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Validação do Aplicativo Autismo Projeto Integrar no apoio às Atividades da Vida Diária de Pessoas com Transtorno do Espectro Autista Maico Krause 1 , Kenneth Anderson Cavalcante da Costa 2 , Leonardo Luna Barbosa³, Macilon Araújo Costa Neto 4 1 2 3 Especialização em Tecnologias da Informação e Comunicação 4 Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas Universidade Federal do Acre – Rio Branco – Acre – Brasil {maicokrause, kenneth.thunay, leoluna.czs}@gmail.com, [email protected] Abstract. The technology present in mobile devices has brought many facilities to the daily lives of people all over the world, including those with Autism Spectrum Disorder (ASD), being able to assist them in many different activities. The app Autismo Projeto Integrar was developed to be a tool to support the learning of the Activities of Daily Living (ADLs) of people with ASD, however, it is necessary to verify if it is able to fulfill this purpose. The purpose of this study was to investigate whether the use of the app Autismo Projeto Integrar can help people with ASD in daily tasks. In order to analyze the effectiveness of the tool, tests were carried out with 10 families that have a member with ASD in the city of Rio Branco, in the State of Acre, Brazil, besides the application of questionnaires to identify the profile and the most problematic routines in the daily life of these people. Through this study it was possible to verify that the use of the app is able to provide positive results in the education of people with ASD, assisting them in the planning and execution of ADLs with greater autonomy. Resumo. A tecnologia presente em dispositivos móveis trouxe muitas facilidades para o cotidiano de pessoas em todo o mundo, incluindo aquelas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), sendo capaz de auxiliá-las nas mais diversas atividades. O aplicativo Autismo Projeto Integrar foi desenvolvido para ser uma ferramenta de apoio no aprendizado das Atividades da Vida Diária (AVDs) de pessoas com TEA, porém, é necessário verificar se ele é capaz de cumprir com esse propósito. Este trabalho teve o objetivo de investigar se o uso do aplicativo Autismo Projeto Integrar pode auxiliar pessoas com TEA na execução de tarefas diárias. Para analisar a eficácia da ferramenta, foram realizados testes com 10 famílias que possuem algum integrante com TEA na cidade de Rio Branco, no Estado do Acre, além da aplicação de questionários para identificar o perfil e as rotinas mais problemáticas no cotidiano dessas pessoas. Através deste estudo foi possível verificar que o uso do aplicativo é capaz de proporcionar resultados positivos na educação de pessoas com TEA, auxiliando-as no planejamento e execução de AVDs com maior autonomia. 1. Introdução Realizar tarefas aparentemente simples do dia a dia pode ser um grande desafio para pessoas com deficiência, como por exemplo aquelas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Nesse sentido, a tecnologia pode ser uma excelente ferramenta de apoio no processo de ensino-aprendizagem. A rotina de casa, para muitos é básica, mas para uma pessoa com TEA, essa rotina pode ser extremamente complexa e a tecnologia pode ser uma aliada importante no apoio ao aprendizado e execução das Atividades da Vida Diária (AVDs). O aplicativo Autismo Projeto Integrar (Krause; Cacau; Neto, 2016) se propõe a ser uma ferramenta de apoio no desenvolvimento e aprendizado das AVDs de pessoas com TEA, porém é necessário verificar se o aplicativo é capaz de produzir resultados positivos no ensino e aprendizado de pessoas com TEA.

Validação do A pl i c ati vo Auti s mo Pr oje to Inte gr ... · The app Autismo Projeto Integrar was developed to be a tool to support the learning of the Activities of Daily Living

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Validação do Aplicativo Autismo Projeto Integrar no apoio às Atividades da Vida Diária de Pessoas com Transtorno do

Espectro Autista

Maico Krause1, Kenneth Anderson Cavalcante da Costa2, Leonardo Luna Barbosa³, Macilon Araújo Costa Neto4

1 2 3 Especialização em Tecnologias da Informação e Comunicação 4 Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas

Universidade Federal do Acre – Rio Branco – Acre – Brasil {maicokrause, kenneth.thunay, leoluna.czs}@gmail.com, [email protected]

Abstract . The technology present in mobile devices has brought many facilities to the daily lives of people all over the world, including those with Autism Spectrum Disorder (ASD), being able to assist them in many different activities. The app Autismo Projeto Integrar was developed to be a tool to support the learning of the Activities of Daily Living (ADLs) of people with ASD, however, it is necessary to verify if it is able to fulfill this purpose. The purpose of this study was to investigate whether the use of the app Autismo Projeto Integrar can help people with ASD in daily tasks. In order to analyze the effectiveness of the tool, tests were carried out with 10 families that have a member with ASD in the city of Rio Branco, in the State of Acre, Brazil, besides the application of questionnaires to identify the profile and the most problematic routines in the daily life of these people. Through this study it was possible to verify that the use of the app is able to provide positive results in the education of people with ASD, assisting them in the planning and execution of ADLs with greater autonomy.

Resumo . A tecnologia presente em dispositivos móveis trouxe muitas facilidades para o cotidiano de pessoas em todo o mundo, incluindo aquelas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), sendo capaz de auxiliá-las nas mais diversas atividades. O aplicativo Autismo Projeto Integrar foi desenvolvido para ser uma ferramenta de apoio no aprendizado das Atividades da Vida Diária (AVDs) de pessoas com TEA, porém, é necessário verificar se ele é capaz de cumprir com esse propósito. Este trabalho teve o objetivo de investigar se o uso do aplicativo Autismo Projeto Integrar pode auxiliar pessoas com TEA na execução de tarefas diárias. Para analisar a eficácia da ferramenta, foram realizados testes com 10 famílias que possuem algum integrante com TEA na cidade de Rio Branco, no Estado do Acre, além da aplicação de questionários para identificar o perfil e as rotinas mais problemáticas no cotidiano dessas pessoas. Através deste estudo foi possível verificar que o uso do aplicativo é capaz de proporcionar resultados positivos na educação de pessoas com TEA, auxiliando-as no planejamento e execução de AVDs com maior autonomia.

1. Introdução

Realizar tarefas aparentemente simples do dia a dia pode ser um grande desafio para pessoas com deficiência, como por exemplo aquelas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Nesse sentido, a tecnologia pode ser uma excelente ferramenta de apoio no processo de ensino-aprendizagem. A rotina de casa, para muitos é básica, mas para uma pessoa com TEA, essa rotina pode ser extremamente complexa e a tecnologia pode ser uma aliada importante no apoio ao aprendizado e execução das Atividades da Vida Diária (AVDs).

O aplicativo Autismo Projeto Integrar (Krause; Cacau; Neto, 2016) se propõe a ser uma ferramenta de apoio no desenvolvimento e aprendizado das AVDs de pessoas com TEA, porém é necessário verificar se o aplicativo é capaz de produzir resultados positivos no ensino e aprendizado de pessoas com TEA.

Este trabalho parte da hipótese de que, através do uso do aplicativo Autismo Projeto Integrar , é possível observar que indivíduos com TEA apresentam melhoras no desenvolvimento e aprendizado de suas atividades diárias e na autonomia para realizar algumas ações.

As tecnologias assistivas e móveis podem representar uma importante ferramenta, tanto de uso pessoal quanto educacional, e podem contribuir no âmbito pedagógico para a inclusão de pessoas com os mais diversos tipos de deficiência, incluindo o TEA.

Os dispositivos móveis são capazes de exercer grande atratividade sobre indivíduos com TEA. De acordo com Caminha et al (2016), estes indivíduos têm especial interesse em interagir com dispositivos como smartphones e tablets . No contexto pedagógico, é interessante que sejam utilizadas ferramentas capazes de atrair a atenção do aluno autista.

O aplicativo Autismo Projeto Integrar foi elaborado com base no método dos Desenhos Roteirizados do site Autismo Projeto Integrar , um recurso baseado em 1

metodologias pedagógicas específicas para a educação de pessoas com TEA, como o TEACCH (Treatment and Education of Autistic and related Communication-handicapped Children ), PECS (Picture Exchange Communication System ) e História Social.

O aplicativo foi elaborado no ano de 2015 e finalizado no ano de 2016, porém, “antes de declarar um software pronto para uso, é importante saber se ele apóia adequadamente os usuários, nas suas tarefas e no ambiente em que será utilizado” (KARAT, 1993, apud PRATES; BARBOSA, 2003, p.3), dessa forma, é necessária a realização de testes que comprovem, por exemplo, se o aplicativo é capaz oferecer uma interface adequada para seu usuário, considerando seu ambiente e suas limitações, ou se aplicativo é capaz de cumprir o objetivo ao qual ele se propõe.

Diante disso, o presente artigo visa demonstrar a validade do aplicativo Autismo Projeto Integrar como ferramenta que potencialize resultados positivos para o ensino e aprendizagem de pessoas com TEA. Para alcançar esse objetivo, inicialmente foi realizado um levantamento das AVDs cobertas pelo aplicativo que trazem mais dificuldade na rotina das pessoas com TEA e suas famílias, em seguida, foram realizados testes de validação do aplicativo envolvendo 10 famílias que possuem algum integrante com TEA na cidade de Rio Branco, no Estado do Acre.

Através deste estudo foi possível verificar que o uso do aplicativo Autismo Projeto Integrar pode proporcionar resultados positivos na educação de pessoas com TEA, auxiliando-as no planejamento e execução de AVDs com maior autonomia.

A organização deste artigo ocorre da seguinte forma: na segunda seção são apresentados o conceito do Transtorno do Espectro Autista, Desenhos Roteirizados, o site Autismo Projeto Integrar e o método de avaliação Likert ; na terceira seção é apresentado o método e os instrumentos de pesquisa; na quarta seção é apresentado o diagnóstico para identificação do perfil das famílias voluntárias e as AVDs que causam maiores dificuldades em sua execução na rotina dos sujeitos com TEA, a quinta seção descreve o experimento de validação do aplicativo e são discutidos os resultados obtidos e, finalmente, na sexta seção são apresentadas as conclusões do estudo, suas principais contribuições, limitações e indicações de trabalhos futuros.

1 Disponível em <http://www.autismoprojetointegrar.com.br/>.

2. Fundamentos

Nesta seção serão apresentados conceitos utilizados como base para a construção deste trabalho, como Transtorno do Espectro Autista, desenhos roteirizados e o site Autismo Projeto Integrar .

2.1 Transtorno do Espectro Autista

O Transtorno do Espectro Autista é definido pela American Psychiatric Association como a presença de “déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, atualmente ou por história prévia”, manifestados na reciprocidade sócio emocional, nos comportamentos comunicativos não verbais utilizados na interação social e déficits para desenvolver, manter e compreender as relações interpessoais (APA, 2014, p. 31).

Indivíduos com TEA apresentam múltiplas dificuldades inerentes ao transtorno,

realizam atividades restritas e repetitivas, inclusive manifestações por movimentos motores, objetos ou a fala estereotipada, insistência em mesmos objetos, adotam rotinas ou padrões ritualizados de comportamento verbal ou não verbal, as pessoas com TEA possuem interesses altamente fixos e anormais com intensidade e foco, são hiper ou hipo reativos a estímulos sensoriais. Os sintomas apresentados por crianças com TEA, dificultam o seu aprendizado educacional uma vez que o indivíduo não consegue lidar com uma variedade de estímulos em seu dia a dia (APA, 2014).

Ainda de acordo com a APA (2014, p. 55), “muitos indivíduos com transtorno do espectro autista também apresentam comprometimento intelectual e/ou da linguagem (p. ex., atraso na fala, compreensão da linguagem aquém da produção)”. Ou seja, o transtorno geralmente engloba vários tipos de comprometimentos, principalmente os relacionados à interação social.

Godoy e Gianvechio (2017), dizem que o autismo é um transtorno de desenvolvimento que afeta a vida da pessoa em várias áreas e, às vezes, pela vida toda. Habilidades simples para pessoas que não têm TEA são de extrema complexidade para pessoas com TEA, pois elas têm um problema muito grande de desordem sensorial que traz essa dificuldade de planejamento.

Pessoas neurotípicas, ou seja, aquelas que não apresentam distúrbios significativos no funcionamento psíquico, aprendem muitas AVDs com relativa facilidade desde a primeira infância e, muitas vezes, nem se lembram que um dia tiveram que aprender através de um passo a passo. O desenvolvimento do aprendizado, dentro de um Transtorno de Desenvolvimento, não possui o mesmo padrão que em pessoas neurotípicas. Pessoas com TEA não possuem o mesmo padrão de tempo de aprendizagem, por exemplo.

2.2 Desenhos Roteirizados

De acordo com Godoy e Gianvechio (2017), desenhos roteirizados são um recurso de apoio visual que pode ajudar crianças, adolescentes e adultos com TEA na superação de diversos desafios de aprendizagem.

Essa técnica de desenho, criada por Adriana Godoy e Neimer Gianvechio, pais de um adolescente autista, foi inspirada em abordagens voltadas para o tratamento de pessoas com TEA e fazem uso de imagens e figuras, como o TEACCH, o PECS e as Histórias Sociais. Seu objetivo é ajudar essas pessoas a compreender contextos sociais, minimizar comportamentos agressivos e controlar impulsos, contribuindo, assim, para o desenvolvimento da autonomia (GODOY; GIANVECHIO, 2017).

Estudos e observação empírica comprovam que pessoas com TEA são frequentemente aprendizes visuais, ou seja: aprendem com mais facilidade a partir de pistas visuais que por meio de mensagens escritas ou faladas. Daí a importância do uso de recursos visuais no apoio à comunicação e educação (GODOY; GIANVECHIO, 2017).

O processo de Desenho Roteirizado não traz cura para uma dificuldade, ele traz o apoio para o desenvolvimento. O processo de desenvolvimento não é algo que se pode medir, no sentido de estabelecer quanto tempo ele vai se desenvolver, principalmente ao se referir ao TEA, pois as pessoas com esse transtorno têm picos de desenvolvimento, porém, às vezes, também têm quedas no desenvolvimento (GODOY; GIANVECHIO, 2017).

2.3 Site Autismo Projeto Integrar

O site Autismo Projeto Integrar foi idealizado pelo casal Adriana Godoy e Neimer Gianvechio, que percebeu que a técnica que desenvolveram, com o uso continuado, era capaz de ajudar não só seu filho, mas também outras pessoas com TEA a compreender melhor os contextos sociais e desenvolver autonomia (GODOY; GIANVECHIO, 2017). Desde então, criaram um endereço eletrônico para divulgar os desenhos roteirizados produzidos por eles, 2

informações a respeito do TEA, inclusão de pessoas com deficiência e um curso de educação à distância para criação de desenhos roteirizados.

3. Método

Foi utilizado o método de pesquisa-ação, pois houve a intervenção prática no cotidiano de várias famílias com a utilização do aplicativo. Para solução do problema proposto, esta pesquisa se valeu de métodos quantitativos e qualitativos e seguiu as seguintes etapas: pesquisa de campo para identificação dos sujeitos de pesquisa, suas características e capacidades; treinamento e teste de utilização do aplicativo Autismo Projeto Integrar por parte das famílias voluntárias; entrevista e aplicação de formulários aos familiares de pessoas com TEA, análise dos resultados obtidos.

Foram utilizados os métodos de abordagem dedutivo, pois o objetivo foi testar a utilização de uma ferramenta específica, analisando dados de um grupo específico; métodos de pesquisa bibliográfica, por ser baseado em um estudo já efetuado; e de pesquisa experimental, por se tratar de um estudo de possíveis comportamentos que se deseja conhecer com a utilização do aplicativo Autismo Projeto Integrar.

Para encontrar informações que gerassem indicadores de comportamento dos usuários que utilizaram o aplicativo, foi empregada a técnica de observação. A dificuldade de comunicação das pessoas com TEA, tanto por linguagem falada quanto por escrita, dificulta a aplicação de técnicas como as de coleta de dados através de questionários, portanto o registro

2 Disponível em <www.autismoprojetointegrar.com.br>.

de uso também foi utilizado. Para esta aplicação, foi necessário o acompanhamento e o auxílio dos pais e cuidadores dos indivíduos com TEA enquanto estes realizavam suas AVDs com intermédio do aplicativo. Dessa forma, também, foram feitos os registros de uso diário do aplicativo.

A pesquisa foi dividida em três etapas, na primeira etapa foi realizada uma campanha nas redes sociais, divulgando a pesquisa, angariando voluntários a participar do teste com o aplicativo e obtendo informações iniciais sobre o perfil das famílias voluntárias; após essa etapa, foram realizadas visitas onde os voluntários foram orientados sobre como utilizar o aplicativo e como coletar os dados através dos formulários fornecidos. Após o período de 30 dias de utilização do aplicativo, na terceira etapa da pesquisa, foram feitas entrevistas com os voluntários e os dados dos formulários de pesquisa recolhidos para avaliação e discussão.

3.1 Instrumentos de Pesquisa

A fim de se conhecer as características das famílias voluntárias a participar do teste e verificar quais são as AVDs que representam maiores dificuldades na rotina das pessoas com TEA, foi aplicado o formulário de coleta de dados “Perfil dos Participantes” (Apêndice B).

De acordo com Godoy; Gianvechio (2017), entre os parâmetros a se destacar no uso de desenhos roteirizados estão a identificação de quais auxílios são necessários para que o indivíduo com TEA consiga executar as AVDs, como segurar as mãos, os pulsos ou o cotovelo, ou auxílios através de apoio verbal e ou gestual, bem como indicações de que a pessoa com TEA está engajada na atividade, como por exemplo, se está demonstrando concentração, levando o braço ou o olhar em direção aos objetos envolvidos na atividade.

A partir desses dados, foi aplicado um formulário “Diário de Utilização” (Apêndice D) para cada uma das 4 atividades selecionadas no formulário “Perfil dos Participantes” como sendo as que apresentam maiores dificuldades na execução pelas pessoas com TEA no dia a dia. Cada “Diário de Utilização” possui 30 páginas, uma para cada dia do período de teste, onde as famílias anotaram o tempo de duração, quais auxílios foram necessários para que a pessoa com TEA conseguisse executar as atividades propostas e indicações sobre seu engajamento.

Além desses formulários, também foram utilizados os textos explicativos “Campanha para Redes Sociais” (Apêndice A ), utilizado para encontrar sujeitos de pesquisa, e o “Manual 3

de Orientações” (Apêndice C), que contém explicações sobre a pesquisa e como utilizar o aplicativo.

Outro instrumento utilizado na pesquisa foi um grupo na rede social WhatsApp, utilizado para interação entre os voluntários da pesquisa e os pesquisadores e acompanhamento dos testes. A criadora dos Desenhos Roteirizados utilizados no aplicativo, Adriana Godoy, também participou e apoiou o grupo na resolução de dúvidas sobre como utilizar o método.

Uma das ferramentas utilizadas nesta pesquisa foi a escala Likert, esta foi a forma de conhecer o grau de conformidade e medir a atitude dos participantes com as afirmações propostas nos questionários. “a escala Likert é usada para mensurar atitudes no contexto das ciências comportamentais” (LIKERT, 1932, apud, SILVA JUNIOR; COSTA, 2014, p.5). A

3 Por restrições de espaço, os apêndices A e C estão disponíveis em <http://maicokrause.com/artigos/apendices>.

escala é útil quando se deseja conhecer em detalhes a opinião do entrevistado. Com a escala de Likert foi possível capturar a intensidade do sentimento dos respondentes, que no caso foram os responsáveis pelos sujeitos com TEA. A escala Likert consiste em escrever uma única afirmação e pedir respostas em uma escala de concordância em níveis, sendo mais fácil para redigir e para analisar os questionários aplicados.

3.2 Etapas da pesquisa

A primeira etapa da avaliação do aplicativo foi realizar uma campanha nas redes sociais Facebook e WhatsApp através do texto “Campanha para Redes Sociais”, apresentando a pesquisa e convidando pessoas cujas famílias possuem algum integrante com TEA a testar voluntariamente o aplicativo Autismo Projeto Integrar .

Ainda nesta primeira etapa da pesquisa, as pessoas que se voluntariaram responderam ao questionário “Perfil dos Participantes”, onde foram levantados dados preliminares a respeito da composição da família, informações de contato, acesso à smartphones e tablets, informações sobre o integrante com TEA. Além disso, foram identificadas quais são as AVDs apresentadas pelo aplicativo que mais trazem dificuldade no dia a dia das famílias voluntárias.

No dia 27 de novembro de 2016 foi alcançado o número de 9 famílias voluntárias a participar da pesquisa que responderam ao questionário “Perfil dos Participantes”. A partir desses dados, foram identificadas as principais atividades apresentadas pelo aplicativo que mais são dificultosas no cotidiano dos participantes com TEA. Essas atividades foram as seguintes: Hora de Dormir , Escovar os Dentes , Lavar as mãos e Utilizar o vaso sanitário (Figura 01).

Na segunda etapa da pesquisa foram realizadas visitas às famílias com a finalidade de orientar aos participantes como utilizar o aplicativo e como seria feita a pesquisa. Após as instruções, todos os voluntários receberam uma pasta com um manual de orientações que foi criado a partir de dados obtidos no questionário “Perfil dos Participantes”. Os familiares foram orientados a anotar no "Diário de Utilização", as suas observações no período da pesquisa, atentando-se principalmente ao tempo gasto, percepção e interesse da criança em realizar as atividades diárias apresentadas no aplicativo.

A terceira etapa da pesquisa foi a coleta dos formulários entregues após o período de 30 dias de utilização do aplicativo e uma entrevista pós-teste onde os pais e responsáveis pelas pessoas com TEA puderam expressar sua opinião sobre o período de testes, quais dificuldades encontradas e a que resultado chegaram.

4. Diagnóstico inicial

Durante a primeira fase da pesquisa, foi realizado um levantamento onde se verificaram quais as AVDs ou comportamentos apresentados pelo aplicativo são mais problemáticos na rotina dos sujeitos com TEA. Para isso, foi solicitado que os participantes classificassem em uma escala de 1 a 9 as atividades e comportamentos mais problemáticos que ocorrem na rotina do sujeito com TEA e de sua família, sendo que 1 seriam atividades ou comportamentos menos problemáticos e 9 os mais problemáticos. As respostas podem ser vistas na Figura 1.

Como mencionado na seção 3.1, a partir das nove respostas ao formulário “Perfil dos Participantes” foi criado o formulário “Diário de Utilização” a fim de ser utilizado pelos

responsáveis para acompanhar o experimento e foi iniciada a segunda etapa da pesquisa, onde foram realizadas visitas às famílias voluntárias para orientações sobre o teste e entrega de formulários.

Figura 1 - Atividades e comportamentos mais problemáticos na rotina dos sujeitos com TEA (soma da pontuação de 1 a 9 de 9 respostas).

Fonte: Elaboração própria.

Até o dia 15 de dezembro de 2016, houve mais 5 respostas de pessoas voluntárias a participar dos testes, totalizando 14 respostas ao formulário “Perfil dos Participantes”.

Das quatorze famílias voluntárias a realizar os testes, somente dez puderam participar da pesquisa porque duas famílias não possuíam dispositivos com sistema operacional Android, o único compatível com o aplicativo; uma família considerou que seu integrante com TEA já possuía habilidades suficientes nas atividades rotineiras apresentadas pelo aplicativo e desistiu de participar da pesquisa. Outra família possuía um integrante com Síndrome de West e, embora sua responsável tenha informado que ele possui dificuldades na realização das AVDs, seus dados não foram incluídos na pesquisa pois este trabalho se limitou a investigar o uso do aplicativo por pessoas com TEA;

Sobre o tempo de uso de smartphones e tablets dos familiares com TEA (Figura 2), 50% dos 10 voluntários selecionados respondeu que eles já fazem uso dessas tecnologias há algum tempo, entre 1 e 3 anos, e apenas 21,4% não usa. Isso indica que a maioria dos sujeitos de pesquisa já possui certa familiaridade com as tecnologias móveis.

Sobre o perfil dos sujeitos com TEA, verificou-se que 80% são do sexo masculino e 20% são do sexo feminino. A idade média dos sujeitos com TEA é de 7,29 anos, sendo que o mais jovem desses sujeitos tinha a idade de 3 anos e o mais velho a idade de 25 anos.

Em relação à presença de linguagem verbal (Figura 3), metade dos participantes respondeu que seu familiar com TEA não possui linguagem verbal, enquanto 42,9% respondeu que seu familiar possui linguagem verbal parcial, o que demonstra que há uma grande dificuldade em estabelecer uma comunicação verbal com os sujeitos de pesquisa com TEA.

Figura 2 - Tempo que o familiar com TEA utiliza smartphones e tablets.

Fonte: Elaboração própria.

Figura 3 - Presença de linguagem verbal entre os sujeitos com TEA.

Fonte: Elaboração própria.

Sobre o grau de autismo do familiar com TEA, 70% dos entrevistados não soube informar o grau de autismo de seu familiar, 20% informou grau moderado e 10% grau leve.

5. Experimento de validação do aplicativo Autismo Projeto Integrar

Para validar a eficiência e eficácia do aplicativo na vida diária dos sujeitos com TEA participantes da pesquisa, foram necessárias a aplicação do questionário pós teste “Visão geral do aplicativo” (Apêndice E) e a tabulação dos dados colhidos no "Diário de Utilização". Um dos primeiros resultados observados foi a desistência de três famílias, as quais foram identificadas como “Família 1”, “Família 2” e “Família 3”.

Os responsáveis alegaram que seu familiar com TEA não se interessou pelo aplicativo. No caso da família 3, o sujeito com TEA já fazia uso do smartphone ou tablet e estava muito acostumado a utilizar outros aplicativos, como o Youtube ou jogos não específicos para pessoas com TEA. Percebeu-se, através dos comentário dos responsáveis, que o sujeito tem maior atração a outros aplicativos por terem melhores recursos de animação com personagens animados, entre outros atrativos, de forma que foi impossível realizar os testes com o aplicativo Autismo Projeto Integrar . Estas famílias sugeriram que fossem adicionadas ao aplicativo mais recursos audiovisuais que provoquem e atraiam mais a atenção das pessoas com TEA.

Estes pesquisadores não conseguiram mais contato com as Famílias 1 e 2 após os primeiros dias do período de validação, portanto os dados da etapa de validação e pós-validação se referem às 8 famílias que se mantiveram em contato até o final da pesquisa.

A Família 3 informou que, além da influência de outros aplicativos aos quais seu familiar com TEA possui fixação, a validação do aplicativo foi prejudicada pelo fato de ter ocorrido durante os meses de dezembro e janeiro, período que ocorre uma mudança brusca na rotina da família devido ao período de férias escolares e interrupção dos atendimentos psicoterápicos. Os responsáveis disseram que pretendem utilizar o aplicativo novamente assim que voltarem à rotina normal, pois o familiar com TEA tem boa familiaridade com imagens e já utiliza um método com imagens impressas em cartões com o qual tem obtido bons resultados. Segundo os responsáveis, o que trouxe a dificuldade em realizar as AVDs através do aplicativo foi o fato de as imagens estarem em um smartphone e o familiar com TEA ter grande fixação pelo aplicativo Youtube.

Apesar da desistência, os responsáveis acreditam que o aplicativo pode trazer benefício tanto para as pessoas com TEA e suas famílias quanto para o mediadores que trabalham no atendimento domiciliar de pessoas com TEA. Um dos responsáveis afirmou que “se você tem um aplicativo que pelo menos ajuda o mediador a se comunicar com o autista no começo, todo mundo tem celular hoje, eu acho que seria uma vantagem. Não dá para desprezar esse público”.

A Família 4 possui um integrante com TEA com 10 anos que era de grau severo, mas que evoluiu para moderado através dos atendimentos psicoterápicos e do uso de técnicas como TEACCH e PECS. A responsável afirmou que a atividade com maior dificuldade é escovar os dentes e dormir e que aplicou o teste de validação somente nessas duas AVDs, pois quis introduzir o uso do aplicativo gradualmente a fim de evitar alterar muito a rotina do familiar com TEA.

Através do uso do aplicativo, a responsável afirmou que obteve progressos logo nos três primeiros dias na atividade “hora de dormir” e que na atividade “escovar os dentes” o progresso foi um pouco mais lento no início, o familiar com TEA continuou tendo alguns comportamentos como morder a escova de dentes, porém a atividade se tornou mais fácil no decorrer do tempo de uso do aplicativo e que o tempo para executar a atividade diminui de 10 minutos para em torno 6 minutos. Ao final da pesquisa, a responsável afirmou que seu familiar com TEA passou a fazer as AVDs “escovar os dentes” e “hora de dormir” perfeitamente (Figura 4).

Figura 4 - Pré-adolescente com TEA utilizando o aplicativo Autismo Projeto Integrar para escovar os dentes.

Fonte: responsável da família 4.

A responsável pela Família 4 também afirmou que o aplicativo tem uma vantagem em relação aos métodos PECS e TEACCH porque o smartphone atrai muito a atenção de seu familiar com TEA e seu familiar com TEA pode interagir arrastando as figuras com dedo na tela do dispositivo, além disso, disse que o aplicativo é intuitivo e fácil de utilizar, seus recursos gráficos são adequados e sugeriu a adição de novas figuras que, por exemplo, alertam sobre os perigos do dia-a-dia, como atravessar a rua. De modo geral, afirmou que o aplicativo é bom e pode ajudar muitas pessoas com TEA, familiares e, inclusive, terapeutas de pessoas com TEA.

A responsável pela Família 5 tem um familiar com TEA com 6 anos de idade e não sabe dizer o grau de autismo. Antes da realização dos testes com o aplicativo, a responsável afirmou que o familiar com TEA não conseguia utilizar o vaso sanitário corretamente, sendo comum urinar nas roupas. As atividades “lavar as mãos” e “hora de dormir” eram bastante complicadas. Ela afirmou que já conhecia e já havia tentado utilizar os desenhos roteirizados impressos do site Autismo Projeto Integrar há algum tempo atrás e que abandonou após algum um tempo de uso.

Após vinte e dois dias de uso do aplicativo, a responsável pela Família 5 nos comunicou que seu familiar com TEA começou a executar as atividades “escovar os dentes” e “lavar as mãos” sozinho através do uso do aplicativo (Figura 5). Foi relatado que, por iniciativa própria, a criança buscou o smartphone e começou a realizar todos os passos das atividades Escovar os Dentes e Lavar as Mãos indicados no aplicativo sem a ajuda de outras pessoas.

Figura 5 - Criança com TEA utilizando o aplicativo Autismo Projeto Integrar para escovar os dentes e lavar as mãos.

Fonte: responsável da família 5.

De modo geral, a responsável afirmou que o aplicativo tem pontos positivos, como a atratividade que os dispositivos móveis exercem sobre seu familiar com TEA e dos aspectos audiovisuais do aplicativo.

A responsável afirmou que seu familiar com TEA obteve melhoras nas quatro AVDs abordadas no teste de validação, principalmente nas atividades “Escovar os Dentes”, “Lavar as Mãos” e “Utilizar o vaso sanitário”, e que também utilizou para outras atividades, como tomar banho. “Acredito que houve significativa melhora no interesse pelas atividades, bem como aumento de autonomia”, afirmou a responsável.

Como sugestões de melhorias, a responsável indicou o acréscimo de mais ilustrações, animações gráficas, áudio mais alto e que o aplicativo alcançasse mais plataformas, como por exemplo os dispositivos com sistema operacional IOs.

A Família 6 possui um integrante com TEA de 5 anos, seus responsáveis afirmaram que suas maiores dificuldades eram relacionadas às tarefas de lavar as mãos e, principalmente escovar os dentes, o que era extremamente difícil, pois a criança chorava, gritava e não deixava os pais lhe escovarem os dentes. Os responsáveis falaram que a dificuldade era tão grande que eles passaram a escovar os dentes da criança somente à noite e, mesmo assim, algumas vezes era impossível e que, por isso, se preocupavam muito, pois a criança começava a apresentar alguns problemas em sua saúde bucal devido tanto ao uso de antibióticos quanto pela dificuldade de escovar os dentes. Eles já haviam tentado alguns métodos para ajudar a escovação dos dentes da criança, inclusive por intermédio de smartphones , porém ainda não haviam conseguido obter bons resultados.

Após o início dos testes, os responsáveis relataram que desde os primeiros dias houve progressos tanto na escovação dos dentes quanto na limpeza das mãos, não gritando mais e permitindo que os pais lhe ajudassem a escovar os dentes. Após alguns dias a criança começou a pegar o tablet e ir sozinha escovar os dentes (Figura 6) quando os responsáveis diziam que estava no horário. Ao final do experimento, os responsáveis disseram que, embora o familiar com TEA ainda necessite de alguma ajuda, pois sua coordenação motora ainda não está bem desenvolvida, eles já conseguem escovar os dentes da criança com muito mais facilidade e duas vezes por dia.

Os responsáveis afirmaram que a introdução do aplicativo foi muito benéfica pois melhorou tanto a escovação dos dentes da criança quanto facilitou muito a vida dos pais, pois antes era muito estressante e muito difícil ajudar o familiar com TEA a escovar os dentes. Eles relataram que as dificuldades que os pais passam no cuidado e educação dos filhos com TEA são muito grandes e que muitos pais até ficam doentes pelo estresse causado.

Figura 6 - Criança com TEA utilizando o aplicativo Autismo Projeto Integrar para escovar os dentes.

Fonte: responsável da família 6.

A Família 7 possui um integrante com 25 anos que teve o diagnóstico de TEA tardiamente. Possui fixação pelo barulho da descarga e tem dificuldades em escovar os dentes e na hora de dormir, indo dormir muito tarde mesmo fazendo uso de remédios.

Os responsáveis disseram que, devido ao diagnóstico tardio, o familiar com TEA possui comportamentos já estão estabelecidos que são mais difíceis de mudar, mas que após a intervenção com o aplicativo, seu familiar com TEA obteve progressos na realização das quatro atividades selecionadas para o teste (Figura 7), sendo que havia dias que o familiar com TEA colaborou mais e dias em que ele colaborou menos na execução das atividades.

Figura 7 - Adulto com TEA utilizando o aplicativo Autismo Projeto Integrar para executar as AVDs “Escovar os Dentes” e “Hora de Dormir”.

Fonte: pelo responsável da família 7.

A atividade que teve menor progresso foi “utilizar o vaso sanitário”, pois o familiar com TEA continuou fixado no barulho da descarga e preferindo tomar banho logo após da atividade ao invés de utilizar papel higiênico, como sugerem as figuras no passo a passo do aplicativo. A atividade “hora de dormir” teve o tempo reduzido de 1 hora para 30 minutos. A atividade “Escovar os dentes” também foi facilitadas e teve redução no tempo de execução de cerca de 10 minutos para entre 3 e 5 minutos.

Durante o período de testes do aplicativo, o familiar com TEA passou a ajudar em algumas tarefas domésticas, como lavar e guardar louças. Os responsáveis sugeriram desenhos que indicassem o passo a passo dessas atividades domésticas.

A Família 8 tem um integrante com TEA de 4 anos que não consegue utilizar o banheiro. A responsável relatou que já utilizava as figuras impressas do site Autismo Projeto Integrar impresso e que dava um certo trabalho imprimir e preparar os desenhos, pois eles precisam ser ampliados e ficar em forma de uma tira horizontal para que o familiar com TEA dela entenda a ordem das figuras.

Com o uso dos desenhos roteirizados na tela do tablet através do aplicativo, o familiar com TEA teve uma resposta melhor porque, segundo a responsável, o aplicativo foi mais atrativo em relação à mídia impressa e também já exibe as atividades na ordem certa, o que facilitou o entendimento do sujeito com familiar com TEA. A responsável falou que o método dos desenhos roteirizados, tanto no formato impresso quanto no aplicativo, é excelente e que o fato de as figuras estarem em um smartphone foi um fator que atraiu bastante a atenção da criança.

A responsável disse que, embora ainda não faça tudo bem feito, seu familiar obteve melhoras na execução de algumas atividades, como “escovar os dentes”, “lavar as mãos” e “hora de dormir”. Na atividade “utilizar o vaso sanitário” o familiar com TEA não obteve muitos progressos durante o período de testes e ainda não consegue usar o vaso sanitário, o único progresso obtido foi que a criança começou a se sentar no vaso sanitário enquanto usa o smartphone com aplicativo por algum tempo, mas não consegue terminar a tarefa e continua precisando usar fraldas.

A Família 9 tem um integrante com TEA de 3 anos e os responsáveis disseram que ele tem bastante dificuldade para dormir e também para se reconhecer no espelho.

Após o período de testes, os responsáveis disseram que houve progressos, embora poucos, nas atividades “escovar os dentes” e “lavar as mãos” (Figura 8), e que não conseguiram realizar as atividades “utilizar o vaso sanitário” e “hora de dormir”.

Figura 8 - Criança com TEA utilizando o aplicativo Autismo Projeto Integrar para escovar os dentes.

Fonte: responsável da família 8.

Os responsáveis disseram que o familiar com TEA fica atento ao tablet , porém na hora de fazer a atividade, não consegue associar a figura com a ação. Eles atribuem isso à idade e a evolução da criança e que podem conseguir resultados melhores se continuarem insistindo.

Eles disseram que ainda não utilizaram métodos impressos, mas que o aplicativo tem uma certa vantagem por ser atrativo, pois a criança gosta de desenhos, e pela questão dos sons, o aplauso no final das atividades é um estímulo a mais e faz a criança sentir que conquistou alguma coisa.

Eles acreditam que é mais trabalhoso utilizar métodos impressos e que não é prático na hora de transportar esses materiais para todos os lugares.

A Família 10 possui um integrante com TEA de 8 anos. Após a intervenção com o aplicativo, os responsáveis disseram que a criança teve progressos principalmente nas atividades “escovar os dentes”, “lavar as mãos” e “utilizar o vaso sanitário”. A atividade “hora de dormir” não teve muitos progressos, porém eles acreditam que se continuarem usando o aplicativo por mais tempo obterão maiores progressos.

Nas atividades “lavar as mãos” e “escovar os dentes”, às vezes o familiar com TEA deixa de fazer alguns passos, porém ele adquiriu maior independência no uso do banheiro.

5.1 Resultados

Após o período de de 30 dias de testes utilizando o aplicativo Autismo Projeto Integrar , foram feitas novas visitas às 8 famílias que permaneceram em contato com os pesquisadores, onde foi aplicado o formulário “Visão geral do aplicativo”. Destas famílias, 87,5% afirmou que seu familiar com TEA passou a executar melhor alguma das AVDs selecionadas para o teste através do aplicativo (Figura 9).

Figura 9 - O sujeito com TEA consegue executar melhor alguma das atividades diárias através do aplicativo.

Fonte: Elaboração própria.

Em relação à autonomia, 62,5% dos indivíduos com TEA passou a tentar ou mesmo conseguir fazer alguma atividade de forma mais independente (Figura 10) e 75% precisou de menos auxílios no decorrer do tempo para executar as AVDs (Figura 11).

Figura 10 - Grau de concordância, de 0 a 5: O sujeito com TEA passou a tentar fazer alguma atividade sozinho.

Fonte: Elaboração própria.

Figura 11 - Grau de concordância, de 0 a 5: O sujeito com TEA precisou de menos auxílios para executar as atividades.

Fonte: Elaboração própria.

As atividades em que houve maior percepção de melhoria por parte dos responsáveis foram lavar as mãos e escovar os dentes (Figura 12).

Figura 12 - Média da percepção de melhoria da pessoa com TEA em relação às atividades, em uma escala de 0 a 5 de 8 respostas.

Fonte: Elaboração própria.

A maior parte dos participantes, 75% concorda que houve alguma resistência no início do uso do aplicativo (Figura 13). Na mesma medida, 75% dos participantes também afirmou que houve alguma perda de interesse no uso do aplicativo, principalmente depois de algumas semanas de uso.

Figura 13 - Grau de concordância: Houve resistência ao uso do aplicativo.

Fonte: Elaboração própria.

Embora 75% das famílias tenha afirmado que houve alguma resistência ao uso do aplicativo e, com o decorrer do tempo, ocorreu também alguma perda de interesse, não houve um número elevado de desistências, apenas 30 % das famílias desistiu do projeto.

6. Conclusões

Como visto na seção 1, a realização de AVDs pode ser um grande desafio para pessoas com TEA e a tecnologia pode ser uma importante aliada no apoio ao aprendizado e execução de AVDs. Nesta proposta, considerou-se que, através do uso do aplicativo Autismo Projeto Integrar, seria possível observar que indivíduos com TEA apresentam melhoras no desenvolvimento de suas AVDs e na autonomia para realizar algumas ações.

Nesta pesquisa, consideraram-se as tecnologias assistivas e móveis como ferramentas que podem contribuir no âmbito pedagógico na inclusão de pessoas com deficiência, além da grande atratividade que os dispositivos móveis exercem sobre pessoas com TEA.

Isto posto, este trabalho apresentou conceitos relacionados ao TEA, desenhos roteirizados e o site Autismo Projeto Integrar (seção 2). Foi realizado também um diagnóstico sobre o perfil das famílias com integrantes com TEA voluntárias a participar do teste de validação do aplicativo e as AVDs apresentadas pelo aplicativo que representam maiores dificuldades no dia a dia (seção 4). Na seção 5, este trabalho apresentou o experimento de validação do aplicativo Autismo Projeto Integrar que ocorreu com a participação de 10 famílias da cidade de Rio Branco - AC; e quais foram os resultados obtidos após essa intervenção. E, finalmente, nesta seção, as principais contribuições desta pesquisa, algumas questões e/ou limitações que podem ser endereçadas a trabalhos futuros, conforme seções a seguir.

6.1 Principais contribuições

Este trabalho teve o objetivo de demonstrar a validade do aplicativo Autismo Projeto Integrar como ferramenta que potencialize resultados positivos para o ensino e aprendizagem de pessoas com TEA. Através desse estudo, foi possível perceber a grande dificuldade enfrentada diariamente, tanto pelas pessoas com TEA, quanto por seus familiares e cuidadores na realização das AVDs e que o aplicativo Autismo Projeto Integrar é capaz de auxiliar tanto pessoas com TEA que têm dificuldades na realização das AVDs, quanto seus familiares e cuidadores na tarefa de educar e cuidar.

A intervenção do aplicativo foi capaz de gerar mais autonomia na maior parte dos sujeitos com TEA que participaram da pesquisa, reduziu a dificuldade na realização das AVDs, tanto para os sujeitos com TEA como para seus responsáveis, ampliou capacidades e habilidades e auxiliou na interpretação e execução das AVDs.

Além do uso do aplicativo no âmbito familiar, os participantes sugeriram que o aplicativo possa ser uma boa ferramenta profissional para mediadores, professores e terapeutas no cuidado e educação de pessoas com TEA.

Os desenhos roteirizados são uma excelente ferramenta no auxílio às AVDs de pessoas com TEA e são capazes de ajudá-las a compreender contextos sociais, minimizar comportamentos indesejados e controlar impulsos, sua utilização em um aplicativo para dispositivos móveis pode trazer vantagens em relação a sua versão em mídia impressa devido à atratividade dos dispositivos móveis e aos efeitos audiovisuais, além disso, seu uso em mídia digital fornece mais praticidade pois é possível transportar um número muito grande de desenhos em um único dispositivo eletrônico de fácil acesso.

6.2 Limitações e trabalhos futuros

Segundo os participantes da pesquisa, o aplicativo possui recursos audiovisuais adequados e interface intuitiva, porém ainda precisa de uma série de melhorias e da inserção de novas funcionalidades, como permitir que o próprio usuário crie desenhos roteirizados personalizados. Além disso, para maior inclusão, é necessário que o aplicativo esteja disponível para mais plataformas, como por exemplo, dispositivos com sistema operacional IOs.

O fato de os desenhos roteirizados estarem em uma mídia digital, como smartphones e tablets, pode representar uma vantagem em relação à atratividade, porém, cada ser humano

possui suas peculiaridades únicas e esta mesma característica, em 30% dos casos, foi um problema devido à influência de outros aplicativos.

Algumas famílias consideraram que o tempo de realização dos testes insuficiente para obter resultados melhores, porém, como foi ressaltado durante a etapa de treinamento para realização dos testes, cada ser humano possui seu próprio tempo de aprendizagem, não sendo possível estabelecer prazos para que o aprendizado ocorra. Além disso, o período de testes ocorreu durante os meses de dezembro e janeiro, época em que ocorrem muitas mudanças na rotina das famílias devido ao período de férias escolares e, algumas vezes, nos tratamentos psicoterápicos, o que influenciou nos resultados da pesquisa.

Embora 75% das famílias tenha afirmado que houve alguma resistência ao uso do aplicativo e, com o decorrer do tempo, ocorreu também alguma perda de interesse, em apenas 30% das famílias a resistência foi tão grande que causou a desistência do uso do aplicativo.

Por esses fatores, futuros trabalhos podem endereçar a correção e ampliação das funcionalidades do aplicativo, bem como inspecionar se o aplicativo é capaz de auxiliar pessoas com outros transtornos ou distúrbios, como por exemplo Síndrome de Down, Síndrome de West, Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, entre outros que também causam dificuldades na execução das AVDs. Referências AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION [APA]. DSM-V: manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 992p. CAMINHA, Vera Lúcia; ASSIS, Julliane Huguenin Lúcia M. de; ALVES, Priscila Pires. (Org.). Autismo: vivências e caminhos. 1ª ed. São Paulo: Blucher, 2016. KRAUSE, Maico; CACAU, Levi de Oliveira.; NETO, Macilon A. Costa. Autismo Projeto Integrar: Um aplicativo móvel para inclusão de crianças com Transtorno do Espectro Autista. In: IV Escola Regional de Informática - Norte 3, 2016. Rio Branco-AC. Anais da IV Escola Regional de Informática - Norte 3, 2016. PRATES, R.O.; BARBOSA, S.D.J. Avaliação de Interfaces de Usuário - Conceitos e Métodos. Anais do XXIII Congresso Nacional da Sociedade Brasileira de Computação. XXII Jornadas de Atualização em Informática (JAI). SBC 2003. Ago. 2003. GODOY, Adriana; GIANVECHIO, Neimer. (2017) Autismo Projeto Integrar | De Pais para Pais. Disponível em <http://goo.gl/uUnLWW>. Acesso em 30 jan. 2017. SILVA JUNIOR, Severino Domingos; JOSÉ COSTA, Francisco. Mensuração e Escalas de Verificação: Uma Análise Comparativa das Escalas de Likert e Phrase Completion. Revista Brasileira de Pesquisa de Marketing Opinião e Mídia. 2014. Disponivel em <https://goo.gl/byIxeI>. Acesso em 16 fev. 2017.

Apêndice B - Questionário Perfil dos Participantes

Autismo Projeto Integrar 1. Nome do pai ou mãe da criança com Transtorno do Espectro Autista: __________ 2. Telefone para contato (com DDD)._____________ 3. Contando todos os moradores, quantas pessoas moram na casa? _____________. 4. Entre os moradores da casa, existe smartphone ou tablet? Marque de acordo com o sistema operacional. Andoid: ( )Sim ( ) Não IOs (iPhone): ( )Sim ( ) Não Windows Phone: ( )Sim ( ) Não 5. Há quanto tempo você usa smartphones ou tablet?

Pai Mãe Filho (a)

( ) Não usa ( ) Menos de 1 ano

( ) Entre 1 e 3 anos ( ) Entre 3 e 5 anos ( ) Mais de 5 anos

( ) Não usa ( ) Menos de 1 ano

( ) Entre 1 e 3 anos ( ) Entre 3 e 5 anos ( ) Mais de 5 anos

( ) Não usa ( ) Menos de 1 ano

( ) Entre 1 e 3 anos ( ) Entre 3 e 5 anos ( ) Mais de 5 anos

6. Informações sobre sua formação.

Pai Mãe

( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio

( ) Graduação ( ) Pós Graduação

( ) Mestrado ( ) Doutorado

( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio

( ) Graduação ( ) Pós Graduação

( ) Mestrado ( ) Doutorado

Informações sobre o seu filho (a) com Transtorno do Espectro Autista 7. Qual a idade do seu filho (a)? _______. 8. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino 9. Seu filho possui linguagem verbal? ( ) Sim, fluentemente ( ) Sim, parcialmente ( ) Não 10. Você sabe informar o grau de autismo de seu filho (a)?( )Não sei informar ( ) Leve ( )Moderado ( ) Severo 11. Enumere de 1 a 9 o grau de dificuldade de seu filho (a) em executar as seguintes atividades: Considere 1 a atividade mais difícil e 9 a mais fácil. ( ) Hora de acordar ( ) Escovar os dentes ( ) Tomar banho ( ) Lavar as mãos ( ) Hora de dormir ( ) Uso do vaso sanitário ( ) Ir para Escola ( ) Se jogar no chão ( ) Morder

Apêndice D - Diário de Utilização

Atividade: _______________________________

Dia: ___/___/______ Quanto tempo foi gasto na atividade? ____:____ Estímulos/ajuda necessários para que a criança realizasse a atividade (é possível marcar mais de uma alternativa): { } Segurar na mão { } Segurar no pulso { } Segurar no cotovelo { } Apoio verbal { } Apoio gestual { } Não foi necessário utilizar estímulos { } Outros:_____________________________ Indicações de que a criança está engajada na tarefa

Discordo totalmente

Discordo parcialmente

Indiferente Concordo parcialmente

Concordo totalmente

Faz contato visual com os objetos envolvidos

Se concentra na atividade

Direciona o braço no sentido de executar a atividade

Balbucia ou fala o nome da atividade

Demonstra saber qual o próximo passo da atividade

Observações:__________________________________________________________________________________

APÊNDICE E - Visão geral do aplicativo 1. Você utilizou o aplicativo para auxiliar seu filho a realizar quais tarefas? { } Escovar os dentes { } Lavar as mãos { }Utilizar o vaso sanitário { }Hora de dormir { }Outras _______________. 2. Atribua uma nota de 0 a 5 sobre a sua percepção de melhoria da pessoa com TEA com relação às atividades.

Pergunta 0 1 2 3 4 5

Escovar os dentes

Lavar as mãos

Utilizar o vaso sanitário

Hora de dormir

3. Avalie as afirmações a seguir de acordo com seu grau de concordância.

Discordo totalmente

Discordo parcialmente

Indiferente

Concordo parcialmente

Concordo totalmente

O sujeito com TEA consegue interagir bem com o aplicativo.

Você se dedicou totalmente neste projeto.

O sujeito com TEA consegue executar melhor alguma das atividades diárias através do aplicativo.

Houve resistência ao uso do aplicativo.

O sujeito com TEA passou a tentar fazer alguma atividade sozinho.

Houve perda do interesse no uso do aplicativo.

Os recursos audiovisuais do aplicativo são adequados para atrair a atenção da pessoa com TEA.

Com o passar do tempo, o sujeito com TEA precisou de menos auxílios para executar as atividades.

4. Cite pontos positivos a respeito do aplicativo._______________________________________________. 5. Cite pontos negativos a respeito do aplicativo.______________________________________________. 6. Houve desistência do uso do aplicativo? Caso positivo, justifique os motivos que levaram à desistência.( ) Sim

( ) Não ______________________________________________________________. 7. Você acredita que os 30 dias de testes foram suficientes para que o sujeito com TEA consiga executar melhor alguma das atividades diárias propostas? Justifique. ( ) Sim( ) Não ________________. 8. Você já utilizava algum método específico para educação de pessoas com TEA anteriormente? Caso positivo, quais?( ) Sim ( ) Não _______________________________________________________________.