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1. RECENSÕES

EMPRESAS E EMPRESÁRIOS: HISTÓRIA E SUAS POTENCIA-LIDADES

A história das empresas e dos empresários − ou, de forma maisgenérica, a história das organizações e dos seus agentes − tem vindo adesenvolver-se nas últimas décadas, devido à conjugação de váriosfactores. Por um lado, a investigação histórica democratizou-se, passandoa contemplar temáticas outrora mantidas no esquecimento. Por outro, acompreensão de qualquer organização, independentemente da suanatureza, só se torna possível se for analisada no médio e longo prazo,dado que o presente e até o futuro são, em grande parte, o resultado dopassado. Além disso, também a identidade e a memória se encontramprofundamente ligadas à história.

Após uma fase de alguma desconfiança ou, pelo menos, deindiferença mútua, investigadores e responsáveis pelas empresas têmvindo a aproximar-se, com vantagens recíprocas. É que, se asempresas/organizações oferecem à pesquisa histórica boas oportunidadespara o avanço do conhecimento, também aquelas só têm a ganhar com odesvendar da sua trajectória, inclusive no que concerne à definição denovas linhas estratégicas e programáticas e, bem assim, como reforço darespectiva imagem de marca. Para um número cada vez maior deempresários e gestores, a história, longe de ser algo que apenas interessaa especialistas ou mesmo a diletantes, passou a constituir uma mais-valiae um factor a ter presente na definição das estratégias a adoptar. O que seacaba de sintetizar pode ser comprovado nas obras que, em seguida, serãorecenseadas.

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Jean HEER, Nestlé. Ciento veintecinco años. De 1866 a 1991, Vevey(Suíça), Nestlé S. A., 1991, 538 p., ilustrada.

A Nestlé completou um século de existência em 1966. Foi entãopublicada a história da empresa, a qual, um quarto de século mais tarde(isto é, em 1991), viria a ser actualizada e ampliada, passando acontemplar também o lapso de tempo compreendido entre 1966 e 1991.É esta última que passarei a analisar, pois, não obstante ter sido publicadahá uma década, mantém-se ainda genericamente actualizada, além denão ter tido na altura a divulgação que merecia.

A obra apresenta, além da introdução, do prólogo e do índice denomes, dez capítulos, nos quais se narra, segundo uma ordem geralmentecronológica, a vida da empresa. Se, à primeira vista, parece tratar-se deuma estrutura tradicional, há todavia uma particularidade que, pelo seucarácter inovador, merece ser realçada. Trata-se, com efeito, daduplicação de cada um dos capítulos, forma original de articular ahistória geral/mundial com a história da Nestlé. A propósito, adverte oautor (p. 12): «De forma análoga ao que se verifica no Livro doCentenário de 1966, este relato evoca alternativamente, capítulo atrás decapítulo, a evolução económica, social e política do mundo […] ou aprópria história da Nestlé. Dessa maneira, o leitor poderá compreendermelhor o enquadramento mundial no qual se tem desenvolvido e empresade Vevey». Para evidenciar a distinção entre as duas perspectivas, semmargem para confusões, os capítulos relativos à história geral aparecemem itálico, enquanto os referentes à história da empresa se apresentam emcaracteres redondos. Nas considerações seguintes privilegiar-se-ão,obviamente, estes últimos.

Nos capítulos I e II estudam-se as origens da empresa, o papeldesempenhado pelo fundador, Henri Nestlé (1814-1890) − cujo nomenunca mais deixaria de estar associado ao empreendimento, quer nadenominação da firma, quer na marca de comercialização de um elevadonúmero de produtos − e os inícios da expansão pela Europa e,posteriormente, por outros continentes.

Não obstante H. Nestlé ser natural de Frankfurt, instalou-se na Suíça(1843), em cuja cidade de Vevey viria a criar a empresa, em 1866. Numaaltura em que a taxa de mortalidade infantil era altíssima − na Suíça, umaem cada cinco crianças morria antes de completar o primeiro ano de vida(p. 30) −, o empresário começaria por produzir farinha láctea Nestlé, apartir de “bom leite de vaca”. Aquele produto começou por se destinar a

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alimentar bebés que não o pudessem ser pelas próprias mães. Aamamentação materna tornara-se mais difícil com a crescente utilizaçãoda mão-de-obra feminina nas fábricas, cujo trabalho estava sujeito aritmos intensos e a uma disciplina rigorosa, dificilmente compatível comas “exigências” dos recém-nascidos.

O novo produto depressa se impôs no mercado, ultrapassada que foi,com sucesso, a primeira fase de ensaios e experiências, na qualparticiparam especialistas, inclusive médicos. Apenas dois anos após afundação, a farinha láctea Nestlé já era vendida, não só na Suíça, mastambém na Alemanha, em França e na Grã-Bretanha. Em 1873 eraconsumida em dezasseis países e a produção − que, em 1869, era apenasde 500 kg diários − atingia o meio milhão de latas por ano (p. 53).

Em 1875 Henri Nestlé vendeu a empresa, constituindo-se,seguidamente, uma sociedade anónima com o capital de 200 acções, de5 000 francos cada uma (p. 53-54). A partir dessa altura, a sociedade,então sob a firma “Farinha Láctea Nestlé”, acelera o seu processo deexpansão e desenvolvimento, do qual viria a resultar o que é hoje: um dosmaiores grupos mundiais do ramo da alimentação.

Nos capítulos III a X são expostos os contornos mais significativosdessa evolução. Na impossibilidade de referir, aqui, toda a informaçãodada por J. Heer, apenas sublinharei algumas das linhas de força que sepodem detectar nas estratégias seguidas pela empresa e, posteriormente,pelo grupo, ao longo de mais de um século.

Actuando num período histórico de tão grandes e profundastransformações − desde o liberalismo económico oitocentista às políticasintervencionistas do século XX, da 1.ª à 2.ª e 3.ª revoluções industriais,das guerras mundiais à descolonização e à “guerra fria” −, as ditasestratégias foram-se diversificando e adaptando aos novos tempos.Todavia, o sucesso progressivamente alcançado − intercalado comalgumas vicissitudes e dificuldades − ficou a dever-se, essencialmente, àtónica sempre colocada nas vertentes seguintes: o factor humano, asempresas, os produtos, a ciência/tecnologia/investigação e o mercado.

Quanto ao factor humano, a Nestlé beneficiou do contributo de líderescarismáticos, desde o seu fundador − o já referido Henri Nestlé que,como também já se disse, lhe deu o nome − a Julius Maggi (1846-1912),inventor das conhecidas sopas com o seu nome e cuja empresa viria a serobjecto de fusão com a Nestlé (1947), a muitos outros, referenciados naobra em epígrafe, geralmente com a reprodução da própria fotografia.

Acerca do papel dos homens nas organizações, sublinha o autor: «Emtodas as entidades económicas, o problema humano tem uma importância

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capital. Tanto é assim que, ao nível da direcção da Nestlé, se ouve dizeràs vezes que o êxito de uma empresa depende, em primeiro lugar, dochefe, em segundo lugar, do chefe, em terceiro lugar do chefe e que, nacontinuação daquela, além da qualidade irreprovável do produto, estão oscolaboradores que o próprio chefe ou seus assistentes conseguiramformar. Aquele pode delegar muito trabalho mas, quando se trata defusões, por exemplo, não se pode deixar só aos especialistas em gestão depessoal a delicada tarefa de integrar os homens. Há, pois,responsabilidades de enorme importância que um chefe não podedelegar» (p. 251).

O que acaba de expor-se é, aliás, confirmado por outras referênciasconstantes, ao longo da obra em análise. Assim, desde meados dos anosde 1920 que a Nestlé passou a adoptar a ideia do “profissional manager”(p. 131). Por sua vez, em 1968, um dos seus dirigentes mais destacados(Pierre Liotard-Vogt) afirmava: «no centro de todas as empresas estãoprimeiro os homens, a seguir os produtos e, depois, os métodos» (p. 300).

Apontam no mesmo sentido os grandes investimentos efectuados nainvestigação e na formação. Sob este ponto de vista, destaque-se acriação em Lausana, pela Nestlé (em 1957), do Instituto para o Estudodos Métodos de Direcção da Empresa (IMEDE). Tendo-se unido, em1989, ao “International Management Institute” (IMI) de Genebra, foicriada uma nova instituição, denominada “Institute for ManagementDevelopment” (IMD). Este constitui uma das instituições maisprestigiadas, na área da formação de gestores, encontrando-se ao nível daescola de gestão mais famosa da Europa, o conhecido Instituto Europeude Administração de Negócios (INSEAD), localizado em Fontainebleau,França (p. 517-518).

No que concerne a outras empresas, a Nestlé foi-se ligando a umelevado número, através de diversas modalidades: aquisição, fusão,participação, parceria, etc. Nuns casos, tratava-se de concorrentes queconviria integrar. Noutros, estava-se perante empresas com experiência,saber-fazer e quotas de mercado no âmbito de novos produtos, cujaaliança permitiria à Nestlé alargar a sua gama de negócios. Recordem-se,apenas a título de exemplo: a fusão da Nestlé com a “Anglo-SwissCondensed Milk Co.”(1905); em 1929, nova fusão, com produtores dechocolates, agrupados na “Chocolats Suisses S. A”.; a empresa deprodutos Maggi torna-se sócia da Nestlé (1947); em 1962 a Nestlé entrano sector dos congelados, adquirindo a empresa nórdica “Findus”.

Essa estratégia de associação com novos parceiros, muitos deles jácom provas dadas em diversos ramos de negócio, permitiu à Nestlé

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penetrar, com segurança, na preparação de novos produtos.Efectivamente, à farinha láctea inicial foram-se acrescentando, porexemplo: chocolate e outros produtos lácteos (entre os quais leitecondensado e queijos); café solúvel e nescafé (que entra no mercado em1938); sopa, caldos e condimentos diversos; gelados e congelados, águasminerais (a partir de 1987 a Nestlé passou a ser maioritária na Sociedadede Águas Minerais Vittel), artigos farmacêuticos, oftalmológicos e, até,produtos de beleza (parceria com L’ Oréal), tendo chegado mesmo aodomínio da restauração (nos anos 1970 participou, com a Wagons-Lits,na Eurest, Société Européenne de Restauration).

Os consideráveis investimentos na investigação e em tecnologia deponta têm permitido à “holding” lançar no mercado produtos inovadorese de grande consumo. Através de uma integração de tipo horizontal −raramente se tem ocupado da exploração das matérias-primas e da própriadistribuição −, o grupo tem-se dedicado essencialmente à transformação,aproveitando, em vários países, as matérias-primas e a mão-de-obralocais, adequando os produtos aos respectivos gostos e necessidades.

Fundada na Suíça, pequeno país europeu, com um mercadorelativamente exíguo (p. 212), o fundador da Nestlé e seus continuadoresaperceberam-se, desde início, da necessidade de internacionalização dosnegócios, expandindo-os por numerosos países, nos vários continentes. À“conquista” da Europa sucedeu-se a dos Estados Unidos da América, aAmérica Latina e o Oriente. Em 1920, já presente num país emdesenvolvimento (a Austrália), a Nestlé instala-se na América Latina,tendo começado pelo Brasil. A fábrica, então instalada na região deArarás, foi a primeira de muitas outras entretanto montadas também empaíses vizinhos (p. 121). Em 1927 instalar-se-ia comercialmente no Perue em Portugal (p. 135).

Em 1991 − final do período estudado por Jean Heer −, a Nestlé tinhapercorrido um longo caminho, desde a sua instalação na Suíça, 125 anosantes. Com efeito: comprava 11% da produção mundial do café e 10% docacau; criara centros de investigação, não só na Europa mas também naÁsia, na América Latina e na África; tinha mais de 400 centrosprodutores, 100 000 accionistas, suíços e estrangeiros e quase 200 000empregados (p. 528-531). Entretanto, o autor termina a obra aludindo aosnovos desafios que então se colocavam à Nestlé, com a abertura de novospaíses aos negócios e à cooperação internacional, com as novaspossibilidades que se abriam às multinacionais, decorrentes do processode globalização que entrava na altura num período de aceleração (p. 531).

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Numa breve apreciação crítica ao trabalho acabado de referir, apenasacrescentarei duas breves notas.

a) Tratando-se, embora, de um estudo que poderíamos qualificar de“institucional” − produzido no interior da “holding” e por ela editado −,foi seguida uma metodologia adequada e a narração é equilibrada.Contudo, trata-se necessariamente de uma obra de síntese, deenquadramento geral, para a qual foram utilizados diversos tipos defontes − frequentemente relacionadas com a gestão de topo −, mas comuma insuficiente exploração dos arquivos das unidades produtivas e denegócio dispersas pelo mundo. Cada uma destas daria, naturalmente, paraum estudo de caso. Investigações mais direccionadas à implantação daempresa, em países de culturas tão diversificadas, por certo revelariam aadopção de diferentes estratégias e os níveis de receptividade dascomunidades, nacionais e/ou locais, à chegada de unidades de umagrande multinacional.

b) Apesar de os comentários anteriores não terem tido por objecto oscapítulos de enquadramento, dedicados à história mundial, chama-se aatenção para o lapso relativo ao ano de 1868, indicado como o dainauguração do Canal de Suez (p. 89-90), quando o respectivo actoinaugural teve lugar, efectivamente, em 16 de Novembro de 1869, aoqual assistiu, com é sabido, o nosso Eça de Queirós.

Maguelonne TOUSSAINT-SAMAT, Renaud ALBERNY e IanHORMAN (dir. de Rémy MONTAVON), 2 Millions d´Annéesd’Industrie Alimentaire, Vevey (Suíça), Nestlé S.A., 1991, 361 p.,ilustrada.

A presente obra, tal como a anterior, foi publicada pela Nestlé S.A.,no âmbito das comemorações do seu 125.º aniversário. Não obstante otítulo − algo ambicioso −, não se trata, evidentemente, de um estudoexaustivo sobre a temática, para o que, em vez de um volume, teriam sidonecessários muitos mais. Todavia, no estudo apresenta-se-nos uma visãode conjunto da maior utilidade, além de serem referenciados alguns dosmarcos miliários mais significativos da história alimentar. Asinformações sucintas, acerca de numerosos tópicos, poderão servir

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igualmente como sugestões e pontos de partida para pesquisas maisaprofundadas de alguns dos assuntos aflorados.

Não sendo uma história de empresa, em sentido restrito, a suainclusão neste conjunto de recensões justifica-se pelos seguintes motivos:a iniciativa, a elaboração e a edição da obra devem-se, efectivamente, auma empresa, a Nestlé; surgiu no âmbito das comemorações dos seuscento e vinte cinco anos de actividade, constituindo como que umexcelente complemento à respectiva história, também na altura publicadae já anteriormente analisada; por último, as inovações mais relevantes dahistória da alimentação, nos últimos dois séculos, deveram-sefundamentalmente à acção dinâmica de empresas e empresários, fazendoparte integrante da respectiva história.

Numa breve apresentação da obra, o presidente e administradordelegado da Nestlé S.A., seguindo a perspectiva dos autores, recorda quese pode fazer remontar o aparecimento da ciência alimentar à invençãodo primeiro utensílio, há cerca de dois milhões de anos. E acrescentaHelmut O. Maucher: «ontem como hoje, o objectivo permanece o depreparar, preservar e transformar em alimentos matérias-primasgenerosamente oferecidas pela terra e pelo mar».

Acerca da ancestralidade deste saber-fazer afirma-se, um poucoadiante: «ao lado destes conhecimentos académicos, o comum dosmortais continua a adquirir, de pai para filho e de mãe para a filha, umsaber colectivo sobre a alimentação. Este saber tornou-se hoje a ciênciaalimentar, a mais velha ciência do mundo» (p. 21). Todavia, comotambém é recordado pelos autores, a ciência alimentar moderna sóapareceu há pouco mais de dois séculos (p. 30), sendo coeva da 1.ª faseda industrialização.

A obra encontra-se profusamente ilustrada, com belas fotografias, emmuitos casos em grande plano, ocupando muitas delas toda a página oumesmo a dupla página, par e ímpar. O texto, sucinto, distribui-se por duascolunas: a da esquerda, encimada por um título, na qual se sumaria oessencial; e a da direita, onde o texto é um pouco mais desenvolvido.

Ao longo do estudo, analisam-se catorze tópicos, entre os quais seencontram alguns dos principais meios ou ingredientes que podemintervir na confecção dos alimentos: fogo e água, vapor e fumo, matérias-primas de tipo diverso, conservação e respectiva tecnologia. Da vastainformação apresentada, sublinhar-se-ão apenas alguns dos dadosconsiderados mais relevantes e, eventualmente, menos conhecidos dopúblico não especializado.

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A importância do factor alimentar é posta em evidência, aorecordarem-se os seguintes números: nós comemos e bebemos oequivalente ao nosso próprio peso, em cada 18 dias. Por seu lado, apopulação mundial que, pelo ano 2000, andaria à volta dos seis milmilhões, prevê-se que, em 2050, atinja o dobro (p. 25).

A água, o nutriente mais importante do regime alimentar humano, aotornar-se um bem cada vez mais escasso, sobretudo em certas regiões,lança desafios à ciência e à imaginação humana. Como exemplo de umamedida inovadora, é referida a reciclagem da água, em S. Diego (EstadosUnidos da América), por meio de nenúfares gigantes, cujo tamanho podeduplicar em 24 horas (p. 37 e 46).

Quanto à preparação dos alimentos, chama-se a atenção para aimportância dos hábitos alimentares, próprios de cada cultura. Também édestacado o papel do fogo e das suas modalidades ou “derivados”,designadamente: chama, brasas, cinza e fumo. Alguns hábitos dos nossosdias − como a utilização de pedras aquecidas ou o cozinhar dos alimentosà mesa de restaurantes japoneses, utilizando grelhas − aproximam-se detradições ancestrais (p. 56 e 58).

Relativamente à modernização tecnológica da cozinha, sublinha-se:«empregar o mínimo de mão-de-obra e de energia, garantindo o máximode segurança e de rendimento para ligar os diferentes elos da cadeia,constitui uma das chaves da indústria alimentar» (p. 53). A propósito,alude-se ao forno microondas como uma das inovações maisrevolucionárias dos últimos 50 anos. Aquele produz calor no seio dospróprios alimentos, permanecendo o habitáculo frio. Na maior parte dospaíses habitados, os autores previam que, no ano 2000, mais de 50% doslares possuíssem fornos microondas, valor que, nos Estados Unidos,subiria aos 90% (p. 65).

A evolução da agricultura e, mais especificamente, a cultura doscereais e a sua difusão geográfica merecem um certo destaque. De entreos diversos cereais três correspondem a 2/3 da produção total: trigo, arroze maís. Face à importância da cultura cerealífera para a alimentação −humana e mesmo de certos tipos de animais −, não surpreende que amoagem tenha sido a primeira indústria alimentar a modernizar-se.Assim, em 1776, ou seja, apenas meia dúzia de anos após James Watt terpatenteado a sua máquina a vapor (1769) − inicialmente aplicada naindústria têxtil −, já próximo de Londres funcionava uma moagem avapor (p. 67 e 80).

Também outros produtos agrícolas têm desempenhado lugar de relevona alimentação humana e na indústria alimentar. Com efeito, frutas e

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legumes, chá, cacau e café, soja, açúcar, vinho e azeite, entre muitosoutros, deram origem a indústrias importantes. Estas estão ligadas nãoapenas ao seu aproveitamento e transformação mas também à suaconservação, transporte e distribuição, nas melhores condições.

Os oceanos e os mares correspondem a 70 % da superfície terrestre.Neles se encontram mais de 60 000 espécies de peixe. Este é, como sesabe, um bom alimento, cujo consumo foi extraordinariamente facilitadoe alargado com os consideráveis progressos das indústrias das conservas,sobretudo a partir de meados de Oitocentos.

Na obra em análise focam-se ainda diversos outros artigosalimentares, resultantes do desenvolvimento da indústria alimentar, aolongo do século XX; por exemplo, lacticínios e iogurtes, cerveja erefrigerantes. Como notam os autores, «a ciência, a arte e a tecnologia damesa fazem tanto parte da indústria alimentar como da própriaalimentação» (p. 264).

Os notórios progressos verificados no domínio da conservação dosalimentos no último século − superando os meios tradicionais através dosal, do fumo, da gordura ou do vinagre − justificam que se lhes dediqueuma especial atenção. É o que fazem os autores, recordando asofisticação de tecnologias e de meios utilizados, tirando-se partido dofrio, da congelação, da secagem e da liofilização. Esta começou por serusada, a partir de 1953, em produtos como o café (p. 215).

Ainda na primeira metade do século XX, o frigorífico e o congeladorcomeçaram a ser aperfeiçoados, vindo o seu uso a generalizar-se. Em1916, Clarence Birdseye teve a ideia de congelar os alimentos. A águacontida nestes transformava-se em gelo, preservando-os, assim, dodesenvolvimento dos micróbios. Em 1939, surgem no mercado osaparelhos de duplo compartimento: de refrigeração e de congelação(p. 219).

Como bem sublinham os autores da obra em apreço, «a nossaalimentação tem uma história tão longa como a nossa própria história».Todavia, como se trata de uma parte do quotidiano, só com a novahistória − a partir dos anos de 1930 − se começou a dedicar-lhe maisatenção. Trata-se, no entanto, de uma matéria da maior pertinência, à qualninguém poderá ficar indiferente. De facto, para além de, por meio dela,se poder adquirir uma melhor compreensão do passado, o seu estudocontribuirá, igualmente, para dar resposta a certas questões − formuladas,pelos autores, no final da obra − que são de ontem, de hoje e de amanhã:«Como aumentar a produção alimentar? Como preservar os alimentos da

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deterioração, dar-lhes melhor gosto, torná-los mais nutritivos e maispráticos?» (p. 254).

A leitura do presente estudo constitui uma boa introdução ao tema. Aclareza e a sistematização do texto, a boa ilustração e a cuidadaapresentação tornam a sua leitura agradável e de interesse, não sócientífico como pedagógico.

Tereza Castro Ribeiro REIS, O Homem. Uma Obra − a de RuiNabeiro, Lisboa, Edições ASA, 2002, 303 p., ilustrado.

Não se tratando, propriamente, de uma história de empresa, a presenteobra constitui um bom contributo para a compreensão da história de vidado empresário Manuel Rui Azinhais Nabeiro, bem como da sua acçãoempresarial, autárquica, social, associativa, filantrópica e cultural.

Note-se, aliás, que a autora também não teve a pretensão de elaboraruma história do grupo empresarial liderado por Rui Nabeiro. Em vezdisso, refere-se ao seu empreendimento como «trabalho literário»,«biografia» e «fotobiografia».

Para o efeito, utilizou − a exemplo do que faria o historiador, emcondições análogas − fontes de diversos tipos, nomeadamente imagens,documentos, textos e testemunhos orais, bem como a própria observaçãodirecta (p. 101). Todavia, além de utilizar em abundância o testemunhodo próprio biografado, a autora distanciou-se também da metodologiahistoriográfica tradicional, ao assumir, deliberada e expressamente, acarga emotiva com que cumpriu a tarefa em causa. A propósito esclarece:«Poderia também apresentá-lo [a Rui Nabeiro] num conto ou sob a formade poema, mas prefiro apresentá-lo neste livro escrito todo ele sob forteemoção». E acrescenta: «Por isso, desejo-lhe, leitor amigo, que o leiacom a mesma emoção que eu tive ao escrevê-lo» (p. 47).

A narrativa desenvolve-se a partir de um número razoável de tópicos,embora todos eles se possam reduzir às seguintes temáticas: Rui Nabeirono seu contexto familiar, social e cultural; a sua acção como empresáriode sucesso e um dos mais relevantes no mundo dos negócios em Portugal,nas últimas décadas do século XX e inícios do século XXI; o papel doempresário, das suas empresas e do seu grupo no país, no Alentejo e, demodo especial, em Campo Maior. Destacam-se, em seguida, alguns dosaspectos mais relevantes focados pela autora.

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Manuel Rui Azinhais Nabeiro é natural de Campo Maior, onde nasceuem 28 de março de 1931. Oriundo de uma família modesta, cedocomeçou a trabalhar, após ter concluído o exame da 4.ª classe. A suaformação posterior foi obtida como autodidacta. Integra-se, pois, nacategoria dos chamados “self-made men”, o que não foi impeditivo de setornar um dos líderes carismáticos, para usar a conhecida expressão deMax Weber.

Também o seu contacto com o café se fez quando Rui Nabeiro eraainda de tenra idade (pelos 13 anos), numa pequena torrefacção,propriedade dos tios e de seu pai, Manuel Nabeiro. Falecido este, RuiNabeiro, antes de ter completado os vinte anos de idade, cria umasociedade com os tios − a Torrefacção Camelo, Lda. −, até que, em 1961,funda a sua própria empresa, a Delta Cafés.

Nas últimas quatro décadas do século XX, Rui Nabeiro impõe-secomo empresário, autarca e filantropo. A sua acção, embora nem sempredevidamente apreciada por algumas das elites locais tradicionais, foi-ocontudo pelo povo e também por dirigentes políticos, empresários derelevo e elementos da comunicação social. Prova-o, por exemplo, oelevado número de “Depoimentos”/Testemunhos de personalidades bemconhecidas, com os quais abre a presente obra.

Do seu percurso social fazem parte, entre outros, os contributosdados: a) à Câmara Municipal de Campo Maior, como vice-presidente epresidente, ao longo de mais de duas décadas (1963-1986, embora comalgumas interrupções); b) ao Sporting Clube Campomeiorense, comopresidente (1971-1990); c) à Universidade de Évora e à Escola SuperiorAgrária de Elvas, integrando os respectivos Conselhos Consultivos,desde 1994 e 1996, respectivamente (p. 288).

Como reconhecimento público e oficial da sua acção, há a destacar aComenda da Ordem de Mérito Agrícola, Comercial e Industrial (classe doMérito Industrial), que lhe foi atribuída em 1995, pelo então Presidenteda República, Dr. Mário Soares. Ao nível local, a autora destaca osignificado da inauguração da estátua de Rui Nabeiro, em Campo Maior(na Praça da Liberdade), em 1998. Trata-se de uma obra em bronze, daautoria do Mestre Escultor Laureano Ribatua. O assunto é desenvolvido,algo pormenorizadamente, sob o expressivo título “Bronze para RuiNabeiro” (p. 86-97).

Quanto à acção empresarial do biografado, são dadas informaçõesacerca do respectivo percurso, ao longo de quatro décadas. Nas origensesteve uma torrefacção artesanal de café, provavelmente criada nos finaisdos anos 1930, para cuja exploração, cerca de uma década mais tarde,

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veio a constituir-se a já referida Torrefacção Camelo, Ld.ª (Camelo era,então, a marca do café comercializado pela empresa). Da respectivasociedade faziam parte Rui Nabeiro − após a morte do pai − e seus tios.Porém, como frequentemente acontece com aqueles que possuem umforte espírito empresarial, Rui Nabeiro, esposa e filhos constituem a suaprópria empresa (sob a firma Manuel Rui Azinhais Nabeiro, Ld.ª),criando simultaneamente a marca Delta Cafés (1961).

Nas décadas imediatas a estratégia adoptada por Rui Nabeiro ecolaboradores caracterizou-se pelo desenvolvimento, pela expansão ediversificação. Geograficamente, foram criados vários departamentoscomerciais pelo país. Assim, por meados da década de 1960 − ou seja,apenas 3 ou 4 anos após a sua fundação −, a empresa estabelecedepartamentos comerciais em Lisboa, Porto e Coimbra, aos quais muitosoutros se seguiram (ver lista completa, na p. 244). Posteriormente, aexpansão processa-se, também, no mercado espanhol, com destaque paraBadajoz, numa primeira fase, e outras localidades, em seguida. Mesmoantes de a globalização ter estado na moda, já Rui Nabeiro tirava partidoda internacionalização, considerando que Campo Maior deixara de serperiférica, para ocupar um lugar central no âmbito da Península Ibérica.

Em 1984 − ultrapassadas algumas das sequelas do pós-25 de Abril de1874 e com o avizinhar da adesão de Portugal à então União Europeia(cuja integração, como é sabido, se verificou a partir de 01.01.1986) −,foi constituída a NovaDelta −Comércio e Indústria de Cafés, Ld.ª, comsede em Campo Maior. A partir dessa altura entra-se num período deconsolidação e de acelerado desenvolvimento, através da constituição decerca de duas dezenas de empresas. Estas integram o Grupo Nabeirogest− S. G. P. S., S. A. e distribuem-se pelas seguintes áreas de negócio:imobiliário, comércio, serviços, indústria, hotelaria/similares, agrícola edistribuição (ver organigrama, p. 245). O número de colaboradores, nasquatro décadas decorridas (1961-2001), subiu de três para cerca de doismil.

O sucesso de Rui Nabeiro, como empresário e promotor dodesenvolvimento − não só da Região de onde é natural e do seu Alentejocomo também do país −, de acordo com o que se infere da obra emepígrafe, deve-se a vários factores, dos quais se podem destacar: a) umavocação empresarial muito vincada, que desde cedo se manifestou no seugosto pelos negócios; b) uma ética alicerçada numa grande dedicação eamor ao trabalho, na determinação, persistência e preocupação com ocliente (comprova esta última o lema que tem adoptado: “fazer de cadacliente um amigo e de cada amigo um cliente”); c) um investimento

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considerável em capital humano e formação e uma atenção redobrada aosfactores de inovação. O modelar Museu do Café, em Campo Maior − umdos empreendimentos mais bem conseguidos no âmbito da museologiaempresarial portuguesa −, a moderna tecnologia industrial utilizada, osnovos conceitos de cafetaria (no âmbito do “franshising”) e mesmo oconhecido pau de canela, a acompanhar o tradicional café (p. 67), sãoapenas alguns exemplos do espírito inovador inerente à acção empresarialdesenvolvida.

Também mereceu destaque, da parte da autora, a sensibilidade e ohumanismo de Rui Nabeiro, aliás bem patente na “dimensão social damarca”, concretizada nos apoios prestados a diversas instituições sociais:Corporações de Bombeiros, Escolas de Ensino Especial, Juntas deFreguesia, Associações Desportivas Locais e iniciativas várias desolidariedade (p. 281). Com efeito, estamos assim perante uma empresa(hoje um grupo), de carácter familiar e com uma cultura empresarialmuito vincada, cuja responsabilidade social tem estado na primeira linhadas preocupações dos seus responsáveis.

Antes de concluir, apenas gostaria de chamar a atenção para algunsaspectos a carecerem de ser revistos e, eventualmente, corrigidos, casovenha a ser efectuada uma reedição da obra. Trata-se, sobretudo, dequestões de índole histórica e/ou de falta de coerência ou mesmo degralhas, uma vez que apresentação literária e o cuidado gráfico são deexcelente qualidade.

Acerca das origens de Rui Nabeiro, diz-se ser «fruto de uma famíliade agricultores, simples e humildes» (p. 60). Contudo, na certidão denascimento de Rui Nabeiro (reproduzida na p. 59), seu pai aparece com aprofissão de “motorista” e sua mãe como “doméstica”. Por sua vez, asorigens da empresa inicial (Torrefacção Camelo, Ld.ª) não se encontramdevidamente esclarecidas, inclusive do ponto de vista cronológico. Comoa data da sua criação não é referida, através de alusões indirectas podepensar-se em 1948 ou em 1950, consoante Rui Nabeiro tivesse então 17ou 19 anos de idade, o que é indicado em locais diferentes (p. 62 e 65).Em qualquer dos casos, não é muito adequado falar-se do “após-GuerraCivil de Espanha” (esta verificou-se em 1936-1939); tratava-se, sim, do“pós-II Guerra Mundial” (a qual ocorreu em 1939-1945).

Também acerca da fundação da Delta Cafés se indicam anosdiferentes: 1960 (p. 65) e 1961 (p. 289, entre outras). O mesmo sucedecom a NovaDelta, para cuja criação se indicam dois anos diferentes: 1981(p. 64) e 1984 (p. 289). Embora se trate de questões de pormenor,verifica-se ainda pouca precisão: sobre o número de colaboradores (que,

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em partes diferentes da obra, oscila entre os 1 400 e cerca dos 2 000); e asdimensões da estátua de Rui Nabeiro (p. 90: 2,25m; p. 94: 2,5m). Julgotratar-se de uma gralha, ao referir-se (p. 122) “uma onça de prata”,quando faria todo o sentido que fosse “uma onça de prática”, a contraporàs “dez toneladas de teoria”. O mesmo se passará com “míssolas”, em vezde mísulas. Por último, tendo nós e os nossos contemporâneos o ensejode viver em dois séculos (XX e XXI), torna-se ambíguo falar do “nossoséculo” (p. 112), sem especificar de qual deles se trata.

Jorge CUSTÓDIO, A Real Fábrica de Vidros de Coina [1719-1747] eo Vidro em Portugal nos Séculos XVII e XVIII. Aspectos históricos,tecnológicos, artísticos e arqueológicos, Lisboa, Ministério daCultura/Instituto Português do Património Cultural, 2002, 319 p.,ilustrado.

A temática central da presente obra foi analisada com o recurso adiversos tipos de testemunhos e a e a uma perspectiva interdisciplinar,como é recordado na apresentação (de Luís Ferreira Calado), naintrodução e ao longo do próprio texto. Com efeito, além da exploraçãodas tradicionais e sempre importantes fontes escritas, não se descuraramas materiais − vestígios físicos, resultados das análises físico-químicasdas peças, bem como a observação e estudo destas e/ou de seusfragmentos − e a iconografia, tendo sido utilizadas metodologias doâmbito da história económica e social, da arqueologia industrial, datecnologia e da história da arte (p. 11).

A obra encontra-se estruturada em sete capítulos, os quais se seguem àapresentação e à introdução. Nos primeiros três estudam-se: “AManufactura de vidros de D. João V. Contribuições histórico--arqueológicas”, “A manufactura de vidro no século XVIII” e os “Fornosde vidro em Portugal precursores de Coina”. Os capítulos fulcrais e maisdesenvolvidos são dedicados à “Real Fábrica de Vidros de Coina (1719-1747)” propriamente dita e aos respectivos “Vidros e produtos dos fornosde Coina e suas tipologias”. Os últimos dois tópicos focados são: “Atransferência da Real Fábrica de Vidros Cristalinos de Coina para aMarinha Grande (1747-1769)” e as “Continuidades e rupturas”. No final,incluem-se um extenso “Apêndice documental”, uma “Cronologia da

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Real Fábrica de Vidros” de Coina, as fontes e a bibliografia e osrespectivos índices.

De entre outros assuntos investigados permito-me destacar osrelacionados com os seguintes aspectos: condicionalismos e conjunturas;tecnologia, métodos de trabalho e saber-fazer, com destaque para asinfluências estrangeiras; e produtos, nomeadamente quanto à suanatureza, tipologia e aplicação.

Acerca do primeiro aspecto, o autor salienta, como factores favoráveisà localização da manufactura de vidros em Coina, a existência de trêscondicionantes indispensáveis: proximidade de boas areias (matéria--prima essencial do vidro) e de madeira, como combustível, paraaquecimento dos fornos e experiência técnica ancestral, veiculada porartífices nacionais, da Beira Tejo, e por estrangeiros (p. 20). Como seinfere do que se diz noutros locais do trabalho, também a facilidade detransporte −fluvial e marítimo− e o fácil acesso ao mercado da capitalconstituíram elementos favoráveis à dita instalação.

Relativamente às conjunturas que favoreceram o desenvolvimento daindústria vidreira, ao longo do século XVIII, mencionam-se sobretudo:no que toca ao vidro plano, a construção do Convento de Mafra(edificado em 1722-1732, com o seu número elevado de janelas), areconstrução de Lisboa no período pós-terramoto de 1755, o aumento daprodução de vinho e respectiva utilização de garrafas. O uso destas − que,ao longo de Oitocentos, passaram da sua forma de bolbo de cebola àcilíndrica, que geralmente ainda mantêm − facilitava o transporte e o seuarmazenamento.

Quanto à tecnologia e aos métodos de trabalho, assinalam-se duasorigens: uma nacional e regional, beneficiando do desenvolvimento das“vidrarias” no Vale do Tejo, nos séculos XVI e XVII; outra estrangeira,proveniente dos centros vidreiros europeus mais famosos,designadamente Veneza, Boémia, França e Inglaterra. Por exemplo, aprodução de vidraça pelos vários métodos então conhecidos (de coroa, demanga e moldada), a introdução da técnica de produção do cristal dechumbo e certos modelos de peças atestam as ditas influências. Tambémos tipos de fornos e o combustível − factor essencial na indústria vidreira,devido à elevada temperatura requerida para a fusão do vidro − merecemo devido destaque.

Os numerosos fragmentos de peças de vidro, exumados no campoarqueológico de Coina, possibilitaram a elaboração de um extenso“Catálogo” da mencionada Real Fábrica de Vidros (p. 307-339), o quepermitiu, simultaneamente, alargar o âmbito dos conhecimentos sobre o

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assunto. A escassez de vidros de Coina nas colecções museológicasconhecidas, bem como as dúvidas e incertezas quanto à atribuição daproveniência de várias delas têm dificultado o estudo da questão.

Jorge Custódio aprofundou ainda a problemática da gestão na RealFábrica de Coina, durante o seu período activo (1719-1747) e a estreitaligação da Fábrica de João Beare às origens da Marinha Grande, comocentro vidreiro de grande relevância. Efectivamente, como já salientaramJoaquim Correia e outros autores, quando os Stephens arrancaram, emterras marinhenses, com o seu empreendimento que viria a adquirirgrande notoriedade e longevidade (1769-1992), fizeram-no não a partirdo zero, mas beneficiando dos recursos humanos e tecnológicosanteriores, parte dos quais haviam sido transferidos, por João Beare, deCoina para a Marinha Grande. Assim, sem se pretender tirar mérito aosirmãos Guilherme e Diogo Stephens, tão ligados à história, à memória eao património marinhenses, é de elementar justiça tirar do esquecimentoo seu antecessor, o irlandês João Beare, como tem vindo a ser feitoultimamente.

A fim de que, numa eventual reedição, possam ser evitados algunslapsos/gralhas, chamo seguidamente a atenção para o que me parece maisrelevante. Começando por estas, foram detectadas (entre parêntesisindica-se a forma correcta): “Metalica” ( p. 30, 45 e 67: Metallica);“Postedam” (p. 31: Potsdam); “sócio-profissinais” (p. 47:socioprofissionais); “Academia Portuguesa de História” (p. 77: AcademiaPortuguesa da História); “lugares chaves” (p. 97: lugares-chave); “fintglass” (p. 197: flint glass). Alguns lapsos encontram-se em: “o uso demoldes de ferro passou a ser usual …” (p. 39); “Fidelino de Figueiredo”[este era, sim, o director da revista citada], em vez de Fortunato deAlmeida (p. 77 e 149, nota 16); “nota 196” (o número das notas não é tãoelevado); “se poderia… fazer-se” (p. 158: em vez de poderia fazer-se);“XVI e XVIII” (p. 238: XVII e XVIII); “Nunes” (p. 249: em vez deGomes). Por último, na bibliografia falta a indicação dos trabalhos dosautores seguintes, referenciados no texto ou em nota: Georgius Agricola(p. 30, 45 e 67); Martins (p. 227, nota 116); um artigo de minha autoria(p. 266, nota 1), bem como a história da Santos Barosa (que elaborei coma colaboração de Manuel Ferreira Rodrigues, embora esta também nãotenha sido referenciada anteriormente).

Como é óbvio, o que se acaba de referir não pretende, de modoalgum, diminuir a importância da obra em epígrafe. Trata-se,efectivamente, de um excelente contributo para um melhorconhecimento, não só da Real Fábrica de Vidros de Coina, do reinado de

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D. João V, como da história do vidro, em Portugal, especialmente nosséculos XVII e XVIII.

Como já sublinhei noutro lugar, só o facto de este trabalho ter vindo alume, quando a minha História do Vidro e do Cristal em Portugal(Lisboa, Edições INAPA, 2002) já se encontrava no prelo e em fase derevisão de provas me impediu de beneficiar, em tempo útil, da sua leiturae de o ter seguido de perto, em alguns dos tópicos nele focados.

Miguel Figueira de FARIA (com colaboração), Banco ComercialPortuguês. A Primeira Década 1985-1995, Lisboa, Banco ComercialPortuguês/Edições INAPA, 2001, 371 p.

Analisadas obras dos ramos alimentar e vidreiro, focar-se-á, porúltimo, uma da área financeira, nomeadamente o Banco ComercialPortuguês (BCP). Sublinha-se, a propósito, que tem sido precisamente osector bancário que, desde os anos de 1960, maior dinamismo temrevelado no que concerne à respectiva história empresarial. O númerorelativamente elevado de trabalhos publicados − embora, obviamente, denível e valor desiguais − comprova-o plenamente.

A obra em epígrafe abre com «Uma mensagem ao leitor», dopresidente do Grupo, Jorge Jardim Gonçalves, ao que se seguem«Palavras prévias» do autor, Manuel Figueira de Faria. Sucedem-se,depois: a introdução, nove capítulos, uma conclusão, um longo apêndicedocumental (p. 277-360), a lista das personalidades entrevistadas e umíndice remissivo.

Acerca dos objectivos da iniciativa, esclarece Jardim Gonçalves:«desenvolver a publicação de um livro que deveria fixar a memória dosdez primeiros anos da vida do banco e do grupo nele centrado»,acrescentando: «Este livro deveria ser o primeiro de uma série a produzirpor cada decénio da existência do BCP. O interesse da iniciativa eramarcadamente histórico e documental e a sua importância poderia seraferida imaginando o valor que hoje teria uma colecção de quinzevolumes, escritos por autores coevos, sobre a vida e a actividade dealgumas das mais antigas instituições de crédito que, como se sabe, foramcriadas a partir de meados do século XIX» (p. 7).

Embora o trabalho em apreço não tenha sido assim estruturado, otexto poderia dividir-se em duas partes: na primeira, de enquadramento,

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integram-se, além da “Introdução”, os capítulos: I − (“O ciclo daRevolução [1974-1976] e a nacionalização do Sistema Financeiro”; II −“O Sistema Financeiro Português rumo à liberalização (1977-1983)”; eIII − “A reabertura do Sistema Financeiro à iniciativa privada”. Dasegunda, mais directamente relacionada com o objecto fulcral do estudo ecom o próprio título, constam os capítulos: IV − “A génese do BancoComercial Português”; V − “A constituição do Banco ComercialPortuguês”; VI − “O ano zero do Banco Comercial Português: perturbar osistema”; VII − “Banco Comercial Português: «Um Banco só paraalguns» (1986-1988)”; VIII − “No rumo de uma banca global (1989-1992)”; e, por fim, o capítulo IX − “A busca da dimensão: o universoBCP/BPA”.

Na introdução e nos três primeiros capítulos passa-se em revista, deforma sucinta, a evolução do Sistema Financeiro Português, desde asorigens até meados da década de 1980. Trata-se de uma síntese bemelaborada, de leitura acessível e de fácil compreensão, inclusive por partedo leitor não especializado, o que, aliás, constituía um dos desideratos doautor (p. 12). Dada a literatura já disponível sobre o assunto, não sedetectam propriamente novidades. Contudo, a leitura do texto permiteobter uma visão global − ainda que, necessariamente, sumária − acerca doassunto. Ao invés, as “novidades” encontram-se, de modo especial, noscapítulos IV a IX, dos quais serão destacados, seguidamente, algunsaspectos que considero mais relevantes.

Quanto à génese do BCP, tratou-se da concretização de um projectodevidamente pensado, planificado com rigor, o qual foi fruto de diversasacções e da colaboração de várias pessoas, com recursos, experiências evivências de diversa ordem. A respectiva evolução faz parte −constituindo, inclusive, um interessante case study, como sublinha oautor − da «renovação das elites, que rapidamente se tornou uma dasfacetas mais visíveis do processo do 25 de Abril» (p. 84).

A iniciativa partiu do Norte, onde exerciam a sua actividade osempresários e empresas que constituíram o “núcleo duro” inicial. Destefizeram parte, entre outros, Américo Amorim e empresas a que estavaligado (cuja participação, mais tarde, viria a ser alienada), J. MacedoSilva (RAR), António Gonçalves (Têxtil Manuel Gonçalves) e IlídioPinho (CLEP). Entretanto, outras empresas conhecidas − como, porexemplo, a Vista Alegre e a Salvador Caetano − estiveram também noempreendimento.

Com o evoluir da situação, o projecto vai incorporando recursoshumanos e financeiros de outras origens, transformando-se

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progressivamente de “regional” em “nacional”. Além da implantação notodo nacional, torno-se necessário encontrar solução para outras questões.Assim, havia que encontrar um presidente, cargo que viria a ser ocupado,como é sabido, pelo Eng.º Jorge Jardim Gonçalves, já com largaexperiência no sector, pois desempenhava, na altura em que foicontactado, as funções de presidente do Banco Português do Atlântico.Era necessário cuidar, também, do nome, do logotipo, da imagem e daspróprias cores, bem como das futuras instalações (da sede e dos balcões),do recrutamento e da formação do pessoal, do equipamento, inclusive dosistema informático, área à qual se atribuiu, desde o início, a maiorimportância.

Também o capital social mereceu atenção, não só no que tocava à suaangariação mas também quanto à respectiva filosofia. Uns defendiamuma grande concentração, tendo chegado a ser proposto que osaccionistas ficassem reduzidos a quatro. Outra corrente, porém, defendiaa dispersão, tendo sido esta a vencedora, já que o capital accionista, comque a sociedade foi constituída em 25 de Junho de 1995 (três mil equinhentos milhões de escudos), foi subscrito por duzentas e cincoentidades. Posteriormente, o referido capital foi aumentado por diversasvezes.

Abertas as respectivas portas ao público (5 de Maio de 1986),escassos meses após a integração de Portugal na Comunidade EconómicaEuropeia (01.01.1986), o BCP não mais deixaria de impressionar pelopoder inovador revelado, quanto a produtos oferecidos e a serviçosprestados. Assim, alguns produtos granjearam um sucesso quaseimediato: “conta mais”, “nova conta mais”, Banco 7” (cuja actividade seiniciou em 07.05.1994), etc.

A uma primeira fase, durante a qual se prestou uma atenção especial àsegmentação (clientes da gama alta ou média alta e médias empresas) −“banco só para alguns” −, sucedeu-se outra, de alargamento a novosclientes-alvo, inclusive através de uma vasta rede de balcões, sob adesignação de Nova Rede, procurando-se assim oferecer “um banco paratodos”. O estilo de balcão uniformizado, as cores vivas e atraentes e aabertura simultânea − caso inédito, na história da Banca, em Portugal −de vinte e uma sucursais, em 08 de Novembro de 1989 (p. 207-208),ajudaram a referida iniciativa a atingir rapidamente um enorme sucesso.

De grande alcance foi, igualmente, a diversificação de actividades ede iniciativas: entrada no mercado bolsista (não só em Portugal como nosEstados Unidos da América, tendo o BCP sido a primeira empresaportuguesa a ser cotada na Bolsa de Valores de Nova Iorque); a

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penetração no ramo dos seguros; a criação de bancos especializados; oinvestimento no património artístico e nas actividades culturais; o inícioda colecção do Banco Comercial Português; campanhas arqueológicasnos edifícios da Rua Augusta, em Lisboa, onde ficaria instalada arespectiva sede; a internacionalização, alargando a sua actividade aEspanha, com participação em instituições bancárias do país vizinho e,posteriormente, a outros países.

Quase no fim da década focada (mais precisamente em 24.03.1994), oBCP e a Companhia de Seguros Império adquirem o Banco Português doAtlântico, de cuja presidência tinha vindo, como se disse já, JardimGonçalves.

Reflectindo acerca do êxito do BCP, indicam-se (na conclusão) trêsfactores essenciais: «a vontade política, a coragem dos accionistas e oesclarecimento da administração». Reportando-se à conjuntura e àevolução da empresa/grupo, destaca-se o seguinte: «Um períodocaracterizado por uma forte estabilidade política interna, enquadradopelos primeiros estímulos concretos da entrada de Portugal naComunidade Económica Europeia». E acrescenta-se: «Depois dafundação, o banco afirmou-se rapidamente. Apostando num crescimentopela segmentação lançaria as bases de um grupo financeiro,diversificando a sua oferta de produtos e serviços; entraria num mercadode capitais em euforia, contablizando-se rapidamente entre os títulos demaior liquidez; garantiria a expansão interna com o lançamento da NovaRede definiria uma estratégia de internacionalização. Com a criação doBanco Popular Comercial, em parceria com o Banco Popular espanholpara operar em França, o BCP ultrapassaria as fronteiras portuguesas» (p.274-275).

Antes de concluir, apenas gostaria de expressar duas notas acerca dosignificado desta obra e de uma ou outra das suas limitações. Trata-se,pois, de um trabalho meritório, de uma primeira abordagem histórica daevolução do BCP, ao longo da sua primeira década. Posteriormente − nomédio ou mesmo no longo prazo, se for o caso −, este e estudos análogos,que venham a ser elaborados sobre as décadas subsequentes, constituirãomaterial importante e fontes do maior relevo para a uma história global etão completa quanto possível do grupo. Com efeito se, desta vez, muitasfontes escritas ficaram ainda por explorar − privilegiaram-se a legislação,algumas actas e relatórios e contas relativos aos anos estudados −, emcontrapartida foram devidamente utilizadas prestimosas fontes orais,nomeadamente de alguns dos protagonistas mais influentes, cujo registo e

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referência, num tempo ainda relativamente próximo dos eventos, são derealçar.

Sublinhe-se, igualmente, o facto de se ter recorrido a um autor,exterior à organização, para fazer a presente obra (p. 11), optando-se,assim, por aquilo que noutro lugar já apelidei de “história feita de fora”,em detrimento de uma história “elaborada a partir de dentro”. Trata-se deuma opção − como, aliás, muitas outras − com prós e contras, mas que,do ponto de vista restrito da pesquisa histórica, terá mais vantagens doque inconvenientes.

Merece também uma palavra de apreço a abertura dos responsáveispelo BCP, ao permitirem e promoverem a divulgação da sua históriarecente, o que nem sempre acontece da parte de outros líderes de certasorganizações.

A segunda nota refere-se a uma ou outra limitação. A maissignificativa, do meu ponto de vista, tem a ver com a ausência deilustração. Na já chamada “época da imagem”, que é a nossa, um bomconjunto de imagens constituiria uma mais-valia e teria valorizado, deforma notória, a apresentação gráfica (aliás de muito bom nível, quantoaos restantes aspectos, como vem sendo hábito nas obras que patenteiama chancela das Edições INAPA). Por exemplo, poderiam ter sidoreproduzidas imagens de: edifícios exemplarmente recuperados ereutilizados pela sede e por balcões do BCP; da intervenção arqueológicanos edifícios da Rua Augusta, em Lisboa; de obras de arte que sãopropriedade do grupo, de logotipos, de mobiliário e equipamento maiscaracterístico, das cores mais usadas, etc.

Também a importante questão da cultura de empresa − temática hojena ordem do dia −, embora sucintamente focada (p. 132-133) eesporadicamente mencionada, ao longo do estudo, deveria ter sidoanalisada de forma mais sistemática e aprofundada. É que, salvo melhoropinião, na cultura e na própria ética da empresa se encontra,precisamente, uma das chaves mais relevantes para a compreensão dosucesso do BCP, ao longo do período, relativamente curto, de apenasuma década da sua existência.

Detecta-se, na presente obra, um número reduzido de gralhas.Todavia, chamo a atenção para algumas delas, a fim de que, em caso defuturas reedições, possam ser corrigidas. Entre parêntesis encontra-se aforma correcta. P. 15, nota 2: “de História” (da História); p. 71: “rátios”(rácios, como na p. 165 ou sem acento, mas em itálico, por se tratar devocábulo latino, ratio); “engenheiros Jardim Gonçalves” (engenheiroJardim Gonçalves); p. 167: “1884” (1984); p. 366: a obra sobre a Família

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Amorim consta de dois volumes, o que deverá ser indicado; o índiceremissivo (p. 368-371), sempre de grande utilidade, refere-se apenas aosnomes de pessoas (trata-se, pois, de um índice antroponímico), o que nãoé expressamente mencionado. Um índice remissivo completo deveriaincluir também, por exemplo, os nomes de empresas, lugares, assuntos,etc.

José Amado Mendes

Hendrik Van DEN BERG, Economic Growth and Development anAnalysis of Our Greatest Economic Achievements and Our Most ExcitingChallanges, Singapore, McGraw-Hill International Edition, EconomicSeries, 2001, 610p.

No prefácio da obra, o seu autor começa, desde logo, por afirmar queeste livro não constitui mais um texto sobre desenvolvimento. Aintrodução aos assuntos relativos ao crescimento e desenvolvimentoeconómicos abrange tópicos fundamentais que são, normalmente,incluídos em cursos de desenvolvimento económico numa perspectiva daanálise do crescimento económico. A Teoria do Crescimento Económicofornece um enquadramento teórico unificador dentro do qual muito dosdiversos assuntos comuns às economias em processo de desenvolvimentopodem ser discutidos de forma consistente. Um dos pressupostos em queo livro assenta tem a ver com a ideia de que o crescimento e odesenvolvimento económicos são processos com características comuns,independentemente de onde estejam a ocorrer; daí, a opção por umaabordagem marcadamente global e histórica. O autor abandona um certotipo de análise, frequentemente seguida que, dependendo da ênfase nodesenvolvimento ou no crescimento, privilegia os países emdesenvolvimento, ou as economias modernas e mais desenvolvidas,respectivamente. Com este texto, os estudantes dispõem de uminstrumento que, através dos muitos e variados estudos de caso, lhespermitirá analisar o que ao longo do tempo e em diferentes espaços foiocorrendo.

O livro encontra-se dividido em cinco partes: Parte I – Introdução aoCrescimento Económico, com dois capítulos: 1 A Importância do

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Crescimento Económico; e 2 A Economia do Crescimento Através daHistória; Parte II – Modelização do Crescimento Económico por partedos Economistas, com quatro capítulos: 3 A Evolução dos Modelos deCrescimento desde Adam Smith a Harrod-Domar; 4 O Modelo Neo-clássico de crescimento de Solow; 5 A Explicação do CrescimentoEconómico pelo Modelo de Solow; e, 6 O Progresso Técnico; Parte III –Extensões aos Modelos de Crescimento, com três capítulos: 7Crescimento Económico e Crescimento da População; 8 Poupança,Mercados Financeiros e Crescimento Económico; e, 9 Globalização eCrescimento Económico; Parte IV – Capital Humano, Instituições eCrescimento, com três capítulos: 10 Educação, Capital Humano eCrescimento; 11 Instituições e Crescimento Económico; e 12 InstituiçõesGovernamentais e Crescimento Económico; Parte V – Controvérsias eDesafios com três capítulos: 13 Os Custos do Crescimento Económico;14 Há limites para o Crescimento?; e, 15 O Futuro do CrescimentoEconómico. O livro termina com um glossário de termos técnicos, umaextensa bibliografia e um índice de autores e de assuntos. De realçar ofacto de o livro vir acompanhado de um manual de instruções, com umnúmero considerável de questões do tipo escolha múltipla e trabalhos decasa adicionais, susceptíveis de estimular e remeter os leitores para outrasleituras posteriores, o que constitui, igualmente, um precioso auxílio paraa docência de uma disciplina de Crescimento e DesenvolvimentoEconómico, tanto ao nível de Licenciatura como de pós-graduação.

No final de cada capítulo, o autor elabora um sumário, faz sugestõesde leituras complementares e apresenta uma secção de Questões eProblemas. Sugerindo a internet como recurso adicional ao estudo, indicauma série de sites que podem ser consultados. Sempre que necessário,visando uma melhor compreensão do texto, são acrescentados anexos queconstituem, na verdade, notas técnicas explicativas de modelos que forampreviamente referenciados no texto.

Relativamente ao conteúdo específico de cada capítulo, esta obraencontra-se estruturada da seguinte forma:

No Capítulo 1 são abordados alguns pontos que servem de base àproblemática do Crescimento Económico, nomeadamente: a)Crescimento acelerado do PIB per capita nos últimos 200 anos, tanto emtermos nominais como reais; b) Definição do Conceito de CrescimentoEconómico; c) Mudanças Estruturais da Economia e CrescimentoEconómico.

O Capítulo 2 ocupa-se, essencialmente, da questão da medida dastaxas de crescimento nominal e real do PIB per capita, bem como das

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medidas alternativas do bem-estar humano, com a finalidade dedemonstrar a complexidade do processo de Crescimento Económico aolongo do tempo e o seu carácter multifacetado, diferente de País paraPaís.

O Capítulo 3 apresenta os temas principais dos primeiros Modelos deCrescimento Económico que se prendem com a ideia, por um lado, deque o Crescimento Económico se dá em simultâneo com umaespecialização e com as trocas, evoluindo os padrões de especialização àmedida que a economia cresce; e de que, por outro, o CrescimentoEconómico se encontra ligado ao acto de prescindir de consumir, isto é, àcapacidade de poupança. O Crescimento Económico baseado na simplesacumulação de factores de produção tenderá para a desaceleração, devidoaos rendimentos decrescentes. O Crescimento Económico está tambémrelacionado com a inovação e a criação de novas ideias e a suaperiodização; nomeadamente, a longo prazo, conduz a diferentes análisesda permanência, ou não, do processo de Crescimento Económico.

Partindo da ideia base de que o Modelo Neoclássico é ainda oinstrumento mais útil de que se dispõe para analisar o processo deCrescimento Económico, os capítulos 4 e 5 desenvolvem, de umamaneira exaustiva, os pressupostos e as previsões do Modelo, bem comoas principais conclusões que dele se podem retirar, numa perspectiva deanálise que vai no sentido de determinar a forma como o Modelo deSolow explica o Crescimento Económico.

No seguimento da ideia expressa por J. M. Clark, de que oconhecimento é o único factor de produção que não está sujeito à lei dosrendimentos marginais decrescentes, o capítulo 6 aborda o progressoTecnológico, começando por analisar as relações entre os conceitos deTecnologia e Progresso tecnológico com base na sua evolução Histórica.Neste capítulo, descrevem-se as mais recentes tentativas de modelizaçãodo complexo processo do progresso tecnológico, através da apresentaçãode vários modelos designados por modelos de crescimento endógeno, deacordo com várias fontes de progresso tecnológico a saber: Investimento,aprender fazendo e actividades de Investigação & Desenvolvimento deredução de custos de utilização de recursos. Estes modelos são,geralmente, mencionados como alternativa ao modelo de Solow. Por fim,é debatido o futuro do progresso tecnológico.

As relações entre o crescimento económico e o crescimento dapopulação é o tema de que se ocupa o capítulo 7, onde o autor dá contade que: os modelos de Malthus e de Solow mostram como o crescimentoda população é nocivo para o crescimento económico; os modelos de

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progresso tecnológico endógenos referem como positivo o crescimentopopulacional; o crescimento da população é, largamente, determinado porfactores económicos; num futuro imediato, o comportamento das taxas decrescimento populacional, com a consequente mudança da estrutura dapopulação, tem implicações nos níveis de poupança e de investimento, naelaboração dos pressupostos do orçamento, no investimento na educaçãoe no capital humano, assim como outras variáveis que, de alguma forma,se relacionem com a taxa de dependência; que papel para a imigração?

A razão pela qual a procura dos determinantes da poupança teminteressado tanto aos economistas tem a ver com o facto de elesacreditarem que a poupança constitui uma causa importante docrescimento económico. A evidência da relação entre o nível depoupança e o crescimento económico é sóbria; contudo,independentemente destas variáveis poderem estar correlacionadas, umaanálise mais detalhada sobre a casualidade mostra que o crescimentoeconómico causa um aumento do nível de poupança, mas um aumento donível de poupança nem sempre causa uma aumento permanente docrescimento económico. Da discussão deste tema se ocupa o capítulo 8.Em anexo a este capítulo, é apresentado o Modelo de Cass-Koopmans-Ramsey.

No capítulo 9, analisam-se o comércio internacional e o investimentodirecto estrangeiro como dois dos principais elementos de umcrescimento interdependente das economias mundiais, geralmentereferenciados, nos nossos dias, como o fenómeno da globalização. Ateoria do comércio internacional, em combinação com os modelos decrescimento económico, sugere que a liberalização do comérciointernacional de bens e serviços acarreta: ganhos de bem-estar, a curtoprazo, através da utilização de vantagens comparativas do aumento dosrendimentos à escala; a médio prazo, com base na transição para umestado superior através de ganhos de produtividade e de eficiência aonível da função de produção; a longo prazo, oriundos da aceleração doprogresso tecnológico e do investimento em Investigação &Desenvolvimento. O fluxo de investimento directo estrangeiro temcomo consequência ganhos de bem-estar: a curto prazo, no aumento dacapacidade de nivelar o consumo no tempo, dependendo daspossibilidades de produção inter-temporais e das preferências de cadapaís, e de um aumento do nível de poupança afectos a projectos deinvestimento; a médio prazo, de transição para um nível dedesenvolvimento superior motivado pelos ganhos de bem-estar a curtoprazo; a longo prazo, pelo aumento de capacidade de gastos em

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Investigação & Desenvolvimento. De igual modo, é feita uma ligaçãodestes instrumentos com a questão da globalização.

Os três capítulos que se seguem tratam da parte imaterial docrescimento económico que tem a ver com o capital humano e ofuncionamento e papel das instituições. Sem escola não há futuro, umafrase do Economist em 1999 que dá o mote ao capítulo 10 que trata daEducação, do Capital Humano e do crescimento económico, comapresentação do modelo de Robert Lucas acerca da educação. Nocapítulo 11, são as instituições e o seu papel no crescimento económicoque merecem especial atenção. É tratada, aqui, a racionalidade dasinstituições e os custos de transação, inerentes ao comportamentoracional do seu papel. Incentivos e protecção dos direitos de propriedadesão questões também aqui focadas. Finalmente, no capítulo 12, sãoanalisadas, especificamente, as relações entre as instituiçõesgovernamentais e o crescimento económico. O papel do Governo é visto,tendo em atenção as razões das falhas de eficiência na afectação derecursos, a tendência para o emergir de focos de corrupção,nomeadamente em países em vias de desenvolvimento, onde o sectorinformal contribui, de forma significativa, para o produto final. Ocapítulo termina com uma discussão à volta da relação entre a liberdadepolítica e económica e o crescimento económico.

Com os últimos três capítulos, o autor lança uma série decontrovérsias e desafios que são inerentes a qualquer processo decrescimento económico. Custos, limites e futuro do crescimentoeconómico são as questões abordadas. Mark Twain e a sua frase “ Eu soutodo a favor do progresso; é a mudança que não me agrada” dão o motepara o capítulo 13. Nele, são analisadas algumas das potenciaisconsequências negativas do crescimento económico ao serem impostoscustos ao bem-estar humano. Os ajustamentos estruturais inerentes aoprocesso de crescimento económico nem sempre bafejam, de igual modo,toda a população. Desigualdade e pobreza podem bater à porta de partessignificativas da população, fazendo o autor referência à famosa curva deKuznets para explicitar e justificar desigualdades no curto prazo. Nocapítulo 14, discute-se as formas modernas do ponto de vista de Malthussobre o crescimento económico. Os limites naturais impostos aosrecursos disponíveis podem ser contrariados pelo progresso tecnológicoque, inclusivamente, dá uma ajuda à descida dos seus preços. O autor ébastante optimista quanto ao futuro da Humanidade. O capítulo 15começa por passar em revista de que modo, nos últimos séculos, ocrescimento económico derivou não só de investimento em capital físico

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e humano mas também de um crescente progresso tecnológico. Tantouma rápida acumulação de capital como uma aceleração do progressotecnológico resultam numa mudança estrutural e num incentivo àinovação e ao investimento por parte das instituições. Por conseguinte, ofuturo do crescimento económico depende da capacidade das instituições,de continuamente proporcionarem incentivos ao esforço de inovação ecriatividade.

Se pegarmos num dicionário, desenvolvimento é descrito como o actoou efeito de desenvolver; o seu resultado. Crescimento de corposorganizados. Desenrolamento: desenvolvimento de uma situação.Extensão progressiva. O verbo volver do latim volvere tem comosinónimo voltar, tornar, levar ou trazer. Dirigir noutro sentido, rolar,arrastar, meditar, cogitar, transformar, retorquir, agitar, revolver. Anominalização tem a ver com o acto de voltar, decurso, evolução.

A primeira ideia a reter seria a de que o desenvolvimento pressupõecrescimento a partir de um determinado status quo e tem, por isso,subjacente a ideia de progresso. O crescimento e o progresso paraconduzirem ao desenvolvimento terão que ser sustentados por um acto demeditação, de questionar o que existe, agitando e revolvendo o ponto departida no sentido de arrastar um processo de mudança. Aodesenvolvimento está associada a ideia de observação de umadeterminada situação de partida à qual, depois de uma reflexão, seimplemente um processo de crescimento indissociável da suatransformação e mudança para um estado qualitativamente e, não sóquantitativamente, superior. Se desenvolvimento é futuro, não podeexistir sem o conhecimento profundo do passado, nomeadamente, para sepoder implementar um processo que conduza a um estadoqualitativamente diferente e melhor do que, até aqui, tem sido conhecido.

Assim, desmembrando o vocábulo (des)(en)(volvi)(mento) eanalisando a evolução que sofreu, a partir da sua raiz, poderemos concluirque, por um lado, envolver poderá aparecer ligado à ideia de uma análisedo tipo centrípeda, a qual pode ser entendida como uma primeira fase doprocesso de mudança, reforçada pela ideia de acção dada pelo sufixomento, e, por outro, esta ideia é negada pelo prefixo des que contrariatoda esta acepção, empurrando o conceito para fora (análise do tipocentrífuga). Assim, desenvolvimento impõe autoconhecimento com oobjectivo de implementar acções, o que pressupõe a motivação dosparticipantes com o fim de pôr em marcha um processo de mudança quefaça evoluir determinada comunidade para um estado qualitativamentesuperior, isto é, com melhoria das condições de vida.

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Neste sentido, Hendrik Van der Berg optou, inequivocamente, nestaobra, por uma abordagem que privilegia o conceito de crescimentoeconómico que é dissecado de uma modo aprofundado, constituindo umaexcelente forma pedagógica de o apreender, embora à custa de relegarpara um plano meramente residual o conceito de desenvolvimentoeconómico, no seu sentido mais nobre.

Francisco Diniz

João Vasconcelos COSTA, A Universidade no seu labirinto. Lisboa,Editorial Caminho, 2001, 303 p.

Esta obra aprofunda, levanta e discute questões cruciais relacionadascom o sistema universitário nacional e com outros sistemas de ensinosuperior, particularmente na Europa. Está repartida por doze pontosessenciais que abarcam os principais desenvolvimentos e tendências destenível de ensino.

No primeiro ponto, intitulado Um debate necessário, o autor coloca aseguinte questão de partida: “Está a universidade portuguesa a precisar deuma nova reforma?”. É também neste que o autor justifica o “porquê”desta obra e as opções feitas em termos de abordagem, nomeadamente ofacto de se debruçar apenas sobre ensino superior universitário estatal,porque considera que só se deve discutir aquilo que se conhecerelativamente bem.

Uma história recente mas culturalmente marcante é o título dosegundo ponto. É neste que o autor apresenta as principaistransformações sofridas pela universidade antes e em consequência do 25de Abril de 1974. Considera que, vários anos depois, “a situação mudou eao mesmo tempo permanece […]. Mudou porque se preencheu em grandeparte o vazio de competências e qualidade científica […]. A vidacientífica animou-se e hoje Portugal já começa a ter um lugarsignificativo no panorama científico europeu, pelo menos em algumasáreas. Há muito boas equipas de investigação, o número de publicaçõesem revistas internacionais aumentou exponencialmente, produzem-semuito mais doutoramentos e de boa qualidade. Os indicadores dequalidade e produtividade em relação ao ensino têm evoluído

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favoravelmente. Em muitos aspectos, a gestão e a vida em geral dasuniversidades acompanharam o ritmo da modernidade, sem comparaçãocom o que eram há vinte anos” (p. 39). Contudo, o autor refere que acultura universitária permanece na mesma, continuando esta a ser maisuma cultura de ensino do que de investigação; “o ensino domina aspreocupações dos professores e absorve quase inteiramente os seusórgãos de direcção” (p. 42). Outros traços marcantes da culturauniversitária são: o colectivismo e a colegialidade na tomada de decisões.

O terceiro ponto da obra é dedicado aos grandes desafios, cujaquestão central é a necessidade de mudança da missão ou missões dauniversidade. Assim, com os novos desafios e na perspectiva da formaçãoe do ensino “requer-se que a universidade capacite as pessoas para odesenvolvimento máximo das suas capacidades e para a adaptaçãopermanente, ao longo da vida, às exigências do trabalho, porque omercado do emprego solicita hoje perfis de formação flexíveis eadequados à acelerada mutação de qualificações e à necessidade dereconversões tecnológicas rápidas. Na ciência, requer-se cada vez maisprogresso do conhecimento, mas também que este conhecimentobeneficie a sociedade e a economia.” (p. 52).

Perante este panorama novos desafios se colocam à universidade,desde a passagem de organismos públicos tradicionais para uma “figurajurídica mais flexível, com uma lógica institucional moderna e comserviço público contratado com o Estado” (p. 55), como também anecessidade de articulação dos dois tipos de ensino superior,universidades e politécnicos, “com benefícios mútuos e sem constituíremdois subsistemas estanques” (p. 62). É também alvo de discussão, nesteponto, a criação de estabelecimentos de ensino, de licenciaturas e demestrados, cuja criação (ou acreditação), segundo Vasconcelos Costa,deve obedecer a dois critérios: qualidade e relevância social. Àsemelhança de outros instrumentos mistos de regulação, o autor sugere acriação de um Conselho Superior das Universidades, constituído por trêspartes: representantes das universidades, representantes das associaçõesprofissionais e dos interesses autárquicos, económicos e sociais erepresentantes do Estado, por exemplo, metade nomeados pelo Governo emetade pela Assembleia da República; tendo por responsabilidade aaprovação (acreditação) de cursos, quer a priori, quando a universidadefaz a proposta de criação, quer a posteriori, confirmando ou não aacreditação, periodicamente, em função da avaliação. Aquele órgão éconsiderado pelo autor como um verdadeiro conselho político, de

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concertação e de diálogo social, entre parceiros diversificados erepresentativos da realidade social.

Os graus, os cursos e o ensino são abordados no quarto ponto destaobra. Neste, são discutidos aspectos como a duração de cada grau, ascaracterísticas, os objectivos, a formação de “banda estreita” versus de“banda larga”, a pedagogia universitária, o ensino modular, entre outros.No que concerne à licenciatura, de entre várias sugestões indicadas,salienta-se o ensino bidireccional, a ênfase na aprendizagem, a mudançano papel do professor – mais do que transmissor de conhecimento, é umfacilitador da aprendizagem. Em relação ao mestrado, a proposta recaisobre a coexistência de dois tipos de cursos de mestrado, com objectivose formato bem definidos e distintos: mestrados profissionais e mestradosde investigação. Os primeiros, profissionalmente orientados, dirigidos aprofissionais, incluindo obrigatoriamente uma componente baseada emtarefas da profissão; e os segundos, orientados para a investigação,incluindo obrigatoriamente uma componente de métodos de investigação.Quanto ao doutoramento, o autor refere a necessidade de uma definiçãosubstantiva e operacional, referindo a existência de uma grandeambiguidade e diversidade de critérios de escola para escola.

No quinto ponto da obra discutem-se a investigação científicauniversitária e a política científica. Para o autor, uma faculdade é ensino--investigação, e não ensino e investigação. “O universitário éinvestigador porque só se ensina bem o que se cria e com a perspectiva eiluminação do criador e é professor porque a criação só se completaquando deixa de ser um acto pessoal para ser partilhada com outros, pelatransmissão do saber” (p. 97). O autor discute ainda a questão dos centrosde investigação, a sua integração ou não nas universidades e sugere que“toda a estrutura de centros, paralela à organização das faculdades, seintegre numa estrutura única de investigação e ensino, centrada nosdepartamentos das faculdades, para que ambas as actividades, ensino einvestigação, sejam vistas, organizadas e supervisadas como actividadesintegradas que são” (p. 103). Ainda neste ponto, o autor centra-se napolítica científica da universidade e fala em coerência científica, ou seja,defende a homogeneidade como factor de coesão e de imagem pública dequalidade, mas também a diversidade, hoje positiva e até necessária nauniversidade. “É que uma universidade tem que oferecer uma gama muitolarga de ensino e este ensino tem que ter por base competênciascientíficas e investigação de alta qualidade. À diversidade do ensino temque corresponder diversidade da investigação” (p. 108). Aponta para anecessidade da existência de um ministério integrado para a

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reorganização das universidades, procurando resolver esta separaçãoorgânica entre o ensino e a investigação e para a definição de umapolítica científica coerente com o papel do seu agente principal, auniversidade1.

A autonomia universitária, a responsabilidade e a avaliação fazemparte do sexto ponto desta obra. A “autonomia é uma característicaessencial das universidades, como afirma muito enfaticamente a MagnaCarta das Universidades Europeias (Bolonha, 1999)” (p. 111). O autorrefere as limitações da autonomia científica, administrativa e financeira,disciplinar, discute o Decreto-Lei nº 252/97, de 26 de Setembro quereconhece as limitações que advêm para as universidades do seu estatutode pessoas colectivas de direito público. O que vai ao encontro daproposta feita pelo autor para a criação de uma nova figura jurídica, queconjugue o carácter público da universidade com a liberalidade e aflexibilidade das pessoas colectivas de utilidade pública administrativa.Desta forma, segundo autor, a lei da autonomia deveria estipular “apenasos princípios gerais e a filosofia da organização e gestão dasuniversidades, mas com a maior margem possível de liberdade para assoluções concretas” (p. 120). Ainda neste ponto, é discutida a questão daavaliação das universidades, refere a Lei nº 38/94, de 21 de Novembro, oDecreto-Lei nº 205/98, de 11 de Julho que cria o Conselho Nacional deAvaliação do Ensino Superior (CNAVES), que tem por finalidade“assegurar a harmonia, coesão e credibilidade do processo de avaliação eacompanhamento do ensino superior, tendo em vista a observância dospadrões de excelência a que deve corresponder o funcionamento globaldo sistema” (p. 123). O autor, entre outros aspectos, chama a atenção parao facto da investigação ser deixada de fora da avaliação, sendo apenasreferida de forma genérica em alguns relatórios de investigação e apontaalgumas críticas para o modo como o processo de avaliação tem sidodesenvolvido em Portugal em comparação com outros países,nomeadamente o estar ainda limitado à perspectiva programática, sem acomponente institucional e, como já foi referido, deixando de fora ainvestigação.

A problemática da liderança é agora discutida num ponto intituladoPolítica, estratégia e direcção, realçando a necessidade de uma novavisão sobre a questão da direcção, designadamente a introdução de umanova lógica de liderança conjugada com a participação colectiva. “Numsistema concertado como o universitário, a liderança tem que ser ocatalisador do empenhamento colectivo. A liderança é forçosamenteautoridade e decisão final, mas é também muito a promoção das

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iniciativas descentralizadas, a negociação de conflitos, a facilitação dacomunicação interna, a pedagogia das ideias inovadoras” (p. 144); mas,como refere o autor, o corpo académico está pouco preparado paraexercer este tipo de liderança. Assim, propõe como alternativa ao modelotradicional de gestão, o modelo profissional, baseado nos princípios depolítica, liderança e participação, que pretende dar uma resposta modernaaos novos desafios que se colocam actualmente à universidade. Referetambém a necessidade de introdução de padrões de qualidade queregulem a prestação individual de ensino, a evolução na carreira, a gestãoe a investigação nas universidades.

Estas questões continuam a ser discutidas no ponto que se segue,denominado A estrutura e a gestão das Universidades e das Escolas,onde o autor refere e analisa as principais vantagens e desvantagens dosdois modelos principais da organização das universidades: o modeloeuropeu continental, onde a organização é feita por escolas, normalmentedesignadas por faculdades e o modelo inglês, onde a organização é feitapor departamentos, expandido na maioria das universidades americanas.A preferência do autor recai sobre este segundo modelo de organização,por ser o mais económico, racional e flexível. Outros aspectos abordadosneste ponto prendem-se com a gestão da universidade, onde o autorreafirma o modelo profissional e estabelece a comparação entre o quepassa em Portugal e em outros países europeus e não só.

A questão do financiamento das Universidades é debatida no décimoponto desta obra, onde o autor apresenta o actual modelo definanciamento das universidades portuguesas, as suas orientações e omodo como é efectuado o cálculo do orçamento. Após referir as suasprincipais limitações, Vasconcelos Costa sugere um modelo alternativode financiamento, em que a proposta vai ao encontro de um orçamentocontratado (ou seja, a modalidade de cálculo deveria ser a contratual,como acontece em diversos países da Europa e não a do simples cálculoaritmético) como soma de quatro parcelas: “Parte do financiamento seriao financiamento geral, por fórmula, mas com grande peso de um critériodiferente, em função da produção social das universidades, os seusdiplomados, bem como de outros indicadores de produtividade; outraparte o financiamento da investigação; outra, o financiamento consignadopara fins específicos; e finalmente outra parte, o financiamento deprogresso ou de desenvolvimento, dependente da avaliação” (p. 206).Refere por fim que as propinas devem ser também uma fonte definanciamento adicional significativo.

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De seguida, o autor dedica-se a análise da carreira docente, apresentaas funções inerentes a cada categoria, no que concerne ao ensino e ainvestigação, assim como questiona a evolução na carreira, a política degestão de pessoal académico. Um outro aspecto a que também fazreferência prende-se com a mobilidade dos professores entreuniversidades, acentuando que só teremos boas condições de mobilidadequando houver verdadeira competitividade entre as universidades pararecrutar os melhores, o que só aconteceria se cada universidade pudessedefinir “as condições contratuais, a carreira e o regime remuneratório doseu pessoal. Cada uma ficaria livre de estabelecer as suas condiçõescompetitivas no recrutamento dos melhores docentes e de adequar oregime de carreira própria à sua política geral de desenvolvimento” (p.244), o que reconhece ser difícil de concretizar, apesar de já ser umarealidade nos Estados Unidos.

O espaço europeu do ensino superior, nomeadamente a questão daharmonização dos sistemas universitários é analisado a seguir. “Estaconvergência e harmonização tenderá para a construção do que já sechama o «espaço europeu do ensino superior». É um espaço que se desejacom qualidade, com mobilidade de professores e estudantes, comdiversidade, que respeite as diferenças culturais, linguísticas eeducacionais da Europa, com abertura baseada na competição e nacooperação com outras regiões do mundo. É um espaço a que auniversidade portuguesa pertence e ao qual vai ter que se adaptar”(p. 246). Aqui tem lugar a análise da Declaração de Sorbonne (1998) –discussão de uma arquitectura comum para a organização de cursos epara o sistema de graus universitários, tendência para a adopção de umsistema em dois níveis (estruturação qualitativa em duas etapas: numprimeiro ciclo, a que correspondem os graus de bacharel ou delicenciado; num segundo ciclo, a que correspondem os graus de mestre ede doutor) e de tipo 3-5-8 (refere-se à duração do ensino de cada grau, acontar desde a entrada na universidade: três anos para o bacharelato oulicenciatura, cinco para o mestrado, oito para o doutoramento).

Em 1999, com a Declaração de Bolonha, embora não tenha havidoconvergência em torno do modelo 3-5-8, mas apenas uma aproximação,foi aceite o esquema em dois níveis, de pré e pós-graduação2.Vasconcelos Costa sugere um modelo 4-5-93, não muito longe da actualtendência europeia, mas mais próximo da nossa realidade. É tambémdiscutida a harmonização pelos créditos e, como refere o autor, o ladomenos bom da dita Declaração de Bolonha, que diz respeito “àmobilidade de estudantes, professores e investigadores e à criação de um

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sistema europeu de medida e garantia de qualidade baseado em processosde avaliação compatíveis e com critérios relativamente uniformes”(p. 254). Segundo o autor, o maior desafio virá da redução temporal daslicenciaturas, em regra, para quatro anos. No entanto, refere que amudança não deve consistir numa simples operação de corte e colagem,de contracção ou rearrumação das actuais licenciaturas de cinco anos,mas sim numa verdadeira revisão dos currículos escolares, coerente comos novos objectivos do sistema. Chamada de atenção para a necessidadede ajustamento da avaliação das universidades portuguesas aos padrõeseuropeus e às tendências processuais que emergirem. O autor apresentaassim uma análise crítica das principais vantagens e desvantagensdecorrentes da implementação das mudanças propostas nos encontros daSorbonne e Bolonha4. Acentua a urgência da realização de um debatealargado sobre esta questão, que envolva o ministério, os docentesuniversitários, os empregadores e os alunos, trabalho este que poderia serdesenvolvido pelo Conselho Superior das Universidades – órgãomultipartido proposto num ponto anterior nesta obra.

A aprendizagem virtual é a última temática abordada. A lifelonglearning, para a qual os jovens devem estar preparados, éobrigatoriamente o ensino à distância, é a aprendizagem em casa ou notrabalho, por meio das novas tecnologias de informação. A necessidadede mudança nas concepções pedagógicas, na organização e nos métodosde ensino, no foco de atenção que agora vai também para a aprendizageme não apenas para o ensino. Apesar do autor considerar a aprendizagem àdistância uma realidade em expansão e de utilidade indiscutível,apresenta algumas desvantagens, relacionadas com aspectos de ordemeconómica e com questões técnicas. São ainda referidos vários exemplosdentro e fora da Europa, que ultrapassam as instituições de ensino.Quanto a nós, o autor refere que a “nossa procura de e-learning ainda éreduzida e se as universidades estiverem no mercado quando essa procurafor significativa, elas terão vantagens competitivas, desde a língua até aoreconhecimento oficial das formações. Não podem é atrasar-se” (p. 289).

Ao concluir a obra o autor responde à questão inicialmente colocada:está a universidade portuguesa a precisar de uma reforma? A resposta éafirmativa – a universidade precisa de uma reforma global e coerente. Énecessário introduzir o sentido de responsabilidade social e abrir auniversidade à influência e mesmo à intervenção activa de seus parceiros.É necessário adoptar padrões exigentes de qualidade. É um labirintosempre a vibrar de agitação interna que pode parecer exagerada emrelação aos fins e ao trabalho efectivo desta grande comunidade que é a

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Universidade. Assim, o “porquê” do título afirmativo deste livro – AUniversidade no seu labirinto (p. 303).

Trata-se assim de uma obra de actualidade nacional e internacional,que apresenta, para além de uma ampla e profunda reflexão crítica sobreo sistema de ensino universitário, diversas propostas de mudança,nomeadamente se considerarmos as indicações feitas na Declaração deBolonha. Suscitará naturalmente alguma polémica, ao opor-se a ideiasestabelecidas e padrões culturais vincados na universidade, devendo porisso a sua leitura ser feita numa atitude crítica.

De fácil compreensão, consideramos a obra útil não só para os“universitários” mas também para o leitor interessado em aprofundar osseus conhecimentos nesta área.

Célia Ribeiro

NOTAS

1 Recorda-se a existência do Ministério da Ciência e do Ensino Superior, desdeAbril de 2002.

2 A Declaração de Bolonha, de 1999, confirmada pela reunião de Praga de 2001,estabelece a harmonização do sistema europeu de graus num esquema em dois níveis,com um primeiro grau (bachelor) de três ou quatro anos com relevância para omercado de trabalho, seguido de um segundo grau (master) para o qual há forteconsenso de, na sequência do primeiro, deve ser obtido em cinco anos e, finalmente, odoutoramento. Neste sentido, deve ser reduzido o nosso número de graus, de quatro(bacharelato, licenciatura, mestrado e doutoramento) para três, bem como a suaduração.

3 O CRUP também defende um grau de quatro anos.4 Posteriormente, na reunião de Praga (2001), “os ministros deram ênfase a que,

para maior flexibilidade dos processos de aprendizagem e de qualificação, énecessária a adopção de bases de qualificações, suportadas por um sistema de créditostal como o ECTS – European Credit Transfer System, ou um sistema com elecompatível, fornecendo tanto a transferibilidade como a acumulação de funções.Juntamente com sistemas de garantia de qualidade mutuamente reconhecidos, taismedidas facilitarão o acesso dos estudantes ao mercado de trabalho europeu eaumentarão a compatibilidade, atracção e competitividade do ensino superioreuropeu”.

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Philip KOTLER e Karen FOX, Strategic Marketing for EducationalInstitutions, New Jersey, Prentice-Hall, 1995, 474 p.

A segunda edição de Strategic Marketing for Educational Institutionstem a particularidade de, a partir de 2002, ser distribuída na modalidade“print on demand”. Esta flexibilidade, na utilização dos meios tendo emvista a maximização da eficiência e, por outro lado, uma resposta dequalidade ao mercado, constituem uma tónica dos nossos dias.Racionalizar processos e fornecer serviços de qualidade são oslimites/guias de acção sem os quais a sobrevivência e o sucesso não sãopossíveis. Também o mercado educacional que durante muitos anos sejulgou alheio às grandes tendências do mercado hoje, face e graças aosdiferentes processos de globalização, se rege cada vez mais por estes.Como referem os autores desta obra o “baby boom” passou pelosecundário e universidades na década de 90 (1990) após a qual essemercado diminuiu. Sobretudo por causa deste emagrecimento do mercadoe da diminuição do número de matrículas, muitas instituições educativasestão a passar por crises financeiras e mesmo de identidade. Algumasdestas instituições tomaram em ombros os novos desafios ao teremadoptado uma visão estratégica e orientada para o mercado, comoresposta às mudanças verificadas na sociedade.

Prestar atenção à gestão da qualidade total, satisfação do cliente,reestruturação e reengenharia organizacionais são alguns dos esforçosjustificados pela adopção de uma perspectiva de marketing estratégico.

A aplicação directa de alguns destes conceitos a instituições da áreaeducativa é o que versa esta obra que se encontra dividida em seis partes,a saber:

1ª - Compreender o Marketing;2ª - Planear o Marketing;3ª - Compreender os mercados;4ª - Desenhar programas de Marketing;5ª - Aplicar o Marketing;6ª - Avaliar as acções de Marketing.

Embora este livro se encontre marcadamente orientado para a situaçãoe mercado de ensino dos Estados Unidos da América parece-nos quealgumas das metodologias e conclusões se adaptam, também, ao mercadoEuropeu e Português em particular.

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A discussão em torno dos conceitos básicos do marketing proposta naprimeira parte acrescenta valor às tradicionais abordagens do marketingde serviços porque toda a dialéctica se estabelece em torno de um alvobem definido, o mercado educacional. A reflectir a filiação da obra (emrelação à sua nacionalidade) a análise do mercado educacional é iniciadacom declarações retiradas de um artigo de opinião do chanceler daUniversidade de Maine System, que sistematiza em sete pontos principaiso estado da educação nos E.U.A., à data.

Robert Woodbury, chanceler da referida Universidade, afirma nesseartigo:

1º - A educação de nível superior é uma das poucas indústrias dosE.U.A. reconhecida como uma das melhores de todo o mundo ...;

2º - A balança de pagamentos referente à mobilidade dos estudantes éaltamente favorável. Estima-se que excede 5 biliões de dólares.Há cerca de 420 000 estudantes estrangeiros nos E.U.A.enquanto existem cerca de 80 000 americanos a estudar noutrospaíses;

3º - Mesmo com o impacto do decréscimo de população estudantil dosúltimos 15 anos a indústria da educação de nível superior temregistado crescimentos notáveis nas últimas quatro décadas de 2milhões de estudantes no final da II Guerra Mundial passamospara uma população estudantil actual de mais de 14 milhões. Asáreas de maior crescimento têm sido as de educação contínua,educação à distância e da investigação apoiada;

4º - Embora haja escolas mais bem geridas do que outras o valormédio do índice de steward sobre a aplicação dos dinheirospúblicos faz corar de inveja muitos directores de outros sectores;

5º - Nenhuma outra indústria (educativa) obteve uma relaçãocusto/benefício tão elevada;

6º - Os serviços oferecidos aos estudantes universitários podem serconsiderados uma “pechincha”. A prestação das universidadesincluiu: habitação, comida, ligação às mentes mais brilhantes emmuitos campos do conhecimento, centros de arte, eventosdesportivos, bibliotecas, entretenimento, etc.; tudo isto pelaquantia média anual de 12 000 USD. Que outra organizaçãopoderia suplantar esta oferta.

7º - O investimento que um estudante faz no seu percurso educativo éfortemente recompensado no futuro. O salário obtido por umtrabalhador com uma graduação de 4 anos, em média, é de 50%superior ao de outro sem esse nível de qualificação.

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O elencar destes pontos fortes da indústria de ensino superior surge nasequência de uma afirmação “provocatória”: “porque não gerir umaempresa como se gere uma boa universidade”. Fazendo o “shift” de umparadigma recente que considera que a gestão universitária teria a ganharcom a utilização dos princípios e técnicas de gestão empresarial. O queparece ser certo é que “sem capacidade para atrair: estudantes, dinheiro,apoio de staff, professores e equipamento; as instituições de ensinocessarão a sua actividade”.

Adoptar uma postura de “marketing-oriented” é o que muitosestabelecimentos dizem fazer, mas apenas algumas atingemverdadeiramente esse desiderato.

Criar um posto de trabalho ou gabinete de marketing, ter um gabinetepara admissões, apoio a propinas, associações para antigos alunos,publicidade e relações públicas; não confere a estas instituições de per si,uma postura “marketing-oriented”. Se tiverem este tipo de investimentos,utilizam algumas das ferramentas do Marketing mas, infelizmente, aferramenta não faz o artista.

O que faz, então, uma instituição ser “marketing-oriented”?Ter sempre presente e orientar todos os esforços e acções da

organização para a satisfação dos seus clientes. A tarefa fundamental daorganização numa perspectiva marketing-oriented, é a de determinar asnecessidades e “vontades” dos mercados alvo e, através do desenho,comunicação, preço e entrega de produtos e serviços; satisfazer da formamais apropriada e competitiva essas necessidades e “vontades”. Isto nãosignifica ignorar a missão e as competências distintivas da organizaçãopara prover o mercado de quaisquer cursos desde que estes façam “furor”no mercado, pelo contrário, a instituição deve procurar os consumidoresque estejam ou possam estar interessados na sua oferta e, depois, adaptaressa oferta para a tomar o mais atractiva possível ao seu público.

Para além dos esforços operacionais o “marketing-oriented” obrigatambém a uma postura de longo prazo que sirva os interesses dosconsumidores e da sociedade em geral.

Como nem sempre se torna fácil conciliar estes dois tipos deobjectivos (curto prazo e médio/longo prazo), um número crescente dedecisores começa a ter em conta, em relação aos consumidores, osseguintes quatro factores associados ao marketing: necessidades,vontades, interesses de longo prazo dos consumidores e, por fim,interesses da sociedade em geral.

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A gestão deste factores processa-se num quadro de complexidadecrescente devido ao elevado número de actores envolvido e ao nível daacelerada mudança a que o sistema se encontra sujeito. Tipicamente, ospúblicos que uma universidade serve são apresentados no esquemaseguinte.

Figura nº1A UNIVERSIDADE E OS SEUS PÚBLICOS

De acordo com a orientação fundamental desta obra, podemos referir,a título de sistematização, que a adopção de uma postura“marketing-oriented”, no seio de uma organização, implica:

– Definir (aceitar) que o marketing seja encarado como um processode gestão que envolve: análise, planeamento, implementação econtrole;

– Encontrar as metodologias mais correctas para as manifestações daadopção desta postura, nomeadamente na definição cuidadosa dosprogramas oferecidos e trabalhando com este espírito,sistematicamente, todas as formas de comunicação organizacional;

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– Ter sempre presente a ideia central de que os esforços demarketing servem para atrair “clientes” através da satisfação dassuas necessidades. Uma escola que pretenda atrair estudantesoferece programas académicos fortes, ajuda financeira,aconselhamento profissional, ambiente académico favorável,empregos (part-time, etc.);

– Seleccionar mercados alvo em vez de tentar ser/fazer/oferecer tudopara todos. É necessário inventariar todos os segmentos demercado possíveis e, depois, seleccionar aqueles que pretendemosservir de acordo com a missão e os recursos da escola;

– Definir a oferta institucional dentro dos limites das necessidades evontades dos mercados/segmentos alvo previamente definidos. Anecessidade de educação é culturalmente definida, ao contrário deoutras necessidades naturais que significam um qualquer estado deprivação de satisfação. Se alguém pretender tornar-se médicoprocura um curso de medicina em vez de se tornar aprendiz de umoutro médico, o que não acontece com outras profissões. Dentro deum mesmo contexto cultural as vontades dos indivíduos tambémvariam de acordo com os seus projectos de vida e horizontetemporal. Para uns é suficiente a licenciatura enquanto outrosdesejam o mestrado e o doutoramento. Um estudante que encontraoutra escola que avalia como oferecendo um melhor programaescolar altera o seu desejo (em relação à escola) embora mantenhaa mesma necessidade. Acreditar que as necessidades evontades/desejos dos estudantes são estáticas é estar virado decostas para o mercado;

– Operacionalizar os conceitos, metodologias e estratégiasanteriormente referidos, através da utilização de um conjunto deferramentas do marketing habitualmente designadas por marketingmix: produtos/programas, preço, distribuição, promoção,processos, meios físicos e logísticos e pessoas. A utilização destasferramentas deve ser feita de forma racional e integrada por formaa servir com a maior eficiência e eficácia a missão e objectivos daescola aumentado a sua produtividade global.

Saindo, agora, do conteúdo e organização desta obra e a jeito deavaliação global parece-nos que, embora com grande orientação para arealidade do mercado educativo dos EUA, a abordagem feita pelosautores mantém uma grande valia, também para o caso Português eEuropeu. Parece-nos, aliás, que pode servir como guião que identificaalgumas “boas práticas” a ter em consideração na gestão das instituições

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de ensino superior, propondo, também, metodologias de análise e deacção que tornem mais efectiva uma postura “marketing-oriented”.

Abordando de forma suficientemente aprofundada os principaisconceitos do quadro teórico do marketing de serviços, esta obra propõeum conjunto de técnicas e metodologias especialmente adaptadas à“indústria educacional” de uma forma que nos parece útil e consentâneacom as exigências dos nossos tempos.

Paulo Castro Ribeiro

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Revistas recebidas por permuta

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2. REVISTAS RECEBIDAS POR PERMUTA COM GESTÃOE DESENVOLVIMENTO

• ANAIS UNIVERSITÁRIOS• ANÁLISE SOCIAL• ANTROPOLOGIA PORTUGUESA• APRENDIZAGEM/DESENVOLVIMENTO• AQUA NATIVA• ARQUEOLOGIA E INDÚSTRIA• CADERNOS DE ECONOMIA• CADERNOS DE GEOGRAFIA• COMPORTAMENTO ORGANIZACIONAL E GESTÃO• COMISSÃO DE COORDENAÇÃO DA REGIÃO CENTRO• COMISSÃO DE COORDENAÇÃO DA REGIÃO NORTE• DIREITO E JUSTIÇA• ECONOMIA E SOCIOLOGIA• ECONOMIA PURA• ECONOMISTA (O)• EDUCAÇÃO E MATEMÁTICA• EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA• ESTUDOS AVEIRENSES• ESTUDOS DE ECONOMIA• ESTUDOS DO GEMF• EURO-ASIA-JOURNAL OF MANAGEMENT• FORUM SOCIOLÓGICO• JORNAL DE CONTABILIDADE• MEDITERRÂNEO-REVISTA DE ESTUDOS PLURIDISCIPLI-

NARES SOBRE AS SOCIEDADES MEDITERRÂNICAS• MUNDA• NOTAS ECONÓMICAS• ORGANIZAÇÕES E TRABALHO• POBLACIÓN Y SOCIEDAD• POPULAÇÃO DE SOCIEDADE

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Revistas recebidas por permuta

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• POPULATION AND DEVELOPMENT REVIEW• REVISTA DA FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE

DE LISBOA• REVISTA DE CONTABILIDADE E COMÉRCIO• REVISTA DE ECONOMIA CONTEMPORÂNEA• REVISTA DE GUIMARÃES• REVISTA HISTÓRIA AGRÁRIA• REVISTA DE HISTÓRIA DAS IDEIAS• REVISTA ECONOMIA GLOBAL & GESTÃO• REVISTA EUROPA: NOVAS FRONTEIRAS• REVISTA PORTUGUESA DE FILOSOFIA• REVISTA PORTUGUESA DE GESTÃO• REVISTA PORTUGUESA DE HISTÓRIA• REVISTA PORTUGUESE ECONOMIC JOURNAL• SOCIOLOGIA• SOCIOLOGIA - PROBLEMAS E PRÁTICAS• STUDIA HISTORICA – HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA