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2556 VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais 25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG PELO DIREITO DA POPULAÇÃO DA PORÇÃO TROPICAL DO BRASIL ASSUMIR NÃO TER ESTAÇÕES DO ANO OYANA RODRIGUS DOS SANTOS 1 RESUMO: Os estudos climatológicos da região tropical do planeta são recentes e desenvolveu-se a sombra das teorias e metodologias produzidas nos países temperados. O Brasil, sendo o maior país tropical do mundo, teve seus estudos da atmosfera, marcado por isto, deixando sequelas não só na produção científica, como também nos conteúdos didáticos ministrados pela disciplina Geografia em suas escolas, sendo objeto deste estudo a problemática do ensino descontextualizado das Estações do Ano, passando à população brasileira, a ideia equivocada do comportamento atmosférico em que todo o território tem as quatro estações do ano. Palavras-Chaves: Climatologia Tropical; Ensino; Estações do Ano. Justificativa No contexto histórico atual, em que a problemática socioeconômica e ambiental faz parte do cotidiano, reconhece-se a existência de um conjunto de pressão sobre os cientistas cobrando-lhes respostas objetivas frente à necessidade de conhecimento dos processos naturais, previsão de cenários futuros e correção dos danos acumulados e também sobre a população, cobrando-lhes maior conhecimento sobre o meio, possibilitando tomada de atitudes voltadas para a sustentabilidade. Neste quadro, convivendo dentre outros, com problemas como o Refinamento da Camada de Ozônio e Aquecimento Global, deve ser destacado a pressão efetivada por sobre os estudiosos da atmosfera, o que se por um lado repercute em maiores investimentos em pesquisa na área, por outro, torna visível o estágio ainda embrionário, que encontra-se os estudos da atmosfera. Isto passível de ser exemplificado com a própria realidade dos estudos da atmosfera nas regiões tropicais do planeta Terra, Sobre o estágio de desenvolvimento dos estudos da atmosfera tropical, segundo Mendonça e Dani Oliveira (2007), este foi iniciado tardiamente se comparado com o ocorrido nas regiões temperadas, o que explica a precariedade dos primeiros estudos, sua vinculação ao econômico, e do fato de terem sido feitos pos estudiosos europeus. Segundo Ayoad (2003), os estudos efetivos dos trópicos, só se deu na Segunda Guerra Mundial, por necessidades beligerantes de oferecerem deslocamentos seguros de suas frotas de aviões, justificando estudos urgentes da atmosfera e instalação de estações meteorológicas. Terminado a Guerra parcela destes estudos foram cedidos a alguns países, 1 Docente do IFG, Campus Goiânia, e PUC Goiás nos cursos de Graduação de Licenciatura em Geografia e Engenharia Ambiental. E-Mail [email protected]

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25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG

PELO DIREITO DA POPULAÇÃO DA PORÇÃO TROPICAL DO BRASIL

ASSUMIR NÃO TER ESTAÇÕES DO ANO

OYANA RODRIGUS DOS SANTOS1

RESUMO: Os estudos climatológicos da região tropical do planeta são recentes e

desenvolveu-se a sombra das teorias e metodologias produzidas nos países temperados. O

Brasil, sendo o maior país tropical do mundo, teve seus estudos da atmosfera, marcado por

isto, deixando sequelas não só na produção científica, como também nos conteúdos

didáticos ministrados pela disciplina Geografia em suas escolas, sendo objeto deste estudo

a problemática do ensino descontextualizado das Estações do Ano, passando à população

brasileira, a ideia equivocada do comportamento atmosférico em que todo o território tem as

quatro estações do ano.

Palavras-Chaves: Climatologia Tropical; Ensino; Estações do Ano.

Justificativa

No contexto histórico atual, em que a problemática socioeconômica e ambiental faz

parte do cotidiano, reconhece-se a existência de um conjunto de pressão sobre os cientistas

cobrando-lhes respostas objetivas frente à necessidade de conhecimento dos processos

naturais, previsão de cenários futuros e correção dos danos acumulados e também sobre a

população, cobrando-lhes maior conhecimento sobre o meio, possibilitando tomada de

atitudes voltadas para a sustentabilidade. Neste quadro, convivendo dentre outros, com

problemas como o Refinamento da Camada de Ozônio e Aquecimento Global, deve ser

destacado a pressão efetivada por sobre os estudiosos da atmosfera, o que se por um lado

repercute em maiores investimentos em pesquisa na área, por outro, torna visível o estágio

ainda embrionário, que encontra-se os estudos da atmosfera. Isto passível de ser

exemplificado com a própria realidade dos estudos da atmosfera nas regiões tropicais do

planeta Terra,

Sobre o estágio de desenvolvimento dos estudos da atmosfera tropical, segundo

Mendonça e Dani Oliveira (2007), este foi iniciado tardiamente se comparado com o ocorrido

nas regiões temperadas, o que explica a precariedade dos primeiros estudos, sua

vinculação ao econômico, e do fato de terem sido feitos pos estudiosos europeus.

Segundo Ayoad (2003), os estudos efetivos dos trópicos, só se deu na Segunda

Guerra Mundial, por necessidades beligerantes de oferecerem deslocamentos seguros de

suas frotas de aviões, justificando estudos urgentes da atmosfera e instalação de estações

meteorológicas. Terminado a Guerra parcela destes estudos foram cedidos a alguns países,

1 Docente do IFG, Campus Goiânia, e PUC Goiás nos cursos de Graduação de Licenciatura em Geografia e Engenharia Ambiental. E-Mail [email protected]

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e por várias décadas foram os únicos dados disponíveis para explica-los atmosfericamente,

como foi o caso Brasil.

Os primeiro estudos apresentaram-se frágeis e passíveis de questionamentos,

devido, ao despreparo técnico e dificuldades no entendimento da composição e dinamismo

da atmosfera tropical usando, modelos para a zona temperada. Sobre isto, no tocante ao

Brasil, temos:

Até por volta dos anos de 1970, no Brasil, e até atualmente, em algumas

localidades tropicais, os elementos e fenômenos atmosféricos eram

observados e mensurados por aparelhos fabricados nos países de latitudes

médias e aferidos para a nossa realidade. Por outro lado, as bases teóricas

utilizadas para explicar os fenômenos atmosféricos tropicais e seu

dinamismo ainda são aqueles produzidos pela observação e análise da

atmosfera da zona temperada. O trabalho de meteorologistas e

climatólogos, em tais condições, deixam muito a desejar em termos de

confiabilidade, levando a previsões que muitas vezes não se efetivam.

(MENDONÇA e DANI-OLIVEIRA 2007, p. 17)

Apesar disto, segundo estes mesmos autores, com o tempo o Brasil passou a deter

significativo compêndio sobre sua configuração atmosférica e climática, produzidos a partir

das primeiras décadas do século XX, com grande contribuição da instalação de sistema de

estações meteorológicas por todo o país, pelo Departamento Nacional de Meteorologia

(DNMET) e posteriormente, na década de 1940, a fundação do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE). Neste contexto, merecem destaque estudiosos como

Adalberto Serra e Leandro Ratisbona, Salomão Serebrenick, Fábio Macedo de Soares

Guimarães, Ari França, Gilberto Osório de Andrade, R.M.A. Simões e Carlos Augusto de

Figueiredo Monteiro que ao adaptar as concepções climáticas de Maximilian Sorre e Pierre

Pédelaborde à dinâmica atmosférica da América do Sul e do Brasil criou o conceito de

análise rítmica e Climatologia, passando a liderar, as publicações sobre Climatologia no

Brasil.

Testemunhando, a preocupação com o desenvolvimento de um estudo climatológico

adequado as condições tropicais, Ayoade registra:

(...) as mudanças de tempo nos trópicos são hoje conhecidas como

frequentes e complexas, com tipos de tempo bastante distintos. A nossa

visão sobre os sistemas de condição meteorológicos tropicais tem sido

radicalmente revista pelos dados derivados dos satélites, que começaram a

atuar desde a década de 60. (...) Reconhece-se agora e de maneira geral

que os modelos sinóticos das latitudes médias não são aplicáveis nos

trópicos. Atualmente, graças aos satélites meteorológicos e a aprimorada

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rede de observação estão sendo feitas tentativas para o desenvolvimento

de modelos sinóticos tropicais e métodos apropriados de análise

meteorológica. (AYOADE, 2003, p. 12)

Nas décadas de 1960 e 1970, segundo Mendonça e Dani Oliveira (2007), com o

incremento do modo de produção capitalista, da urbanização e a eclosão do movimento

ambientalista denunciando problemas socioambientais, cobra-se dos estudiosos do clima

participação na resolução do problema, que aliado, ao uso de novas tecnologias, acabam

por efetivar grandes avanços nos estudos da atmosfera brasileira, mas ainda não o

suficiente para permitir um conhecimento detalhado do clima do país. Disto denotando-se

que a Climatologia Brasileira tem muito a avançar, tanto no que diz respeito ao

detalhamento da dinâmica atmosférica quanto à diversidade climática do País.

Refletindo, o que se passava no universo científico, verificou-se na transposição do

conteúdo científico para a linguagem didática, materializada na disciplina Geografia no

ambiente escolar, acúmulo de desafios a serem enfrentados. Neste contexto é importante

lembrar que cedo, a disciplina Geografia se firmou no ambiente escolar como fornecedora

de bagagem conceitual para o auxílio ao educando no desvendar, da realidade imediata e

exercício da cidadania. Assim, o contato com a dinâmica da atmosfera, passa a ser

assumida pela escola cabendo aos estudos em Geografia, desde as séries iniciais do ensino

fundamental até o segundo grau o fazê-lo, mas mostra-se importante o cuidado de

verificação de como esta bagagem está chegando à população, em especial no Brasil,

através do conteúdo Estações do Ano dos pelos livros didáticos.

Observa-se que no Brasil, nas séries iniciais, um dos primeiros contatos com o

estudo em Geografia, se dá com o conteúdo Estações do Ano, expressas não só no livro

didático como no próprio cotidiano da sala de aula como algo posto, estanque e sem a

devida adaptação a realidade atmosférica, em especial na grande porção do tropical do

território brasileiro. Assim, é comum nas primeiras séries do ensino fundamental

encontrarmos gravuras estereotipadas representativas das estações do ano nos livros

didáticos, cartazes interativos usados em sala de aula, reproduzindo as imagens presentes

nos livros e que o aluno fica encarregado de apontar que estação do ano ele está

vivenciando e festas alusivas em especial a uma suposta chegada da Primavera, fazem

parte do cotidiano dos alunos, situação esta só minimamente atenuada nas séries

posteriores, em especial na segunda fase do ensino fundamental quando passa-se a falar

em Solstício e Equinócio, aprofundando no entendimento das Estações do Ano mas sem

contudo contextualiza-la, situação esta repetida nos estudos efetivados nas salas de aula do

Segundo Grau.

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Fora da sala de aula em especial nas localidades mais próximas da linha do

Equador, observa-se entre os cidadãos o convívio sem maiores estranhamento, de

propagandas efetivadas pelo comércio varejista de “Liquidação de Inverno”, “Queima de

estoques de Verão”, Horário de Verão, como se nestas partes do Brasil se observasse

efetivamente a ocorrência do quadro atmosférico por traz do uso destes termos.

Completando este quadro é comum entre os tele jornalistas, comunicarem hora, minutos e

segundo em que tem início estações do ano, quando deve ser destacado a narrativa de

início da primavera, vinculando-a a um período feliz e cheio de flores, quando é comum

mostrarem jardins florido que é fácil para um bom observador, perceber que este já se

encontrava presente antes da data apontada.

Assim, neste estudo, com a clareza de que é um direito do cidadão brasileiro fazer

uso do entendimento das estações do ano de forma contextualizada e de reconhecer que a

grande maioria do território brasileiro não reúne as mínimas condições para tê-la, este

estudo se propõe a fazer uma reflexão sobre o fato e chamar os geógrafos à sua

responsabilidade na reversão do quadro apresentado.

Materiais e Método

Em busca de apresentar o estado da arte, traz-se elementos da discussão efetivada

em ambiente acadêmico e também alguns elementos presentes em materiais didáticos

referentes ao território brasileiro e estações do ano, em produções usadas na educação

básica e conteúdo de sites de apoio ao aluno e professor, possibilitando uma analogia entre

o que a academia postula e o que a escola materializa, objetivando entender as causas do

grau de alienação de boa parte da populações relativa ao convívio com o conceito de

estações do ano.

1. O que a academia traz:

1.1 – Sobre o Planeta, Latitude e Estações do Ano.

A Terra é uma elipsoide de revolução, cuja forma permite que a intensidade da

radiação solar seja recebida de forma desigual nas diferentes latitudes. Um mesmo feixe de

luz ao incidir sobre localidades posicionadas em altas latitudes aquecem uma superfície

maior que nas situadas em baixa latitude e em consequência, a intensidade da insolação é

maior próximo a linha do Equador e menor próximo aos polos. O que explica os diferentes

gradientes térmicos do planeta. Nessa distribuição da insolação pela superfície terrestre é

preciso também considerar os reflexos dos movimentos da Terra no espaço, a rotação e a

translação.

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O movimento da Terra em torno do Sol (translação), ver Figura 01, é efetivado em

aproximadamente 365 dias, que aliado ao fato da Terra girar em torno de um eixo imaginário

com inclinação de 23° 27`em relação ao plano da órbita, possibilita que a insolação de um

mesmo ponto da superfície da Terra varie de acordo com a época do ano, o que determina

a existência das estações do ano e do fato de nunca ser a mesma ao mesmo tempo nas

Zonas Temperadas Norte e Sul.

Figura 01 - As posições da Terra e as estações do ano.

Fonte: wwwmundoeducação.bol.uol.com.br

No solstício de verão no hemisfério Sul, com os raios solares incidindo

perpendicularmente no Trópico de Capricórnio, implica no hemisfério Norte a receptação de

menor insolação e a instalação da estação fria, com dias mais curtos e noites mais longas.

Ocorrendo o contrário no solstício de verão do Hemisfério Norte, com o Sol incidindo

perpendicularmente ao Trópico de Câncer, e a ocorrência da estação fria no hemisfério Sul.

O equinócio, que marca o início da primavera ou do outono, dependendo do hemisfério, pois

o disco solar encontrando-se no plano da órbita terrestre a radiação incide

perpendicularmente ao Equador, possibilitando que ambos hemisférios recebem mesma

insolação, fazendo com que dias e noites durem 12 horas em todo o planeta. Sobre este

fenômeno Ayoade registra complementando:

A quantidade total de radiação recebida em determinado local é também

afetada pela duração do dia. A duração do período de luz, obviamente afeta

a quantidade de radiação recebida. A duração do dia varia com a latitude e

com a estação. Nas proximidades do Equador, dias e noites são de duração

quase igual durante o ano. A duração do dia geralmente aumenta ou

diminui com o aumento da latitude, dependendo da estação. No verão, por

exemplo, a duração do dia aumenta do Equador em direção ao polo Norte e

diminui em direção ao polo sul. (...) Durante o solstício de inverno do

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hemisfério Norte ocorre o inverso. A duração do dia aumenta em direção ao

Sul, mas diminui em direção ao polo Norte. (AYOADE, 2003, p. 26 e 27)

Segundo este mesmo autor, a marcha diurna da temperatura na região temperada

varia intensamente com a estação, diferentemente do que ocorre nas regiões tropicais, isto

porque nela ocorre variação significativa da duração do dia e da noite e consequentemente,

do volume de insolação durante o curso do ano. No verão, os dias, são muito mais longos

do que as noites e a radiação incidente é a mais elevada, no inverno, ao contrário, os dias

curtos, noites longas e baixo volume de radiação.

1.1.1 Sobre Latitude e Tropicalidade e Brasil

Na latitude dos trópicos, entre os Trópicos de Câncer e Capricórnio, encontra-se

Zona Intertropical, abrangendo toda a faixa da superfície em que os raios solares incidem

perpendicularmente durante o ano todo. Segundo Ferreira:

Como a órbita da Terra é um ciclo anual, o eixo de inclinação da Terra

muda em relação ao Sol. Isto causa uma maior concentração de raios

solares entre o Trópico de Capricórnio (23,5º S) e o Trópico de Câncer

(23,3º N), migrando de um lado para o outro. O maior aquecimento da

superfície terrestre ocorre nesse espaço, onde os raios solares incidem

diretamente durante todo o ano. As temperaturas entre essas latitudes,

portanto permanecem altas o ano inteiro. (FERREIRA, 20016, p. 50)

Ela recebe a maior insolação e consequentemente apresenta os climas mais quentes

do planeta, tendendo a apresentar a temperaturas mais elevadas no meio da zona, com

paulatina diminuição da mesma na medida em que se afasta para a periferia da zona. Sobre

esta região intertropical, Ayoade destaca as várias tentativas de defini-la:

1. A área entre os Trópicos de Câncer e de Capricórnio, que indicam os limites

exteriores das áreas onde o Sol pode sempre estar no zênite;

2. A área entre latitudes de 30ºN e 30ºS do Equador;

3. A área do mundo onde não há nenhuma estação fria, onde o inverno nunca

ocorre;

4. A área do mundo onde a temperatura média anual é igual ou menor do que

a amplitude média diária;

5. A área do mundo onde a temperatura média ao nível do mar para o mês

mais frio do ano nunca fica abaixo de 18ºC;

6. Aquela parte do mundo onde as sequências de tempo diferem distintamente

das latitudes médias, servindo de linha divisória entre as easterlies e

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westerlies na média troposfera, como um guia aproximativo na definição do

limite (Riehl, 1954). (AYOADE, 2003, p. 10).

Este mesmo autor, na p.10 de sua publicação, destaca que: “(...) Nos trópicos, as

estações são definidas fundamentalmente com base na ocorrência de precipitação e na

umidade relativa do ar”. Aponta ainda que, estas áreas, padecem de cobertura insuficiente

de dados, entre outros, pelo fato de se encontrarem mal servidos por estações

climatológicas convencionais, precário desenvolvimento de modelos locais e de técnicas

analíticas para estudar e analisar o tempo e o clima, embora o acesso a dados locais tenha

melhorado com o surgimento e uso dos satélites climáticos.

O Brasil, situado na porção centro-oriental da América do Sul, possui uma área de

8.514.215 Km², com sua distribuição espacial significativa dentro da faixa intertropical do

Planeta, a área de mais intensa radiação solar do globo. São 4.394,7Km² que separam os

extremos norte e sul do Brasil, dando uma ideia de sua grande extensão, possibilitando que

enquanto o extremo norte seja atravessado pela linha do Equador, o centro-sul seja cortado

pelo trópico de Capricórnio, evidenciando uma grande variação de latitude, implicando em

convívio com as consequências atmosféricas da alteração da obliquidade dos raios solares

que incidem sobre a superfície do território brasileiro. Assim, é normal que na grande

maioria do território brasileiro se registre médias de temperaturas elevadas o ano todo e no

extremo sul encontre-se temperaturas médias anuais mais baixas e maior amplitude térmica

anual. Sobre as implicações climáticas, Mendonça e Dani-Oliveira trazem:

A configuração climática brasileira – sua tropicalidade - expressa-se

principalmente na considerável luminosidade do céu (insolação) e nas

elevadas temperaturas aliadas à pluviosidade (clima quente e úmido), pois o

país situa-se em uma das áreas de maior recebimento de energia solar do

Planeta – a faixa intertropical. (MENDONÇA e DANI-OlIVEIRA 2007, p. 16)

2 – O que na escola se faz

Nas salas da primeira fase do ensino fundamental, consta no currículo, na parte de

fundamentação geográfica, o trabalho com noções atmosféricas através do trabalho com as

estações do ano. A presença deste conteúdo no estágio inicial de formação escolar do aluno

é reconhecidamente importante, o problema é como o fazem em especial na porção

majoritária do território brasileiro com características atmosféricas tropicais, quando imagens

desconectadas da realidade local, são apresentadas ao aluno e falta de indícios, nos livros

didáticos, de preocupação em oferecer uma base geográfica para este estudo, apontando

as origens das imagens e onde efetivamente as paisagens apresentadas são encontradas.

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Tal quadro e suas consequências no imaginário infantil é passível de ser, abstraído das

figuras 02 e 03:

Figura 02 – Atividade para colorir

Fonte: ensinar-aprender.com.br/2011/06 atividades-as-estações-do-ano-e-a-clima httml

Em interação com estas imagens, o problema não é a criança colorir o boneco de

neve e saber de sua existência, o problema e quando na escola não se elucida o educando

sobre a inexistência desta condição atmosférica na sua localidade, colaborando para a

formulação de conceitos errôneos sobre a realidade natural local.

Atividades aparentemente inocentes, acabam por contribuir para consolidação de

equívocos que infelizmente com a permanência desta criança no ambiente escolar, não se

tem a segurança de ser elucidado nas séries posteriores, seja por deficiência do material

didático ou da bagagem precária do próprio profissional que a irá receber posteriormente.

Nas últimas séries do ensino fundamental e segunda fase, já são trabalhados textos,

que de uma maneira geral iniciam com reflexões sobre o movimento de translação para logo

a seguir apresentar as estações do ano, sem maiores considerações sobre as diferenças no

acesso a luminosidade e os locais efetivos de sua ocorrência respaldando, conteúdo e

imagens veiculadas pelos livros, que podem ser exemplificado pelo contido em um site

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disponível na internet para uso de professores e alunos do ensino fundamental,

www.zun.com.br/estação-do-ano-brasil-datas/: intitulada Estações do ano no Brasil datas.

Outono - Esta estação do ano é uma mudança entre o verão e o inverno. A data de início desta estação é no dia 21 de março e término em 21 de junho. Os dias desta estação são curtos e frescos. Caracteriza-se também nesta estação como o tempo propício e adequado para colheitas. As folhas de vários tamanhos e cores também podem ser visualizadas nesta estação do ano.

Inverno - É considerada a mais gelada de todas as estações do ano, sendo o seu início no dia 21 de junho, e o término em 23 de setembro. Os dias do inverno são ainda mais curtos e, por esta razão a noite chega de modo mais rápido. Em alguns estados do sul, a neve é típica nesta estação, e no sudeste, a chuva é uma forte característica. Tendo em vista as estações do ano no Brasil, enquanto aqui é inverno, na Europa, ocorre uma mudança de estações, entre a Primavera e o Verão.

Primavera - Certamente uma das estações mais belas do ano. Pois se podem visualizar flores de todas as espécies e cores. Esta estação inicia-se em 23 de setembro e o seu término é em 21 de dezembro. Os dias desta belíssima estação são mais longos e também mais calorosos. Mesmo com a alta temperatura sempre há uma deliciosa brisa, tornando esta estação muito agradável. É caracterizada por dias com temperatura amena e agradável, e ao seu final, uma preparação para a próxima estação do ano, que é o verão.

Verão - É a estação mais quente do ano entre todas as estações. Seu início é no dia 21 de dezembro e término em 21 de março. Os dias são longos e bem quentes. Árvores verdes e repletas de frutas. Caracteriza-se também pelo longo período de férias escolares, as famosas “Férias de Verão”. É o período do ano em que há um gasto menor de energia, pois a luz solar intensa dispensa o uso de aparelhos elétricos para iluminar os ambientes.

Todas as estações do ano, e as suas mudanças são indispensáveis para a distinção do clima do Brasil. Sem as estações, o Brasil seria um país sem o clima tropical tão conhecido mundialmente, então veja quais são as datas de suas estações preferidas e aproveite da melhor maneira.

Na segunda fase do ensino fundamental e segundo grau, já se trabalha com conceito

e implicações na atmosfera de Solstício e Equinócio, explorando imagens como as da

Figura 03 e figura 04, frequentemente presentes nos livros didáticos, e dados temporais

marcando início e término de cada estação.

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Figura 03 - Esquema representando a inclinação do eixo de rotação terrestre

Fonte: brasilescola.uol.com.br/geografia/estações – ano.htm

Nos textos, justificam-se pelo estudo da base astronômica, a existência das estações do ano e

do fato de nunca serem as mesmas nas zonas temperadas Norte e Sul, perigosamente ficando o texto

apenas no trato de hemisférios Norte e Sul, repassando novamente a ideia de que as estações do ano

ocorrem em todo o planeta. Assim, não é efetivado destaque devido, das partes do mundo em que

sendo permanentemente quentes ou frias, oferecem impossibilidade ao estabelecimento das estações

do ano.

Figura 04 - Esquema da variação das estações ao longo do ano com os solstícios e equinócios

Fonte: brasilescola.uol.com.br/geografia/estações – ano.htm

Observa-se que o entendimento, mais detalhado dos processos naturais,

responsáveis pela edificação das estações do ano, aparentemente, é o que justifica a

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presença deste conteúdo nas séries mais avançadas sem, contudo apresentarem indícios

de contextualização e análise detida da realidade das localidades tropicais no globo em

relação a elas.

Resultados

O que se observa, é que da forma como vem sendo estudado as estações do ano

em território brasileiro, em especial em sua porção tropical, não apresenta-se suficiente para

elucidar o cidadão desta área do país sobre as reais condições naturais atmosféricas. Já

nas séries iniciais os alunos são introduzidos à temática de forma equivocada, e seguem

pelo período que permanecem em contato com o conteúdo escolar sem conseguir

contextualiza-la e assumir que na grande maioria do território brasileiro não se reúne

condições mínimas para se ter estações do ano.

Considerações Finais

Após este estudo, observa-se que uma questão aparentemente simples e inofensiva,

testemunha a ainda presente, falta de adequação à diversidade da realidade atmosférica

brasileira, de conceitos e práticas. A população brasileira, após longo convívio com o

processo de assimilação da cultura alheia, influenciando concepções e valores em nosso

país de passado colonial, é chegado a hora de efetivarmos uma emancipação real da

“cabeça europeia”, e um passo para contribuir para avançarmos nisto é a assumir nossa

condição tropical e do fato de embora tenhamos parcela de nosso território na zona

temperada, o seu posicionamento latitudinal e a grande proximidade do grande bloco

tropical, faz com que o extremo sul do país experimente temperaturas mais frias, maior

variação no comportamento da atmosfera, sem contudo, mesmo aí ter as quatro estações

do ano bem definida, já que se encontra na periferia da zona temperada.

Neste contexto, se faz necessário reconhecer que os profissionais do ensino de

Geografia tem sua responsabilidade neste quadro, tanto na criação, quanto na reversão do

mesmo, pois também estes profissionais foram e são vitimados por este macro processo de

inculcação de referências exógenas. O que vem acontecendo na sociedade, em especial da

porção tropical do Brasil, testemunha que a própria população não está observando a

atmosfera que os envolvem, pois se assim o fizessem não se deixariam levar pelo exposto

nos conteúdos do livro didático, nos bordões das propagandas comerciais, falas de tele

jornalistas, ou dos argumentos para imposição do horário de Verão.

Assim mostra-se ímpar a adoção por parte dos geógrafos de uma postura crítica

frente a estes conteúdos, passando a emprega-los de forma adequada e em nenhum

momento esquecendo-se de contextualizar o que se ensina o que contribuirá para que o

cidadão brasileiro, originário da porção tropical do Brasil, tenha no estudo das estações do

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ano, um instrumento a mais de entendimento da dinâmica atmosférica de sua parcela do

mundo, reconhecendo que aí, outros processos estão presentes, destacando a importância

de melhor entende-los para melhor se posicionar, em especial diante dos desafios impostos

pela causa sócio-ambiental.

Referências

AYOADE, J. O. – Introdução à climatologia para os trópicos: Rio de Janeiro, Bertrand do

Brasil, 2011.

MENDONÇA, Francisco; DANNI-OLIVEIRA Inês M. – Climatologia: Noções básicas e clima

no Brasil. São Paulo: Oficina de Textos, 2007.

FERREIRA, Artur Gonçalves – Meteorologia prática. São Paulo: Oficina de Textos, 2006.

MAGNOLI Demétrio e Araújo Regina – Projeto de Ensino de Geografia: Natureza,

tecnologia e Sociedade. São Paulo: Moderna, 2010.

MARENGO, José A. – Mudanças climáticas globais e seus efeitos sobre a biodiversidade:

caracterização do clima atual e definição das alterações climáticas para o território brasileiro ao

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