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Página: 33 CYAN MAGENTA YELLOW BLACK Vitória (ES), domingo, 7 de março de 2004 - 33 A GAZETA POLÍCIA O Casos mais polêmicos JUIZ TEVE ATUAÇÃO MARCANTE CORONEL FERREIRA - O coronel Walter Gomes Ferreira, que es- tava preso desde 21 de outubro de 2002, foi transferido para o presídio da ‘Papudinha’, no Acre, por determinação de Alexandre Martins, no dia 11 de dezembro de 2002, sob um forte esquema de segurança. Ferrei- ra é investigado como mandante do crime, segundo a Secretaria de Segurança. CENTRAIS TELE- FÔNICAS - Em agosto e setem- bro de 2002, ele assinou manda- dos de busca para a apreensão de centrais clandes- tinas de telefone, que eram usa- das por presidiários. SAÍDAS IRREGULARES DE PRE- SOS - Os diretores da Colônia Penal e do Instituto de Readap- tação Social (IRS) foram exone- rados depois que Alexandre Martins apontou irregularidades nos dois presídios. MISSÃO ESPECIAL - Em agosto de 2002, foi designado, junto com Carlos Eduardo Ribeiro Le- mos, para acompanhar os traba- lhos da missão especial de com- bate ao crime organizado. MANDADOS SEM CUMPRIMENTO - Em julho de 2002, entregou ao então secretário execu- tivo do Ministério da Justiça, Celso Compilongo, uma relação com os nomes das 1.164 pessoas que esta- vam com manda- dos de prisão de- cretados, e que não tinham sido cumpridos até aquela época. CARGA PESADA - Em outubro de 2001, Alexandre Martins conde- nou o escrivão aposentado da Polícia Civil, Jefferson Foratini Peixoto de Lima, Cleveland Mo- reira Júnior, a mulher dele, Geilla Coelho de Rodrigues Moreira, e o motorista Jarbas de Almeida Bonfim, por roubo de cargas. Ato ecumênico e diversas homenagens marcam o dia 24 Ricardo Medeiros Anônimos No dia da morte do magistrado, dezenas de pessoas foram até a Rua Natal, onde o juiz Alexandre Martins foi baleado, e colocaram flores O Fórum Reage Espírito Santo vai fazer uma manifes- tação no dia 24 de março, com concentração a partir das 8 horas, em frente à aca- demia onde o juiz Alexandre Martins de Castro Filho foi assassinado, na Rua Natal, em Itapoã, Vila Velha. Segundo uma das coorde- nadoras do Fórum Reage Es- pírito Santo, Marta Falqueto, o fórum pretende celebrar um ato ecumênico para mar- car a data e cobrar das auto- ridades de Segurança Pública como está o andamento das investigações sobre o mando da execução do magistrado. A intenção é provocar a participação popular no ato ecumênico. No dia da morte do juiz Alexandre Martins, muitas pessoas foram até a rua e depositaram flores. Estarão presentes várias instituições ligadas ao fórum, como a Ordem dos Advoga- dos do Brasil, seccional Espí- rito Santo (OAB-ES), Central Única dos Trabalhadores (CUT-ES), sindicatos, Conse- lho das Igrejas Cristãs (Co- nic), Associação das Mães e Familiares das Vítimas da Violência no Espírito Santo, entre outras instituições. Outra homenagem previs- ta será na Assembléia Legis- lativa, com a entrega da co- menda “Alexandre Martins de Castro Filho”, para pes- soas que se destacaram no combate ao crime organizado no Estado. A data da entrega ainda será definida. Palestras e debates fazem parte da programação de al- gumas faculdades da Grande Vitória. A Faculdade de Direi- to de Vitória (FDV) vai fazer um dia de debates, com pales- tras e mesa redonda no dia 24 de março. Entre os assuntos em debate, o andamento do inquérito que apura o mando e o do processo contra os sus- peitos da execução. A Universidade de Vila Velha (UVV) fará um ciclo de debates, na segunda quin- zena deste mês, com o tema “Violência, Impunidade e Corrupção Pública”. Profissional atencioso e acessível Se a morte do juiz Alexan- dre Martins abalou autorida- des, também emocionou e entristeceu pessoas que tive- ram pouco contato com o magistrado e que hoje guar- dam lembranças de um pro- fissional atencioso e gentil. Uma delas foi a dona-de- casa E.S.S., 54 anos, mãe de um adolescente preso por en- volvimento com drogas. Ela recordou como conheceu Alexandre Martins: “Eu esta- va com meu menino no fó- rum, conversando com uma assistente social e perguntan- do a ela onde eu poderia en- contrar um lugar e tratar do meu filho. Ele ouviu a con- versa e me chamou”, disse. “Fiquei impressionada com o modo dele agir, a gente não espera que um juiz crimi- nal dê conselhos e ele me deu. Depois, me pediu para con- versar a sós com meu menino, que ficou impressionado com ele também. Daquele dia em diante, o menino mudou mui- to e quando Alexandre mor- reu, para mim foi uma perda pessoal”, concluiu. Já para Ilza Ferreira, 50 anos, que teve um familiar detido, o que mais a impres- sionou na atuação do juiz foi a simplicidade: “Eu precisava falar com o juiz. Telefonei pa- ra ele, que me atendeu na mesma hora. Foi muito edu- cado, gentil, ele foi muito di- ferente do que eu pensava que um juiz fosse. E ele tinha palavra, porque na data em que me prometeu que faria, ele cumpriu”, disse. Para autoridades esta- duais, o assassinato do ma- gistrado foi considerado uma grande perda: “Na manhã do dia 24 de março de 2003, vivi o momento mais difícil do Governo até agora”, disse o governador Paulo Hartung. “O assassinato foi uma tentativa de intimidar as for- ças que desenvolviam, e de- senvolvem, o trabalho de fa- xina ética das instituições públicas do Estado, pois viti- mou um dos mais aguerridos e brilhantes combatentes do desmando, da violência e do crime em nossa terra. Não obtiveram êxito. A faxina continua e o exemplo de competência e determinação do doutor Alexandre restou como um farol para nossas lutas diárias por um Espírito Santo renovado”, concluiu. Como foi o crime EXECUÇÃO EM VILA VELHA 24/03/2003 - O juiz Alexandre Martins de Castro Filho foi morto a tiros na manhã de 24 de março do ano passado, quando chegava em sua caminhonete a uma aca- demia de ginástica em Itapoã, Vi- la Velha, às 7h45. CHAMADO E TIROS - O juiz es- tava descendo do carro quando foi abordado por Giliarde e ‘Lum- brigão’. Segundo o inquérito, os dois teriam chamado o juiz pelo nome. Quando ele se virou na di- reção dos dois, foi atingido com um tiro no peito e no ombro. REAÇÃO - Mesmo ferido, Alexan- dre Martins conseguiu sacar sua pistola .40 e efetuar alguns dis- paros sem direção. Ele acabou caindo no asfalto. Nesse momen- to, ‘Lumbrigão’ teria se aproxi- mado e atirado na cabeça e no ombro do juiz FUGA - Os dois réus, então, ten- taram fugir em uma moto, mas o motor apresentou um defeito e ela teve que ser empurrada por ‘Lumbrigão’ e Giliarde. O juiz che- gou a ser socorrido, no próprio carro, e levado para o pronto-so- corro do Hospital Santa Mônica, em Itaparica, onde morreu. PRISÕES - No mesmo dia do as- sassinato do magistrado, os sus- peitos de participação na execu- ção começaram a ser presos pe- las polícias Civil e Militar. Os pri- meiros detidos foram os sargen- tos Valêncio e Ranilson. Ainda no dia 24 de março, foram presos ‘Yoxito’, Giliarde e ‘Pardal’. 20/04/2003 - ‘Lumbrigão’ é lo- calizado e preso, durante uma operação das polícias Civil e Mi- litar, no morro de Itararé, em Vi- tória. Em depoimento informal, ele admitiu o crime de mando, mas depois voltou atrás e disse que a morte do juiz foi latrocínio (assalto com morte). 04/12/2003 - O juiz Carlos Eduardo Ribeiro Lemos pronuncia os réus para irem a julgamento popular, mas a defesa recorreu. O recurso ainda será analisado pelo Tribunal de Justiça (TJES). Pai vai criar instituto Gildo Loyola Carinho O advogado Alexandre Martins de Castro afirma que a comoção da população o ajudou a enfrentar a morte do filho O advogado Alexandre Martins de Castro quer continuar o trabalho do filho no combate ao crime e pretende chegar ao Tribunal de Justiça do Estado SANDRESA CARVALHO advogado Alexandre Martins de Castro, pai do juiz assassinado, pretende criar no Espí- rito Santo, ainda este ano, o Instituto de Es- tudos Criminais “Alexandre Martins de Castro Fi- lho”, para estudos sobre a criminalidade e o im- pacto da violência na sociedade, “como forma de retribuir o carinho e o respeito que a população do Espírito Santo dedicou ao meu filho”, revelou. A GAZETA – Que perfil o sr. traçaria do seu filho? ALEXANDRE MARTINS DE CASTRO – Ale- xandre, como filho, sempre foi exemplar. Nunca me deu trabalho, pelo contrário, sempre foi um grande amigo, muito dócil e carinhoso. Como pro- fissional, eu confesso que ele me surpreendeu, porque muito rapidamente se tornou um grande professor. Depois, um grande jurista e um excep- cional juiz. A atuação dele como juiz, ao mesmo tempo que me encantava, me espantava. Eu não esperava que ele tivesse uma performance dessa natureza, porque ele era ainda muito novo. O sr. se preocupou com a fama de Estado violento quando o dr. Alexandre decidiu ser juiz no Espírito Santo? Na verdade, fui eu quem disse que ele deveria fazer concurso para cá. Eu providenciei a inscri- ção dele e ele veio. Em algum momento a fama de estado perigoso fez com que houvesse a possibilidade de mudança de Estado? De forma alguma, eu não tive essa preocu- pação. É claro que, quando eu sugeri que ele fizesse o concurso aqui, eu não esperava que tivesse a atuação que teve. Quando ele come- çou a ter uma atuação extremamente forte, eu o alertei várias vezes. Alexandre sabia que es- tava em um caminho perigoso, e que a partir de certo momento estava correndo risco, mas na- da o faria parar. No fundo, eu acho que ele ti- nha plena consciência do risco que corria, mas não admitia que fosse acontecer isso. Como o sr. soube do crime? Eu estava dando aula e recebi um telefonema para entrar em contato com o Espírito Santo, que ele tinha sofrido um atentado. Liguei para cá, e as pessoas apenas me falavam que eu deveria vir. Na- quele momento, achei que poderia ter ocorrido al- go grave. No caminho para o aeroporto, um mo- torista de táxi perguntou para onde eu estava indo. Quando falei que era Vitória, ele comentou: ma- taram um juiz lá. Nesse exato momento, tive a consciência que tinha sido ele. Mas assim mesmo ficou uma esperança de que pudesse não ter sido isso. Mas quando desci do avião, a primeira pessoa que veio falar comigo foi um policial federal, que trabalha no aeroporto, e ele me deu os pêsames. Neste exato momento, eu soube. Como o sr. viu a reação da população do Estado à morte do dr. Alexandre? Eu não acreditava, e tenho certeza de que ele também não sabia, que uma reação dessas pudesse acontecer, com tal dimensão. Foi algo que me sur- preendeu e me confortou muito. O que o sr. aprendeu com seu filho? Ele deu uma lição a todos nós, de que um ideal deve ser cumprido. Se eu puder, eu quero conti- nuar o trabalho que ele começou a desenvolver em prol do Judiciário. Com a capacidade que ele ti- nha, ele chegaria certamente ao Tribunal de Jus- tiça. Se um dia puder chegar lá, vou trabalhar ins- pirado no modelo de trabalho dele. CRIME INSOLÚVEL? Direitos Humanos teme impunidade “Entendemos que o crime cometido contra o juiz Alexandre Martins de Castro Filho entrou para a galeria do crimes insolúveis, e que a investigação está na mesma regra dos crimes insolúveis, que perduraram no Espírito Santos nos últimos 20 anos”. A reação foi do presidente do Movimento dos Direitos Humanos no Espírito Santo, Isaías Santana da Rocha, ao comentar as investigações sobre o mando da execução do juiz Alexandre Martins. Ele afirmou acreditar que dificilmente a sociedade terá uma resposta sobre o mando da morte do magistrado. “Para nossa grande decepção, pois as instituições ligadas aos direitos humanos acreditavam que se um dia o crime organizado alcançasse o Poder Judiciário, essa situação iria mudar, mas na prática nada mudou”, acrescentou Santana. Segundo o presidente, o fato dos executores confessos e supostos intermediários da morte do magistrado estarem presos, não é uma resposta suficiente à sociedade. Segundo o secretário de Segurança, Rodney Miranda, não se pode falar que o mando do crime vai ficar impune. “A investigação do mando é muito complexa, na medida em muitas pessoas podem estar direta ou indiretamente interessadas na morte do juiz”, finalizou.

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Página: 33 CYAN MAGENTA YELLOW B L AC K

Vitória (ES), domingo, 7 de março de 2004 - 33

A GAZETAP O L Í C I A

O

Casos mais polêmicos

JUIZ TEVE ATUAÇÃO MARCANTECORONEL FERREIRA - O coronelWalter Gomes Ferreira, que es-tava preso desde 21 de outubrode 2002, foi transferido para opresídio da ‘Papudinha’, no Acre,por determinação de AlexandreMartins, no dia 11 de dezembrode 2002, sob umforte esquema desegurança. Ferrei-ra é investigadocomo mandantedo crime, segundoa Secretaria deSe g u r a n ç a .

CENTRAIS TELE-F Ô N I C A S - E magosto e setem-bro de 2002, eleassinou manda-dos de busca paraa apreensão de centrais clandes-tinas de telefone, que eram usa-das por presidiários.

SAÍDAS IRREGULARES DE PRE-SOS - Os diretores da ColôniaPenal e do Instituto de Readap-tação Social (IRS) foram exone-rados depois que AlexandreMartins apontou irregularidadesnos dois presídios.

MISSÃO ESPECIAL - Em agostode 2002, foi designado, juntocom Carlos Eduardo Ribeiro Le-mos, para acompanhar os traba-lhos da missão especial de com-bate ao crime organizado.

MANDADOS SEMCUMPRIMENTO -Em julho de 2002,entregou ao entãosecretário execu-tivo do Ministérioda Justiça, CelsoCompilongo, umarelação com osnomes das 1.164pessoas que esta-vam com manda-dos de prisão de-cretados, e quenão tinham sido

cumpridos até aquela época.

CARGA PESADA - Em outubro de2001, Alexandre Martins conde-nou o escrivão aposentado daPolícia Civil, Jefferson ForatiniPeixoto de Lima, Cleveland Mo-reira Júnior, a mulher dele, GeillaCoelho de Rodrigues Moreira, e omotorista Jarbas de AlmeidaBonfim, por roubo de cargas.

Ato ecumênico e diversashomenagens marcam o dia 24

Ricardo Medeiros

Anônimos No dia da morte do magistrado, dezenas de pessoas foram até aRua Natal, onde o juiz Alexandre Martins foi baleado, e colocaram flores

O Fórum Reage EspíritoSanto vai fazer uma manifes-tação no dia 24 de março,com concentração a partirdas 8 horas, em frente à aca-demia onde o juiz AlexandreMartins de Castro Filho foiassassinado, na Rua Natal, emItapoã, Vila Velha.

Segundo uma das coorde-nadoras do Fórum Reage Es-pírito Santo, Marta Falqueto,o fórum pretende celebrarum ato ecumênico para mar-car a data e cobrar das auto-ridades de Segurança Públicacomo está o andamento dasinvestigações sobre o mandoda execução do magistrado.

A intenção é provocar aparticipação popular no atoecumênico. No dia da mortedo juiz Alexandre Martins,muitas pessoas foram até arua e depositaram flores.

Estarão presentes váriasinstituições ligadas ao fórum,como a Ordem dos Advoga-dos do Brasil, seccional Espí-rito Santo (OAB-ES), CentralÚnica dos Trabalhadores(CUT-ES), sindicatos, Conse-lho das Igrejas Cristãs (Co-nic), Associação das Mães eFamiliares das Vítimas daViolência no Espírito Santo,entre outras instituições.

Outra homenagem previs-ta será na Assembléia Legis-lativa, com a entrega da co-

menda “Alexandre Martinsde Castro Filho”, para pes-soas que se destacaram nocombate ao crime organizadono Estado. A data da entregaainda será definida.

Palestras e debates fazemparte da programação de al-gumas faculdades da GrandeVitória. A Faculdade de Direi-to de Vitória (FDV) vai fazerum dia de debates, com pales-

tras e mesa redonda no dia 24de março. Entre os assuntosem debate, o andamento doinquérito que apura o mandoe o do processo contra os sus-peitos da execução.

A Universidade de VilaVelha (UVV) fará um ciclode debates, na segunda quin-zena deste mês, com o tema“Violência, Impunidade eCorrupção Pública”.

P rofissionalate n c i o s oe acessível

Se a morte do juiz Alexan-dre Martins abalou autorida-des, também emocionou eentristeceu pessoas que tive-ram pouco contato com omagistrado e que hoje guar-dam lembranças de um pro-fissional atencioso e gentil.

Uma delas foi a dona-de-casa E.S.S., 54 anos, mãe deum adolescente preso por en-volvimento com drogas. Elarecordou como conheceuAlexandre Martins: “Eu esta-va com meu menino no fó-rum, conversando com umaassistente social e perguntan-do a ela onde eu poderia en-contrar um lugar e tratar domeu filho. Ele ouviu a con-versa e me chamou”, disse.

“Fiquei impressionadacom o modo dele agir, a gentenão espera que um juiz crimi-nal dê conselhos e ele me deu.Depois, me pediu para con-versar a sós com meu menino,que ficou impressionado comele também. Daquele dia emdiante, o menino mudou mui-to e quando Alexandre mor-reu, para mim foi uma perdapessoal”, concluiu.

Já para Ilza Ferreira, 50anos, que teve um familiardetido, o que mais a impres-sionou na atuação do juiz foia simplicidade: “Eu precisavafalar com o juiz. Telefonei pa-ra ele, que me atendeu namesma hora. Foi muito edu-cado, gentil, ele foi muito di-ferente do que eu pensavaque um juiz fosse. E ele tinhapalavra, porque na data emque me prometeu que faria,ele cumpriu”, disse.

Para autoridades esta-duais, o assassinato do ma-gistrado foi considerado umagrande perda: “Na manhã dodia 24 de março de 2003, vivio momento mais difícil doGoverno até agora”, disse ogovernador Paulo Hartung.

“O assassinato foi umatentativa de intimidar as for-ças que desenvolviam, e de-senvolvem, o trabalho de fa-xina ética das instituiçõespúblicas do Estado, pois viti-mou um dos mais aguerridose brilhantes combatentes dodesmando, da violência e docrime em nossa terra. Nãoobtiveram êxito. A faxinacontinua e o exemplo decompetência e determinaçãodo doutor Alexandre restoucomo um farol para nossaslutas diárias por um EspíritoSanto renovado”, concluiu.

Como foi o crime

EXECUÇÃO EM VILA VELHA24/03/2003 - O juiz AlexandreMartins de Castro Filho foi mortoa tiros na manhã de 24 de marçodo ano passado, quando chegavaem sua caminhonete a uma aca-demia de ginástica em Itapoã, Vi-la Velha, às 7h45.

CHAMADO E TIROS - O juiz es-tava descendo do carro quandofoi abordado por Giliarde e ‘Lum-brigão’. Segundo o inquérito, osdois teriam chamado o juiz pelonome. Quando ele se virou na di-reção dos dois, foi atingido comum tiro no peito e no ombro.

REAÇÃO - Mesmo ferido, Alexan-dre Martins conseguiu sacar suapistola .40 e efetuar alguns dis-paros sem direção. Ele acaboucaindo no asfalto. Nesse momen-to, ‘Lumbrigão’ teria se aproxi-mado e atirado na cabeça e noombro do juiz

FUGA - Os dois réus, então, ten-taram fugir em uma moto, mas omotor apresentou um defeito eela teve que ser empurrada por‘Lumbrigão’ e Giliarde. O juiz che-

gou a ser socorrido, no própriocarro, e levado para o pronto-so-corro do Hospital Santa Mônica,em Itaparica, onde morreu.

PRISÕES - No mesmo dia do as-sassinato do magistrado, os sus-peitos de participação na execu-ção começaram a ser presos pe-las polícias Civil e Militar. Os pri-meiros detidos foram os sargen-tos Valêncio e Ranilson. Ainda nodia 24 de março, foram presos‘Yoxito’, Giliarde e ‘Pardal’.

20/04/2003 - ‘Lumbrigão’ é lo-calizado e preso, durante umaoperação das polícias Civil e Mi-litar, no morro de Itararé, em Vi-tória. Em depoimento informal,ele admitiu o crime de mando,mas depois voltou atrás e disseque a morte do juiz foi latrocínio(assalto com morte).

04/12/2003 - O juiz CarlosEduardo Ribeiro Lemos pronunciaos réus para irem a julgamentopopular, mas a defesa recorreu. Orecurso ainda será analisado peloTribunal de Justiça (TJES).

Pai vai criar instituto

Gildo Loyola

Ca r i n h o O advogado Alexandre Martins de Castro afirma que acomoção da população o ajudou a enfrentar a morte do filho

O advogado Alexandre Martins de Castro quercontinuar o trabalho do filho no combate ao crimee pretende chegar ao Tribunal de Justiça do Estado

SANDRESA CA RVA L H O

advogado Alexandre Martins de Castro, paido juiz assassinado, pretende criar no Espí-rito Santo, ainda este ano, o Instituto de Es-

tudos Criminais “Alexandre Martins de Castro Fi-lho”, para estudos sobre a criminalidade e o im-pacto da violência na sociedade, “como forma deretribuir o carinho e o respeito que a população doEspírito Santo dedicou ao meu filho”, revelou.

A GAZETA – Que perfil o sr. traçariado seu filho?

ALEXANDRE MARTINS DE CASTRO – Ale-xandre, como filho, sempre foi exemplar. Nuncame deu trabalho, pelo contrário, sempre foi umgrande amigo, muito dócil e carinhoso. Como pro-fissional, eu confesso que ele me surpreendeu,porque muito rapidamente se tornou um grandeprofessor. Depois, um grande jurista e um excep-cional juiz. A atuação dele como juiz, ao mesmotempo que me encantava, me espantava. Eu nãoesperava que ele tivesse uma performance dessanatureza, porque ele era ainda muito novo.

O sr. se preocupou com a fama de Estadoviolento quando o dr. Alexandre decidiu ser juizno Espírito Santo?

Na verdade, fui eu quem disse que ele deveriafazer concurso para cá. Eu providenciei a inscri-ção dele e ele veio.

Em algum momento a fama de estado perigosofez com que houvesse a possibilidade demudança de Estado?

De forma alguma, eu não tive essa preocu-pação. É claro que, quando eu sugeri que elefizesse o concurso aqui, eu não esperava quetivesse a atuação que teve. Quando ele come-çou a ter uma atuação extremamente forte, eu

o alertei várias vezes. Alexandre sabia que es-tava em um caminho perigoso, e que a partir decerto momento estava correndo risco, mas na-da o faria parar. No fundo, eu acho que ele ti-nha plena consciência do risco que corria, masnão admitia que fosse acontecer isso.

Como o sr. soube do crime?Eu estava dando aula e recebi um telefonema

para entrar em contato com o Espírito Santo, queele tinha sofrido um atentado. Liguei para cá, e aspessoas apenas me falavam que eu deveria vir. Na-quele momento, achei que poderia ter ocorrido al-go grave. No caminho para o aeroporto, um mo-torista de táxi perguntou para onde eu estava indo.Quando falei que era Vitória, ele comentou: ma-taram um juiz lá. Nesse exato momento, tive aconsciência que tinha sido ele. Mas assim mesmoficou uma esperança de que pudesse não ter sidoisso. Mas quando desci do avião, a primeira pessoaque veio falar comigo foi um policial federal, quetrabalha no aeroporto, e ele me deu os pêsames.Neste exato momento, eu soube.

Como o sr. viu a reação da população doEstado à morte do dr. Alexandre?

Eu não acreditava, e tenho certeza de que eletambém não sabia, que uma reação dessas pudesseacontecer, com tal dimensão. Foi algo que me sur-preendeu e me confortou muito.

O que o sr. aprendeu com seu filho?Ele deu uma lição a todos nós, de que um ideal

deve ser cumprido. Se eu puder, eu quero conti-nuar o trabalho que ele começou a desenvolver emprol do Judiciário. Com a capacidade que ele ti-nha, ele chegaria certamente ao Tribunal de Jus-tiça. Se um dia puder chegar lá, vou trabalhar ins-pirado no modelo de trabalho dele.

CRIME INSOLÚVEL?

Direitos Humanos teme impunidade“Entendemos que o crime cometido contra o juiz Alexandre

Martins de Castro Filho entrou para a galeria do crimesinsolúveis, e que a investigação está na mesma regra doscrimes insolúveis, que perduraram no Espírito Santos nosúltimos 20 anos”. A reação foi do presidente do Movimentodos Direitos Humanos no Espírito Santo, Isaías Santana daRocha, ao comentar as investigações sobre o mando daexecução do juiz Alexandre Martins. Ele afirmou acreditar quedificilmente a sociedade terá uma resposta sobre o mando damorte do magistrado. “Para nossa grande decepção, pois asinstituições ligadas aos direitos humanos acreditavam que seum dia o crime organizado alcançasse o Poder Judiciário, essasituação iria mudar, mas na prática nada mudou”, acrescentouSantana. Segundo o presidente, o fato dos executoresconfessos e supostos intermediários da morte do magistradoestarem presos, não é uma resposta suficiente à sociedade.Segundo o secretário de Segurança, Rodney Miranda, não sepode falar que o mando do crime vai ficar impune. “Ainvestigação do mando é muito complexa, na medida emmuitas pessoas podem estar direta ou indiretamenteinteressadas na morte do juiz”, finalizou.