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Na Itália NOLI, IDEAL E TRIUNFO ALÉM-MAR FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA Sgt. NOLI SCHETTERT O ARTILHEIRO E SEU CANHÃO

Vitória na Itália - Dirceu Schettert

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Page 1: Vitória na Itália - Dirceu Schettert

Na ItáliaNa IItália

NOLI,IDEAL ETRIUNFOALÉM-MAR

FORÇAEXPEDICIONÁRIABRASILEIRA

FORÇAEXPEDICIONÁRIABRASILEIRA

Sgt. NOLI SCHETTERTO ARTILHEIRO E SEU CANHÃO

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TODO SOLDADO TEM CERTEZA QUE VAI VOLTAR.

AO EMBARCAR PARA A GUERRA...

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Noli Schettert10/08/1918

23/07/1960

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1943 - Noli Schetterto Sargento ,servindo à Pátria no 12º Grupo Móvelde Artilharia de Costa, em Imbituba-SC, encontra-se entediado com falta deuma movimentação mais dinâmica emsua vida. Decide, então, enviar umtelegrama ao chefe de gabinete do Mi-nistro da Guerra pedindo a sua inclusãono Corpo de Exército Expedicionário.

Suas inquietações manifestam-seclaramente em poemas, versos e cartasque escreve rotineiramente à irmã Alice(também madrinha e confidente), quereside na cidade do Rio de Janeiro/GB,então capital do Brasil.

IMBITUBA

Imbituba,Terra de areia e carvãoPoeira que sufoca a genteE maltrata o coração.

Imbituba,Se não fosse a ventaniaEra uma terra de alegria,De luz e de esplendor.

Mas, Imbituba...Só por causa desse ventoQue conduz o meu tormentoPra junto de meu amor.

LONGE DOS OLHOS(Perto do Coração)

Sentindo saudades de alguémQue tão longe estáLá no horizonte, lá no alémQue nela só poso pensar.

Sem carinho e sem amorErrante neste lugarSentindo tamanha dorPois só de longe posso amar.

Mas a esperança é o terrorDe todas as ingratidõesQue vem do destino traidorContra dois corações.

SEMPRE EM MEU CORAÇÃO

Sempre no meu coraçãoPerto ou longe estarásE ao cantar esta cançãoSei que jamais me esquecerás

Sempre no meu coraçãoNa alegria ou na dorLembrarei com emoçãoQue um dia tive o teu amor

Sempre no meu coraçãoO teu nome guardareiE na minha solidãoEm minhas preces rezarei

E se nunca mais voltaresPra ter fim os meus pesaresGuardarei teu vulto entãoSempre no meu coração.

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Espere por mim, que voltarei!Mas é preciso que espere com fée de todo coração!Espere por mim nas horas uivantesEm que a neve cai.Espere por mimNa ânsia sufocante que vem do calor.Espere por mimMesmo que todas as outrasque esperam por outrosjá tenham cessado de esperar...Espere por mim.Espere, simque hei de enfrentar a morte...Mas voltarei!

Simonov

Com essa máxima de sua autoria e categoricamente decidido a embarcar para a Itália,

junto com as Forças Expedicionárias Brasileiras, inicia uma intensa campanha de

mobilização para conseguir seu intento. Escreve à irmã Alice manifestando claramente o

quanto isso é importante para ele:

. Após inúmeros contatos da madrinha na capital, o

produz efeito quando propõe trocar de lugar com o então 3º Sargento Jaime de

Carvalho Rodrigues, que servia no I Regimento de Obuzes Auto-Rebocado, em São

Cristóvão-Rio. Em 10 de Maio de 1944, finalmente, chega a Imbituba o esperado

telegrama com a sua convocação. Quinze dias depois vem a transferência para o Rio.

Noli

Expedicionário

Noli

“Agora que deliberei ir no , espero

conseguir nem que tenha de escrever para a Senhora do Presidente, porque a ele não

posso me dirigir diretamente” lobby

“ACREDITO NO DESTINONÃO NA FATALIDADE“

“ACREDITO NO DESTINONÃO NA FATALIDADE“

“ACREDITO NO DESTINONÃO NA FATALIDADE“

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Novembro

194422Com um clima ainda ameno do Outono Europeu, a tropa

deslocou-se da região de Pisa (Tenuta de São Rossori), esta-cionando neste mesmo dia 22 de novembro na região de Cas-telo di Cassio. Aqui o regimento plantou-se com suas bateriasposicionadas para operações de guerra. Sem demora, “

”. tem então sob seu comando uma impor-tante peça de artilharia: “VULCÃO”.

a co-bra vai fumar Noli

Outubro

194427Desde a chegada a Livorno, nossos valorosos

homens foram postos sob controle do V ExércitoAmericano e do IV Corpo. Isso ficou público e re-gistrado nesta data de 27 de Outubro.

O Terceiro Sargento , engajado aoPrimeiro Regimento de Obuzes Auto-Rebocado, as-sim escreveu para sua amada irmã Alice: “

”.

Noli Schettert

(...) Fizboa viagem e estou com saúde. (...) Estou na Itália, olugar não é permitido dizer, mas creio que os jornaisaí já publicaram mais ou menos o ponto onde esta-mos.

Outubro

194412Desde o último dia 6, o “S.S. MEIGS” está ancorado em

Nápoles com os homens da FEB ainda a bordo. No dia 9, en-tretanto, a tropa foi levada, através da embarcação tipo L.C.I.235, para Livorno onde hoje, finalmente, aconteceu o desem-barque oficial dos , com deslocamento imediato pa-ra a região de Pisa, aí permanecendo estacionados por 10 dias.

pracinhas

Setembro

194422Ao meio-dia e quarenta e cinco minutos de hoje, o

navio norte-americano de transporte de tropas “S.S.MEIGS” zarpa do porto do Rio de Janeiro comdestino além-mar, levando a bordo o Terceiro Sar-gento com seus 26 anos recém com-pletados) integrando as fileiras do Segundo Escalãoda Força Expedicionária Brasileira - FEB.

Carregado de emoção e com lágrimas a rolar dos

olhos, pelo sentido adeus dos parentes e amigos quelhe acenam do cais, , certamente, já tem seuspensamentos voltados para os campos de batalhas doVelho Mundo, onde duros e sangrentos combates oaguardam em solo italiano. Nos próximos 15 dias,entretanto, sua leitura obrigatória será o manual desobrevivência em caso de naufrágio:

.

Noli Schettert (

Noli

Dominando oOceano ou Como Viver no Mar

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Novembro

194429O Sr. Capitão Comandante da Bateria, em cumprimento à

determinação contida em aditamento ao Boletim Interno, elo-giou o nosso bravo nesses termos: “

.” (ElogioIndividual).

Noli Como comandantede peça soube se impor pelo seu trabalho e dedicação a esti-ma e respeito de seus comandados, orientando-os na conser-vação do material e instrução, fazendo sua peça parte doeficiente conjunto que é a linha de fogo atual

Dezembro

194418O trabalho é árduo, mas a FEB

vai conquistando terreno. Hoje hou-ve um deslocamento da região deCastelo di Cassio para a região dePorreta Terme, aí estacionando.

Janeiro

1945011945 chega com muita neve e frio na Itália, e nos primei-ros 45 dias do ano, Noli permanece em apoio ao QuarteirãoOeste (Terceiro Batalhão do Primeiro Regimento de Infan-taria e Sub-setor Oeste (Segundo Batalhão do Décimo Pri-meiro Regimento de Infantaria).

Cartas do FrontItália (linha de frente) 4/12/44.Querida irmã e madrinha Alice.

Abraços(...) Peço não reparares os riscos desta carta, pois a minha mesa, ou a minha escrivaninha é meu capacete de aço,

que tem diversas utilidades, por exemplo, bacia de lavar o rosto, tanque de lavar roupa, proteção à cebaça contraestilhaços de granadas e muitas outras.

Alice, se não receberes carta minha seguido, é porque não tenho muito tempo.

Aqui nada me falta, a única coisa que ainda não pude acostumar é com a chuva que cai quase que diária e umfrio que nem se fala, mas isso tudo não é nada, quando as mãos estão muito frias eu as esquento no cano do canhão.

(...) Aceite um forte abraço do irmão e afilhado.Noli

(Censurado)

Itália (linha de frente) 3 de Janeiro de 1945.Estimada irmã e madrinha Alice.

Saúde e Felicidade(...) A vida aqui é como eu te dizia, meio metro de gelo, sol desmoralizado, pois o termômetro há mais de 15

dias não teve coragem de subir de zero, mas tudo isso o soldado brasileiro vai enfrentando sem fazer cara feia e semmedir sacrifício para levar ao Brasil aquilo que todos vocês esperam: a Vitória.

(...) Aceite um forte abraço deste irmão e afilhado que bem te deseja..Noli

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Itália, 15 de Janeiro de 1945.Estimada irmã e madrinha Alice.

AbraçosNo meio da neve é que escrevo esta cartinha afim de transmitir notícias minhas

(...) existe muita neve e gelo, pois assim vai se vivendo.Alice, quando tiver novamente oportunidade peço-te mandar-me somente café,

açúcar e alguns chocolates (...)Sem mais, do

Noli

Terra de ninguém, 5 de Fevereiro de 1945.Estimada irmã e madrinha Alice.

Abraços(...) A vida aqui continua com meio metro de neve, mas a esperança é que

mais ou menos dentro de 60 dias passará a derreter o gelo.Alice, caso para a Páscoa o correio aceite caixas com mais de um quilo, como

foi para o Natal, peço-te que me mande somente chocolates, café e acúcar, poissabonete, pasta de dentes e outras coisas não preciso. (...)

Sem mais termino enviando um forte abraço do irmão e afilhado que muito teestima.

Noli

COMANDANTE

DA ARTILHARIA

DIVISIONÁRIA

DA FEB

O CRUZEIRO SULDO

Um jornal feito por soldadose para os soldados que

lutam na linha de frente. “É com prazer que envio,em nome dos artilheirosexpedicionários, o abraçocordial e amigo aoscamaradas que ficaram noBrasil. Com a Artilhariadesdobrada em uma regiãodifícil, onde o desenfiamentoé praticamente impossível,com um solo ontem cheio delama, hoje coberto de neve -o nosso soldado vem tendoum comportamento quemuito o dignifica - calmo,estoico, eficiente. Podeis ficartranqüilos, companheiros queainda não tivestes a venturade participar efetivamente naguerra - a Artilharia da FEBnão medirá sacrifícios nempoupará esforços para levarao ponto e no momentoprecisos, ao bravo e sempresacrificado infante o apoioque ele tem direito de esperarda nobre arma de Mallet.”

A ARTILHARIANÃO MEDIRÁSACRIFÍCIOS.

GAL. OSVALDO CORDEIRO DE FARIAS

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O CRUZEIRO SULDOAno I - nº 5 Publicação do SERVIÇOS ESPECIAL DA FEB Itália - Quarta-feira, 17 de Janeiro de 1945

De Rubem Braga, correspondente do “Diário Carioca”

Encontramos no meio do caminho o general Cordeiro de Fa-rias, que está deixando crescer um bigode e vamos a um Centrode tiro. O coronel comandante de um Grupo de Obuses Auto-Rebocado nos acompanha até uma bateria.

Vamos visitar uma peça. O que vemos, no campo absoluta-mente branco, é um pequeno buraco negro: a entrada da barracasob a qual está o canhão 105. A barraca, além da lona, ainda tema rede de camuflagem do Outono, e entre a lona e a rede há fenoe galhos de pinheiro. Os ramos, sempre verdes, pendem do teto,dando um ar vagamente festivo ao interior. Mas por fora oinverno se encarrega de fazer a camuflagem: a neve cobre tudo.E quando ela se derrete costuma se infiltrar através de tudo epingar lamentosamente sobre os homens lá dentro.

O canhão está no meio da barraca, sempre muito limpo ebem tratado como um deus. Esse deus é servido por dez ho-mens. A um canto, a munição, com seu belo metal dourado. Aolado, uma porta estreita, com um abrigo cujas paredes e teto sãode toras de pinheiro. Ali há dois telefones, uma cadeira, umapequena mesa e camas para dez homens. Mas tudo isso numespaço muito reduzido: as camas são jiraus em estilo beliche:cinco jiraus duplos. A peça vital desse pequeno antro é o fogãoaquecedor, cuja chaminé - agora verifico - sai discretamente umpalmo fora da neve. E há essa coisa importante: luz elétrica. Emresumo, o alojamento não é luxuoso mas é quente e bem abri-gado e os soldados me dizem que ali, faça lá fora o frio que fizer,dormem bem. Para comer eles vão até o P.C. da bateria e me di-zem todos que a comida é boa.

- “Quase todos estão engordando aqui”. Me diz o sargentoAntão. Antão Vieira é de Tupanciretã, Rio Grande do Sul, e noseu grupo de homens há outro gaúcho, o soldado Marne PereiraSoares. Há um mineiro de Viçosa, Lauro Martins Correia, e umcapixaba de São Matheus, Jorge Costa Machado. O cabo Bene-dito Martins é como aquele homem do samba, de Niterói, eNewton Costa é de Petrópolis. Há dois baianos: Cícero Ferreirados Santos, de Pilão Arcado, e um João, que não estava presenteno momento e todo mundo o chamava de João baiano, ninguémna hora se lembra do nome dele. Completa a dezena um carioca,Alberto Amar, e um fluminense, Grimaldo José do Patrocínio.

Para dar um tiro não são necessários esses dez homens. Bas-

tam quatro: um telefonista, um apontador, um atirador e um car-regador.

O canhão dá em média uns 40 tiros por dia - e no dia em quetrabalhou mais deu 108 tiros. O tenente Adélio Conti, que éobservador avançado e está ali no momento, me explica que aBateria (quatro canhões) é comandada por um capitão - no casoo cap. Salomão Naslauski; tem o tenente Aristides Simão, ofi-cial de manutenção, ele, ten. Conti, observador avançado, e umexcedente, que é o segundo tenente José da Matta Teixeira, queno momento está como observador avançado. Quem comandaos tiros é o comandante da linha de fogo, o primeiro tenenteAristides Simão. Ele diz pelo telefone ao Sargento Antão:

- “Só a primeira peça. Explosiva meia dúzia instantânea.Vigi 427. Por um. Alça 380D.”

Isso quer dizer mais ou menos o seguinte: que o projétil deveser explosivo e não fumigeno (que serve para lançar fumaça)nem de propaganda (que serve para espalhar folhetos). O “meiadúzia” quer dizer que deve ser usada a carga de projeção 6: umprojétil pode ser lançado com diferentes cargas, conforme adistância que se destina. “Instantânea” quer dizer que a granadaé do tipo da que explode imediatamente quando toca o objetivoe não antes, como as de “tempo” (que explode no ar e faz umachuva de estilhaços para matar pessoas), nem algum tempodepois, como a de “retardo” que primeiro penetra para depoisexplodir. “Vigilância” é a posição em que está o canhão, oumelhor, a direção em que ele está apontando. “Vigilância es-querda um dois zero” indica que ele deve ser desviado para aesquerda num ângulo de 120 milímetros. “Sítio 427” indica oobjetivo; “por um” quer dizer simplesmente que deve ser dadoapenas um tiro, e 480 é a alça a ser usada. O leitor entendidonessas coisas que desculpe a maneira pela qual as explico, poisestou me dirigindo no momento a leitores que suponho tãoignorantes no assunto como eu próprio.

Recebendo essas ordens do tenente Aristides, o sargentoAntão as anota e as transmite imediatamente aos seus homens.Em alguns segundos eles regulam tudo, e então o sargento dizao telefone:

- “Antão pronto!”Depois ouve a voz do tenente:- “Atenção...”Que transmite aos soldados:- “Atenção!”E, afinal:

COM A FEB NA ITÁLIA - VISITA À ARTILHARIA

Page 10: Vitória na Itália - Dirceu Schettert

- “Fogo!”E assim o “Terror” - é este o nome que deram ao canhão -

manda suas saudações às linhas alemãs.O canhão deve estar preparado para fazer um tiro a qualquer

momento que for ordenado, e fazê-lo em poucos segundos. Issoquer dizer que deve haver sempre quatro daqueles dez soldadosacordados. Os soldados me disseram que preferem o sistema decada turma trabalhar 24 horas e descansar 24 horas.

A vida dos dez homens e um canhão não é, na verdade, muitodivertida. A barraca, a peça, e lá fora a neve e nada mais. Esseshomens são do segundo escalão: estão na linha de fogo desde 24de Novembro. Duas vezes por semana podem ir tomar banho debanheira quente na localidade mais próxima, e este é o passeiocom que podem contar. Mas é rápido - e além disso durante al-gum tempo os banhos foram limitados a um por semana, porqueo tal lugarejo estava sendo demasiadamente bombardeado pe-los alemães. (Nas proximidades da bateria até hoje só caiu umagranada, provavelmente por casualidade, e não feriu ninguém).

Nas horas de folga os soldados não tem muito em que sedivertir. Às vezes jogam bolas de neve e aprendem a andar emski. Nem mesmo há por perto “signorinas” que possam namo-rar. Mas o telefone, que traz as ordens de tiro, traz também umpouco de distração. Acontece que na Central de Tiro há um bomrádio de ondas curtas. Esse rádio é ligado para o Brasil e postojunto ao telefone desligado. Assim, em cada peça, os homenspodem ouvir o rádio pelo telefone. Como há dois aparelhos, osdez homens se revezam para ouvir as mensagens e os sambasque estão vindo do Brasil. Às duas da tarde costumam ouvir aBBC; entre sete e meia e oito horas da noite ouvem uma estaçãodo Brasil e às vezes os que estão de serviço pegam a Hora doBrasil da meia noite à uma. No momento em que cheguei doissoldados estavam ouvindo uma estação portuguesa. O queacontece com freqüência é no meio de uma marchinha a “irra-diação” ser suspensa por uma ordem qualquer.

Mas parece que o rádio não satisfaz os homens da artilharia:eles organizam um programa por conta própria, O “cast” foiformado com soldados das várias peças e a guarnição do “Ter-ror” contribui com o Newton Costa, um preto simpático que sa-be tocar o seu violão e cantar o seu samba. O “diretor artístico” éo sargento Antônio da Silva Gameiros (ou Gamieiros! Minhaletra está muito ruim no caderno de notas e a luz da vela, ohmeus irmãos bem iluminados do Rio de Janeiro, é muito fra-quinha), enfim o sargento chefe da terceira peça da bateria équem organiza o programa que é apresentado através do telefo-ne. Muitas vezes esse programa é ouvido no P.C. da Bateria, naCentral de Tiro do grupo e através de lá pelos homens de guarni-

Rádio e Telefone

ções de outras peças de outras baterias espalhadas por essasmontanhas além.

Andamos um pouco numa trilha entre a neve alta e vamosvisitar outra peça. Aqui está a guarnição do “Vingador”, che-fiada pelo sargento Sebastião Werneck (Ricardo de Albuquer-que, Distrito Federal). Tem dois homens de Cruz Alta (RS):cabo Salomé Jacinto da Silva e soldado Teodoro Pessoa, e doisde Santa Maria (RS também): Diofando dos Santos e FidélisPrates Rodrigues. Há dois paranaenses: Nelson Tanandini eDarcy Soares, este último de Prudentópolis. E afinal dois cario-cas: João Augusto Marcelino (de Campo Grande) e Ailton Nas-cimento Nunes (Rua do Rocha, 82).

A vida desses homens é naturalmente muito semelhante àdos homens do “Terror” e como a deles tem suas coisas penosase aborrecidas, seu relativo conforto e sua grande monotonia. Anovidade é que os homens do “Vingador” instalaram sua mora-dia num subterrâneo que abriram dentro da barraca. Desce-setrês degraus e depois uma rampa curva, e lá no fundo estão osleitos. Aqui há um grande jirau duplo, onde podem dormirfolgadamente três homens em cima e três em baixo e dois ou-tros pares de beliches. Cabem, portanto, os dez homens, mas emgeral cinco estão dormindo enquanto os outros cinco estão a-cordados: pois o canhão não pode ficar às moscas. (...) Tendo alidentro um aquecedor, os homens estão completamente prote-gidos do frio, e naquela fundura também de alguma eventualbomba inimiga.

Deixo o pessoal do “Vingador” entregue ao orgulho de suainstalação e vou-me embora. Nosso jipe atravessa um pequenoturbilhão de flocos de neve, e durante toda a viagem as rajadasoblíquas o atravessam. No alto da serra encontramos o mesmovento furioso de sempre, e depois de um atraso de meia hora naestrada atravancada pelos carros limpadores de neve, pegamoso frio fim de um mau jantar. Mas poder tornar pela estrada aqualquer momento é um alto privilégio. Ficar meses em umabarraca, a vida girando em torno de um canhão e dois telefones -esta é a rude disciplina do artilheiro. Acredito que com toda atrabalheira que dá, e apesar da tristeza que é deixar as obras fei-tas pela iniciativa própria - como aquele covil dos homens do“Vingador” - deve ser para eles uma alegria receber uma ordemde mudar de local a peça. Porque a monotonia é sem remédio - emesmo o canhoneio inimigo que se repete sobre o mesmo pontoacaba monótono para suas possíveis vítimas. E mesmo a sau-dade, me diz um amigo, mesmo a saudade é horrivelmentemonótona... Escrevam cartas.

No Subsolo

Rubem Braga

Neste belo texto de Rubem Braga, onde se lê: outambém se poderia ler: sargento - chefe da peça “Vulcão”.

sargento Antão sargento SebastiãoNoli Schettert

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Page 11: Vitória na Itália - Dirceu Schettert

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Fevereiro

194519A partir de hoje, passa a cumprir missão de apoio

direto ao Primeiro Regimento de Infantaria, no ataque aMonte Castelo. Operação esta coberta de êxito, cooperandosobremaneira em mais uma vitória da FEB no teatro de ope-rações da Itália.

Noli

Março

194504 deslocou-se deLizano in Belvedere,para a região de C. deCristo, em apoio ao 2ºBatalhão do 11º Regi-mento de Infantaria.

Noli

Março

194508 deslocou-se deC. de Cristo para Gag-gio Montano, onde suaBateria ocupou posiçãoestratégica.

Noli

Março

194511 deslocou-se deGaggio Montano paraAbetaia, aqui ocupandonova posição.

Noli

AVANÇAR!AVANÇAR!

Fevereiro

194527 deslocou-se daregião de Porreta Termepara a região de Lizanoin Belvedere, onde ocu-pou posição.

Noli

Fevereiro

194516O capitão comandante da Bateria, em solução à parte do comandante da linhade fogo, sobre o resultado da inspeção pelo comandante do grupo de oficiaisestrangeiros do V Exército Norte Americano, pronunciou o seguinte ElogioIndividual: “

”.

O Terceiro Sargento , pela boa impressão que soubecausar na apresentação de sua peça; perfeitamente limpa e bem cuidada,demonstrou assim zelo pelo material que lhe foi confiado para bem cumprir suanobre missão

Noli Schettert

Page 12: Vitória na Itália - Dirceu Schettert

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ELOGIO AO ÊXITOELOGIO AO ÊXITOELOGIO AO ÊXITOELOGIO AO ÊXITO

Março

194513 , hoje, se encheu de garbo para ouvir um soleneElogio Coletivo declinado pelo Excelentíssimo SenhorGeneral Comandante do IV Corpo pelo êxito alcançadona recente operação que resultou na captura e consoli-dação do Massiço Belvedere-Castelo.

Feito esse que também mereceu glorioso Elogio doExcelentíssimo Senhor Comandante da Primeira Divi-são de Infantaria Expedicionária.

Noli

Abril

194501 novamente recebe um Elogio Coletivo do Ex-celentíssimo Senhor General Comandante do IV Cor-po, desta vez pelo cumprimento das várias missõesdurante as operações que culminaram com a conquistada cidade italiana de Castelnuovo.

Por mais essa brilhante vitória, também o Excelen-tíssimo Senhor Comandante da Primeira Divisão de In-fantaria Expedicionária, teceu novo Elogio Coletivodestacando o denodado esforço aqui desempenhado.

Noli

Abril

194506 prossegue na luta pela libertação da Itália dodomínio nazi-facista. Hoje, sua bateria deslocou-se deAbetaia para a frente de , onde ocupou posição.

Noli

Giuglio

Março

194520 ouviu hoje do Excelentíssimo Senhor GeneralComandante da Artilharia Divisionária, a título de Elo-gio Coletivo, pela conquista de Monte Castelo e Linhade Crista Soprassaso-Castelnuovo, estas honrosas pa-lavras: “

Noli

Os seus esforços corresponderam à confiançada Pátria quando lhes entregou a missão árdua e difícilde ser nos campos de batalha da Europa o continuadorda bravura e eficiência dos soldados de Mallet.”.

CAI

MONTE CASTELO

CAI

CASTELnuovoCAI

zocca

CAI

colechio

CAI

fornovo

Page 13: Vitória na Itália - Dirceu Schettert

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Cartas do FrontItália, 25/02/45.Querida irmã e madrinha Alice.

Abraços(...) Como já te escrevi diversas vezes, a maior alegria ou contentamento nosso é quando recebe-se carta de casa,

alegria essa que eu tenho todas as semanas, pois tantos parentes que tenho e nenhum tem lembrança de escrever, hoje,dia 25 de Fevereiro, são pois 2 meses deste ano e nem sequer uma cartinha recebi. Bem isso não há de ser nada (...)

(...) Não mande mansagem pelo rádio, não adianta só ouvem os da retaguarda e não os que estão combatendo nalinha de frente.

(...) Felizmente já parou de nevar e começa derreter o gelo. (...)Sem mais, aceite um forte abraço do irmão e afilhado que muito a estima.

Noli

Itália, 13 de Março de 1945.Estimada irmã e madrinha Alice.

Abraços(...) Recebi hoje tua carta de 10 de Fevereiro, a qual muito me admirou de ter vindo com tanta urgência.Alice, novidades aqui tem muitas, mas não podem ser mencionadas em carta. Felizmente a neve acabou e os ânimos

redobraram-se. (...)Aceite um forte abraço do

Noli

Itália, 14 de Abril de 1945.Estimada irmã e madrinha Alice.

Saudações(...) Há dias era para ter te escrito mas por alguns motivos é que ainda não o tinha feito, sendo que o principal

deles era a preguiça. Assim peço-te muitas desculpas.(...) Alice, estive quatro dias em Roma, e não me esqueci da tua encomenda, quando regressar levarei; para

mandar é muito difícil, assim tenhas paciência. (...)Sem mais, um abraço do

Noli

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Maio

194516 , com a consciência tranqüila do dever cumprido, cobre-se de honracom as palavras deste Elogio Coletivo: “

”.

NoliO esplêndido dado pela tropa sob

meu comando, adaptando-se rapidamente às variáveis condições e à coorde-nação de movimentos, recebendo cada nova missão entusiasticamente ecumprindo-a com eficiência, é um resultado que se pode justamente orgulharos oficiais e praças da Divisão de Infantaria Expedicionária. A atuação daDivisão no Vale do Serchio, vencendo o antigo inimigo e tomando suas posi-ções; a marcha para o Vale do Reno e a sua entrada em posição; a partici-pação na ofensiva da primavera, com os contínuos avanços sob intenso fogode artilharia e morteiros inimigos; as constantes substituições sempre exce-lentemente executadas; a arrancada agressiva para noroeste, contra forteresitência inimiga, conquistando Zocca, Colechio, Fornovo e obrigando arendição da 148ª Divisão Alemã e a Divisão Italiana, refletem a capacidadede seus oficiais e a eficiência e espírito combativo de sua tropa. Todos,portanto, oficiais e praças da Divisão, têm suas partes nas vitórias obtidas econcorrem para que o comandante do IV Corpo de Exército se sentisse or-gulhosos de haver tido a Primeira Divisão de Infantaria Expedicionária,como integrante de suas fileiras nesta campanha, ressaltando o importantepapel por nós desempenhado na rendição das forças inimigas no Norte daItália, provocando a rápida cessação das hostilidades nessa área.

Todos enfim, nos tornamos dignos das palavras do Comandante do IVCorpo de Exército, quando disse que

.Os feitos da Força Expedicionária Bra-

sileira terão lugar proeminente quando for escrita a história da Guerra

Abril

194523 e sua bateria inici-am marcha de aproxima-ção, deslocando-se paraZacalamatina e, daí, paraas margens do rio Panaro,onde estacionam.

NoliAbril

194525 , levanta acampa-mento e reinicia cautelosamarcha de aproximação a-té Scandiamo. No dia 30,já estaciona do Quartel deCristo, em Alessandria.

Noli

Na sua marcha vitoriosa pelo norte da Itália, as tropas brasileiras capturaram a 148ª Divisão de Infantaria doReich, composta de 6.000 homens. “

”.Não dá para esquecer: os alemães vinham formados numa coluna por quatro,

culminando com a apresentação de seu comandante oferecendo a rendição aos nossos pracinhas.

UMA DIVISÃO ALEMÃ INTEIRA RENDE-SE

AOS VALOROSOS PRACINHAS DA FEB

UMA DIVISÃO ALEMÃ INTEIRA RENDE-SE

AOS VALOROSOS PRACINHAS DA FEB

Page 15: Vitória na Itália - Dirceu Schettert

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CRONOLOGIA DA PARTICIPAÇÃODA F.E.B. NA II GUERRA MUNDIALCRONOLOGIA DA PARTICIPAÇÃODA F.E.B. NA II GUERRA MUNDIALCRONOLOGIA DA PARTICIPAÇÃODA F.E.B. NA II GUERRA MUNDIAL

1942 - agosto: BRASIL Declara Guerra ao Eixo (alemanha/itália/japão).

1944 - Julho: PARTE PARA A itália o iº escalão da feb - outubro: desembarca em nápole o iiº escalão.

1943 - organização da força expedicionária brasileira, que MOBILIZArá 60 mil homens.

1944 - OUTUbro: CHEGA à ITÁLIA O Iº GRUPO DE CAÇA DA FORÇA AÉREA BRASILEIRA.

1944 - DEZEMBRO: FRACASSA, NA NEVE, A QUARTA TENTATIVA DA FEB DE TOMAR MONTE CASTELO.

1944 - NOVEMBRO: FRACASSA, A PRIMEIRA TENTATIVA DA FEB DE CONQUISTAR MONTE CASTELO.

FOI COMANDANTE geral DA FEB O GENERAL de divisão (depois marechaL) J. B. MASCARENHAS DE MORAES.

384 pracinhas brasileiros morreram nos campos de batalha, durante a ii guerra mundial.

Foi comandante da artilharia divisionária da iª d.i.e. O general oSvaldo cordeiro de farias.

1945 - JUNHO: COMEÇA A MOBILIZAÇÃO dE REGRESSO Da feb AO BRASIL.

1945 - AGOSTO: A TROPA BRASILEIRA RETORNA à PÁTRIa, EMBARCANDO em NÁPOLE rumo ao rio de janeiro.

1945 - JULHO: A FEB DESLIGA-SE DO COMANDO DO V EXÉRCITO NORTE-AMERICANO E DO IV CORPO.

1945 - FEVEREIRO: FINALMENTE, NA QUINTA TENTATIVA, a feb CONQUISTA monte castelo.

1945 - MAIO: OS ALIADOS, COM DESTACADA ATUAÇÃO DA FEB, LIBERTAM A ITÁLIA. A ALEManha nazista se rende.

1945 - ABRIL: AS TROPAS BRASILEIRAS CAPTURAM A 148ª D.I. ALEMÃ, COMPOSTA DE 6 MIL HOMENS..

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Junho

194502 teve hoje o registro público de um estimu-lante Elogio Individual transmitido pelo tenenteTorquato Caiado Jardim, nestes termos:

.

Noli

“Por tersido ótimo chefe de peça, desincumbindo-se doseu trabalho com acerto e segurança e discipli-nando os seus comandados.”

Junho

194526 seguiu hoje para Livorno, de onde, por viamarítima, embarcou para Nápoles. Dia seguinterumou para Francoliza, aí chegando nesse mes-mo dia 27 de Junho, para acampar e aguardar or-dens de regresso à Pátria.

Noli

Junho

194522 já respira o ar dos novos tempos. Com ofim da guerra começam os movimentos de des-mobilização. Hoje iniciou o deslocamento deAlessandria para Francoliza, acampando antesem São Rossari-Pisa.

Noli

“Finita la guerra!“Finita la guerra!

“Liberatori nostri!“Liberatori nostri!

Finita la guerra!”Finita la guerra!”

Liberatori nostri!”Liberatori nostri!”

Junho

194504 , realmente, deu conta de suas incumbên-cias, conforme exige a disciplina militar, tantoque hoje o tenente Torquato Caiado Jardim, emaditamento ao Boletim Diário voltou a conferir-lhe outro Elogio Individual, assim registrado:

.

Noli

“Chefe de peça nas operações de Castelnuovo,pela honestidade de trabalho, vivacidade, segu-rança e precisão com que dirigiu sua guarnição,concorrendo diretamente para o magnífico tra-balho apresentado.”

Grita

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Cartas do Front

Itália (Alessandria), 6 de Junho de 1945.Estimada irmã e madrinha Alice.

Abraços(...) Alice, quanto ao que pedes para te avisar quando embarco, é um tanto difícil, mas farei o possível para que

saibas quando chegar a minha vez, outrossim te informo que provavelmente eu não faça parte do primeiro escalão. Sóno caso de embarcarmos todos.

Quanto à fotografia que pedes, era um tanto difícil de tirar por falta de filme, porém o que te afirmo é que aminha fachada ainda é a mesma, porém com algumas rugas a mais provenientes dos rigores.

(...) Já sabemos aqui da grande festa de reconhecimento com que o Brasil nos vai homenagear quando voltarmos.Pois será um reconhecimento aos bons serviços prestados à Pátria que constará da nossa exclusão das fileiras doExército, no máximo em 48 horas após a chegada aí. Quê reconhecimento! Não sei o que os nossos chefes pensam comisso!

(...) Continues me escrevendo, pois o correio coletor suspenderá a correspondência quando oportuno.Sem mais, aceite um forte abraço do irmão e afilhado que muito a estima.

Noli

Alessandria (Itália), em 10 de Junho de 1945.Minha boa irmã e madrinha Alice

AbraçosRogo a Deus para que esta vá encontrar-te gozando saúde, quanto a mim, felizmente, vou bem graças a Deus, só

com saudades do meu querido Brasil, que possui todas as belezas do mundo.Alice (...), Não tenho certeza de quando embarcaremos, nem mesmo de qual escalão eu faço parte. (...)De todas as encomendas que me mandaste este ano, bem como as que os demais irmãos mandaram, não tive ainda o

prazer de receber nenhuma, só recebi o pulôver que a Aracy me enviou em 16 de Novembro do ano passado.Sem mais, (...) Aceite um forte abraço do irmão e afilhado que muito a estima.

Noli

Alessandria, Itália, 9 de Maio de 1945.Estimada irmã e madrinha Alice.

Abraços(...) Se Deus quiser esta será a última carta que te escrevo da Itália, pois segundo boatos retornaremos breve à

essa terra querida, creio que nem deves responder esta.Sem mais assunto para o momento, termino enviando um abraço ao Miranda. Quando estiver aí, te descreverei

verbalmente os assuntos das cartas que eram em geral deficientes.Aceite um forte abraço do irmão e afilhado que muito a estima.

NoliTenho uma nova para você: levarei uma jovenata.

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Julho

194502 e todos os demais integrantesda Força Expedicionária Brasileiraforam hoje oficialmente desligadosdo V Exército Norte-Americano e doIV Corpo de Exército.

Dessa forma, é dado por finda e glo-riosamente cumprida a missão da nos-sa F.E.B. na II Guerra Mundial.

Noli

Junho

194529 : “F

”. Com essas palavras, o SenhorCapitão Jaime Moitinho Neivas conferiu ao nossoherói mais este honroso Elogio Individual.

também recebe nesta data, como ElogioColetivo, a ordem do dia do Excelentíssimo SenhorGeneral Lucian K. Truscott Junior, comandante doV Exército Norte-Americano, assim traduzido: “

Noli

Noli

oi chefe de peça da linha de fogo duranteos ataques a Monte Castelo e Castelnuovo, e nestafunção destacou-se pela conduta que manteve, dan-do provas de coragem, disciplina e capacidade detrabalho, conduzindo seus homens com habilidade eenergia, fazendo de sua peça elemento eficiente danossa artilharia.

Oinimigo, na Itália, rendeu-se incondicionalmente,assim terminando a mais dura campanha italiana.Continuarão, porém, inesquecivelmente, na memó-ria de todos os homens do V Exército, que tão glo-riosamente se bateram pela vitória, todas as aspere-zas, todas as atribuições agora findas e que serãoapreciadas na história desta guerra como prova dabravura e da coragem tradicionais dos povos livres.Às árduas operações durante a estabilização delongos meses num terreno abrupto, talvez o maisdifícil que qualquer exército já tenha tido para lutar,contra tropas mais bem aclimatadas e aguerridasque o inimigo pode nos opor, delineiam a campanhaque não só permitiu o avanço sobre o ContinenteEuropeu, mas também pelos violentos golpes desfe-chados, facilitando muito a vitória final no ocidente,atualmente visível.

E foi lutando que esta campanha culminou nasúltimas batalhas finais destas últimas semanas.Soberbos foram os feitos de todas as unidades com-

batentes; oficiais e soldados alcançaram alturasverdadeiramente grandiosas, avançando rapida-mente desde vossas posições nos Apeninos, atravésde defesas fortemente defendidas e em grande pro-fundidade preparadas por um inimigo a resistir atéo fim, amparado pela crença fanática numa causaperdida. Haveis repelido o inimigo do Vale do Pópara muito além. Criastes o caos e a confusão naslinhas inimigas pelo peso e pela fúria do vosso ata-que. Em pouco mais de algumas semanas capturas-tes grande número de homens, apoderando-vos degrande quantidade de materiais e equipamentos. In-fligistes milhares de baixas e desmoralização gene-ralizada que veio inutilizar a melhor máquina deguerra que o inimigo conseguiu montar no campode batalha. Os trabalhos realizados pelos serviçosde tropas auxiliares têm sido prodigiosos em todasas operações. Esses trabalhos alcançaram por, ele-mento de combate, uma confiança que lhe propor-ciona completa liberdade de agir e deu-lhes capaci-dade para progredir porque estavam certos de quelhes não haviam nada a faltar. Todos vós, oficiais esoldados, de todas as nacionalidades que consti-tuem este Exército, mereceis os mais altos ecômiosque as nações agradecida externam agora. Aceitai,pois, o meu humilde tributo. Sinto, membros destegrande Exército, não poder encontrar palavras pa-ra expressar plena e adequadamente a sinceridadeda minha admiração pelo vosso caráter e pelasvossas qualidades de combatentes. Estou orgulhosocomo somente um comandante de um valoroso evitorioso exército pode estar e, profundamente des-vanecido pela vossa esplêndida vitória.”.

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A ÚLTIMA ORDEM DO DIAA ÚLTIMA ORDEM DO DIAA ÚLTIMA ORDEM DO DIA

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Julho

194529 vive da espera angustiante do regresso àPátria. Enquanto isso não acontece, o Excelentís-simo Senhor General Cordeiro de Farias, coman-dante da Artilharia Divisionária Um Expedicioná-rio, pronuncia, nesta data de 29 de Julho de 1945, aúltima Ordem do Dia nos campos da Itália: “

Noli

Nossoscanhões silenciaram. Não há mais inimigo. A vitó-ria completa e espetacular foi conseguida. A Ale-manha está vencida. A participação militar do Bra-sil nesse choque de força ciclópica que abalou omundo, para definição de sua vida futura, assinala,sem dúvida alguma, uma etapa de nossa história. Efostes, soldados da Força Expedicionária Brasi-leira, atores de fixação deste marco que há de terinfluência decisiva nos destinos nacionais. Oficiaisdo meu Estado-maior, Comandantes e oficiais deminhas Unidades, Soldados bravos de minha Artil-haria, pela última vez, é provável, eu vos vejo todosreunidos. E é com esse pensamento que sinto des-filar diante de mim todo os esforço que despendestesnesse ano e meio de nossas vidas. Vejo-vos, inicial-mente, na fase de organização da Divisão de Infan-taria Expedicionária, ainda no Brasil, trabalhandoa fundo no mobilizante afã de ser, nos campos debatalhas da Europa, os continuadores dos Artilhei-ros de Mallet. Vejo-vos também, alegre e varonis,embarcando e viajando para o Velho Mundo, para aguerra, conscientemente orgulhosos da missão re-cebida. Vejo-vos, ainda, no período sempre tão che-io de preocupações, na entrada em linha, das pri-meiras operações. Vejo-vos, depois de labutar todoo dia estudando, meditando profundamente sobre oapoio a dar ao bravo infante, nas suas ações ofensi-vas ou nas suas atitudes agressivas, sempre agindo,tanto com o cérebro, quanto com o coração. Vejo-vos, finalmente, após as operações fracassadas ouvitoriosas, com a alma angustiada, verificando,num exame de consciência, se o malogro da ação foidevida a falta de apoio da artilharia mais enérgica,ou se as perdas dos encontros infelizes não poderi-am ter sido menores, por um emprego mais eficientede nossos canhões. E porque sempre fostes assim, é

que, contemplando-vos todos reunidos, eu sintouma enorme satisfação e um grande orgulho. Aomesmo tempo, porém, essa formatura tem qualquercoisa de significativa separação. Nossas atividadesfuturas irão nos dispersar. E, se alegres, tranqüilos,pelo dever cumprido, dentro em breve retornando àPátria distante e tão querida, voltaremos aos nossoslares, ao convívio dos que nos são mais caros,declaro-vos queridos companheiros da ArtilhariaDivisionária UM Expedicionário, que me afeiçoeitanto a vós que me é triste viver essa hora. Confesso-vos, perante Deus, e tendo por testemunha a Ban-deira do Brasil, que pródigo me seja, por ventura, odestino de minha vida militar, nenhuma missão dar-me-á orgulho e felicidade maiores do que ter sidovosso chefe, vosso condutor, e Comandante daArtilharia Divisionária, na campanha da Itália.

Meus oficiais, em breve no Brasil, nossas funçõesnos separarão. Agradeço-vos, neste instante de tan-ta emoção, o concurso inestimável que me prestas-tes, a cooperação sem limite que sempre me cercas-tes. Neste momento, forçoso é declarar, porque an-tes de tudo representa justiça, que nunca soube dis-tinguir nas minhas Unidades o oficial da reservados profissionais - tal seu comportamento na guer-ra -, meus soldados. À Pátria, dentro em pouco, vosvai licenciar das fileiras do seu Exército. Voltai paravossas atividades normais, para o aconchego deseus familiares, com a consciência tranqüila, por-que tudo destes para o exato desempenho de vossasmissões. Não sei, bravos artilheiros, adjetivar a vos-sa situação. Eu só vos digo que, realmente, sois Ci-dadãos do Brasil. Não atenderão à revista, na horade vossa partida da Itália, muitos companheiros queaqui tão bravamente lutaram. São os sacrificadospelo Brasil. Contam-se por centenas, na mesma di-visão. Seus nomes a Nação conservará no Panteãoda História. Suas vidas, eles a deram para que aPátria sobrevivesse com dignidade e honra. A eles,todas as nossas homenagens nesta memorável man-hã, que recorda uma das mais belas páginas de nos-sa história: 24 de Maio de 1866, em que fulgem as fi-

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guras simbólicas de Sampaio, Mallet e sobre tudoOsório. Canhões amigos a quem vós artilheiros im-primistes uma alma, rendei, nos campos ensangüen-tados da milenária Itália, a esses heróis, o tributo devossa admiração. Pela última vez, atirai em massa.Pelos que morreram pela Pátria, Soldados... Senti-do! - Bandeira do Brasil... Em Funeral! - Artilhariada Primeira Divisão de Infantaria Expedicionária...Fogo! - Meus camaradas, eles não pereceram emvão. Infelizmente, é ainda com essa argamassa de

sentimento, de dor, e com as vidas de seus filhos queas Nações conquistam o seu lugar no mundo. Elesmorreram, como pelos tempos afora tombaram pelaPátria os heróis que forjaram a nacionalidade, quebalizaram suas fronteiras, que lhes deram foros decidadania. Seu sacrifício engrandeceu a terra denossos sonhos; seu sangue tornou-a mais respei-tada; sua coragem fê-la mais Brasileira. Não desa-pareceram debalde os bravos irmãos que aqui fica-ram. A Pátria vive. O Brasil é eterno.

Agosto

194509 só pensa no dia do embarque. Quando, ainda não tem certeza.Mas ainda há tempo para o Capitão Jaime Moitinho Neivas conferir-lheum último Elogio Individual, em solo italiano: “

Noli

Louvo-o pela dedica-ção e esforço patriótico com que conduziu a guarnição de sua peça,tornando-a eficiente nas missões que lhe eram atribuidas, e destacan-do-se como graduado capaz e trabalhador e que muito contribuiu paraos êxitos alcançados.”.

Agosto

194510 , finalmente,h o j e , d i a d o s e uaniversário, deslocou-se de Francolize para oporto de Nápoles, ondeembarcou no navio detransporte militar “S.S.MARIPOSA”.

NoliAgosto

194511 , deixa Nápoles com destino ao Rio de Janeiro. Leva consigomemórias que jamais dividirá com alguém sobre o que realmente lheaconteceu nesses últimos onze meses, além da certeza do devercumprido. Nos próximos 11 dias, no mar, até chegar à Pátria querida,repensará toda sua existência e imaginará o seu destino, no qual sempreacreditou e que, sem o saber, lhe reserva uma vida civil plena derealizações íntimas, rico em acontecimentos pessoais e apenas maisquize anos para viver tudo isso.

Noli

No dia 22 de Agosto de 1945, quando a nau deu entrada na Baía daGuanabara, a Capital Federal parecia obra de um conto-de-fadas. As lágrimasagora eram de alegria, por estar novamente nas terras da Pátria amada e gentil.

Mariposa

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Agradecimentos,:in memoriam

NoliLíbera Veronez

casou-se em 1953com

(Sem os quais nãoseria possível resgataros fatos aqui narrados)

Alice S. Morandi(irmã)

E. Marcílio Rohde(cunhado)

e tiveram 6 filhos.

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Todos os originais desta obraencontram-se no acervo da família Schettert

Layout e textos: DIRCEU SCHETTERT - (051)343-5806

Esta obraé uma

homenagemda esposaLÍBERA,

dos filhos:DARCY,

DIRCEU,DÉCIO,

DEJAIR,DALTRO,DILSON,

noras e netos,ao saudoso

Herói daF.E.B. que

combateu naItália pelaliberdade

e auto-determinação

dos povos.

Líbera e Filhos em épocas diferentes.

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APOIO CULTURAL

MANAUS e PORTO VELHO