Vocacao o Chamado Para Servir

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1UNIVERSIDADE METODISTA DE SO PAULOFACULDADE DE TEOLOGIAVOCAO: O CHAMADO PARA SERVIRCerlndia Aguiar BarbosaSo Bernardo do Campo, Novembro de 20032UNIVERSIDADE METODISTA DE SO PAULOFACULDADE DE TEOLOGIAVOCAO: O CHAMADO PARA SERVIRPorCERLNDIA AGUIAR BARBOSATRABALHOAPRESENTADO CONGREGAO DA FACULDADE DE TEOLOGIACOMO REQUISITOPARA CONCLUSO DO CURSO DE BACHAREL EMTEOLOGIASo Bernardo do Campo, Novembro de 20033A Comisso, tendo examinado o presente Trabalho de Concluso deCurso, o considera______________________________________________________________Prof. . Josias PereiraOrientador_______________________________Prof. Dr. James FarrisLeitor4"Ao sermos vocacionados para Vida fomos postos emsela definitiva e insupervel.Nossa vocao a partir de outras vocaes.A vida que, num ato primeiro, a ti pertence comotesouro intransfervel , na verdade, patrimniocompartilhado com tantos outros e outras que receberamo mesmo presente que ns, todavia com digitaisdiferentes.Estamos entrelaados, amarrados, aprisionados eamalgamados com outros como ns.O curioso e irnico que esta sela est com suaporta e suas janelas abertas.- O qu?Estamos presos aos caminhos de outros e somoslivres pelas mos de outros.Assim, nosso abismo mostra-se ainda mais profundo econvidativo, apaixonante e impactante."Hugo Fonseca - Hu5DEDICATRIADedico esta conquista minha famlia: minha querida me Maria,meu pai Franciscoe irmos: JoiceCirlndia eDeybid.6AGRADECIMENTOS (Valeu, pessoal !!)Agradeo a todos/as que me apoiaram, pois a amizade essencial almahumana.Aos meus pais, MariaeFrancisco, cujas vidas de lutas e dedicaopermitiram-me estudar mesmo em meio s dificuldades. s minhas irmsJoice, Cirlndia e irmo Deybid, pelas brigas e brincadeiras queembelezaram minha infncia. famlia Campanharo. Percebi que os laos familiares esto acima do vnculosangneo.Aoprofessor: Josias, meuorientador, pelapacinciae incentivo. Suaspalavras de vov marcaram minha vida.Ao professor James, meu leitor, pela ateno e cuidado na anlise deste texto.Ao professor Rui, pois suas palavras aqueceram a minha alma e corao. Sopalavras que ecoam dentro de mim apontando para minha vocao.A mestra Margarida, sempre presente na minha vida. Exemplo de humildadee dedicao. algum que fez da vida uma eterna doao. Igreja Metodista em Presidente Epitcio pela recomendao e oraes. IgrejaMetodistaemPerequ, aprendi o valor dacomunho. IgrejaMetodista em Vila Mazzei, acolhimento, carinho e reconhecimento. mestra Elena, minha pastora e amiga de jornada. Com quem pude contarnas tristezas e alegrias. Thays, menina sapeca.7 minha turma Os Hiatos, ainda que de modos diferentes, juntos sonhamose buscamos - Conseguimos!Ao nico anjo iluminado e doce que conheci na terra. Elly seu brilho nuncadeixar de cessar.A Bate-Caverna, pela alegria de brindar a constante comunho com os maisque amigos. Lugar onde aprendi o verdadeiro sentido da espiritualidade, lugarde crescimento e enriquecimento teolgicoAos amigos do Sul, Simone, Vilquer e Flvia a distncia pequena paraamizades verdadeiras.Ao Luciano Frei amigo incomparvel e ao Luis Carlos Corno amigo mor ,pelas aventuras no mundo da stima arte, e outras.Ao Joo Luiz, amigo de todas as horas, inclusive na digitao dos trabalhos.Graas a voc minha vida preto-branco ficou COLORIDA.Aos parceiros hereges da quinta regio: Renatinho da Praia, Baiano o DonJuan -,Dennis o pimentinha. Ao meu amigo internacionalSthefan omaluco doido.s minhas amigas Deborah (abelhuda), Priscila (Pr) e Cimara (Cizinha),amantes da vida e da beleza com que ela nos agracia.Aos Santos Mrtires, Hugo (s na moral) amigo e confidente, Malafaia (oprofeta), Marquinhos (ovelha), Evandro(Fifi), Carlo(deus entre oshomens), Tatuap, Geison (demnio), Joo Luiz, Deborah, Luis Carlos,Emanuel, Joo Aparecido, pela Singela Melodia dos momentos de Batida.Ao companheiro Joo Batista, pelas alegrias do caminho casa do Senhor. Vanuza, Socorro que foi bem presente nos dias de angstia.Ao amigo Giovanni pelas aventuras na Selva de Pedra.A todos/as os demais amigos/as que partilharam comigo da eucaristia da vida.Todos/as eternizados, pois sempre os levarei dentro de mim.Agradeo finalmente a Deus, que encontrei em cada uma dessas pessoascitadas aqui.8SUMRIOINTRODUO _________________________________________________ 10I. Vocao: O Ponto de Partida_________________________________ 13I.I Consideraes_________________________________________13I.II Os Conceitos de Vocao _______________________________ 15I.II.I Do Hebraico _____________________________________15I.II.II Do Grego_______________________________________16I.II.III Do Latim______________________________________ 18I.III Vocao No Catolicismo_______________________________ 19I.III.I Vocao, Carisma e Dom________________________ 20I.III.II Vocao Comum e Universal de todos/as _________22I.III.III Vocao Crist________________________________ 24I.III.IV Vocaes Especficas ___________________________ 25I.IV Vocao no Metodismo________________________________ 299I.IV.I Vocao nos Documentos da Igreja _______________ 30I.IV. II Vocao na Tradio Wesleyana_________________ 33II. Vocao na Bblia ___________________________________________ 37II.I. Introduo ao Tema___________________________________37II.II Vocao no Antigo Testamento_________________________ 39II.II.I Vocao como Chamado para Misso_____________ 40II.II.II Caractersticas comuns Presentes na Vocao _____44II.III Vocao no Novo Testamento _________________________ 47II.III.I Vocao como Chamado para Misso_____________ 48II.III.II Vocao Pastoral para o Servio________________ 51II.IV Vocao Hoje ________________________________________ 56III. Psicologia e Vocao_______________________________________60III.I Compreenso do Comportamento Humano______________ 60III.II A Contribuio da Psicologia__________________________ 61III.II.I Na Compreenso da Vocao ____________________ 64III.II.II Na Compreenso das Crises____________________ 68III.II.III Na compreenso das Crises Especficas _________71III.III Sade Integral do/a Vocacionado/a ___________________79CONCLUSO __________________________________________________ 83BIBLIOGRAFIA________________________________________________ 8610INTRODUONum primeiro momento, falar de vocao nos dias de hoje mais doque falar sobre concepes e motivaes que levam homens e mulheresa escolherem entre muitos servios um que se encaixe sempre com seuperfil. mais do que fazer um teste vocacional, pois vocao umchamado, queparamuitos podeser divino, mas umchamadouniversal para servir.Servio que proporcione a dignificao da profisso por meio da misso.Essa dimenso de dignificao no diz respeito apenas a vocao para oministrio pastoral, mas aos servios, ocupaes, tarefas, profisses que11na sua prestao de servio, de alguma forma, seja capaz de promovervida.A vocao como chamado para servir revela um horizonte novo nacompreenso da vocao, pois ela desvenda, por meio da perspectivado servio, a necessidade do agir, fazer e proporcionar ao/a outro/avida, revela tambm, queles/as que o fazem, sua responsabilidadeperante o grupo que indiretamente ou diretamente privilegiado pormeio da sua atividade exercida.Nessa perspectiva de vocao como chamado para servir, o presentetrabalho se prope a esclarecero sentido da vocao na tradiocatlica e protestante, na Bblia e na psicologia.Desta forma este trabalho foi dividido em trs captulos. O primeiroinicia-se com algumas consideraes,seguindo uma abordagem doconceito de vocao, etimologicamente no Hebraico, no Grego e Latim.No segundo momento abordada a vocao no catolicismo enquantocarisma e dom, a diferena entre vocao comum e universal, vocaocrist e vocaes especficas.No finaldeste captulo enfocada avocao no metodismo, segundo os documentos da igreja e como amesma vista na tradio wesleyana.12No segundo captulo a vocao ganha um enfoque segundo a Bblia,iniciando com uma pequena introduo ao tema, seguido de uma anliseda vocao como chamado para misso e suas caractersticas comunsde acordo com o Antigo Testamento, assim tambm, se faz a mesmaanlise da vocao como chamado para misso e pastoral para servio,desta vez, conforme o Novo Testamento.No terceiro e ltimo captulo a pesquisa volta-se para a contribuio dapsicologia observando-se,segundo ela,a compreenso da vocao,crises e de crises especficas. O captulo encerra-se como exposiosobre a sade integral do/a vocacionado/a.13I. VOCAO:O PONTO DE PARTIDAI.I ConsideraesO termo vocao aplicado na literatura teolgico-pastoral- tantodentro da tradio catlica quanto da protestante - para especificarapenas um chamado peculiar ou particular, o chamado divino. Dentrodessa dimenso religiosa a palavra sofre um certo reducionismo porrepresentar apenas um carter sobrenatural, fugindo da dimenso maisconcreta da vida humana. Essa dicotomia da palavra vocao d-se aofato de que ochamado divino pressupe a separao/consagrao14daquele/a que recebe o chamado de Deus, no caso especfico do/apastor/a ou o/a sacerdote/isa (vocao religiosa ou sacerdotal).A palavra vocao como chamado trs uma srie de dificuldades parasua compreenso, primeiro por caracterizar a vontade absoluta de Deussobre o querer e agir humano. No segundo momento a palavra sofregrande influncia cultural como histrica, sendo dificlimo entender o seusignificado primeiro.Quanto influncia cultural sobre o seu significado, o padre VictorianoBaquero explica que para o oriental, vocao chamado especial parao ocidental, uma funo, um cargo, para realizar o bem comum dasociedade1.O uso da palavra vocao, como se v, no to simples como sepensa. Antes de solucionar qualquer questo primordial necessriodelinear alguns aspectos importantes no problema em torno da palavravocao. Desta forma preciso saber como ela apresentada nosdicionrios, qual seriaoconceitodas diferentes culturas, comoapresentada pela tradio protestante e catlica e como apresentadapelas razes etimolgicas.1Vitoriano BAQUERO, Tenho vocao? orientaes metodolgicas, p. 8.15I.II Os conceitos de vocaoI.II.I Do HebraicoDo verbo e da raiz ad""q" (qr ) chamar, avisar, citar, convocar,convidar,recrutar, nomear,denominar,anunciar, proclamar,gritar,clamar, invocar, apelar, chamar nominalmente, , ter o sobrenome de2.Segundo Coppes, a raiz ad""q" significabasicamente a enunciao de um vocbulo oumensagem especfica. No caso deste ltimo uso, aenunciao dirigida geralmente a um receptorespecfico com objetivo de obter uma respostaespecfica (por conseguinte,pode-se traduzir overbo por apregoar, convidar). Umas poucasvezes qr denotasimplesmenteumclamor(e.g., SL 147.9: Is 34.14) (...) Os sinnimos queaparecemcommaior freqncia so ts/zaaq,shwa, clamar urgentemente por ajuda (Jr20.8)3.O verbo (qr) tambm indica quando um nome especificado, ou sejaquando Deus nomeia algum.Aquiigualmente fica subentendida aseleo para uma determinada tarefa.2Luis Alonso SCHKEL, Dicionrio bblico hebraico-portugus, pp. 588 589.3Leonard J. COPPES, Dicionrio Internacional de Teologia do Antigo Testamento, p. 1364.16Quando o verbo (qr) usado como substantivo (miqr) denotando ochamado para umservio especfico, designa primeiramente umaconvocao pblica ou de carter exclusivamente religioso; numsegundo momento faz aluso a uma leitura feita em alta voz. A raizcomparada com o sinnimo md significa hora marcada ou encontromarcado4.I.II.II Do GregoDo verbo koce (kaleo) chamar - falar a algum diretamente ou pormeio de um intermedirio; suas variaes: o substantivokqoi (klsis), chamada, convite ato de convidar, seria umaconvocao oficial feita por meio de uma autoridade, quando feita porum poder militar ou assemblia convocar; o adjetivokqt (kltos), chamado, convidado etc.SegundooDicionrioTeolgicoInternacional de TeologianoNovoTestamento, as palavras kale e klsis no grego clssicoraras vezes se empregampara umavocaodivina.Este uso mais prximo das religiesmsticas (e.g.a sis),da influncia da LXX,e4Id. Ibid, p. 1365.17especialmente do emprego no NT. A partir da,kale toma sobre si as idias de reclamar parasi (Herm., 119 B III, 10-11) ecomissionamento (CPR18, 9). Emcontrastecom esta vocao pessoal, os esticos entendiamklsis de modo impessoal, significando aexigncia que uma posio crtica faz dele, nosentido de ele manter a veracidade e o poder dosseus princpios (cf. Epict., Dissertaes,1,29,49)5.Na sociedade grega o conceito de vocao no era entendido comochamada, mas era ligada a atividade exercida por algum dentro dasociedade. Seria uma funo ou trabalho exercido por algum. O termovocao permanecia restrito a sacerdotes, e, at certo ponto, quelesque se dedicavam as tarefas intelectuais e administrativas6.Conforme M. Moreno Villa, o grego clssico desconhece queas palavras koe (chamar) e kqoi (chamado)no tm significado primeiramente religioso. Poroutro lado, o sentido de vocao interpessoal queencontramos na tradio religiosa bblica desconhecido por completo no mundo grego (...)7.Quando o termo kale (o que ocorria raras vezes), aludia a chamada,referia-se ordem, nunca um simples convite. Assim sendo, a resposta5Coenen LOTHAR & Colin BROWN, Dicionrio Teolgico Internacional de Teologia no Novo Testamento,p. 350.6Id. Ibid. p. 350.7Dicionrio de Pensamento Contemporneo, p. 776.18ao chamado era necessrio. Quanto a resposta, o ser humano era livreapara obedecer ou no.I.II.III Do LatimDo latim vocare, que significa chamar. Segundo Jos Lisboa Moreirade Oliveira importante entender a etimologia da palavra vocaopara que se possa compreender de forma inequvoca seu contedo maisprofundo.Seguindo este princpio, Jos Lisboa Moreira de Oliveira afirma:A palavra vocao deriva do verbo latino vocare,que significa simplesmente chamar. Ela , pois,a traduo do termo vocatione, que por sua vezquer dizer chamado, chamada, convite, apelo. Pordetrs de todos esses termos est a raiz vox,vocis, isto , voz. Portanto, vocao quer dizerto-somente chamamento ou chamado. Nadamais!8.O Dicionrio Teolgico da Vida Consagrada acrescenta definio citadaduas liberdades: Deus, possuidor da liberdade absoluta, aquele quechama; o homem e a mulher seriam a liberdade humana, aquele/aque recebe o chamado. Seguindo o raciocnio proposto pelo presente8Jos Lisboa Moreira de OLIVEIRA, Teologia da vocao: temas fundamentais, p. 19.19dicionrio, toda vocao autntica ou chamado autntico iniciativa deDeus. Contudo h a preocupao de no reduzir a vocao apenas aomomento inicial do chamado divino e muito menos simples respostado homem e da mulher9, para que esse erro no ocorra, a vocaoseria entendida como conseqncia de um dilogo entre Deus e o serhumano.Por meio desta definio possvel discernir que a vocao no se reduzexclusivamente a aptido, contudo ela revela uma conotao demistrio, algo transcecedente. Seria pensar a experincia religiosa apartirda vocao,que s poderia serentendida a partirde umarealidade teolgica.I.III Vocao no CatolicismoO catolicismo reconhece a presena de uma vocao universalparatodos/as, contudo destacam-se dentro deste chamado universaldiferentes vocaes: a) vocao comum e universal de todos/as; b) avocao crist; c) vocaes especficas10. Antes de analisarcomo ochamadoou vocaose despecificamente emcadaitemdessa9Dicionrio Teolgico da Vida Consagrada, p. 1143.10Id. Ibid. p. 1168.20subdiviso, necessrio esclarecer que ela provm, antes de qualquercoisa, do entendimento sobre carismas e dons.I.III.I Vocao, carisma e dom possvel verificar que a vocao fundamental humana e crist, se vivede formas bem distintas e particulares. Essa diversidade do viver avocao d-se pelo reconhecimento de carismas, qualidades e donsdistintos dentro da vocao universal que tem como objetivo favorecer obem comum, a vida. Nessa perspectiva Jos Lisboa Moreira de Oliveiraargumenta que esses carismasso totalmente diferentes uns dos outros.Praticamente no existem carismas iguais, pois acada um dada a manifestao do Esprito esempre conforme ele quer (1Cor 12,7.11).Pode-se igualmente pensar numa simultaneidadede carismas, que no deve ser vista apenas comocoincidncia, no sentido de que vrios carismasdiferentes coexistemao mesmo tempo numacomunidadeounumapessoa. Aissotambmpodemos chamar sincronizao, isto , a relaoque perpassa,queacontece entre eles, numaautntica interao. Ocarisma no algoindependente, autnomo, s existe na relao deinterdependncia com os demais: O olho nopodedizer mo: Noprecisodeti. Nemtampouco a cabea aos ps: No necessito devs (1Cor 12,21)11.11Jos Lisboa de OLIVEIRA, Op. Cit. p. 19.21Seguindooconceitoacimaficaquasequeimpossvel existir umacomunidade sem o carisma. Os carismas no so especificamente donsextraordinrios, mas podem existir como dons mais extraordinrios ecarismas mais ordinrios.Conforme Jos Dias Goulart o carisma suscita um servio ou ministrioeclesial, que possuem qualidades distintas, porm inseparveis. um servio bem determinado, como acatequese, o ensino, a enfermagem, acoordenao pastoral; um servio perptuo oude certa durao, e no apenas momentneo; confiado pela comunidade a uma pessoa ougrupo12.Esse esclarecer do que seria dom e carisma indispensvel porquedentro do catolicismo impossvelfazer referncia a vocao semabordar o tema de carisma, pois este se entrelaa por completo aodinamismo da vocao.Com as definies dadas sobre carisma e dons aclarou de como os doistemas confundem-se. Contudo possvel a partir dos dados das citaesdefinir: a) dom seria o talento inato, prprio de cada indivduo, suacapacidade pessoal; b) carisma seria o dom somado a ao de Deus que12Jos Dias GOULART, Vocao: convite para servir, p. 61.22 evidenciado por meio do ministrio/servio; c) vocao seriaoestara servio de Deus, ou seja, a especificidade do chamado para. Ambosno possuem como fim em si mesmos, mas existem para misso, essa sua finalidade.I.III.II Vocao comum e universal de todos/asO ser humano chamado primeiramente para viver sua existncia queimplica na sua liberdade de escolha. O ser humano faz parte de umacriao, a criao de Deus. Ele uma criatura no como outra qualquer, um ser social e consciente que no encontro com o outro encontra a simesmo.Essa vocao comum o chamado vida, bem expressa no dicionrioLexicon:A primeira grande vocao identifica-se com ochamado vida. Toda vida vocao, e por essavocao, que pessoal, a pessoa pode viver emcomunho com Deus, torna-se capaz de dialogarcom Ele, de colaborar. A pessoa criada imagemde Deus por vocaes chamada a realizar-se nonvelindividual e comunitrio em aliana comEle13.13LEXICON: Dicionrio Teolgico Enciclopdico, p. 799.23Assim sendo, todo ser humano possui uma vocao superior vinda deDeus, que chama e cria para a vida. Essa vocao consiste em cumprirum plano do Criador traado por aqueles dons que Ele depositou nele/a.Leonardo Boff refere-se a essa vocao como sendo a concretizao daspotencialidades da personalidade humana.A tarefa da existncia desenvolver o que Deussemeou na vida de cada um.A parbola dostalentos que oSenhorentregou a cada qualsegundo a sua potencialidade (Mt25,14-30)vem aqui ao caso. O Senhor cobra de cada umem dobro os lucros dos talentos. H quedesenvolv-los, faz-los render. Traduzido: cadaum deve realizar as potencialidades que foramdepositadas no ministrio da existncia humana.Nissoestoprocessodehominizao.Oserhumano no nasceu ainda. Est sempre emgestao e por nascer. O empenho de cada um criar, com talentos que Deus lhe galardoou, a suaestatura humana. Cada um e se faz imagem esemelhana de Deus, na medida em que realizana sua caminhada pessoal a sua humanidade14.Essa vocao requer a participao do ser humano. Que ele possaresponder esse chamado para vida, aceitando a proposta de Deus parausar seus dons a servio em favor da humanidade.14Leonardo BOFF, Crise: oportunidade de crescimento, p. 135.24I.III.III Vocao cristAqui a vocao direcionada para Cristo, a unio do ser humano comCristo. O chamado do Criador dirigido as pessoas de forma individual ese finaliza por meio da salvao universal em Cristo, para quem toda ahistria converge como termo e modelo15.Esse chamado evidenciado na participao das pessoas nossacramentos da Igreja, assim Jos Dias Goulart coloca:Ora, os cristos participam dessa misso de JesusemforadosacramentodoBatismo, emaisintensamente pela Crisma. Com Jesus, elespodem e devem conduzir seus semelhantes paraDeus, e levar Deus para seus semelhantes. Nissoconsiste o sacerdcio cristo de todos os fiisbatizados16.Este chamado se concretiza na comunho com Deus por intermdio deCristo. E sendo a Igreja o sinal e mensageira do reino de Deus - ela aexpresso do desejo da trindade de se encontrar com a humanidade ... iniciativa divina, a Igreja se apresenta humanidade como lugar queDeus nos oferece para contato, para o encontro, para comunho com15Lexicon: Dicionrio Teolgico Enciclopdico. Op. Cit, p. 799.16Jos Dias GOULART, Op. Cit, p. 89.25Ele17 o lugar prprio na realizao do chamado que se faz por meiodos dons particulares.I.III.IV Vocaes especficasNo que diz a respeito s vocaes especficas, convm, antes de tudo,fazer algumas consideraes a respeito da evoluo das InstituiesMinisteriais, pois por meio dela o conceito de vocao como chamadoespecial restringiu-se apenas as autoridades eclesisticas.As vocaes especficas constituem os elementos fundamentais davidae da misso da Igreja, alm de enriquecer a mesma com a diversidadedecarismas. SeriaumtipodeservioqueDeus determinaparadesenvolver o domespecfico da pessoa. Esse servio bemabrangente, pois possui vrias reas de atuao.Contudo, por volta do terceiro sculo, com a evoluo das InstituiesMinisteriais ampliada uma noo de sucesso apostlica por SantoIrineu, bispo de Lio. Viso essa que permanece at hoje na tradioreligiosa, tanto no catolicismo quanto no protestantismo. Essacompreenso de sucesso apostlica tinha como objetivo primordial17Id. Ibid. p. 4926garantir a autencidade do ensinamento da palavra de Deus, tambmvisava uma certa legitimidade da instituio dos ministros18.Entende-se da que a figura do clrigo, sacerdote, pastor, ou seja aautoridade religiosa conexada ao processo de institucionalizao daIgreja crist e das lutas posteriores institudas dentro do camporeligioso19.Com esse processo fica fcil entender que a vocao compreendida pelocatolicismo totalmente ligada ao clero. Desta forma o chamado divinojustifica a eleio daqueles que foram vocacionados por Deus para umavida religiosa, principalmente a de ordem hierrquica.Com a realizaodo ConclioVaticano IIouveuma ampliao doconceito de vocao e houve mudanas significativas nas estruturas davida religiosa.Retratando as mudanas ocasionadas por meio do Conclio Vaticano II,Jos Lisboa Moreira de Oliveira coloca:A partir do concilio Vaticano II voltou-se aperceber a Igreja como sendo o povo reunido na18Andr LEMAIRE, Os Ministrios na Igreja, p. 60.19Leonildo Silveira CAMPOS, Contribuio das Cincias Sociais para uma Analise do Perfil do Estudante deTeologia Candidato a Pastor Protestante.Trabalho realizado para o Simpsioda Aste, onde o temadeestudo era A prtica do cuidado pastoral em instituies teolgicas. 2002. p.4.27unidade do Pai e do Filho e do Esprito Santo.Esta nova viso da comunidade eclesial contribuiumuito para re-definio da vocao, vista agoracomo chamado comunho com o Pai, pelo filho,no Esprito Santo. A partir do Vaticano II vai-seconfigurando cada vez mais esta dimensotrinitria: Cada vocao est ligada ao designodo Pai, misso do Filho, obra do EspritoSanto. Cada vocao iluminada e fortalecida luz do mistrio de Deus. Ao realar estadimenso trinitria da vocao os textos acimamostram tambm a ligao que existe entre avocao, a vida e conseqentemente aespiritualidade. A vocao passa a ser entendidacomo relacionamento pessoal com Deus vivido nointerior de uma comunidade bem concreta. Deuschama para um encontro com Ele, a partir dassolicitaes de um povo que sofre (CF. x 3,1-10;Jr 11,4-10). A vocao , pois, uma seduo(Jr 20,7), uma conquista do corao (Os 2,16)por parte de Deus, para uma vida de intimidade,de comunho com Ele. um convite para ficarcomEle, para participar da sua vida (cf.1Ts4,17;Jo 17,24;1Pd 5,1)20.Embora as mudanas provocadas a partir do Vaticano II, os religiososforam, de certa forma, nomeados os/as vocacionados/as de Deus,queles/as que so consagrados/as a fazerem uma obra muito especialde carter divino. desta forma que popularmente se v um/acristo/crist com um chamado distinto para o exerccio do ministriodentro da Igreja.20Jos Lisboa Moreira de OLIVEIRA, Teologia e eclesiologia da vocao.http://www.ipv.org.br/teologia%20e%20eclesiologia.htm.28Entretanto nota-se que o modo de entender vocao est mudando aospoucos, ela se torna paulatinamente mais abrangente, no apenas decarter religioso.Comessa aberturadentrodocatolicismo, a vocaoganhaumaconotao de envolvimento e passa a ser mais direcionada para amisso, ou seja, o compromisso com a vida.Como se encaixaria as vocaes especficas neste contexto? simples,pois o seu servio estaria na mesma dimenso da vocao universal eda vocao crist, isto , direcionadas na promoo da vida. Emboraseja uma vocao ligada a Igreja, no descaracteriza seu objetivo deenvolvimento com a comunidade, ou seja, fazer misso (servir), pormeio da promoo da vida.Na grande maioria das literaturas que retratam o tema das vocaesespecficas, elas so subdivididas para melhor dinamismo ecompreenso das mesmas. Alm do mais, cada cristo tem sua vocaoespecfica; alguns/mas so chamados/as por Deus para exercerem osacerdcio ministerial,para serem leigos/as, para terem uma vidaconsagrada, para seremministros/as ordenados/as. Essas seriamvocaes vividas e desenvolvidas na Igreja.29I.IV Vocao no Metodismooportunoesclarecer queafundamentao tericaarespeitodavocao dentro do metodismo restrita e limitada, por nodisponibilizar de estudos sistemticos, seja na rea de teologia como dasociologia. Por isso, as fontes mais viveis so os Documentos da Igreja.Max Weber fazendo aluso ao tema de vocao, na sua crtica ticaprotestante a partir da idia do capitalismo, acreditava que ometodismo como produto tardio no ajuntou nada de novo aodesenvolvimento da idia da vocao21. Talvez esse fato se deu pelasinflunciasqueo metodismosofreuao longodo seu processodeformao.Contudo, Weber noteveacessoaos DocumentosdaIgreja, queretratam e fazem uma leitura crtica sobre o pensamento de Wesleypara os dias de hoje. a partir da elaborao e prtica desses documentos que a Igreja deixade ser centralizadora e passa a ser participativa, permitindo, assim, uma21Max WEBER, A tica Protestante e o Esprito do Capitalismo, p. 101.30maior ao do Esprito Santo, j que os dons so instrumentos que oSenhor d sua Igreja para o desempenho de sua misso22.I.IV.I Vocao nos documentos da IgrejaEsses documentos no falam diretamente o que seria vocao, mas estetema, ou a sua retratao est subentendido dentro de Dons eMinistrios. No obstante a formulao do que vocao no ministriopastoral na Igreja Metodista desvenda-se, tambm, luz das tradieswesleyanas.Falar de Dons e Ministrios pensar sobre carismas e servio quepressupe de forma direta o chamado para exerc-lo.Pautando-senesta premissa verifica-se uma relao especial entre o servio, dons eministrios coma dinmica da Igreja, na sua manuteno e napropagao dos Sinais do Reino de Deus. nesta relao de comprometimento e conexidade entre dons,carismas, ministrio e Igreja que a vocao se faz presente, pois setestifica os/as que so vocacionados/as a partir da execuo do seuservio por meios de dons e carismas na promoo da misso do Reino22A Igreja de Dons e Ministrios: a viso dos Bispos Metodistas. Piracicaba, Agentes da Misso, 1991. p. 33.31de Deus. desta forma que o documento Igreja Ministerial: Desafios eoportunidades acentua o princpio da vocao.Todos os homens e mulheres que hoje aceitam aJesus Cristo, numa autntica experincia deespiritualidade comprometida, encarnam a missodo Filho de Deus, do Pastor e do Servo de Deus.Deste modo,esto a servio de Deus que osvocacionaparaamissonomundo. Opomocentral daquelas imagens o servio prestado aoReino de Deus, em face de seu chamado. Deusvocaciona e municia para as tarefas do Reino.Entende-se,por isso mesmo,que os servios,dons, carismas e ministrios distribudos peloEsprito Santo (1 Co 12.1-11; Ef 4.7-16) so asferramentas para a participao na missodivina23.Essa citao respalda que aqueles/as vocacionados/as para a misso deDeus devero ter dons que expressem servio. Servio prestado a Deuscomo ao prximo, ou seja a humanidade em sua totalidade. Wesleyentendia que de nada valia os dons sem a experincia da graa divina.Os dons para ele eram o reconhecimento do chamado do Esprito e osfrutos, a comprovao na prtica da graa e dos dons24.23Bispos da Igreja Metodista. Igreja Ministerial:Desafios e Oportunidades. So Bernardo do Campo:Imprensa Metodista, 1991.p. 35.24Colgio Episcopal da Igreja Metodista. Carta pastoral sobre Dons e Ministrios. p. 1632A retratao dos Dons e Ministrios dentro da Igreja Metodista surgepara resgatar o princpio do sacerdcio universal de todos os crentes25h muito esquecido. Cada pessoa, com seu dom, pode exercer seuministrio,promovendo a misso e o estabelecimento do Reino deDeus26.Assim sendo, um ministrio passa a ser visto, conforme o livro Dezanos de Dons e Ministrios, como:Um MINISTRIO assim, um servio que traz umbenefcio real e concreto a algum ou a algumgrupo de pessoas. Este precisamente o sentidodo ministrio pastoral e deve ser o sentido dosdiferentes ministrios dos leigos27.Deste modo, a idia de sucesso apostlica, que dava a conotao depoder/status as autoridades religiosas, foi desfeita. Como ao mesmo25Lutero Desenvolve no cenrio da Alemanha e Europa uma doutrina chamada Sacerdcio Universal dosCristos que tinha como objetivo a valorizao da participao de todos os cristos sem distino, inclusivecom os clrigos. Lutero acreditava que a viso de uma hierarquia institucionaliza era reduzir a dimenso daComunho dos Santos. Essa maneira de compreender a Igreja possibilitou uma nova forma de organizar amesma, pois, os clrigos agora eram vistos como colaboradores de uma obra maior. E o povo tambmpoderia participar juntamente com os clrigos dessa obra. Houve, desta forma, uma nova compreenso doque seria o sacerdcio, pois ele deixou de ser ligado apenas ordenao, dessa maneira, a participao dolaicato tornou-se maior, em conseqncia da sua valorizao. A partir dessa compreenso do sacerdciouniversal, todos eram vistos como que chamados a participarem do sacerdcio universal de cristo. Deacordo com esse conceito, o ministrio pastoral foi entendido como um ministrio entre outros. Assim, o dom para servio e no uma forma de ganhar status ou poder dentro da Igreja. JOSGRILBERG, Rui de Souza& REILY, D.A. A reforma da Igreja e dos ministrios. In: Dons e Ministrios, fontes e desafios. Piracicaba,Imprensa Metodista, 1991. pp. 50-53.26Clvis Pinto de CASTRO&Magali do Nascimento CUNHA, Forjando uma nova Igreja: dons eministrios em debate, pp. 34-35.27Dez Anos de Dons e Ministrios. Piracicaba, Agentes da Misso, 1995. p. 18.33tempo, a idia de cargo poder, ao contrrio dessa conotao, umMinistrio servio que deve ser exercido ao lado de outros ministrios,no conjunto do corpo de Cristo28.Ao tratar o que seria vocao dentro dos Dons e Ministrios, pressupe-se o reconhecimento de uma vocao que no se fecha aoindividualismo de uma eleio particular, mas uma vocao para amisso prevista e um servio.I.IV.II Vocao na tradio WesleyanaA vocao em Wesley encontra-se nesta dimenso de misso e, foi acrena na prtica dessa mesma dimenso que impulsionou Wesley emsua caminhada de renovao da sociedade inglesa, como tambm omanteve firme em sua vocao29. bom destacar que Wesley acreditava que quem se sente chamado porDeus no pode viver de modo algumde forma intimista ouindividualista. Por isso, a dimenso crist da vocao , ao mesmotempo, tambm uma dimenso eclesial. Deste modo, a idia de vocao28Id. Ibid. p. 18.29Francis Gerald ENSLAY, Joo Wesley, o evangelista, p. 43.34supe o servio. Essa verdade pode ser observada na frase que Wesleyfazia questo de repetir sempre:Dizia Wesley que o Cristianismo essencialmenteumareligiosocial, etorn-louma religio solitria destru-lo... O evangelhodeCristonoconheceoutrareligiosenoareligio social; nenhuma santidade seno asantidade social30.Desta maneira, averigua-se que a vocao no pensamento de Wesleypossua esse carter comunitrio e social. A vocao no desenvolvidano aspecto puramente individual ou solitrio, mas com um aspecto deenvolvimento com outras pessoas.A vocao teria aqui um aspecto coletivo, s possvel desenvolver avocao com a coletividade, ou seja, no encontro com o outro possvelviver o chamado de Deus. Esse chamado foi encarnado da forma maisprofunda na vida de Wesley e experimentado por toda uma gerao quenecessitava ser salva, no apenas da alma, mas integralmente.Ento possvel dizer que Wesley, a partir do que ele foi e significoupara a Inglaterra do sculo XVIII, foi realmente um homem30Id. Ibid. pp. 37-38.35vocacionado. Pois foi chamado para reformar a nao e espalhar asantidade de Deus por toda terra31.Todos que encarnaram esse chamado especial de Deus para reformar anao da Inglaterra,estavam vocacionados para viverem uma vidacrist dentro da Inglaterra que surtisse efeito, que apontasse os sinaisdo Reino de Deus.Wesley conseguiu encarnar na sua poca, o carter mais profundo davocao, pois ele nunca quis que o seu ministrio fosse movido s porinteresses, na verdade o seu ministrio foi sempre abdicar de algumacoisa: ele abdicou muito da carreira acadmica; ele abdicou do salrioque ganhava, retirando do mesmo, o suficiente para sua manuteno (omnimo necessrio), o restante ele doava32.Compreende-se que a vocao de Wesley tem aspectos muito prpriosde doao, de confiana no outro, confiana nos companheiros,confiana no movimento metodista, mesmo sendo rejeitado pela igrejada Inglaterra.31IGREJA METODISTA. Ecumenismo: carta pastoral do colgio episcopal da Igreja Metodista. (BibliotecaVida e Misso, pastorais, 4). p. 35.32Richard P. HEITZENRATER, Wesley e o Povo Chamado Metodista, p. 127.36Seus atos s vem testificar o seu chamado e a sua vocao para servir,proporcionando por meio do seu ministrio os Sinais do Reino de Deus,que se tornaram visveis aos desesperanosos de sua poca.Heitzenrater, de forma singela, comenta sobre a vocao de Wesley:A maneira pela qual o prprio Wesley via o seuchamado, raramente constrangida pelahumildade, estavavisivelmenteestampada emsua vida longa e ativa, e refletida na inscriogravada em sua lpide atrs da Capela na CityRoad: esta grande luz surgiu pela singularprovidncia de Deus, para iluminar estas naes,e para reavivar, reforar e defender a doutrinaapostlica pura e prtica da Igreja Primitiva, queele continuou a defender tanto por seu trabalhocomo por seus escritos, durante mais de meiosculo; e quem, para sua inexprimvelalegria,no apenas viu sua influncia se estendendo, esua eficcia sendo testemunhada nos coraes enas vidas de muitos milhares, tanto no mundoocidental como nestes reinos, mas tambm,muito acima de todo o poder e expectativahumana, viveu para ver a proviso feita,pelasingular graa de Deus, para sua continuao eestabelecimento, para a alegria das futurasgeraes (...)33.Joo Wesley foium dos grandes personagens religiosos da histria,comotambm,donossotempo.Por uma sriedecircunstncias,mostrouseucarter humano.Realmentefoi ummodelo, do idealconcreto do que seria vocao, o chamado para servir.33Id. Ibid. pp. 324 - 325.37II. VOCAO NA BBLIAII.I Introduo ao TemaPor meio da abordagem que o primeiro captulo trilhou, verificou-se quevocao muito mais do que um chamado individual, no apenas umarelao vertical, mas tem uma dimenso horizontal. Noutras palavras,seria um chamado para misso, um envolver-se com toda criao,proporcionando por meio do servio a promoo da vida em toda a suaamplitude.38Conferiu-se que nessa vocaoh o reconhecimentodos donsecarismas especiais que caracterizam o porqu do chamado divino, comotambm, seriam eles, uma fonte perceptvel para o seu discernimento.Quanto ao chamado compreendido para o ministrio dentro da Igreja, aInstituio apenas uma forma jurdica e cannica de reconhecimento eautentificao da consagrao especial que supe o chamado de Deus.(...) a Igreja entende que o carisma pastoral no apenas individual: Ele precisa dereconhecimento e sua integrao ao carisma daIgreja como uma dimenso de sua apostolicidade.Esse fato assinalado de modo visvel quando aIgreja ordena para o ministrio pastoral34.Osegundo captulo prope seguir esse horizonte apontado peloprimeiro, vocao como chamado para servir. Deus chama para umamisso, mas qual seria essa misso? Ser que esse chamado limitadoapenas numa relao entre aquele que foi chamado e Deus? Ser que ochamado de Deus totalmente claro e explicito? Ser que possvelapontar umpadro nico para determinar aqueles/as que sovocacionados/as por Deus para exercerem um certo servio?34EdlsondeAssisVOLFE, Sade Integral:umaabordagemdesdeavocaopastoralataconclusodocurso de teologia na UMESP. So Bernardo do Campo: Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, 2003.p. 60.39Com essas perguntas pretende-se verificar como procede a vocao ouchamado divino no Antigo e no Novo Testamentos. Primeiramente pode-se apontar que a esse chamado no segue um padro nico, mas hvarias reas de atuao, pois a vocao muito abrangente e dinmica.Da se d a necessidade de analisar as circunstncias do chamado deDeus e suas diferenas peculiares nas narrativas do Antigo e do NovoTestamentos.II.II Vocao no Antigo TestamentoOs relatos tpicos de vocao no Antigo Testamento so bem diferentesentre si, contudo continuamente traam um objetivo concreto dentro dahistria.Deus sempre tem a iniciativa de escolhe algum para cumprir a missode orientar o seu povo eleito. Seja qual for a dimenso que se tomepara analisaresse chamado,a nota dominante ser sempre a demisso, a do servio para o bem estar comum, ou seja, a promoohumana.40II.II.I Vocao como chamado para missoA definio de Leon-Dufour, vem de encontro abordagem de vocaocomo misso neste segundo momento da anlise do termo vocaocomo chamado para servir.Vocao, a partir da compreenso de Leon-Dufour, o chamado queDeus dirige ao homem e a mulher a quem Ele escolheu para si e quedestina a uma obra especial no seu plano de salvao, h, portanto,umaeleiodivina; noseutermo, umavontadeacumprir. Noobstante, a vocao acrescenta algo eleio e misso: um chamadopessoal dirigido conscincia mais profunda do indivduo, produzindouma reviravolta na sua existncia, no s nas condies exteriores, masno corao, fazendo dele/a um/a outro/a homem/mulher35.Na Bblia, o tema da vocao est em relaoestreita com os de eleio e misso (...) A eleioeas diversas vocaes sosempreparaumservio ou misso, dentro do projeto divino desalvao do mundo36.A ocasio em que se d o chamado de Deus varia de modelo, maspermaneceapremissadamisso. Esseobjetivoestimplcitono35Xavier S. J. LEON-DUFOUR, Vocabulrio de Teologia Bblica. p. 1099-1102.36Dicionrio Teolgico da Vida Consagrada. Op. Cit. p. 1143.41chamado de Moiss (xodo 1.8-14; 2.23-25; 3.7), Gideo (Juzes 6.1-18), Isaas (6. 1-9), Jeremias (1.1 10), Ezequiel (1.1-28 b,3 15) eoutros.Nesse processo de vocacionar possvel dizer que Deus aquele quechama, Ele que cria a situao e capacita para a determinada misso.No Antigo Testamento esse chamado sempre acontece em momentoscrticos, onde a vida ameaada e a paz rompida pela injustia. neste contexto que Deus vocaciona algum, chama e envia para missode restabelecer a ordem,resgatar a esperana perdida e a justiaabalada, dando harmonia necessria para uma vida plena.De acordo com Machado Siqueira esses momentos conflituosos servem... como pano de fundo do chamado divino,devem ser vistos como parte de todo o drama dovocacionado. Na Bblia, o motivo do chamado aameaa de vida e de paz sobre a terra.Somomentos de grande inquietao. Entretanto, aque Deus convoca pessoas para resgatarem aesperana e devolverem a justia e o bem estarna comunidade37.Seguindo esse raciocnio, Trcio Machado Siqueira, discute e analisa avocao a partir de um chamado para misso, enfatizando a37Trcio Machado SIQUEIRA, Vocao e Compromisso. In: Vocao, Ministriopara Ministrio. SoBernardo do Campo:Editeo. p. 9.42necessidade de verificar as circunstncias em que se d o chamado, pois por meio dessa investigao que se d possibilidade de tratar avocao proftica como pastoral.O sentido da vocao na Bblia, em concordncia ao artigo Vocao,Ministrio para Ministrio primeiramente(...)necessrio ao projeto de Deus;segundo,percebemos que vocao aquilo que Deus faz equerpara o bem-estardo mundo; terceiro,ochamado determinado por Aquele que chama, enunca pela experincia e deciso da pessoa;quarto, alegitimaodovocacionadovemdeDeus, e nunca da famlia, posio social, dinheiro,formaointelectual, ouqualquer outrofator.Assim,o chamado acontece num dilogocujainiciativa de Deus, em vista de uma misso quepossui uma dimenso to ilimitada quanto ouniverso e to incompreensvel quanto o amor38.A gratuidade da vida, da vocao, dos carismas e dos dons fazem parteda iniciativa exclusiva do amor de Deus que se propem liberdadehumana com infinito respeito e solicitude. Desta forma, o chamado noagride a liberdade do ser humano, visto que a vocao a originalidadedo dilogo para o qual Deus convida a todos e todas.Segundo o Lexicon a vocao vista como38Id. Ibid. p.10.43... um dom para uma misso. Deus chama cadapessoa a ser a manifestao do seu amor pelahumanidade. Por isso Deus chama para enviarcada um ao servio dos irmos determinado pelosdons particulares com que o enriqueceu (cf. Ex.3;4,1-19; LG 11; AG 2,5,36)39. significante notar que o termo kalo (koe) no seu sentido maisprofundo significa servio e dedicao. Essa vocao tem como objetivoincumbir aquele/a que foi chamado/a para uma tarefa. Esse chamadoimplicar muitas vezes no sofrimento por amor a Deus. A situao deisolamento, solido e muitas vezes antipatia provocados pela misso,trazem aos vocacionados medo e temor diante da responsabilidadeproposta pela misso. Entretanto, Deus capacita e qualifica aqueles/asque esto desprovidos/as de qualquer habilidade40.Essa misso na qual Deus chama no fica limitada apenas no espao dacomunidade eleita, no templo, mas tem uma grande amplitude. Poisexigem do/a vocacionado/a diversidades de atuao, seja no mbito dacomunidade,poltica-econmica-social,como mais estrito nacionalemais amplo, como internacional41.39LEXICON: Dicionrio Teolgico Enciclopdico. Op. Cit. p. 799.40COENEN, Lothar. Dicionrio Internacional de Teologia no Novo Testamento vl.I Op.Cit. p. 353.41Trcio Machado SIQUEIRA, Op. Cit. p. 11.44Nos relatos do Antigo Testamento, a realizao dessa misso, raramentetrouxe a nenhumprivilgio, sucesso, lucro e reconhecimento. Aocontrrio, trouxe dissabores e sacrifcios. Contudo a maior recompensa saber que diante das dificuldades enfrentadas, da solido angustiante,do no reconhecimento, houve uma vitria. O caminho da libertao foiaberto por algum que aceitou o doloroso desafio de fazer misso.Mesmo que esse no conclusse com a misso proposta, foi ele queabriu o caminho para que outro d continuidade.II.II.II Caractersticas comuns presentes na vocaoEm contra partida, o Dicionrio Teolgico da Vida Consagrada faz umacomparao dos relatos de vocao contidos no Antigo Testamento,observa-se que a partir dessa comparao possvel dizer que elesseguem uma linha bem prxima.Tendo em vista que possvel pontuar algumas caractersticas comunsentre esse chamado o referido Dicionrio faz o seguinte esquema:a) Verifica-se que em todos os relatos sobre a vocao, h umaintroduo que descreve o ambiente, as condies histricas, adata do episdio do chamado;45b) H a presena de uma revelao ou teofania. Seria a presenade Deus chamando o/a vocacionado/a para sua missoespecfica. Essa manifestao se faz por meio de uma viso ouaudio.c) H uma tarefa a fazer, necessrio cumprir uma misso.Contudo h sempre uma objeo por parte do/a convocado/a,por isso essa misso confirmada por meio da assistnciaconstante de Deus. Essa assistncia bem expressa na fraseEu estarei contigo ou por outras expresses equivalentes.d) Pela confirmao da misso. Um sinalsempre garante ao/avocacionado/a que foi Deus quem o enviou. Seria esse sinal acapacitao para o cumprimento da misso, manifesta muitasvezes por uma investidura solene, seja no sentido sacramentalou de consagrao.e) E a concluso que encerra o episdio que muitas vezes trs oresumode umtemabsico, aprovandomais umavez oobjetivo da misso e o seu carter libertador42.42Dicionrio Teolgico da Vida Consagrada. Op. Cit. p. 1144.46Essas caractersticas comuns esto presentes principalmente nosepisdios da vocao de Abrao, Moiss, Josu, Gideo, Sano, Isaas,Jeremias e Ezequiel. Em alguns momentos haver uma certadivergncia em um ponto e outro, mas na maioria o esquema propostopelo Dicionrio bem vlido.Embora o Dicionrio tenha apontado um padro nico para verificar osvocacionados por Deus ou como se d esse processo de chamado, aindaassim, no possvel dizer com toda certeza se esse esquema vlidopara todos e todas, como tambm se possvel aplic-lo para os dias dehoje.Tendoemvista quea vocaoumchamado fundamentalmentedinmico - no esttico e muito menos linear ela (vocao) no concedida ao homem e a mulher uma nica vez e j pronta, mas seconstri no dia a dia43.Entretanto, verifica-se em todos eles, a necessidade de libertao e dapromoo da vida. Coincide tambm, que aqueles/as que foramchamados/as para cumprirem essa misso, sentiam-se incapacitados/ase frgeis para faz-lo. Mas nesse ambiente de medo e temor Deusestabelece como promessa a sua companhia, estmulo e capacitao.43FernandoA. FIGUEREDO, Elementos Evanglicos e Teolgicos da Vocao. In:RevistaConvergncia.Dez, 1997, ano VI, N 64, Vozes, Petrpolis. p. 607.47Averiguou-se neste ltimo ponto,que os profetas no so apenasensinadoresdecostumes,prticasepiedade viso quesetempopularmente mas homens que fizeram conhecer publicamente vontade de Deus nas situaes mais difceis e concretas na histria deum povo que lutava para viver uma vida melhor.II.III Vocao no Novo TestamentoPara se falarde vocao no contexto do Novo Testamento,nestesegundo momento da pesquisa, conforme a sugesto do Trcio Siqueira, necessrio tirar o p de uma palavra chave, ou seja, esclarecerapstolo,palavra que tem suma importncia na compreenso davocao ou chamado de Deus.O termo apstolo (enviar ou enviar para longe), ser a palavra quedestrinchar muito da compreenso dada a vocao neste segundomomento. Apstolo no contexto do Novo Testamento uma juno dapreposio apo de (para longe), como verbo stello (colocar,aprontar).No Novo Testamento, um apstolo um enviado ouemissrio com poderes de representar quemenviou. Assim, h uma conexo direta e estreitaentre o enviado (apstolo) e aquele que o enviou.Este conceito de apstolo traduz perfeitamente o48sentido do verbo hebraico salah enviar, no AntigoTestamento44.A Igreja Crist associade forma bem clara o/a enviado/a comomissionrio/a, mas o Antigo Testamento no tem essa compreensomuito clara e sim distinta uma da outra.Overbo salah, embora no compreendido claramente no AntigoTestamento,como citado acima,tem uma funo de destaque noevento do xodo (libertao de Israelda escravido exercida peloEgito). O seu uso nesta conjuntura muito significativo, pois o seusentido est ligado concepo de misso de libertar o povo cativo eresgatar vida plena dos escravos hebreus com seus familiares. Olibertar no seria apenas livrar de um contexto de escravido, mas vaialm, a misso tambm proporcionar um novo recomear, a partir deuma terra para plantar e morar45.II.III.I Vocao como Chamado para MissoSeguindo o apontamento do item anterior, o termo enviar est ligadoao termo vocao como chamado para misso, fica, pois, evidente que44Trcio Machado SIQUEIRA, Tirando o P das Palavras. In: Mensageiro. Boletim informativo da Igrejaem Vila Mariana. 31 de Agosto de 2003.45Idem.49 impossvel desassociar a vocao como um exerccio para a realizaoda misso. desta forma que o dicionrio Lexicon aponta a vocaocomo um dom para uma misso46.Paulo Garcia em seu texto Bases Bblicas para Misso define o queseria misso e o seu carter de envio no contexto no NovoTestamento.A palavra misso origina-se do latim missio oumissiones. Osentido da palavra : enviarpara. No sentido mais amplo, a palavra denota,tambm, a idia de libertao, soltura (de umpreso) e despedida. Nessa etimologia,percebemos a relao que h de misso comenvio, partida. Deste modo, misso no umsubstantivo comum, mas denota ao,movimento. Cumprir a misso aceitar o envio.Ser enviado, pressupe sair de um lugar, de umasituao e buscar um outro lugar ou uma outrasituao. A verdadeira misso quebra as amarrasda constncia e da estabilidade47.Verifica-se acima que a misso relacionada com envio para umadeterminada tarefa. Tarefa que no se realiza sozinha, pois para havermisso necessrio o encontro como/a outro/a. Encontro quepossibilite a percepo da necessidade de uma ao, do movimento.Neste aspecto,de certa forma,a vocao liga-se diretamente aos46LEXICON: Dicionrio Teolgico Enciclopdico. Op. Cit. p. 799.47Paulo Roberto GARCIA, Bases Bblicas para a Misso. Seminrio efetuado na disciplina Misso eEvangelizao docentes: Clovis Pinto de Castro e Magali do Nascimento Cunha p. 11.50prprios atos de Jesus que sempre viveu em coletividade, vivendo pormeio dela, o encontro com o outro.Assim, possvel dizer que a vocao de Jesus Cristo desenvolvidacom os prprios amigos, ele sempre se encontrou rodeado, at mesmonum crculo mais ntimo dos discpulos e dos apstolos, que semprecaminharam junto com ele48. Seguindo o parmetro apontado por JesusCristo ao longo de sua jornada salvvica do encontro com o outro, possvel aquele/aque vocacionado/a nasuaprtica de missoencontrar a fase do/a outro/a. esse encontro o gerador da busca denovos horizontes. Horizontes que direcionam os oprimidos a uma vidamais humana.De acordo comPaulo Garcia, no livro Vocao, Ministrio paraMinistrio49, todos/as os/as cristos/s so chamados/as vocacionados/as a testemunharem por meio da ao, como tambm,possibilitarem a outros/as essa vida.A vocao toma aqui uma nova direo, alm do seu carter de misso,ela um chamado para o amor (Vocao comportar-se como JesusCristo se comportou ao longo de sua vida). A vocao um chamado48Andr LEMAIRE, Op. Cit. p. 12.49Paulo Roberto GARCIA, Vocao e Responsabilidade. In: Vocao, Ministrio para Ministrio. SoBernardo doCampo: Editeo, 1992.p. 14.51para exercer por meio do servio o amor. Seria esse o amor expressonas palavras de Teresa de Lisieux, citada por Oliveira?Percebie reconhecique o amor encerra em sitodas as vocaes, que o amor tudo, abraatodos os tempos e lugares, numa palavra, o amor eterno. Ento, delirante de alegria, exclamei: Jesus, meu amor, encontrei afinal minha vocao:minha vocao o amor50.Esta viso de vocao transmite a grandiosidade do chamado para vivera misso. A vocao fazer misso, servir, amar o/a outro/a no seuencontro. No apenas uma relao pessoal com Deus, mas umchamado participao da vida com o/a prximo/a, compartilhar, dar a vida em defesa da vida51.II.III.II Vocao pastoral para o servioJos Lisboa Moreira reconhece que dentro desta responsabilidadecomum da vocao para fazer misso ou da vocao primeira deanunciador daVida52, adistinodavocaopastoral (ministriopastoral) comoumavocaoespecial dentrodaIgreja. Pois essa50Jos Lisboa Moreira de OLIVEIRA, Teologia e eclesiologia da vocao.http://www.ipv.org.br/teologia%20e%20eclesiologia.htm.51OLIVEIRA, Jos Lisboa Moreira de. Teologia e Eclesiologia da Vocao.http://www.ipv.org.br/teologia%20e%20eclesiologia.htm.52GARCIA, Paulo Roberto, Vocao e Responsabilidade, p. 14.52vocao cumpre o carter de orientao e capacitao do povo de Deusem sua prtica de vida crist53.A prtica de diaconia ao povo de Deus consiste,inicialmente, em despertar e alimentar aconscinciade povomissionrio, aserviodoReino de Deus.A vocao ministerial tarefaproftica. (...) tarefa desses vocacionados atuarnacapacitaodopovode Deus. Avocaoministerial tarefa pedaggica. (...) tarefa doministrio pastoral estar desafiando e auxiliando opovo de Deus a viver uma vida verdadeiramentecomunitria.A vocao ministerial tarefa deorganizao do povo de Deus54.Em vrios casos, a tarefa do ministrio pastoral refletida na funo dedirecionar a Igreja. Entretanto, o cerne do ministrio o servio, apremissa da diaconia (oiokovio). Por isso, o desempenho primeiro doministrio servir, ajudar no desenvolvimento, aperfeioamento e naordenao dos dons55.Essa vocao ministerial, que tem como tarefa sustentar e organizar opovode Deus, tambmretratadanapesquisade AnaClaudiaFigueroa. Na pesquisa, colocada a necessidade de que os candidatosfossem qualificados para essa funo, pois somente com capacitados53Id. Ibid. p. 14.54Id. Ibid. p. 15.55Arnold BITTLINGER, Dons e Ministrios, p.27.53seria possvel garantir o seu reto exerccio, propiciar uma certa garantiapara a comunidade diante dos desafios externos e internos56.Quanto ao carter proftico da vocao ministerial, Ana ClaudiaFigueroa coloca em sua pesquisa da seguinte forma:(...) O carisma proftico em 1Tm 1.18 e 4.14 ordenado exclusivamente para o ministrio, comoprestao de servio57.Sabendo-se que vocao para o ministrio pastoral conectado ao temade misso, e que sua maior tarefa realizar esse servio, surge aseguintepergunta: Mas qual seriaosentidodeministrionestemomento?(...)O ministro algum que foichamado ecapacitado por Deus e que, orientado pelo EspritoSanto, tomou conscincia de sua vocaocondizente comseu dom, e cuja vocao reconhecidaeconfirmadapelaIgreja(ref. Gl1.15s; 2.7s).(...) Antes de tudo, a vocao de serumministronoumprivilgiofundadoemrazes de raa nem de famlia, como ocorria nosacerdcio do judasmo, mas de uma livre escolhadivina, dom de misericrdia. Isto se torna maisclaro em II Co 4.1, quando Paulo diz o seguinte:Pelo que, tendo este ministrio, segundo a56Ana Claudia FIGUEROA, Comunidade e Heresia na sia Menor: um Estudo sobre as VariaesTeolgicas de alguns Escritos neotestamentrios do final do sculo I. 1993, 185p. (Dissertaodemestrado. Instituto Ecumnico de Ps-graduao em Cincias da Religio Instituto Metodista de EnsinoSuperior). p. 63.57Id. Ibid. p. 65.54misericrdia que nos foi feita, no desfalecemos(...)58.Paulo compreende que sua vocao foi um chamado de Deus atribudo aele no por merecimento, mas pela graa e misericrdia divina. destaforma que ele entende sua vocao retratada em Atos 9. No foi umaexperincia de converso, mas um chamado de Deus para o exerccio damisso.Essa vocao reconhecida por Paulo como semelhante s vocaesnarradas no Antigo Testamento, especificamente as dos profetas. Damesma forma que os profetas, ele teve uma viso quando vocacionadopor Deus. Segue-se emsua experincia vocacional o medo decorresponder devidamente ao chamado por no se sentir capacitado.Contudo sua vontade humana invertida pela graa a ponto de Deusmesmo realizar a obra que lhe foi confiada59.Para Paulo, a vocao ou chamado do ministro est ligada a figura deJesus como servo. Ele encontra na figura de Jesus sinais norteadores noexerccio de sua vocao60.58Luis Wesley SOUZA, Uma Compreenso Bblico-Teolgica do Ministrio em Paulo, pp. 10-11.59Lucien CERFAUX, O Cristo na teologia de So Paulo, p. 73.60Luis Wesley SOUZA, Op. Cit. p. 19.55Jesus expressa sua vocao no exerccio de sua misso libertadora(ministrio proftico) de um povo que, em sua poca, vivia margemda sociedade religiosa. Jesus foi o bom pastor, pois foi aquele que, aexemplo da vocao de Moiss, libertou de todo o tipo de opresso,oriunda das autoridades da sinagoga o seu povo61.Jesus em sua misso, iniciada na Galilia, lugar onde encontravam-se osmenos favorecidos, convida os apstolos, na participao do seu projetode vida: Dirigi-vos, antes, s ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt10.6). Ele tem como objetivo defender a vida daqueles/as que eramconhecidos como annimos/as, ou seja, inexistentes perante asociedade da poca. Jesus reconhece, mesmo opondo-se mentalidadehabitual da poca, que sua responsabilidade era fazer do pobre e dohumilde, participantes do Reino que tanto anunciava62. reconhecido na prtica de Jesus o seu carter de pastor (poimm),aquele que cuida. Em busca da promoo da vida, Jesus convida ogrupo dos apstolos na participao deste projeto. Esse convite visa aparticipaode todos nadenncia dos produtores da morte. Emcontrapartida, anunciada a mensagem de salvao. Salvao que vai61ManuelRodrigues da SILVA, So como Ovelhas sem Pastor: a liderana deJesus como Paradigmapara o pastorado, pp. 59-60.62Andr LEMAIRE, Op. Cit. p. 34.56alm da crena na ressurreio de Cristo, ela direcionada ao cuidadoda existncia do outro, na promoo da sua vida.II.IV Vocao HojeA apreciao, embora breve, dirigida neste momento, para discutir aperda do sentido original sobre vocao comoprtica damissogeradora e fomentadora da vida.Foi abordado neste segundo captulo como era entendida a vocao naBblia, no contexto do Antigo e do Novo Testamentos. Considerou-seque nas duas perspectivas abordadas, a vocao, antes de qualquercoisa, tinha como objetivo mostrar o seu carter de misso, contudo,com o processo de transmisso religiosa da tradio, esse carter sofreualteraes.Numa sociedade secularizada, o pastor/a visto/a, muitas vezes, comoreprodutor/a de uma tradio, que tem como objetivo administrar ritos,tornando-se desta forma, apenas um/a especialista orientado/a paraperpetuar certa memria religiosa63.63Drio Paulo Barreira RIVEIRA, Tradio, memria e modernidade a precariedade da memria religiosacontempornea. In: Estudos de Religio, ano XIV, n 18, junho de200, S.B. do Campo, SP: Umesp. p.129.57 processado neste ambiente a supervalorizao do/a especialistaletrado/a.A interpretao daBbliae o debate sobre averdade do cristianismo convertem-se em umatarefadeexegetas edoutores. Desenvolve-seassim o que Willaime chama magistrioideolgico dos doutores. Na tradio protestanteo pastor-teolgo ser o verdadeiro bispo, emboralegitimado mais pelo seu saber teolgico que poralgumstatus sagrado que o diferencia dosleigos64.O/A pastor/a perde o seu carter proftico, de cuidador/a e assume ocarisma de funo, porque representante de uma determinadainstituio eclesistica. Possuidor/a de um carisma fadado apenas naexecuo de um cargo, por representar a Igreja, e enfraquecido pordepender apenas de uma coerncia ideolgica do discurso de umatransmissoritual docarisma65. Comoasuaautoridadedependeapenas do seu discurso bem elaborado, o carisma reduzido apenaspara dimenso pessoal.Para Gustavo Gutirrez, necessrio neste ambiente de secularizao,onde reina a explorao, uma linguagem que faa a diferena na prticae no apenas num discurso bem elaborado. urgente vocao64Id. Ibid. p. 134.65Id. Ibid. p.134.58proftica, pois s ela capaz de denunciar a situao injusta, e suascausas estruturais66.O que me d mais alegria o trabalho pastoral.Sinto que essa minha funo primaria comosacerdote. No fui ordenado para fazer teologia,mas para proclamar o evangelho.Considero ateologia somente uma ajuda para isso, nadamais67. necessrio sairdo reducionismo deum chamadopara dentro,carter pessoal para umchamado para fora, que alcance o/amarginalizado/a e/a sofredor/a. A funo do/a pastor/a como cuidador/a contribuir com seus estudos na prtica respaldada na tica para ummelhor engajamento da misso, e que ela tenha como finalidade ajudara todos e todas a terem acesso a vida.Que seja possvelneste contexto conflituoso, resgatar o sentido devocacionado/a como chamado/a para fazer misso. Que o/a pastor/ano seja apenas um/a letrado/a, mas um/a enviado/a queles/as que seencontram espera de algum que aponte um horizonte de vida e queseja capaz de conduzi-los/as como um/a bom/a pastor/a, seguindo oparadigma de Jesus.66Odair Pedroso MATEUS, Gustavo Gutirrez: pastor e telogo. In: Estudos de religio 6. p. 7567Id. Ibid. p.75.59(...) Assim, enquanto o Novo Testamentocaracteriza o enviado com a misso de fazerdiscpulos, o Antigo Testamento mostra que suamisso de libertar os escravizados e oferecer-lhes cidadania.A juno desses dois objetivosseria muito salutar para prtica da Igreja, nosdias de hoje68.Que a juno desses dois adjetivos seja uma constante na prtica doministrio proftico daqueles/as que se consideram chamados/as porDeus e que foram reconhecidos/as pela Igreja como vocacionados/aspara o ministrio pastoral.68Trcio Machado SIQUEIRA, Tirando o p das palavras.60III. PISCOLOGIA E A VOCAOIII.I Compreenso do comportamento humanoA preocupao com o interior do ser humano e com a maneira pela qualele se relaciona consigo prprio e com o seu ambiente sempre fez e sefaz presente nos tipos de estudos que envolvema questo docomportamento humano. O comportamento humano uma questoque levanta inmeras perguntas,nem todas,respondidas. Ambas,perguntas e respostas, ao longo dos tempos, so reformuladasbuscando acompanhar o dinamismo da poca e sociedade, na qual acultura deve ser observada.61Devido s transformaes radicais, os anseios e s preocupaes quetomam conta do cotidiano humano, o ser humano tem sido envolvido, atal ponto de se sentir embaraado pelas angstias e aflies decorridasem seu dia-a-dia.Tentando compreender as reaes humanas face aos problemas que solevantados insurge a psicologia a fim de auxiliar o indivduo, levando-o arefletir sobre si mesmo e o meio em que vive, oferecendo alternativas eexplicaes afim de livr-lo dos males que lhe aflige.A cincia do comportamento, como tambm chamada psicologia,tem um sentido mais amplo: perceber o comportamento humano noapenas no que se restringe s reaes exteriores, mas igualmente atividades do consciente e do inconsciente num plano indiretamenteobservvel69.III.II A Contribuio da PsicologiaMuito se tem falado do acompanhamento/aconselhamento pastoral emmomentos de crises,como tambm das mltiplas funes que o/a69Maria Luiza Silveira TELES, O que Psicologia, p. 9.62pastor/a precisa exercer na prtica de seu ministrio: pregao,visitao,discipulado,administrao e muitas outras que requereminteresse e dedicao.Contudoseesquece que o/a vocacionado/atambm humano/a e passa por momentos difceis em sua vida.A Pessoa vocacionada , antes mesmo de ter eser sua vocao, uma pessoa, gente. E continuasendo gente aps o chamado, sujeita a tudo oqueinerente raahumana. Durante suaformao teolgica no diferente, isto , o/aaluno/a continua sua caminhada, emmeio aacertos e erros, em obedincia ao seu chamadona busca de capacitao teolgica eadministrativa da Igreja70.Aos olhos da comunidade o/a pastor/a um/a conselheiro/a. a ele/a aquem as pessoas recorrem quando se encontram em meio aos variadostipos deproblemas ecrises. Tal fatomostraclaramentequeo/apastor/a no pode abster-se dessa realidade, pois, este carter, levar acomunidade a procurar solues para os seus problemas dirios ouparticulares. Sendo a comunidade constituinte da sociedade, ela noficar imune s condies do individualismo que acarretam sentimentosde angstia, ansiedade, tristeza e solido.70Edlson de Assis VOLFE, Op. Cit. p. 55.63Verifica-se neste primeiro momento como o/a vocacionado/a para oministrio pastoral necessita ter um certo preparo e conhecimento dapsicologia na sua funo de aconselhador/a. Esse preparo exigidopelas prprias circunstncias que se apresentaro no decorrer do seuministrio (como j verificado no pargrafo acima). neste ponto quevem a indagao: Ser que a psicologia apenas contribui em obras queexaltam a sua importncia na prtica pastoral, deixando de lado que o/avocacionado/a para o ministrio pastoral, em muitos momentos da suavida, ocupar no mais o papel de aconselhador/a, mas devido s crisese dvidas, ocupar o papel de aconselhado/a? Neste caso, qual acontribuio da psicologia? Como ela pode auxiliar o/a vocacionado/aem seus momentos de dvidas e crises? Quais so as suasconsideraes na mudana de papis pastor/a - aconselhador/a parapastor/a - aconselhado/a?Diante de tais questes qual seria o parecer ou alternativas propostaspara auxiliar o/a vocacionado/a nestes momentos to cruciais de suavida,que muitas vezes so decisivos para a suapermanncia oudesistncia no ministrio pastoral?destaformaqueopresenteitemreconheceapsicologiacomocolaboradora no entendimento do comportamento humano e64conseqentemente, como se ver a seguir, contribuidora nacompreenso em que se d o processo vocacional e suas implicaes nocomportamento do/a vocacionado/a.III.II.I Na compreenso da vocaoPrimeiramente importante saber como compreendida a vocaodentro da psicologia. Diferentemente da teologia, a psicologia entendevocao como:Diz-se que h vocao quando uma pessoamanifeste tendncia a exercercerta forma deatividade em particular, de carter profissional e suficientemente forte, para que parearesponder a uma espcie de apelo (ou chamadointerior), de acordo com as aptides requeridasnessa atividade71.A vocao no estaria ligada ao processo do chamado divino, masliga-se a um certo potencial e disposio prprios de cada homem emulher. Seriam aptides ou potencialidades, que no desejo interno do/avocacionado/a, sero desenvolvidos ao longo da atividade escolhida.Entende-se desta forma que a psicologia associa a vocao apotencialidades prprias de cada um/a. interessante destacar a que71Henri PIRON, Dicionrio de Psicologia, p. 450.65muitas vezes h confuso no uso da palavra aptido72, pois verifica-sea sua ocorrncia como:Esse termo, freqentemente empregado do modoerrneo como sinnimo de capacidade, designa osubstrato constitucional de uma capacidade,preexistindo a esta, que depender dodesenvolvimento natural da aptido, da formaoeducativa e do exerccio. Apenas a capacidade que pode ser objeto de avaliao direta, j que aaptido constitu, unicamente, uma virtualidade.O termo ingls ability compreende, sem distino,as noes de aptido e de capacidade73.Para Dulce Helena a vocao no foge do j mencionado acima. Avocao, nas palavras da mencionada autora seria:Se a vocao entendida como uma realidade dedeterminado interesse somado potencialidade,pode-se afirmar que ela existe. A vocao no algo inato, mas sim algo que pode serdesenvolvido a partir da experincia da vida. Ointeresse e a potencialidade so dois aspectosfundamentais na escolha da profisso. Uma dosede cada um pode levar a uma vida profissionalsatisfatria e, porque no dizer feliz!(...)74.A psicologia trabalha esse tema mais na linha conhecida comoacompanhamento vocacional ou teste vocacional o mais conhecidopopularmente. Ela proporciona ao/a vocacionado/a, principalmente72Dicionrio de Psicologia, Organizao de Roland Doran, p. 80.73Henri PIRON, Op. Cit. p. 34.74Dulce Helena Penna SOARES, O que escolha profissional, p. 48.66aqueles/as que tm dvidas a que profisso escolher, auxlio para queessa escolha seja a mais adequada sua rea de servio75.A rea da psicologia do comportamento vocacional ainda encontra-selimitada, pois na grande maioria dos casos sua pesquisa focaliza-seapenas ao processo do desenvolvimento humano, ou seja, infncia eadolescncia,onde se concentraria uma educao vocacionalquedeterminaria a futura opo do/a vocacionado/a a uma determinadaprofisso76. (Essa perspectiva fugiria muito da vocao para o ministriopastoral, j que na maioria dos casos os/as candidatos/as decide-se apartir de um chamado diferenciado das demais profisses, o chamadodivino).Embora haja a restrio nesta rea, ainda assim possvel levar emconsiderao alguns fatores que contribuem ou determinam ocomportamento vocacional.Nesta direo destaca-se Holland, citado por Pelletier, Noiseux e Bujold,que trouxe notveis subsdios no plano conceitual e emprico, o queforneceu aos profissionais e pesquisadores desta rea instrumentos75Donald E. SUPER, Bohn JR., Martin J. Psicologia ocupacional, p. 1976Carlos RobertoMARTINS, Psicologia do comportamento vocacional: contribuio para o estudo dapsicologia do comportamento vocacional. So Paulo: E.P.U, 1978. pp. 24-27.67capazes de facilitar sua empreitada77. Direcionando sua pesquisa maispara as tendncias pessoais que se apresentam no momento da escolhaprofissional.Em sntese, sua teoria prope que no momentoem que uma pessoa faz uma escolha profissional,ela nesse momento de sua evoluo um produtode sua hereditariedade e de vrias influncias doscompanheiros, de seu meio familiar, de sua classesocial,de sua cultura,do meio fsico em quecresceu. Essas experincias o levaram adesenvolver umenfoque particular em face dasexigncias que tem de enfrentar. E esse enfoqueou esse estilo particular procura exprimir-se nomeio fsico e social que lhe convm. O indivduoprocurar ento ambientes e ocupaes que lhepermitam utilizar suas aptides inatas ouadquiridas, exprimir suas atitudes e seus valores,assumir os papis gratificantes e evitar os que lhedesagradam. Em outros termos, a pessoa que fazuma escolha profissional procura o ambiente quemelhor convenha quilo que Holland chama suaorientao pessoal,seu comportamento podeassimser explicado pela interao entre suaorientao pessoal e o ambiente78.Dentro da sugesto de Holland, destacasse a questo do ambiente comocontribuidora para a deciso de que profisso escolher. Levando emconsiderao esse fator surge uma pergunta que ainda no possvelresponder por no haver conhecimentos da existncia de que seriapossvel algum sentir-se chamado/a ao ministrio pastoral fora de um77Denis PELLETIER & Gilles NOISEUX & Charles BUJOLD, Desenvolvimento Vocacional e CrescimentoPessoal: enfoque operatrio. p. 2978Id. Ibid. p. 29.68ambiente ou contato religioso?. Ser que o ambiente religioso e aexperincia com esse mundo sagrado somado a profunda experincia daconverso no contribuinesta educao ou tendncia a optar peloministrio pastoral?. So perguntas que merecem um aprofundamentoterico,mas tambm de uma anlise prtica sobre o seu grau deinfluncia exercida aquele/a que se sente chamado/a ao ministriopastoral.III.II.II Na compreenso das crisesO telogo Karl Barth em seu livro Introduo Teologia Evanglica noitem Os perigos que a teologia enfrenta coloca sua preocupao com acrise que o/a pastor/a enfrenta em seu ministrio e a sua permannciano mesmo.Barth coloca que quem se engajar com a teologia se ver levado a umaestranha e angustiante solido. O/A telogo/a dever satisfazer-se emtratar de seu assunto dentro de certo isolamento, no s referente aomundo, mas tambm prpria igreja. A inevitvel solido da teologia edo/a telogo/a se evidenciar fazendo-lhe saltar aos olhos, comdolorosa freqncia, em que grau ele forado a viver solitrio, no s69no mundo, mas tambm na comunidade e tambm entre muitos de seuscolegas telogos79.As crises so uma constante na vida de qualquer homem e mulher, noseria diferente aquele/a que chamado/a para o ministrio pastoral bem pontuado por Karl Barth.Para Farris a crise definida como sendo:Em geral, uma crise uma experincia ou umasrie de experincias que se apresentamaoindivduo como uma ameaa profunda para suaidentidade, seu ego, ou para suas relaes. Crisessoeventosou processos queparecemteropoder de ameaar ou sacudir o mundo de umapessoa. Quanto as suas caractersticas, as crisespodem aparecer rapidamente, como em casos demorte, de suicdios, de acidentes, ou pela perdado emprego; ou podem manifestar-selentamente, determinadas por problemas dentrode uma relao, pela aposentadoria, ou quandouma filha ou um filho sair de casa etc. Podem,portanto, ser repentinas ou se caracterizar por umsurgimento e um lento desenvolvimento. A crisepode ser um evento terrvel ou a acumulao deeventos vrios , ou ambos80.Alm das crises serem compreendidas como eventos ou processos queparecem ter o poder de ameaar ou sacudir o mundo de uma pessoa,79Karl BARTH, Introduo Teologia Evanglica, p. 85 ss.80James Reaves FARRIS, Interveno na Crise: perspectivas teolgicas e implicaes prticas. In: Estudos daReligio revista semestraldeestudose pesquisasem religio.AnoXI, n 12, dezembrode1996.p. 105.70tambm compreendida, segundo a teologia, como uma experinciacapaz de proporcionar questes que so fundamentais para oentendimento da prpria vida81.Alm dessas crises, bem definidas por Farris, que ocorrem no processonatural da vida humana, identificado por Ellen Janosik, uma criseespecifica queles/as que exercem o ministrio pastoral. Essa crise ocasionada por um desequilbrio psicolgico promovido pelos desafios esituaes que envolvem o prprio chamado82.A crise do/a vocacionado/a pode, ento, serconsigo mesmo/a,com sua vocao,com suafamlia, com a Igreja, com a sociedade, ou tudoao mesmo tempo. No que diz respeito crise navocao, conforme Csar, alguns fatores seriam:a fragilidade da natureza humana, a demora dosresultados, o descuido espiritual, a desmotivao,o estresse, e tambma superficialidade davocao, tal como a hereditariedade, a dedicaode bero, a emoo, a manifestao sobrenaturale a desinformao doutrinria83.Como se viu at o presente momento a vocao no foge das crises e oministrio pastoral por tratar da dimenso religiosa no estaria imunedas grandes lutas e dificuldades da vida e da sua prpria funo. Muitospor no compreenderem essa realidade e fantasiarem/romantizarem o81Id. Ibid. p. 107.82Ellen JANOSIK, Crisis Couwseling, pp. 03-39.83Edlson de Assis VOLFE, Op. Cit. p. 69.71ministrio pastoral acabam por desistindo ou exercendo o seu servio deforma irresponsvel e negligente. Esses momentos de crises que o/avocacionado/a passa acabam provocando um grande impacto sademental, fsica, emocional e psicolgica dos/as chamados/as para esseministrio especifico, ministrio pastoral.III.II.III Na compreenso das crises especficasSero tratadas neste subsubttulo questes a respeito das crises decarter especfico que o/a vocacionado/a enfrenta ao longo de suajornada vocacional. Para tanto, sero levados emconsideraoapontamentos fundados em pesquisas j realizadas nesta rea.Para Paulo Barreira uma das maiores dificuldades que o/a clrigo/aenfrentaaquestodaambigidadedafunodo/apastor/a.Segundo os princpios protestantes:...o pastor um leigo.Desde a inteno deentrar nos seminrios teolgicos, o candidato jse coloca o dilema sobre sua condio leiga ousagrada. Todas as Igrejas protestantesdesenvolveram alguma forma de distinosacramental para o pastor. Regra geral tratava-seda ordenao84.84Drio Paulo Barreira RIVEIRA, Desencantamento e reencantamento: sociologia da pregao protestante naAmrica Latina. In: Estudos de Religio, ano XVI, n23, S.B. do Campo, SP: Umesp. p. 6572Segundo Barreira, o/a pastor/a em conseqncia dessa ambigidadesente-se consagrado/a para realizardeterminadas tarefas,mas emoutras continua sendo um/a mero/a leigo/a.Essa confuso estarialigada aos princpios da Reforma em igualar uma funo cotidiana starefas sagradas dos sacerdotes. A frase abaixo expressa muito bemesse assunto.O campons que ara,a criada quelimpa,oferreiro que bate na bigorna fazem uma obra tolouvvel e saudvel como o bompregadorevanglico cujo ofcio doutrinar o povo cristo muito mais que o odiado monge que mussita seussempiternos pai-nossos85.O/Apastor/aacabaperdendo oseucarter deconsagrado/a,emconseqncia o seu ministrio pastoral acaba sendo comparado comqualquer outro cargo ou atividade cotidiana.Segundo Leonildo Silveira Campos uma das maiores problemticas queo/a pastor/a enfrenta emseu ministrio a secularizao dopastorado86, em conseqncia das transformaes provocadas pela ps-modernidade.Essa secularizao acaba afetando a confiana que opastor tem na execuo de sua tarefa.85Id. Ibid. p. 66.86Leonildo Silveira CAMPOS, Contribuio das Cincias Sociais para uma nalise do Perfil do Estudante deTeologia Candidato a Pastor Protestante.Trabalho realizado parao Simpsio daAste, onde o temadeestudo era A prtica docuidado pastoral em instituies teolgicas. 2002. p. 12-13.73Hoje as sociedades experimentamumrpidoprocesso de desmontagem das instituiestradicionais de gesto do sagrado,dentro doslimites da chamada ps-modernidade. Ao ladodisso surgem novos grupos e movimentosreligiosos,os quais elaboram a figura do lderreligioso e definem o seu papel a partir de umnovo design. Fala-se, freqentemente emsociedades ps-modernas ou mnimo emcontextos de alta modernidade, privilegiando-senessas discusses tanto os paradigmas dasecularizao como tambm de uma supostarevanche do sagrado87.Neste mundo de intensas e radicais transformaes emque o/avocacionado/a encontra-se, principalmente as decorrentes da ps-modernidade, a crise resultante da mesma no apenas de ordempessoal,mas de acordo com o Dr.Leonildo Silveira envolve entremuitas mudanas, as de ordem: econmica, sociolgica, psico-sociolgica.Alm da solido, da dvida, da tentao que desafiam o/a pastor/a, tomencionados por Karl Barth, encontra-se o desafio de compor umaidentidade emmeio pluralidade88. Segundo Vilmar No, essaidentidade entraria emchoque a partir do momento que o/avocacionado/a desloca-se para o centro de formao teolgica. neste87Id. Ibid. p.13.88Sdnei Vilmar NO. Reflexes sobre o trabalho pastoral com estudantes de teologia. Trabalho realizado parao Simpsio da Aste, onde o tema de estudo era A prtica docuidado pastoral em instituies teolgicas.2002. p.4.74ambiente que o vocacionado/a ser confrontado com a multiformidadee heterogeneidade. neste confronto que surgir a seguinte questo Quem sou eu? - essa pergunta far com que o/a vocacionado/a busquesua identidade prpria, noutras palavras, tambm revela, uma crise deidentidade.(...) a identidade do eu da pessoa chamada vai seformando conforme o sentido de unidade econtinuidade interior que perdura no tempo e nasdiversas circunstncias,unido capacidade demanter solidariedade com um sistema realsticode valores. Tendo em vista o que foi exposto, necessrio perguntarmos: O sacerdote estorientado em termos de tempo, espao eidentidade? Ele sabe em que tempo est, ondeest equem ? Podemos afirmarque ...fundamental para a sade mental de um homemque ele esteja orientado em termos de tempo,espao e identidade, ou em outras palavras que ele esteja consciente de simesmo. Casocontrrio, uma crise de identidade individual dealgumrefere-se aos nveis bsicos de suapersonalidade, ele sofre de uma patologia grave.Depresso profunda, atitudes compulsivas,obsessivas, e diferentes formas decomportamento psictico indicam a necessidadede ajuda psiquitrica e, s vezes, at dehospitalizao89.Neste perodo de faculdade, e das crises ocorridas pela mesma, seriaadequado um acompanhamento multidisciplinar em seus desafios, pois89Edlson de Assis VOLFE, Op. Cit. p. 54.75as crises e os desafios enfrentados so de ordememocional epsicolgica, social, vocacional e espiritual90.Para Maria Eugenia essa crise de identidade do/a pastor/a vai alm dascontrovrsias teolgicas, elas revelam uma profunda crise estrutural doprprio pastorado. Muitas vezes o pastor no tem conscincia destacrise; tem problemas com sua comunidade, com sua opo de vida,com seu papel91.Em concordncia com a proposta de Sidnei Vilmar, Hannuch expressasua preocupao no preparo dos docentes, alm do preparo docenteseria necessrio o preparo psicopedaggico. Quanto crise deidentidade promovida, no apenas com o contato com a teologia, masdo ambiente que o/a vocacionado/a enfrentar aps sua formao,garante Hannuch que possvel amenizar esse processo por meio dainstalao de pastorados de equipe92. J Sidnei Vilmar, considera queesse acompanhamento dever comear dentro do campus de formaoteolgica, assim ele prope:Somente o acompanhamento tcnico eprofissional, todavia, no ser suficiente para quea formao teolgica envolva seus estudantes em90Sidnei Vilmar NO, Op. Cit. p. 4.91Maria Eugenia Madi HANNUCH, Conflitos no exerccio do ministrio pastoral. In: Cincias da Religio.Cadernos de Ps Graduao, n 7, outubro de 1992. p. 51.92Maria Eugenia Madi HANNUCH, Op. Cit. p. 56.76um clima de amadurecimento emocional,cognitivo, comportamental e espiritual. O campusdeformao teolgica, paraproporcionar umaformao integral em todos esses nveis o que um imperativo na qualificao para o trabalhocomunitrio precisa ter uma alma93.Que esse ambiente, juntamente comtodos/as aqueles/as que ocompem, seja uma especie de tero comunitrio, ao que tudo indica,esse ambiente deveria funcionar como um espao teraputico.Segundo a pesquisa realizada por Guilherme de Amorim94, as questesque mais promovem crises no/a vocacionado/a e no percurso do seuministrio so:1) crises vocacionais: As crises que evolvem diretamente a questoda vocao,promovemintranqilidades e a incerteza de serrealmente chamado/a para o ministrio pastoral, como tambm,se existe ou no vocao?2) crises relacionadas com a liderana da igreja: Destaca-se aqui ocime da parte da liderana da igreja em relao ao/a pastor/a,93Sidnei Vilmar NO, Op. Cit. p. 5.94Guilherme de Amorim villa GIMENEZ, A Crise no Ministrio Pastoral: Uma anlise das relaes entre avocaoeas crises ministeriais naperspectivadateologiaprtica. 2002, (Dissertaodemestrado.Instituto Ecumnico de Ps-graduao emCincias da Religio Instituto Metodista de EnsinoSuperior). pp. 50-92.77como tambm: lderes muito difceis, os que querem mandar no/apastor/a etc;3) crises com a igreja: Destacam-se neste item questes advindasdo relacionamento entre o/a pastor/a e a Igreja: membros/asinsubordinados/as autoridade pastoral, oposio de membros daIgreja, famlias tradicionais da Igreja no aceitam a orientaopastoral e disputam a liderana, frieza espiritual da Igreja com o/apastor/a, sem amigos/as na Igreja etc;4) crises pessoais: Estariamcorrelacionadas as crises pessoaisquestes emocionais e questes individuais do/a pastor/a como:auto-estima, frustrao, aflio, sade, stresse, falta f etc;5) crises financeiras: Ligam-se a este tema a problemtica referenteao sustento do/a pastor/a: salrio muito baixo; no conseguiradministrar as financias pessoais, no receber o salrio duranteum determinado tempo etc;6) crises familiares: Destacam-se aqui o divrcio, maurelacionamento com os filhos,a distncia e falta de tempo emrelao a famlia etc.78Esses seis itens foram o resultado da pesquisa elaborada por Guilhermede Amorim. Ela comprova que a crise vocacional o principal elementodeconflitonoministriopastoral, ouseja, avocaoomaiormotivador de crises95.At aquise obteve a constatao que as crises que envolvem o/avocacionado/a e o seu ministrio pastoral no so apenas de ordempessoal, mas envolvem a dvida de ser ou no vocacional, problemasde relacionamento, problemas com a igreja, crises promovidas pelasmudanas radicais da ps-modernidade e outras. Verifica-se assim, quea crise ou as crises e so uma constante na vida do/a vocacionado/a.Assim sendo, como o/a vocacionado/a poderia lidar com essas crises,ser que elas contribuem no crescimento e amadurecimento do mesmo? aqui que a psicologia d sua contribuio de forma mais concreta noentendimento das crises e na promoo de uma vida mais saudveldos/as chamados/sa para esse ministrio, que nos dias de hoje todesvalorizado.95Guilherme de Amorim villa JIMNEZ, Op. Cit. p. 82.79III.III Sade Integral do/a Vocacionado/aPara que a psicologia auxilie o/a vocacionado/a neste momento tocrucial de crise, primeiramente necessrio, antes de qualquerencaminhamento psicolgico,que o/a vocacionado/a reconhea queprecisa de ajuda,segundo May seria o encorajar a simesmo96,admitir que sozinho no ser possvel resolver as crises que envolvem oministrio pastoral, esse um passo para a futura soluo das crises.O pastor chamado por Deus mas isso no lhetira as caractersticas de homem. Ele tem umamisso como ministro de Deus mas isso no lheisenta de sofrer as mesmas angstias que oshomens sofrem. Para ajudar outros o pastorprecisareconhecer-sehomem. Avocaonorouba os atributos humanos do pastor97.O que se torna mais difcil para o/a vocacionado/a admitir-se como serhumanosujeitoaosperigos, doenas,falhas,erros ecrisescomoqualquer outra pessoa. Isso ocorre pela m compreenso em torno doseu chamado, pois se o chamado provm de Deus, automaticamenteo/a vocacionado/a torna-se imune a qualquer problema ou males davida. Contudo percebeu-se que isso no verdade e que quo96Gerald G MAY, Sade da Mente, Sade do Esprito: psiquiatria e atendimento pastoral, p. 125.97Guilherme de Amorim villa GIMNEZ, Op. Cit. p. 97.80importante e necessrio sabera fragilidade do serhumano aosdesafios e mudanas decorrentes da vida.Mas,embora o sofrimento seja uma realidadepresente e inevitvel,no deve seraceito deforma conformista e passiva. Todos devem serlevados a compreender o sofrimento, e suacompreenso conduz, naturalmente, ao alvio dador, cura da ferida98.Segundo, para que o/a homem e a mulher tenham uma vida equilibradaprecisoqueele/aapresenteharmonianos trs nveis davida:psicofisiolgico, o nvel ligado mais aos estados fsicos do ser humano(necessidades fisiolgicas e orgnicas); psicossocial, a necessidade doconvvio social;e racional-espiritual, necessidades existenciais, a buscado sentido das coisas99.Outro aspecto que na conceituao desade/doena estamos concebendo o serhumano, como um ser total e que a sade s alcanada quando todos os aspectos de suapersonalidade so atingidos , o que redunda numestado de harmonia com o conseqente estado deequilbrio psicossomtico100.98Josias PEREIRA, A Funo Teraputica na e da Comunidade Crist. In: Caminhando, Revista Teolgica daIgreja Metodista, ano III n 5 1992, So Bernardo do Campo, SP: Editeo/Umesp. p. 31.99Amedeo CENCINI & Alessandro MANENTI, Psicologia e Formao, p. 13-16.100Josias PEREIRA, Op. Cit. p. 29.81Dessa forma, conclui-se que a psicologia levar o/a vocacionado/a emestado de crise a compreender que a sade integral no diz respeitoapenas ao espiritual a cura da alma mas que ela adquirida noprocesso do viver a cada dia de maneira mais plena possvel, integrandoa ela o reconhecimento de si mesmo e do outro. O ser humano um serde corpo, mente e esprito em comunidade. No caso especifico do/avocacionado/a, que lida diretamente com a religio, o seu espao devivncia a comunidade dever proporcionar, assimcomo apsicologia, subsdios para a superao de crises, bem como,sedimentaes de sentido da vida101.Sabemos que a crise se faz atravs de dificuldades que o ser humanoenfrenta no processo da vida, neste caso, onde crise vocacional seencaixaria? Ser que ela no poderia ser a continuidade de uma outracrise mal resolvida, gerando assim, uma confuso de objetivos originaise crise de identidade? Neste ponto, se segue a linha de pensamento deErik H. Erikson, que esclarece sobre a crise como um degrau das fasesdo desenvolvimento da personalidade e, coloca tambm, que cada faseest em conexo com outra fase. Estando a personalidade ligada a101BlanchesdePAULA, Espao Potencial e Religio. In: Caminhando: RevistadaFaculdadedeteologiaMetodista, v 6, n 8, jul. 2001. So Bernardo do Campo, SP: Editeo/Umesp, 1982 -. p. 18482todas as fases do desenvolvimento humano qualquer implicao ou nosuperao em determinada fase poderia ocasionar em uma crise102.Decorrendo sobre a temtica crises vocacionais e sobre suasimplicaes no processo de formao, percebe-se ento, a importnciado tema para uma melhor compreenso das reaes de algunsacadmicos perante situaes que implicariam no seu desenvolvimentopastoral.102Blanches de PAULA, Estgios da F: F e Desenvolvimento Humano. So Bernardo do Campo: Faculdadede Teologia da Igreja Metodista, 1994. pp. 30-32.83CONCLUSOA presente pesquisa no tem como objetivo fechar o assunto em tornodo que seria vocao, mas esta pesquisa cumpre o papel de acrescentarao material, por sinal bem escasso, j publicado sobre o tema.Segundo a pesquisa realizada percebe-se que primeiramente a vocao destinada ao servio, ao bem da comunidade. Se Cristo, razo de todavocao, veio para servir e no para ser servido, denota que todapessoa chamada a servir. A Bblia considera os termos vocao echamado nocomoexperinciapessoal simplesmente, mas umaexperincia que leva o/a vocacionado/a a uma atitude de servio. J na84compreenso da Igreja, ela pretende afirmar que esse servio limitadoapenas comunidade de f, o que diverge do verdadeiro carter demisso. Assim sendo, toda vocao no somente para a Igreja, maspara o servio que beneficie a comunidade e sociedade, seja ela cristou no.Nessa perspectiva, a vocao torna-se um chamado para servir. Pode-se dizer queaquele/as queassumemesse chamadoparaservir,assumem um carter mais humano,pois por meio do seu servio,tornam-se capazes de conhecer o rosto do prximo, sobretudo dasvtimas de injustias. Isso nos mostra que a vocao passaobrigatoriamente por uma compreenso comunitria, isso possvelpela necessidade de pensar sempre, segundo a tica, no bem das outraspessoas.Aquele/a que se sente chamado/a ou vocacionado/a, no pode viveresse chamado de forma individualista, pelo contrrio, dever perceberque o carter divino desta vocao se d a partir do momento em que,quem est sendo esmagado pela opresso manifesta seu grito, e entoo vocacionado/a vai de encontro vtima .85 confiado ao vocacionado/a, de forma mais enfatizada, queles/as queexercero o chamado para ministrio pastoral, uma responsabilidademuito grande, e como conseqncia enormes cobranas e presses noexerccio do seu ministrio/servio.Decorrente dessas exigncias,eoutros aspectos, o/a vocacionado/a acaba passando por crisesvocacionais.A vocao ainda um elementofundamentalpara o exercciodoministrio pastoral, contudo, compreende-se que falar de crisevocacional ainda um tabu na formao teolgico-pastoral. Contudosabe-se que ela est presente, seja como conseqncia de uma outracrise no processo de formao da personalidade ou at mesmodecorrentes do prprio meio acadmico. A crise, de fato, acontece,culminando muitas vezes na falta de direo original. Entendendo comoessa crise acontece ficar mais fcil desenvolver um trabalho junto atantos que esto perdidos em meio a tantas crises e dvidas.86BIBLIOGRAFIAA Igreja de Dons e Ministrios: a viso dos Bispos Metodistas.Piracicaba: Agentes da Misso, 1991. (Col. Dons e Ministrios, 6).BARTH, Karl.Introduo Teologia Evanglica. 2.ed. So Leopoldo:Sinodal, 1979.BISPOS DA IGREJA METODISTA. Igreja Ministerial: Desafios eOportunidades. So Bernardo do Campo: Imprensa Metodista, 1991.BITTLINGER, Arnold. Dons e Ministrios. So Paulo: Paulinas, 1977.BOFF, Leonardo. Crise: oportunidade de crescimento. Campinas: Verus,2002.BORN, A. Van Den (editor). Dicionrio enciclopdico da Bblia.Petrpolis: Vozes, 1971.87CAMPOS, Leonildo Silveira . Contribuio das cincias sociais para umaanalise do perfil do estudante de teologia candidato a pastorprotestante. Trabalho realizado para o Simpsio da Aste, onde otema de estudo era A prtica do cuidado pastoral em instituiesteolgicas. 2002.CASTRO, Clvis Pinto de, CUNHA, Magali do Nascimento. Forjando umanova Igreja: Dons e Ministrios em debate. So Bernardo do Campo:Editeo, 2001.CENCINI, Amedeo, MANENTI, Alessandro. Psicologia e Formao:estruturas e dinamismos. So Paulo: Ed.Paulinas, 1988.CERFAUX,Lucien. O Cristo na teologia de So Paulo.So Paulo:Ed.Paulinas, 1977. (Estudos Bblicos).COLGIO EPISCOPAL DA IGREJA METODISTA. Carta pastoral sobre Donse Ministrios. 2.ed. So Paulo: Cedro, 2001. (Col