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LIEJY AGNES DOS SANTOS RAPOSO LANDIM UTILIZAÇÃO DE BISCOITO ENRIQUECIDO COM FEIJÃO-CAUPI (Vigna unguiculata (L.) Walp) BIOFORTIFICADO EM PRÉ-ESCOLARES PARA CONTROLE DA ANEMIA FERROPRIVA. Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Alimentos e Nutrição, nível Mestrado, da Universidade Federal do Piauí, como parte dos requisitos para à obtenção do título de Mestre em Alimentos e Nutrição. Área de concentração: Alimentos e Nutrição. Linha de Pesquisa: Nutrição e Saúde. Orientadora: Profª Dr a . Regilda Saraiva dos Reis Moreira-Araújo Colaboradores: MSc Marcos Antonio de Mota Araújo Mestranda Márcia Luiza dos Santos Beserra (PPGAN/UFPI) Teresina 2013

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LIEJY AGNES DOS SANTOS RAPOSO LANDIM

UTILIZAO DE BISCOITO ENRIQUECIDO COM FEIJO-CAUPI (Vigna

unguiculata (L.) Walp) BIOFORTIFICADO EM PR-ESCOLARES PARA

CONTROLE DA ANEMIA FERROPRIVA.

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Alimentos e Nutrio, nvel Mestrado, da Universidade Federal do Piau, como parte dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Alimentos e Nutrio. rea de concentrao: Alimentos e Nutrio. Linha de Pesquisa: Nutrio e Sade.

Orientadora: Prof Dra. Regilda Saraiva dos Reis Moreira-Arajo

Colaboradores: MSc Marcos Antonio de Mota Arajo

Mestranda Mrcia Luiza dos Santos Beserra (PPGAN/UFPI)

Teresina 2013

LIEJY AGNES DOS SANTOS RAPOSO LANDIM

UTILIZAO DE BISCOITO ENRIQUECIDO COM FEIJO-CAUPI (Vigna

unguiculata (L.) Walp) BIOFORTIFICADO EM PR-ESCOLARES PARA

CONTROLE DA ANEMIA FERROPRIVA.

Aprovada em:22 de outubro de 2013

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________ Prof Dra.Regilda Saraiva dos Reis Moreira-Arajo (Orientadora) - Presidente

______________________________________________________________ Prof Lus Carlos Nacul, PhD - 1 Examinador

______________________________________________________________ Prof Dra. Karoline de Macdo Gonalves Frota- 2 Examinador

DEDICATRIA

Dedico essa dissertao ao meu marido

Antnio Carlos Landim Filho, aos meus

filhos Carlos Gabriel Raposo Landim e

Carlos Micael Raposo Landim, aos meus

pais Pedro Feitosa Raposo e Edna Maria

dos Santos Raposo, aos meus irmos,

aos meus sobrinhos (as), familiares e

amigos, por todo amor, apoio, incentivo e

pacincia.

AGRADECIMENTOS

Agradeo, primeiramente, Deus por ter me concedido a vida, sade,

disposio, perseverana, otimismo e por me conceder a sabedoria para concluir

mais essa etapa.

Professora Dra Regilda Saraiva dos Reis Moreira Arajo, por ter me recebido

como sua orientanda a tantas outras, pela confiana depositada em mim, por

compartilhar seus valiosos conhecimentos, pela sua competncia, profissionalismo e

pacincia ao orientar com vivacidade este trabalho.

Ao professor MSc. Marcos Antnio da Mota Arajo, pela contribuio

inestimvel e toda a pacincia na anlise e interpretao dos dados estatsticos.

Ao Programa de Ps-Graduao Alimentos e Nutrio e todos os professores

que fazem parte do mesmo, pela oportunidade de aprimoramento dos meus

conhecimentos.

Coordenao do CNPq, pela concesso da bolsa de estudos.

Coordenao do Centro de Cincia e Qualidade de Alimentos (CCQA) do

Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) pela anlise de minerais.

Aos colegas de mestrado, em especial, Nara Vanessa Barros, Rayssa Porto,

Natlia Quaresma, Maiara Leal, Maria das Graas Silva (Gracinha), Socorro Adriana

Meneses Brando, Ana Paula Mendes Simplcio, Daniele Rodrigues Caldas,

Fabiane Arajo Sampaio, Mara Jordana e Maria Lcia Arajo pelo imensurvel

auxlio e amizade.

todos os meus inmeros anjos-colaboradores (Jaqueline, Livia, Maria Luiza,

Jssica, Joyce, Nathasha, Silmara, Apolyana, Brenda, Camilla, Najela, Ana Virginia,

Cleiton, Ana Letcia, Hilla, Edna, Jennifer, Juliana, Marilene, Paulo Victor, Bruno

Felix, Larissa Elvas e outros) que Deus colocou em meu caminho, pelo

envolvimento, profissionalismo, auxilio e amizade.

s professoras do Departamento de Nutrio, em especial a Prof MSc.

Martha Teresa Melo pelas sabias palavras indagadas a mim nos corredores do

Departamento e professora Dra Socorro Alencar pela torcida antes mesmo de entrar

no Programa.

Aos funcionrios do Departamento de Nutrio da UFPI, em especial Dona

Masa e Sr. Osvaldo, pelo carisma, pela pacincia e presteza antes, durante e aps

a realizao dos trabalhos no Laboratrio de Bromatologia e no Laboratrio de

Anlise Sensorial de Alimentos.

Ao Secretrio Municipal de Educao de Teresina, Paulo Raimundo Machado

Vale, por autorizar a realizao deste trabalho nos CMEIs e as respectivas

diretoras.

Ao meu marido Antnio Carlos Landim Filho, pelo amor infinito, pela

cumplicidade em todas as etapas da minha vida, pelo companheirismo, pelo auxlio

grandioso e sem preo, durante todos esses 20 anos de convvio e em todas as

etapa deste trabalho e mesmo, as conversas, o estimulo, a valorizao, por crer em

mim, inclusive em momentos em que eu mesma no acreditava, por ser o meu porto

seguro e um dos meus maiores tesouros, pela pacincia, por torna a minha vida

mais fcil, bela e por ter me dado os dois maiores tesouros de minha vida Carlos

Gabriel Raposo Landim e Carlos Micael Raposo Landim.

Aos meus filhos, por serem parte da minha motivao em buscar cada vez

mais novos conhecimentos e horizontes.

Aos meus pais, Pedro Feitosa Raposo e Edna Maria dos Santos Raposo, pelo

exemplo de determinao, coragem, perseverana e luta no transcorrer de toda

minha vida, pelo apoio, ensinamentos, valores e princpios repassados com muito

amor, pela torcida e por no medirem esforos para que eu alcanasse os meus

objetivos.

Aos meus irmos, Lyvia Raposo, Pedro Jnior e Leydja Raposo, as minhas

cunhadas: Carla e Vladia; as minhas sobrinhas: Layana, Luana, Manuela e Sofia;

aos meus sobrinhos Joo Ivo e Jos Ivan, pela compreenso quanto ao isolamento,

pela fora e pelo incentivo.

A Maria, anjinho de Deus na minha vida desde o 1 dia do programa de

mestrado, que me auxiliar em casa, com meus filhos, com muita pacincia, nos

meus momentos de ausncia.

Aos meus anjos, pessoas enviadas por Deus, Antnio Carlos, Helionildes,

Janana Brito, Patrcia Belini, Amanda Mazza, Selma Moura, Cinthia Rodarte,

Karoline Frota, Camila Menezes, Raquel Landim, Stella Arcanjo, Juliane Monte entre

tantos outros que me direcionaram, que acreditaram, que me deram oportunidades e

me incentivaram a docncia (onde me encontrei).

A todos os meus alunos de ontem, de hoje, de amanh e de sempre por me

proporcionarem a prtica contnua de um dos maiores prazeres da minha vida

docncia.

Enfim, a todos, que de alguma forma sincera, doaram um pouco de si para que

a concluso desse trabalho se tornasse possvel.

Talvez no tenha conseguido fazer o melhor,

mas lutei para que o melhor fosse feito. No sou

o que deveria ser, mas Graas a Deus, no sou

o que era antes.

(Marthin Luther King)

RESUMO

LANDIM, L. A. S. R. Utilizao de biscoito enriquecido com feijo-caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp) biofortificado, em pr-escolares para controle da anemia ferropriva. Dissertao (Mestrado) Programa de Ps-Graduao em Alimentos e Nutrio, Universidade Federal do Piau, Teresina PI, 2013.

O presente estudo foi realizado com o objetivo de avaliar o impacto da

ingesto de biscoitos base de farinha de feijo-caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp)

variedade BRS-Xiquexique, biofortificado com ferro e zinco, por pr-escolares para

controle da anemia ferropriva. O universo foi constitudo por de 262 crianas pr-

escolares, matriculadas nos Centros Municipais de Ensino Infantil - CMEIs da rede

pblica de ensino de Teresina, na faixa etria de 2 a 5 anos de idade. Foram

coletados os dados socioeconmicos e dados sobre a criana, com registro em ficha

prpria, como tambm, o consumo alimentar da criana no domiclio, por meio da

aplicao do Questionrio de Frequncia de Consumo Alimentar. As crianas foram

divididas em dois grupos: grupo interveno 01 (G1) que recebeu o biscoito a base

de farinha de trigo (BFT) enriquecida com ferro e cido flico, e grupo interveno 02

(G2) que recebeu o biscoito enriquecido de farinha de feijo-caupi biofortificado

(BFFCb) em ferro, zinco e protena, da cultivar BRS-Xiquexique e Farinha de Trigo.

Foram realizados a coleta de dados antropomtricos, colheita de sangue das

crianas, diagnstico de anemia e a ingesto de alimentos nos CMEIs. Para

interveno, foi produzido biscoitos para os dois grupos, sendo oferecido um pacote

de 30g, 3 vezes por semana, por um perodo de 60 dias e realizado a segunda

colheita sangunea, para determinao do efeito do biscoito sobre o incremento da

hemoglobina ou controle da anemia ferropriva e tambm pesagem dos pacotes dos

biscoitos aps oferecido s crianas para determinao da aceitao. Os resultados

demonstraram uma boa aceitao do BFFCb + FT pelas crianas (94,3%). Em

relao a anemia, antes da interveno com dois biscoitos a prevalncia de anemia

entre os participantes era de 11,5% (n= 30), sendo que 18 (12,2%) eram do Grupo

02 e 12 do Grupo 01 (10,4%). Aps a interveno houve reduo na prevalncia de

anemia para 4,2% (n = 11), sendo que 02 (1,4%) eram do grupo 02 e 09 (7,8%) do

grupo 01. Constatou-se a eficcia do BFFCb + FT como complemento alimentar no

controle da anemia ferropriva.

Palavras-chave: interveno nutricional; anemia; pr-escolares.

ABSTRACT

LANDIM, L. A. S. R. Use of enriched biscuit with cowpea (Vigna unguiculata (L.) Walp) biofortified in preschoolers to control anemia.Dissertao (Mestrado) Programa de Ps-Graduao em Alimentos e Nutrio, Universidade Federal do Piau, Teresina PI, 2013.

The present study was conducted to evaluate the impact of ingestion of cookies

based on cowpea flour (Vigna unguiculata (L.) Walp) variety BRS - Xiquexique,

biofortified with iron and zinc, for preschoolers to control of iron deficiency anemia.

The universe consisted of 262 preschool children enrolled in the Municipal Centers

Childhood Education - CMEIs public schools in Teresina, aged 2-5 years old.

Socioeconomic data and data on the child, with record record itself, but also the

nutritional intake of children in the home, through the application of frequency

questionnaire Food consumption was collected. The children were divided into two

groups: intervention group 01 (G1) received the cookie made of flour (BFT) enriched

with iron and folic acid intervention group and 02 (G2) received the enriched biscuit

with bean flour biofortified cowpea (BFFCb) in iron, zinc and protein, the BRS -

Xiquexique and Wheat Flour. The anthropometric data, blood analysis of children

diagnosed with anemia and food intake in CMEIs were performed. For speech,

biscuits were produced in both groups, being offered a package 30g, 3 times per

week for a period of 60 days and the second blood collection performed to determine

the effect on the increase of the cookie or hemoglobin control iron deficiency anemia

and also weighing packages of crackers after being offered to children to determine

acceptance. The results showed a good acceptance of BFFCb + FT by children (94.3

%). Regarding anemia, before the intervention with two biscuits anemia prevalence

among participants was 11.5 % (n = 30), whereas 18 (12.2%) were in Group 2:12

Group 01 (10, 4%). After the intervention, there was a reduction in anemia

prevalence to 4.2 % (n = 11), and 02 (1.4%) were from group 2:09 (7.8%) in group

01. It was verified the effectiveness of BFFCb + FT as a food supplement in the

control of iron deficiency anemia.

Keyword: nutritional intervention; anemia; preschoolers.

LISTA DE FIGURAS

FIGURAS Pg

01 Estado nutricional segundo IMC-para-Idade das crianas dos grupos experimental e controle ........................................................................................ 44

02 Concentrao de hemoglobina antes e depois da interveno segundo os grupos de interveno. ......................................................................................... .47 03 Nmero de crianas anmicas antes e depois da interveno segundo o tipo de biscoito consumido. ......................................................................................... 48 04 Hidratao do Feijo caupi em gua destilada 1:2 (p/v). .............................. 74 05 Remoo dos tegumentos do feijo-caupi. ..................................................... 74 06 Secagem em estufa do Feijo caupi. ............................................................ 74 07 Moagem do feijo-caupi em moinho. .............................................................. 74 08 Reunio com os pais ou responsveis. ........................................................... 75 09 Assinatura do TCLE pelos pais ou responsveis. ........................................... 75 10 Coleta de dados na Ficha da Crianas/ QFCA. ............................................... 75 11 Coleta de sangue das crianas. ...................................................................... 75 12 Aferio da estatura das crianas ................................................................... 76 13 Aferio do peso das crianas. ....................................................................... 76 14 Pesagem dos alimentos que compem os lanches das creches no perodo de 1 semana, consumidos pelas crianas ............................................................ 76 15 Pesagem dos ingredientes e homogeneizao da massa do biscoito. ........... 77 16 Formao do biscoito e distribuio em tabuleiros. ......................................... 77 17 Embalagem e identificao dos biscoitos com os dados das crianas. .......... 77 18 Entrega dos pacotes de biscoito as crianas. ................................................. 77

LISTA DE TABELAS E QUADROS

TABELAS Pg

01 Prevalncia da anemia em pr-escolares, segundo diferentes autores ................. 20 02 Peso ao nascer segundo o sexo da criana. Teresina-PI, 2013 ............................ 39 03 Idade em meses segundo o sexo. Teresina-PI, 2013 ............................................ 39 04 Frequncias das variveis relativas famlia. Teresina PI, 2013 ......................... 40 05 Frequncias das variveis relativas moradia. Teresina-PI, 2013 ........................ 41 06 Frequncias relativas as Estado de Sade das crianas. Teresina-PI, 2013 ......... 41 07 Peso, altura e hemoglobina das crianas, antes e depois do estudo. Teresina-PI, 2013 ............................................................................................................................ 42 08 Estado nutricional das crianas participantes da pesquisa antes da interveno, segundo IMC-para-Idade. Teresina-PI, 2013 .............................................................. 43 09 Estado nutricional das crianas participantes da pesquisa antes da interveno, segundo IMC-para-Idade. Teresina-PI, 2013 .............................................................. 43 10 Crianas anmicas e no anmicas, antes e depois da interveno. Teresina-PI,

2013 ............................................................................................................................ 44

11 Composio centesimal do biscoito de feijo-caupi biofortificado (BFFCb).

Teresina-PI, 2013 ........................................................................................................ 45

12 Contedo de minerais na farinha e no biscoito base de FFCb, cultivar

Xiquexique. Teresina PI, 2013 ................................................................................. 45

13 Nutrientes e VET do pacote (30g) de biscoito base farinha de feijo-caupi

biofortificado (BFFCb) e do Biscoito base de farinha de Trigo (BFT). Teresina

PI, 2013 ....................................................................................................................... 46

14 Consumo de biscoito fortificado e no fortificado pelas crianas que participaram

da pesquisa. Teresina-PI, 2013. .................................................................................. 46

15 Indicadores segundo as crianas que consumiram os tipos de Biscoitos

elaborados com a farinha de feijo caupi e farinha de trigo. Teresina-PI, 2013. ......... 48

16 Contedo de nutrientes da dieta oferecida diariamente nos CMEIs. Teresina-PI,

2013. ........................................................................................................................... 49

17 Adequao da dieta oferecida diariamente nos CMEIs. Teresina PI, 2013 ........ 50

18 Adequao da dieta oferecida diariamente nos CMEIs, por faixa etria,

acrescida do valor nutritivo do biscoito (BFFCb). Teresina PI, 2013 ................. 50

19 Patologias existentes nos ltimos 15 dias entre as crianas dos CMEIs. Teresina-PI, 2013. ................................................................................................ 79

QUADROS

01: Pontos de corte de IMC-para-idade para crianas menores de 5 anos.

Teresina-PI, 2013. ................................................................................................ 33

02: Frequncia do consumo alimentar das crianas. Teresina-PI, 2013 .............. 51

03: Correlao entre consumo de alimentos e hemoglobina, IMC-para-Idade.

Teresina-PI, 2013 ................................................................................................. 52

ABREVIATURAS E SIGLAS

BFFCb: Biscoito de Farinha de Feijo-caupi biofortificado.

BFT: Biscoito de Farinha de Trigo.

CMEIs: Centros Municipais de Ensino Infantil

FFC: Farinha de Feijo-caupi.

IDR: Ingesto Diria Recomendada.

ITAL: Instituto de Tecnologia de Alimentos.

LABROMBIOQ: Laboratrio de Bromatologia e Bioqumica de Alimentos.

LASA: Laboratrio de Desenvolvimento de Produtos e Anlise Sensorial de

Alimentos.

MS: Ministrio da Sade.

OMS: Organizao Mundial de Sade.

PNDS: Pesquisa Nacional de Demografia e Sade.

PNSF: Programa Nacional de Suplementao do Ferro.

QFCA: Questionrio de Frequencia de Consumo Alimentar.

SBAN: Sociedade Brasileira de Alimentao e Nutrio.

SEMEC: Secretaria Municipal de Educao.

TACO: Tabela de Composio de Alimentos.

TCLE: Termo de Consentimento Livre Esclarecido.

UFPI: Universidade Federal do Piau.

WHO: World Health Organization.

SUMRIO

Pg.

1. INTRODUO ................................................................................................. 16 2.REVISO BIBLIOGRFICA ............................................................................. 19 2.1 Anemia Ferropriva .......................................................................................... 19 2.2 Ferro ............................................................................................................... 21 2.3 Feijo-caupi .................................................................................................... 22 2.4 Enriquecimento/Fortificao/Biofortificao, Suplementao de

Alimentos com Ferro e Trabalhos de Interveno Nutricional ......................... 23 2.5 Biofortificao do Feijo-caupi com Ferro ....................................................... 25 2.6 Biscoito Elaborado Base de Farinha de Feijo-caupi da Cultivar

Xiquexique ...................................................................................................... 26 3.OBJETIVOS ...................................................................................................... 28 3.1.Geral............................................................................................................... 28 3.2. Especficos .................................................................................................... 28 4. METODOLOGIA .............................................................................................. 29 4.1 Campo de Estudo e Perodo .......................................................................... 29 4.2 Amostra .......................................................................................................... 29 4.3 Descrio dos Centros Municipais de Ensino Infantil CMEIs ..................... 30 4.4.Variveis Estudadas ....................................................................................... 30 4.4.1Variveis Independentes .............................................................................. 31 4.4.1.1 Indicadores socioeconmicos .................................................................. 31 4.4.1.2Anlise da dieta consumida pelos pr-escolares nas creches .................. 31 4.4.1.3Anlise da dieta consumida pelos pr-escolares no domiclio .................. 31 4.4.2Variveis Dependentes ................................................................................ 32 4.4.2.1Dados antropomtricos ............................................................................. 32 4.4.2.2Hemoglobina ............................................................................................. 33 4.5 Processamento da Matria-prima (Farinha de Feijo-caupi da Cultivar BRS-Xiquexique ................................................................................................... 34 4.6 Obteno dos Biscoitos Base da Farinha de Feijo-caupi (Cultivar BRS-Xiquexique) e Farinha de Trigo .................................................................... 34 4.7 Composio Centesimal de Farinha e do Biscoito Base de Feijo-caupi Biofortificado da Cultivar BRS-Xiquexique ........................................................... 35 4.7.1Umidade ....................................................................................................... 35 4.7.2 Cinzas ......................................................................................................... 35 4.7.3 Protenas ..................................................................................................... 35 4.7.4 Lipdios ........................................................................................................ 35 4.7.5 Carboidratos ................................................................................................ 35 4.7.6 Valor Energtico Total ................................................................................. 35 4.8 Concentraes de Minerais na farinha e no Biscoito Base de Feijo-caupi Biofortificado de Cultivar BRS-Xiquexique ........................................................... 36 4.9 Delinemento do Estudo .................................................................................. 36 4.10 Critrios de Incluso e Excluso .................................................................. 37

4.11 Critrios ticos do Estudo ........................................................................... 38 4.12 Anlise Estatstica ........................................................................................ 38 5. RESULTADOS ................................................................................................. 39 5.1Caracterizao da Populao Estudada ......................................................... 39 5.1.1 Peso ao Nascer ........................................................................................... 39 5.1.2 Distribuio do Sexo por Mdia de Idade ou Meses ................................... 39 5.1.3 Variveis Estudadas .................................................................................... 40 5.1.3.1Variveis Relativas Famlia .................................................................... 40 5.1.3.2 Variveis Relativas Moradia .................................................................. 40 5.1.3.3 Variveis Relativas ao Estado de Sade da Criana ............................... 41 5.2 Delineamento Experimental ........................................................................... 42 5.3 Estado Nutricional .......................................................................................... 42 5.3.1 Variveis Antropomtricas ........................................................................... 42 5.4 Composio Centesimal do Biscoito e da Farinha de Feijo-caupi ................ 45 5.5 Nutrientes e Valor Energtico Total (VET) ..................................................... 46 5.6 Consumo dos Biscoitos .................................................................................. 46 5.7 Hemoglobina .................................................................................................. 47 5.8. Sntese dos Indicadores Estatsticos segundo os Grupos de Interveno .... 48 5.9 Dietas Oferecida nos Centros Municipais de Ensino Infantil (CMEIs) ........... 49 5.10Frequncia de Consumo alimentar ............................................................... 50 6. DISCUSSO .................................................................................................... 53 7.CONCLUSO ................................................................................................... 63 REFERNCIAS .................................................................................................... 64 APNDICES ........................................................................................................ 74 ANEXOS .............................................................................................................. 80

1. INTRODUO

A anemia nutricional ou ferropriva definida como um processo patolgico

em que a concentrao de hemoglobina nos eritrcitos encontra-se anormalmente

baixa, respeitando-se as variaes de idade e sexo, decorre de carncia de um ou

mais nutrientes essenciais como ferro, cido flico e/ou vitaminas A (OMSb, 2008).

Embora diferentes nutrientes e cofatores estejam envolvidos na manuteno da

sntese normal de hemoglobina, a anemia ferropriva por deficincia de ferro tem sido

a carncia nutricional de maior abrangncia e frequncia em todo o mundo, tanto

nos pases industrializados ou em desenvolvimento sendo neste ltimo a prevalncia

4 vezes maior (TSUYVOKA et al., 1999; CAPANEMA, et al., 2003; OMSb, 2008).

A etiologia da deficincia de ferro resulta do esgotamento de suas reservas

no organismo e pode ocorrer devido necessidade aumentada de ferro (fatores

fisiolgicos), diminuio da oferta ou absoro (fatores nutricionais e fatores

referentes biodisponibilidade do ferro) e doenas de m absoro, processos

inflamatrios intestinais e hemorragias (fatores patolgicos) (ANDREWS; BRIDGES,

1998; CAPANEMA et al., 2003).

Vrios estudos reportam sobre mudanas nutricionais nas ltimas trs

dcadas, e abordam que a prevalncia da anemia possui caractersticas epidmicas,

tornando-se, em termos de magnitude, o principal problema carncial do pas

(HURTADO et al., 1999; MIRANDA et al., 2003; OLIVEIRA et al., 2006; RIVERA et

al., 2006; HEIJBLOM; SANTOS,2007; BATISTA FILHO et al., 2008; ROCHA et al.,

2008; MOREIRA-ARAJO; ARAJO; ARAS, 2008).

Segundo o relatrio elaborado pela Organizao Mundial de Sade (OMS),

estima-se que 66% a 80% da populao mundial, sejam deficientes de ferro e que

cerca de 40% so portadoras de anemia, o que equivale a 2 bilhes de indivduos, e

que entre essa populao, alguns grupos so mais vulnerveis, a saber, os

lactentes, pr-escolares, adolescentes, gestantes e mulheres de idade frtil (OMSb,

2008).

Na Pesquisa Nacional de Demografia e Sade da Criana e da Mulher

(PNDS) de base populacional nacional das cinco macrorregies geogrficas

brasileiras de reas urbana e rural efetivado pelo Ministrio da Sade (MS) com

4.817 crianas menores de 5 anos, verificou prevalncia de anemia em 20,9% de

menores de 5 anos, sendo maior (24,1%) em crianas de 6 a 23 meses (BRASIL,

2009).

Entre as medidas definitivas para a preveno e ou controle da anemia

ferropriva, o Ministrio da Sade (MS) tem intensificado aes voltadas a reduo

dessa carncia no pas, por meio da suplementao semanal com sulfato ferroso

para crianas de 6 meses a 18 meses de idade, gestantes a partir da 20 semana e

mulheres at o 3 ms ps-parto, preconizada pelo Programa Nacional de

Suplementao do Ferro (PNSF), como tambm por meio da fortificao universal

obrigatria desde 2004, das farinhas de trigo e milho com ferro e cido flico, e que

este ltimo inspirou Sousa Filho et al. (2011) a comparar os nveis de hemoglobina

(Hb) ocorrncia de anemia em gestantes antes e depois da fortificao das

farinhas com ferro e cido flico (MS, 2002; BRASIL, 2002; BRASIL,2005;

ENGSTROM, 2006; ASSUNO et al, 2007).

Aliados aos programas governamentais, alguns estudos de interveno

foram realizados utilizando vrias formas de fortificao e enriquecimento de

alimentos visando o controle da anemia. Bagni et al. (2009) utilizou arroz fortificado

com ferro em crianas anmicas e Moreira- Arajo et al. (2008) realizaram uma

interveno nutricional com snack de gro-de-bico, pulmo bovino e milho,

buscando contribuir no que tange o controle dessa carncia, por meio do

desenvolvimento de pesquisas interventivas que utilizaram formas variadas de

fortificao /enriquecimento de alimentos.

Visando ainda incrementar os esforos na complementao de intervenes a

inmeras carncias nutricionais, a biofortificao tem emergido como opo recente,

no intuito de reduzir os problemas de deficincias de vrios micronutrientes, dentre

eles o ferro, e caracteriza-se pelo aumento do contedo de nutrientes nos alimentos,

por meio de melhoramento gentico convencional ou da engenharia gentica

(PFEIFFER; MCCLAFFERTY, 2007; RIOS et al., 2009).

Entre os produtos agrcolas biofortificados, uma das propostas envolve o

feijo-caupi (Vigna unguiculata (L). Walp) uma espcie rica em ferro (61.3mg.Kg-1),

zinco (44.7mg.Kg-1) e protenas (24g.100g-1), possuindo vrias cultivares BRS-

Arac, BRS-Xiquexique, BRS-Tumucumaque entre outras (THAVARAJAH et al.,

2010; FREIRE-FILHO, 2011). consumido sob forma de gro seco, sendo

considerada uma forma sustentvel de baixo custo para alcanar populaes com

limitado acesso aos sistemas formais de mercado e sade (THAVARAJAH et al.,

2010).

Frota et al. (2010) elaborou um biscoito tipo sequilho a base de farinha de

feijo-caupi (FFC), cultivar Tracuateua - 235, entre outros produtos de panificao,

como uma opo de alimento para utilizao em intervenes voltadas ao controle

da anemia. Neste contexto, Moreira-Arajo et al (2009) utilizou um biscoito base

da farinha de feijo-caupi (FFC), cultivar BRS- Guaribas, em uma interveno

nutricional 115 pr-escolares onde 36 (31%) estavam anmicos e aps a

interveno (4 meses) o produto oferecido foi capaz de reduzir significativamente a

prevalncia de anemia de 31% (n= 36) para 0,8% (n = 1), o que confirma a

importncia da fortificao no controle da anemia e/ou incremento da hemoglobina.

Tendo em vista a magnitude desta carncia, sua importncia como problema

de sade pblica e seus efeitos deletrios a sade humana, esse estudo teve como

objetivo realizar uma interveno nutricional em pr-escolares de creches

municipais, com dois biscoitos tipo sequilho, anteriormente formulado por Frota et al.

(2010), porm utilizando um biscoito com Farinha de trigo enriquecida com ferro e

cido flico e outro biscoito com Farinha de Feijo-Caupi, biofortificada com zinco,

ferro e protenas e Farinha de trigo enriquecida com ferro e cido flico, onde

verificou-se o impacto dessa ingesto no controle da anemia e no incremento da

hemoglobina nas crianas envolvidas nesta pesquisa.

2 REVISO BIBLIOGRAFICA

2.1 Anemia Ferropriva

A anemia ferropriva e a deficincia de ferro resultam da interao de

mltiplos fatores etiolgicos, tanto biolgicos quanto sociais e econmicos (BRAGA,

et al., 2010), que levam a um desequilbrio no balano entre a quantidade de ferro

biodisponvel absorvido na dieta, que depende do tipo de alimento consumido e da

combinao desses com outros na dieta e das necessidades do organismo

(SANTOS et al., 2004; HEIJBLOM; SANTOS, 2007).

Segundo Morais (2010), algumas afeces do aparelho digestivo tambm

podem acarretar ou agravar o dficit corporal de ferro, por reduzir a absoro de

ferro ou aumentar as perdas de ferro pelo intestino, como exemplo, as perdas de

sangue a partir do esfago em crianas e adolescentes relacionada a esofagite de

refluxo , gastrites secundrias ao uso de medicamentos, a Helicobater pylori

podendo ocasionar repercusses nos compartimentos de ferro corporal , como

tambm a presena de sangue oculto devido a infeces por Ancislostoma

duodenale e Necator americanos que provocam perda sangunea, entre outros

(OLIVARES, et al, 1999;VANDENPLAS et al., 2009)

O suprimento de ferro torna-se insuficiente para a sntese normal de

componentes que dependem desse mineral, como: a formao adequada das

hemcias, que com reservas diminudas de ferro, geram uma reduo na quantidade

de hemcias, ocasionando uma diminuio nas concentraes de hemoglobina e

consequentemente a diminuio da capacidade de transporte de oxignio do

sangue, gerando uma baixa oxigenao dos tecidos cerebrais. Em consequncia

disto, vem se observando em crianas a incapacidade de fixar a ateno,

irritabilidade e sonolncia, situaes estas que podem favorecer o baixo

aproveitamento escolar, portanto, diminuio da capacidade cognitiva da criana

(FERREIRA et al., 2003; FUJIMORI et al, 2011; SOUZA FILHO et al., 2011).

Dentre os mais variados agravos desencadeados pela instalao da anemia

na populao infantil destacam-se: o dficit do desenvolvimento cognitivo, a reduo

da capacidade fsica, o comprometimento da atividade de trabalho, o retardo do

desenvolvimento fsico e psicomotor, as dificuldade de aprendizagem, a depresso

do sistema imune, a maior propenso a infeces e o aumento da mortalidade

(WHO, 2001).

A Organizao Mundial de Sade (OMS, 2007), em uma anlise global de

anemia no mundo no perodo de 1993 a 2005, estimou que, a anemia afeta 1,62

bilhes de pessoas e que as crianas em idade pr-escolar so as mais afetadas,

com prevalncia de 47,4% (293 milhes) e que a prevalncia de deficincia de ferro

seja 2,5 vezes maior que a prevalncia de anemia e que cerca de 4,8 milhes de

pr-escolares sejam afetados pela doena (BRASIL, 2004; OMSc,2008).

TABELA 01: Prevalncia de anemia em pr-escolares, segundo diferentes autores.

AUTORES ANO LOCAL N AMOSTRAL

FAIXA ETRIA

% ANEMIA

SILVA et al. 2001 Creches/Porto Alegre -RS

557 0 36 meses

47,8

BRUNKEN et al.

2002 Creches/ Cuiab 271 < 36 meses

63,0

MOREIRA-ARAJO et al

2002 Creches/Teresina-PI

260 32 72 meses

62,3

SANTOS et al. 2004 Pastoral/Pelotas- RS

304 < 6 anos 53,0

SPINELLI et al.

2005 12 Municpios/5 Regies brasileiras

2715 6 12 meses

65,4

OLIVEIRA et al.

2007 Pernambuco 746 6 -49 meses

40,6

PINHEIRO et al.

2008 Campina Grande/PB

116 6 59 meses

31,7

SHIBUKAMA et al.

2008 Unidade de Sade/ Embu -SP

118 12 18 meses

41,5

BAGNI et al. 2009 Creches/Rio de Janeiro

180 12 60 meses

37,8

COSTA et al. 2009 Creche/ So Paulo 465 24 60 meses

20,9

MOREIRA-ARAJO et al

2009 Creches/Teresina- PI

115 2 5 anos 31,0

PAZZINATO; HERRERO

2009 Luziana/PR 313 2 meses 97 anos

1,9 (

tm demonstrado elevada prevalncia de anemia no Brasil como a Pesquisa

Nacional de Demografia e Sade (PNDS) de 2006, pela primeira vez em nvel

nacional, que obteve uma prevalncia de anemia em crianas de zero a 59 meses

de 20,9% o que corresponde aproximadamente a trs milhes de crianas, sendo

que as maiores prevalncias observadas foram no Nordeste (25,5%), Sudeste

(22,6%) e Sul (21,5%) e regio Norte e Centro-oeste apresentaram 10,4% e 11,0%,

respectivamente, correspondendo as mais baixas prevalncias verificadas entre as

regies brasileiras (BRASIL, 2009).

Na Tabela 01 constam os dados referentes a estudos sobre prevalncia de

anemia em pr-escolares realizadas no perodo de 2001 a 2011 nos diversos

estados brasileiros.

Observando o comportamento da anemia ferropriva em nvel de

cidades/estados brasileiros, constatou-se sua elevada prevalncia. Alm disso, ao

considerar o intervalo de 10 anos dos estudos contidos na Tabela 01, constatou-se a

uma tendncia de queda na prevalncia de anemia.

2.2 Ferro

O ferro um oligoelemento vital na homeostase celular, que possui

habilidade em aceitar e doar eltron, desempenhando papel na hemoglobina,

atuando no transporte de oxignio, ou como componente da mioglobina, atuando

como fixador do oxignio e ainda pode participar da formao de diversas protenas,

servindo ainda como catalisador da oxidao (DUNN; RAHMANTO; RICHARDSON,

2007; GALANTE; NOGUEIRA; MARI, 2007; NORTON, 2009;).

O ferro se apresenta em dois estados oxidativos estveis: na forma ferrosa

(Fe2+) ou heme (presente em alimentos de origem animal que apresentam cerca de

2,8mg de ferro em 100g do alimento, e so absorvidos em torno de 20 a 30% desse

nutriente) e a forma frrica (Fe3+) ou no-heme (presente nos alimentos de origem

vegetal e so absorvidos de 2% a 10% pelo organismo) (SZARFARC, 1983;

BORTOLINI et al. 2010).

Existem fatores que podem facilitar ou inibir a absoro do ferro em especial

a forma frrica ou ferro noheme (Fe3+), tendo como fatores facilitadores: fatores

endgenos (cido clordrico); constituintes da dieta como cido ascrbico, frutose,

citrato; alguns aminocidos presentes nas carnes em geral (cistena, lisina e

histidina); vitamina A e os carotenides, e como fatores inibidores a presena de

substncias como: fitato presente em cereais (aveia, farelo de trigo e arroz) e em

sementes de leguminosas, fibras, cafena, sais de clcio e fsforo, oxalatos e

compostos fenlicos (flavonoides, cidos fenlicos e tanino), presentes em vegetais,

na cebola, achocolatados, chs, cafs, vinhos e refrigerantes (DAVIDSSON, 2003;

LOPEZ et al., 2004; HURRELL et al., 2010).

Deve-se ressaltar que os fatores facilitadores e inibidores que influenciam na

absoro do ferro, em especial o ferro no heme, consequentemente influenciam na

sua biodisponibilidade sendo esta ltima definida por Bender (1993) como a

proporo do nutriente que digerido, absorvido e metabolizado pelo organismo,

capaz de estar disponvel para uso ou armazenamento, e que essa

biodisponibilidade do ferro, no caso, diettico o fator de maior importncia na

ocorrncia de anemia ferropriva por deficincia de ferro pois, sabe-se que mais

importante do que a quantidade total de ferro, a qualidade do ferro disponvel

(heme ou no-heme) os quais tem relao com os fatores falicitadores/inidores de

sua utilizao em uma refeio ou dieta (SZARFARC, 1983).

Desta forma, as dietas podem ser classificadas quanto a disponibilidade de

ferro em: baixa biodisponibilidade (composta por cereais, razes e tubrculos, pouca

presena de carnes, peixe e vitamina C, contendo predominantemente alimentos

que inibem a absoro de ferro como arroz, feijo, milho e farinha de trigo integral),

intermediria biodisponibilidade (cereais, razes e tubrculos, contudo inclui alguns

alimentos de origem animal e/ou cido ascrbico) e de alta biodisponibilidade

(diversificada contendo moderadas quantidades de carnes, aves, peixes ou

alimentos ricos em cido ascrbico) (SZARFARC, 1983; BORTOLINI, 2010), sendo

importante a ingesto de alimentos fontes e/ou ricos em ferro para a preveno e

controle da anemia por carncia de ferro, ou seja, anemia ferropriva.

2.3 Feijo-caupi

O feijo-caupi, fradinho, macassar ou feijo de corda (Vigna unguiculata L.

Walp) uma espcie rica em protenas e minerais como ferro e zinco. consumida

sob forma de gro seco, verdes ou cozidos, apresentando peso de 16,5g (peso de

100 gros); de porte semiprostrado; com florescimento de 40 a 45 dias aps a

semeadura e ciclo de 65 a 75 dias aps semadura (EMBRAPA, 2009; EMBRAPA,

2010). O caupi vem sendo incorporado como alimento importante da dieta bsica de

comunidades pobres em pases em desenvolvimento (THAVARAJAH, 2010), assim

considerado um alimento bsico da populao brasileira e utilizado em diversas

preparaes culinrias como o acaraj e abar, mais comuns na Bahia (FROTA, et

al., 2010).

Alm disso, o feijo-caupi por ser fonte de protenas (23 a 25% em mdia)

quando associada a cereais, como o arroz, pode ainda apresentar todos os

aminocidos essenciais, em especial a lisina, uma vez que os cereais so

deficientes neste aminocido, contribuindo para a melhoria da qualidade da dieta

(IQBAL; KHALIL; SHAH, 2003).

No Brasil uma das culturas mais importantes nas regies Norte e Nordeste e

em grande expanso na regio centro-oeste do pas, o qual adaptado s

condies de calor e deficincia hdrica presente nestas regies, devido a sua

rusticidade e precocidade (DANTAS et al., 2002; EMBRAPA, 2003; EMBRAPA,

2009).

Especificamente no Nordeste a produo e a produtividade gira em torno de

258.187 toneladas e 250kg/hectare, respectivamente, e os maiores estados

produtores desta regio so os estados do Bahia (106.653 t), Cear (52.721 t),

Maranho (34.837 t) e o Piau (26.520 t) (BRASIL, 2013).

Neste sentido, o cultivo do feijo-caupi em boa parte do pas realizado por

agricultores de base familiar, no entanto, nos ltimos anos, vem sendo incorporada a

um sistema de produo de pequenas, mdias e grandes empresas, empregando-se

tecnologias modernas (EMBRAPA, 2008).

Esses crescente interesse em seu cultivo gerou a produo de vrios

cultivares com boas caractersticas nutricionais, culinrias e agronmicas, como:

BRS-Xiquexique, BRS-Arac, BRS-Tumucumaque, BR17-Gurguia, BRS- Maratau,

dentre outras (EMBRAPA, 2008; MOURA et al., 2011).

2.4 Enriquecimento/ Fortificao, Suplementao de Alimentos com Ferro e

Trabalhos de Interveno Nutricional

de fundamental importncia o enriquecimento ou fortificao de alimentos

com a devida segurana, qualidade e baixo custo, e na atualmente pesquisas

cientficas demonstram a importante relao entre os alimentos e a ampliao de

patologias, o que nos permite inferir que a sade pode ser controlada pela

alimentao. Neste sentido, existem diversas grupos de alimentos que baseados

nesta prerrogativa oferecem determinados nutrientes com a finalidade de prevenir/

corrigir deficincias de um ou mais deles. Alm disso, sabe-se que o enriquecimento

ou fortificao de alimentos com nutrientes uma prtica bem aceita que vem sendo

empregada h mais de meio sculo, em especial nos anos 40, momento em ocorreu

restries inerentes a guerra que limitaram a oferta de alimentos (MOREIRA-

ARAJO, 2000).

O enriquecimento com o intuito de elevar a oferta de produtos que forneam

por exemplo protenas de alto valor biolgico, vitaminas e minerais, principalmente o

ferro, com propsito de utilizao em programas de reduo da prevalncia de

anemia e como tambm de desnutrio, foram desenvolvidos no transcorrer dos

ltimos anos vrios produtos similares aos salgadinhos comerciais como exemplo o

snack a base gro-de-bico, milho e pulmo bovino desenvolvido por Moreira-Arajo

et al.(2008), porm com elevado teor de ferro, vitaminas, fibras, protenas de alto

valor biolgico e clcio dentre outros (MOREIRA-ARAJO, 2000; CARDOSO-

SANTIAGO et al., 2001; MOREIRA ARAJO et al., 2002; MOREIRA-ARAJO;

ARAJO; ARAS, 2008).

A elevada prevalncia de carncias em micronutrientes, como o ferro e o

zinco, traz consequncias negativas para a sade humana e grande parte dos

pases cujas populaes apresentam ndices elevados destas carncias

correspondem tambm a reas com solos pobres nos mesmos micronutrientes

(WHITE, ZASOSKI, 1999; WECH, 2002; RIOS et al., 2009). O enriquecimento dos

gros como o caso do feijo-caupi com micronutrientes ferro e zinco, alm de

permitir a diminuio dos ndices de deficincias em humanos, pode aperfeioar o

desempenho dos gentipos biofortificados em solos com deficincia desses minerais

(WHITE, ZASOSKI, 1999; WECH, 2002).

Quanto a Suplementao profiltica do ferro, Olivares (2004) afirmou que

um mtodo til que deve ser indicado quando a populao de risco no tiver acesso

a alimentos fortificados ou biofortificados, ou ainda, quando houverem requerimentos

nutricionais muito elevados, sendo neste caso recomendvel a utilizao por curto

perodo de tempo. Portanto, a interveno nutricional com alimentos

fortificados/enriquecidos a melhor forma de preveno e/ou controle da anemia

ferropriva.

2.5 Biofortificao do Feijocaupi com Ferro

Vrias estratgias podem ser utilizadas para diminuir, prevenir e tratar a

anemia, surgindo assim um novo enfoque, o da biofortificao dos alimentos que

promovida a partir da identificao de gentipos com elevados teores de ferro, zinco,

protenas, entre outros elementos, nos quais so avaliados o desempenho em

cruzamentos, e consequentemente, a capacidade da transmisso das

caractersticas superiores, isto , gentipos que possuem uma elevada capacidade

em extrair quantidade de minerais em nveis suficientes e adequados as

necessidades humanas (CAKMAK, 2008).

Neste sentido, entre os anos de 2006 a 2009, foram avaliados 84 gentipos

elites de feijo-caupi, que resultaram na seleo de quatro gentipos com teores de

ferro e zinco acima de 60ppm e 50ppm, respectivamente. Dos quatro gentipos

obtidos 3 foram melhoradas (BRS-Xiquexique, BRS-Tumucumaque, BRS-Arac)

com alta produtividade de gros, boa qualidade fsica, tolerncia seca, resistncia

a vrus e ricas em ferro e zinco; o ltimo gentipo corresponde a um cultivar local

(Pretinho) com boa adaptao e rica em zinco (EMBRAPA, 2008; EMBRAPA, 2009).

As razes desses gentipos so mais eficientes tanto em absorver os

micronutrientes do solo como tambm mais efetivas em termos de penetrao no

perfil do solo em que foi cultivada, tornando-as mais tolerantes s doenas na fase

inicial de crescimento e mais econmicas na utilizao de fertilizantes, gua e

defensivos agrcolas, sendo, assim de extrema importncia para o meio ambiente

(BOUIS, 2000; WECH, 2002).

A biofortificao vista por pesquisadores da rea como uma alternativa

para complementar os programas de interveno nutricional existentes, atacando a

raiz do problema da desnutrio e deficincias de micronutrientes, tendo como alvo

a populao mais carente, devendo ser vivel e efetiva cientificamente em termos

custos e em suma o primeiro passo essencial possibilitando que famlias mais

necessitadas melhorem de maneira sustentvel, sua nutrio e sade (RIOS et al.,

2009; MOURA et al., 2011; NUTTI, 2011).

2.6 Biscoito Elaborado a Base de Farinha de Feijo-caupi da Cultivar

Xiquexique

Aprimorar a qualidade de nutrientes dos produtos presentes no hbito de

consumo da populao uma estratgia essencial para atender os interesses dos

consumidores por produtos com melhor valor nutritivo e/ou benficos sade

(FROTA, et al., 2010).

O desenvolvimento de alimentos enriquecidos, necessrio no s para a

indstria de alimentos, como tambm para elevar a qualidade da alimentao e

nutrio da populao, podendo favorecer o desenvolvimento de alimentos

enriquecidos, que podem favorecer a criao de novos produtos ou melhorar os j

existentes com composies balanceadas em relao a alguns nutrientes,

proporcionando um maior valor nutritivo a diversos alimentos disponveis no

mercado (CARDOSO-SANTIAGO, et al., 2001; MOREIRA-ARAJO, et al., 2002;

MOREIRA-ARAJO; ARAJO; ARAS, 2008).

Como os produtos de panificao e confeitaria so de grande valia na lista

de compras dos brasileiros, ocupando a terceira colocao e representando, em

mdia, 12% do oramento familiar voltados a alimentao (ABIP,2008), a pesquisa

realizada por Frota et al. (2010), props enriquecer produtos (biscoito e rocambole),

utilizando diferentes porcentagens (10, 20 e 30%) da farinha do feijo-caupi (cultivar

Tracuateua-235) em suas formulaes em substituio da farinha de trigo. Foi

observado um aumento no contedo proteico da formulao contendo 30% e na

quantidade de cinzas que representa o resduo mineral fixo, dos biscoitos de 20 e

30%.

Quanto ao teor de minerais (fsforo, ferro, potssio, magnsio e zinco),

aumentaram significativamente com a adio da farinha de feijo-caupi,

principalmente em relao a ferro e zinco, que obteve uma elevao em 2,4 vezes a

quantidade de ferro e em quase 3 vezes a do zinco, quando comparado ao biscoito

padro (FROTA, et al., 2010).

Os resultados obtidos por Moreira-Arajo (2000), Moreira-Arajo et

al.,(2002), Moreira-Arajo; Arajo; Aras (2008) e Frota et al. (2010), mostram o

quanto vivel o enriquecimento de formulaes tradicionais, para melhorar o valor

nutritivo dos produtos alimentcios, principalmente minerais, no intuito de beneficiar

grupos de risco, em especial crianas, que so as mais prejudicadas pela deficincia

de micronutrientes, principalmente ferro, est ligada a alta prevalncia de anemia e

que sua magnitude compreende diversos efeitos deletrios ao organismo humano.

Neste sentido, a biofortificao e o desenvolvimento de produtos com

alimentos de baixo custo e elevado valor nutritivo corresponde a uma excelente

opo para complementar os programas de interveno nutricional existentes,

atacando a raiz do problema da desnutrio e deficincias de micronutrientes como

exemplo o ferro (WHITE; ZASOSKI, 1999; WECH, 2002; RIOS et al., 2009). E a

utilizao do feijo-caupi e suas diversas cultivares, em especial a BRS-Xiquexique,

uma cultivar modificada, com gro de cor branca; contendo ainda elevado teor de

protenas (24%), de ferro (61.3mg.Kg-1) e zinco (44.7mg.Kg-1), torna-se uma

extraordinria opo (EMBRAPA, 2009; EMBRAPA, 2010), sendo pertinente a sua

utilizao na formulao de produtos alimentcios, e aplicao em intervenes

nutricionais para preveno/controle da carncia de nutrientes. Assim a presente

pesquisa, tomando como base a afirmativa anterior, se props a avaliar o impacto da

ingesto de biscoito enriquecido de farinha de feijo-caupi (Vigna unguiculata (L.)

Walp) variedade BRS-Xiquexique, biofortificado com ferro e zinco, por pr-escolares

para controle da anemia ferropriva.

3 OBJETIVOS

3.1 Geral

Avaliar o impacto da ingesto de biscoito enriquecido com farinha de feijo-

caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp) cultivar BRS-Xiquexique, biofortificado

com ferro e zinco, por pr-escolares para controle da anemia ferropriva.

3.2 Especficos

Analisar a composio centesimal e os teores de minerais, da farinha do

feijo-caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp) variedade BRS-Xiquexique e do

biscoito.

Verificar o estado nutricional das crianas, por meio de antropometria, antes

e aps a utilizao do biscoito.

Determinar a concentrao de hemoglobina dos pr-escolares antes e aps a

interveno com o biscoito.

Determinar a aceitao do biscoito por parte dos pr-escolares.

Obter a composio qumica ou porcentagem de adequao dos nutrientes

oferecidos na dieta pelas creches e a contribuio do biscoito para o aporte

de ferro na dieta.

4 METODOLOGIA

4.1 Campo de Estudo e Perodo

O estudo foi realizado em dois Centros Municipais de Ensino Infantil

(CMEIs) da cidade de Teresina- PI, no perodo de agosto de 2012 a dezembro de

2012, correspondente ao perodo frequentado pelas crianas.

Os CMEIs ou creches, onde foi desenvolvido o trabalho, so mantidas pela

Prefeitura, atravs da Secretaria Municipal de Educao. As creches tm o mesmo

padro alimentar, pertencem mesma zona e localizadas no mesmo bairro,

garantindo que as crianas tenham condies socioeconmicas e culturais similares.

4.2 Amostra

Inicialmente foi solicitada a SEMEC uma listagem com todas as CMEIs sob

responsabilidade da Prefeitura Municipal de Teresina. Essas instituies totalizavam,

poca do estudo, 151 creches, sendo 27 na zona sudeste, 37 creches na zona

leste, 47 creches na zona sul e 40 creches na zona norte.

De posse da listagem, foi realizado um sorteio para definir quais os CMEIs

participariam da pesquisa. Em visitas prvias s creches sorteadas, foram obtidas

junto as Diretoras a listagem das crianas matriculadas por perodo.

Na mesma ocasio, tambm foi explicado o objetivo do estudo, e solicitado

as Diretoras das creches que convocassem os pais ou responsveis para uma

reunio em dia e hora previamente definidos, onde os mesmos seriam esclarecidos

acerca dos objetivos e importncia da pesquisa, como seria realizada a coleta de

dados antropomtricos e bioqumicos, alm da interveno com os biscoitos a base

de farinha de feijo-caupi biofortificada com ferro e zinco e do biscoito a base de

farinha de trigo, e ainda neste primeiro contato com os pais, seria realizado a coleta

dos dados socioeconmicos, questionrio de frequncia de Consumo Alimentar

(QFCA) (Figuras, 08 e 09 Apndice 02). Em ambas as creches, na reunio com os

pais, foi solicitado aos mesmos que assinassem o Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE) (Figura 10 Apndice 02).

A amostra analisada nesta pesquisa, delineada como estudo experimental

aleatorizado, do tipo antes e depois, foi constituda por 262 crianas pr-escolares

do total 23.400 crianas menores matriculadas nos CMEIs da rede pblica de

ensino de Teresina, considerando uma prevalncia de 30% de anemia na faixa

etria de 2 a 5 anos (MOREIRA-ARAJO, et al., 2009) utilizando ainda um erro

aceitvel de 5%, com nvel de confiana de 95%.

Todas as crianas frequentadoras das creches foram includas no estudo,

com exceo daquelas que apresentaram alguma patologia como doenas de m

absoro, processos inflamatrios e hemorragias, que pudesse influenciar nos

resultados ou quando no foi obtido o consentimento dos pais ou responsvel.

4.3 Descrio dos Centros Municipais de Ensino Infantil CMEIs

Os CMEIs encontram-se distribudos dentro das quatro zonas de Teresina,

sendo 27 na zona sudeste, 37 creches na zona leste, 47 creches na zona sul e 40

creches na zona norte. Para seleo dos CMEIs participantes da pesquisa

primeiramente foi sorteada a zona a ser estudada (zona sudeste), procedeu-se

ento o sorteio entre as creches da referida zona sorteada, (duas creches), e para

cada creche sorteada foi realizado o convite de participao para todos os pais e/ou

responsveis pelas crianas. Os CMEIs sorteados esto localizadas

geograficamente na zona sudeste da cidade de Teresina-PI. Assistem crianas da

faixa etria de 2 a 5 anos de idade, de ambos os sexos, moradoras em torno do

bairro onde esto situadas. Alm disso, as crianas encontram-se organizadas

segundo a idade em perodos (Maternal, Perodo I e II): at 3 anos ficam no

Maternal, 4 anos no Perodo I e 5 anos no Perodo II.

Na ocasio do estudo, as creches receberiam diariamente de 205 a 318

crianas, e serviam duas refeies durante o horrio de funcionamento e

permanncia da criana na instituio oferecendo, na entrada uma fruta no incio do

expediente (manh ou tarde) e um lanche. O bairro onde se situam os CMEIs

tinham servios de sade, contando com atendimento mdico, psicolgico, e

odontolgico.

4.4 Variveis Estudadas

As variveis estudadas de acordo com o importncia do descrito nos objetivos

foram:

4.4.1 Variveis Independentes

4.4.1.1 Indicadores socioeconmicos

Para caracterizao do nvel socioeconmico foram coletados dados como a

escolaridade dos pais, idade, ocupao, renda familiar, condies de saneamento

bsico, tipo de moradia, controle de parasitoses, por meio de questionrio

estruturado (Anexo 5), sendo estes aplicado por pessoas, previamente treinadas

(Figura 10 apndice 02).

4.4.1.2 Anlise da dieta consumida pelos pr-escolares nas creches

Com a finalidade de conhecer a composio de nutrientes das dietas

oferecidas pelas creches, a fim de se introduzir os biscoitos enriquecidos, sem

alterar a ingesto mdia de nutrientes, o consumo alimentar foi obtido por meio da

pesagem direta de alimentos consumidos pelas crianas durante uma semana nas

creches. Os alimentos servidos no prato da criana foram pesados em balana

digital, com capacidade para 3 kg, com preciso de 0,1g (Figura 14 Apndice 02).

Foram feitas trs pesagens de cada poro de alimento para se obter um valor

mdio da quantidade de alimento oferecido pela creche em cada refeio. Para

determina-se o resto alimentar individual, os alimentos deixados no prato por cada

criana aps a refeio foram pesados. Para determinao dos restos foram

coletados em sacos plsticos identificados para cada criana, sendo pesados sem

separao dos alimentos e a quantidade de alimentos ingeridos foi considerada a

quantidade ofertada menos o resto.

Para anlise do cardpio foi utilizada a Tabela Brasileira de Composio de

Alimentos TACO (2011). Os nutrientes analisados foram protenas, lipdios,

carboidratos, ferro, clcio, vitamina A e C (Anexo 7).

4.4.1.3 Analise da dieta consumida pelos pr-escolares no domicilio

Para determinao qualitativa da ingesto de alimentos fontes de ferro e outros

nutrientes, como o clcio, vitaminas A e C das crianas no domicilio, foi aplicado, um

Questionrio de Frequencia de Consumo Alimentar (QFCA), com os pais ou

responsveis pelos alunos que compunham a amostra (Anexo 9).

A frequncia de consumo dos alimentos foi designada como: nunca, raramente,

diariamente (quando o alimento era consumido at 5 vezes por semana),

semanalmente (quando o alimento era consumido de 2 a 4 vezes por semana), e

mensalmente (quando o consumo era de 1 vez por semana).

4.4.2 Variveis Dependentes

4.4.2.1 Dados antropomtricos

As variveis antropomtricas utilizadas foram peso, altura e sendo aferidas

seguindo-se o procedimento tcnico do SISVAN, por meio de balana digital ultra

slim Wiso W910 com capacidade de at 150kg com graduao em 100g, e

antropmetro, vertical e fixo, graduado em centmetros e anotados em uma ficha

especfica de cada criana (Anexo 6) (Figura 13 Apndice 02).

A altura foi obtida com as crianas em posio ereta e, com os ps

descalos, unidos e em paralelo estando sempre vestida com o uniforme da creche,

sem objetos nas mos ou nos bolsos. A pesagem foi feita sempre pela mesma

pessoa e na mesma balana (Figura 12 Apndice 02).

A coleta de dados antropomtricos, foi feita pela pesquisadora, que

informava o valor verificado para um dos colaboradores da pesquisa, encarregado

da anotao. Os dados de peso e altura foram convertidos em ndices

antropomtricos de idade e IMC para idade em z-escore pelas curvas de

crescimento da Organizao Mundial da Sade (OMS) (2007).

Foi utilizado o indicador IMC-para-idade para classificao do Estado

Nutricional, segundo a OMS (2007) para crianas menores de 5 anos de idade,

considerando magreza acentuada aquelas com ndices inferiores a percentil 0,1 ou -

3 escores-z, eutrofia aquelas com ndices superiores a percentil 3 e menor que o

percentil 85 ou maior igual a -2 escores-z e menor ou igual +1 escores-z, pontos de

corte acima do referenciado para eutrofia j se considera a presena de risco de

excesso de peso ou mesmo obesidade (Quadro 01).

Quadro 01: Pontos de corte de IMC-para-idade para crianas menores de 5 anos.

Teresina-PI, 2013.

VALORES CRITICOS DIAGNSTICO NUTRICIONAL

< Percentil 0,1 < Escore -3 Magreza Acentuada

Percentil 0,1 e <

Percentil 3

Escore-z -3 e

Escore-z -2

Magreza

> Percentil 3 e

Percentil 85

Escore-z -2 e

Escore-z +1

Eutrofia

> Percentil 85 e

Percentil 97

> Escore-z +1 e

Escore-z +2

Risco de Excesso de peso

> Percentil 97 e

Percentil 99,9

> Escore-z +2 e

Escore-z +3

Excesso de peso

> Percentil 99,9 > Escore-z +3 Obesidade

Fonte: Brasil. Ministrio da Sade. 2011.

4.4.2.2 Hemoglobina

A dosagem de hemoglobina foi realizada pelo mtodo da

cianometahemoglobina (HAINLAINE, 1958; MOREIRA-ARAJO, 2000). Por meio da

puno digital, foi colhida, em pipeta de sahli, uma amostra de 20l de sangue e a

leitura foi realizada em espectrofotmetro marca CELM, modelo E-210D, cuja

preciso varia de trs casas decimais (em absorbncia) (Figura 11 Apndice 02).

Foram consideradas anmicas as crianas que apresentarem concentraes de

hemoglobina

4.5 Processamento da Matria-prima (Farinha de Feijo-caupi da Cultivar BRS-

Xiquexique).

Para obteno da farinha de feijo-caupi os gros da cultiva BRS

Xiquexique, foram colocadas de molho em gua destilada 1:2 (p/v) por 1 hora e meia

(Figura 04 - Apndice 1), sendo posteriormente removidos seus tegumentos (Figura

05 Apndice 1), seguida de secagem em estufa ventilada a 60C, por

aproximadamente 3 horas (Figura 06- Apndice 1), e realizada moagem em moinho

semi-industrial (Figura 07 Apndice 1) no Laboratrio de Bromatologia e

Bioqumica de Alimentos do Departamento de Nutrio (LABROM) da Universidade

Federal do Piau (UFPI). A farinha foi armazenada em sacos de polietileno sob

refrigerao at o momento de ser utilizada na produo dos biscoitos.

4.6 Obteno dos biscoitos enriquecido com farinha de feijo-caupi (cultivar

BRS- Xiquexique) e farinha de trigo.

Os biscoitos enriquecido com farinha de trigo (grupo interveno 01) e os

adicionados de feijo-caupi (grupo interveno 02) foram produzidos no Laboratrio

de Desenvolvimento de Produtos e Anlise Sensorial de Alimentos (LASA) da UFPI

e para obteno dos mesmos, foi utilizada como base uma receita padro adaptada

(FROTA et al, 2004) de biscoito em que foi substitudo parte da farinha de trigo

(30%) por farinha de feijo-caupi rico em ferro que foi testada sensorialmente em

estudo similar com feijo-caupi realizado por Moreira-Arajo, et al., (2009). E para

produo dos biscoitos a base de farinha de trigo (grupo interveno 01) foi utilizada

a mesma receita.

Os ingredientes do biscoito foram misturados at garantir homogeneizao

da massa (Figura 15 Apndice 3). Para a formao dos biscoitos, esferas de

aproximadamente 8g foram enroladas manualmente (Figura 16 Apndice 3). Os

biscoitos crus foram distribudos em tabuleiros e assados em forno domstico

(Figura 17 Apndice 3), temperatura aproximada de 220C, por 20 minutos.

Aps assados, os biscoitos foram deixados em ambientes aberto para esfriar e,

ento, foram armazenados em sacos plsticos de polietileno, sem estampagem,

com capacidade para 30g do biscoito, sendo ento realizada a identificao dos

alunos em cada pacote (escola, turno, perodo, turma, nome do aluno e nmero)

tanto para o grupo interveno como para o grupo controle (Figura 18 Apndice 3).

4.7 Composio Centesimal da Farinha e do Biscoito a Base de Feijo-caupi

Biofortificado da Cultivar BRS-Xiquexique.

A farinha e a formulao do biscoito foram analisadas com relao

composio centesimal. Foram determinados os teores de umidade, cinzas,

protenas, lipdios e carboidratos no Laboratrio de Bromatologia e bioqumica de

Alimentos (LABROMBIOQ) da Universidade Federal do Piau.

4.7.1. Umidade

A umidade foi determinada por gravimetria por secagem em estufa (Modelo

314D242) a 105C por 24 horas (ASSOCIATION OF OFFICIAL ANALYTICAL

CHEMISTS - AOAC, 2011).

4.7.2. Cinzas

O teor de cinzas foi determinado aps calcinao das amostras em mufla

(Modelo Q-318M21) a 550C por 24 horas (AOAC, 2011).

4.7.3. Protenas

A concentrao de protenas foi determinada pelo mtodo de macro

Kjeldahl, com fator de converso de 6,25 (AOAC, 2011).

4.7.4. Lipdios

O teor de lipdios foi determinado por extrao com hexano em aparelho de

extrao intermitente de Soxhlet (Modelo TE-044) (AOAC, 2011).

4.7.5. Carboidratos

O teor de carboidratos foi calculado por diferena dos demais constituinte

(AOAC, 2011)

4.7.6 Valor Energtico Total (VET)

O valor calrico foi estimado utilizando-se os fatores de converso de

ATWATER: 4 kcal.g1 para protenas, 4 kcal.g1 para carboidratos e 9 kcal.g1 para

lipdios (WATT; MERRILL, 1963).

4.8 Concentraes de Minerais na Farinha e no Biscoito a Base de Feijo-caupi

Biofortificado da Cultivar BRS-Xiquexique

Amostras da farinha e do biscoito base de farinha de feijo-caupi pronto e

embalado foram enviados para o Centro de Qumica de Alimentos e Nutrio

Aplicada do Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL), Campinas SP, para

anlise do contedo de clcio, fsforo, ferro, potssio, zinco, selnio, sdio e

magnsio, pela Tcnica de Espectrometria de Emisso com Fonte de Plasma

Indutivamente Acoplado (ICP OES), segundo a metodologia de Horwitz (2000).

4.9 Delineamento do Estudo

O delineamento experimental aleatorizado, foi realizado da seguinte forma:

um grupo de crianas recebeu alm da dieta escolar o biscoito a base de farinha de

trigo mais a dieta normal da creche (grupo interveno 01) e o outro grupo recebeu o

biscoito a base de farinha de feijo-caupi da cultivar BRS-Xiquexique biofortificada

em ferro + farinha de trigo, mais a dieta normal da creche (grupo interveno 02). O

estudo foi feito como se segue:

As crianas foram distribudas em dois grupos:

Grupo interveno 01 (G1): Dieta habitual da creche + biscoito a base

de farinha de trigo (BFT).

Grupo interveno 02 (G2): Dieta habitual da creche + biscoito a base

farinha feijo-caupi biofortificado e farinha de Trigo (BFFCb + FT);

Durante o estudo as crianas do grupo 02 consumiram alm da dieta

normal da creche, o biscoito base de farinha de feijo da variedade BRS-

Xiquexique biofortificada em ferro (BFFCb) + farinha de trigo (FT), durante dois

meses (60 dias), trs vezes por semana, um pacote com 30g de biscoito, o que

garantiu o fornecimento de 4,0 mg de ferro (Fe) por dia ao grupo 02 e o grupo 01

consumiu alm da dieta normal da creche, o biscoito base de farinha trigo (BFT).

Todos os procedimento de interveno foram monitorados pela

pesquisadora com a colaborao de alunos graduandos do curso de Nutrio da

Universidade Federal do Piau e profissionais participantes da pesquisa, onde no

houveram interferncias na alimentao oferecida diariamente na creche.

A ingesto do pacote de biscoito foi acompanhada por ficha de controle

da ingesto do biscoito pelas crianas (Anexo 8), na qual havia discriminada a

turma, nome do aluno, turno, escola, quantidade oferecida do biscoito, sobra e

quantidade ingerida. As anotaes das quantidades consumidas e no consumidas

eram feitas em gramas aps pesagem em balana porttil modelo ohaus pa214cp

para alimentos.

O pessoal participante da pesquisa, responsvel por cada turma,

distribua o pacote de biscoito para cada criana, marcava os faltosos (caso

houvesse), observava a ingesto e anotava as crianas que consumiam todo o

pacote, recolhia os pacotes das crianas que no consumiam todo, voltando a

oferecer aps o lanche.

Se houvesse alguma criana que no ingerisse todo o pacote, mesmo no

segundo momento, esse pacote era pesado com a finalidade de se determinar o

quanto realmente a criana ingeriu de biscoito por dia. Todos os pacotes de biscoito

eram identificados com o nome da criana, diariamente para no haver risco de

troca de pacotes pela mesma ou pelos participantes da pesquisa na hora da

distribuio dos biscoitos.

4.10 Critrios de Incluso e Excluso

Foram includas na pesquisa todas as crianas que frequentavam os CMEIs

alvo do estudo, no perodo em que foi realizada a pesquisa, elegendo-se como

critrios de excluso, aquelas crianas anmicas em estado grave, e as mesmas

foram encaminhadas para tratamento nos postos de sade do bairro; crianas cujos

pais no autorizaram a participao na pesquisa; crianas que estavam em

tratamento de parasitoses ou que tinham alguma patologia que possa interferir nos

resultados. Alm disso, crianas que tinham alguma restrio fsica ou motora ou

que mesmo dificuldade para realizar coleta de dados antropomtricos.

Aps o fornecimento das informaes detalhadas sobre a pesquisa, e

explicao acerca dos procedimentos a que as crianas participantes seriam

submetidas, os pais ou responsveis foram convidados a assinar o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 2) e assinaram o Consentimento da

Participao da Pessoa como Sujeito (Anexo 3). Posteriormente, coleta das

amostras e obteno dos resultados, foram realizadas reunies com os pais e/ou

responsveis para divulgao e orientao acerca dos resultados do primeiro e

segundo momento do estudo, sendo as crianas diagnosticadas com anemia grave

encaminhadas aos postos de sade existentes no bairro para devido tratamento.

4.11. Critrios ticos do Estudo

O protocolo do estudo foi apreciado e aprovado pelo Comit de tica da

UFPI (Anexo 01), de acordo com as normas propostas pelo Ministrio da Sade e do

Conselho Nacional de Sade, para pesquisas envolvendo seres humanos (BRASIL,

2012). A privacidade e a confiabilidade dos dados e o anonimato das crianas

envolvidas neste estudo foram garantidas. O uso e a destinao dos dados e do

material coletado so de exclusividade desta pesquisa. E a realizao do referido

estudo foi autorizada pela Secretaria Municipal de Educao, com assinatura do

Termo de Consentimento Institucional (Anexo 2) e Consentimento da Participao

da Pessoa como Sujeito (Anexo 3).

4.12 Anlise Estatstica

Para anlise estatstica, foi criado um banco de dados no Programa Statistical

Package for the Social Sciences, version 13,0. Os resultados foram apresentados

atravs de tabelas e figuras. Utilizou-se o Bartletts test para verificar

homogeneidade da populao. Afim, de verificar a associao foi o utilizado o teste

do Qui quadrado (2), para variveis nominais e o teste t de Student para

comparao de mdias antes e depois da interveno para comparao de variveis

numricas continuas. Aplicou-se o teste de correlao (r2) de Pearson para verificar

a existncia de correlao entre consumo alimentar e hemoglobina, consumo

alimentar e IMC-para-Idade. Foi considerada para significncia estatstica o erro alfa

menor de 0,05 (5%) para todos os testes (ANDRADE, 2010).

5. RESULTADOS

5.1 Caracterizao da Populao Estudada

Para verificar se a populao tinha uma distribuio normal foi utilizado o teste

de Bartlett`s (p = 0426) que mostrou normalidade no universo de 262 crianas

pesquisadas com 95% de confiana.

O tempo que as crianas frequentavam os CMEIs foi em mdia de 1 ano e 8

meses.

5.1.1 Peso ao nascer

Com relao ao peso ao nascer, observou-se que no houve diferena

estatisticamente significativa entre o peso mdio de meninas e dos meninos (Tabela

02).

Tabela 02: Peso ao nascer segundo o sexo da criana. Teresina-PI, 2013

Sexo

Peso ao nascer (Kg) No Mdia Desvio Padro

Masculino 131 3,211 3,6 Feminino 131 3,138 3,1 GERAL 262 3,175 3,3

Fonte: Dados da pesquisa t = 1,263 p = 0,207

5.1.2 Distribuio do sexo por mdia de idade em meses.

A mdia de idade no sexo masculino de 60,7 meses, enquanto no feminino a

mdia foi de 57,2 meses, respectivamente. Observou-se diferena significativa (p=

0,010) entre a mdia de idade mdia em relao ao sexo (Tabela 03).

Tabela 03: Idade em meses segundo o sexo. Teresina PI, 2013

Sexo

Idade em meses No Mdia Desvio Padro

Masculino 131 60,7 1,1 Feminino 131 57,2 1,0

Geral 262 59,0 1,3 Fonte: Dados da pesquisa t = 2,589 p = 0,010

5.1.3 Variveis estudadas

5.1.3.1 Variveis relativas famlia.

Na Tabela 04, descrevem-se as variveis relativas famlia. Observou-se as

famlias eram compostas, em mdia, por 4 pessoas. Enquanto que a escolaridade

da me apresentou uma mdia de anos de estudo de 9,7 anos e a do pai 9,2 anos

de estudo.

Tambm observou-se que a maior frequncia da escolaridade da me e do pai

foi no ensino fundamental. Quanto a renda mensal da famlia, verificou-se que mais

da metade (71%) estavam, na vigncia do estudo, recebendo entre 1 e menos que 2

salrios mnimos (SM) e que cerca de 18,7 % recebiam valores inferiores a 1 SM.

Tabela 04: Frequncia das variveis relativas famlia. Teresina- PI, 2013

Variveis No % Mdia de pessoas na famlia

4,0 0,0 262 100,0 Escolaridade da me Sem escolaridade - - Ensino fundamental 130 49,6 Ensino mdio 112 42,7 Superior 20 7,7

Mdia de anos de estudo: 9,7 0,3 Escolaridade do pai Sem escolaridade - - Ensino fundamental 125 47,7 Ensino mdio 121 46,2 Superior 16 6,1 Mdia de anos de estudo: 9,2 0,3 Renda familiar mensal

< 1 49 18,7 1 -

Observou-se que 96,9% das casas estavam ligadas a rede pblica e que a

coleta do lixo era em 100% feita pela prefeitura. 50,8% das vias eram asfaltadas e

49,2% no tinham asfalto.

Tabela 05: Frequencia das variveis relativas moradia. Teresina-PI, 2013

Variveis No % Mdia de cmodos na moradia

6,0 262 Tipo de moradia Alvenaria/Tijolo 262 100,0 Luz eltrica na moradia 262 100,0 Fonte de gua

Rede pblica 262 100,0 Esgotamento sanitrio

Rede pblica 254 96,9 Fossa Sptica 08 3,1

Coleta de lixo Prefeitura 262 100,0

Via Pblica Asfaltada 133 50,8

No asfaltada 129 49,2 Fonte: Dados da Pesquisa.

5.1.3.3 Variveis relativa ao Estado de Sade da criana.

Na Tabela 06, encontram-se os dados referentes s variveis relativas

criana.

Os dados mostraram que a varivel Tipo de patologia existente apresentou

uma porcentagem relativamente baixa 37,0%, o mesmo acontecendo no tocante ao

uso de medicamento(s) que teve uma frequncia de 17,2% do total de 262 crianas

pesquisadas.

Tabela 06: Frequncias relativas ao Estado de Sade da criana. Teresina-PI, 2013

Variveis No % Patologia existente nos ltimos 15 dias da pesquisa

Sim(*) 97 37,0 No 165 63,0

Apresentou quadro de: Diarreia 12 12,4 Tosse 38 39,2 Febre 47 48,5

Controle de Parasitose Sim 28 10,7 No 234 89,3

Uso de Medicamento ou Vitamina Sim(**) 45 17,2 No 217 82,8

FONTE: Dados da Pesquisa (*) Apndice: patologias existentes. (**) Apndice: relao de medicamentos

5.2 Delineamento Experimental

As crianas foram divididas em dois grupos: um grupo interveno 01 (G1),

com 115 crianas (43,9%), que ingeriu o biscoito com farinha de trigo (BFT) e o

outro grupo Interveno 02 (G2), composto 147 crianas (56,1%), que ingeriu o

biscoito enriquecido com farinha de feijo-caupi biofortificado + Farinha de trigo

(BFFCb + FT). Essa seleo foi do tipo aleatrio.

5.3 Estado Nutricional.

5.3.1 Variveis Antropomtricas.

Tabela 07: Peso, altura e hemoglobina das crianas, antes e depois do estudo.

Teresina-PI, 2013.

Grupos/ Variveis

Momentos do estudo

Antes Depois

G1- Biscoito FT Estatura (cm)

Masculino 110,0 0,3 110,5 0,5

Feminino 108,3 0,1 109,3 0,2

Mdia 109,3 0,6 109,4 0,1 Peso (cm)

Masculino 19,4 0,1 19,9 0,1

Feminino 18,2 0,1 18,5 0,1

Mdia 18,8 0,2 19,3 0,3

Hemoglobina

Masculino 12,5 0,1 12,6 0,2

Feminino 12,6 0,2 12,8 0,2

Mdia 12,6 0,1 12,7 0,2

G2 Biscoito FFCb+FT Altura (cm)

Masculino 107,7 0,1 110,5 0,2

Feminino 105,4 0,1 109,1 0,1

Mdia 107,3 0,1 109,9 0,1 Peso (cm)

Masculino 18,5 0,2 19,2 0,2

Feminino 17,0 0,1 17,5 0,2

Mdia 17,6 0,3 18,3 0,2

Hemoglobina

Masculino 12,4 0,2 14,9 0,2b

Feminino 12,4 0,2 14,8 0,1b

Mdia 12,4 0,1 14,7 0,2b Letras iguais entre as colunas no apresenta diferena significativa entre as mdias antes e depois ao nvel de p < =0,05. Teste t Student

Com referncia aos resultados das variveis: peso, altura, sexo e

hemoglobina das crianas do grupo G1 e G2 antes e depois da interveno com

biscoito, os dados mostraram que as mdias estavam muito prximas quando

comparadas os momentos antes e depois, com exceo apenas para hemoglobina

no G2 que apresentou diferena estatisticamente significativa entre os dois momento

(antes e depois) (Tabela 07). Nas Tabelas 08 e 09, encontram-se os resultados do

IMC-para-Idade, antes e depois das crianas participantes da pesquisa.

Tabela 08: Estado nutricional das crianas participantes da pesquisa antes da

interveno, segundo IMC-para-Idade.Teresina-PI, 2013

Valores crticos

Antes da Interveno Diagnstico Nutricional Frequencia

No % < Escore-z -3 Magreza acentuada - - > Escore-z -3 e Escore-z -2 e Escore-z +1 e Escore-z +2 e Escore-z +3 Obesidade - - Total 262 100,0

Fonte: Dados da Pesquisa.

Tabela 09: Estado nutricional das crianas participantes da pesquisa depois da

interveno, segundo IMC-para-Idade. Teresina-PI, 2013

Valores crticos

Depois da Interveno Diagnstico Nutricional Frequencia

No % < Escore-z -3 Magreza acentuada - - > Escore-z -3 e Escore-z -2 e Escore-z +1 e Escore-z +2 e Escore-z +3 Obesidade - - Total 262 100,0

Fonte: Dados da Pesquisa.

Na avaliao geral da presena ou no de anemia nas crianas pesquisada,

antes e aps a interveno, foi observado um diferena estatisticamente significativa

(p = 0,002), aps a interveno (Tabela 10).

Tabela 10: Crianas anmicas e no anmicas, antes e depois da interveno.

Teresina-PI, 2013

Interveno

Crianas Anmicas No anmicas

No % No %

(Biscoito FT**) Antes 12 10,4 103 89,6 Depois 09 7,8 106 92,2 Estatstica 2 = 1,15 p = 0,284 (Biscoito FFCb + FT*) Antes 18 12,2 129 87,8 Depois 02 1,4 145 98,6 Estatstica 2 = 23,38 p = < 0,001 TOTAL BFT + BFFCb +FT Antes 30 11,5 232 88,5 Depois 11 4,2 251 95,8 Estatstica 2 = 9,5 p = 0,002

Fonte: Dados da Pesquisa. * FFCb + FT: Farinha de Feijo Caupi biofortificado + Farinha de Trigo; **FT: Farinha de Trigo.

Figura 01: Estado nutricional segundo IMC-para-Idade das crianas dos grupos 01 e 02. Teresina-PI, 2013.

Entre os grupos de crianas que receberam BFFCb e o grupo que recebeu o

BFT, o resultado do estado nutricional foi semelhante aos apresentados no Figura

01, no mostrando diferena estatisticamente significativa (p = 0,329), antes e

depois a interveno.

5.4 Composio Centesimal do Biscoito e da Farinha de Feijo-caupi

Na Tabela 11, est demonstrada a composio centesimal do biscoito de FFCb

+ FT e do Biscoito de FT. Destacou-se o contedo de cinzas (2,65%), de lipdios

(5,64 %) protenas (17,15%) e carboidratos (62,93%) no BFFCb+FT em relao ao

BFT com 12,14% de lipdios, 9,26% de protenas e 68,50% de carboidratos.

Tabela 11: Composio centesimal dos biscoitos de feijo-caupi biofortificado

(BFFCb + BF) e Farinha de trigo (BFT). Teresina-PI, 2013.

Nutrientes % BFFCb+ FT BFT* Mdia DP Mdia DP

Umidade 11,28 0,73 7,62 0,28 Cinzas 2,65 0,01 2,48 0,15 Protenas 17,15 1,19 9,26 0,40 Lipdios 5,64 0,14 12,14 1,25 Carboidratos 62,93 2,13 68,50 2,09

Fonte: Dados da Pesquisa.

* Dados de FROTA, et al., 2010.

Os resultados mostraram que a farinha fortificada apresentou quantidade maior

de minerais do que o biscoito entre todos os minerais estudados. O teste t de

Student mostrou diferena estatisticamente significativa entre as mdias nas

colunas. Tabela 12.

Tabela 12: Contedo de minerais no biscoito de FT, na farinha e no biscoito base

de FFCb cultivar Xiquexique. Teresina PI, 2013.

Minerais (mg/100g-1)

Biscoito (FT)*

Biscoito (FFCb +FT)

Farinha (FT)*** Farinha (FFCb)

Clcio -** 27,0 3,0a 18,0

36,4 1,0b

Ferro 0,6 4,0 0,3 1,0 4, 0,0b Fsforo 316,3 210,0 16,0a 115,0 389,9 12,3b Magnsio 16,2 69,0 5,0a 31,0 149,0 6,0b Potssio 141,9 486,0 28,0a 151,0 1107,0 69,0b Selnio -** - - - Sdio -** 207,0 11,0a 1,0 6,0 1,0b Zinco 0,42 1,7 0,2 0,8 3,4 0,1b Fonte: Dados da Pesquisa. Letras diferentes entre as colunas apresenta diferena significativa ao nvel de p < 0,001. * Dados de FROTA, et al., 2010 ** Dados no analisados por FROTA, et al., 2010 ***TACO: Tabela Brasileira de Composio de alimentos, 2011.

5.5 Nutrientes e Valor Energtico Total (VET).

Na Tabela 13, descrevem-se os resultados referentes a composio de

nutrientes e do VET no pacote de 30g de biscoito tanto base de farinha de feijo-

caupi biofortificado + Farinha de Trigo (BFFCb + FT) oferecido ao G 02, como do

biscoito base de farinha de trigo (BFT) oferecido ao G 01. Observou-se que a

formulao BFFCb +FT apresentou maior teor de protenas em gramas (5,1g) e em

quilocalorias (20,6Kcal) comparado ao biscoito base de FT com 2,8g e 11,11 Kcal,

entre os demais nutrientes e VET, o BFT superou em teor o BFFCb +FT.

Tabela 13: Nutrientes e VET do pacote (30g) de biscoito base farinha de feijo-

caupi biofortificado (BFFCb + FT) e do Biscoito base de farinha de Trigo (BFT).

Teresina PI, 2013

Formulaes Nutrientes

Protenas Lipidios Carboidratos VET

g Kcal g Kcal g Kcal Kcal Kjoule

BFT** 2,8 11,1 3,6 32,8 20,6 82,2 126,1 527,6

BFFCb + FT* 5,1 20,6 1,7 15,2 18,9 75,5 111,3 465,7

Fonte: Dados da Pesquisa*; ** Dados da pesquisa de Frota et al., 2010.

5.6 Consumo dos Biscoitos

No tocante ao consumo pelas crianas dos biscoitos fortificado e no

fortificado, verificou-se que houve uma boa aceitao do biscoito (BFFCb +FT,

independente do perodo que estavam cursando. No foi verificada diferena

estatisticamente significativa na aceitao ou consumo mdio dos biscoitos

oferecidos (Tabela 14).

Tabela 14: Consumo de biscoito FT e FFCb+FT pelas crianas que participaram da pesquisa. Teresina-PI, 2013.

Crianas

Consumo (%)

Biscoito FT Biscoito FFCb + FT

Todo Pacote Parte do pacote

Todo pacote Parte do pacote

Maternal 97,6 2,4 94,2 5,8 Perodo I 97,4 2,6 91,7 8,3 Perodo II 97,1 2,9 93,6 6,4

Mdia % 97,4 2,6 94,3 5,7 Fonte: Dados da Pesquisa

5.7 Hemoglobina.

Na Figura 02, descrevem-se os resultados antes e depois, dos grupos

interveno e placebo. Antes da interveno a populao de crianas que utilizou o

BFFCb + FT, observou-se que houve um incremento significativo da hemoglobina,

onde antes da interveno a hemoglobina apresentou o valor de 12,4g/dL e aps a

interveno a hemoglobina elevou para um valor de 14,7g/dL (p = 0,003).

Na populao que ingeriu o BFT no houve diferena estatisticamente

significativa (p = 0,07), antes e depois da interveno. (Figura 02).

Figura 02: Concentrao de hemoglobina antes e depois da interveno segundo os grupos de interveno. Teresina-PI, 2013

No tocante a populao que utilizou BFT, os dados no apresentaram

diferena estatisticamente significativa (p = 0,284) antes e depois a interveno

(Figura 02).

Com relao presena da anemia nas crianas que utilizaram o BFFCb + FT,

o resultado mostrou que antes da interveno 12,2% (n = 18) dos menores

apresentavam anemia e aps a utilizao do BFFCb + FT, a anemia obteve uma

reduo expressiva para 1,4% (n = 2), mostrando uma diferena estatisticamente

significativa (p = < 0,001) (Figura 3).

Na Figura 03, observa-se que antes da interveno havia 18 crianas anmicas

no G2, aps a interveno a quantidade de crianas anmicas baixou para 2 (duas)

crianas, apresentando uma reduo significativa (p = < 0,001), enquanto o G1 no

apresentou diferena estatisticamente significativa depois da interveno.

18

12

2

9

BFFCb+ FT BFTTipos de biscoitos

Antes

Figura 03: Nmero de crianas anmicas antes e depois da Interveno, segundo o tipo de biscoito consumido. Teresina-PI, 2013.

5.8 Sntese de Indicadores Estudados segundo os Grupos de Interveno Tabela 15: Indicadores segundo as crianas que consumiram os tipos de Biscoitos elaborados com a farinha de feijo caupi e farinha de trigo. Teresina-PI, 2013.

Indicadores

Crianas que consumiram os tipos de Biscoitos elaborados com:

FFCb + FT FT

Mdia de idade em anos 4,9 ** 4,8 ** % de sexo masculino 52,9 * 53,1 * % de sexo feminino 46,3 * 46,9 * Mdia anos de estudo materno 9,0a ** 9,1 ** % de doenas nas 2 ltimas semanas 1,6 * 1,5 * Mdia do percentil 52,0a ** 51,3 ** Mdia Hb antes 12,6 ** 12,4 ** Mdia Hb depois 14,7b ** 12,7 **

Fonte: Dados da Pesquisa.

Legenda: (*) qui-quadrado 2 (**) teste t de Student. Ambos os teste ao nvel de p < 0,05 (5%) de significncia.

Na Tabela 15 descreve-se, os resultados obtidos de indicadores estudados em

relao as crianas que consumiram os dois tipos de biscoitos (farinha de feijo

caupi e farinha de trigo), aplicou-se o teste do qui-quadrado (2) para verificar

diferena entre propores e o t de Student para verificar diferena entre mdias.

Observou-se apenas que a hemoglobina depois da interveno apresentou um

incremento significativo (p < 0,05), entre as mdias, das crianas que ingeriram o

biscoito com a farinha de feijo caupi (Hb = 14,7) e as crianas que consumiram o

biscoito com farinha de trigo (Hb =12,7).

5. 9 Dieta Oferecida nos Centros Municipais de Ensino Infantil (CMEIs)

A dieta oferecida nas duas creches do estudo constaram de uma refeio

diria (lanche manh ou lanche tarde), pois possuam dois turnos com diferentes

turmas. O cardpio de uma semana (Anexo 07), foi analisado em relao a calorias,

protenas, carboidratos, lipdeos, clcio, ferro, vitamina C e Vitamina A /Retinol

(Tabela 16), tambm foi verificada a adequao da dieta oferecida, segundo faixa

etria, em cada creche. Os resultados esto na Tabela 17.

Tabela 16: Contedo de nutrientes da dieta oferecida diariamente nos CMEIs.

Teresina-PI, 2013.

Cardpios/ Preparaes

Nutrientes*

KCal Kjoule Protenas (g)

Clcio (mg)