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URBANIZAÇÃO, DESIGUALDADES SOCIOESPACIAS E VIOLÊNCIA
URBANA NO DISTRITO DE ICOARACI EM BELÉM-PA.1
Marcelle Peres da Silva– UFPA2
INTRODUÇÃO
No Brasil, a violência tem-se manifestado de forma latente, transformando a vida
da população, criando situações e sensações de medo e insegurança, influenciadas pelo
crescimento urbano acelerado e a precarização das condições de vida nas grandes cidades.
No estado do Pará, em especial na cidade de Belém, estas situações também se
apresentam, porém, com suas particularidades. A urbanização brasileira não se dá de
maneira homogênea, acarretando a fragmentação sócio-espacial nas cidades, causando o
aumento da violência e prostituição, marginalização dos centros urbanos, homicídios
entre outros ônus, uma urbanização concentrada (SANTOS, 2008). No caso da
urbanização no contexto específico do estado do Pará se manifesta a partir de 1960.
Em Belém, a elevação do índice de violência, está diretamente relacionada ao
processo desigual de produção do espaço (GOTTDIENER, 2010) o que produz espaços
segregados de pobreza com precários indicadores sociais. Os precários indicadores
socioeconômicos provocam uma baixa perspectiva, principalmente na camada mais
jovem da população, que são as principais vítimas do fenômeno da violência (MELO,
2012). Realidade também vivenciada pelo Distrito de Icoaraci.
O objetivo principal desse artigo é compreender o processo de urbanização
belenense, bem como do distrito de Icoaraci e as suas possíveis influências nas
desigualdades socioespaciais. Os objetivos específicos propõem-se a analisar o processo
de urbanização e manifestação das áreas de expansão periférica do espaço urbano em
1 Trabalho orientado pelo Professor Doutor Clay Anderson Nunes Chagas do Curso de Geografia da
Universidade Federal do Pará e da Universidade do Estado do Pará. 2Mestranda do Curso de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Pará – PPGEO/UFPA e
Licenciada Plena em Geografia pela Universidade do Estado do Pará.
Belém e Distrito de Icoaraci nas últimas décadas e identificar as problemáticas de
desigualdades socioeconômicas e espaciais nos bairros de Icoaraci.
A metodologia necessária ao desenvolvimento deste trabalho encontra-se
primeiramente baseada em um levantamento bibliográfico e documental, na qual foram
utilizadas temáticas referentes a urbanização, produção do espaço, desigualdades e
socioespaciais. Foi realizado um trabalho de campo, que teve como objetivo coletar
informações primárias acerca do processo de ocupação das áreas de expansão no Distrito,
a socioespacialidade e opinião dos moradores frente a falta de acesso a recursos básicos
e essenciais a vida, como saneamento, educação e segurança. Para isso, foram realizadas
entrevistas e observação contínua do espaço.
A abordagem da violência urbana na cidade de Belém, especificando a realidade do
Distrito de Icoaraci, contando um pouco do processo de urbanização pós 1960 da área e
da cidade, dar-se á no Capítulo 1, enquanto os diferentes espaços e problemas
socioespaciais e econômicos desses bairros e as desigualdades apresentam-se no Capítulo
2. O artigo é um recorte do Trabalho de Conclusão de Curso da autora, partindo dos anos
de estudo sobre a temática da violência urbana, que foram executados durante a graduação
em Geografia desde o segundo semestre, contando com a parceria da Secretária de
Segurança Pública do Pará - SEGUP, em especial com a Secretaria Adjunta de
Inteligência e Análise Criminal – SIAC, apoio da Faculdade de Geografia e Cartografia
da UFPA, em especial de um laboratório – Laboratório de Análise da Informação
Geográfica – LAIG, e do Programa Institucional de Bolsas de Incentivo Tecnológico e
Inovação – PIBIT/UEPA e PIBIC/CNPq do qual a autora foi bolsista por dois anos.
1. A URBANIZAÇÃO DE BELÉM: MANCHA URBANA EM DIREÇÃO A
ICOARACI
A cidade predomina nos tempos atuais, e como é perceptível, já não possui a
mesma configuração, como na antiguidade. Nesse ambiente, a luta de classes pode ser
percebida, onde acontecem os violentos contrastes entre a riqueza e a pobreza, os conflitos
entre os poderosos e os oprimidos, as lutas de facções, de grupos, de classes estão em
constantes acontecimentos. Atualmente, portanto aprofunda-se um processo induzido que
se pode chamar de a “implosão-explosão” da cidade (LEFEBVRE, 1969, p. 15). O
fenômeno urbano se estende sobre uma grande parte do território, nos grandes países
industriais.
Países como o Brasil, contaram com uma urbanização acelerada e desigual, mais
recente e mais rápida, efetuando-se num contexto econômico e político diferente dos
países desenvolvidos. Tem características originais, que a diferenciam nitidamente da
urbanização deste último grupo de países, já que as suas indústrias dos países
subdesenvolvidos se estruturaram nestes espaços de maneira concentrada em
determinadas áreas e rarefeitas em outras, o que causou diversos tipos de problemas como
o inchaço urbano nesses locais devido ao maciço êxodo rural, marginalização dos centros
urbanos, aumento da violência, prostituição, tráfico de drogas, entre outros, segundo
Santos (2008).
No contexto específico do Estado do Pará este quadro de urbanização acelerada
também pode ser observado, principalmente a partir dos anos de 1960, com a
implementação da “modernização da fronteira”, que cominou com a intensificação do
processo de migração inter-regional, onde cidades como Marabá, Parauabepas e a Região
Metropolitana de Belém, entre outras, tiveram um rápido crescimento populacional.
Em Icoaraci, tal dinâmica não é diferente, para entender como a violência chegou
ao distrito é necessário considerar a formação e estruturação de seu espaço, podendo ser
observada em quatro fases distintas, porém interligadas, o que segundo Dias (2007)
reflete a própria dinâmica do espaço regional amazônico. A primeira fase teria início no
século XVIII a partir da doação de terras que originou as fazendas Pinheiro e Livramento
no século XIX, quando foi realizada a compra das fazendas e sua transformação em um
hospital ou casa de abrigo de pessoas com hanseníase, até a transformação em povoado.
A segunda fase estendida à segunda metade do século XIX já caracteriza-se por
algumas mudanças no espaço Icoaraciense, pois é elevada à categoria de Vila até a década
de 1950, quando ocorreu a transformação em distrito administrativo do município de
Belém, um longo período em que também passou a ser local de segunda moradia da
população da cidade. Nessa fase, também ocorreu a implementação das primeiras
atividades de caráter econômico, como as indústrias de base local e as atividades
comerciais voltadas a atender a aérea do entorno. Atividades essas, que como afirma Dias
(2007), foram fundamentais para a produção da cidade e para o processo de migração
populacional das microrregiões que passaram a buscar no lugar possibilidades de relações
de sobrevivência.
Por volta de 1950 até os anos de 1970, tem-se início a terceira fase. Marcada
essencialmente pelo processo de integração do distrito a metrópole paraense e sua
redefinição no espaço urbano local. Período em que era forte a atividade industrial de
base tradicional, voltada ao beneficiamento da matéria-prima regional com capital de base
regional e local, além da expansão do núcleo urbano, anexação de áreas com base rural
que deram origens a novos bairros, acrescida pelo crescimento demográfico a partir do
crescimento vegetativo e da migração. Para Dias (2007), a quarta fase inicia-se na década
de 1970 e perdura até os dias atuais. Sendo aqui levantada a intervenção do Estado no
espaço regional de maneira intensa, por meio de programas, projetos e políticas,
objetivando a todo vapor o desenvolvimento da região, acarretando diversas
consequências no processo de produção do espaço urbano.
Conforme o distrito crescia, concentrando atividades de cunho industrial, como
madeira, alimentícias, metalúrgicas, além de atividades comerciais, residenciais e de
serviços, houve um processo de migração de força de trabalho, visto que as pessoas
passaram a buscar no distrito, alternativas de trabalho e de moradias, passando a fazer
pressão pelo solo urbano (DIAS, 2007). Desse modo o solo urbano logo passou a ser
mercadoria restrita, ou melhor, acessível somente àqueles que dispunham das condições
para a sua aquisição. Tais acontecimentos levaram boa parte desses migrantes a
procurarem alternativas diferentes de ocupação e apropriação de terras, proporcionando
problemas variados, devido a forma como o distrito foi sendo ocupado ao longo do
processo, confundindo-se com a lógica imprimida na produção do espaço da cidade de
Belém e provocando os problemas que podem ser observados no momento atual.
Com a ocupação de áreas periféricas, correspondendo à área de expansão da
cidade e do distrito de Icoaraci, surgiram diversos problemas ambientais e sociais, pois
naquele período não havia alguma norma ou lei do uso do solo urbano que disciplinasse
a ocupação. Dias (2007) compara esse processo de ocupação do Distrito à dos bairros do
Guamá, Cremação, Sacramenta, Jurunas, Pedreira, Fátima, Terra firme, no início do
século XX, que caracterizavam áreas mais afastadas do centro histórico, formando as
atuais periferias, pois segundo ele, o processo foi muito semelhante, destinado a assentar
as populações pobres, distantes da Área Central da cidade.
Portanto, a concentração populacional na periferia da cidade sofre intensificação
principalmente porque na década de setenta, com a criação da Região Metropolitana de
Belém (RMB), associada ao fracasso de projeto de colonização nas áreas de expansão da
fronteira amazônica, passando por um processo de êxodo rural, essa população migrante
ao chegar às áreas urbanas, passaram a se concentrar nas principais cidades ligadas pelas
rodovias federais em busca de melhores condições de vida, ocasionado a concentração de
grande número de pessoas em espaços carentes de infraestrutura e de serviços de modo
geral que garantissem melhores qualidades de vida a estas populações.
Dessa maneira, fica visível que o processo de urbanização e produção do espaço
de Icoaraci, ao longo das últimas décadas, possui relações intrínsecas com o próprio
processo de expansão da cidade de Belém, pois como afirma Dias (2007) a partir da
década de cinquenta, do século XX, com o esgotamento do solo na área central, ocorreu
o deslocamento de parte dessa população para a chamada área de transição e de expansão,
que incluía Icoaraci, que passou também a ser local de moradia da população de menor
poder aquisitivo, localizando-se inicialmente ao eixo que hoje corresponde a atual
Avenida Augusto Montenegro, e propriamente, Icoaraci.
1.1. A RELAÇÃO ENTRE URBANIZAÇÃO E VIOLÊNCIA
As metrópoles configuram-se, no Brasil de hoje, ainda como lugares da riqueza.
Para Souza (2012) essa riqueza, em parte, se desconcentra e se interioriza, entretanto, com
a desconcentração de atividades e a fuga seletiva de agentes econômicos (migrações de
profissionais altamente qualificados), a metrópole, cada vez mais, é também um locus da
pobreza e da miséria, assim consequentemente, palco da insegurança e da violência.
Acerca dessa relação intrínseca entre urbanização e violência Beato Filho (2012,
p. 70) afirma:
O fenômeno de maior estreitamento associado ao crescimento dos homicídios
no Brasil é a urbanização. A rigor, poderíamos dizer que os crimes violentos
são fenômenos urbanos associados a processos de desorganização nos grandes
centros urbanos, nos quais os mecanismos de controle se deterioram, tal como
ocorreu também em outros países.
Segundo os autores Beato Filho (2012) e Souza (2008), a violência, não pode ser
considerada um fenômeno recente. Contudo, como já foi abordado acima, com a
urbanização houve um incremento significativo nos índices de violência nas cidades.
Nesse sentido, a violência urbana pode manifestar-se de diferentes formas no espaço das
cidades, na visão de Souza (2012, p. 52):
(...) Parece muito mais produtivo reservar a violência urbana para as diversas
manifestações da violência interpessoal explicita que, além de terem lugar no
ambiente urbano, apresentam uma conexão bastante forte da espacialidade
urbana e/ou com problemas e estratégias de sobrevivência que revelam ao
observador, particularidades ao se concretizarem no meio cotidiano, ainda que
não sejam exclusivamente “urbanos” (a pobreza e a criminalidade são,
evidentemente, fenômenos tanto rurais quanto urbanos) e sejam alimentados
por fatores que emergem e operam em diversas escalas, da local à
internacional.
A violência e sensação de medo e insegurança devem-se a um conjunto de fatores,
que passam pela ampliação do processo de urbanização, que espraia as áreas das regiões
metropolitanas, ocasionado por processo de urbanização concentrada (SANTOS, 2008).
Esse processo de urbanização concentrada produz uma reestruturação espacial, que altera
a dinâmica urbana e gera novas territorialidades. Assim as políticas públicas não
conseguem fazer emergir com eficiência e eficácia um plano de segurança pública capaz
de amenizar a violência generalizada no espaço urbano. As áreas pobres são consideradas
espaços comuns em grandes centros urbanos, em Belém, não é diferente. É marca
presente no espaço belenense as áreas de intensa pobreza, marcadas por um processo de
baixa participação do poder público e de precários indicadores sociais.
Nesse cenário, a violência no Distrito de Icoaraci que é formado pelos nove bairros
(Cruzeiro, Agulha, Águas Negras, Campina de Icoaraci, Maracacuera, Paracuri, Parque
Guajará, Ponta Grossa e Tenoné) também se faz presente devido à falta de estruturas e
maior atenção do poder público da Grande Belém. Uma vez que a dinâmica produtiva e
socioespacial de Icoaraci de forma mais intensa está inter-relacionada com o processo de
expansão e apropriação do espaço urbano de Belém ocorrido entre os anos de 1960 e
1990, como afirma Costa (2007). Acerca dessa inserção do Distrito de Icoaraci no
contexto da expansão urbana de Belém, Trindade Jr. (1998) identifica esse cenário como
um processo de conurbação e de suburbanização do Distrito em relação à capital do
Estado. Sendo demonstrado, por este autor, que diversos espaços surgidos em Belém nos
últimos anos estão localizados na área correspondente ao Distrito de Icoaraci e no eixo
de expansão em direção a ele, denotando a integração efetivada entre esses dois espaços.
Nesse sentido, Icoaraci, passou por intensas transformações sociais, espaciais,
econômicas, entre outras. Tal transformação dessa paisagem, ainda segundo Figueiredo
e Tavares (2006), tem como principal causa o crescimento não planejamento da cidade
de Belém, transformando algumas localidades em áreas de expansão, que se dá
principalmente por meio da ocupação desordenada, caracterizando o Distrito como uma
área periférica da grande cidade.
2. ESPAÇOS DICOTÔMICOS NO DISTRITO: ANALISANDO A
DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL
Dias (2007), analisa as formas de ocupação do espaço urbano, principalmente no
processo de metropolização da cidade de Belém, ocorrido nas últimas décadas do século
XX, gerou muitas contradições. Contradições estas que também são marcantes no núcleo
urbano de Icoaraci, por concentrar estabelecimentos industriais, comerciais e de serviços
importantes para economia urbana da metrópole. O distrito que foi crescendo em direção
a Belém, com a criação de novos bairros e junto com eles o surgimento de problemas
sérios de ordem social, de infraestrutura e também ambiental. Além dos serviços públicos
precários ofertados à população, que não condizia com o crescimento e assim grande parte
da população foi submetida a condições precárias de sobrevivência, comprometendo a
qualidade de vida de uma parcela de seus habitantes.
A falta de infraestrutura se manifesta pelo não investimento em políticas sociais
capazes de garantir melhor atendimento em vários setores para a população, como da
saúde, educação, saneamento, transporte, entre outras, sendo que a maioria de sua
população, ao precisar de melhores serviços, se veem na necessidade de deslocarem-se
para Belém. Outro fator que contribui para a má qualidade de vida é a falta de emprego
para todos que chegam ao Distrito, pois como afirma Dias (2007) apesar das indústrias
empregarem grande número de operários, elas não são suficientes para absorver a grande
massa de trabalhadores locais, fazendo com que muitos deles sem muitas alternativas, são
praticamente obrigados a procurar em Belém, alternativas de trabalho e mercados que
sejam capazes de absorvê-los.
A expansão da mancha urbana de Icoaraci, está relacionada no sentido de Belém,
consolidando a periferia da cidade, ao mesmo tempo também vem sendo transformada
pelo mercado imobiliário em espaços destinados, especialmente à habitação.
Paralelamente ao uso residencial, encontram-se inúmeras instalações industriais,
comerciais, sedes campestres, casas noturnas, ao longo do eixo da Rodovia Augusto
Montenegro, eixo que marcou esse processo de expansão e integração de Belém com
Icoaraci. Essas características são visualizadas como elementos de atração de
investimentos no setor imobiliário, aliado à própria expansão da cidade de Belém, o que
traz consequentemente, o esgotamento da terra urbana, logo também em Icoaraci. (DIAS
2007).
Faz-se importante salientar a existência em Icoaraci, de dois subcentros
importantes. O primeiro compreende à área mais antiga, localizado no bairro do Cruzeiro,
com funções e serviços urbanos bem definidos, e o segundo corresponde ao bairro da
Campina de Icoaraci, com serviços voltados à população de menor poder aquisitivo.
Segundo Dias (2007), esses dois subcentros estão ligados por um eixo viário
correspondente a rodovia Arthur Bernardes - Manoel Barata - Travessa Cristóvão
Colombo - Augusto Montenegro, na qual se encontram uma série de serviços, atividades
comerciais e residenciais. Esse corredor então é uma das mais importantes vias de
circulação do distrito, pois articula seus diversos bairros, ligando-os também com a
cidade, por meio das duas saídas e podem ser também portas de entrada, tanto no sentido
Sul/Oeste, quanto à Oeste, que são as Rodovias Arthur Bernardes e Augusto Montenegro.
Outro fato marcante na ocupação diversa dos bairros de Icoaraci, foi o bairro da
Campina de Icoaraci, que se consolidou no sentido Sul da expansão da cidade, por meio
de usos residenciais, comerciais e serviços, além de ser uma área próxima à área
tradicional do distrito que é a orla. A Campina foi gradativamente sendo ocupada e
incorporada à cidade, inicialmente pela população de baixo poder aquisitivo, que
construía suas casas com todos os tipos de materiais fáceis de serem encontrados na região
e característicos da mesma, como a madeira, a palha, e pau a pique. Segundo Dias (2007),
raras eram as casas completamente de alvenaria cobertas com telhas.
Na medida em que o processo de ocupação foi se intensificando, as terras foram
sendo loteadas e vendidas. Fazendo a área passar por um intenso processo de
reestruturação espacial, ao longo do qual foi ocupada pelos mais diversos segmentos
sociais, tornando-se o bairro mais densamente ocupado hoje e uma das áreas mais
dinâmicas no espaço urbano de Icoaraci, por possuir serviços dos mais diversos tipos,
como lojas, escolas, hospitais, entre outros. E as construções desses estabelecimentos
assim como da maioria das habitações são feitas predominantemente por alvenaria,
diferenciando-se do passado, as construções de madeira e similares quase não são vistas
no eixo da Rodovia Augusto Montenegro que chega até esse perímetro concentrador das
atividades comerciais do bairro. As construções mais precárias somente são visualizadas
se adentarmos os arruamentos do bairro.
Sobre a ocupação dos núcleos habitacionais que formaram o bairro do Paracuri,
dividido entre I e II, afirma-se que contou com o auxílio do poder público, que projetou
conjuntos habitacionais populares para área. Apesar de melhorias por meio do acesso a
moradia, não conta atualmente com total infraestrutura, pois o bairro conta com espaços
de invasão e arruamentos precários, um deles é a ocupação do “Buraco fundo”, que ocupa
uma porção baixa do solo, próxima a Rua Soledade, a principal do bairro e uma das
principais de Icoaraci, conforme a Figura 01. Local que engloba diversas atividades
criminosas, incluindo o tráfico de drogas, aumentando os índices de criminalidade e
pedidos de melhores investimentos em segurança para o bairro, verificados com a
população por meio de entrevistas realizadas. Em muitas falas acerca da insegurança e
violência crescente no Distrito, dentre elas, destaca-se o seguinte relato: “Aqui nós vive
trancado né, com medo... Eu e minha esposa saímos só pra trabalhar, só porque tem que
sair mesmo, porque se não fosse isso, nós nem saía de casa... Se pudesse, vivia dentro de
casa. ” (Entrevistado 01 – Aposentado, 68 anos, morador do bairro Paracuri).
Figura 01: O “Buraco Fundo” em Icoaraci,
FONTE: Marcelle Peres, 2015.
Portanto, esses são apenas alguns dos problemas vivenciados por uma parcela da
população Icoaraciense, evidenciando que a cidade tem por seus diferentes usos a gerar
espaços desiguais, evidenciando problemas de uso e ocupação, que podem ser observados
em Icoaraci, devido à ocorrência da ocupação das baixadas não saneadas, construção de
moradias próximas a leito de rios e igarapés, comprometendo a drenagem natural dos
mesmos, pela forma de ocupação ocorrida sobre eles, que associado ao elevado índice
pluviométrico da região ocasiona alagamento, em função da precária e deficiente rede de
drenagem, da contaminação no sistema de distribuição de água potável pela deficiência
na tubulação e da instalação clandestina e do volume de lixo doméstico produzido
diariamente, traçando um cenário insalubre nesses espaços de Icoaraci. Em destaque os
bairros do Cruzeiro, Paracuri, Maracacuera, Ponta Grossa, Agulha e Campina.
A partir dos estudos de Dias (2007) percebeu-se que além dos problemas de ordem
ambiental, a diversidade sócio-espacial que existe no Distrito, que de certa forma constrói
uma dicotomia interna nos bairros com a diversidade de sua população, pois existe uma
população carente em cada um desses bairros, assim como pessoas que vivem em
condições bem melhores, de maior poder aquisitivo. O bairro do Cruzeiro, por exemplo,
conta com uma população habitante das proximidades da orla urbanizada, de maior poder
aquisitivo, com casarões antigos e atuais, casas de alto padrão e a até mesmo condomínios
verticais em suas proximidades.
No mesmo bairro, em contraponto, existe uma ocupação carente de recursos em
geral, que é Cubatão, está área não se localiza tão próxima a orla turística e nem pode ser
vista somente por aqueles que visitam essa porção do bairro do Cruzeiro. Segundo Dias
(2007), a ocupação de Cubatão proporcionou a elevação do índice de violência na aérea,
tendo em vista que parte dos ocupantes era formada por migrantes e população
despossuída das condições objetivas de vida e sem muitos recursos para construir suas
casas, sendo elas assim, habitações subnormais. Além da violência que se instalou no
âmbito desse bairro, ocorreu também registros de constantes casos de violência dentro da
ocupação, passando ela a ser considerada área perigosa.
Nesse sentido, o crescimento urbano de Icoaraci gera bairros dicotômicos e
desiguais, além de ser vista como periferia de Belém, passando por problemas estruturais,
ambientais, sociais em que sua população clama por melhores condições de vida, já que
somados a todos os problemas herdados pelo processo de ocupação da área, atualmente
percebe-se o aumento da violência e da criminalidade no geral, com os mais diversos
tipos de crimes, que podem ser encontrados no distrito.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante os trabalhos de campo realizados em seis dos nove bairros que englobam
o Distrito de Icoaraci, constatou-se que em determinadas áreas de estudo, uma parcela de
sua população vive em condições precárias de muitos serviços essenciais a vida, a pobreza
e a violência também são constantes, são habitantes da periferia, em razão de estarem
afastados geograficamente do centro do distrito, como acontece com os bairros do
Paracuri, Agulha, Ponta Grossa e Maracacuera. Os bairros mais “centrais”, como o
Cruzeiro e Campina de Icoaraci, contam com maiores ocupações urbanas dotadas de
condições de infraestrutura.
Nesse sentido, conclui-se que o processo de ocupação de terras urbanas originou
o surgimento de inúmeros bairros na periferia da metrópole. Tal processo de certa forma
conta com a participação e intervenção da figura do Estado atuante no espaço, agente de
grande poder no que se refere ao processo produção do mesmo. Pois o espaço, em especial
nesse acaso o urbano se tornou instrumento de importância capitalista para o Estado.
Sendo que esse agente influencia na produção controlando os lugares, hierarquizando-os,
homogeneizando partes e segregando outras. O espaço urbano é então
administrativamente controlado e vigiado pelo Estado.
Em verdade, tanto no cenário do passado como no atual, as diversas formas de
desigualdades no Brasil, sempre foram demasiadamente grandes e gritantes, ocasionando
perigosas dualidades. Por conta disso, nem o formidável progresso econômico e de
mobilidade vivenciados pelo nosso país nas décadas, foi capaz de vencer uma estrutura
social hierárquica, desigual e marcada pela precariedade, que engendrou-se em nossas
cidades. Em conjunto com a pobreza, crescentemente concentrada nas áreas urbanas, o
distrito de Icoaraci então, apresenta essas características e dualidades em seus espaços.
REFERÊNCIAS
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2012.
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FIGUEIREDO, Silvio Lima; TAVARES, Auda Piani. Mestres da cultura. Belém:
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LEFEBVRE. Henri. O direito à cidade. Editora Documentos: São Paulo, 1969.
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