Versão para adultos - hbjunior19.files.wordpress.com · alimento certo, ou o abrigo mais adequado para construírem seus ninhos. ... como fazem os animais, na maioria das vezes,

Projeto Abelhas Nativas2

São Luís - 2005

Versão para adultos

Versão para adultos 3

Expediente

Projeto Abelhas NativasAprendendo com as abelhasVersão para adultosVol 1 – Outubro de 2005

TextosMurilo Sérgio Drummond (Biólogo)Lenira de Melo Lacerda (Bióloga)

RevisãoJoão Otávio Malheiros

Projeto gráficowww.joacyjamys.com.br

IlustraçõesIvan Veras e Joacy Jamys

Publicação do Projeto Abelhas NativasRua Sete, Quadra I, Casa 01Jd Bela Vista - CEP 65.073-200São Luís/MASite: www.amavida.org.br/pan.htmE-mail: [email protected]

O Projeto Abelhas Nativas, sob a Co-ordenação-Executiva da AsociaçãoMaranhense para a Conservação da Na-tureza (AMAVIDA) e Coordenação Téc-nico-Científica da Universidade Federal doMaranhão (UFMA), é dividido atualmentepelas seguintes seções territoriais regio-nais: São Luís/Maracanã, Nordeste/Maranhão, Lençóis/Delta Parnaíba eMiritiba (os dois últimos em fase de pré-implantação).

O projeto é detentor de dois prêmiosnacionais: Prêmio Ambiental von Martius- 2003 (2º lugar na categoria Natureza)e Prêmio Ford de Conservação Ambiental- 2004 (Categoria Negócios emConvervação). Em 2005 recebeu o Certi-ficado de Tecnologia Social da FundaçãoBanco do Brasil.

1 - Apoiado pela Alumar.2 - Apoiado pela Comercial e Agrícola Paineiras

LTDA e pelo Programa Pequenos ProjetosEcossociais (PPP-ECOS) do Fundo Para o MeioAmbiente Mundial (GEF) por meio do Programadas Nações Unidas para o Desenvolvimento(PNUD) e sob a Coordenação do Instituto Socie-dade, População e Natureza (ISPN).


Apresentação

Olá, Amigo!

A criação de abelhas nativas é uma alternativa de trabalho e renda que poderá proporci-onar mais qualidade de vida à você e sua família. É, ainda, uma atividade que pode trazermuitos benefícios para a sua comunidade, promovendo o desenvolvimento local. E o que émuito impotante: tudo isso ajudando a preservar o meio ambiente.

O Projeto Abelhas Bativas, desenvolvido pela Amavida, com o apoio da Alumar e aparceria com outras instituições, irá dar a orientação necessária para que você caminhe osprimeiro passos rumo não só a essa nova e lucrativa atividade, mas a uma visão de mundoe da natureza mais completa, mais rica. Como a sua nova vida.

Para isso você e sua comunidade podem fazer como fazem as abelhas: se organizar.

Boa sorte e...mão ao mel!

Nilson Pereira SouzaDiretor do Alumar


O mundo das abelhas01

Você, quase comcerteza, já deve ter sidoapresentado a umrepresentante desse povo.Afinal quem não teve odesprazer de levar aquelaferroada dolorida quando,ainda criança, resolveusurrupiar uma fruta do quintaldo vizinho e teve que sair correndo em desabalada carreira, rogando cobrase lagartos ao proprietário do terreno, isento de todas as culpas, coitado...

Embora sejam pequenininhas, as abelhas ocupam um mundo tão vastocomo o nosso. São aproximadamente 25.000 espécies, ocupando quasetodos os continentes conhecidos, com exceção das terras geladas dos pólos.Nestes continentes, existem muitos tipos de abelhas: amarelas, verdes,azuis, laranjas, pretas... Podem ser bem pequenas, como mosquitinhos, oubem grandes, como os besouros. Algumas têm ferrão, outras não. Umasvivem sozinhas, outras em grupos.


As nossas abelhas(abelhas nativas)

Embora existam diferentes tipos de abelha, elas não vivem todas nosmesmos lugares. Há abelhas que existem no Brasil que não têm condiçõesde viver na França; ou que existem no Maranhão e não têm condições deviver em São Paulo; ou que existem na mata em São Luís e que não têmcondições de viver na mata do Pará.

Cada espécie de abelha tem um lugar certo para viver. E é nesse lugarque elas geralmente vivem melhor, porque é ali que, naturalmente, obtêm oalimento certo, ou o abrigo mais adequado para construírem seus ninhos.Estas abelhas são chamadas de abelhas nativas.

Então, a tiúba é uma abelha nativa do Maranhão e regiões do Tocantins,Pará e Piauí, mas não é nativa de outras regiões do Brasil, pois não ocorrenaturalmente nesses locais. A mandaçaia é uma abelha nativa de SãoPaulo, Minas Gerais e Paraná, mas não é nativa do Maranhão. A abelhacom ferrão que você conhece como européia, ou italiana, ou africanizada,é resultado do cruzamento de duas variedades de abelhas que não sãonativas do Brasil (que são chamadas de exóticas). Elas são nativas daEuropa e África.

Dentre as nativas daqui temos muitas espécies. Sabe quais são?

02


O que são as abelhas?

As abelhas são insetos que pertencem a um grupo que os cientistasdenominam de Hymenoptera, onde estão também as formigas e asvespas (ou marimbondos).

Todos os insetos Hymenoptera são constituídos por dois pares de asasmembranosas (finas e transparentes), três pares de patas, um par deantenas e tem o abdômen (barriga) separado do tronco (costas) por umaconstrição (ou umestreitamento longo chamadopedúnculo).

Existem dois grupos deabelhas: as que vivem sozinhas,ou seja constróem seus ninhos ealimentam suas crias sem a ajudade outra abelha; e as que vivemem grupo, ou socialmente, eportanto, pelo menos alimentamsuas crias com a ajuda de outrasabelhas.

03


A grande maioria das espécies de abelhas no mundo (95%) , e no Brasil,são solitárias. São abelhas que têm condições de viver sozinhas. Nãodependem de outras abelhas para reproduzir, para cuidar da cria ou sealimentar.

As 5% de espécies restantes, como mantêm algum tipo de relação emgrupo, possuem dois tipos de abelhas que denominamos de castas. Temosa casta rainha, responsável pela produção de cria, e a casta operária,responsável, pelo cuidado e manutenção do ninho. Uma casta não vive sema outra. Elas se completam.


Para que servem as abelhas?

As abelhas desempenham um importante papel nas nossas vidas. Para asplantas, elas fazem o papel de cupido, o deus mitológico do amor, queparecendo uma criança, com asas de anjo e arco e flecha, provoca osnamoros e casamentos.

Isto porque como as plantas não se locomovem, não podendo cruzarcomo fazem os animais, na maioria das vezes, são as abelhas que fazemcom que elas possam juntar seus fluidos para gerar novos filhos.

Isto é feito quando uma abelha ficaimpregnada de grãos de pólen e,visitando uma flor, os transfere para ela,e pode ser pólen da mesma planta oude outra planta.

Chamamos este processo depolinização e as abelhas depolinizadoras. Estes grãos de pólenentão vão fecundar esta flor, gerando umnovo fruto, dentro do qual haverásementes para continuar a vida dos pais.

04


Cerca de 70% das plantas produzem frutos com sementes férteis graçasàs abelhas. As 30% restantes dependem de pássaros como os beija-flores epapagaios, insetos como mariposas e besouros, mamíferos como osmorcegos, do vento, etc.

Sem as abelhas, a grande maioria das plantas não se manteria noplaneta Terra.

E por que as abelhas visitam as flores? Nas flores as abelhas obtêm doistipos de alimentos essenciais para elas: os grãos de pólen, que são fontesde proteínas, e que são utilizados para alimentar suas crias durante odesenvolvimento juvenil (larval) e o néctar, uma substância açucarada, queé fonte de energia e pela qual as abelhas produzem o mel.

Como já vimos, é por meio do pólen que as plantas transferem seusfluidos para outras plantas.

Quanto ao néctar, sua produção é uma estratégia das plantas para atrairos polinizadores. As abelhas, atraídas pela substância açucarada, acabampor se impregnar do pólen da flor que é transferido para outras floresenquanto esta continua sua visita diária de flor em flor para a coleta demais pólen ou néctar.

As abelhas são responsáveis pela manutenção da integridade deecossistemas inteiros e pelos ciclos dinâmicos da vida. Sem as abelhas nãohaveriam frutos, nem sementes, nem plantas, nem animais que delasdependem. E muito menos nós.


Como podemos nos beneficiarfazendo uso das abelhas?

Assim como as abelhas fazem bom uso das plantas, nós tambémpodemos fazer o mesmo com relação a elas. Existem basicamente cincoprodutos disponibilizados pelas abelhas que são úteis para nós. Quatros sãode utilidade direta para o homem que é o mel, a cera, o pólen e aprópolis. O outro produto não podemos ver com tanta facilidade mas é deutilidade indireta. É o serviço de polinização das plantas.

05


Dos quatro de uso direto, o mel é produto da transformação do néctardas flores, a cera é produzida por glândulas nas próprias abelhas, o pólen écoletado das flores e a própolis é produto de resina coletada em algumasplantas. Todos, portanto, são produtos que dependem das plantas.

Como produto de uso indireto, a polinização é essencial para nossosjardins, nossas lavouras, nossos pomares, nossos campos e nossas matas; épor ela que as plantas nos dão os grãos, sementes e frutos, enfim nossoalimento, seja para quem mora no campo, seja para quem mora na cidade.

Um trabalho combinado de produção de mel, cera, pólen e própolis, pormeio da criação de abelhas nativas, e a resultante produção de frutos esementes e/ou reprodução das plantas, estimuladas pela polinização, é umaforma racional de potencializar o uso dos recursos naturais a nósdisponibilizados pela natureza.


Como vivem as abelhas(sociedade)?

Como já vimos, os indivíduos de cerca de 5% das espécies de abelhasvivem em grupos que denominamos de sociedade ou colônias. Existemdiferentes tipos de sociedades, assim como nós também temos diferentestipos de organização.

As sociedades mais complexas dasabelhas possuem uma abelharainha que é responsável pelapostura dos ovos, e várias abelhasoperárias que são responsáveis pelamanutenção, defesa e cuidado dacolônia. Rainha e operária são tiposde castas e estas são do sexofeminino. Os indivíduos do sexomasculino, que são popularmenteconhecidos como zangões, não sãoum tipo de casta e não fazem partedo dia a dia da atividade da colônia,desempenhando mais a função de

06


reproduzir com a rainha, em determinadas épocas do ano.

Estas colônias de abelhas vivem de diferentes formas, e podem,dependendo da espécie, viver em ocos de árvores, debaixo da terra, emcavidades de paredes, em moirões de cerca. Podem também fazer ninhosem galhos de árvores constituídos de barro ou fezes de animais.

As operárias, também podem ter diferentes tipos de funções, que sãodesempenhadas em idades específicas da vida da abelha. As abelhas maisjovens trabalham mais na região de cuidado das crias e as mais velhas,mais experientes, trabalham mais nas atividades de coleta de alimento, nocampo.


Temos algo em comumcom as abelhas?

A primeira coisa que nos chama atenção nas abelhas é o fato de que,como nós, elas também vivem em sociedade. Neste ponto somos muitoparecidos. Embora não tenhamos uma rainha que produza nossos filhos efilhas enquanto nós, operárias e operários, cuidamos do ninho, obedecemosalgumas regras que ditam as nossas condutas perante os demais membrosde nosso grupo.

Assim como as abelhas, não fazemos as coisas ao nosso gosto, pensandoapenas em nós mesmos, tipo “não tô nem aí”, sem olhar as conseqüênciasde nossos atos.

Se as coisas funcionam como uma sociedade, é porque existem normasque ditam como devemos nos comportar. E tudo que nós fazemos produzreflexos no conjunto da sociedade. O sucesso da sociedade das abelhas estáexatamente aí. Todas as peças se encaixam. Com isto a colônia cresce e sedesenvolve.

07


Porque é bom viver assim,porque é ruim?

Podemos agora fazer um esforço de pensamento para verificarmos quaissão as vantagens e as desvantagens de se viver em uma sociedade, paraentendermos porque nós e as abelhas vivemos assim. Enumere, no quadroa seguir, na esquerda as vantagens e na direita as desvantagens de se viverem sociedade. Como ficou o placar? O que existe mais? vantagens oudesvantagens de se viver em sociedade?

08

VANTAGENS

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

DESVANTAGENS

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○


Podemos melhorara nossa sociedade? Como?

Vimos que a vida em sociedade é muito mais lucrativa para nossas vidasdo que a vida solitária. Isto significa que, após uma breve reflexão,podemos perfeitamente identificar os problemas que prejudicam a nossasociedade, como um todo, e também as soluções para sanar tais problemas.

Verificaremos que muitos desses problemas requerem soluções muitosimples, bastando que todos tenham emmente que muitas dessas soluções dependemde ações coletivas. Como fazem as abelhas.Cada uma coletando uma gotinha de néctarproduz uma grande quantidade de mel.

Cada um de nós fazendo um pouquinho,pode trazer uma grande solução. Vejamosalguns exemplos:

Se cada um colocasse seu lixodoméstico do dia a dia, que é pouco, emsacos apropriados e em locais apropriados,não teríamos tanto lixo espalhado peloslotes vagos, rios e nascentes. A limpeza

09


requer muitos homens, maquinário e horas de trabalho para retirá-lo.

Se cada um procurasse não destruir as matas ciliares nas beiras dos rios,teríamos rios e nascentes sempre vivos e com muitos peixes.

Se cada um respeitasse as leis de proteção das florestas, mesmo quandoretirasse um pouquinho de lenha ou barro, não teríamos nossas matasameaçadas, e nossos animaisdizimados.

Como membros de umasociedade, é nosso papel zelarpelas normas de conduta e agirpara que outros também ofaçam. Mas isto não deve serfeito de forma repressiva, e simcom esclarecimento, orientando,até que todos entendam eparticipem de forma consciente.Para isto precisamos conhecernosso território e refletir sobre aforma como vivermos.

Vamos agir?


Onde vivemos?

Para que possamos fazer qualquer coisa para melhorar nosso grupoprecisamos saber como vivemos, e a primeira coisa é procurarmos ver comclareza onde exatamente vivemos. Temos nossa casa, nossa rua, nossosvizinhos. Também desfrutamos de algumas coisasque são de todos e algumas que são somentenossas. Mas podemos ver um pouco alémdas coisas mais próximas, aquilo quenão construímos mas que ou é detodos ou somente nosso. Temosmatas, rios, animais.

Podemos ampliar o nossoexercício desenhando nummapa como é o espaçoonde cada um vive. Seriabom que todos fizessemjuntos.

Vamos lá?

10


Como vivemos?

Agora que já mapeamos o espaço de cada um, podemos ver comovivemos neste espaço. Como você vive nele? Quais os locais que freqüenta?Quais não freqüentam? Porque freqüenta mais um espaço do que outros?Aonde você encontra com os amigos? Existealgum espaço que não freqüenta por causade pessoas de quem não gosta? Ou decoisas desagradáveis? Quais os locaisque são agradáveis?

Então façamos um outroexercício procurandoqualidades e defeitos dosespaços da suacomunidade queinterferem no modo devocê viver.

11


Melhorando e consertando

Se olharmos com cuidado, podemos ver que muitos dos problemas dolugar onde moramos são de fácil solução. E que podemos torná-lo cada vezmelhor consertando o que, no entender de todos, deve ser consertado.

Na sociedade das abelhas também é assim. Tudo tem que estar no seulugar. Mas, não é apenas dentro da colônia que tem que ser assim. Foratambém. Nos espaços onde as abelhas coletam nas flores, se não houver ascondições mínimas adequadas, as abelhas não vão produzir o mel, pólen eprópolis, nem emquantidade nem emqualidade. E sabe qual é olocal onde elas vivem? É oterritório onde nóstambém moramos.

A nossa comunidade éo espaço onde as abelhascoletam para produzir mele estocar pólen e própolis.Se desejarmos cuidar das

12


abelhas para obter estes produtos, precisamos deixar este espaço o maisorganizado possível. Somente assim poderemos fazer uso de todos osserviços que as abelhas tem para nos oferecer.

Ordenando territórioA primeira coisa que precisamos fazer para organizar nosso espaço é

ordenar o território, determinando para que serve cada pedaço desseespaço. Isto é feito pelo que denominamos de zoneamento territorial.

Somente as pessoas da própria comunidade podem fazer isto. Não ébom que pessoas de fora venham dizer como cada espaço pode e deve serutilizado porque são os próprios moradores que já fazem uso dessesespaços.

Para isto, precisamos aprender a ordenar este território. Mas tambémprecisamos ter o conhecimento das leis que regulam determinados tipos deespaços para que estas leis não sejamagredidas. Por exemplo: rios,córregos e nascentes d’águadevem ter sua vegetaçãomarginal, que chamamos demata ciliar, protegida.

Ela não pode sersuprimida sob hipótesenenhuma porque faz partedo que denominamos de


Área de Preservação Permanente (APP).Esta área portanto deve ser incluída na zona deproteção ambiental, que deverá ser demarcadaterritorialmente.

Protegendo ecossistemasUma das questões mais importantes que se

deve considerar nesse zoneamento é protegeras áreas onde as abelhas deverão coletar néctar, pólen e resina vegetal.

Para isto é fundamental, além de estabelecer esta zona de visitação dasabelhas, criar condições para que elas se tornem cada vez mais atrativaspara as abelhas, pois, como já disse, somente assim pode-se assegurar umaboa produtividade das abelhas para nosso uso.

Então devemos não só estabelecer áreas de reservas naturais, comofazer esforços para que estas áreas sejam as mais amplas e fartas possível.Além disso, precisamos estar atentos para a manutenção da maiordiversidade de ecossistemas possível, pois assim poderemos estaroferecendo um universo ampliado de oportunidades de exploração para asabelhas.

Rios e matasTodo ecossistema necessita, em maior ou menor grau, de recursos

hídricos (ou da água) disponíveis, sem os quais nem as plantas, as abelhas

EcossistemaÉ o conjunto de tudo

que existe numdeterminado lugar,incluindo as formasvivas e as não vivas.


e até mesmo nós, poderemos viver adequadamente. Aí se incluem os rios,as nascentes, os lagos, qualquer corpo d’água permanente ou passageiro,os quais alimentam ecossistemas inteiros. Veja as áreas de mata da suacomunidade. Verás que estas áreas estão concentradas principalmenteonde tem corpos d’água ou se não, onde há bastante umidade. Amanutenção desse conjunto (rios e matas) é a garantia de um ambientesaudável para todas as pessoas e animais que ocupam este espaço...

É muito bom termos ruas asfaltadas, calçadas, espaços construídos delazer. Mas também é muito bom que haja espaço para todos os tipos deseres vivos.

Você já não ouviu falar de conservação da biodiversidade? Poisbiodiversidade é o conjunto de formas devida que existem num determinadolugar. E é este conjunto que garantea integridade de qualquer espaçoterritorial e a vida que nele existe,os ecossistemas.

Recuperando matas ciliaresÉ por isto que é fundamental que,

depois de tantos desmata-mentos dasmargens de nossos rios, seja práticacorrente as ações de recuperação de


matas ciliares, pois assim estaremos sempre garantindo que os rios e asnascentes permaneçam íntegros e sempre oferecendo um dos bens maispre-ciosos para a nossa vida que é a água.

Você teria sugestão de como isto poderia ser feito? Faça uma lista decoisas que você acha que pode fazer para contribuir na recuperação dasmatas ciliares. Você verá que além de ser criativo, poderá fazer muitaspequenas coisas que acabam fazendo uma grande diferença.

Determinando conduta coletivaVocê verá, comparando esta lista com as de seus amigos, que há muitas

sugestões em comum, e outras não tão comuns assim. Mas vai reparartambém que se pode fazer um acerto com os seus amigos no sentido deatender todas as propostas, desde que se entendam que elas serão para obem de todos. Esta é uma diferença grande entre a nossa sociedade e adas abelhas.

Na nossa sociedade podemos discordar e opinar, participando de formademocrática nas decisões da comunidade, e assim influenciar nos rumosque ela tem que tomar.

Na sociedade das abelhas, ao contrário, tudo funciona como um relógio,nada perturba o ritmo da colônia ou quando perturbada, ela se apruma, econtinua agindo no mesmo modo de antes.

Numa vida comunitária, quando fazemos coisas que possam interferir navida das pessoas, procuramos ver até onde podemos ir, e até onde não, ouo que é somente nosso, ou o que é da coletividade.


Como estamos tratando de ordenamento territorial, muitas das coisas quedecidirmos, vão interferir na vida das pessoas da própria comunidade e dascomunidades vizinhas. É por isto que, para estas coisas, se deve fazeracordos sobre normas de conduta coletiva, de forma que uma intervençãonegativa nas outras pessoas seja mínima e a intervenção positiva nacomunidade seja máxima.

Uma forma legal de se fazer isto é elaborar o que denominamos deTermo de Ajustamento de Conduta, onde deve ser explicitado todas estasnormas e depois de decidido seja assinado por todos. Para dar maiorlegitimidade ao documento é bom que a assinatura desse Termo sejaacompanhado por representante do Ministério Público. Converse com seusamigos e vizinhos da comunidade e veja se este procedimento é possível.

Elaborando o Termo de Ajustamento de CondutaSe vocês ainda não chegaram a algum entendimento lembrem-se de que

qualquer decisão que tenha como objetivo assegurar um ambiente dequalidade, permitindo assim um investimento na criação e manejo deabelhas nativas, deverá passar pela discussão e elaboração do Termo deAjustamento de Conduta. Abaixo passamos alguns tópicos que deverão sertratados quando a decisão de grupo estiver mais amadurecida.


1. Onde e como plantarPara o ordenamento territorial da

comunidade é imprescindível que sediscuta como será feito o uso da terrapara o plantio, que tipo de técnicasserão utilizadas, quais os espaços quepoderão ser utilizados sem agrediroutros espaços, etc. Deverão estarbastante atentos às normas de uso deagrotóxicos, no respeito à legislaçãoambiental, procurando - de preferência - conhecer técnicas agrícolas quevalorizem o uso racional e sustentável desses espaços.

2. Onde e como criar animaisO mesmo cuidado deve ser tomado para a criação dos animais. A

diferença é que como os animais se locomovem, eles acabam invadindooutros territórios que não são adequados para a sua criação, prejudicandoáreas de terceiros e áreas de interesse coletivo.

Neste aspecto, a criação de cabra, gado e porco solto é péssimo para omeio ambiente. O porco, por exemplo, além de poder trazer doenças, sealimentando de fezes humanas, destrói mananciais de água e revolve todosos lugares, comprometendo o solo, e comendo tubérculos, raízes, brotos deplantas, ninhos de pássaros, e pequenos mamíferos, etc.


3. Onde e como conservarÉ sempre bom, durante o zoneamento territorial, explicitar as áreas que

são de domínio público incluindo as áreas extras de reserva ambiental, alémdaqueles limites determinados pela legislação ambiental como áreas depreservação permanente, por exemplo.

Lembre-se que, quanto maior o tamanho dessas áreas, maior será oplantel de abelhas que pode ser criado e manejado, pois grande parte dasplantas que podem fornecer os recursos necessários para estas abelhasestará nesses limites.

Muitas vezes tais áreas seencontram pobremente constituídas,requerendo que se implante umprograma adicional de recuperação,e se estabeleça à forma como aspessoas da comunidade poderãoter acesso a estas áreas.

Como exemplo, pode-se realizarum plantio adicional derecuperação, ou estabelecermoratória de uso do espaço,ou determinando acessorestrito por um período, etc.


Conciliando abelha e produção(arranjos produtivos)

É importante destacar que as abelhas nativas possuem um valor para nósmaior do que o que elas podem nos oferecer de mel, pólen, cera e própolis.

Como já dissemos, este valor está no quanto elascontribuem na reprodução de nossas plantas,garantindo a perpetuação de muitas delas e,conseqüentemente, melhorando a qualidadeambiental onde vivemos.

Como produtores podemos fazer uso dessavantagem que as abelhas nos proporciona.Como? Veja bem:

a) As abelhas dependem das flores para produzir o mel e para aobtenção de pólen;

b) O pólen, por sua vez, sendo digerido, auxilia na produção de cera;

c) Mais cera sendo produzida mais elementos de construção do ninhoas abelhas terão;

d) Tendo mais cera, mais favos de cria serão produzidos;

e) Mais abelhas nascerão e mais néctar será coletado; e

f) Mais mel será produzido.

13


Como elas são responsáveis pela melhoria na qualidade de frutos esementes, pela polinização, nada mais prático do que, junto com a criaçãodas abelhas, cultivarmos plantas que são excelentes fornecedoras desseselementos nutritivos para elas e, melhor ainda, que estas plantas sejamexcelentes fontes de produtos que possamos comercializar, e com istoaumentar a renda de nossas famílias.

Sabemos por exemplo que o urucum, que fornece o corante vermelhoutilizado na cozinha, é bastante visitado pela tiúba e uruçu para aobtenção de pólen; e que estas abelhas contribuem fazendo a polinizaçãode suas flores, contribuindo na produção da semente que dá o corante.

Outra abelha, a tubí, é eficiente polinizadora da acerola, aumentandoem 30% a produtividade de seus frutos. A mandaçaia, uma abelha dosudeste do Brasil, poliniza tomates melhorando a qualidade de seus frutos,o que dá um melhor preço no mercado consumidor.

Ora, isto nos indica que nada melhor do que se estabelecer um consórcioou associação de produção entre abelhas e plantas para que possamosaumentar os ganhos dessas culturas.

No nosso caso podemos fazer algum melhor ainda: trabalhar comconsórcios de criação que valorizem plantas e abelhas da nossa região. Maspara isto precisamos cuidar de todo nosso ecossistema. Isto é o quedenominamos de Arranjos Produtivos Ecossistêmicos (APE). Vejavocê como implementar tal arranjo na sua comunidade. Alguma culturadeve haver. É um negócio que vale a pena.


Valorizando o que vocêtem de bom (certificação)

Você sabe que o mel de abelhas nativas é muito valorizado pelascomunidades rurais e pelos povos indígenas. A este mel se atribui muitaspropriedades medicinais. Apesar disso, muitos da cidade ainda confundemeste mel com aquele das abelhas africanizadas, que não é a mesma coisa.Este desconhecimento possibilita a falsificação desse mel que é vendidonum valor muito abaixo de seu valor de mercado.

Só os mais esclarecidos, que valorizam os produtos naturais, orgânicos éque sabem o verdadeiro valor desse mel, cujas características são bemdiferentes do mel das abelhas africanizadas. Por isto não podemos vender omel em qualquer lugar.

Além do valor do produto em si, que é um mel diferenciado, temos o fatodesse mel ser originário de abelhas com grande valor ecológico, comoeficazes polinizadores da flora nativa.

Mas, para que o mel, ou qualquer outro produto das abelhas, sejarealmente valioso não basta que seja simplesmente de abelhas nativas.Temos que garantir que a produção se dê num ambiente ecologicamentesaudável, pois somente assim, pelas razões já expostas anteriormente, éque se garante um mel, ou pólen, ou cera, ou própolis com todas as

14


qualidades valorizadas pela cultura do campo.

Uma forma de atestar a autenticidade desses produtos e a sua qualidadeé “certificando” a sua produção. A certificação não é nada mais nada menosdo que atestarmos a autenticidade da nossa produção e para isto utiliza-seuma marca (selo de certificação) que é colocada no produto garantindo asua origem e qualidade.

Isto permite que o produto seja vendido com melhor preço para oprodutor, compensando seus esforços para assegurar um ambiente, que é oda sua comunidade, em condições sócio-ambientais adequadas para secriar abelhas.

No caso da sua comunidade, valeria a pena que todos os criadores seesforçassem para que eles mesmos estabelecessem aforma como deverão ser certificados. O ideal é queeste processo se dê a nível de rede comunitária, ouseja, que se envolvam todas as comunidadesparticipantes que criam abelhas nativas.

A este processo de certificação denominamosCertificação Participativa Ecossistêmica(CPE). Quando a comunidade se organiza em redee em grupos associativistas, garante-se que aprodução atenda mercados maiores e com maiorvalorização dos produtos que esta tem a oferecer.

Pense nisto.


Agora que você já entendeu a importância das abelhas, viu como elapode afetar as nossas vidas, e como é importante que toda a comunidadeparticipe no processo de transformação necessário para se alcançar umaprodução sustentável, nada melhor do que pensar num plano queconsidere tudo isto. Um plano que será construído e implementado portodos da comunidade.

Nós do Projeto Abelhas Nativas não estamos aqui apenas paraensinar a criação de abelhas nativas, estamos aqui com o compromisso deacompanhar a comunidade numa transformação duradoura dequalidade, incluindo o processamento e o comércio da produção, emais, a orientação na elaboração e execução desse plano queseguirá uma metodologia adequada para que a coletividade saiavencedora.

Qual o nome desse plano?Para o Projeto Abelhas Nativas é o Plano Comunitário de

Desenvolvimento Sócio-ambiental Integrado (PCDSAI).Mas pode chamar com qualquer outro nome que achar melhor.Afinal, ele está sendo feito pela comunidade e para acomunidade!

Que tal um plano?15

Coordenador GeralDr. Murilo Sérgio Drummond (UFMA/AMAVIDA)

Relações Inter-institucionaisJoão Otávio Malheiros (AMAVIDA)

Coordenadores de pesquisa e assessoriatécnicaDra. Flavia Raquel F. Nascimento (UFMA)Dra. Gisele Garcia Azevedo (UFMA/AMAVIDA)Dra. Lenira de Melo Lacerda (UFMA/AMAVIDA)Dr. Murilo Sérgio Drummond (UFMA/AMAVIDA)

Grupo técnico de apoio comunitárioBruna Danielle Vieira SerraClaudivã Matos MaiaGisele Barreto MoreiraLívia Moreira BogéaViviane Cardoso Pires

Grupo técnico de apoio científicoBruna Danielle Vieira SerraClaudivã Matos MaiaGisele Barreto MoreiraIvanice Lobato da CostaMaria J. Abigail Mendes AraújoMichelle Fonseca GoiabeiraNercy V. Campos Rabelo PiresSuzanna de Sousa e SilvaViviane Cardoso Pires

Relações Sócio-culturaisJoão Batista Gomes Santos Junior (AMAVIDA)

Coord. do Boletim do Projeto Abelhas NativasJoão Otávio Malheiros (AMAVIDA)

A EquipeO Projeto Abelhas Nativas tem como mis-são contribuir, por meio de iniciativas ambientaiscomunitárias, para a efetiva conservação dabiodiversidade, particularmente de agentespolinizadores autóctones, com foco nas abe-lhas nativas sem ferrão, nos biomas doMaranhão e em outras regiões do Brasil. Paraisto estabelece alianças com órgãos públicos,instituições de ensino, empresas privadas e co-munidades de agricultores familiares.

O Projeto Abelhas Nativas, sob a Coordena-ção-Executiva da Associação Maranhense paraa Conservação da Natureza (AMAVIDA) e Co-ordenação Técnico-Científica da Universidade Fe-deral do Maranhão (UFMA), é dividido atual-mente pelas seguintes seções territoriais regio-nais: São Luis/Maracanã1 , Nordeste/Maranhão2 , Lençóis/Delta Parnaíba e Miritiba (osdois últimos em fase de pré-implantação).

O projeto é detentor de dois prêmios nacio-nais: Prêmio Ambiental von Martius - 2003 (2o

lugar na categoria Natureza) e Prêmio Ford deConservação Ambiental - 2004 (Categoria Ne-gócios em Conservação). Em 2005 recebeu oCertificado de Tecnologia Social da FundaçãoBanco do Brasil.

1 Apoiado pela ALUMAR.2 Apoiado pela Comercial e Agrícola Paineiras e pelo

Programa Pequenos Projetos Ecossociais (PPP-ECOS) doFundo para o Meio Ambiente Mundial (GEF), por meio doPrograma das Nações Unidas para o Desenvolvimento(PNUD) e sob a Coordenação do Instituto Sociedade,População e Natureza (ISPN).

Documents

Versão para adultos - hbjunior19.files.wordpress.com · alimento certo, ou o abrigo mais adequado para construírem seus ninhos. ... como fazem os animais, na maioria das vezes,