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24/08/17 Pacote de privatização cresce e inclui até a Casa da Moeda Por Daniel Rittner e Rafael Bitencourt | De São Paulo Em uma tentativa de obter receitas adicionais e conter o rombo fiscal de 2018, o governo deu sinal verde a um plano mais amplo de privatizações que vai muito além da Eletrobras. O pacote de vendas e concessões aprovado ontem pelo conselho de ministros do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), em reunião no Palácio do Planalto, inclui o aeroporto de Congonhas (SP) e a Casa da Moeda. Estão ainda na lista a Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa) e a Lotex, modalidade conhecida como "raspadinha", cujo leilão foi confirmado. Congonhas (SP), o terminal mais lucrativo de toda a rede da Infraero e responsável hoje por quase 20% de suas receitas, será leiloado à vista e com preço mínimo de R$ 5,6 bilhões. Além disso, o governo resolveu leiloar outros 13 terminais entre julho e setembro de 2018, às vésperas das eleições. Também vai colocar à venda a participação de 49% da Infraero em quatro aeroportos concedidos pela ex-presidente Dilma Rousseff: Guarulhos (SP), Brasília (DF), Galeão (RJ) e Confins (MG). O governo espera obter até R$ 8 bilhões com essa operação, mas promete destinar o dinheiro à estatal, que ficará sem seus principais ativos. O plano aprovado ontem em reunião do PPI no Palácio do Planalto, sob comando direto do presidente Michel Temer, abrange ainda a privatização da Casa da Moeda. O ministro da Secretaria- Geral, Moreira Franco, lembrou que o uso cada vez menor de papel- moeda como forma de pagamento tem levado a "sucessivos prejuízos" da estatal. Para ele, há o risco de ela tornar-se mais dependente do Tesouro Nacional. "A Fazenda entendeu corretamente que fará estudo sobre sua venda." Outro ativo incluído, que quebra um verdadeiro tabu no setor, é a privatização da Codesa. Só terminais portuários são atualmente operados pela iniciativa privada, mas não a administração do condomínio como um todo. Moreira negou que haja viés meramente arrecadatório no programa de concessões e ressaltou que investimentos de R$ 24 bilhões já foram destravadas com projetos repassados à iniciativa privada. "Isso é essencial para a geração de emprego e renda." Com o apoio do ministro, a equipe econômica venceu um duelo de bastidores e conseguiu incluir Congonhas no pacote de concessões. A "joia da coroa" no sistema aeroportuário deverá atrair gigantes do setor e assegurar um ágio significativo na disputa, avalia o governo nos bastidores. O vencedor precisará investir R$ 1,8 bilhão em melhorias - como mais pontes de embarque e desembarque, modernização do sistema de bagagens - e pagar tudo de uma tacada só. Nas duas primeiras rodadas de concessões, a outorga era paga em parcelas anuais ao longo de toda a vigência do contrato. Isso tornava praticamente nulo o impacto fiscal dos leilões no curtíssimo prazo. Nos quatro aeroportos licitados em março deste ano, as regras mudaram: 25% do preço mínimo e todo o ágio oferecido nos lances vencedores tiveram que ser pagos à vista, no ato de assinatura do contrato. À exceção de Congonhas, que será leiloado individualmente, os demais aeroportos continuam com essa sistemática de pagamento. Serão três blocos diferentes. Um é constituído por Vitória (ES), onde a Infraero está na reta final de construção de um moderno terminal de passageiros, e por Macaé (RJ), importante entreposto para a indústria de petróleo e gás. O "circuito de turismo" do Nordeste é encabeçado por Recife (PE) e tem outros cinco ativos: Maceió (AL), João Pessoa (PB), Campina Grande (PB), Aracaju (SE) e Juazeiro do Norte (CE). Mais cinco aeroportos serão concedidos no Mato Grosso: BRASIL Valor Econômico

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Pacote de privatização crescee inclui até a Casa da Moeda

Por Daniel Rittner e RafaelBitencourt | De São Paulo

Em uma tentativa de obterreceitas adicionais e conter o rombofiscal de 2018, o governo deu sinalverde a um plano mais amplo deprivatizações que vai muito além daEletrobras. O pacote de vendas econcessões aprovado ontem peloconselho de ministros do Programade Parcerias de Investimentos (PPI),em reunião no Palácio do Planalto,inclui o aeroporto de Congonhas(SP) e a Casa da Moeda. Estãoainda na lista a Companhia Docasdo Espírito Santo (Codesa) e aLotex, modalidade conhecida como"raspadinha", cujo leilão foiconfirmado.

Congonhas (SP), o terminal maislucrativo de toda a rede da Infraeroe responsável hoje por quase 20%de suas receitas, será leiloado à vistae com preço mínimo de R$ 5,6bilhões. Além disso, o governoresolveu leiloar outros 13 terminaisentre julho e setembro de 2018, àsvésperas das eleições.

Também vai colocar à venda aparticipação de 49% da Infraero emquatro aeroportos concedidos pelaex-presidente Dilma Rousseff:Guarulhos (SP), Brasília (DF),Galeão (RJ) e Confins (MG). Ogoverno espera obter até R$ 8bilhões com essa operação, maspromete destinar o dinheiro à estatal,

que ficará sem seus principais ativos.

O plano aprovado ontem emreunião do PPI no Palácio doPlanalto, sob comando direto dopresidente Michel Temer, abrangeainda a privatização da Casa daMoeda. O ministro da Secretaria-Geral, Moreira Franco, lembrou queo uso cada vez menor de papel-moeda como forma de pagamentotem levado a "sucessivos prejuízos"da estatal. Para ele, há o risco de elatornar-se mais dependente doTesouro Nacional. "A Fazendaentendeu corretamente que faráestudo sobre sua venda."

Outro ativo incluído, que quebraum verdadeiro tabu no setor, é aprivatização da Codesa. Só terminaisportuários são atualmente operadospela iniciativa privada, mas não aadministração do condomínio comoum todo.

Moreira negou que haja viésmeramente arrecadatório noprograma de concessões e ressaltouque investimentos de R$ 24 bilhõesjá foram destravadas com projetosrepassados à iniciativa privada. "Issoé essencial para a geração deemprego e renda."

Com o apoio do ministro, aequipe econômica venceu um duelode bastidores e conseguiu incluirCongonhas no pacote deconcessões. A "joia da coroa" nosistema aeroportuário deverá atrair

gigantes do setor e assegurar um ágiosignificativo na disputa, avalia ogoverno nos bastidores. O vencedorprecisará investir R$ 1,8 bilhão emmelhorias - como mais pontes deembarque e desembarque,modernização do sistema debagagens - e pagar tudo de umatacada só.

Nas duas primeiras rodadas deconcessões, a outorga era paga emparcelas anuais ao longo de toda avigência do contrato. Isso tornavapraticamente nulo o impacto fiscaldos leilões no curtíssimo prazo. Nosquatro aeroportos licitados emmarço deste ano, as regras mudaram:25% do preço mínimo e todo o ágiooferecido nos lances vencedorestiveram que ser pagos à vista, no atode assinatura do contrato. À exceçãode Congonhas, que será leiloadoindividualmente, os demaisaeroportos continuam com essasistemática de pagamento.

Serão três blocos diferentes. Umé constituído por Vitória (ES), ondea Infraero está na reta final deconstrução de um moderno terminalde passageiros, e por Macaé (RJ),importante entreposto para aindústria de petróleo e gás. O"circuito de turismo" do Nordeste éencabeçado por Recife (PE) e temoutros cinco ativos: Maceió (AL),João Pessoa (PB), Campina Grande(PB), Aracaju (SE) e Juazeiro doNorte (CE). Mais cinco aeroportosserão concedidos no Mato Grosso:

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Cuiabá, Sinop, Alta Floresta,Rondonópolis e Barra do Garças. Aotodo, o governo espera pelo menosR$ 6,39 bilhões em outorga em 2018- sem considerar ainda apossibilidade de ágio.

Todos os editais têm previsão deserem publicados no segundotrimestre do ano que vem. O leilãoaconteceria no trimestre seguinte.Algumas autoridades colocam emdúvida a chance de cumprir fielmenteo calendário.

O ministro dos Transportes,Maurício Quintella, admitiu ter sidocontra a inclusão de Congonhas nopacote, porque isso dificulta oprocesso de reestruturação daInfraero. Ele minimizou, porém, aimportância das divergências."Somos um governo só. Adivergência é sadia e importante parao debate. Se todo mundo pensasse

igual, não seria um governodemocrático", afirmou.

Para não deixar a Infraero emestado de agonia financeira, ogoverno destinará à estatal o dinheiroda venda de 49% da fatia que elamantém nos aeroportos concedidosnas duas primeiras rodadas. Aexpectativa é receber de R$ 3bilhões a R$ 5 bilhões pelasparticipações em Brasília, no Galeãoe Confins. Em maior ou menor grau,os controladores privados dosaeroportos já demonstraraminteresse em comprar essas ações.

O valor do negócio poderiachegar a R$ 8 bilhões se a fatia de49% em Guarulhos, maior aeroportodo país, também for vendida. Oproblema é que a Invepar, acionistamajoritária do terminal, vivedificuldades financeiras.

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Privatizar é bom, mas olhandoapenas o caixa vira um perigo

Por Daniel Rittner | Brasília

Os livros de ensino médiocostumam resumir a históriacontemporânea com simplificações,mas atendo-se ao que éverdadeiramente importante contarpara jovens estudantes. Daqui aalgumas décadas, quando forpreciso condensar os tempos deFHC-Lula-Dilma-Temer em doiscapítulos, talvez não haja linhassuficientes para descrever oprocesso de privatização emsetores-chave da infraestruturabrasileira.

Mas poderia se dizer mais oumenos assim: nos anos 90, diante danecessidade de estabilização daeconomia e com juros altíssimos, ogoverno FHC vendeu ativospreciosos e usou o dinheiro paraconter minimamente a explosão dadívida pública.

O tucano acertou e errou. Équase consenso o sucesso naprivatização das teles. Já adesestatização da Rede FerroviáriaFederal (RFFSA), feita aos trancose barrancos para evitar novosprejuízos e levantar algum caixa,deixou problemas incontornáveis deregulação. Basta dizer que mais de60% da malha hoje estácompletamente abandonada. Asferrovias não se expandem econcessionárias cobram só um

pouco abaixo do frete por caminhão,no limite do que podem.

Além do ranço ideológico, Lulanão precisava de dinheiro comprivatizações. Surfou no superciclodas commodities e conseguiu colheros frutos de uma saudávelformalização da economia, compleno emprego e aumento daarrecadação. Para que enfrentarsindicatos e a clientela petista sevivíamos a ilusão da megalomaniados investimentos estatais?

Com Dilma, os preços do minérioe da soja despencaram, a economiaperdeu fôlego, e ela aguentou-seenquanto não radicalizava suasmanobras fiscais. Para reeleger-se,levou a estratégia ao limite,pedalando despesas para mantersensação térmica de crescimentoeconômico que não condizia com atemperatura fora do ar-condicionado. O resultado éconhecido.

Na infraestrutura, admitindo queo Estado não tinha dinheiro nemagilidade para tocar grandesprojetos, Dilma trocou o PAC peloPIL. Aceitou o investimento privado,mas nunca se entregou de coração.Resultado: um plano de concessõescom contratos mal feitos, duplicaçõesde rodovias que nunca saíram dopapel, um modelo esquisito paranovas ferrovias que desagradou omercado. Pelo menos, por causa da

Copa do Mundo e da Olimpíada,ganhamos aeroportos que fazemsentir-nos no primeiro mundo, comlojas bacanas, corredoresiluminados, embarque sem ônibusirritantes. Que as concessionáriasvencedoras dos leilões tenhampagado ágios malucos e hojeestejam com risco de quebrar torna-se mero detalhe?

Temer trocou o PIL pelo PPI -maldita sopa de letrinhas! -, criouuma força-tarefa para coordenar asprivatizações, acredita de corpo ealma no papel do capital privado nainfraestrutura. O mercado adora eaplaude. "Mas perdemos aracionalidade e agora discutimostudo sob o prisma fiscal", resigna-seum técnico do governo que, antesentusiasmado com a modelagem dasnovas concessões, vê agora umapressão gigantesca da equipeeconômica por vender tudo o que forpossível. Brinca que o Planalto hojesó pensa em três coisas: fazer caixa,fazer caixa, fazer caixa.

Fazer o leilão de Congonhas?Ótimo. Vão chover interessados. Oterminal fica mais bonito. Melhoram-se as condições operacionais.Poucos sabem que as companhiasaéreas deixam um avião parado nopátio para lidar com imprevistos enão serem punidas por atrasos nosvoos. A gestão privada pode ajudarmuito, certamente. Mas e opassageiro de Rio Branco, de

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Campo Grande ou de Teresina? Ficacom uma Infraero em frangalhos esem caixa para o básico? Vende-seo filé mignon, cobre-se um pouco dorombo e deixa-se o osso para oEstado, sem pensar na regulação.

Privatizar a Eletrobras é boa ideia.Chega de deputado indicandopresidente da Chesf e senadormandando em Furnas. Mas umapergunta incomoda: será que émesmo certo uma usina hidrelétricaconstruída no início do séculopassado, totalmente amortizada,cobrar tarifa mais cara do que omegawatt-hora de Belo Monte ou deJirau? "Descotizar", na prática,significa mais ou menos isso.Resolve-se o dilema jogando a culpana Dilma, e pronto. Não seria legarà próxima geração os erroscometidos na privatização daRFFSA, nos anos 90, porque afinalprecisamos dar um jeito de cobrir orombo de 2018? A resposta nãocabe em um livro de história doensino médio.

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Decisão do STF começa a afetar a receitaPor Ribamar Oliveira

O governo está enfrentando novoproblema na área tributária. Em julho,a Receita Federal identificou um"vazamento" na receita do PIS e daCofins, que ficou bem abaixodaquela registrada no mesmo mêsdo ano passado.

A explicação da área técnica éque a forte queda da receita do PIS/Cofins está relacionada com adecisão do Supremo TribunalFederal (STF), tomada em marçodeste ano, que excluiu o Impostosobre Circulação de Mercadorias eServiços (ICMS) da base de cálculodos dois tributos.

O efeito negativo da decisão jáera esperado, mas começou a serregistrado a partir do mês passado.Com a redução da base de cálculo,as empresas estão pagando menosPIS/Cofins. Assim, o governo estádiante de uma questão delicada.

Em julho, houve forte quedada arrecadação do PIS/Cofins

Tecnicamente, seria necessárioaumentar a base de cálculo, ou asalíquotas dos dois tributos, para quea receita obtida fique no mesmo níveldaquela que ocorria antes da decisãodo STF. Do contrário, argumentamtécnicos oficiais, haveria umaredução da carga tributária dasempresas em um momento de fortequeda da arrecadação da União. O

problema é propor essarecomposição do PIS/Cofins nomomento em que os principaislíderes governistas não querem ouvirfalar em elevar impostos.

Dados preliminares do Siafi, osistema eletrônico que registra todasas receitas e despesas da União,mostram que a arrecadação tributáriaem julho foi muito ruim, tendo ficadobem abaixo do que estava previstopelo governo no decreto deprogramação orçamentária efinanceira. Houve quedageneralizada, incluindo o Imposto deRenda (IR) e a Contribuição Socialsobre Lucro Líquido (CSLL), alémdo PIS/Cofins.

A receita do IR e da CSLL estásendo afetada, principalmente, pelaredução dos pagamentos feitos pelasinstituições financeiras. Os bancosestão pagando menos IR e CSLL porcausa do lançamento de provisõespara fazer face ao elevado nível deinadimplência de seus clientes - achamada provisão para devedoresduvidosos (PDD). De janeiro a junhodeste ano, o valor pago pelos bancoscom esses dois tributos ficou quase6% menor do que no mesmo períododo ano passado.

A arrecadação está sendo afetadatambém pela demora na definição donovo Refis - o programa depagamento de dívidas tributáriascom redução de juros e multas. Asempresas não aderem ao programa

definido pelo governo por medidaprovisória, na esperança de que oCongresso aumente ainda mais osdescontos de juros e multas paraquem pagar suas dívidas.

A perspectiva da arrecadaçãotributária federal no próximo anotambém não é boa. A ReceitaFederal considera que as demaisempresas, e não apenas os bancos,continuarão utilizando os prejuízosregistrados nos dois anos derecessão para reduzir o impostodevido, o que afetará as receitas doIR e da CSLL. A decisão do STFsobre o ICMS continuará diminuindoa arrecadação do PIS/Cofins, amenos que o governo consigarecompor a base dos dois tributos.

Na semana passada, o ministroda Fazenda, Henrique Meirelles,chamou a atenção para a diminuiçãoda receita em virtude da forte quedada inflação dos últimos meses. Oministro chegou a quantificar esseefeito. A estimativa da arrecadaçãotributária foi reduzida em cerca deR$ 19 bilhões neste ano apenas porcausa da queda da inflação. Pelomesmo motivo, o governo reduziu aprevisão de receita para 2018 em R$23 bilhões.

A arrecadação deve cair tambémno próximo ano porque o valor dofaturamento para que as empresassejam enquadradas no SuperSimples será elevado dos atuais R$3,6 milhões para R$ 4,8 milhões.

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O economista José RobertoAfonso, especialista em finançaspúblicas, destaca outro fenômeno. Aqueda da receita decorrente da forteredução da Selic, a taxa básica dejuros da economia, pelo BancoCentral. Segundo Afonso, a variaçãoda arrecadação federal do setorfinanceiro está colada com a Selic.

Mesmo com a economia emrecuperação, o governo projeta umaforte queda da receita total da Uniãono próximo ano, na comparação comeste ano. O governo propôs umamudança nas metas fiscais de 2017e 2018. O projeto de lei com essasalterações prevê que a receita totalda União ficará em 20,14% doProduto Interno Bruto (PIB) nopróximo ano, contra 20,80% nesteano.

A queda da arrecadação será,portanto, de 0,66 ponto percentual,o que é extremamente elevado,principalmente quando se leva emconsideração que a previsão oficialé de que a economia crescerá 2%em 2018, enquanto a expansão nesteano ficará em torno de 0,5%.

A difícil situação das receitastributárias explica por que o governodeslanchou um forte programa dedesestatização e de concessões.Como as despesas obrigatórias nãoparam de subir, as contas só fecharão,mesmo com o elevado déficitprojetado, com o auxílio de grandesreceitas extras.

Privatização da Eletrobrasprecisa de mudança de lei

Embora alguns ministros estejamafirmando que a privatização daEletrobras não exigirá aprovação

pelo Congresso Nacional, a áreajurídica do governo ainda temdúvidas sobre esta questão.Questionada pelo Valor, aProcuradoria-Geral da FazendaNacional (PGFN) considerou"provável" que a lei que criou aEletrobras tenha que ser mudada.

Em seu Artigo 7º, a Lei 3.890-A,de 1961, determina, expressamente,que nas emissões de açõesordinárias, a União terá quesubscrever o suficiente para lhegarantir o mínimo de 51% do capitalvotante.

A privatização da Eletrobrasproposta pelo governo prevê que, noprocesso de aumento de capital daempresa que será realizado embreve, a União não subscreva açõesordinárias. Desta forma, ela perderáo controle acionário da companhia.Ou seja, a desestatização não seráfeita por meio da venda de ações quea União tem da Eletrobras.

A questão que está colocada paraa área jurídica do governo é se aUnião pode fazer isso, quando a leique criou a Eletrobras a obriga,expressamente, a subscrever açõesno montante suficiente para mantero controle da empresa. Se aprivatização tiver que ser aprovadapelo Congresso, é possível queocorram resistências políticas atémesmo dentro da base parlamentardo governo.

Ribamar Oliveira é repórterespecial e escreve às quintas-feiras

E - m a i l :[email protected]

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BNDES abre linha de R$ 20 bipara pequenas e médias empresas

Por Edna Simão e Fábio Pupo |De Brasília

Em mais uma tentativa deestimular o crescimento, o governodecidiu "repaginar" uma linha decrédito do BNDES para financiar ocapital de giro de micro, pequenas emédias empresas (MPMEs). Amodalidade, que contará com R$ 20bilhões do caixa do banco, poderáser contratada pela internet a partirde segunda-feira e ficará disponívelpor um ano. Ela terá um custo maisbaixo, devido a spreads bancáriosreduzidos.

O ministro do Planejamento,Dyogo de Oliveira, insistiu que amodalidade é nova e antiga foidescontinuada. "É uma nova linha, éoperacionalmente diferente.Estamos anunciando novo recurso",disse. Segundo ele, na versão antigao programa destinava apenas R$ 4bilhões às MPMEs por ano. Ogoverno prevê que 200 mil clientesusem a linha de crédito e peçam mvalor médio de R$ 100 mil cada.

A nova linha integrada aoBNDES Online (nova plataformaeletrônica de crédito do banco) vaisimplificar a contratação, permitindoa oferta de crédito por meio dosaplicativos dos bancos paracelulares. O BNDES terá condiçõesde aprovar as operações em cercade três segundos e o recurso ficarádisponível na conta do clienteinicialmente em 48 horas e, "embreve", em 24 horas.

Segundo o presidente doBNDES, Paulo Rabello de Castro,o spread bancário teve uma reduçãode 30%, passando de 2,1% para1,5%. "Estamos reduzindo para1,5% e gostaríamos de convidar maisinstituições para acompanhar", disse.

O prazo máximo da nova linha éde 60 meses. A taxa de jurosdepende do porte da empresa. Setiver faturamento até R$ 90 milhões,será cobrada a Taxa de Juros deLongo Prazo (TJLP) maisremunerações do BNDES e doagente financeiro. Mas se o

faturamento variar entre R$ 90milhões e R$ 300 milhões, acorreção do empréstimocorresponderá a 50% da TJLP e50% da Selic mais remunerações.

Para empresas com faturamentoacima de R$ 300 milhões, o custoserá correspondente à taxa demercado, mais as remunerações.Oliveira frisou que não há subsídioadicional do Tesouro Nacional. "Érecurso que o BNDES tem hoje emcaixa."

O governo espera que os R$ 20bilhões a serem liberados ajudem naretomada da economia. "O créditopara empresas ainda não recuperouo terreno positivo e essa linha decrédito vem para esse ponto deinflexão. Toda a demanda está secolocando sobre as empresas e elasprecisam de capital de giro pararetomar a produção e daratendimento a essa demanda."

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Governo promete proposta paraPIS/Cofins que não puna serviços

Por Raphael Di Cunto | DeBrasília

O secretário da Receita Federal,Jorge Rachid, prometeu aopresidente da Câmara dosDeputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), encaminhar uma proposta desimplificação do PIS e da Cofins,parte da reforma tributáriapretendida pelo governo, que nãoprejudique o setor de serviços,responsável por empregar 20milhões de trabalhadores.

Dirigentes de associações,sindicatos e confederações do setor,junto com deputados, fizerammobilização em Brasília ontem contrao projeto que, nos cálculos doInstituto Brasileiro de Planejamentoe Tributação (IBPT), provocaria ademissão de dois milhões de pessoascom o aumento da carga tributária,que também elevaria o preço deserviços como educação, passagens,internet, vigilância, tarifas bancárias,entre outros.

Os empresários conversaramontem com o relator da reformatributária na Câmara, deputado LuizCarlos Hauly (PSDB-PR), quedefende projeto diferente dodiscutido pelo governo, com umacompleta mudança no sistema, ecritica a tentativa de fazer apenas

uma simplificação, sem realizar umaverdadeira reforma que possaalavancar o crescimento do Brasil.

Também falaram com opresidente da Câmara, que já tinhaprometido em reunião com o setorno ano passado trabalhar contra oaumento da carga tributária e reiterouesse compromisso ontem. Maia,segundo o presidente da CentralBrasileira do Setor de Serviços(Cebrasse), João Diniz, chegou acomentar até que o encontro eradesnecessário. "Ele [Maia] tem umcompromisso público contra oaumento de impostos", afirmou.

O projeto de simplificaçãotributária do PIS/Cofins unifica osdois impostos e acaba com o regimecumulativo de cobrança, utilizado pelamaior parte das empresas deserviços, em que a alíquota dos doisimpostos é de 3,65%. Ficaria apenaso regime não cumulativo, comalíquota de até 9,25%, compensadacom registro de crédito do impostopago por seus fornecedores.

O problema, dizem osempresários, é que outras áreas,como comércio e indústria, vão gerarmuitos créditos porque têm umagrande cadeia produtiva, mas na áreade serviços os insumos sãorepresentados basicamente por mãode obra, que não gera créditos a

serem compensados. A estimativa éque isso eleve a carga do setor ematé 5% - o que acabaria repassadopara o consumidor final, diminuiria ademanda e, como consequência, osempregos em meio à criseeconômica.

De acordo com o presidente daCâmara, Rachid afirmou que sabeque a proposta causará impacto parao setor de serviços e informou queestá elaborando uma "solução" paraque o segmento não seja prejudicado."Vão encaminhar uma proposta emque esse problema dos serviçosesteja resolvido, está bem tranquiloem relação a esse assunto", disse.Maia afirmou que não sabe, ainda,qual é essa saída.

Os empresários procurarão oMinistério da Fazenda paraconversar sobre essa nova proposta,mas, de antemão, se mostramressabiados. "Na primeira reformado PIS e da Cofins do governo Lula,em 2004, aumentaram o imposto eprometeram um novo projeto parareduzir a alíquota, mas nunca foiaprovado", pontua Diniz. Na épocaa mudança resultou em elevação dearrecadação com as duascontribuições. Há a preocupação deque, num momento de ajuste fiscal,a conta caia sobre o setor deserviços.

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Governo quer injetar R$ 16 bi naeconomia com liberação de PIS

Por Edna Simão e Fábio Pupo |De Brasília

Dyogo Oliveira, doPlanejamento: "Vamos fazer ampladivulgação para pessoas que possamter esquecido esse dinheiro".

Depois de ver a demanda dapopulação por recursos do FundoGarantia do Tempo de Serviço(FGTS) ser maior que a prevista, ogoverno decidiu criar uma medidasemelhante para facilitar o saque dascontas do PIS/Pasep. Com isso, oPlanalto espera que R$ 15,9 bilhõessejam injetados na economia eimpulsionem o Produto Interno Bruto(PIB) deste ano em 0,25%.

Segundo o ministro doPlanejamento, Dyogo Oliveira, seráeditada hoje uma medida provisóriaque permitirá o saque. A idademínima para saque pelosaposentados será de 62 anos, nocaso das mulheres, e de 65 anos,para os homens. Serão beneficiados7,8 milhões de cotistas a partir deoutubro.

O ministro explicou que serápermitido que o crédito seja feito emfolha de pagamento ou de forma

automática em conta de depósito,conta poupança ou outra forma depagamento de titularidade para oscotistas enquadrados para saque.Por isso, o beneficiário não precisaránem ir ao banco.

Atualmente, os trabalhadores têmdireito ao abono salarial erendimentos do PIS/Pasep desdeque cadastrados como participantesdos fundos até 4 de outubro de 1988e não tenham sacado o saldo. Pelasregras atuais, os cotistas só poderiamefetuar os saques nos casos deaposentadoria (para aqueles comidade igual ou superior a 70 anos);invalidez (do participante oudependente); transferência parareserva remunerada ou reforma (nocaso de militar); idoso e/ou portadorde deficiência alcançado peloBenefício da Prestação Continuada;dentre outros.

De acordo com Oliveira, muitoscotistas que cumprem os critériospara saque não se lembram quepossuem esses recursos. "Hátambém muitos casos em queherdeiros de cotistas falecidos nãosabem do direito ao saque e, porconta disso, a medida vai facilitar oacesso às informações. Vamos fazerampla divulgação para pessoas quepossam ter esquecido esse dinheiro",disse o ministro.

O governo adiantou que ossaques serão feitos de formagradativa, obedecendo a umcronograma que leva em conta a datade nascimento do beneficiário. Em

junho de 2016, o saldo médio porcotista era de R$ 1.187,00. Amaioria dos cotistas tem ao menosR$ 750 a serem resgatados.

Para o presidente Michel Temer,a iniciativa é uma demonstração daatenção que o governo dá à áreasocial e resulta do trabalho da equipeeconômica, que, conforme afirmou,produz ações que "favorecem todaa sociedade brasileira" e a economia."O crédito está sendo gerado pelasmais variadas formas e fórmulas. Etambém esse aporte que vamoscolocar na economia beneficiando 8milhões de pessoas", disse Temer emdiscurso.

A medida é tomada depois que ogoverno federal avaliou como bem-sucedida a iniciativa de liberarrecursos das contas inativas doFGTS, que serviu para fazer umafago a 25,9 milhões detrabalhadores que tiveram acesso aR$ 44 bilhões.

Os recursos foram destinados,principalmente, ao pagamento dedívidas, o que contribuiu para oaumento do consumo e,consequentemente, segundo ogoverno, para a retomada daeconomia do país.

O saque de contas do PIS/Pasepfoi anunciado em solenidade noPalácio do Planalto. Na mesmacerimônia também foi lançada umalinha de crédito de capital de giropara micro, pequenas e médiasempresas.

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24/08/17

Recursos ajudam consumo,mas impacto divide analistas

Por Sergio Lamucci, AnaConceição e Estevão Taiar | De SãoPaulo

A liberação de R$ 15,9 bilhõesdas contas do PIS/Pasep paraaposentados dará impulso extra aoconsumo das famílias no quartotrimestre. O que divide os analistasconsultados pelo Valor é o tamanhodesse impulso. O impacto deve sermenor do que o produzido nosegundo trimestre pelos saques dascontas inativas do Fundo de Garantiado Tempo de Serviço (FGTS), quechegaram a R$ 44 bilhões, mas vaiajudar o componente da demandaque, para analistas, já puxa arecuperação lenta e gradual daeconomia. O investimento, tudoindica, terá nova queda neste ano.

A nova injeção de recursos devebeneficiar cerca de 7,8 milhões deaposentados a partir de outubro. Ossaques vão ser permitidos a homenscom mais de 65 anos e mulheres commais de 62. Para o economistaBruno Levy, da TendênciasConsultoria Integrada, será maisuma força impulsionando o consumo.

A consultoria projetava nocomeço do ano contração dademanda das famílias em 2017,número que mudou paraestabilidade. Agora, a Tendênciascogita uma nova revisão para cima,num quadro marcado pela queda dainflação, que ajuda a renda real, o

recuo dos juros, a melhora no créditopara pessoas físicas e a perspectivade melhora da confiança, passado ochoque da crise política. "A medidaé positiva e deve ter reflexo noconsumo das famílias, nas contasnacionais, e nas vendas no varejo",diz Levy.

Para o economista Bruno Lavieri,da 4E Consultoria, o impacto sobreo consumo e a atividade econômicaé pequeno. "Isso deve se refletir deforma muito diluída e eventualmentenem aparecer de maneira relevante", diz.

Para ele, a medida se assemelhaà liberação de recursos do FGTS -algo visto por Lavieri como positivo,mas menos do que previsto aprincípio. "Esses recursos acabaramsendo impactantes para consumo edesalavancagem das famílias, masmuito do que o governo esperava emum primeiro momento em termos deconsumo acabou não seconcretizando", diz. "O impactosobre consumo foi até pequeno."

No caso do FGTS, foramliberados R$ 44 bilhões. Em relaçãoao PIS/Pasesp, o governo estimaque ficarão disponíveis R$ 15,9bilhões. "Esse recurso deve ir namesma direção [do FGTS]", mascom menos impacto, diz.

Além do volume menor, omercado de trabalho em lentarecuperação, segundo ele, limita a

recuperação mais rápida doconsumo. "As pessoas preferemreduzir as dívidas a contratar novosempréstimos ou fazer novos gastos",afirma.

Mauricio Nakahodo, economistado Mitsubishi UFJ Financial Group(MUFG) no Brasil, a medida tempotencial para estimular as vendas dovarejo no fim do ano.

"[A liberação] Abre espaço paraum aumento do consumo. De formaimediata, no quarto trimestre, é difícilquantificar. Mas pensando emsazonalidade, fim de ano, parte dodinheiro pode ser usada para essascompras", afirma o economista.

No segundo trimestre, argumentaLevy, da Tendências, o comérciovarejista ampliado (que incluiautomóveis e autopeças e material deconstrução) subiu 1,7% em relaçãoao trimestre anterior, feito o ajustesazonal.

A liberação do dinheiro dascontas inativas do FGTS teve umimpacto favorável no consumo noperíodo de abril a junho, segundoanalistas, embora não tenha sido omotivo principal para explicar omovimento. Os juros mais baixos ea inflação cadente têm maior pesoaí. Para a Tendências, o PIB nosegundo trimestre ficou estável emrelação ao primeiro, com alta de0,4% do consumo das famílias.

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24/08/17

Levy acredita que, dado o perfilde quem poderá sacar as contas doPIS/Pasep, a propensão aoconsumo tende a ser maior do que ade quem obteve acesso às doFGTS. "Os idosos tendem a pouparmenos", diz ele. Parte dos recursostende a ser destinada ao pagamentode dívidas. No caso do dinheiro doFGTS, a Confederação Nacional doComércio de Bens, Serviços eTurismo (CNC) estima que 25% dosR$ 44 bilhões chegaram ao varejo.

Levy projeta um crescimento doPIB de 0,3% no ano, comestabilidade do consumo dasfamílias, número este que pode serrevisado para cima. Para ele, oinvestimento terá queda de 1,1% em2017. O Santander, por sua vez,estima expansão para o PIB de 0,5%neste ano, com avanço de 0,6% doconsumo das famílias e recuo de0,7% do investimento.

Na opinião de Lavieri, da 4E,uma outra característica dos recursos- tanto do PIS/Pasep quanto doFGTS - favorece a desalavancagemem detrimento do consumo: "Adistribuição é muito pulverizada. Tempouca gente recebendo muito e muitagente recebendo pouco ou quasenada. O FGTS foi bem assim",afirma. "Quem recebeu muitodinheiro é porque teve um saláriomuito bom por um muito tempo,juntando boa poupança. Essapessoa não precisa do recurso paraconsumo imediato."

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24/08/17

Privatização da Eletrobrascoloca em risco obra de Angra 3

Eletronuclear deve acelerarbusca por sócio privado. Usinaainda precisa de R$ 17 bi para serconcluída

RAMONA ORDOÑEZ,GLAUCE CAVALCANTI,

MANOEL VENTURA,BÁRBARA NASCIMENTO

E JANAINA LAGE

A decisão de separar aEletronuclear de sua controladora,a Eletrobras, que será privatizada,coloca em risco a conclusão dasobras da usina nuclear de Angra 3e, em última instância, o avanço doprojeto nuclear brasileiro. Segundoespecialistas, pode ficar mais difícilfinanciar Angra 3, empreendimentoque começou a ser construído em1984, tinha orçamento original de R$9,9 bilhões, mas que agora aindadepende de R$ 17 bilhões paraconcluir a obra. Diante da escassezde recursos e do custo bilionáriopara desmobilizar o projeto após 33anos, a Eletronuclear buscaparceiros privados para finalizar aconstrução. A Eletronuclear jáassinou um memorando deentendimento com a China NationalNuclear Corporation (CNNC) paraanálise das características doempreendimento e deve firmar, embreve, acordo com a russa Rosatom.Caso cheguem a um consenso, osócio privado entraria cominvestimentos de R$ 13 bilhões.Caberia à Eletronuclear arcar comos R$ 4 bilhões restantes. Segundoum executivo próximo à estatal, oanúncio da separação da

Eletronuclear e da Eletrobras, cujostermos ainda não foram definidospelo governo, poderia contribuir paraagilizar as negociações em curso: —O prazo fica mais apertado. Oanúncio pode até acelerar asnegociações com parceiros privados.Se em setembro o governo federaldecidir pela retomada das obras,tem de se fechar a parceria até o fimdo ano para que a usina fique prontaem 2024.

TARIFA QUE NÃOCOMPENSA PROJETO

A obra enfrenta problemas emsérie. A construção está paralisadadesde setembro de 2015 porenvolvimento do projeto nosescândalos de corrupção reveladospela Operação Lava-Jato. Aretomada de Angra 3 depende aindada aprovação do Conselho Nacionalde Política Energética (CNPE).Mesmo que um sócio privadoestrangeiro arque com os custos deconclusão da obra, a operação dausina ficaria a cargo da Eletronuclear.Segundo a estatal, depois que forassinado o contrato é necessário umperíodo de seis meses paramobilização de pessoal e preparaçãode canteiro. No primeiro semestre,o balanço da Eletrobras inclui umimpairment (baixa contábil) de R$485 milhões referente a Angra 3.Segundo Aquilino Senra, professorde Engenharia Nuclear da Coppe/UFRJ, a separação das empresaspode ter impacto financeiro. — AEletrobras tem um papel importantena articulação junto ao governo

federal. Existem outras áreas, porém,que estão fora do âmbito dacompanhia, como a construção doreator de propulsão naval da Marinha— explica Senra. Especialistasafirmam que é difícil compreendercomo a Eletronuclear terá fôlegopara tocar os empreendimentos semo suporte da Eletrobras. No governoanterior, havia propostas deexpansão do parque nuclear, com aconstrução de ao menos uma outracentral nuclear no Nordeste. Osprojetos, porém, ficaram emcompasso de espera.

— A Eletronuclear representauma questão constitucional. As usinasnucleares são de responsabilidade daUnião. A empresa desagregaria valorao negócio. Da maneira que estáhoje, é um ativo oneroso. Mas o quevai acontecer quando a Eletrobrasperder o controle sobre asempresas? A receita de Angra 1 eAngra 2 é mais que suficiente paramanter as usinas. A dificuldade é terrecursos para concluir Angra 3 —afirma Olga Simbalista, presidente daAssociação Brasileira de EnergiaNuclear (Aben). Por sua vez, opresidente da Associação Brasileirapara Desenvolvimento de AtividadesNucleares (Abdan), Celso Cunha,observa que o momento atual é deindefinição sobre o futuro da energianuclear no país. — Existe grandeindefinição sobre o futuro da energianuclear, que dependerá das decisõesque virão com o novo marcoregulatório para o setor. É precisoresolver Angra 3 pois, sem ela, aEletronuclear é superavitária. Como

ECONOMIAO GLOBO

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está, sozinha não se sustenta — dizCelso Cunha ao lembrar que pararas obras exigiria cerca de R$ 12bilhões. Mesmo antes da discussãosobre privatizar a Eletrobras, já haviadificuldade para viabilizar Angra 3.

Segundo fonte próxima à estatal,Angra 3 vem causando elevadosprejuízos que são repassados pormeio de baixas contábeis para aEletrobras. Para viabilizar a usina,seria necessário aumentar a tarifa deAngra 3, fixada em R$ 240 omegawatt/hora (MWh). Segundo afonte, o valor não remunera oprojeto, e aumentar a tarifa de Angra3 já faz parte das negociações compotenciais parceiros. — Se nãoaumentar o valor da tarifa da usina,Angra 3 não tem jeito, nem mesmose conseguir parceiros. Com essatarifa, ela não é rentável. Os atrasosna obra geraram custos muito altos— destacou. Diante do quadro deincerteza, Senra teme que o governomire em seguida no monopólio deurânio. O país tem a sétima maiorreserva do mundo. — Temo que asmudanças estejam só começando.Isso pode ter impacto natransferência de tecnologia ao país— disse. Em Brasília, o governoainda discute os detalhes daprivatização da Eletrobras. Segundoo ministro de Minas e Energia,Fernando Coelho Filho, só haverávenda de ações da União naprivatização da empresa se a diluiçãoda participação do governo não forsuficiente para a perda de controleda estatal.

O modelo em estudo dentro dogoverno para a venda da holdingprevê que a estatal faça uma ofertade ações na Bolsa, como forma delevantar recursos para pagar aogoverno pelas 14 usinas hidrelétricasque foram transferidas à União em

2012, como resultado da medidaprovisória 579, que buscava reduzira conta de luz e desarrumou ascontas da Eletrobras. Dessa forma,o dinheiro entraria no caixa da União,que perderia o controle da empresa,porque não vai comprar as ações.— A ideia que foi colocada aqui noConselho é que, inicialmente, nãotenha venda de nenhuma ação (daEletrobras) por parte da União, doBNDES e dos fundos (de pensão).Porém, se a diluição de capital poremissão de novas ações não forsuficiente para a perda do controle,podemos, sim, colocar algumasações à venda, mas não é essa aproposta inicial — disse o ministro.

MODELO DEVE SERANUNCIADO NA PRÓXIMASEMANA

O único modelo de venda daEletrobras pelo qual o governoconsegue levantar recursos paracobrir o rombo nas contas públicasé o que prevê o pagamento à Uniãopelas outorgas das usinas, após aempresa levantar recursos nomercado. De acordo com CoelhoFilho, a modelagem da privatizaçãodeve ser anunciada até início dapróxima semana. Mais cedo, oministro do Planejamento, DyogoOliveira, explicou que a ideia dogoverno é estabelecer umamodelagem de venda da Eletrobrasque pulverize o controle. Ou seja, nãodeve ser permitido que um únicogrupo adquira a maioria das ações,a exemplo do que ocorreu com aVale:. — A ideia é democratizar ocontrole.

PARAGUAI AGUARDAINFORMAÇÃO SOBRE USINA

BUENOS AIRES- O governo do

Paraguai, sócio do Brasil na UsinaHidrelétrica de Itaipu, acompanha asinformações sobre o processo deprivatização da Eletrobras pelosmeios de comunicação e ainda nãorecebeu qualquer comunicação dogoverno brasileiro sobre o assunto.O governo Michel Temer decidiuprivatizar a Eletrobras, mas a usinabinacional não será privatizada.Segundo disse ao GLOBO oministro das Relações Exterioresparaguaio, Eladio Loizaga, o assuntonão foi discutido pelos presidentesTemer e Horacio Cartes, no encontrorealizado segunda-feira passada emBrasília. O Paraguai espera que“diante de qualquer processo devenda ou incorporação de umaempresa privada, o Brasil informequal será a figura jurídica que seráutilizada em relação ao Tratado deItaipu” (que estabeleceu a criação darepresa hidroelétrica binacional).

— O tratado não fala sobre aabertura a empresas privadas,teríamos de conversar sobre isso —disse o chanceler paraguaio. Deacordo com o governo Temer, asituação de Itaipu “será analisada emfunção dos acordos bilaterais com oParaguai”. Em Assunção, a falta deinformação é total. — Queremos termais informações, só estamossabendo o que foi publicado na mídia— afirmou Loizaga. Há vários anos,o Paraguai pede ao Brasil queautorize a venda de seu excedentede energia elétrica em Itaipu a preçode mercado. Na opinião dochanceler paraguaio, “uma mudançana Eletrobras poderia abrir a portapara algo que estamos solicitando hábastante tempo”. — Cartes e Temernão mencionaram o assunto.Falaram, apenas, da produçãorecorde de Itaipu — disse Loizaga.(Janaína Figueiredo, correspondente)

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24/08/17

Temer libera R$ 16 bi para idosos e age para reanimar investidores

DE BRASÍLIA

Depois da safra de notíciasnegativas que culminou com oaumento da previsão de deficit doOrçamento, o governo lançou umminipacote com objetivo de revertero mau humor em relação aodesempenho da economia.

O presidente Michel Temer e suaequipe econômica anunciaram, emum só dia, a liberação de R$ 15,9bilhões do PIS/Pasep, além de umanova linha de crédito do BNDES emais privatizações.

A medida de maior apelo popularé a facilitação ao saque do PIS/Pasep, cujos cotistas sãotrabalhadores que tinham carteira detrabalho assinada até 1988. Ogoverno reduziu a idade mínima parasaques, de 70 anos para 65 (homens)e 62 (mulheres), e depositará odinheiro diretamente para quem temconta no Banco do Brasil ou naCaixa.

Quem não tem conta nos bancosestatais poderá solicitar atransferência para seu banco, a partirde outubro.

Segundo o Ministério doPlanejamento, a medida vaibeneficiar quase 8 milhões depessoas e terá impacto positivo de0,2 ponto percentual no PIB até ofim de 2018.

Marcos Ferrari, secretário deAssuntos Econômicos doPlanejamento, afirma que o efeitoesperado é semelhante ao dos saquesdo FGTS.

"O primeiro efeito positivo serásobre o consumo. O segundo, viaredução do endividamento dasfamílias."

Embora não receba depósitosdesde 1988, o fundo do PIS/Pasepvem aumentando devido à falta deinformação e à dificuldade deacesso.

Atualmente, o volume disponívelé de R$ 37 bilhões, recursos hoje àdisposição do BNDES paraempréstimos.

Na avaliação do Planejamento,os saques não afetarão as operaçõesdo banco, que tem outros recursosdisponíveis para emprestar.

O pacote é o ponto central de umesforço do governo para girar aeconomia e sustentar a recuperaçãode empregos em um momento detransição até a retomada docrescimento no médio prazo.

Na avaliação de auxiliares deTemer, a confiança de investidores econsumidores foi duramente abaladapelas acusações feitas pelos donosda JBS contra o presidente.

O objetivo do governo é tomarmedidas que não agravem o quadrofiscal para criar um ambiente positivoem relação à economia.

"Algumas pessoas me perguntam:quando é o 'feel good' [sentir-se bem,em inglês]? [Quando] as pessoascomeçarem a ter uma percepção deque a economia está melhorando,começam a perder o medo de perdero emprego", afirmou o ministroHenrique Meirelles (Fazenda).

(MAELI PRADO, MARINADIAS, MARIANA CARNEIRO,JULIO WIZIACK)

MERCADOFOLHA DE SÃO PAULO

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24/08/17

A revolução de Dilma e TemerVINICIUS TORRES FREIRE

A ASSOCIAÇÃO de DilmaRousseff com Michel Temer poderesultar em uma revolução do lugardo governo na economia brasileira.A ex-presidente começou a obra dedesmonte do Estado, que entrou emoutra fase importante nesta semana,com o pacote de privatizações deseu sucessor em impopularidade.

Não é preciso lembrar querevoluções podem produzir apenasruínas e que a mudança ainda é umaobra superfaturada em andamento.Ainda assim, mesmo este paísprostrado e abúlico deveria prestaratenção no que se passa.

Dilma arruinou as contas públicase as estatais, um tanto como aditadura militar em sua fase final.Depois dela, vieram o dilúvio dadívida e a seca de recursos estatais,que deverá durar uma década.

Dilma desmoralizou o que sechama de ideias de esquerda emeconomia. Por assim dizer, a grandeobra da ex-presidente foi construira "Ponte para o Futuro" (o nome doprograma da coalizão que a depôs).O bloco liberal apenas atravessa orio, em apoteose.

Temer criou um programaconstitucional de redução de gastosdo governo federal. Retirou parteimportante das relações trabalhistasda custódia do Estado. Lançou um

plano de privatização de quase todoo resto da infraestrutura estatal.

Na lei e na marra, vai diminuindoo crédito dos bancos estatais. O fimdos subsídios via BNDES e adiminuição do balanço do banco sãoapenas um passo.

O próximo, planejado nasinternas, é acabar com os subsídiosao setor rural embutidos no créditoestatal (a ideia é que os subsídiossejam concedidos via Orçamento,que está à míngua, no entanto).

Todas essas ambições deelegância liberal podem chafurdar nalama grossa que são o governo e suacoalizão.

O teto de gastos pode cair logo,sem reforma da Previdência. Areforma trabalhista pode parar naJustiça (sic) assim que começar a seraplicada e causar revoltas e algumasexplorações.

A redução forçada doinvestimento público, por falta demeios e devido ao programa teóricodos economistas do governo, vai darem besteira caso não se inventem ascondições que incentivam oinvestimento privado.

Para ficar em um exemplo tópico,ontem o governo voltou a falar nacriação de um mercado de

debêntures, como o fez em setembrodo ano passado, quando lançou oprograma Crescer. Nisso e em muitomais está tudo por fazer.

A privatização e as novas regrasdo setor elétrico são problemasenroladíssimos e graves, emboraexista gente capaz na equipeeconômica e elétrica para tocá-las.O problema não está bem aí, comoem quase toda parte do programado governo que tem boa-fé.

A "base aliada" já quer sabotar aprivatização da Eletrobras (políticosde Minas e do Nordeste queremmanter os feudos de Furnas e daChesf). Está à beira de enterrar areforma previdenciária.

Parte do Planalto e sua "base",enfim, este governo"semiparlamentarista", estão doidospara estourar ainda mais oOrçamento, como se viu na revisãodas metas fiscais.

Em resumo, estamos à beira deuma reviravolta. Pode haver umEstado diminuído, com ofertaprivatizada e talvez mais eficaz deserviços públicos, mas ainda umEstado imensamente quebrado.

Mas, como todas as reformasainda podem ir à breca, pode restarapenas desordem na falência.

MERCADOFOLHA DE SÃO PAULO

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24/08/17 NOTAS & INFORMAÇÕESO ESTADO DE S. PAULO

Outra afronta ao teto salarial

A exemplo dos membros do Poder Judiciário e doMinistério Público, os integrantes da Advocacia-Geral da União (AGU) também não pouparamesforços para aumentar o contracheque e burlar o tetosalarial fixado pela Constituição – hoje de R$ 33,7mil – para o funcionalismo público. Só entre janeiroe julho deste ano, os 12,5 mil advogados e servidoresdo órgão receberam um benefício extra de R$ 283,3milhões. Até os aposentados embolsaram parte dessevalor. Além disso, seguindo o exemplo dosmagistrados e dos procuradores de Justiça, osmembros da AGU – uma das carreiras mais bemremuneradas da administração pública, comvencimentos iniciais de R$ 17,3 mil – entendem queos valores recebidos a título de benefício funcionalnão estão sujeitos ao teto salarial do funcionalismoestabelecido pela Constituição, o que lhes permiteultrapassar o limite de remuneração de R$ 33,7 milmensais. Ainda com base nesse entendimento, a AGUnão inclui no Portal da Transparência informaçõesdetalhadas sobre o pagamento desse benefício a cadaservidor.

Enquanto no caso dos juízes e dos procuradoresos benefícios envolvem auxílio-moradia, auxílio-creche, auxílio-educação, ajuda de custo,gratificações e outros penduricalhos, no caso dosadvogados da União o pagamento extra vem dorepasse dos chamados honorários de sucumbência –os valores pagos pelas partes derrotadas em litígiosjudiciais a quem venceu os processos. Atérecentemente, a legislação determinava que essesvalores pertenciam à parte – ou seja, à União. Contudo,os integrantes da AGU pressionaram a Câmara e oSenado durante a votação do novo Código de ProcessoCivil, em 2015, e conseguiram incluir no texto aprevisão de que “os advogados públicos perceberãohonorários de sucumbência, nos termos da lei”. Elesvoltaram a se mobilizar em 2016 e conseguiram queo Congresso aprovasse essa lei, determinando queos valores da sucumbência pertencem a eles. Issoobrigou os Ministérios do Planejamento e da Fazendaa baixar uma portaria no final de 2016,

regulamentando os repasses, cujo valor bruto já chegaa R$ 5 mil por mês em alguns casos.

Para gerir os repasses, a AGU teve de criar umConselho Curador, cujos membros são eleitos pelosfuncionários do órgão. Ao justificar esse pagamentoextra, que passou a ser concedidoindiscriminadamente a todos os advogados da União,inclusive aos que perdem causas judiciais, osintegrantes da AGU alegam que não estão onerandoos cofres públicos, pois os valores da sucumbênciaseriam privados, por virem de contribuintes quelitigam contra a União. Portanto, são recursos quenão se enquadram no conceito de finanças públicasnem como receita nem como despesa – dizem eles.Também afirmam que esse pagamento é “a forma maismoderna e eficiente de remuneração”, na medida queatenderia “aos preceitos da meritocracia”.

Esses argumentos – também invocados poradvogados públicos de Estados e municípios –primam pelo absurdo e pela hipocrisia, pois essesprofissionais já recebem vultosos salários mensais,independentemente de seu desempenho ouprodutividade. Também não arcam com qualquer ônusquando perdem causas nos tribunais. E, sobre apublicação dos valores de modo individualizado noPortal da Transparência, os dirigentes do ConselhoCurador chegam às raias do cinismo ao afirmar que,por “liberalidade e em atenção aos princípiosrepublicanos”, encaminham as informações aoMinistério da Transparência, ao qual caberia aresponsabilidade por sua divulgação. Como nasdemais carreiras jurídicas do Estado, os advogadospúblicos também insistem em afirmar que benefíciospecuniários fazem parte das prerrogativas de quenecessitam para exercer sua função. Esquecem,contudo, de que os pagamentos extras não sãoprerrogativa, mas uma apropriação imoral derecursos da coletividade. Isso dá a medida dasdificuldades que o País tem de enfrentar para superara maior crise fiscal de nossa história.

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24/08/17

Governo amplia programa de concessões e prevê arrecadar R$ 40 bi

Privatização. Programaanunciado ontem, para serfinalizado até o ano que vem, incluiaeroportos, portos, áreas deexploração de petróleo, aEletrobrás e até a Casa da Moeda;anúncio foi bem recebido nomercado, mas falta de modelo deconcessões foi criticado

Idiana TomazelliFernando NakagawaCarla Araújo

Sob pressão para demonstrarcomo conseguirá fechar as contaspúblicas deste e do próximo ano,e tentando injetar um novo ânimona economia, o governo federalanunciou ontem a intenção deconceder 57 empreendimentos àiniciativa privada, incluindo oaeroporto de Congonhas e a Casada Moeda. A expectativa é obterpelo menos R$ 40 bilhões embônus a serem pagos pelosinvestidores, a maior parte dessevalor ainda em 2017 e 2018.

A cifra inclui o que será obtidocom a venda da Eletrobrás. Aestimativa do governo é que, alémdos bônus, a concessão dessesprojetos – que incluem aeroportos,portos, rodovias e áreas deexploração de petróleo – ainda vaigerar R$ 44,5 bilhões eminvestimentos ao longo do períododos contratos. O ministro-chefe da

Secretaria de Governo, MoreiraFranco, afirmou que a ampliaçãodo programa não tem objetivomeramente arrecadatório.

Segundo ele, o programa vaienfrentar a questão do emprego erenda e, ao mesmo tempo,melhorar a infraestrutura do País.O pacote anunciado ontem é omaior já feito dentro do Programade Parcerias de Investimentos(PPI). Nos dois pacotes anteriores,o total era de 89 projetos. Desses,segundo o governo, 49 já foramconcedidos ou renovados e, até ofim do ano, deverão ser realizadosoutros seis leilões e seisrenovações.

O anúncio teve uma acolhidapositiva por parte do mercado. “Éum anúncio muito importante,várias dessas privatizaçõescolocadas são ativos que hoje nãorecebem investimentos, estãodepreciando, e, na mão deterceiros, receberão investimentosque vão movimentar a indústria”,disse o presidente da consultoriaAlvarez & Marsal Brasil, MarceloGomes. Mas o fato de o governonão ter detalhado como será omodelo das concessões levantoualgumas críticas.

“É um pacote que mistura ummonte de ativos, e o principal, queé a estratégia de vendas, não

existe”, disse o economista- chefedo Banco Fator, José FranciscoLima Gonçalves.

Transportes.

O pacote de concessões incluia privatização de 14 aeroportos,entre eles o de Congonhas (SP) eo de Recife (PE), no terceirotrimestre de 2018. Congonhas é oativo mais valioso e pode renderpelo menos R$ 5,6 bilhões. Ogoverno vai exigir o pagamentodesse bônus à vista no ano quevem. As outorgas dos demaisaeroportos poderão ser pagas deacordo com o modelo que já temsido implementado: entrada de25% e o restante parcelado.

À exceção de Congonhas, ogoverno deve ofertar os aeroportosem blocos por região. São seisaeroportos no Nordeste e cincoterminais no Centro-Oeste. Aindanão está decidido se cada blocopoderá ter mais de um operador.“Com certeza teremos interessadosnos ativos, aeroportos no Brasiltêm atratividade muito grande”,disse o ministro dos Transportes,Maurício Quintella.

O governo ainda vai leiloartrechos da BR-364 entre Rondôniae Mato Grosso e da BR-153 entreGoiás e Tocantins. As duasrodovias são importantes para o

ECONOMIAO ESTADO DE S. PAULO

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escoamento agrícola. Tambémentraram na lista 15 terminaisportuários. Outra frente de atuaçãoserá a venda da participação de49% da Infraero nos quatroprimeiros aeroportos concedidosà iniciativa privada: Brasília,Confins, Galeão e Guarulhos. Aestatal enfrenta dificuldades decaixa e não tem fôlego financeiropara bancar sua parte nosinvestimentos previstos nessesterminais nos próximos anos.

O Ministério da Fazendatambém propôs a privatização daCasa da Moeda, estatalresponsável pela emissão dedinheiro e documentos como opassaporte, e que tem enfrentadodificuldades financeiras. “A saúdefinanceira da Casa da Moeda estáextremamente debilitada peloavanço da tecnologia”, explicouMoreira Franco.

COLABOROU FRANCISCOCARLOS DE ASSIS

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Para economistas, impacto maior é no longo prazo

Analistas avaliam que pacotede concessões dará alívio no curtoprazo, mas o importante é quesinaliza mudança de postura doEstado

A inclusão de 57 novosprojetos no programa deprivatizações e concessões dogoverno federal, segundoanalistas, é positiva e podecontribuir para reduzir asdificuldades fiscais em que seencontra o País já no curto prazo.Mas a avaliação é que os impactosserão mais positivos mesmo é nolongo prazo.

Para o economista SílvioCampos Neto, da consultoriaTendências, há a sinalização dogoverno de uma mudança dapostura do Estado na economia,com a redução do seu papel nosnegócios. Isso fica evidente naprevisão de venda da participaçãoda Infraero nos aeroportos jáconcedidos à iniciativa privada,como o de Guarulhos em São Pauloe o de Confins em Belo Horizonte.

No governo anterior haviagrande protagonismo do setorpúblico na economia, ressalta ele.Esta sinalização de mudança temimpacto positivo na confiança deinvestidores, o que é um passoimportante para a atração derecursos do exterior, afirma

Campos Neto. Para ele, hádemanda pelos projetos deinvestidores externos.

Ao mesmo tempo, lembra oeconomista, o quadro de incertezapolítica ainda é alto, em meio àsinvestigações da Operação LavaJato e as eleições de 2018. Aelevada incerteza, apesar dosprojetos de infraestrutura serem delongo prazo, pesa nas decisões dosagentes.

Para Campos Neto, o pacotedará alívio fiscal às contaspúblicas, especialmente em 2018,mas não resolve a fortedeterioração da dívida, que segueprecisando de medidas estruturais,como a reforma da Previdência.Avaliação parecida tem oeconomista- chefe da AustinRating, Alex Agostini.

Segundo ele, a medida épositiva e pode contribuir parareduzir as dificuldades fiscais emque se encontra o País já no curtoprazo. Mas, mais do que isso, atransferência de ativos à iniciativaprivada melhora a dinâmica docaixa do governo no longo prazo.“Se os processos forembemsucedidos, entram recursosimportantes no caixa do governonum momento em que a situaçãofiscal ainda é delicada, comnecessidade de ajuste fiscal”, disse

Agostini.

“As concessões e privatizaçõestambém melhoram a governançadessas empresas e evitam riscospara o Tesouro, melhorando o fluxode caixa no longo prazo.” Segundoele, investidores internacionaistêm grande interesse em ativos deinfraestrutura e logística no Brasil,apetite que deve ser verificado nosleilões. “O Brasil tem grande fluxode pessoas, são 220 milhões dehabitantes e pouco mais de 100milhões de pessoaseconomicamente ativas.

Os investidores sabem disso eentendem que os ativos deinfraestrutura e logística podem serrentáveis.” Um bom desempenhodo programa ainda trariacontribuição positiva à nota decrédito do País. “O momento émuito delicado por causa doanúncio de aprofundamento dodéficit fiscal, mas, com um êxitodos leilões, as agênciasperceberão uma melhoraimportante da dinâmica do fluxo decaixa ao longo do tempo. Essamudança de direção, aliada a umajuste fiscal, pode ajudar a reverteressa ameaça sobre o rating”,explicou o economista da Austin.

CAIO RINALDI E ALTAMIROSILVA JÚNIOR

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Governo quer leiloar 4 usinas daCemig

O governo não desistiu de leiloar asquatro usinas hidrelétricas da Cemig,apesar da pressão contrária da bancadamineira no Congresso, capitaneada pelosenador Aécio Neves (PSDB-MG). "Nãovamos abrir mão do leilão ainda nestesegundo semestre", disse o ministro deMinas e Energia, Fernando Coelho Filho.

Ele disse que o governo nunca estevefechado a um entendimento com a estatalmineira, que quer comprar as usinas ebusca financiamento do BNDES. Oministro participou ontem da reunião doconselho do Programa de Parcerias deInvestimentos (PPI) que aprovou a novaleva de concessões e privatização.

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Venda da Eletrobrás tem resistências

Parlamentares nordestinos dabase governista, como EdisonLobão e Raimundo Lira, são contravenda de subsidiárias da estatal deenergia

Thiago FariaJulia Lindner

A decisão de privatizar aEletrobrás começa a enfrentarresistências no Congresso, inclusivena base governista. Aliado dogoverno Michel Temer, o senadorEdison Lobão (PMDB-MA) afirmouser contra a medida. Ministro deMinas e Energia de 2008 a 2015, opeemedebista alegou que a empresaé estratégica para o País e nãodeveria ser entregue à iniciativaprivada.

“Eu penso que a dificuldade daEletrobrás, que realmente existiram,decorrem sobretudo dasdistribuidoras, que foram assumidaspela empresa e que pertenciam aalguns Estados. Sobretudo a doAmazonas, que gerou um prejuízomuito grande. Não sou favorável àprivatização da Eletrobrás. Ela é umasegurança para o abastecimento deenergia do País.

Ela tem uma função estratégicae, como tal, deve ser preservada sobcontrole do Estado”, afirmou.Questionado sobre a possibilidadede o governo poupar subsidiárias daEletrobrás, como já sugerem algunsparlamentares, Lobão disse que aestatal de energia é um conjunto. “Euentendo a Eletrobrás como umconjunto daquilo que é útil para a

geração de energia.

A parte da distribuição até podeser privatizada, mas a geração, não.”Na bancada peemedebista doSenado, a opinião é de que aprivatização é necessária, mas serápreciso discutir antes as condições.“Essa (privatização) é uma discussãoque vai ser feita aqui. Precisamosouvir os senadores. Cada um tem osseus interesses regionais.

A Chesf, por exemplo, é umaempresa muito respeitada e muitoestimada no Nordeste. Estasquestões regionais devem ser objetode discussão”, afirmou o líder doPMDB na Casa, Raimundo Lira(PB), em referência à CompanhiaHidro Elétrica do São Francisco. Aoposição à venda das subsidiárias,porém, não é unânime.

Para Garibaldi Alves (PMDBRN),por exemplo, não há razão para nãoincluir as subsidiárias na privatização.“Não vejo razão para excluir”, disse.As resistências surgem também naCâmara. “Estou muito preocupadocom mensagem de venda daEletrobrás e da privatização dasusinas da Cemig”, afirmou ontem odeputado Leonardo Quintão(PMDB-MG).

Cemig.

O formato da operação deprivatização da estatal ainda não estádefinido. Mas, ainda que nãodependa da aprovação doLegislativo, ela pode ser alvo de

pressões pelo Congresso. É o queocorre com a concessão das usinasda Cemig que estão com seuscontratos vencidos. Contrária àmedida, a bancada mineira temameaçado não votar matérias deinteresse do governo.

COLABOROU IDIANATOMAZELLI

Meirelles diz que plano épulverizar ações da Eletrobrás

O ministro da Fazenda, HenriqueMeirelles, afirmou que a ideia dogoverno é pulverizar as ações daEletrobrás no processo deprivatização anunciado nesta semana.Segundo o ministro, a ideia não éoferecer o bloco de controleatualmente com o governo a um únicocomprador, e sim oferecer as açõesde forma pulverizada aosinvestidores. “A ideia é não ter umcontrolador na Eletrobrás.

A princípio, é uma pulverizaçãoque diminua a participação daUnião”, disse, após cerimônia noPlanalto. Questionado sobre eventualimpacto fiscal no processo dedescotização do setor elétrico –mudança do sistema de precificaçãoda energia nas geradoras e que podegerar pagamento de outorgas aogoverno –, o ministro da Fazendaadmitiu que a opção pode gerarimpacto positivo nas contaspúblicas, o que poderia aliviar odéficit registrado atualmente. “Adescotização pode gerar uma receitafiscal importante”, disse.

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INFRAESTRUTURA »Privatização pode gerar investimento de R$ 44 bi

Pacote do governo prevê alicitação de 57 empreendimentosdas áreas de energia e transportesaté o fim do próximo ano, além davenda de empresas estatais àiniciativa privada. Modelagem dosleilões, no entanto, ainda não estádefinida

SIMONE KAFRUNI

O governo anunciou ontem umpacote de privatizações comprevisão de investimentos de R$ 44bilhões ao longo dos anos deconcessão de 57 empreendimentosa serem leiloados até o fim de 2018.O Conselho do Programa deParcerias de Investimentos (PPI)confirmou a concessão de 14aeroportos, inclusive o deCongonhas (SP), administrado pelaInfraero, e a alienação daparticipação acionária da estatal nasconcessionárias dos terminais deBrasília (DF), Confins (MG), Galeão(RJ) e Guarulhos (SP), dos quaisdetém 49%. Também aprovou ainclusão, no Programa Nacional deDesestatização (PND), da Casa daMoeda e da Eletrobras e marcou oleilão da usina hidrelétrica de Jaguara(MG), objeto de disputa judicialcom a estatal mineira de energia,Cemig, para 27 de setembro.

O PPI ainda incluiu no ProjetoCrescer a concessão de 11 lotes detransmissão de energia elétrica, decampos de exploração de petróleo,

de vários terminais portuários e aprivatização da Lotex (veja noquadro ao lado). Ao anunciar asdecisões do terceiro encontro doconselho do PPI, o ministro daSecretaria-Geral da Presidência daRepública, Wellington MoreiraFranco, ressaltou que, nas duasprimeiras reuniões, foram aprovados89 projetos, dos quais 49 já foramconcedidos ou renovados. “Até o fimdo ano, serão mais seis leilões e seisrenovações. Tudo isso resultou emR$ 24 bilhões de investimentos e R$6 bilhões de outorga”, enumerou.

Para as novas concessões,Moreira Franco explicou que houveum esforço para mudar modelagens.“O objetivo é criar condições parao setor privado participar. OBNDES (Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico Social)mudou o seu papel no processo.Acabamos com o empréstimo-pontee há toda uma discussão paratransformar a TJLP (taxa de juros delongo prazo) em TLP”, ressaltou.

EletrobrasSobre a privatização da

Eletrobras, o ministro de Minas eEnergia, Fernando Coelho Filho,ressaltou que o presidente MichelTemer precisa chancelar a decisãodo conselho do PPI. “Até o inícioda semana que vem, vamos detalharcomo será a diluição da participaçãodo governo na estatal”, disse.

Coelho Filho também ressaltou

que não desistiu das usinashidrelétricas de Minas Gerais, emdisputa com a Cemig. “Não abromão dos interesses da União e dasoutorgas. A realização do leilãoocorrerá neste semestre”, destacou.Sobre a judicialização, o ministroafirmou que o certame pode ocorrersem a decisão do Supremo TribunalFederal (STF). “Obviamente, ela dámais conforto para segurançajurídica”, reconheceu.

Para especialistas, o governo estáno caminho certo ao buscar reduziro tamanho do Estado. “É necessáriotransferir para a iniciativa privadaaquilo que o Estado já mostrou quenão tem competência para gerir. Sóassim o país vai conseguir eliminargargalos de infraestrutura”, avaliou opresidente da Macroplan, CláudioPorto.

Na opinião do presidente daInterB Consultoria, CláudioFrischtak, haverá investidoresinteressados porque há excesso deliquidez no mundo. “Os retornosestão muitos baixos em nível global.A questão é saber em que condiçõesessas privatizações vão se dar, porconta da situação macroeconômicamuito frágil e a incerteza política”,disse.

No caso da Eletrobras, Frischtakressaltou que a modelagem definitivanão saiu, mas a melhor forma seriapulverizar o controle, e o governomanter uma golden share, como foi

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feito com a Embraer e a Vale. Parao especialista Rodrigo Leite,advogado do LVA, o governo estudaum limitador para aquisição dasações da Eletrobras, para não haverconcentração nas mãos de um sóinvestidor. “Isso vai resultar numapulverização, que é positiva parainvestidor, mas não paraempreendedor. Diminui o apetite doschineses, por exemplo, que sãomegalomaníacos e querem controle”,analisou.

NegociaçãoLeite não tem dúvidas de que a

estratégia do governo é aprovar adescotização, permitindo que aEletrobras comercialize energia compreço de mercado. “Isso melhora aatratividade e gera uma dívida coma União, que precisa fazer frente aodeficit orçamentário”, afirmou. Eleressaltou, no entanto, que o governovai ficar refém do Congresso, poisprecisa aprovar uma medidaprovisória. “Vai ter muita negociaçãoe talvez seja necessário deixar de foraalguma subsidiária, como Chesf ouFurnas, para atender políticos.Porque, se não descotizar, ninguémvai levar a Eletrobras”, ponderou.

No caso do leilão da usina deJaguara, marcado para 27 de

setembro, os especialistasinterpretaram o movimento dogoverno como uma pressão pararesolver o embate com a Cemig.Ricardo Medina, especialista eminfraesturutra do L.O. BaptistaAdvogados, destacou que aproposta da estatal mineira éabsurda. “Querem comprar as usinasda União com dinheiro da União.Não faz sentido. Mas é precisoresolver as pendências judiciais paranão prejudicar o processo deprivatização”, alertou.

As usinas de Mariana, São Simãoe Volta Grande, concedidas à Cemigpor 20 anos, mas cujos contratosvenceram este ano, também estãocom leilão marcado para o mesmodia de Jaguara. Porém, a Cemig, quenão tem os R$ 11 bilhões de outorgaque o governo pede pelos quatroativos, judicializou a questão e oprocesso está pendente de decisãodo Supremo Tribunal Federal (STF).

“É necessário transferir para ainiciativa privada aquilo que o Estadojá mostrou que não tem competênciapara gerir. Só assim o país vaiconseguir eliminar gargalos deinfraestrutura”

Cláudio Porto, presidente daMacroplan

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Casa da Moeda será vendida

MARLLA SABINOESPECIAL PARA O CORREIO

A Casa da Moeda do Brasil,responsável pela confecção de notasde reais e também de passaportesbrasileiros, selos postais e diplomas,foi incluída no pacote de privatizaçãoanunciado ontem pelo Conselho doPrograma de Parcerias deInvestimentos (PPI). A previsão éque o edital seja publicado noterceiro trimestre do ano que vem, eque o leilão aconteça nos três últimosmeses de 2018.

A ideia de privatizar a empresapública foi apoiada pelo ministro daSecretaria-Geral da Presidência daRepública, Moreira Franco, com oargumento de que há prejuízoscrescentes na estatal, ao mesmotempo em que, pelo avançotecnológico, moedas e cédulas sãocada vez menos usadas pelosbrasileiros. Além disso, há exemplosde empresas privadas que fabricampapel moeda para os respectivospaíses, como a De La Rue, no ReinoUnido, e a Giesecke & Devrient, naAlemanha.

Moreira Franco defende que aestatal seja vendida antes que cheguea depender do dinheiro do TesouroNacional. “A Fazenda vai aprofundarestudos sobre o destino da Casa daMoeda, que vem tendo prejuízossucessivos. O negócio principal daempresa é produzir moeda, mas oconsumo de moeda no Brasil, quechegou a movimentar cerca de 3bilhões de cédulas, caiu para 1,2bilhão”, disse o ministro. “Issosignifica que a saúde financeira estáextremamente debilitada pelo avançoda tecnologia”, completou.

O presidente da consultoriaMacroplan, Cláudio Porto, vê amedida com bons olhos, masacredita que é necessáriodesenvolver tecnologias de controlerígidas ao passar a gestão daempresa para a iniciativa privada.“Se bem implementada, é uma boainiciativa, pois os meios depagamento mudaram e hoje se usapouco dinheiro vivo”, afirmou.

Para José Matias-Pereira,professor da Universidade deBrasília (UnB), especialista em contas

públicas, não há nenhuminconveniente em privatizar a Casada Moeda, mas é importante que aempresa atenda a demanda doEstado brasileiro, na medida em quea instituição esteja em condiçõesadequadas para produzir cédulas. “OEstado já provou que não estápreparado para estar no comandodas estatais. É fundamental que aempresa tenha condições adequadaspara produzir cédulas, sendomonitorada, de maneira permanente,pelo governo”, argumentou.

Em abril, o Banco Centralprecisou importar cem milhões denotas azuis de R$ 2 de uma empresasueca. Por conta de problemas, queforam desde a quebra deequipamentos até a descoberta deum esquema de corrupção dentro daestatal para direcionar licitações, foicriada uma lei que autoriza aautoridade monetária a importarpapel-moeda e moeda metálica dereais, sem licitação, sempre que aCasa da Moeda atrasar a entrega deemcomendas em 15%. (colaborouSimone Kafruni)

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INFRAESTRUTURA »Infraero deve sair do Aeroporto JK

Venda da fatia de 49% daestatal abre caminho para grupoargentino ampliar controle.Pacote de privatização inclui 14terminais, incluindo o deCongonhas, em São Paulo

SIMONE KAFRUNI

No feirão de privatizaçõesanunciado ontem pelo Programa deParcerias de Investimentos (PPI)estão 14 aeroportos, entre eles,Congonhas SP), e a alienação daparticipação de 49% da Infraero nosterminais de Brasília, Galeão (RJ,Guarulhos (SP) e Confins (MG). Asaída da Infraero abre caminho para

que os argentinos adquiram 100% doAeroporto Internacional JuscelinoKubitschek.

A Corporacion América, holdingda Inframerica, administradora doAeroporto de Brasília, diz não estar“no presente momento” em tratativaspara comprar os 49% da Infraero naoperação de Brasília, mas reconheceter “interesse em ampliar a suaatuação na indústria aeroportuáriabrasileira”. Em nota, a companhiaargentina diz operar 53 aeroportosem sete países, incluindo o Brasil, noqual “a holding aposta fortemente nomercado”. Além de Brasília, aInframerica detém 100% do

aeroporto de São Gonçalo deAmarante (RN), primeiro terminaltotalmente concedido à iniciativaprivada.

A grande aposta do governo, noentanto, é privatizar Congonhas, umaoperação atrativa ao mercado, coma qual o governo espera arrecadarR$ 5,6 bilhões em outorga e R$ 1,8bilhão em investimentos. Para opresidente da InterB Consultoria,Cláudio Frischtak, há um elementoarrecadatório na privatização doaeroporto doméstico maismovimentado do país, Congonhas.“É o ativo mais atraente, apesar daslimitações físicas. Mas não vairesolver o problema fiscal”, afirmou.

Além dos aeroportos, o governovai conceder 15 terminais portuários.O ministro dos Transportes, Portose Aviação, Maurício Quintella,detalhou que, sem levar emconsideração a venda dos 49% daInfraero, que ainda será avaliada peloBanco Nacional de DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES), ogoverno espera investimentos de R$19,472 bilhões e outorga total de R$8,586 bilhões, sendo outorga à vistade R$ 6,39 bilhões. “Tudo isso éprojeção. Os estudos é que vãodizer se é isso mesmo”, ressaltou.

Seis aeroportos vão compor obloco do Nordeste e outros cinco, odo Centro-Oeste, sendo que osterminais de Vitória (ES), Macaé(RJ) e Congonhas serão leilados

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Holding da operadora do terminal brasiliense afirma que teminteresse em ampliar a atuação no Brasil

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isoladamente, “No bloco do Centro-Oeste, há um aeroporto grande, emCuiabá (na verdade Várzea Grande,na região metropolitana da capitalmato-grossense), e quatro regionaisque alimentam o principal. Amodelagem é de 25% de outorgafixa”, explicou Quintella.

DivergênciaO ministro reconheceu que retirar

os aeroportos superavitários daInfraero pode enfraquecer a estatal,tanto que era contrário à privatizaçãode Congonhas, mas foi voto vencido.“Somos um governo só. Adivergência é importante, masterminou e já qualificamos oaeroporto”, resumiu. Sobre o futuroda Infraero, Quintella explicou que aalienação e a privatização doschamados “filés” da Infraero não

acabam com a possibilidade deabertura de capital. “Uma consultoriaestá estudando a nova realidade,levando em conta o leilão dosaeroportos. O final desse trabalho éque vai apontar esse caminho”, disse.

Injeção de recursosA alienação dos 49% vai garantir

uma injeção significativa de recursosna Infraero. “Tomamos medidas desaneamento da Infraero e o prejuízoem balanço saiu de R$ 3 bilhões, em2015, para R$ 751 milhões em 2016.A empresa ainda tem condições defazer investimento e está com umprograma de PDV, aberto e efetivo,que foi financiado pelasconcessionárias na última rodada deconcessões”, destacou o ministroMaurício Quintella.

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TRABALHO »EBC quer desligar 500 servidores

Plano de Demissão Voluntáriamira, sobretudo, funcionáriosaposentados. Sindicato diz temersucateamento da estatal

Anna Russi*Andressa Paulino*

O Conselho Administrativo daEmpresa Brasil de Comunicação(EBC), aprovou um Programa deDemissão Voluntária. O PDV, que éuma demanda que algunsempregados vêm apresentandodesde 2016, tem como meta reduzir500 pessoas do quadro de pessoal,visando, principalmente,aposentados com mais de 53 anos.Além disso, a direção discute aunificação da TV Brasil com a TV

NBR e a mudança do nome daempresa de EBC para Nacional.

Os planos da EBC provocaramreceio entre os funcionários.Segundo o coordenador doSindicato dos Jornalistas eempregado da empresa, GésioPassos, o temor é de que asdemissões resultem no sucateamentoda empresa. Caso o PDV atinja ameta, a estatal perderia 25% da mãode obra especializada, que soma2.500 trabalhadores, sem que hajaprevisão de concursos públicos parauma recomposição desses serviços.

Segundo o representante dosfuncionários no ConselhoAdministrativo, Edvaldo Cuaio, a

expectativa,porém, é de que o planonão atinja nem 300 aposentados. Osbenefícios para quem aderir aoprograma não foram informados, masa perspectiva, devido às condiçõesnas quais a empresa se encontra, nãoé boa, segundo ele. “Há um conflitode interesses. O processo não estásendo feito de forma transparente,como deveria. Queremos semprelutar para a valorização dosfuncionários, mas o assunto é tratadode forma sigilosa”, criticou Cuaio.

A participação do representantedos empregados foi vetada na reuniãorealizada pelo conselho para tratarda aprovação do PDV. O clima entreos servidores é de receio em relaçãoà possibilidade de o projeto dogoverno alterar plano de carreira ede benefícios.

A EBC informou que a propostado plano de demissão seguirá paraanálise na Secretaria deCoordenação e Governança dasEmpresas Estatais (Sest). OMinistério do Planejamento,responsável pelo departamento,afirmou que, até o momento, nãorecebeu o processo de PDVreferente à EBC.

OportunidadeEdvaldo Cuaio disse que os

empregados da estatal temem aindaque as condições de trabalho piorem.“Até agora, não recebemos nenhumanotificação oficial. O medo é que elescomecem a forçar o trabalhador a

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Direção da empresa discute ainda outras mudanças, como aunificação de operações de TV e troca de nome

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se demitir, cortando vantagens comoprorrogação de jornada, tirandocorrespondentes de seus postos,deixando o funcionário comcondições mínimas de trabalho”,contou um jornalista da empresa quenão quis ser identificado.

Os funcionários, entretanto, estãocientes de que, na empresa, algumasdas pessoas que já recebem obenefício do INSS demandam poressa oportunidade há cerca de umano. A estatal alegava não terrecursos para atender ao pedido.“Há uma cota muito alta deaposentados na empresa e nóssabemos que esse plano pretendealcançar esse tipo de funcionário.Acredito que esses servidores estãoesperando justamente essaproposta”, contou um editor de textoda EBC, que também preferiu nãoser identificado.

* Estagiárias sob supervisão deOdail Figueiredo

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CONJUNTURA »Saque do PIS/Pasep para idosos

Governo vai injetar quase R$ 16bilhões na economia com a liberaçãodos recursos para 8 milhões decotistas

RODOLFO COSTAANDRESSA PAULINO*

Dagmar Batista usará recursos nacompra de um fogão: "Qualquerdinheiro na conta é válido"

O governo federal segueadotando medidas para destravar oconsumo e recolocar o país nostrilhos. Após o sucesso dos saquesdas contas inativas do Fundo deGarantia do Tempo de Serviço(FGTS), que injetaram R$ 44bilhões na economia, o Ministério doPlanejamento anunciou ontem quevai liberar R$ 15,9 bilhões emrecursos do Programa de IntegraçãoSocial (PIS) e do Programa deFormação do Patrimônio doServidor Público (Pasep).

Ao todo, devem ser beneficiadosquase 8 milhões de cotistas — cercade 5 milhões de homens e 3 milhõesde mulheres, segundo avaliação doministro da pasta, Dyogo Oliveira.

A medida prevê, ainda, a redução daidade mínima para o resgate, de 70anos para 65 anos, no caso dehomens; e 62 anos para mulheres.

Os saques começarão emoutubro e podem se estender porquatro ou cinco meses, afirmaOliveira. A expectativa do governoé que o calendário seja divulgado até15 de setembro. O presidente daCaixa Econômica Federal, GilbertoOcchi, disse que esse é o prazo paraque a instituição ajuste os sistemas,uma vez que houve uma alteração naregra de idade mínima para o resgatedo recurso.

Dados estimados peloPlanejamento apontam que o saldomédio dos saques deve ficar emtorno de R$ 1,2 mil. No entanto, amaioria dos cotistas resgatará, aomenos, R$ 750. Os recursos doPasep serão retirados no Banco doBrasil, enquanto a Caixa será aresponsável pelo pagamento do PIS.

O saque do PIS, segundo ogoverno, vem de contas inativas e,portanto, não tem ligação com oabono salarial destinado anualmentea quem ganha até dois saláriosmínimos. “São contribuições queforam vinculadas ao Fundo deAmparo ao Trabalhador (FAT) depessoas que já trabalhavam antes de1988”, explicou Oliveira.

A aposentada Dagmar Batista, 68

anos, comemorou o anúncio. Nãofosse pela decisão do governo, elasó poderia ter acesso ao recurso em2019. O dinheiro, segundo afirmou,vai fazer a diferença na compra deum fogão novo para casa. “Obenefício é muito pouco, mas, nocenário atual, qualquer dinheiro naconta é válido”, avaliou.

EscalaOs resgates do PIS/Pasep vão

trazer efeitos positivos para aeconomia, mas em menor escala emrelação aos dos saques do FGTS,conforme prevê o economista-chefeda Opus Investimentos, José MárcioCamargo. “A liberação vai serfavorável, já que o Brasil vai ganharcom a geração de incentivo para oaumento de demanda econômicanum momento em que o país estáprecisando”, analisou.

Parte dos recursos, no entanto,pode não ser usada integralmentecom consumo de bens e serviços.Para o professor de administraçãopública Roberto Piscitelli, daUniversidade de Brasília (UnB), umaparcela do saldo deve ser usada paraquitar dívidas. “Como esse públicode terceira idade assume muitasdespesas de filhos, netos e afins, essedinheiro vai ser um auxílio para aquitação de débitos”, avalia.

*Estagiária sob a supervisão deCida Barbosa

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Os resgates

Fique atento aos saques das contas inativas do PIS/Pasep

Recursos R$ 15,9 bilhões em resgates aos cotistasBeneficiários 7,8 milhões de pessoasPúblico mulheres com idade a partir de 62 anos; e homens

com pelo menos 65 anosValor em média, os cotistas devem sacar R$ 1,2 mil. O

mínimo previsto é de R$ 750.Calendário as informações completas, como data para

resgate, serão divulgadas até 15 de setembroResgate ainda que não haja data definida, os primeiros

saques devem começar em outubro

Fonte: Ministério do Planejamento