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TREINO DA VISO PERIFRICA PARA O FUTEBOL E SEUS DERIVADOS

por

Nelson Kautzner Marques Junior

Trabalho Monogrfico Elaborado na Disciplina Orientao de Dissertao II na Linha de Pesquisa do Estudo dos Mecanismos e Processos da Aprendizagem e da Conduta Motora do Mestrado em Cincia da Motricidade Humana da Universidade Castelo Branco

Rio de Janeiro Outubro de 2009

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RESUMO O objetivo deste trabalho auxiliar o professor de Educao Fsica a entender as publicaes sobre o Treino de Viso Perifrica, sesso do futebol e dos seus derivados que educa o atleta a jogar de cabea erguida, que prioriza a viso espacial. O que torna possvel a observao mais apurada da cena esportiva pelo futebolista. Esta reviso de literatura apresenta, para o professor, informaes detalhadas sobre os contedos necessrios para estruturar o Treino da Viso Perifrica. Sendo elaborado em 2008, mas foi atualizado durante o ano de 2009 para esse trabalho monogrfico possuir mais qualidade para o leitor. Em concluso, existem poucas pesquisas sobre o Treino da Viso Perifrica por isso o tema ainda no atingiu o status de estado da arte apesar da relevncia dessa sesso para o futebol e seus derivados. Palavras-chave: Viso, Treinamento, Futebol, Aprendizado, Desempenho esportivo.

Referncia da Pesquisa: Marques Junior NK (2009). Treino da viso perifrica para o futebol e seus derivados. 110 f. Monografia, Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro.

Produo cientfica sobre o Treino da Viso Perifrica de Marques Junior NK: - (2008). O efeito do treino da viso perifrica no ataque de iniciados do futsal: um estudo na competio. 157 f. Dissertao, UCB, RJ. http://educacaofisica.seed.pr.gov.br/ - (2008). O efeito do treino da viso perifrica na zona dos gols do futsal. Revista de Educao Fsica do Exrcito. (143):20-9. www.revistadeeducacaofisica.com.br - (2008). O efeito do treino da viso perifrica na correlao entre chutes para o gol e tentos realizados no futsal. Conexes. 6(2):13-27. www.unicamp.br/fef/ - (2008). Contedo bsico para estruturar o treino da viso perifrica no futebol de salo. Movimento e Percepo. 9(13):161-90. www.unipinhal.edu.br/movimentopercepcao - (2009). The effect of the peripheral vision training of the quantity of actions during the attack of the indoor soccer. Brazilian Journal Biomotricity. 3(1):40-55. www.brjb.com.br - (2009). Ensino do treino da viso perifrica para jogadores do futsal. REFELD. 4(1):34-52. www.refeld.com.br - (2009). Estudo da viso no esporte: o caso do futebol e do futsal. Revista de Educao Fsica do Exrcito. (144):45-55. www.revistadeeducacaofisica.com.br

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DEDICATRIA

Este trabalho monogrfico dedicado cachorra Laika que esteve sempre ao meu lado durante a minha produo cientfica. Laika, voc proporcionou muitos momentos de alegria, descanse em paz.

Laika*15/01/1997 a 6/09/2009

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SUMRIO

Introduo, 5

Captulo 1 Contedo Bsico para Prescrio do Treino da Viso Perifrica, 10 Instruo do Tcnico de Futebol, 11 Aprendizado Neuromotor e Aperfeioamento Neuromotor, 17 Tipos de Sesso para o Treino da Viso Perifrica, 29 Periodizao Ttica Adaptada, 52

Captulo 2 Testes de Controle para o Treino da Viso Perifrica, 59 Hemisfericidade, 59 Metacognio, 69 Anlise do Jogo, 70 Estatstica, 77

Consideraes Finais, 91

Referncias, 92

Glossrio, 107

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INTRODUO O futebol uma modalidade ttica e depende da tcnica para resolver a situao problema (Griffin et al., 2001). Durante essa jogada costuma ocorrer um confronto entre o ataque e a defesa (Grhaigne, Godbout & Bouthier, 1997). E o adequado posicionamento ttico da equipe que permite a superioridade ofensiva e defensiva na partida (Cunha, Binotto & Barros, 2001). Cada time ou seleo possui um sistema de jogo (4-3-3, 3-5-2 e outros) de acordo com as caractersticas dos seus jogadores (Reis, 2003) e tambm em alguns casos, escolhido o sistema de jogo que traga maior dificuldade ao oponente. Em todo sistema de jogo est inserido um modelo de jogo, baseado na maneira de jogar da equipe. Por exemplo, o 3-5-2 da seleo da Dinamarca da Copa de 86 era totalmente diferente do 3-5-2 da seleo brasileira da Copa de 90. Contudo, para um sistema de jogo surtir efeito com seu modelo de jogo durante uma partida de futebol necessrio que o tcnico aplique na sua equipe uma boa estratgia e ttica porque so essas duas variveis que diferem os melhores dos inferiores (Garganta, 2006; Grhaigne, Godbout & Bouthier, 1999; Lebed, 2006). Essa ttica do time ou da seleo somente ocorre com maestria se acontecer uma eficaz visualizao dos futebolistas da partida que desencadeia em aes racionais comandadas pelo encfalo (Fonseca et al., 2005). Geralmente equipes que jogam em casa possuem uma supremacia ttica em relao ao visitante, proporcionando mais chance de vitria para os mandantes de campo (Diniz Da Silva & Moreira, 2008). A ttica do futebol o fator que mais influi na vitria de uma equipe, como demonstra a figura 1 (Garganta, Maia & Marques, 1996):

Figura 1. A ttica o componente mais importante para uma equipe de futebol.

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O futebol um esporte ttico, a pausa (ativa ou passiva) mais praticada na partida, depois os esforos moderados e com mnima participao as aes de alta velocidade com bola ou sem esse implemento. Os movimentos de alta velocidade so determinantes para ocorrncia dos gols (Balsom et al., 1999; Mohr, Krustrup & Bangsbo, 2003; Reilly, 1997). Cometti (2002) mostra como ocorrem os esforos da movimentao ttica do futebol:

Figura 2. Esforo no futebol com adaptao em Cometti (2002).

O jogador de futebol realiza melhor a ttica ofensiva se praticar essa tarefa com nfase na viso perifrica porque o atleta observa todo o contexto da partida (Grhaigne, Godbout & Bouthier, 2001; Marques Junior, 2009; Rink, French & Tjeerdsma, 1996), o bom uso da viso perifrica fundamental para o goleiro e jogador de linha nas tarefas de incio ofensivo, na construo do ataque e na finalizao (Navarro & Almeida, 2008). A viso perifrica possui um campo visual de 180, enquanto que a viso central consegue uma visibilidade de 20. Mas a apreenso adequada da viso perifrica depende de uma metacognio de excelncia do futebolista para desempenhar as jogadas com eficcia importante que seja considerado a hemisfericidade do atleta porque o esportista de hemisfrio esquerdo de processamento mental hbil para tarefas analticas e o competidor de hemisfrio direito de processamento mental mais competente em atividades motrizes. A figura 3 ilustra a diferena de observao entre a viso espacial e a viso central de um mesmo futebolista:

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Viso Central de 20

Viso Perifrica de 180

Figura 3. Jogador de futebol com posse da bola utilizando, em momentos distintos, tipos de viso diferentes.

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A viso perifrica proporciona maior campo visual aos esportistas no exerccio (Aravena et al., 1996; Jafarzadehpur, Aazami & Bolouri, 2007), e importante para o futebol e os derivados desse esporte (futsal, futebol na areia, futebol society, show bol e outros) (Knudson & Kluka, 1997). McGarry e Franks (2000) observaram que a anlise visual associada ao conhecimento ttico proporciona uma cobrana mais precisa do pnalti. Finnoff, Newcomer e Laskowski (2002) determinaram que o melhor campo visual do jogador influi na preciso do chute em direo meta. Van Der Kamp (2006) evidenciou que um pnalti convertido depende da ateno, da boa tcnica e da qualidade visual do futebolista. Para Williams e Hodges (2005) a viso perifrica possibilita uma antecipao numa jogada de at 5%. Williams e Davids (1998) evidenciaram que acontece uma melhor resposta visual no jogo de futebol de atletas experientes quando comparados aos esportistas com pouca prtica. Oftamologistas indicam o treino da viso para esportistas (Beckerman & Fornes, 1997; Wood & Abernethy, 1997). Mas essa sesso no difundida na modalidade, apesar dos esforos de Williams (1999) em tentar popularizar o treino da viso para o futebol. Talvez, esse treino seja uma novidade para exercitar futebolistas, mas h outros meios alternativos de otimizar esses jogadores que comeam obter espao no futebol, o caso do treino mental (Behncke, 2004) e o uso da luz e som (Ribeiro, 2006; Vernon Silva et al., 2008). Ambos os treinos visam melhorar o processamento mental do encfalo. Atualmente treina-se o encfalo dos futebolistas, ento, porque os tcnicos no praticam o treino da viso nos jogadores de futebol? O instrumento caro? Exige muito estudo? Qual o problema? Pinto e Arajo (1999) aconselharam a prtica do Treino da Viso Perifrica que educa o esportista a enfatizar a viso espacial durante a partida. Isto conseguido porque o Treino da Viso Perifrica faz com que o jogador atue de cabea erguida nas partidas. O nome dessa sesso, Treino da Viso Perifrica, foi denominado por Pinto e Arajo (1999). Nos anos 50, o tcnico do Canto do Rio Football Club de Niteri, Rio de Janeiro, Brasil, orientava os iniciados dessa instituio a jogar com prioridade na viso perifrica porque essa tcnica facilita ao futebolista executar suas jogadas (Marques Junior, 2008a). Durante esse treinamento foi revelado um dos melhores meio-campistas de todos os tempos, o canhoto Grson, que utilizava como poucos a viso espacial para efetuar seus lanamentos, muitas dessas jogadas foram transformadas em gols pelos atacantes. Esse atleta foi fundamental para o Brasil na Copa do Mundo de 1970 no Mxico, quando foi conquistado o tricampeonato numa exibio de gala do selecionado brasileiro. Aproveitando o ar rarefeito que proporciona maior velocidade bola, a cada lanamento prximo meta do oponente um dos

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atacantes do Brasil dominava a bola, aumentando as chances de gols. Muitos tentos resultaram dessa jogada. Outra vantagem de Grson ao atuar na partida de cabea erguida, era escolher o jogador melhor posicionado para receber seu passe longo. sabido que a altitude deteriora a performance do futebolista, mas com os lanamentos precisos do Canhotinho de Ouro pouparam fisicamente a equipe brasileira porque muitas vezes no era necessrio conduzir a bola at prximo da meta adversria, embora nessa Copa, o Brasil tenha sido o pas com melhor preparo fsico. Portanto, o objetivo dessa pesquisa ensinar ao tcnico como estruturar e prescrever o Treino da Viso Perifrica atravs de um contedo neurometodolgico para jogadores de futebol e atletas dos seus derivados. Esta obra aprova a revoluo conceitual do esporte, e se destina s trs dimenses sociais do futebol, conforme Tubino (2001) determinou: a) esporteeducao, b) esporte-lazer e c) esporte de rendimento. O conceito do futebol e outros esportes foi ampliado aps a UNESCO publicar, em 1978, a Carta Internacional de Educao Fsica e Esporte que determinou que o esporte um direito de todos (Tubino, 2006). Ento, o Treino da Viso Perifrica pode ser utilizado nas trs dimenses sociais do esporte de acordo com o pensamento do Esporte Contemporneo.

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CAPTULO 1 CONTEDO BSICO PARA PRESCRIO DO TREINO DA VISO PERIFRICA A tarefa do treinador do futebol consiste em estruturar e prescrever a sesso, educar o atleta, determinar os titulares e reservas, estabelecer o melhor sistema de jogo, o tipo de modelo de jogo para o time ou seleo e comandar a equipe durante a partida (Meinberg, 2002). Apesar dos diversos afazeres e da sua importncia para a equipe, o ofcio do tcnico num clube de futebol da iniciao ao alto rendimento instvel, depende dos bons resultados para permanecer no cargo (Marques, 2000). Garganta (2004) lembrou que o tempo de permanncia do treinador no clube ou seleo influi na otimizao do modo de jogar dos comandados. Devido ao estresse que ocorre durante a temporada, aconselha-se um acompanhamento psicolgico para o tcnico realizar seu trabalho com serenidade (Samulski, 2000). Para os jogadores, o tcnico ideal exibe um comportamento treino-instruo (treinador que visa melhora do jogador com sesses tcnico e/ou tticas com informao sobre suas aes) e liderana democrtica (Lopes, Samulski & Noce, 2004). J os treinadores julgam que o perfil ideal do tcnico para o futebol da atualidade deve ter um comportamento treinoinstruo e estilo de deciso autoritrio porque os atletas dessa modalidade precisam de um lder de pulso firme para conduzir as atividades do grupo (Costa & Samulski, 2006). impossvel que a atuao e a personalidade do tcnico agradem a todos os envolvidos nesse esporte: jogadores, torcidas, dirigentes, mdia e outros. (Tahara, Schwartz & Acerra Silva, 2003). O responsvel pela sesso deve se preocupar em realizar constante estmulo de elevao psicolgica, a motivao, tanto no treino como no jogo. O tcnico precisa estar atento aos conceitos cientficos capazes de auxiliar a conduzir sua equipe a vitria, como o Treino da Viso Perifrica, cuja prescrio e aplicao devem ser baseadas em contedo neurometodolgico. Verkhoshanski (2001) alertou que os erros cometidos pelos tcnicos durante a temporada podem interferir, significativamente, nos seus atletas e conseqentemente prejudicar o desempenho do grupo. A literatura destaca alguns desses problemas:

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a) Os treinadores exageram na quantidade de informaes dadas durante o treino ou no decorrer de uma partida (Botelho, Mesquita & Moreno, 2005). necessrio respeitar o estgio de desenvolvimento cognitivo explicado por Piaget quando transmitir as instrues. b) Nas sesses do futebol d-se nfase a Fisiologia do Exerccio, esquecendo-se o contedo do Aprendizado Neuromotor (Tani, 2002). c) No treino do futebol privilegia-se a preparao fsica em relao a sesso com bola (Mantovani, 1998; Silva, 1999). d) Geralmente os modelos de periodizao prescritos para os futebolistas so oriundos dos esportes individuais, com nfase no condicionamento fsico. A modalidade merece uma periodizao especfica (Garganta, 1993). Beresford (1999, p. 63-83) concluiu: O tcnico de futebol possui muitas carncias no seu trabalho do dia-a-dia, precisando agregar muita informao para elaborar e realizar o Treino da Viso Perifrica, o valor (Grande Adaptao).

Instruo do Tcnico de Futebol O tcnico de futebol para instruir o jogador adequadamente deve se expressar pausadamente. A linguagem deve ser simples, clara e precisa e a explicao, breve, preocupando-se com a engramatizao do contedo (Silva, 2006). Recomendam-se trs informaes, no mximo, para cada jogador durante o treino ou o jogo (Smeeton, 2006) porque o encfalo s consegue absorver uma quantidade pequena de instrues (Claxton, 2005). Caso o treinador precise dar mais orientaes para o mesmo jogador, aconselha-se esperar algum tempo e realizar nova sesso de informaes. A qualidade da informao transmitida ao jogador pelo tcnico proporcionar adequada execuo da tarefa pelo futebolista (Boyce, 1990; Papaioannou et al., 2004). O tcnico deve explicar, demonstrar e orientar o atleta para alcanar alto aprendizado ou elevado aperfeioamento da atividade do futebol (Oliveira, 2004). Durante as instrues, o treinador deve incentivar o jogador a desempenhar as sesses com alta motivao (Richardson, 2000). As correes e orientaes feitas pelo tcnico podem apresentar certa energia, mas obedecendo as normas de civilidade e educao (Zneimer, 1999a). Sempre que possvel o orientador do grupo deve fornecer um

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feedback do que foi pedido e do que o atleta realizou, isto otimiza o contedo na memria do esportista (Zneimer, 1999b). A realizao dos procedimentos descritos quando o tcnico instrui seus comandados fundamental para o futebolista que pratica o Treino da Viso Perifrica e abolir a prtica de um nmero excessivo de informaes por perodo longo, que resulta em pouca aquisio ou reteno na memria do atleta, inibindo, segundo Faria e Tavares (1996) a tomada de deciso do competidor do futebol. O tcnico de futebol ao instruir como ensinado anteriormente reconhece que a memria de curta durao armazena as orientaes do treinador durante segundos a poucos minutos ou horas e que a memria de curta durao s convertida em memria de longo prazo, se ocorrer modificaes sinpticas e formar uma nova rede de neurnios (Arbib & rdi, 2000). Leia Squire e Kandel (2003) para saber mais sobre a memria Durante a instruo o tcnico de futebol deve considerar que a informao visual extremamente importante na aprendizagem ou no aperfeioamento (Barbanti, 2001) do Treino da Viso Perifrica. Heron Beresford afirmou em sua aula de Epistemologia no Mestrado da UCB, em 22 de janeiro de 2007, que no aprendizado ou no aperfeioamento de um contedo a viso corresponde 81%, a audio 10% e os demais percentuais so da percepo. A viso to relevante para o atleta, que a ligeira ocluso visual interfere no aprendizado (Bennett et al., 1999), prejudica a preciso do chute do futebol para um alvo (Ford et al., 2006) e outros. Farinatti (1995) lembrou que o jogador de futebol com at 9 anos possui padro visual inferior ao do pr-pbere que j possui viso adulta, 20x20. Bear, Connors e Paradiso (2002) informaram que algumas pessoas apresentam anormalidade em distinguir determinadas cores por causa de erro gentico ou desvio na sensibilidade espectral. Essa deficincia refere-se a no percepo do vermelho e do verde (Obs.: Pode acontecer esse fenmeno com outras cores, mas essas so mais comuns). Geralmente esse problema visual ocorre mais em homens do que em mulheres. No estudo sobre a recepo da bola do voleibol com diferentes cores foi evidenciado que os melhores resultados acontecem com a bola vermelha-azul-branca, em segundo, a bola azul-amarela-branca, depois verde-vermelha-branca e por ltimo a de cor branca (Lenoir et al., 2005). Para esses autores a sensibilidade espectral que explica a variao na qualidade do passe conforme a cor da bola. Assim, o estudo teve a seguinte classificao quanto a recepo: a melhor recepo ocorre com a bola vermelho-azul, a segunda com a bola azul-

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amarelo e a terceira com a bola verde-vermelha. Na ausncia de cor, o branco, a percepo visual mais lenta para efetuar o fundamento do voleibol. Essa evidncia cientfica alerta o tcnico sobre a importncia da viso. Durante as orientaes do Treino da Viso Perifrica, o tcnico precisa adequar sua sesso faixa etria da equipe de futebol. A Psicloga Mestrando pela USP, Amlia Meleiros, explicou em 2003 na palestra sobre Motivao para os funcionrios de Ginstica Laboral, que, o Educador Fsico ao instruir uma criana precisa se agachar, ficando na altura do menino e/ou da menina para criar igualdade entre ambos e evitando que o pequeno se assuste com o professor nas primeiras sesses, no caso do livro, o treino de futebol. A figura ilustra essas explicaes:

1 tcnico dando instruo, 2 trs jogadores escutando o treinador.

Figura 4. Postura adequada do professor de futebol ao instruir crianas.

O tcnico de futebol de crianas precisa saber que, geralmente nesta idade, esses jovens apresentam dficit de ateno o que dificulta engramatizar a informao (Marques Junior, 2006). Assim, a instruo do Treino de Viso Perifrica deve ser breve. E prefervel que os ensinamentos no ocorram durante os exerccios que exigem muito da ateno. Por exemplo, o cerebelo da criana est em formao, em tarefas de equilbrio ele no to eficaz, logo o educando exibir dificuldade ao realizar a tarefa (Negrine, 1987) e estar atento as explicaes do treinador. Outro exerccio que pode deteriorar a informao do professor o andar de costas da criana, como exige equilbrio (o cerebelo nesta idade no to efetivo), noo espacial e os neurnios esto em mielinizao (prejudica a coordenao do jovem), por isso, o tcnico deve interromper a atividade ao dar sua instruo. A figura 5 refora o ensinado:

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1 deslocamento do atacante, 2 atacante, 3 posio inicial do zagueiro, 4 recuo do zagueiro, 5 zagueiro, 6 encfalo ampliado, 7 cerebelo, 8 - ampliao da mielinizao do neurnio.

Figura 5. Sesso de marcao com sombra, com deslocamento para trs do zagueiro. Faixa etria de futebolistas de 5 e 6 anos.

Durante o Treino da Viso Perifrica de crianas ao pbere, as instrues do tcnico devem ser ensinadas considerando o desenvolvimento cognitivo de Piaget. No estgio properacional (2 a 7 anos) a criana egocntrica. Durante o jogo, apresenta dificuldade em passar a bola para o seu colega, o jogo fica aglutinado, todos querem a bola e a baixa noo espacial prejudica o posicionamento no campo. Para crianas do perodo simblico, as atividades devem simular brincadeiras: objetos que falam, criar um imaginrio nesses alunos de jogar futebol voando e outros (Benda, 1999). Crianas de 7 a 11 anos se encontram no perodo operacional concreto. Esse jovem possui raciocnio para condies da realidade de ser (Bianco, 2006), por isso esse futebolista demonstra dificuldade para aprender conceitos abstratos, estratgia e ttica (Bianco, 1999). A percepo espacial nessa idade continua baixa, ainda pode ocorrer jogo aglutinado. No ltimo estgio, o operacional formal (12 anos em diante), o pensamento abstrato praticado com

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qualidade porque esse futebolista possui um encfalo totalmente desenvolvido. Porm, acontecendo alguns fatos, a instruo tcnica pode ser prejudicada, ocorre com o jovem, mas tambm com o adulto. Elas so: a) Um jogador de futebol em provas finais ou estudando muito pode no conseguir absorver a informao do treinador por causa do cansao intelectual (Filin & Volkov, 1998). b) Atletas com problemas de sono apresentam prejuzo de ateno durante a instruo do tcnico. A sonolncia interfere na qualidade da memria (Boscolo et al., 2007). c) Exerccios de alta intensidade por longas horas prejudicam a funo cognitiva do esportista, afetando nas orientaes do Educador Fsico (Antunes et al., 2006). H mais um contedo para auxiliar o tcnico a diminuir os rudos que prejudicam suas instrues, a hemisfericidade. Esse tema, Vernon Silva (2002) informa, estudado no Mestrado da Universidade Castelo Branco (UCB), inclusive j foi pesquisado nessa modalidade na dissertao de Pvel (2003). Beltro (2007) lembrou que a hemisfericidade investigada no Mestrado em Cincia da Motricidade Humana da UCB na linha de pesquisa do Estudo dos Mecanismos e Processos da Aprendizagem e da Conduta Motora. Para alguns treinadores do futebol a hemisfericidade uma novidade, mas, nessa instituio, diversas dissertaes j foram defendidas (Leite, 2004; Marques, 2004; Paula Neto, 2004; Pinho, 2005) e produzidos vrios artigos sobre esse tema pelo Laboratrio de Neuromotricidade Humana da UCB (Cunha et al., 2004; Oliveira, Vernon Silva & Silva, 2006; Pinho et al., 2007), podendo ter o status de estado da arte (significa que vrias evidncias cientficas seguem um determinado resultado). Alm das diversas obras publicadas pelos mestrandos da UCB, Springer e Deutsch (1998) escreveram um livro sobre o tema. Nesse campo de estudo, hemisfericidade, os cientistas Fairweather e Sidaway (1994) so os mais renomados pesquisadores. Hemisfericidade o estudo da atuao dos hemisfrios, esquerdo e direito, durante o processamento mental e pode ser identificada pelo Teste de CLEM (ser ensinado no captulo 2). O tcnico para orientar os jogadores de futebol de hemisfrio esquerdo de processamento mental necessita realizar uma instruo verbal e analtica porque esse tipo de hemisfericidade absorve melhor o contedo dessa maneira. Enquanto que os futebolistas de hemisfrio direito de processamento mental conseguem aquisio ou reteno do contedo ensinado atravs da orientao no verbal e holstica. Ento, quando o treinador ensinar algum contedo do Treino

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da Viso Perifrica, necessita de falar (para o hemisfrio esquerdo) e demonstrar a atividade (ensino no verbal para o hemisfrio direito). Por fim, explicada resumidamente a metacognio cuja funo ser, ainda que indiretamente, auxiliar o professor a ministrar a sesso do Treino da Viso Perifrica. A metacognio se relaciona s estratgias especficas para regular a orquestrao de vrias tarefas cognitivas que possuem a melhor resposta para resolver a atividade. Para um melhor entendimento do termo metacognio, pode-se explicar como inteligncia de jogo do futebolista. O tcnico que conhece a metacognio futebolstica de cada esportista pode deduzir as diferenas na assimilao s instrues e na soluo da situao problema; isto , alguns esportistas assimilam as instrues do tcnico adequadamente e resolvem com qualidade a atividade; outros respondem s instrues abaixo do esperado. Aconselha-se ao Educador Fsico ministrar seus ensinamentos observando esta diferena, ou seja, aos jogadores com alta metacognio pode-se fornecer instrues de alta complexidade e exigir que tarefas difceis sejam bem executadas, j, para os esportistas com baixa metacognio, as orientaes so mais simples, a tarefa fcil e se for de elevada exigncia, o tcnico no deve impor uma execuo de excelncia. Por exemplo, o conhecimento terico sobre futebol tem diferena significativa (p0,001) entre jogadores de clube (JC) de 13 a 15 anos e futebolistas de escolinha (E) na mesma faixa etria (Viana Da Silva, 2000). A figura 6 expe essa desigualdade, os valores dos jogadores de clube so superiores:

Figura 6. Mdia de acertos sobre o conhecimento terico do futebol.

Respeitando o resultado da figura 6, o treinador pode diferenciar a abordagem nas suas instrues para os atletas de clube e para os esportistas da escolinha. Para os jogadores de

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clube, o tcnico dar orientaes mais detalhadas para os meninos da escolinha, a informao dever ser mais simples. Determinando a metacognio da equipe, Oliveira, Beltro e Vernon Silva (2003) sugerem a criao de um ranking sobre esse componente do encfalo, pode-se individualizar o nvel da instruo para cada jogador de futebol, ou seja, os com elevada metacognio a orientao pode ser complexa e ao contrrio para os competidores com esse componente fraco.

Aprendizado Neuromotor ou Aperfeioamento Neuromotor At a dcada de 80, mais ou menos, para um atleta aprender ou aperfeioar um fundamento no seu esporte era incentivado a repetir at atingir um estgio de excelncia do fundamento treinado ou da ttica exercitada (Reis, 2000). Atualmente o treinamento com embasamento cientfico prioriza a qualidade, contedos da neurocincia so aplicados s sesses para o professor compreender como se processa o aprendizado ou o aperfeioamento do futebolista. Pesquisadores de renome indicam o eletroencefalograma para identificar a causa da evoluo neuromotora via atividade eltrica cortical (Luft & Andrade, 2006). E o tcnico do futebol pode determinar a aquisio da neuromotricidade humana dos seus jogadores por ondas corticais atravs do neurofeedback ProComp (Marques et al., 2005). Contudo, essa tecnologia onerosa e exige profissionais qualificados para analisar o resultado dos testes. Bear, Connors e Paradiso (2002) informaram que a capacidade sinptica declina quase 50% no pr-pbere (geralmente com 10 a 12 anos) e no pbere (mais comum com 13 a 16 anos) devido a perda de receptores colinrgicos ps-sinpticos resultando na retirada das terminais axnicas para o msculo, gerando num recrutamento insuficiente das unidades motoras. Esta queda sinptica acontece por um perodo de tempo de pouco mais de dois anos. Para aumentar a dificuldade do jovem do futebol, o crescimento no harmnico de pernas e braos ocasiona mudana constante nas alavancas, demorando a mensagem dos proprioceptores a se ajustar s mudanas da estatura e da dimenso corporal desse ser em formao, observa-se um indivduo desajeitado e em alguns casos, com coordenao deficiente. A figura 7 mostra a queda sinptica de um pbere do futebol:

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A

1 encfalo via crtex motor encaminha o impulso nervoso, 2 impulso nervoso via medula espinhal leva o estmulo para os neurnios, 3 inervao do quadrceps durante o chute, 4 quadrceps, 5 jogador fazendo o gol e goleiro tentando evitar o tento.

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B

1 encfalo via crtex motor encaminha o impulso nervoso, 2 impulso nervoso via medula espinha leva o estmulo para os neurnios, 3 inervao do quadrceps com declnio sinptico durante o chute, 4 quadrceps, 5 jogador chutando e goleiro defendendo o remate.

Figura 7. (A) Inervao do quadrceps durante o chute por vrios neurnios. (B) A partir de 14 anos comea a queda sinptica que interfere na qualidade do chute.

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Esse decrscimo sinptico pode ser evidenciado na piora da coordenao do pr-pbere e do pbere no teste coordenao complexa exposto por Krger e Roth (2002) na figura 8.

Figura 8. Desempenho da coordenao conforme a idade do jovem, com adaptao em Krger e Roth (2002).

A neurocincia importante para as disciplinas da Educao Fsica do Aprendizado Neuromotor e do Aperfeioamento Neuromotor porque fornece entendimento sobre a motricidade do futebolista. Contudo, quando o treinador prescrever qualquer sesso do futebol, precisa incluir no treinamento o tipo de prtica do Aprendizado Neuromotor e do Aperfeioamento Neuromotor (Williams, 1998; Hills, 2004). Mas sempre nessas sesses deve-se considerar a hemisfericidade e a metacognio de cada atleta. O esportista do futebol de hemisfrio esquerdo de processamento mental possui facilidade para o pensamento intelectual, racional, analtico e para a fala. E o futebolista de hemisfrio direito de processamento mental apto para tarefas motrizes, informao no-verbal, percepo espacial e processamento holstico. Outro quesito que o tcnico deve estar atento referente testosterona. Jovens do sexo masculino possuem melhor noo espacial do que mulheres porque os maiores ndices de testosterona permitem uma vantagem nessa habilidade devido a organizao do sistema nervoso central (Hromatko & Butkovic, 2009). A aquisio de algum fundamento e/ou ttica que se exercita em conjunto com o Treino da Viso Perifrica merece ser realizado pela prtica em bloco de baixa interferncia

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contextual (Guadagnoli & Lee, 2004). Todavia, a prtica em bloco no eficaz na reteno e transferncia de alguma habilidade neuromotora, devido sua pequena interferncia contextual (Corra & Tani, 2005). Kawashima (2002) informou que a interferncia contextual significa o quanto o tipo de prtica do Aprendizado Neuromotor ou do Aperfeioamento Neuromotor prejudica o entendimento do atleta ao realizar uma tarefa. Na prtica em bloco o treino da tcnica e/ou ttica com o Treino da Viso Perifrica possui uma seqncia definida e com um nmero de repeties para cada exerccio, Ugrinowitsch e Manoel (2005) explicaram que, concluda a tarefa A, os jogadores iniciam a atividade B, terminando B vai para C e assim por diante at acabar a ordem da programao. mais comum no futebol o uso da prtica em bloco. Mas, para haver a evoluo do estgio de aprendizado ou aperfeioamento do contedo do futebol do futebolista, Wright, Magnuson e Black (2005) indicaram a prtica aleatria de alta interferncia contextual. A elevada interferncia contextual na prtica aleatria ocorre devido constante reconstruo da memria, dificultando o esquecimento do plano neuromotor (Corra, Benda & Tani, 2001). Recomenda-se a prtica aleatria ao tcnico cujo desejo a reteno do fundamento e/ou da ttica onde est inserido o Treino da Viso Perifrica pela equipe de futebol (Corra & Pellegrini, 1996). Esta prtica no possui uma ordem definida na execuo das atividades, nunca o mesmo exerccio repetido duas ou mais vezes consecutivas. Por exemplo, a equipe de futebol est aprendendo a chutar para o gol de cabea erguida (o Treino da Viso Perifrica), na primeira tarefa eles fazem por 5 vezes esse exerccio, nas duas atividades seguintes, os jogadores realizam fundamentos que se desviam do objetivo do treino (drible de 1x1 e depois sesso de cabeada), na quarta atividade tornam a efetuar o chute com nfase na viso espacial, do quinto ao nono exerccio os futebolistas praticam tarefas sem nfase no chute com prioridade na viso perifrica, na ltima atividade os atletas tornam a fazer o chute com o Treino da Viso Perifrica. Na prtica aleatria a ordem do objetivo do treino no-sistemtica ou desordenada, mas, o usual, o foco da sesso ser mais praticado durante cada bloco de tentativas. Durante o Treino da Viso Perifrica pode-se prescrever a prtica seriada com moderada interferncia contextual. A prtica seriada pouco investigada no Aprendizado Neuromotor (Simon & Bjork, 2002; Wright et al., 2004), caracterizando-se por uma seqncia preestabelecida sempre na mesma ordem (Corra, 2006), mas o foco do treino nunca exercitado numa mesma seqncia, ou seja, existem tarefas dentro da programao cuja finalidade o esquecimento do objetivo do treino. H diferena entre a prtica seriada e a prtica aleatria.

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A primeira possui uma ordem de exerccios determinados numa seqncia, e a prtica aleatria no possui para o futebolista, a prxima tarefa sempre uma surpresa. Para Meira Junior, Tani e Manoel (2001) quando o programa motor generalizado se altera pouco, o caso do Treino da Viso Perifrica, o ideal a prescrio da prtica mista (na mesma sesso ocorre a prtica em bloco e a prtica aleatria). Teixeira (2006) informou que o programa motor generalizado retido pela memria do esquema neuromotor da habilidade tcnica. A prtica em bloco, a prtica aleatria e a prtica mista so as mais utilizadas em pesquisa (Brady, 2004), logo estas devem ser as mais prescritas para o Treino da Viso Perifrica. A figura 9 mostra como ocorre essas prticas:

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Prtica em Bloco

Objetivo do Treino: Conduo da bola e depois chute. Tarefa A) 1 conduo da bola, 2 cone, 3 jogador fazendo flexo e 4 conduo da bola. Tarefa B) 1 conduo da bola, 2 cone. Tarefa C) 1 conduo da bola entre os cones, 2 cone.

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Prtica Aleatria

Objetivo do Treino: Conduo da bola e depois chute. Tarefa A) 1 conduo da bola. Tarefa B) Embaixadinha. Tarefa C) Cabeceio. Tarefa D) Corrida de agilidade de vai-e-volta, 1 vai, 2 volta. Tarefa E) 1 conduo da bola. Tarefa F) Salto em profundidade. Tarefa G) 1 conduo da bola.

Prtica MistaIniciada pela prtica em bloco e finalizada pela prtica aleatria. So as mesmas tarefas dos exemplos anteriores.

Figura 9. Os tipos de prticas indicadas para o Treino da Viso Perifrica.

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Geralmente os estudos do Aprendizado Neuromotor duram por um perodo mximo de 9 (Marques Junior, 2009b) a 30 (Cunha et al., 2003) dias porque ocorrem no encfalo significativas mudanas. Baseado nos autores anteriores e no estudo de Marques Junior (2009c), foi estabelecida a durao de cada prtica para o Treino da Viso Perifrica com os seus respectivos treinos. A tabela 1 expe esses ensinamentos:

Tabela 1. Resumo dos exerccios para o Treino da Viso Perifrica. Treino de nfase Tcnico + Jogo Situacional + Jogo Ttico + Jogo Tipo de prtica Bloco Aleatria Mista (bloco e aleatria) Nmero de sesses 9 6 a 10 10 a 20 Durao do treino 1 h e 30` 1 h e 30` a 2 h 1 h e 30` a 2 h

Para qualquer prtica (bloco, aleatria e mista) surtir efeito no jogador de futebol que atua no Treino da Viso Perifrica o sono fundamental porque reorganiza a informao, provocando a consolidao da memria (Robertson, Pascual-Leone e Miall,2004). Outro fator que contribui com a memria, o horrio da sesso. O mais indicado realizar o Treino da Viso Perifrica pela manh que permite melhor fixao do contedo devido o descanso intelectual do atleta (Marques Junior, 2007). Entretanto, at a data presente no h pesquisa sobre o aperfeioamento de uma habilidade neuromotora pela prtica em bloco, pela prtica aleatria e pela prtica mista, somente foi averiguado se o esportista aprendeu algo. Esse fato devido a durao de poucos dias das pesquisas (Moreno et al., 2003; Zhongfan, Inomata & Takeda, 2002), ou seja, so estudos transversais, sendo necessrio uma pesquisa longitudinal para o aperfeioamento neuromotor do competidor. Pereira (1995) informou que tcnica e ttica do atleta evolui com mais qualidade quando realizando a atividade neuromotora variada, o mesmo deve ser praticado no Treino da Viso Perifrica. Um exemplo da variabilidade neuromotora a prtica de mais de um esporte pelos jovens, proporcionando melhor aprendizado se comparados ao grupo da especializao precoce (pratica apenas um esporte por longo tempo) (Lopes et al., 2003). Esta iniciativa ocasiona um aumento no vocabulrio neuromotor do iniciado no esporte de competio (Bojikian, 2002). A explicao para a vantagem da variabilidade da tarefa neuromotora em relao ao treino de tarefa constante est relacionada com um maior aumento

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na assemblia de neurnios ocasionando um reforo no engrama, a Lei de Hebb (Bastos et al., 2004). Esse aumento na assemblia de neurnios proporciona numa conexo mais eficiente porque os neurnios geram o impulso nervoso num nico estmulo, proporcionando na memria de longo prazo (Azouz, 2005). Como a variabilidade do estmulo benfica para o jogador de futebol que faz o Treino da Viso Perifrica, indica-se como exerccios educativos a prtica do basquetebol, do handebol e do futevlei porque nesses esportes o atleta joga de cabea erguida, talvez ocorra transferncia da nfase da viso perifrica dessas modalidades para o jogo de futebol. No estudo de Maia et al. (2007) o grupo experimental fazia inicialmente saque tipo tnis do voleibol e depois efetuava saque do tnis. Essa amostra teve melhor desempenho no saque do tnis quando comparado com o grupo controle que realizou apenas o saque do tnis. Kawashima (2002) fez uma monografia de graduao com trs grupos de escolares da 4 srie do ensino fundamental, a fim de observar a transferncia. O grupo 1 jogou voleibol e depois handebol, o grupo 2 praticou basquetebol e depois handebol e o grupo controle atuou em atividades recreativas e depois handebol. Os trs grupos participaram de um pr-teste de observao da qualidade da cortada do voleibol, do drible e da bandeja do basquetebol e do drible e da progresso do handebol. Depois do teste foram ministradas aulas de 50 minutos, sendo duas por semana, totalizando 5 sesses, quando cada grupo praticou as suas tarefas especficas. O grupo 1 jogou voleibol, o grupo 2, basquetebol e o grupo controle se exercitou em atividades recreativas. Em seguida aplicou-se o teste de reteno para o grupo 1 do voleibol e para o grupo 2 do basquetebol, quando o grupo 1 praticou a cortada e o grupo 2, drible e bandeja. Depois do teste, os trs grupos fizeram drible e progresso do handebol por duas vezes na semana com durao de 50 minutos cada aula, totalizando 5 sesses. No teste de transferncia foi aplicada a mesma atividade da sesso de handebol. Os resultados da pesquisa mostraram que o basquetebol ajudou na aprendizagem do handebol, e o voleibol proporcionou transferncia para a progresso do handebol. As outras tarefas no influram significativamente (p>0,05) para o handebol. Com embasamento nos ensinamentos da variabilidade, da transferncia e no aumento da assemblia de neurnios, a figura expe um exemplo desses ocorridos no futebolista:

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Prtica em Bloco

Objetivo do Treino: Variar as situaes de chute para conseguir transferncia da nfase da viso perifrica nesse fundamento com o aumento da dificuldade. Tarefa A) Chute para o gol. Tarefa B) 1 conduo da bola, 2 passagem entre os cones, 3 cone. Tarefa C) Chute para o gol com barreira. 1 grupamento de neurnios no incio do treino, 2 aumento da assemblia de neurnios aps 3 meses.

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Prtica Aleatria

Objetivo do Treino: Realizar outras modalidades para variar o estmulo e transferir a nfase da viso perifrica desses esportes para o momento do remate do jogador. Tarefa A) Lance livre do basquetebol para a cesta. Tarefa B) Arremesso do handebol para o gol. Tarefa C) Chute para gol com goleiro. Tarefa D) Arco e flecha. Tarefa E) Embaixadinha. Tarefa F) 1 conduo da bola, 2 passagem entre os cones, 3 cone. 1 grupamento de neurnios no incio do treino, 2 aumento da assemblia de neurnios aps 3 meses.

Figura 10. Diferena do estmulo do Treino da Viso Perifrica na rede de neurnios aps 3 meses. A prtica aleatria proporcionou maior grupamento de neurnios para os jogadores titulares do que a prtica em bloco para os reservas.

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H diversos estudos sobre o Aprendizado Neuromotor nos vrios peridicos de relevncia cientfica (Tani et al., 2004), mas, infelizmente, no h pesquisas sobre o Aperfeioamento Neuromotor. Deve-se destacar que essas disciplinas so raras nas sesses do futebol, mesmo com a publicao de vrios artigos do Aprendizado Neuromotor sobre a importncia da viso para o atleta de futebol (Ford, Hodges & Williams, 2007; Horn et al., 2005; Paillard & No, 2006). Por fim, necessrio considerar que o Treino da Viso Perifrica deve ser ensinado ou aperfeioado conforme as orientaes apresentadas neste subcaptulo.

Tipos de Sesso para o Treino da Viso Perifrica O treinamento do futebol precisa reproduzir situaes semelhantes ou as mais similares possveis a uma disputa objetivando preparar o jogador para a partida em condies plenas a desempenhar o modelo de jogo determinado pelo tcnico. Da, a necessidade de o treinador conhecer os aspectos tcnicos e tticos que acontecem numa partida de futebol a fim de estruturar e prescrever uma sesso. A sesso deve se basear no modelo de jogo e no sistema de jogo adotado pela equipe, inserindo-se nesse trabalho o Treino da Viso Perifrica atravs utilizao dos tipos de prticas do Aprendizado Neuromotor ou Aperfeioamento Neuromotor, mas sempre levando em considerao a hemisfericidade e a metacognio do atleta. Hughes e Franks (2005) informaram que a seqncia ofensiva com mais chance de gol a realizada com poucos toques na bola, no mximo 4; de preferncia em alta velocidade para dificultar a ao defensiva ou o adequado posicionamento dos zagueiros (Marques Junior, 2004). Recentemente foi evidenciado que o Treino da Viso Perifrica favorece a atuao quanto a um nmero de aes no ataque mais baixo (2 a 4) quando comparado com os jogadores que enfatizam a viso central (Marques Junior, 2009d). A regio do campo onde se inicia o ataque depende da escola de futebol, os pases europeus utilizam mais as laterais para cruzar a bola na rea, no Brasil usual iniciar o ataque no meio-campo porque os jogadores brasileiros so adeptos do toque de bola, a tabelinha (Giacomini, Matias & Greco, 2002). Contudo, apesar do incio ofensivo e da construo do ataque diferir nas vrias escolas do futebol, pesquisadores ingleses (Horn, Williams & Ensum, 2002; Taylor & Williams, 2002) evidenciaram que a maioria dos gols ocorre no ataque (zona

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13, 14, 15, 16, 17 e 18). Na maioria dos tentos o atacante (o jogador que faz mais gols durante a temporada) est posicionado dentro da rea, logo, prximo ao gol. (Ramos & Oliveira Junior, 2008). Por isso o tcnico deve orientar seus atletas sobre os aspectos de cada zona do campo e evitar recuar toda a equipe para o campo defensivo e permanecer a maior parte do jogo nesta situao devido a alta probabilidade de acontecer um tento do adversrio (situao comum aos times pequenos do futebol). A melhor soluo para administrar o placar permanecer com a bola o maior tempo possvel, deslocando-se do meio-campo defensivo para o ataque. Deve-se estar atento durante a reposio de bola atravs do tiro de meta para um beque ou em algum lance do jogo quando os zagueiros comeam a conduzir a bola em direo ao ataque ou se a bola estiver no campo defensivo devido ao perigo de sofrer um gol. Aconselha-se que as equipes mais fracas a comecem as jogadas em direo ao ataque a partir do meio-campo defensivo, a fim de evitar o risco de ter sua defesa vazada. A figura 11 mostra onde h mais chances de ocorrer gols e onde uma equipe tem menos chance de sofrer um tento.Regies do campo para a Equipe B : Ataque Meio-campo Ofensivo X Meio-campo Defensivo X 13 Defesa 16

X X X ataque

X

14

17

15

18

Defesa

Meio-campo Defensivo

Meio-campo Ofensivo

Ataque

Regies do campo para a Equipe A

Figura 11. Nas regies numeradas (no ataque) acontecem mais gols. Nos locais marcados com um x a equipe B tem menos chance de sofrer um tento.

Os times ou selees de futebol que permanecerem mais tempo com a bola tem mais chance de marcar gol e de criar o ataque (Horn & Williams, 2002). As aes mais praticadas no ataque so: o passe, a conduo da bola e o lanamento, cuja eficincia depende da rapidez

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com que so efetuadas (Low, Taylor & Williams, 2002; Papadimitriou et al., 2001). As atividades da seqncia ofensiva costumam ser finalizada em chute cujo alvo a meta. A maioria dos gols acontece, geralmente, no final do 2 tempo e a segunda maior ocorrncia de tentos se d prximo ao trmino do 1 tempo (Nevill et al., 2002; Reilly, 1994). Um dos motivos da elevada incidncia de gols no fim do jogo o decrscimo do glicognio muscular, que provoca a fadiga dos beques (Guerra, Soares & Burini, 2001) e facilita a ao dos atacantes em converter o tento. Alm da fadiga, pode-se acrescentar outra causa para os gols no trmino da partida, apesar da necessidade de mais pesquisa, Marques Junior (2008) prope a hiptese de que, conforme o jogo vai se realizando, os atacantes tendem a assimilar o modelo de jogo defensivo do oponente, detectando as falhas, o que pode facilitar a tarefa de marcar o gol. No futebol, o corner outro momento de perigo para a defesa de uma equipe, no jogo acontece uma mdia de 10 escanteios (Borrs & Baranda, 2002) e os mais eficazes so cobrados em poucos segundos (menos de 20 segundos) (Ensum, Taylor & Williams, 2002), dificultando o adequado posicionamento dos beques na rea. Ford, Williams e Bate (2004) informaram que a maioria dos contra-ataques so executados rapidamente, inicia-se na defesa e parte-se em direo ao ataque atravs da conduo da bola e do passe para no dar chance defesa de se recompor. Lamas e Borges (2005) acrescentaram que durante o contra-ataque ou em qualquer lance da partida cometer falta no ao que conduz uma equipe de futebol a vitria. O estudo de Silva et al. (2005) mostrou que a recuperao da bola durante a ao defensiva dos jogadores de linha acontece, usualmente, no campo de defesa ou no meiocampo defensivo porque nestas regies a equipe, que est se defendendo, costuma apresentar superioridade numrica de atletas. Durante essa retomada da posse da bola, o usual o zagueiro se antecipar em relao ao atacante do oponente (Bueno, 2007). Para essa atividade defensiva surtir efeito e prosseguir para o ataque, necessita do adequado posicionamento ttico dos zagueiros (Suzuki & Nishijima, 2007). Durante o ataque os goleiros precisam se posicionar adequadamente no gol a fim de evitar um tento, e se necessrio realizar a defesa atravs de atividades acrobticas (ponte e mergulho), com salto, numa meia-altura e outros (Ruz, Guerreiro & Garrido, 2007). A funo principal dos goleiros evitar o gol, mas eles tambm atuam no ataque. As aes de ataque ou de incio ofensivo consistem da rpida reposio da bola (com p ou com a mo) para impedir o adequado posicionamento defensivo do adversrio e na cobrana de infraes (pnalti e falta) (Lawlor et al., 2002; Muoz, Toro &

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Andujar, 2006). Deve-se lastimar que o goleiro e a defesa e mesmo o ataque do futebol e os esportes derivados sejam temas raros nas pesquisas, dificultando a tarefa do treinador. O futsal assunto de alguns estudos e situaes iguais ou parecidas as do futebol. Dias e Santana (2006) confirmaram que a maioria dos gols acontece no fim do 2 tempo e o segundo momento com mais incidncias de tentos, situa-se prximo ao trmino da 1 etapa. As zonas da quadra com mais chances de gols so o ataque e o meio-campo ofensivo (Amaral & Garganta, 2005), mas o maior nmero de tentos ocorre no ataque (Vilhena Silva et al., 2005) com alta velocidade tendo um ou dois toques na bola do jogador (Pessoa et al., 2009). As equipes de futsal que convertem mais gols possuem alta preciso no chute para a meta, pois foi evidenciado que elevado nmero de chutes sem um adequado direcionamento para o gol no proporciona chance de vitria (Marques Junior, Garcia & Vernon Silva, 2008). Logo: Quem no faz toma!!! No futsal o contra-ataque individual o mais utilizado e inicia-se geralmente pela intercepo do passe (Santana & Garcia, 2007). Essa ao concluda com a finalizao para a meta. Nessa modalidade ocorrem muitos gols. Talvez isso seja devido ao espao reduzido da quadra do futsal tornando todo chute um perigo para a meta. O conhecimento das principais caractersticas tcnicas e tticas do jogo de futebol e de um dos seus derivados, o futsal, possibilita ao tcnico elaborar a sesso de acordo com algumas dessas informaes, mas respeitando o seu modelo de jogo e inserindo o Treino da Viso Perifrica. O Treino da Viso Perifrica educa o jogador de futebol a atuar na partida de cabea erguida, utilizando, principalmente, a viso espacial. Logo, aconselhvel que o tcnico tenha alguma informao sobre a viso. Diversas referncias informaram que atletas com mais tempo de treino possuem melhor habilidade visual e percepo mais apurada do que os iniciantes ao resolver os problemas da partida (Abernethy & Neal, 1999; Abernethy et al., 2001; Oudejans & Coolen, 2003). A viso perifrica funciona melhor para observao espacial, mas a viso central apresenta mais nitidez na percepo visual (Lee, Legge & Ortiz, 2003), assim, em algumas jogadas do futebol como no drible e na finta, indica-se a alternncia desses dois tipos de viso. Na conduo da bola, no passe, no domnio, no chute (para o gol, no cruzamento para rea, no lanamento, no pnalti, no escanteio, na falta e na cobrana do lateral do futsal) o mais recomendado a viso espacial porque essas situaes da partida exigem um campo observacional de 180, habilitando o atleta observar as diversas situaes da disputa e efetuar a jogada com qualidade. O predomnio da viso central deve ocorrer nas

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atividades de marcao do adversrio ou no desarme. Na jogada de bola parada (pnalti, falta e corner), o atleta deve dirigir o olhar para o alvo e realizar o fundamento, esse procedimento eleva a probabilidade de acerto (Harle & Vickers, 2001). Fontani et al. (1999) reconheceram que a ateno aperfeioa o tempo de reao visual, enquanto que Sparrow, Begg e Parker (2006) afirmaram que, dos 20 aos 30 anos, as pessoas possuem melhor tempo de reao visual, declinando com o avanar da idade. A tabela 2 mostra o resumo de qual tipo de viso o atleta deve dar ateno durante a execuo do fundamento. O leitor pode observar a seguir:

Tabela 2. Viso predominante em cada fundamento. Fundamento Conduo da Bola Passe Domnio Chute Desarme e Marcao Drible e Finta Viso Perifrica (VP) X X X X X X Viso Central (VC) VP e VC

Continuando a apresentar as informaes sobre a viso, o tcnico e o futebolista queixam-se durante e aps a partida dos erros do rbitro e do bandeirinha. Estes erros podem ser explicados pela diferena entre a latncia (tempo para o olho comear a se mover) visual cuja velocidade de 200 milsimos de segundo e a velocidade do lance do futebol que costuma ser superior quela, dificultando a perfeita observao visual do lance pelo rbitro ou pelo auxiliar (Maruenda, 2004). H outros fatores que interferem na correta execuo da regra como o ngulo visual em que se encontram os juzes (rbitro e bandeirinha) e a distncia desse profissional em relao jogada (Baldo, Ranvaud & Morya, 2002). Baseado nessas informaes, a possibilidade de consultar tira-teima, pelo menos nos lances mais questionveis, digna de estudos e avaliaes. H necessidade de embasamento cientfico neurometodolgico para o tcnico estruturar e prescrever para os futebolistas o Treino da Viso Perifrica. Justifica-se a proposio porque vrias estruturas do ser humano so comandadas pelo encfalo. A carga de qualquer sesso do

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Treino da Viso Perifrica precisa possuir alguns contedos do controle motor. No controle motor, o crtex somatossensorial primrio (composto pela rea 3a, 3b, 1 e 2) atua na percepo das sensaes e permite a identificao do corpo no espao (Chapman & Meftah, 2005). O crtex parietal posterior (rea 5 atua na audio e 7 participa da viso) exerce funo na ateno e na integrao visual e somatossensorial (Grol et al., 2006). A integrao do crtex somatossensorial primrio e do crtex parietal posterior encaminha a informao para a rea 6 do crtex motor (formado pela rea 6 e 4). O crtex pr-frontal tambm envia informaes para a rea 6 porque ele tem diversas funes no controle cognitivo (percepo, tomada de deciso, antecipao motora, pensamento abstrato a estratgia, habilidade para planejar o futuro e outros) (Bear, Connors & Paradiso, 2002; Miller & Cohen, 2001; Velasques et al., 2007). Todas essas atividades esto associadas ao planejamento do movimento, o nvel hierrquico alto do controle motor, estratgia. A rea 4 recebe aferncia da rea 6 e do crtex somatossensorial primrio para iniciar a ao (Friel et al., 2005). A rea 4 tambm auxiliada pelo crtex parietal posterior e pelo cerebelo no incio da ao (Medendorp et al., 2005). O incio do movimento classificado como o nvel mdio da hierarquia do controle motor, a ttica. O cerebelo tem importante participao no incio e durante o movimento porque ele instrui o crtex motor na direo, preciso temporal, fora da ao, fornece o feedback caso a tcnica esportiva seja inadequada e atua no equilbrio. A execuo do movimento acontece atravs do impulso nervoso que percorre a medula espinhal e chega ao msculo, o nvel hierrquico baixo do controle motor. Alm dos tipos de crtex do controle motor, existem outras regies importantes na execuo de um movimento, o crtex auditivo e o crtex visual, presente em diversas tarefas do futebol. A figura 12 mostra a localizao de cada crtex presente no Treino da Viso Perifrica:

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0 crtex pr-frontal, 1 e 2 crtex motor (1 - rea 6, 2 rea 4), 3 crtex somatossensorial primrio, 4 e 5 crtex parietal posterior (4 rea 5 da audio, 5 rea 7 da viso), 6 crtex auditivo, 7 crtex visual e 8 cerebelo

Figura 12. O encfalo com os respectivos tipos de crtex.

O Treino da Viso Perifrica utiliza outros contedos da neurocincia, por exemplo, a memria que est presente na tarefa enquanto se desenrola a atividade do controle motor. A memria sensorial composta pela viso e pela audio (Clark & Harrelson, 2002). A memria declarativa retm fatos e eventos do passado, ou seja, o contedo consciente da informao (Souza e Silva et al., 2002). A memria de procedimento adquirida atravs da experincia de um treino repetitivo, ela recuperada inconscientemente e acionada pela prtica da tarefa. A memria de procedimento se manifesta nas habilidades (perceptuais, motoras e cognitivas) e hbitos, nas respostas emocionais pela amdala, na resposta esqueltica pelo cerebelo e outros (Helene & Xavier, 2003). O engrama ocorre principalmente na memria declarativa e na memria de procedimento, e fica registrado na memria de longo prazo. necessrio esclarecer que a carga do treino com bola do futebol subjetiva porque este um esporte difcil de estabelecer com preciso os esforos, a qualidade e a quantidade tcnica-ttica na partida. Somente podem ser medidos com preciso os antigos conceitos de carga que geralmente esto relacionados com a preparao fsica (freqncia cardaca,

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velocidade, nmero de repeties e outros). Em todas as tarefas mensurveis e difceis de ser mensuradas esto includos o controle motor e a memria, atividades do encfalo. Chen et al. (2005) mostraram em seu estudo que a complexidade da tarefa o fator que determina quanto de estresse a carga causa ao organismo do indivduo. O aumento da dificuldade da atividade gera uma maior carga, o que exige maior ateno durante a prtica desse treinamento e h um aumento da solicitao do crtex parietal posterior. Em outra pesquisa, Koski et al. (2003) evidenciaram que conforme a dificuldade da tarefa aumenta de maneira linear a quantidade de fluxo sangneo cortical maior na sesso. Embasada nessas evidncias cientficas recomendvel que a carga da sesso deve constituir num contedo neurometodolgico, geralmente subjetiva, mas quando possvel pode ser mensurada (freqncia cardaca, volume do treino tcnico etc). Conforme o tipo de sesso do Treino da Viso Perifrica o controle motor, a audio e a memria so exigidos, assim o tcnico deve estar atento aos componentes do encfalo quando for elaborar as sesses do Treino da Viso Perifrica. Exemplo de uma sesso do Treino da Viso Perifrica:

Figura 13. Carga de treino do Treino da Viso Perifrica.

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O Treino da Viso Perifrica foi realizado atravs do treino tcnico com a prtica em bloco com carga de 70%. As tarefas foram compostas por exerccios de fcil execuo com um alto volume (3 sries de 20 repeties) e baixa intensidade na execuo. Os exerccios foram os seguintes: conduo da bola, passar entre os cones e no fim desse trabalho chutar para a meta, formar uma dupla para praticar vrios passes e prximo meta chutar para o gol, bater pnalti e cobrar falta. Essa sesso teve durao de 45 minutos. Nesse primeiro Treino da Viso Perifrica o crtex somatossensorial primrio foi o mais requisitado, ainda que este fato seja estabelecido subjetivamente. J o crtex parietal posterior foi menos exigido porque essas tarefas no requerem muito da percepo e da ateno. O mesmo aconteceu com crtex pr-frontal, o jogador no utilizou muito a tomada de deciso e o pensamento abstrato, a estratgia. No crtex motor (rea 6 e 4) e no cerebelo o trabalho intenso devido ao nmero elevado de execues dos exerccios prescritos. Tambm o crtex auditivo e visual foram bastante requisitados. O metabolismo mais usado neste treino foi o aerbio e as fibras lentas foram as mais solicitadas. A memria de procedimento foi a mais atuante por causa da elevada repetio de tarefa que no exige do atleta o pensar no jogo, pois a realizao da tarefa se faz mecanicamente. A memria declarativa foi a menos estressada na sesso porque no trabalho tcnico houve pouca solicitao da cognio quando o jogador resolvia a situao problema da tarefa (determinado subjetivamente sobre as memrias). No segundo dia de treino tcnico executou-se o mesmo trabalho para promover um reforo dos estmulos na conexo de neurnios. Mas a carga subiu para 85% com o aumento do volume do Treino da Viso Perifrica, 3 sries de 50 repeties, com durao de 50 minutos. Na terceira sesso, com durao de 1 hora, exercitou-se o treino situacional com a prtica aleatria. O objetivo da sesso foi treinar o sistema 4-4-2 trabalhando o ataque contra a defesa. Cada equipe fez 10 atividades ofensivas. Como a complexidade da sesso foi superior das anteriores, a carga foi para 95%, provocando um estresse sub-mximo na memria declarativa, no crtex parietal posterior, no crtex somatossensorial primrio e no crtex pr-frontal, estruturas do encfalo menos exercitadas anteriormente. Subjetivamente, determinou-se que esses componentes do encfalo receberam maior carga porque um treino

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prximo da realidade competitiva exige muito da cognio (memria declarativa, crtex prfrontal), da ateno (crtex parietal posterior), da viso (crtex parietal posterior, crtex visual), da percepo (crtex somatossensorial primrio), da atividade motora (crtex motor e cerebelo) e da audio (crtex auditivo). A prtica aleatria determina que sejam realizados exerccios cuja funo prejudicar o objetivo do treino na memria. Na 3a sesso esses exerccios foram executados como pausa ativa do treino situacional do ataque versus a defesa, mas sem uma ordem definida, composta pelas seguintes tarefas: passe, embaixadinha, cruzamento para rea, chute para o gol, conduo da bola e depois chute para a meta, bater pnalti e falta. Na penltima sesso realizou-se um jogo amistoso simulando a disputa, por esse motivo aplicou-se a prtica competitiva. Como uma tarefa mxima, todos os componentes do encfalo, bioqumicos e fisiolgicos foram treinados ao mximo, 100%. Aps esse trabalho com carga de 100%, que resultou num alto consumo do glicognio muscular, na fadiga do encfalo via controle motor, crtex visual, crtex auditivo e memria, foi prescrita a ltima sesso, atravs de uma pausa ativa a fim de recuperar mais rapidamente todas as estruturas do ser humano. O trabalho recuperativo foi composto por um jogo de futebol de baixa intensidade num campo menor, tendo por fim o alvio do cansao e o reforo na memria sobre a ttica de jogo para a prxima partida. A figura 14 expe as estruturas neurofisiolgicas e bioqumicas mais solicitadas nesse treinamento:

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Figura 14. Carga conforme o tipo de treino.

Essas afirmaes que um crtex trabalha mais do que o outro so subjetivas, para realmente o treinador ter certeza que isso acontece precisaria de tecnologia sofisticada para determinar tal ocorrido. Por exemplo, em pesquisa do controle motor comum determinar o momento que um tipo de crtex trabalha mais do que o outro atravs da identificao do fluxo sangneo no crebro que estabelecido pela ressonncia magntica (Kim, Eliassen & Sanes, 2005). Seria interessante que essas pesquisas fossem transferidas para o esporte a fim

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determinar com exatido o crtex que mais solicitado em cada tarefa do futebol. O mesmo raciocnio para as investigaes da memria, estabelecer em qual momento a memria declarativa e a memria de procedimento mais atuante no futebol. Para o aprendizado ou aperfeioamento do Treino da Viso Perifrica recomendam-se sesses compostas pelo treino tcnico, pelo treino situacional, pelo treino ttico e pelo jogo. Essas sesses merecem acompanhamento pelo tipo de prtica do Aprendizado Neuromotor ou do Aperfeioamento Neuromotor. Porm, talvez a nica evidncia cientfica sobre esse tema observou aquisio do Treino da Viso Perifrica aps os jogadores (n = 5) realizarem 9 sesses de treino tcnico e jogo com a prtica em bloco e praticarem 6 sesses de treino situacional e jogo pela prtica aleatria (Marques Junior, 2008). Aps esse perodo toda amostra (grupo controle e grupo experimental, n = 10) recebeu o mesmo tratamento durante 10 sesses, o Treino da Viso Perifrica, atravs do treino ttico e do jogo pela prtica mista. O grupo controle obteve aquisio do Treino da Viso Perifrica e o grupo experimental permaneceu em aquisio do Treino da Viso Perifrica (Marques Junior, 2009c). Justifica-se essa seqncia de sesses porque se evoluiu dos treinamentos mais simples para os mais complexos. Contudo, no foi detectado na literatura nenhum estudo para o aperfeioamento neuromotor do Treino da Viso Perifrica (Krakauer et al., 2006; Stoffregen et al., 2007). Mas no sub-captulo anterior, a tabela 1 tem por objetivo orientar o tcnico a organizar as sesses com os tipos de treino e de prtica, e a durao de tempo de cada trabalho alm de prestar-se ao aprendizado ou aperfeioamento do Treino da Viso Perifrica. Segundo Paes e Balbino (2005), no existe um mtodo de treino (tcnico, situacional, ttico e jogo) melhor do que o outro. A necessidade da sesso determinar o treino adequado. Em toda sesso do futebol e tambm no Treino da Viso Perifrica, devem estar inseridas as fases sensveis de treinamento (momento timo para desenvolver uma capacidade fsica no jovem atleta) (Lopes & Maia, 2000). Bhme (2000), Marques Junior (2007b), Rigolin da Silva (2005) organizaram a tabela 3 que orienta o treinador de futebol ao prescrever o Treino da Viso Perifrica para o menino ou a menina dessa modalidade de acordo com a fase sensvel de treino:

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Tabela 3. Fases sensveis de treinamento para iniciao do futebol.Idade Cronolgica 8 e 9 anos 10 e 11 anos Idade Biolgica infncia pr-pbere Operacional concreto Operacional concreto 12 anos pbere Operacional formal E A E E A A I FR e/ou RML A A A I I I I Cognio Coordenao Flexibilidade Fora Aerbio Alctico Glicoltico

FR e/ou RML 13 e 14 anos pbere Operacional formal A A A A A -

FR e/ou RML 15 e 16 anos pbere Operacional formal M M A FR e/ou RML M A I

I FM 17 anos ps-pubere Operacional formal M M A M A A

FM, FR e RML 18 e 19 anos ps-pubere Operacional formal M M M M M M

FM, FR e RML

Legenda: E (essencial no treino), I (incio do treino), A (aperfeioamento no treino). / Abreviatura: FR: fora rpida, RML: resistncia muscular localizada, FM: fora mxima.

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Rigolin da Silva (2006) elaborou a tabela 4 com valores do volume de treino para esportistas: Tabela 4. Volume de treino para o jovem atleta. Idade 11 e 12 anos 13 e 14 anos 15 e 16 anos 17 a 20 anos + de 20 anos Freqncia 2 a 3 vezes pela semana 3 vezes na semana 3 a 4 vezes na semana 4 a 5 vezes na semana 5 a 7 vezes na semana Durao 45` a 1 hora 1 hora a 1 hora e 15 minutos 1 hora e 15 minutos a 1 hora e 45` Durao do jogo ou pouco mais Durao do jogo ou pouco mais

Convm a quem trabalha com iniciao esportiva estabelecer a idade biolgica (relacionada com o nvel de desenvolvimento do organismo do jovem) do menino ou da menina futebolista. Jovens adiantados biologicamente costumam praticar as tarefas com melhor desempenho do que os atrasados na maturao, ainda que tenham a mesma idade cronolgica (Ulbrich et al., 2007). Mas essa diferenciao no desempenho tem mais chance de se manifestar nas capacidades fsicas condicionantes (Jos Da Silva et al., 2006), na coordenativa mais difcil o incremento da idade biolgica porque esto envolvidos outros aspectos, como a metacognio, a hemisfericidade, o tempo de treino, o estado psicolgico do jovem e outros. Malina et al. (2004) alertaram que o tempo de treino pode influir na capacidade fsica condicionante do jovem atleta, mesmo dos biologicamente atrasados, isto , os atrasados podem superar os mais adiantados com um maior tempo de treino. Portanto, o diferencial da capacidade fsica condicionante e da capacidade fsica coordenativa pode refletir o tempo de treino do iniciado no futebol. E a idade biolgica pode apresentar-se como um diferencial na capacidade fsica condicionante em jovens com o mesmo tempo de treino. A idade biolgica pode ser estabelecida observando os plos da axila conforme as normas de Matsudo (1998). Para as meninas, atualmente, utiliza-se as Pranchas de Tanner. A jogadora determina na figura o estgio das mamas e da pilosidade pubiana (Massa & R, 2006). Como essa avaliao pode ser constrangedora para a jovem atleta, atravs de clculos matemticos pode-se determinar a idade biolgica (Escalona & Abreu, 2008).

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Todas essas diretrizes para o Treino da Viso Perifrica foram planejadas para ministrar ao jogador um excelente aprendizado ou aperfeioamento dessa sesso, permitindo a esse atleta usufruir os 12 anos de prtica competitiva nesse esporte conforme Tubino (1996) exps na linha hipottica do tempo de atividade nessa modalidade. A figura 15 expe as idias do autor (1996):Apogeu de 4 anosFormao de 4 a 5 anos Decrscimo

24 a 25 anos

28 anos

Figura 15. Durao hipottica do futebolista no esporte de rendimento.

Nas fases iniciais do aprendizado do Treino da Viso Perifrica, os jogadores de futebol tendem a declinar tcnica e taticamente devido dificuldade em permanecer com nfase na viso espacial. Este fato foi observado por Marques Junior e Da Silva (2008), ao verificar que o grupo controle conseguiu vencer o grupo experimental em todos os jogos treinos. Isto aconteceu no macrociclo 1, os momentos iniciais do Treino da Viso Perifrica. Se o professor trabalha numa pesquisa, aconselha-se que, nos jogos treinos entre grupo controle versus grupo experimental, cada jogador do grupo controle realize no mximo dois toques na bola durante uma jogada. Uma tentativa de promover equilbrio entre os grupos devido ao decrscimo neuromotor e ttico do grupo experimental cuja regra ser a de realizar a maioria das jogadas com predomnio da viso perifrica, sendo penalizado ao utilizar em demasia a viso central. Quando a posse da bola ser assumida pelo o grupo controle que inicia o ataque a partir da regio em que o grupo experimental sofreu a penalidade. Sabendo-se que h um declnio tcnico e ttico no inicio do Treino de Viso Perifrica, tcnicos de equipe participante de campeonato deve ter o cuidado de prescrever essa sesso no incio ou fim da temporada. Como o Treino da Viso Perifrica deve ser sempre acompanhado da bola, importante que o tcnico classifique o nvel de jogo da equipe para avaliar se essa sesso proporcionou

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equipe de futebol progresso em relao ao nvel de jogo. Baseado em Garganta (1995) podese estabelecer os seguintes nveis de jogo: Quadro 1. Classificao do nvel de jogo da equipe de futebol. Nvel de jogoAnrquico

Caracterstica. Centrao na bola . Subfunes . Problemas na compreenso do jogo

Comunicao. Abuso da verbalizao, sobretudo para pedir a bola

Estruturao do espao. Aglutinao em torno da bola e subfunes

Relao com a bola. Elevada utilizao da viso central

Descentrao

. A funo no depende apenas da posio da bola . Conscientizao da coordenao das funes . Aes inseridas na estratgia da equipe

. Prevalncia da verbalizao

. Ocupao do espao em funo dos elementos do jogo . Ocupao racional do espao (ttica individual e de grupo) . Polivalncia funcional. Coordenao das aes (ttica coletiva)

. Da viso central para a perifrica

Estruturao

. Verbalizao e comunicao gestual . Prevalncia da comunicao motora

. Do controle visual para o proprioceptivo . Otimizao das capacidades proprioceptivas

Elaborao

O treino tcnico com o Treino da Viso Perifrica pode ser realizado com um fundamento ou com a unio de vrias tcnicas esportivas dessa modalidade para exercitar o jogador nessa sesso. Faz-se muitas crticas essa sesso. Consideram que ela desenvolve pouco a cognio de jogo e no trabalha a ttica da equipe (Costa & Nascimento, 2004), enfatiza a memria de procedimento, o crtex motor e o cerebelo. Sendo uma sesso puramente mecnica, que beneficia apenas o gesto neuromotor do praticante no fundamento do futebol, mas no aperfeioa essa ao durante a partida (Garganta, 1998; Leonardo, Scaglia & Reverdito, 2009). Esse fato pode ser explicado por ser um treino desenvolvido para esportes individuais, visando apenas a excelncia biomecnica da tcnica esportiva (Gaya, Torres & Balbinotti, 2002). Porm, nas fases iniciais do Treino da Viso Perifrica, principalmente no aprendizado, o xito dessa sesso obtido com a prtica em bloco por causa da dificuldade em jogar futebol de cabea erguida. A sesso estimula o jogador ao uso

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ambidestro das pernas e dos braos, o caso do goleiro na reposio da bola (Vasconcelos, 2006). Ehret et al. (2002) argumentaram que no treino tcnico, o aprendizado deve ser ministrado com a prescrio das tarefas mais simples para as mais complexas. O treino tcnico para Leal (2001) pode exercitar os seguintes fundamentos: passe, domnio, conduo da bola, drible, chute e cruzamento para rea. S foram mencionadas as tcnicas esportivas que podem ser trabalhadas no Treino da Viso Perifrica. Como o treino tcnico no exercita a situao real de jogo (Daolio & Velozo, 2008), somente trabalha o fundamento, indica-se que aps essa sesso o tcnico prescreva o jogo (Turner & Martinek, 1995), a fim de observar a qualidade dos fundamentos realizados pelo atleta durante a partida e a excelncia da execuo ttica. Marques Junior (2003) lembrou que o nmero elevado de repeties dessa sesso pode ocasionar leso no jogador. O tcnico pode evitar o problema atravs do controle do volume da sesso e estruturar esse treino conforme a complexidade da tarefa. A fadiga, segundo Platonov (2004), no impede o atleta de participar do treino tcnico, j que essa situao pode se apresentar no dia do jogo. Oliveira (2003) aconselha que seja utilizada, durante o treino tcnico e em qualquer sesso, a pausa com variao de tempo como ocorre durante uma partida de futebol. A figura a seguir ilustra alguns exemplos do treino tcnico que podem ser praticados no Treino da Viso Perifrica:

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1 conduo da bola, 2 chute para o gol, 3 passe.

Figura 16. Exemplos de sesses tcnicas com o Treino da Viso Perifrica.

O treino situacional consiste na decomposio do jogo de futebol em um momento da partida (Coutinho & Santos Silva, 2009; Tiegel & Greco, 1998), incluindo-se a o Treino da Viso Perifrica. No futebol, o xito do treino situacional est subordinado uma prtica

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baseada no sistema de jogo e de acordo com o modelo de jogo da equipe (Garganta & Grhaigne, 1999), permitindo o trabalho simultneo da tcnica e da ttica (Filgueira & Greco, 2008; Matta & Greco, 1996). Durante o treino situacional a viso do esportista solicita o crtex parietal posterior cuja funo a resoluo mental do problema e a resposta biomecnica adequada do fundamento (Tavares, 1996). Como nesta sesso ocorre o Treino da Viso Perifrica provvel que a viso seja muito exercitada. O treino situacional tambm exige da memria declarativa (saber o que fazer) e da memria de procedimento (saber como fazer), que requisita a percepo para captar a informao do jogo (Greco, 2006) (exige do crtex somatossensorial primrio). O processo gera uma soluo mental que resulta na deciso da ao do futebolista (rea 6 do crtex motor e cerebelo) (Tavares, 1995), sendo transferida essa informao para a resposta neuromotora do fundamento (rea 4 do crtex motor). Em caso de uma ao inadequada, o cerebelo fornece um feedback ao esportista que analisa o erro e tenta acertar no prximo lance. Portanto, o treino situacional, que permite ao jogador vivenciar diversos momentos da partida, pode aperfeioar a tomada de deciso do atleta (Daolio, 2002). Talvez essa sesso acelere o tempo da tomada de deciso do jogador de futebol, favorecendo o esportista ao resolver seus problemas na partida (Arajo, 1997; Farrow, 2001; Nettleton, 2001). Supe-se que a prtica do treino situacional em conjunto com o Treino da Viso Perifrica abrevie o tempo da tomada de deciso, que, segundo Tavares e Faria (1996), se processa da seguinte forma: 75% do tempo gasto para ocorrer a tomada de deciso e no percentual restante, 25%, o futebolista efetua a habilidade neuromotora. Como o treino situacional exercita em demasia a memria (declarativa e de procedimento), h uma tendncia em aperfeioar essa estrutura do encfalo. Garganta (2002) alertou que, geralmente, os jogadores de futebol com excelente memria (declarativa e de procedimento) se revelam melhores esportistas. O treino situacional com o Treino da Viso Perifrica pode exercitar vrios momentos do jogo, podendo ocasionar aumento na assemblia de neurnios. Nessa sesso pode-se praticar cruzamento para rea a partir da lateral tendo atacantes, defensores e um goleiro, ataque a partir do meio-campo e outros. Lembrando que a carga dessa sesso subjetiva, e a complexidade da tarefa determina quando a sesso forte, mdia ou fraca.

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Jos Mourinho, ex-tcnico do Chelsea da Inglaterra e atualmente no Inter de Milo (temporada 2008 e 2009), explica que a intensidade desse trabalho estabelecida atravs da concentrao do atleta ao realizar os exerccios com bola no treino situacional (Oliveira et al., 2006). Estar concentrado significa que o jogador realizar as tarefas propostas com ateno e empenho. Quando decresce a concentrao, geralmente a fadiga central j est instalada no futebolista. Da a importncia das pausas no treino situacional, esses intervalos devem ter durao variada de alguns segundos a minutos como ocorre no jogo. Nessa sesso precisa estar inserido um tipo de prtica do Aprendizado Neuromotor ou do Aperfeioamento Neuromotor, caso seja no aprendizado do Treino da Viso Perifrica, indica-se a prtica aleatria. A figura 17 exemplifica um exemplo de atividade do treino situacional com o Treino da Viso Perifrica:

1 jogador de ataque, 2 zagueiro, 3 outro jogador de ataque, 4 goleiro.

Figura 17. Exemplo do exerccio do treino situacional com o Treino da Viso Perifrica. 2 contra 1 mais um goleiro (2 x 1 + 1), ataque versus defesa.

O treino ttico acontece durante o treino situacional, durante o treino de jogo e durante a sesso posicional (Greco, 1999). A sesso posicional se realiza atravs da orientao dada pelo tcnico aos atletas quanto a sua localizao na regio do campo de acordo com sua posio na equipe. A sesso posicional do treino ttico pode ser feita sem bola, com bola, com marcao e sem zagueiro. No treino ttico posicional com defensores o adversrio costuma oferecer pouca resistncia na marcao (sombra), o treinador corrige o posicionamento do

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ataque e da defesa da equipe durante uma atividade ofensiva e defensiva similar ao da disputa. Se a equipe est aprendendo o Treino da Viso Perifrica, conveniente a prescrio da prtica mista (bloco e aleatria) para os jogadores alcanarem a aquisio e depois a reteno. Weineck (1999) afirmou que a viso central e a viso perifrica influenciam decisivamente na qualidade ttica de uma equipe. Porm, durante uma jogada, o ideal que o atleta de futebol faa usar a viso perifrica, mas, quando comparada a viso perifrica com a viso central no tempo de reao do futebolista, obtm-se um resultado pior (Ando, Kida & Oda, 2001). Talvez esse tempo mais lento da reao visual da viso perifrica deva-se a menor nitidez observacional desse tipo visual. Mas a viso perifrica especfica para as tarefas esportivas porque o futebolista enxerga o contexto do jogo (Lemmink, Dijkstra & Visscher, 2005), sendo de extrema importncia o uso da viso espacial no treino ttico. Para aperfeioar o tempo de reao pela viso perifrica o tcnico deve prescrever uma sesso que melhore essa capacidade neuromotora (Monts-Mic et al., 2000). A sesso deve ocorrer no contexto do jogo, preferivelmente, no caso do treino ttico com o Treino da Viso Perifrica que exercita o modelo de jogo da equipe. O treino ttico costuma estar inserido no treino situacional ou no jogo, trabalhando muito o tempo de reao, porm, at a presente data as referncias do futebol no estudaram o tempo de reao durante o treino ttico (Barros et al., 2007; Esposito et al. 2004; Hoff et al., 2002; Krustrup et al., 2005). O jogo a ltima sesso onde o tcnico poder exercitar o Treino da Viso Perifrica nos seus atletas. A sesso pode ser acompanhada por qualquer prtica do Aprendizado Neuromotor ou do Aperfeioamento Neuromotor (bloco, aleatria, seriada e mista). Usualmente opta-se pela prtica em bloco porque o jogo no interrompido. A prtica aleatria rende melhor quando o tcnico interrompe a partida e inicia outra atividade que interfere na memria do foco do treino, alm disso, esse exerccio proporciona uma recuperao ativa do atleta. Aps a pausa ativa, a equipe retorna imediatamente partida. Durante o treino de jogo a sesso fica mais prxima da realidade da disputa (Gomes, 1999; Pinto, 1996). A atividade competitiva se intensifica se a equipe participar de jogos amistosos ou de campeonatos de menor importncia como preparativo para a disputa alvo. Outro modo de exercitar a equipe no treino de jogo intensificar o nvel de dificuldade (Konzag, 1991), por exemplo, uma equipe joga com 7 jogadores e a outra com 11 atletas. Um time pode realizar diversas substituies e o outro no.

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Alguns tcnicos utilizam a alternncia entre jogo e treino situacional quando observam falhas no modelo de jogo da equipe de futebol, geralmente com acompanhamento da prtica em bloco. Por exemplo, o tcnico de futebol observou deficincia no treino de jogo durante a marcao na rea aps o corner. Interrompe a partida imediatamente e a equipe passa a realizar o treino situacional, ou seja, escanteio para rea com intuito de melhorar a marcao. Aps efetuar a tarefa algumas vezes, retorna-se ao jogo. O treinador pode repetir o processo, treino situacional de corner, jogo, at que a deficincia seja sanada. Em todos os exemplos os jogadores devem usar o Treino da Viso Perifrica. Para habituar o atleta atuar no jogo com nfase na viso espacial impe-se uma regra de penalidade, isto , esportista que realizar jogadas com predomnio da viso central por longo perodo perder a posse da bola. Sendo cobrado tiro livre indireto pelo adversrio. Se o Treino da Viso Perifrica deve ser praticado com uso da bola, como se far a preparao fsica? Da maneira tradicional: treino de fora, sesso de flexibilidade, trabalho de corrida aerbia etc. O treino de corrida (intervalada ou fartlek) para a equipe de futebol desnecessrio porque essa tarefa j ocorre no jogo (ver adiante em periodizao ttica adaptada). Cometti (2001) sugere que o treino de fora seja realizado apoiado no treino europeu. As mesmas idias dessa sesso podem ser aplicadas na sesso de flexibilidade. O treino europeu pode ser praticado no treino tcnico, no treino situacional, no treino ttico e no treino de jogo. O atleta faz uma tarefa com bola, para essa pratica e realiza um gesto esportivo com peso de musculao e/ou sesso de salto em profundidade, imediatamente volta a efetuar o exerccio com bola, a alternncia termina com a concluso do programa de musculao. Informao importante transmitida por Delecluse et al. (1995): o treino de musculao multiarticular proporciona menos chance leso, talvez porque o perigo de uma articulao sofrer uma sobrecarga com um halter muito pesado seja menor. Vrias articulaes esto envolvidas no gesto esportivo com peso, esse treino conhecido como preparao de fora especial e foi idealizado pelo russo Verkhoshanski (1995). A prescrio mais usual no treino europeu : o atleta principia o trabalho de fora com o gesto esportivo que resulta em um maior recrutamento de unidades motoras para o fundamento do futebol que ser praticado a seguir. Essa tarefa praticada at terminar a srie (Cometti et al., 2004).

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O treino europeu costuma ser praticado nas tarefas com bola atravs do treino tcnico (Cometti, 2002), lembrando que o futebolista deve empregar o Treino da Viso Perifrica e algum tipo de prtica (bloco, aleatria e mista). O tcnico poder estabelecer a carga da sesso do treino de preparao fsica (treino de fora, sesso de salto em profundidade e treino de flexibilidade) com exatido quando ocorrer o treino europeu com o Treino da Viso Perifrica (Borin, Gomes & Leite, 2007). Caso os leitores queiram conhecer melhor o treino europeu, consultem o site do francs Cometti (www.u-bourgogne.fr/EXPERTISE-PERFORMANCE/). As figuras a seguir apresentam exemplos do treino europeu:

1 chute com a caneleira preta em alta velocidade. 2 tira a caneleira e faz um chute para a meta.

Figura 18. Treino europeu de fora com o Treino da Viso Perifrica.

1 alonga o quadrceps esquerdo e depois o direito. 2 chute para o gol aps o alongamento.

Figura 19. Treino europeu de flexibilidade com o Treino da Viso Perifrica.

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Esta obra no pretende ensinar como prescrever o treino de fora (srie, repetio e outros), logo, se faz necessrio que o estudante pesquise o tema em outros autores como os livros de musculao de Badillo e Ayestarn (2001), Campos (2000), Fleck e Kraemer (1999) (existe uma nova edio na Artmed), Komi (1992) (j existe essa obra na Artmed), Kraemer e Hkkinen (2004) e Simo (2003). E sobre a sesso de salto em profundidade a literatura indicada so Bompa (2004) e Verkhoshanski (1996). J a sesso de flexibilidade, o leitor pode adquirir informaes em Achour Jnior (1998, 1999), Alter (2001) e Geoffroy (2001). Caso o leitor tenha dvidas quanto estruturao e prescrio do Treino da Viso Perifrica, consulte o autor atravs do e-mail ([email protected]).

Periodizao Ttica AdaptadaCom esta moda de futebol fsico, parece que nos esquecemos de que o principal a bola (Maradona em 2001, p. 12). O futebol de top exige, porm, do jogador uma constante solicitao ttica, tanto no jogo como no treino. necessrio, pois, que o que ele esteja a fazer, o faa de uma forma concentrada. Neste sentido, as boas prestaes de treino reclamam elevada concentrao para aquilo que o treinador pretende (Vtor Frade criador da periodizao ttica em 2003, p. 65). (os dois em Costa, 2005)

No existe dentro do campo de jogo maior fora que a inteligncia ttica (Menotti, ex-tcnico da Seleo Argentina de Futebol, p. 120) (Gaiteiro, 2006)

A periodizao ttica foi criada a fim de facilitar a adaptao de uma equipe a um adequado modelo de jogo cujo alvo o sucesso competitivo. Esse modelo de periodizao valorizava a ttica, ou seja, o jogar em detrimento da preparao fsica. Essa periodizao de origem portuguesa foi elaborada por Vtor Frade, profissional do futebol, que atualmente ministra na Universidade do Porto. Em 1988, o treinador portugus Monge da Silva criticou os tcnicos das modalidades coletivas que utilizavam os modelos de periodizao oriundos dos esportes individuais que valorizam em demasia a preparao fsica e a fisiologia do exerccio. Geralmente as sesses so divididas em tipos de treino (fsico, tcnico, ttico e outros) e tal segmentao no acontece no jogo, h uma colonizao dos esportes individuais nos

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coletivos porque a carga de treino norteia a sesso e quantificada com preciso (freqncia cardaca, metragem percorrida, percentual da velocidade), mas o jogo de futebol se caracteriza por apresentar variveis, o que revela a subjetividade da carga. Outro problema apontado por Monge da Silva (1988) a supremacia da fisiologia do esforo nas modalidades coletivas. Como a carga tem relevncia no treino, as sesses se preocupam em demasia com o metabolismo energtico da partida de futebol, o tipo de contrao muscular efetuado no jogo e as variveis, como freqncia cardaca, potncia aerbia mxima, limiar anaerbio e outros, so fundamentais na prescrio e controle do treino. Por isso, adaptar modelos de periodizao de esportes individuais as sesses, a ttica, componente relevante no futebol, fica em segundo plano. Garganta (1991), preocupado com a ttica e insatisfeito com a valorizao da adaptao fisiolgica e bioqumica, recomendou que na periodizao de Matveev fosse enfatizado o trabalho com bola, preferencialmente no jogo. Em 1993, Garganta censurou a prtica dos picos da forma esportiva no futebol, quando o ideal para essa modalidade a regularidade competitiva. O portugus Marques (1995) alertou que as periodizaes da exUnio Sovitica priorizam o aspecto biolgico, j que so modelos de periodizao de esportes individuais utilizados no futebol. Pito e Garganta (1996) questionaram a valorizao da preparao fsica do futebol com as seguintes perguntas:O atleta ao possuir uma melhor potncia anaerbia consegue s por isso impor um ritmo de jogo mais elevado? A elevao do ritmo de jogo depende s da movimentao dos jogadores? (p. 90).

Garganta, Maia e Marques (1996) evidenciaram no seu estudo que a ttica o componente principal para o sucesso de uma equipe de futebol. Logo, a criao de uma periodizao para o futebol se faz necessrio. Ento, com esses questionamentos, os portugueses esforaram-se por elaborar uma periodizao prpria para o futebol com ateno na ttica, no jogar. Em meados de 1989 surgiram as primeiras idias sobre a periodizao ttica para o futebol, explicadas assim por Vtor Frade (Oliveira, 2004): uma forma de organizao e estruturao do processo de treino e do jogo. Tambm como objetivo a melhoria da qualidade de prestao coletiva e individual, tendo em considerao alguns pressupostos: a dimenso ttica a

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gestora e orientadora de todo o processo de treino e de jogo, o modelo de jogo a idia do treinador, quando for necessrio o tcnico deve decompor o jogo para treinar no modelo de jogo e sempre se preocupar durante a semana com o esforo e a recuperao do atleta (Pequena Adaptao, p. 4).

A estruturao do macrociclo pela periodizao ttica exige que o tcnico estabelea o sistema de jogo e como a equipe vai jogar nesse sistema de jogo, o modelo de jogo (Batista, 2006). O modelo de jogo adotado vai nortear todas as sesses (Campos, 2007). Treinar futebol significa trabalhar a equipe como vai jogar na competio. Lembrando, que o Treino da Viso Perifrica pode ser includo nesse jogar. A figura 20 ilustra como o tcnico elabora esse modelo de jogo: Idia do tcnico sobre o Modelo de jogo

Modelo de jogo conforme as caractersticas dos atletas

Princpios do jogo(ataque, defesa, transio defesa/ataque e transio ataque/defesa)

Interao

Organizao ttica

Organizao do sistema de jogo Figura 20. Estruturao do modelo de jogo no futebol.

Segundo Santos (2006), todos os treinos devem reproduzir o modelo de jogo, por esse motivo as sesses tcnica e fsica so abolidas da periodizao ttica, o centro de interesse o jogar, a ttica. Logo imprescindvel a adequada organizao do modelo de jogo no ataque, na defesa, na transio ataque/defesa e na transio defesa/ataque. As sesses acontecem no jogo ou no treino situacional, para exercitar ao mximo a cognio dos jogadores referentes ao jogar no modelo de jogo adotado. As sesses centradas no jogo acontecem numa intensidade mxima relativa, relacionada com o desempenho da equipe no jogo (Oliveira et

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al., 2006). Logo as sesses exigem mxima concentrao e o declnio de um exerccio com bola pode significar o cansao dos atletas (Tamarit, 2007). Nesse momento o tcnico deve estabelecer um intervalo para a equipe e terminada a pausa, os jogadores retornam ao jogo ou ao treino situacional. Se, aps o descanso, o jogar continuar em declnio, os esportistas devem ter atingindo a fadiga central e ou encerra-se a sesso ou aumenta-se o tempo do intervalo. No treino da periodizao ttica a carga subjetiva. A complexidade da tarefa estabelece a carga para a sesso. As sesses da periodizao ttica possuem uma intensidade mxima relativa, ento, a intensidade que comanda o volume, ou seja, a soma das intensidades que forma o volume (Oliveira, 2005), todo esse procedimento ocorre conforme o modelo de jogo da equipe (Carvalhal, 2003). Logo, o treino sempre especfico e sua durao igual a do jogo de futebol ou um pouco mais (Marques Junior & Kimura Da Silva, 2006). Na periodizao ttica a imagem do atleta difere dos outros modelos, estar em forma jogar bem (Martins, 2003), ser veloz atuar com velocidade no jogo para atacar ou defender. a rapidez da tomada de deciso para efetuar uma jogada com maestria (Gomes, 2006), que permitir a equipe atingir alto rendimento, a regularidade competitiva