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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELASARTES Ver e Compreender: Literacia Visual e Interfaces de Telemóveis Mariana Cristina Pires Araújo MESTRADO EM DESIGN DE COMUNICAÇÃO E NOVOS MEDIA 2014

Ver e Compreender - Literacia e Interfaces de Telemóveisrepositorio.ul.pt/bitstream/10451/12174/2/ULFBA_TES700.pdf · PARTE III // RESULTADOS CAPÍTULO 5 ≠ Resultados 5.1. Análise

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 UNIVERSIDADE  DE  LISBOA  

FACULDADE  DE  BELAS-­‐ARTES      

   

   

Ver  e  Compreender:  

Literacia  Visual  e  Interfaces  de  Telemóveis  

 

Mariana  Cristina  Pires  Araújo          

MESTRADO  EM  DESIGN  DE  COMUNICAÇÃO  E  NOVOS  MEDIA  

 

 

 

2014  

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 UNIVERSIDADE  DE  LISBOA  

FACULDADE  DE  BELAS-­‐ARTES      

   

   

Ver  e  Compreender:  

Literacia  Visual  e  Interfaces  de  Telemóveis  

 

Mariana  Cristina  Pires  Araújo          

MESTRADO  EM  DESIGN  DE  COMUNICAÇÃO  E  NOVOS  MEDIA  

Dissertação  orientada  pelo  Prof.  Doutor  Emílio  Vilar    

 

 

2014  

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo central aferir da importância da literacia visual enquanto

competência relevante para a compreensão de informação visual.

O estudo, de base empírica, explora a influência da literacia visual no reconhecimento e

interpretação de ícones através de testes aplicados a interfaces de telemóveis. A partir da

inquirição de duas amostras de indivíduos com graus de literacia visual distintos, a

pesquisa procura verificar diferenças no reconhecimento dos ícones e ainda estabelecer

quais os mais facilmente apreendidos e quais aqueles que apresentam maiores

dificuldades de perceção.

Tendo como princípio que a eficácia de um ícone reside na sua capacidade para ser

rápida e corretamente interpretado e compreendido, e assumindo paralelamente que esta

descodificação depende também, por parte do utilizador, de um processo pessoal, cultural

e subjetivo, o estudo consiste num conjunto de testes – de associação, comparativos e

cronometrados – que visam comparar a competência perceptiva e cognitiva das duas

amostras, ponderado o efeito de uma familiarização prévia com a interface.

Os resultados sugerem a existência de lacunas no desenvolvimento do estudo empírico,

sobretudo no grupo de indivíduos não sujeitos a aprendizagem específica na área das

artes visuais.

Este é um projeto de escala reduzida e, por isso, limitado no que respeita à extrapolação

dos seus resultados. Contudo, pretende contribuir como ponto de partida para futuros

estudos que pretendam aprofundar o tema da literacia visual.

No contexto atual, considerando que os novos meios de comunicação investem cada vez

mais numa interação visual, o trabalho enfatiza a importância crescente do estímulo

visual e a necessidade de ferramentas próprias para uma eficaz e total interpretação destes

meios, o que conduz a uma maior responsabilidade das áreas que podem contribuir para o

aumento da literacia visual das populações.

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Este estudo coloca em evidência o eventual benefício que alguns reajustes dos planos

curriculares académicos, com base numa educação mais visual, podem trazer em prol de

uma mais eficiente interação com a tecnologia e com as novas formas de comunicação

em sociedade.

PALAVRAS-CHAVE: Literacia Visual; Interface de telemóveis; Perceção Visual;

Semiótica; Design de Comunicação

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ABSTRACT

The main goal of this work is to measure the importance of visual literacy as a relevant

competence for the comprehension of visual information.

The study, empirically based, explores the influence of visual literacy in the recognition

and interpretation of icons through tests applied to mobile interfaces. From the

examination of two samples of individuals with different degrees of visual literacy, the

research seeks to verify differences in the recognition of icons and even establish which

are more easily seized and those who are more difficult to perceive.

Based on the principle that the effectiveness of an icon lies in its ability to be quickly and

correctly interpreted and understood, and assuming that this decoding also depends, on

the behalf of the user, on a personal, cultural and subjective process, the study consists in

a set of tests - of association, comparative and timed – that aim at comparing the

perceptual and cognitive competence of the two samples, while weighting the effect of a

prior familiarization with the interface.

The results of this study suggest the existence of gaps in relation to visual literacy,

especially in the group of individuals not entitled to specific learning in the field of visual

arts.

This is a reduced and limited scale project regarding the extrapolation of its results.

However, it intends to serve as a starting point for future studies that are aiming to

deepen the theme of visual literacy.

In the current context, considering that the new media have an increasingly complex

visual nature, the work highlights the growing importance of the visual stimulus and the

need of proper tools for an effective and complete interpretation of these means, which

leads to greater accountability of the areas that can contribute to the increase of visual

literacy of the populations.

This study highlights the possible benefit that some adjustments of the academic

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curricula, based on a more visual education, can bring towards a more efficient

interaction with technology and new forms of communication in society.

KEY WORDS: Visual Literacy; Mobile Interface; Visual Perception; Semiotic; Communication Design

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ÍNDICE GERAL

ÍNDICE DE QUADROS, FIGURAS E FIGURAS 9

INTRODUÇÃO 12

PARTE I // ENQUADRAMENTO TEÓRICO

CAPÍTULO 1 – Literacia Visual e Perceção 1.1. Literacia Visual 15

1.2. A Perceção Visual e o Processo Cognitivo 18

CAPÍTULO 2 – Semiótica

2.1. Semiótica aplicada às interfaces de dispositivos móveis 24

PARTE II // ESTUDO EMPÍRICO

CAPÍTULO 3 ≠ Objetivos e Método 3.1. Objetivos da Investigação 27

3.2. Metodologia 27

CAPÍTULO 4 ≠ Operacionalização

4.1. Operacionalização 29

PARTE III // RESULTADOS

CAPÍTULO 5 ≠ Resultados

5.1. Análise e discussão de resultados 5.1.1. Pré Teste 36

5.1.2. Testes Associativo e Comparativo 37

5.1.3. Teste Cronometrado 42

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5.2. Análise e discussão de resultados: Familiarização

5.2.1. Pré Teste 46

5.2.2. Testes Associativo e Comparativo 47

5.2.3. Teste Cronometrado 50

PARTE IV ≠ CONCLUSÕES

CAPÍTULO 6 ≠ Conclusão 6.1. O factor de familiarização influencia a perceção visual? 54

6.2. A literacia visual influencia a descodificação de ícones? 55

6.3. Recomendações e Limitações 56

BIBLIOGRAFIA 58

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ÍNDICE DE QUADROS, GRÁFICOS E FIGURAS

CAPÍTULO 1

1.1 Literacia Visual

Fig. 1: Esquema da Comunicação Visual, adaptado de Bruno Munari (2009:91) 17

1.2 A Perceção Visual e o Processo Cognitivo

Fig. 2: Modos de leitura adaptado do esquema “Sign Type and Sensory Mode for

Verbal and Visual Literacy” (1983), de Cassidy e Knowlton 23

CAPÍTULO 4

4.1 Operacionalização

Tabela 1: Ícones utilizados no Pré-Teste 30

Tabela 2: Relação entre indivíduos que responderam a estes testes e Sistemas

operativos com os quais estão familiarizados 33

Tabela 3: Ícones utilizados nos testes Associativo e Comparativo 34

Tabela 4: Identificação de ícones para o efeito deste estudo 34

CAPÍTULO 5

5.1 Análise e discussão de resultados

5.1.1 Pré Teste

Fig. 3: Gráficos relativos à Taxa de Reconhecimento de um ícone, com base nos

resultados do Pré-Teste. 36

5.1.2 Testes Associativo e Comparativo

Fig. 4: Gráficos de avaliação dos ícones “Definições”, relativos às características de

legibilidade, com base nos resultados do teste Associativo. 37

Fig. 5: Gráficos de avaliação dos ícones “Mensagens”, relativos às características de

legibilidade, com base nos resultados do teste Associativo. 37

Fig. 6: Gráficos de avaliação dos ícones “Calendário”, relativos às características de

legibilidade, com base nos resultados do teste Associativo. 38

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Fig. 7: Simplificação baseada na média dos resultados do teste Associativo 39

Fig. 8: Gráficos de avaliação comparativa dos ícones “Definições”, relativos às

características de legibilidade 40

Fig. 9: Gráficos de avaliação comparativa dos ícones “Mensagens”, relativos às

características de legibilidade 40

Fig. 10: Gráficos de avaliação comparativa dos ícones “Calendário”, relativos às

características de legibilidade 41

Fig. 11: Simplificação baseada na média dos resultados do teste Comparativo 42

Fig. 12: Escala de Perceção com base na relação dos resultados dos testes

Associativo e Comparativo 42

5.1.3 Teste Cronometrado

Fig. 13: Resultados de cada amostra por ícone, com base nos resultados do teste

Cronometrado. 43

Fig. 14: Média de tempo de cada amostra por ícone, com base nos resultados do

teste Cronometrado. 44

Fig. 15: Escala de Perceção definida com base nos resultados e tempo de reação

do teste Cronometrado. 45

Fig. 16: Relação entre a Escala de Perceção com base nos resultados do teste

Cronometrado com a Escala de Perceção previamente estabelecida. 45

5.2. Análise e discussão de resultados: Familiarização

5.2.1 Pré Teste

Fig. 17: Relação entre a familiarização com os Sistemas Operativos e as respostas

do Pré-Teste. 46

5.2.2 Testes Associativo e Comparativo

Fig. 18: Relação entre os Sistemas Operativos e as respostas dadas aos ícones WP1,

IP1 e BB1, com base nas respostas do teste Associativo. 47

Fig. 19: Relação entre os Sistemas Operativos e as respostas dadas aos ícones WP2,

IP2 e BB2, com base nas respostas do teste Associativo. 48

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Fig. 20: Relação entre os Sistemas Operativos e as respostas dadas aos ícones WP3,

IP3 e BB3, com base nas respostas do teste Associativo. 48

Fig. 21: Relação entre os Sistemas Operativos e as respostas dadas aos ícones WP1,

IP1 e BB1, com base nas respostas do teste Comparativo. 49

Fig. 22: Relação entre os Sistemas Operativos e as respostas dadas aos ícones WP2,

IP2 e BB2, com base nas respostas do teste Comparativo. 49

Fig. 23: Relação entre os Sistemas Operativos e as respostas dadas aos ícones WP3,

IP3 e BB3, com base nas respostas do teste Comparativo. 50

5.2.3 Teste Cronometrado

Fig. 24: Relação entre a familiarização com os sistemas operativos e as respostas do

teste Cronometrado em relação aos ícones WP1, IP1 e BB1. 51

Fig. 25: Relação entre a familiarização com os sistemas operativos e as respostas do

teste Cronometrado em relação aos ícones WP2, IP2 e BB2. 52

Fig. 26: Relação entre a familiarização com os sistemas operativos e as respostas do

teste Cronometrado em relação aos ícones WP3, IP3 e BB3. 52

   

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INTRODUÇÃO

Com o aumento da frequência do uso de novas tecnologias e da internet em casa, surge a

necessidade de compreender as interfaces digitais, que dependem de um domínio cada

vez maior das competências visuais. Estas interfaces são compostas por signos visuais

para os quais é necessária uma aprendizagem visual específica.

Os signos visuais são os elementos que vão dar forma à mensagem visual, compondo a

imagem; tal como acontece com os alfabetos, é possível considerá-los como componentes

de uma linguagem. A partir do momento em que se aprende a ler e descodificar esses

signos, passa a ser possível construir inúmeras mensagens, cada qual com a sua

interpretação. Do mesmo modo, para cada imagem é necessário aprender a ver e a ler.

Para além de depender do contexto e da intenção do emissor, a leitura de uma imagem

depende essencialmente da perceção do recetor, que irá compreender a mensagem visual

consoante a sua capacidade de descodificar imagens. Tal facto pode alterar o significado

da mensagem, na medida em que a perceção é um ato subjetivo.

Para este efeito, defendido por Elkins (2003) e Felten (2008), surge a necessidade de

desenvolvimento de uma literacia visual, capaz de compreender e decompor os sistemas

visuais, sejam estes físicos ou digitais.

Em relação ao ensino, a importância do conceito de literacia visual leva-nos a questionar

de que modo este tipo específico de estímulo poderá estar relacionado com o

desenvolvimento da perceção e cognição, nomeadamente através de disciplinas que

aprofundem o sentido visual. Isto é, se uma maior literacia visual corresponderá de facto

à produção de mensagens e significados visuais mais críticos, rápidos e eficientes (Gil,

2011).

O estímulo da literacia visual corresponde a um melhor domínio da perceção visual e da

cognição; à compreensão e produção de mensagens visuais mais críticas; ao

desenvolvimento de pensamento mais estruturado e uma melhor adaptação e interação

com os novos media e as interfaces digitais, os quais permitem acompanhar o

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desenvolvimento da tecnologia e dos novos modos de leitura e comunicação (Bleed,

2005). Por outro lado, questiona-se a necessidade de desenvolver a literacia visual, uma

vez que esta vai sendo progressivamente adquirida através de comportamentos,

conhecimentos e familiarização prévia (Cassidy e Knowlton, 1983).

Na semiótica defendida por Peirce (1978), os signos visuais podem-se categorizar em

várias tipologias, cada qual com a sua descodificação própria. De entre estas, o ícone é a

forma mais comum e eficaz de comunicação nos interfaces digitais, por ser o tipo de

signo cuja representação visual é mais simples, visto estabelecer uma associação mais

direta à realidade.

Tendo em consideração que a linguagem visual das interfaces digitais é essencialmente

iconográfica e que essa interação faz parte do comportamento quotidiano (Gatsou et al.,

2012), é importante estudar as causas do bom funcionamento, ou pelo contrário, do mau

funcionamento da mensagem visual (Joly, 2007), através de testes de reconhecimento de

ícones. Importa ainda perceber de que forma uma prévia familiarização com a interface

pode interferir na perceção visual, uma vez que essa familiarização reduz o esforço

cognitivo, dado processar-se através de associações mentais visuais.

O trabalho que se segue divide-se em quatro partes. A primeira parte consiste na

contextualização e definição dos conceitos base para o entendimento deste estudo. A

segunda parte incide no estudo empírico, que compreende três fases: o Pré Teste, que

consiste num teste de compreensão realizado a uma audiência geral; os testes Associativo

e Comparativo, com o fim de aferir uma escala de perceção; e, na fase posterior, o teste

Cronometrado, ou seja, um teste de compreensão visual realizado em duas amostras

específicas com graus de literacia visual distintos. A terceira parte explora e analisa

os resultados, de modo a ser possível retirar conclusões na quarta e última parte do

trabalho.

Este é um estudo exploratório que aprofunda a importância da literacia através do

ensino de disciplinas que estimulem a competência de construção e compreensão de

significados visuais, com base numa comparação entre duas amostras.

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Apesar deste estudo apresentar algumas limitações, sobretudo na identificação e

delimitação das amostras, este trabalho tem o intuito de orientar futuros estudos que

tenham em vista o reajustamento do ensino, a fim de que o estímulo da literacia visual

não esteja restringida às disciplinas especializadas nas áreas das artes.

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CAPÍTULO 1 — LITERACIA VISUAL E PERCEÇÃO

1.1. Literacia Visual

“VISUAL LITERACY IS THE ABILITY TO FIND MEANING IN IMAGERY. IT INVOLVES A SET OF

SKILLS RANGING FROM SIMPLE IDENTIFICATION – NAMING WHAT ONE SEES – TO COMPLEX

INTERPRETATION ON CONTEXTUAL, METAPHORIC AND PHILOSOPHICAL LEVELS.“ (YENAWINE, 1997:845)

Define-se literacia como a capacidade de ler, escrever e compreender o que é lido e

escrito. Seguindo a mesma linha de raciocínio, subentende-se a literacia visual como

a capacidade de ler e interpretar as imagens. Desta forma, é possível relacionar os

modos de leitura entre texto e imagem: a escrita está para a literacia (em termos

genéricos), como a imagem está para a literacia visual (Felten, 2008).

Cassidy e Knowlton consideram que literacia visual é uma expressão redundante, na

medida em que a literacia implica um ato de leitura e este exercício, só por si, é um

processo relacionado com a visão (Cassidy e Knowlton, 1983). Contudo, isso

implicaria que toda a literacia fosse visual, e como esta definição não abrange a

literacia tátil relativa aos invisuais, por exemplo, o conceito revela-se incompleto.

Da mesma forma que as ações de ler e escrever implicam uma aprendizagem, é

necessário o desenvolvimento de uma literacia, neste caso visual, que ajude a

compreender as normas da comunicação imagética (Gil, 2011).

Para Roland Barthes (1980), a imagem, tal como é referida no esquema da

comunicação visual de Bruno Munari1, é verbalizada na medida em que é

interpretada e compreendida, e para tal requer a mediação da linguagem verbal.

Deste modo, a literacia visual pode ser entendida como uma alfabetização no sentido

visual (Gil, 2011).

                                                                                                               1Ver fig. da pág. 91 do livro “Design e Comunicação Visual”, Lisboa: Edições 70, 2009.

 

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No entanto, é necessário distinguir os significados de literacia e alfabetização.

Considerando que um dos objectivos da literacia é, segundo Silva: “permitir aos

indivíduos compreenderem e usarem a informação de forma a atingirem os seus

objetivos, desenvolverem os seus conhecimentos e potencialidades para

participarem, crítica e ativamente, na sociedade” (2011:222), sem a competência

para assimilar a informação lida, apenas se define o conceito de alfabetização.

W. J. T. Mitchell, no livro “Picture Theory: Essays on Verbal and Visual

Representations” (1994), refere que o modo de leitura das imagens é o mesmo que de

um texto, no sentido em que o texto é considerado um conjunto de ícones visuais

culturais — isto é, imagens — que se lêem. Uma imagem, seja ela física segundo o

conceito de Platão: “Denomino imagens primeiramente às sombras, depois aos

reflexos que se vêem nas águas ou na superfície dos corpos opacos, polidos e

brilhantes, e a todas as representações semelhantes [...]” (Platão, séc. IV a.C.: 4491-

480a) ou mental, representa a realidade, i.e. as pessoas e os objetos do mundo real

(Mitchell, 1994).

Em 1969, John Debes define a literacia visual como: “a group of vision-

competencies a human being can develop by seeing and at the same time having and

integrating other sensory experiences.” (1969:27), ou seja, uma competência que

deverá ser estimulada com o intuito de aperfeiçoar a interpretação de mensagens

visuais, objetos e símbolos e, deste modo, levar à compreensão da comunicação

visual. James Elkins aprofundou a definição de Debes afirmando: “recognizing an

image as an image constitutes a kind of literacy.” (2003), na medida em que o ato de

ver uma imagem inicia um processo de interpretação, cuja capacidade de

compreensão se traduz por literacia visual.

Por outro lado, Isabel Capeloa Gil acrescenta que a literacia visual não se resume

apenas à capacidade de análise para decompor os sistemas imagéticos, mas a uma

ferramenta que permite a produção de um discurso culturalmente crítico e visual

(Gil, 2011), na medida em que a literacia visual vai permitir compreender as

mensagens visuais de forma mais clara.

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Gil (2011:24-27) define quatro características da literacia visual:

•“A literacia visual não se estrutura a partir de uma conceção linguística da

imagem nem concebe a relação entre texto e imagem como hierárquica”, no sentido

em que a imagem surge não só como um complemento à linguagem verbal mas

também como uma linguagem própria;

•“A literacia visual é transdisciplinar”, traduzindo assim que o processo de

interpretação e compreensão visual requer o domínio de várias competências;

•“A literacia visual é contingente e processual”, na medida em que depende

do contexto onde os sistemas imagéticos estão inseridos, bem como dos valores, das

crenças e cultura tanto do emissor como do recetor;

•“A literacia visual é re-visionista”, dado que existe uma fase de

conhecimento visual no ato de observação da imagem, e uma segunda fase de re-

conhecimento, onde se associam os padrões visuais à experiência e aos

conhecimentos previamente adquiridos.

A estrutura da comunicação é constituída por um emissor que transmite uma

mensagem que desperta os sentidos e, consequentemente, a perceção humana e por

um recetor que a capta, interpretando-a de acordo com os conhecimentos adquiridos.

A Figura 1 é um resumo da comunicação visual, adaptada de Bruno Munari, que

ilustra o processo pelo qual a mensagem visual é comunicada:

Fig. 1 – Esquema da Comunicação Visual, adaptado de Bruno Munari (2009:91)

José Damásio considera a literacia visual como “a capacidade de reconhecer,

Figura 1.:

Emissor:

Intenção de comunicar

visualmente

Ruído Visual

Estímulos Sensoriais

Percepção da Mensagem

Visual

Receptor:

interpretação

da mensagem visual /

descodificação

da intenção do

emissor

Objecto /

Mensagens Visuais

Representação

Visual do Objeto/Mensagem

Ruído Visual

� �

Resposta do Receptor para o Emissor

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compreender e exprimir corretamente um argumento em qualquer medium de

expressão visual” (Damásio, 2000). Dado que o medium de expressão visual

influencia a construção e a interpretação de uma imagem, surge portanto a

necessidade de dominar a linguagem e a operacionalização dos media de expressão,

com o propósito de construir uma imagem visual mais clara e concisa.

A imagem, por ser um artefacto cultural complexo (Gil, 2011), pode ser mais fácil ou

mais difícil de percecionar (Yenawine, 1997). Como consequência, a mensagem

pode perder-se na interpretação.

Para uma melhor compreensão da literacia visual, além das 4 características

previamente enunciadas por Isabel Capeloa Gil, Felten enumera quatro áreas que vão

ser abordadas ao longo deste trabalho:

• os fundamentos, isto é, a origem do conceito e a origem da necessidade da literacia,

potenciada pelas novas tecnologias;

• a cognição e a perceção visuais, que (de)compõem o processo de criação do

significado associado à imagem;

• o design visual, como capacidade de comunicação através de imagens;

• o ensino, que incentiva o estímulo da literacia visual como capacidade de

comunicação, através de diferentes tipos de representação visual (Felten, 2008).

Bleed considera a literacia visual como sendo um pré-requisito para o futuro, na

medida em que os media começam a ser mais visuais, não só a nível de conteúdo

como de forma, através da interação entre o utilizador e o meio. Estes sistemas são

cada vez mais intrínsecos aos métodos de trabalho, comunicação e ensino, o que

torna fulcral o estímulo da literacia visual (Bleed, 2005).

1.2. A Perceção Visual e o Processo Cognitivo

“VISION IS NOT NECESSARILY WHAT WE SEE BUT HOW OUR BRAIN INTERPRETS THE WORLD

AROUND US, OUR OWN EXPERIENCES CAN SHAPE HOW WE PERCEIVE THIS WORLD.” (NANRA, 1988:37)

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Para Mitchell (1994), a imagem subdivide-se entre “image” e “picture”, em que

“image” resulta de um processo interno, correspondendo a uma imagem mental

criada quando se interpreta a realidade, e “picture” consiste no produto físico

representativo da realidade, enquanto objeto concreto. Para Svanaes, a perceção

(“image”) está incorporada na ação de ver, e a “picture” é a exteriorização

representativa da realidade que o sujeito perceciona (Svanaes, 2013).

Aristóteles, através de um raciocínio lógico, defende que a visão, por se encontrar

mais perto do cérebro, está mais perto da lógica e da razão. Considerando a literacia

visual como a competência de ler e interpretar a comunicação visual, a imagem surge

como um estímulo que desencadeia uma reação e um processo mental.

A perceção visual é a relação que se estabelece com a memória. Para Isabel Capeloa

Gil: “aquilo que vemos é fundamentalmente a representação de uma perceção”

(2011:24). A partir do momento em que se apreende a realidade de uma determinada

forma, a tendência é manter essa associação na memória. Ao percecionar algo que

acrescente ou contradiga aquilo que foi previamente visualizado, torna-se mais difícil

quebrar as crenças visuais previamente estabelecidas.

Embora a perceção, por partir de um ato imediato da visão, não implique o

desenvolvimento da capacidade de compreensão (Yenawine 1997), a literacia visual,

por envolver um processo de atribuição de um significado, já implica um

desenvolvimento da competência, de modo a que haja um verdadeiro domínio desse

instrumento (Cassidy e Knowlton, 1983).

Desta forma, do mesmo modo que existe uma diferença entre ver e compreender,

existe uma diferença entre aquisição visual e aprendizagem visual. A aquisição passa

por um processo intuitivo e inconsciente, como acontece com o exercício da visão. A

aprendizagem é um processo consciente que implica um estímulo e um

desenvolvimento de determinadas competências, como é o caso da literacia visual.

Por sua vez, a literacia visual implica o desenvolvimento da capacidade de

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compreensão e, quer seja adquirida ou estimulada através de uma aprendizagem

específica, está diretamente relacionada com o fator familiarização.

Por familiarização entende-se a relação que o utilizador estabelece com o “objeto”,

com base na experiência, memória e conhecimento prévio. É a frequência de uso e a

associação de padrões de reconhecimento e compreensão de forma natural que

estabelece uma aprendizagem sobre o objeto (Gatsou et al., 2012).

Ao contrário da teoria ecológica, suportada por Gibson em “The Ecological Approach

to Visual Perception” (1979), que defende a perceção como um processo passivo de

compreensão da mensagem visual, com base na informação integrada no contexto, a

teoria construtivista, sustentada por Gregory em “Concepts and Mechanisms of

Perception” (1974), baseia-se na perceção enquanto processo ativo, em que a

compreensão da mensagem é formada pela informação integrada no contexto juntamente

com o conhecimento previamente adquirido e armazenado na memória.

Merleau-Ponty (1985) e Felten (2008) apoiam a teoria construtivista, ao afirmarem

que o ato de ver é um procedimento ativo, na medida em que direciona e foca o olhar

de um modo consciente e intencional, analisando e conferindo um significado aos

estímulos.

Para Emílio Vilar: “a formação da imagem é o processo através do qual um conjunto

de estímulos (experiências) é reconhecido (selecionado), interpretado (é-lhe

atribuído significado) e organizado (retido) na memória de acordo com

determinadas categorias e estruturas.” (2006:47). Aqui, os estímulos têm origem no

objeto visual que, por sua vez, está integrado num contexto que lhe confere um

significado específico e que, juntamente com a experiência pessoal e a familiarização

com o estímulo, vão influenciar a perceção. A este processo — de construção e

atribuição de um significado a um estímulo visual — chama-se cognição.

Cognição, no entendimento de Varela (1993), é uma operação mental e subjetiva, na

medida em que existe um processamento de informação e uma associação a um

significado, enquanto Lupton a considera como um processo mental baseado no

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recurso a memórias: “the act of deciphering, the act of interpreting, is a pleasurable,

memory-enforcing process” (1986:51), também sustentado por Elkins que refere:

“images “tell us what to remember” (2003:137).

A perceção visual processa-se da mesma forma que um texto se desconstrói em

parágrafos, frases, palavras e letras (Flieder e Mödritscher, 2006), i. e., uma imagem

para ser compreendida é decomposta em pequenas mensagens, a partir de estímulos

visuais familiares, cujas associações estão contidas no conhecimento prévio que se

tem sobre a realidade. Como Silverman afirma: o sujeito vê o que procura e o que

sabe ver (Silverman, 1979).

A visão, análise e construção de um significado remetem para a Teoria de Gestalt

que declara que a perceção visual do todo é construída através da interpretação de

elementos individuais (Flieder e Mödritscher, 2006).

Esta teoria está assente na forma como o cérebro processa a informação visual,

desconstruindo o objeto visual em vários estímulos e agrupando-os através de

mecanismos assentes na memória.

Max Wertheimer (1938), destaca os seguintes mecanismos de perceção relativos à

Teoria de Gestalt:

1. similaridade — isto é, a criação de grupos formados por elementos ou padrões

semelhantes;

2. proximidade — o agrupamento de estímulos visuais por padrões espaciais, em

que uns elementos estão mais próximos que outros;

3. destino comum — os elementos visuais parecem seguir o mesmo sentido;

4. continuidade — os pormenores são evidenciados, face à imagem global e que

induz um comportamento visual;

5. figura e contexto — a imagem é desconstruída hierarquicamente em figura, isto

é, o elemento principal que sobressai e em contexto, constituído por elementos

visuais secundários;

6. conclusão — ao ser-se confrontado com uma imagem com falta de elementos, a

mente procura padrões de reconhecimento na memória a partir de elementos

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familiares, o que faz com que o cérebro preencha os espaços vazios e complete

o significado da mensagem, eventualmente correspondendo a situações de

ilusões de óptica.

Este ato de entendimento global com base na perceção de estímulos individuais

explica-se pelo facto do cérebro ser composto por dois hemisférios: o esquerdo, que

analisa a informação de forma lógica e racional e processa-a através da simplificação

da mensagem; e o direito que, ao invés de analisar o “texto”, isto é, o aspeto racional

da mensagem, analisa o “contexto” de modo mais sensorial e abrangente (Pink,

2005). A decomposição em, seguido da conjugação de mensagens mais curtas e

simples torna o significado de uma imagem mais facilmente retida e consolidada na

memória.

Este paradoxo da perceção – enquanto dualidade complementar entre o sensorial e o

racional – requer uma capacidade para entender a mensagem visual de forma crítica.

Quanto mais se incentiva o estímulo da literacia visual, mais se diminuem os obstáculos

de linguagem a transpor, i.e. os códigos, que permitem obter uma correta interpretação.

Como é referido por Joly: “As imagens engendram palavras que engendram

imagens, num movimento sem fim” (Joly, 2007:142).

Como Munari salienta: “há muitos outros casos ainda não codificados [...] porque o

código não foi estabelecido ou devidamente controlado.” (Munari, 2009:78–79): tal

como acontece com uma língua estrangeira, é necessário aprender o código e os seus

símbolos-chave para a compreender. (Messaris, 1995).

Um indivíduo dotado de literacia visual é aquele que tem a capacidade de

compreender imagens. Estas não são vistas meramente como ilustrações, mas, pelo

contrário, são portadoras de mensagens visuais com um significado e um propósito

objetivos (Felten, 2008). Deste modo, a literacia visual é particularmente relevante,

uma vez que constitui uma ferramenta essencial da comunicação e que irá

complementar e aproximar as linguagens imagética e verbal.

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Como se pode observar na Figura 2, existe um paralelismo entre ambos os modos de

leitura:

Fig. 2: Modos de leitura, figura adaptada do esquema “Sign Type and Sensory Mode for Verbal and Visual

Literacy” (1983), de Cassidy e Knowlton

Felten reforça a importância da cognição — aprendizagem visual — na medida em

que é crucial para o desenvolvimento do pensamento crítico e, como tal, deveria

estar integrada no ensino: “to train students to see critically and to create in multiple

modes should be an essential component of a liberal education” (2008:62). Porém,

para que tal aconteça, Bleed defende que é necessário romper com o estigma de um

ensino visual restringido às disciplinas de artes (2005).

     

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CAPÍTULO 2 — SEMIÓTICA

   2.1 Semiótica aplicada às Interfaces de Dispositivos Móveis “UNDERSTANDING WHAT AN ICON REPRESENTS, AS OPPOSED TO WHAT IT PICTURES,

IS ESSENTIAL FOR DESIGNING USER INTERFACE LANGUAGE.” (NADIN, 1988:284)

Define-se semiótica como a ciência que se foca no estudo dos signos, nomeadamente

na sua estruturação semântica, categorizando os sinais visuais em ícones, indícios e

símbolos. Esta categorização depende do contexto, interpretação e compreensão

visual.

O contexto dos sinais visuais que compõem a escrita e as linguagens tanto pode ser

de índole interna, definido pela familiarização, expetativas, conhecimento ou

experiências prévias do observador, como de natureza externa, nomeadamente

relacionado com as diferenças socioculturais. Considerando que a polissemia de

línguas faz surgir uma polissemia de significados, uma imagem pode traduzir-se em

várias mensagens, tal como afirma Bellos: “The variability of translations is

incontrovertible evidence of the limitless flexibility of human minds” (2011:9).

Existem duas grandes vertentes no que se refere à semiótica, a definida por Peirce e a

definida por Saussure. Saussure associa um signo linguístico à fonética, podendo esta

associação subdividir-se em duas classes: os fonemas, que são sons sem significado,

e os monemas, que se aproximam do conceito de palavra, pois para além de um som,

existe um significado. Uma vez que este estudo se refere à literacia visual, para os

efeitos pretendidos ele assentará nos conceitos defendidos por Peirce, que se referem

à semântica visual.

Peirce afirma que um signo estabelece uma relação entre três partes: a perceção do

signo (o representamen (St)), a sua representação (o objeto) e o significado (o

interpretante (Sd)).

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Um signo pode ser ambíguo e resultar em várias interpretações (Joly, 2007), pelo que

para o contextualizar em cada caso concretamente, subdivide-se em três tipos: o

indício, o símbolo e o ícone. O indício induz um significado do que representa a

partir de um pressuposto visual, isto é, um conjunto de determinadas características

físicas permite presumir uma mensagem ou uma conclusão. O símbolo estabelece

associações indiretas, na medida em que depende de um contexto específico. O ícone

procura assemelhar-se, quer ideológica quer realisticamente, ao que representa, pelo

que é o signo que estabelece uma ligação mais próxima entre perceção e significado.

A realidade pode ser reproduzida de um modo mais representativo a partir de

características físicas, através de uma imagem; de forma mais esquemática e

racional, como um diagrama; ou por meio de uma semelhança paralela à realidade,

como uma metáfora. Na medida em que estas representações permitem reconhecer e

associar a realidade com um sentido ideológico e realístico, elas inserem-se na

categoria de ícones.

O ícone é o signo que estabelece uma associação mais imediata entre o sinal visual e

o significado, pelo que para exibir informação nas interfaces de dispositivos móveis

é aos ícones que se recorre enquanto signos visuais. Contudo, não é intenção do

ícone substituir o texto verbal, pelo que se devem complementar mutuamente.

Numa interface digital, o ícone é, portanto, um signo de comunicação minimalista,

cuja função deve ser identificada de forma imediata para que a utilização do

dispositivo seja intuitiva: quanto mais fácil e rápida for a associação entre um ícone e

a sua função, mais facilmente é memorizada. Como tal, para este projeto, o objeto de

estudo são ícones de interfaces de telemóveis, dada a sua crescente utilização ao

longo do tempo.

Easterby refere que a interação frequente de dispositivos digitais fomentou o

desenvolvimento de uma capacidade de familiarização intuitiva que estimula a

compreensão visual das interfaces digitais (1984). Gatsou sustenta esta afirmação:

“with the increase in the use of new technologies and of the internet at home, there is

an exponential growth in numbers of novice users, that is, ordinary people who lack

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skills in computer science and are drawn from a wide range of backgrounds who

face difficulties in operating their computers” (2012:93).

Para além de ser importante estudar o processo de interpretação e compreensão

visuais — literacia visual — para o designer adaptar corretamente o ícone à função

que vai desempenhar, de maneira a que preencha os requisitos específicos capazes de

eliminar qualquer ambiguidade, é importante para o utilizador, para colmatar a

lacuna que existe na comunicação visual.

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CAPÍTULO 3 — OBJETIVOS E MÉTODO

3.1. Objetivos da Investigação

Esta pesquisa exploratória propõe-se a analisar a importância da Literacia Visual

como competência a ser desenvolvida no âmbito do ensino, através da realização de

testes de reconhecimento sobre ícones de telemóveis. Deste modo, este trabalho tem

como objetivo verificar:

1. Se a maior ou menor familiarização com as interfaces de telemóveis interfere

na interpretação dos ícones;

2. Se uma maior literacia visual influencia a interpretação de imagens tornando-a

mais rápida, correta e eficaz;

3.2. Metodologia

A compreensão de um ícone depende do seu contexto e da sua função. Como a perceção

visual é subjetiva, um ícone nem sempre consegue corresponder ao significado que

pretende transmitir.

Para verificar a eficácia de um ícone é necessário observar qual o grau de dificuldade de

compreensão que lhe está associado. Tendo em consideração que a compreensão de um

ícone depende da sua representação visual, assim como de uma familiarização

prévia, deve ser composto por características que promovam um reconhecimento

imediato, tais como simplicidade ou realismo, na medida em que podem interferir com a

perceção visual. Se a representação visual de um ícone não for devidamente clara ou

explícita, devido aos elementos visuais, pode induzir uma interpretação ambígua.

A primeira parte do trabalho fundamentou-se numa pesquisa bibliográfica, de forma a

analisar a necessidade da realização deste trabalho. É neste contexto que se define o

significado de literacia visual e se estabelecem as suas relações com a semiótica,

associada aos modos de leitura dos novos meios de comunicação, e com a cognição,

enquanto processo de compreensão de uma mensagem visual no âmbito do ensino.

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A segunda parte assenta numa componente empírica, onde se estabelece a ligação

entre literacia visual e ícones de interfaces de telemóveis. Baseada em testes de

aferição de literacia visual, esta parte dividiu-se em duas fases.

Na primeira efetuaram-se testes de compreensão com o fim de compreender a

ambiguidade da interpretação dos ícones, de forma a definir os parâmetros de avaliação

para a fase seguinte.

Posteriormente, numa segunda fase, depois de identificados os ícones mais reconhecidos,

realizaram-se os testes a uma audiência mais específica. É nesta componente que assenta

o estudo, na medida em que se vão comparar os resultados entre amostras de indivíduos

com e sem literacia visual estimulada.

O recurso a estes testes permite estudar e concluir se os indivíduos que receberam o

estímulo da literacia visual através do ensino obtiveram melhores resultados, assim

como se a familiarização é um fator que afeta a cognição.

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CAPÍTULO 4 — OPERACIONALIZAÇÃO

4.1. Operacionalização

Para a realização deste estudo foram eleitos três interfaces de sistemas operativos de

telemóveis específicos: Windows Phone, Blackberry e iOS. A escolha destas

interfaces foi influenciada pelo predomínio no mercado e pelo aspeto gráfico,

distinto entre eles.

Através das estatísticas da Net Marketshare2, é possível observar que o sistema

operativo iOS domina mais de metade da quota de mercado dos dispositivos, com

57,08% entre o mês de Janeiro de 2011 e o mês de Janeiro de 2013. Com 19,57%, e

durante o mesmo período de tempo, segue-se o sistema operativo Android.

Restringindo a avaliação dos sistemas operativos exclusivamente aos smartphones,

segundo as estatísticas apresentadas no TechCrunch3, para além dos sistemas

operativos iOS, com 28% de mercado, e Android, com 43%, segue-se o sistema

operativo Blackberry com 18%, e o Windows Phone com 7%. São estes, portanto, os

sistemas operativos mais presentes no mercado dos smartphones.

Porém, aquilo que é relevante para o efeito deste estudo é a linguagem gráfica e

visual das interfaces dos dispositivos por sistema operativo e, dada a coerência de

linguagem, quem estiver familiarizado com o contexto das interfaces computacionais

estará igualmente familiarizado com o contexto das interfaces de dispositivos

móveis, pelo que o sistema operativo mais influente é o iOS. Como refere Manovich:

“in semiotic terms, the computer interface acts as a code which carries cultural messages

in a variety of media. When you use the Internet, everything you access – texts, music,

video, navigable spaces – passes through the interface of the browser and then, in its

turn, the interface of the OS.” (Manovich, 2001:75).

                                                                                                               2 “Mobile/Tablet Operating System Market Share”, disponível em: http://www.netmarketshare.com/operating-system-

market-share.aspx?qprid=8&qpcustomd=1 3 “Android Still Most Popular Smartphone OS, iOS Holds Steady In Second Place”, 3 de Novembro, disponível em:

http://techcrunch.com/2011/11/03/android-still-most-popular-os-ios-holds-steady-in-second-place/

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Em termos visuais a interface do sistema operativo Android é muito semelhante à do

iOS e, como tal, o âmbito deste estudo particular tornava redundante o estudo de ambas

as interfaces. Adicionalmente, considerando que em conjunto somam 76,65% do

mercado e tendo em conta que iOS é o sistema com maior poder de difusão e

influência, exclui-se deste estudo a interface do sistema operativo Android.

Este estudo compreende duas fases. A primeira fase é composta por três testes: o Pré

Teste, o teste Associativo e o teste Comparativo. A segunda fase é composta pelo teste

Cronometrado. Cada teste implica uma amostra de participantes, recolha de dados e

instrumento próprios.

O instrumento designado de Pré-Test4e é um inquérito de reconhecimento e compreensão

visual, que tem como objectivo determinar se as representações visuais dos ícones

correspondem à função da aplicação em questão, de forma a selecionar os ícones mais

facilmente reconhecidos para as fases seguintes do estudo.

Foi realizado a uma amostra de conveniência composta por 16 pessoas, com idade

compreendida entre os 18 e os 30 anos, restringida a habitantes na cidade de Lisboa.

Para a realização do Pré Teste, usou-se a interface do sistema operativo Windows Phone,

dado que os ícones que compõem o menu têm como base os pictogramas. Estes,

aplicados ao contexto de interfaces de telemóveis, são ícones muito simplificados e

utilizados em sistemas de comunicação internacionais (aeroportos e transportes

metropolitanos). Por ser considerada muito próxima de uma linguagem visual universal e

por apresentar uma maior probabilidade de ser entendida por diversas culturas, a interface

do sistema operativo Windows Phone foi portanto a eleita, face aos ícones das interfaces

dos sistemas iOS e Blackberry.

São apresentados 5 ícones de aplicações:

Definições   Mensagens   Calendário   Mapas   Email  

Tab. 1 – Ícones utilizados no Pré-Teste

                                                                                                               4  Um exemplar do inquérito Pré Teste pode ser encontrado no Anexo I

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De entre estes cinco, os três ícones mais corretamente identificados são os que serviram

de base para as fases seguintes, tendo os restantes sido excluídos.

Tijus refere: “levels of contrast between elements, and also content familiarity facilitate

legibility and comprehension” (Tijus et al., 2007:18). Para compreender a facilidade de

perceção dos ícones, realizaram-se dois testes com base na avaliação das características

gráficas de legibilidade.

Os testes Associativo e Comparativo5 são inquéritos de classificação visual que têm como

objetivo determinar o grau de dificuldade de perceção dos ícones de três sistemas

operativos, correspondentes às três aplicações que foram selecionadas na fase anterior.

Os testes foram apresentados a uma amostra de conveniência composta por 10 e 9

designers que exercem a atividade na cidade de Lisboa, respetivamente, considerando que

a sua profissão pressupõe um domínio sobre a literacia visual.

Para o efeito deste estudo, definiram-se duas escalas de características de legibilidade: a

de simplicidade-complexidade e a de abstração-realismo.

Entende-se por simplicidade de um ícone, uma redução de características gráficas que

facilitam o reconhecimento por parte do utilizador (Byrne, 1993), enquanto por

complexidade se entende a acentuação de elementos gráficos que dificultam a perceção

imediata (Koutsourelakis e Chorianopoulos, 2010). De igual modo, por abstração

considera-se o distanciamento entre significado e representação, provocado pela

eliminação de determinados elementos visuais que confere à interpretação um significado

mais ambíguo (Lupton, 1986); e por realismo uma aproximação representativa da

realidade, através de associações mentais de comportamentos ou de funções reais. Gatsou

argumenta que se a abstração for maior, o ícone torna-se menos complexo, o que não é o

mesmo que dizer que a sua perceção é mais fácil: “as the level of abstraction increases,

the sign becomes progressively more generic and less complex” (Gatsou, Politis e

Zevgolis, 2011:706).

                                                                                                               5 Um exemplar dos testes Associativo e Comparativo podem ser encontrados nos Anexos II e III, respetivamente

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Seguindo esta linha de raciocínio, quanto mais simples e mais realista for o ícone, mais

rapidamente se identifica a imagem, da mesma forma que quanto mais abstrato ou mais

complexo for, mais difícil se torna a sua perceção.

Todavia, enquanto o Teste Associativo consiste em classificar individualmente nove

ícones de interfaces de telemóveis, não legendados, pertencendo três a cada um dos

sistemas operativos Windows Phone, iOS e Blackberry, no Teste Comparativo a

avaliação dos mesmos ícones é feita em conjuntos de três, agrupados por função, de

forma a comparar a dificuldade de perceção entre eles.

No Teste Associativo, a avaliação de cada ícone é obtida pela atribuição de um valor

inserido numa escala de 1 a 6, no que toca à sua simplicidade-complexidade e à sua

abstração-realismo, em que 1 corresponde a “Muito Simples” e “Muito Realista” e 6

equivale a “Muito Complexo” e “Muito Abstrato”. Neste caso, as classificações foram

definidas utilizando uma escala par, de modo a que o resultado fosse sempre indicativo de

uma característica ou outra, a fim de obter resultados mais conclusivos sobre uma ou

outra característica.

No Teste Comparativo, como os ícones são avaliados comparativamente em grupos de

três, a escala é de 1 a 3, quanto à sua simplicidade-complexidade e à sua abstração-

realismo visual, em que 1 corresponde a um sistema operativo “Muito Simples” e “Muito

Realista” e 3 equivale a “Muito Complexo” e “Muito Abstrato”.

Por sua vez, o Teste Cronometrado6 é um inquérito de compreensão visual, baseado num

trabalho desenvolvido por Nielsen e Sano em 1994, o qual tem como objetivo observar a

precisão e rapidez de reconhecimento visual, traduzidas no número de respostas corretas

e no tempo de demora da interpretação.

Neste teste participaram duas amostras específicas, ambas constituídas por alunos

finalistas de cursos do Ensino Superior do ano lectivo de 2012/20137, cuja formação

escolar já se encontra mais desenvolvida, pelo que se tornam os mais indicados para

responder ao teste.

                                                                                                               6 Um exemplar do teste Cronometrado pode ser encontrado no Anexo V 7Encontra-se no Anexo IV uma lista de Rankings relativas às posições da Universidade de Lisboa e da Universidade Nova de Lisboa

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Para representar os alunos com frequência de um ensino baseado em disciplinas que

necessariamente estimulam fortemente a literacia visual, foi possível contar com uma

amostra de conveniência composta por 27 alunos do curso de Design de Comunicação da

Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Quanto à amostra de conveniência

equivalente, constituída por pessoas cujo percurso académico não contempla tal estímulo

visual, foi composta por 21 alunos do curso de Direito da Faculdade de Direito, 24 de

Gestão de Informação do Instituto Superior de Estatística e Gestão de Informação, 36 de

Engenharia Informática e 9 do curso de Engenharia Electrotécnica da Faculdade de

Ciências e Tecnologia, todos da Universidade Nova de Lisboa.

As amostras foram definidas com base nos seguintes pré-requisitos:

• Localização geográfica, na medida em que ambas as Universidades estão instaladas na

mesma cidade;

• Reputação das universidades, em função das classificações nos rankings;

• Plano de estudos, em que os componentes de uma das amostras tenham beneficiado de

disciplinas que estimulam a literacia visual e em que os da outra amostra não tenham

frequentado qualquer disciplina que desenvolva essa capacidade; e,

• Grau de escolaridade, tendo presente a necessidade de que estas amostras sejam

constituídas por estudantes com um bom desenvolvimento cognitivo.

A Tabela 2 indica o número de participantes por sistema operativo com os quais estão

familiarizados, por teste:

Windows

Phone Iphone Blackberry Outro Não Sabe Total

Pré-Teste 1 5 2 5 3 16

Teste Associativo 0 3 1 4 2 10

Teste Comparativo 0 2 1 4 2 9

Teste Cronometrado

Belas-Artes 0 3 0 18 6 27

Direito 1 0 4 9 7 21

Gestão de

Informação 0 3 4 11 6 24

Informática 0 3 0 25 8 36

Engenharia

Electrotécnica 1 0 0 7 1 9

Tab. 2: Relação entre indivíduos que responderam a estes testes e Sistemas operativos com os quais estão

familiarizados

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Para estes testes (Associativo, Comparativo e Cronometrado) são apresentados 3 ícones

de aplicações, de três sistemas operativos diferentes:

Windows  Phone        

IPhone        

Blackberry  

   

 

  Definições   Mensagens   Calendário  

Tab. 3 – Ícones utilizados nos testes Associativo e Comparativo

Para facilitar a leitura, a tabela seguinte apresenta as imagens com a identificação

atribuída para o efeito deste estudo:

Ícone              

   

 

Identificação  

atribuída  WP1   WP2   WP3   IP1   IP2   IP3   BB1   BB2   BB3  

Tab. 4 - Identificação de ícones para o efeito deste estudo

Para cada um dos testes, a recolha de dados foi concretizada de forma diferente. No caso

do Pré Teste, este foi realizado presencial e individualmente, de forma a garantir que não

foi feito sob consulta e que a identificação dos ícones não seria prolongada.

Os testes Associativo e Comparativo foram realizados presencialmente, ou, quando tal

não fosse possível, através de e-mail, dado que não existiu a necessidade de fazer

corresponder o significado da função à imagem, nem de cronometrar o teste.

Para o teste Cronometrado nas duas amostras, o exercício foi conduzido presencialmente

por duas pessoas: uma com a função de mostrar as imagens e cronometrar o tempo de

resposta, e outra com a responsabilidade de registar as respostas. Antes da realização do

teste é dada uma explicação do propósito e do contexto. A partir do momento em que o

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ícone é mostrado ao participante até ao momento em que é dada uma resposta verbal final,

o tempo gasto é cronometrado e a sua resposta anotada. Durante a realização do inquérito,

cada imagem ocupava isoladamente uma página e cada sequência era apresentada

aleatoriamente, de maneira a não ser criado nenhum enviesamento intencional ou

involuntário ou inviabilizar as respostas.

Uma comparação entre duas amostras implica que ambas tenham características

cognitivas equivalentes. Dado que existem menos cursos com disciplinas que estimulem

a literacia visual, existe uma discrepância entre o número de indivíduos de uma amostra e

de outra, o que limita e consequentemente influencia os resultados obtidos.

Somente após a análise dos resultados deste estudo é possível concluir que uma

interpretação mais rápida e correta de ícones por parte de uma amostra de pessoas

visualmente estimuladas resulta, não apenas das virtudes de um ícone bem desenhado e

eficaz mas, essencialmente, na demonstração de que o ensino das disciplinas que

estimulam a literacia visual influencia efetivamente a perceção visual.

De forma a analisar até que ponto o fator de familiarização interfere na perceção, em

todas as fases e antes da realização dos testes foi perguntado aos indivíduos participantes

se mantinham contacto ou dispunham de experiência prévia regular com a interface de

qualquer um dos sistemas operativos em causa (iOS, Windows Phone ou Blackberry).

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CAPÍTULO 5 — RESULTADOS

5.1 Análise e discussão de resultados

5.1.1. Pré Teste

Howell e Fuchs (1968) foram os primeiros a determinar os parâmetros dos resultados da

identificação de ícones, catalogando-os em “identificável” (60%-100%), “médio” (30%-

60%) e “vago” (0%-30%). Contudo, dada a ambiguidade dessa classificação, segundo

Piamonte, para serem aceites enquanto ícones eficazes, os resultados terão de ser

analisados de acordo com uma percentagem de reconhecimento definida pela

Organização Internacional de Estandardização (ISO: International Standardization

Organization): “to attain the Organization for International Standardization’s ISO 3864

(ISO, 19848) minimum correct recognition rate of 66.7%” (Piamonte, 2001:402).

Para determinar a percentagem de reconhecimento do ícone, efetua-se um cálculo

aplicando a seguinte fórmula: (Número de respostas corretas / Número de Pessoas) x 100.

Tendo em consideração que, para um ícone ser reconhecido como eficaz, necessita de

obter um mínimo de 66,7% de respostas corretas, através dos seguintes gráficos é

possível determinar quais os três ícones mais fácil e corretamente reconhecidos, de modo

a serem utilizados nas fases seguintes.

Fig. 3: Gráficos relativos à Taxa de Reconhecimento de um ícone, com base nos resultados do Pré-Teste.

                                                                                                               8 International Standards Organization [ISO] (1984), “International Standard For Safety Colours And Safety Signs: ISO 3864”, Geneva, Switzerland.

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5.2.2. Testes Associativo e Comparativo

Considerando que o objectivo dos testes Associativo e Comparativo é determinar uma

escala de dificuldade de perceção visual para cada ícone, é necessário relacionar os

resultados de ambos os testes.

Deste modo, através dos gráficos seguintes, resultantes das respostas ao teste Associativo,

é possível observar a relação entre os dois conjuntos de características, por ícone:

Fig. 4: Gráficos de avaliação dos ícones “Definições”, relativos às características de legibilidade, com base nos

resultados do teste Associativo.

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Fig. 5: Gráficos de avaliação dos ícones “Mensagens”, relativos às características de legibilidade, com base nos

resultados do teste Associativo.

Fig. 6: Gráficos de avaliação dos ícones “Calendário”, relativos às características de legibilidade, com base nos

resultados do teste Associativo.

Os gráficos das Figuras 4, 5 e 6 indicam que para cada ícone existe um conjunto de

resultados relativos à escala de simplicidade-complexidade e outro relativo à abstração-

realismo: para calcular a média de cada conjunto, de forma a saber se um ícone é mais

simples ou mais complexo, mais abstrato ou mais realista, multiplica-se o número de

respostas pela classificação dada a cada categorização e divide-se pelo número de

participantes. Considerando que no teste Associativo participaram 10 indivíduos e que

“Muito Simples” e “Muito Realista” equivale a 1 e “Muito Complexo” e “Muito

Abstrato” a 6, o resultado vai incidir na categorização que equivale à classificação média

do ícone.

Quanto menor for o resultado, mais simples e/ou realista é considerado o ícone, do

mesmo modo que quanto maior for, mais complexo e/ou abstrato é.

Com base na média dos resultados, e através da observação dos gráficos, é possível

afirmar que, no que respeita às características de simplicidade/complexidade, todos os

ícones são considerados como simples de percecionar.

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Por outro lado, na vertente de abstração-realismo, não se deteta a mesma coerência:

enquanto os ícones WP1, BB1, WP2, IP2 e WP3 aparentam ser mais abstratos, os ícones

IP1, BB2, IP3 e BB3 mostram-se mais realistas, o que, por se assemelharem à realidade,

parece evidenciar que são mais fáceis de percecionar.

A partir dos resultados de ambas as escalas do teste Associativo, calculou-se a média de

forma a simplificar os resultados, categorizando cada ícone em “Fácil”, “Intermédio” ou

“Difícil” de percecionar, por funcionalidade. Deste modo é possível saber quais os ícones

mais fáceis e quais os mais difíceis de percecionar.

Fig. 7: Simplificação baseada na média dos resultados do teste Associativo

Neste caso, os resultados são categorizados como “Fácil”, “Intermédio” e “Difícil” por

comparação entre os ícones da mesma funcionalidade, isto é, o ícone com a média mais

baixa dentro da mesma funcionalidade equivale ao ícone mais “Fácil” de percecionar, o

que tiver a média mais alta é categorizado como “Difícil” de percecionar e o restante

ícone é considerado “Intermédio”.

Todavia, a partir dos resultados, relativos às respostas do teste Comparativo, é possível

observar a relação entre as duas escalas de características e comparar a dificuldade de

perceção entre cada sistema operativo, por funcionalidade:

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Fig. 8: Gráficos de avaliação comparativa dos ícones “Definições”, relativos às características de legibilidade

Fig. 9: Gráficos de avaliação comparativa dos ícones “Mensagens”, relativos às características de legibilidade

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Fig. 10: Gráficos de avaliação comparativa dos ícones “Calendário”, relativos às características de legibilidade

Para o teste Comparativo, calcularam-se as médias tendo em conta que participaram 9

indivíduos e que “Muito Simples/” equivale a 1 e “Muito Complexo” a 3. Neste caso, o

ícone que apresentar um resultado mais aproximado de 1 é considerado simples/realista e

o que apresentar um resultado mais aproximado ao 3 é considerado complexo/abstrato.

Os resultados que incidirem no valor 2 são considerados “intermédios”.

Através da observação dos gráficos e da média dos resultados, é possível afirmar que

apenas os ícones WP1, IP1 e BB1 apresentam resultados díspares entre ambas as escalas

de características. Enquanto os ícone WP1 e BB1 parecem evidenciar serem mais fáceis

de percecionar e o ícone IP1 mais difícil, os ícones relativos às funções “Mensagens” e

“Calendário” são apreciados como “intermédios” seja quanto à sua simplicidade-

complexidade ou à sua abstração-realismo.

Para se compreender qual o ícone mais fácil e o mais difícil de percepcionar dos três,

calcularam-se as médias dos resultados de ambas as escalas, categorizando cada ícone em

“Fácil”, “Intermédio” ou “Difícil” de percecionar, por funcionalidade.

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Fig. 11: Simplificação baseada na média dos resultados do teste Comparativo

Tendo em consideração que a fase posterior consiste em estudar a interpretação de cada

ícone individualmente, e que o Teste Comparativo foi realizado com o propósito de ser

um comprovativo dos resultados do Teste Associativo, é necessário relacionar as

avaliações de ambos os testes, de forma a criar uma única escala de perceção. Para tal,

calculou-se a média entre os resultados finais de ambos os testes:

Fig. 12: Escala de Perceção com base na relação dos resultados dos testes Associativo e Comparativo

5.1.3. Teste Cronometrado

Com os testes Cronometrados,9 pretende-se comparar a capacidade de percepção visual

entre duas amostras. De forma a facilitar a comparação, para o efeito deste estudo

determina-se por “Amostra A” o conjunto de indivíduos que no seu currículo escolar

frequentaram disciplinas que estimulam a literacia visual e por “Amostra B” o conjunto

de indivíduos em situação oposta.

Dado que este teste foi cronometrado, comparam-se as respostas de ambas as amostras

em função do resultado obtido em duas variáveis: a veracidade/precisão da resposta e a

média de tempo de reação da mesma.

                                                                                                               9 Ver pág. 28 deste estudo.

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Com esta análise, e através do gráfico seguinte, é possível observar que (com exceção

dos ícones IP1, BB1 e BB2 que demonstram que a “Amostra A” apresenta um número

inferior de respostas corretas que a “Amostra B”), a “Amostra A” evidencia responder

mais acertadamente que a “Amostra B”, por ícone.

Fig. 13: Resultados de cada amostra por ícone, com base nos resultados do teste Cronometrado.

Tendo como base a ideia de que quanto maior o número de respostas corretas obtiver um

ícone, menor é a dificuldade na sua percepção, tal facto é comprovado pela figura, não só

por amostra individual como colectivamente.

A maior dificuldade de perceção entre uma amostra e outra é particularmente visível nos

casos do ícone IP2, em que a “Amostra B” apresenta quase o dobro de respostas

incorretas que a “Amostra A”, e nos ícones IP3 e BB3, na medida em a “Amostra A” não

exibe sequer respostas incorretas.

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Paralelamente, avaliam-se as médias de tempo de resposta por ícone, de modo a constatar

qual das duas amostras é mais demorada nessa ação. Se a “Amostra A” for mais rápida a

responder do que a “Amostra B”, demonstra ser mais eficiente.

Fig. 14: Média de tempo de cada amostra por ícone, com base nos resultados do teste Cronometrado.

Como se pode observar, os gráficos da Figura 14 demonstram, de um modo geral, que a

“Amostra B” demorou, em média, mais tempo a responder do que a “Amostra A”, o que

parece indicar uma maior dificuldade de perceção da sua parte.

Nos gráficos da Figura 14 é notória a eficácia da “Amostra A”, considerando que a

“Amostra B” nunca gerou médias de tempo inferiores às daquela, de forma relevante,

visto que ou foram iguais (como acontece com os ícones BB2, IP3 e BB3) ou superiores.

A partir das Figuras 13 e 14 é possível comparar a perceção dos ícones com a escala de

perceção estabelecida nas fases anteriores. Pretende-se com o resultado dessa análise

concluir que quanto maior for a percentagem coletiva de respostas incorretas de um ícone

e a sua média de tempo de reação, maior é a sua dificuldade de perceção.

Relacionando os resultados do teste Cronometrado de ambas as amostras, é possível

estabelecer a escala de perceção que se segue, com base numa experiência real. Para a

definir, é necessário estabelecer uma escala de perceção com base nas respostas do teste

Cronometrado por ícone, uma escala de perceção com base na média de tempo de reação

por ícone, e relacioná-las.

Para a escala de perceção a partir dos resultados do teste Cronometrado, calculou-se a

média de percentagem de respostas corretas de um ícone, dividindo por 2 (amostras).

Quanto maior for o resultado da média, mais fácil de percecionar o ícone é considerado.

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Para estabelecer a escala de perceção a partir do tempo de reação, calcularam-se as

médias de tempo de ambas as amostras, para assim definir uma média de tempo de reação

por ícone.

Para as duas escalas de perceção, e comparando os ícones dentro da mesma

funcionalidade, categorizou-se o ícone com o resultado mais baixo como “Fácil” de

percecionar, com o resultado mais elevado por “Difícil”, deixando o resultado do meio

como “Intermédio”.

A seguinte escala de perceção é resultado da relação entre as escalas de perceção com

base nas respostas corretas e no tempo de reação do teste Cronometrado:

Fig. 15: Escala de Perceção definida com base nos resultados e tempo de reação do teste Cronometrado.

Com base na Figura 16, é possível relacionar ambos os resultados, de forma a concluir se

a escala de perceção criada a partir das avaliações efetivadas por profissionais (designers)

corresponde à realidade no que toca a dificuldade de perceção:

Fig. 16: Relação entre a Escala de Perceção com base nos resultados do teste Cronometrado com a Escala de

Perceção previamente estabelecida.

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5.2. Análise e discussão de resultados: Familiarização

5.2.1 Pré Teste

Este estudo tem como objetivo analisar a hipótese de que uma maior literacia visual

influencia a perceção visual e, ainda, se a familiarização é um factor que interfere nesse

processo.

Com esse fim, analisa-se a relação entre o Sistema Operativo com o qual o indivíduo está

familiarizado e o número de respostas corretas, de forma a considerar o impacto do fator

de familiarização na perceção visual.

Para observar a relação de familiarização com base nas respostas do Pré Teste, foca-se a

atenção nas respostas dadas pelos indivíduos que não estão familiarizados com o sistema

operativo em causa. Neste caso, são os indivíduos correspondentes a “iOS”,

“Blackberry”, “Outro” e “Não Sabe”.

Fig. 17: Relação entre a familiarização com os Sistemas Operativos e as respostas do Pré-Teste.

A Figura 17 demonstra a relação entre respostas corretas e incorretas e os sistemas

operativos com os quais os indivíduos que responderam ao Pré Teste estão

familiarizados.

Através da observação dos gráficos da Figura 17, é possível analisar que todos os

indivíduos apresentam respostas corretas. Concretamente em relação ao ícone WP1, os

resultados aparentam demonstrar que, quer exista ou não uma prévia familiarização com

a interface, esse ícone é eficaz.

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Porém, enquanto as respostas incorretas são dadas pelos indivíduos cuja familiarização é

inexistente ou escassa face ao sistema operativo ou ao contexto das interfaces de

telemóveis, aquele que está familiarizados com o sistema operativo em causa (Windows

Phone) não apresenta respostas incorretas em nenhum dos ícones.

5.2.2 Testes Associativo e Comparativo

Para os testes Associativo, Comparativo e Cronometrado, exibe-se mais do que um tipo

de sistema operativo. Para um melhor entendimento dos gráficos, entende-se por

“indivíduos não familiarizados” aqueles que não estão familiarizados com nenhum dos

sistemas operativos expostos no teste — “Outro”— e os que não estão familiarizados

com qualquer interface de um smartphone — “Não Sabe” — na medida em que não

possuem um. Os restantes indivíduos — Windows Phone, iOS e Blackberry — estão

familiarizados com pelo menos um dos sistemas operativos expostos.

A Figura 18 mostra a relação entre as respostas dadas e o sistema operativo com os quais

os indivíduos que responderam ao teste Associativo estão familiarizados.

Fig. 18: Relação entre os Sistemas Operativos e as respostas dadas aos ícones WP1, IP1 e BB1, com base nas respostas

do teste Associativo.

Com base na observação dos gráficos, analisam-se as respostas dadas pelos indivíduos

que estão familiarizados com o sistema operativo em causa e por aqueles que não estão

familiarizados.

Considera-se a familiarização um fator importante na perceção, se quem estiver

familiarizado com o ícone da interface em causa avaliar o ícone em muito simples e

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realista, e se aqueles que não estiverem familiarizados o considerarem mais complexo e

abstrato.

A análise dos gráficos da Figura 18 sugere que os indivíduos que não estão previamente

familiarizados consideram os ícones mais complexos do que os restantes indivíduos das

amostras.

Fig. 19: Relação entre os Sistemas Operativos e as respostas dadas aos ícones WP2, IP2 e BB2, com base nas respostas

do teste Associativo.

A Figura 19 indica que todos os indivíduos não familiarizados com a interface do sistema

operativo Windows Phone consideram o ícone do sistema operativo em causa mais

complexos e abstratos. Na mesma linha de raciocínio, o ícone do sistema operativo

Blackberry, embora seja classificado como “muito simples” pelos indivíduos

familiarizados com outras interfaces, é qualificado como abstrato por todos aqueles que

não estão familiarizados com a interface, ao invés daqueles que estão familiarizados,

dado que o avaliam como muito simples e muito realista.

Fig. 20: Relação entre os Sistemas Operativos e as respostas dadas aos ícones WP3, IP3 e BB3, com base nas respostas

do teste Associativo.

No entanto, no Gráfico da Figura 20, ao contrário do que seria de esperar, os que estão

familiarizados com a interface do sistema operativo iOS são os únicos que consideram o

ícone IP3 algo abstrato. Ainda assim, os que não são conhecedores (“Não Sabe”) são os

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únicos que o consideram complexo, o que pode indiciar um ícone pouco eficaz e difícil

de percecionar.

Com os dados do teste Comparativo, é possível observar a mesma relação de

familiarização.

Fig. 21: Relação entre os Sistemas Operativos e as respostas dadas aos ícones WP1, IP1 e BB1, com base nas respostas

do teste Comparativo.

A Figura 21 é indicativa de que os indivíduos que estão familiarizados com a interface do

sistema operativo Blackberry são os únicos que consideram o ícone BB1 como o mais

realista e simples. Do mesmo modo, em relação ao ícone IP1, os únicos que não o

consideram um ícone complexo são os que estão familiarizados com a interface desse

mesmo ícone.

No caso dos ícones IP1 e BB1, os indivíduos que não estão familiarizados consideraram-

nos mais complexos e, no caso do ícone IP1, mais abstrato, comparativamente aos

indivíduos que estão familiarizados com esses sistemas operativos.

Fig. 22: Relação entre os Sistemas Operativos e as respostas dadas aos ícones WP2, IP2 e BB2, com base nas respostas

do teste Comparativo.

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A Figura 22 explicita a influência do fator de familiarização, na medida em que os

indivíduos que estão familiarizados com a interface do sistema operativo Blackberry são

os que consideram o ícone BB2 como o mais simples, enquanto os restantes o consideram

um ícone complexo.

O mesmo sucede com o ícone IP2, dado que os indivíduos que não estão familiarizados

com os ícones são os únicos que o consideram complexo.

Fig. 23: Relação entre os Sistemas Operativos e as respostas dadas aos ícones WP3, IP3 e BB3, com base nas respostas

do teste Comparativo.

A Figura 23 é indicativa de que todos os indivíduos para além dos que estão

familiarizados com o sistema operativo iOS consideram o ícone IP3 complexo — uma

ideia reforçada por aqueles que não estão familiarizados com nenhuma interface ou que

não possuem um smartphone (“Outro” e “Não Sabe”) e que são os únicos que o

consideram abstrato. Do mesmo modo, somente aqueles que estão familiarizados com a

interface do Blackberry é que não consideram o ícone BB3 complexo.

5.2.3 Teste Cronometrado

Para observar a relação de familiarização com base nas respostas do teste Cronometrado,

foca-se a atenção nas respostas dadas quer pelos indivíduos que não estão familiarizados

com o sistema operativo em causa (na medida em que deverão considerar o ícone mais

complexo e/ou abstrato), quer por aqueles que estão familiarizados com a interface em

causa, pelo que deverão classificar o ícone como simples e/ou realista.

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Os gráficos das Figuras 24, 25 e 26 mostram a relação entre as respostas dadas por

sistema operativo de ambas as amostras que responderam ao teste Cronometrado. De

forma a saber de que modo cada sistema operativo induziu uma resposta mais ou menos

correta, as percentagens expostas são por Sistema Operativo10. Deste modo, é mais

visível a comparação das respostas entre as amostras.

Fig. 24: Relação entre a familiarização com os sistemas operativos e as respostas do teste Cronometrado em relação

aos ícones WP1, IP1 e BB1.

Através da observação dos gráficos da Figura 24, os resultados parecem demonstrar que

os indivíduos familiarizados com o sistema operativo em causa exibem respostas 100%

corretas , com a exceção do ícone BB1, em que os indivíduos familiarizados com o

sistema operativo Blackberry apenas acertaram em 50%.

Por outro lado, aqueles que não estão familiarizados com qualquer sistema operativo

apresentam respostas incorretas nos três ícones.

                                                                                                               10 Encontra-se no Anexo VI uma outra forma de visualização da relação entre a Familiarização por Respostas do Teste Cronometrado, por % do Total, que mostra os mesmos resultados em que, a soma de respostas incorretas com as corretas, por amostra, dá 100%.

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Fig. 25: Relação entre a familiarização com os sistemas operativos e as respostas do teste Cronometrado em relação

aos ícones WP2, IP2 e BB2.

No ícone WP2, existe uma grande amplitude de respostas corretas ou incorretas, tendo

em conta que o conjunto de respostas relativas ao sistema operativo Windows Phone é

composto por 2 indivíduos, exclusivos da “Amostra B”. No entanto, é visível que aqueles

que não estão familiarizados com a interface apresentam sempre respostas incorretas. O

mesmo sucede com o ícone BB2: para além dos que estão familiarizados com a interface,

composto por 4 elementos, os indivíduos que não estão familiarizados obtiveram

respostas incorretas, com a exceção do grupo “Não Sabe” da “Amostra A”, que

respondeu sempre acertadamente.

Com o ícone IP2, os que estão familiarizados com o ícone obtiveram 100% e os restantes

apresentam respostas incorretas, nomeadamente por parte da “Amostra B”.

Fig. 26: Relação entre a familiarização com os sistemas operativos e as respostas do teste Cronometrado em relação

aos ícones WP3, IP3 e BB3.

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Os gráficos da Figura 26 são indicativos de que os indivíduos com prévia familiarização

com o sistema operativo em causa obtiveram respostas acertadas a 100% nos três ícones.

Para além disso, no ícone WP3, os que não estão familiarizados apresentam sempre uma

percentagem de respostas incorretas, e nos ícones IP3 e BB3 apenas a “Amostra B”

mostra resultados incorretos, face à “Amostra A”, que respondeu sempre corretamente.

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PARTE IV ≠ CONCLUSÕES

CAPÍTULO 6 ≠ Conclusões e Recomendações

6.1. O factor de familiarização influencia a perceção visual?

Com o propósito de compreender se a familiarização influencia a perceção visual,

estudou-se a relação entre os resultados dos testes Associativo, Comparativo e

Cronometrado e os sistemas operativos com os quais os indivíduos que responderam aos

testes estão familiarizados.

A partir dos resultados dos testes Associativo e Comparativo, analisaram-se as respostas

de cada ícone por sistema operativo. Para comprovar que a familiarização é um fator que

influência a perceção observa-se, a partir das Figuras 18, 19, 20, 21, 22 e 33, a relação

entre os indivíduos familiarizados com o sistema operativo correspondente ao ícone e que

o classificam como mais simples e/ou realista do que complexo e/ou abstrato, face aos

restantes indivíduos, do mesmo modo quando os que não estão familiarizados com o

sistema operativo em causa o classificam como mais complexo e/ou abstrato.

Com base na observação das Figuras 18, 19 e 20, relativas ao teste Associativo, os

indivíduos que não estão familiarizados consideram os ícones mais complexos do que os

restantes indivíduos das amostras. Com o ícone BB1, quem o avalia como mais abstrato e

mais complexo, são aqueles que estão familiarizados com outro sistema operativo que

não o em causa, o que é um indicativo do fator de familiarização.

As Figuras 20, 21 e 22 são mais demonstrativas da influência do factor de familiarização,

na medida em que os indivíduos que não estão familiarizados com a interface consideram

os ícones do sistema operativo em causa mais complexos e abstratos, ao invés dos que

estão familiarizados, que os avaliam como muito simples e muito realistas, o que aponta,

de igual forma, para a importância do fator de familiarização.

Relativamente aos resultados do teste Cronometrado, as Figuras 24, 25 e 26 indicam que

a familiarização é um agente influente, na medida em que aqueles que não estão

familiarizados com qualquer um dos sistemas operativos presentes — “Outro” e “Não

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Sabe” — apresenta com maior frequência respostas erradas, ao invés dos que estão

familiarizados, os quais, tanto na “Amostra A” como na “Amostra B” demonstram

percentagens maiores de respostas corretas.

Tendo como base as premissas acima referidas, decorrentes dos resultados dos vários

testes, é possível chegar a uma conclusão acerca da influência do fator de familiarização

na perceção visual. Esta influência é visível nos indivíduos que não estão familiarizados

quer com a interface do sistema operativo em causa, quer com o contexto das interfaces

de smartphones, na medida em que são quem mais apresenta respostas incorretas.

6.2. A literacia visual influencia a descodificação de ícones?

Conforme o anteriormente exposto, a comunicação visual depende de vários fatores. Em

resultado disso, uma mensagem pode dar origem a uma polissemia de significados, o que

torna a perceção da comunicação visual um ato subjetivo.

Gatsou afirma: “the nature of visual perception is obviously a crucial factor in the

design of effective graphics and an understanding of perception can significantly improve

both” (Gatsou, Politis e Zevgolis, 2012:94).

Sustentado no trabalho concretizado por Gatsou, Politis e Zevgolis, pretende-se, com

este estudo exploratório, sublinhar a importância da literacia visual nas disciplinas não

restringidas aos cursos de arte, de modo a que o ensino escolar reconheça a importância

que o estímulo da literacia visual tem na compreensão de mensagens visuais.

A partir de um teste cronometrado de reconhecimento de ícones, comparam-se respostas

entre duas amostras distintas, — uma, constituída por indivíduos beneficiando de literacia

visual estimulada, e outra, composta por indivíduos que não foram submetidos ao mesmo

estímulo — considerando duas variáveis essenciais: a precisão/veracidade da resposta e a

média de tempo de reação da mesma.

Tendo como fundamento o princípio de que, quanto menor for o tempo de reação e maior

o número de respostas corretas obtido por um ícone, tal significa uma também maior

facilidade na sua percepção, conclui-se com base nos gráficos da Figura 13 e 14 que a

literacia visual permite interpretar a comunicação visual de forma mais eficiente, na

medida em que a “Amostra A” mostrou resultados mais rápidos, assim como um maior

número de respostas mais corretas que a “Amostra B”.

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A análise dos gráficos da Figura 14, relativos à média de tempo de reação por ícone,

revela que a “Amostra B” apresenta um tempo de reação média de 3,6458 segundos, que

é maior que o tempo médio de reação da “Amostra A” de 3,1992 segundos.

Resta saber se esta perceção vai de encontro à escala previamente estabelecida nos testes

Associativo e Comparativo. Através da análise dos gráficos das Figuras 15 e 16, é

possível concluir que a Escala de Perceção previamente definida corresponde à realidade,

nos ícones BB1, WP2 que, com base nos resultados do teste Cronometrado, são

considerados ícones difíceis de percecionar e o ícone IP3, como intermédio. Os restantes

ícones, com a exceção dos ícones IP3 e BB3, são relativamente fáceis de percecionar.

Com base nestes resultados, é possível concluir que a literacia visual beneficia a perceção

visual, dado que a “Amostra A” teve menos dificuldade em percecionar os ícones, o que é

explicado pela sua maior literacia visual, do que a “Amostra B”, quer quanto à precisão,

quer quanto ao tempo de reação, que se mostra ser inferior, revelando-se assim mais

eficiente.

6.3. Recomendações e Limitações

Neste estudo foi aprofundada a questão de reconhecimento e familiarização visual com

interfaces de dispositivos móveis.

A principal limitação na realização desta investigação deve-se não só ao número reduzido

de indivíduos das amostras em cada fase, como à discrepância entre os números das duas

amostras, uma formada por um grupo cuja literacia visual foi estimulada (Amostra A) e

outra formada por um grupo cuja literacia visual não foi estimulada no ensino (Amostra

B), facto que se deve sobretudo à dificuldade em encontrar um ambiente comum a ambos

os grupos, em que ambos tenham sido sujeitos às mesmas condições, ao mesmo tipo de

ensino e a uma exigência idêntica, de modo a ser possível o tratamento de amostras

homogéneas, equivalentes e, consequentemente, escrupulosamente equiparáveis.

No entanto, e apesar destas limitações, foi possível levar a cabo a investigação e dela

retirar conclusões para o futuro do ensino, com influência numa área tão importante como

é a da literacia visual. O facto demonstrado de que as disciplinas que estimulam a

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Literacia Visual obtêm melhores resultados nos domínios da descodificação e da

compreensão visual, demonstra a necessidade da introdução de matérias mais visuais nas

várias disciplinas do ensino.

Para futuros estudos complementares a esta investigação, sugere-se que este trabalho seja

desenvolvido noutros contextos para além dos ícones de interfaces de telemóveis, de

modo a aplicar este método experimental a outros domínios visuais, sejam estes

analógicos ou digitais, tendo em vista aproximar a sociedade à cultura tecnológica. Dado

que esta se tem vindo a tornar cada vez mais digital e visual, sugere-se ainda a aplicação

deste método, no trabalho aqui apresentado, na construção de novos modelos de

comunicação visual, mais concisos e eficientes, dirigidos a uma audiência não restringida

ao âmbito académico.

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