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ALGA - 2008/09 - Valores e Vectores Prprios 57
Valores e vectores prpriosNeste captulo, sempre que no haja especicao em contrrio, todas as matrizes envolvidas
so quadradas. Se nada for dito em contrrio, quando se fala de uma matriz A estamos a
falar de uma matriz n n:Denio
Seja um nmero real. Diz-se que um valor prprio da matriz A se existe uma matrizcoluna no nula Xn1 tal que AX = X. matriz coluna X chama-se vector prprioda matriz A associado ao valor prprio .
Exemplo:
"1 2
2 1
#| {z }
A
"2
2
#| {z }X
=
"6
6
#= 3
"2
2
#| {z }X
; pelo que
"2
2
# vector prprio de
"1 2
2 1
#
associado ao valor prprio 3:
Determinao dos valores prprios de uma matriz
Pretende-se determinar 2 R para o qual exista X 6= 0n1 tal que AX = X: Tem-se que :
AX = X ,, AX X = 0n1 ,, AX InX = 0n1 ,, (A In)X = 0n1 (1)
A expresso (1) um sistema homogneo cuja matriz A In: Como se procura umasoluo X 6= 0n1; o sistema tem de ter solues no nulas, isto , tem de ser indeterminado. sabido que um sistema homogneo indeterminado se e s se a caracterstica da matriz
do sistema menor que n ou, ainda, se o determinante da matriz nulo. Assim, os valores
prprios da matriz so os valores tais que car (A In) < n; ou tais que det (A In) = 0: esta ltima equao, chamada equao caracterstica de A; que se utiliza para o clculodos valores prprios. O determinante de AIn um polinmio na incgnita denominadopolinmio caracterstico da matriz A:
Resumindo: Os valores prprios da matriz A so as raizes do polinmio caracterstico deA; det (A In) :
matriz A In chama-se matriz caracterstica de A:Quando um valor prprio tem multiplicidade k como raiz do polinmio caracterstico, diz-se
que tem multiplicidade algbrica k:
ALGA - 2008/09 - Valores e Vectores Prprios 58
Observaes:
1. O polinmio caracterstico de A tem grau n; pelo que tem no mximo n raizes. Umamatriz de ordem n tem, portanto, no mximo, n valores prprios.
2. Uma matriz real pode no ter valores prprios reais. Por exemplo, as raizes do
polinmio caracterstico da matriz
"0 11 0
#que 2 + 1 so i e i:
Exemplos:
1. Seja A =
"1 2
2 1
#: A matriz caracterstica de A
A I2 ="1 22 1
#pelo que o polinmio caracterstico de A
det
"1 22 1
#= 2 2 3;
cujas raizes so 1 e 3: Os valores prprios de A so 1 = 1 e 2 = 3; ambos commultiplicidade algbrica 1.
2. Seja A =
264 2 2 11 1 03 1 1
375 : O polinmio caracterstico de A
det
264 2 2 11 1 03 1 1
375 = 2 3;Como 2 3 = (2 2) v-se facilmente que as suas raizes so 0;p2 e p2: Osvalores prprios de A so 1 = 0; 2 =
p2 e 3 =
p2; todos com multiplicidade
algbrica 1.
3. A matriz
264 1 1 12 2 23 3 3
375 tem polinmio caracterstico 3+62 = 2(+6), pelo queos seus valores prprios so 1 = 0; com multiplicidade algbrica 2, e 2 = 6; com
multiplicidade algbrica 1.
4. Valores prprios da matriz identidade: A matriz identidade In tem como matrizcaracterstica a matriz In In; que uma matriz escalar em que os elementos dadiagonal principal so todos iguais a 1: O polinmio caracterstico de In (1 )ne o nico valor prprio de In = 1, com multiplicidade algbrica n:
ALGA - 2008/09 - Valores e Vectores Prprios 59
5. Valores prprios de uma matriz diagonal: Se A = [aij]nn uma matriz diagonal,a sua matriz caracterstica tambm diagonal pelo que o polinmio caracterstico
(a11 ) (a22 ) (ann ) e os valores prprios so a11; a22; ; ann, todos commultiplicidade algbrica 1.
6. Valores prprios de uma matriz triangular: Se A = [aij]nn uma matriztriangular (superior ou inferior), a sua matriz caracterstica tambm triangular pelo
que o polinmio caracterstico (a11 ) (a22 ) (ann ) e os valores prpriosso a11; a22; ; ann, todos com multiplicidade algbrica 1.
7. Valores prprios da transposta de uma matriz A:
detAT In
= det
AT ITn
= det
h(A In)T
i= det (A In) :
Conclui-se que as matrizes A e AT tm o mesmo polinmio caracterstico e, portanto,
os mesmos valores prprios.
Determinao dos vectores prprios de uma matriz
Depois de determinados os valores prprios de A; para determinar os vectores prprios asso-
ciados a um determinado valor prprio basta resolver o sistema homogneo indeterminado
(A In)X = 0: As solues no nulas deste sistema so os vectores prprios da matriz Aassociados a :
Nota: Para um valor prprio ; o sistema (A In)X = 0 tem garantidamente soluesno nulas, pois foi determinado de modo a que o sistema fosse indeterminado.
Exemplos:
1. A matriz A =
"1 2
2 1
#(exemplo 1 da pgina 58 ) tem valores prprios 1 e 3: Vamos
calcular a expresso geral dos vectores prprios associados a cada um dos valores
prprios.
= 1 :
Os vectores prprios de A associados a 1 so as solues no nulas do sistema(A (1) I2)X = 031; ou seja, as solues no nulas de do sistema homogneo cujamatriz simples
A (1) I2 ="1 + 1 2
2 1 + 1
#=
"2 2
2 2
#
e que tem por soluo geral X = y
"11
#; y 2 R.
Os vectores prprios associados a 1 so da forma y"11
#; y 2 Rn f0g.
ALGA - 2008/09 - Valores e Vectores Prprios 60
= 3 :
Os vectores prprios de A associados a 3 so as solues no nulas do sistema
(A 3I2)X = 031; ou seja, as solues no nulas de do sistema homogneo cujamatriz
A 3I2 ="2 22 2
#
que tem por soluo geral X = y
"1
1
#; y 2 R.
Os vectores prprios associados a 3 so da forma y
"1
1
#; y 2 Rn f0g.
2. Para a matriz A =
264 2 2 11 1 03 1 1
375 (do exemplo 2 da pgina 58), os valores prpriosassociados a 2 =
p2 so as solues no nulas do sistema
Ap2I3
X = 031
em que
Ap2I3 =
264 2p2 2 1
1 1p2 03 1 1p2
375 :
A forma condensada desta matriz
264 1 0 p22
0 1p22 1
0 0 0
375 ; pelo que os vectores prpriosprocurados tm a expresso geral z
264p22
p22+ 1
1
375 ; z 2 Rn f0g :
3. Para a matriz
264 1 1 12 2 23 3 3
375, (exemplo 3 da pgina 58) os vectores prprios associadosao valor prprio 0 tm a expresso geral
y
264 101
375+ z264 11
0
375 ;com y; z 2 R, no simultaneamente nulos.
ALGA - 2008/09 - Valores e Vectores Prprios 61
Multiplicidade geomtrica
Chama-se multiplicidade geomtrica de um valor prprio ao grau de indeterminaodo sistema (A In)X = 0, ou seja dimenso do ncleo da matriz (A In) : Como sabido, o grau de indeterminao dum sistema o nmero de variveis livres na soluo
geral do sistema e, portanto, a multiplicidade geomtrica de um valor prprio o nmero
de parmetros livres na expresso geral dos vectores prprios associados a :
Exemplos:
1. Todos os valores prprios calculados nos exemplos anteriores tm multiplicidade geo-
mtrica 1, excepto no exemplo 3 da da pgina 58, em que o valor prprio 0 tem
multiplicidade geomtrica 2; como se pode vericar atravs do exemplo 3 da pgina
60.
2. A matriz A =
264 5 1 00 5 10 0 5
375 , triangular superior, tem um nico valor prprio, = 5;com multiplicidade algbrica 3:
Os vectores prprios associados a 5 so as solues no nulas do sistema cuja matriz
simples
A 5I3 =
264 0 1 00 0 10 0 0
375 :Como esta matriz tem caracterstica 2; o grau de indeterminao do sistema 1 e,
portanto, = 5 tem multiplicidade geomtrica 1:
Neste ltimo exemplo constata-se que as multiplicidades algbrica e geomtrica de um valor
prprio podem ser diferentes. Pode-se, no entanto, provar a seguinte relao entre as multi-
plicidades:
Teorema A multiplicidade geomtrica de um valor prprio de uma matriz menor ouigual sua multiplicidade algbrica. [ou: se valor prprio de uma matriz A;m:g: () m:a: ()]
Considerando que a multiplicidade geomtrica de uma valor prprio no mnimo 1, conclui-se
facilmente, a partir deste teorema, o seguinte corolrio:
Corolrio: Se um valor prprio tem multiplicidade algbrica 1; a sua multiplicidade geo-mtrica tambm 1:
ALGA - 2008/09 - Valores e Vectores Prprios 62
Subespaos prprios
Se um valor prprio da matriz A, chamase subespao prprio associado a aoconjunto U formado pela matriz coluna nula e por todos os vectores prprios associados ao
valor prprio ; isto :
U = fXn1 : AX = Xg :
O subespao prprio de um valor prprio constitudo pela soluo geral do sistema
(A In)X = 0n1 e a multiplicidade geomtrica de o nmero de parmetros livresnessa soluo.
Verica-se facilmente que U um subespao vectorial de Rn:
1. Se X1; X2 2 U ento X1 +X2 2 U.X1; X2 2 U =) AX1 = X1 ^ AX2 = X2 =) AX1 + AX2 = X1 + X2 =)A (X1 +X2) = (X1 +X2) =) X1 +X2 2 U
2. Se X 2 U e 2 R, ento X 2 U:X 2 U =) AX = X =) AX = X =) A (X) = (X) =) X 2 U
Exemplos:
1. Para A =
"1 2
2 1
#tem-se U1 =
(y
"11
#; y 2 R
)e U3 =
(y
"1
1
#; y 2 R
):
2. Para A =
264 2 2 11 1 03 1 1
375 tem-se Up2 =8>:z
264p22
p22+ 1
1
375 ; z 2 R9>=>; :
3. Para A =
264 1 1 12 2 23 3 3
375 tem-se U0 =8>:y
264 101
375+ z264 11
0
375 ; y; z 2 R9>=>;.
Valores prprios e invertibilidade
Se uma matriz A admite o valor prprio 0, ento 0 raiz do polinmio caracterstico de A;
isto , det (A 0In) = 0 e a matriz tem determinante nulo, pelo que no invertvel.Por outro lado se A no invertvel, car (A) < n e o sistema AX = 0n1 tem solues
no nulas, ou seja, existe X 6= 0 tal que AX = 0n1 e, portanto, 0 valor prprio de A:Acabmos de mostrar que:
ALGA - 2008/09 - Valores e Vectores Prprios 63
Teorema: Uma matriz A no invertvel se e s tem 0 como valor prprio.
ou
Teorema: Uma matriz A invertvel se e s se no tem 0 como valor prprio.
Pode-se ento enunciar o seguinte resultado:
Teorema: Seja A uma matriz quadrada de ordem n. So equivalentes as armaes:
(a) car (A) < n:
(b) A matriz A no invertvel.
(c) det (A) = 0.
(d) O sistema AX = 0 indeterminado.
(e) A matriz A admite o valor prprio 0:
Diagonalizao de matrizes
Uma matriz A diz-se semelhante a uma matriz B se existir uma matriz P; invertvel, talque
B = P1AP:
Note-se que se A semelhante a B, ento tambm B semelhante a A.
B = P1AP =) PBP1 = A
Proposio: Se uma matriz A semelhante a uma matriz B, ento A e B tm o mesmopolinmio caracterstico e, portanto, os mesmos valores prprios.
Demonstrao: Se A semelhante a B, existe P; invertvel, tal que B = P1AP: Ento:
det (B xIn) = detP1AP xIn
=
= detP1AP xP1P =
= detP1 (A xIn)P
=
= detP1
det (A xIn) detP =
= (detP )1 det (A xIn) detP == det (A xIn) :
Uma matriz A diz-se diagonalizvel se semelhante a uma matriz diagonal, isto , seexistirem matrizes D; diagonal, e P; invertvel, tais que D = P1AP: matriz P chama-se
matriz diagonalizante.
ALGA - 2008/09 - Valores e Vectores Prprios 64
Exemplos:
1. Qualquer matriz diagonal diagonalizvel, pois qualquer matriz semelhante a si
prpria. De facto A = I1n AIn:
2. AmatrizA =
"1 2
2 1
# diagonalizvel, pois
"1 00 3
#=
"12
12
12
12
#"1 2
2 1
#"1 11 1
#
Observaes:
1. Se uma matriz A diagonalizvel os seus valores prprios so as entradas diagonais da
matriz D a que A semelhante; pois, pela proposio acima, os seus valores prprios
so os mesmos da matriz D, ou seja, as suas entradas diagonais:
2. Quando uma matriz diagonalizvel, torna-se fcil o clculo de potncias de qualquer
ordem da matriz:
Para uma matriz D diagonal, D = diag fd1; : : : ; dng tem-se, Dk = diagdk1; : : : ; d
kn
;
8k 2 N: Sendo A diagonalizvel, existem D; diagonal, e P , invertvel, tais queD = P1AP e, portanto, A = PDP1: Para k 2 N;
Ak =PDP1
k=PDP1
PDP1
: : :PDP1
| {z } =k vezes
= PDP1P
| {z }=In
DP1P
| {z }=In
: : :P1P
| {z }=In
DP1 = PDkP1
Teorema Seja A uma matriz quadrada de ordem n: A matriz A diagonalizvel se e s seexiste uma matriz invertvel P cujas colunas so vectores prprios de A:
Demonstrao: Mostrar uma armao envolvendo "se e s se" provar uma equivalnciaentre duas condies, ou seja, provar duas implicaes, uma em cada "sentido".
=)Suponhamos que A diagonalizvel. Ento existem matrizes
D =
266641 0 00 2 0...
. . ....
0 0 n
37775 e P =26664p11 p12 p1np21 p22 p2n...
.... . .
...pn1 pn2 pnn
37775 ; invertveltais que P1AP = D. Daqui sai que AP = PD:Temos ento:
AP = PD =
26664p11 p12 p1np21 p22 p2n...
.... . .
...pn1 pn2 pnn
37775266641 0 00 2 0...
. . ....
0 0 n
37775 =266641p11 2p12 np1n1p21 2p22 np2n...
.... . .
...1pn1 2pn2 npnn
37775(2)
ALGA - 2008/09 - Valores e Vectores Prprios 65
Por outro lado, designando as colunas de P por P1; : : : ; Pn; verica-se que
AP = [AP1AP2 : : : APn] (3)
Igualando (2) e (3) obtm-se:
AP1 = 1P1; AP2 = 2P2; : : : ; APn = nPn
Como P invertvel, todas as suas colunas so no nulas e, portanto, cada Pi; para
i = 1; : : : ; n; um vector prprio de A associado ao valor prprio i:(=Suponhamos agora que existe uma matriz invertvel P cujas colunas P1; : : : ; Pn so vectores
prprios de A associados, respectivamente, a valores prprios 1; : : : ; n: Tem-se:
AP1 = 1P1; AP2 = 2P2; : : : ; APn = nPn
Utilizando (3) obtm-se
AP = [AP1 AP2 : : : APn] = [1P1 2P2 : : : nPn] =
=
266641p11 2p12 np1n1p21 2p22 np2n...
.... . .
...1pn1 2pn2 npnn
37775 =
=
26664p11 p12 p1np21 p22 p2n...
.... . .
...pn1 pn2 pnn
37775266641 0 00 2 0...
. . ....
0 0 n
37775 = PD;em que D uma matriz diagonal em que as entradas diagonais so os valores prprios de A:
Como AP = PD implica que P1AP = D; A diagonalizvel.
Colocase agora a questo de saber quando existe uma matriz invertvel P cujas colunas so
vectores prprios de A: A resposta dada no seguinte teorema:
Teorema: Sendo A uma matriz quadrada de ordem n; existe uma matriz invertvel P cujascolunas so vectores prprios de A se e s se a soma das multiplicidades algbricas
dos valores prprios de A n e as multiplicidades algbrica e geomtrica de cada valor
prprio de A coincidem:
Dos dois ltimos teoremas conclui-se:
Corolrio 1: Uma matriz quadrada A; de ordem n; diagonalizvel se e s se a soma dasmultiplicidades algbricas dos valores prprios de A n e as multiplicidades algbrica
e geomtrica de cada valor prprio de A coincidem:
Corolrio 2: Se uma matriz quadrada A; de ordem n; tem n valores prprios distintos,ento diagonalizvel.
Nota: Este ltimo corolrio no "se e s se". H matrizes diagonalizveis que no tm nvalores prprios distintos.
ALGA - 2008/09 - Valores e Vectores Prprios 66
Exemplos:
1. A matriz
24 3 0 00 0 10 1 0
35 tem um nico valor prprio real, 3: As multiplicidadesalgbrica e geomtrica de 3 coincidem (so ambas 1), mas a soma das multiplicidadesalgbricas dos valores prprios no 3 e A no diagonalizvel.
2. A matriz
24 3 0 00 2 10 0 2
35, tem dois valores prprios:3 com multiplicidade algbrica 1 e 2 com multiplicidade algbrica 2. A soma dasmultiplicidades algbricas 3; mas, como o subespao prprio de 2
U2 =
8
ALGA - 2008/09 - Valores e Vectores Prprios 67
4. A matriz
24 2 3 40 4 20 0 1
35 tem trs valores prprios distintos, por isso diagona-lizvel.