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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Michelle dos Santos
AÇÕES AFIRMATIVAS: A EFETIVIDADE DAS COTAS RACIAIS
CURITIBA
2010
1
Michelle dos Santos
AÇÕES AFIRMATIVAS: A EFETIVIDADE DAS COTAS RACIAIS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito. Orientador: Thaís Santi Cardoso da Silva
CURITIBA
2010
2
TERMO DE APROVAÇÃO
Michelle dos Santos
AÇÕES AFIRMATIVAS: A EFETIVIDADE DAS COTAS RACIAIS
Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do grau de bacharel em Direito, no Curso de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba, _____ de _______________ de 2010.
_______________________________________
Curso de Direito Universidade Tuiuti do Paraná
Orientador: Profº(a) Thaís Santi Cardoso da Silva
Curso de Direito Universidade Tuiuti do Paraná
Profº
Curso de Direito Universidade Tuiuti do Paraná
Profº
Curso de Direito Universidade Tuiuti do Paraná
3
Aos Meus Pais, Alzira Luiza e João Batista,
pelo amor e incentivo em todas as horas.
À minha família, pela compreensão e suporte
para a concretização deste trabalho.
4
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, não há amor maior
que este.
À minha Orientadora Professora Thaís Santi
Cardoso da Silva, pela dedicação e auxílio
na elaboração deste trabalho.
Ao Professor Odair Moreira da Costa, pelo
incentivo e apoio que de certa forma
enriqueceram este estudo.
5
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo mostrar a efetividade das cotas raciais no
Brasil, como instrumento de aplicabilidade do Princípio da Igualdade, baseando-se na
idéia da Justiça Distributiva de Aristóteles (384-322 a.C.), na Ética a Nicômaco, livro
quinto, cujo vinculou a idéia de igualdade à idéia de justiça: “A justiça nas transações
entre os homens é uma espécie de igualdade, e a injustiça, a desigualdade”.
O dispositivo legal das Ações Afirmativas encontra-se no art. 5° da Constituição
Federal, amparado pelo Principio Geral da Igualdade. Outrossim, os incisos III e IV do
art. 3° da Constituição trata-se dos Direitos Sociais, como expressão direta desse
Principio, onde cabe destacar que não se trata apenas da exigência da aplicação da lei
pelos órgãos do Estado, mas sim da efetividade do Principio da Igualdade,
caracterizado de forma genérica como direito à igualdade material ou substancial.
Diante disto, com o ensejo de alcançar a eficácia do princípio da igualdade
devemos “Tratar de forma igual os iguais e de forma desigual os desiguais na medida
das suas desigualdades (Aristóteles)”.
Palavras-chave: Principio da Igualdade, Ações Afirmativas, Políticas Públicas, História
do Afro-descendente.
6
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 8
2 AÇÕES AFIRMATIVAS................................................................................... 10
2.1 CONCEITO DE AÇÕES AFIRMATIVAS....................................................... 10
2.2 ORIGEM E DEFINIÇÕES DAS AÇÕES AFIRMATIVAS............................... 12
2.3 A IMPORTÂNCIA DA FONTE DO DIREITO NORTE-AMERICANO............ 14
2.4 O PRINCÍPIO DA IGUALDADE SOB A ÓTICA DA CONSTITUICÃO FEDERAL............................................................................................................
15
2.4.1 O Princípio Material e as Ações Afirmativas: A Discriminação Positiva..... 18
2.5 POLÍTICAS PÚBLICAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS. .................................. 21
2.5.1 Reserva de Vagas para Deficientes........................................................... 21
2.5.2 Cotas para Mulheres no Tribunal Superior Eleitoral.................................. 22
3 AS AÇÕES AFIRMATIVAS NO BRASIL ....................................................... 23
3.1 AS AÇÕES AFIRMATIVAS NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL............. 23
4 AÇÕES AFIRMATIVAS PARA AFROS-DESCENDENTES............................ 26
4.1 PECULIARIDADES DA REALIDADE NO BRASIL........................................
4.2 BREVE ANÁLISE DA TRAJETÓRIA DO AFRO-DESCENDENTE NO BRASIL: A DÍVIDA HISTÓRICA..........................................................................
27
29
4.2.1 O Afro-descendente no Mercado de Trabalho........................................... 34
4.2.2 O Afro-descendente na Mídia..................................................................... 38
4.2.3 O Afro-descendente no Ensino Superior: O Ingresso nas Universidades Públicas do Brasil................................................................................................
39
4.3 DEBATE ACERCA DA POLÍTICA DE COTAS PARA AFRO-DESCENDENTES...............................................................................................
40
4.3.1 A política de cotas para Afros-descendentes x A miscigenação no Brasil....................................................................................................................
41
4.3.2 A política de cotas para Afros-descendentes x A segregação racial nos Estados Unidos
42
7
4.3.3 A política de cotas para Afros-descendentes x A inaplicabilidade............
do sistema de cotas para índios
43
4.3.4 A política de cotas para Afros-descendentes x A imagem profissional do Negro...................................................................................................................
44
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 46
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 48
7 ANEXOS.......................................................................................................... 49
8
1 INTRODUÇÃO
A presente obra tem o fito de discutir a efetividade das ações afirmativas e seus
mecanismos, com foco na implementação de reserva de vagas no ensino público
superior para afros-descendentes. As Universidades é um divisor de águas em uma
sociedade racialmente dividida, onde o critério para a incorporação também é o critério
de exclusão social, uma vez que o ensino superior detém as maiores taxas de retorno
para o indivíduo. Portanto, na procura de mobilidade ou ascensão social, este é o nível
que mais influência o ciclo da pobreza.
No Brasil está presente a falta de interesse em não inserir determinado grupo
étnico da sociedade, estes grupos são chamados de “minorias”, mas na realidade são
as maiorias. A não inserção dessas “minorias” se dá por conseqüência de ser
enraizada no decorrer do século um mito chamado de democracia racial, essa
pseudodemocracia nos dá a percepção de que “todos são iguais perante a lei”, e diante
desta falsa percepção a sociedade silencia-se mediante aos impactos, seja estes
flagrantes nas ruas, nos bolsões de pobreza e nos presídios. E, sobretudo no tocante
aos mecanismos e estratégias para o combater dessas desigualdades.
A ausência de afros-descendentes na mídia, nas universidades, nos três
poderes, não há negros juízes, médicos, engenheiros, será a Incapacidade? Falta de
oportunidades? Uma dívida histórica que ainda não foi paga?
A primeira parte desta obra tratará das ações afirmativas que foi implantada de
forma pioneira nos Estados Unidos, a implementação da política de cotas raciais no
Brasil representará, em essência, a mudança de postura do Estado, que de forma
polêmica recolocou em pauta debates públicos no Brasil, [...] “suscitando vigorosas
9
divergências jurídicas sobre a constitucionalidade dessas políticas públicas que
atingiram o seu ponto mais alto com o ajuizamento de mais de duzentos mandados de
segurança individual e de duas representações de inconstitucionalidade perante o
Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, e uma ação direta de
inconstitucionalidade (ADI) perante o Supremo Tribunal Federal, fazendo crer que o
Princípio da Igualdade Formal proclamado pelo ideário da Revolução Francesa há mais
de trezentos anos continua revolucionário no Brasil” (SANTOS, Emerson e LOBATO,
Fátima, 2003).
Neste sentido veremos a aplicabilidade do Principio da Igualdade sob a ótica
Constitucional e de forma adversa a Princípio da Igualdade e a discriminação positiva,
com o objetivo de dar efetividade às políticas públicas, seja elas para deficientes físicos,
mulheres e afros-descendentes.
Amparada pela Constituição Federal, a pesquisa realizada apresentará de
forma técnica, jurídica e sociológica a efetividade das ações afirmativas, com ênfase na
política das “cotas” raciais. Trataremos a história do afro-descendente no Brasil, ou
seja, a dívida histórica da sociedade com o povo negro, o ingresso do afro-descente no
mercado de trabalho, na mídia e de forma eminente, nas universidades públicas.
Outrossim, coloca-se em debate a efetividade das ações afirmativas nas
audiências públicas realizadas nos dias 3, 4 e 5 de março deste ano, e a
constitucionalidade da política de cotas que aguarda ser julgada pelo Supremo Tribunal
Federal.
10
2 AÇÕES AFIRMATIVAS
2.1 CONCEITOS DAS AÇÕES AFIRMATIVAS
As Ações Afirmativas são medidas temporárias e especiais de políticas públicas
inserida pelo Estado, que tem por objetivo o fito de garantir a igualdade de
oportunidades e tratamento entre as pessoas.
As Ações afirmativas são constituídas por mecanismos de cotização de vagas
destinadas grupos caracterizados como minorias na sociedade. Estes grupos podem
ser étnicos ou “raciais”, classes sociais, imigrantes, deficientes físicos, mulheres entre
outros grupos da sociedade que exige participação de reserva de cotas, a fim de serem
tratados de forma igual.
Segundo o entendimento da Professora Carmen Lúcia: "Não se toma a
expressão minoria no sentido quantitativo, senão no de qualificação jurídica dos grupos
contemplados ou aceitos com um cabedal menor de direitos, efetivamente
assegurados, que outros, que detêm o poder" (ROCHA, 1996, p. 87, grifos do autor).
Cabe-nos salientar que as ações afirmativas são mecanismos de políticas
públicas, visando à concretização do principio constitucional da igualdade material e à
neutralização dos efeitos de qualquer forma de discriminação. Vejamos o entendimento
de SANTOS, Emerson e LOBATO, Fátima (2003; P.27):
“Atualmente, as ações afirmativas podem ser definidas como um conjunto de políticas públicas e privadas de caráter compulsório, facultativo ou voluntário, concebidos com vistas ao combate à discriminação racial, de gênero, por deficiência física e de origem nacional, bem como para corrigir ou mitigar os efeitos presentes da discriminação praticada no passado, tendo por objetivo a concretização do ideal de efetiva igualdade e de acesso a bens fundamentais como a educação e o emprego”.
11
É útil salientar que a ação afirmativa não se trata apenas de cotas raciais para
o ingresso do candidato afro-descendente. As leis 9.100/95 e 9.504/97 1lançaram em
torno dessas políticas públicas a necessidade premente de se reiterar de forma efetiva
a isonomia da matéria de gênero no País. As cotas na candidatura feminina, por
exemplo, é apenas o primeiro passo corroborado a este entendimento. É necessário
tempo para avaliações seguras acerca de sua eficácia, mas não dúvidas de que já há
resultados significativos no que tange a representação feminina nas instâncias de
poder.
No tocante a implementação das ações afirmativas, podem ser utilizados, além
do sistema de cotas, o método do estabelecimento de preferências, o sistema de bônus
e os incentivos fiscais (como instrumento de motivação do setor privado). De crucial
importância é o uso do poder fiscal, não como mecanismo de aprofundamento da
exclusão, como é da nossa tradição, mas como instrumento de dissuasão da
discriminação e de emulação de comportamentos (públicos e privados) voltados à
erradicação dos efeitos da discriminação de cunho histórico (GOMES, 2001, p. 147).
As políticas públicas de ações afirmativas estendem-se além das cotas raciais,
à luz do principio da Igualdade, a legislação visa proteger os direitos de pessoas
portadoras de deficiência física. O artigo 37, VIII, prevê expressamente a reserva de
vagas para deficientes físicos na administração pública. Neste parâmetro a permissão
constitucional para adoção de ações afirmativas em relação aos portadores de
deficiência física é expressa. Segundo obra de SANTOS, Emerson e LOBATO, Fátima,
ocorre a partir daí a iniciativa do legislador ordinário em regulamentar os dispositivos
1 A lei nº 9.100/95 que estabeleceu as regras das eleições municipais de 3 de outubro de 1996 foi
arrojada ao definir a votação eletrônica. Foram 32% dos 101.284.121 eleitores votando pelo sistema eletrônico.
12
constitucionais:
De fato, a Lei 8.112/90 (Regime jurídico único dos servidores públicos civis da União) estabelece em seu art.5º, § 2º que “as pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso público para provimento”.
Noutras palavras, ação afirmativa não se confunde nem se limita às cotas. A
política de ação afirmativa não exige apenas a implementação de um percentual de
vagas a serem preenchidas por um determinado grupo da população, mas sim de
mecanismos que estimulem as empresas a buscarem pessoas de outro gênero e de
grupos étnicos e raciais específicos, seja para compor seus quadros, seja em
qualificação profissional ou em promoção.
2.2 ORIGEM E DEFINIÇÕES DAS AÇÕES AFIRMATIVAS
As ações afirmativas tiveram sua origem nos Estados Unidos, mas não se
restringe apenas no país no qual teve seu início e alcançou maior visibilidade,
tampouco as pessoas negras. Na Índia, desde a primeira constituição de 1948,
previam-se medidas especiais de promoção dos Dalits ou Intocáveis, no parlamento
(reserva de assentos), no ensino superior e no funcionalismo publico. Na Malásia foram
adotadas medidas de promoção a etnia majoritária (os Buniputra) sufocada pelo poder
econômico dos chineses e indianos. Na antiga União Soviética adotou-se uma cota de
4% de vagas para habitantes da Sibéria na Universidade de Moscou. Em Israel adotam-
se medidas especiais para acolher os Falashas, judeus de origem etíope. Na Nigéria e
na Alemanha há ações afirmativas para as mulheres; na Colômbia, para os (as)
13
indígenas; no Canadá, para indígenas e mulheres, além de negros (a), como medidas
existentes na África do Sul. (SILVA, Cidinha - Ações Afirmativas; Ed.2003).
Segundo o Ministro Marco Aurélio de Mello (Ótica Constitucional – A igualdade
e 2as Ações Afirmativas) o artigo 3º da Constituição Federal nos dá luz suficiente ao
agasalho de uma ação afirmativa, a percepção de que o único modo de se corrigir
desigualdades é colocar o peso da lei, com imperatividade que ela deve ter em um
mercado desequilibrado, a favor daquele que é discriminado, que é tratado de forma
desigual. Nesse preceito são considerados como objetivos fundamentais da nossa
República: primeiro, construir, preste atenção a esse verbo-uma sociedade livre, justa e
solidária: segundo, garantir o desenvolvimento nacional-novamente temos aqui o verbo
conduzir, não a uma atitude simplesmente estática, mas a uma posição ativa; erradicar
a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; e por
último, no que nos interessa, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem,
raça e sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Pode-se afirmar,
sem receio de equívoco, que se passou de uma igualização estática, meramente
negativa, no que se proíbe a discriminação, para uma igualização eficaz, dinâmica, já
que os verbos “construir”, “garantir”, “erradicar” e “promover” implicam-se em si
mudança de ótica, ao denotar “ação”. Não basta não discriminar. É preciso viabilizar e
encontrar na Carta da República, base para fazê-lo, as mesmas oportunidades.
O Ministro Marco Aurélio Mendes de Faria MELLO na mesma ocasião reitera: “toda e qualquer lei que tenha por objetivo a concretude da Constituição Federal não pode ser acoimada de inconstitucional"
14
2.3 A IMPORTÂNCIA DAS FONTES DO DIREITO NORTE-AMERICANO
Nos países onde já foram implantadas (Estados Unidos, Inglaterra, Canadá,
Índia, Alemanha, Austrália, Nova Zelândia e Malásia, entre outros), elas visam oferecer
aos grupos discriminados e excluídos um tratamento diferenciado para compensar as
desvantagens devidas a sua situação de vitimas do racismo e de outras formas de
discriminação. Resultando-se dessa forma as terminologias de “equal opportunity
policies”, ação afirmativa, ação positiva, discriminação positiva ou políticas
compensatórias. Nos Estados Unidos, onde foram aplicadas desde a década de 60,
elas pretendem oferecer aos afro-americanos as chances de participar da mobilidade
social crescente. Os empregadores foram obrigados a mudar suas práticas, moldando a
medida de contratação, formação e promoção nas empresas visando a inclusão dos
afro-americanos; as universidades foram obrigadas a implantar políticas de cotas e
outras medidas favoráveis a população negra; as mídias e os órgãos publicitários foram
obrigatórios a reservar, em seus programas, determinada porcentagem para
participação de negros.
Qualquer proposta de mudança em beneficio dos excluídos jamais receberia
um apoio unânime, sobretudo quando se trata de uma sociedade racista. Nesse
sentido, a política de ação afirmativa nos Estados Unidos tem seus defensores e seus
detratores. Foi através dela que se deve o crescimento da classe media afro-americana,
que hoje atinge cerca de 3 % de sua população, sua representação no Congresso
Nacional e nas Assembléias estaduais; mais estudantes nos liceus nas universidades;
mais advogados, professores nas universidades, inclusive nas mais conceituadas, mais
15
médicos nos grandes hospitais, e profissionais de todos os setores dos Estados Unidos.
“Apesar das criticas contra a ação afirmativa, a experiência das últimas quatro décadas
nos países que a implantaram não deixam duvidas sobre as mudanças alcançadas”.
(GONCALVES e SILVA, Petronilha Beatriz e SILVERIO, Valter Roberto; Ed.2003).
2.4 O PRINCÍCIO DA IGUALDADE SOB A ÓTICA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
As Constituições sempre versaram, com maior ou menor ênfase sobre o tema da
isonomia. Na Carta de 1824,3 apenas se remeteria o legislador ordinário à equidade. Na
época, convivíamos com a escravatura, e o escravo sequer não era considerado ser
humano. Com a entrada da República e, na Constituição de 1891, previu-se, de forma
categórica, que todos seriam iguais perante a lei. Deste modo, foram eliminados
privilégios decorrentes do nascimento; desconheceram-se foros da nobreza,
extinguiram-se as ordens honoríficas e todas as regalias a elas inerentes, bem como
títulos nobiliárquicos e de conselho. Todavia, permanecemos com uma igualdade
simplesmente formal.
Na Constituição de 1934, Constituição popular, dispôs também que todos seriam
iguais perante a lei e que não haveria privilégios nem distinções por motivos de
nascimento, sexo, raça, profissões próprias ou dos pais, classe social, riqueza crença
religiosa ou idéias políticas. Esta carta de 1934 mostrava um discurso apenas simbólico
caracterizado de ingenuidade, uma vez que corroborava que no território brasileiro
inexistia a discriminação. Sob a luz da Constituição Federal de 1937, desencadeia-se a
3 As Constituições sempre versaram, com maior ou menor amplitude sobre o tema da isonomia. Desde a Carta de 1824 até a Constituição Federal de 1988, ocorreram mudanças significativas da efetividade do princípio da igualdade.
16
consolidação das leis trabalhistas, mediante a qual se vedou a diferença entre no
tocante a remuneração por prestações de serviços, com base no sexo, nacionalidade
ou idade. Na prática como ocorre até os dias de hoje, o homem continuou a perceber
remuneração superior à da mulher. Promulgou-se então o Código Penal de 1940 que
entrou em vigor em 1942, este também não foi inserido de forma eficaz a discriminação,
pois apenas tratava de crimes contra a honra e aqueles praticados contra o sentimento
religioso. Já a Constituição de 1946, reafirmou o princípio da igualdade, inclinando-se a
propaganda de preconceitos de raça ou classe ou raça. Introduzindo-se então de forma
clara, mais perceptível à repressão do preconceito. Sob a proteção dessa Carta, deu-se
a Declaração Universal dos Direitos do Homem: “todo o homem tem capacidade para
gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta declaração, sem distinção de
qualquer espécie, seja cor, raça, sexo, língua, opinião pública ou de outra natureza,
origem nacional ou social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição”. Admitindo-
se então a verdadeira situação havida no Brasil, em relação ao problema.
No Brasil, a primeira lei penal sobre a discriminação surgiu em 1951, com dois
mentores: Afonso Arinos e Gilberto Freire. Só então foi reconhecida a discriminação no
Brasil. E foi sintomática a justificativa dessa lei, a qual apontava revelações de racismo
que vinha acontecendo em carreiras civis, como a da diplomacia, e em militares
especialmente Marinha e a Aeronáutica. Ressaltou-se que cumpre ao Estado a adotar
uma postura que sirva de norte, que sinalize ao cidadão comum. E como será que o
Judiciário atuou diante desse dilema? Enquadrou a discriminação no tocante a raça ou
cor, como uma contravenção penal e não crime, mostrando-se excessivamente
escrupuloso construindo uma jurisprudência segundo a qual era necessária prova, pelo
ofendido do especial motivo de agir da parte contrária: Resultado prático:
17
pouquíssimas condenações , sob o ângulo da simples contravenção ocorrem. Afonso
Arinos insere uma crítica a Folha de São Paulo, em 8 de junho de 1980: “... a lei
funciona, vamos dizer, à brasileira, através de uma conotação mais do tipo sociológico,
do que a rigor jurídico...” Em 1964 o Brasil veio a subscrever a Convenção nº 111 da
Organização Internacional do Trabalho, que teve a virtude de definir em si, o que se
estende como discriminação: “ Toda distinção,exclusão ou preferência , com base em
raça, cor, sexo, religião , opinião pública, nacionalidade ou origem social, que tenha
efeito de anular a igualdade de oportunidade ou de tratamento em emprego ou
profissão.” Na Constituição Federal de 1967 não se inovou, permaneceu a vala da
igualdade simplesmente formal, dispondo-se então que “todos são iguais perante a lei..”
Previu-se no entanto, que o preconceito de raça seria punido pela lei, e nesse ponto,
talvez, tenha-se dado um passo a mais ao empresta-se estatura maior,
constitucionalizando –se portanto à punição do preconceito. A Constituição Federal de
1988 evidencia o princípio da igualdade formal, não por deficiência de seu respectivo
conteúdo, mas pela ausência de vontade pública de implementá-la, adotou-se pela
primeira vez preâmbulo, o que é sintomático, sinalizando uma nova direção, uma
mudança de postura, no que revela a “nós” todos, e não apenas os constituintes, uma
vez que agiram em nosso nome: “representantes do povo brasileiro (...) instituir um
Estado Democrático de Direito destinado a assegurar o exercício de direitos sociais e
individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a
justiça...”.
18
2.4.1 O Princípio Material e as Ações Afirmativas: A Discriminação Positiva
A dimensão positiva do principio da Igualdade encontra sustentação em três
espécies de regras constitucionais. A primeira, de teor rigorosamente igualitarista, de
alta densidade semântica, atribui ao Estado o dever de abolir a marginalização e as
desigualdades, destacando-se entre outras:
Art 3°, III - erradicar a (...) marginalização e reduzir as desigualdades sociais (...) Art 23°, X combater os fatores da marginalização; Art 170°, VIII- redução das desigualdades (...) sociais;(...)
Já uma segunda espécie de regras fixa textualmente prestações positivas
destinadas à promoção e integração dos segmentos desfavorecidos, merecendo realce:
Art 3° , IV- promover o bem de todos , sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação; (...) Art 23, X- combater as causas da pobreza e os fatores da marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos; (...) Art.227, II- criação de programas (...) de integração social dos adolescentes portadores de deficiências;(...)
Deste modo, a Constituição de 1988 e seus desdobramentos
infraconstitucionais passaram a prescrever uma nova modalidade de discriminação,
discriminação justa, positiva, o que resultou em um alargamento substantivo do
conteúdo semântico do princípio da igualdade, bem como na ampliação objetiva das
obrigações estatais em face do tema.
Reside no próprio Texto Constitucional, insistimos, o critério distintivo da
19
discriminação disciplinada pela Constituição Federal: uma contrária e a outra conforme
o princípio da igualdade, de modo que, não sendo atentatória dos direitos e liberdades
fundamentais, a discriminação é plenamente admitida no sistema jurídico brasileiro.
Neste sentido Clèmerson Merlin CLÈVE em artigo publicado na Revista On-line A & C
assevera que, é garantido o esteio constitucional às políticas de ações afirmativas, pois,
hodiernamente, o princípio da igualdade assume uma função bem diferente daquela
concebida nos séculos XVII e XVIII, de uma garantia negativa para uma garantia
positiva – sempre, do Estado p/ o cidadão, vejamos:
(...) “não há dúvida de que a Constituição de 1988 acolheu a transformação do princípio da igualdade, ou seja, a passagem de um conceito constitucional estático e negativo a um conceito dinâmico e positivo. Assim, o princípio constitucional da igualdade não representa mais um dever social negativo a um conceito dinâmico e positivo. Assim, o princípio constitucional da igualdade não representa mais um dever negativo, mas sim uma obrigação positiva, cuja expressão democrática mais atualizada é a ação afirmativa”. [no original sem grifos]4
Conforme preceitua o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Benedito
Barbosa, as ações afirmativas “consistem em políticas públicas (e também privadas)
voltadas à concretização do Principio Constitucional da Igualdade Material e a
neutralização dos efeitos da discriminação racial, de gênero, de idade, de origem
nacional e de compleição física. Impostos ou sugeridas pelo Estado, por seus entes
vinculados e ate mesmo por entidades puramente privadas, elas visam a combater não
somente as manifestações flagrantes de discriminações de fundo cultural, estrutural,
enraizada na sociedade”. (GOMES; Ed.2001)
4 Revista de Direito Administrativo & Constitucional, v.3, n.11, p.29-35, jan./mar. 2003.
20
Neste sentido, conceitua J. J. GOMES CANOTILHO:
"Ser igual perante a lei não significa apenas aplicação igual da lei. A lei, ela própria, deve tratar por igual todos os cidadãos. O princípio da igualdade dirige-se ao próprio legislador, vinculando-o à criação de um direito igual para todos os cidadãos".
Assim sendo, o direito fundamental à igualdade que nos menciona o art. 5º,
caput, I -, calcado no princípio da igualdade, terá de ser tutelado de modo que sua
violação, em princípio, implicará na inconstitucionalidade do dispositivo normativo.
Não obstante, o tema comporta uma visão mais aprofundada do que se
entende por igualdade. Discorrendo sobre a igualdade na Constituição portuguesa de
1976 e abordando a igualdade relacional, J. J. GOMES CANOTILHO, assevera:
"Exige-se uma igualdade material através da lei, devendo tratar-se por ‘igual
o que é igual e desigualmente o que é desigual’. Diferentemente da estrutura
lógica formal de identidade, a igualdade pressupõe diferenciações. A igualdade
designa uma relação entre diversas pessoas e coisas". (grifos do original).
21
2.5 POLÍTICAS PÚBLICAS DE AÇÕES AFIRMATIVAS
No Brasil têm-se implantado diversas formas de políticas públicas, com o
objetivo de erradicar desigualdades existentes na sociedade, são sistemas de cotas
para deficientes, mulheres e de gênero, estendendo-se até o PROUNI, com a finalidade
de inserir o estudante que não possui condições econômicas, a concorrer a uma bolsa
para universidade, baseando-se no principio da promoção da igualdade.
Consoante ao artigo 7º, inciso XX, ao cogitar da proteção do mercado quanto à
mulher e ao direcionar a introdução de incentivos; no artigo 37, inciso III, ao versar
sobre a reserva de vagas, portanto, a existência de quotas nos concursos públicos,
para os deficientes; no artigo 170, ao dispor sobre as empresas de pequeno porte,
prevendo que devem ter tratamento preferencial.
2.5.1 Reserva de Vagas para Deficientes
A lei nº 8.112/90 fixa a reserva de 20% das vagas, nos concursos públicos, para
os deficientes físicos. O objetivo da lei é fomentar a oportunidade de trabalho para os
deficientes físicos, ela trata de forma simplista um problema bastante complexo, qual
seja a falta de qualificação dos trabalhadores no mercado e, conseqüentemente, a
impossibilidade de cumprimento das cotas pelas empresas. O resultado é a aplicação
de multas que variam entre R$ 1.195,13 a R$ 119.512,33. Segundo as próprias
empresas e o Ministério do Trabalho, a dificuldade para o preenchimento das vagas
está na qualificação dos candidatos. Dados apresentados pelo Sistema Nacional de
Emprego (Sine) apontam que em todo o Brasil, durante o ano de 2007, foram
disponibilizadas 36.837 vagas. Destas, apenas 7.206 (20%) foram preenchidas. No
22
Estado de São Paulo, apenas 2.122 (11%) foram preenchidas, contra as 19.104 vagas
oferecidas.5
2.5.2 Cotas para Mulheres no Tribunal Superior Eleitoral
A discriminação de gênero, fruto de uma longa tradição patriarcal que não
conhece limites geográficos, tampouco culturais, é do conhecimento de todos os
brasileiros.
A Constituição 1988, art. 5°, I, não apenas aboliu essa discriminação
chancelada pelas leis, mas também, através dos diversos dispositivos
antidiscriminatórios já mencionados antes, permitiu que buscassem mecanismos aptos
a promover a igualdade entre homens e mulheres.
A Lei 9.100/95 expressamente instituiu o percentual mínimo de 20% de
mulheres candidatas nas eleições de 1996, com o objetivo de aumentar a
representação das mulheres nas instâncias de poder. Posteriormente, a Lei nº 9.504/97
aumentou o percentual para 30% (ficando definido um mínimo de 25% transitoriamente
em 1998).
Assim para minimizar essa flagrante desigualdade existente em detrimento das
mulheres a modalidade de ação afirmativa, hoje corporificada nas Leis Eleitoral nº
9.100/95 e 9.504/97, no que dispõe sobre a participação da mulher, não como simples
eleitora, o que foi conquistado na década de 30, mas como candidata. Há muito tempo
entidades engajadas na defesa dos direitos das mulheres reclamam o cumprimento da
cota. Embora formem a maioria do eleitorado, as mulheres ocupam menos de 10% das
5 Embora o objetivo da lei seja fomentar a oportunidade de trabalho para os deficientes físicos, ela trata
de forma simplista um problema bastante complexo, qual seja a falta de qualificação dos trabalhadores no mercado e conseqüentemente, a impossibilidade de cumprimento das cotas pelas empresas. Texto extraído da Revista Deficiente On-line, 2010.
23
cadeiras do Congresso, percentual muito inferior ao registrado em países da Europa e
da América do Norte ou mesmo em nações vizinhas, como Argentina, e africanas, como
Moçambique.
A Lei 9.100/95 e 9.504/97 tiveram a virtude de lançar o debate em torno das
ações afirmativas e, sobretudo, de tornar evidente a necessidade premente de se
implementar de maneira efetiva a isonomia em matéria de gênero em nosso país.
3 AS AÇÕES AFIRMATIVAS NO BRASIL
3.1 AS AÇÕES AFIRMATIVAS NO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
A implantação das cotas a determinados grupos étnicos ou sociais às
universidades ou cargos públicos culminou em grande repercussão nacional, o Superior
Tribunal de Justiça enfrentou a temática das ações afirmativas em dois julgados. Dentre
os acórdãos (REsp 1.132.436/PR), entendeu-se constitucional o ingresso, mediante
cotas, às vagas destinadas aos estudantes de universidades; em outra decisão, fixou-
se a constitucionalidade de lei estadual, prevendo a reserva de cargos para afro-
descendentes.
No Supremo Tribunal Federal, ainda não existe uma decisão conclusiva sobre o
tema. Contudo, em breve, ele será analisado na Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental (ADPF) 186, proposta pelo partido Democratas, que questiona a
criação de cotas para negros na Universidade de Brasília (UnB). Da mesma forma, o
assunto encontra-se sub judice no Recurso Extraordinário nº 597285, que questiona a
24
reserva de vagas para estudantes do ensino público e estudantes negros adotada
pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Audiências públicas foram designadas e discutidas nos dias 03, 04 e 05 de
março nela 42 debatedores favoráveis e contrários ao benefício discutiram o tema com
o objetivo de apresentar subsídios aos ministros do Supremo que vão julgar uma ação
do partido Democratas que contesta a política na Universidade de Brasília (UnB).
O ministro do STF Ricardo Lewandowski, destaca a contribuição decisiva sobre
os votos dos 11 Ministros da Suprema Corte: “Fiquei extremamente bem impressionado
com o alto nível e a qualidade dos debates. Tanto aqueles que foram favoráveis quanto
aqueles que falaram contra as cotas, apresentaram intervenções muito substantivas,
que eu tenho certeza que contribuirão para que os ministros dessa Corte façam um
juízo mais abalizado no julgamento”.
O ministro da Igualdade Racial, Edson Santos, observou a efetividade das cotas
raciais no Brasil: “Vai oferecer uma perspectiva de futuro para uma parcela expressiva
de nosso povo, de jovens negros que sonham com a universidade. Cabe ao Estado
assegurar isso à população”.
25
Vejamos as decisões do STJ sobre o tema:
RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO. ANULAÇÃO DO CERTAME. DESCUMPRIMENTO DE LEI ESTADUAL. RESERVA DE VAGAS PARA AFRO-DESCENDENTES. CONSTITUCIONALIDADE. IMPOSSIBILIDADE DE A AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA SOBREPOR-SE À LEI. INEXISTÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO. RECURSO DESPROVIDO. 1. A reparação ou compensação dos fatores de desigualdade factual com medidas de superioridade jurídica constitui política de ação afirmativa que se inscreve nos quadros da sociedade fraterna que se lê desde o preâmbulo da Constituição de 1988. 2. A Lei Estadual que prevê a reserva de vagas para afro-descendentes em concurso público está de acordo com a ordem constitucional vigente. 3. As Universidades Públicas possuem autonomia suficiente para gerir seu pessoal, bem como o próprio patrimônio financeiro. O exercício dessa autonomia não pode, contudo, sobrepor-se ao quanto dispõem a Constituição e as Leis. 4. A existência de outras ilegalidades no certame justifica, in casu, a anulação do concurso, restando prejudicada a alegação de que as vagas reservadas a afro-descendentes sequer foram ocupadas. Recurso desprovido. (RMS 26.089/PR, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 22/04/2008, DJe 12/05/2008)
ADMINISTRATIVO – AÇÕES AFIRMATIVAS – POLÍTICA DE COTAS – AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA – ART. 53 DA LEI N. 9.394⁄96 – INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO DO INC. II DO ART. 535 DO CPC – PREQUESTIONAMENTO IMPLÍCITO – MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL EM FACE DE DESCRIÇÃO GENÉRICA DO ART. 207 DA CF⁄88 – DEFINIÇÃODE POLÍTICAS PÚBLICAS DE REPARAÇÃO – CONVENÇÃOINTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL – DECRETO N. 65.810⁄69 – PROCESSO SELETIVO DE INGRESSO – FIXAÇÃO DE CRITÉRIOS OBJETIVOS LEGAIS, PROPORCIONAIS E RAZOÁVEIS PARA CONCORRER A VAGAS RESERVADAS – IMPOSSIBILIDADE DO PODER JUDICIÁRIO CRIAR EXCEÇÕES SUBJETIVAS – OBSERVÂNCIA COMPULSÓRIA DO PRINCÍPIODA SEGURANÇA JURÍDICA. 1. A oposição de embargos declaratórios deve acolhida quando o pronunciamento judicial padecer de ambiguidade, de obscuridade, de contradição, de omissão ou de erro material, os quais inexistem neste caso. Não há, portanto, violação do art. 535 do CPC. 2. Admite-se o prequestionamento implícito, configurado quando a tese jurídica defendida pela parte é debatida no acórdão recorrido. 3. A Constituição Federal veicula genericamente os contornos jurídicos de diversos institutos e conceitos, deixando, na maioria das vezes, o seu trato específico para as normas infraconstitucionais. O assento constitucional de um instituto ou conceito, sem detalhamentos e desdobramentos, não afasta a competência desta Corte quando a Lei Federal disciplina imperativos específicos. 4. Ações afirmativas são medidas especiais tomadas com o objetivo de assegurar progresso adequado de certos grupos raciais, sociais ou étnicos ou indivíduos que necessitem de proteção, e que possam ser necessárias e úteis para proporcionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo ou exercício de direitos humanos e liberdades fundamentais, contanto que, tais medidas não conduzam, em consequência, à manutenção de direitos separados para
26
diferentes gruposraciais, e não prossigam após terem sido alcançados os seus objetivos. 5. A possibilidade de adoção de ações afirmativas tem amparo nos arts. 3º e 5º, ambos da Constituição Federal⁄88 e nas normas da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, integrada ao nosso ordenamento jurídico pelo Decreto n. 65.810⁄69. 6. A forma de implementação de ações afirmativas no seio de universidade e, no presente caso, as normas objetivas de acesso às vagas destinadas a tal política pública fazem parte da autonomia específica trazida pelo artigo 53 da Lei n. 9.394⁄96, desde que observados os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Portanto, somente em casos extremos a sua autonomia poderá ser mitigada pelo Poder Judiciário, o que não se verifica nos presentes autos. 7. O ingresso na instituição de ensino como discente é regulamentado basicamente pelas normas jurídicas internas das universidades, logo a fixação de cotas para indivíduos pertencentes a grupos étnicos, sociais e raciais afastados compulsoriamente do progresso e do desenvolvimento, na forma do artigo 3º da Constituição Federal⁄88 e da Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, faz parte, ao menos – considerando o nosso ordenamento jurídico atual – da autonomia universitária para dispor doprocesso seletivo vestibular. 8. A expressão “tenham realizado o ensino fundamental e médio exclusivamente em escola pública no Brasil”, critério objetivo escolhido pela UFPR no seu edital de processo seletivo vestibular, não comporta exceção sob pena de inviabilização do sistema de cotas proposto. Recurso especial provido em parte. (RECURSO ESPECIAL Nº 1.132.476 – PR, Relator: Humberto Martins, Informativo STJ 411).
4 ACOES AFIRMATIVAS PARA AFRO-DESCENDENTES
As ações afirmativas para Afros-descendentes se trata de mecanismos com o
foco na implantação de medidas para inserção do negro na sociedade, sendo uma das
principais estratégias dos movimentos negros na luta para superação do racismo e das
dificuldades objetivas enfrentadas pelos afros-descendentes no Brasil.
As ações afirmativas não se restringe a educação. O senador Paulo Paim
(PT/RS) e autor de um projeto de lei que prevê uma cota de 25% de afros-
descendentes nos programas de TV e de 40% nas publicidades.
O tema das ações afirmativas está na ordem do dia e essa publicação dá conta
de experiências no âmbito das mesmas, construídas com base no diagnóstico da
situação dos alunos negros na educação, no conhecimento de estigmas que marcam
27
relação aluno negro /escola professor em prejuízo deste, ao perpetuar, pelo tratamento
desigual, a indigência cultural e educacional a que estão expostos os segmentos
empobrecidos da população. Desse diagnóstico resulta a formulação de procedimentos
passíveis de serem apropriados por educadores e gestores públicos interessados no
avanço da implantação das ações afirmativas para Afros-descendentes no
Brasil.(Carneiro, Sueli-Geledés; Ed. 2003).
4.1 PECULIARIDADES DA REALIDADE DO BRASIL
As experiências feitas pelos países que convivem com o racismo poderiam
servir de inspiração ao Brasil, respeitando as peculiaridades culturais e históricas do
racismo a moda nacional. Estudos acadêmicos recentes, qualitativos e quantitativos,
realizados pelas instituições respeitadíssimas como o IBGE e o IPEA, não deixam
duvida sobre a gravidade de exclusão do negro. Fazendo um cruzamento sistemático
entre a pertença racial e os indicadores econômicos de renda, emprego, escolaridade,
classe social, idade, situação familiar e região ao longo de mais de 70 anos desde
1929. (GONCALVES e SILVA, Petronilha Beatriz e SILVERIO, Valter Roberto;
Ed.2003).
Ricardo Henriques chega à conclusão de que “no Brasil, a condição racial
constitui um fator de privilegio para brancos e de exclusão e desvantagem para os não-
brancos. Algumas cifras assustam quem tem preocupação social aguçada e
compromisso com a busca de igualdade e equidade nas sociedades humanas”
(Henriques, Ed.2001).
28
- Do total dos universitários brasileiros, 97% são brancos, sobre 2% de negros e 1 % de descendentes orientais. - Sobre 22 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza, 70 % deles são negros. - Sobre 53 milhões de brasileiros que vivem na pobreza, 63% deles são negros. (Henriques, Ed.2001).
A questão fundamental exposta é como aumentar o contingente negro no
ensino universitário e superior de modo geral, tirando-o da situação de 2% em que se
encontra depois de 114 anos de abolição em relação ao contingente branco que,
sozinho, representa 97 % de brasileiros universitários. E justamente na busca de
ferramentas e de instrumentos apropriados para acelerar o processo de mudança
desse quadro injusto em que se encontra a população negra que se coloca a proposta
das cotas apenas como um instrumento ou caminho, entre tantos a serem
incrementados.
O art. 52 do Estatuto da Igualdade racial “Capítulo VII – Do sistema de cotas” dispõe:
“Art. 52º. Fica estabelecida a cota mínima de vinte por cento para a população afro-brasileira no preenchimento das vagas relativas: I- aos concursos para investidura em cargos públicos na administração pública federal, estadual, distrital e municipal, direta e indireta; II- aos cursos de graduação em todas as instituições de educação superior do território nacional; III- aos contratos do Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES).
Com o plano das normas infraconstitucionais, destaca-se entre outras a Lei n°
10.678, de 23 de maio de 2003, que cria a Secretaria Especial de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial, da Presidência da República. Dessa forma a
Constituição de 1988 e seus desdobramentos infraconstitucionais passaram a
prescrever uma nova modalidade de discriminação, a discriminação justa, o que
resultou num alargamento substantivo do conteúdo semântico do principio da
29
igualdade, bem como na ampliação objetiva das obrigações estatais em face do tema.
O que se discute não é a cota, mas sim o ingresso e a permanência dos negros
nas universidades públicas, no mercado de trabalho e em posições jamais encontradas
na pirâmide social. A cota é apenas um instrumento, é uma medida emergencial
enquanto buscam-se outros caminhos.
4.2 BREVE ANÁLISE DA TRAJETÓRIA DO AFRO-DESCENDENTE NO BRASIL:
A DÍVIDA HISTÓRICA
O afro-descendente no Brasil traz em suas raízes um esquecido passado
marcado por um desvinculo do homem afro-descendente de sua origem africana, uma
condição de escravo e o estigma de ser um objeto de uso como instrumento do
trabalho. Durante o período da escravidão povos africanos trazidos para o Brasil,
perderam suas raízes, e conseqüentemente sua identidade. A maior forma de tirar a
identidade do ser humano é retirando-o de si suas origens. Quando os escravos
chegaram ao Brasil, passaram por um processo de “batismo“ imposto pela igreja
católica, então nomes e sobrenomes africanos que faziam a ligação ao seu passado,
foram trocados por nomes de santos, de forma clara podemos ver até os dias de hoje
muitos nomes e sobrenomes semelhantes em nossa sociedade. O processo de
negação da importância dos elementos da cultura africana impõe aos afros-
descendentes uma desvalorização pessoal e desenvolve mecanismos de exclusão da
população afro-descendente por parte do grupo considerado igual.
No Brasil, constatamos uma expressiva presença demográfica de afros-
descendentes conforme o último senso, na população brasileira, uma porcentagem
30
significante de pessoas de origem africana. Entretanto, como o brasileiro esteve
submetido a uma “ideologia do embranquecimento”, muitas pessoas cuja forma física
contém traços que caracterizam o afro-descendente, negam tais características, ao
responderem o recenseamento, de forma a não refletir, de forma veemente o perfil
etno-racial do brasileiro, isto nos permite constatar ser o índice bem superior ao
apresentado nas pesquisas. Cabe-nos salientar que uma das grandes ironias nacionais
é o fato de os afros-descendentes serem discriminados como “minoria” quando na
verdade, constituem um grupo cujo número atinge quase ou mais da metade da
população brasileira.
Os valores ancestrais africanos, incluídos no processo de desenvolvimento dos
países que receberam povos vindos da África, passaram a participar de sua
constituição sociocultural. A cultura negra nas Américas foi determinante na cosmovisão
desenvolvida nesses países a partir de três grandes fenômenos: a vinda dos europeus,
o genocídio das populações africanas. O imaginário coletivo desenvolvido em países
formados por uma pluralidade de grupos étnicos, como é o caso do Brasil, é
compartilhado evidentemente, por todos os integrantes da sociedade. O
desenvolvimento da identidade do brasileiro está absolutamente condicionado à
participação dos africanos na vida brasileira e sua sabedoria está presente nas
manifestações culturais nos gestos e nas relações. “Assim, os valores africanos
preservados ao longo da sucessão de gerações, mostram-se tacitamente ativos e
constituintes do processo da formação da cidadania”. (Ribeiro, R.I. Alma africana no
Brasil. Os oirubás. São Paulo, Oduduwa,1996)
Em 1941, M. Herskovits, autor de vários trabalhos sobre a cultura afro-
americana, publicou The myth of the negro past. Declarava logo a intenção de contribuir
31
para "melhorar a situação inter-racial" nos EUA, realizando pesquisas sobre a cultura de
origem africana nesse país. Construía, assim, livro para ajudar a compreender a história
do negro, contrapondo-se a cinco "mitos" então vigentes. Primeiro, que os negros,
como crianças, reagem pacificamente a "situações sociais não satisfatórias"; segundo,
que apenas os africanos mais fracos foram capturados, tendo os mais inteligentes
fugido com êxito; terceiro, que os escravos, como provinham de todas as regiões da
África, falavam diversas línguas, vinham de culturas variadas e tinham sido dispersos
pelo país, não conseguiram estabelecer um "denominador cultural" comum; quarto, que,
embora negros da mesma origem tribal conseguissem, às vezes, manter-se juntos nos
EUA, não conseguiam manter a sua cultura porque esta era inferior à dos seus
senhores; quinto, que "o negro é assim um homem sem um passado". (Texto Extraído
da Internet, Revista Fapesp, 2004)
Neste sentido Edison Carneiro, no artigo “Nina Rodrigues”, escrito em 1956
reitera a obra do autor de Africanos no Brasil, por esta ter proposto uma forma
comparativa para o estudo do comportamento do negro no Brasil e na África. Edison
Carneiro e Arthur Ramos dão continuidade a este método, sendo citado a seguir por
Edison Carneiro:
“Línguas, religiões e folclore eram elementos dessa comparação a que a história dava a perspectiva final. Deste modo ganhou o negro sua verdadeira importância em face da sociedade brasileira”.6
6 Compare o último período da citação de Edison Carneiro com esta citação de Herskovits, "E o negro
americano, ao descobrir que tem um passado, adquire uma segurança maior de que terá um futuro”, e ter-se-á uma medida objetiva de quanto os propósitos político-intelectuais desses autores eram coincidentes, levando-se em conta, é claro, as diferenças entre a sociedade americana e a sociedade brasileira.
32
Trata-se, portanto de reencontrar a história do negro pela via da valorização de
sua cultura, na África e no país de destino, fazendo-o no Brasil, ou onde quer que
fosse, usufruindo-se de dignidade e da distinção que o passaporte dos ritos, das
línguas, da complexidade cultural de suas origens lhe conferia.
O Brasil, em relação às outras nações americanas, foi o último país a escravizar
o maior número de africanos e foi o último país do mundo cristão a abolir a escravidão,
em 1888. Apesar desses dados, entre 1900 e 1950, o Brasil cultivou, com sucesso,
uma imagem de si mesmo como a primeira “democracia racial” do mundo, sendo a
convivência entre brancos e negros colocada como harmoniosa e igualitária. Essa
concepção, tornada discurso oficial, é, na verdade, um mito, hoje questionado pelos
brasileiros. (Ricardo Franklin Ferreira-Afro-descendente: Identidade em Construção).
Neste entendimento, a democracia racial instaura-se como um ideal político e
social programático, coincidindo com a tendente redemocratização do país em 1945, e
também com o fim da 2º Segunda Guerra Mundial, culminando em um desenvolvimento
no campo educacional, cultural e até mesmo psicanalítico, como por exemplo, o Teatro
Experimental do Negro, no Rio de Janeiro, que visa a reforçar o sentimento do orgulho
e da distinção em ser negro, contribuindo para capacitá-lo a enfrentar seu pior inimigo
na sociedade, o preconceito racial. O Brasil difere de outros lugares, como o Sul dos
Estados Unidos e a África do Sul, onde a discriminação foi prescrita por lei. Por outro
lado, atrás desta democracia encontra-se um racismo que não é explicito, o que nos dá
uma falsa impressão de democracia racial, mas que na realidade esconde um
preconceito enraizado desde o inicio do século XX pela sociedade, resultando em uma
dificuldade maior em combater a discriminação racial.
33
O Ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa afirma: "Em países
como o Brasil, onde a discriminação é velada, dissimulada, não assumida, isso tem um
efeito devastador nas políticas anti-discriminatórias adotadas, contribuindo para a
estigmatização daquelas poucas pessoas que ousam desafiar o status quo e que se
vêem conseqüentemente isoladas e impotentes." (GOMES; Ed. 2001).
Cabe-nos constatar que de outro modo, os países onde a segregação de
brancos e negros se apresentou de forma clara, com a institucionalização da
discriminação nos EUA e África do Sul, um grande número de pessoas foi incentivada a
se mobilizar contra a proliferação do racismo, visando ter seus direitos civis amparados,
levando o povo negro a lutar contra desigualdade e a desenvolver um mecanismo de
defesa contra esta condição.
Com o ensejo de buscar a eficácia dos direitos civis norte-americanos, em
1988, no ano centenário da Abolição da Escravatura, foi promulgada a nova
Constituição da República Federativa do Brasil. Nela, em decorrência das lutas pelos
direitos civis dos negros, ficou consagrado, no Título II – Dos direitos e garantias
fundamentais-, “Capítulo I – Dos direitos e deveres individuais e coletivos; Artigo 5º-
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, a
liberdade, a igualdade, a segurança e a propriedade, nos termos seguintes:
Artigo 5º, XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos de lei.
A regulamentação desse parágrafo veio em seguida pela lei nº 7716, de 5 de
janeiro de 1989, modificada pela lei nº 008882 de 3 de junho de 1994 e novamente
34
modificada pela lei nº 9459, que acrescentou também ao Artigo 140 do Código Penal
relativo ao crime de injúria por utilização de elementos referentes a raça, cor , etnia,
religião ou origem”, determinando pena de “ reclusão de um a três anos e multa”.
Os avanços mostrados nos remetem a uma eminente reconstrução da história do afro-
descendente, o próximo passo seria a implantação das ações afirmativas, cujo modelo
poderia ser buscado nos EUA nos anos de 1960 e recentemente no governo de Nelson
Mandela, na África do Sul.
4.2.1 O Afro-descendente no Mercado de Trabalho
Nos anos de 1920, as próprias organizações negras refletiam a visão de que o
principal problema da população afro-descendente no Brasil estava nela mesma,
consoante as condições precárias de sua educação formal, a fraqueza das
organizações em si mesmas e a conseqüente falta de habilidade para concorrer às
disputas no mercado de trabalho, tudo isto com a constante luta do preconceito da cor,
que dificultava e obstruía a integração social e discriminava o negro pela cor na
sociedade.
São palavras de um trecho transcrito do editorial “Ironia de um congresso”, do
Jornal Folha da Manhã (atual Folha de S. Paulo), publicado no domingo, 12 de fevereiro
de 1930:
“Continua o nosso reacionário: Por que motivo os negros, em grande maioria, moram nos cortiços? A resposta asseguro-lhe, é muito fácil: a pouca valia que imprimem aos seus trabalhos; a pouca ou nenhuma cultura e a acentuada dolência dos seus passos; a inércia e a falta de vontade e iniciativa para uma reação na trilha do progresso, são as causas principais que obrigam os negros às misérias do cortiço”.7
7 O trecho transcrito faz parte do editorial "Ironia de um congresso", do jornal Folha da Manhã (atual Folha de S.Paulo), publicado num domingo, 12 de janeiro de 1930. Trata-se de uma crítica ao movimento da Mocidade Negra, uma das manifestações características da época. Para Ferreira, a imagem negativa do negro é uma questão histórica e cultural. "Após a abolição, os negros foram jogados para fora do mercado de trabalho e passaram de escravos para desempregados, ociosos, inferiores. Nossa cultura construiu o negro numa condição submissa".
35
Recentemente as estatísticas apontaram um déficit do número de negros
inseridos no mercado de trabalho, a taxa de desemprego entre negros em São Paulo, é
40% maior que entre brancos, desmistificando assim uma sociedade que impõe uma
barreira parcial e desfavorável para o ingresso do afro-descendente no mercado de
trabalho. No sentido cognitivo, o afro-descendente que almeja preencher determinada
vaga precisa ser superior aos demais candidato, seja por escolaridade, habilidade ou
domínio em outras línguas, podendo ainda assim correr o risco de ao ser avaliado no
critério “perfil” ser desaprovado para o corporativo da empresa.
Pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam
uma precária inserção do negro no mercado de trabalho, se compararmos com os não-
negros na ocupação em diferentes postos e em salários. Vejamos a porcentagem de
desemprego e de rendimento mensal nas tabelas a seguir:
Tabela 1 - Taxas de desemprego total, por sexo e cor Regiões metropolitanas do Brasil – 2002
Negros Não-Negros Regiões Metropolitanas
Total Mulheres Homens Total Mulheres Homens
Belo Horizonte 19,9 22,4 17,9 16,1 19,9 12,8
Distrito Federal
23,0 25,2 21,0 17,2 21,2 13,3
Porto Alegre 22,7 24,7 20,8 14,9 17,9 12,5
Recife 22,4 25,8 19,8 19,1 23,3 15,3
Salvador 29,0 32,0 26,2 19,9 21,9 17,9
São Paulo 23,9 27,4 21,0 16,7 20,1 14,0
Fonte: Convênio DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênios regionais. PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego Elaboração: DIEESE
36
Obs.: (a) Dados com base na média do período de janeiro a junho de 2002 (b) Negros inclui pretos e pardos. Não-negros inclui brancos e amarelos
(Tabela extraída pela Internet, Fonte: Convênio DIEESE/SEADE, MTE/FAT e convênios regionais,PED - Pesquisa de Emprego e Desemprego Elaboração: DIEESE)
Tabela 2 - Distribuição das famílias por classe de rendimento médio mensal familiar per capita,
segundo a cor do chefe (em %) Brasil - 1999
Famílias segundo a cor do chefe Classes de
Rendimento Branca Preta Parda
Até ½ salário mínimo
12,7 26,2 30,4
Mais de ½ salário mínimo
20,0 28,6 27,7
Mais de 1 a 3 salários mínimos
37,3 31,1 27,7
Mais 3 a 5 salários mínimos
11,1 4,3 4,4
Mais de 5 salários mínimos
14,1 3,4 3,2
(Tabela extraída da Internet, Fonte: IBGE. Síntese de Indicadores Sociais, 2000) Elaboração: DIEESE
Conforme demonstrado nas tabelas acima, a porcentagem de desemprego e de
rendimentos mensais da população negra são desiguais, se comparados à população
não-branca (brancos e amarelos).
37
Para o pesquisador do Departamento Intersindical de Estatística e de Estudos
Socioeconômicos (Dieese) Clemente Ganz Lúcio, um dos fatores que impossibilita a
inserção no afro-descendente no mercado de trabalho é a precariedade em qualidade
de ensino. Vejamos o que Clemente Ganz Lúcio afirma:
“Os avanços que podem ser conquistados dependem de vários fatores, entre eles, do crescimento econômico, do processo de desenvolvimento, dos ganhos políticos, da democracia. No caso específico dos negros, um dos fatores que contribuem para essa desigualdade é educação, ou seja, o acesso à educação de qualidade. Enquanto os negros não chegaram no mesmo ritmo ao ensino universitário, ao ensino técnico, aos postos de trabalho de qualidade, a diferenciação de renda não vai cair”.
Neste sentido, cabe destacar o entendimento de SANTOS, Emerson e
LOBATO, Fátima:
“Como a discriminação racial está presente na área educacional, o desenvolvimento educacional e a especialização dos afros-descendentes fica prejudicada, importando na dificuldade de sucesso na escola e ao acesso às posições melhor remuneradas no mercado de trabalho, gerando um círculo vicioso de pobreza, insucesso escolar e marginalização social”.
Reitero que um dos principais motivos da dificuldade no ingresso da população
negra no mercado de trabalho, é a situação deficitária do acesso à educação formal dos
afro-brasileiros, que reflete um passado de colonialismo e escravidão, transmitindo-se
até os dias de hoje seus resultados.
De acordo o Jornal Folha de São Paulo, no ano de 2010 ocorreu um avanço no
aumento de emprego formal e maior acesso à educação e ao crédito, de 1998 a 2008,
a proporção de negros e pardos com ensino superior completo passou de 2,2 para
4,7%. O resultado chama a atenção porque o salário de um negro ainda é cerca da
38
metade do de um branco, mas a massa de renda dos negros já representa 40% do
total.
4.2.2 O Afro-descendente na Mídia
A mídia estrutura e dita os critérios de beleza. O padrão de beleza transmitido e
valorizado pelos meios de comunicação brasileiros é branco. No telejornalismo os
negros ainda podem ser contados.
Em 23 de novembro de 2002 o Jornal Nacional transmitido à cerca de 40
milhões de pessoas, teve pela primeira vez um apresentador negro, o então repórter
Heraldo Pereira, fato que rendeu, portanto notícias em vários veículos nos dias
posteriores. A emissora que concentra maior número de negros, é a Rede Globo,
mesmo assim este número não chega a dez, a pequena parcela de negro na mídia vai
além dos telejornais, de forma clara pode-se observar também nas telenovelas e
comerciais.
Segundo o cineasta Joel Zito Araújo, em seu livro A negação do Brasil
“o enfoque racial da televisão brasileira é resultado da incorporação do mito da
democracia racial brasileira, da ideologia do branqueamento e do desejo de euro-norte-
americanizada de suas elites” (ARAÚJO, Joel Zito, 2000). Neste caminho, o Ministro da
cultura Gilberto Gil constata ”Existem mais negros na tevê dinamarquesa do que na
brasileira”.
(Fonte de Pesquisa –Internet “O Brasil negro”).
O Estatuto da Igualdade Racial que entrou em vigor em 2003, com o então na
época senador Paulo Paim, o “Capítulo VIII - Dos meios de Comunicação” do Estatuto
trouxe dispositivos que culminou em um crescimento na presença de afros-
39
descendentes na mídia. Para compreensão, apresento alguns artigos que dispõe o
sistema de cotas neste setor:
“Art. 55º. A produção veiculada pelos órgãos de comunicação valorizará a herança cultural e a participação dos afro-brasileiros na história do País”.
“Art. 56º. Os filmes e programas veiculados pelas emissoras de televisão deverão apresentar imagens de pessoas afro-brasileiras em proporção não inferior a vinte por cento do número total de atores e figurantes”.
“Art. 57º. As peças publicitárias destinadas à veiculação nas emissoras de televisão e em salas cinematográficas deverão apresentar imagens de pessoas afro-brasileiras em proporção não inferior a vinte por cento do número total de atores e figurantes”.
4.2.3 O Afro-descendente no Ensino Superior: O Ingresso nas Universidades Públicas
do Brasil
Os responsáveis pelas universidades públicas dizem que o ingresso de negros
nas universidades pelas cotas pode levar a uma degradação da qualidade e do nível do
ensino, porque eles não têm as mesmas aquisições culturais dos alunos brancos. Mas
acredito que, mais do que qualquer outra instituição, as universidades têm recursos
humanos capazes de minimizar as lacunas dos estudantes oriundos das escolas
públicas pelas propostas de formação complementar. (Carneiro, 2002, p.23). As
estatísticas apontam que somente 2% dos jovens negros chegam à Universidade. Entre
os brancos, são 11%. (dados do Programa Diversidade na Universidade do ministério
da Educação, 2002). E os afro-descendentes têm menos tempo para os estudos, na
região metropolitana de Salvador, por exemplo, cerca de 53,6% dos jovens negros se
dedicam apenas aos estudos. Entre os brancos, este número salta para 72,3%
(números do INSPIR - Instituto Sindical Interamericano Pela Igualdade Racial).
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No ensino superior a desigualdade racial de acesso a ele, recentes pesquisas
apontam um alarmante sub-representação relativa aos afros-descendentes que ocupam
os bancos das universidades e faculdades brasileiras. Entre seis grandes universidades
públicas - Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal do
Paraná (UFPR), Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Universidade Federal da
Bahia (UFBA), Universidade de Brasília (Unb) e Universidade de São Paulo (USP), o
contingente de estudantes pretos e pardos é de apenas 17,21%, proporção quase três
vezes inferior em relação à representação desse contingente populacional no cômputo
geral da população brasileira.8 Se este número relativo a essas poucas universidades
mencionadas já é suficiente para caracterizar a desigualdade racial presente no ensino
no ensino superior brasileiro, essa mesma desigualdade aumenta assustadoramente
quando nos reportamos ao dado que, menos de 3% da população brasileira afro-
descendente consegue ingressar em um curso superior.
4.3 DEBATE ACERCA DA POLÍTICA DE COTAS PARA AFROS-DESCENDENTES
Críticos da implantação do sistema de cotas raciais, afirmam que esta lei se
mostra “racista às avessas” e demagógica. Segundo esses críticos, os estudantes que
entrarem por das cotas não terão condições de acompanhar o nível de ensino, que ficará
prejudicado. Dizem ainda, que o certo é todos serem julgados exclusivamente pelo
mérito e que o deve ser feito é investir no ensino público de primeiro e de segundo
8 Dados mais detalhados sobre as cinco primeiras universidades mencionadas, ver Mascarenhas (2002).
Quanto à USP, consultar Guimarães e Prandi (2002. Para compor essa porcentagem média, foram inseridos dados dos estudos referidos).
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graus. Consideram que as cotas aumentaram o preconceito entre brancos e negros.
Alguns também desconfiam da forma com que as cotas estão sendo implementadas,
notadamente porque são apoiadas pela fundação Ford. Esses setores vêem na política
de reserva de vagas uma tendência de diluir a luta dos explorados em seu conjunto até a
cooptação pelo sistema. Finalmente, há os que argumentaram que, em um país
miscigenado como o Brasil, é difícil definir quem tem direito às cotas.
Os defensores da política de cotas rebatem essas criticas e garantem que, os
setores que não aceitarem, que apresentem uma proposta mais eficiente para inclusão
dos diversos grupos étnicos brasileiros que ainda estão em grande medida excluídos,
apoiariam este novo projeto. E ainda segundo eles, as criticas em profusão derivam de
uma incompreensão, inclusive dos setores das esquerdas, da questão racial do Brasil.
Alem disso, consideram que a reação contra a reserva de vagas se deve também ao fato
de que as classes média e alta, especialmente sua parcela branca, tendem a ver a
universidade pública como um espaço garantido de antemão para si.
4.3.1 A política de cotas para Afros-descendentes x A miscigenação no Brasil
Considera-se que no Brasil não se trata da implementação de cotas para
negros, visto que é difícil caracterizar quem é negro no País, devido à miscigenação
significativa, ficando deste modo possibilidade da fraude pelos alunos brancos, que
alegam afrodescendência pelo processo de mestiçagem. (GONCALVES e SILVA,
Petronilha Beatriz e SILVERIO, Valter Roberto; Ed.2003).
A identificação é uma simples questão de autodefinição, combinando critérios
de ascendência politicamente assumida com os critérios da classe social. Isto tem sido
o critério utilizado até pelos pesquisadores e técnicos do IBGE, valendo-se tanto para
brancos, negros e amarelos, sem necessidade de requerer exame da árvore
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genealógica ou exame cientifico DNA dos autodeclarados negros. Se constatar que a
maioria dos alunos beneficiados pela política de cotas é composta por alunos brancos
pobres falsificados em negros, de qualquer forma os recursos investidos teriam sido
aproveitados por um segmento da população que também necessita de políticas
públicas diferenciadas.
4.3.2 A política de cotas para Afros-descendentes x A segregação racial nos Estados
Unidos
A políticas de cotas não corroboraram nos Estados Unidos, culminando em
abandono dessa política nos Estados Unidos, visto que não contribuiu para o recuo da
segregação racial entre brancos e negros, e por ter sido aproveitada apenas para aos
membros da classe-média afro-americana, deixando intocada pobreza dos guetos.
(GONCALVES e SILVA, Petronilha Beatriz e SILVERIO, Valter Roberto; Ed.2003).
Os Estados Unidos têm alternativas para ingressar e permanecer nas
universidades que aqui não temos por causa das peculiaridades do “nosso” racismo.
Eles têm universidades federais de peso criada para eles, por exemplo a Universidade
de Howard e universidades criadas pelas igrejas independentes negras para as
comunidades afro-americanas, principalmente nos Estados do Sul, considerado como
Estado mais racista dos Estados Unidos( É o caso da Universidade de Atlanta, que foi
fundada pelos negros e para os negros).Além disso, a maioria das universidades
públicas americanas até as mais conceituadas como a de Princeton, Harward e
Standford continuaram a cultivar ações afirmativas em termos de metas, sem
necessariamente recorrer às cotas ou estatísticas definidas.
4.3.3 A política de cotas para Afros-descendentes x A inaplicabilidade do sistema de cotas para índios
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A cota não é destinada aos índios e as suas descendências cujos direitos
igualdade violados durante séculos, além de serem despojados de seu imenso
território. (GONCALVES e SILVA, Petronilha Beatriz e SILVERIO, Valter Roberto;
Ed.2003).
Os movimentos negros nunca foram contra a qualquer proposta que beneficiam
as populações indígenas, mulheres, homossexuais, os portadores de deficiência, até as
classes sociais baixas, independente da pigmentação da pele. Apenas reivindicam
tratamento diferenciado, visto que foram e constituem ainda a grande vitima de uma
discriminação especifica racial.
Por outro lado, os afros-descendentes constituem um pouco mais de 70 milhões
de brasileiro, em relação às populações indígenas estimadas em menos de quinhentos
mil, apesar de seu notável crescimento demográfico. Visto deste ângulo, o problema do
ingresso dos estudantes indígenas nas universidades publicas é mais fácil resolver do
que os negros, tendo em vista que a escolaridade destes é mais baixa. (GONCALVES
e SILVA, Petronilha Beatriz e SILVERIO, Valter Roberto; Ed.2003).
Além do mais, a voto do Ministro Ayres Britto acerca da demarcação das terras9
indígenas Raposa Serra do Sol, resulta-se na plena aplicabilidade das ações
afirmativas, 10 “[...] o Ministro não deixou de afirmar o caráter fraternal ou solidário dos
artigos 231 e 232 da Constituição de 1988, que asseguram os direitos indígenas, o que
remete a um dos objetivos da República Federativa do Brasil, que é o de construir uma
sociedade livre, justa e solidária, conforme o artigo 3º, inciso I da referida Constituição.
9 A íntegra da Decisão do Agravo Regimental na petição nº 3.388-4, que suspendeu a liminar de Reintegração de Posse, em anexo. 10 Fonte Extraída do Jus Navigandi Ed. 2008.
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Para o Ministro, é como se a Constituição procurasse compensar as minorias (como os
índios), e buscar a igualdade tanto no âmbito civil como no âmbito moral para essas
minorias, o que reflete em ações de caráter afirmativo”. (Fonte Extraída do Jus
Navigandi Ed. 2008).
4.3.4 A política de cotas para Afros-descendentes x A imagem profissional do Negro
A política de cotas raciais poderia prejudicar a imagem profissional dos
funcionários, estudantes e artistas negros, porque eles seriam sempre acusados de ter
entrado por uma porta diferente.
A política compensatória não faz ninguém perder seu orgulho e a dignidade de
uma sociedade que continua em manter em condição desigual um segmento importante
de sua população e que durante muitos anos se esconde atrás do mito da democracia
racial. E se ocorrer discriminação aos negros, devido sua inserção no mercado de
trabalho pelo sistema de cotas, é simplesmente deslocar o eixo da discriminação
presente na sociedade, que existe com cotas ou sem cotas.
Gonçalves e Silva, Petronilha e Silvério, Valter Roberto, afirma em sua obra
Educação e Ações Afirmativas:
“Mais uma coisa é certa, os negros que ingressarem nas universidades públicas de boa qualidade pelas cotas terão, talvez, uma oportunidade única de sua vida: receber e acumular um conhecimento cientifico que acompanharão no seu caminho da luta para sobrevivência”.
Em entendimento ao debate, cabe-nos destacar que as ações afirmativas
repercutiram de forma nacional, deste modo à implantação dessa política deve ser
acompanhada por uma ampla discussão sobre seus principais conceitos e mecanismos,
pois apesar de constituir-se como uma das mais importantes estratégias para combater
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a desigualdade racial, tem-se associado seu significado diversas idéias como
diversidade, discriminação, multiculturalismo e, sobretudo, simplificando-a como
“políticas de cotas”, sem a observância de que esta medida se estende além das cotas.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O racismo ainda é uma realidade no Brasil, dados apontam o Brasil como a
segunda Nação com maior número de negros no mundo, atrás apenas da Nigéria, os
afros-descendentes, constituídos por negros e por pardos, representam pelo menos
50,6 % da população brasileira, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
Revelam ainda as estatísticas de como vive o negro no Brasil. De cada Dois mil
crianças pobres no Brasil, 1600 são negras; 76,1 em cada mil crianças afro-brasileiras
morrem antes de completar cinco anos, enquanto a mortalidade infantil atinge 45,7 em
cada mil brancos. A expectativa de vida dos brancos e de 71 anos, mas a do afro-
descendente e de 65 anos. Os afros-descendentes assalariados recebem em media
menos da metade salarial nacional dos brancos. Alem disso, 69% da população e pobre
e a taxa de pobreza entre negros e quase 50% mais alta do que entre brancos.
A discriminação do Brasil não é igual à de outros países, entretanto à questão
que se coloca é a mesma enfrentada pelos americanos e indianos, a de promover o
ingresso dos excluídos nas universidades.”Esta questão não parte do vazio, mas sim da
constatação de que os negros não são representados, ou seja, não são visíveis nas
universidades de boa qualidade”. (QUEIROZ, Jairo Pacheco; Ed. 2007).
A universidade é o divisor de águas em uma sociedade racialmente dividida
onde o critério para incorporação às classes profissionais também é o critério da
exclusão social. Até existir uma classe média negra, com as mesmas oportunidades
das classes majoritárias, não haverá luta a discriminação racial. E o ensino superior
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detém as maiores taxas de retorno para o indivíduo. Portanto, na procura de mobilidade
ou ascensão social, este é o nível que mais influência na ruptura do ciclo da pobreza.
Diante disto, a implementação de reserva de vagas destinadas para os afros-
descendentes, recolocaram em pauta debates públicos no Brasil: a questão racial e a
luta anti-racista. Sendo realizadas nos dias 3, 4 e 5 audiências públicas no Supremo
Tribunal Federal, consubstanciado na constitucionalidade do sistema de reserva de
vagas, baseando-se em critérios raciais, como forma de ação afirmativa de inclusão no
ensino superior. Cabe-nos destacar que a política de cotas para afros-descendentes,
aguarda o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, embora a constitucionalidade
dessa medida resulta-se na efetividade do Principio da Igualdade Material ou
Substancial previsto no artigo 5º da Constituição Federal.
Se o Brasil encontrar alternativas diversas que não consiste em inserir as cotas
como mecanismo de promoção da igualdade, visualizando dessa forma o fato de não
se cometer desigualdades contra os brancos desfavorecidos, a medida será cabível.
Mas se por outro lado, ocorrer apenas críticas sem a proposição de alternativas de
curto ou em longo prazo será uma forma de fuga para a questão vital que corresponde
para mais de 70 milhões de brasileiros de ascendência africana e para o futuro do
Brasil.
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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, Joel Zito. A Negação do Brasil: O negro na telenovela brasileira. Filme de Joel Zito Araújo, em 2000. CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 5ª ed. Coimbra: Almedina, 1991.
FERREIRA, Ricardo Franklin. Afro-descendente: identidade em construção. São Paulo. EDUC, Rio de Janeiro. Pallas,2000. GOMES, Joaquim B. Barbosa. Ação afirmativa & princípio constitucional da igualdade: (O direito como instrumento de transformação social. A experiência dos EUA). Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p. 20). GONCALVES e SILVA, Petronilha Beatriz e SILVERIO, Valter Roberto; Ed.2003. HENRIQUES, Ricardo. Desigualdade racial no Brasil: evolução das condições de vida na década de 90. Rio de Janeiro: IPEA, 2001. Texto para discussão nº. 807. 49p.
MELLO. Marco Aurélio Mendes de Farias. Ótica Constitucional: a Igualdade e as Ações Afirmativas. In.: TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. Seminário Nacional Discriminação e sistema Legal Brasileiro. Brasília. p. 23. 2001.
ROCHA, Cármen Lúcia Antunes. Apud. GOMES, Joaquim B. Barbosa. As ações afirmativas e os processos de promoção a igualdade efetiva. In.: SÉRIE CADERNOS DO CEJ. Seminário Internacional as minorias e o direito (2001: Brasília). Brasília, Vol. 24. p. 87. 2003. SANTOS, Renato Emerson & LOBATO, Fátima. In: Ações afirmativas: políticas públicas contra as desigualdades raciais. Rio de Janeiro: DP&A, Coleção Políticas da Cor, 2003. p. 15-57.
SILVA, Cidinha da. “Ações afirmativas em educação: um debate para além das cotas”. SILVA, Cidinha da (org). In: Ações afirmativas em educação: experiências brasileiras. São Paulo: Summus, 2003. p. 17-38.
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7 ANEXOS
ANEXO 1 – AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE (ADI) Nº 3330.
ANEXO 2 – DECISÃO DO MINISTRO AYRES BRITTO-DEMARCAÇÃO DA RESERVA
ÍNDIGENA RAPOSA DA SERRA DO SOL.
ANEXO 3 – AUDIÊNCIAS PÚBLICAS REALIZADAS NOS DIAS 3,4 E 5 DE MARÇO DE
2010.