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VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: Implicações ecossistêmicas e sociais
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
PELO DIREITO DA POPULAÇÃO DA PORÇÃO TROPICAL DO BRASIL
ASSUMIR NÃO TER ESTAÇÕES DO ANO
OYANA RODRIGUS DOS SANTOS1
RESUMO: Os estudos climatológicos da região tropical do planeta são recentes e
desenvolveu-se a sombra das teorias e metodologias produzidas nos países temperados. O
Brasil, sendo o maior país tropical do mundo, teve seus estudos da atmosfera, marcado por
isto, deixando sequelas não só na produção científica, como também nos conteúdos
didáticos ministrados pela disciplina Geografia em suas escolas, sendo objeto deste estudo
a problemática do ensino descontextualizado das Estações do Ano, passando à população
brasileira, a ideia equivocada do comportamento atmosférico em que todo o território tem as
quatro estações do ano.
Palavras-Chaves: Climatologia Tropical; Ensino; Estações do Ano.
Justificativa
No contexto histórico atual, em que a problemática socioeconômica e ambiental faz
parte do cotidiano, reconhece-se a existência de um conjunto de pressão sobre os cientistas
cobrando-lhes respostas objetivas frente à necessidade de conhecimento dos processos
naturais, previsão de cenários futuros e correção dos danos acumulados e também sobre a
população, cobrando-lhes maior conhecimento sobre o meio, possibilitando tomada de
atitudes voltadas para a sustentabilidade. Neste quadro, convivendo dentre outros, com
problemas como o Refinamento da Camada de Ozônio e Aquecimento Global, deve ser
destacado a pressão efetivada por sobre os estudiosos da atmosfera, o que se por um lado
repercute em maiores investimentos em pesquisa na área, por outro, torna visível o estágio
ainda embrionário, que encontra-se os estudos da atmosfera. Isto passível de ser
exemplificado com a própria realidade dos estudos da atmosfera nas regiões tropicais do
planeta Terra,
Sobre o estágio de desenvolvimento dos estudos da atmosfera tropical, segundo
Mendonça e Dani Oliveira (2007), este foi iniciado tardiamente se comparado com o ocorrido
nas regiões temperadas, o que explica a precariedade dos primeiros estudos, sua
vinculação ao econômico, e do fato de terem sido feitos pos estudiosos europeus.
Segundo Ayoad (2003), os estudos efetivos dos trópicos, só se deu na Segunda
Guerra Mundial, por necessidades beligerantes de oferecerem deslocamentos seguros de
suas frotas de aviões, justificando estudos urgentes da atmosfera e instalação de estações
meteorológicas. Terminado a Guerra parcela destes estudos foram cedidos a alguns países,
1 Docente do IFG, Campus Goiânia, e PUC Goiás nos cursos de Graduação de Licenciatura em Geografia e Engenharia Ambiental. E-Mail [email protected]
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e por várias décadas foram os únicos dados disponíveis para explica-los atmosfericamente,
como foi o caso Brasil.
Os primeiro estudos apresentaram-se frágeis e passíveis de questionamentos,
devido, ao despreparo técnico e dificuldades no entendimento da composição e dinamismo
da atmosfera tropical usando, modelos para a zona temperada. Sobre isto, no tocante ao
Brasil, temos:
Até por volta dos anos de 1970, no Brasil, e até atualmente, em algumas
localidades tropicais, os elementos e fenômenos atmosféricos eram
observados e mensurados por aparelhos fabricados nos países de latitudes
médias e aferidos para a nossa realidade. Por outro lado, as bases teóricas
utilizadas para explicar os fenômenos atmosféricos tropicais e seu
dinamismo ainda são aqueles produzidos pela observação e análise da
atmosfera da zona temperada. O trabalho de meteorologistas e
climatólogos, em tais condições, deixam muito a desejar em termos de
confiabilidade, levando a previsões que muitas vezes não se efetivam.
(MENDONÇA e DANI-OLIVEIRA 2007, p. 17)
Apesar disto, segundo estes mesmos autores, com o tempo o Brasil passou a deter
significativo compêndio sobre sua configuração atmosférica e climática, produzidos a partir
das primeiras décadas do século XX, com grande contribuição da instalação de sistema de
estações meteorológicas por todo o país, pelo Departamento Nacional de Meteorologia
(DNMET) e posteriormente, na década de 1940, a fundação do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). Neste contexto, merecem destaque estudiosos como
Adalberto Serra e Leandro Ratisbona, Salomão Serebrenick, Fábio Macedo de Soares
Guimarães, Ari França, Gilberto Osório de Andrade, R.M.A. Simões e Carlos Augusto de
Figueiredo Monteiro que ao adaptar as concepções climáticas de Maximilian Sorre e Pierre
Pédelaborde à dinâmica atmosférica da América do Sul e do Brasil criou o conceito de
análise rítmica e Climatologia, passando a liderar, as publicações sobre Climatologia no
Brasil.
Testemunhando, a preocupação com o desenvolvimento de um estudo climatológico
adequado as condições tropicais, Ayoade registra:
(...) as mudanças de tempo nos trópicos são hoje conhecidas como
frequentes e complexas, com tipos de tempo bastante distintos. A nossa
visão sobre os sistemas de condição meteorológicos tropicais tem sido
radicalmente revista pelos dados derivados dos satélites, que começaram a
atuar desde a década de 60. (...) Reconhece-se agora e de maneira geral
que os modelos sinóticos das latitudes médias não são aplicáveis nos
trópicos. Atualmente, graças aos satélites meteorológicos e a aprimorada
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rede de observação estão sendo feitas tentativas para o desenvolvimento
de modelos sinóticos tropicais e métodos apropriados de análise
meteorológica. (AYOADE, 2003, p. 12)
Nas décadas de 1960 e 1970, segundo Mendonça e Dani Oliveira (2007), com o
incremento do modo de produção capitalista, da urbanização e a eclosão do movimento
ambientalista denunciando problemas socioambientais, cobra-se dos estudiosos do clima
participação na resolução do problema, que aliado, ao uso de novas tecnologias, acabam
por efetivar grandes avanços nos estudos da atmosfera brasileira, mas ainda não o
suficiente para permitir um conhecimento detalhado do clima do país. Disto denotando-se
que a Climatologia Brasileira tem muito a avançar, tanto no que diz respeito ao
detalhamento da dinâmica atmosférica quanto à diversidade climática do País.
Refletindo, o que se passava no universo científico, verificou-se na transposição do
conteúdo científico para a linguagem didática, materializada na disciplina Geografia no
ambiente escolar, acúmulo de desafios a serem enfrentados. Neste contexto é importante
lembrar que cedo, a disciplina Geografia se firmou no ambiente escolar como fornecedora
de bagagem conceitual para o auxílio ao educando no desvendar, da realidade imediata e
exercício da cidadania. Assim, o contato com a dinâmica da atmosfera, passa a ser
assumida pela escola cabendo aos estudos em Geografia, desde as séries iniciais do ensino
fundamental até o segundo grau o fazê-lo, mas mostra-se importante o cuidado de
verificação de como esta bagagem está chegando à população, em especial no Brasil,
através do conteúdo Estações do Ano dos pelos livros didáticos.
Observa-se que no Brasil, nas séries iniciais, um dos primeiros contatos com o
estudo em Geografia, se dá com o conteúdo Estações do Ano, expressas não só no livro
didático como no próprio cotidiano da sala de aula como algo posto, estanque e sem a
devida adaptação a realidade atmosférica, em especial na grande porção do tropical do
território brasileiro. Assim, é comum nas primeiras séries do ensino fundamental
encontrarmos gravuras estereotipadas representativas das estações do ano nos livros
didáticos, cartazes interativos usados em sala de aula, reproduzindo as imagens presentes
nos livros e que o aluno fica encarregado de apontar que estação do ano ele está
vivenciando e festas alusivas em especial a uma suposta chegada da Primavera, fazem
parte do cotidiano dos alunos, situação esta só minimamente atenuada nas séries
posteriores, em especial na segunda fase do ensino fundamental quando passa-se a falar
em Solstício e Equinócio, aprofundando no entendimento das Estações do Ano mas sem
contudo contextualiza-la, situação esta repetida nos estudos efetivados nas salas de aula do
Segundo Grau.
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Fora da sala de aula em especial nas localidades mais próximas da linha do
Equador, observa-se entre os cidadãos o convívio sem maiores estranhamento, de
propagandas efetivadas pelo comércio varejista de “Liquidação de Inverno”, “Queima de
estoques de Verão”, Horário de Verão, como se nestas partes do Brasil se observasse
efetivamente a ocorrência do quadro atmosférico por traz do uso destes termos.
Completando este quadro é comum entre os tele jornalistas, comunicarem hora, minutos e
segundo em que tem início estações do ano, quando deve ser destacado a narrativa de
início da primavera, vinculando-a a um período feliz e cheio de flores, quando é comum
mostrarem jardins florido que é fácil para um bom observador, perceber que este já se
encontrava presente antes da data apontada.
Assim, neste estudo, com a clareza de que é um direito do cidadão brasileiro fazer
uso do entendimento das estações do ano de forma contextualizada e de reconhecer que a
grande maioria do território brasileiro não reúne as mínimas condições para tê-la, este
estudo se propõe a fazer uma reflexão sobre o fato e chamar os geógrafos à sua
responsabilidade na reversão do quadro apresentado.
Materiais e Método
Em busca de apresentar o estado da arte, traz-se elementos da discussão efetivada
em ambiente acadêmico e também alguns elementos presentes em materiais didáticos
referentes ao território brasileiro e estações do ano, em produções usadas na educação
básica e conteúdo de sites de apoio ao aluno e professor, possibilitando uma analogia entre
o que a academia postula e o que a escola materializa, objetivando entender as causas do
grau de alienação de boa parte da populações relativa ao convívio com o conceito de
estações do ano.
1. O que a academia traz:
1.1 – Sobre o Planeta, Latitude e Estações do Ano.
A Terra é uma elipsoide de revolução, cuja forma permite que a intensidade da
radiação solar seja recebida de forma desigual nas diferentes latitudes. Um mesmo feixe de
luz ao incidir sobre localidades posicionadas em altas latitudes aquecem uma superfície
maior que nas situadas em baixa latitude e em consequência, a intensidade da insolação é
maior próximo a linha do Equador e menor próximo aos polos. O que explica os diferentes
gradientes térmicos do planeta. Nessa distribuição da insolação pela superfície terrestre é
preciso também considerar os reflexos dos movimentos da Terra no espaço, a rotação e a
translação.
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O movimento da Terra em torno do Sol (translação), ver Figura 01, é efetivado em
aproximadamente 365 dias, que aliado ao fato da Terra girar em torno de um eixo imaginário
com inclinação de 23° 27`em relação ao plano da órbita, possibilita que a insolação de um
mesmo ponto da superfície da Terra varie de acordo com a época do ano, o que determina
a existência das estações do ano e do fato de nunca ser a mesma ao mesmo tempo nas
Zonas Temperadas Norte e Sul.
Figura 01 - As posições da Terra e as estações do ano.
Fonte: wwwmundoeducação.bol.uol.com.br
No solstício de verão no hemisfério Sul, com os raios solares incidindo
perpendicularmente no Trópico de Capricórnio, implica no hemisfério Norte a receptação de
menor insolação e a instalação da estação fria, com dias mais curtos e noites mais longas.
Ocorrendo o contrário no solstício de verão do Hemisfério Norte, com o Sol incidindo
perpendicularmente ao Trópico de Câncer, e a ocorrência da estação fria no hemisfério Sul.
O equinócio, que marca o início da primavera ou do outono, dependendo do hemisfério, pois
o disco solar encontrando-se no plano da órbita terrestre a radiação incide
perpendicularmente ao Equador, possibilitando que ambos hemisférios recebem mesma
insolação, fazendo com que dias e noites durem 12 horas em todo o planeta. Sobre este
fenômeno Ayoade registra complementando:
A quantidade total de radiação recebida em determinado local é também
afetada pela duração do dia. A duração do período de luz, obviamente afeta
a quantidade de radiação recebida. A duração do dia varia com a latitude e
com a estação. Nas proximidades do Equador, dias e noites são de duração
quase igual durante o ano. A duração do dia geralmente aumenta ou
diminui com o aumento da latitude, dependendo da estação. No verão, por
exemplo, a duração do dia aumenta do Equador em direção ao polo Norte e
diminui em direção ao polo sul. (...) Durante o solstício de inverno do
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hemisfério Norte ocorre o inverso. A duração do dia aumenta em direção ao
Sul, mas diminui em direção ao polo Norte. (AYOADE, 2003, p. 26 e 27)
Segundo este mesmo autor, a marcha diurna da temperatura na região temperada
varia intensamente com a estação, diferentemente do que ocorre nas regiões tropicais, isto
porque nela ocorre variação significativa da duração do dia e da noite e consequentemente,
do volume de insolação durante o curso do ano. No verão, os dias, são muito mais longos
do que as noites e a radiação incidente é a mais elevada, no inverno, ao contrário, os dias
curtos, noites longas e baixo volume de radiação.
1.1.1 Sobre Latitude e Tropicalidade e Brasil
Na latitude dos trópicos, entre os Trópicos de Câncer e Capricórnio, encontra-se
Zona Intertropical, abrangendo toda a faixa da superfície em que os raios solares incidem
perpendicularmente durante o ano todo. Segundo Ferreira:
Como a órbita da Terra é um ciclo anual, o eixo de inclinação da Terra
muda em relação ao Sol. Isto causa uma maior concentração de raios
solares entre o Trópico de Capricórnio (23,5º S) e o Trópico de Câncer
(23,3º N), migrando de um lado para o outro. O maior aquecimento da
superfície terrestre ocorre nesse espaço, onde os raios solares incidem
diretamente durante todo o ano. As temperaturas entre essas latitudes,
portanto permanecem altas o ano inteiro. (FERREIRA, 20016, p. 50)
Ela recebe a maior insolação e consequentemente apresenta os climas mais quentes
do planeta, tendendo a apresentar a temperaturas mais elevadas no meio da zona, com
paulatina diminuição da mesma na medida em que se afasta para a periferia da zona. Sobre
esta região intertropical, Ayoade destaca as várias tentativas de defini-la:
1. A área entre os Trópicos de Câncer e de Capricórnio, que indicam os limites
exteriores das áreas onde o Sol pode sempre estar no zênite;
2. A área entre latitudes de 30ºN e 30ºS do Equador;
3. A área do mundo onde não há nenhuma estação fria, onde o inverno nunca
ocorre;
4. A área do mundo onde a temperatura média anual é igual ou menor do que
a amplitude média diária;
5. A área do mundo onde a temperatura média ao nível do mar para o mês
mais frio do ano nunca fica abaixo de 18ºC;
6. Aquela parte do mundo onde as sequências de tempo diferem distintamente
das latitudes médias, servindo de linha divisória entre as easterlies e
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westerlies na média troposfera, como um guia aproximativo na definição do
limite (Riehl, 1954). (AYOADE, 2003, p. 10).
Este mesmo autor, na p.10 de sua publicação, destaca que: “(...) Nos trópicos, as
estações são definidas fundamentalmente com base na ocorrência de precipitação e na
umidade relativa do ar”. Aponta ainda que, estas áreas, padecem de cobertura insuficiente
de dados, entre outros, pelo fato de se encontrarem mal servidos por estações
climatológicas convencionais, precário desenvolvimento de modelos locais e de técnicas
analíticas para estudar e analisar o tempo e o clima, embora o acesso a dados locais tenha
melhorado com o surgimento e uso dos satélites climáticos.
O Brasil, situado na porção centro-oriental da América do Sul, possui uma área de
8.514.215 Km², com sua distribuição espacial significativa dentro da faixa intertropical do
Planeta, a área de mais intensa radiação solar do globo. São 4.394,7Km² que separam os
extremos norte e sul do Brasil, dando uma ideia de sua grande extensão, possibilitando que
enquanto o extremo norte seja atravessado pela linha do Equador, o centro-sul seja cortado
pelo trópico de Capricórnio, evidenciando uma grande variação de latitude, implicando em
convívio com as consequências atmosféricas da alteração da obliquidade dos raios solares
que incidem sobre a superfície do território brasileiro. Assim, é normal que na grande
maioria do território brasileiro se registre médias de temperaturas elevadas o ano todo e no
extremo sul encontre-se temperaturas médias anuais mais baixas e maior amplitude térmica
anual. Sobre as implicações climáticas, Mendonça e Dani-Oliveira trazem:
A configuração climática brasileira – sua tropicalidade - expressa-se
principalmente na considerável luminosidade do céu (insolação) e nas
elevadas temperaturas aliadas à pluviosidade (clima quente e úmido), pois o
país situa-se em uma das áreas de maior recebimento de energia solar do
Planeta – a faixa intertropical. (MENDONÇA e DANI-OlIVEIRA 2007, p. 16)
2 – O que na escola se faz
Nas salas da primeira fase do ensino fundamental, consta no currículo, na parte de
fundamentação geográfica, o trabalho com noções atmosféricas através do trabalho com as
estações do ano. A presença deste conteúdo no estágio inicial de formação escolar do aluno
é reconhecidamente importante, o problema é como o fazem em especial na porção
majoritária do território brasileiro com características atmosféricas tropicais, quando imagens
desconectadas da realidade local, são apresentadas ao aluno e falta de indícios, nos livros
didáticos, de preocupação em oferecer uma base geográfica para este estudo, apontando
as origens das imagens e onde efetivamente as paisagens apresentadas são encontradas.
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Tal quadro e suas consequências no imaginário infantil é passível de ser, abstraído das
figuras 02 e 03:
Figura 02 – Atividade para colorir
Fonte: ensinar-aprender.com.br/2011/06 atividades-as-estações-do-ano-e-a-clima httml
Em interação com estas imagens, o problema não é a criança colorir o boneco de
neve e saber de sua existência, o problema e quando na escola não se elucida o educando
sobre a inexistência desta condição atmosférica na sua localidade, colaborando para a
formulação de conceitos errôneos sobre a realidade natural local.
Atividades aparentemente inocentes, acabam por contribuir para consolidação de
equívocos que infelizmente com a permanência desta criança no ambiente escolar, não se
tem a segurança de ser elucidado nas séries posteriores, seja por deficiência do material
didático ou da bagagem precária do próprio profissional que a irá receber posteriormente.
Nas últimas séries do ensino fundamental e segunda fase, já são trabalhados textos,
que de uma maneira geral iniciam com reflexões sobre o movimento de translação para logo
a seguir apresentar as estações do ano, sem maiores considerações sobre as diferenças no
acesso a luminosidade e os locais efetivos de sua ocorrência respaldando, conteúdo e
imagens veiculadas pelos livros, que podem ser exemplificado pelo contido em um site
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disponível na internet para uso de professores e alunos do ensino fundamental,
www.zun.com.br/estação-do-ano-brasil-datas/: intitulada Estações do ano no Brasil datas.
Outono - Esta estação do ano é uma mudança entre o verão e o inverno. A data de início desta estação é no dia 21 de março e término em 21 de junho. Os dias desta estação são curtos e frescos. Caracteriza-se também nesta estação como o tempo propício e adequado para colheitas. As folhas de vários tamanhos e cores também podem ser visualizadas nesta estação do ano.
Inverno - É considerada a mais gelada de todas as estações do ano, sendo o seu início no dia 21 de junho, e o término em 23 de setembro. Os dias do inverno são ainda mais curtos e, por esta razão a noite chega de modo mais rápido. Em alguns estados do sul, a neve é típica nesta estação, e no sudeste, a chuva é uma forte característica. Tendo em vista as estações do ano no Brasil, enquanto aqui é inverno, na Europa, ocorre uma mudança de estações, entre a Primavera e o Verão.
Primavera - Certamente uma das estações mais belas do ano. Pois se podem visualizar flores de todas as espécies e cores. Esta estação inicia-se em 23 de setembro e o seu término é em 21 de dezembro. Os dias desta belíssima estação são mais longos e também mais calorosos. Mesmo com a alta temperatura sempre há uma deliciosa brisa, tornando esta estação muito agradável. É caracterizada por dias com temperatura amena e agradável, e ao seu final, uma preparação para a próxima estação do ano, que é o verão.
Verão - É a estação mais quente do ano entre todas as estações. Seu início é no dia 21 de dezembro e término em 21 de março. Os dias são longos e bem quentes. Árvores verdes e repletas de frutas. Caracteriza-se também pelo longo período de férias escolares, as famosas “Férias de Verão”. É o período do ano em que há um gasto menor de energia, pois a luz solar intensa dispensa o uso de aparelhos elétricos para iluminar os ambientes.
Todas as estações do ano, e as suas mudanças são indispensáveis para a distinção do clima do Brasil. Sem as estações, o Brasil seria um país sem o clima tropical tão conhecido mundialmente, então veja quais são as datas de suas estações preferidas e aproveite da melhor maneira.
Na segunda fase do ensino fundamental e segundo grau, já se trabalha com conceito
e implicações na atmosfera de Solstício e Equinócio, explorando imagens como as da
Figura 03 e figura 04, frequentemente presentes nos livros didáticos, e dados temporais
marcando início e término de cada estação.
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Figura 03 - Esquema representando a inclinação do eixo de rotação terrestre
Fonte: brasilescola.uol.com.br/geografia/estações – ano.htm
Nos textos, justificam-se pelo estudo da base astronômica, a existência das estações do ano e
do fato de nunca serem as mesmas nas zonas temperadas Norte e Sul, perigosamente ficando o texto
apenas no trato de hemisférios Norte e Sul, repassando novamente a ideia de que as estações do ano
ocorrem em todo o planeta. Assim, não é efetivado destaque devido, das partes do mundo em que
sendo permanentemente quentes ou frias, oferecem impossibilidade ao estabelecimento das estações
do ano.
Figura 04 - Esquema da variação das estações ao longo do ano com os solstícios e equinócios
Fonte: brasilescola.uol.com.br/geografia/estações – ano.htm
Observa-se que o entendimento, mais detalhado dos processos naturais,
responsáveis pela edificação das estações do ano, aparentemente, é o que justifica a
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presença deste conteúdo nas séries mais avançadas sem, contudo apresentarem indícios
de contextualização e análise detida da realidade das localidades tropicais no globo em
relação a elas.
Resultados
O que se observa, é que da forma como vem sendo estudado as estações do ano
em território brasileiro, em especial em sua porção tropical, não apresenta-se suficiente para
elucidar o cidadão desta área do país sobre as reais condições naturais atmosféricas. Já
nas séries iniciais os alunos são introduzidos à temática de forma equivocada, e seguem
pelo período que permanecem em contato com o conteúdo escolar sem conseguir
contextualiza-la e assumir que na grande maioria do território brasileiro não se reúne
condições mínimas para se ter estações do ano.
Considerações Finais
Após este estudo, observa-se que uma questão aparentemente simples e inofensiva,
testemunha a ainda presente, falta de adequação à diversidade da realidade atmosférica
brasileira, de conceitos e práticas. A população brasileira, após longo convívio com o
processo de assimilação da cultura alheia, influenciando concepções e valores em nosso
país de passado colonial, é chegado a hora de efetivarmos uma emancipação real da
“cabeça europeia”, e um passo para contribuir para avançarmos nisto é a assumir nossa
condição tropical e do fato de embora tenhamos parcela de nosso território na zona
temperada, o seu posicionamento latitudinal e a grande proximidade do grande bloco
tropical, faz com que o extremo sul do país experimente temperaturas mais frias, maior
variação no comportamento da atmosfera, sem contudo, mesmo aí ter as quatro estações
do ano bem definida, já que se encontra na periferia da zona temperada.
Neste contexto, se faz necessário reconhecer que os profissionais do ensino de
Geografia tem sua responsabilidade neste quadro, tanto na criação, quanto na reversão do
mesmo, pois também estes profissionais foram e são vitimados por este macro processo de
inculcação de referências exógenas. O que vem acontecendo na sociedade, em especial da
porção tropical do Brasil, testemunha que a própria população não está observando a
atmosfera que os envolvem, pois se assim o fizessem não se deixariam levar pelo exposto
nos conteúdos do livro didático, nos bordões das propagandas comerciais, falas de tele
jornalistas, ou dos argumentos para imposição do horário de Verão.
Assim mostra-se ímpar a adoção por parte dos geógrafos de uma postura crítica
frente a estes conteúdos, passando a emprega-los de forma adequada e em nenhum
momento esquecendo-se de contextualizar o que se ensina o que contribuirá para que o
cidadão brasileiro, originário da porção tropical do Brasil, tenha no estudo das estações do
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ano, um instrumento a mais de entendimento da dinâmica atmosférica de sua parcela do
mundo, reconhecendo que aí, outros processos estão presentes, destacando a importância
de melhor entende-los para melhor se posicionar, em especial diante dos desafios impostos
pela causa sócio-ambiental.
Referências
AYOADE, J. O. – Introdução à climatologia para os trópicos: Rio de Janeiro, Bertrand do
Brasil, 2011.
MENDONÇA, Francisco; DANNI-OLIVEIRA Inês M. – Climatologia: Noções básicas e clima
no Brasil. São Paulo: Oficina de Textos, 2007.
FERREIRA, Artur Gonçalves – Meteorologia prática. São Paulo: Oficina de Textos, 2006.
MAGNOLI Demétrio e Araújo Regina – Projeto de Ensino de Geografia: Natureza,
tecnologia e Sociedade. São Paulo: Moderna, 2010.
MARENGO, José A. – Mudanças climáticas globais e seus efeitos sobre a biodiversidade:
caracterização do clima atual e definição das alterações climáticas para o território brasileiro ao
longo do século XXI. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2006 (série biodiversidade).
MONTEIRO, Carlos Augusto de F, e outros (org). Clima urbano. São Paulo: Contexto, 2003.
RADESPIEL, Maria – Ensino Fundamental: Coleção Geração Z. Minas Gerais: IEMAR, 2011.
TAMDJIAN, James Onig – Geografia Geral e do Brasil: Estudos para a Compreensão do
Espaço – Ensino Médio, São Paulo, 2014. Coleção Delta.