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Universidade de Lisboa
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Departamento de Biologia Vegetal
Análise da correlação espacial da presença de Misticetos com frentes oceânicas
Mariana Ávila de Borba Silva
Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências do Mar
2013
Universidade de Lisboa
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Departamento de Biologia Vegetal
Análise da correlação espacial da presença de Misticetos com frentes oceânicas
Mariana Ávila de Borba Silva
Dissertação de Mestrado Mestrado em Ciências do Mar
Orientadores: Prof. Doutora Vanda Brotas
Prof. Doutor José Azevedo
2013
i
Índice
Agradecimentos ......................................................................................................................... iii
Resumo ...................................................................................................................................... iv
Abstract ........................................................................................................................................ v
1. Introdução ............................................................................................................................ 1
1.1. Oceanografia dos Açores .......................................................................................... 1
1.2. Misticetos dos Açores ................................................................................................ 3
1.2.1. Baleia-Azul- Balaenoptera musculus (Linnaeus, 1758) ................................ 3
1.2.2. Baleia-Comum - Balaenoptera physalus (Linnaeus, 1758) .......................... 4
1.2.3. Baleia-Sardinheira - Balaenoptera borealis (Lesson, 1828) ........................ 4
1.3. Influência das frentes oceânicas na distribuição dos Misticetos ......................... 5
1.4. Objectivos .................................................................................................................... 9
2. Metodologia ....................................................................................................................... 10
2.1. Área de estudo ......................................................................................................... 10
2.2. Amostragem .............................................................................................................. 10
2.2.1. Recolha dos dados ........................................................................................... 10
2.2.2. Tratamento de dados ....................................................................................... 11
2.2.3. Análise estatística ............................................................................................ 16
3. Resultados ........................................................................................................................ 18
3.1. Observação dos cetáceos ....................................................................................... 18
3.2. Distribuição das baleias em relação às frentes oceânicas ................................ 19
3.2.1. Distâncias .......................................................................................................... 19
3.2.2. Densidade ......................................................................................................... 21
3.2.3. Lado .................................................................................................................... 23
4. Discussão .......................................................................................................................... 25
4.1. Distribuição das baleias em relação às frentes oceânicas ................................ 25
4.1.1. Distância ............................................................................................................ 25
4.1.2. Densidade ......................................................................................................... 27
4.1.3. Lado .................................................................................................................... 28
4.1.4. Questões metodológicas ................................................................................. 28
4.1.5. Conclusões e recomendações ....................................................................... 29
5. Bibliografia ......................................................................................................................... 30
Anexos ....................................................................................................................................... 34
ii
Índice de Imagens
Fig. 1 - Correntes presentes na área dos Açores: (A): meses de Verão. (B) meses de Inverno. (Santos et al. 1995). ......................................................................................... 2
Fig. 2 - Arquipélago dos Açores com as áreas de estudo: (A) São Miguel; (B) Faial. . 10
Fig. 3 - PCM geral da ilha de São Miguel com todos os avistamentos semanais das espécies alvo. ............................................................................................................... 13
Fig. 4 - PCM geral da ilha do Faial com todos os avistamentos semanais das espécies alvo. .............................................................................................................................. 13
Fig. 5 - Imagem das frentes oceânicas detectadas para uma das semanas seleccionadas para o estudo. ....................................................................................... 15
Fig. 6 - Avistamentos de Baleias-Azuis, Baleias-Comuns e Baleias-Sardinheiras de todas as semanas obtidas entre 2009 e 2013 na ilha de São Miguel e ilha do Faial. .. 18
Fig. 7 - Semanas de avistamentos com imagens de satélite TSM de boa qualidade da costa Sul da Ilha de São Miguel. .................................................................................. 19
Fig. 8 - Número de ocorrências de cada espécie em estudo em função da distância à frente oceânica mais próxima. ...................................................................................... 20
Fig. 9 - Distância mensal média de cada espécie à frente oceânica mais próxima (conjunto de dados de 2009 a 2012). ........................................................................... 21
Fig. 10 - Número de ocorrências de cada espécie em estudo em relação à densidade das frentes oceânicas. .................................................................................................. 22
Fig. 11 - Área em que as espécies em estudo se encontram em relação às densidades das frentes. ................................................................................................................... 23
Fig. 12 - Distribuição das espécies alvo consoante o lado da frente em que se encontram. .................................................................................................................... 24
iii
Agradecimentos
Gostaria de agradecer a todas as pessoas e entidades que me ajudaram
a tornar possível a realização deste trabalho.
Começo por agradecer aos meus orientadores, Professor Doutor José
Azevedo, Professora Doutora Vanda Brotas, e co-orientador Doutor Marc
Fernandez por toda a ajuda, sugestões, comentários e correcções.
Às empresas de Observação de Cetáceos: “Picos de Aventura”,
”Futurismo” e “Horta Cetáceos” e ao projecto Monicet pela disponibilização dos
dados dos avistamentos de cetáceos que tornaram possível a elaboração deste
trabalho.
Agradeço também a todos os meus amigos que me deram apoio e força
nas alturas mais difíceis.
Um agradecimento especial à minha família, em especial à minha mãe,
ao Zé e às minhas irmãs, Daniela e Camila, que sempre me apoiaram e
proporcionaram condições para poder elaborar este trabalho.
iv
Resumo
Para podermos compreender melhor a distribuição das grandes baleias
e para conservar os seus habitats temos que compreender os factores que
influenciam e a sua selecção. Têm sido feitos muitos estudos para melhor
compreender a distribuição dos cetáceos, a grande maioria relacionando estes
com características oceanográficas como, topografia subaquática e
temperatura superficial do mar (TSM), mas os mecanismos continuam a ser
mal compreendidos. As frentes oceânicas têm sido as mais utilizadas nestes
estudos, pois são locais onde há uma grande produtividade biológica e
agregados de presas, logo uma grande probabilidade de ser um factor que
influencie fortemente a distribuição das baleias. Os estudos efectuados têm
sido pouco conclusivos. Neste estudo quantificou-se a relação entre frentes
oceânicas e a distribuição da baleia-azul (Balaenoptera musculus), baleia-
comum (Balaenoptera physalus) e baleia-sardinheira (Balaenoptera borealis)
em duas áreas do arquipélago dos Açores. Usaram-se avistamentos semanais
de várias empresas de “Whale Watching” destas espécies entre os anos de
2009 e inícios de 2013 e frentes oceânicas determinadas por dados de satélite.
Com esta informação foi possível o cálculo da distância da posição de cada
espécie a cada frente oceânica, através de reamostragem aleatória, a posição
em relação à densidade das frentes e a sua posição em relação à frente
oceânica. A Baleia-Azul e a Baleia-Comum estavam realmente correlacionadas
coma s frentes oceânicas enquanto que a Baleia-Sardinheira se encontra
distribuída aleatoriamente em relação à posição das frentes oceânicas.
Desta forma pode-se afirmar que as frentes oceânicas são um bom
indicador para conseguirmos compreender a preferência do habitat das
espécies de misticetos em estudo.
Palavras-chave: Frentes Oceânicas, Baleia-Azul, Baleia-Comum, Baleia-
Sardinheira, Distribuição, Açores.
v
Abstract
To be able to understand the distribution of large whales and to preserve
their habitats we need do understand the factors influencing the habitat
selection. Many studies have been done to understand the distribution of
cetaceans with oceanographic characteristics such as underwater topography
and sea surface temperature (SST), but the mechanisms underlying these
relationships remain poorly understood. The ocean fronts have been the most
used in these studies because these places have a large biological productivity
and aggregate potential preys reflecting in a higher probability of being a factor
that influences the distribution of whales. However these studies have been
inconclusive. This study quantified the relationship between oceanic fronts and
the distribution of blue whale (Balaenoptera musculus), fin whale (Balaenoptera
physalus) and sei whale (Balaenoptera borealis) on two areas of Azores
archipelago. There were used weekly sightings of several “Whale Watching”
companies between 2009 and 2013 beginning and oceanic frontal areas
determined by satellite information. With these data it was possible to calculate
the distance between: the position of each species and oceanic front through
random resampling; the relative position to the fronts density; and its relatively
position to the oceanic front.
The blue and fin whales were actually correlated with oceanic fronts
while the sei whale was randomly distributed. With these results we can
assume that oceanic fronts are indeed a good indicator that enlarges our
comprehension of how the habitat preference works within the baleen whales in
study.
Keywords: Oceanic fronts, Blue Whale, Fin Whale, Sei Whale, Distribution,
Azores.
1
1. Introdução
1.1. Oceanografia dos Açores
O arquipélago dos Açores, constituído por nove ilhas e alguns ilhéus,
situa-se no Atlântico Norte, a aproximadamente 1600 km de Portugal
Continental (França et al. 2005). As diferentes ilhas apresentam-se alinhadas
segundo uma faixa de orientação geral NW-SE, com uma extensão de cerca de
600 km entre Santa Maria e o Corvo (França et al. 2005). Santos & Pinho
(2005) dizem que os Açores, no seu conjunto, perfazem uma área de 66000
km2. Constatam também que o comprimento total das linhas de costa das nove
ilhas é cerca de 850 km, aproximadamente o comprimento da linha de costa de
Portugal Continental.
Os Açores encontram-se numa zona de convergência de uma série de
estruturas tectónicas e, de entre essas estruturas, salientam-se: a Crista
Média-Atlântica (CMA), o rifte da Terceira (RT), a Zona de Fractura Este dos
Açores (ZFEA) e a Zona de Fractura Oeste dos Açores (ZFOA) (França et al.
2005). O relevo submarino desta região é caracterizado por várias elevações
do fundo, a partir de profundidades batiais e abissais, tendo algumas delas
originado as ilhas dos Açores (Santos et al. 1995). Em Bashmachnikov et al.
(2004) foi observado que na crista média oceânica, entre o grupo central e
oriental, existem águas mais frias com diferenças de temperaturas máximas de
1ºC. Pensam que algumas anomalias podem ser resultado de intensificação de
ondas / vórtices que passam perto de montes submarinos. Estas elevações em
mar aberto podem causar o afloramento de nutrientes, aumentando a
produtividade primária na área, e, consequentemente, afectar a distribuição dos
organismos pelágicos, incluindo os cetáceos (Santos et al. 1995). Este factor,
ligado à ausência de plataforma continental, permite que sejam atingidas zonas
de grande profundidade ao redor das ilhas, tornando o arquipélago num local
privilegiado para a observação de cetáceos próximos da costa (Santos et al.
1995).
Nos Açores, a circulação da água superficial e profunda proporciona a
forma como o biota marinho atinge a costa das ilhas. Os ventos dominantes no
Inverno são de leste, enquanto que no Verão dominam os ventos de oeste.
Outra característica importante é a Corrente do Golfo. Esta flui para norte
2
transportando água tropical quente, com alta salinidade e um baixo regime de
nutrientes que tipifica os Açores, do equador para as águas frias do norte. Ao
fluir para leste vai perdendo a sua força. Aos 40ºN divide-se em dois ramos. A
corrente do Atlântico Norte e, mais a sul, a Corrente dos Açores. Esta última é
a grande responsável pela fauna e flora dos Açores. Este ramo varia
sazonalmente sendo que no verão dirige-se mais para leste, a uma distância
considerável das ilhas, enquanto que no Inverno se aproxima das ilhas a norte
(Fig.1) (Morton et al. 1998, Santos et al. 1995).
Fig. 1 - Correntes presentes na área dos Açores: (A): meses de Verão. (B) meses de
Inverno. (Santos et al. 1995).
Em Santos et al (2005) podemos ver que a corrente dos Açores divide-se
também em dois ramos, a Corrente dos Açores Norte e a Corrente dos Açores
Sul. Estes autores afirmam que o fluxo principal da corrente dos Açores tem
cerca de 150 km de largura e uma profundidade de 1000 m, sendo possível
observar fortes gradientes térmicos e de salinidade na região.
Além das correntes de superfície, existem também correntes de fundo,
como a água vinda da Antártica, que vêm frias e carregadas de oxigénio
(Morton et al. 1998).
3
1.2. Misticetos dos Açores
Os misticetos são animais de grande porte, em que as fêmeas têm um
crescimento maior que os machos, sendo o maior de todos a Baleia-Azul.
Estes rorquais são animais ágeis e possuem longas pregas que se estendem
desde a ponta do focinho até zona do umbigo na superfície ventral (Jefferson,
1993). Estas, em vez de um, possuem dois espiráculos, crânio simétrico e um
esterno que consiste num único osso. Na boca, em vez de dentes, possuem
barbas que são placas rígidas de queratina que são utilizadas para fazer a
filtração durante a alimentação (embora dentes possam ser encontrados em
fetos) (Jefferson, 1993; Berta & Sumich, 1999).
Para se alimentarem engolem grandes quantidades de água com a
ajuda da expansão das pregas e, com as barbas, filtram cardumes de
pequenos peixes e invertebrados (Jefferson, 1993). Capturam zooplâncton ou
cardumes de pequenos peixes pelágicos encontrados em profundidades
relativamente rasas, geralmente entre os 100 e os 500 metros (Berta & Sumich,
1999).
1.2.1. Baleia-Azul- Balaenoptera musculus (Linnaeus, 1758)
A Baleia-Azul é o maior animal de sempre, atingindo cerca de 23 a 27
metros de comprimento e podendo pesar até 160 toneladas (Jefferson, 1993).
Como todos os rorquais, a Baleia-Azul possui um corpo esguio e aerodinâmico,
com cabeça larga e em forma de U (Jefferson, 1993). É possível também
observar junto aos espiráculos o género de uma “protecção contra respingos”
(Jefferson, 1993). Quando às barbatanas, são longas e pontiagudas sendo a
barbatana dorsal relativamente pequena e com forma variável e encontra-se a
cerca de três quartos do corpo (Jefferson, 1993). Quando expira emite um bufo
alto e fino que pode atingir os 9 m de altura ou mais (Jefferson, 1993).
Em alto mar pode ser confundida com as Baleias-Comuns ou com as
Baleias-Sardinheiras e a melhor forma de as diferenciar será pela cor, forma da
cabeça e forma e posição da barbatana dorsal (Jefferson, 1993).
São vistas ou sozinhas ou em pares, sendo somente observadas em
grupo em áreas de alimentação (Jefferson, 1993). Fazem mergulhos curtos na
sua maioria sendo o tempo máximo de permanência dentro de água de 30
4
minutos. Dão à luz durante o Inverno em áreas de reprodução tropicais ou
subtropicais (Jefferson, 1993).
Tendem a ser animais de mar aberto mas, em algumas áreas,
aproximam-se da costa para se alimentar e reproduzir. A sua alimentação
consiste maioritariamente de krill (Jefferson, 1993), mais especificamente o
eufasiídeos (Burtenshaw et al. 2004).
1.2.2. Baleia-Comum - Balaenoptera physalus (Linnaeus, 1758)
Segundo Jefferson (1993): a Baleia-Comum é o segundo maior animal
do mundo em que os adultos podem atingir um máximo de 24 metros de
comprimento possuindo um corpo elegante e aerodinâmico. Diz também que a
característica mais marcante da Baleia-Comum é a sua coloração. É cinza-
acastanhada, mais escuro no dorso e laterais, enquanto que possui um ventre
branco, e com coloração assimétrica na cabeça. A mandíbula inferior do lado
esquerdo é mais escura enquanto que a do lado direito é predominantemente
branca. Possui também a cabeça mais aguçada do que a baleia azul e a
barbatana dorsal é mais alta e falciforme e mais para a frente do que a baleia
azul. O seu bufo pode atingir entre os 4 e os 6 m de altura.
Podem ser facilmente confundidas com as Baleias-Sardinheiras e
Baleias de Bryde em que somente a cor, forma da cabeça e forma e posição da
barbatana dorsal ajudam a distingui-las, mas a forma mais segura para uma
identificação correcta será pela coloração assimétrica da cabeça (Jefferson,
1993).
Estas tendem a ser as mais sociais dos rorquais podendo reunir grupos
entre 2 a 7 baleias. Dão à luz durante o Inverno em áreas tropicais ou
subtropicais (Jefferson, 1993).
É uma das espécies mais rápidas dos rorquais podendo atingir até cerca
de 37 km/h. Encontram-se principalmente em águas oceânicas em ambos os
hemisférios. (Jefferson, 1993). Pode ingerir eufasiídeos, copépodes, lulas e
cardumes de peixes pequenos (Bannister, 2002).
1.2.3. Baleia-Sardinheira - Balaenoptera borealis (Lesson, 1828)
Quanto ao tamanho, os adultos podem ter até 18 metros de
comprimento e vir a pesar 30 toneladas A coloração é o cinza escuro e
5
esbranquiçada no ventre. Na zona traseira é possível observar uma cicatrizes
que, possivelmente, são feitas por mordeduras de lampreias) e a superfície da
pela assemelha-se a metal galvanizado. Quanto ao bufo, este pode atingir até
3 m de altura (Jefferson, 1993).
Pode ser facilmente confundida com a Baleia de Bryde, pois ambas
possuem uma barbatana dorsal proeminente e com um angulo agudo na parte
de trás. Uma forma de as distinguir é através de um cume proeminente na
cabeça, pois as Baleias de Bryde tendem a ter três. Pode ser também
confundida com a Baleia-Comum mas a distinção é feita pela coloração
assimétrica da cabeça da Baleia-Comum (Jefferson, 1993).
Quando observadas é comum observar grupos de 2 a 5 indivíduos.
Trata-se de uma nadadora rápida podendo ser mesmo a mais rápida de todos
os rorquais. Os partos ocorrem no Inverno a baixas latitudes (Jefferson, 1993).
Tem uma alimentação à base de cardumes de pequenos peixes
(Bannister, 2002) Quando estão em alimentação mergulha em séries
previsíveis, mantendo-se, muitas vezes visível abaixo da superfície entre as
respirações (Jefferson, 1993).
1.3. Influência das frentes oceânicas na distribuição dos Misticetos
Hoje em dia, torna-se cada vez mais importante entender as características
que afectam a distribuição dos organismos marinhos. Os padrões de
distribuição desses organismos estão intimamente interligados à selecção dos
seus habitats, quer em termos de espaço e de tempo. Desta forma, o estudo
dos habitats preferenciais utilizados por cada espécie é crucial para
compreender a ecologia das espécies e a estrutura das comunidades (Bjørge,
2002).
A distribuição das Baleias de Barbas nos oceanos do mundo não é aleatória
e, certas espécies são observadas em zonas com determinadas características
oceanográficas, tendo cada uma delas preferência por determinadas
profundidades e temperaturas (Jefferson, 1993). Ainda não está bem
compreendido quais os factores específicos que determinam a presença de
cada espécie em determinado local (Jefferson, 1993). Os padrões de
distribuição dos indivíduos ou agregações de indivíduos depende da forma
6
como os diferentes factores afectam o habitat de cada espécie, necessidades
biológicas, interacções com outros organismos (Forcada, 2002).
Forcada (2002) afirma que as distribuições são o culminar de diversos
factores que actuam em escalas de espaço e tempo diferentes para cada
espécie, e por vezes em grupos de espécies. Diz também que a distribuição
das baleias de barbas depende da sua capacidade de explorar organismos
planctónicos, características oceanográficas das massas de água onde se
alimentam e do nível trófico que exploram logo, sua distribuição está em
grande parte relacionada com a distribuição das suas presas. Os mamíferos
marinhos podem ser considerados especialistas ou generalistas, estando estes
dois aspectos implicados no padrão de distribuição de cada espécie (Forcada,
2002).
A dieta dos mamíferos marinhos e a sua busca constante de alimento são
consequências directas dos padrões espaciais e temporais da produtividade
primária e, no caso dos misticetos, a distribuição pode estar relacionada com a
distribuição do krill (Berta & Sumich, 1999). Para explorarem eficientemente
zonas onde exista grande quantidade de presas, estas baleias precisam de
prever sazonalmente qual o local mais apropriado para a sua alimentação
(Georges et al, 2000).
Xu et al. (2013) explicam que o mar perto da costa e o oceano aberto têm
uma dinâmica totalmente diferente. Dizem que as águas oceânicas superiores
podem ter águas mais frescas e ricas em nutrientes, provenientes do oceano
profundo para uma camada mais superficial. Nesses locais onde se dá o
afloramento são as áreas do oceano onde há uma maior produtividade (Xu et
al. 2013). Berta & Sumich (1999) afirmam que a produtividade primária marinha
é normalmente maior sobre as plataformas continentais, bancos rasos, regiões
de afloramento e em locais significativamente frios nos meses de Inverno. No
estudo de Fenchel (1988) a produção orgânica no mar depende muito do
fitoplâncton, em particular das diatomáceas e dos dinoflagelados. Explica que
estes organismos são consumidos pelo zooplâncton, como os copépodes, que
por sua vez servem de alimento a pequenos peixes que acabam sendo presas
de peixes maiores. Berta & Sumich (1999) acrescentam que a combinação de
correntes, estratificação e produção primária têm grande influência na
7
distribuição e agregação de plâncton, que por sua vez atrai predadores
maiores, como peixes, aves e cetáceos.
As frentes oceânicas são regiões de rápida mudança na salinidade ou
temperatura são formadas na fronteira entre massas de água de diferentes
densidades ou temperaturas, definindo um limite entre massas de água de
diferentes origens (Valavanis et al. 2005). Quando essas massas de águas de
diferentes origens convergem, nutrientes, bem como fitoplâncton e
zooplâncton, ficam presos nessa zona de convergência resultando num
aumento de produtividade (Valavanis et al. 2005). Belkin et al. (2009) expõem
que são zonas relativamente estreitas que acentuam os gradientes horizontais,
fruto das propriedades aquáticas como a temperatura, salinidade, nutrientes,
entre outros. Diz também que estas frentes podem ser descritas como
descontínuas, devido à sua natureza abrupta, ocorrendo em diversas escalas,
desde poucos metros até milhares de quilómetros. As frentes podem ter uma
vida breve (dias), embora a sua maioria é quase estacionária e sazonalmente
persistente (Belkin et al. 2009).
As manifestações físicas, químicas e biológicas das mesmas frentes são
tipicamente ligadas, embora já tenham sido observados deslocamentos
espaciais relativamente pequenos entre as localizações dessas frentes em
diferentes propriedades (Belkin et al. 2009).
As frentes oceânicas desempenham um papel muito importante sobre o
meio ambiente que as rodeia (Olson et al. 1994). Pensa-se que as frentes
também reforçam a divisão dos ecossistemas das duas massas de água.
(Belkin et al. 2009). Na sua maioria, as frentes apresentam uma convergência
de superfície voltada para a frente, em pelo menos um dos seus lados. Nessas
zonas há elevada produção primária, mais conhecida como “hot spots” de vida
marinha, desde o fitoplâncton até aos seus predadores (Belkin et al. 2009).
A temperatura da água e suas variações são os parâmetros mais utilizados
hoje em dia no estudo sobre relações entre o ambiente e comportamento de
abundância de várias espécies (Santos & Miguel, 2000). Temos como
exemplos algumas espécies de krill e peixes, pois como evitam águas frias, são
esperados em frentes de temperatura superficial do mar (TSM) onde as águas
frias limitam a sua distribuição (Doniol-Valcroze, 2007). A diferença de
temperatura é facilmente observada e trata-se de um bom indicador de
8
processos como afloramentos, redemoinhos, frentes, entre outros. Além disso,
é um dos parâmetros oceanográficos mais utilizados e com maior taxa de
sucesso utilizando detecção remota para o mapeamento global e a
monitorização de frentes oceânicas, e além disso, ainda fornece um maior
conjunto de dados via satélite (Santos & Miguel 2000, Belkin et al. 2009).
O uso de satélites tem ajudado no estudo das características das frentes
oceânicas (Valanavis et al. 2005). O mapeamento e identificação das frentes
são possíveis ao calibrar imagens de temperatura da superfície do mar (TSM)
com determinados valores de intervalos de temperatura. As diferenças entre a
TSM podem ser de 10-15ºC, mas as diferenças típicas são de 2-5ºC (Belkin et
al. 2009). Nos vários trabalhos feitos nos últimos anos foram definidos
diferentes intervalos de temperatura para determinar as frentes oceânicas,
dependendo do tipo de estudo a realizar. Temos como exemplo Doniol-
Valcroze et al. (2007) que decidiram definir as frentes de 2°C Km-1
representando somente os gradientes mais fortes. No estudo de Ullman &
Cornillon (1999) uma frente representa uma alteração de TSM maior que
0,375ºC km-1, e outros autores, como Gannier & Praca (2007), para obterem os
mapas de TSM brutos, utilizaram o gradiente máximo de diferença disponível
no programa utilizado (WimSoft© software), que neste caso as zonas frontais
seriam definidas sempre que houvesse uma diferença de 1,2ºC entre duas
células, o que corresponde a um gradiente térmico de cerca de 0.1ºC Km-1.
Tem sido feita uma pesquisa intensa para descrever os habitats
preferenciais de várias espécies de cetáceos realçando a relação entre
variáveis físicas e biológicas. Entre eles, temos estudos que demonstram que a
distribuição de aves e mamíferos marinhos podem estar ligados a mudanças
na disponibilidade das suas presas, incluindo peixes, cefalópodes e
zooplâncton (Fiedler et al. 1998). Quanto às variáveis ambientais são comuns
estudos que relacionem aguas produtivas com mamíferos marinhos (Smith et
al. 1986), frentes com peixes (Pried & Miller, 2009; Reese et al. 2011; Royer et
al. 2004; Sims & Quayle, 1998) e frentes com cetáceos (Benson et al. 2002;
Doniol-Valcroze et al. 2007; Gill et al. 2011; Keller et al. 2006; Panigada et al.
2008). Quanto às frentes essencialmente oceânicas também alguns estudos
que as correlacionam com peixes (Xu et al. 2013) e baleias de barbas
(Baumgartner & Mate, 2005; Druon et al. 2012; Littaye et al. 2004).
9
Para Doniol-Valcroze et al. (2007) as frentes são as principais candidatas
para relacionar os factores físicos com a distribuição de grandes baleias. Isto
porque aumentam a produtividade biológica e agregados de presas oferecendo
assim áreas com características particularidades de alimentação para os
organismos. Estas áreas associadas ao aumento de produtividade tornam-se
áreas atractivas para uma ampla variedade de peixes, aves e mamíferos
marinhos. Smith et al. (1986) associaram a distribuição dos mamíferos
marinhos com o aumento de produção primária e concluíram que associações
Cetáceos-Ambiente sugerem que variações de temperatura podem delimitar os
habitats das diferentes espécies. Já Baumgartner e Mate (2005) não
encontraram quaisquer evidências na correlação entre baleias e as frentes.
O estudo de Santora et al. (2010) incidiu sobre a preferência do tamanho do
alimento por parte de algumas espécies de baleias de barbas e concluiu que as
baleias de barbas e o krill ocorrem em locais persistentes, sendo que os locais
de abundâncias das baleias estavam correlacionados com as áreas de
abundância de krill e que as estratégias de alimentação dos misticetos
dependiam do comportamento deste. A mudança sazonal da produtividade
primária está relacionada com a disponibilidade de nutrientes, logo das
condições oceanográficas (Burtenshaw et al. 2004).
A norte dos Açores foi feito um estudo acerca da variabilidade espacial das
baleias-sardinheiras e cachalotes em relação a características oceanográficas
e topográficas o qual concluiu que a baleia-sardinheira prefere alimentar-se em
zonas com menor profundidade sendo por isso, uma mergulhadora rasa (Skov
et al. 2008).
1.4. Objectivos
Neste estudo pretende-se fazer a correlação espacial da presença de
Misticetos com frentes oceânicas, utilizando dados de avistamentos de três
espécies de baleias de barbas entre 2009 e 2013, e dados de satélite de
temperatura da superfície do mar (TSM),com as frentes oceânicas recolhidas
na mesma escala de espaço e tempo.
10
2. Metodologia
2.1. Área de estudo
A área de estudo englobou a costa sul da ilha de São Miguel e a costa
da ilha do Faial (Fig. 2) até aproximadamente 10 milhas.
Fig. 2 - Arquipélago dos Açores com as áreas de estudo: (A) São Miguel; (B) Faial.
As observações foram feitas perto da costa pois, como não existe
plataforma continental nos Açores, obtêm-se zonas de grandes profundidades
a escassas distâncias da costa, o que facilita a observação dos cetáceos perto
da costa.
2.2. Amostragem
2.2.1. Recolha dos dados
Os dados utilizados foram recolhidos em saídas de empresas marítimo-
turísticas de observação de cetáceos que decorreram entre 2009 e início de
2013. Estas saídas costumam ter início em Março/Abril e terminam por volta de
Novembro, que é a época alta do turismo nos Açores.
Todas as saídas para o mar iniciaram-se nas respectivas marinas,
podendo atingir uma distância máxima de 10 milhas náuticas da costa. Estas
A
B
11
realizam-se normalmente duas vezes por dia (manhã e tarde) e dependem do
estado do mar, condições meteorológicas e também do número de clientes.
Para a detecção dos cetáceos utilizaram-se as vigias, que consistem em
pessoas que se encontram em terra, num ponto elevado, com binóculos de
grande poder de ampliação, tendo assim uma visão ampla sobre uma grande
extensão de mar. Após a localização dos animais, este informa, via rádio, as
embarcações acerca da posição dos animais de forma a facilitar a observação
dos mesmos.
No mar, o biólogo procede à recolha de dados de posição da espécie
observada. Para tirar a posição do avistamento utilizou-se um GPS e procedeu-
se ao registo com: nome da empresa, nome da embarcação, data da saída,
hora da saída, estado do mar, ilha e localidade de onde partiram as
embarcações, espécie, número de animais, hora de início e final de
avistamento e, por fim, a posição do animal. Estes dados são posteriormente
anotados no diário de bordo da embarcação.
Por fim, as posições são submetidas na plataforma MONICET
(www.monicet.net) de forma a estes dados possam vir a ser utilizados para
variados estudos. O MONICET é um projecto que reúne uma base de dados de
longo prazo das observações de cetáceos efectuadas por operadores
marítimo-turísticos nos Açores com o objectivo de utilizar estes dados para
estudos científicos futuros e informação ao público.
Para o presente estudo houve o contributo das empresas Picos de
Aventura, Futurismo, e Terra Azul na ilha de São Miguel e da empresa Horta
Cetáceos na ilha do Faial.
2.2.2. Tratamento de dados
Obtenção dos dados de avistamentos
Para obter os dados necessários, acedeu-se à base de dados
MONICET, exportaram-se as folhas de cálculo com todos os dados dos
avistamentos de cada uma das espécies pretendidas desde 2009 até 2013.
Procedeu-se depois à filtração de dados de forma a seleccionar, para
cada espécie, sequências de 7 dias seguidos que contenham, no mínimo, 5
avistamentos. Foi escolhida uma escala de tempo de 7 dias consecutivos para
12
evitar as nuvens que podem aparecer nos mapas diários e para que o número
de avistamentos fosse o suficiente para ser possível testar a hipótese. Todos
os avistamentos com o mesmo número de animais, à mesma hora e local
foram excluídos de forma a não termos avistamentos em duplicado.
Depois de seleccionadas as semanas, exportaram-se as respectivas
folhas de cálculo com os avistamentos para cada uma das espécies. Estas
folhas de cálculo contêm a espécie em estudo e todos os outros avistamentos
obtidos em cada semana seleccionada.
Delimitação dos polígonos convexos mínimos
No ArcMAP (componente do ArcGIS) colocaram-se as coordenadas das
posições de todas as espécies avistadas na semana e, com a ferramenta HRT,
desenhou-se o polígono convexo mínimo (PCM) que abrange todos os
avistamentos registados. Esta ferramenta constrói polígonos através da ligação
dos pontos periféricos de um grupo de pontos. Este inclui 95% dos pontos da
área de esforço, pois esta ferramenta utiliza um método de exclusão. Obteve-
se um PCM para cada semana de cada uma das espécies em estudo.
Depois de obtido o polígono, foram colocados os avistamentos da
espécie em estudo. Este procedimento foi feito para todas as semanas obtidas
de cada uma das espécies em estudo.
Nas Figs.3 e 4 temos os exemplos de um polígono geral que contém
todas as semanas de todas as espécies em estudo em cada uma das áreas.
13
Fig. 3 - PCM geral da ilha de São Miguel com todos os avistamentos semanais das espécies alvo.
Fig. 4 - PCM geral da ilha do Faial com todos os avistamentos semanais das espécies alvo.
14
Reamostragem aleatória
Realizou-se uma reamostragem aleatória no programa ArcGIS para
cada uma das semanas de cada espécie alvo. Com isto podemos obter pontos
distribuídos de forma aleatória no que diz respeito às frentes oceânicas. No
ArcMAP foram colocados então os PCM’s, de cada semana, e foram traçados
100 pontos aleatórios. Para tal foi utilizada a ferramenta Create Random
Points, assim os pontos aleatórios são lançados dentro da PCM, logo, dentro
da nossa área de esforço. Esta tarefa foi realizada em cada uma das semanas
de cada espécie de forma a termos 100 pontos aleatórios para cada semana
de cada uma das espécies alvo.
Após obtidos os pontos aleatórios, extraíram-se as coordenadas de cada
um dos pontos aleatórios para poder saber-se a posição geográfica.
Posteriormente, sistematizou-se numa folha de cálculo toda a
informação. Foram colocadas semanalmente, em tabela, as coordenadas, um
valor identificativo de linha, a data e a hora de todos os animais avistados. De
seguida, foram colocados os pontos aleatórios retirados do PCM com as
respectivas coordenadas.
Informação oceanográfica
Os dados de satélite das áreas de estudo foram conseguidos através de
um grupo de detecção remota, Plymouth Marine Laboratory (PML), sendo
posteriormente processados por Dr. Peter Miller e James Bowcott.
Os limites térmicos foram detectados nas imagens de TSM que cobrem
a área do Arquipélago dos Açores utilizando o algoritmo “single image edge-
detection” (SIED) de Cayula e Cornillion (1992). As linhas a preto nos mapas
identificam a localização dos gradientes de temperatura de ≥ 0,4ºC entre duas
massas de água. Cada linha, ou parte de linha, representa a informação a
partir de dados de um dia.
Ao invés de uma média ao longo de um determinado conjunto de
imagens (como foi já feito no passado), a abordagem de Miller acumula uma
série de imagens de satélite num único mapa, resultando num destaque e
detecção de frentes persistentes melhorados (ex: Fig.5).
15
Fig. 5 - Imagem das frentes oceânicas detectadas para uma das semanas seleccionadas para o estudo.
Além disso, os factores de ponderação foram aplicados para removerem
o máximo de ruido introduzido por fragmentos frontais simples e transitórios
identificados num único pixel. O algoritmo foi utilizado para identificar as
características persistentes das frentes e para criar mapas compostos a partir
de múltiplas imagens de satélite que incluem 4 factores de ponderação:
1. O gradiente de temperatura média de cada frente;
2. A persistência de uma frente com o passar do tempo (persistência=
probabilidade de observar uma frentes num determinado pixel sobre
uma dada sequencia de imagens);
3. A evidência de uma característica em proximidade de outra (o que
permite um certo movimento de característica ao longo do tempo
como resultado de uma advecção de marés).
As principais vantagens deste método de composição é que as imagens
com nebulosidade são um problema menor, visto que são combinadas várias
imagens, e a indefinição de recursos dinâmicos não ocorre. Além disso, as
frentes mais persistentes, ou aquelas com gradientes mais fortes, são
realçadas. Miller desenvolveu também um novo agrupamento de linhas para
simplificar os mapas os mapas com frentes compostas. Estes mapas ajudam
também nas análises quantitativas, pois os dados não são afectados por várias
observações da mesma frente ao longo do tempo. As linhas menos carregadas
representam frentes menos duradouras.
16
Posteriormente estas mesmas imagens foram georreferenciadas usando
o reconhecimento da linha da costa.
Existem diferentes tipos de métricas quantitativas que têm sido utilizadas
para investigar a relação entre o esforço de observação de superfície e
actividades frontais na vizinhança da área de estudo.
Os dados das frentes oceânicas foram resumidos em 3 variáveis: 1)
distância de todos os pontos em relação à frente oceânica mais próxima; 2)
relação entre as densidades das frentes e o posicionamento de todos os
pontos e, por fim 3) posicionamento de todos os pontos em relação aos lados
quente ou frios das frentes.
A distância às frentes dá-nos a distância entre os pontos e a frentes
mais próxima em Km.
A densidade das frentes dá-nos a força das frentes detectadas. Esta dá-
nos uma combinação do gradiente térmico e persistência das frentes
oceânicas.
2.2.3. Análise estatística
Foi utilizada uma abordagem de reamostragem aleatória para que se
saiba se os avistamentos das baleias são distribuídos de forma aleatória ou
não no que diz respeito às frentes oceânicas.
Para comparar cada uma das espécies com a amostra aleatória, foi
utilizado o teste Kruskal-wallis (significância p<0.05) para testar-mos se os
avistamentos são influenciados pela posição das frentes ou se, pelo contrário,
se distribuem de forma aleatória. Neste teste são obtidos ranks e os dados são
trabalhados do valor mais pequeno para o maior e só depois é calculado o H.
Foi utilizada uma folha de cálculo disponível na versão electrónica de
McDonald (2009).
Foi também utilizado o teste Kruskal-wallis nas densidades das frentes
oceânicas em relação às coordenadas dos pontos aleatórios e avistamentos
obtidos para conseguirmos perceber se a densidade das frentes tem alguma
influência na distribuição das baleias.
Os dados de posição de avistamento, se se encontram no lado frio,
quente ou sobre as frentes oceânicas, foram também analisados, mas com um
17
teste de Qui-Quadrado. Este teste diz-nos se os valores observados se
desviam ou não dos valores esperados.
18
3. Resultados
3.1. Observação dos cetáceos
Foram obtidas, no total 27, semanas de avistamentos. São Miguel
obteve 25 semanas com um total de 185 avistamentos das espécies alvo. Já a
ilha do Faial só obteve 2 semanas somando 19 avistamentos.
Quanto à quantidade de avistamentos tem a Baleia-Comum como a
mais avistada contado com 88 avistamentos, seguida pela Baleia-Sardinheira
com 83 e Baleia-Azul com 33 avistamentos, logo a menos avistada durante o
tempo do estudo. Os avistamentos feitos em datas diferentes podem referir-se
aos mesmos indivíduos.
É de notar, na Fig. 6, que Abril e Maio são os meses em que foram feitos
a maioria dos avistamentos seleccionados para este estudo.
Fig. 6 - Avistamentos de Baleias-Azuis, Baleias-Comuns e Baleias-Sardinheiras de todas as semanas
obtidas entre 2009 e 2013 na ilha de São Miguel e ilha do Faial.
Após a recepção das imagens de satélite passamos de 27 semanas a
24, pois 3 das semanas obtidas não tiveram um mapa de frentes de boa
qualidade, devido à presença de nuvens. Uma das semanas perdidas foi na
Horta, da Baleia-Azul, e as outras duas de São Miguel de Baleias-Comuns.
Na Fig. 7, podemos observar que 2010 e 2012 foram os anos em que se
obteve um maior número de semanas de avistamentos. Vemos também que
em São Miguel temos a Baleia-Sardinheira como sendo a espécie mais
facilmente avistada com um total de 12 semanas, seguida pela Baleia-Comum
0
5
10
15
20
25
Abril
Maio
Junh
o
Julho
Março
Abril
Maio
Junh
o
Abril
Maio
Março
Abril
Maio
Abril
2009 2010 2011 2012 2013
Baleia-‐Azul Baleia-‐Comum Baleia-‐Sardinheira
19
com 7 semanas, terminando com a Baleia-Azul com apenas 4 semanas de
avistamentos e sem registos nos anos de 2009 e 2011.
Fig. 7 - Semanas de avistamentos com imagens de satélite TSM de boa qualidade da costa Sul da Ilha de São Miguel.
Já na Horta ficamos somente com uma semana de avistamentos de
Baleias-Comuns. Este número reduzido de dados deve-se ao facto de a Horta
ter entrado no programa Monicet apenas em 2011.
3.2. Distribuição das baleias em relação às frentes oceânicas
Os gradientes de temperatura observados nos mapas de satélite (0,4ºC
km-1) indicam as frentes oceânicas como zonas de grandes diferenças de
temperatura na superfície da água.
3.2.1. Distâncias
Com as coordenadas dos avistamentos obteve-se a distância das
posições dos animais em relação às frentes. Colocou-se a hipótese de que as
distâncias dos avistamentos às frentes oceânicas seriam diferentes das
distâncias dos pontos aleatórios às mesmas (H1), contra a hipótese de que
essas diferenças não seriam significativas (H0).
0
1
2
3
4
5
6
7
2009 2010 2011 2012
Ocorrên
cia
Semanas
Baleia-‐Azul Baleia-‐Comum Baleia-‐Sardinheira
20
A partir do teste de K-W, podemos constatar que a relação entre as
baleias e as frentes oceânicas não é igual para todas as espécies. Para a
Baleia-Azul e Baleia-Comum a diferença entre os pontos aleatórios e os
avistamentos foi estatisticamente significativa. A Baleia-Azul (p<0,01; H=15,93;
p.f.=2) foi a que obteve maior diferença significativa seguida pela Baleia-
Comum (p<0,05; H=8,96; p.f.=2). Já a Baleia-Sardinheira (p>0,05; H=0,9;
p.f.=2) possui um p superior. Estes resultados mostram então que a Baleia-
Azul e a Baleia-Comum têm diferenças significaticas em relação aos pontos
aleatórios enquanto que na Baleia-Sardinheira essas diferenças não são
significativas.
Na Fig. 8 podemos ver quais as distâncias a que as Baleias-Azuis e
Baleias-Comuns se encontraram na maioria dos avistamentos. Podemos então
observar que a Baleia-Comum é encontrada mais vezes a distâncias entre os
2,2 e os 8,8 km, enquanto que a Baleia-Azul se encontra a maiores distâncias,
rondando os 11 e os 13,2 km.
Fig. 8 - Número de ocorrências de cada espécie em estudo em função da distância à frente oceânica mais próxima.
Assim, como podemos observar na Fig. 9, a espécie que se encontra em
média mais perto das frentes oceânicas é a Baleia-Azul, tendo quase constante
a sua distância das frentes nos 3 meses em que esteve presente. Já a Baleia-
Comum varia um pouco. Esta vai-se aproximando das frentes oceânicas desde
Março até Junho, sendo Junho o mês que se encontra mais próxima das
frentes.
0 1 2 3 4 5 6 7 8
0 5,5 11 16,5 22 27,5 33 38,5 44 49,5 55
Nº de
Ocorrên
cias
Distância (Km)
Baleia-‐Sardinheira Baleia-‐Azul * Baleia-‐Comum *
21
Fig. 9 - Distância mensal média de cada espécie à frente oceânica mais próxima (conjunto de dados de 2009 a 2012).
3.2.2. Densidade
A preferência pelas densidades de frentes também não é igual para
todas as espécies. Através do teste de K-W temos que para a Baleia-Azul (p<
0,05; H= 4,49; p.f.=1) e a Baleia-Comum (p< 0,05; H= 6,20; p.f.=1) a diferença
entre os pontos aleatórios e os avistamentos de baleias foi estatisticamente
significativa. Já para a Baleia-Sardinheira (p> 0,05; H= 1,68; p.f.=1) esta
diferença já não é significativa. Com a ajuda da Fig.10 podemos observar que a maior parte das
ocorrências, tanto da Baleia-Azul como da Baleia-Comum, verificam-se quando
a densidade das frentes oceânicas é baixa ou nula.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
Março Abril Maio Junho Julho
Distân
cia (Km)
Meses (de todos os anos)
Baleia-‐Sardinheira Baleia-‐Azul * Baleia-‐Comum *
22
Fig. 10 - Número de ocorrências de cada espécie em estudo em relação à densidade das frentes oceânicas.
Sabendo então que somente a Baleia-Azul e a Baleia-Comum possuem
diferenças significativas entre os pontos aleatórios e os avistamentos podemos
observar na Fig.11 que, tanto a Baleia-Azul como a Baleia-Comum encontram-
se em média em áreas de baixa densidade de frentes oceânicas, sendo que a
Baleia-Comum encontra-se mais em áreas com maior densidade de frentes do
que a baleia-Azul. Os meses de Março e Maio são os meses que, em média, a
Baleia-Azul se encontra em zonas com menor densidade de frentes e, em Abril
já se encontra em locais ligeiramente mais densas. Quanto à baleia-Comum,
Março é o mês em que se encontra em áreas em que as densidades são quase
nulas e, com o passar dos meses, vai-se aproximando de zonas onde a
densidade de frentes é maior, sendo Junho o mês em que se encontra em
zona de maior densidade de frentes oceânicas.
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
0 0,0005 0,001 0,0015 0,002 0,0025 0,003 0,0035
Nº de
Ocorrên
cias
Densidade
Baleia-‐Sardinheira Baleia-‐Azul * Baleia-‐Comum *
23
Fig. 11 - Área em que as espécies em estudo se encontram em relação às densidades das frentes.
3.2.3. Lado
Com os dados obtidos foi também possível saber qual a posição
preferencial de cada uma das espécies em estudo em relação às frentes
oceânicas, ou seja, se se encontram em zonas frias, quentes ou em cima das
frentes oceânicas.
Com o teste de Qui-Quadrado obtivemos um grau de liberdade de 2,
logo o valor de x=5,991. Obtivemos então o valor de 𝑥! de 7,02 para Baleia-
Comum, 3,02 para a Baleia-Azul e, finalmente, 0,854 para a Baleia-Sardinheira.
Como a Baleia-Azul e Baleia-Sardinheira têm um valor de 𝑥! inferior a 5,991
podemos dizer que não existem diferenças significativas entre as posições dos
avistamentos e posições dos pontos aleatórios. Já a Baleia-Comum obteve um
𝑥! superior, logo já tem diferenças significativas. Na Fig. 12 podemos notar que
todas as espécies têm uma preferência pelo lado da frente que possui a água
mais fria, sendo que em cima da frente praticamente não existem avistamentos
de baleias de nenhuma espécie.
0 0,0002 0,0004 0,0006 0,0008 0,001
0,0012 0,0014 0,0016 0,0018 0,002
Março Abril Maio Junho Julho
Densidad
e
Meses (de todos os anos)
Baleia-‐Sardinheira Baleia-‐Azul * Baleia-‐Comum *
24
Fig. 12 - Distribuição das espécies alvo consoante o lado da frente em que se encontram.
0
10
20
30
40
50
60
70
Frio Frente Quente
Ocorrên
cia
Lados das frentes oceânicas
Baleia-‐Sardinheira Baleia-‐Azul Baleia-‐Comum *
25
4. Discussão
4.1. Distribuição das baleias em relação às frentes oceânicas
Os conjuntos de dados de avistamentos de baleias de barbas foram
combinadas com imagens de satélite de frentes oceânicas para podermos
mostrar que a distribuição das baleias pode estar dependente das frentes
oceânicas. Para nosso conhecimento, este género de estudo nunca tinha sido
feito no Arquipélago dos Açores mas assemelha-se a vários estudos que têm
sido feitos em outros sítios do mundo, como Druon et al. (2012) num estudo
sobre Baleias-Comuns no Mar Mediterrâneo, e Doniol-Valcroze et al. (2007)
que estudaram a influência das frentes térmicas com a escolha do habitat para
quatro espécies de rorquais, que incluíam a Baleia-Azul e Baleia-Comum no
Golfo de St. Lawrence. Uma das grandes diferenças entre esses estudos e o
nosso é que os Açores, como se encontram em oceano aberto, terão sem
dúvida uma dinâmica totalmente diferente do que se encontra em ambiente
estuarino e mares internos.
4.1.1. Distância
Nos nossos resultados é possível sugerir que estas áreas de frentes
oceânicas criam condições atractivas para os misticetos em estudo. Obteve-se
distâncias mais próximas para a Baleia-Azul e Baleia-Comum do que seria de
esperar numa distribuição aleatória. Quanto à Baleia-Sardinheira não se
observa o mesmo resultado, pois esta parece distribuir-se de forma aleatória
em relação às frentes oceânicas. A Baleia-Azul foi a espécie que se encontrou
em média mais próxima destes locais de grande produtividade com um valor de
14,3 Km de distância à frente mais próxima. Os resultados obtidos para a
Baleia-Comum não foram muito diferentes pois, em média, localiza-se a cerca
de 18,29 Km da frente oceânica mais próxima. Pudemos também observar que
estas espécies tendem a encontrar-se mais próximas das frentes em
determinados meses: Maio para a Baleia-Azul Já a Baleia-Comum parece
aproximar-se das frentes ao longo dos meses, sendo Junho o mês que se
encontra mais próxima.
26
Doniol-Valcroze et al. (2007) também observaram diferenças
interespecíficas na distância às frentes, e sugerem duas hipóteses para
explicar essas diferenças de posição. A primeira é que as frentes não são
linhas direitas à superfície. Estas podem desviar-se de uma linha vertical e, por
vezes, pode originar linhas a quilómetros de distância do local onde foi
detectada à superfície. Assim a agregação das presas pode localizar-se a outra
distância horizontal. Em segundo lugar, diz que a agregação de presas nos
locais das frentes não é instantâneo, leva algum tempo (Olson & Backus,
1985), ou seja, se uma frente acaba de ser formada pode ainda não ter um
aglomerado de presas esperado, estas vão-se juntando com o tempo. Ao
aumentar o fluxo de nutrientes mais aumenta a produção primária e, se a frente
se mantiver o tempo suficiente, a população de zooplâncton tende a aumentar
(Olson & Backus, 1985). Foi o que aconteceu no estudo de Baumgartner &
Mate (2005) em que os resultados ditavam que as baleias não se associavam
às frentes oceânicas. Um dos problemas desse estudo pode ter sido o facto de
somente terem avaliado a temperatura no local exacto e não a distâncias às
frentes.
Estas diferenças entre as duas espécies podem também ser explicadas
pela preferência alimentar de cada uma. Estas três espécies diferenciam-se
pelas suas especialidades em relação à alimentação (Bannister, 2002): a
Baleia-Azul é a espécie mais selectiva, tendo uma alimentação à base de
eufasiídeos. A Baleia-Comum já possui uma alimentação mais variada e menos
especializada. Pode ingerir eufasiídeos, copépodes, lulas e cardumes de
peixes pequenos. Já a Baleia-Sardinheira cinge-se a uma alimentação à base
de cardumes de pequenos peixes. Isto pode explicar a distância de cada
espécie à frente. A concentração de zooplâncton pequeno e grande encontram-
se em zonas de frentes e são conhecidos por atrair predadores dos níveis
tróficos superiores, levando a uma teia alimentar pelágica completa (Olson et
al. 1994).
Como a Baleia-Azul é especializada em eufasiídeos esta têm de manter-
se mais perto das frentes. O kril tende a aglomerar-se nos locais onde a
produtividade primária é maior e mantem-se nessas zonas de frentes pois
dependem da coluna de água para a sua migração vertical, sendo o seu
movimento lateral mais limitado. Já a Baleia-Comum é menos especializada,
27
pois as espécies, dependendo do seu nível trófico encontram-se dispostas de
forma desigual em relação à frente oceânica.
4.1.2. Densidade
Os nossos resultados demonstram que as espécies em estudo não dão
preferência às áreas em que as densidades de frentes são maiores. Para a
Baleia-Azul e Baleia-Comum foi possível examinar que estas não se encontram
distribuídas de forma aleatória em relação a estas zonas de densidade de
frente, enquanto que a Baleia-Sardinheira se distribui de forma totalmente
aleatória. Tanto a Baleia-Azul como a Baleia-Comum encontram-se em áreas
em que a densidade das frentes é menor.
As densidades das frentes são ainda um factor não muito bem estudado
havendo pouca informação acerca das mesmas. Sabe-se que as frentes têm
vários tempos de duração. Segundo Olson & Bachus (1985) quando estas
frentes se formam dá-se uma grande acumulação de nutrientes aumentando
assim a produtividade primária do local. Dizem também que, dependendo do
tempo de duração e deslocação das frentes, em volta destas zonas de grande
produtividade podem vir a aglomerar-se outros níveis tróficos tal como, o
fitoplâncton, seguido de zooplâncton, que por sua vez atrai diferentes espécies
de peixes. Assim, com a formação e distribuição da teia alimentar pelágica,
cada nível trófico encontra-se a uma densidade diferente da frente. A
correlação entre a posição da frente e cada um desses componentes da cadeia
alimentar será cada vez menor. Será então por isso que nos nossos resultados
as baleias não se encontram em zonas em que a densidade das frentes é
maior.
Temos como exemplo um estudo de Munk et al. 1995 que estudou os
mecanismos possíveis da distribuição do bacalhau e demonstrou que a desova
era feita directamente sobre a zona frontal. Quando as larvas/juvenis se
começam a desenvolver estas ganham mais mobilidade e nadam
horizontalmente. Com a idade e tamanho das larvas a aumentar estas
dispersam-se desde o centro da desova até áreas mais periféricas.
28
4.1.3. Lado
Quanto às frentes foi também possível determinar qual o lado
preferencial das espécies em relação às frentes, ou seja, se preferem as zonas
frias, quentes ou em cima das frentes oceânicas. Segundo os nossos dados, os
lados das frentes não pareceram ser um factor decisivo para a distribuição das
espécies em estudo. Somente a Baleia-comum parece ter a sua distribuição
relacionada com um lado específico da frente, encontrando-se
preferencialmente no lado frio.
A Noroeste do Pacífico (Moore et al. 2002) foram também observadas
Baleias-azuis, da primavera até ao outono, em águas relativamente frias e
produtivas, sugerindo assim que estas possuíam as características ideais das
zonas produtivas para a sua alimentação. Explicam que as correntes da região
combinadas com a topografia complexas podem ter arrastado e concentrado
zooplâncton nas áreas de frentes em que a água é mais fria.
4.1.4. Questões metodológicas
Do ponto de vista metodológico existem pontos que poderiam ser
melhorados.
Nas saídas os levantamentos são feitos por biólogos mas, como feito em
ambiente turístico, por vezes não possuem o tempo necessário para fazer uma
observação completa e eficaz do animal e, por vezes, podem não conseguir
identificar as espécies correctamente. Uma das soluções poderia consistir em,
no momento da observação, além dos pontos de GPS e hora inicial e final de
avistamento, incluir fotografia do animal para uma análise mais cuidada em
terra. Estas observações dependem também das vigias. O local onde as
espécies são avistadas depende de onde o vigia está posicionado, sem
esquecer a condicionante climatérica. As observações foram influenciadas
pelas condições meteorológicas, o que explica a descontinuidade nos dados,
podendo algumas espécies serem sub ou sobrestimadas.
Outro limite nas amostragens é que a época do “Whale Watching” se
restringe apenas entre os meses de Março/Abril e Novembro. Seria importante
aumentar o esforço de observação nas estações de Outono e Inverno. É
durante o verão que se fazem maior parte das saídas, mas o número de
29
avistamentos das espécies em estudo é maior durante a primavera, sendo Abril
e Maio os meses em que a quantidade de avistamentos foi maior. Não tendo
existido saídas durante o Inverno não significa que as espécies não estejam
presentes nas áreas de estudo.
4.1.5. Conclusões e recomendações
Em forma de conclusão, observamos que a Baleia-Comum é a espécie
que se encontra mais relacionada com as frentes oceânicas, visto que possui
diferenças significativas em todas as variáveis aqui estudadas. A Baleia-Azul
também se associa directamente às frentes oceânicas tendo somente
distribuição aleatória quando se fala na sua posição em relação à temperatura
do lado da frente. Já a Baleia-Sardinheira mostra ser uma espécie que não se
guia directamente pelas frentes oceânicas para se alimentar, podendo ser
atraída por outros factores, ou simplesmente não necessitar de estar tão perto
de uma frente oceânica para se poder alimentar. Os resultados obtidos
mostram que as frentes oceânicas podem ter uma grande influência na
distribuição dos misticetos e poderia explicar parte da variabilidade.
Em trabalhos futuros com esta metodologia aconselharia que não fosse
feita a filtragem dos dados dos avistamentos. Deveria então utilizar-se o
número total dos avistamentos para se obter uma maior base de dados. Outro
aspecto a ter em consideração seria fazer os testes de Kruskal-Wallis
semanalmente ao invés de juntar todos os dados por espécie. Assim as
diferenças significativas seriam calculadas semanalmente senso assim o erro
menor. Estas diferenças significativas podem variar consoante o mês da
observação ou mesmo em cada semana.
30
5. Bibliografia
Bannister JL (2002) “Baleen Whales (Mysticetes)”, in, Perrin WF, Würsig B,
Thewissen JGM (orgs), Encyclopedia of Marine Mammals. Academic Press.,
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Anexos
Anexo I- Fichas de bordo com a informação recolhida nas saídas
Diário de Bordo
Data:
Tripulação: Hora Saída:
Actividade:
Hora Chegada:
Avistamentos
BF Sp. H.I GPS Inicial Ind H.F.
GPS Final Aves Comportamento N.Barcos
N W N W N W N W N W N W N W N W N W N W N W N W N W N W
Obs:
Anexo II- Imagens das frentes com respectivos avistamentos
Distância 2009
2010
2011
2012
Densidade 2009
2010
2011
2012
Lado 2009
2010
2011
2012