportar

pequenos gradientes adversos de pressão sem que ocorra a separação da camada

limite, além disso, observações mostraram que uma camada limite laminar que se

separou de uma superfície, normalmente, recola à superfície após o escoamento virar

turbulento, criando uma zona de recirculação laminar (bolha de separação). No caso

de escoamentos turbulentos, eles podem suportar melhor a situação adversa de

pressão, devido à transferência de energia da região dentro da camada limite para o

escoamento livre ser facilitada. Para o presente trabalho, uma bolha de recirculação

é esperada, assim como tensões cisalhantes próximas de zero nos pontos de

separação e recolamento.

A B

38

2.5.4 Controle da separação da camada limite

Existem vários métodos que foram desenvolvidos com o propósito de controlar

artificialmente o comportamento da camada limite. Dentre eles:

1. Movimento da superfície: ao movimentar a superfície na mesma direção do

escoamento, a diferença de velocidade entre o escoamento e a superfície

diminui, eliminando a causa da formação da camada limite.

2. Aceleração da camada limite (injeção de massa): consiste em fornecer

energia adicional às partículas de fluido que foram retardadas pela camada

limite por meio de injeção de massa pela parede.

3. Sucção: consiste em remover as partículas de fluido desacelerada através de

furos na parede antes que ocorra a separação, esse método também pode

ser utilizado para atrasar a transição para escoamento turbulento, reduzindo

o arrasto.

4. Forma: as características geométricas da superfície influenciam no gradiente

de pressão, afetando na separação da camada limite.

39

3 METODOLOGIA NUMÉRICA

3.1 MÉTODO DOS VOLUMES FINITOS

O método dos volumes finitos é um procedimento utilizado para discretizar as

equações do transporte. Ele consiste na integração dessas equações diferenciais

parciais em uma região finita do espaço (volume). O resultado desse procedimento é

um balanço entre os termos convectivo, difusivos e fonte. A região do espaço é

discretizada com o uso de uma malha, e cada célula dessa malha representa um

volume de controle.

(𝐶𝑜𝑛𝑣𝑒𝑐çã𝑜 𝑑𝑒 𝜙) = (𝐷𝑖𝑓𝑢𝑠ã𝑜 𝑑𝑒 𝜙) + (𝐺𝑒𝑟𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝜙) (3.01)

Supondo uma propriedade transportada ϕ e um volume de controle 2D,

representando uma célula da malha (Figura 3.1). Os fluxos convectivos e difusivos

atravessam as fronteiras desse volume, e o termo fonte de geração atua por todo o

volume.

Figura 3.1 Volume de Controle. (Fonte: COTTON, 2014).

40

Assim, integrando a equação de transporte no volume de controle:

∫ ∫ 𝑈𝜕𝜙

𝜕𝑥

𝑒

𝑤𝑑𝑥𝑑𝑦 +

𝑛

𝑠∫ ∫ 𝑉

𝜕𝜙

𝜕𝑦

𝑛

𝑠

𝑒

𝑤𝑑𝑦𝑑𝑥 = ∫ ∫

𝜕

𝜕𝑥(𝐷𝜙

𝜕𝜙

𝜕𝑥 )

𝑒

𝑤𝑑𝑥𝑑𝑦

𝑛

𝑠+ ∫ ∫

𝜕

𝜕𝑦(𝐷𝜙

𝜕𝜙

𝜕𝑦 )

𝑛

𝑠

𝑒

𝑤𝑑𝑦𝑑𝑥 +

∫ ∫ 𝑆𝜙𝑤

𝑒

𝑛

𝑠𝑑𝑥𝑑𝑦 (3.02)

Resolvendo-se a primeira integral, obtém-se a equação exata (3.3):

∫ (𝜙𝑈)𝑒 − (𝜙𝑈)𝑤 𝑑𝑦𝑛

𝑠+ ∫ (𝜙𝑉)𝑛 − (𝜙𝑉)𝑠 𝑑𝑥

𝑒

𝑤= ∫ (𝐷𝜙

𝜕𝜙

𝜕𝑥)

𝑒

𝑛

𝑠− (𝐷𝜙

𝜕𝜙

𝜕𝑥)

𝑤𝑑𝑦 +

∫ (𝐷𝜙𝜕𝜙

𝜕𝑦)

𝑛

𝑒

𝑤− (𝐷𝜙

𝜕𝜙

𝜕𝑦)

𝑠𝑑𝑥 + ∫ ∫ 𝑆𝜙

𝑤

𝑒

𝑛

𝑠𝑑𝑥𝑑𝑦 (3.03)

3.2 DISCRETIZAÇÃO DOS TERMOS

Para discretização das equações integradas do transporte, baseados nas aulas

de Cotton e Craft (2014) é necessário primeiro definir os nós em que as variáveis

serão armazenadas. Os nós são a única localização em que a informações do

escoamento são armazenadas, para outras posições é necessário utilizar de

aproximações (interpolações).

Os nós são definidos no centro do volume de controle:

Figura 3.2 Posição dos nós. (Fonte: COTTON, 2014).

3.2.1 Termos difusivos

Os termos difusivos da equação do transporte podem ser discretizados

utilizando-se da diferença finita centrada e a regra do ponto médio. Onde, a derivada

parcial em relação a uma face pode ser aproximada por diferenças finitas centrais:

41

(𝜕𝜙

𝜕𝑥)

𝑒=

𝜙𝐸−𝜙𝑃

∆𝑥 (3.04)

Os subíndices maiúsculos referem-se aos valores nos nós E e P, conforme:

Figura 3.3 Nós adjacentes. (Fonte: COTTON, 2014).

A regra do ponto médio é utilizada para resolver a integral. Aproxima-se a

integral, pelo produto entre o valor sendo integrado no centro do volume de controle e

a área da face (ou aresta nas malhas 2D).

Assim:

∫ (𝐷𝜙𝜕𝜙

𝜕𝑥)

𝑒

𝑛

𝑠𝑑𝑦 ≈ 𝐷𝜙 (

𝜙𝐸−𝜙𝑃

∆𝑥) ∆𝑦 (3.05)

Essa discretização pode ser usada de forma análoga para os outros termos

difusivos. É importante ressaltar que tanto a diferença finita centrada e a regra do valor

médio são aproximações com o erro de segunda ordem.

3.2.2 Termos convectivos

Os termos convectivos serão discretizados utilizando-se do Upwind difference

Scheme de segunda ordem.

A convecção causa o transporte de uma propriedade apenas na direção do

escoamento, dessa forma, é possível aproximar os valores das faces do volume de

controle pelos valores nos nós a montante no escoamento (assumindo-se um

escoamento da esquerda para direita, o valor da propriedade na face e, será

aproximada pela interpolação dos valores nos nós P e W).

42

Através da expansão em série de Taylor referente a face e dos valores em P e

W, é possível demonstrar que ϕe pode ser aproximado por:

𝜙𝑒 ≈3𝜙𝑃−𝜙𝑊

2 (3.06)

Assim, o termo ∫ (𝜙𝑈)𝑒𝑑𝑦𝑛

𝑠 pode ser integrado utilizando a regra do valor

médio:

∫ (𝜙𝑈)𝑒𝑑𝑦𝑛

𝑠= (𝑈𝑒∆𝑦)𝜙𝑒 (3.07)

O termo entre parênteses é o fluxo volumétrico, e ele é conhecido de uma

interação anterior. Dessa forma, apenas o valor ϕe é aproximado. Essa aproximação

também é de segunda ordem e pode ser analogamente demonstrada para as outras

faces.

3.2.3 Termos fonte

Os termos fonte podem ser aproximados pela regra do valor médio e também

são de segunda ordem:

∫ ∫ 𝑆𝜙𝑤

𝑒

𝑛

𝑠𝑑𝑥𝑑𝑦 ≈ 𝑆𝜙∆𝑥∆𝑦 (3.08)

3.2.4 Discretização temporal

Escolheu-se discretizar o problema utilizando-se um esquema implícito de

segunda ordem descritos na aula de Craft (2014). O esquema implícito foi utilizado

por ser incondicionalmente estável.

Considerando um termo genérico dependente do tempo:

𝜕𝜙

𝜕𝑡= 𝑓(𝑡, 𝜙(𝑡)) (3.09)

43

E integrando ele em relação ao tempo e isolando o termo no instante futuro:

𝜙(𝑛+1) = 𝜙(𝑛) + ∫ 𝑓(𝑡, 𝜙(𝑡)) 𝑡+Δ𝑡

𝑡𝑑𝑡 (3.10) (3.10)

Na equação 3.10 a integral pode ser aproximada utilizando a regra do trapézio

(ponderando-se os valores finais e iniciais de f):

𝜙(𝑛+1) = 𝜙(𝑛) +Δ𝑡

2[𝑓(𝑡, 𝜙𝑛) + 𝑓(𝑡 + Δ𝑡, 𝜙𝑛+1) ] (3.11)

Para o caso da equação transiente convecção-difusão, utilizando diferenças

finitas centrais nos termos convectivos:

𝜙𝑖(𝑛+1)

= 𝜙𝑖(𝑛)

−UΔ𝑡

2(

𝜙𝑖+1(𝑛+1)

−𝜙𝑖−1(𝑛+1)

2Δx) +

ΓΔ𝑡

2(

𝜙𝑖+1(𝑛+1)

−2𝜙𝑖(𝑛+1)

+𝜙𝑖−1(𝑛+1)

(Δx)2) −

UΔ𝑡

2(

𝜙𝑖+1(𝑛)

−𝜙𝑖−1(𝑛)

2Δx) +

ΓΔ𝑡

2(

𝜙𝑖+1(𝑛)

−2𝜙𝑖(𝑛)

+𝜙𝑖−1(𝑛)

(Δx)2 ) (3.12)

3.3 MALHA NÃO UNIFORME

Na maioria dos casos, assim como no presente trabalho, a malha não é

uniforme (a distância entre os nós varia).

A variação do espaçamento foi feita para que a malha seja mais refinada nas

regiões em que se tem maior gradiente. Dessa forma, a ordem do erro das equações

discretizadas aumenta, porém o erro de truncamento diminui consideravelmente

nessas regiões mais refinadas.

3.4 SOLUÇÃO DAS EQUAÇÕES DISCRETIZADAS

Após discretizar as equações para cada volume de controle, é possível montar

um sistema do tipo 𝐴𝜙 = 𝑆𝜙 e utilizar de um algoritmo para a solução do mesmo. É

importante destacar que os valores nas faces dos volumes de controle na fronteira da

geometria são condições de contorno, ou seja, esses valores são conhecidos e

permitem a solução para toda a malha.

44

3.5 TRATAMENTO DO ACOMPLAMENTO PRESSÃO-VELOCIDADE

A solução das equações discretizadas do momentum são complicadas pelo fato

delas apresentarem termos de gradientes de pressão e não existir uma equação

independente para a pressão. Entretanto, é possível utilizar a equação da

continuidade para obter valores para a pressão nos nós.

O acoplamento de pressão-velocidade é uma imposição de restrição para que

o campo de pressão seja consistente com a velocidade, satisfazendo a equação de

continuidade.

No presente trabalho, optou-se pelo algoritmo SIMPLE (Semi-Implicit Method

for Pressure-Linked Equations). Para cada iteração no algoritmo SIMPLE, os valores

da pressão e velocidade são atualizados em todos os nós. E o processo de iteração

é repetido até que um critério de convergência seja atingido (CRAFT, 2014).

O algoritmo SIMPLE possui duas etapas de iteração:

1) Na primeira etapa resolve-se as equações do momentum utilizando os valores

da pressão da etapa anterior, desse modo obtém-se valores de velocidade

(intermediário) que não satisfazem a equação da continuidade.

2) Na segunda etapa os valores da pressão são corrigidos (utilizando os valores

intermediários de velocidade e o princípio da continuidade). Após achar o valor

da pressão corrigida, as equações do momentum são resolvida novamente.

3.6 FATORES DE RELAXAÇÃO

Em uma solução sequencial (ou segregada) das equações, cada variável é

resolvida em turno. Ou seja, para se obter o valor de uma nova iteração, utiliza-se

valores de interações anteriores. Dessa forma, faz-se necessário limitar a variação em

cada iteração, para que os coeficientes e termos fontes das outras equações não

sejam afetados mais do que o necessário (diminuindo a velocidade de convergência).

A técnica utilizada para impedir esse problema é o fator de relaxação. Esse fator

pondera o valor da correção a ser aplicado.

45

3.7 RESIDUAIS

Em um método número é importante se ter um critério para determinar quando

a solução convergiu adequadamente (e o resultado não se altere significativamente

em novas iterações). Esse critério de parada pode ser definido em função dos

residuais.

Os residuais são obtidos a partir do somatório da diferença entre os termos

ponderados utilizados para se calcular o valor em determinado nó e o valor do nó em

questão:

𝑅𝜑 = ∑ |𝑎𝐸𝜑𝐸 + 𝑎𝑊𝜑𝑊 + 𝑎𝑁𝜑𝑁 + 𝑎𝑆𝜑𝑆 + (𝑆𝜑)𝑃

− 𝑎𝑃𝜑𝑃|𝑝 (3.13)

O critério de parada é na maioria das vezes definido em função de um residual

escalado para todas as equações a serem resolvidas:

𝑅𝜑 =∑ |𝑎𝐸𝜑𝐸+ 𝑎𝑊𝜑𝑊+ 𝑎𝑁𝜑𝑁+ 𝑎𝑆𝜑𝑆+ (𝑆𝜑)

𝑃−𝑎𝑃𝜑𝑃|𝑃

∑ |𝑎𝑃𝜑𝑃|𝑃 (3.14)

3.8 PARÂMETROS DE TURBULÊNCIA

A turbulência na entrada (Inlet) do escoamento também precisa ser

especificada a fim de resolver as equações de transporte. Entretanto, a viscosidade

turbulenta, que foi escrita em função de κ e ε, é uma propriedade que só existe

numericamente (ela não é uma propriedade do fluido) e precisa ser relacionada com

os dados experimentais. Essa relação pode ser obtida a partir das seguintes

definições:

A) Intensidade de turbulência:

𝐼 =𝑢′

𝑈 (3.15)

Em experimentos em tuneis de vento, um valor aproximado médio esperado é

5% de intensidade de turbulência.

46

B) Comprimento da escala de turbulência (para escoamentos externos):

𝑙 ≈ 0.1ℎ (3.16)

O comprimento da escala de turbulência é um comprimento físico relacionado

com o tamanho dos vórtices que contem mais energia a ser dissipada. Assim, é

esperado que esse tamanho não seja maior que um decimo da altura da geometria

arqueada. Outra aproximação possível, é relacionar esse comprimento com 40% do

tamanho da camada limite em escoamentos externos a placas.

A intensidade turbulência e a escala de comprimento de turbulência podem ser

escritos em função de κ e ε conforme:

𝐼 =1

𝑈∙ √

2

3𝜅 (3.17)

𝑙 = 𝐶𝜇

3

4𝜅

32

𝜀 (3.18)

A partir dos dados disponíveis no caso 83 do banco de dados online da

ERCOFTAC (GREENBLATT et al. 2004b) referentes ao escoamento na posição x⁄c=-

2.14 pode-se comparar os resultados experimentais com os numéricos e determinar

um valor para a Intensidade de turbulência e o comprimento da escala de turbulência

no modelo numérico.

Inicialmente, utilizou-se o comprimento da geometria upstream à superfície

arqueada de -6,39c para testar a sensibilidade a alterações nos parâmetros de

turbulência. Simulou-se o escoamento sem controle de fluxo (Caso 1).

Além disso, foram definidas a variável numérica uprime (velocidade de flutuação)

e a energia cinética de turbulência em função dos dados experimentais (TKE):

𝑢𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒 = √𝑘2

3 (3.19)

𝑇𝐾𝐸 = 𝑢′2 3

2 (3.20)

Onde k é a energia cinética de turbulência e é calculada pelo software e u’ é a

velocidade de flutuação fornecida pelos dados experimentais.

Em uma primeira simulação, o comprimento da escala de turbulência foi

mantido constante em 𝑙≈0.005376m e variou-se a intensidade de turbulência I em

47

0.05%, 0,1%, 0,2%, 0,4%, 0,5%, 1,0% e 2,0%. Em um segundo modelo, a intensidade

de turbulência foi mantida constante em I=0,1% e variou-se o comprimento da escala

de turbulência em 0,0005376m, 0,005276m e 0,5376m. A partir dos resultados

obtidos, decidiu-se adotar para todas as simulações: 𝑙=0,005376m e I=0,4%.

3.9 INFLUÊNCIA DA GEOMETRIA UPSTREAM

Para validar o comprimento 6,39c upstream à geometria arqueada, foram

simulados diferentes comprimentos (4c, 5,89c, 6,39c, 6,89c e 10c) e analisados a

influencia no perfil de velocidade. Nesse modelo, os parâmetros de turbulência foram

mantidos em I=0,1% e 𝑙=0,005376m, e foram comparados perfis de velocidade na

posição x=-2,14c=-0,8988m.

48

4 RESULTADOS

4.1 PRÉ-SIMULAÇÃO

4.1.1 Y+

A Figura 4.1 mostra o valor de Y+ (distância adimensional da parede até o

primeiro nó) para as três malhas referente aos casos de pré-simulação. A partir desse

gráfico é possível perceber que as três malhas são suficientemente refinadas para

resolver a subcamada viscosa (Y+ < 5).

Figura 4.1 Y+ Malhas.

49

4.1.2 PARÂMETROS DE TURBULÊNCIA

4.1.2.1 Variando a intensidade de turbulência

A partir dos gráficos de flutuação de velocidade u' (Figura 4.2) e energia cinética

de turbulência TKE (Figura 4.3) obtidos na posição x=-2.14c observa-se que os

resultados foram independentes da malha. Na ordenada está a distância à parede (y)

e na abcissa os valores obtidos para as variáveis (u’ e TKE). Após comparar as curvas

obtidas para diversos valores de intensidade de turbulência (I) com o valor

experimental (vermelho) definiu-se a intensidade de turbulência na entrada do

escoamento I=0.4%.

50

Figura 4.2 Gráficos da flutuação de velocidade. (A) Malha grosseira (B) Malha normal. (C) Malha fina. Linha vermelha: valor experimental, outras

linhas: valores testados para a intensidade de turbulência.

A

B

C

51

Figura 4.3 Gráficos energia cinética de turbulência. (A) Malha grosseira (B) Malha normal. (C) Malha fina. Linha vermelha: valor experimental, outras

linhas: valores testados para a intensidade de turbulência.

A

B

C

52

4.1.2.2 Variando o comprimento da escala de turbulência

A partir dos gráficos de flutuação de velocidade u' (Figura 4.4) e energia cinética

de turbulência TKE (Figura 4.5) obtidos na posição x=-2.14c observa-se que os

resultados foram independentes da malha. Na ordenada está a distância à parede (y)

e na abcissa os valores obtidos para as variáveis (u’ e TKE). Após comparar as curvas

obtidas para diversos valores do comprimento da escala de turbulência (𝑙) com o valor

experimental (vermelho), observou-se que a variação no comprimento da escala de

turbulência não acarretou em nenhuma mudança na curva dos gráficos. Esse fato era

esperado, pois a dissipação de energia pelos vórtices com mais energia se adapta a

esse comprimento. Assim ficou definido 𝑙=0,005376m, referente a um décimo da

altura máxima da geometria arqueada.

53

Figura 4.4 Gráficos da flutuação de velocidade. (A) Malha grosseira (B) Malha normal. (C) Malha fina. Linha vermelha: valor experimental, outras

linhas: valores testados para o comprimento da escala de turbulência.

A

B

C

54

Figura 4.5 Gráficos energia cinética de turbulência. (A) Malha grosseira (B) Malha normal. (C) Malha fina. Linha vermelha: valor experimental, outras

linhas: valores testados para o comprimento da escala de turbulência.

A

B

C

55

4.1.3 Influência da geometria upstream

A partir da análise dos gráficos do perfil de velocidade (Figura 4.6) na posição

x=-2.14c observa-se que os resultados foram independentes da malha, é possível ver

que quanto maior o comprimento da geometria upstream, maiores são os efeitos da

viscosidade no perfil de velocidade. A geometria upstream de 6.39c obteve os

resultados mais próximos aos resultados experimentais obtidos para uma geometria

upstream da placa divisória de 4.61c (em vermelho).

56

Figura 4.6 Gráficos do perfil de velocidade. (A) Malha grosseira (B) Malha normal. (C) Malha fina. Linha vermelha: valor experimental, outras linhas:

valores testados para o comprimento da geometria upstream.

A

B

C

57

4.2 ESCOAMENTO SEM CONTROLE DE FLUXO

A partir dos gráficos de coeficiente de pressão e tensão cisalhante sobre a

geometria arqueada (Figuras 4.7 e 4.8) observa-se que os valores foram

independentes das malhas. Os valores absolutos do coeficiente de pressão

experimental sobre a geometria foram maiores que os encontrados numericamente.

Os pontos de separação e recolamento do escoamento foram definidos a partir dos

valores mínimos de tensão cisalhante após a geometria arqueada.

Figura 4.7 Coeficiente de pressão na geometria arqueada.

58

Figura 4.8 Tensão cisalhante na geometria arqueada.

59

Os contornos de pressão, velocidade, energia turbulenta cinética e razão de

viscosidade, assim como a linha de corrente (Figuras 4.9-4.13), ilustram os efeitos

físicos presentes no escoamento, também se observa a pouca variação dos

resultados obtidos paras as três malhas. Entre eles, o contorno de pressão (Figura

4.9) ilustra o aumento da pressão na parte côncava (final) da geometria, chamada de

condição adversa de pressão, que é a condição necessária para o descolamento da

camada limite.

Figura 4.9 Contorno de pressão. (A) Malha grosseira (B) Malha normal. (C) Malha fina.

A

B

C

60

A partir do contorno de velocidade (Figura 4.10) é possível ver o valor médio

nulo (azul) na zona de recirculação, esse valor era esperado devido as equações de

RANS fornecerem um valor médio para a velocidade das partículas do fluido que estão

recirculando nessa zona.

Figura 4.10 Contorno de velocidade. (A) Malha grosseira (B) Malha normal. (C) Malha fina.

A

B

C

61

O contorno de energia cinética turbulenta (Figura 4.11) ilustra a maior energia

turbulenta dentro da bolha de recirculação e também a dissipação dessa energia ao

longo do escoamento.

Figura 4.11 Contorno de energia cinética turbulenta. (A) Malha grosseira (B) Malha normal. (C) Malha fina.

B

C

A

62

O contorno da razão de viscosidade turbulenta e dinâmica (Figura 4.12) ilustra

a presença da subcamada viscosa próxima à parede (azul escuro), onde os efeitos da

turbulência são nulos.

Figura 4.12 Contorno de razão de viscosidade (turbulenta e dinâmica). (A) Malha grosseira (B) Malha normal. (C) Malha fina.

B

A

C

63

A Figura 4.13 ilustra a linha de corrente, nela é possível ver a zona de

recirculação.

Figura 4.13 Linha de corrente e velocidade. (A) Malha grosseira (B) Malha normal. (C) Malha fina.

4.3 ESCOAMENTO COM CONTROLE DE FLUXO DE SUCÇÃO

As observações dos resultados encontrados para o caso com controle de fluxo

de sucção são análogas ao caso sem controle de fluxo.

Nos gráficos de coeficiente de pressão e tensão cisalhante (Figuras 4.14 e

4.15) observa-se uma descontinuidade na curva devido ao efeito da sucção na região

aberta da geometria.

B

A

C

64

Figura 4.14 Coeficiente de pressão na geometria arqueada.

Figura 4.15 Tensão cisalhante na geometria arqueada.

65

No contorno de pressão (Figura 4.16) observa-se um valor absoluto da pressão

(~1000Pa) maior que o valor absoluto no caso sem controle de fluxo (~400Pa) na

cavidade onde a sucção é aplicada.

Figura 4.16 Contorno de pressão. (A) Malha grosseira (B) Malha normal. (C) Malha fina.

A

B

C

66

No contorno de velocidade (Figura 4.17) observa-se uma zona de recirculação

menor que no caso sem controle de fluxo.

Figura 4.17 Contorno de velocidade. (A) Malha grosseira (B) Malha normal. (C) Malha fina.

A

B

C

67

A Figura 4.18 ilustra a sucção na abertura para as três malhas. A condição de

contorno no caso com sucção permanente é aplicada na cavidade, dessa forma é

possível ver o escoamento entrando pela abertura da geometria.

Figura 4.18 Vetor de velocidade. (A) Malha grosseira (B) Malha normal. (C) Malha fina.

B

C

A

68

No contorno de energia cinética turbulenta (Figura 4.19) e razão da viscosidade

turbulenta e dinâmica (Figura 4.20) observa-se maiores efeitos de turbulência na zona

de recirculação.

Figura 4.19 Contorno de energia cinética turbulenta. (A) Malha grosseira (B) Malha normal. (C) Malha fina.

B

C

A

69

O contorno da razão de viscosidade turbulenta e dinâmica (Figura 4.20) ilustra

a presença da subcamada viscosa próxima à parede (azul escuro), onde os efeitos da

turbulência são nulos.

Figura 4.20 Contorno de razão de viscosidade (turbulenta e dinâmica). (A) Malha grosseira (B) Malha normal. (C) Malha fina.

B

C

A

70

A Figura 4.21 ilustra a linha de corrente para o caso com controle de fluxo de

sucção, nela é possível ver a zona de recirculação.

Figura 4.21 Linha de corrente e velocidade. (A) Malha grosseira, (B) Malha normal, (C) Malha fina.

4.4 ESCOAMENTO COM CONTROLE DE FLUXO OSCILATÓRIO

Os gráficos e figuras para o caso com controle de fluxo oscilatório (Figuras 4.22-

4.25) foram feitos em função do valor médio calculado para os 30 ciclos e estão sendo

mostradas para as três malhas. Os contornos de velocidade (Figura 4.26), linha de

corrente (Figura 4.27), contorno da energia cinética turbulenta (Figura 4.28) e contorno

da razão de viscosidade (Figura 4.29) foram feitos durante o último ciclo e apenas o

resultado para malha com o refinamento médio está sendo mostrado. O semi-ciclo de

injeção de massa ocorre durante o intervalo de 0° a 180° e o semi-ciclo de sucção de

massa ocorre durante o intervalo de 180° a 360°.

B

A

C

71

Para o caso com controle de fluxo oscilatório, a condição de contorno foi aplicada

diretamente na geometria, não havendo, por tanto, a presença da cavidade.

Nos gráficos de coeficiente de pressão e tensão cisalhante (Figuras 4.22 e 4.23)

observa-se uma descontinuidade na curva devido ao efeito do controle de fluxo que

está sendo aplicado.

Figura 4.22 Coeficiente de pressão médio.

72

Figura 4.23 Tensão Cisalhante media.

73

O contorno de pressão (Figura 4.24) ilustra o aumento da pressão na parte

côncava (final) da geometria, chamada de condição adversa de pressão que é a

condição necessária para o descolamento da camada limite.

Figura 4.24 Contorno de pressão médio. (A) Malha grosseira (B) Malha normal. (C) Malha fina.

A

B

C

74

A partir do contorno de velocidade (Figura 4.25) é possível ver o valor médio

nulo (azul) na zona de recirculação, esse valor nulo era esperado devido a ele ser um

valor médio durante os 30 ciclos e também devido a formulação RANS que fornece o

valor médio diretamente.

Figura 4.25 Contorno de velocidade média. (A) Malha grosseira (B) Malha normal. (C) Malha fina.

A

B

C

75

A Figura 4.26 ilustra o contorno de velocidade média durante o último ciclo da

simulação. Durante o semi-ciclo de injeção (A-D) é possível observar uma zona de

recirculação maior que a zona de recirculação durante o semi-ciclo de sucção (E-H).

Figura 4.26 Contorno de velocidade oscilatório. (A) representa o início da fase de injeção de massa (0°), tendo o seu máximo representado em (C) (90°). (B) e (D) representam momentos intermediários no semi-ciclo de injeção de massa (45° e 135°). (E) representa o início da fase de sucção de massa (180°), tendo o seu máximo representado em (G) (270°). (F) e (H) representam momentos intermediários no semi-ciclo de succção de massa (225°e 315°).

A

C

E

G

B

D

F

H

76

A Figura 4.27 ilustra a recirculação presente na bolha de separação durante o

último ciclo, observa-se a formação de duas zonas de recirculação.

Figura 4.27 Linha de corrente/velocidade oscilatório. Figura 4.28 Contorno de velocidade oscilatório. (A) representa o início da fase de injeção de massa (0°), tendo o seu máximo representado em (C) (90°). (B) e (D) representam momentos intermediários no semi-ciclo de injeção de massa (45° e 135°). (E) representa o início da fase de sucção de massa (180°), tendo o seu máximo representado em (G) (270°). (F) e (H) representam momentos intermediários no semi-ciclo de succção de massa (225°e 315°).

A

C

E

G

B

D

F

H

77

A Figura 4.28 ilustra o contorno da energia cinética turbulenta durante o último

ciclo, observa-se maiores efeitos da turbulência dentro da zona de recirculação e a

dissipação dessa energia ao longo do escoamento.

Figura 4.29 Contorno de energia cinética de turbulência. Figura 4.30 Contorno de velocidade oscilatório. (A) representa o início da fase de injeção de massa (0°), tendo o seu máximo representado em (C) (90°). (B) e (D) representam momentos intermediários no semi-ciclo de injeção de massa (45° e 135°). (E) representa o início da fase de sucção de massa (180°), tendo o seu máximo representado em (G) (270°). (F) e (H) representam momentos intermediários no semi-ciclo de succção de massa (225°e 315°).

A

C

E

G

B

D

F

H

78

A Figura 4.29 ilustra o contorno da razão da viscosidade turbulenta e dinâmica

durante o último ciclo, observa-se maiores efeitos da turbulência dentro da zona de

recirculação e a presença da subcamada viscosa (valores nulos) próximos a parede.

Figura 4.31 Contorno da razão de viscosidade (turbulenta/dinâmica) . Figura 4.32 Contorno de velocidade oscilatório. (A) representa o início da fase de injeção de massa (0°), tendo o seu máximo representado em (C) (90°). (B) e (D) representam momentos intermediários no semi-ciclo de injeção de massa (45° e 135°). (E) representa o início da fase de sucção de massa (180°), tendo o seu máximo representado em (G) (270°). (F) e (H) representam momentos intermediários no semi-ciclo de succção de massa (225°e 315°).

A

C

E

G

B

D

F

H

79

4.5 COMPARAÇÃO DE RESULTADOS

A Figura 4.29 ilustra a diferença no tamanho da zona de recirculação para os

três casos simulados (malha mais refinada). Nela é possível observar que o caso com

controle de fluxo de massa por sucção obteve a menor bolha de separação e o caso

sem controle de fluxo obteve a maior bolha de separação.

Figura 4.33 Contorno de velocidade média. (A) Caso 1, (B) Caso 2 e (C) Caso 3.

A

B

C

80

Na Tabela 4.1 é mostrada os valores encontrados para o ponto de separação

referentes aos três casos simulados e as três malhas.

Tabela 4.1 Ponto de Separação.

Malhas Sem Controle de

Fluxo

Com Controle de

fluxo de Sucção

Com Controle de

Fluxo Oscilatório

Grosseira 0.278531 0.280932 0.280932

Normal 0.278298 0.281352 0.280685

Fina 0.278316 0.281743 0.280888

Na Tabela 4.2 é mostrada os valores encontrados para o ponto de recolamento

referentes aos três casos simulados e as três malhas, e também os valores

experimentais.

Tabela 4.2 Ponto de recolamento.

Malhas Sem Controle de

Fluxo

Com Controle de

fluxo de Sucção

Com Controle de

Fluxo Oscilatório

Grosseira 0.476085 0.441655 0.464341

Normal 0.476515 0.436273 0.453121

Fina 0.476729 0.433575 0.453249

Experimental 0.4662 ±0.00126 0.3948±0.0021 0.4116

81

5 DISCUSSÃO

Existem inúmeras publicações, com diferentes métodos numéricos, que visam

modelar o experimento descrito previamente. Em relação aos modelos numéricos

utilizados, eles são 2D ou 3D com condições de contorno aplicadas na cavidade

modelada ou diretamente na geometria arqueada.

No geral, a maioria dos modelos falharam em calcular a pressão sobre a

geometria (0.2 < x/c <0.6) e previram maiores valores para pressão na região da

separação (x/c=1). De acordo com Morgan (2006), essa discrepância dos resultados

pode ser devida, em parte, ao efeito de bloqueio causado pelas placas laterais. Alguns

casos 3D, que levaram em consideração as placa laterais, e 2D, que corrigiram a

geometria da superfície superior para considerar os efeitos de bloqueio, resultaram

em valores para o coeficiente de pressão mais próximos dos valores experimentais.

Os modelos também falharam em prever o ponto de recolamento,

principalmente para o caso oscilatório. Uma possível razão para isso foi apontada em

razão da maioria dos modelos e métodos preverem menores valores para a tensão

cisalhante turbulenta na região de separação, indicando uma menor mistura da

turbulência em relação ao experimento.

Essa consistência dos resultados, para diferentes modelos, mostrou que

nenhuma técnica de CFD é melhor que outra (para esse experimento) e que apenas

foi possível validar os modelos qualitativamente. É necessário, por tanto, melhorar,

desenvolver e calibrar os métodos numéricos para que no futuro essa modelagem

possa ser completamente validada (RUMSEY et al., 2004a). O Anexo 8.3 ilustra o

ponto de recolamento para diversos modelos.

82

6 CONCLUSÃO

O modelo de turbulência κ-ε utilizado falha em prever corretamente os pontos

de recolamento para os casos com controle de fluxo aplicado ao escoamento. Os

valores encontrados são aproximadamente 10% maior que o experimental.

A diferença entre aos valores experimentais e numéricos presente nos gráficos

do coeficiente de pressão para os três casos é devida aos efeitos de bloqueio na

pressão decorrente das placas laterais (glass endplate), que não foram levadas em

consideração no modelo numérico.

Entretanto, a simulação representou qualitativamente os efeitos físicos

esperados para o escoamento, onde o controle de fluxo de sucção apresentou o

menor valor para o ponto de recolamento.

83

7 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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mounted hump with separation control. Center for Turbulence Research Annual

Research Briefs, 2005.

86

8 ANEXOS

8.1 TRATAMENTO PRÓXIMO À PAREDE

O Fluent possui a opção de melhorar o tratamento próximo a parede para a

equação ε, dessa forma o modelo κ-ε pode ser usado para escoamentos com camada

limite. Esse tratamento consiste em modelar a região próxima a parede com um

método que combina um modelo de duas camadas e uma função de parede.

Primeiramente, é necessário que a malha próxima à parede seja suficientemente

refinada para resolver a subcamada viscosa (y+≈1). Assim, o domínio do escoamento

é divido em uma região afetada pela viscosidade e uma região completamente

turbulenta, delimitada por um número de Reynolds, Rey, definido por:

𝑅𝑒𝑦 =𝜌𝑦√𝜅

𝜇 (8.1)

Onde y é a distância do centro da célula de volume à parede mais próxima.

Na região completamente turbulenta (Rey>200), o modelo κ-ε é utilizado. E na

região afetada pela viscosidade (Rey<200), o modelo de uma equação de Wolfstein

(1969 apud ANSYS ,2013b) é utilizado.

Nesse modelo de uma equação, as equações do momentum e de κ são mantidas

conforme a descrição do modelo κ-ε, entretanto a viscosidade turbulenta é definida

por:

𝜇𝑡,2𝑐𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎𝑠 = 𝜌𝐶𝜇𝑙𝜇√𝜅 (8.2)

87

Onde:

𝑙𝜇 = 𝑦𝐶𝑙∗(1 − 𝑒

𝑅𝑒𝑦

𝐴𝜇 ) (8.3)

Além disso, para que o tratamento próximo a parede esteja completo, o valor

da viscosidade turbulenta para o modelo de duas camadas (uma equação) é

ponderado com o valor definido pelo modelo κ-ε, como o proposto por Jongen (1992

apud ANSYS, 2013b).

𝜇𝑡,𝑡𝑟𝑎𝑡𝑎𝑑𝑜 = 𝜆𝜀𝜇𝑡 + (1 − 𝜆𝜀)𝜇𝑡,2𝑐𝑎𝑚𝑎𝑑𝑎𝑠 (8.4)

Onde λε é uma função ponderação.

E o valor de ε na região afetado pela viscosidade é calculado conforme:

휀 =𝜅3/2

𝑙𝜀 (8.5)

Onde:

𝑙𝜀 = 𝑦𝐶𝑙∗(1 − 𝑒

−𝑅𝑒𝑦

𝐴𝜀 ) (8.6)

Os valores para ε também são ponderados, e as constantes presente nas

equações 8.3-8.6 são dadas por:

𝐶𝑙∗ = 𝜅𝐶𝜇

−3/4 𝐴𝜇 = 70 𝐴𝜀 = 2𝐶𝑙∗

88

8.2 VELOCIDADE INLET PARA O ESCOAMENTO COM CONTROLE DE FLUXO

OSCILATÓRIO PROGRAMADA EM C

#include "udf.h" #define PI 3.141592654 DEFINE_PROFILE(inlet_velocity, ft, var) { real flow_time; face_t f; /* indexador de face */ flow_time = CURRENT_TIME; /* macro do Fluent */ begin_f_loop(f,ft) /* macro do Fluent para loop */ { F_PROFILE(f,ft,var) = 26.6 * sin(277*PI*flow_time); } end_f_loop(f,ft); }

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8.3 PONTO ESCALADO DE RECOLAMENTO PARA DIVERSOS MODELOS

Tabela 8.1 Ponto escalado de recolamento para diversos modelos (Adaptado de NOELTING et al., 2008 e SARIC et al., 2006)

Método Sem controle (x/c) Sucção (x/c) Oscilatório (x/c)

Experimental 1.11 ± 0.003 0.94 ± 0.005 ≈ 0.98

Típico RANS/URANS

1.24 1.10 1.22

DES 1.12 1.10 1.11

LES 1.11 0.95 1.05

Lattice-Boltzmann 1.13 1.02 1.02

k–ε 1.12 1.00

S-A 1.13 1.10

Presente Simulação

1.13 1.03 1.07