70
UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA PARFOR LETICIA CUNHA DE OLIVEIRA MARIA ESTELA OLIVEIRA DA CRUZ A IMPORTÂNCIA DA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL JOSÉ ADONAY PARAGOMINAS PARÁ 2017

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA – PARFOR

LETICIA CUNHA DE OLIVEIRA

MARIA ESTELA OLIVEIRA DA CRUZ

A IMPORTÂNCIA DA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NA ESCOLA DE

EDUCAÇÃO INFANTIL JOSÉ ADONAY

PARAGOMINAS – PARÁ

2017

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

LETICIA CUNHA DE OLIVEIRA

MARIA ESTELA OLIVEIRA DA CRUZ

A IMPORTÂNCIA DA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO

INFANTIL JOSÉ ADONAY

Trabalho de Conclusão do Curso,

apresentado como pré-requisito parcial

para obtenção do grau de Licenciatura

Plena em Pedagogia pela Universidade

Rural da Amazônia.

Orientador: Prof.ª Esp. Rosenilde Fonseca

Santos.

PARAGOMINAS-PARÁ

2017

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

LETICIA CUNHA DE OLIVEIRA MARIA ESTELA OLIVEIRA DA CRUZ

A IMPORTÂNCIA DA ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO

INFANTIL JOSÉ ADONAY

Trabalho de Conclusão do Curso, apresentado como requisito parcial

para obtenção do grau de Licenciatura Plena em Pedagogia pela

Universidade Rural da Amazônia no PARFOR.

BANCA EXAMINADORA

Profª Rosenilde Fonseca Santos – UFRA

Profª

Profª

Julgado em: / /

Conceito:

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

Dedicamos este trabalho em primeiro lugar

a Deus e a nossa família.

A Deus Santa Rita de Cassia.

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

RESUMO

O estudo denominado A importância da organização do espaço na Escola de Educação Infantil José Adonay no Município de, faz uma revisão conceitual referente à organização do espaço educativo necessário ao desenvolvimento das práticas pedagógicas de Educação Infantil na expectativa de sua adequação aos reais interesses e objetivos desta etapa da formação das crianças, destacando a relação com as recomendações decorrentes da legislação vigente e as possíveis propostas metodológicas e/ou pedagógicas a serem implementadas e vivenciadas nesses “locus” educativos. Neste sentido, o estudo traz como referência a experiência vivenciada na Escola de educação Infantil José Adonay, buscando estabelecer os vínculos teoria e prática que permeiam as práticas educativas na educação infantil enquanto etapa precursora do desenvolvimento da Educação Básica. O estudo é relevante ao suscitar as referencias conceituais necessárias a organização dos espaços educativos da educação infantil para irem de encontro as orientações e premissas que permeiam sua organização, bem como, suscitam a realização das práticas educativas junto as crianças nos referidos espaços.

Palavras Chave: Educação Infantil, Ambientes Educativos na Educação Infantil, Metodologias da educação Infantil.

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

ABSTRACT

The study named The importance of space organization in the school of early

childhood education Joseph Adonay in, makes a conceptual review regarding the

organisation of educational space necessary for the development of educational

practices in early childhood education in anticipation of your suitability to the real

interests and objectives of this stage of training of children, emphasizing the relation

with the recommendations arising from the legislation in force and the possible

methodological and/or pedagogical proposals to be implemented and experienced in

these "locus". In this sense, the study brings the experience at the school of early

childhood education Joseph Adonay, seeking to establish the links between theory

and practice that permeate the educational practices in early childhood education

while precursor step of development of basic education. The study is relevant to give

rise to conceptual references required the Organization of educational spaces of

early childhood education to go against the guidelines and assumptions that

permeate your organization, as well as raise the achievement of educational

practices with children in these spaces.

Key Words: Early Childhood Education, Educational Environments in Early

Childhood Education, Child Education Methodologies.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 07 1. PREMISSAS TEÓRICAS ...................................................................................... 19 1.1 A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR ...................................................... 19 1.1.1 A importância da organização do espaço na Educação Infantil ................ 19 1.1.2 O que dizem as Leis sobre a Educação Infantil ......................................... 25 1.1.3 A implementação da Educação Infantil ........................................................ 28 1.2 ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E DO AMBIENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL ... 31 1.2.1 Sobre a Infância e a Educação Infantil ........................................................ 31 1.2.2. A educação infantil na idade média e moderna ......................................... 33 1.2.3 A educação infantil no Brasil ....................................................................... 35 1.2.4 Espaços e ambientes na Educação Infantil ................................................. 39 2. TEMPOS E ESPAÇOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL ............................................ 47 3. A APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL ................................................ 55 3.1 CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA ............................................................................. 55 3.2 DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM NA CRIANÇA ............................ 56 4 . CONTEXTUALIZANDO A REALIDADE ............................................................ 61 4.1 A ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL JOSÉ ADONAY .................................. 61 4.2 ASPECTOS ADMINISTRATIVOS DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL

JOSÉ ADONAY ........................................................................................................ 62

4.3 ASPECTOS PEDAGÓGICOS DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL JOSÉ

ADONAY .................................................................................................................. 62

4.4 O ESPAÇO E O AMBIENTE NA ESCOLA JOSÉ ADONAY ............................. 63 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 66 5.1 PROPOSTAS METODOLÓGICAS PARA TRABALHAR NA EDUCAÇÃO

INFANTIL

66

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 68

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

7

INTRODUÇÃO

A busca por uma educação de qualidade torna-se cada vez mais

importante. E, nesse processo, a relevância da organização do espaço escolar

para o desenvolvimento e aprendizagem das crianças é algo que deve ser levado

em consideração, já que ele contribui de forma significativa para a aprendizagem

das crianças.

Por conta disso, o espaço escolar, sob esse aspecto, não poderá mais

reproduzir soluções reiterativas e estereotipadas, ainda vigentes em muitas

instituições escolares, que se antagonizam com as necessidades de seus

usuários.

Neste sentido os ambientes construídos para crianças devem atender a

funções relativas ao desenvolvimento infantil, com o intuito de promover:

identidade pessoal, desenvolvimento de competências, oportunidades para o

crescimento, autonomia e liberdade. Dentro dessa perspectiva Bassi e Giacopini

(2007) mostram que a organização dos espaços deve privilegiar os processos de

conhecimentos das crianças e as diversas estratégias cognitivas adotadas por

elas. Andrejew (2007) afirma que os espaços organizados contribuem para

estimular a autonomia e o equilíbrio corporal; ajudam a conhecer o mundo.

Para Barbosa e Horn (2001) ao organizar um espaço os educadores

necessitam considerar que o ambiente é composto por gosto, toque, sons e

palavras, regras de uso do espaço, luzes e cores, odores, mobílias, equipamentos

e ritmos de vida. Assim, devemos entender que uma organização adequada do

espaço e dos materiais disponíveis na sala de aula será fator decisivo na

construção da autonomia intelectual e social das crianças.

No Parecer CNE/CEB n. 20/2009, o relator faz uma revisão das Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e assim se refere ao papel do

professor e da professora na organização do tempo e espaço nas creches e pré-

escolas:

A professora e o professor necessitam articular condições de organização dos espaços, tempos, materiais e das interações nas atividades para que as crianças possam expressar sua imaginação nos gestos, no corpo, na oralidade e/ou na língua de sinais, no faz de conta, no desenho e em suas primeiras tentativas de escrita. A criança deve ter possibilidade de fazer deslocamentos e movimentos amplos nos espaços internos e externos às salas de referência das classes e à instituição, envolver-se em explorações e brincadeiras com objetos e materiais diversificados que contemplem as

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

8

particularidades das diferentes idades, as condições específicas das crianças com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, e as diversidades sociais, culturais, étnico-raciais e linguísticas das crianças, famílias e comunidade regional. (BRASIL, 2009, p. 14).

Dentro desse contexto se faz necessário frisar que o processo de

ensino/aprendizagem na educação infantil ocorre em contextos de brincadeira e

trabalho, e que quando a criança se envolve intensamente nas atividades que

vivencia, através do contato com materiais diversos e nas relações que estabelece

com os outros (crianças e adultos). Neste sentido Barbosa e Horn (2001) asseguram

que as atividades infantis devem ser organizadas tendo presentes às necessidades

biológicas das crianças como as relacionadas ao repouso, à alimentação, à higiene e

à sua faixa etária. Deste modo, o processo educacional flui com mais facilidade,

sendo esta uma aprendizagem ativa, que ocorre na experiência da criança e não

através de aulas sobre pessoas, lugares ou fatos distantes da realidade em que ela

vive.

Frazatto (1998) explica que na Educação Infantil cabe ao educador

equilibrar as atividades pedagógicas e as brincadeiras entre os momentos de maior

concentração e pouco movimento físico com aqueles mais agitados, em que as

crianças se movimentam com liberdade. Desta forma, é possível observar que no

desenvolvimento do trabalho pedagógico há a necessidade de organização do

cotidiano da escola, o que implica em planejamento e estruturação espaço- temporal

que favoreça uma sequência básica de atividades planejadas em rotina diária com a

participação ativa das crianças, assegurando-lhes a construção das noções de

tempo e espaço.

E esse estudo tem como objetivo evidenciar que a organização do espaço

que é oferecido para a criança influencia diretamente em seu desenvolvimento.

tendo em vista que, a organização espacial é um dos aspectos que favorece ou

dificulta as interações, uma vez que influencia o modo de pensar ou se comportar,

principalmente em ambientes infantis coletivos, nos quais a criança é sujeito de

conhecimento. Para David & Weinstein (1987) a organização da sala de aula tem

influência sobre os usuários determinando em parte o modo como os professores

e os alunos pensam, sentem e se comportam. Desta forma, um planejamento

cuidadoso do ambiente físico é parte integrante de um bom manejo do ensino,

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

9

pois dependendo da maneira como estão dispostos, os materiais, objetos e

móveis podem, ou não, influenciar no desenvolvimento das crianças.

Ao realizar a revisão bibliográfica percebe-se que as instituições que

atende as crianças da Educação Infantil devem ser disponibilizadas de modo que

contemplem diversas possibilidades, dando oportunidade à criança para explorar,

descobrir, agir, selecionar objetos e áreas para a realização de atividades em um

espaço-tempo que é parte integrante da ação pedagógica.

Vale ressaltar a necessidade de oferecer à criança um espaço adequado

e seguro, que vai além de sua sala de atividades, onde possa experimentar

diversas formas de se locomover e de interagir com o outro. Neste sentido

evidencia-se que quando o professor se planeja e organiza o espaço em função

das crianças, ele propicia para elas a brincadeira, a autonomia e as interações

com o outros, e acaba possibilitando seu desenvolvimento, ampliação e a

construção de conhecimentos e isso contribui significativa na melhoria do seu

processo de ensino aprendizado. Contudo, quando o espaço não se é planejado,

nem organizado, podemos estar bloqueado o desenvolvimento destes aspectos.

E esse é o caso da escola que é lócus deste estudo.

Neste sentido, Barbosa & Horn (2001) compartilham a idéia de que o

espaço físico e social é fundamental para o desenvolvimento infantil, na medida

em que ajuda a estruturar as funções motoras, sensoriais, simbólicas, lúdicas e

relacionais. Porém, Carvalho & Rubiano (2001) salientam que, em geral, os

ambientes infantis planejados são orientados para atender às necessidades dos

adultos, desconsiderando as necessidades próprias das crianças, caracterizando-

se como ambientes de alto grau de controle e limitação das oportunidades para a

escolha.

Na definição e construção de espaços para crianças, Barbosa & Horn

(2001, p. 73) enfatizam a necessidade de se considerar que “o ambiente é

composto por gosto, toque, sons e palavras, regras de uso do espaço, luzes e

cores, odores, mobílias, equipamentos e ritmos de vida”.

Segundo as orientações do Referencial Curricular Nacional Para a

Educação Infantil – RCNEI (1998), para cada trabalho realizado com as crianças

é preciso planejar a forma mais adequada de organizar o espaço onde as

atividades se desenvolverão, bem como na introdução de novos materiais para a

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

10

reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar novas

descobertas, facilitará o trabalho pedagógico e as atividades dirigidas.

Apoiados no comentário de Oliveira et al. (1992), no qual ela se refere ao

arranjo do espaço para ampliar as oportunidades de contato e interações sociais

pode ser feito pela colocação de zonas de atividades delimitadas por divisórias

baixas. A educadora pode propor as atividades sem centralizar ao seu redor todas

as crianças, gerando um tempo de espera; ou seja, ao arrumar a sala com

algumas crianças, favorece a interação entre as demais crianças. A sala

organizada em zonas de atividades delimitadas por divisórias baixas permite tanto

brincadeiras movimentadas, como descer, subir, saltar, como também,

brincadeiras de linguagem. O essencial no uso deste espaço é que se

descentralize a figura da educadora, que passa a atuar como um elemento

facilitador da interação das crianças em atividades e brincadeiras, sem depender

tanto da mediação do adulto. Este fica mais disponível para observá-las e

estabelecer um contato individual mais efetivo com alguma criança ou grupo de

crianças que o procure ou perceba precisar de uma atenção especial.

(ROSSETTI-FERREIRA e ELTINK, 1998)

Nesse longo percurso da história do atendimento à infância, pesquisas e

práticas vêm buscando afirmar a importância de se promover uma educação de

qualidade para todas as crianças o que envolve diversos aspectos do

atendimento, como espaço adequado, professores qualificados, matérias

didáticos suficientes, dentre outras coisas. No entanto o que se identifica é que

nesse aspecto há sérios problemas a se enfrentar, conforme o diagnóstico

apresentado no Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2001).

No Brasil, grande número de ambientes destinados à educação de

crianças com menos de 6 anos funciona em condições precárias. Serviços

básicos como água, esgoto sanitário e energia elétrica, não estão disponíveis

para muitas creches e pré-escolas (BRASIL, 1994). Além da precariedade ou

mesmo ausência de serviços básicos, outro elemento referente à infraestrutura,

atinge tanto a saúde física, quanto o desenvolvimento integral das crianças, entre

eles, está à inexistência de áreas externas ou espaços alternativos que propiciem

às crianças a possibilidade de estar ao ar livre, em atividade de movimentação

ampla, tendo seu espaço de convivência, de brincadeira e exploração do

ambiente, enriquecido. Vale registrar, que segundo dados mais recentes do MEC

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

11

identificam-se melhoras em relação às condições sanitárias encontradas nos

estudos realizados até 1998. Isso pode significar que se tem buscado responder

às novas exigências legais, entretanto, tais informações dizem respeito a

estabelecimentos credenciados (autorizados para funcionar), assim sendo,

podemos afirmar que ainda há estabelecimentos, principalmente os que estão

fora do sistema formal (BRASIL, 2003).

Segundo Horn (2001), falar na Educação de crianças de 0 a 5 anos é

falar de um mundo de sonhos e brincadeiras, onde o educador busca meios para

que aja sucesso no desenvolvimento e na aprendizagem do educando no

contexto da educação infantil e vê o espaço físico tornar-se um elemento

indispensável a ser observado. Por esse motivo, a organização deste espaço

deve ser pensada tendo como principio oferecer um lugar acolhedor e prazeroso

para a criança, isto é, um lugar onde as crianças possam brincar criar e recriar

suas brincadeiras sentindo-se assim estimuladas e independentes. Pois é no

espaço físico que a criança consegue estabelecer relações entre o mundo e as

pessoas, transformando-o em um pano de fundo no qual se insere emoções,

nessa dimensão o espaço é entendido como algo conjugado ao ambiente e vice-

versa. Todavia é importante esclarecer que essa relação não se constitui de

forma linear. E vale ressaltar que em um mesmo espaço podemos ter ambientes

diferentes, pois a semelhança entre eles não significa que sejam iguais. Eles se

definem com a relação que as pessoas constroem entre elas e o espaço

organizado.

Com relação ao espaço, pode-se perceber que o espaço criado para a

criança deverá estar organizado de acordo com sua faixa etária, isto é, propondo

desafios cognitivos e motores que a farão avançar no desenvolvimento de suas

potencialidades. O espaço deve estar povoado de objetos que retratem a cultura

e o meio social em que a criança está inserida. De acordo com Horn (2004):

É no espaço físico que a criança consegue estabelecer relações entre o mundo e as pessoas, transformando-o em um pano de fundo no qual se inserem emoções [...] nessa dimensão o espaço é entendido como algo conjugado ao ambiente e vice-versa. Todavia é importante esclarecer que essa relação não se constitui de forma linear. Assim sendo, em um mesmo espaço podemos ter ambientes diferentes, pois a semelhança entre eles não significa que sejam iguais. Eles se definem com a relação que as pessoas constroem entre elas e o espaço organizado. (2004, p. 28)

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

12

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB 9394/96, no Art. 29º. Diz

que “A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o

desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico,

psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”.

Assim, é necessário reconhecer que a criança é fortemente marcada pelo meio social

em que se desenvolve, e que também deixa suas próprias marcas neste meio, que

tem a sua família como o seu principal referencial, apesar de todas as relações que

ocorrem em todos os níveis sociais, o espaço infantil deve priorizar remeter a história

da criança para o seu contexto e através disto promover a troca de saberes entre as

crianças.

Segundo Vygotsky: “o ser humano cresce num ambiente social e a

interação com outras pessoas é essencial ao seu desenvolvimento”. (apud Davis e

Oliveira, 1993, p. 56). Portanto um ambiente estimulante para a criança é aquele em

que ela se sente segura e ao mesmo tempo desafiada, onde ela sinta o prazer de

pertencer a aquele ambiente e se identifique com o mesmo e principalmente um

ambiente em que ela possa estabelecer relações entre os pares. Um ambiente que

permite que o educador perceba a maneira como a criança transpõe a sua realidade,

seus anseios, suas fantasias. Os ambientes devem ser planejados de forma a

satisfazer as necessidades da criança, isto é, tudo deverá estar acessível à criança,

desde objetos pessoais como também os brinquedos, pois só assim o

desenvolvimento ocorrerá de forma a possibilitar sua autonomia, bem como sua

socialização dentro das suas singularidades.

Neste caso, quando nos referimos a organização do espaço na Educação

Infantil estamos simplesmente expondo que esse ambiente deve ser criado e recriado

de acordo com as especificidades da criança. De acordo com Oliveira (2000):

O ambiente, com ou sem o conhecimento do educador, envia mensagens e, os que aprendem, respondem a elas. A influência do meio através da interação possibilitada por seus elementos é contínua e penetrante. As crianças e ou os usuários dos espaços são os verdadeiros protagonistas da sua aprendizagem, na vivência ativa com outras pessoas e objetos, que possibilita descobertas pessoais num espaço onde será realizado um trabalho individualmente ou em pequenos grupos. (2000, p. 158)

Dessa forma, cada espaço destinado às crianças deve ser arranjado de

acordo com suas necessidades específicas, ou melhor, o espaço e a

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

13

disponibilidade de brinquedos deve se dar de acordo com o ritmo de cada criança,

de acordo com as diferentes faixas etárias.

Por tudo isso, e percebendo como o espaço da Escola José Adonay que

é oferecido para as crianças não condiz com as necessidades das crianças,

resolvemos pesquisar um pouco mais sobre a importância da organização do

espaço para a Educação Infantil e o que as leis asseguram para as crianças

matriculadas.

Saber da realidade das escolas que atende a Educação Infantil em

especial a da escola José Adonay, localizada na Comunidade Nova Aliança no

município de São Domingos do Capim nos leva a várias indagações acerca do

que deve ser oferecido às crianças que estão nesta etapa de ensino, e as

condições de infraestrutura que a José Adonay oferece as crianças nela

matriculadas.

Sabe-se que desde que nasce a criança precisa de espaços que

ofereçam liberdade de movimentos, segurança e que acima de tudo possibilitem

sua socialização com o mundo e com as pessoas que a rodeiam. Espaços estes

de direito de todas as crianças sejam eles: públicos, privados, institucionais ou

naturais. Segundo Lima (2001, p.16): “o espaço é muito importante para a criança

pequena, pois muitas, das aprendizagens que ela realizará em seus primeiros

anos de vida estão ligadas aos espaços disponíveis e/ou acessíveis a ela”

Neste sentido, o observar os vários problemas da escola José Adonay

identifica-se que teoricamente a criança é bem assistida em todas as maneiras,

seja no espaço escolar adequado, seja na formação de seu professor, seja no

processo de ensino aprendizagem, porém, quando se trata da prática, percebe-se

a ausência de espaços adequados, de professores com formação para trabalhar

com esta etapa de ensino, e isso com certeza reflete de maneira muito negativa

no processo de ensino aprendizagem da criança.

Por isso, o objetivo desta pesquisa é identificar como é importante a

organização do espaço na educação Infantil para que as crianças possam se

desenvolver em plenitude, tendo infraestrutura adequada e professores formados.

De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

(1998), a organização do espaço físico, os materiais, brinquedos, instrumentos

sonoros e o mobiliário não devem ser vistos como elementos passivos, mas como

componentes ativos do processo educacional. O espaço físico das instituições

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

14

sempre reflete os valores que elas adotam e são marcas sugestivas do projeto

educativo em curso.

Por isso, quando nos referimos a organização do espaço na Educação

Infantil estamos simplesmente expondo que esse ambiente deve ser criado e

recriado de acordo com as especificidades da criança.

Dessa forma, cada espaço destinado às crianças deve ser arranjado de

acordo com suas necessidades específicas, ou melhor, o espaço e a

disponibilidade de brinquedos deve se dar de acordo com o ritmo de cada criança,

de acordo com as diferentes faixas etárias. Para Zabalza (appud Melis, 2007,

p.11), o espaço educa, assim como faz a linguagem ou as relações interpessoais.

E atua como marco de condições, isto é, tem capacidade para facilitar, limitar e

orientar tudo o que se faz na escola infantil. Tudo o que a criança faz e aprende

acontece em um ambiente, em um espaço cujas características afetam tal

conduta ou aprendizagem. De acordo como é organizado o ambiente, podemos

obter experiências formativas ou outras que serão mais ou menos ricas e

enriquecedoras segundo a organização feita dos espaços e dos recursos. O

espaço é também um contexto de significados e emoções. Cada zona, cada

elemento ou condição do espaço, significa coisas diferentes e o vivenciamos de

formas diferentes. Há espaços para a brincadeira e para o repouso, para

compartilhar e para estarem só, para o trabalho e para o ócio, espaços de prazer

e de obrigações, próprios e alheios.

Segundo Forneiro (1998) o espaço da escola deve atender aos critérios

de organização, que se resumem em estruturação, delimitação, transformação,

estética, pluralidade, autonomia, segurança, diversidade e polivalência, pois os

diversos componentes relativos ao espaço é que irão definir o cenário das

aprendizagens. Ou seja, os espaços destinados às crianças devem ser

diferenciados, garantindo ambientes específicos para as atividades de leitura e

escrita, para contação de histórias, para brincadeiras e jogos, para o repouso,

higiene, alimentação, atividades físicas e demais atividades dirigidas. Necessário

se faz arranjar os espaços constantemente em função das atividades planejadas.

Porém, o espaço oferecido aos alunos da Educação Infantil não condiz aos

critérios citados pelo autor, pois como foi descrito no primeiro capítulo a estrutura

da sala de Educação Infantil não obedece a esses requisitos (estruturação,

delimitação, transformação, estética, etc.)

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

15

Deste modo é importante atentarmos para os espaços que estão sendo

oferecidos para as crianças da Educação Infantil e como eles estão se refletindo

no processo de ensino aprendizado da criança.

Por conta disso, é necessário levantar algumas hipóteses que irão

nortear o desenvolvimento deste trabalho:

O espaço oferecido para as crianças da Educação Infantil da Escola

José Adonay condiz com as necessidades das crianças?

Que importância tem o espaço na educação infantil?

Que espaço deve ser pensado e arquitetado para atender as

propostas de educação que se deseja?

Como os educadores estão organizando este espaço?

O interesse em desenvolver um estudo sobre “A importância da

organização do espaço na escola de Educação Infantil José Adonay”, surgiu por

causa da realidade educacional vivenciada pelas crianças, pois ao refletir nossa

prática pedagógica na escola, durante o ano de 2014, identificou-se que a mesma

não dispõe da infraestrutura adequada para atender a Educação Infantil, pois o

lugar que é oferecido para as crianças não atende as necessidades básicas desta

etapa de ensino, uma vez que o prédio é pequeno e precisa de reforma. Dentro

dessa perspectiva não se pode pensar em falar na organização de um espaço

sem fazer uso da importância dessa organização para o processo de

desenvolvimento da criança.

Neste sentido reflete-se: o espaço oferecido para as crianças da

Educação Infantil da Escola José Adonay condiz com as necessidades das

crianças? Que importância tem o espaço na educação infantil? Que espaço deve

ser pensado e arquitetado para atender as propostas de educação que se

deseja? Como os educadores estão organizando este espaço?

Dentro desse contexto, sabe-se que, podemos utilizar diferentes

espaços, e esses espaços devem ser organizados de forma a desafiar a criança

nos campos cognitivos, sociais e motor. Sendo eles abertos, fechados, salas-de-

aula, bibliotecas, salas de multimeios, brinquedotecas, dentre outros. E assim,

garantir que todos esses espaços promovam o desenvolvimento global da

criança, sua autonomia, liberdade, socialização, segurança, confiança, contato

social e privacidade.

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

16

Tendo em vista que, o fato de o espaço estar organizado de modo a

desafiar suas competências apenas não basta. Deve vivê-lo intencionalmente e

intensamente. Isso se dá através de todo um contexto no qual as crianças

desempenham papéis e formam uma rede de relações entre tudo que as cercam:

móveis, objetos, decoração, rotina, professora, materiais que utilizam suas vidas

fora da escola. O espaço deve estar povoado de objetos que retratem a cultura e

o meio social em que a criança está inserida atendendo a sua faixa etária e ao

mesmo tempo possibilitar novos conceitos e novas maneiras de ver e entender o

mundo e outros meios sociais.

Ao passo que se deve considerar que o espaço é elemento importante

para auxiliar no desenvolvimento da criança. Desta forma, cito Zabalza (1998):

O espaço na educação é constituído como uma estrutura de oportunidades é uma condição externa que favorecerá ou dificultará o processo de crescimento pessoal e o desenvolvimento das atividades instrutivas. Será estimulante ou, pelo contrário, limitante, em função do nível de congruência em relação ao objetivo e dinâmico geral das atividades que forem colocadas em prática ou em relação aos métodos educacionais, que caracterizam o estilo de trabalho. O ambiente de aula, enquanto contexto de aprendizagem constitui uma rede de estruturas espaciais, de linguagens, de instrumentos e, finalmente, de possibilidade ou limitações para o desenvolvimento das atividades formadoras. (1998, p. 236)

Portanto, falar na Educação de crianças de zero a cinco anos é estar

falando de um mundo de sonhos e brincadeiras, onde o educador busca meios para

que aja sucesso no desenvolvimento e na aprendizagem do educando no contexto da

educação infantil e vê o espaço físico tornar-se um elemento indispensável a ser

observado. Por esse motivo, a organização deste espaço deve ser pensada tendo

como principio oferecer um lugar acolhedor e prazeroso para a criança, isto é, um

lugar onde as crianças possam brincar criar e recriar suas brincadeiras sentindo-se

assim estimuladas e independentes.

Diante deste contexto, constituem objetivos deste estudo:

Analisar a importância da organização do espaço na escola de

Educação Infantil José Adonay.

Identificar a importância da organização do espaço segundo as

Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil;

Verificar as metodologias que são usadas no processo de

ensino/aprendizagem da criança;

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

17

Promover a organização do espaço oferecido para crianças com a

participação efetiva delas e dos professores;

Descrever como as crianças se relacionam com os espaços criados

para elas.

Este estudo é composto por três módulos, o primeiro será realizado um

levantamento bibliográfico, após este levantamento realizar-se-á, na qual será feito

alguns registros e entrevistas com três pais de alunos matriculados na escola José

Adonay e três professores da referida escola e em seguida será feita a análise dos

dados.

Esta pesquisa se fundamentará em uma pesquisa qualitativa teórica

descritiva. Pois para Esteban (2010):

A pesquisa qualitativa é uma atividade sistemática orientada a compreensão em profundidade de fenômenos educativos e sociais, a transformação de práticas e cenários socioeducativos, a tomada de decisões e também ao desenvolvimento de um corpo organizado e de conhecimento. (2010, p. 127)

Para auxiliar esta pesquisa, também foi utilizado o diário de bordo, uma

ferramenta que contribui para observar as ocorrências ocorridas ao longo da prática

pedagógica. Sendo que, ao observar os dados colhidos na escola e refletir sobre o

que teoricamente é de direito dos alunos que estão matriculados na Educação Infantil

observa-se a grande disparidade existente entre teoria e prática.

Ao usar o diário de bordo nota-se que estamos apropriando-se da pesquisa

descritiva que, segundo Zabalza (2004):

É uma pesquisa que observa, registra, correlaciona e descreve fatos ou fenômenos de uma determinada realidade sem manipulá-los. Procura conhecer e entender as diversas situações e relações que ocorrem na vida social, política, econômica e demais aspectos que ocorrem na sociedade. (2004, p. 33)

Este trabalho irá enfatizar o cotidiano da Escola de Educação Infantil José

Adonay, localizada na Comunidade Nova Aliança, com a perspectiva de observar a

infraestrutura que é oferecida para as crianças que nela são matriculadas e como

este espaço é organizado.

Para alcançar os fins aqui proposto realizar-se-á prioritariamente, uma

revisão bibliográfica voltada para o tema proposto, “A importância da organização do

espaço na escola de Educação Infantil José Adonay.”, tendo como auxilio o diário de

bordo, no qual descreve-se a nossa prática pedagógica e as contribuições do Curso

de Pedagogia.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

18

Sabe-se que é no espaço físico que a criança consegue estabelecer

relações entre o mundo e as pessoas, que ela brinca e se socializa com os colegas,

se desenvolve e é capaz de transformar este lugar num lugar de varias sensações.

Por isso, levar em consideração o espaço oferecido para a criança nos levou a querer

saber mais sobre a contribuição do mesmo para o desenvolvimento dos alunos que

estão passando por esta etapa de ensino. Deste modo, este trabalho além de

contribuir para a nossa formação também nos oportunizará a melhorar e refletir a

nossa prática pedagógica em sala de aula e principalmente criar um ambiente

agradava para os alunos, mesmo que as condições no qual estão inseridos não

estejam de acordo com suas necessidades.

Logo, o espaço criado para a criança deverá estar organizado de acordo

com a faixa etária da criança, isto é, propondo desafios cognitivos e motores que

a farão avançar no desenvolvimento de suas potencialidades. O espaço deve

estar povoado de objetos que retratem a cultura e o meio social em que a criança

está inserida.

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

19

1. PREMISSAS TEÓRICAS

1.1 A ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO ESCOLAR

1.1.1 A importância da organização do espaço na Educação Infantil

A busca por uma educação de qualidade torna-se cada vez mais importante.

E, nesse processo, a relevância da organização do espaço escolar para o

desenvolvimento e aprendizagem das crianças é algo que deve ser levado em

consideração, já que ele contribui de forma significativa para a aprendizagem das

crianças.

Por conta disso, o espaço escolar, sob esse aspecto, não poderá mais

reproduzir soluções reiterativas e estereotipadas, ainda vigentes em muitas

instituições escolares, que se antagonizam com as necessidades de seus usuários.

Neste sentido os ambientes construídos para crianças devem atender a

funções relativas ao desenvolvimento infantil, com o intuito de promover: identidade

pessoal, desenvolvimento de competências, oportunidades para o crescimento,

autonomia e liberdade. Dentro dessa perspectiva Bassi e Giacopini (2007) mostram

que a organização dos espaços deve privilegiar os processos de conhecimentos das

crianças e as diversas estratégias cognitivas adotadas por elas. Andrejew (2007)

afirma que os espaços organizados contribuem para estimular a autonomia e o

equilíbrio corporal; ajudam a conhecer o mundo.

Para Barbosa E Horn (2001) ao organizar um espaço os educadores

necessitam considerar que o ambiente é composto por gosto, toque, sons e palavras,

regras de uso do espaço, luzes e cores, odores, mobílias, equipamentos e ritmos de

vida. Assim, devemos entender que uma organização adequada do espaço e dos

materiais disponíveis na sala de aula será fator decisivo na construção da autonomia

intelectual e social das crianças.

No Parecer CNE/CEB n. 20/2009, o relator faz uma revisão das Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Educação Infantil e assim se refere ao papel do

professor e da professora na organização do tempo e espaço nas creches e pré-

escolas:

A professora e o professor necessitam articular condições de organização dos espaços, tempos, materiais e das interações nas atividades para que as

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

20

crianças possam expressar sua imaginação nos gestos, no corpo, na oralidade e/ou na língua de sinais, no faz de conta, no desenho e em suas primeiras tentativas de escrita. A criança deve ter possibilidade de fazer deslocamentos e movimentos amplos nos espaços internos e externos às salas de referência das classes e à instituição, envolver-se em explorações e brincadeiras com objetos e materiais diversificados que contemplem as particularidades das diferentes idades, as condições específicas das crianças com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, e as diversidades sociais, culturais, étnico-raciais e lingüísticas das crianças, famílias e comunidade regional. (BRASIL, 2009, p. 14).

Dentro desse contexto se faz necessário frisar que o processo de

ensino/aprendizagem na educação infantil ocorre em contextos de brincadeira e

trabalho, e que quando a criança se envolve intensamente nas atividades que

vivencia, através do contato com materiais diversos e nas relações que estabelece

com os outros (crianças e adultos). Neste sentido Barbosa e Horn (2001) asseguram

que as atividades infantis devem ser organizadas tendo presentes às necessidades

biológicas das crianças como as relacionadas ao repouso, à alimentação, à higiene e

à sua faixa etária. Deste modo, o processo educacional flui com mais facilidade,

sendo esta uma aprendizagem ativa, que ocorre na experiência da criança e não

através de aulas sobre pessoas, lugares ou fatos distantes da realidade em que ela

vive.

Frazatto (1998) explica que na Educação Infantil cabe ao educador

equilibrar as atividades pedagógicas e as brincadeiras entre os momentos de maior

concentração e pouco movimento físico com aqueles mais agitados, em que as

crianças se movimentam com liberdade. Desta forma, é possível observar que no

desenvolvimento do trabalho pedagógico há a necessidade de organização do

cotidiano da escola, o que implica em planejamento e estruturação espaço-temporal

que favoreça uma seqüência básica de atividades planejadas em rotina diária com a

participação ativa das crianças, assegurando-lhes a construção das noções de tempo

e espaço.

E esse estudo tem como objetivo evidenciar que a organização do espaço

que é oferecido para a criança influencia diretamente em seu desenvolvimento. tendo

em vista que, a organização espacial é um dos aspectos que favorece ou dificulta as

interações, uma vez que influencia o modo de pensar ou se comportar, principalmente

em ambientes infantis coletivos, nos quais a criança é sujeito de conhecimento. Para

David e Weinstein (1987) a organização da sala de aula tem influência sobre os

usuários determinando em parte o modo como os professores e

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

21

os alunos pensam, sentem e se comportam. Desta forma, um planejamento

cuidadoso do ambiente físico é parte integrante de um bom manejo do ensino, pois

dependendo da maneira como estão dispostos, os materiais, objetos e móveis

podem, ou não, influenciar no desenvolvimento das crianças.

Ao realizar a revisão bibliográfica percebe-se que as instituições que atende

as crianças da Educação Infantil devem ser disponibilizadas de modo que

contemplem diversas possibilidades, dando oportunidade à criança para explorar,

descobrir, agir, selecionar objetos e áreas para a realização de atividades em um

espaço-tempo que é parte integrante da ação pedagógica.

Vale ressaltar a necessidade de oferecer à criança um espaço adequado e

seguro, que vai além de sua sala de atividades, onde possa experimentar diversas

formas de se locomover e de interagir com o outro. Neste sentido evidencia-se que

quando o professor se planeja e organiza o espaço em função das crianças, ele

propicia para elas a brincadeira, a autonomia e as interações com o outros, e acaba

possibilitando seu desenvolvimento, ampliação e a construção de conhecimentos e

isso contribui significativa na melhoria do seu processo de ensino aprendizado.

Contudo, quando o espaço não se é planejado, nem organizado, podemos estar

bloqueado o desenvolvimento destes aspectos. E esse é o caso da escola que é

lócus deste estudo.

Neste sentido, Barbosa e Horn (2001) compartilham a idéia de que o

espaço físico e social é fundamental para o desenvolvimento infantil, na medida em

que ajuda a estruturar as funções motoras, sensoriais, simbólicas, lúdicas e

relacionais. Porém, Carvalho e Rubiano (2001) salientam que, em geral, os ambientes

infantis planejados são orientados para atender às necessidades dos adultos,

desconsiderando as necessidades próprias das crianças, caracterizando-se como

ambientes de alto grau de controle e limitação das oportunidades para a escolha.

Na definição e construção de espaços para crianças, Barbosa e Horn

(2001, p. 73) enfatizam a necessidade de se considerar que “o ambiente é composto

por gosto, toque, sons e palavras, regras de uso do espaço, luzes e cores, odores,

mobílias, equipamentos e ritmos de vida”.

Segundo as orientações do Referencial Curricular Nacional para a

Educação Infantil – RCNEI (1998), para cada trabalho realizado com as crianças é

preciso planejar a forma mais adequada de organizar o espaço onde as atividades

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

22

se desenvolverão, bem como na introdução de novos materiais para a reorganização

da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar novas descobertas,

facilitará o trabalho pedagógico e as atividades dirigidas.

Apoiados no comentário de Oliveira et al. (1992), no qual ela se refere ao

arranjo do espaço para ampliar as oportunidades de contato e interações sociais pode

ser feito pela colocação de zonas de atividades delimitadas por divisórias baixas. A

educadora pode propor as atividades sem centralizar ao seu redor todas as crianças,

gerando um tempo de espera; ou seja, ao arrumar a sala com algumas crianças,

favorece a interação entre as demais crianças. A sala organizada em zonas de

atividades delimitadas por divisórias baixas permite tanto brincadeiras movimentadas,

como descer, subir, saltar, como também, brincadeiras de linguagem. O essencial no

uso deste espaço é que se descentralize a figura da educadora, que passa a atuar

como um elemento facilitador da interação das crianças em atividades e brincadeiras,

sem depender tanto da mediação do adulto. Este fica mais disponível para observá-

las e estabelecer um contato individual mais efetivo com alguma criança ou grupo de

crianças que o procure ou perceba precisar de uma atenção especial. (Rossetti,

Ferreira e Eltink, 1998)

Nesse longo percurso da história do atendimento à infância, pesquisas e

práticas vêm buscando afirmar a importância de se promover uma educação de

qualidade para todas as crianças o que envolve diversos aspectos do atendimento,

como espaço adequado, professores qualificados, matérias didáticos suficientes,

dentre outras coisas. No entanto o que se identifica é que nesse aspecto há sérios

problemas a se enfrentar, conforme o diagnóstico apresentado no Plano Nacional de

Educação (BRASIL, 2001).

No Brasil, grande número de ambientes destinados à educação de crianças

com menos de 06 anos funciona em condições precárias. Serviços básicos como

água, esgoto sanitário e energia elétrica, não estão disponíveis para muitas creches e

pré-escolas (BRASIL, 1994). Além da precariedade ou mesmo ausência de serviços

básicos, outro elemento referente à infraestrutura, atinge tanto a saúde física, quanto

o desenvolvimento integral das crianças, entre eles, está à inexistência de áreas

externas ou espaços alternativos que propiciem às crianças a possibilidade de estar

ao ar livre, em atividade de movimentação ampla, tendo seu espaço de convivência,

de brincadeira e exploração do ambiente, enriquecido. Vale registrar, que segundo

dados mais recentes do MEC identificam-se melhoras em relação às

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

23

condições sanitárias encontradas nos estudos realizados até 1998. Isso pode

significar que se tem buscado responder às novas exigências legais, entretanto, tais

informações dizem respeito a estabelecimentos credenciados (autorizados para

funcionar), assim sendo, podemos afirmar que ainda há estabelecimentos,

principalmente os que estão fora do sistema formal (BRASIL, 2003).

Segundo Horn (2001), falar na Educação de crianças de 0 a 5 anos é falar

de um mundo de sonhos e brincadeiras, onde o educador busca meios para que aja

sucesso no desenvolvimento e na aprendizagem do educando no contexto da

educação infantil e vê o espaço físico tornar-se um elemento indispensável a ser

observado. Por esse motivo, a organização deste espaço deve ser pensada tendo

como principio oferecer um lugar acolhedor e prazeroso para a criança, isto é, um

lugar onde as crianças possam brincar criar e recriar suas brincadeiras sentindo-se

assim estimuladas e independentes. Pois é no espaço físico que a criança consegue

estabelecer relações entre o mundo e as pessoas, transformando-o em um pano de

fundo no qual se insere emoções, nessa dimensão o espaço é entendido como algo

conjugado ao ambiente e vice-versa. Todavia é importante esclarecer que essa

relação não se constitui de forma linear. E vale ressaltar que em um mesmo espaço

podemos ter ambientes diferentes, pois a semelhança entre eles não significa que

sejam iguais. Eles se definem com a relação que as pessoas constroem entre elas e o

espaço organizado.

Não podemos falar apenas em organização do espaço sem falarmos

também na importância da organização do ambiente, cujo termo refere-se ao conjunto

do espaço físico e às relações que as crianças estabelecem, sejam elas afetivas,

interpessoais, entre as próprias crianças, crianças e adultos e com a sociedade em

geral.

Por meio do espaço físico a criança é capaz de estabelecer relações entre

as pessoas e o mundo, convertendo-o em um pano de fundo em que se introduzem

as emoções. “Essa qualificação do espaço físico é o que o transforma em ambiente”

(Horn, 2004, p. 28).

O ambiente é aqui entendido como uma estrutura com quatro dimensões: a

física; a relacional, ou seja, as distintas interações que se produzem; a funcional, a

forma de utilização dos espaços; e, também, a temporal - organização do tempo, os

momentos em que serão utilizados os diferentes espaços (op. cit.).

Horn (2004) acrescenta:

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

24

As escolas de educação infantil têm na organização dos ambientes uma parte importante de sua proposta pedagógica. Ela traduz as concepções de criança, de educação, de ensino e aprendizagem, bem como uma visão de mundo e de ser humano do educador que atua nesse cenário. Portanto, qualquer professor tem na realidade, uma concepção pedagógica explicitada no modo como planejar suas aulas, na maneira como se relaciona com as crianças, na forma como organiza seus espaços na sala de aula. Por exemplo, se o educador planeja as atividades de acordo com a idéia de que as crianças aprendam através da memorização de conceitos; se mantem uma atitude autoritária sem discutir com as crianças as regras do convívio em grupo; se privilegia a ocupação dos espaços nobres das salas de aula com armários (onde somente ele tem acesso), mesas e cadeiras, a concepção que revela é eminentemente fundamentada em uma prática pedagógica tradicional. Conforme Farias (1998), a pedagogia se faz no espaço realidade e o espaço, por sua vez, consolida a pedagogia. Na realidade, ele é o retrato da relação pedagógica estabelecida entre crianças e professor. Ainda explicitando, em uma concepção educacional que compreende o ensinar e o aprender em uma relação de mão única, ou seja, o professor ensina e o aluno aprende, toda a organização do espaço girará em torno da figura do professor. As mesas e as cadeiras ocuparão espaços privilegiados na sala de aula, e todas as ações das crianças dependerão de seu comando, de sua concordância e aquiescência. (2004: p.61).

Faz-se necessário salientar o quanto à organização do espaço e do

ambiente é fundamental para que a qualidade na Educação Infantil, pois de nada

adiantaria um espaço e um ambiente organizado sem uma proposta pedagógica

excelente, sem que esta proposta fosse planejada para respeitar as interações de

cada criança.

Com relação ao espaço, pode-se perceber que o espaço criado para a

criança deverá estar organizado de acordo com sua faixa etária, isto é, propondo

desafios cognitivos e motores que a farão avançar no desenvolvimento de suas

potencialidades. O espaço deve estar povoado de objetos que retratem a cultura e o

meio social em que a criança está inserida. De acordo com Horn (2004):

É no espaço físico que a criança consegue estabelecer relações entre o mundo e as pessoas, transformando-o em um pano de fundo no qual se inserem emoções [...] nessa dimensão o espaço é entendido como algo conjugado ao ambiente e vice-versa. Todavia é importante esclarecer que essa relação não se constitui de forma linear. Assim sendo, em um mesmo espaço podemos ter ambientes diferentes, pois a semelhança entre eles não significa que sejam iguais. Eles se definem com a relação que as pessoas constroem entre elas e o espaço organizado. (2004: p. 28)

O RCNEI (1998), fala que organização dos espaços e dos materiais se

constitui em um instrumento fundamental para a prática educativa com crianças

pequenas. Isso implica que, para cada trabalho realizado com as crianças, deve-se

planejar a forma mais adequada de organizar o mobiliário dentro da sala, assim

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

25

como introduzir materiais específicos para a montagem de ambientes novos, ligado

aos projetos em curso. Além disso, a aprendizagem transcende o espaço da sala,

toma conta da área externa e de outros espaços da instituição e fora dela. A pracinha,

o supermercado, a feira, o circo, o zoológico, a biblioteca, a padaria etc. são mais do

que locais para simples passeio, podendo enriquecer e potencializar as

aprendizagens.

Visando entender um pouco mais sobre o universo da criança o seguinte eixo

apresenta uma abordagem sobre o que a legislação assegura para a Educação

Infantil.

1.1.2 O que dizem as Leis sobre a Educação Infantil

(1998):

Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

A criança como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico. É profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas também o marca. A criança tem na família, biológica ou não, um ponto de referência fundamental, apesar da multiplicidade de interações sociais que estabelece com outras instituições sociais. As crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que vivem, as relações contraditórias que presenciam e, por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e seus anseios e desejos. No processo de construção do conhecimento, as crianças se utilizam as mais diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem idéias e hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar. (Texto adaptado do documento “Política Nacional de Educação Infantil”. MEC/SEF/DPE/COEDI, dez/1994, p. 16-1)

Segundo a LDB 9394/96, no Art. 29º. Evidencia-se que “A educação

infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento

integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico,

intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade”. Assim, é

necessário reconhecer que a criança é fortemente marcada pelo meio social em

que se desenvolve, e que também deixa suas próprias marcas neste meio, que tem

a sua família como o seu principal referencial, apesar de todas as relações que

ocorrem em todos os níveis sociais, o espaço infantil deve priorizar remeter a

história da criança para o seu contexto e através disto promover a troca de saberes

entre as crianças.

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

26

Segundo Vygotsky: “o ser humano cresce num ambiente social e a

interação com outras pessoas é essencial ao seu desenvolvimento”. (apud Davis e

Oliveira, 1993, p. 56). Portanto um ambiente estimulante para a criança é aquele em

que ela se sente segura e ao mesmo tempo desafiada, onde ela sinta o prazer de

pertencer a aquele ambiente e se identifique com o mesmo e principalmente um

ambiente em que ela possa estabelecer relações entre os pares. Um ambiente que

permite que o educador perceba a maneira como a criança transpõe a sua realidade,

seus anseios, suas fantasias. Os ambientes devem ser planejados de forma a

satisfazer as necessidades da criança, isto é, tudo deverá estar acessível à criança,

desde objetos pessoais como também os brinquedos, pois só assim o

desenvolvimento ocorrerá de forma a possibilitar sua autonomia, bem como sua

socialização dentro das suas singularidades.

Neste caso, quando nos referimos a organização do espaço na Educação

Infantil estamos simplesmente expondo que esse ambiente deve ser criado e recriado

de acordo com as especificidades da criança. De acordo com Oliveira (2000):

O ambiente, com ou sem o conhecimento do educador, envia mensagens e, os que aprendem, respondem a elas. A influência do meio através da interação possibilitada por seus elementos é contínua e penetrante. As crianças e ou os usuários dos espaços são os verdadeiros protagonistas da sua aprendizagem, na vivência ativa com outras pessoas e objetos, que possibilita descobertas pessoais num espaço onde será realizado um trabalho individualmente ou em pequenos grupos. (2000: p. 158)

Dessa forma, cada espaço destinado às crianças deve ser arranjado de

acordo com suas necessidades específicas, ou melhor, o espaço e a disponibilidade

de brinquedos devem se dar de acordo com o ritmo de cada criança, de acordo com

as diferentes faixas etárias.

De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

– RCENEI (1998), a organização do espaço físico, os materiais, brinquedos,

instrumentos sonoros e o mobiliário não devem ser vistos como elementos passivos,

mas como componentes ativos do processo educacional. O espaço físico das

instituições sempre reflete os valores que elas adotam e são marcas sugestivas do

projeto educativo em curso.

Por isso, quando nos referimos a organização do espaço na Educação

Infantil estamos simplesmente expondo que esse ambiente deve ser criado e

recriado de acordo com as especificidades da criança.

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

27

Dessa forma, cada espaço destinado às crianças deve ser arranjado de

acordo com suas necessidades específicas, ou melhor, o espaço e a disponibilidade

de brinquedos deve se dar de acordo com o ritmo de cada criança, de acordo com as

diferentes faixas etárias. Para Zabalza (appud Melis, 2007, p.11), o espaço educa,

assim como faz a linguagem ou as relações interpessoais. E atua como marco de

condições, isto é, tem capacidade para facilitar, limitar e orientar tudo o que se faz na

escola infantil. Tudo o que a criança faz e aprende acontece em um ambiente, em um

espaço cujas características afetam tal conduta ou aprendizagem. De acordo como é

organizado o ambiente, podemos obter experiências formativas ou outras que serão

mais ou menos ricas e enriquecedoras segundo a organização feita dos espaços e

dos recursos. O espaço é também um contexto de significados e emoções. Cada

zona, cada elemento ou condição do espaço, significa coisas diferentes e o

vivenciamos de formas diferentes. Há espaços para a brincadeira e para o repouso,

para compartilhar e para estar só, para o trabalho e para o ócio, espaços de prazer e

de obrigações, próprios e alheios.

Segundo Forneiro (1998) o espaço da escola deve atender aos critérios de

organização, que se resumem em estruturação, delimitação, transformação, estética,

pluralidade, autonomia, segurança, diversidade e polivalência, pois os diversos

componentes relativos ao espaço é que irão definir o cenário das aprendizagens. Ou

seja, os espaços destinados às crianças devem ser diferenciados, garantindo

ambientes específicos para as atividades de leitura e escrita, para contação de

histórias, para brincadeiras e jogos, para o repouso, higiene, alimentação, atividades

físicas e demais atividades dirigidas. Necessário se faz arranjar os espaços

constantemente em função das atividades planejadas. Porém, o espaço oferecido aos

alunos da Educação Infantil não condiz aos critérios citados pelo autor, pois como foi

descrito no primeiro capítulo a estrutura da sala de Educação Infantil não obedece a

esses requisitos estruturação, delimitação, transformação, estética, etc.

Ao passo que se deve considerar que o espaço é elemento importante para

auxiliar no desenvolvimento da criança. Desta forma, cito Zabalza (1998):

O espaço na educação é constituído como uma estrutura de oportunidades é uma condição externa que favorecerá ou dificultará o processo de crescimento pessoal e o desenvolvimento das atividades instrutivas. Será estimulante ou, pelo contrário, limitante, em função do nível de congruência em relação ao objetivo e dinâmico geral das atividades que forem colocadas em prática ou

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

28

em relação aos métodos educacionais, que caracterizam o estilo de trabalho. O ambiente de aula, enquanto contexto de aprendizagem constitui uma rede de estruturas espaciais, de linguagens, de instrumentos e, finalmente, de possibilidade ou limitações para o desenvolvimento das atividades formadoras. (1998: p. 236)

Portanto, falar na Educação de crianças de 0 a 5 anos é estar falando de

um mundo de sonhos e brincadeiras, onde o educador busca meios para que aja

sucesso no desenvolvimento e na aprendizagem do educando no contexto da

educação infantil e vê o espaço físico tornar-se um elemento indispensável a ser

observado.

Por esse motivo, a organização deste espaço deve ser pensada tendo

como principio oferecer um lugar acolhedor e prazeroso para a criança, isto é, um

lugar onde as crianças possam brincar criar e recriar suas brincadeiras sentindo-se

assim estimuladas e independentes. Desta forma, este trabalho trás a investigação

“importância da organização do espaço na educação infantil” vislumbrando como

organizar o ambiente em parceria com as crianças pode contribuir com seu

desenvolvimento, sendo que, quando o professor cria e recria o espaço com e para a

criança ele esta proporcionando uma nova alternativa de aprendizagem e

principalmente despertando o interesse deles para novas descobertas.

1.1.3 A Implementação da Educação Infantil

Atualmente a educação infantil passa por uma série de transformações.

Neste sentido, destacam-se os avanços obtidos e por que não as conquistas tidas

ao longo desses 20 anos. Entretanto, vale lembrar que durante muito tempo, o

cuidado e a educação das crianças pequenas eram vistas como tarefas da família,

principalmente das mães e de outras mulheres. Depois do desmame, a criança era

percebida como um pequeno adulto, quando já alcançava certo grau de

independência, passava a ajudar os adultos nas atividades cotidianas e a aprender o

básico para sua inserção social. Não se considerava a identidade pessoal da

criança.

Devido ao caráter familiar do atendimento à criança pequena, as primeiras

denominações das instituições infantis fazem uma referência a esse aspecto, como o

termo francês “creche” que significa manjedoura, presépio. Nas sociedades

primitivas, as crianças que se encontravam em situações

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

29

desfavoráveis, como o abandono, era cuidado por uma rede de parentesco, ou seja,

dentro da própria família. Na Idade Antiga, os cuidados eram oferecidos por mães

mercenárias, que não tinham nenhum tipo de preocupação com as crianças, sendo

que muitas morriam sob os seus cuidados. Na Idade Média e Moderna, existiam as

“rodas” (cilindros ocos de madeira, giratórios), construídos em muros de igrejas ou

hospitais de caridade, onde as crianças deixadas eram recolhidas. Dentro dessa

perspectiva, fica evidenciado nas palavras de Oliveira (2002) que:

As idéias de abandono, pobreza, culpam e caridade impregnam assim, as formas precárias de atendimento os menores nesse período e vão permear determinadas concepções a cerca do que é uma instituição que cuida da Educação Infantil, acentuando o lado negativo do atendimento fora da família (2002: p. 59).

Diante dessa situação, ficam claras as raízes da desvalorização do

profissional de Educação Infantil, pois antes tinham a idéia, de que para se trabalhar

com crianças não é necessária qualificação profissional, pois grande parte dos

profissionais que atuam nessa área é de leigos, o que demonstra que, mesmo com

tanto avanço no que diz respeito ao conceito de criança, ainda persiste um tipo de

atendimento que só visa os cuidados físicos, deixando de lado os aspectos globais

no atendimento das crianças.

Na Europa com a Revolução Industrial, a sociedade agrário-mercantil

transforma-se em urbano-manufatureira, num cenário de conflitos, onde as crianças

eram vítimas de pobreza, abandono e maus-tratos, com grande índice de

mortalidade. Aos poucos o atendimento às crianças torna-se mais formal, como

resposta a essa situação, foram surgindo instituições para o atendimento de crianças

desfavorecidas ou crianças cujos pais trabalhavam nas fábricas (Oliveira, 2002).

Nos séculos XVIII E XIX é originado dois tipos de atendimento às crianças

pequenas, um de boa qualidade destinado às crianças da elite, que tinha como

característica a educação, e outro que servia de custódia e de disciplina para as

crianças das classes desfavorecidas.

Dentro desse cenário aumenta-se a discussão de como se devem educar

as crianças. Pensadores como Comênio, Rousseau, Pestalozzi, Decroly, Froebel e

Montessori configuram as novas bases para a educação das crianças. Embora eles

tivessem focos diferentes, todos reconheciam que as crianças possuíam

características diferentes dos adultos, com necessidades próprias (Oliveira, 2002).

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

30

No século XX, após a primeira Guerra Mundial, cresce a idéia de respeito

à criança, que culmina no Movimento das Escolas Novas, fortalecendo preceitos

importantes, como a necessidade de proporcionar uma escola que respeitasse a

criança como um ser específico, portanto, esta deveria direcionar o seu trabalho de

forma a corresponder as características do pensamento infantil.

Na psicologia, na década de 20 e 30, Vygotsky defende a ideia de que a

criança é introduzida no mundo da cultura por parceiros mais experientes. Wallon

destaca a afetividade como fator determinante para o processo de aprendizagem.

Surgem as pesquisas de Piaget, que revolucionam a visão de como as crianças

aprendem, a teoria dos estágios de desenvolvimento. As teorias pedagógicas se

apropriam gradativamente das concepções psicológicas, especialmente na

Educação Infantil, impulsionando o seu crescimento.

No contexto de pós-segunda Guerra mundial, surge a preocupação com a

situação social da infância e a idéia da criança como portadora de direitos. A ONU

promulga em 1959, a Declaração dos Direitos da Criança, em decorrência da

Declaração dos Direitos Humanos, esse é um fator importante para a concepção de

infância que permeia a contemporaneidade, a criança como sujeito de direitos.

Desse modo, nota-se que a Educação infantil sofreu grandes

transformações nos últimos tempos. O processo de aquisição de uma nova

identidade para as instituições que trabalham com crianças foi longo e difícil. Durante

esse processo surge uma nova concepção de criança, totalmente diferente da visão

tradicional. Se por séculos a criança era vista como um ser sem importância, quase

invisível, hoje ela é considerada em todas as suas especificidades, com identidade

pessoal e histórica.

Essas mudanças originaram-se de novas exigências sociais e

econômicas, conferindo à criança um papel de investimento futuro, esta passou a ser

valorizada, portanto o seu atendimento teve que acompanhar os rumos da história.

Sendo assim, a Educação Infantil de uma perspectiva assistencialista transforma-se

em uma proposta pedagógica aliada ao cuidar, procurando atender a criança de

forma integral, ou seja, a implementação de Leis que asseguram a educação infantil

valorizam não só a criança com sujeito social, mas também deram a oportunidade

para que elas tenham acesso a educação.

. Portanto, evidencia-se que as mudanças que ocorrem com as crianças,

ao longo da infância, são muito importantes e devem ser respeitadas. Por tais

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

31

razões, as instituições de Educação Infantil são hoje indispensáveis na sociedade.

Elas tanto constituem o resultado de uma luta constante pela valorização da criança

como são responsáveis pela formação de crianças que nesta fase precisam ser

acompanhadas e inseridas em um ambiente que contribua para o seu

desenvolvimento integral.

1.2 ORGANIZAÇÃO DO ESPAÇO E DO AMBIENTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

1.2.1 Sobre a Infância e a Educação Infantil

O homem é um ser histórico social, que constrói sua história no decorrer

dos anos. A partir desse pressuposto a noção ou sentimento de infância foi construído

ao longo da história. Nos registros da história Medieval não se encontra nenhum

relato sobre o tema até o meio do século XII.

Segundo o historiador Phillipe Áries em seu livro História Social da Criança

e da Família (1981) no qual elaborou estudos sobre a infância na Europa “É difícil

crer que essa ausência se devesse à incompetência ou à falta de habilidade. É mais

provável que não houvesse lugar para a infância nesse mundo”. A conceituação de

infância que conhecemos é recente, está ligada a noção de família e ao

desenvolvimento escolar no século XVII.

Recorrendo-se ao seu significado literal, a palavra infância oriunda do latim

infantil significa “incapacidade de falar”, pois se considerava que antes dos sete anos

acriança era incapaz de falar e expressar seus pensamentos e desejos. Desde a

antiguidade apalavra infância estava atrelada a incapacidade, a criança era menos

que o adulto, por isso era representada como adulto em miniatura.

Por se tratar de uma construção histórica nos séculos X e XI havia profundo

desinteresse pela infância, sendo considerada como um período de transição sem

nenhuma lembrança ou importância para a vida adulta. No século XIV surgem novos

modelos para representar a infância. No primeiro as crianças as crianças aparecem

na forma de anjos, deixando a antiga idéia de adultos em tamanho reduzido. O

segundo modelo de criança seria a imagem da criança sagrada representada pelo

Menino Jesus ou por Nossa Senhora Menina, nessa

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

32

época a idéia de infância estava ligada a Maria. O terceiro modelo de criança é a

representação da criança nua.

No século a densidade demográfica da época explica a indiferença com

relação às crianças, já que a possibilidade de perda das mesmas era muito alta. As

crianças começaram a sair do anonimato quando os adultos iniciaram o gosto pelo

retrato.

Sobre este aspecto destaca Aries (1981):

O gosto novo pelo retrato indicava que as crianças começaram a sair do anonimato em que sua pouca possibilidade de sobreviver as mantinha. É notável, de fato, que nessa época de desperdício demográfico se tenha sentido o desejo de fixar os traços de uma criança que continuaria a viver ou uma criança morta, a fim de conservar sua lembrança (1981, p.23)

No século XVII passou-se a conservar a imagem da infância através da

arte. A criança passou a ser representada sozinhas sendo modelos favoritos dos

pintores da época. No século XIX substitui-se a pintura pela fotografia, porém a

valorização da imagem da criança permaneceu e consolidou-se então a noção de

família. Todas essas características demonstram que nem sempre escola, infância e

família existiram da mesma forma.

Segundo a pesquisadora Kramer (2003) entende-se comumente, “criança”

por oposição ao adulto: oposição estabelecida pela falta de idade ou de “maturidade”

e “de adequação integração social”.

Para a pesquisadora Kramer (2003) a idéia de infância não existiu sempre e

foi modificada com o passar do tempo, historicamente de acordo com a modificação

nas formas de organização da sociedade. Ela aparece com a sociedade capitalista,

conforme ocorrem as mudanças na relação social da criança. Se para a sociedade

feudal a criança se tornaria adulta assim que a mesma ultrapassasse o período de

alta mortalidade e já pudesse trabalhar para a sociedade burguesa a criança deve ser

amparada e escolarizada.

A visão contemporânea de infância se depara com uma série de mudanças,

novos olhares e algumas rupturas com o modelo de infância concebido até então. A

nova visão de infância possui outras características, novos interesses e necessidades

que não existiam antes, essas necessidades estão atreladas ao novo sistema vigente,

o capitalismo, o consumismo e a globalização.

Por muitos anos a escola e a família eram os grandes responsáveis pela

socialização e interação da criança com o mundo, nos dias de hoje outras mídias

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

33

como a televisão e a internet responsáveis por essa função. Segundo Pfron Neto as

crianças tem interesse pela televisão a partir dos 6 meses de vida, passando a assistir

com maior regularidade a programação por volta dos 2 a 3 anos de idade.

Outro fator que convém ressaltar na mudança da concepção de infância

está ligado à nova característica da sociedade contemporânea, a individualização das

pessoas. Os pais presos a sua rotina estressante profissional, deixam seus filhos

aprisionados em suas casas, permanecendo sozinhos por um longo tempo. Com isso

a televisão por sua vez invade a vidadas crianças pregando determinado estilo de

vida, com modismos e ideais, ditando regras, brincadeiras, formas de ver o mundo.

Estimulando a consumir casa vez mais, transformando as crianças em consumidores

desenfreados.

Nesse sentido a mídia altera a noção de infância construída até os dias de

hoje, reduzindo a criança a um sujeito-consumidor, conforme destaca Ghiraldelli Jr.

(1996):

Ser criança é ter corpo que consome coisa de criança. Que coisas são essas? Primeiras coisas que a mídia define como tendo sido feitas para o corpo da criança. Segundo coisas que ela define como sendo próprias do corpo da criança. Respectivamente, por um lado bolachas, danoninhos, sucos, roupas, aparatos para jogos, etc., por outro gesto, comportamento, posturas corporais, expressões, etc. Ser criança é algo definido pela mídia na medida em que é um corpo que consome corpo (1996, p. 38).

Nesse aspecto a mídia constrói um significado diferente de infância, deixando

de ser uma fase natural da vida, pois sendo então objeto de manipulação, construído,

ditado, instruído pela mídia. Diferentemente da visão que prega a criança feliz,

protegida, educada, segura. Ou seja, o que vemos hoje é a simulação da noção de

infância.

1.2.2. A educação infantil na idade média e moderna

Assim como o conceito de infância, a escola infantil do modo como a se

conhece é muito recente e sua concepção se confunde com a concepção de infância.

A percepção de escolarização em tempos passados se resumia ao convívio das

crianças em grupos adultos e como eles aprendiam a se tornar membros desse

grupo. Sem que houvesse a percepção de que a infância é uma fase distinta da vida,

que como tal tem suas próprias características, especificidade e necessidades.

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

34

Na Idade Média ao completar sete anos de idade, a criança entrava em

outra família para aprender os afazeres domésticos e costumes, adquirindo

conhecimento e experiência prática. Apenas os clérigos de todas as idades,

principalmente do sexo masculino é que podiam freqüentar os colégios existentes na

época dirigidos pela Igreja Católica. Nas famílias em que os meninos estudavam as

meninas não aprendiam nada.

Nessa época não havia trajes para diferenciar as crianças dos adultos, os

trajes eram diferentes apenas para as classes sociais, sendo assim serviam apenas

para perpetuar as diferenças de classes. Áries (1981) explica que a idade Média

vestia indiferentemente todas as classes de idade, preocupando-se apenas em

manter visíveis através da roupa os degraus da hierarquia social. Nada, no traje

medieval, separava a criança do adulto. Segundo Áries (1981):

Essa função demográfica da escola não surgiu imediatamente como uma necessidade. Ao contrário, durante muito tempo a escola indiferente à repartição e à distinção das idades, pois seu objetivo essencial não era a educação da infância. (1981, p.124)

Na Idade Moderna, o crescimento da população urbana, a Revolução

Industrial e o Iluminismo proporcionaram uma nova etapa à educação infantil, a

ruptura de paradigmas considerados arcaicos trouxe modificações sociais e

intelectuais à criança.

Surgem as primeiras propostas de educação dissociando o

desenvolvimento social do desenvolvimento da educação. A obrigatoriedade da

escola foi bastante discutida entre os séculos XVIII e XIX, nesta época questionava-

se a eficácia das escolas mistas. A disciplina na idade escolar era rigorosa e efetiva,

por considerar a criança frágil e incompleta.

A Reforma Protestante trouxe a idéia da universalização da escola, surge

então uma nova perspectiva sobre a educação infantil levando em consideração

como ensinar.

As idéias de Pestalozzi e Froebel deram origem ao conceito de educação

compensatória, seguidas por Montessori e Mc Milam no final do século XIX e sua

aplicação efetivamente ocorreram no século XX. A educação pré-escolar era

encarada de forma a compensar a pobreza, miséria e a carência das famílias.

Sobre este contexto destaca Kramer (2003)

A educação pré-escolar começou a ser reconhecida como necessária tanto na Europa quanto nos Estados Unidos durante a depressão de 30. Seu principal objetivo era o de garantir emprego a professores, enfermeiros e

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

35

outros profissionais e, simultaneamente, fornecer nutrição, proteção e um ambiente saudável e emocionalmente estável para crianças carentes de dois a cinco anos de idade. (2003, p.23)

Com a Segunda Guerra Mundial o atendimento pré-escolar tomou novo

rumo, passando a atender os filhos de mães que trabalhavam na indústria bélica e

daquelas que substituíam o trabalho masculino. Por ter caráter de urgência a

necessidade desse tipo de atendimento teve índices elevados e culminou com duas

medidas importantes para o âmbito da educação pré-escolar.

Por um lado, a educação pré-escolar assumiu caráter assistencialista de

grande importância para a comunidade, já que a partir de então as mães poderiam

trabalhar. Assim, despertou interesse por novas formas de pensar a educação de

crianças, surgiu então à preocupação com as necessidades sociais e afetivas das

crianças. Nesse momento aumentaram os estudos sobre a as teorias do

desenvolvimento da criança e sobre psicanálise no âmbito pré-escolar.

Na década de 60 as pesquisas na educação pré-escolar seguiam a linha do

pensamento sobre o pensamento da criança e sobre a influência da linguagem no

desenvolvimento escolar. Pesquisas realizadas nos Estados Unidos sobre testes de

inteligência indicavam que as crianças que freqüentaram a jardins de infância ou

creche eram melhores do que as que não freqüentaram nenhum tipo de instituição

escolar.

Atualmente os objetivos da educação na Europa têm sido o

desenvolvimento integral do indivíduo e a aprendizagem de diversos meios de

expressão para o ensino básico.

1.2.3 A educação infantil no Brasil

Ao analisar o histórico da Educação Infantil, devemos considerar que sua

construção está ligada à concepção histórico-social de instituições como a família e

da infância.

Para estudar alguns aspectos históricos ligados à história da educação no

Brasil, a pesquisadora Kramer (2003), divide a história em três períodos sendo eles:

1º período vai desde o descobrimento até 1874, 2º período de 1874 até 1889 e o 3º

período de 1889 até 1930.

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

36

Segundo Kramer (2003) do período do descobrimento até 1874, no Brasil

não se pensava na infância tanto do aspecto jurídico quando do atendimento as

crianças. Nesse período havia apenas casas para os abandonados de primeira idade

e uma escola para os abandonados com mais de doze anos.

Já no 2° período de 1874 até 1889 há registros de projetos assistencialistas

elaborados por alguns grupos especialmente médicos, porém muitos projetos não

saíram do papel. Os poucos projetos que se concretizaram durante este período

segregavam as crianças negras filhas de escravos das crianças da elite filhas dos

senhores. Podemos observar que a assistência às crianças pequenas era praticada

por médicos sanitaristas e associações de damas beneficentes sendo deixada de

lado pelos órgãos públicos.

Na análise de Krammer (2003):

Mas, se existiam algumas alternativas provenientes de grupos privados (conjuntos de médicos, associações de damas beneficentes etc.), faltava, de maneira geral, interesse da administração pública pelas condições da criança brasileira, principalmente a pobre (2003, p.50).

No 3° período, até 1930, a criança já estava sendo assistida por diversas

leis e instituições que principalmente durante as duas primeiras décadas prestavam

atendimento médico, escolar e higiênico. Neste período predominou o desejo de

alguns grupos em diminuir o desinteresse do governo em relação às políticas para as

crianças.

Em 1899 foi criado o Instituto de Proteção e Assistência a Infância do Brasil

para receber menores de oito anos, com o objetivo de privilegiar as necessidades das

crianças pobres e as crianças com necessidades de alguns cuidados, criar leis para a

proteção dos recém-nascidos, criar creches, maternidade e jardins de infância.

Ainda segundo estudos de Krammer (2003):

A fundação do instituto foi contemporânea a certa movimentação em torno da criação de creches, jardins de infância, maternidades e da realização de encontros e publicações. Em 1908, teve inicio a “primeira creche popular cientificamente dirigida” a filhos de operários até dois anos e, em 1909, foi inaugurado o Jardim de Infância Campos Salles, no Rio de Janeiro. (2003 p.52).

Em 1919 inicialmente sob-responsabilidade do Estado foi criado o

Departamento da criança no Brasil, porém foi mantido por doações. Este

departamento possuía diferentes tarefas, dentre as quais: monitorar a proteção da

infância no Brasil, promover iniciativas de amparo à criança e mulher grávida pobre,

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

37

promover congressos, divulgar boletins e uniformizar as estatísticas brasileiras sobre

a mortalidade infantil.

Nesta breve revisão histórica do contexto educacional da educação Infantil

no Brasil pré 1930 percebeu-se que a educação da criança pequena se baseou no

assistencialismo médico e na psicologização da educação, atribuídos a “concepção

abstrata da infância”. Surgiu então o Estado autoritário preocupado com as crianças

consideradas não aproveitadas. A valorização da criança pelo Estado ocorreria

gradativamente pós 1930.

Ainda segundo Krammer (2003):

A década de 30 é considerada aqui como limite pelas modificações políticas, econômicas e sociais ocorridas no cenário nacional - em estreita relação com o cenário internacional - e que se refletiriam na configuração das instituições voltadas às questões de educação e saúde, como também na sua política. (2003 p.56).

O Estado cria vários órgãos de amparo assistencial e jurídico para a

infância afirmando a política de valorização da criança, como adulto em potencial,

sem vida social. Dentre os órgãos criados pelo governo se destaca: o Departamento

Nacional da Criança em1940; Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição em 1972;

SAM – 1941 e FUNABEM;

Legião Brasileira de Assistência em 1942 e Projeto Casulo; UNICEF em

1946; Comitê Brasil da Organização Mundial de Educação Pré-Escolar – OMEP em

1953 E 1969; Conselho Nacional de Educação - CNAE em 1955; e Conselho

Educacional Pré-Escolar - COEPRE em 1975. Mesmo com esforços empreendidos, a

política de assistência social não atingiu a todos, sendo que sua prática foi muito

desigual, com recursos escassos e atendimento voltado mais para os problemas de

saúde do que para os da educação propriamente ditos. Acentuando assim os

problemas de desigualdade social já existente na sociedade.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1961) discorre dois

artigos sobre a educação pré-escolar. O primeiro é dedicado à educação de crianças

até sete anos em escolas maternais, jardins de infância e instituições equivalentes. O

segundo sugere o estimulo para que as empresas instalem instituições de ensino

para os filhos das mães trabalhadoras.

A educação pré-escolar (educação compensatória) foi instituída para

amenizar a evasão escolar e alta taxa de repetência no 1ª série do 1º grau entre as

crianças carentes nos anos 1970.

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

38

Neste sentido a educação compensatória visava preencher o “vazio”

cultural que atingia as crianças carentes antes que entrassem no 1º serie, essa

carência existia porque os pais das famílias pobres não conseguiam proporcionar

oportunidades para um bom desenvolvimento escolar, que faria com que seus filhos

repetissem o ano letivo. A pré-escola serviria para suprir a carência educacional e

suprir os requisitos básicos que não foram anteriormente transmitidos por seu meio

social para garantia do sucesso escolar.

Nota-se que a educação era fragmentada, sendo regulamentada por vários

órgãos e continuava a ser vista como assistencialista. Com caráter compensatório

que visava suprir a falta de condições sociais, culturais e nutricionais. Sendo assim a

maioria das creches e pré-escolas públicas tinham essa função assistencialista.

Enquanto as instituições particulares caminhavam na direção contraria visando o

desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças atendidas.

Sobre este contexto os estudos de Krammer (2003,p,107) destacam:

A crença na pré-escola e na educação compensatória como solução para os problemas sociais pressupõe uma dada posição perante o mundo e a sociedade. O fracasso dos programas nela fundamentados pode significar um retrocesso na medida em que sirva para justificar uma pretensa inferioridade das crianças (2003 p.107).

Nos anos 80 a educação pré-escolar passou por problemas dentre os quais

o caráter assistencialista da educação, a insuficiência de docentes qualificados,

escassez de recursos e ações concretas para sua viabilização, fragmentação dos

programas educacionais e de saúde e ausência de uma política integrada para a

educação.

Com a Constituição de (BRASIL, 1988) a educação pré-escolar passou a se

vista como um direito da criança e dever do Estado. Deveria ser integrada ao sistema

de ensino. A partir de então a educação pré-escolar passou a seguir uma concepção

pedagógica que completava a ação da família deixando a atuação assistencialista

para trás. Essa visão pedagógica tinha a criança como ser histórico e social,

pertencentes a uma determinada classe cultural e social tornando obsoleta a prática

da educação compensatória.

Em 1990 com a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, os

municípios se tornaram responsáveis pela infância e adolescência. Retirando a

responsabilidade de o Estado atuar sobre os programas de educação infantil.

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

39

Contudo o direito a educação pré-escolar até os 05 anos está longe de ser

concretizado para a boa parte das crianças das camadas populares. Seu

reconhecimento começa a ser notado nos documentos oficiais e em

pronunciamentos, bem como nas ações desenvolvidas por iniciativas estadual,

municipal e beneficente. No entanto a educação compensatória é vista como solução

para o problema da educação e sociedade brasileiras.

1.2.4 Espaços e ambientes na Educação Infantil

Discutir sobre a importância da organização do espaço na escola destinado

às crianças da Educação Infantil implica em repensar a forma como esse vem sendo

organizado através dos tempos e descrever as dimensões que o configuram como

ambiente de aprendizagem que potencializa e orienta a prática educativa.

A escola da antiguidade era pensada para atender, cuidar e transmitir

informações aos seus alunos, mas não tinha a preocupação de organizar um

ambiente que favorecesse e oportunizasse, constantemente, momentos de interação

e desenvolvimento integral das crianças.

Era comum a própria escola organizar seus espaços como modo de

controle e de disciplina dos corpos, com a maioria das salas organizadas em filas,

com corredores estreitos que limitavam o acesso a circulação e a interação entre as

crianças. Até mesmo os corredores da escola eram construídos de forma a induzir as

crianças a andar em fila atrás de seu professor. Além disso, as janelas eram

pequenas, o que dificultava a interação com o meio externo e a exploração de outros

espaços.

É importante salientar que essa realidade não é encontrada apenas na

antiguidade, essa prática foi e ainda é muito utilizada em nosso cotidiano. Para que

essa organização se diferencie das tradicionais e se prepare para dar suporte às

necessidades infantil, ela precisa levar em consideração que as crianças, quando

pequena, agem diretamente sobre o meio, e à medida que se vai conquistando

autonomia motora, adquire uma linguagem mais avançada, alcança meios mais

refinados para interagir com o mundo que a rodeia.

Para as crianças bem pequenas os espaços de correr, saltar e rolar são

fundamentais, como também são necessários os espaços para as atividades

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

40

diversificadas como pintar, desenhar, brincar de faz-de-conta, de fazer barraca e tudo

o que a imaginação criar, por isso, a necessidade de se preparar um ambiente

diferenciado para ela, que permita sua exploração e atuação constante. Os espaços

de atividades das crianças da educação infantil precisam levar em conta suas

necessidades e possibilidades de atuação, pois as crianças interagem nos ambientes

por meio do uso de seu corpo, arrastando-se, tocando, cheirando, engatinhando, e

explorando, conhecendo e interferindo no cotidiano através de suas percepções.

As crianças crescem e se desenvolvem rapidamente e em conseqüência

disso suas necessidades e interesses se modificam. As crianças têm características

diferentes. O contexto socioeconômico e cultural deverá ser considerado (Lopes;

Mendes; Farias, 2005, p. 20).

Na medida em que as crianças vão crescendo, vão estabelecendo novas

relações, e dessa forma se faz necessária a incorporação de outros móveis e

acessórios, os quais vão se tornando indispensáveis para povoar o espaço que elas

freqüentam, dando novas possibilidades de ação no ambiente da instituição.

Dentre os objetos móveis estão as mesas adequadas para pintar e

desenhar, diferentes tipos de tintas, pincéis, colas e tesouras, papéis de diferentes

formatos, texturas e tamanhos, livros de histórias que permitam explorar e criar, tendo

como suporte móveis adaptados as necessidades infantis, valorizando o ser criança.

De acordo com o documento da Secretaria de Educação, Proinfantil afirma

que: Fröebel e Montessori privilegiaram a organização do espaço e o tornou, na

realidade, parte integrante da ação pedagógica. O que houve de inovador neste

aspecto foi o fato de adequá-lo às necessidades de crianças pequenas, distanciando-

se dos modelos escolares vigentes na época. Fazendo uma verdadeira revolução no

que diz respeito aos espaços e ambientes destinados à Educação Infantil, foram os

grandes precursores da importância dos arranjos espaciais na metodologia do

trabalho com crianças pequenas (Lopes; Mendes; Farias 2005, p. 30).

Os elementos que compõem os espaços podem ser variados, desde

prateleiras baixas, pequenas casinhas, caixas, biombos baixos, dos mais diversos

tipos e que favoreçam a criança a ficar sozinha, se assim o desejar. Também na área

externa, há que se criar espaços que permitam que as crianças corram,

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

41

balancem, subam, desçam e escalem ambientes diferenciados, pendurem-se,

escorreguem, rolem, joguem bola, brinquem com água e areia, escondam-se sem que

corram perigos. As pesquisas e estudos realizados a respeito da concepção de

criança, de infância e de seu desenvolvimento e aprendizagem demonstram que

muitas concepções já mudaram de forma considerável, mas ainda ocorre a insistência

em moldar e disciplinar tais concepções.

Para Horn (2004, p. 37): O espaço é algo socialmente construído, refletindo

normas sociais e representações culturais que não o tornam neutro e, como

conseqüência, retrata hábitos e rituais que contam experiências vividas. Até então, na

história, os espaços foram se construindo como uma das formas de controlar a

disciplina, constituindo-se como uma das dimensões materiais do currículo.

Nesta perspectiva, o espaço não se torna potencializador das capacidades

infantis, torna-se, apenas, pano de fundo para as relações de autoritarismo,

centradas na figura do professor detentor de todo o conhecimento. Segundo Zabalza

(1998) “o termo espaço refere-se ao espaço físico, ou seja, aos locais para a

atividade caracterizados pelos objetos, pelos materiais didáticos, pelo mobiliário e

pela decoração”, sendo assim, o espaço está ligado aos objetos e aos elementos

que ocupam o espaço, para as crianças pequenas ele diz respeito a tudo aquilo que

o compõem, os móveis, os objetos, a mobília, é tudo aquilo que se vê, que se faz e

que se sente.

Já o ambiente “refere-se ao conjunto do espaço físico e às relações que se

estabelecem no mesmo”, ou seja, os afetos, as relações interpessoais entre as

crianças, entre elas e os adultos, entre elas e a sociedade em seu conjunto. O

ambiente é um todo que não se distancia do espaço, dos objetos, das mobílias, ele

transmite sensações, passa segurança e independentemente de como é organizado

sempre expressa algum sentimento, nunca se torna um espaço indiferente. Dessa

forma, considera-se, por meio de estudos, que o espaço escolar pode ser um aliado

importante que poderá contribuir de maneira significativa para as aprendizagens

infantis. Assim, a forma como o ambiente esta organizado pode contribuir, tornando-

se um ampliador ou inibidor da aprendizagem. Dependendo de como o organizamos,

ele pode estimular, constantemente, as crianças, ou reprimi-las, desse modo, é

função de cada professor, antes de organizar sua sala de aula, refletir sobre o que irá

conduzir sua prática pedagógica, o que pretende potencializar e

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

42

desenvolver nas crianças e qual sua concepção de educação e de desenvolvimento

infantil. A partir dessas reflexões, o professor poderá organizar não só sua sala, mas

também toda a escola, de modo que o ambiente, realmente, faça seu papel de

educador e que, juntamente com professores preparados e qualificados para tal

função, possa garantir o acesso e permitir que as crianças exerçam sua autonomia,

independência e criatividade, possibilitando novas descobertas, potencializando

aprendizagens e garantindo uma educação de boa qualidade. O ambiente deve fazer

sentido para a criança, proporcionando acesso aos meios que contribuem para o seu

desenvolvimento integral.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais: O espelho é um

excelente instrumento na construção e na afirmação da imagem corporal recém-

formada, é na frente dele que meninos e meninas poderão se fantasiar, assumir

papéis, brincar de pessoas diferentes, e olharem-se, experimentando todas essas

possibilidades (BRASIL, 1997, p. 38). Com o uso dos objetos e instrumentos

disponibilizados pelo professor no espaço, as crianças têm a oportunidade de

vivenciar e interpretar diferentes papéis, reelaborando situações de seu dia a dia,

assumindo diferentes posturas. “Diante do espelho, a criança consegue perceber que

sua imagem muda, sem que modifique a sua pessoa”.

A partir da progressiva evolução de sua independência dentro da instituição

de educação infantil, as crianças podem usufruir de sua autonomia a fim de interferir

diretamente nas possibilidades de atuar sozinho, para tanto, se faz necessário que os

materiais, brinquedos e objetos estejam ao alcance das crianças, em ambientes

preparados e organizados para brincar.

As mudanças de perspectivas nas instituições de educação infantil

influenciam também as concepções dos educadores que atuam nestas instituições,

refletindo, então, na organização das salas de aula, nos encaminhamentos

metodológicos, nas atitudes e condutas dos educadores, abrangendo também as

ações das crianças.

Espaço na educação é constituído como uma estrutura de oportunidades. É

uma condição externa que favorecerá ou dificultará o processo de crescimento

pessoal e o desenvolvimento das atividades instrutivas. Será estimulante ou, pelo

contrário, limitante, em função do nível de congruência em relação ao objetivo e

dinâmico geral das atividades que forem colocadas em prática ou em relação aos

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

43

métodos educacionais e instrutivos que caracterizem o nosso estilo de trabalho.

(Zabalza, 1998, p. 236).

O espaço, quando bem organizado, pode estimular a investigação,

desenvolver capacidades, manter a concentração e fazer as crianças se sentirem

parte integrante dele, dando a elas uma sensação de bem estar. O espaço pode,

também, favorecer o autoconhecimento, o desenvolvimento das habilidades,

tornando-se desafiador ou inibidor do desenvolvimento e da aprendizagem. [...] O

espaço físico é visto como pano de fundo das relações e desempenha um papel

importante na aprendizagem, ou seja, o espaço condiciona as relações entre as

pessoas e as atividades, o ritmo e o tempo, dependendo do contexto nele organizado,

são visto como um dos elementos fundamentais para uma pedagogia da educação

infantil que garanta o direito à infância e uma educação de qualidade [...] (Vieira,

2009, p. 17).

Na medida em que defendemos uma visão de que as crianças têm o direito

de se desenvolver plenamente em um ambiente no quais se sintam estimuladas e

protegidas, precisamos elaborar ambientes que se tornem desafiadores e ao mesmo

tempo acolhedores, pois, assim, iremos proporcionar e possibilitar interações entre as

crianças e os adultos.

Para isso, é necessário um amplo espaço, no qual as crianças possam

explorá-lo e movimentar-se com liberdade, usando este espaço com criatividade e a

favor de seu desenvolvimento. [...] A escola deve ser um espaço socialmente

organizado para o desenvolvimento das aprendizagens das crianças, deve tornar

possível inúmeras mediações, qualitativamente diferentes. A escola de educação

infantil e seus diferentes espaços físicos internos e externos compõem parte

significativa do processo de ensino e aprendizagem das crianças pequenas [...]

(Vieira, 2009, p.16).

O primeiro contato com a escola da primeira infância pode ser para

algumas crianças um momento um pouco tumultuado, já que é um dos primeiros

momentos sem a presença constante da mãe. Geralmente, antes do contato com a

escola, a maioria das crianças convivia, apenas, com pessoas de seu meio familiar e,

repentinamente, percebe que está em um espaço novo, no qual as pessoas são

desconhecidas.

Nesse ambiente novo, cheio de informações, nada lhe é familiar e, além

disso, a criança passa pela sensação de ter que se separar de sua mãe. Para que a

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

44

sensação de desconforto e desconhecimento possa ser minimizada, as instituições

escolares precisam estar preparadas para atender as crianças, criando ambientes

que se tornem acolhedores, aconchegantes e que transmitam a sensação de

segurança, ao mesmo tempo desafiando-as a participarem ativamente deste

momento, exercendo sua autonomia e liberdade em suas escolhas, sentindo-se

membro importante e valorizado daquela instituição.

Para tanto, é preciso que se conheçam as características das crianças da

faixa etária a ser atendida, pois se entende que a concepção de criança é uma noção

historicamente construída e que, consequentemente, vem mudando ao longo dos

tempos. A criança indiferentemente das outras pessoas, é um sujeito social e histórico

e faz parte de uma organização familiar e social, que possui uma determinada cultura,

e está inserida dentro de um contexto histórico. As crianças possuem uma natureza

singular, que as caracteriza como seres que sentem e pensam o mundo de um jeito

muito próprio.

Nas interações que estabelecem desde cedo com as pessoas que lhe são

próximas e com o meio que as circunda, as crianças revelam seu esforço para

compreender o mundo em que vivem as relações contraditórias que presenciam e,

por meio das brincadeiras, explicitam as condições de vida a que estão submetidas e

seus anseios e desejos (BRASIL 1998, v. 1, p. 21).

No processo de construção do conhecimento, as crianças se utilizam as

mais diferentes linguagens e usam de sua criatividade de buscar idéias e hipóteses

sobre aquilo que querem desvendar. As crianças aprendem também a partir das

interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. Por

isso, os espaços nas instituições de educação infantil devem propiciar condições para

que as crianças possam usá-los em benefício do seu desenvolvimento e

aprendizagem, devem ser pensados e rearranjados, considerando as diferentes

necessidades de cada faixa etária e os propósitos aos quais se desenvolverá as

atividades.

Particularmente, as crianças pequenas necessitam de um espaço

especialmente preparado para elas, no qual possam circular livremente, andar,

brincar, interagir com outras crianças e também repousarem quando sentirem

necessidade. O espaço precisa ser pensado para que permita a organização de

atividades que exijam maior concentração, ou trabalhos grupais, para isso, os móveis

e objetos precisam ser de fácil manuseio para que se possa reorganizar

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

45

constantemente de acordo com a necessidade do grupo. Assim, é necessário, e de

suma importância, que as crianças tenham a oportunidade de participarem

ativamente da construção desses espaços, dando opiniões e fazendo escolhas.

Quando o espaço reflete os desejos e as características de seu grupo e quando ela

sente que é parte integrante do ambiente, reconhecendo-se como participante e

colaboradora, a criança se posicionará como construtora, e, como componentes

desse grupo, atuarão como participantes e valorizarão a si e aos demais. [...] nessa

concepção de criança que é vista como sujeito, faz-se necessário pensar e oferecer

um espaço educacional significativo, feito para a criança e também pela criança, um

espaço bonito, cálido, familiar, alegre, com diversos materiais e objetos acessíveis

nos mobiliários em altura adequada para as crianças para que elas possam

desenvolver atividades do seu interesse, criar novos interesses e expressar sua

autonomia, sua criatividade e seu respeito às regras desenvolvendo a ética, o

respeito ao outro, sua identidade e sua sociabilidade [...] (Vieira, 2009, p. 18).

Constatamos a importância de organizar espaços que propiciem oportunidades de

viver a riqueza cultural das crianças, estabelecendo condições em um espaço de

qualidade.

Para isso, as instituições devem oferecer um espaço educacional

significativo, no qual possam desenvolver atividades interessantes, que possibilitem à

criança expressar sua autonomia, criatividade, respeito ao outro e sociabilidade,

fazendo com que ela sinta-se parte do espaço, o que é extremamente importante. De

acordo com Vieira (2009, p. 24), “a escola para crianças pequenas precisa

proporcionar a construção da „cultura infantil‟, ou seja, valorizar a cultura que é

produzida pela própria criança”.

Dessa forma, nada mais justo do que permitir que a criança participe da

organização de seu próprio espaço, personalizando-o de acordo com sua

personalidade, em parceria com outras crianças, que conheçam as preferências de

seus amigos e que juntos organizem um espaço no qual seja demonstrado a

identidade individual e coletiva da turma. [...] percebe-se, então, a necessidade de

organizar espaços para a educação de crianças pequenas que ofereçam

oportunidades de experiências diversificadas para que elas se apropriem dos

significados socialmente construídos, atribua sentido ao que aprendem e realizam [...]

(Vieira, 2009, p. 37).

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

46

De acordo com os documentos oficiais que afirmam a necessidade da boa

qualidade da organização dos espaços de educação infantil, pode-se afirmar que é de

fundamental importância se pensar em como organizar o espaço que receberemos as

crianças pequenas, de modo que as acolha e as respeite.

Segundo Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil: Ao

organizar um ambiente a adotar atitudes e procedimentos de cuidado com a

segurança, conforto e proteção da criança na instituição, os professores oferecem

oportunidades para que ela desenvolva atitudes e aprenda procedimentos que

valorizem seu bem-estar (BRASIL, 1998, v. 2, p. 51,).

Assim, se faz necessário considerar os cuidados relacionados com o

espaço interno da instituição, tais como ventilação, segurança, conforto, higiene, além

da segurança dos brinquedos, objetos, utensílios e móveis da instituição. As cadeiras,

mesas e os sanitários precisam ser adaptados ao tamanho das crianças e as suas

necessidades, permitindo que possam usá-los com independência e segurança, os

ambientes precisam estar organizados de modo que facilite sua manutenção e

higienização, oferecendo oportunidade das crianças permanecerem livres para

explorar o ambiente.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, p.

67) “é importante salientar que o espaço de aprendizagem não se restringe à escola,

sendo necessário propor atividades que ocorram fora dela”, para tanto se faz

necessário explorar todos os ambientes que existem na instituição, além da sala de

aula, como pátio, áreas verdes, biblioteca, corredores, quadras, entre outros e que

podem se tornar ambientes com alto potencial de aprendizagens e descobertas, além

de criar programações extraclasses, as quais levem as crianças a conhecer os

espaços que os cercam, dentro da própria comunidade e que fazem parte da

realidade das crianças.

O ambiente deve ser organizado a fim de proporcionar a exploração de

novas descobertas, uma vez que a proposta de valorizar os espaços da educação

infantil permite que as crianças realizem suas atividades individualmente ou em

grupo, tornando o convívio, na instituição, agradável e atraente, disponibilizando para

as crianças momentos de trocas de experiências, de compartilhar idéias e dúvidas,

fazendo com que elas aprendam a trabalhar em parceria e a se respeitarem acima de

tudo. [...] O ambiente é visto como algo que educa a criança; na verdade,

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

47

ele é considerado o “terceiro educador”, juntamente com a equipe de dois

professores.

A fim de agir como um educador para a criança, o ambiente precisa ser

flexível; deve passar por uma modificação frequente pelas crianças e pelos

professores a fim de permanecer atualizado e sensível as suas necessidades de

serem protagonistas na construção de seu conhecimento. Tudo o que cerca as

pessoas na escola e o que usam – os objetos, os materiais e as estruturas – não são

vistos como elementos cognitivos, passivos, mas, ao contrário, como elementos que

condicionam e são condicionados pelas ações dos indivíduos que agem nela [...]

(Edwards; Gandini; Forman, 1999, p. 157).

2. TEMPOS E ESPAÇOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

O dia a dia das creches e pré-escolas é repleto de atividades organizadas

por educadores que, de uma maneira ou de outra, lidam com o espaço e o tempo a

todo o momento. Como organizar tempos de brincar, de tomar banho, de se alimentar,

de repousar de crianças de diferentes idades nos espaços das salas de atividades, do

parque, do refeitório, do banheiro, do pátio? É tarefa dos educadores organizar o

espaço e o tempo das escolas infantis, sempre levando em conta o objetivo de

proporcionar o desenvolvimento das crianças.

Maria Carmen Silveira Barbosa e Maria da Graça Souza Horn pesquisam a

organização do espaço e do tempo na escola infantil e afirmam: Organizar o cotidiano

das crianças da Educação Infantil pressupõe pensar que o estabelecimento de uma

seqüência básica de atividades diárias é, antes de tudo, o resultado da leitura que

fazemos do nosso grupo de crianças, a partir, principalmente, de suas necessidades.

É importante que o educador observe o que as crianças brincam como estas

brincadeiras se desenvolvem, o que mais gostam de fazer, em que espaços preferem

ficar, o que lhes chama mais atenção, em que momentos do dia estão mais tranquilos

ou mais agitados. Este conhecimento é fundamental para que a estruturação espaço-

temporal tenha significado. Ao lado disto, também é importante considerar o contexto

sociocultural no qual se insere e a proposta pedagógica da instituição, que deverão

lhe dar suporte. (Barbosa e Horn, 2001, p. 67).

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

48

Para as pesquisadoras, no que se refere à organização das atividades no

tempo, nas escolas de Educação Infantil, são necessários momentos diferenciados,

organizados de acordo com as necessidades biológicas, psicológicas, sociais e

históricas das crianças (menores ou 2 EDUCAÇÃO INFANTIL: ABORDAGENS

CURRICULARES maiores). Nesse sentido, a organização do tempo nas creches e

pré-escolas deve considerar as necessidades relacionadas ao repouso, alimentação,

higiene de cada criança, levando-se em conta sua faixa etária, suas características

pessoais, sua cultura e estilo de vida que traz de casa para a escola (Barbosa e Horn,

2001).

Assim como o tempo, o espaço também deve ser organizado levando-se

em conta o objetivo da Educação Infantil de promover o desenvolvimento integral das

crianças. Maria da Graça Souza Horn ajuda-nos a pensar sobre esse tema. A partir

de suas pesquisas, escreve: O olhar de um educador atento é sensível a todos os

elementos que estão postos em uma sala de aula. O modo como organizamos

materiais e móveis, e a forma como crianças e adultos ocupam esse espaço e como

interagem com ele são reveladores de uma concepção pedagógica.

Aliás, o que sempre chamou minha atenção foi a pobreza frequentemente

encontrada nas salas de aula, nos materiais, nas cores, nos aromas; enfim, em tudo

que pode povoar o espaço onde cotidianamente as crianças estão e como poderiam

desenvolver-se nele e por meio dele se fosse mais bem organizado e mais rico em

desafios. (Horn, 2004, p. 15). Horn acrescenta: As escolas de educação infantil têm

na organização dos ambientes uma parte importante de sua proposta pedagógica. Ela

traduz as concepções de criança, de educação, de ensino e aprendizagem, bem

como uma visão de mundo e de ser humano do educador que atua nesse cenário.

Portanto, qualquer professor tem, na realidade, uma concepção pedagógica

explicitada no modo como planeja suas aulas, na maneira como se relaciona com as

crianças, na forma como organiza seus espaços na sala de aula.

Por exemplo, se o educador planeja as atividades de acordo com a idéia

de que as crianças aprendem através da memorização de conceitos; se mantém uma

atitude autoritária sem discutir com as crianças as regras do convívio em grupo; se

privilegia a ocupação dos espaços nobres das salas de aula com armários (onde

somente ele tem acesso), mesas e cadeiras, a concepção que revela é

eminentemente fundamentada em uma prática pedagógica tradicional.

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

49

Conforme Farias (1998), a pedagogia se faz no espaço realidade e o

espaço, por sua vez, consolida a pedagogia. Na realidade, ele é o retrato da relação

pedagógica estabelecida entre crianças e professor. Ainda exemplificando, em uma

concepção educacional que compreende o ensinar e o aprender em uma relação de

mão única, ou seja, o professor ensina e o aluno aprende toda a organização do

espaço.

As mesas e as cadeiras ocuparão espaços privilegiados na sala de aula, e

todas as ações das crianças dependerão de seu comando, de sua concordância e

aquiescência. (Horn, 2004, p. 61).

Diante das análises de Maria da Graça, como pensar a organização dos

espaços nas creches e pré-escolas? Alguns educadores e pesquisadores têm voltado

sua atenção para a organização dos espaços para o cuidado e educação de bebês.

Cândida Bertolini e Ivanira B. Cruz enfatizam que “Os espaços e objetos de uma

creche devem estar a favor do desenvolvimento sadio dos bebês, propiciando- lhes

experiências novas e diversificadas” (Rossetti – Feirreira et al, 2007, p. 149). Maria A.

S. Martins, Cândida Bertolini, Marta A. M. Rodriguez e Francisca F. Silva, no capítulo

intitulado “Um lugar gostoso para o bebê”, publicado na obra de Rossetti- Ferreira et

al, (2007) observam que, normalmente, o espaço destinado aos bebês na grande

parte das creches é tomado por berços, restando poucas possibilidades para que os

pequenos explorem o ambiente e se locomovam por toda parte, com segurança.

As educadoras pensaram em uma organização espacial diferente desta, na

tentativa de proporcionar aos bebês um espaço atraente para seu desenvolvimento.

Para elas, “O berçário deve ter espaços programados para dar à criança oportunidade

de se movimentar, interagindo tanto com objetos como com outros bebês. Deve

oferecer ao bebê situações desafiadoras, possibilitando o desenvolvimento de suas

capacidades.” (Rossetti – Ferreira et al, 2007, p. 147).

As educadoras Maria, Cândida, Marta e Francisca pensaram o espaço de

seu berçário, levando em conta três partes da sala: o chão, o teto e as paredes. Em

cada uma dessas partes, elas enxergaram possibilidades de garantir experiências

interessantes e desafios para as crianças, por meio do uso de divisórias de diversos

tamanhos e em diversas alturas, caixas de papelão recortadas e transformadas,

brinquedos, canaletas para os bebês passarem por dentro, muretas para impedi-los

de seguir em frente e obrigá-los a experimentar outros trajetos, cortinas, espelhos,

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

50

móbiles etc. Ainda a respeito do espaço para os bebês, as educadoras alertam: “Os

espaços devem ser sempre atraentes e estimulantes para os bebês. Portanto, eles

devem ser observados, avaliados e mudados pelos educadores na medida em que

eles se desenvolvem e se interessam por coisas novas.” (Rossetti – Ferreira, 2007,

p. 148). As educadoras trazem ainda algumas sugestões para pensarmos acerca do

espaço para os bebês nas creches. Ainda segundo Rossetti e Ferreira (2007), a partir

da observação de sua própria prática, percebe-se que:

[...] existe uma boa forma de arrumar o berçário, organizando-o com colchonetes, caixas vazadas, móveis baixos, que permitem ao educador observar todo o movimento da sala e o bebê também. Dessa forma, o bebê pode tranquilamente ir em busca de um objeto que tenha despertado sua curiosidade, pois ele está vendo que o educador continua na sala. Isso possibilita a ele interagir mais com outros bebês. O educador fica então disponível para aqueles que estão exigindo sua atenção naquele momento. (2007, p. 147).

De acordo com Lilian Pacheco S. Thiago (2006, p78.), a experiência de

estágio com crianças de onze meses a um ano e três meses notou suas conquistas

ao reorganizar o espaço dos bebês de uma escola de Educação Infantil. Indo ao

encontro das reflexões feitas pelas educadoras Maria, Cândida, Marta e Francisca,

Lilian desenvolve o projeto “Criando... e recriando espaços” e percebe que [...] é

preciso oferecer espaços com propostas diferenciadas, situações diversificadas, que

ampliem as possibilidades de exploração e ‘pesquisa’ infantis. As crianças realmente

ampliaram suas possibilidades de exercitar a autonomia, a liberdade, a iniciativa, a

livre escolha, quando o espaço está adequadamente organizado. Percebi, também,

que poderia ficar mais livre para atendê-las individualmente, conforme suas

necessidades, para observá-las e conhecê-las melhor.

Dessa forma, ainda, poderia me envolver com um pequeno grupo de

crianças, propondo uma atividade específica, como na situação relatada

anteriormente, quando me pus a brincar de carro com uma caixa de papelão com

algumas crianças, enquanto outras se envolviam com diferentes objetos e lugares na

sala. (Thiago, 2006, p. 60) Lilian compartilha conosco as formas como reorganizou os

espaços oferecidos aos bebês da sala onde realizou seu estágio do curso de

Pedagogia e oferece algumas ideias importantes para o uso adequado dos espaços

como parceiros do professor e da professora de Educação Infantil no

desenvolvimento das crianças.

Lendo a forma como ela descreve o espaço que reorganizou, tente

imaginar como ficou a sala dos bebês: O espaço da casinha; as tentativas de

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

51

organizar zonas circunscritas utilizando bancos, mesas, prateleiras de plástico

colorido com gavetas para pino de encaixe; o balcão baixo de madeira formando uma

divisória; os colchonetes; o painel com gravuras de animais conhecidos (cavalo, gato,

pássaros, cachorro, leão, peixe etc.); o espelho com duas poltroninhas ou almofadas

em frente, sobre o tapete (espaço de busca de identidade) – tudo isso permitiu

gostosa movimentação pela sala. As crianças andavam de um lado para outro, ora

em busca de um objeto, ora de outro; ora apontando os dedinhos para as gravuras,

mostrando conhecer algo que ali se apresentava. [...] Em outra ocasião, coloquei

sobre as mesas, no centro da sala, livros de história, revistas infantis e outras revistas

e fiquei a observá-las. Algumas pegaram livros e foram se sentar sobre os

colchonetes para folheá-los à sua maneira; outras manuseavam os livros na própria

mesa; outras crianças preferiram buscar brincadeiras alternativas que o espaço lhes

oferecia intencionalmente. Não é possível pretender que as crianças pequenas façam

tudo ao mesmo tempo ou que todas façam a mesma coisa ao mesmo tempo. (Thiago,

2006, p. 59)

Conseguiram ir imaginando como ficou o espaço organizado por Lilian? Ao

organizar as zonas circunscritas, Lilian se fundamenta nas contribuições de Mara

Campos de Carvalho e Renata Meneghini, presentes no capítulo intitulado

“Estruturando a sala”, publicado no livro “Os fazeres na Educação Infantil” (Rossetti e

Ferreira et al., 2007,p 89.). Vocês já ouviram falar de zonas circunscritas? Quem já

atua na Educação Infantil certamente ouviu falar de “cantos”. A organização de

“cantinhos” nas salas de Educação Infantil é bastante discutida hoje nas creches e

pré-escolas.

Muitos educadores tentam organizar suas salas em cantos de atividades

diversificadas, mas, nem sempre essa organização está fundamentada em uma

concepção de criança e de educação que a sustente. Então, os cantos acabam não

funcionando, e sendo deixados de lado, substituídos pela organização anterior,

muitas vezes pautada no uso do espaço que coloca o professor ou a professora no

centro das atenções, com as crianças em volta deles na maior parte do tempo. Então,

vamos tratar um pouco mais das zonas circunscritas, para entendermos melhor o que

fundamenta a organização espacial que se vale dessas áreas delimitadas. Carvalho e

Meneghini (2007, p107.) enfatizam que “O educador organiza o espaço de acordo

com suas idéias sobre desenvolvimento infantil e de acordo com seus objetivos,

mesmo sem perceber” (p. 150). Quando o educador ou a

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

52

educadora de Educação Infantil organiza sua sala em espaços vazios, com poucos

móveis, objetos e equipamentos, ele se vale, conforme escrevem as educadoras na

obra de Rossetti e Ferreira et al. (2007) de um arranjo espacial aberto.

Para as educadoras Mara e Renata, nesse tipo de arranjo acontece

aquilo que descrevemos no parágrafo anterior, ou seja, a maioria das crianças fica

em volta do educador, solicitando sua atenção, sem ter outra atividade a fazer.

Dessa forma, “O educador acaba não tendo muita chance de manter um contato

mais prolongado com nenhuma criança. Às vezes nem pode atender a todas,

mesmo que rapidamente” (Rossetti e Ferreira et al., 2007, p. 150).

É claro que, muitas vezes, o professor ou a professora desejam reorganizar

o espaço de sua sala, mas encontram alguns obstáculos como falta de recursos,

faltam de apoio da equipe gestora da escola, condições inadequadas da própria

escola de Educação Infantil. Mas, em muitos casos, há mesmo uma lacuna na

formação do professor que o impede de pensar a organização de sua sala em termos

de um arranjo espacial semiaberto.

Nesse tipo de arranjo, sugerido por Mara Campos de Carvalho e Renata

Meneghini na obra “Os fazeres na Educação Infantil”, são utilizados móveis baixos

para formar cantinhos ou zonas circunscritas, que “[...] são áreas delimitadas em três

ou quatro lados, com uma abertura para a passagem, onde cabem com conforto

cerca de seis crianças” (p. 151). Conforme explicam Mara e Renata, A característica

principal das zonas circunscritas é seu fechamento em pelo menos três lados sejam

qual for o material que o educador coloca lá dentro, ou que as próprias crianças

levam para brincar.

Dessa maneira, você pode delimitar essas áreas usando mesinhas ou

cadeirinhas. Elas também podem ser constituídas por caixotes de madeira ou

cabaninhas, desde que contenham aberturas. As cabaninhas podem ser criadas

aproveitando o espaço embaixo de uma mesa e colocando por cima um pano que

caia para os lados, contendo uma abertura, tipo porta. As cortinas também podem ser

úteis para delimitar um ou dois lados. É importante que a criança possa ver facilmente

a educadora, senão ela não ficará muito tempo dentro dessas áreas circunscritas.

(Rossetti e Ferreira et al, 2007, p. 151)

Quando as crianças brincam nas zonas circunscritas, ficam mais tempo

interagindo com outras crianças e com a atividade que está sendo ali realizada.

Solicitam menos a atenção do educador que, dessa forma, pode acompanhar o

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

53

desenvolvimento das diversas crianças, focalizando ora uma, ora outra, se desejar,

observando se os materiais oferecidos estão atendendo aos objetivos que deseja

alcançar em termos de desenvolvimento de cada criança, em particular, e do grupo

todo, de modo geral, percebendo o momento de reorganizar ou modificar os cantos

propostos para motivar mais as crianças e proporcionar a elas novas aprendizagens.

Mara Campos de Carvalho, no capítulo “Por que as crianças gostam de áreas

fechadas?”, da obra de Rossetti e Ferreira et al. (2007), observa que a zona

circunscrita oferece proteção e privacidade para as crianças, de modo que elas ficam

mais atentas na atividade e no comportamento dos colegas, envolvendo-se por mais

tempo nas brincadeiras proporcionadas pelo canto organizado pelo professor ou

professora.

Agora, também é importante que os professores e professoras de

Educação Infantil saibam que as crianças precisam aprender a trabalhar com zonas

circunscritas, especialmente se já estavam habituadas a trabalhar no arranjo espacial

aberto, com o educador sempre dirigindo as atividades, sempre interferindo

diretamente nas suas ações e relações com os colegas e o ambiente. A educadora

Mara também alerta os professores e professoras da Educação Infantil para o fato de

que, mesmo no arranjo espacial semiaberto, as áreas circunscritas não devem tomar

todo o espaço das salas das creches e pré-escolas. Outras áreas que não sejam

necessariamente delimitadas por três ou quatro lados também devem ser oferecidas

para as crianças como, por exemplo, espaços com mesinhas e cadeiras para

execução de atividades de colagem, pintura, lápis e papel, espaços sem delimitação

com almofadas e tapetes para leitura de livros de histórias.

Ainda contribuindo para que professores e professoras pensem sobre o

espaço que oferecem para as crianças em creches e pré-escolas, a educadora Mara

Campos de Carvalho (Rossetti e Ferreira et al, 2007) faz algumas análises dos

ambientes infantis e conclui que eles devem estar organizados de modo a promover o

desenvolvimento da identidade pessoal de cada criança, o desenvolvimento de

diversas competências como, por exemplo, poder tomar água sozinha e alcançar o

interruptor de luz, oportunidades para movimentos corporais diversos, a estimulação

dos sentidos, a sensação de segurança e confiança e, finalmente, oportunidades para

contato social e privacidade.

Paulo de Camargo (2008, p 67.) analisa os “Desencontros entre Arquitetura

e Pedagogia” em reportagem na qual conversa com arquitetos e

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

54

educadores sobre os espaços nas escolas de Educação Infantil. Os arquitetos

entrevistados por Paulo de Camargo ressaltam a necessidade de que as creches e

pré-escolas sejam construídas levando-se em conta que elas serão ocupadas e

utilizadas por crianças.

Um dos arquitetos entrevistados, Paulo Sophia, esclarece que, para

conceber uma escola, tenta se colocar no lugar da criança, procurando notar como

ela irá olhar ou perceber o espaço. Para esse arquiteto, as crianças têm uma relação

própria com o espaço, bastante diferente daquela dos adultos. Outra arquiteta

entrevista por Paulo de Camargo é Ana Beatriz Goulart de Faria, envolvida com

diversos projetos de arquitetura educativa. Ana Beatriz observa que na maioria dos

municípios brasileiros, os espaços de Educação Infantil seguem modelos-padrão

elaborados muito longe daqueles territórios, desconsiderando sua geografia, sua

história, sua cultura, suas políticas para a infância. Para ela, “São projetos-modelo

elaborados para uma infância sem fala” (Camargo, 2008, p. 46).

Paulo de Camargo também entrevista a arquiteta Adriana Freyberger,

segundo a qual é preciso que se dê mais atenção aos espaços da escola de

Educação Infantil que vão além da sala de atividades. Pátios e refeitórios devem ser

cuidadosamente organizados, já que são espaços de aprendizagem. Para Adriana,

pensar o espaço significa pensar além da estrutura física. É preciso, segundo ela,

planejar os materiais, jogos e brinquedos adequados ao projeto pedagógico da

instituição.

A arquiteta ressalta a importância do uso de materiais de qualidade nas

creches e pré-escolas e da atenção ao número adequado de crianças para cada

espaço, evitando-se o excesso de crianças por sala. Para finalizar esse texto sobre a

organização do tempo e do espaço nas creches e pré-escolas, vejamos a fala

transcrita a seguir que expressa à opinião da arquiteta Ana Beatriz Goulart de Faria

(entrevistada por Paulo de Camargo).

Os espaços de nossa infância nos marcam profundamente. Sejam eles

berço, casa, rua, praça, creche, escola, cidade, país, sejam eles bonitos ou feios,

confortáveis ou não, o fato é que influenciam definitivamente nossa maneira de

vermos o mundo e de nos relacionarmos com ele. (Camargo, 2008, p. 45) Vocês

concordam com a arquiteta Ana Beatriz? Quais espaços marcaram a sua infância?

Como eram esses espaços? Por quais motivos foram marcantes? Quais lembranças

esses espaços trazem para vocês? Nada melhor que finalizar a leitura deste texto

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

55

com estas reflexões. Pensem também em como vocês lidavam com o tempo na sua

infância. Havia tempos marcados para determinadas atividades ao longo do dia?

Estas reflexões sobre o espaço e o tempo em sua infância devem sempre estar

presentes nas suas reflexões sobre o espaço e o tempo que devemos, como

professores e gestores, proporcionar para as crianças nas creches e pré-escolas.

3. A APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL

3.1 CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA

Falar da infância é mencionar uma aventura que se constrói no ato do

desenvolvimento da infância por quais todas as crianças devem vivenciar, pois a

infância deve ser vivida experimentada em sua plenitude. Entretanto, vale lembra

que a concepção de infância dos dias atuais é bem diferente de alguns séculos

atrás.

Neste caso é importante salientar que a visão que se tem da criança é

algo historicamente construído, por isso é que se podem perceber os grandes

contrastes em relação ao sentimento de infância no decorrer dos tempos. O que hoje

pode parecer uma aberração, como a indiferença destinada à criança pequena, há

séculos atrás era algo absolutamente normal. Por maior estranheza que se cause a

humanidade nem sempre viu a criança como um ser em particular, e por muito

tempo a tratou como um adulto em miniatura.

De um ser sem importância, quase imperceptível, a criança num processo

secular ocupa um maior destaque na sociedade, e a humanidade lhe lança um novo

olhar. Para entender melhor essa questão é preciso fazer um levantamento histórico

sobre o sentimento de infância, procurar defini-lo, registrar o seu surgimento e a sua

evolução. Segundo Áries (1978):

O sentimento de infância não significa o mesmo que afeição pelas crianças corresponde à consciência da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criança do adulto, mesmo jovem (1978, p.99).

Nessa perspectiva, o sentimento de infância é algo que caracteriza a

criança, a sua essência enquanto ser, o seu modo de agir e pensar, que se

diferencia da do adulto, e, portanto, merece um olhar mais específico.

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

56

A concepção de criança é uma noção historicamente construída e

consequentemente vem mudando ao longo dos tempos, não se apresentando de

forma homogênea nem mesmo no interior de uma mesma sociedade e época. Assim

é possível que, por exemplo, em uma mesma cidade existam diferentes maneiras de

se considerar as crianças pequenas dependendo da classe social a qual pertencem

do grupo étnico do qual fazem parte.

Nessa perspectiva sabe-se que a infância é uma construção social e

histórica. Neste período da vida, meninos e meninas como todo o ser humano são

considerados sujeitos históricos e de direitos, o que constitui formas de estar no

mundo, manifestada nas relações e práticas diárias por elas vivenciadas,

experimentando a cada instante suas brincadeiras, invenções, fantasia, desejos que

lhes permitem construir sentidos e culturas das quais fazem parte permitindo- nos

afirmar que são ativos, capazes, com saberes diversos, que se manifestam com

riqueza demonstrando suas capacidades de compreender e expressar o mundo.

As crianças possuem uma natureza singular, que as caracteriza como

seres que sentem e pensam o mundo de um jeito muito próprio. Nas interações que

estabelecem desde cedo com as pessoas que lhes são próximas e com o meio que

as circunda, as crianças revelam seu esforço para compreender o mundo em que

vivem as relações contraditórias que presenciam e, por brincadeiras, explicitam as

condições de vida a que estão submetidas e seus anseios e desejos. Elas brincam

individual ou coletivamente e neste ato experimentam e descobrem a vida que pulsa

em diferentes ritmos a partir das linguagens com as quais aprendem a relacionar-se

com os outros.

Deste modo, quando falamos de infância muitas vezes nos deparamos

com concepções que desconsideram que os significados que damos a ela

dependem do contexto no qual surgem e se desenvolvem e também das relações

sociais nos seus aspectos, econômico, histórico, cultural, político, entre outros

aspectos, que colaboram para a constituição de tais significados e concepções que,

por sua vez, nos remetem a uma imagem de criança como essência, universal,

descontextualizada ou então nos mostram diferentes infâncias coexistindo em um

mesmo tempo e lugar.

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

57

3.2 DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM NA CRIANÇA

As atividades naturais e espontâneas da criança são seus primeiros

recursos de interação com o mundo, portanto seus primeiros recursos de

aprendizagem. Posteriormente, o meio vai exigir outras aprendizagens, a aquisição

de outros recursos para responder às exigências da cultura, que serão mais bem-

sucedidas se respeitar as características motoras, afetivas e cognitivas naturais da

criança.

Por isso, vale ressaltar que a aprendizagem é como um dos motores do

processo de desenvolvimento, ela também é um processo continuo, constante, em

aberto. Ao se relacionar com o meio físico, a criança está sempre aprendendo, ou

seja, em constante desenvolvimento.

Dessa forma, O desenvolvimento da criança se constitui no encontro, no

entrelaçamento de suas condições orgânicas e de suas condições de existência

cotidiana, encravada numa dada sociedade, numa dada cultura, numa dada época.

Nessa trajetória, a criança dispõe, a cada estágio, de recursos próprios

que habilitam a conhecer o mundo e, ao mesmo tempo, se conhecer: reações

circulares, jogos, brincadeiras, atenção distribuída, habilidade de concentração,

memória, percepção de diferenças e semelhanças, etc; tendendo para maior rigor

uma representação simbólica e cada vez menor dependência do concreto e do

presente. Esses recursos, uma vez adquiridos, serão usados nos diferentes

estágios, porém com conteúdos diversos.

Dessa forma, podemos dizer que a criança aprende e se desenvolve,

também, brincando. Todas as vezes que os trabalhos desenvolvidos para ela forem

realizados de forma lúdica, a criança se interessará e participará com prazer e

intensidade dessas atividades. Com base na interação que ocorre durante as

brincadeiras propostas, a criança organizará as suas percepções em forma de

estruturas cognitivas, pois as crianças estruturam seus pensamentos e emoções

através das brincadeiras.

O ato de brincar e as atividades lúdicas são ferramentas indispensáveis

para o desenvolvimento da criança, por serem atividades completas, ajudam em seu

desenvolvimento como um todo, pois ao brincar elas criam e recriam a realidade que

as cerca. Os fatos abordados nos remetem à proposta do desenvolvimento integral

das crianças, e às suas necessidades enquanto “alunos”

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

58

da Educação Infantil. Também, traz à tona o conhecimento adquirido pelos seus

professores e auxiliares sobre o processo de desenvolvimento da criança dentro das

Instituições de Educação Infantil.

Sobre o brincar, o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil

do Brasil MEC/SEF, no seu volume 01 propõe:

Para que as crianças possam exercer sua capacidade de criar é imprescindível que haja riqueza e diversidade nas experiências que lhes são oferecidas nas instituições, sejam elas mais voltadas às brincadeiras ou às aprendizagens que ocorrem por meio de uma intervenção direta. (BRASIL, 1988, p. 27).

Todos os movimentos experimentados pela criança estão diretamente

ligados ao pensamento, sendo que ambos com o tempo se desenvolverão

dependendo dos estímulos recebidos dos profissionais que lidam com a criança. Por

isso, podemos afirmar que enquanto a criança brinca, ela aprende e se desenvolve.

Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

MEC/SEF o movimento é descrito como:

(...) Uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana. (...) Ao movimentarem-se, as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as necessidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. O movimento humano constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo. (BRASIL, 1998, vol 03, p. 15)

Kishimoto (1998) cita Froebel (1912c) sobre a importância do brincar na

infância que diz:

É a fase mais importante da infância - do desenvolvimento humano neste período – por ser a auto-ativa representação do interno – a representação de necessidades e impulsos internos. ... A brincadeira é a atividade espiritual mais pura do homem neste estágio e, ao mesmo tempo, típica de vida humana enquanto um todo- da vida natural interna no homem e de todas as coisas. Ela dá alegria, liberdade, contentamento, descanso externo e interno, paz com o mundo... A criança que brinca sempre, com determinação e auto-ativa, perseverando, esquecendo sua fadiga física, pode certamente tornar-se um homem determinado, capaz de auto- sacrifício para a promoção de seu bem e de outros... Como sempre indicamos o brincar em qualquer tempo não é trivial, é sério e de profunda significação. (1998, p. 68)

O brincar apresenta como características: ser uma atividade

representativa, realizada com prazer, autodeterminação, valorização do processo,

seriedade, expressão de necessidade tendências internas, tornando-se importante

para o desenvolvimento da criança, principalmente nos primeiros anos (Kishimoto,

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

59

1998). Ele possibilita a criança vivenciar experiências significativas como, resolver

conflitos, lidar com regras e valores, respeitar o outro, superar dificuldades com

ajuda do professor, cooperar, vivenciar papéis, aprender e apropriar-se de elementos

da sua realidade e cultura (Imai, 2005, p. 231).

Segundo Lima (2005, p. 176), quando a criança brinca, desenvolve

também os conhecimentos, habilidades, atitudes e competências, destacando entre

elas o pensamento, a imaginação e a memória, à vontade, a concentração e a

atenção, a linguagem e a comunicação, os valores, a orientação espaço-temporal, a

autoestima e a motricidade.

Muitas vezes o brincar é visto pelos profissionais das instituições de

Educação Infantil, como algo inato, permitindo que ele aconteça como se fosse algo

da natureza biológica da espécie, assumindo uma concepção espontaneísta de

Educação que afasta o professor cada vez mais do papel de interação e parceiro da

criança em seu processo de desenvolvimento. (Oliveira, 1996 p. 137)

O desenvolvimento da criança deixará de ser trabalhado em alguma de

suas esferas, se o profissional que atua com a criança não for o mediador e utilizar a

pedagogia do brincar e do jogo de forma inadequada nas situações cotidianas e não

tiver condições de fazer as relações bem feitas.

De acordo com Dahlberg, Moss e Pence (2003), a pedagogia pós-

moderna se baseia nos relacionamentos, encontros e diálogos com outros co-

construtores, tanto os adultos como crianças. Portanto, esta “pedagogia de

relacionamento” é definida como uma participação ativa e envolvida das crianças na

co-construção do conhecimento e das identidades próprias e dos outros.

Segundo Malaguzzi (1993, apud Dahlberg, Moss e Pence, 2003) a

pedagogia de relacionamentos revela que:

As crianças aprendem interagindo com seu ambiente e transformando ativamente seus relacionamentos com o mundo dos adultos, das coisas, dos eventos e, de maneiras originais, com seus pares. A interação entre elas é uma experiência fundamental nos primeiros anos de vida. A interação é uma necessidade, um desejo, uma necessidade vital que cada criança carrega dentro de si... A autoaprendizagem e a co-aprendizagem (construção de conhecimento pelo self e co-construção de conhecimentos com os outros) das crianças, apoiadas por experiências interativas construídas com a ajuda de adultos, determina a seleção e a organização de processos e estratégias que são parte de –coerentes com- os objetivos gerais da educação da primeira infância... Os conflitos construtivos [resultantes do intercâmbio de ações, expectativas e idéias diferentes] transformam a experiência cognitiva do indivíduo e promovem aprendizagem e desenvolvimento. Se aceitamos que todo o problema

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

60

produz conflitos cognitivos, então acreditamos que conflitos cognitivos iniciam um processo de co-construção e cooperação. (2003, p. 82)

Desta maneira, são importantes termos consciência de que as crianças,

passando por diferentes estágios de desenvolvimento, terão, por conseguinte,

necessidades diversas também em relação ao meio no qual estão inseridas. Quando

muito pequena, a criança age diretamente sobre o meio humano, utilizando-se das

pessoas para se inserir em seu contexto.

Ressalto que as crianças nessa faixa etária estão em período muito

especial do ponto de vista de seu desenvolvimento e de sua aprendizagem. Para

elas a mediação de sujeitos mais experientes é algo fundamental. Assim, poder-se-

ia dizer que as crianças não aprendem apenas quando se tem a intenção de ensiná-

las, embora esta seja uma das características específicas da escola de educação

infantil, mas aprendem todo o tempo em função, também, da maneira como os

adultos se comportam com elas, com outras crianças entre si.

Para Wallon, preocupado com a transformação da criança sob a ação do

meio social, a função motora (motricidade) é objeto de uma metamorfose que faz

com que a criança passe da condição de um ser biológico para a de um ser

simbólico.

Sendo assim, entende-se que a forma como se dão as relações no interior

da escola é de suma importância, já que tais relações representam verdadeiros

modelos para as crianças. Do mesmo modo, a forma como a escola se relaciona

com as famílias é percebida pelas crianças como um referencial. Por isso, o espaço

que é oferecido para a criança nesta fase deve ser levado em consideração visando

o desenvolvimento da aprendizagem e de suas habilidades motoras e cognitivas.

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

61

4 . CONTEXTUALIZANDO A REALIDADE

4.1 A ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL JOSÉ ADONAY

A Escola Municipal de Educação Infantil “José Adonay” está localizada na

Comunidade Nova Aliança, Rua Principal S/N, no Município de São Domingos do

Capim – PA, a 30 km da sede. Atende crianças na faixa etária de 02 a 05 anos e

onze meses de idade. Em junho de 1996, no mandato do Sr. Candido Luz a diretora

da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Elizeu Maria Corolli, direcionada

pala Professora Socorro Alexandre de Oliveira que em festividade Junina publicou a

comunidade local o nome da Nova Escola de Educação Infantil “ESCOLINHA JOSÉ

ADONAY” que substituirá o “CASULO” extinto nesse período. Recebeu este nome

em homenagem a uma criança da localidade chamada de José Adonay de Brito de

Oliveira, nascido no dia 20 de setembro de 1995.

Nos anos de 1997 a 2000, no mandato do Sr Marçal Palheta a Professora

Socorro Alexandre de Oliveira ainda como diretora oficial da Escola Dom Elizeu

ficou respondendo também pela Escolinha José Adonay. E no ano de 2001, o

prefeito em exercício o Sr. Francisco Feitosa Farias eliminou a educação infantil

alegando que o município não poderia assumir essa faixa etária. Com isso a

Associação Rural Comunitária Aliança – ARCA tomou algumas providencias para

que a escola não chegasse a fali assumindo assim, todas as responsabilidades

relacionadas à mesma. Pediu do Conselho Comunitário de Aliança uma casa que

antes era conhecida como a igrejinha da localidade, e lá passou a funcionar a José

Adonay, também convocou os pais dos alunos para uma reunião na qual foi

combinado um valor insignificante para dar a professora Ilma Maria Pantoja que se

disponibilizara em trabalhar com as crianças.

A comunidade onde a escola está inserida é de uma população

consideravelmente pequena, por isso ela atende crianças das comunidades vizinhas

na faixa etária de três a cinco anos, nos turnos matutino e vespertino.

Desde 1996 a Escola José Adonay vem prestando atendimento a crianças

de três a seis anos. Em 2013 passamos a atender crianças de dois anos até cinco

anos e onze meses, sendo que hoje contamos com cinco turmas. Estamos

engatinhando neste processo e temos dificuldades por falta de espaço infraestrutura.

A formação continuada e o trabalho coletivo no planejamento das

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

62

ações pedagógicas é o nosso carro chefe. O trabalho dos funcionários é bem visto

pela comunidade local, que demonstra sua satisfação nas reuniões realizadas com

os pais.

Esta unidade escolar tem uma grande procura por vagas no inicio do

ano, devido sua localização dá acesso a várias comunidades vizinhas, e o perfil de

seu quadro funcional que trabalha com autoestima e afetividade, base necessária

para uma infância saudável. O ritmo acelerado das transformações vivido pela

sociedade no final do século passado atinge também a educação, que como as

demais ciências evoluíram e a idéia que se tinha de criança, de conhecimento, de

escola, de método de trabalho de ensino. Tudo evoluiu. Assim busca-se acompanhar

o ritmo da vida que é puro movimento.

4.2 ASPECTOS ADMINISTRATIVOS DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL JOSÉ

ADONAY

A escola dispõe de uma equipe gestora formada por uma diretoria, uma

coordenadora pedagógica que atenda os turnos manhã e tarde, duas auxiliares de

secretaria que organizam as documentações dos alunos e demais funcionários.

O tipo de gestão adotada na escola é participativa e democrática, onde o

relacionamento entre os membros que nela freqüentam se dá de forma liberal, fato

que contribui de maneira significativa no processo ensino-aprendizagem das crianças.

4.3 ASPECTOS PEDAGÓGICOS DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL JOSÉ

ADONAY

As setenta e cinco crianças da escola são acompanhadas por uma

coordenadora pedagógica e pela professora responsável. O trabalho pedagógico

acontece diariamente entre coordenação, professora e aluno, para facilitar o processo

educacional da escola, as mesmas trabalham com projetos pedagógicos seguindo um

seqüência didática.

Tendo uma gestão participativa a relação entre gestão, coordenação

pedagógica é muito boa, gerando assim êxito nos trabalhos e promovendo a

participação de todos os profissionais que ali trabalham.

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

63

4.4 O ESPAÇO E O AMBIENTE NA ESCOLA JOSÉ ADONAY

Para os profissionais de educação que almejam proporcionar educação

de qualidade e lutam por um espaço digno para seus alunos vivenciar uma realidade

como essa, pois observar-se a precaridade do espaço fisico que é oferecido a

sessenta crianças.

Neste sentido, relata-se o descaso que o nosso país enfrenta com relação

a grandes obras inacabadas. Esta imagem faz referencia a uma realidade de muitos

alunos espalhados pelo Brasil que necessitam de um espaço aconchegante, bonito,

equipado com moboliarios e materias didáticos, mas que no entanto, são submetidos

a condições fisicas precárias como no caso da Escola José Adonay.

Carvalho e Rubiano (1994, p. 58), ao se referirem à organização do

espaço em instituições pré-escolares, citam David e Weinstein, que afirmam a

necessidade de os ambientes construídos para crianças atenderem às seguintes

funções relativas ao seu desenvolvimento: identidade pessoal, desenvolvimento de

competências, oportunidades para crescimento, sensação de segurança e confiança,

oportunidades para contato social privacidade. Ao estruturar o espaço dos

pequenos, durante a pesquisa, a idéia de reorganizar o espaço da sala esteve

presentes em minhas intenções e foram se concretizando à medida que junto com a

professora as colocava em prática.

Refletindo acerca da LDB 9493/96, nota-se que hoje a escola possui um

caráter formador, aprimorando valores e atitudes, desenvolvendo desde a educação

infantil, o sentido da observação, despertando a curiosidade intelectual das crianças,

capacitando-as a serem capazes de buscar informações, onde quer que elas

estejam a fim de utilizá-las no seu cotidiano.

Dentro dessas perspectivas, a Educação Infantil deve permitir que as

crianças fossem pensadores, aprendam a refletir sobre seus modelos mentais,

aprendam a instruir-se em equipe e a construir visões compartilhadas com os outros.

E o espaço que é oferecido para a criança nesta etapa da Educação Básica

influencia diretamente na construção desses valores.

Partindo desse princípio nos propomos enquanto professoras da EI e

pesquisadoras, analisar o comportamento da educadora na sala de aula e suas

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

64

dificuldades com relação ao desenvolvimento das atividades, uma vez que o espaço

da sala é pequeno e impossibilita a realização de algumas atividades.

No decorrer da observação identifica-se um ponto muito relevante no que

diz respeito à organização didática pedagógica da professora, é que ela ainda não

tem formação acadêmica e isso dificulta muito seu fazer pedagógico e principalmente

a organização do espaço. Ou seja, nota-se que ela organiza a sala deixando as

cadeiras enfileiradas e usa muito o quadro negro. Dentro desse contexto é importante

fomentar que o espaço já é pequeno impossibilitando algumas atividades, entretanto,

o fazer pedagógico criativo do profissional deve ser colocado em prática para que

mesmo com todas as restrições da sala as crianças possam aprender de maneira

descontraída e divertida.

Deste modo, vale evidenciar a importância da formação continuada, pois

ela é um requisito indispensável para se trabalhar com a Educação Infantil.

O trabalho direto com crianças pequenas exige que o professor tenha uma competência polivalente. Ser polivalente significa que ao professor cabe trabalhar com conteúdos de naturezas diversas que abrangem desde cuidados básicos essenciais até conhecimentos específicos provenientes das diversas áreas do conhecimento. (PCN 1998, p41).

Durante a observação verifica-se que além do espaço apertado da sala de

aula, a falta de material didático, mobiliário (cadeiras, mesas, etc) adequados para

trabalhar com crianças de quatro e cinco anos e a inexistência do plano de aula da

professora que é um instrumento valioso para o desenvolvimento de sua didática em

sala de aula.

A organização do espaço físico deve ser aconchegante, com almofadas, iluminação adequada e livros, revistas etc. organizados de modo a garantir o livre acesso às crianças. Esse acervo deve conter textos dos mais variados gêneros, oferecidos em seus portadores de origem: livros de contos, poesia, enciclopédias, dicionários, jornais, revistas (infantis, em quadrinhos, de palavras cruzadas), almanaques etc. Também aqueles que são produzidos pelas crianças podem compor o acervo: coletâneas de contos, de trava-línguas, de adivinhas, brincadeiras e jogos infantis, livros de narrativas, revistas, jornais etc. Se possível, é interessante ter também vários exemplares de um mesmo livro ou gibi. Isso facilita os momentos de leitura compartilhada com o professor ou entre as crianças (RCNEI 1998, p.145)

Dentro desta perspectiva vale ressaltar, que não basta que a criança

esteja inserida em um espaço prazeroso, bonito e aconchegante, é necessário que

ela possa construir e reconstruir, ou seja, que ela seja inserida nele como sujeito do

processo educativo. Por isso, as contribuições do RCNEI são enormes, pois ele nos

orienta a realizar o planejamento tendo como base as experiências da prática de

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

65

sala de aula levando em consideração os conhecimentos individuais de cada criança.

É importante lembrar que nesta fase de descobertas os professores devem buscar na

ludicidade um aliado para desenvolver o ensino das crianças, essa ferramenta é de

suma importância nesse processo. De acordo com Antunes (2004):

A atividade lúdica ou a habilidade de brincar é dotada de uma ação fundamental na estruturação do psíquico da criança. É no brincar que a criança une elementos de fantasia e realidade e começa a distinguir o real do imaginário. Brincando, a criança desenvolve não só a imaginação, mas também fundamenta afetos, elabora conflitos e ansiedades, explora habilidades e, à medida que assume múltiplos papéis, fecunda competências cognitivas e interativas. (2004. p.34-35)

Feijó (1992, p.61) descreve que “O lúdico é uma necessidade básica da

personalidade, do corpo e da mente, faz parte das atividades essenciais da

dinâmica humana”. Ou seja, ao trabalhar com o lúdico o educador vai proporcionar

para a criança atividades que enriquecem seu cognitivo e por sua vez reflete de

maneira positiva no processo de ensino/aprendizagem nesta faze que é tão

importante para o seu desenvolvimento.

Deve ser levada também em consideração a organização do ambiente

dentro do espaço que é oferecido para a criança. Neste sentido, o educador deve ter

a consciência de que diferentes ambientes podem formar-se num mesmo espaço e

as sensações que estes provocam também variam de acordo com os estímulos que

os ambientes proporcionam ao educando podendo mudar ainda conforme a ação do

educador e sua relação para com as crianças. Por isso, se faz necessário que o

educador com o auxílio das crianças construa um ambiente que estimule as crianças

e querer participar das aulas e das atividades com mais satisfação. De acordo com o

Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 21):

Nessa perspectiva as crianças constroem o conhecimento a partir das interações que estabelecem com as outras pessoas e com o meio em que vivem. O conhecimento não se constitui em cópia da realidade, mas sim, fruto de intenso trabalho de criação, significação e ressignificação.

Dentro desse contexto evidencia-se a singularidade de cada criança e a

necessidade do professor realizar essa observação para favorecer o conhecimento e

a interação com os colegas da melhor maneira possível.

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

66

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

5.1 PROPOSTAS METODOLÓGICAS PARA TRABALHAR NA EDUCAÇÃO

INFANTIL

No decorrer da observação foi possível identificar que o fazer pedagógico

da professora necessitava ser melhorado e uma das alternativas adotadas para isso

foi realizar uma conversa informal com ela visando orienta-la da importância da

organização do espaço para o processo de ensino/aprendizagem dos alunos.

Assim, foi possível mostrar para ela que o professor pode construir

ambientes agradáveis mesmo em um espaço apertado e inadequado para trabalhar

com crianças. Com relação a isso, expomos a professora varias possibilidades de

construir junto com as crianças ambientes de aprendizagem valorizando o espaço

que se tem.

No começo a professora não mostrou muito interesse em querer trabalhar

didáticas diferenciadas, mais com o decorrer do trabalho mostramos com mais

clareza como a criança na educação infantil precisa ser olhada e cuidada com mais

atenção.

Assim, a sala que antes era organizada desta maneira passou a dar lugar

para novos ambientes, que valorizam a criança como sujeita do processo do

conhecimento e proporcionam mais qualidade na educação das mesmas.

Ao observar as figuras constata-se que o fazer pedagógico da professora

ficou mais dinâmico e que as atividades desenvolvidas proporcionam interação de

todas as crianças. Neste sentido ressalta-se que organizar o espaço escolar não é

uma tarefa fácil. Exige muito trabalho, dedicação e força de vontade. Identifica-se

então, que esse espaço deve incluir toda a comunidade, privilegiar todas as áreas do

conhecimento, desenvolvendo projetos que incentivem a participação e desperte o

interesse das crianças considerando a utilização desse espaço e o tempo disponível

para tais atividades.

Sabe-se que o espaço da Escola José Adonay ainda deixa a desejar,

entretanto com a contribuição da pesquisa foi possível voltar a atenção da

professora que diferentes ambientes podem ser construído junto com as crianças e

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

67

que atividades lúdicas também ajudam a trabalhar de maneira mais participativa e

eficaz.

Neste caso, sendo a escola um lugar de descobertas de convivência e de

ralações sociais interpessoais, é necessário construir ambientes que respeitem a

singularidade da criança para que ela possa se sentir confortável e segura diante

dos novos desafios. E o educador é a pessoa que responsável por proporcionar este

espaço acolhedor, afetivo, divertido e alegre que possa estimular a aprendizagem

das crianças. Segundo Zabalza (1998):

Não apenas porque nesta etapa do desenvolvimento os aspectos emocionais desempenham um papel fundamental, mas porque, além disso, constituem a base ou a condição necessária para qualquer progresso nos diferentes âmbitos do desenvolvimento infantil (1998: p.51)

Deste modo, observa-se que a organização do espaço é fundamental

para o desenvolvimento da criança, pois se ela não se interessar pelo ambiente que

lhe é oferecido vai demonstrar insatisfação e com certeza reflexos negativos em seu

desenvolvimento. Neste sentido, essa insatisfação era percebida no início da

pesquisa quando a professora não construía ambientes estimulantes, apenas

colocava as cadeiras enfileiradas e escrevia no quadro.

Hoje, com nossa contribuição pode-se perceber a diferença tanto na

organização do ambiente da sala como também no fazer pedagógico, ou seja, as

crianças estão sendo sujeito do conhecimento e gozando de ambientes construídos

com e para elas.

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

68

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDREJEW, E. Escola contribui para mudar realidade no Rio Grande do Sul. In: Revista Criança do Professor da Educação Infantil. Brasília: Ministério da Educação, Coordenação da Educação Infantil. 2007.

ANTUNES, C.Uma nova concepção sobre o papel do brincar. Páginas abertas, ano 29, n.21. P.34 - 5, 2004

BARBOSA, M. C. da S.; HORN, M. da G. S. Organização do espaço e do tempo na escola infantil. In: CRAIDY, M. C.; KAERCHER, G. E. P. da S. (org.). Educação Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed. 2001.

BRASIL, Ministério da Educação. Referencial curricular nacional para educação Infantil. Brasília, 1998.

BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para a Educação Infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Básica. Parâmetros Básicos de Infra-estrutura para Instituições de Educação Infantil. Brasília: MEC/SEB, 2006.

DAVID, T.G.; WEINSTEIN, C. S. (1987). The built environment and children’s development. In: Weinstein, C. S. & David, T.G. Spaces for Children – The built Environment and Child Development. New York: Plenum. 1987.

EDWARDS, Carolyn e outros. As cem linguagens da criança. Porto Alegre: Artmed, 1999.

FEIJÓ, O. G. Corpo e Movimento: Uma Psicologia para o Esporte. Rio de

Janeiro: Shape Ed., p.61, 1992

FERREIRA-ROSETTI. C. M.; ELTINK, C. F. Relação afetiva, assunto de berçário. In: FERREIRA-ROSETTI. C. M. (org.). Os fazeres na Educação Infantil. São Paulo: Cortez. 1998

FORNEIRO, Lina Iglesias. A organização dos Espaços na Educação Infantil. In: ZABALZA, Miguel Angel. Qualidade em Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 1998.

FRAZATTO, L. Pensando a disciplina. In: FERREIRA-ROSETTI. C. M. (org.). Os fazeres na Educação Infantil. São Paulo: Cortez. 1998.

HORN, Maria da Graça de Souza. Sabores, cores, sons, aromas: a construção do espaço na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA CURSO ...bdta.ufra.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1227/1/A...reorganização da sala ou de áreas externas, pois isso, além de oportunizar

69

HORN, Maria da Graça Souza. Sabores, cores, sons, aromas: A organização dos espaços na educação infantil. Porto Alegre: Artmed, 2004

KUHLMANN JR, Moysés. Infância e educação infantil: uma abordagem histórica. Porto Alegre: Mediação, 1998.

LIMA, Elvira de Souza. Como a criança pequena se desenvolve. São Paulo:

Sobradinho, 2001.

MELIS, Vera. Espaços em educação infantil. São Paulo: Scortecci, 2007. OLIVEIRA, Z.M.R. et al. Creches, Crianças, Faz-de-Conta & Cia. Petrópolis: Vozes.1992.

REDIN, Euclides. O espaço e o tempo da criança: se der tempo a gente brinca!

Porto Alegre: Mediação, 1998. SÃO PAULO, Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Tempos e espaços para a infância e suas linguagens nos CEIs, creches e EMEIs da cidade de São Paulo. São Paulo, 2006.

VYGOTSKY, L.S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

ZABALZA, M. A. Diários de aula: um instrumento de pesquisa e desenvolvimento profissional. Porto Alegre: Artmed, 2004.

ZABALZA, Miguel A. Qualidade em Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 1998