UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE …tede.mackenzie.br/jspui/bitstream/tede/1626/1/Adriana de Fatima... · UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Programa de Pós-Graduação em

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  • UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

    Programa de Ps-Graduao em Distrbios do Desenvolvimento

    Mestrado em Distrbios do Desenvolvimento

    ADRIANA DE FTIMA RIBEIRO

    Comparao de padres comportamentais referidos por mltiplos

    informantes e desempenho neuropsicolgico na caracterizao de sinais de

    desateno e hiperatividade em adolescentes

    So Paulo

    2013

  • UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

    Programa de Ps-Graduao em Distrbios do Desenvolvimento

    Mestrado em Distrbios do Desenvolvimento

    ADRIANA DE FTIMA RIBEIRO

    Comparao de padres comportamentais referidos por mltiplos

    informantes e desempenho neuropsicolgico na caracterizao de sinais de

    desateno e hiperatividade em adolescentes

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em

    Distrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana

    Mackenzie para obteno do ttulo de mestre.

    Orientador:

    Prof. Dr. Luiz Renato Rodrigues Carreiro

    Linha de Pesquisa:

    Estudos tericos e prticos sobre o sujeito com distrbios do

    desenvolvimento: implicaes individuais e sociais.

    So Paulo

    2013

  • R484c Ribeiro, Adriana de Ftima. Comparao de padres comportamentais referidos por

    mltiplos informantes e desempenho neuropsicolgico na

    caracterizao de sinais de desateno e hiperatividade em

    adolescentes / Adriana de Ftima Ribeiro. 2014.

    95 f. : il. ; 30 cm.

    Dissertao (Mestrado em Distrbios do Desenvolvimento) -

    Universidade Presbiteriana Mackenzie, So Paulo, 2014.

    Referncias bibliogrficas: f. 87-95.

    1. Transtorno de dficit de ateno/hiperatividade (TDAH).

    2. Mltiplos informantes. 3. Escala de inteligncia Wechsler para

    crianas. Lista de verificao comportamental para crianas

    (CBCL). I. Ttulo.

    CDD 616.8589

  • ADRIANA DE FTIMA RIBEIRO

    Comparao de padres comportamentais referidos por mltiplos

    informantes e desempenho neuropsicolgico na caracterizao de sinais de

    desateno e hiperatividade em adolescentes

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em

    Distrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana

    Mackenzie para obteno do ttulo de mestre.

    Data da Defesa: So Paulo, 13 de Fevereiro de 2014.

    BANCA EXAMINADORA

    ______________________________________________________________________

    Prof. Dr. Luiz Renato Rodrigues Carreiro - Orientador

    Universidade Presbiteriana Mackenzie - UPM

    ______________________________________________________________________

    Profa. Dra. Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira

    Universidade Presbiteriana Mackenzie - UPM

    ______________________________________________________________________

    Profa. Dra. Mrcia Helena da Silva Melo Bertolla

    Universidade de So Paulo - USP

    So Paulo

    2013

  • Esta dissertao foi realizada com o apoio da

    CAPES-PROSUP

  • AGRADECIMENTOS

    Primeiramente agradeo a Deus por abenoar e iluminar o meu caminho e por ter me

    dado foras para prosseguir em momentos difceis.

    A minha me, que sempre acreditou na minha capacidade de seguir adiante, pelas

    oraes, pela pacincia e pelo amor.

    Ao meu filho adolescente Caio Ribeiro de Oliveira pela pacincia, pelo amor, por

    representar a vida na minha vida, pelo sorriso lindo nos momentos de luta e pelos abraos

    inesperados.

    Aos meus irmos Alexandre e Samuel, por vocs estarem sempre ao meu lado.

    Aos meus sobrinhos Breno e Rebeca, por existirem em minha vida.

    A minha Tia Vanusa, que durante semanas consecutivas contei com suas palavras de f.

    A Genalva, uma pessoa muito especial, suas palavras de apoio e sabedoria sempre

    foram preciosas.

    Ao pai do meu filho, que em muitos momentos me socorreu, me apoiou e me ajudou

    nos cuidados de nosso adolescente. Meu carinho, respeito e reconhecimento por ser o pai que

    meu filho ama e admira.

    A minha psicloga Llia de Cssia Faleiros, pelo acolhimento, pelo profissionalismo e

    pelo respeito que sempre demonstrou pelas minhas questes mais delirantes por me ouvir

    atenta e por me dar as mos nos momentos de incertezas.

    Ao meu orientador, Prof. Dr. Luiz Renato Rodrigues Carreiro, primeiramente pela

    pacincia e pelo amor que demonstra pela profisso de ensinar e de orientar seus alunos. Por

    me fazer entender que vale a pena seguir com garra em busca de um objetivo e em busca de

    conhecimento. Por estar presente em todos os momentos da minha vida de estudante, na

    graduao e no mestrado. Obrigada por tudo!

    A Profa. Dra. Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira e ao Prof. Dr. Marcos Vincius

    Arajo, pela oportunidade de aprender com vocs.

    A Profa. Dra. Mrcia Helena da Silva Melo Bertolla, pela disponibilidade e

    consideraes feitas a este trabalho.

    As minhas amigas Lais Pereira Khory e Carla Nunes Cantiere, por vocs estarem ao

    meu lado sempre. Minhas amigas, vocs so muito especiais, me apoiaram, acreditaram em

    mim e me acolheram em todos os momentos. Obrigada pelas palavras, pela amizade sincera,

    pelas conversas divertidas e srias, tambm, pela troca de informaes e conhecimentos no

  • campo da psicologia, pelos trabalhos apresentados nos congressos e pelo companheirismo. Eu

    amo vocs!

    As minhas amigas Inajara, Deise, Giovana, Karen, Leandra, pelas oraes, pelo carinho,

    pela amizade, pelo apoio e pela pacincia. Obrigada por estarem ao meu lado!

    Ao Grupo de TDAH da Universidade Presbiteriana Mackenzie, por ajudar em todos os

    processos da pesquisa e na realizao deste trabalho. Meu carinho a Ana Paula R. Micieli,

    Alexandre, Camila Maria Chiquetto, Diego Rodrigues Silva, Dulcinia Bastos Duarte, Julia

    Simes, Maria Aparecida Fernandes, Martins, Guiomar Mikuletic, Maria Luiza Mesquita,

    Marinalva Gonalvez Requio, Mayra Fernanda Seraceni, Miran Seguin, Nathany Regina e

    Regina Marino.

    Aos pais/responsveis dos adolescentes e aos prprios adolescentes e professores que

    aceitaram participar dessa pesquisa, muito obrigada, sem a participao de vocs este trabalho

    no aconteceria.

    A todos os professores do programa de ps graduao e do curso de psicologia da

    UPM , que de certa maneira contriburam para eu concluir o mestrado.

  • Qual o meu objetivo na vida? , O que procuro? , Qual a minha

    finalidade? . Tais so as questes que

    qualquer homem pe a si mesmo, uma vez ou

    outra, s vezes calma e meditativamente,

    outras vezes na agonia da incerteza e do

    desespero. So questes antigas, muito

    antigas, que foram feitas em todos os

    sculos da histria e que receberam uma

    resposta. So tambm questes que todo o

    indivduo, a seu modo, deve colocar e

    responder para si mesmo. So questes que

    eu, como terapeuta, ouo exprimir das mais

    variadas formas por mulheres e por homens

    perturbados que tentam aprender,

    compreender ou escolher as direes que a

    sua vida deve seguir.

    Carl R. Rogers

  • RESUMO

    RIBEIRO, A. F. Comparao de padres comportamentais referidos por mltiplos

    informantes e desempenho neuropsicolgico na caracterizao de sinais de desateno e

    hiperatividade em adolescentes, 2014. 96 p. Tese (Mestrado em Distrbios do

    Desenvolvimento) do Programa de Ps-Graduao da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

    So Paulo, 2014.

    O Transtorno de Dficit de Ateno/Hiperatividade (TDAH) se caracteriza por um padro de

    desateno e/ou hiperatividade persistente e mais grave do que o normalmente observado em

    indivduos com nvel equivalente de desenvolvimento. Trata-se de um transtorno cujos

    sintomas so variados e podem interferir em graus diversos conforme o ambiente no qual o

    indivduo est inserido. A identificao dos sinais desse transtorno deve levar em

    considerao uma avaliao das funes neuropsicolgicas e de indicadores comportamentais,

    preferencialmente a partir de mltiplos informantes como pais ou responsveis, professores e

    o prprio adolescente. Este projeto tem como objetivo identificar as principais concordncias

    referentes aos comportamentos dos adolescentes com queixa dos sintomas de TDAH,

    observados pelos mltiplos informantes e posteriormente correlacion-los ao seu desempenho

    nos testes neuropsicolgicos. Foram usados os inventrios CBCL/6-18, TRF/6-18 e YSR/11-

    18 que pertencem ao Sistema de Avaliao Baseado em Evidncia do Achenbach (ASEBA) e

    WISC-III, Wisconsin e Teste de Ateno Concentrada (AC). Participaram desse estudo 20

    adolescentes com idades entre 11 a 16 anos, divididos em dois grupos, 10 com diagnstico

    (grupo TDAH) e 10 sem TDAH (grupo controle).Todos os participantes fizeram parte do

    protocolo de avaliao neuropsicolgica, comportamental e clnica para identificar sinais de

    desateno e hiperatividade/impulsividade do Programa de Ps-Graduao em Distrbios do

    Desenvolvimento, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Os resultados para os ndices de

    concordncia nas respostas fornecidas pelos mltiplos informantes na correlao entre CBCL

    versus TRF, CBCL versus YSR e TRF versus YSR, pelo meio dos valores de referncia (Q

    corr), de acordo com o programa ADM verso 7, mostrou-se alta para os dois grupos. Na

    comparao das escalas de Problemas Internalizantes, Externalizantes e Totais em funo dos

    grupos e instrumentos tanto quanto para as escalas de Problemas de ateno e Problemas de

    dficit de ateno e hiperatividade, observou-se no grupo TDAH que os pais relataram mais

    problemas que os professores e no grupo controle os professores quem relataram um

    nmero significativamente maior de problemas. Na comparao das escalas de Ritmo

    Cognitivo Lento em funo dos grupos e instrumentos, verificou-se que os pais tambm

    perceberam mais alteraes nos comportamentos constituintes dessa escala que os

    professores. Com relao s correlaes dos testes neuropsicolgicos e dos indicadores

    comportamentais de problemas de comportamento nos diferentes instrumentos, no foram

    observadas diferenas significativas. Conclui-se, assim, a necessidade de compor

    procedimentos de avalio de pessoas com queixas de TDAH com diferentes instrumentos de

    relato por mltiplos informantes, alm de outros procedimentos como observao direta ou

    testagem neuropsicolgica para o estabelecimento de um perfil cognitivo para auxiliar no

    processo de avaliao.

    Palavras Chave: TDAH, Mltiplos Informantes, CBCL, TRF, YSR.

  • ABSTRACT

    RIBEIRO, A. F. Comparisons of behavior pattern referred by multiple informants and

    neuropsychological performance in the characterization of inattention and hyperactivity in

    adolescents, 2014. 96 p. Dissertao (Mestrado em Distrbios do Desenvolvimento) do

    Programa de Ps-Graduao da Universidade Presbiteriana Mackenzie. So Paulo, 2014.

    Attention Deficit Disorder and Hyperactivity (ADHD) is characterized by a pattern of

    persistent inattention and/ or hyperactivity that it is more severe than normally observed in

    individuals with an equivalent level of development. It is a disorder in which the symptoms

    are varied and may interfere in different degrees according to the environment in which the

    individual is inserted. The identification of the signs of this disorder must take into

    consideration an assessment of the neuropsychological functions and of the behavioral

    indicators, preferably from multiple informants such as parents or guardians, teachers and the

    adolescent itself. This project aims to identify the main agreements relating to the behaviors

    of adolescents complaining of symptoms of ADHD observed by multiple informants, and

    correlate them to their performance on neuropsychological tests. It was used the inventories

    CBCL/6-18, TRF/6-18 and YSR/11-18 belonging to the Achenbach System of Empirically

    Based Assessment (ASEBA) and WISC-III, Wisconsin and the Concentrated Attention Test

    (AC). Twenty adolescents participated in this study aged between 11 and 16 years, divided

    into two groups, ten with diagnostic (ADHD group) and ten without ADHD (control group).

    All participants were part of the protocol of neuropsychological, behavioral and clinical

    assessment to identify signs of inattention and hyperactivity/ impulsivity of the

    Developmental Disorders Post-Graduation Program at Mackenzie Presbyterian University.

    The results for the concordance rates in the answers provided by multiple informants in the

    correlation between CBCL versus TRF, CBCL versus YSR and TRF versus YSR, through

    values of reference (Q corr), according to the ADM program version 7, were high for both

    groups. In the comparison of the scales of Internalizing, Externalizing and Total Problems in

    function of the groups and instruments, as much as for the scales of problems of attention and

    attention deficit disorder and hyperactivity, it was observed in the ADHD group that the

    parents reported more problems than the teachers and in the control group the teachers

    reported significantly greater number of problems. In the comparison of the scales of Sluggish

    Cognitive Tempo in function of the groups and instruments it was verified that the parents

    also perceive more alterations in the behavior in different instruments constituents of this

    scale than the teachers. Regarding to correlations of neuropsychological tests and behavioral

    indicators of problems of behavior in different instruments, no significant differences were

    observed. It is therefore concluded the need to compose procedures of assessment of people

    with the complaint of ADHD with different reporting instruments by multiple informants,

    besides other procedures such as direct observation or neuropsychological testing for the

    establishment of a cognitive profile as an aid in the process of assessment.

    Keywords: ADHD, multiple informants, CBCL, TRF, YSR.

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 DSM-IV-TR e DSM-5, classificao diagnstica do TDAH.__________

    26

    Quadro 2 Subtestes que permitem calcular o QIV (CUNHA, 2000)______________

    50

    Quadro 3 Subtestes que permitem calcular o QIE (CUNHA, 2000)._____________

    51

    Quadro 4 Descrio do primeiro encontro com o pais/responsveis e com as

    crianas e/ou adolescentes. _____________________________________

    54

    Quadro 5 Descrio do segundo encontro com o pais/responsveis e com as

    crianas e/ou adolescentes.______________________________________

    55

    Quadro 6 Descrio do terceiro encontro com o pai/responsveis e com as crianas

    e/ou adolescentes..____________________________________________

    56

    Quadro 7 Descrio do quarto encontro com o pais/responsveis: Devolutiva e

    encaminhamento._____________________________________________

    57

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Caracterizao dos participantes do grupo com diagnstico de TDAH.___

    42

    Tabela 2 Caracterizao dos participantes do grupo controle.__________________

    43

    Tabela 3 Anlise comparativa dos padres de respostas dos comportamentos dos

    participantes do grupo com diagnstico do TDAH - Pais x Professores

    (CBCL X TRF), Pais x Adolescentes (CBCL X YSR) e Professores x

    Adolescentes (TRF X YSR).__________________________________

    61

    Tabela 4 Anlise comparativa dos padres de respostas dos comportamentos dos

    participantes do grupo Controle - Pais x Professores (CBCL X TRF), Pais

    x Adolescentes (CBCL X YSR) e Professores x Adolescentes (TRF X

    YSR)._______________________________________________________

    62

    Tabela 5 Descrio dos Problemas Internalizantes, Externalizantes e Problemas

    Totais em funo dos relatos do CBCL, TRF e YSR, para o grupo com

    diagnstico do

    TDAH._____________________________________________________

    64

    Tabela 6 Descrio dos Problemas Internalizantes, Externalizantes e Problemas

    Totais em funo dos relatos do CBCL, TRF e YSR, para o grupo

    Controle._____________________________________________________

    65

    Tabela 7 Resultados da ANOVA para comparao dos grupos estudados em funo

    dos instrumentos e das Escalas de Problemas (Internalizantes;

    Externalizantes e Totais).________________________________________

    66

    Tabela 8 Descrio dos escores T dos Problemas de Ateno e dos Problemas de

    TDAH, em funo dos relatos do CBCL, TRF e YSR para o grupo com

    diagnstico do TDAH.__________________________________________

    71

    Tabela 9 Descrio dos escores T dos Problemas de Ateno e dos Problemas do TDAH, em funo dos relatos do CBCL, TRF e YSR, para o grupo controle.___________

    72

    Tabela 10 Resultados da ANOVA para comparao dos grupos estudados em funo

    dos instrumentos e das Escalas (Problemas de ateno e Problemas de

    dficit de ateno e hiperatividade)._______________________________

    73

    Tabela 11 Descrio dos escores T dos Comportamentos Opositores Desafiantes e

    Problemas de Conduta em funo dos relatos do CBCL, TRF e YSR, para

    o grupo com diagnstico do TDAH._______________________________

    77

    Tabela 12 Descrio dos escores T dos Comportamentos Opositores Desafiantes e

    Problemas de Conduta em funo dos relatos do CBCL, TRF e YSR, para

    o grupo controle.______________________________________________

    78

    Tabela 13 Resultados da ANOVA para comparao dos grupos estudados em funo

    dos instrumentos e das Escalas (Problemas de Opositores Desafiantes e

  • Problemas de Conduta)._________________________________________

    78

    Tabela 14 Descrio dos escores T das Escala Ritmo Cognitivo Lento em funo dos

    relatos do CBCL, TRF e YSR, para o grupo TDAH e grupo controle._____

    80

    Tabela15 Resultados da ANOVA para comparao dos grupos estudados em funo

    dos instrumentos e das Escala (Ritmo Cognitivo Lento)._______________

    80

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Escore padronizado (T) em funo das escalas de problemas

    (Internalizantes; Externalizantes e Totais), para os grupos estudados

    (TDAH e Controle)___________________________________________

    67

    Grfico 2 Escore padronizado (T) em funo dos diferentes instrumentos de

    avaliao comportamental (CBCL, TRF e YSR) para as escalas de

    problemas Internalizantes, Externalizantes e Totais, dos grupos estudados

    (TDAH e Controle).___________________________________________

    67

    Grfico 3 Escore padronizado (T) em funo dos diferentes instrumentos de

    avaliao comportamental (CBCL, TRF e YSR) para as escalas de

    problemas Internalizantes, Externalizantes e Totais dos grupos estudados

    (TDAH e Controle).___________________________________________

    69

    Grfico 4 Escore padronizado (T) em funo das Escala de Problemas de ateno e

    de Problemas de dficit de ateno e hiperatividade, para os grupos

    estudados (TDAH e Controle).__________________________________

    73

    Grfico 5 Escore padronizado (T) em funo dos diferentes instrumentos de

    avaliao comportamental (CBCL, TRF e YSR) para as Escala de

    Problemas de ateno e de Problemas de dficit de ateno e

    hiperatividade dos grupos estudados (TDAH e Controle)______________

    74

    Grfico 6 Escore padronizado (T) em funo dos diferentes instrumentos de

    avaliao comportamental (CBCL, TRF e YSR) para as Escala de

    Problemas de ateno e de Problemas de dficit de ateno e

    hiperatividade dos grupos estudados (TDAH e

    Controle).___________________________________________________

    75

    Grfico 7 Escore padronizado (T) em funo dos diferentes instrumentos de

    avaliao comportamental (CBCL e TRF) para a Escala Ritmo Cognitivo

    Lento, dos grupos estudados (TDAH e Controle). __________________

    81

    Grfico 8 Resultados dos testes do WISC III em funo dos escores/ndices

    avaliados no QI verbal, QI execuo, QI total e ndices especficos CV,

    OP, RD,VP, para os grupos estudados (TDAH e controle).____________

    83

    Grfico 9 Resultados do teste ateno concentrada-AC em funo dos ndices

    avaliados Acertos, Erros, Omisses e Pontos, para os grupos estudados

    (TDAH e controle).___________________________________________

    83

    Grfico 10 Resultados do teste Wisconsin em funo dos ndices: Nmero de ensaios,

    Total correto, Total de erros, Respostas perseverativas, Erros

    perseverativos, Erros no-perseverativos, Respostas de nvel conceitual,

    Nmero de categorias completadas, Ensaio para completar a primeira

    categoria e Fracasso em manter o contexto, para os grupos estudados

    (TDAH e controle)___________________________________________

    84

  • LISTA DE SIGLAS

    AC

    Teste de Ateno Concentrada

    ADM Assessment Data Manager 7.2

    ASEBA Sistema de Avaliao Baseado em Evidncia do Achenbach

    CID-10 Classificao Internacional de Doenas

    CTT Color Trail, Test

    DSM-IV-TR Manual Diagnstico e Estatstico dos Transtornos Mentais 4 edio

    Revisada

    FE Funes Executivas

    MO Memria Operacional

    PPG-DD Programa de Ps-Graduao em Distrbios do Desenvolvimento

    QIE Quociente Intelectual de Execuo

    QIEC Quociente Intelectual da escala completa

    QIV Quociente Intelectual Verbal

    RCL Ritmo Cognitivo Lento

    TC Transtorno de Conduta

    TDAH Transtorno de Dficit de Ateno e Hiperatividade

    TDO Transtorno Desafiador Opositivo

    TRF/6-18 Inventrio de Comportamentos para Crianas e Adolescentes entre

    06 e 18 anos (TRF/6-18) - Teachers Report Form for Ages 6-18.

    UPM Universidade Presbiteriana Mackenzie

    YSR/11-18 Inventrio de Auto-avaliao para Jovens entre 11 e 18 anos

    (YSR/11-18) - Youth Self Report - For Ages 11-18.

    WCST Teste Wisconsin de Classificao de Cartas

    WISC-III Escala de Inteligncia Wechsler para crianas

  • SUMRIO

    1. INTRODUO_____________________________________________________ 17

    2. FUNDAMENTAO TERICA______________________________________ 20

    2.1. Consideraes Histricas Sobre o TDAH______________________________ 20

    2.2. Epidemiologia do TDAH___________________________________________ 21

    2.3. Caracterizao do TDAH __________________________________________ 24

    2.4. Funcionamento Cognitivo e Avaliao Neuropsicolgica no TDAH_________ 27

    2.5. Comparao do Padro Comportamental Respondido por Mltiplos

    Informantes_________________________________________________________

    31

    3. JUSTIFICATIVA__________________________________________________ 39

    4. OBJETIVOS______________________________________________________ 40

    4.1. Geral__________________________________________________________ 40

    4.2. Especficos______________________________________________________ 40

    5. MTODO________________________________________________________ 41

    5.1. Local e Realizao do Estudo_______________________________________ 41

    5.2. Participantes_____________________________________________________ 41

    5.3. Critrios de Incluso e Excluso____________________________________ 42

    5.4. Aspectos ticos_________________________________________________ 43

    5.5. Instrumentos____________________________________________________ 43

    5.5.1. Instrumentos para Caracterizao do Perfil Comportamental______ 44

    5.5.2. Instrumentos para Caracterizao Cognitiva_____________________ 49

    5.5.3. Instrumento de Apoio________________________________________ 53

    5.6. Procedimentos para Coleta de Dados_________________________________ 53

    6. ANLISE DOS DADOS______________________________________________ 58

    7. RESULTADOS E DISCUSSO_______________________________________ 59

    7.1. Resultados dos Testes Comportamentais_______________________________ 60

    7.1.1. Concordncia Entre os Instrumentos CBCL/6-18, TRF/6-18 e

    YSR/11-18_______________________________________________________

    60

    7.1.2. Comparao das escalas de Problemas Internalizantes,

    Externalizantes e Totais em funo dos grupos e

    instrumentos_____________________________________________________

    63

  • 7.1.3. Comparao das escalas de Problemas de ateno e Problemas de

    dficit de ateno e hiperatividade em funo dos grupos e

    instrumentos_____________________________________________________

    70

    7.1.4. Comparao das escalas de Problemas de oposio e desafio e

    problemas de conduta em funo dos grupos e instrumentos_____________

    76

    7.1.5. Comparao das escalas de Pensamento Cognitivo Lento em funo

    dos grupos e instrumentos__________________________________________

    79

    7.2. Resultados dos Testes Neuropsicolgicos______________________________ 82

    8. CONCLUSES____________________________________________________ 86

    9. REFERNCIAS___________________________________________________ 88

    10. ANEXOS_________________________________________________________ 96

  • 18

    1. INTRODUO

    O Transtorno de Dficit de Ateno e Hiperatividade (TDAH) um problema de sade

    mental caracterizado por comportamentos relacionados desateno, hiperatividade e

    impulsividade, mais frequente e grave do que o tipicamente observado em pessoas no mesmo

    nvel de desenvolvimento. Os problemas de comportamento associados ao TDAH devem

    aparecer em pelo menos dois dos seguintes contextos: no ambiente social, acadmico e/ou

    ocupacional (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002). Crianas e adolescentes

    com TDAH frequentemente apresentam comportamentos impacientes e agitados, e podem se

    tornar socialmente inadequados. O quadro sintomatolgico caracterstico do TDAH

    comumente acarreta prejuzos acadmicos, psicossociais e familiares (MASSETTI et al.,

    2008; LYRA et al., 2009).

    Para identificar os sintomas associados ao TDAH so necessrias avaliaes clnica,

    neuropsicolgica e comportamental. A investigao do transtorno, no geral, utiliza-se dos

    Critrios Internacionais de Doenas e Problemas Relacionados Sade, por meios do CID-10

    - Classificao Internacional de Doenas, publicada pela Organizao Mundial de Sade

    (OMS, 1993) e do DSM-IV-TR - Manual Diagnstico e Estatstico dos Transtornos Mentais

    4 edio Revisada de acordo com a Associao Americana de Psiquiatria (APA, 2002),

    sendo as diretrizes desses manuais fundamentais para o processo de avaliao clnica-

    comportamental (RIZZO, 2008; ROHDE; HALPERN, 2004; BARKLEY, 2002). Entretanto,

    ainda hoje profissionais da sade encontram dificuldades para diagnosticar indivduos com

    sinais de desateno e hiperatividade, principalmente na presena de dficits cognitivos,

    transtornos invasivos do desenvolvimento e transtornos de aprendizagem (SOUZA et al.,

    2007).

    O TDAH vem acompanhado, com frequncia, de outros transtornos. A presena de

    comorbidades ocorre em 30% a 50% dos casos, uma vez que pode haver a ocorrncia

    concomitante de sintomas psicopatolgicos, tais como o Transtorno de Conduta (TC),

    Transtorno Desafiador Opositivo (TDO), Transtorno de Ansiedade Generalizada, Transtornos

    de Humor e Depresso, dificultando o diagnstico (MANUZZA et al., 2008; STEELE;

    JENSEN; QUINN, 2006; SOUZA; PINHEIRO; MATTOS, 2005; ROHDE; HALPERN,

    2004; SERRA-PINHEIRO et al., 2004).

    Rohde e Halpern (2004) apontaram a necessidade de contextualizar os sintomas na

    histria de vida da pessoa para observar sinais que indicam a presena do TDAH. indicado,

    tambm, verificar o perodo de sintomatologia intensa do TDAH; quando comearam as

  • 19

    dificuldades e a frequncia e a intensidade dos sintomas para oferecer-lhes um plano

    apropriado de interveno.

    Grigorenko e colaboradores (2010) consideram importante, na identificao de

    transtornos, uma investigao epidemiolgica, com mtodos avaliativos e diferentes

    informantes na caracterizao dos problemas de comportamento. Alguns estudos apontam o

    sistema ASEBA (Achenbach System of Empirically Based Assessment), como o melhor

    caminho para investigar problemas de comportamento de crianas e adolescentes

    (WIELEWICK; GALLO; GROSSI, 2011; SALBACH- ANDRAE; LENZ; LEHMKUHL,

    2009; ACHENBACH; RESCORLA, 2004; 2001). So mltiplos formulrios de avaliaes

    por meio de diferentes informantes que compe esse sistema, no entanto, os que esto

    associados mais infncia e adolescncia so: o CBCL/6-18 (Inventrio de

    Comportamentos Respondido pelo Pai/Me/Responsvel), o TRF/6-18 (Inventrio de

    Comportamentos Respondido pelo Professor) e o YSR/11-18 (Inventrio de Comportamentos

    respondido pelo Prprio Adolescente) (ACHENBACH; RESCORLA, 2004; 2001). Os

    mesmos permitem verificar o perfil de funcionamento adaptativo e os problemas de

    comportamento.

    A traduo desses instrumentos foi padronizada para a populao brasileira e esto

    sendo utilizadas em diversos estudos para efetivar a sua validao no Brasil. Esses inventrios

    so considerados ferramentas teis para estudos epidemiolgicos, tanto de corte transversal

    quanto para estudos de acompanhamentos (BORDIN et al., 2013). Rocha e colaboradores

    (2010) sugerem que uma avaliao feita por mltiplos informantes seja uma fonte

    investigativa relevante, independentemente das divergncias entre as respostas dos CBCL/6-

    18, TRF/6-18 e YSR/11-18. Tais autores acreditam que conhecer os comportamentos em

    diferentes ambientes importante para ajudar no diagnstico e nas intervenes adequadas

    (ROCHA; FERRARI; SILVARES, 2010).

    Deste modo, a comparao dos relatos dos mltiplos informantes por meio destes

    inventrios pode ser um caminho de investigao que contribui para o processo de avaliao

    dos problemas de comportamento de crianas e adolescentes com queixa de desateno e

    hiperatividade/impulsividade. Os inventrios comportamentais podem ser uma ferramenta de

    avaliao de fcil acesso, culminando em elementos significativos que podem colaborar na

    investigao de comportamentos associados ao TDAH (AZEVDO, 2008).

    Alm dos mltiplos procedimentos de avaliao comportamental, o conhecimento sobre

    as alteraes cognitivas presentes nos quadros de desateno e hiperatividade/impulsividade

    tambm so importantes. Assim, a avaliao neuropsicolgica pode auxiliar no

  • 20

    estabelecimento de um perfil de funcionamento cognitivo, sendo um caminho importante para

    entender os prejuzos apresentados pelas crianas e adolescentes com TDAH (CARREIRO;

    TEIXEIRA; SCHWARTZMAN, 2011).

    O presente estudo faz parte de uma das linhas de pesquisa do Programa de Ps-

    Graduao em Distrbios do Desenvolvimento (PPG-DD), da Universidade Presbiteriana

    Mackenzie (UPM). Desde 2008, o PPG-DD desenvolve pesquisas com crianas e

    adolescentes com queixas de desateno e hiperatividade. Tais trabalhos envolvem avaliaes

    neuropsicolgica, comportamental e clnica, alm de intervenes individuais e em grupos

    para crianas e adolescentes e seus pais/responsveis, numa perspectiva multidisciplinar

    (CARREIRO; TEIXEIRA; SCHWARTZMAN, 2011).

    Com isso, o presente trabalho tem como finalidade comparar relatos de comportamento

    do adolescente com queixa de desateno e/ou hiperatividade/impulsividade, por meio de

    questionrios respondidos pelos pais/responsveis, pelos professores e pelos prprios

    participantes. Pela comparao desses relatos, pretende-se identificar a presena de problemas

    de comportamento associados s queixas de desateno e hiperatividade, avaliar a

    concordncia entre as respostas dos mltiplos informantes e correlacion-las ao desempenho

    nos testes utilizados na avaliao neuropsicolgica.

  • 21

    1. FUNDAMENTAO TERICA

    2.1. Consideraes Histricas Sobre o TDAH

    Durante a histria do TDAH, muito se discute sobre os possveis fatores que

    influenciam o transtorno. Quanto s investigaes da origem e expresso dos sintomas, a

    literatura aponta para alteraes no sistema nervoso central, fatores genticos e fatores

    ambientais. Evidncias da neuropsicologia, neuroimagem, neurofarmacologia e gentica

    indicam o envolvimento do circuito frontoestriatal dopaminrgico no crebro (ANDRADE et

    al., 2011).

    Caliman (2010) constata por meio de seus estudos que o

    [...] TDAH surgiu na literatura mdica na primeira metade do sculo XX, e,

    a partir de ento, foi batizada e rebatizada muitas vezes. Ela foi a criana

    com defeito no controle moral, a portadora de uma deficincia mental leve

    ou branda, foi afetada pela encefalite letrgica, chamaram-na simplesmente

    de hiperativa ou de hipercintica, seu crebro foi visto como moderadamente

    disfuncional, ela foi a criana com dficit de ateno e, enfim, a portadora do

    transtorno do dficit de ateno/hiperatividade (p.49).

    O primeiro trabalho publicado sobre o transtorno foi escrito pela primeira vez em 1798.

    Alexander Crichton apresentou os aspectos de desateno observados em adolescentes, que

    so extremamente semelhantes aos critrios indicados pelo DSM-IV-TR (PALMER;

    FINGER, 2001). Atualmente, Russell A. Barkley considerado uma das autoridades mais

    citadas no debate internacional sobre o TDAH. Na dcada de 90, ele considerava que o

    transtorno provinha de um dficit da inibio e da capacidade do autocontrole. O ponto

    central da anlise terica e histrica do TDAH, para Barkley, advm de um dficit

    neurofisiolgico do sistema inibitrio (CALIMAN, 2010). Barkley (1997) divulgou que sua

    ideia alusiva ao transtorno era compatvel aos trabalhos dos mdicos George Still, no incio

    do sculo XX, e Virgnia Douglas, na dcada de 70.

    Em 1902, George Still, pediatra ingls e professor de doenas infantis do Kings

    College Hospital, foi considerado um estudioso importante quando se pensa na histria do

    transtorno. Escreveu vrios livros sobre o comportamento infantil normal e patolgico e

    publicou a descrio mdica do TDAH. O TDAH foi conhecido por vrias nomenclaturas, no

    primeiro momento, foi chamado de dficit do controle moral, considerado uma condio

    biolgica e cerebral. Os pacientes expressavam comportamentos agressivos e desafiantes

    (CALIMAN, 2010; 2009). Em 1904, passou a chamar-se distrbio orgnico do

  • 22

    comportamento, devido especulao de uma possvel leso cerebral traumtica. No ano de

    1922, ficou conhecido como uma desordem Ps Encefaltica, que resulta em comportamentos

    de inquietao, desateno e impacincia. A partir de 1940, acreditava-se que o transtorno

    estava relacionado a uma leso cerebral mnima, ocasionando problemas de manuteno da

    ateno, da regulao do afeto, da atividade e da memria (SENA; SOUZA, 2008). No ano de

    1957, o transtorno foi divulgado como sndrome do impulso hipercintico, por acreditarem na

    existncia de uma leso cerebral precisa, mesmo que mnima. Em 1960, foi chamado de

    sndrome da criana hiperativa, baseada na hiptese da presena de um dficit

    neurofisiolgico (CALIMAN, 2010). Nesta mesma dcada, outras nomenclaturas surgiram,

    como Reaes Hipercintica da Infncia no DSM-II e sndrome hipercintica no CID 9

    (SENA; SOUZA, 2008). A partir do final da dcada de 70, o diagnstico, que era centrado na

    hiperatividade, passou a focar no sintoma da desateno, conhecido como dficit atencional, e

    no controle de impulsos (CALIMAN, 2010; SENA; SOUZA, 2008).

    Em 1980, surgiu pela primeira vez no DSM-III como Transtorno de Dficit de Ateno

    (TDA), no qual a doena foi dividida em dois tipos: TDA com hiperatividade e TDA sem

    hiperatividade. J em 1987, o DSM-III-R retornou a enfatizar a hiperatividade e alterou

    novamente a nomenclatura para Distrbio de Dficit de Ateno e Hiperatividade (SANTOS;

    VASCONCELOS, 2010). J no ano de 1994, o quarto volume do Manual Estatstico e

    Diagnostico de Doenas Mentais (DSM-IV), mudou a nomenclatura para Transtorno de

    Dficit de Ateno/Hiperatividade (TDAH). Neste mesmo perodo, foram publicados estudos

    referentes ao transtorno, o qual passou a ser reconhecido, principalmente nos Estados Unidos

    da Amrica. Aps essa compreenso, o tratamento do TDAH tornou-se uma necessidade

    vinculada gesto social e econmica de alguns pases, portanto, os indivduos passaram a ser

    protegidos por lei e recebem tratamento diferenciado na escola (CALIMAN, 2008). No DSM-

    5 de 2013, a definio e os critrios diagnsticos bsicos relativos edio anterior foram

    mantidos.

    2.2. Epidemiologia do TDAH

    O estudo Epidemiolgico utiliza um grupo de pessoas com perfil definido para estudar o

    problema de sade e a relao de causa-efeito ou causa-doena. Investiga a sade da

    populao e os efeitos motivados pelas intervenes de uma determinda doena

    (MEDRONHO, 2005). A partir dos levantamentos dos estudos epidemiolgicos, as polticas

    pblicas de sade e de educao podem se organizar para combater doenas e propor

  • 23

    intervenes apropriadas. Desta maneira, pode-se planejar a realizao de intervenes

    medicamentosas, psicoterpicas e psicopedaggicas (FLETCHER; FLETCHER; WAGNER,

    1991).

    Os estudos nacionais e internacionais realizados com crianas em idade escolar

    propem a prevalncia do TDAH entre 3% e 6%, (LOPES; ROSA; PINTO, 2012). Rohde e

    colaboradores (2000) encontraram prevalncia de 5,8% numa amostra de 1013 adolescentes,

    entre 12 a 14 anos, para o levantamento dos dados, utilizando o DSM-IV como critrio

    diagnstico para o TDAH. A predominncia do TDAH entre meninos e meninas varia

    aproximadamente de 2:1 em estudos populacionais, at 9:1 em estudos clnicos (FONTANA

    et al., 2007). Diversos outros estudos apontam que a hiperatividade mais frequente em

    meninos. Outros acreditam que as meninas apresentam mais dficit de ateno e menos

    transtorno de conduta, podendo ser considerado um fator explicativo na deteco mais tardia

    do problema para esse grupo. De modo geral, esses fatores poderiam contribuir para uma

    representao diminuda do sexo feminino e, consequentemente, diminui os ndices de

    prevalncia do transtorno desta populao (OLIVEIRA; ALBUQUERQUE, 2009;

    STALLER; FARAONE, 2006). Michanie e colaboradores (2007) encontraram propores

    equivalentes do transtorno entre adolescentes de ambos os sexos. Ou seja, acharam um

    equilbrio de 1:1 na prevalncia entre gneros do TDAH.

    A prevalncia estimada na populao geral do TDAH de 4% a 12%, na faixa de 6 a 12

    anos (POLNIO, 2009). Outro achado de reviso sistemtica indicou prevalncia de 6,48%

    em crianas e de 2,74% em adolescentes (SCHMITZ; POLANCZYK; ROHDE, 2007). No

    Brasil, alguns estudos indicaram taxas de 3% a 7% em crianas com sintomas do transtorno

    (PASTURA; MATTOS; ARAJO, 2007; SOUZA et al., 2001). Em recente pesquisa, do tipo

    seccional, realizada por Jacini (2012), com crianas escolares de rede pblica do ensino

    fundamental no municpio de Campinas, estimou-se a prevalncia de sintomas do quadro

    clnico em 566 (10,7%), numa amostra de 5282 crianas, entre 7 a 10 anos. O estudo

    demonstrou que o ndice de prevalncia de sintomas de TDAH compatvel com as taxas

    encontradas em outros estudos (JACINI, 2012).

    A variao encontrada nos estudos epidemiolgicos aponta prevalncia do quadro entre

    3% e 20%. A contestao dos resultados pode ser entendida pelos diferentes critrios

    metodolgicos utilizados nas pesquisas, pelos diagnsticos e pelo perfil da amostra, como,

    por exemplo, procedimento de seleo da amostra, idade dos participantes em diversos

    estudos, diferentes fontes de informantes, critrio de avaliao, escolha dos instrumentos de

  • 24

    coletas dados e escalas distintas de avaliao para determinar a taxa de prevalncia (JACINI

    2012; RIZZO, 2008; ROHDE; MATTOS, 2006).

    Por outro lado, quando se pensa nas comorbidades em indivduos com TDAH, a

    prevalncia encontrada e a gravidade do problema so preocupaes frequentes, mas nem

    sempre questionadas. No entanto, as comorbidades deste transtorno se mostram presentes em

    30% a 50% dos casos. Os sintomas do TDAH e as comorbidades a ele associadas podem

    contribuir, por exemplo, para o baixo desempenho escolar (HERNNDEZ, 2007;

    RAYMAEKERS et al., 2007; SCHATZ; ROSTAIN, 2006). A diversidade e prevalncia de

    transtornos comrbidos no TDAH deixa claro que no possvel ignorar seu impacto na

    avaliao clnica ou na constituio das amostras de investigao. Tais condies contribuem

    para contradies dos resultados e avaliaes (OLIVEIRA; ALBUQUERQUE, 2009;

    SCHATZ; ROSTAIN, 2006).

    Souza e colaboradores (2001) investigaram as comorbidades mais encontradas em

    crianas e adolescentes com diagnstico de TDAH. Eles observaram que o Transtorno ansioso

    (TA), Transtorno de oposio e desafio (TOD) e Transtorno de conduta (TC) foram os mais

    encontrados. Entretanto, notaram maior prevalncia do TC em relao ao TOD.

    Frequentemente, crianas e adolescentes com TDAH apresentam comportamentos agressivos

    e opositores, assim como baixa autoestima, o que pode explicar os sintomas depressivos

    (SOUZA et al., 2001).

    Estudos apontam que sintomas de ansiedade esto presentes em aproximadamente 25%

    dos indivduos com TDAH e tm sido considerados como um problema comum na criana e

    no adolescente com o transtorno. De maneira geral, apresentam irritabilidade e queda no

    rendimento escolar, podendo, em alguns casos, ficar apticos (MATTOS, 2011; SCHATZ;

    ROSTAIN, 2006). Frequentemente, essas crianas apresentam piores respostas aos estmulos

    externos e maiores chances de Transtornos do Humor e Transtornos de Ansiedade na

    adolescncia e/ou fase adulta (SOUZA et al., 2001). Alm disso, crianas e adolescentes com

    TDAH que tem como comorbidade o transtorno de ansiedade podem apresentar dificuldade

    no cumprimento de tarefas cognitivas complexas, aquelas que envolvem a memria de

    trabalho. A memria de trabalho envolve a capacidade de armazenar informaes que sero

    aproveitadas posteriormente. Muitas vezes, essas crianas e adolescentes so desorganizadas

    em seus pensamentos e na execuo de atividades dirias. De modo geral, possvel, tambm,

    perceber como comorbidade sintomas ansiosos em indivduos que enfrentam dificuldades em

    usar o tempo de modo adequado para a realizao de tarefas (BARKLEY, 2008; SCHATZ;

    ROSTAIN, 2006).

  • 25

    Quanto aos sistemas classificatrios atuais em psiquiatria infantil, os profissionais da

    sade possivelmente encontram dificuldade na realizao do diagnstico das comorbidades

    em indivduos com TDAH, uma vez que no abrangem a complexidade de quadros clnicos,

    tais como os observados na prtica clnica. As condies mais complexas, quando associadas

    aos sintomas de TDAH, envolvem o acompanhamento dos problemas relacionados aos

    dficits cognitivos globais e aos transtornos invasivos do desenvolvimento, assim como

    transtornos do aprendizado (SOUZA et al., 2007).

    2.3. Caracterizao do TDAH

    Segundo as classificaes do Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais

    DSM-IV-TR, o Transtorno de Dficit de Ateno e/ou Hiperatividade/Impulsividade (TDAH)

    caracterizado como um padro persistente de desateno e/ou hiperatividade e

    impulsividade, mais frequente e grave do que se comparado a indivduos da mesma faixa

    etria. Os sintomas surgem antes do sete anos e os problemas de comportamento associados

    ao transtorno devem estar presentes durante pelo menos 6 meses e em pelo menos dois

    contextos, incluindo dificuldades na escola, situaes de lazer e/ou no ambiente familiar

    (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002).

    A criana e adolescente com TDAH comumente encontram dificuldade para selecionar

    um estmulo e manter o foco nas atividades propostas. Dentro do comportamento desatento, o

    indivduo frequentemente deixa de prestar ateno a detalhes, comete erros por descuido nas

    tarefas escolares e nas atividades de lazer, encontram dificuldades para acompanhar

    instrues e concluir seus deveres, uma vez que se distrai com facilidade a estmulos alheios.

    Com frequncia apresentam tarefas confusas e inadequadas (AMERICAN PSYCHIATRIC

    ASSOCIATION, 2002).

    Com relao ao comportamento hiperativo, o indivduo pode se tornar inquieto, como,

    por exemplo, se remexer na cadeira e subir excessivamente em coisas quando isso

    inapropriado ao ambiente, devido ao fato de no conseguir permanecer tranquilo quando

    deveria. Com frequncia tem dificuldade em brincar ou ficar em silncio em atividades

    escolares e lazer. Segundo o DSM-IV-TR, a criana com TDAH, em idade escolar, com

    frequncia expe comportamentos similares, mas com menor frequncia e intensidade que

    bebs e pr-escolares. Por outro lado, o comportamento hiperativo para os adolescentes e

    adultos se mostra diferente das crianas e dos bebes, mas ainda assim possvel perceber

    inquietude e dificuldade para se envolver em atividades tranquilas e sedentrias (ROHDE;

  • 26

    HALPERN, 2004; AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2002). Considerando os

    aspectos expostos, a criana e adolescente hiperativo, portanto, so frequentemente

    consideradas inconvenientes, uma vez que conversam demais, falam alto e demonstram

    dificuldades para reduzir o comportamento de acordo com o ambiente. Com frequncia

    evidenciam uma inibio pobre em todos os comportamentos em que h probabilidade de

    recompensa imediata (ANDRADE; FLORES-MENDONZA, 2010).

    Em relao aos sintomas impulsivos, indivduos frequentemente sofrem acidentes, uma

    vez que se envolvem em atividades perigosas sem considerar as possveis consequncias de

    seus atos. Os sintomas pioram quando exigem ateno ou esforo mental constante. No

    entanto, os sinais dos comportamentos impulsivos podem ser nfimos quando o indivduo est

    sob controle rgido ou durante uma atividade interessante. Esses comportamentos podem

    variar de acordo com a idade e de acordo com seu nvel de desenvolvimento. O adolescente e

    o adulto impulsivo, frequentemente, so impacientes, fazem comentrios imprprios,

    interrompem e se intrometem em assuntos alheios (AMERICAN PSYCHIATRIC

    ASSOCIATION, 2002). O trabalho de Graeff e Vaz (2008) permite deduzir que os aspectos

    relacionados impulsividade so caracterizados pela ao sem o controle racional, portanto,

    frequentemente as crianas fazem o que querem e o que lhes vm cabea. Conclui-se, deste

    modo, que elas se envolvem em brincadeiras perigosas, correndo um risco maior de se ferirem

    e tambm de agridem colegas quando frustradas (GRAEFF; VAZ, 2008). Alm disso, o

    TDAH considerado um dos distrbios de comportamento mais comuns na infncia, gerando

    grande preocupao entre pais e professores. Com frequncia pessoas com TDAH encontram

    dificuldade em privilegiar um foco e sustent-lo com nvel suficiente de ateno, assim como

    modular nveis de atividade cognitiva e, em alguns casos, controlar comportamentos

    impulsivos (ANDRADE et al., 2011; GOMES et al., 2007). De modo geral, o TDAH no est

    associado a dficit intelectual, mas existe um comprometimento nas habilidades referente ao

    direcionamento e manuteno da ateno para executar ou concluir determinadas tarefas,

    contribuindo assim, para um baixo rendimento escolar (ARAJO, 2012).

    Ainda no que se refere aos sistemas de classificao, o TDAH pode apresentar-se de

    diversas maneiras e condies de comprometimento em cada indivduo. Contudo, leva-se em

    consideraes trs subtipos para o diagnstico (de acordo com o DSM-IV): combinado,

    predominantemente desatento e predominantemente hiperativo/impulsivo. O subtipo

    combinado marcado pela presena de seis ou mais sintomas por um perodo de seis meses

    ou mais de desateno, e seis ou mais sintomas de hiperatividade/impulsividade. o mais

    observado na maioria das crianas e adolescentes com o transtorno. Por outro lado, o subtipo

  • 27

    predominantemente desatento caracterizado pela presena de seis ou mais sintomas de

    desateno, com pouca presena dos sintomas de hiperatividade/ impulsividade, e deve

    manter-se por um perodo de seis meses ou mais. J o subtipo predominantemente

    hiperativo/impulsivo caracterizado pela presena de seis ou mais sintomas de

    hiperatividade/impulsividade, com pouca presena dos sintomas de desateno, sendo que,

    deve se manter por um perodo de seis meses ou mais (ANDRADE et al., 2011; AMERICAN

    PSYCHIATRIC ASSOCIATION , 2002).

    O quadro 1 a seguir apresenta critrios para avaliao clnica, baseadas no DSM-IV-TR,

    para verificar problemas de comportamento relacionados ao TDAH. O quadro oferece nove

    questes relacionadas a problemas de comportamento de desateno, seis questes de

    hiperatividade e trs de impulsividade (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION,

    2002).

    Quadro 1: DSM-IV-TR e DSM-5 , classificao diagnstica do TDAH.

    DESATENO

    (a) com frequncia deixa de prestar ateno a detalhes ou comete erros por descuido em

    atividades escolares, de trabalho ou outras;

    (b) com frequncia tem dificuldades para manter a ateno em tarefas ou atividades ldicas;

    (c) com frequncia parece no escutar quando lhe dirigem a palavra;

    (d) com frequncia no segue instrues e no termina seus deveres escolares, tarefas

    domsticas ou deveres profissionais (no devido ao comportamento de oposio ou

    incapacidade de compreender instrues);

    (e) com frequncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividades;

    (f) com frequncia evita, antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijam esforo

    mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa);

    (g) com frequncia perde coisas necessrias para tarefas ou atividades (por ex., brinquedos,

    tarefas escolares, lpis, livros ou outros materiais);

    (h) facilmente distrado por estmulos alheios tarefa;

    (i) com frequncia apresenta esquecimento em atividades dirias;

    HIPERATIVIDADE

    (a) com frequncia agita as mos ou os ps ou se remexe na cadeira;

    (b) com frequncia abandona sua cadeira em sala de aula ou em outras situaes nas quais se

    espera que permanea sentado;

    (c) com frequncia corre ou escala em demasia, em situaes nas quais isto inapropriado

    (em adolescentes e adultos, pode estar limitado a sensaes subjetivas de inquietao);

  • 28

    (d) com frequncia tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em

    atividades de lazer;

    (e) est frequentemente "a mil" ou muitas vezes age como se estivesse "a todo vapor;

    (f) com frequncia fala em demasia;

    IMPULSIVIDADE

    (g) com frequncia d respostas precipitadas antes das perguntas serem completadas;

    (h) com frequncia tem dificuldade para aguardar sua vez;

    (i) com frequncia interrompe ou se mete em assuntos de outros (por ex., intromete-se em

    conversas ou brincadeiras).

    A edio do DSM-5 foi publicada em maio de 2013, incluindo algumas mudanas nos

    critrios de diagnsticos do TDAH. Na quinta edio possvel identificar sintomas de

    TDAH, caso haja um quadro de Autismo. Outra mudana se refere avaliao dos adultos, o

    nmero para identificar os sintomas de desateno e/ou hiperatividade/impulsividade passou

    para cinco ou mais dos itens relacionados aos 18 critrios de identificao, sendo que,

    anteriormente, era necessrio identificar seis ou mais sintomas. Outra mudana relevante foi

    referente ao critrio que determina a idade do incio dos sintomas. No DSM-IV-TR, a

    presena dos sintomas deve surgir antes dos 7 anos, j no DSM-V, aos 12 anos. O termo

    subtipos foi substitudo por apresentao, significando, assim, que o perfil de sintomas

    atuais pode se modificar com o tempo. Entretanto, mantm as mesmas categorizaes, com

    predomnio de desateno, de hiperatividade/impulsividade e combinado. Outra mudana

    significativa na quinta edio possibilita classificar o TDAH em Leve, Moderado e Grave, de

    acordo com o grau de comprometimento que os sintomas causam na vida do indivduo

    (MATTOS, 2013).

    2.4. Funcionamento Cognitivo e Avaliao Neuropsicolgica no TDAH

    Alguns estudos demostram a importncia de buscar mtodos possveis para se estudar a

    ateno e as suas alteraes no campo das cincias cognitivas e da neurocincia (CARREIRO,

    HADDAD; BALDO, 2012; 2011; CARREIRO, 2003). A ateno se refere capacidade que o

    indivduo tem para obter informaes sobre o mundo e como organiza suas respostas aos

    estmulos que os rodeiam (CARREIRO; TEIXEIRA, 2012). A ateno importante para que

    o indivduo seja capaz de focar em um determinando momento no estmulo por ele

    selecionado. Deste modo, os processos de ateno permitem o organismo lidar com a grande

  • 29

    quantidade de informao que um determinado ambiente emite, elegendo, assim, apenas

    alguns estmulos para processa-los de modo mais eficaz, desprezando os outros (BOLFER,

    2009; DINIZ et al., 2008; HALPERIN, 1991).

    A ateno pode ser definida de diferentes maneiras. Apesar de haver divergncia quanto

    terminologia, existem trs nveis de ateno consensualmente aplicada: seletiva, sustentada

    e alternada (BOLFER, 2009; BARON, 2004). A ateno seletiva refere-se capacidade de

    analisar os estmulos que so recebidos, possibilitando ao indivduo selecionar os mais

    relevantes na presena de outros distratores, tanto estmulos internos, quanto externos, ou

    seja, envolve a habilidade de filtrar as informaes mais importantes, desprezando outras e

    processando-as de modo consciente. J na ateno sustentada, o indivduo tem capacidade de

    processar a informao e manter o foco durante as atividades prolongadas. Essa habilidade

    permite que o indivduo consiga manter sua ateno de forma estvel e continuar durante um

    longo perodo de tempo em uma atividade (COUTINHO; MATTOS; ABREU, 2010;

    NAHAS; XAVIER, 2004; SARTER; GIVENS; BRUNO, 2001). Por fim, a ateno alternada

    refere-se mudana de foco entre diferentes atividades com nveis de exigncia de

    compreenso variada. considerada uma capacidade de flexibilidade mental, uma vez que

    permite ao indivduo mudar a ateno de um determinado assunto e passar para outro com

    maior exigncia cognitiva (BOLFER, 2009; BARON, 2004).

    Considera-se que indivduos com TDAH frequentemente apresentam comportamentos

    de esquecimento, desorganizao mental, dificuldade do controle motor e dificuldade de

    sustentar ateno em atividades por um curto perodo de tempo. Esses sintomas podem estar

    associados a alteraes nos circuitos relacionados s reas pr-frontais em associao ao lobo

    parietal, causando prejuzos tambm memria operacional (MO) e motivao (BOLFER,

    2009, ALLOWAY et.al., 2009; DIAMOND, 2005). De acordo com Bolfer (2009), pessoas

    com TDAH apresentam piores resultados, comparados aos indivduos sem o transtorno, para

    manter o foco em atividades continuas e repetitivas. As crianas e adolescentes com TDAH,

    no conseguem manter eficincia atencional apropriada durante uma atividade de leitura,

    prejudicando assim, sua compreenso e interpretao de um texto (BOLFER, 2009).

    O indivduo com TDAH apresenta dificuldades em inibir uma resposta e, muitas vezes,

    responde de forma precipitada, sem esperar as instrues de comando. O desenvolvimento

    cognitivo e emocional desses indivduos pode ser prejudicado pela dificuldade em manter os

    nveis necessrios de ateno nas tarefas solicitadas. Muitas vezes, eles dependem de uma

    fonte externa de motivao para conseguirem direcionar e executar as atividades propostas

    (BARKLEY, 2008; 2002). possvel observar que as crianas e os adolescentes que tendem a

  • 30

    apresentar baixo rendimento escolar, geralmente so impacientes, desatentos, impulsivos,

    desafiadores e, s vezes, agressivos. De modo geral, so agitados e no prestam ateno a

    detalhes, se distraem com facilidade por causa de estmulos irrelevantes. Portanto, o TDAH

    caracterizado por uma srie de sintomas, nem sempre claros ou facilmente distinguveis, de

    outros transtornos psiquitricos (BENCZIK, 2002).

    Alguns estudos apontam que as regies alteradas do crebro de um indivduo com

    TDAH esto relacionadas ao lobo frontal, especialmente o crtex pr-frontal, conexes

    fronto-estriatais, reas lmbicas e cerebelares que causam dficit no controle inibitrio. Os

    sistemas neuroqumicos responsveis so os neurotramissores dopamina e norepinefrina

    (BIEDERMAN, 2005; PHELAN, 2005; BARKLEY, 2002). De modo geral, no existe um

    consenso cientfico conciso sobre as causas do TDAH. Contudo, as hipteses mais

    consistentes que foram levantadas por pesquisadores interessados no assunto so aquelas que

    envolvem as circuitarias e sistemas de neurotransmisso descritos anteriormente.

    No estudo de Kolb e Whishaw (2002), o lobo frontal parece associar-se ao processo

    seletivo da ateno. O estudo sugere que o crtex de associao frontal responsvel pelas

    habilidades que o indivduo tem para dirigir com flexibilidade a ateno ao seu foco de

    interesse. Tais autores sugerem que tendo uma leso nesta regio, o indivduo pode apresentar

    dficit de ateno.

    Colaborando com a mesma ideia de Kolb e Whishaw (2002), Capovilla, Assef e Cozza

    (2007) ressaltam a possibilidade de alteraes nas funes executivas (FE) e no crtex pr-

    frontal estarem associadas ao Transtorno de Dficit de Ateno e Hiperatividade, apesar das

    funes cognitivas estarem preservadas na sua maior parte, ou seja, as crianas e adolescentes

    exercem um bom desempenho em testes convencionais de inteligncia. No entanto,

    apresentam dificuldades em iniciar uma tarefa, planeja-las e conduzi-las de modo sequencial a

    um objetivo de maneira eficiente (CAPOVILLA; ASSEF; COZZA, 2007). O trabalho de

    Capovilla, Assef e Cozza (2007) permite observar dois estudos brasileiros associados s

    alteraes nas FE e crtex pr-frontal, relacionados ao TDAH. Os estudos investigaram a

    validade de instrumentos para avaliar os componentes das funes executivas em crianas e

    correlaciona-los a alguns comprometimentos dessas funes no TDAH. No primeiro estudo

    realizado por Cozza, observaram correlaes significativa entre percentis na Escala de Dficit

    de Ateno e Hiperatividade e medidas dos Testes de Trilhas, Torre de Londres, Memria de

    Trabalho Auditiva e Visual. Os dados possibilitaram destacar que os testes fornecem

    evidncias de validade concorrente na identificao de crianas com sintomas de desateno e

    hiperatividade. Por outro lado, no houve correlaes com Testes de Stroop e de Gerao

  • 31

    Semntica, que avaliam a ateno seletiva e o controle inibitrio, possivelmente porque no

    foi computado o tempo de reao. J o segundo estudo realizado por Assef para compreender

    mais detalhadamente a relao entre os componentes das funes executivas e o TDAH,

    mostrou que crianas e adolescentes com TDAH apresentam baixo desempenho nos Testes de

    Gerao Semntica, Stroop e Trilhas. Pode-se deduzir dos estudos evidncias de validade

    desses instrumentos, revelando comprometimento de alguns componentes das FE em

    indivduos com TDAH (CAPOVILLA; ASSEF; COZZA 2007).

    O indivduo com comprometimento nas FE tem dificuldade para engajar-se em

    comportamentos orientados a um plano alvo, ou seja, realizar aes voluntrias, auto

    organizadas e orientadas com metas especficas. De modo geral, ainda h poucos estudos

    cientficos nacionais e internacionais que investigaram o funcionamento cognitivo de

    indivduos com altas habilidades, especialmente em torno das funes executivas (GODOY et

    al., 2010).

    Compreender as quatro FE pode ser um caminho para entender o funcionamento do

    indivduo com TDAH. A primeira FE refere-se memria de trabalho, essa permite o

    armazenamento provisrio de informao. Na ausncia de pistas externas, os indivduos

    encontram dificuldades para manter a informao e usa-la posteriormente quando for

    solicitada. A segunda FE se refere autorregulao do afeto, ligado a separao da carga

    emocional do contedo de um evento. O indivduo se depara com a dificuldade em controlar o

    comportamento motor. A internalizao do discurso a terceira FE, a qual diz respeito

    incapacidade do indivduo em organizar-se para o adiamento do processo decisrio de uma

    resposta e encontrar instrues autodirigidas importantes para o autocontrole. A quarta FE

    refere-se reconstituio, est relacionada ao controle inibitrio, ou seja, habilidade de inibir

    respostas concorrentes. De modo geral, o indivduo apresenta dificuldade em analisar o seu

    prprio comportamento e control-lo conforme o contexto (BARKLEY, 1997).

    Existe tambm outra linha de investigao que envolve a falta de concentrao, porm,

    ainda muito discutida essa relao com o TDAH. O Ritmo Cognitivo Lento (RCL)

    caracterizado por comportamentos de sonolncia: sonhar acordado, letargia, confuso mental

    e pensamento mais lento (ACHENBACH; RESCORLA, 2004; 2001). Atualmente est sendo

    bastante discutido como um distrbio da infncia e adolescncia. Estudo sugere que esses

    comportamentos esto relacionados ao Transtorno de Dficit de Ateno. Durante trinta anos,

    as pesquisas referentes ao RCL foram compreendidas como um conjuto de sintomas

    relacionados ao TDAH predominatemente desatento (BARKLEY, 2013; STEPHEN et

    al.,2013). Apesar disso, estudo recente tem direcionado o foco para outra linha de

  • 32

    investigao e levantado novas questes da distino entre o TDAH e RCL (STEPHEN et al.,

    2013). Barkley (2013) sugere mudana na nomenclatura prematura do termo dficit cognitivo

    quando se refere a condio do RCL, para o termo Transtorno de Dficit de Concentrao, e

    apoia a ideia da necessidade de mais pesquisas serem dirigidas a todos os aspectos da RCL,

    uma vez que envolve problemas de comportamento na fase do desenvolvimento infantil, que

    ainda no foi reconhecido como um distrbio psiquitrico. Esta circunstncia refora a

    importancia de mais pesquisas serem dirigidas a todos os aspectos da RCL, ou seja,

    levantamentos de dados demogrficos, correlatos, comorbidade, histria famliar, ,

    intervenes e riscos do curso de vida da criana e do adolescente e especialmente etiologias

    (BARKLEY, 2013).

    Apesar de alguns estudos apresentarem possveis reas comprometidas do crebro,

    correlacionando-as ao transtorno, no h posicionamento preciso sobre quais das habilidades

    executivas e dos subcomponentes atencionais encontram-se prejudicadas (GONALVES et

    al., 2013).

    Por fim, o TDAH um transtorno de desenvolvimento do autocontrole que consiste

    em problemas com ateno, controle do impulso e nvel de atividade, no est relacionado

    apenas a um estado temporrio de conduta de comportamento que ser superado e no falta

    de disciplina e controle parental (BARKLEY, 2002). Crianas e adolescentes com TDAH

    frequentemente encontram dificuldade para inibir comportamento, ou seja, possuem baixa

    tolerncia a espera, elevada necessidade de recompensa imediata e dficit na autorregulao

    (GODOY et al., 2010). A partir de alguns estudos foi possvel compreender o conceito das

    funes executivas e os comprometimentos que esto relacionados ao Transtorno de Dficit

    de Ateno e Hiperatividade/Impulsividade.

    2.5. Comparao do Padro Comportamental Respondido por Mltiplos Informantes

    De modo geral, importante compreender as relaes estabelecidas entre a criana e o

    meio em que ela se desenvolve. essencial entender o contexto familiar de uma criana com

    TDAH, as interaes entre os pais e seus filhos, que muitas vezes so mais estressantes do

    que nas famlias com crianas e adolescentes tpiocos. Os pais enfrentam dificuldades para

    manejar o comportamento de seus filhos, que podem se tornar mais difceis pelas

    caractersticas do TDAH.

    A passagem da infncia para adolescncia um caminho de muitas contradies. Os

    adolescentes com TDAH, em geral, encontram dificuldades no ajustamento sistemtica

  • 33

    escolar tradicional. Por outro lado, podem demostrar sensibilidade e criatividade para realizar

    determinadas tarefas (RANGEL; LOOS, 2011). O estudo de Rangel e Loos (2011) investigou

    as percepes de 21 adolescentes e jovens adultos com diagnstico de TDAH acerca do papel

    da escola em seu desenvolvimento. O estudo mostrou problemas de reprovaes, expulses e

    transferncias obrigatrias entre os participantes, bem como problemas de aprendizagem e de

    comportamentos. Os adolescentes apontaram que, com frequncia, eram rotulados de maneira

    pejorativa, contribuindo, assim, para percepes e crenas diminudas de suas capacidades.

    O ambiente escolar de suma importncia na vida de uma criana no seu processo de

    desenvolvimento, uma vez que ela interage e aprende com o outro, mas, tambm, neste

    contexto que os sintomas de TDAH so observados como um problema a ser tratado. No

    ambiente escolar a criana e o adolescente so expostos a vrias situaes em que os

    professores podem observar prejuzos, como a desateno, hiperatividade e impulsividade, e,

    no entanto, nem sempre so reconhecidos como problemas neuropsicolgicos (JOU;

    AMARALB; PAVANB, 2010). Outros autores levantaram a hiptese de que os professores

    so, muitas vezes, os primeiros a sugerirem que existem possveis sinais de comportamentos

    associados ao TDAH em alunos, certificando a importncia de uma investigao. possvel

    compreender que crianas e adolescentes com TDAH com frequncia apresentam

    comportamentos diferentes, ou seja, se comportam de acordo com o ambiente em questo, o

    que sugere que relatos de pais acerca do comportamento do seu filho na escola, podem ser

    pouco precisos. Os pais/responsveis podem ajudar a identificar sinais de hiperatividade por

    ter uma relao com o comportamento global da criana e adolescente no ambiente familiar.

    Por outro lado, os professores descrevem melhor o quadro de desateno na escola

    (COUTINHO et al., 2008).

    preciso, tambm, ter cautela e ateno aos relatos tanto dos pais/responsveis quanto

    dos professores, uma vez que nem sempre estes esto preparados para identificar

    comportamentos associados ao TDAH. Entretanto, os diferentes pontos de vistas e o uso de

    instrumentos padronizados podem colaborar para uma investigao criteriosa. Estudo de Lyra

    e colaboradores (2009) permite entender o quanto um problema psquico pode influenciar no

    olhar dos professores em relao ao comportamento do aluno. A pesquisa apontou a

    prevalncia de sofrimento psquico em 21,8% dos 151 professores avaliados, que referiram

    presena de problemas de comportamentos em 372 alunos, por meio do inventrio TRF/6-18.

    Os professores que apresentaram sofrimento psquico atravs do Self Reported Questionnaire

    SRQ-20 mostram percentuais mais elevados na identificao de Problemas Internalizantes de

    seus alunos. Muitas vezes os professores sentem dificuldades em lidar com alunos com baixo

  • 34

    rendimento escolar quando so desobedientes, agitados e ansiosos. Os autores observaram,

    tambm, que os Problemas Externalizantes, como agitao, falar alto, agressividade, entre

    outros, de maneira geral, so mais fceis de serem detectados, porm, mais difceis de serem

    trabalhados em sala de aula. J os Problemas Internalizantes, como ansiedade, depresso,

    entre outros, de modo geral, so menos observados pelos professores, uma vez que se referem

    a comportamentos que no afetam diretamente o ambiente (LYRA et al., 2009).

    Bordin e colaboradores (2013) consideram relevante obter informaes de mais de um

    informante quando o objetivo identificar problemas emocionais e/ou comportamentais em

    crianas e adolescentes. possvel notar que, enquanto os autorrelatos de adolescentes podem

    revelar aspectos de ansiedade/depresso e outros sintomas de Problemas Internalizantes

    frequentemente desconhecidos pelos pais e professores, geralmente no revelam certos

    comportamentos de quebrar regras, abuso de lcool, entre outros comportamentos

    relacionados a Problemas Externalizantes normalmente observados pelos pais e/ou

    professores. O estudo de Achenbach, McConaughy e Howell (1987) reportou alto grau de

    convergncia no relato de mltiplos informantes para problemas externalizantes quando

    comparados com os internalizantes. Tal dado sugere haver maior concordncia entre

    informantes quando se trata de problemas que so mais facilmente observados, como o caso

    dos problemas externalizantes, como, por exemplo, agresso ou hiperatividade/impulsividade.

    Estudos apontam a necessidade de compreender os problemas emocionais e

    comportamentais vivenciados pelos adolescentes, visto que ainda um desafio para os

    profissionais da sade mental. Sugerem uma investigao de suas habilidades e dificuldades,

    com instrumentos que possam permitir aos adolescentes se expressarem de maneira objetiva

    diante aos seus problemas. Dentre os modelos de avaliao para investigar problemas de

    comportamento de adolescentes, um dos instrumentos mais apontados na literatura nacional e

    internacional o YSR/11-18, este permite uma avaliao global de seus prprios

    comportamentos. Muitos estudos tm sido realizados em diversos pases com o objetivo de

    validar esse instrumento, visto a importncia de sua padronizao e dos procedimentos de

    avaliao conforme a cultura em que o jovem est inserido (ROCHA, 2012; TAMM et. al.,

    2010; ROCHA, ARAUJO; SILVARES, 2008).

    Estudos brasileiros vm demostrando validade e fidedignidade do instrumento

    YSR/11-18 para investigar comportamento problemtico em jovens na populao brasileira.

    O estudo de Rocha, Ferrari e Silvares (2010) permitiu compreender, por meio do instrumento

    YSR/11-18, que adolescentes com desenvolvimento tpico pontuaram positivamente as

    escalas de competncias. Os adolescentes reportaram estar inseridos no meio social de modo

  • 35

    produtivo, engajados em mais esportes, com mais atividades de lazer e melhor adaptados no

    trabalho; se relacionam de maneira saudvel com amigos e familiares, isso quando comparado

    a jovens com desenvolvimento atpico. O estudo investigou os comportamentos por meio da

    autoavaliao, com objetivo de analisar as competncias e problemas de comportamento.

    Apesar dos adolescentes se mostrarem aptos para falarem de seus comportamentos, ainda

    assim, considera-se importante investigar tambm relatos de pais e professores para

    compreender o comportamento do adolescente em diferentes contextos (ROCHA; FERRARI;

    SILVARES, 2010).

    No que se refere especificamente ao CBCL na literatura nacional, o estudo de Rocha e

    colaboradores (2012) constatou boas propriedades psicomtricas da verso brasileira deste

    inventrio, sendo reportado que as escalas de problemas externalizantes, internalizantes e

    totais foram as que apresentaram os maiores coeficientes de consistncia interna, com alfas

    maiores ou iguais a 0,80. A anlise fatorial indicou que os dados brasileiros mostraram o

    melhor ajuste para as oito escalas dos problemas de comportamento quando comparados as

    analises dos EUA e de todos os outros pases estudados at o momento. Com relao s

    avaliaes quanto aos padres de gnero, mostraram-se comparveis aos relatados em outras

    sociedades. Wielewicki, Gallo e Grossi, (2011) demostraram eficcia do instrumento

    CBCL/ 6-18 como um facilitador da anlise funcional de problemas de comportamento

    apresentados por uma criana de 10 anos. O instrumento foi utilizado na avaliao clnica

    como indicativo de comportamentos-alvo. O resultado apontou escores dentro da faixa

    limtrofe e clnica para oito escalas nos quais o instrumento sugere como problemtico, ou

    seja, ansiedade/depresso, isolamento/depresso, queixa somtica, problemas sociais,

    problemas de pensamento, problemas de ateno e comportamento agressivo. O inventrio

    apontou alguns comportamentos-alvo que ajudaram a identificar problemas de

    comportamento da criana pelas respostas da me. Colaborou para observar o comportamento

    apresentado pela me no momento do checklist e tambm para levantar hipteses prximas s

    contingncias que produziram e mantiveram os problemas de comportamento da criana

    (WIELEWICKI; GALLO; GROSSI, 2011).

    Grigorenko e colaboradores (2010) reconhecem a importncia de avaliar

    comportamentos de crianas e adolescentes por meio de mltiplos informantes para identificar

    traos psicopatolgicos. Os autores pesquisaram uma amostra de 841 pessoas, com base na

    comunidade de jovens russos, na mdia de 13 anos. Utilizaram os inventrios CBCL/6-18,

    TRF/6-18 e YSR/11-18 para analisar trs fatores: a) a validade das respostas convergente e

    divergente dos instrumentos na populao russa, b) o grau de vieses dos examinadores, e c) os

  • 36

    preditores potenciais de efeitos especficos do avaliador. Aplicaram o CBCL/6-18 no pai e

    me separadamente, TRF/6-18 nos professores e o YSR/11-18 nos adolescentes. Os

    resultados apontaram concordncia significativa entre as respostas dos inventrios do pai e da

    me. No entanto, observaram relatos divergentes entre as respostas dos pais, professores e do

    prprio adolescente.

    Alm disso, os autores tambm ressaltam a necessidade de investigar as inconsistncias

    entre as perspectivas de cada informante e seu acesso s informaes, pois cada avaliador ter

    acesso a uma informao parcial sobre a criana. Por exemplo, os pais geralmente tm poucas

    informaes sobre o comportamento da criana e do adolescente no contexto escolar e, em

    contrapartida, os professores tendem a ter pouco conhecimento sobre o comportamento em

    casa. possvel entender, a partir de um consenso na literatura sobre o uso de mltiplos

    informantes, ao avaliar traos psicopatolgicos em crianas e adolescentes, o intuito de evitar

    os diversos vieses possveis no relato dos problemas de comportamento (GRIGORENKO et

    al., 2010). Apesar disso, estudos apontam os relatos de diferentes informantes aconselhveis

    para ajudar na identificao de comportamentos associados ao TDAH e suas comorbidades

    (BORDIN et al., 2013; GRIGORENKO et al., 2010; SALBACH-ANDRAE; LENZ;

    LEHMKUHL, 2009).

    Salbach-Andrae, Lenz e Lehmkuhl (2009) avaliaram o padro de respostas de mltiplos

    informantes para investigar problemas de comportamento de adolescentes na escola por meio

    dos inventrios CBCL/6-18, TRF/6-18 e YSR/11-18. A concordncia entre as respostas se

    mostrou baixa moderada. Contudo, os autores consideraram clinicamente importante

    investigar problemas de comportamento por meio de diferentes informantes, uma vez que

    muitos problemas de comportamento no so imediatamente perceptveis para todos os

    avaliadores. Algumas vezes, os comportamentos podem no ser classificados como

    problemticos para o pai/responsvel, mas pode aparecer no contexto escolar e o professor

    identific-lo como um problema ser investigado.

    As discrepncias entre os relatos de pais e professores so discutidas por muitos

    estudos. No entanto, ainda hoje, percebe-se a importncia de utilizar diferentes informantes na

    caracterizao de problemas de comportamento, uma vez que acrescenta informaes

    relevantes para uma avaliao. O trabalho de metanlise de 119 estudos conduzido por

    Achenbach, McConaughy e Howell (1987) tambm verificou discrepncia no relato de

    diferentes informantes. Os autores encontraram uma correlao mdia de 0.28 entre o relato

    de pais e professores e 0.22 entre o autorrelato da criana avaliada e outros informantes, sendo

    ambas as correlaes estatisticamente significativas. Tambm verificaram que tais correlaes

  • 37

    foram significativamente maiores para crianas de seis a onze anos do que para adolescentes,

    o que sugere que o comportamento de crianas menores talvez seja mais facilmente

    identificado pelos informantes. Este achado pode ser explicado devido ao maior convvio dos

    informantes (pais e professores) com crianas mais novas do que com adolescentes, que se

    envolvem mais frequentemente em atividades nas quais os informantes no esto presentes.

    Outra hiptese levantada de que o comportamento em si destas crianas tende a ser mais

    semelhante nos diversos contextos quando comparado com o comportamento de adolescentes.

    Outro estudo relevante para compreender relatos de mltiplos informantes na

    categorizao de problemas de comportamento, se refere metanlise de Martinez, Carter e

    Legato (2011), que teve como um de seus objetivos verificar se a competncia social geral de

    crianas com doena crnica variava de acordo com o tipo de informante. Os resultados

    apontaram que os pais como informantes tiveram maiores pontuaes do que prprio

    adolescente como respondente. O relato dos pais teve efeito significativo e moderado (d = -

    0,51, z = -9,05, p < 0,001), enquanto o autorrelato teve efeito significativo, porm pequeno (d

    = - 0,34, z = -5,60, p < 0,001). Ao lado disso, nem os professores e os colegas como

    informantes apresentaram efeitos significativos, mas esse resultado deve ser analisado com

    cautela devido ao nmero pequeno das duas variveis (7% e 9,3% da amostra,

    respectivamente). Os resultados encontrados corroboram outros achados na literatura de que

    os pais descrevem nveis mais altos de prejuzos, seguido pela prpria criana como

    informante e por ltimo os professores e colegas, que relatam os menores efeitos. Segundo os

    autores Martinez, Carter e Legato (2011), o relato dos pais frequentemente o mais utilizado

    neste tipo de avaliao.

    O processo de avaliao de crianas e adolescentes com TDAH se torna complexo

    devido existncia de subtipos do transtorno, alta taxa de comorbidades, aos diferentes

    nveis de prejuzos, s inmeras caractersticas de resilincia e dificuldade de distinguir os

    sintomas do TDAH dos problemas de comportamento de causa ambiental de outras crianas

    de mesma faixa etria. Considerando que sua identificao puramente clnica, com

    caractersticas dimensionais, necessrio atentar-se que as crianas com TDAH apresentam

    grupos de sinais que, em certo sentido, so comuns s crianas, porm muito mais graves e

    persistentes. As avaliaes neuropsicolgica e comportamental podem contribuir de forma

    significativa para identificao de dificuldades e prejuzos em diferentes contextos (SINGH,

    2008; STEFANATOS, 2007).

    O diagnstico realizado por uma equipe multidisciplinar composta por profissionais da

    sade que conheam o transtorno apontado como o mais indicado para caracterizar o

  • 38

    TDAH. O processo de avaliao envolve tcnicas apropriadas, conhecimento terico e

    experincia profissional (DORNELLES; BORTOLINI, 2010). O diagnstico de TDAH em

    crianas e adolescentes, segundo os critrios do DSM-IV-TR, requer que os sintomas estejam

    presentes em ao menos dois ambientes distintos: contexto escolar, familiar e ou ocupacional

    (COUTINHO et al., 2008). Desse modo, obteno de informaes referentes a esses

    diferentes ambientes fundamental para orientar procedimentos avaliativos e interventivos.

    Os procedimentos de avaliao clnica do TDAH, na maioria dos casos, esto pautados

    nos critrios do DSM-IV-TR. No entanto, nem sempre crianas e adolescentes so

    encaminhados para uma equipe multiprofissional, pois depende dos critrios utilizados por

    cada mdico, que no segue uma nica diretriz (LARROCA; DOMINGOS, 2012). Peixoto e

    Rodrigues (2008) observaram que profissionais da sade no utilizam critrios especficos

    para identificar crianas e adolescentes com TDAH. Tais resultados foram possveis de serem

    observados por meio do trabalho realizado com 30 profissionais da rea da sade com

    especializao em psiquiatria, neurologia e psicologia. Apenas sete dos profissionais

    adotaram estratgias como uso de anamnese com os pais, laudo das escolas e o questionrio

    com os critrios do DSM-IV-TR. Apesar de reconhecerem a necessidade de trabalharem com

    uma equipe multidisciplinar, eles no referiram apoio de outros profissionais em sua prtica

    clnica. O estudo apontou falta de sistematizao e de apoio interdisciplinar nos procedimento

    por parte dos profissionais da sade mental para diagnosticar crianas e adolescentes com

    sinais do TDAH, como sugere a literatura (PEIXOTO; RODRIGUES, 2008). Outro estudo

    certifica a necessidade da participao de uma equipe multiprofissional, com psiclogos,

    mdicos, psicopedagogos, entre outros, na identificao de problemas de comportamento

    (LARROCA; DOMINGOS, 2012).

    Para Phelan (2005) a avaliao do TDAH frequentemente envolve um levantamento da

    histria do indivduo no contexto acadmico, social e familiar. Graeff e Vaz (2008) sugerem

    a necessidade de uma avaliao neuropsicolgica com objetivo de verificar o funcionamento

    intelectual do indivduo com TDAH para dar sequencia a outros procedimentos. Existem

    vrios instrumentos que usam os critrios do DSM-IV-TR para investigar comportamentos

    associados aos sintomas do transtorno. O quo completa e minuciosa for a avaliao, menor

    sero as possibilidades de equvocos no diagnstico. preciso um conjunto de instrumentos e

    uma equipe multidisciplinar para ajudar o profissional que acompanha o caso a traar uma

    interveno apropriada.

    Os profissionais da rea da sade mental, da infncia e adolescncia, frequentemente se

    deparam com situaes clnicas em que o diagnstico do TDAH deve levar em considerao

  • 39

    outros problemas de comportamento. preciso investigar dficit cognitivo, transtornos da

    aprendizagem, transtornos invasivos do desenvolvimento e outros problemas psiquitricos. Os

    autores consideram fundamental avaliar a complexidade do TDAH para elaborar uma

    interveno teraputica, suporte educacional e suporte emocional para o indivduo e seus

    familiares (SOUZA et al., 2007).

    Amaral e Guerreiro (2001) sugeriram uma bateria de instrumentos de avaliao

    neuropsicolgica em dois grupos de crianas entre 7 a 11 anos. O estudo contou com 10

    crianas com TDAH e 10 crianas com queixa do transtorno. Para analisar a preciso dos

    testes, os autores contaram com os instrumentos: questionrio abreviado de Conners,

    anamnese com os pais, WISC-III, Wisconsin, Teste de Cancelamento (TC), Color Trail, Test

    (CTT) e teste de desempenho escolar. Os resultados apontaram que as crianas com TDAH

    tiveram desempenho inferior em todos os testes.

    Para o diagnstico do TDAH, a avaliao clnica considerada um dos recursos

    fundamentais na identificao do transtorno. No entanto, a avaliao neuropsicolgica

    colabora para observar o desenvolvimento cognitivo, as habilidades atencionais e as funes

    executivas, podendo ajudar significativamente no processo diagnstico. Assim, uma avaliao

    neuropsicolgica pode ajudar o clnico a identificar comportamentos associados ao TDAH,

    problemas cognitivos e outras comorbidades, que devem ser diagnosticadas e tratadas

    (GRAEFF; VAZ, 2008; ROHDE et al., 2000). Ao lado da avaliao neuropsicolgica e

    clnica, a avaliao comportamental sistematizada pode ampliar o conhecimento sobre as

    intersees de crianas e adolescentes em diferentes contextos. Por isso, contribui para traar

    o perfil do funcionamento das crianas e adolescentes em avaliao, verificando se os relatos

    de problemas de comportamento podem ser compatveis com aqueles presentes nos critrios

    para diagnstico do TDAH.

  • 40

    3. JUSTIFICATIVA

    Uma vez que a caracterizao de sinais de desateno e hiperatividade depende do

    relato de pais e/ou professores para identificar a presena de comportamentos compatveis aos

    sintomas do TDAH em diversos contextos, faz-se necessrio compreender as contribuies

    dos diferentes informantes nessa avaliao, uma vez que a criana e adolescente com TDAH

    apresenta prejuzos claros no seu desenvolvimento escolar, familiar, social e emocional.

    Assim, ressalta-se a importncia de mltiplos informantes na caracterizao de problemas de

    comportamento em crianas e adolescentes com queixa de desateno e

    hiperatividade/impulsividade, em conjunto com avaliao neuropsicolgica e clnica.

    Visto a importncia de uma avaliao abrangente, pesquisadores ressaltam a

    necessidade de uma avaliao que incluir informaes sucedidas de mltiplos informantes, at

    mesmo do prprio adolescente, em que pode oferecer uma perspectiva compreensiva sobre a

    causa da investigao. Ressaltam, tambm, verificar padres de concordncia entre pais,

    professores e adolescentes na avaliao dos problemas emocionais e comportamentais das

    crianas e adolescentes. Alm disso, acreditam na possibilidade de discutir as decorrncias

    clnicas das provveis divergncias, convergncia e implicaes dos relatos que, apesar de

    estudos anteriores indicarem grau baixo moderada concordncia entre eles, no diminui o

    valor de sua importncia, podendo assim, colaborar no levantamento de diagnstico preciso e

    intervenes adequadas (ROCHA; FERRARI; SILVARES, 2010)

    A importncia desse trabalho est em comparar os dados comportamentais dos

    adolescentes com queixa de desateno e hiperatividade, identificado pelos pais/

    responsveis, professores e o prprio participante, alm de correlacionar seus resultados com

    o desempenho nos testes neuropsicolgicos e na avaliao clnica. Assim, ser possvel

    apontar as concordncias e divergncias referentes aos comportamentos analisados das

    crianas e adolescentes com queixa de TDAH.

  • 41

    4. OBJETIVOS

    4.1. Geral

    Comparar relatos de mltiplos informantes na caracterizao do perfil comportamental

    de adolescentes com TDAH por meio de inventrios respondidos pelos pais/responsveis,

    professores e o prprio participante, e associ-lo ao desempenho neuropsicolgico.

    4.2. Especficos

    Identificar a presena de problemas de comportamento caractersticos de desateno,

    hiperatividade e impulsividade;

    Identificar a presena de outros problemas de c