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ALINE YOHANA DA SILVA
VÍNCULO PROFISSIONAL-PACIENTE E SAÚDE DO
TRABALHADOR: Um estudo com profissionais da saúde de
comunidades terapêuticas localizadas em Itajaí/SC
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí.
Orientadoras: Profª. Rosana Marques da Silva Profª. Sueli Terezinha Bobato
Itajaí SC, 2007
2
Dedico este trabalho à minha família. Em especial aos meus pais e ao meu Amor, que estiveram sempre ao meu lado, vibrando e comemorando nas vitórias, e me apoiando e incentivando nos momentos difíceis, me mostrando que o desânimo e a desesperança existem, mas que também nesses momentos eu nunca estarei só. Se hoje termino esta etapa de minha vida para dar continuidade à outra, é porque sempre tive vocês por perto, mesmo na distância. Amo vocês!
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente às minhas orientadoras e avaliadoras Rosana
Marques da Silva e Sueli Terezinha Bobato, que apesar de possuírem vínculo
acadêmico com o trabalho por somente um semestre, me acompanharam
durante todo o processo, com toda atenção, dedicação e empenho possíveis.
Apoiaram e investiram em minhas idéias, sempre contribuindo, mas me dando
autonomia para o aprendizado necessário. É com muito orgulho, carinho,
respeito e admiração que posso dizer que tive o privilégio de ter vocês como
minhas orientadoras. Muito Obrigada!
Agradeço também à minha Banca, Eduardo José Legal, por ter aceitado o
convite de avaliar o trabalho, enriquecendo-o com suas sugestões.
Aos participantes da pesquisa, que me receberam de braços abertos, com o
desejo real de contribuir, e que me proporcionaram tantos aprendizados,
meus sinceros agradecimentos.
E finalmente às minhas amigas, que me ouviram, cresceram, choraram e
festejaram ao meu lado em incontáveis momentos. Espero sempre ter a
oportunidade de agradecer mais e mais...!
4
SUMÁRIO
RESUMO ................................................................................................................ 6
LISTA DE QUADROS ............................................................................................. 7
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 8
2 EMBASAMENTO TEÓRICO .............................................................................. 11
2.1 Comunidades Terapêuticas............................................................................. 11
2.2 Profissionais das Comunidades Terapêuticas................................................. 13
2.3 Perfil dos adictos ............................................................................................. 14
2.4 Competências profissionais ............................................................................ 18
2.5 Vínculo profissional-paciente e a saúde do trabalhador ................................. 19
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS ...................................................................... 22
3.1 Tipo de Pesquisa ............................................................................................ 22
3.2 População ....................................................................................................... 22
3.3 Instrumento ..................................................................................................... 23
3.4 Coleta de Dados ............................................................................................. 23
3.5 Análise dos dados ........................................................................................... 24
3.6 Procedimentos éticos ...................................................................................... 24
4. CARACTERIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES ...................................................... 26
4.1 Instituição A .................................................................................................... 26
4.2 Instituição B .................................................................................................... 28
5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................................. 30
5.1 Atividades Desenvolvidas .............................................................................. 31
5.2 Descrição do vínculo paciente/profissional .................................................... 33
5.3 Relação entre vínculo e saúde do profissional .............................................. 37
5.4 Competências à atuação ............................................................................... 44
5
5.5 Fatores organizacionais intervenientes na saúde do profissional ............... 49
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 53
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 56
8 APÊNDICES ................................................................................................. 60
8.1 Apêndice - Roteiro para Entrevista ............................................................ 60
8.2 Apêndice - Questionário aos Coordenadores ............................................ 61
8.3 Apêndice - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ......................... 62
6
VÍNCULO PROFISSIONAL-PACIENTE E SAÚDE DO TRABALHADOR: Um estudo com profissionais da saúde de Comunidades Terapêuticas localizadas em Itajaí/SC. Orientador: Profª. Rosana Marques da Silva
Profª. Sueli Terezinha Bobato Defesa: Novembro de 2007
Resumo:
A saúde do trabalhador é um tema em destaque no mundo atual e recebe influências das interações
humanas e vínculos afetivos vivenciados no ambiente de trabalho. No contexto das Comunidades
Terapêuticas (CTs), o trabalho apresenta características peculiares que se manifestam por uma relação interpessoal entre profissional e paciente de forma complexa e intensa. A convivência entre
profissionais e pacientes é diária e próxima, repercutindo na esfera psíquico-social desses
profissionais, atingindo sua saúde, vida individual, familiar e social. Esta pesquisa objetivou
investigar a percepção dos profissionais de CTs localizadas em Itajaí, sobre a relação entre saúde no trabalho e vínculo estabelecido com os pacientes; descrever as atividades desenvolvidas por estes
profissionais; descrever o vínculo estabelecido com os pacientes; verificar a influência do mesmo na
saúde do profissional; levantar as competências necessárias em sua atuação. A metodologia caracterizou-se por qualitativa, do tipo exploratório-descritiva. Os instrumentos utilizados para a
coleta de dados foram: entrevista semi-estruturada, realizada com os profissionais da saúde; e um
questionário para os coordenadores. Os dados foram analisados através da técnica de análise de conteúdo. Concluiu-se que o vínculo afetivo entre profissionais e paciente é necessário para a eficácia
do tratamento e para a realização profissional e pessoal destes profissionais. Porém, as CTs carecem
de maior infra-estrutura para subsidiarem as demandas dos internos e dos trabalhadores. Uma
alternativa seria, por exemplo, o desenvolvimento de competências racionais e a implantação de programas de desenvolvimento de pessoal, para garantir maior eficácia no trabalho e suporte aos
profissionais na busca de estratégias de enfrentamento saudáveis nas situações consideradas
“difíceis”.
Palavras-chave: Comunidades Terapêuticas; vínculo profissional; saúde do trabalhador.
7
LISTA DE QUADROS
QUADRO1 - Caracterização da Amostra
QUADRO 2 - Definição operacional das categorias
QUADRO 3 - Subcategorias das competências e itens relacionados
8
1. INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, o mundo do trabalho tem sofrido mudanças que
repercutiram de forma intensa não só na saúde dos indivíduos, mas também no
coletivo de trabalhadores. As interações humanas são atingidas, incluindo desde as
formas de produção de bens materiais e de serviços, até as relações humanas,
abrangendo do trabalho à família. Os indivíduos e os vínculos afetivos também
estão envolvidos neste processo, e segundo Silva (2007), o modo como os
indivíduos e mentalidades se alteram nem sempre corresponde aos avanços da
civilização.
No Brasil, as pesquisas e programas preventivos e promotores de saúde,
muitas vezes, deixam de lado os componentes humanizadores do trabalho, o que
está vinculado à indiferença pelo sofrimento psíquico dos profissionais e a falta de
reação coletiva diante da adversidade social (MINAYO-GOMES; THEDIN-COSTA,
1997; AMADOR et al., 2002).
Os projetos desenvolvidos nas universidades, segundo Amador et al. (2002)
vêm contribuindo fortemente para maiores produções neste tema, porém ainda há
muitas lacunas a serem investigadas; uma delas se constitui na influência que as
relações interpessoais têm sobre a saúde do trabalhador.
No contexto das Comunidades Terapêuticas (CTs), essa relação interpessoal
se constitui de forma delicada, pois a convivência entre profissionais e pacientes é
diária e há, neste contexto, uma relação que repercute sobre a vida e a saúde dos
trabalhadores, principalmente em sua vida psíquico-social. Seus efeitos aparecem
sob a forma de produção de mecanismos não muito bem conhecidos e
manifestações sintomáticas inespecíficas, que afetam diversas partes do organismo
e se expressam, muitas vezes, de forma psicossomática, atingindo a saúde, a vida
individual, familiar e social destes profissionais (LACAZ, 1997).
Segundo Gadbem (2004), o adicto é um ser necessariamente dependente, e
quando ele chega para internar-se, geralmente estabelece um vínculo idealizado
com os profissionais, o que é necessário para permitir o reasseguramento de uma
situação que estava sendo experimentada como caótica e para a elaboração de
9
sentimentos inominados. Para o adicto a comunicação se estabelece mais pela
ação do que pela verbalização, por isso nesse momento eles precisam ser
compreendidos e acolhidos.
Os profissionais representam ao adicto algo que ele adiciona a si mesmo
para se sentir menos frágil e impotente. Portanto, ao longo de sua internação é
necessária a proximidade com o paciente para desidealizar os vínculos, podendo
esta experiência ser reproduzida em outras situações de sua vida. Além disso, o
adicto, geralmente apresenta hábitos irregulares, horários confusos,
desorganização na forma de vestir e de se comunicar; exigindo da equipe uma
postura mais assertiva na busca da reeducação de seus hábitos (GADBEM, 2004).
Nesse sentido, o trabalho com a pessoa adicta pode ser muito difícil para os
profissionais, em virtude dos modos de apresentação em que se dão o sofrimento e
a paralisação do adicto, pois eles possuem um funcionamento mental infantil e
dificuldades de vincularem-se afetivamente, de modo que podem ter grande
desenvoltura em se relacionar com outras pessoas, mas não há vinculação afetiva
que sustente aquele relacionamento. Diante de uma internação abrupta se
encontram muito ansiosos, trazem queixas variadas, querem toda ajuda partindo do
outro e geralmente não se satisfazem ao ouvir um “não”, isto apenas desperta sua
raiva. Por isso, muitas vezes a equipe acaba dizendo “sim”, por ser mais fácil,
porém, prejudicando o tratamento (MAIA, 2003; SOLANO, 2007).
Devido a essas peculiaridades necessárias ao tratamento do adicto, Gadbem
(2004) aponta a importância de uma equipe adaptada, principalmente
emocionalmente, para que não sejam manipulados com tanta facilidade, pois ao
contrário do que comumente se acredita, o distanciamento afetivo facilita esta
manipulação. O autor ainda pontua que a intervenção deve ser clara, precisa e a
comunicação entre os membros da equipe deve ser única.
Tendo em vista a escassez de pesquisas nesta área e pretendendo a
qualidade de vida e saúde destes profissionais, a pesquisa em questão buscou
responder à pergunta: Qual a percepção dos profissionais de Comunidades
Terapêuticas, situadas em Itajaí, sobre a relação entre sua saúde no trabalho e o
vínculo que é estabelecido com os pacientes?
10
Para responder a esta pergunta, teve-se como objetivo geral investigar a
percepção destes profissionais sobre a relação entre sua saúde no trabalho e o
vínculo que é estabelecido com os pacientes. Os objetivos específicos foram:
descrever as atividades desenvolvidas pelos profissionais dessas CTs em seu
cotidiano de trabalho; descrever o vínculo que é estabelecido com os pacientes;
verificar a influência do vínculo estabelecido com os pacientes sobre a saúde do
profissional; e levantar as competências necessárias na sua atuação com os
pacientes, sempre a partir da percepção dos profissionais entrevistados.
O tema é relevante, não somente para os psicólogos, mas para todos os
profissionais da área da saúde que atuam neste âmbito, pois proporciona o
entendimento sobre a influência das relações de trabalho profissional-paciente no
dia-a-dia destes trabalhadores. Possibilita também, principiar uma discussão sobre
prevenção e promoção de saúde para esta população, contribuindo para a
ampliação do campo de análise nessa área de conhecimento científico. Este
estudo, portanto, poderá ser utilizado para uma melhor compreensão das
dimensões entre trabalho e saúde, pois apesar desta pesquisa enfocar
Comunidades Terapêuticas, relações entre profissionais da saúde e pacientes,
ocorrem em todas as esferas.
11
2. EMBASAMENTO TEÓRICO
Ao entrar na esfera dos Serviços de Prevenção e Tratamento da
Toxicodependência podem ser encontrados os Centros de Atendimento a
Toxicodependentes (CAT), Unidades de Dispensa de Terapêutica de Substituição,
Unidades de Desabituação, Centros de Informação e Acolhimento (CIAC),
Narcóticos Anônimos (NA), grupos de mútua-ajuda, entre outros. Nesta modalidade
de trabalho, também estão as Comunidades Terapêuticas que, assim como as
ONGs, têm representado parcelas da sociedade e assessorado movimentos
sociais, pois se comprometem com causas humanitárias e objetivam, em suas
intervenções, mudanças nas condições de desigualdade e exclusão (SOCZEK,
2002; PINTO, 2006).
2.1 Comunidades Terapêuticas
Reportando-se ao contexto específico das Comunidades Terapêuticas,
consideram-se algumas definições propostas pelo governo, que ao reconhecê-las
como indispensáveis na participação ao Sistema Nacional de Atendimento ao
Indivíduo Portador de Transtornos Decorrentes do Uso de Substâncias Psicoativas,
verificou a necessidade de instituir uma regulamentação para o funcionamento de
tais serviços. Portanto, visando proteção e promoção à saúde e garantia de
segurança sanitária de produtos e de serviços, a Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA) estabeleceu o regulamento técnico para o funcionamento das
Comunidades Terapêuticas através da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) de
N°101/2001, que mais tarde, em 2003, recebeu pequenas alterações (BRASIL,
2002).
Desta forma, torna-se importante trazer algumas definições da
regulamentação da ANVISA, já que estas normas influenciam diretamente na
prática e o dia-a-dia dos profissionais que trabalham nas Comunidades
Terapêuticas.
12
A RDC N°101/2001 define as instituições que oferecem serviços de atenção
a pessoas com transtornos decorrentes do uso ou abuso de substâncias psicoativas
(SPA) em regime de residência, segundo modelo psicossocial como:
unidades que têm por função a oferta de um ambiente protegido, técnica e eticamente orientados, que forneça suporte e tratamento aos usuários abusivos e/ou dependentes de substâncias psicoativas, durante período estabelecido de acordo com programa terapêutico adaptado às necessidades de cada caso. É um lugar cujo principal instrumento terapêutico é a convivência entre os pares. Oferece uma rede de ajuda no processo de recuperação das pessoas, resgatando a cidadania, buscando encontrar novas possibilidades de reabilitação física e psicológica, e de reinserção social (ANVISA, RDC N°101/2001).
Essas instituições se configuram em espaços com capacidade máxima,
permitida de alojamento para 60 residentes, alocados em duas unidades com 30
residentes cada. O tratamento deve ser temporário e, portanto os profissionais
devem determinar um tempo máximo de internação ao paciente para evitar a
cronificação do tratamento e a perda dos vínculos familiares e sociais. Este tempo
de permanência deve ser flexível, considerando-se o cumprimento mínimo do
programa terapêutico e que cada caso é único (BRASIL, 2002).
Os critérios de elegibilidade para que os internos sejam aceitos na instituição,
também são definidos pela ANVISA na RDC N° 101/2001. A resolução não
determina critérios para restrição do atendimento de acordo com o grau de
comprometimento para a adesão e manutenção do tratamento, situação social,
familiar e legal da pessoa com transtornos decorrentes de uso ou abuso de SPA; a
única condição é que a admissão seja feita somente pós-avaliação diagnóstica,
clínica e psiquiátrica. Somente as pessoas que apresentarem grau de
comprometimento grave no âmbito orgânico e/ou psicológico devem ser
encaminhadas para outras modalidades de atenção, não podendo ser atendidas
nas Comunidades Terapêuticas.
A pessoa em tratamento tem o direito de desistência em qualquer momento,
sendo sua permanência na instituição voluntária, exceto os residentes que
13
envolvem risco imediato de vida para si e/ou para terceiros, ou intoxicação por SPA
(BRASIL, 2002).
Com relação ao objetivo dessas instituições, além dos já citados, Alves
(2006) traz, que antes das CTs terem um objetivo terapêutico, elas são uma
necessidade social, de uma resposta social a fenômenos clínicos que podem levar
a pessoa da exclusão social absoluta até a morte. Assim, Sabino e Cazenave
(2005) acrescentam que as CTs são responsáveis em promover uma transformação
da personalidade dos residentes, e proporcionar um amadurecimento pessoal. E
para tanto, sugerem que se criem novos valores como, por exemplo, a
espiritualidade, responsabilidade, solidariedade, honestidade e amor.
Há, portanto, normas rígidas para as Comunidades Terapêuticas e
conseqüentemente para os profissionais que nela trabalham. Tais normas são
necessárias para que se obtenha êxito no tratamento dos residentes, visando
sempre o benefício e o respeito à individualidade de cada interno, mas que não
institui regulamentação para assegurar a saúde dessa população de profissionais
(ALVES, 2006; SABINO, 2005; RDC N° 101/2001).
2.2 Profissionais das Comunidades Terapêuticas
No que diz respeito à rigidez das normas para as CTs, Sabino (2005)
assegura que “o trabalho concreto na instituição é a base da disciplina institucional
e de uma educação na co-responsabilidade” (p.168). Portanto, apesar de cada
instituição ter o seu regimento interno, há a necessidade de também se definir
padrões gerais para o seu quadro de profissionais para assegurar a eficácia do
tratamento.
Alguns dos critérios da ANVISA (RDC N°101/2001) para o quadro de pessoal
dessas instituições, considerando a equipe mínima que trabalha com adictos e o
atendimento de 30 residentes, são:
Um profissional da área de saúde ou serviço social, com formação superior,
responsável pelo Programa Terapêutico, capacitado para o atendimento de
14
pessoas com transtornos decorrentes de uso ou abuso de substâncias
psicoativas;
Um coordenador administrativo;
Três agentes comunitários capacitados em dependência química;
A equipe fica encarregada de registrar, no mínimo três vezes por semana,
avaliações e cuidados dispensados aos residentes. A ANVISA (RDC N°101/2001)
recomenda ainda a inclusão de um curso de Primeiros Socorros na capacitação.
De acordo com Mafra (2005), há ainda algumas exigências para estes
profissionais, como cumprir regras, horários e tarefas. O trabalho metódico se
constitui em ponto fundamental para o processo de desintoxicação. Entende-se tais
exigências a partir do momento que se compreende o processo de adicção.
2.3 Perfil dos adictos
Existem diferentes motivos que levam as pessoas a consumirem substâncias
psicoativas, e para se obter um tratamento eficaz, é necessário entender o que a
droga significa para estas pessoas. Apesar desse significado ser diferente para
cada adicto, há traços gerais condizentes ao comportamento de risco que podem
ser delimitados. Para tanto, consideramos relevante inicialmente descrever o perfil
dos adictos (ARRUDA; CAVASIN, 2000).
Ferreira (2003) afirma que os adictos são, em sua maioria, pessoas que
geralmente começaram a utilizar a droga ainda na adolescência. Parece haver um
escalonamento nesse uso, relacionado às idades, começando pelas drogas mais
leves e socialmente aceitas como tabaco e álcool em idades mais baixas, por volta
dos 14 e 15 anos. Em seguida, à medida que avançam na idade, ocorre o consumo
de drogas mais pesadas e ilícitas, geralmente iniciando-se com um grande
consumo de maconha e depois cocaína, crack, etc. Gadbem (2004) acrescenta que
os adictos têm necessidade de limites e dificuldade em respeitar regras sociais
necessárias à convivência em comunidade, além de apresentar idealização dos
vínculos, facilitação para comportamentos agressivos, formação de grupos
15
caracterizados como gangues e hábitos irregulares que não estão de acordo com
as normas vigentes.
Os distúrbios no uso de drogas psicoativas estão associados aos
adolescentes com baixa auto-estima, sintomas depressivos, eventos de vida
estressantes, baixa coesão familiar e ligação com amigos que consomem
(SCHENKER; MINAYO, 2003). Aliane et al. (2006) abordam que há uma relação
direta entre baixo índice de habilidades sociais e conflitos na relação com outras
pessoas, o que também se configura em tendência ao abuso de drogas.
Gadbem (2004) ressalta o fato de geralmente os adictos serem jovens,
muitas vezes preocupados com seu corpo físico e adeptos a uma vida sexual
promíscua, pois não são pessoas amadurecidas capazes de arcar com as
conseqüências de relacionamentos. Tais aspectos estão ligados à dificuldade em
verbalizar seus sentimentos, transformando suas atitudes codificadas em forma de
comunicação, pois não conseguem colocar em palavras o que pensam. “O próprio
uso de drogas pode ser entendido como forma de expressão não-verbal de algo
que está à espera de significação” (p. 119).
Com relação ao fato do início das drogas estar altamente atrelado à fase da
adolescência, Ferreira (2003) afirma que alguns estudos constataram que a
probabilidade do uso de drogas era cinco vezes maior entre adolescentes que
viviam em seus lares a violência familiar, a precariedade nos diálogos e a falta de
interesse dos pais pelos seus problemas. Também em lares onde os pais eram
separados ou viúvos, o consumo de drogas nessa faixa etária era maior em relação
a jovens que viviam com o pai e a mãe.
Schenker e Minayo (2003) explicam que as normas para os comportamentos
sociais são aprendidas a partir do contexto das interações primárias de socialização
que, na nossa sociedade, são representadas pela família, escola, e os amigos na
adolescência. Essas relações, sempre envolvem um vínculo que origina um canal
para a comunicação de normas. Portanto, vínculos e ajustes saudáveis com a
família e com a escola previnem comportamentos de risco na adolescência; o
contrário se configura em fatores de risco para desvios. Em famílias onde o
adolescente não tem a cordialidade, o encorajamento, monitoramento e imposição
16
de limites, há a dificuldade em transferir a confiança colocada nos pais para uma
maior independência e foco maior nos amigos.
Nesse sentido, Gadbem (2004) contribui delineando a forma específica de
relação que o adicto faz com o Outro, em função desse empobrecimento das
relações afetivas que eram vivenciadas em seus lares.
Para estabelecermos qualquer relação, para desenvolvermos qualquer atividade, é necessário poder simbolizar, lidar com a falta, sentir a presença na falta. Contar com o Outro mesmo quando ele está ausente. E este Outro é de fundamental importância para que se instale esta capacidade (...) Quando a realidade não nos provê deste Outro, podemos utilizar nossas forças para modificar esta realidade, mas quando também não possuímos tais recursos, tendemos a negar esta realidade através da alienação (GADBEM, 2004, p. 123).
A falta desse Outro durante a formação das relações afetivas primárias,
altera o comportamento do adicto no que diz respeito aos seus relacionamentos
interpessoais, o que se constitui em uma das principais queixas da família, que
alega que eles só andam em más companhias. Essa nova forma de relacionar-se
faz com que o adicto passe a depreciar o Outro despertando sentimentos
agressivos em relação a este e provocando compaixão. Assim, sua atuação em
relação aos profissionais da saúde que os atendem, não acontece de forma
diferente (GADBEM, 2004; MELLO, 2005).
Diante de tais comportamentos já estigmatizados e previamente conhecidos,
os adictos aparecem aos profissionais que com eles convivem, como personagens
incompreensíveis dos quais é preciso sempre desconfiar, que não se submetem às
regras dos estabelecimentos, não cooperam no tratamento e oferecem perigo aos
profissionais e à instituição, pois os adictos quando sentem necessidade da droga
podem ter sintomas de abstinência como alucinações, e utilizar várias estratégias
para tentar conseguir a droga, inclusive agressões físicas e verbais (GIAMI, 2000).
Há também de se considerar as dimensões envolvidas no padrão de
comprometimento de dependência e, à mobilidade pessoal para a abstinência do
adicto, como fatores influentes no seu padrão comportamental e como ele irá se
reportar aos profissionais. Com relação às dimensões, elas se configuram em:
17
adesão, que representa o grau de resistência da pessoa ao tratamento;
manutenção, que se refere ao grau de resistência à continuidade do tratamento; e o
comprometimento biológico, psíquico, social, familiar e legal. O grau de resistência
e comprometimento destas dimensões variam de leve a moderado e grave
(ANVISA, RDC N° 101/2001).
No que se refere aos quatro estágios (pré-contemplação, contemplação,
decisão/ação e manutenção) referentes à mobilidade pessoal para abstinência,
Rigotto e Gomes (2002) abordam a descrição dos mesmos, que não estão
necessariamente ligados ao grau de comprometimento do adicto, mas também
auxiliam os profissionais na montagem da estrutura de seu tratamento. No estágio
de pré-contemplação, o adicto demonstra interesse em mudar seu comportamento,
mas parece não estar suficientemente consciente de seus problemas. Na
contemplação, o adicto tem consciência de seu problema e pensa em fazer
mudanças, mas não chega a agir. Já na decisão/ação, a pessoa está motivada para
a mudança e faz tentativas de modificar seus comportamentos, suas experiências e
o ambiente; mas é só o estágio da manutenção que assegura que a pessoa está
em abstinência e, portanto os profissionais e o próprio adicto trabalham para evitar
a recaída e solidificar os ganhos.
Rigotto e Gomes (2002) descrevem ainda, quatro aspectos relacionados aos
estágios descritos acima, que motivam o adicto para a remissão e orientam os
profissionais que com eles trabalham. O primeiro é a adoção de comportamentos
substitutos que podem parecer aos adictos mais vantajosos do que a adicção, ou
pelo menos lhes cause esta dúvida; o segundo refere-se à disponibilidade para
supervisão compulsória; o terceiro, a adesão dos adictos a projetos significativos; e
o quarto diz respeito à recuperação da auto-estima.
Além destes conhecimentos, é necessário aos profissionais das CTs,
competências específicas para adotar um sistema de trabalho efetivo. Portanto,
considerou-se necessário delimitar o conceito de competências profissionais
utilizado neste trabalho.
18
2.4 Competências profissionais
Segundo Orsi et al. (2007), os administradores têm grande dificuldade em
diagnosticar as causas de insatisfações, angústias, frustrações, tensões e
ansiedades constantes e intensas que surgem no ambiente organizacional. E
devido a abordagens intuitivas e a falta de técnicas, há a dificuldade em
sistematizar os tipos de problemas e agrupá-los em categorias para buscar recursos
adequados que sejam capazes de sanar ou minimizar tais questões. Uma dessas
categorias capazes de influenciar na saúde do trabalhador são as competências
necessárias ao profissional em sua atuação.
“Competência é um traço, uma característica da personalidade do indivíduo
que o torna competente ou competitivo dentro de seu espaço de responsabilidade”
(PIERRY, 2006, p.19). O espaço de responsabilidade se configura na gama de
atividades inerentes a um determinado cargo. O autor afirma que existem três tipos
de competências: as técnicas, as emocionais ou afetivas e as racionais ou
intelectuais.
No que diz respeito às competências técnicas, Pierry (2006) afirma que
podem ser acadêmicas ou não, pois são informações atualizadas que dão a base
para a realização de uma tarefa específica. Elas correspondem à capacitação e o
conhecimento técnico, e a quantidade de informações, em geral, que o indivíduo
acumula em sua história profissional. As competências técnicas podem se
aprimorar de acordo com o grau de complexidade e o espaço de responsabilidade.
Já as competências emocionais ou afetivas são características da
personalidade do indivíduo que, em geral, o permitem se adaptar às mudanças e
lidar efetivamente com as diferenças encontradas nas alterações de grau de
complexidade e responsabilidade nas funções propostas. É dito em geral, porque
podem abranger diversas situações e comportamentos. Ser competente
emocionalmente é estar preparado para diversas decisões e condutas em
diferentes oportunidades (PIERRY, 2006).
Com relação às competências racionais, o autor afirma que:
(...) são traços ou características da personalidade laboral que podem ser desenvolvidas com maior facilidade em menor espaço
19
de tempo ou que podem ser mescladas com as demais categorias e formar um tempero especial, dar maior densidade às demais categorias e potencializar as competências emocionais (PIERRY, 2006, p.40).
Elas ainda podem potencializar outras competências e, portanto, a partir
destas, formar novas competências de modo a facilitar o desempenho de outras.
Como o princípio de tratamento nas Comunidades Terapêuticas se baseia na
convivência entre os pares, e na relação diária dos profissionais com os pacientes
(ANVISA, RDC N°101/2001), considerou-se mais adequada a discussão de tal
assunto no próximo tópico.
2.5 Vínculo profissional-paciente e a saúde do trabalhador
Ferreira et al. (2005) assinalam alguns padrões de comportamento que
podem ser adotados pelos profissionais para maior eficácia no tratamento, como
procurar estabelecer um relacionamento de confiança com o paciente, não
criticando ou menosprezando o seu comportamento; oferecer apoio quando o
mesmo mostrar-se ansioso devido à falta de substância; estabelecer limites na
presença de comportamentos manipulativos; e personificar o tratamento de acordo
com o momento que o indivíduo está vivendo. Os autores acrescentam que é
necessário manter uma mesma equipe, para que esta possa se aprofundar e
interagir melhor entre seus membros, e acompanhar a evolução do mesmo
paciente.
Tais medidas podem ser eficazes para o tratamento do adicto, mas não
protegem necessariamente a saúde do profissional que os trata, tendo em vista os
vínculos criados entre paciente e profissional durante o período de internação do
adicto. Nessa busca de proteção pessoal, alguns profissionais, segundo Gadbem
(2004), se distanciam do contato íntimo com seus pacientes. Porém, perdem na
qualidade do atendimento prestado, principalmente por não terem acesso aos
aspectos emocionais presentes, sentindo, muitas vezes, como se fossem
expectadores da tragédia de seus pacientes, que em alguns casos culminam em
morte, sem nada poderem modificar. Tal sensação de impotência causa grande
20
incômodo aos profissionais, portanto esse distanciamento não proporciona,
necessariamente, proteção emocional diante da situação.
Contudo, e mesmo que os profissionais considerem que não há o que fazer
com tais pacientes, geralmente depositam uma carga de investimento afetivo muito
importante, às vezes até em longo prazo, criando o sentimento de paternalismo,
originado pela parcialidade na autonomia do adicto (GIAMI, 2000; FORTES;
SACARDO, 1999).
Mello (2005) acrescenta algumas situações decorrentes da ambivalência dos
profissionais, que causam conflitos internos, devido à situação de opressão e
sentimentos de convivência; e conflitos externos, pois há a percepção do outro
como oprimido e digno de sentimento de compaixão. Ao mesmo tempo em que
ocorre uma auto e hetero-desvalorização, ou seja, muitas vezes se julgam
ineficazes em seu trabalho, bem como desacreditam no potencial de seus
pacientes, também há a valorização de algumas características e valores dos
pacientes. Os profissionais percebem os adictos como dependentes (no sentido de
que querem atenção o tempo inteiro), excluídos socialmente, “sugadores de
energia”, desprivilegiados psíquica e socialmente. A autora sugere ainda que a
situação de opressão e de conflito interno vivido pelos profissionais indica uma
possível sobrecarga mental. Tal fato justifica os resultados de estudos
internacionais pontuados por Rebouças et al. (2007), os quais mostram que “o
trabalho em saúde mental é potencialmente um fator de estresse e esgotamento,
podendo afetar a qualidade da assistência e, em casos extremos, inviabilizar a
continuidade de serviços” (p.03).
Um dos motivos causadores desse estresse seria a angústia dos
profissionais ao enfrentar a intersecção entre o perigo externo, que representa o
perigo ao próprio corpo físico e o perigo interno, de envolvimento emocional à
situação de seus pacientes, atrelado à sobrecarga de trabalho e à importância do
investimento psíquico em situações vivenciadas como sendo muito pesadas
(GIAMI, 2000).
Mello (2005) ao entrevistar os profissionais que participaram de sua pesquisa
realizada em um CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial) afirma:
21
Possivelmente alguns dos profissionais entrevistados apresentam sintomas da crise de estresse e sobrecarga de trabalho, síndrome de burnout, que se caracteriza por esgotamento, decepção, baixa realização e perda de interesse pelo trabalho. A crise de esgotamento surge nas profissões que entram em contato diário e direto com as pessoas e tem como objetivo a prestação de serviço, o que vai ao encontro da prática diária desses profissionais. O relacionamento com outras pessoas no âmbito de trabalho é uma fonte de estresse, a síndrome de burnout atinge aqueles
profissionais que prestam cuidados diretos (MELLO, 2005, p. 167).
Portanto, o tempo que o profissional permanece efetivamente com o paciente
pode ser um fator significante (REBOUÇAS et al., 2007).
Considerando que os profissionais que trabalham diariamente com pacientes
em quadros graves (dificuldade de recuperação, iminência de morte, histórico de
sofrimento, tristeza dos familiares) e acabam por formar um vínculo com estes,
estão expostos constantemente a situações ansiogênicas, que podem gerar
conflitos e interferir nas relações interpessoais. Também, lembrando que a maioria
das doenças físicas são facilitadas por tensão emocional e psicológica não
resolvida e desgastante; percebemos um grande desafio tanto para a administração
das organizações quanto aos profissionais da saúde, na viabilização de meios de
prevenção, para que os profissionais que trabalham com esse tipo de realidade
aprendam a experimentar outras formas de combate ao sofrimento além do
adoecimento, bem como a conviver saudavelmente com esse tipo de relação,
utilizando-a em benefício de sua própria saúde e da sua produtividade (BRAZ,
2001; WIECZYNSKI, 2007).
22
3. ASPECTOS METODOLÓGICOS
3.1 Tipo de Pesquisa
Para a realização desta pesquisa foi utilizado o método qualitativo, pois este
tipo de método, de acordo com Martins e Bicudo (2005) alcança maior
compreensão dos fenômenos que se quer estudar, além de, segundo Bardin (1977),
estudar sujeitos em particular, permitindo maior aproveitamento do conteúdo
manifestado. A pesquisa de caráter descritivo-exploratória é necessária na presente
pesquisa, visto que sem o conhecimento prévio da realidade específica a ser
pesquisada há a necessidade de investigar os fenômenos que estão relacionados
ao tema do referido estudo e descrevê-los para a contextualização necessária.
3.2 População
Esta pesquisa foi realizada junto a seis profissionais da área da saúde que
trabalham em duas Comunidades Terapêuticas (denominadas nesse trabalho como
C.T A e C.T B), localizadas no município de Itajaí/SC, que atenderam aos seguintes
critérios:
- estar trabalhando no mínimo há seis meses na instituição;
- possuir formação na área da saúde (auxiliar, técnico, graduação).
Cabe ressaltar que na C.T A, havia três profissionais que atendiam aos
critérios acima, no entanto, um deles trabalhava apenas meio período, uma vez na
semana. Dada a inviabilidade em realizar a coleta de dados com este participante, a
entrevista nessa Comunidade, foi realizada com apenas dois profissionais. Já a C.T
B, possui oito profissionais da saúde, mas apenas quatro deles atenderam aos
critérios propostos. Portanto, as entrevistas foram realizadas com estes quatro.
23
3.3 Instrumento
O instrumento de coleta de dados foi a entrevista semi-estruturada,
elaborada a partir dos objetivos desta pesquisa. O instrumento foi encaminhado
para dois especialistas na área, de forma a verificar a clareza das questões, bem
como a coerência com os objetivos propostos. Após a realização de uma entrevista
piloto com uma profissional da saúde que atuava em uma Comunidade Terapêutica,
o roteiro de entrevista recebeu alterações para melhor adequação à proposta da
pesquisa, e teve seu formato definido (Apêndice 8.1).
Foi elaborado também um questionário, para obtenção de dados mais
detalhados a respeito da CT em geral (Apêndice 8.2).
3.4 Coleta de Dados
No primeiro momento, foram apresentados os objetivos da pesquisa aos
responsáveis pelas Comunidades Terapêuticas, para a assinatura das folhas de
rosto a serem encaminhadas ao Comitê de Ética. Posteriormente, a pesquisadora
agendou uma visita com a coordenação de cada instituição para conhecê-las, e
iniciar a coleta de dados.
Foi explicado individualmente a cada um dos profissionais participantes, os
objetivos da pesquisa e solicitado a leitura e assinatura do termo de consentimento
livre e esclarecido (Apêndice 8.3). Em seguida, foi realizada a entrevista, que foi
gravada em áudio, e posteriormente transcrita, favorecendo a fidedignidade dos
dados. Para garantir o sigilo e anonimato dos participantes atribuiu-se a eles os
códigos S.1, S.2, S.3, S.4, S.5 e S.6.
Para os coordenadores principais, um de cada instituição, também foi
aplicado o questionário explicitado acima (Apêndice 8.2), respondido na forma
escrita.
24
3.5 Análise dos dados
A técnica utilizada para análise de dados foi a análise de conteúdo, que por
ter como princípio a análise das comunicações e a descrição do conteúdo das
mensagens, viabilizou atingir os objetivos desta pesquisa. Portanto, procedeu-se de
acordo com o seguinte processo:
codificação: transformação dos dados brutos por agregação das
unidades, permitindo atingir uma representação do conteúdo;
categorização: classificação de elementos constitutivos de um conjunto a
partir de critérios previamente definidos;
análise: comparação dos resultados entre si, fundamentando-os
teoricamente através de desmembramentos do texto em unidades, em
categorias segundo reagrupamentos analógicos (BARDIN, 1977).
3.6 Procedimentos éticos
Este trabalho foi realizado conforme as normas do Conselho de Ética e
Pesquisa, orientada pelas resoluções CNS – 196/96 e CFP – 016/2000, respeitando
os seguintes itens:
Assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice
8.2) de cada um dos participantes antes de iniciar a coleta de dados.
Acesso livre dos participantes às informações que foram coletadas, assim
como aos resultados obtidos.
Respeito aos valores éticos, morais, sociais, religiosos e culturais dos
participantes.
Respeito em relação à recusa do participante para ser entrevistado.
Manter o anonimato dos sujeitos entrevistados.
Garantia de não ocorrência de danos ou prejuízos pela participação na
pesquisa.
Esclarecer aos participantes os procedimentos e métodos utilizados.
Extrair as informações necessárias para posterior análise.
25
Procurar não induzir os participantes às respostas.
Transcrever a entrevista da forma mais fidedigna possível para garantir a
qualidade das respostas e a confiabilidade da pesquisa.
Estabelecer uma relação profissional entre pesquisadora/entrevistado.
26
4. CARACTERIZAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES
Para a realização da pesquisa, optou-se por duas instituições localizadas em
Itajaí-SC, que se caracterizam como Comunidades Terapêuticas, as quais
apresentam em seu regimento as características apontadas para esta modalidade
de atendimento.
4.1 Instituição A
A Comunidade Terapêutica A tem como sede para seu funcionamento uma
fazenda. Sua construção se distribui em cinco casas separadas, além das áreas em
comum.
A primeira casa é composta da seguinte forma: sala da assistente social
(coordenadora), sala da psicóloga, sala para reunião e um banheiro. Na segunda
casa mora a família de um dos monitores. Há duas casas em construção, uma
delas pretende ampliar as possibilidades de atividades para os internos através do
projeto de uma sala de computação, uma sala de TV, duas salas de reunião, uma
sala para trabalhar com o grupo, uma biblioteca e uma sala para artesanato, além
de uma padaria, que já esteve em funcionamento, mas hoje se encontra desativada,
mesmo com todo maquinário instalado. O alojamento dos internos é mais distante
em relação ao dos profissionais e se configura em uma casa de dois pisos que
possui: um escritório (com alguns livros), um consultório odontológico, um banheiro
feminino e um masculino no térreo. No segundo piso ficam dois banheiros em
reforma, os quais são utilizados pelos internos; e dez quartos, onde dormem os
residentes. Cada quarto possui dois beliches e um armário. Os quartos podem
alojar no máximo quatro internos, porém, como a instituição aceita no máximo trinta
internos, atualmente cada quarto aloja dois ou três residentes. Há também uma
área em comum, com churrasqueira, cozinha e refeitório.
Por toda extensão da fazenda há área verde, e placas de madeira com frases
bíblicas. A fazenda comporta uma estrebaria, uma horta, um local para criação de
frangos e um lago para a criação de tilápias que ainda está sendo preparado. São
27
os internos que cultivam a horta, cuidam da estrebaria e dos frangos (laborterapia).
As hortaliças, o leite e os ovos são para consumo próprio.
No alto de um morro, designado por “monte” pela Comunidade, há um
Coreto, local isolado para os residentes sentarem, orarem e “pensarem sozinhos,
com a natureza”.
Das trinta vagas que a comunidade oferece, quatorze são reservadas a
encaminhamentos pela Prefeitura e as demais, particulares. Esta modalidade
consiste no pagamento, feito pela família, de um salário mínimo para o tratamento
do adicto, mas no caso de apresentar dificuldades financeiras, o pagamento ocorre
conforme suas possibilidades. Atualmente, residem na comunidade vinte e quatro
internos, dos quais apenas quatro são particulares. Portanto, a instituição não é
remunerada por seis deles.
O tempo máximo de internação na instituição é de nove meses. Após a alta,
os pacientes são encaminhados para o Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e
Drogas (CAPS – AD) e a instituição recebe informações quanto ao comparecimento
dos ex-residentes nos atendimentos.
A Comunidade A possui um quadro de profissionais composto por seis
funcionários. Destes, três compõem a equipe de saúde: psicóloga, assistente social
e dentista. Os demais são monitores.
Com relação à rotina da CT, são realizadas atividades como: dinâmicas de
grupo, atendimento individual com serviço social e psicóloga, atividades visando a
laborterapia, cultos evangélicos, atendimento odontológico e oficinas sobre
prevenção da recaída e sobre os 12 passos (os mesmos dos Alcóolicos Anônimos).
Os residentes possuem espaço para o lazer, realizando jogos, oficinas de
artesanato, leitura e sessão de filmes. Às quartas-feiras os internos são levados
para atendimento médico com o clínico geral da Unidade de Saúde mais próxima.
Também acontecem as visitas dos familiares dos internos à Comunidade, os quais
recebem atendimento individual com o serviço social e psicóloga.
Em seu regimento interno, a CT se guia em normas éticas e legais,
destacando a garantia do sigilo por parte da equipe e o anonimato dos internos.
Suas normas são construídas utilizando-se os princípios da ANVISA (RDC
28
N°101/2001), mas salientando principalmente as atividades do Programa
Terapêutico e as obrigações dos internos.
4.2 Instituição B
A Instituição B tem como sede uma casa extensa. Há um total de 12
funcionários na instituição. A equipe de profissionais da saúde é composta por um
terapeuta pastoral, uma psicóloga, um coordenador geral (formação em Educação
Física) e 5 coordenadores, técnicos em dependência química (total de oito
profissionais da saúde). Suas salas são divididas em uma sala para a coordenação,
uma sala para a presidência e uma sala para a psicóloga. Estas salas ficam
separadas do alojamento dos internos por uma porta. Ao passar por ela, há uma
cozinha, uma sala de vídeo, uma sala de aula, uma sala para culto e seis quartos
com seis leitos cada (os banheiros são nos quartos). Atualmente a Comunidade
Terapêutica está com 25 internos (chamados de alunos pelos profissionais), 20 pela
Prefeitura e 5 contribuintes. A família contribui com 600 reais mensais.
No quintal, ou área verde, há uma horta, em que os próprios residentes são
responsáveis (laborterapia) e uma criação de galinhas, também cuidada pelos
internos. Dos produtos extraídos dessas atividades, as hortaliças e galinhas são
para consumo próprio e os ovos, além do próprio consumo, também são vendidos.
Na instituição há também uma quadra coberta utilizada para jogos esportivos.
Como alguns monitores residem no local, há um alojamento para estes,
separado da casa principal. A instituição está com um projeto para a construção de
moradia provisória para os ex-internos na própria instituição. A proposta é que, após
receberem alta, tenham um apoio para melhor se reestruturarem. O alojamento já
está sendo construído.
Com relação às normas da instituição, o coordenador geral afirma que
baseiam todas suas práticas nos princípios cristãos, bem como em um regulamento
de ética, que preza principalmente por respeito mútuo, obediência, cumprimento de
horários, higiene pessoal e respeito à autoridade. O coordenador afirma ainda que
cada função tem seu próprio regulamento, porém há comportamentos que todos
29
devem manter, como o testemunho, que se configura na fidelidade do que é
pregado dentro da Comunidade de ser exercido também fora dela, ser confidente e
guardar segredos.
30
5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo serão apresentados os dados levantados, discutindo-os com a
literatura sobre o assunto.
Através da entrevista obtiveram-se algumas informações pessoais dos
profissionais, importantes para a análise, porém nem todas elas serão mostradas no
quadro abaixo, pois como a população da pesquisa é restrita, alguns dados
poderiam indicar o sujeito, violando o sigilo garantido pela pesquisadora aos
participantes.
Quadro1: Caracterização da Amostra
Sujeitos Formação Cargo Tempo na
empresa
S.1 Serviço Social e pós-graduação
em saúde mental
Coordenadora 01 ano
S.2 Psicologia Psicóloga 01 ano e 02 meses
S.3 Psicologia e especialização em
Terapia Familiar Sistêmica
Psicóloga 01 ano
S.4 Técnico em dependência química
e capacitação em teologia
Coordenador 03 anos e 06
meses
S.5 Educação Física e pós em
dependência química (cursando)
Coordenador
geral
13 anos
S.6 Técnico em dependência química Coordenador 11 anos
Para a análise de dados foram elencadas as categorias e as subcategorias a
partir do roteiro de entrevista utilizado e conforme os conteúdos emergidos no
discurso dos participantes da pesquisa.
O quadro 2 apresenta a definição operacional das categorias, incluindo suas
respectivas subcategorias, utilizadas como base para a apresentação, análise e
discussão dos dados.
31
Quadro 2: Definição operacional das categorias
Categorias Descrição
Atividades Desenvolvidas Refere-se às principais atividades
desenvolvidas que são comuns a todos
os profissionais da instituição.
Tipo de vínculo Busca descrever e analisar as
características do vínculo estabelecido
entre profissionais e pacientes.
Relação entre vínculo e saúde do
profissional
Refere-se aos fatores (positivos e
negativos) do vínculo estabelecido com
o paciente, que influenciam na saúde
dos profissionais.
Competências à atuação Refere-se às competências necessárias
ao trabalho com adictos, separando-as
em competências técnicas,
emocionais ou afetivas, racionais ou
intelectuais.
Fatores organizacionais intervenientes
na saúde do profissional
Fatores organizacionais que emergiram
nos discursos, capazes de influenciar a
saúde do trabalhador.
5.1 Atividades Desenvolvidas
Visando conhecer a dinâmica do trabalho dos entrevistados, levantou-se esta
categoria para entender de que maneira as atividades desenvolvidas pelos
profissionais contribuem na formação do vínculo profissional-paciente.
Apesar da amostra entrevistada ser composta de profissionais de diversas
formações e de funções diferentes, encontramos algumas atividades em comum
para todos eles.
32
Cada profissional entrevistado tem uma função principal na instituição,
porém, todos eles relatam ter em sua rotina, tarefas como: aconselhar, acolher e
conversar com os internos.
“[...] conversar com os alunos, aconselhamento, ver os problemas, as dificuldades que cada um tem passado [...]” (S. 6).
“[...] disposição para a entrada e saída de alunos, aconselhamento, preparação da laborterapia [...]” (S. 5).
Nesse sentido, os autores referenciados (GADBEM, 2004; MELLO, 2005;
FERREIRA et al., 2005; SABINO e CAZENAVE, 2005; ANVISA, RESOLUÇÃO
N°101/2001), ao descreverem estas atividades, não fazem distinção sobre a
formação dos profissionais, sempre se referindo “aos profissionais da saúde”,
colocando-as como comuns para toda a equipe que trabalha diretamente com
adictos e, em geral, com pacientes em iminência de morte e/ou em situação de
sofrimento, opressão, e que muitas vezes, despertam compaixão pela situação
social e de saúde/doença em que se encontram.
Também foi destacado nas atividades dos profissionais o trabalho em grupo
como muito eficaz tanto no sentido da equipe interdisciplinar, em que as atividades
são pensadas e aplicadas em conjunto, quanto no sentido de trabalho com grupos
de internos e familiares dos mesmos.
“[...] eu também cuido da parte de grupo, são cinco grupos [...]” (S. 3).
“[...] tenho encontro de grupos com eles, eu faço grupo, faço dinâmica de grupo, onde a gente trabalha vários temas [...]” (S.2).
“[...] eu faço uma escala sobre laborterapia, sobre grupos de apoio [...]” (S.4).
“A gente desenvolve um grupo né, grupo de auto-ajuda [...] atendimento à família, individual e em grupo também [...]” (S.1).
Outro aspecto que demonstra o apoio entre a equipe de saúde é constatado
no momento em que alguns profissionais colocam como sua função dentro da
instituição, o aconselhamento e conversa não somente com os internos, mas
33
também com os profissionais, porém este aspecto é salientado somente pelos
profissionais da C.T B:
“[...] eu atendo ainda a equipe, quando propício né, dou um aconselhamento [...] eu venho pra conversar, pra saber como é que tá o emocional dele aqui dentro, que dificuldade ele tá encontrando, enfim, uma avaliação dele no trabalho e fora também, pessoal”. (S. 3).
“[...] ajudo a cuidar dos monitores, conversando com eles, aconselhando [...]” (S. 6).
Alves (2006) afirma que a convivência em sistemas grupais é enfatizada no
tratamento em Comunidades Terapêuticas, pois facilita a ressocialização dos
pacientes no momento em que eles compartilham seus problemas. Não só a prática
de grupos, como também a prática de trabalhos que considerem as relações
grupais durante o tratamento, é de grande relevância.
Ao se referir à equipe de profissionais da saúde, S.2 afirma:
“[...] a gente fala a mesma língua, então a gente caminha junto [...]”.
S.3 estima sua liberdade dentro da equipe no dia-a-dia:
“[...] eu tenho a liberdade de falar o que eu penso, a liberdade de mudar as coisas que eu vejo que não estão corretas né [...]”.
A CT, segundo Sabino e Cazenave (2005) é uma sistemática de grupo, onde
os profissionais trabalham para responder as diferentes necessidades dos
residentes. E Schneider et al. (2004) afirma que a equipe interdisciplinar é o ideal,
com especialistas em diversas disciplinas, incluindo os usuários em recuperação.
5.2 Descrição do vínculo paciente/profissional
Esta categoria busca expor e discutir, como os profissionais entrevistados
descrevem o vínculo estabelecido com seus pacientes.
Pensou-se inicialmente em dividir em subcategorias denominadas “vínculo
profissional” e “vínculo afetivo”. Porém, a literatura (GADBEM, 2004; SABINO,
CAZENAVE, 2005; FERREIRA et al., 2005), e inclusive as normas que asseguram
34
e regulamentam a efetividade dos trabalhos nas Comunidades Terapêuticas
(ANVISA, RDC N°101/2001), afirmam que é necessário a proximidade com os
pacientes, para oferecer apoio e estabelecer um relacionamento de confiança com
os mesmos, já que os profissionais são incumbidos de despertar novos valores nos
internos, como a espiritualidade, responsabilidade, solidariedade, honestidade e
amor, não criticando ou menosprezando o comportamento do paciente.
Logo, percebemos que neste ramo profissional, a vinculação afetiva é
encarada como parte fundamental do tratamento, portanto, também é profissional,
não havendo como fazer a separação entre fatores profissionais ou afetivos do
vínculo estabelecido.
As palavras mais utilizadas pelos profissionais entrevistados para definir o
vínculo estabelecido com os pacientes foram amizade e amor. Estas duas palavras
foram ressaltadas durante toda e em todas as entrevistas.
“O nosso vínculo é um vínculo de muita amizade, muito carinho, muito amor, muito respeito, e sempre, todos os dias, a gente conversa, a gente é amiga, e pra qualquer situação eles me procuram [...]” (S. 1).
O caráter afetivo do vínculo estabelecido entre profissionais e interno é
demonstrado não somente de forma explícita, mas também nos termos utilizados
pelos profissionais ao falarem de seus pacientes. Esta situação é demonstrada pela
fala de S. 2 ao se reportar aos residentes: “os meninos [...]”. São utilizadas
constantemente palavras no diminutivo, quando referidas a características ou algo
ligado aos internos, que também demonstram carinho: “na cabecinha do interno [...]”
(S. 5), “alguns ainda tem a mãezinha do lado [...]” (S. 3).
Este aspecto também pode denotar infantilização e fragilização dos internos
por parte dos profissionais.
Gadbem (2004) afirma que alguns profissionais se distanciam do contato
íntimo com seus pacientes na busca de proteção pessoal. No entanto, esse fato não
foi evidenciado em nossa amostra, pois, todos os profissionais entrevistados
demonstraram esse caráter afetivo e íntimo no vínculo formado com os internos.
35
O vínculo estabelecido com os internos toma proporções familiares, visto que
os profissionais consideram que, se a Comunidade Terapêutica serve de moradia
para os internos por um determinado tempo, então eles, os profissionais, devem se
colocar numa posição de família dos mesmos, para que a CT se configure em uma
espécie de lar, capaz de dar novos sentidos à vida do residente, e fornecer a
estrutura necessária para alcançar esse objetivo, já que sua família real, de acordo
com o discurso dos entrevistados, geralmente já não está à disposição. Os próprios
profissionais utilizam, em seu trabalho diário, ações características de papéis que
normalmente são atribuídos à família, como por exemplo, “ensinar a se comportar”:
“[...] eles tem isso né, alguém sempre aconselhando, alguém amigo, irmão, perto deles, alguém a quem eles possam ter não apenas a confiança, mas a amizade, eles tem que sentir esse lugar aqui como se fosse a casa deles por seis meses né, então eles têm que se sentir amados, protegidos, eles tem que ter alguém que os ensine a se comportar né, então é esse o nosso papel [...]” (S.4).
“[...] eu crio muito amor com cada paciente, assim, logo no começo, na entrevista, ele vem numa situação de miséria, geralmente uma situação de já terem perdido tudo, uma situação de que a família já tá contra [...]” (S. 3).
Os adictos apresentam hábitos irregulares e, portanto exige que a equipe
invista na reeducação de seus hábitos, bem como na promoção de uma
transformação da personalidade dos residentes e seu respectivo amadurecimento
pessoal (GADBEM, 2004; SABINO, CAZENAVE, 2005). A ANVISA (RDC
N°101/2001) também assegura como uma das funções das CTs oferecer um
ambiente protegido, o que em nossa sociedade é principalmente representado pelo
lar, em que há implícito uma conotação de família.
Pode-se até mesmo inferir que um dos respondentes da C.T B, assume o
papel de pai na comunidade. A comparação entre suas filhas e os internos aparece
constantemente na fala deste profissional. Uma das frases que ilustra esse
comportamento é:
“[...] o tio X., na cabecinha do interno é a pessoa que tem a solução para as angústias, toda e qualquer, a nível de família, de saúde [...]” (S. 5).
36
Tal situação é prevista pelos autores Giami (2000), Fortes e Sacardo (1999)
ao afirmarem que a parcialidade na autonomia do adicto em conjunto com a carga
de investimento afetivo depositada pelos profissionais, em longo prazo, acaba se
transformando em sentimento de paternalismo.
Em sua pesquisa, Alves (2006) constatou que essa forma de vínculo familiar
é constituída até mesmo na perspectiva do interno, pois “ao falar sobre o
tratamento, os residentes chamam a instituição de „casa‟, e fazem comparações
desta casa com outros locais a fim de descrevê-la e diferenciá-la de outros
contextos” (p. 09).
Outra característica do vínculo profissional-paciente, emergida nos discursos,
se configura na compaixão, misericórdia, que é sentida pelos profissionais em
relação aos internos, o que é previsto por Mello (2005) ao ressaltar que os
profissionais percebem o outro (interno) como oprimido e, portanto digno de
compaixão.
“O primeiro sentimento, o primeiro tipo de vínculo, vem assim como misericórdia, de olhar para aquela pessoa e pensar: como é que eu posso ajudá-lo agora?” (S.3).
A confiança estabelecida entre paciente e profissional e o apoio aos internos
por parte dos profissionais, também se configuram em aspectos constantes e
fundamentais para o tratamento, tanto na visão dos profissionais entrevistados,
quanto para autores como Ferreira et al. (2005) que assinala estes comportamentos
como padrão para maior eficácia no tratamento.
“O vínculo, olha, eu procuro fazer um vínculo assim, bem de confiança mesmo, nada daquela coisa imposta” (S.2).
Percebeu-se então, que apesar do caráter extremamente afetivo que tem o
vínculo entre profissionais e pacientes, ele também é adotado como modo de
eficácia ao tratamento, portanto, tido como função necessária, fundamentada
teoricamente e prevista na regulamentação para as CTs (ANVISA, RDC
N°101/2001).
37
5.3 Relação entre vínculo e saúde do profissional
O vínculo estabelecido entre profissionais e pacientes, associado ao
envolvimento emocional dos profissionais com a situação dos internos, o
investimento psíquico em situações vivenciadas como sendo muito pesadas, o
contato diário e direto com as pessoas, na prestação de cuidados em quadros
graves, são vistos como fatores desgastantes e ansiogênicos, que podem resultar
em tensão emocional e psíquica, doenças físicas e problemas mais específicos
como o esgotamento e a síndrome de burnout (GIAMI, 2000; MELLO, 2005; BRAZ,
2001; WIECZYNSKI, 2007).
Considerando-se todos os fatores descritos acima, esta categoria busca
associar as características do vínculo estabelecido entre profissional e paciente à
saúde dos entrevistados, de acordo com suas percepções.
Esta categoria apresenta duas subcategorias: fatores positivos e fatores
negativos da relação entre vínculo profissional-paciente e saúde do profissional.
Cabe ressaltar que, alguns destes fatores oscilam, conforme a situação vivida
dentro da instituição e o caráter da emoção envolvida.
Um desses fatores oscilantes consiste na necessidade que os profissionais
sentem desse vínculo, não só para o tratamento, mas para seu bem-estar pessoal.
“[...] tanto eles precisam de nós, como nós precisamos deles né, então eu acho que tanto, não somente a saúde física, de nós estarmos em um lugar protegido, mas eu creio que mais a saúde emocional, a saúde espiritual, eu creio que sim, a gente ganha muito com isso [...]” (S. 4).
Porém, em outro momento, em função dessa necessidade do vínculo com os
internos, o mesmo profissional, salientado acima, afirma se estender em seus
plantões, para acompanhar os residentes em suas mudanças constantes de humor
e “tentar ajudar”.
“[...] o dependente químico, principalmente o portador, ele tem um grau de motivação que é assim: agora ele tá bem, daqui cinco minutos ele tá mal, daqui a pouco tá bem, daqui a pouco tá mal, então você tem que ter sempre esse equilíbrio né, de não deixar se abater, mas mesmo assim chega no final do seu plantão você tá
38
esgotado né, então tem que buscar novamente forças para continuar [...]” (S.4).
Mello (2005) salienta ser comum a ambivalência de sentimentos em relação
à mesma situação, nos profissionais. Ao mesmo tempo em que percebem os
adictos como dependentes deles, pois querem atenção o tempo inteiro, há também
a valorização de algumas características e valores dos pacientes. Portanto, os
profissionais têm dificuldades em impor limites, tendendo a se sobrecarregarem.
Neste sentido, Maia (2003) e Solano (2007) afirmam que o trabalho com os
internos pode ser muito difícil, devido aos modos que se apresentam o sofrimento e
a paralisação do adicto, estando muito ansiosos, trazendo queixas variadas e
querem toda ajuda partindo do outro.
Dos seis profissionais entrevistados, quando questionados sobre a influência
do vínculo profissional-paciente em sua saúde, quatro deles iniciaram falando sobre
as influências negativas. Destes quatro, três só falaram das positivas quando
questionados especificamente sobre elas.
Somente dois profissionais afirmaram não haver influência negativa, porém
em outros momentos da entrevista fica implícito, que há uma extrapolação nos
horários de trabalho por vontade própria, em função do vínculo com o interno e com
a organização, o que gera fatores negativos. Tal aspecto também é evidenciado
na fala da maioria dos profissionais, que apesar de colocarem estas questões de
horário como um problema organizacional, de certa forma contribuem para essa
situação, em virtude do vínculo com o interno.
“[...] se eu pudesse eu ficaria 24 horas aqui, é verdade! Às vezes até acontece assim de eu brigar com a minha esposa, porque dela me cobrar porque é só C.T, C.T, C.T [...]” (S.6).
“[...] uma dificuldade que existe não só aqui nessa comunidade terapêutica, como em todas as outras, é de sugar o profissional [...] existe uma sedução, existe uma tendência, por causa da necessidade dos alunos, de a gente se envolver além dos nossos limites [...]” (S.3).
Dentre os fatores negativos do vínculo, destacamos como principais, a
frustração e impotência gerada nos profissionais quando algo no tratamento não vai
39
bem, ou um dos pacientes ou ex-pacientes recaem. Estes aspectos são tão
marcantes para os profissionais, que durante a entrevista, dois deles citaram casos.
“[...] o vínculo que é de amor, também tem muito do sentimento de frustração. Frustração é uma palavra bem forte para quem trabalha com dependentes químicos. Você investe, você se dedica, mas você percebe que a motivação não vem de mim, é dele, esse sentimento é dele, ele que precisa querer, e eu só posso dar uma possibilidade, e às vezes é bem difícil né, é bem frustrante [...]” (S.3).
“[...] a estatística é assim, de cada dez, um fica bem, e quando fica bem! Mas graças a Deus a gente não contabiliza isso, se a gente for contabilizar fica triste, né [...]” (S. 4).
A impotência é percebida pela maioria dos profissionais como importante de
ser compreendida até mesmo para o tratamento ser efetivo, pois quando o
profissional não a considera, acaba por tomar atitudes que “não deveria” com os
internos. No entanto, durante a entrevista, este aspecto pareceu estar em
elaboração por eles, pois os profissionais ainda não estão convencidos de seus
limites.
“[...] a gente sente, assim, toda a questão da impotência, a coisa do não poder fazer, às vezes a gente queria fazer mais, mas assim, a gente sabe que não pode, que não deve, às vezes até poderia, mas não seria o correto [...]” (S.2).
Gadbem (2004) afirma que a sensação de impotência causa grande
incômodo aos profissionais, porém o autor coloca que esta sensação surge a partir
do distanciamento dos profissionais de seus pacientes, o que não foi evidenciado
nesta amostra.
Somente um dos profissionais afirmou somatizar as sobrecargas emocionais
vivenciadas em seu cotidiano de trabalho.
“[...] muitas vezes eu chego em casa com dores, dores que não tem uma causa, é a dor da angústia, de se sentir pequeno [...] de tantas situações que você humanamente não sabe como fazer, não sabe!” (S.5).
Tal situação também está ligada ao sentimento de impotência, o que causa
uma auto e hetero-desvalorização do profissional, ou seja, segundo Mello (2005),
40
muitas vezes os profissionais se julgam ineficazes em seu trabalho e desacreditam
no potencial de seus pacientes.
A maioria dos entrevistados afirma não conseguir controlar a situação da
influência negativa do vínculo com o paciente em sua saúde, alegando ser muita
emoção e a vivência de muitas situações consideradas como “difíceis” em sua
rotina de trabalho.
“[...] seria hipocrisia minha eu acho, ou onipotência, se eu dissesse que eu consigo controlar toda essa situação. Não, eu não consigo, porque é muita emoção, é muita informação, é muita história triste! Sabe, tudo isso assim, em cima de mim!” (S.3).
“Em relação à minha saúde, é bastante difícil essa equação, pois a gente lida com problemas, angústias, depressões [...] não tem como a gente deixar de carregar um pouco dessa carga, é difícil saber onde fazer o filtro, onde cortar [...]” (S.5).
Esta falta de controle também é percebida na questão da disponibilidade dos
profissionais aos internos, que afirmam de forma veemente, se doar em seu
trabalho e estar sempre disponíveis. Este fato é uma visão geral da C.T B, vista
inclusive como orientação para os profissionais em sua rotina de trabalho.
“[...] a gente ao se doar [...]” (S.4).
“[...] eu estou disponível 24 horas [...]” (S.5).
“[...] eu me envolvo tanto que às vezes saio de fim de semana e deixo o meu marido em casa pra estar aqui [...]” (S.3).
Além do excesso de disponibilidade, os profissionais afirmam ter que estar
em estado de alerta constantemente, vinte e quatro horas por dia, no sentido de se
policiarem para não cometer erros que eles condenam dentro da C.T e também
para qualquer emergência que os internos precisem, mesmo que já não estejam
mais em seu horário de trabalho. Isso, na percepção dos entrevistados, gera grande
tensão e desgastes.
“[...] a tua prontidão tem que ser 24 horas, tanto na C.T como lá fora, porque se você tá lá fora e eles te virem fazendo alguma situação que você condena aqui dentro, acabou teu exemplo, acabou tua qualidade, enfim, então é muito difícil, isso causa um
41
estresse pra gente muito grande, um desgaste físico, mental, espiritual, muito grande [...]” (S.5).
“[...] sempre tem uma situação, uma emergência, um aluno que se machucou [...]” (S.3).
Um fator que é salientado por cinco, dos seis profissionais entrevistados, se
refere à questão de “carregar pesos”, de sair da comunidade e continuar pensando
nas histórias ouvidas, e no que foi vivenciado na C.T, em busca de encontrar
alguma solução para estas situações, ou somente pelo sentimento de preocupação
que os consomem quando pensam na situação dos internos, ou até mesmo da
família deles. Novamente os profissionais citam casos ao falar deste aspecto de seu
trabalho.
“A gente carrega as dores de uma mãe chorando, de um pai desesperado, de um rapazinho [...] que tem vontade de se suicidar [...]” (S.5).
“A gente se sobrecarrega bastante. Não tem como eu fechar a porta aqui e deixar tudo aqui e ir embora, muitas coisas vão com a gente [...]” (S.2).
“[...] por mais que eu diga „não, eu deixo aqui os problemas‟, não, a gente sempre acaba levando junto, porque tem muitas situações que acabam preocupando o profissional [...]” (S.1).
“[...] às vezes a gente tem a situação de sonhar, sonhar com uma angústia [...] muitas vezes a gente volta pro nosso lar ainda sisudo, ainda preocupado [...] com a testa franzida, porque você está pensando, elaborando aquela situação que foi te confessada [...]” (S.5).
Mello (2005) afirma que os profissionais que trabalham na área de saúde
mental sentem seus pacientes como “sugadores de energia”. Este fato também foi
encontrado em nossa população.
“[...] eles sugam o nosso emocional bastante, eles exigem muito da gente [...]” (S.3).
“[...] são 20 querendo alguma coisa, com alguma dificuldade [...]” (S.4).
“[...] a gente acaba absorvendo as forças negativas [...]” (S.1).
42
“[...] ele deposita no teu colo né, (o interno pede) me ajuda! (S.5).
No entanto, a maioria dos profissionais não atribui “culpa” aos internos,
responsabilizando a sociedade, ou à “forças” ou até mesmo à organização. O que
pode ser explicado por Mello (2005), ao dizer que os profissionais encaram seus
pacientes como excluídos socialmente e desprivilegiados psíquica e socialmente,
portanto, não caberia a eles a “culpa” desta situação.
Apesar dos autores referenciados neste trabalho considerarem a influência
do vínculo como negativa, é percebido que há também muitos fatores positivos
neste vínculo. Por diversas vezes, chegam a ser os principais fatores motivadores
para o trabalho, e até mesmo são capazes de dar sentido à vida, como enfatizado
por um dos profissionais. Os pacientes também proporcionam aprendizado, e
alguma forma de “crescimento pessoal” para os profissionais:
“[...] hoje eu enxergo a vida sob outra perspectiva [...] só hoje o meu dia tem fundamento, meu dia hoje é pleno, isso me completa [...] ser útil ao próximo, compartilhar, perdoar, amar, até mesmo na disciplina [...]” (S. 5).
“[...] dependendo da situação aqui eu saio vibrando, saio super feliz, motivada [...]” (S. 3).
“[...] eles motivam a gente tá vindo no outro dia, e no outro dia...” (S.2).
Nesse sentido, Azambuja et al. (2007) constata que o trabalho na sociedade
capitalista perdeu um pouco seu sentido, sendo visto como fonte de suprimento das
necessidades básicas, no entanto, o sentido real de trabalho, seria o ponto de
partida para a humanização do ser social, se constituindo no momento de busca de
sua realização e condição para a sua existência. Desta forma, “o ser humano pode
reconhecer-se nos produtos que cria. Ao transformar a natureza, reconhece a sua
própria natureza e, dessa forma, toma consciência de si como ser no mundo,
transformando-se a si mesmo, valorizando-se como ser humano” (p.3).
Percebemos, portanto, que nestas CTs, o trabalho retoma este sentido real.
Outro fator fortemente ressaltado pelos profissionais é a realização tanto
pessoal quanto profissional no trabalho com adictos, principalmente quando o
43
objetivo deles é alcançado: a recuperação de um interno ou ex-interno. Este fato
pode ser entendido ao considerarmos os índices de recuperação dos adictos.
Serrat (2002, apud SABINO e CAZENAVE 2005), afirma que de acordo com
os dados da Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas - FEBRACT, em
termos mundiais, 30% a 35% das pessoas que freqüentaram CTs deixaram
definitivamente de consumir drogas.
“[...] essa é a nossa felicidade, ver eles recuperados e bem!” (S.1).
Para os profissionais é muito importante receberem este feedback dos
internos, ex-internos ou familiares deles, para haver uma motivação maior em seu
trabalho, pois é nesse momento que eles sentem que realmente conseguiram
ajudar.
“[...] quando tu vê que numa conversa, tu conseguiu ajudar o paciente a tomar uma decisão, então assim, esse vínculo é muito importante pra isso, porque ele te dá um retorno depois [...] de alguma forma a gente deixa a nossa marquinha né [...]” (S.2).
“[...] você fazer arte desta história, de alguma forma ter contribuído com isso, te reanima a cada dia [...]” (S.5).
É interessante observar que os profissionais declaram que é importante
estarem saudáveis, porém o motivo apresentado por eles é sempre o de que para
ajudar os internos, eles precisam estar bem.
“[...] tem um monte de profissionais que estão doentes, que não conseguem passar nada para os pacientes [...]” (S.1).
“[...] se eu não trabalhar tudo isso, eu realmente vou ficar doente emocionalmente, e aí eu não vou poder ajudar!” (S. 3).
“[...] eu estando bem também to ajudando” (S. 6).
Amador et al. (2002) afirma que é importante reconhecer que o trabalho pode
conduzir as pessoas à saúde ou à doença e, que o sofrimento é categoria
intermediária entre as duas, logo, é comum aos sujeitos que trabalham. Portanto é
necessário buscar não sua eliminação, mas sim, sua transformação.
44
5.4 Competências à atuação
Cada organização exige competências diferentes de seus profissionais, pois,
a necessidade de cada habilidade específica para a obtenção do trabalho efetivo e
a adequação do profissional ao cargo ocupado, está diretamente ligada à área de
responsabilidade em que o trabalhador se encontra dentro da organização
(PIERRY, 2006).
Assim, no contexto específico das Comunidades Terapêuticas, em que o
vínculo profissional-paciente se constitui como parte fundamental do tratamento, há
a necessidade de se definir as competências necessárias neste tipo de atuação. Tal
esclarecimento poderá contribuir para que se possam buscar políticas de
desenvolvimento organizacional que visem à contratação de pessoal adequado e o
desenvolvimento de habilidades específicas que contribuam para a formação desse
vínculo de forma saudável. Também poderá colaborar com o tratamento do
paciente e minimizar a influência negativa que o mesmo provoca na saúde do
profissional.
Logo, esta categoria busca a exposição da percepção dos profissionais
entrevistados acerca de quais competências eles consideram necessárias para o
trabalho dentro das Comunidades Terapêuticas. Para tanto, esta categoria foi
dividida em três subcategorias (competências técnicas, competências emocionais
ou afetivas e competências racionais ou intelectuais) que correspondem ao modelo
de competências proposto por Pierry (2006).
O quadro a seguir apresenta a forma como essas subcategorias foram
organizadas.
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Quadro 3: Subcategorias das competências e itens relacionados
Subcategorias Competências percebidas pelos profissionais como
necessárias
- Competências técnicas Capacitação
Atualização constante
Cursos
Curso técnico sobre dependência química
Conhecimentos de fármaco
Estudar sempre (graduação, pós, mestrado, doutorado,
etc.)
Experiência com adicção
- Competências
emocionais ou afetivas
Amar/gostar de trabalhar com dependentes químicos
Se colocar no lugar do outro/ empatia
Ter o desejo de ajuda ao próximo
Compaixão/misericórdia
Espiritualidade/ Esperança
Comportamento ético
- Competências
racionais ou intelectuais
(soma e potencialização
de competências
distintas)
Escuta ativa
Participar de grupos
Participar de reuniões
Acolher o outro
Ter envolvimento com o trabalho e pacientes
“Dom” /Transcendência
Estrutura Emocional/ Assertividade
Fonte: (PIERRY, 2006) e entrevista realizada com profissionais da C.T A e C.T B,
agosto/2007.
Dos seis profissionais entrevistados, dois não destacaram as competências
técnicas como essenciais para os profissionais que trabalham nas CTs, já os
demais ressaltaram a importância de se manter atualizado, fazer leituras
constantes, estar sempre estudando, ter capacitação, curso técnico em
46
dependência química, conhecimento de fármacos, entre outras. Apenas um
profissional destacou as competências técnicas como as principais responsáveis
por um trabalho efetivo.
Dentro desta subcategoria a importância maior foi dada ao movimento de
estar em constante estudo.
“Eu creio que assim, ele (profissional) precisa ter a técnica, sabe, pelo menos ter a noção do que é dependência química, o que é a tolerância, quais podem ser as causas de alguém que vai buscar o alívio nas drogas, que busca a auto-estima nas drogas, ele precisa ter esse entendimento em primeiro lugar, se informar, cada vez estudar mais [...]” (S. 3).
“[...] eu acho importante fazer cursos, fazer pós-graduação, doutorado, mestrado, estudar, ler livro, se informar, ver as coisas novas que estão surgindo [...]” (S. 1).
Gadbem (2004) afirma que é imprescindível uma equipe adaptada
emocionalmente, devido às peculiaridades do tratamento dos adictos. Em nossa
amostra, também todos os profissionais consideraram as competências
emocionais ou afetivas como fundamentais em seu trabalho.
Entre estas competências está a capacidade de ter empatia, compaixão e
guardar segredos, que apareceram não só na entrevista como também nas normas
das CTs. Porém, as mais destacadas foram amar e gostar do trabalho, como
exemplificado nas falas abaixo:
“Em primeiro lugar ele (profissional) tem que gostar. Ele tem que gostar de trabalhar com dependente químico” (S. 1).
“Primeiro de tudo é amar aquilo que faz né, a segunda é saber que há ônus, e nesse ônus, os benefícios e também há muita responsabilidade [...]” (S. 4).
A ANVISA (RDC N°101/2001) atribui como função da Comunidade
Terapêutica oferecer uma rede de ajuda para o processo de recuperação dos
adictos. Tal idéia já foi incorporada no discurso dos profissionais, pois este aspecto
foi ressaltado como primordial nessa área em vários momentos da entrevista.
Consideramos que este item deve ser entendido aqui como uma competência
emocional, pois este desejo faz parte das características da personalidade do
47
indivíduo, que é situado por Pierry (2006) como uma competência emocional ou
afetiva.
“[...] você tem que ter dentro do teu coração, pra trabalhar com o dependente químico, um desejo de ajuda ao próximo [...]” (S. 5).
A espiritualidade, no sentido de religião, também é um princípio destas
instituições, porém a enquadramos em competências emocionais porque no
momento em que os profissionais descrevem esta espiritualidade, o fazem em
caráter deste tipo de competência, trazendo principalmente a questão da
esperança, que é importante para os profissionais que trabalham em CTs, devido
ao fato do índice de recuperação ser baixo, como explanado anteriormente.
“[...] o terceiro ponto importante é a questão da espiritualidade né, que se você não tem esperança, sabe, se não tem onde desabafar, onde ter fé fica muito difícil, até porque para o dependente químico, a questão da espiritualidade passa a ser muito importante [...]” (S. 3).
As competências racionais ou intelectuais foram destacadas por três dos
entrevistados, e dois deles consideraram-nas como as principais competências
necessárias para o trabalho com adictos. No entanto, esses dois profissionais
ressaltam esse tipo de competência como Dom, algo divino, porém, o descrevem
como uma combinação de competências técnicas e emocionais, caracterizando,
portanto, uma competência racional, pois exige a técnica específica para o
trabalho com dependência química, mas também exige a empatia por parte do
profissional, assim como o acolhimento e o envolvimento dos profissionais em seu
trabalho com os internos.
“[...] às vezes o paciente chega aqui todo quebrado, todo arrebentado [...] ele quer ser acolhido! Ser ouvido!” (S.2).
“[...] eu digo dom, [...] pra comunidade terapêutica, pro trabalho com adictos, tem que ter dom, e isso é de Deus, isso é divino, é algo que você não nasce, você entende que a partir do momento que você elabora, você trabalha, você percebe valores cristãos [...]” (S. 5).
“Tem que ter dom, tem que ter dom sabe, por mais que tu tenha toda a parte técnica né, você tem que ter realmente um
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envolvimento com aquilo ali, tu tem que ter amor, porque são seres humanos, são vidas né, não é um prontuário [...] a escuta ativa né, tu tem que ouvir, porque muitas vezes tu não consegue falar nada, mas só o fato de estar ouvindo e daquele paciente estar se ouvindo falar [...]” (S. 2).
Ferreira et al. (2005) ao assinalar alguns padrões de comportamento que são
eficientes durante o tratamento, destaca a importância de se estabelecer um
relacionamento de confiança com o paciente, não criticando ou menosprezando o
seu comportamento e oferecer apoio.
A escuta ativa, que também foi ressaltada na fala acima, abrange a técnica
específica da escuta ativa, mas também exige do ouvinte a empatia, para entender
e conseguir se colocar no lugar do outro no momento em que ele precisa desta
compreensão.
De acordo com Fontanella e Turato (2002), os próprios internos desejam a
compreensão, a conversa, a preocupação e os cuidados por parte dos profissionais
da saúde, e que os mesmos sejam experientes e bons ouvintes.
Voltando ao termo Dom, este também é considerado como uma capacidade
de transcendência por parte do profissional, que muitas vezes precisa entender em
um gesto agressivo do interno um pedido de ajuda.
“[...] você diz 500 sim, o não seguinte derruba você, ele (interno) vem e diz que você não presta, que você não gosta, e mesmo você tentando ajudá-lo, e você transformar, enxergar que isso é uma angústia, é um grito de socorro, que é algo tipo: eu não consegui fazer, me ajuda mais um pouco? Isso é Dom” (S.5).
Este aspecto envolve também a assertividade que se constitui na estrutura
emocional dita pelos profissionais em outros momentos da entrevista.
Os adictos geralmente não se satisfazem ao ouvir um “não”, isto apenas
desperta sua raiva, por isso, há a necessidade de uma equipe adaptada
emocionalmente e que tenha uma postura assertiva, para atingir a reeducação dos
hábitos dos internos de forma efetiva (GADBEM, 2004; MAIA, 2003; SOLANO,
2007).
Classificamos também: “Participar de grupos e reuniões” nesta subcategoria,
pois o profissional adquire a técnica, mas ao mesmo tempo precisa estar disposto, e
49
ter a iniciativa para procurar estes grupos e reuniões. Este aspecto foi considerado
por apenas um profissional.
“[...] eu acho importante [...] participar dos grupos, participar das reuniões que tem fora, que a Prefeitura, que o Ministério da Saúde oferece [...]” (S.1).
Em geral, Pierry (2006) descreve as competências como flutuantes, ou seja,
elas se ajustam às necessidades emergentes da organização ou do ambiente. A
necessidade da existência de uma determinada competência está ligada ao espaço
de responsabilidade em que o profissional está envolvido. Portanto, o
desenvolvimento dos indivíduos, no contexto organizacional, é fundamental para
desenvolver características da personalidade que tornem o indivíduo competente
dentro de sua área de responsabilidade.
5.5 Fatores organizacionais intervenientes na saúde do profissional
Esta categoria emergiu a partir das respostas da última pergunta da
entrevista. Ainda que esta questão tenha alcançado seu objetivo de verificar em que
hierarquia ocorre a influência do vínculo entre paciente e profissional na saúde
deste último, e contextualizá-la, dos seis entrevistados, quatro destacaram os
fatores organizacionais como os maiores responsáveis por influências negativas em
sua saúde. Como o modo em que ocorre a influência do vínculo entre profissionais
e pacientes sobre a saúde do profissional também depende do contexto
organizacional em que estes estão inseridos, considerou-se de extrema relevância
caracterizar estes fatores percebidos pelos profissionais como influenciadores
constantes em sua saúde.
Schneider et al. (2004) em sua pesquisa realizada em Comunidades
Terapêuticas localizadas em Florianópolis, destacam que muitas não possuem
todos os recursos necessários para seu funcionamento, estando até mesmo fora da
determinação da ANVISA (RDC N°101/2001).
Na CT esta falta de recursos é constantemente mencionada pelos
profissionais, que alegam faltar infra-estrutura para o trabalho, como veículo, meios
50
de comunicação (telefone fixo, celular, entre outros), curso de formação para os
monitores, médico, e maiores recursos financeiros para poderem colocar seus
ideais de trabalho em prática. Em algumas situações, os profissionais utilizam-se de
recursos próprios para sanar estas dificuldades como, por exemplo, utilizar o próprio
veículo para satisfazer as demandas dos internos. Este aspecto é evidenciado com
maior freqüência na C.T A.
“A gente tem uma construção também que vai ter uma sala para trabalhar com grupos, vai ter uma sala para capacitação, para aula de computação [...] faz seis anos que está parada [...]. Levar eles pra conhecer outros lugares, que nem fazer uma visita ao zoológico, fazer algum curso, então para levar esses pacientes pra buscar exames, fazer exames, então a gente precisaria de alguma coisa, um contrato, um convênio” (S.1).
Esta defasagem também ocasiona conflitos entre a equipe de profissionais
da C.T A, pois os monitores se baseiam principalmente em práticas religiosas, e
muitas vezes não aceitam as práticas científicas.
“[...] às vezes a gente tem uns arranca rabos assim, tá complicado! Eu acho que a equipe teria que falar a mesma língua, teria que tá caminhando junto, e é difícil ter uma equipe coesa, é bem complicado, uma equipe às vezes que não é bem capacitada, que não tem uma formação. Então eu acredito que teria que ter uma formação também para os outros membros (monitores)” (S.2).
A intervenção dos profissionais desta área deve ser clara e precisa, e a
comunicação entre os membros da equipe deve ser única. No entanto, muitas
Comunidades não possuem nenhum quadro técnico especializado, são conduzidas
somente por membros de entidades religiosas e/ou por usuários em recuperação
sem especialização técnica na área (GADBEM, 2004; SCHNEIDER et al., 2004).
Já na C.T B os profissionais afirmam que a equipe é unida e bem adaptada,
pois há apoio mútuo, confiança e sinceridade entre os membros. É até mesmo
apontada como fator de motivação no trabalho.
“[...] nós nos preocupamos muito em ter uma equipe forte, onde se pode falar verdade, onde se possa muitas vezes brigar até, mas que a gente possa estar ali, muito forte, para que as coisas que
51
vem de fora, dos alunos, não mexam com a nossa equipe [...]” (S. 3).
Ainda que tenhamos destacado o excesso de carga horária dos profissionais
como conseqüência do vínculo com o interno, ele também se constitui em um
aspecto organizacional, no sentido de que a CT induz os profissionais a esta
sobrecarga, e há defasagem no quadro de pessoal.
“[...] tem só três monitores e é pouco para ficarem 24 horas com eles [...] os monitores vem reclamar, a gente sabe da dificuldade, porque eles ficam cansados de ficar o tempo todo com eles também [...]” (S.1).
“[...] uma dificuldade que existe não só aqui nessa comunidade terapêutica, como em todas as outras é de sugar o profissional, pode ver aí que eu faço muitas coisas diferentes né [...]” (S.3).
Os entrevistados relatam a necessidade, não suprida pela CT, em
proporcionar medidas que sejam capazes de dar suporte aos profissionais em seu
trabalho, e que promovam a saúde dos mesmos. Como exemplo temos o relato de
três profissionais que destacaram sentir a necessidade de ter um acompanhamento
psicológico para conseguirem trabalhar de forma mais saudável. No entanto, o
único profissional que tem esse acompanhamento, o faz utilizando-se de recursos
próprios para financiar os atendimentos.
“[...] nós cuidamos deles, e na verdade nós precisaríamos de alguém que nos cuidasse, que nos ouvisse também, e isso é muito difícil [...]” (S.5).
“[...] eu sinto uma necessidade muito grande de ter um acompanhamento com um profissional, fazer uma terapia [...]” (S.1).
“[...] eu tenho terapia, eu tenho supervisão [...] acho que isso é fundamental para trabalhar em comunidade terapêutica [...]” (S.3).
Mesmo com estes problemas de infra-estrutura que sofrem as CTs, os
profissionais se sentem especiais por trabalharem nesta modalidade de
atendimento. Há também, um carinho especial pelos profissionais da C.T B, ao
falarem desta comunidade, mais especificamente.
52
“[...] trabalhar na comunidade terapêutica, com dependente químico, com o que a sociedade exclui, com um ramo que ninguém quer, que são poucos que fazem, que tem coragem de trabalhar nessa área, eu me sinto privilegiado [...]” (S.5).
“[...] essa nossa equipe, essa nossa comunidade aqui é muito especial [...]” (S.3).
“[...] a sociedade puxa o tapete, ela sobe em detrimento ao teu sucesso, te derruba, tipo assim, os fins justificam os meios, aqui é bem ao contrário, o nosso fim maior é que ele possa ter oportunidade de reinserção [...]” (S.5).
É possível entender essa visão de CT como um lugar “especial” e a
sociedade como “perversa”. É propício retomar aqui o princípio das Comunidades
Terapêuticas, que surgiram a partir de uma necessidade social, como resposta a
alguns fenômenos de exclusão que a sociedade hoje pratica, além de oferecer um
ambiente protegido, técnica e eticamente orientados, resgatando a cidadania e
buscando a reabilitação e a reinserção social (ANVISA, RDC N°101/2001; ALVES,
2006).
53
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como objetivo investigar a percepção dos profissionais de
Comunidades Terapêuticas localizadas no município de Itajaí, sobre a relação entre
sua saúde no trabalho e o vínculo que é estabelecido com os pacientes.
Pode-se observar que todos os profissionais entrevistados realizam
atividades que abrangem o contato direto com os internos, e a prestação de
cuidados aos mesmos.
As atividades desenvolvidas nas CTs, como o acolhimento, a conversa, a
escuta, fazem parte da rotina de todos os profissionais da saúde,
independentemente de sua formação ou cargo. Estas atividades propiciam a
formação de um vínculo predominantemente afetivo, essencial para o trabalho
eficaz nas Comunidades, mas que muitas vezes interfere até mesmo na esfera
familiar, indo muito além do caráter profissional.
Observa-se, portanto, indicadores de desequilíbrio entre vida pessoal e
profissional, o que pode apontar indícios de baixa qualidade de vida no trabalho.
Outro ponto que corrobora para tal questão, é que após a formação desse
vínculo, é difícil para os profissionais controlar as emoções inerentes a ele, ou pelo
menos, saber como proceder com estas emoções de forma saudável. Os
entrevistados sentem pelos internos carinho, amor, amizade, compaixão, entre
outros sentimentos que sempre permitem duas maneiras de serem vivenciados, a
positiva e/ou a negativa.
Todos os profissionais entrevistados consideraram aspectos muito positivos
decorrentes deste vínculo. Estes aspectos não foram encontrados na literatura
pesquisada, porém foram considerados pelos profissionais como essenciais para
seu trabalho, proporcionando, por exemplo, a motivação, a realização profissional e
pessoal, e a esperança, ainda que lamentem por serem poucos os adictos que
conseguem viver em abstinência.
No entanto, não há como ignorar os aspectos que prejudicam os profissionais
em sua saúde física, mental e social, quando os mesmos alegam sentir dores
aparentemente “sem causas”, sentirem-se tristes, “depositários e carregadores de
54
cargas vivenciadas como muito pesadas”, excederem-se em seus horários
alegando que os internos precisam de sua ajuda, se ausentarem do convívio
familiar em função da necessidade de seus pacientes e da própria CT, entre outras.
Alguns fatores presentes no cotidiano dessas instituições contribuem para
esta situação, como o déficit em sua estrutura, que abrange a necessidade de:
capacitação para todos os profissionais; número de profissionais suficientes para
atender a demanda; apoio por parte da CT aos profissionais; materiais para o
trabalho (aspectos estes evidenciados principalmente na CT A); entre outros que
necessitariam de maior investigação. Salienta-se que este aspecto não foi
abrangido nos objetivos desta pesquisa, mas não poderiam ser desconsiderados, já
que foi conteúdo manifesto constantemente na fala dos profissionais.
Por outro lado, ainda que nem sempre satisfatórias, algumas medidas para a
prevenção dos aspectos negativos decorrentes do vínculo com os paciente são
adotadas pelos profissionais, como a união entre os membros da equipe de
profissionais da saúde; a busca de atualizações; leituras; apoio em sua família; em
Deus; no momento da contratação, selecionar pessoas com determinadas
competências, como boa capacidade para lidar com frustração e impotência.
Outras competências também são destacadas como fundamentais no
trabalho com adictos, tanto no sentido do bem estar do profissional, mas
principalmente para a eficácia do tratamento. Nesse sentido, as competências
emocionais foram as mais indicadas.
Algumas medidas previstas para os profissionais que trabalham com
drogadição, discutidas na Comissão para o desenvolvimento de Estratégia Nacional
de Combate à Droga de Portugal (1998), apesar de serem pensadas para promover
o combate à droga, também podem ser adotadas visando o bem estar do
profissional. Essas estratégias são: a formação inicial no domínio das drogas nos
planos de estudos das áreas profissionais relevantes; programar e organizar a
formação dos profissionais intervenientes; constituir sistemas de troca permanente
de experiências de intervenção e de métodos de avaliação; concretizar programas
de formação que quebrem o isolacionismo disciplinar e profissional; desenvolver
55
competências para o trabalho em equipe; planejar ações de formação em torno de
problemas emergentes e constituir uma Unidade Permanente de Formação.
Conclui-se, portanto, que o vínculo afetivo entre profissionais e pacientes é
necessário não só para a eficácia do tratamento, mas também para, de um modo
geral, a realização dos profissionais. No entanto, as CTs carecem de maior
infraestrutura para suprirem as demandas dos internos e dos profissionais.
Sobre os profissionais, uma alternativa seria a implantação de programas de
desenvolvimento de pessoal, focando, por exemplo, o desenvolvimento das
competências emocionais e técnicas, para transformá-las em competências
racionais, e assim, garantir maior eficácia no trabalho, mas também, suporte e
estrutura aos profissionais subsidiando-os na busca de estratégias de
enfrentamento saudáveis para vivenciar as situações consideradas de difícil
manejo.
Outra estratégia a ser adotada como forma de suporte para os profissionais,
se constitui na formação de redes de apoio, que podem propiciar um espaço para
que haja troca de experiências, e conseqüentemente, busca de soluções mais
eficazes no dia-a-dia de trabalho, diminuição da ansiedade e angústias,
compartilhamento de vivências, entre outros.
Sabe-se, que as Comunidades pesquisadas tem forte cunho religioso. Tal
aspecto pode influenciar tanto na maneira como os profissionais se colocam no dia-
a-dia de trabalho, e nas relações formadas dentro dele (profissionais/profissionais,
pacientes/profissionais), quanto em como os profissionais lidam com estas
situações. Logo, este aspecto necessita de maiores investigações.
Há a necessidade, também, de maiores investigações e pesquisas acerca
tanto da infraestrutura destas organizações, como a respeito das possibilidades de
implantação de programas de apoio para os profissionais, no sentido de pensar em
alternativas eficazes, mas reais, para o benefício destes. Estas possibilidades
devem ser construídas através da escuta dos próprios profissionais que trabalham
nas CTs, sobre o seu cotidiano, buscando meios saudáveis para a realização de
seu trabalho.
56
7. REFERÊNCIAS BIBILOGRÁFICAS
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (ANVISA). Resolução da Diretoria Colegiada: N°101/2001. São Paulo: ANVISA/SENAD, 2001.
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60
8. APÊNDICES
8.1 APÊNDICE - ROTEIRO PARA ENTREVISTA
Dados de identificação:
Sexo:
Escolaridade:
Área de atuação:
Tempo de serviço na instituição:
Tempo de serviço na área da saúde:
1. Quais as atividades que você desenvolve no dia-a-dia de trabalho?
2. Descreva o vínculo que é estabelecido entre você e o paciente.
3. Como você avalia a influência do vínculo estabelecido com os pacientes em
sua saúde no trabalho?
4. Quais competências o profissional da saúde deve possuir para trabalhar com o
tratamento de adictos?
5. Você considera que algum outro fator do seu trabalho na instituição influencia
mais na sua saúde no trabalho do que o vínculo estabelecido com os
pacientes? Qual /ou quais?
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8.2 APÊNDICE - QUESTIONÁRIO AOS COORDENADORES
1- Qual é o tempo máximo de internação?
2- Quantos residentes estão atualmente na instituição?
3- A equipe de saúde é composta por quais e quantos profissionais?
4- Qual o total de funcionários hoje, na instituição?
5- Após a alta do paciente, a instituição ainda faz acompanhamentos para a
manutenção do tratamento?
6- Qual a rotina dos residentes (tarefas, atividades, atendimentos...)?
7- A Comunidade possui princípios e normas que regem seu funcionamento?
(Regimento interno)? Quais são eles?
62
8.3 APÊNDICE - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado(a) para participar, como voluntário, em uma
pesquisa. Após ser esclarecido(a) sobre as informações a seguir, no caso de aceitar
fazer parte do estudo, assine ao final deste documento, que consta em duas vias.
Uma delas é sua e a outra é do pesquisador responsável. Em caso de recusa você
não será penalizado(a) de forma alguma.
INFORMAÇÕES SOBRE A PESQUISA:
Título do projeto: Vínculo Profissional-Paciente e Saúde do Trabalhador: Um estudo
com profissionais da saúde de Comunidades Terapêuticas localizadas em Itajaí/SC
Pesquisador responsável: Sueli Terezinha Bobato
Telefone para contato: (47) 3367 7447 ou 9909 6139
Pesquisadora participante: Aline Yohana da Silva
Telefone para contato: (47) 3363 0879
A pesquisa intitulada: Vínculo Profissional-Paciente e Saúde do Trabalhador:
Um estudo com profissionais da saúde de Comunidades Terapêuticas localizadas
em Itajaí/SC, objetiva investigar a percepção dos profissionais da saúde que
trabalham em Comunidades Terapêuticas, a relação entre sua saúde no trabalho e
o vínculo que é estabelecido com os pacientes; descrever atividades desenvolvidas
por estes profissionais; identificar o tipo de vínculo que é estabelecido com os
pacientes; investigar a influência do vínculo estabelecido com os pacientes na
saúde do profissional; investigar as competências necessárias na sua atuação com
os pacientes.
Será utilizado o método qualitativo, por meio de uma entrevista semi-
estruturada a partir dos objetivos pré-estabelecidos acima citados, a qual será
gravada em áudio. Os dados coletados serão transcritos da forma mais fidedigna
possível.
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Esta pesquisa não apresenta riscos, prejuízos, desconforto, lesões aos
participantes. E possibilitará uma reflexão de práticas e papéis desempenhados
pelos profissionais que trabalham em Comunidades Terapêuticas.
A partir do término da pesquisa e da elaboração da Monografia, haverá
retorno dos resultados da pesquisa, onde será entregue uma cópia do trabalho final
da Monografia para o responsável pela instituição. Também serão apresentados
aos demais participantes os resultados da pesquisa.
O período de participação da pesquisa será o mês de agosto e setembro de
2007.
Os dados coletados serão mantidos em sigilo e anonimato, os participantes
poderão ter acesso livre às informações e a participação não é obrigatória, sendo
que o sujeito tem o direito de retirar o consentimento quando quiser.
Nome do pesquisador: Aline Yohana da Silva
Assinatura do pesquisador:
CONSENTIMENTO DE PARTICIPAÇÃO DO SUJEITO
Eu, ____________________________________________________________,
RG__________________, CPF_________________________ abaixo assinado,
concordo em participar do presente estudo como sujeito. Fui devidamente
informado e esclarecido sobre a pesquisa, os procedimentos nela envolvidos, assim
como os possíveis riscos e benefícios decorrentes de minha participação. Foi-me
garantido que posso retirar meu consentimento a qualquer momento, sem que isto
leve a qualquer penalidade.
Local e data: _______________________________________________________
Nome: ____________________________________________________________
Assinatura do sujeito ou responsável: ___________________________________
Telefone para contato: _______________________________________________