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UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA MBA EM GESTÃO AMBIENTAL PORTUÁRIA ROSANE DÓRIA DE JESUS PORTO E MEIO AMBIENTE: Um Estudo Bibliográfico Sobre os Principais Impactos Ambientais Produzidos Pela Atividade Portuária Santos - SP Setembro/2015

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UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA

MBA EM GESTÃO AMBIENTAL PORTUÁRIA

ROSANE DÓRIA DE JESUS

PORTO E MEIO AMBIENTE:

Um Estudo Bibliográfico Sobre os Principais Impactos Ambientais Produzidos

Pela Atividade Portuária

Santos - SP

Setembro/2015

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UNIVERSIDADE SANTA CECÍLIA

MBA EM GESTÃO AMBIENTAL PORTUÁRIA

ROSANE DÓRIA DE JESUS

PORTO E MEIO AMBIENTE:

Um Estudo Bibliográfico Sobre os Principais Impactos Ambientais Produzidos

Pela Atividade Portuária

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do título de Pós-Graduado (lato sensu) em Gestão Ambiental Portuária à Universidade Santa Cecília, sob a orientação da Professora Dra. Maria Cristina Pereira Matos.

Santos - SP

Setembro/2015

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ROSANE DÓRIA DE JESUS

PORTO E MEIO AMBIENTE: Um Estudo Bibliográfico Sobre os Principais Impactos Ambientais Produzidos Pela Atividade Portuária

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como exigência parcial para obtenção do título de Pós-Graduação (lato sensu) em Gestão Ambiental Portuária à Universidade Santa Cecília.

Data de aprovação: ____/____/____ ( ) APROVADO ( ) REPROVADO

Banca Examinadora:

Professora Dra. Maria Cristina Pereira Matos - Orientadora

___________________________________________________________________

Avaliador 1

___________________________________________________________________

Avaliador 2

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PORTO E MEIO AMBIENTE: Um Estudo Bibliográfico Sobre os Principais Impactos Ambientais Produzidos Pela Atividade Portuária

Rosane Dória de Jesus1 Maria Cristina Pereira Matos2 1 Discente do Curso de Pós-Graduação (lato sensu) em Gestão Ambiental Portuária (UNISANTA) – Santos/SP. 2 Docente do Curso de Pós-Graduação (lato sensu) em Gestão Ambiental Portuária (UNISANTA) – Santos/SP.

Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar os principais impactos

ambientais produzidos pela atividade portuária, tendo em vista que esses impactos

nem sempre são divulgados pelas organizações e, infelizmente, só são discutidos

quando os danos causados são de grande proporção. Indiscutivelmente, os portos

constituem uma das principais infraestruturas de apoio ao comércio exterior e são

fundamentais para o desenvolvimento econômico e social de um país. Se por um

lado são de grande relevância para o mundo, por outro, suas atividades

comprometem consideravelmente o meio ambiente, pois a atividade portuária é

considerada potencialmente poluidora. Os impactos (negativos) gerados por essa

atividade são inúmeros, muitas vezes irreversíveis, tornando a relação porto e meio

ambiente muito complexa. Dessa forma, a necessidade de preservação do ambiente

vem sendo muito mais discutida pelos diversos segmentos da economia e, mesmo

que tardiamente, chegou ao setor portuário.

Palavras-chave: Atividade portuária; Meio ambiente; Impacto ambiental.

PORTO AND ENVIRONMENT: A BIBLIOGRAPHICAL STUDY ABOUT THE MAIN ENVIRONMENTAL IMPACTS PRODUCED BY THE PORT ACTIVITY

Abstract: The purpose of this study is to present the main environmental impacts generated by port activity, considering that these impacts are not always disseminated by organizations and, unfortunately, are only discussed when the damage caused is of great proportion. Undoubtedly, the ports are a main infrastructure of support for foreign trade and then they are essential to the economic and social development of a country. On the one hand, the ports are of great relevance for the world, on the other, their activities considerably endanger the environment, because the port activity is considered potentially polluting. The negative impacts generated by this activity are numerous, very often irreversible, making the interface between the port and the environment very complex. This way, the need to preserve the environment has been much discussed by the various

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segments of the economy, even if belatedly, has reached at the port sector.

Key Words: Port activity; Environment; Environmental impact.

1 INTRODUÇÃO

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, pois esse

bem, de uso comum, é essencial à sadia qualidade de vida. A preocupação com a

degradação ambiental não é recente. Muitos fatores em contextos históricos

diversos contribuíram para a caracterização da problemática ambiental como um

aspecto global.

A Revolução Industrial é considerada o marco central da intensificação dos

problemas ambientais no mundo, com o consumo intensivo de materiais e energias

para produzir, além do crescimento urbano em decorrência do êxodo rural.

As questões ambientais vêm sendo debatidas em todo o mundo, e não por

modismo. Coimbra (2014) afirma que a diferença de outras revoluções que se

instalaram na sociedade, a única a apresentar características globais é a questão

ambiental.

A primeira discussão mundial sobre desenvolvimento e meio ambiente deu-se

em 1972, quando a Organização das Nações Unidas – ONU, conjuntamente com os

Estados e a comunidade científica, realizou a Primeira Conferência Mundial sobre o

Homem e o Meio Ambiente (Conferência de Estocolmo). Ali foram abordados

aspectos relacionados ao uso consciente dos recursos naturais e a pressão, sobre o

meio natural, provocada pelo desenvolvimento econômico e industrial. A partir de

então, os Estados reconheceram a existência dos problemas e a necessidade de

agir. Coimbra (2014) enfatiza que essa conferência provocou uma verdadeira

revolução cultural, que ainda está em curso. Prosseguindo os debates sobre as

questões ambientais, em 1987, a Comissão Mundial do Meio Ambiente e do

Desenvolvimento, publicou o relatório intitulado Nosso Futuro Comum, conhecido

como a declaração de Brundtland, que alertava para a necessidade de adoção de

práticas que garantissem o desenvolvimento econômico e social sustentável. Parece

que a constatação da finitude dos recursos do planeta mudou consideravelmente a

percepção da humanidade sobre os limites do planeta. Ainda, na esteira das

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discussões dos problemas ambientais, em 1992, a ONU promoveu a Conferência

das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento. A conhecida RIO-92 é

vista como um divisor de águas na política ambiental, pois trouxe o universo

empresarial para discutir as questões ambientais.

A principal questão social da atualidade é a da garantia de sobrevivência, da

família humana e do próprio planeta, e as discussões se estabelecem entre os

limites do ecossistema e a falta de limites na produção e no consumo. Não há mais

espaço para o desenvolvimento a qualquer preço, desvinculado das questões

ambientais.

Vários segmentos da economia, incluindo o portuário, passaram a incorporar

em suas políticas a ideia do uso responsável dos recursos naturais e a busca do

desenvolvimento sustentável. Mas, infelizmente, nem sempre essa postura

empresarial decorre de uma verdadeira consciência acerca das responsabilidades

sociais, e sim da percepção de que demonstrar comprometimento com as questões

ambientais melhora a imagem perante a sociedade e aumenta a possibilidade de

conquista de novos clientes. A maior cobrança da sociedade quanto à

responsabilidade social das empresas, e a mudança da compreensão sobre o meio

ambiente, foram as principais causas para grandes mudanças legislativas,

governamentais e empresariais no Brasil, nos últimos anos.

O modal marítimo é reconhecido como o principal meio de transporte para o

comércio exterior, tendo os portos como passagens de entrada e saída das cargas.

Os portos fazem parte de uma cadeia logística de intenso fluxo de cargas,

cujo papel, ao longo dos anos, foi se modificando e adquirindo uma importância

muito mais estratégica para a economia mundial. De simples atracadouros,

passaram a constituir uma das principais infraestruturas de apoio ao comércio

exterior, motor do desenvolvimento econômico. Também são grandes fomentadores

do desenvolvimento econômico e social das regiões onde estão inseridos, gerando

empregos e movimentando a economia local.

Apesar de toda a sua importância, nota-se que os portos se mostram aquém

quando o assunto é meio ambiente e gestão sustentável.

A atividade portuária, concebida dentro de um conceito de economia de

escala, voltada para o transporte de grandes fluxos de carga, é considerada

potencialmente poluidora. Ela requer o uso ostensivo e intensivo dos espaços

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urbanos e ainda influencia diretamente nos ambientes marinhos e litorâneos. Por

esse motivo Cunha (2006) afirma que os portos geram influências que vão além dos

seus locais de instalação.

A atividade portuária, apesar de crucial para o equilíbrio da balança comercial

é uma atividade que impacta de forma negativa no meio ambiente onde está

inserida, podendo os danos serem irreversíveis. Todavia, o controle dos impactos

ambientais torna-se crítico, uma vez que a atividade portuária extrapola a beira do

cais e se internaliza no território onde se desenvolvem.

Reconhecida como potencialmente poluidora, a atividade portuária tem a sua

regulação e controle feitos por órgãos que atuam no âmbito nacional e internacional,

que instituem normas e leis que visam mitigar e compensar os impactos ambientais

causados por ela.

A instalação de um porto moderno precisa de grandes áreas para o

desenrolar de suas atividades, porém, a infraestrutura necessária requer áreas

naturais consideradas muito sensíveis, seja em terra, seja em mar. Portanto, é

impossível pensar na instalação ou expansão de um empreendimento portuário sem

falar em impactos ao meio ambiente. Mas, Hair (1992) afirma que o crescimento

econômico, a expansão do comércio exterior e a proteção do meio ambiente são

metas que só podem ser alcançadas em conjunto. Um bom exemplo disso são os

Portos Verdes (Green Ports), cujas práticas sustentáveis são reconhecidas

internacionalmente, provando que o desenvolvimento sustentável também é possível

de ser alcançado no setor portuário brasileiro.

No entender de Porto e Teixeira (2013), o risco agregado à atividade portuária

sempre existirá, mesmo que sejam tomadas as precauções cabíveis para se evitar

os acidentes ambientais. Porém, é essencial que as questões ambientais inerentes à

atividade portuária sejam tratadas pelas organizações no âmbito do planejamento,

com estratégias proativas, evitando ações reativas e dispendiosas, muitas vezes

ineficazes do ponto de vista socioambiental.

Os impactos ambientais decorrentes da atividade portuária nem sempre são

levados ao conhecimento da sociedade, principalmente dos grupos mais frágeis a

essas externalidades negativas, que dependem dos recursos naturais para garantir

a sua subsistência. Normalmente, apenas os impactos de grande proporção acabam

sendo divulgados, estudados e discutidos. Percebe-se que a postura das

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organizações só incorre em mudanças à medida que as pressões políticas, sociais e

econômicas aumentam.

Diante deste contexto, o presente trabalho objetivou ressaltar os principais

impactos ambientais negativos gerados pela atividade portuária em sua operação,

haja vista que os danos causados são pouco divulgados e discutidos, salvo quando

são de grande proporção. Este estudo não se dispõe a detalhar as consequências

dos impactos ambientais negativos, mas, apenas informar sobre as interferências

que a atividade portuária gera ao meio ambiente.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este trabalho contempla três eixos teóricos, quais sejam: Meio Ambiente;

Porto e Meio Ambiente; Principais Impactos Ambientais Produzidos Pelas

Atividades Portuárias.

O primeiro eixo aborda alguns dos conceitos de meio ambiente, apresenta a

política desenvolvimentista como o centro da problemática ambiental e, ainda, os

principais movimentos mundiais, como a Conferência de Estocolmo e a RIO-92, que

abriram espaço para que as discussões ambientais ocorressem a nível mundial.

O segundo eixo esclarece o que é um porto, sob os pontos de vista legal e

também logístico, o seu papel para a economia e a sua relevância mundial. Ainda,

neste eixo, são abordados alguns aspectos da atividade portuária e a sua

interveniência no meio ambiente, com destaque para os chamados Green Ports ou

Portos Verdes.

No terceiro e último eixo, foco principal deste trabalho, buscou-se mostrar os

principais impactos ambientais (negativos) que a atividade portuária produz, mas

sem a intenção de analisar as consequências desses impactos sobre o meio

ambiente.

2.1 Meio Ambiente

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Geoffrey de Saint-Hilaire, um naturalista francês, utilizou a expressão meio

ambiente (milieu ambiance), pela primeira vez, em 1835. Milieu significa o lugar

onde está ou se movimenta um ser vivo, e ambiance designa o que rodeia esse ser.

Há autores que entendem que a expressão meio ambiente é redundante, pois

ambiente já inclui a noção de meio. Entretanto, é preciso entender o termo meio

ambiente considerando os seus componentes. Na Conferência das Nações Unidas

sobre o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, em 1992, definiu-se meio

ambiente como: “O conjunto de componentes físicos, químicos, biológicos e

sociais capazes de causar efeitos diretos e indiretos, em um prazo curto ou

longo, sobre os seres vivos e as atividades humanas”. A Política Nacional do Meio

Ambiente, estabelecida pela Lei 6938/81 define meio ambiente como: “O conjunto de

condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que

permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Já a resolução CONAMA

306/2002 vai um pouco além, dizendo que meio ambiente é: “O conjunto de

condições, leis, influência e interações de ordem física, química, biológica, social,

cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. A

Norma NBR ISO 14001:2004 define meio ambiente como: “A circunvizinhança em

que uma organização opera, incluindo ar, água, solo, recursos naturais, flora, fauna,

seres humanos e suas inter-relações”. Neste contexto, circunvizinhança estende-se

do interior de uma organização até o sistema global. Silva (2004, p. 21 apud SILVA e

LIMA, 2013), explica que o conceito de meio ambiente compreende três aspectos:

meio ambiente natural ou físico, meio ambiente artificial e meio ambiente cultural. A

Constituição Federal de 1988, art. 200, inciso VIII, prevê ainda meio ambiente do

trabalho.

Portanto, meio ambiente é um termo que precisa ser compreendido além do

sinônimo de natureza, local a ser respeitado, apreciado e preservado, e o ser

humano precisa estabelecer a noção de pertencimento a este meio ambiente, no

qual possui vínculos naturais para a sua sobrevivência.

O art. 225 da CF de 1988 estabelece que, todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, caracterizando-o como de uso comum, essencial à

sadia qualidade de vida, e impõe ao poder público e à coletividade o dever de

defendê-lo e preservá-lo.

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As primeiras políticas ambientais eram voltadas apenas para a preservação,

ou seja, discutia-se somente a proteção do patrimônio natural. Mas, com a

intensificação dos esforços na industrialização e no desenvolvimento acelerado,

começou a surgir a preocupação com os impactos ambientais decorrentes dessa

política desenvolvimentista. Nessa vertente, Barbieri (2007, apud MORAIS et al,

2014) reforça que a Revolução Industrial é vista por muitos como marco central da

intensificação dos problemas ambientais no mundo, devido ao consumo intensivo de

materiais e energias para produzir e atender grandes mercados. Porém, mesmo com

as preocupações em relação aos danos ambientais causados pelo desenvolvimento

industrial, acreditava-se que o meio ambiente era fonte inesgotável de recursos e

fonte principal para satisfazer os desejos de conforto e consumo dos homens. Essa

ideia foi colocada em discussão, pela primeira vez, em 1972, quando a Organização

das Nações Unidas – ONU, em parceria com os Estados e a comunidade científica,

realizou a Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente

(Conferência de Estocolmo). Nessa conferência, em que se discutiram o homem e o

desenvolvimento, foram abordados aspectos referentes ao uso consciente dos

recursos naturais, enfatizando os aspectos de pressão sobre o meio natural,

provocados pelo desenvolvimento econômico e industrial. Foi a partir desse

encontro que a construção de mecanismos para a proteção do meio ambiente

passou a ganhar corpo, demonstrando que os Estados reconheciam a existência

dos problemas e a necessidade de agir. Dessa forma, Coimbra (2014) enfatiza que

as questões ambientais ganharam espaço a partir da Conferência de Estocolmo,

iniciando debates, fundamentando ações de governo e, por parte das organizações

não governamentais, alterando significativamente a geopolítica mundial. Ainda,

segundo o autor, essa conferência provocou uma verdadeira revolução cultural, que

ainda está em curso. Na opinião de Passos (2009), a Conferência de Estocolmo

representou um marco para a publicidade da problemática ambiental, pois, a partir

daquele ano, a questão ambiental passou a fazer parte das agendas políticas de

vários países do mundo. Em 1987, a Comissão Mundial do Meio Ambiente e do

Desenvolvimento, publicou o relatório intitulado Nosso Futuro Comum, mais

conhecido como a declaração Brundtland, dando contornos ao desenvolvimento

sustentável, cuja essência está na harmonização do desenvolvimento

socioeconômico com a manutenção da qualidade ambiental e o gerenciamento

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responsável dos recursos naturais. Assim, a década de oitenta marca o grande

avanço da política ambiental, concebendo e fortalecendo a ideia de compatibilizar o

meio ambiente e o desenvolvimento de forma sustentável. A publicação daquele

relatório desencadeou um processo de debate, que resultou na Conferência das

Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento, promovida pela ONU, no

Rio de Janeiro, em junho de 1992. A RIO-92 foi um divisor de águas na política

ambiental, pois trouxe o universo empresarial para as questões de meio ambiente, e

os investimentos das empresas passaram a ser crescentes nos anos subsequentes

(VIEIRA e CADER, 2015). Mas, apesar de todo o clima de otimismo, a insistência

dos países ricos, notadamente os Estados Unidos, em manter o ritmo e o estilo de

crescimento econômico, foi minando as esperanças de outros países de enfrentar as

questões ambientais.

A primeira agência ambiental brasileira, a Secretaria Especial do Meio

Ambiente (SEMA), foi criada em 1973 mediante pressões políticas internacionais e

dos organismos financiadores oficiais (COIMBRA, 2014). Ainda para Vieira e Cader

(2015), a SEMA foi uma resposta do governo diante às pressões externas e da

sociedade que o acusava de defender o desenvolvimento a qualquer custo.

Em 1989, com a promulgação da Lei nº 7.735, a SEMA cedeu lugar ao

Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA),

órgão responsável pelo licenciamento ambiental, controle de qualidade ambiental,

autorização do uso dos recursos naturais e fiscalização ambiental.

2.2 Porto e Meio Ambiente

O modal marítimo é reconhecido como o principal meio de transporte para o

comércio exterior, tendo os portos como portas de entrada e saída de cargas.

No que se refere a geografia de um porto, pode-se defini-lo como sendo um

local físico, abrigado, com profundidade e condições para atracação de

embarcações para a operação de carga e descarga.

Assim, Cullinane e Talley (2006, p.01 apud GALVÃO, 2009) explicam que:

Um porto é um nódulo na rede de transporte – um sistema espacial

de nódulos e conexões sobre as quais o movimento de carga e passageiros

ocorrem. Um porto é também uma unidade econômica que provê um

serviço de transferência em oposição a uma atividade produtiva física.

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A Lei 12.815/13, conhecida como a nova lei dos portos, em seu art. 2º, inciso

I, define porto organizado como:

Bem público construído e aparelhado para atender a necessidades de

navegação, de movimentação de passageiros ou de movimentação e

armazenagem de mercadorias, e cujo tráfego e operações portuárias

estejam sob jurisdição de autoridade portuária.

Para Caldeirinha (2007, p.11), na perspectiva do marketing portuário, o porto

é visto como uma fábrica, que assegura serviços – os produtos – em concorrência

no mercado, possibilitando o negócio com diferentes partes do mundo.

Pode-se dizer, ainda, que os portos são plataformas logísticas que fazem

parte de uma cadeia de fluxo de cargas, que devem buscar a economicidade

(eficiência e baixo custo), para o bom desempenho de suas funções

socioeconômicas, e que a sua importância é incontestável.

No passado, os portos funcionavam como elo entre o novo e o velho mundo,

facilitando as trocas comerciais, o comércio de especiarias e de matéria-prima, o

tráfico de escravos e o trânsito de pessoas.

O advento da globalização e a expansão do comércio internacional fez com

que a importância dos portos e a atividade portuária passassem a ser estratégicas e

fundamentais para o desenvolvimento da economia mundial e local. As trocas de

produtos entre os países se intensificaram e os portos passaram a ser o principal

ponto de escoamento desses produtos. O avanço nos embarques, com o emprego

da unitização das cargas em contêineres, também contribuiu para reforçar a

relevância do papel dos portos, exigindo a modernização não só do transporte

marítimo, mas também das operações portuárias. Todos esses fatores contribuíram

para que o segmento portuário passasse por profundas e significativas

transformações, não só do ponto de vista tecnológico, mas também social, com a

adaptação da mão de obra que até então era braçal.

Os portos também são considerados polos de desenvolvimento, devido a sua

capacidade de atrair indústrias e atividades ligadas à função marítimo-portuária, com

estratégias que visam à localização de atividades principais e subsidiárias e serviços

na referida área, atendendo ao conceito de porto-indústria, onde há a sinergia entre

as atividades portuárias e industriais.

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Para a economia de um país os serviços portuários são imprescindíveis, pois

nada menos do que 90% do comércio internacional passa pelos portos. Além disso,

a importância dos portos para o desenvolvimento socioeconômico das regiões onde

estão localizados e do seu entorno é indiscutível. Há muitas cidades que têm na

atividade portuária a sua razão de ser.

No entanto, apesar de toda a sua relevância, os portos são peculiares no que

tange aos impactos ambientais. A sua infraestrutura localiza-se em ambientes

naturais de considerável valor ecológico, que contemplam: águas abrigadas,

profundidades adequadas, acessos terrestres e marítimos (cais de acesso, bacias

de evolução, vias de circulação, etc.), faixas de cais para atracação, área para

armazenagem (armazéns, silos, galpões, tanques, etc.), áreas para pátios e

circulação de veículos, ligações rodoferroviárias, espaço para instalações

administrativas, estacionamento de veículos e de controle de entrada e saída.

Para Porto e Teixeira (2013) a atividade portuária é um processo que

compreende o transporte e a movimentação de carga nas proximidades do porto ou

dentro dele, os serviços de apoio à navegação, a armazenagem, a conferência dos

volumes embarcados e desembarcados e tudo mais o que acontece no porto de

natureza comercial e industrial.

A atividade portuária é uma atividade intensiva, concebida dentro de um

conceito de economia de escala, voltada para o transporte de grandes fluxos de

carga, que requer o uso ostensivo e intensivo dos espaços urbanos, muitas vezes

até restringindo-os. Nota-se, portanto, que a atividade portuária é um instrumento

polarizador de atividades urbanas e tem em sua área de influência direta nos

ambientes marinho e litorâneo.

Ainda Porto e Teixeira (2013) esclarecem que a atividade comercial portuária

produz impactos ao sitio ambiental tanto ou mais que a implantação de um projeto

portuário.

Para Cunha (2006), os portos geram influências que vão muito além dos seus

locais de instalação, podendo determinar a dinâmica das regiões onde estão

instalados.

Por tudo isso, torna-se difícil pensar na construção e na operação de um porto

sem alguma interferência ambiental. Qualquer elemento artificial inserido em um

ambiente natural (ainda que ecologicamente correto) irá gerar um ônus ambiental,

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por menor que seja. Porém, é preciso lembrar que não há desenvolvimento

econômico sem meio ambiente, uma vez que a natureza fundamental da economia é

extrair, produzir e consumir.

Coimbra (2014) ressalta que a interação dos ecossistemas naturais e sociais

é necessária, seja para a manutenção da vida biológica no planeta, seja para o

estabelecimento de condições de existência digna para todos os seres humanos.

Seguindo o mesmo pensamento temos Hair (1992), que afirma que o crescimento

econômico, a expansão do comércio exterior e a proteção do meio ambiente são

metas que só podem ser alcançadas em conjunto. Assim, a ideia de que somos

todos senhores e dominadores da natureza, não encontra mais sustentação nos dias

de hoje.

Os portos que adotam as boas práticas reconhecidas internacionalmente

como forma de ações sustentáveis são conhecidos como Green Ports ou Portos

Verdes. Esses portos estão na vanguarda do desenvolvimento sustentável com

ações que incluem a gestão de recursos energéticos, conservação dos recursos

naturais no seu entorno, monitoramento da qualidade da água, do solo e do ar, bem

como, a gestão dos resíduos gerados dentro das embarcações por meio de coleta e

destinação para tratamento, bem como, o controle de ruídos, gestão do fluxo de

veículos e substituição de equipamentos. Além disso, utilizam técnicas de simulação

para aumento da produtividade por meio de automação e redução do esforço físico

dos funcionários dos portos. Deste modo, esses portos estão buscando introduzir

um novo conceito de gestão sustentável dentro do ambiente portuário e das

empresas que são prestadoras de serviço de primeiro e segundo grau de influência

dentro do processo portuário.

Já os atores envolvidos com a atividade portuária devem estar conscientes

acerca da necessidade de vinculação das suas ações à qualidade ambiental,

utilizando de forma racional os recursos naturais e promovendo o mínimo de

impactos negativos. É preciso compreender que o desenvolvimento da atividade

portuária deve sempre ocorrer em conciliação com a qualidade ambiental e em

consonância com o conceito de sustentabilidade.

Todavia, para Schmidheiny (1992), não há dúvidas quanto à necessidade de

mudança dos modos de ser a fim de garantir o progresso sustentável, atendendo às

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necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as futuras gerações

atenderem às próprias necessidades.

2.3 Os Principais Impactos Ambientais Negativos Produzidos Pela Atividade

Portuária

A Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) 001/86

considera como impacto ambiental:

Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do

meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia

resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: a

saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e

econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

a qualidade dos recursos ambientais.

Entretanto, a Norma NBR ISO 14001:2004, define como impacto ambiental

qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que resulte, no todo

ou em parte, das atividades, produtos ou serviços de uma organização.

Assim, a ideia de impacto ambiental refere-se exclusivamente aos efeitos da

ação humana sobre o meio. O homem, como todo ser vivo, relaciona-se e interfere

no ambiente em que está inserido, podendo essa interferência se dar de forma

positiva ou não. Os resultados dessas interferências é que classificarão os impactos

ambientais em positivos ou negativos. Positivos quando os resultados beneficiam o

meio ambiente, e negativos quando há o rompimento do equilíbrio ecológico, com

prejuízos ao meio ambiente. Litte (2001) orienta que os impactos negativos podem

ser classificados em três tipos, quais sejam: a contaminação do meio ambiente, o

esgotamento dos recursos naturais e a degradação dos ecossistemas.

O meio ambiente e as interferências que se fazem nele desconhecem limites

e as reações são em cadeia, os efeitos são sinérgicos, os resultados muitas vezes

são inesperados, e a suas consequências podem se observar em escala global.

No Brasil, o primeiro dispositivo legal associado à avaliação de impactos

ambientais deu-se por meio da Lei 6.938/81, que trata da Política Nacional do Meio

Ambiente.

A política ambiental tem evoluído bastante, principalmente no campo

institucional, haja vista a quantidade de órgãos ambientais e leis em vigor. Silva e

Lima (2013) afirmam que no Brasil há uma estrutura de leis ambientais avançada,

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mas que de nada adiantará esse avanço legal se não houver o estrito cumprimento

das leis. Na opinião de Cunha (2006), ainda falta para a política ambiental brasileira

a incorporação de procedimentos que possam servir de norte para resolução dos

conflitos socioambientais de forma negociada. Ainda, segundo o autor, a ausência

desses procedimentos se vê na demora significativa das decisões dos órgãos

ambientais acerca dos pedidos de licença ambiental.

Grande parte das atividades econômicas gera algum tipo de impacto

ambiental, em maior ou menor escala. Em um empreendimento portuário os

impactos ambientais são substanciais, em razão das grandes áreas utilizadas para

atender a sua demanda, principalmente de retroárea para armazenamento,

transporte e logística do porto, sem falar na significativa faixa costeira de uso

exclusivo.

A Resolução 237/97 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA

reconhece que a atividade portuária é potencialmente poluidora e, por isso, passível

de licenciamento ambiental.

Os impactos ambientais negativos produzidos pela atividade portuária estão

relacionados com a construção, reforma ou ampliação das instalações dos portos;

com manutenção das condições de navegabilidade do porto; com a movimentação

das cargas e dos navios; e com outras atividades decorrentes da instalação do

porto, como as estruturas de transporte complementares e indústrias instaladas em

complexos industriais portuários.

Logo, reforça-se a ideia de que a implantação de um porto requer, na maioria

das vezes, grandes áreas para instalação da sua infraestrutura. Essas áreas serão

descaracterizadas fisicamente, com a supressão de vegetações, terraplanagem,

expropriações, dragagens e a realização de obras que certamente afetarão

ecossistemas frágeis e de grande importância para o equilíbrio do ambiente, como

por exemplo, os manguezais. Como consequência do desequilíbrio dos

ecossistemas, poderá ocorrer o desaparecimento de espécies nativas e a

proliferação de espécies exóticas. As modificações físicas realizadas no ambiente

também poderão ocasionar mudanças no escoamento dos rios que se encontram no

entorno do empreendimento. Os impactos negativos mais significativos estão

associados à carga e descarga de produtos químicos perigosos e derivados de

petróleo, com a possibilidade de contaminação das águas, incêndios ou explosões.

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Na carga e descarga de mercadorias a granel, os impactos ambientais negativos

mais presentes são os ruídos e a poeira gerados na operação. Há também a

emissão de muito gás carbônico, produzido pela movimentação de equipamentos.

Os ruídos gerados pelas embarcações também prejudicam a fauna marinha. As

atividades de limpeza de tanques e as operações de reparo nos navios trazem

impactos significativos com o derramamento de óleos e graxas no mar que

geralmente ocorre nessas situações. A introdução de espécies marinhas exóticas,

trazidas pela água de lastro, nos tanques dos navios, gera desequilíbrio ecológico e

também prejuízos financeiros para as organizações.

Outros impactos também podem ser citados, como as interferências negativas

no trânsito causadas pelos caminhões que se dirigem ao porto, caso não haja

modificações do sistema viário local, ou a sobrecarga nos serviços de infraestrutura

urbana como abastecimento de água e coleta de esgoto e resíduos sólidos.

Como se vê, a relação porto e meio ambiente é extremamente complexa. São

diversas as interveniências da atividade portuária no meio ambiente.

Segundo Porto e Teixeira (2013), o risco agregado à atividade portuária

sempre estará presente, mesmo que as precauções cabíveis para evitar os

acidentes ambientais sejam tomadas. Com isso, é possível entender que os riscos

precisam ser assumidos, internalizados e minimizados com a adoção de medidas

preventivas, como a realização de inspeções periódicas, monitoramento e avaliação

dos processos de alto risco e simulação de combate a acidentes.

Portanto, parece compreensível que o grande desafio do segmento portuário

é buscar e implementar as melhores ações mitigadoras do impacto ambiental,

pensando sempre na necessidade de preservação do meio ambiente com a

diminuição da sua exposição ao risco de dano ambiental

3 MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo caracterizou-se como exploratório, de caráter qualitativo. O método

utilizado foi a pesquisa bibliográfica, desenvolvida a partir de material já elaborado e

publicado, constituído principalmente de livros e artigos científicos.

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3.1 Apresentação e Interpretação dos Resultados Obtidos

Do estudo realizado foi possível perceber que há diversas maneiras de

entender o meio ambiente, e que o ser humano é sempre a figura central, ainda que

ele (ser humano) não tenha se dado conta de que pertence ao meio. A partir da

Revolução Industrial os problemas ambientais se intensificaram no mundo. Até

então, a sociedade não se preocupava com a preservação ambiental. Mesmo

percebendo os danos ambientais causados pela política desenvolvimentista dos

Estados, acreditava-se que o meio ambiente era fonte inesgotável de recursos. Em

1972, essa ideia foi levada à baila na Primeira Conferência Mundial sobre o Homem

e o Meio Ambiente (Conferência de Estocolmo), realizada pela ONU. Foi a partir de

então que as questões ambientais ganharam espaço e passaram a fazer parte das

agendas políticas de todas as partes do mundo. A Publicação do relatório Nosso

Futuro Comum, mais conhecido como a declaração Brundtland, e a realização da

RIO-92, serviram de trampolim para o avanço das políticas ambientais, fortalecendo

a ideia de compatibilização do meio ambiente com o desenvolvimento sustentável.

As discussões sobre a preservação ambiental também chegaram ao

segmento portuário, uma vez que a atividade portuária é reconhecida como uma

atividade potencialmente poluidora. O porto, na visão de Caldeirinha (2007, p11) é

uma fábrica que assegura serviços, e esses serviços são de extrema importância

para a economia de um país [grifo nosso]. Todavia, a infraestrutura utilizada para as

atividades portuárias situa-se em ambientes naturais muito sensíveis, o que acaba

resultando na geração de impactos ambientais substanciais, provocados

principalmente na movimentação (carga/descarga) das mercadorias. Os danos

causados podem ser até irreversíveis. Porém, não há como conceber a ideia de

instalação de um porto sem a ocorrência de impactos ambientais. Eles sempre

existirão, em maior ou menor escala, pois são inerentes a atividade portuária.

Portanto, há a necessidade de um forte controle e regulação do Estado, por meio

dos órgãos ambientais, emitindo leis que não permitam o desenvolvimento

econômico desvinculado da responsabilidade de se assegurar a preservação do

meio ambiente.

Os impactos ambientais negativos que a atividade portuária produz são

vários. Podem ser gerados a partir da construção de abrigo e novas frentes de

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atracação, das dragagens, dos derrocamentos, dos aterros, da infraestrutura de

armazenagem, de edificações em geral, de acessos terrestres e outros. As obras

dimensionadas de forma inadequada também geram impactos ambientais, com a

alteração da linha de costa, por exemplo. A construção ou expansão de um porto

também exige a supressão de vegetação, modificação no regime dos corpos d'água,

e agressão a ecossistemas. As operações de manuseio, transporte e armazenagem

da carga, bem como os serviços de manutenção da infraestrutura, o abastecimento

e reparo de embarcações, máquinas, equipamentos e veículos em geral, quando

feitos de forma inadequada, podem gerar resíduos sólidos e líquidos, lançamento de

efluentes em corpos d'água, poluição do ar, da água, do solo e do subsolo e

perturbações por trânsito de veículos pesados. Os impactos oriundos das

embarcações ocorrem, em maior número, nas proximidades dos portos e decorrem

de vazamentos, ruptura e transbordamento ou derramamentos de óleo durante a

operação de abastecimento e transferência entre embarcações ou entre

embarcação e terminal. O derramamento da carga ou de combustível também é

visto quando há colisão, encalhes e vazamentos de embarcações. As operações

com carga seca como cimento, grãos, minério e carvão geram poluição no ar, pela

combustão e ventilação da carga. A água de lastro e as incrustações nos cascos dos

navios propiciam a transferência de organismos aquáticos nocivos e agentes

patogênicos, além dos efeitos de tintas tóxicas usadas nas embarcações. Há outros

agentes causadores de impactos pelas embarcações, como esgotos sanitários e

lixo.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A adoção de práticas que resultem numa organização sustentável é ação

imperativa em qualquer segmento econômico, inclusive o portuário. Não há como

pensar em um empreendimento portuário e o desenvolvimento de suas atividades,

sem levar em conta a ocorrência de danos ambientais.

A atividade portuária é altamente poluidora, cujas consequências, do ponto de

vista ambiental, muitas vezes são incalculáveis. Todavia, é considerada uma

atividade relevante para a economia de um país.

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Assim, considerando a necessidade de expansão dos empreendimentos

portuários e a modernização das atividades portuárias, que decorre do aumento

crescente das demandas do comércio internacional, as organizações devem buscar

tratar as questões ambientais no âmbito do planejamento, evitando ações reativas,

dispendiosas e que muitas vezes acabam sendo ineficazes em termos

socioambientais.

O aspecto ambiental é uma variável que deve fazer parte do planejamento

estratégico competitivo das organizações, e nesse contexto, não se exclui o

segmento portuário. É fundamental que os impactos ambientais (negativos) sejam

divulgados à sociedade e discutidos com responsabilidade entre os grupos

interessados.

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