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1 TCC I Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte RS Departamento de Ciências da Comunicação Curso de Comunicação Social Jornalismo 15 de outubro a 19 de outubro de 2012 VIOLÊNCIA E JORNALISMO IMPRESSO: ESTUDO DE CASO DE A RAZÃO E DIÁRIO DE SANTA MARIA CAROLINE SCOLARI Artigo científico apresentado ao Curso de Comunicação Social Jornalismo como requisito para aprovação na Disciplina de TCC I, sob orientação da Profa. Ms. Caroline Casali e avaliação dos seguintes docentes: Profa. Ms. Caroline Casali Universidade Federal de Santa Maria Orientador Profa. Ms. Claudia H. de Moraes Universidade Federal de Santa Maria Prof. Dra. Janaína Gomes Universidade Federal de Santa Maria Prof. Ms. Carlos André Echenique Domingez Universidade Federal de Santa Maria (Suplente) Frederico Westphalen, 08 de outubro de 2012 CESNORS Centro de Educação Superior Norte - RS

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TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação Curso de Comunicação Social – Jornalismo 15 de outubro a 19 de outubro de 2012

VIOLÊNCIA E JORNALISMO IMPRESSO: ESTUDO DE

CASO DE A RAZÃO E DIÁRIO DE SANTA MARIA

CAROLINE SCOLARI

Artigo científico apresentado ao Curso de Comunicação Social – Jornalismo como requisito

para aprovação na Disciplina de TCC I, sob orientação da Profa. Ms. Caroline Casali e

avaliação dos seguintes docentes:

Profa. Ms. Caroline Casali

Universidade Federal de Santa Maria

Orientador

Profa. Ms. Claudia H. de Moraes

Universidade Federal de Santa Maria

Prof. Dra. Janaína Gomes

Universidade Federal de Santa Maria

Prof. Ms. Carlos André Echenique Domingez

Universidade Federal de Santa Maria

(Suplente)

Frederico Westphalen, 08 de outubro de 2012

CESNORS Centro de Educação Superior Norte - RS

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Violência e Jornalismo Impresso: estudo de caso de A Razão e o Diário de

Santa Maria

RESUMO: O presente estudo procede à análise da produção da violência como acontecimento

na mídia impressa, focando na construção da morte por latrocínio como acontecimento nos jornais Diário de Santa Maria e A Razão, da cidade de Santa Maria/RS. Os procedimentos metodológicos

adotados mesclam a análise quantitativa e qualitativa. Na primeira, foram mensurados os espaços

conferidos à violência no geral e ao caso específico de latrocínio em ambos os periódicos. Já na

análise qualitativa foram contabilizadas, através de análise de conteúdo, as adjetivações e subjetivações adotadas por ambos os jornais para tratar do latrocínio em questão. Os resultados

apontam para notícias construídas pela manutenção de estereótipos de mocinho e bandido. Além

disso, constatou-se que os jornais alocam o tema violência de maneira diferente em suas edições.

PALAVRAS-CHAVE: morte como acontecimento; jornalismo impresso; Diário de Santa

Maria; A Razão.

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Localizada na região central do Estado do Rio Grande do Sul, Santa Maria é a quinta

cidade do estado em população, com cerca de 260 mil habitantes (IBGE, 2010). É um

importante centro militar, sendo o segundo maior contingente militar do país, com oito

unidades do exército, cinco da brigada militar e um núcleo da Base Aérea. Santa Maria

também é um importante pólo educacional, com oito instituições de ensino superior, entre

públicas e privadas, sendo que uma das maiores universidade federais brasileiras se situa na

cidade: a Universidade Federal de Santa Maria – UFSM, fundada em 1960.

Dentre os principais veículos de comunicação da cidade, estão os jornais impressos

diários A Razão e o Diário de Santa Maria. Os dois jornais apresentam nas suas biografias

midiáticas elementos que nos permitem falar em concorrência, pois o A Razão, fundado em

1934, foi o primeiro jornal da cidade e é um dos impressos mais tradicionais do estado do Rio

Grande do Sul, sendo reconhecido por representantes da sociedade santa-mariense como “o

jornal de Santa Maria”. Já o Diário de Santa Maria, oriundo de uma organização midiática

que abrange os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, o Grupo Rede Brasil Sul

(RBS), tem apenas 10 anos de circulação.

Diante disso, a problematização do presente estudo refere-se à morte como

acontecimento no jornalismo impresso de Santa Maria, partindo do tratamento discursivo

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conferido por A Razão e o Diário de Santa Maria ao caso de latrocínio de um estudante na

cidade. A partir desse estudo, busca-se compreender a lógica da cobertura sobre violência

nesses jornais, principalmente ao dar enfoque, como valor-notícia, ao assassinato do jovem

acadêmico de Design de Produto, do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Ângelo

Razzolini Biazzi, 23 anos, que por volta das 6h30min do dia 14 de agosto de 2011 (domingo)

foi assassinado no Calçadão Salvador Isaia – ponto central da cidade. Ele passava pelo local

com sua namorada, Juliana Ferreira, e, na entrada da galeria do Comércio - mesmo local onde

morava -, foi vítima de latrocínio (roubo seguido de morte), sendo atingido com pelo menos

duas facadas na região do tórax. Os suspeitos chegaram a roubar o boné da vítima e a pedir

dinheiro, e foram identificados como três jovens com idades entre 18 a 22 anos.

A temática da morte tem evidente espaço nos meios de comunicação. Traquina (2008),

ao falar de valor-notícia, aponta para o fato de se informar ao público os fatos que são

importantes porque têm um impacto sobre a vida das pessoas e a morte é um deles. O

tratamento da morte, como acontecimento, sofreu modificações ao longo dos anos, resultado

das modificações na própria sensibilidade das pessoas frente à morte do outro. Conforme

Oliveira-Cruz (2008, p. 150), “as representações da morte vêm se modificando ao longo dos

tempos, sendo possível observar verdadeiras transformações no que diz respeito às

sensibilidades humanas frente à própria finitude”. Essa percepção acaba refletida no fato de

que a morte de um torna-se mais importante enquanto fato jornalístico do que a morte de

outro. É interessante percebemos que, no cotidiano de uma cidade, ocorrem várias mortes,

mas nem todas as pessoas que morrem vão ter espaços nos veículos de comunicação.

Mouillaud (2002 apud NEGRINI, 2011), por exemplo, categoriza diferentes tipos de mortos

nos jornais: os mortos de serviço - que compõem a necrologia; os mortos acidentais; os

mortos dos conflitos, das guerras e das revoluções, que passam a fazer parte da história; e o

“grande morto”, que se destaca pelo seu nome, pela sua fama.

Tanto o Diário de Santa Maria quanto A Razão trabalharam discursivamente a morte

de Ângelo Razzolini Biazzi, inclusive como tema de capa. Segundo Oliveira-Cruz (2008, p.

155), “[...] alguns aspectos se mostram importantes para que a ocorrência do fato seja elevada

à condição de acontecimento jornalístico: a circunstância do falecimento, o papel e a

participação social do falecido, e, por fim, uma reivindicação do poder na sociedade”. É

justamente o interesse na produção dessa morte como acontecimento, em relação a outras

coberturas sobre violência, o objeto do presente artigo.

Tendo em vista a possibilidade de avaliar um mesmo fato relacionado à violência em

dois diferentes periódicos, Diário de Santa Maria e A Razão, problematiza-se a maneira como

cada um trabalha a morte como acontecimento, visando descobrir de que forma a finitude

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humana publicada nas páginas dos jornais também serve como ponto de partida no

levantamento de outros debates na sociedade - tais como segurança pública, violência urbana,

consumo de bebidas alcoólicas, drogas, roubos, entre outros. Para tanto, realizarmos uma

análise quantitativa e qualitativa da abordagem sobre a violência nos veículos em questão e

apresentamos, a seguir, o embasamento teórico que guiou esta investigação.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A violência como valor-notícia no jornalismo impresso

Antes de entendermos as circunstâncias em que a violência se institui como pauta para

diversos meios de comunicação, cabe explicarmos em que conceito de violência este artigo se

baseia. Não existe uma definição precisa para o termo violência, e que atenda, assim, a todas

as abordagens sobre o assunto. Para Gauer (2008, p. 125), “[...] violência significa o

constrangimento físico ou moral, uso da força, coação, torcer o sentido do que foi dito,

estabelecer o contrário do direito à justiça”. No presente estudo, trabalhamos com a violência

banal, sendo aquela que desagrega todo um sistema de sentidos e valores universais na

sociedade. Santos (1998 apud LEAL e ZALUAR, 2011) considera a violência como um

dispositivo de abuso de poder, uma prática disciplinar que produz um dano social, atuando em

um plano espaço-temporal, a qual se instaura como uma justificativa racional, desde a

prescrição de estigmas até a exclusão, efetiva ou simbólica.

A violência, portanto, sempre traz algum dano social - seja ele físico, material ou

simbólico. E cada um desses danos atua como informação nova aos consumidores dos

produtos midiáticos. Os jornais, por sua vez, publicam notícias porque a informação nova é, a

priori, interesse da grande maioria da população. Segundo Noblat (2008, p. 26) “notícia é todo

o fato relevante que desperta interesse público.” Erbolato (1991, p. 52) acrescenta que “as

notícias são comunicações sobre fatos novos que surgem na luta pela existência do indivíduo

e da própria sociedade.” Portanto, a sociedade procura estar informada sobre assuntos novos

de interesse tanto pessoal como de outras instâncias de sua vida pública.

A partir de valores-notícia (TRAQUINA, 2008), visualizam-se como os

acontecimentos se tornam notícias nos meios de comunicação. Galtung e Ruge (1965/1993

apud TRAQUINA 2008) enumeram doze valores-notícias, dentre os quais podemos destacar

como característicos do tratamento discursivo da violência: a) a amplitude do evento; b) sua

significância, em que diz respeito à relevância do acontecimento e a proximidade cultural; c)

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o inesperado ou insólito; d) a continuidade, isto é, a continuação como notícia do que já

ganhou noticiabilidade; e) a referência a nações de elite; f) a referência a pessoas de elite, isto

é, o valor-notícia na proeminência do ator do acontecimento; g) a personificação, isto é, a

referência às pessoas envolvidas; e h) a negatividade, ou seja, a máxima “bad news is good

news”.

Um assassinato leva pouco tempo e o acontecimento tem lugar entre a publicação de

dois números sucessivos de um jornal diário, o que significa que se pode contar uma

notícia significativa de um dia para o outro. [...] um acontecimento que tem lugar

durante um espaço de tempo maior ficará por registrar a menos que atinja um certo

tipo de clímax dramático. Galtung e Ruge (1962/1993 apud TRAQUINA 2008, p.

70)

Além disso, Galtung e Ruge (1962/1993 apud TRAQUINA 2008) apresentam alguns

fatores para explicar o estado da coisa: as notícias negativas satisfazem melhor os critérios de

frequência; são mais inesperadas em relação às positivas, tanto no sentido de que os fatos

referidos são mais raros, como no sentido de que são menos previsíveis; facilmente

consensuais e inequívocas, no sentido de que haverá acordo acerca da interpretação do

acontecimento como negativo. Também Traquina (2008, p. 79) complementa “[...] onde há

morte, há jornalistas. A morte é um valor-notícia fundamental para esta comunidade

interpretativa e uma razão que explica o negativismo do mundo jornalístico que é apresentado

diariamente nas páginas do jornal ou nos écrans da televisão”.

Essa relevância à abordagem do tema violência, especificamente relativo à morte, é

mostrada na grande cobertura jornalística dos jornais Diário de Santa Maria e A Razão, no

período de análise deste estudo. Traquina (2008) diz que todos nós seremos notícia pelo

menos uma vez na vida, no dia subsequente à morte, ou como destaque na capa ou nas

páginas interiores. Dependerá, na maioria das vezes, da nossa popularidade ou da notoriedade

do ator principal do acontecimento – afinal “quanto mais o acontecimento disser respeito às

pessoas de elite, mais provavelmente será transformado em notícia.” (GALTUNG e RUGE,

1962/1993 apud TRAQUINA, 2008).

Oliveira-Cruz (2008), ao falar da morte como um “acidente-limite”, que orienta o

sentido e o posicionamento de outros fatos também reguladores da experiência do indivíduo e

do coletivo, salienta que o papel da morte se dá ainda pelo silêncio que marca seu interdito, ou

pela transformação de seu caráter irrevogável em inesperado. Assim, o discurso jornalístico

sobre a morte se adéqua de reproduções que vão classificá-lo num parâmetro de normalidade

e expectativa, embora, quanto mais imprevista ou insólita, a morte estará mais próxima da

classificação como acontecimento jornalístico. O sentido do caráter “inesperado” da morte

encontra subsídios na ideia de que existam maneiras mais ou menos naturais, ou períodos

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mais adequados, para se morrer. Perante uma probabilidade de ampliação da perspectiva de

vida, a morte inesperada é aquela que causa assombro na população.

Embora não seja possível negar a existência da morte, o seu caráter acidental como

noção de falha do curso normal remonta a construção de uma rotina que se baseia na

desejada amortalidade. Esta significação da morte como irrupção do real, como

evento inesperado, em muito se assemelha ao conceito de acontecimento

desenvolvido por Adriano Duarte Rodrigues, como sendo “tudo aquilo que irrompe

a superfície lisa da história de entre uma multiplicidade aleatória de fatos virtuais”,

destacando-se quanto mais imprevisível for sua realização. Esta “imprevisibilidade”

da morte, é claro, só pode aproximar-se da ideia de acontecimento se considerada

como elemento distante da elaboração do cotidiano. (RODRIGUES 1993, p.27 apud

OLIVEIRA-CRUZ 2008, p. 151-152)

Elias (2003 apud OLIVEIRA-CRUZ 2008, p. 154) afirma que a maneira como uma

pessoa morre depende de que ela tenha sido capaz de formular objetivos e alcançá-los, de

imaginar tarefas e realizá-las. Portanto, é possível inferir diferenças do quanto inesperado

pode ser o acontecimento relativo à morte. Mouillaud (2002, p. 350 apud NEGRINI, 2010,

p.153) avalia a importância da morte acidental – pauta aqui em estudo - para os meios de

comunicação social, dizendo que, nela, “a morte se torna acontecimento como o corte ou a

derrota de uma rotina [...] É a particularidade (do acidente ou do crime) que se torna notícia;

sua diversidade é a essência”.

Nesse sentido, a escolha por analisarmos a morte de um jovem de apenas 23 anos

obedecem aos critérios de noticiabilidade antes citados, pois se trata de uma pessoa que ainda

não consegue avaliar suas realizações, porque não as completou. É uma morte inesperada, um

corte na rotina. Ao mesmo tempo, por se tratar de um caso de violência urbana, incorre-se no

risco de banalização da mídia.

A morte indiferente, caracterizada por Barbosa, é aquela banalizada pela violência:

“a mídia, diante da violência, banaliza o corpo insepulto. A proliferação da morte

violenta, fruto da guerra urbana e da desigualdade social, faz com que, para os meios

de comunicação, neste caso, seja importante não a morte em si mesma, mas o espetáculo da brutalidade cotidiana”. (OLIVEIRA-CRUZ, 2008, p. 156)

Para a autora, a morte em si não possui importância, mas sim o espetáculo que se faz

sobre a morte. Como há abundância de pautas que chegam às redações de jornais todos os

dias, cabe a cada veículo selecionar as que lhe parecem relevantes. Noblat (2008, p. 33)

destaca que “[...] se um jornal preferir não publicar certa notícia, outro a publicará. Ou dela o

público tomará conhecimento por outros meios. Se, mesmo reconhecendo a importância da

notícia, um jornal preferir escondê-la, outro lhe dará o destaque merecido.” É por isso que

vemos notícias em certos jornais e em outros não e, por vezes, a partir de diferentes enfoques.

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os jornais impressos analisados neste estudo são o A Razão e o Diário de Santa

Maria. O A Razão é uns dos jornais mais tradicionais do estado do Rio Grande do Sul,

fundado por um grupo de políticos, em 1934, com o objetivo de difundir as ideias de Oswaldo

Aranha, e sua implantação teve o patrocínio de um estancieiro de Uruguaiana. Foi

administrado por Clarimundo Flores, Rivadávia de Souza, João Flores e Brinckmann, entre

outros. Já pertenceu a Assis Chateaubriand, dono dos Diários e Emissoras Associados. O

periódico tem repórteres fixos em Júlio de Castilhos, Alegrete e Jaguari. E assina as agências

de notícias Agência Press e Agência Jornal do Brasil. A partir dos anos 2000, começou a

publicar integralmente a versão digital do periódico.

Já o jornal Diário de Santa Maria, fundado pelo jornalista Maurício Sirotsky

Sobrinho, pertence ao Grupo Rede Brasil Sul (RBS). O periódico foi fundado em 2002, sendo

um jornal de circulação diária na região central do estado do Rio Grande do Sul, com sede em

Santa Maria, e carrega um estereótipo de que é “o jornal de fora”, interessado apenas na

concorrência e não nos temas da comunidade local. O Diário de Santa Maria, desde 2004,

detém o primeiro lugar no mercado local, e abrange os 35 municípios da região central. Desde

2008, conta com uma versão online. O periódico assina as Agências RBS, O Globo, Estado,

Futura Press, Associated Press e EFE.

Para realizar o estudo, decidiu-se pela análise de sete edições consecutivas dos jornais,

Diário de Santa Maria e o A Razão, publicadas entre os dias 15 e 22 de agosto de 2011. Por

opção metodológica, consideramos tudo o que foi publicado sobre violência na cidade neste

período, ainda que as edições analisadas tenham como fato chave a cobertura do desfecho do

latrocínio no Calçadão Salvador Isaia.

As análises, realizadas de forma quantitativa e qualitativa, têm como objetivo a

comparação do tratamento discursivo nos dois periódicos em questão. A análise quantitativa

foi realizada a partir da mensuração do espaço conferido às matérias sobre violência em

centímetros quadrados. Considerando que cada reportagem é um texto como um todo, as

matérias analisadas foram medidas em sua completude, abrangendo o texto verbal e a

fotografia. Também foram analisados, quantitativamente, o espaço em que cada edição alocou

suas matérias relacionadas à violência, o que faz diferença no sentido construído pela

publicação. Bauer e Gaskell (2008, p. 201) comentam que “tanto o ‘tamanho’ como ‘formato

da notícia’ são códigos originais de uma teoria de que o tamanho de uma história expressa à

importância editorial atribuída a ela, e serve como um indicador dos valores existentes nas

redações”.

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Para obtermos a análise quantitativa, mediram-se a mancha do jornal e multiplicamos

pelo número de página de cada edição, assim tive o total em cm²; descontamos as

publicidades de ambos os periódicos para melhor calcular o enquadramento das informações.

Os elementos calculados são: a) Quantidade: números de matérias sobre violência que foram

publicadas nas edições analisadas; b) Espaço: qual o espaço do jornal foram destinada a cada

matéria; c) Texto: o tamanho de cada notícia; e) Página: onde a matéria foi publicada; f)

Posição: alocação na edição dos textos sobre violência.

Os dados encontrados foram tabulados e, depois, representados graficamente.

Utilizaram-se três categorias para análise quantitativa da morte como acontecimento: a) morte

do universitário; b) morte indiferente (pessoas desconhecidas); e c) outras mortes (pessoas

conhecidas pela sociedade).

Qualitativamente, avaliaram-se, por meio de análise de conteúdo, as diferenças entre o

jornalismo policial de cada um dos jornais, para detectar como ambos trabalharam a violência

como acontecimento jornalístico diário. Para Oliveira-Cruz (2008), os sentidos podem ser

levantados a partir da enunciação da morte na fala jornalística.

Assim, a compreensão dos sentidos construídos a partir da enunciação da morte no

discurso jornalístico possibilita a noção do quanto estas narrativas afloraram

sentidos, bem como reelaboram novas significações para a relação tão fundamental

que se institui entre homem, cultura e morte. Por isto, a observação da estruturação

deste discurso jornalístico sobre a morte a partir de seu processo de construção de

significados, na própria enunciação, é preponderante. (OLIVEIRA-CRUZ, 2008, p.

158)

Na análise dos textos jornalísticos, duas categorias de conteúdo podem ser apontadas,

dentre outras: a) Manifesto: o que é concreto e explícito; por exemplo, quantas vezes

determinadas palavras aparecem, ou quantas vezes se referem a determinado grupo, ato ou

indivíduo diretamente; e b) Latente: o que não é explícito; analisa-se o estilo do texto, as

referências indiretas. Utilizei na análise de conteúdo, preferencialmente o conteúdo manifesto,

porém não descartei a consideração do conteúdo latente.

“[...] análise de conteúdo desfavorece a dicotomia entre o quantitativo e o

qualitativo, promovendo uma integração entre as duas visões de forma que o

conteúdo manifesto (visível) e o latente (oculto, subentendido) sejam incluídos em um mesmo estudo para que se compreenda não somente o significado aparente do

texto, mas também o significado implícito, o contexto onde ele ocorre, o meio de

comunicação que produz e o público ao qual ele é dirigido.” (LAGO e BENETTI,

2008, P. 126)

Trabalhamos, então, com os procedimentos semânticos, através da análise de palavras

e sentenças, nos textos publicados nos jornais, Diário de Santa Maria e A Razão. Em seguida,

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confrontamos as informações obtidas, estabelecendo uma análise comparativa, no intuito de

percebermos como cada um dos periódicos trataram a violência como acontecimento.

4 RESULTADOS ENCONTRADOS: UMA ANÁLISE COMPARATIVA

DO DISCURSO SOBRE A VIOLÊNCIA EM A RAZÃO E O DIÁRIO DE

SANTA MARIA

4.1 Espaço concedido ao tema violência nos jornais impressos de Santa Maria

A análise comparativa do espaço alocado nas páginas dos jornais para o tema

violência demonstra que ambos os periódicos trabalharam quase que de maneira equivalente o

tema nas edições analisadas. Ambos os jornais debateram o assunto violência quase por igual

na semana da pesquisa, sendo que o Diário de Santa Maria contabilizou 15% de suas edições

dedicadas à violência, e o A Razão 17%, como ilustrado nos Gráficos 1 e 2.

15%

85%

A diferença de violência para o resto das edições na semana do DSM

Violência

Outros assuntos

Fonte: O autor

17%

83%

A diferença de violência para o resto das edições na semana do AR

Violência

Outros assuntos

Fonte: O autor

A edição que mais abordou o tema violência no Diário de Santa Maria (doravante

DSM), foi a de 15 de agosto, contabilizando 23,92% da edição. Esse fato deve-se, justamente,

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ao tratamento discursivo sobre latrocínio, pois é o dia subsequente ao acontecimento. Já o A

Razão (doravante AR), na semana de análise, apresentou maior espaço dedicado à violência

em 16 de agosto, com 25,81% da edição. Outro dia que teve maior índice de publicação no

DSM, dia 22 de agosto, último dia de análise, 20,85%, sendo o segundo dia com maior

publicação de notícias sobre violência. E também no AR, o segundo dia com maior

publicação de matérias sobre violência foi no dia 17 de agosto, com 24,79%.

Em se considerando outras editorias importantes, como saúde, política, economia,

educação, variedades, etc., o tratamento conferido à violência por ambos os jornais foi grande.

Isso pode ocasionar debate social sobre questões agregadas ao tema, como falta de segurança

pública, ausência de policiamento, manifestações de pedido de paz, fiscalização dos

estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas, consumo de drogas e acidentes de trânsitos.

Lago e Benetti (2008, p. 90) dizem que “a institucionalização de um tema e de uma agenda

em torno dele comporta duas orientações básicas, uma, de caráter vertical e hierárquico e,

outra, horizontal, de caráter linear e agregador de adesões (inclusive e, talvez, principalmente,

da mídia)”.

A cobertura jornalística dos veículos em questão motivou o debate social sobre o tema

violência urbana. Um exemplo disso foi à cobertura jornalística da edição de A Razão, de 16

de agosto de 2012, que noticiou a manifestação organizada por amigos da vítima, com pedido

paz e maior policiamento, com a manchete de capa “Cidade diz não à violência e exige mais

policiamento.” Ramos e Paiva (2007, p.20) afirmam que “os jornalistas que cobrem

criminalidade e violência são repórteres do geral e, portanto, dedicam-se também a cobrir

outras questões urbanas. Esta mudança é importante por favorecer nos textos a integração do

fenômeno da criminalidade a temas como educação, habitação, saúde, trânsito etc.” Assim,

por exemplo, na mesma edição citada anteriormente, há um anúncio do prefeito da cidade

antecipando reunião, devido ao acontecimento do latrocínio: “Schirmer convoca reunião de

emergência para pedir mais policiamento na cidade”. Para Quesada (1987 apud SEQUEIRA

2005) o objeto do jornalismo da atualidade está em averiguar como operam as instituições

públicas que afetam a vida dos cidadãos, mostrar como funcionam os mecanismos

burocráticos do sistema, já que a população comum não tem como desvendar cada vez mais

complexa e burocratizada, e como se produzem os acontecimentos que afetam diretamente.

Por outro lado, a recorrência do tratamento sobre a violência podem ocasionar também

medo ou vulgarização de atos violentos na sociedade. Ramos e Paiva (2007, p. 97) falam que

“a disseminação das práticas violentas gera, por sua vez, um sentimento crescente de

insegurança que invade toda a cidade, inclusive os bairros nobres”.

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O Gráfico 3 demonstra a alocação de textos sobre violência no DSM, caracterizando

que a grande maioria de tais matérias encontra-se mesmo na Editoria de Polícia. Ambos os

jornais tem cerca de uma a duas páginas dedicadas a essa editoria em cada edição.

74%

19%

7%

Alocação de textos sobre violência no jornal Diário de Santa Maria

Editoria de Policia

Capas

Outras Editorias

Fonte: O autor

O DSM apresentou a grande maioria dos textos sobre violência na editoria de polícia,

representando que o periódico respeita relativa periodicidade e uniformidade no tratamento

da questão. Isso pode implicar também em menos sensacionalismo, afinal a alocação do tema

segue em um espaço já esperado pelo leitor como designado ao tratamento de crimes.

Já o AR diferenciou-se na alocação de textos sobre violência ao apresentar 50% das

matérias publicadas na Editoria Policial e os demais textos em outras editorias, como

demonstra o Gráfico 4.

50%

16%

34%

Alocação de textos sobre violência no jornal A Razão

Editoria de Policia

Capas

Outras Editorias

Fonte: O autor

Percebemos que os periódicos analisados trabalharam a morte do jovem como

acontecimento jornalístico, porém não abordam com a mesma importância outras mortes de

anônimos, vítimas da violência urbana cotidiana, que segue banalizada. Durante os sete dias

referentes à pesquisa, os dois jornais apresentaram cobertura jornalística do caso de latrocínio,

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o que demonstra que no decorrer da semana foram surgindo novos elementos sobre o

acontecimento, que foram registradas pelos meios que publicaram as informações.

O Diário de Santa Maria tratou do latrocínio, somente na Capa com manchetes e

fotos, e na editoria de policia. Nota-se, porém, que a relação dada pelo DSM, ao caso de

latrocínio com diversos assuntos ocorreu só na editoria de policia. Consideramos, então, que o

DSM trata do caso como um acontecimento, não direciona de imediato para outros assuntos.

O periódico A Razão apresentou um tratamento diferenciado do caso, pois além de

trazer a informação na capa como manchete, além de texto na editoria de policia, o jornal

também noticiou em outros espaços. Podemos afirmar, então, o AR relacionou o

acontecimento com outros temas que surgiram no decorrer da semana, tais como falta de

segurança pública, manifestação de pedido de paz, instalação de câmera de segurança no

centro da cidade, em vez de dar ênfase apenas ao acontecimento em si.

Essa diferença, percebemos ainda nas publicações de chamadas de capa para o

acontecimento em ambos os periódicos. Contabilizou-se 23% a mais de chamadas em capa

para o latrocínio no DSM, em relação ao AR, o que deixa indícios de que o DSM apostou

mais no caso em si, e não o deslocou imediatamente para outras discussões. Os Gráficos 5 e 6

demonstram essa alocação de textos publicados nos periódicos sobre o latrocínio em si.

34%

66%

0%

Alocação do latrocínio no Diário de Santa Maria

Editoria de Policia

Capas

Outros

Fonte: O Autor

29%

43%

28%

Alocação do latrocínio no A Razão

Editoria de Policia

Capas

Outros

Fonte: O Autor

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13

Podemos comparar que os dois jornais trabalharam os fatos sobre o latrocínio na capa

e na editoria de polícia, porém, analisando os dois nota-se que o DSM não cedeu ao tema

espaço em outras editorias. Já o AR noticiou 28% das informações sobre o caso em outras

editorias. Esse dado vai ao encontro dos dados encontrados sobre a alocação dos demais

textos sobre violência nos jornais, que demonstraram anteriormente que AR designa espaço à

questão em outras editorias, ao contrário do DSM. Nota-se, então, que para o AR a morte em

si não possui tanta relevância, mas sim serve de gancho para outros debates na sociedade.

Ao trabalhar o tema em outras editorias, o AR deslocou o foco do latrocínio para a

segurança pública. Hohlfeldt (2008) comenta justamente que os valores-notícia têm que ligar

os acontecimentos em si: a notícia terá uma importância para a sociedade com certo impacto

sobre a nação, com um nível de relevância e significação dos acontecimentos quanto a sua

consequência para o leitor. Esse nível de relevância foi compreendido principalmente em AR,

que fez do latrocínio um motivo para colocar em debate temas variado sobre segurança

pública.

4.2 Análise de conteúdo dos periódicos A Razão e Diário de Santa Maria no caso de

Latrocínio

Para Wainberg (2005, p. 96), “[...] cabe ao veículo de comunicação de massa contar

sua história com palavras, como história, em capítulos, em enredo, drama e personagens. São

as palavras que explicam, ou tentam explicar, afinal, a mortandade refletida nas imagens dos

telejornais e nas fotos estampadas nos periódicos de todo o mundo.” Tanto o Diário de Santa

Maria quanto o A Razão trabalharam a vítima principalmente como jovem e universitário

(vide APÊNCIDE D). Traquina (2008, p.75) descreve que “[...] neste tipo de cobertura

constrói-se um enorme lote de conhecimentos estereotipados para garantir visualmente ‘a

eterna repetição”.

No DSM, o sujeito Ângelo é substituído por jovem (28 vezes), universitário (24

vezes), e vítima (22 vezes), tratamento muito semelhante ao AR, que abordou jovem (30

vezes), universitário (27 vezes), e vítima (17 vezes).

Para Herscovitz (2007, p.125 apud CORREIA 2011, p. 64) “as palavras, frases,

imagens e sons podem ser reduzidas a categorias baseadas em regras explícitas sobre as quais

se farão inferências lógicas”. Estas inferências podem ser visualizadas quando jornais

pesquisados deixam indícios da ideia de que universitários não poderiam morrer, quem sabe

por terem um futuro brilhante, o que difere de outros jovens como traficantes, criminosos,

jovem com pouco estudo etc. Nas notícias tanto do DSM quanto de AR, induzem à ideia de

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14

que o jovem morto era um rapaz bom, de boa índole, um bom filho, entre outros adjetivos.

Como exemplo disso, tem-se a edição do dia 15 de agosto, na página 8 do DSM “- Ele

adorava desenhar. Era um ótimo filho – lamenta o pai”; “-Ele era um cara muito legal, feliz.

Não causava problema para ninguém – lamenta o amigo Pablo Zambeli, 26 anos”.

Percebemos também que o fato de o acontecimento ter se dado no Calçadão da cidade

indicia nos jornais maior nível de acidentalidade; em contrapartida, crimes em periferias são

banalizados. Isso fica explícito na exacerbação de citações da palavra Calçadão (vide

APÊNCIDE D) e outros substantivos que remetem a ela, que apareceram 68 vezes no Diário

de Santa Maria, e 41 vezes no A Razão. Dentre esses substantivos relacionados estão: Centro

da cidade, ponto de encontros do público de todas as idades e estilos, no coração da cidade,

centro vital da cidade, região central da cidade. Exemplo disso está na página 1 da edição 266

do AR, publicada em 15 de agosto, que enuncia: “O estudante de Design da Unifra Ângelo

Razzolini Biazzi, 23 anos, foi assassinado a facadas no inicio da manhã de ontem, no

Calçadão Salvador Isaia, em pleno Centro de Santa Maria, ao ser atacado por um grupo

de pelo menos três rapazes”.

Ramos e Paiva (2007, p.34) dizem que “[...] os incidentes envolvendo pessoas de

classe média para cima, capazes de mobilizar a atenção da impressa, passam a ocupar uma

posição central para os governantes, reforçando o quadro de desigualdade na provisão da

segurança pública.” Os autores exemplificam isso citando o jornalista Josmar Jozino: “podre

não é notícia, infelizmente. Se tem um caso de latrocínio em Itaquera e outro em Moema, os

repórteres vão querer fazer o de Moema, um é da perifeira e outro da região nobre de São

Paulo.” (RAMOS e PAIVA, 2007, p.79). É o que podem ser notado através da análise do

enfoque dado ao latrocínio: por ter acontecido no Calçadão, no centro da cidade, a morte

torna-se mais destacada.

Em contrapartida ao tratamento da vítima como jovem e universitário, os rapazes que

cometeram o crime, conforme consta na página 2 da edição de 17 de agosto do AR, são

designados por outras adjetivações: “o bárbaro crime cometido contra o jovem Ângelo

Razzolini Biazzi, 23 anos, morto por delinquentes na manhã do último domingo, pelo visto

mexeu com as autoridades encarregadas de dar segurança ao cidadão”. Wainberg (2005, p.

99) afirma que “[...] a palavra produz efeito persuasor ao alterar julgamentos, ou ainda

influenciar o nível de compreensão e memória do receptor sobre os fatos [...].” Logo os

rapazes que cometeram o crime são associados às drogas e outras atividades ilícitas. Na

edição de 16 de agosto do DSM, na página 12, enuncia-se: “Algumas pessoas vêm ao Centro

na intenção de roubar para comprar drogas, segundo comandante do 1° Regimento de Polícia

montada da Brigada Militar”. O termo drogas (vide APÊNCIDE D), aliado aos jovens

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15

criminosos, apareceu 15 vezes no DSM, e 49 vezes no AR, já a expressão bebidas alcoólicas

foi citada no DSM por 12 vezes, e no AR por 47 vezes.

Nesse sentido, o AR enfatizou mais a diferenciação de ações entre vítima e

criminosos, embora fossem jovens da mesma faixa etária. Por exemplo, na edição de 17 de

agosto, o AR enunciou em sua página 2: “Os menores que se envolveram no homicídio de

domingo estariam alcoolizados e drogados e as pesquisas comprovam que a proibição do

consumo do álcool diminui a violência”.

Os jornais também enfatizaram que os jovens que cometeram o assassinato são

moradores da periferia da cidade, e provém de família humilde. Segundo Ramos e Paiva

(2007) “[...] uma pauta sobre o indivíduo branco, jovem, com nível superior, morador de um

bairro nobre, valerá muito mais do que a de um trabalhador manual, desempregado, negro,

morador da periferia e que mal completou o Ensino Fundamental.” Como, por exemplo,

conforme consta na página 8, de 15 de agosto do DSM: “o estudante de Design de Produto da

Unifra, Ângelo Razzolini Biazzi, 23 anos, foi assassinado no Calçadão Salvador Isaia. Biazzi

engrossou uma triste estatística: ele foi à quinta vítima de latrocínio em Santa Maria em

2011.” Outro exemplo está na edição de 16 de agosto, página 12, do DSM: “ - Os pais do

Ângelo acreditaram no sonho dele e promoveram a vinda dele para Santa Maria. E assim, a

cidade retribui – desabafou a amiga, Luiza Beck Arigoni, 22 anos”.

Ramos e Paiva (2007, p. 96) dizem que “a maior expressão da hierarquização, que

culmina na definição de valores diferenciados para a vida, é o destaque concedido pela mídia

à morte de pessoas dos setores médios ou dominantes, ao lado da naturalização do massacre

cotidiano de moradores da periferia, em particular o que atinge os jovens negros e com baixa

escolaridade”. Questões como a infraestrutura da periferia, o acesso desses jovens marginais

ao ensino superior ou motivações para o crime que não tangenciassem a droga e o álcool não

foram exploradas. Como afirma Gauer (2008, p.125-126) diz que “a violência é desnudada

nas bancas dos jornais e descrita cotidianamente. Isso faz com que cada indivíduo a absorva e

internalize na sua rotina. Muitas vezes a condenação de um indivíduo que foi nos jornais,

durante semanas, é sentida como alivio, pela sociedade, que por sua vez, o esquece”.

O crime valeu, em si, para mais uma vez vitimizar o mocinho e massacrar

discursivamente os criminosos, que inclusive já foram assim julgados e citados pelos meios

de comunicação em questão. Por outro lado, contribuiu também como estímulo para o debate

social sobre temas referentes à segurança pública.

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16

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

É posssível notarmos que ambos os jornais trabalharam com o tema violência e, a

partir dele, relacionaram outros assuntos, ocasionando o debate dentro da sociedade com os

temas, tais como segurança pública, fiscalização à distribuidoras e bares que comercializam

bebidas alcoólicas, ausência de policiamento, consumo de drogas, acidentes de trânsitos, entre

outros. Ao analisar a editoria de policia, os dois periódicos noticiaram principalmente o caso

de latrocínio (roubo seguido de morte), ocorrido no Calçadão Salvador Isaia. Nesse sentido,

foram identificados juizo de valor, através de palavras e expressões, como no caso do jovem

em ambos os jornais encontramos (jovem, universitário e vítima), uma vez que os dois

periódicos trouxeram vários depoimentos de pai, amigos, colegas e professores do

universitário para comprovar que ele era um estudante dedicado, rapaz bom, feliz e que não

fazia mal a ninguém – de forma a construir a vítima como o bom mocinho cujos sonhos foram

podados por um crime bárbaro – narrativa recorrente ao se tratar midiaticamente de

homicídios de jovens. Por outro lado, os rapazes que cometeram o crime foram tratados como

deliquentes, crimonosos, e associados a bebidas alcoólicas e drogas. Além de que, ambos os

jornais enfatizam que os jovens que cometam o crime provinham de família humilde e são

moradores da periferia de Santa Maria.

Percebemos também que como o caso de violência aconteceu no centro da cidade, o

crime toma outra proporção nas páginas dos jornais, porque ali é ponto de encontro dos

moradores da cidade, seja por motivo de trabalho ou por diversão, e que por isso deveria ter

mais segurança, mais policiamento tomando conta do local, para quem transita neste local seja

em qualquer horário. Mas acaba sendo mostrado ao contrário, pois a falta de segurança está

presente no local e visivél nas publicações das notícias tanto do Diário de Santa Maria quanto

do A Razão.

Os dois jornais construíram uma narrativa repleta de adjetivações, e a violência, está

claro, é tema recorrente em nos periódicos, que conferem diariamente significante espaço às

más notícias. Contudo, a construção de uma narrativa que trabalhe fatos e os conecte com

outras questões relevantes ao debate social está preservada, em detrimento de outras

possibilidades de tratamento discursivo que priorizassem o sensacionalismo nas notícias,

exploradas de forma cruel oa retratar o episódio.

Cabe resaltarmos que tanto o A Razão quanto o Diário de Santa Maria trabalham com

a editoria de policia de uma a duas páginas. E consideramos também que o Diário de Santa

Maria optou por não trabalhar as informações sobre violência em outras editorias além da

policial, demonstrando que os veículos fizeram diferentes escolhas quanto ao tratamento do

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17

latrocínio: o DSM conferiu destaque à ocorrência em si como acontecimento; enquanto isso,

AR usou do caso como estímulo para a produção de outras pautas referentes à segurança

pública, manisfestação do pedido de paz, instalação de câmeras de segurança pública no

centro da cidade, entre outros. Isso mostra que o DSM trabalha com uma regularidade no

tratamento das informações, pois é um espaço já esperado pelo público leitor ao noticiar esses

fatos.

Observamos também que o DSM trabalhou a informação sobre o latrocínio do

estudante de Design de Produto do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), nas capas,

bem mais que o A Razão, sendo assim, o DSM apostou mais no acontecimento em si, e não

direciona de imediato para os outros assuntos que surgiram no decorrer da semana. Porém

para o jornal AR que deslocou as informações para outras editorias, a morte do jovem não se

vale em si, mas ela serve de suporte para deslocar a pauta para outras editorias, e proporcionar

discussões dentro da sociedade.

Enfim, percebemos que o jornalismo investigativo, que poderia ter trazido outras

várias atribuições ao acontecimento, acabou dando espaço para o jornalismo de atualidade,

que baseia-se em estereótipos prontos, narrativas pré-concebidas, e uso de uma ocorrência

como estopim para a exploração da pauta em outras editorias.

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20

APENDICÊ A –

Dias da Semana de Análise Espaço Total

15 de agosto 2426,24 cm² 23,92%

16 de agosto 1330,59 cm² 11,84%

17 de agosto 1657,16 cm² 13,98%

18 de agosto 1060,33 cm² 8,87%

19 de agosto 2030,99cm² 17,46%

20 e 21 de agosto 1986,9 cm² 11,60%

22 de agosto 2454,3 cm² 20,85%

Quadro 1– Espaço para o tema violência no jornal Diário de Santa Maria

Dias da Semana de Análise Espaço Total

15 de agosto 1569,35cm² 16.02%

16 de agosto 2662,2 cm² 25,81%

17 de agosto 2997,1cm² 24,79%

18 de agosto 1656,75 cm² 13,59%

19 de agosto 1068,2 cm² 10,78%

20 e 21 de agosto 2577,1 cm² 15,07%

22 de agosto 1416,55 cm² 12,80%

Quadro 2 - Espaço para o tema violência no jornal A Razão

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APENDICÊ B –

Dias da Semana de Análise Editoria Policial Outras Editorias

15 de agosto 854,56 cm² 8,42% 513,74 cm² 5,06%

16 de agosto 162,96 cm² 1,45% 192,4 cm² 1,71%

17 de agosto 682,07 cm² 5,75% 229,4 cm² 0,19%

18 de agosto 676,74 cm² 5,66% 57,23 cm² 0,47%

19 de agosto 1045,48 cm² 8,98% 763,54 cm² 6,56 %

20 e 21 de agosto 791,91 cm² 4,62% 67,2 cm² 0,39%

22 de agosto 1144,35 cm² 9,72% 300 cm² 2,54%

Quadro 3 – Lugar em que estão localizadas as notícias sobre violência no DSM

Dias da Semana de Análise Editoria Policial Outras Editorias

15 de agosto 673,1 cm² 6,87% 425,5 cm² 4,34%

16 de agosto 1319,25cm² 12,79% 447,1 cm² 4,33%

17 de agosto 828,6 cm² 6,85% 1150,35 cm² 9,51 %

18 de agosto 324,5 cm² 2,66% 364,5 cm² 2,99%

19 de agosto 525,74 cm² 5,30% 403,5 cm² 4,07%

20 e 21 de agosto 416,6 cm² 2,43% 1293,3 cm² 7,56%

22 de agosto 416,85 cm² 3,76% 537,95 cm² 4,86%

Quadro 4 – Lugar em que estão localizadas as notícias sobre violência no AR

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APENDICÊ C –

Dias da Semana de Análise Latrocínio Outros Casos de Violência

15 de agosto 17,88% 6,04%

16 de agosto 10,01% 1,83%

17 de agosto 9,71% 4,27%

18 de agosto 2,60% 6,27%

19 de agosto 7,80% 9,66%

20 e 21 de agosto 10,20% 1,40%

22 de agosto 9,97% 10,88%

Quadro 5 - Espaço sobre violência conferido ao latrocínio no Diário de Santa Maria

Dias da Semana de Análise Latrocínio Outros Casos de Violência

15 de agosto 6,21% 9,81%

16 de agosto 19,64% 6,17%

17 de agosto 23,52% 1,27%

18 de agosto 4,82% 3,94%

19 de agosto 4,18% 12,53%

20 e 21 de agosto 0% 14,37%

22 de agosto 2,13% 8,05%

Quadro 6 - Espaço sobre violência conferido ao latrocínio no A Razão

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APENDICÊ D –

Conteúdo sobre violência Aparições

Calçadão

Roubo

Morte

Brigas

Facadas

Latrocínio

Drogas

Assassinato

Bebidas Alcoólicas

Acidente

68

65

52

45

28

25

15

13

12

10

Conteúdo sobre a vítima Aparições

Jovem

Universitário

Vítima

Namorado

Bom filho

Amigo Legal

Colega

Aluno Brilhante

28

24

22

06

04

02

01

00

Quadro 7 - Análise de conteúdo nos discursos sobre a morte do universitário no DSM

Conteúdo sobre violência Aparições

Morte

Drogas

Bebidas Alcoólicas

Brigas

Calçadão

Roubo

Acidente

Facadas

Assassinato

Latrocínio

71

49

47

45

41

25

23

20

04

04

Conteúdo sobre a vítima Aparições

Jovem

Universitário

Vítima

Colega

Aluno Brilhante

Amigo Legal

Namorado

Bom filho

30

27

17

04

02

02

00

00

Quadro 8 - Análise de conteúdo nos discursos sobre a morte do universitário no AR

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