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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO - UFRPE PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO - PRPPG PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DAS CIÊNCIAS PPGEC IVONEIDE MENDES DA SILVA A UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO EM CURSOS DE LICENCIATURA EM QUÍMICA RECIFE 2014

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO - UFRPE …A utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) em Cursos de Licenciatura em Química / Ivoneide Mendes da

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  • 1

    UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO - UFRPE

    PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO - PRPPG

    PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENSINO DAS CIÊNCIAS – PPGEC

    IVONEIDE MENDES DA SILVA

    A UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

    EM CURSOS DE LICENCIATURA EM QUÍMICA

    RECIFE

    2014

  • 2

    IVONEIDE MENDES DA SILVA

    A UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

    EM CURSOS DE LICENCIATURA EM QUÍMICA

    Dissertação apresentada para obtenção do grau de Mestre no Programa de Pós-Graduação em Ensino das Ciências da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

    Orientador:

    Prof. Dr. Marcelo Brito Carneiro Leão

    Coorientadora:

    Profa Dra Walquíria Castelo Branco Lins

    RECIFE

    2014

  • 3

    Ficha Catalográfica

    S586u Silva, Ivoneide Mendes da A utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) em Cursos de Licenciatura em Química / Ivoneide Mendes da Silva. – Recife, 2014. 158 f. : il. Orientador: Marcelo Brito Carneiro Leão. . Dissertação (Mestrado em Ensino de Ciências) – Universidade Federal Rural de Pernambuco, Departamento de Educação, Recife, 2014. Inclui referências, anexo(s) e apêndice(s). 1. Tecnologia da Informação e Comunicação 2. Ensino de química 3. Prática pedagógica 4. Currículo prescrito I. Leão, Marcelo Brito Carneiro, orientador II. Título CDD 507

  • 4

    IVONEIDE MENDES DA SILVA

    A UTILIZAÇÃO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

    EM CURSOS DE LICENCIATURA EM QUÍMICA

    APROVADA EM 29 DE JANEIRO DE 2014

    BANCA EXAMINADORA:

    Prof. Dr. Marcelo Brito Carneiro Leão, UFRPE

    Orientador

    Profa Dra Walquíria Castelo Branco Lins, C.E.S.A.R

    Coorientadora

    Profa Dra Edenia Maria Ribeiro do Amaral, UFRPE

    Examinadora Interna

    Profa Dra Patrícia Smith Cavalcante, UFPE

    Examinadora Externa

  • 5

    Dedico esta dissertação a minha mãe, Zilda Ribeiro da Silva e aos amigos.

  • 6

    AGRADECIMENTOS

    A Deus por ter me concedido a realização da etapa inicial de um sonho.

    A minha mãe, Zilda Ribeiro da Silva pelo apoio e dedicação em todos

    os momentos da minha vida.

    A professora Dra. Janete Magali de Araújo, por ter me ensinado a

    trilhar o caminho da pesquisa científica.

    Ao meu orientador professor Dr. Marcelo Brito Carneiro Leão pela

    atenção, orientações, confiança e incentivo que me fez chegar até aqui.

    A minha coorientadora professora Dra. Walquíria Castelo Branco Lins,

    pela confiança, paciência, amizade, atenção, dedicação e orientações tão

    importantes durante o desenvolvimento dessa pesquisa.

    A todos os docentes da Banca Examinadora pela disponibilidade de

    atender ao convite de participação e colaboração desse trabalho.

    A todos que fazem parte do Departamento de Química da

    Universidade Federal Rural de Pernambuco que sempre me apoiaram em

    especial a Diretora professora Dra. Kátia Cristina da Silva Freitas.

    A todos os integrantes do Núcleo SEMENTE pela força e

    companheirismo.

    Aos colegas da turma do mestrado do ano de 2011, na qual eu fui

    aluna especial, pelo carinho, com que me receberam.

    Aos sinceros colegas de turma do mestrado, pelo carinho e atenção.

    A todos os docentes do Programa de Pós-graduação em Ensino

    das Ciências – PPGEC - UFRPE, por terem contribuído no meu crescimento

    acadêmico. Bem como, a secretária do PPGEC Nilva Maria pela atenção e

    colaboração quando da solicitação de documentos relacionados ao curso.

    A todos os docentes das instituições pesquisadas que contribuíram

    na participação dessa pesquisa.

    A todos os meus amigos, em especial a Waldemir Pimentel Ramalho e

    Maria Tereza Corrêa Lima pelo carinho e amizade por mais de uma década.

    A todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização

    desse trabalho.

  • 7

    RESUMO

    São vários os textos que elogiam o potencial das TICs e das mídias digitais para a educação, bem como necessidade de se levar em consideração o contexto de uso dessas tecnologias, no entanto, observa-se que apesar do avanço quanto à integração ao contexto educacional, a proposta de uso ainda é bastante limitada e direcionada para um viés instrumental. A presente pesquisa tem como objetivo analisar as formas de utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), como instrumento didático, em cursos de licenciatura em química no Brasil. Para tanto, leva-se em consideração os objetivos específicos que são: identificar propostas existentes de uso das TICs, em cursos de licenciatura em química, ofertados em instituições de ensino superior, no Brasil; mapear como os docentes fazem o uso das TICs em cursos de licenciatura em química, pesquisados em instituições públicas brasileiras e quais as contribuições e dificuldades enfrentadas nesta direção e mapear como os usos das TICs aparecem nos discursos dos projetos pedagógicos dos cursos (PPC). A metodologia foi composta de análise de conteúdo dos documentos coletados através dos sites das IES e que fazem parte do currículo prescrito dos cursos, como exemplo: 09 projetos pedagógicos, 13 ementários de cursos e 04 matrizes curriculares de 19 universidades públicas brasileiras, sendo que o critério de escolha dessas IES está associado às respostas de 46 docentes que trabalham nessas instituições, ao questionário composto por 12 questões abertas e de múltiplas escolhas e enviado por e-mail. Para a análise dos dados utilizou-se as técnicas de análise de conteúdo e o software WEBQDA (Web Qualitative Data Analysis). Os resultados da análise documental revelaram que existe um avanço quanto à inserção das TICs em cursos de licenciatura de universidades públicas brasileiras, entretanto, a proposta encontrada quanto à utilização desses recursos voltados ao contexto educacional da formação do licenciando em química, ainda é bastante limitada. Os resultados apontam para um forte uso de computadores, projetor multimídia e internet na elaboração e projeção de conteúdos, uma percepção da internet como maneira de se comunicar rapidamente com os alunos ou buscar informações na rede e pouco uso para atividades que oportunizem a participação e interação entre e com os alunos de maneira efetiva. Palavras-chave: Tecnologia da Informação e Comunicação, Ensino de Química, Prática Pedagógica, Currículo Prescrito.

  • 8

    ABSTRACT

    Several texts praise the potential of ICT and digital media for education as well as the need to take into account the context of use of these technologies, however, it is observed that, despite progress regarding the integration to the educational context, the proposed of use is still very limited and targeted to an instrumental bias. This research aims to analyze the ways of using the information and Communication Technologies as a teaching tool in undergraduate courses in Chemistry Teaching in Brazil. The methodology consisted of content analysis of the documents forming part of the prescribed curriculum of the Chemistry undergraduate courses, in other words, nine political-pedagogical projects, 13 collection of courses synopses and four course curriculum matrices of 19 Brazilian public universities, being the choice criteria of this IES is associated with responses of 46 universities teachers who work in these institutions, to the questionnaire that consists of 12 open and multiple choices questions, which was sent by email. For data analysis we used the techniques of content analysis and the WEBQDA software (Web Qualitative Data Analysis). The results of the document analysis revealed that there is a breakthrough as the integration of ICT in undergraduate courses in Brazilian public universities, however, the proposal regarding the use of these resources focused on educational context of the licensing training in chemistry, is still quite limited. The results indicate a strong use of computers, internet and multimedia projector to prepare and show the content, a perception of the internet as a way to communicate quickly with students or to seek information on the net and little use for activities that possibility participation and interaction among students, effectively. Keywords: Information and Communications Technology, Chemistry Teaching, Pedagogical Practices, Prescribed Curriculum.

  • 9

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1.Publicações em eventos relacionadas com o tema da pesquisa.

    69

    Quadro 2. Documentos oficiais das instituições

    76

    Quadro 3. Caracterização dos sujeitos e categorias

    79

    Quadro 4. Dimensão de análise e categorias

    80

    Quadro 5. Dimensão de análise e categorias - continuação

    81

    Quadro 6. Projetos políticos pedagógicos distribuídos por região. 84

    Quadro 7. Ementários com as disciplinas distribuídos por região.

    85

    Quadro 8. Matrizes Curriculares distribuídas por região.

    85

    Quadro 9. Distribuição das disciplinas por categoria e região

    91

  • 10

    LISTA DE GRÁFICOS

    Gráfico 1. Percentual de respostas dos docentes ao questionário por região

    72

    Gráfico 2. Distribuição dos docentes por titulação acadêmica

    94

    Gráfico 3. Distribuição dos docentes por tempo de experiência

    95

    Gráfico 4. Distribuição dos docentes por tipo de disciplina

    96

    Gráfico 5. Distribuição dos docentes quanto ao conhecimento específico na área de TICs

    97

    Gráfico 6. Distribuição dos docentes por espaço que utiliza as TICs

    98

    Gráfico 7. Recursos tecnológicos que os docentes afirmam utilizar

    101

    Gráfico 8. Tipos de aplicação informática que os docentes afirmam utilizar

    102

    Gráfico 9. Atividades que os docentes afirmam utilizar com os seus alunos

    103

    Gráfico 10. Contribuições das instituições para integrar as TICs no ensino

    105

    Gráfico 11. Barreiras impostas pela instituição quanto à integração das TIC no ensino

    107

    Gráfico 12. Como os docentes gostariam de usar as TICs em sala de aula

    108

    Gráfico 13. Opinião dos docentes quanto ao auxílio das TICs no processo de ensino e aprendizagem

    110

    Gráfico 14. Maneiras como as TICs podem auxiliar o processo de ensino e aprendizagem

    111

    Gráfico 15. Relação dos recursos tecnológicos utilizados e o uso em sala de aula.

    113

    Gráfico 16. Relação dos recursos tecnológicos utilizados e o uso em sala de aula e laboratório de informática.

    114

  • 11

    Gráfico 17. Relação dos tipos de atividades realizadas com as TICs e o uso em sala de aula.

    115

    Gráfico 18. Relação dos tipos de atividades realizadas com as TICs e o uso em sala de aula e laboratório de informática.

    116

    Gráfico 19. Tipos de atividades realizadas com as TICs em disciplinas de conteúdos específicos.

    117

    Gráfico 20. Tipos de atividades realizadas com as TICs em disciplinas de conteúdos pedagógicos.

    118

    Gráfico 21. Tipos de atividades realizadas com as TICs em disciplinas de conteúdos pedagógicos e específicos.

    119

  • 12

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    CAPRE – Coordenação de Assessoria ao Processamento Eletrônico CEE – Conselho Estadual de Educação CIED – Centro de Informática Educativa CFE – Conselho Federal de Educação

    CGI.BR – Comitê Gestor de Internet no Brasil CENIFOR – Centro de Informática CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNE – Conselho Nacional de Educação CNE/CP – Conselho Nacional de Educação/Conselho Peno DCN – Diretrizes Curriculares Nacionais EDUCOM – Educação com Computador EUA – Estados Unidos da América FORMAR - Formação para o Trabalho com Informática Educativa FUNTEVÊ – Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa IES – Instituição de Ensino Superior LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC – Ministério da Educação e Cultura NIED – Núcleo de Informática Educativa NTE – Núcleo de Tecnologia Educacional OEA – Organização dos Estados Americanos PPC – Projeto Pedagógico do Curso PROINFO - Programa Nacional de Informática na Educação PRONINFE – Programa Nacional de Informática na educação SBC – Sociedade Brasileira de Computação

  • 13

    SEE - Secretaria Estadual de Educação

    SEED – Secretaria de Educação à Distância SEI – Secretaria Especial de Informática SEI/SS - Secretaria Especial de Informática/Subsecretaria de Serviços

    SESU – Secretaria de Ensino Superior

    SEMENTE – Sistema para Elaboração de Materiais Educacionais com o Uso

    de Novas Tecnologias SUCESU – Sociedade de Usuários de Computadores e Equipamentos Subsidiários TFC – Teoria da Flexibilidade Cognitiva TICs – Tecnologias da Informação e Comunicação

    WEBQDA - Web Qualitative Data Analysis UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas UFRGS – Universidade Federal de Rio Grande do Sul UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais UFPE – Universidade Federal de Pernambuco UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco

  • 14

    LISTA DE FIGURAS

    Figura1. Escopo da Análise Documental 82

    Figura 2. Interface do WEBQDA

    84

  • 15

    SUMÁRIO

    1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 17

    1.1 Quanto ao uso das TICs no contexto educacional ..................................... 18

    1.2 Estrutura da dissertação ............................................................................. 24

    2. AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO ....................... 25

    2.1 Tecnologias: conceitos e evolução ............................................................. 25

    2.2 As Tecnologias da Informação e Comunicação – TICs .............................. 28

    2.3 O uso das TICs e a educação no Brasil ..................................................... 30

    3. UTILIZAÇÃO DAS TICs NO PROCESSO EDUCACIONAL ......................... 40

    3.1 Diferentes formas de uso das TICs na educação ....................................... 40

    3.2 A utilização das TICs no processo de ensino e aprendizagem de ciência . 44

    4. BASES LEGAIS PARA O FUNCIONAMENTO DOS CURSOS ................... 50

    4.1 Organizações do ensino superior no Brasil ................................................ 50

    4.2 Diretrizes para o curso de Licenciatura em Química no Brasil ................... 52

    4.3 Trabalho docente........................................................................................ 54

    4.4 Contextos do trabalho docente no ensino superior das ciências ................ 56

    4.5 Currículo formal, paradigmas educacionais e a formação de docentes com

    as TICs ............................................................................................................. 59

    4.6 O projeto pedagógico do curso e a integração das TICs............................ 66

    5. ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA ........................................ 70

    5.1 Fundamentos metodológicos da pesquisa ................................................. 70

    5.2 Sujeitos ....................................................................................................... 71

    5.3 Procedimentos ........................................................................................... 73

    5.4 Formas de análise e categorias ................................................................. 76

    6. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ............................ 83

    6.1 Análises dos projetos pedagógicos, ementários e matrizes curriculares dos

    cursos ............................................................................................................... 83

    6.2.1 Discurso sobre a inserção das TICs nos projetos pedagógicos dos cursos

    ......................................................................................................................... 85

    6.2.2 Disciplinas que integram as TICs nos ementários dos cursos ................ 88

    6.2.3 Disciplinas específicas de TICs nas matrizes curriculares ...................... 92

  • 16

    6.3. Utilização das TICs - Análise das respostas dos docentes aos

    questionários .................................................................................................... 93

    6.3.1 Primeira seção – Caracterização dos participantes da pesquisa ............ 93

    7.3.2 Segunda seção - Os docentes e as TIC ................................................ 100

    7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 120

    REFERÊNCIAS .............................................................................................. 125

    APÊNDICE A – Questionário elaborado e aplicado ....................................... 137

    ANEXO A – Matrizes resultantes do cruzamento de dados codificados no

    WEBQDA ....................................................................................................... 141

    ANEXO B – Artigo publicado referente ao projeto-piloto da pesquisa ............ 157

  • 17

    1. INTRODUÇÃO

    __________________________________________________________

    As tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) oferecem uma

    potencialidade formativa que pode contribuir para transpor os muros da escola,

    para a flexibilização do currículo e para o aumento da interação entre os

    sujeitos, dentro e fora da sala de aula, trazendo também novas exigências ao

    trabalho docente. Desenvolver novas estratégias didáticas para os processos

    de ensino e aprendizagem são algumas das funções que hoje são exigidas ao

    docente. Muitas dessas exigências partem dos extramuros das próprias

    instituições de ensino. Estas precisam conhecer, dominar, experimentar e

    elaborar metodologias que se utilizem das TICs, por vários motivos, dentre

    eles, o mundo da aprendizagem informal já funciona assim.

    De acordo, com Moran (2004) as tecnologias são inseridas nas

    universidades e nas escolas, mas, em geral, para reforçar o modelo tradicional

    de ensino e continuar fazendo o de sempre - o docente como transmissor do

    conhecimento e o aluno como mero receptor, mas agora com um tom de

    modernidade. Dessa maneira, as tecnologias são utilizadas mais para

    demonstrar o conteúdo do docente do que para construir novas propostas

    didáticas.

    Assim, percebe-se uma contradição entre as propostas de uso das

    tecnologias e os modos como essas estão sendo usadas nas práticas

    pedagógicas. As tecnologias devem mais que repetir ou inovar nos

    lançamentos de propostas teóricas; elas podem promover uma flexibilidade

    maior na estrutura curricular dos cursos e ampliar os espaços, os momentos de

    aprendizagem e as metodologias de ensino (MORAN, 2007).

    Neste sentido, entende-se como Tecnologias da Informação e

    Comunicação (TICs) o conjunto de recursos tecnológicos que disponibilizam

    velocidade no processo de comunicação, transmissão e distribuição de

    informações (BELLONI, 2005).

    Desse modo, reconhecendo que as TICs podem ter um potencial

    formativo, promovendo novas formas de ensinar e de aprender, torna-se

    necessário saber como as tecnologias estão sendo aplicadas na educação

  • 18

    superior pelos docentes. Assim, a partir dessas premissas esta dissertação

    nasce na intenção de investigar a utilização das Tecnologias da Informação e

    Comunicação (TICs) em Cursos de Licenciatura em Química sob o ponto de

    vista dos docentes universitários.

    Dessa forma, a questão central desta pesquisa é: Como as

    Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) estão sendo utilizadas

    por docentes, em cursos de licenciatura em química, de instituições

    públicas brasileiras?

    Essa questão despertou-nos a vontade de obter respostas que

    buscassem um melhor entendimento da utilização das TIC pelos docentes que

    lecionam em cursos de licenciatura em química. A origem dessa necessidade

    não surgiu por acaso, mas pela curiosidade e pelas aspirações da

    pesquisadora por fazer uma análise mais elaborada das formas de uso das

    TICs no contexto do ensino de química, já que a mesma faz parte do Núcleo

    SEMENTE (Sistema para Elaboração de Materiais Educacionais com o uso de

    Novas Tecnologias) bem como, pelas iniciativas práticas desse grupo de

    pesquisa. Esse núcleo de pesquisa está instalado no Departamento de

    Química da Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE e vem

    proporcionando a alunos, docentes, entre outros, elaboração de materiais

    didáticos e oficinas pedagógicas baseadas no uso das TICs com ênfase no

    ensino de química. Portanto, é neste contexto que surge esta dissertação.

    1.1 Quanto ao uso das TICs no contexto educacional

    O avanço e a disseminação das tecnologias de informação e

    comunicação (TICs) na sociedade são amplamente significativos e o seu

    contínuo desenvolvimento se dá numa velocidade sem precedentes. Tal

    processo traz, inevitavelmente, consequências e questões a serem pensadas

    em diversos setores da sociedade, principalmente, às instituições de ensino.

    As instituições de ensino são espaços formais, responsáveis por cuidar

    da formação e da aprendizagem dos sujeitos. As mudanças tecnológicas

    atuais, no entanto, conferiram novos ritmos, novas percepções e diferentes

    modos de pensar, de maneira que surgiram novas formas de aprender os

  • 19

    conteúdos repassados pelos docentes. Se antes a tarefa de ensino-

    aprendizagem era exclusiva da escola, hoje são vários os espaços que

    possibilitam informações e conhecimentos a que se pode ter acesso (KENSKI,

    2008).

    Neste ponto, podemos pensar na importância de ampliar a capacidade

    tecnológica dos docentes como meio de prepará-los para uma prática

    pedagógica fundamentada em um novo paradigma, diferente do atual, que

    mantêm a relação aluno-docente unilateral, com pouco espaço para

    experimentação, investigação, diálogo e descobertas. Para além de uma

    questão técnica de capacitar a instituição de ensino com equipamentos

    tecnológicos trata-se, mais profundamente, de tornar o docente um profissional

    crítico, reflexivo e com habilidades para o domínio das tecnologias digitais.

    De acordo, com Assmann (2000) superar o modelo tradicional ainda

    predominante implica, entretanto, repensar o papel dos docentes para trabalhar

    com necessidades atuais de formação, bem como a organização da sala de

    aula, já que sua conformação não é mais a mesma de tempos atrás. Implica

    também criar consistentemente uma nova cultura do magistério no sentido de

    que a utilização das tecnologias não seja algo externo à docência, mas

    intrínseca a ela e necessário ao processo abrangente de formação integral do

    ser humano.

    No entanto, a resistência de muitos docentes em relação ao uso das

    tecnologias se apresenta, na maioria das vezes, em consequência da

    descrença das contribuições da tecnologia ao processo de ensino-

    aprendizagem (ASSMANN, 2000).

    Levando em consideração que a preocupação central é uma inserção

    das TIC no ensino de forma consciente, temos que ter em mente que o docente

    não pode simplesmente vivenciar processos acríticos de utilização da

    tecnologia, o que acarretaria na introdução e utilização indiscriminada de

    tecnologias nas salas de aula sem uma intencionalidade pedagógica.

    Bingimlas (2009) realizou uma meta análise da literatura pertinente com

    o objetivo de investigar as barreiras percebidas para a integração da tecnologia

    na educação. Verificou que as principais barreiras foram a falta de confiança,

    de competência e de acesso aos recursos. Nesse sentido, como estes fatores

  • 20

    são componentes críticos para a integração da tecnologia no processo

    educativo, seria necessário oferecer aos docentes recursos tais como software

    e hardware, um desenvolvimento profissional efetivo, tempo suficiente e

    suporte técnico. Para o autor nenhum desses componentes sozinhos são

    suficientes para promover um bom ensino, mas a presença de todos eles

    aumentaria a possibilidade de uma ótima integração das TICs nas

    oportunidades de ensino-aprendizagem.

    Neste sentido, a reflexão sobre o uso das TICs pelos docentes e as

    novas competências a serem adquiridas frente às tecnologias digitais

    interativas é importante pela necessidade de reorientação do papel e do

    trabalho do docente diante da cultura digital.

    Falar em cultura digital implica dizer que as transformações provocadas

    pelos recursos tecnológicos, vivenciadas pela sociedade atual não se limitam

    apenas ao uso de novos equipamentos e produtos. Muito mais que isso,

    implica a modificação de atitudes, de certa forma, impondo-se à cultura

    existente e transformando indivíduos, grupos e sociedade (KENSKI, 2003).

    Consideramos, assim, o conceito de cultura tecnológica como um

    conjunto complexo de valores, comportamentos, linguagens, hábitos e relações

    sociais característicos da sociedade tecnológica atual, desenhada a partir das

    mais recentes inovações nos meios de comunicação e informação. E

    concluímos que a importância da cultura tecnológica está relacionada com a

    possibilidade de o indivíduo agir socialmente, pensar as possibilidades e

    limitações dos problemas, assim como as suas soluções, a partir de um saber

    tecnológico do qual ele se apropria e desenvolve a sua identidade, tornando-se

    um cidadão tecnologicamente competente. O desconhecimento dessa cultura

    digital limita o imaginário, a capacidade de identificar problemas e as

    ferramentas disponíveis para solucioná-los.

    E, esta nova cultura de aprendizagem, de acordo com Mauri e Onrubia

    (2010), pode ser caracterizada por três traços básicos: a necessidade da

    educação em capacitar os estudantes para a atribuição de significado e

    sentido à informação, de fomentar nos alunos a capacidade de gestão do

    aprendizado e de ajudá-los a conviver com a relatividade das teorias e com a

    incerteza do conhecimento.

  • 21

    De acordo com Lins (2004) diante da integração da cultura digital com a

    cultura escolar foram criadas expectativas de mudanças nas salas de aulas,

    quanto à produção, organização e distribuição do conhecimento. No entanto, o

    cenário apresentado atualmente, nos mostra que após anos de propostas do

    uso das TIC no contexto educacional, ainda há barreiras entre o que se espera

    e o que de fato se apresenta como mudanças processadas na cultura da

    escola, principalmente, quando se refere à prática docente.

    Em frente a este contexto, de acordo com os estudos de Bonilla (2005)

    verifica-se que as instituições de ensino no Brasil e os seus respectivos cursos

    de graduação têm oferecido, geralmente, apenas mais uma disciplina do tipo

    “Introdução à Informática”, que se restringe a desenvolver algumas

    competências e permitir o acesso ao computador.

    E quando a área de atuação é o ensino de Ciências e Tecnologias,

    como ocorre esse embate? Os recursos tecnológicos digitais constituem e

    instituem a sociedade atual. Compõem os símbolos e linguagens que usamos

    para darmos conta de sua apresentação e representação. Portanto, estão

    incorporados no cotidiano da sociedade. Um dos pilares da educação em

    ciências é funcionar como um elo importante entre o que a ciência produz e

    sua utilização pela sociedade. Uma educação científica, que coloque esses

    recursos para seus aprendizes sem usar os próprios recursos que apresenta à

    sociedade, no mínimo está incorrendo em incoerências (BONILLA, 2005).

    Nesta perspectiva, a função das TICs, no processo de ensino e

    aprendizagem de diferentes disciplinas, tem sido estudada por especialistas,

    em várias universidades de todo o mundo. O papel destas tecnologias nas

    disciplinas de ciências tem sido largamente justificado. Osborne e Hennessy

    (2003) discutem, na sua revisão da literatura, várias razões para o uso da

    tecnologia no ensino-aprendizagem das ciências. Dentre elas: a intensificação

    e a produção de trabalho, a investigação e a experimentação, a promoção da

    auto-regulacão, a aprendizagem colaborativa e promove a motivação e o

    envolvimento.

    É neste contexto que Giordan (2008) afirma que às TICs apresentam

    para o ensino das ciências e em particular para o Ensino de Química, grande

    potencial enquanto ferramenta, pois a união entre a utilização de imagens e

  • 22

    linguagem hipertextual é particularmente atrativo para a educação,

    especialmente quando se considera a disposição de fenômenos do meio

    natural para o meio digital.

    De acordo com Giordan (2008), existem várias formas de uso das TICs

    nas aulas de Ciências, tais como: a simulação de objetos em queda livre

    obedecendo às leis da mecânica, a simulação da geometria de uma molécula,

    animações de ciclos biológicos, eventos geológicos e astronômicos,

    representações simbólicas das reações químicas, gráficos dinâmicos, enfim,

    são situações didáticas extremamente valiosas que podem ser associadas a

    outras estratégias, como às atividades experimentais em laboratório. Este

    mesmo autor recomenda, porém: se por um lado as TICs incentivam a

    aprendizagem colaborativa, por outro, a variedade de modos de comunicação e

    as dificuldades de planejamento do ensino podem inibir a utilização das TICs

    nas práticas da sala de aula, sobretudo se os docentes não recebem formação

    específica.

    O grande desafio para o docente está no fato de que a presença das

    TICs no espaço acadêmico traz mudanças na organização do ensino, aumenta

    as fronteiras da sala de aula e, ao transpor tais limites para o mundo virtual,

    aparece à inquietação. Assim, a reflexão do docente sobre sua prática é

    indispensável, visto que o fruto de seu trabalho depende diretamente da

    autoavaliação, acerca de suas ações, decisões e escolhas (GIORDAN, 2008).

    Nessa perspectiva estaremos no decorrer do nosso trabalho levando as

    discussões de pesquisadores na área de tecnologia aplicada à educação,

    especificamente, no ensino das ciências, no intuito de demonstrar a

    importância de investigar como os docentes integram ferramentas digitais em

    suas atividades docentes.

    Para investigar se a integração das TICs nas instituições de ensino

    superior ainda traz o viés instrumental em suas disciplinas, essa pesquisa

    também fará uma análise dos documentos oficiais que compõem os projetos

    pedagógicos de Cursos de Licenciatura em Química de instituições públicas

    brasileiras.

    Este trabalho foi realizado no âmbito do projeto de dissertação de

    mestrado que faz parte do Programa de Pós-graduação em Ensino das

  • 23

    Ciências da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Para isso

    optamos por uma pesquisa de cunho exploratório, observando os seguintes

    aspectos: Inicialmente foram coletados os e-mails de docentes que lecionam

    em cursos de licenciatura em química através dos sites das instituições e

    posteriormente procedeu-se ao envio de um questionário. As IES selecionadas

    para fazer parte da pesquisa foram às mesmas que obtivemos respostas dos

    docentes ao instrumento de investigação. Em seguida a investigação sobre a

    utilização das TICs passou também pela análise dos documentos que norteiam

    tais usos os quais também estavam disponibilizados nos sites.

    Para categorização e análise dos dados foi utilizado o uso do software

    WEBQDA (Web Qualitative Data Analysis), que é voltado a pesquisadores, em

    diversos contextos, e que tenham a necessidade de analisar dados qualitativos,

    individual ou colaborativamente. O WebQDA acompanha a representação

    estrutural e teórica de outros programas disponíveis no mercado,

    diferenciando-se destes, por proporcionar trabalho colaborativo online e em

    tempo real, disponibilizando um serviço de apoio à investigação (NERI DE

    SOUZA, et. al., 2011).

    Em resumo, na busca de respostas para a questão de pesquisa

    delineada foram propostos os seguintes objetivos:

    Objetivo geral:

    Analisar as formas de utilização das Tecnologias de Informação e

    Comunicação (TICs), como instrumento didático, em cursos de

    licenciatura em química no Brasil.

    Objetivos específicos:

    Identificar propostas existentes de uso das TICs, em cursos de

    licenciatura em química, ofertados em instituições de ensino superior, no

    Brasil.

  • 24

    Mapear como os docentes fazem o uso das TICs em cursos de

    licenciatura em química, pesquisados em instituições públicas brasileiras

    e quais as contribuições e dificuldades enfrentadas nesta direção.

    Mapear como os usos das TICS aparecem nos discursos dos Projetos

    Pedagógicos dos Cursos (PPC).

    1.2 Estrutura da dissertação

    No capítulo 1 introduziremos o tema da pesquisa referente às TICs; No

    capítulo 2, abordaremos as TICs e algumas significações sobre as tecnologias,

    como também traremos um breve resgate histórico sobre a inserção das TICs

    na educação. No capítulo 3, apresentaremos uma discussão sobre a utilização

    das TICs no ensino de ciências. A seguir no capítulo 4 pontuaremos

    características que estruturam as Bases legais para o funcionamento dos

    cursos de graduação no Brasil e as diretrizes curriculares para o curso de

    licenciatura em química no Brasil, bem como uma breve discussão sobre o

    currículo formal e a formação de docentes com as TICs. Em seguida

    discutiremos no capítulo 5, os aspectos metodológicos que nortearam a

    pesquisa. E para finalizar, no capítulo 6 apresentaremos e discutiremos os

    resultados encontrados.

  • 25

    2. AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

    _______________________________________________________________

    A incorporação das tecnologias causou uma grande revolução tanto na

    comunicação de modo geral como na vida das pessoas, criando novos hábitos,

    novas necessidades que provocaram transformações na sociedade. Neste

    sentido, no presente capítulo partimos de uma análise de alguns significados

    conceituais da tecnologia e seu desenvolvimento, para, então, discutir o

    processo em que os meios de comunicação passaram de uma forma gráfico-

    escrita para a forma de modalidades digitais (que se apoiam nos recursos

    tecnológicos para produzir e disseminar a informação com rapidez e eficácia),

    propiciando a construção do conhecimento e transformando a sociedade em

    uma comunidade virtual. Bem como, apresentamos um breve panorama de

    como se deu a política governamental do Brasil, com relação à inserção das

    TICs na educação, no intuito de situar historicamente o leitor, demonstrando

    que as propostas de uso das TICs estão atreladas com a política

    governamental.

    2.1 Tecnologias: conceitos e evolução

    Esta revisão discute a história do homem, lembrando que inicialmente

    esta caminhou ao lado da história das técnicas, através do uso de artefatos que

    sofreram mudanças ao longo do tempo, sendo transformados em ferramentas

    diferenciadas, passando por evoluções complexas em conjunto com o

    processo de organização das sociedades humanas. (CARDOSO, 2001;

    ACEVEDO DÍAZ, 2002; VALDÉS et al, 2002; MAIZTEGUI et al, 2002;

    VERASZTO, 2004).

    Dessa forma, é por meio do conhecimento do processo histórico da

    evolução das técnicas criadas pelo homem, inseridas dentro dos contextos da

    sociedade e da cultura de cada período, é que podemos estabelecer uma

    melhor compreensão da participação ativa do homem e da tecnologia no

  • 26

    adiantamento e no progresso da sociedade, ampliando assim o entendimento

    do conceito que trazemos quando se trata do termo tecnologia (VERASZTO,

    2004).

    Diante desse contexto, torna-se imprescindível reconhecer que as

    palavras técnica e tecnologia têm a mesma raiz do termo grego techné que

    incidia muito mais em modificar o mundo de maneira prática do que

    compreendê-lo. No início foi um processo no qual o pensamento científico

    praticamente não exercia influências. Na técnica, o ponto fundamental era

    como transformar, como modificar. O conceito original da palavra techné tem

    sua origem a partir de uma das variáveis de um verbo que significa fabricar,

    produzir, construir, dar à luz. Enquanto que, a palavra tecnologia, deriva de

    uma união do termo tecno, do grego techné, que é saber fazer, e logia, do

    grego logus, razão. Portanto, nesse contexto tecnologia significava a razão do

    saber fazer (VERASZTO, 2004; SIMON et al, 2004).

    Em diferentes momentos a história da tecnologia vem escrita em

    conjunto com a história das técnicas, com a história do trabalho e da produção

    do ser humano. Deste modo, é essencial a tentativa de apresentar um marco

    divisório para mostrar a imperceptível linha que separa a técnica da tecnologia.

    É necessário deixar transparecer que a história das técnicas e das

    tecnologias, não deve ser apenas compreendida como uma descrição contínua

    dos objetos descobertos por artífices e engenheiros, mas também a vinculação

    das grandes conjunturas sociais que em determinado momento favoreciam, e

    em outro depreciavam o esforço humano em desenvolver seus artefatos e

    causar transformações no mundo em sua volta, garantindo-lhes assim,

    melhores condições de vida.

    De acordo com o exposto, verifica-se que a tecnologia diferencia-se da

    técnica por utilizar conhecimentos científicos no processo de produção. No

    entanto, no convívio diário com a tecnologia e diante de tantas mudanças,

    muitas vezes possuímos uma interpretação equivocada do seu significado e

    conceito. Na nossa rotina ela está tão presente que aplicamos seus

    procedimentos e usamos seus elementos de forma natural e mecânica. No

    entanto, a tecnologia tem significados e conceitos múltiplos, podendo sofrer

    variações de acordo com cada contexto.

  • 27

    Para Martins e Dal Sasso (2008), dentre as suas diversas significações,

    a tecnologia incorpora a vontade de provocar transformações no mundo ao

    nosso redor. De acordo com a tradição, a tecnologia aparece como

    instrumentos e recursos antigos e atuais que têm a finalidade de acrescentar e

    melhorar o tratamento de conhecimentos e habilidades através da utilização e

    aplicação de recursos tecnológicos. E, numa perspectiva contemporânea, a

    tecnologia tem se revelado de maneira crescente inserida em um contexto

    social no qual os governos, as organizações e os indivíduos são integrados a

    fim de elevar ao máximo a eficácia de seu uso. As tecnologias presentes no

    cotidiano dos sujeitos modificam a estrutura de seus interesses, o caráter dos

    símbolos, e por que não dizer, a natureza da sociedade. Neste sentido, não

    podemos definir as tecnologias exclusivamente como instrumentos e técnicas

    ou associá-las à concepção de dominação, especialização e competência,

    tendo em vista que a tecnologia apresenta três categorias de significado: a de

    objetos físicos; a de uma forma de conhecimento, e, ainda outra, constituindo

    parte de um conjunto complexo de atividades humanas.

    De acordo com Castells (2005) a tecnologia é como uma forma

    específica da relação que se forma entre a mão de obra e a matéria no

    processo de trabalho envolvendo a utilização dos meios de produção para

    atuar sobre essa matéria com base em energia, conhecimento e informação.

    Levando em consideração este cenário complexo de significados: qual é

    nossa posição diante destas significações? Que caminhos poderiam ser

    construtivos para a sociedade, no intuito de aproveitar as ocasiões que no

    momento se apresentam e interagir, produzir e gerenciar tecnologias aplicadas

    ao campo educacional?

    Estes significados nos fazem acreditar que existe uma disposição de um

    reencantamento perante as tecnologias, pois estamos vivenciando uma

    reorganização em todas as dimensões da sociedade, do econômico ao político,

    do educacional ao familiar. Entendemos, ainda, que a comunicação torna-se

    cada vez mais digital, com várias dimensões e de maneira não linear, unindo

    linguagens, ritmos e caminhos diferentes de acesso e construção do

    conhecimento. O ser humano, pela aptidão de criar e inovar, por meio da

    técnica e da tecnologia, passou a ser fonte de informação. Com isto, a

  • 28

    comunicação e o fluxo de informação sob a forma de conhecimento adquirido

    foi sendo ampliado, aprimorando os processos de produção e,

    consequentemente, evoluindo. Dessa maneira, atualmente as TICs propiciam o

    acesso às informações em ritmos acelerados, fazendo presença na vida, nos

    hábitos e modos de trabalhar da grande maioria dos indivíduos da sociedade

    contemporânea.

    Assim, apresentadas as diferentes ideias e concepções que se tem

    acerca da tecnologia, nesta pesquisa assumimos a ideia de que tecnologia é

    um conjunto de conhecimentos inerentes ao desenvolvimento e elaboração dos

    instrumentos (artefatos, sistemas, processos e ambientes) criados pelo ser

    humano no decorrer da história para atender as suas necessidades e as do

    grupo, possuindo, portanto, um caráter pessoal e coletivo.

    2.2 As Tecnologias da Informação e Comunicação – TICs

    A denominação Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs)

    compreende o conjunto de recursos tecnológicos que disponibilizam velocidade

    no processo de comunicação, transmissão e distribuição de informações, ou

    seja, as TICs se apresentam como resultados de três grandes vertentes

    técnicas: a informática, as telecomunicações e as mídias eletrônicas

    (BELLONI, 2005).

    Nesta perspectiva, quando estas tecnologias são utilizadas com

    objetivos educacionais, sobretudo para dar apoio e promover melhorias na

    aprendizagem dos alunos, criando ambientes para a apropriação do

    conhecimento, são consideradas como um subdomínio da Tecnologia

    Educacional (MIRANDA, 2007).

    As Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) vêm, cada vez

    mais, sendo incorporadas na rotina da escola, seja pela utilização dos objetos

    virtuais de aprendizagem, das diferentes mídias ou ainda pelos equipamentos.

    Percebe-se que os estudantes do século XXI possuem uma nova identidade,

    os mesmos já têm habilidades quanto ao uso das TICs, mesmo que somente

    para entretenimento. Portanto, o maior desafio dos docentes é oferecer aos

    discentes um direcionamento pedagógico.

  • 29

    Atualmente as crianças recebem diariamente uma gama de informação por meio dos veículos de comunicação, como a Internet, TV e rádio, o aluno nem precisa ir à escola para buscar as informações, porém não conseguem filtrar as informações que são pertinentes para o seu desenvolvimento intelectual e social. (COSTA, 2009, p. 135).

    As tecnologias vêm adquirindo um papel expressivo nos espaços

    acadêmicos, na tentativa de auxiliar os alunos no momento de assimilar e

    socializar os conteúdos trabalhados em sala de aula.

    De acordo com Kenski (2007), Educação e Tecnologias necessitam

    andarem juntas, inseparáveis, pois, quando utilizadas corretamente, podem

    promover modificações dos comportamentos de docentes e alunos conduzindo

    assim ao bom direcionamento da prática pedagógica.

    Para fim de estabelecer um contexto neste trabalho quanto à definição

    das TICs: serão consideradas Tecnologias da Informação e Comunicação: os

    computadores pessoais, os scanners, a impressão por impressoras

    domésticas, a gravação doméstica de CDs e DVDs, a telefonia móvel

    (telefones celulares), a TV por assinatura, TV a cabo, TV por antena

    parabólica, o correio eletrônico (e-mail), as listas de discussão (mailing lists), a

    internet e seus websites (home pages), as salas de discussão online

    (fórum/chat), o streaming (fluxo contínuo de áudio e vídeo via internet), o

    podcasting (transmissão sob demanda de áudio e vídeo via internet), as

    tecnologias digitais que captam e tratam imagens e sons, a fotografia digital, o

    vídeo digital, o cinema digital (da captação à exibição), o som digital, a TV

    digital e o rádio digital, as tecnologias de acesso remoto (sem fio ou wireless,

    como o Wi-Fi e Bluetooth), dentre outras. (GARCEZ, 2007). Estas tecnologias

    digitais de comunicação e informação têm se desenvolvido e se diversificado

    rapidamente, estando presentes na vida cotidiana da maioria dos cidadãos e

    em diversos contextos, com, por exemplo, no trabalho, na família e

    principalmente na educação.

    Perante o exposto, é importante reconhecer o impacto das TICs –

    telecomunicações, computador, internet, multimídia – e essa integração e

    articulação digital na difusão da cultura e na divulgação de informações em

  • 30

    tempo real, pois a tecnologia e as comunicações juntas estão sendo

    instrumentos de transformações da sociedade ao longo da história.

    Diante destas, os saberes se alteram, as percepções mudam

    constantemente, as transformações ocorrem rapidamente. Os meios de

    comunicação e, principalmente a internet, transformam as relações entre as

    pessoas e entre as informações, refletindo-se em diferentes setores da

    sociedade, especialmente na educação. Entretanto, o acesso as TICs ainda

    não é um processo igualitário para todos, pois possuem ainda um custo

    elevado e a necessidade de conhecimento específico para o seu uso (KENSKI,

    2007).

    Neste sentido, Castells (2005) afirma que as TICs especificamente não

    deveriam ser julgadas como algo que trazem benefícios ou malefícios para o

    contexto social – de acordo com o referido autor estas tecnologias são

    invenções da nossa época e adquirem sentido através dos ambientes e dos

    seus usos. Ele é enfático ao afirmar que a tecnologia não determina a

    sociedade e que diferentes fatores causam interferências, de acordo com um

    complexo modelo de interação, na forma que ela toma em cada período da

    história.

    No tópico a seguir descreveremos algumas das relações entre as TICs e

    a ação educativa em diferentes momentos do Brasil.

    2.3 O uso das TICs e a educação no Brasil

    Na década de 70, foi criada a Coordenação de Assessoria ao

    Processamento Eletrônico (CAPRE) com a finalidade de assessorar a

    utilização dos recursos tecnológicos do governo Federal e ser um núcleo para

    a construção de uma política brasileira para o setor de informática-

    microeletrônica. Com a carência de profissionais para atuar na área

    computacional houve uma mobilização do órgão de política tecnológica para

    destinar verbas ao desenvolvimento de indústrias do setor tecnológico

    (MORAES, 2002).

  • 31

    O documento do Ministério da Educação e Cultura (MEC) que apontava

    o nosso país como um potencial para o mercado de Informática foi a Portaria

    Nº 001 de março de 1980, do Conselho de Segurança Nacional e da Secretaria

    Especial de Informática (SEI). Esta portaria mostrou uma preocupação em

    promover a formação de recursos humanos por meio de uma política

    educacional que estabelecesse as diretrizes para a criação de cursos de curta

    duração, de graduação plena e pós-graduação stricto sensu, na área de

    informática (BRASIL, 1981, p. 5). O então secretário de Informática, Octávio

    Gennari Netto, resolveu formar a Comissão Especial nº 1/Educação composta

    por (01) um representante do Conselho Federal de Educação (CFE); (01) um

    da Secretaria de Ensino Superior (SESU); (01) um da Sociedade Brasileira de

    Computação (SBC), (01) um da Sociedade de Usuários de Computadores e

    Equipamentos Subsidiários (SUCESU), (05) cinco representantes de

    Instituições de Ensino Superior (IES) autorizadas para realizar cursos na área

    de informática; (01) um da Subsecretarias de Serviços (SEI/SS) e (01) um de

    Órgãos ou Entidades gerados pelos cursos autorizados (Ibid.).

    Nesse contexto, a informática na educação foi discutida como um fator

    primordial para estabelecer o desenvolvimento da economia Brasileira, na

    medida em que os países desenvolvidos promoviam a incorporação das novas

    tecnologias em quase todos os setores de produção material e imaterial. Por

    consequência, a necessidade de qualificação do trabalhador estimulou a

    inserção da informática das escolas com o objetivo de adequar as instituições

    de ensino ao modelo econômico vigente.

    Para impulsionar e difundir a implementação da informatização no setor

    produtivo e, bem como, para resolver os problemas da carência tecnológica e

    científica no País, foi indicada a Secretaria Especial de Informática (SEI), órgão

    executivo do Conselho de Segurança Nacional da Presidência da República.

    Os documentos elaborados pela SEI e pelo MEC argumentavam que o

    desenvolvimento tecnológico dependia da capacitação da comunidade

    científica e tecnológica, traçando um plano de ações para regulamentar a

    política pública para utilização da tecnologia de informática na educação com o

    objetivo de melhorar a qualidade da educação brasileira (MORAES, 2002).

  • 32

    O I Seminário Nacional de Informática na Educação foi realizado na

    Universidade de Brasília no ano de 1981, reunindo pesquisadores e

    especialistas da área para debater o assunto. Os encaminhamentos foram

    publicados nos documentos do MEC e definiam que as atividades de

    Informática no contexto educacional deveriam levar em consideração os

    aspectos culturais, sociais, políticos e pedagógicos da realidade brasileira. Em

    1982, o MEC, a SEI e o Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) promoveram,

    na Universidade Federal da Bahia, o II Seminário Nacional de Informática na

    Educação, com o objetivo de reunir novos enfoques da educação, da

    psicologia, da informática e da sociologia para fundamentar a criação de

    projetos-piloto e viabilizar as aplicações do computador em todas as

    modalidades do ensino: do Ensino Fundamental até o Ensino Superior.

    (MORAES, 2000; TERUYA, 2003).

    A partir de 1982, o Ministério da Educação – MEC criou o Centro de

    Informática – CENIFOR, ligado à Fundação Centro Brasileiro da TV Educativa

    – FUNTEVÊ, que depois foi denominada de Fundação Roquete Pinto,

    assumindo o compromisso de viabilizar a implantação de projetos de estudos e

    pesquisas sobre o uso de computadores na educação brasileira.

    O MEC lançou as Diretrizes para o estabelecimento da Política de

    Informática no setor Educação, Cultura e Desportos, em janeiro de 1983, que

    assumiram duas dimensões: a primeira foi à formação de recursos humanos,

    na pesquisa e no desenvolvimento socioeconômico e preparar a sociedade

    para uma mudança cultural. Nessa dimensão, estabeleceu quatro campos de

    atuação:

    • Ensino de Informática com a finalidade de formar profissionais de

    Informática para sistema de Informação e Processamento de Dados.

    • Ensino para Informática tem o caráter multidisciplinar para desenvolver

    setores de suporte conceitual e tecnológico.

    • Informática na Educação enfoca os aspectos instrumentais da

    Informática como tecnologia de ensino, à disposição de docentes e alunos.

    • Informática na Pesquisa, voltada para as atividades de pesquisa na

    área de Educação, Cultura e Desportos.

  • 33

    A segunda dimensão foi o uso da Informática para acelerar o processo

    decisório na Administração do MEC (BRASIL, 1983, p. 9).

    Para incluir o presidente da Fundação Centro Brasileiro de TV Educativa

    (FUNTEVÊ) e um conselheiro do Conselho Federal de Educação na Comissão

    Especial n. 11/Informática na Educação, publicado em 02/03/84 pela Secretaria

    Especial de Informática, a Portaria 001 de 12 de janeiro de 1983 foi alterada

    pela portaria n.53 de 29 de fevereiro de 1984.

    A implantação do projeto EDUCOM – Educação com Computador, em

    1983, foi uma proposta oficial de um projeto brasileiro de Informática na

    Educação financiada pelo Ministério da Educação, com o objetivo de levar

    computadores para as escolas públicas brasileiras e incorporar a informática

    educativa no processo de ensino e aprendizagem. As atividades dos centros-

    piloto do Projeto EDUCOM foram realizadas em cinco universidades que

    firmaram convênio, somente em 1985, com a FUNTEVÊ/MEC: as

    Universidades Federais do Rio Grande do Sul - UFRGS, de Pernambuco –

    UFPE, de Minas Gerais – UFMG, do Rio de Janeiro – UFRJ e Universidade

    Estadual de Campinas – Unicamp (MORAES, 2000; TERUYA, 2003).

    Entre os dias 10 e 12 de novembro de 1986 foi realizado o I Simpósio

    Projeto Polo Informática na Universidade de São Paulo para discutir o tema

    central “Tecnologia nacional, Universidade e Empresa”. Este evento contou

    com a presença do pesquisador Seymour Papert do Massachussets Institute of

    Tecnology, o criador da linguagem Logo para computadores destinados às

    crianças (LEME, 1988, p. 38). Suas ideias foram incorporadas nos programas

    de formação de docentes para combater a prática tecnicista de ensino.

    Entre 1960 e 1970, o tecnicismo era uma proposta que atendia as

    necessidades da cultura dominante e expressava o processo de massificação

    do ensino. Na sala de aula, o método tecnicista era a prática oficial para utilizar

    os recursos audiovisuais e solucionar os problemas da educação, alem de

    atender a demanda de docentes despreparados. A educação com eficiência

    era baseada na repetição, preparação de etapas, no reforço, na competição e

    premiação. A padronização do ensino era o reflexo da produção industrial em

    larga escala e serviu para atender as exigências do mercado de trabalho e

  • 34

    formar a mão de obra para produzir mercadorias padronizadas e formar um

    mercado de consumidores (LEME, 1988).

    Papert (1985) em seus textos critica este modelo de educação e

    argumenta que é ineficiente e inadequado para se promover a aprendizagem

    da criança, e lança como proposta um ambiente de aprendizagem com o uso

    do computador fundamentado na teoria interacionista e construtivista.

    Estas ideias foram difundidas nos cursos de formação docente para

    utilizar a linguagem Logo no processo de ensino e aprendizagem que, a partir

    de 1986, foi operacionalizada com a implementação do projeto FORMAR.

    Foram ofertados dois cursos de especialização: um em 1987 e outro em 1989,

    com a finalidade de reunir e capacitar os docentes indicados pelas Secretarias

    Estaduais de Educação e das escolas técnicas federais. O MEC iniciou as

    atividades de capacitação por meio do Projeto FORMAR, oferecido pela

    Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e os docentes cursistas

    deveriam criar os Centros de Informática Educativas (CIEds) junto à Secretaria

    de Educação, mediante o apoio técnico e financeiro do Ministério da Educação

    em diferentes estados do Brasil, nos períodos de 1988 e 1989. O objetivo era

    preparar recursos humanos para implantar o projeto de informática na

    educação. Estes CIEds formariam as equipes interdisciplinares de educadores,

    técnicos e monitores para atender alunos e docentes de educação básica,

    educação especial e a comunidade em geral e se transformar em centros

    irradiadores e multiplicadores de utilização de computadores nas escolas

    públicas brasileiras (TERUYA, 2003; MORAES, 2003).

    A Organização dos Estados Americanos (OEA), em 1988, convidou o

    MEC para avaliar o projeto de Informática Aplicada à Educação Básica do

    México. Isso fez o MEC e a OEA formularem um projeto multinacional de

    cooperação técnica e financeira, integrado por oito países americanos, que

    vigorou entre 1990 e 1995.

    A sólida base teórica sobre informática educativa no Brasil existente em

    1989 possibilitou ao MEC instituir através da Portaria Ministerial n.549/89, o

    Programa Nacional de Informática na Educação (PRONINFE), com o objetivo

    de desenvolver a informática educativa no Brasil, através de atividades e

    projetos articulados e convergentes, apoiados em fundamentação pedagógica,

  • 35

    sólida e atualizada, de modo a assegurar a unidade política, técnica e científica

    imprescindível ao êxito dos esforços e investimentos envolvidos (MORAES,

    2002).

    Apoiado em dispositivos constitucionais relativos à educação, ciência e

    tecnologia, o PRONINFE visava: promover o desenvolvimento da informática

    educativa e seu uso nos sistemas públicos de ensino (1o, 2o e 3o grau e

    educação especial); fomentar o surgimento de infraestrutura de suporte nas

    escolas, apoiando a criação de centros, subcentros e laboratórios; capacitar

    contínua e permanentemente docentes. O Programa previa crescimento

    gradual da competência tecnológica referenciada e controlada por objetivos

    educacionais, amparado num modelo de planejamento participativo que

    envolvia as comunidades interessadas. Os objetivos e metas do PRONINFE

    foram formulados em sintonia com a política nacional de ciência e tecnologia

    da época (TERUYA, 2003; MORAES, 2003).

    O PRONINFE apresentou os seguintes resultados no período de 1980 -

    1995:

    • 44 centros de informática na educação implantados, a maioria

    interligado na Internet.

    • 400 subcentros implantados, a maioria por iniciativas de governos

    estaduais e municipais, a partir do modelo de planejamento concebido,

    inicialmente, pelo Projeto EDUCOM/UFRGS (destes, 87 foram implementados

    no Estado do Rio Grande do Sul).

    • 400 laboratórios de informática educativa em escolas públicas,

    financiados por governos estaduais e municipais.

    • mais de 10.000 profissionais preparados para trabalhar em informática

    educativa no país, incluindo um número razoável de pesquisadores com cursos

    de mestrado e doutorado (TERUYA, 2003; MORAES, 2003).

    O PRONINFE, apesar de dificuldades orçamentárias, gerou, em dez

    anos, uma cultura nacional de informática educativa centrada na realidade da

    escola pública. Ele constituiu o principal referencial das ações atualmente

    planejadas pelo MEC: correspondeu praticamente a uma fase piloto que durou

    mais de uma década (MORAES, 2003).

  • 36

    Foram também ações importantes: implantação de 50 centros de

    informática em São Paulo, com recursos do governo municipal (1987/1988);

    ainda na capital paulista, em 1996, introdução de vigoroso programa de

    informatização de escolas (10.000 computadores); em 1997 foram instalados

    mais de 400 laboratórios nas escolas públicas do Estado de São Paulo, num

    trabalho orientado pelo Núcleo de Informática Educativa (NIED) da UNICAMP,

    que também coordenou a implantação de laboratórios em todos os colégios

    militares do País e a formação de mais de 1.000 docentes dessas instituições

    (TERUYA, 2003; MORAES, 2003).

    O Programa Nacional de Informática na Educação (ProInfo), foi proposto

    pelo MEC em 06 de novembro de 1996 e criado em 9 de abril de 1997 com o

    objetivo de universalizar o uso da Telemática no sistema público de ensino

    fundamental e médio, como ferramenta pedagógica. O programa teve como

    objetivo levar os computadores com seus recursos digitais e conteúdos

    educacionais à rede pública de ensino de 1º e 2º graus com previsão para

    adquirir 100.000 computadores no biênio de 97/98 nas escolas que respeitar os

    critérios acordados entre a SEED/MEC as Secretarias Estaduais de Educação -

    SEE. Os estados e os municípios deveriam implementar a estrutura para os

    laboratórios e capacitar os educadores para usar os equipamentos

    informáticos. Nos sistemas estaduais de ensino, a implementação do Programa

    de forma descentralizada teve uma Coordenação Estadual do ProInfo para

    introduzir as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) nas escolas

    públicas, articulado com as ações dos Núcleos de Tecnologia Educacional

    (NTE). Os NTEs ofereceram a infraestrutura de informática e hardware e

    software (BRASIL, 2005).

    Em 2005, o Ministério da Educação e Secretaria de Educação a

    Distância, a MEC/SEED lançou o projeto básico do Programa de Formação

    continuada em Mídias na Educação. Este Programa propõe a capacitação dos

    docentes da rede pública de ensino para utilizar a diferentes linguagens de

    comunicação na prática de ensino. De acordo com o site oficial do MEC:

  • 37

    Mídias na Educação é um programa de educação a distância, com estrutura modular, que visa proporcionar formação continuada para o uso pedagógico das diferentes tecnologias da informação e da comunicação – TV e vídeo, informática, rádio e impresso. O público-alvo prioritário são os docentes da educação básica. Há três níveis de certificação, que constituem ciclos de estudo: o básico, de extensão, com 120 horas de duração; o intermediário, de aperfeiçoamento, com 180 horas; e o avançado, de especialização, com 360 horas.

    O programa é desenvolvido pela Secretaria de Educação a Distância (Seed), em parceria com secretarias de educação e universidades públicas – responsáveis pela produção, oferta e certificação dos módulos e pela seleção e capac Entre os objetivos do programa estão: destacar as linguagens de comunicação mais adequadas aos processos de ensino e aprendizagem; incorporar programas da Seed (TV Escola, Proinfo, Rádio Escola, Rived), das instituições de ensino superior e das secretarias estaduais e municipais de educação no projeto político-pedagógico da escola e desenvolver estratégias de autoria e de formação do leitor crítico nas diferentes mídias. Disponível em:

    (http://portal.mec.gov.br/index.php/?option=com_content&view=article&id=12333) Acesso em 20 de maio de 2013.

    A expansão da educação online na formação de docentes da rede

    pública de ensino foi viabilizada com a implementação do Programa Nacional

    de Informática na Educação. As instituições que participam do Programa de

    Formação continuada em Mídias na Educação foram: AC – UFAC, AL - UFAL,

    AM – UFAM, AP - UNIFAP, BA - UESB, CE - UFC, DF - UnB, GO - UFG, MA -

    UFMA, MG - UFOP, MG - UNIMONTES, MS - UFMS, MT - UFMT, PA - UFPA,

    PB - UFCG/UFPB, PE - UFPE, PE - UFRPE, PI - UFPI , PR - UFPR, RJ -

    UFRJ, RJ – UFRRJ, RN – UERN, RN - UFRN, RO - UNIR, RR - UFRR, RS -

    CEFET, RS - FURG, RS - UFRGS, RS - UFSM, SE - UFSE, SP - USP, TO –

    UFT (BRASIL, 2005).

    Em 2005 foi implementado o programa de Formação continuada em

    Mídias na Educação - online, por meio da plataforma e-ProInfo, para capacitar

    1.200 multiplicadores e tutores de todos os estados brasileiros. Em 2006, foi

    ofertada versão online do Ciclo Básico, com certificação em extensão, para dez

    mil profissionais de Educação Básica do Sistema Público de Ensino, em todo o

    País (BRASIL, 2005, p. 6).

    http://portal.mec.gov.br/index.php/?option=com_content&view=article&id=12333http://portal.mec.gov.br/index.php/?option=com_content&view=article&id=12333

  • 38

    A proposta do Programa de formação continuada em mídias na

    educação foi fundamentada em uma concepção interacionista de educação,

    voltada para uma aprendizagem significativa e autônoma. Apresentou como

    proposta formar o leitor crítico das mídias e ampliar as possibilidades de

    explorar temas atuais e estimular a produção de mídias entre docentes e

    alunos, elaborando materiais que combinam sons, imagens, simulações e

    narrativas. Os recursos do computador possibilitam a capacidade de autoria

    auxiliada pelo acesso ao imenso mundo de informações disponibilizadas na

    internet e nos cursos online que se utilizam dos diversos suportes midiáticos

    (BRASIL, 2005).

    Atualmente, há também programas recentes que apresentam propostas

    desafiadoras, como o de levar internet com alta velocidade para as escolas

    bem como, oferecer um computador para cada estudante. No entanto, o que

    esses programas têm de semelhança é uma preocupação voltada à

    infraestrutura de TICs, revelando com isto, propostas limitadas no que diz

    respeito ao desenvolvimento de competências e habilidades junto aos docentes

    para o uso pedagógico. Dessa maneira, o resultado com maior evidência

    desses empreendimentos é a dificuldade da incorporação de maneira efetiva

    das TICs aos processos pedagógicos (CGI.BR et al, 2013).

    Diante desse contexto, verifica-se que o Brasil quando se trata da

    inserção das TICs no processo educacional, não fica muito longe da situação

    de muitos países – incluindo os que estão em um estágio mais avançado na

    introdução das TICs na educação –, onde os investimentos são mais presentes

    com relação à infraestrutura das escolas do que necessariamente na formação

    continuada dos docentes e na modificação curricular dos programas de cursos

    de graduação. Portanto, seria necessária uma mudança de paradigma do tipo

    de instituição escolar que temos nos dias atuais, caminhando para um modelo

    que tivesse como base o uso intensivo das TICs para fins pedagógicos,

    entretanto observa-se que ainda é um desafio para muitas nações (CGI.BR et

    al, 2013).

    Dessa forma, o acompanhamento dos impactos é uma atividade

    essencial para os processos de elaboração e monitoramento de políticas

    públicas voltadas à promoção das TICs no contexto educacional, para as

  • 39

    pesquisas acadêmicas e para os mecanismos de controle social, instituídos

    pelas organizações da sociedade civil interessadas na questão (CGI.BR et al,

    2013).

    Nesta perspectiva, é importante destacar o trabalho do Comitê Gestor da

    Internet no Brasil (CGI.Br), que promove pesquisas desde o ano de 2010,

    referente a infraestrutura de TIC disponível nas escolas, a incorporação das

    TICs nos processos de ensino e aprendizagem, a capacidade de docentes e

    alunos no uso das tecnologias, as principais dificuldades que impedem a sua

    utilização pelos atores do sistema educacional, bem como as causas que

    fazem com que muitos docentes consigam integrar as TICs em suas práticas

    pedagógicas. Essas pesquisas têm como referencial metodológico os relatórios

    InfoDev, do Banco Mundial, e do estudo Sites 2006 (Second Information

    Technology in Education Study), da International Association for the Evaluation

    of Educational Achievement (IEA) (CGI.BR et al, 2013), apresentando como

    uma das suas missões a produção e disseminação de indicadores e

    estatísticas sobre as TICs, com alta confiabilidade para alimentar o governo

    com informações de alta qualidade no intuito de contribuir para a formulação de

    políticas públicas e com isto, também, instigar a produção de trabalhos

    acadêmicos e científicos. Em três anos, os resultados da pesquisa “TICs

    Educação” do Comitê Gestor da Internet no Brasil, apontam que ainda

    continuam as dificuldades para uma real integração das TICs na prática

    pedagógica (CGI. BR et al., 2013).

    Diante do histórico exposto da política de informática no Brasil, verifica-

    se que a sua inserção teve início nas instituições de ensino superior - federal e

    que estas instituições receberam do governo incentivo quanto à implementação

    das tecnologias e, consequentemente, a sua integração no processo de ensino

    e aprendizagem de forma a construir diversos projetos para a formação do

    docente, tanto da educação básica como de nível superior. Portanto, o

    referencial teórico apresentado nos ajudará a fundamentar o nosso estudo no

    intuito de relacionar como se encontra atualmente a utilização das TICs em

    Universidades Públicas Brasileiras, já que houve e ainda há bastante

    investimento financeiro e intelectual por parte do Governo Federal.

  • 40

    3. UTILIZAÇÃO DAS TICs NO PROCESSO EDUCACIONAL

    _______________________________________________________________

    Percebemos a tecnologia como um instrumento importante para a

    educação, desde que esteja aliada aos saberes do aluno e ao contexto da

    instituição de ensino, no intuito de proporcionar uma utilização da tecnologia

    para dinamizar as relações entre docente, aluno e conhecimentos. No entanto,

    no momento de analisar as tecnologias, é interessante descrever para o que se

    concebem tecnologias na educação: usá-las como conteúdos de uma

    disciplina; como ferramentas de trabalho; para fins administrativos ou para

    outros fins didáticos?

    3.1 Diferentes formas de uso das TICs na educação

    O acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), ainda

    que não seja um processo igualitário, faz com que o indivíduo esteja inserido

    em uma era de constantes inovações tecnológicas, na qual as informações são

    facilmente acessadas. Segundo Tarcia e Cabral (2012), muitas das tecnologias

    utilizadas são determinadas e impostas pelo contexto. Trata-se, nesses casos,

    de uma realidade instalada em que as tecnologias são incorporadas no

    cotidiano e consequentemente nas rotinas das pessoas sem nenhum tipo de

    reflexão.

    Dessa forma, a escola, cumprindo a sua função social e de formação

    humana, deveria proporcionar esta reflexão. No entanto, conforme apontam

    Coll, Mauri e Onrubia (2010), os usos que os docentes fazem das TICs ainda é

    limitado, relacionando-se mais ao trabalho pessoal (digitar, pesquisar, entre

    outros). Estão distantes da sala de aula e de um uso reflexivo por parte dos

    alunos. Como consequência, distancia-se de uma educação com fins a

    estimular a criatividade e a criticidade dos alunos. Compreende-se por

    criticidade a capacidade do homem fazer uma leitura dos acontecimentos ao

    seu redor, com consciência da sua real condição no mundo. Implica na sua

  • 41

    inserção, na sua integração, na representação objetiva da sua visão de mundo

    (FREIRE, 1996, p.60).

    São vários os textos que elogiam o potencial das TICs e das mídias

    digitais para a educação. No entanto, segundo Coll, Mauri e Onrubia (2010,

    p.66):

    [...] a capacidade efetiva dessas tecnologias para transformar as dinâmicas de trabalho, em escolas e processos de ensino e aprendizagem nas salas de aula, geralmente ficam muito abaixo do potencial transformador e inovador que normalmente lhes é atribuído.

    De acordo com estes autores, para que o potencial das TICs na

    educação se torne realidade, é preciso levar em consideração o contexto de

    uso dessas tecnologias. Em outras palavras, como docentes e alunos estão,

    efetivamente, utilizando as tecnologias digitais em sala de aula e com qual

    objetivo.

    No intuito de identificar e descrever os usos das TICs, Coll, Mauri e

    Onrubia (2010) recomendam uma classificação a partir da qual as tecnologias

    são sempre mediadoras das relações entre partes de um “triângulo interativo”

    composto por docente – aluno – conteúdo. O que “define o tipo de uso que se

    dá às TIC é sua posição na rede de relações que se estabelecem entre os três

    elementos do triângulo interativo” (Idem, op. cit., p. 85). Esta classificação

    contempla 05 categorias nas quais as TICs são apresentadas como

    instrumentos:

    a) Mediadores das Relações entre Alunos e Conteúdos/Tarefas de

    Aprendizagem;

    b) Mediadores das Relações entre Docentes e Conteúdos/Tarefas de

    Ensino e Aprendizagem;

    c) Mediadores das Relações entre Docentes e Alunos ou dos Alunos

    entre si;

    d) Mediadores da Atividade Conjunta Desenvolvida por Docentes e

    Alunos;

    e) Configuradores de Ambientes ou Espaços de Trabalho e de

    Aprendizagem.

  • 42

    Com o propósito de averiguar o contexto de uso das TICs, Coll, Mauri e

    Onrubia (2010), realizaram um levantamento sobre sua utilização pelos

    docentes. O levantamento assinala um uso limitado, sendo os mais frequentes

    aqueles que têm relação com a busca e acesso à informação e ao trabalho

    pessoal (usos periféricos como digitar textos; preparar aulas; entre outros). Os

    usos que menos surgem nestes estudos são aqueles que direcionam os alunos

    a trabalhar com atividades colaborativas e a atuar como produtores e difusores

    da informação e do conhecimento.

    Assim, ao estabelecer relação desses estudos com a classificação

    proposta, os autores observam que a maioria dos usos identificados no estudo

    corresponde às duas primeiras categorias da classificação. Porém, os usos que

    correspondem às outras três categorias são raros ou nulos. Coll, Mauri e

    Onrubia (2010) concluem que as TICs, no momento que são utilizadas pelos

    docentes quanto pelos alunos, de forma assídua, é para fazer o que já se fazia

    na ausência delas, ou seja, buscar informação para preparar as aulas, escrever

    trabalhos, fazer apresentações em sala de aula, entre outras.

    Nos últimos anos o número de pessoas que possuem acesso à

    computadores e internet tem aumentado significativamente. Conforme a

    pesquisa do Comitê Gestor da internet no Brasil, 99% das escolas públicas

    possuem computador, independentemente de estar instalado ou não, e 89%

    das escolas públicas que possuem computador possuem acesso à Internet

    (CGI.BR, 2013). Contudo, se o uso que se faz das TICs nas salas de aula

    continuar como o demonstrado no levantamento realizado por Coll, Mauri e

    Onrubia (2010), existirá crescimento em relação ao acesso e utilização das

    tecnologias, mas não existirá, na mesma medida, uma utilização consciente

    das informações disponibilizadas. Especificamente, tratando-se da educação,

    as informações não serão transformadas em conhecimento e também não

    haverá reflexão acerca do potencial das TICs para o fortalecimento do cidadão

    e para as atitudes participativas e democráticas (KELLNER, 2004).

    Para que aconteça esta conscientização é essencial que a educação

    tenha uma função mais ativa no desenvolvimento da visão crítica dos alunos.

    Neste sentido, a aplicação das tecnologias digitais em sala de aula poderá

    trazer contribuições. Para tanto, em vez do uso limitado mostrado na pesquisa

  • 43

    realizada por Coll, Mauri e Onrubia (2010), é necessário que as TICs sejam

    utilizadas com a intenção de transpor algumas barreiras. Baseado em Coll e

    Monereo (2010) e em Monereo e Fuentes (2010), destaca-se como possíveis

    usos das TICs:

    Na criação de espaços de vários movimentos sociais e como tecnologia

    persuasiva, ou seja, como tecnologias que possam influenciar os

    usuários para causas nobres.

    No combate à intoxicação informativa, contribuindo para formar alunos

    que saibam gerenciar as informações, utilizando-as da forma mais

    adequada possível.

    Na realização de atividades enriquecedoras, construtivas e criativas.

    Em ações que possibilitem “[...] dotar o usuário de um sentido crítico que

    supere certa aceitação acrítica e relativista que impregna a sociedade-

    rede” (MONEREO, FUENTES, 2010, p. 347).

    Com foco em todas estas necessidades e ainda em outras, autores

    como Kellner (1998; 2001; 2004); De Abreu (2011) e Kellner e Share (2005;

    2008) têm levado adiante estudos sobre alfabetização crítica das mídias.

    Para Kellner e Share (2005), a alfabetização crítica das mídias pode

    tornar-se uma ferramenta para que os alunos possam se transformar em

    pessoas mais atuantes no contexto social, reivindicando para acabar com as

    impunidades e para que se institua um mundo mais justo para todos. Segundo

    De Abreu (2011), a alfabetização midiática pode contribuir para a educação nas

    seguintes formas:

    No estímulo do pensamento crítico (crítica é entendida aqui como a

    reflexão – pensamento profundo, análise e avaliação).

  • 44

    Na alfabetização crítica: Os alunos saem da passividade e se tornam

    criadores e leitores de textos críticos, se envolvem e participam dos

    debates que se apresentam.

    Na criação/produção de conteúdos.

    Na colaboração - Faz com que os alunos aprendam a trabalhar com

    pessoas diferentes; a fazer concessões; e dar uma chance ou momento

    de aprendizado, no qual os estudantes são chamados a ficarem atentos

    para a importância de descobrir um espaço em comum no momento em

    que estejam utilizando o processo democrático (DE ABREU, op. cit.).

    Pressupõe-se que a educação nas instituições de ensino seria mais

    voltada para fins humanistas, conforme a perspectiva de Freire (1971), se a

    incorporação das TICs em sala de aula fosse de forma mais reflexiva e crítica,

    como nos usos apontados por Coll e Monereo (2010) e Monereo e Fuentes

    (2010), bem como naqueles sugeridos por De Abreu (2011).

    Para que isso ocorresse, seria necessário que os docentes tivessem

    uma formação para as TICs de modo a percebê-las como instrumentos

    mediadores de relações e de atividades conjuntas, bem como configuradores

    de espaços de aprendizagem e trabalho.

    3.2 A utilização das TICs no processo de ensino e aprendizagem de

    ciência

    De acordo Osborne e Hennessy (2003) algumas pesquisas têm

    procurado até o presente momento, resumir as diferentes perspectivas dos

    objetivos da educação em ciência e as escolhas significativas que vêm sendo

    feitas do que e como ensinar.

    Verifica-se que o currículo de ciências é ainda impulsionado pela

    transmissão de conteúdos. No entanto, as demandas por mudanças,

    incorporadas em novos currículos, e a ciência do século 21 exigem docentes

    que se adaptem e adotem um conjunto de diferentes práticas pedagógicas.

  • 45

    Uma dessas mudanças é a vontade de se promover uma Alfabetização

    Científica para todos, na qual o objetivo do ensino de Ciências é almejar a

    formação cidadã dos estudantes para o domínio e uso dos conhecimentos

    científicos e seus desdobramentos nas mais diferentes esferas de sua vida

    (CARVALHO; TINOCO, 2006). Essa intenção envolve o desenvolvimento de

    um conhecimento não só de vários temas da ciência, mas também de alguns

    dos discursos e práticas de cientistas, incluindo os processos de construção da

    teoria, tomada de decisão e comunicação, assim como os fatores sociais que

    influenciam o trabalho dos cientistas, embora de maneira simplificada.

    Outra força para a mudança pedagógica na educação em ciências, é

    que os novos modos de questão conferida pelas ferramentas baseadas nos

    recursos computacionais, agora conhecidas coletivamente como, Tecnologias

    da Informação e Comunicação (TICs), têm um papel importante a

    desempenhar na resignificação do currículo e pedagogia da ciência. Em

    particular, oferece fácil acesso a um vasto conjunto de recursos de Internet e

    outras novas ferramentas e recursos que facilitam e aumentam as

    oportunidades de investigação empírica, tanto dentro como fora da sala de

    aula. Assim, num sentido mais real, oferece oportunidades para realizar

    medições de poluição do ar, estatísticas epidemiológicas, ou links diretos para

    telescópios de alta qualidade astronômica, enfim, disponibiliza riqueza de

    informações sobre o fazer ciência. O acesso a tais recursos e dados, portanto,

    coloca maior ênfase na necessidade de fornecer um ensino de ciências que

    tem como meta o desenvolvimento de habilidades cognitivas de avaliação e

    interpretação de situações, que exijam avaliação crítica de validação das

    teorias e suas explicações (OSBORNE; HENNESSY, 2003).

    Tal educação deve apoiar e desenvolver nos alunos um raciocínio

    científico, a reflexão crítica e habilidades analíticas. Qual é, então, o papel do

    docente no uso das TICs para um ensino de ciências que tem como intenção

    incentivar um processo de ensino e aprendizagem, reflexivo e crítico?

    Em resposta nos baseamos em outro estudo referente a uma pesquisa

    realizada pelo Departamento de Educação dos EUA, que diz:

    Muitos de nossos educadores não têm o mesmo entendimento e facilidade para usar as tecnologias que fazem parte do cotidiano dos profissionais de outros setores. O mesmo pode ser dito de muitos dos líderes de educação e formuladores de

  • 46

    políticas nas escolas, distritos e estados e das instituições de ensino superior que preparam novos educadores para o campo. (OTTENBREIT-LEFTWICH, et al., 2012 p.9 )

    Nesta perspectiva, as preocupações com a falta de uso da tecnologia

    levaram os líderes do governo responsáveis pelo ensino superior a colocarem

    uma maior ênfase no oferecimento de mais oportunidades para futuros

    docentes, no que se refere ao uso das tecnologias de informação e

    comunicação, ao longo de seus programas de formação de docentes.

    No entanto, percebe-se que, enquanto o uso apropriado das TICs tem

    claramente um potencial transformador para educação em ciências e

    aprendizagem dos alunos, isso normalmente é encontrado apenas em casos

    isolados de inovação na sala de aula e normalmente associada aos docentes

    entusiastas. Como tal, as TICs, ainda têm necessidades de serem

    incorporadas na cultura do docente em sala de aula tradicional. Parte do

    problema está com o currículo e as medidas de avaliação que reforçam uma

    perspectiva cultural em ensino de ciência através de um processo de

    transmissão (OSBORNE; HENNESSY, 2003). Estes procedimentos têm

    servido para conter o desenvolvimento do uso das TIC em sala de aula de

    maneira que efetivamente venha a explorar a sua interatividade e potencial de

    apoio à ativa participação dos alunos, exploração e colaboração na atividade

    científica.

    Em contraposição, os valores propostos para um novo currículo de

    ciências emergente, que dá maior ênfase no desenvolvimento de habilidades

    críticas e analíticas, são mais favoráveis para fomentar e apoiar a utilização

    das TICs. Esta afirmação reforça o que diz Osborne et al (2002), pois estes

    autores encontraram em sua avaliação do novo currículo para o ensino de

    ciência, que o uso da internet foi relatada como uma característica de

    aproximadamente 50% de todas as aulas. Assim, surge a necessidade de se

    criar um currículo escolar que apresente forte ligação entre a ciência ensinada

    na teoria e a ciência ensinada na práti