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UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA PROGRAMA DOUTORAL EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO PROJECTO DE INVESTIGAÇÃO PARA A ELABORAÇÃO DE TESE DE DOUTORAMENTO O Impacto do Processo RVCC Nível Secundário Estudo de Caso Autora: Filipa A. M. Canelas Orientadora: Professora Nair Rios Azevedo Lisboa Maio de 2010

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UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

PROGRAMA DOUTORAL EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO

PROJECTO DE INVESTIGAÇÃO PARA A

ELABORAÇÃO DE TESE DE DOUTORAMENTO

O Impacto do Processo RVCC – Nível Secundário

Estudo de Caso

Autora: Filipa A. M. Canelas

Orientadora: Professora Nair Rios Azevedo

Lisboa

Maio de 2010

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Índice

Relevância do Estudo 3

Capítulo 1 – Sistema de RVCC em Portugal 4

1.1. Objectivos dos Centros Novas Oportunidades 4

1.2. Eixos de actuação dos Centros 4

1.3. O Referencial de Competências – Chave: Nível Secundário 7

1.4. Profissionais dos Centros Novas Oportunidades 11

1.5. Metodologia do Processo RVCC 13

1.6. O Sistema de Créditos 16

1.7. A Sessão de Júri de Certificação de Competências 18

Capítulo 2 – Aprendizagem ao Longo da Vida 25

2.1. O conceito de Aprendizagem ao Longo da Vida 25

2.2. Principais estratégias/orientações políticas no âmbito da educação e

formação 25

2.2.1. O Livro Branco sobre a Educação e a Formação “Ensinar a aprender” –

Rumo à Sociedade Cognitiva: 1995 27

2.2.2. Memorando sobre Aprendizagem ao Longo da Vida: 2000 29

2.2.3. Tornar o espaço europeu de aprendizagem ao longo da vida uma

realidade: 2001 34

Capítulo 3 – O conceito de Competência 35

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Capítulo 4 – Estudo empírico: Centro Novas Oportunidades do IEFP de

Setúbal 36

4.1. Metodologia da Investigação 36

4.2. Objectivos da investigação 42

4.3. População e amostra do estudo 43

4.4. Instrumentos de recolha de dados 43

4.4.1. Inquérito por questionários 43

4.4.2. Entrevista 44

4.4.3. Observação participante 47

4.4.4. Análise documental e de dados 48

5. Bibliografia 49

6. Cronograma 51

7. Recursos 52

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Relevância do Estudo

Em primeiro lugar, gostaria de salientar a relevância deste estudo do ponto de

vista social, visto que o processo de Reconhecimento, Validação e Certificação

de Competências permite aos adultos alcançarem num curto espaço de tempo

um patamar que em determinado momento da sua vida não conseguiram, e

que a modalidade muito flexível permite conciliar os seus projectos pessoais e

profissionais. Desta forma, é possível dar continuação a sonhos guardados

dentro de um baú, fazer com que as aprendizagens cimentadas e construídas

ao longo do tempo passem a ter um valor formal.

Além de ser uma realização pessoal, o tema deste projecto deve ser alvo do

interesse das equipas dos Centros Novas Oportunidades, de forma a tomar

contacto com a realidade dos números que lhes são exigidos. Os indivíduos

com quem trabalham não são apenas números mas essencialmente pessoas

com uma história de vida. Será esta história de vida um suporte para atribuição

de uma certificação de nível secundário? E esta certificação alterou

comportamentos, motivações e ambições da camada populacional com a qual

trabalho? Por ser formadora neste processo, este tipo de interrogações

perseguem-me todos os dias. O único reflexo que recebo da parte dos adultos

é quando por um simples acaso me cruzo com estes e salientam o que mudou

na sua vida. Embora os Centros Novas Oportunidades devam manter o

contacto com os indivíduos de forma a indagar se o seu Plano Pessoal de

Desenvolvimento ou o seu Plano Pessoal de Qualificações foi cumprido, esta

informação apenas traduz em números, e não em informação que para nós

formadores deveria constituir uma aprendizagem.

Por fim, é importante realçar que este projecto pretende dar a conhecer à

comunidade científica o trabalho que é feito num Centro Novas Oportunidades

assim como as possíveis certificações atribuídas, acreditando sempre no lema:

“Aprender Compensa”, tão vulgarmente utilizado na comunicação social.

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Capítulo 1 – Sistema de RVCC em Portugal

1.1. Objectivos dos Centros Novas Oportunidades

Os Centros Novas Oportunidades (CNO) são a estrutura preferencial de

acolhimento dos candidatos, e através de diagnóstico e triagem, define o perfil

de cada um dos indivíduos e identifica as suas necessidades, motivações,

expectativas de formação e níveis de certificação. Desta forma, o adulto pode

ser encaminhado para um processo de Reconhecimento, Validação e

Certificação de Competências, ou para outra oferta educativa adequada ao

indivíduo.

O Sistema de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências

(RVCC) é desenvolvido nos Centros Novas Oportunidades e tem como

objectivo dar a oportunidade a todos os candidatos, com mais de 18 anos e

que possuam pelo menos três anos de experiência profissional justificada

mediante comprovativo de contribuições para a segurança social, de verem

reconhecidas, validadas e certificadas as suas competências escolares e

profissionais adquiridas ao longo da vida, em contextos formais, não – formais

e informais.

1.2. Eixos de actuação dos Centros

A missão dos Centros Novas Oportunidades organiza-se em torno de três eixos

fundamentais: Reconhecimento, Validação e Certificação. Cada um destes

eixos tem especificidades próprias na forma de implementação mas tornam-se

complementares.

O Reconhecimento de Competências baseia-se num conjunto de actividades,

fundamentadas numa metodologia de Balanço de Competências, empregando

instrumentos que proporcionam ao adulto oportunidades de reflexão sobre as

suas experiências de vida e a tomada de consciência das competências que

possui.

Dois dos principais pilares do reconhecimento de competências são a definição

do perfil de entrada do candidato e a construção e negociação do Plano de

Intervenção Individual (PII).

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A definição do perfil de entrada do candidato tem os seguintes objectivos:

saber as razões que levam o adulto a candidatar-se ao processo RVCC;

identificar as expectativas do adulto; analisar o conhecimento que o candidato

possui acerca do processo; avaliar os níveis de motivação; identificar estilos de

funcionamento e de comunicação.

O PII consiste num roteiro do processo RVCC, que pode sofrer constantes

mudanças negociadas entre a equipa técnico – pedagógica e o adulto,

tornando-se assim num documento em permanente re(construção). A

construção do PII acarreta: aceitar que o adulto é o elemento central de todo o

processo; distanciar as tendências de uniformização dos processos; decidir o

tipo de intervenção em função do perfil de entrada já traçado; incluir o adulto

nas tomadas de decisão; avaliar e monitorizar com o adulto a elaboração das

acções previstas.

O reconhecimento de competências tem também como objectivo a construção

de um PRA (Portefólio Reflexivo de Aprendizagens), no qual o adulto evidencia

as competências adquiridas ao longo da sua vida em contextos não – formais e

informais modeladas pela Abordagem (Auto)biográfica, identificação das

potencialidades e intencionalidades e valorização do potencial individual do

adulto, orientação do candidato na progressão em processo, construção de

projectos pessoais, educativos e profissionais, promoção da auto – formação e

do auto – conhecimento.

O eixo de reconhecimento de competências é o ponto de partida para a

validação das mesmas, e para tal, as actividades a desenvolver deverão ter

como horizonte o Referencial de Competências – Chave: Nível Secundário. No

decorrer deste processo, o indivíduo reproduz a sua história de vida com

consciência dos seus recursos, fragilidades, valorizações, expectativas,

desejos e projectos, articulando o presente com o passado e com o futuro de

modo reflexivo.

O técnico de RVCC deverá conhecer a história de vida do adulto, e através do

questionamento tentar que surja a explicitação das competências implícitas, e

nunca definir um padrão de respostas por parte do candidato, correndo o risco

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de anular a auto – valorização, auto – confiança e o desejo de realização

permanente.

O eixo de validação de competências consiste em incluir no PII do candidato

actividades que conduzam à obtenção de créditos nas várias Áreas de

Competência – Chave. Estas actividades devem ser negociadas com o adulto e

devem ter como base a sua experiência assim como os seus projectos futuros.

Nesta fase, o adulto analisa o seu PRA com o apoio da equipa técnico –

pedagógica, podendo-se tornar interessante a exploração de determinados

aspectos que podem potencializar o aspecto formativo do processo.

No entanto, poder-se-á concluir que o PRA não reúne as evidências

necessárias à luz do Referencial de Competências – Chave: Nível Secundário,

e o adulto deve reconstruir o mesmo. O indivíduo poderá ser encaminhado

para sessões de formação complementar ou para a modalidade de Educação e

Formação de Adultos. O último objectivo deste eixo é a preparação para o júri

de certificação de competências, analisando com o adulto a finalidade do

mesmo, a sua composição, o papel de cada interveniente, o formato da sessão

e os possíveis desfechos. Este é um momento de auto – análise de todo o

processo em que o adulto deverá analisar o seu percurso no Centro, e em

especial, o processo de elaboração do seu PRA.

O eixo de certificação de competências tem como função apoiar o adulto na

definição do seu projecto pessoal futuro, alertando-o para a importância da

aprendizagem ao longo da vida. A certificação é a confirmação oficial e formal

das competências adquiridas pelo adulto ao longo da vida. Pode conduzir à

emissão de um Diploma (certificação total) ou à emissão de um Certificado de

Validação de Competências (certificação parcial).

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1.3. O Referencial de Competências – Chave: Nível Secundário

O Referencial de Competências – Chave deve ser considerado como uma

referência a ajustar a cada adulto no seu contexto de vida, dando valor às

experiências significativas do seu projecto de vida reconhecendo as suas

aprendizagens, organizando essas mesmas experiências para o

reconhecimento e a validação das competências. O Referencial deve ser

aberto de forma a adaptar-se aos indivíduos e não o contrário, bem como, um

instrumento flexível de modo a tornar possível a diversidade de competências,

e diferentes ritmos e processos individuais de aprendizagem.

O Referencial de Competências – Chave: Nível Secundário tem três funções:

quadro orientador e estruturador para o reconhecimento de competências

adquiridas ao longo da vida; mecanismo de percursos de educação e formação

de adultos com base em competências – chave; guia para os técnicos de RVC

e formadores dos Centros Novas Oportunidades.

O Referencial deve fomentar a autonomia, a participação e o diálogo entre os

participantes do processo, tendo como base uma linguagem comum e um

enquadramento teórico que permite a discussão e a partilha. No entanto, não

se pretende práticas semelhantes de reconhecimento e validação, mas que

sejam diversificadas, personalizadas e contextualizadas.

O documento estabelece a organização em três Áreas de Competência –

Chave: Cidadania e Profissionalidade (CP); Sociedade, Tecnologia e Ciência

(STC); e Cultura, Língua e Comunicação (CLC).

Na área de Cidadania e Profissionalidade procura-se evidenciar, reconhecer e

certificar competências – chave da e na cidadania democrática como resultado

da aprendizagem reflexiva. Esta área materializa as suas competências –

chave a partir de três dimensões: social, cognitiva e ética. A prática da

cidadania deve assentar na partilha de vivências através da aprendizagem

reflexiva da cidadania democrática e da sua prática comunitária, apelando ao

pensamento crítico e à reflexão. A melhoria da situação profissional é uma das

razões que levam os adultos a frequentarem acções de formação, e daí a

importância que assume neste processo, sendo que a profissionalidade é vista

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como algo mais importante do que a profissão. A área organiza-se num

primeiro plano com base em oito núcleos geradores, e num segundo plano que

cruza os oito Núcleos Geradores com os Domínios de Referência para a

Acção, resultando uma combinação de trinta e dois temas, ou seja, as

competências – chave em que assenta o processo de reconhecimento,

validação e certificação. Os oito Núcleos Geradores desta área estão

organizados da seguinte forma:

Competências Cognitivas

Direitos e Deveres

Complexidade e Mudança

Reflexividade e Pensamento Crítico

Competências Éticas

Identidade e Alteridade

Convicção e Firmeza Ética

Abertura Moral

Competências Sociais Argumentação e Assertividade

Programação

A área de Sociedade, Tecnologia e Ciência trata-se de uma visão integrada de

três dimensões da vida dos cidadãos, a social, a tecnológica e a científica, que

por vezes são conhecimentos adquiridos de forma separada mas que se

operacionalizam nos contextos da vida privada, profissional e institucional.

Estas competências devem ser trabalhadas em contexto, visto que por vezes

fazem parte de um saber – fazer interiorizado por práticas continuadas ao

longo dos anos.

Na área de Cultura, Língua e Comunicação as competências – chave são

reconhecidas e certificadas em três dimensões, cultural, linguística e

comunicacional, que se articulam de forma contextualizada e integrada. É uma

área em as competências – chave se constroem em torno da dimensão cultural

na vida dos adultos, da dimensão linguística como sendo transversal, e da

dimensão comunicacional que atravessa a vida dos cidadãos.

As áreas de Sociedade, Tecnologia e Ciência e Cultura, Língua e Comunicação

estruturam-se a partir de sete Núcleos Geradores semelhantes como sendo

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organizadores temáticos, cruzando-os com quatro Domínios de Referência

para a Acção, definindo assim vinte e oito temas que se tornam a matriz em

que assenta o processo de reconhecimento, validação e certificação. Os

núcleos geradores, ou unidades de competência, acima referidos são:

Equipamentos e Sistemas Técnicos

Ambiente e Sustentabilidade

Saúde

Gestão e Economia

Tecnologias de Informação e Comunicação

Urbanismo e Mobilidade

Saberes Fundamentais

A área de Cidadania e Profissionalidade é considerada uma área transversal e

integradora das competências – chave que se podem desocultar, evidenciar e

validar com base em critérios de evidência. As áreas de Sociedade, Tecnologia

e Ciência, e Cultura, Língua e Comunicação são consideradas de natureza

instrumental e operatória, utilizando estruturas iguais e os mesmos elementos

de referência conceptual.

Ilustração 1 - Desenho do Referencial de Competências - Chave para a Educação e Formação de

Adultos - Nível Secundário ( Referencial de Competências - Chave , 2006)

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Se bem que as três áreas de competências – chave apresentem o respectivo

perfil de competências, espera-se que o perfil global de um adulto que se

adequa ao nível secundário permita compreender a diversidade e

complexidade das competências a trabalhar a partir do Referencial de

Competências – Chave de Nível Secundário. A saber:

- Ter consciência de si e do mundo, assumindo distanciamento e capacidade

de questionar preconceitos e estereótipos sociais em diferentes escalas;

- Reconhecer os direitos e deveres fundamentais exigíveis em diferentes

contextos: pessoal, laboral, nacional e global;

- Compreender-se num quadro de formação/aprendizagem permanente e de

contínua superação de competências pessoais e profissionais adquiridas,

reconhecendo a complexidade e a mudança como características de vida;

- Ter capacidade de programação de objectivos pessoais e profissionais,

mobilizando recursos e saberes, em contextos de incerteza, numa atitude

permanente de aprendente;

- Reconhecer, na vida corrente, a multiplicidade e interligação de elementos

sociais, culturais, comunicacionais, linguísticos, tecnológicos e científicos;

- Agir de forma sistemática, com base em raciocínios que incluam

conhecimentos científicos e tecnológicos validados, nos diferentes campos de

actuação;

- Operar na vida quotidiana com tecnologias correntes, dominando os seus

princípios técnicos, as suas linguagens e potencialidades comunicacionais,

bem como os impactos nas configurações sociais e ambientais;

- Procurar informação de natureza diversa, interpretando-a e aplicando-a na

resolução de problemas ou na optimização de soluções na vida quotidiana nos

diferentes contextos de actuação;

- Planificar as suas próprias acções, no tempo e no espaço, prevendo e

analisando nexos causais entre processos e/ou fenómenos, bem como

recorrendo a métodos experimentais logicamente orientados;

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- Conceber as próprias práticas como, simultaneamente, produto e produtor de

fenómenos sociais específicos, passíveis de uma abordagem científica,

cultural, linguística ou comunicacional. (Referencial, p. 22)

1.4. Profissionais dos Centros Novas Oportunidades

A equipa técnica – pedagógica dos Centros Novas Oportunidades é constituída

pelo Director do Centro, Coordenador, Técnicos de Diagnóstico e

Encaminhamento, Profissional de RVC, Formadores e Técnicos

Administrativos, que têm como funções a realização de diagnóstico/triagem e

encaminhamento dos adultos para uma resposta individualizada, podendo

traduzir-se na entrada num processo de Reconhecimento, Validação e

Certificação de Competências, ou num encaminhamento para outros percursos

alternativos de formação externos aos Centros Novas Oportunidades;

desenvolvimento de processos de Reconhecimento, Validação e Certificação

de Competências; desenvolvimento de formações complementares quando

necessário para a certificação de competências; acompanhamento do

candidato após a sua certificação.

O Director representa institucionalmente o Centro Novas Oportunidades

respondendo legalmente pelo Centro, sobretudo pelo cumprimento das

orientações para a sua organização e funcionamento. O Director nomeia o

presidente do Júri de Certificação a constituir no processo de Reconhecimento,

Validação e Certificação de Competências, e confirma as decisões do Júri de

Certificação e os certificados/diplomas.

O Coordenador tem como função assegurar a gestão pedagógica,

organizacional e financeira do Centro Novas Oportunidades, dinamizar a

realização do diagnóstico local, realizando e implementando acções de

divulgação, assim como constituir parcerias com entidades locais. Deve ser o

responsável pela elaboração e qualidade do Plano Estratégico de Intervenção

(PEI), do relatório de actividades e pelo cumprimento das orientações para o

funcionamento do Centro, nomeadamente, a Carta de Qualidade, Orientações

da Agência Nacional para a Qualificação (ANQ), etc. O Coordenador

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desenvolve a organização, concretização e avaliação das diferentes etapas de

intervenção do centro, fomenta a formação contínua dos elementos da equipa,

garante os mecanismos de auto – avaliação do Centro Novas Oportunidades, e

disponibiliza a informação necessária ao acompanhamento, monitorização e

avaliação externa da actividade do Centro.

O Técnico de Diagnóstico e Encaminhamento é responsável pelo acolhimento

dos candidatos, e desenvolve sessões que permitem definir uma resposta

adequada e individualizada considerando o perfil do adulto com o objectivo de

elevar o seu nível de qualificação. Cabe-lhe ainda organizar o encaminhamento

para respostas educativas e formativas exteriores aos Centros Novas

Oportunidades, articulando com entidades formadoras, organismos e estruturas

regionais competentes.

O Profissional de RVC conduz os processos de Reconhecimento, Validação e

Certificação de Competências acompanhando e dinamizando o trabalho dos

formadores. O Profissional acompanha o adulto na construção do seu

Portefólio Reflexivo de Aprendizagens (PRA) através de metodologias

especializadas, e, em conjunto com os formadores, identifica as necessidades

de formação dos adultos ao longo do processo, encaminhando-os para outras

ofertas formativas, como cursos de Educação e Formação de Adultos e

formações modulares. Por fim, este profissional deve organizar e articular com

a restante equipa e o avaliador externo a sessão de júri de certificação.

O Formador participa no processo de RVC guiando o indivíduo na construção

do PRA no âmbito das diferentes áreas de competência – chave, participando

na validação das competências adquiridas, podendo, em conjunto com o

Profissional RVC, definir o encaminhamento do adulto para outras ofertas

formativas. O Formador deve organizar e desenvolver as acções de formação

complementar da responsabilidade do Centro, e participar nos Júris de

Certificação.

O Técnico Administrativo executa o acolhimento dos adultos no Centro Novas

Oportunidades, e apoia a actividade do Centro através do registo dessa mesma

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actividade no Sistema Integrado de Informação e Gestão da Oferta Educativa e

Formativa (SIGO).

1.5. Metodologia do Processo RVCC

A realidade central do processo RVCC é a circunstância em que os adultos são

as suas experiências de vida, assentando numa pedagogia orientada para a

autonomia dos adultos passando por uma acção consciente do indivíduo, que o

torne apto para se projectar. A metodologia do processo RVCC cria uma

dinâmica, um clima de confiança e de inter-ajuda, que estimula o retorno da

parte do adulto, dando maior valor a iniciativas, motivando e estimulando e

conceito de si enquanto aprendente e o sentir-se competente para aprender.

Assim, o adulto ganha consciência do que é aprender a aprender. O sistema

RVCC articula os sistemas de educação formal, informal e não – formal

restituindo-lhes valor equiparado.

A proposta de trabalho do processo RVCC assenta na construção de

instrumentos de trabalho: Abordagem (Auto)biográfica (AA), Balanço de

Competências (BC) e Portefólio Reflexivo de Aprendizagens (PRA).

A utilização da Abordagem (Auto)biográfica no processo RVCC tem a

vantagem de centrar toda a dedicação no indivíduo, na sua experiência e no

seu percurso de vida, permitindo a desconstrução de representações sociais,

estereotipadas, facilitando o refazer de percursos. A Abordagem

(Auto)biográfica é um instrumento de mediação qualitativo que permite

descrever os vários níveis de experiências significativas para o adulto,

envolvendo situações individuais e sociais, no domínio público ou privado, e é a

adaptação das histórias de vida a um projecto, recorrendo à interrogação

permanente e à atribuição de sentido às experiências vividas, estando

circunscritas ao processo.

A perspectiva da Abordagem (Auto)biográfica:

- Introduz uma nova arquitectura no conhecimento, na evidenciação das

aprendizagens prévias, que a revelação de sim mesmo permite;

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- Traduz-se na capacidade de revelar significados intrínsecos da pessoa e

resignificá-los, enquanto ferramenta formativa de construção de registos

biográficos espacio – temporais, de explicitação de competências e

habilidades;

- Contribui para ultrapassar receios e relutâncias acerca do processo de

reconhecimento ao vitalizar criticamente o saber “auto – transformar-se”, ao

facilitar e captar a incerteza, a diversidade da vida, rica e complexa;

- Estimula a emergência de uma compreensão multifacetada sobre si e a

relação criativa com o outro e potencia capacidades de participação;

- Valoriza a ligação entre a situação biográfica do adulto (retrospectiva e

prospectiva) e a explicitação dos adquiridos – competências, habilidades ou

outras capacitações individuais e sociais, contrariando concepções

“deficitárias” sobre o adulto em formação/aprendizagem;

- Permite ao candidato a (re)construção de uma nova identidade e imagem de

si no mundo (DGFV, p.30).

Os materiais a utilizar poderão ser as narrativas e documentos pessoais que

mostrem actividades e práticas dos adultos, como, fotografias, cartas,

documentos oficiais e textos originais dos adultos.

O Balanço de Competências tem a função de permitir conhecer as motivações

e conhecimentos dos adultos, e aumentar o envolvimento dos mesmos,

preparando-os e motivando-os para o reconhecimento das suas competências.

Um adulto em Balanço de Competências tem de olhar para o seu

desenvolvimento, para as suas experiências vividas e (re)dizê-las para se

apropriar delas. Este é um momento reflexivo que permite o

(auto)reconhecimento através da partilha entre o adulto e a equipa – técnico

pedagógica. Do registo das competências pode ser diagnosticada a

necessidade de formação complementar, para que o adulto consiga abrir o seu

leque de conhecimentos e aplicá-los em vários contextos de vida.

O Portefólio Reflexivo de Aprendizagens (PRA) resulta do Balanço de

Competências, e é um conjunto de documentos que mostra o desenvolvimento

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e progresso na aprendizagem, revelando de forma clara o empenho para

alcançar os objectivos decididos anteriormente. O modelo que está associado à

utilização de um portefólio é de uma filosofia de aprendizagem, com base num

processo de investigação, acção e formação. Este documento mostra o

percurso de obtenção das competências do adulto, sendo os elementos que o

constituem representativos das mesmas. Estes elementos são escolhidos de

acordo com o adulto, o técnico de RVC e os formadores, demonstrando

experiências significativas de aprendizagem e avaliação. O indivíduo, durante a

construção do portefólio promove o aparecimento de reflexões e estabelece

objectivos, desafios e estratégias, existindo sempre uma ligação entre os

diferentes trabalhos. Assim sendo, o portefólio é um documento de avaliação

em constante reformulação, em que a participação activa do sujeito é

fundamental para a sua construção.

De uma forma geral, o portefólio deve conter evidências do desempenho e

reflexão do adulto acerca do seu processo de aprendizagem, assim como, a

referência a contextos reais, para que se torne possível ajuizar acerca das

competências dos indivíduos em situações concretas. Este documento pode

ser a parte de um currículo, visto que integra as competências adquiridas ao

longo da vida pelo adulto, e explica a existência de determinadas peças

documentais. O portefólio não toma o lugar do percurso de aprendizagem, mas

aprofunda-o e acrescenta-lhe novas perspectivas. Exige a preparação dos

adultos para a concepção, planeamento e desenho da sua aprendizagem,

assim como, a exploração de áreas menos consolidadas da sua formação.

A evidência de competências no portefólio contribui para melhorar o

conhecimento acerca da educação não – formal e a aprendizagem ao longo da

vida, especialmente no reconhecimento e acreditação de conhecimentos,

dando particular relevo ao aprender sobre o aprender e a cooperação entre

pares, na experiência em actividades de aprendizagem que possam ser

importantes para a vida pessoal e profissional.

O portefólio é um projecto de autor que:

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- revela o que foi mais significativo nas experiências referenciadas como

fazendo parte do processo de aprendizagem. Integra exemplos dessas

experiências – conhecimentos e práticas, que evidenciem a reflexão sobre o

processo vivido;

- revela que as evidências de competências não são apenas explicitadas, mas

estabelecem laços e articulações, o que implica auto – reflexão e

(re)construção dos processos de vida;

- selecciona e nomeia todas as fontes relacionadas com os processos (muito

mais do que fontes bibliográficas);

- identifica o fio condutor que preside à selecção, os critérios de evidência de

aprendizagem e os conhecimentos adquiridos. O que aprendi e como aprendi?;

- pode ser compartilhado com o grupo de aprendentes com a finalidade de

ressaltar um processo colaborativo de aprendizagem. O processo de

aprendizagem é mais significativo, para cada um, se o for para o grupo;

- Requer o encorajamento e manutenção de uma relação não – dependente

entre os mediadores de conhecimento e os aprendentes. Implica a mobilização

total da experiência do adulto e, mesmo, da de outros intervenientes, numa

atitude de auto e hetero – aprendizagem. (DGFV, p.39)

1.6. O Sistema de Créditos

Nos últimos anos, o sistema de créditos tem sido adoptado por mais sistemas

de formação europeus mostrando vantagens para o reconhecimento das

qualificações dos trabalhadores quer a nível nacional, como a nível

internacional, favorecendo a sua mobilidade e empregabilidade. Cada crédito

que o indivíduo obtém em formação corresponde a uma carga horária de cerca

de doze horas e corresponde à produção de evidências num determinado

tema, incluída numa das três áreas de competência – chave. Para obter um

crédito, o adulto deve evidenciar uma competência ao nível dos seguintes

elementos de complexidade: (I) Identificação; (II) Compreensão; e (III)

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Intervenção, que tem como função favorecer os adultos e os formadores no

processo de reconhecimento e validação de competências.

Em Cidadania e Profissionalidade, cada competência é validada quando se

evidencia um critério de evidência cuja complexidade é de nível III, ou seja, de

intervenção. Em Sociedade, Tecnologia e Ciência e Cultura, Língua e

Comunicação, para validar uma competência é necessário analisar os critérios

de evidência das três dimensões da competência, em que numa das

dimensões terá de evidenciar um critério de complexidade do tipo III, e nas

outras duas dimensões, obter combinações do tipo I e II, mas nunca a sua

ausência.

O processo de RVCC – Nível Secundário é constituído por oitenta e oito

competências, distribuídas da seguinte forma:

Áreas de

Competência

Unidades de Competência

(ou Núcleos Geradores) Competências

CP 8 32 (4 por UC)

STC 7 28 (4 por UC)

CLC 7 28 (4 por UC)

Total = 88

O adulto deve ser conduzido a percorrer o número máximo de competências do

Referencial, confrontando a sua história de vida com as três áreas de

competência – chave, núcleos geradores e domínios de referência: contexto

privado (DR1), profissional (DR2), institucional (DR3) e macro – estrutural

(DR4).

Para que o candidato seja certificado de forma total, deve verificar-se em

simultâneo, a obtenção mínima de quarenta e quatro créditos (no mínimo de 16

em CP, 14 em STC e 14 em CLC), e a validação de, pelo menos, duas

competências em cada Núcleo Gerador.

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1.7. A Sessão de Júri de Certificação de Competências

Os participantes da sessão de júri de certificação são o candidato, a equipa

técnico – pedagógica, constituída pelos formadores (pelo menos dois terços) e

o profissional RVC que acompanharam o adulto, e o avaliador externo.

Considera-se desejável que o director e/ou coordenador do CNO estejam

presentes, sendo que o director nomeia o membro do júri que assegura a

presidência do mesmo. Anteriormente à sessão, é eleito um dos membros do

júri com o intuito de elaborar e fazer aprovar a acta que deve ser redigida

durante a mesma.

Os diferentes intervenientes detêm papéis específicos durante a sessão de júri

de certificação. O adulto assume o papel principal, durante a sessão deve

revelar autonomia e consistência para expor as competências

adquiridas/validadas durante o processo RVCC através de uma apresentação

baseada na sua história de vida.

O avaliador externo é um elemento exterior ao Sistema Nacional de

Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências, acreditado pela

Agência Nacional para a Qualificação, e tem como funções: analisar o

portefólio reflexivo de aprendizagens do candidato; interpretar o referencial de

competências – chave; cooperar com os outros elementos do júri, assegurando

a validação e certificação das competências do adulto; apoiar o funcionamento

do júri garantindo a qualidade entre os princípios orientadores, as normas e

procedimentos estabelecidos no âmbito do Sistema Nacional de

Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências; assegurar a

confidencialidade das informações disponibilizadas pelos adultos; co –

responsabilizar-se pela certificação das competências validadas pelo

candidato, assim como, garantir o reconhecimento social destas mesmas

competências; apoiar a orientação do adulto na materialização do seu projecto

pessoal; contribuir para a rede de parcerias entre o Centro Novas

Oportunidades e outras entidades; legitimar socialmente o processo de

Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências adquiridas por via

formal, não – formal e informal.

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O Director do Centro Novas Oportunidades deve nomear o júri de certificação e

ainda o seu presidente, homologar os diplomas e certificados emitidos, e se

possível, estar presente nas sessões de júri de certificação.

Além das funções referidas anteriormente, o Coordenador do Centro Novas

Oportunidades deve acompanhar e monitorizar o trabalho do avaliador externo,

apoiando a equipa técnico – pedagógica nos encontros e diálogos com o

avaliador.

O profissional RVC tem como funções preparar a sessão de júri de certificação,

em especial, a síntese de informação de cada adulto que resulta da etapa de

validação, a sua apresentação e discussão com o avaliador externo; preparar o

candidato e organizar as sessões de júri de certificação.

Os formadores, em conjunto com o profissional RVC, devem elaborar a síntese

de informação de cada adulto que resulta da etapa de validação, a sua

apresentação e discussão com o avaliador externo, preparar o candidato e

organizar a sessão de júri de certificação. Durante a sessão, o formador deve

referir as evidências referentes à sua área de competência contidas no

portefólio reflexivo de aprendizagens, e no fim da sessão deve fazer uma

apreciação global salientando as competências validadas.

A Carta de Qualidade dos Centros Novas Oportunidades (2007) indica que a

etapa de validação atinge o seu auge na sessão entre o adulto e a equipa

técnico – pedagógica, na qual se analisa e avalia o portefólio reflexivo de

aprendizagens face ao referencial de competências – chave e identificam as

competências a serem validadas, ainda por evidenciar ou a desenvolver. Este

momento deve concretizar-se quando se considera que existe consenso entre

a equipa técnico – pedagógica em relação às competências a validar ou a

desenvolver; o referencial de competências – chave tenha sido explorado de

forma a expor o maior número de competências a serem validadas e

certificadas; o portefólio reflexivo de aprendizagens mostrar as competências

manifestadas pelo indivíduo e a sua ligação com o referencial de competências

– chave, e possuir elementos de reflexão que orienta todo o processo RVCC.

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Em seguida apresentamos as quatro situações possíveis que podem surgir na

sessão de validação.

No primeiro caso são identificadas algumas áreas pouco exploradas durante o

processo de reconhecimento, e como tal, o adulto deve retomar o processo de

reconhecimento de forma a explorar essas mesmas áreas que existem no seu

portefólio.

O segundo caso contempla os adultos cujas competências validadas permitem

a obtenção de uma certificação parcial, mas a equipa técnico – pedagógica

considera que a frequência de cinquenta horas (no máximo) de formação

complementar pode conduzir a uma certificação total. O adulto deve frequentar

formação complementar no Centro Novas Oportunidades, e apresentar-se em

Sessão de Júri de Certificação. Estes dois primeiros casos conduzem à

continuação do processo de reconhecimento, e posteriormente deve ser

realizada uma nova sessão de validação para clarificar as áreas identificadas

como pouco exploradas (caso 1), ou que foram adquiridas novas competências

na formação complementar (caso 2).

Em terceiro, incluem-se os casos em que a certificação é parcial e a formação

complementar não é suficiente para que o adulto adquira as competências que

não surgem no seu portefólio reflexivo de aprendizagens. O adulto deve

apresentar-se em Sessão de Júri de Certificação e ser encaminhado para

formação externa ao centro.

O quarto caso inclui os adultos cujas competências validadas conduzem a uma

certificação total, e o adulto deve apresentar-se em Sessão de Júri de

Certificação.

Assim, todos os candidatos passam pelos casos 3 ou 4 de forma a finalizar o

processo, seja a obtenção de uma certificação parcial ou total do candidato.

A seguir à sessão de validação final, a equipa reúne e elabora o documento

síntese do adulto para disponibilizar ao avaliador externo. Este documento

deve resumir como decorreu o processo, os resultados da sessão de validação,

e acompanha o portefólio reflexivo de aprendizagens do adulto sendo

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posteriormente entregue ao avaliador externo. Neste momento deverá ser

marcada uma reunião entre a equipa técnico – pedagógica e o avaliador

externo que deverá ficar agendada entre uma a duas semanas.

Durante este período, o avaliador externo deve avaliar o portefólio reflexivo de

aprendizagens e o documento síntese, e em resultado da sua apreciação deve

disponibilizar à equipa técnico – pedagógica um documento que contém

elementos acerca do material disponibilizado para a reunião anteriormente

agendada. Este documento inclui uma apreciação global sobre as

competências validadas, dúvidas ou incoerências encontradas no portefólio

reflexivo de aprendizagens, apreciação da síntese disponibilizada pela equipa

técnico – pedagógica, propostas para o Plano Pessoal de Qualificação ou para

o Plano de Desenvolvimento Pessoal, e uma proposta de organização da

sessão de júri.

A opinião do avaliador externo acerca das competências validadas na sessão

de validação final equivale a um resumo sobre a avaliação que elabora do

portefólio reflexivo de aprendizagens, centrando-se no conjunto de

competências validadas pela equipa técnico – pedagógica.

Na reunião, o avaliador externo deve proferir acerca da sua concordância com

as tomadas de opção da equipa técnico – pedagógica centrando-se no

documento que elaborou, e que previamente foi entregue á mesma. Durante a

reunião, as dúvidas do avaliador externo devem ser esclarecidas, dado que

apenas após a concordância entre os diversos actores poderá realizar-se a

sessão de júri. Em caso contrário, ou seja, a inexistência de consenso entre a

equipa técnico – pedagógica, o adulto pode voltar à fase de reconhecimento.

Em caso de concordância entre as partes, deve iniciar-se a organização da

sessão de júri de certificação, nomeadamente, a marcação da data,

organização e estrutura da sessão de júri; áreas a explorar pelos formadores e

pelo avaliador externo; reflexão acerca dos desenvolvimentos do Plano

Pessoal de Qualificação (certificação parcial) ou do Plano de Desenvolvimento

Pessoal (certificação total) de forma a serem negociados posteriormente com o

adulto.

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A sessão de júri de certificação deve ser marcada quando existir uma versão

consensual, para o avaliador externo e para a equipa técnico – pedagógica, do

Certificado de Qualificações e do Plano Pessoal de Qualificação ou do Plano

de Desenvolvimento Pessoal.

Em relação à preparação da sessão com o candidato, uma a duas semanas

antes da sessão de júri de certificação, a equipa técnico – pedagógica deve

comunicar ao adulto as decisões tomadas juntamente com o avaliador externo,

discutindo e tentando chegar a um consenso. O adulto deve ter o apoio da

equipa, nomeadamente no esclarecimento do funcionamento deste género de

sessão, incentivando à explicitação da auto – reflexão ao longo do processo,

fazendo a conexão entre a sua biografia e as competências comprovadas

restringidas pelo Referencial de Competências – Chave. A apresentação na

sessão de júri de certificação não deve obedecer a um formato rígido, mas sim

individualizado respeitando a identidade de cada indivíduo, devido à história de

vida do candidato ser singular. Os diversos formatos que a Agência Nacional

para a Qualificação propõem são direccionados para certificação parcial ou

total e consistem em: apresentação oral de um trabalho, reflectindo sobre as

competências utilizadas, da forma como se cruzam com o Referencial de

Competências – Chave e de que modo estão integradas no portefólio reflexivo

de aprendizagens; apresentação do portefólio reflexivo de aprendizagens

referindo as actividades que tornam evidentes das competências que estão a

ser certificadas relacionando-as com o Referencial de Competências – Chave;

reflexão de como as actividades desenvolvidas permitem evidenciar as

competências adquiridas e as aprendizagens realizadas durante o processo de

RVCC; valorização das competências que já detinha ou que adquiriu durante o

processo e identificação das competências a adquirir.

O modo de funcionamento da sessão de júri de certificação de seguir os

padrões definidos na Carta de Qualidade dos Centros Novas Oportunidades

(Simões, 2007), sendo uma sessão formal, em que cada candidato deve ter

entre trinta a sessenta minutos, nunca ultrapassando os seis candidatos por

sessão, de forma a assegurar o rigor e a qualidade da intervenção do avaliador

externo. O modelo de uma sessão de júri de certificação deve passar por

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quatro momentos essenciais: abertura da sessão, dinamização da sessão,

deliberação, e encerramento da sessão. Em seguida, passamos a diferenciar

cada um destes momentos.

O Presidente do Júri dá as boas vindas, abre a sessão e apresenta os

membros do júri assim como os objectivos e a metodologia da mesma. Neste

momento deve cumprimentar os candidatos por terem alcançado a sessão de

júri. Durante a sessão deve orientar o cumprimento da ordem de trabalhos, dar

a palavra aos intervenientes. O decorrer da sessão é realizado individualmente

para cada indivíduo, e o presidente do júri deve convidar o adulto a justificar o

pedido de certificação e a apresentar o seu portefólio reflexivo de

aprendizagens.

Durante a dinamização da sessão, o profissional de RVC apresenta cada

candidato. Este, por sua vez, deve fazer uma breve apresentação individual,

onde deverá constar: um resumo do seu percurso pessoal e quais as suas

motivações; desenvolver a sua apresentação cruzando-a com a sua história de

vida; e justificar o seu pedido de validação em cada área de competência –

chave. O avaliador externo deve fazer um breve comentário sobre o adulto e os

documentos por si analisados; levantar questões relativas a algumas

competências; e convidar o indivíduo a explicar quais os seus planos pessoais,

de qualificação e de aprendizagem ao longo da vida. Desta forma, o candidato

deve responder às questões e completar a sua intervenção com os elementos

que considere necessários. Os membros da equipa técnico – pedagógica

devem intervir sempre que considerem conveniente, e os formadores devem

fazer um breve comentário relativamente ao desempenho do adulto na sua

área de competência – chave, bem como, a análise da motivação, os hábitos

de trabalho, a autonomia, a pontualidade, a assiduidade e a relação com a

equipa.

Quando termina a sessão com o candidato, o júri de certificação decide a

avaliação do candidato, nomeadamente, delibera acerca das áreas em que

existe dúvida de certificação, define as competências a certificar, e ultima a

versão final do Plano Pessoal de Qualificação (certificação parcial).

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No encerramento da sessão, o Presidente do Júri informa o tipo de certificação

obtida e o número de créditos, assim como o documento oficial a atribuir ao

adulto. Deve felicitar os adultos certificados, agradecer a presença dos

convidados e encerrar a sessão.

A certificação total das competências permite a obtenção do nível de

escolaridade secundária e origina a emissão de um Certificado de

Qualificações e de um Diploma. Para estes adultos deve ser definido um Plano

de Desenvolvimento Pessoal com propostas de continuação do percurso de

aprendizagem ao longo da vida. O Plano Pessoal de desenvolvimento define o

projecto pessoal e profissional do adulto, indicando possibilidades de

prosseguimento de qualificação, aprendizagem, e apoio ao desenvolvimento de

criação de auto-emprego e/ou progressão/reconversão profissional.

A certificação parcial corresponde aos casos em que as competências

validadas e certificadas pelo adulto não são suficientes para obter o nível

secundário, originando a emissão de um Certificado de Qualificações e da

elaboração de um Plano Pessoal de Qualificação onde se assinala a proposta

de percurso a realizar para completar a sua qualificação de nível secundário.

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Capítulo 2 – Aprendizagem ao Longo da Vida

2.1. O conceito de Aprendizagem ao Longo da Vida

Na década de sessenta iniciaram-se transformações que alteraram o trabalho,

a economia, o sistema educativo e de formação, e mostrava que a educação

dos adultos estava em mudança. A inclusão do conceito de Aprendizagem ao

Longo da Vida surgiu no panorama político de uma forma sem precedentes,

apresentando-se como alvo das atenções, contudo apresentava outra

designação, Educação ao Longo da Vida.

Na década de setenta, Paul Lengrand apresentou numa Conferência da

UNESCO o relatório An Introduction to Lifelong Learnig, em que a educação

permanente simboliza o empenho em conciliar os variados períodos de

formação, concedendo grande valor á unidade, à globalidade e à continuidade

do desenvolvimento do indivíduo. Para tal, é necessário desenvolver

programas de educação que determinem uma comunicação consistente e

permanente entre as necessidades de mercado e a formação.

Em consequência deste relatório, a UNESCO pediu um estudo sobre o estado

da educação a nível internacional. O estudo Learning to be: the world education

today and tomorrow foi realizado por sete peritos, sendo dirigido por Edgar

Faure. O relatório “Aprender a Ser”, concede valor a um processo educativo

que acompanhe o ciclo de vida e a construção da pessoa ao contrário de uma

lógica de acumulação de aprendizagens escolares, e é tomado como um ponto

de mudança na forma de considerar e desenvolver os processos educativos,

entendendo que a educação permanente seja a manifestação de uma relação

entre todos os momentos da acção educativa. Faure assinala a necessidade de

maior flexibilidade no processo de aprendizagem, realçando a importância que

o indivíduo tem na construção do seu percurso de aprendizagem.

Em 1998, Roger Boshier publicou um estudo sobre o relatório “Aprender a Ser”,

no qual detecta a utilização dos conceitos de educação e de aprendizagem

como sinónimos. Segundo Lima (2003, p. 92), a educação dirige-se à

representação de esforços sistemáticos, a acções deliberadas, a decisões e

estratégias planeadas, de que se espera que resultem aprendizagens, ou seja,

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dirigida a contextos formais ou não formais, embora reconheça a presença da

educação informal. A aprendizagem tem um significado mais comportamental e

individual, podendo evidenciar as acções de carácter formal ou não - formal,

mas também de experiências de vida sem intenção ou estrutura pré – definida.

O autor considera ainda que, a aprendizagem é uma consequência de variados

processos de socialização sem objectivos educativos expressos, de ensaios de

tentativa – erro e de acção e reflexão, sem os quais seria impossível aprender

a viver de forma autónoma em contextos sociais minimamente complexos.

Segundo Canário (2003, p.192), o alcance dos ideais da educação permanente

foi limitado por uma concepção redutora da educação permanente que fosse

reduzida ao período pós-escolar e/ou a públicos adultos não escolarizados,

sendo considerada como educação de segunda oportunidade. Desta forma,

observou-se o engrandecimento do sistema escolar a domínios que até então

não estavam incluídos pela escola, considerando-se a presença da educação

escolarizada em todos os tempos e espaços e desvalorizando-se as aquisições

efectuadas a partir das vivências experienciais.

Em relação à utilização das expressões aprendizagem ao longo da vida e

educação permanente, Canário (2003, p. 193) não aceita a existência de

qualquer tipo de ligação entre o movimento da educação permanente e a

aprendizagem ao longo da vida, alegando que a justificação da educação

permanente era de ordem política e filosófica, e a argumentação que

fundamenta a aprendizagem ao longo da vida era de ordem diversa, e tem

como base três grandes categorias de argumentos que remetem para a

evolução tecnológica, para a eficácia produtiva e para a coesão social.

Segundo Carneiro (2004), a falta de clareza na utilização dos conceitos deve-

se ao facto de a aprendizagem ao longo da vida ser o resultado de um longo

processo em que a expansão económica foi produzindo sucessivos conceitos

(p. 11). O autor refere três grandes dimensões relativas ao conceito de

aprendizagem ao longo da vida: o desenvolvimento pessoal e cultural;

desenvolvimento social e cívico; e o desenvolvimento da empregabilidade.

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Nos últimos anos temos assistido ao despontar de novas orientações políticas

ao nível da Educação e Formação de Adultos, que levantam questões

relacionadas com as aprendizagens formais, não – formais e informais e a

aprendizagem ao longo da vida. Em seguida iremos abordar os objectivos e

implicações de alguns documentos, assim como, as orientações presentes nos

mesmos.

2.2. Principais estratégias/orientações políticas no âmbito da educação e

formação

Nos últimos anos tem-se assistido ao aparecimento de um conjunto de políticas

no âmbito da Educação e Formação de Adultos que mostram aproximação a

questões relativas a aprendizagem formal, não – formal e informal, e com a

inevitabilidade de desenvolvimento de competências que se orientam para uma

Aprendizagem ao Longo da Vida. Em seguida, iremos realizar uma breve

análise de algumas orientações políticas produzidas em contexto europeu.

Com esta análise tentaremos identificar quais as principais prioridades,

estratégias, e desafios em termos de educação/formação de adultos.

2.2.1. O Livro Branco sobre a Educação e a Formação “Ensinar a

aprender” – Rumo à Sociedade Cognitiva: 1995

O Livro Branco procura sintetizar as principais questões que se colocam ao

nível dos sistemas de educação e formação, mostrando algumas propostas

relativas a iniciativas a serem desenvolvidas no contexto comunitário. Desta

forma, são dados a conhecer os desafios que vão surgindo no âmbito da

educação e formação, e traçar novas orientações e linhas de acção que

colaborem no desenvolvimento da qualidade destes mesmos sistemas.

O Livro Branco mostra três choques: “a mundialização das trocas”, o “advento

da sociedade da informação”, e a “aceleração da revolução científica e

técnica”. Em relação a estes desafios, o Livro Branco propõe a promoção do

“acesso à cultura geral”, salientando a importância da aquisição de uma base

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de conhecimentos culturais sólida e vasta, tentando obter uma forte ligação

entre o ensino geral e a formação especializada. O Livro Branco refere o

desenvolvimento da aptidão para o emprego, constatando-se que os adultos

procuram a obtenção de um diploma adquirido no contexto da educação

formal, mas também através do reconhecimento das competências adquiridas

em outros contextos. A educação e formação ao longo da vida deve ser uma

constante na vida das pessoas, nomeadamente, nos grupos mais frágeis do

mercado de trabalho.

O Livro Branco propõe a criação de um “cartão pessoal de competências” no

qual é possível declarar por escrito as competências de cada indivíduo ao nível

técnico ou profissional.

De forma a dar resposta às propostas do Livro Branco, a Comissão Europeia

assinala cinco objectivos:

- Fomentar a aquisição de novos conhecimentos, salientando a valorização das

aprendizagens adquiridas ao longo da vida por parte do indivíduo, e como

consequência a criação de formas de reconhecimento de competências. Este

tipo de sistema deveria aumentar a autonomia do adulto, fazendo crescer o

interesse pela formação por parte daqueles que não podem frequentar o ensino

formal.

- Aproximar a escola da empresa, devendo as instituições estar interligadas,

favorecendo a continuação dos estudos por parte dos trabalhadores e a

validação da experiência profissional.

- Lutar contra a exclusão, favorecendo a existência de dispositivos de inscrição

em formação junto dos jovens de bairros desfavorecidos.

- Dominar três línguas estrangeiras, sendo um factor de comunicação,

intercâmbio e mobilidade na Europa.

- Tratar em pé de igualdade o investimento físico e o investimento em

formação, com o desenvolvimento de planos a favor dos indivíduos que

planeiam adquirir novos conhecimentos.

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2.2.2. Memorando sobre Aprendizagem ao Longo da Vida: 2000

O Memorando sobre Aprendizagem ao Longo da Vida foi elaborado pela

Comissão Europeia com o objectivo de lançar um debate à escala europeia

sobre uma estratégia global de aprendizagem ao longo da vida, sendo um

instrumento de debate e orientador.

A Comissão e os Estados – Membros definiram Aprendizagem ao Longo da

vida como, “toda e qualquer actividade de aprendizagem, com um objectivo,

empreendida numa base contínua e visando melhorar conhecimentos, aptidões

e competências”, (p.3) tendo como objectivo (…) “promover a cidadania activa

e fomentar a empregabilidade” (p. 6).

A estratégia de Aprendizagem ao Longo da Vida torna-se uma prioridade para

a União Europeia devido ao período de transição para uma sociedade e uma

economia assentes no conhecimento pelo qual a Europa está a atravessar. A

chave do reforço da competitividade, da melhoria da empregabilidade e da

força de trabalho está no acesso a informações e conhecimentos actualizados,

assim como a motivação e competências para usar esses recursos.

Actualmente, os indivíduos pretendem planear as suas próprias vidas, e

espera-se que contribuam para a sociedade e que aprendam a viver de forma

positiva em contextos de diversidade cultural, linguística e étnica.

O aumento de oferta e procura de oportunidades de aprendizagem é essencial,

sobretudo para os indivíduos que menos proveitos tiveram de acções

educativas e de formação. Todas as pessoas deveriam poder escolher o seu

trajecto, mas para tal seria necessário que os sistemas de educação e

formação tivessem respostas individualizadas, e não caminhos pré – definidos

nos seus percursos de aprendizagem.

A extensão da definição de Aprendizagem ao Longo da Vida engloba três tipos

de aprendizagem: forma, não formal e informal. A aprendizagem formal realiza-

se em instituições de ensino e formação e tem como termo a obtenção de

diplomas e qualificações reconhecidos. A aprendizagem não formal pode

acontecer no local de trabalho, em organizações da sociedade ou através de

associações complementares ao sistema de ensino convencional. Este tipo de

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aprendizagem não conduz de uma forma directa a certificados formais. A

aprendizagem informal pode não ser intencional, visto que é o seguimento

natural da vida, e por isso, os indivíduos podem nem reconhecer o

enriquecimento dos seus conhecimentos e aptidões.

A aprendizagem formal tem exercido um forte domínio no pensamento político,

dando forma ao modo como são ministradas a educação e a formação,

influenciando os indivíduos em relação ao que é realmente importante em

termos de aprendizagem. A aprendizagem não formal e informal surge

agregada ao sentido de continuidade que a aprendizagem ao longo da vida

emprega nas vidas dos indivíduos. Este tipo de aprendizagem nem sempre é

considerada como válida no mercado de trabalho, e por isso pouco valorizada.

No entanto, é a mais antiga forma de aquisição de conhecimentos e é um dos

alicerces da aprendizagem na infância, podendo constituir uma importante

fonte de inovação nos métodos de ensino e aprendizagem.

A aprendizagem ao longo da vida (lifelong) implica aprender durante a vida, e

aprendizagem em todos os domínios da vida (lifewide) envolve as

aprendizagens formal, não formal e informal, sugerindo que a aquisição de

conhecimentos pode ser efectuada nos tempos de lazer, junto da família, na

vivência comunitária e em contexto profissional. A aprendizagem em todos os

domínios da vida é fundamental para compreender que ensinar e aprender são

papéis que podem ser trocados ou alterados em diferentes momentos.

A aprendizagem ao longo da vida surgiu nas agendas políticas de forma a

melhorar a empregabilidade e a adaptabilidade dos cidadãos, visto existirem

elevados níveis de desemprego nas classes menos qualificadas. A população

europeia, vítima do envelhecimento, necessita de indivíduos com

conhecimentos e competências actualizadas que não poderão surgir apenas

das classes mais jovens, mas sim da inserção dos activos na era digital.

Os Estados – Membros admitem a importância do desenvolvimento de

parcerias como um passo fundamental para a estratégia da aprendizagem ao

longo da vida, “a visão de uma osmose implica um duplo desafio:

primeiramente, a consideração da complementaridade das aprendizagens

formal, não formal e informal; e, em segundo lugar, o desenvolvimento de

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redes abertas de oportunidades e o reconhecimento entre os três contextos de

aprendizagem” (p. 11).

O Memorando apresenta seis mensagens – chave que proporcionam um

debate sobre a execução de uma estratégia de aprendizagem ao longo da vida.

“Mensagem 1: Novas competências básicas para todos

Objectivo: Garantir acesso universal e contínuo à aprendizagem, com vista à

aquisição e renovação de competências necessárias à participação sustentada

na sociedade do conhecimento”.

As competências básicas referenciadas nas conclusões do Conselho Europeu

de Lisboa incluem competências em tecnologias de informação, línguas

estrangeiras, cultura tecnológica, espírito empresarial e competências sociais,

não esquecendo a literacia e a numeracia. Os mercados de trabalho actuais

necessitam de trabalhadores com competências, qualificações e experiências

em constante mudança. A carência de competências ao nível das tecnologias

de informação e comunicação é vista como um importante factor nos níveis de

desemprego em grupos sociais mais desfavorecidos. Estas pessoas devem ter

à sua disposição formas de adquirir o nível de competências básicas de

maneira a fazer face ao mercado laboral nos sistemas formais de educação e

formação dos Estados – Membros.

“Mensagem 2: Mais investimento em recursos humanos

Objectivo: Aumentar visivelmente os níveis de investimento em recursos

humanos, de modo a dar prioridade ao mais importante trunfo da Europa – os

seus cidadãos”.

Nesta segunda mensagem é destacada a importância da celebração, por parte

dos parceiros sociais, de acordos – quadro em matéria de aprendizagem ao

longo da vida, definindo metas para a formação contínua e introduzindo um

prémio europeu que distinga empresas avançadas a este nível. As medidas de

incentivo podem surgir sob a forma de contas individuais de aprendizagem, em

que os indivíduos são incentivados a participar no financiamento da sua

formação; ao nível empresarial, em alguns Estados – Membros foram

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acordados direitos a licenças destinadas a trabalhadores em processos de

aprendizagem, mas também os desempregados deveriam ter oportunidades de

formação. Os parceiros sociais deverão assumir um importante papel na

negociação de acordos de co – financiamento da formação dos trabalhadores e

de modalidades de trabalho mais flexíveis, como o trabalho em tempo parcial

para que os indivíduos consigam participar em acções de formação.

“Mensagem 3: Inovação no ensino e na aprendizagem

Objectivo: Desenvolver métodos de ensino e aprendizagem eficazes para uma

oferta contínua na aprendizagem ao longo e em todos os domínios da vida”.

Os métodos e os contextos de ensino e aprendizagem devem reconhecer e

adaptarem-se a uma grande diversidade de interesses, necessidades e

exigências na sociedade europeia multicultural. “Este processo implica uma

transição fundamental para sistemas de aprendizagem orientados para o

utilizador, com fronteiras fluidas entre sectores e níveis” (p. 15). Os indivíduos

devem tirar maiores proveitos das tecnologias de informação e comunicação e

da aprendizagem em contextos não formais. Os professores e formadores tem

o papel de ajudar e apoiar os indivíduos, pondo em prática métodos de ensino

abertos, revelando as suas aptidões profissionais em contextos formais e não –

formais, e os adultos devem gerir a sua própria aprendizagem, revelando

capacidade de aprender, exercer juízo crítico e as aptidões de saber como

aprender.

“Mensagem 4: Valorizar a aprendizagem

Objectivo: Melhorar significativamente a forma como são entendidos e

avaliados a participação e os resultados da aprendizagem, em especial da

aprendizagem não – formal e informal”.

Esta mensagem afirma como sendo essencial o desenvolvimento de sistemas

de qualidade para a validação de aprendizagens e promoção da aplicação em

diferentes contextos. Estes sistemas devem avaliar e reconhecer as

competências e experiência adquirida pelo indivíduo ao longo do tempo e em

diferentes contextos, incluindo situações de aprendizagem não – formal e

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informal. Para tal, é necessária a participação activa do indivíduo melhorando a

sua confiança e a imagem. A mensagem reforça a importância de criar um

maior envolvimento entre os peritos e as instituições que reconhecem, validam

e certificam as aprendizagens.

“Mensagem 5: repensar as acções de orientação e consultoria

Objectivo: Assegurar o acesso facilitado de todos a informações e consultoria

de qualidade sobre oportunidades de aprendizagem em toda a Europa e

durante toda a vida”.

O memorando reforça a necessidade de uma nova abordagem que considere

“a orientação enquanto serviço continuamente acessível a todos” (p. 19),

exigindo cidadãos activos e motivados para viver e trabalhar na sociedade do

conhecimento. A estratégia da oferta deve basear-se na procura, e o centro

das atenções deverão ser as necessidades e as exigências dos indivíduos. Os

serviços de orientação devem ser capazes de satisfazer uma vasta gama de

públicos, e estar disponíveis a nível local, sendo necessário que os

profissionais conheçam os perfis do mercado laboral local e as necessidades

dos empregadores.

“Mensagem 6: Aproximar a aprendizagem dos indivíduos

Objectivo: Providenciar oportunidades de aprendizagem ao longo da vida tão

próximas quanto possível dos aprendentes, nas suas próprias comunidades e

apoiadas se necessário em estruturas TIC”.

Esta mensagem vem realçar a importância das oportunidades diversificadas de

aprendizagem ao longo da vida a nível local, contribuindo para que os

utilizadores não sintam a necessidade de abandonar a sua região de forma a

poderem adquirir educação e formação. Esta dificuldade pode ser ultrapassada

com a utilização das tecnologias de informação e comunicação, podendo assim

chegar a populações isoladas com um baixo custo.

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2.2.3. Tornar o espaço europeu de aprendizagem ao longo da vida uma

realidade: 2001

A comunicação da Comissão das Comunidades Europeias “Tornar o espaço

europeu de aprendizagem ao longo da vida uma realidade”, vem reforçar os

desafios já identificados no “Memorando sobre Aprendizagem ao Longo da

Vida”. Nesta comunicação considera-se a importância da adaptação dos

sistemas tradicionais de educação e formação com o objectivo de se tornarem

mais abertos e flexíveis evitando que continuem a existir desigualdades, e

fornecendo aos indivíduos percursos individuais de aprendizagem.

Um espaço europeu de aprendizagem ao longo da vida deve, “permitir aos

cidadãos fazer face aos desafios da sociedade do conhecimento e circular

livremente entre espaços de aprendizagem, empregos, regiões e países no

quadro do processo de aprendizagem; permitir à União Europeia e aos países

candidatos prosseguir os seus objectivos de melhoria em termos de

prosperidade, integração, tolerância e democracia” (p. 10).

Segundo este documento deve entender-se a Aprendizagem ao Longo da Vida

como, “toda a actividade de aprendizagem em qualquer momento da vida, com

o objectivo de melhorar os conhecimentos, as aptidões e competências, no

quadro de uma perspectiva pessoal, cívica, social e/ou relacionada com o

emprego” (p. 10).

A definição desta aprendizagem engloba quatro objectivos: a realização

pessoal, a cidadania activa, a inclusão social e a

empregabilidade/adaptabilidade. A abrangência desta definição inclui as

aprendizagens adquiridas em diversos contextos: formais, não – formais e

informais. A consulta conduziu também a um debate sobre os princípios

fundamentais que dão forma a aprendizagem ao longo da vida:

- a proximidade do aprendente no âmbito das experiências de aprendizagem

formal, não – formal e informal;

- igualdade de oportunidades, em ambas as suas vertentes de igualdade entre

os sexos e acessibilidade a todos;

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- qualidade elevada e relevância, visto que os investimentos só se tornam

eficazes se as condições de aprendizagem, os planos políticos e os sistemas

dependentes forem de elevada qualidade.

Capítulo 3 – O conceito de Competência

No âmbito deste trabalho é de grande importância definir os conceitos de

competência e o de competência – chave. O Referencial de Competências –

Chave (2006) define competência como uma “combinatória de capacidades,

conhecimentos, aptidões e atitudes apropriadas a situações específicas,

requerendo também a disposição para e o saber como aprender”. O mesmo

documento define competência – chave como “um conjunto articulado,

transferível e multifuncional, de conhecimentos, capacidades e atitudes

indispensáveis à realização e desenvolvimento individuais, à inclusão e ao

emprego”. A aquisição de competências pode ser realizada em percursos

formais de escolarização, e podem servir como base de obtenção de novas

aprendizagens. O processo de reconhecimento, validação e certificação de

competências combina três conceitos, os saberes, as competências e as

aprendizagens, que deverão ser alvo de desenvolvimento neste projecto.

Juntamente com o desenvolvimento de competências básicas a nível da leitura

e da escrita, as competências – chave são um importante elemento da

sociedade da informação e do conhecimento, estando enraizadas em saberes

adquiridos e aprendizagens adquiridas ao longo da vida, em contextos

informais e não – formais. São estas competências que são evidenciadas por

meio de processos de reconhecimento, cujo valor atribuído está longe de ser

um sistema objectivo e neutro.

Pires (2002) cita Le Boterf (2000), afirmando que a validade da avaliação sobre

as competências encontra-se estreitamente relacionada com o diálogo e a com

a partilha de diferentes perspectivas, com o cruzamento de visões, com o

confronto intersubjectivo. Os dispositivos de avaliação de competências

adoptam uma definição de competência, operacionalizam-na e reconhecem-na

como válida. Identificam as declarações de competência e as especificações

relativas às suas evidências ou provas. Cada dispositivo resulta de uma

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construção social, e é portador de um significado específico. A autora afirma

ainda que, a competência é uma construção social e depende das convenções

ou dos pontos de vista que se adoptam; as competências existem em função

do julgamento feito sobre elas, tendo como referência um dispositivo; e os

conceitos e os dispositivos adoptados nunca são neutros.

4. Capítulo 4 – Estudo empírico: Centro Novas Oportunidades do IEFP de

Setúbal

4.1. Metodologia da Investigação

A investigação qualitativa, segundo Bogdan e Biklen (1994), surgiu no fim do

século XIX e início do século XX, atingindo o seu auge nas décadas de 60 e 70

por meio de novos estudos e a sua divulgação. Os métodos quantitativos não

respondiam as necessidades dos investigadores, e a investigação qualitativa

aumentou rapidamente na educação.

Bogdan e Biklen (1994) apresentam as cinco características que configuram a

investigação qualitativa. A primeira característica prende-se com o facto de o

investigador ser o instrumento principal, e que a fonte de dados é o ambiente

natural. Os investigadores introduzem-se e permanecem bastante tempo nos

meios que são o alvo de investigação. Os registos de observação poderão ser

realizados num simples bloco de apontamentos com o uso de um lápis, ou até

mesmo, em aparelhos de áudio ou de vídeo. No entanto, o investigador deverá

combinar o uso destes equipamentos com os dados obtidos. O instrumento –

chave de análise será o entendimento que o investigador atribuir aos materiais

registados mecanicamente, sendo que os mesmos são totalmente revistos. Os

investigadores qualitativos visitam repetidas vezes locais de estudo, pois

acreditam que as acções podem ser melhor compreendidas quando são

examinadas no local onde frequentemente aconteceram. Desta forma, torna-se

impossível dissociar a investigação qualitativa do contexto em que se produz.

“Para o investigador qualitativo divorciar o acto, a palavra ou o gesto do seu

contexto é perder de vista o significado”. A segunda característica mencionada

revela que a investigação qualitativa é descritiva. Na investigação qualitativa os

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dados obtidos são sob a forma de palavras ou imagens. Os dados recolhidos

podem incluir a reprodução de parte de uma entrevista, notas de campo,

vídeos, fotografias, documentos pessoais e outros registos. Os investigadores

qualitativos reúnem a totalidade de informação e tentam reproduzir a mesma

sob a forma de narrativa escrita, respeitando as condições em que foram

registados. A investigação qualitativa tem a necessidade de que todo o

pormenor seja observado e tido em consideração, visto que poderá constituir

uma vista sob outra perspectiva do objecto de estudo. A terceira característica

está relacionada com o facto de os investigadores qualitativos revelarem maior

interesse pelo processo do que pelos resultados. O interesse dos

investigadores no estudo de um problema é verificar as evidências de como o

mesmo se manifesta nas actividades, nos procedimentos e nas interacções do

quotidiano. A pesquisa qualitativa reflecte a complexidade do quotidiano

escolar. A quarta característica relaciona-se com a forma como os

investigadores analisam os dados, podendo existir uma tendência a ser feita de

forma indutiva. Os investigadores não procuram ou definem dados antes de

iniciarem o estudo, pelo contrário, as conjecturas são construídas à medida que

os dados recolhidos se vão agrupando, num processo de “baixo para cima”, em

que a informação se inter – relaciona. Os investigadores podem não dispor de

hipóteses ou questões específicas formuladas antes da investigação, o que

não implica a não existência de um quadro geral teórico que guia a recolha e

análise dos dados. O desenvolvimento de um estudo assemelha-se a um funil,

visto que no início poderão existir várias questões e focos de interesse com

grande amplitude, e que ao sofrer uma triagem irão tornar-se mais específicos.

A quinta característica está relacionada com o significado. Os investigadores

qualitativos determinam estratégias que lhes permite perceber qual a

perspectiva dos participantes, ou seja, a forma como os informadores

consideram as questões e os focos de interesse. “Ao apreender as

perspectivas dos participantes, a investigação qualitativa faz luz sobre a

dinâmica interna das situações, dinâmica esta que é frequentemente invisível

para o observador exterior.” Assim sendo, a investigação qualitativa é o reflexo

do diálogo entre o investigador e os participantes. Para Ludke e André (1986) a

pesquisa qualitativa pode assumir várias formas, destacando-se, a pesquisa

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etnográfica e o estudo de caso. Ambas têm ganho muita aceitação e

credibilidade na área da educação, mais precisamente na investigação de

questões relacionadas com a escola.

No início da década de 70, os investigadores da área da educação começaram

a fazer uso das técnicas etnográficas, sendo que estas eram do uso quase

exclusivo dos sociólogos e antropólogos, dando origem à pesquisa etnográfica

ou antropológica. No entanto, neste processo de transferência para a área

educacional foi necessário fazer adaptações, perdendo assim o seu sentido

original. Wolcott (1975) é referenciado na obra de Ludke e André (1986) pois

apresenta um teste cujo objectivo é determinar se um estudo pode ser

denominado de etnográfico. Segundo o autor, consiste em verificar se a pessoa

que lê o estudo consegue reproduzir o que ocorre no grupo estudado como se

fosse um dos seus membros. Wolcott (1975) revela que o uso da etnografia em

estudos sobre o ensino deve incluir o ambiente escolar, mas também o que se

passa fora da escola, ou seja, relacionar os dois meios. O primeiro critério para

a utilização da abordagem etnográfica reside no facto de o problema ser

redescoberto no campo, o que significa que o etnógrafo deve envolver-se na

situação, e a partir daí aperfeiçoar o problema inicial da investigação. O

segundo critério indica que o investigador deve realizar pessoalmente a maior

parte do trabalho de campo, porque a abundância de auxiliares de pesquisa

nunca substituirá o contacto íntimo com a realidade a estudar. O terceiro

critério define o tempo de duração do trabalho de campo, neste caso deve

durar pelo menos um ano escolar, para que o investigador se insira na sua

nova realidade, compreendendo as regras e os costumes do grupo a estudar.

No quarto critério considera-se que o investigador deve ter tido uma

experiência com outros povos de outras culturas para que consiga entender o

sentido do grupo em estudo. O quinto critério indica que a abordagem

etnográfica combina vários tipos de recolha de informação, a observação

directa pode ser associada a análise de documentos, vídeos, fotografias e

outros, que podem dar uma visão mais precisa da situação em estudo. O sexto

e último critério revelam que o relatório etnográfico apresenta uma grande

quantidade de dados primários, como materiais produzidos pelos participantes,

excertos de entrevistas ou de documentos.

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Segundo Ludke e André (1986), a natureza dos problemas é que determina o

método, isto é, a escolha do método faz-se em função do tipo de problema a

estudar.

De um modo geral, o investigador desenvolve o seu estudo em três etapas:

exploração, decisão e descoberta. A primeira fase envolve a selecção e

definição de problemas, a escolha do local onde será feito o estudo e o

estabelecimento de contactos para entrar em campo. Nesta etapa estão

incluídas as primeiras observações, com o propósito de adquirir maiores

conhecimentos e seleccionar aspectos que serão investigados invariavelmente.

Neste primeiro momento não existe4 obrigatoriedade da existência de

hipóteses explicitamente formuladas, é apenas necessário que o investigador

disponha de um esquema geral ao qual possam ser levantadas questões

pertinentes à investigação. Estas primeiras perguntas orientam o processo de

recolha de informação e conduzem à formulação de novas hipóteses ou a

reformulação das anteriores. Na abordagem etnográfica está presente o

princípio de que o investigador pode modificar o centro do seu problema e as

suas hipóteses durante o processo da investigação. A segunda fase da

pesquisa reside na busca sistemática dos dados que o investigador

seleccionou durante a primeira fase. Os tipos de dados relevantes são: forma e

conteúdo da interacção verbal dos participantes e dos mesmos com o

investigador, comportamento não - verbal, padrões de acção e não acção,

registo de arquivos e documentos. O investigador tem de aprender a

seleccionar os dados necessários para responder às suas questões e descobrir

uma forma de ter acesso a essa informação. Durante a investigação, o género

de dados recolhidos pode mudar, porque as informações recolhidas devem ser

usadas para dirigir as seguintes colheitas de dados. A terceira fase envolve o

desenvolvimento de teorias permitindo a estruturação de um quadro teórico no

qual o acontecimento pode ser interpretado e compreendido.

O observador tem de ser capaz de tolerar ambiguidades, ser capaz de

trabalhar sob sua responsabilidade, deve inspirar confiança, auto disciplinada,

madura e consistente, e revelar a capacidade de guardar informações

confidenciais. O observador deve tentar que os participantes o aceitem, tendo

em conta a forma da sua participação nas actividades.

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O objectivo desta investigação é investigar quais as implicações, do ponto de

vista profissional, formativo e pessoal, na vida de um adulto que frequenta o

Processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências –

Nível Secundário. Para tal, consideramos o estudo de caso como a

metodologia ideal para o efeito.

Bogdan e Biklen (1994) definem o estudo de caso como a observação

detalhada de um contexto, ou indivíduo, de uma única fonte de documentos ou

de um acontecimento específico. Bell (1984) refere que os estudos de caso são

apropriados para os investigadores individuais, permitindo que um aspecto de

um problema seja profundamente estudado durante um período de tempo

limitado. Neste sentido, Lessard – Hébert, Goyette e Boutin (2008) apresentam

o estudo de caso como sendo um modo de investigação que ocupa a posição

extrema em que o campo de investigação é mais real, aberto, mas o menos

controlado. Assim sendo, o investigador está pessoalmente implicado ao nível

de um estudo de casos particulares. “Ele aborda o seu campo de investigação

a partir do interior” (p. 169).

Os estudos de caso têm algumas características que lhe são próprias. Na sua

obra, Ludke e André (1986) destacam: 1. Os estudos de caso visam a

descoberta. O investigador deve partir de alguns pressupostos teóricos iniciais,

mas deverá estar consciente de que novos aspectos podem surgir à medida

que o estudo vai avançando. 2. Os estudos de caso enfatizam a “interpretação

em contexto”. Um dos princípios básicos dos estudos de caso é que, para uma

melhor compreensão do objecto, é necessário ter em conta o contexto em que

este se situa. 3. Os estudos de caso buscam retratar a realidade de forma

completa e profunda. O investigador pretende dar a conhecer a multiplicidade

de dimensões que estão presentes numa determinada situação, colocando-o

em evidência como um todo. Este tipo de abordagem destaca a complexidade

natural das situações, colocando em evidência a inter – relação dos seus

componentes. 4. Os estudos de caso usam uma variedade de fontes de

informação. No desenvolvimento de um estudo de caso, o investigador utiliza

uma variedade de dados, recolhidos em momentos diferentes, em várias

situações e com a possibilidade de existir uma enorme variedade de fontes.

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Com esta variedade de informações, o investigador pode cruzar informações,

confirmar ou rejeitar hipóteses, descobrir novos dados, afastar suposições ou

fazer surgir hipóteses alternativas. 5. Os estudos de caso revelam experiência

vicária e permitem generalizações naturalísticas. O investigador pretende

narrar as suas experiências durante o estudo, de modo que o leitor consiga

interrogar-se acerca do que pode aplicar deste caso na sua situação. 6. Os

estudos de caso procuram representar os diferentes e às vezes conflituosos

pontos de vista presentes numa situação social. Quando o objecto ou a

situação estudados suscitam opiniões divergentes, o investigador vai tentar

trazer essas divergências para o estudo, mostrando o seu ponto de vista sobre

a questão. 7. Os relatos de estudo de caso utilizam uma linguagem e uma

forma mais acessível do que os outros relatórios de pesquisa. Os dados do

estudo de caso podem ser apresentados numa variedade de formas, tais como

fotografias, desenhos, colagens, discussões, etc. Os relatos escritos

apresentam, geralmente, um estilo informal, narrativo, ilustrado por figuras de

linguagem, citações, exemplos e descrições. É possível que um mesmo caso,

tenha diferentes formas de relato, dependendo do tipo de utilizador.

Os mesmos autores referem que o estudo de caso caracteriza-se por ter três

fases: exploratória; sistemática; e análise, interpretação dos dados e

elaboração do relatório. As linhas que as separam são pouco visíveis e podem-

se sobrepor umas nas outras. O estudo de caso começa por ser um plano

pouco desenvolvido, que vai ganhar contornos mais vincados à medida que o

estudo se vai desenvolvendo. Ao início podem existir algumas questões ou

pontos que vão sendo explicitados, reformulados ou abandonados, conforme a

sua relevância para o estudo. As questões ou pontos referidos anteriormente

podem ter origem na revisão de literatura, nas observações ou narrativas de

entendidos na área, ou do contacto com as pessoas ligadas ao estudo. No

estudo de caso não se pretende ter uma ideia pré – determinada da realidade,

mas assimilar os aspectos ricos e imprevistos de uma determinada situação. A

fase exploratória é fundamental para a definição precisa do objecto de estudo,

é o momento em que se deve tornar específicos todos os pontos que levantem

questões, assim como de estabelecer os contactos iniciais para entrar em

campo, localizar as fontes de informação e de dados necessários ao estudo. O

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investigador deve ter a capacidade de aceitação da realidade, e tentar

compreender como ela é realmente, e não como queria ou deveria ser. Depois

de identificar os elementos chave do problema, o investigador deve executar a

recolha de informações, usando técnicas mais ou menos variadas, e

instrumentos mais ou menos estruturados, visto que a recolha é feita em

função do objecto estudado. Para o investigador é de grande importância saber

quais os focos de investigação, assim como estabelecer os contornos do

estudo, visto que nunca será possível explorar os acontecimentos no seu todo.

O investigador terá a possibilidade de juntar a informação, analisá-la e

disponibilizá-la aos informantes para que exprimam as suas reacções sobre a

relevância do que é narrado.

Neste projecto, também irá ser utilizada a metodologia quantitativa como forma

de dar apoio à análise e tratamento dos questionários, mas por evidente falta

de tempo não foi possível desenvolver algumas das características deste tipo

de metodologia.

4.2. Objectivos da investigação

De uma forma geral, o nosso objectivo é investigar quais as implicações, do

ponto de vista profissional, formativo e pessoal, na vida de um adulto que

frequenta o Processo RVCC – Nível Secundário.

Os objectivos específicos a que nos propomos são:

- perceber as razões que levam os adultos a deixarem de estudar;

- explorar quais os motivos que incitaram os adultos a inscreverem-se no

Processo RVCC – NS;

- analisar quais os projectos profissionais, formativos ou pessoais dos adultos

antes de iniciarem o Processo RVCC – NS;

- perceber se existe ligação entre o Processo RVCC – NS e os adultos que o

frequentaram no sentido de:

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a) melhorar a sua situação profissional, nomeadamente as situações de

progressão na carreira, procura ou mudança de emprego, e aumento

salarial;

b) incitar o prosseguimento de estudos, em particular, a frequência do

programa “Maiores de 23”, aquisição de hábitos de leitura e escrita,

inscrição e frequência de módulos de formação complementar e

maior interesse pelas TIC;

c) estimular o enriquecimento pessoal, sobretudo, aumentando a auto –

estima, o auto – conhecimento e a capacidade de reflexão.

4.3. População e amostra do estudo

O Centro Novas Oportunidades do Instituto de Emprego e Formação

Profissional de Setúbal será o alvo deste estudo.

A população do estudo corresponde a 383 adultos certificados no Processo

RVCC – NS durante o ano de 2009 pelo CNO do IEFP de Setúbal.

Consideramos que uma amostra de 200 adultos será significativa para o nosso

estudo.

4.4. Instrumentos de recolha de dados

4.4.1. Inquérito por questionários

O inquérito sob a forma de questionário é uma série de perguntas escritas

dirigidas a um conjunto de inquiridos, podendo estes mostrar a sua opinião sob

a forma de resposta aberta ou fechada. O grau de profundidade da informação

recolhida pode não ser objectivo, devendo por isso o investigador recorrer a

pequenos grupos de teste, com o objectivo de melhorar e clarificar algumas

dúvidas que possam subsistir. Estas dúvidas podem surgir da parte do

investigador, assim como do indivíduo, visto que perguntas que sejam pouco

claras podem conduzir a uma deficiente interpretação por parte do leitor.

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No planeamento do inquérito deve delimitar-se o seu objectivo e à delimitação

da população assim como da amostra do estudo. Definido o objectivo é

possível proceder à produção do projecto de questionário que deve ser testado,

para aferir tipo, forma e ordem das perguntas. Depois da aplicação do

questionário, o investigador deve analisar os resultados, tratando a informação

extraída e elaborar as conclusões fundamentais, assim como, um relatório de

inquérito.

4.4.2. Entrevista

Segundo Lessard – Hérbert, Goyette e Boutin (2008), a entrevista pode

contribuir para contrariar enviesamentos resultantes da observação

participante. Visto que o observador geralmente pertence a uma cultura

diferente da dos sujeitos observados, a recolha de dados pode ser distorcida

pelo etnocentrismo do observador. A entrevista permite ao observador

participante comparar a sua percepção de significado atribuído pelos sujeitos

aos acontecimentos, com aquela que os próprios sujeitos revelam. Os autores

consideram que a técnica complementa a observação participante mas que

também é necessária quando se torna necessário recolher dados acerca de

opiniões e ideias dos indivíduos observados. Assim sendo, a observação

participante é uma técnica usada numa fase preparatória da entrevista. Os

mesmos autores fazem referência a duas equipas de investigadores (Werner e

Schoepfle; Pourtois e Desmet) para referir que a técnica da entrevista pode ter

uma função preparatória relativamente à observação sistemática; e ter uma

função técnica, ou seja, é a técnica da observação participante que vai permitir

a inclusão no meio e que fornecerá os dados a confrontar para suscitar novas

questões e novas interpretações. Pourtois e Desmet, citados pelos mesmos

autores, classificam a entrevista em entrevista não directiva e de entrevista

clínica. A entrevista não directiva baseia-se no modo terapêutico centrado no

indivíduo. O investigador deve incutir a livre expressão do sujeito através da

escuta atenta e activa. Os dados devem ser registados por escrito e reduzidos

para serem tratados. A entrevista clínica tem como suporte guiões, e o

investigador deve suscitar a revelação de informação que lhe permita testar as

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hipóteses anteriormente formuladas. Van der Maren (1987) citado pelos

mesmos autores, refere que o inquérito por entrevista clínica é uma técnica que

necessita de um contexto favorável para a produção de informação credível e

apropriada. Para a preparação deste tipo de entrevista, o investigador deve

adquirir formação em técnicas de entrevista; deve estabelecer um contacto

preliminar com o sujeito a entrevistar de forma a tomar conhecimento acerca do

seu papel de informador – chave, ou até que ponto está disposto a dar as

informações necessárias; deve entregar ao futuro entrevistado um guião com

possíveis questões para que este se possa preparar; antes da entrevista, o

investigador deve procurar a existência de dúvidas por parte do sujeito,

nomeadamente acerca do local, hora e a data. Neste moldes, a entrevista

torna-se em algo mais estruturado e orientado do que a entrevista não

directiva. Segundo Van der Maren (1987), os momentos iniciais da entrevista

deverão ser de descontração para que o entrevistado não sinta pressão. No

decorrer da entrevista, o investigador vai ajustar as questões em função das

respostas que obtém de forma a compreender da melhor forma todos os

elementos que o entrevistado lhe fornece.

Evertson e Green (1986) citadas pelos autores, consideram a observação

como um conjunto de utensílios de recolha de dados e um processo de tomada

de decisão. As autoras identificaram os principais factores que intervêm num

processo de investigação: o contexto, os sistemas de registo e gravação de

dados, as unidades de observação, a amostragem e as diferentes fontes de

erro. Foi elaborada a identificação de quatro tipos de registo e gravação de

dados na fase da observação: sistemas categoriais, descritivos, narrativos e

tecnológicos. Os sistemas categoriais serão utilizados para verificar uma teoria,

ou para aplicar com o objectivo de avaliar uma situação com uma lista de

controlo, por exemplo, e tem a capacidade de transformar dados qualitativos

em quantitativos, mas também garante a uniformidade da observação, sendo

por isso, considerado um sistema fechado. Os sistemas do tipo descritivo,

narrativo e tecnológico são considerados abertos. Os sistemas descritivos têm

como objectivo fornecer uma descrição pormenorizada dos fenómenos

estudados, e por comparação, estabelecer novos modelos a partir do conjunto

de dados já analisados, orientando sempre para a recolha de novos dados. Os

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sistemas narrativos permitem um registo escrito dos dados em linguagem

quotidiana. Este registo é feito no local, no momento da observação do

acontecimento. Os sistemas tecnológicos saõ utilizados como complementares

dos anteriores, a sua grande vantagem é a de garantir a conservação da

observação assim como foi recolhida no trabalho de campo. Assim, o

investigador pode confrontar os seus dados com os registos originais para que

não subsistam dúvidas acerca de algum dado.

Bogdan e Biklen (1994) referem que as entrevistas podem ser utilizadas como

estratégia dominante para a recolha de dados, ou em conjunto com a

observação participante, análise de documentos e outras técnicas. “Em todas

estas situações, a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na

linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver

intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam

aspectos do mundo”. (p. 134)

As entrevistas qualitativas podem ser moderadamente abertas ou muito

abertas. As entrevistas relativamente abertas centram-se em tópicos

determinados ou são direccionadas para questões gerais. Estas entrevistas

concedem ao entrevistador uma grande amplitude de temas, permitindo o

levantamento de novos tópicos, a assim o sujeito poderá moldar o seu

conteúdo contando a sua história de uma forma pessoal, utilizando as suas

palavras. Nas entrevistas muito abertas, o entrevistador convida o sujeito a

falar sobre um assunto do seu interesse, explorando-o aprofundadamente, e

ficando o indivíduo com um papel preponderante no conteúdo da entrevista.

Em relação à escolha do melhor tipo de entrevista, Bogdan e Biklen (1994)

afirmam que depende do objectivo da investigação, e da fase em que se

encontra a mesma. Os autores afirmam que: “As boas entrevistas

caracterizam-se pelo facto de os sujeitos estarem á vontade e falarem

livremente sobre os seus pontos de vista. As boas entrevistas produzem uma

riqueza de dados, recheados de palavras que revelam as perspectivas dos

respondentes”. (p. 136)

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O entrevistador deverá evitar fazer perguntas cujas respostas possam ser “sim”

ou “não”, tentado elaborar a questão para que o indivíduo revele pormenores e

detalhes particulares. O entrevistador não deverá interromper ou desviar o

sentido da conversa, e permitir que existam momentos de reflexão por parte do

indivíduo.

As entrevistas serão realizadas em Abril de 2011, no seguimento do

questionário aplicado anteriormente, procurando relatos diversificados em

termos de conteúdo.

4.4.3. Observação participante

Segundo diferentes autores é possível definir observação participante de

diferentes formas, no entanto, todas elas se complementam. Segundo

Haguette (1997), a observação participante não possui uma definição clara nas

ciências sociais. A autora cita Lindeman e Kluckhohn que consideram a

observação participante como uma técnica de recolha de dados da qual o

sucesso depende de determinadas condições que a distinguem, por exemplo,

da entrevista e do questionário. No entanto, Lindeman considera necessária a

presença contínua do investigador nas actividades de observação do grupo,

mas Kluckhohn menciona a importância da participação nas actividades do

grupo, dos seus interesses e afectos.

Haguette (1995) define a observação participante como o resultado de uma

relação face a face com os observados, em que o investigador participa no

ambiente natural dos indivíduos, no qual ele modifica e é modificado pelo

contexto onde se insere.

Para Lessard – Hérbert, Goyette e Boutin (2008), a observação participante é

uma técnica que permite ao investigador que deseja compreender um mundo

social que à partida lhe é estranho, e que lhe vai permitir a integração

progressiva nas actividades das pessoas que nela vivem. Os autores

mencionam Evertson e Green (1986) afirmando que a observação participante

pode tomar a forma activa se o observador registar os dados após o período de

observação, e também pode tomar uma forma passiva se fizer os registos

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durante a observação, este comportamento pode variar em conformidade com

o envolvimento do observador relativamente aos acontecimentos.

A observação participante permite recolher dois tipos de dados: notas de

trabalho de campo, do tipo descrição narrativa; e diário de bordo, do tipo

compreensão em que o observador anota as suas reflexões pessoais.

4.4.4. Análise documental e de dados

A análise documental tem como objectivo identificar informações nos

documentos a partir de questões ou hipóteses de interesse (Ludke e André,

1986). Este tipo de análise tem vantagens como facto de os documentos serem

uma fonte estável e rica, podendo ser consultados várias vezes e para

diferentes estudos e podem ser consultados quando o acesso ao indivíduo que

os escreveu é impraticável. Como principais desvantagens são apenas

apontadas questões de uso de amostras não representativas dos objectos

estudados e validade questionável. O investigador deve seleccionar a

documentação de acordo com as suas ideias e hipóteses, em seguida,

proceder à análise de conteúdo fazendo os seus registos que podem ser sob a

forma de esquemas, anotações ou outras formas de síntese. Depois de

organizar os dados, o investigador deve voltar a observá-los para detectar

temas frequentes, atingindo a construção de categorias. Este conjunto de

categorias vai alterando conforme o estudo decorre, originando novas

concepções, e novos pontos de interesse.

Bogdan e Biklen (1994) fornecem sugestões de modo a que o investigador

realize a análise dos dados durante o período da sua recolha. Na maioria dos

estudos, a recolha de dados assemelha-se a um funil, os dados são recolhidos

de uma forma mais ampla, mas depois de saber qual o assunto que interessa

investigar, o investigador deve estreitar a recolha de dados após a terceira ou

quarta visitas ao local de investigação, ou após algumas primeiras entrevistas.

Quanto mais dados específicos tiverem sobre o assunto em estudo, mais fácil

será pensar aprofundadamente sobre o mesmo, e maior será a probabilidade

de ser produtivo quando for realizada a análise final. O investigador deve tomar

decisões relativas ao tipo de estudo que quer realizar, ou pelo menos orientar o

seu trabalho de acordo com um modelo. Quando o investigador inicia o seu

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trabalho no campo de investigação tem algumas questões já formuladas, as

quais deve avaliar no âmbito da sua relevância e quais devem ser reformuladas

para orientar o seu trabalho. O investigador deve planificar as suas sessões de

recolha de dados à luz do que detectou em observações prévias, ou seja, deve

planear as suas sessões com base nas anteriores e pensar naquilo que ainda

não sabe. O investigador deve escrever uma grande quantidade de notas de

campo com todas as ideias que lhe vão surgindo. O objectivo é estimular o

pensamento crítico sobre aquilo que observa, e tornar-se algo mais do que

uma “máquina” de registo. O hábito de fazer memorandos ou sumariar as

sessões é fundamental, usando para tal uma linguagem simples, acessível na

qual as ideias fluem. Os sujeitos devem ser utilizados como fonte de

informação mas não se deve confiar completamente nas suas afirmações, eles

vêm aspectos de uma forma muito própria, podendo enviesar as capacidades

que o investigador possui de clarificar e analisar uma situação. A literatura deve

ser explorada durante a permanência do investigador em campo, sendo que

poderá ser em áreas não relacionadas com o tema a ser explorado, podendo

proporcionar modelos para o seu próprio trabalho. O investigador deve usar

metáforas, analogias e conceitos, assim como auxiliares visuais, porque pode

ajudar a resumir ideias, apresentando-as sob a forma de esquemas, caixas,

setas, etc.

5. Bibliografia

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6. Cronograma

2010 2011 2012

J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M Projecto de Tese Revisão de Literatura Ident. do n.º de inquiridos Construção do questionário Aplicação do questionário Análise do questionário Seleccionar entrevistados

Criação guião entrevista

Entrevistas

Análise das entrevistas

Elaboração da Tese

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7. Recursos

Para implementar este estudo pensamos que será necessário recorrer a uma

maior variedade de bibliografia, a aplicações informáticas para a recolha e

tratamento de dados, e ao Plano de Estratégico de Intervenção do Centro

Novas Oportunidades do Instituto de Emprego e Formação Profissional.