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0 UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO UMESP PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE PROCESSOS PSICOSSOCIAIS HAIANA MARIA DE CARVALHO ALVES Impacto do contexto de trabalho e da resiliência sobre o bem-estar no trabalho de profissionais dos Centros de Atenção Psicossocial SÃO BERNARDO DO CAMPO 2015

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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO – UMESP

PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE

PROCESSOS PSICOSSOCIAIS

HAIANA MARIA DE CARVALHO ALVES

Impacto do contexto de trabalho e da resiliência sobre o bem-estar no trabalho

de profissionais dos Centros de Atenção Psicossocial

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2015

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HAIANA MARIA DE CARVALHO ALVES

O impacto do contexto de trabalho e da resiliência sobre o bem-estar de

profissionais dos Centros de Atenção Psicossocial

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Psicologia da Saúde. Área de Concentração: Psicologia da Saúde Linha de Pesquisa: Processos Psicossociais

SÃO BERNARDO DO CAMPO

2015

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HAIANA MARIA DE CARVALHO ALVES

O impacto do contexto de trabalho e da resiliência sobre o bem-estar de

profissionais dos Centros de Atenção Psicossocial

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Psicologia da Saúde. Área de Concentração: Psicologia da Saúde Linha de Pesquisa: Processos Psicossociais

Banca Examinadora:

Profa. Dra. Maria do Carmo Fernandes Martins (Presidente)

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

Prof.Dr. Rafael MarcusChiuzi

UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

Profa. Dra. Márcia Siqueira Andrade

CENTRO UNIVERSITÁRIO FIEO

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Tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza e até a morte: o riso a cavalo e o galope do sonho. É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver.

Ariano Suassuna

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A mim, por ter transformado a conclusão desse mestrado em uma questão de honra pessoal. A Raphael, meu anjo na Terra, presente de Deus, luz da minha vida. A minha família, por todo o suporte e por cuidarem de Raphael na minha ausência.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ter me permitido mais essa conquista.

Foi um longo caminho percorrido até aqui.

Aos meus professores da graduação (UNIVASF), pela formação exemplar,

competente e ética. Agradeço, em especial, aos professores que fizeram toda a

diferença em minha formação enquanto profissional e enquanto “ser no mundo”:

Marcelo Ribeiro, Bárbara Cabral e Verônica Côrtes.

Às experiências vivenciadas dentro da Clínica Santa Terezinha (em Juazeiro/

BA), que fomentaram o meu interesse pela saúde mental. Aos estágios no Centro de

Atenção Psicossocial II – André do Cavaquinho (em Petrolina/PE), pelo convívio com

profissionais comprometidos com a mudança no cenário da saúde mental no Brasil e

por ter conhecido pessoas tão lindas em suas fragilidades e singularidades. Ao

Programa de Ensino pelo Trabalho em Saúde (PET–Saúde), pelas vivências

engrandecedoras e por ter despertado em mim a vontade de ser pesquisadora.

Às dificuldades vivenciadas desde o primeiro dia em São Paulo. Isso me

fortaleceu. Agradeço toda a aprendizagem, sobretudo emocional, adquirida com

essa vivência.

A minha família, por ser meu suporte, pelo apoio e carinho. E, acima de tudo,

por terem cuidado com tanto amor de Raphael. Sem a ajuda de vocês, essa

conquista não teria sido possível!

A Raphael, por ter suportado tão bem minha ausência e por ser esse filho

maravilhoso. Obrigada, filho! Por ter se cuidado sozinho, muitas vezes. Por ser uma

criança admirável e atenciosa como você é. Essa conquista é nossa!!

A minha mãe, pelo apoio incondicional e exemplo, sempre.

A minha orientadora, Maria do Carmo, pelo modelo profissional e ético, por

ser sempre tão solícita e atenciosa. Não poderia ter tido melhor orientadora!!

Obrigada! Obrigada!

Ao meu irmão, Higor, por ser um tio tão presente na vida de Raphael:

levando, buscando, estudando com ele... Gracias, hermano!

A minha madrinha e tia Cleide, por ter me acolhido tantas vezes. A minhas

primas, Paula e Patrícia, por terem me ajudado das mais diversas formas possíveis.

Muito obrigada a vocês!

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A meu tio Beto, por todo o apoio e zelo. Por cuidar da minha mãe e do meu

filho com tanta atenção.

A Luísa Sampaio e Paulo Souza, pela amizade e pelo carinho. Pelo apoio e

incentivo nesse caminho.

A Angelo, pelos nossos anos de convivência, por todas as experiências e

lições que o nosso relacionamento me proporcionou. Hoje sou muito mais forte

graças a essas vivências.

Às amizades que fiz na terra da garoa: Carla, Elainy e Josiane.

A Carla, que me recebeu em sua casa sem nem me conhecer e que a vida

tratou de nos aproximar. Obrigada pelas palavras acolhedoras e sensíveis, por ter

estado próxima mesmo tão longe geograficamente.

A Elainy, parceira de muitos trabalhos, viagens e da vida louca em SP.

A Josiane, por ter me abrigado, me acolhido, ter suportado minhas crises de

choro. Por ter me levado para sua casa e me fazer sentir “em casa”. Não há palavras

para agradecer tanto cuidado! Obrigada, Josita hermosa querida!

Aos professores da pós-graduação, por todo conhecimento e carinho

dispensados. Agradeço, em especial, à Professora Dra. Mirlene Siqueira, pela

competência profissional, pela graça da sua companhia em sala e pelos corredores,

por ter me ensinado tanto!

Aos meus amigos de Petrolina, que permaneceram próximos e muitas vezes

me levantando mesmo: Zara, Pollyana, Jackson, Gabrielly, Juliana, Márcio e

Franciane. Sem vocês, tudo teria sido muito mais difícil. Obrigada pelos conselhos,

pelo ombro amigo, pelos diálogos sem fim, sobretudo pelo afeto que sempre

dispensaram a mim.

Aos meus primos, principalmente Camila, Vinícius e Clayton. Por me

compreenderem, me apoiarem, mesmo a gente brigando e se reconciliando sempre.

Meu amor infinito.

Aos que indiretamente também me ajudaram a chegar aqui: Rômulo Bezerra

e família. Não posso deixar de reconhecer o suporte que vocês deram a Raphael.

Muito obrigada!

Aos profissionais dos CAPS, pelo acolhimento e pela participação na

pesquisa.

A CAPES/PROSUP, pelo apoio financeiro e incentivo.

A Elisângela, por ter me ajudado com os prazos, relatórios e impressões.

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E, porque tudo na minha vida tem trilha sonora, esse momento não seria

diferente:

“Lá no sertão Cabra macho não ajoelha Nem faz parelha com quem é de traição Puxa o facão, risca o chão Que sai centelha Porque tem vez Que só mesmo a lei do cão... É Lampa, é Lampa, é Lampa É Lampião Meu candeeiro encantado Meu candeeiro encantado (...)” Meu Candeeiro Encantado - Lenine

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ALVES, H.M.C. Impacto do contexto de trabalho e da resiliência sobre o bem-estar no trabalho de profissionais dos Centros de Atenção Psicossocial. 2015, 126f.DissertaçãodeMestrado em Psicologia da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde,Universidade Metodista de São Paulo – UMESP, São Bernardo do Campo, 2015.

RESUMO

Este estudo teve como intuito investigar o impacto do contexto de trabalho e

da resiliência sobre o bem-estar no trabalho em profissionais dos Centros de

Atenção Psicossocial (CAPS). Os CAPS são serviços públicos substitutivos ao

modelo asilar para tratamento de pessoas em sofrimento psíquico, preconizado e

fundamentado na Política Nacional de Saúde Mental (PNSM). Para medir o contexto

de trabalho utilizou-se a Escala de Avaliação do Contexto de Trabalho (EACT) que

investiga as condições de trabalho, a organização do trabalho e as relações sócio

profissionais. Já o instrumento utilizado para medir a capacidade dos trabalhadores

em manter o nível de desempenho no trabalho mesmo em situações complexas e

desgastantes foi a Escala de Avaliação de Resiliência no Trabalho (EART). Por

último, investigou-se o nível de bem-estar do público pesquisado através do

Inventário de Bem- Estar no Trabalho (IBET-13). O bem-estar no trabalho tem sido

considerado como um construto psicológico resultado de vínculos positivos com o

trabalho e com a organização. Participaram 81 profissionais dos CAPS das cidades

de Petrolina – PE e São Bernardo do Campo – SP, com idade média de 37 anos

(DP= 10,45), em sua maioria do sexo feminino (65,4%), com níveis de escolaridade

acima do ensino superior e pós-graduação completa (ambos com 29%), que se

declararam casados ou em união estável (39%). Neste estudo, considerou-se bem-

estar no trabalho como variável critério e resiliência no trabalho e contexto de

trabalho como preditores. Foram realizadas análises estatísticas exploratórias e

descritivas, análises de regressão e análises de variância (ANOVA) para descrever

participantes, variáveis e testar o modelo. Os resultados apoiaram parcialmente o

modelo de predição, pois apenas o fator relações sócio profissionais se confirmou

como preditor significativo de Bem-estar no Trabalho, e não houve predição

significativa com as demais variáveis (Condições de Trabalho, Organização do

Trabalho e Resiliência no Trabalho). Estes dados podem revelar que boas relações

sócio profissionais tendem a aumentar o nível de satisfação e comprometimento

organizacional afetivo com a instituição, bem como o aumento do nível de

envolvimento desses profissionais com seu trabalho.

Palavras-chave:Centros de Atenção Psicossocial; Contexto de Trabalho; Bem-estar no trabalho.

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ALVES, H.M.C. (2015) Impact of working context and resilience on the welfare at work of professionals of mental health services. 2015 126f. Dissertation in Health Psychology, Graduate Program in Health Psychology, Methodist University of São Paulo - UMESP, São Bernardo do Campo, 2015.

ABSTRACT

Well-being at work has been regarded as a psychological construct brought

about by positive links with work and with the organization. This investigation, which

approached the impact of working context and resilience on the well-being of the

Psycho-Social Attention Center (CAPS) Professionals from two Brazilian cities aimed

to add findings to the area‟s knowledge. The CAPS are public services replacing the

asylum model for the treatment of people suffering from psychic problems, backed up

by and with foundations on the National Policy for Mental Health (PNSM). The

theoretical conception used in this work, by its turn, approaches resilience at work as

a positive psychological state related to the performance at work even in complex,

wearing-out situations. Regarding working context evaluation, it was considered that

it is depicted as a subjective interpretation of the professionals about the working

conditions, the organization of work, and the social-professional relationship. 81

professionals from the CAPS of cities Petrolina – PE and São Bernardo do Campo –

SP, 37 years old on average (DP = 10.45), mostly female in sex (65.4%), with

schooling above college degree and complete post-graduation (both 29%), who

declared to be married or at stable unity (39%). In this study, well-being at work was

considered as the criterion variable, and resilience at work and working conditions,

as predictors. A quiz was applied to collect the participants‟ social-demographic data

and three valid Brazilian scales, being: Well-being-at-work Inventory (IBET-13),

Resilience-at-Work Scale (ERT), and Work Context Evaluation Scale (EACT).

Statistical, exploratory, and descriptive analysis were carried out, as well as

regression analysis, and variance analyses (ANOVA) to describe participants,

variables, and test the model. The results partly backed up the prediction model, for

the social-professional factor confirmed itself as significant predictor for Well-Being at

Work, when there was no significant prediction from the other variables (Working

Conditions, Working Organization, and Resilience at Work). These data can reveal

that good social-professional relationships tend to increase the satisfaction level and

affective organizational commitment with the institution, as well as the increase in the

engagement level of these professionals with their work.

Keywords: Psycho-Social Attention Centers; Working Context; Well-being at work.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 –Modelo Teórico Hipotético.............................................................. 80

Quadro 1–Descrição dos instrumentos utilizados na pesquisa....................... 90

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Revisão bibliométrica de BET.......................................................54

Tabela 2 – Revisão bibliométrica de RET.......................................................77

Tabela 3 – Número de participantes do estudo..............................................86

Tabela 4 – Características pessoais dos participantes...................................88

Tabela 5 – Valores de Kolmogorov-Smirnov....................................................94

Tabela 6 - Fidedignidade dos instrumentos do estudo...................................98

Tabela 7 – Médias e desvios padrão das variáveis do estudo.......................99

Tabela 8 – Valores dos Quartis.....................................................................101

Tabela 9 - Comparação entre amostras........................................................102

Tabela10 – Correlações entre as variáveis (N = 81).....................................103

Tabela 11 – Resumo do modelo de regressão...............................................105

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................15

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................19

2.1 A história e o trabalho em Saúde Mental no Brasil: A conexão com um contexto

de trabalho empobrecido...........................................................................19

2.2 BEM-ESTAR: SUBJETIVO, PSICOLÓGICO E NO TRABALHO..................19

2.2.1 Bem-estar no trabalho.................................................................................26

2.2.1.1 Satisfação no trabalho.............................................................................40

2.2.1.2 Envolvimento com o trabalho..................................................................43

2.2.1.3 Comprometimento organizacional afetivo...............................................47

2.2.2 Revisão bibliométrica (6 anos)....................................................................53

2.3 Resiliência......................................................................................................56

2.3.1 Resiliência como traço ou processo...........................................................64

2.3.2 Resiliência no Trabalho..............................................................................69

2.3.3 Revisão bibliométrica (6 anos)...................................................................76

3 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA, OBJETIVOS, MODELO E

HIPÓTESES............................................................................................79

3.1 OBJETIVOS GERAL......................................................................................79

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS..........................................................................79

3.3 MODELO TEÓRICO E HIPÓTESES.............................................................80

3.4 DEFINIÇÕES CONSTITUTIVAS E OPERACIONAIS....................................81

3.3.1 Definições constitutivas e operacionais das variáveis do estudo................81

3.3.1.1 Definição das variáveis que integram contexto de trabalho....................81

3.3.1.2 Definição das variáveis que integram resiliência no trabalho..................82

3.3.1.3 Definição das variáveis que integram IBET..............................................83

4 MÉTODO...........................................................................................................83

4.1TIPO DE ESTUDO..........................................................................................84

4.2 PARTICIPANTES...........................................................................................84

4.2.1Procedimentos de amostragem...................................................................87

4.3 INSTRUMENTOS..........................................................................................88

4.3.1 Instrumentos de coleta de dados................................................................88

4.4 LOCAL............................................................................................................91

4.5 PROCEDIMENTOS........................................................................................91

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4.5.1 Procedimentos de coleta de dados...................................................................91

4.5.2 Procedimentos de análises de dados................................................................92

5 RESULTADOS........................................................................................................93

5.1 ANÁLISES PRELIMINARES E LIMPEZA DO BANCO DE

DADOS.......................................................................................................................93

5.2 PRESSUPOSTOS DA ANÁLISE DE REGRESSÃO............................................95

5.2.1 Tamanho da amostra.....................................................................................95

5.2.2 Honestidade das correlações........................................................................96

5.2.3 Singulidade e multicolineraidade entre as VIs...............................................97

5.2.4 Normalidade, linearidade, independência de resíduos, valores extremose

homoscedasticidade...................................................................................................97

5.3 FIDEDIGNIDADE DAS ESCALAS.......................................................................98

5.4 DESCRIÇÃO ESTATÍSTICA DAS VARIÁVEIS...................................................99

5.5 COMPARACÃO DOS GRUPOS DE PETROLINA E SBC.................................101

5.6CORRELAÇÕES ENTRE AS VARIÁVEIS..........................................................102

5.7 REGRESSÃO – O TESTE DA HIPÓTESE PRINCIPAL....................................104

6 DISCUSSÃO.........................................................................................................106

7CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................112

REFERÊNCIAS........................................................................................................117

ANEXOS...................................................................................................................126

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INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, o conceito de trabalho vem sofrendo significativas

mudanças decorrentes das alterações ocorridas na forma de produção de bens e

capitação de mãodeobra consequente da produção capitalista vigente desde a

Revolução Industrial, que ficou caracterizada com “[...] o processo de submissão do

trabalho ao capital, com a gradativa desapropriação dosmeios de produção e a

decorrente geração da força de trabalho livre” (KRAWULSKI, 1998, p. 9).

As repercussões dessas mudanças têm produzido impactos sobre a força de

trabalho, refletidos nas relações trabalhistas e na saúde do trabalhador. Ainda que

essas relações sejam exploradas desde a Antiguidade, estudos sistemáticos acerca

desse tema só começaram a ser produzidos com maior tenacidade após a

Revolução Industrial, “devido à necessidade de manter-se um padrão de produção

sem perda de mão de obra, muitas vezes considerada especializada pelos padrões

da época, e pelo crescimento demasiado dos centros urbanos” (CODO et al., 2004,

p. 277). Desde então, muitas pesquisas têm sido desenvolvidas no que se refere à

díade trabalho-saúde, impulsionados por uma exigência teórica e do mercado de

trabalho.

No que se refere ao trabalho entre profissionais de saúde, particularmente no

campo da saúde mental, muitas alterações vêm ocorrendo nos últimos anos, desde

o início da Reforma Psiquiátrica Brasileira na década de 1980 até a aprovação do

Sistema Único de Saúde (SUS) em 1988. Esses marcos implicaram em

transformações nas práticas dos trabalhadores de saúde, bem como na ampliação

do seu lócus de trabalho, antes restrito ao modelo médico-hegemônico caracterizado

pela supervalorização do médico em detrimento dos outros profissionais e do

hospital como instância articuladora do sistema de saúde pública (SANTOS, 2004).

No entanto, a consolidação do SUS trouxe um sério problema a ser discutido

sobre a gestão de trabalho em saúde, pois em sua implementação houve um agravo

na precarização do trabalho em saúde

representada pela desregulamentação e flexibilização na forma de contratação dos trabalhadores, inclusive sem o estabelecimento de vínculo empregatício com a administração pública [...], ocasionando uma desproteção social e desrespeito aos direitos trabalhistas com salários „achatados‟ e condições de trabalho insatisfatórias (GUIMARÃES et al., 2011, p. 2.149).

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Assim, a precarização do trabalho em saúde e a consequente desvalorização

dos profissionais dessa área podem ocasionar diversos problemas para a condição

geral da saúde e do bem-estar desses indivíduos, tais como ansiedade, medo,

insegurança, tensões, o que pode, de fato, comprometer o desenvolvimento

profissional desses trabalhadores, bem como adoecer esses sujeitos, prejudicando

suas condições físicas, emocionais e mentais para o desempenho laboral. Nesse

contexto, entende-se que más condições de trabalho possam prejudicar o bem-estar

e que a resiliência, compreendida como uma capacidade desenvolvível de

recuperar-se de adversidades (LUTHANS; VOLGELGESANG; LESTER, 2006), deva

promovê-lo.

Pesquisas sobre bem-estar no trabalho (BET) apontam que esse é um

aspecto fundamental para o desempenho do trabalhador em suas práticas

laborativas, além de influenciar sua saúde e impactar nos resultados

organizacionais, no desempenho desse trabalhador, no absenteísmo e na

rotatividade (SIQUEIRA; PADOVAM, 2008; DESSEN; PAZ, 2010; MARTINS;

SIQUEIRA; CHIUZI, 2012). Bem-estar no trabalho é resultado de um grupo de ações

que se iniciam quando o trabalhador seleciona características positivas relacionadas

ao contexto de trabalho, como se sentir útil, satisfeito com as atividades que

desempenha e com seu papel na organização, nutrindo bons sentimentos como

envolvimento com seu trabalho ou função, sentindo, direta ou indiretamente, que seu

dia foi produtivo. Dessa forma, supõe-se que foi proveitosa sua produção e,

consequentemente, sente-se comprometido afetivamente com a organização que o

emprega.

Já as pesquisas sobre a resiliência no trabalho são relativamente recentes; o

assunto ainda é pouco investigado. Segundo Rutter (1985), a resiliência se configura

como uma resposta positiva dada pelo indivíduo ao estresse e às adversidade que

enfrenta. No entanto, a construção de resiliência em trabalhadores é resultado de

um

[...] mundo em constantes alterações que traz consigo várias de rupturas, com reflexos importantes sobre a saúde do trabalhador, o qual se esforça para ajustar sua identidade à metamorfose do mundo. Como meio de ajustamento às novas condições e exigências do trabalho, à flexibilidade de ação, de estrutura e de vida pessoal, tornou-se fundamental (MALVEZZI et al., 2008, p. 103).

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Sabe-se que a resiliência é um assunto promissor para a compreensão dos

fatores presentes nas organizações, que podem prejudicar ou ajudar os indivíduos

na resolução das intercorrências cotidianas. Assim, a ampliação de pesquisas sobre

a resiliência no contexto de trabalho pode enriquecer a compreensão de possíveis

relações com outros construtos da área e resultar em avanços importantes na

apreensão das condições fundamentais que os indivíduos necessitam para poder

desenvolver habilidades adaptativas e que sejam capazes de responder

positivamente aos processos cotidianos, muitas vezes estressores.

Neste estudo, pretende-se estender uma investigação anteriormente realizada

como trabalho de conclusão de curso (TCC), intitulada “A influência dos vínculos

organizacionais na consolidação dos Centros de Atenção Psicossociais” (ALVES;

RIBEIRO; CÔRTES, 2013), cujos resultados evidenciaram a necessidade de se

investigar as condições de trabalho nos CAPS e o impacto delas no bem-estar e na

resiliência de seus profissionais, já que o trabalho citado apontou que esses estão

expostos a más condições no contexto de trabalho, que geram insatisfação: falta de

insumos para execução de suas atividades, de recursos humanos e de

reconhecimento profissional, acúmulo de função e sobrecarga de trabalho. Além

desses, outros aspectos negativos relacionados às condições do contexto de

trabalho em CAPS que os participantes da investigação de Alves et al. (2013)

apontam incluem o fato de a maioria desses funcionários estar vinculada a esses

serviços por meio de contratos anuais, não possuindo estabilidade e benefícios

trabalhistas, tais como férias, plano de saúde, décimo terceiro salário, folga, entre

outros. Isso deixa evidente a vulnerabilidade desses profissionais, que, apesar de

serem profissionais de saúde mental, não possuem qualquer assistência voltada

para a própria saúde. Assim, levando em consideração esses resultados e os de

outros estudos (GUIMARÃES; JORGE; ASSIS, 2011; REBOUÇAS; LEGAY;

ABELHA, 2007; FEURERWERKER, 2005) que apontam dados semelhantes à

pesquisa realizada por Alves et al. (2013), o presente trabalho visa investigar se as

condições de trabalho e a resiliência produzem impacto no bem-estar dos

trabalhadores dos CAPS.

Esta investigação, que aborda o impacto das condições de trabalho e da

resiliência sobre o bem-estar de profissionais dos CAPS se justifica pelo potencial de

poder acrescentar achados aos conhecimentos da área. Resultados de pesquisas

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anteriores sugerem que bem-estar e resiliência no trabalho produzem impacto sobre

a saúde dos trabalhadores (MALVEZZI et al., 2008; RESENDE, MARTINS;

SIQUEIRA, 2010; CHIUZI; MARTINS; SIQUEIRA, 2012; MARTINS; EMÍLIO, 2012).

Além disso, compreender melhor essas relações pode resultar em benefícios aos

atendidos por esses profissionais, na dinâmica dos serviços prestados por eles e em

sua postura profissional.

Apesar do crescimento das pesquisas sobre bem-estar no trabalho nos

últimos anos devido principalmente ao “número crescente de transtornos mentais e

do comportamento associados ao trabalho” (JACQUES, 2003, p. 98), no Brasil,

segundo dados do INSS, os transtornos mentais ainda ocupam a terceira posição

entre as causas de concessão de benefícios previdenciários como auxílio-doença,

afastamento do trabalho por mais de 15 dias e aposentadorias por invalidez

(BRASIL, 2001). Esses dados evidenciam que, além do alto custo para a previdência

social brasileira, o adoecimento dos trabalhadores está estritamente vinculado ao

trabalho em si e às relações cultivadas nestes ambientes. Estudos mais específicos

sobre a resiliência e o bem-estar em trabalhadores podem colaborar para o

desenvolvimento de novas habilidades nesses indivíduos, a fim de que consigam

apreender melhor as condições de seu trabalho e possam, consequentemente, ter

respostas mais positivas e adaptativas em relação a esse contexto, pois, segundo

Waller (2001 apud Malvezziet al.,2008, p.104):

[...] encontram-se indicações de que não é na ausência da adversidade, mas muitas vezes, em função de sua presença, que ocorre o processo de resiliência e é o enfrentamento mesmo da situação adversa que possibilita o crescimento psicológico do indivíduo, promovendo benefícios à saúde mental (WALLER, 2001 apud MALVEZZI et al., 2008).

Dessa forma, o trabalho terá um significado mais prazeroso e coerente para

esses trabalhadores, que possivelmente adoecerão menos e prestarão serviços

mais humanizados ao público que atendem. Podem, outrossim, colaborar para que

melhores condições de trabalho sejam respeitadas, caso se confirme a hipótese de

que elas sejam preditoras de bem-estar no trabalho, já que estudos têm revelado ser

esse um preditor de resultados organizacionais e de saúde (RESENDE; MARTINS;

SIQUEIRA, 2010; CHIUZI; MARTINS; SIQUEIRA, 2012; EMÍLIO; MARTINS, 2012).

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A segunda justificativa para a presente pesquisa refere-se ao fato de os

CAPS serem instituições relativamente novas, que ainda estão em processo de

consolidação e nas quais alterações importantes ainda podem ser realizadas. Essa

peculiaridade abre amplas possibilidades de investigação acerca deste trabalho,

desses indivíduos e de como, apesar de tantas dificuldades e intercorrências,

conseguem manter o funcionamento de serviços complexos como o CAPS e

gerenciar os processos emocionais e psicológicos decorrentes do trabalho.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A HISTÓRIA E O TRABALHO EM SAÚDE MENTAL NO BRASIL: A CONEXÃO

COM UM CONTEXTO DE TRABALHO EMPOBRECIDO

A reforma psiquiátrica no Brasil começou de forma tardia, na década de 1970,

paralelamente ao “movimento sanitário”, que visava à mudança dos modelos de

atenção e gestão nas práticas de saúde, defesa da saúde coletiva, equidade, entre

outros (BRASIL, 2005). Apesar de ser contemporâneoà Reforma Sanitária, o

processo da reforma psiquiátrica brasileira tem um contexto singular, consequente

de um panorama internacional de mudanças pela modificação do cuidado às

pessoas com sofrimento psíquico e, dentre outras coisas, pela extinção do

tratamento e violência asilar.

O movimento da Reforma Psiquiátrica Brasileira fomentou a construção de

políticas e de mecanismos substitutivos ao modelo manicomial asilar. Esse

movimento teve amplo alcance político e social no Brasil, tendo como precursor a

crise da Divisão Nacional de Saúde Mental (DINSAM), resultado de reivindicações

dos trabalhadores da área de saúde mental por melhores condições de trabalho. A

repercussão alcançada por esse movimento culminou em vários debates e

discussões sobre o tema, gerando novas propostas e consequentes mudanças na

atenção à saúde, em especial na saúde mental (ALVES et al., 2013, p. 2.966).

Nesse panorama de mudanças, políticas públicas foram criadas e a extinção

progressiva dos hospitais psiquiátricos foi um dos pilares dessas transformações. No

lugar desses, foram criados serviços comunitários substitutivos, tais como os

Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), que têm importância na conjuntura atual

nos serviços públicos de saúde mental no Brasil e se configuram enquanto

[...] serviços comunitários ambulatoriais e regionalizados, nos quais os pacientes deverão ter acesso a consultas médicas, visitas domiciliares, atendimentos terapêuticos individuais e/ ou grupais. Além disso, podem participar de ateliês abertos, de atividades lúdicas e recreativas promovidas pelos profissionais do serviço, de maneira mais ou menos intensiva e articulada em torno de um projeto terapêutico individualizado, voltado para o tratamento e reabilitação psicossocial, devendo também haver iniciativas extensivas aos familiares e às questões de ordem social presentes no cotidiano dos usuários (ONOCKO-CAMPOS; FURTADO, 2006, p. 1.055).

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Desse modo, segundo dados do Ministério da Saúde (BRASIL, 2005), o

CAPS é um serviço gratuito, vinculado ao Sistema Único de Saúde (SUS), que

atende usuários que tenham algum sofrimento psíquico. O foco principal dessas

instituições é a reinserção social desses usuários, restabelecendo sua cidadania,

além de fornecer apoio, atividades e ser um centro de referência para seus usuários

e familiares.

No que concerne à equipe técnica dos CAPS, essa geralmente inclui

psiquiatras, psicólogos, pedagogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais,

enfermeiros, técnicos de enfermagem, farmacêuticos, técnicos administrativos,

auxiliares de serviços gerais, vigilantes, técnicos educacionais e artesãos, podendo

haver variações em cada tipo de serviço, segundo a necessidade de cada

instituição. A portaria nº 336/GM, de 19 de fevereiro de 2004 (BRASIL, 2010), que

redireciona o modelo assistencial em saúde mental, estabelece a quantidade de

profissionais nesses serviços de acordo com a demanda municipal, bem como

preconiza quais as atividades devem ser ofertadas e supervisionadas nessas

instituições.

Além dessas características operacionais do trabalho em CAPS, existe a

compreensão desses trabalhadores acerca do conceito de loucura e os modos de

perceber e lidar com essa realidade também pode interferir no cotidiano em saúde

mental,

[...] que representa grandes desafios, em virtude de sua complexidade, que comportam diversas interfaces, as quais vão da reestruturação dos serviços à qualidade da assistência prestada, passando pelas relações de trabalho e pela adoção de novos saberes, tecnologias e metodologias de trabalho (GUIMARÃES et al., 2011, p. 2.146).

Toda essa conjuntura de mudanças e de exigências, muitas vezes

desconectadas, pode contribuir para a falta de articulação entre os profissionais,

para o adoecimento deles, sua rotatividade e absenteísmo no serviço.

Feurerwerker (2005) defende ser imprescindível perceber que, nesse

processo de transição pelo qual a saúde mental vem passando no país, os

profissionais desses serviços ganham uma acuidade particular, pois, devido à

desarticulação política e a problemas nas gestões municipais e estaduais, são eles

que operacionalizam os serviços, que prestam assistência aos usuários, e, dessa

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maneira, apesar do contexto de trabalho e da falta de reconhecimento profissional,

são eles que mantêm os serviços funcionando.

Apesar de haver poucos estudos nacionais acerca desse tema, segundo

Rebouças et al. (2007), existem pesquisas internacionais que abordam este tema

apontam o trabalho em saúde mental como sendo, potencialmente, um fator de

estresse e esgotamento, que pode comprometer a qualidade da assistência

prestada nesses serviços e, consequentemente, inviabilizar a continuidade desses

estabelecimentos. Assim sendo, os aspectos relacionados à saúde e ao trabalho

estão imbricados socialmente e são relevantes cientificamente, pois, segundo

CODO et al. (2004, p. 276), “parte significativa dos fenômenos que a psicologia

estuda provém, tem sua origem, é explicada no e pelo trabalho. O trabalho é um

objeto necessário para se compreender os fenômenos psicológicos”. Dessa

maneira, o trabalho pode ser compreendido como parte constitutiva do sujeito,

interferindo e influenciando em suas experiências de vida e saúde no geral.

2.2 BEM-ESTAR: SUBJETIVO, PSICOLÓGICO E NO TRABALHO

O conceito de felicidade sempre foi algo que intrigou os seres humanos, e,

desde a Grécia Antiga, Aristóteles e outros filósofos já buscavam apreender seu

significado, amplitude e como a felicidade poderia influenciar na vida pessoal e na

dinâmica social dos seres humanos (KEYES; SHOMOTKIN; RYFF, 2002).

O bem-estar, durante muito tempo, esteve associado ao conceito de

felicidade, e, dessa forma, permaneceu desfavorecido no meio científico, pois os

cientistas consideravam esse tema um tanto amplo e sem relevância para as

pesquisas científicas (DIENER; SCOLLON; LUCAS, 2003; WILSON, 1967). Fatores

sociais e históricos, como a Segunda Guerra Mundial e suas consequências,

também favoreceram para que a psicologia científica detivesse sua atenção nas

novas patologias e na busca de cura para as novas patologias pós-guerra. Assim,

até pouco tempo atrás, não havia espaço para pesquisas que buscassem “a

identificação de fatores promotores de bem-estar” (RESENDE, 2008, p. 15).

As primeiras pesquisas sobre o tema usavam diversos termos para tentar

compreender esse conceito, tais como: felicidade, satisfação, estado de espírito,

moral, afeto positivo, avaliação subjetiva de vida, entre outros (DIENER, 1984).

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Apesar de o construto de bem-estar ter sido separado do conceito de

felicidade procedente da filosofia, as concepções científicas mais relevantes sobre o

bem-estar no campo psicológico podem, segundo Ryan e Deci (2001), ser

organizadas em duas vertentes: a hedonista, que aborda a felicidade e adota uma

visão de bem-estar vinculada ao prazer e ao estado subjetivo de felicidade, e a

eudaemônica, que investiga o potencial humano, sua capacidade de pensar, usar o

raciocínio e o bom-senso, e que seria considerada como bem-estar psicológico.

O conceito de bem-estar dentro do campo da Psicologia possui várias

concepções, evidenciando que existem construções teóricas divergentes com

objetos de estudo distintos, dentre eles: o bem-estar subjetivo (segundo a visão

hedônica), bem-estar psicológico (sobre a ótica das potencialidades intrínsecas),

bem-estar social (fruto das habilidades no trato e inserção social) e bem-estar no

trabalho (conjunto de vínculos positivos com o trabalho e a organização). O presente

trabalho enfatizará o bem-estar no trabalho e suas principais concepções teóricas,

apoiado na Psicologia Positiva, que visa investigar os aspectos positivos na relação

indivíduo-organização, contrapondo-se às concepções patologizantes sobre as

relações de trabalho.

As pesquisas sobre a felicidade humana iniciaram-se no final da década de

1950, com o intuito de buscar e identificar os promotores de qualidade de vida.

Nesse período, as investigações queriam entender sistematicamente os aspectos

que favoreciam uma existência feliz, a fim de monitorar a mudança social que vinha

ocorrendo no período e melhorar as condições sociais dos sujeitos (LAND, 1975).

Importantes teóricos dessa fase elucidaram que, embora as pessoas vivessem em

determinados ambientes, favoráveis ou não para sua qualidade de vida, de acordo

com os aspectos teóricos produzidos até o período, eram os aspectos subjetivos de

cada um deles, a forma como compreendiam e percebiam sua realidade, que

determinariam o seu nível de bem-estar (ANDREWS; WHITNEY, 1976; CAMPBELL;

CONVERSE; RODGERS, 1976). A partir desses resultados, a percepção individual

de felicidade passou a ser entendida como fator extremamente relevante para a

qualidade de vida das pessoas. Seguidamente, outras influentes produções teóricas

destacaram que a satisfação com a vida e a felicidade seriam componentes cruciais

para a qualidade de vida (BRADBURN, 1969; CANTRIL, 1965; GURIN; VEROFF;

FELD, 1960). Esses resultados favoreceram o interesse por pesquisas sobre o

desenvolvimento pessoal e bem-estar, que ganhou destaque na literatura científica a

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partir de 1960 (RYAN; DECI, 2001), com o intuito de descobrir os indicadores da

felicidade subjetiva, a fim deque se pudesse monitorar o ambiente social e

influenciarpolíticas públicas (KEYES; SHMOTKIN; RYFF, 2002).

O termo bem-estar subjetivo foi utilizado pela primeira vez por Diener em

1984.Ao fazer uma longa revisão teórica sobre os conceitos de bem-estar e

felicidade, esse autor constatou que poucos progressos conceituais haviam sido

realizados desde os antigos filósofos gregos, e que o conceito de bem-estar

permanecia atrelado à felicidade. Ao revisar toda a construção teórica existente até

então, Diener (1984) conseguiu distribuir o conceito de felicidade em três categorias:

o bem-estar definido como uma virtude ou santidade, o bem-estar como uma

avaliação geral positiva da vida e, por fim, o emprego desse termo pela forma que é

utilizado cotidianamente, como sendo a preponderância dos afetos positivos em

detrimento dos sentimentos negativos.

Ao denominar o conceito de bem-estar subjetivo (BES), Diener (1984)

conseguiu estabelecer sua constituição teórica como sendo um ideal subjetivo do

que seria ter uma vida, boa, justa e feliz. Isso significa que BES é um esforço

pessoal para a realização do potencial humano (HUDSON, 1996) e, por isso, seria

um estado desejável julgado a partir de uma perspectiva particular do sujeito. Esse

conceito é composto por três características fundamentais que o distingue de outros

conceitos: a subjetividade, medidas positivas e uma avaliação global. A

subjetividade diz respeito a uma concepção intrínseca do indivíduo sobre sua

vivência e que não pode ser avaliada mediante condições externas, e sim através do

autorrelato do sujeito, que constrói essa experiência através de suas crenças, seus

padrões e valores para motivar uma vida feliz. As medidas positivas configuram a

prevalência de afetos positivos no estudo de BES em detrimento dos afetos

negativos, e, por último, a avaliação global, que abarca todos os aspectos da vida do

indivíduo, mas que possui a ênfase da sua avaliação sobre os afetos e a satisfação

com os outros aspectos da vida (MELO, 2007). Assim, Campbell (1976) afirma que o

BES é uma experiência interna de cada indivíduo, ou seja, ele é apreendido e

avaliado por meio das experiências individuais e subjetivas, consistindo numa

autoavaliação manifestada frente a sentimentos positivos que se sobressaem aos

afetos negativos, pela avaliação geral com a vida como um balanço global da saúde,

trabalho, independência, vida afetiva, entre outros. Ou seja, a forma como as

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pessoas enxergam e percebem os aspectos positivos da sua vida perpassa por

questões afetivas e cognitivas (ALBURQUERQUE; TRÓCCOLI, 2004).

Contudo, o BES está sendo estudado como um processo cognitivo de

julgamento e atribuição de valores de acordo com a experiência emocional do

sujeito, englobando os fatores emocionais subjetivos, como metas e perspectivas de

vida, percepção da realidade, fatores sociais e culturais (DIENER, 2000).

Os estudos acerca do bem-estar psicológico (BEP) durante muito tempo

estiveram associados ao bem-estar subjetivo (BES), e com o trabalho de Ryff (1989)

foi possível definir a estrutura básica que abarcaria esse conceito em sua totalidade.

Em seus trabalhos, Ryff discrimina a diferença entre bem-estar subjetivo (BES) e

bem-estar psicológico (BEP), definindo esse último como sendo competências do

self referentes a diferentes níveis de satisfação e afetos que vão sendo

desenvolvidas ao longo da vida.

O principal modelo teórico utilizado na atualidade compreende seis aspectos

construtores do BEP: a autoaceitação, relações positivas com os outros, autonomia,

domínio ambiental, objetivo na vida e crescimento pessoal. A autoaceitação é vista

como uma característica central para a saúde mental, caracterizada pela

autorrealização, funcionamento ideal e maturidade. As relações positivas com os

outros são expressas pela capacidade do sujeito em manter relações afetivas e

empáticas com as pessoas ao seu redor através de uma relação interpessoal de

confiança. A autonomia é caracterizada por aspectos como autodeterminação,

independência e controle das emoções. O domínio ambiental é composto pela

capacidade de escolher e criar ambientes adequados às suas condições psíquicas,

ou seja, seria a habilidade de interagir e modificar o mundo externo para torná-lo

mais favorável a si mesmo. Possuir um objetivo na vida é compreendido como ter

senso de direção, disposição e intenção, a fim de tornar a vida significativa. E, por

último, o crescimento pessoal é tido como a capacidade de manter o próprio

processo de desenvolvimento, priorizando a autorrealização e a realização das

próprias potencialidades.

Ryff (1989; 1992) propôs esse modelo teórico o qual foi fundamentado

segundo os preceitos aristotélicos de eudaimonia, que denota a busca pela

excelência pessoal e não a busca de prazer, como motivação central da existência

humana (QUEROZ; NERI, 2005, p. 292). Esse conceito demonstra que o senso de

bem-estar psicológico é compreendido pela relação e interação entre as

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oportunidade e as condições de vida do sujeito, que é característico de como as

pessoas organizam o conhecimento sobre si e sobre os outros e, posteriormente, as

formas como respondem às demandas pessoais e sociais (QUEROZ; NERI, 2005).

Outros autores, como Keyes e seus colaboradores (2002),também

investigaram a relação entre os construtos bem-estar psicológico e bem-estar

subjetivo. Esses autores acreditavam que ambos os construtos fossem

conceitualmente relacionados e empiricamente separados e que os resultados se

divergiam apenas em relação aos dados sociodemográficos, como idade, nível de

escolaridade e de personalidade. Porém, os resultados da pesquisa de Keyeset al.

(2002) revelaram que essas escalas se diferem na compreensão do funcionamento

psicológico positivo, no que concerne à avaliação do propósito de vida e do

crescimento pessoal. BES envolve avaliações mais globais do afeto e da qualidade

de vida, enquanto que BEP investiga como o indivíduo prospera frente aos desafios

existenciais da vida, por exemplo, buscando objetivos de vida significativos, para

que possa crescer e se desenvolver como pessoa e estabeleça laços de confiança

com os outros. Assim, a dita felicidade depende do comprometimento em buscar

uma vida significativa e com propósito, e por isso BEP antecede BES.

Dessa forma, a pesquisa de Keyeset al. (2002) resultou na confirmação de

que as duas tradições de bem-estar são empiricamente distintas, mas que se

complementam no sentido de que podem ser utilizadas como variáveis mediadoras,

dependendo da teoria orientadora. Assim, pode-se inferir que, quando essas

variáveis existem em níveis equivalentes, BES e BEP podem complementar um ao

outro, favorecendo uma percepção de autocongruência (KEYES et al., 2002). Ou, de

outro modo, que, para o indivíduo alcançar níveis satisfatórios de bem-estar

subjetivo, deve procurar desenvolver habilidades adaptativas frente às adversidades,

possuir objetivos na vida, relações interpessoais afetivamente satisfatórias,

capacidade de conviver e de alterar os ambientes a favor de si mesmo, a fim de que

possa prosperar na vida.

Os conceitos de bem-estar subjetivo e bem-estar psicológico foram expostos

com maior cuidado teórico, pois eles ajudaram a fundamentar e consolidar o

construto de bem-estar no trabalho, um dos objetos teóricos desta pesquisa.

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2.2.1 Bem-estar no trabalho

A concepção de bem-estar no trabalho está em construção na literatura e

ainda não possui muito consenso prático. Isso é decorrente, principalmente, da

variedade de abordagens e modelos teóricos encontrados sobre o tema. Por muito

tempo, assim como ocorreu com as pesquisas generalistas sobre a psicologia, a

literatura que estuda as relações entre características humanas e o trabalho focou-

se nas consequências negativas do trabalho na vida do trabalhador e,

consequentemente, apreendia a organização como a principal fomentadora do

adoecimento desse sujeito.

A relação homem-trabalho é algo tão antigo que está vinculada à própria

história do desenvolvimento do ser humano. Histórica e politicamente, a humanidade

se estrutura, quase em sua totalidade, em função do conceito de trabalho (ARAÚJO;

SACHUK, 2007). Até o período dos feudos, do ponto de vista econômico, o trabalho

era autossuficiente porque produzia os bens necessários para a manutenção dos

seus habitantes e para as trocas. Segundo Rubano e Moroz (2003), o controle do

trabalho era exercido pela produção, o que permitia ao trabalhador o domínio da

técnica, administração do tempo e maior liberdade, apesar da ausência dos direitos

políticos.

A partir desse período, o comércio ganhou impulso e as cidades começaram

a surgir paralelamente aos feudos. O comércio deixa de ser restrito aos feudos e à

própria cidade e passa a existir o intercâmbio de mercadorias e dos produtores. O

movimento dessas relações comerciais modifica de tal forma a concepção de

trabalho que a industrialização da mão de obra não tardou a chegar, ocasionando a

crise no sistema feudal. Esse momento pode ser descrito como “a crise da ordem

feudal, fundada na subsistência e na servidão, e o desenvolvimento do comércio e

das atividades manufatureiras organizam uma nova estrutura social: a sociedade

capitalista” (ARAÚJO; SACHUK, 2007, p. 58).

A indústria moderna e o desenvolvimento do capitalismo caminharam juntos;

as mudanças ocorridas foram drásticas no que concerne à forma de trabalhar e ao

valor do trabalho. Nesse período, o trabalho ganha outra conotação e passa a ser o

foco central da vida e do desenvolvimento do ser humano. Desde então, o homem

perdeu a autonomia sobre sua força de trabalho e começou a depender das

organizações como mediadora para o desempenho laborativo, para obtenção do seu

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sustento, e como principal instrumento de favorecimento ou desfavorecimento desse

trabalhador. Ou seja, exceto pelos recursos individuais para o seu desenvolvimento,

é a organização que possui o controle das variáveis que podem tornar esse trabalho

saudável ou não, que pode favorecer o desenvolvimento profissional desse sujeito, a

fim de que ele possa significar o trabalho em busca de sua autorrealização

(ARAÚJO; SACHUK, 2007).

No entanto, nem sempre as organizações estiveram com o olhar focado no

florescimento dos seus trabalhadores. Durante muito tempo, as empresas estiveram

focadas apenas na produtividade e na lucratividade, desconsiderando os aspectos

referentes ao bem-estar desses trabalhadores. Com o desenvolvimento e expansão

da globalização, o contexto das organizações vem se modificando com bastante

rapidez e se exigem dessas organizações uma maior produtividade e flexibilidade

para conseguirem adaptar-se às demandas do mundo globalizado e capitalista

(ROSSEAU, 1997 apud ARAÚJO; SACHUK, 2007). Toda essa velocidade de

informação e de exigências tem levado as empresas a empreenderem maior

atenção na sua força de trabalho, buscando promover melhorias nas condições

laborativas, bem como na qualidade de vida do trabalhador, pois hoje há uma maior

compreensão do seu valor no alcance e na manutenção dos resultados

organizacionais.

Os estudos sistematizados acerca do bem-estar no trabalho eclodiram nos

anos 1980, inicialmente com um trabalho de Warr (1987), que apresentou um

modelo para a investigação da saúde mental. Esse modelo fomentou diversas sobre

o bem-estar no trabalho segundo as perspectivas do bem-estar psicológico

(descritores) e possuía o objetivo de compreender o impacto de variáveis do

contexto de trabalho, em forma de emprego ou desemprego, sobre a saúde mental

do sujeito.

O modelo proposto por Warr (1987) para a investigação da saúde possui

cinco dimensões: bem-estar, competência, autonomia, aspiração e integração. O

bem-estar seria um estado afetivo positivo do indivíduo composto por duas variáveis:

prazer e excitação. Considerava que altos níveis de prazer refletiam uma boa saúde

mental e a excitação seria um componente independente e potencializadordas

características,ou seja, poderiaestar associadoa altos níveis de prazer (alta saúde

mental) como a baixos níveis (baixa saúde mental). A segunda variável,

competência composta por habilidades emocionais, cognitivas e psicomotoras,

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refere-se aos recursos psicológicos adquiridos pelo sujeito para enfrentar as

adversidade cotidianas e as pressões do dia a dia. O autor enfatiza que a noção de

competência varia de sujeito para sujeito dependendo do contexto no qual o

indivíduo está inserido.

A terceira variável, a autonomia, compreende as habilidades individuais para

resistir e administrar as pressões do ambiente, de forma que possa construir suas

próprias opiniões e fundamentar suas ações. É a capacidade do sujeito de atuar

sobre o ambiente de forma independente e interdependente, composta por suas

opiniões, responsabilidade e interação social. A quarta variável, a aspiração,

consiste no interesse do indivíduo pelo ambiente no qual está inserido e manifesta-

se pelo estabelecimento de metas e pelo esforço ativo para atingi-las (WARR, 1987).

Níveis moderados de aspiração revelam boa saúde mental, enquanto que níveis

muito baixos ou muito altos comprometem a saúde mental do sujeito, já que ambas

as polaridades revelam que o sujeito subestima ou superestima demais suas

capacidades .Por último, existe a variável denominada integração, que se refere ao

funcionamento integrado e geral do indivíduo. Diferentemente das outras variáveis,

essa é uma dimensão qualitativa e compreende a relação entre as outras quatro

componentes. Para esse autor, uma pessoa psicologicamente saudável deve

possuir uma integração das quatro variáveis acima, para que possa ter uma vida

equilibrada e em harmonia. Esse modelo proposto por Warr (1987) obteve boa

aceitação no meio acadêmico e de pesquisa, favorecendo as pesquisas voltadas ao

contexto de trabalho.

As primeiras pesquisadas sobre o bem-estar no trabalho utilizavam aspectos

conceituais do bem-estar subjetivo e de satisfação no trabalho para avaliar o BET, e,

por isso, o conceito, até recentemente, esteve associado a afetos positivos que o

indivíduo apresentava pelo seu trabalho (SOUZA-POZA; SOUZA-POZA, 2000). A

revisão teórica do conceito foi realizada por Brief e Roberson (1989 apud

PASCHOAL; TAMAYO, 2008), quando esses autores constataram a existência de

vários outros estudos nos quais o bem-estar ocupacional não se restringia apenas a

elementos afetivos como a satisfação no trabalho.

Outros pesquisadores seguiram analisando o bem-estar ocupacional, e

Daniels (2000), baseando-se em outras pesquisas existentes na área, as quais

utilizavam o BEP no contexto de trabalho, revela que esses autores estavam

misturando o bem-estar em si com os possíveis aspectos cognitivos antecedentes.

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Dessa forma, utilizou como base em suas pesquisas o bem-estar afetivo no trabalho,

pois, conforme esseautor, o aspecto mais importante do bem-estar é o afeto. Daniels

(2000) buscou delimitar e sistematizar a estrutura do conceito de bem-estar no

trabalho, focando sua investigação nas respostas dos indivíduos, nas características

pessoais desses e nas experiências advindas do ambiente laboral. Para ele, o bem-

estar afetivo consiste num processo cumulativo de afetos em relação a todas as

esferas da vida, e por isso poderia ser direcionado às relações de trabalho. Os

afetos nessa esfera correspondem aos humores e às emoções vivenciadas pelo

trabalhador em seu ambiente de trabalho e fora dele. Daniels (2000) propõe apenas

a consideração do afeto na avaliação do bem-estar no trabalho, ou seja, que o bem-

estar deve ser investigado enquanto prevalência de emoções positivas no trabalho.

Ao se falar de afeto no meio organizacional, existem duas linhas de pesquisas

preponderantes no assunto: o estudo do humor e das emoções no trabalho. De

acordo com Brief e Weiss (2002), durante quase um século de pesquisas, oafeto

esteve erroneamente vinculado à satisfação no trabalho, sendo considerados como

construtos equivalentes. Os estudos acerca das emoções e do humor no trabalho

tiveram um ápice na década de 1930, fruto do fenômeno social da época que

buscava compreender a importância dos sentimentos na vida do trabalhador e da

ampliação dos métodos para sua investigação (FISHER; HANNA, 1931;

KORNHOUSE; SHARP, 1932).

Os estudos realizados durante esse meio século estavam restritos aos

instrumentos investigativos, não faziam uso de instrumentos qualitativos ou de

entrevistas e permaneciam focados no ambiente laboral, não considerando as

relações econômicas, os afetos e as relações fora desse ambiente (BRIEF; WEISS,

2001). Em meados dos anos 1980 e início dos anos 1990, os pesquisadores

organizacionais redescobriram os “estados de espírito” e as emoções. Na literatura

nacional, a expressão “estados de espírito”vem sendo significada como humor, e,

nas pesquisas conseguintes, investigou-se que o humor é responsável por um grupo

de estados de sentimentos generalizados, que não são facilmente percebidos e que

não são intensos ao ponto de interromper o fluxo de pensamento ou de ações

(CLARK; ISEN, 1982; THAYER, 1989). Alternativamente, as emoções estão

associadas a eventos ou a ocorrências específicas e são intensas ao ponto de

interromper o processo de sentimento ou o curso de uma ação (FRIJDA, 1993;

SIMON, 1982; ZAJONC, 1998). No desenvolvimento teórico sobre os afetos no

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trabalho, o humor é compreendido em torno de duas dimensões (positivo ou

negativo), pois possui menos intensidade e maior durabilidade que as emoções

(WATSON, 2001), enquanto que as emoções são intensas e entendidas por suas

manifestações discretas, tais como sentir medo, raiva ou alegria. Nesse aspecto, o

humor pode ser considerado como um resumo afetivo da pessoa.

Utilizando o conceito de saúde mental de Warr (1987) e a teoria de Ryff

(1989), Van Horn et al. (2004) desenvolveram uma definição e uma estrutura sobre

bem-estar laboral. O construto criado por eles abarcou a importância dos aspectos

afetivos, motivacionais, comportamentais, cognitivos e psicossomáticos, sendo

composto por cinco variáveis: a dimensão afetiva, o bem-estar profissional, bem-

estar social, cansaço cognitivo e a dimensão psicossomática. A dimensão afetiva

abarca aspectos positivos e negativos como afeto, a satisfação no trabalho, o

comprometimento organizacional e a exaustão emocional. Essa dimensão investiga

os aspectos emocionais do vínculo organizacional, se o contexto laboral promove

sentimentos de bem-estar e identificação com ele ou se o trabalho esgota

afetivamente o trabalhador. O segundo componente, o bem-estar profissional, é

composto por três características: autonomia, aspiração e competência profissional.

Essa variável compõe a estrutura motivacional do construto, pois valia a capacidade

de o indivíduo tomar suas próprias decisões, formar sua opinião sobre o contexto de

trabalho, a fim de que possa estabelecer metas e objetivos para o seu

desenvolvimento profissional, além de competência para lidar com os problemas

ocupacionais.

O bem-estar social, terceiro elemento desse construto, avalia o

comportamento laborativo por duas óticas: despersonalização e a qualidade das

relações sociais no trabalho. A despersonalização, segundo o viés do esgotamento

profissional, se expressa por meio de atitudes negativas ou exaustão profissional, se

expressa por meio de atitudes negativas ou indiferentes frente aos colegas de

trabalho. Já a concepção da qualidade das relações sociais no trabalho leva em

conta a percepção de ser uma referência para os colegas de trabalho e se

caracteriza pela procura por conselhos e suporte por parte desses colegas.

A quarta dimensão, o cansaço cognitivo, configura-se como o aspecto

cognitivo do bem-estar laboral, e abarca a capacidade do trabalhador em assimilar

novas informações e, ao mesmo tempo, permanecer concentrado em suas

atividades. Ou seja, o quanto que esse indivíduo consegue acumular conhecimento

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sem se cansar cognitivamente ou perder o foco no seu trabalho. Por fim, a dimensão

psicossomática refere-se à presença ou ausência de queixas psicossomáticas, como

dores de cabeça ou de estômago (VAN HORN et al., 2004). Os testes estatísticos

realizados para a validação desse construto mostraram que as variáveis estavam

relacionadas entre si, enfatizando sua característica multidimensional.

O construto de bem-estar desenvolvido por Van Horn et al. (2004) foi muito

relevante na compreensão do bem-estar laboral; no entanto, as dimensões

utilizadas por eles para a construção teórica são amplas, generalistas e possuem

muitos aspectos comuns a outros construtos, o que dificulta sua identificação e

fortalecimentoteórico dentro dos conceitos organizacionais.

Complementando a pesquisa de Van Horn et al. (2004), outros autores, como

Kelloway e Barham (1999), afirmam que, quanto maior a possiblidadeque o

indivíduotem de decidircomo realizar as tarefas e estruturar papéis de trabalho,

menores são as consequências como sintomas psicossomáticos e afeto negativo,

por exemplo. Segundo Paschoal e Tamayo (2008), a falta de controle no trabalho

pode ser considerada como um tipo de estressor organizacional. No modelo de Van

Horn et al. (2004), a variável denominada como autonomia equivale a essa

possibilidade de modificar o ambientede trabalho,de poder expressar suas opiniões

e executar suas atividades conforme sua capacidade, podendo, assim, ser

considerada como um antecedente do afeto positivo. Ou, no caso da ausência da

autonomia, ser antecedente do afeto negativo.

Seguindo com suas investigações acerca do impacto do estresse na saúde

mental dos indivíduos, Warr (1999) propôs a conceituação de bem-estar no trabalho

em termos exclusivamente afetivos (humores e emoções). Mais tarde, esse mesmo

autor passa a defender dois eixos centrais para a existência do bem-estar no

trabalho: um considerando os sentimentos positivos vivenciados pelo indivíduo no

trabalho (hedonismo), e o segundo baseado na importância do desenvolvimento de

atributos pessoais, como desempenho do próprio potencial, autonomia e realização

(eudaemonismo).

No Brasil, a produção acerca do tema ganha amplitude com o trabalho

desenvolvido por Paz (2004), que apresenta uma escala de bem-estar voltada para

a avaliação dos contextos organizacionais.Baseada na abordagem sistêmica e em

pesquisas sobre a saúde do trabalhador, essa autora concebe o bem-estar enquanto

processo, definindo-o como a satisfação de necessidades e a realização de desejos

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dos indivíduos ao desempenhar seu papel na organização (DESSEN; PAZ, 2010).

Essa linha teórica responsabiliza a organização pela promoção e manutenção do

bem-estar dos seus funcionários, tanto na parte da promoção da saúde individual

como na parte operacional, ou seja, na elaboração de ambientes e atitudes positivas

frente ao trabalho. Segundo essa concepção, o bem-estar é fruto de uma relação de

reciprocidade entre o empregado e a organização, e, dessa maneira, sofre

influências de ambos os lados, podendo ser afetado por características dos

indivíduos e organizacionais.

Esse construto é fundamentado na ideia de que as organizações são

ambientes abertos em permanente troca com o meio; sendo assim, o trabalhador é

compreendido como agente ativo da própria saúde. A avaliação do bem-estar é

baseada na percepção do próprio indivíduo sobre as relações de troca e

reciprocidade que ele mantém com a organização. A noção de reciprocidade

empregada nesse conceito é caracterizada pela responsabilidade do empregado e

da organização, no que concerne a ofertar e manter relações e ambientes saudáveis

para que haja a promoção do bem-estar do trabalhador. Nessa relação pela

construção do bem-estar, cabe ao trabalhador exercer sua função e suas atividades

conforme o estabelecido,para que a organização permaneça em crescimento, e, em

contrapartida,a instituição empregadora deve ofertar a esse profissional os recursos

necessários para a execução de suas obrigações, mas, acima de tudo,não

prejudique a saúde desse trabalhador,zelando pelo seu bem-estar.Segundo Paz

(2004), esse construto é composto por dois eixos: gratificação e descontentamento.

O primeiro eixo é composto por sete variáveis baseadas na percepção do

trabalhador, sendo essas:

a) valorização do trabalho: refere-se à percepção do próprio funcionário sobre

a importância do seu trabalho para si, para a organização e para a

sociedade;

b) reconhecimento pessoal: resulta da percepção do profissional sobre o seu

trabalho e desempenho, se esses são percebidos e admirados por seus

chefes e colegas, como também se seu esforço é recompensado;

c) autonomia: terceiro indicador diz respeito à percepção do trabalhador sobre

a liberdade para executar seu trabalho conforme seu estilo pessoal;

d) quarta variável, a expectativa de vida é resultado da percepção do

indivíduo sobre a possibilidade de desenvolvimento pessoal e profissional;

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e) os recursos financeiros, como penúltimo fator, resultam da percepção de

justiça entre o trabalho desempenhado e o salário que recebe;

f) e, por fim, os indicadores orgulho e suporte ambiental. O orgulho é

compreendido pelo sentimento positivo de pertença à instituição

empregadora, enquanto que o suporte ambiental é percebido como o apoio

da chefia da chefia, dos colegas e da instituição, no que diz respeito ao

suporte operacional para execução de suas atividades. Nessa concepção

teórica, é importante salientar que, para o florescimento do bem-estar

pessoal nas organizações, é necessário que o funcionário perceba o

suporte ambiental fundamentando sua prática. Ou seja, para que esse

funcionário perceba o bem-estar no trabalho, ele precisa ter o apoio

material, social e tecnológico para que possa sentir orgulho em fazer parte

de determinada organização.

O segundo eixo desse construto é composto por uma variável, denominada

desgosto ou descontentamento, que reflete o sentimento de mal-estar do

trabalhador frente à não realização dos desejos e necessidades individuais, e pode

ser caracterizado como a inversão do primeiro eixo desse conceito.Essa concepção

teórica, apesar de ser bem elaborada e com bastante variáveis, possui baixa

resolutividade em seu instrumento de medida, pois esses indicadores acabam sendo

avaliados de forma muito superficial, sendo representados por um único fator global,

avaliados em conjunto numa escala unifatorial. Pesquisa realizada por Dessen

(2005), investigou o conceito teórico e instrumental proposto por Paz (2004), e

averiguou a necessidade em aprofundar as pesquisas acerca dos fatoressugeridos

pela autora, a fim de ampliar os estudos acerca da aplicabilidade do instrumento,

além de sugerir novas pesquisas em outros contextos organizacionais (DESSEN;

PAZ, 2010).

A ampliação desses conceitos permitiu a compreensão do bem-estar no

trabalho e a continuidade das pesquisas referentes a esse construto. Warr (2007),

dando seguimento às suas pesquisas sobre as variáveis promotoras da saúde

mental, aprofundou suas investigações sobre os efeitos do trabalho na saúde mental

dos trabalhadores. Esse autor percebeu que houve um crescimento nas últimas

décadas no interesse sobre a saúde mental no trabalho. Esse conceito foi fortalecido

porque se enfatizou que a maioria do tempo da vida adulta é vivida dentro do

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ambiente de laboral, por isso o trabalho se tornou um dos principais determinantes

para a saúde e felicidade do homem moderno (WARR, 2007).

O trabalho desenvolvido por Warr (2007) visou investigar os aspectos do

bem-estar subjetivo em contexto livre (avaliação sobre a vida sem uma restrição

ambiental particular), o bem-estar em um domínio específico (diz respeito às

experiências de uma parte significativa da vida, como, por exemplo, ambiente

familiar ou ambiente de trabalho) e o bem-estar numa faceta específica (que se

concentra em um espaço particular de um dos domínios, como, por exemplo, a

renda recebida pelo emprego). Em seu estudo, Warr (2007) verificou que a

felicidade como um estado de bem-estar se manifesta através das emoções, humor,

atitude, qualidade de vida, nível de estresse e a saúde mental. Também descreve o

impacto do desemprego e da aposentadoria na felicidade ou infelicidade, avaliando

a interação entre o ambiente e a pessoa. Nesse aspecto, diversas variáveis

moderadoras são destacadas, incluindo o compromisso com o trabalho, idade,

pressões financeiras, duração do desemprego/ aposentadoria, o estado de saúde,

local de desemprego/ taxa de aposentadoria e as relações sociais.

Warr (2007) afirma que a felicidade no trabalho é benéfico para os

trabalhadores e para os gestores e organizações, pois, caso haja estresse,

infelicidade e sofrimento psicológico no trabalho, o resultado aparecerá na perda da

produtividade, diminuição do desempenho no trabalho, aumento do risco de

acidentes, relacionamentos conflituosos em ambiente laboral, aumento do

absenteísmo e licenças de curto ou longo prazo por doença ou deficiência, burnout,

aumento da taxa de rotatividade e aumento nos custos da saúde.

Ao investigar a felicidade laboral, Warr (2007) incluiu a valorização e o

reconhecimento profissional entre os vários aspectos da felicidade e buscou

compreender quais os principais aspectos ambientais que influenciavam as pessoas

a se centrarem em seu trabalho. As características ambientais associadas com a

felicidade incluem a oportunidade para o controle pessoal, oportunidade para o uso

de habilidades, objetivos gerados externamente, variedade, a claridade do ambiente,

contato com os outros, a disponibilidade de dinheiro, a segurança física e valorizada

posição social. Enfatiza em seu trabalho que a relação felicidade e ambiente não é

linear, mas é composta por diversos fatores que fundamentam a noção de felicidade

no trabalho. Apesar da amplitude conceitual, o modelo proposto porWarr (2007) é

bidimensional, em que as emoções estão inter-relacionadas em dimensões bipolares

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(alegre e triste), e teve como base o modelo bidimensional de afeto proposto por

Russel (1990 apud BARBOSA, 2010).

Complementando as pesquisas realizadas na área, Paschoal e Tamayo

(2008) elaboraram um instrumento para avaliação do bem-estar laboral. A

concepção teórica dessa escala compreende que o bem-estar no trabalho é

composto por uma dimensão afetiva: emoções e humores no trabalho, e uma

dimensão cognitiva: percepção de expressividade e realização pessoal no trabalho

(PASCHOAL; TAMAYO, 2008). Na concepção dos autores, o bem-estar no trabalho

é conceituado pela prevalência de emoções positivas e pela percepção do indivíduo

de que, no seu trabalho, expressa e desenvolve seus potenciais/ habilidades e

avança no alcance de suas metas de vida. A escala visou operacionalizar as

dimensões hedônicas e eudaimonicas do bem-estar no trabalho, ampliando a

aplicabilidade para diferentes contextos de trabalho, levando em consideração as

vivências do trabalhador. A dimensão afetiva da escala é composta pelas emoções e

humores positivos e negativos no trabalho. A dimensão cognitiva é composta pela

percepção do indivíduo frente à sua realização. Esse conceito define o bem-estar

ocupacional como sendo a valorização de emoções positivas no ambiente de

trabalho e a compreensão por parte do trabalhador de que ele também é

responsável pela obtenção pessoal do bem-estar no trabalho, quando desenvolve

suas habilidades e potenciais e, consequentemente, avança frente aos seus

objetivos profissionais.

Para Paschoal (2008), o sujeito progride quando busca em seu trabalho

descobrir seu potencial, desenvolvendo suas principais competências, procurando

realizar atividades que favoreçam suas habilidades e potencialidades, buscando

superar os desafios a fim de fazer o que realmente gosta, expressando o melhor de

si, sempre almejando por resultados positivos frente às metas traçadas.

Concomitante a isso, Warr (2007) também valoriza as oportunidades de exercer as

habilidades do indivíduo e da importância da variedade no trabalho, enquanto que

Van Horn et al. (2004) reforçam a necessidade da busca de desafios para o alcance

de bem-estar. Outro modelo brasileiro de bem-estar no trabalho é o de Siqueira e

Padovam (2008). Embasadas pela Psicologia Positiva, as autoras definiram bem-

estar no trabalho (BET) como um construto multidimensional, composto pela

satisfação no trabalho, envolvimento com o trabalho e o comprometimento

organizacional afetivo. Uma das principais intenções das autoras proporem o

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conceito era diferenciar o bem-estar no trabalho de saúde ocupacional. As autoras

explicam que saúde ocupacional está associada à sintomatologia e aos diagnósticos

ocupacionais. Já bem-estar no trabalho apresenta-se como o funcionamento

integrado do indivíduo.

Para avaliar BET, construíram um conjunto de instrumentos de medida, que

tiveram como referência o conceito de bem-estar subjetivo de Dieneret al. (2003),

apresentado como um modelo hierárquico de felicidade. Nesse conceito, os autores

definem o bem-estar subjetivo como sendo uma avaliação geral da vida, e defendem

que, para avaliá-lo, os pesquisadores precisam investigar os diversos componentes

que estão na base de sua hierarquia conceitual. Em geral, essa estrutura hierárquica

possui duas grandes dimensões psicológicas: emoções e cognições. As emoções

são compostas pelos afetos positivos e negativos em relação à avaliação geral da

vida e as cognições são compostas pelas avaliações gerais e específicas sobre a

vida, como já foi explicitado mais acima em relação ao BES

Na composição teórica desses instrumentos, Siqueira e Padovam (2008)

defendem que as concepções teóricas são compreendidas de forma distinta. A

satisfação com o trabalho, construto sobre o qual ainda não existe consenso entre

os pesquisadores, no modelo de BET dessas autoras, é entendida segundo os

preceitos de Locke (1976), que a define como um estado emocional positivo ou de

prazer, resultante de um trabalho ou de experiências de trabalho. Já o envolvimento

com o trabalho é como “[...] grau em que o desempenho de uma pessoa no trabalho

afeta sua autoestima” (LODAHL; KEINER, 1965, p. 25). O comprometimento

organizacional afetivo se configura como “[...] um estado no qual o indivíduo se

identifica com uma organização particular e com seus objetivos, desejando manter-

se afiliado a ela com vista a realizar tais objetivos” (MOWDAYS; STEERS; PORTER,

1979, p. 225).

Segundo Paschoal e Soraggi (2011), apesar da grande quantidade de

pesquisas sobre os antecedentes de bem-estar no trabalho, é difícil sistematizar os

achados devido à variabilidade de definições e de operacionalizações dos

construtos. E, no que concerne aos construtos sob o viés hedônicos do bem-estar, a

maioria dos trabalhos foca nos afetos negativos em relação ao trabalho, e a

dimensão da realização pessoal do trabalhador nem sempre é mensurada.

O instrumento nacional mais recente na literatura é a escala de indicadores

de bem-estar pessoal nas organizações, elaborado por Dessen e Paz (2010). As

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autoras buscaram agregar, na construção desse instrumento, a variedade teórica

presente na literatura organizacional até então e que pudesse ser aplicada em

qualquer ambiente organizacional e para todo tipo de profissional. Tendo sido

aplicado a 630 trabalhadores de diferentes organizações, públicas e privadas, com

idade média de 35 anos, esse instrumento visa investigar o nível dos seguintes

indicadores de bem-estar nas organizações: recursos financeiros, relações

interpessoais, organização, oportunidades de crescimento, condições de trabalho,

reconhecimento, valorização e realização.

O intuito deste trabalho foi englobar os principais indicadores de BET

utilizados nas pesquisas organizacionais (PAZ, 2004; VAN HORN et al., 2004;

WARR, 2007; PASCHOAL, 2008). O primeiro indicador, denominado valorização do

trabalho, refere-se à percepção do próprio funcionário de que seu trabalho é

importante, tanto para ele quanto para os outros (organização e sociedade). O

reconhecimento pessoal, segundo indicador, é a percepção do funcionário sobre ser

admirado e recompensado por sua competência no trabalho. O terceiro indicador,

denominado de autonomia, diz respeito à percepção do funcionário sobre a

liberdade que possui para utilizar seu estilo pessoal na execução de seu trabalho. O

quarto indicador, expectativa de crescimento, é a percepção que o indivíduo possui

da possibilidade de estar se desenvolvendo pessoal e profissionalmente. O quinto,

recursos financeiros, descreve a percepção de justiça na relação entre o trabalho

que realiza e o salário que recebe. Os dois últimos indicadores são suporte

ambiental e orgulho, que se inter-relacionam. Para as autoras, é importante, dentro

das organizações, que os trabalhadores/funcionários consigam perceber o suporte

ambiental, composto pelos itens materiais, tecnológicos e sociais, para que ele

possa estabelecer vínculos afetivos positivos com seu trabalho e tenha orgulho em

fazer parte da organização em que trabalha. Segundo Van Horn et al. (2004),

instrumentos baseados em construtos multidimensionais para a avaliação de bem-

estar são mais eficazes e podem resultar em conclusões mais precisas, e, dessa

forma, esses resultados podem contribuir para a melhor “compreensão da natureza,

das causas e das consequências do bem-estar no trabalho” (DASSEN; PAZ, 2010,

p.412).

Defende-se, neste estudo, que o bem-estar no trabalho configura-se “como

um construto psicológico multidimensional, integrado por vínculos afetivos com o

trabalho (satisfação e envolvimento) e com a organização (comprometimento

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organizacional afetivo)” (SIQUEIRA; PADOVAM, 2008, p. 207), e deduz-se que a

capacidade das pessoas adaptarem-se positivamente às adversidade dos trabalhos

pode interferir em seu bem-estar no trabalho. Assim, a visão teórica adotada nele é

a de Siqueira e Padovam (2008), já exposta anteriormente, que defendem que BET

é composto por três dimensões: satisfação no trabalho, envolvimento com o trabalho

e comprometimento organizacional afetivo. A seguir, serão expostos mais

detalhadamente os conceitos dessas três dimensões teóricas.

2.2.1.1 Satisfação no trabalho

Como foi explanado anteriormente, durante muito tempo satisfação no

trabalho esteve associada aos afetos positivos no trabalho (WEISS; BRIEF, 2002).

Até hoje, ainda não há um consenso teórico consolidado sobre esse assunto. Em

1976, Locke chegou à definição do que seria a satisfação no trabalho como “um

estado emocional agradável ou positivo resultante de um trabalho ou de

experiências de trabalho” (p. 1.300). E, por essa definição, satisfação chegou a ser

considerada como uma reação afetiva positiva em relação ao trabalho.

Uma década mais tarde, Organ e Near (1985) conceituaram satisfação no

trabalho como sendo composta por aspectos afetivos e cognitivos, e questionaram

os instrumentos que eram utilizados na avaliação desse construto, no sentido de

abarcar as duas variáveis. Brief e Roberson (1989) exploraram empiricamente o

conteúdo afetivo e cognitivo de três medidas mais utililizadas na mensuração de

satisfação no trabalho. Concluíram que apenas a escala de Faces (KUNIN, 1955

apud BRIEF; WEISS, 2001) capturava igualmente os aspectos afetivos e cognitivos,

enquanto que as outras medidas investigavam, principalmente, os aspectos

cognitivos. Nessa pesquisa, Brief e Roberson (1989) descobriram o paradoxo

existente até hoje: a satisfação no trabalho é geralmente interpretada em termos

afetivos, mas normalmente apenas os aspectos cognitivos são mensurados pelos

instrumentos.

A investigação do conceito e a busca pela sua sistematização teórica

iniciaram-se nos anos 1980 e houve um aprofundamento conceitual nos anos 1990.

As pesquisas desse período ora definiam satisfação no trabalho como um

componente cognitivo, ora como componente afetivo. Mas há pelo menos seis

décadas os pesquisadores buscam entender o conceito por meio de inúmeras

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pesquisas sobre o tema (RESENDE, 2008). Algumas pesquisas foram realizadas

utilizando instrumentos de autorrelatos de profissionais, sem uma sistematização

instrumental e de base qualitativa (BRIEF; WEISS, 2001). No entanto, Weiss (2002,

p. 6) utilizando métodos mais consistentes e concebendo satisfação no trabalho

como uma atitude, a definiu como “um juízo positivo (ou negativo) de avaliação que

se faz sobre o emprego ou situação de trabalho”. Outros pesquisadores também

haviam compreendido a satisfação no trabalho como uma atitude. Por exemplo,

Eagly e Chaiken (1993, p. 1) afirmaram que uma atitude é “uma tendência

psicológica que se expressa por meio da avaliação de uma entidade particular com

algum grau de favor ou desfavor”, sendo que essa avaliação pode ocorrer de formas

distintas, tais como: ser aberta ou encoberta, cognitiva, afetiva ou comportamental.

Além disso, os autores definiram a satisfação no trabalho como “um estado que se

expressa por avaliar afetivamente e/ou cognitivamente uma experiência de trabalho,

com algum grau de favor ou desfavor” (p. 86).

O conceito de satisfação, mesmo sendo estudado há muito tempo, ainda não

possui consenso teórico entre os pesquisadores, gerando muitas controvérsias

quanto à sua natureza (afetiva ou cognitiva) e à sua dimensão (unidimensional ou

multidimensional). Como já foi dito anteriormente, a natureza do conceito é tida

como afetiva, mas a maioria dos instrumentos para mensurar o conceito avalia os

seus aspectos cognitivos (BRIEF; ROBERSON, 1989). No que concerne à sua

dimensionalidade, existe a visão unidimensional, que caracteriza satisfação no

trabalho como uma atitude geral em relação ao trabalho como todo, e não leva em

consideração as reações a aspectos específicos do trabalho (SIQUEIRA; GOMIDE

Jr., 2004). Quanto à visão multidimensional, o conceito é entendido como um

conjunto de reações específicas a várias peculiaridades do trabalho, que vão

desencadear sentimentos com níveis diferentes de satisfação ou insatisfação no

indivíduo (MARTINS; SANTOS, 2006; MELEIRO, 2005).

Para autores nacionais como Siqueira e Gomide Jr. (2004), o interesse pela

sistematização do conceito de satisfação no trabalho ganhou destaque, em grande

parte, em decorrência das suposições suscitadas por gestores e pesquisadores

sobre o seu papel fundamental nos comportamentos dos empregados frente ao seu

trabalho e em relação à organização. Ou seja, a satisfação no trabalho seria um

fator determinante no comportamento dos funcionários, e, segundo as suposições

de natureza social e humanista, esse sentimento é considerado como um resultado

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ou consequência de experiências subjetivas no trabalho. As organizações entendem

que, com a manutenção de um contingente de profissionais satisfeitos, estável na

organização, produtivo e frequente ao trabalho, terão como consequência a redução

dos custos e o aumento dos lucros (BASÍLIO, 2005). Essas vivências

organizacionais podem se irradiar para a vida pessoal e social dos trabalhadores, o

que pode gerar consequências positivas ou negativas na saúde desse trabalhador.

Essa concepção teórica indica que o trabalho e as relações obtidas nesses ambiente

são fortes influenciadores para a vida geral do trabalhador. Aspectos positivos ou

negativos gerados no ambiente laboral podem se estender às relações fora desse

local, o que indica uma forte relação entre trabalho-saúde, trabalho-família, trabalho-

relações sociais.

Para o modelo de Siqueira e Padovam (2008), a satisfação no trabalho é o

primeiro vínculo afetivo de BET, que se configura como avaliação positiva sobre o

relacionamento com as pessoas, em relação às retribuições organizacionais e das

tarefas realizadas. No que concerne à avaliação sobre o relacionamento com as

pessoas, esse se refere à relação que o empregado estabelece com pessoas mais

próximas a ele no ambiente laboral, por exemplo, os colegas e a chefia. Em relação

às retribuições organizacionais, essas se referem a gratificações recebidas pelo

empregado da organização empregadora, e pode ser significado através de

aumento de salário, oportunidades de promoção ou mesmo o sentimento de

satisfação ao realizar alguma atividade com a qual o trabalhador se identifique ou

que seja condizente com seu cargo (tarefas). A satisfação no trabalho foi

compreendida pelas autoras como sendo um vínculo positivo com o trabalho

composto por cinco variáveis: satisfação com a chefia e com os colegas, satisfação

advinda do salário pago pela empresa, das oportunidades ofertadas pela política de

gestão de empresa e, por último, das satisfações com as tarefas realizadas.

Portanto, o conceito empregado nesse modelo evoluiu para uma concepção

multidimensional, que envolve avaliações positivas sobre cinco aspectos específicos

do ambiente de trabalho.

Pesquisas sobre rotatividade, segundo Zimmerman, Swider, Boswell (2011),

têm entendido a satisfação como um fator de destaque frente às atitudes no trabalho

em momento decisórios sobre deixar a instituição empregadora ou não. Apesar de

haver uma compreensão sobre a influência de satisfação no trabalho sobre as

atitudes do trabalhador, sobre a forma como esse percebe e se relaciona com seu

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trabalho, ainda existem poucos estudos acerca da sua relação com outros fatores

que possam influenciar na decisão de sair ou permanecer no emprego. A satisfação

no trabalho é compreendida como reação afetiva ou atitudinal em relação ao

trabalho (SPECTOR, 1985 apud ZIMMERMAN et al., 2011), e, por isso, segundo

esses autores, ela é uma medida bastante confiável para premeditar as atitudes dos

seus funcionários. A questão da rotatividade pode ser percebida através da procura

por outro emprego, e esse movimento de procurar outras possibilidades deve ser

encarado como um manifesto de insatisfação do trabalhador.

Em uma pesquisa recente, Ziegler, Hagen e Diehl (2012) investigaram a

relação da satisfação com o trabalho e o desempenho laboral. Eles disseram que a

ambivalência de atitude é o fator que funciona como variável moderadora entre a

satisfação no trabalho e sua interferência no desempenho do sujeito com seu

trabalho. Para esse autores, a ambivalência de atitude ou ambivalência no trabalho

equivale a uma força de atitude do sujeito que é mediada pelo sentimento de gostar

ou não do seu trabalho. Nesse viés, o ambiente de trabalho é considerado o “objeto

de atitude” que interfere na ambivalência de atitudes (ZIEGLER et al, 2012).

A literatura revisada para essa investigação (BRIEF, 1998; JUDGE et al.,

2001; FISHER, 2000; FISHBEIN; AJEN, 1977) e as pesquisas realizadas pela

psicologia social concebem a ambivalência de atitudes como um dos vários tipos de

força que impulsiona ou retarda o comportamento do trabalhador frente ao seu

trabalho. A satisfação no trabalho é conceituada como a atitude de um indivíduo

para com o seu trabalho ou para com a instituição empregadora, ou seja, é um juízo

valorativo geral sobre o trabalho consequente das experiências afetivas advindas do

trabalho e sobre as crenças sobre o trabalho (BRIEF, 1998; BRIEF; WEISS, 2002;

WEISS, 2002; ZIEGLER et al, 2012).

A atitude do indivíduo é considerada ambivalente na medida em que esse

pode expressar o seu gosto ou desgosto por um mesmo objeto/ambiente de trabalho

simultaneamente. Essas avaliações contraditórias podem resultar em crenças

positivas ou negativas ou emoções sobre o ambiente de trabalho do indivíduo. Por

isso, a ambivalência no trabalho pode resultar das crenças adquiridas no ambiente

laboral, que causam algum tipo de conflito cognitivo ou emocional para o sujeito.

Por fim, essa pesquisa verificou o papel moderador da ambivalência no

trabalho na relação entre a satisfação no trabalho e o desempenho laboral. Em

linhas gerais, isso significa que a atitude do indivíduo frente ao trabalho está

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fortemente relacionada ao seu desempenho laboral quando o sujeito não

experimenta sentimentos conflituosos em relação ao seu trabalho, resultando em

satisfação nesse trabalhador (ZIEGLER et al, 2012).

Rodriguez (2014) investigou como os níveis de ações participativas no

ambiente de trabalho influenciam o nível de satisfação de trabalhadores com e sem

algum tipo de deficiência. Segundo esse autor, existem diversas pesquisas

relacionando outros aspectos de trabalho com o nível de satisfação dos

trabalhadores como em relação a ambientes fechados (AKERLOF et al.; 1988

CLARK et al., 1998; CLARK; GEORGELIS, 2004), em relação ao gênero (CLARK et

al., 1996; CLARK, 1997), sobre o crescimento de renda e salários (CLARK, 1999;

CLARK; OSWALD, 1996; DIAZ-SERRANO; CABRAL, 2005), em relação aos

sindicatos (MENG, 1990; RENAUD, 2002), sobre o corpo estrutural do ambiente de

trabalho (IDSON, 1990; GAZIOGLU; TANSEL, 2002), entre outras variáveis, mas

ainda não existia uma pesquisa que investigasse a diferença entre os níveis de

satisfação entre pessoas com deficiência. Os resultados mostraram que a

participação em ações colaborativas no ambiente aumenta os níveis de satisfação

no trabalho.

Neste trabalho, no entanto, a concepção teórica utilizada para conceituar e

medir a satisfação no trabalho será o modelo utilizado por Siqueira e Padovam

(2008), os quais compreendem a satisfação no trabalho como sendo um construto

multidimensional composto pela avaliação do vínculo positivo com o trabalho e com

as relações estabelecidas nesses ambientes.

2.2.1.2 Envolvimento com o trabalho

Envolvimento com o trabalho é o segundo vínculo afetivo de BET, sendo

definido como o nível em que a atuação de uma pessoa no trabalho afeta sua

autoestima, sendo considerada como “o grau de identificação psicológica do

indivíduo com seu trabalho e a importância do trabalho para autoimagem”

(MUCHISKY, 2004, p. 305). Outras definições são encontradas na literatura para

facilitar a compreensão desse construto.

Kanungo (1979) iniciou suas pesquisas sobre os fenômenos do envolvimento

e da alienação em determinados contextos a fim de obter maior conhecimento para

a validação do seu modelo motivacional. Para o autor, envolvimento e alienação são

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43

sentimentos opostos na avaliação psicológica sobre um determinado contexto

(KANUNGO; MISRA, 1988).

Em sua pesquisa, Kanungo e Misra (1988) observaram que as necessidades

intrínsecas de crescimento (autonomia, controle, autorrealização) têm

predominância maior frente às outras esferas da vida. Para justificar a variável

alienação, utilizaram como referência a teoria humanista de Marx (1844 apud

KANUNGO; MISRA, 1988) sobre a alienação do trabalhador, que tanto influenciou o

pensamento social contemporâneo. Através da observação cotidiana do

comportamento humano, conclui-se que os indivíduos são condicionados

socialmente a buscar a satisfação de necessidades afiliativas na esfera familiar e de

crescimento no ambiente de trabalho. Baseado em suas investigações e na extensa

revisão literária, Kanungo (1979; 1982a) sugere que a relação entre o envolvimento

com o trabalho e os outros setores da vida é moderada pelo potencial percebido dos

respectivos contextos para a satisfação das necessidades do indivíduo, ou seja,

depende da percepção pessoal de cada sujeito acerca de possíveis benefícios ou

perdas em relação ao trabalho. Isso implica que, quando ambos os contextos são

vistos como possuidores de elevado potencial de satisfação de necessidades, o

indivíduo experimentaria alto envolvimento em ambos os contextos. E, caso haja o

contrário, quando nenhum dos ambientes mostra potencial para satisfação de suas

necessidades, o indivíduo experimenta o baixo envolvimento (alienação) em ambos

os contextos. Mas, se um dos ambientes possui potencial e outro não, o indivíduo se

envolverá com o ambiente em potencial e manterá uma relação alienada com o

contexto que não supre suas necessidades.

Assim, o envolvimento com o trabalho, segundo a ótica desses autores, será

baseado em suas necessidades pessoais, e o trabalho exerceria o papel fomentador

dessa relação. Dessa forma, pode-se constatar que o envolvimento no trabalho é

composto por grande potencial afetivo. Brown (1996, p. 235), seguindo a linha de

raciocínio exposta por Kanungo e Misra (1988), define que “um estado de

envolvimento implica um estado positivo e relativamente completo de engajamento

dos aspectos essenciais do eu no trabalho enquanto que um estado de alienação

implica a perda da individualidade e separação eu do trabalho”.

Embora haja importância conceitual, a literatura sobre esse conceito não

possui muita amplitude, e, apesar do envolvimento com o trabalho ser um tema de

bastante interesse para psicólogos e sociólogos, poucos estudos foram realizados e

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sistematizados sobre o tema até a década de 1860. Posteriormente a essa fase

inicial, Lodahl e Kejner (1965) definiram o envolvimento com o trabalho como “o grau

em que desempenho de uma pessoa no trabalho afeta sua autoestima”, e está

relacionado ao significado que o trabalho ou as tarefas assumem na vida das

pessoas (ZANELLI; KANAN, 2011).

Frente à pouca extensão teórica sobre o conceito, Siqueira e Padovam (2004)

buscaram entender melhor a classe de atitudes das pessoas referente ao

envolvimento com o trabalho. Como consequência disso, propuseram um conceito

adaptado do estado de fluxo de Csikazetmihalyi (1999 apud SELIGMAN;

CSIKAZETMIHALYI, 2000), que descreve o estado de fluxo como sendo “ações sem

esforços”, e, no contexto organizacional, esse estado é compreendido como quando

o colaborador se encontra num estado de envolvimento tal que o trabalho o absorve,

contribuindo para que suas atividades sejam vivenciadas positivamente (ZANELLI;

KANAN, 2011).

A fim de que ocorra o estado de envolvimento no trabalho, é importante que o

desenvolvimento da tarefa e os desafios propostos por essa atividade estejam claros

e definidos, e que correspondam à capacidade do indivíduo. E, para que isso

aconteça, é preciso que o trabalhador esteja ciente das metas a serem alcançadas,

que existam condições apropriadas para a execução da atividade e que o

desempenho do seu trabalho lhe proporcione um feedback interno, mas para tanto é

fundamental uma avaliação sobre as habilidades do trabalhador, buscando –se que

as atividades sejam direcionadas e realizadas de forma adequada e que também

favoreçam o desempenho em atividades as quais exijam além do seu limiar de

controle. Todas essas particularidades somadas podem fomentar o direcionamento

da energia psíquica do trabalhador para sua atividade laboral, mantendo-o

concentrado no desenvolvimento de suas funções, ou seja, em estado de fluxo. Em

outras palavras, o estado de fluxo facilita que o indivíduo obtenha maior

envolvimento com seu trabalho e, consequentemente, sinta a atividade de trabalho

como sendo agradável e que acrescenta sentimentos positivos ao seu dia a dia.

Ao desenvolver estados afetivos com seu trabalho através do estado de fluxo,

o sujeito experimenta a sensação de bem-estar, evitando o surgimento de

sentimentos negativos como fadiga, frustração, ansiedade, tédio, apatia, tristeza e

estresse que são considerados como sentimentos opostos ao estado de fluxo

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45

(RESENDE, 2008). Nesse caso, o vínculo existente é estabelecido entre o sujeito e

o seu trabalho, tendo a organização como lócus dessa relação.

Os estudos sistematizados sobre o envolvimento com o trabalho demonstram

a existência de fatores externos e internos que são responsáveis pelo seu

desenvolvimento. Em revisão sobre o assunto, Siqueira e Gomide Jr. (2004)

esclarecem que os antecedentes são: aspectos da personalidade, características do

cargo, dos líderes e papéis organizacionais. No que concerne às variáveis de

personalidade, os fatores que levam uma pessoa a se envolver com seu trabalho,

são: a adoção de ética protestante (pessoas que enfatizam a virtude do trabalho

como um fim em si mesmo), lócus de controle (pessoas que acreditam em seu poder

para controlar eventos de sua vida), autoestima (pessoas com elevado senso de

competência e de efetiva influência sobre o meio), necessidade de crescimento

(pessoas que acreditam obter no trabalho satisfação de necessidades psicológicas

de natureza elevada). Quanto às características do cargo, os antecedentes

considerados são: autonomia para realizar tarefas, significado das tarefas para o

trabalhador, identificação pessoal com as tarefas e variedade de habilidades

exigidas para realização dessas.

Ainda como fatores externos ao sujeito, mas influentes no envolvimento desse

com seu trabalho, estão as variáveis do supervisor ou características dos líderes,

que são entendidas como: consideração das chefias (relações pessoais das chefias

com seus subordinados), promoção de oportunidades (ocasiões criadas pelas

chefias para a participação dos trabalhadores em tomadas de decisão) e

comunicação efetiva (a quantidade e qualidade existente no ambiente de trabalho

entre chefias e subordinados).

Complementados os fatores antecedentes, esses autores acrescentam que a

percepção de demandas conflitantes (conflitos entre papéis organizacionais) e de

orientações ambíguas (ambiguidade de papéis organizacionais) na execução de

tarefas são dois fatores que podem comprometer o envolvimento no trabalho,

Siqueira e Gomide Jr. (2004) apontam como os principais consequentes

comportamentais de envolvimento os esforços aplicados na realização da tarefa, o

nível elevado de desempenho, baixas taxas de absenteísmo e de saída da

organização.

Em estudo mais recente, Zanelli e Kanan (2011) investigaram o envolvimento

de docentes-gestores com o trabalho no contexto universitário. Segundo esses

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autores, o envolvimento com o trabalho está relacionado ao papel ou à função que o

trabalho exerce sobre a vida das pessoas, e essa pesquisa procurou caracterizar o

envolvimento com o trabalho a partir das características da chefia, do cargo, das

tarefas, como também dos aspectos pessoais do colaborador, que foram avaliados

conforme seis critérios: significado do trabalho na vida do docente-gestor, eventos

importantes associados ao trabalho, senso de competência no exercício do cargo,

metas pessoais orientadas para o trabalho, capacidade de influência sobre o meio e

o trabalho como fonte de satisfação das necessidades psicológicas (ZANELLI;

KANAN, 2011).

Os resultados dessa pesquisa mostraram que existem aspectos subjetivos do

indivíduo que favorece o desenvolvimento de afetos positivos ou negativos com seu

trabalho e que o leva a se envolver mais ou menos com suas atividades laborais. No

que diz respeito ao envolvimento dos docentes-gestores, as cognições, os afetos e a

característica do processo laboral exercem influência sobre a vinculação desses

com o trabalho desempenhado na instituição, pois os resultados evidenciaram que

esses sujeitos percebem que sua vida é impactada pelo trabalho na coordenação

dos cursos de graduação. No aspecto profissional, o impacto é positivo, mas no que

concerne à vida particular é negativo, pois esse aspecto da vida do sujeito fica

abandonado em decorrência da sobrecarga de trabalho, pelas demandas e

responsabilidades que o cargo exige.

Por fim, a questão profissional mostrou-se bastante importante para esse

grupo pesquisado no que se refere à realização pessoal, de crescimento

profissional, de exercício do seu potencial e descoberta ou amplitude dos seus

talentos, pois eles acreditam que seu trabalho tem um alcance maior para os outros

e para a sociedade do que para si próprios. Assim, para os participantes da

pesquisa em questão, o trabalho representa um aspecto muito importante da vida,

como um componente fundamental da sua identidade e representante de sua função

perante a sociedade (ZANELLI; KANAN, 2011).

2.2.1.3 Comprometimento organizacional afetivo

Na década de 1970, decorrente das mudanças organizacionais e econômicas

da época, os pesquisadores sociais intensificaram as pesquisas sobre o conceito de

comprometimento com o trabalho. Esse interesse foi expresso através dos esforços

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empíricos para elaborar métodos e uma teoria que determinasse os antecedentes do

compromisso do indivíduo com seu trabalho. Os resultados desses estudos

mostraram que o comprometimento com o trabalho é uma variável muito importante

para compreender o comportamento dos trabalhadores dentro da organização.

A pesquisa realizada por Mowday, Steers e Porter (1979) deu amplitude e

consistência ao conceito e à medida do comprometimento com o trabalho, pois até

esse período, mesmo com tanto interesse sobre o tema, as pesquisas não tinham

evoluído o suficiente e ainda não havia um consenso teórico e validado sobre esse

tema. Em sua pesquisa, Mowdayet al. (1979) investigaram 2.500 sujeitos de

diversos ambientes laborais por um período de nove anos. Para a validação do

instrumento e construção teórica, a definição de comprometimento com o trabalho

utilizada foi “nível de identificação e envolvimento de um indivíduo com uma

organização particular” (MOWDAY et al., 1979). Essa definição pode ser

caracterizada por pelo menos três fatores:

a) uma forte crença e aceitação dos objetivos e valores organizacionais;

b) vontade de exercer um esforço considerável em nome da organização

empregadora;

c) desejo em manter-se vinculado à organização.

O conjunto desses três fatores evidencia uma relação ativa com a

organização, de forma que os indivíduos estão dispostos a dar algo de si em troca

do bem-estar da organização, e essa relação não se caracteriza como uma lealdade

passiva.

O comprometimento organizacional pode ser definido como uma construção

global, que reflete uma resposta geral e afetiva para com a organização como um

todo. A definição mais utilizada para conceituar o comprometimento organizacional

afetivo, segundo Mowdayet al. (1979, p. 225), é a de que COA é “um estado no qual

um indivíduo se identifica com uma organização particular e com seus objetivos,

desejando manter-se afiliado a ela com vistas a realizar tais objetivos”. Essa

conceituação mostra que essa dimensão não está relacionada ao trabalho em si,

mas à organização empregadora, e, existindo esse vínculo com a empresa,

demonstra que existe uma relação positiva do indivíduo para com a organização e

que o faz querer permanecer ligado àquela organização, podendo gerar sentimentos

positivos em outras esferas da sua vida (SIQUEIRA; PADOVAM, 2004).

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A disseminação do conceito do comprometimento ocorreu pela visibilidade

que a relação indivíduo-organização tomou em decorrência das mudanças

organizacionais e da reestruturação econômica as quais fomentaram crises de

motivação, insatisfação, absenteísmo e outras decorrências da geração tecnológica.

A soma desses fatores revela que os desdobramentos dessas mudanças não

passaram despercebidos e trouxeram consequências para os trabalhadores. Como

resultado dessa reestruturação, tornou-se evidente que o comprometimento do

trabalhador com a organização é um elemento fundamental nas novas arquiteturas

organizacionais emergentes (DINIZ, 2001). Esse período inicial da contextualização

e construção teórica sobre esse conceito é marcado pela diversidade de definições e

modelos teóricos sobre o comprometimento organizacional e com o trabalho (COT)

que resulta na fragmentação e redundância conceitual. Morrow (1983 apud BASTOS

et al., 2004), ao realizar uma revisão sobre o conceito, encontra 29 modelos teóricos

e de medidas sobre o construto na década de 1980, que ele organiza e divide em 5

grandes eixos do comprometimento: valores, organização, carreira, trabalho e

sindicato, nos quais ela agrupa os construtos e propostas de escalas para mensurá-

los (ALLUTO; HREBINIAK; ALONSO, 1973; HREBINIAK; ALLUTO, 1972;

SHOEMAKER; SNIZEK; BRYANT, 1977).

Frente a essa amplitude conceitual, teórica e metodológica, Meyer e Allen

(1984), através de rigorosa investigação teórica, conseguiram definir o conceito de

comprometimento com o trabalho. Conforme esses autores, existem três tipos de

comprometimento organizacional, sendo denominados como: o comprometimento

organizacional afetivo, o normativo e o calculativo (ou instrumental). O

comprometimento organizacional afetivo (COA) é definido como um compromisso

afetivo ou emocional com a organização, ou pode ser expresso através do grau em

que o trabalhador se sente emocionalmente ligado, identificado e envolvido com a

organização. Isso implica em dizer que funcionários afetivamente comprometidos

com a organização tendem a permanecer na organização para o seu próprio bem,

que vai além de questões calculativas referentes à perda ou saída da organização

(BUCHANAN, 1974 apud MEYER; ALLEN, 1984). O comprometimento normativo

seria composto por experiências prévias de sociabilização presentes no convívio

familiar, social e organizacional e refere-se ao grau em que o trabalhador possui um

sentimento de obrigação ou dever moral de permanecer na organização. Por último,

o comprometimento organizacional instrumental, caracterizado por uma avaliação do

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sujeito sobre os investimentos feitos prol da organização (exemplo tempo, esforço

ou dinheiro), que seriam perdidos ou considerados inúteis caso o indivíduo tivesse

que deixar a organização. Ou seja, representa o grau em que o trabalhador se

mantém ligado à organização devido ao reconhecimento dos custos associados à

sua saída da organização (MEYER; ALLEN, 1991).

Pesquisas conseguintes como a de Morrow (1993 apud BASTOS, 2004)

evidenciam que o trabalhador pode se comprometer de maneiras distintas e com

pontos focais diferentes no trabalho, podendo estabelecer uma relação mais

envolvida com a profissão, com o cargo exercido ou com os pressupostos da

organização. Para esse autor, o comprometimento profissional é um vínculo

emocional com a profissão, mas que permite ao indivíduo uma autonomia de

vinculação, pois esse se sentirá comprometido com a organização que promova seu

bem-estar, e, caso isso não aconteça, ele pode buscar outra instituição que possua

valores e fundamentos mais empáticos para ele. No que concerne ao

comprometimento afetivo com a organização, esse resulta do vínculo emocional com

a empresa e da lealdade estabelecida com ela, fomentando sua permanência nela

(MORROW, 1993).

Bastos (1994) evidencia a concepção de que o comprometimento com o

trabalho implica em atitudes e ações dos trabalhadores em colaborar com a

empresa e com seu bem-estar. Esse autor define o comprometimento como

engajamento, agregamento e envolvimento do sujeito para com a organização, bem

como disponibilidade em executar tarefas ou ações em favor da instituição. Dessa

forma, o comprometimento não estaria associado somente ao campo atitudinal, já

que em sua composição constam as ações dos trabalhadores em prol da empresa.

Segundo Borges-Andrade e Bastos (2002), as pesquisas contemporâneas

sobre o comprometimento no trabalho têm demonstrado a relação desse construto

com outras variáveis, como características pessoais, peculiaridades do trabalho e

políticas organizacionais com diferentes níveis de vínculo do trabalhador.

Complementando essas pesquisas, Siqueira e Padovam (2008), utilizando

como base a ligação afetiva que o sujeito pode estabelecer com a organização

através de sentimentos positivos com ela, tais como entusiasmo, orgulho,

contentamento, sentimento de pertença, apego e dedicação, acrescentaram o

comprometimento organizacional afetivo (COA) ao conceito de bem-estar no

trabalho.

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Ao englobarem essa variável ao construto, as autoras afirmam que COA traz

para o BET uma perspectiva maior sobre a importância das relações estabelecidas

pelo indivíduo com a organização empregadora, no qual essa interação, quando

positiva, pode propiciar vivências positivas e prazerosas, e, caso não haja essa

relação, pode-se entender que as sensações experenciadas no trabalho são

negativas ou desprazerosas. A presença de sentimentos negativos no trabalho,

salientam as autoras, significa a ausência do comprometimento afetivo, e, por isso,

pode-se aumentar a vivência de experiências negativas no cotidiano do trabalhador.

Esse terceiro conceito, o comprometimento organizacional afetivo,

complementa o construto bem-estar no trabalho proposto por Siqueira e Padovam

(2004). Essa variável representa a concepção de ligação positiva do empregado

com o empregador, de elevada identificação com os objetivos da organização

(BORGES-ANDRADE, 1994; MOWDAY et al., 1979) e de reconhecimento sobre o

quanto estar ligado àquela organização pode repercutir positivamente na vida do

indivíduo (SIQUEIRA; PADOVAM, 2008).

Bastos e Menezes (2010) investigaram a intenção de permanência na

organização para entender se o desejo de permanecer na instituição era sinônimo

de comprometimento ou se era apenas um aspecto constituinte do vínculo

empregatício. Eles se basearam teoricamente em duas linhas de investigação

existente na literatura (BUCHANAN, 1974; MOWDAY; STEERS; PORTER, 1979),

que concebem o comprometimento dos trabalhadores como sendo a atitude dos

sujeitos que possuem o desejo de manter-se afiliado como membro da organização,

pois se identifica com os valores organizacionais e se dispõe a se esforçar em prol

da instituição empregadora. Sob esse ângulo, um dos indícios do comprometimento

dos trabalhadores abarca o desejo de permanecer na organização para seguir

atuando como membro da instituição e o desejo de continuar no emprego seria um

aspecto constituinte do comprometimento (BASTOS; MENEZES, 2010).

O estudo de Bastos e Menezes (2010) teve como objetivo investigar a

influência das variáveis atitudinais (de caráter afetivo e instrumental) e

comportamentais sobre a intenção de permanecer na organização, tendo 1.869

trabalhadores como sujeitos da pesquisa. Apesar de pesquisas anteriores (STEERS;

MOWDAY, 1981; SULIMAN; ILES, 2000; MEYER et al., 2000) terem revelado que o

comprometimento afetivo seja o preditor atitudinal mais potente frente às intenções

de permanência na organização, a decisão de permanecer ou não pode ser

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influenciada por diversas causas, tais como falta de alternativas viáveis imediatas de

trabalho, consequências materiais e pessoais que saída da organização poderia

resultar. Por fim, os resultados desse trabalho revelaram que a variável que prediz

fortemente a permanência na organização é de base afetiva, que a medida de

intenções de permanência não pode ser predita pela base instrumental e que o

intento de continuar na organização não é constituinte do comprometimento

organizacional (BASTOS; MENEZES, 2010).

Em estudo mais recente, Bastos e Rodrigues (2012) fizeram uma

reavalidação do construto de comprometimento com o trabalho, levando em

consideração a amplitude que o conceito atingiu, abarcando diferentes vínculos. O

conceito teórico mais utilizado até então era o modelo tridimensional do

comprometimento (MEYER; ALLEN; SMITH, 1993) composto pelas bases afetiva,

normativa e instrumental/continuação. Segundo outros autores (KLEIN; MOLLOY;

COOPER, 2009), esse conceito tridimensional abarca aspectos muito amplos do

comportamento organizacional, reduzindo a precisão dos resultados e mascarando

outros que poderiam ser investigados caso este construto fosse desmembrado.

As discussões teóricas sobre o referido conceito tridimensional suscitou a

concepção do conceito de entricheiramento (CARDSON; BEDEIAN, 1995 apud

BASTOS; RODRIGUES, 2012), que possui o foco na carreira e explica um dos

vínculos atribuídos ao comprometimento: a permanência na organização por

necessidade. Para esses autores, o entricheiramento na carreira seria semelhante

ao conceito de comprometimento instrumental (ou de continuação), pois se configura

enquanto uma tendência do indivíduo em permanecer na instituição devido às

consequências materiais e profissionais que sua saída ocasionaria. Somado a esses

dois aspectos existiria também um custo emocional frente às suas escolhas e a

percepção da realidade do mercado de trabalho no que se refere às alternativas

possíveis e rentáveis para o sujeito. Porém, no conceito de entrincheiramento leva-

se em consideração o vínculo criado através da história do trabalhador na

organização e de uma análise dos ganhos e perdas resultantes da sua saída da

instituição, e, caso não haja grandes custos associados à sua saída, não há o

entrincheiramento (BASTOS; RODRIGUES, 2012).

Baseados nessa revisão teórica e metodológica, Bastos e Rodrigues (2012)

elaboraram e validaram a escala de entrincheiramento organizacional. Esse

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construto não será abarcado nesta revisão, pois não faz parte do conceito de bem-

estar no trabalho.

2.3 Revisão bibliográfica (Últimos 6 anos)

Estudos dos últimos seis anos foram identificados em bancos de dados

disponíveis no Portal capes de Periódicos.Buscaram-se as palavras-chave well-

beingatwork; wellnessatwork; ocupacional wellness;bien estar em trabajo; bem-estar

no trabalho; bem-estar ocupacional e bem-estar nas organizações. Foram

localizados 101 estudos. O Quadro 1 permite identificar detalhes. Por exemplo, em

2008, houve 13 estudos publicados na base EBSCO.

Do total, foram selecionados seis artigos empíricos (2009-2014), que serão

resumidamente descritos a seguir, com o objetivo de demonstrar como está a

evolução teórica e metodológica dos estudos sobre bem-estar no trabalho até o

momento.A escolha destes artigos descritos abaixo ocorreu de forma que pudesse

ser abarcado um artigo relevante por ano, que não tenha sido utilizado na revisão

bibliográfica deste trabalho e que fosse o mais amplo possível dentro das pesquisas

nacionais e internacionais.

Tabela 1 – Revisão bibliométrica de BET

TERMOS PESQUISADOS:: well-being at work; wellness at work; occupacional wellness; bien estar em trabajo; bem-estar no trabalho; bem-estar ocupacional; bem-estar nas organizações..

CAPES / Ano Quantidade BANCO DE DADOS

2008 13

ACADEMIC ON FILE

EBSCO HOST

2009 10 SAGE JOURNALS

SPRINGER LINK

2010 16 EMERALD INSIGHT

APA

2011 8 WILEY ONLINE

SCIENCE DIRECT

2012 19 PUBMED.GOV

SCIELO

2013 27 SCIENTIFIC RESEARCH

GOOGLE

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53

Fonte: Tabela elaborada pela autora conforme dados obtidos no periódicos CAPES.

Em 2009, Camerino, Sarquis e Costa investigaram as condições do trabalho,

saúde e bem-estar dos trabalhadores de enfermagem na Europa. Configurou-se

como um estudo multicêntrico, intercultural e longitudinal acerca da escassez de

profissionais de enfermagem no continente europeu. O objetivo desse trabalho foi

observar a relação entre condições de trabalho e saúde desses profissionais de

saúde. Participaram do estudo 10 países europeus e 19.099 trabalhadores de

enfermagem, e os dados coletados foram analisados por meio da análise descritiva

e da regressão linear. Os resultados mostraram que a saúde e o bem-estar desses

profissionais dependem das condições do trabalho, o que estava ocasionando

abandono da profissão por esses profissionais. Nessa pesquisa, enfatizou-se

planejar as intervenções que podem reduzir o turnover e a escassez dos

trabalhadores de enfermagem, sugerindo mudanças em relação ao contexto de

trabalho e o desenvolvimento de carreira, a fim de favorecer a permanência desses

trabalhadores e o incentivo pela formação nessa área.

Em 2010, Siqueira, Martins e Resende pesquisaram o impacto das bases de

poder, dos conflitos entre supervisor e subordinados e dos conflitos intragrupais no

bem-estar no trabalho (BET). Participaram desse estudo 130 trabalhadores, que

responderam a escalas válidas e fidedignas sobre os temas. Os resultados obtidos

após as análises de regressão revelaram que os conflitos e as bases de poder não

explicam BET, e que os profissionais pesquisados se sentiam muito comprometidos

afetivamente com a organização empregadora. O modelo hipotético dessa pesquisa,

por fim, não foi confirmado.

Em 2011, Barros investigou a inteligência emocional, confiança do emprego

na organização e bem-estar no trabalho em executivos. Participaram dessa

pesquisa 22 participantes (altos executivos) através da coleta de questionários

compostos por escalas fidedignas sobre o tema. Os resultados do estudo revelaram

que a confiança na organização está significativamente vinculada ao bem-estar

desses profissionais e não houve correlação significativa entre inteligência

2014 8 PISTES

TOTAL 101

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emocional e o bem-estar no trabalho. Assim, a hipótese inicial do trabalho foi

confirmada em partes.

Alves, Neves, Dela Coleta e Oliveira (2012) avaliaram o bem-estar entre

profissionais de enfermagem de um hospital universitário. A amostra foi composta

por 340 profissionais da área, que responderam a escalas válidas dos construtos

que compõem o bem-estar no trabalho: satisfação no trabalho, envolvimento com o

trabalho e comprometimento organizacional afetivo. Os resultados indicaram nível

moderado de bem-estar no trabalho em decorrência das diferentes categorias

profissionais, do regime de contratação e na remuneração e desenvolvimento

profissional dos profissionais pesquisados. Esse dado infere que existem

discrepâncias na atuação destes trabalhadores, o que pode refletir na qualidade do

atendimento prestado aos pacientes do hospital universitário em questão.

Em 2013, Carneiro pesquisou o bem-estar pessoal nas organizações em

relação ao papel do lócus de controle no trabalho. A pesquisa se caracterizou com

uma investigação quantitativa e teve como amostra 200 profissionais de empresas

privadas. Para a coleta dos dados, foi utilizada a escala de bem-estar pessoal nas

organizações (PAZ, 2004). O resultado desse trabalho evidenciou que os

profissionais que possuíam maior nível de controle da situação (internalidade)

experenciaram melhores índices de bem-estar no trabalho do que aqueles que

percebiam o controle do trabalho através dos fatores externos (organização, sorte ou

o acaso). Isso demonstra que possuir maior controle acerca do trabalho

desempenhado favorece o bem-estar do trabalhador.

Em 2014, Antloga, Cunha e Peixoto (2014) estudaram o impacto das

mudanças no setor judiciário brasileiro sobre o trabalhador. Com base no referencial

teórico existente na área da saúde do trabalhador, buscaram investigar o contexto

de trabalho e o custo humano no trabalho em um órgão do Poder Judiciário

brasileiro. Como instrumento de investigação, foram utilizadas a escala de avaliação

do contexto de trabalho (EACT) e a escala de custo humano no trabalho (ECHT),

ambas componentes do inventário sobre trabalho e risco de adoecimento (ITRA).

Participaram desse estudo 383 servidores de diferentes lotações, sendo a maioria

do sexo masculino (62,7%). Os resultados obtidos evidenciaram que o fator

condições de trabalho foi avaliado positivamente e que os fatores organização do

trabalho e relações socioprofissionais foram avaliados negativamente, indicando os

riscos de adoecimento para esses trabalhadores.

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55

2.4 RESILIÊNCIA

O contexto global de vida e de trabalho vem sofrendo alterações constantes,

influenciando aspectos da vida do homem contemporâneo tanto em relação à sua

vida pessoal como profissional. Essas mudanças requerem que esse sujeito possua

habilidades adaptativas e flexibilidade para o enfrentamento desses desafios

cotidianos. Muitas teorias foram concebidas e pesquisadas foram realizadas a fim de

investigar a capacidade do homem se adaptar favoravelmente às adversidades. A

solidificação do conceito de resiliência como construto psicológico alicerçou e

embasou empiricamente a concepção adaptativa e positiva do homem frente às

dificuldades (BARREIRA; NAKAMURA, 2006).

O conceito de resiliência, apesar de ser um construto recente para a

psicologia, é um termo conhecido nas ciências exatas desde o século XIX. Esse

conceito foi implantado às ciências humanas e sociais no final do século XX e, a

princípio, era utilizado como sinônimo dos termos invencibilidade ou

invulnerabilidade. A palavra resiliência, que deriva da palavra latina resiliens,

significa “saltar para trás, voltar, recuar” e remete à ideia de elasticidade e rápida

recuperação (JACELON, 1997; PINHEIRO, 2004; MARTINS; ONÇA; EMÍLIO;

SIQUEIRA, 2012). Por ser um tema amplo com diferentes aplicabilidades, a

resiliência enquanto construto psicológico exige uma atenção diferenciada.

Como foi explanado anteriormente, o período pós-guerra foi extremamente

frutífero para psicologia no geral. Os traumas e as mazelas sofridas pela população

mundial fomentaram estudos e pesquisas voltados às novas psicopatologias.

Segundo Seligman e Csikszentmihali (2000), antes da Segunda Guerra Mundial, as

pesquisas realizadas pela psicologia concentravam seu foco em três grupos de

atividades: na identificação e propagação de talentos, na busca pela cura da doença

mental e na investigação de subsídios que tornassem a vida das pessoas mais

produtivas. No entanto, o surgimento das novas doenças psíquicas fomentou uma

ciência centrada na dessas patologias e na adaptação desses sujeitos em

sociedade, pois era justamente nessa área que cresciam os investimentos

financeiros e de pesquisa.

As pesquisas realizadas nessa época encontram pessoas com características

diferenciadas que, mesmo tendo sofrido muito durante as guerras e tendo padecido

danos físicos e mentais incalculáveis, permaneciam saudáveis mentalmente e com

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postura positiva perante a vida. A partir dessas constatações, aumentou o interesse

dos pesquisadores em investigar aspectos subjetivos e capacidades cognitivas que

algumas pessoas tinham, sendo que, mesmo ao passar por situações de extremo

estresse e desgaste físico e emocional, uma parte particular desses indivíduos

permanecia saudável ou se recuperava favoravelmente. Inicialmente, o termo

utilizado para se referir a essa população específica era de que era invulnerável,

mas logo esse termo foi modificado para resilientes (BRANDÃO et al., 2011).

Os primeiros estudos sobre a resiliência datam de 1807 dentro das ciências

exatas e se referiam basicamente à resistência dos materiais. As pesquisas sobre

esse assunto foram, durante muito tempo, permeadas e conduzidas pela física, que

considera a resiliência como “a capacidade de um material absorver energia em sua

região elástica e retornar à sua forma original” (BRANDÃO et al., 2011; YUNES,

2001; NASH, 1982; MARTINS et al., 2012). Dessa forma, a resiliência seria a

competência de um material em suportar pressão e impacto, se adaptar a essa força

e retornar ao seu tamanho anterior sem sofrer deformação plástica ou permanente.

Segundo Barlach (2005, p. 28):

Transportado para o campo das Ciências Humanas, esse conceito tem sido utilizado para descrever a capacidade de um indivíduo ou grupo de indivíduos, mesmo num ambiente desfavorável, de se construir ou se reconstruir positivamente frente às adversidades.

De acordo com Brandão et al. (2011), os primeiros estudos acerca da

resiliência enquanto construto psicológico começaram a emergir, em massa, a partir

da década de 1970. As primeiras pesquisas tiveram mais adeptos entre os ingleses

e norte-americanos, devido às contingências históricas e socioculturais que

modificaram o interesse científico. O contexto global de mudanças fomentou uma

transformação no paradigma da psicologia, que antes possuía o enfoque do risco, e

que depois passou a enfatizar o papel da resiliência. Segundo Luthar e Zelazo

(2003), a diferença entre ambas as abordagens encontra-se na natureza positiva ou

negativa que cada uma abarca. Na abordagem do risco, focalizam-se os aspectos

negativos do desenvolvimento, do ambiente, das relações sociais e profissionais,

centra-se nas enfermidades, nos sintomas, nas características que podem causar

algum dano biológico ou social. Por outro lado, a abordagem da resiliência

compreende aspectos negativos e positivos dessas relações e busca investigar os

fatores que atuam sobre estes (BRANDÃO et al., 2011).

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A investigação dos fatores que resultam em um comportamento adaptativo

frente às adversidade possui uma extensa história e baseia-se na literatura empírica

sobre a esquizofrenia, em que encontrou uma base teórica frutífera e saliente

(LUTHAR et al., 2000). As primeiras investigações sobre pessoas com desordens

psíquicas estiveram focadas, a princípio, nos comportamentos mal-adaptados

desses sujeitos. Os indivíduos que possuíam transtornos mentais, mas que se

comportavam adequadamente, eram minoria e por isso eram considerados como

atípicos e não receberam enfoque nas pesquisas.

Após a década de 1970, outras pesquisas foram realizadas e percebeu-se

que pessoas com esquizofrenia com menor prejuízo da capacidade cognitiva

possuíam, mesmo após o adoecimento, uma história de competência no trabalho,

com boas relações sociais e afetivas, incluindo o casamento e capacidade para

cumprir responsabilidades (LUTHAR et al., 2000; GARMEZY, 1970; ZIEGLER;

GLICK, 1986). Até então, a resiliência ainda não fazia parte do quadro descritivo

desses pacientes esquizofrênicos com comportamentos adaptativos. No entanto,

essa capacidade de manter competências sociais, apesar do transtorno psíquico,

pode ser compreendida como uma trajetória de vida relativamente resiliente.

Nesse mesmo período, eclodiram as pesquisas com crianças, a princípio com

os filhos de mães esquizofrênicas. O primeiro autor a atribuir essa capacidade foi o

psiquiatra infantil E.J. Anthony (1974), ao descrever o comportamento invulnerável

de “crianças que, apesar de prolongados períodos de adversidades e estresse

psicológico, apresentavam saúde emocional e alta competência” (WERNER; SMITH,

1992, p. 4). Esses estudos iniciais foram fundamentais ao revelar e fundamentar a

importância da resiliência infantil, pois a adaptação positiva e próspera dessas

crianças em ambientes de alto risco incentivou outras pesquisas sobre a variação

individual do comportamento em resposta à adversidade (GARMEZY, 1974;

MASTEN et al., 1990; LUTHAR et al., 2000).

Outra pesquisa muito relevante na consolidação desse conceito foi o estudo

longitudinal de Emmy E. Werner e seus colaboradores com crianças da ilha Kauai,

no Hawaii. Esse trabalho começou na década de 1950 e possuía dois objetivos

principais: documentar de forma natural o desenvolvimento gestacional das

mulheres até que as crianças nascidas nesse período atingissem a idade adulta e

para avaliar as consequências a longo prazo das complicações perinatais em

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ambientes adversos, investigando o desenvolvimento dos indivíduos e sua

adaptação na vida (WERNER, 1992; WERNER, 1997; LUTHAR et al., 2000).

Os resultados dessa pesquisa longitudinal mostraram que as condições

ambientais foram mais determinantes no desenvolvimento dessa população do que

o trauma perinatal. Um terço da população pesquisada vivia em condições de muita

pobreza, em ambientes conturbados por brigas, divórcios, alcoolismo parental ou

doença mental. Outros dois terços dessa amostra apresentaram algum problema de

aprendizagem, registros de delinquência, transtornos mentais ou gravidez precoce.

Dentro desse grupo investigado, cerca de um terço dessa população que foi exposta

a situações de extrema pobreza e vulnerabilidade durante seu desenvolvimento

apresentava alguma doença grave na vida adulta. No entanto, um terço dessas

crianças cresceu favoravelmente, tornando-se jovens competentes, trabalhadores,

com vida social e afetiva expressivamente positiva. Nenhum desses jovens

apresentou problemas sérios de aprendizagem ou qualquer tipo de transtorno

durante seu desenvolvimento até a vida adulta.

Esse estudo foi muito importante, pois favoreceu a investigação da resiliência

em crianças, que, ao longo da pesquisa, se desenvolveram e se adaptaram

favoravelmente, mesmo inseridos em ambientes de alto riscos biopsicossociais. A

identificação dos fatores de proteção auxiliou no cuidado e recuperação de crianças

e jovens mal-adaptados para que fizessem uma transição tranquila para a fase

adulta (WERNER, 1992).

Historicamente, as pesquisas sobre a resiliência começaram a se propagar

pelo meio científico na década de 1970. No entanto, o fato de não possuir um

conceito teórico consolidado permitiu que o termo resiliência fosse utilizado como

sinônimo de invulnerabilidade ou de resistência às adversidades (YUNES, 2001).

Logo, o termo “invulnerabilidade” foi alterado por uma terminologia menos

determinista, pois o uso desse adjetivo sugeria que as crianças eram totalmente

imunes a qualquer tipo de desordem ou sofrimento físico ou psicológico. E, sendo

assim, sabe-se hoje que os termos resiliência e invulnerabilidade não são

equivalentes e, segundo Zimmerman e Arunkumar (1994, p. 4), resiliência refere-se

a uma “habilidade de superar adversidade, o que não significa que o indivíduo saia

da crise ileso, como implica o termo invulnerabilidade”. Dessa forma, a terminologia

resiliência ou resistência ao estresse foi adotada como a mais adequada por se

tratar de um construto psicológico (MASTEN; GARMEZY, 1985).

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Os estudos realizados nesse período, segundo Rutter (1985; 2003; 2007), ao

utilizar a invulnerabilidade como um conjunto de habilidades do indivíduo para

enfrentar as dificuldades, permitiam outras interpretações do termo, como se essas

pessoas ditas invulneráveis possuíssem uma capacidade além do comum, um tipo

de resistência absoluta ao estresse. Assim, o conceito de invulnerabilidade

expressaria essa habilidade como uma condição intrínseca ao indivíduo, sem

considerar os aspectos ambientais e circunstanciais que o cercam. Essa primeira

linha de pesquisa sobre a resiliência fundamentou-se segundo a concepção da física

em relação à resistência dos materiais e compreendia a resiliência como sendo um

traço psicológico inato e imutável composto por características físicas e por traços

de personalidade (JACELON, 1997; YUNES, 2003; BATISTA, 2010).

Pesquisas posteriores, no entanto, revelaram que as bases que constituem a

resiliência são construídas por aspectos psicológicos do sujeito e do ambiente em

que ele vive, e que o grau de resistência e tolerância não possui uma quantidade

determinada e varia de acordo com a circunstância (RUTTER, 1985). Ou seja, frente

a cada situação ou momento de adversidade, o sujeito responderá de acordo com

suas condições psicológicas no momento e com o ambiente em que ele está

inserido.

Segundo Jacelon (1997), a partir da década de 1980, muitos estudos se

concentraram em pesquisar crianças e adolescentes que tinham pais com

desordens afetivas, filhos de pais divorciados e crianças com déficit de atenção e

hiperatividade. Essas primeiras pesquisas trouxeram uma nova perspectiva de

características que constituem a resiliência em crianças, sendo estas:

a) a predisposição pessoal: composta por atividade responsável, nível social e

autonomia;

b) presença de um adulto afetuoso em seu desenvolvimento;

c) forte apoio externo: uma filiação fora do lar como escola e igreja

(JACELON, 1997; HECHTMAN, 1991).

Mais tarde, Garmezy (1993) apresentou o que denominou de “fatores de

proteção”, ao relatar casos de crianças que mantiveram sua competência apesar de

viverem em ambientes violentos e de pobreza extrema. Os fatores de proteção

apresentados por Garmezy (1993) foram semelhantes às características resilientes

apresentadas por Cowan e Work (1998 apud JACELON, 1997), revelando a

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importância das características pessoais da criança, de um adulto de confiança e

amoroso na constituição infantil e apoio externo ao ambiente familiar.

Estudos com adolescentes que tinham pais com transtornos mentais e

afetivos encontraram em seus resultados aspectos semelhantes aos “fatores de

proteção” em crianças abarcados em outros estudos (COWAN; WORK, 1988;

GARMEZY, 1993). Os adolescentes pesquisados possuíam altos níveis de

atividade, trabalhavam e tinham bons resultados acadêmicos. Em relação às

doenças dos genitores, possuíam boa compreensão da realidade dos seus pais e da

sua própria realidade, reconhecendo não serem causadores das patologias de seus

pais. Boa parte desses jovens teve sua educação orientada por um adulto que

assumiu a responsabilidade por ele, sendo esse adulto alguém da comunidade ou

um irmão mais velho, proporcionando estabilidade e coesão num ambiente familiar,

apesar das intercorrências cotidianas (BEARDSLEE; PODOREFSKY, 1988;

BEARDSLEE, 1989). Por fim, assim como as crianças resilientes de outros estudos,

esses adolescentes possuíam relações de apoio e confiança com outros adultos,

professores, amigos ou irmãos (GARMEZY, 1993; JACELON, 1997).

As pesquisas com adulto foram realizadas inicialmente com pessoas

portadoras de síndrome da imunidade adquirida (HIV), idosas e sujeitos com câncer.

Os portadores de AIDS tinham como característica terem sido infectados há pelo

menos três anos, e esses sujeitos assim como “as crianças resilientes possuíam

recursos pessoais protetores, tais como educação, inteligência, interesse pela

atualidade e capacidade de adaptação à mudança” (JACELON, 1997, p. 125). Esses

adultos, por possuírem tais habilidades, tinham uma visão positiva da vida e

estabeleciam pequenas metas para sua vida (RABKIN, 1993).

No que concerne aos estudos com pessoas com câncer, segundo Antoni e

Godkin (1988) havia uma pré-disposição dos sujeitos através dos seus traços de

personalidade e modos de lidar com os problemas que favorecia o surgimento da

doença. Os sujeitos desse estudo foram divididos em dois grupos, um grupo tido

como sendo resilientes por serem mais adaptados à doença, serem mais otimistas e

com boas relações interpessoais. O outro grupo era composto por pessoas menos

otimistas, ansiosos e com pouco suporte social. Os resultados evidenciaram que

existe uma ligação entre o tipo e o nível da doença e as variáveis psicossociais do

sujeito, os pesquisadores a sustentar a teoria de que a resiliência é um traço das

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características pessoais dos indivíduos e que os sujeitos menos resilientes tendem a

ser menos resistentes à doença.

Já as pesquisas com mulheres idosas foram realizadas com o intuito de

entender porque algumas dessas idosas se adaptavam favoravelmente às perdas

vividas durante a vida e o que as distingue dos outros idosos que não possuem a

mesma adaptabilidade. Todas as idosas investigadas tinham sofrido alguma perda

significativa nos últimos cinco anos, incluindo morte de algum ente querido, ser

despedida do emprego, agravo da saúde e deslocalização (sair do seu lugar de

origem, do seu meio social ou da sua casa). Os resultados mostraram que as idosas

resilientes possuíam características pessoais e percepção de mundo muito

semelhante, como a equanimidade (perspectiva equilibrada da própria experiência

de vida), perseverança (vontade de viver mesmo com adversidades),

autossuficiência (capacidade de se cuidar e crença em si mesma), significação

positiva da vida (percepção de que a vida possui uma finalidade e que resulta do

esforço e contribuição de cada um) e isolamento existencial (a percepção de que

cada caminho da vida é singular e própria a cada sujeito). Assim, levando em

consideração os dados obtidos através de entrevistas semiestruturadas e da

utilização da escala de resiliência, eles reforçam a concepção de que a resiliência é

uma característica das idosas pesquisadas (WAGNILD; YOUNG, 1990; JACELON,

1997).

Essas primeiras pesquisas realizadas com o intuito de fortalecer e

sistematizar o conceito de resiliência foram fortemente influenciadas pelo momento

histórico vivido no final da década de 1970, quando o mundo experenciou um

período de grande crise financeira permeada pelo desemprego em massa, aumento

da pobreza e das desigualdades sociais (MASTEN; COATSWORTH, 1998 apud

BRANDÃO et al., 2011, p. 267). Esse período foi marcado pela ascensão do

capitalismo, o fim da guerra fria e o enfraquecimento do socialismo e segundo

Brandão et al. (2011, p. 268):

[...] E nesse contexto de aumento de pobreza e riscos, de desmobilização social, de transformações de valores morais e de maior importância do indivíduo sobre a coletividade é que proliferam os estudos da resiliência, entendida, nesse início, a partir de uma perspectiva bastante individualista.

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O contexto histórico global dos pós-guerras, de crescimento econômico

seguido de uma crise financeira, afetou toda uma geração, pois nesse período

houve um aumento no número de divórcios, de abusos contra as crianças, aumento

do consumo de álcool e drogas em adultos, gravidez em adolescentes e violência.

Mas, mesmo dentro dessas circunstâncias, os pesquisadores observaram que havia

crianças e adolescentes que se desenvolviam adequadamente, e foi nesse contexto

que o fenômeno da resiliência foi observado (RUTTER, 1987; JACELON, 1997;

YUNES, 2001; BRANDÃO et al., 2011).

2.4.1 Resiliência como traço ou como processo?

A princípio, a resiliência foi compreendida como sendo um traço de

personalidade desses indivíduos. Os pesquisadores centraram seus esforços em

compreender de que modo crianças submetidas a todo tipo de estresse e privação

poderiam se desenvolver de forma positiva e competente. Segundo Wagnild e Young

(1993 apud BATISTA, 2010), a resiliência é considerada como uma característica da

personalidade, que atua na moderação dos efeitos negativos de processos

estressantes e promove a adaptação do indivíduo diante desses fatores, por isso é

compreendida como uma qualidade peculiar de pessoas que conseguem se adaptar

favoravelmente e se reequilibrar diante das intercorrências cotidianas. Segundo a

ótica de pesquisadores dessa vertente, a resiliência seria um conjunto de traços de

personalidade que favorece a resistência dos indivíduos frente a eventos traumáticos

com o intuito de preservar sua saúde mental (GARMEZY, 1987; WERNER; SMITH,

1992; JACELON, 1997; BATISTA, 2010; ONÇA, 2011).

Dentro dessa perspectiva, ao considerar a resiliência como um traço de

personalidade, é preciso apreender a personalidade como algo que é consolidada

por características genéticas e fatores ambientais, e, sendo assim, é um processo

dinâmico que se desenvolve por toda vida e sofre influência da hereditariedade

somada às aprendizagens adquiridas ao longo da vida (BATISTA, 2010). Segundo

Allport (1973), tanto a hereditariedade como as experiências vividas se

interrelacionam para que o sujeito adquira as habilidades e adaptação necessária

para seu ajustamento no meio em que ele se insere. Assim, segundo esse conceito,

as principais características de personalidade de uma pessoa resiliente são:

sociabilidade, senso de autonomia, criatividade e iniciativa na resolução de

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problemas (YUNES, 2003). E, dessa forma, as pesquisas sobre a resiliência como

um traço de personalidade focaram seus estudos em indivíduos que se desenvolviam

de forma saudável mesmo em situações adversas, considerando que essa

adaptação e bom desenvolvimento era fruto de uma habilidade de sua personalidade

(GOULART JÚNIOR et al., 2011). Segundo Onça (2011), o traço de personalidade

não é uma característica inata, mas é algo que pode ser desenvolvido durante a vida,

no entanto, ao desenvolver a resiliência, essa habilidade se torna sólida e

acompanha o indivíduo por toda vida.

No decorrer das pesquisas, outros fatores foram sendo compreendidos como

interacionais ao desenvolvimento da resiliência, tais como as influências ambientais,

vínculos com pessoas de confiança que fortalecem sua rede de proteção e as

características individuais (RUTTER, 1987; WERNER; SMITH, 1992; LUTHAR et al.,

2000; ONÇA, 2011). Ao incluir os aspectos ambientais, sociais, familiares e

individuais como promotores da resiliência, o conceito foi expandido para que a

resiliência começasse a ser tratada tanto como um traço de personalidade ou como

um processo passível de ser desenvolvida (INFANTE, 2005). A extensão do conceito

fomentou uma linha teórica e de pesquisa menos determinante que o traço de

personalidade que considera a resiliência como um processo que pode ser aprendido

em qualquer momento da vida e, dessa forma, seria uma habilidade mutável

(RUTTER, 1987; JACELON, 1997; ONÇA, 2011).

Um dos principais pesquisadores da resiliência enquanto processo é o

psiquiatra britânico Michael Rutter, que, no início da década de 1980, publicou um

livro no qual retrata a relação do abandono materno e o desenvolvimento de

psicopatologias na criança (RUTTER, 1981). Essa obra traz um capítulo sobre o

papel da resiliência em adultos que sofreram abandono parental na infância e que,

apesar das adversidades, conseguiram se desenvolver de forma saudável e estável.

A princípio, Rutter (1987) descrevia a resiliência como sendo “uma variação individual

em resposta ao risco” e por variar de acordo com a pessoa e a situação vivenciada,

não pode ser considerada como uma qualidade permanente da personalidade do

sujeito (YUNES, 2003). Numa perspectiva mais recente, Rutter (1999, p. 119) trata o

conceito de resiliência de maneira mais abrangente, como “um fenômeno de

superação de estresse e adversidades”, e não como uma habilidade inerente ao

indivíduo, pois está passível a mudanças. Ele considera que, ao mudar o ambiente, a

intensidade e a frequência da resiliência também se modificam (RUTTER, 1999;

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1987). A compreensão de Rutter (1985) sobre o conceito da invulnerabilidade infantil

propiciou a extensão do conceito e fomentou outros trabalhos que tiveram suas

pesquisas como referência (WERNER; SMITH, 1989; 1992; YUNES, 2003, BATISTA,

2010; ONÇA, 2011).

As pesquisas sobre esse enfoque da resiliência enquanto processo leva em

consideração os fatores ambientais e individuais (WERNER; SMITH, 1992; RUTTER,

1987; GARMEZY, 1985), a complexidade do contexto ecológico (YUNES;

SZYMANSKY, 2001; CECCONELLO, 2003; POLETTO; KOLLER, 2008) e a dinâmica

entre os mecanismos individuais (emocionais e cognitivos) e socioculturais

(INFANTE, 2005). A resiliência enquanto processo é desenvolvida através da

interação do indivíduo com o meio e a forma como esse sujeito se comporta frente às

adversidades irá denotar a dinamicidade de sua resiliência.

Independente da vertente teórica utilizada, pode-se afirmar que a resiliência é

uma adaptação positiva diante de crises e adversidades (LUTHAR et al., 2000;

MASTEN et al., 1990; RUTTER, 1999; WERNER; SMITH, 1989, 1992; ONÇA, 2011).

Dessa forma, é importante salientar o papel dos riscos e dos fatores estressores para

a consolidação teórica da resiliência. Como foi explanado anteriormente, os primeiros

estudos ocorreram com crianças e adolescentes que viviam em ambientes

desorganizados, em situações de pobreza, que possuíam pais com algum tipo de

desordem mental por doença ou por uso de álcool e outras drogas (WERNER;

SMITH, 1989, 1992; MASTEN et al., 1990; GARMEZY; LUTHAR et al., 2000;

YUNES, 2000). O principal intento dessas pesquisas era descobrir de que forma

essas condições vivenciadas na formação desses sujeitos iriam influenciar em sua

competência na vida adulta (BONANO, 2012).

Dentro da conjuntura de vida contemporânea, sabe-se que os fatores

estressantes são os mais variados possíveis, desde problemas emocionais pessoais

até as catástrofes naturais. Qualquer pessoa, independente da sua classe social ou

fase da vida, irá passar em algum momento por momentos de crises ou riscos. Por

isso, as produções teóricas e empíricas sobre a resiliência vêm sempre permeadas

pela presença ou ausência de situações de risco, e, segundo Yunes e Szymansky

(2001), os fatores de riscos estão presentes em eventos cotidianos negativos que

podem aumentar a incidência de problemas de saúde, emocionais e sociais para o

indíviduo que sofre suas influências.

Os fatores de risco podem ser causados por questões externas ao indivíduo,

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como as variáveis ambientais ou por causas internas a ele, tais como padrões

comportamentais do sujeito que podem aumentar a probabilidade de experenciar

situações adversas, causando algum tipo de consequência para ele, como prejuízos

físicos, psicológicos ou sociais (RUTTER, 1987; CERCCONELLO, 2003; LUTHAR et

al., 2000; YUNES; SZYMANSKI, 2001; PESCE et al., 2004).

O conceito de risco, em razão de ser formado por demandas externas e

internas ao indivíduo, torna-se um obstáculo individual ou ambiental, cujos efeitos

resultam de forma diferente para cada sujeito. Outros pesquisadores afirmam que,

para que uma situação seja considerada de risco, é necessário compreender os

aspectos individuais da pessoa, as questões eventuais da situação, porque um

evento que pode ser enfrentado como um perigo para um indivíduo pode ser

entendido por outro apenas como um desafio (RUTTER, 1987; LUTHAR et al., 2000;

YUNES, 2001; PESCE et al., 2004). Segundo Emílio (2011), o sujeito resiliente não

é aquele que não experimenta o estresse ou os fatores de riscos, mas é aquele que

vive a experiência, suporta suas consequências e conserva o aprendizado adquirido

com a situação adversa.

No que concerne aos fatores de proteção, como foi dito anteriormente, esses

processos são compostos por influências emocionais, físicas e sociais que auxiliam

o indivíduo a enfrentar, resignificar e modificar sua resposta frente às adversidades

da vida.Segundo Rutter (1987) e Yunes (2001), os fatores de proteção são aqueles

que favorecem a modificação de um comportamento não adaptativo perante as

circunstâncias de estresse ou de riscos. Ao modificar o comportamento do indivíduo

frente à situação adversa, diminui a exposição do sujeito a outros riscos, melhora a

compreensão do sujeito perante sua realidade e ajuda a manter a autoestima, a

qual, se orientada positivamente, poderá melhorar o rendimento das atividades

desse sujeito, desenvolvendo sua competência, que, por fim, poderá transformar os

efeitos negativos da situação em uma resposta positiva e adaptada.

Assim, na psicologia, ainda não existe um consenso teórico definido sobre

como a resiliência é desenvolvida, se é um traço de personalidade ou um processo

adquirido, e o que, de fato, compõe esse construto. A dificuldade de se encontrar um

consenso teórico sobre a resiliência ocorre devido aos seguintes fatores: a

ambiguidade nas definições conceituais, as variações subjetivas frente às

experiências de risco, a instabilidade do fenômeno da resiliência e as preocupações

teórico-metodológicas sobre a utilidade da resiliência na construção científica de

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conhecimentos (LUTHAR, 2000). No entanto, esse é um tema que tem desafiado

estudiosos ao longo de quatro décadas, e, por isso, é importante salientar que a

maioria dos autores contemporâneos compreende o fenômeno como um construto

processual que abarca a relação do indivíduo e o contexto no qual está inserido

baseado num processo dinâmico, multidimensional, levando em consideração os

fatores de risco e proteção, bem como a relevância das crenças e significados

atribuídos pelos indivíduos às experiências traumáticas ou situações adversas

vivenciadas (CECCONELLO, 2003; MASTEN et al., 1990; INFANTE, 2005, LUTHAR

et al., 2000; PALUDO; KOLLER, 2005; PESCE et al., 2005; RUTTER, 1987; YUNES;

SZYMANSKY, 2001).

Contextualmente, a produção teórica acerca da resiliência ganha mais força e

espaço na psicologia científica juntamente com o crescimento da psicologia positiva

nos anos 1990. Essa linha teórica se caracteriza como uma ciência psicológica

voltada à compreensão de fenômenos positivos, como satisfação, altruísmo e

felicidade (YUNES, 2003). Dessa forma, a resiliência segundo a perspectiva da

psicologia positiva, seria capacidade de adaptação positiva dos indivíduos que

vivenciam experiências de adversidade (LUTHAR; CICCHTTI; BECKER, 2000). As

pesquisas realizadas desde então buscam compreender “as fontes de força”

(SELIGMAN; CSIKSZENTMIHALY, 2000, p. 6), que sustentam as pessoas frente

aos problemas cotidianos, que criam condições adaptativas e, de certa forma,

preservam a saúde mental desses sujeitos.

Por fim, o conceito de resiliência trouxe um novo olhar sobre o ser humano e

suas potencialidades ao deslocar a ênfase dos aspectos negativos das doenças e

outros problemas para a capacidade adaptativa dos sujeitos a qual possibilita que

sejam criadas as condições de responder positivamente às demandas da vida

cotidiana (SILVA et al., 2005, p. 99). Assim, as pessoas resilientes são aquelas que

buscam recursos internos e externos para enfrentar e se adaptar aos contratempos

cotidianos e afetivos de forma positiva e ajustada.

2.4.2 Resiliência no Trabalho

O contexto de trabalho atual e globalizado vem se modificando rapidamente

em decorrência das transformações tecnológicas e desaquecimento econômico,

reduzindo o capital humano nas empresas, exigindo a adaptação das instituições e

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de seus profissionais para atender as demandas do mercado. Segundo Barlach,

Limongi-França e Malvezzi (2008, p. 103), a dinâmica organizacional atual busca “a

flexibilidade de ação, de estrutura e de vida pessoal, como meio de ajustamento a

novas contingências e condições econômicas, sociais, culturais, tecnológicas e

políticas”. Dessa forma, o contexto de trabalho moderno exige que o trabalhador

seja flexível e afeito a mudanças e capaz de se adaptar constantemente a novas

exigências.

O conceito de resiliência no trabalho refere-se à capacidade de construção de

recursos adaptativos do sujeito em relação ao seu contexto laboral, de forma a

preservar a sanidade mental e física desse trabalhador, além de fortalecer a relação

saudável com o seu trabalho, mesmo em ambientes permeados por mudanças e

rupturas. Pinheiro (2004, p. 68) vai dizer que, “na sociedade moderna, as mudanças

estão cada vez mais rápidas e profundas, exigindo constantes esforços de

adaptação e, portanto, tornando a resiliência um desafio para o novo milênio”. Dessa

forma, o conceito de resiliência no trabalho soma, em sua construção, dois eixos

fundamentais para a vida do homem moderno: o trabalho enquanto agente

potencializador desse indivíduo e a capacidade de se adaptar favoravelmente a

mudanças em seu ambiente de trabalho.

Os estudos acerca da resiliência organizacional ainda são escassos, mas o

crescimento das pesquisas que utilizam esse conceito para justificar o

comportamento adaptativo frente às adversidades em indivíduos, famílias ou grupos

suscitou o interesse do campo organizacional. Segundo Emílio (2011, p. 31), “a

resiliência é um conceito promissor nos três campos, uma vez que sinaliza

possibilidades do ser humano responder de forma positiva aos infortúnios da vida”.

Dessa forma, em decorrência das mudanças que o conceito de trabalho vem

sofrendo nas últimas décadas, é importante investigar o comportamento dos

indivíduos segundo o conceito da resiliência, porque, muitas vezes, as exigências e

cobranças feitas ao trabalhador podem requerer dele um esforço sobre-humano

para sua adaptação e enfrentamento das adversidades laborais (BARLACH, 2005).

Segundo Ribeiro et al. (2011), a forma como o sujeito apreende sua realidade é

importante para formação e consolidação da identidade do trabalhador. O trabalho

na sociedade contemporânea tornou-se atividade humana vital, pois é através do

trabalho que esse sujeito ocupa um lugar na sociedade, produz bens, onde

desenvolve suas habilidades operacionais, intelectuais e sociais, e torna-se

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reconhecido dentro e fora do ambiente organizacional pela função ou pela atividade

que desempenha.

Os primeiros estudos acerca da resiliência no trabalho ou resiliência laboral,

segundo Martins (2012), tiveram início ao pesquisar grupos de profissionais que

experenciavam em seu cotidiano situações estressantes ou desgastantes, sendo

esses os profissionais de saúde e professores que, ao longo do tempo,

abandonavam o emprego por não suportarem mais as adversidades advindas no

âmbito laboral. No entanto, esses estudos iniciais focavam a resiliência pessoal no

trabalho, ou seja, investigavam como o comportamento dos profissionais resilientes

influenciava na organização ou nas relações pessoais dentro do ambiente do

trabalho (MARTINS, 2012).

Para Mallak (1998), as pessoas resilientes possuem a habilidade de

responder favoravelmete às mudanças, com índice de estresse menor, focando sua

energia para realizar seus objetivos e atividades. Para esse autor, a resiliência no

trabalho se refere à capacidade de responder adaptativamente e positivamente às

adversidades advindas do trabalho. Ou seja, a resiliência no trabalho pode ser

compreendida como uma habilidade do sujeito que consegue instalar um

comportamento adaptativo positivo frente às adversidades enfrentadas no trabalho,

favorecendo uma atuação mais persistente, rápida e positiva do profissional.

Corroborando com essa concepção, Luthans e Youssef (2007) definem a resiliência

no trabalho como a competência dos sujeitos em enfretar às turbulências vividas no

contexto de trabalho e de se comportar adaptativamente às mudanças, mantendo

seu empenho e rendimento no trabalho. Esses autores, em um estudo realizado em

2007, concluíram que a resiliência auxilia o trabalhador a criar estratégias ou

soluções para o enfrentamento das circunstâncias aversivas, de forma que seu

comportamento se torne eficiente, agregando aprendizagem ao sujeito e

favorecendo a organização.

Coutu (2002), em seu trabalho, trouxe à luz diversas reflexões e exemplos de

resiliência baseados em casos reais de pessoas que sofreram torturas, vivenciaram

guerras, recessão econômica, ataques terroristas, catástrofes naturais, violência,

doenças crônicas e incuráveis, mortes coletivas e de entes queridos. Para essa

autora, é importante atribuir um significado a todos os problemas vivenciados ao

invés de se vitimizar perante as circunstâncias. Ao conceber um sentido para o

sofrimento, edificam-se pontes para o futuro, fundamenta-se sua existência e a de

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outras pessoas, pois essas pontes que ligam o presente ao futuro tornam a

experiência adversa em algo administrável porque deter-se somente ao presente e

ao sofrimento pode ser uma situação esmagadora (COUTU, 2002).

Nesse trabalho, a autora traz uma compilação sobre o avanço empírico do

conceito de resiliência como uma habilidade que pode ser aprendida mesmo em

crianças, sobreviventes de campos de concentração e de catástrofes naturais ou

empresas. Para isso, ela sugere que pessoas ou organizações resilientes possuam

três características: aceitação incondicional da realidade, uma crença profunda

sustentada por valores fortemente arraigados de que a vida é significativa e uma

incrível capacidade de improvisar. E, nesse sentido, Becker (apudCoutu, 2002, p.3)

afirma:

mais do que educação, mais do que a experiência, mais que formação, é o nível de resiliência de uma pessoa que vai determinar quem sucede e quem falha. Isso é verdadeiro na ala de câncer, é verdade nas Olimpíadas, e é verdade na sala de reuniões (BECKER apud COUTU, 2002).

Pesquisas recentes têm evidenciado a forte influência da resiliência no mundo

do trabalho e dos negócios, e, segundo Coutu (2002), é justamente a capacidade de

improvisação e criatividade que as empresas buscam como habilidades importantes

para seus funcionários. A autora também enfatiza que, com apenas uma ou duas

das qualidades, é possível que o sujeito/organização se recupere de dificuldades,

mas que só será verdadeiramente resiliente se possuir todas as características e

essa concepção vale para as organizações resilientes também.

No Brasil, o primeiro estudo sobre a resiliência organizacional foi realizada por

Job (2003), que investigou 60 funcionários de duas empresas multinacionais do

setor de elétrico-eletrônico do estado de São Paulo. Sua pesquisa teve como intuito

de analisar a relação entre o trabalho e a saúde física e mental dos trabalhadores

dessas empresas. O interesse principal nessa investigação era identificar os

principais fatores que causavam sofrimento entre os trabalhadores e quais os

mecanismos ou fatores de suporte esses trabalhadores usavam para garantir o

desempenho de suas atividades laborativas e sua saúde, no geral.

Os resultados indicaram que as principais causas de sofrimento entre os

trabalhadores foram: a pressão e a responsabilidade do trabalho; a incapacidade de

aceitar as próprias falhas; a culpa pela desinformação; a falta de tempo para a

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família; a falta de apoio de pares/superiores; frustração; a falta de domínio sobre o

futuro; a falta de reconhecimento; pouca liberdade de criação e autonomia; tarefas

estafantes, repetitivas e pesadas que demandem esforço físico elevado; doenças

gerais e ocupacionais; medo da perda do emprego; obrigação de efetuar demissões

e redução de pessoal; e assédio moral (JOB, 2003). No entanto, apesar de

reconhecerem os eventos promotores de sofrimento em seu trabalho, a maioria dos

pesquisados mostrou ter uma visão positiva da vida e enfatizou a existência de

outros fatores que fortaleciam sua capacidade de superar os obstáculos e

adversidades do trabalho, preservando sua saúde psíquica e física.

Em relação aos fatores de proteção, os resultados da pesquisa foram

equivalentes aos conceitos encontrados na literatura como sendo os fatores de

resiliência, e esses são: “vontade de viver, autoestima, amor-próprio, respeito

próprio, esperança, crença, autonomia, iniciativa pessoal, autodeterminação, busca

de significado para a vida, autoafirmação, preservação da identidade, curiosidade e

capacidade de estabelecer bons relacionamentos” (JOB, 2003, p. 168).

Por fim, Job (2003) relata que para os trabalhadores pesquisados o trabalho

possui um caráter positivo e com características motivacionais. Para esse autor, a

resiliência é uma importante habilidade dentro das organizações em decorrência das

constantes mudanças e alterações que o mundo do trabalho vem sofrendo nos

últimos tempos. A resiliência é importante nos processos de tomadas de decisão,

pois favorece aos profissionais uma postura mais receptiva e adaptativa às

mudanças e favorece o fortalecimento desses sujeitos e da própria organização para

encarar outros momentos de incertezas e crises no futuro (JOB, 2003).

A pesquisa realizada por Coutu (2002) influenciou outros trabalhos nacionais,

como, por exemplo, a revisão teórica e metodológica realizada por Barlach (2005)

acerca da resiliência humana. Essa revisão fundamentou outros trabalhos, como a

pesquisa qualitativa realizada por Barlach, Limongi-França e Malvezzi (2008), que

investigou como a resiliência influencia estudantes de pós-graduação (MBA) na

organização de sua vida profissional, pessoal e nos estudos. O grupo pesquisado foi

constituído por 32 gerentes ou dirigentes de diversas empresas que possuíam

elevada carga horária e responsabilidade no trabalho e cursavam um curso de pós-

graduação. A pesquisa foi realizada através de observação participante e

entrevistas, a fim de compreender como estes sujeitos administravam os obstáculos

da vida, de forma geral. Esse estudo buscou comprender qual o papel da resiliência

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no trabalho e nas organizações, tendo como atores principais os fatores de risco e

de proteção.

Segundo a concepção desses autores, as alterações tecnológicas e

econômicas contemporâneas têm causado impacto sobre a identidade do

trabalhador, e, consequentemente, trazido reflexos importantes sobre a saúde física

e psíquica dos indivíduos. Todos esses aspectos somados ao novo contexto de

exigência de trabalho trouxeram a necessidade do indivíduo se adequar às

demandas trabalhistas e sociais e, desta forma, Malvezzi et al. (2008, p. 103) vai

dizer:

[...] que a flexibilidade característica da resiliência é uma das competências requeridas pela dinâmica da modernidade do trabalho nas organizações, capaz de explicar a administração da própria subjetividade diante das inúmeras situações de tensão, pressão e ruptura presentes neste contexto.

Dessa maneira, a resiliência pode ser considerada como uma ferramenta

imprescindível na avaliação dos contextos de trabalho, bem como para fomentar

novas pesquisas sobre sua relevância no processo de adequação dos indivíduos, já

que a resiliência no trabalho se caracteriza, como afirmou Mallak (1998), a

habilidade de apresentar e implantar comportamentos adaptativos positivos para

responder às adversidades enfrentadas no trabalho. As novas conjuturas do trabalho

na contemporaneidade têm incentivado os altos níveis de competitividade nas

empresas e ambientes de trabalho, sobrecarregando outras esferas da vida do

indivíduo, por isso a busca pela flexibilidade de ação, de estrutura e de vida pessoal

vem sendo considerada atributo favorável de ajustamento às novas condições de

trabalho.

As mudanças econômicas, sociais, culturais, tecnológicas e políticas têm

trazido consequências para a sobrevivência individual e organizacional, exigindo do

trabalhador um comportamento criativo e flexível, a fim de se adequar às alterações

constantes, como também de participar e propor soluções inovadoras que ajudem

na resolução dos processos individuais, coletivos e organizacionais (BARLACH;

LIMONGI-FRANÇA; MALVEZZI, 2008).

Outro trabalho importante realizado sobre a resiliência organizacional foi a

pesquisa de Cimbalista (2007), que investigou as condições de trabalho vivenciadas

por trabalhadores de indústrias montadoras de veículos e autopeças no estado do

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Paraná. A autora investiga a reestruturação produtiva sofrida pelas empresas

nacionais na década de 1990, que acarretou mudanças em diversas esferas sociais.

Perante a transformação no contexto nacional de trabalho, “os valores

organizacionais foram alterados em razão da necessidade de instaurar uma nova

base produtiva e social de acumulação de capital” (CIMBALISTA, 2007, p. 12). Em

termos de estruturas gerais, as mudanças apregoadas nesse processo visavam à

extinção dos sistemas de trabalho taylorista e fordista pelo sistema de produção

flexível, que tinha como intuito melhorar as condições de trabalho.

No entanto, a flexibilização do trabalho trouxe outros problemas para os

trabalhadores, pois inseriu outros métodos e técnicas a fim de aumentar a

produtividade da organização. Essas mudanças nas condições de trabalho, no

sistema de produção e a inserção de novos aparatos tecnológicos fomentaram

situações de adversidade no ambiente de trabalho, exigindo dos profissionais uma

readaptação e um esforço pessoal resiliente. Os profissionais inseridos nesse

contexto revelaram que a mudança no sistema de trabalho piorou as condições de

trabalho, pois tornou o trabalho ainda mais acelerado, cansativo e conflituoso

(CIMBALISTA, 2007).

Todo esse processo de reestruturação produtiva gerou certa insegurança nos

profissionais que passaram a temer a perda do emprego, aumentando seu estado

de alerta durante o trabalho. Em contrapartida, as demandas institucionais

mudaram, exigindo outro comportamento dos profissionais, que esses fossem mais

adaptados, flexíveis e com capacidade de lidar com as novas tecnologias laborais.

Segundo Cimbalista (2007, p. 13):

Esse trabalhador aceita ser flexibilizado, sujeita-se aos estilos de gestão, suporta ritmo intensificado de trabalho, pressão e responsabilizações, adere aos objetivos da empresa e se adapta,

tornando-se, portanto, resiliente às situações adversas.

Segundo a percepção da autora, a resiliência manifesta-se na adversidade,

impulsionando uma modificação no comportamento do trabalhador que se esforça

para corresponder à demanda externa, e por fim ele acaba se adaptando ou, se

tornando resiliente (CIMBALISTA, 2007). Para essa autora, a resiliência é a nova

ferramenta de trabalho exigida no atual sistema de trabalho que exige e pressiona o

trabalhador a possuir uma atitude resiliente e diferenciada frente às adversidades

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oriundas do ambiente laboral.

Niquerito (2009) também investigou o impacto da resiliência no contexto

laboral em profissionais de saúde. O trabalho teve o intuito de avaliar a

sintomatologia do estresse, os níveis de resiliência e a qualidade de vida dos

profissionais da área de enfermagem. Para identificar os níveis de resiliência, foram

investigados a regulação das emoções, o controle dos impulsos, o otimismo, a

análise causal, a empatia, a autoeficácia e a exposição. O estudo verificou que os

sujeitos que possuem pouca habilidade em regular suas emoções tendem a ter

dificuldades em suas relações de amizade ou afetivas. A autora diz que, para ser

resiliente, a emoção negativa ou positiva devem ser expressas de forma adequada e

não agressiva. Nessa pesquisa, os resultados evidenciaram que o excessivo

controle dos impulsos, somado à baixa administração das emoções, pode causar um

grande desgate físico e mental no sujeito resultando em estresse dentro e fora do

ambiente de trabalho. Em relação aos outros fatores, todos se encontraram dentro

da média para a maioria dos trablahdores investigados (NIQUERITO, 2009).

Por fim, é importante perceber e investigar os impactos da flexibilização no

contexto ocupacional moderno, que, segundo Ribeiro et al. (2011), tornou-se uma

exigência do novo sistema de competição suscitado pelo capitalismo e a

globalização, o qual visa principalmente o aumento do lucro e da produtividade. O

ambiente de trabalho nessas condições obriga o indivíduo a administrar sua vida

profissional, trabalhando duramente para corresponder às demandas de uma

instituição que está em constante modificação. Ao buscar corresponder às

exigências do trabalho, esse sujeito acaba se submetendo aos valores

organizacionais, por medo de perder o emprego ou por empatia, empenhando sua

subjetividada no compromisso e responsabilidade com seu trabalho. Nesse

processo adminstrativo entre cobranças e possibilidades, nos recursos psicológicos

que o sujeito utiliza para organizar e corresponder às demandas laborativas, surge a

resiliência organizacional (ORIOL-BOSH, 2012).

Destarte, para compreender melhor esse fenômeno como um construto

processual, é preciso investigar a relação entre o indivíduo e o contexto de forma

dinâmica e multidimensional, considerando os fatores de risco e proteção, bem

como a importância das crenças e significados atribuídos pelos indivíduos às

experiências traumáticas ou situações adversas vivenciadas (RIBEIRO et al., 2011).

Alguns trabalhos vêm sendo realizado com o intutio de entender como as pessoas

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enfrentam e superam situações de crise e rupturas organizacionais (ONÇA, 2011;

EMÍLIO, 2011; BATISTA, 2010; TRUFFINO, 2010; MALVEZZI et al., 2008;

CIMBALISTA, 2007). Essas pesquisas buscaram compreender a relação entre o

homem e seu trabalho e as mudanças organizacionais em diversos contextos a fim

de entender como os sujeitos significam o seu trabalho, as adversidades oriundas do

mesmo e o modo como respondem a essas situações.

Por fim, no que concerne ao ambiente organizacional moderno, possuir

características habilidosas e adaptativas se tornou um bom preditor para a gestão

em relação ao trabalhador. Possuir um profissional que seja independente,

confiante, determinado, proativo, autoconfiante e adaptado permite a organização

um sentimento de segurança e competência frente à velocidade dos acontecimentos

no mundo globalizado. Em relação ao trabalho na saúde mental, âmbito desta

pesquisa, ter profissionais resilientes permite o funcionamento adequado da

instituição, levando em consideração que esses ambientes possuem grandes

problemáticas de diversos fatores e que lidam com pessoas em sofrimento psíquico.

Dessa forma, a resiliência dos profissionais de saúde mental dos centros de atenção

psicossociais se trona uma ferramenta fundamental para o bom funcionamento da

instituição, bem como para preservação da saúde mental desses profissionais.

2.5 Revisão Bibliográfica (Últimos 6 ANOS)

Estudos dos últimos seis anos foram identificados em bancos de dados

disponíveis no Portal Capes de Periódicos.Foram buscadas as palavras-chave

resilience; resiliency; resiliencia; resiliencia em eltrabajo; resilienceatwork;

resiliencyatwork; resiliência e resiliência no trabalho, e localizados 129 estudos. O

Quadro 2 permite identificar detalhes. Por exemplo, em 2008, houve um estudo

publicado na base EBSCO.

Do total, foram selecionados seis artigos empíricos (2009-2014), que serão

resumidamente descritos a seguir, com o objetivo de demonstrar como está a

evolução teórica e metodológica dos estudos sobre resiliência no trabalho até o

momento.O critério de seleção destes artigos foi semelhante ao utilizado na revisão

bibliométrica de BET, ou seja, um artigo por ano, que não tenha sido utilizado na

revisão bibliográfica, internacional ou nacional. .

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Tabela 2 – Revisão Bibliométrica de RET

TERMOS PESQUISADOS:

resilience; resiliency; resiliencia; resiliência; resilience at work;

resiliency at work; resiliencia en el trabajo; resiliência no trabalho

CAPES /Ano de Publicação QUANTIDADE BANCO DE DADOS

2008 1 ACADEMIC ON FILE

EBSCO HOST

2009 2 APA

WILEY ONLINE

2010 10 SCIENCE DIRECT

SCIELO

2011 30 PUBMED.GOV

GOOGLE

2012 43 SCIENTIFIC RESEARCH

2013 33 APA

2014 10 EMERALD

SPRINGER LINK

TOTAL 129

Fonte: Tabela elaborada pela autora conforme os resultados dos periódicos CAPES.

Em 2009, Niquerito estudou as implicações do estresse sobre a saúde e a

qualidade de vida dos trabalhadores da área da enfermagem. Esse estudo teve

como finalidade avaliar a sintomatologia do estresse, os níveis de resiliência e a

qualidade de vida desses trabalhadores. Participaram do estudo 430 trabalhadores

da área da Enfermagem da Rede Pública de Saúde, sendo os dados coletados por

meio deinventários fidedignos sobre as variáveis pesquisadas. Os resultados

mostraram que a maioria dos profissionais apresenta níveis baixos de resiliência

(regulação de emoções) e níveis altos de controles de impulso, o que pode significar

um elevado consumo de energia pessoal, o que, por sua vez, pode prejudicar suas

atividades laborais. No restante dos fatores obteve um escore médio. Em relação à

qualidade de vida, a maioria dos escores encontrou-se numa região de indefinição,

ou seja, considera possuir uma qualidade de vida razoável.

Em 2010, Batista investigou a percepção suporte social, afeto positivo, afeto

negativo e da resiliência como antecedentes da confiança do empregado na

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organização. Participaram deste estudo 160 profissionais de empresas públicas e

privadas. Os resultados evidenciaram que o suporte social e a resiliência são

preditores da confiança desses profissionais com a organização, sendo que o

suporte social e os aspectos ambientais externos influenciam nessa percepção mais

que os fatores internos.

Em 2011, Onça investigou o impacto da autoeficácia e da percepção de

suporte sobre a resiliência em trabalhadores. A amostra foi composta por 243

trabalhadores da região metropolitana de São Paulo. A coleta dos dados foi

realizada através de instrumentos válidos sobre as variáveis da pesquisa. Os dados

mostraram que os universitários trabalhadores apresentam níveis de resiliência e

autoeficácia acima da média e de suporte social no trabalho, na média. A

autoeficácia se confirmou como preditor significativo da resiliência e suporte social

no trabalho não prediz a resiliência. Isso significa que o conjunto de crenças

pessoais acerca da sua capacidade profissional favorece o desenvolvimento da

resiliência no trabalho.

Em 2012, Rauschenbach, Göritz e Hertel pesquisaram os estereótipos acerca

da idade sobre a resiliência emocional no trabalho. Seu estudo foi pautado na

importância que a força de trabalho vem ganhando nos últimos tempos, tanto para

pesquisadores como na prática. Este estudo examinou 4.181 pessoas com idade

entre 15 e 87 anos a fim de verificar se a idade é preditora de comportamentos

discriminatórios para o desempenho no trabalho. Os resultados mostraram que

quanto maior a faixa etária, menor o nível de resiliência emocional. No entanto, ao

comparar as faixas etárias, ficou evidente que os mais velhos possuíam níveis de

resiliência emocional melhores do que os jovens.

Em 2013, García e Calvo elaboraram uma adaptação da escala de Resiliência

(CD-RISK) para avaliar uma amostra de empreendedores espanhóis. Esse trabalho

teve como objetivo analisar as propriedades psicométricas da escala de Resiliência

de Connor e Davidson em um público composto por empreendedores espanhóis,

tendo como amostra 784 pessoas da área na Espanha. Os resultados se mostraram

confirmatórios em cinco fatores da CD-RISC, menos a que se refere à análise dos

componentes principais da emersão que compõem a escala de resiliência, sendo

estes: personalidade resistente, recursos pessoais e otimismo. Essas três variáveis

obtiveram relativa variância entre os pesquisados, porém a escala CD-RISC se

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mostrou como uma ferramenta confiável e válida para medir a resiliência de

trabalhadores.

Em 2014, Carvalho, Borges, Vikan e Hemjdal elaboraram uma escala de

resiliência para adultos (RSA) e tiveram como público de pesquisa 135 funcionários

públicos.Os resultados confirmaram a escala proposta a ser aplicada para subsidiar

decisões de gestão organizacional, apontando os seis fatores que compõem essa

escala: percepção de si mesmo, futuro planejado, competência social, estilo

estruturado, coesão familiar e recursos sociais.

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3 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA, OBJETIVOS, MODELO E HIPÓTESES

3.1 OBJETIVO GERAL

a) Identificar o impacto do contexto de trabalho e da resiliência sobre o bem-

estar dos profissionais dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de

Petrolina/PE e de São Bernardo do Campo/SP.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Identificar e descrever as diferenças entre as percepções dos

trabalhadores de ambas as cidades sobre o contexto de trabalho ao qual

estão submetidos;

b) Identificar e descrever as diferenças entre os níveis de bem-estar no

trabalho relatados pelos trabalhadores dos CAPS de ambas as cidades;

c) Identificar e descrever as diferenças entre os níveis de resiliência dos

trabalhadores dos CAPS de ambas as cidades.

3.3 MODELO TEÓRICO E HIPÓTESES

Considerando o exposto na seção anterior, na qual foram relatados os

indícios encontrados na literatura – que apontam possíveis relações entre contexto

de trabalho e bem-estar e resiliência –foi testado o seguinte modelo:

Figura 1 – Modelo Hipotético-Conceitual

Fonte: Figura elaborada pela autora a fim de representar o modelo hipotético-conceitual.

Contexto de trabalho:

Condições de Trabalho

Organização do Trabalho

Relações sócio-profissionais

Resiliência no Trabalho

Bem-estar no

trabalho

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Decorrentes do modelo, foram testadas as seguintes hipóteses:

H1: contexto de trabalho adequado prediz maior bem-estar dos profissionais

dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de Petrolina/PE e São Bernardo do

Campo/SP.

H2: resiliência prediz maior bem-estar dos profissionais dos Centros de

Atenção Psicossocial (CAPS) de Petrolina/PE e São Bernardo do Campo/SP.

H3: os trabalhadores dos CAPS de São Paulo/SP percebem melhor contexto

de trabalho que os trabalhadores dos CAPS de Petrolina/PE.

H4: os trabalhadores dos CAPS de São Paulo/SP possuem níveis de bem-

estar no trabalho mais altos que os trabalhadores dos CAPS de Petrolina/PE.

H5: os trabalhadores dos CAPS de São Paulo/SP possuem níveis de

resiliência mais altos que os trabalhadores dos CAPS de Petrolina/PE.

3.4 DEFINIÇÕES CONSTITUTIVAS E OPERACIONAIS

3.4.1 Definições constitutivas e operacionais das variáveis do estudo

3.4.2 Definição das variáveis que integram contexto de trabalho

Segundo Ferreira e Mendes (2008), contexto de trabalho é um construto

composto por três aspectos:

a) organização do trabalho (OT):

– definição constitutiva: organização do trabalho expressa a divisão

das tarefas, normas, controles e ritmos de trabalho (FERREIRA;

MENDES, 2008);

– definição operacional: é a média aritmética dos pontos atribuídos

pelos participantes da amostra aos dez itens componentes dessa

dimensão na escala de avaliação do contexto de trabalho

(FERREIRA; MENDES, 2008), resultando em um valor entre 1 e 5.

Escala com valor invertido, ou seja, quanto maior o valor

resultante, pior é a organização do trabalho;

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80

3.4.3 Definição das variáveis que integram resiliência no trabalho

Segundo Martins (2012), resiliência no trabalho é a capacidade adaptativa

positiva dos trabalhadores frente às mudanças positivas ou negativas oriundas do

contexto de trabalho:

a) definição conceitual: conjunto de habilidades pessoais dos trabalhadores

que favorece o enfrentamento das adversidades significativas ocorridas no

ambiente de trabalho e a aptidão para responder adequadamente e de

forma eficaz sem interromper seu desempenho laboral;

b) condições de trabalho (CT):

– definição constitutiva: expressa a qualidade do ambiente físico,

posto de trabalho, equipamentos e materiais disponibilizados

para a execução do trabalho (FERREIRA; MENDES, 2008);

– definição operacional: condição de trabalho é a média aritmética

dos pontos atribuídos pelos participantes da amostra aos nove

itens componentes desta dimensão na escala de avaliação do

contexto de trabalho (FERREIRA; MENDES, 2008), resultando

em um valor entre 1 e 5. Escala com valor invertido, ou seja,

quanto maior o valor resultante, piores são as condições de

trabalho;

c) relações socioprofissionais (RS):

– definição constitutiva: expressa os modos de gestão do trabalho,

da comunicação e da interação profissional (FERREIRA;

MENDES, 2008).

– definição operacional: relações socioprofissionais são medidas

através da média aritmética dos pontos atribuídos pelos participantes

da amostra aos onze itens componentes desta dimensão na escala

de avaliação do contexto de trabalho (FERREIRA; MENDES, 2008),

resultando em um valor entre 1 e 5. Escala com valor invertido, ou

seja, quanto maior o valor resultante, piores são as relações

socioprofissionais.

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81

b) definição operacional: trata-se da média aritmética dos pontos atribuídos

pelos participantes da amostra aos sete itens que compõem o único fator

da escala de resiliência no trabalho (MARTINS, 2012), resultando em um

valor entre 0 e 4. Quanto maior o valor resultante, maior a resiliência do

trabalhador.

3.4.4 Definição das variáveis que integram IBET

Segundo Siqueira, Orengo e Peiró (2014), bem-estar no trabalho é um estado

mental positivo composto por três variáveis: compromisso, satisfação no trabalho e

envolvimento no trabalho:

a) compromisso e satisfação com o trabalho (SCOA)

– definição constitucional: conjunto de vínculos positivos que o trabalhador

mantém com a organização e de sentimentos positivos gerados pelo

ambiente de trabalho (SIQUEIRA; ORENGO; PEIRÓ, 2014);

– definição operacional: trata-se da média aritmética dos pontos atribuídos

pelos participantes da amostra aos nove itens componentes desta

dimensão no inventário de bem-estar no trabalho (SIQUEIRA; ORENGO;

PEIRÓ, 2014), resultando em um valor de 1 a 5. Quanto maior o valor

resultante, maior a satisfação e o comprometimento organizacional

afetivo;

b) envolvimento com o trabalho (ET)

– definição constitutiva: satisfação subjetiva para a vida pessoal do

trabalhador, obtida por meio das atividades e do tempo de trabalho,

vistos como complementos da vida pessoal (SIQUEIRA; ORENGO;

PEIRÓ, 2014);

– definição operacional: trata-se da média aritmética dos pontos atribuídos

pelos participantes da amostra aos quatro itens componentes dessa

dimensão do inventário de bem-estar no trabalho (SIQUEIRA; ORENGO;

PEIRÓ, 2014), resultando em um valor de 1 a 5. Quanto maior o valor

resultante, maior o envolvimento no trabalho.

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82

4 MÉTODO

4.1 TIPO DE ESTUDO

Este estudo consiste em uma investigação quantitativa, de corte transversal e

do tipo survey (DANCEY; REIDY, 2013), que teve por intuito avaliar, descrever e

verificar as relações entre as seguintes variáveis: contexto de trabalho, resiliência no

trabalho e bem-estar no trabalho em profissionais de instituições públicas de saúde

mental no Brasil. A coleta de dados foi realizada por meio de questionários

autoaplicáveis, que se configuram como “técnica de investigação composta por um

conjunto de questões que são submetidas a pessoas com o propósito de obter

informações sobre conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses [...]

etc.” (GIL, 2008, p.21).

4.2 PARTICIPANTES

Os participantes deste estudo foram profissionais da saúde mental dos

centros de atenção psicossocial (CAPS) dos municípios de Petrolina/PE e São

Bernardo do Campo/SP.

A quantidade de profissionais lotados em cada instituição depende, por

determinação legal, da demanda territorial de cada município, segundo a portaria nº

336/GM, de 19 de fevereiro de 2004. Por isso, os valores variam significativamente

entre os municípios pesquisados.

O estudo coletou dados em duas cidades brasileiras: Petrolina, no estado de

Pernambuco, e São Bernardo do Campo, no estado de São Paulo. O CAPS infantil

se caracteriza como um serviço de assistência em saúde mental para crianças e

adolescentes portadores de transtornos mentais, sendo esses orgânicos ou por uso

de álcool e outras drogas. O CAPS transtornos atende adultos em sofrimento

psíquico e busca reintegrar socialmente os pacientes oriundos dos hospitais

psiquiátricos. Já o CAPS AD abarca adultos em sofrimento psíquico em decorrência

do uso/abuso de álcool e outras drogas. Os CAPS instituídos como II são os

hospitais-dia (12 horas), onde os usuários permanecem durante o dia, realizando

oficinas e trabalhos terapêuticos e retornam para suas residências para dormir. Os

CAPS III (24 horas) são aqueles que, além do atendimento diurno, oferecem o

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83

serviço ambulatorial noturno aos usuários em crise ou debilitados. A diferenciação

entre esses serviços ocorre de acordo com o limite territorial municipal, como

preconiza a portaria nº 336/GM, de 19 de fevereiro de 2004, que regulamenta a

instalação e o funcionamento dos Centros de Atenção Psicossocial.

Da cidade de Petrolina/PE, participaram 34 profissionais, sendo dez

funcionários do CAPS Infantil, doze do CAPS Transtornos II e doze do CAPS AD, o

que corresponde a 72,7% dos profissionais da rede pública da saúde mental desse

município. Em São Bernardo do Campo/SP, 47 trabalhadores responderam aos

questionários, sendo 25 participantes do CAPS Infantil, vinte do CAPS AD III e doze

do CAPS Transtornos III, o que equivale a 42,8% dos trabalhadores desse setor da

saúde nessa municipalidade. Esses valores estão exemplificados na tabela a seguir:

Tabela 3 – Número de participantes do estudo

Instituições Pesquisadas Frequência N %

CAPS PE

CAPS i 12 10 83,3

CAPS Transtornos II 20 12 60

CAPS AD 15 12 80

TOTAL 47 34 72,7

CAPS SP

CAPS AD III 40 20 50

CAPS i 25 15 60

CAPS Transtornos III 50 12 24

TOTAL 115 47 40,8

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora baseada nos resultados do SPSS.

Dentre os profissionais pesquisados, a maior parte é do sexo feminino (65,

4%), com idade média de 37 anos (DP= 10,145), declarando-se casada ou em união

estável (39%). A escolaridade variou entre ensino fundamental incompleto e pós-

graduação completa, sendo a maior frequência entre o ensino superior completo e

pós-graduação (ambos com 29,6%), seguidos pela formação no ensino médio

(23,5%).

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Com relação ao tipo de contratação e ao sistema de trabalho, os

pesquisados, em sua maioria, afirmam que são contratados (43,2%) por tempo

determinado, sem pertencerem ao regime celetista ou estatutário, sendo seguidos

pelos celetistas (35,8%). Em menor número estão os estatutários ou concursados

(17,3%). Existem, portanto, três tipos de contrato de trabalho gerenciando vidas

profissionais de trabalhadores que executam funções semelhantes, mas são

submetidos a cargas horárias diversas e regimes de trabalho distintos. Os que

possuem contratos anuais não têm direitos trabalhistas básicos (férias e décimo

terceiro, por exemplo) como os demais, o que pode ser considerado como regime de

trabalho precário.

Conforme foi explanado anteriormente, segundo Guimarães et al. (2011), a

contratação anual dos profissionais de saúde é uma das principais formas de

precarização do trabalho em saúde, caracterizando-se pela flexibilização na

contratação desses trabalhadores, que não possuem regulamentação trabalhista

que os proteja e os resguarde profissionalmente, ocasionando uma desproteção

social, visto que não há vinculação desses funcionários junto à administração

pública, o que é considerado um desrespeito aos direitos trabalhistas. Esses

profissionais não possuem um teto salarial digno, não podem ser segurados pelo

Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e não possuem qualquer tipo de

assistência, seja médica, alimentar ou de transporte; ou seja, estão frequentemente

expostos a condições de trabalho insatisfatórias e precárias.

Essas condições, somadas à inseguridade social e profissional, são as

maiores causas da precarização do trabalho em saúde, que desvaloriza esses

trabalhadores, gerando diversas problemáticas, tanto na gestão/administração

desses profissionais como em sua saúde, pois, segundo Guimarães et al. (2011),

tais insegurança e desproteção podem acarretar problemas para a condição geral da

saúde e do bem-estar desses indivíduos, ocasionando um comprometimento da

saúde desses servidores e do funcionamento destes serviços, cuja principal

ferramenta funcional e operacional encontra-se na equipe multidisciplinar, ou seja,

nos próprios profissionais. A Tabela 4 apresenta os dados descritivos da amostra de

forma mais detalhada.

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85

Tabela 4 – Características pessoais dos participantes

VARIÁVEL CATEGORIA N % Média DP

Idade Até 29 anos

30 – 39 anos

40 anos ou mais

Não respondeu

23

24

31

03

28,3

29,4

38,6

3,7

37

10,14

Sexo Feminino

Masculino

Não respondeu

53

25

03

65,4

30,9

3,7

_

_

Estado Civil Solteiro

Casado

Outros

Não respondeu

31

32

15

03

38,3

39,5

18,5

3,7

_

_

Escolaridade N. Fundamental

N. Médio

N. Superior

Pós-graduação

Não respondeu

11

19

24

24

03

13,6

23,5

29,6

29,6

3,7

_

_

Contratação Contrato Anual

Seleção

Concurso

Não respondeu

35

29

14

03

43,2

35,8

17,3

3,7

_

_

Cargo de chefia Sim

Não

Não respondeu

7

71

03

8,6

87,7

3,7

_

_

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora.

4.2.1 Procedimentos de amostragem

A diferença nos valores da amostra entre os municípios varia em participação,

principalmente pelas características distintas dos serviços investigados. Em

Petrolina/PE ainda não há CAPS III, ou seja, não há serviço ambulatorial noturno, e,

por isso, só existe uma equipe em cada instituição. Como o município de Petrolina

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abarca cerca de 400 mil habitantes, cada CAPS possui uma equipe com a média de

15 profissionais por instituição. Assim, apesar da resistência inicial da maioria dos

profissionais em participar da pesquisa, a pesquisadora conseguiu maior número de

participação, sendo as coletas realizadas no período diurno, durante a jornada

normal de trabalho desses profissionais.

Em São Bernardo do Campo/SP existe uma demanda territorial maior, pois o

município compreende cerca de 800 mil munícipes, e, por conta disso, existe maior

número de CAPS, de profissionais por instituição e de serviços ambulatoriais

noturnos. Os serviços ambulatoriais noturnos ou os CAPS III têm uma característica

diferente dos outros serviços por possuírem equipes noturnas que se revezam em

regimes de trabalho conhecidos por 12 por 36, o que significa que trabalham doze

horas seguidas e folgam 36 horas. Dessa maneira, cada instituição com esse perfil

conta com três equipes, sendo uma diurna e duas noturnas. Pela inviabilidade da

coleta no período noturno, a pesquisadora teve acesso apenas às equipes do

período diurno e dos CAPS autorizados pela secretaria de saúde.

A cidade de Petrolina possui três CAPS, porém nenhum deles possui o

serviço noturno (III), o que favoreceu o acesso da pesquisadora aos profissionais.

Ademais, não ocorreu nenhuma dificuldade com relação à Secretaria Municipal de

Saúde, que disponibilizou todas as instituições para a pesquisa. Já o município de

São Bernardo do Campo possui cinco Centros de Atenção Psicossocial, porém

apenas três foram liberados para coleta, sem maiores informações sobre a distinção

ou seleção deles. Dessa forma, apesar de Petrolina possuir menor número de

profissionais, houve maior participação por conta da característica dos serviços –

uma equipe diurna por instituição.

4.3 INSTRUMENTOS

4.3.1 Instrumentos de coleta de dados

Adotou-se como instrumento de coletas de dados um questionário composto

por quatro partes: 1ª) Dados pessoais e características profissionais e do trabalho;

2ª) Escala de avaliação do contexto de trabalho; 3ª) Inventário de avaliação de bem-

estar no trabalho (IBET-13), e 4ª) Escala de avaliação de resiliência no trabalho

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87

(RET). Esses instrumentos são descritos a seguir e têm suas principais

características apresentadas na Tabela 4.

1ª) Dados pessoais e características profissionais e do trabalho: foram

apresentadas questões sobre dados pessoais, tais como: idade, sexo, estado civil,

escolaridade, tipo de contratação (contrato anual, seleção simplificada ou concurso

público) e cargo ocupado (se chefia). Esses dados estão expostos na Tabela 4 para

melhor compreensão.

2ª) Escala de avaliação do contexto de trabalho: foi construída e validada por

Ferreira e Mendes (2008) mediante a análise fatorial dos eixos principais, com

rotação oblimin. Para análise de confiabilidade, foi utilizado o alpha de Cronbach. A

EACT é autoaplicada e avalia as condições de trabalho, a organização do trabalho e

as relações socioprofissionais. A escala é constituída por trinta itens, distribuídos em

três fatores: condições de trabalho (dez itens, alpha = 0,89; exemplo de item: “os

instrumentos de trabalho são insuficientes para a realização das tarefas”),

organização do trabalho (nove itens, alpha = 0,72, exemplo de item: “o ritmo de

trabalho é excessivo”) e relações socioprofissionais (onze itens, alpha = 0,87,

exemplo de item: “a distribuição de tarefas é injusta”).

3º) Inventário de avaliação de bem-estar no trabalho: o inventário de

avaliação de bem-estar no trabalho (IBET - Versão Reduzida) foi construído e

validado por Siqueira, Orengo e Peiró (2014) mediante a análise fatorial dos eixos

principais, com rotação oblimin. Para análise de confiabilidade, foi utilizado o alpha

de Cronbach. O IBET-13 é autoaplicado e avalia a satisfação, o comprometimento

afetivo e o envolvimento no trabalho. O inventário é constituído por treze itens,

distribuídos em dois fatores: satisfação e comprometimento afetivo (nove itens,

alpha = 0,92, exemplo de item: “estou contente com a empresa onde trabalho”) e

envolvimento com o trabalho (quatro itens, alpha = 0,87, exemplo de item: “as coisas

mais importantes que acontecem em minha vida envolvem o meu trabalho”).

4º) Escala de resiliência no trabalho: foi construída e validada por Siqueira e

Martins (2010) mediante a análise fatorial dos eixos principais, com rotação oblimin.

Para análise de confiabilidade, foi utilizado o alpha de Cronbach. A escala de

resiliência no trabalho é autoaplicada e avalia o nível de resiliência no trabalho. É

composta por sete itens e constituída por um único fator fidedigno (alpha = 0,80,

exemplo de item: “fico mais forte após enfrentar demissão no meu trabalho”).

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Quadro 2 – Descrição dos instrumentos utilizados na pesquisa

Instrumentos Autores N.

de

Itens

Escalas de R Fatores Alpha de

Cronbach

Escala de

avaliação do

contexto de

trabalho

(EACT)

Ferreira e

Mendes

(2008)

30

1- Nunca é

verdade

2- Raramente é

verdade

3- Às vezes é

verdade

4-

Frequentemente

é verdade

5- Sempre é

verdade

Organização do

trabalho

0,72

Condições do

trabalho

0,89

Relações

socioprofissionais

0,87

Escala de

avaliação de

resiliência no

trabalho

(EART)

Siqueira

e Martins

(2012)

13

0 – Nunca é

verdade

1-Raramente é

verdade

2-Algumas vezes

é verdade

3-

Frequentemente

é verdade

4-Sempre é

verdade

Resiliência no

Trabalho

0,80

Inventário de

Bem-estar no

Trabalho

Siqueira,

Orengo e

Peiró

13 1- Discordo

Totalmente

2- Discordo

Compromisso e

satisfação

0,92

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(IBET-13) (2014) 3- Nem concordo,

nem discordo

4- Concordo

5- Concordo

totalmente

Envolvimento

com o trabalho

0,87

Fonte: Quadro elaborado pela pesquisadora conforme os fatores e descrição das escalas utilizadas.

4.4 LOCAL

Os dados foram coletados nas dependências internas dos Centros de

Atenção Psicossocial de Petrolina/PE e de São Bernardo do Campo/SP, como salas

de reunião de equipe, de trabalho, oficinas, cozinha e espaço de lazer comum, de

acordo com a disponibilidade dos profissionais.

4.5 PROCEDIMENTOS

4.5.1 Procedimentos de coleta de dados

Após a aprovação da realização do estudo por parte do Comitê de Ética em

Pesquisa (CEP) da Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e a autorização

das Secretarias de Saúde dos municípios pesquisados, procedeu-se à coleta de

dados.

O primeiro contato com as instituições foi realizado através de uma pequena

entrevista com cada coordenador para a apresentação do trabalho e a solicitação de

datas para a aplicação dos questionários. Esse primeiro contato foi muito importante

para o decorrer do estudo, pois, como se tratam de serviços que atendem pessoas

em sofrimento psíquico ou usuários de álcool e outras drogas, é preciso um manejo

entre os profissionais para a participação em pesquisas.

A aplicação dos questionários foi realizada no próprio local de trabalho desses

profissionais, durante sua jornada de trabalho, porém em momentos distintos, dadas

as peculiaridades de cada serviço no que tange ao sistema de plantão e ao cargo

exercido por cada profissional (se cargos de pronto atendimento, grupais ou

administrativos). As diversas atividades desempenhadas pelos profissionais, aliadas

às diferentes escalas de trabalho, fizeram com que alguns profissionais

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90

respondessem aos questionários de forma coletiva, geralmente durante a reunião

semanal da equipe multidisciplinar, ou de forma individual, de acordo com a

disponibilidade do profissional e a demanda do serviço. Em ambas as situações, os

profissionais foram convidados a participar voluntariamente da pesquisa, e os

objetivos do estudo foram expostos de forma clara e sucinta para que todos

pudessem compreender sua finalidade, sendo-lhes também assegurado o total sigilo

de suas respostas e de suas identidades, bem como esclarecimentos quanto aos

riscos e à possibilidade de se recusarem a participar ou continuar respondendo aos

questionários.

Segundo Lopes (2010), o cuidado em preservar o anonimato dos

participantes é algo muito importante para os estudos na área da Psicologia

Organizacional e do Trabalho (POT), pois o objeto principal de pesquisas nessa

linha de investigação é a natureza e as relações de trabalho, e, dessa forma, os

participantes têm de se sentir à vontade e livres para expressar suas opiniões, sem

medo de sofrer represálias ou perseguições posteriores. Além disso, aos

participantes foi fornecido um documento explicando os objetivos estritamente

acadêmicos da pesquisa, juntamente com a solicitação de sua participação através

do preenchimento e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido –

TCLE (em anexo) impresso em duas vias, uma entregue ao participante e a outra

arquivada pela pesquisadora.

No TCLE, houve esclarecimento acerca de todos os possíveis riscos e ônus

(integridade física, emocional, social, financeira e profissional dos participantes), e

de que, por isso, não estaria previsto qualquer tipo de ressarcimento ou bônus aos

profissionais pesquisados.

4.5.2 Procedimentos de análises de dados

Após a coleta, as respostas dos questionários formaram um banco de dados,

que foi estudado por meio do software SPSS 21.0 (Statistical Package for the Social

Sciences) e submetido às seguintes análises estatísticas:

a) análises exploratórias, buscando avaliar o banco de dados em relação a

variâncias e normalidade das distribuições das variáveis, dados ausentes

ou incongruentes com as escalas de medida;

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b) análise descritiva da amostra, para identificar as frequências, médias e

desvios-padrão, amplitudes de variação e percentis;

c) análises de relacionamento entre as variáveis, através da correlação

bivariada de r de Pearson e regressão linear múltipla padrão, com vista a

testar o modelo hipotetizado neste estudo (Quadro 01), sendo o “bem-estar

no trabalho” a variável dependente, enquanto as variáveis independentes

são “condições de trabalho” e “resiliência no trabalho”;

d) técnicas de comparação entre grupos, tais como Teste t e ANOVA; e

e) análise de fidedignidade das escalas, calculada por meio do alpha de

Cronbach, com o intuito de avaliar a consistência interna e a estabilidade

das escalas com a amostra pesquisada. As análises estão identificadas e

descritas no decorrer do próximo capítulo.

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92

5 RESULTADOS

5.1 ANÁLISES PRELIMINARES E LIMPEZA DO BANCO DE DADOS

Para a análise das informações, foi realizado o exame de precisão dos dados

através das estatísticas descritivas (frequências, valores mínimos e máximos,

desvios-padrão) e das representações gráficas das variáveis. O banco de dados foi

examinado quanto à presença de erros de digitação, respostas omissas, casos

extremos, normalidade das variáveis e verificação dos pressupostos a serem

atendidos para a aplicação das técnicas multivariadas (análise de regressão

múltipla). Poucas contradições foram encontradas na análise dos dados, fazendo-se

as devidas correções após a consulta aos questionários dos participantes.

Erros: os erros de digitação na transcrição dos resultados detectados pela

pesquisadora foram retificados através do retorno aos questionários impressos e

corrigindo-se as respostas, uma a uma, no banco de dados.

Dados ausentes: não havia dados omissos nas respostas às escalas. Houve

apenas 3,7% de omissões em informações sobre idade e sexo. Todas as respostas

missing foram tratadas pela deleção pairwise, que remove da análise somente o

valor ausente e não o caso inteiro. Assim sendo, todos os casos disponíveis foram

incluídos nas análises.

Normalidade das distribuições dos dados: a análise visual dos histogramas de

distribuição das variáveis revelou curvas que descreviam desenho semelhante à

curva normal. Testes de Kolmogorov-Smirnov (tabela 05) revelaram resultados não

significantes, apontando a distribuição normal de todas as VIs e da VD.

Outliers: a presença de dados extremos foi examinada pela análise visual dos

histogramas, bem como pelo exame dos boxplots. No caso da VD, dois casos que

apareceram fora do plot: o 19 (extremo alto) e o 28 (extremo baixo). Examinados um

a um, ambos foram mantidos na amostra, pois, segundo Tabachnick e Fidell (2001,

p. 71):

“você precisa decidir se os casos outliers são propriamente parte da população que você pretende amostrar. Casos com valores extremos, que apesar disso, estão aparentemente ligados com o resto dos casos são, mais provavelmente, parte legítima da amostra” (TABACHNICK; FIDELL, 2001, p.71).

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93

Isso significa que “um outlier é um caso (ou muitos poucos casos) que parece

ser solto do resto da distribuição” (p. 68). Em função dessa observação, e por

compreender que ambos os outliers eram parte legítima da amostra, eles foram

mantidos.

TABELA 05- Valores de Kolmogorov-Smirnov:

Hipótese Nula

Teste Significância Decisão

1 A distribuição de BET é normal com média 3,24 e

desvio padrão 0,66.

Um teste Kolmogorov-Smirnov de

uma amostra

,968 Reter a hipótese nula.

2 A distribuição de RET é normal com média 2,10 e

desvio padrão 0,89.

Um teste Kolmogorov-Smirnov de

uma amostra

,466 Reter a hipótese nula

3 A distribuição de CT é normal com média 1,74 e

desvio padrão 0,89.

Um teste Kolmogorov-Smirnov de

uma amostra

,362 Reter a hipótese nula

4 A distribuição de OT é normal com média 1, 91 e

desvio padrão 0,61.

Um teste Kolmogorov-Smirnov de

uma amostra

,584 Reter a hipótese nula

5 A distribuição de RS é normal com média 1, 24 e

desvio padrão 0,81.

Um teste Kolmogorov-Smirnov de

uma amostra

,691 Reter a hipótese nula

Tabela desenvolvida pela pesquisadora. Revela significâncias assointóticas com nível de significância de 0,5.

5.2 PRESSUPOSTOS DA ANÁLISE DE REGRESSÃO

O atendimento dos pressupostos da análise de regressão linear múltipla foi

examinado de modo a assegurar que os erros tipo I e II não fossem aumentados. Ao

realizar as análises de regressão, foram solicitadas as opções: estimativas,

intervalos de confiança, modelo ajustado, correlações parciais e semiparciais e

diagnóstico de colinearidade nas opções estatísticas. Ainda nessa opção, nas caixas

resíduos, solicitaram-se diagnósticos casewise e outliers fora de três desvios-

padrão. Decidiu-se seguir o padrão do programa SPSS para análises de regressão e

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optar pela deleção de casos pairwise. Além disso, foram analisados os plots

(gráficos) dos resíduos e as distâncias Mahalanobis. Seus resultados são relatados

a seguir.

5.2.1 Tamanho da amostra

No presente trabalho, a fim de alcançar a regressão múltipla, alguns

pressupostos estatísticos foram realizados, tal como preconiza Pallant (2007). Para

isso, foi realizado o cálculo de investigação da amostra pela seguinte fórmula: N ≥

50+8m, em que m corresponde ao número de variáveis independentes. Como neste

estudo há quatro variáveis independentes (três de avaliação do contexto de trabalho

e uma de resiliência no trabalho), esta pesquisa deveria alcançar uma amostra

mínima de 83 sujeitos, mas obteve-se 81.

Outra maneira de calcular o tamanho da amostra é considerar o poder do

teste, definido como a probabilidade de uma relação significante ser encontrada se

ela realmente existir (HAIR; ANDERSON; TATHAM; BLACK, 2005). Impactam, no

poder de um teste estatístico, o tamanho da amostra, o tamanho do efeito, o número

de preditores, dentre outros aspectos. Para garantir um efeito determinado e certo

nível de significância (aqui de 0,05), é necessário calcular-se o tamanho da amostra

a priori. O cálculo do poder da regressão linear padrão foi realizado utilizando-se o

G*Power, software gratuito disponível na internet. O tamanho mínimo da amostra

deste estudo, considerando-se que se possuíam inicialmente quatro preditores (três

fatores de suporte social no trabalho e um de resiliência no trabalho), deveria ser de

129 participantes, para se garantir um efeito de 0,15, um nível de significância de

0,05 e um poder de 0,95.

Entretanto, devido ao tamanho da amostra obtida (81), o poder final com a

amostra real e com quatro preditores foi de 0,79 (f2 = 0,15, α = 0,05, F crítico = 2,49,

gl numerador = 4, gl denominador = 77), o que revela ser de 78% a probabilidade de

o estudo ter encontrado a relação significante existente.

5.2.2 Honestidade das correlações

Pode-se afirmar que as correlações entre as VIs são honestas (não

inflacionadas) porque nenhum item dos instrumentos está alocado em mais de um

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fator. As correlações não são também deflacionadas, pois as escalas de respostas

dos instrumentos não eram dicotômicas nem muito restritas: os valores de resposta

possuíam no máximo cinco valores por escala.

5.2.3 Singularidade e multicolinearidade entre as VIs

Não foi encontrada singularidade entre as variáveis independentes, pois não

havia correlações perfeitas entre elas (ou cujos valores fossem maiores do que

0,90). Também não foi encontrada multicolinearidade, já que não houve correlações

entre as VIs cujos valores estivessem entre 0,70 e 0,90 (TABACHNICK; FIDELL,

2001).

Pallant (2007) destaca que outros indicadores de colinearidade são revelados

pelos índices de tolerância e pelo fator de inflação da variância (VIF). O índice de

tolerância sugere quanto da variável critério não é explicado por outras variáveis

independentes do modelo. Valores menores que 0,10 indicam a existência de

correlação múltipla alta com outras variáveis e sugerem a possibilidade de

multicolinearidade. Neste estudo, os resultados apontaram índices de tolerância

maiores que 0,68, o que revela a não existência de colinearidade ou

multicolinearidade entre as variáveis. O VIF é o inverso do índice de tolerância e é

obtido dividindo-se 1 pelo valor da tolerância. Valores maiores que 10 indicam

multicolinearidade. Os valores de VIF para esta pesquisa não ultrapassam 1,46, o

que reafirma a não existência de multicolinearidade.

5.2.4 Normalidade, linearidade, independência de resíduos, valores extremos e

homoscedasticidade

Foram calculados os índices de kurtosis e skewness e examinados os

histogramas com sobreposição da curva normal das variáveis resiliência no trabalho,

organização do trabalho, condições de trabalho, relações socioprofissionais e bem-

estar no trabalho. Além disso, a normalidade univariada das distribuições foi testada

pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. Resultados não significantes revelaram a

normalidade das distribuições de todas as variáveis citadas.

Outra maneira de verificar normalidade, linearidade, independência de

resíduos, outliers (valores extremos) e homoscedasticidade da distribuição da VD é

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a investigação dos gráficos (Plots) disponíveis na opção Explore das estatísticas

descritivas do SPSS. O gráfico Normal P-P Plot descreveu uma linha perpendicular

aproximadamente reta. Como afirma Pallant (2007), isso sugere uma não violação

do pressuposto de normalidade.

Os valores extremos (outliers) foram examinados primeiramente por meio dos

scatterplots dos resíduos. Nenhum deles revelou resíduos padronizados maiores

que 3,3 ou menores que -3,3, sugerindo que não havia valores extremos. Esse

fenômeno também pode ser verificado através da observação das distâncias de

Mahalanobis. Para identificar se os casos são discrepantes, é preciso determinar o

valor crítico do qui-quadrado, utilizando o número de variáveis independentes (neste

trabalho, quatro) como graus de liberdade (PALLANT, 2007). Tabachnick e Fidell

(2001) sugerem um nível de significância de 0,01. O valor crítico para o presente

estudo corresponde a 13,27. Nenhum valor da distância Mahalanobis ultrapassou o

valor crítico, confirmando a inexistência de outliers.

Outliers também podem ser detectados pela Tabela Casewise Diagnostics,

que revela casos com valores de resíduos padronizados maiores que 3 ou menores

que -3. Neste estudo, um caso (31) possui valores que cumprem essa condição

(3,26). Mas, pela justificativa utilizada para manter os outliers univariados como

parte da amostra, decidiu-se manter também este, porque ele parece ser parte

legítima da amostra (TABACHNICK; FIDELL, 2001).

5.3 FIDEDIGNIDADE DAS ESCALAS

A fidedignidade das escalas foi verificada através do cálculo do alpha de

Cronbach, com o objetivo de averiguar se os valores da amostra correspondiam aos

dos estudos de suas construções. Também foi calculada a correlação média item-

total para cada fator, de cada uma das escalas utilizadas. Segundo Hair et al.

(2005), coeficientes alfa de Cronbach iguais ou superiores a 0,70 refletem uma

fidedignidade aceitável para a escala e pode-se diminuir o limite até 0,60 em

pesquisas do tipo exploratório, sem prejuízo aos resultados. Os achados sobre a

fidedignidade dos instrumentos deste estudo podem ser observados na Tabela 6.

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Tabela 6 – Fidedignidade dos instrumentos do estudo

Escala Utilizada Alpha do Instrumento Alpha do Estudo

IBET-13 0,93 0,86

RET 0,87 0,84

CT 0,89 0,87

EACT OT 0,72 0,63

RS 0,87 0,90

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora conforme os dados do SPSS.

Como pôde ser observado na Tabela 6, os valores dos alfas do estudo

ficaram aproximados aos das escalas instrumentais, revelando-se satisfatórios. Os

resultados variaram entre 0,63 e 0,90, ocorrendo, inclusive, uma pequena melhora

na confiabilidade em um dos fatores da escala de avaliação do contexto de trabalho

(EACT), que se configura como relações socioprofissionais (0,90). Em contrapartida,

houve um único fator que obteve valor de alpha no estudo menor que o alpha do

instrumento, sendo esse a organização do trabalho (0,63). Embora com a ocorrência

de pequenas variações, pode-se afirmar que os índices obtidos ficaram bastante

próximos àqueles informados pelos autores das escalas em seus estudos originais.

5.4 DESCRIÇÃO ESTATÍSTICA DAS VARIÁVEIS

Para a descrição estatística das variáveis, foram computadas as médias

fatoriais dos fatores componentes das escalas utilizadas, os desvios-padrão, bem

como os valores mínimos e máximos.

Tabela 7– Médias e desvios-padrão das variáveis do estudo

N Mínimo Máximo Média CV* Desvio padrão

Ponto médio da escala

BET 81 1,54 4,62 3,24 0,2 0,66 3

RET 81 0,14 4 2,11 0,42 0,9 2

CT 81 0 3,6 1,74 0,51 0,89 3

OT 81 0,67 3,22 1,92 0,32 0,62 3

RS 81 0 3,45 1,24 0,65 0,81 3

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N válido (de lista)

78

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora.

O coeficiente de variação indica que houve muita variabilidade nas respostas

dos participantes. A tabela 08 revela os quartis das respostas dos participantes.

Como se pode observar, mais de 50% dos participantes possuem valores de BET,

superiores a 3,3 quando a média foi 3,24, o quesignifica que os participantes

possuem níveis medianos de satisfação, envolvimento e comprometimento afetivo

com o trabalho ou organização. Ou seja, mais da metade deles possuem um nível

moderado de vínculos positivos com a organização empregadora e com o ambiente

de trabalho, resultando em uma satisfação mediana com relação às atividades

desenvolvidas no ambiente laboral, corroborando com a visão teórica de que as

atividades desempenhadas e o tempo que estão envolvidos com seu trabalho são

aspectos importantes na vida desse trabalhador (SIQUEIRA, ORENGO & PEIRÓ,

2014). A média encontrada corresponde ao ponto “nem concordo, nem discordo”,

numa escala de cinco pontos.

Em relação ao nível de resiliência no trabalho, a variabilidade das respostas

também teve variância moderada, 50% dos profissionais possuem valores de RET

superiores a 2,14 quando a média foi 2,10, isso significa que em relação àamostra

pesquisada esta revela quea capacidade para enfrentar positivamenteos conflitos e

as mudanças no trabalho é mediana. Possuir um nível moderado de resiliência no

trabalho significa ter uma percepção pessoal de que se é capaz, em certos

momentos, de enfrentar e superar as adversidades oriundas do seu ambiente de

trabalho. No entanto, pode-se supor que isso não acontece o tempo todo ou que

existem momentos em que os recursos pessoais desses trabalhadores não suprem

a demanda de responder adaptativamente a todas as mudanças, conflitos, intrigas,

etc. Assim, no que concerne ao valor médio na frequência das respostas, isso

significa que a maioria dos pesquisados responderam que “algumas vezes é

verdade” em boa parte das afirmativas que compõem a Escala de Resiliência no

Trabalho.

Por último, no que se refere à escala utilizada para avaliar o contexto de

trabalho, a EACT possui índice de valoração invertido, isso significa que quanto

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maior o valor obtido, pior a condição investigada pelo instrumento. Na averiguação

acerca das condições de trabalho (CT), a variabilidade das respostas também teve

variância moderada, 50% dos profissionais possuem valores de CT superiores a

1,90 quando a média foi 1,74, este valor mostra que os profissionais pesquisados

compreendem que as condições de trabalho são inadequadas, ou seja, afirmam que

as condições estruturais dos ambientes de trabalho como ambiente físico, os

instrumentos, equipamentos, matéria prima e o suporte organizacional não

conseguem abarcar as demandas dos profissionais acerca do serviço prestado.

Sobre as avaliações acerca das relações sócio profissionais (RS), os respondentes

obtiveram mediana de 1,27 e a média foi 1,24, o que pode revelar que as interações

hierárquicas, coletivas internas e externas são escassas sendo compreendidas

como insatisfatórias.Em ambos os fatores, tanto Condições de Trabalho (CT) e

Relações sócio profissionais (RS), a maioria dos profissionais responderam que

“discordam” das afirmativas referentes à Escala de Avaliação do Contexto de

Trabalho, o que pode ser compreendido como um dado positivo. No fator

Organização do Trabalho (OT), este teve medianade valor 2,00 e média de 1,92, o

que representa que houve uma variância relativa quanto à avaliação da organização

do trabalho entre os profissionais em questão. Esse dado pode ser compreendido

como uma interpretação negativa dos profissionais acerca da divisão do trabalho, da

produtividade esperada, das regras formais, da duração e do ritmo da jornada de

trabalho, sobre o nível de controle dos superiores e natureza das atividades

desempenhadas no serviço. No que concerne ao item respondido com maior

frequência, esse escore demonstra que a maioria dos profissionais afirmaram que

“frequentemente” sofrem com a dinâmica organizacional do trabalho e da instituição

empregadora.

TABELA 08 – Quartis das respostas (Coeficiente de variação)

BET RET CT OT RS

N

Válido 81 81 81 81 81

Ausente 0 0 0 0 0

Percentis

25 2,76 1,71 1,1 1,44 0,59

50 3,31 2,14 1,9 2 1,27

75 3,69 2,57 2,5 2,33 1,68

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5.5 COMPARAÇÃO DOS GRUPOS DE PETROLINA E DE SBC

Análises de variâncias foram calculadas para verificar se os grupos de

profissionais das duas cidades diferiam quanto aos níveis de resiliência do trabalho,

de bem-estar no trabalho e de percepção de condições de trabalho (organização do

trabalho, condições de trabalho e relações socioprofissionais). Resultados que

podem ser observados na Tabela 9 revelam não haver diferenças estatisticamente

significantes entre os níveis de resiliência e de bem-estar no trabalho e nem quanto

à percepção de condições e à organização do trabalho entre os profissionais de

ambas as cidades. Entretanto, profissionais de Petrolina percebem melhores

relações socioprofissionais do que os de São Bernardo do Campo. Portanto, as

hipóteses 2, 3, 4 e 5 foram rejeitadas.

TABELA 09- Comparação entre os grupos de Petrolina e São Bernardo do

Campo

Soma dos quadrados gl Médiaquadrada F

Resiliência 0,97 1 0,97 1,23

BET 0,12 1 1,27 0,29

CT 0,4 1 0,4 0,5

OT 0,73 1 0,73 1,97

RS 5,7 1 5,7 9,53**

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora de acordo com os dados do SPSS.

5.6 CORRELAÇÕES ENTRE AS VARIÁVEIS

As análises de correlação, segundo Dancey e Reidy (2013), têm como

finalidade investigar se existe relacionamento entre as variáveis pesquisadas. Dessa

forma, elas apresentam uma medida de relação entre essas variáveis (r de

Pearson), que possibilita averiguar a direção do relacionamento (se positiva,

negativa ou nula) e a força ou magnitude desse relacionamento (se nula, fraca,

moderada, forte ou perfeita). A direção do relacionamento é considerada positiva ou

direta quando os valores altos em uma variável x tendem a se relacionar com

valores altos na variável y, ou quando os valores baixos em uma variável x tendem a

ser associados com valores baixos na outra variável y. Isso não significa uma

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causalidade, e sim uma correlação entre as variáveis em questão. No que concerne

à classificação desse relacionamento, ele pode ser compreendido como uma relação

negativa ou inversa quando os valores altos em uma variável x são associados com

os valores baixos na outra variável y.

Com relação à força ou magnitude da correlação entre duas variáveis, os

valores variam de 0 a 1 (negativo ou positivo). Quando o valor obtido é 0 (zero)

significa que a força é nula; se o valor obtido está entre 0,1 a 0,3, isso quer dizer que

a força é fraca; valores entre 0,4 e 0,6 mostram uma relação de força moderada;

quando os valores estão entre 0,7 a 0,9 significa que a magnitude é forte. Por fim,

quando o resultado é igual a 1 (positivo ou negativo) significa uma relação perfeita

entre as variáveis. Assim, esses valores podem ser compreendidos como: 1) Nula ou

Zero (0); 2) Fraca (0,1; 0,2; 0,3; -0,1; -0,2; -0,3); 3) Moderada (0,6; 0,5; 0,4; -0,6; -

0,5; - 0,4); 4) Forte (0,7; 0,8; 0,9; -0,7; -0,8; -0,9) e 5) Perfeita (+1; -1) (DANCEY;

REIDY, 2013).

Uma correlação é compreendida como significativa quando, ao se supor que

a hipótese nula seja verdadeira e que a probabilidade de se obter um efeito devido

ao erro amostral seja menor do que 5% da amostra pesquisada, então o resultado

obtido é significativo (DANCEY; REIDY, 2013). A tabela a seguir mostra os

coeficientes de correlações, ou seja, o coeficiente de relação momento – produto (r

de Pearson) entre as variáveis do presente estudo (Tabela 10).

Tabela 10 – Correlações entre as variáveis (N = 81)

BET RET CT OT RS

BET 1,00 -,04 -,12 -,10 -,37**

RET 1,00 0,75 ,20 ,28

CT 1,00 ,46** ,46**

OT 1,00 ,38**

RS 1,00

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora conforme os dados do SPSS.

**correlação significante a partir de p≤ 0,01 *correlação significante a partir de p≤ 0,05

Como se pode observar na Tabela 10, foi encontrada correlação positiva,

significativa e moderada entre condições de trabalho e as relações

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socioprofissionais (r = 0, 46; p < 0,01), significando que o ambiente físico e

operacional do meio laboral tem a capacidade de impactar as relações internas e

externas desses profissionais com seus colegas e chefias. Ou seja, quanto pior o

nível operativo e estrutural do ambiente de trabalho, piores são as relações

socioprofissionais. Também houve relacionamento direto, significativo e com

magnitude moderada entre as condições de trabalho e a organização do trabalho (r

= 0,464; p< 0,01), podendo representar que a divisão das tarefas, a produtividade

almejada e a jornada de trabalho são influenciadas pela infraestrutura existente na

organização. Sendo assim, os aspectos funcionais do ambiente físico são

compreendidos por esses profissionais como sendo importantes para uma rotina de

trabalho mais organizada e eficiente, de acordo com as formalidades existentes em

cada instituição. De forma semelhante, também ocorreu relação positiva,

significativa e com magnitude moderada entre a organização do trabalho e as

relações socioprofissionais (r = 0,389; p < 0,01). Esse dado pode revelar que o

gerenciamento das atividades dentro da instituição, a condução das relações

hierárquicas, a produtividade e o ritmo de trabalho proposto tendem a influenciar nas

relações entre os profissionais, seja entre colegas ou com relação à chefia. Por isso,

em linhas gerais, pode-se inferir que quanto pior a divisão do trabalho e maior

pressão temporal por produtividade e afins, piores poderão ser as relações entre os

membros da equipe de trabalho.

Na contramão desses dados, obteve-se relação negativa, significativa e com

intensidade moderada entre bem-estar no trabalho e as relações socioprofissionais

(r = -0,374; p < 0,01). Isso significa que níveis altos de satisfação, comprometimento

e envolvimento com o trabalho tendem a se relacionar com bons índices de

interações hierárquicas e coletivas. Outro fator que teve relacionamento negativo,

significativo e com intensidade moderada foi bem-estar no trabalho e resiliência (r = -

0,48; p> 0,01), que pode ser entendido como valores altos de comprometimento

organizacional afetivo, satisfação, envolvimento com o trabalho; tendem a se

relacionar com valores altos na competência para administrar conflitos e mudanças

decorrentes do ambiente de trabalho.

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5.7 REGRESSÃO – O TESTE DA HIPÓTESE PRINCIPAL

As análises de regressão linear múltipla padrão foram calculadas para testar a

hipótese principal deste estudo, de que resiliência no trabalho e condições de

trabalho explicam bem-estar no trabalho (BET) em profissionais da saúde. Dessa

forma, considerou-se: bem-estar no trabalho como variável critério e resiliência no

trabalho e condições de trabalho como preditores. Os resultados são apresentados

na Tabela 11 e revelam que o modelo explica significativamente a variância de BET.

Tabela11 – Resumo do modelo de regressão

Variável critério Preditores Beta R² Modelo

Modelo 1

Bem-estar no

trabalho

(F = 3,27; GL = 4;

erro padrão da

estimativa = 0,62)

Resiliência no Trabalho

Organização do

trabalho

Condições de trabalho

Relações

socioprofissionais

0,06

0,01

0,06

-0,43

0,15**

Fonte: Tabela elaborada pela pesquisadora conforme os dados do SPSS.

Os resultados apresentados na Tabela 11 revelam que o modelo composto

por condições de trabalho e resiliência prediz significativamente 15% (R² = 0,15 F =

3,27; p < 0,05) da variância de bem-estar no trabalho. Somente a variável relações

socioprofissionais colaborou significativa e inversamente para esta explicação.Isto

significa que a percepção de suporte organizacional por parte dos profissionais, a

maneira como são distribuídas as tarefas, a forma como a chefia se comunica com

os subordinados, a existência de autonomia por parte dos profissionais e a

participação destes nas decisões acerca do serviço, favorecem um ambiente de

trabalho com menos intrigas e disputas, de forma que as relações internas possuam

um nível de diálogo claro e transparente, tanto em relação com a chefia, como entre

os profissionais. A composição desses fatores favorece maior nível de bem-estar

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entre esses trabalhadores, pois colabora para que estes profissionais se sintam

envolvidos com a instituição empregadora e com o trabalho que desempenham,

fortalecendo seu interesse de permanecer vinculado a essa instituição, em

estabelecer vínculos positivos com a organização e favorecendo sentimentos

positivos para com o ambiente de trabalho. Assim, pode-se concluir que boas

relações socioprofissionais tendem a aumentar o nível de satisfação e

comprometimento organizacional afetivo com a instituição, bem como a incrementar

o nível de envolvimento desses profissionais com seu trabalho, o que favorece a

percepção individual de que existe suporte organizacional por parte da instituição

empregadora e que seus interesses pessoais e profissionais são compreendidos e

valorizados pela organização. Isto constitui a visão de bem-estar no trabalho

adotada neste estudo.

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6 DISCUSSÃO

Considerando os objetivos previamente descritos e os resultados obtidos

nesta dissertação, este capítulo destina-se a descrever e discutir os resultados

averiguados tendo em vista os objetivos do estudo e a revisão da literatura da área

que embasou essa pesquisa, indicando os principais achados sobre o impacto do

contexto de trabalho e da resiliência sobre o bem-estar de profissionais dos Centros

de Atenção Psicossocial (CAPS).

O objetivo principal foi identificar o impacto do contexto de trabalho e da

resiliência sobre o bem-estar dos profissionais dos Centros de Atenção Psicossocial

(CAPS) de Petrolina/PE e São Bernardo do Campo/SP, conforme o modelo

hipotético apresentado na Figura 1. Para alcançar esse objetivo, realizaram-se

análises de correlação e análise de regressão múltipla.

Porém, antes de aprofundar este tópico, é importante fazer uma observação

sobre os resultados obtidos com a escala de avaliação do contexto de trabalho

(FERREIRA; MENDES, 2008): trata-se de uma medida invertida, ou seja, com

afirmativas negativas sobre a percepção dos profissionais. Isso significa que

resultados altos correspondem a condições ruins de trabalho e vice-versa.

Os resultados obtidos pelos cálculos de correlação revelam que resiliência no

trabalho (RET) não se relacionou significativamente com as demais variáveis

(condições de trabalho e bem-estar no trabalho). Além disso, bem-estar no trabalho

correlacionou-se significativamente com relações socioprofissionais, fator de

avaliação do contexto de trabalho. Esse resultado corrobora as dimensões medidas

pelas escalas no que se se refere à importância da avaliação subjetiva desses

profissionais em relação à comunicação existente no ambiente laboral entre colegas

e a chefia, sobre a distribuição de tarefas e percepção de suporte e reconhecimento

organizacional (SIQUEIRA & PADOVAM, 2008; MENDES & FERREIRA, 2008).

Em relação a socioprofissionais, este teve relação direta, moderada e

significativa também com os fatores: condições de trabalho e organização do

trabalho. Em relação às condições de trabalho, esta correlação pode explicar que a

forma como são administradas as tarefas e as relações hierárquicas tendem a

refletir-se nas relações internas ao ambiente laboral, inferindo que quanto menor a

qualidade da gestão de tarefas e das relações de poder, pior o nível dessas relações

(ANTLOGA et al, 2014; RESENDE, SIQUEIRA & MARTINS, 2010).

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No que concerne à correlação com a organização do trabalho, este resultado

pode ser explicado pela inferência de que as formas de gerenciamento das

atividades dentro da instituição, a condução das relações entre chefia e

subordinados, o nível de produtividade exigida e o ritmo de trabalho proposto

tendem a influenciar as relações entre os profissionais. Isso pode significar que a

distribuição de tarefas de forma injusta e inadequada frente à capacidade do

profissional, a existência de metas e propostas ilusórias podem favorecer um

ambiente de trabalho menos articulado, com piores níveis de diálogo e de

relacionamento entre a equipe de trabalho (CHIUZI, SIQUEIRA & MARTINS, 2012;

BARROS, 2011; BASÍLIO, 2005).

Também houve correlação significativa entre condições de trabalho e

organização do trabalho; isto pode ser explicado pensando-se que a qualidade do

ambiente do trabalho, no que se refere à estrutura física, disponibilidade de

materiais e equipamentos para a execução das atividades operacionais pode

influenciar a divisão e coordenação dessas tarefas, impactando na produtividade e

no ritmo de trabalho. Ou seja, os aspectos instrumentais do ambiente de trabalho

são considerados fundamentais para que as atividades sejam desempenhadas de

maneira adequada e satisfatória pelos profissionais. Parece, pelas respostas dos

participantes, que isto não acontece nestas instituições pesquisadas(ABUHAD et al,

2005; MILHOMEM e OLIVEIRA, 2007; GUIMARÃES et al, 2011).

Por fim, houve correlação entre bem-estar no trabalho e resiliência. Esse

dado pode revelar que a capacidade de se adaptar às mudanças e conflitos

ocorridos no ambiente de trabalho corrobora para maiores níveis de satisfação,

envolvimento e comprometimento afetivo com trabalho. Em relação ao público

investigado, compreende-se que as vivências cotidianas nesses ambientes,

permeados por mudanças, rupturas, perdas e conflitos, podem resultar num

profissional mais resiliente, que, ao desenvolver suas habilidades adaptativas,

consegue ampliar os vínculos positivos com seu trabalho, favorecendo um melhor

nível de bem-estar no trabalho (SIQUEIRA; PADOVAM, 2008; CHIUZI; SIQUEIRA;

MARTINS, 2012).

Dessa forma, as correlações obtidas neste estudo tiveram níveis

considerados significativos em relação à metade dos fatores estabelecidos, com

exceção da variável resiliência no trabalho relacionada às demais variáveis (bem-

estar no trabalho e condições de trabalho), o que significa que esse construto não

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obteve força suficiente para sustentar sua relação com as demais variáveis.

Portanto, já se esperava que resiliência não fosse um preditor significante na

regressão.

A análise de regressão revelou capacidade de predição do modelo sobre

bem-estar no trabalho, indicando que o conjunto de resiliência no trabalho e

condições de trabalho prediz BET. Entretanto, apenas relações cultivadas no

ambiente de trabalho foi preditor significante, o que indica que o modo de gestão do

trabalho, a comunicação entre os funcionários e com a chefia e a forma como

acontecem as interações internas ao contexto organizacional explicam bem-estar no

trabalho. No entanto, não foi encontrado nenhum estudo empírico que confirmasse a

relação entre essas variáveis, porém outros estudos (LOCKE, 1976; BASÍLIO, 2005;

SIQUEIRA; PADOVAM, 2008) explicam que as relações internas e com outras

pessoas no contexto laboral influenciam na avaliação que o trabalhador faz da

instituição empregadora, favorecendo vínculos positivos ou negativos, sobretudo em

relação à satisfação no trabalho.

Segundo Siqueira e Padovam (2008), bem-estar no trabalho é um construto

psicológico, fruto de vínculos positivos com o trabalho e com a organização.

Incluídos nesse conceito encontram-se os fatores: satisfação no trabalho,

envolvimento com o trabalho e o comprometimento organizacional afetivo.

No que se refere à satisfação no trabalho, este fator é considerado como

determinante no comportamento dos funcionários, sendo considerado como um

resultado ou consequência de experiências subjetivas no trabalho, que abarca as

relações com as pessoas, as retribuições organizacionais e as tarefas realizadas. No

contexto desta pesquisa, e com fundamento na posição de Siqueria & Padovam

(2008), existe uma relação bastante significativa entre a satisfação no trabalho e as

relações socioprofissionais, levando em consideração que as relações estabelecidas

dentro do ambiente de trabalho impactam na avaliação subjetiva desses

profissionais, pois abarcam os aspectos sobre a eficiência da comunicação

estabelecida nesses contextos – tanto entre colegas como em relação à chefia –, a

distribuição clara e justa de tarefas, a percepção de suporte e o reconhecimento

organizacional no que se referem a promoções, salários e desenvolvimento

profissional.

Satisfação no trabalho, segundo Locke (1976), resulta de um sentimento

emocional positivo ou de prazer advindos do trabalho ou de experiências de

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trabalho, e, ao se basear na concepção teórica exposta, podem estar incluídas as

relações estabelecidas nesses ambientes (WEISS, 2002; MELEIRO, 2005;

MARTINS; SANTOS, 2006; PASCHOAL, 2008; ZIMMERMAN et al., 2011; ZIEGLER,

2012). Já o envolvimento com o trabalho, segundo Zanelli e Kanan (2011), está

relacionado ao papel que a função desempenhada ou o trabalho exerce sobre a vida

do trabalhador, pois se refere ao grau de identificação psicológica do indivíduo com

seu trabalho (MUCHISKY, 2004). Nesse caso, a relação estabelecida é entre o

sujeito e seu trabalho, e a instituição é entendida como o local que favorece essa

relação.

Mas, levando em consideração que os profissionais pesquisados fazem parte

de uma equipe multidisciplinar em saúde, que significa “um conjunto de profissionais

de diferentes áreas trabalhando isoladamente, [...] num mesmo espaço institucional,

operando simultaneamente diferentes saberes, sob uma coordenação apenas

administrativa” (MILHOMEM; OLIVEIRA, 2007, p.105), isso significa uma atuação

coletiva sobre o mesmo objeto, no caso, os usuários dos CAPS. O fato de o trabalho

em saúde mental ser coletivo preconiza a divisão das tarefas de acordo com a

competência técnica de cada profissional, resultando numa relativa autonomia por

parte dos profissionais. No entanto, essa autonomia esbarra na valorização social

atribuída aos diferentes trabalhos/trabalhadores, centrada geralmente na figura do

médico ou da coordenação. Dessa forma, a interação entre a equipe e a chefia se

torna um fator preponderante para o envolvimento desse trabalhador com seu

trabalho, pois o estreitamento dessas relações pode beneficiar o melhor nível de

diálogo entre os saberes, favorecendo articulações das ações, divisão de tarefas de

forma horizontalizada e maior participação desses profissionais nas tomadas de

decisão. Ou seja, o desempenho desse profissional, principal fator componente do

envolvimento com seu trabalho, está imbricado à atuação profissional de outros

colegas, e, por isso, seu envolvimento com o trabalho torna-se codependente

dessas relações (KADUNGO; MISRA, 1988; SIQUEIRA; GOMIDE Jr., 2004;

MILHOMEM; OLIVEIRA, 2007; ZANELLI; KANAN, 2011).

Por fim, existe o comprometimento organizacional afetivo, que se caracteriza

por sentimentos positivos e de identificação por parte do trabalhador em relação à

organização empregadora. Esse fator não está relacionado com o trabalho em si,

mas com o vínculo emocional com a empresa, sobretudo acerca da lealdade com a

instituição e o desejo de permanecer vinculado à referida corporação (MEYER;

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ALLEN, 1984; BORGES-ANDRADE, 1994; BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2002;

BASTOS, 2004; SIQUEIRA; PADOVAM, 2008; BASTOS; MENEZES, 2010). Em

relação aos profissionais dos CAPS, esse fator pode estar relacionado tanto com a

identificação com a Política Nacional de Saúde Mental (PNSM), que preconiza e

regulamenta a gestão dos CAPS, quanto com as Secretarias Municipais de Saúde

dos Municípios, ao se considerar que a contratação/seleção desses profissionais é

realizada através desses órgãos.

É importante salientar que, no aspecto do comprometimento organizacional

afetivo em relação aos profissionais dos CAPS, é imprescindível lembrar que essas

instituições são frutos de um processo político e social fundamentado na Política

Nacional de Saúde Mental (PNSM), que abarca também a redefinição dos papéis

profissionais dos técnicos envolvidos na assistência, num trabalho de equipe

multidisciplinar. Dessa maneira, é preciso que esses profissionais estejam

conscientes e preparados para exercer sua prática dentro do paradigma proposto

para o funcionamento do CAPS, e esse modelo propõe

rever as relações internas de poder (horizontalidade de papéis), a inclusão social do usuário, utilizar recursos da comunidade, envolver familiares no tratamento, trabalhando para a autonomia do sujeito (ABUHAD et al., 2005, p. 370).

Ou seja, a horizontalidade de papéis e atribuições técnicas é algo que precisa

ser incorporado pela equipe, pois a isolada inserção de técnicos de diversas

formações num local onde existem justaposições de ações, muitas vezes

antagônicas, não resulta em um funcionamento adequado da instituição. É preciso

que ocorram ações integradas em benefício dos usuários, como preconiza a PNSM.

Dentro desse panorama, existe ainda o problema da precarização do trabalho

em saúde, nesse caso na saúde mental. Como foi exposto anteriormente, apesar de

os CAPS serem uma instituição de saúde vinculada ao SUS, 43,2% dos

profissionais pesquisados são contratados de forma precária através de contratos

anuais, o que não obedece às exigências das leis trabalhistas em vigor. Isso

significa que as condições inadequadas de trabalho investigadas neste estudo

podem estar fortemente relacionadas com a falta de suporte organizacional e de

reconhecimento profissional vivenciado por esses trabalhadores.

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Segundo Milhomem e Oliveira (2007, p. 106), “é necessário considerar[...] a

precarização do trabalho em saúde como algo que terá influência central nos

resultados do trabalho terapêutico nos dispositivos de atenção à saúde mental”. Este

fator se torna fundamental para o desempenho destes profissionais, pois uma

equipe contratada precariamente não desenvolve vínculos positivos com seu

trabalho ou com a organização, o que na prática significa um profissional

desmotivado e indiferente, que não adota os objetivos da instituição, que nesse caso

específico diz respeito à mudança do cenário da saúde mental, algo crucial na

atenção psicossocial (ABUHAD et al, 2005; MILHOMEM & OLIVEIRA, 2007;

SIQUEIRA & PADOVAM, 2008). Sendo assim, além da existência do vínculo entre a

equipe e com a organização, são necessárias ações que afiancem condições

mínimas de trabalho, como regulamentação dos contratos trabalhistas e

remuneração adequada a cada categoria profissional, assegurando-se profissional e

socialmente esse trabalhador.

Por fim, vale ressaltar que os CAPS são instituições em processo de

consolidação, o que infere que mudanças significativas ainda podem ocorrer nesse

âmbito organizacional, desde implementação de novas políticas até a forma como se

gerencia estas instituições. Além disso, por se tratar de um serviço diferenciado, que

atende um público singular e com tantas peculiaridades, o trabalho em instituições

como os CAPS está permeado de situações conflituosas, estressantes, de rupturas

ou perdas, que exige do profissional competência e habilidade para lidar com essas

situações cotidianamente. Desta forma, o desenvolvimento da resiliência desses

profissionais torna-se constitucional para que estes consigam adaptar-se e

responder adequadamente às diferentes demandas e situações impostas pelo

ambiente de trabalho.

Segundo os pesquisadores da área, a resiliência no trabalho refere-se à

capacidade de construção de recursos adaptativos do sujeito em relação ao seu

trabalho, preservando a saúde mental e física do trabalhador, favorecendo uma

relação saudável com seu trabalho, mesmo em condições de estresse ou conflitos

(PINHEIRO, 2004; LUTHANS & YOUSSEF, 2007; MARTINS, 2012). Segundo

Luthans e Youssef (2007), a resiliência auxilia o trabalhador a criar estratégias ou

soluções para lidar com situações adversas, respondendo favoravelmente as

mudanças e com menor índice de estresse, mantendo seu empenho e rendimento

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no trabalho. Levando em consideração os aspectos teóricos sobre a resiliência no

trabalho, pode-se concluir que esta habilidade é muito importante a ser promovida

em profissionais da atenção psicossocial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo almejou colaborar para a ampliação do conhecimento acerca dos

promotores de bem-estar no trabalho em profissionais da rede pública de saúde

mental em duas cidades de duas regiões sociopolíticas brasileiras. Investigou-se o

impacto do contexto de trabalho e da resiliência sobre o bem-estar de profissionais

de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de duas cidades brasileiras,

Petrolina/PE e São Bernardo do Campo/SP. A escolha desse público foi realizada

em decorrência de pesquisas anteriores (FEUERWERKER, 2005; ONOCKO &

FERTADO, 2006; GUIMARÃES et al, 2011; ALVES et al, 2013) que apontaram

condições laborais inadequadas e a precarização do trabalho em saúde, resultando

em adoecimento, absenteísmo e rotatividade desses profissionais nestas

instituições.

Os resultados apontaram que são as relações estabelecidas nesses

ambientes que predizem o bem-estar no trabalho, indicando que, mesmo em

condições ruins de trabalho e de falta de suporte organizacional, são as relações

entre o profissional com sua chefia e com os colegas que favorecem os vínculos

positivos com seu trabalho e com a organização. Cerca de 75% dos profissionais

pesquisados afirmaram ter péssimas condições de trabalho, mas revelaram possuir

um nível moderado de bem-estar no trabalho. Para que esse vínculo seja

estabelecido e fortalecido, é necessário que sejam implementadas ações favoráveis

à horizontalidade dos papéis, para que todo profissional da equipe tenha seu lugar

estabelecido e reconhecido como igual perante os demais colegas dentro da

instituição, seja em relação à importância da sua prática como na tomada de

decisões em relação à condução do tratamento dos usuários, seja em relação às

ações propostas pela equipe (PELISOLI, MOREIRA & KRISTENSEN, 2007), pelo

menos dentre os participantes deste estudo. Estas equipes multidisciplinares têm

que transcender a questão dos diferentes papéis e saberes, que limitam suas

práticas e a articulação entre elas. Assim, parece fazer sentido o discurso de que o

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CAPS, como uma instituição em processo de consolidação, necessita de

profissionais articulados com as propostas da Política Nacional de Saúde Mental

(PNSM) e essas alterações no cuidado em saúde mental acontecem,

prioritariamente, através de suas práticas, sendo assim a equipe tem que estar

atuante, sincronizada e comprometida com a proposta que regulamenta os CAPS.

Para que essa integração ocorra e a equipe funcione de maneira articulada,

segundo os resultados desta pesquisa é preciso que haja melhora nas condições e

na organização do trabalho, a fim de que existam boas relações socioprofissionais,

pois é isto o que favorece substancialmente seu bem-estar no trabalho.

Feitas essa colocações, pode-se afirmar que o objetivo principal do presente

trabalho, qual seja verificar o impacto do contexto de trabalho e da resiliência sobre

o bem-estar no trabalho em profissionais dos Centros de Atenção Psicossocial, foi

atingido. Resta fazer alguns apontamentos a respeito das implicações teóricas,

metodológicas e práticas deste estudo no corpo do conhecimento acerca do

contexto de trabalho sobre o bem-estar dos trabalhadores.

Contribuições teóricas:

Pôde-se verificar, através da revisão de literatura, que o bem-estar no

trabalho é uma área de investigação relativamente nova, mas tem crescido bastante

nas duas últimas décadas, pelo poder de explicar questões relacionadas ao

ambiente de trabalho, como o absenteísmo, a rotatividade e o adoecimento dos

profissionais. Por ser um conceito novo em meio científico, enfrenta a dificuldade em

se consolidar teoricamente em decorrência da amplitude e da superposição com

outros conceitos, o que dificulta sua sistematização; por isso, ainda não existe

consenso teórico sobre o tema. O presente trabalho baseou-se em uma das visões

teóricas de BET e, nesse sentido, colabora para sua consolidação.

Em relação aos resultados obtidos, estes reforçaram o papel das relações

socioprofissionais como um fator importante para o desenvolvimento de vínculos

positivos desses profissionais com seu trabalho e com a organização empregadora,

ampliando o campo de pesquisa e práticas nessa área. Através das análises

correlacionais, notou-se que bem-estar no trabalho correlacionou-se de maneira

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significativa e invertida com relações socioprofissionais. Entretanto, através das

análises de regressão múltipla padrão, verificou-se que o bem-estar no trabalho é

predito pela percepção individual desses profissionais acerca das relações

estabelecidas no contexto laboral, tanto com relação à chefia como com os colegas.

A resiliência no trabalho não explicou significativamente a variância dos níveis

de bem-estar no trabalho. No entanto, é preciso enfatizar a necessidade de outros

estudos que possam verificar este resultado, visto que a resiliência no trabalho é

considerada como uma habilidade psicológica positiva que favorece a administração

e superação dos conflitos oriundos do ambiente de trabalho, logo podendo favorecer

essas relações organizacionais internas.

Contribuições metodológicas

Siqueira e Padovam (2008) afirmam que a amplitude das medidas acerca do

bem-estar no trabalho tem acarretado diversas interpretações sobre este tema,

dificultando sua sistematização teórica e prática. Existem hoje, no Brasil, escalas

com abordagens distintas e com metodologias diversas que avaliam o construto, o

que dificulta sua compreensão, ocasionando discrepância e confusão teórico-

metodológica. Assim sendo, utilizou-se neste estudo um instrumento válido e

fidedigno para a medição de Bem-estar no Trabalho: o Inventário de Bem-estar no

Trabalho (IBET-13) de Siqueira, Orengo e Peiró (2014), composto por treze itens e

dois fatores (satisfação/comprometimento organizacional afetivo e envolvimento com

trabalho). O IBET-13 obteve bons índices de consistência para a amostra deste

estudo.

Contribuições práticas

Os resultados desta pesquisa apontam que as relações socioprofissionais são

preditoras do bem-estar no trabalho em profissionais da saúde mental. Desta forma,

sugere-se que, para melhorar os níveis de bem-estar nesses profissionais, deve

haver investimento que ocasione melhoras na organização e nas condições de

trabalho, objetivando favorecer a horizontalidade dos papéis e dos saberes dentre os

que atuam nesses serviços, a fim de que essas relações sejam fortalecidas através

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da aproximação técnica e de saberes, pela divisão justa das tarefas, pelo diálogo

contínuo e pela percepção de suporte organizacional.

Limitações do estudo

Apesar de o presente estudo suscitar contribuições teóricas e práticas – que

poderão ser utilizadas tanto por pesquisadores da área como pelos gestores

municipais da saúde de Petrolina/PE e São Bernardo do Campo/SP, que

concordaram em participar desta pesquisa, almejando conhecer os fatores que

favorecem ou não o desempenho de seus profissionais –, sabe-se que o mesmo tem

limitações.

Uma das limitações está associada ao fato de se ter realizado a coleta de

dados em apenas seis CAPS, de estados distintos, o que implica em uma restrição

na generalização dos resultados para a população de profissionais atuantes nos

CAPS dessas cidades e para a população de profissionais da área da saúde mental

no Brasil.

A segunda limitação a ser considerada refere-se à restrição ao acesso aos

profissionais dos CAPS de São Bernardo do Campo/SP, que atualmente possui

cinco centros de atenção psicossocial. A pesquisadora só obteve autorização para

acessar três destes dispositivos, sem controle em relação ao fator de escolha.

A terceira limitação se refere à resistência dos profissionais de dois CAPS de

Petrolina/PE em participar da pesquisa. Argumentaram medo de sofrer perseguição

da coordenação após os resultados do estudo. Esse dado pode ser confirmado pelo

fato de que 43,2% dos profissionais pesquisados são contratados, sem qualquer tipo

de segurança ou assistência profissional.

A quarta limitação a ser considerada refere-se à restrição ao contato com os

profissionais dos CAPS III de São Bernardo do Campo/SP, pela inviabilidade de

acesso aos serviços no período noturno. Desta forma, a pesquisadora só teve

acesso aos profissionais do turno diurno. Por esse motivo, o número de profissionais

pesquisados nesse município teve menor índice do que os profissionais de

Petrolina/PE.

Por fim, as variáveis contempladas no modelo (Condições de Trabalho e

Resiliência no Trabalho) explicaram 15% da variância de bem-estar no trabalho. Ou

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seja, ainda que estatisticamente significante, muito da variância do bem-estar no

trabalho ainda precisa ser explicado por outras variáveis não envolvidas neste

estudo, um desafio a ser respondido por futuras investigações.

Agenda de pesquisa

A) Realizar outros estudos, contemplando outras variáveis, individuais e

ambientais, próprias do contexto organizacional, que procurem

compreender os fatores antecedentes da variável bem-estar no trabalho;

B) Investigar mais profundamente a relação entre as condições de trabalho e

o bem-estar no trabalho em diferentes contextos, uma vez que apenas um

fator das condições de trabalho predisse significativamente bem-estar no

trabalho;

C) Realizar investigações acerca do papel da resiliência no trabalho como

preditora ou mediadora de bem-estar e de outras variáveis dependentes

importantes para a saúde do trabalhador.

Enfim, espera-se que este estudo suscite interesse e atraia pesquisadores a

dedicarem-se em compreender os construtos estudados, priorizando, assim, o

potencial dos indivíduos para produzir saúde e superação, além disso, deslocando a

ênfase da negatividade do trabalho para a possibilidade de ser uma fonte profícua

ao desenvolvimento de capacidades psicológicas positivas, tal como a resiliência.

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ANEXOS

I. TCLE

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Prezado (a) participante, você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa

intitulada “Impacto das condições de trabalho e da resiliência sobre o bem-estar no trabalho

de profissionais dos Centros de Atenção Psicossocial de São Bernardo do Campo /SP e de

Petrolina/PE” sob responsabilidade da pesquisadora Haiana Maria de Carvalho Alves. Sem sua

participação ele não pode acontecer, pois precisamos de respostas de

trabalhadores/trabalhadoras que vivenciam o dia-a-dia do trabalho em Centros de Atenção

Psicossociais.

Nesta pesquisa pretende-se verificar de que forma o contexto de trabalho e a resiliência

influencia no bem-estar dos profissionais dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) das cidades

de Petrolina/PE e de São Bernardo do Campo/SP.

Resiliência no trabalho se caracteriza como a capacidade das pessoas se adaptarem e

reagirem de maneira positiva aos acontecimentos diversos em seu ambiente de trabalho. Bem-estar

no trabalho configura-se como vínculos positivos com o trabalho (satisfação e envolvimento) e com a

organização (comprometimento organizacional afetivo).

Para participar, você deverá responder ao questionário que contém instrumentos para avaliar

o contexto de trabalho no qual está inserido, sua resiliência, seu bem-estar no trabalho e informar

alguns dados a seu respeito. Para responder aos instrumentos você assinalará suas respostas em

escalas numéricas que podem variar de 0 a 4 e de 1 a 5, conforme está explicado antes de cada

conjunto de perguntas. Você algumas vezes vai informar se concorda com as afirmações descritas e

outras, a frequência com que acontece com você o que está descrito nas frases.

Ao assinar este termo de consentimento (TCLE), você concorda em colaborar com a

pesquisa, ciente de que não está sujeito a nenhum prejuízo, a não ser o incômodo de usar seu tempo

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para responder às perguntas e de que sua identidade será preservada, mesmo com a publicação dos

resultados da pesquisa. Esta publicação acontecerá em revistas científicas e apresentará resultados

do grupo de participantes como um TODO.

Além disso, você deverá assinalar, depois de sua assinatura, se permite a utilização de suas

respostas em estudos futuros, todos SEM identificação de sua identidade, sem que precisemos

consultá-lo para obter nova autorização. Sua decisão é totalmente voluntária e você não terá

nenhum prejuízo pessoal ou financeiro e nenhum benefício direto por participar desta pesquisa. Você

estará apenas colaborando para o aumento dos conhecimentos sobre os assuntos envolvidos.

Você é livre para se recusar a participar deste estudo ou para desistir dele a qualquer

momento, sem que isto lhe traga qualquer prejuízo pessoal. Se você concordar em participar, deve

assinar este TCLE em duas vias, guardar uma com você, devolver a outra para a pesquisadora que

guardará em um envelope. Depois você deve responder ao questionário e colocá-lo em outro

envelope. Ambas estão em poder da pesquisadora. Somente a pesquisadora terá acesso às urnas.

Existe um Comitê de Ética em Pesquisa que fiscaliza o cumprimento de tudo que está aqui

esclarecido e a quem você recorrer em caso de qualquer dúvida a respeito da pesquisa, no seguinte

endereço e telefone: Av. Alfeu Tavares, 445, Ed. Capa, sala 419, fone:11-43665814, Rudge Ramos,

SBC, SP.

Eu, Haiana Maria de Carvalho Alves, telefone (87) 8827-6181/ (11) 96719-3254, pesquisadora

responsável pelo estudo, me comprometo a zelar pelo cumprimento de todos os esclarecimentos

prestados nesse documento.

Petrolina,_____de ______________de 2014.

_______________________________________

Haiana Maria de Carvalho Alves

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II. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

Termo de Consentimento

Eu, ____________________________________________________________, documento

de

identidade _________________________, declaro ter recebido informações e esclarecimentos sobre

o estudo “Impacto das condições de trabalho sobre a resiliência e o bem-estar dos profissionais dos

Centros de Atenção Psicossocial - Um estudo comparativo entre os municípios de São Bernardo do

Campo/ SP e Petrolina/ PE”, e aceito participar do mesmo, voluntariamente, ciente de todas as

condições descritas no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que me foi entregue em anexo.

__________________________________________

Assinatura do Participante da pesquisa

Petrolina, ____/____/2014.

Autorizo a utilização de minhas respostas em estudos futuros, todos SEM identificação de minha

identidade, sem necessidade de me consultar novamente sobre isto ou de assinar nova autorização:

( ) SIM ( )NÃO

RG: _______________________

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III. Instrumentos

1. Resiliência no Trabalho (RET)

Vamos falar um pouco sobre você. Abaixo, você encontrará uma série de frases relacionadas à

capacidade humana de superar as adversidades. Por favor, indique o quanto você concorda com as

seguintes declarações, assinalando à frente de cada uma, o número correspondente ao quanto elas

se aplicam a sua vida, de acordo com a escala a seguir. Por gentileza, procure responder a todas as

questões com sinceridade. Muito obrigada por sua colaboração.

0

Nunca

é verdade

1

Raramente

é verdade

2

Algumas vezes

é verdade

3

Frequentemente

é verdade

4

Sempre

é verdade

2. Bem-estar no Trabalho (RET)

As frases a seguir são sobre o seu trabalho atual e a empresa onde trabalha. INDIQUE, COM

1. Fico mais forte após enfrentar demissão no trabalho.

2. Fico mais forte após enfrentar mudanças no trabalho.

3. Fico mais forte após enfrentar desafios no trabalho.

4. Fico mais forte após enfrentar perdas no trabalho.

5.Fico mais forte após enfrentar dificuldades no trabalho.

6. Fico mais forte após enfrentar intrigas no trabalho.

7. Fico mais forte após enfrentar a inveja no trabalho.

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SINCERIDADE, O QUANTO VOCÊ CONCORDA OU DISCORDA DE CADA UMA DELAS. Dê suas

respostas anotando, no espaço ao lado de cada frase, aquele número (de 1 a 5), que melhor

representa sua resposta.

1

Discordo

totalmente

2

Discordo

3

Nem concordo,

nem discordo

4

Concordo

5

Concordo

plenamente

1. Estou contente com a empresa onde trabalho.

2. Estou entusiasmado com a empresa onde trabalho.

3. As horas que passo trabalhando são as melhores horas do meu dia.

4. Estou interessado na empresa onde trabalho

5. Estou satisfeito com o meu salário comparado com os meus esforços no trabalho.

6. Estou animado com a empresa onde trabalho.

7. As maiores satisfações de minha vida vêm do meu trabalho.

8. Estou satisfeito com o grau de interesse que minhas tarefas despertam em mim.

9. As coisas mais importantes que acontecem em minha vida envolvem meu trabalho.

10. Estou satisfeito com o entendimento entre mim e meu chefe.

11. Estou orgulhoso da empresa onde trabalho.

12. Eu como, vivo e respiro o meu trabalho.

13. Estou satisfeito com as oportunidades de ser promovido nesta empresa.

3. Avaliação do Contexto de Trabalho

Leia os itens abaixo e escolha a alternativa que melhor corresponde à avaliação que você faz do seu

contexto de trabalho.

0

Nunca

é verdade

1

Raramente

é verdade

2

Algumas vezes

é verdade

3

Frequentemente

é verdade

4

Sempre

é verdade

1. O ritmo de trabalho é acelerado

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2. As tarefas são cumpridas com pressão temporal

3. A cobrança por resultados é presente

4. As normas para execução das tarefas são rígidas

5. Existe fiscalização do desempenho

6. O número de pessoas é insuficiente para se realizar as tarefas

7. Os resultados esperados estão fora da realidade

8. Falta tempo para realizar pausa de descanso no trabalho

9. Existe divisão entre quem planeja e quem executa

10. As condições de trabalho são precárias

11. O ambiente físico é desconfortável

12. Existe barulho no ambiente de trabalho

13. O mobiliário existente no local de trabalho é inadequado

14. Os instrumentos de trabalho são insuficientes para realizar as tarefas

15. O posto de trabalho é inadequado para a realização das tarefas

16. Os equipamentos necessários para realização das tarefas são precários

17. O espaço físico para realizar o trabalho é inadequado

18. As condições de trabalho oferecem riscos à segurança física das pessoas

19. O material de consumo é insuficiente

20. As tarefas não estão claramente definidas

21. A autonomia é inexistente

22. A distribuição das tarefas é injusta

23. Os funcionários são excluídos das decisões

24. Existe dificuldades na comunicação chefia-subordinado

25. Existem disputas profissionais no local de trabalho

26. Existe individualismo no ambiente de trabalho

27. Existem conflitos no ambiente de trabalho

28. A comunicação entre funcionários é insatisfatória

29. As informações de que preciso para executar minhas tarefas são de difícil acesso

30. Falta apoio das chefias para o meu desenvolvimento profissional

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