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Vodu: da constituição de um sistema simbólico libertário à perseguição ideológico cultural Loudmia Amicia Pierre Louis Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) [email protected] RESUMO: Nascido no seio das relações entre negros africanos de etnias diferentes, o vodu permitiu a recriação de um tempo, fora do controle do colonizador, fora e dentro da igreja católica, a reconstrução de um espaço de expressão do homem escravo. Graças ao vodu, o sujeito escravizado pôde construir um sistema simbólico próprio e organizar-se em comunidade solidária. Tal organização foi determinante, por exemplo, para a constituição das revoltas que levaram à emancipação do Haiti. O vodu, além de uma religião, é uma fonte viva de música, dança, literatura oral, da cosmovisão de uma população inteira. Embora esta prática religioso- cultural esteja, assim, muito ligada à identidade do povo haitiano, à formação do Estado nacional, foi renegada pelos próprios fundadores e pela elite mestiça que passou a dominar o poder. Demonizado, considerado uma psiconeuroses, bruxaria, o vodu passará por um período de perseguição real, a partir da concordata entre o Vaticano e o Estado, em 1860, até a promulgação da constituição democrática de 1987. O objetivo deste trabalho é trazer algumas considerações sobre os processos pelos quais o vodu teve lugar e como se constitui em identidade haitiana, assim como os motivos e as raízes ideológico-culturais dos discursos que geraram sua renegação e perseguição. PALAVRAS-CHAVE: Vodu haitiano; expressão identitária; Estado-Nação; perseguição RESUMEN: Nacido en el seno de las relaciones entre negros africanos de etnias diferentes, el vudú permitió la recreación de un tiempo, fuera del control del colonizador, fuera y dentro de la iglesia católica, la reconstrucción de un espacio de expresión del esclavizado. Gracias al vudú, el esclavizado pudo construir un sistema simbólico propio y organizarse en comunidad solidaria. Tal organización fue determinante para la constitución de las revueltas que llevaron a la emancipación de Haití. El vudú, además de una religión, es una fuente viva de música, danza, literatura oral, de la cosmovisión de una población entera. Aunque esta práctica religioso- cultural está tan ligada a la identidad del pueblo haitiano, a la formación del Estado nacional, fue renegada por los fundadores y la élite mestiza que gobernó. El vudú pasará por un período de persecución real, a partir del convenio entre el Vaticano y el Estado, en 1860, hasta la promulgación de la constitución democrática de 1987. El objetivo de este trabajo es traer

Vodu: da constituição de um sistema simbólico libertário à ... · O deus do homem branco pede-lhe para cometer crimes. Mas o Deus dentro de nós quer que façamos o bem

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Vodu: da constituição de um sistema simbólico libertário à perseguição ideológico

cultural

Loudmia Amicia Pierre Louis

Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)

[email protected]

RESUMO:

Nascido no seio das relações entre negros africanos de etnias diferentes, o vodu permitiu a

recriação de um tempo, fora do controle do colonizador, fora e dentro da igreja católica, a

reconstrução de um espaço de expressão do homem escravo. Graças ao vodu, o sujeito

escravizado pôde construir um sistema simbólico próprio e organizar-se em comunidade

solidária. Tal organização foi determinante, por exemplo, para a constituição das revoltas que

levaram à emancipação do Haiti. O vodu, além de uma religião, é uma fonte viva de música,

dança, literatura oral, da cosmovisão de uma população inteira. Embora esta prática religioso-

cultural esteja, assim, muito ligada à identidade do povo haitiano, à formação do Estado

nacional, foi renegada pelos próprios fundadores e pela elite mestiça que passou a dominar o

poder. Demonizado, considerado uma psiconeuroses, bruxaria, o vodu passará por um período

de perseguição real, a partir da concordata entre o Vaticano e o Estado, em 1860, até a

promulgação da constituição democrática de 1987. O objetivo deste trabalho é trazer algumas

considerações sobre os processos pelos quais o vodu teve lugar e como se constitui em

identidade haitiana, assim como os motivos e as raízes ideológico-culturais dos discursos que

geraram sua renegação e perseguição.

PALAVRAS-CHAVE: Vodu haitiano; expressão identitária; Estado-Nação; perseguição

RESUMEN:

Nacido en el seno de las relaciones entre negros africanos de etnias diferentes, el vudú permitió

la recreación de un tiempo, fuera del control del colonizador, fuera y dentro de la iglesia

católica, la reconstrucción de un espacio de expresión del esclavizado. Gracias al vudú, el

esclavizado pudo construir un sistema simbólico propio y organizarse en comunidad solidaria.

Tal organización fue determinante para la constitución de las revueltas que llevaron a la

emancipación de Haití. El vudú, además de una religión, es una fuente viva de música, danza,

literatura oral, de la cosmovisión de una población entera. Aunque esta práctica religioso-

cultural está tan ligada a la identidad del pueblo haitiano, a la formación del Estado nacional,

fue renegada por los fundadores y la élite mestiza que gobernó. El vudú pasará por un período

de persecución real, a partir del convenio entre el Vaticano y el Estado, en 1860, hasta la

promulgación de la constitución democrática de 1987. El objetivo de este trabajo es traer

algunas consideraciones sobre los procesos por los cuales el vudú tuvo lugar y cómo se

constituye en identidad haitiana, así como los motivos y las raíces ideológico-culturales de los

discursos que generaron su negación y persecución.

PALABRAS CLAVE: Vudú haitiano; expresión identitária; Estado-nación; persecución Deslocamento e Resistência

A partir da segunda metade do século XVIII, as marcas da resistência contra o sistema

escravista se fizeram cada vez mais presentes na ilha de Saint-Domingue. Diante do

recrudescimento do sistema escravagista, o número de nègres marrons, ou cimarrones,

escravos rebeldes, que, para se livrar da servidão ou maus-tratos, fugiam das plantações e

buscavam refúgio na floresta ou nas montanhas, só aumentava. Do mesmo modo, crescia

também a influência de líderes espirituais, como Makandal,1 por exemplo, que, dizendo-se

possuidores de poderes sobrenaturais, afirmavam ter como missão a liberação dos

escravizados. Detentor de possíveis poderes sobrenaturais, conhecedor de várias línguas, do

poder das plantas e das tradições ancestrais africanas, Makandal é considerado como um dos

primeiros líderes a unificar os escravos insurrectos. Estabeleceu uma rede de organizações

secretas entre os escravos das plantações, que lideraram uma revolta que se arrastou desde 1750

até 1758. Entre suas práticas de sublevação, estavam, por exemplo, os envenenamentos. Nos

anos que antecederam a revolução eram, cada vez mais comuns os casos de morte por

envenenamento, a princípio do gado, depois, dos próprios colonos. Acusado pela autoridade

colonial francesa de “sedução, profanação e envenenamento”, Makandal, depois de anos de

resistência, é preso, condenado à morte e queimado em praça pública no dia 20 de janeiro de

1758. Nas histórias construídas ao redor de sua figura mítica, consta, por exemplo, que, antes

de ser queimado vivo, ele jurou que com o fogo apenas mudaria de forma, ficaria sempre na

ilha como pássaro, para encaminhar as revoltas. Este personagem, símbolo de resistência à

escravidão, ocupará, na memória coletiva, o status de um dos mais importantes precursores da

revolução haitiana.

Em continuidade ao espírito revoltoso de Makandal, surge, entre as lideranças dos

sublevados, Boukman Dutty Zamba. Nascido na Jamaica, Boukman era um sacerdote do vodu

e, como Makandal, será conhecido como um dos principais líderes da revolução. Apenas na

1 Algumas fontes o descrevem como um “ougan”, um sacerdote vodu. Não há concordância entre os

historiadores sobre seu lugar de nascimento.

noite de 14 de agosto de 1791, foram organizadas mais de dez reuniões entre os escravizados

para definir os rumos da libertação. Dentre elas, a que mais ficou presente na memória coletiva,

graças a sua oficialização pela história, é a do Bois Caïman. Liderada por Boukman, esta

cerimônia de vodu definiu um pacto2 entre os escravizados, o juramento de luta pela liberdade,

de morrer em liberdade a seguir em escravidão. Transcrevemos abaixo o registro da

conclamação de Boukman:

O deus que criou a terra, que criou o sol que nos dá luz.

O deus que segura os oceanos, que rugiu o trovão.

O deus que tem ouvidos para ouvir: você que está escondido nas nuvens,

que nos mostra onde estamos, você vê que o branco nos fez sofrer.

O deus do homem branco pede-lhe para cometer crimes.

Mas o Deus dentro de nós quer que façamos o bem.

Nosso Deus, que é tão bom, tão certo, nos ordena vingar nossos erros.

É ele quem dirigirá nossas armas e nos trará a vitória.

Ele é o único que nos ajudará.

Todos devemos rejeitar a imagem do deus do homem branco que é tão

implacável.

Ouça a voz da liberdade que canta em todos os nossos corações

Nas noites de 22 e 23 do mesmo mês, os escravizados deram início à grande Revolução

que dourou 11 anos. Depois de todos esses anos de incansável luta, a escravidão foi abolida e

a independência foi então proclamada em 1804 por Jean Jacques Dessalines. Essa organização

entre escravizados, que engendrou as sublevações, só pôde acontecer a partir da construção de

uma comunidade formada e mantida por meio da religião vodu e do idioma kreyòl, entidades

estas formadas a partir da confluência de distintas culturas em Saint-Domingue a partir das

primeiras décadas da colonização. De etnia diferente, escravos bambara, mandingas, aradas,

fulas, Daomê, igbos, Uolofes, entre outros, foram separados de seu seio familiar e linguístico

no momento da venda para impedir o contato, o entendimento entre eles, e para suscitar o

sentimento de estranhamento, de despossessão. Logo essas práticas de segregação se

institucionalizaram. O code noir, uma coleção de cerca de sessenta artigos escritos pelo

Ministro Colbert, foi publicado e modificado várias vezes desde 1685. O código que reúne as

disposições que regulam a vida dos escravos negros nas colônias francesas, aparece como a

2 A história oficial diz que, nessa noite no Bois Caïman, os escravizados se reuniram e sacrificaram um porco e

tomaram seu sangue, na tentativa de demonizar essa reunião. Como prova a oração dita por Boukman, o único

pedido dirigido à divindade era, de justiça. O único pacto feito era, como aconselhado pelo sacerdote, dos

escravizados, ouvirem a voz da liberdade que gritava dentro de cada um.

primeira tentativa oficial do império Francês — sem contar obviamente todas as inciativas de

evangelizar o Novo Mundo pelos Espanhóis, primeiros a colonizar a ilha — de despossessão

dos negros africanos escravizados. Entre outras questões, o code noir instaurava, por exemplo,

que todo negro traficado fosse batizado e instruído na fé católica, no máximo 8 dias da chegada

deles, sob pena de multas arbitrárias aos donos. A fim de preservar a “religião única” dos

colonizadores, a prática de outras religiões foi assim expressamente proibida, do mesmo modo

que toda assembleia de escravos. Diante dessa imposição, a pessoa identificada como negro e

generalizado como africano passou por um longo processo de violência, tortura e

confinamento, de perda de seu corpo, e subsequente despersonalização. Esse processo iria ser

combatido pela força da religião vodu.

Vodu: solidariedade entre os marrons; perseguição

Embora não se saiba ao certo as datas do surgimento do vodu na ilha de Saint-

Domingue, pode-se afirmar que antes dos últimos anos do século XVII, tal religião não existia,

pelo menos nos registros por parte dos colonizadores. Os negros africanos eram vistos como

sem religião, e suas danças e cantos, que constituem em essência o vodu, eram considerados

até então apenas como práticas de recreação. Tais práticas não eram entendidas pelos colonos

e, portanto, não eram motivos de grande preocupação. Ao que parece, no início de seu longo

exílio na América, vigorava entre os negros africanos, diversas crenças em várias divindades

diferentes, ou seja, entre eles não existia uma prática em comum. Essa questão implicava

também em sua separação e na dificuldade de encontrar, entre seus iguais, um ponto de

identificação comum. Há relatos de que eram comuns, por exemplo, as constantes denúncias

uns pelos outros. Moreau de Saint Méry, nas últimas décadas do século XVIII é o primeiro a

fazer uma descrição dessas práticas, definindo-as como um culto ofiolátrico.

Como nos mostra Lucien Pierre Peytraud (1897), na sua obra sobre a escravidão nas

Antilhas francesas, nos últimos anos do século XII então, os negros escravizados passam a ser

vistos de maneira reforçada, como supersticiosos, sedutores, profanadores e envenenadores.

As assembleias passam a ser temidas pelos colonos, pois, a partir delas, os africanos

começavam a formar uma comunidade de identificação, por meio da qual se articulavam

também as suas sublevações. Logo, seus encontros coletivos passaram a ser vistos como

agrupamentos de conspiração contra o sistema, independentemente do número de reunidos.

Certos de que eram detentores da única fé possível, os colonos cristãos passam a ver em tais

práticas africanas exemplos de magia e bruxaria, logo, a necessidade de classificá-las como

obras demoníacas. Dada tais preocupações, passam a ser estabelecidas ainda mais normas para

impedir tais agrupamentos. Essa história de opressão sobre uma prática religiosa ira

infelizmente atravessar toda a história do Haiti, inclusive a contemporânea.

Longe de ser um simples sincretismo, o vodu teve de se refugiar atrás da aparência dos

ritos católicos para começar a existir, era sua estratégia de sobrevivência (DANROC. Gilles,

1991). Estratégia tal, que, entre outros povos latino-americanos, também vai ser chamada de

simulação dos vencidos. O vodu revigorou os escravizados, lhes incidiu força e resiliência ao

corpo e ao espírito. Apesar das leis e decretos que legalizavam as caças e as torturas contra os

marrons, estes não deixavam de fugir. Os que fugiam, a sua vez, faziam parte, do “homem

enérgico e determinado que não pode suportar a servidão; seu mestre deve considerá-lo perdido

para sempre” (PEYTRAUD, Lucien 1897, p. 344, tradução nossa). Essas pessoas tinham agora

também em comum as crenças em forças sobrenaturais, possuíam sacerdotes, um sistema de

reconhecimento mútuo e uma solidariedade constituída, baseada em uma mesma esperança, a

partir de uma mesma cosmovisão, constituída no vodu e em seu sistema simbólico.

Sendo assim, o vodu passará a estar intimamente ligado não apenas à identidade do

povo haitiano, mas também à própria formação de um conceito de nação. No entanto,

continuará a ser renegado, agora pelos fundadores e pela elite apropriadora do poder. A prática

que uma vez uniu pessoas consideradas não humanas, selvagens, contra um sistema

escravagista, colonialista não foi reconhecida mesmo após a independência do país e continuou

sofrendo das mesmas intolerâncias da época escravagista. Um exemplo de como se

reincorpora, no espírito dos donos do poder na comunidade independente, a cosmovisão dos

escravizadores europeus. Nos anos de 1815, a França fez vir missionários para a continuação

da evangelização e nos inícios dos séculos XX, dois terços dos padres católicos eram Franceses.

A Constituição de 1801, diz em seu artigo 6, que a religião católica, apostólica

e romana é a única professada publicamente; a de 1805, diz nos seus artigos

50, 51, 52 que a lei não admite uma religião dominante, que a liberdade de

culto é tolerada, que o Estado não prevê a manutenção de nenhuma religião;

A de 1806 diz, no seu artigo 35, que a religião católica, apostólica e romana,

sendo a de todos os haitianos, é a religião do Estado; A de 1807 diz que a

religião católica; apostólico e romano é o único reconhecido pelo governo,

que o exercício de outros é tolerado, mas não publicamente, a de 1816, em

seu artigo 18, diz que a religião católica, apostólica e romana é a de todos os

haitianos, é a única do Estado. (JOSEPH JANVIER, Louis.1886, p.301,

tradução nossa).

Todas as constituições até 1987, com algumas exceções — quando, por exemplo,

reconhecem a liberdade de religião — estabelecem o catolicismo como a religião oficial

haitiana e, portanto, tratada de maneira especial pelo Estado. O vodu, por sua vez, não vigora

em nenhum documento de reconhecimento oficial por parte deste Estado. Esse não

reconhecimento se constitucionaliza nos primeiros anos de independência a partir dos anos 30,

e, a partir daí, começa sua proibição e perseguição por parte do Estado.

O Código Penal de 1836 no artigo 246 fez qualquer prática de vodu suspeita

de feitiçaria. Este mesmo artigo é constantemente repetido em várias

circulares de governos durante o século XIX; em 1935, o artigo 405 do

mesmo Código tornou-se mais violento ao falar sobre oferendas de "supostas

divindades" e "práticas supersticiosas" passíveis de prisão e multas.

(HURBON, Laënnec. 2005, p.12, tradução nossa).

Três décadas mais tarde, tal perseguição adquirirá outra dimensão, quando o Estado

firma a concordata com o Vaticano em 1860, entregando a educação e a cultura do país à

responsabilidade da igreja católica. O desprezo ao Francês, ao branco inimigo e seu sistema,

presente nos discursos e decretos de Jean Jacques Dessalines, é substituído, não muito tempo

após seu assassinato, pelo desejo incontestável da jovem nação de se assemelhar à França, de

se tornar “civilizada”, uma nação com seu lugar no mundo. Desta contrarreforma colonial,

legalizaram-se perseguições contra tudo que lembrava a África, o que representava a massa.

A igreja católica, durante o período escravagista, e depois, a partir da concordata, não

mudou sua percepção da pessoa negra. As suas práticas continuaram a inferiorizá-la. O usou

do kreyòl, nos diz Gilles Danroc, era proibido aos missionários durante a colônia. Língua de

toda uma população, ele (o kreyòl) foi visto e apresentado como uma deformação do francês,

mal pronunciado por africanos sem cultura. O vodu, a sua vez, continuou a ser demonizado. O

Estado, ao oficializar o catolicismo como única religião oficial, institucionalizava ao mesmo

tempo, “a demonização do vodu” juntamente à inferiorização do kreyòl.

[...] uma decisão do Conselho Superior de 23 de novembro de 1686 adverte

contra "... Os negros mágicos e os chamados médicos que se inventam de

curar muitos pacientes por magias, palavras e até de adivinhar as coisas que

se lhes peçam". Quatro categorias de feiticeiros são descritas neste

julgamento: aqueles que têm "comunicação com o diabo ...", aqueles que

"usam feitiços, drogas pela cooperação do diabo, que atua secretamente como

resultado de um pacto"; então os malabaristas "que fazem acreditam aos mais

simples que eles estão curados ..."; finalmente, aqueles que "usam remédios

naturais ..." (Peytraud 1897: 187-188). Para o padre Labat (1724), outro

testemunho missionário no final do século XVII, é preferível adiar, tanto

quanto possível, o batismo dos escravos, "até ter certeza de que abandonaram

completamente suas práticas com o diabo "(ibid.: 325). Ao desenvolver

dentro das práticas das igrejas que se desviam das normas do cristianismo, os

escravos merecem ser assimilados aos feiticeiros (HURBON, Laënnec. 2005,

p. 8, tradução nossa).

A Europa sempre se colocou como centro civilizatório, relegando outras comunidades

nacionais à marginalidade. A sua cultura devia ser considerada a exemplar, sendo assim

seguida por todos. Ela se achava/acha no direito, a partir dessa sua superioridade cultural,

moral, de dominar, ou melhor, na sua pretensão de ajudar os demais a alcançar tal nível de

evolução. Imbuída dessa percepção, a elite intelectual e política das cidades haitianas servia de

suporte à igreja. Ela (a elite) se via como representante da França entre os campesinos

africanos, e, “inferiores”. Essa inferiorização do vodu, bem como do idioma kreyòl, foi

intensificando os efeitos do racismo internacional e da política de segregação por cor de pele,

a divisão hierárquica, por exemplo entre negros e mestiços presentes no país. O discurso da

superioridade europeia se fez acompanhar de atos. Se acreditava que o vodu acabaria por

desaparecer do país, à medida que fossem instituídas a cultura eurocêntrica, a educação nos

moldes da antiga colônia, a fé cristã. No entanto, a educação nunca foi uma prioridade dos

governos à excepção de Henri I entre outros3.

Influenciados pelo evolucionismo de Darwin os anos 60 do século XIX foi a

época na qual se desenvolveu a ideia de cultura como sendo uniforme,

segundo a qual, a sociedade humana passa por evoluções e o nível mais alto

dessa evolução é a civilização. Em outras palavras o ser humano civilizado

da Europa já foi primitivo, selvagem e bárbaro, portanto, há esperança para o

bárbaro que com o tempo e uma árdua educação vá chegar no mesmo patamar

do homem civilizado. […] pensamento ou método […] conhecido como o

método comparativo o evolucionismo. (PIERRE-LOUIS, Loudmia. 2016,

p.3, Trabalho não publicado).

3 Para mais informações Cf. Dr C. PRESSOIR. 1933, / Duraciné VAVAL.1931

A preocupação dos chefes do Estado haitiano em civilizar o país, torná-lo aceito internacionalmente nos decênios que se seguiram

a independência, contrastou fortemente com o descaso à população e suas culturas ancestrais. No desespero de fazer

reconhecer sua independência, para poder (re)estabelecer o comércio exterior,4 aceitou, por

exemplo, pagar uma indenização aos antigos colonos que perderam tudo ou grande parte de

seus bens com as guerras “injustas” da revolução. Divida que foi paga depois de 72 anos (1825-

1897). Do mesmo modo, instituiu a concordata com o Vaticano, dentro da mesma lógica de

acomodação ao mundo cristão ocidental. Entre a população, tal dívida foi e é paga,

principalmente com o incentivo à alienação nacional.

O vodu como cosmovisão e a representatividade feminina

Como apontado por Jean Price-Mars (1928), além de uma religião, o vodu é uma fonte

viva de música, de dança, de literatura oral, da cosmovisão de uma população inteira. Quando

dizemos isso, nos referimos a como o vodu, muito mais que uma religião, está presente no

cotidiano do Haitiano. No vodu, religião, por exemplo, existe o que se chama dupla alma, uma

delas, é o “Bon anj” (“bom anjo”), que dirige a vida afetiva e intelectual da pessoa. No

momento do transe esse “bom anjo” deixa o corpo da pessoa que, sentindo um vazio e uma

perda de consciência, passa a dar lugar à divindade. No dia a dia do povo haitiano, é comum,

por exemplo, a expressão “ou san bon anj” (“você está sem seu bom anjo”) que significa, que

parece uma pessoa tonta, perdida, sem rumo. A mulher no Haiti é chamada de “poto mitan”,

indicando que ela é o pilar da sociedade. Esse termo “poto mitan” (poste central) também

provem do vodu. É um poste geralmente de madeira, que está no centro do peristil (templo

religioso dos voduístas), ao entorno do qual se celebram as cerimônias, e designa o eixo vertical

que estabelece a comunhão ou comunicação com as divindades. É nesse sentido o pilar das

cerimônias voduístas.

Essa adaptação da sociedade do termo voduísta para se referir à mulher não está

separada da realidade voduísta em si. No vodu, não existe diferença hierárquica entre mulher

e homem. Os dois são igualmente representados. Dentro das representatividades da mulher

haitiana estão, entre outros, os lwa (divindades do vodu), Èzili Freda e Èzili Dantò. O amor

4 Para mais informações Cf. NÉRESTANT, Micial M. 1994. O estudo mostra como a França exorta

o bloqueio comercial e o isolamento do Haiti aos Estados Unidos, Espanha, Inglaterra, para que este

não corrompesse as demais colônias.

romântico e a possibilidade de se fazer querer são exaltados e divinizados na personagem de

Èzili Freda, deusa do amor, que representa a mulher romântica e admirada, e o equilíbrio

financeiro. Produto de uma experiência feminina subjugada sexualmente e torturada pelo fato

de ser mulher e mestiça durante a colônia, ela está numa busca incessante de amor sem, por

conseguinte, ser submissa, pois, ela tem e simboliza o controle dos relacionamentos. Èzili

Dantò, a sua vez, negra, representa as mães solteiras e independentes, já que a mesma é. Ela à

diferença de Freda, não procura um companheiro romântico, pois se dedica ao cuidado da sua

filha. Revolucionária da guerra de independência, é uma mulher militar patriótica, que

caracteriza a força e independência feminina, a sabedoria popular haitiana. A ela é atribuída a

proteção contra abuso sexual e doméstico das mulheres hétero e bissexuais.

Através dos lwa, o passado colonial, escravagista é lembrado. As Èzili mostram como

a questão racial e de classe estão interligadas, pois, Freda é mestiça e com certo controle

financeiro, Dantò é negra, mãe solteira, que lembra a massa pobre. Bem que um lwa

independente do gênero pode ser incorporado tanto por homem e mulher, as Èzili têm um papel

fundamental em como as mulheres haitianas se veem e, sobretudo, representam a necessidade

ou preocupação de serem guerreiras e amadas.

Uma nova investida pós-colonial: a intervenção estadunidense e a implantação do

protestantismo

Como espaço substitutivo de dominação colonial, os Estados Unidos, sempre de olho

no país, em 1913 tentaram intervir na política interna da República Haitiana. Em 1914, foi

apresentado um projeto relativo ao controle das alfândegas e uma ajuda militar ao país. As

incessantes revoltas dos cacos e dos piquets, grupos revolucionários de camponeses haitianos

do Norte e do Sul que surgiram na segunda metade do século XIX contra das injustiças sociais

no país, iam dar ao governo estadunidense, argumentos para vir ao socorro da república negra

invadindo seu território. De 1915 a 1934, tempo do processo de dominação do Haiti pelos

Estados unidos, o vodu passou novamente a figurar como objeto de estereótipos, difundidos

estes nos Estados Unidos e na Europa pela imprensa e, sobretudo, no cinema, como um culto

de canibais em que imperam sacrifícios e bruxaria. O filme White Zombi, lançado em 1932,

por exemplo, primeira produção de terror dos EUA baseado na “superstição” negra, do vodu,

deu espaço para outras produções que atraíram cada vez mais público, como I walked with a

zombie de 1943, e The Serpent and the Rainbow de 1988, entre outros.

Muitos desses filmes e artigos de jornais foram produzidos a partir dos estudos

antropológicos de cientistas no Haiti, com a ideia de mostrar o “exótico” dessa nação negra. Já

que a conversão pela força não conseguia erradicar a crença da população nas divindades da

Guine, foi criado um centro antropológico, não para valorizar a cultura através do estudo, mas

através do estudo, — entendendo nos mínimos detalhes as ligações do campesino com o vodu

— combatê-lo melhor. Assim, o mesmo presidente que oficializou sua fundação, Élie Lescot,

um ano antes, empreendeu nova caça, iniciada a partir de 1939, aos praticantes desse “culto

diabólico” por meio de uma “Campanha anti-supersticiosa”, ou “Campanha dos rejeitados”.

Durante a campanha, especialmente os habitantes das áreas rurais, tiveram, mediante um

juramento público nas igrejas, declarar que renunciavam ao vodu, porque este não passaria de

idolatria e obra de Satanás. Vários templos, imagens e objetos foram queimados, árvores

também foram cortados, pois eram a moradia das divindades vodu.5 Como já demostrado no

decorrer do trabalho, essa repressão não era simplesmente contra do vodu em si, mas contra o

considerado primitivo e a barbárie que ele representava no país dentro do conjunto dos aspectos

culturais próprios da população.

A negação cultural a esse modo de vida, promulgada no decreto-lei de 1935, estabelece

que “todas as danças e outras práticas que ousem manter nas populações o espírito de

fetichismo e superstição serão considerados como feitiços e, consequentemente, punidos”. Do

mesmo modo, o decreto proibia “as cerimônias, os ritos, as danças e as reuniões em que os

sacrifícios de gado ou aves fossem oferecidos como uma oferta às supostas divindades.”

(LALIME, Thomas, 2014, tradução nossa). Nesse processo, o tambor, instrumento principal

das cerimônias voduístas, foi também perseguido como “objeto a serviço do demônio”.

Com a ocupação estadunidense, à influência da igreja católica veio se juntar o

protestantismo, mais exatamente sua vertente pentecostal. Fritz Fontus, em seus estudos,

constata um crescimento exponencial do protestantismo pentecostal no país entre 1970 e 2000.

Em 1996, os praticantes do protestantismo eram 39% da população, contra 49,6% de católicos.

Segundo F. Fontus, este crescimento se deve sobretudo pelo uso da língua kreyòl dentro das

igrejas protestantes, seguida da tradução da bíblia em kreyòl, e da presença constante da igreja

5 Mais informações, Cf. HURBON, Laënnec. 1993.

protestante na vida cotidiana da massa, através de programas agrícolas, escolas, promoção

social, cuidados de saúde, etc. Enquanto o catolicismo tinha como objetivo tirar o país das

barbaridades, erradicando os aspectos que representavam esse atraso cultural, o protestantismo

se instituía agora com o discurso materialista, atribuindo ao vodu as responsabilidades do atraso

econômico e dos governos ditatórias. Sua missão era então tirar o país da pobreza através da

evangelização de “Deus” em contraposição ao demônio adorado pelos voduístas que só

queriam a perdição da nação.

Como espaço de resistência a tal imposição, nas décadas de 1920 e de 1930,

movimentos intelectuais, frutos do nacionalismo surgido, reforçado e desejado contra a

ocupação militar estadunidense, começaram a surgir. Entre eles o movimento da negritude e o

movimento indigenista.6 Por meio desses movimentos, se deu um novo reconhecimento do

vodu e do kreyòl como constituição do ser haitiano pelas elites intelectuais. Intelectuais como

Jean Price-Mars, no seu estudo Etnográfico Ainsi parla L’oncle (1928) é o primeiro a defender

o vodu como religião e estimular a sua aceitação no seio da sociedade. Nos mesmos anos vemos

outras produções como de Suzanne Sylvain em ―Le Créole haïtien: morphologie et syntaxe

de 1936, que demostram o crioulo como língua. Defendem sobretudo a importância desses

traços africanos na identidade nacional. O homem negro é valorizado assim como suas

produções culturais. No final dos anos 50, o vodu passa a ser usado politicamente. François

Duvalier, ditador de 1957 à 1971 — seguido por seu filho até 1986 — membro do movimento

indigenista, definia o vodu como alma do povo. No entanto, apesar de não oficializar nenhuma

religião, não reconhece o vodu como tal, antes disso, passou a usar a religião como outra forma

de manter a população dominada, pois o ditador que se dizia adepto, fazia acreditar que possuía

poderes do vodu para governar, reforçando a imagem negativa que se tinha do vodu na

sociedade, relacionando-o ao mal. (HURBON, Laënnec 1979, 1988). Em sua ditadura dita

nacionalista, Duvalier antes haitianizou o clero católico, fazendo nomear os primeiros bispados

Haitianos e, obtém assim, seu apoio durante a ditadura.

Pressionado pelos movimentos sociais dos ougan (sacerdote do vodu), dos artistas,

das mulheres e de todas as camadas da sociedade o sistema democrático foi restituído através

da constituição de 1987. A nova constituição democrática não faz referência a nenhuma

6 O movimento indigenista nasceu sob a ocupação americana e lutou pela independência do Haiti,

reafirmando a africanidade da cultura haitiana, particularmente através do vodu.

religião como oficial da nação, mas, em seu artigo 297 revoga todas as Leis, os Decretos-Leis

e Decretos que restringiam os direitos e liberdades fundamentais dos cidadãos, entre outros o

decreto-lei de 1935 sobre as crenças supersticiosas. Somente por decreto em 2003 o vodu foi

reconhecido como religião, elevado ao mesmo patamar de qualquer outra religião, podendo

celebrar casamento, batismos, enterros, etc. Está subordinado ao Estado como todas as demais

religiões.

Conclusão

O conceito de identidade nas ciências sociais é muito vasto, é bastante difícil falar de

identidade dentro de uma realidade de maneira concisa e objetiva. No entanto,

É possível definir identidade como o processo pelo qual uma pessoa se

reconhece e constrói laços de afinidade, […]. Assim a noção de identidade

pode referir-se às formas como indivíduos ou grupos/coletividades se

reconhecem […] constituindo, ao mesmo tempo, um elemento distintivo e

unificador. (FERREIRA, Marieta de Moraes; FRANCO, Renato. 2013. p.

108)

Nesse trabalho, não apresentamos a identidade do haitiano, mas, aspectos dessa

identidade. Os principais aspectos dessa forma de identificação se baseiam no kreyòl e no vodu.

O haitiano, mesmo praticante do catolicismo ou do protestantismo, ou de qualquer

denominação, no seu dia a dia, vive o vodu.

O desenraizamento de mais de 500 mil africanos negros escravizados, na ilha de Saint-

Domingue, por três séculos, levou a reorganização do mundo por esses escravizados. Nisso o

vodu foi de incontestável importância. Por meio dessa redefinição, ressignificação, e a

construção de uma comunidade solidária por meio da religião e da língua, foi possível a Bataille

de Vertière em 1803 e a proclamação da independência em 1804.

Mesmo após o reconhecimento do vodu e sua legalização por parte do Estado, as igrejas

católicas e protestantes, principalmente as pentecostais, continuam a apresentar o vodu nas suas

pregações, abertamente como o “culto ao demônio”. Pois, mais de dois séculos de perseguição,

de propagação negativa, não podem ser esquecidos e apagados simplesmente com reconhecer

no vodu uma religião como qualquer outra, sem políticas públicas para a valorização da

principal marca de identidade do povo. Sem contar com o fato de o Estado Haitiano, mesmo

não reconhecendo nenhuma religião como oficial, mesmo dizendo que todas as religiões são

tratadas de iguais formas pelo Poder Oficial, é religioso, e católico. O que se pode observar

com as celebrações de te deum em todas as investiduras presidenciais, e os demais eventos

governamentais. O Catolicismo assim, continua sendo a religião prestigiada do Estado.

Os porquês desta renegação, variam de acordo com como os intelectuais tratam do tema.

Para alguns, os chefes do Estado não teriam como trazer o desenvolvimento econômico que o

país necessitava, sem a adoção do francês como língua, visto também que o kreyòl não possuía

escrita. No caso do vodu, era mais uma preocupação com a imagem do país no exterior que

levou a sua perseguição. No entanto, o fato é de como os discursos do evolucionismo, os

conceitos de civilização e barbárie, as hierarquizações de superior e inferior, baseado numa

perspectiva eurocêntrica, branca, católica e tudo o que a Europa tem como moral, configuram

as principais causas dessa alienação do Estado, da sua elite.

A pregunta então é: como pessoas que experimentaram o desprezo e a opressão do

homem branco colonizador, após finalmente se livrarem de seu domínio, passam a tomar seu

lugar, tendo os mesmos discursos e atos? Frantz Fanon (1952, 1961) e Aimé Césaire (1950)

respondem, explicando os resultados do colonialismo e da colonialidade introduzidos na

mentalidade dos oprimidos, que passam então a usar as “máscaras brancas”. Como vimos no

decorrer do trabalho, o colonizador não se contentou em arrancar da mente do colonizado todos

os seus conteúdos e significados, oprimi-lo, matá-lo, também deformou, desfigurou, moldou

um outro sistema de valores entre os oprimidos. O propósito “universal” do colonialismo era

convencer também o colonizado de que o estava removendo da obscuridade. Uma das

consequências foi que o sujeito, oprimido pela empresa fundamentalista, intolerante, autoritária

e racista do colonialismo, por falta de um centro cultural próprio a ele, depois da partida do

colonizador, queria o substituir, ocupar seu lugar, ser um colonizador. No caso do Haiti, tudo

o que foi refutado pelo francês dominador durante a escravidão, continuou de ser refutado após

a abolição, desta vez pelos próprios haitianos, na maioria das vezes mestiços, que controlavam

o poder. No então, a contrapelo dessas investidas, através de todo o tempo de opressão, o vodu,

assim como o kreyòl, sempre consistiram em uma forma extremamente poderosa de resistência.

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