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VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
EPISÓDIOS DE CHUVAS EXTREMAS E SEUS IMPACTOS NA CIDADE DE JOÃO
PESSOA, PARAÍBA
NATIELI TENÓRIO DA SILVA1 GUILHERME BARROCA MARQUES2
KARINTHEA KARLA SILVA TEMÓTEO3 TATIANA DOS SANTOS SILVA4
MARCELO DE OLIVEIRA MOURA5 Resumo Este artigo tem como objetivo identificar e analisar os episódios de chuvas extremas iguais ou superiores a 100,0mm/dia e seus impactos no espaço urbano de João Pessoa. Para a análise da frequência dos episódios utilizou-se a série diária das chuvas da Estação Meteorológica do INMET, do período 1981 – 2015. Quanto à identificação dos impactos pluviais e seus tipos realizou-se uma pesquisa documental junto ao acervo do IHGP. Durante o período investigado foram identificados 43 eventos de chuvas diárias extremas, com maior frequência de registros entre os meses de maio e julho. Para os episódios de maior excepcionalidade da série foram identificados 17 tipos de impactos, com registros de 3.312 ocorrências, com destaque para o elevado número de pessoas desabrigadas, correspondente a 3.050 pessoas. Palavras-chave: Clima urbano, Eventos Extremos, Impactos Pluviais.
Abstract This article aims to identify and analyze episodes of extreme rainfall greater than or equal to 100,0mm/day and their impact on urban space of João Pessoa. To analyze the frequency of episodes used the daily series of rains Meteorological INMET Station, the period 1981 - 2015. The identification of storm impacts and their types carried out a documentary research by the IHGP the acquis. During the investigation period were identified 43 of extreme daily rainfall events more often records between the months of May and July. For episodes of major exceptionality of the series were identified 17 types of impacts, with records of 3.312 occurrences, especially the large number of homeless people, corresponding to 3.050 people.
Key-words: Urban Climate; Extreme Events, Pluvial Impacts. 1 - Introdução
1 Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da Paraíba. E-
mail: [email protected] 2 Acadêmico do Curso de Graduação em Geografia da Universidade Federal da Paraíba. E-mail:
[email protected] 3 Acadêmico do Curso de Graduação em Geografia da Universidade Federal da Paraíba. E-mail:
[email protected] 4 Acadêmico do Curso de Graduação em Geografia da Universidade Federal da Paraíba. E-mail:
[email protected] 5 Docente dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal da
Paraíba. E-mail: [email protected]
mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
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Diante do fenômeno de urbanização nas cidades brasileiras, em curso desde
meados do século XX, tem-se verificado diversos impactos provenientes das chuvas
intensas e extremas, a citar: inundações, alagamentos, escorregamentos ou deslizamentos,
desabamento de casas, pessoas feridas e desabrigadas e óbitos. Tais impactos, por sua
vez, tem consequência direta na população urbana mais pobre, pois essa, em sua maioria,
ocupa áreas instáveis do ponto de vista natural, considerada áreas de risco, como encostas
íngremes, margens de rios e lagoas, como também em virtude da alta vulnerabilidade social
dessa população, gerando assim, situação de alta vulnerabilidade socioambiental cada vez
mais presente nos territórios das cidades brasileiras, conforme já demonstrados por muitos
estudos de caso, a exemplo das pesquisas realizadas por Deschamps (2004), Alves (2006),
Olímpio et al. (2013) e Zanella (2014).
A cidade de João Pessoa, localizada na faixa litorânea central do Estado da Paraíba,
nas duas últimas décadas tem passado por um acentuado processo de expansão urbana, o
qual tem contribuído na descaracterização e degradação do meio físico-natural, como a
impermeabilização do solo, a subtração das áreas verdes, bem como a construção de
habitações e empreendimentos (de alto e baixo padrão) em áreas de risco ambiental. Tudo
isso tem favorecido no aumento dos impactos pluviais, e, por conseguinte no acréscimo de
riscos de natureza climática, sobretudo para àquelas populações residentes em territórios de
maior vulnerabilidade social, territórios estes já devidamente mapeados pela Secretaria
Municipal de Desenvolvimento Social de João Pessoa (SEDES, 2009).
Ao considerar que na cidade de João Pessoa os estudos sobre os eventos
hidrometeorológicos de natureza extrema não foram devidamente explorados, o presente
trabalho tem por finalidade identificar a frequência de chuvas diárias iguais ou superiores a
100,0mm, entre 1981 e 2015, destacando àqueles episódios de maior excepcionalidade por
década e seus impactos no espaço urbano.
2- Material e métodos
Utilizou-se a série diária das chuvas da Estação Meteorológica da cidade de João
Pessoa, disponibilizada pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), do período 1981 –
2015, para a análise da frequência dos extremos diários de chuva iguais ou superiores a
100,0 mm. Este limiar foi estabelecido com base nos estudos realizados por Zanella, Sales e
Abreu (2009), Cavalcanti (2009) e Zanella (2014). Com a finalidade de destacar e analisar
os episódios de maior excepcionalidade e seus impactos gerados no espaço urbano
elegeram-se dois eventos por década da série, denominados aqui de episódios.
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Com interesse de catalogar os impactos gerados pelos episódios extremos realizou-
se uma pesquisa documental, que se deu nos arquivos dos jornais de circulação da cidade
(A União e O Norte), que se encontravam catalogados nos acervos do Instituto Histórico e
Geográfico Paraibano (IHGP). Posteriormente ocorreu a identificação dos sistemas
atmosféricos produtores dos eventos extremos de chuva por meio da interpretação sinótica
das Cartas de Pressão ao Nível do Mar do Ministério da Marinha do Brasil e das imagens
dos satélites meteorológicos de órbita geoestacionária GOES-12 (canal infravermelho)
fornecidas pelo CPTEC/INPE para as 12 horas local.
3 - Resultados
3.1- Chuvas diárias extremas: frequência anual e mensal
Na cidade de João Pessoa, no período de 1981 a 2015, registrou-se 43 eventos de
chuvas diárias extremas, iguais ou superiores a 100,0 mm, conforme mostra a Tabela 1.
Nos anos de 1980 foram registrados 13 eventos, na década de 1990 o número de
ocorrências foi de 8 eventos, e na década de 2000 registrou-se 11 eventos, já nos anos de
2010, isto é, de 2010 a 2015, contabilizou-se 11 eventos.
Tabela 1 - Total pluviométrico anual e número de eventos iguais ou superiores a 100,0 mm/dia em João Pessoa – PB, 1981 a 2015
Ano Total pluviométrico N° de eventos
Ano Total pluviométrico N° de eventos
1981 635,1 0 1999 1017,3 0 1982 501,2 0 2000 2439,9 1
1983 1193,7 0 2001 1178,5 0
1984 2277,6 1 2002 2003,1 0 1985 3085,6 4 2003 2108,4 2 1986 2277,4 3 2004 2229,6 1 1987 1965,5 2 2005 1940,7 1
1988 1796,1 1 2006 1178,3 0
1989 2090,5 2 2007 2003,9 1
1990 2228,4 2 2008 2254,5 1 1991 1584,7 0 2009 2544,5 4 1992 1629,1 1 2010 1321,0 0
1993 1149,9 0 2011 2414,0 2
1994 2721,3 1 2012 1668,6 5
1995 1695,3 1 2013 2174,7 4 1996 2350,7 2 2014 1508,1 0 1997 1577,5 0 2015 1559,3 0 1998 1270,1 1
Total 43
Fonte: Estação Meteorológica de João Pessoa/INMET Organização: os autores.
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Os anos da série que acumularam o maior número de ocorrências de eventos foram:
1985 (4 eventos), 2009 (4 eventos), 2012 (5 eventos) e 2013 (4 eventos). Os anos de 1985
e 2009 foram considerados anos excepcionalmente chuvosos por Moura e Pereira (2015),
sendo o ano de 1985, o ano de maior total pluviométrico da série com o valor de 3085,6
mm/ano. Já os anos de 2012 e 2013 são considerados, de modo respectivo, ano com
padrão pluviométrico seco e habitual.
De forma geral, contata-se que aqueles anos que registraram mais de três eventos
são também aqueles considerados como anos chuvosos ou habituais, com exceção do ano
de 2012, visto que, registrou valor pluviométrico de 1668,6 mm/ano.
A tabela 2 mostra a distribuição da frequência mensal dos eventos extremos da série
investigada por ordem de classes de 20,0 mm. Observa-se, portanto, que os meses de maio
a agosto, foram os que registraram o maior número de eventos, sendo o mês de junho o de
maior registro de ocorrências, com o total de 13 eventos.
Quanto à distribuição dos eventos por classes, nota-se uma diminuição do total de
ocorrências da menor classe (100 – 120 mm) para a maior classe (> 180 mm). Nesse
sentido, pode-se afirmar que as chuvas diárias extremas registradas em João Pessoa
ocorreram com mais frequência até a intensidade de 120,0 mm. Cabe destacar que os dois
maiores eventos extremos da série, contabilizados na classe > 180 mm da Tabela 2,
ocorreram nos dias 18/06/1986 (194,0mm) e 30/05/1996 (186,0 mm).
Tabela 2 - Frequência mensal dos eventos iguais ou superiores a 100,0 mm/dia em João Pessoa,
1981 a 2015
Classes (mm)
Meses
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Total
100-120 1 3 3 1 1 5 3 3 0 0 0 0 20
120-140 0 0 1 2 2 5 3 0 0 0 0 0 13 140-160 0 0 0 1 1 1 2 0 0 0 0 0 5
160-180 0 0 0 0 1 1 0 0 1 0 0 0 3
>180 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 2
Total 1 3 4 4 6 13 8 3 1 0 0 0 43
Fonte: Estação Meteorológica de João Pessoa/INMET Organização: os autores
Também é oportuno mencionar que os meses de janeiro e fevereiro, meses da pré-
estação chuvosa na cidade, só registraram eventos extremos a partir da década de 2000.
Tal informação comprova que a frequência das chuvas diárias extremas, antes presente
somente nos meses da estação chuvosa da série, passam também a ser frequentes nos
meses da pré-estação chuvosa.
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Outra questão sazonal no calendário das chuvas diárias extremas na cidade é que já
há registro recente de evento extremo no período seco, trata-se do evento de 159,2 mm
ocorrido no dia 04/09/2013. Com base nessas informações, é válido propor uma
problemática a ser alvo de pesquisas futuras: As chuvas diárias extremas se tornarão ainda
mais frequentes fora do período chuvoso, em especial no período seco? Há possibilidade
das ocorrências atuais (e futuras) de chuvas diárias extremas estarem relacionadas com as
mudanças climáticas, visto que, o incremento dos eventos no calendário sazonal das chuvas
diárias extremas já se faz presente desde início dos anos 2000?
3.2- Episódios de chuvas diárias extremas por década
Episódio 1: 18/06/1986 (194,0 mm)
O ano de 1986 foi considerado um ano com chuvas acima da média histórica (2145,4
mm), com registro de chuva de 2277,6 mm/ano. No mês de ocorrência do episódio, mês de
junho, choveu 361,4 mm (desvio = 23,1 mm). O gráfico 1 mostra a distribuição diária das
chuvas durante o mês, no qual é evidenciado o episódio do dia 18/06/1986 com chuvas de
194,0 mm em 24 horas, maior valor diário registrado para a série. O sistema meteorológico,
denominado de Ondas de Leste (OE) foi o produtor da chuva diária extrema.
Gráfico 1 - Precipitação do mês de junho de1986. Fonte: Estação Meteorológica de João Pessoa/INMET
Organização: os autores
Foram poucas as informações noticiadas no jornal A União. Os impactos também
não foram significativos, segundo o Jornal, embora a chuva do dia 18/06/1986, tenha
alcançado o valor de 194,0 mm.
As principais informações sobre os impactos foram: 1) o Corpo de Bombeiros foi
diversas vezes acionado para desobstruir galerias e cortar árvores, 2) o acesso aos
conjuntos Valentina de Figueiredo, Ernesto Geisel e José Américo foi dificultado, devido ao
lamaçal; 3) as empresas de transporte coletivo ameaçaram impedir a entrada dos ônibus no
conjunto José Américo, alegando ter sérios prejuízos. Os motoristas particulares também se
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preocuparam com a falta de infraestrutura e 4) as ruas do Centro da cidade e de vários
bairros, como a Rua Ranieri Mazzili, no bairro Cristo Redentor ficaram alagadas e o Parque
Sólon de Lucena (Lagoa) inundou.
Episódio 2: 12/04/1989 (149,0 mm)
O ano de 1989 foi considerado um ano com chuvas abaixo da média histórica. De
acordo com os dados fornecidos pela Estação Meteorológica de João Pessoa/INMET, no
ano de 1989 choveu 2090,5 mm. Porém, no mês de abril, choveu 680,8 mm (desvio = 420,2
mm) um valor mensal bem superior à média do mês, que é de 260,4 mm.
O gráfico 2 apresenta a distribuição da chuva durante o mês de abril de 1989, no
qual destaca-se o evento extremo de 149,0 mm, no dia 12/04/1989, sendo antecedido pelo
de chuva intensa do dia 11/04/1989, que registrou 83,00mm. Os principais sistemas
produtores das chuvas intensas e da chuva extrema do dia 14/04/1989 foram a Zona de
Convergência Intertropical (ZCIT) e o Vórtice Ciclônico de Ar Superior (VCAS).
Gráfico 2 - Precipitação do mês de abril de1989. Fonte: Estação Meteorológica de João Pessoa/INMET
Organização: os autores
De acordo com as notícias veiculadas no jornal A União, a chuva que caiu em João
Pessoa, desde o dia 11 alagou toda cidade, e provocou vinte e dois acidentes de trânsito.
As famílias que residiam em 380 moradias6 que estavam ameaçadas foram transferidas
para o estádio Almeidão, no bairro do Cristo Redentor, para as Escolas Alice Carneiro, no
bairro de Manaíra e Capitulina Sátyro, no bairro João Agripino e para o Ginásio Esportivo
Seráfico da Nóbrega no bairro dos Estados, Estadual dos Estados, Estadual de Miramar e
Estadual da Torre e em vários centros sociais.
Diante disso, a chuva do dia 11/04/1989 acarretou em vinte e duas mortes,
intensificando os impactos gerados pela chuva extrema do dia 12/04/1989. No dia da
6 O jornal A União não descrimina a localidade das 380 moradias.
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ocorrência da chuva extrema mais de quarenta casas desabaram, aumentando o número de
mortes para vinte e nove. Ainda de acordo com o jornal A União, a Defesa Civil informou
que mais de duas mil pessoas ficaram desabrigadas. Durante todo o dia, ocorreu falta
d’água, muitos bairros ficaram sem energia e os telefones não funcionaram.
Também no dia do evento extremo foram registrados deslizamento de barreira na
favela Cabo Branco, soterrando sete casas, de onde foram tirados sete corpos. No bairro
São José, a barreira também desabou, soterrando quarenta casas, e treze corpos foram
tirados dos escombros. Na favela Saturnino de Brito, no bairro das Trincheiras casas ruíram
devido à elevação do rio Jaguaribe.
Episódio 3: 27/07/1995 (141,4 mm)
O ano de 1995 foi considerado um ano de índices pluviométricos abaixo da média
histórica. Considerando os dados da Estação Meteorológica de João Pessoa/INMET,
choveu em 1995 um total anual de 1695,3 mm. No mês de julho de 1995 choveu 482,7 mm
(desvio = 198,5mm).
O gráfico 3 mostra a distribuição da chuva durante o mês de julho de 1995, no qual
evidencia-se o episódio do dia 27/07/1995 com chuvas de 141,4 mm em 24 horas. O
sistema meteorológico Ondas de Leste (OE) foi o principal produtor da chuva diária extrema.
Gráfico 3 - Precipitação do mês de julho de1995 Fonte: Estação Meteorológica de João Pessoa/INMET
Organização: os autores
Conforme as notícias veiculadas no jornal A União, a chuva extrema do dia
27/07/1995 deixaram quinze famílias desabrigadas na favela Riachinho, que se localiza no
bairro Jardim 13 de Maio. O Parque Sólon de Lucena (Lagoa), no bairro do Centro, mais
uma vez inundou. Alguns pontos na cidade ficaram alagados, dentre eles o bairro São José,
a Avenida Nossa Senhora dos Navegantes, no bairro de Tambaú, e a frente da Companhia
Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) no bairro do Varadouro.
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Episódio 4: 30/05/1996 (186,0 mm)
O ano de 1996 foi considerado um ano com chuvas acima da média histórica. Neste
ano choveu 2350,7 mm. No mês de maio choveu 314,4 mm, (desvio = 56,7). O gráfico 4
mostra a distribuição da chuva durante o mês de maio de 1996, no qual evidencia-se o
episódio do dia 30/05/1996 com chuvas de 186,0 mm em 24 horas. Este evento extremo foi
gerado pela ZCIT.
De acordo com o jornal O Norte, as chuvas provocaram caos na capital, pois as ruas
da cidade ficaram alagadas, bem como as favelas Saturnino de Brito, no bairro das
Trincheiras, São Rafael, no bairro Castelo Branco, Renascer, entre os bairros do Distrito
Mecânico/Varadouro, Beira Rio, Timbó, no bairro dos Bancários, além dos bairros do Bessa,
onde os moradores ficaram ilhados, Cristo Redentor, José Américo e Rangel. Trânsito
congestionado. O Parque Sólon de Lucena (Lagoa) no bairro do Centro inundou, alagando
toda área ao seu entorno.
Gráfico 4 - Precipitação do mês de maio de1996 Fonte: Estação Meteorológica de João Pessoa/INMET
Organização: os autores
Episódio 5: 26/06/2000 (168,2 mm)
O ano de 2000 também foi considerado um ano chuvoso, com valores pluviométricos
acima da média histórica. De acordo com os dados da Estação Meteorológica de João
Pessoa/INMET, choveu um total de 2439,9 mm no ano de 2000. No mês de junho choveu
557,7 mm (desvio = 219,4 mm).
O gráfico 5 mostra a distribuição da chuva durante o mês de junho de 2000, no qual
evidencia-se o episódio do dia 26/06/2000 com chuvas de 168,2 mm em 24 horas. O
sistema atmosférico que atuou nesse dia, responsável pelo valor da chuva extrema foi o
sistema Ondas de Leste.
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Gráfico 5 - Precipitação do mês de junho de 2000 Fonte: Estação Meteorológica de João Pessoa/INMET
Organização: os autores
Com base nas informações do jornal A União, ocorreu nos dias 25 e 26/06/2000
inundação na cidade. A água invadiu o anel interno da Lagoa, no bairro do Centro. Na
comunidade Três Lagoas, que fica no bairro de Oitizeiro, casas foram alagadas e algumas
caíram. Registrou-se ainda uma morte de uma criança por afogamento, no rio Jaguaribe. A
matéria do jornal trouxe a seguinte manchete: “Capital revive drama da chuva”. Informa a
matéria os seguintes impactos: acúmulo de água, lama e deslizamentos nas favelas
Saturnino de Brito, no bairro das Trincheiras, Timbó, no bairro dos Bancários e São Rafael,
no bairro Castelo Branco, além dos bairros do Alto do Mateus, São José e da comunidade
Santa Emília de Rodat, na Ilha do Bispo.
Episódio 6: eventos dos dias 07/06/2012 (131,0 mm); 20/06/2012 (111,4 mm) e 28/06/2012 (151,6 mm)
Os eventos ocorridos no mês de junho de 2012 se configuram como um caso
especial, tendo em vista, a ocorrência de três eventos extremos seguidos em mesmo mês,
situação de ocorrência única na série de 1981 a 2015.
O ano de 2012, assim como o ano de 1989, foi considerado um ano seco com
chuvas abaixo da média histórica. Neste ano choveu um total 1668,6 mm. Entretanto, o mês
de junho choveu 538,1 mm, valor este superior ao esperado para o mês que é de 338,3 mm.
O gráfico 6 mostra a distribuição diária das chuvas durante o mês de junho de 2012, no qual
evidencia-se os eventos dos dias 07, 20 e 28, com chuvas de 131,0 mm; 111,4 mm e 151,6
mm, respectivamente. O sistema meteorológico Ondas de Leste foi o responsável pelas
ocorrências das chuvas extremas.
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Gráfico 6 - Precipitação do mês de junho de 2012 Fonte: Estação Meteorológica de João Pessoa/INMET
Organização: os autores
Conforme as notícias veiculadas no jornal A União, os impactos gerados pela chuva
do dia 07/06/2012 foram: um pequeno deslizamento de barreira no bairro São José e
ocorrências de alagamentos em 60 pontos da cidade. Enquanto as chuvas do dia
20/06/2012 foram destaque no jornal: “Essas fortes chuvas provocaram a remoção de cento
e sessenta pessoas para abrigos temporários”. Também foi noticiado: na favela Saturnino
de Brito, no bairro das Trincheiras, um adolescente foi soterrado e cinco casas foram
interditadas.
No dia 28/06/2012, os impactos noticiados pelo Jornal consistiram no deslizamento
de barreiras na BR 230, além de alagamentos, deixando em toda João Pessoa mais de mil
desabrigados. Os bairros de Mandacaru, Alto do Mateus, José Américo, e as comunidades
São Rafael, no bairro Castelo Branco e Tito Silva, no bairro de Miramar tiveram maior
número de desabrigados. Também foram registrados três acidentes de trânsito. No bairro de
Manaíra e Jardim Cidade Universitária houve quedas de árvores, e no Jardim 13 de Maio, a
queda foi de galhos, apenas.
3.3 - Síntese dos impactos pluviais
Foram identificados 17 tipos de impactos gerados pelos eventos extremos de maior
excepcionalidade por década da série, conforme mostra o Quadro 1. Apesar das limitações
das informações veiculadas pelos jornais, no que tange a descriminação da ocorrência e do
local de origem, foi possível uma quantificação do número de ocorrências correlacionada a
cada tipo de impacto. Desse modo, observou-se um registro total de 3.312 ocorrências, com
destaque para o elevado número de pessoas desabrigadas, correspondente a 3.050
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pessoas, seguido de alagamentos (82 pontos de alagamento) e soterramento de casas (47
residências soterradas).
Quadro 1 – Tipos de impactos pluviais e quantidade de ocorrências
Tipos de impactos Número de ocorrências
Alagamento 82
Escorregamento ou deslizamento 9
Inundação 3
Acidente de trânsito 3
Danos em veículos 4
Danos no sistema telefônico 1
Desabamento 42
Pessoas desabrigadas 3.050
Famílias desabrigadas 15
Falta d'água 1
Falta de energia 1
Feridos 21
Lama 6
Mortes 23
Queda de árvores 3
Soterramento de pessoas 1
Soterramento de casas 47
TOTAL 3.312
Fonte: Informações veiculadas nos jornais A União e O Norte Organização: os autores
No que diz respeito às comunidades ou bairros mais atingidos, constatou-se que o
bairro do Centro, mais especificamente a Lagoa, foi a área mais atingida, por impacto do
tipo inundação e alagamento. Já os bairros e os territórios de maior vulnerabilidade social,
onde também se configuram como áreas de risco ambiental, como o bairro São José e as
favelas do Timbó (Bancários), Saturnino de Brito (Trincheiras), São Rafael (Castelo Branco),
Renascer (Distrito Mecânico/Varadouro) e Beira Rio, registraram além de inundações e
alagamentos, impactos dos tipos: desabamento, deslizamento, pessoas e famílias
desabrigadas, feridos, mortes e soterramento de pessoas e de casas.
4 - Conclusões
Um total de 43 eventos de chuvas diárias extremas foi identificado entre o período de
1981 a 2015. Os eventos ocorreram com mais frequência nos meses mais chuvosos, porém,
a partir dos anos 2000 passaram também a ser mais frequentes nos meses da pré-estação
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chuvosa. Os episódios extremos de maior intensidade destacados por década da série
ocorreram entre os meses de abril e julho e foram gerados, principalmente, por dois
sistemas atmosféricos; a Zona de Convergência Intertropical (atuante nos episódios dos
meses de abril e maio; 12/04/1989 e 30/05/1996) e as Ondas de Leste (atuante nos
episódios dos meses de junho e julho; 18/06/1986, 27/07/1995, 26/06/200 e dos três
eventos ocorridos no mês de junho de 2012). A população residente nos bairros e nos
territórios de maior vulnerabilidade social da cidade foi a mais afetada pelos impactos
pluviais dos episódios extremos. Assim, podemos inferir que a população residente nesses
territórios, por décadas, continua a ser a mais vulnerável aos eventos hidrometeorológicos
de natureza extrema.
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VARIABILIDADE E SUSCETIBILIDADE CLIMÁTICA: IMPLICAÇÕES ECOSSISTÊMICAS E SOCIAS
25 a 29 de outubro de 2016 Goiânia (GO)/UFG
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