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Esta é a versão em html do arquivo http://www.pucrs.br/eventos/sbpc/uergs/oficina/001.doc . VISITA DOMICILIAR: UMA TÉCNICA DE REVELAÇÃO DA REALIDADE AMARO, Sarita (UERGS) 1 Palavras-chave: realidade - visita domiciliar – técnica profissional 1. INTRODUÇÃO A visita domiciliar é uma técnica que vem se popularizando rapidamente, acompanhando a crescente ação de grupos governamentais e não governamentais, assim como a ação voluntária, nas comunidades. A visita domiciliar é uma atividade de campo realizada no meio familiar ou comunitário em que se insere o indivíduo focal do atendimento. É também uma prática profissional, investigativa ou de atendimento, realizada por um ou mais profissionais, junto ao indivíduo em seu próprio meio social ou familiar. Afastar o mito de que se constitui uma atividade meramente empírica, bem como oferecer subsídios para que o seu desenvolvimento ocorra sobre bases éticas, humanas e profissionais, é nosso propósito. Nesse sentido, com base na experiência da autora como assistente social e professora extensionista, apresentaremos nesse trabalho reflexões, relatos, recomendações e ilustrações voltadas a potencializar a execução da técnica da visita 2. DESENVOLVIMENTO 2.1. Conduzindo a visita domiciliar a. Ética, uma condição indispensável A ética e o respeito são princípios e condições fundamentais à realização da visita domiciliar. O fato de ser realizada no ambiente domiciliar ou particular, por si já clama por uma série de atenções e considerações éticas,

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Esta é a versão em html do arquivo http://www.pucrs.br/eventos/sbpc/uergs/oficina/001.doc.

VISITA DOMICILIAR: UMA TÉCNICA DE REVELAÇÃO DA REALIDADE

AMARO, Sarita (UERGS) 1

Palavras-chave: realidade - visita domiciliar – técnica profissional

     1. INTRODUÇÃO

     A visita domiciliar é uma técnica que vem se popularizando rapidamente,  acompanhando a crescente ação de grupos governamentais e não governamentais, assim como a ação voluntária, nas comunidades. A visita domiciliar é uma atividade de campo realizada no meio familiar ou comunitário em que se insere o indivíduo focal do atendimento. É também uma prática profissional, investigativa ou de atendimento, realizada por um ou mais profissionais,  junto ao indivíduo em seu próprio meio social ou familiar.

     Afastar o mito de que se constitui uma atividade meramente empírica, bem como oferecer subsídios para que o seu desenvolvimento ocorra sobre bases éticas, humanas e profissionais, é nosso propósito. Nesse sentido, com base na experiência da autora como assistente social e professora extensionista, apresentaremos nesse trabalho reflexões, relatos, recomendações e ilustrações voltadas a potencializar a execução da técnica da visita  

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. Conduzindo a visita domiciliar

a. Ética, uma condição indispensável

 

    A ética e o respeito são princípios e condições fundamentais à realização da visita domiciliar. O fato de ser realizada no ambiente domiciliar ou particular, por si já clama por uma série de atenções e considerações éticas, relativas ao direito a privacidade e sigilo profissional. A par disso, há situações que se revelam na visita e exigem uma ação propositiva e afirmativa do profissional, que em certos casos podem salvar vidas. É o caso de uma orientação relativa a realização de um exame de HIV, do registro de uma ocorrência policiar, de um exame de corpo-delito ou o uso com recomendação médica da pílula do dia seguinte no caso de um relato de uma situação de risco, como um abuso intrafamiliar.  Negar-se ou  ser reticente a oferecer uma orientação dessas, em tempo hábil e em meio a oportunidade do relato na visita, representa uma infração ética, por omissão de socorro ou negligência. De modo mais corriqueiro, mas não menos importante, a ética ou sua falta se releva na interação e diálogo entre visitador e visitado. Considerando a subjetividade de cada ser, é comum que o quadro de valores seja distinto. Essa característica divergente deve ser tomada como valor e não como obstáculo.

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    b)  A relação profissional na visita domiciliar

 

    Em se tratando de uma visita domiciliar a relação estabelecida entre quem visita e quem é visitado tem significativa importância.

    Primeiro porque, ambos, se afiguram sujeitos do processo, dotados de razão, emoção e subjetividades em interação constante. Em segundo lugar, porque  é a relação que possibilitará a expansão e livre expressão do sujeito visitado, colaborando ou obstaculizando o desenvolvimento da visita.

    A empatia, o respeito mútuo, a horizontalidade e a atitude de não-julgamento do pesquisador acerca do conteúdo do que é relatado ou apresentado, são os condutores indispensáveis da visita.   

c) Três perguntas chaves: por que, quando e com quem?  

Por que visitar?  

     Deve haver racionalidade e planejamento  à organização de uma visita. Não esqueça que, antes de tudo, a visita domiciliar serve ao  alcance de um objetivo. Desde o momento em que se projeta a visita até sua efetivação, estamos planejando  uma melhor  aproximação da realidade do sujeito ou grupo que se pretende observar ou atender. Ir à visita com uma idéia ou roteiro preliminar das informações que você pretende obter é indispensável. O roteiro sobre o que perguntar ou investigar deve ser feito e colocado em prática.

     A participação do profissional na visita deve estar orientada e ao mesmo tempo limitada ao  objetivo da visita.   Isso não significa uma condição de rigidez, imposta ao profissional, ao visitar.  Longe disso, representa um critério para que preserve a qualidade e profissionalismo na visita, respeitando o tempo e assunto/atendimento programado.  

Quando visitar? 

     Convém evitar realizar visitas em feriados e horários inapropriados, bem como verificar antecipadamente a disponibilidade de transporte da instituição para levar o profissional até a residência a ser visitada, são medidas simples que asseguram um  mínimo de organização. È fundamental que se defina com o sujeito a ser visitado se a data e horário escolhido lhe são favoráveis. 

     O esforço do profissional é atender o cidadão, respeitando sua rotina familiar e pessoal, desorganizando o mínimo possível seu  cotidiano. Assim, antes de falar com o sujeito a ser visitado, recomenda-se apenas o agendamento “preliminar” de um ou dois horários estratégicos, os quais serão definidos em conjunto com a pessoa visitada.

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     Visitas “surpresa”, além de invasivas e desagradáveis, revelam-se manifestos de uma cultura autoritária, fiscalizatória e disciplinar e, por essa razão , devem ser banidas da prática do profissional que visita.  

Com quem visitar? 

     Enquanto  um procedimento profissional, a visita, difere de uma reunião ou encontro de amigos, em que “sempre cabe mais um”, não importando quem. A visita requer, portanto, profissionalismo e isso não é encontrado em atitudes espontaneístas ou oportunistas.

     Em vista disso, sempre que necessário, privilegie a companhia de profissionais para fazer a visita. Evidentemente a presença destes outros profissionais deve ser anunciada antecipadamente e justificada: mais que  uma “companhia”,  ela deve representar a observação de algum aspecto que seu acompanhante convidado domine mais que você..

     E, por fim, lembre-se que não é recomendável que o número de visitadores seja superior ao das pessoas visitadas. Em visita domiciliar não se leva toda a equipe até a casa da pessoa, mas apenas aquele ou aqueles dois ou três (no máximo) profissionais implicados no diagnóstico ou atendimento.Uma olhadela, dias antes,  no prontuário da família que será visitada, poderá ajudar na decisão de quantos profissionais podem participar do atendimento. Muitas vezes, em casebres que mal cabem os próprios familiares, uma visita de mais de um profissional é inviável e causa constrangimentos aos moradores.  

    3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

    A caminho da finalização da visita, surgem algumas questões. Uma delas é que nem sempre se sabe ao certo se foi capaz de captar  a realidade do outro e compor um diagnóstico efetivamente amplo e imparcial.

    Exatamente porque a realidade é complexa, ela patrocina de alguma forma o encontro da realidade do outro com a sua, provocando a redefinição de paradigmas que falam de vida, de morte e do que é necessário para ser feliz.

    O fato da  realidade do outro se revelar para você ou não  depende, antes de tudo, de planejamento, manejo técnico e predisposição. Capturar a realidade dentro de seu quadro social e cultural específico exige do profissional o interesse e organização para ver os elementos difíceis, intrigantes e  conflitantes da realidade, por mais estranhos que eles possam parecer a nossa razão.

    A questão  que se coloca é: até que ponto estamos aptos a ver tais elementos? Acredito que  é preciso coragem e  coerência para romper com uma visão parcial e falsificadora da realidade. Se assim o fizermos a visita domiciliar se revelará num recurso essencial à abordagem de diferentes profissionais, sobretudo aqueles ligados às  áreas da saúde, educação e assistência social.  

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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3. ___________.A formação do espírito científico. Rio de Janeiro: Editora Contraponto,1996.

4. ___________.A filosofia do não: filosofia do novo espírito científico. Lisboa: Editorial  Presença, 5ª ed., 1991.

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6. ___________.A chama de uma vela. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil ed., s,d,

7. BOURDIEU, Pierre & outros. El oficio de  sociólogo. España Editores, Siglo XXI,16ª ed. 1994.

8. ___________.Razões Práticas: sobre a teoria da ação. Campinas: Editora Papirus ,1996.

9. CAMARGO, Aspásia. Os usos da história oral e da história de vida: trabalhando com elites políticas. Dados – Revista de Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Campus, v 27, nº. 1, 5-28, 1984

10. CASTEL, Robert. As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário. Trad. Iraci Poleti. Petrópolis, RJ,Vozes, 1998.

11. CHAUÍ, Marilena. Cultura e democracia  (o discurso competente e outras falas). São Paulo, Moderna 3ª ed., 1972.

12. DEMO, Pedro. Participação é conquista: noções de política social participativa. São Paulo: Cortez, 1988.

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17. HELLER, Agnes. O Cotidiano e a História. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1972.

18. _________. Para cambiar la vida: entrevista a Ferdinando Adornato. Barcelona: Ed. Crítica, 1981.

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23. MORIN, Edgar. O método 5: a humanidade da humanidade. Trad. Juremir Machado da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2002.