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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ EDUARDA CINIELLO SERMANN A COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI PARA JULGAMENTO DOS CRIMES DOLOSOS CONTRA VIDA PRATICADOS NA DIREÇÃO DOS VEÍCULOS AUTOMOTORES CURITIBA 2015

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

EDUARDA CINIELLO SERMANN

A COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI PARA JULGAMENTO DOS CRIMES

DOLOSOS CONTRA VIDA PRATICADOS NA DIREÇÃO DOS VEÍCULOS

AUTOMOTORES

CURITIBA

2015

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EDUARDA CINIELLO SERMANN

A COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI PARA JULGAMENTO DOS CRIMES

DOLOSOS CONTRA VIDA PRATICADOS NA DIREÇÃO DOS VEÍCULOS

AUTOMOTORES

Monografia apresentada ao Curso de Direito da

Universidade Tuiuti do Paraná, com o intuito da

obtenção parcial do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Professor Daniel Ribeiro Surdi de

Avelar.

CURITIBA

2015

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TERMO DE APROVAÇÃO

EDUARDA CINIELLO SERMANN

A COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI PARA JULGAMENTO

DOS CRIMES DOLOSOS CONTRA VIDA PRATICADOS NA DIREÇÃO

DOS VEÍCULOS AUTOMOTORES

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel no Curso de Bacharelado em Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ____ de __________________ de 2015. ________________________________________________

Bacharelado em Direito

Universidade Tuiuti do Paraná

_________________________________ Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite

Coordenação do Núcleo de Monografia Universidade Tuiuti do Paraná

Curso de Direito

Orientador: _________________________________

Prof. Dr. Daniel R. S. Avelar Universidade Tuiuti do Paraná

Curso de Direito

Examinador: __________________________________ Prof. (a) Dr. (a)

Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito

Examinador: __________________________________ Prof. (a) Dr. (a)

Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito

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Dedico essa monografia primeiramente a Deus pelo dom da vida, a minha família, ao meu namorado Rafael, e em especial a minha mãe Evelise, a todos pela força que me deram.

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AGRADECIMENTOS

Inicialmente, agradeço ao meu avô Ary Walter Ciniello (in memorian) por

todo incentivo que me proporcionou para ingressar no curso de direito. Onde quer

que ele esteja, estará torcendo por mim, para que eu seja um exemplo de advogada

como ele foi.

À minha avó Terezinha (in memorian), que desde o início da minha vida

escolar, me ensinou a estudar e dar valor a educação. Espero, do fundo do meu

coração, que esteja muito feliz por essa conquista.

À minha mãe Evelise, que, por todos seus sacrifícios e renúncias, ofereceu-

me o melhor de sua possibilidade, cumprindo o prometido de me fornecer o estudo

de uma graduação. Ainda, pelo exemplo e força que sempre me deu em toda a

minha vida.

Ao meu namorado Rafael, que durante esses 5 anos, me deu forças para

continuar a lutar por esse sonho. Por todo apoio e paciência nas semanas de prova,

nos trabalhos realizados, e pelo companheirismo durante esse tempo.

Também, agradeço a Deus por colocar em meu caminho uma irmã de

coração, Jéssica. Sem ela nada disso teria sentido. Ela me mostrou o verdadeiro

significado de amizade.

Aos meus amigos, que estiveram comigo durante esse percurso, em especial

a Larissa Nathani, Michelle de Souza, Evelyn Almeida, Gustavo Grzybowski e minha

irmã Fernanda, um muito obrigada pelo apoio.

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RESUMO

A presente pesquisa tem como objetivo analisar a problemática no que consiste a divergência no que se refere a determinação da competência do juízo, pois, enquanto os crimes culposos são julgados nas varas criminais comuns (ou nas varas de delito de trânsito), os crimes dolosos contra a vida são julgados, como regra, perante o Tribunal do Júri. A tarefa é buscar meios e compreender tal matéria referente à competência do crime trazido em tela. E assim, encontrar os diferentes conceitos quando se tratar de crimes praticados na direção de veículo automotor, mostrando a regular aplicação dos conceitos de dolo eventual e culpa consciente frente ao crime de homicídio conseqüente de acidente de trânsito. O número excessivo de acidentes de trânsito com vítimas fatais, envolvendo condutores embriagados, em excesso de velocidade, ou disputando corrida não permissiva, sendo “punidos” com pequenas penas, anunciada pela mídia, traz revoltas à sociedade, na qual clama por uma punição maior aos agentes da infração penal. Assim, os casos estão, na maioria das vezes, se enquadrando nos crimes dolosos, em razão de o agente assumir o risco de produzir o fato lesivo, entedido como dolo eventual. Por fim, analisaremos, diante da aplicação do dolo eventual nos crimes de trânsito, sua competência.

Palavra Chave: Dolo eventual; Culpa consciente; Crimes de Trânsito; Homicídio; Tribunal do Júri.

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1 INTRODUÇÃO

O presente estudo tem por finalidade analisar a competência quando se

tratar de crime doloso contra vida praticado na direção de veículo automotor.

Durante o desenvolvimento da temática serão estudadas as divergências em relação

ao dolo eventual e a culpa consciente nos determinados crimes de trânsito.

A problemática acerca do tema consiste na divergência no que se refere a

determinação da competência do juízo, pois, enquanto os crimes culposos são

julgados nas varas criminais comuns (ou nas varas de delito de trânsito), os crimes

dolosos contra a vida são julgados, como regra, perante o Tribunal do Júri.

Há situações em que crime praticado na direção de veículo automotor é visto

como crime doloso, levando em consideração as razões que sucederam para que o

crime ocorresse. Seja embriaguez ao volante, velocidade acima do permitido à via,

praticando racha, ou até mesmo falando ao celular. As ocorrências de trânsito com

resultado morte são atraídas para o dolo eventual nas hipóteses em que o agente

praticando condutas não permissivas, está assumindo o risco de cometer um fato

lesivo, e, por conseguinte ser o ato, como regra, julgado pelo Tribunal do Júri,

determinada na Carta Magna em seu artigo 5º inciso XXXVIII.

Ao passo que, pelo Código de Trânsito Brasileiro, em seu artigo 302, o crime

contra a vida praticado na direção de veículo automotor é tipificado como culposo,

aplicando-se as regras do Código de Tânsito, cabendo-lhe ao juiz singular julgar

esse determinado crime.

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2 DOLO E CULPA

2.1 DO DOLO

Há diferentes espécies de dolo, na qual são ocasionados pela necessidade

da vontade somada com os elementos constitutivos do tipo, os quais são o objetivo

pretendido pelo agente, o meio utilizado, a relação de causalidade, bem como o

resultado.

Conforme Rogerio Grego, “dolo é a vontade e a consciência dirigidas a

realizar a conduta prevista no tipo penal incriminador”. (GRECO, 2015, p. 69). O

mesmo entendimento por Fernando Capez, pois para ele o “dolo é a vontade

manifestada pela pessoa humana de realizar a conduta”. (CAPEZ, 2015, p. 218).

O artigo 18 do Código Penal prevê como crime doloso quando o agende quis

o resultado ou assume o risco de produzi-lo.

2.1.1 Teorias do dolo

Existem três teorias que norteiam o dolo, são elas: teorias da vontade, da

representação e do assentimento.

Para teoria da vontade, o dolo é a vontade livre e consciente de realizar a

conduta buscando o agente tão somente o resultado, isto é, praticar um ato contrário

à lei. Conforme Bitencourt, “a essência do dolo deve estar na vontade, não de violar

a lei, mas realizar a ação e obter o resultado. Essa teoria não nega a existência da

representação (consciência) do fato, que é indispensável, mas destaca, sobretudo, a

importância da vontade de causar o resultado”. (BITENCOURT, 2015, p. 357). Nesse

sentido, a vontade e a consciência andam juntas, ou seja, uma não vive sem a outra,

pois a vontade sem consciência, ou vice e versa, é absolutamente impossível.

Segundo a teoria da representação, exposta na obra de Capez, “o dolo é a

vontade de realizar a conduta, prevendo a possibilidade de o resultado ocorrer, sem,

contudo, deseja-lo. Denomina-se teoria da representação, porque basta ao agente

representar (prever) a possibilidade do resultado para a conduta ser qualificada

como dolosa.” (CAPEZ, 2014, p. 220). Para esta teoria, é suficiente a previsão do

resultado como certo ou provável para que a conduta seja qualificada como dolosa.

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Por último, a teoria do assentimento, ou também chamada como teoria do

consentimento, diz que atua como dolo aquele que assume o risco de produzi-lo. Há

a necessidade da previsão ou representação do resultado como certo, possível e

provável, para que, o agente sem a intenção de agir, aceite como indiferente a

produção do resultado.

Nosso Código Penal Brasileiro adota a teoria da vontade em seu artigo 18, I,

primeira parte, quanto ao dolo direto, e a teoria do assentimento em seu artigo 18, I,

segunda parte, quanto ao dolo eventual, ambos trataremos ao decorrer deste

trabalho.

Desta maneira, a jurisprudência entende que, comete dolo eventual, aquele

que assume o risco de produzir o resultado:

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. PENAL. CRIME DE TRÂNSITO. HOMICÍDIO E TENTATIVA DE HOMICÍDIO. CRIME TENTADO. DOLO EVENTUAL. COMPATIBILIDADE. PRECEDENTES DESTA CORTE. FRAÇÃO. TENTATIVA. CARÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚMULA 282/STF. EXASPERAÇÃO. PENA-BASE. CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME. FUNDAMENTAÇÃO IDÔNEA. DELITO CONSUMADO. CONSEQUÊNCIAS DO CRIME. IDADE DA VÍTIMA. MENOR DE 18 ANOS. ELEMENTO DO TIPO. FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA. REDIMENSIONAMENTO DA PENA. 1. Segundo precedentes desta Corte Superior, a tentativa é compatível com o delito de homicídio praticado com dolo eventual, na direção de veículo automotor. 2. O fato de que o veículo foi conduzido pela contramão de direção perigosa em rodovia federal, durante largo período, mesmo recebendo sinalização de outros transeuntes da manobra equivocada, justifica a negativação das circunstâncias do crime. 3. A matéria referente à fração adotada na redução decorrente da tentativa carece de prequestionamento, incidindo o óbice da Súmula 282/STF. 4. A idade da vítima (18 anos) não autoriza o desvalor atribuído às consequências do delito de homicídio consumado, por ser inerente ao delito. 5. Agravo regimental parcialmente provido. (AgRg no REsp 1322788/SC, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 18/06/2015, DJe 03/08/2015)

Observa nesse julgado que, o condutor consentiu em andar pela contramão

em rodovia federal, durante longo período, aceitando o possível acontecimento do

delito.

Ainda, O Supremo Tribunal de Justiça, em seu entendimento, “que o dolo

eventual não é extraído da mente do acusado, mas das circunstâncias do fato, na

hipótese em que a denúncia limita-se a narrar o elemento cognitivo do dolo, o seu

aspecto de conhecimento pressuposto ao querer (vontade), não há como concluir

pela existência do dolo eventual. Para tanto, há que evidenciar como e em que

momento o sujeito assumiu o risco de produzir o resultado, isto é, admitiu e aceitou o

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risco de produzi-lo. Deve-se demonstrar a antevisão do resultado, isto é, a

percepção de que é possível causá-lo antes da realização do comportamento.”,

conforme julgado abaixo:

PENAL. PROCESSUAL. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. ALÍNEA "C" DO PERMISSIVO CONSTITUCIONAL. FALTA DE COTEJO ANALÍTICO. IMPOSSIBILIDADE DE EXAME DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. HOMICÍDIO. ACIDENTE DE TRÂNSITO. DOLO EVENTUAL. CULPA CONSCIENTE. REVALORAÇÃO DE PROVAS. POSSIBILIDADE. INEXISTÊNCIA DE ELEMENTOS DO DOLO EVENTUAL. CIRCUNSTÂNCIAS DO FATO QUE NÃO EVIDENCIAM A ANTEVISÃO E A ASSUNÇÃO DO RESULTADO PELO RÉU. DESCLASSIFICAÇÃO DA CONDUTA QUE SE IMPÕE. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. Quanto à divergência, falta o cotejo analítico, nos moldes do que determina o art. 255 do RISTJ, impedindo o conhecimento do recurso quanto a esse aspecto. De se referir que não basta a simples transcrição de ementas ou trechos do julgado divergente, devendo a parte realizar o confronto explanatório da decisão recorrida com o acórdão paradigma, a fim de apontar a divergência jurisprudencial existente. A falta de análise dos julgados com o fito de evidenciar sua similaridade fática evidencia o descumprimento das formalidades insculpidas nos artigos 541, parágrafo único, do Código de Processo Civil, e 255, §§ 1º e 2º, do Regimento Interno desta Corte. 2. A doutrina penal brasileira instrui que o dolo, conquanto constitua elemento subjetivo do tipo, deve ser compreendido sob dois aspectos: o cognitivo, que traduz o conhecimento dos elementos objetivos do tipo, e o volitivo, configurado pela vontade de realizar a conduta típica. 3. O elemento cognitivo consiste no efetivo conhecimento de que o resultado poderá ocorrer, isto é, o efetivo conhecimento dos elementos integrantes do tipo penal objetivo. A mera possibilidade de conhecimento, o chamado “conhecimento potencial”, não basta para caracterizar o elemento cognitivo do dolo. No elemento volitivo, por seu turno, o agente quer a produção do resultado de forma direta – dolo direto – ou admite a possibilidade de que o resultado sobrevenha – dolo eventual. 4. Considerando que o dolo eventual não é extraído da mente do acusado, mas das circunstâncias do fato, na hipótese em que a denúncia limita-se a narrar o elemento cognitivo do dolo, o seu aspecto de conhecimento pressuposto ao querer (vontade), não há como concluir pela existência do dolo eventual. Para tanto, há que evidenciar como e em que momento o sujeito assumiu o risco de produzir o resultado, isto é, admitiu e aceitou o risco de produzi-lo. Deve-se demonstrar a antevisão do resultado, isto é, a percepção de que é possível causá-lo antes da realização do comportamento. 5. Agravo a que se nega provimento. (AgRg no REsp 1043279/PR, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), SEXTA TURMA, julgado em 14/10/2008, DJe 03/11/2008)

2.2.2 Espécies do dolo

Para a doutrina, existem duas espécies de dolo, o direto e o indireto, ambos

se subdividem em dolo direto de primeiro grau e dolo direto de segundo grau, e, dolo

alternativo e dolo eventual. Conforme Bitencourt, essa classificação doutrinária se dá

“pela necessidade de a vontade abranger o objetivo pretendido pelo agente, o meio

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utilizado, a relação de causalidade, bem como o resultado”. (BITENCOURT, 2015, p.

360).

Apesar do conceito de dolo, de acordo com o Código Penal Brasileiro, não

abranger diversas hipóteses de dolo em seu artigo 18, I, a doutrina costuma fazer a

diferenciação de diversos tipos de dolo. Portanto, em razão do objetivo deste

trabalho, serão tratados de forma específica.

2.2.2.1 Dolo direto ou imediato

O dolo direto ou imediato está presente no artigo 18, I, primeira parte do

Código Penal Brasileiro: “diz-se o crime doloso, quando o agente quis o resultado

(...)”. Neste caso, o agente tem a vontade de realizar o ato em busca efetivamente o

resultado danoso. Fernando Capez em sua obra, cita o conceito de José Frederico

Marques, “diz-se direto o dolo quando o resultado do mundo exterior corresponde

perfeitamente à intenção e à vontade do agente. O objetivo por ele representado e a

direção da vontade se coadunam com o resultado do fato praticado”. (CAPEZ, 2014,

p. 221).

Bitencourt em seu Tratado de Direito Penal cita uma subdivisão do dolo

direto em primeiro grau e segundo grau. De acordo com o autor, o dolo direto de

primeiro grau é classificado assim pelo fim proposto e pelo meio utilizado, referindo-

se ao dano que o agente pretende gerar. Já o dolo direto de segundo grau é

referente aos efeitos colaterais, ou seja, os danos provocados pelo meio escolhido

pelo agente, que mesmo não desejado, são necessários para que ocorra o fim

proposto.

Para ficar claro, pode-se exemplificar da seguinte maneira, supondo que um

indivíduo, conduzindo seu carro avista seu inimigo passeando pela calcada

acompanhado de sua família e imediatamente projeta seu veículo contra seu

desafeto, causando a morte não só deste mas de toda sua família. Assim, haverá

dolo direto de primeiro grau em relação a morte do seu desafeto, do qual foi o

objetivo pretendido pelo agente, e dolo direto de segundo grau com relação a morte

da família, pois a vontade inicial era matar apenas seu inimigo, mas por

consequência do meio utilizado para cometer o crime, assumiu a produção da morte

dos demais.

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2.2.2.2 Dolo indireto ou eventual

No caso de dolo indireto, o agente não quer diretamente o resultado, mas

assume o risco de produzi-lo. Também em sua obra, Capez menciona o

entendimento de Magalhães Noronha:

É indireto quando, apesar de querer o resultado, a vontade não se manifesta de modo único e seguro em direção a ele, ao contrário do que sucede com o dolo direto. Comporta duas formas: alternativo e o eventual. Dá-se o primeiro quando o agente deseja qualquer um dos eventos possíveis. Por exemplo: a namorada ciumenta surpreende seu amado conversando com outra e, revoltada, joga uma granada no casal, querendo matá-los ou feri-los. Ela quer produzir um resultado e não “o” resultado. No dolo eventual, conforme já dissemos, o sujeito prevê o resultado e embora não queira propriamente atingi-lo, pouco se importa com a sua ocorrência (“eu não quero, mas, se acontecer, para mim tudo bem, não é por causa desse risco que vou parar de praticar minha conduta – não quero, mas também não me importo com sua ocorrência”). É o caso do motorista que conduz em velocidade incompatível com o local e realizando manobras arriscadas. Mesmo prevendo que pode perder o controle do veículo, atropelar e matar alguém, não se importa, pois é melhor correr esse risco do que interromper o prazer de dirigir (“não quero, mas se acontecer, tanto faz” (CAPEZ, 2014, p.221)

Neste caso, são divididos em duas formas: dolo alternativo e dolo eventual.

O primeiro o agente quer produzir qualquer evento danoso sem ao menos se

importar com o resultado. Por exemplo, um sujeito ao atirar na vítima, deseja ferir ou

matar, pouco importa o resultado, o dolo existirá na mesma proporção porque, para

o agente, a vontade seria lesar o matar. Já o dolo eventual o agente não quer

diretamente o resultado, porém aceita como possível. Está previsto na segunda

parte do artigo 18, I do CP, no qual diz que o agente “assumiu o risco de produzi-lo”.

Como no exemplo de Fernando Capez, no dolo eventual o “motorista que se conduz

em velocidade incompatível com o local e realizando manobras arriscadas. Mesmo

prevendo que pode perder o controle do veículo, atropelar e matar alguém, não se

importa, pois é melhor correr este risco, do que interromper o prazer de dirigir, (não

quero, mas se acontecer, tanto faz).” (CAPEZ, 2015, p. 222).

O dolo eventual não é uma aceitação do resultado, mas sim uma aceitação

como possibilidade, é como se o agente pensasse “vejo o perigo, sei de sua

possibilidade, mas, apesar disso, dê no que der, vou praticar o ato arriscado”.

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2.3 CULPA

Para Nucci, a culpa “é o comportamento voluntário desatencioso, voltado a

um determinado objetivo, lícito ou ilícito, embora produza resultado ilícito, não

desejado, mas previsível, que podia ter sido evitado.” (NUCCI, 2012, p. 242)

Em seu livro, Regis Prado menciona o conceito de culpa escrito por Juarez

Tavares, no qual diz que a culpa é uma “forma de conduta humana que se

caracteriza pela realização do tipo de uma lei penal através da lesão a um dever de

cuidado, objetivamente necessário para proteger o bem jurídico e onde a

culpabilidade do agente se assenta no fato de não haver ele evitado a realização do

tipo, apesar de capaz e em condição de fazê-lo.” (PRADO, 2015, p. 306)

Sendo assim, a culpa é caracterizada pela falta de cuidado manifestada de

uma conduta produtora de um resultado não querido, ou seja, o crime culposo

decorre de uma conduta descuidada, configurada como imprudência, negligência ou

imperícia.

Os crimes considerados culposos são denominados como abertos pelo fato

da conduta não estar descrita nem especificada no tipo legal, pois seria impossível

descrever qualquer definição de culpa. Para que seja verificada a culpa, há a

necessidade de comparar a conduta do agente no caso concreto com a conduta que

uma pessoa prudente teria na mesma ocasião.

Descrito por Capez:

a culpa, portanto, não está descrita, nem especificada, mas apenas prevista genericamente no tipo. Isso se deve ao fato da absoluta impossibilidade de o legislador antever todas as formas de realização culposa, por seria mesmo impossível, por exemplo, tentar elencar todas as maneiras de se matar alguém culposamente. É inimaginável de quantos modos diferentes a culpa pode apresentar-se na produção do resultado morte (CAPEZ, 2015, p. 225).

Para o direito, consoante dispõe o parágrafo único do artigo 18 do Código

Penal “salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto

como crime, senão quando o pratica dolosamente”, todo tipo incriminador é, por

regra, doloso, pois está contido em sua descrição. Já na culpa necessita de uma

previsão expressa para que ela seja relevante. Então, o dolo é regra, a culpa é a

exceção.

Nesse passo, segundo Nucci, para que o agente seja punido por delito

culposo:

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é indispensável que a culpa venha expressamente delineada no tipo penal. Trata-se de um dos elementos subjetivos do crime, embora se possa definir a natureza jurídica da culpa como sendo um elemento psicológico-normativo. Psicológico, porque é elemento subjetivo do delito, implicando na ligação do resultado lesivo ao querer interno do agente através da previsibilidade. Normativo, porque é formulado um juízo de valor acerca da relação estabelecida entre o querer do agente e o resultado produzido, verificando o magistrado se houve uma norma a cumprir, que deixou de ser seguida (NUCCI, 2012, p. 242).

Ademais, extraimos aqui também o conceito de culpa, bem mais completo

do que previsto no Código Penal comum, através do artigo 33, inciso II do Código

Penal Militar, no qual diz: “Diz-se o crime: II - culposo, quando o agente, deixando de

empregar a cautela, atenção, ou diligência ordinária, ou especial, a que estava

obrigado em face das circunstâncias, não prevê o resultado que podia prever ou,

prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia evitá-lo.”

Por fim, para que a culpa possa ser comprovada, é preciso um juízo prévio

de valor para saber se a mesma está realmente presente ou não, assim, o crime

culposo tem como elementos a conduta, o nexo causal, o resultado involuntário, a

inobservância ao dever objetivo de cuidado, a previsibilidade objetiva e a tipicidade.

2.3.1. MODALIDADES E ESPECIES DE CULPA

A culpa está descrita no artigo 18, II do Código Penal, na qual “diz-se crime

culposo, quando o agente deu causa ao resultado por impudência, negligência ou

imperícia.”

Rogério Greco diz ser imprudente “a conduta positiva praticada pelo agente

que, por não observar o seu dever de cuidado, causasse o resultado lesivo que lhe

era previsível.” (GRECO, 2015, p.72). Pode ser definido também como uma falta de

cautela, sem o cuidado necessário ou como um ação descuidada.

A negligência se refere em deixar de fazer aquilo que a diligência impõe, ou

seja, deixar de se precaver antes de começar a agir. Aqui a culpa é na forma

omissiva, omite um comportamento que deveria ser tomado antes do início da

conduta.

Quanto a imperícia trata da inaptidão profissional ou técnica para praticar

determinada atividade. De acordo com Fernando Capez “consiste na incapacidade,

na falta de conhecimento ou habilidade para o exercício de determinado mister.”

Como no dolo, a culpa também tem diversas espécies, das quais são

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entendidas como conduta de menor potencial ofensivo. A tipificação da conduta

culposa existe para evitar os erros, tomando cuidado para que haja uma ordem

social. Nesse sentido, trataremos de culpa inconsciente e culpa consciente.

2.3.1.1 Culpa inconsciente

Diz respeito a culpa sem previsão, em que o agente de modo algum prevê

que o ato praticado era imprevisível. Um exemplo seria um caso de um indivíduo

deixar displicentemente sua arma de fogo em um local de fácil acesso para crianças.

Mesmo não desejando que ocorra um ato lesivo, sua conduta torna possível um

resultado danoso, por puro desleixo.

2.3.1.2 Culpa Consciente

Para Zaffaroni, a culpa consciente é aquela que o agente praticando o ato,

conhece da possibilidade do resultado, mas entende que, chegado o momento,

poderá evita-lo ou simplesmente que não ocorra. (ZAFFARONI, 2015, p. 465).

Na mesma linha, Fernando Capez diz que culpa consciente “é aquela que o

agente prevê o resultado, embora não o aceite.” (CAPEZ, 2015, p. 229). O agente

sabe da possibilidade do resultado lesivo, porém afasta de imediato, por entender

que evitará seu evento lesivo previsto.

Neste caso não basta só a previsão de resultado para que seja configurado

a culpa consciente, mas precisa que o agente não deseje e evite de alguma maneira

que o resultado ocorra.

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3 CRIMES DE TRÂNSITO

Pratica crime de trânsito aquele que dirige veículo automotor,

movimentando-o com a intenção, sem os devidos cuidados ou assumindo o risco de

atropelar e matar alguém.

Para que o crime exista, o CTB exige que o agente esteja conduzindo

veículos. Nos termos do Artigo 4º, a definição de veículo automotor encontra-se no

Anexo I:

todo veículo a motor de propulsão que circule por seus próprios meios, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas, ou para a tração viária de veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas. O termo compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não circulam sobre trilhos (ônibus elétrico).

Portanto, o termo veículo automotor entende-se por automóveis, caminhões,

motocicletas, ônibus, entre outros. O CTB ainda dispõe que regula o trânsito nas

vias terrestres, compreendendo, apenas os veículos que nela circulam.

A legislação específica sobre crimes de trânsito tornou-se importante em

relação a evolução dos fatos sociais, já que, nos dias atuais, a sociedade presencia

o trânsito caótico e criminoso nas ruas e estradas do país, através de uma “arma”

sobre rodas cometidas por motoristas irresponsáveis que se esquivam da

impunidade, causando danos irreversíveis e tirando a vida de pessoas.

Assim, as disposições previstas sobre os crimes de trânsito estão no

Capitulo XIX do Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/97), nos artigos 302 ao 312,

aplicáveis aos condutores de veículos automotores, quando praticada por condutas

típicas, por exemplo, homicídio culposo ou lesão corporal culposa na direção de

veículo automotor, a condução de veículo sobre a influência de álcool, a participação

de competição não autorizada em via pública, entre outras.

Estabelece o caput do artigo 291 do Código de Trânsito Brasileiro:

Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber.

Quando o crime for cometido na condução de um veículo automotor, e a

conduta estiver prevista no Código de Trânsito Brasileiro, capítulo XIX, seção II,

serão aplicadas as normas gerais do Código Penal e Código de Processo Penal,

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desde que o CTB não disponha de modo contrário. Existe uma especialidade entre

duas ou mais normais penais, isto faz com que a aplicação de uma norma exaure a

punição do fato, excluindo a aplicação cumilativa de outra norma, isto é, ninguém

será condenado duas vezes pelo mesmo delito.

Assim dispõe os artigos 1º e 2º do Código de Trânsito Brasileiro:

Art. 1º. O trânsito de qualquer natureza nas vias terrestres do território nacional, abertas à circulação, rege-se por este Código. § 1º. Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga e descarga. Art. 2º. São vias terrestres urbanas e rurais, as ruas, as avenidas, os logradouros, os caminhos, as passagens, as estradas e as rodovias, que terão seu uso regulamentado pelo órgão ou entidade com circunscrição sobre elas, de acordo com as peculiaridades locais e as circunstâncias especiais. Parágrafo único. Para os efeitos deste Código são consideradas vias terrestres as praias abertas à circulação pública e as vias internas pertencentes aos condomínios constituídos por unidades autônomas.

Embora o Código de Trânsito Brasileiro elenque onze tipos penais em nosso

ordenamento jurídico, limitaremos o objeto deste estudo à incidência do crime doloso

contra vida apenas aos tipos previstos como homicídio e lesão corporal.

3.1 HOMICÍDIO

O maior crime de trânsito e o mais discutido pelos tribunais é, sem dúvidas,

o homicídio no trânsito. O Código de Trânsito Brasileiro enumeram onze tipos penais

incriminador causados na direção de veículo automotor, porém, existem dois tipos

que se destacam, pois são considerados de maior potencial ofensivo do que

qualquer outro culposo, quais sejam, homicídio culposo e lesão corporal culposa.

O artigo 302, do CTB assim dispõe:

Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

A pretensão do legislador seria uma proposta mais moral e menos jurídica

de instruir o trânsito concedendo a todo cidadão o direito de ter condições seguras

de transitar. Dessarte, o artigo 1º e 2º da Lei nº 9.503/97 indicam que o bem jurídico

penal protegido é a segurança pública na visão de cautela viária.

Na mesma linha, descreve Schimitt do Bem, “se o objetivo central do Código

de Trânsito Brasileiro é a segurança das pessoas no trânsito e, para tanto, seu fim

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instrumental é reduzir o número e os efeitos dos acidentes nas vias terrestres, por

certo que atuação dos órgãos e das entidades de trânsito deve visar, com prioridade,

as ações de defesa à disponibilidade da vida, pois é este o bem jurídico penal que

deve ser tutelado” (SCHIMITT DO BEM, 2015, p. 93).

Para que ocorra o crime tratado neste tópico, “basta, para realização do tipo

em questão, a conduta de quem, estando na direção de um veículo automotor,

venha cometer o resultado ilícito” (MITIDIEIRO, 2015, p. 418)

Ainda, Schimitt do Bem diz que “é necessário que o veículo esteja ligado,

isto é, apto a ser conduzido, visto que “a perigosidade derivada da potência de um

motor é o que justifica a incriminação da condução de veículos de motor ou somente

destes” (SCHIMITT DO BEM, 2015, p. 96).

Em 2006, a Lei nº 11.275 incluiu o inciso V no parágrafo único do artigo 302,

com a seguinte redação:

V - estiver sob a influência de álcool ou substância tóxica ou entorpecente de efeitos análogos.

Este inciso foi acrescentado para aqueles condutores que causassem

homicídio no trânsito nas condições previstas no referido inciso, aumentaria o crime

de um terço à metade.

Já em 2008, a Lei nº 11.705, geralmente conhecida como “Lei Seca”, revoga

o inciso V e deixa de considerar como culposo os homicídios causados por

condutores embriagados, assim, o artigo 302 possibilitou a configuração do dolo

eventual nos crimes de homicídio na direção de veículo automotor, visto que, aquele

que ingerisse bebida alcoólica acima dos níveis permitido, assumia o risco de

produzir o resultado.

Em 2014, a Lei 12.971/14 alterou novamente este artigo, permanecendo a

redação do caput do artigo inalterada, adicionando os parágrafos 1º e 2º, sendo o 1º

com a mesma redação do antigo parágrafo único. Já no parágrafo 2º, cria-se uma

forma qualificadora de homicídio no trânsito.

Vejamos na integra o artigo 302, do CTB:

Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. § 1

o No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a

pena é aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o agente: I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação; II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;

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III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente; IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros. § 2

o Se o agente conduz veículo automotor com capacidade psicomotora

alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência ou participa, em via, de corrida, disputa ou competição automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente: Penas - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. “

Diante disso, nota-se que o § 2º institui quatro tipos penais, qualificando-os

em razão da simultanidade à produção do resultado morte e, essencialmente,

cominando pena privativa de liberdade de espécie mais gravosa quanto à forma de

cumprimento, sendo essa pena de reclusão.

No tocante a maior gravidade, Luiz Regis Prado destaca que “a

diferenciação entre reclusão e detenção hoje se restringe quase que exclusivamente

ao regime de cumprimento da pena, que na primeira hipótese deve ser feito em

regime fechado, semiaberto ou aberto, enquanto na segunda alternativa – detenção

– admite-se a execução somente em regime semiaberto ou aberto, segundo dispõe

o art. 33, caput, do Código Penal. Contudo, é possível a trânsiferência do condenado

a pena de detenção para regime fechado, demonstrada a necessidade da medida.”

(PRADO, 2015, p. 461).

A seguir, taxaremos alguns tipos penais que podem levar ao homicídio no

trânsito.

3.2 INFLUÊNCIA DE SUBSTÂNCIA PSICOATIVA

Está previsto no artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro, no qual, nas

palavras de Schimitt do Bem, esse artigo tem como “objetivo sempre alcançar um

maior número de punições, considerando que, da correlação entre consumo de

álcool e/ou drogas e direção de veículo automotor, a probabilidade de acidentes de

trânsito é significativa.” (SCHIMITT DO BEM, 2015, p. 303).

O Brasil foi um dos últimos países a acrescentar a condução de veículo

automotor sob influência de álcool na acepção de crime, isso porque a maioria dos

acidentes com vítimas fatais são cometidos por motoristas embriagados, contudo os

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altos índices colaboraram para que o legislador viário alterasse o respectivo tipo

penal por duas vezes.

Assim, da Lei 9.503/97 (CTB), originalmente, mencionava:

Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou substância de efeitos análogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem: Penas – detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Depois, segundo a redação dada pela Lei 11.705 de 19 de junho de 2008,

passou a ser o seguinte:

Art. 306. Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência Parágrafo único. O Poder Executivo federal estipulará a equivalência entre distintos testes de alcoolemia, para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo.

Por fim, a Lei 12.760 de 20 de dezembro de 2012, estabeleceu a redação

atual do artigo 306, do CTB, no qual reza:

Art. 306. Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência: Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. § 1

o As condutas previstas no caput serão constatadas por:

I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora. § 2

o A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste

de alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova. § 3

o O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de

alcoolemia ou toxicológicos para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo.

Diante disso, as modificações também ocorrerem em relação aos diferentes

níveis de alcoolemia, com a finalidade de caracterizar os seguintes comportamentos

do condutor: estado de tolerância, cometimento de infração de trânsito e conduta

criminosa.

Antes da Lei 11.705/2008, para que fosse comprovado o impedimento de

dirigir veículo automotor, exigia estar, o condutor, com seis decigramas de álcool por

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litro no sangue, determinando o CONTRAN como órgão que estipularia os índices

equivalentes para os demais testes de alcoolemia.

Com o surgimento da Lei 11.705/2008, foi estipulado que qualquer

concentração de álcool por litro de sangue ou por litro de ar alveolar (bafômetro)

sujeita o condutor às penalidades previstas no art. 165, em que dispõe:

Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: Infração - gravíssima; Penalidade - multa (dez vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses. Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitação e retenção do veículo, observado o disposto no § 4

o do art. 270 da Lei

no 9.503, de 23 de setembro de 1997 - do Código de Trânsito Brasileiro.

Parágrafo único. Aplica-se em dobro a multa prevista no caput em caso de reincidência no período de até 12 (doze) meses.

E define o órgão do Poder Executivo federal para disciplinar as margens de

tolerância nos casos específicos.

Conforme o artigo 6º da Lei 11.705 traz o conceito de bebida alcoólica:

“Art. 6º Consideram-se bebidas alcoólicas, para efeitos desta Lei, as bebidas potáveis que contenham álcool em sua composição, com grau de concentração igual ou superior a meio grau Gay-Lussac.”

A novidade trazida pela Lei 12.971 foi apenas a modificação do parágrafo

único, no qual diz que órgão CONTRAN disciplinará as margens de tolerância

quando a infração for apurada por meio de aparelho de medição, observada a

legislação metrológica.

Outras novidades, trazida pela Lei 12.971 diz respeito ao § 2º do artigo 306,

no qual introduziu a possibilidade de verificação de influência de outra substância

psicoativa por meio de exame toxicológico, o que antes não era previsto.

Nota-se, portanto, que antes das leis comentadas, não havia um número

estipulado para o nível de alcoolemia, mesmo existindo tal necessidade. Não

bastava somente que o condutor estivesse embriagado, mas era necessário que o

mesmo evidenciasse o dano potencial à segurança da sociedade. Dessa maneira,

era preciso atuar de forma anormal para que o crime se configurasse.

Com a redação atual, não importa o comportamento do condutor, para o

legislador o que importa é o referencial numérico para configurar crime, qual seja,

qualquer concentração de álcool por litro de sangue ou por litro de ar alveolar

(bafômetro).

Nesse sentido, o artigo 291, parágrafo 1, inciso I, do CTB diz:

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Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber. § 1

o Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto

nos arts. 74, 76 e 88 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se

o agente estiver: I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que

determine dependência;

O consumo prévio do álcool ou drogas influencia muito o condutor como a

forma de dirigir o veículo. É necessário que o condutor esteja com a presença da

substância psicoativa, o estado psicofísico alterado e a sua irregular condução.

De acordo com o parágrafo 1º, para que se caracterize a embriaguez a

constatação é feita pela concentração alcoólica de 6 decigramas de álcool por litro

de sangue.

§ 1o As condutas previstas no caput serão constatadas por:

I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da capacidade psicomotora.

Ainda, em diversas ocasiões é difícil analisar o condutor, por isso, para que o

mesmo seja considerado embriagado ou sob influência de substâncias ilícitas é

necessário que se proceda o bafômetro ou teste sanguíneo para que comprove se

existe ou não a capacidade do condutor desempenhar as funções exigidas de um

motorista. Caso o motorista recuse proceder com o exame do bafômetro, o

parágrafo 2º do artigo reza:

§ 2o A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste

de alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova.

A jurisprudência, nesse sentido prevê:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - HOMICÍDIO CONSUMADO E TENTADO NO TRÂNSITO (ARTIGO 121, § 2º, INCISO IV E ARTIGO 121, § 2°, INCISO IV C/C ARTIGO 14) E ARTIGOS 304, 305 E 306 DA LEI N° 9.503/97 (CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO) - PLEITO DE DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO PARA HOMICÍDIO CULPOSO - AUSÊNCIA DE INDÍCIOS A COMPROVAR QUE HOUVE DOLO EVENTUAL - NÃO CONFIGURAÇÃO DA TIPICIDADE DO DISPOSTO NO ARTIGO 306 DO CTB - IMPOSSIBILIDADE - ALTA VELOCIDADE, DIREÇÃO PERIGOSA, EMBRIAGUEZ AO VOLANTE, MANOBRA RADICAL, TEMERÁRIA, ARRISCADA - POSSIBILIDADE DE TER O RÉU PRESUMIDO E ASSENTIDO COM O RISCO - DOLO EVENTUAL - COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇATRIBUNAL DO JÚRI -

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PRONÚNCIA MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO.1. A dúvida, quando razoável, quanto à existência de dolo se resolve em prol da sociedade, autorizando a submissão do caso ao julgamento do Conselho de Sentença.2. In casu, a soma da circunstância (condutor dirigindo possivelmente com excesso de velocidade, sob o efeito de álcool, em direção perigosa) não descarta a possibilidade do crime contra a vida ter sido cometido com dolo eventual, situação que impede o acolhimento do pleito absolutório, desclassificatório ou a impronúncia, obrigando o julgamento da causa aos Senhores Jurados. (TJPR - 1ª C.Criminal - RSE - 1367719-7 - Palmas - Rel.: Antonio Loyola Vieira - Unânime - - J. 02.07.2015)

3.3 PARTICIPAÇÃO EM RACHA OU EXIBICIONISMO EM VIA PÚBLICA

A prática do racha é considerada uma ação criminosa, conforme está

previsto no artigo 308 do CTB.

Art. 308. Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela autoridade competente, gerando situação de risco à incolumidade pública ou privada: Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

Como todos os outros tipos penais tratados acima, este dispositivo não foi

diferente, sua alteração foi determinada pela Lei 12.971/2014, na qual, segundo

Schimitt do Bem:

O artigo 308, caput, do Código de Trânsito não alterou a estrutura jurídica

do delito, pois o novo elemento normativo consignado na expressão “gerando situação de risco” revela uma idêntica estrutura jurídica em comparação com a expressão revogada “desde que resulte perigo concreto”, ou seja, continua sendo um delito de perigo concreto. Com efeito, deve-se comprovar que o comportamento do condutor gerou, efetivamente, risco aos bens jurídicos protegidos (SCHIMITT DO BEM 2015, p. 435).

Assim, o artigo 291, parágrafo 1, inciso II diz:

Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber. § 1

o Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto

nos arts. 74, 76 e 88 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se

o agente estiver: II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente;

A pratica de racha, competição que envolve mais de um veículo ou

exibicionismos com manobras radicais, conhecido como “cavalo de pau” ou “quebra

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asa”, não são autorizadas pela autoridade competente, pois essa conduta é uma das

principais causadoras de acidente graves de trânsito.

Deste modo, o Tribunal de Justiça do Paraná decidiu:

APELAÇÃO CRIMINAL. RACHA. (ART. 308, CTB).SENTENÇA CONDENATÓRIA. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. CRIME CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA. HIPÓTESE NÃO ENUMERADA NO ART. 109, IV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. EXCESSO DE VELOCIDADE NÃO CARACTERIZADO. FALTA DE APARELHO DE MEDIÇÃO. CONSTATAÇÃO MEDIANTE OBSERVAÇÃO DE POLICIAIS RODOVIÁRIOS FEDERAIS, DOS QUAIS EMANOU ORDEM DE PARADA, NÃO OBEDECIDA. MÁXIMAS DA EXPERIÊNCIA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO DANO POTENCIAL À INCOLUMIDADE PÚBLICA OU PRIVADA. ARGUMENTO AFASTADO. DECLARAÇÕES INCONTESTES DOS MILICIANOS A ATESTAR QUE A CONDUTA OCORREU EM ESTRADA MOVIMENTADA E PERIGOSA. FUNDAMENTO EXPRESSAMENTE CONSIGNADO NA DECISÃO DE PRIMEIRO GRAU.FIXAÇÃO DE DUAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS EM LUGAR DA PRIVATIVA DE LIBERDADE. QUANTUM QUE DARIA SUPORTE À SUBSTITUIÇÃO POR APENAS UMA RESTRITIVA DE DIREITO. INTELIGÊNCIA DO ART. 44, § 2º, CP.PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE COMO OPÇÃO MAIS PEDAGÓGICA A SENTENCIADO AINDA JOVEM. RECOMENDAÇÃO DE QUE O CUMPRIMENTO SE DÊ EM INSTITUIÇÃO VOLTADA AO TRATAMENTO E/OU RECUPERAÇÃO DE ACIDENTADOS. EXCLUSÃO DA PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO.1. Versando os autos sobre crime de racha - contra a incolumidade pública ou privada, portanto -, hipótese não enumerada dentre as constantes do art. 109, IV, da Constituição Federal, há de ser afastada a pretendida incompetência da Justiça Estadual.2. Não há que se cogitar de falta de comprovação do excesso de velocidade, aferível de dois modos diversos: por aparelhos de medição (art. 218 do CTB) ou mediante a observação de policiais rodoviários federais, os quais, em razão de sua atividade, devem ser considerados naturalmente habilitados a constatar a incompatibilidade da velocidade desenvolvida em determinada via.3. Irrefutável o valor probante quanto à materialidade delitiva, oriundo das declarações prestadas por policiais rodoviários federais, que, em ambas as fases, afirmaram ter o sentenciado, no momento da prisão em flagrante, lhes dito que fora desafiado, por outro motoqueiro, a praticar o racha.4. Tem-se por comprovado o dano potencial à incolumidade pública se, além dos depoimentos dos policiais condutores, com base neles, a Magistrada de primeiro grau assim faz consignar na decisão vergastada.5. Dispõe o art. 44, § 2º, do Código Penal, ser possível a substituição da pena privativa de liberdade por uma restritiva de direito, se a condenação não exceder de um ano, sendo exacerbada a fixação de duas substitutivas.6. Considerando tratar-se de crime de trânsito praticado por agente bastante jovem, reputa-se mais pedagógico ao fim a que se destina manter-se a condenação à prestação de serviços à comunidade, preferencialmente, em local destinado ao atendimento/reabilitação de acidentados, excluindo-se, assim, a pena de prestação pecuniária. I. (TJPR - 2ª C.Criminal - AC - 1003141-9 - Apucarana - Rel.: José Mauricio Pinto de Almeida - Unânime - - J. 02.05.2013)

3.4 TRAFEGAR EM VELOCIDADE INCOMPATÍVEL

No que tange ao excesso de velocidade, a Lei nº 9.503 de 23 de setembro

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de 1997, disciplina no art. 311:

Art. 311. Trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas proximidades de escolas, hospitais, estações de embarque e desembarque de passageiros, logradouros estreitos, ou onde haja grande movimentação ou concentração de pessoas, gerando perigo de dano. Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

Os casos ocorridos pelo acesso de velocidade, muitas vezes são em virtude

da embriaguez ou pela prática de racha.

Entende-se por velocidade incompatível, “aquela que excede o limite

indicado por meio de sinalização ou, na sua ausência, o máximo previsto

legalmente. Cumprirá ao juiz a análise da situação concreta. Nesse sentido,

inclusive, desnecessária a aferição por meio de instrumento eletrônico, sendo

suficiente a prova testemunhal, pois o fundamental é comprovar que a velocidade do

veículo automotor se mostrava inadequada para o local”. (SCHIMITT DO BEM,

2015, p.489)

O Tribunal de Justiça de Santa Catarina expõe, em seu julgado:

Delito de trânsito. Agente que trafegava em alta velocidade, forçando ultrapassagens em locais para tanto vedados, em via intermunicipal de considerável tráfego. Desnecessidade de ocorrência de dano. Perigo demonstrado. Condenação que se confirma. Quem dirige automotor em alta velocidade, em via púbica onde há grande tráfego – valendo dizer grande movimentação de pessoas -, cria perigo de causação de acidade de circulação, o que resta bastante para a caracterização do perigo de dano do art. 311 do Código Penal para a tipificação do crime nele previsto. A exigência de efetivo dano não encontra amparo legal, vez que ao legislador bastou à potencialidade da ofensa. (TJSC, 3ª T. Recursal, Apelação Criminal 364/2005, de Sã Carlos, rel. Juiz Edir Josias Silveira Beck, j. 4-5-2005).

Desta forma, basta apenas o agente expor o perigo dirigindo em alta

velocidade, para que o crime de velocidade excessiva seja caracterizado.

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4 JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA

O estudo da jurisdição e competência para este trabalho acaba sendo bem

relevante para que cheguemos na conclusão final, pois o motivo de destrinxar os

pontos relevantes da jurisdição e competência são pra facilitar a compreensão do

objetivo final desse trabalho.

4.1.1 Jurisdição

O termo “jurisdição” tem origem no latim “iurisdictio” que tem por significado

“dizer o direito”. É o poder atribuido ao Estado de aplicar a lei ao caso concreto, ou

seja, o Estado detém o poder para resolver conflitos de interesses trazidos para sua

contemplação.

Para que o homem conviva harmoniozamente em sociedade, é necessário

que haja uma forma de controle, um sistema de coordenação e composição de

interesses que existem da vida em comunidade, a fim de solucionar conflitos e

coordenar todos os métodos para realização de harminia de vida em sociedade.

Caso não houvesse esse controle, a convivência social seria cada vez pior, pois

cada um estaria “livre” de fazer o que quiser, violando direitos e liberdade um do

outro.

Por essa razão, nas palavras de Capez, “não existe sociedade sem direito,

desempenhando este função de ordenatoria das relações sociais”, cabendo

“solucionar os inevitáveis conflitos de interesses que surgirão na realização da vida

em sociedade.” (CAPEZ, 2015, p. 45)

Faz-se necessário, para que se compreenda o conceito de jurisdição,

observar as determinadas caracterisicas deste instituto, quais sejam:

a) Substitutividade: não se pode confundir com autotutela, afinal, as partes

não são capazes de resolverem sozinhas. O Estado é o detentor da solução de

conflitos, desta forma, através de pessoas físicas intelectualmente preparada, são

designidadas para promover a justa composição da lide. De acordo com Capez

(CAPEZ, 2015, p. 49), o juiz, para desempenhar a função em qualquer lide, deverá

ser imparcial, sendo uma circunstância essencial ao exercício jurisdicional.

b) Inércia: o Estado se mantéminerte até o momento em que a parte

provoque a pretenção jurisdicional. O juiz não poderá obrigar o Ministério Público

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28

oferecer denúncia ao acusado, salvo se a ação for incondicionada pública.

c) Imutabilidade: chamada também de “definitividade”, diferentes dos atos do

legislativo e executivo, os atos judiciais são passíveis de transitar em julgado, ou

seja, tornam-se imutáveis, imodificáveis, definitivos, não podendo ser revistos ou

modificados, salvo nos casos de revisão criminal e ação rescisória civil.

4.1.2 Competência

A competência, descrito por PAULO RANGEL, “é o espaço, legislativamente

delimitado, dentro do qual o órgão estatal, investido do poder de julgar, exerce sua

jurisdição.” (RANGEL, 2009, 343).

A Constituição Federal nos traz em seus artigos a distribuição a competência

aos seus órgãos jurisdicionais, determinando também a competência entre esses

órgãos. Como podemos citar os artigos 102 e 103, que discrimina a competência do

Supremo Tribunal Federal, e no artigo 105, determina a competência do Superior

Tribunal de Justiça. Nos artigos 108 e 109, são determinadas a competência da

Justiça Federal. Ainda, na Carta Magna são fixadas as competências das chamadas

justiças especiais, quais são: Justiça Eleitoral, Justiça Militar e Justiça do Trabalho.

A Constituição Federal tratou ainda sobre a competência do Tribunal do Júri,

em seu artigo 5º, XXXVIII, conferindo-lhe obrigatoriamente o julgamento do crimes

dolosos contra a vida.

Os critérios da Competência também estão descritos no artigo 69 do Código

de Processo Penal. Veremos a seguir, o papel da competência no que se refere a

limitação do poder jurisdicionais. Nas palavras de Mougenot:

todo juiz é investido, pela Constituição Federal, de poder jurisdicional. Entretanto, nem todos os juízes podem julgar todas as causas. A extensão de poder jurisdicional que cabe a cada juíz é limitada, segundo uma série de critérios que a lei exige, estabelecendo-se, desta forma, a competência de cada julgador. (MOUGENOT, 2015, p. 329)

De acordo com Guilherme de Souza Nucci, a competência “trata-se da

delimitação da jurisdição, ou seja, o espaço dentro do qual pode determinada

autoridade judiciária aplicar o direito aos litígios que lhe forem apresentados,

compondo-os.” (NUCCI, 2015, p. 205).

Para Fenando Capez, “competência é a delimitação do poder jurisdicional

(fixa os limites dentro dos quais o juiz pode prestar jurisdição). Aponta quais os

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casos que podem ser julgados pelo Órgão do Poder Judiciário. É, portanto, um

verdade medida de extensão do poder de julgar.” (2015, p. 259)

Como pode-se notar, no artigo 69 do Código de Processo Penal:

Art. 69. Determinará a competência jurisdicional: I- o lugar da infração; II- o domicílio ou residência do réu; III- a natureza da infração; IV- a distribuição; V- a conexão ou continência; VI- a prevenção; VII- a prerrogativa de função.

A competência é a limitação que determinará a abrangência da atuação

jurisdicional de acordo com: I) o lugar da infração (competência ratione loci) ou “em

razão do local”; II) pelo domicílio ou residência do réu (art. 72, CPP); III) pela

natureza da infração; IV) por prevenção ou distribuição; V) por conexão ou

continência (art.76, 77 e ss do CPP) e VI) por prerrogativa de função, podendo ser

em razão da pessoa ou de sua função.

Apesar do artigo 70 do Código de Processo Penal definir, como regra, o foro

competente para julgar a causa, na qual seja no local onde ocorreu a infração penal.

Explica Mougenot que, “uma vez firmada a jurisdição (ou Justiça) competente, e

determinada a competência territorial, importa identificar o juiz competente para

conhecer o feito, caso existam no mesmo foro juízes com jurisdição cumulativa.”

(MOUGENOT, 2015, p. 329). Portanto, se vários juízes de um determinado local

sejam competentes em relação a mesma causa, a competência se valerá em razão

da matéria.

Para o ordenamento jurídico, a competência é entendida como absoluta e

relativa.

Entende-se por absoluta a competência em razão da matéria e em razão da

prerrogativa de função, por tratarem de matéria de ordem pública, não podem ser

prorrogadas nem modificadas pelas partes, sob pena de nulidade absoluta. A

competência nesse caso é inderrogável.

Já a competência relativa trata-se em reação do território, no local que foi

praticado ou consumado o crime, ou até no local de domicílio do autor da infração.

Diz respeito ao interesse tão somente da parte interessada. Aqui, existe a

possibilidade de substituição de competência de um juízo para outro, sem gerar vício

ao processo.

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30

4.2 DEFINIÇÃO DA COMPETÊNCIA: TRIBUNAL DO JÚRI

A Constituição Federal traz em seus artigos a delimitação do poder de julgar,

levando em conta a natureza da lide e as funções que os órgãos exercem nos

processos. Nessa linha, o artigo 5º XXXVIII, “d”, estabelece a competência privativa

do Tribunal do Júri para crimes dolosos praticados contra a vida.

Partindo dessa premissa, podemos analisar a competência para o

julgamento dos crimes de trânsito elencados nos capítulo anterior.

Há necessidade de verificar e examinar os dois tipos penais, conhecidos

como tipo doloso e tipo culposo, para determinar qual será o juízo competente em

razão da natureza da infração penal. Fixando assim, a competência da jurisdição

comum ou especial.

Pelo Código Brasileiro de Transito, em seu artigo 1º, parágrafo 1º,

“considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados

ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e

operação de carga ou descarga”, portanto, os atos de natureza infracional praticados

na direção de veículo automotor são considerados crimes de trânsito.

As mortes no trânsito têm sido muito discutidas por vários doutrinadores, em

razão de seus números assutadores, posto que, pelos dados trazidos pelo Instituto

Avante Brasil1, partindo da taxa de crescimento médio de 2,75% entre os anos de

1980 e 2011, aponta que em 2014 os números podem chegar a 48.349 mortes, isto

é, serão 6 mortes por hora, um a cada 10 minutos. Caso a taxa mantenha-se

estável, a probabilidade de, no ano de 2024, as mortes chegarem a um patamar de

70.071 decorrentes de acidente de trânsito, 5.839 mortes por mês, 192 mortes por

dia e 8 mortes por hora, totalizando mais de 1 milhão e 700 mil mortes.

Essas mortes ocorrem grande parte em decorrência de atitudes de

condutores na direção do veículo, como por exemplo, excesso de velocidade,

falando ao celular, inabilitado e impossibilitado de dirigir, embriagez, competindo ou

praticando racha, entre outras condutas de risco.

Os crimes, de acordo com a legislação nacional, titulados como doloso

contra a vida estão tipificados no Capitulo I, do Título I, da Parte Especial do Código

1 Disponível em: <http://institutoavantebrasil.com.br/motoristas-carros-e-estradas-armas-de-

destruicao-massiva-1-milhao-e-700-mil-mortes/>. Acesso em: 28 set. 2015.

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Penal, em seus artigos 121 a 128, quais sejam: homicídio simples, homicídio

qualificado, induzimento ou auxilio ao suicídio, infanticídio, o abordo provocado por

terceiros ou sem consentimento da gestantes e seus qualificadoras.

Nota-se que o mais comum nas infrações narradas no capítulo anterior em

relação aos crimes de trânsito, sem dúvidas, é o homicídio, seja na modalidade

dolosa, em que o julgamento cabe ao Conselho de Sentença, ou na forma culposa,

situação prevista no artigo 302 do Código de Trânsito Brasileiro, cuja competência

foge do âmbito do Tribunal do Júri.

Como já tratado nos capítulos anteriores, não existe possibilidade de

confundir o dolo eventual com a culpa consciente, já que na primeira, o agente tolera

o resultado, mesmo não querendo praticá-lo, e, na segunda, o resultado é previsto

mesmo que o agente acredite que não ocorra, pois confia em seu dever de cuidado.

Como dispõe Regis Prado, em seu livro:

o tipo injusto culposo tem estrutura diversa do tipo doloso. Enquanto no delito culposo são necessários critérios normativos de atribuição de sentido à conduta, no delito doloso eles não podem afastar o indispensável exame do dolo. A diferença entre eles é mais marcante no âmbito da tipicidade. Expõe-se, ainda, que tal diferença, de ordem objetiva, reside no fato de que no injusto culposo (de resultado) ocorre uma ação de risco proibido, ao passo que no doloso o resultado diz respeito ao injusto de uma concreta ação de realização do resultado. Os tipos objetivos têm estrutura material diferente. No delito doloso, é punida a ação ou omissão dirigida a um fim ilícito; ao passo que no culposo, pune-se o comportamento mal dirigido a um fim irrelevante (ou lícito) (PRADO, 2015, 305).

Ocorre que o estudo relacionado ao dolo eventual e a culpa consciente

tratam de um assunto muito polêmico no direito, acarretando várias divergências

entre doutrinas e jurisprudências.

Diante disso, Luiz Regis Prado diferencia o dolo eventual e a culpa

consciente:

no dolo eventual, o agente presta anuência, consente, concorda com o advento do resultado, preferindo arriscar-se e produzi-lo a renunciar à ação. Ao contrário, na culpa consciente, o agente afasta ou repele, embora inconsideradamente, a hipótese de superveniência do evento e empreende a ação na esperança de que este não venha ocorrer – prevê o resultado como possível, mas não aceita, nem o consente (PRADO, 2015, p. 310)

Ainda na linha de Prado, comenta sobre a Fórmula Frank:

há dolo eventual quando o agente diz para si mesmo: “seja como for, dê no que der, em qualquer hipótese não deixo de agir” ou “aconteça o que acontecer, continuo a agir” (revela a indiferença do agente em relação ao resultado). E existe culpa consciente quando: “se acontecer tal resultado, deixo de agir (PRADO, 2015, p. 311).

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Para que seja caracterizado o dolo eventual, é fundamental a presença de

dois componentes, são eles: o agente representa o resultado como possível e

assume o risco de produzir esse resultado atuando com indiferença sobre o bem

jurídico (JESUS, 2005, p. 201).

Já na culpa consciente, “o agente não quer nem assume o risco de produzir

o resultado, porque se importa com sua ocorrência. O agente confia que, mesmo

atuando, o resultado previsto será evitado” (GRECO, 2015, p. 263)

Nota-se que o limite entre esses dois tipos penais, o dolo eventual e a culpa

consciente, é que no primeiro o indivíduo sabe do risco, sabe do resultado que a

conduta poderá provocar, mas mesmo assim assume inteiramente o risco de

produzi-la e ainda assim não deixa de agir. Já na segunda, ele sabe do resultado

que determinada conduta poderá provocar, mas fica confiante em sua prudência age

mas acreditando que nada acontecerá, e se acontecer, deixará de fazer.

Há uma grande problemática em relação ao estabelecer se o agente, no

caso concreto, agiu com dolo ou culpa. Assim, caberá ao juiz, com base em alguns

fatores e análise do comportamento do agente, estabelecer qual tipo de conduta que

o agente praticou em um crime de trânsito.

Por essa razão, Damásio de Jesus ressalta em seu livro quatro elementos

que devem ser apreciados no caso concreto, para que seja compreendido o dolo

eventual:

1.º) risco de perigo para o bem jurídico implícito na conduta (ex: a vida); 2.º) poder de evitação de eventual resultado pela abstenção da ação; 3.º) meios de execução empregados; e 4.º) desconsideração, falta de respeito ou indiferença para com o bem jurídico.

As distinções dos dois tipos penais podem ser verificadas a partir de duas

teorias, denominadas de causal e finalista.

A Teoria Causal apresenta diferentes formas de culpabilidade, assim, dolo e

culpa são modalidades causais de vinculação psicológica do agente ao fato

praticado.

Para Luiz Regis Prado, a teoria causal:

a consciência da ilicitude constitui um elemento do dolo. No caso de ausência dessa consciência, elimina-se o dolo, substituindo, porém, a culpa. (...) parte do pressuposto de que a consciência da ilicitude faz parte do dolo; assim, o erro de proibição inevitável exclui a consciência da ilicitude e, em consequência, o dolo; este faz parte da culpabilidade, logo, fica excluída, também, a culpabilidade, bem como a responsabilidade penal; se evitável o

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erro de proibição, o agente será punido com a pena do crime doloso, podendo ser atenuada (PRADO, 2015, p. 364)

Já a Teoria Finalista, adotada pela maioria dos doutrinadores e pela

legislação pátria, assegura que o dolo e a culpa resultam de estrutura da conduta.

Assim, o conceito de ação, no tocante da atividade criminosa, dispõe ao

procedimento de separação e distinção desses dois institutos.

Tem se discutido muito quanto ao chamados delitos de trânsito. A mídia

expõe, quase diariamente, noticiários de motoristas que, embriagados, dirigem em

velocidade acima do permitido, e em razão disso, cometem resultados lastimáveis,

causando mortes ou deixando sequelas gravíssimas em suas vítimas.

Rogério Greco, em seu livro “Curso de direito penal – parte geral”,

demonstra que:

em razão do elevado número de casos de delitos ocorridos no trânsito, surgiram, em vários Estados da Federação, associações com finalidade de combater esse tipo de criminalidade. O movimento da mídia, exigindo punições mais rígidas, fez com que juízes e promotores passassem a enxergar o delito de trânsito cometido nessas circunstâncias, ou seja, quando houvesse a conjunção da velocidade excessiva com a embriaguez do motorista atropelador, como hipótese de dolo eventual, tudo por causa da frase contida na segunda parte do inciso I do art. 18 do Código Penal, que diz ser dolosa a conduta quando o agente assume o risco de produzir o resultado (PRADO, 2015, p. 262)

Nesse sentido, vê-se constantes decisões no que tange o dolo eventual,

além disso, na maioria das vezes, o dolo eventual é adotado nos crimes em que

possui consequências mais graves. É notório que aquele condutor que embriagado

pratica manobras radicais em alta velocidade assume o risco de produzir o resultado

morte, cometendo homicídio doloso tipificado no artigo 121 do Código Penal. O que

não é diferente no julgado trazido abaixo, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de

Justiça do Estado do Paraná entendeu que a soma de circunstâncias não descarta a

possibilidade do crime contra a vida ter sido cometido com dolo eventual, vejamos:

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - HOMICÍDIO CONSUMADO E TENTADO NO TRÂNSITO (ARTIGO 121, § 2º, INCISO IV E ARTIGO 121, § 2°, INCISO IV C/C ARTIGO 14) E ARTIGOS 304, 305 E 306 DA LEI N° 9.503/97 (CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO) - PLEITO DE DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO PARA HOMICÍDIO CULPOSO - AUSÊNCIA DE INDÍCIOS A COMPROVAR QUE HOUVE DOLO EVENTUAL - NÃO CONFIGURAÇÃO DA TIPICIDADE DO DISPOSTO NO ARTIGO 306 DO CTB - IMPOSSIBILIDADE - ALTA VELOCIDADE, DIREÇÃO PERIGOSA, EMBRIAGUEZ AO VOLANTE, MANOBRA RADICAL, TEMERÁRIA, ARRISCADA - POSSIBILIDADE DE TER O RÉU PRESUMIDO E ASSENTIDO COM O RISCO - DOLO EVENTUAL - COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA TRIBUNAL DO JÚRI -

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PRONÚNCIA MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO.1. A dúvida, quando razoável, quanto à existência de dolo se resolve em prol da sociedade, autorizando a submissão do caso ao julgamento do Conselho de Sentença.2. In casu, a soma da circunstância (condutor dirigindo possivelmente com excesso de velocidade, sob o efeito de álcool, em direção perigosa) não descarta a possibilidade do crime contra a vida ter sido cometido com dolo eventual, situação que impede o acolhimento do pleito absolutório, desclassificatório ou a impronúncia, obrigando o julgamento da causa aos Senhores Jurados. (TJPR - 1ª C.Criminal - RSE - 1367719-7 - Palmas - Rel.: Antonio Loyola Vieira - Unânime - - J.

02.07.2015).

Estabelece o artigo 302, do Código de trânsito Brasileiro que, aquele que

praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor será apenado de dois a

quatro anos de detenção e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a

habilitação para dirigir veículo automotor.

Desfruta o parágrafo 1º que, para o condutor que comete homicídio culposo

na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de 1/3 à metade, se o agente

não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação, praticá-lo em faixa de

pedestres ou na calçada, deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem

risco pessoal, à vítima do acidente ou no exercício de sua profissão ou atividade,

estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros.

Por sua vez o parágrafo 2º estabelece que a pena será de dois a quatro

anos de reclusão e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou habilitação

para dirigir, caso o agente conduza o veículo sob a influência de álcool ou de outra

substância psicoativa que determine dependência, ou participar de corrida, disputa

ou competição, não autorizada.

Aqui, o legislador não taxou o crime como culposo nem como doloso, já que

o parágrafo não está ligado ao caput do artigo, posto que diz apenas aquele que

conduz veículo sob a influência de álcool ou de outra substância psicoativa comete

crime de trânsito.

Neste entendimento, o artigo 18, parágrafo único, diz que “salvo os casos

expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão

quando o pratica dolosamente”. Assim, como regra, todo tipo incriminador é doloso.

A culpa precisa que exista uma previsão expressa em lei para que seja taxada como

culposa. Portanto, o dolo é regra, a culpa é exceção.

No artigo 121, do Código Penal Brasileiro, aquele que mata alguém

cometendo homicídio simples, será apenado de seis a vinte anos de reclusão.

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Corroborando com o dispositivo mencionado acima, aquele condutor que

ocasionou a morte de outrem em razão da embriaguez, sob efeito de entorpecentes,

alta velocidade ou praticando competições não autorizadas, ao conduzir o veículo,

estará agindo de forma dolosa eventualmente, levando em consideração que não se

preocupou com a possibilidade da ocorrência ou não do evento danoso a vítima.

Neste sentido, Renato Marcão entende que embriaguez ao volante trata-se

de um “crime doloso; comum; vago; formal e de perigo abstrato”. (2011, p. 165).

Ainda, Mirabete dispõe:

Nesta hipótese, a vontade do agente não está dirigida para a obtenção do resultado; o que ele quer é algo diverso, mas, prevendo que o evento possa ocorrer, assume assim mesmo o risco de causá-lo. Essa possibilidade de ocorrência do resultado não o detém e ele pratica a conduta, consentindo no resultado. Há o dolo eventual, portanto, quando o autor tem seriamente como possível a realização do tipo legal se praticar a conduta e se conforma com isso. Exemplos de dolo eventual são o do motorista que avança o automóvel contra uma multidão porque está com pressa de chegar a seu destino, por exemplo, aceitando o risco da morte de um ou mais pedestres (MIRABETE, 2010, p. 127/128)

No jurisprudência trazida abaixo, houve o reconhecimento do dolo eventual

numa situação fática de prática de racha, sendo que, o condutor em alta velocidade

assumiu o risco de causar morte, portanto deverá responder pelo delito do art. 308,

caput, do Código de Trânsito Brasileiro em concurso formal com o art. 121 do

Código Penal:

RECURSO ESPECIAL. PENAL. ACUSAÇÃO QUE IMPUTOU A AMBOS OS RÉUS, EM COAUTORIA, A PRÁTICA DO CRIME DE HOMICÍDIO DOLOSO. PARTICIPAÇÃO EM DISPUTA AUTOMOBILÍSTICA ILÍCITA ("PEGA"), COM VELOCIDADE EXCESSIVA E MANOBRAS ARRISCADAS, QUE OCASIONOU A MORTE DA VÍTIMA. CARACTERIZAÇÃO DO DOLO EVENTUAL. TRIBUNAL DO JÚRI. CONSELHO DE SENTENÇA QUE RECONHECEU, NA LINHA DA TESE DEFENSIVA, A INEXISTÊNCIA DO CHAMADO "PEGA". CONDENAÇÃO DE UM RÉU POR HOMICÍDIO CULPOSO (CTB, ART. 302) E O OUTRO POR HOMICÍDIO DOLOSO (CP, ART. 121). IMPOSSIBILIDADE. FATO ÚNICO. CRIME PRATICADO EM CONCURSO DE PESSOAS. AUTORIA COLATERAL. NÃO OCORRÊNCIA. VIOLAÇÃO À TEORIA MONISTA. ART. 29 DO CÓDIGO PENAL. EXTENSÃO DA DECISÃO QUE CONDENOU O CORRÉU POR HOMICÍDIO CULPOSO AO RECORRENTE. RECURSO NÃO CONHECIDO. HABEAS CORPUS CONCEDIDO DE OFÍCIO. 1. Hipótese em que o Ministério Público denunciou o recorrente e outro corréu como incursos nos arts. 121, § 2º, inciso I, e 129, caput, na forma dos arts. 29 e 70, todos do Código Penal, porque, ao realizarem disputa automobilística ilícita, vulgarmente conhecida como "pega" ou "racha", causaram a morte de uma vítima e lesão corporal em outra, concluindo a acusação pela presença do dolo eventual, porquanto ambos assumiram o risco de causar o resultado. Esses fatos foram ratificados na sentença de pronúncia, no acórdão confirmatório, bem como no libelo acusatório.

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2. Na sessão plenária do Tribunal do Júri, o Conselho de Sentença, na linha do que sustentara a defesa desde o inquérito policial, entendeu que os réus não participavam, por ocasião dos fatos delituosos, de nenhuma corrida ilícita, como deduzido pela acusação. Todavia, mesmo entendendo dessa forma, desclassificou o crime apenas em relação ao corréu Bruno, sendo condenado por homicídio culposo na direção de veículo automotor (CTB, art. 302), concluindo quanto ao recorrente Thiago que este assumiu o risco de produzir o resultado morte na vítima, ou seja, que agiu com dolo eventual. 3. Tratando-se de crime praticado em concurso de pessoas, o nosso Código Penal, inspirado na legislação italiana, adotou, como regra, a Teoria Monista ou Unitária, ou seja, havendo pluralidade de agentes, com diversidade de condutas, mas provocando um só resultado, existe um só delito. 4. Assim, denunciados em coautoria delitiva, e não sendo as hipóteses de participação de menor importância ou cooperação dolosamente distinta, ambos os réus teriam que receber rigorosamente a mesma condenação, objetiva e subjetivamente, seja por crime doloso, seja por crime culposo, não sendo possível cindir o delito no tocante à homogeneidade do elemento subjetivo, requisito do concurso de pessoas, sob pena de violação à teoria monista, razão pela qual mostra-se evidente o constrangimento ilegal perpetrado. 5. Diante da formação da coisa julgada em relação ao corréu e considerando a necessidade de aplicação da mesma solução jurídica para o recorrente, em obediência à teoria monista, o princípio da soberania dos veredictos deve, no caso concreto, ser aplicado justamente para preservar a decisão do Tribunal do Júri já transitada em julgado, não havendo, portanto, a necessidade de submissão do recorrente a novo julgamento. 6. Recurso especial não conhecido. Habeas corpus concedido de ofício para, cassando o acórdão recorrido, determinar a extensão ao recorrente do que ficou decidido para o corréu Bruno Albuquerque de Miranda, reconhecendo-se a caracterização do crime de homicídio culposo na ação penal de que aqui se cuida, cabendo ao Juízo sentenciante fixar a nova pena, de acordo com os critérios legais. (REsp 1306731/RJ, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, QUINTA TURMA, julgado em 22/10/2013, DJe 04/11/2013)

O mesmo ocorre com a decisão da 5ª Turma do Superior Tribunal de

Justiça, no qual diz que não há no que se falar em culpa consciente e sim em dolo

eventual, já que a fundamentação constante da sentença de pronúncia e do acórdão

impugnado demonstra a existência de elementos mínimos suficientes para a

submissão do réu a julgamento pelo Tribunal Popular, que examinará as questões

controvertidas:

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PENAL E PROCESSO PENAL. HOMICÍDIO. DOLO EVENTUAL. COLISÃO DE VEÍCULOS. EXCESSO DE VELOCIDADE. PRONÚNCIA. PROVA DA MATERIALIDADE E INDÍCIOS SUFICIENTES DE AUTORIA. PRETENDIDA IMPRONÚNCIA OU DESCLASSIFICAÇÃO DO DELITO. IMPOSSIBILIDADE. SIMPLES REEXAME DE PROVAS. SENTENÇA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO. 1. Não há falar em ofensa ao art. 619 do Código de Processo Penal se todas as questões necessárias ao deslinde da controvérsia foram analisadas e decididas, ainda que de forma contrária à pretensão do recorrente, não havendo nenhuma omissão ou negativa de prestação jurisdicional. 2. Não cabe, na via estreita do recurso especial, revisar o entendimento

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firmado pelas instâncias ordinárias no sentido de haver prova da materialidade e indícios suficientes de autoria para que seja o réu submetido a julgamento pelo Tribunal do Júri pela prática do crime de homicídio doloso (art. 121, caput, do Código Penal). 3. No caso, não se trata de diferenciar, em tese, o dolo eventual da culpa consciente, mas sim do mero exame de matéria de fato, tendo em vista que a fundamentação constante da sentença de pronúncia e do acórdão impugnado demonstra a existência de elementos mínimos suficientes para a submissão do réu a julgamento pelo Tribunal Popular, que examinará as questões controvertidas. 4. O simples fato de se tratar de delito decorrente de acidente de trânsito não implica ser tal delito culposo se há, nos autos, dados que comprovam a materialidade e demonstram a existência de indícios suficientes de autoria do crime de homicídio doloso. Precedentes. 5. A sentença de pronúncia, à luz do disposto no art. 408, caput, do CPP, deve, sob pena de nulidade, cingir-se, motivadamente, à materialidade e aos indícios de autoria, visto se tratar de mero juízo de admissibilidade da acusação. No caso, o decisum foi proferido com estrita observância da norma processual, fundamentando-se em elementos suficientes para pronunciar o réu, tais como o interrogatório, os depoimentos das testemunhas, além do laudo pericial oficial. 6. Tratando-se de crime doloso contra a vida, o julgamento pelo Tribunal do Júri somente pode ser obstado se manifestamente improcedente a acusação, cabendo a solução das questões controvertidas ao órgão competente, devido à aplicação, na fase do judicium accusationis, do princípio in dubio pro societate. 7. Agravo regimental improvido. (AgRg no Ag 850.473/DF, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 14/11/2007, DJ 07/02/2008, p. 1)

No que tange o racha, o que pode ser entendido como uma competição

automobilística em via pública ou até mesmo em locais com menos movimentação,

pela jurisprudência, nomeada como crime doloso. Nessa lógica, o Superior Tribunal

Federal interpretou que a participação em competição não autorizada, em via

pública movimentada, caracteriza a presença do dolo eventual:

EMENTA HABEAS CORPUS. SUBSTITUTIVO DO RECURSO CONSTITUCIONAL. INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. HOMICÍDIO DOLOSO. TRÂNSITO. PRONÚNCIA. 1. O habeas corpus tem rica história, constituindo garantia fundamental do cidadão. Ação constitucional que é, não pode ser amesquinhado, mas também não é passível de vulgarização, sob pena de sua descaracterização como remédio heroico. Contra a denegação de habeas corpus por Tribunal Superior prevê a Constituição Federal remédio jurídico expresso, o recurso ordinário. Diante da dicção do art. 102, II, a, da Constituição da República, a impetração de novo habeas corpus em caráter substitutivo escamoteia o instituto recursal próprio, em manifesta burla ao preceito constitucional. Precedente da Primeira Turma desta Suprema Corte. 2. Não cabe na pronúncia analisar e valorar profundamente as provas, pena inclusive de influenciar de forma indevida os jurados, de todo suficiente a indicação, fundamentada, da existência de provas da materialidade e autoria de crime de competência do Tribunal do Júri. 3. Mesmo em crimes de trânsito, definir se os fatos, as provas e as circunstâncias do caso autorizam a condenação do paciente por homicídio doloso ou se, em realidade, trata-se de hipótese de homicídio culposo ou mesmo de inocorrência de crime é questão que cabe ao Conselho de Sentença do Tribunal do Júri. 4. Habeas corpus extinto sem resolução do mérito. (HC 109210, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/

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Acórdão: Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 21/08/2012, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-154 DIVULG 07-08-2013 PUBLIC 08-08-2013)

No que compete a velocidade excessiva somada com a embriaguez, o caso

do ex Deputado Luiz Fernando Ribas Carli Filho, que ficou muito conhecido, foi

indiciado, na época, por crime de embriaguez ao volante e altíssima velocidade,

causando a morte de dois rapazes, o Ministério Público recorreu ao Supremo

Tribunal no qual julgou desta maneira:

RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO. TRÂNSITO. EMBRIAGUEZ. EXAME SANGUÍNEO. VALIDADE. DISCUSSÃO. EXCLUSÃO DO ART. 306 DO CTB. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. PERDA DO INTERESSE. PREJUDICIALIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. EMBRIAGUEZ APONTADA COMO UM DOS ELEMENTOS INDICADORES DO DOLO EVENTUAL. ANÁLISE DO RECURSO. NECESSIDADE. DEMAIS ALEGAÇÕES E AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PREJUDICADOS. PRAZOS RECURSAIS. REABERTURA. 1. Apesar de ter sido excluída pelo Tribunal a quo a imputação de prática do crime do art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro, a embriaguez permaneceu como sendo um dos elementos indicativos da ocorrência de dolo eventual do homicídio, o qual levou à pronúncia do acusado. Dessa forma, não ocorreu a perda de interesse no julgamento do recurso em sentido estrito na parte em que era discutida a validade dos exames periciais de alcoolemia. 2. Hipótese na qual o acórdão recorrido concluiu que, como a direção de veículo automotor em estado de embriaguez havia sido utilizada para caracterizar o dolo eventual do homicídio, não se poderia dela lançar mão para se fazer caracterizar também o crime do art. 306 do Código de Trânsito Brasileiro, sob pena de haver bis in idem. Em razão disso, fez incidir o princípio da consunção, excluiu a imputação da prática do referido delito e considerou prejudicado o recurso em sentido estrito na parte em que se buscava reconhecer a licitude da referida prova pericial. 3. Pela natureza bifásica do procedimento do Tribunal do Júri, a instrução processual não se encerra quando da pronúncia, uma vez que há produção de provas em Plenário. Assim, permanece o interesse na discussão da validade da referida prova, mormente quando erigida como sendo um dos fatores que indicariam a presença do dolo eventual. 4. Retorno dos autos que se impõe, para que o Tribunal prossiga na análise do mérito da alegação formulada pelo Parquet no recurso em sentido estrito. 5. Prejudicado, no mais, o recurso especial do Ministério Público, bem como o recurso especial defensivo e o respectivo agravo interposto contra a sua inadmissão, uma vez que, após o novo julgamento do recurso em sentido estrito pelo Tribunal a quo, serão reabertos os prazos recursais para a impugnação integral do julgado. 6. Recurso especial do Ministério Público parcialmente provido, para afastar a prejudicialidade declarada pelo acórdão recorrido e determinar que o Tribunal a quo prossiga na análise do pedido de reconhecimento da validade dos exames sanguíneos de alcoolemia, como entender de direito, ficando prejudicados o restante do recurso especial do Parquet e o agravo em recurso especial interposto pela defesa. (STJ, Relator: Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Data de Julgamento: 21/02/2013, T6 - SEXTA TURMA)

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Ainda sobre o assunto homicídio no trânsito, o G12 trouxe a notícia que a

Câmara dos Deputados aprovou no mês de setembro, dia 23 do ano de 2015 o

projeto de lei que dobra a pena para o motorista alcoolizado que provocar acidente

com morte. Atualmente, a punição para aquele que dirige embriagado e provoca

acidente fatal é de 2 a 4 anos de detenção, além da suspensão da permissão para

dirigir veículo automotor.

A proposta aprovada pelos deputados é de que, para aqueles que cometem

homicídio sob influência de álcool na direção de veículo automotor, a pena passará

de 4 a 8 de anos de reclusão, devendo o condenado, se pegar a pena máxima,

cumprir em regime fechado.

O texto segue para o Senado antes de ir à sanção presidencial, na seguinte

redação “Se o agente conduz veículo automotor com capacidade psicomotora alterada

em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine

dependência: Penas - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e suspensão ou proibição

de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor”.

Para aqueles que que defendem a proposta, a pena máxima atualmente de 4

anos é muito branda para a gravidade do delito, posto que a pena pode ser convertida

em prestação de serviços à comunidade.

Desta forma, Rogério Greco diz:

Não se pode excluir a possibilidade do dolo eventual nos delitos cometidos na direção de veículos automotores em vias públicas, quando, circunstâncias excepcionais de violação das regras de trânsito pela intensidade possibilitam que se admita (GRECO, 2010, p. 55)

Para que seja configurada a competência do Tribunal do Júri nas infrações

penais ocasionadas através da condução de veículos automotores, deve-se fazer as

seguintes perguntas: como identificá-lo? Como saber se o agente realmente era

indiferente em relação a produção do resultado?

Dificilmente o autor irá confessar que previa o resultado, ou até mesmo dizer

qual era sua intenção naquele momento da realização do fato, faz-se necessário

então, analisar cada informação trazida ao processo.

A solução para tanto teria de vir da lei, ela era quem deveria prever esses

situações, não interferindo nos conceitos doutrinários consolidados pelo Direito

Penal. Surgiram diversas alterações, no total são três, o que ainda não foram o

2 Disponível em: <http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/09/camara-aprova-dobrar-pena-de-quem-

provoca-acidente-fatal-alcoolizado.html>. Acesso em: 30 set. 2015.

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suficiente para acabar com as discussões e divergências entre juristas.

Nas palavras ditas por Rogério Greco, “nosso legislador, sem nenhuma

vênia ao dizer isso, é pródigo em criar leis com suas redações absurdas, sem

sentido, dúbias, incoerentes e assistemáticas” (2015, p. 265).

O que é extremamente notável quando analisamos o artigo 302, parágrafo 2

e os artigos 306, 308 e 311 do CTB.

Pois, ao mesmo tempo que o art. 302, parágrafo 2º diz crime de trânsito em

virtude de embriaguez, racha ou alta velocidade, os artigos 306, 308, e 311 dispõem

respectivamente sobre o mesmo tema.

§ 2o se o agente conduz veículo automotor com capacidade psicomotora

alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine dependência ou participa, em via, de corrida, disputa ou competição automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente

Para tanto, apesar do artigo 302, do Código de Trânsito Brasileiro delimitar

que o homicídio praticado na direção de veículo automotor seja crime culposo, a

jurisprudência e a doutrina corroboram a favor do dolo eventual, aplicando-se

portanto, os tipo penal doloso, taxado no o artigo 18, I, do Código Penal, em

concorrência com o artigos 306, 308 ou 311 do Código de Trânsito Brasileiro em

concurso formal com o artigo 121, caput, Código Penal Brasileiro. Assim, entende a

jurisprudência e a doutrina que, compete o Tribunal do Júri o julgamento dos crimes

de trânsito mais severos, por entender que o condutor que dirige seu veículo sob

efeito de álcool ou sob efeito de entorpecentes, velocidade acima da máxima

permita, ou praticando competições não autorizadas na condução do veículo, está

assumindo totalmente o risco de produzir um resultado lesivo ao bem jurídico

tutelado, colocando em risco a vida dos demais usuários da via.

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5 CONCLUSÃO

Para atingir o objetivo do trabalho, fez necessário estudar toda parte de

direito penal em relação aos tipos dolosos e os tipos culposos frente aos acidentes

de trânsito. Além de entender toda parte de jurisdição e competência para que, no

fim, chegasse ao resultado central dessa pesquisa.

Há muita discussão no que se refere ao tema. Cada semana, senão cada

dia, ocorre um delito de trânsito, onde muitos condutores embriagados ou acima da

velocidade máxima permitida da via, praticam resultados lastimáveis e quase

sempre deixando pessoas com sequelas permanentes ou na maioria das vezes

ocasionando o resultado morte. Os jornais e tele-jornais dão ênfase à esse assunto,

mostrando o quando é necessário uma lei mais rigorosa para condutores de veículos

automotores que não sabem se portar e respeitar o dia-a-dia no trânsito, saindo

muitas vezes impunes de condutas extremamente lesivas.

Com a mídia e ajuda das manifestações da sociedade, as punições mais

rígidas estão surgindo. Em vários Estados e Federações, juízes e promotores

passaram a enxergar o delito cometido na direção de veículo automotor nas

circunstâncias gravíssima, como alta velocidade, embriaguez, pratica de “racha”,

como delito doloso, através do artigo 18, inciso I,do Código Penal, na qual diz ser

dolosa a conduta quando o agente assume o risco de produzir o resultado.

Certamente, o objetivo é diferenciar o dolo eventual da culpa consciente, na

qual está no elemento volitivo. Ja que o dolo eventual o agente prevê o resultado,

mas não faz questão de evitá-lo, na culpa consciente, o agente sabe que pode

ocorrer o resultado, mas acredita na impossibilidade da ocorrência, se valendo do

seu dever de cuidado e acreditando que poderá evitá-lo. O que predomina aqui é o

“querer” do agente, pois nos dois casos eles são diferente, e assim diferencia-se

pelo animus do agente.

Apesar de ser impossível de saber a vontade do agente, pois importaria na

sua própria confissão, é preciso analisar se o agente agiu com dolo ou com culpa, já

que a vontade é de suma importância para classificação do delito.

Mesmo que, para a escolha do dolo eventual necessite as existências de

circunstâncias que comprovem o delito, não é muito difícil encontrar decisões

judiciais que acolhem a hipótese de dolo nos momentos em que não se caracteriza a

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previsão do evento ou o consentimento do agente. Ocorre que, essas decisões

geralmente estão sem amparo legal, desrespeitando o princípio do “in dubio pro reo”.

Nesses casos, quando o juiz tem duvida com relação a materialidade dos fatos e

seus elementos, deverá a infração ser desclassificada, seguindo o princípio do in

dubio pro reo e não in dubio pro societate.

Portanto, diante de todas as ponderações apresentadas, conclui-se que as

decisões envolvendo os institutos jurídicos de dolo eventual e culpa consciente

tratam-se de questão extremamente técnica, dependendo da análise de provas e da

vontade do agente, para então definir sua competência.

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