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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE CURSO DE PÓS- GRADUAÇÃO LATU SENSU EM PRODUÇÃO DE BOVINO DE CORTE Anamaria Morelatto Michelli Ternoski ABATE HUMANITÁRIO DE BOVINOS: EMPREGO DE TÉCNICAS ADEQUADAS COMO GARANTIA DE BEM-ESTAR ANIMAL GUARAPUAVA 2010

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE

CURSO DE PÓS- GRADUAÇÃO LATU SENSU EM PRODUÇÃO DE

BOVINO DE CORTE

Anamaria Morelatto

Michelli Ternoski

ABATE HUMANITÁRIO DE BOVINOS: EMPREGO DE TÉCNICAS

ADEQUADAS COMO GARANTIA DE BEM-ESTAR ANIMAL

GUARAPUAVA

2010

Anamaria Morelatto

Michelli Ternoski

ABATE HUMANITÁRIO DE BOVINOS: EMPREGO DE TÉCNICAS

ADEQUADAS COMO GARANTIA DE BEM-ESTAR ANIMAL

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Produção de Bovino de Corte da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Mikael Neumann

GUARAPUAVA

2010

TERMO DE APROVAÇÃO

Anamaria Morelatto

Michelli Ternoski

ABATE HUMANITÁRIO DE BOVINOS: EMPREGO DE TÉCNICAS

ADEQUADAS COMO GARANTIA DE BEM-ESTAR ANIMAL

Esta Monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Especialista em Produção de Bovino de Corte da Pós-Graduação Latu Sensu da Universidade Tuiuti do Paraná.

Guarapuava, novembro de 2010.

______________________________________________

Curso de Pós-Graduação Latu Sensu em Produção de Bovino de Corte

Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Prof. Dr. Mikael Neumann

Instituição e Departamento

Prof. Dr.

Instituição e Departamento

Prof. Dr.

Instituição e Departamento

RESUMO

Atualmente, nota-se uma exigência cada vez maior dos consumidores em relação

qualidade e a procedência dos alimentos. Tal fato faz com que a indústria alimentícia

adote práticas garantidoras de elevado padrão de qualidade, assim como os produtores

rurais. Neste sentido, tem-se o abate de bovinos de acordo com preceitos de bem-estar

animal. Definição de Abate Humanitário é o conjunto de procedimentos técnicos e

científicos que garantem o bem-estar dos animais desde o embarque na propriedade

rural até a operação de sangria no abatedouro-frigorífico; ou seja, tem como objetivo

poupar animais de excitação, dor ou sofrimento desnecessários e devem prevalecer em

todos os momentos precedentes ao abate. No tocante às exigências de bem-estar

animal, importa ressaltar que não estão apenas relacionadas ao aspecto moral e ético,

mas também ao forte impacto econômico verificado nos eventos desde a propriedade

até o abate (sangria) dos bovinos, além da influência na qualidade final da carne. O

não emprego de técnicas de abate humanitário faz com que o animal sofra stress ao ser

abatido, comprometendo a qualidade da carne, havendo perda de carcaças e

diminuição de mercado, principalmente externo.

Palavras-chave: bem-estar; abate; humanitário; qualidade.

LISTA DE ABREVIATURAS

A.S.P.C.A……………… American Society for the Prevention of Cruelty to

Animals

A…………………….…. Ampere

AWAC............................ Animal Welfare Advisory Committee

atm……………………... Atmosfera

BSE…………………….. Bovine Spongiform Encephalopaty (Encefalopatia

Espongiforme Bovina)

cm……………………… Centímetro

C.E.E………………….... Comunidade Econômica Européia

D.F.D…………………... Dark, firm, dry

BDO……………………. Demanda Bioquímica de Oxigênio

DIPOA............................ Departamento de Inspeção de Produtos de Origem

Animal

CO2……………………. Dióxido de Carbono

FAWC............................. Farm Animal Welfare Council

g....................................... Grama

ºC...................................... Grau Celsius

Hz..................................... Hertz

h....................................... Hora

IN..................................... Instrução Normativa

IFANCA……………….. Islamic Food and Nutrition Council of America

<………………………... Menor

m/s………………...……. Metro por Segundo

m²...................................... Metro quadrado

mg/L……………………. Miligrama por litro

mm……………………… Milímetro

M.A.P.A………………... Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

P.S.E................................. Pale, soft, exudative

p.p.m................................. Partes por Milhão

%....................................... Porcentagem

pH..................................... Potencial Hidrogeniônico

Kg..................................... Quilograma

Kgf/cm²............................ Quilograma força por centímetro quadrado

Kg/cm²............................. Quilograma por centímetro quadrado

Kg/m²............................... Quilograma por metro quadrado

RIISPOA.......................... Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitária dos

Produtos de Origem Animal

S.I.F.................................. Serviço de Inspeção Federal

TETRAD……………….. Transport Animal Disease Prevention

V....................................... Volts

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – ESQUEMA PRÉ-ABATE: RECEPÇÃO DOS BOVINOS NO

MATADOURO-FRIGORÍFICO.............................................................................

17

FIGURA 2 – MODELO DE CURRAL................................................................... 26

FIGURA 3 – INSTALAÇÕES DO CURRAL EM BOAS CONDIÇÕES ............ 26

FIGURA 4 – PISO CIMENTADO......................................................................... 27

FIGURA 5 – EMBARCADOR COM PLATAFORMA DE ACESSO.................. 28

FIGURA 6 – SERINGA CIRCULAR DE ACESSO AO EMBARCADOR.......... 29

FIGURA 7 – PISO EMBORRACHADO................................................................ 30

FIGURA 8 – ESQUEMA DO EMBARCADOURO.............................................. 31

FIGURA 9 – CONDUÇÃO ADEQUADA DOS ANIMAIS.................................. 32

FIGURA 10 – APARTAÇÃO REALIZADA EM APARTADOUROS................. 35

FIGURA 11 – APARTAÇÃO REALIZADA NA MANGA.................................. 35

FIGURA 12 – CONDUÇÃO ADEQUADA DOS ANIMAIS NO CURRAL........ 37

FIGURA 13 – EMBARQUE DOS ANIMAIS........................................................ 40

FIGURA 14 – LOCOMOÇÃO DE BOVINOS A PÉ............................................. 42

FIGURA 15 – TRANSPORTE VIA MARÍTIMA.................................................. 43

FIGURA 16 – “CAMINHÃO BOIADEIRO” UTILIZADO NO TRANSPORTE

RODOVIÁRIO........................................................................................................

43

FIGURA 17 – EMBARQUE CONFORME CAPACIDADE DE DIVISÓRIA

DO CAMINHÃO....................................................................................................

48

FIGURA 18 – CONTUSÃO DECORRENTE DO TRANSPORTE....................... 52

FIGURA 19 – CARCAÇA PREJUDICADA POR CONTUSÃO

DECORRENTE DO TRANSPORTE.....................................................................

53

FIGURA 20 – IDENTIFICAÇÃO DO CURRAL DE OBSERVAÇÃO................ 60

FIGURA 21 – ANIMAL SENDO DESTINADO À MATANÇA DE

EMERGÊNCIA IMEDIATA..................................................................................

62

FIGURA 22 – LAVAGEM DOS ANIMAIS REALIZADA NOS CURRAIS...... 66

FIGURA 23 – SISTEMA BRASILEIRO DE ACESSO DOS CURRAIS............. 67

FIGURA 24 – BANHO DE ASPERSÃO............................................................... 68

FIGURA 25 – PASSAGEM DOS BOVINOS PELA SERINGA........................... 69

FIGURA 26 – SERINGA E CORREDOR EM FORMA CURVILÍNEA.............. 70

FIGURA 27 – BOX DE ATORDOAMENTO UTILIZADO NA

INSENSIBILIZAÇÃO............................................................................................

72

FIGURA 28 – VISTA DO BOX DE INSENSIBILIZAÇÃO................................. 72

FIGURA 29 – BOVINO APÓS INSENSIBILIZAÇÃO......................................... 73

FIGURA 30 – ÁREA DE VÔMITO....................................................................... 74

FIGURA 31 – MÁSCARA DE CAVILHA............................................................ 75

FIGURA 32 – CAVILHAS..................................................................................... 76

FIGURA 33 – PISTOLA DE DARDO CATIVO................................................... 79

FIGURA 34 – PISTOLA COM ACIONAMENTO POR CARTUCHO DE

EXPLOSÃO.............................................................................................................

79

FIGURA 35 – PISTOLA PNEUMÁTICA.............................................................. 80

FIGURA 36 – CENTRO IMAGINÁRIO TRAÇADO DA BASE DOS

CHIFRES AOS OLHOS.........................................................................................

81

FIGURA 37 – PISTOLA DE DARDO DE PERCUSSÃO NÃO PENETRANTE 82

FIGURA 38 – CHOUPA......................................................................................... 89

FIGURA 39 – ABERTURA SAGITAL DA BARBELA DO BOVINO................ 90

FIGURA 40 – SISTEMA “VAMPIRO” DE COLETA HIGIÊNICA DO

SANGUE.................................................................................................................

92

FIGURA 41 – “FACA VAMPIRO”........................................................................ 93

FIGURA 42 – CORTE TRANSVERSAL DA CANALETA DE SANGRIA E

CORRETA POSIÇÃO DO ANIMAL.....................................................................

94

FIGURA 43 – ZONA DE FUGA............................................................................ 104

FIGURA 44 – ZONA DE FUGA E OS ÂNGULOS DE VISÃO DOS

BOVINOS...............................................................................................................

104

FIGURA 45 – USO DA BANDEIROLA DURANTE MANEJO DOS

ANIMAIS................................................................................................................

106

FIGURA 46 – OBJETOS QUE CAUSAM DISTRAÇÃO..................................... 108

FIGURA 47 – SELOS DE GARANTIA DE PRODUTOS KASHER E HALAL.... 128

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – RECOMENDAÇÃO DE ESPAÇO DISPONIBILIZADO PARA

OS ANIMAIS DURANTE O TRANSPORTE EM FUNÇÃO DAS

CATEGORIAS E PESOS DOS ANIMAIS..............................................................

49

QUADRO 2 – FREQUÊNCIA DE USO DE DIVERSOS MÉTODOS DE

INSENSIBILIZAÇÃO ACEITOS INTERNACIONALMENTE PARA

DIFERENTES ESPÉCIES ANIMAIS......................................................................

77

QUADRO 3 – AVALIAÇÃO DO USO DO BASTÃO DE ELETRICIDADE EM

BOVINOS..................................................................................................................

101

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – VALORES DE pH DA CARNE BOVINA ANTES E APÓS

TREINAMENTO DOS MOTORISTAS – 2006......................................................

46

GRÁFICO 2 – QUANTIDADE DE HEMATOMAS ANTES E APÓS

TREINAMENTO DOS MOTORISTAS – 2006......................................................

47

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 13

2 PROCESSO DE ABATE DE BOVINOS......................................................... 16

3 HUMANIZAÇÃO DO ABATE ANIMAL ....................................................... 18

3.1 FINALIDADES DO BEM-ESTAR ANIMAL................................................. 21

3.2 PROBLEMAS DE BEM-ESTAR NAS PLANTAS DE ABATE..................... 22

4 MANEJO E INSTALAÇÕES NA PROPRIEDADE ...................................... 24

4.1 INSTALAÇÕES DO CURRAL........................................................................ 25

4.1.1 Embarcadouro ................................................................................................ 27

4.2 MANEJO........................................................................................................... 31

4.2.1 Condução dos Animais do Pasto ao Curral.................................................... 32

4.2.2 Acomodação dos Animais no Curral.............................................................. 33

4.2.3 Seleção dos Lotes para Abate......................................................................... 34

4.3 EMBARQUE..................................................................................................... 36

4.3.1 Papel do Motorista no Embarque................................................................... 39

4.3.2 Papel do Vaqueiro no Embarque.................................................................... 39

5 TRANSPORTE ................................................................................................. 41

5.1 MEIOS DE TRANSPORTES........................................................................... 41

5.1.1 Transporte Rodoviário.................................................................................... 43

5.1.1.1 Escolha do Veículo...................................................................................... 44

5.1.1.2 Papel do Motorista durante o Transporte.................................................... 45

5.1.1.3 Densidade de Carga..................................................................................... 47

5.1.1.4 Tempo de Viagem........................................................................................ 50

5.1.1.5 Perda de Peso............................................................................................... 50

5.1.1.6 Contusão e Fratura....................................................................................... 52

5.1.1.7 Mortalidade.................................................................................................. 54

6 MANEJO E INSTALAÇÕES NO MATADOURO-FRIGORÍFICO ............ 55

6.1 DESEMBARQUE............................................................................................. 58

6.2 CURRAL DE CHEGADA OU SELEÇÃO ..................................................... 59

6.3 CURRAL DE OBSERVAÇÃO......................................................................... 60

6.4 DEPARTAMENTO DE NECRÓPSIA E MATADOURO SANITÁRIO........ 61

6.5 CURRAL DE MATANÇA............................................................................... 63

6.5.1 Período de Descanso, Jejum e Dieta Hídrica.................................................. 63

6.6. RAMPA DE ACESSO AO BOX DE ATORDOAMENTO............................ 65

6.6.1 Banho de Aspersão......................................................................................... 68

6.7 SERINGA.......................................................................................................... 69

6.8 ATORDOAMENTO OU INSENSIBILIZAÇÃO............................................. 71

6.8.1 Métodos de Insensibilização........................................................................... 75

6.8.1.1 Concussão Cerebral..................................................................................... 77

6.8.1.2 Atmosfera Controlada.................................................................................. 83

6.8.1.3 Eletronarcose............................................................................................... 85

6.8.1.4 Outros Métodos........................................................................................... 87

6.9 SANGRIA......................................................................................................... 89

7 MÉTODO PARA AVALIAR O NÍVEL DE ABATE HUMANITÁRIO

EM UMA PLANTA ABATEDOURA .................................................................

97

7.1 SISTEMA DE PONTUAÇÃO......................................................................... 97

7.1.1 Pistola Pneumática......................................................................................... 97

7.1.2 Insensibilidade no Trilho da Sangria.............................................................. 98

7.1.3 Avaliação dos Escorregões e Caídas.............................................................. 99

7.1.4 Avaliação das Vocalizações nos bovinos abrangendo as Áreas da Rampa

de Acesso à Sala de Abate até o Box de Atordoamento..........................................

99

7.2 PRINCÍPIOS QUE PERMITEM REDUZIR O STRESS E AS

VOCALIZAÇÕES...................................................................................................

100

7.3 RECOMENDAÇÔES PARA REDUZIR O USO DO BASTÃO DE

ELETRICIDADE....................................................................................................

101

8 COMPRREENDENDO A ZONA DE FUGA DOS ANIMAIS ...................... 103

9 IDENTIFICANDO DISTRAÇÕES NO MANEJO DOS ANIMAIS ............. 107

10 QUALIDADE DA CARNE .............................................................................. 109

10.1 HEMATOMAS............................................................................................... 110

10.2 PRESENÇA DE CARNES ESCURAS........................................................... 112

10.3 P.S.E. .............................................................................................................. 113

10.4 D.F.D. ............................................................................................................. 114

10.5 REAÇÕES DE VACINAS.............................................................................. 114

10.6 PERDA DE PESO........................................................................................... 115

11 COMO APROVEITAR O INSTINTO DE LÍDER DOS ANIMAIS ........... 116

12 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ........................................................................ 117

12.1 RECOMENDAÇÕES DE BEM-ESTAR ANIMAL ..................................... 117

12.1.1 Rampa de Desembarque.............................................................................. 117

12.1.1.1 Plataforma.................................................................................................. 118

12.1.1.1.1 Medidas.................................................................................................. 118

12.1.1.1.2 Piso......................................................................................................... 118

12.1.1.2 Rampa........................................................................................................ 118

12.1.1.2.1 Medidas.................................................................................................. 118

12.1.1.2.2 Piso......................................................................................................... 119

12.1.1.2.3 Paredes.................................................................................................... 119

12.1.1.3 Currais de Chegada................................................................................... 120

12.1.1.3.1 Tamanho................................................................................................. 120

12.1.1.3.2 Laterais................................................................................................... 120

12.1.1.3.3 Piso......................................................................................................... 120

12.1.1.4 Tanques de Água....................................................................................... 121

12.1.1.5 Corredores de Abate.................................................................................. 121

12.1.1.6 Observações Gerais................................................................................... 121

13 LEGISLAÇÃO EUROPÉIA........................................................................... 124

14 ABATES RELIGIOSOS.................................................................................. 127

14.1 PRODUTOS KOSHER OU KASHER............................................................. 128

14.2 RITUAL SCHECHITA................................................................................... 130

14.3 PRODUTO HALAL ........................................................................................ 132

14.4 RITUAL ISLÂMICO...................................................................................... 133

15 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 135

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 138

13

INTRODUÇÃO

O Brasil se destaca como grande produtor mundial de alimentos, sendo o

agronegócio uma das bases de sua economia. A participação da pecuária bovina de

corte é relevante, vez que o País é o segundo maior produtor de bovinos do mundo,

perdendo apenas para a Índia.

O rebanho brasileiro em 2009 totalizou 193,1 (cento e noventa e três vírgula

um) milhões de cabeças, estava e ainda está distribuído por todo o território nacional,

concentrando-se principalmente na região Centro-Oeste. No mesmo ano, o abate foi

equivalente a 43,6 (quarenta e três vírgula seis) milhões de cabeças, apresentando taxa

de abate de 22,58 % (vinte e dois vírgula cinqüenta e oito por cento).

Em tal período, o Brasil liderou o ranking mundial dos maiores exportadores de

carne bovina, somando o volume de 2 (dois) milhões de toneladas equivalente de

carcaça, sendo 75% (setenta e cinco por cento) desse total representado por carne “in

natura”, 13% (treze por cento) de carne industrializada, 7% (sete por cento) por

miúdos e receita cambial de US$ 5,3 (cinco vírgula três) bilhões. Estes valores

representaram uma participação de 28% (vinte e oito por cento) do comércio

internacional, exportando para outros 170 (cento e setenta) países; sendo a Rússia o

país que mais adquire carne bovina brasileira. (Fonte: ABIEC - Associação Brasileira

das Indústrias Exportadoras de Carne).

Segundo Valle apud Kito, Pereira e Jorge (2009, p. 52), a carne bovina é

considerada alimento de alto valor nutricional, por conta da diversidade de nutrientes

que a compõe, assim como pela alta biodisponibilidade contida nela. A gordura é um

dos componentes que, além de fornecer uma elevada quantidade de energia, contém

ácidos graxos essenciais e auxilia no transporte das vitaminas lipossolúveis pelo

intestino. Além da gordura, a carne é um excelente fonte de proteínas, vitaminas do

complexo B (tiamina, riboflavina, niacina e vitaminas B6 e B12), minerais (K, P, Mg,

14

Fe, Zn) e aminoácidos essenciais. Possui altas concentrações de ácido linolênico

conjugado, que está associado à prevenção e ao combate de determinados tipos de

câncer.

O agronegócio brasileiro tem sido um caso auspicioso de investimentos e

avanços tecnológicos que o colocam em patamares de produtividade competitiva no

cenário internacional. O parque industrial brasileiro, de produtos de origem animal, é

dos mais qualificados do mundo, gozando de expressivo conceito, principalmente os

registrados no Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, do

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que funcionam sob inspeção

federal.

Atualmente, a qualidade da carne representa uma das principais preocupações,

especialmente para consumidores mais exigentes. Porém, há uma associação direta

com o manejo pré-abate, seja na propriedade, transporte dos animais, ou no frigorífico.

Nesse sentido, programas de qualidade de carne devem enfatizar mais do que a oferta

de produtos seguros, nutritivos e saborosos, há a necessidade de compromissos com a

produção sustentável e a promoção do bem-estar humano e animal, assegurando

satisfação do consumidor e renda ao produtor, sem causar danos ao ambiente

(COSTA, 2002). Neste caso, é importante que a cadeia da bovinocultura de corte tenha

conhecimento sobre o comportamento animal, para que assim possam evitar produtos

de qualidade inferior ao esperado.

Do ponto de vista de produtividade, o trato humanitário dos animais destinados

ao sacrifício repercute em benefícios como: menor dano para a carne, menor perda e

maior valor atribuído devido principalmente aos poucos defeitos e lesões; menor

mortalidade dos animais; melhor qualidade da carne graças a redução do estresse e,

melhor qualidade do produto. (FAO, 2001).

Os significados da palavra bem-estar (welfare e well-being), de acordo com o

Merriam-Webster Dictionary e com o Cambridge Dictionaries, são: “o estado ou

condição de estar saudável, feliz, confortável e próspero; felicidade, saúde física ou

mental; condição de existência satisfatória ou boa; o estado de sentir-se saudável ou

feliz; um estado caracterizado pela saúde, felicidade e prosperidade”.

15

O dicionário Aurélio define bem-estar como “estado de perfeita satisfação física

ou moral, conforto”.

Avaliar condições como felicidade, saúde mental e satisfação moral em animais

é tarefa difícil, pois são características subjetivas e intrínsecas aos próprios animais e a

ciência ainda não desenvolveu métodos para avaliá-las. Parece haver, ainda, uma sutil

divergência no uso da palavra bem-estar (GLASSER apud ALMEIDA et al., 2005, p.

24).

Publicações internacionais determinam as “Cinco Liberdades”, sendo

imprescindíveis ao abate humanitário, motivo pelo qual se fará estudo aprimorado no

tocante ao assunto.

No mesmo sentido, e componente importante o stress não poderá ser

desconsiderado no presente trabalho, assim como o conjunto de reações dele inerentes,

capazes de perturbar o bem estar animal.

No mesmo diapasão, e não menos importante, deve-se relacionar procedimentos

e técnicas do Abate Humanitário à qualidade da carne, visto que o não emprego destas

técnicas faz com que o animal se estresse ao ser abatido, comprometendo a qualidade

da carne.

Dentre os requisitos técnicos a serem observados para obtenção do sucesso no

abate, há que se mencionar sobre as notórias deficiências dos equipamentos e

instalações e mão de obra utilizados na Planta Abatedoura.

16

2 PROCESSO DE ABATE DE BOVINOS

Há algumas décadas, o abate de animais era considerado uma operação

tecnológica de baixo nível científico e não se constituía em um tema pesquisado

seriamente por universidades, institutos de pesquisa e indústrias (CIVEIRA et al.,

2006). A tecnologia do abate de animais destinados ao consumo somente assumiu

importância quando se observou que os eventos que ocorrem desde a propriedade rural

até o abate do animal, tinham grande influência na qualidade da carne (ROÇA, 2001).

Quando se fala de abate de bovinos alguns cuidados devem ser tomados, pois

existem etapas neste processo que são consideradas críticas. Para realização de um

bom abate os animais não devem ser tratados com crueldade, nem mesmo estressados

desnecessariamente, a sangria realizada deve ser eficiente, evitando as contusões da

carcaça e todas as normas do RIISPOA (Regulamento de Inspeção Industrial e

Sanitária dos Produtos de Origem Animal) devem ser seguidas.

Para compreender a importância das técnicas do abate humanitário é necessário

que se tenha conhecimento dos processos e etapas que envolvem o abate, tanto nas

operações de pré-abate quanto nas operações de abate propriamente ditas.

17

FIGURA 1 – ESQUEMA PRÉ-ABATE: RECEPÇÃO DOS BOVINOS NO

MATADOURO-FRIGORÍFICO

FONTE: Silveira (2001)

18

3 HUMANIZAÇÃO DO ABATE ANIMAL

Conforme Prata e Fukuda (2001), a exploração racional das espécies animais

destinadas à produção de alimentos têm ao longo dos anos, modificado relações entre

o homem e os animais, gerando uma associação mais íntima que, paralelamente à

evolução cultural dos povos, têm intensificado o interesse e a preocupação do homem

quanto à civilização dos atos relacionados ao abate de animais. Nesse aspecto,

verifica-se uma conscientização crescente das culturas que compõem a humanidade,

quanto à necessidade de maior respeito à vida animal, evidenciada pela abolição de

maus tratos e crueldade desnecessária que poderiam envolver tais atos.

No mundo todo, nota-se uma exigência cada vez maior dos consumidores com a

qualidade e a procedência dos alimentos que adquirem. Isso obriga a indústria

alimentícia a adotar práticas que garantam o elevado padrão dos produtos que oferece

como o abate de bovinos de acordo com preceitos de bem-estar animal. A partir do

princípio que é dever moral do homem respeitar os animais, em 17 de janeiro de 2000

foi aprovada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (M.A.P.A) a

Instrução Normativa nº 3, define o conjunto de diretrizes técnicas e científicas capazes

de garantir o bem-estar dos animais em todo o processo de abate, desde a recepção até

a operação de sangria. Válido para todos os estabelecimentos industriais de abate, o

conceito de abate humanitário tem como objetivo poupar os animais de qualquer

excitação, dor ou sofrimento desnecessário.

Para Roça (1999), a tecnologia do abate de animais destinados ao consumo

passou a assumir importância científica quando foi observado que os eventos que se

sucedem desde a propriedade rural até a matança dos animais possuem grande

influência no produto final. “Não adianta termos um animal com alto padrão genético

e alta tecnologia de produção e nutrição, se não observarmos as condições de bem-

estar animal e as conseqüências na qualidade da carne.”

19

De acordo com Kito, Pereira e Jorge (2009, p. 52), caracteriza-se o bem-estar

animal como o estado de um dado organismo durante suas tentativas de se ajustar ao

seu ambiente, tendo esse estado relação direta com as necessidades, liberdades,

felicidade, adaptação, controle, capacidade de previsão, sentimentos, sofrimento, dor,

ansiedade, medo, tédio, estresse e saúde do animal.

Na prática de etologia, ciência que estuda o comportamento dos animais, o

bem-estar é avaliado por meio de indicadores fisiológicos e comportamentais. As

medidas fisiológicas associadas ao estresse têm sido usadas com a seguinte base: se o

estresse aumenta, o bem-estar diminui. Já os indicadores comportamentais são

baseados especialmente na ocorrência de condutas anormais e de comportamentos que

se afastam do praticado no ambiente natural (ALMEIDA apud KITO, PEREIRA E

JORGE 2009, p.53).

Os significados da palavra bem-estar (welfare e well-being), de acordo com o

Merriam-Webster Dictionary e com o Cambridge Dictionaries, são: “o estado ou

condição de estar saudável, feliz, confortável e próspero; felicidade, saúde física ou

mental; condição de existência satisfatória ou boa; o estado de sentir-se saudável ou

feliz; um estado caracterizado pela saúde, felicidade e prosperidade”. O dicionário

Aurélio define bem-estar como “estado de perfeita satisfação física ou moral,

conforto”. Avaliar condições como felicidade, saúde mental e satisfação moral em

animais é tarefa difícil, pois são características subjetivas e intrínsecas aos próprios

animais e a ciência ainda não desenvolveu métodos para avaliá-las. Parece haver,

ainda, uma sutil divergência no uso da palavra bem-estar (GLASSER apud ALMEIDA

et al., 2005, p. 24).

No mesmo sentido, Fraser apud Almeida et al., (2005, p. 24), usa o termo well-

being para referir-se a situações inerentes ao próprio animal, ou seja, aos seus estados

endógenos, e welfare para intervenções humanas feitas para melhorar o well-being.

Glaser apud Almeida et al., (2005, p. 24), cita que os autores parecem concordar que o

bem-estar de um animal depende da sua habilidade de manter sua condição corporal a

mais estável possível e evitar sofrimento.

20

O Fadem Animal Welfare Council (FAWC), publicou conceituações que são

conhecidas como as “Cinco Novas Liberdades”. Estas cinco novas liberdades são as

seguintes:

Liberdade Fisiológica: ausência de fome e sede. A alimentação à disposição do

animal deve ser suficiente, tanto em quantidade quanto em qualidade, permitindo

crescimento, vigor e saúde dos animais.

Liberdade Ambiental: ausência de desconforto térmico ou físico. As instalações

devem ser adaptadas, fazendo com que o ambiente não seja excessivamente quente ou

excessivamente frio, nem impeça o descanso e atividades normais.

Liberdade Sanitária: ausência de injúrias e doenças. As instalações devem

apresentar-se de forma a minimizar o risco de doenças, fraturas e machucados, e

quaisquer casos que ocorram devem ser reconhecidos e tratados sem demora.

Liberdade Comportamental: possibilidade para expressar padrões

comportamentais normais. O ambiente deve permitir e oferecer condições para que o

animal expresse seus instintos e comportamentos normais, inerentes à sua espécie.

Liberdade Psicológica: ausência de medo e ansiedade. O animal não deve ser

exposto a situações que lhe provoquem angústia, ansiedade, medo ou dor.

Esses itens procuram oferecer uma abordagem para a compreensão do bem-

estar como ele é percebido pelo próprio animal (e não como definido por seu criador

ou mesmo pelo consumidor), e servem como um ponto de partida para avaliar os

aspectos bons e ruins de um sistema de criação.

A idéia de que os animais destinados ao abate não têm muito tempo de vida,

não importando o que seja feito com eles, é imoral. O bem-estar de cada indivíduo

deve ser considerado até o ponto que este perde a consciência, imediatamente antes da

morte (BROOM apud ALMEIDA et al., 2005, p. 24).

21

3.1 FINALIDADES DO BEM-ESTAR ANIMAL

Consumidores: estão cada vez mais conscientes sobre a importância dos

cuidados e deveres da produção animal e principalmente no que tange a Segurança

Alimentar.

Compradores: que estão sendo cada dia mais pressionado a comprarem de

fornecedores que pratiquem o bem-estar animal podem citar os exemplos do Mc

donalds, Tesco, entre outras redes que a cada dia pedem mais e mais papéis e laudos e

auditorias das empresas brasileiras para certificar aos consumidores que o produto que

eles estão consumindo está livre de maus tratos e livre de resíduos de medicamentos.

Resultado Econômico da Agroindústria: aspectos importantes como sanidade,

ambiência, hematomas, mortalidade no transporte, indicadores que com o bem-estar

animal esses efeitos diminuem e conseqüentemente aumentam os resultados

zootécnicos e econômicos.

Os países da União Européia, Austrália e Oceania promovem legislações

especificas e força tarefa discutindo e assegurando que sejam cumpridas as normas e

legislações especificas, por isso a pressão de fora para dentro do Brasil quando o

assunto é bem-estar animal.

A preocupação com o bem-estar animal e com o abate humanitário tem

importância ética/moral – afinal, somos humanos e devemos, por obrigação, evitar o

sofrimento inútil daqueles que serão submetidos ao sacrifício. Essa preocupação, no

entanto, também possui o lado econômico. Um tratamento humanitário nas etapas de

abate resulta em menores contusões na carcaça e, portanto, em menores áreas a serem

descartadas, com significativa redução de perdas e custo. A qualidade da carne é

melhorada, evitando-se problemas como ossos quebrados, hemorragias internas, peles

rasgadas, carnes em condições anormais, como P.S.E. (em suínos e aves) e D.F.D. (em

suínos, ovinos e bovinos) maiores perdas por gotejamento, menor vida de prateleira.

22

3.2 PROBLEMAS DE BEM-ESTAR NAS PLANTAS DE ABATE

Existem causas básicas de problemas de bem-estar nas plantas de abate,

podendo ser mencionadas da seguinte maneira:

Primeira causa: deficiências no desenho (projeto) ou nas características dos

equipamentos de atordoamento;

Segunda causa: elementos de distração que atrapalham o movimento animal –

como reflexos brilhantes no piso molhado, descarga de equipamentos de ar

comprimido, ruídos ou sons agudos, saídas de ventilação que lançam correntes de ar

contra os animais que avançam, entre outros. Estes fatores podem atrapalhar o

funcionamento de sistemas bem projetados e fazer com que os animais fiquem

nervosos. Quando isso acontece, será necessário interferir (bastão, eletrochoque) para

que se movam;

Terceira causa: falhas de capacitação dos empregados e em sua supervisão por

parte pessoal superior;

Quarta causa: falta de manutenção de equipamentos e instalações – como

pistolas de atordoamento que falham, pisos desgastados ou lisos (que fazem com que

os animais escorreguem ou caiam);

Quinta causa: Estado dos animais que chegam às plantas – como os animais

doentes ou incapazes de se moverem (GRANDIN apud ALMEIDA et al., 2005, p. 26).

Outro problema é a presença de linhagens genéticas excitáveis, de suínos e de

bovinos, que são mais susceptíveis ao estresse durante o manejo. Para se corrigir um

problema de bem-estar deve-se, primeiramente, determinar sua causa. Os animais

podem ser estressados pelos seguintes estresses psicológicos: restrição, manejo,

novidade; ou físicos: fome, sede, fadiga, injúria ou extremos térmicos (GRANDIN

apud ALMEIDA et al., 2005, p. 26).

Andrade apud Kito, Pereira e Jorge (2009, p. 53-54), define o estresse como um

conjunto de reações do organismo que se desenvolve como resultado de situações

perturbadoras, o qual é o principal mecanismo de medida ou de avaliação do bem-estar

animal. Essas situações estressantes, que estimulam respostas fisiológicas e

comportamentais, podem levar ao comprometimento do sistema imunológico,

23

aumentando a suscetibilidade a infecções, desenvolvimento de doença psicossomática,

comprometimento do bem-estar animal e redução da eficiência produtiva.

Fator importante para a indústria frigorífica garantir o padrão de qualidade é o

treinamento dos profissionais que atuam em todas as etapas do processo. É necessário

capacitar e, ao mesmo tempo, aguçar a sensibilidade dos funcionários que trabalham

em todas as etapas do processo até o momento da sangria.

24

4 MANEJO E INSTALAÇÕES DA PROPRIEDADE

Segundo Souza e Ferreira, apud Kito, Pereira e Jorge (2009, p. 56), manejo

racional é o termo utilizado para aplicação de conhecimentos sobre o comportamento

de bovinos na busca de melhorar interação humana com os animais, minimizando

agressões e estresse.

No dia a dia da fazenda, os bovinos freqüentemente enfrentam situações que

causam desconforto, calor ou frio, radiação solar, moscas e predadores; tais condições

podem, em conjunto ou isoladamente, levar os animais a condição de estresse.

O processo de comercialização inicia-se com o deslocamento dos animais dos

seus locais de produção para o matadouro-frigorífico. Já nesta etapa, o abandono dos

locais aos quais já se habituaram cria um ambiente desconfortável para o animal, que

irá responder com diferenças nos níveis de estresse, conforme a sua predisposição

genética.

De acordo com Furquim (2007, p. 60), existem recomendações quanto ao

manejo dos bovinos na propriedade:

a) Apartar os animais em lotes de acordo com o sexo, idade e número de

animais por piquete, para que não haja disputa por espaço físico e alimento;

b) Respeitar os animais. Movimentos bruscos e sons repentinos próximos aos

animais não são recomendáveis;

c) Pastagens devem ser providas de sombra para proporcionar conforto térmico

aos animais nas horas mais quentes do dia. O acesso à sombra traz benefícios à

produção animal, aumenta a produtividade e a eficiência na utilização dos alimentos;

d) Os animais devem ter água disponível a qualquer hora do dia, principalmente

em regiões mais quentes;

e) Movimentar lotes reduzidos de animais. Evitar deixar um animal isolado;

25

f) Manter os animais em boas condições de saúde (vacinação, nutrição e

manejo).

4.1 INSTALAÇÕES DO CURRAL

Instalações adequadas facilitam na condução e no fluxo contínuo dos animais

nas operações de aplicações de medicamentos, pesagem, brincagem, apartação e

embarque. Durante estas operações, deve-se evitar superlotação dos piquetes, manejo

agressivo, tais como; uso de ferrão, bastão elétrico ou qualquer outro instrumento que

possa causar ferimentos ou estresse aos animais.

Cuidados que se devem ter para diminuir incidência de contusões começam nas

instalações das fazendas, principalmente as partes que compreendem o curral de

separação dos bovinos e o embarcador.

Sabe-se que não existe um modelo ideal de curral. As instalações devem ser

adequadas ao objetivo da propriedade (sistema de criação, categoria dos animais).

As características anatômicas e comportamentais dos animais também devem

ser levadas em consideração, por exemplo: bovinos não são adaptados a passarem por

curvas muito fechadas (90º graus). Presença de cantos pode provocar ferimentos,

como: hematomas e contusões, gerando perdas econômicas e sofrimento para os

animais.

Curral construído utilizando curvas suaves ao invés de possuir cantos, favorece

a movimentação dos animais, possibilitando aos mesmos a visualização dos outros

membros do lote.

26

FIGURA 2 – MODELO DE CURRAL

FONTE: www.grandin.com

As instalações devem estar sempre em bom estado de conservação, assim como

a prática de revisão das mesmas (curral, cercas, portões, apartador, embarcador).

FIGURA 3 – INSTALAÇÕES DO CURRAL EM BOAS CONDIÇÕES

FONTE: Paranhos da Costa, Spironelli e Quintiliano (2008)

Os pisos, não devem ser escorregadios, nem mesmo possuir excesso de terra,

areia, fezes e água, pois dificulta a locomoção dos animais. Não deve haver presença

de pedras no piso de chão, pois poderá lesionar os cascos dos bovinos.

27

FIGURA 4 – PISO CIMENTADO

FONTE: www.execucaodecurrais.com.br

As porteiras devem ser de fácil movimentação e bem fixadas.

As cercas devem ser consertadas sempre que necessário e realizar

monitoramento para imediata remoção de pregos ou quaisquer objetos pontiagudos

que se tornem expostos com o uso. Cercas de madeira com espaços abertos significam

riscos para os animais. É comum os bovinos colocarem a cabeça ou as patas nos

espaços abertos das cercas, na tentativa de fugir. Ainda, se a cerca não for

completamente fechada, a movimentação dos animais pode ficar mais difícil. Os

estímulos do lado de fora da cerca poderão ser vistos pelos animais, que podem mudar

seu padrão de movimentação em função disso. Também existe a questão da geração de

sombras pelos espaços vazados da cerca.

4.1.1 Embarcadouro

O embarcadouro é a instalação que permite conduzir os animais para dentro da

“gaiola” do caminhão. Em geral é definido por um corredor com uma rampa no final,

que permite aos animais alcançarem o piso da “gaiola”.

28

O carregamento dos animais para os veículos de transporte é mais facilmente

realizado se os corredores e rampas de acesso não possuírem curvas acentuadas que

possam impedir o movimento ou causar lesões aos animais.

Ao planejar a construção do embarcadouro deve-se considerar a necessidade de

espaço para que as manobras dos caminhões possam ser realizadas com segurança e

tranqüilidade.

O posicionamento do embarcadouro deve respeitar sempre o sentido do fluxo

usual de passagem dos animais, ou seja; respeitando as rotinas de manejo no curral.

O ideal é que a plataforma de embarque seja no mesmo nível do piso do

caminhão, a fim de permitir ao animal adentrar seguramente nas “gaiolas”. Para isso,

recomenda-se implantação de uma plataforma de um metro de comprimento, ao

término da rampa do embarcadouro.

FIGURA 5 – EMBARCADOR COM PLATAFORMA DE ACESSO

FONTE: Molento (2010)

As paredes laterais do embarcadouro devem ser vedadas, a fim de evitar

distração dos animais com estímulos externos ao embarcadouro e o comportamento

exploratório causado pela presença de sombras de cercas vazadas, ou até uma recusa

de prosseguir pela sensação de que o piso disponível é limitado, ou ainda; evitar que os

animais prendam as patas ou a cabeça nos vãos entre as tábuas.

De acordo com Paranhos da Costa, Spironelli e Quintiliano (2008, p.23), é

recomendado que as paredes laterais do embarcadouro tenham pelo menos 1,80 m de

altura. Embarcadouros largos podem dificultar o embarque e machucar os animais,

29

pois aumentam os riscos dos animais virarem e atrasarem o embarque e também de

dois animais passarem ao mesmo tempo pelo embarcadouro, aumentando os riscos de

pancadas na paleta, costela e ponta da anca, principalmente na porteira de entrada da

“gaiola”.

No caso de embarcadouros mais estreitos há risco de animais muito grandes não

passarem, se machucarem ou ficarem imprensados. Isto é particularmente preocupante

com animais mais velhos e com chifres grandes e abertos.

No caso do embarque de bezerros o trabalho deve ser realizado com mais

cuidado, pois os bezerros viram com freqüência dificultando o manejo. Em caso de

embarques constantes desta categoria de animais é indicado dispor de estruturas

móveis para reduzir a largura do embarcadouro, mantendo-a em 0,50 m (PARANHOS

DA COSTA, SPIRONELLI e QUINTILIANO, 2008, p.23).

Ainda os mesmos autores relatam que os embarcadouros devem ser construídos

com largura entre 0,80 - 0,90 m dependendo das raças e das categorias de animais

usualmente embarcados. Em casos especiais, como nas fazendas que possuem animais

muito grandes (gado elite e raças de grande porte) podem ser necessários

embarcadouros mais largos, com até 1,00 m.

A largura da rampa e da plataforma deve proporcionar a passagem de um

animal por vez. Assim, são evitadas batidas com outros animais ou estruturas da porta

do caminhão.

FIGURA 6 – SERINGA CIRCULAR DE ACESSO AO EMBARCADOR

FONTE: Paranhos da Costa, Spironelli e Quintiliano (2008)

30

A rampa do embarcadouro deve possuir piso emborrachado ou cimentado,

dispondo de estruturas antiderrapantes. Para pisos cimentados, as estruturas

antiderrapantes devem estar espaçadas em 0,30 m e devem ter as bordas arredondadas

para não machucar os cascos dos animais (PARANHOS DA COSTA, SPIRONELLI e

QUINTILIANO, 2008, p.23).

FIGURA 7 – PISO EMBORRACHADO

FONTE: www.execucaodecurrais.com.br

É importante a manutenção do piso limpo, para que mantenha suas

características antiderrapantes. O excesso de lama e esterco deve ser retirado.

Superfícies escorregadias aumentam o risco de quedas. Atrasando o processo de

embarque, além dos animais caídos poderão ser pisoteados, gerando mais sofrimento

por uma série de contusões e ferimentos, sofrimento animal que tem um custo moral e

um custo financeiro, na forma de carne descartada.

Para Paranhos da Costa, Spironelli e Quintiliano (2008, p.24), todo

embarcadouro deve dispor de uma passarela lateral ao longo de toda sua extensão, que

será utilizada pelos vaqueiros para terem acesso aos animais durante o embarque. A

passarela deve ter pelo menos 0,80 m de largura e ser construída de forma sólida e

segura.

31

Ainda os mesmos autores descrevem que a rampa do embarcadouro deve

possuir inclinação suave, preferencialmente menor que 20 graus. É indicado que o

último lance do embarcadouro seja em nível, prolongando-se por pelo menos 2 m de

comprimento. A altura do embarcadouro no local onde encosta o caminhão deve ser de

1,40 m, que representa a altura média do assoalho das “gaiolas” dos caminhões. Isto

não é suficiente para evitar a formação de degrau entre o embarcadouro e o assoalho

das “gaiolas” dos caminhões, é preciso também acertar o terreno da área de

estacionamento dos veículos, pois em situações com declives no terreno ou buracos há

formação de degraus que dificultam o embarque.

FIGURA 8 – ESQUEMA DO EMBARCADOURO

FONTE: Paranhos da Costa, Spironelli e Quintiliano (2008)

4.2 MANEJO

Qualquer interação com os humanos deve ser calma, sem agitação e sem

estresse. Se houver gritaria, agressões ou uso de choque elétrico, os animais terão

medo dos humanos e isso tornará o manejo mais difícil. O manejo tranqüilo pode

afetar significativamente a atitude e o nível de estresse dos animais.

32

4.2.1 Condução dos Animais do Pasto ao Curral

Ideal é que um vaqueiro trabalhe à frente do lote que está sendo conduzido,

tendo controle da velocidade dos animais e outros vaqueiros sigam atrás conduzindo

os animais e impedindo que os mesmos retornem.

FIGURA 9 – CONDUÇÃO ADEQUADA DOS ANIMAIS

FONTE: Paranhos da Costa, Spironelli e Quintiliano (2008)

Nas condições em que os animais são de difícil condução, sugere-se utilizar

animais dóceis para auxiliar na condução do rebanho.

Os animais não devem ser pressionados, em especial nas transações das

instalações entre piquetes e no curral.

Os funcionários da propriedade devem receber treinamentos e/ou orientações

em relação às técnicas de manejo, necessidades e comportamento dos animais, para

evitar o manejo agressivo.

33

4.2.2 Acomodação dos Animais no Curral

Deve ser realizada calmamente, sem uso de ferrões, objetos pontiagudos e

bastão elétrico. Animais não devem receber pressão excessiva para adentrarem ao

curral, pois podem se machucar.

Animais não devem ser mantidos no curral por longo período, apenas o tempo

necessário para que se realize o trabalho desejado.

Currais não devem ser super lotados, pois aumentam riscos de acidentes e

dificultam o manejo. Ideal que metade do curral esteja livre.

Ideal é dispor de piquetes nas proximidades do curral, a fim de acomodar parte

dos animais enquanto aguardam o manejo dos demais.

Disponibilizar água à vontade nos piquetes de separação, horas antes do

embarque.

Se houver tempo de espera pelo caminhão, torna-se necessário a preocupação

de evitar exposição excessiva ao sol ou outras condições climáticas adversas.

Animais destinados ao abate não devem ser aplicados medicamentos no

momento do carregamento ou até mesmo em dias que precedem o abate (respeitar

período de carência dos medicamentos).

A aglomeração em espaços pequenos, além de causar desconforto e maiores

chances de estresse para os animais, dificulta o manejo.

Ao conduzir os animais para a entrada do brete, se não houver espaço suficiente

para os mesmos se moverem para frente, é inútil a utilização de instrumentos, gritos e

agressões. É necessário que as instalações, associadas ao manejo imposto, sempre

permitam a possibilidade dos animais realizarem os movimentos que se deseja.

No caso da entrada do brete, uma opção seria mover os animais da frente para

livrar espaço e não pressionar os que estão atrás. Ideal é identificar e eliminar a causa

pela qual o animal não se movimenta, permitindo assim uma movimentação tranqüila.

34

4.2.3 Seleção dos Lotes para Abate

O planejamento da venda dos animais para abate deve ser feito com

antecedência, a fim de ser realizado um prévio remanejamento de lotes.

Formação de lotes de embarque deverá ser feita conforme capacidade do

caminhão.

Apartação dos animais deve ser realizada dias anteriormente ao embarque

(mínimo uma semana). Prática importante para evitar excesso de movimentação dos

animais no curral, perda de peso, contusões nas carcaças e aumento do quadro de

estresse. Além disso, propicia bem-estar dos animais, diminuindo o sofrimento dos

mesmos durante o embarque e transporte.

Quando poucos animais de um determinado lote forem embarcados, a separação

pode ser realizada no local em que os animais estiverem (exemplo: piquetes). Já

quando for embarcado a maioria dos animais do lote, a apartação deverá ser realizada

no curral.

Durante apartação no pasto e piquete, evitar movimentos que causem agitação

nos animais (gestos bruscos, gritos e correria). Conversar com os animais e trabalhar

com que os mesmos estejam olhando para o vaqueiro, desta forma facilitará a

compreensão dos comandos.

Apartação no curral de manejo pode ser realizada logo na entrada do curral, nas

porteiras de transição ou apartadouros.

35

FIGURA 10 – APARTAÇÃO REALIZADA EM APARTADOUROS

FONTE: Paranhos da Costa, Spironelli e Quintiliano (2008)

No que se diz respeito à apartação nas porteiras, deve-se conduzir os animais

em pequenos grupos, para que sejam identificados com facilidade. Bandeiras

possibilitam manter maior distância entre os animais (segurança), além de maior área

de atuação dos movimentos. Bandeira deve ser utilizada como extensão do braço e não

como instrumento de agressão para bater ou cutucar os animais.

FIGURA 11 – APARTAÇÃO REALIZADA NA MANGA

FONTE: Paranhos da Costa, Spironelli e Quintiliano (2008)

36

A homogeneidade dos lotes, obedecendo peso mínimo e com uma pequena

diferença entre o animal mais leve e o mais pesado do lote, também é um fator que

deve ser considerado para o bem-estar dos animais.

No caso de animais inteiros, estes devem permanecer juntos da engorda ao

abate. Ideal é não misturar animais inteiros com castrados.

Mistura de animais de diferentes lotes aumenta incidência de brigas, estresse e

ferimentos nos animais. Portanto, ideal é manter animais no mesmo lote de origem.

No caso de ser inevitável a mistura de animais de diferentes lotes para

completar a carga do caminhão, ou mesmo para obter grupos homogêneos, aconselha-

se agrupá-los com no mínimo uma semana de antecedência ao embarque, mantendo-os

em pastos ou piquetes, onde há mais espaço para que possam evitar interações sociais

agressivas. Evitar manter animais que não se conhecem em locais com pouco espaço.

4.3 EMBARQUE

O embarque e o transporte envolvem dois tipos distintos de ação: a

movimentação (manejo) e a contenção dos animais. Como nenhuma dessas ações faz

parte do ambiente normal dos animais, essas etapas, juntamente com o manejo no

matadouro-frigorífico antes do abate, podem ser consideradas os eventos mais

estressantes na vida do animal (GOMIDE, RAMOS e FONTES 2006, p. 108).

Na maioria das vezes, os responsáveis por embarcar os animais nos caminhões

de transporte não possuem conhecimento dos princípios básicos do bem-estar. Além

disso, utilizam ferrões ou choques elétricos, comprometendo a qualidade da carcaça,

que poderá sofrer lesões durante o processo “forçado” de condução e entrada dos

animais no caminhão de transporte.

Ao conduzir os animais para dentro das “gaiolas” devem-se manejar grupos

pequenos, de acordo com a capacidade divisória do caminhão. A fim de evitar

movimentação excessiva dos animais no interior do caminhão, reduzindo riscos de

quedas, ferimentos e contusões. Os autores Paranhos da Costa, Spironelli e Quintiliano

(2008, p.28), relatam que para animais pesando entre 400 e 450 kg de peso vivo, em

37

caminhões do tipo “truck” com “gaiolas” de três compartimentos, recomenda-se

formar três grupos de embarque: compartimento da frente com quatro animais; do

meio com nove e compartimento de trás com cinco animais.

Cada um dos grupos de animais deve ser conduzido ao embarcadouro com

calma, sem o uso de ferrões, choques e sem gritos. Condução pode ser realizada a

cavalo ou a pé, dependendo da categoria animal que está sendo embarcado e da

maneira como os vaqueiros estão acostumados a trabalhar no manejo do curral. Faz-se

importante que os animais estejam calmos e tenham espaço suficiente para se

movimentarem, visualizando o caminho que devem seguir e também para obedecerem

aos comandos dos vaqueiros.

A condução fica mais fácil quando os bovinos andam em fila, portanto manejar

os animais de forma com que um deles “desponte” do grupo, desta maneira os demais

tendem a segui-lo, facilitando o deslocamento para dentro do veículo.

FIGURA 12 – CONDUÇÃO ADEQUADA DOS ANIMAIS NO CURRAL

FONTE: Paranhos da Costa, Spironelli e Quintiliano (2008)

Os vaqueiros que estiverem trabalhando na passarela do embarcadouro devem

estar posicionados de maneira com que os animais não os vejam, sendo que em alguns

momentos devem permanecer agachados. Quando os animais estiverem na rampa de

acesso ao caminhão, o vaqueiro deve levantar e caminhar sentido contrário ao do

38

animal, estimulando o seu movimento para dentro do caminhão. Chegando à parte

mais baixa da rampa, afastar-se da lateral e subir novamente. Repetir esse movimento

até que todo o grupo seja embarcado. Observar os animais e identificar o melhor

posicionamento para não atrapalhar o manejo.

Após a entrada do primeiro grupo de animais, fechar a porteira do

compartimento traseiro e trabalhar para acomodar os animais no compartimento da

frente. Um dos vaqueiros deve estimular os animais a entrarem no compartimento da

frente enquanto outro cuida da porteira, que deve ser fechada após a passagem do

último animal. Após acomodar o primeiro grupo, deve-se encaminhar o grupo seguinte

para o embarque, realizando o mesmo procedimento até que todos os compartimentos

sejam preenchidos.

Existem animais mais reativos que se recusam a entrar no veículo; importante é

manter a calma. Tentar conduzi-los utilizando bandeira e assobios. Se na primeira

tentativa não der certo, retornar o animal à seringa junte-o com outros animais que

serão embarcados no caminhão, esperar que se acalme e então tentar conduzi-lo

novamente com o grupo. Caso ele se recuse novamente, verificar a possibilidade dele

ser embarcado posteriormente.

Caso não haja possibilidade de manter o animal na propriedade e a dificuldade

do embarque aumentar, o cuidado deve ser maior. Utilizar um laço na base do chifre

do animal ou fazer um cabresto caso ele for mocho. Verificar se a corda está firme e

não há possibilidade dela escapar. Com auxílio de cavaleiros, puxar e empurrar o

animal para o interior do caminhão. O animal nunca deverá ser arrastado. Caso o

animal se deite, esperar com que ele se levante e repetir o procedimento. Outra

possibilidade para lidar com situações extremas é a utilização do bastão elétrico, que

não pode ser aplicado nas mucosas e partes sensíveis (cara, ânus, vagina e olhos).

Encostar o bastão elétrico no animal e retirá-lo imediatamente. Nunca utilizar o

choque ligado na rede elétrica, a voltagem do bastão elétrico não pode ser superior a

30V. O bastão elétrico deve ser usado apenas em situações de emergência, não sendo

indicado como prática de manejo devido ao alto risco de acidentes em função da

reação dos animais.

39

Animais feridos, doentes ou fêmeas em estágio avançado de gestação devem ser

embarcados apenas com a autorização de um médico veterinário ou responsável pelo

embarque, o qual assinará um termo de responsabilidade. Por lei é permitido somente

o embarque de animais saudáveis e que possam suportar a viagem.

O sucesso do manejo de embarque depende da forma com que os demais

manejos no curral são realizados. Os bovinos aprendem com facilidade, portanto a

rotina diária de manejo irá interferir no manejo de embarque.

4.3.1 Papel do Motorista no Embarque

Os motoristas são responsáveis pela manutenção das boas condições de

conservação e de limpeza dos veículos, além de transportar os animais até o destino

final. A “gaiola” deve estar limpa, sem pregos ou pontas de parafusos, sem buracos no

piso e sem tábuas quebradas.

O motorista é o responsável também pela manobra do veículo, que deve estar

bem estacionado, sem vãos entre o caminhão e o embarcadouro.

Após a confirmação de que o veículo está bem estacionado o motorista deve

abrir todas as porteiras da gaiola, assegurando-se de que não há risco delas caírem

sobre o dorso dos animais. A partir daí os motoristas devem seguir as orientações do

responsável pelo embarque.

4.3.2 Papel do Vaqueiro no Embarque

É responsabilidade do vaqueiro a realização de todas as ações para o embarque

dos bovinos.

Antes de iniciar o embarque, o vaqueiro deve verificar o caminho a ser

percorrido pelos animais, recolher papéis, plásticos, pedaços de madeira e pedras que

possam atrapalhar o deslocamento dos animais.

40

Tábuas soltas, buracos, pontas de pregos e degraus também devem ser

consertados para evitar acidentes. Caso haja acúmulo de fezes e lama deve-se limpar o

local antes de começar o embarque.

Com o veículo estacionado no embarcadouro, verificar se está bem encostado,

se houver algum problema orientar o motorista a corrigi-lo. Verificar as condições do

veículo que deve estar limpo e sem problemas estruturais.

Recomenda-se não realizar o embarque em veículos sujos, quebrados e em mal

estado de conservação.

Verificar se as porteiras da “gaiola” estão bem abertas, para que os animais

possam entrar sem o risco de pancadas no dorso ou na anca.

Após verificar que as condições das instalações e dos veículos estão adequadas,

o embarque pode ser iniciado.

FIGURA 13 – EMBARQUE DOS ANIMAIS

FONTE: Paranhos da Costa, Spironelli e Quintiliano (2008)

41

5 TRANSPORTE

Além do manejo inadequado no embarque, o transporte mal conduzido pode

comprometer o bem-estar animal e causar contusões, fraturas, arranhões, exaustão

metabólica, desidratação, estresse térmico e, até mesmo, a morte do animal.

Entretanto, a mortalidade de bovinos é extremamente baixa quando comparada a

outras criações (suínos e aves).

Conforme Pardi (2006, p. 493), em qualquer veículo de transporte de animais,

são requeridas medidas especiais por ocasião do embarque, desembarque e quanto à

lotação. Tais atenções, associadas aos cuidados durante o percurso, sobretudo quando

usado o transporte rodoviário, nem sempre são suficientes para evitar contusões da

pele e da carne, além de fraturas, agravando-se o quadro estressante.

5.1 MEIOS DE TRANSPORTE

É de tal ordem o interesse zootécnico-econômico e sanitário pelo deslocamento

das boiadas em direção aos matadouros-frigoríficos, que mereceu, da parte de Pardi e

Caldas (1968), estudo detalhado a propósito. Ao retratarem as condições em vigor na

época de 1968, já se sentia a tendência ao declínio da locomoção a pé, que constituíra

regra geral numa fase não tão remota, bem como do transporte ferroviário ou

aquaviário em favor do transporte rodoviário (PARDI, 2006, p. 493).

A condução de boiadas a pé, em algumas regiões ainda é utilizada, desde que a

distância não seja grande e não haja outras complicações para a marcha dos animais.

42

FIGURA 14 - LOCOMOÇÃO DE BOVINOS A PÉ

FONTE: http://www.riosvivos.org.br/arquivos/1330726325.jpg

Atualmente, depois do domínio absoluto da via rodoviária, favorecida pelo

desenvolvimento de extensa malha de estradas pavimentadas, conjectura-se quanto à

sua posição no momento em que deixar de ser subsidiado o óleo combustível, fazendo-

se sentir durante a crise energética (PARDI, 2006, p. 493).

Ainda o mesmo autor comenta que, na realidade o transporte rodoviário

prevaleceu sobre o ferroviário em razões das deficiências administrativas deste, que

assumiria papel relevante se vigorassem condições de maior eficácia. Desfavoreceu a

via ferroviária, o alegado déficit de carga pouco compacta e a ociosidade do transporte

de retorno.

O transporte aquaviário, tanto por via marítima como pela fluvial, mais

econômico e eficiente que os demais e que chegou a ser significativo numa certa fase,

entrou em decadência por razões de ordem política. Continua operando, contudo, onde

constitui a única via acessível (PARDI, 2006, p. 493).

43

FIGURA 15 – TRANSPORTE VIA MARÍTIMA

FONTE: www.newscomex.com.br/mostra_noticia.php?codigo=11253

5.1.1 Transporte Rodoviário

Nas condições atuais predomina o transporte rodoviário. No transporte

rodoviário o serviço pode ser realizado por empresas transportadoras que prestam esse

serviço sob várias modalidades de pagamento. Normalmente em função do seguro

incluído no preço, prestam bom atendimento, não acarretando maus tratos aos animais

transportados, uma vez que se responsabilizam pelas perdas, acidentes e mortes

durante o percurso.

FIGURA 16 - “CAMINHÃO BOIADEIRO” UTILIZADO

NO TRANSPORTE RODOVIÁRIO

FONTE: www.carroceriasboiadeiro.com.br/escolha.asp?cod_cat=1

44

O transporte não deve ser realizado em condições desfavoráveis ao animal, feito

durante horas mais frescas do dia, para evitar estresse, contusão e até mesmo a morte

dos animais. Altas temperaturas e diminuição do espaço também são problemas

durante o transporte.

5.1.1.1 Escolha do Veículo

A escolha do veículo adequado é fundamental para que alguns problemas

possam ser evitados, tais como: carrocerias com pontas de madeira, ripas, pregos ou

parafusos expostos, o que também irá afetar a qualidade do couro; altura e paredes da

carroceria inadequadas; rampa com inclinação imprópria para o transporte; e

condições inadequadas de ventilação. Portanto, todos esses pontos devem ser checados

e corrigidos, se necessário, antes do embarque dos animais. As condições de higiene

do veículo são de fundamental importância, devendo o mesmo oferecer condições de

ser higienizado e desinfetado logo após o desembarque dos animais.

Cuidado especial no transporte de gado é possuir boa ventilação na carroceria,

tanto o veículo se encontra em movimento como quando está estacionado. Mesmo em

clima frio, a temperatura dos bovinos irá subir quando o veículo estiver parado. A

maioria dos veículos utiliza a ventilação natural das carrocerias, obtida com aberturas

nas laterais. Entretanto, mesmo quando o caminhão está em movimento, existem áreas

na carroceria em que há movimentação do ar. Uma vez que a ventilação natural não

permite uma circulação uniforme de ar para os animais, o uso de ventilação mecânica

é aconselhado para veículos transportadores em climas muito quentes, tanto para

longas quanto para curtas jornadas.

De acordo com Gomide, Ramos e Fontes (2006, p. 109), durante o transporte os

animais são expostos a estresses ambientais, como calor, frio, umidade, barulho e

trepidação. Os veículos devem fornecer proteção para minimizar esses estresses

durante o transporte. No caso de bovinos, não é necessária uma cobertura na

carroceria, desde que os animais não sejam expostos ao sol quente por um período

muito prolongado. Já o uso de caminhões com suspensão pneumática permite reduzir o

45

estresse causado pelas trepidações durante a viagem; contudo, este sistema deve ser

mantido sempre em bom estado, visto que uma suspensão pneumática danificada

produz maiores vibrações do que um caminhão se este sistema. Outra forma de reduzir

as vibrações é calibrar os pneus em níveis recomendados.

No mesmo sentido os autores dizem que, os veículos transportadores do gado

devem possuir laterais seguras, fortes e suficientemente altas, a fim de prevenir que os

animais saltem, caiam, ou seja; jogados para fora. O piso do caminhão não pode ser

escorregadio, devendo, quando necessário, ser providenciada uma cobertura para o

chão. Toda a estrutura da carroceria precisa ser projetada com segurança, sendo livre

de arestas ou qualquer protuberância com pontas que possam danificar a pele do

animal. O piso dos veículos normalmente e guarnecido de gradil antiderrapante,

articulado nas laterais para facilitar a limpeza e desinfecção e revestido com um fundo

de palha.

5.1.1.2 Papel do Motorista durante o Transporte

Além das condições do veículo, a forma de direção do motorista é muito

importante para garantir o bem-estar animal e melhorar a prevenção e controle de

contusões e doenças, devendo ser adaptado às condições da estrada. Dentro do

possível, estradas de chão e em más condições de manutenção devem ser evitadas.

Atenção especial deve ser dada na partida, aceleração e freada dos veículos; as

curvas devem ser feitas, sempre em baixa velocidade. Aconselha-se que o motorista do

veículo seja instruído a parar de hora em hora, a fim de observar as condições dos

animais.

Os motoristas geralmente rodam com pneus mais cheios para prolongar a sua

vida útil, porém esta prática provavelmente seja prejudicial ao bem-estar animal.

A implantação de incentivos financeiros pra reduzir contusões e perda de peso

deve ser usada para monitorar os motoristas. Transportadores premiados

financeiramente estarão mais dispostos a manejar o animal calmamente e a dirigir de

forma mais cuidadosa.

46

O motorista deve receber treinamento sobre direção com carga viva, manejo

adequado durante o transporte e o desembarque. É essencial que o motorista entenda

que os animais são seres sencientes, ou seja, capazes de sentir medo e dor, entre outros

sentimentos, e se responsabilize pelo bem-estar dos mesmos durante o transporte.

GRÁFICO 1 – VALORES DE pH DA CARNE BOVINA ANTES E APÓS

TREINAMENTO DOS MOTORISTAS – 2006

FONTE: Tseimazes, Ciocca e Paranhos da Costa (2006)

Tseimazides, Ciocca, Paranhos da Costa (2006), observaram através do Gráfico

1, redução no valor de pH de carcaças de bovinos da raça nelore com o treinamento

dos motoristas dos caminhões em boas práticas de manejo durante o embarque,

condução do veículo e desembarque, sendo que não houve efeito significativo para

animais cruzados. O fato de não haver diferença significativa para os animais cruzados

pode estar ligado a menor reatividade dos mesmos em relação ao nelore.

Para certos mercados como a União Européia, os limites de pH da carne devem

ficar entre 5,5 e 5,8. Carnes com pH igual ou maior que 6,0 (tipo DFD) são de pior

qualidade, sendo destinadas a mercados menos exigentes, que pagam menos.

47

GRÁFICO 2 – QUANTIDADE DE HEMATOMAS ANTES E APÓS

TREINAMENTO DOS MOTORISTAS – 2006

FONTE: Tseimazes, Ciocca e Paranhos da Costa (2006)

Analisando o Gráfico 2, nota-se que houve redução significativa na quantidade

de hematomas para ambos os grupos genéticos após o treinamento dos motoristas.

5.1.1.3 Densidade de Carga

Geralmente os “caminhões boiadeiros”, possuem carroceria medindo 10,60 x

2,40 metros, com três divisões: anterior com 2,65 x 2,40 metros; intermediária, com

5,30 x 2,40 metros; e posterior, com 2,65 x 2,40 metros. A capacidade de carga média

é de 5 animais na parte anterior e posterior e de 10 animais na parte intermediária,

totalizando 20 bovinos. Entretanto, esse total pode variar de 16 a 20, de acordo com

sexo, idade e peso vivo (GOMIDE, RAMOS e FONTES, 2006, p. 111).

Tarrant et al., apud Roça (2002), afirma que o principal aspecto a ser

considerado no transporte de bovinos é o espaço ocupado por animal, ou seja, a

densidade de carga. Esta pode ser classificada em alta (600Kg/m²), média (400Kg/m²),

ou baixa (200 Kg/m²). O espaço na carroceria deve ser tal que o animal permaneça em

pé, em sua posição natural, sem contato excessivo com outros animais ou estrutura.

48

O uso de densidade baixa também causa problemas de bem-estar animal e

qualidade da carne final. Se os animais tiverem muito espaço (baixa densidade de

carga) no transporte, durante a movimentação do veículo (principalmente aceleração e

freada) estes podem ser jogados contra estruturas da carroceria e outros animais,

podendo inclusive ocorrer sua queda ao solo, causando contusões e, ou, fraturas. No

entanto, se um número correto de animais for usado, estes se apoiarão uns nos outros e

contra as laterais do veículo, minimizando o movimento excessivo. Por isso, a

existência de duas ou mais partições em veículos longos é essencial para um transporte

adequado.

A densidade não deve ser muito alta por causa do risco de pisoteio e morte por

asfixia, pois muitas vezes o animal não consegue se levantar e acaba sendo pisoteado,

podendo apresentar contusões múltiplas, fraturas ou mesmo morrer.

FIGURA 17 – EMBARQUE CONFORME CAPACIDADE DE DIVISÓRIA DO

CAMINHÃO

FONTE: Molento (2010)

Gomide, Ramos e Fontes (2006, p. 111), para o cálculo da área mínima a ser

ocupada por animal nos caminhões durante o transporte, a Farm Animal Welfare

Concil (FAWC), da União Européia, e o Animal Welfare Advisory Committee

(AWAC), da Nova Zelândia, fornecem fórmulas a serem usadas, baseadas no peso

vivo médio dos animais.

FAWC: A = 0,021.P (elevado 0,67)

AWAC: A = 0,01.P (elevado 0,78)

49

Em que:

A = área mínima (m²) que deve ser ocupada pelo animal

P = peso vivo (Kg) do animal

Os mesmos autores, ainda relatam que a FAWC recomenda uma densidade de

carga média de 360 Kg/m², enquanto a AWAC utilizada a equação da FAWC como o

espaço máximo a ser usado no transporte dos animais.

Segundo Roça apud Kito, Pereira e Jorge (2009, p. 58), do ponto de vista

econômico, procura-se transportar os animais empregando alta densidade de carga e,

por isso, há um aumento das contusões e estresse dos animais. Sendo inadmissível

densidade superior a 550 Kg/m². No Brasil, a densidade de carga utilizada é em média

de 390 a 410 Kg/m². A extensão das contusões nas carcaças representa uma forma de

avaliação da qualidade do transporte, afetando diretamente na qualidade da carne,

resultando em perdas para o criador, para o frigorífico (cortes ficarão comprometidos)

e é um indicativo de problemas com bem-estar animal.

QUADRO 1 – RECOMENDAÇÃO DE ESPAÇO DISPONIBILIZADO

PARA OS ANIMAIS DURANTE O TRANSPORTE EM FUNÇÃO DAS

CATEGORIAS E PESOS DOS ANIMAIS

CATEGORIA

PESO VIVO

(Kg)

ESPAÇO MÍNIMO

(m²/animal)

ESPAÇO MÁXIMO (m²/animal)

Bezerro

30 50 70 90

0,16 0,21 0,26 0,30

0,23 0,28 0,33 0,40

Novilho 100 150 200 300

0,36 0,50 0,62 0,86

0,46 0,60 0,73 0,93

Animais Adultos 400 500 600

1.06 1,27 1,50

1,16 1,59

FONTE: Pocket Guide for Stock Truck Drivers. Ministry of Agriculture and Forestry, New Zealand. NOTA: Quadro extraído do Manual de Práticas de Manejo de Embarque.

50

5.1.1.4 Tempo de Viagem

O tempo prolongado de transporte também pode provocar estresse no animal,

com efeito significativo, na redução da qualidade da carcaça, aumentando o pH final

da carne e contribuindo para maior incidência da condição DFD (dark, firm, dry).

(BATISTA, SILVA e SOARES, 1999).

A menos que ocorra um trauma causado por condições de manejo inadequado,

viagens de duração curta (< 4 horas) não induzem um estresse severo nos animais. Do

ponto de vista de comportamento e bem-estar animal, é recomendado que bovinos

sejam transportados por jornadas inferiores a 12 horas. Tempos superiores a 15 horas

são considerados inaceitáveis. Alguns países e regiões, como no Parlamento Europeu,

preconizam tempo de viagem não superior a 8 horas. Quando transporte necessita de

viagens com duração prolongada, é recomendado que os animais sejam alimentados

com água e ração a cada 12 horas (GOMIDE, RAMOS e FONTES, 2006, p. 112).

A maior influência do transporte na qualidade da carne é a depleção do

glicogênio muscular por atividade física ou estresse físico, promovendo uma queda

anômala do pH post-mortem, originando a carne DFD. Estas condições estressantes

são causadas pelo transporte prolongado (KNOWLES apud ROÇA, 2002). Transporte

por tempo superior a 15 horas é inaceitável do ponto de vista de comportamento e

bem-estar animal (WARRISS et al., apud ROÇA, 2002).

5.1.1.5 Perda de Peso

De acordo com Gomide, Ramos e Fontes (2006, p. 112), a perda de peso

durante o transporte de bovinos é uma preocupação tanto do ponto de vista de bem-

estar animal quanto do ponto de vista econômico. O conteúdo intestinal constitui de 12

a 25% do peso vivo do animal e, dessa forma, a maior contribuição à perda de peso

dos animais é a privação de alimento e água a que estes são submetidos. A perda de

peso vivo tem razão direta com o tempo de transporte, variando de 4% para jornada de

5 horas a 7% para as de 15 horas. Essa perda só é recuperada após 5 dias.

51

Os mesmos autores relatam que além da perda de peso vivo que ocorre durante

o transporte e espera no matadouro, também ocorre perda de peso da carcaça e,

conseqüentemente, de rendimento do produto final. Calcula-se que a taxa de perda de

peso da carcaça seja de 0,75% a cada 24 horas de transporte. Entretanto, na literatura

científica os percentuais de perda de peso da carcaça de bovinos são bastante variáveis,

podendo se encontrar desde valores inferiores a 1% a valores de 8% após 48 horas de

privação de alimento e água.

A privação de alimento e água conduz à perda de peso do animal. A razão da

perda de peso relatada na literatura científica é extremamente variável, de 0,75% a

11% do peso vivo nas primeiras 24 horas de privação de água e alimento. A perda de

peso dos animais tem razão direta com o tempo de transporte, variando de 4,6% para 5

horas a 7% para 15 horas, recuperada somente após 5 dias. A perda de peso é motivada

inicialmente pela perda do conteúdo gastrintestinal e o acesso à água durante a

privação de alimento reduz as perdas. A perda de peso da carcaça também é variável,

de valores inferiores a 1% a valores de 8% após 48 horas de privação de alimento e

água. O peso do fígado tende a diminuir rapidamente da mesma forma que o volume

do rúmen, cujo conteúdo torna-se mais fluído (WARRISS apud ROÇA, 2002).

A desidratação do animal é o principal fator envolvido nas perdas de peso

durante o transporte; dessa forma, o seu acesso à água após jornadas muito longas

permite redução no percentual de perda, refletindo em carcaças mais pesadas. O uso de

soluções eletrolíticas na água disponível para os animais no matadouro-frigorífico tem

sido sugerido para reduzir não somente as perdas de peso, mas também a incidência de

cortes DFD, por atenuar as mudanças fisiológicas (balanço eletrolítico e desidratação),

a que o animal é submetido antes do abate (SARCINELLI, VENTURINI e SILVA,

2007).

O aumento do estresse durante o transporte é proporcionado pelas condições

desfavoráveis como privação de alimento e água, alta umidade, alta velocidade do ar e

densidade de carga. (SCHARAMA et al., apud ROÇA, 2002). As respostas

fisiológicas ao estresse, são traduzidas através da hipertermia e aumento da freqüência

respiratória e cardíaca. Com o estímulo da hipófise e adrenal, estão associados os

aumentos dos níveis de cortisol, glicose e ácidos graxos livres no plasma. Pode ocorrer

52

ainda aumento de neutrófilos e diminuição de linfócitos, eosinófilos e monócitos

(GRANDIN apud ROÇA, 2002). Na razão direta com a movimentação dos animais

durante a viagem em estradas precárias, e em alta densidade de carga. O cortisol

também sofre aumento na fase inicial restabelecendo-se no decorrer do transporte

(ROÇA, 2002).

Estas respostas fisiológicas aumentam nos animais transportados no terço final

do veículo (TARRANT et al., apud ROÇA, 2002), na razão direta com a

movimentação dos animais durante a viagem em estradas precárias (KENNY e

TARRANT apud ROÇA, 2002), e em alta densidade de carga. O cortisol também

sofre aumento na fase inicial restabelecendo-se no decorrer do transporte (WARRISS

et al., apud ROÇA, 2002).

5.1.1.6 Contusão e Fratura

A extensão das contusões nas carcaças representa uma forma de avaliação da

qualidade do transporte, afetando diretamente a qualidade da carcaça, considerando

que as áreas afetadas são retiradas da carcaça, com auxílio de faca, resultando em

perda econômica e sendo indicativo de problemas com o bem-estar animal. A extensão

das contusões aumenta com o aumento da densidade de carga, principalmente com

valores superiores a 600kg/m². (TARRANT et al., apud ROÇA, 2002).

FIGURA 18 – CONTUSÃO DECORRENTE DO TRANSPORTE

FONTE: www.unesp.br/prope/projtecn/Agropecuaria/Agropec04b.htm

53

FIGURA 19 – CARCAÇA PREJUDICADA POR CONTUSÃO

DECORRENTE DO TRANSPORTE

FONTE: www.unesp.br/prope/projtecn/Agropecuaria/Agropec04b.htm

Um novo conceito de monitoramento on-line do transporte de animais é

apresentado por Geers et al., apud Roça (2002), com o objetivo de verificar o bem-

estar animal e melhorar a prevenção e controle de doenças animais. O sistema,

denominado de TETRAD - Transport Animal Disease Prevention, é constituído de um

sistema de telemetria e envio dos dados via satélite. O animal dispõe de um dispositivo

eletrônico (transponders) que fornece sua identificação, temperatura corporal e sua

posição geográfica no veículo.

O veículo possui um microcomputador (laptop) que transmite os dados do

animal, via satélite, para uma central de controle, onde é realizado o monitoramento do

transporte.

Identificam-se os seguintes problemas no manejo pré-abate que resultaram em

aumento nos riscos de hematomas nas carcaças: agressões diretas, alta densidade

social, provocada pelo manejo inadequado do gado nos currais da fazenda e

embarcadouro, instalações inadequadas, transporte inadequado, caminhões e estradas

em mal estado de conservação e gado muito agitado em decorrência do manejo

agressivo e de sua alta reatividade.

Segundo estudo realizado por Braggion e Silva (2004), para avaliar

quantificação de lesões em carcaças de bovinos abatidos em frigoríficos do Pantanal, o

54

transporte representou a segunda maior causa de lesões em carcaças, devido à alta

densidade de carga associada com maior reação de estresse, risco de contusão e

números de quedas. As outras causas (chifradas, coices, pisoteios, e tombos)

normalmente estão ligadas a problemas de manejo.

Em estudo realizado por Grandin (1981), rebanhos com 25 a 50% de animais

com chifres apresentaram 10,5% de lesões. A eliminação dos chifres reduziu o índice

para 2 a 5 % as lesões.

5.1.1.7 Mortalidade

A mortalidade de bovinos durante o transporte é extremamente baixa. Novilhos

são mais susceptíveis que animais adultos. Na África do Sul foi relatado 0,01% de

mortalidade de bovinos em 1980, e 0%, de um total de 22 mil animais transportados

em 1990. Não há registro de mortalidade no transporte de bovinos no Reino Unido.

Publicações mais antigas relatam que o transporte ferroviário é problemático quando

comparado ao transporte rodoviário (KNOWLES apud ROÇA, 2002).

Os animais gordos são mais susceptíveis que os animais magros. As altas

temperaturas, as maiores distâncias de transporte e a diminuição do espaço ocupado

por animal também contribuem para que ocorram problemas de transporte

(THORNTON apud ROÇA, 2002).

Entretanto, para assegurar que os animais cheguem ao momento de abate com o

menor nível de estresse possível, deve-se ter em conta vários aspectos, dentre eles:

distância percorrida, tipo e condições dos veículos, conservação das estradas e

formação de lotes de abate, além das características dos próprios animais (raça, idade e

sexo) e dos manejos executados durante o transporte (embarque, condução do veículo

e desembarque) e nos currais do frigorífico.

55

6 MANEJO E INSTALAÇÕES DO MATADOURO-FRIGORÍFICO

O manejo do animal no matadouro-frigorífico é extremamente importante para

a segurança dos operadores, a qualidade da carne e o bem-estar do animal. Instalações

bem delineadas também minimizam os efeitos de estresse e melhoram as condições do

abate. Várias inovações sugeridas para melhoria do design das instalações, visando o

bem-estar animal, são baseadas no bom senso ou são de origem técnico-científica.

As instalações são de importância para o sucesso do manejo humanitário,

devem ser planejadas de acordo com suas finalidades e monitoradas constantemente.

As boas instalações devem estar associadas ao treinamento dos funcionários para uma

utilização adequada. Os funcionários devem receber treinamento inicial e momentos

periódicos de reciclagem e atualização do conhecimento.

Basicamente há cinco causas de problemas do bem-estar animal nos

matadouros-frigoríficos (GRANDIN, 1996): estresse provocado por equipamentos e

métodos impróprios que proporcionam excitação e contusões; transtornos que

impedem movimentação natural do animal, como reflexo da água no piso, brilho de

metais e ruídos de alta freqüência; falta de treinamento de pessoal; falta de

manutenção de equipamentos, como conservação de pisos e corredores; condições

precárias pelas quais os animais chegam ao estabelecimento, principalmente devido ao

transporte.

Problemas de distração que impendem o movimento do animal usualmente

estão em uma das categorias a seguir:

a) Iluminação: os animais tendem a caminhar de um local menos iluminado

para outro mais iluminado, refugando quando coagidos a entrar em corredores ou

seringas com entrada muito escura. Assim, lâmpadas podem ser usadas para estimular

o movimento do gado para a área desejada, tornando-se o cuidado de não direcioná-las

diretamente aos olhos do animal;

56

b) Reflexões de brilho em metais ou poças de água também farão o animal parar

ou refugar;

c) Contrastes: embora os animais por si só, tendam a se mover para áreas mais

iluminadas, geralmente irão refugar se houver um contraste muito grande entre a área

escura e iluminada. Qualquer objeto que cause contraste visual chamará atenção do

animal. As instalações e equipamentos devem ser pintados da mesma cor, de forma

que minimize o contraste entre o claro e escuro. As texturas do piso e das paredes

também devem ser observadas;

d) Movimentos bruscos: todos os animais irão parar e refugar se virem pessoas

ou equipamentos movendo-se rapidamente. Dessa forma, os corredores devem ter

paredes laterais sólidas, que permitam bloquear a visão do animal. A detecção de

distrações causada por objetos é relativamente fácil: quando os animais são

calmamente conduzidos em um corredor, por exemplo, o líder geralmente irá parar e

permanecerá olhando para a causa da distração;

e) Barulho excessivo: os bovinos possuem uma audição bastante sensível e a

redução de sons no matadouro irá fazer com que se movam mais facilmente. São

sensíveis a freqüências bem mais altas (7.000 a 8.000 Hz) do que aos humanos (1.000

a 3.000 Hz), o que significa que barulhos que não incomodam o homem, podem causar

dor aos animais. O som de metais ou madeira batendo e assobios causados por

correntes de ar ou por bombas hidráulicas devem ser minimizados com silenciadores;

f) Ventos e cheiros: a condução dos animais é dificultada se estes se movem em

direção contrária à dos ventos. Isso é particularmente difícil de ser controlado nos

matadouros, devido a mudanças naturais na direção do vento durante todo o dia. De

qualquer forma, a direção predominante do vento irá afetar o manejo. Além disso,

preconiza-se que os ventos predominantes não estejam orientados dos currais de

espera para a unidade de abate como forma de se preservar a qualidade da carne. Uma

concepção errada é a de que os animais irão refugar devido ao cheiro de sangue

oriundo do interior do matadouro. É mais provável que o cheiro novo para o animal

seja o responsável pelo refugo. Por exemplo, animais domésticos sempre irão refugar

quando conduzidos para áreas recentemente pintadas (cheiro de tinta fresca é que os

faz refugar).

57

Importa ressaltar que o design das instalações do matadouro-frigorífico, deve

facilitar o manejo e reduzir o estresse inevitável nesta etapa. Pequenas observações

como: chão antiderrapante, portões, cercas, paredes e outros equipamentos bem

desenhados e em boas condições, podem evitar contusões e outras perdas efetivas na

qualidade da carne obtida.

De forma geral, os pisos devem ser de material antiderrapante e com

declividade mínima de 2% nas laterais para permitir drenagem de água, a fim de

manter as condições sanitárias adequadas. Pisos de concretos devem ter padrões que

eliminam a superfície lisa do material, permitindo maior atrito e facilitando a sua

limpeza. As cercas dos currais devem ser de e metros de altura, preferentemente de

material metálico, sem arestas e cantos pontiagudos que possam danificar a pele dos

animais (GOMIDE, RAMOS e FONTES, 2006, p. 113).

Como exige a Padronização de Técnicas, Instalações e Equipamentos I –

Bovinos (BRASIL, 1971), os currais deverão ser construídos de maneira que os ventos

predominantes não levem em direção ao estabelecimento poeiras e emanações,

devendo ainda estar afastados a não menos de 80 metros do prédio industrial. Os

currais devem ser classificados em currais de chegada ou seleção, curral de observação

e currais de matança.

Os animais devem seguir um ao outro, caminhando calmamente por corredores

sem necessidade do uso de bastão elétrico ou qualquer outro tipo de “estimulador”.

Quando o animal é coagido ao entrar em ambientes desconhecidos ou caminhar por

corredores ou rampas, eles se tornam nervosos e agitados, sendo difíceis de manejar.

Se o animal pára e refuga durante a sua condução, é importante determinar a causa do

problema.

O bem-estar também é afetado pela espécie, raça, linhagem genética

(GRANDIN, 1996), e pelo manejo inadequado como reagrupamento ou mistura de

lotes de animais de origem diferente promovendo brigas entre os mesmos

(KNOWLES apud ROÇA, 2002).

58

6.1 DESEMBARQUE

A recepção e o manejo dos animais devem ser realizados com o mínimo de

excitação e desconforto, sendo proibido, pela Instrução Normativa nº3, qualquer ato ou

uso de instrumentos agressivos à integridade física dos animais ou que promova

reações de aflição.

Ao chegar no matadouro-frigorífico, o desembarque deve ser imediato, afim de

não causar injúrias aos animais. Sendo no máximo 15 minutos o período aceitável

desde a chegada do caminhão até o início do desembarque. Se o desembarque imediato

não for possível, os animais devem ficar protegidos do excesso de frio ou de calor e

com boa ventilação. Sendo que o problema deve ser corrigido para não se repetir nas

próximas chegadas.

Os bretes e corredores por onde os animais são encaminhados devem ser

concebidos de modo a reduzir o mínimo os riscos de ferimentos e estresse. Os animais

devem ser movimentados com cuidado, devendo os instrumentos destinados a

conduzi-los ser utilizados apenas para esse fim e unicamente por instantes. Embora a

legislação permita o uso de dispositivos produtores de descargas elétricas, em caráter

excepcional, nos membros dos animais que se recusem a mover, a utilização de

estressores (choques, varadas, gritos, bater palmas) é desaconselhado. Existem

técnicas para a condução do animal que previnem, ou minimizam o estresse. Quando o

uso de bastão elétrico, o que já indica um manejo inadequado, este não devem operar

com tensão superior a 50V.

Os animais são descarregados por intermédio de rampas adequadas,

preferencialmente na mesma altura do caminhão. Evitar deixar brechas entre o veículo

e a plataforma, estes devem ser sempre alinhados. O piso deve ser antiderrapante com

inclinação de 20º ou menos. Evitar distrações para os animais, como objetos, sombras

e pessoas mal posicionadas (exemplo: pessoas paradas à frente do animal).

Na plataforma de desembarque é feita a inspeção da documentação sanitária do

lote e após o descarregamento, os bovinos são conduzidos aos currais de chegada ou

seleção.

59

6.2 CURRAL DE CHEGADA OU SELEÇÃO

Os currais de chegada destinam-se ao recebimento e à separação do gado para a

formação de lotes, de conformidade com o sexo, a idade e a categoria.

Os currais devem estar localizados de maneira que os ventos predominantes não

levem em direção ao estabelecimento poeira ou emanações; devem ainda estar

afastados, não menos de 80 metros, das dependências onde se elaboram produtos

comestíveis e isolados dos varais de charque por edificações. Devem ser de piso

antiderrapante, impermeável e de fácil higienização (em concreto ou paralelepípedos

rejuntados), com declividade mínima de 2% para as laterais e cercas duplas de dois

metros de altura, sem cantos vivos que possam danificar os animais, além de bem

iluminados (mínimo de 5 watts/m²). Os currais devem ser separados um dos outros,

sendo dotados de bebedouros com sistema de bóia para abastecimento contínuo e com

altura e capacidade apropriada para que pelo menos 20% dos animais possam beber

água simultaneamente. Em cada curral deve, ainda, existir um ponto de água (pressão

mínima de 3atm) de engate rápido, para sua limpeza (GOMIDE, RAMOS e FONTES,

2006, p. 22).

Os animais nos lotes formados sofrem, então, a inspeção ante-mortem, realizada

com as seguintes finalidades: exigir e verificar os certificados de vacinação e sanidade

do gado; identificar o estado higiênico-sanitário dos animais para auxiliar, com os

dados informativos, a tarefa de inspeção post-mortem; identificar e isolar os animais

doentes ou suspeitos, antes do abate, bem como vacas com gestação adiantada ou

recém-parida; verificar as condições higiênicas dos currais e anexos.

Aspectos a serem avaliados durante a inspeção ante-mortem: observar os

animais em conjunto, atentando para o comportamento dos lotes e para o

comportamento individual; observar o animal parado e em movimento, sem, contudo

excitá-lo; observar atentamente a pele e anexos todas as superfícies expostas, a

cobertura muscular, os ossos e as articulações e principalmente as aberturas naturais.

Somente os animais considerados sadios pela inspeção “ante-mortem” devem

ser abatidos em conjunto. Os animais suspeitos devem ser separados e encaminhados

para o curral de observação, onde, de acordo com as necessidades, sofrerão uma

60

avaliação clínica mais detalhada. Já os animais doentes deverão ser abatidos em

separado, no matadouro sanitário ou na própria sala de matança, ao final da matança

normal. Animais enfermos (com alteração do sistema nervoso central, incapazes de

reagir aos estímulos normais, com temperatura anormal, dispnéia, edemas, tumores,

abscessos, sarnas, hematomas), devem ser encaminhados ao curral de observação.

6.3 CURRAL DE OBSERVAÇÃO

O curral de observação destina-se a receber, para observação e exame mais

minucioso, os bovinos que, na inspeção ante-mortem, foram excluídos da matança

normal por suspeita de doença (PARDI, 2006, p. 494).

Aqueles com sinais suspeitos de doenças infecto-contagiosas são colocados em

um curral de observação, até que seja concluído o diagnóstico provável.

Este curral deve estar cerca de três metros dos outros currais, ser de fácil acesso

ao matadouro sanitário e ao departamento de necropsia, ser de fácil limpeza,

higienização e desinfecção e facilmente identificado pela cor normalmente vermelha,

com os dizeres: “Curral de Observação – Privativo da Inspeção Federal”. A área dos

currais de observação deve corresponder a 5% da área dos currais de matança e suas

características construtivas (piso, cercas, bebedouros etc.) devem ser as mesmas

estipuladas para os currais de chegada ou seleção.

FIGURA 20 – IDENTIFICAÇÃO DO CURRAL DE OBSERVAÇÃO

FONTE: Souza (2007)

61

6.4 DEPARTAMENTO DE NECROPSIA E MATADOURO SANITÁRIO

De acordo com Gomide, Ramos e Fontes (2006, p. 24), o departamento de

necropsia, localizado pelo menos 3 metros dos currais de chegada e de observação, é

composto de: sala de necropsia, forno crematório ou autoclave. Visa detectar a causa

mortis de animais que chegam mortos ao estabelecimento de abate ou que venham a

morrer nos currais de observação. Também visa análise dos animais que apresentem

sinais de doenças infecciosas graves, hipo ou hipertermia. Os animais necropsiados, e

suas vísceras, serão destinados à secção de graxaria, onde serão aproveitados na

elaboração de produtos não comestíveis. No caso de apresentarem evidências, ou

suspeitas, de doenças infectocontagiosas, ou que já tenham chegado em estado de

início de putrefação, serão digeridos no forno crematório.

Matadouro sanitário é uma instalação destinada ao abate de emergência dos

animais que, no exame ante-mortem apresentam suspeitas de doenças infecto-

contagiosas, ou que apresentam fraturas e, ou, luxações que os impeçam de seguir para

o abate normal. Constitui o local onde se realizam as matanças de emergência mediata

e imediata, sempre na presença da autoridade sanitária.

Matança de Emergência Imediata: destinada ao sacrifício, a qualquer momento,

dos animais incapacitados de locomoção, certificadamente acidentados, contidos, com

fratura e que não apresentem alteração de temperatura ou outros sintomas que os

excluam, regularmente, do abate em comum. Os animais incapacitados de se

locomover devem ser conduzidos ao local de abate em carro apropriado.

62

FIGURA 21 – ANIMAL SENDO DESTINADO À

MATANÇA DE EMERGÊNCIA IMEDIATA

FONTE: Souza (2007)

Matança de Emergência Mediata: é a que se destina ao abate de animais

considerados doentes após exame clínico e que deve ser efetuada depois da matança

normal. No caso de revelarem hipertermia ou hipotermia, os animais serão condenados

liminarmente. Se não se tratar de doença infectocontagiosa, esses animais poderão ser

recolhidos ao curral de observação para tratamento, às expensas do proprietário, e

posterior abate.

As carcaças e vísceras dos animais abatidos no matadouro sanitário são

liberadas para aproveitamento condicional (salga ou conserva) ou enviadas para a

graxaria ou para destruição em fornos crematórios.

O matadouro sanitário e a sala de necropsia devem ser construídos com bastante

iluminação natural e possuir janelas com telas e portas do tipo “vai-vem”, com cortinas

de ar e pedilúvio. Devem ser de fácil limpeza, higienização e desinfecção, com água

em abundância, vapor e produtos químicos para essa facilidade. O forno crematório

deve ser construído de alvenaria refratária, devendo distar no máximo três metros da

sala de necropsia. O resíduo oriundo do forno crematório poderá ser destinado à

produção de adubo ou fertilizante (GOMIDE, RAMOS e FONTES, 2006, p. 24 e 25).

63

6.5 CURRAL DE MATANÇA

Os currais de matança destinam-se a receber os animais preparados para se

submeterem à matança normal.

Ficam localizados nos dois lados de um corredor central de, no mínimo, 2

metros de largura, destinado à condução dos animais para a rampa de acesso ao

matadouro. Aconselha-se que os currais estejam dispostos de forma diagonal, ou

espinha de peixe, que, além de eliminar cantos de 90º com arestas pontiagudas, facilita

a movimentação dos animais para o abate (GOMIDE, RAMOS e FONTES, 2006, p.

114).

Todos os currais devem ter iluminação adequada, piso pavimentado, com

declive de 2%, no mínimo, cercas duplas com dois metros de altura e sem cantos vivos

ou proeminências, cordão sanitário com 0,30m de largura ao longo e sob as cercas,

bebedouros, água para lavagem do piso com pressão de 3atm, corredor central e, sobre

este, plataforma elevada para facilitar o exame ante-mortem. Cada curral deve ter

ainda porteiras com a mesma largura do corredor central, para facilitar a entrada e

saída dos animais. A área do curral é calculada na razão de 2,5m² por bovino (PARDI,

2006, p. 494).

Os animais considerados aptos para o abate devem permanecer nos currais de

matança, em jejum e dieta hídrica, até completar as horas regulamentares de descanso

(18 a 24 horas), conforme a distância por eles percorrida.

6.5.1 Período de Descanso, Jejum e Dieta Hídrica

O descanso é preconizado para que os animais se recuperem do estresse

inevitável, devido às etapas de embarque na fazenda, transporte e descarregamento no

matadouro. Serve também para restabelecer as reservas de glicogênio muscular,

consumidas pelo gado durante essas etapas, prevenindo alterações indesejáveis na

qualidade da carne, como a condição D.F.D. Quando o animal é transportado

adequadamente e por pequenas distâncias, parte do glicogênio muscular pode ser

64

rapidamente recuperada pela gluconeogênesis (conversão de ácido lático muscular em

glicogênio no fígado), sem administração de alimento. No entanto, o jejum e a dieta

hídrica são necessários, a fim de facilitar a evisceração, reduzir a possibilidade de

contaminação da carcaça nesta etapa (redução do conteúdo gástrico), como também

facilitar a remoção do couro e tornar a sangria mais abundante.

O descanso também é preconizado para a reposição do glicogênio muscular

consumido pelo animal durante o embarque, transporte e descarregamento no

matadouro, objetivando conseguir a necessária e suficiente acidificação da carne e,

conseqüentemente, um maior prazo de vida comercial. Os efeitos do estresse animal

aumentam a sua suscetibilidade às doenças infecciosas, permitindo uma invasão

precoce das bactérias do trato gastrintestinal, como também afetam o rendimento da

carcaça, o estabelecimento do rigor mortis e a conversação da carne fresca.

Se os animais foram abatidos cansados, a carne ficará mais escura, firme e seca

(D.F.D.), e o pH final será alto, pois não haveria glicogênio suficiente no músculo que

transformasse uma quantidade suficiente de ácido lático, o que permitiria uma perfeita

acidificação da carne. Nesses animais, a rigidez muscular é precoce e, ainda, torna-se

possível uma migração de bactérias do trato intestinal para os músculos em virtude da

alcalinização destes. Quanto mais baixo o pH, mais ácida é a carne e a inibição de

germes de putrefação será maior. O pH alcalino proporciona o desenvolvimento de

microorganismos responsáveis pela putrefação (THORTON, 1969).

Embora em alguns países sejam adotados tempos diferentes de descanso, de

maneira geral, é necessário um período mínimo de 12 a 24 horas para que o gado que

foi submetido a condições desfavoráveis durante o transporte por um curto período de

tempo se recupere rapidamente. Animais submetidos a essas mesmas condições,

porém por períodos mais prolongados, exigirão vários dias para readquirirem sua

normalidade fisiológica. Para acelerar a recuperação, é necessário alimentação com

dieta rica em carboidratos (GOMIDE, RAMOS e FONTES 2006, p. 115).

A Legislação Brasileira (artigo nº 110, RIISPOA) proíbe o abate de animais que

não tenham permanecido por pelo menos 24 horas de descanso, em jejum e dieta

hídrica, podendo ser reduzido para um tempo mínimo de 6 horas, quando a jornada de

viagem não for superior a duas horas e os animais procederem de campos próximos,

65

mercados ou feiras, sob controle sanitário permanente. O tempo de descanso mínimo

de 24 horas sob jejum e dieta hídrica também é adotado pela Argentina e Portugal. No

Canadá, os animais são submetidos a um tempo de repouso mínimo de 48 horas com

alimentação. Na Austrália, o tempo de repouso também é de 48 horas, sendo os

animais alimentados nas primeiras 24 horas e mantidos em jejum e dieta hídrica nas 24

horas seguintes.

De acordo com Pardi (2006, p. 494 e 495), durante todo o período de repouso,

jejum e dieta hídrica, deve ser evitado o estresse do animal, bem como devem ser

tomados os seguintes cuidados: evitar aglomerações excessivas e espera prolongada

nos currais, inclusive como meio para controlar a salmonelose, cuidando, ao mesmo

tempo, da segregação de eventuais portadores ativos; obedecer rigorosamente às

prescrições impostas quanto ao detalhamento físico e às facilidades de higienização, e

à limpeza e higienização em si dos currais de chegada, de observação e de matança,

dos banheiros, corredores, rampas de acesso, seringas, departamento de necropsia,

balanças e adjacências; tomar cuidado com as instalações e com a limpeza e

desinfecção sistemática dos veículos transportadores de animais; prestar atenção às

condições de trânsito dos animais até o box de atordoamento, evitando fadiga, abuso

do choque elétrico ou outras formas de excitação ou traumatismos que levem ao

estresse; fazer os banhos de aspersão, sob pressão (3 atm), com água potável

preferencialmente hiperclorada e contendo fungistático, tendo em vista a redução da

perigosa flora contaminante da pele; realizar os banhos antes da rampa de acesso à

matança e repeti-lo na seringa imediatamente antes do atordoamento, considerando

que ocorre vasoconstrição periférica e vasodilatação interna, o que propicia uma

sangria mais eficiente; redobrar os cuidados de higiene e desinfecção, quando for

empregado o “matadouro-sanitário” para abater animais suspeitos.

6.6 RAMPA DE ACESSO AO BOX DE ATORDOAMENTO

Após o período de descanso, jejum e dieta hídrica, os animais deixam os currais

em direção à rampa de acesso ao box de atordoamento, passando por corredores que

66

são dotados de uma série de comportas, tipo guilhotina, cuja finalidade é prevenir a

aglomeração dos animais, evitando-se, assim, acidentes, como pisoteio e asfixia, além

de permitir a separação dos lotes. Todas as áreas por onde os animais caminham

devem, obrigatoriamente, possuir pisos antiderrapantes.

Steiner apud Roça (2002), a limpeza dos bovinos, particularmente suas

extremidades, cascos e região anal, deve ser realizada nos currais, nas rampas ou

seringas, utilizando mangueiras ou aspersão de água sob pressão.

FIGURA 22 – LAVAGEM DOS ANIMAIS REALIZADA NOS CURRAIS

FONTE: Souza (2007)

A rampa de acesso deve comportar 10% da capacidade horária da sala de

matança, devendo ter 3 metros de largura, com parede lisa e altura de 2 metros. A sua

declividade não pode ser superior a 15% e deve afunilar-se no terço superior, de forma

que permita a passagem de um animal por vez. Esse afunilamento, que não pode ter

uma deflexão maior que 45 graus, caracteriza o início da seringa (GOMIDE, RAMOS

e FONTES, 2006, p. 370).

67

FIGURA 23 – SISTEMA BRASILEIRO DE ACESSO DOS CURRAIS

FONTE: Gomide, Ramos e Fontes (2006)

A condução dos animais até a linha de abate deverá ser executada de maneira

menos estressante possível. Isso será atingido levando-se em consideração os aspectos

construtivos das instalações, ou seja, aspectos como a construção de linhas de

condução dos animais na forma circular, facilitando a locomoção dos animais, uma

vez que não conseguirão enxergar o que está a sua frente e, portanto, avançarão com

mais facilidade e a colocação de pisos antiderrapantes que irão impedir a queda dos

animais. Os instrumentos destinados a conduzir os animais devem ser utilizados

apenas para esse fim e unicamente por instantes. Os dispositivos produtores de

descargas elétricas apenas poderão ser utilizados em caráter especial, e a sua redução

implica na melhoria do bem-estar animal.

Outro fator importante é quanto à presença de pontos metálicos que possam

provocar reflexos ou ruídos de alta intensidade. Além disso, pessoas nos arredores,

locais escuros e mudanças bruscas na cor do piso podem representar também barreiras

que afetarão o avanço normal dos animais pela linha de abate (BOURROUL e

KAARNA, 2006, p. 30).

Grandin (2007), propõe avaliação dos deslizamentos e quedas dos animais bem

como das vocalizações ou mugidos dos animais na rampa de acesso ao box de

insensibilização. Com um manejo tranqüilo, que proporcione o bem-estar aos animais,

torna-se quase impossível que eles escorreguem ou sofram quedas.

68

6.6.1 Banho de Aspersão

É na rampa de acesso ao box de atordoamento onde é realizado o banho de

aspersão. O local deve dispor, segundo o Ministério da Agricultura (BRASIL, 1968,

1971), de um sistema tubular de chuveiros dispostos transversal, longitudinal e

lateralmente, orientando os jatos para o centro da rampa. A água deve ter a pressão não

inferior a 3 atmosferas (3,03 Kgf/cm²) e recomenda-se hipercloração a 15ppm de cloro

disponível.

Segundo Gomide, Ramos e Fontes (2006, p. 118), o banho de aspersão agirá

como fator higienizante e tem sido apontado como elemento importante em favor da

qualidade da carne, dada sua tranqüilizante e de efeito favorável (vasoconstrição

periférica e vasodilatação interna) sobre o ato de sangria. Entretanto, pesquisas têm

mostrado que essa etapa não afeta a eficiência da sangria ou o teor de hemoglobina

retido no músculo de bovinos. Sua ação se restringe, portanto, ao efeito tranqüilizante

e à higienização do animal. É recomendável que os animais permaneçam um pequeno

espaço de tempo na rampa de acesso para secar a pele, tendo em vista que é impossível

realizar uma esfola higiênica se o couro estiver excessivamente úmido.

Segundo o Ministério da Agricultura, os chuveiros podem ser instalados

direcionados de cima para baixo, para as laterais dos animais e de baixo para cima, o

que permite uma lavagem melhor do esterco e de outras sujidades antes do abate. Essa

lavagem é realiza antes do abate para limpar a pele do animal, tendo assim uma esfola

higiênica.

FIGURA 24 – BANHO DE ASPERSÃO

FONTE: Souza (2007)

69

Após o banho de aspersão, os bovinos são conduzidos à “seringa”, local onde

ocorre o afunilamento final da rampa de acesso ao box de atordoamento. Acesso a

seringa é através da rampa com piso antiderrapante, dividida por porteiras, de

preferência do tipo guilhotina, para facilitar o manejo. Também há canos perfurados

ou borrifadores, conforme artigo 146 do RIISPOA (BRASIL, 1968).

6.7 SERINGA

Para serem conduzidos para o box de insensibilização, os animais devem passar

de uma situação de grupo com movimento livre nos corredores para uma fila única na

seringa de abate. No Brasil esta etapa é realizada em um sistema tipo funil, mas

sistemas utilizando áreas de aglomeração são comuns nos países desenvolvidos. A área

de aglomeração é eficiente para direcionar animais de qualquer espécie para uma

seringa única ou dupla, sendo construída após a rampa de acesso, sem nenhum declive

e com raio máximo de 3,5 metros. Para um manejo adequado a área de aglomeração

não deve ter mais do que três quartos de sua área preenchida, sendo ideal o uso de

apenas 50% da área.

FIGURA 25 – PASSAGEM DOS BOVINOS PELA SERINGA

FONTE: Souza (2007)

70

A seringa deve possuir a forma de “V”, largura máxima de 1 metro na altura da

anca e de 50 cm de piso, permitindo a passagem de apenas um animal por vez e

impedindo que este consiga se virar numa tentativa de retornar ao corredor. O

comprimento é determinado com base na velocidade de abate (GOMIDE, RAMOS e

FONTES, 2006, p. 119).

Os mesmos autores relatam que as seringas e corredores por onde os animais

são conduzidos sejam construídos em forma curvilínea e não linear. A movimentação

dos animais em corredores curvilíneos é mais eficiente, pois reduz o estresse do

manejo, uma vez que os animais não vêem pessoas ou distrações à frente e acreditam

estar retornando a um ambiente familiar. Atenção deve ser tomada para que a curva

não seja muito acentuada, principalmente no afunilamento do corredor ou área de

aglomeração com a seringa, para não parecer um beco sem saída para o animal,

fazendo com que este refugue.

FIGURA 26 – SERINGA E CORREDOR EM FORMA CURVILÍNEA

FONTE: Gomide, Ramos e Fontes (2006)

Considera-se 10% da capacidade horária do abate multiplicada por 1,70 metros

por bovino (ex.: 40 bovinos/hora: 4 x 1,70 = seringa de 6,80 metros). No caso de

seringa dupla, o comprimento de cada uma será a metade do valor calculado

(GOMIDE, RAMOS e FONTES, 2006, p. 119).

O raio interno para os corredores curvilíneos é de 3,5 a 5 metros. O uso de áreas

de aglomeração e seringa curvilíneas permite reduzir o tempo de condução dos

bovinos em até 50% (GOMIDE, RAMOS e FONTES, 2006, p. 120).

71

6.8 ATORDOAMENTO OU INSENSIBILIZAÇÃO

O atordoamento é uma etapa fundamental para garantir o abate dentro dos

princípios humanitários, uma vez que garantirá a inconsciência dos animais que irá

durar até o fim da sangria. A insensibilização dos animais na hora do abate é indicada

para facilitar a operação de manejo e sangria bem como visar humanização do

sacrifício.

Segundo Gallo apud Renner (2006, p. 190), a função primordial da

insensibilização é conseguir a perda imediata (dentro de um segundo) e profunda da

consciência do animal. Para evitar sofrimento durante o sacrifício, deve-se ter rapidez

e dar condições para que o funcionário cumpra os requisitos éticos e legais, e o

processo deve ser humanitário.

O atordoamento, além de proteger os funcionários e de imobilizar o animal, tem

grande importância no bem-estar animal. O propósito é que o animal fique

inconsciente, de maneira que não sinta dor durante a sangria, além de facilitar a

operação da inserção da faca para que ocorra uma sangria de forma precisa, que

assegure uma perda rápida de sangue, levando a morte rápida (RENNER, 2006, p.

194).

O box de atordoamento é de construção metálica. O fundo e o flanco que

confina com a área de vômito são móveis, possuindo o primeiro, movimento

basculante lateral e o segundo, movimento de guilhotina, acionados mecanicamente e

em sincronismo, depois de abatido o animal. Assim ocasionam a ejeção deste animal

para a área de vômito (BRASIL, 1971).

O box deve ser individual, isto é, adequados à contenção de um só bovino por

unidade. É importante a instalação de barras de metal no piso do brete de

atordoamento, o operador de abate pode trabalhar mais facilmente e efetivamente

(VOOGD, 2006).

72

FIGURA 27 – BOX DE ATORDOAMENTO UTILIZADO

NA INSENSIBILIZAÇÃO

(a) plataforma para operador; (b) comporta deslizante para entrada do animal; (c)

comporta lateral aberta; (d) piso na posição inclinada para a ejeção do animal

inconsciente.

FONTE: Gomide, Ramos e Fontes (2006)

FIGURA 28– VISTA DO BOX DE INSENSIBILIZAÇÃO

FONTE: http://www.carneshigienopolis.com.br/tragetoria.html

73

Forres et. al., apud Pardi (2006, p. 495), acreditam que, muito embora o

processo de imobilização ou atordoamento não esteja completamente livre de estresse,

provavelmente reduz as respostas a ele em confronto com a sangria sem atordoamento.

Acham, contudo, que a eficácia desses procedimentos depende do cuidado com que se

haja desenhado e utilizado o equipamento empregado, afirmando que, para uma

sangria adequada, há necessidade de os animais perderem a consciência sem que haja

paralisia cardíaca.

A eficácia da insensibilização depende do equipamento utilizado, de sua

adequada manutenção e dos cuidados durante o seu uso. Os operadores que

insensibilizam os animais devem ser competentes e bem treinados, ao passo que os

equipamentos de insensibilização devem ser mantidos em bom estado, sendo

regularmente inspecionados.

Segundo Gomide, Ramos e Fontes (2006, p. 51), conceito antigo no processo de

abate estabelece que para obtenção de carnes de qualidade superior, a insensibilização

não deve levar à destruição do bulbo raquídeo, para que o coração e o pulmão

continuem funcionando com vistas a uma máxima expulsão de sangue da carcaça na

etapa de sangria. Estudos estabelecem que, desde que a venesecção dos grandes vasos

do pescoço seja realizada em até três minutos, a sangria incompleta e a falência

cardíaca prévia não comprometem a eficiência da sangria ou a aparência

microbiológica da carne.

FIGURA 29 – BOVINO APÓS INSENSIBILIZAÇÃO

FONTE: Souza (2007)

74

Segundo Renner (2006, p. 196), após o atordoamento, pode-se determinar se o

animal está bem insensibilizado, verificando os seguintes reflexos: entrar em colapso

imediatamente e não mostrar nenhum sinal de respiração rítmica; animais

inconscientes apresentam mandíbula inferior relaxada; cabeça fica estendida e a

posição do globo ocular fixa (olhar vazio), sem reflexo corneal; coração continua

batendo normalmente; língua fica caída para fora com os músculos relaxados;

movimentos das patas poderão ocorrer, deve-se ignorar e observar somente a cabeça,

que deverá estar morta.

Uma vez atordoado, abre-se, concomitantemente, o fundo e a lateral do box e o

animal desliza sobre grades de ferro (com inclinação aproximadamente de 35 graus),

que evitam sua queda sobre o solo, caindo inconsciente na área de vômito (deve ter

piso revestido por grade metálica resistente, de forma que facilite a drenagem dos

resíduos e da água de lavagem usada na limpeza dos animais).

FIGURA 30 – ÁREA DE VÔMITO

FONTE: Souza (2007)

É, então, içado pela traseira esquerda, lavado por aspersão de água hiperclorada

a 3 atm, para remoção de vômitos e outras sujidades, e imediatamente conduzido à

operação de sangria.

A matança de bovinos no ritual judaico não é precedida de insensibilização.

Faz-se com a faca afiadíssima, uma incisão transversal na altura do pescoço, atingindo

as artérias carótidas e a veia jugular, além dos músculos, esôfago e traquéia. Os

75

defensores do método alegam que o corte da carótida é seguido de uma queda brusca

da pressão sangüínea nas artérias cerebrais e que a anóxia resultante da diminuição do

fornecimento sangüíneo ao cérebro acarreta uma inconsciência quase instantânea. Na

prática, observam-se reações no animal que persistem por algum tempo (PARDI,

2006, p. 496).

6.8.1 Métodos de Insensibilização

Os únicos processos de atordoamento de animais previstos na Convenção

Européia sobre Proteção dos Animais são: meios mecânicos (utilização de

instrumentos com percussão ou perfuração do cérebro); eletronarcose e anestesia por

gás.

Foram abolidas as técnicas da choupa, do prego ou estilete, do martelo de

cavilha, máscara de cavilha e armas de fogo. São exceções: o abate segundo rituais

religiosos e o abate de emergência (GIL e DURÃO, 1985). A concussão cerebral é

permitida na Bélgica, França e Luxemburgo, porém proibida desde 1920 na Holanda

(LAMBOOY et al., apud ROÇA, 2002).

FIGURA 31 – MÁSCARA DE CAVILHA

FONTE: Gil (2000)

76

FIGURA 32 – CAVILHAS

FONTE: Gil (2000)

Os métodos de insensibilização para abate humanitário no Brasil,

regulamentados pelo Instrução Normativa n° 3, classificam-se em:

Métodos mecânicos (concussão) classificam-se em: percussivo penetrativo:

realizado com pistola de dardo cativo, acionado por ar comprimido (pneumáticas) ou

cartucho de explosão; percussivo não-penetrativo: apenas realizado por pistolas de

dardos de percussão, que causam a concussão com o impacto, sem a penetração do

dardo no crânio do animal.

Método elétrico (eletronarcose): uso da corrente elétrica, que deve atravessar o

cérebro do animal. Deve ser realizado pelo uso de eletrodos (animais maiores)

especiais que garantam o perfeito contato com a pele, sendo, no entanto, permitido o

uso de equipamentos de imersão quando da insensibilização de aves.

Método da exposição à atmosfera controlada: faz-se uso de atmosfera com

dióxido de carbono (CO2), ou mistura deste com outros gases, onde os animais são

expostos para insensibilização por anóxia.

No Quadro abaixo, são ilustrados os métodos de insensibilização mais

utilizados internacionalmente nas diversas espécies de abate de animais de corte. Dos

métodos listados neste quadro, apeno o uso de dardo cativo e atmosfera controlada

(CO2) usualmente causa, porém nem sempre, a inconsciência permanente. Animais

abatidos por estes dois métodos não precisam, do ponto de vista humanitário, serem

sangrados imediatamente, uma vez que, quando corretamente aplicados, é menos

77

provável que os animais retornem à consciência (GOMIDE, RAMOS e FONTES,

2006, p. 51).

QUADRO 2 – FREQÜÊNCIA DE USO DE DIVERSOS MÉTODOS DE

INSENSIBILIZAÇÃO ACEITOS INTERNACIONALMENTE PARA

DIFERENTES ESPÉCIES ANIMAIS.

FONTE: Gomide, Ramos e Fontes (2006)

Vale ressaltar ainda que a efetividade da insensibilização depende do

equipamento utilizado, do seu estado de manutenção e da habilidade do operador. Os

equipamentos destinados à insensibilização devem ser regularmente inspecionados e

bem conservados e os operários que insensibilizam devem ser bem treinados e

competentes.

6.8.1.1 Concussão Cerebral

Os animais são insensibilizados por concussão cerebral (lesão encefálica). O

método de dardo cativo é considerado o mais eficiente e humano para insensibilização

de bovinos (ROÇA, 1999). A concussão cerebral é obtida pelo dardo metálico, que

atravessa o crânio do animal em alta velocidade e força, provocando injúrias no

78

sistema nervoso central, devido ao seu efeito dilacerante e ao aumento da pressão

interna. Como conseqüência, ocorre um estado de incoordenação motora imediata, que

impede a permanência do animal em pé, caindo inconsciente (CASTILLO, 2006). A

concussão cerebral também causa elevação na temperatura corporal de 1 a 2ºC.

A utilização de pistolas de dardo cativo (pneumática ou de explosão) provoca

lesões do tecido do sistema nervoso central, disseminando-o pelo organismo animal.

Encontraram segmentos de tecido cerebral no ventrículo direito, em 33% dos animais

abatido por pistola pneumática com injeção de ar; 12% dos animais abatidos por

pistola pneumática sem injeção de ar e em 1% dos animais abatidos por pistola de

dardo cativo acionada por explosão (SCHMIDT apud ROÇA, 2002).

A pistola de dardo cativo acionada por cartucho de explosão é o método que

tem recebido mais destaque nas publicações científicas. O dardo atravessa o crânio em

alta velocidade (100 a 300m/s) e força (50 Kg/mm²), produzindo uma cavidade

temporária no cérebro. A injúria cerebral é provocada pelo aumento da pressão interna

e pelo efeito dilacerante do dardo (ROÇA, 2002).

Há várias maneiras pelas quais as pistolas de dardo cativo podem apresentar

defeitos. Pressão insuficiente de ar comprimido nas pistolas pneumáticas, baixo poder

dos cartuchos para o tamanho do animal e manutenção deficiente da pistola

contribuem para reduzir a velocidade e levam a atordoamento inadequado. Para

pistolas acionadas por cartuchos, o tamanho da câmara de explosão é crítico para

determinar a velocidade do dardo. Uma câmara pequena aumenta o potencial da

velocidade do dardo. Se a pistola estiver corroída ou oxidada, o dardo não retornará

adequadamente e a câmara se tornará maior. O poder de disparo será

correspondentemente reduzido (GREGORY apud ALMEIDA et al., 2005, p. 29).

79

FIGURA 33 – PISTOLA DE DARDO CATIVO

FONTE: Gomide, Ramos e Fontes (2006)

FIGURA 34 – PISTOLA COM ACIONAMENTO POR

CARTUCHO DE EXPLOSÃO

FONTE: Gomide, Ramos e Fontes (2006)

A pistola pneumática é o método mais utilizado de atordoamento em

frigoríficos autorizados com alguma certificação. O equipamento produz uma grave

laceração encefálica, promovendo inconsciência rápida do animal, e pode ser

considerado um método eficiente de abate de bovinos (ROÇA, 2001). No entanto, se

sua utilização for inadequada, resultando em mais de um disparo para levar o animal à

80

inconsciência, há prejuízos ao bem-estar animal, que sente dor e tem seu nível de

estresse aumentando, o que pode causar queda na qualidade da carne (CIOCCA apud

KITO, PEREIRA e JORGE, 2009, p. 63).

As pistolas pneumáticas de penetração fabricadas no Brasil, possuem terminal

em bastão de 11mm de diâmetro com extremidade convexa e força de impacto de 8 a

12 Kg/cm². Não possuem injeção direta de ar com o objetivo de laceração do tecido

cerebral. A saída de ar no terminal do bastão tem como objetivo apenas auxiliar o

retorno do dardo. O uso da pistola pneumática produz uma grave laceração encefálica

promovendo inconsciência rápida do animal e pode ser considerado um método

eficiente de abate de bovinos (ROÇA, 1999).

FIGURA 35 – PISTOLA PNEUMÁTICA

FONTE: Souza (2007)

Para Castillo (2006), a eficácia do processo, com produção da inconsciência

instantânea, o dardo deve penetrar corretamente no crânio do animal. Em bovinos a

pistola deve ser posicionada no meio da testa do animal, em um X imaginário formado

entre os dois olhos e a base dos chifres, não devendo ser disparada entre os olhos do

animal. A cavidade atrás do poll também deve ser evitada por ser menos efetiva,

apesar de ser indicada para plantas que precisem do cérebro intacto.

81

FIGURA 36 – CENTRO IMAGINÁRIO TRAÇADO

DA BASE DOS CHIFRES AOS OLHOS

FONTE: Souza (2007)

Para CASTILLO (2006), quando a insensibilização por concussão com dardo

cativo é realizada efetivamente, o animal apresenta as seguintes respostas:

a) Queda imediata, com as pernas flexionadas;

b) Respiração rítmica ausente (respiração ofegante é comum e indica que o

cérebro está morrendo);

c) Espasmos musculares nas pernas (coices) e nos músculos da região traseira;

d) Expressão fixa e vidrada, com nenhum reflexo no globo ocular, mesmo

quando tocado;

e) Nenhuma vocalização (mugido). O sinal mais evidente de um atordoamento

inadequado é o retorno da respiração normal e ritmada;

f) Reflexos oculares ausentes.

Uma confusão comum é a de considerar que para haver a inconsciência é

necessário que o dardo penetre no cérebro do animal. Isso não é verdade, caso

contrário o método do dardo de percussão não-penetrante seria completamente

ineficiente. A concussão pode ser induzida tanto pela penetração no cérebro quanto

por um forte impacto na superfície do crânio. O dardo de percussão não-penetrante

possui a ponta embolada, na forma de um cogumelo, desenhada para insensibilizar o

animal sem penetrar no cérebro.

82

FIGURA 37 – PISTOLA DE DARDO DE PERCUSSÃO NÃO-PENETRANTE

FONTE: Gomide, Ramos e Fontes (2006)

Segundo Dario (2008), o dardo de percussão não-penetrante faz com que ocorra

lesão encefálica ou injúrias cerebrais difusas, provocadas por impacto súbito e

conseqüentes alterações da pressão intracraniana, promovendo a incoordenação

motora e mantendo, no entanto, a atividade cardíaca e respiratória. Uma vez que o

cérebro não é penetrado e o animal não é morto, este método tem sido aceito em vários

países para insensibilizar animais antes do abate Halal (ritual religioso para obtenção

de carnes para pessoas de fé islâmica – produtos Halal). Contudo, este tipo de dardo

não deve ser utilizado em touros de grande porte, pois a rigidez óssea do crânio pode

dissipar a força de impacto, resultando numa insensibilização inadequada.

O uso do dardo de percussão não-penetrante tem sido sugerido em substituição

ao penetrante para insensibilizar bovinos de áreas onde foram constatados casos da

doença BSE (Bovine Spongiform Encephalopathy - Encefalopatia Espongiforme

Bovina), conhecido como Doença da Vaca Louca, visto que, se o cérebro é danificado

durante a insensibilização, partículas podem contaminar o sangue e,

conseqüentemente, os órgãos e os tecidos musculares. Dessa forma, o método do

dardo cativo penetrante não é aconselhável, por provocar lesões no cérebro,

disseminando-o pelo organismo animal, principalmente naqueles animais

insensibilizados por pistolas com injeção direta de ar, objetivando a laceração do

tecido cerebral. Por essa razão, em alguns países, como no Canadá, pistolas

pneumáticas que injetam ar na cavidade cranial foram proibidas no abate de bovinos.

Entretanto, pesquisas têm demonstrado que, mesmo usando pistolas de dardo não-

penetrante, existe a possibilidade de contaminação do sangue por tecido nervoso

(GOMIDE, RAMOS e FONTES, 2006, p. 55).

83

Conforme Prata e Fukuda (2001), embora a concussão possa ser causada por

impacto na fronte do crânio, provocando uma disfunção da atividade elétrica normal

do cérebro, devido a uma dramática mudança da pressão intracraniana, a maior

eficiência de insensibilização está no processo de laceração do cérebro; portanto, o

método de dardo cativo é mais eficiente do que o de percussão não-penetrante.

Em ambos os casos (métodos penetrante e não-penetrante), a velocidade do

dardo é de suma importância para a eficiência da insensibilização, uma vez que está

relacionada com a força do impacto (transferência de energia cinética) do dardo no

crânio do animal (PRATA e FUKUDA, 2001).

Segundo Gomide, Ramos e Fontes (2006, p. 55), recomendações de velocidade

mínimas dos dardos de percussão têm sido baseadas na velocidade com que supre as

respostas cerebrais não atingidas. Para bovinos, a velocidade mínima é de 55 m/s, para

touros jovens são recomendadas velocidades superiores a 72 m/s. As pistolas

pneumáticas causam força de impacto da ordem de 8 a 12 Kg/cm², enquanto naquelas

acionadas por cartuchos de explosão, o dardo pode atingir velocidades de 100 a 300

m/s, provocando impacto de cerca de 50 Kg/cm².

6.8.1.2 Atmosfera Controlada

A insensibilização por atmosfera controlada, também chamada de

insensibilização por gás ou insensibilização por CO2. Realizada pela introdução do

animal em um ambiente de ambiente fechado contendo gás anestésico e, ou, uma

mistura anóxica (baixo teor de oxigênio). Este método vem sendo usado em animais de

médio e pequeno porte, como suínos e aves. Em bovinos, sua aplicação é inviável, não

só pelo alto custo de operação, mas também pela dificuldade de manter os níveis de

CO2 e pela morosidade do processo (PICCHI, 1996).

Segundo Prata e Fukuda (2001), o gás anestésico geralmente usado é o dióxido

de carbono (CO2), por suas propriedades narcóticas (causa redução do pH do fluido

cérebro-espinhal do animal); por ser um gás denso e, portanto, facilmente contido; e

por ser um gás natural, não deixando resíduos na carne. Entretanto, o uso do gás CO2

84

tem levado a interrogações quanto ao bem-estar do animal, uma vez que a

inconsciência não é alcançada instantaneamente. Isso se deve ao fato de a

insensibilização por CO2 apresentar fases distintas:

a) Analgésica: se caracteriza pela inalação do gás CO2 e dura cerca de 14 a 20

segundos;

b) Excitação: dura cerca de 6 a 8 segundos, movimentos bruscos de contração e,

mais raramente, alguma vocalização;

c) Anestesia: animal entra em um estado de completa inconsciência, sendo

insensível à dor.

Embora alguns estudos tenham mostrado, através de eletroencefalogramas, que

o animal atinge a inconsciência antes da fase de excitação, a preocupação com o bem-

estar animal ainda existe. O principal fator que contribui para essa preocupação é a

resposta dos animais quando encaminhados para a insensibilização. Quando inalado

em altas concentrações (75 a 90%), o CO2 tem propriedades pungentes e irritantes e

causa asfixia inevitável antes da inconsciência do animal. Dessa forma, os animais

sentem uma sensação desconfortável durante a fase de inalação, e a maioria apresenta

uma grande aversão a um ambiente com elevada concentração de CO2 (GOMIDE,

RAMOS e FONTES, 2006, p. 71).

Os mesmos autores dizem que com base nessas respostas, sistemas de anóxia ou

mistura de gases com baixo teor de CO2 têm sido sugeridos em substituição a sistemas

com elevada concentração de CO2. A anóxia refere-se a um ambiente com baixa

concentração de oxigênio, porém sem o uso de CO2 como gás anestésico. É induzida

num ambiente com 90% de gás argônio (gás nobre de número atômico 18, incolor e

inodoro), ou outro gás inerte, 8% de gás nitrogênio residual e apenas 2% de oxigênio,

constituindo um processo suave de inconsciência. Da mesma forma que na anóxia, os

animais não sentem uma aversão a ambientes com misturas de gás CO2 e argônio.

Uma mistura de 30% de CO2 e 60% de argônio, com 8% de gás nitrogênio e 2% de

oxigênio residual, confere uma rápida inconsciência.

85

6.8.1.3 Eletronarcose

Geralmente é utilizada em aves, suínos, caprinos e ovinos, é um método efetivo

e induz insensibilidade instantânea. Consiste na passagem de corrente elétrica, de alta

voltagem e baixa amperagem, através do cérebro do animal, visando à indução de

estado epiléptico. O estudo de epilepsia causa uma massiva despolarização dos

neurônios no cérebro e consome as suas reservas energéticas disponíveis. Isso causa

uma inconsciência instantânea e indolor ao animal, e, uma vez que não há nenhum

registro de consciência durante a fase epiléptica, a sua mensuração é feita em

equipamentos denominados eletroencefalógrafos, que registram a atividade elétrica no

cérebro.

A corrente elétrica necessária para induzir o estado de epilepsia varia de acordo

com a espécie animal: para suínos a corrente mínima é de 1,25 A; para ovinos, de

0,50A e para bezerros e bovinos adultos, embora sua aplicação não seja muito comum,

de 1,0 a 3,0A. Usando esses níveis de corrente, aplicada por 3 a 4 segundos, 98% dos

animais serão bem insensibilizados (GOMIDE, RAMOS e FONTES, 2006, p. 56).

Uma corrente elétrica insuficiente, ou que não atravesse o cérebro será dolorosa

para o animal e provocará uma insensibilização ineficaz. Dessa forma, aplicação de

uma voltagem correta no animal é importante e torna-se um problema, pois cada

animal apresenta uma determinada resistência e, portanto, uma maior ou menor

voltagem para que o nível de corrente que atravessará o cérebro seja adequado.

De acordo com Gomide, Ramos e Fontes (2006, p. 57), em animais de grande

porte, como bovinos, o método de insensibilização por eletronarcose pode ser obtido

por três sistemas, de acordo com a posição dos eletrodos: dispostos apenas na cabeça;

dispostos na cabeça e no dorso (região torácica); dispostos na cabeça e na região

cardíaca (pata dianteira ou costelas). Nos sistemas em que os eletrodos são dispostos

apenas na cabeça, a inconsciência temporária é provocada apenas pelo estado de

epilepsia. Já nos demais sistemas, são induzidos tanto à epilepsia quanto a uma

simultânea parada cardíaca.

Segundo Silveira (2000), é indicado que a sangria seja realizada entre 5 a 10

segundos após a aplicação da eletronarcose. Menores intervalos entre a

86

insensibilização e a sangria ajudam a minimizar o salpicamento hemorrágico, pois

propiciam alívio imediato da pressão sanguínea. Também reduz a incidência de carne

PSE, uma vez que evita que a taxa glicolítica inicial se acelere, ao mesmo tempo em

que contribui para a dissipação do calor da carcaça.

Em bovinos, deve-se usar o método do dardo cativo em vez da eletronarcose.

Nesses animais, a concussão cerebral causa espasmos musculares menos severos.

De acordo com Gomide, Ramos e Fontes (2006, p. 64), embora o uso da

eletronarcose em bovinos seja permitido, sua aplicação ainda é inviável, em razão da

quase inexistência de equipamentos industriais próprios para a insensibilização de

animais desse porte. Entretanto, devido a preocupação quanto à possível contaminação

humana por carnes de animais com a doença BSE, a Europa tem procurado novas

tecnologias de abate que permitam prevenir a contaminação da carne com tecidos

potencialmente de risco, como medula e cérebro. Como as pistolas de dardo cativo e

de concussão não-penetrante, comumente usada no abate de bovinos, podem

contaminar o sangue com estes tecidos durante a etapa de insensibilização, o uso da

eletronarcose tem recebido maior atenção na Europa e em outras regiões; esta técnica

já vem sendo aplicada em alguns abatedouros da Nova Zelândia, Austrália e

Alemanha, utilizando equipamentos especialmente desenvolvidos para o abate de

animais desse porte. Alguns desses equipamentos, como o da empresa BANSS

(Biedenkopf), permitem a sangria do animal imediatamente após a corrente elétrica ter

sido aplicada, conferindo uma garantia do bem-estar animal e maior segurança aos

operadores. No entanto, a aplicação destes equipamentos se restringe a abatedouros de

médio porte, uma vez que o seu uso reduz a velocidade de abate (30 a 70

animais/hora).

Ainda o mesmo autor relata, que o equipamento multifuncional BANSS,

consiste em um box de aço galvanizado, o qual possui um sistema de contenção que

apóia o animal no abdômen e no peitoral para que este não desabe com a passagem da

corrente, evitando contusões. A corrente elétrica de 3,0 a 3,5A; 50 Hz) é aplicada na

cabeça do animal por dois eletrodos fixos e por um eletrodo posicionado no peito,

causando, além da inconsciência, uma parada cardíaca no animal. Após a passagem da

corrente elétrica o box gira lateralmente 20º e o animal é imediatamente sangrado por

87

um sistema automático. Após a sangria ocorre num fluxo extremamente alto (até 2

litros/segundo), o box gira até um ângulo de 120º, permitindo que o animal deslize sob

uma grade e seja; então dependurado na nórea.

6.8.1.4 Outros Métodos

No Brasil, métodos de insensibilização que não constam no Regulamento

aprovado pela Instrução Normativa nº3 (IN3), da Secretaria de Defesa Agropecuária

(BRASIL, 2000), somente poderão ser usados após o requerimento ao DIPOA e

subseqüente aprovação. Neste requerimento deverá constar literatura especializada ou

trabalho técnico-científico, avalizado por instituição de pesquisa, pública ou privada,

registrada e, ou, certificada pelo órgão competente, que indique este método como

adequado para a espécie a ser abatida.

Métodos como a concussão por marretada, corte da medula (choupeamento),

uso de arma de fogo e processos químicos somente poderão ser utilizados após

aprovação do DIPOA.

A insensibilização por marretada é um método considerado muito cruel e

desumano, que vem sendo abolido internacionalmente. Infelizmente ainda é utilizado

no Brasil por pequenos estabelecimentos, principalmente naqueles clandestinos.

O golpe físico aplicado na calota craniana parece não produzir a concussão, mas

sim um processo de contusão crânio encefálica. Neste método, o animal pode sofrer

contusões em outras partes da cabeça (olhos, focinho) e, muitas vezes é necessário

mais um golpe para derrubar o animal. Essas falhas ocorrem principalmente devido ao

cansaço físico e mental do marreteiro e à má contenção do animal na hora do golpe, o

que resulta numa maior movimentação e agitação deste (ROÇA, 1999). Às vezes,

sabendo que é necessário mais de uma marretada para que ocorra a insensibilização, o

operador desfere vários golpes violentos desordenadamente na cabeça do animal,

aumentando ainda mais a crueldade do método. Além do método ser desumano, gera

estresse ao animal, podendo comprometer a qualidade da carne. Outra preocupação é o

88

risco de incidência de BSE, devido à contaminação dos tecidos animais com material

cerebral.

O mesmo autor diz que, a concussão por uso de arma de fogo, quando bem

aplicada, é tão efetiva quanto a concussão por dado cativo. Método mais comumente

utilizado na eutanásia de animais doentes, sendo o mais efetivo, por não necessitar

sangrar o animal para garantir a morte. Quando propriamente posicionado causa uma

destruição maciça do cérebro e inconsciência imediata. O tiro deve ser dado,

horizontalmente, na região temporal (entre os olhos e a base da orelha do animal) para

promover a insensibilização imediata.

Embora o uso de armas de fogo seja aceitável do ponto de vista de bem-estar

animal, deve ser considerada uma operação de alto risco no matadouro-frigorífico.

Além disso, todos os tecidos da cabeça do animal devem ser condenados. De forma

geral, o uso de calibre 0,22 é suficiente para insensibilizar a maioria dos animais. No

entanto, para bovinos, eqüinos, búfalos, calibres maiores são necessários (0,357 ou

mesmo 9 mm). O uso de projéteis no processo de insensibilização aumenta

consideravelmente os riscos de BSE, principalmente quando a concussão é realizada

na fronte, entre os olhos e a base dos chifres (GOMIDE, RAMOS e FONTES, 2006,

p.81).

Segundo Prata e Fukuda (2001), a enervação ou choupeamento consiste no

corte da medula espinhal, na altura do espaço atlanto-occipital (entre a primeira

vértebra cervical e o osso occipital), de forma a romper sua conexão com o encéfalo.

Esse rompimento causa redução brusca na ação cardíaca e respiratória, mas parece não

produzir inconsciência instantânea. A secção da medula é feita por um instrumento de

cabo longo, com uma lâmina de ferro perfurante em sua extremidade, denominado

choupa.

89

FIGURA 38 - CHOUPA

FONTE: Gil (2000)

Choupeamento é um método comumente usado para abate de bubalinos, em

virtude do tamanho e da peculiaridade das estruturas óssea e cranial dos búfalos. No

entanto, é considerado um método extremamente cruel e desumano, em vista da

grande margem de erro do golpe desferido pelo operador. Além de exigir grande força

física e muita habilidade do matador, são necessárias várias estocadas para imobilizar

o animal, uma vez que este, freqüentemente se desvia, assustado com movimentos

bruscos do operador (BARBOSA FILHO e SILVA, 2004).

6.9 SANGRIA

A sangria é o principal processo de matança utilizado. Seus propósitos são a

morte do animal por falência circulatória, antes que se retorne à consciência, e a

subseqüente remoção de todo o sangue possível da carcaça.

Como regra, para proporcionar uma sangria completa e eficiente, ela deve ser

feita logo em seguida da insensibilização, de modo a provocar rápido e completo

escoamento do sangue, antes que o animal retorne a consciência. A duração da sangria

é de três minutos, tempo este ajustado ao comprimento da canaleta, a ponto de permitir

o extravasamento do sangue durante o curso normal da nórea transportadora (PARDI,

2006, p. 496).

90

A sangria em bovinos é realizada pela abertura sagital da barbela, através da

línea Alba, e pela secção dos grandes vasos do pescoço (veias jugulares e artéria

carótida), usando faca de sangria previamente esterilizada. Deve-se cuidar para que a

faca não avance muito em direção ao peito, porque o sangue poderá entrar na cavidade

torácica e aderir à pleura parietal e às extremidades das costelas (THORTON, 1969).

FIGURA 39 – ABERTURA SAGITAL

DA BARBELA DO BOVINO

FONTE: Souza (2007)

É conveniente a utilização de duas facas de sangria, uma para incisão da barbela

e outra para o corte dos vasos. Imediatamente após o uso, as facas devem ser

mergulhadas na caixa de esterilização, e as outras, já esterilizadas, usadas no próximo

animal (MUCCIOLO, 1985).

O intervalo de tempo entre a insensibilização e sangria deve ser o menor

possível. Na Argentina, o intervalo máximo permitido é de dois minutos para bovinos

(ARGENTINA, 1971). No Brasil, o Serviço de Inspeção Federal recomenda intervalo

máximo de um minuto (BRASIL, 2000).

A importância da sangria imediata é evidente quando se verifica que a

velocidade de um fluxo de um vaso cortado é 5 a 10 vezes mais rápido do que no vaso

91

íntegro e somente depois de perder-se muito sangue é que a pressão sangüínea começa

a cair (THORNTON, 1969).

Problema relacionado com a sangria é o aparecimento de hemorragias

musculares caracterizadas por petéquias, listras ou equimoses em várias partes da

musculatura, provocada por aumento da pressão sangüínea e ruptura capilar

(THORNTON, 1969). Vários fatores são responsáveis por estas alterações como o

aumento do intervalo entre o atordoamento e a sangria (THORNTON, 1969), o estado

de tensão dos animais no momento do abate (GIL e DURÃO, 1985), traumatismos,

infecções e ingestão de substâncias tóxicas (SMULDERS apud ROÇA, 2002).

Roça (2001), diz que a eficiência da sangria é muito importante para obtenção

de um produto de qualidade, pois o sangue tem alto poder protéico e uma rápida

putrefação, comprometendo a conservação e o aspecto da carne.

Existem controvérsias a respeito da relação entre sangria, higiene e aparência da

carne. Sabe-se que o sangue de animais sãos é praticamente estéril e possui no plasma

fatores com atividade antimicrobiana. Assim, a interrupção da sangria por hemostasia

foi sugerida como um caminho para melhorar as propriedades sensoriais da carne

como maciez, sabor, suculência e aparência (WARRISS et al., 1995).

Estima-se que o atual déficit mundial de proteína animal seja de cerca de 70%

da produção corrente ou 5 milhões de toneladas por ano, assumindo que a necessidade

diária de ingestão é de 90g per capita, com a inclusão de 50,6g de proteína animal. A

utilização de fontes protéicas alternativas originárias de subprodutos da indústria de

carne, especialmente sangue, poderia, com baixo custo, melhorar o valor nutricional da

dieta da população. No entanto, o sangue animal é muito pouco aproveitado, sendo

muitas vezes lançados nos esgotos, causando poluição decorrente de sua alta taxa de

demanda bioquímica de oxigênio (DBO), de 150.000 a 200.000 mg/L, contribuindo,

assim, para a “morte” de rios. O aproveitamento industrial do sangue, quando feito,

destina-se a usos menos nobres, como espumas para extintores de incêndio,

fertilizantes, adesivos, resinas, formulações para cosméticos, meio de cultura etc.

Poucos estudos têm sido conduzidos para o seu uso na alimentação humana, e seu

aproveitamento em alimentos tem sido negligenciado (GOMIDE, RAMOS e FONTES

2006, p. 125).

92

Pretendendo a utilização do sangue ou do plasma sangüíneo como ingredientes

de produtos comestíveis, deve-se obedecer, em princípio, ao que determina o artigo

417 do RIISPOA. A sangria, precedida de uma conveniente higienização do local do

corte, será efetuada com faca especial, denominada “Faca de Vampiro”. Ela dispõem

de um tubo conectado ao cabo da faca que, higienicamente leva o sangue para

recipientes esterilizados e deverá ser obrigatoriamente esterilizada após a operação em

cada animal (PISKE apud ROÇA, 2002). Os recipientes para o recolhimento

individual do sangue devem ser de material inoxidável ou de plástico adequado,

formato cilíndrico, de cantos arredondados, com tampas, e assinalados de forma a

permitir que facilmente se determine a relação de origem entre os respectivos

conteúdos e os animais sangrados. O sangue só poderá ser liberado após a livre

passagem do respectivo animal pelas linhas de inspeção, sendo rejeitado no caso da

sua contaminação ou da verificação de qualquer doença que possa torná-lo impróprio.

Os recipientes somente podem ser reutilizados depois de rigorosamente limpos e

esterilizados (GOMIDE, RAMOS e FONTES, 2006, p. 496).

FIGURA 40 – SISTEMA “VAMPIRO” DE COLETA

HIGIÊNICA DO SANGUE

FONTE: Gomide, Ramos e Fontes (2006)

93

FIGURA 41 – “FACA VAMPIRO”

FONTE: Gomide, Ramos e Fontes (2006)

Ainda os mesmos autores dizem que na prática, observa-se certa tolerância por

parte da Inspeção Federal quanto à coleta de sangue de diversos animais (geralmente

de dois indivíduos) em apenas um recipiente. Entretanto, a liberação do sangue fica

condicionada à inexistência, em qualquer dos animais onde se faz a coleta, de qualquer

contaminação, doença ou qualquer outro problema que possa torná-lo impróprio para o

consumo humano. Caso seja constatada a improbidade do sangue de pelo menos um

animal, todo o recipiente será condenado e o sangue somente poderá ser utilizado para

fins menos nobres.

O sangue deverá ser colhido em canaleta própria, denominada “canaleta de

sangria”, onde os animais devem permanecer por um mínimo 3 minutos, com vistas à

máxima remoção de sangue. O comprimento da canaleta de sangria corresponderá,

então, ao espaço percorrido pela nória em 3 minutos, devendo ser construída em

alvenaria inteiramente impermeabilizada com reboco de cimento alisado, ou com outro

material adequado, de modo a colher o sangue sem que este se misture com o vômito e

com a água de lavagem (qual carreia sujidades, fezes e urina) que pode escorrer dos

animais pendurados. A aplicação do sangue desta forma coletado se restringe à

fabricação de subprodutos industriais, como “farinha de sangue” e “sangue em pó”,

destinados à fabricação de ração para consumo animal (GOMIDE, RAMOS e

FONTES, 2006, p. 124).

94

FIGURA 42 – CORTE TRANSVERSAL DA CANALETA

DE SANGRIA E CORRETA POSIÇÃO DO ANIMAL

FONTE: Gomide, Ramos e Fontes (2006)

Para Picchi (1996, p. 43), durante a sangria todo animal sadio e descansado

chega a eliminar metade do volume de seu sangue, enquanto aqueles que apresentam

qualquer tipo de alteração orgânica e estão em estado febril (geralmente provocado

pelo estado de tensão) retém o sangue na musculatura e nos órgãos centrais, afetando a

qualidade do produto final.

A quantidade média de sangue coletado no abate varia de acordo com o

tamanho do animal e do tipo de alimentação; para bovinos, coleta-se em média de 10 a

12 litros de sangue.

O volume de sangue de bovinos é estimado em 6,4 a 8,2 litros/100Kg de peso

vivo (KOLB, 1984). Para Bartels apud Roça (2002), a quantidade de sangue obtida na

sangria com o animal deitado é aproximadamente de 3,96 litros/100 Kg de peso vivo e

com a utilização do trilho aéreo é de 4,42 litros/100 Kg de peso vivo. Numa boa

sangria, necessária para a obtenção de uma carne com adequada capacidade de

conservação, é removido cerca de 60% do volume total de sangue, sendo que o

restante fica retido nos músculos (10%) e vísceras (20 - 25%) (PISKE apud ROÇA,

2002).

A eficiência da sangria pode ser definida como o volume de sangue residual ou

retido a nível muscular após o abate. A literatura sobre métodos de avaliação da

95

eficiência da sangria é escassa. Talvez a dificuldade técnica para avaliar o sangue

residual seja o fator principal desta escassez de trabalhos científicos (WARRISS et al.,

1995). Considerando uma variação individual muito acentuada no teor de hemoglobina

sangüínea, Roça (1999), empregou a relação entre a hemoglobina sangüínea e a

hemoglobina residual no músculo para estabelecer a eficiência da sangria, cujos

resultados foram expressos em mL de sangue retido no músculo por 100g de músculo.

Vários fatores são responsáveis pela eficiência da sangria. Podem ser citados os

estados físicos do animal antes do abate, o método de atordoamento e o intervalo entre

o atordoamento e a sangria. Todas as enfermidades que debilitam o sistema

circulatório afetam a sangria. As enfermidades febris, agudas, provocam

vasodilatações generalizadas, que impedem uma sangria eficiente. O mesmo é

observado em animais abatidos em estado agônico, tendo em vista que o sistema

circulatório está notadamente alterado (BARTELS apud ROÇA, 2002).

O banho de aspersão tem sido apontado como um procedimento capaz de

melhorar a sangria através da vasoconstricção periférica que ela possa provocar

(BARBOSA da SILVA, 1995), porém, de acordo com Roça e Serrano (1995), esta

etapa do abate de bovinos não afeta a eficiência da sangria ou o teor de hemoglobina

retido nos músculos.

Com relação aos efeitos dos métodos de insensibilização na eficiência da

sangria, o método de abate afeta sensivelmente o processo de sangria, sendo a

eficiência maior no abate kasher e menor no abate realizado através da

insensibilização por pistola pneumática, seguida imediatamente pela estimulação

elétrica (ROÇA, 1999).

O atordoamento do animal, por qualquer método, produz uma elevação da

pressão sangüínea no sistema arterial, venoso e capilares, e dá um aumento transitório

nos batimentos cardíacos fatores que favorecem a sangria (THORNTON, 1969). O

volume de sangue colhido também é maior se a sangria é realizada imediatamente

após a insensibilização. A esse respeito, Roça (2002), estabeleceram que o volume de

sangue colhido é inversamente proporcional ao intervalo entre o atordoamento e a

sangria.

96

Apesar do argumento do sangue ter elevado pH (7,35 - 7,45) (KOLB, 1984) e,

grande valor protéico, o que tornaria um excelente meio de cultura e, portanto,

limitaria a vida útil da carne (MUCCIOLO, 1985). Estudos apontam que a carne é um

meio de incubação tão bom quanto o sangue. Provavelmente, os problemas mais

pertinentes oriundos de uma sangria mal realizada seriam de questão sensorial, uma

vez que a presença de sangue pode afetar a aparência da carne e alterar o seu sabor e

odor característico (BARTELS apud ROÇA, 2002). Dessa forma, como regra geral, a

eficiência da sangria é considerada uma exigência importante das operações de abate

para obtenção de uma carcaça de qualidade (WARRISS et al., 1995).

97

7 MÉTODO PARA AVALIAR O NÍVEL DE ABATE HUMANITÁRIO EM

UMA PLANTA ABATEDOURA

Gerentes de produção dos matadouros-frigoríficos devem estar comprometidos

com o bem-estar animal. Os gerentes que pregam o bom manejo e uso de práticas

corretas de insensibilização, são aqueles que insistem que seus empregados manejem e

insensibilizem corretamente os animais.

Para ajudar os gerentes a controlar o nível de abate humanitário de uma planta

abatedoura, Grandin (2000), formulou um método que descreve procedimento para

pontuação, o qual determina o nível de bem-estar dos animais e as recomendações para

ajudar a melhorá-lo. O sistema de pontuação é simples e recomenda ser utilizado uma

vez por semana tanto no início do turno quanto no final para determinar o efeito da

fadiga dos funcionários.

Podem-se manter níveis aceitáveis de bem-estar animal com um mínimo de

custo.

7.1 SISTEMA DE PONTUAÇÃO

7.1.1 Pistola Pneumática

A análise para obter a pontuação abaixo poderá ser feita por uma pessoa que

verificará quantos animais caíram no box de atordoamento insensibilizados

instantaneamente após o primeiro tiro da pistola pneumática.

a) Excelente: 99 a 100% caem insensibilizados instantaneamente ao primeiro

tiro;

98

b) Aceitável: 95 a 98% caem insensibilizados instantaneamente ao primeiro

tiro;

c) Não aceitável: 90 a 94% caem insensibilizados instantaneamente ao primeiro

tiro;

d) Problema sério: 90% caem insensibilizados instantaneamente ao primeiro

tiro.

Principal causa da baixa eficácia no uso da pistola pneumática é a manutenção

deficiente. Estas devem ser limpas e ter manutenção regular segundo as

recomendações do fabricante para manter o poder de força de penetração ao máximo e

prevenir os casos de eficácia parcial ou ineficácia.

Outra causa de falha no acerto do primeiro tiro com a pistola é o operador

fadigado. Como sugestão, poderá haver dois operadores para que estes se intercalem

no decorrer do turno de trabalho.

7.1.2 Insensibilidade no Trilho da Sangria

A pessoa que faz a análise se posiciona perto do trilho da sangria e verifica no

mínimo de 100 (cem) animais, quantos apresentam sensibilidade parcial logo após

serem insensibilizados e sangrados:

a) Excelente: menos de 1 por 100;

b) Aceitável: menos de 1 por 500;

Os seguintes sinais são indicadores de um possível retorno à sensibilidade no

trilho da sangria: respiração rítmica, vocalizações enquanto estão pendurados no trilho

da sangria, reflexos oculares em resposta ao tato, olhos pestanejando e costas

arqueadas. Os animais que mostrarem qualquer um desses sinais devem ser re-

insensibilizados imediatamente.

Quando pendurados no trilho da sangria os movimentos dos membros dos

animais devem ser ignorados. Se a língua estiver para fora da boca então o animal está

definitivamente insensível. Não deve existir nenhuma tolerância em encaminhar os

animais ao trilho de sangria sem prévia insensibilização.

99

7.1.3 Avaliação dos Escorregões e Caídas

A pessoa deverá com ajuda dos funcionários do abatedouro fazer com que

sejam manejados em média 10 (dez) animais por vez para que o pesquisador possa

verificar dentre 100 (cem) animais quantos escorregam e caem. O pesquisador poderá

verificar também quais os lugares que estão tendo problemas com escorregões e caídas

e providenciar melhorias.

a) Excelente: não há escorregões e caídas;

b) Aceitável: escorregões em menos de 3% dos animais;

c) Não aceitável: 5% de caídas;

d) Problema sério: mais de 5% de caídas ou escorregões.

O manejo pré-abate dos animais visando o bem-estar é impossível de ser

realizado se os animais escorregarem ou caírem no piso. Todas as áreas onde os

animais passam devem ser providas de piso anti-deslizante. De acordo com os

resultados dos estudos da Grandin (2000), os problemas de escorregões e quedas são

mais freqüentes na área do box de atordoamento. Portanto, após identificado os locais

de quedas, deve-se providenciar melhorias.

7.1.4 Avaliação das Vocalizações nos bovinos abrangendo as Áreas da Rampa

de Acesso à Sala de Abate até o Box de Atordoamento

O pesquisador deverá posicionar-se entre a rampa de acesso e box de

insensibilização, anotando número de animais vocalizam neste trajeto. Avaliar no

mínimo 100 (cem) animais.

a) Excelente: até 0,5% de bovinos vocalizando;

b) Aceitável: 3% ou menos de vocalização;

c) Não aceitável: 10% de vocalização;

d) Problema sério: mais de 10% de vocalização.

Vocalizações é indicador de dor nos animais e estão diretamente relacionadas

com o hormônio cortisol (o hormônio do stress). As maiores causas de vocalizações no

100

manejo pré-abate são: uso excessivo do bastão de eletricidade para a condução dos

animais, escorregões seguidos de quedas (que podem ocasionar fratura exposta) e erro

na aplicação dos equipamentos de insensibilização.

Vocalizações que acontecem no curral de descanso não devem ser consideradas

já que o animal se comunica com outros animais por meio de mugidos.

7.2 PRINCÍPIOS QUE PERMITEM REDUZIR O STRESS E AS VOCALIZAÇÕES

a) Eliminar ruídos provenientes de golpes em portas e outros objetos;

b) Todas as áreas de passagem dos animais devem ser iluminadas

adequadamente já que os animais se recusam a entrar em lugares escuros;

c) Prover ao box de atordoamento pisos anti-deslizante, assim como na rampa

de acesso. Os animais tendem a assustar-se quando perdem o piso firme.

Animais tranqüilos são mais fáceis de controlar e conduzir do que animais

agitados. Para tranqüilizar animais agitados e dar procedência ao manejo, levará cerca

de 20 minutos. O que estressa os animais no manejo tanto da fazenda como no

frigorífico é o fato do manejador gritar ou assobiar, portanto o manejador deve fazer

uso de outros meios que não seja o barulho.

Grandin (1997), afirmou que as reações dos animais são governadas por uma

interação complexa entre genética e experiências prévias. Por exemplo, animais com

experiências prévias de manejo mal conduzido como chutes, pauladas, utilização

excessiva de bastões de eletricidade se lembrarão disto e tornar-se-ão mais arredios

nos manejos futuros do que os animais que tiveram experiências com manipulação

bem conduzida.

Portanto nas fazendas os criadores devem impedir que seus funcionários

utilizem de procedimentos dolorosos e altamente aversivos para com os animais.

Grandin (1997), mostrou que há algumas situações nas quais a novidade é

atraente aos animais. Os animais freqüentemente se aproximam e “brincam” com um

pedaço de papel no chão. Mas o mesmo pedaço de papel fará com que os animais

empaquem durante o manejo se estes estão sendo forçados a caminhar. Contudo, os

101

manipuladores devem cuidar para que quando o animal estiver entrando em algum

lugar, ou caminhando naturalmente no percurso do manejo, não sejam usados os

bastões de eletricidade ou outros instrumentos aversivos para forçá-los a fazer o que

estavam fazendo naturalmente.

Recomenda-se não deixar nenhum animal sozinho durante o manejo, pois os

animais possuem o instinto de rebanho e o animal que ficará sozinho entrará num

estado de tensão e dificultará o manejo.

A necessidade da utilização do bastão elétrico para conduzir os animais também

constitui um sinal onde o manejo está inadequado. O bastão elétrico não deve ser

utilizado nas partes sensitivas dos animais como olhos, orelhas e mucosas. Os bastões

não devem ter mais que 50 lux. Ao reduzir o uso do bastão elétrico, melhorará o bem-

estar animal. Os critérios para avaliar a utilização do bastão elétrico em bovinos,

segundo Grandin (2007), encontram-se no Quadro 2 (em % de bovinos conduzidos

com a utilização do bastão):

QUADRO 3 – AVALIAÇÃO DO USO DO BASTÃO DE ELETRICIDADE

EM BOVINOS

FONTE: Grandin (2007)

7.3 RECOMENDAÇÕES PARA REDUZIR O USO DO BASTÃO DE

ELETRICIDADE

Objetivo é manter um manejo eficiente e humanitário aos animais.

102

a) Eliminar distrações que provocam recusas ao andar, tais como: sombras,

reflexos luminosos sobre metais brilhantes, correntes de ventilação dirigidas para a

cara dos animais, pessoas que caminham pela rampa de acesso ou que ficam próximas

ao box de atordoamento;

b) Promover adequada iluminação, pois os animais se recusam entrarem em

lugares escuros e quando avistam metais refletindo luz ou quando há presença de água

no chão;

c) Reduzir os ruídos. Os animais são sensíveis a ruídos de alta intensidade, tais

como: ruídos de motores, sistemas hidráulicos, golpes de metais etc.;

d) Mover grupos pequenos de animais;

e) Bastões de eletricidade devem ser substituídos por outros meios de persuasão

tais como: pedaços de pau com tiras largas de plástico na ponta, pedaço de pau com

panos na ponta. Os animais freqüentemente avançam sem problemas quando o

manejador caminha atrás dos animais;

f) Cada matadouro-frigorífico deve estabelecer suas próprias regras e

procedimentos de manejo humanitário para animais que não podem caminhar. Arrastar

animais caídos e sensíveis é uma violação à regulamentação de abate humanitário. Já

os animais caídos, mas insensibilizados poderão ser arrastados;

g) Desenvolver medidas para reduzir a presença de animais caídos. O piso anti-

deslizante é essencial. Brigas e atividades de monta nos animais podem causar graves

contusões, neste caso os touros devem ser separados.

103

8 COMPREENDENDO A ZONA DE FUGA DOS ANIMAIS

Todas as espécies que vivem em manada possuem uma área circular imaginária

ao seu redor chamada “zona de fuga”. Esta área nada mais é do que um espaço no qual

o animal se sente seguro diante de um estranho ou predador. Segundo Grandin (2000),

a zona de fuga é como o espaço “pessoal” de cada animal e seu diâmetro é

determinado pelo fato do animal estar excitado ou calmo.

A distância de fuga é o raio da área dentro da qual o animal não permitirá

voluntariamente a intrusão do ser humano ou de animais de outra espécie que possam

representar perigoso. Conceito importante na definição desse posicionamento seria a

distância mínima que o animal permite a aproximação de humanos antes de iniciar o

deslocamento (fuga). A área de fuga terá sempre o animal como ponto central, se

deslocando junto com o mesmo. Ainda, esta área varia de animal para animal e,

através do manejo humanitário, possa ser diminuída ao longo do tempo. Aliás, a área

de fuga pode até desparecer em função do manejo freqüente e humanitário, que é o

caso quando o animal permite ser tocado sem estar contido, como por exemplo: gado

leiteiro.

Quando os animais estão parados olhando para o manejador, significa que este

está fora da zona de fuga. Para facilitar o manejo dos animais fazendo uso desta teoria,

o manejador deve ter em mente que o animal tem tendência a mover-se à direção

oposta quando este penetra na sua zona de fuga. Para manter um grupo de animais

avançado de forma ordenada, primeiramente o grupo deve possuir espaço suficiente

para caminhar, segundo, o manejador deve alternar entre entrar e sair da zona de fuga

do grupo. Sabe-se que manejar grupos pequenos de animais torna-se mais fácil e

oferece menos riscos de injúrias físicas aos animais. Nota-se que compreendendo e

colocando em prática a teoria da zona de fuga, o uso de bastões de eletricidade tornar-

se-á desnecessário.

104

FIGURA 43 – ZONA DE FUGA

FONTE: http://www.grandin.com/spanish/zona.fuga.html

Através da figura, nota-se que independentemente da direção do deslocamento

dos homens, as ovelhas farão o possível para manter suas áreas de fuga sem intrusão.

Grandin (1993), definiu alguns pontos em relação ao campo visual dos bovinos

que são de grande importância durante o manejo dos animais, sendo determinantes

para a definição do posicionamento da pessoa responsável pela condução dos animais.

FIGURA 44 – ZONA DE FUGA E OS ÂNGULOS DE VISÃO DOS BOVINOS

FONTE: Adaptado de GRANDIN (1993)

O posicionamento dos olhos na lateral da cabeça, característico de animais que

precisam tomar cuidado para não ser predados, proporciona um campo de visão muito

105

amplo, o que facilita sua fuga ou defesa. Entretanto, ainda assim existe uma área cega,

completamente fora do campo de visão do animal.

Caso o homem se aproximar de um animal e adentrar sua área de fuga através da

área cega, quando o animal visualizá-lo levará um susto e reagirá de forma

imprevisível. Se estiver tentando fazer o animal andar para frente e posicionar-se no

limiar de sua área cega, o animal começará a andar em círculos, desta forma evitando

que o homem se “esconda” onde ele não poderá vê-lo.

Portanto, se intuito for conduzi-los para frente, homem terá que se posicionar

dentro na zona de fuga e numa posição caudal a partir do ponto de equilíbrio até um

ângulo de 45 graus em relação a este ponto (tendo em conta o corpo do animal, este

ponto estaria localizado logo após a paleta). Posicionamento ainda mais caudal, entre

45 e 60 graus em relação ao ponto de equilíbrio, geralmente resulta na paralisação do

deslocamento, isto porque o homem estaria se aproximando da área cega, o que levará

o animal a virar a cabeça para manter o homem em seu campo visual, parando de

andar ou, no caso de não parar, começa a andar em círculos. Caso o homem tomar uma

posição mais frontal em relação ao ponto de equilíbrio a tendência é o animal se mover

para trás.

Nunca devem ser usados cães para manejar os animais em lugares fechados,

pois os cães penetram profundamente na zona de fuga e provocam uma situação de

grande tensão nos animais os quais não têm para onde fugir (GRANDIN, 2007).

Para Castillo (2006, p.14), o tamanho da zona de fuga varia com o grau de

domesticação do animal, seu contato prévio com pessoas (freqüência) e se foi positivo

ou negativo, fatores genéticos (temperamento calmo x excitável). Se uma pessoa entrar

na zona de fuga de um animal, a tendência é mover-se para longe, parando quando o

perímetro da zona de fuga for restabelecido. A súbita entrada na zona de fuga de um

animal, em um espaço confinado, pode torná-lo muito agitado, causando sérios

acidentes. Este problema é mais acentuado se a zona de fuga do animal for grande,

devido à combinação de fatores citados acima: animal pouco domesticado,

temperamento excitável, poucos e negativos contatos com pessoas.

Existe outro modelo de comportamento que é denominado de “ponto de

equilíbrio” ou “ponto de balanço”. É uma linha imaginária na altura da paleta do

106

animal usado para induzir o movimento do mesmo para frente e para trás. Para fazer o

animal se mover para frente, o operador deve postar-se atrás do ponto de equilíbrio; e

para fazer o animal se mover para trás o operador deve postar-se à frente do ponto de

equilíbrio. Para evitar que um animal se mova para trás toda vez que o operador ande

em sua direção, a passagem pelo ponto de equilíbrio deve ser feita de forma rápida,

seguida de uma parada atrás do ponto de equilíbrio. Posteriormente deve-se andar

devagar para forçar o movimento do animal para frente. O entendimento deste

conceito reduz grandemente o uso de estimulação elétrica (CASTILLO 2006, p. 15).

Até o momento foram definidos movimentos que se possam esperar dos

animais a partir da movimentação do homem. Ressalta-se que, se o animal entender o

que o homem deseja dele, facilitará o manejo, pois haverá colaboração dos animais.

Portanto, é fundamental que durante manejo o homem seja visualizado pelos animais.

Uso de bandeirola facilitará esta visualização.

FIGURA 45 – USO DA BANDEIROLA DURANTE

MANEJO DOS ANIMAIS

FONTE: Molento (2010)

As propostas descritas de movimentação dos animais são eficientes e

possibilitam um manejo tranqüilo. Desta forma, os animais não associarão o curral a

estímulos aversivos ou situações de alto estresse e não oferecerão resistência severa ao

manejo, garantindo bem-estar no curral para o animal e o homem.

107

9 IDENTIFICANDO DISTRAÇÕES NO MANEJO DOS ANIMAIS

Os animais se recusam a avançar em lugares que se percebem distrações tais

como; sombra, por exemplo. No entanto há soluções muito simples para facilitar o

manejo dos animais, verificando se existem distrações como:

a) Reflexos de luz sobre poças de água;

b) Reflexos de luz sobre metais;

c) Ruídos provocados por metais;

d) Ruídos de alta freqüência;

e) Ruídos ou assobios provocados pela passagem de ar entre paredes ou objetos;

f) Correntes de ar que se dirigem contra os animais quando estes estão

avançando;

g) Roupas penduradas nos arredores;

h) Pedaço de plástico que se move;

i) Ruídos de ventiladores;

j) Presença de pessoas nos arredores;

l) Pequenos objetos no piso (lixo);

m) Mudança na superfície do piso ou em sua textura;

n) Mudanças bruscas de cor no piso ou ao redor;

o) Grade de drenagem (ralo) no piso;

p) Escuridão, os animais avançam mais facilmente de lugares mais escuros para

os mais claros;

q) Claridade do sol diretamente no rosto dos animais.

Outros motivos, que levam o animal a parar de andar, além de espaço

insuficiente, é a presença de objetos dentro do curral, pois despertará curiosidade no

animal, que tentará parar para investigar.

108

FIGURA 46 – OBJETOS QUE CAUSAM DISTRAÇÃO

FONTE: www.grandin.com

Maneira de monitorar as instalações para objetos é percorrer o caminho que os

animais fazem, de olhos bem abertos, e tentar ver da forma que os animais vêem, ou

seja; ter em mente o conhecimento da percepção que os bovinos têm do meio

ambiente.

Percebe-se que cercas, porteiras e outras partes das instalações projetam

sombras no piso do curral, corredores e rampas, que na maioria das vezes passam

despercebidas pelo o homem. Entretanto, podem fazer com que o piso seja percebido

pelos bovinos como uma superfície impossível de se movimentar. Isto se deve à

dificuldade dos bovinos em perceber profundidade, confundindo sombras com

buracos.

Quando bovino se depara com sombras, é comum o animal parar, cheirar, para

posteriormente seguir adiante, principalmente se forem sombras ocasionadas por

cercas de madeira com espaços abertos. Nestas situações, o animal tem sensação de

que o espaço do piso disponível é limitado.

109

10 QUALIDADE DA CARNE

Modernamente, entende-se por qualidade de um produto o conjunto de atributos

que satisfaz as necessidades do consumidor, chegando, de preferência, a ultrapassar as

suas expectativas iniciais. Portanto, o conceito que qualidade de carne é variável;

depende do mercado, isto é, da cultura predominante e da faixa de renda do segmento

de consumidores que se quer atingir (FELICIO apud KITO, PEREIRA e JORGE,

2009, p.54).

De acordo com RIISPOA, a carne bovina é classificada como carne vermelha,

apresentando grande importância nutricional, pois fornece os principais nutrientes

necessários para dietas. É fonte de proteína e a maior fonte de cinco importantes

vitaminas: tiamina, niacina, riboflavina, vitamina B6 e B12. Além disso, contribui

dessa qualidade é influenciando significativamente pelas etapas que antecedem o

processo industrial, genética utilizada, sistemas de criação e, principalmente, manejo

pré-abate e atordoamento do animal no frigorífico (OLIVO e OLIVO, 2006, p.187).

Todo estresse impostos aos animais na fase ante-mortem podem desencadear

reações que interferem diretamente na qualidade da carne, o que resulta em perdas de

produção e de vendas ou comercialização de produtos de baixa qualidade.

Sabe-se que a qualidade da carne depende da integração de todos os elos da

cadeia produtiva: genética e sanidade do animal, condições de processo e resfriamento

das carcaças nos frigoríficos e distribuição e armazenagem do produto no varejo.

Porém, a conversão do músculo em carne também é influenciada pelo manejo na

fazenda, transporte, manejo pré-abate e abate propriamente dito.

Problemas relacionados com o manejo impróprio dos animais dizem respeito

principalmente à aparência da carne que é o primeiro atributo que o consumidor

atenta-se na hora de escolher o produto que vai comprar (GRANDIN, 2007).

110

Melhora na qualidade da criação, carcaças, e cortes, acompanhada por manejo

apropriado, resultam na forma de menor incidência de contusões, melhora na maciez e

baixa ocorrência de “dark cuts”. Com atenção à necessidade de manejo adequado para

que os animais sejam criados, comercializados e transportados até as instalações de

abate, há oportunidade de melhorar a produtividade, qualidade e benefícios para todos

os setores de produção e beneficiamento (GRANDIN apud ALMEIDA et al., 2005).

10.1 HEMATOMAS

Segundo Godoy apud Renner (2006, p. 188), durante manejo e transporte de

animais, ocorrem com freqüências traumatismos ou danos físicos. Todo animal mal

manejado terá incidência maior de hematomas quando comparado com animais bem

manejados. Dados econômicos conseqüentes da perda de quantidade e qualidade da

carne são consideráveis. Isto, naturalmente, causa perda de peso na carne vendida,

além de diminuir o valor do restante da carne afetada, em decorrência de um problema

de apresentação.

Alguns frigoríficos fazem avaliações quanto à presença de contusões nas

carcaças bovinas. Estas avaliações ocorrem diariamente nas distintas regiões

anatômicas da carcaça em relação à extensão, profundidade e grau.

Em estudo realizado por Renner (2005), verificou-se que, em 20.000 carcaças

avaliadas, 49% apresentavam algum tipo de contusão, e que as regiões mais afetadas

eram os locais considerados mais nobres: 52% das contusões localizavam-se no

quarto, 19% no vazio, 13% nas costelas, 9% na paleta e 7% no lombo.

Contusões representam problema estético e de bem-estar animal. A zona

atingida tem aparência feia e desagradável e, na maioria das vezes, é necessário fazer

toaletes causando perda de peso e de seu valor comercial, como também propensão a

contaminações em razão do sangue ser um grande meio para desenvolvimento

microbiano.

Carcaças podem apresentar contusões mais profundas, somente detectadas

durante a desossa ou consumo humano, como no caso de reações as vacinas.

111

Se o mal manejo chegar ao ponto de agressão, os animais podem apresentar

fraturas e até mesmo estado febril, levando a condenação total da carcaça.

Carcaças que apresentarem contusões generalizadas são destinadas ao

Departamento de Inspeção Federal, para que se realize toalete mais minuciosa. Após a

inspeção, a carcaça pode voltar à linha de abate ou até mesmo ser destinada à conserva

ou graxaria.

Os hematomas podem variar desde os leves (aproximadamente 10 cm de

diâmetro) e superficiais, até os maiores e severos que envolvem toda uma extremidade.

Carne com hematomas significa perda, já que não é apta para alimento, não é aceita

pelo consumidor, não pode ser usada na preparação de carnes processadas e

decompõem-se rapidamente, uma vez que é meio ideal para crescimento de bactérias

contaminantes.

As contusões podem ser classificadas de acordo com o tempo de aparecimento e

o grau de lesão. As contusões novas ou recentes, com menos de um dia de lesão,

apresentam-se hemorrágicas e com uma coloração vermelha escura, enquanto que as

consideradas velhas ou antigas, com mais de um dia ou até semanas, mostram-se com

uma coloração amarelada. Em relação ao grau de lesão, aquelas que afetam somente o

tecido subcutâneo são consideradas de Grau I; Grau II, são para aquelas contusões que

afetam também o tecido muscular e Grau III, para aquelas contusões que atingem,

além dos tecidos subcutâneo e muscular, o tecido ósseo (RENNER, 2005).

Surgimento de contusões pode ocorrer em diferentes etapas do manejo, ou seja,

em momentos, dias e até meses antes do abate.

As principais causas de contusões são decorrentes da movimentação muito

rápida de animais, pisos molhados, escorregadios e irregulares, projeções pontiagudas

em portões, paredes, bovinos aspados, densidades de carga muito baixas ou elevadas

durante o transporte e períodos longos de dieta e estresse crônico. Causas essas que

irão refletir em perdas da qualidade de carcaças nos frigoríficos, prejudicando

economicamente tanto os produtores rurais, os frigoríficos, e os consumidores, como,

principalmente, o responsável pela existência desta cadeia produtiva, o animal.

112

10.2 PRESENÇA DE CARNES ESCURAS

De acordo com Girard (1991), a carne bovina de boa qualidade tem pH final em

torno de 5,5. Em valores superiores a 5,8, tanto sua maciez como a conservação da

carne fresca ficam comprometidas. A carne com pH alto é inadequada para o comércio

de qualidade elevada com carne fresca embalada a vácuo e, dependendo de seu uso

comercial, as carnes de cortes escuro podem sofrer desvalorização de 10% ou mais no

seu valor.

O pH alto na carne é produzido por concentrações baixas de ácido lático. A

produção de ácido lático post-mortem requer um conteúdo adequado de glicogênio

muscular no momento do abate. A degradação do glicogênio muscular ante-mortem é

resultado de uma elevada descarga de adrenalina em virtude de situações estressantes

ou por uma atividade extenuante (TARRANT apud RENNER, 2006, p. 190).

A coloração da carne é um aspecto considerado muito importante pelo

consumidor no momento da escolha do produto. Além de se recusar a adquirir uma

carne de coloração mais escura, ele imagina que é de procedência de um animal velho

ou mal conservada.

Carne escura consiste em toda carne que apresentar tonalidade mais forte em

comparação à cor vermelha-brilhante da carne fresca. As carnes com coloração

escuras, além de apresentar inadequado grau de acidez (pH), tem efeitos sobre sua

qualidade, como também sobre sua durabilidade (vida útil).

As causas para o aparecimento de carcaças com pH elevado podem ser várias.

O manejo inadequado dos animais antes do abate não permitirá transformação post-

mortem normal devido ao glicogênio muscular (reserva de energia) ser insuficiente

para a transformação em ácido lático, responsável pela acidez. Por isso, não consegue

a normalização do pH, em torno de 5,5 a 5,6. Outros fatores são: troca de

companheiros, jejum excessivamente prolongado, transporte muito longos, animais

cruza Bos indicus, como também a retirada dos animais de seu habitat natural

(RENNER, 2006, p. 192).

113

O mesmo autor relata que estando esgotado o glicogênio muscular, o processo

de transformação post-mortem será alterado, comprometendo o grau de acidez da

carne (pH elevado), dando condições ao aparecimento do corte escuro.

10.3 P.S.E.

Animais em estresse apresentam aumento da temperatura corporal, glicólise

rápida (queda do pH), rápida desnaturação protéica e um rápido estabelecimento do

rigor mortis, podendo ter conseqüências negativas na qualidade da carne, aumentando,

inclusive, o risco de incidência de P.S.E. (Pale, Soft, Exudative – pálida, flácida,

exsudativa) nas carcaças. Está normalmente relacionada a carcaças suínas. (SOUZA

apud KITO, PEREIRA e JORGE, 2009, p. 55).

Problemas de estresse no momento do abate podem elevar o teor de lactato

(redução de pH) que, juntamente à temperatura alto do músculo, provocam um estado

de liberação de água pela carne, que se torna flácida e com coloração amena,

característica da carne P.S.E.. Os fatores capazes de causar distúrbios emocionais

incluem: temperatura, som, umidade, pressão atmosférica, nutrição inadequada,

choque, medo, luz, fadiga, anóxia e outros (SARCINELLI, VENTURI e SILVA,

2007).

Silveira (2000), apontou principais causas de carne P.S.E.: animais com

genética propensos ao gene de tensão (ex: nelore), mudança brusca de temperatura,

uso excessivo de bastão elétrico, resfriamento da carcaça muito lento, manejo e

insensibilização inadequados, tempo de descanso curto, longo tempo na nória nas

áreas de matança e evisceração. Para Terra (2003), o defeito P.S.E. representa o

resultado de uma difícil interação entre o genótipo e o ambiente e se manifesta após a

ação de fatores muito estressantes que atuam por um curto espaço de tempo antes e

durante o sacrifício.

Aconselha-se descarregar o caminhão prontamente ao chegar, reduzir o uso de

bastões elétricos para conduzir os animais, obedecer ao tempo de descanso

recomendado antes do atordoamento, em dias quentes é necessário prover aos animais

114

(principalmente aos suínos) água em aspersão para que os ajude a equilibrar a

temperatura corporal, o manejo pré-abate deve ser conduzido de maneira calma, com

poucos animais de cada vez.

10.4 D.F.D.

O pH final tem grande importância na qualidade da carne, estando relacionado

com a cor, maciez, textura e capacidade de retenção de água (CRA). Se os animais

forem submetidos a estresse antes do abate, suas reservas de glicogênio serão

utilizadas e, após o abate, não haverá uma queda normal do pH; este permanecerá

elevado, resultando em cortes escuros, mais duros e com maior CRA, característica da

carne D.F.D. (Dark, Firm,, Dry – escura, enrijecida, pegajosa), (FILHO apud KITO,

PEREIRA e JORGE, 2009, p. 55).

Grandin apud Kito, Pereira e Jorge (2009, p. 55), considerou o encurtamento da

vida-de-prateleira da carne e a sua aparência repugnada pelos consumidores (devido

cor, textura, falta de sabor e aroma) como as maiores desvantagens da carne D.F.D.,

assim como se tornarem impróprias para embalar a vácuo.

Causas do esgotamento precose das reservas de glicogênio são: o jejum

prolongado, o manejo pré-abate inadequado, mistura de lotes diferentes, condições

climáticas adversas, brigas e agitação durante o transporte ou no período de espera do

abate.

Grandin (2007), sugeriu que para reduzir a incidência de carne D.F.D., os

animais não devem ser misturados antes do abate, reduzir o uso dos bastões de

eletricidade no manejo dos animais, descarregar os animais prontamente.

10.5 REAÇÕES DE VACINAS

Entre as grandes perdas para indústria frigorífica estão as aplicações de forma

incorreta das vacinas e outros medicamentos, que causam lesões subcutâneas e até

115

mesmo intramusculares. Na grande maioria das vezes, isso ocorre pela pressa em

acabar o serviço, aplicando em regiões impróprias, uso de agulhas impróprias e falta

de higiene durante a aplicação. Uma reação de vacina pode variar de 200 gramas a 7,5

quilos.

10.6 PERDA DE PESO

A diminuição de peso consiste basicamente na perda de conteúdo fecal, urina e

da evaporação em termos de pele. Quando os animais são manejados de forma correta

e o tempo de espera não é prolongado, a perda será somente de fezes e urina.

Quando o transporte e o jejum são muito longos, ocorre a perda de tecidos pela

evaporação da água pelos pulmões. Esta perda de peso irá produzir diminuição do

rendimento, porque afeta os componentes constituintes da carcaça (RENNER, 2006, p.

194).

Existem vários aspectos que podem influenciar na perda de pesos dos animais:

distância percorrida durante o transporte, estado dos animais, tempo de jejum,

categoria dos animais, tipo de alimento, além das condições ambientais.

116

11 COMO APROVEITAR O INSTINTO DE LÍDER DOS ANIMAIS

De acordo com Grandin (2000), os animais, em geral, seguem um líder e os

manejadores devem obter vantagens deste comportamento natural para mover os

animais mais facilmente.

Manejar grupo grande de animais é considerado um grave erro. Para que o

manejo pré-abate seja facilitado, assim como utilização do instinto de líder indica-se o

manejo com aproximadamente 15 animais.

O manejador deve concentrar-se em fazer avançar os líderes em lugar de forçar

os animais da parte posterior do grupo. Uma vez que o líder avançar, os outros animais

o seguirão. Caso o líder se recuse a avançar, o uso do bastão de eletricidade poderá ser

utilizado, desde que seguido as recomendações já citadas.

117

12 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

De acordo com o Ofício Circular DIPOA nº07/00 que apresenta a Instrução

Normativa nº3, de 17 de janeiro de 2000 considera a necessidade de padronizar os

Métodos de Insensibilização para Abate Humanitário e estabelece os requisitos

mínimos para a proteção dos animais de açougue e aves domésticas, bem como os

animais silvestres criados em cativeiro, antes e durante o abate, a fim de evitar dor e

sofrimento. A Instrução Normativa nº3 resolve através do secretário de defesa

agropecuária do M.A.P.A., Luiz Carlos de Oliveira, aprovar o Regulamento Técnico

de Métodos de Insensibilização para o Abate Humanitário de Animais de Açougue.

Esta Instrução Normativa entrou em vigor na data da publicação.

A história do Abate Humanitário no Brasil é recente. No Estado de São Paulo,

foi aprovado na Assembléia Legislativa, o Projeto de Lei n°297, de 1990, e na Câmara

dos Deputados tramitou o Projeto de Lei n°3929 de 1989, que dispõem sobre os

métodos de abate de animais destinados ao consumo. Por eles, é permitido somente a

utilização de métodos mecânicos através de pistolas de penetração ou pistolas de

concussão, eletronarcose e métodos químicos com o emprego do CO2, proibindo o uso

da marreta ou choupa (SILVEIRA, 2001, p. 9).

A fiscalização do cumprimento do Regulamento Técnico está sob

responsabilidade do Serviço de Inspeção federal (S.I.F.).

12.1 RECOMENDAÇÕES DE BEM-ESTAR ANIMAL

12.1.1 Rampa de Desembarque

118

12.1.1.1 Plataforma

12.1.1.1.1 Medidas

Recomendações de bem-estar animal: rampas de desembarque devem conter

uma plataforma plana, de no mínimo 3,0 m de comprimento, para que os animais

caminhem antes de descer e possuírem largura e altura comparáveis com as larguras e

alturas das portas dos caminhões.

12.1.1.1.2 Piso

Recomendações de bem-estar animal: piso deve conter ranhaduras

quadriculadas de 20 cm de lado, com sulcos em “v” de 4,0 cm x 4,0 cm ou utilizar

uma malha quadriculada, de preferência de ferro pesado, com quadrados com lados

iguais a 30 cm.

12.1.1.2 Rampa

12.1.1.2.1 Medidas

Recomendações de bem-estar animal: ângulo máximo aceitável para rampas

ajustáveis é de 25º e para rampas fixas é de no máximo 20º.

119

12.1.1.2.2 Piso

Recomendações de bem-estar animal: piso deve possuir ondulações com alturas

recomendáveis de 9,0 cm e de largura de no mínimo 30 cm. Que conferem maior

aderência do que listras ou sulcos.

a) Evitar obstáculos no piso os quais os animais possam tropeçar ou cair;

b) Evitar portas ou estruturas vazadas no final da rampa, preferindo estruturas

maciças;

c) Evitar ângulos agudos e cantos;

d) As rampas devem culminar em um piso plano equivalente a largura de um

bovino.

12.1.1.2.3 Paredes

Recomendações de bem-estar animal: as paredes devem ser fechadas.

Para Grandin (1991), pode levar a quedas, tropeções e contusões. Portanto seria

adequada a utilização de uma estrutura que ligasse o caminhão à plataforma

amenizando assim o problema.

Para a mesma autora, o piso da plataforma deve ser de ranhaduras com sulcos

em “v” de 4,0 x 4,0 cm, sendo estes melhores do que as ondulações, pois evitam

tropeções em pisos planos, no entanto o piso da rampa de desembarque deve possuir

ondulações de alturas máximas de 10,0 cm e de largura de no mínimo 30 cm, o que

conferem maior aderência do que listras ou sulcos. Portanto as dimensões destas

ondulações são de 7,0 cm de altura e 15 cm de largura, o que confere um ângulo muito

agudo podendo gerar quedas e tropeções, atingindo assim um objetivo contrário ao

proposto.

Para Grandin (1990), as paredes das plataformas e rampas de desembarque

devem ser, em suas totalidades fechadas, pois dessa forma os animais não se distraem

e não se assustam com momentos vindos de fora, além disso, as rampas devem ser

120

seguidas de curvas suaves, de forma que o animal perceba que no final possui uma

continuidade para outro setor, caso contrário o animal irá recuar, pois se encontra sem

saída.

12.1.1.3 Currais de Chegada

12.1.1.3.1 Tamanho

Recomendações de bem-estar animal: como regra geral tem-se que um animal

de 540 Kg de peso vivo deve contar com 2m² de área no curral.

12.1.1.3.2 Laterais

Recomendações de bem-estar animal: laterais dos currais que possuem muito

movimento devem ser vedadas.

a) Superfícies de contato devem ser lisas, evitando assim bordas agudas de

menor diâmetro, como os de ferro, canos sobressalentes e canaletas;

b) Pontas dos canos devem ser voltadas para o lado de fora do curral, de forma

que o animal não tenha contato.

12.1.1.3.3 Piso

Recomendações de bem-estar animal: pisos devem ser antiderrapantes,

regulares e sem obstáculos para os animais.

Canaletas de drenagem devem ser colocadas fora das áreas que os animais

caminham, devendo estas serem tampadas.

121

12.1.1.4 Tanques de Água

Recomendações de bem-estar animal: todos os animais devem ter acesso fácil a

água de bebida e esta deve ser de boa qualidade.

Quando os currais de chegada são dotados de uma série de obstáculos no chão e

de instrumentos cortantes ou perfurantes nas laterais, podem levar a sérias lesões no

gado, fazendo com que estes animais sofram até a hora do abate, como também

depreciando o couro e contaminando a carne, o que está de acordo com Grandin

(1991), que demonstra também que é fácil de detectar os pontos que produzem as

lesões, observando apenas os lugares que possuem mantas de pêlos grudadas.

Estes problemas são fáceis de serem solucionados, devendo isso ser feito o mais

rápido possível, pois as lesões sofridas são causas de estresse crônico para o gado.

12.1.1.5 Corredores de Abate

12.1.1.6 Observações Gerais

Recomendações de bem-estar animal: pisos devem ser de material anti-

deslizante.

a) Portões, cercas e paredes devem ter superfícies lisas, para evitar machucados;

b) Não devendo existir pontas agudas de menor diâmetro, como as de ferro,

bem como canos ou qualquer outro objeto que sobressaia;

c) Portas do tipo guilhotina devem ter contrapesos, para evitar que estas caiam

em cima dos animais;

d) Pisos devem ser regulares e uniformes evitando assim elevações e

depressões;

e) Corredores devem ser unidos por solos de níveis parecidos um com outro. E

no caso de possuir rampas, estas devem estar localizadas na saída de um corredor e na

entrada do próximo corredor interligados;

122

f) Superfícies de contato devem ser lisas, evitando assim bordas agudas de

menor diâmetro, como os de ferro, canos sobressalentes e canaletas;

g) Corredores devem ser bem iluminados, de preferência com iluminação

crescente, na medida que se anda por eles, e uma iluminação que evite a formação de

sombras.

Para Grandin (1991), deve-se evitar o empoçamento de água que tampam os

degraus, pois os bovinos relutam em pisar em lugares que eles não vêem o chão, por

outro lado o bovino sem estar preparado para descer um degrau pode perder o

equilíbrio, sendo uma fonte importante de estresse para os animais.

A transição entre corredores deve ter uma boa iluminação, que para Grandin

(1990), deve ser uma iluminação crescente, pois os bovinos tendem a andar dos

lugares mais escuros para os mais claros, dessa forma aproveitaria o comportamento

natural do animal.

As paredes compactas que impedem que os animais vejam o movimento de fora

são convenientes nos corredores de acesso ao box de atordoamento. Dessa forma os

animais ficam menos nervosos por não ver movimentos e pessoas atrás das paredes

(GRANDIN, 1991).

As portas que separam os corredores devem ser de material maciço e possuírem

contrapesos para evitar que os animais consigam abrir e voltem para o corredor

anterior. As bases desses portões podem ser revestidas com borracha de pneus,

evitando assim os enferrujamentos e formação de pontas cortantes, que segundo a

mesma autora necessitam de uma preocupação especial, já que o gado tende a se

aglomerar nos cantos dos currais, podendo sofrer sérias escoriações e grandes

prejuízos devido ao estresse sofrido.

As instalações dos corredores de abate observados são retilíneas.

Para Grandin (1994), corresponde a um erro comum e sério nos desenhos das

instalações do matadouro-frigorífico.

Instalações que possuem uma só fila para a condução dos animais para o box de

atordoamento dá impressão de ser um caminho sem saída, o que faz com que os

bovinos relutem em andar para frente. Instalações que dão a impressão de ser um

caminho sem saída funcionam com grande dificuldade, pois os bovinos se recusam a

123

entrarem. Para que eles sigam adiante, em corredores retos é necessário que sejam

capazes de observar pelo menos metade do corpo do animal que está a sua frente.

Outro ponto a ser notado é a união do curral de abate com o primeiro corredor deve ser

feito com uma curva, cujas laterais devem ser abertas.

124

13 LEGISLAÇÃO EUROPÉIA

A Comunidade Européia é a maior importadora de produtos de origem animal

do Brasil e somente compra de outros países se sua legislação for atendida, portanto, o

conhecimento da legislação européia sobre abate de animais é de suma importância

para que os frigoríficos exportadores brasileiros se convençam de que o emprego das

técnicas de Abate Humanitário possa trazer um diferencial, para que esses ganhem

mercado oferecendo produtos que vão de encontro aos interesses e preocupações dos

consumidores europeus em relação ao tratamento que deve ser dispensado aos animais

no processo de abate, e oferecer-lhes uma carne mais macia e da melhor qualidade.

Uma das partes importantes nas diretivas da Comunidade Européia é o

parágrafo relativo às importações provenientes de países subdesenvolvidos o qual

mostra que os produtos de origem animal não podem ser importados pela Comunidade

Européia, a menos que as instalações e as condições de transporte e abate sejam

compatíveis com a Legislação Européia.

Segundo a Comunidade Econômica Européia (C.E.E.) para importação, os

animais de procedência de um terceiro país deverão ser acompanhados de um

certificado emitido pela autoridade competente do país, que ateste que os animais se

beneficiaram de um tratamento pelo menos equivalente ao concedido aos animais de

origem comunitária, tal como previsto pela presente diretiva.

De acordo com a C.E.E. relativa às condições durante o transporte, tem como

princípio geral: os animais não devem ser machucados ou sofrerem

desnecessariamente.

a) Animais que adoecerem ou se machucarem durante a jornada devem ser

tratados ou abatidos o mais breve possível e não devem continuar a viagem;

b) Nenhuma pessoa deverá ser paga para atordoar, abater ou sacrificar animais

por unidade ou por nenhum outro sistema no qual o pagamento dependa

125

completamente ou parcialmente do número de animais atordoados, abatidos ou

sacrificados;

c) Durante o desembarque deve-se assegurar que os animais não sejam

amedrontados, excitados, maltratados e derrubados. É proibido erguer os animais pela

cabeça, chifres, orelhas, patas, cauda ou pelo, ocasionando dores ou sofrimentos

inúteis;

d) As passagens por onde os animais são encaminhados devem ser concebidas

de modo a reduzir ao mínimo os riscos de ferimentos dos animais e dispostas a tirar

partido da sua natureza gregária. Os instrumentos destinados a conduzir os animais

devem ser utilizados apenas para esse fim e unicamente por instantes;

e) Aparelhos produtores de descargas elétricas apenas podem ser utilizados para

os bovinos adultos e para suínos que se recusam a mover-se, desde que essas descargas

não durem mais do que 2 segundos, sejam suficientemente espaçadas e que os animais

disponham de espaço suficiente para avançar, essas descargas apenas podem ser

aplicadas nos músculos dos membros posteriores;

f) É proibido espancar os animais ou empurrá-los em partes especialmente

sensíveis do corpo;

g) É sumariamente proibido esmagar, torcer ou quebrar a cauda dos animais;

h) São proibidas as pancadas aplicadas com brutalidade, designadamente os

pontapés;

i) Os animais não devem ter suas patas atadas e não devem ser suspensos antes

de serem atordoados;

j) Animais que estiverem doentes ou feridos devem ser abatidos dentro de 2h;

k) Todos os animais devem ser atordoados eletricamente ou pelo uso da pistola

de projétil cativo antes de serem sangrados. As únicas exceções são os abates

destinados à muçulmanos e judeus, que não permitem o atordoamento prévio em

muitos países;

l) Animais devem ser imobilizados, de modo a evitar quaisquer dores,

sofrimentos, agitações, lesões ou contusões evitáveis. Em relação aos animais que

tenham sido atordoados, a sangria deve ser iniciada o mais rapidamente possível após

o atordoamento e deve ser efetuada antes que o animal recupere a consciência;

126

m) Únicos processos de atordoamento de animais previstos na Convenção

Européia sobre Proteção dos animais são: meios mecânicos com a utilização de

instrumentos com perfuração ao nível do cérebro, eletronarcose (insensibilização

produzida por choque e reversível) e anestesia por gás. São exceções: abate segundo

rituais religiosos e o abate de emergência;

n) De acordo com a C.E.E. requer que os animais domésticos não podem ser

transportados por mais de 24h sem serem alimentados e providos de água

(TARRANT, 2003).

127

14 ABATES RELIGIOSOS

Em alguns países é comum a prática de matar o animal por métodos

tradicionais, através da degola no pescoço, sem a etapa de insensibilização. Pelo

menos três rituais de abate com preceitos religiosos são bem conhecidos: Schechita,

que é utilizado para obter carne Kosher para pessoas da fé judaica; Halal, usado para

obtenção de carnes para pessoas da fé islâmica; e Jhatka, que utilizada a decapitação

do animal para obtenção de carnes para os devotos do siquismo (religião monoteísta

fundada na Índia). Em países por onde crenças são minorias muitos governos

permitem o abate por preceitos religiosos, em respeito às pessoas que praticam essa

religião.

No Brasil, é facultado o sacrifício de animais de acordo com preceitos

religiosos, desde que sejam destinados ao consumo por comunidade religiosa que os

requeira, ou ao comércio internacional com países que façam essa exigência, sempre

atendendo aos métodos de contenção dos animais. Nesses casos, cuidados extras

devem ser tomados para garantir que a sangria cause o mínimo de agonia e sofrimento

ao animal.

A avaliação de abates religiosos é uma área em que muitos pesquisadores

perdem a objetividade científica, acarretando opiniões e considerações equivocadas. É

importante que os pesquisadores entendam as implicações da ausência da etapa de

insensibilização para se ter uma opinião crítica quando avaliar as informações

científicas sobre os efeitos das diferentes práticas de abate, antes de tecer qualquer

julgamento sobre a forma apropriada de se conduzir o sacrifício dos animais. Também

é extremamente importante entender a importância dessas práticas para as pessoas que

seguem esses preceitos religiosos.

Os alimentos kasher e halal não são somente adquiridos por judeus e

muçulmanos, mas também por adventistas, vegetarianos, pessoas com alergias a certos

128

alimentos e ingredientes e outros consumidores que simplesmente consideram

subjetivamente esses alimentos como de alta qualidade. Os produtos kasher e halal já

apresentam selos que fornecem a garantia de que passaram por rigoroso processo de

fiscalização, tendo sido investigados a origem e condição dos animais e o

cumprimento de todos os preceitos religiosos exigidos. Esses selos são certificados por

organizações judaicas e islâmicas (GOMIDE, RAMOS e FONTES, 2006).

FIGURA 47 – SELOS DE GARANTIA DE PRODUTOS KASHER E HALAL

Legenda: (A) selo kasher; de circulação na França; (B) selo halal, de certificação da

IFANCA (Islamic Food and Nutrition Council of America), em circulação nos EUA,

Bélgica e Canadá; (C) selo halal, certificado pelo Instituto Halal da Espanha.

FONTE: Gomide, Ramos e Fontes (2006)

14.1 PRODUTOS KOSHER OU KASHER

O termo hebraico Kosher ou Kasher significa “bom” e “próprio”, sendo

utilizado para designar alimentos preparados de acordo com as leis judaicas de

alimentação, denominada de kashrut. As leis di kashrut têm suas regras descritas na

Bíblia Sagrada e no Torá, mas os pesquisadores que se dedicam estudá-las se dividem

em dois grupos de visões totalmente opostas. A primeira interpretação afirma que as

leis de alimentação foram instituídas para garantir a saúde do povo, fazendo com que

129

os alimentos ingeridos pelos judeus tivessem poucas chances de ser portadores de

doenças. Problemas com Trichinella spiralis e Taenia solium, por exemplo,

provavelmente tenham sido responsáveis pela proibição judaica do consumo da carne

suína. A segunda interpretação diz que a lei do kashrut não é uma “lei de saúde” e

qualquer melhoria na saúde do povo judeu foi totalmente inesperada. A única razão

para que se fossem observados os modos de alimentação foi a de que estes estão

descritos na Bíblia. Independentemente da razão dessas leis, os judeus acreditam que

elas os treinam a serem mestres de seus apetites, acostumando-os a restringir seus

desejos e evitando que comer e beber se torne razão da existência do homem (PRATA

e FUKUDA, 2001).

Os mesmo autores relatam que para que a carne de um animal possa ser comida,

ela deve ser kasher, ou seja, deve ser de um animal “puro”, abatido por ritual judeu,

denominado Schechita, e ter todo o seu sangue removido. A Bíblia afirma que o

sangue simboliza a essência do homem e, portanto, todo o sangue possível do animal

deve ser retirado e o seu consumo proibido nas leis do kashrut.

O preparo da carne segundo o ritual kasher tem como objetivo eliminar o

máximo de sangue. Durante o ritual do abate o animal tem a jugular cortada e a maior

quantidade de sangue possível é retirada. Além disso, a carne é imersa em água por

cerca de 30 minutos, seguida por salga a seco, com sal grosso kasher (sal com grande

capacidade de absorção de líquidos), durante uma hora. O sal é usado para remover o

resto de sangue da carne. Em seguida a carne salgada é lavada três vezes consecutivas,

pela imersão em água, durante um período de uma hora cada, para retirada do sal. Esse

ritual de remoção do sangue deve ser feito num período máximo de três dias, pois

acima deste tempo o sangue coagula e a água e o sal não podem mais removê-lo. Pelo

mesmo motivo, essas carnes não podem ser congeladas (PICCHI, 1996).

Carnes que vão ser grelhadas não precisam passar pelo processo de remoção do

sangue, uma vez que esse tipo de cozimento libera a maior quantidade de sangue da

peça. Os peixes também não precisam passar por este ritual, pois eles possuem

quantidade mínima de sangue e, portanto, a Bíblia afirma que a proibição de se ingerir

sangue é retirada a mamíferos e aves. As aves, por sua vez, não podem ser escaldadas

130

para a depenagem, pois a água quente coagula o sangue. Qualquer carne que tenha

sido escaldada antes de se tornar kosher é considerada terayfa (ROÇA, 1999).

Ainda o meso autor diz que a carne kasher destinada ao consumo deve ter

poucos vasos sangüíneos e nervos. Os quartos dianteiros, a carne de cabeça e a costela

são as partes mais consumidas entre os judeus. Há também proibição de consumo do

nervo ciático. O processo de remoção deste nervo consome tempo e não é

economicamente viável. Por isso, a maioria dos abatedouros prefere vender o quarto

dianteiro como corte não kasher.

14.2 RITUAL SCHECHITA

Schechita é o ritual de animais para o preparo da carne kasher. Ele é realizado

por um judeu denominado schochet, treinado por longos períodos nas leis judaicas de

alimentação. Ambas as palavras, schechita e schochet, derivam do hebraico shin-chet-

tav, que significa “destruir ou matar”. Cada seção de schechita é precedida de uma

prece especial, denominada beracha (GOMIDE, RAMOS e FONTES 2006).

O objetivo do ritual é proporcionar a eliminação do máximo de sangue possível

no sacrifício do animal, sem que este sofra. Isso é obtido pela degola do animal ainda

vivo, de forma a conferir uma rápida inconsciência e insensibilidade. A degola é feita

pelo corte das artérias carótidas e veias jugulares, sem, no entanto, atingir as vértebras

cervicais. A faca utilizada no ritual, chamada de chalaf, apresenta quase meio metro de

comprimento e deve ser afiada, sendo examinada após cada execução (ROÇA, 1999).

Ainda o mesmo autor diz que numa degola executada com um golpe rápido,

95% dos animais atingem a inconsciência num intervalo máximo de dois segundos,

não causando dor ao animal – este, reconhecidamente, é um dos métodos mais

humanos de abate. Entretanto, tanto o estado da chalaf como a competência do

schochet são importantes para a questão humanitária. Um corte mal feito pode causar

sofrimento e crueldade ao animal. Um golpe mais lento, por exemplo, pode fazer com

que 30% dos animais mantenham reflexos sensoriais por até 30 segundos após o corte.

131

Dentre os procedimentos de abate no ritual schechita, a contenção dos animais

para realização da degola é de especial preocupação. Por razões humanitárias e de

segurança, é vital que os frigoríficos que executem o abate judaico instalem

equipamentos modernos de contenção, eliminando a prática de suspender os animais

ainda vivos para realização da degola.

A suspensão para degola ainda é praticada em alguns países, como o Brasil. O

animal é encaminhado para o boxe de atordoamento, onde é preso por uma corrente

em uma das patas. O boxe é aberto e o animal é suspenso por um guincho, até o seu

dorso tocar o solo. Um gancho na forma de “V” é, então, colocado sobre a mandíbula

e o pescoço tensionado. O schochet apóia uma das mãos sobre o pescoço do animal e,

com um movimento único e rápido, realiza a degola. Após a incisão o animal é

completamente suspenso e segue para o término da sangria e esfola (PICCHI, 1996).

Esta técnica causa um grande estresse ao animal, sendo visível o risco para os

operadores envolvidos no processo. No entanto, o animal precisa ser contido,

particularmente na cabeça e no pescoço, para degola, uma vez que movimentos podem

resultar num corte mal conduzido.

O uso de sistemas com esteiras retentoras em trilho central, equipados com

prendedores de cabeça, permite que o animal se mantenha mais calmo, fornecendo um

ambiente mais seguro para os operadores. Através de esteiras retentoras em trilho

central para abates religiosos, os animais são apoiados pelo ventre, sendo conduzidos

ao local de abate, “confortavelmente” imobilizados pelo prendedor de cabeça

mecânico, de forma a expor o pescoço para a realização do corte (GOMIDE, RAMOS

e FONTES 2006).

Outro sistema disponível para o ritual com preceitos religiosos é o modelo de

box de contenção ASPCA da Sociedade Americana de Prevenção de Crueldades aos

Animais (American Society for the Prevention of Crueltry to Animals).

No box de contenção ASPCA, o animal é posicionado pelo ajuste de um suporte

que o empurra para frente, exercendo uma pressão controlada. Um elevador abdominal

é encostado debaixo do peito, mas de forma que não levante o animal do piso. A

cabeça é contida pelo elevador facial (predendor de cabeça), permitindo que o

132

schochet realize a degola. O animal é retirado, após a degola, pelo portão (GRANDIN,

2000).

Devido aos procedimentos e condições necessárias ao ritual, o abate kasher é

um processo mais lento do que o abate “comum”. Utilizando-se o boxe de contenção

ASPCA, por exemplo, a capacidade máxima de abate é de cerca de 75 bovinos/hora

(GRANDIN, 2000).

Após a sangria o ritual continua, sendo os órgãos examinados pelo schochet

para verificação de moléstias. Os pulmões, em especial, são inflados para verificação

de aderências. O trabalho prossegue com os judeus carimbando as carcaças. Outra

característica do ritual é o fato da desossa do dianteiro ter de ser feita separadamente

do traseiro (ROÇA, 1999).

14.3 PRODUTO HALAL

Da mesma forma que no kashrut, as leis islâmicas de alimentação têm suas

regras descritas em livros sagrados, o Qur’na e o Sunnah (escrituras do Profeta

Mohammed). Halal em árabe signifca “legal” ou “permitido”, sendo um termo usado

para descrever várias facetas da vida que são permitidas pelas leis de Allah (Deus),

entre elas as relacionadas à alimentação (GOMIDE, RAMOS e FONTES, 2006).

Ainda os mesmos autores dizem quem que apenas os alimentos halal são

permitidos o consumo dos muçulmanos. Aqueles não permitidos são denominados

haram, que em árabe significa “ilegal” ou “proibido”. Alimentos não preparados ou

processados usando padrões halal têm seu consumo proibido para muçulmanos. Assim

como os judeus, os muçulmanos não podem consumir produtos que contenham carne

de suínos e sangue ou seus subprodutos. Além disso, são proibidos de ingerir álcool ou

intoxicantes.

133

14.4 RITUAL ISLÂMICO

É imperativo para os muçulmanos que o método de abate seja conduzido de

forma humana, para se evitar que o animal sofra dor ou desconforto desnecessário. O

animal deve estar bem tratado e saudável, não podendo ser espancado, cortado ou

mutilado ainda vivo. Por isso, o abate deve ser sempre acompanhado por um

supervisor. Este supervisor deve ser muçulmano, estudioso e praticante das leis

islâmicas, treinado para avaliar os requerimentos necessários estipulados no Qur’na e

no Sunnah (GOMIDE, RAMOS e FONTES, 2006).

Objetivo do ritual islâmico também é proporcionar uma rápida inconsciência e

insensibilidade através da degola do animal ainda vivo, o que permite maior

eliminação do sangue da carne. Dessa forma, a faca utilizada deve ser sempre afiada e

ser constantemente amolada e, da mesma forma que a habilidade do operador,

constitui um fator importante para que o animal não sofra durante o processo. O

indivíduo que irá proceder à degola deve receber um treinamento especial, não apenas

nos requerimentos halal, mas também nos métodos e procedimentos necessários para

não causar dor ou sofrimento ao animal.

Os animais destinados ao abate devem ser tratados com compaixão e respeito,

devendo estar lavados, alimentados e descansados no momento do sacrifício. É

considerado crueldade permitir que o animal veja a faca antes de ser abatido ou ver ou

ver outro animal ser sacrificado. No momento da degola o animal deve estar com a

face virada para Meca e ser abençoado em nome de Allah por um muçulmano religioso

presente. Diferentemente do ritual Kasher, em que uma prece é feita apenas antes no

início do abate, no ritual islâmico a bênção deve ser proferida para cada animal antes

de seu sacrifício (ROÇA, 1999).

De acordo com Gomide, Ramos e Fontes (2006), devido ao fato de o operário

que executa a degola não receber um treinamento especial tão extensivo quanto ao

schochet judeu, o uso da etapa de insensibilização no abate halal é extremamente

recomendado. Felizmente, várias autoridades islâmicas permitem, dentro dos certos

padrões, o uso da insensibilização. A principal exigência é de que a insensibilização

134

seja reversível, ou seja, cause inconsciência ao animal, mas não o mate, de forma que

ele possa recobrar a consciência se não for sacrificado (sangrado).

Segundo Roça (1999), dentre os métodos de insensibilização aceitos estão a

concussão por dardo não-penetrante e a eletronarcose sem indução da parada cardíaca.

O emprego da insensibilização no abate halal permite maior velocidade de abate e

mantém elevado o padrão humanitário. Infelizmente, nenhum tipo de insensibilização,

mesmo aquelas que não causam morte ao animal, foi ainda aceito pelas autoridades

judaicas no ritual de abate kasher.

135

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Aos poucos e com a inegável “humanização” dos sistemas de produção de

carne, o abate animal ganhou considerável espaço na mídia e se tornou tema de debate

científico. Desta forma, o alimento produzido ou obtido necessita ser de maneira mais

humanitária possível; para isso é importante que em todas as etapas os animais sofram

o menos possível, de forma a não comprometer o respectivo bem-estar (nenhum tipo

de dor ou injúria desnecessária) e que sejam tratados sob condições humanitárias em

todos os períodos que antecedem a morte.

O abate humanitário, muito embora remeta à idéia estanque do abate em si,

conceitualmente falando, vai muito além disso, é considerado todo o sistema utilizado

para se chegar até o momento final, ou seja; sangria.

Neste sentido, pode-se pontuar como etapas pré-abate, as seguintes: embarque

dos animais na propriedade, transporte até o abatedouro, métodos de

acondicionamento nos currais, condução dos animais pelo abatedouro, operações de

atordoamento e finalmente a sangria.

Nas etapas pré-abate, já indicadas acima, não executadas corretamente, podem

desencadear problemas de bem-estar animal o que na maioria das vezes está

relacionado com instalações e equipamentos inadequados, e a falta de manutenção dos

mesmos, manejo inadequado, distrações (sons, objetos estranhos, etc.), as quais

impedem a movimentação do animal, assim como falta de treinamento, capacitação e

sensibilização dos operadores.

Sabe-se que a não verificação dos métodos indicados para que ocorra o abate

humanitário, incidirá em conseqüências sérias, capazes de prejudicar não somente o

frigorífico, mas também o produtor e o consumidor final.

Destarte, os criadores devem ser responsáveis pela seleção do genótipo animal

que possui características de qualidade desejáveis e pela garantia de condições

136

ambientais e de manejo que otimizem o crescimento desse animal e a expressão de

suas características de qualidade.

Ilustrativamente, diz-se que o mal trato de animais, aliado ao manejo agressivo,

pode trazer prejuízos, tais como a perda de peso, queda no desempenho reprodutivo e

baixa resistência imunológica, o que provocar maior vulnerabilidade a doenças. No

caso de lotes destinados ao abate, o cuidado tem que ser redobrado para evitar

contusões graves nas carcaças, com a conseqüente desclassificação da carcaça por

escurecimento e endurecimento da carne devido ao alto grau de estresse.

Para se obter carne de melhor qualidade, devem ser atribuídas responsabilidades

em toda a cadeia produtiva, desde a etapa de criação até a de abate.

Os matadouros-frigoríficos, por sua vez, devem aceitar a responsabilidade de

garantir as condições pré e pós-abate para assegurar a qualidade final da carne e

capacitação das pessoas envolvidas durante todo o processo, irá obter matéria-prima de

melhor qualidade.

Buscar capacitação dos funcionários dos frigoríficos e parceiros em todos os

processos, implica em aumentar positivamente a qualidade da carne brasileira.

Verifica-se que, se os funcionários e demais colaborados do percurso transitório

do produto, estiverem permanentemente atualizados com as novas medidas adotadas

pelos maiores compradores de carne do mundo, por conseqüência haverá melhor

qualificação no mercado interno e externo.

No Brasil, muitos produtores já adotam novas técnicas de manejo que

contribuem para o bem-estar animal, amenizam o estresse e suas conseqüências

indesejáveis, afinal o manejo dos animais na propriedade rural é o primeiro passo na

cadeia de carne, pois é nesta etapa que se inicia o depósito das características do

produto, para depois a indústria frigorífica processá-los e colocá-los nos mais

diferentes mercados.

A preocupação humanitária também é vista pelo lado do marketing, pois existe

pressão da opinião pública mundial para que os animais destinados ao abate sejam

bem tratados e não sofram dores desnecessárias.

Assim, tento em vista o processo de implantação da rastreabilidade, alguns

matadoutos-frigoríficos já estão impondo a especificação de bem-estar animal para os

137

seus fornecedores (produtores), visando à imagem de seu produto e de colocação nos

mercados consumidores.

A tendência mundial está pautada no sentido de que com passar dos anos, os

consumidores se preocuparão mais com a qualidade dos alimentos que consomem,

porém sabe-se que o nível de conhecimento dos consumidores brasileiros, no que se

diz respeito à forma como os animais são manejados e abatidos; é muito pequeno.

Em contrapartida, União Européia e nos Estados Unidos a preocupação com os

métodos de criação e manejo dos animais criados para o consumo vem exercendo

grande pressão sobre os criadores e abatedores dos animais, uma vez que estes estão

obrigados a seguir normas de bem-estar animal para garantirem a venda de seu

produto.

A conscientização dos consumidores finais, quanto à origem da carne e métodos

utilizados para abate dos animais, implicaria em aumento de valor do produto,

asseguraria uma melhor qualidade de saúde para as pessoas, assim como para o bem-

estar animal, acarretando em enorme diferencial competitivo para aqueles que

abaterem humanitariamente, fazendo com que o Brasil continue a ocupar o mesmo

lugar no ranking mundial de exportação, quiçá não melhorá-lo.

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