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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE (CCBS) CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Julia do Nascimento Panizza IMPORTÂNCIA DA LIÇÃO DE CASA NO PROCESSO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM DE BIOLOGIA EM ESCOLA DO ESTADO DE SÃO PAULO Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Presbiteriana Mackenzie. São Paulo 2017

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO ......11 1. INTRODUÇÃO A lição de casa é uma das ferramentas mais conhecidas e utilizadas pelos educadores como forma de dar continuidade

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

(CCBS) CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Julia do Nascimento Panizza

IMPORTÂNCIA DA LIÇÃO DE CASA NO PROCESSO DE ENSINO E DE

APRENDIZAGEM DE BIOLOGIA EM ESCOLA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Trabalho de Conclusão de

Curso apresentado à Universidade

Presbiteriana Mackenzie.

São Paulo

2017

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE (CCBS)

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Julia do Nascimento Panizza

IMPORTÂNCIA DA LIÇÃO DE CASA NO PROCESSO DE ENSINO E DE

APRENDIZAGEM DE BIOLOGIA EM ESCOLA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Trabalho de Conclusão de

Curso apresentado à Universidade

Presbiteriana Mackenzie.

Orientadora: Profa. Dra. Magda Medhat Pechliye

São Paulo

2017

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Dedico a minha mãe Ana, sem o seu suporte este trabalho não existiria

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“Ando devagar

Porque já tive pressa

E levo esse sorriso

Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte

Mais feliz, quem sabe

Só levo a certeza

De que muito pouco sei

Ou nada sei

É preciso amor

Pra poder pulsar

É preciso paz pra poder sorrir

É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida

Seja simplesmente

Compreender a marcha

E ir tocando em frente

Como um velho boiadeiro

Levando a boiada

Eu vou tocando os dias

Pela longa estrada, eu vou

Estrada eu sou”

Almir Sater e Renato Teixeira

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente devo agradecer a Deus, minha fonte de força e paz espiritual,

por ter me concedido a vida entre tantas outras bênçãos pelas quais sou tão grata.

À Universidade Presbiteriana Mackenzie e ao Centro de Ciências Biológicas e

da Saúde por proporcionarem condições ótimas de infraestrutura para a construção

da minha carreira, com todo suporte e seriedade.

Ao Coordenador do curso de Ciências Biológicas, Profº. Dr. Adriano Monteiro

de Castro pela atenção durante toda a minha graduação.

À minha orientadora Prof.ª Dr.ª Magda Medhat Pechliye por toda contribuição

para a minha formação. Sempre amorosa, acolhedora, sincera, paciente e

extremamente atenciosa.

Aos membros da banca examinadora, Prof.º Dr. Luiz Fonseca dos Santos

Junior por todas as contribuições para o enriquecimento deste trabalho e Ms.

Fernanda Beraldo Lorena por todas as contribuições tanto para este trabalho como

para o nosso dia-a-dia, pela sua atenção, companheirismo e amorosidade.

A todos os professores do Curso de Ciências Biológicas, que participaram de

minha formação, por reforçarem em todos os aspectos a minha paixão pela Biologia.

Aos funcionários do prédio 28, em especial para Nilson (Júnior), Domingos e

Lucas, por todo apoio técnico, bom humor e convivência.

Aos meus colegas de laboratório e de vida: Bruna, Marllos, Thaís, Gabi,

Paulinha e Bea.

A todos os meus colegas das turmas de licenciatura que fiz parte e que

contribuíram enormemente com a minha formação.

Aos meus pais, Ana Ribeiro do Nascimento Panizza e Antônio César Panizza,

por me criarem da forma mais digna que poderiam, sem medir esforços para

proporcionar a minha felicidade, exemplos de humildade, generosidade, me

apoiaram em todas as decisões de minha vida, sendo um porto seguro e fonte de

inspiração para mim.

A Helena do Nascimento Panizza, a versão perfeita de mim, minha professora

desde a escola básica, minha confidente, minha melhor amiga, meu juízo.

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Ao meu filho Theo Panizza Bizarro, meu melhor amigo, personificação do

amor, motivo da minha existência, minha fonte de alegria e orgulho.

E a Otávio de Rezende Tanganelli, meu companheiro, minha referência de

dedicação e esforço, por me fazer querer ser uma pessoa melhor a cada dia, por

incentivar os meus sonhos, por me ensinar que não existe sorte, mas sim o preparo

encontrando com boas oportunidades e por fazer todos os dias da minha vida serem

primavera.

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Resumo

A lição de casa é uma das atividades mais conhecidas da cultura escolar e consiste

em uma das ferramentas mais utilizadas pelos educadores como forma de dar

continuidade ao trabalho desenvolvido em sala de aula. No entanto, este é um tema

que gera muitas divergências quanto as suas funções e aplicações, e é pouco

abordado e discutido na área da Educação. Com o objetivo de analisar a concepção

que professores e alunos tem sobre o papel da lição de casa no processo de ensino

e de aprendizagem, o presente trabalho foi desenvolvido em uma escola pública do

Estado de São Paulo, durante o período de estágio obrigatório da licenciatura foram

feitas observações de aulas, aplicadas entrevistas aos professores e um

questionário para os alunos, todos com foco na estratégia de ensino lição de casa.

Os resultados mostram que as concepções de professores são heterogêneas,

estando associadas com as respetivas formações que cada professor e refletem na

forma como fazem uso desta estratégia. Com relação aos alunos, temos que a

grande maioria entende a lição de casa como uma estratégia de ensino importante

e a associam com concepções tradicionais de ensino. Com base nas análises

realizadas, pode se concluir que a lição de casa, por ser uma ferramenta com

múltiplas funções, não possui uma única metodologia, sendo tema para muitas

discussões e que necessitam de mais pesquisas com este tema.

Palavras-chave: Lição de casa; concepções de ensino e aprendizagem;

abordagens de ensino.

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Abstract

Homework is one of the best known activities of school culture and is one of the tools

most used by educators as a way of continuing the work done in the classroom.

However, this is a topic that generates many divergences as to its functions and

applications, and is little discussed in the area of Education. With the objective of

analyzing the conception that teachers and students have about the role of

homework in the process of teaching and learning, the present work was developed

in a public school of the State of São Paulo, during the period of compulsory

undergraduate training, observations were made of classes, applied interviews to

teachers and a questionnaire for students, all focusing on homework teaching

strategy. The results show that as teacher conceptions are heterogeneous, being

associated with each teacher's respective formations and reflecting in how they use

this strategy. About students, we have the majority understand homework as an

important teaching strategy and associating with traditional teaching. Based on the

analyzes carried out, it can be concluded that homework, because it is a tool with

multiple functions, does not have a single methodology, being the subject for many

discussions and needing more research on this topic.

Keywords: Homework; Teaching and learning concepts; Teaching approaches.

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Sumário 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 11

2. REFERENCIAL TEÓRICO .......................................................................................... 12

2.1 LIÇÃO DE CASA ..................................................................................................... 13

2.2 LIÇÃO DE CASA E AS EPISTEMOLOGIAS ...................................................... 14

2.3 LIÇÃO DE CASA E AS ABORDAGENS DE ENSINO ...................................... 16

3. OBJETIVOS ................................................................................................................... 19

GERAIS ........................................................................................................................... 19

ESPECÍFICOS ............................................................................................................... 19

4. MÉTODOS ..................................................................................................................... 20

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA ....................................................................... 20

4.2 SUJEITOS DE PESQUISA .................................................................................... 21

4.3 COLETAS DE DADOS E INSTRUMENTOS ...................................................... 22

4.4 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS ................................................................ 24

5. RESULTADOS ............................................................................................................... 33

5.1 OBSERVAÇÃO DE AULA ..................................................................................... 33

5.2 ENTREVISTAS ........................................................................................................ 35

5.3. QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS ................................................... 37

5.3.1 Questão 1 .......................................................................................................... 37

5.3.2 Questão 2 .......................................................................................................... 37

5.3.3 Questão 3 .......................................................................................................... 38

5.3.4 Questão 4 .......................................................................................................... 40

5.3.5 Questão 5 .......................................................................................................... 40

5.3.6 Questão 6 .......................................................................................................... 41

6. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS ................................................................... 43

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 51

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 53

APÊNDICE .......................................................................................................................... 55

Transcrição das entrevistas com professores ........................................................... 55

Entrevista com o professor A ................................................................................... 55

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Entrevista com a professora B ................................................................................. 57

ANEXO 1 - Carta de Informação ao Sujeito .................................................................. 61

ANEXO 2 - Plano de coleta de dados ............................................................................ 62

ANEXO 3 - Roteiro de entrevista com professores ...................................................... 63

ANEXO 4 - Questionário aplicado para os alunos ....................................................... 64

ANEXO 5 – Narrativa das observações de aula do Professor A ............................... 67

ANEXO 6 – Narrativa das observações de aula do Professora B ............................. 71

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1. INTRODUÇÃO

A lição de casa é uma das ferramentas mais conhecidas e utilizadas pelos

educadores como forma de dar continuidade ao trabalho desenvolvido em sala de

aula. Esta atividade está tão arraigada na cultura escolar que se tornou uma rotina

no processo educacional, e devido aos diversos objetivos, metodologias e formas

de aplicações, a lição de casa é um tema que gera muitas divergências quanto as

suas funções e é pouco abordado e discutido por pesquisadores na área da

Educação.

Originada a partir de uma proposta de ensino tradicional, a lição de casa supria

a estratégia de ensino de fixar os conteúdos pela repetição, com uma finalidade de

exercitar a inteligência dos educandos, eliminando as possíveis dificuldades

apresentadas pelos alunos e favorecendo futuras aprendizagens. E, apesar das

novas propostas para o processo de ensino e de aprendizagem, atualmente a tarefa

de casa ainda é utilizada de forma arcaica, correspondendo a algo projetado pelos

educadores e imposto aos educandos. Essa prática gera um desconforto por parte

dos alunos, pois estes, muitas vezes não entendem, ou não são sensibilizados

sobre os objetivos desta atividade.

A partir de uma perspectiva construtivista, a lição de casa pode ser inserida no

processo de ensino e de aprendizagem como uma maneira de aproximar o

professor do aluno, e o aluno de seu próprio processo de aprendizagem, uma vez

que esta traz devolutivas dos alunos em relação aos conteúdos que foram

trabalhados em sala de aula. Permite ainda explorar as concepções formadas por

eles e incentivar sua autonomia.

Mas como não se trata de uma dicotomia entre as abordagens de ensino

tradicional e construtivista, a tarefa de casa pode ser inserida em outras propostas

de ensino, como a abordagem comportamentalista e epistemologias empiristas e

interacionistas, que podem ser relacionadas com a forma como a estratégia em foco

se apresenta nas relações entre os professores e os alunos.

Nesse contexto, a maneira como a tarefa de casa é incorporada no

planejamento dos professores, desde a sua elaboração, aplicação, coleta de

informações, análise dos resultados e devolutiva para os alunos, contribui de forma

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direta na formação da aprendizagem dos alunos assim como o desenvolvimento de

sua autonomia e autorregulação.

A escolha do tema deste trabalho se deu a partir de diversos questionamentos

e desconfortos que tive com relação a lição de casa quando me vi no papel de mãe,

convencendo meu filho, de apenas quatro anos na época, sobre as importâncias de

se fazer esta tarefa. Vivendo este cenário e refletindo sobre ele como uma aluna da

área da Educação, passei a elaborar hipóteses de como nos relacionamos com esta

ferramenta de ensino e como se insere no processo de ensino e de aprendizagem.

Como forma de observar as diversas relações da prática da lição de casa, os

dados contidos neste trabalho foram coletados durante o período de estágio

obrigatório da licenciatura, realizado nos meses de março e abril do ano de 2016

em uma escola pública do Estado de São Paulo.

Para tanto, o presente trabalho foi organizado a partir de um referencial teórico

constituído com um breve histórico que contextualiza a lição de casa a partir de suas

primeiras propostas de inserção nos processos de ensino e da incorporação desta

atividade em outras abordagens de ensino, como nas epistemologias empiristas e

interacionistas. Após o referencial teórico, foram dispostos os objetivos gerais e

específicos deste trabalho. Em seguida, como método, foi elaborado um

delineamento do estudo, no qual foram dispostos a caracterização da escola em

que os dados deste trabalho foram coletados, caracterização dos sujeitos de

pesquisa, os procedimentos de coletas de dado, os instrumentos utilizados para as

coletas de dados e os procedimentos de análise dos dados coletados. Na sequência

foram descritos os resultados, seguidos das análises e discussões e como

fechamento do trabalho foi elaborado um tópico com as considerações finais.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

Partindo do objetivo deste trabalho de analisar a concepção que professores

e alunos tem sobre o papel da lição de casa no processo de ensino e de

aprendizagem, faz-se necessária a elaboração de um referencial teórico que

englobe as diversas discussões presentes na literatura sobre o tema lição de casa,

assim como a presença desta estratégia nas diferentes abordagens de ensino e

epistemologias de aprendizagem.

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2.1 LIÇÃO DE CASA Diversas são as hipóteses sobre o surgimento da prática educativa conhecida

como lição de casa, uma vez que não existe um registro exato de sua origem e de

sua incorporação no cotidiano escolar. Alguns autores como Souza (2008) afirmam

que a lição de casa surgiu na época das grandes navegações, com a ação

catequizadora e de ensino dos padres jesuítas, com um método que adotava a

repetição como ferramenta para exercitar a inteligência, memorizar, fixar o conteúdo

e favorecer as aprendizagens futuras. Para tanto, os alunos deveriam realizar

algumas tarefas em casa, ou em períodos fora do horário das aulas. Assim, tal

método apresentava diversas características que são comuns ao ensino tradicional.

Outra hipótese, que é apresentada por Nogueira (2002) afirma que a tarefa

escolar teve origem a partir da pedagogia científica de Johann Herbart. Chamada

de teoria herbartiana, esta pedagogia era composta de algumas fases: clareza,

associação, sistematização e método. Essas ideias, sobre a pedagogia científica de

Herbart, foram reformuladas por diversos estudiosos culminando na criação de um

quinto passo, a aplicação, que segundo Nogueira (2002), teria gerado a lição de

casa. Conforme esta ferramenta foi sendo apropriada pelo ensino tradicional, a lição

de casa assumiu o papel de aplicação e repetição do conteúdo ensinado em sala

de aula.

De acordo com Carvalho (2004), a lição de casa surge a partir do

desenvolvimento da classe média, pois assim os alunos teriam condições e tempo

hábil para desenvolver as atividades fora do período de aula, diferente de

comunidades e famílias rurais, nas quais os alunos deveriam trabalhar para garantir

a sobrevivência de suas famílias.

No Brasil, apesar de a lição de casa sempre estar presente no contexto

escolar, só é introduzida em documentos oficiais no ano de 1996, com a LDB - Lei

de Diretrizes e Base nº 9394/1996 Art.2º (BRASIL, 1996). Assim há uma inclusão

da família no processo de educação em conjunto com uma atuação e

reconhecimento desta prática pelo Estado. Tal medida, de acordo com Fujimoto e

Martins (2013), foi atribuída para propor um ensino de melhor qualidade e também

para estreitar os laços entre a escola e as famílias dos alunos, uma vez que tal

atividade provoca um envolvimento dos responsáveis pelos estudantes nas tarefas.

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Carvalho e Serpa (2006), destacam a importância deste estreitamento dos

laços entre a família e a escola por meio da lição de casa, mas afirmam que o fator

socioeconômico e cultural influencia diretamente na atuação das famílias no

momento em que os alunos realizam as suas atividades extraescolares. Famílias

de baixa renda e parca escolaridade apresentam maiores dificuldades em auxiliar

os alunos nas tarefas escolares, o que culmina em uma não participação da família

neste cenário.

De fato, a lição de casa compõe uma extensão entre a escola e o ambiente

familiar (CARVALHO, 2004). E é uma prática muito presente no cotidiano escolar

tanto de instituições públicas como particulares e devido aos seus diversos

objetivos, metodologias e finalidades de aplicação é muito versátil. De acordo com

Nogueira (2002) tal versatilidade leva a uma prática ineficiente, não cumprindo a

função educativa necessária para promover a aprendizagem dos alunos, devendo

ser repensada. Trata-se de uma questão bastante pertinente a discussões

pedagógicas e a Didática, mas apesar desta necessidade, a lição de casa se

ausenta de muitos livros didáticos dedicados a formação de professores.

Carvalho et al. (2006) também apresenta esta crítica referente a falta de

referenciais teóricos sobre o tema lição de casa, e explicita que nos poucos

trabalhos existentes, o dever de casa é inserido no contexto de ensino e de

aprendizagem, estando relacionado com as perspectivas familiares sobre o

assunto.

2.2 LIÇÃO DE CASA E AS EPISTEMOLOGIAS Trazendo esta ideia, de que a lição de casa é inserida no contexto de ensino

e de aprendizagem, iniciamos as nossas relações entre esta ferramenta de ensino

e as epistemologias empirista e interacionista. Por Epistemologia, temos Gamboa

(1998) citando ideias piagetianas e explicando que a Epistemologia é o estudo do

desenvolvimento dos diferentes estágios do conhecimento, ou seja, o conhecimento

surge de um estágio menos complexo, para um conhecimento mais complexo e

desenvolvido. Neste contexto, trazemos a questão da origem da lição de casa, como

ela foi desenvolvida e para qual finalidade.

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Para a epistemologia empirista temos a fala de Becker (1993), que utiliza a

epistemologia empirista para explicar que o conhecimento se dá por meio dos

sentidos, ou seja, é a partir das experiências sensitivas vividas pelo indivíduo que

surge o conhecimento.

Cericato e Castanho (2008), explicam que para o empirismo, o processo de

ensino e de aprendizagem se dá por meio de uma concepção mecanicista de

ensino, ou seja, por meio do treino e repetição, o que podemos entender como uma

lição de casa voltada para o treinamento do aluno em aprender as respostas

corretas para uma determinada problemática. As experiências são adquiridas

apenas por meio de experiências vividas e o aluno adquiri todo o conhecimento que

é transmitido pelo professor, centralizando todo o processo na figura do professor.

Na epistemologia interacionista, por outro lado, existe uma perspectiva na qual

o processo de ensino e de aprendizagem se dá pela interação entre o professor e

o aluno por meio do diálogo constante, assim como a própria interação deles com

o meio em que se encontram. Sendo assim, o aluno construirá o seu conhecimento

a partir das interações dele com o meio físico, como a escola e o social, como os

seus colegas de classe, professores e funcionários da escola (DARSIE, 1999).

A riqueza deste processo interacionista não está apenas no professor e sim

na aproximação e acesso que existe entre o professor e o aluno. O professor

assume o papel de mediador entre o processo de desenvolvimento e construção do

conhecimento por meio do aluno. Assim, neste contexto temos a lição de casa que

passa a assumir uma função de preparar e sensibilizar o aluno para os conteúdos

que serão trabalhados em conjunto com o professor, por meio de um movimento de

idas e vindas, discussões e construção partilhada do conhecimento (CERICATO,

CASTANHO, 2008).

De acordo com Carvalho et al. (2006), por outro lado, a lição de casa foi

originada a partir de uma abordagem tradicional de ensino, e é vista como uma

necessidade educacional, uma ferramenta pedagógica, um recurso de extensão da

atividade trabalhada em sala de aula, entre outras funções que pode se adequar e

ser reconhecida por pais e professores como uma ocupação adequada para os

estudantes no tempo livre, de modo a tornar o processo de aprendizagem uma

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atividade em período integral. Pode também, ser considerada um componente

importante do processo de ensino e de aprendizagem no currículo escolar

(CARVALHO et al., 2006).

2.3 LIÇÃO DE CASA E AS ABORDAGENS DE ENSINO Sendo a lição de casa um importante componente para o processo de ensino

e de aprendizagem, devemos relacionar esta ferramenta com as abordagens de

ensino. Utilizaremos as abordagens de ensino segundo Mizukami (1986), que divide

o processo de ensino em cinco abordagens diferentes: tradicional,

comportamentalista, humanista, cognitivista e sócio cultural, mas para atender aos

objetivos propostos para o presente trabalho, faremos um destaque apenas nas

abordagens tradicional e comportamentalista.

Com relação a abordagem tradicional a partir das definições trazidas por

Mizukami (1986), temos uma prática educativa baseada na transmissão do

conhecimento acumulado ao longo dos anos. Existe nesta abordagem uma

polarização clara do conhecimento pelo professor, sendo que ele é o principal

responsável por realizar esta transmissão dos conteúdos e os alunos são apenas

receptores deste conhecimento que é passado de forma integral, sendo assim os

alunos não atuam nos seus próprios processos de aprendizagem. Esta abordagem

pode ser relacionada com a educação bancária de Freire (1987), em que o ato de

educar se assemelha com o de depositar os conteúdos nos alunos,

consequentemente, quanto mais conteúdo depositado, melhor o aluno será. Freire

(1987) critica também a forma como os conteúdos são passados para os alunos

nesta abordagem: estático, compartimentado, o que faz com que os alunos não

consigam conectar este conteúdo escolar com a sua realidade, assim como a

realidade desses alunos não é trabalhada em sala devido a característica de

priorizar o conteúdo do ensino tradicional.

Neste contexto a lição de casa consiste em tarefas mecanicistas, nas quais os

alunos devem realizar cópias dos livros por vezes muito extensas, responder

questões pontuais e conteudistas, não fazendo parte deste contexto o treino de

relações dos conteúdos aprendidos em sala e as vivências dos alunos.

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Devido ao fato de que, para realizarem esta atividade, os alunos devem

disponibilizar parte do seu tempo de lazer e muitas vezes, pelo fato de o professor

não sensibilizar os alunos sobre os objetivos da lição de casa, os alunos apresentam

resistência e/ou aversão a esta tarefa, veem a como uma forma de castigo ou

punição. Assim, a tarefa de casa perde algumas características importantes como

a de promover a autonomia do aluno e divide opiniões tanto do lado dos alunos

como do lado dos professores (NOGUEIRA, 2002).

A abordagem comportamentalista proposta por Mizukami (1986), é a

abordagem, que consiste em um ensino por meio de condicionamento, o aluno

recebe reforços positivos quando age da forma que professor deseja e negativos

quando erra ou não se comporta adequadamente, assim o professor modela o

comportamento dos alunos para atingir objetivos propostos. A autora afirma que

nessa abordagem, assim como na tradicional, o conhecimento é transmitido para

os alunos e apenas o professor tem papel essencial no processo. Podemos

relacionar com esta abordagem as características atribuídas pelos professores de

valorizarem a lição de casa conforme o aluno faz ou não a tarefa, não dando atenção

a aspectos relacionados com a aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes.

Outra questão pertinente a esta abordagem é o fato de o professor possuir um

gabarito fixo para as respostas das lições de casa, e os alunos serem condicionados

a reproduzir estas respostas fixas para obterem os benefícios atrelados a atividade.

Essa característica da abordagem comportamentalista, segundo Fujimoto e Martins

(2013), pode proporcionar por meio dos reforços positivos e/ou negativos,

distorções por meio dos alunos sobre a estratégia de ensino lição de casa,

moldando os seus comportamentos conforme as exigências do professor.

Uma das formas de sanar estas visões destorcidas que os alunos têm sobre

as atividades extraclasse, é a presença constante de diálogos entre professores e

alunos sobre a importância desta atividade, assim como explicitar claramente os

seus objetivos e como esta será inserida no processo de ensino (FUJIMOTO;

MARTINS, 2013).

A partir da referência sobre o construtivismo de Coll (2006), de que este não

se trata de uma filosofia, mas sim de um auxílio para gerar uma reflexão sobre a

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prática do professor de acordo com as necessidades que surgem a partir dos

alunos, Romano (2007), pontua que é necessário o educador contextualizar a lição

de casa de modo que ela dê suporte de autoaprendizagem, autoconhecimento e de

reflexão para o aluno. E que este seja capaz de gerar conhecimentos, na medida

em que lida com regras, aplicações e desenvolva atividades a partir de um objetivo

educativo.

Tal ideia é reforçada por Fujimoto e Martins (2013), ao destacarem que, se

bem utilizada, a lição de casa pode ser considerada como um importante recurso

na construção da aprendizagem dos estudantes colaborando para que o aluno

aprenda a se autorregular, praticando, desta forma, bons hábitos de estudo, a

organização e gestão do tempo, a responsabilização pessoal, a promoção da

autonomia e do controle auto regulatório.

Entrando na questão trazida por Fujimoto e Martins (2013) sobre o aluno

aprender a se autorregular, temos a questão do desenvolvimento da autorregulação

dos alunos trazida por Sacco (2012), sendo a autorregulação a capacidade que o

aluno tem de gerar pensamentos que afetam seu comportamento e influenciam na

sua própria aprendizagem, ou seja, o aluno faz uma meta-reflexão, pensando

naquilo que ele irá executar e assim acaba processando as informações de maneira

mais eficaz, desenvolvendo estratégias para seu próprio processo de

aprendizagem, sendo tal conceito baseado na teoria da aprendizagem

autorregulada de Zimmerman e Schunk (2001). Sacco (2012) busca relacionar essa

teoria com a lição de casa apresentando em seu trabalho que possíveis disfunções

na autorregulação dos alunos podem acarretar em baixos desempenhos escolares,

sendo assim os alunos acabam perdendo a capacidade de acreditar em si mesmos

e por se sentirem desmotivados, não desejam conquistar objetivos relacionados a

aprendizagem e apresentam comportamentos inadequados, como se negar a

realizar as atividades propostas pelos professores. Temos neste contexto uma falta

de comprometimento do aluno perante a lição de casa.

Com relação a falta de comprometimento dos alunos com a lição de casa e

outros problemas que envolvem esta estratégia, Calcagni (2012) discute que devido

a diversos problemas de contextualização, a eficácia da lição de casa como

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instrumento de aprendizado pode ser questionada. A partir de pesquisas

qualitativas e entrevistas, a autora mostra que, do ponto de vista dos alunos, esses

entendem o benefício da lição de casa e reconhecem a sua contribuição no

momento de realização das provas. Mas a sensação de obrigatoriedade e dever de

entregar a lição de casa (vale visto, vale nota, etc.) é enxergada por esses como

uma forma de chantagem do professor, o que os desmotiva na prática, o que os

leva à não realização da tarefa por falta de interesse.

Fujimoto e Martins (2013) compartilham essa visão, explicitando que, a lição

de casa tem objetivos teóricos muito bem definidos para os professores, alunos e

seus familiares, como por exemplo: fixar conteúdos, desenvolver hábitos de estudo,

ajudar o aluno na aprendizagem, desenvolver senso de responsabilidade e ensinar

na prática. Contudo ela não é enriquecedora no processo de ensino e de

aprendizagem, e nem está tão a favor do aluno como se diz. Ela tem sido apenas

mais um recurso metodológico de ensino dos professores. Assim, com o objetivo de

revisão e fixação, podemos perceber que o ensino e aprendizagem passa a ser um

exercício de cópia e de decorar, algo mecânico, cansativo e repetitivo. Então a lição

de casa precisa ter uma proposta educativa para que faça sentido para o aluno e

possa assim atingir objetivos reais de aprendizagem.

Partindo dessas diversas concepções, definições, metodologias, abordagens

e epistemologias que buscam adequar o uso da lição de casa conforme as suas

delimitações, o presente estudo busca identificar na prática como a lição de casa é

utilizada.

3. OBJETIVOS

GERAIS

O objetivo deste trabalho é de analisar as concepções que os professores e

os alunos têm sobre o papel da lição de casa no processo de ensino e de

aprendizagem.

ESPECÍFICOS

• Relacionar as concepções sobre lição de casa apresentadas pelos

professores com as concepções trazidas pelo referencial teórico.

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• Analisar como os professores retomam a lição de casa na sala de aula e

como a inserem nos processos de ensino e de aprendizagem.

• Descrever como a comanda referente a lição de casa é passada pelos

professores.

• Reconhecer como é a resposta dos alunos as lições de casa que foram

propostas.

• Identificar como os alunos entendem esta estratégia de ensino.

4. MÉTODOS

Retomando ao objetivo deste trabalho, de analisar as concepções que os

professores e os alunos têm sobre o papel da lição de casa no processo de ensino

e de aprendizagem, o método elaborado teve como intuito caracterizar a escola em

que os dados foram coletados, os sujeitos de pesquisa envolvidos (professores e

alunos), apresentar os procedimentos de coletas de dados, os instrumentos

utilizados para as coletas e os procedimentos para realizar uma posterior análise do

sob a luz do referencial teórico, que serão respectivamente descritos nos tópicos a

seguir.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA

A escola em que a pesquisa foi realizada localiza-se em um bairro urbanizado

de classe média na Região Oeste do Estado de São Paulo, próxima a grandes

favelas desta região com Paraisópolis e Jardim Jaqueline. Trata-se de uma

instituição da rede pública do Estado e o nível socioeconômico dos estudantes é de

médio para baixo, muitos dos alunos residem nessas comunidades.

Composta apenas por turmas do Ensino Médio, o colégio dispõe de aulas nos

períodos da manhã, tarde e noite. Muitos dos alunos matriculados em ambos os

períodos trabalham nos horários extraclasse, tendo esses estudantes, muitas vezes

que sair mais cedo das aulas e/ou chegar mais tarde.

A escola contém diversos espaços para discussão sobre a prática educativa,

como a Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo (ATPC), que ocorrem a cada quinze

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dias, mas que de acordo com alguns professores, elas não são eficientes, é mais

um motivo de desavenças entre os professores. Segundo a diretora do colégio, os

conselhos participativos, nos quais estão presentes pais, alunos, professores,

funcionários, tem objetivo de integrar a família no convívio escolar, com informações

de desempenho dos alunos durante o bimestre, perfil das salas durante as práticas

e exposição das problemáticas, assim como propor soluções plausíveis para

questões no âmbito escolar-familiar.

O projeto pedagógico da instituição declara que busca, por meio da educação

integral dos alunos, formar cidadãos críticos e atuantes na sociedade, preparando-

os para a vida profissional.

4.2 SUJEITOS DE PESQUISA

A coleta de dados referente aos professores se deu ao longo do período de

estágio obrigatório da licenciatura, realizado na escola em questão em dois

momentos: as observações em sala de aula, e as entrevistas, cujo tema central era

a estratégia de ensino lição de casa.

O professor A é formado em biologia por uma faculdade particular do interior

do Estado de São Paulo, nas modalidades de bacharelado e licenciatura, leciona

desde 1988 em escolas públicas e particulares, e na escola em questão o professor

afirma lecionar "a mais de vinte anos".

A professora B é bacharel em biologia por uma escola pública da Grande São

Paulo e até a realização do estágio e da entrevista ela estava cursando a

licenciatura. Até aquele momento havia trabalhado em duas escolas da rede pública

de São Paulo, sendo este o seu primeiro ano na escola em questão.

A seleção dos alunos que participaram desta pesquisa, ocorreu da seguinte

forma: o professor A selecionou a sala do 3º ano F do EM, sala que este professor

é supervisor, para que os alunos respondessem ao questionário sobre o tema lição

de casa que será descrito com detalhes mais adiante. Inicialmente a sala era

composta de 33 alunos, mas entre transferências e alunos não frequentes, apenas

24 alunos levaram para as suas casas a carta de informação ao sujeito (ANEXO 1),

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que no caso dos alunos menores de idade, deveriam ser assinadas pelos pais.

Alunos maiores de idade assinaram a carta e responderam o questionário de

imediato. Ao final da coleta dos questionários, 17 alunos responderam à pesquisa,

sendo este o número amostral correspondente ao total de alunos participantes.

Os alunos da professora B não fizeram parte deste grupo de sujeitos de

pesquisa, pois durante o período de coleta de dados a professora mudou de escola,

dificultando a comunicação e continuidade da pesquisa com os seus respectivos

alunos.

4.3 COLETAS DE DADOS E INSTRUMENTOS

Inicialmente foi realizado um contato com a Secretaria da Escola, com o

propósito de verificar a possibilidade de realizar um estágio de observação de aulas

de Biologia. Verificada a possibilidade, foi realizado o contato direto com os

professores A e B de Biologia, um do período da manhã e o outro do período da

tarde. Após esta etapa foi necessário entrar em contato com a Direção da Escola,

por meio de uma carta que solicitava a autorização para o estágio de

acompanhamento dos professores e observação das aulas de Biologia.

Com a autorização dos responsáveis e da escola, foram preenchidos alguns

documentos requeridos para o cumprimento do estágio obrigatório de licenciatura,

como o Termo de Compromisso de Estágio, que deveria ser assinado e carimbado

pela Direção da Escola para validar o período do estágio perante o núcleo de

estágio da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Durante as primeiras semanas do período de estágio foram observadas as

possibilidades de se desenvolver o tema escolhido por meio das práticas dos

professores acompanhados.

Como forma de coletar informações relevantes para a presente pesquisa, foi

elaborado um plano de coletas de dados (ANEXO 2), que guiou uma observação

do tipo sistematizada. Este tipo de método exige que os objetivos da observação

sejam previamente definidos, para que o pesquisador tenha clareza das variáveis

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23

que pretende identificar. Sendo assim, é elaborado um roteiro como recurso auxiliar

para a coleta de dados (LIMA, 2008).

As questões ou pontos para observação contidos neste plano de coleta, foram

previamente elaboradas a partir de conceitos trazidos pelo referencial teórico e de

questionamentos que responderiam ao objetivo de analisar as concepções que os

professores têm sobre o papel da lição de casa no processo de ensino e de

aprendizagem.

O plano de coleta elaborado foi utilizado como uma ficha que deveria ser

preenchida durante as aulas observadas com informações relacionadas com a

relação dos professores e dos alunos com a estratégia de ensino lição de casa, para

uma posterior análise aula a aula de todo período de observação.

Uma das exigências do estágio obrigatório de licenciatura, era a carga horária

de 80 horas/aula, sendo assim, foram preenchidas 80 fichas, uma para cada

hora/aula assistida.

Para evidenciar as concepções teóricas e práticas sobre a lição de casa dos

professores de biologia, foram elaboradas as questões para uma entrevista

semiestruturada (ANEXO 3) que foram aplicadas durante o período de estágio. A

escolha de trabalhar com este tipo de entrevista se deu pelas características

específicas desta ferramenta, que de acordo com Guerra (2014), possui um roteiro

com perguntas fechadas que permitem o entrevistado identificar ou classificar

determinado assunto, mas também é composto de questões abertas que dão ao

entrevistado o espaço para falar livremente sobre o tema em pauta.

Por fim, as coletas de dados referentes aos alunos foram realizadas por meio

de um questionário misto (ANEXO 4), ou seja, composto de perguntas quantitativas

e qualitativas (GUERRA, 2014). No total foram elaboras seis questões que

buscavam avaliar a postura dos alunos com relação as tarefas de casa que são

propostas pelos professores e identificar como os alunos entendem esta estratégia

de ensino.

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24

Como citado anteriormente, mediante a entrega da carta de informação ao

sujeito assinada pelos responsáveis de cada aluno e/ou o próprio aluno, caso este

fosse maior de idade, os alunos recebiam um exemplar impresso do questionário,

que deveriam responder individualmente e devolver para o pesquisador.

4.4 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS

Os dados obtidos nas observações de aula, nas entrevistas com os

professores e nas questões três, quatro, cinco e seis do questionário aplicados aos

alunos geraram respostas que exigiam uma análise de conteúdo do tipo temática,

que segundo Bardin (2009), consiste em uma pré-análise dos conteúdos para

organizar o material a partir da escolha de informações relevantes os objetivos

propostos para este trabalho. Após este momento, o material passou por uma fase

de exploração, na qual foram categorizados e por fim, houve o tratamento dos

resultados, momento em que são feitas interpretações dos dados a partir do

referencial elaborado para esta pesquisa.

Todas as categorias propostas nesta pesquisa são artificiais e foram definidas

pelo pesquisador a partir de questionamentos trazidos pelo referencial teórico e de

uma visão geral dos dados obtidos nas observações de aula, nas respostas obtidas

nas entrevistas com os professores e nos questionários com os alunos.

Os dados de observação de aula, obtidos a partir das oitenta fichas de coleta

de dados geraram duas narrativas, uma para cada professor (ANEXO 5 e 6), e

essas narrativas foram trabalhadas e categorizadas conforme os pontos de

observação trazidos pelo plano de coleta de dados.

As categorias que foram desenvolvidas a partir dos dados obtidos das

observações foram:

Instruções e comandas: momentos observados em que o professor traz em sua

fala as comandas das lições de casa que deverão ser feitas pelos alunos no período

extraclasse.

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25

Prática do professor: observações sobre como o professor inseria a lição de casa

na sua prática.

Estudo extraclasse: momentos observados que os professores incentivavam os

alunos a realizar as lições de casa ou estudos no período extraclasse.

Os resultados foram organizados nas devidas categorias após uma seleção

de excertos encontrados nas narrativas que foram considerados importantes para

análise desta pesquisa. E a posterior análise teve como base o referencial teórico

presente neste trabalho.

A apresentação dos resultados referentes as observações de aulas seguem o

modelo abaixo:

CATEGORIAS

Instruções e

comandas

Prática do

professor

Estudos

extraclasse

Professor A Excertos retirados

das narrativas

Excertos retirados

das narrativas

Excertos retirados

das narrativas

Professora B Excertos retirados

das narrativas

Excertos retirados

das narrativas

Excertos retirados

das narrativas

Para os dados que foram coletados nas entrevistas dos professores, que se

referem as concepções e práticas dos professores sobre a estratégia de ensino em

foco, foram elaboradas as seguintes categorias:

Concepções: momentos em que os professores verbalizam suas concepções

sobre a lição de casa.

Processo de ensino: momentos em que os professores verbalizam como inserem

a lição de casa no processo de ensino.

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Objetivos: momentos em que os professores verbalizam seus objetivos para a lição

de casa.

A apresentação dos resultados referentes as entrevistas seguem o modelo

abaixo:

CATEGORIAS

Concepções Processo de

ensino Objetivos

Professor A

Excertos retirados

das transcrições

das entrevistas

Excertos retirados

das transcrições

das entrevistas

Excertos retirados

das transcrições

das entrevistas

Professora B

Excertos retirados

das transcrições

das entrevistas

Excertos retirados

das transcrições

das entrevistas

Excertos retirados

das transcrições

das entrevistas

E por fim, os dados coletados a partir do questionário aplicado aos alunos

foram analisados questão por questão, seguindo as exigências de um questionário

misto, ou seja, composto por questões qualitativas e quantitativas.

Na primeira questão, os alunos marcaram entre as alternativas propostas,

quais condições eles se identificavam no momento de realizar as lições de casa ou

de estudar. Como houve a possibilidade deles se identificarem com mais de uma

opção, não foi exigido que eles marcassem apenas uma alternativa.

E para gerar uma análise quantitativa, os resultados desta questão foram

disponibilizados em formato de gráfico conforme as frequências obtidas para cada

alternativa.

Para a segunda questão, os alunos assinalaram, entre as alternativas, a

frequências que realizam todas as atividades de lição de casa propostas. Sendo

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uma questão quantitativa, os resultados foram disponibilizados em forma de gráfico,

conforme as frequências obtidas para cada alternativa.

A terceira questão exigiu uma análise em duas etapas, a primeira etapa

consiste em uma análise quantitativa, na qual os alunos escalonaram a importância

da lição de casa em uma escala de zero a dez, sendo zero menos importante e dez

mais importantes e os resultados foram disponibilizados em forma de gráfico.

Na segunda etapa, os alunos justificaram as suas respostas. As justificativas

obtidas como resultados foram pré-analisadas e as seguintes categorias foram

elaboras para proporcionar um tratamento final do resultado:

Treino, revisão, reforço, aplicação dos conteúdos e autoconhecimento: esta

categoria é composta por justificativas nas quais os alunos relatam que a lição de

casa é importante para treinar, reforçar, revisar e aplicar os conteúdos que foram

ensinados pelo professor, assim como identificar pontos que apresentam

dificuldades.

Exemplos das respostas obtidas:

“Importante para aluno treinar o que aprendeu em sala de aula”.

“Importante porque ajuda a reforçar o que é aprendido na escola, aparecem

dúvidas que podem ser tiradas na sala”.

“Importante para aplicar o que aprendeu, é uma forma de fixar na memória o

conteúdo. Para saber em que estamos com dificuldade”.

Aprendizagem e para desenvolver a autonomia: esta categoria é composta por

justificativas nas quais os alunos relatam que a lição de casa atua como promotora

da aprendizagem, aperfeiçoa o conhecimento dos alunos e desenvolve a

autonomia.

Exemplos das respostas obtidas:

“Importante para o aluno estudar em casa para aperfeiçoar o conhecimento”.

“Importante, pois é uma forma de aprender e relembrar além do aprendizado em

sala de aula”.

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“Lição de casa ajuda no nosso desenvolvimento, para entender melhor”.

Estudar fora do ambiente escolar e obter notas boas: esta categoria é composta

por justificativas em que os alunos relatam que a lição de casa serve como incentivo

aos estudos fora do ambiente escolar e/ou está inserida em mecanismos de

avaliação que valem nota.

Exemplo das respostas obtidas:

“Ajuda bastante, muitos alunos não estudam em casa, então a lição serve para

que ele dê uma lida na matéria, ou até ajudá-lo em algo”.

“Estudo apenas na sala de aula não é o bastante”.

“Para mim todas as tarefas são importantes, tem que fazer todas porque claro

que vale nota para não repetir de ano”.

Não é importante: esta categoria é composta por justificativas em que os alunos

não destacam a importância da atividade, mas relatam que devido a outras

atividades, como trabalho, não conseguem realizar ou não dão prioridade as lições

de casa.

Exemplos das respostas obtidas:

“Geralmente tenho o horário muito fechado com outras tarefas mais

importantes”.

“Eu trabalho e muitas vezes não consigo realizar no prazo”.

Para a quarta questão foi pedido para os alunos definirem em apenas uma

palavra o que a lição de casa era para eles. As palavras obtidas foram divididas em

duas categorias foram elaboradas para proporcionar um tratamento final do

resultado no momento da análise:

Palavras que remetem a aspectos positivos: esta categoria é composta pelas

palavras que os alunos utilizaram que remetem aspectos positivos em relação a

lição de casa.

Palavras que remetem a aspectos negativos: esta categoria é composta pelas

palavras que os alunos utilizaram que remetem aspectos negativos a lição de casa.

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Na quinta questão foi pedido para os alunos descreverem um trabalho

(atividade/ pesquisa/ lição de casa) que eles mais gostaram de fazer. Foi pedido

também para que os alunos justificassem o porquê de eles terem gostado desta

atividade e descreve-las. As respostas obtidas foram pré-analisadas conforme os

tipos de trabalhos citados pelos alunos e categorizadas para uma posterior análise

dos resultados. As categorias podem ser observadas a seguir:

Trabalho de campo: esta categoria é composta pelos trabalhos realizados fora do

ambiente escolar, como trabalhos de campo, pesquisas e passeios citados pelos

alunos.

Exemplos das respostas obtidas:

“Na minha antiga escola, grupo de amigos fomos para um museu para fazer

uma pesquisa, gostei, pois, estávamos em um ambiente diferente”.

“Pesquisas de física, uma entrevista a um eletricista, ele tinha que responder

um questionário. Gostei porque aprendi coisas novas e aprimorei o que sabia sobre

a energia elétrica”.

“Sobre as obras de artistas no Ibirapuera. Foi bacana porque fomos de

bicicletas e acabamos se divertindo com os meus colegas”.

Trabalhos que envolvam a criatividade, autoconhecimento e autoconfiança:

esta categoria é composta pelos trabalhos que exigiam a criatividade e por vezes

envolvimento emocional dos alunos para desenvolver autoconhecimento e/ou

autoconfiança.

Exemplos das respostas obtidas:

“Trabalho de português, a gente tinha que pegar uma caixa de sapato, enfeitar

ela, colorir com papel colorido e colocar todas as lembranças da sua infância,

objetos que marcaram você de certa forma, fotos, etc. E apresentar para a sala”.

“Trabalho de português que tivemos que preparar comidas afrodescendentes

para apresentar”.

Trabalhos que envolvam solução de problemas e resumo dos conteúdos: esta

categoria é composta por trabalhos trazidos pelos alunos que demandam solução

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de problemas, como listas de questões de matemática e/ou resumo de textos

trabalhados em sala de aula.

Exemplos das respostas obtidas:

“Pesquisa de Sociologia que tinha que fazer um resumo de tudo, eu adoro

resumir textos”.

“Matemática, pois era divertido fazer as contas e coloca-las no gráfico, dava a

sensação que eu conseguia fazer do jeito certo, principalmente na hora de medir o

gráfico com a régua para fazê-lo e colocar os dados achados”.

Nenhum trabalho agradou: esta categoria é composta da resposta de um único

aluno que não se identificou com nenhum trabalho dos que foram propostos pelos

professores.

Resposta do aluno:

“Não teve”.

A sexta e última questão, assim como a terceira questão, exigiu um tratamento

em suas etapas, a primeira etapa foi feita uma análise quantitativa das respostas

obtidas pelos alunos para a pergunta “Se você fosse um professor, você daria lição

de casa? ”.

Os resultados foram disponibilizados em forma de gráfico e as análises foram

feitas com base no referencial teórico deste trabalho.

Após responderem as alternativas, os alunos deveriam justificar as suas

respostas e descrever, quando necessário, como seriam as suas propostas de lição

de casa. As respostas dos alunos foram pré-analisadas e categorizadas para

proporcionar uma análise final dos resultados. As categorias podem ser observadas

a seguir:

Aprendizagem e autonomia: esta categoria é composta das justificativas e

descrições que afirmam a importância e trazem propostas de lições de casa que

potencialmente podem desenvolver a aprendizagem e a autonomia dos alunos.

Exemplos das respostas obtidas:

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“Sim, pois ajuda o aluno a procurar saber e a já se preparar para um teste e

faz o aluno ver suas dúvidas e tirá-las com o (a) professor (a) ”.

“Sim, daria pesquisas de campo. Por que é uma forma deles aprenderem na

prática e trazerem suas experiências para a sala de aula”.

“Sim, passava uma pesquisa em grupo você escolhe o tema e apresenta para

sala de aula valendo nota”.

Revisar e fixar os conteúdos: esta categoria é composta das justificativas e

descrições que afirmam a importância e trazem propostas de lições de casa como

revisão ou para fixar os conteúdos trabalhados em sala de aula.

Exemplos das respostas obtidas:

“Sim, revisar tudo o que foi passado no dia da aula e trazer as dúvidas se tiver”.

“Sim, passaria para fixar o que foi estudado em sala”.

Traz benefícios: esta categoria é composta das justificativas e descrições que

afirmam a importância das lições de casa e que relacionam com os benefícios que

podem ser obtidos a partir desta atividade, como melhoria nas notas ou ajuda no

momento dos estudos.

Exemplos das respostas obtidas:

“Sim, seria para pontos extras, caso o aluno não gostasse da nota média a

lição de casa ajudaria a aumentar a nota”.

“Sim, por que ajuda o aluno”.

Não há tempo de fazer as lições de casa: esta categoria é composta pelas

justificativas que a lição de casa talvez fosse aplicada, pois nem sempre os alunos

disponibilizam de tempo para fazer esta atividade.

Exemplos das respostas obtidas:

“Talvez, porque nem todos os alunos fazem lição de casa, e não colaboram

para mudar isso”.

“Talvez, porque nem todo mundo faz lição de casa, então é melhor ser feito na

sala de aula”.

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Depende do tema a se trabalhar e do desempenho da sala: esta categoria é

composta pelas justificativas de que as atividades de lição de casa talvez seriam

aplicadas, dependendo do tema a ser trabalhado ou do desempenho da sala.

Exemplos das respostas obtidas:

“Talvez, as vezes o perfil da sala é de alunos mais comprometidos na sala e

as vezes tem aqueles que não prestam tanta atenção, se visse que a sala tem mais

dificuldades eu passaria exercícios para a casa”.

“Talvez, daria dependendo do assunto tratado, embora ache a lição de casa

importante na educação, não é uma coisa que daria sempre”.

Não: esta categoria é composta da resposta de um único aluno que justificou em

sua resposta que não passaria lição de casa pois os alunos têm outras obrigações

que inviabilizam fazer esta atividade.

Resposta do aluno:

“Não, porque muitos alunos “tem” obrigação ou trabalha e fica quase inviável

faze-la”.

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5. RESULTADOS 5.1 OBSERVAÇÃO DE AULA

Quadro 1A: Trechos retirados da narrativa de observação das aulas, divididos pelo professor A e categorias de observações.

CATEGORIAS

Instruções e comandas Prática do professor Estudos extraclasse

Pro

fes

so

r A

“ (O caderno de desenhos) foi explicado na primeira semana de aula(...) consiste em um caderno com folhas tamanho A4, sem pautas, que cada aluno deve ter para realizar reproduções de alguns conteúdos trabalhados em sala de aula, na forma de desenho, apenas com lápis grafite”. “A comanda para os desenhos que devem ser contemplados no caderno é feita durante as explicações de alguns conteúdos e são pedidas pelo professor em diversos momentos ao longo do ano letivo, a partir de um destaque na fala do professor”. “O professor traz em sua fala o objetivo do caderno: o aluno tem que fazer os desenhos em casa para estudar um pouco”.

“O professor esquematizou os diferentes tipos de transportes e pediu para os alunos copiarem o esquema em seus cadernos para depois, em um momento extraclasse, passarem este esquema para o caderno de desenhos”.

“Compõe parte das notas dos alunos e só é vistado pelo professor em dois momentos do bimestre: uma semana após a prova bimestral e antes do fechamento das notas”.

“Não foi observado algum tipo de controle realizado pelo professor quanto ao número de atividades pedidas ou de quais desenhos foram solicitados para os alunos das diferentes classes”.

“Esta atividade é destinada apenas para os alunos dos segundos anos, pois alunos dos terceiros anos, de acordo com o próprio professor, estão mais focados na revisão dos conteúdos”.

“Professor olha um por um (caderno de desenhos), e rubrica todas as páginas desenhadas, se o aluno fez todos os desenhos pedidos no bimestre o professor anota um símbolo de + no diário de classe, caso o aluno entregue o caderno incompleto ele anota um símbolo de ± e pede para aluno completar para a próxima aula, pois ele irá cobrar a pendência. Quando aluno não entrega o professor anota um símbolo de –, pede para aluno trazer na próxima aula, mas que ele ficará com metade da nota”.

“O professor fala que seus

alunos devem disponibilizar de

cinco a dez minutos dos seus

dias para lerem os seus

cadernos e fazerem os

desenhos propostos”.

“- Vocês devem parar de ler as

coisas e não estudar de

verdade. Por isso que “dá”

branco na horada prova. Tem

que estudar um pouquinho por

dia.”

“-Não dá para ler o caderno 10

horas antes da prova. É ler um

pouquinho por dia, estudar de

cinco a dez minutos”.

Fonte: narrativa das observações de aula (ANEXO 5).

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Quadro 1B: Trechos retirados da narrativa de observação das aulas, divididos pela professora B e categorias de observações.

CATEGORIAS

Instruções e comandas Prática do professor Estudos extraclasse

Pro

fes

so

ra B

“Ela (a professora) explica algumas características que os alunos devem trazer nas suas pesquisas: procurar informações sobre os experimentos citados e relacioná-los com a explicação que cada pesquisador defende sobre o surgimento da vida na Terra; trazer as pesquisas escritas em uma folha separada do caderno, pois a atividade deve ser entregue para ela; os alunos não devem realizar as suas pesquisas em sites como Wikipédia, Infoescola e Brasil Escola, pois a professora quer informações de sites confiáveis; sempre trazer as referências que se basearam para a produção, caso seja um trabalho retirado da internet, o endereço com http deve ser colocado ao final do trabalho; e na data marcada para a entrega da pesquisa, os alunos terão que explicar o que pesquisaram para toda a sala, caso o aluno não explique ele ficará com zero”. “Para dia 10/03 (quinta-feira) Pesquisar o experimento de Reidi; de John Needham; Spalanzani; Pasteur. 1ª atividade valendo nota” “A professora pede para os alunos responderem em seus cadernos, como lição de casa, as perguntas trazidas pelo próprio material didático sobre os temas trabalhados em sala”.

“Ao iniciar a aula, a professora consulta os seus registros de aula e chama por quatro alunos cujos nomes haviam sido indicados na aula anterior para realizar um estudo sobre os temas criacionismo e a teoria do Big Bang”.

“. Assim que o aluno termina as suas explicações, a professora usa de informações trazidas por este aluno para iniciar a aula sobre o tema teoria da geração espontânea”.

“- Toda vez que uma pessoa se negar a fazer a pesquisa, ficará com dois pontos a menos. ”

“Ao longo da fala deste aluno a professora tece elogios a ele e incentiva-o a procurar mais mecanismos de divulgação científica”.

“Um aluno pergunta para a professora (sobre uma lição de casa): - Professora, você vai passar dando visto? - Eu não passo dando visto. O aluno continua: - Mas tem muitos professores que passam. - Vocês já estão grandes, tem autonomia para estudar da forma como quiserem”.

Fonte: narrativa das observações de aula (ANEXO 6).

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5.2 ENTREVISTAS Quadro 2A: Trechos retirados da entrevista, dividido pelo professor A e as categorias para análise.

CATEGORIAS

Concepções Processo de ensino Objetivos

Pro

fes

so

r A

“Tinha uma professora de Didática (...) ela batia muito nisso (como as atividades de lição de casa seriam trabalhadas com os alunos), fazíamos muitas mesas redondas em sala de aula para discutir métodos de ensino, métodos de estudo, como incentivar o aluno a estudar”. “O caderno de desenho é uma lição de casa mesmo, principalmente nos exercícios de genética (...) todos os cruzamentos que a gente faz em sala de aula, heredogramas, probabilidades, eles (alunos) vão ter que refazer, fazer em casa no caderno de desenho”

“Confesso que eu costumo dar uma nota de participação, uma nota de interesse, que a gente chama aqui de nota atitudinal. Pela atitude dele fazer a lição de casa”. “Eu visto os cadernos, visto e dato, caderno por caderno e repito, na hora de elogiar, são elogiados sim, cadernos bem feitos merecem elogios” “Eles sabem que se não fizeram a obrigação deles, eles sabem que podem ter nota de retirada da nota de avaliação inclusive, de comportamento”.

“O objetivo (da lição de casa) é obrigar eles a estudar mesmo, porque eles não têm esse hábito, tanto é que eu brigo muito com eles, que querem fazer o caderno de desenho na sala de aula, porque eles querem fazer com pressa para não ter o que fazer em casa”. “É muito comum durante o curso, principalmente no segundo semestre, eles virem com dúvidas que eles viram quando foram fazer a lição de casa. Ou seja: na hora de fazer a lição de casa aparece a dúvida, aí chega na próxima aula “Ó professor, fui fazer isso e lembrei que eu não tinha entendido”. O objetivo é exatamente esse”

Fonte: transcrição da entrevista com o professor A (APÊNDICE).

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Quadro 2B: Trechos retirados da entrevista, dividido pela professora B e as categorias para análise.

CATEGORIAS

Concepções Processo de ensino Objetivos

Pro

fes

so

ra B

"Eu não sou muito fã de 'pesquisa da internet e me entrega'. Eu prefiro (...) que eles pesquisem, interpretem e me expliquem, porque eu acho muito melhor para que ele tenha uma absorção do que está estudando"

“(...) O que ensinar, o quanto a gente podia deixar de lição para o aluno? Era suficiente? Era muito? Era pouco? Tinha que levar em consideração o aluno: aluno trabalhava? Não trabalhava? Qual era o nosso público? Então sempre se foi muito trabalhoso se pensar no depois, tipo, você ensinar na sala de aula e ao mesmo tempo que ele crie o hábito de estudar fora da sala de aula” “No começo muitos não estudavam, outros não entregavam, mas aí eles começaram a ver que ficavam sem nota, ficavam com notas vermelhas e iam mal, aí o pai brigava, então eles começaram a pensar ‘não eu tenho que entregar, tenho que estudar’ ” "(...) se você (o aluno) não me mostrou nada, não mostrou esforço, não me mostrou o que você pesquisou, não me mostrou que você tentou, eu não vi nada. Se eu não vi nada você fica sem nota”.

“O meu objetivo com as pesquisas era esse: dar autonomia para o aluno” “Você (aluno) “tá” absorvendo alguma coisa disso? (...) Então as minhas pesquisas são para que eles entendam e aprendam a estudar sozinhos”

“Eu acho que todo o trabalho (...) tem um objetivo por trás, não só estudar para aquilo, mas aprenda para o processo"

Fonte: transcrição da entrevista com a professora B (APÊNDICE).

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5.3. QUESTIONÁRIO APLICADO AOS ALUNOS

5.3.1 Questão 1

Na primeira questão, os alunos escolheram entre as alternativas propostas, a

que eles mais se identificavam no momento de realizar suas lições de casa e/ou

para estudar. Os resultados mostraram que mais da metade dos alunos se identifica

com a alternativa de estudar nos seus quartos e sozinhos. Apenas um dos alunos

afirmou que não estuda/faz as suas tarefas em casa.

As frequências das respostas dos alunos para as alternativas propostas nesta

primeira questão podem ser observadas na Figura 1 a seguir:

Figura 1: Frequência de respostas a questão 1 “Em qual das condições abaixo você se identifica no

momento de realizar as suas tarefas da escola e/ou para estudar os conteúdos passados pelos

professores? ”do questionário.

5.3.2 Questão 2

Na segunda questão, os alunos escolheram entre as alternativas propostas,

qual representava a frequência que eles realizam todas as lições de casa que são

passadas pelos professores.

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Os resultados das frequências das respostas dos alunos podem ser

observados na Figura 2:

De acordo com a Figura 2, mais da metade dos alunos afirmaram que realizam

75% das lições passadas. Em segundo lugar, estão as duas alternativas 100% e

50%, com a mesma quantidade de alunos para cada. E em terceiro lugar, dois

alunos afirmaram que realizam 25% das atividades passadas. Por último temos a

alternativa “Nada”, que não apresentou resultados.

Figura 2: Frequências das respostas a questão 2 do questionário “De todas as lições de casa que são propostas você realiza: ”

5.3.3 Questão 3

Para a terceira questão os resultados estão dispostos em duas etapas, na

primeira etapa temos o gráfico com as frequências das respostas dos alunos para

a escala de importância da lição de casa (Figura 3).

De acordo com a Figura 3, mais da metade dos alunos escalonaram a

importância da lição de casa com o valor 10, ou seja, o valor de maior importância

para esta atividade.

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Figura 3: Frequência de respostas para a questão 3 do questionário “Em uma escala de zero a dez, qual a importância que você dá para a lição de casa? ”

Na segunda etapa da questão 3, temos as categorias das justificativas

apresentadas pelos alunos para as suas respostas (Quadro 3). Como podemos

observar, a maioria dos alunos trouxeram na sua justificativas que a lição de casa

é importante para o treino, revisão, reforço, aplicação dos conteúdos e

autoconhecimento. Em segundo lugar, temos a categoria que afirma que a lição de

casa é importante para a aprendizagem e para desenvolver a autonomia. Em

terceiro lugar temos a categoria que traz a questão de que a lição de casa é

importante para incentivar o aluno a estudar fora do ambiente escolar e auxiliá-lo a

obter boas notas. Por último temos a categoria em que os alunos afirmam que a

lição de casa é importante, mas não há tempo para realizá-la.

Quadro 3: Categorização das justificativas que alunos apresentaram para o grau de importância que

deram para a lição de casa

Categorias Número de

alunos

Treino, revisão, reforço, aplicação dos conteúdos e

autoconhecimento 7

Aprendizagem e para desenvolver a autonomia 5

Estudar fora do ambiente escolar e obter notas boas 3

Não é importante 2

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5.3.4 Questão 4

Para a quarta questão os alunos definiram a lição de casa em apenas uma

palavra. As palavras obtidas pelos alunos e as suas respectivas categorias estão

dispostas no Quadro 4:

Quadro 4: Categorização das palavras utilizadas pelos alunos para definir a lição de casa.

Categorias Palavras

Palavras que remetem a aspectos positivos

Útil

Importante

Revisão

Reforço

Sensacional

Maravilhosa

Aliviada

Necessária

Aprendizagem

Fixação

Ajuda

Palavras que remetem a aspectos negativos Incomoda

Problema

As quatro primeiras palavras (útil, importante, revisão, reforço) da categoria de

palavras que remetem a aspectos positivos apareceram duas vezes nas respostas

dos alunos.

Podemos observar no Quadro 4 que a grande maioria dos alunos trouxeram

palavras que remetem a aspectos positivos da lição de casa.

5.3.5 Questão 5

Na quinta questão os alunos trouxeram em suas respostas exemplos de

trabalhos (atividade/ pesquisa/lição de casa) que mais gostaram de fazer. Os

resultados podem ser observados a partir das categorias elaboradas e as

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respectivas frequências dos alunos para cada uma das categorias, presentes no

Quadro 5.

Quadro 5: Categorização das respostas dos alunos para a questão “Qual foi o trabalho

(atividade/pesquisa/lição de casa) que você mais gostou de fazer? ”. Categorias Número de

alunos

Trabalho de campo 8

Trabalhos que envolvam a criatividade,

autoconhecimento e autoconfiança 4

Trabalhos que envolvam solução de problemas e resumo

dos conteúdos 4

Nenhum trabalho agradou 1

De acordo com o Quadro 5, mais da metade dos alunos afirmaram que o

trabalho que eles mais gostaram de fazer foi o trabalho de campo. Em seguida os

trabalhos que envolvem a criatividade, autoconhecimento e autoconfiança dos

alunos e os trabalhos que envolvem solução de problemas e resumo dos conteúdos

foram os segundos mais citados, ambos com as mesmas quantidades de alunos. E

por último, temos a categoria de “nenhum trabalho agradou”, com apenas um aluno

como representante.

5.3.6 Questão 6

Para a sexta questão, os resultados estão dispostos em duas etapas, na

primeira etapa os alunos escolheram entre as alternativas propostas, como se

fossem professores, se aplicariam, não aplicariam ou talvez aplicariam a lição de

casa para os seus alunos. As frequências das respostas dos alunos para as

alternativas estão dispostas em formato de gráfico na Figura 4.

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Figura 4: Frequências das respostas dos alunos para a pergunta "Se você fosse um professor, você

daria lição de casa?".

De acordo com a Figura 4, mais da metade dos alunos afirmaram que

passariam atividades de lição de casa para os seus alunos. E apenas um aluno

afirmou que não passaria esta atividade para os seus alunos.

Na segunda etapa desta questão, temos as categorias propostas para as

justificativas trazidas pelos os alunos, assim como o número de alunos quais as

justificativas se encaixam em cada categoria (Quadro 6).

Quadro 6: Categorização das justificativa dos alunos para a as respostas obtidas na questão 6. Categorias Número de

alunos

Aprendizagem e autonomia 8

Revisar e fixar os conteúdos 2

Traz benefícios 2

Não há tempo de fazer as lições de casa 2

Depende do tema a se trabalhar e do desempenho da

sala 2

Não 1

Como podemos observar a partir do Quadro 6, mais da metade dos alunos

afirma que passariam a atividade de lição de casa, pois desenvolve a aprendizagem

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e autonomia do aluno. E por último temos a categoria de apenas um aluno, que não

passaria lição de casa pois esta atividade não é importante.

6. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

Dado o objetivo deste trabalho, de analisar as concepções que os professores

e os alunos têm sobre o papel da lição de casa no processo de ensino e de

aprendizagem, o seguinte tópico foi estruturado por meio de uma análise dos

resultados obtidos, iniciando as discussões a partir das concepções trazidas pelos

professores durante as observações de aula e nas entrevistas, seguido do

questionário aplicado aos alunos. As análises serão feitas à luz do referencial

teórico elaborado para a presente pesquisa.

Conforme os resultados obtidos nas observações de aulas, as concepções de

lição de casa e as práticas trazidas por cada professor foram distintas, o que nos

leva a concordar com o caráter versátil desta estratégia de ensino trazido por

Nogueira (2002) quanto as metodologias e finalidades de aplicação da lição de

casa. O que pode ser evidenciado pelos dois tipos de lição de casa trazidos pelos

professores A e B:

O professor A explica para os seus alunos um modelo de lição de casa, o

caderno de desenhos, que é aplicado para todas as turmas dos segundos anos.

Nesta atividade os alunos devem replicar esquemas trabalhados com o professor

em sala de aula, em um caderno específico e de acordo com as seguintes

características descritas durante as aulas pelo professor: “Consiste em um caderno

com folhas tamanho A4, sem pautas, que cada aluno deve ter para realizar

reproduções de alguns conteúdos trabalhados em sala de aula, na forma de desenho,

apenas com lápis grafite”. A partir desta descrição, podemos relacionar a

característica reprodutiva de conteúdos da lição de casa proposta pelo professor A

com a epistemologia empirista trazida por Cericato e Castanho (2008) e com a

abordagem de ensino tradicional descrita por Mizukami (1986), por se tratar de uma

atividade que visa a repetição de conteúdos trabalhados em sala.

Já a professora B, propõe em sua metodologia as pesquisas como a lição de

casa, descritas da seguinte maneira pela professora: “Os alunos devem trazer nas

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suas pesquisas: procurar informações sobre os experimentos citados e relacioná-

los com a explicação que cada pesquisador defende sobre o surgimento da vida na

Terra; (...) na data marcada para a entrega da pesquisa, os alunos terão que explicar

o que pesquisaram para toda a sala, caso o aluno não explique ele ficará com zero”.

A professora em questão não possui apenas um modelo de lição de casa, e por

vezes ela pede para seus alunos responderem em seus cadernos as questões

propostas pelos livros didáticos.

Apesar de a professora B apresentar atividades de lição de casa mais

dinâmicas, a priorização dos conteúdos é bem presente nas suas propostas,

destacando uma característica da abordagem tradicional de Mizukami (1986). Outra

situação passível de destaque é a questão do reforço negativo e positivos trazido

na fala da professora B, para os alunos que não apresentarem as suas pesquisas

para os seus colegas de classe, o que caracteriza a abordagem comportamentalista

de Mizukami (1986) na qual a professora pune, ou reforça negativamente um

comportamento que não se espera que os alunos façam e elogia reforçando

positivamente um comportamento que espera que seus alunos apresentem: “- Toda

vez que uma pessoa se negar a fazer a pesquisa, ficará com dois pontos a menos. ”

O que também pode ser observado no seguinte trecho: “Assim que o aluno termina as

suas explicações, a professora usa de informações trazidas por este aluno para

iniciar a aula sobre o tema teoria da geração espontânea”.

Com relação a lição de casa na prática dos professores, temos os seguintes

destaques para o professor A: “Compõe parte das notas dos alunos e só é vistado

pelo professor em dois momentos do bimestre: uma semana após a prova bimestral

e antes do fechamento das notas”, e “Não foi observado algum tipo de controle

realizado pelo professor quanto ao número de atividades pedidas ou de quais

desenhos foram solicitados para os alunos das diferentes classes”.

Com relação a esses destaques, podemos relacionar a prática do professor A com

uma característica da abordagem tradicional de Mizukami (1986), pois não há uma

preocupação em se trabalhar em processo. O professor em questão visa o finalismo das

atividade, para vista-las e gerar os pontos para os alunos.

Já para a professora B temos os seguintes destaques: “Ao iniciar a aula, a

professora consulta os seus registros de aula e chama por quatro alunos cujos

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nomes haviam sido indicados na aula anterior para realizar um estudo sobre os temas

criacionismo e a teoria do Big Bang”.

Conforme foi destacado, é possível observar que o professor A não apresenta

um registro sobre as atividades propostas por ele em cada aula, diferente da

professora B que traz aula a aula os seus registros e busca iniciar as aulas

trabalhando as pesquisas que os alunos fizera nas suas casas e que norteiam as

discussões de aulas. Neste contexto, a prática da professora B apresenta

características epistemologia interacionista trazida por Darsie (1999), na qual o

processo de ensino e de aprendizagem se dá pela interação entre o que a

professora B pede como pesquisa e o que seus alunos trazem para a discussão.

Para as observações referentes ao incentivo que os professores fazem para o

momento de estudos extraclasse, temos os exemplos observados na fala do

professor A: “- Vocês devem parar de ler as coisas e não estudar de verdade. Por

isso que “dá” branco na horada prova. Tem que estudar um pouquinho por dia” e “-

Não dá para ler o caderno 10 horas antes da prova. É ler um pouquinho por dia,

estudar de cinco a dez minutos”.

Para este professor o estudo consiste em ler os conteúdos passados, em

pequenas quantidades por dia para decorarem. Esta característica pode ser

relacionada com a epistemologia empirista trazida por Cericato e Castanho (2008),

com leituras repetitivas, e estáticas. E também podemos relacionar com Freire

(1987) e a educação bancária, na qual o professor transmite os conteúdos para os

alunos, que por sua vez devem absorve-los e acumulá-los como um sistema

bancário de depósito do capital cultural.

Partindo para as entrevistas realizadas com os professores, temos três

parâmetros que se mostraram importantes para análise: as concepções sobre lição

de casa que os professores apresentaram em suas falas, como eles inserem a lição

de casa em seus processos de ensino e o objetivo que eles estabelecem para a

lição de casa.

Como podemos observar nos resultados, o professor A, ao ser questionado

sobre como as atividades de lição de casa foram trabalhadas em sua graduação,

obtivemos a seguinte resposta: “(...) fazíamos muitas mesas redondas em sala de

aula para discutir métodos de ensino, métodos de estudo, como incentivar o aluno a

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estudar”, mostrando que o professor se confunde entre as metodologias de ensino

e metodologias de estudos. O que demonstra uma possível falha conceitual da

ferramenta pelo próprio professor, algo que ele possivelmente carregue desde sua

formação, ou seja, existe uma falha em como esta ferramenta é trabalhada nos

cursos de formação de professores.

Já na fala da professora B, ao trazer suas concepções sobre a lição de casa,

ela traz a seguinte fala: "Eu não sou muito fã de 'pesquisa da internet e me entrega'.

Eu prefiro (...) que eles pesquisem, interpretem e me expliquem, porque eu acho

muito melhor para que ele tenha uma absorção do que está estudando", que mostra

uma contradição na sua fala, pois ela afirma que possui uma afinidade em trabalhar

com um tipo de atividade em que o aluno esteja envolvido no processo, mas traz o

termo absorção, remetendo a uma ideia do ensino tradicional trazida por Mizukami

(1986) e por Freire (1987), na educação bancária, citada anteriormente.

Para a categoria de como os professores inserem a lição de casa em seus

processos de ensino, podemos destacar na fala do professor A os seguintes

trechos: “Confesso que eu costumo dar uma nota de participação, uma nota de

interesse, que a gente chama aqui de nota atitudinal. Pela atitude dele fazer a lição

de casa”, “Eu visto os cadernos, visto e dato, caderno por caderno e repito, na hora

de elogiar, são elogiados sim, cadernos bem feitos merecem elogios”. O que também

pode ser observado no seguinte trecho: “Eles sabem que se não fizeram a obrigação

deles, eles sabem que podem ter nota de retirada da nota de avaliação inclusive, de

comportamento”, em ambas as respostas, podemos trazer a abordagem

comportamentalista de Mizukami (1986), pois proporciona reforços positivos para

os alunos que realizam as tarefas, dando pontos de participação e tirando pontos

de avaliação e comportamento caso os alunos não façam as atividades.

Para esta mesma categoria, temos as respostas obtidas pela professora B,

que traz em sua fala a questão de se preocupar com o aluno no momento de realizar

as lições de casa, levando em conta as condições sociais do aluno para a realização

desta prática: “(...) O que ensinar, o quanto a gente podia deixar de lição para o

aluno? Era suficiente? Era muito? Era pouco? Tinha que levar em consideração o

aluno: aluno trabalhava? Não trabalhava? Qual era o nosso público? Então sempre

se foi muito trabalhoso se pensar no depois, tipo, você ensinar na sala de aula e ao

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mesmo tempo que ele crie o hábito de estudar fora da sala de aula”, mas logo em

seguida a professora traz a seguinte afirmativa: “No começo muitos não estudavam,

outros não entregavam, mas aí eles começaram a ver que ficavam sem nota, ficavam

com notas vermelhas e iam mal, aí o pai brigava, então eles começaram a pensar ‘não

eu tenho que entregar, tenho que estudar’ ”, o que acaba contradizendo a narrativa

anterior em que a não confecção das lições de casa geram discussões sobre como

prosseguir com esta atividade.

Por fim, temos o parâmetro em que os professores trazem em suas falas o

objetivo da lição de casa. E como podemos observar, para o professor A, a lição de

casa possui o objetivo de proporcionar o momento de estudo dos alunos: “O objetivo

(da lição de casa) é obrigar eles a estudar mesmo, porque eles não têm esse hábito,

tanto é que eu brigo muito com eles, que querem fazer o caderno de desenho na sala

de aula, porque eles querem fazer com pressa para não ter o que fazer em casa”. Ao

trazer os termos “obrigar” e “brigar” o professor afirma que impõe esta atividade

para os seus alunos, o que pode ser relacionado como fator de obrigatoriedade

imposto na lição de casa trazido por Calcagni (2012).

A professora B, por sua vez, traz a seguinte fala: “O meu objetivo com as

pesquisas era esse: dar autonomia para o aluno”, na qual mostra uma traz a ideia

da autonomia trazidas por Fujimoto e Martins (2013).

Com relação ao questionário que foram entregues aos alunos, obtivemos uma

riqueza de dados, pois cada questão traz um enfoque diferente sobre a lição de

casa, portanto faz se necessário uma análise minuciosa das questões.

Como dito anteriormente por Carvalho (2006) tanto o envolvimento da família

no contexto da lição de casa, como o ambiente familiar favorecem positiva ou

negativamente para construção dos hábitos de estudo do aluno, assim como no

desenvolvimento da sua autonomia e da sua autorregulação.

Na primeira questão, de acordo com as frequências obtidas, podemos

observar que mais da metade dos alunos declaram realizar a lição de casa em seus

quartos e sozinhos muito provavelmente esses alunos encontrem nesse local um

isolamento do ambiente familiar que contribua e/ou facilite para a concentração

nesta atividade.

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Relacionando esta questão com o fator socioeconômico e cultural dos alunos

que participaram desta pesquisa, podemos evidenciar os motivos trazidos por

Carvalho e Serpa (2006), da não participação das famílias nos momentos de auxilio

nas lições de casa dos alunos, devido as dificuldades proporcionadas pela baixa

escolaridade dessas famílias, que levam a um distanciamento das famílias com a

escolaridade dos alunos.

A questão 2 tinha como objetivo conhecer o perfil da sala em relação ao

comprometimento com as lições de casa propostas pelos professores, uma vez que

Sacco (2012) e Calcagni (2012) trazem em seus trabalhos que o

descomprometimento com essa atividade pode estar ligado a disfunções na

autorregulação dos alunos e desinteresses nas atividades, respectivamente. Os

resultados obtidos mostram que mais da metade dos alunos realizam 75% das

atividades propostas. E apesar desta frequência ser satisfatória, mostra que existe

um descomprometimento com a totalidade das tarefas.

Na terceira questão, os dados obtidos revelam que a maior parte dos alunos

classificam a lição de casa como importantes. Seguidos de suas justificativas, temos

como as respostas mais frequentes as que relacionam a importância da lição de

casa com treino, revisão, reforço, aplicação dos conteúdos e desenvolvimento do

autoconhecimento. Essas respostas nos mostram que os alunos entendem que a

lição de casa é um instrumento importante para promover a aprendizagem, estando

relacionada com a epistemologia empirista trazida por Cericato e Castanho (2008)

e pela abordagem tradicional trazida por Mizukami (1986), quando citam as

características relacionada ao treino e repetição.

Entre os resultados obtidos nesta questão, também é necessário discutir que

dois alunos trouxeram a questão de apesar de a lição de casa ser importante, eles

não a realizam, pois não possuem tempo para isso. O que podemos relacionar com

a fala de Nogueira (2002), que o aluno deve disponibilizar parte do seu tempo livre

para realizar a atividade e/ou não são sensibilizados sobre os objetivos da atividade,

o que proporciona uma situação de resistência ou aversão a lição de casa.

Ao pedir que os alunos se manifestassem a partir de uma única palavra sobre

o tema lição de casa obtivemos, na quarta questão, como podemos observar, a

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maior parte dos alunos apresentaram palavras que remetem aos aspectos positivos

da lição de casa, o que corrobora com os resultados obtidos na terceira questão,

sobre a importância da lição de casa nos processos de aprendizagem. Palavras

como “revisão”, “reforço”, “fixação” podem ser relacionadas com a epistemologia

empirista por Cericato e Castanho (2008), quanto a concepção mecanicista de

ensino.

Aspectos ou palavras que remetem a ideias negativas como a palavra

“incomoda” e “problema” podem ser relacionadas com os problemas que envolvem

a eficácia desta estratégia trazidos por Calcagni (2012), como problemas de

contextualização, sensação de obrigatoriedade de realizar a tarefa, que pode levar

a uma desmotivação dos alunos.

Para a quinta questão, temos como o resultado trazido pela maior parte dos

alunos o trabalho de campo. O que nos remete a epistemologia interacionista, na

qual o aluno constrói o seu conhecimento a partir das suas interações com o meio.

Neste contexto, um trabalho de campo se mostra como um rico ambiente para

potencializar as interações dos alunos com os conteúdos da prática, promovendo a

aprendizagem.

Faz-se necessário para esta questão, discutir o resultado obtido pelo aluno

que não trouxe um exemplo de trabalho que o tenha agradado. Esta resposta nos

mostra que este aluno não se identifica com nenhuma das atividades propostas em

seu cotidiano escolar, o que de acordo com Nogueira (2002), esta situação pode

estar relacionada com a não sensibilização deste aluno com as atividades

propostas, levando a uma aversão a todos os trabalhos propostos.

Com relação a sexta e última questão, os dados obtidos revelam que mais da

metade dos alunos aplicariam lição de casa para os seus alunos se,

hipoteticamente, fossem professores. Seguidos de suas justificativas, temos como

as respostas mais frequentes a característica da lição de casa de desenvolver a

aprendizagem e a autonomia dos alunos. Esses dados podem ser relacionados com

a importância da lição de casa como recurso na construção da aprendizagem e

promoção da autonomia dos alunos (FUJIMOTO; MARTINS, 2013).

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A presente discussão dos resultados nos mostra como é importante conhecer

as concepções tanto de professores, como de alunos, sobre a lição de casa. Pois

esta investigação nos permite entender como esta ferramenta didática pode ser

utilizada por meio dos professores para acompanhar o desenvolvimento de seus

alunos e com relação aos alunos, nos permite observar como eles respondem a

esta ferramenta e como desenvolvem a sua aprendizagem a partir da lição de casa.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando o objetivo do presente trabalho de analisar a concepção que

professores e alunos tem sobre o papel da lição de casa no processo de ensino e

de aprendizagem, é possível concluir que dependendo das diferentes concepções

que os professores apresentam sobre esta ferramenta de ensino, suas práticas são

variadas.

Não é possível definir apenas um tipo de epistemologia ou abordagem para

cada um dos professores que fizeram parte desta pesquisa, pois em diversos

momentos os professores apresentam características de duas ou mais dessas

concepções presentes no referencial teórico do trabalho. Também, em algumas

situações, pudemos observar que os professores se contradizem em suas falas e/ou

práticas, demonstrando que a lição de casa não é uma ferramenta completamente

entendida por eles, podendo ser utilizada de diversas maneiras. No caso do período

de observação, a lição de casa para ambos os professores é utilizada como um

mecanismo de controle comportamental, pois esta ferramenta está atrelada a

mecanismos de avaliação que geram uma nota, ou atitudinal, no caso do professor

A, ou processual, no exemplo da professora B.

Com relação aos alunos, esta heterogeneidade também pode ser observada

nas questões do comprometimento e envolvimento com as atividades propostas.

Mas podemos concluir que a maior parte dos alunos entendem a importância da

lição de casa, salvo a ressalva do único aluno que afirmou que ela não é importante.

Uma das grandes dificuldades de se trabalhar o tema lição de casa foi

inicialmente elaborar o referencial teórico, devido à escassez de trabalhos sobre o

tema, críticas que são trazidas por Nogueira (2002) e Carvalho et al. (2006). O tema

transpassa os conceitos trazidos pela literatura, estando relacionado com o sistema

educacional que está inserido. Existindo essas questões e somando-as com os

resultados heterogêneos obtidos com os professores, o que nos leva a concluir que

o tema não é tão explorado pois depende da concepção de ensino e de

aprendizagem da escola e dos professores em foco, o que amplia as divergências

já existentes sobre o tema.

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Os alunos mostraram que entendem a importância da lição de casa, mas que

associam a estratégia com a abordagem de ensino tradicional, o que podemos

relacionar com a forma como esta estratégia, na maior parte das vezes, é trabalhada

com eles.

Concluímos que mais estudos devem ser feitos com esta ferramenta tão

importante para os processos de ensino e de aprendizagem. Desta forma, otimizar

as interações entre professores e alunos, considerando o que ambas as partes

julgam ser importante para a lição de casa, para cada vez mais proporcionar uma

melhoria no uso desta ferramenta.

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BECKER, F. A Epistemologia do Professor: O Cotidiano da Escola. 5ª Edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 1993. 344p.

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CALCAGNI, F. G. A tarefa de casa como ferramenta capaz de colaborar com a autorregulação do aluno. 2012. 56 f. Tese (Mestrado em Educação) - Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina. Universidade Estadual de Londrina. Londrina.

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APÊNDICE

Transcrição das entrevistas com professores

Entrevista com o professor A

1) Conte um pouco, como foi a sua formação na área de licenciatura?

R: Bom, eu fiz uma Universidade chama Brás Cubas, que fica na cidade de

Mogi das Cruzes. A minha licenciatura eu consegui lá. Desde o início de (19)88, eu

“tava” no segundo ano da faculdade e comecei a dar aula no primeiro grau: 5ª, 6ª,

7ª e 8ª série, que ficava numa cidade próxima de Mogi das Cruzes, chamada

Suzano. Então a minha Licenciatura foi nessa cidade. Na época eu considerei uma

boa faculdade, comparado com outras coisas que eu vi por aí, foi uma

“faculdadezinha” bem preocupada com essa parte da Licenciatura, eles exigiam da

gente esse “trem” para entrar na sala de aula.

2) No seu curso houve discussões de como seriam trabalhadas as

tarefas de casa com os alunos?

R: Sim, tinha, eu tinha uma professora chamada Aparecida Brasil, era

professora de Didática, uma pessoa extremamente competente, acredito que ela

dava aula inclusive na PUC e se não me engano, USP também. E ela batia muito

nisso, fazíamos muitas mesas redondas em sala de aula para discutir métodos de

ensino, métodos de estudo, como incentivar o aluno a estudar. Tive uma boa

aprendizagem a este respeito.

3) Qual o objetivo da lição de casa?

R: Nesta escola eu aplico o caderno de desenho, principalmente nos segundos

anos, pois os terceiros estão mais focados na revisão do conteúdo, então o caderno

de desenho é uma lição de casa mesmo, principalmente nos exercícios de genética

que eu “tô” entrando agora, todos os cruzamentos que a gente faz em sala de aula,

heredogramas, probabilidades, eles vão ter que refazer, fazer em casa no caderno

de desenho.

Então o objetivo é obrigar eles a estudar mesmo, porque eles não têm esse

hábito, tanto é que eu brigo muito com eles, que querem fazer o caderno de desenho

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na sala de aula, porque eles querem fazer com pressa para não ter o que fazer em

casa.

4) Muitos alunos fazem as tarefas?

R: Fazem, fazem, a grande maioria faz e uma boa parte, não são todos,

evidente, mas uma boa parcela faz com muito capricho, o caderno de desenho deles

é bem-feitinho.

5) Os alunos que as realizam, apresentam melhorias no desempenho

escolar?

R: Ah, com certeza. Você nota isso claramente, principalmente nos mais

caprichosos que você vê que fizeram, você vê que a aprendizagem deles melhora.

Inclusive é muito comum durante o curso, principalmente no segundo semestre,

eles virem com dúvidas que eles viram quando foram fazer a lição de casa. Ou seja:

na hora de fazer a lição de casa aparece a dúvida, aí chega na próxima aula “Ó

professor, fui fazer isso e lembrei que eu não tinha entendido”. O objetivo é

exatamente esse.

6) Como estas tarefas são inseridas no plano pedagógico?

R: Geralmente eu confesso que eu costumo dar nota de participação, uma

nota de interesse, que a gente chama aqui de nota atitudinal. Pela atitude dele fazer

a lição de casa, pela atitude de ele vir com objetivo de fazer uma pergunta com

aquilo que apareceu na casa dele, eu considero um avanço legal. Porque eles não

têm hábitos de estudo, eles saem do Ensino Fundamental sem nenhum hábito de

estudo.

7) Como esta atividade é trabalhada com os alunos após a devolutiva

dos alunos?

Eu visto os cadernos, visto e dato, caderno por caderno e repito, na hora de

elogiar, são elogiados sim, cadernos bem feitos merecem elogios, assim como

cadernos de desenho de que eu sei que são feitos na hora, minutos antes de eu

vistar, na tentativa de colar, eu falo para eles “Isso não está correto”, “Você não está

produzindo aquilo que você pode produzir e vai ter dificuldade na aprendizagem” e

eles não discutem porque eles sabem que é verdade. Nesse ponto eles são bem

compreensivos. Como eles sabem que se não fizeram a obrigação deles, eles

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sabem que podem ter nota de retirada da nota de avaliação inclusive, de

comportamento.

Entrevista com a professora B

1) Conte um pouco, como foi a sua formação na área de licenciatura?

R: Eu estudei na Universidade Federal de São Paulo, a UNIFESP no campus

Diadema. E eu estudei Paulo Freire, muito (riso), mas é, durante o meu

desenvolvimento, que eu fiquei 6 anos na faculdade, né? E a gente teve muitas

práticas pedagógicas, “pra” saber, pra realmente analisar com a gente poderia

ajudar o desenvolvimento, na autonomia, criação da responsabilidade, da

autonomia deles de falar “pô, tenho que ser agente do meu aprendizado e não

esperar pelo professor tome a frente daquilo que eu preciso aprender”, os

professores da graduação também sempre fizeram de tudo para a gente ter essa

conscientização de “olha, você é um instrumento, você não é o principal, o principal

do nosso trabalho é o aluno, o nosso objetivo é o aluno, o aprendizado do aluno é

a construção do conhecimento, os professores sempre focaram que não existe essa

coisa de transmissão do conhecimento, do saber e sim a construção do saber, de

eu como professora, o meu aluno, ele me ensina e eu ensino ele, a gente aprende

e ensina ao mesmo tempo.

2) No seu curso houve discussões de como seriam trabalhadas as

tarefas de casa com os alunos?

R: A gente discutia muito de como se desenvolver em sala de aula, então a

gente discutia muito tempo, é, debatia durante as práticas pedagógicas, a gente

tinha que dar aula para o professor da graduação, a gente debatia muito assim,

como selecionar esse conteúdo, o que era mais importante nessa construção do

saber, era o aluno decorar, aprender, aprender o que? Tinha a ver com o cotidiano

dele? A concepção de vida que ele tinha ou era simplesmente aprende “pra” passar

no vestibular, sabe? Então a gente se preocupava muito com isso, assim, o que

ensinar, o quanto a gente podia deixar de lição para o aluno? Era suficiente? Era

muito? Era pouco? Tinha que levar em consideração o aluno: aluno trabalhava?

Não trabalhava? Qual era o nosso público? Então sempre se foi muito trabalhoso

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se pensar no depois, tipo, você ensinar na sala de aula e ao mesmo tempo que ele

crie o hábito de estudar fora da sala de aula, que a gente sempre enfatizava isso:

olha aqui não adianta você simplesmente copiar da lousa, você tem que estudar em

casa. E é muito difícil isso, você fazer com que o aluno criar este hábito de estudar,

esta disciplina que geralmente o público brasileiro não tem, geral assim. Tanto na

Universidade, quanto na escola, em qualquer ambiente de estudo, é bem difícil.

3) Qual o objetivo da lição de casa?

R: É justamente criar a autonomia, né? Por que eu falo para eles assim: eu

não sou muito fã de pesquisa da internet e me entrega. Eu prefiro, acho que você

viu no pouco tempo que você me acompanhou, que eles pesquisem, interpretem e

me expliquem, porque eu acho isso muito melhor para que ele é, tenha uma

absorção do que ele está estudando, sabe? Porque se ele pesquisar em várias,

vários sites, em vários, como posso dizer, em bibliografias diferentes ele cria uma

concepção daquilo que ele aprendeu e chega aqui e explica: “Olha professora, é

assim, assim, mas na verdade eu vi desse jeito, mas em outro lugar “tava” desse

jeito”. Por que copiar, eu falo que os alunos querem ser maquinas de xerox, muitas

vezes, né? Que eles só querem copiar porque é importante ter no caderno. E eu

gosto de quebrar essa concepção, de que o aprendizado não se dá pela cópia, né?

Se dá pela criticidade pelo que você está escrevendo, você está entendendo? Você

“ta” absorvendo alguma coisa disso? O que você “ta” entendendo? Então as minhas

pesquisas é mais para que eles entendam e aprendam a estudar sozinhos. Eu dei

um trabalho em grupo e você não participou, você não estava presente? E os alunos

tinham que pesquisar as respostas e justificar o porquê das respostas. “Pra” eles

isso é muito difícil porque eles poderiam simplesmente poderiam jogar na internet e

“Ah, a resposta é X”, eram muitas perguntas de vestibular, mas e o porquê? Eles

tinham que entender. Então eles pegaram os livros e viram nos livros, leram os

textos e querendo ou não, foi uma forma de pesquisar. E depois, quando eu pedi o

feedback desse trabalho eles falaram que foi uma forma muito diferente, que eles

não estavam acostumados a trabalhar assim, que foi trabalhoso e ao mesmo tempo

foi inovador para eles, porque o professor geralmente dá a pesquisa “pra” entregar,

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eles copiam e nem sabem o que “tão” fazendo e daquela forma não. Eles tiveram

que é, discutir com o grupo, então um grupo falava “Não, acho que é isso” e o outro

“Não, eu acho que é isso”. Então automaticamente eles foram obrigados a fazer

isso. E eu acho que muitas vezes o conhecimento ele não tem que ser divertido,

né? A gente tem que, principalmente professor da área de ciências -biologia,

química, essa área assim- a gente quer fazer maneiras inovadoras de aprender. Só

que muitas vezes o conhecimento não é divertido, ele é difícil, é sentar, estudar,

fazer exercício, é ler, reler, é pesquisar em artigo, rever de novo e não tem que ser

divertido. Tem hora para ser divertido, gostoso, e tem hora para ser difícil. Então

acho que varia muito assim, o nosso objetivo. Mas o meu objetivo com a pesquisa

era esse: dar autonomia para o aluno.

4) Muitos alunos fazem as tarefas?

R: No começo, algumas não, mas depois eles começaram a ver que isso era

uma consequência, sabe? Eu sempre frisei que a nota é uma consequência, não

era o meu objetivo. Meu objetivo era o processo. E o processo é o quanto eles

aprendem. Então é automático: se você não me mostrou nada, não mostrou esforço,

não me mostrou o que você pesquisou, não me mostrou que você tentou, eu não vi

nada. Se eu não vi nada você não tem nota. Sua consequência é nula. Agora, se

você estudou, se você se esforçou, se você tentou, você vai ter nota, porquê é uma

consequência.

5) Os alunos que as realizam, apresentam melhorias no desempenho

escolar?

R: Sim, principalmente nisso de “eu preciso estudar”, que era o meu objetivo.

Eu acho que todo o trabalho, toda prova que o professor dá tem um objetivo por

trás, não só estudar para aquilo, mas aprenda para o processo, pelo menos eu

penso assim. No começo muitos não estudavam, outros não entregavam, mas ai

eles começaram a ver que ficavam sem nota, ficavam com notas vermelhas e iam

mal, ai o pai brigava, então eles começaram a pensar “não eu tenho que entregar”,

“tenho que estudar”. Hoje eu tenho alunos que antes não vinham nas minhas aulas,

hoje só sentam na frente.

6) Como estas tarefas são inseridas no plano pedagógico?

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R: Eu geralmente faço um cronograma. Eu tento pelo menos, né? Eu tenho

muitas turmas, muitas escolas, o grupo é muito heterogêneo, mas eu geralmente

faço um cronograma, então por exemplo: eu pego todas as datas de aula que a

gente vai ter, que estão previstas pelo menos, porque sempre tem um feriado que

aparece do nada. Mas eu pego essas datas e seleciono o conteúdo de acordo com

o currículo de São Paulo, de acordo com aquilo eu vejo com a turma, o que a turma

tem previamente preparado, porque isso a gente foi muito instruída na graduação:

fazer uma avaliação diagnóstica, saber onde seu aluno está para ter um ponto de

partida. E ali eu ensino meu cronograma, sabe? Com avaliações com atividades,

tento variar um pouco, o que é muito difícil, porque nem sempre o vídeo está

funcionando, tal atividade não vai ser viável, então a gente tem que sempre estar

se adaptando. Mas baseada no meu cronograma é muito melhor para eu me

organizar. Todos os primeiros anos do Andronico pararam no mesmo nível, eu tento

fazer isso.

7) Como esta atividade é trabalhada com os alunos após a devolutiva

dos alunos?

R: Olha, eu sempre falo para os alunos que aula dada é aula estudada, falo

muito isso. Então eu faço de tudo para que na aula eles aprendam tudo da aula,

não sou uma professora de muito texto, texto, texto. De acordo com o cronograma

eu já tenho os conteúdos selecionados e eu faço assim, uma semana é conteúdo e

a outra semana é atividade, assim eu estou obrigando eles a estudar sempre e a

não faltar, pois se falta no conteúdo não sabe o que fazer na atividade e se falta na

atividade fica sem nota, é mais ou menos assim que funciona. E depois tem a prova,

que eu faço, antes dela há uma revisão de conteúdo, aplico e corrijo para eles terem

uma devolutiva antes do provão.

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ANEXO 1 - Carta de Informação ao Sujeito

Esta pesquisa tem como intuito avaliar a concepção que o professor e os alunos tem sobre

a estratégia de ensino lição de casa e o papel desta no processo de ensino e de

aprendizagem. Para tanto, realizaremos um questionário destinado aos alunos com

questões fechadas e abertas referentes ao tema lição de casa. Para tal solicitamos sua

autorização para a realização dos procedimentos previstos. O contato interpessoal e a

realização dos procedimentos oferecem riscos físicos e/ou psicológicos mínimos aos

participantes. As pessoas não serão obrigadas a participar da pesquisa, podendo desistir a

qualquer momento. Em eventual situação de desconforto, os participantes poderão cessar

sua colaboração sem consequências negativas. Todos os assuntos abordados serão

utilizados sem a identificação dos participantes e instituições envolvidas. Quaisquer dúvidas

que existirem agora ou a qualquer momento poderão ser esclarecidas, bastando entrar em

contato pelo telefone abaixo mencionado. Ressaltamos que se trata de pesquisa com

finalidade acadêmica, referida à TCC, que os resultados da mesma serão divulgados em

um trabalho acadêmico. Obedecendo ao sigilo, sendo alterados quaisquer dados que

possibilitem a identificação de participantes, instituições ou locais que permitam

identificação. De acordo com estes termos, favor assinar abaixo. Uma cópia deste

documento ficará com o participante da pesquisa e outra com o (s) pesquisador (es).

Obrigado. ________________________ ____________________________ Julia do Nascimento Panizza Profª. Drª. Magda Medhat Pechliye Universidade Presbiteriana Mackenzie Telefone para contato: (11) 2114-8790 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o(a) senhor (a) ____________________________________, representante legal do (a) aluno (a) ____________________________________ , após a leitura da Carta de Informação à Instituição, ciente dos procedimentos propostos, não restando quaisquer dúvidas a respeito do lido e do explicado, firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de concordância quanto à realização da pesquisa.

Autorizo a realização do questionário □ sim □ não Fica claro que o (a) aluno (a), através de seu representante legal, pode, a qualquer momento, retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho realizado se torna informação confidencial, guardada por força do sigilo profissional.

São Paulo, ___ de _______________de 2017 _________________________________________

Assinatura do sujeito

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ANEXO 2 - Plano de coleta de dados

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CCBS – CIÊNCIAS BIOLÓGICAS - PROJETOS EDUCACIONAIS PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA

MAGDA MEDHAT PECHLIYE

Nome: Julia do Nascimento Panizza

Ficha n° _______ OBSERVAÇÃO ( ) PARTICIPAÇÃO ( ) REGÊNCIA ( )

DATA ___/___/___ Início__________Fim________Série/Turma___________

Professor_______________________Tema da aula ______________________

Assuntos ou palavras chave:

__________________________________________________________________

Como atividades de lição de casa foram retomadas e trabalhadas em sala:

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Falas referentes ao momento de estudo extraclasse dos alunos:

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Comanda passada pelo professor para as tarefas que alunos deverão fazer em casa: ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Dúvidas ou questionamentos que alunos fazem ao professor referentes as lições de casa: ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Comentários gerais sobre tarefas de casa e/ou trabalhos:

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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ANEXO 3 - Roteiro de entrevista com professores

Objetivo da entrevista:

O objetivo destas entrevistas é o de coletar mais informações sobre os motivos

de os professores utilizarem o método de lição de casa como uma ferramenta

didática, como o fazem e quais concepções sobre esse instrumento trazem na sua

fala (CALCAGNI, 2012).

Perguntas:

1) Conte um pouco, como foi a sua formação na área de licenciatura?

2) No seu curso houve discussões de como seriam trabalhadas as tarefas de

casa com os alunos?

3) Qual o objetivo da lição de casa?

4) Muitos alunos fazem as tarefas?

5) Os alunos que as realizam, apresentam melhorias no desempenho escolar?

6) Como estas tarefas são inseridas no plano pedagógico?

7) Como esta atividade é trabalhada com os alunos após a devolutiva dos

alunos?

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ANEXO 4 - Questionário aplicado para os alunos

Questionário sobre lição de casa

Este questionário que foi entregue para vocês faz parte da coleta de dados

para um estudo que tem o intuito de avaliar a concepção que o professor e os alunos

tem sobre a estratégia de ensino lição de casa e o papel desta no processo de

ensino e de aprendizagem. Para tanto, preciso a partir dessas questões saber o que

vocês pensam sobre lição de casa.

Nenhuma informação particular dos alunos que responderem este

questionário será utilizada e todos os dados coletados referentes ao objeto de

estudo - lição de casa - farão parte do trabalho de conclusão de curso intitulado

“Importância da lição de casa no contexto de ensino e de aprendizagem de Biologia

em escola do Estado de São Paulo”.

Importante:

As questões devem ser respondidas com caneta esferográfica de cor azul

ou preta.

A opinião de cada aluno é única e essa unicidade é de extrema importância

para este estudo, portanto não copie as respostas do seu colega.

Objetivo do questionário:

Avaliar a postura dos alunos com relação as tarefas de casa que são

propostas.

Identificar como os alunos entendem esta estratégia de ensino.

Questões:

1) Em qual das condições abaixo você se identifica no momento de realizar as

suas tarefas da escola e/ou para estudar os conteúdos passados pelos

professores?

□ No meu quarto e sozinho

□ No meu quarto e com outras pessoas (parentes, amigos)

□ Na sala da minha casa e sozinho

□ Na sala da minha casa e com outras pessoas (parentes, amigos)

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□ Em outro ambiente da minha casa e sozinho

□ Em outro ambiente da minha casa e com outras pessoas (parentes, amigos)

□ Nunca estudo ou faço as tarefas na minha casa

2) De todas as lições de casa que são propostas você realiza:

□ 100% □ 75% □ 50% □ 25% □ Nada

3) Em uma escala de zero a dez, qual a importância que você dá para a lição

de casa? Sendo zero o menos importante e dez muito importante. Justifique sua

resposta:

□ 0 □ 1 □ 2 □ 3 □ 4 □ 5 □ 6 □ 7 □ 8 □ 9 □ 10

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4) Defina em uma palavra o que a lição de casa é para você:

__________________________________________________________________

5) Qual foi o trabalho (atividade/pesquisa/lição de casa) que você mais gostou

de fazer? Porque? Descreva nas linhas abaixo essa atividade:

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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6) Se você fosse professor, você daria lição de casa?

□ Sim

□ Não

□ Talvez

Se você respondeu sim, como seria essa proposta de lição? Descreva nas

linhas abaixo:

Se você respondeu não ou talvez, justifique sua resposta nas linhas abaixo:

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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ANEXO 5 – Narrativa das observações de aula do Professor A

Durante o período de estágio, acompanhando o professor A, foram

observadas as aulas em turmas do 2º e 3º do Ensino Médio.

Em uma das primeiras aulas observadas, o professor traz em sua fala uma

retomada ao instrumento utilizado por ele como lição de casa, o caderno de

desenho. Ele comenta com os alunos que este foi explicado na primeira semana de

aula e que eles já deveriam ter providenciado o material necessário, que consiste

em um caderno com folhas tamanho A4, sem pautas, que cada aluno deve ter para

realizar reproduções de alguns conteúdos trabalhados em sala de aula, na forma

de desenho, apenas com lápis grafite.

A comanda para os desenhos que devem ser contemplados no caderno é feita

durante as explicações de alguns conteúdos e são pedidas pelo professor em

diversos momentos ao longo do ano letivo, a partir de um destaque na fala do

professor, como podemos evidenciar no episódio observado durante a aula de

laboratório da turma do 2º ano A do Ensino Médio, na qual o tema de aula era o

funcionamento do microscópio ótico e o professor pedia para os alunos observarem

algumas lâminas:

-Aqui nesta lâmina vocês vão poder ver uma larva de carrapato, essa e as

outras imagens que vocês vão ver aqui eu quero lá no caderno de desenho.

Nesta mesma aula o professor passa algumas instruções sobre o caderno de

desenhos:

-Todos os desenhos devem ser feitos a lápis, tem gente que prefere colorir

com lápis de cor, principalmente as meninas, eu não ligo para isso, até pode, mas

tem que ser a lápis, ouviu? Nada a caneta, canetinha, não pode! Sempre tem um

aluno que faz a caneta. Não fazer a caneta! Mesmo a parte escrita, quando tem

legenda, tem que ser a lápis.

Em uma aula sobre transportes passivos na sala do 2º ano F, o professor faz

os esquemas das concentrações hipotônica, hipertônica e isotônica e pede para os

alunos desenharem essas três representações em seus cadernos de desenho,

neste momento o professor traz em sua fala o objetivo do caderno: o aluno tem que

fazer os desenhos em casa para estudar um pouco.

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Nesta mesma aula, quando o professor pede para os alunos passarem os

desenhos para o caderno uma aluna comenta:

- Professor, você vai dar nota pela intenção do desenho, não pela beleza, né?

Outro exemplo identificado na fala do professor foi durante uma aula teórica

ministrada para o 2º ano E, durante a explicação dos tipos de transportes ativos

fagocitose e pinocitose. Neste episódio o professor esquematizou os diferentes

tipos de transportes e pediu para os alunos copiarem o esquema em seus cadernos

para depois, em um momento extraclasse, passarem este esquema para o caderno

de desenhos.

O professor repete em diversos momentos que o caderno de desenho deve

ser feito em casa e que cada aluno deve fazer o seu, o que pode ser identificado na

fala do professor para a turma do 2º ano G:

-Outro dia eu peguei dois alunos lá no pátio fazendo o caderno de desenho na

escola, dei zero para os dois. O combinado é fazer para estudar, não para copiar

do colega.

Durante o período de estágio o caderno de desenhos foi utilizado para que

alunos desenhassem lâminas observadas nas aulas de laboratório: larva de

carrapatos e células de sangue, ovário de roedor. E durante as aulas na sala

comum, o professor pediu para os alunos desenharem o esquema da osmose,

fagocitose e pinocitose. O professor também pediu para alunos colarem uma

imagem de um microscópio ótico no caderno de desenhos para que eles

nomeassem algumas partes deste material, como por exemplo, as lentes oculares,

o canhão, as lentes objetivas e o charriot.

Esta atividade é destinada apenas para os alunos dos segundos anos, pois

alunos dos terceiros anos, de acordo com o próprio professor, estão mais focados

na revisão dos conteúdos.

O caderno de desenhos compõe parte das notas dos alunos e só é vistado

pelo professor em dois momentos do bimestre: uma semana após a prova bimestral

e antes do fechamento das notas. Caso algum aluno esteja pendente em alguma

entrega, o professor aceita que entreguem o caderno de desenhos na aula seguinte

as entregas oficiais.

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Não foi observado algum tipo de controle realizado pelo professor quanto ao

número de atividades pedidas ou de quais desenhos foram solicitados para os

alunos das diferentes classes, como podemos destacar a partir do episódio em que

um aluno do 2º ano G pergunta para o professor:

-Professor quando você vai ver o caderno de desenho?

-Se a prova é na segunda-feira, vou olhar o caderno na sexta-feira. É sempre

um dia (de aula de biologia) após a prova.

Outro aluno pergunta:

-Quantos desenhos têm que ter?

-Agora eu não me lembro de cabeça.

E assim alguns alunos começam a relembrar e nomear alguns desenhos que

foram pedidos, juntos com o professor. Após esse momento professor começa a

organizar seu diário de classe e escreve quais desenhos devem ser vistados nesta

turma.

Em uma outra situação o professor entrega as avaliações feitas pelos alunos

do 2º ano H e depois comenta:

-Caderno de desenho ajuda? Ajuda, mas não faz milagres. Provão ajuda?

Ajuda, mas não faz milagres. Ou vocês aprendem a estudar ou vai ficar difícil.

Neste mesmo dia, na turma do 2º ano D do Ensino Médio, após o professor

ter entregue as avaliações corrigidas para os alunos, ele pede para alunos se

organizarem, de 10 em 10 para trazerem os cadernos de desenho para ele vistar.

Conforme alunos trazem, professor olha um por um, e rubrica todas as páginas

desenhadas, se o aluno fez todos os desenhos pedidos no bimestre o professor

anota um símbolo de + no diário de classe, caso o aluno entregue o caderno

incompleto ele anota um símbolo de ± e pede para aluno completar para a próxima

aula, pois ele irá cobrar a pendência. Quando aluno não entrega o professor anota

um símbolo de –, pede para aluno trazer na próxima aula, mas que ele ficará com

metade da nota.

O professor traz também nas suas aulas falas referentes ao momento de

estudos dos alunos. Em diversos momentos observados o professor fala que seus

alunos devem disponibilizar de cinco a dez minutos dos seus dias para lerem os

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seus cadernos e fazerem os desenhos propostos. Como foi observado na sala do

2º ano G:

-Olha pessoal, faz o favor de ler este caderno de cinco a dez minutinhos por

dia. Não custa nada.

Em uma aula para o 2º ano E o professor fez recomendações parecidas:

-Vocês devem parar de ler as coisas e não estudar de verdade. Por isso que

“dá” branco na horada prova. Tem que estudar um pouquinho por dia.

E continua:

-Não dá para ler o caderno 10 horas antes da prova. É ler um pouquinho por

dia, estudar de cinco a dez minutos.

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ANEXO 6 – Narrativa das observações de aula do Professora B

Acompanhando a professora B, foram observadas as aulas nas turmas do 1º

ano do Ensino Médio.

Com relação as atividades de lição de casa, a professora B traz em sua prática

as pesquisas feitas em casa, o que pode ser exemplificado pela situação observada

na turma do 1º ano K. após o momento de discussão da aula sobre a origem do

sistema solar, na qual a professora escreve a seguinte comanda na lousa:

“Para dia 10/03 (quinta-feira)

Pesquisar o experimento de Reidi; de John Needham; Spalanzani; Pasteur.

1ª atividade valendo nota”

E na sequência ela explica algumas características que os alunos devem

trazer nas suas pesquisas: procurar informações sobre os experimentos citados e

relacioná-los com a explicação que cada pesquisador defende sobre o surgimento

da vida na Terra; trazer as pesquisas escritas em uma folha separada do caderno,

pois a atividade deve ser entregue para ela; os alunos não devem realizar as suas

pesquisas em sites como Wikipédia, Infoescola e Brasil Escola, pois a professora

quer informações de sites confiáveis; sempre trazer as referências que se basearam

para a produção, caso seja um trabalho retirado da internet, o endereço com http

deve ser colocado ao final do trabalho; e na data marcada para a entrega da

pesquisa, os alunos terão que explicar o que pesquisaram para toda a sala, caso o

aluno não explique ele ficará com zero.

Em um outro episódio, foi possível observar como a professora em questão

retoma uma atividade que foi proposta por ela para os alunos da turma do 1º ano L.

Ao iniciar a aula, a professora consulta os seus registros de aula e chama por quatro

alunos cujos nomes haviam sido indicados na aula anterior para realizar um estudo

sobre os temas criacionismo e a teoria do Big Bang.

Assim, é passada a palavra para esses alunos, para que expliquem para os

seus colegas de classe, com suas palavras, o que leram e o que entenderam sobre

os temas estudados. Mas dos quatro alunos escolhidos, apenas um garoto fez a

pesquisa e os outros três alunos ficaram com nota negativa de participação. O aluno

explicou que tentou ler sobre o tema Big Bang no livro didático utilizado por eles,

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mas que conseguiu entender realmente quando assistiu ao documentário “Cosmos”

disponibilizado pelo serviço de televisão online Netflix. Quando explica a questão

do criacionismo o aluno traz discussões religiosas.

Ao longo da fala deste aluno a professora tece elogios a ele e incentiva-o a

procurar mais mecanismos de divulgação científica. Assim que o aluno termina as

suas explicações, a professora usa de informações trazidas por este aluno para

iniciar a aula sobre o tema teoria da geração espontânea.

Desta maneira, sempre ao final das aulas, a professora pede para um aluno

(A), indicar um colega (B), que deve indicar um outro aluno (C), que por fim deve

indicar um último colega (D). Esses quatro alunos (A, B, C e D), devem fazer a

leitura de conteúdos referentes ao tema que serão trabalhados na próxima aula.

Na sala do 1º ano H, neste mesmo dia, a professora segue a mesma rotina

citada anteriormente e chama pelos quatro alunos que deveriam ter feito a pesquisa

sobre o tema criacionismo e a teoria do Big Bang, mas dos quatro alunos, um não

estava presente e os outros três não haviam feito a atividade.

A professora fala para toda a sala:

- Toda vez que uma pessoa se negar a fazer a pesquisa, ficará com dois

pontos a menos.

Em seguida ela pede para que toda a turma inicie a aula lendo os respectivos

conteúdos no livro didático e quando eles terminarem ela inicia a discussão sobre o

que foi lido com eles.

Ao final desta aula a professora pede para os alunos responderem em seus

cadernos, como lição de casa, as perguntas trazidas pelo próprio material didático

sobre os temas trabalhados em sala.

Após esta fala um aluno pergunta para a professora:

- Professora, você vai passar dando visto?

- Eu não passo dando visto.

O aluno continua:

- Mas tem muitos professores que passam.

- Vocês já estão grandes, tem autonomia para estudar da forma como

quiserem.