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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Rodrigo Tacla TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL. CURITIBA 2012

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Rodrigo Tacla

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL.

CURITIBA

2012

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

CURITIBA

2012

Rodrigo Tacla

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Professor Wagner Rocha D’Angelis.

CURITIBA

2012

TERMO DE APROVAÇÃO

Rodrigo Tacla

TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Bacharel em Direito no urso de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, de de 2012.

________________________________________________

Curso de Bacharelado em Direito Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Prof. Dr. Wagner Rocha D’Angelis.

UTP – Faculdade de Ciências Jurídicas

Prof._______________________________ UTP – Faculdade de Ciências Jurídicas

Prof._______________________________ UTP – Faculdade de Ciências Jurídicas

RESUMO

A finalidade desse trabalho é trazer a discussão de quando a utilização do Tribunal Penal Internacional é necessária para suprir as lacunas deixadas pelos Estados Membros que não tem capacidade ou lei que possa utilizar para condenar os seus criminosos Nacionais, utilizando-se da pesquisa e análises de obras doutrinárias, artigos científicos, com o objetivo de alcançar à conclusão devida sobre o tema da admissibilidade dos princípios do Estatuto de Roma nas jurisdições dos Estados Membros. O conhecimento científico surge dos diferentes modos de produção do conhecimento e do uso que se faz dele. Pretende-se com este trabalho, principalmente como meta final, corroborar com a interpretação doutrinária acerca da admissibilidade do Estatuto de Roma quando este em favor da justiça internacional frente a soberania dos Estados Membros, verifica-se que o tema da admissibilidade desse Estatuto possui ainda vasta discussão sobre sua aceitação ou não, o que pode-se extrair da pesquisa é que a doutrina em sua maioria mais tem apoiado do que rejeitado a hipótese da aceitação do Estatuto quando tem por objetivo julgar crimes internacionais e de como cada Artigo do Estatuto deve ser analisado a luz das jurisdições nacionais. Palavras chaves: Estatuto de Roma. Admissibilidade. Jurisdições nacionais.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 07

2 OS PRIMEIROS CRIMES INTERNACIONAIS ...................................................... 10

3 RELACIONAMENTO ENTRE AS JURISDIÇÕES INTERNAS E INTERNACIONAL

EM FACE DO PRINCÍPIO DA SOBERANIA ............................................................ 12

3.1 A CONSOLIDAÇÃO DA PROTEÇÃO INTERNACIONAL AOS DIREITOS

HUMANOS ................................................................................................................ 13

4 A CRIAÇÃO DO TPI:ANTECEDENTES ................................................................ 17

4.1 A CRIAÇÃO DOS TRIBUNAIS DE NUREMBERG E DE TOQUIO ..................... 18

4.2 O IMPORTANTE TRABALHO DA COMISSÃO DE DIREITO INTERNACIONAL

(CDI) .......................................................................................................................... 20

5 TRIBUNAIS AD HOC PARA A EX IUGOSLÁVIA E RUANDA:CONTEXTO

HISTÓRICO E ASPECTOS DA JURISPRUDÊNCIA ............................................... 23

5.1 BREVE RELATO HISTÓRICO:CONFLITO NA EX IUGOSLÁVIA ....................... 23

5.2 A CRIAÇÃO DO TRIBUNAL INTERNACIONAL PARA A EX IUGOSLÁVIA ....... 24

5.3 CONFLITOS ETNICOS EM RUANDA:BREVE RELATO HISTÓRICO ............... 25

5.4 CRIAÇÃO DO TRIBUNAL AD HOC PARA RUANDA ......................................... 26

5.5 DUVIDAS,CRÍTICAS E APOIO AOS TRIBUNAIS AD HOC ................................ 27

6 O ESTATUTO DE ROMA E A CRIAÇÃO DO TPI ................................................ 30

6.1 COMPOSIÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DO TPI ..................................................... 35

6.2 MECANISMOS DE ACIONAMENTO DA JURISDIÇÃO DO TPI: O PAPEL DO

PROMOTOR E O RELACIONAMENTO COM O CONSELHO DE SEGURANÇA .... 37

6.3 CRIMES TIPIFICADOS PELO TPI ...................................................................... 38

6.3.1 Crime de genocídio .......................................................................................... 39

6.3.2 Crimes contra a humanidade ........................................................................... 39

6.3.3 Crimes de guerra .............................................................................................. 41

6.3.4 Crimes de agressão ......................................................................................... 42

6.4 DOS CRIMES DE TRÁFICO DE DROGAS E TERRORISMO ............................ 43

7 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL CONSAGRADOS NO TPI .............. 47

8 COMENTÁRIOS GERAIS SOBRE A CONFERENCIA DE ROMA E O ESTATUTO

DO TPI ...................................................................................................................... 50

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 52

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 55

7

1 INTRODUÇÃO

A ADOÇÃO DO ESTATUTO do Tribunal Penal Internacional, na conferência

de Roma, em 1998, resultou na reunião de vários Estados soberanos que

aprovaram o Estatuto desse sistema permanente de justiça criminal internacional.

Essa reunião marca algo histórico na comunidade internacional que por anos tentou

combater e punir severamente os criminosos internacionais que desrespeitaram os

direitos humanos.

Esses criminosos que violaram os direitos humanos abusaram de suas

autoridades para cometer crimes de dimensões éticas, políticas e jurídicas. E

quando esses crimes acontecem de maneira reiterada, fica difícil a convivência

pacifica entre os seres humanos.

Durante muitos séculos, houve o massacre indiscriminado de milhões de

pessoas e por muitas vezes os responsáveis não eram punidos por força de algo

que os blindava em seus Estados, e a tal “soberania” absoluta dos mesmos

dificultava a intervenção mundial.

Mesmo sob forte pressão internacional, em situações em que eram obvias

as violações aos direitos humanos poucos foram os corpos de investigação e

julgamento estabelecidos durante conflitos internacionais, ou em conflitos

domésticos. Mesmo com o estabelecimento dos tribunais de Nuremberg, de Tóquio

(após a segunda guerra mundial), e os “ad hoc” da antiga Iugoslávia e de Ruanda,

os procedimentos eram influenciados por considerações políticas que, por isso

mesmo, impossibilitaram julgamentos justos.

Muitos anos se passaram desde a primeira tentativa de criar uma Corte

Criminal Permanente, em Versalhes, no ano de 1919. Somente com a Conferencia

de Roma, que reuniu 160 países, foi possível a aprovação de um Estatuto, apesar

das diversas divergências com relação a sua legislação.

Percebe-se, portanto, a importância da aprovação de um Estatuto que cria

um sistema permanente de justiça criminal internacional, que ajudasse a julgar

crimes de extrema gravidade – genocídio, crimes de guerra, de agressão e contra a

humanidade. A jurisdição complementar do TPI tem como objetivo, ajudar aos

8

Estados que não tem capacidade judiciária ou de punir, a julgar os seus criminosos

nacionais.

Este estudo tem como objetivos estudar os aspectos institucionais do TPI,

com maior foco no instituto da complementaridade como princípio para o

relacionamento entre as jurisdições nacionais e internacional, bem como avaliar as

expectativas abertas com a observância desse mesmo princípio.

Este estudo será desenvolvido como elementos textuais de diversos autores

da literatura mundial, que abordam sobre como se deu início a idéia de uma

proteção internacional dos direitos humanos, que presumem a existência de um

sistema internacional permanente de justiça criminal e o cumprimento internacional

das regras desse sistema.

Para tanto, a pesquisa acompanha, contextualiza e analisa a formação do

TPI, buscando formular respostas ás seguintes questões:

1. Como a evolução da sociedade e do debate de idéias, ajudou na

evolução internacional dos direitos humanos quanto ao relacionamento

entre as jurisdições internas e internacionais perante o princípio da

soberania, que tem como marco a segunda grande guerra?

2. Quais foram às situações antecedentes a criação do Estatuto de Roma,

submetido à discussão pela Comissão de Direitos Humanos da ONU, e o

seu texto final, e quais os principais pontos de críticas e de apoio ao

processo de negociação do Estatuto, principalmente no que tange ao

relacionamento entre jurisdições nacionais e internacional?

3. Quando do conflito entre a Legislação do TPI e de um Estado Soberano,

qual delas deve prevalecer? Tal pergunta se faz necessária quando

temos de um lado o princípio da liberdade do Estado em julgar o

criminoso em sua própria legislação, e em contraposição o da

admissibilidade de um julgamento internacional, a presumir a submissão

da lei interna às normas internacionais.

4. Todavia, cabe registrar que a legislação aparentemente confusa do TPI

deve servir para julgar crimes de indivíduos de Estados que não tem a

9

intenção de punir os sujeitos criminosos em seu território, ou será que a

Soberania deve prevalecer para deixar impune o criminoso que cometeu

atrocidades contra o seu próprio povo, contra estrangeiros, ou contra

outro Estado? Por outro lado, em se reconhecendo a jurisdição do TPI,

qual é a eficácia de sua atuação em favor de um mundo mais justo e

mais pacífico?

5. Como as jurisprudências dos tribunais “ad hoc” antecedentes ao Estatuto

de Roma têm ajudado para julgar os criminosos internacionais?

O trabalho está constituído da seguinte forma: o capítulo inicial abordará

sobre quais foram os primeiros crimes internacionais e seus criminosos,

concomitante com o acontecimento das duas guerras mundiais e das guerras da

antiga Iugoslávia e de Ruanda. O segundo capítulo mostrará a questão do

relacionamento entre as jurisdições internacional e internas, perante o princípio da

soberania, para, então, apresentar considerações sobre os antecedentes históricos

da criação do TPI, objeto do terceiro capítulo. O quarto capítulo tem como objetivo

analisar aspectos da jurisprudência dos tribunais “ad hoc” para a ex-Iugoslávia e

Ruanda, que demonstram os avanços já alcançados pela justiça penal internacional

até então existente. O capítulo cinco mostra como foi à criação do TPI propriamente

dito, com os seus aspectos institucionais, com atenção especial a sua jurisdição e

seus princípios, demonstrando também como é o seu funcionamento interno. O

capítulo VI mostra alguns princípios gerais do direito penal consagrados no TPI. No

capítulo VI é dado à visão geral do Estatuto de Roma.

10

2 OS PRIMEIROS CRIMES INTERNACIONAIS

Não se sabe ao certo quando ou quem começou a cometer crimes de

caráter internacional, pois muito antigamente não havia uma descrição exata do que

seria ferir o direito de outrem em favor de um determinado objetivo.

Ao longo dos séculos foram travadas várias batalhas que culminavam em

várias invasões de um país ao outro, com o intuito de limpeza étnica, de expansão

territorial, de conquista de mercados e até mesmo para que se mantivesse a paz.

Essas guerras eram comandadas por Imperadores, conquistadores, generais, que

queriam expandir o seu poder, e para isso invadiam outros países, destruindo tudo e

matando a população local como forma de domínio, sem respeitar qualquer tipo de

lei nacional ou internacional. Claro que muitas vezes havia acordos entre os

conquistadores e os conquistados, mas isto não impedia que houvesse abusos de

poder.

Na época da expansão marítima, os que mais se destacavam em cometer

crimes internacionais eram os famosos piratas, que com suas embarcações

saqueavam navios das mais diversas nações em busca de riquezas. Esses tipos de

ataque apavoravam os navegadores da época, e havia uma grande dificuldade em

se prender estes criminosos. Os que eram presos eram sentenciados a forca.

Outras atrocidades também foram cometidas durante a Primeira Guerra

Mundial, na qual ambos os lados cometeram crimes de diversas espécies,

começando pela própria invasão de um estado ao outro, desrespeitando a soberania

do próximo. E, além disso, uma guerra, por si mesma, já é considerada um crime

contra a humanidade, pois os dois lados da moeda têm baixas tanto civis quanto

militares.

Depois da primeira grande guerra houve uma grande mobilização para que

se criasse um tribunal penal permanente para julgar os crimes cometidos, o que

restou consignado no tratado de Versalhes, no ano de 1919, mas sem êxito na

prática internacional.

11

Também há de se falar da Segunda Grande Guerra, que chocou o mundo

com as imagens aterrorizantes do que se era feito com os prisioneiros nos campos

de concentração nazistas.

Crimes contra a humanidade, crimes de guerra e de agressão foram e ainda

são cometidos por todo o mundo, e algumas vezes as jurisdições nacionais não dão

conta ou até mesmo não sentem a necessidade de julgar esses criminosos por pura

incompetência ou até mesmo medo. É neste ponto que entra a figura do TPI, que

tem como função o auxilio e a complementaridade para julgar essas atrocidades.

A seguir se verá alguns conceitos que anteviram ao TPI, como forma de

entender o porquê de sua criação.

12

3 O RELACIONAMENTO ENTRE AS JURISDIÇÕES INTERNAS E INTERNACIONAL EM FACE DO PRINCÍPIO DA SOBERANIA

O TPI tem como um de seus elementos o princípio da complementaridade, e

para entender como isto funciona, primeiro há de se falar da soberania estatal, de

sua evolução histórica e de como ela é afetada pelas relações internacionais.

A idéia sobre soberania já existia na Antiguidade e na Idade Média. O

conceito conhecido estava ligado à posição hierárquica, ou seja, à posição daquele

que era superior num bem definido sistema hierárquico; até os barões eram

soberanos em suas baronias.

Isso mostra o quão longínquo é a idéia da soberania, porém ela não era

chamada por este nome ainda, pois só passou a se solidificar a partir do final do

século XVI, quando teve a sua solidificação marcada pela centralização

administrativa, concentração e territorialização do poder político e pela criação de

exércitos permanentes.

Ainda sobre a ideia de soberania e da criação moderna dos sistemas de

Estados, diz Marrielle Maia:

O moderno sistema de Estados, que surgiu em 1648, com a Paz de

Westfália, baseava-se no pressuposto de que os Estados são os únicos

detentores de direitos e deveres no direito internacional. São eles os únicos

e legítimos agentes para o uso da força, dotados de direito de jurisdição

sobre seus territórios e populações.

A concepção de ordem internacional que surgiu naquele período pode ser

denominada “modelo de Westfália”. Tal modelo vigorou até 1945. Em suma,

pode ser entendido como uma ordem internacional composta de Estados

soberanos que “resolvem suas diferenças privadamente” e freqüentemente

com recurso à força (2001, p. 32).

Fica claro o quanto o conceito de soberania era arcaico e que quando não

se havia mais um acordo ideológico entre as nações soberanas, as diferenças eram

resolvidas com base na força, na guerra.

13

Com o passar dos anos, muitos pensadores demonstraram o quanto este

conceito era ultrapassado e que os Estados têm como papel principal a proteção de

seus indivíduos que ali residem, e que ao invés de se manter a soberania por força

bruta, o mais conveniente seria a realização de entendimentos mediante acordos e

regras estabelecidas internacionalmente, para que não houvesse a necessidade da

utilização da guerra.

Diz Marielle Maia sobre a evolução do Estado absoluto para o Estado de

direito:

Percebe-se, portanto, que a evolução do Estado absoluto para o Estado de

direito levantou a questão da subordinação do individuo e do entendimento

da formação do Estado como forma de satisfação das necessidades

individuais. Nesse sentido, o Estado teria como finalidade a proteção do

indivíduo; como resultado dessa reflexão, surgiu à discussão da medida em

que a comunidade internacional deve supervisionar e assegurar a proteção

dos direitos individuais reconhecidos pelo Estado (2001, p.34).

Em decorrência, passa-se a analisar a necessidade mundial da proteção do

indivíduo humano e a evolução do direito internacional humanitário e da proteção

dos direitos humanos.

3.1 A CONSOLIDAÇÃO DA PROTEÇÃO INTERNACIONAL AOS DIREITOS

HUMANOS.

Com o final das grandes guerras mundiais do século XX, houve uma

mobilização para que fossem criados Pactos e Declarações que visassem à

proteção não só da soberania do Estado, mas também da proteção dos indivíduos

que ali residiam.

Após o final das grandes guerras, o aumento dos instrumentos

internacionais, citando o exemplo da Declaração Universal dos Direitos Humanos de

1948, os Pactos Internacionais dos Direitos Civis e Políticos e dos Direitos

Econômicos, Sociais e Culturais, ambos de 1966 -, marcou a consolidação da

proteção internacional aos direitos humanos.

14

Segundo Swinarski (1993, p.13) um dos elementos do relacionamento

internacional que, durante a evolução do direito internacional, precisou ser

suplantado para dar lugar à garantia coletiva e ao interesse público foi o da

reciprocidade, consagrado em 1907 nos 13 tratados que constituem o chamado

“Direito de Haia”, ou “Direito Humanitário”, que disciplina práticas como a da

declaração de guerra e de armistício.

Esse direito tinha como finalidade a suposta “liberação” para que um Estado

declarasse guerra contra o outro por ter sua soberania violada de alguma forma,

situação que somente foi extinta em 1945, com a proibição internacional da guerra

pela Carta das Nações Unidas, em seu artigo 2º, §4.

O direito internacional humanitário teve muita influencia no desenvolvimento

das relações internacionais. Neste sentido, Marrielle Maia assevera:

Vale esclarecer que o direito internacional humanitário e o direito

internacional dos direitos humanos são complementares na proteção da

pessoa humana, entretanto essa proteção ocorre em modalidades

diferentes. O direito humanitário, jus in bellum, aplica-se em situações de

conflito armado, para proteger as vítimas, procurando limitar os sofrimentos

provocados pela guerra e garantindo, tanto quanto possível, a proteção a

assistência as vítimas. Por outro lado, os direitos humanos protegem a

pessoa humana em todo o tempo. Também na proteção da pessoa

humana, o direito dos refugiados logrou avanços na proteção dos

refugiados e deslocados nacionais em decorrência de conflitos armados

(2001, p.37).

Isso mostra os quantos às relações internacionais evoluíram, por se tratar de

uma necessidade humana de se resguardar e proteger a sua própria espécie, sem

utilizar a Guerra como artifício prioritário.

Outra importante conquista dos direitos humanos foi a Conferencia de Viena

em 1993, que consagrou os princípios da indivisibilidade, da interdependência e da

universalidade de tais direitos, com o que a proteção humanitária tende a pressionar

os Estados para que eles não se eximam de suas responsabilidades e não

menosprezem o benefício do ser humano.

15

A despeito de evitar conflitos entre normas internas e internacionais, os

tratados têm adotado dispositivos de compatibilização, com vistas a harmonizar as

legislações nacionais com as obrigações convencionais. Esses dispositivos são: as

clausulas de derrogação e de limitações ou restrições ao exercício de certos direitos;

as reservas permitidas nos próprios tratados; as clausulas facultativas; e o prévio

esgotamento dos recursos internos.

Segundo Trindade (1993, p. 27), muitos desses dispositivos reduzem o

exercício de certos direitos. Entretanto, é necessário considerar as dificuldades de

aceitação desses mesmos instrumentos pelos Estados. Assim, tais disposições em

certa medida, removem os obstáculos à proteção internacional dos direitos

humanos, por viabilizarem, em certa medida, um maior número de ratificações ou

adesões. É nesse contexto que se compreende o requisito prévio do esgotamento

dos recursos internos como condição para o acionamento do aparato internacional.

As atuações das Cortes internacionais e dos mecanismos de supervisão

visam o controle da proteção humanitária e que tem como objetivo supervisionar

uma obrigação anteriormente assumida por um Estado, que seria a de condução de

um processo que envolve a investigação, coleta de provas, e de julgar aqueles que

violam os direitos humanos.

Diz Marrielle Maia:

[...] E, no que se refere às investigações e aos julgamentos de violações

dos direitos humanos consagrados nos tratados internacionais ratificados

por um Estado, além de a responsabilidade primária na condução do

processo ser do próprio Estado, existem dispositivos previstos nos próprios

tratados para prevenir o conflito entre as jurisdições. Daí a improcedência

da invocação do domínio reservado no que se refere à interpretação e

aplicação dos tratados vigentes (2001, p.42).

Em sua obra, Trindade (1999, p.23) conclui que, diferentemente do direito

internacional vigente no início do século XX, marcado pelo “voluntarismo estatal

ilimitado que se refletia na permissividade do recurso à guerra, da celebração de

tratados desiguais, da diplomacia secreta, da manutenção de colônias de influencia

16

(...) – o direito internacional contemporâneo é marcado, por um lado, pelo impacto

da internacionalização dos direitos humanos para o sistema internacional e, por

outro, pela erosão da jurisdição doméstica sobre tais direitos.

Portanto, a criação de uma corte internacional com jurisdição penal era algo

atingível, porém complexo de ser realizado, pois era preciso criar leis e regramentos

que protegessem os direitos humanos e ao mesmo tempo não interferissem na

soberania, ou domínio de um Estado membro, e foi somente após várias violações

desses princípios humanitários que a criação de um tribunal acabou colocada em

pauta na conferencia de Roma.

Diferentemente dos demais tribunais criados pelos tratados de direitos

humanos, o Tribunal Penal Internacional não responsabiliza os Estado, mas os

indivíduos, por violações mais graves contra os direitos humanos e o direito

internacional humanitário. Essa responsabilização, que foi consolidada com o TPI

em funcionamento, tem como precedentes os julgamentos realizados pelos

Tribunais Militares Internacionais de Nuremberg e do Extremo Oriente, e pelos

Tribunais ad hoc criados pelo Conselho de Segurança para a ex-Iugoslávia e

Ruanda.

O Estatuto do Tribunal Penal Internacional consagrou como princípio

principal do relacionamento entre as jurisdições interna e internacional o da

complementaridade, ou seja, cabe aos próprios países-membros, internamente,

julgar os delitos definidos no Estatuto. Somente quando se verificar a incapacidade

de punir, é que este tribunal poderá ser acionado

Após analisarmos todo o contexto histórico da evolução do Direito

Internacional humanitário e da proteção internacional dos direitos humanos,

passamos agora ao estudo dos antecedentes da criação do Tribunal Penal

Internacional e de como as guerras no mundo influenciaram ao debate de um órgão

que pudesse punir indivíduos que violavam qualquer tipo de lei humanitária.

17

4 A CRIAÇÃO DO TPI: ANTECEDENTES.

Em sua obra, Perrone-Moises (2003) diz que historicamente, a primeira

tentativa de estabelecimento de uma jurisdição penal internacional ocorreu com o

Tratado de Versalhes, que pôs fim à primeira guerra mundial. Com base neste

tratado surge a primeira possibilidade de submeter um criminoso de guerra a um

tribunal internacional. Nele ficou determinado que o ex-imperador da Alemanha,

Guilherme II, deveria ser julgado por um tribunal internacional, em razão de ofensas

à moral internacional e à autoridade sagrada dos tratados. Guilherme II nunca foi

julgado, pois a Holanda, país onde se havia refugiado, negou-se a extraditá-lo, tendo

em vista a concepção holandesa de tratar-se de crime político, não passível,

portanto, de extradição1.

Peixoto, em sua obra O Estabelecimento do Tribunal Penal Internacional,

assim esclarece:

No ano de 1926 a Associação Internacional de Direito Penal elaborou um

projeto pra a Corte Penal Internacional, mas não obteve apoio político. Em

1937, a Liga das Nações elaborou uma convenção para a prevenção do

terrorismo e outra para a criação de uma corte penal internacional. A

primeira foi ratificada somente pela Índia e a segunda por nenhum Estado

(1998, p.173-188).

Como visto o direito internacional Penal ainda caminhava a passos lentos

para conseguir o objetivo de atingir os principais criminosos responsáveis pela

primeira guerra mundial, ainda era visto com desconfiança pela sociedade

internacional. Com o advento da segunda guerra mundial e da exposição à

sociedade internacional dos crimes de atrocidades cometidos nesta guerra, é que

ocorreu a criação e o “ponta-pé” inicial para a implantação de dois importantes

tribunais internacionais, o de Nuremberg, para punir os nazistas alemães, e o do

Extremo Oriente, para punir os crimes de guerra japoneses.

1 PERRONE-MOISÉS, Claudia, Antecedentes históricos do estabelecimento do Tribunal

Penal Internacional, publicado na revista da Faculdade de direito da USP de 2003, Nov 2009. Disponível em: http://hannaharendt.wordpress.com/2009/11/20/antecedentes-historicos-do-estabelecimento-do-tribunal-penal-internacional/ Acesso em 18 nov.2012.

18

Dizem Kai Ambos e Carlos Eduardo Adriano Japiassú, em seu livro Tribunal

penal internacional - possibilidades e desafios, que:

A segunda Grande Guerra, que ensangüentou a Europa entre 1939 a 1945,

ficou marcada na consciência coletiva mundial por apresentar o ser humano

como algo simplesmente descartável e destituído de dignidade e direitos. O

que fez a chamada “Era Hitler” foi condicionar a titularidade de direitos dos

seres humanos ao fato de pertencerem à determinada raça, qual seja a

“raça pura” ariana, atingindo-se, com isto, toda e qualquer pessoa destituída

da referida condição (2005, p.122).

A seguir, discorrer-se-á sobre tais iniciativas e seus resultados.

4.1 A CRIAÇÃO DOS TRIBUNAIS DE NUREMBERG E DE TÓQUIO

Como respostas às atrocidades cometidas pelos nazistas no Holocausto,

cria-se, por meio do Acordo de Londres, de 08 de agosto de 1945, o conhecido

Tribunal de Nuremberg, que significou um poderoso impulso ao movimento de

internacionalização dos direitos humanos. Este tribunal foi criado pelos governos de

França, Estados Unidos, Grã-Bretanha e a antiga União das Repúblicas Socialistas

Soviéticas, para processar e julgar os maiores criminosos de guerra do Eixo

Europeu, acusados de colaboração para com o regime nazista (AMBOS, JAPIASSU,

2005, p.123).

O artigo 6º do acordo de Londres assim tipificou os crimes de competência

do Tribunal:

a) Crimes contra a paz – planejar, preparar, incitar ou contribuir para a

guerra, ou participar de um plano comum ou conspiração para a guerra.

b) Crimes de Guerra – Violação ao direito costumeiro de guerra, tais como

assassinato, tratamento cruel, deportação de populações civis que estejam ou não

em territórios ocupados, para trabalho escravo ou para qualquer outro propósito,

assassinato cruel de prisioneiros de guerra ou de pessoas em alto-mar, assassinato

19

de reféns, saques a propriedades públicas e privadas, destruição de cidades ou

vilas, ou devastação injustificada por ordem militar.

c) Crimes contra a humanidade – assassinato, extermínio, escravidão,

deportação ou outro ato desumano contra população civil antes ou durante a guerra,

ou perseguições baseadas em critérios raciais, políticos e religiosos,

independentemente se em violação ou não do direito doméstico do país em que foi

perpetrado.

Uma das decisões importantes tomadas neste tribunal foi a da condenação

de vários Chefes de Estado ou funcionários responsáveis em postos

governamentais, que alegavam em suas defesas que apenas seguiam ordens de

superiores, graças à adoção do princípio de que o cumprimento de ordens

superiores não isentava a responsabilidade de seus autores, levando o tribunal a

inúmeras condenações decorrentes.

Destaca-se ainda, como decorrência dos atentados hediondos praticados

contra a dignidade do ser humano durante a Segunda Guerra, a criação do Tribunal

Militar Internacional de Tóquio, instituído para julgar os crimes de guerra e os crimes

contra a humanidade, perpetrado pelas antigas autoridades políticas e militares do

Japão imperial.

Os tribunais militares “ad hoc” acima mencionados não passaram imunes a

críticas, dentre elas a de que tais tribunais foram criados por vontade dos quatro

grandes países vencedores da guerra, e não por decisão da ONU, como foi o caso

do Tribunal Penal Internacional, o que poderia prejudicar (pelo menos em parte) o

estabelecimento concreto de uma Justiça Penal Internacional de caráter

permanente, transformando-se em um tribunal de vencedores para julgar os

vencidos (id., 2005, p.125).

Outra crítica muito relevante referente àqueles tribunais “ad hoc”, que já se

ouvia deste da criação do Tribunal de Nuremberg, era sentido de que os mesmos

20

violavam a regra basilar do Direito Penal, segundo a qual o juiz, assim como a lei,

deve ser pré-constituido ao cometimento do crime e não “ex post facto” 2.

O Tribunal Militar Internacional e o Tribunal Militar para o Extremo Oriente

alimentaram a esperança de que, no futuro, os crimes contra os direitos humanos

fossem julgados em um tribunal penal permanente das Nações Unidas, livre de

pressões políticas, regido de uma jurisdição definida e com base em uma Legislação

agrupando todos os crimes contra a humanidade.

Portanto, após vermos à criação desses dois Grandes Tribunais que

movimentaram diversas alegações sobre os crimes contra a humanidade e a melhor

forma de puni-los, e também de alguns defeitos que os norteavam, passa-se a

comentar sobre a Comissão de Direito Internacional, que no pós-guerra, utilizou sua

influencia como o principal órgão da ONU na tentativa de criar um Tribunal Penal

Internacional Permanente.

4.2 O IMPORTANTE TRABALHO DA COMISSÃO DE DIREITO INTERNACIONAL

(CDI).

Cabe, aqui, fazer referencia ao importante trabalho da Comissão de Direito

Internacional (CDI), que é o principal órgão da ONU na codificação do direito

internacional. A criação da CDI, em 1947, decorreu do artigo 13 das disposições

gerais da Carta das Nações Unidas, que indicava, de forma modesta, a necessidade

de que a Assembléia Geral iniciasse estudos e fizesse recomendações com o

objetivo de incentivar o desenvolvimento progressivo do direito e sua codificação

(MAIA, 2001, p. 51).

É importante mencionar que, dos temas tratados pela CDI, 13 deram origem

a convenções internacionais, dois tornaram-se recomendações da Assembléia Geral

para governos e outros – um dos quais é o Código de Crimes contra a Paz e

2 Ex post facto: após o fato: ou seja, o tribunal foi realizado ou formulado depois dos acontecimentos

da guerra e com ação retroativa.

21

Segurança, de especial importância para a elaboração do Estatuto do Tribunal Penal

Internacional – foram apenas encaminhados à Assembléia Geral para estudo.

A CDI concluiu que uma corte internacional para julgar crimes de genocídio

e outros crimes de também de maior gravidade era possível e de vontade de todos.

Assim, a Assembléia Geral organizou um comitê para preparar uma proposta de

estatuto da futura corte. O comitê preparou o primeiro anteprojeto em 1951 e outro,

revisado, em 1953. Entretanto, o cenário internacional, marcado pela Guerra Fria

entre as duas potências (Estados Unidos e URSS), impediu avanços nesse sentido.

Segundo Maia (2001, p.52), em 1989, por uma resolução da Assembléia

Geral, a CDI iniciou trabalhos para viabilizar o estabelecimento de um órgão

judiciário com competência para o processamento de crimes semelhantes àqueles

julgados pelos tribunais militares internacionais criados para as violações de direitos,

cometidas durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, os trabalhos não

avançaram, novamente, por efeito das divergências ideológicas proporcionadas por

um mundo que, naquele período, estava marcado pelo equilíbrio de poder entre

Estados Unidos e União Soviética.

Já no ano de 1994, a CDI encaminhou à Assembléia Geral o projeto de

estatuto para um futuro Tribunal Penal Internacional. Em dezembro do mesmo ano,

a Resolução 49/53 da Assembléia Geral determinou a criação de um Comitê “ad

hoc” aberto a todos os Estados-membros, com a finalidade de encaminhar questões

substantivas e administrativas que pudessem vir à tona a partir da análise do

projeto.

O CDI encontrou dificuldade em criar um Tribunal Penal Internacional

Permanente, uma delas em consequência das tensões provenientes da Guerra Fria,

pela qual os Estados Unidos e a Rússia entraram em conflito não propriamente

armado, mas sim de tensão psicológicas, aonde ambas não entravam em consenso

e não queriam nenhum tipo de acordo que levasse à criação de algo que ajudaria o

mundo a julgar crimes internacionais. A outra decorreu das várias guerras civis que

se espalharam no mundo após as duas Grandes Guerras, nas quais milhares de

pessoas foram mortas e houve várias violações quanto aos direitos humanos.

22

Passa-se agora a analisar os dois tribunais “Ad Hoc” que foram criados pela

ONU para a antiga Iugoslávia e para Ruanda devido às atrocidades cometidas nos

conflitos armados em seus territórios. A maioria das decisões e leis criadas nesses

dois tribunais é que serviu de pilar para a criação do Tribunal Penal Internacional.

23

5 OS TRIBUNAIS “AD HOC” PARA A EX-IUGOSLÁVIA E RUANDA: CONTEXTO

HISTÓRICO E ASPECTOS DA JURISPRUDENCIA.

Como dito anteriormente, a Segunda Grande Guerra teve grande

importância para a comunidade internacional, que passou a olhar com outros olhos a

forma de como o ser humano era tratado em períodos de conflito, e com isso

mobilizou as comunidades internacionais para a tentativa de “institucionalizar a

justiça penal internacional”.

Neste capítulo o tema abordado é a criação de dois importantíssimos

tribunais “ad hoc”, um criado para julgar criminosos de guerra dos conflitos dos

Bálcãs, quando da desintegração da Iugoslávia, e o outro em razão dos conflitos de

etnias em Ruanda.3

5.1 BREVE RELATO HISTÓRICO: CONFLITO NA EX-IUGOSLÁVIA

A história de conflito nos Bálcãs, território de múltiplos povos e disputas

sangrentas, vem desde a Idade Antiga. No entanto, o processo de “limpeza étnica”,

com o peso ideológico do termo, tem seu início em 1941, quando os nazistas

alemães invadem a Iugoslávia e fazem uma aliança com os croatas, que iniciam um

processo de execução e deportação de sérvios.

Em 1944, o exército do Marechal Josep Broz Tito, ajudado pela União

Soviética e pelo Reino Unido, expulsa os alemães da Iugoslávia. O grupo comunista

liderado por Tito assume o poder. O regime iugoslavo era comunista, mas resistiu às

investidas da União Soviética, grande potencia da ordem bipolar que se dividiu o

mundo no pós-guerra, de fundir seu território ao da Bulgária. Durante quatro

décadas a Iugoslávia se manteve unida e suas repúblicas conviveram em relativa

harmonia.

3 O presente capítulo foi elaborado com base na leitura das seguintes obras e/ou sites: LIMA & BRINA, 2006; MAIA, 2001; CASSESE & DELMAS-MARTY, 2004; MARRUL, 2010.

24

Após a morte do Marechal Tito ressurgem os conflitos existentes, que se

agravam em 1987, com a crise econômica. A ordem bipolar estava desmoronando e,

na Iugoslávia, havia mais o medo de uma ameaça externa.

A declaração de independência da Eslovênia e da Croácia, em 1991, acirrou

o conflito. A guerra se espalhou pela Croácia, civis são expulsos de suas casas

pelos sérvios. Voltaram à baila as discussões de autodeterminação nos foros

internacionais e a União Europeia reconheceu a independência das duas repúblicas.

Em 1991, o Conselho de Segurança da ONU considerou o conflito como

doméstico. A ONU aplicou sansões para evitar a entrada de armamentos no país.

Em 1992, um plebiscito na Bósnia e Herzegovina (doravante Bósnia)

resultou em sua independência. Ao final da apuração, os sérvios montaram barreiras

nas entradas e isolaram as cidades, conquistando parte do território da Bósnia

Ocidental. Neste mesmo ano, a ONU enviou forças de manutenção de paz, com a

missão de criar condições necessárias para a negociação de acordo sobre a crise.

5.2 A CRIAÇÃO DO TRIBUNAL INTERNACIONAL PARA A EX IUGOLSLÁVIA

Em 1993, o Conselho de Segurança criou o Tribunal Internacional para a Ex-

Iugoslávia (YCTY), com a competência de julgar crimes de guerra e crimes contra a

humanidade cometida no território da Iugoslávia, desde o ano de 1991. Conforme

mencionado, esse Tribunal foi criado em decorrência da forte pressão da

comunidade internacional, chocada que estava com as atrocidades divulgadas pela

imprensa (Maia, 2001, p.104).

O primeiro criminoso a ser julgado no tribunal foi Dusko Tadik, acusado de

crimes de guerra e de tortura.

No ano de 1995, apesar das conversações sobre paz e partilha dos

territórios, forças sérvias invadiram cidades declaradas “invioláveis”, como

Srebrenica e Zepa, e foram acusadas de praticar genocídio. O general Mládic é

25

acusado de coordenar a execução de oito mil muçulmanos bósnios em obediência

ao líder bósnio-sérvio Radovan Karadzic, sendo ambos indiciados pelo ICTY e

apontados como responsáveis por crimes de guerra.

Mesmo com o Acordo de Dayton, assinado em 1995, em Paris, que

estabelecia uma relativa estabilidade na região, em 1999 os conflitos reapareceram,

agora na província de Kosovo. Esse conflito resultou em milhares de refugiados

albaneses chegando à Albânia, Macedônia e Montenegro.

5.3 CONFLITOS ÉTNICOS EM RUANDA – BREVE RELATO HISTÓRICO

Ruanda, assim como a maior parte dos países africanos, iniciou seu

processo de independência nos anos 60, período em que se percebe o arranque do

processo de descolonização, em decorrência da mudança radical dos eixos de

poder mundiais após a Segunda Grande Guerra. No entanto, a condição artificial da

formação dos Estados africanos no período colonialista (entre o final do século XIX e

o início do século XX) colocara em um mesmo território povos de etnias diferentes e

historicamente rivais. A herança do colonialismo e as dificuldades econômicas dos

países africanos resultaram em conflitos, como o de Ruanda.

O processo de redemocratização, em 1990, gerou uma competição pelo

poder. As pressões externas e internas facilitaram o fim do partido único ruandês.

No mesmo ano, a Frente Patriótica do Ruanda, um movimento integrado, sobretudo

por exilados tutsis, atacou o nordeste de Ruanda, a partir de Uganda.

Em 1993, foi criado um governo de transição que reconheceu o direito de os

refugiados regressarem e que assinou um acordo de paz com o FRP. O acordo foi

rejeitado por elementos radicais tanto do governo quanto do movimento rebelde,

gerando uma guerra civil que se agravou em 06 de abril de 1994, quando o

Presidente ruandês, Juvenal Habyarimana e o Presidente Ceyprien Ntaryamira, do

Burundi, morreram em um desastre aéreo. Os dois líderes regressavam de uma

conferencia de paz na capital da Tanzânia, convocada para implementação de um

plano de partilha do poder entre os dois lideres.

26

Diz Marrielle Maia:

Embora as causas sejam desconhecidas, o acidente tem sido considerado

resultado de um planejamento que culminou com a morte, em que se usou

de uma brutalidade indescritível, de pelo menos 500 mil pessoas, entre

tutsis e hutus moderados, em ataques levados a cabo por civis e milícias

hutus (2001, p.106-107).

Após os fatos históricos descritos acima, passamos a comentar a criação do

Tribunal “Ad Hoc” para os crimes cometidos na guerra civil de Ruanda.

5.4 A CRIAÇÃO DO TRIBUNAL “AD HOC” PARA RUANDA

Em julho de 1994, a ONU, por meio de Resolução do Conselho de

Segurança, estabeleceu uma comissão para investigar as violações humanitárias

internacionais durante a guerra civil em Ruanda. A proposta de alguns países em

favor do envio de forças de manutenção de paz para os campos de refugiados no

Zaire foi rejeitada, entretanto foi estabelecido, através da Resolução 955 do

Conselho de Segurança, um Tribunal “Ad Hoc” para Ruanda, nos moldes do já

estabelecido para o conflito na ex-Iugoslávia.

O ICTR, estabelecido em 1994 nos mesmos padrões do Tribunal para a ex-

Iugoslávia, foi sediado em Arusha (Tanzânia) e com jurisdição para julgar crimes de

genocídio, crimes contra a humanidade e violações do artigo 3.º - Comum, das

Convenções de Genebra, de 1949, e do Protocolo II, de 1977 – cometidos por

ruandeses em Ruanda e nos territórios vizinhos, entre 1.º de janeiro e 31 de

dezembro de 1994. Ele tem o mérito de ter sido o primeiro Tribunal Internacional

criado para julgar crimes cometidos em um conflito doméstico.

27

5.5 DÚVIDAS, CRÍTICAS E APOIO AOS TRIBUNAIS “AD HOC”

Os tribunais “Ad Hoc” foram estabelecidos de forma absolutamente rápida,

com a pressa em se julgar os criminosos que participaram das Guerras, por este

motivo houve várias críticas sobre o sistema implantado nesses tribunais, porem

também tiveram elogios em alguns fundamentos que foram utilizados.

Diz Marrielle Maia:

A rapidez com que foram estabelecidos os tribunais ad hoc resultou em

documentos instauradores incompletos, com vantagens e inconvenientes.

Com relação ao lado positivo, o texto permite total liberdade de

interpretação aos juízes e a possibilidade de construção de regras de

procedimento, prova e definição mais ampla dos elementos dos crimes

(2001, p.112-113).

Para Murphy (1999, citado por MAIA, 2001, p.113), como as negociações de

paz muitas vezes são estabelecidas com os próprios criminosos, a necessidade de

estabelecer uma situação favorável, durante as negociações, faz com que a

manutenção da paz, de certa forma, favoreça a impunidade dos principais

responsáveis pelas violações de direitos humanos e direito internacional

humanitário. Exemplifica com o caso Karadizic4, negociador do acordo de Dayton e

indiciado pelo ICTY, por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

O caso Karadizic demonstra também a fragilidade desses tribunais perante a

necessidade de cooperação dos Estados em cujo território se encontra as pessoas

responsáveis pelos crimes de competência dos Tribunais, apesar das resoluções do

Conselho de Segurança, que estabelecem de forma clara e enérgica que todos os

Estados “deverão cooperar plenamente com o Tribunal Internacional e seus órgãos.

Mesmo com as dificuldades encontradas quanto à cooperação, os tribunais

“ad hoc” têm buscado contornar o problema procurando, junto às autoridades de

4 Atualmente, Radovan Karadizik, líder sérvio na Bósnia, encontra-se preso em Haia, respondendo às

acusações que pesam sobre ele no TPI.

28

outros Estados, a adaptação da legislação de países próximos à Iugoslávia para que

sejam compatíveis com a do Tribunal.

No que se refere á jurisdição desses tribunais “ad hoc”, ela concorre com os

tribunais nacionais e possui primazia de jurisdição. Assim, estipula-se, nas diretrizes

do ICTY (art.4º), que, “quando se submeta à autoridade judicial ou organismos de

instrução do Estado, uma causa penal que incumba à jurisdição do Tribunal

Internacional, estes se inibirão em favor do Tribunal Internacional se este assim

solicitar.

Com relação aos crimes de competência ratione materiae dos tribunais “ad

hoc”, ou seja, crimes contra as leis e os costumes da guerra, crimes contra a

humanidade e crimes de genocídio, as leis destes tribunais, diferente do Estatuto do

TPI, não prevêem jurisdição para o crime de agressão. A jurisprudência do Tribunal

demonstra os esforços dos promotores em, durante a acusação, instruir o processo

de forma a possibilitar um julgamento eficaz e punir os criminosos.

Nos crimes contra a humanidade, previsto no art. 5º dos estatutos da ex

Iugoslávia e de Ruanda, o Tribunal tem a competência de julgar pessoas

responsáveis pelos crimes de assassinato, extermínio, escravidão, prisão, tortura,

estupro, perseguição policial, racial e ideológica e outros atos desumanos, quando

cometidos como parte de um ataque generalizado ou sistemático contra qualquer

população civil, por motivos nacionais, políticos, étnicos, raciais ou religiosos.

O crime de genocídio previsto pelos tribunais “ad hoc” significa atos

cometidos com intenção de destruir, como um todo ou em parte, uma etnia,

nacionalidade, raça ou grupo religioso, cometer assassinato de membros do grupo,

causar sérios danos mentais a vida que tragam a destruição física, impor medidas

que impeçam o nascimento e o obrigar a transferência forçada de crianças para

outros grupos.

Também há de se registrar a existência de várias críticas com relação à

eficácia dos tribunais “ad hoc”, principalmente com relação ao da ex Iugoslávia, em

face da dificuldade em punir os grandes responsáveis como Karadzic, Mladic e

também Slobodam Milosevic, o principal dirigente da ex-Iugoslávia. No entanto é

necessário reconhecer a atuação inovadora e progressista dos magistrados dos

29

tribunais “ad hoc”, inclusive aproximando sistemas diferentes como o Common Law5

e o Civil Law.

Sem dúvida, a experiência positiva dos tribunais para a ex-Iugoslávia e

Ruanda, através da evolução de sua prática, tem mostrado à comunidade

internacional que é a possível uma justiça internacional que não seja imposta pelos

vencedores aos vencidos e acima de tudo, que o indivíduo é, sim, responsável pelos

crimes praticados contra os direitos humanos e o direito internacional humanitário, o

que abre as portas para as discussões que foram levadas a cabo na Conferencia de

Roma para o estabelecimento de um sistema penal internacional permanente.

Depois de analisados os tribunais “ad hoc” que foram à base para a

implantação do Tribunal Penal Internacional passa-se a discorrer sobre a criação do

mesmo.

5 Common law (do inglês "direito comum") é o direito que se desenvolveu em certos países por meio

das decisões dos tribunais, e não mediante atos legislativos ou executivos. Constitui portanto um sistema ou família do direito, diferente da família romano-germânica do direito, que enfatiza os atos legislativos. Nos sistemas de common law, o direito é criado ou aperfeiçoado pelos juízes: uma decisão a ser tomada num caso depende das decisões adotadas para casos anteriores e afeta o direito a ser aplicado a casos futuros. Nesse sistema, quando não existe um precedente, os juízes possuem a autoridade para criar o direito, estabelecendo um precedente

30

6 O “ESTATUTO DE ROMA” E A CRIAÇÃO DO TRIBUNAL PENAL

INTERNACIONAL.

Aprovado em julho de 1998, em Roma, na Conferencia Diplomática de

Plenipotenciários das Nações Unidas, o Estatuto de Roma do Tribunal Penal

Internacional teve por finalidade constituir um tribunal intencional com jurisdição

própria, com sede em Haia, na Holanda. Foi aprovado por 120 Estados, contra

apenas 07 votos contrários – China, Estados Unidos, Iêmen, Iraque, Israel, Líbia e

Quatar – e 21 abstenções. Não obstante a sua posição original, os Estados Unidos e

Israel, levando em conta a má repercussão internacional ocasionado pelos votos

contrários, acabaram assinando o Estatuto, em 31 de dezembro de 2.000. Todavia,

a ratificação do Estatuto, por essas mesmas potencias, tornou-se praticamente fora

de cogitação após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 em Nova

York e Washington, bem como após as operações de guerra subsequentes no

Afeganistão e Palestina. Assim, em 06 de maio de 2002 e em 28 de agosto do

mesmo ano, Estados Unidos e Israel, respectivamente, notificaram formalmente o

Secretário-Geral das Nações Unidas de que não tinham a intenção de se tornarem

partes no respectivo tratado.

O Estatuto do TPI entrou em vigor internacionalmente em 1º de julho de

2002, correspondente ao primeiro dia do mês seguinte ao termo do período de 60

dias após a data do depósito do sexagésimo instrumento de ratificação, de

aceitação, de aprovação ou de adesão junto do Secretário-Geral das Nações

Unidas, nos termos do seu art.126, § 1º.

O Estatuto do TPI é composto por um total de 128 artigos, com um

preâmbulo e treze partes (capítulos), quais sejam: I – criação do Tribunal; II –

competência, admissibilidade e direito aplicável; III – princípios gerais de direito

Penal; IV – composição e administração do Tribunal; V- Inquérito e procedimento

criminal; VI – o julgamento; VII – as penas; VIII – recurso e revisão; IX – cooperação

internacional e auxilio judiciário; X – execução da pena; XI – Assembleia dos

Estados-partes; XII – financiamento; XIII – cláusulas finais.

31

Segundo Ambos e Japiassu (2005, p.130-131) o tribunal tem competência

subsidiaria em relação às jurisdições nacionais de seus Estados Partes. O

preâmbulo do Estatuto proclama a determinação dos Estados em criar um Tribunal

Penal Internacional, com caráter permanente e independente, complementar das

jurisdições penais nacionais, que exerça competência sobre os indivíduos, no que

respeita àqueles crimes de extrema gravidade que afetam a sociedade internacional

como um todo.

Os crimes referidos pelo preâmbulo do Estatuto de Roma são imprescritíveis

e podem ser catalogados em quatro categorias: crime de genocídio, crimes contra a

humanidade, crimes de guerra e crime de agressão. O tribunal somente tem

competência relativamente aos crimes cometidos após a sua instituição, ou seja,

depois de 1º de Julho de 2002, nos termos art.11, §2º6, do Estatuto de Roma. Caso

um Estado se torne parte do Estatuto depois da sua entrada em vigor, o tribunal

somente poderá exercer sua competência para o processo e julgamento dos crimes

cometidos depois da entrada em vigor do Estatuto nesse Estado, a menos que este

tenha feito uma declaração específica em sentido contrário, nos termos do §3º do

artigo 12 do mesmo Estatuto, segundo o qual:

Artigo 12:

Condições Prévias para o exercício da jurisdição

Se a aceitação da competência do Tribunal por um Estado que não seja

Parte no presente Estatuto for necessária nos termos do parágrafo 2º7, pode

o referido Estado, mediante declaração depositada junto do Secretário,

consentir em que o Tribunal exerça a sua competência em relação ao crime

em questão. O Estado que tiver aceitado a competência do Tribunal

colaborará com este, sem qualquer demora ou exceção, de acordo com o

disposto no capítulo IX.

6 Artigo 11: jurisdição ratione temporis.§ 2. Se um Estado se tornar Parte no presente Estatuto depois da sua entrada em vigor, o Tribunal só poderá exercer a sua competência em relação a crimes cometidos depois da entrada em vigor do presente Estatuto relativamente a esse Estado, a menos que este tenha feito uma declaração nos termos do parágrafo 3 do artigo 12. 7 §2º do artigo 12: Nos casos referidos nos parágrafos a) ou c) do artigo 13, o Tribunal poderá exercer a sua jurisdição se um ou mais Estados a seguir identificados forem Partes no presente Estatuto ou aceitarem a competência do Tribunal de acordo com o disposto no parágrafo 3º: a) Estado em cujo território tenha tido lugar a conduta em causa, ou, se o crime tiver sido cometido a bordo de um navio ou de uma aeronave, o Estado de matrícula do navio ou aeronave; b) Estado de que seja nacional a pessoa a quem é imputado um crime.

32

Segundo Ambos e Japiassu (2005, p.132), conforme o Estatuto de Roma, o

Tribunal Penal Internacional é uma pessoa jurídica de direito Internacional com

capacidade necessária para o desempenho de suas funções e de seus objetivos. O

Tribunal poderá exercer os seus poderes e funções nos termos do seu Estatuto, no

território de qualquer Estado Parte, por acordo especial, no território de qualquer

outro Estado (art.4º, §§ 1º e 2º8). Sua jurisdição, obviamente, incidirá apenas em

casos raros, quando as medidas internas dos países se mostrarem insuficientes ou

omissas, no que respeita ao processo e julgamento dos acusados, bem como

quando desrespeitarem as legislações penal e processuais internas.

Os Estados Partes deverão, em conformidade com o disposto no Estatuto,

cooperar plenamente com o Tribunal no inquérito e no procedimento contra crimes

da competência deste. O tribunal estará habilitado a dirigir pedidos de cooperação

aos Estados-membros. Estes pedidos serão transmitidos pela via diplomática ou por

qualquer outra via apropriada escolhida pelo Estado Parte no momento da

ratificação, aceitação, aprovação ou adesão ao Estatuto (arts. 86 e 87,§ 1º9). Mas

parece claro que tais Estados somente terão condições de cooperar eficazmente

com o Tribunal se tiverem uma legislação processual adequada, a exemplo de uma

lei sobre a cooperação com o TPI. Esta obrigação, alias, vem expressa no artigo 88

do Estatuto, segundo o qual:

Os Estados-partes deverão assegurar-se de que o seu direito interno prevê

procedimentos que permitam responder a todas as formas de “cooperação”

especificadas no Capítulo IX do Estatuto (relativo à cooperação

internacional e auxilio judiciário).

8 Artigo 4º:§§1º e 2º: Regime Jurídico e Poderes do Tribunal: §1. O Tribunal terá personalidade

jurídica internacional. Possuirá, igualmente, a capacidade jurídica necessária ao desempenho das suas funções e à prossecução dos seus objetivos. §2. O Tribunal poderá exercer os seus poderes e funções nos termos do presente Estatuto, no território de qualquer Estado Parte e, por acordo especial, no território de qualquer outro Estado. 9 Artigo 86: Obrigação Geral de Cooperar: Os Estados Partes deverão, em conformidade com o disposto no presente Estatuto, cooperar plenamente com o Tribunal no inquérito e no procedimento contra crimes da competência deste. Art.87,§1º: Pedidos de Cooperação: disposições gerais: a) O Tribunal estará habilitado a dirigir pedidos de cooperação aos Estados Partes. Estes pedidos serão transmitidos pela via diplomática ou por qualquer outra via apropriada escolhida pelo Estado Parte no momento de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão ao presente Estatuto. Qualquer Estado Parte poderá alterar posteriormente a escolha feita nos termos do Regulamento Processual. b) Se for caso disso, e sem prejuízo do disposto na alínea (a), os pedidos poderão ser igualmente transmitidos pela Organização internacional de Polícia Criminal (INTERPOL) ou por qualquer outra organização regional competente.

33

Outro ponto importante a ser destacado diz respeito às questões relativas à

admissibilidade de um caso perante o Tribunal. Nos termos do artigo 17, 1, do

Estatuto, o Tribunal poderá decidir sobre a não admissibilidade de um caso se:

a) O caso for objeto de inquérito ou de procedimento criminal por parte de

um Estado que tenha jurisdição sobre o mesmo, salvo se este não tiver

vontade de levar a cabo o inquérito ou o procedimento ou, não tenha

capacidade para fazê-lo;

b) O caso tiver sido objeto de inquérito por um Estado com jurisdição sobre

ele e tal Estado tenha decidido não dar seguimento ao procedimento

criminal contra a pessoa em causa, a menos que esta decisão resulte do

fato de esse Estado não ter vontade de proceder criminalmente ou da sua

incapacidade real para fazê-lo;

c) A pessoa em causa já tiver sido julgada pela conduta a que se refere à

denúncia, e não puder ser julgada pelo Tribunal em virtude do disposto no

parágrafo 3º do artigo 20;

d) O caso não for suficientemente grave para justificar a ulterior intervenção

do Tribunal.

Já o § 2º, do mesmo artigo 17, determina se há ou não vontade de agir num

determinado caso, “ipsis literis10”:

“2. A fim de determinar se há ou não vontade de agir num determinado

caso, o Tribunal, tendo em consideração as garantias de um processo

eqüitativo reconhecidas pelo direito internacional, verificará a existência de

uma ou mais das seguintes circunstâncias:

a) O processo ter sido instaurado ou estar pendente ou a decisão ter sido

proferida no Estado com o propósito de subtrair a pessoa em causa à sua

responsabilidade criminal por crimes da competência do Tribunal, nos

termos do disposto no artigo 5º;

b) Ter havido demora injustificada no processamento, a qual, dadas as

circunstâncias, se mostra incompatível com a intenção de fazer responder a

pessoa em causa perante a justiça;

10 Ipsis litteris é uma expressão de origem latina que significa "pelas mesmas letras", "literalmente" ou "nas mesmas palavras". Utiliza-se para indicar que um texto foi transcrito fielmente.

34

c) O processo não ter sido ou não estar sendo conduzido de maneira

independente ou imparcial, e ter estado ou estar sendo conduzido de uma

maneira que, dadas as circunstâncias, seja incompatível com a intenção de

levar a pessoa em causa perante a justiça;

Alem do mais, a fim de determinar se há incapacidade de agir num

determinado caso, o Tribunal verificará se o Estado, por colapso total ou substancial

da respectiva administração da justiça ou por indisponibilidade desta, não está em

condições de fazer comparecer o acusado, de reunir os meios de prova e

depoimentos necessários ou não está, por outros motivos, em condições de concluir

o processo (art.17,§ 3º11).

O Conselho de Segurança da ONU tem o direito, de acordo com o capítulo

VII da Carta da ONU, de suspender a realização de um julgamento em até 12 meses

renováveis (art. 16). A medida, porém exige uma decisão unânime dos membros

permanentes do Conselho de Segurança. Apesar dessas restrições, os Estados

membros ganharam também, a seu modo, em numerosos outros pontos.

As despesas do Tribunal e da Assembleia dos Estados-partes, incluindo a

sua Mesa e os seus órgãos subsidiários, inscritas no orçamento aprovado pela

Assembleia, serão financiadas: a) pelas quotas dos Estados-partes; b) pelos fundos

provenientes da Organização das Nações Unidas, sujeitos a aprovação da

Assembleia Geral, nomeadamente no que diz respeito às despesas relativas a

questões remetidas para o Tribunal pelo Conselho de segurança (artigo 115)12.

Sobre a distinção feita entre a “entrega” e a “extradição” de nacionais, o

artigo 102, alínea ‘a’ e ‘b’ do Estatuto diz:

11 Artigo 17,§3º: A fim de determinar se há incapacidade de agir num determinado caso, o Tribunal verificará se o Estado, por colapso total ou substancial da respectiva administração da justiça ou por indisponibilidade desta, não estará em condições de fazer comparecer o acusado, de reunir os meios de prova e depoimentos necessários ou não estará, por outros motivos, em condições de concluir o processo. 12 Artigo 115: As despesas do tribunal e da Assembléia dos Estados-parte, inclusive as de sua Mesa e órgãos subsidiários, prevista no orçamento aprovado pela Assembléia dos Estados-parte, serão financiadas pelas seguintes fontes: a)contribuições dos Estados-partes. b) Fundos procedentes das Nações Unidas, sujeitos à aprovação da Assembléia Geral, em particular no que se refere às despesas relativas a questões comunicadas pelo Conselho de Segurança.

35

“Artigo 102:

Termos Utilizados:

Para os fins do presente Estatuto:

a) Por "entrega", entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado ao

Tribunal nos termos do presente Estatuto.

b) “Por “extradição”, entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado a

outro Estado conforme previsto em um tratado, em uma convenção ou no

direito interno.”

Segundo Ambos e Japiassu (2005, p.136), não se trata de entregar alguém

para outro sujeito de Direito Internacional Público, de categoria igual à do Estado

Parte, também dotado de soberania na ordem internacional, mas sim a um

organismo internacional de que fazem parte vários Estados. Daí o entendimento de

que o ato de entrega é aquele feito pelo Estado a um tribunal internacional de

jurisdição permanente, diferentemente da extradição, que é feita por um Estado a

outro, a pedido deste, em plano de absoluta igualdade, em relação a individuo neste

ultimo processado ou condenado e lá refugiado. A extradição sempre envolve dois

Estados soberanos, sendo ato de cooperação entre ambos na repressão

internacional de crimes, diferentemente do que o Estatuto de Roma chamou de

entrega, onde a relação de cooperação se processa entre um Estado e o próprio

Tribunal.

6.1 COMPOSIÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DO TPI

Quanto à composição e a administração do TPI, poucas foram às

divergências que se concentraram no tema da independência da promotoria, ligada

ao aspecto da prerrogativa da autonomia do promotor em investigar crimes da

competência do TPI. Com seus 18 juízes13·, eleitos de modo a representar os

13

Os juízes serão independentes no desempenho de suas funções e eleitos entre pessoas de alta consideração moral, imparcialidade e integridade, e deverão ter reconhecida experiência em direito

36

diversos sistemas jurídicos existentes, o Tribunal é composto, segundo seu

instrumento instaurador, dos seguintes órgãos:

a) Presidência – Composta por um presidente e dois vice-presidentes, todos

os juízes do Tribunal, eleitos pela maioria absoluta de seus pares, é

responsável pela administração de todos os demais órgãos, exceto o de

acusação.

b) Câmaras – divididas em:

1. Câmara de Questões Preliminares. Composta por três juízes funcionará

como órgão jurisdicional nos casos a serem definidos, no futuro corpo de

regras, sobre procedimentos e prova. Sua competência vai desde a decisão

de permitir uma investigação até a decisão do recebimento da denuncia.

2. Câmara de Julgamento. Este órgão jurisdicional, composto por três

juízes, terá competência para o julgamento da causa e dos incidentes

processuais ainda não preclusos.

3. Câmara de Recurso. Composta por cinco juízes será responsável pelo

julgamento de recursos de decisões em sentido estrito e apelações.

c) Assembleia dos Estados-parte – órgão com a função de: fixar diretrizes,

com o objetivo de manter o sistema penal internacional atualizado e

adequado a realidade internacional, por meio do estabelecimento de

normas; decidir sobre orçamento e a prerrogativa de alterar o número de

juízes (18 inicialmente). A assembleia se reunirá uma vez por ano na sede

da ONU, ou do Tribunal, e, para tanto, contará com um escritório

permanente, para auxiliá-la com relatórios e estudos.

d) Registro – órgão administrativo. Seu titular será um oficial notário.

e) Promotoria – segundo o Estatuto, estabelecido como órgão separado do

Tribunal, integrará o novo sistema penal internacional, com seu arcabouço

normativo sujeito à Assembléia dos Estados Parte.

criminal e matérias pertinentes ao direito humanitário e direitos humanos. Em caso de vacância, será celebrada uma eleição, e o magistrado eleito para cobrir uma vacância poderá ser reeleito por um mandato completo.

37

Quanto a privilégios e imunidades de seus promotores, juízes adjuntos e

secretários quando estiverem no desempenho de suas funções, encontra-se

elencado no artigo 48 do estatuto.

As regras de procedimento e provas estão elencadas no artigo 51 do

Estatuto.

6.2 MECANISMOS DE ACIONAMENTO DA JURISDIÇÃO DO TPI: O PAPEL DO

PROMOTOR E O RELACIONAMENTO COM O CONSELHO DE SEGURANÇA

Uma das questões mais discutidas e controvertidas em relação ao Estatuto

do TPI diz respeito ao acionamento de sua jurisdição.

Esclarece Marrielle Maia:

“O projeto inicial da CDI limitava aos Estados e ao Conselho de Segurança

a faculdade de oferecer denuncia ao Tribunal. No entanto, durante o Comitê

Preparatório, o like-minded group argumentou pelos poderes de

investigação ex officio do promotor, para que não se corresse o risco de

politização do Tribunal Penal Internacional (2001, p.95).

Com efeito, o projeto apresentado na Conferencia de Plenipotenciários

agregou a prerrogativa de ação autônoma do promotor para iniciar investigações.

Durante as negociações, a posição dos Estados Unidos, fortemente contrária a essa

previsão, fez com que se retomassem as discussões (id., 2001, p.95).

O promotor tem papel fundamental na iniciação do Inquérito criminal, pois

pode determiná-lo por ex officio. Munido das informações e denuncias suficientes e

convincentes para a instauração do inquérito, o mesmo irá se dirigir ao Juízo de

Instauração, que irá analisar se há realmente a necessidade de instaurar o inquérito

e se não há nenhum tipo de restrição quanta a Jurisdição do Tribunal para julgar o

assunto. A recusa do Juízo de instrução na abertura do inquérito não impede o

procurador de reentrar com o mesmo se no decorrer do tempo obtiver novas provas.

38

Se o promotor não achar nenhum motivo para a instauração do inquérito, irá

arquivá-lo e informar ao denunciante do fato ocorrido. Isto não impede que num

futuro próximo, munido de novas provas ele desarquive o inquérito e reinicie a

instauração do mesmo.

O Estatuto do TPI fornece elementos para um Ministério Público de caráter

relevante, que poderá agir com base em informações de qualquer fonte confiável,

isto é, não só de um Estado-Membro (art. 15). Os acusadores terão de submeter

suas provas a exame pela Câmara de Pré-Julgamento do TPI. Isso protegerá seu

trabalho do risco de politização por órgãos como o Conselho de Segurança da ONU

e a Assembléia de Estados-Parte. Porém, existe ainda o direito do Conselho de

Segurança de intervenção em conformidade com o Capítulo VII da Carta das

Nações Unidas.

Uma solução diferente foi encontrada para o importante assunto prático de

acesso a provas que (supostamente) digam sobre interesses de segurança nacional.

Compete ao país sustentar suas razões para o segredo e habilitar também o

Tribunal para utilizar esta prova por conseqüência.

6.3 CRIMES TIPIFICADOS PELO TPI

O Tribunal Penal Internacional tem em seu Estatuto as definições de crimes

de genocídio, os crimes contra a humanidade e os crimes de guerra. Vale salientar

que o maior causador de discussões na Conferencia de Roma foi à questão aos

crimes de agressão, que não obteve êxito em sua definição final, por isso não foi

incluído totalmente no Estatuto de Roma.

Passa-se agora a analisar cada crime abrangido pelo Estatuto, conforme

parágrafos seguintes.

39

6.3.1 Crime de Genocídio:

O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, acompanhando esta

evolução do Direito Internacional dos direitos humanos e do Direito Internacional

humanitário, definiu o crime de genocídio no seu art.6º.

De acordo com a Convenção,

Genocídio é qualquer ato, em tempo de paz ou de guerra, com a intenção

de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional étnico, racial, ou

religioso, como o assassinato de qualquer dano grave à integridade física

ou mental de membros do grupo; subjugação intencional do grupo à

condição de existência que lhe ocasione a destruição física, total ou parcial,

medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo, e

transferência de indivíduos, sobretudo crianças, para outro grupo.

Conquanto destacando-se em separado, tanto na doutrina e como na prática

do TPI, o genocídio está implícito na longa lista de crimes contra a humanidade, a se

ver mais adiante.

6.3.2 Crimes contra a humanidade:

Os crimes contra a humanidade têm sua origem histórica no massacre

provocado pelos turcos contra os armênios, na Primeira Guerra Mundial, qualificado

pela Declaração do Império Otomano como um crime da Turquia contra a

humanidade e a civilização (id., 2005, p.139).

Os crimes contra a humanidade estão elencados no artigo 7º,§ 1º do

Estatuto de Roma, conforme abaixo:

Crimes contra a Humanidade

§1. Para os efeitos do presente Estatuto, entende-se por "crime contra a

humanidade", qualquer um dos atos seguintes, quando cometido no quadro

40

de um ataque, generalizado ou sistemático, contra qualquer população civil,

havendo conhecimento desse ataque:

a) Homicídio;

b) Extermínio;

c) Escravidão;

d) Deportação ou transferência forçada de uma população;

e) Prisão ou outra forma de privação da liberdade física grave, em violação

das normas fundamentais de direito internacional;

f) Tortura;

g) Agressão sexual, escravatura sexual, prostituição forçada, gravidez

forçada, esterilização forçada ou qualquer outra forma de violência no

campo sexual de gravidade comparável;

h) Perseguição de um grupo ou coletividade que possa ser identificado, por

motivos políticos, raciais, nacionais, étnicos, culturais, religiosos ou de

gênero, tal como definido no parágrafo 3º, ou em função de outros critérios

universalmente reconhecidos como inaceitáveis no direito internacional,

relacionados com qualquer ato referido neste parágrafo ou com qualquer

crime da competência do Tribunal;

i) Desaparecimento forçado de pessoas;

j) Crime de apartheid;

k) Outros atos desumanos de caráter semelhante, que causem

intencionalmente grande sofrimento, ou afetem gravemente a integridade

física ou a saúde física ou mental.

O Estatuto também marca um progresso no desenvolvimento do direito

internacional ao compreender uma série de atos de violência sexual e a proteção às

mulheres e crianças. Cabe também destacar a inclusão, na lista como crimes contra

a humanidade, dos desaparecimentos forçados, do crime de apartheid e de “outros

atos desumanos”.

41

6.3.3 Crimes de Guerra:

Os crimes de guerra, também conhecidos como “crimes contra as leis e

costumes aplicáveis em conflitos armados”, decorrem de uma longa evolução do

Direito Internacional Humanitário, desde o século XIX, tendo sido impulsionado pelo

Comitê Internacional da Cruz Vermelha e por várias conferências internacionais,

ganhando foros de juridicidade com as quatro convenções de Genebra, de 12 de

agosto de 1949, e com as bases teóricas do direito a declarar guerra.

A competência do tribunal em crimes de guerra está elencado no artigo 8º, §

1º do Estatuto, a saber:

Artigo 8º:

Crimes de Guerra

§1. O Tribunal terá competência para julgar os crimes de guerra, em

particular quando cometidos como parte integrante de um plano ou de uma

política ou como parte de uma prática em larga escala desse tipo de crimes.

Os crimes que contemplam este artigo são elencados no §2º do Estatuto,

dentre os quais se destacam o homicídio doloso, a tortura e outros tratamentos

desumanos, a apropriação ou destruição injustificada de bens em larga escala, a

coação sobre prisioneiros para servirem nas forças armadas inimigas, o julgamento

de prisioneiros de forma injusta e imparcial, a tomada de reféns, o ataque intencional

a população civil e seus bens, o homicídio de prisioneiros que tenham deposto as

armas, a utilização de guerra sem quartel, o uso de armas venenosas, químicas e/ou

biológicas, atos de violação e/ou escravidão sexual, a prática de saques a cidades

ou aglomeramentos sociais, a supressão dos direitos individuais e/ou coletivos dos

cidadãos da parte inimiga, a deportação de pessoas, e a submissão de prisioneiros

a trabalhos forçados.

Para Maia (2001, p.90) a definição desses crimes foi também resultado de

uma das negociações mais trabalhosas, pois se corria o risco de restringir as

competências do Tribunal. Sem duvida, algumas das questões mais sensíveis

42

negociadas em Roma estavam relacionadas a este tema, uma vez que abrangem a

conduta de operações militares, inclusive a proibição do emprego de armas, e

envolvem a possibilidade de incriminação de pessoal subordinado às forças

armadas.

Outra limitação foi introduzida nas idéias finais apresentadas á Conferencia

Diplomática no fim das negociações, com o objetivo de, conforme o já exposto neste

estudo, isolar os países desfavoráveis à competência automática do tribunal, com a

inclusão do dispositivo transitório, que prevê a possibilidade de um Estado declarar a

não aceitação da jurisdição do TPI para crimes de guerra por um período de sete

anos.

Vale ressaltar como pontos positivos as medidas de proteção às mulheres,

com a inclusão, na lista de crimes de guerra, do estupro, da prostituição forçada, da

escravidão sexual, da esterilização forçada e de outras formas de violência sexual.

Há também que se ressaltar a proteção dada às crianças nos conflitos armados,

aonde a punição para aqueles que as convocam para a guerra. Destaca-se também

a proteção a prédios de educação como forma de proteção aos civis, em especial

crianças e adolescente.

6.3.4 Crime de agressão:

O crime de agressão sempre causou polemica na doutrina, desde as

primeiras questões envolvendo a ilicitude da guerra, sabendo-se que, no plano

internacional, a guerra foi declarada como sendo um meio ilícito de solução de

controvérsias internacionais.

A não existência de uma definição precisa de agressão, suficientemente

abrangente para servir como elemento constitutivo do “crime de agressão” e,

consequentemente, para fundamentar a responsabilidade penal internacional dos

indivíduos, dificultou, em decorrência, a inclusão dessa espécie de crime no Estatuto

de Roma de 1998.

43

Por esses e outros motivos igualmente relevantes é que, dos quatro crimes

incluídos na competência do TPI, a definição do crime de agressão foi

propositadamente relegada a uma etapa posterior, nos termos do art.5º, § 2º, do

Estatuto, segundo o qual o tribunal poderá exercer a sua competência em relação a

esse crime desde que sobrevenha uma disposição que defina o crime e se

enunciem as condições em que o Tribunal terá competência relativamente a tal

crime. Essa nova disposição poderá ser por emenda (art.121) ou por revisão

(art.123), pois durante a Conferência de Roma não houve consenso sobre a

tipificação dessa espécie de ilícito internacional. O Estatuto esclarece ainda que tal

disposição deva ser compatível com as disposições pertinentes da Carta das

Nações Unidas.

Segundo Ambos e Japiassu (2005, p.143) a tipificação jurídica do crime de

agressão será resultado dos trabalhos da Comissão Preparatória do TPI, que está

entabulando negociações no sentido de se chegar a um consenso sobre os

elementos constitutivos de tal crime internacional.

6.4 DOS CRIMES DE TRÁFICO DE DROGAS E TERRORISMO:

Os crimes de tráfico de drogas e substancias psicotrópicas, terrorismo,

contra as Nações Unidas e pessoas associadas, previstos no projeto de Estatuto

apresentado pelo Comitê Preparatório a Conferencia de Plenipotenciários, apesar de

terem sua inclusão defendida por vários países, ficaram fora do documento final,

com exceção do ultimo, que foi parcialmente incorporado aos crimes de guerra e

crimes contra a humanidade.

Mesmo havendo um estágio preparatório, não houve consenso entre as

delegações sobre a inclusão desses crimes no próprio projeto do Estatuto. Mais

especificamente, no caso do tráfico de entorpecentes, algumas delegações

expressaram que, como possui uma dimensão internacional com sérias

consequências para a população mundial, esse delito deveria constar entre os

crimes de competência ratione materiae do Tribunal. No entanto, prevaleceu à visão

44

da maioria, que considerava que os referidos delitos, alem dos problemas de

definição, requereriam um planejamento longo para investigação, infiltração nas

organizações envolvidas, imunidade para alguns envolvidos, os quais poderiam ser

mais bem investigados e processados por autoridades nacionais em acordos de

cooperação distintos do TPI.

Ensinam Antonio Cassese e Mireille Delmas-Marty em seu livro Crimes

Internacionais e Jurisdições internacionais sobre o terrorismo, que:

“O terrorismo internacional merece observações um pouco diferentes. A

comunidade internacional ainda não conseguiu chegar a uma definição

geral do crime de terrorismo internacional. Todavia, Os Estados elaboraram

muitas convenções com relação aos atos terroristas específicos, que

estabelecem regimes particulares de caráter convencional. Nessas

convenções nenhuma menção é feita a falta de pertinência do caráter oficial

dos indivíduos órgãos. Os Estados jamais sentiram a necessidade de

invocar a esse respeito às imunidades funcionais para seus órgãos, pois, na

realidade, eles são muito reticentes em admitir a possibilidade de que seus

agentes – mesmo agentes de facto – estejam implicados em atos

terroristas, que a eles, portanto também seriam imputáveis. A líbia, por

exemplo, jamais admitiu que os dois indivíduos acusados de atentado

terroristas em Lockerbie poderiam ser considerados seus agentes,

conseqüentemente, as imunidades funcionais jamais foram questionadas

(2004, p. 279).

E continuam:

Podemos imaginar que os responsáveis presumidos de um ato terrorista

agem na qualidade de agentes secretos – e, portanto, protegidos pelo

aparelho estatal – ou então que eles sejam membros de um grupo terrorista

que age sob instruções ou sob o controle de um Estado. Quer dizer como

órgão de facto. Caso se tratasse de membros dos serviços secretos,

poderíamos talvez considerar a aplicação de regras sobre imunidade

funcional. Seria preciso, a seguir, perguntar se excetuaremos essas regras

– mesmo diante do silencio das Convenções em matéria de terrorismo

internacional. A questão se torna mais complicada se o Estado ao qual

pertencem os agentes secretos sustenta, por exemplo, que eles excederam

45

sua competência ou contrariam suas instruções, ou então agiram em

caráter privado. Nessas hipóteses, deixando de lado qualquer questão

relativa á responsabilidade do Estado, parece mais difícil que os agentes

possam gozar das imunidades funcionais. A questão é ainda diferente no

que concerne a hipótese dos órgãos de facto, cuja noção não tem contornos

nítidos (2004, p. 280-281).

Segundo Cassese e Delmas-Marty, (2004, p. 158) reconhecendo a não

inclusão do crime de terrorismo no Estatuto da TPI a questão que se coloca deve ser

a de saber se estes crimes podem ou não ser considerados pelo Estatuto dentro de

uma diferente roupagem, ou seja, por intermédio de uma nomenclatura distinta. A

resposta a esta questão depende evidentemente da magnitude e da circunstancia

dos atos cometidos, mas de uma forma geral, embora se reconheça a aplicação do

princípio da reserva legal na sua vertente do nullum crimen nulla pena sine lege,

nada impede que estes crimes possam encontrar uma tipificação no que veio a ser

esboçado como crimes de guerra ou crimes contra a humanidade.

Um dos principais argumentos contrários à inclusão do terrorismo no

Estatuto do TPI pode-se considerar que estes crimes podem vir igualmente a serem

punidos pelas respectivas jurisdições internas, ainda que considerados sob a forma

de crimes de direito comum. No entanto, independente das possibilidades geradas a

partir do direito interno, é evidente que determinados atos terroristas são de

tamanha gravidade que eles ameaçam a humanidade como um todo, como seus

interesses, sua segurança e seu patrimônio. Sabe-se, ainda, que o TPI, tem apenas

uma competência complementar, e o debate acerca da aplicação da regra Ne bis in

idem não impede o exercício de sua jurisdição. Por fim, nada impede que o TPI

exerça sua jurisdição naqueles casos em que outros tratados internacionais

deleguem a ele competência para processar e julgar certos crimes. A fonte de sua

competência para processar e julgar certos crimes pode, portanto, provir de tratados

suplementares treaty-based14 crimes, ou seja, ser estabelecida pela própria

manifestação de vontade dos Estados.

Pode-se concluir que, o crime de terrorismo e de tráfico de entorpecentes é

de difícil compreensão, pois são muito abrangentes e por muitas vezes não se

14

Treaty-based: tratado base.

46

encontra o responsável pelo crime, pois muitos estão camuflados em seus Estados

soberanos tendo certa imunidade dentro dos mesmos. Há também a difícil

investigação de quem seria o mentor dos atos terroristas e de como poderia se

prender e condenar este criminoso. Os grupos que fazem tráfico internacional de

drogas e os grupos terroristas estão espalhados pelo globo, o que dificulta ainda

mais a ação dos órgãos da ONU para a realização de prisões desses grupos.

47

7 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO PENAL CONSAGRADOS NO TPI

Na elaboração do estatuto do TPI, a ONU logrou consagrar princípios de

direito, não obstante as dificuldades conceituais entre as delegações de países de

direito civil e as de países de “commow Law”, que fornecem a base para a

responsabilização criminal individual internacional e para a exclusão da

responsabilidade, de modo que seus operadores possam aplicar os tipos penais

sem a necessidade de fontes auxiliares. Segundo os ensinamentos de Maia (2001,

p. 206) são eles:

a) Nullum Crimen sine Lege (não há crime sem lei), conhecido como

princípio da legalidade, é uma norma de direito penal substantivo

que consta no art.11, II, da Declaração Universal, que dispõe sobre

o princípio da legalidade, junto com o da presunção de inocência:

“Ninguém será condenado por atos ou omissões que no momento

em que foram cometidos não eram delituosos segundo o direito

nacional e internacional. Tampouco se imporá pena mais grave que

a aplicável no momento da ação delituosa.

Também o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, em redação

quase idêntica, dispõem sobre esse princípio.

b) Nulla poena sine lege, ou seja, o indivíduo condenado pelo Tribunal

somente poderá ser punido em conformidade com o disposto no

presente Estatuto, ligado também ao princípio da Legalidade.

c) Irretroatividade, também ligada ao princípio da legalidade que busca

eliminar a possibilidade de julgar, e de sentenças arbitrárias,

mediante aplicação de uma lei posterior ao feito, ou com base

normativa prevista por um decreto ou outra disposição que não

tenha status de lei. Vale lembrar que o Pacto Internacional de

Direitos Civis e Políticos agregam como exceção, o benefício da

retroatividade benigna da lei (art.15, I)

48

d) Responsabilidade penal Internacional Individual: As cartas dos

Tribunais de Nuremberg e Tóquio, os Estatutos dos Tribunais da

Ex-Iugoslávia e Ruanda, confirmam claramente que os tribunais

internacionais têm competência para julgar pessoas suspeitas ou

acusadas de delitos graves compreendidos no direito internacional.

e) Exclusão de jurisdição sobre menores de 18 anos: Foi reconhecida

a situação da criança e do adolescente como a de ser humano em

desenvolvimento, consagrada nas diversas Convenções

Internacionais e Regionais sobre Criança e Adolescente das

Nações Unidas.

f) Responsabilidade de comandantes e outros superiores:

Consagração da responsabilidade dos chefes militares e outros

superiores com relação às ações das forças sob seu comando,

incluindo também a responsabilidade por omissão.

g) Imprescritibilidade: A prescrição penal constitui, desde a

Antiguidade, uma renuncia da pretensão punitiva, em suas origens

disposta pelos juízes e logo pelos sistemas penais nacionais como

regra em relação a delitos considerados comuns, mas não aqueles

considerados atrozes. É um princípio geralmente reconhecido, já

que os prazos fixados em muitos sistemas nacionais de justiça

penal para o processamento de delitos comuns não são aplicáveis

no caso das violações graves de direito internacional. A respeito à

Convenção das Nações Unidas sobre a Imprescritibilidade dos

Crimes de Guerra e dos Crimes contra Humanidade, de 26/11/1968,

estipula que esses crimes não prescrevem, independentemente de

quando tenham sido cometidos 15.

15 A imprescritibilidade dos crimes contra a humanidade foi confirmada pela ONU na Resolução nº. 3074, de 03 de dezembro de 1973, que dispõe: “os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade, onde for e qualquer que seja a data em que tenham sido cometidos será investigado, e as pessoas contra as quais haja provas de sua culpabilidade na execução de tais crimes serão procuradas, detidas, processadas e, em caso de serem consideradas culpadas, punidas (...)”. In: http://www.esmpu.gov.br/dicionario/tiki-index.php?page=Conven%C3%A7%C3%A3o+sobre+a+ Imprescritibilidade+dos+Crimes+de+Guerra+e+dos+Crimes+contra+a+Humanidade (acessado em 24.09.2012)

49

h) Elementos de intencionalidade: Para efeitos do Estatuto, entende-

se que atua intencionalmente quem, em relação a uma conduta,

propõe-se a incorrer nela; em relação a uma conseqüência, propõe-

se a causá-la, ou é consciente de que a produzirá no curso normal

dos acontecimentos.

i) Circunstancias que excluem a responsabilidade penal: Foram

discutidas e previstas pela CDI e pelo Comitê Preparatório.

Previstas no artigo 31 do Estatuto do TPI.

j) Erro de fato ou erro de direito: O erro de fato eximirá da

responsabilidade penal, unicamente, se faz desaparecer o elemento

de intencionalidade do referido crime; já o erro de direito constitui

crime da competência do Tribunal. Poderá ser considerado eximidor

apenas se fizer desaparecer o elemento de intencionalidade.

k) Ordens superiores e disposições legais. De acordo com a

jurisprudência dos tribunais ad hoc e do Tribunal de Nuremberg,

não se aceitam como circunstancias eximidoras as ordens

superiores.

Os princípios retro mencionados, fruto da faina jurídica do CDI e também do

Comitê Preparatório, têm o dom de aplainar arestas na área, de consolidar a visão

moderna do Direito Penal Internacional e, de modo particular, afastar quaisquer

tentativas de relacionar-se o TPI com os tribunais de exceção do pós-guerra

(Nuremberg e Tóquio), já que contra estes pesam várias críticas doutrinárias.

50

8 COMENTÁRIOS GERAIS SOBRE A CONFERÊNCIA DE ROMA E O ESTATUTO

DO TPI

Muitas foram às dificuldades encontradas nas negociações para a criação do

TPI, em sua maioria ligadas de alguma forma às jurisdições do Tribunal.

No contrário da grande maioria dos temas relevantes, o caráter

complementar do Tribunal não foi questionado, não se cogitou do estabelecimento

de um tribunal internacional com primazia de jurisdição perante as jurisdições

nacionais, conforme os tribunais Ad Hoc criados pelo Conselho de Segurança, que

tem sua jurisdição concorrente com a doméstica.

A jurisdição do TPI só será utilizada quando se verificar a clara incapacidade

de julgamento ou falta de animus do Estado Membro em julgar e processar os

responsáveis pelos crimes cometidos em seu território.

Neste sentido, assim afirma Marrielle Maia:

Como o Tribunal criado se destina as situações de extrema gravidade,

haveria ainda assim a necessidade de se prever um caráter complementar,

já que são os juízes do próprio Tribunal que decidem sobre a

admissibilidade de um caso? Poder-se-ia dizer que a escolha do princípio

da complementaridade que reflete essa relação jurisdicional entre o TPI e

os sistemas nacionais constitui uma involução em face dos tribunais que o

procederam? Uma possível resposta remete ao princípio da soberania, que

embora com a modificação da interpretação do conceito em decorrência da

evolução das relações internacionais e do direito internacional, ainda

influencia a posição de muitos Estados nos foros internacionais (2001,

p.98).

A conferência de Roma conseguiu reunir vários tipos de etnias, culturas,

religiões, legislações e modos de pensar, de diversos países, e isto, pode ser visto

como um marco importante para a história da humanidade, pois todos se reuniram

para um só objetivo, criar um Tribunal que julgaria criminosos internacionais, de

forma justa e convincente. E para que não houvesse a desconfiança da sociedade

51

internacional, por dias foram debatidas teses e legislações diversas para que o

Estatuto de Roma esclarecesse passo a passo de como se iriam atingir os Estados

membros para a colaboração da instauração criminal e de como os criminosos iriam

ser julgados por seus crimes.

Após este estudo, passa-se às considerações finais.

52

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O TPI não surgiu “por acaso”, pois antes de sua existência houve certa

“colheita” de dados relevantes para a criação deste Tribunal Penal Permanente.

Como se depreende antes da Criação do Tribunal Penal o mundo passou

por “alterações humanitárias” como jamais vistas, e infelizmente podemos dizer que

essas “mudanças” ocorreram do pior modo possível, mediante as Guerras que

abalaram o mundo no século XX.

Na primeira Grande Guerra, o mundo viu as atrocidades que as armas

modernas podiam causar, e de que Grandes Lideres também podiam ser vistos

como Grandes Criminosos. Na segunda grande guerra a comoção após o fim da

mesma foi ainda maior, pois as fotos e documentários que circulavam no mundo

mostrando como o ser humano era tratado nos campos de concentração nazistas

chocaram a comunidade internacional. Os causadores de todo esse massacre

deveriam ser punidos de qualquer forma, independentemente se eram mandados ou

mandantes. Com isso houve a criação dos Tribunais de Nuremberg e de Tóquio, que

demonstraram ser eficazes na punição desses criminosos. Ambos os tribunais

podiam ser questionados, pois não demonstravam ainda a eficácia de um

julgamento internacional que demonstrassem características de um julgamento justo

e parcial, mas revolucionaram a época e serviram de inspiração para a moldagem

do Estatuto de Roma.

Passados os eventos das duas Grandes Guerras, começou-se uma corrida

armamentista entre as duas potencias do mundo na época pós-guerra, a antiga

URSS, hoje Rússia, e os Estados Unidos da América, que de certa forma ajudaram

a atrapalhar o andamento da criação do Tribunal permanente.

O tempo passou, e duas guerras civis de grandes proporções estouram no

mundo, uma na antiga Iugoslávia, e a outra em Ruanda. Nessas guerras as

atrocidades também aconteceram, e não houve apenas baixas militares, mas

também civis, pois não havia segurança para as pessoas que viviam nesses países

com conflitos internos. A ONU, por meio do seu Conselho de Segurança, criou dois

53

Tribunais “ad hoc”, um para a ex-Iugoslávia e um para Ruanda. Esses tribunais,

como já dito, foram os basilares para a criação do TPI, pois neles havia artigos

concretos de julgamento dos criminosos internacionais.

Após várias reuniões e da mobilização do CDI para elaboração de um

Tribunal Penal Internacional Permanente, chegou-se ao ano de 1998, e nas datas de

15 de junho a 17 de julho, nas dependências da FAO (Food and Agriculture

Organization of United Nations), em Roma, deu-se a Conferência Diplomática de

Plenipotenciários para o estabelecimento de um Tribunal Penal Internacional.

O estatuto do TPI entrou em vigor internacionalmente em 1º de Julho de

2002, correspondente ao primeiro dia do mês seguinte ao termo do período de 60

dias após a data do depósito do sexagésimo instrumento de ratificação, de

aceitação, de aprovação ou de adesão junto do Secretário-Geral das Nações

Unidas, nos termos do seu artigo 126,§1º.

A adoção deste Estatuto do Tribunal Penal Internacional, é considerada um

marco na história da humanidade na luta contra os crimes internacionais, e supria as

lacunas deixadas durante o tempo apontadas pelo direito internacional.

Como todo Estatuto ou Código, como se pode dizer, ele foi alvo de críticas e

de discussões acirradas, pois contemplava países de diferentes tipos de legislação

interna, como as de Commow Law e as de Civil Law. Como visto no capitulo que

aborda o princípio da complementaridade, o Tribunal surgiu como um assistente

para suprir as lacunas deixadas por Estados-membros que não tem condições de

julgar os seus nacionais criminosos.

O Tribunal por várias vezes foi visto como uma forma de intromissão ao

direito de soberania dos Estados, mas como dito anteriormente, ele apenas visava

complementar e ajudar os países que não tinham como julgar seus criminosos.

O Tribunal Penal Internacional, esbarra também em questões diplomáticas,

pois como já se observou neste trabalho, todos os países tem o dever de

cooperação com o Tribunal, colaborando com a coleta de provas, para que aja um

julgamento justo ao criminoso, sob pena do inquérito ser arquivado por falta de

provas. Os Estados não-membros estão desobrigados de entregar os seus

54

criminosos para julgamento no TPI, o que também dificulta muito o julgamento de

indivíduos que utilizam deste artifício para não ser extraditados ou entregues à

Corte.

Enfim, não podemos olhar o Tribunal Penal Internacional com “maus-olhos”,

pois mesmo contendo diversos erros, como qualquer outro código ou Estatuto, ele

ainda pode ajudar muito no futuro da humanidade que ainda passa por épocas de

conflitos armados, como no Oriente Médio, onde recentemente ocorreram vários

conflitos para a derrubada de líderes considerados Ditadores pelos povos que ali

vivem.

55

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Interação entre o direito internacional e o direito interno na proteção dos direitos humanos. Revista Arquivos do Ministério da Justiça 182, 1993. CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. O fortalecimento de uma perspectiva brasileira nas relações internacionais. Funag, 1999. CASSESE, Antonio, DELMAS-MARTY, Mireille. Crimes Internacionais e Jurisdições Internacionais. São Paulo: Manole, 2004.

LIMA, Renata Mantovani de, BRINA, Mariana Martins da Costa. O Tribunal Penal Internacional, - Coleção para entender: O tribunal Penal Internacional. – Belo Horizonte: Del Rey, 2006.

MAIA, Marrielle. Tribunal Penal Internacional: Aspectos Institucionais, Jurisdição e Princípio da Complementaridade. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.

SWINARSKI, Christophe. Introdução ao direito internacional humanitário. Brasília, CICV/IIDH, 1993.

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