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2605 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG PRECIPITAÇÃO NIVAL EM GUARAPUAVA-PR NO INVERNO DE 2013 E AS CONDIÇÕES DO TEMPO LOCAL E REGIONAL CLAUDIANE DA COSTA 1 JULIANE BEREZE 2 APARECIDO RIBEIRO DE ANDRADE 3 Resumo O presente trabalho tem como principal enfoque a precipitação nival ocorrida no município de Guarapuava no dia 22 de julho de 2013, fenômeno que teve repercussão nacional. Nesse sentido, para entender sua ocorrência houve a necessidade de estudar a circulação atmosférica do dia que ocorreu a precipitação da neve e dos dias posteriores para verificar o motivo pelo qual não houve mais nevascas. Utilizaram-se dados do IAPAR para verificar a quantidade de precipitação e a temperatura mínima nos dias estudados, além das cartas sinóticas e da Marinha e imagens de satélite para melhor entendimento sobre a circulação atmosférica. Verificou-se que nos dias posteriores a precipitação nival, a temperatura diminui, devido ao acúmulo de neve e a baixa insolação. A ocorrência de neve em Guarapuava é esporádico, mesmo que os fatores geográficos exerçam influência são os elementos meteorológicos que possibilitaram a nevasca ocorrida em 2013. Palavras-chave: Neve, Guarapuava-PR, Massas de ar. ABSTRACT This work has as its main focus the nival precipitation occurred in the Guarapuava city on July 22, 2013, a phenomenon that had national repercussions. In this sense, to understand its occurrence there was a need to study the atmospheric circulation of the day was the precipitation of snow and subsequent days to figure out why there was no more snow storms. IAPAR data were used to check the amount of precipitation and minimum temperature in the days studied, besides the synoptic and Navy charts and satellite images to better understanding of the atmospheric circulation. It was found that in the days following the nival precipitation, the temperature decreases due to the accumulation of snow and low insolation. The occurrence of snow in Guarapuava is sporadic, even if the geographic factors exert influence are the weather elements that allowed the blizzard that occurred in 2013. Key Words: Snow, Guarapuava-PR, air masses. 1 Acadêmica do programa de pós-graduação em geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). E-mail de contato: [email protected] 2 Mestre em Geografia pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). E-mail de contato: [email protected] 3 Docente do programa de pós-graduação da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). E-mail de contato [email protected]

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25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG

PRECIPITAÇÃO NIVAL EM GUARAPUAVA-PR NO INVERNO DE 2013 E AS

CONDIÇÕES DO TEMPO LOCAL E REGIONAL

CLAUDIANE DA COSTA1

JULIANE BEREZE2

APARECIDO RIBEIRO DE ANDRADE3

Resumo

O presente trabalho tem como principal enfoque a precipitação nival ocorrida no município de

Guarapuava no dia 22 de julho de 2013, fenômeno que teve repercussão nacional. Nesse sentido,

para entender sua ocorrência houve a necessidade de estudar a circulação atmosférica do dia que

ocorreu a precipitação da neve e dos dias posteriores para verificar o motivo pelo qual não houve

mais nevascas. Utilizaram-se dados do IAPAR para verificar a quantidade de precipitação e a

temperatura mínima nos dias estudados, além das cartas sinóticas e da Marinha e imagens de

satélite para melhor entendimento sobre a circulação atmosférica. Verificou-se que nos dias

posteriores a precipitação nival, a temperatura diminui, devido ao acúmulo de neve e a baixa

insolação. A ocorrência de neve em Guarapuava é esporádico, mesmo que os fatores geográficos

exerçam influência são os elementos meteorológicos que possibilitaram a nevasca ocorrida em 2013.

Palavras-chave: Neve, Guarapuava-PR, Massas de ar.

ABSTRACT

This work has as its main focus the nival precipitation occurred in the Guarapuava city on July 22,

2013, a phenomenon that had national repercussions. In this sense, to understand its occurrence

there was a need to study the atmospheric circulation of the day was the precipitation of snow and

subsequent days to figure out why there was no more snow storms. IAPAR data were used to check

the amount of precipitation and minimum temperature in the days studied, besides the synoptic and

Navy charts and satellite images to better understanding of the atmospheric circulation. It was found

that in the days following the nival precipitation, the temperature decreases due to the accumulation of

snow and low insolation. The occurrence of snow in Guarapuava is sporadic, even if the geographic

factors exert influence are the weather elements that allowed the blizzard that occurred in 2013.

Key Words: Snow, Guarapuava-PR, air masses.

1Acadêmica do programa de pós-graduação em geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). E-mail de contato: [email protected] 2 Mestre em Geografia pela Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). E-mail de

contato: [email protected] 3 Docente do programa de pós-graduação da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). E-mail de contato [email protected]

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1. Introdução

A precipitação nival ou precipitação de neve acontece com rara frequência no Brasil,

pois o país se destaca pelo seu clima tropical. Dessa forma, sua ocorrência fica

condicionada à região Sul, nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná,

devido às condições climáticas favoráveis. No inverno, quando há precipitação de neve, as

principais localidades que se deparam com esse fenômeno estão localizadas na Serra

Gaúcha e na Serra Catarinense. Normalmente estas cidades têm quedas de temperaturas

significativas, o que se torna um diferencial, atraindo muitos turistas.

No inverno de 2013 o fenômeno chamou ainda mais a atenção ao atingir cidades

paranaenses como Curitiba e Guarapuava, no Centro-Sul do estado. Em Guarapuava a

ocorrência de neve é rara, e com a intensidade da ultima nevasca foram poucos eventos

ocorridos. No dia 22 de julho de 2013 aproximadamente ás 20 horas e 30 minutos começou

a queda de neve na referida cidade o que não ocorria a algumas décadas.

Como todo fenômeno meteorológico, a queda de neve trouxe muitas especulações a

seu respeito. Nesse sentido, uma das principais hipóteses foi sobre as condições

atmosféricas e como estava o tempo no momento. Quais os fatores que condicionaram esta

queda de neve?

Esse tipo de evento está associado a alguns condicionantes, como a umidade do ar

e a pressão atmosférica, mas o mais importante é a temperatura do ar. Dessa forma, é

importante ressaltar que a possibilidade da ocorrência de neve sempre estará associada à

interação entre esses elementos meteorológicos.

Este trabalho enfatiza Guarapuava (apesar de ter nevado em outras cidades do sul

do Brasil), pois a precipitação de neve nessa localidade foi intensa e virou noticia com

repercussão nacional. O G1 portal de noticias da rede Globo de televisão por intermédio da

RPC (rede paranaense de televisão) noticiou da seguinte forma “Começou a nevar por volta

das 20h45 em Guarapuava, região central do Paraná. De acordo com o Instituto Simepar, às

21h35, os radares da cidade apontavam temperatura de 0°C e chuva em vários pontos da

cidade”. Uma combinação dos elementos do clima que propiciam á queda de neve.

O município de Guarapuava está localizado no Centro-Sul do Paraná (Figura 1),

próximo da latitude 25° 23' 43'' S e da longitude 51° 27' 29'' W, com altitude média acima de

1000 metros.

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Figura 1: localização da área de estudo

Fonte: Bereze, 2014 Nuvens com cristais de gelo e neve não são um fenômeno isolado na atmosfera,

porém o crescimento dos flocos e/ou cristais até que os mesmos venham a precipitar,

requerem temperaturas negativas não apenas no interior da nuvem e área de sua formação,

mas na atmosfera inferior (FUENTES, 2009). Em decorrência da variabilidade climática

existente no mundo, a precipitação nival acontece na maioria das vezes no Hemisfério

Norte. Isso é decorrente de condições climáticas específicas encontradas nessa porção do

globo terrestre, tais como umidade e temperaturas mínimas favoráveis.

Para a formação de neve é necessário alguns mecanismos, dentre eles a presença

de água na fase de vapor; a umidade relativa igual ou superior a 100%; temperatura do ar

igual ou inferior à 0º C e núcleos de gelo. A nucleação de gelo pode ocorrer de forma

homogênea ou heterogênea, sendo que na homogênea a formação dos cristais de gelo

pode ocorrer a partir de gotas de água super-resfriadas, mas este processo acontece

somente com temperaturas abaixo de 40º C negativos, o que não é o caso das temperaturas

de Guarapuava. Na forma heterogênea ela pode ocorrer por deposição, onde os cristais

crescem sobre os núcleos de gelo, por congelamento e neste caso as temperaturas não são

tão baixas quanto na forma homogênea (FUENTES, 2009).

De acordo com INMET (2016) a neve é a precipitação de cristais de gelo translúcidos

e brancos formados diretamente pelo congelamento do vapor de água que se encontra

suspenso na atmosfera. Esse processo geralmente ocorre com quanto se vê nuvens do tipo

estrato, mas também pode se originar das nuvens do tipo cúmulo.

A ocorrência de neve em algumas cidades do sul do Brasil, considerando ao menos

um dia a cada dois anos, geralmente ocorre na seguinte ordem: primeiramente em São

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Joaquim, na Serra Catarinense, em seguida Bom Jesus (RS); Cambará do Sul (RS); Palmas

(PR); Vacaria (RS); Caçador (SC); Campos Novos (SC); Bento Gonçalves (RS);

Guarapuava (PR) e finalmente Curitiba (PR). Salientando que a frequência anual é

decrescente de São Joaquim até Curitiba. Percebe-se então, que em Guarapuava

raramente acontece um evento de neve (CARVALHO JUNIOR, 2004).

Para que ocorra a queda de neve as massas de ar são determinantes. Estas podem

ser definidas como um grande corpo de ar horizontal e homogêneo que se desloca como

uma entidade reconhecível podendo ser tropical ou polar. As massas de ar têm sua origem

em áreas onde existem condições que favorecem o desenvolvimento de vastos corpos de ar

horizontais e uniformes. O estado do Paraná tem influências das massas de ar Polar

Atlântica (mPa), Tropical Atlântica (mTa) e Tropical Continental (mTc) (AYOADE, 1996).

Durante os meses do inverno (junho, julho e agosto) as temperaturas no Sul e

Centro-sul do Paraná são influenciadas principalmente pela Massa Polar Atlântica - mPa,

que aliada a altitude de algumas localidades, pode sofrer quedas significativas, resultando

em frio mais intenso que outras regiões do estado. Entretanto, ocorrem situações em que a

Massa Polar Pacífica - mPp também influencia nas temperaturas do sul do Brasil. Isso

ocorre quando essa massa de ar consegue ultrapassar a Cordilheira dos Andes e entra no

interior do continente sul americano, mais especificamente na Argentina, Paraguai e Brasil

(COSTA, 2013).

A temperatura é um fenômeno físico que indica o aquecimento/resfriamento do ar e é

medida à sombra. Em Guarapuava, o regime térmico está diretamente ligado à dinâmica

das massas de ar e localmente é influenciada pelos efeitos de continentalidade, cobertura

vegetal e principalmente a altitude, sendo o sítio urbano de Guarapuava, em sua maioria,

localizado em altitude superior a 1000m (THOMAZ e VESTENA, 2003).

Percebe-se claramente que a ocorrência de temperaturas negativas em Guarapuava

está associada tanto a circulação geral da atmosfera, principalmente a ação das massas

polares no inverno, quanto a sua localização geográfica (distante do oceano e em altitude

elevada). Essas características físicas são essenciais para a ocorrência de neve, mas não

são determinantes, tanto que esse fenômeno não ocorria na região há cerca de 40 anos,

segundo informações não oficiais.

2. Materiais e métodos

Para o desenvolvimento do presente trabalho inicialmente foi realizado uma revisão

bibliográfica para buscar entender as possíveis causas de neve no Sul do Brasil.

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Posteriormente foram selecionados os dias que iriam ser estudados (dois dias antes e um

depois da ocorrência da nevasca). Após este momento pesquisou-se no site da Marinha4,

buscando identificar as cartas sinóticas do período. Da mesma forma obteve-se imagens do

satélite GOES-13 junto ao site do CPTEC/INPE.

Em seguida foi solicitado ao IAPAR (Instituto Agronômico do Paraná) dados de

temperatura e da precipitação dos dias 20, 21, 22, 23 de julho de 2013 para Guarapuava. As

cartas sinóticas possibilitaram identificar o padrão para a variabilidade da pressão

atmosférica com a consequente visualização das frentes, bem como, a chegada de massas

de ar em Guarapuava, processo confirmado pelas imagens de satélite.

Os dados de temperatura e precipitação diários foram agrupados para possibilitar o

entendimento da dinâmica do tempo naquele período (20 de julho a 23 de julho de 2013) e

como isso pode ter influenciado a queda de neve em Guarapuava.

Foi elaborado o climograma de Guarapuava utilizando uma serie histórica de 1976 a

2011, conforme dados disponibilizados pelo IAPAR. Utilizou-se também de imagens

(fotografias) registradas pelos autores para comprovação do fenômeno.

3. Resultados

No dia 22 de julho de 2013, aproximadamente ás 20h30min, começou a queda de

neve em Guarapuava, o que não ocorria a algumas décadas. Conforme notícia dada pelo

jornal Diário de Guarapuava, na sua versão online, publicada em 20 de julho de 2013, a

última grande nevasca em Guarapuava havia acontecido em 20 de agosto de 1965:

Uma nevasca em Guarapuava; muitos acordaram espantados na manhã daquela sexta-feira 20 de agosto de 1965. A neve caía em grande volume e o frio era intenso. Todos puseram os melhores casacos. Os guarapuavanos daquela época até estavam habituados à neve, que ainda era relativamente comum de ocorrer, mas nunca haviam visto tamanha quantidade se acumular pela cidade. Dois dias antes de acontecer novamente à queda intensa de neve, já se especulava o fato da demora da neve cair novamente, quais seriam os fatores que levaram a esta demora de queda de neve. (DIARIO DE GUARAPUAVA, S/Pg 2013).

De acordo com THOMAZ e VESTENA (2003) “as geadas na região Centro-Sul do

Paraná têm sua origem decorrente da entrada de uma massa de ar fria. Muitas das vezes as

geadas podem causar danos, principalmente para a agricultura, dependendo de qual seja

sua intensidade”. Em Guarapuava é comum a ocorrência de geadas durante o inverno, pois

esta estação é caracterizada por baixas temperaturas e pouca chuva, como pode ser

observado no gráfico1. Portanto, não existe referência a ocorrência de neve.

4 <https://www.mar.mil.br/dhn/chm/meteo/prev/cartas/cartas.htm>

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Gráfico 1: Variabilidade temporal da precipitação e da temperatura para Guarapuava-PR

Fonte: IAPAR. Organização: os autores

A média das temperaturas mínimas durante todo o ano em Guarapuava não

ultrapassam os 17°C devido sua localização geográfica e sua altitude, durante o inverno

(junho, julho e agosto) as temperaturas não ultrapassam dos 10°C conforme pode ser

observado na gráfico 2. Dessa forma, se for considerado a normalidade de temperaturas

m’mínimas para região, existem condições para a ocorrência da neve.

Gráfico 2: Média das temperaturas mínimas de Guarapuava (1976-2011)

Fonte: IAPAR. Organização: os autores

Para Costa e Andrade (2015), ao analisarem o padrão da circulação geral da

atmosfera para a região centro-sul do Paraná nos invernos de 2004 a 2012, além da mPa,

que define as temperaturas mínimas, outras massas de ar também atuam nesta região,

como a mTa e a mTc. Essas últimas agem como um bloqueio impossibilitando a ação mais

significativa da mPa, principalmente.

Isto indica que no inverno de 2013, principalmente nos dias estudados neste

trabalho, os bloqueios não aconteceram de forma expressiva, o que permitiu um

fortalecimento da mPa e a sua frente trouxe para Guarapuava precipitação pluviométrica,

aumentando significativamente o teor de umidade do ar atmosférico. Essa condição,

associada com temperaturas relativamente baixas, ocasionou a precipitação nival.

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A partir das análises das cartas sinóticas e das imagens de satélite (Figura 2, 3, 4, 5,

6, 7, 8, 9) da temperatura e da precipitação, pode-se observar a evolução do tempo nos dias

antecedentes a queda de neve e no dia da ocorrência de neve.

No dia 20 de julho a temperatura mínima constatada foi de 15,0 C° o indicando que

estava um pouco acima dos padrões ideais para a queda de neve, mas como pode ser

notada na carta sinótica (figura 2), Guarapuava está sobre alta pressão, com influência da

isóbara 1016. Neste dia, de acordo com os dados do IAPAR, não houve precipitação

pluviométrica.

Figura 2: Carta sinótica da Marinha do dia 20 de julho de 2013 elaborada as 12 horas.

Fonte: site da Marinha

Além da alta pressão visualizada na carta sinótica pode-se observar na imagem de

satélite (figura 3) a chegada da frente fria em Guarapuava.

Figura 3: Imagem de satélite Góes 13 colorida baixa, dia 20 de julho de 2013 elaborada às 18 horas. Fonte: CPTEC, INPE

No dia 21 ocorre a intensificação da frente fria, como pode observada na carta

sinótica (figura 4) e a temperatura mínima diminui 5° C em relação o dia anterior (mínima de

10C°). Além da queda de temperatura, ocorre 56,8 mm de chuva.

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Figura 4: Carta sinótica da Marinha do dia 21 de julho de 2013 elaborada às 12 horas

Fonte: site da Marinha

A frente fria impulsionada pela mPa chega a Guarapuava, ocasionando precipitação

pluviométrica em grande quantidade, como pode ser visto na figura 5.

Figura 5: Imagem de satélite Góes 13, Colorida baixa, elaborada no dia 21 de julho de 2013 às 18 horas.

Fonte: CPTEC, INPE

No dia 22 às 12 horas, Guarapuava está sobre a influência da isóbara 1020 (alta

pressão) o que pode ser considerada como indicativo da atuação da massa de ar Polar

(figura 6). A temperatura mínima cai 8° C em relação ao dia anterior (temperatura mínima de

0,2 C°). Neste dia ainda ocorrer precipitação pluviométrica (29,2 mm), mas devido a baixa

temperatura, pressão alta, influenciada pela mPa, ocorre a queda de neve.

Figura 6: Carta sinótica do dia em que ocorreu a precipitação Nival, 22 de julho de 2013 elaborada

às 12 horas. Fonte site da Marinha

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Na figura 7, a imagem de satélite do dia 22 de julho evidencia a aproximação da

polar atlântica. Sua frente tem muita umidade, aliada à temperatura de superfície baixa,

possibilita as condições atmosféricas ideais para a queda de neve.

Figura 7: Imagem de satélite Góes 13 colorida baixa do dia 22 de julho de 2013 elaborada às 18 horas.

Fonte: CPTEC, INPE

No dia posterior a queda de neve a temperatura mínima fica negativa -1,4 em virtude

do acumulo de neve, e a intensificação da massa polar. A figura 8 confirma essa condição

com pressão atmosférica entre as isóbaras 1024 e 1028. Ainda ocorre precipitação

pluviométrica (26 mm), mas esse volume é menor em relação aos dias anteriores.

Figura 8: Carta sinótica do dia 23 de julho dia posterior a precipitação Nival elaborada às 12 horas.

Fonte: site da Marinha

Observa-se que no dia 23/07 (figura 9) que a frente fria se dissipa, mas a Massa

Polar atlântica continua atuando na região. Entretanto, suas características nessa fase são

baixa temperatura e umidade, com sol e frio intenso.

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Figura 9; Imagem de satélite Goes 13, colorida baixa, dia 23 de julho de 2013 elaborada às 18 horas.

Fonte: CPTEC, INPE

Nos dias posteriores a precipitação da neve, as temperaturas baixaram ainda mais,

sendo que no dia 24/07 a temperatura mínima chegou a -3,8°C devido ao acumulo da neve

(Figuras 10a e 10b) e a baixa insolação com alto índice de albedo. No decorrer dos dias,

com o derretimento da neve, a temperatura começou a elevar-se novamente e no dia 26 a

temperatura mínima ficou em 4,2.

Figura 10 (a): Acumulo de neve na cidade de Guarapuava no dia 23 de julho de 2013

Figura 10 (b): Acumulo de neve no Parque do Lago em Guarapuava dia 23 de julho de 2013

Figura 8: Acúmulo de neve no dia posterior

Fonte; os autores

4. Conclusões

Existem alguns relatos afirmando o registro de 11 episódios de neve entre os anos

de 1950 a 2000, ocorridos nos dias 4 de julho de 1953, 30 de julho de 1955, 20 de julho de

1957, 19, 20 e 21 de agosto de 1965, 8 de julho de 1972, 17 de julho de 1975, 25 de agosto

de 1984, 9 de julho de 1994, 12 de julho de 2000 (GUARAPUAVA, 2015). Contudo, esses

acontecimentos não podem ser confirmados, pois não existem registros atmosféricos ou

fotográficos que comprovem cientificamente a ocorrência de tais eventos.

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Com relação ao evento ocorrido em 2013, os dados disponíveis (cartas sinóticas,

temperatura do ar e precipitação) permitem afirmar que a precipitação nival ocorrida no

município foi um evento atmosférico esporádico.

O único registro afora esse, com relativa confiabilidade, pois existem fotos e relatos

jornalísticos da década, foi o de 1960 (figura 13), portanto, há mais 50 anos atrás.

Figura 13: Rua XV de novembro, principal Rua de Guarapuava coberta de neve na década de

1960. Fonte: G1. Globo.com

Dessa forma, é possível afirmar que tal precipitação se deve a combinação única de

condições atmosféricas, associando temperaturas baixas, umidade elevada, principalmente

pela precipitação pluvial antecedente. Com destaque para forte atuação da Massa Polar

Atlântica, que foi extremamente importante nesse processo, associado ao enfraquecimento

da mTa e mTc, mais secas e quentes.

A combinação de queda na pressão, baixa temperatura e umidade elevada, além das

características geográficas de Guarapuava, possibilitou a ocorrência da neve. Contudo, a

possibilidade desse fenômeno se repetir é imprevisível, pois depende de condições do

tempo que não ocorrem frequentemente no inverno de Guarapuava.

5. Referências

-Livros

AYOADE, J. O. Introdução à Climatologia para os Trópicos. 4ª Edição, Rio de Janeiro: Bertrand do Brasil, 1996. Thomaz, E. L. e Vestena, L. R. Aspectos climáticos de Guarapuava-PR. Guarapuava: UNICENTRO. 2003.

-Revistas científicas

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COSTA, C. e ANDRADE, A.R. Gênese e evolução das temperaturas mínimas absolutas NA região centro-sul do Paraná: a influência da dinâmica atmosférica e do relevo local. Boletim Goiano de Geografia (on-line) v.35 p. 452-471, 2015 COSTA, E.R. A onda de frio de junho de 2012 no Rio Grande do Sul: gênese, duração e temperaturas mínimas registradas. Revista Geografia Ensino e pesquisa, vol.17 p. 213-226, 2013.

-Dissertação de mestrado

CARVALHO JUNIOR, I.J. A neve em Palmas/PR: da reconstituição histórica á abordagem dinâmica. Dissertação de mestrado, Universidade Estadual paulista. Rio Claro (SP) 2004.

-Fontes eletrônicas

Cartas Sinóticas. Centro de Hidrografia da Marinha- Serviço Meteorológico Marinho. Disponível em: <https://www.mar.mil.br/dhn/chm/meteo/prev/cartas/cartas.htm> Acesso em 15 de dezembro de 2014 CPTEC/ INPE. Acervo de imagens. Disponível em: <http://satelite.cptec.inpe.br/acervo/goes.formulario.logic.> Acesso em Novembro de 2014 Diário de Guarapuava. Uma nevasca em Guarapuava. Disponível em: <http://www.diariodeguarapuava.com.br/noticias/guarapuava/11,31531,20,07,umanevascaemguarapuava.Shtml.> Acesso em 20 de novembro de 2014 Fuentes, M.V. Dinâmica e Padrões de Precipitação no Sul do Brasil. 2009 (IGEO/UFRGS) Tese (Doutorado em Geociência), Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, Instituto de Geociências, Porto Alegre, RS 2009. G1.Globo.com. Guarapuava, no interior do Paraná, registra neve na noite desta segunda: Fenômeno começou por volta das 20h30 na cidade. Segundo o Simepar, pode nevar em várias cidades paranaenses. Disponível em: <http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2013/07/guarapuava-no-interior-do-parana-registra-neve-na-noite-desta-segunda.html> Acesso em: março de 2016 G1.Globo.com. Veja fotos da neve que caiu em Guarapuava em invernos passados: Fenômeno ocorreu em 2013 na cidade do PR e também nas décadas de 60 e 70. Disponível em: <http://g1.globo.com/pr/campos-gerais-sul/fotos/2014/07/veja-fotos-da-neve-que-caiu-em-guarapuava-em-invernos-passados.html#F1251373> Acesso em: março de 2016 Guarapuava. Prefeitura municipal de Guarapuava. Disponível em: <http://www.guarapuava.pr.gov.br/> Acesso em: dezembro de 2015 IAPAR, Instituto Agronômico do Paraná. Dados de temperatura do ar. 2014 INMET, Instituto Nacional de Meteorologia. Glossário. Disponivel em: <http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=home/page&page=glossario#N> Acesso em: março de 2016