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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Rosa Maria Dognani Bernardo Gonçalves AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DO ECA E A REINCIDÊNCIA DA DELINQUÊNCIA JUVENIL CURITIBA 2012

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Rosa Maria Dognani Bernardo Gonçalves

AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DO ECA E A REINCIDÊNCIA DA

DELINQUÊNCIA JUVENIL

CURITIBA

2012

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AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DO ECA E A REINCIDÊNCIA DA

DELINQUÊNCIA JUVENIL

Curitiba

2012

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Rosa Maria Dognani Bernardo Gonçalves

AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DO ECA E A REINCIDÊNCIA DA

DELINQUÊNCIA JUVENIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel.

Orientadora: Simone Franzoni Bochnia

CURITIBA

2012

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TERMO DE APROVAÇÃO

Rosa Maria Dognani Bernardo Gonçalves

AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DO ECA E A REINCIDÊNCIA DA

DELINQUÊNCIA JUVENIL

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção de grau de Bacharel em Direito no Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 02 de Maio de 2012.

___________________________ Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografia

Orientadora: ______________________________

Profª Dra. Simone Franzoni Bochnia

Examinador 1: _____________________________ Prof(a). Dr(a).

Examinador 2: _____________________________

Prof(a). Dr(a).

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Ao meu noivo, Thiago que esteve presente em todos os momentos desse trabalho me apoiando, sempre com muita paciência nos dias de aflição. Sem ele a caminhada seria muito mais difícil. À minha orientadora Simone Franzoni Bochnia, que me garantiu mais tranquilidade mesmo nos últimos minutos da realização desse trabalho, com muita serenidade, carinho e dedicação.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais, Eronides e Maria Aparecida, pelas

orações e mesmo que distantes sempre me instruíam a trilhar o caminho do bem, da

perseverança e da fé.

Aos meus irmãos, Mariângela e Carlos Manoel que com muito carinho me

apoiaram e ajudaram para conclusão desse trabalho.

E por fim, aos meus amigos Rogério Azevedo, que de muito longe me

incentivou com palavras amigas e orações que nunca me deixaram desistir e Aline

Eloisa que inúmeras vezes chorou comigo e não me deixou perder as esperanças.

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RESUMO

O objetivo deste trabalho é fazer um breve estudo acerca das medidas socioeducativas do Estatuto da Criança e do Adolescente. Inicialmente deve-se analisar a evolução histórica dos cuidados com as crianças e adolescentes, juntamente com os princípios norteadores da infância e juventude, para que assim se pondere os equívocos que vem ocorrendo na aplicação de tais medidas, resultando na reincidência dos infratores, gerando um número expressivo de delinquentes juvenis. É de suma importância analisar o tema em questão, visto que vem causando várias discussões entre os operados do direito.

Palavras-chave: medidas socioeducativas; estatuto; atos infracionais; reincidência; delinquência.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................................9

2 NOTÍCIA HISTÓRICA CONTEXTUALIZADA DA CRIANÇA E AD OLESCENTE –

FRENTE AOS PRINCíPIOS NORTEADORES DO ECA........... ...................................11

2.1 JESUÍTAS ...............................................................................................................11

2.1.1 Senhores ..............................................................................................................12

2.1.2 Santa Casa De Misericórdia.................................................................................13

2.1.3 Famílias................................................................................................................14

2.1.4 Estado ..................................................................................................................14

2.1.5 Forças Armadas: Segurança Nacional.................................................................15

2.1.6.Juízes de Menores ...............................................................................................16

2.2 PRINCÍPIOS DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE .......................17

2.2.1 Princípio da proteção integral...............................................................................18

2.2.2 Princípio da condição peculiar da pessoa em desenvolvimento ..........................18

2.2.3 Princípio da proporcionalidade .............................................................................20

3 A FAMÍLIA, A SOCIEDADE E O ESTADO ................ ...............................................22

3.1 FUNÇÃO DA FAMÍLIA ............................................. Erro! Indicador não definido. 2

3.2 FUNÇÃO DA SOCIEDADE .....................................................................................23

3.3 FUNÇÃO DO ESTADO ...........................................................................................25

4 ASPECTOS GERAIS DAS MEDIDAS IMPOSTAS AO ADOLESCEN TE

INFRATOR SEGUNDO O ECA ............................. .......................................................27

4.1 MEDIDAS IMPOSTAS AO ADOLESCENTE INFRATOR........................................29

4.1.1 Advertência ..........................................................................................................29

4.1.2 Obrigação de reparar o dano ...............................................................................30

4.1.3 Prestação de serviço à comunidade ....................................................................31

4.1.4 Liberdade Assistida ..............................................................................................32

4.1.5 Regime de semiliberdade.....................................................................................34

4.1.6 Internação ............................................................................................................35

5 EFETIVA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS E SUA RELAÇÃO COM A

REINCIDÊNCIA DA DELINQUÊNCIA JUVENIL ............... ...........................................38

5.1 REINCIDÊNCIA DA DELINQUÊNCIA JUVENIL .....................................................39

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5.2 REINCIDÊNCIA DOS ATOS INFRACIONAIS.........................................................40

5.3 EFETIVA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SÓCIOEDUCATIVAS E A ANALOGIA

COM A REINCIDÊNCIA DOS INFRATORES ...............................................................41

6 CONCLUSÃO ........................................ ....................................................................46

REFERÊNCIAS.............................................................................................................48

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1 INTRODUÇÃO

A delinquência juvenil vem crescendo abruptamente, é visível que os

adolescentes estão violando a lei expressa pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA), tendo como consequência a reincidência desses infratores.

Com isso, pode-se questionar se tal situação não seria o reflexo da

aplicabilidade ineficaz das medidas socioeducativas previstas no ECA.

Deve-se ressaltar que boa parte da doutrina entende que a situação se

agrava não só pela má aplicabilidade das medidas, mas também no que tange as

relações familiares, sociais e estatutárias.

Importante destacar ainda, no que se refere à infraestrutura das instituições

que cuidam da ressocialização dos infratores, onde o Estado, como obrigação

deveria investir mais, as condições são precárias, muitas não possuem condições

ínfimas de atender as necessidades básicas dos internos.

No decorrer dos capítulos, se verificará a evolução histórica dos cuidados

com a criança e o adolescente, juntamente com os princípios de proteção da criança

e do adolescente. Em seguida, a análise sobre as responsabilidades da família,

sociedade e Estado.

Na sequência, observará os aspectos gerais das medidas impostas ao

adolescente infrator, depois, o estudo será das medidas socioeducativas em

espécie, onde se analisará cada uma em suas características essenciais e abordará

a reincidência da delinquência juvenil, com relação à má atuação e fiscalização da

família, sociedade e Estado.

Por fim, realizará um parâmetro das medidas e a relação que cada uma

delas tem com a reincidência dos infratores.

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Portanto, verifica-se que o presente trabalho tem como justificativa estudar o

que vem provocando a reincidência da delinquência juvenil, haja vista que existem

tantas medidas que deveriam ser eficazes para esse comportamento atípico dos

adolescentes.

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2 NOTÍCIA HISTÓRICA CONTEXTUALIZADA DA CRIANÇA E AD OLESCENTE –

FRENTE AOS PRINCÍPIOS NORTEADORES DO ECA

No que diz respeito ao aspecto normativo, a proteção aos direitos da criança

e adolescente é muito recente, portanto se faz necessário um estudo das primeiras

iniciativas ao direito dos menores, a denominação menores, também será utilizada

uma vez que nessa época ainda não se tinha o entendimento atual de serem

chamados exclusivamente de crianças e adolescentes.

Desde a independência do Brasil (1822), os menores desvalidos passaram

por muitos grupos que os acolheram, em cada período elas eram cuidados por

determinas instituições. Nesse sentido será analisado o que os autores, Irene Rizzini

e Francisco Pilotti, relataram no que se refere a proteção das crianças e

adolescentes nas mãos dos Jesuítas, Senhores, Santa Casa de Misericórdia,

Famílias, Estado, Forças Armadas: Segurança Nacional e Juízes de Menores.

2.1 JESUÍTAS

Irene Rizzini e Francisco Pilotti afirmam que “No período colonial, a

assistência à infância no Brasil seguia determinações de Portugal, aplicadas por

meio de burocracia, dos representantes da Corte da Igreja Católica.” (2009, p. 17).

Sendo assim, para melhorar a situação dos menores, os doutrinadores

descrevem ainda que “[...] desenvolveu-se, no interior das reduções jesuítas, um

complexo e bem estruturado sistema educacional, cuja missão era submeter a

infância ameríndia a uma intervenção, moldando-a de acordo com os padrões de

seus tutores” (2009, p. 18).

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Nesse momento os menores eram submetidos aos cuidados dos jesuítas,

onde havia uma estrutura muito bem edificada, com o objetivo de capacitá-los no

sentido de seguirem os ensinamentos de seus protetores.

2.1.1 Senhores

Por conta da disputa do poder da Corte de Portugal, os jesuítas foram

expulsos e não se podia mais escravizar os índios por determinação de Marquês de

Pombal, Ministro do Rei, em 1755. Todavia os colonos continuavam sendo

explorados. Aos olhos de Irene Rizzini e Francisco Pilotti, esse período poderia ser

descrito da seguinte forma:

O escravo era elemento importante para a economia da época. Era mais interessante, financeiramente, para os donos das terras importar um escravo que criar e manter uma criança, pois com um ano de trabalho, o escravo pagava seu preço de compra. As crianças escravas morriam com facilidade, devido às condições precárias em que viviam seus pais e, sobretudo, porque suas mães eram alugadas como amas-de-leite e amamentavam várias outras crianças. (2009, p.18).

No entanto, mesmo com o advento da Lei do Ventre Livre em 1871, que

considerava livre todos os filhos de mulheres escravas nascidos a partir da data da

referida lei, não foi possível abolir a escravidão por parte dos senhores. Na

sequência os doutrinadores continuam esclarecendo essa época:

Mesmo depois da Lei do Ventre Livre, em 1871, a criança escrava continuou nas mãos dos senhores, que tinham opção de mantê-la até os 14 anos, podendo, então, ressarcir-se dos seus gastos com ela, seja mediante o seu trabalho gratuito até os 21, seja entregando-a ao Estado, mediante indenização. (2009, p.18).

O País continuava a escravizar, mesmo com determinações e leis que

previssem a abolição da escravidão. Para os colonos era muito mais viável manter

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um escravo trabalhando, já que ele compensaria o preço pago pela sua compra e

todos seus gastos, com seu árduo trabalho...................................................................

Contudo esses menores escravizados morriam facilmente, uma vez que não

tinham nenhum tipo de cuidados por parte dos senhores.

2.1.2 Santa Casa de Misericórdia

Nessa fase, as crianças humildes eram cuidadas pela Igreja Católica e as

Santas Casas de Misericórdia, essas instituições preocupavam com toda classe

carente, doente e órfão, vejamos:

Gisella Werneck Lorenzi, explica detalhadamente essa fase das crianças,

conforme relato abaixo:

[...] As populações economicamente carentes eram entregues aos cuidados da Igreja Católica através de algumas instituições, entre elas as Santas Casas de Misericórdia. No Brasil, a primeira Santa Casa foi fundada no ano de 1543, na Capitania de São Vicente (Vila de Santos). Estas instituições atuavam tanto com os doentes quanto com os órfãos e desprovidos. O sistema da Roda das Santas Casas, vindo da Europa no século XVIII, tinha o objetivo de amparar as crianças abandonadas e de recolher donativos. A Roda constituía-se de um cilindro oco de madeira que girava em torno do próprio eixo com uma abertura em uma das faces, alocada em um tipo de janela onde eram colocados os bebês. A estrutura física da Roda privilegiava o anonimato das mães, que não podiam, pelos padrões da época, assumir publicamente a condição de mães solteiras. (LORENZI, 2007).

Nessa etapa, os menores tinham a proteção da Igreja Católica com o auxílio

de outras instituições, como as Santas Casas de Misericórdia, que conforme já

mencionado na citação acima, utilizava-se de um sistema vindo da Europa que

consistia na exposição das crianças em rodas, ou seja, quando a mãe, que não

podia ser identificada, deixava a criança na roda, ela tocava uma campainha, para

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que assim as freiras pudessem ir até lá e recolhesse o enjeitado para dentro da

Santa Casa.

2.1.3 Famílias

Na história do Brasil, as famílias sempre aparecem como não sendo

capazes de cuidar de seus filhos, porém essa situação foi criada para intervenção do

Estado, nesse sentido, Irene Rizzini e Francisco Pilotti afirmam que:

O mito criado em torno da família das classes empobrecidas serviu de justificativa para a violenta intervenção do Estado neste século. Com o consentimento das elites política da época, juristas delegaram a si próprios o poder de suspender, retirar e restituir o Pátrio Poder, sempre que julgassem uma família inadequada para uma criança. (2009, p.25).

Como estratégia do Estado, para intervir no domínio da infância e juventude,

se utilizava o pretexto da incompetência das famílias no cuidado com sua geração, o

Estado tinha o objetivo de educar moralmente as crianças e adolescentes para que

seguissem a linha da hierarquia, tornando-os uma espécie de “capital humano”.

2.1.4 Estado

Em 1941, criou-se um órgão federal responsável pelo controle da

assistência, oficial privada, o Serviço de Assistência a Menores (SAM), onde atendia

os “menores abandonados” e “desvalidos”, aos “delinquentes”, só restavam as

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escolas públicas de reforma, as colônias correcionais e os presídios, já que a

iniciativa privada não dispunha de alternativas para seu atendimento. (2009, p. 26).

Quando as crianças e adolescentes estavam sob o poder do Estado, a partir

de 1941, como mencionado acima, a assistência delas passa a ser obrigação do

Serviço de Assistência a Menores (SAM), acarretando um grave estreitamento das

relações entre público e privado, estabelecendo um clientelismo marcado por

corrupções.

2.1.5 Forças Armadas: Segurança Nacional

A partir de 1964, essa assistência mencionada no parágrafo acima, passou a

fazer parte da esfera militar, com o intuito de que as crianças e adolescentes não

fossem instrumentos fáceis do comunismo e das drogas, assim, surgiu então a

fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM) e a Política Nacional do

Bem-Estar do Menor (PNBEM).

Irene Rizzini e Francisco Pilotti descrevem as fundações da seguinte forma,

Juntas, como irmãs siamesas, mantiveram e aprimoraram o modelo carcerário e repressivo, cuja trajetória ascendente, até o início da década passada, começava a estagnar logo em seguida, entrando em processo de crise e dissolução, quando os militares cederam lugar aos primeiros governos democráticos. (2009, p. 27).

Nesse período os menores começavam a ter efetivas “garantias”, todavia o

sistema se utilizava do aperfeiçoamento carcerário e repressivo do País, as

instituições criadas tinham a intenção de zelar pela infância e juventude do País,

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afastando qualquer relação que pudesse levá-las a se envolver com a criminalidade

e outros problemas existentes que abrangesse essa faixa etária.

2.1.6 Juízes de Menores

Nesse período Alyrio Cavallieri discorre que “estava em vigor o Código de

Menores de 1927, chamado Código Mello Mattos, nome do seu autor, que foi o

primeiro Juiz de Menores do Rio de Janeiro, do Brasil e da América Latina, nomeado

em 1924.” (1997, p. 17).

O referido Código não era destinado a todos os menores, mas apenas

àquelas tidas como estando em “situação irregular”, conforme expressava em seu

artigo 1º:

O menor, de um ou outro sexo, abandonado ou delinquente, que tiver menos de 18 annos de idade, será submettido pela autoridade competente ás medidas de assistencia e protecção contidas neste Codigo. (grafia original) (Código de Menores – Decreto nº. 17.943 A - de 12 de outubro de 1927).

Após muito tempo de debates e questionamentos, em 1979 o Código de

Menores foi substituído. Irene Rizzini e Francisco Pilotti, explicam detalhadamente:

Depois de várias décadas de debate, formulação de dezenas de anteprojetos e movimentação do meio jurídico com o objetivo de fazer aprovar uma revisão do Código de Menores de 1927, este foi em 1979, finalmente substituído. O novo Código de Menores veio a consagrar a noção do ‘menor em situação irregular, a visão do problema da criança marginalizada como uma ‘patologia nacional’. (2009, p. 26-27).

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O Código de Menores continuou seguindo a linha do Código Mello Matos,

mantendo como essência o controle social e não sócio – penal de crianças e

adolescentes.

Todavia, o entendimento do Código mencionado, era que os menores não

levariam uma vida normal, não podendo frequentar escolas, sendo mau tratados,

com deficiência econômica, social entre outros, com isso essas crianças e

adolescentes eram forçadas a viver na criminalidade, já que não se garantia

verdadeiramente os direitos delas.

O entendimento era que a família, somente ela, seria responsável pela

garantia das necessidades básicas de seus entes, não sendo necessária assistência

moral, financeira entre outras, para que o menor tivesse uma vida digna.

Esse entendimento se manteve ao longo dos tempos, até o advento da

Constituição Federal e em seguida a elaboração do ECA.

2.2 PRINCÍPIOS DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE

Os princípios estão embasados na Constituição Federal e no ECA, sua

finalidade é garantir às crianças e aos adolescentes as normas de proteção integral,

todavia de forma diferente no que diz respeito à incriminação penal aplicada aos

adultos, isto porque, a Constituição Federal é clara no que se refere à

inimputabilidade dos menores de 18 anos.

Salomão Shecaira relata que, “Quis o constituinte separar os direitos e

garantias das crianças e adolescentes do conjunto da cidadania com objetivo de

melhor garantir sua defesa”. (2008, p. 137).

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Portanto, devem-se observar os princípios mais relevantes para que seja

possível um entendimento melhor do título discutido no presente trabalho.

2.2.1 Princípio da proteção integral

Para entendimento do referido princípio, deve-se analisar o contido no artigo

1º do ECA, que destaca: “esta lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao

adolescente”, sendo assim, os direitos das crianças e adolescentes devem ser

efetivados para que eles tenham garantias de um desenvolvimento digno, como

preceitua a lei.

Afirma Luciano Mendes de Almeida em seu comentário que:

O Estatuto tem por objetivo a proteção integral da criança e do adolescente, de tal forma que cada brasileiro que nasce possa ter assegurado seu pleno desenvolvimento, desde as exigências físicas até o aprimoramento moral e religioso (ALMEIDA, 2009).

O princípio tem como base o fundamento de que as crianças e adolescentes

são sujeitos de direitos, sendo garantidos pela família, sociedade e Estado.

2.2.2 Princípio da condição peculiar da pessoa em desenvolvimento

O princípio da condição peculiar da pessoa em desenvolvimento está

previsto no artigo 227 da Constituição Federal, nos artigos 4º e 6º do ECA, garante a

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criança e ao adolescente cuidados especiais pela sua vulnerabilidade. Nesse

sentido esclarece Martha Machado:

[...] por se acharem na peculiar condição de pessoas humanas em desenvolvimento crianças e adolescentes encontram-se em situação essencial de maior vulnerabilidade, ensejadora da outorga de regime especial de salvaguardas, que lhes permitam construir suas potencialidades humanas em sua plenitude. (2003, p. 108-109).

Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiça, afirma que o princípio da

condição peculiar da pessoa em desenvolvimento deve ser aplicado com o objetivo

de priorizar em todo caso o direito da criança e do adolescente:

Ementa CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. AÇÃO DE DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR CUMULADA COM PEDIDO DE ADOÇÃO. GUARDA PROVISÓRIA DEFERIDA. DOMICÍLIO DOS ADOTANTES. ALTERAÇÃO DO DOMICÍLIO DOS GUARDIÃES. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA PRIORIDADE ABSOLUTA. INTERESSE DO MENOR. CONFLITO CONHECIDO. COMPETÊNCIA DO JUÍZO SUSCITANTE. 1. Segundo a jurisprudência do STJ, a competência para dirimir as questões referentes ao menor é a do foro do domicílio de quem já exerce a guarda, na linha do que dispõe o art. 147, I, do ECA. 2. Considerada a condição peculiar da criança como pessoa em desenvolvimento, sob os aspectos dados pelo art. 6º do ECA, os direitos dos menores devem sobrepor-se a qualquer outro bem ou interesse juridicamente tutelado, não havendo que se falar em prevenção. 3. Destarte, em face do princípio constitucional da prioridade absoluta dos interesses do menor, orientador dos critérios do art. 147 do ECA, necessária a declaração de competência do Juízo Pernambucano a atrair a demanda proposta perante o Juízo Paulista. 4. Conflito conhecido, declarando-se a competência do Juízo de Direito da 2ª Vara da Infância e da Juventude de Recife - PE, o suscitante. (CC 92.473/PE, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 14/10/2009, DJe 27/10/2009)

Sendo assim, verifica que o referido princípio tem o dever de assegurar as

crianças e aos adolescentes uma proteção específica, uma vez que eles são mais

frágeis às situações de risco, isto é, os direitos deles devem-se justapor a qualquer

outro bem ou interesse.

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2.2.3 Princípio da proporcionalidade

O último princípio a ser analisado, tem o intuito de impedir advertências que

não sejam proporcionais aos direitos fundamentais da infância e juventude, mesmo

sendo por atos administrativos ou atos legislativos.

Desta maneira, observa-se que partir do princípio da proporcionalidade que

se opera o “sopesamento” dos direitos fundamentais, produzindo ao caso concreto

uma solução ponderada.

Na prática, esse princípio vem sendo aplicado cada vez mais, conforme

demonstra a jurisprudência abaixo:

Ementa EMENTA: HABEAS CORPUS - ECA - ADOLESCENTES INTERNADAS EM VIRTUDE DE SENTENÇA - ALEGAÇÃO DE NULIDADE - PARECER DO MINISTÉRIO PÚBLICO PRECISO E BEM FUNDAMENTADO - ENTENDIMENTO ADOTADO COMO RAZÕES DE DECIDIR - DECISÃO QUE ENGLOBOU AS TRÊS ADOLESCENTES, SEM ANALISAR SUAS PECULIARIDADES E SINGULARIDADES - VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS BASILARES DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE SENTENÇA ANULADA - ADOLESCENTES DESINTERNADAS QUE DEVERÃO AGUARDAR NOVA DECISÃO SOB LIBERDADE ASSISTIDA. [...]O art. 112, § 1º, do Estatuto da Criança e do Adolescente, assim sendo, traz em seu bojo o princípio da proporcionalidade da conduta infracional com a medida aplicada, deixando claro que as medidas socioeducativas mais graves, especialmente as privativas de liberdade, estarão destinadas unicamente às infrações que denotem maior gravidade/reprovabilidade (em razão de suas conseqüências), o que evidentemente NÃO OCORRE no caso dos autos. A desproporcionalidade e a impropriedade com que as apelantes foram tratadas pela Justiça da Infância e da Juventude de Pinhão, é flagrante, podendo ser constatada até mesmo pelo "acúmulo de procedimentos" instaurados em relação às adolescentes, em sua imensa maioria AINDA AGUARDANDO JULGAMENTO, em frontal violação TAMBÉM aos PRINCÍPIOS DA PRIORIDADE ABSOLUTA À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE E AO DISPOSTO NO ART. 152, PAR. ÚNICO, DA LEI Nº 8.069/90 e do RESPEITO À PECULIAR CONDIÇÃO DE PESSOA EM DESENVOLVIMENTO, insculpido também no citado art. 227, caput e §3º, inciso V, da Constituição Federal. Como sabido e ressabido, em matéria de infância e juventude, não é a "intensidade" da resposta estatal que importa, mas SIM sua IMEDIATIDADE E PRECISÃO, razão pela qual, dentre os princípios que norteiam a intervenção estatal se encontram os princípios da intervenção precoce e da proporcionalidade e atualidade (cf. arts. 100, par. único, incisos VI e VIII c/c 113, da Lei nº 8.069/90), segundo os quais:

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Art. 100. ... Parágrafo único. São também princípios que regem a aplicação das medidas: I - ...; VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo seja conhecida; VII - ...; VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve ser a necessária e adequada à situação de perigo em que a criança ou o adolescente se encontram no momento em que a decisão é tomada Qualquer intervenção que desconsidere tais princípios e/ou seja efetuada em sentido diverso do preconizado pelo ordenamento jurídico (como é o caso dos autos), se mostra contra legem, sendo assim passível de correção, inclusive pela atuação das demais instâncias do Poder Judiciário. Se tal orientação já é válida em se tratando de atos infracionais de natureza grave, com muito mais razão se aplica ao caso dos autos, em que a conduta praticada não se reveste de gravidade a ponto de justificar a privação de liberdade das apelantes, máxime por um período prolongado, como está ocorrendo. Assim sendo, no caso em comento, houve nítida violação aos princípios da excepcionalidade da medida de internação e da proporcionalidade da intervenção socioeducativa estatal, além de violação ao próprio sentido (e objetivo) da intervenção da Justiça da Infância e da Juventude, na medida em que se dispensou às apelantes um tratamento excessivamente rigoroso, sem que tenha o douto Juízo impetrado demonstrado (inclusive nos demais registros infracionais que as mesmas possuem) qualquer preocupação em apurar as causas da conduta infracional e/ou atender às necessidades pedagógicas específicas de cada uma das jovens, o que, por óbvio, não se pode admitir. Destarte, fica fácil concluir pela total ilegalidade e flagrante desproporcionalidade da medida extrema da internação aplicada às apelantes, sentenciadas que foram pela prática de um ato infracional desprovido de gravidade, que não trouxe maiores prejuízos à vítima, que não é e nem pode ser considerado de natureza grave, para fins de incidência da medida socioeducativa extrema de internação, conforme disposto no art. 112, §1º (que exige seja guardado um mínimo de proporcionalidade entre a conduta infracional e a resposta estatal) e art. 122, ambos da Lei nº 8.069/90. (TJPR - 2ª C.Criminal - HCECA 743893-3 - Pinhão - Rel.: Valter Ressel - Unânime - J. 17.02.2011)

Depois de verificado no que consiste cada princípio e suas aplicabilidades

práticas com fundamento nas jurisprudências, pode-se concluir que os mesmos são

de suma importância para garantia integral dos direitos da criança e adolescente.

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3 A FAMÍLIA, A SOCIEDADE E O ESTADO

A Constituição Federal dispõe em seu artigo 227, caput, que a família, a

sociedade e o Estado são responsáveis pelos direitos e garantias das crianças e dos

adolescentes:

Artigo 227 - É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Com base nesse artigo que será analisado, em seguida, um pouco mais no

que corresponde a função de cada instituição mencionada acima, a fim de entender

melhor de onde se origina a falha com as crianças e adolescentes que resultam na

reincidência de infrações.

3.1 FUNÇÃO DA FAMÍLIA

Conforme o artigo referido acima da Constituição Federal, a primeira

instituição mencionada como responsável por garantir os diretos das crianças e dos

adolescentes é a família. Pode-se afirmar que seria ele o componente mais

importante para o desenvolvimento adequado da nossa juventude.

É o que nos diz Jason Albergaria:

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Daí nota-se a importância que tem a família na participação na vida do jovem em acompanhar seu crescimento e desenvolvimento, pois esta entidade é considerada um dos fatores sociais de prevenção do abandono e da delinquência. São inúmeras as opiniões acerca da importância da família dentre elas destacamos a de Middendorff ao afirmar que o meio ambiente mais importante do menor e da pessoa humana é a sua família, a primeira responsável pela sua evolução: boa ou má. Na hierarquia do art. 227 da CF/88 a família é a primeira na co-responsabilidade pelo atendimento dos direitos da criança e do adolescente. A mesma por se tratar de um poder paternal que na definição de Albergaria consiste no conjunto de poderes e deveres destinados a assegurar o bem-estar moral e material dos filhos, tomando de conta destes, mantendo as relações pessoais e assegurando sua educação, sustento, representação legal e administração de seus bens. (1991, p. 110).

Deve ressaltar ainda, que a formação da personalidade do menor está

diretamente relacionada à estrutura de sua família, sendo decisivo futuramente na

prevenção da delinquência, entretanto, com tanta pobreza, falta de estrutura, as

famílias muitas vezes não conseguem assegurar um sustento digno para suas

crianças, tendo como consequência a marginalidade desses adolescentes.

3.2 FUNÇÃO DA SOCIEDADE

A responsabilidade da sociedade tem um caráter preventivo, ou seja, ela

deve contribuir para a conscientização do jovem, evitando sua inserção no mundo

da criminalidade, já que essa relação pode ser determinante na vida das crianças e

adolescentes. Os cuidados, o tratamento com a infância e a juventude influenciará

no comportamento final desse grupo.

Contudo, a sociedade ultimamente não vem cumprindo com suas

obrigações, ou melhor, com a sua função de garantir uma vida sadia para as

crianças e adolescentes, isto porque, conforme nos afirma José Henrique Pierangeli,

em seu artigo sobre menoridade, existe um esquecimento social:

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Sentimos, não sem preocupação, a ausência da sociedade nessa luta contra a chamada delinqüência juvenil, a qual assiste, quase que passivamente, à violência e brutalidade que orientam a ação de delinqüentes de altíssima periculosidade, que permanecem acobertados pelo âmbito da menoridade. A disseminação das drogas, nefasta herança de uma sociedade consumista, e que sempre busca o ganho fácil ainda que ilícito, incrementa o tráfico, amordaça a advertência e anula a orientação da família no sentido de evitar o ingresso do jovem no mundo da criminalidade. (PIERANGELI, 2003).

João Gilberto Lucas Coelho, fundamenta essa questão da vulnerabilidade

das crianças e os adolescentes nas relações com violência, ficando clara a

responsabilidade da sociedade :

Finalmente, cabe dizer alguma coisa sobre a responsabilidade da sociedade em geral, segundo a expressão do art. 4º do Estatuto. [...] Atualmente, com base na observação dos fatos e utilizando conhecimentos científicos, pode-se afirmar que a vida em sociedade é uma exigência da natureza humana. Com efeito, o ser humano é um animal que, após o seu nascimento, por muitos anos não consegue obter sozinho os alimentos de que necessita para sobreviver. E, no mundo de hoje, com a maioria das pessoas vivendo nas cidades, são muito raros os que produzem os alimentos que consomem, sendo necessária toda uma rede de produtores, transportadores e distribuidores para evitar que muitos morram de fome. Outras necessidades materiais, como um lugar de habitação e trabalho abrigado dos rigores da natureza, vestimentas protetoras, meios de locomoção, tudo isso faz parte das necessidades materiais, que só podem ser atendidas mediante uma troca de bens e de serviços. Ao lado disso, existem necessidades espirituais, intelectuais e afetivas que a pessoa humana só satisfaz na convivência com outras pessoas. Entre estas se inclui a necessidade de expor os pensamentos e de dialogar, que, com maior ou menor intensidade, é sentida por todas as pessoas. Como fica evidente, todos dependem de muitos outros para sobreviver, e não há uma só pessoa que não receba muito, direta ou indiretamente, das demais. Os que são mais pobres recebem menos e os que vivem com maior conforto e gozam de padrão de vida mais elevado recebem muito mais, não havendo, entretanto, quem nada receba dos outros. Aí está o fundamento da solidariedade e da responsabilidade. Como as crianças e os adolescentes são mais dependentes e mais vulneráveis a todas as formas de violência, é justo que toda a sociedade seja legalmente responsável por eles. Além de ser um dever moral, é da conveniência da sociedade assumir essa responsabilidade, para que a falta de apoio não seja fator de discriminações e desajustes, que, por sua vez, levarão à prática de atos anti-sociais. (2000, p. 24-25).

Conforme aludido acima e seguindo os doutrinadores mencionados, a

sociedade tem o dever de auxiliar os jovens, participando da sua vida com o objetivo

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do crescimento benéfico para a infância e juventude, para que com isso elas

respeitem as leis e os valores, impedindo seu desvio de conduta social.

3.3 FUNÇÃO DO ESTADO

Por último a Constituição Federal atribuiu ao Estado à responsabilidade de

prevenção das infrações, para que assim garanta a segurança, educação, saúde e

lazer das crianças e adolescentes.

Assim analisa o doutrinador Jason Albergaria:

[...] o Estado cooperará com a família nos programas oficiais de auxílio, em cumprimento ao art. 227 da Constituição. Se falham a família e a sociedade, caberá a intervenção do Estado. Se o pais se omitirem e abusarem do direito do menor de devolver harmoniosamente a sua personalidade, intervirá o Estado para garantia desse direito da crianças à vida e à perfeição ou realização de sua vocação de crescer. A intervenção do Estado é necessária no próprio lar, para proteção do direito à vida da criança, sobretudo ante a criança mártir, a criança maltratada pelos próprios pais. A crueldade dos pais destrói o destino do filho, obsta a sua inserção na vida familiar, escolar ou social, o que renderia ensejo à intervenção imediata do Estado, para a identificação precoce das relações entre pais e filhos. (1995, p. 108-109).

Pode verificar que o Estado não vem contribuindo da forma que deveria para

a boa formação das crianças e adolescentes, já que em todo País se observa que a

educação é precária, que não há de programas sociais e ainda a necessidade de

uma estrutura digna para as famílias pobres.

Portanto, pode-se considerar que o Estado não está cumprindo seu papel de

alicerce para que a família e a sociedade também pudessem garantir uma vida sadia

para as crianças e aos adolescentes.

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Para finalizar esse capítulo, se entende que o Estado, a sociedade e a família

seriam co-responsáveis para o desenvolvimento da infância e juventude no País,

todavia a realidade não condiz com o que se deveria, pois, inúmeras são violações

dos direitos da criança e adolescente, são famílias maltratando e abusando de suas

crianças, uma sociedade que não acredita em sua juventude e muitas vezes não dá

o espaço necessário a ela, e por fim, um Estado corrupto que sequer consegue dar

condições dignas de saúde e educação para o que deveria ser o futuro do Brasil, a

juventude.

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4 ASPECTOS GERAIS DAS MEDIDAS IMPOSTAS AO ADOLESCEN TE

INFRATOR SEGUNDO O ECA

Com a finalidade de entender a aplicação das medidas socioeducativas, é

fundamental esclarecer dois conceitos relativos ao comportamento dos delinquentes

juvenis. .....................................................................................................

Sendo assim, analisará o conceito de adolescência e de ato infracional, até

chegar à relação entre as medidas que são impostas às crianças e aos adolescentes

que comentem a infração.

O legislador optou em conceituar adolescência pela classificação de faixa

etária, chamado como critério cronológico absoluto, assim a preconiza também a

doutrina:

Adotou o legislador o critério cronológico absoluto, ou seja, a proteção integral da criança e do adolescente é devida em função de sua faixa etária, pouco importando se, por qualquer motivo, adquiriu a capacidade civil.(2002, p.22)

Nesse sentido, o ECA em seu artigo 2º caput, define criança e adolescente,

considerando a idade na qual o indivíduo esteja, destacando que a pessoa até os

doze anos de idade incompletos é considerada criança e quem tem de doze a

dezoito anos incompletos, será considerado adolescente.

Já no que se referem os sentimentos conturbados dessa fase, os

doutrinadores optam por um conceito mais filosófico de adolescência, assim,

Teixeira Heleno e Monteiro Ribeiro descrevem da seguinte forma: “A adolescência é

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uma época de incertezas, indefinições, de busca de auto-afirmação e de

pertencimento, enfim, de angústias.” (2010, p. 22).

Jimena Cristina Gomes Aranda conceitua adolescência, sendo como:

Uma caminhada entre a infância e a idade adulta, marcada por mudanças biológicas e psicológicas. Nesta fase o jovem faz um esforço para crescer, combinando frequentes impulsos impensados para agir. (2006, p. 72).

A adolescência em seu âmbito jurídico já foi esclarecida, ou seja, depende

da sua faixa etária, porém no que diz respeito as suas emoções, é uma fase de

confusões, a juventude está se perdendo cada vez mais, pois acreditam já serem

adultos suficientes para discernir o perigo, entretanto ainda não amadureceram o

bastante para entender, por exemplo, que o mundo do crime e das drogas pode não

ter mais volta, pois a sociedade é cruel, e muitas vezes nem o arrependimento, nem

o cumprimento do disposto em lei, faz com que ela não ofereça espaço a

ressocialização, tornando o menor um eterno infrator.

Importante destacar também o conceito de ato infracional, nos termos do

artigo 103 do ECA, considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou

contravenção penal. Valem enfatizar que só serão sujeitos ativos do ato infracional

os menores de 18 anos de idade.

Contudo, há uma discussão grande sobre o referido termo, alguns

doutrinadores entendem que o tema não se trata de uma nova categoria jurídica,

porque seria nada mais que sinônimo de crime ou contravenção penal.

Nesse sentido, afirma o doutrinador Mário Volpi, “Longe de serem

conclusivas, as teorias que estudam o ato infracional apontam para uma

multidiversidade de fatores, concorrentes que o produzem de uma forma complexa e

de difícil isolamento”.(2001, p. 57)................................................................................

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No tópico a seguir, analisará cada medida que poderá ser imposta ao

infrator e ainda como ela deverá ser aplicada.

4.1 MEDIDAS IMPOSTAS AO ADOLESCENTE INFRATOR

Os possíveis meios de responsabilização, aplicáveis ao adolescente infrator,

com o objetivo da sua ressocialização estão expressos no ECA no artigo 112, o qual

dispõe que, verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá

aplicar ao adolescente as seguintes medidas:

I - advertência; II - obrigação de reparar o dano; III - prestação de serviços à comunidade; IV - liberdade assistida; V - inserção em regime de semiliberdade; VI - internação em estabelecimento educacional; VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI;

Essas medidas serão cumpridas em meio fechado ou aberto, com

características diferentes, elas serão aplicadas especificadamente, levando em

conta a capacidade do adolescente de cumpri-la, bem como as circunstâncias e a

gravidade da infração.

4.1.1 Advertência

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No que tange a primeira medida, considera-se sendo a mais leve. Alguns

doutrinadores acreditam que estando presente a prova de materialidade, poderá ser

fundamentada em simples indícios de autoria.

Nesse sentido explica Moacir Rodrigues. “[...] Basta que examine que ao

exigir no artigo 114, provas suficientes de autoria e de materialidade para a

imposição das medidas previstas nos incisos II a VI, do artigo 112, exclui a exigência

de prova de autoria para aplicação da advertência”. (1995, p.21).

Para Válter Kenki Ishida,

Prevê o ECA a medida de advertência consistindo na admoestação, ou seja, a leitura do ato cometido e o comprometimento de que a situação não se repetirá......................................................................................................... Assim, atos infracionais como de adolescentes que cometa, pela primeira vez, lesões leves em outro ou vias de fato, podem levar aplicação desta medida. (1998, p.76).

Considerará então que a medida de advertência é uma forma de coação

verbal, que os pais ou responsáveis estarão presentes em todo procedimento, com o

objetivo de que o infrator mude e assim restabeleça a sociedade normalmente.

4.1.2 Obrigação de reparar o dano

A obrigação de reparar o dano normalmente não é muito utilizada, visto que

para reparação o infrator deve possuir boas condições econômicas, sendo assim,

poderá ser aplicada outra medida adequada, conforme apresenta o artigo 116, §

único do ECA:

Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a

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coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima. Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser substituída por outra adequada.

Nesse sentido a autora Cleide Lavoratti afirma que a obrigação de reparar o

dano consiste em:

[...] determinada quando o ato infracional é atribuído ao patrimônio, então, deve ser restituído o bem e ressarcida e/ou compensada a vítima. Esta medida deve ser medida considerada que o adolescente reconhece o seu erro e assim, o repara. Desta maneira, julga-se educativa, pois não deve ser transferida para outra pessoa. Quando se manifesta a impossibilidade da aplicação, pode ser substituída por outra medida que a autoridade competente julgue mais adequada. (2007, p. 261).

Para Jason Albergaria o objetivo de tal medida é “despertar e desenvolver

no menor o senso de responsabilidade em face do outro do que lhe pertence”.

(1991, p. 119)

A previsão da lei, diz respeito às questões patrimoniais, o adolescente, ou

melhor, seus pais devem possuir condições financeiras expressivas, para que assim

seja possível o ressarcimento valorativo do dano.

4.1.3 Prestação de serviço à comunidade

A medida de prestação de serviços à comunidade prevista no artigo 117 do

ECA, dispõe que

A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais.

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Sendo assim, é visível a importância da aplicação dessa medida, visto que o

Estado não será onerado e ainda acarretará benefícios à sociedade.

No que se refere tal medida Salomão Shecaira leciona que:

A medida jamais poderá consistir em tarefas humilhantes ou discriminatórias. Sua finalidade é induzir no infrator a idéia de responsabilidade, de apego as normas comunitárias, de respeito pelo trabalho, bem como produz na comunidade uma sensação de obediência às regras. Além disso o órgão ou entidade beneficiada com a prestação do serviço do adolescente deve enviar relatório periódico ao juiz da infância e juventude que fiscaliza a execução da medida, narrar eventuais incidentes que possa ocorrer e controlar sua frequência. A duração máxima da medida é pelo período de seis meses. (2008, p. 198-199).

A prestação de serviços à comunidade, se aplicada corretamente será uma

das medidas que alcançará a sua finalidade facilmente, isto porque, o adolescente

mediante prestação de serviços não ocasionará gastos para o Estado e ainda gerará

várias benfeitorias a sociedade.

4.1.4 Liberdade Assistida

A liberdade assistida está prevista no ECA em seu artigo 118 e 119,

conforme descrito na íntegra:

Art. 118 . A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. § 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento. § 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor. Art. 119 . Incumbe ao orientador, com o apoio e a supervisão da autoridade competente, a realização dos seguintes encargos, entre outros:

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I - promover socialmente o adolescente e sua família, fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social; II - supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula; III - diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho; IV - apresentar relatório do caso.

Essa medida surgiu no Código de Menores (1927), porém naquela época,

era chamada de liberdade vigiada.

A liberdade assistida diz respeito em não afastar o adolescente do seu meio

natural, lar, escola ou trabalho, apenas terá acompanhamento de um funcionário

qualificado para orientá-lo. O doutrinador Salomão Schecaira vem explicar melhor a

origem e ainda no que consiste a referida medida:

A liberdade assistida já era prevista no Código de Menores de 1927 denominada de liberdade vigiada, também presente no Código de 79 recebeu a nomenclatura utilizada atualmente. Esta medida é ideal para infrações de média gravidade por não ter os inconvenientes das medidas institucionais. Sua imposição se dará através do juiz que designará uma pessoa capacitada para acompanhar o adolescente. O encargo será pessoal, ainda que exista entidade governamental ou privada que estruture a fiscalização do acompanhamento. A pessoa responsável pelo acompanhamento é chamada de orientador. (2008, p. 200).

O procedimento dessa medida se pauta na orientação de um responsável

designado, como mencionado na citação acima, assim para Cleide Lavoratti, o

procedimento funciona da seguinte maneira:

O orientador desta medida sócio educativa, deve ter o apoio e supervisão da autoridade competente, para acompanhar o adolescente no prazo máximo de seis meses, podendo a medida ser prorrogada, revogada ou substituída a qualquer tempo, deste que seja ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor. (2007, p. 262).

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Os tribunais estão entendendo que a aplicação da liberdade assistida deve

ser mais utilizada, já que visa a ressocioalização do infrator, podendo substituir a

medida pelas demais, vejamos o entendimento do Tribunal de Justiça do Paraná,

Ementa DECISÃO: ACORDAM os julgadores da Segunda Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, em composição fracionária, por unanimidade, em dar provimento ao recurso, nos termos do voto do Relator. EMENTA: APELAÇÃO-ECA. ATO INFRACIONAL EQUIPARADO A TRÁFICO DE DROGAS (ART. 33, DA LEI Nº 11.343/06). INTERNAÇÃO DETERMINADA PELA SENTENÇA. RECURSO PEDINDO A PROGRESSÃO DA MEDIDA. POSSIBILIDADE. A INTERNAÇÃO FOI APLICADA FORA DAS HIPÓTESES PREVISTAS NO ECA E A MEDIDA DE LIBERDADE ASSISTIDA DEMONSTRA SER MAIS ADEQUADA AO CASO. PARECER FAVORÁVEL DA PROCURADORIA GERAL DE JUSTIÇA. MEDIDA EXTREMA DE INTERNAÇÃO APLICADA SOMENTE COM BASE NA GRAVIDADE EM ABSTRATO DO ATO INFRACIONAL. RECURSO PROVIDO. (TJPR- Processo 853682-5- 2ª Câmara Criminal – Relator: Valter Ressel- publicado em 13/04/2012).

Evidente que essa medida, em tese, é a que mais chega próximo do

objetivo das medidas socioeducativas prevista no ECA, afinal, possibilita um

acompanhamento da vida social do adolescente supervisionando-o na escola,

promovendo-o socialmente e ainda buscando a inclusão no mercado de trabalho.

4.1.5 Regime de semiliberdade

No que se refere a esse regime, pode-se analisar que versa sobre uma

medida restritiva de liberdade, em termos de cerceamento do direito de ir e vir do

infrator, entretanto, com a ressalva de que tal medida não irá restringir integralmente

o direito do adolescente. Sua finalidade é oportunizar o acesso a serviços e

organizar sua vida, visando ressocializá-lo.

Desta forma, a doutrinadora Cleide Lavoratti conceitua a referida medida:

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Artigo 120 (ECA), trata-se de medida restritiva de liberdade, porém, não é tão extrema quanto à medida de privação de liberdade, pois o adolescente não fica totalmente privado de seu direito de ir e vir. O Juiz pode aplicar esta medida, desde o início, ou como forma de regressão da medida de internação para a medida em meio aberto. (2007, p. 262-263).

Quanto a regressão citada pela autora acima, o Tribunal de Justiça do

Paraná é claro, vejamos:

Ementa: DECISÃO: ACORDAM os julgadores integrantes da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, em composição fracionária, por unanimidade de votos, em conceder a ordem não só para que o paciente passe a cumprir a medida socioeducativa de semiliberdade, mediante expedição do competente alvará de desinternamento, mas também para que sua família venha a ser inserida em programas de orientação, conforme dispõem os arts. 122, § 2º, e 129 do ECA. EMENTA: PENAL. HABEAS CORPUS. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO APLICADA AO PACIENTE EM RAZÃO DA PRÁTICA DE ATO INFRACIONAL EQUIPARADO A HOMICÍDIO. PARECER TÉCNICO OPINANDO PELA SEMILIBERDADE. MANUTENÇÃO DA MEDIDA DE INTERNAÇÃO FUNDAMENTADA NA FINALIDADE DE SEDIMENTAR O PROGRESSO ATÉ ENTÃO OBTIDO COM A INTERNAÇÃO. DECISÃO QUE, EMBORA COERENTE, DESCONSIDEROU OUTROS FUNDAMENTOS IGUALMENTE RELEVANTES. NECESSIDADE DE SE CONFERIR UM CERTO GRAU DE LIBERDADE AO PACIENTE COMO MEIO DE AVALIAR SUA EFETIVA ADESÃO AOS COMPROMISSOS ASSUMIDOS DURANTE A INTERNAÇÃO. RISCO DE REGRESSÃO, AQUISIÇÃO DE CULTURA CARCERÁRIA E FENÔMENO DE PRISIONIZAÇÃO. FATORES QUE JUSTIFICAM A PROGRESSÃO DA MEDIDA. ART. 122, § 2º, DO ECA. INSERÇÃO DA FAMÍLIA EM PROGRAMA DE ORIENTAÇÃO. ART. 129 DO ECA. ENTENDIMENTO CONSENTÂNEO COM O PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE E COM OS DITAMES CONSTITUCIONAIS DO ECA. ORDEM CONCEDIDA. (TJPR- Processo: 809447-5. 2ª Câmara Criminal – Relator: Valter Ressel- publicado em 16/09/2011).

Essa medida possui uma característica específica que a diferencia da

privação de liberdade, ela possibilita aos adolescentes saídas externas, desde que

acompanhas pelo seu orientador.

4.1.6 Internação

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Está previsto nos artigos 121 a 125 do ECA, vale destacar que a medida de

internação é extremamente antiga, pois existe desde muito antes da criação do

Estatuto, é herdada do Código Penal e vem sofrendo constantes mudanças, visto

que surgiu com o intuito ser altamente repressiva, no entanto, hoje há um caráter

mais educativo.

O Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 121 dispõe sobre a

medida de internação:

Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento. § 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário. § 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses. § 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos. § 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de semi-liberdade ou de liberdade assistida. § 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade. § 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização judicial, ouvido o Ministério Público.

Nesse sentido o Superior Tribunal de Justiça prevê que:

Ementa

ECA. HABEAS CORPUS. MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO. APLICAÇÃO. ATOS INFRACIONAIS ANÁLOGOS AOS CRIMES DE ASSOCIAÇÃO E COLABORAÇÃO PARA O TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. NÃO OCORRÊNCIA DAS HIPÓTESES DO ARTIGO 122 DO ALUDIDO ESTATUTO. IMPOSSIBILIDADE. PACIENTE AMEAÇADO DE MORTE POR TRAFICANTES. SITUAÇÃO QUE NÃO JUSTIFICA APLICAÇÃO DE MEDIDA MAIS SEVERA. ORDEM CONCEDIDA. 1. A medida socioeducativa de internação somente pode ser imposta ao adolescente na hipótese de não haver outra mais adequada e menos onerosa à sua liberdade, e caso o adolescente incida em quaisquer das hipóteses previstas no artigo 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente. 2. Os atos infracionais análogos aos crimes de associação e colaboração para o tráfico ilícito de entorpecentes, não ensejam, por si só, a aplicação da medida socioeducativa de internação, já que a conduta não pressupõe

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violência ou grave ameaça a pessoa. Na espécie, consta dos autos que o adolescente fora ameaçado de morte pelos "chefes do tráfico". Nesse contexto, não é razoável restringir mais acentuadamente o direito de liberdade do paciente em nome do princípio da proteção integral. Tal primado destina-se ao Estado, à família e à sociedade civil que, juntos, devem zelar pelo bem-estar da criança e do adolescente. 3. Ordem concedida, em menor extensão, a fim de modificar a medida socioeducativa para a semiliberdade. (HC 217.983/RJ, Relatora: Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 01/12/2011, DJe 14/12/2011)

Com base no julgado assim, pode extrair que a medida de internação deve

ser aplicada em situações extremas, já que ela cessa a liberdade do infrator, assim,

ela poderá ser alterada em caso de existir outra medida mais adequada e que

também o infrator não tenha incidido no artigo 122 do ECA.

Além disso, a aplicação da medida de internação tem que cumprir o que

dispõe o artigo 122 do ECA, que prevê três situações onde caberá a imposição da

medida, nesse sentido afirma Moacir Rodrigues,

[...] a medida extrema de internação ficou restrita a três situações, insculpidas no art. 122, podendo ser imposta quando: “ I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa; II – por reiteração no cometimento de outras infrações graves; III – por descumprimento reiterado e injustificável de medida anteriormente imposta.” (1995, p.33)

É de se destacar ainda, que o ECA expressamente prevê em seu artigo 125

a obrigação do Estado em garantir uma internação digna aos adolescentes, devendo

ele zelar pela integridade física e mental dos internos.

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5 EFETIVA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS E SUA RELAÇÃO COM A

REINCIDÊNCIA DA DELINQUÊNCIA JUVENIL

Neste último capítulo será analisada a efetiva execução das medidas

socioeducativas, suas aplicações e ainda a relação que isto tem com a reincidência

da delinquência juvenil.

João Batista Costa Saraiva cita em seu artigo que está ocorrendo uma crise

na interpretação do próprio Estatuto:

cumpre lembrar que, embora o número de adolescentes autores de ato infracional seja percentualmente insignificante em face do conjunto da população infanto-juvenil brasileira, a ação deste pequeno grupo tem grande visibilidade. È bom que se destaque que se está a falar de menos de um por cento da população infanto-juvenil do Brasil, se cotejados os números daqueles adolescentes incluídos em medidas socioeducativas (de privação de liberdade e de meio aberto) com o conjunto da população com menos de dezoito anos.Ainda assim, por conta de uma crise de implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente, que resulta de uma crise de interpretação do próprio Estatuto, as insuficientes ações em face da chamada “delinquencia juvenil” acabam tendo o poder de contaminação de toda a política pública de defesa dos direitos humanos da infância e da juventude brasileira, colocando em risco a proposta de funcionamento de todo sistema. (SARAIVA, 2009).

Ainda conforme observa o autor, o que vem ocorrendo é um pouco mais

complexo, tem relação com a execução das medidas através da incompetência do

Estado:

A problemática se situa muito mais na incompetência do Estado na execução das medidas socioeducativas previstas na Lei, a inexistência ou insuficiência de programas de execução de medidas em meio aberto e a carência do sistema de internamento (privação de liberdade). (SARAIVA, 2009).

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No próximo item, analisará a causa da reincidência juvenil e para isso

deverão ser estudados alguns conceitos.

5.1 REINCIDÊNCIA DA DELINQUÊNCIA JUVENIL

Esse item tem por objetivo mostrar o que vem causando a reincidência da

delinquência juvenil no País, sendo assim, passará analisar primeiramente o

conceito de delinquência juvenil e a origem do infrator delinquente.

Há muito tempo já se discutia a situação da delinquência, César Barros Leal,

afirma que “em estudo comparativo, publicado no ano de 1952, pelas Nações

Unidas, já se inferia expressamente que, longe de ser um problema independente, é,

ao revés, um aspecto de questão global da criminalidade”.(1983, p.85).

Ainda para César Barros Leal:

O conceito de delinquência juvenil (dita expressão teria sido usada pela primeira vez em 1815, na Inglaterra, por ocasião do julgamento de 5 meninos de 8 a 12 anos de idade) não é unívoco. Diferentes posições são adotadas nesse sentido, destacando-se as seguintes: a) a delinquência juvenil compreende os comportamentos anti-sociais praticados por menores e que sejam tipificados nas leis penais; b) a delinquência juvenil não deve ser encarada sob uma perspectiva meramente jurídica, devendo incluir também os comportamentos anormais, irregulares ou indesejáveis; c) a delinquência juvenil abrange, além do que foi assinalado nas teorias anteriores, aqueles menores que, por força de certas circunstancias ou condutas, necessitem de reeducação, cuidado e proteção. Das três posições a mais adotada é a primeira. (1983, p. 43).

Atualmente a delinquência ainda é um campo não muito claro, conforme

observa José Henrique Pierangeli, “a delinquência juvenil constitui um tema dos

mais controvertidos no saber penal, e sobre ele se dedicam grandes cultores dos

vários campos do conhecimento humano”.(2003).

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No que tange a violência que vem desencadeando essa delinquência, Flávio

Cruz Prates destaca:

A violência contra a criança e o adolescente é notícia notória e vem atingindo índices preocupantes. Grande parcela de nossa juventude sofre o abandono material e emocional, é explorada através do trabalho infantil, exposta à violência física, abuso sexual e vitimada pela discriminação e desamparo governamental. (2001, p. 2-3).

Portanto, a delinquência juvenil tem um caráter familiar e governamental,

pois todo adolescente necessita do amparo da família e do Estado, já que em

decorrência de suas características próprias passam por momentos de mudanças e

inseguranças, onde o certo e o errado se misturam, esse amparo deve

necessariamente acontecer, pois toda essa confusão de sentimentos poderá

acarretar um desequilíbrio emocional fazendo com que o adolescente se deixe levar

para o mundo da criminalidade.

5.2 REINCIDÊNCIA DOS ATOS INFRACIONAIS

A reincidência dos adolescentes está pautada, sem sombra de dúvidas, na

estrutura precária que se encontra o País, na má fiscalização das medidas impostas

para o infrator que muitas vezes não cumpre o que lhe foi aplicado, já que o

adolescente não vê na prática a sua punição.

Em estudo realizado no Distrito Federal, fica evidente a causa da

reincidência:

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Da população juvenil que está no Caje, 80% são reincidentes; 45% não se sentem seguros no local; e 42% abandonaram a escola. Mais da metade dos internos é de Ceilândia, Samambaia e Planaltina, segundo levantamento da UnB. O estudo relata ainda a informação da socióloga Bruna Gatti, que (...) De acordo com ela, apenas desocupar o Caje não resolve o problema da delinquência juvenil. ‘A estrutura do Caje é falida, mas desativar e mandar para um lugar onde aconteçam rebelião e mortes não resolve. Tem de ser um lugar que ofereça educação, cursos profissionalizantes, esportes, cultura. Mas também é preciso criar políticas públicas para evitar que crianças e adolescentes ingressem no crime, como investir em projetos sociais nas periferias, dar alternativas para que o jovem não seja seduzido pelo que a rua lhe oferece’. (GATTI, 2010).

No último tópico, verificará a eficácia das medidas socioeducativas do ECA,

para que se obtenha a origem dos problemas com a reincidência da delinquência

juvenil, que relatou-se no trabalho.

5.3 DA EFETIVA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS E A ANALOGIA

COM A REINCIDÊNCIA DOS INFRATORES

Este item analisará a real execução das medidas, as quais sejam:

advertência, prestação de serviço à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade

e internação, para entender melhor o motivo de tanta reincidência de infrações:

a) Primeiramente verificará a medida de advertência, que é considerada a

mais branda, consiste na coação verbal, para as infrações leves, conforme já

explicado em um dos capítulos anteriores. Contudo, para que ocorra a eficácia da

advertência, seria necessário o acompanhamento familiar, mesmo que sua aplicação

fosse feita somente uma vez, pois caso contrário o infrator poderá entender que tal

procedimento não está sendo eficaz, ou melhor, sua conduta não será

responsabilizada na prática. Assim, nota-se que a referida medida, aplicada mais de

uma vez, contribui para a reincidência da delinquência juvenil no País.

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b) No que se refere à medida da obrigação de reparar o dano, deve analisar

a situação econômica da família do infrator, pois tal medida versa sobre reparar o

dano causado a vítima, todavia muitos doutrinadores criticam esse procedimento,

uma vez que o cumprimento se dá pelos seus pais ou responsáveis, não sendo

atingindo os objetivos de reeducação do mesmo.

Para Renata Ceschin Melfi de Macedo, a medida chega ferir a Carta Magna,

senão vejamos:

Nesse sentido, observa-se que o cunho da medida é essencialmente educativo, no sentido de conscientizar o adolescente de que o dano causado a outrem deve ser ressarcido e com a finalidade de lhe incutir responsabilidade por seus atos. A transferência do encargo aos pais ou responsável frustaria tal objetivo, bem como acabaria por ferir o princípio constitucional previsto no art. 5º, XLV. (MACEDO, 2008, p. 150).

Percebe-se então que a reparação do dano quando cumprida pelos pais ou

responsáveis (é o que ocorre na maioria das vezes) terá uma grande relação com a

reincidência das infrações, visto que não consegue alcançar seu caráter

socioeducativo.

c) Já a medida de prestação de serviço à comunidade é uma das medidas

que mais coincide com a finalidade de reeducação e ressocialização do infrator, isto

porque, consiste em realização de serviços gratuitos a toda sociedade, nunca

discriminatórios ou humilhantes, porém sua execução, como já mencionado no

presente trabalho, depende de uma equipe, de entidades públicas e privadas, para

que fiscalizem e ofereçam acesso ao serviço comunitário, ressalta-se que isso

normalmente não ocorre, fazendo parte também dos índices de reincidência.

d) No que se refere à liberdade assistida é a medida que deve ter o auxílio

da sociedade no acompanhamento do procedimento, seja escolar ou no trabalho,

havendo uma inclusão natural do adolescente infrator.

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O estudo realizado em Fortaleza, afirma que o auxílio escolar é de suma

importância, conforme relato a seguir.

De acordo com o estudo, 68% dos jovens que cumprem essa medida socioeducativa afirmaram ser usuários de entorpecentes. Contudo, apenas 5% foram encaminhados para tratamento de desintoxicação, por exemplo. A pesquisa Execução de Medidas Socioeducativas de Liberdade Assistida em Fortaleza: sua forma, seu impacto, seus executores e os adolescentes e jovens que a cumprem apontou também que a quantidade de adolescentes e jovens fora da sala de aula é alta: mais de um terço dos participantes ouvidos. O Estatuto da Criança e do Adolescente, no inciso II do artigo 119, determina que, para que haja efetivamente liberdade assistida, é necessário ‘supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula’. Outras críticas são a desarticulação dos programas; a grande quantidade de adolescentes para poucos profissionais; e a ausência de uma rede que garanta os direitos desses jovens. (WAMBERGNA, 2008).

Essa medida aplicada corretamente afastaria a reincidência da delinquência

juvenil, contudo, deve ponderar que sua execução só será eficaz se a equipe

necessária estiver efetivamente empenhada e disponível para tal fiscalização. É o

que diz o doutrinador Jason Albergaria:

Sob a perspectiva jurídica, a liberdade assistida se caracteriza como instituição legal, colocando o menor, por decisão do juiz, em seu meio natural, sujeito à orientação e assistência do pessoal tutelar. Não é uma sanção penal, mas limita a liberdade e alguns direitos do menor, segundo as condições impostas com vista aos seus fins pedagógicos, para assegurar a educação ou reeducação do menor e impedir a reincidência. (1995, p.127-128).

Assim, caso sua execução está ligada ao desempenho da equipe de

fiscalização, que na maioria das vezes, não cumpre com seus objetivos.

d) Sobre a medida de semiliberdade, considera-se que o adolescente

necessita permanecer no estabelecimento, porém podendo ser autorizadas saídas

externas, o adolescente deve ser instruído com as regras de maneira clara, com os

horários e as obrigações, sendo necessária a frequência escolar e a

profissionalização do indivíduo.

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Essa medida preencheria todos os requisitos para finalidade das medidas

socioeducativas, contudo, a realidade é outra, uma vez que a maior dificuldade são

as casas, instituições onde deveria ser realizado o cumprimento da semiliberdade.

Nesse sentido assegura Nogueira que “a aplicação da medida de regime de

semiliberdade deve ser acompanhada de escolarização e profissionalização

obrigatórias, embora e saiba também que não existem escolas suficientes e

adequadas ao cumprimento dessa medida”. (1988, p. 154).

Assim, considera que a medida de semiliberdade, se executada da forma

que deveria, com instituições preparadas, bem estruturadas, alcançaria a finalidade

das medidas socioeducativas.

e) Por fim, a medida de internação, que deve ser aplicada somente em

casos graves, ou melhor, deverá ser aplicada via de regra como exceção, em último

caso, vem tendo sua execução dificultada no que tange também na inexistência das

unidades e ainda nas condições precárias das que existem, em uma pesquisa

realizada em São Paulo criada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), constatou-

se que:

Equipes do projeto terminaram, no último dia 19 de agosto, o levantamento nos estabelecimentos da capital e região metropolitana de São Paulo. Em setembro, os grupos seguem para o interior paulista, onde há cerca de 70 unidades de internação. Com a conclusão deste trabalho, o CNJ fará um relatório nacional sobre a internação de adolescentes no Brasil. A expectativa é a de que o diagnóstico seja divulgado até o fim do ano.No entanto, com as visitas realizadas até o momento, já é possível notar falhas do sistema de internação. As equipes do CNJ constataram, em alguns dos estados por qual passou, carência de investimento nas unidades de internação; falta de investimento nas medidas socioeducativas em meio aberto; inexistência de programas para os egressos do sistema socioeducativo; descumprimento de normas administrativas; superlotação; adolescentes em cadeias; assim como escassez de cursos de capacitação para os magistrados, técnicos e servidores de varas da infância e juventude. (SOUZA, 2011).

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Com todo exposto nesse capítulo, se pode observar que as execuções da

maioria das medidas estão contribuindo para a reincidência dos infratores, verifica-

se também que as dificuldades mais visíveis se encontram na infraestrutura de um

sistema defasado ou ainda uma fiscalização inadequada.

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6 CONCLUSÃO

Este trabalho evidencia a importância que o tema traz ao País e que os co-

responsáveis tem o dever de garantir uma execução efetiva da medidas

socioeducativas do ECA, com o intuito de que os infratores não reincidam na

delinquência juvenil, tem a obrigação ainda de agir e se preocupar mais com a

nossa infância e juventude.

Analisou-se em relação à família, sociedade e Estado as principais falhas

que pudessem levar a conduta atípica das crianças e dos adolescentes, resultando

na reincidência da delinquência dos menores. Constatou assim, que a família

deveria ter maior cuidado com suas crianças e adolescentes, isto porque o futuro

delas está ligado diretamente com a estrutura familiar de vida. A sociedade deve

entender que a juventude tem sim que cumprir com seus deveres assim como os

adultos, contudo, como são mais frágeis, possuem um cuidado específico e o

Estado, que está muito aquém do que deveria ser, deve garantir toda segurança que

essa fase necessita. Enfim, essas instituições são responsáveis para uma vida sadia

para a infância e juventude do País, todavia como já mencionado ultimamente não

se tem visto um cuidado por parte das referidas instituições, muito pelo contrário,

tem-se visto um descaso enorme, seja no acompanhamento familiar, social e o

auxílio do Estado.

Neste estudo entendeu-se que mesmo o Estatuto da Criança e do

Adolescente embora seja completo e revestido de medidas socioeducativas que

objetivam uma ressocialização digna aos infratores, os erros cometidos, pelas

famílias, sociedade e/ou principalmente por parte do Estado, não permitem a

execução efetiva de tais medidas, fazendo com que as crianças e os adolescentes

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cada vez mais confiem na ineficácia do ECA, possibilitando que ocorra a prática

reiterada de atos infracionais.........................................................................................

Desta forma pode concluir que o Estatuto da Criança e do Adolescente, no

que se refere as medidas socioeducativas está completo, bem embasado, entretanto

sua execução não está funcionando, seu cumprimento não está sendo eficaz, já que

o sistema é defasado e precário, ressalta-se ainda que as fiscalizações não seguem

como deveriam.

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